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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

AYRTON RENNAN GOMES LIMA MELO DA SILVA

O REINO VÂNDALO NO NORTE DA ÁFRICA

NAZARÉ DA MATA
2021
AYRTON RENNAN GOMES LIMA MELO DA SILVA

O REINO VÂNDALO NO NORTE DA ÁFRICA

Trabalho apresentado como


parte da avaliação para matéria de
História Medieval II

Professor: Dr. Renan Marques

NAZARÉ DA MATA
2021
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3

HISTÓRIA MEDIEVAL - MARCELO CÂNDIDO 4

A HISTÓRIA DOS VÂNDALOS RECONSIDERADA - GERALDO R. JUNIOR 6

HISTÓRIA MEDIEVAL - DINARTE BELATO 8

CONCLUSÃO 10

REFERÊNCIAS 11
INTRODUÇÃO

Os vândalos fazem parte dos povos bárbaros que migraram para dentro
do território do Império Romano entre 375 e 568. Inicialmente, como parte da
política imperial, os vândalos se integraram ao exército romano que visava superar
as dificuldades com baixo contingente. Posteriormente fixaram-se na Hispânia e,
após conflitos com suevos, dirigiram-se para o norte da África onde as forças
romanas não foram capazes de impedir o estabelecimento e formação do Reino
Vândalo. Conflitos internos desestabilizaram as estruturas políticas dos vândalos e,
motivado por interesses próprios, o imperador do oriente, Justiniano, realizou uma
investida que durou de 533 até 551, e culminou na conquista de Cartago e o fim do
Reino Vândalo.
Na contemporaneidade a ideia dos povos bárbaros como uma única
grande massa que deixava apenas um rastro de destruição, e que teria sido
responsável pelo fim do Império Romano do Ocidente se tornou controvérsia e
novas pesquisas e análises mostram diferentes relações entre os bárbaros e
romanos, além das diferenças entre os próprios povos que fizeram parte da
migração que modificou as relações e estruturas de poder, e que iniciaram a idade
média.
HISTÓRIA MEDIEVAL - MARCELO CÂNDIDO

Marcelo Cândido, autor de História Medieval (Editora Contexto), é doutor


em história medieval pela Université Lumière Lyon 2 e professor do departamento
de história da Universidade de São Paulo (USP). Membro da Société des Historiens
Médiévistes de l'Enseignement Supérieur Public Français (SHMESP) e do
Laboratoire de Médiévistique Occidental de Paris (LAMOP), também tem longo
histórico como professor e pesquisador medievalista.
.A obra História Medieval, de Marcelo Cândido, aborda de maneira
dinâmica alguns dos principais aspectos e temáticas que envolvem o período
medieval. Especificamente em relação aos povos bárbaros faz questão de
estabelecer distinções entre os diferentes grupos e sua relação com o Império
Romano.
Na abordagem ao reino dos vândalos o autor é particularmente sucinto e
praticamente se limita em apresentar o estabelecimento dos vândalos no norte da
África em 439, logo após a conquista de Cartago, e sua queda em 533 após uma
incursão do imperador Justiniano.
Tratando das características específicas dos vândalos em relação aos
outros povos bárbaros, destaca-se que o reino não foi formado por meio de acordo
de federação, como no caso dos godos e burgúndios, e que apesar disso não
deixou de integrar as elites de origem romana e teve preservadas as características
imperiais de administração.
As questões políticas abordadas pelo autor e que envolvem os vândalos
são mais relevantes como contraponto da relação dos outros reinos. Na questão do
acordo de federação, que seria a concessão de um território dentro do império,
mostraria a disposição de Roma com o estabelecimento desses tratados pela
própria fragilidade política e militar. Nesse sentido os vândalos expõem ainda mais a
incapacidade do império de impedir os bárbaros de se assentarem.
Mesmo que, de modo geral, faltam exposições quanto aos aspectos
culturais, é possível perceber no trechos “o Reino dos Vândalos também integrou as
elites de origem romana, mantendo todas as características da administração
imperial” que havia um contato e uma integração dos bárbaros aos costumes do
império. Nesse sentido, também é possível ver os vândalos como um reino
organizado e estruturado de maneira política e bélica.
Na fundamentação de suas perspectivas, o autor opta por se apoiar em
outros historiadores como Beda, o Venerável (c. 672-735), mais próximo do período
dos bárbaros, e Patrick Geary, com sua obra Before France and Germany de 1998.
Em ambos os casos as fontes não abordam diretamente os vândalos, e portanto
servem para entender a dinâmica geral da abordagem do autor.
Em essência, há um apreço pelas questões políticas, tratando das
questões das organizações e sucessões no império e nos reinos bárbaros, e
também religiosas, uma vez que o cristianismo e a conversão de líderes é um dos
pontos mais relevantes da integração bárbara. Também se percebe a presença de
elementos da história militar, principalmente na forma da exploração da relação
entre a inserção de bárbaros para a força imperial através de acordos, e dos
conflitos diversos que ocorreram entre esses povos e o império.
Uma das características mais notáveis na abordagem das migrações
bárbaras é o esforço empenhado para mostrar como um movimento de grupos
heterogêneos. Também se esforça para desconstruir a concepção de “invasões
bárbaras” e apresentar a ideia das migrações como consequências de distintos
fatores como a política de cidadania romana e a necessidade de contingente para
as forças militares.
Ainda que o trabalho de diferenciar os reinos bárbaros por sua relação
com o império tenha alcançado êxito, de modo geral as particularidades culturais de
das práticas dos vândalos não foi bem explorada. Assim sendo, também carece da
comparação das diferentes relações que os bárbaros e seus reinos tinham entre si.
O foco nas sucessões e linhagens de líderes, no caso dos bárbaros, acaba por estar
limitado nas relações pacíficas ou conflituosas com Roma.
A HISTÓRIA DOS VÂNDALOS RECONSIDERADA - GERALDO R. JUNIOR

Geraldo Rosolen Junior é mestre em história pela Universidade Federal


de São Paulo (UNIFESP). É associado ao Laboratório de Estudos Medievais
(LEME/UNIFESP) e também do Laboratório de Estudos Mediterrânicos e Bizantinos
(LMEB/LEME-UNIFESP). Tem ampla pesquisa com a temática dos vândalos e seus
aspectos individuais como religiosidade e identidade.
A resenha baseada na obra “Die Vandalen: Aufstieg Und Fall Eines
Barbarenreichs”, de Roland Steinacher, explora inicialmente as questões que
envolvem o processo de migração que levou os vândalos a se estabelecerem na
África. Também vai abordar as práticas políticas e militares entre o império e outros
reinos bárbaros. Vão ser exploradas questões como as sucessões dos chefes
vândalos e os conflitos com o Império Bizantino, de modo que se possa estabelecer
uma perspectiva geral e, como sugere o título, diferente da estabelecida
tradicionalmente.
A trajetória dos vândalos começaria ainda no século I com o processo de
incorporação ao Império Romano, que duraria até o século IV, quando as relações
com os bárbaros se tornaram hostis, posteriormente Steinacher delimitaria melhor o
recorte temporal. Assim, vândalos, alanos e suevos em conjunto migraram para
Hispânia. Após conflitos entre os vândalos e suevos pelo poder deixado após a
morte do rei alano, os vândalos se estabeleceram na África. Com o enfraquecimento
do império, os vândalos tiveram presença relevante nos aspectos militar e
econômico.
Como anteriormente colocado, a incapacidade do império de frear o
estabelecimento da força bárbara permitiu aos vândalos um domínio amplo de modo
que era capaz de assimilar outras comunidades africanas. Um exemplo da
amplitude do poder do Reino Vândalo é a indicação de Genserico, o rei vândalo, de
um candidato para imperador do ocidente. Nos aspectos políticos e militares, o
saque de Roma com suporte dos mouros, em regime semelhante ao federativo
como aquele usado pelo império, mostra a capacidade de organização e extensão
do poder dos vândalos. No âmbito religioso, os vândalos conseguiram impor o
arianismo na corte e nas comunidades que dominaram.
A África bizantina se mostrou instável e suscetível aos eventuais estouros
de revoltas. Essas seriam causadas por uma gestão que privilegiaria os romanos
em detrimento dos vândalos. Os conflitos com Justiniano e o Império do Oriente
teriam se iniciado com a deposição de Hilderico, e teriam como objetivo
restabelecê-lo. Assim sendo, o objetivo de Justiniano não estaria associado com a
conquista dos vândalos. Todavia, após uma série de derrotas e a perda de Cartago,
tomada pelo general Belisário, a dominação tornou-se fato consumado.
Roland Steinacher, já citado anteriormente, é quem fundamenta o texto.
Walter Pohl é outro historiador usado para referenciar e contrapor algumas das
perspectivas apresentadas. Em ambos os casos, a sustentação das afirmações é
colocada pelos achados arqueológicos e das narrativas do período, principalmente
as romanas.
Os aspectos políticos, como a organização do reino e as relações com o
império e grupos africanos, permitem entender as diferentes dinâmicas que fazem
parte do mundo vândalo. Nas questões religiosas, como exemplo, a imposição do
arinismo só poderia ser efetivada como política de um poder estabelecido. Além
disso, o texto aborda a questão do uso do termo vandalismo com associação de
violência e das narrativas que se formaram sobre o reino dos vândalos e as
eventuais disputas sobre a ancestralidade vândala.
A dissertação sobre as migrações e integração dos vândalos ao império,
e seus posteriores conflitos, os caracteriza de maneira individual em relação aos
outros reinos bárbaros. A forma como é colocada trajetória do reino, desde a massa
heterogênea até a conquista por Justiniano, serve para vislumbrar as dificuldades
do Império Romano em conter avanços bárbaros, mas que seu poder de influência
permanecia uma vez que a organização política dos vândalos era associada com a
romana.
Ao abordar a figura de Estilicão, de origem vândala e que teria servido ao
império, mostra a busca dos vândalos pela legitimidade do seu poder através de
uma figura associada com Roma. O reconhecimento da identidade vândala, e as
questões da etnogênese desse grupo, mostram que as marcas deixadas pelos
bárbaros foram significativas em seu período e no presente.
HISTÓRIA MEDIEVAL - DINARTE BELATO

Dinarte Belato é formado em filosofia pela Universidade Regional do


Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e mestre pela Universidade Estadual de
Campinas. Foi professor de filosofia na Unijuí e pesquisador das temáticas agrária,
história dos alimentos e outras questões próximas.
O livro publicado se mostra, semelhante ao de Marcelo Cândido, com
uma proposta didática para estudos das características do período medieval. Na
abordagem dos bárbaros consegue estabelecer algumas diferenciações além da
relação com o império. Nos aspectos culturais mostra maior apreço pelos romanos,
colocando os bárbaros quase como massa homogênea de indivíduos em migração.
A noção básica dos bárbaros que o autor usa é de povos agrários e
nômades. Essas populações teriam se deslocado e seriam a causa da crise
organizacional dos chamados “povos civilizados”. O processo migratório é colocado
como uma invasão que culminaria na destruição do Império Romano, assim a
formação do período medieval estaria fundamentada na degradação causada pelos
bárbaros.
Especificamente ao tratar dos vândalos, inicialmente os coloca como
parte de uma massa, formada também por suevos, alamanos, francos e outros, que
invadiram as fronteiras romanas. Posteriormente se estabeleceram na África até
serem derrotados pelos bizantinos, a vitória contra os vândalos fica atribuída ao
general Belisário na conquista de Cartago.
Das diferenciações estabelecidas entre os vândalos e os outros povos
bárbaros destaca-se que são colocados como mais violentos, principalmente ao
acentuar as práticas de escravização dos romanos e expropriação de suas terras.
Para as questões religiosas, segundo o autor, ao aderirem ao arianismo os vândalos
contribuíram para uma irreparável fragmentação do cristianismo.
O aspecto pastoril dos povos bárbaros é bastante acentuado no texto,
elemento que o autor utiliza para reforçar a ideia de certa homogeneidade dos
bárbaros. O processo de migração também recebe particular atenção,
principalmente ao relacionar os eventos dos povos asiáticos, como os mongóis, e os
da Europa Ocidental.
A integração dos bárbaros ao mundo romano, bem como a incorporação
da cultura imperial é um elemento que reforça a ideia do autor de uma suposta
superioridade nos aspectos culturais por parte dos romanos. Essa ideia se faz
presente ao colocar a sedentarização dos bárbaros´como resultado de uma espécie
de imposição inevitável de uma cultura que sobrepõe outra.
De modo geral o texto utiliza textos de historiadores, como Hodgett e
Heers, e seus respectivos textos para uma reforçar alguma afirmação ou apresentar
outra perspectiva da temática abordada. Não são mencionadas fontes do período
nem são apresentadas perspectivas contemporâneas ao período das migrações.
A perspectiva de superioridade romana no âmbito cultural é abordada,
como já colocado anteriormente, por meio da percepção de que ao aderir a religião
cristã e as práticas sedentárias os romanos, apesar da incapacidade de resistir ao
avanço dos bárbaros, se impôs por meio da cultura. No mesmo sentido, o fato dos
bárbaros utilizarem as estruturas políticas e econômicas imperiais representaria
uma vitória em uma espécie de choque de culturas.
A ideia de que o contato entre bárbaros e romanos foi um fator de
degradação para o império reforça a narrativa dos bárbaros como símbolo de
violência desenfreada. Outro fator nessa questão é de que ao generalizar os
diferentes grupos, acaba por deslegitimar as reivindicações identitárias da
contemporaneidade que buscam nesses povos as ruas raizes.
CONCLUSÃO

Em termos gerais, todos os autores abordados concordam que os


vândalos tiveram uma relação diferente da maioria dos demais povos que migraram
para dentro de território imperial. O fato de tomarem para si e se assentarem no
norte da África mostra que foram capazes de fazer frente ao Império Romano que
não conseguiu evitar a estruturação e solidificação do domínio vândalo.
Diferenciando-se dos demais autores, Belato não trabalha em seu texto a
busca dos vândalos por legitimidade junto à aristocracia romana, que pode ser vista
no texto de Geraldo R. Junior na figura de Estilicão. O mesmo autor ainda menciona
a presença dos vândalos nas fileiras do exército romano em parte do período de
migração antes de se fixarem em Cartago.
A conquista do território vândalo é apresentada com diferentes prismas,
no caso de Marcelo Cândido é tratado como parte do projeto expansionista de
Justiniano, enquanto Geraldo Junior entende como consequência da incapacidade
dos vândalos de se estruturarem para resistir às incursões do Império Bizantino.
Belato por sua vez não cita Justiniano e a vitória sobre os vândalos fica como mérito
do General Belisário na conquista de Cartago.
Enquanto Geraldo Junior tem como objeto especificamente os vândalos
suas referências são baseadas principalmente em Steinacher, que por sua vez
também cita fontes arqueológicas. Enquanto Cândido faz paralelos entre diferentes
historiadores, contemporâneos a nós e aos romanos, para estabelecer os
contrapontos das diferentes narrativas. Belato, como também já colocado
anteriormente, utiliza de outros autores para apresentar aspectos distintos dos quais
ele disserta.
REFERÊNCIAS

CÂNDIDO, Marcelo. História Medieval. Editora contexto, 2019


JUNIOR, Geraldo R. A história dos Vândalos reconsiderada. Revista USP, 2020
BELATO, Dinarte. História Medieval. Editora Unijuí, 2009
JUNIOR, Geraldo R. A identidade vândala para as narrativas romanas dos
séculos V e VI. Disponível em:
<repositorio.unifesp.br/bitstream/handle/11600/61233/Disserta%c3%a7%c3%a3o-G
eraldo-Rosolen-Junior-final.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 28/11/2021

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