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XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp.

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PRÁTICAS INSTITUCIONAIS E GRUPOS DE INTERESSE:


A GEOGRAFICIDADE DA BANCADA RURALISTA E AS ESTRATÉGIAS
HEGEMÔNICAS NO PARLAMENTO BRASILEIRO

INSTITUTIONAL PRACTICES AND INTERESTS GROUPS:


THE GEOGRAPHICITY OF RURALIST BENCH AND THE HEGEMONIC
STRATEGIES IN THE BRAZILIAN PARLIAMENT

Eduardo Álvares da Silva Barcelos


Universidade Federal Fluminense
eduasb@gmail.com

Maycon Cardoso Berriel


Universalidade Federal Fluminense
mayconberriel@yahoo.com.br

Resumo

Por meio da Bancada Ruralista, as elites agrárias transformaram o parlamento


brasileiro num grande espaço político de barganha capaz de reproduzir as históricas
relações patrimoniais e clientelistas, bem como exercer sua pressão institucional para a
defesa dos interesses ruralistas. Sua atuação é diversificada, oscilando desde o lobby
político, a solidariedade e a cumplicidade a outras bancadas, até alianças multi-
escalares através da militância de seus membros. A atual e transitória configuração
político-geográfica de seus membros revela uma re-articulação nacional do poder agro-
fundiário nos estados do Tocantins e Goiás, bem como em Roraima, Paraná, Bahia e
Minas Gerais.
Palavras-Chave: Bancada Ruralista, território, poder político, escala, concentração de
terra.

Abstract

Through Ruralist Bench, the agrarian elites transformed the Brazilian parliament
in the large area of political bargain able to reproduce the historical relationship property
and clientelism, as well exercise it's institucional pressure to defend the interests
2 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

ruralists. It's role is diverse, ranging from the political lobby, solidarity and complicity to
other quarters, up alliances multi-scalar through militancy of its members. The current
and transient political and geographical configuration of its members shows a re-
articulation of the national agro-land in the states of Goias and Tocantins, and in
Roraima, Parana, Bahia and Minas Gerais.
Keywords: Ruralist Bench, Territory, Political Power, Scale, Concentration of Land

Introdução e considerações metodológicas

A análise do patronato rural brasileiro e suas representações políticas no plano


das instituições do Estado, receberam impulso significativo nos últimos anos, desde as
contribuições teóricas e metodológicas das Ciências Sociais, até as análises de cunho
historiográfico e conjuntural apresentadas pela História. Contudo, num país como o
Brasil, onde a “vocação agrária” e a tradição rural são narrativas recorrentes em nossa
sociedade, é no mínimo curioso encontrarmos um número restrito de trabalhos e
aportes teóricos que priorizem o exame da constituição das classes dominantes
agrárias no país, bem como seus mecanismos de inserção nos canais institucionais do
Estado (BRUNO, 1991; 1997; 2002; MENDONÇA, 2005a; 2005b). Nesses relevantes
estudos, significativos de um movimento pioneiro no Brasil, a análise teórica encontra
algumas limitações quando procura operacionalizar seus procedimentos teórico-
metodológicos deslocados de uma dimensão geográfica e dos processos espaciais, até
porque esses trabalhos estão alicerçados em outros referenciais epistêmicos. Nesse
sentido, observa-se uma tendência sutil em considerar o espaço geográfico como um
simples acessório, um ente adicional e secundário das trilhas investigativas, como se o
espaço geográfico não fosse uma dimensão constitutiva do social, e assim descolado
temporal e historicamente dos processos sociais.
Carlos Walter Porto-Gonçalves (2006) nos dá uma pista ao afirmar que a
sociedade não se organiza primeiro para depois constituir seu espaço geográfico e
vice-versa. Ela ao se constituir enquanto tal constitui seu espaço, organizando-o
segundo um quadro contraditório de forças sociais e interesses distintos. Assim, as
relações sociais e de poder inscritas nas lutas de classes tem sua expressão
geográfica quando analisadas no espaço e em seus recortes. É a partir dessa
geograficidade do social que buscamos, enquanto recurso metodológico, recuperar o
espaço geográfico na análise social e sinalizar, a partir do exame da Bancada Ruralista
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 3
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e de suas práticas, os atuais desdobramentos que caracterizam a atual configuração


político-espacial dos ruralistas no parlamento brasileiro.
Para ilustrar a dimensão espacial da bancada e suas práticas institucionais,
procuramos operacionalizar nossas análises a partir de um elenco de informações que
auxiliaram na elaboração de mapas temáticos e quadros explicativos de sua ação. O
reduzido e limitado conjunto de dados e subsídios teóricos nos vinculou as
contribuições de Edélcio Vigna (2001; 2007) membro do INESC1 para construir mapas
e gráficos, conceitos e quadros de análise para a Câmara dos Deputados. Já para o
Senado, usamos os dados do DIAP2, pois os estudos do INESC limitaram-se somente
à Câmara. Nos apoiamos teoricamente nas contribuições de Regina Bruno (1989;
1991; 1997; 2002), Carlos Walter Porto-Gonçalves (2004; 2006; 2008), José de Souza
Martins (1994) e Sônia Mendonça (2005a; 2005b), para tentar dar conta das complexas
relações imbricadas nas esferas pública e privada, bem como ilustrar o complexo bloco
de poder formado pelas elites no campo.
É partir desse entendimento, que orientamos essa contribuição para um foco
pouco explorado na ciência geográfica. De partida, vemos um déficit de trabalhos que
busque investigar o campo de ações e estratégias políticas do patronato rural nas
instâncias do poder legislativo federal. As práticas institucionais exercidas por
parlamentares ligados ao poder agro-fundiário e as diferentes frações de classe das
elites agrárias, são além de ideológicas, econômicas e políticas, espaciais, uma vez
que o modus operandi da Bancada Ruralista, sujeito maior deste trabalho, se realiza
pela atuação e articulação multiescalar de uma rede de sujeitos ligados ao agro-poder,
e, sobretudo, operacionalizado por uma geopolítica ruralista, que produz um discurso
sobre o espaço agrário sob a ótica do Estado, no entanto reproduzido pela visão dos
mandantes e senhores. A alta capilaridade política e o amplo grau de mobilização da
bancada, permite arregimentar parlamentares de outros estados e contextos sócio-
geográficos, configurando um espaço político de distintas territorialidades entrelaçadas
num único comando de decisão.

1
O INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos – é uma organização não-governamental, sem fins
lucrativos, não partidária e com finalidade pública. Criado em 1979, o INESC atua, em todos os seus projetos, com
duas linhas de ação: o fortalecimento da sociedade civil e a ampliação da participação social em espaços de
deliberação de políticas públicas. Mais informações no site http:// www.inesc.org.br.
2
O DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar fundado em 19 de dezembro de 1983,
estruturado para atuar junto aos Poderes da República, em especial no Congresso Nacional e, excepcionalmente,
junto às Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores, no sentido da institucionalização, da transformação em
normas legais das reivindicações predominantes, majoritárias e consensuais da classe trabalhadora. É um
instrumento dos trabalhadores que foi idealizado pelo advogado trabalhista Ulisses Riedel de Resende, atual Diretor-
Técnico da entidade. Mais informações no site http:// www.diap.org.br
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Dentro deste contexto, esse trabalho buscará mostrar as imbricadas relações


entre o público e o privado e a tradição clientelista que marcam a conformação do
Estado e da sociedade brasileira. Num segundo momento, caracterizaremos os
antecedentes e acontecimentos históricos que protagonizaram a união dos ruralistas no
parlamento brasileiro. As definições, composição e estrutura da Bancada Ruralista, seu
modus operandi, suas práticas e estratégias institucionais, bem como seu atual arranjo
espacial e suas inter-relações sociais e de poder no campo, a partir dos conflitos e da
violência, darão prosseguimento seqüencial em nossas análises. Esse trabalho ainda
que incipiente, vem no sentido de fortalecer e contribuir, a partir do olhar geográfico, no
entendimento das formas e práticas exercidas pelos canais de representação política
do patronato rural no âmbito do Estado brasileiro.

Breve histórico da formação social brasileira

Sempre quando pensamos em abordar como se deu o processo de


conformação do Estado brasileiro, lembramos de relacionar ao processo de
colonização lusitana que é marcada pela existência das grandes extensões de terras
em mãos de poucos em detrimento da grande maioria que vive parcamente às
margens dessas grandes propriedades, ao trabalho escravo e ao relacionamento de
cumplicidade entre a esfera pública e privada.
Para buscarmos uma análise atual do campo brasileiro, é necessário termos em
mente um importante elo que explica a concentração fundiária existente no país até os
dias atuais que é a relação entre o Estado brasileiro e a defesa dos interesses da
propriedade privada da terra (referimo-nos às grandes propriedades). E essa relação
está calcada no imbricamento (quando deveria existir um afastamento entre essas
esferas) entre o público e o privado. Quando falamos das grandes propriedades no
Brasil, a conhecida afirmação do anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon, em sua
obra O que é a propriedade? (1975), tem uma tremenda relevância explicativa, quando
aquele lá pelos meados do século XIX afirmava: “A propriedade é um roubo.” E
consultando a história da formação e ocupação do território brasileiro, vemos que os
grandes latifúndios foram criados, se mantiveram e se conservam até hoje, baseados
não somente do roubo das terras dos povos indígenas que aqui habitavam, mas
também na violência contra o trabalhador do campo e na manipulação eleitoral de
grande número de pessoas tendo como base as políticas do favor.
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Como uma primeira citação da relação escusa entre o público e o privado no


Brasil e a conformação dos grandes latifúndios, temos o exemplo das Capitanias
Hereditárias que aconteceu logo depois do declínio da atividade econômica de
exploração do pau-brasil, aliado às constantes tentativas por parte dos franceses de se
estabelecerem por essas terras, bem como os prejuízos que vinham trazendo o
comércio com o Oriente. Essa conjunção de fatores levou a Coroa portuguesa a se
decidir pela colonização e daí pela organização administrativa de maneira
descentralizada com as Capitanias Hereditárias em que o território brasileiro foi dividido
em 12 lotes – as sesmarias – e concedido às pessoas que estivessem interessadas em
vir colonizar a terra com seus próprios recursos3 e desde que fosse branco, europeu e
católico. Eis aqui, sem sombra de dúvidas, um dos fatores que dá início à concentração
fundiária no Brasil.
A Lei de n.º 601 de 18 de setembro de 1850 que dispõe sobre as terras
devolutas do Império e que ficou conhecida como a Lei de Terras, veio a ser e foi um
importante instrumento para reconhecimento da posse dessas terras doadas pela
Coroa Portuguesa e que estavam em mãos dos herdeiros, e portanto afirmando a
existência do latifúndio, além de transformar a terra em mercadoria e impossibilitar que
grande parte dos trabalhadores pudessem vir a ter acesso a um pedaço de terra a não
ser pela compra, isto é, instituindo juridicamente uma nova forma de propriedade da
terra que é a mediada pelo mercado. O exemplo da Lei de Terras é enfático para
demonstrar o poder de pressão e influência (o lobby) dos fazendeiros (que é histórico)
perante o Estado brasileiro, para que este siga atendendo aos interesses da grande
propriedade. O exemplo brasileiro faz-nos lembrar do anarquista Piotr Kropotkin (2000),
em seus escritos presentes em O Estado e o seu papel histórico, ao falar sobre a
aliança histórica entre o Estado e os grandes proprietários no tocante à apropriação
das terras comunais e expulsão dos camponeses.
A título de maior explanação, poderíamos elencar como importantes
peculiaridades, entre outras, da conformação do Estado e da sociedade brasileira como
autoritários e hierárquicos, as seguintes características: a política da tutela e do favor (o
clientelismo e o corporativismo) e a indistinção entre o público e o privado (o
patrimonialismo). A esse respeito, Marilena Chauí (1987, p. 47-48), em seus escritos

3
Cabe relativizar esta afirmação e explicar que as duas Capitanias que alcançaram maiores êxitos
econômicos foram em muito ajudadas pelo governo lusitano.
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reunidos sob o título Conformismo e Resistência: aspectos da cultura popular no Brasil


nos diz:

O Brasil é uma sociedade autoritária, na medida em que não consegue,


até o limiar do século XXI, concretizar sequer os princípios (velhos de
três séculos) do liberalismo e do republicanismo. Indistinção entre o
público e o privado, incapacidade para tolerar o princípio formal e
abstrato da igualdade perante a lei, combate da classe dominante às
idéias gerais contidas na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, repressão às formas de luta e de organização sociais e
populares, discriminação racial, sexual e de classe, a sociedade
brasileira, sob a aparência de fluidez (pois as categorias sociológicas,
válidas para a descrição das sociedades européias e norte-americana,
não parecem alcançar a realidade social brasileira, estrutura-se de
modo fortemente hierárquico, e, nela, não só o Estado aparece como
fundador do próprio social, mas as relações sociais se efetuam sob a
forma da tutela e do favor (jamais do direito) e a legalidade se constitui
como círculo fatal do arbítrio (dos dominantes) à transgressão (dos
dominados) e, deste ao arbítrio (dos dominantes).

Um outro importante estudo que explica bem as características marcantes do


Estado e da sociedade brasileira é o realizado por José de Souza Martins em O Poder
do Atraso: Ensaios de Sociologia da História Lenta (1994), onde o autor demonstra
como faz parte da tradição brasileira, a total indistinção entre o público e o privado, a
política do favor como fundamento do Estado brasileiro4 e a forte influência do
clientelismo de fundo oligárquico. Todo esse “atraso” soma-se a uma aparência
moderno-burocrática.5

4
Nas palavras do próprio José de Souza Martins (1994: 20) “A política do favor, base e fundamento do
Estado brasileiro, não permite nem comporta a distinção entre o público e o privado.”
5
“Por outro lado, qualquer tentativa de interpretar a dinâmica do processo político brasileiro, e seus
episódios singulares, passa pelo reconhecimento de que as mudanças só ganham sentido nas crises e
descontinuidades do clientelismo político de fundo oligárquico que domina o País ainda hoje. Passa também pelo
reconhecimento de que a tradição do mando pessoal e da política do favor desde há muito depende do seu
acobertamento pelas exterioridades e aparências do moderno, do contratual. A dominação política patrimonial, no
Brasil, desde a proclamação da República, pelo menos, depende de um revestimento moderno que lhe dá uma
fachada burocrático-racional-legal. Isto é, a dominação patrimonial não se constitui, na tradição brasileira, em forma
antagônica de poder político em relação à dominação racional-legal. Ao contrário, nutre-se dela e a contamina. As
oligarquias políticas no Brasil colocaram a seu serviço as instituições da moderna dominação política, submetendo a
seu controle todo o aparelho de Estado. Em conseqüência, nenhum grupo ou partido político tem hoje condições de
governar o Brasil senão através de alianças com esses grupos tradicionais. E, portanto, sem amplas concessões às
necessidades do clientelismo político. Nem mesmo os militares, secularmente envolvidos num antagonismo
histórico com as tradições oligárquicas, conseguiram nos vinte anos de sua recente ditadura destruir as bases do
poder local das oligarquias. Tiveram que governar com elas, até mesmo ampliando-lhes o poder. No fim, o poder
pessoal e oligárquico e a prática do clientelismo são ainda fortes suportes da legitimidade política no
Brasil.”(Ibidem, p. 20).
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estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

Em grande parte, tais peculiaridades são conseqüência de uma extensa


concentração fundiária que coloca na terra a base das relações de dominação até os
dias atuais e em que o prestígio do poder (não somente econômico) faz com que um
grande proprietário tenha relações de proximidade com a esfera pública (quando não é
ele mesmo) e atuando como um inter-mediador entre eleitores e o poder público,
marcando uma relação paternal e tendo como fundamento o recebimento e o
pagamento de favores. Isto que acabamos de narrar, em muito marca a política dos
coronéis e que é brilhantemente narrado por um dos clássicos da Ciência Política
brasileira de Victor de Nunes Leal (1997), em Coronelismo, Enxada e Voto: município e
o regime representativo no Brasil .
Como já fora afirmado anteriormente, é característico do Estado brasileiro a
proximidade entre as esferas pública e privada, e durante o século XIX, ainda nos
tempos do Império, temos no exemplo da Lei de Terras, a prova de como os
latifundiários, desde há muito tempo ocupam os espaços políticos do Estado para
tentar (muitas das vezes obtendo êxito nos objetivos) definir os rumos das políticas
estatais (nem mesmo chegam a ser políticas de governo e sim políticas de Estado!) no
tocante ao campo brasileiro. O que hoje reconhecemos como a Bancada Ruralista
nada mais é do que a roupagem atual de agentes que há muito ocupam funções
públicas e que atuam na defesa intransigente dos interesses dos fazendeiros, melhor
dizendo, da tradicional oligarquia que nunca deixou o poder estatal, apenas para dizer
em termos metafóricos, se reacomodou num canto diferente da “Casa-Grande”, mas
nunca a deixou. É o velho e já conhecido patrimonialismo presente no Estado e na
sociedade brasileira.
Mesmo depois da derrota política da chamada República Velha, em que muitos
historiadores chegam a interpretar como a saída dos latifundiários do bloco de poder
que controla o Estado, vemos no governo Vargas uma espécie de pacto político com as
oligarquias tradicionais do campo brasileiro para, em troca de apoio ao governo federal,
não verem seus privilégios ameaçados por nenhum tipo de política estatal que
assegurasse algum direito aos trabalhadores do campo. Tanto que no governo Vargas
será criada a legislação trabalhista apenas para os trabalhadores do espaço urbano,
por conta de grandes pressões políticas por parte destes. Em resumo, apenas houve
uma re-arrumação das forças hegemônicas na composição do Estado brasileiro.
Durante a ditadura militar não haverá, em hipótese alguma, bem como no período da
redemocratização, nenhum tipo de rompimento deste histórico pacto político que usa
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de diferentes estratégias para ocupar os espaços políticos possíveis visando à


manutenção e perpetuação da concentração fundiária presente no país.

Antecedentes históricos e a produção ideológica do discurso patronal


no campo brasileiro

A partir dos anos 80, uma nova ofensiva político-ideológica se insere nos
circuitos de debate que marcaram e revitalizaram a retórica do patronato rural no Brasil.
A ideologia do moderno, contra-face do “velho” e “atrasado” mundo rural brasileiro, foi o
fio condutor que catalisou uma nova realidade discursiva para a agricultura nacional
como também projetou uma nova imagem identitário-territorial para os “homens do
campo”, o “nós, produtores e empresários rurais”. A modernização agrícola, a
tecnificação da propriedade e a instituição de novos padrões de produção no campo, a
partir da aliança agricultura-indústria – os complexos agroindustriais – foram as
premissas fundantes deste novo pensamento.
Regina Bruno (1997) se refere ao “novo” discurso a partir de três pontos.
Primeiro esse discurso significou a visibilidade de um tipo de patronato rural, que se
constituiu a partir da modernização agrícola; institui novos códigos e condutas, no
entanto agregou velhas práticas e antigos argumentos, típicos da tradição hegemônica,
clientelista e oligárquica, historicamente presentes no espaço agrário do Brasil.
Segundo, a nova retórica buscou renovar os mecanismos de legitimação das estruturas
de poder dos grandes proprietários de terras e empresários rurais que buscasse
fortalecer as assimétricas relações sociais e de poder apoiadas na dominação-
exploração de uma massa significativa de trabalhadores rurais. E terceiro, o “novo”
pensamento, buscou por um lado redefinir o direito de propriedade, reforçando-o e
ampliando suas fronteiras historicamente definidas, como por outro procurou negar a
existência de uma questão agrária no Brasil, supostamente superada atrasada, uma
vez que a modernização agrícola e a propriedade fundiária teriam se ajustado ao longo
dos anos em função da integração dos mercados e das transformações da economia.
A estrutura fundiária e a reforma agrária não tiveram relevo neste “novo”
discurso. Para os “modernos”, a reforma agrária é uma questão defasada, antiga, de
responsabilidade do Estado, não cabendo aos proprietários e empresários rurais um
esforço para um assunto já superado. A eles só cabia o debate do novo, ou seja, o
moderno, a história dos vencedores, pois “ser moderno é furtar-se da pecha do atraso
e do arcaico, é ser competente, competitivo, é ter talento e capacidade de decisão, é
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sair na frente, não importando que usos ou abusos possam daí advir.” (BRUNO,
1991:14). Qualquer forma de contestação, denúncia ou enfrentamento era considerado
no “novo” discurso uma característica marginal, periférica, ou seja, atrasada. A
anacrônica e arcaica reforma agrária, não “se revelava como formas modernas de
propriedade e nem contribuía com o já existente padrão de desenvolvimento agrícola
em curso” (Idem, 1997:24).
O discurso “nós produtores e empresários rurais”, retórica recorrente nas “falas”
dos representantes das elites agrárias foi uma tentativa de construir critérios e padrões
de sociabilidade marcados na persistência de uma identidade comum, leais a todos os
“homens do campo”, uma mostra de fidelidade e identificação coletiva de todos os
interesses e problemas sentidos no mundo rural. Essa homogeneização da retórica
elitista buscou ocultar a histórica e a permanente luta de classes no agro brasileiro, os
cenários de disputa e luta pela terra, a concentração fundiária e de poder e a todo um
movimento societário não-alinhado como os interesses do poder agro-fundiário.
Procurou negar no espaço agrário, os processos antagônicos e contraditórios, fruto de
uma dialética sócio-espacial, que é antes de tudo conflitiva. A suposta harmonia de
interesses entre os “homens do campo”, buscou sepultar a história e a distorcer a
realidade social, no sentido de ofuscar suas incoerências e as assimetrias nas relações
sócio-espaciais e de poder.
É possível então identificar que essa nova identidade ruralista evoca novas
possibilidades de re-valorização do rural e das próprias territorialidades construídas. A
tentativa de criar uma identidade comum entre os distintos sujeitos e protagonistas no
campo, despersonifica as próprias relações sociais e de poder e submete o imaginário
social ao pensamento de que o “nós” é antes de tudo o “todo”.
Regina Bruno (1991) ressalta que o recurso à dominação política e ideológica a
partir do discurso, expressa novas formas de dominação e exploração burguesa. A
ideologia ruralista e as práticas de dominação oscilaram desde o controle político e
ideológico dos trabalhadores rurais, sindicatos, associações, prefeituras, até
instrumentos de coação, clientelismo, sujeição, cooptação e ameaças. No entanto, foi a
ideologia do moderno que governou a conduta do empresariado e do patronato rural
brasileiro. Estava em curso um novo ethos do patronato rural, uma nova agenda
política, uma nova e emergente orientação para o campo brasileiro, uma nova
possibilidade de construir uma territorialidade única, recheada de consensos,
interesses comuns, conformidades e acordos para a “classe rural” no país.
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Para a autora, as elites agrárias tentaram confundir os trabalhadores rurais e


seus canais de representação política se mostrando como um bloco homogêneo, unido
pela força e pelos interesses comuns do agro, mecanismo pelo qual foi possível criar a
falsa idéia de uniformidade do patronato agrário. Para isso, a nova retórica salientava a
fragilidade e a diversidade social presente na classe trabalhadora como característica
indesejável, isto é, não-alinhados como o futuro da agricultura do país.
No entanto, o que vemos é um cenário amplamente complexo e diversificado. A
estrutura das classes dominantes no Brasil está marcada pela disputa de hegemonia
interna. As distintas frações de classe, os grupos, as entidades patronais operam em
condições diferenciadas, desde o acesso ao crédito, à concessão de benefícios, o uso
e o aperfeiçoamento tecnológico, a aquisição de terras, as condições de mercado e os
processos de produção. Todos esses fatores são assimetricamente dispostos entre o
patronato rural brasileiro e nas circunstancias em que ele se realiza. Assim, pode-se
refutar a idéia monolítica e uniforme do patronato rural.
Por fim, cumpre ressaltar alguns aspectos sobre essa diversidade presente no
seio das elites agrárias. Apesar de divergências internas e contrapontos político-
ideológicos, as tensões geradas de modo algum são antagônicas. Em momentos de
crise todos se unem e se fortalecem enquanto classe e ninguém entra em rota de
colisão em situações de fragilidade. Os laços de solidariedade, de complementaridade
e ajuda mútua ultrapassam empresários, agroindústrias, latifundiários, cooperativas,
multinacionais nos momentos de instabilidade ou quando ameaçados seus
mecanismos de poder e persuasão frente à sociedade brasileira (BRUNO, 1991; 1997).
A diversidade classista que opera nas tramas do poder agro-fundiário nunca perdeu
sua unidade, muito menos a atitude histórica de manutenção da estrutura fundiária e as
formas e instrumentos de dominação-exploração imersas nas relações sociais e de
poder no campo.
Todo esse quadro explicativo nos revela as mudanças e a re-contextualização
nas relações sociais e de poder dos “Senhores da Terra” nos anos 80, como nos fala
Regina Bruno (1997). A diversidade de entidades e organizações patronais no campo,
para além de disputas de hegemonia interna, controle político de instituições, comando
ideológico sobre frações da classe trabalhadora, defendia a necessidade de um
comando único, politicamente homogêneo, situado nas tramas institucionais do Estado.
Nesta ofensiva, era preciso controlar e tomar as “rédeas” das instâncias
decisórias do Estado, principalmente os núcleos e comissões que tornavam possíveis,
a sustentação da concentração da terra, a reprodução do poder corporativo no campo
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 11
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

e principalmente o congelamento das políticas de reforma agrária e fundiária. A


conjuntura política da Assembléia Constituinte 1987/1988, foi o momento fértil que
protagonizou a gênese de um comando coordenado e controlado pelas elites agrárias,
inicialmente a partir da UDR – União Democrática Ruralista6. Surge então no
Congresso Nacional a Frente Parlamentar Ruralista, mais conhecida como Bancada
Ruralista, expressão que usaremos ao longo de nossas análises.

Bancada Ruralista: origens, alianças e composição política

A Bancada Ruralista (BR), começa a ganhar espaço na cena política a partir da


Assembléia Constituinte (1987/1988). Naquele momento, ainda sem a característica de
uma bancada, as elites agrárias eram conduzidas pela poderosa UDR – União
Democrática Ruralista – fundada e comandada pelo pecuarista goiano Ronaldo Caiado
e pelo cafeicultor paulista Plínio Junqueira Junior (BRUNO, 1997). Esta organização
patronal fundada em 1985, considerada a mais violenta e radical entidade já existente
no Brasil, utilizava como estratégia a força e a violência para intimidar os seus
oponentes. No processo constitucional seu objetivo era opor-se à regulamentação dos
artigos constitucionais que tratavam da reforma agrária e a democratização da terra.
No início, o grupo ruralista não se distinguia da UDR e não eram mais que vinte
parlamentares, mas que orquestrados, constituíam um poder de articulação
significativo. Esta frente só não mobilizou mais parlamentares devido ao caráter
agressivo que o deputado Ronaldo Caiado (ex-PFL hoje DEM/GO) imprimiu ao grupo
(Vigna, 2001). Segundo o ex-Secretário Geral do INESC, Bizeh Jaime,

“desde a Assembléia Nacional Constituinte, os ruralistas utilizam armas


de convencimento típicas da elite agrária para negociar com o Executivo
e o próprio Congresso. A ação organizada dessa bancada volta-se para
dois objetivos fundamentais: dificultar a tramitação de projetos de lei
que visem facilitar a realização da reforma agrária e pressionar os
governos para que perdoem as dívidas dos grandes fazendeiros” (apud
SAUER et. all, 2006:60).

6
Para maiores informações sobre o assunto, ver Regina Bruno (1989, 1997).
12 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

Bizeh Jaime lembra que no processo Constituinte, os ruralistas apoiaram as


propostas mais conservadoras e o mandato ampliado de cinco anos para o então
presidente Sarney (1985-1989), em troca de um texto que dificultasse a desapropriação
de terras para a reforma agrária (Ibidem).
Regina Bruno (1989) ressalta que a UDR era antes de tudo um canal de
revalorização político-ideológica das elites agrárias no país e “o que estava em jogo na
concepção de participação política da UDR era a sobrevivência e o fortalecimento dos
grandes proprietários de terra enquanto classe” (Ibidem, p. 03). Em última instância, a
UDR tentava impor ao patronato rural uma mesma identidade política, uma
personalidade única, que mais tarde fracassaria pelo tom radical, violento e por fazer
apologia explicita ao conflito e as armas (BRUNO, 1997).
Por outro lado, a atuação da UDR nos canais de representação política do
Estado buscava um novo perfil de parlamentar. Com o objetivo de desqualificar seus
adversários e ampliar ainda mais os “simpatizantes” pelo projeto patronal para o
campo, a UDR intensifica a construção de um novo perfil de representação política: o
parlamentar militante defensor da propriedade e da iniciativa privada. Nesse sentido, o
parlamentar deveria ser “mais aguerrido”, “menos medroso” e “mais militante”. Todos
os candidatos que se alinhassem com os “interesses da agricultura moderna e da
propriedade” seriam financiados pela entidade, independente de sua filiação partidária
(Ibidem).
Essa postura ratificada pela UDR foi uma prática institucional que explicita as
velhas tradições clientelistas e as políticas da “troca de favores”, comumente exercidas
pelas oligarquias e senhores da terra na historia agrária brasileira. Como a própria UDR
dizia: “isso faz parte do jogo democrático”. Essa visão corporativista da política foi o
grande fio condutor da entidade, que tentou sob todos os artifícios impor uma
identidade para todos, ignorando diferenças ideológicas, partidárias e visões de mundo.
O grande mentor e ideólogo do projeto UDR, Ronaldo Caiado, durante a
legislatura 1990/1994, quando se elegeu deputado federal pelo ex-PFL, hoje DEM/GO,
deflagra uma intensa luta parlamentar e uma agressiva militância política pelos
corredores e gabinetes do parlamento brasileiro. Suas “calorosas corridas” pela defesa
da propriedade e da iniciativa privada, fizeram do Congresso um palco perene de lutas
em prol da manutenção do poder agro-fundiário. A tomada da Comissão de Agricultura,
indicando o presidente, garantiu o exercício pleno do poder agro-conservador bem
como permitiu uma orientação tendenciosa para as políticas agrárias e fundiárias
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 13
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

(Ibidem). Foi neste contexto uderrista, através de seus deputados-militantes, que se


formaram as bases e a espinha dorsal que configuraram a atual Bancada Ruralista.
Durante os anos 90, particularmente em 1992, o processo de impeachment do
presidente Fernando Collor de Melo, desarticulou as forças políticas das elites agrárias
e enfraqueceu os canais de pressão no Congresso Nacional. A entrada da CNA –
Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – e da SRB – Sociedade
Rural Brasileira – com representantes no espaço político parlamentar, flexibilizou ainda
mais a unidade ruralista, visto as históricas divergências e contradições construídas por
essas agremiações.
Após a “dissolução” oficial da UDR em 1993, a Bancada Ruralista passa por
uma reciclagem partidária e por uma renovação de suas bases políticas. Vigna (2001:
01) destaca três aspectos fundamentais que impulsionaram um novo perfil de
articulação política da BR.

O restabelecimento desta representação foi possível devido a uma


conjunção de fatores. Ressaltamos os mais significativos: primeiro, o
crescimento do PFL (segunda bancada partidária) trás para a Câmara
dos Deputados os representantes da elite agrária mais conscientes da
importância da organização da bancada ruralista como grupo de
interesse, pressão e lobbying; segundo, eleições de notórios
conservadores para as presidências da Câmara e do Senado Federal;
terceiro, a vitória, nas eleições presidenciais, da aliança PFL-PSDB.
Pode-se distinguir, também, um quarto fator: a derrota do então
deputado Ronaldo Caiado. Órfão desta liderança vigorosa e
centralizadora, o grupo ampliou sua articulação com outros setores
parlamentares.

A partir deste momento, a bancada experimentou modificações, tanto em sua


composição e estrutura interna, quanto em seu poder de pressão política, no seu perfil
partidário e principalmente nas formas de operar seus interesses. Passou a dividir os
trabalhos baseados na vivência de cada membro-componente nos distintos setores
produtivos dentro de planos escalares bem definidos, do local ao nacional.
Edélcio Vigna, assessor do INESC, em seu último estudo publicado em 2007
sobre a Bancada Ruralista, sustenta que os ruralistas no parlamento brasileiro na atual
legislatura formam o maior grupo de interesse situado no espaço político institucional
do Estado. Segundo Sauer et. all (2006), citando as contribuições de Vigna (2001),
14 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

apesar da “plasticidade” presente na BR, o conceito que mais se aplica para definir a
atuação da bancada é o de grupo de interesse.

a bancada ruralista não se caracteriza constantemente como um grupo


de interesse, de pressão ou de lobby, mas circula por esses estágios
conforme intensifica ou não as suas ações. É notória, porém, a
predominância do aspecto de "interesse". O conceito "grupo de
interesse" é o que melhor se amolda à Bancada Ruralista, uma vez que
é "mais amplo que o de grupo de pressão ou de lobby". "Os grupos de
interesse, ao desencadearem uma ação, se transformam em grupos de
pressão. E o lobby é a operacionalidade da ação.

Na atual legislatura 2007/2011, a Bancada Ruralista buscou novas alianças e se


fortaleceu institucionalmente. Ocupando quase 23% de toda a Câmara dos Deputados,
a BR superou suas expectativas históricas e despontou como o maior grupo de
interesse do parlamento brasileiro. Seu crescimento pode ser apontado por dois
grandes motivos: i) pela perda de confiança e desalento da sociedade e dos
movimentos sociais no avanço da democracia no campo, após o primeiro mandato do
Governo Lula, que sinalizou em suas campanhas uma mudança radical na geografia
fundiária nacional, porém não se efetivou; e ii) pela inflamada campanha pró-
biocombustíveis e transgênicos construída pelo governo federal, que rearticulou as
forças do poder agro-fundiário a nível nacional, permitindo uma nova agenda política
para a expansão e consolidação do agro-negócio. A Figura 1 mostra a evolução
temporal-histórica da Bancada Ruralista na Câmara de Deputados.

Evolução Temporal-Histórica da Bancada Ruralista

140

120
117 116
Total da Bancada

100
89
80
73
60

40

20

0
1995/1999 1999/2003 2003/2007 2007/2011
Legislaturas

Figura 1: Curva de evolução da Bancada Ruralista na Câmara dos Deputados.


Fonte: Vigna (2007)
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 15
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

A queda de representatividade e a oscilação quantitativa do total de


parlamentares na Câmara dos Deputados, não refletem um enfraquecimento dos
ruralistas no parlamento, pois,

Obtiveram, nestes últimos 12 anos, vitórias consideráveis, como a


aprovação da Lei de Biossegurança; a liberação dos transgênicos por
meio de Medidas Provisórias; a aprovação do relatório final da CPMI da
Terra. Ainda garantiram que o governo mantivesse intacta a Medida
Provisória que suspende as vistorias nas áreas ocupadas pelos
movimentos sociais e penaliza os agricultores sem-terra que participam
de ocupações; e avançaram nas diversas renegociações das dívidas
dos grandes produtores rurais, entre outras conquistas (VIGNA,
2007:06).

O voto clientelista e a militância parlamentar classista, a exemplo de Ronaldo


Caiado (DEM/GO), produzem uma atmosfera de submissão dos interesses partidários
e seus programas aos interesses de classe, visualmente presente nos
encaminhamentos deliberados pela BR. Assim, não se busca uma fidelidade partidária,
mas sim uma fidelidade classista, característica típica dos grupos de pressão do
Congresso Nacional. Os conteúdos programáticos dos partidos são mera formalidade
institucional, debilitados e engolidos pelo poder conservador.
A Figura 2 mostra numericamente os ruralistas na Câmara dos Deputados de
acordo com as metodologias praticadas pelo INESC – Instituto de Estudos
Socioeconômicos – e pelo DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar na atual legislatura 2007/2011.

Deputados Ruralistas na Câmara dos Deputados Deputados Ruralistas na Câmara dos Deputados
Legislatura 2007/2011 - INESC Legislatura 2007/2011 - DIAP

116 111

Deputados Deputados
Ruralistas
Ruralistas

397 402

Figura 2: Ruralistas na Câmara dos Deputados. Fonte: Vigna (2007) e Costa (2006)
16 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

O DIAP não considera como membro-componente da Bancada Ruralista os


parlamentares identificados como pequenos agricultores e a agricultura familiar. O
DIAP entende que esse segmento é contrário às teses ruralistas, inclinando-se
favoravelmente às propostas da reforma agrária e da democratização da terra (COSTA,
2006). No entanto, essa diferença metodológica de cinco parlamentares não retira da
Bancada Ruralista o seu potencial e extraordinária capacidade de manobrar distintas
frações de classe em torno de interesses hegemônicos. Suas práticas institucionais se
valem pelo convencimento e pela mobilização política, e em muitas situações
conseguem o apoio da maioria absoluta do Congresso Nacional a partir da equação
troca-favor.

Modus Operandi e práticas institucionais

O modus operandi que rege o grupo se realiza por inúmeras vias e escalas. O
arranjo político estruturado pela bancada lhe permite ações que transbordam o espaço
governamental e as arenas políticas institucionais. Isto revela a hábil capacidade de
seus membros-componentes de manter vínculos e alianças tanto no interior do Estado
quanto fora dele, principalmente com entidades patronais e com empresários
representantes das elites agro-conservadoras.
A primeira grande característica que fundamenta todo o complexo persuasivo e
de convencimento presente nos membros-componentes da BR é seu poder de
articulação e mobilização de outras bases ou bancadas políticas. Em momentos de
decisão política, de encaminhamentos formais, de formulação de leis, decisões em
comissões ou de votação decisória em plenário, os parlamentares ruralistas se valem
pelo lobby e pela troca de favores e benefícios a partir de uma rede de interesses
amarrada pelas elites no Congresso Nacional. Seus laços de cooperação e
reciprocidade a outras bancadas políticas sustentam sua vitalidade e confiança
institucional. Sua alta capilaridade política, não se faz pelo número absoluto de seus
parlamentares, mas na habilidade de construir novas alianças, novas relações
institucionais e novos códigos de conduta e fidelidade a outras bancadas ou grupos de
interesse. Sua aproximação com diferentes partidos não é a ausência de ideologia,
mas um diferencial político, uma estratégia de convencimento e simpatia, uma forma de
ilustrar sua “sensibilidade” frente às diversas questões de seu interesse. Historicamente
suprapartidária, a Bancada Ruralista é capaz de se identificar com inúmeras questões
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 17
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

temáticas para garantir sua diversidade e sua perene habilidade de pressionar o


Congresso Nacional. A Figura 3 mostra a composição partidária da BR na atual
legislatura 2007/2011 na Câmara dos Deputados.

Distribuição Partidária dos Ruralistas na Câmara dos Deputados


Legislatura 2007/2011

100 90
90
Número de deputados

80
70 62 64
60
Bancada
50 41
34 Ruralistas
40
29 28
30 24 21 23
18 16 17
20 11 8 5
10 3 2
0
PMDB PFL PP PSDB PR PPS PTB PDT PSB

Partidos

Figura 3: Composição suprapartidária presente na Bancada Ruralista.


Fonte: Câmara dos Deputados, INESC (2007).

A disposição partidária presente na atual legislatura nos revela uma forte


tendência conservadora em sua composição. A presença de partidos historicamente
defensores da livre iniciativa e da propriedade privada (PFL, hoje DEM e PSDB) reforça
a lógica moderna da agricultura e a integração conservadora de frações de classe dos
grandes setores agro-empresariais do país. Apesar de ser o partido majoritário, o
PMDB, não representa a liderança dos ruralistas, muito menos conduz o grupo, uma
vez que a dinâmica da bancada é funcionalmente adaptada pela aprovação-votação de
interesses específicos de orientação classista e nunca através de um único partido. O
suprapartidarismo é apenas uma estratégia, um dispositivo de força política, um
mecanismo-poder de união e reciprocidade solidária com as frações de classe do
poder agro-fundiário no país.

O grupo ruralista não se submete, necessariamente, a nenhuma regra,


senão a da fidelidade aos seus interesses. Vota unificada somente nas
proposições que possam afetar seus negócios no mercado. Nas
votações que não envolvem seus interesses, cada deputado é
"liberado" para seguir ou não as indicações das lideranças partidárias,
18 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

invertendo a lógica do processo legislativo (VIGNA, 2001, apud SAUER


et. all, 2006).

Outra característica que operacionaliza sua dinâmica é a tomada de postos e


cargos-chave em comissões e ministérios. A indicação para os ministérios e a
ocupação de cargos estratégicos em partidos é a fonte do poder político da bancada7.
Essa artimanha política é a chave do sucesso da bancada. O controle das
instâncias por onde tramitam os projetos e programas voltados ao campo, bem como
as políticas públicas rurais, entre elas as de reforma agrária, aprovando aqueles
“simpáticos” aos seus interesses e engavetando ou descartando aqueles que são
“desnecessários” ao país se torna mecanismo vitorioso e de grande significado político
para a bancada.

Esse aparelhamento setorial do Estado só é possibilitado pela dupla


representatividade do partido político e da bancada ruralista. Não é por
representatividade da bancada, como força política interna do
Congresso Nacional – o que regimentalmente não existe , que os
ruralistas ocupam a presidência da Comissão de Agricultura, mas
porque têm origem em partidos de representatividade expressiva
(VIGNA, 2007:14).

Por fim, nas duas últimas legislaturas os ruralistas têm segmentado sua atuação,
distribuindo funções políticas aos seus representantes através de pactos previamente
programados. Uma divisão ruralista de comando foi realizada para obtenção de eficácia
em suas ações, bem como otimizar o lobby em situações-obstáculos, como nas
ocupações de terra ou em votações setoriais em plenário. Em 2003, os deputados
Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Abelardo Lupion (DEM/PR) representaram os
pecuaristas; Nelson Marquezelli (PTB/SP) e Luiz Carlos Heinze (PP/RS) os
empresários rurais e o deputado Darcísio Perondi (PMDB/RS) assumiu a
responsabilidade de representar os interesses da indústria da biotecnologia. Os

7
O já citado ex-secretário do INESC, Bizeh Jaime nos conta que: “Os ruralistas têm conseguido exercer seu
poder de influência para obter vitórias. São eles que patrocinam as indicações para o Ministério da Agricultura e
elegem, a cada ano, o presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados. Com
redutos estabelecidos, exercem a pressão com mais facilidade (Sauer et. all, 2006)”. Vigna (2007) afirma que:
“Historicamente, desde a legislatura de 1999/2003, a bancada ruralista desenvolveu a estratégia de ocupar todos os
espaços políticos possíveis. Desde então, vem conquistando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
e as presidências da Comissão de Agricultura e Política Rural e da Comissão de Meio Ambiente e Consumidor –
esta última com menor freqüência.”
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 19
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

deputados novos ou reeleitos na eleição de 2006 não provocaram nenhuma


desconfiguração da bancada. Têm procurado manter ou conquistar seus espaços
políticos a partir da força setorial acumulada (Ibidem).

A Geograficidade Ruralista e a estrutura fundiária

Ao recorrer à literatura e bibliografia sobre as elites no agro brasileiro, uma forte


tendência tem deixado reduzida a dimensão geográfica presente nas ações e nas
formas de organização política e discursiva do patronato rural do país. A prioridade
numa cartografia ruralista que busque uma análise das possibilidades e lógicas
geográficas inseridas nas tramas do poder agro-fundiário nos ilumina caminhos para
pensar numa geopolítica ruralista que alarga, a partir do controle dos aparelhos do
Estado, o poder e a eficácia das práticas territoriais das elites agrárias. Percorrer esse
caminho nos abre chaves para entendermos a geograficidade incrustada nas relações
sociais e de poder agrárias, como também facilita a construção de instrumentos de
resistência e denúncia a toda sociedade.
Inicialmente buscamos um esforço no sentido de ampliar e re-contextualizar o
conceito de geopolítica, embora isso projete certo tom de ousadia em tal proposta. No
entanto, isso se faz necessário, pois a pertinência desta temática neste trabalho e o
poder explicativo da geopolítica nos possibilita elucidar a geograficidade das ações
políticas construídas em espaços institucionais do Estado, a partir de grupos de
interesse como a Bancada Ruralista.
A relação entre o Estado, Espaço e Poder foi bem caracterizada por José
William Vesentini em seu livro “A Capital da Geopolítica” (1986). Para ele, a
organização espacial da sociedade capitalista se dá a partir do Estado-Nação ou “país”,
e suas práticas tem estreitas relações com a dominação e com as estratégias de poder
para o controle social do espaço (VESENTINI, 1986). O controle do Estado e de sua
dinâmica por grupos sociais hegemônicos expandiram e fortificaram o controle do
espaço e o exercício do poder ali situado.
Para o autor, “o meio (e local) pelo qual se exerce o poder, a dominação, sempre
foi, nas sociedades de Estado e, especificamente, no capitalismo, o espaço
(VESENTINI, 1986:40)”. Como sede do poder, o espaço vem sendo cada vez mais
instrumentalizado pelo capital e pelo Estado, e sua produção cada vez mais
circunscrita pelo saber-fazer da hegemonia capitalista.
20 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

Neste sentido, o aparelhamento e a instrumentalização do Estado a partir do


comando e controle de seu microcosmo (instituições, ministérios, comissões,
parlamento, exército etc.), transfere ao capital, meios pelos quais a produção do
espaço e sua organização ficam articuladas na rede-trama de interesses e de poder
assimetricamente dispostas nas relações sociais. Assim, é notória a importância em
elucidar o discurso, as práticas e as lógicas elaboradas pelos grupos sociais que
eventualmente estão mergulhados nos aparatos institucionais do Estado.
Neste sentido, a geopolítica é o discurso do espaço geográfico a partir da ótica
do Estado; é o conhecimento visando assegurar a soberania estatal em relação aos
demais Estados; visa a ser o porta-voz dos interesses e da estratégia do Estado. No
entanto, esse discurso é evidentemente capitalista e voltado para garantir a hegemonia
burguesa.
A compreensão da geopolítica enquanto discurso ou enquanto estratégia de
dominação nos revela o potencial explicativo do conceito para investigarmos a
Bancada Ruralista. O discurso do agro brasileiro a partir dos membros-componentes da
bancada, ilustra uma leitura particular e classista sobre a organização e a produção do
espaço agrário brasileiro, como também estrutura uma plataforma de ações políticas
que representam um ponto de vista, um prisma de análise, no entanto recoberto pelos
“mantos institucionais do Estado”. O poder legislativo enquanto espaço institucional,
por excelência é co-autor e protagonista deste discurso, pois possibilita a construção
de uma legitimidade institucional da ideologia patronal, suas lógicas operacionais, suas
práticas e interesses, compondo um complexo e arquitetado arranjo discursivo
entranhado no próprio Estado. Assim, esse discurso sobre o espaço agrário, apesar de
particular, se realiza enquanto discurso hegemônico, com suposta universalidade,
concentrando e confundindo ao mesmo tempo o binômio encadeado Estado-Bancada,
sendo, portanto, uma função de ambivalência imersa nos próprios sujeitos políticos que
o constrói.
Por outro lado, a Bancada Ruralista é o próprio discurso do espaço agrário sob a
ótica do Estado, na visão dos mandantes. O controle do poder político institucional pelo
patronato agrário, re-estrutura e re-significa o discurso do espaço agrário pelo Estado.
Se a geopolítica é também um conhecimento, uma técnica de persuasão, uma arte-
retórica, a Bancada Ruralista apropriada de valores e significados sobre o espaço
agrário, via Estado, produz um regime de representação sobre o agro brasileiro,
visando conquistar uma hegemonia de classe, o exercício pleno do poder, um meio
para efetivar a dominação. Neste sentido, se o espaço é por excelência a sede do
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 21
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

poder, a bancada o controla e o produz a partir do discurso e, sobretudo pelas técnicas


de ação política que estruturam suas práticas no parlamento brasileiro. O
aparelhamento do Estado pelo poder agro-fundiário, instrumentaliza o processo de
produção do espaço agrário, tanto pelo discurso quanto pelas ações político-
institucionais.
Portanto, a geopolítica ruralista, corporificada na figura política Bancada
Ruralista é o discurso sobre o espaço agrário e sua produção na ótica do patronato
rural, que, apoiado numa agenda política institucional e oficializada, produz um plano
de ações e técnicas de persuasão de articulação multiescalar capaz de mobilizar
distintas frações do patronato rural. Para além do discurso, essa geopolítica é uma “voz
ativa” transformada em canal institucional que fortalece o poder agro-conservador e
redefine as vias de domínio do Estado a partir da militância parlamentar.
Para além de revelar um bloco de poder institucional ou mesmo um grupo de
pressão, a Bancada Ruralista representa o maior sujeito político representante das
elites agrárias incorporado nas tramas institucionais do Estado brasileiro.
Suprapartidária, a BR é a armadura política que mantém unidos uma rede de sujeitos
mensageiros de uma narrativa particular e classista sobre o espaço agrário brasileiro,
como também arquitetos táticos que operam um rol de ações e decisões conformadas
institucionalmente.
Por outro lado, a lógica geográfica operada pela bancada pode ser
compreendida através das distintas esferas de influência que compõe sua ação. O
diferencial estratégico da bancada está na sua capacidade de administrar e coordenar
distintas escalas e influenciar diferentes sujeitos. Haesbaert (2002) ilustra o potencial
da escala geográfica para analisar o ordenamento espacial dos fenômenos sociais. Por
se tratar de uma unidade de concepção, a escala deve ser compreendida em seu
caráter dinâmico e entrelaçada com outros referenciais escalares. O diferencial na
análise espacial é considerar a articulação e o diálogo entre escalas produzido
dialeticamente pelos fenômenos. Assim, conceber a escala como dimensão estanque,
mecânica e exterior ao movimento, é retirar a complexidade e a totalidade expressa
pela situação.
A articulação e o diálogo dos parlamentares-militantes da bancada com outros
sujeitos políticos e representantes do patronato rural demonstra sua competência em
manejar o discurso sobre o agro brasileiro e a solidificar e influenciar relações. O
ideólogo da UDR, o pecuarista e deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO), foi o principal
22 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

protagonista que aproximou e influenciou entidades locais, sindicatos e associações,


levantando a bandeira do agro-negócio, da iniciativa privada e da defesa da
propriedade. Sua atuação multiescalar, percorrendo desde os corredores e gabinetes
do parlamento brasileiro, influenciando parlamentares, partidos e decisões até sua
jornada por fazendas, prefeituras e sindicatos, revela a técnica e a magnitude de
conduzir a ideologia patronal e a produzir uma articulada teia de alianças, do local ao
nacional.
Por meio da Bancada Ruralista, é possível observar uma ampliação escalar do
poder patronal. Aglutinada e interligada por diferentes setores ligados ao agro-negócio,
desde multinacionais, entidades e sindicatos patronais, cooperativas agrícolas, setor
industrial, biotecnológico e florestal, a bancada fortalece e solidifica, sob múltiplas
escalas, alianças e interesses, e consegue canalizar ao nível federal, questões locais e
regionais, de modo a produzir sistemas de comando e controle nucleados em torno do
grupo, mas articulados com estruturas de poder locais e regionais. Isto é, ela não
abandona seus “simpatizantes locais e regionais” e aciona seu papel de lobista,
conformando uma rede de cooperação e fidelidade. Esse deslizamento escalar gera
uma rede de solidariedade entre seus membros-componentes e adeptos capaz de
flexibilizar as ações políticas e tornar os lugares mais protegidos e imunizados de
eventuais adversidades.
O relacionamento dos parlamentares ruralistas com as entidades e federações
(nacionais e locais) expressa um tom de grande cumplicidade, sobretudo porque seus
membros, além de exercer a profissão de “homens do campo” (agropecuaristas,
empresários rurais, etc.), ocupam cargos e postos políticos de destaque. A senadora
ruralista Kátia Abreu (DEM/TO) recentemente tomará posse para o cargo de presidente
da CNA8 – Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – desfecho de
toda sua militância parlamentar, tanto como ex-líder da UDR, como ex-presidente da
FAET – Federação da Agricultura do Estado do Tocantins. O deputado ruralista
Abelardo Lupion (DEM/PR) ocupa o cargo de diretor-institucional da ABCZ –
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – e é o atual presidente de negociações
do grupo de trabalho que rediscute a dívida agrícola dos produtores. O ex-deputado
ruralista Silas Brasileiro (PMDB/MG) ocupou em 2007 o cargo de diretor-executivo do

8
A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), órgão máximo da representação
oficial do patronato rural – monopolizado hoje pelos grandes proprietários que se opõem a qualquer reforma agrária,
vinculados à Sociedade Rural Brasileira - surgiu em inícios de 1964, no lugar da Confederação Rural Brasileira,
entidade organizada pela SNA em 1951, visando a sindicalização patronal da agricultura brasileira, nos moldes da
legislação corporativista varguista, congregando todos os representantes da “classe agrícola” – patrões e empregados
(MENDONÇA, 2005a).
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 23
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

CNC – Conselho Nacional do Café – órgão que defende os interesses do “café do


Brasil” e de seus “cafeicultores”. Cumpre salientar que o atual deputado Ronaldo
Caiado (DEM/GO) além de fundador e ideólogo, comandou a UDR, a partir da Câmara
dos Deputados, e transformou o parlamento numa extensão política da entidade.
Todo esse quadro explicativo demonstra o poder e a ampla capacidade de
articulação multiescalar das elites agrárias sob vias institucionais, como também
reforça a debilidade das atuais relações políticas e formas de organização [política] da
sociedade. A configuração e o arranjo interno da Bancada Ruralista é resultado de uma
histórica e longa jornada de alianças, vitórias, derrotas, contradições e disputas por
hegemonia, que marcam a história do patronato rural brasileiro.
Como protagonista do poder agro-conservador no seio do Estado, a bancada
sempre ratificou a atitude histórica de defesa e manutenção da propriedade privada
sustentada por um conjunto de valores que regem o ethos ruralista, a persistência no
autoritarismo, o corporativismo, a cultura da violência, a vitalidade do poder e a
dominação patrimonialista, bem como o clientelismo (BRUNO, 1997). Deste modo,
suas práticas político-institucionais confirmam a postura de afetar, controlar e
influenciar pessoas, fenômenos e relações, que segundo Robert Sack (1986) define a
territorialidade humana.
Portanto, a Bancada Ruralista representa a reunião de distintas territorialidades
presentes no patronato rural brasileiro, desde o empresário rural, a multinacional, o
agropecuarista que compõe a arquitetura social da ideologia do agro-negócio. Sua
forma de ler e interpretar o espaço agrário por meio de um particular discurso sobre o
agro brasileiro, representa o desdobramento de territorialidades já consolidadas e
hegemonizadas, no entanto reproduzidas pelo canal enunciativo do Estado.
A partir de uma radiografia cartográfica do território nacional, foi possível ilustrar
a geograficidade e a espacialização do poder agro-fundiário através dos membros
ruralistas. O mapeamento dos parlamentares e seus estados de origem nos permite
inferir como o poder agro-conservador está disposto espacialmente e em quais
unidades da federação a força patronal se re-inventa e condensa sua energia vital
através de relações e articulações inter-escalares. As Figuras 4 e 5 mostram a
distribuição espacial dos deputados e senadores ruralistas e o percentual em relação
ao total de parlamentares por cada unidade da federação.
24 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

Figura 4 e 5: Distribuição Espacial dos deputados e senadores ruralistas em relação ao total de parlamentares por estado
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 25
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

O atual arranjo espacial dos ruralistas, tanto na Câmara quanto no Senado


Federal, apontado nas Figuras 4 e 5, ilustra a presente configuração político-espacial
dos representantes das elites agrárias no Estado brasileiro. É possível observar a
existência de uma (re)articulação nacional do patronato rural a partir do estado do
Tocantins, que concentra o maior número de deputados e senadores militantes da
causa ruralista. Segundo os dados levantados por Vigna (2006) e Costa (2006), do total
de 8 deputados federais do estado, 5 compõe a Bancada Ruralista, proporção que
confere 63% de representatividade dos parlamentares para os interesses do patronato
rural no Brasil. Já no Senado, essa razão dispara para 100%. Os senadores Leomar
Quintanilha (PCdoB/TO), João Ribeiro (DEM/TO) e a ex-deputada e agora senadora
Kátia Abreu (DEM/TO) construíram uma poderosa e complexa estrutura de poder
capaz de arregimentar os interesses do patronato rural, bem como solidificar um
arcabouço protetor da elite rural frente ao Estado brasileiro. Neste cenário, a senadora
Kátia Abreu desponta como uma nova liderança parlamentar no Senado, renovando a
representação formal e fortalecendo o elo entre as casas legislativas.
No entanto, é fundamental destacar que o arranjo espacial pelo qual repousa a
Bancada Ruralista deve ser compreendido no e pelo movimento das forças patronais,
que se agregam e desagregam de acordo com suas demandas e interesses, sendo o
atual arranjo uma configuração transitória.
A suposta blindagem político-patronal do Tocantins não se restringe a esse
estado. Como ressaltamos, existe uma rede de solidariedade e fidelidade intra-classe
que se articula sob múltiplas escalas e produz sistemas de comando e controle
nucleados em torno da bancada. No parlamento, os representantes do agro-negócio
não abandonam os “colegas” de outros estados, mas os acolhem numa relação de
cumplicidade e lealdade em momentos de fragilidade e crise. O Tocantins é apenas a
base principal do atual arranjo político-geográfico dos parlamentares-militantes da
bancada. A “adoção” do Tocantins para “sediar” essa re-articulação é resultado de uma
complexa e histórica recomposição do quadro de forças políticas que fortificaram o
patronato, principalmente na figura da senadora Kátia Abreu, ex-líder da UDR e da
FAET e agora presidente da CNA.
No estado de Goiás, a força patronal retorna com a volta do pecuarista Ronaldo
Caiado (DEM/GO) e toda sua experiência parlamentar de luta pela defesa dos
interesses absolutos dos grandes proprietários de terra. Oriundo de um dos mais
tradicionais clãs políticos de Goiás (BRUNO, 1997), Caiado é símbolo do autoritarismo,
26 XIX ENGA, São Paulo, 2009 BARCELOS, E. A. S. e BARRIEL, M. C.

do confronto e da ofensiva de quem sempre despreza a negociação, não aceitando


qualquer regra política e partidária. Juntamente com Caiado, mais 5 deputados compõe
a Bancada Ruralista pelo estado – 35% do total de 17 deputados eleitos. No senado,
Lúcia Vânia do PSDB e Demóstenes Torres do DEM, completam o bloco de poder
lobista, totalizando 2 dos 3 senadores do estado.
No Mato Grosso, encontramos uma sutil diferença metodológica para identificar
os deputados ruralistas pelo INESC e pelo DIAP. Enquanto o primeiro considera a
existência de apenas 1 deputado ruralista (13% do total de 8), o DIAP destaca 2
deputados (25% do total). No senado, Jonas Pinheiro do DEM fecha a participação do
estado na composição da bancada. No entanto, o grande diferencial do estado do Mato
Grosso está em seu comando político maior. O governador e empresário rural Blairo
Maggi (PR/MT) mais conhecido como o “Barão da Soja”, expressão corretamente
adotada pelo “título conquistado” de maior produtor individual de soja do mundo,
articula e organiza, por meio das instâncias do Estado, uma frente ofensiva de pressão
e negociação junto ao governo federal, principalmente no Ministério do Meio Ambiente,
para flexibilizar e afrouxar a legislação ambiental e florestal, como também os critérios
e procedimentos do processo de licenciamento ambiental para empreendimentos
ligados ao setor agrícola. Sua militância oscila desde visitas e encontros junto aos
ministérios e a presidência da república, até a formação de alianças com outras frações
de classe estaduais, nacionais e internacionais.
Coincidência ou não, os dados colhidos pelo Setor de documentação da CPT –
Comissão Pastoral da Terra – para o campo brasileiro em 2003, nos revela que são
nos estados do Mato Grosso, Tocantins e Goiás, além do Pará e Distrito Federal que
se encontram os maiores índices de conflitividade e o de maior número de pessoas
envolvidas em conflitos. É também no Mato Grosso, juntamente com o Pará, Rondônia
e Roraima (estado que revitalizou sua representação patronal no Estado, com 5
deputados ruralistas de um total de 8 – 63%), seguido do Tocantins, que se encontram
os maiores índices de assassinatos no campo, resultado da histórica e ainda colonial
estrutura fundiária, concentradora e excludente, que reproduz assimétricas relações
sociais e de poder e estrutura o culto à violência. É também no Mato Grosso, Goiás,
Tocantins e Pará onde a ação do poder judiciário é mais aguda, por um lado exercendo
o monopólio legítimo da força na garantia do direito absoluto da propriedade como por
outro executando despejos e prisões de famílias camponesas e sem-terras (PORTO-
GONÇALVES, 2004).
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 27
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

Esse cenário de impunidade e violência se reproduz não somente no espaço


agrário strictu sensu, mas também no Estado a partir da Bancada Ruralista que facilita
a ação e expansão dos setores agro-empresariais e o agro-banditismo nos dizeres de
Ariovaldo Umbelino de Oliveira, por um lado aprovando medidas provisórias e leis
como a MP 422/2008, que dispensa a licitação pública para a venda de terras públicas
do INCRA na Amazônia Legal e amplia a concessão de 500ha para 1500ha, como por
outro bloqueando a votação da PEC 438/2001 – Projeto de Emenda Constitucional – a
PEC do Trabalho Escravo, que prevê o confisco de terras, sem indenização, nas
propriedades onde o trabalho escravo for encontrado e as destina à reforma agrária.

Figura 6 e 7: Índice de Conflitividade e Índice de violência do Poder Privado (Assassinatos) em 2003.


Fonte: CPT/LEMTO-UFF (Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – UFF)

Os mapas nos autorizam a falar que são nas regiões de expansão da moderna
agricultura empresarial, principalmente na região Centro-Oeste, onde o poder agro-
fundiário privado e o próprio poder público exercem sua função de “Senhores da Terra,
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Senhores da Guerra”, como bem define Regina Bruno (1997) o patronato rural. Essa
perversa realidade não teria seu “sucesso” e “êxito de classe” sem a cumplicidade e a
proteção da Bancada Ruralista, que é fidedigna ao cultivo das assimétricas relações
sociais e de poder tornando o campo brasileiro um espaço segregado, excludente,
autoritário, violento, e, sobretudo controlado pelos “coronéis modernos” do agro-
negócio e seus representantes no parlamento brasileiro. Além de Minas Gerais, Bahia,
Roraima e Paraná, são nos estados de Tocantins e Goiás, onde atualmente os
ruralistas estão mais organizados no Congresso Nacional, sem contar a força
expressiva do governador e empresário do Mato Grosso, Blairo Maggi. Assim, a
suposta relação entre a geograficidade da Bancada Ruralista e os desdobramentos da
ação do patronato no campo brasileiro (mapas) se confirma, dentro de um recente
espectro político que foi se constituindo para a culminação da atual configuração
político-geográfica da bancada. Apesar da referência a 2003, o atual cenário geográfico
da violência e dos conflitos no campo, em geral se mantém, contudo com algumas
particularidades.
No Paraná, o patronato rural se fortalece na figura do agropecuarista e
empresário Abelardo Lupion (DEM/GO). Suposto “herdeiro político” de Ronaldo Caiado
no Congresso Nacional, Lupion lidera os parlamentares do Paraná, por um lado
defendendo a modernização agrícola, a pecuária de corte, a cadeia produtiva da carne,
bem como a rastreabilidade bovina, como por outro encabeçando e presidindo as
negociações para a repactuação e alongamento das dívidas originárias de operação de
crédito rural dos produtores, não somente em seu estado, mas em escala nacional. Foi
também um dos porta-vozes da Bancada Ruralista na CPMI da Terra, propondo a
aprovação de dois projetos de lei que tipifica as ocupações coletivas de terra como
crime hediondo e ato terrorista, além de criminalizar os movimentos sociais do campo.
Cabe aqui destacar uma passagem do texto de Lupion encaminhado a relatoria da
CPMI, que classifica as ações do MST como terroristas.

Esse tipo de terrorismo, próprio da realidade brasileira, não deve ser


aceito e deve ser punido com o mesmo rigor que as outras formas de
atos terroristas previstas em nossa Lei de Segurança Nacional (Lei nº
7.170, de 1983), pois, de forma equivalente, afeta a ordem
constitucional estabelecida, a integridade territorial, o regime
representativo e democrático e o Estado de Direito (art. 1º, I e II, da Lei
de Segurança Nacional). Enfim, tais ações fragilizam o Estado (p 370)
(apud SAUER et. all, 2006:56).
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 29
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

Em Minas Gerais, dos 53 deputados federais, 17 são adeptos e membros da


bancada, proporção que atinge 32%. Já na Bahia, 13 deputados aderem à causa
patronal num universo de 39, representando 33% do total. A histórica política
clientelista e patrimonialista ainda presente nestes dois estados, marcadamente
inserida numa tradição familiar justificada pela transmissão inter-geracional da posse
da terra pelas grandes oligarquias rurais, ilustra a tamanha articulação das elites
agrárias para lançar nas tramas institucionais do Estado, seus “padrinhos” e “senhores”
capazes de assegurar o patrimônio familiar.

(...) são nestes Estados que estão concentradas as mais fortes famílias
latifundiárias. São nestes Estados em que a prática do coronelismo é
ainda mais evidente. No Brasil, os setores mais atrasados politicamente
sempre estão acompanhados dos setores mais modernos. Há uma linha
geracional que herda não só os bens materiais, mas também os bens
imateriais, como a visão de mundo. Neste caso, a segunda herança tem
maior peso no comportamento dos indivíduos do que os bens materiais
(VIGNA, 2007:11).

A Figura 8 ilustra a evolução espaço-temporal da composição regional dos


parlamentares ruralistas na Câmara dos Deputados no período de 1996 a 2007.

Cartografia Regional dos Parlamentares-Ruralistas no período (1996-2007)

50
Parlamentares na Câmara dos

45
40 37
33
35 30 31
1996
Deputados

30 27 28 27
24 2001
25
20 2003
18 18 17 17
20 16
14 2007
15 12
10
8 8
10 6
5
0
Nordeste Sul Sudeste Norte Centro-Oeste
Regiões

Figura8: Regionalização dos Deputados Ruralistas no período 1996-2007.


Fonte: Vigna (2007)
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Houve um aumento da representatividade ruralista em todas as regiões


brasileiras a partir de 2003, resultado de um re-arranjo das forças políticas do patronato
e do constante e danoso lobby dos mandatários rurais na política agrícola nacional. Os
dados se aproximam daquilo que Porto-Gonçalves (2004) chama de mandonismo
coronelístico típico da formação social brasileira, que estrutura relações hierárquicas de
poder pela violência e possibilita a condensação patrimonial da terra e reforça, sob os
mantos do Estado, a política de favores e os laços de amizade e reciprocidade entre os
canais de interlocução governamentais e os grandes proprietários de terra. A alta
concentração de ruralistas no Nordeste confirma as práticas coronelistas e clientelistas,
tradição histórica da dominação política desta região, conquanto personificada na figura
das grandes famílias agro-fundiárias. E como diria Regina Bruno (2002:173),“(...) e os
limites da institucionalidade decorrem em grande medida da permanência, na
sociedade brasileira, de uma cultura política clientelista que reproduz relações de favor,
barganha e o oficioso.” No Sul e Sudeste, a elevada proporção de ruralistas revela a
histórica presença de grandes empresários e proprietários de terra, conservadores de
uma excludente estrutura fundiária, donos do poder, e que agora marcham rumo aos
“frutíferos” territórios expandidos pela fronteira agrícola, principalmente no Centro-
Oeste e no Norte.
Através da análise das práticas institucionais dos parlamentares ruralistas, é
possível afirmar que o poder e a força patronal no campo brasileiro é constituída pelo
intenso e incessante movimento articulado de distintas escalas de pressão e influência,
encontrando na Bancada Ruralista sua expressão máxima de defesa e proteção das
elites do agro no Brasil, reconhecendo sua forma de organização superior a qualquer
critério político e democrático. Complementando a idéia de Carlos Walter Porto-
Gonçalves (2008) o bloco de poder do chamado agronegócio é agora técnico-científico-
agroindustrial-financeiro-midiático e parlamentar, garantia institucional que mantém e
reproduz as atuais e assimétricas relações sociais e de poder inseridas no mundo rural
brasileiro e que conserva a perversa estrutura fundiária.
Práticas institucionais e grupos de interesse: a geograficidade da bancada ruralista e as 31
estratégias hegemônicas no parlamento brasileiro, pp. 1-32

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