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Introdução à Egiptologia

23/01/2024

A tradição bíblica guardou a memória do Egito. No Antigo Testamento e Novo Testamento a caracterização
do Egito é completamente diferente, de modo que:

 No Antigo Testamento o Egipto aparece como algo essencialmente negativo ligado à servidão dos
hebreus
 No Novo Testamento o Egito é visto como o refúgio da sagrada família.

Para o cristianismo emergente, o Egito é um território de refugio. Na realidade, embora jesus seja judeu, o
cristianismo emergente é essencialmente do Egipto que é dos primeiros territórios a sofrer cristianização.

Para a tradição judaica, o Egito aparece associado a servidão por excelência.

A imagem da pirâmide do Egito permanece ao longo dos anos, sendo que, no entanto, muito foi
desaparecendo por falta de contacto. Esta permanece porque a dada altura, em Roma, uma pirâmide foi
contruída como sepultura de um romano (mesmo que nada tenha a ver com o Egito). Esta construção
proporcionou um modelo visual de como era uma pirâmide e é essa que é copiada para os mosaicos. As
pirâmides são representadas como celeiros, associadas a episódios bíblicos e evocações de uma memória
esquecida.

O Egito está associado à ideia de anti dilúvio, ou seja, aparece como algo que sobreviveu ao Dilúvio.

O crocodilo é por definição, já desde Roma, símbolo identitário do Egito. Específico da fauna egípcia, era
desconhecido na Europa e, portanto, quando se representa este animal pressupõe-se o Egito.

Até ao Renascimento, o que o Ocidente conhece é o Egito através de Roma. Em Roma os vestígios mais
evidentes do Egito são os obeliscos e vão ser estes monumentos que mais se vai difundir no Ocidente.

A partir do século XVI começa a haver viajantes. Os portugueses na rota do caminho para a Índia chegam ao
Egito, mas não há relatos e não temos documentos escritos de viagens para o Egito uma vez que eram
missões secretas de espionagem.

O reino do preste João das Índias

1486
 Bartolomeu Dias dobra o cabo das tormentas.
 Pêro Covilhã é enviado ao Egito e instala-se na Abissínia. (nunca mais voltou, não relatos da sua
estadia lá)
 Francisco Alvares publicou em 1540 o livro “O Preste João das Índias”.

Ainda hoje o Cairo preserva uma malha urbana medieval espantosa, apesar de muito transformada, toda a
cidade islâmica continua contida nas muralhas originais. Impõem-se pelas suas dimensões. Foi construída na
implementação de uma outra cidade egípcia, a cidade de Heliópolis. A posição do Cairo é importante uma
vez que está entre a divisão do baixo e alto Egito. Para além da importância que a sua posição tem no
território egípcio, o Cairo concentra em si todos os interesses tornando-se um local obrigatório na circulação
internacional. É descendente das antigas capitais egípcias como Memphis, que foi a 1ª capital do Egito.

Em 1646 chegam até nós as primeiras descrições das pirâmides de Giza, o seu interior e o que lá continham.
Introdução à Egiptologia

Após as pirâmides, as múmias vão ser logo a próxima referência a chegar à Europa. As primeiras imagens
que chegam à Europa do Egito: Pirâmides e Múmias.

As múmias apareceram na europa e eram compradas com um propósito e esse era medicinal – utilizadas para
fazer o pó de múmia. Não eram compradas por serem antiguidades, mas sim porque era uma forma barata de
chegar a um produto bastante raro e caro para os europeus - a resina usada para preencher o seu crânio (o pó
de múmia era feito a partir desta resina que era colocada na hora do embalsamento). Esta resina provinha de
árvores de incenso que não existiam na Europa.

As múmias foram um material acessível e facilmente adquirível. Não se faziam escavações, estas eram
múmias pobres do final do reinado egípcio que se encontravam espalhas à superfície do deserto.

A situação começa a mudar quando se desenvolve o gosto pelas viagens. Os interesses geoestratégicos levam
a que o Ocidente, neste caso as potências europeias, se foque no Médio Oriente como um território
geoestratégico de máxima importância. Para a Inglaterra a Índia passou a ser um foco de grande interesse e,
neste enquadramento, o Egito passou a ter grande interesse porque controlava a ligação entre a Índia e o
Mediterrâneo. O império otomano dominou toda esta bacia desde o século XVI e tornou-se alvo dos
britânicos.

A expedição napoleônica tem um interesse militar, geoestratégico e de competir com interesses britânicos.
Napoleão organiza uma expedição para o Egito e é movido por uma utopia que excede os interesses
militares. Chega com um exército e uma equipa de cientistas, leva consigo o melhor da ciência emergente.
Vão com a missão de registar aquilo que vêm (algo interessante). O que seria uma expedição militar torna-se
numa expedição científica. Estes sábios são largados no Egipto, sem condições e em perigo mas fazem um
trabalho notável de documentação daquilo que é o território egípcio.

Fourier, Vivian Denon, Bertholet, Gaspar Monge e Conté, vão sofrer com as vicissitudes de Napoleão.
Vence a Batalha das Pirâmides (21 de Julho de 1798) mas sofre uma derrota na Batalha do Nilo (3 de Agosto
de 1798), a sua frota é completamente destruída pelas forças inglesas e estes homens são completamente
abandonados no deserto.
Apesar disso, aquando do seu regresso, percebe-se que trazem consigo material único de documentação
sobre o território egípcio. A primeira obra que é publicada, resultante desta expedição, é um relato de viagem
de Vivant Denon. Esta obra serviu de balão de ensaio para a publicação de uma outra obra “Description de L
´Egypte” (A descrição do Egipto), em 1828. Uma publicação monumental que representa o Egito de uma
forma quase fotográfica e que tem um carácter científico, de conhecimento aplicado.

30/01/2024

A Europa abriu-se ao Egito a partir da expedição napoleónica, não propriamente devido à própria expedição
militar mas com a “Description de L'Egypte”.

Napoleão aparece com um novo modelo de conhecimento, o modelo científico, junta-se a eles sábios,
cientistas, o conhecimento já não é tanto filosófico mas um conhecimento aplicado. É a primeira vez que se
faz uma expedição científica (acompanha a expedição militar). As gravuras que acompanham a obra querem
ser o mais realistas possível e esta publicação traz para a Europa uma imagem palpável do que era o território
egípcio e a sua realidade. É um momento especial porque até à publicação desta obra, o Egito encontra-se
intocado. É possível ver um antes e um depois da obra, antes estava tudo intocado e depois disso dá-se uma
espoliação arqueológica do Egito.
Introdução à Egiptologia

Esta obra é importante porque apresenta o território de forma científica e porque, por vezes, é o único
vestígio e a única fonte de vários sítios que existiram e que, entretanto, se perderam.

Ninguém sabia da existência de templos de tal dimensão e estado de conservação como havia no alto Egito.
Ninguém conhecia a dimensão desses monumentos em comparação a Grécia e Roma que eram bem
conhecidos e as ruínas estavam muito mal preservadas. A Europa viu no Egito um local com bastantes
artefactos muito bem preservados.

É neste movimento que surge a Pedra de Roseta que aparece num forte militar medieval, nas fundações da
muralha (1799). É apresentada aos militares e alguém reconhece uma inscrição grega.

Havia três tipos de inscrições na pedra: escrita grega (bem preservada), escrita hieroglífica e escrita demótica
(escrita do “povo”). Foi redigida no reinado de Ptolomeu V com estes três tipos de escrita para que todos se
sentissem representados: sacerdotes do templo (hieróglifos); egípcios que circulavam no templo (escrita
demótica); e os gregos que também lá circulavam.

A descoberta da pedra de roseta aparece no contexto de permanência dos franceses no Egito. Os franceses
reuniram todo um espólio durante a expedição mas, com uma derrota frente aos ingleses, o espólio foi
apreendido e levando para Londres (encontra-se agora no British Museum).

As inscrições da pedra foram publicadas para fomentar sua decifração. Estava enraizado no Ocidente a
vontade e o interesse em tentar decifrar a escrita hieroglífica e a Pedra de Roseta aparece como uma chave
para essa mesma decifração.

Quando tudo isto acontece surge uma figura, Jean-François Champollion (1790), que é um jovem quando
estes movimentos começam a tomar forma. Nasce numa família que não o apoia mas tem um irmão mais
velho bastante intelectual, está muito envolvido nas operações que rodeiam a expedição, tendo quase ido
com Napoleão - a família era próxima. Jean não era bom na escola, era um mau aluno mas era um leitor
ávido, era sobredotado.

Desde muito cedo, com cerca de 8/9 anos, começa a desenvolver um gosto pela aprendizagem das línguas
antigas como: o Latim, o Grego, o Hebraico, o Árabe, o Copta e o Persa. Com essa sua aura de menino-
prodígio, acabou por entrar em contacto com Joseph Fourier, um cientista que incorporou a expedição
napoleónica e coordenou a edição da obra.

À volta de Fourier estaria todo um núcleo de indivíduos que esteve presente na expedição e que ajudou
Champollion na sua pesquisa e no seu estudo. A sua missão seria, essencialmente, estudar o Egito e o povo
egípcio e, mais importante, a decifração da escrita hieroglífica. Champollion vai para Paris e conhece Baron
Silvestre de Sacy, ele próprio empenhado nesta missão, e este dá-lhe acesso a uma cópia da pedra mas vai
criar sérios obstáculos a Champollion.

Champollion tinha bons conhecimentos do grego e começa por explorar a demótica (não tinha, no entanto,
qualquer conhecimento relativamente à escrita hieroglífica). É aqui que as suas relações políticas com
Napoleão o prejudicam. A França estava dividida entre a fação napoleónica e a fação contra. Com a queda de
Napoleão, a família Champollion vai sofrer bastante com o sucedido, ele é exilado durante alguns anos e
perde os meios de subsistência e vai se ver bastante limitado no seu trabalho pois não tem meios para o
continuar.
Introdução à Egiptologia

Ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, no Reino Unido, crescia o trabalho de um cientista (físico)
Thomas Young, que é o oposto de Champollion, pertence à elite britânica, muito bem posicionado e
relacionado, rico e com uma inteligência excecional. Era um polímata - interesses de estudos diversos /
Champollion era poliglota (a grande diferença entre os dois).

Thomas Young tem uma vantagem sobre Champollion, como o seu espírito matemático, aplica regras
matemáticas para aproximar a escrita grega à escrita hieroglífica. E, portanto, mesmo antes de Champollion,
Young começa a ter alguns princípios bem definidos sobre a escrita hieroglífica. Vai existir uma tensão
muito grande entre ambos, havendo uma tentativa de bloqueio ao trabalho de Champollion por parte de
Young e Silvestre de Sacy. Sem dinheiro, isolado e exilado Champollion sente-se perdido.

Tudo parecia perdido para Champollion, no entanto, mantém-se focado no seu estudo e começa a seguir uma
pista que é aparentemente para os dias de hoje básica. Deteta a presença de cartelas (designado pelos
franceses de cartuchos) e postula que a cartela apresenta o nome real, vai ver na versão grega os nomes reais
que aparecem e começa a fazer a correspondência. Aparece o nome Ptolomeu e Cleópatra. Começa a
entender também a repetição de certas letras.

Vai encontrar uma cartela num obelisco e decifra o nome Tutmés. Ele decifra um código e é, a partir desse
momento, que se consegue identificar o valor fonético dos símbolos hieróglifos. A decifração da escrita
hieroglífica demorou décadas.

Ao decifrar este código, põe a sua descoberta por escrito em 1822 e, com a ajuda do seu irmão, apresenta à
Academia Real Francesa o seu sucesso e os princípios da sua descoberta. Na apresentação Silvestre de Sacy
e Thomas Young estavam presentes. Champollion nutre um desagrado por Thomas Young que é passado
para os seus discípulos.

Champollion é nomeado o primeiro curador/conservador da ala Egípcia do museu do Louvre e encaminha-se


para uma carreira fulgrante.

Expedição Franco-Toscana (1828-29) - Organiza uma expedição ao Egito para recolher documentos, uma
expedição científica. Alia-se à casa real toscana. Rossellini e Champollion seguem para o Egipto, onde
passam cerca de ano e meio. Recolhem monumentos com ações bastante discutíveis e é trazida uma coleção
importante para o museu. Esta expedição tornou-se um grande fundamento da egiptologia francesa e italiana.

Na consequência dessa missão foi nomeado professor de egiptologia no Collège de France. É aqui, em 1831,
que aparece pela primeira vez este termo e que a Egiptologia é definida como uma disciplina oficialmente.
Durante mais de 100 anos (?) a egiptologia fechou-se no estudo da língua por meia dúzia de eruditos com o
preconceito que o estudo da cultura material é secundário e menos importante.

A egiptologia nasce como o estudo da língua e da escrita hieroglífica. Champollion morreu no ano seguinte,
em 1832, com 42 anos, deixando a gramática egípcia hieroglífica incompleta que é, posteriormente,
retomada e acabada pelo seu irmão. Richard Lepsius vai estudar e investigar esta gramática, que vai ser alvo
de estudo por vários indivíduos.

Champollion -> herói trágico


-> personifica os avanços da contemporaneidade
 Copérnico – Cosmos
 Champollion – Tempo
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Champollion consegue-nos levar até 3000 anos antes de Cristo. Um grande avanço científico que vai ter
repercussões a nível civilizacional.

Muhammad Ali (1769-1849)

 Governador otomano após a retirada de Napoleão (1805-1849)


 Esmaga a resistência dos Mamelucos (casta militar de elite)
 Fundador da última dinastia real egípcia e fundador do Egito moderno/contemporâneo – Vice-rei do
Egito
 Grande abertura ao estrangeiro
 Industrialização

A expedição de Napoleão introduziu uma viragem política no Egipto muito apoiada pelos ingleses. Até aí o
Egipto era dominado pela dinastia dos Mamelucos. Criou-se uma dinastia autóctone de militares de elite do
império otomano, tipicamente raptados em criança principalmente da europa do leste, são castrados e
sujeitos a um treino intenso. Durante cerca de mais ou menos 400 dominam o Egito, a sua vantagem é que a
sucessão é feita por aclamação, o seu sistema funciona por eleição. Esta casta de militares não agrada aos
britânicos. Estes últimos favorecem o aparecimento de uma nova esfera política também titularmente ao
serviço do império otomano mas com um grau de permeabilidade muito maior aos estrangeiros – em
oposição aos Mamelucos.

É aqui que nasce o Egito dos Khediva (vice-rei) e é aqui que aparece Muhammad Ali, que é o fundador do
Egipto moderno. É um estrageiro no Egito (Balcãs). Percebe-se que Ali está ali para realizar um determinado
desígnio.

É aqui que se dá a abertura do Egito ao estrangeiro e a sua industrialização, este processo vai ter a ajuda dos
britânicos pois torna-se algo bastante favorável aos mesmos. O território é muito atrativo e geoestratégico
para os britânicos. Os Mamelucos são afastados do Egito através de M. Ali pois os britânicos necessitavam e
queriam entrar neste território tão atrativo.

Há uma grande viragem política e o ênfase é colocado na industrialização do Egipto. Ao mesmo tempo, Ali
mostra-se muito generoso com as dádivas do patrimônio. Doa-se monumentos para cimentar as relações com
potências estrangeiras (Agulha de Cleópatra, antes em Alexandria agora em Londres/ Obelisco da Praça da
Concórdia). Estes monumentos não saem do Egito à revelia, não são uma espoliação mas sim uma oferta. M.
Ali foi construindo uma rede de alianças através da oferta de obeliscos – França, Reino Unido.

A industrialização arrasou com muitos monumentos (Elefantina, Hermópolis, Altinópolis) e muitos


perderam-se. Isto acontecia porque as indústrias de cal utilizaram as pedras de calcário de muitos
monumentos como matéria-prima.

Diz-se que Mohamed Ali quis construir uma barragem no Nilo usando a pedra das pirâmides mas Louis
Bellefond convence Ali que usar pedras das pedreiras seria menos dispendioso do que retirá-las das
pirâmides.

É neste momento, com a industrialização e ocidentalização, que se dá a primeira vaga de destruição dos
Egipto, já que na dinastia dos Mamelucos o Egito se encontrava fechado na sua realidade medieval.
Introdução à Egiptologia

O Egito passa a exportar múmias em grandes quantidades, não como antiguidades e objetos de coleção mas
sim para virem a ser usadas como combustível das máquinas a vapor do ocidente.

01/02/2024

Bernardino Drovetti (cônsul francês no Egito) e Henry Salt (cônsul britânico no Egito), principais nomes nas
primeiras descobertas arqueológicas no Egito mas que, na verdade, foram saques - o que incentivou estas
investigações foi a possibilidade de encontrar um tesouro.

Esta expectativa está muito ligada à arqueologia egípcia. Os nomes destes dois diplomatas são de referência
porque os seus nomes vão estar na base de muitas coleções que temos hoje. Isto passa-se no primeiro quartel
do século XIX. Vão competir entre si nos sítios arqueológicos para tirarem o máximo possível. Estes dois
diplomatas mandavam as gentes para sítios arqueológicos importantes que eram conhecidos pela obra
Descrição do Egito e pagam aos aldeões para cavarem. Tudo o que encontram levam consigo

Bernardino Drovetti (1780-1827)

Focou-se, principalmente, em dois sítios Tebas e Saqqara e vai recolher uma extensa coleção arqueológica
que vende:
 Ao Rei da sardenha em 1824 - o rei investe metade do orçamento da Sardenha
 Ao Rei da França em 1820 (associando ao que já tinha, vai constituir a base da coleção do Louvre)
 A Berlim

Túmulo de Djehuty

É a primeira vez que temos notícia de ser encontrado um túmulo intacto. É general de Tutmés III, é o
protagonista do conto “A Conquista de Jopa”. Este infiltra-se na cidadela inimiga com 200 homens em
cestos.

Este túmulo foi encontrado provavelmente em Sakara em 1824 e, apesar da forma descuidada como o túmulo
foi processado, o caráter precioso dos objetos fez com que alguns, mas poucos, foram preservados até hoje.
Tudo o que é objetos orgânicos destroem-se ao toque, os metais são mais facilmente preservados. O que
chegou ao dia de hoje foram objetos em ouro o que nos diz que o túmulo devia estar muito provavelmente
intacto. O espólio foi disperso sem registo. Tudo o que não fosse ouro ou pedra não tinha importância para
estes indivíduos e muitas vezes eram deixados no próprio local.

Henry Salt (1780-1827)

Vai aproveitar a sua supremacia para se penetrar no campo e fazer esta recolha no campo. Esta coleção vai
ser essencialmente canalizada para o museu britânico (1823) mas estes indivíduos vendem as suas coleções a
quem lhes paga mais e por isso acaba por vender coleções ao rei francês em 1826. Em 1835 leiloa a terceira
colocação através da Sotheby’s. Ele retira elementos arquitetónicos dos sítios, não se limita a pequenos
objetos.

Drovetti e Salt devem ter encontrado uma biblioteca muito antiga, provavelmente um esconderijo, aparece
através dos seus agentes uma grande coleção de papiros. Muitos são vendidos ao museu egípcio de Turim,
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papiros muitos importantes como um cânone real, um mapa das minas de ouro no Sinai e um mapa do
túmulo real de Ramsés IV - Documentos oficiais.

Em tudo isto, o trabalho de Giovanni Battista Belzoni, agente de Salt, faz descobertas muito importantes.
Durante algum tempo em Londres ganhava a vida como saltimbanco e envolveu-se em alguns números de
circo em que fazia a “Pirâmide Humana”. Tinha uma força descomunal. Era também engenheiro hidráulico.

Em 1815 vai ao Egito para vender um sistema hidráulico e é nesse contexto que conhece Salt. Salt paga-lhe
para ir aos sítios arqueológicos como engenheiro e remover objetos colossais. O que começou como uma
ligação acidental transforma-se numa paixão e é contaminado pelo desejo de saber - É o primeiro explorador
a ter consciência do valor desses objetos.

Belzoni continuou a explorar o Nilo, foi rio acima, passando a primeira catarata e, com este espírito de
explorador, foi o primeiro a encontrar o templo de Abu Simbel. Foi preciso escavar a duna para expor a
entrada do templo. É ele também que descobre o Vale dos Reis onde é descoberto o sarcófago de Ramsés III.
A arca está no Louvre e o tampo em Cambridge. Descobriu o túmulo de Seti I, o maior túmulo do Vale dos
Reis, sem saber quem este era, sendo que ele não sabia escrita hieroglífica. Belzoni não tinha qualquer
formação que não exista sobre a documentação dos monumentos, mas de forma empírica sentiu necessidade
de desenhar o túmulo tal como ele descobriu e viu.

Ele percebeu que a partir do momento em que o túmulo estivesse aberto estava vulnerável e ia começar a
sofrer as marcas da exploração que estava a decorrer. Vai haver uma tentativa de retirar e vender relevos do
túmulo para os museus, algo que vão conseguir realizar. É o maior túmulo do Vale dos Reis. Belzoni nestes
desenhos representa um sarcófago, este sarcófago é um dos poucos encontrados do Vale dos Reis com esta
configuração antropomórfica, é um sarcófago de alabastro. Está hoje num museu de curiosidades em
Londres.

Belzoni descobre a entrada para a segunda maior pirâmide, sem estragos, a sua entrada ficou registrada por
um graffiti que ele fez dentro da pirâmide. Com este registo de descobertas ganhou muito reconhecimento
em Londres. Morreu numa exploração em Tobruk. Por comparação, um oficial britânico Richard Vyse
dinamizou a terceira pirâmide por não conseguir encontrar a entrada.

06/02/2024

Richard Vise dinamitou o lado norte da pirâmide de Neucaré para encontrar a entrada. O que este encontrou
foi diferente do encontrado nas outras pirâmides. A câmara funerária ainda continha o sarcófago original e
dentro do sarcófago (contentor funerário que é feito de pedra) foi ainda um ataúde (caixão que pode ser feito
de madeira, pedra, ouro…).

Foi encontrado um ataúde de madeira, sem múmia e com uma inscrição que remetia a Neucaré. Este ataúde
foi feito para ser utilizado pelo rei mas hoje sabemos que o caixão é muito mais recente do que o reinado de
Neucaré ou seja, o rei foi reenterrado algures no fim da civilização egípcia mas a múmia foi perdida. Este
artefacto está hoje no museu britânico mas o sarcófago perdeu-se, o barco em que este ia afundou-se, ele
encontra-se no fundo do mar, só não se sabe onde.

Nesta altura, na primeira metade do século XIX, há vários ecos muito expressivos da presença do Egito que
chegam à Europa. As audiências instruídas da Europa começam a receber antiguidades de grandes vultos e
os museus começam a abrir. A presença das coleções egípcias na Europa começam a ter um efeito muito
significativo no despertador do público pelo Egito. Desde o século XVIII que a antiguidade suscita este
Introdução à Egiptologia

grande interesse e no início do século XIX espalhou-se o gosto pela aquisição de antiguidades mas era de
antiguidades das civilizações clássicas.

Começa a formar-se o fenómeno do Grand Tour:

– Grupos de elites que viajam para as zonas das civilizações clássicas. Este fenómeno foi marcado pela
aquisição de antiguidades para as coleções pessoais destas pessoas que, por sinal, eram abastadas.

O Egito não entrava aqui mas quando estes objetos começam a chegar a Londres e a Paris o seu impacto é tal
que começa a motivar todos aqueles indivíduos que de alguma forma se alimentavam do imaginário do
Grand Tour como os artistas, e aí entra o nome David Robert, um pintor focado nos território do Grand
Tour.

David Robert

Foi um dos primeiros a perceber que o Egito podia ser um território muito promissor. Fez uma viagem de
trabalho com o objetivo de representar o Egito, tendo em vista um público alvo – os amante das viagens.

É resultante desta viagem, o aparecimento das primeiras representações coloridas dos territórios do Egito. O
retrato que nos apresenta é romantizado mas muito fidedigno dos monumentos.

Consegue ir até aos territórios mais afastados para captar a magia dos sítios arqueológicos mais intactos
como Philae. Em Philae representou o templo tal e qual como estava. Templo de Edfu. Templo de Kom
Ombo. Cairo (cidade não o miau da Inês).

À medida que as ilustrações começam a chegar ao Ocidente, multiplicam-se as publicações que divulgam
estas mesmas imagens e começam a chegar a um número cada vez maior de indivíduos. Desta forma
começa-se a formar um gosto, que hoje conhecemos como egitomania – que consiste na exploração do gosto
do Egito com a recriação de um sítio que potencia o exotismo e imaginário divino, através das evidências.

É nesta linha que aparece com uma preocupação com uma representação histórica verossímil dos temas do
antigo testamento. Os episódios do novo testamento da época medieval são representados com o vestimento
da época e nesta altura eles já têm uma representação histórica. O mesmo vai acontecer aos episódios
egípcios.
A imagem de Cleópatra torna-se uma imagem recorrente nestas representações da egitomania quando é
explorado o exotismo. Cleópatra é muitas vezes representada nua, que se apresenta como uma mulher
sedutora e irresistível.

Este imaginário da egitomania não animou só os círculos de artistas, entrou de uma forma muito profunda
num círculo esotérico, da maçonaria. Recuperou imagens do antigo Egito para criar uma genealogia para o
seu próprio movimento. Na sua genealogia, perfilha-se herdeira das grandes tradições esotéricas do antigo
Egito e vai se alimentar das imagens do Egito. *cemitério dos prazeres*
Também na arquitetura doméstica isto se implantou, nos palácios e jardins que usam inspiração da
arquitetura egípcia. Dois espaços muito conhecidos: café oriental em Guimarães, salão egipcio em Braga.

Só nos meados do século XIX chegou a primeira expedição alemã ao Egito, conduzida por Richard Lepsius,
o fundador da Egiptologia alemã. Chegam com o intuito de documentar inscrições para desenvolver o
Introdução à Egiptologia

trabalho filológico (estudo da língua e do seu desenvolvimento) - a egiptologia alemã é essencialmente de


caráter filológico.

Até ao século XX o trabalho da egiptologia focava-se essencialmente no trabalho filológico. Lepsius


adquiriu mais de 15000 artefactos que alimentam as coleções prussianas. Muhammad Ali assede as estas
coleções.

No século XIX havia 3 grandes escolas de Egiptologia: França, Inglaterra e Prússia.


Emanuel Rougé, Samuel Birch e Heinrich Brugsch. É em torno destes três países que a egiptologia vai
continuar a desenvolver-se a nível académico. Os académicos focam-se nos textos que têm na europa e
esquecem-se do Egito.

Auguste Mariette

Auguste Mariette é uma personagem inesquecível. Aparece no livro do Eça de Queirós. Nasce em 1820,
chega ao Egito nos seus 20 anos. Era um estudante de egiptologia do College de France, era um aluno
brilhante, tornou-se de imediato curador do museu do Louvre.

Os museus continuam sedentos de materiais antigos, e museus britânico tinham enviado agentes para o Egito
para adquirir manuscritos, coptas e açambarcaram muitos manuscritos.

O museu francês, para equilibrar as coleções, manda Mariette para o Egito com uma missão em 1850.
Quando este chega ao Egito já os conventos coptas evidenciam uma enorme resistência. Tinha 6 meses para
adquirir os manuscritos e percebe que vai falhar, como tal começou a explorar o território e foi a Sakara, na
altura pouco explorado, trava conhecimento com uma tribo de beduínos, estes apontam lhe a direção de uma
pequena esfinge.

Mariette começa a desenterrar estes vestígios e depara-se com uma avenida de esfinges. Sendo um erudito
recordou-se de uma obra de Estrabão que falava de uma avenida de esfinges que conduzia ao Serapeu.
Começou as escavações sem autorização e financiadas pelo próprio. Essa escavação inesperada resultou do
conhecimento com uma tribo, isto era raro devido ao preconceito existente em relação aos nativos.

Foi a primeira descoberta mais ou menos controlada da história da Egiptologia. Não deixou dispersar nada
do que foi encontrado. Os vestígios do Serapeu foram transportados para o Louvre. O Serapeu em si tornou-
se o principal local turístico de Sakara. Complexo de galerias onde tinham sido depositadas as múmias dos
touros de Apis. Alguns destes túmulos estavam intactos, bem como algumas múmias. Não eram só touros,
estavam também príncipes, a grande estrela é o filho de Ramsés II. As múmias foram tiradas e os sarcófagos
foram deixados no sítio devido à sua monumentalidade. Foram enviados 230 contentores para o Louvre.
Com este feito conseguiu compensar o facto de ter falhado com os manuscritos coptas, uma vez que levou
uma vasta coleção.

O objeto arqueológico tem uma coisa para contar mas na maior parte das vezes isso não é valorizado. A
interação com o objeto arqueológico quando é bem feita pode-nos dar um conjunto de informações muito
alargadas desde o momento em que nos aproximamos dos sítios arqueológicos e ainda nem sabemos que o
objeto se encontra lá. Normalmente não é benéfico que o objeto seja descoberto no sentido em que as
técnicas foram evoluindo, muitos objetos se tivessem sido descoberto no passado com as técnicas e métodos
de aproximação tinha se perdido muita informação e talvez os próprios objetos.
Introdução à Egiptologia

Neste momento estamos a chegar a um ponto em que o Egito recebe cada vez mais atenção da Europa e já
está equiparado a nível de interesse à antiguidade clássica.

Mariette é o primeiro egiptólogo a trabalhar no Egito. Já havia egiptólogos nos 3 países falados
anteriormente mas que se focavam na escrita hieroglífica.

É provavelmente nesta altura que o escrivão do Louvre é descoberto. Mariette não se focava em registos.
Sabemos que os objetos são do Serapeum porque vieram todos na mesma altura. Nesta altura a estátua do
escribas chega ao Louvre, sem qualquer informação já que as inscrições deveriam estar à sua volta, talvez
num túmulo mas não se sabe em que tumulo foi descoberta e se esse túmulo ainda existe. Sabemos que devia
estar nas imediações do Serapeum.

Esta é a primeira grande obra que Mariette impõem como uma obra prima. O que é preciso para ser
reconhecido como obra prima: Impacto junto do público e uma recepção académica. Isto não acontecia para
a arte egípcia. Uma das dimensões do trabalho de Mariette é a capacidade de impor modelos que se tornam
modelos da arte egípcia. Só com isto Mariette já tinha imposto a sua carreira.

3 anos após a sua descoberta, Mariette voltou ao Egito: «Eu soube que morria ou ficava louco se não
regressasse ao Egito imediatamente». Regressou às escavações e foi o que fez até ao resto da sua vida.
Chegou no momento em que o Egito já tinha uma grande importância estratégica, o Khediva (Said pacha)
tinha decidido por influência britânia começar as obras do canal do Suez e é um francês que está a liderar as
obras, Ferdinand de Lesseps, que cria conhecimento com Mariette. As visitas de chefes de estado ao Egito
começam a ser cada vez mais frequentes. A visita do príncipe Napoleão é coordenada por Mariette. O
príncipe Napoleão é conduzido numa vista num cruzeiro no Nilo e ao longo deste passeio as comitivas iam
conhecendo os sítios arqueológicos que já se podiam visitar, já estavam preparados para tal. Com esta
abertura cada vez maior às visitas de estado começa a aparecer a ideia do cruzeiro para se navegar ao longo
do rio, fazendo paragens. São os políticos os primeiros a dar o modelo para este cruzeiro do Nilo. Vão
seguindo por Giza, Saqqara, Abido e Elefantina. Marriete conduz o príncipe nesta viagem a descobertas
arqueológicas que foram enterradas anteriormente para o príncipe descobrir.

Mariette continua a explorar os sítios arqueológicos mas consegue criar o Service des Antiquités d´Égypte,
um órgão para controlar as escavações. Este controle não se traduziu na melhoria na maneira como as
escavações eram feitas, apenas tornou as escavações no monopólio de Mariette, mas elas eram tantas e tão
dispersas que ele não podia controlar a maior parte delas. Ele apenas assumia as escavações feitas pelos seus
agentes que podiam não apresentar todo o espólio. Ex. Tebas, Gurnah

Tebas (capital egípcia do impérios novo) e Sakara - dois grandes sítios arqueológicos a saber

É em Gurnah que se dá um dos acontecimentos mais importantes da carreira de Mariette. Nas montanhas
descobre o ataúde de Rainha Ah-hotep, feito em ouro, personagem crucial na política egípcia, viveu durante
a ocupação de um povo egipcio, o seu marido morreu em combate no esforço de conquistar o Egito, tal como
o seu filho. Ela foi o elemento que permitiu salvaguardar o esforço de reconquista. Não foi faraó mas foi
importante para salvaguardar a resistência que permitiu unificar o Egito e que nesta consequência nasce o
período do império novo, que iria ser o período áureo da civilização egípcia. Nesta altura não se construíram
túmulos e, portanto, o espólio funerário estava dentro do próprio ataúde. Isto foi tudo uma tragédia
arqueológica. Houve destruição de vestígios já que não havia missões viradas para a conservação. O que se
salvou foi a joalharia: machado ritual de guerra, punhal ritual (mostra os tempos que se viviam, tempo de
resistência), pulseiras com alusão ao filho Amés, pulseira com nome do filho, colar com o escaravelho do
coração (alusão ao renascimento da rainha no além) e colar com moscas de ouro (condecoração militar).
Introdução à Egiptologia

Espolio marcante e precioso que fez furor, a notícia desta descoberta fez imediatamente furor. Não há
propriamente um destino para estas coleções, elas eram armazenadas nos palácios reais, sítios seguros para
as coleções. A múmia foi destruída e o tesouro enviado para o Quediva. Mariette percebe que as joias iam ser
totalmente dispersas e o destino mais certo seria o Said Pasha oferecê-las às suas mulheres. Mete-se a
caminho, intercepta a embarcação que transporta as preciosidades, retira à força e luta com os tripulantes da
embarcação, resgata-as para o seu barco, isto podia significar a expulsam do Egipto mas este já tinha
conquistado uma posição em que tal podia ser embaraçoso para o Quediva.

Esta coleção foi o ponto de partida para a constituição de um museu no Egito com todas as descobertas feitas
no Egito. O espólio deste primeiro museu foi doado ao Arquiduque Maximiliano da Áustria e está hoje num
museu em Viena. É aqui que se impõe a necessidade de criar um museu que seja independente da esfera da
coroa e nasce o Museu de Bulak (1858). No entanto, não existe nada desta museu nos dias de hoje, esta
zona do Cairo foi totalmente arrasada. Concentrava as principais obras-primas que Mariette tinha reunido ao
longo das duas escavações e tornou-se o embrião de todos os museus do Egito.

Imperatriz Eugénia interessa-se pelo espólio da rainha Ah-hotep. Identificou-se com a rainha egípcia. Vai
pedir as jóias da rainha e estas foram-lhe dadas e ficou muito feliz até Mariette saber da situação que nega
esta entrega. Mariette diz que não ao Quediva e à realeza francesa, efetivamente teve represálias e viu-se
isolado durante algum tempo no seu trabalho mas nesta altura já era conhecido internacionalmente e isto
acabou por se dissolver.

Mariette vai continuar a escavar. Uma das grandes atrações de Sakara é descoberta sobre a mão dele:
Mastaba de Ti (1871). É com Mariette que os sítios arqueológicos se vão tornando em atrações turísticas. É
uma mastaba relativamente extensa e bem conservada, com uma decoração pictórica deslumbrante com as
cores bem conservadas e uma beleza dos relevos excepcionais. Passou a ser um ponto de visita obrigatória a
quem chegou a Sakara.

15/02/2024

Quando se chegava aos sítios arqueológicos havia uma enorme espessura de areia que ocultava estes
monumentos e com Mariette assistimos a uma tentativa de expor esses monumentos arqueológicos. A
primeira foi a Mastaba de Ti (1871). Estava muito bem preservada, com relevos com grande qualidade. A
Mariette criou dois pontos turísticos em Sakara: o Sarapeu e a Mastaba de Ti.

O programa das mastabas gravita em torno do trabalho no campo e o que mais cativou os espectadores
contemporâneos é a proximidade, quase como se o tempo não tivesse passado. A realidade do século XIX no
Egito por exemplo dos pastores era similar a realidade representada nos relevos.

Numa mastaba encontramos uma super estrutura e o ponto fulcral é a chamada Porta Falsa (para os egípcios
era uma porta mágica), esta porta representa uma ligação entre o mundo dos vivos e dos mortos e é aqui que
se dá a comunicação entre os vivos e os mortos e é também aqui que se depositava as oferendas para
alimentar os mortos. Os túmulos egípcios eram feitos para serem visitados pelos vivos, com alguma
frequência até.
Serbab- estátua de ka. O serbab significa armazém, era um armazém especial cujo objetivo era receber as
estátuas do defunto, é por isto que temos muitas estátuas em bom estado, elas estavam guardadas. Estas
estátuas não eram para ser vistas mas sim para funcionar no plano mágico, daí estarem guardadas. As
estátuas constituíam um suporte para o Ka do defunto. Na visão egípcia da vida o Ka pode ser traduzido
como o poder de vida.
Introdução à Egiptologia

Mariette vai levantar o pavimento do templo do Vale na esperança de descobrir túmulos mas descobre a
estátua de khafré, uma das estátuas mais monumentais que o antigo Egito deixou. É uma das maravilhas da
arte egípcia que chegou até nós. A estátua foi protegida, é feita de uma pedra rara da Núbia. Está hoje no
museu. Mariette trabalhava muito com o objetivo de criar chamarizes para o museu de Boulac. Serviu para
isto a descoberta das estátuas do príncipe Rahotep e Neferet, Medium (1871). Estas estátuas tem a
particularidade de para além de serem coloridas ter um sistema muito sofisticado para reproduzir o olhar, o
brilho do olhar. Os olhos vão ser esculpidos de uma forma que envolve uma moldura de metal com cristais
com cor que criam o brilho do olhar. Mariette varreu o Egito de norte a sul mas apanhou grandes obras
primas como as Esfinges reais do faraó de Amenemhat. Aqui já vemos a presença do naturalismo já que há
uma mistura da representação de uma figura humana com a mistura de leão. A escultura real não é toda
idealizada.
Na estatuária privada da representação dos altos funcionários vemos esta falta de idealização, temos o caso
de Ka-aper, estátua na altura extremamente cativante mas que agora não tem nada de especial, não
corresponde aos nossos valores estéticos, não representa juventude, no entanto é uma das melhores estátuas
egípcias de sempre, apresenta-nos um homem de idade madura (50-60) com complexão física gorda, com o
ventre para fora, o peito descaído, flácido, o abdômen proeminente, os braços flácidos, as pernas inchadas.
Apresenta uma certa expressão na face, algo que não é habitual. Mariette percebeu que esta era uma grande
obra da arte egípcia. Ao longo destas décadas de trabalho no Egito a coleção do museu de Boulac a coleção
foi crescendo e as obras ficaram no Egito. Estas imagens rapidamente conhecem uma disseminação.

O trabalho arqueológico feito por Mariette começou a ter um resultado muito significativo nos itinerários
turísticos. Quando pensamos no fenômeno do século XIX pensamos no fenômeno da elite do Grand Tour.
Descem ao mediterreo ocidental, visitam a Itália, a Turquia e descem até à terra santa, começam a incluir o
Egito.

Os pioneiros são os chefes de estado, mas começam a chegar outras figuras. D. Pedro II é recebido por
Mariette em Giza em 1871. D. Pedro II comprou uma coleção de antiguidades egípcias que levou para o
Brasil permaneceu nos museus do rio de janeiro até ser destruído num incêndio. Eça também foi ao Egito
com representante de Portugal na abertura do canal do Suez.

A experiência de viajar no Egito estava organizada em torno do Grand Tour até á abertura do Canal do Suez.
A inauguração do Canal do Suez em 1869 teve um impacto político muito grande e permitiu a preparação
de uma circulação em massa de gentes – navegação intercontinental Com o canal do Suez, surge uma rota
transatlântica com uma paragem obrigatória no Suez que facilitava a deslocação ao Egito, mais
especificamente ao Cairo.

A facilidade de circulação que se criou, levou a que Thomas Cook em 1870 abrisse a primeira agência de
viagens em Londres. Vai criar infraestruturas para dar segurança aos viajantes. Circular Notes, serviam para
trocar o dinheiro pela moeda local nos bancos locais. No que toca ao Egito foi um dos primeiros territórios a
serem trabalhados pela agência Cook para promover uma viagem diferente do acontecera até ali.
Começavam em Port Said, feita para servir o canal do Suez e foram organizadas viagens que ligam Port Said
de comboio até ao Cairo, Giza. Não eram viagens para elite, qualquer pessoa ia. Cria-se o fenômeno do
turismo - recriar a fórmula do grande tour de forma barata.

20/02/2024
Os viajantes do grand tour viajavam no Dahabeya, uma embarcação de luxo que era alugada.

Amelia Edwards
Introdução à Egiptologia

Filha de um banqueiro, todos os recursos necessários. Tinha uma vida muito pouco convencional. Não se
casou e o seu dinheiro permitiu-lhe ter uma vida independente, era escritora e vivia com uma mulher.
Durante a viagem ao Egito acabou por se interessar pela cultura e na dahabeya acabou por viajar até ao
extremo do Egito, Abu Simbel em 1873/74. Fundou em 1882 a Egypt Exploration Society que financiava as
explorações arqueológicas britânicas no Egito.

Cook manda construir barcos a vapor e organiza viagens de grupo, introduzindo o turismo no Egito. A
aristocracia abominava estes conceitos, não queriam partilhar o espaço durante 15 dias com estranhos mas
era perfeito para uma burguesia com algum dinheiro mas não suficiente para fazer as viagens individuais.
Estas viagens são organizadas com um programa ao contrário do grand tour.

Cook vai também patrocinar escavações como a pirâmide de Unas em Sakara, nesta pirâmide a câmara do
túmulo está bastante decorada, algo que era atrativo. Ele patrocina escavações que geram pontos de
interesses, o que é benéfico para o seu negócio.

Surgem os primeiros guias de viagem (Egito, China e índia). Este livro vai ajudar a maximizar o tempo de
visita e vai sugerir percursos de visita, vai criar os destaques no território visitado e vai hierarquizá-los,
dizendo o que é fundamental e o que é acessório, isto é uma experiência turística.

Com as viagens de Thomas Cook favoreceu o desenvolvimento de uma cadeia de hotéis: luxor.
Foi Thomas Cook que criou as primeiras fundações turistas no Egito.
Mena House Hotel- Giza

A última fase do século XIX é marcada pela abertura que o canal do Suez traz ao Egito e isso estimula o
trabalho arqueológico. Os franceses vivem uma posição muito dificl na medida em que os ingleses ganham
cada vez mais influencia no Egito. O quediva torna-se uma figura decorativa e o egito esta sob a alçada de
França (cultura) e Inglaterra (economia). Há revoltas e sublevações que levam à ocupação militar britânica
mas enquanto isto não acontece, os franceses vão aproveitando e Mariette é quem mantém os franceses na
liderança deste processo.

É nesta altura que o museu de Bulac sofre um revés, este está próximo do rio e em 1878 as cheias foram
muito altas, chegam ao edifício e o museu foi inundado e supostamente perderam-se os registos de Mariette.
Quando percebe que o fim está próximo designa um sucessor, Gaston Maspero, em 1881. Esta vai saber
conduzir a administração. Mariette morre nesse mesmo ano e é sepultada num sarcófago e agora está no
museu no Cairo.

Gaston Maspero

Completamente diferente de Mariette a nível de personalidade. É um bom aluno, diz-se que era filho de um
italiano anarquista e era o oposto do pai. Bastante responsável e vai ser assim a vida toda. Interessou-se pelo
Egito numa visita ao Louvre. Envolveu-se nos estudos egiptólogos e conheceu Mariette na Exposição
Universal de Paris. Mariette deu-lhe dois textos recentemente descobertos. Maspero traduziu-os em 15 dias e
impressionou Mariette. Em 1874 foi nomeado professor de egiptologia no College de France. Em 1880
chefiou uma missão ao Egito que acabou por criar o Institut Français d'Archéologie Orientale (IFAO). Em
1881 tornou-se diretor geral do Service des Antiquités de l’Égypte e começa uma etapa que se vai
caracterizar por algumas descobertas muito importantes.
Introdução à Egiptologia

Maspero tem uma visão pragmática da gestão das antiguidades – encorajava a exploração dos sítios
arqueológicos dos locais (era o que eles faziam e uma forma de não perder tudo era comprar parte do
espólio) e havia uma divisão do espólio (podia escavar quem quiser e as autoridades escolhiam o que ficava
ou saía do Egito). O museu de Bulac era também um ponto de venda de antiguidades que financiava o
próprio serviço.

Fazia de diplomata para equilibrar todos os interesses e agradar a todos. Enquanto egiptólogo foi muito mais
cientista que Mariette, foi escavador mas preocupou-se em publicar o que encontrava, o que contribui para a
investigação. Permite que indivíduos muito longe do Egito possam desenvolver investigações. Instituiu o
pagamento de bilhetes para os sítios arqueológicos – servia para pagar a manutenção dos sítios. Gestão do
patrimônio arqueológico.

É neste momento que se começa um trabalho sistemático de escavar os sítios até se encontrar o seu nível
original.

É por esta altura que surge uma das grandes descobertas de Maspero (1881). Luxor, na margem ocidental
oposta ao templo, existe uma aldeia, Cheikh Abd el-Gurnah, que foi construída no meio dos túmulos
egípcios e os locais convivam no meio dos túmulos, foram construindo as suas casas mas nesta altura do
turismo perceberam que tinham grandes tesouros de baixo de sua casa e começaram a fazer escavações
clandestinas.

Punham o espólio a circular muito facilmente entre os turistas. A comunidade desta aldeia é muito fechada e
desconfiada de quem vem de fora. Neste contexto há uma família do patriarca da aldeia, Ahmed Abd el-
Rassul, este homem diz que acidentalmente descobriu um poço nas falésias da montanha deir el-bahari,
mantém o segredo e desloca-se a esta caverna regularmente retirar o espólio para vendar, existe uma negócio
de antiguidades. Pouco a pouco começam a aparecer no mercado objetos muito importantes como vasos de
bronze e papiros. Esta recorrência alertou as autoridades e começaram a tentar perceber o que se estava a
passar. Os irmãos foram torturados mas nada confessaram. Os irmãos desentenderam-se e o mais novo
confessou às autoridades. É aqui que as autoridades vão encontrar um conjunto de 50 enterramentos entre os
quais se encontravam uma grande quantidade de réis do império novo. Ataúdes que albergam as múmias
reais do império novo.

Só quando as múmias chegam ao Cairo é que estas começam a ser estudadas e se percebe a importância
deste achado. São feitos pela primeira vez registros fotográficos. Faraós: Ramsés III, Seti III e Ramsés II,
etc… Estes faraós tinham sido sepultados no Vale dos reis e no fim do império novo a situação estava tão má
que a riqueza do vale dos reis era um baú de pólvora, desta forma as múmias foram recolhidas e sepultadas
em conjunto para sua proteção. O esconderijo real era um túmulo dos Sumos sacerdotes de Amon e reuniram
consigo aqueles que achavam ser os seus antepassados por direito. No meio destas personagens também há
mulheres, por causa de uma figura política muito importante, a Divina adoradora de Ámon, uma princesa que
se dedica a amon, que casa com amon, fenômeno muito característico deste período e a mais importante
delas todas é Maatkaré, ela foi encontrada com uma pequena múmia, estas mulheres não tinham filhos e
portanto esta circunstância levantou questões. Pensava-se que era filho dela, mas recentemente quando se
analisou a múmia percebeu-se que era um macaquinho, o seu animal por quem ela tinha grande estima.

27/03/2024

Homem E
Introdução à Egiptologia

Em 1881 foi descoberto o esconderijo das múmias reais. Um esconderijo grande que incluiu
múmias dos faraós do Império novo e sacerdotes. Estas datam do colapso da idade do bronze. As
múmias encontram-se aqui porque na altura os sacerdotes de Amón retiraram as múmias do templo
para as proteger.

O colapso da idade do bronze foi uma crise que pôs fim às civilizações mediterrânicas deste
período. O Egito foi uma exceção. O esconderijo das múmias remete-nos para um período único da
história do Egito, quando as autoridades do Egito esconderam as múmias para evitar que estas
fossem destruídas pelos saqueadores que procuravam os tesouros dos faraós mortos.

Uma das múmias encontradas foi o Homem E que durante muito tempo se pensou que tinha
morrido de forma dramática por causa da sua disposição. Hoje sabe-se que esse não é o caso. Como
a múmia estava enrolada numa pele animal faz supor uma mumificação não muito exímia na ásia.
Às vezes as pessoas morriam no estrangeiro, havia egípcios com terras fora do Egito e apenas no
Egito haviam oficinas especializadas em mumificação. A múmia parece pertencer a um membro da
família real pois caso contrário não teria sido escondido, todavia, parece que morreu no estrangeiro.

Outras múmias que se destacam são as das mulheres. Uma delas é Nesi-Khonsu, a mulher do sumo
pontífice de Amón (Amon Pinedjem II), uma mulher do topo da elite. A sua múmia está muito bem
preservada, possui olhos postiços.

Estas múmias foram levadas em procissão pelos arqueólogos para o museu de Bulak. À medida
que o museu foi instalado em sítios diferentes, estas múmias foram seguindo o museu. De qualquer
forma, sempre foram um foco de atenção. No museu do cairo foram colocadas numa galeria à parte.
Recentemente foram transferidas para o museu nacional da civilização egípcia em aparato, este
museu foi construído precisamente para albergar estas múmias. Há muito que o Egito se encontra
numa ditadura militar, por isso, esta e outras paradas, foram organizadas com este esplendor para
enaltecer o regime.

Dier el-Medina: a descoberta do túmulo de Sennedjem e de Seti I

Maspero criou uma política para preservar as antiguidades que encorajasse as pesquisas
arqueológicas de forma a localizar achados arqueológicos, que os reportassem, para depois entrarem
em ação e depois remunerar os descobridores mediante os achados. Na prática ele incentivou as
pesquisas arqueológicas pelas pessoas, quando estas encontravam alguma coisa eles sinalizavam a
sua descoberta às autoridades que depois os pagariam. Isto correu muito bem.

Um dos achados foi o túmulo de Sennedjem, um artesão. O interesse e importância deste túmulo
tem haver exatamente com a sua profissão. Ele era um artesão que trabalhava para o faraó. Ele vivia
em Deir elMedina (nome atual) que significa convento da aldeia.

Na época bizantina, os religiosos com ascendência ascética que se refugiavam no deserto criavam
conventos no deserto. É isso que o topónimo Deir significa.

Dei el-medina era a cidade dos trabalhadores do faraó. Esta estava construída no deserto, algo
anormal porque usualmente estas cidades eram construídas nas orlas, o que levava a que houvesse
inundações com alguma regularidade. Esta está mais para o deserto encaixada na montanha que
Introdução à Egiptologia

conduz ao Vale dos Reis, o local de enterramento dos Faraós mas, era também o local de trabalho
desses aldeões que tinham como trabalho construir os túmulos reais. Eles possuíam um trabalho
muito secreto e por isso, os trabalhadores que desenvolviam o seu trabalho para o rei durante toda a
sua vida, tinham muitas informações secretas sobre o faraó e para evitar que houvesse fugas de
informação viviam numa zona isolada e exterior. À volta da aldeia, os aldeões construíram os seus
próprios túmulos. Esta é uma circunstância rara pois por norma apenas a elite, que tinha muitos
recursos, mandava construir um túmulo para si próprios. Os túmulos eram encomendas de
aristocratas por ser um empreendimento honroso, provavelmente muitos aldeões construíram os
seus próprios túmulos. Esta é uma circunstância rara pois por norma apenas a elite, que tinha muitos
recursos, mandava construir um túmulo para si próprios. Os túmulos eram encomendas de
aristocratas por ser um empreendimento honroso, provavelmente muito mais caro (como construir
uma moradia de férias na necrópole), era preciso comprar um espaço na necrópole (um espaço
concorrido), pagar um arquiteto, pintores, etc. tudo isto era muito investido em recursos financeiros
e também culturais. Um túmulo era desejado. A partir do momento em que um nobre começa as
obras para a o seu túmulo, imediatamente isto virava tópico de conversa, esta era forma de distinção
social. O trabalho do túmulo em si também era comentado, se fosse simples, as pessoas iriam ficar
dececionadas, mas se fosse algo mais esplendoroso, as pessoas iam ficar impressionadas. Não é só
uma pessoa ser rica, é também ter a capacidade de fazer algo impressionante. A necrópole era um
espaço muito frequentado pela elite que conhecia muito bem o território e usava-o para se afirmar,
não só pelos seus recursos, mas também como forma de mostrar que é instruída. Desta forma, o
túmulo não tem apenas a função de fazer show off da riqueza do indivíduo, também tem a função
de mostrar que este é culto e capaz de fazer algo magnífico.

Estes artesãos, nas suas horas vagas, podem trabalhar nos seus túmulos. As suas semanas tinham
10 dias, trabalhavam durante 9 dias e tinham 1 de folga. Dentro da família eles organizavam se de
modo a trabalhar nos seus túmulos no dia de folga. É neste espírito que estes túmulos vão sendo
construídos à volta da aldeia onde se vai vendo crescer uma necrópole. Este é um dos únicos sítios
no Egito onde vemos uma necrópole a nascer do outro lado da rua de uma aldeia, pois geralmente
havia um rio a separar os vivos dos mortos.

A montanha separa a aldeia do vale dos reis. Para a travessia, há um conjunto de trilhos que liga
ambos os lugares. É a meio do caminho que se encontrou um ponto de descanso dos trabalhadores,
onde os que saiam mais tarde do trabalho podiam pernoitar. Esta ficava num ponto que dava para
vigiar os túmulos, desta forma evitavam se os saques aos túmulos. Um dos túmulos é o de Seti I, um
dos maiores do vale dos reis e também com um programa de decoração ambicioso. Os tetos
decorados com estrelas, as colunas com cenas policromadas, as paredes com decorações dos livros
exotéricos do além. Os homens que aqui trabalhavam tinham acesso a informação altamente
privilegiada. Eles tinham um contacto com uma cultura simbólica altamente secreta que poucos
conheciam. É muito provável que eles não sabiam o que estavam a fazer, mas havia alguém que
lhes passava os modelos. Ao longo de uma vida a replicar estes modelos, apesar do secretismo, é
possível que alguma informação fosse saindo. Não há dúvida que este free som servisse para
alimentar um certo interesse por saber o que se passava ali, vamos ter um vislumbre disso no
espólio de Sennedjem. Temos aqui um mundo pictórico rico e exotérico com composições secretas
que foram elaboradas que foram feitas para evocar uma alusão ao cosmo.
Introdução à Egiptologia

Em geral, os trabalhadores do faraó cresceram num ambiente fechado. Geralmente são


descendentes de outros trabalhadores reais. É uma comunidade fechada que serve o faraó e que é
privilegiada pois detém os conhecimentos técnicos especializado para estas coisas.

Cada vez que há uma comunidade que se centra numa determinada tarefa, decorre uma explosão de
avanços extraordinários (ex.: escola de sagres; Biblioteca de Alexandria, etc. no caso dos egípcios,
eles criaram comunidades que se especializaram no trabalho da pedra).

Akhenaton acabou com o Vale dos Reis e foi para Amarna deixando estes artesãos sem emprego.
Aconteceu que, neste momento, não sabemos exatamente o que aconteceu a esta comunidade de
trabalhadores. No final do seu reinado, Tutankhamon vai para Memphis e neste meio tempo a aldeia
fica desabitada. Seti I é o faraó que volta para o vale dos reis, só que nessa altura não haviam
artesãos suficientes o que levou a que fossem contratados trabalhadores de fora, sabemos disso
porque a aldeia foi ampliada.

Normalmente os artesãos não tinham túmulos, este era exclusivo dos aristocratas. Mas como estes
trabalhadores eram especializados na área e por isso faziam túmulos para si. Normalmente os
túmulos são feitos para o casal, estes, ao contrário da norma, por serem uma obra de família, os
túmulos eram construídos para a família toda (túmulos familiares).

Túmulo de Seti I Dier el-Medina Egiptologia Página 2 aristocratas. Mas como estes trabalhadores
eram especializados na área e por isso faziam túmulos para si. Normalmente os túmulos são feitos
para o casal, estes, ao contrário da norma, por serem uma obra de família, os túmulos eram
construídos para a família toda (túmulos familiares). No túmulo de Seti I vemos partes inacabadas,
porque o túmulo era enorme (e o faraó morreu antes do fim da obra. A morte do faraó era a deadline
dos trabalhadores. Assim que ele morria, a obra parava e o faraó era lá colocado). Mas é graças a
isso que vemos o processo de artesanato. Primeiro alguém fazia o esboço, depois esculpia-se o
relevo e por fim alguém pintava.

Sabemos onde é a casa de Sennedjem, que ficava na parte nova, o que significa que este eram um
recém chegado. O professor estudou o espólio deste trabalhador e pensa que ele seja originário de
Amarna e que tivesse sido contratado para ir para a aldeia.

Dele temos, o sítio onde morou, o seu túmulo e o seu espólio mais ou menos bem preservado.
Todos estes fatores convergem de modo a que temos uma imagem bastante definida da sua vida. O
seu túmulo é o tipo TT1. Estes túmulos eram em formato de pirâmide pois agora os faraós faziam
os seus túmulos no vale dos reis, deixando de usar a pirâmide, por isso, este formato passou a ser
usado para túmulos privados. No pátio à frente fazia-se uma celebração do dia dos mortos (que hoje
na nossa cultura reflete-se no Halloween).

O seu túmulo é típico do império novo. Tem uma estrutura em capela com um nicho onde está a
estátua do casal proprietário do núcleo e que recebe as festas, um pátio à frente, um poço que
conduz para as várias galerias subterrâneas. Sennedjem construiu estas galerias a pensar na sua
descendência, por isso construiu três câmaras mas apenas uma está ocupada, as outras duas nem
sequer foram terminadas. Quando o beduíno escavou, encontrou o túmulo, foi entrando nas várias
galerias até chegar a uma porta onde viu uma entrada diferente, pintada, ele cumpriu as instruções e
Introdução à Egiptologia

alertou as autoridades. Maspero entrou depois em ação com Eduardo Toda, um cônsul espanhol de
origem catalã, que se envolveu com a elite do templo do Cairo, mostrou interesse nas antiguidades e
masteou encarregou o de processar a descoberta. Este é um dos primeiros nomes da arqueologia
ibérica e de certo modo uma vitória para nós.

Este túmulo parecia preservado, pois quando há salteadores eles arrombam a porta e deixam tudo
aberto. O que atraiu os arqueólogos foi a porta estar pintada, esta mostra um cenário religioso,
Sennedjem e a sua mulher perante o deus Osíris fazendo alusão à entrada do mundo dos mortos. Ao
entrar, Toda e Maspero encontraram uma câmara ricamente pintada e bem preservada. A diferença
está que no túmulo de Seti I as paredes estavam cobertas com cenas exotéricas alusivas ao faraó, no
túmulo de Sennedjem vemos tudo pintado mas com temas mais religiosos. Numa das paredes temos
uma cena do livro dos mortos (o trabalho do campo do paraíso designado aqueles que tinham agido
de acordo com os princípios da ordem cósmica, Maat. Estes eram imaginados de acordo com o
paraíso egípcio que era uma ilha no meio do Nilo, cheio de trigo, onde vemos o casal do túmulo a
ceifar o cereal. Temos uma imagem de fertilidade, abundância e prazer. Segundo os egípcios, o
paraíso era um sítio designado ao prazer, onde se comia, bebia e fazia-se amor. Tudo isto era tirado
das representações do livro dos mortos. Aos faraós estavam designadas as imagens esotéricas, mas
os súbditos também estavam autorizados a usar cenas do livro. Sennedjem decorou o seu túmulo, à
semelhança do faraó com o que ele podia fazer.

O livro dos mortos era exclusivo da elite e no túmulo não havia nenhum, a decoração do túmulo
vem exclusivamente do conhecimento de Sennedjem. Este era um livro iluminado, uma compilação
de imagens e feitiços para o mundo dos mortos.

Lá estavam nove ataúdes, nove membros da família, e 11 outras múmias sem qualquer
equipamento funerário.

05/03/2024

O túmulo estava empilhado com múmias: nove estavam contidas em ataúdes. Onze estavam
dispostas no solo.

Parecem faltar objetos no conjunto, não havia joalharia porta se isso alguma vez esteve presente terá
sido levado. Parece ter havido uma delapidação seletiva deste material na antiguidade.

Foi encontrado na sua maior parte materiais funerários, exceto uma cadeira que tem um significado,
a cadeira era reservada ao chefe da casa. Normalmente nos túmulos são encontrados banquinhos
pequeninos para os restantes familiares e uma cadeira para o patriarca, por vezes é reservada uma
cadeira também para a mulher do patriarca. Todos os outros objetos encontrados são funerários, só
tem utilidade funerária e qualidades mágicas. Temos alimentos para o ka do defunto. Decoração.
Uma das coisas que levou para o túmulo foram os seus instrumentos de trabalho. Há objetoso que
mostram que Sennedjem era um indivíduo letrado, era um erudito, e foi encontrado um grande
óstraco com o início da Aventura de Sinuhe. Este romance era ensinado na escola e era usado para
ensinar a língua egípcia na sua perfeição. Ele considerou importante levar para o túmulo uma peça
significativa do romance clássico da escola egípcia.
Introdução à Egiptologia

Em todos os elementos deste túmulo a pintura atingiu níveis de excelência muito significativos,
vemos isto nas paredes do túmulo mas também nos artefactos que têm uma decoração pictórica
muito rica. Replicou o leito onde estava colocado o ataúde e isto mostra o conhecimento que ele
tinha dos túmulos reais. Estes artesãos estão a trabalhar para eles próprios, produzem os seus
próprios equipamentos funerários e de uma forma particularmente elaborada que mais ninguém
fazia. O que eles fazem é único e só para eles.

Senne- irmão djem- doce. Ineferti- sacerdotisa de ator.

Esta família parece ter tido um papel muito especial. Todo este material foi processado pelo
Eduardo Torna. Uma grande parte dos objetos desfez na viagem para o Cairo. Só uma pequena
parte é que ficou no museu do Cairo, uma parte foi vendida ao museu Egipcio de Berlim que foi
perdida durante a segunda guerra mundial e outra parte foi vendida ao MET.

Sennedjem foi mumificado com materiais muito diversificados e foi usado o betume.

07/03/2024

Flinders Petrie (1853-1942)

Desde muito cedo revelou uma inapetência pela arqueologia. Teve um percurso inesperado, foi uma
criança sem educação formal, simplesmente lia, era autodidacta. A partir dos 10 começou a ter
opiniões muito firmes sobre a falta de qualidade do trabalho arqueólogo até ali. Foi um génio da
arqueologia. Petrie passou a abordar a arqueologia como uma atividade que busca essencialmente
informação contextual. Quando um objeto é encontrado ele vale como documento. Qualquer
artefacto tem um valor documental só por si mesmo sendo um simples fragmento de cerâmica que
até aí ninguém dava valor.

A história de Petrie com o Egito começa quando este já tinha quase 30 anos, começou tão tarde
devido à falta de meios. Hilda era mulher de Petrie e foi também a sua assistente. O seu papel
resume-se ao de sua assistente, mas isto é injusto uma vez que ela fez de tudo. Petrie era um homem
pouco convencional em quase tudo. Chegou ao Egito financiado pela Egypt Exploration Fund,
quando chega quer fazer um estudo geográfico de Giza para definir com exatidão as dimensões das
estruturas monumentais para criar um plano. Instalou-se num túmulo escavado na rocha. Isto era
algo que ninguém fazia. Como não tinha cozinha comia exclusivamente enlatados britânicos.

Nesta altura, o planalto de Giza já leva 100 anos de explorações e explorações muito desajeitadas.
Petrie tem uma permanência nos locais arqueológicos e é desta forma que pela primeira vez reporta
práticas que são do quotidiano dos camponeses que destroem os sítios arqueológicos. Os vestígios
são constituídos em adobe (terra fertil) e os camponeses vão aos sítios arqueológicos buscar isto
para fertilizar os campos. É portanto urgente intervir e explorar estes sítios. É isto que faz fundado
pela EES, começa assim uma grande exploração nos sítios pouco promissores para os caçadores de
tesouro, sítios onde ninguém tinha estado. Afastou de Tebas e de Sakara. Sabia que era importante
explorar estes sítios pouco conhecidos porque estes iam acabar por desaparecer sem estarem
documentados. Formava os seus próprios trabalhadores que recrutava de uma única aldeia: Qift.
Introdução à Egiptologia

Estes trabalhadores acompanhavam-no nas suas explorações ao longo do Egito, não envolvia os
locais.

Nagada

Conhecemos a historiografia que é em nagada que começa que começa a civilização egípcia. É um
sítio pré-dinástico. Tem centenas de túmulos que não tinham interesse para outros arqueólogos.
Petrie vai ser o primeiro arqueólogo a valorizar a cerâmica. A cerâmica ao contrário de outros
materiais não é reciclável e portanto é fundamental para fazer a datação, onde ela documenta uma
atividade num certo sítio num certo local. A partir deste espólio gigantesco com cerca de 900
túmulos pré-dinásticos Petrie pode para além de documentar os túmulos pôde com os vestígios
cerâmicos compreender e estabelecer tipologias, passo fundamental na análise da cultura material.
Agrupar por características comuns que definem e que separam, traçando desta forma padrões. Este
trabalho de tipologia é fundamental no trabalho de análise de material. Isto só se consegue fazer
com um número muito significativo de objetos. Os tipos podem dar indicação de datação.

Trabalhou no Egito cerca de 40 anos, escavou mais de 40 sítios, sempre com Hilda. Hilda fez
imenso trabalho de documentação. A maior parte dos desenhos que ilustram as publicações de
Petrie são de Hilda. A dimensão do trabalho de Hilda deve ser estudada e valorizada.

Ao fim dos seus anos do Egito e a escobar sítios onde ninguém tinha interesse conseguiu reunir uma
vasta coleção que documentam a vida material das populações do Nilo. São estes os objetos que
estão hoje no Petrie Museum em Londres.

1922 marca uma nova era na arqueologia egípcia (descoberta de tutancâmon). Em 1923 foi armado
cavaleiro, com o título de Sir. Foi a partir de 1922 que o espólio deixou de ser dividido, Petrie não
achou piada a isto e portanto deixou de escavar no Egito. A partir de 1926 só escavou na Palestina.

Petrie influenciou toda a arqueologia que se faz atualmente. Do ponto de vista historiográfico tinha
uma visão muito enviesada dos seus resultados. A perspetiva que tinha da civilização egípcia era
racista e dessa forma achava que os egípcios não podiam ser africanos, tinham de vir de fora de
África, tinha uma perspetiva eugênica, e estes eram pilares da sua interpretação dos dados. Era
também contra o turismo. A arqueologia foi fomentada pelo turismo mas o turismo também
fomenta a deterioração dos sítios arqueológicos.

Petrie tinha consciência que era um génio e quando morreu doou a sua cabeça para que o seu
cérebro fosse estudado. A sua cabeça foi cortada e colocada num jarro de vidro mas o rótulo caiu,
foi redescoberta recentemente.

Petrie dedicou-se a sistemas, sítios arqueológicos urbanos, não procurou necrópoles. Sítios mal
conhecidos e mal explorados. As descobertas dele não são grandes objetos de arte. Das mais
impactantes:

 A estela de Israel (1896), é um grande monólito de cerca de 3 metros onde o rei Merenptah
faz um registo da sua atividade militar e faz uma referência a um povo sem terra, Israel que
deambula por aí. Mais antiga referência hidrográfica do povo de Israel.
Introdução à Egiptologia

 Cartas de Amarna, apareceram em 1887, conjunto de tabuinhas em escrita cuneiforme,


descobertas por uma camponesa e vendidas por um valor irrisório. Wallis Budge reconheceu
a importância: correspondência diplomática. Petrie encontrou o sítio originário das
tabuinhas, arquivo das tabuinhas de correspondência diplomática da corte de Amarna.
 No Feium escavou vários sítios pouco explorados, um deles uma cidade: El-Lahun. Até hoje
a escavação não está completa. Esta cidade esclarece as desigualdades entre a sociedade
egípcia.

12/03/2024

Achados que se destacam de Pietri:

Retratos do Faium (1888)

Não os achou muito importantes mas tiveram uma grande relevância a nível museológico. Pietri
estudou necrópoles onde se encontraram múmias com equipamento completamente singulares,
eram múmias romanas, os romanos no Egito abandonaram as suas práticas funerárias. Os colonos
adotam as práticas dos colonizados. Os romanos introduziram na múmia um retrato do falecido, um
retrato à maneira romana. Temos uma sobrevivência do retrato romano que não existe em Roma.
São retratos sob madeira pintados a encáustica ou tempera. É um corpus de pintura completamente
único. As múmias estão adornadas à maneira egípcia mas em vez de terem uma máscara tem uma
pintura. Os retratos apresentam uma representação muito surpreendente da população do Feium.
Estamos a falar de uma elite e estes rostos mostram-mos a composição da elite, é apresentada uma
enorme diversidade. Vemos pessoas com feições latinas, mediterrânicas, asiáticas e egípcias
(apresentam uma coroa de louro). Questiona-se se estes retratos não teriam sido feitos em vida
devido à expressividade mas as diferentes idades sugerem que foram feitos aquando da morte.
Apresentam-se com uma indumentária romana o que nos diz que se definem a si próprios como
romanos uma vez que se fazem representar como tal.

Abido (1899)

Necrópole importante porque foi a primeira necrópole real egípcia. Estes túmulos são os mais
antigos túmulos reais egípcios. Foram continuamente saqueados e escavados por um arqueólogo
francês que praticamente destruiu o local, Émile. Pietri levou a cabo uma escavação que permitiu
preservar o material que restava. Neste contexto fez descobertas muito importantes: uma estátua
monolítica de Osíris que mostra que os túmulos dos primeiros reis do Egito foram convertidos em
criptas sagradas onde se venerava o deus Osíris. A estatua imita um sarcafogo dado que a estátua
Introdução à Egiptologia

substitui a presença da múmia real. Hoje encontra-se no museu do Cairo. A estátua representa
Osíris morto e enfaixado, em cima está um pássaro que está a representar Isis que seria fecundada
por Osíris para realizar a sua ressurreição. Esta estátua seria vista como sagrada pelos egípcios.

Inscrições proto-sinaíticas (1905)

Conjunto de inscrições encontrada no Sinai que mostra que a escrita hieroglífica já tinha sido
adaptada para um escrita alfabética. Símbolos fonéticos que se manifestaram na escrita alfabética
fenícia que se vai desenvolver depois. O alfabeto é inventado no Egito, expande-se para a Fenícia
que depois vai ser aproveitada em larga escala. Símbolos associados a uma realidade
socioeconômica muito própria que leva a que os escribas tenham uma formação mínima. Inscrições
encontradas em pedra numa mina de pedra turquesa.

A Rainha de Gurnah (1908)

Ponto forte deste achado é um ataúde, muito bem registado. Tebas. Encontrou um sepultamento
aparentemente pobre, não tem túmulo, foi feito diretamente na areia. No enterramento vemos um
ataúde bem decorado, cerâmica à volta e um ataúde pequenino aos seus pés. O corpo do ataúde
apresenta duas asas a tapar, tem o nome ataúdes emplumados que apresentam o defunto como se
fosse um pássaro, é uma outra forma de ver a vida no além como um pássaro que vive na luz. Foi
encontrado um colar com muitos discos de ouro. No império novo vão ser chamados de colares de
honra, condecorações que o faraó dava aos funcionários que se destacavam, normalmente tinha dois
enfiamentos, aqui temos quatro. Não são peças de joalharia, são essencialmente “contas bancárias”,
são dispositivos onde está uma grande quantidade de ouro que o faraó dá ao seu funcionário e este
recebe como um atributo que usa e o destaca mas na verdade esse colar era gasto, tirava discos e
fazia aquisições. Este colar foi oferecido numa época em que o ouro era algo raro, no segundo
período intermediário, desta forma começamos a perceber a importância desta mulher. O ouro vinha
da Núbia. Esta mulher seria uma princesa da Núbia que se casou com o rei e traz consigo o ouro.
Para além disto tudo apresenta objetos núbios como vasos de boca negra. Foi sepultada com um
caixão pequenino que continha uma criança que morreu antes dela. Temos muitas referências à
nubia, temos uma mulher que mais tarde vai ser analisada pela equipa forense que mostra que tinha
os joelhos muito fracos, o que nos diz que passaria muito tempo de joelhos, deveria ter uma posição
religiosa importante e que se faz acompanhar de uma criança, um filho que morreu e que guardou
para se fazer acompanhar dele.

19/03/2024

Eugène Grebaut 1846-1915

Maspero retirou-se por razões de saúde em 1886. Grebaut foi escolhido para manter a França à
frente do SAE.

A egiptologia é uma disciplina essencialmente da língua, por isso encontramos um choque quando
os acadêmicos se debruçam sobre a arqueologia. Os acadêmicos procuravam na arqueologia textos,
fora isso o objeto não tinha qualquer valor.

Grebaut era bastante competente, mas representava a velha guarda da Egiptologia tradicional.
Introdução à Egiptologia

O Quediva cedeu um dos seus palácios localizado nos subúrbios de Guiza para se instalar o antigo
museu de Bulak. Com estas instalações muito maiores as antiguidades passaram do museu de
Bulak para o museu de Giza. Assim que foi inaugurado o museu já estava cheio. A maior parte dos
objetos não estavam protegidos.

Em 1891 dá-se uma descoberta de enormes dimensões. O Túmulo dos Sacerdotes de Ámon. Foi
descoberto em Tebas. Aconselhado por Mohamed Abd el-Rassul, Grebaut descobre um poço. O
achado era muito difícil de escavar. Junto ao tempo do Templo da rainha Hatshepsut estava este
poço, um poço com 11 metros com várias camadas de selamento para ocultar a passagem para
baixo. Chegando ao fundo dos 11 metros do poço foi encontrada uma porta selada com tijolos de
adobe, esta porta estava intacta. Percebe que ia entrar num túmulo intacto e chama um dos seus
assistentes, Georges Daressy, que tinha tido contacto com o trabalho de Pietri. Vamos encontrar
nesta descoberta uma encruzilhada entre dois momentos da arqueologia, científica e pré-científica.
Foi encontrado um enorme corredor que conduzia a duas câmeras funerais, existindo ainda um
corredor transversal- Foram encontrados 153 enterramentos. O maior túmulo encontrado intacto na
história da arqueologia egípcia. Túmulo datado da vigésima primeira dinastia, fim do império novo,
a mesma data do esconderijo das múmias reais.

A partir do momento que Grebaut descobriu os objetos Daressy anotou a posição dos túmulos.
Durante cerca de 9 dias todos estes enterramentos foram retirados para o exterior. Uma das
primeiras descobertas a ser divulgada pelos media. São as notas de Daressy que salvaram a situação
e permitem compreender o que aconteceu. Os ataúdes eram levados às costas dos homens para o
barco do museu ancorado no Nilo. Todo o espólio foi conduzido para o museu de Giza, foi no
museu que começou o desenfachamento das múmias. O desenfachamento é feito por um médico, o
mesmo que analisou as múmias reais 10 anos antes, o médico não publica nada mas Daressy vai
registar tudo, o que torna esta investigação científica. Tudo isto constitui uma atração para esta
pesquisa. Em 1892 o Quediva morreu e subiu ao trono o que seria o último Quediva morreu
também nesse momento Grebaut acaba por ser demitido. Fica à frente Jacques de Morgan, não era
egiptólogo, era engenheiro, este quer doar uma grande parte desta coleção às potências europeias.
Foram feitas 17 pequenas coleções que foram doadas em 1893. Esta coleção dos sacerdotes de
Ámon encontra-se dispersa. Quem recebeu esta coleção não sabia que tinha elementos deste
túmulo. Ninguém sabe onde estão as múmias. É graças às notas de Daressy que hoje temos uma
base para reintegrar os objetos na coleção original.

Quando o espólio chegou ao museu de Giza este já era pequeno e tomou-se a decisão de fazer um
museu de raiz que viria a ser o primeiro museu arqueológico de raiz, o museu egipcio do Cairo. Foi
inaugurado em 1902 e foi projetado onde os objetos podem ser apresentados como objetos de arte
mas também um museu científico onde os objetos pudessem ser estudados através de vitrines. No
segundo andar temos as obras de arte e no primeiro andar temos salas de estudo agrupadas por
temas.

Quando o museu egipcio do cairo foi inaugurado era o maior museu egipcio do mundo e causou
impacto. Com o tempo o museu foi se tornado pequeno, durante todo este tempo uma das inovações
foi criar uma sala de venda, havia até lojas de antiguidades no exterior que trabalhavam em
articulação com o museu. Uma grande quantidade de objetos, principalmente pequenos objetos
foram vendidos.
Introdução à Egiptologia

Os tesouros das princesas em Dashur

Jacques de Morgan escavou as pirâmides das pirâmides do império médio. Estas pirâmides têm a
particularidade de terem muitos enterramentos secundários de mulheres reais. Nestes enterramentos
ele percebeu que a câmara funerária tinha sido vandalizada mas percebeu que havia esconderijos, na
antiguidade foram criados dispositivos para esconder objetos valiosos. Nesses esconderijos havia
uma enorme abundância de joalharia.

Objetos (elite do império médio):

 Associados à cosmética, foi sempre um pretexto para exibir riqueza. Vasos de unguento.
 Cintos de pedras luxuosas e conchas.

Este tesouro passou a ser colocado no museu egipcio do cairo e deu origem à sala do tesouro, um
dos pontos mais visitados.

02/04/2024

A convivência entre franceses, britânicos e egípcios torna-se cada vez mais difícil de gerir no
campo.

Jacques de Morgan entra pela necessidade de apaziguar o clima tenso a nível político (entre
britânicos, franceses, etc); não tem bases nem interesse na egiptologia, ao fim de 4 ou 5 anos vai-se
embora.

Sucede-lhe Victor Loret, em 1897, que desenvolve um trabalho intensivo com foco no Vale dos
Reis, ao contrário de Petrie que nunca se interessou pelo Vale. Este local permanecia inexplorado e
insuficientemente estudado do ponto de vista arqueológico devido à sua grande dimensão e por não
ser fácil de escrever.

Focou-se em descobertas importantes politicamente e arqueologicamente.

Vale dos reis

Localizou e revelou 17 novos e importantes túmulos.

Em 1898 – Túmulo de Tutmés III, um dos principais faraós da XVIII dinastia. Foi com grande
entusiasmo que o seu túmulo foi localizado. Construído no alto da falésia.

Loret apercebeu-se que, durante a ocupação do vale dos reis, há uma diferenciação na localização
dos túmulos, uns localizam-se na base do vale e com fácil acesso, quase todos ramesessidas. Os
mais tardios e outros localizam-se em zonas de maior dificuldade de acesso, no topo das falésias.
Portanto, os túmulos da XVIII dinastia encontram-se no topo das falésias porque havia uma
preocupação em dificultar o acesso a esses túmulos e não revelar a sua localização, o que não
aconteceu durante a XIX dinastia, onde encontramos os túmulos na base do vale.
Introdução à Egiptologia

Ainda hoje se questiona porque é que os túmulos ramesesidas tem um acesso tão facilitado, diz-se
que os túmulos ramesesidas eram abertos regularmente por razões rituais ao passo que os outros
não. A viragem terá-se dado a partir de Tutankamon.

Túmulo de Tutmés III

É o primeiro túmulo real que aparece decorado de forma coesa. Na câmara funerária encontramos o
teto decorado com estrelas mas evocar o território noturno do além e nas paredes temos uma
decoração relativamente homogênea divida em 3 registos que vai circulando ao longo das paredes.

Aparece uma das primeiras edições do Livro de Amduat, composição exclusiva da realeza (livro
dos mortos). O que vemos na câmara é uma edição arquitetónica do livro, o livro apresenta a
sucessão das 12h da noite ao longo das quais o deus sol percorre o mundo inferior desde o pôr do
sol até ao nascer do sol. Quando se entra o livro começa à nossa direita e a câmara é elíptica, vai
evoluindo, dando a volta à câmara funerária chegando à décima segunda hora no fim da câmara.
Livro sobre o percurso desconhecido do sol, o sol mergulha no mundo inferior para se regenerar, o
sol quando mergulha é mais velho do que quando nasce. O protagonista da narrativa é Ra e o
protagonista da leitura é Tutmés.

É um túmulo pequeno que tem uma singularidade de constituir um espaço para a educação do livro
de Amduat em que ele funciona como uma realidade que está em regeneração dinâmica.

Após a descoberta do sarcófago de Tutmés III, Loret percebeu que havia uma cópia do sarcófago, o
original ainda estava no local mas havia um igual no Cairo. Este devia ter resultado de uma cópia
intencional cerca de 1000 anos depois. Na dinastia XXVI, um homem Hapimen copiou o sarcófago
para fazer um igual para si que acabou na mesquita de Ibn Tulum e foi apropriado pelos franceses e
subsequentemente pelos ingleses. Isto mostra que, na época baixa, o túmulo de Tutmés III já era
muito visitado

Túmulo de Amen-Hotep II

Não muito longe, foi encontrado o túmulo do seu filho. Foi encontrado um esconderijo de múmias
reais. No próprio túmulo do faraó ainda se encontrava a múmia de Amen-Hotep II, que foi o único
faraó deixado no seu próprio túmulo. Foi encontrado todo desenfaixado e sem o seu material. No
esconderijo foi encontrada uma sobre uma barca e conjunto de múmias bastante singular, já não
tinham revestimento e são múmias da família real que se vêm uma atividade de vandalização
invulgar, as múmias eram postas nestes esconderijos para sua proteção. Rainha Tiye, mãe de
Akhenaton, Nefertiti e Tutmés, irmão de Akhenaton. Provavelmente os sacerdotes que montaram
esta operação não as quiseram misturar com as múmias respeitáveis, talvez pela ligação a
Akhenaton mas também pelo seu estado.

As descobertas de Loret tiveram alguma repercussão nos Media apesar de que não seria a primeira
vez que acontecia.

Loret vai explorar ainda mais esse recurso, especialmente na descoberta de Amen-Hotep II. Loret
esteve quase para cair nas armadilhas do túmulo, os túmulos do Vale dos Reis têm poços profundos,
são feitas ilustrações deste momento de quase queda. Esta particularidade de relatar as aventuras
Introdução à Egiptologia

teve um impacto muito grande. As representações populares da arqueologia tem uma genealogia e
está presente aqui.

Neste momento, no final do século XIX, a fotografia fazia um grande sucesso no Egito, que se
tornou um território fotogénico por excelência. E, tal como a pintura, a fotografia difundiu-se de
forma mais intensa.

Para a egiptologia é muito importante as compilações fotográficas. O uso da fotografia como


instrumento arqueológico começa a ser utilizado mas não com regularidade. Pela fotografia temos
uma documentação dos sítios à época, ao ano em que eram documentados.

Tráfico de antiguidades

Tudo isto resulta da presença de turistas, a atividade dos media, anunciando as descobertas, faz o
seu papel na atração de mais turistas. Ao mesmo tempo que eles chegam, as antiguidades continuam
a sair e entãogera-se um mercado cada vez mais especializado e com técnicas intencionais. A
vontade de lucro gera a que hoje seja impossível localizar a proveniência das antiguidades. Os
traficantes aprendem a retirar elementos que vão vender por uma boa quantidade e vender o restante
de forma a gerar mais lucro. Aprendiam o que à época se procurava que seriam fragmentos bonitos,
um fragmento por vezes valia mais do que a estátua toda.

Regresso de Maspero

Em 1899, Maspero voltou a dirigir o SAE, até 1914. Consolidar a presença francesa. Foi visto como
a pessoa indicada para regressar e estabilizar este processo. Inicia a publicação do Catalogue
Général do MEC e torna-se essencial para a egiptologia. Inicia campanhas de conservação através
de Georges Legrain.

É em 1903 que se dá a viagem da família real portuguesa ao Egito. Foi extremamente bem recebida
pelo Quediva. A rainha quando chegou não ia visitar o Egito, ela ia no iate Amélia com destino a
Jerusalém. Em vez de 4 ou 5 dias ficou 20 dias. O Quediva abriu-lhe as portas do Egito, deu-lhe as
carruagens reais, a linha férrea tinha sido recentemente concluída e a rainha foi desde Alexandria
até ao Assuão, foi a primeira viajante portuguesa a ir tão longe.

09/04/2024

Chegada ao Egito de outras escolas que se vão formar. Temos visto até aqui resultados que
decorrem dos Service de L’Antiquité, ignorando o pouco que se faz fora disso. Existe este binómio
SA e Pietri com arqueologia científica. Ernesto Schiaparelli vai ser o fundador da arqueologia
italiana, vai desenvolver um trabalho de pesquisa muito extenso no Egito. Um dos grandes
momentos da arqueologia egípcia é protagonizado por Schiaparelli que tem uma formação
científica, não só no registo como na pesquisa que é uma pesquisa muito mais sistemática.

Túmulo de Kha e Merit

A primeira singularidade desta é que, ao contrário do que é a regra, a câmara funerária não está por
baixo da capela. A câmara foi talhada e debaixo da falésia, isto não foi por acaso, tem haver com o
Introdução à Egiptologia

conhecimento do arquiteto. Estava intocada, quando se abriu a câmara ainda se viam marcas de uma
vassoura usada para tirar as pegadas quando a porta foi fechada. Há duas camas, Kha deve ter
deixado informaçẽs específicas que a cama ficasse fora do túmulo porque não havia espaço,
normalmente os objetos eram empilhados mas aqui todos os objetos foram deixados com cuidado.
A cama da sua mulher, Merit estava dentro do túmulo. Vemos aqui objetos que efetivamente
fizeram parte da casa de Kha e Merit, percebemos isso porque eles têm marcas de uso. Lamparina,
taça de água usada para lavar as mãos quando se vinha da rua, um cofre que teria lugar no quarto.
Kha supervisionou a construção de 3 túmulos reais: Amenhotep II, Tutmés IV e Amenhotep III, foi
uma figura importante.

O professor falou de muitos objetos que mostravam que este casal pertencia à alta sociedade e que
Kha era adorado, até pelos faraós. Schiaparelli reconhecia que um dia seria possível conhecer os
materiais e portanto reservou os materiais para um momento em que fosse possível analisá-los sem
os perturbar, uma atitude muito humilde. A cama de Merit estava equipada com um enxoval de
roupa muito generoso.

Os objetos de Kha e Merit pertencem à tipologia de ataúdes negros. O ataúde de Merit é 2 em 1,


tem uma parte com betume e outra parte só com aplicação de folha de ouro. Os ataúdes de Kha tem
uma belíssima qualidade, o ataúde de Marit apresenta as inscrições incisas que mostram que o
ataúde seria para Kha. O ataúde de Merit era pobre em relação ao de Kha. Em compensação, Merit
teve direito a uma máscara funerária e Kha não. A máscara dotava a múmia de uma proteção
mágica forte, Kha equipou a múmia com uma máscara. Schiaparelli não abriu as múmias, tinha
noção que estava a lidar com o espólio de duas pessoas que construíram aquele ambiente que ele
perturbou mas de alguma respeitou não indo mais longe.

As múmias foram analisadas sem as danificar. Kha foi equipado com um equipamento muitíssimo
rico, brincos de grande dimensão reservados a uma elite, conhecemos exemplares da realeza, tem
também um colar de honra e o escaravelho do coração. Merit tem cabelo comprido, está presente na
tac, não tem equipamentos mágicos mas tem um colar de ouro e brincos. Tem um cinturão e uma
bracelete. A múmia apresenta uma coluna torta e as costelas soltas. Merit morreu muito nova, tinha
20 e poucos anos, deixou 3 a 4 filhos. A estrutura óssea danificada é resultado da manipulação da
múmia, ela foi sepultada muito depois da sua morte. Kha viveu mais 30 anos viúvo, não há registo
de outra mulher. É muito possível que Kha tivesse preparado todo o seu túmulo na esperança que
um dia iria voltar a viver com Merit exatamente da mesma maneira, na sua casa com os objetos que
usaram, reencontrado a vida que tiveram no paraíso. Este túmulo aparece como a expressão de uma
esperança de voltar a viver com Merit. A coleção está concentrada no museu de Turim, não foi
dispersa.

11/04/2024

Schiapparelli aliou o rigor a uma dimensão ética na manipulação dos materiais.

Até ao início do século XX os americanos não tinham qualquer expressão no Egito. Quem vai
liderar a entrada da américa no Egito é o MET- Metropolitan Museum of Art. O pioneiro da
Introdução à Egiptologia

egiptologia americana é Herbert Winlock, vem desenvolver trabalhos arqueológicos no Egito. As


expedições são feitas sobre a proteção do MET e com o dinheiro americano os trabalhos vão ter
grande alcance. Vai-se focar em Deir el-Bahari, aqui está o complexo funéreo da rainha Hatshepsut
que estava soterrado. O que vemos hoje é resultado da intervenção de Winlock. Quando os
trabalhos começaram não havia qualquer vestígio do templo. Foi tudo removido (o templo
construído na época copta por cima do templo), a estrutura do templo estava bastante danificada e
foi sendo reconstruído com os materiais encontrados no local.

É necessário financiamento para a remoção de novas terras, algo que só era possível por parte dos
americanos, como para a exploração de minas por exemplo, pois era necessária a utilização de
carrinhos como esses. Progressivamente a estrutura do templo foi ganhando forma, mesmo assim
não se encontrava estátuas da rainha, estavam destruídas, por ação dos seus sucessores. Winlock
tentou juntar os fragmentos para conseguir recuperar estátuas colossais, que é o que vemos no
museu metropolitan. Hoje vemos esta exposição, que não é o resultado do winlock, pq durante
décadas a equipa polaca continuou o trabalho de recuperação.

As escavações de Winlock em Deir el-Bahari começaram em 1911.

Túmulo de Meketre

Em redor do templo de Hatshepsut nas encostas perto do esconderijo local foi encontrado um
túmulo privado do império médio, é o túmulo de Meketre, foi encontrado intacto e a câmara
funerária tem uma amálgama de objetos que são miniaturas: forma diversa de recriar a realidade.
São encontrados modelos que recriam a realidade de Meketre. Num determinado momento alguém
entrou mas não teve interesse em levar o que lá estava. Todo o espólio que vamos ver está no museu
do Cairo. A tradição dos modelos é particularmente ativa no império médio.

Representação de mulheres a tecer, ou seja, estariam a tecer as roupas para serem usadas no além.
Foi incluindo um jardim, o jardim da casa. O jardim tem no meio um tanque e em volta estão as
árvores. É a recriação de um jardim doméstico que seria a evocação já não do trabalho mas do lazer
que é raro.

Tesouro das 3 princesas

Outros dos achados tem o nome “Tesouro das 3 princesas” é um túmulo que apresenta um espólio
real. Posicionamos no reinado de Tutmés III. Este túmulo é de princesas asiáticas de Tutmés III. O
espólio está no MET. Apresenta um espólio real particular, mostra o que era a corte de Tutmés III
que já não era apenas constituída por mulheres da família real mas mulheres estrangeiras, neste
momento a família real egípcia é constituída por elementos muito diferentes entre si. Vemos objetos
que fazem parte da indumentária das princesas: toucado, caso único da joalheria egípcia, o que pode
corresponder ao gosto da proprietária, uma orientalização da joalheria egípcia. Diadema com
gazelas, animal do deserto, a mulher que usa está sinalizada como estrangeira.
Introdução à Egiptologia

Em torno das falésias de Deir al-Bahari Winlock continuou a fazer descobertas de várias épocas,
foram escavações muito ricas porque puseram em destaque uma série de achados de várias épocas,
revelou uma transversalidade de objetos muito grandes.

Túmulo dos soldados do faraó

Foi encontrado por Winlock um túmulo coletivo dedicado aos soldados do faraó, parece ser datado
do primeiro período intermediário. Os restos mostram homens mortos em combates, isto serve para
os homenagear como heróis, as múmias estavam muito destruídas e Winlock voltou a fechar o
túmulo. Cerca de 60 múmias foram encerradas. Aqui se vê a assimetria no tratamento destes
materiais, os vestígios das princesas foram fotografados e enviados para o MET e os vestígios
humanos destes soldados foram só deixados no mesmo local.

Túmulo de Maritamun

Ataúde gigante com 3 metros de altura. Tem um ataúde interior com as dimensões da rainha (era
bué anã). Os sacerdotes de Amon retiraram o ouro do ataúde com todo o cuidado para não danificar.
Foram retirados os embutidos e estes recicladores tiveram o cuidado de repintar de amarelo e azul
para sugerir a estrutura original. A múmia foi refeita pelos sacerdotes de Amon, ou seja, roubaram o
que estava lá dentro. Winlock abriu a múmia, visão colonial sobre o espólio, houve o
desenfaixamento total da múmia bem como a sua dissecação. Destruiu a múmia integral de tal
forma que hoje nem se sabe onde anda a cabeça. Retirou toda a dignidade a este enterramento e
reduziu a uma realidade anatômica.

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