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A Antiguidade
Egípcia
História, Arte e Cultura
JAMES PUTNAM
0701079245
editorial Estampa
Uma edição Quantum
;i em Setembro de 2000
ISBN 972-33-1580-7
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Depósito legal n.9 151866/00
Copyright: © 1991 Quintet Publishing Limited
© Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 2000
para a língua portuguesa
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Índice
AS PIRÂMIDES 20
OS FARAÓS 30
OS DEUSES 44
AS MÚMIAS 54
O ESTILO DE VIDA 64
O NILO 76
OS HIERÓGLIFOS 86
O LEGADO 98
___
A ANTIGU1DAPE EGÍPCIA
5
Egipto impulso. Os misteriosos hieróglifos, os estranhos
deuses com cabeças de animais e os costumes
exóticos do Antigo Egipto pareceram muito
estranhos aos Europeus do passado, como acon
I tece ainda nos nossos dias.
i
O primeiro estudo importante da civilização
do Antigo Egipto foi empreendido por um grupo
de eruditos franceses que acompanhou a campa
nha egípcia de Napoleão, em 1798. Levaram con
sigo artistas para registar aquilo que viam e
acabaram por publicar uma série de volumes,
artisticamente ilustrados, com o título Desaiption
de 1’Egypte. Nessa altura, o exército francês des
cobriu uma pedra num lugar chamado Roseta,
que tinha o mesmo texto inscrito em grego, em
hieróglifos e numa outra fase da escrita egípcia
denominada demótica. Esta inscrição iria forne
cer ao francês Champollion a chave para decifrar
os hieróglifos após vinte anos de dedicado estudo.
A decifração do documento, entre 1822 e 1824,
e a publicação da obra em vários volumes,
Desaiption de 1'Egypte 1809* 1830, marca o começo
da Egiptologia como disciplina autónoma.
Após o seu êxito com a decifração dos
hieróglifos, Champollion organizou uma expe
dição conjunta com um italiano chamado
Rossellini, para registar em pormenor os monu
mentos egípcios. Como resultado, cada um deles
apresentou belas publicações ilustradas que, jun
tamente com Desaiption de 1’Egypte, muito con
em cima Jean-François tribuíram para popularizar o Antigo Egipto em
Champollion (1790-1832) toda a Europa. Inspiraram também mais viajantes
- o «Pai da Egiptologia- e negociantes a visitar o Egipto, atraídos não ape
e o decifrador dos hieróglifos.
nas por uma ardente curiosidade mas também
pela oportunidade de regressar com antiguidades
que estavam a tornar-se muito valiosas. Não nos
deveríamos esquecer que, nessa altura, viajar para
o Egipto era lento e arriscado, os autóctones não
eram particularmente amistosos para com os
6
O ESTUDO DO ANTIGO EGIPTO
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O ESTUDO DO ANTIGO EGIPTO
rizou a Egiptologia com o seu conhecido livro The EM CIMA W. M. F. Petr/e fica, devidamente ordenada, foi estabelecido por
Manners and Customs o{ the Ancient Egyptians (1853'1942), ornais W. M. F. Petrie, que fez escavações por todo o
activo arqueólogo a
(1837), que se tornou um clássico sobre religião, trabalhar no Egipto, foi o Egipto e publicou um registo pormenorizado e uma
vida diária e cultura durante muitos anos. Ou pioneiro de novos métodos análise dos achados de quase todos os anos entre
tra figura-chave em Egiptologia nesta altura foi científicos e produziu mais 1881 e 1925.
Robert Hay que, como Wilkinson, não foi apoia de 1000 publicações. Entre 1870 e 1880 foi descoberto em Tebas um
do por qualquer organização. Financiou ele 2. Um desenho de
túmulo contendo as múmias de muitos dos faraós
mesmo um número de importantes expedições, Giovanni Belzoni (1778- do Império Novo. Estes tinham sido retirados
que resultaram em estudos pormenorizados. -1823) que mostra o pelos sacerdotes das suas sepulturas originais e no
Este trabalho descritivo, sério e fundamen transporte de um colossal vamente sepultados, para evitar a sua violação pelos
tal acabou por despertar o interesse oficial e, busto de Ramsés II, que se assaltantes de túmulos. Os arqueólogos dirigiram a
tomou parte da colecção
entre 1842/1845, o rei da Prussia financiou uma do Museu Britânico. A sua atenção para a exploração do Vale dos Reis, em
expedição ao Nilo em grande escala. Esta foi bem-sucedida direcção de Tebas, para localizar os túmulos originais. Howard
conduzida pelo competente Karl Lepsius, que Belzoni relativamente ao Cárter, um antigo assistente de Petrie, começou a
conseguiu algumas importantes antiguidades para transporte para Inglaterra escavar ali em 1912, sob o patrocínio de Lord
de uma estátua de tal peso
o futuro Museu de Berlim e escreveu uma ex foi uma notável proeza.
Carnarvon. Finalmente, em 1922, descobriu o
tensa obra, em 24 volumes, intitulada Denkmàler túmulo de Tutankhamon, o primeiro túmulo de
aos Aegypten. Esta é a maior obra sobre Egip À DIREITA Retraio de faraó a ser descoberto perfeitamente intacto. A in
tologia alguma vez publicada, sendo ainda um va Henry Salt (1780-1827), crível riqueza de ouro e os soberbos artefactos artís-
lioso trabalho de referência para os estudiosos o cônsul britânico no
Egipto, cuja importante
actuais. colecção de antiguidades
Os egiptólogos preocuparam-se largamente constituiu a base da
com datas e linguagens e fizeram-se escavações colecção egípcia do
de forma pouco científica. Foram destruídas mui Museu Britânico.
tas inscrições e papiros, numa procura ansiosa de
à ESQUERDA Desenho
antiguidades mais atractivas, ao mesmo tempo colorido de relevos
que negociantes pouco escrupulosos tiveram em pintados no túmulo de Seti
pouca conta a maneira como conseguiam acesso l, |x>r Henry Salt (17S0-
aos túmulos. Um francês, de nome Auguste -1827), então cônsul
britânico no Egipto. Foi
Mariette, que andava a reunir antiguidades para um coleccionador
o Museu do Louvre, teve consciência da neces entusiasta, responsável
sidade de prevenir o saque indiscriminado de pela obtenção de algumas
locais de interesse e organizou, para os Egípcios, das mais importantes
esculturas do Museu
um serviço oficial de antiguidades. Mariette
Britânico e também um
assegurou que as licenças para escavações fossem hábil artista amador
emitidas unicamente a favor de estudiosos qua (Museu Britânico).
lificados e dedicou-se à fundação do Museu do
Cairo. Um novo padrão de arqueologia cientí-
11
A ANTIGUIDADE E G í P C I A
Última inscrição demótica conhecida PERÍODO Cultura clássica Maia da América do Sul
■
500 d. C
í GRECO-ROMANO Pilhagem de Roma
Última inscrição hieroglífica conhecida
Fundação de Constantinopla
A rainha Zenóbia, de Palmira, ocupa o Egipto Cultura média Moche na América do Sul
Começo das principais construções em Teorihuacan
Guerra Bucólica
Diáspora judaica
Distúrbios alexandrinos O Vesúvio submerge Pompeia
Cláudio invade a Bretanha
Morte de Cleópatra
3i ÚLTIMO
Últimos faraós nativos PERÍODO Alexandre, o Grande, na índia
I
DINÁSTICO
Construção do Pártenon
Derrota dos Persas em Maratona
12
O ESTUDO DO ANTIGO EO I PTO
2000 a. C. Guerra civil entre Tcbas c Heracleópolis Primeira cerâmica feita na América Central
VII-X
DINASTIAS
Pepi II reina durante 94 anos A mais primitiva fundição de ferro
PRIMEIRO no Médio Oriente
PERÍODO
A pirâmide de Unas, a primeira Os indo-europeus entram na Anatólia
INTERMÉDIO
a conter texto
III-VI
Sargão de Agadc
Templos do Sol em Abu Gurab DINASTIAS Culturas da índia no Vale do Indo
IMPÉRIO
Expedições a Punt (Somália) ANTIGO Arquivos de tábuas em Ebla
13
ticos revelados por todo este tesouro deu lugar a em cima Howard Cárter ram também fundadas muitas sociedades especia
uma cobertura maciça pelos meios de comunica (1874-1939) e o seu gripo lizadas para patrocinar escavações no Egipto e
de arqueólogos a cavalo
ção social que, na realidade, prendeu a imaginação no Vale dos Reis, publicar jornais regulares. Uma das mais famosas
das pessoas acerca do Antigo Egipto. exactamente antes da sua é a Egypt Exploration Society (Sociedade de Explo
Além dos túmulos, os arqueólogos escavaram famosa descoberta do túmulo ração do Egipto) que tem uma história notável de
locais de residência, de forma a descobrir mais de Tutankhamon, em 1922. trabalho de campo e oferece aos seus membros um
dados sobre a vida do dia-a-dia dos Egípcios. As meio de se manterem em contacto com os últimos
descobertas mais importantes neste campo têm sido desenvolvimentos na pesquisa egiptológica.
na antiga cidade de Tell El-Amama e na aldeia de Embora os tesouros de Tutankhamon fossem
artífices de Deir el-Medina. Em Tell El-Amama, devolvidos ao Museu do Cairo, desde a sua des
um grupo alemão dirigido por Ludwig Borchardt, coberta que o governo egípcio tem sido algo
ao escavar uma oficina de escultor, descobriu o fa restritivo na concessão de licenças para escava
moso busto de Nefertiti. Os levantamentos arqueo ções. Estão desejosos, naturalmente, de nada mais
lógicos em grande escala têm sido de grande perder da sua herança cultural, e tanto os inves
importância para a Egiptologia, iniciados que fo tigadores como os museus têm encontrado difi
ram pelo trabalho de Norman de Garis Davies culdade quanto a patrocínios, já que não lhes é
(1865-1941). Tomou-se o maior copista de túmulos permitido ficar com aquilo que encontram.
egípcios e, só sobre estes, publicou mais de 25 vo A partir da década de 50, as universidades e as
lumes, enquanto sua mulher, Nina, executou lin organizações egípcias de antiguidades escavaram
das reproduções coloridas de pinturas murais. muitos sítios e publicaram uma quantidade cres
O trabalho mais importante deste tipo, a seguir a cente de material de pesquisa. Contudo, na dé
Davies, foi feito pela Universidade de Chicago, que cada de 60, os Egípcios fizeram um apelo mundial
tem uma base em Lucsor chamada The Chicago para os ajudarem a salvar da inundação os seus
Howse. Esta organização, fundada por James importantes monumentos núbios devido à cons
•reasted, publicou um registo exaustivo dos tem- trução da barragem de Assuão. Foi constituído um
P os importantes em Medinet Habu e Abidos. Fo- consórcio internacional de empreiteiros e arqueó-
14
O ESTUDO DO ANTIGO EGIPTO
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A ANT10U!DA DE EG í PC 1 A
A ESQUERDA A máscara
de ouro de Tuiankhamon
(c. 1350 a. C.)
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O ESTUDO DO ANTIGO EGIPTO
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A ANTIGUIDADE EGÍPCIA
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AS PIRÂMIDES
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de Mênfis, deve ter representado um grande sím EM CIMA A Pirâmide Sakara, o rei Seneferu contruíu a chamada Pirâ
bolo do poder eterno do seu rei-deus para os de Degraus do rei Djoser mide «Inclinada», que não é em degraus mas de
em Sakara é a pirâmide
Egípcios que a construíram. As suas arestas vivas mais antiga que sobreviveu, lados lisos, com excepção de uma curiosa
e limpas têm sido desde então marcadas pela pas construída por volta mudança de ângulo no meio. Construiu também
sagem do tempo e o seu revestimento de calcário, de 2650 a. C. uma outra pirâmide em Meidum que parece ter
admiravelmente trabalhado, tem sido saqueado, sido originariamente em degraus e depois modi
apesar de se elevar a uma impressionante altura ficada para ser de lados lisos. As fiadas exteriores
de 60 metros. O corpo do rei Djoser nunca foi de alvenaria ruíram, deixando à vista a curiosa
encontrado e, como a maioria dos túmulos, a pirâ estrutura que hoje ainda subsiste. Esta tomou-se
mide foi pilhada em tempos antigos. Contudo, meramente um monte de areia e cascalho enci
foram descobertos dois sarcófagos de alabastro, mado por uma alta torre que é, na realidade, o
um contendo o corpo de uma criança, enquanto cone da pirâmide. O filho e sucessor de Seneferu
no recinto também foram encontrados uns 30 000 foi provavelmente Khufu, tendo sido ele que es
vasos de pedra. colheu o imponente local em Giza para construir
EM baixo A Pirâmide de
A pirâmide atravessou vários estágios de Degraus adjacente a uma a mais perfeita e impressionante pirâmide de
desenvolvimento no século anterior ao das pirâ mastaba, a partir da qual se todas, a Grande Pirâmide.
mides de Giza. A vários quilómetros a sul de desenvolveu a sua estrutura. A Grande Pirâmide, no seu estado original,
elevava-se a 160 metros e calcula-se que conte
nha 2 300 000 blocos de pedra. O seu enorme
tamanho tem induzido as pessoas a fazer algumas
estatísticas fascinantes. A área que cobre é
suficientemente grande para conter as catedrais
de Florença, Milão e S. Pedro, em Roma, bem
como a Catedral de São Paulo e a Abadia de
Westminster, em Londres. Napoleão calculou que
m * os blocos de pedra das três pirâmides de Giza te
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riam sido suficientes para construir uma muralha
de 3 metros de altura e 30 cm de espessura em
redor de toda a França. Esta reivindicação foi
também verificada por um eminente matemático
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fcn.ii Bi francês contemporâneo.
A orientação da Grande Pirâmide é incrivel
mente precisa. Os quatro lados, cada um com
mais de 230 metros de comprimento, estão ali-
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A A N TI 0 UIDADE EGí PC1A
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EM cima As pirâmides
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de Giza - a Grande O Complexo de Pirâmides de Giza
Pirâmide de Khufu
F (à esquerda) e as pirâmides
a de Khafré (ao centro) 4
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i as três pirâmides mais ít^,
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AS PIRÂMIDES
Construção da Pirâmide
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A A N T 1 O IMDADE E O í P C 1 A
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AS PIRÂMIDES
nhados quase exactamente sobre os verdadeiros  ESQUERDA O rei Khafré, de distância. Quase todas as pedreiras que for-
Norte, Sul, Este e Oeste. Estes alinhamentos são construtor da segunda neceram esta pedra situavam-se perto das mar
pirâmide de Giza, reflecte no
tão precisos que os erros de bússola podem ser ve seu rosto altivo o poder gens do Nilo, tal como as pirâmides, o que
rificados por eles. Trata-se de um feito extraordi supremo do faraó no Império significa que o rio podia servir para o transporte
nário, considerando que a bússola magnética era Antigo. O falcão, da pedra por jangadas. Cada pirâmide tem uma
desconhecida pelos antigos Egípcios. Provavel estendendo as asas passagem que a liga ao Nilo. Esta era uma es
protectoramente em volta da trada cortada na rocha, que se destinava à pas
mente, conseguiram obter uma tal precisão, ob
cabeça do faraó, representa
servando uma estrela do Norte, o nascer e o Hórus, o deus associado com sagem do cortejo fúnebre. Entretanto, tomava-se
pôr-do-sol. Os pontos cardeais, Norte e Sul, po a dignidade real. (c. 2540 a. uma estrada conveniente, ao longo da qual se
diam ter sido estabelecidos pela tomada de me C.) (Museu do Cairo.) podiam arrastar as zorras que transportavam a
didas com o fio-de-prumo. pedra para a pirâmide.
EM BAIXO A pirâmide de
Os milhões de blocos de pedra que forma Meidun representa o estágio
O fornecimento de tanta pedra exigia uma
ram a pirâmide são de três tipos principais, oriun de transição da pirâmide de intensa extracção. Os antigos Egípcios possuíam
dos de três pedreiras. O grande volume de pedra degraus para a verdadeira pouco mais do que escopros de cobre primitivos
que forma o núcleo é de calcário de baixa qua pirâmide. Foi concebida e, assim, devem ter desenvolvido uma técnica
originariamente como uma I
lidade, abundante nas proximidades. Os blocos especializada para extrair a pedra. Era mais fácil
pirâmide de degraus e
de calcário branco, muito mais lisos, para o re posteriormente tranfomuida cortar o calcário mais macio do que o duro gra
vestimento e que originariamente cobriam toda numa verdadeira pirâmide nito. A qualidade mais baixa de calcário era ex
a sua superfície, provinham de Tura, a norte do por intermédio de um traída muito facilmente das pedreiras a céu
Nilo. Os blocos mais pesados, alguns pesando revestimento; ))orém, as aberto, dado que ficavam à superfície. Todavia,
enormes pressões criadas
mais de 50 toneladas, usados para alinhar as levaram à sua parcial
era necessário abrir galerias para obter o calcário
câmaras interiores e as passagens, são de grani derrocada mais fino de Tura e o granito. Isto era provavel
to das pedreiras de Assuão, situadas a 800 km mente feito pela aplicação de calor e água. Intro-
duziam-se cunhas de madeira em fendas na
rocha e depois ensopadas em água, o que as fa
zia alargar e separar a pedra. Os blocos eram en
tão esquadrados, por intermédio de cinzéis e de
malhas. Também eram usadas serras de cobre,
talvez com lascas de pedras preciosas para faci
litar o corte. Para trabalhar o granito tinham de
o bater com bolas de uma pedra mais rija, cha
mada dolerito. Embora a maioria dos blocos de
calcário que formavam o núcleo tivesse um aca
bamento grosseiro, as pedras das faces tinham
de ser cortadas com grande precisão. Muitas
destas foram depois pilhadas pelos canteiros do
Cairo, mas as que ficaram na base, cobertas pela
areia, ajustam-se tão perfeitamente que as jun
tas são quase invisíveis. Teriam sido alisadas de
pois de colocadas no lugar, quando a construção
da pirâmide terminou.
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A ANTI OUI O A DE EGI TC1 A
EM CIMA Fotografia da
Esfinge do séado XIX, que
) representa o rei Khafré com
. um possante corpo de leão.
Por trás está a sua pirâmide
\ túmulo.
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J
À direita Estatueta
í de bronze de Imlwtep,
o arquitecto da primeira
pirâmide de degraus em
pÉ Sakara. Mtiís tarde, Imlwtep
foi venerado como um deus
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de sabedoria.
(c. 600 a. C., Museu
Britânico).
!
Perto do local foram descobertas enormes EM CIMA Fotografia do poneses agricultores. Durante três meses por ano,
século xix que mostra
lixeiras pejadas de desperdícios dos blocos. Foi cal- turistas a serem ajudados a
na época da inundação, os homens não podiam
culado que o volume deste entulho é equivalente escalar as pedras da Grande trabalhar nos campos e, portanto, estariam inac-
a mais de metade do das pirâmides. Pirâmide. Com o passar do tivos. O esforço combinado destes camponeses
Não sobreviveu qualquer prova escrita con tempo, a pirâmide foi para construir o túmulo do seu faraó era justifi
temporânea que descreva como foram construídas expoliada do seu fino cado pela crença de que ele era um deus. Pensa-
revestimento exterior,
as pirâmides. O historiador grego Heródoto, que deixando à vista os blocos de va-se que o faraó era o Filho do Sol, que tomara
visitou o Egipto no século V a. C., afirmou que encaixe, que formam uma a forma humana para conduzir o povo que con
grupos de 100 000 trabalhadores, em turnos espécie de escadaria irregular tinuaria a ajudar no Outro Mundo.
rotativos de três meses cada, trabalharam dura por onde é possível subir. Os camponeses levavam a cabo o trabalho
mente durante 20 anos na construção da Grande puramente físico, mas, neste vasto projecto de
Pirâmide. Os egiptólogos crêem agora que foi construção, deve ter havido muitos trabalhado
construída em menos tempo por menos homens. res especializados. A enorme exigência de pedra
Muita gente tem a falsa impressão que as pirâmi deveria requerer cabouqueiros especialistas. Tra
des foram construídas por escravos para um faraó balhavam em grupos e muitas pedras têm ainda
tirânico. É improvável que os Egípcios tenham os seus nomes pintados, tais como «Grupo Barco»,
tido quaisquer escravos nessa época, pois a sua «Grupo Sul» e «Grupo Resistente». A pedra te
sociedade era em larga medida composta por cam ria ainda de ser talhada em blocos e acabada
26
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A ANTIGUIDADE E G í P C I A
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28
AS PIRÂMIDES
EM cima Vista acrea da posição final. É provável que este fornecimento Pirâmide é constituído por uma passagem de
l)irâmide do faraó Khufu - maciço e as rampas fossem feitas em redor da aproximação e pela própria câmara fúnebre.
no vértice estão os restos da
cobertura original em pedra área de construção. Os pesados blocos teriam O tecto inclinado e as traves mestras de granito
de boa qualidade. sido arrastados pelas rampas acima, em zorras, na câmara fúnebre servem para suportar o peso
até à plataforma de trabalho. Foram descober colossal que se encontra por cima. A passagem
EM CIMA, À ESQUERDA Uma
figura da barca fúnebre do tos os restos de rampas na Pirâmide de Meidurn. que leva à câmara é mais larga em cima, para per
faraó Khufu descoberta Também devem ter usado uma espécie de an mitir que a entrada mais estreita fosse vedada com
numa escavação perto da daimes para a revestir de calcário. blocos de granito gigantescos a servir de tampão.
Grande Pirâmide, em 1951. Através da história, o enorme volume de pe O desenho do interior só parece complicado por
As suas partes componentes
foram cuidadosamente dra da Grande Pirâmide levou as pessoas a acre que a localização da câmara fúnebre foi mudada
desmontadas após o funeral ditar que muitos segredos jazem escondidos no seu duas vezes durante a construção. As duas
do faraó, mas foi interior. Os primeiros cristãos acreditavam que as chamadas «chaminés de ventilação» podem ter
reconstruída e está agora pirâmides eram os celeiros de José, enquanto mui sido um meio simbólico de saída para o espírito
exposta num museu especial do rei morto. Textos posteriores da pirâmide des
tas gerações de Árabes estiveram convencidas de
em Giza.
que continham tesouros fantásticos. Apesar de crevem o rei a subir ao paraíso sobre raios de sol.
EM BAIXO, À ESQUERDA
várias medidas de segurança estruturais, o tesouro A própria pirâmide podia ter representado os raios
Figura de madeira pintada,
de um túmulo, representando funerário que continham foi saqueado quando os de sol cintilando sobre a Terra. Talvez tivesse sido
um trabalhador agrícola violadores de túmulos os assaltaram, provavel concebida, como a Torre da Babilónia, como uma
(Museu Britânico). mente antes de 2000 a. C. O interior da Grande espécie de escada para o céu.
29
A ANTIGUI D A D U E G í P C I A
I
Faraós dois selos reais ou carteias, juntamente com o
seu nome pessoal. Acreditava-se também ser a
encarnação do deus Hórus, filho de Osíris que,
na mitologia do Antigo Egipto foi o primeiro rei
i do mundo.
O faraó é também constantemente referido
como o senhor das Duas Terras. Nos primeiros
* tempos, o povo do Egipto encontrava-se a norte
e a sul e a unificação destas duas regiões geo
3 gráficas sob um só faraó tornou-se um evento
i
primordial na antiga história egípcia. Embora
tivesse sido estabelecida uma nova capital em
i
Mênfis, continuou a haver um centro de admi
nistração governamental do Norte e do Sul e
através de toda a história do Antigo Egipto há
i ;
evidências de uma consciência profunda de que
um nação se formara das Duas Terras. Os anti
gos Egípcios alcançaram uma unidade nacional
) através do faraó, que lhes trouxe todos os be
nefícios de uma nação centralizada e possibili
tou uma irrigação eficiente, o cultivo das terras
e a construção de pirâmides. A Grande Pirâmide
só poderia ter sido construída por um governante
que exercesse um completo controlo dos recur
sos económicos do país. As grandes quantidades
de pedra, a ilimitada força de trabalho e a perí
cia dos melhores artesãos estavam todas à
disposição do faraó. Khufu deve ter sido o mais
poderoso faraó dessa época e a sua pirâmide é a
maior. O tamanho decrescente das outras duas
indica, provavelmente, a diminuição do poder
dos sucessivos faraós. Com o declínio do poder
real, no fim do Império Antigo, os faraós seguin
tes, no Império Médio, tiveram de lutar contra
EM CIMA Uma fina figura a força e arrogância crescente dos governadores
primitiva de um faraó de pé,
em marfim, descoberta em provinciais. O país foi dividido num número de
Abidos, datando, distritos administrativos chamados «nomos», sob
provavelmente, da I Dinastia, o domínio destes governadores, que transforma
c. 3000 a. C. O faraó usa a ram os seus cargos em principados hereditários.
coroa branca do Alto Egipto
e uma longa veste que foi
Talvez para limitar o seu poder, os faraós do
usada no seu jubileu (Museu Império Médio desenvolveram uma hierarquia
Britânico). centralizada, tendo a residência real sido
transferida de Tebas para Licht, que era um cen
tro mais conveniente para governar todo o país.
Estas reformas permitiram ao faraó Senusert III
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OS FARAÓS
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Cleópatra VII (grega) Augusto (nmano)
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A antiguidade e g i P C I A
criar um exército bastante grande para as suas o trabalho do bronze, o cavalo, a carroça e ou-
campanhas nubianas, quando a fronteira foi tras armas de guerra, tais como arcos de flecha
deslocada mais para sul e ficou protegida por mais potentes,
uma rede de fortalezas. Numa outra campanha Os primeiros faraós do Império Novo afas
aumentou o domínio que o Egipto já tinha so- taram os governantes hicsos e unificaram o
bre a Palestina e a Síria. Durante os curtos rei- Estado através de uma economia bastante mo-
nados de uns 70 faraós pouco enérgicos da XIII demizada. Prosseguiram com o alargamento dos
dinastia (c. 1786-1633 a. C), a burocracia au- territórios egípcios para a Ásia Ocidental até ao
mentou e a falta de um governo forte permitiu Eufrates. O «Império» Egípcio, que incluía as
que um grupo de asiáticos, chamados Hicsos, cidades-estado da Síria e da Palestina, pagava
invadisse c controlasse o Egipto durante algumas tributo mas manteve-se autogovernado enquan-
centenas de anos. Os imigrantes hicsos introdu- to a Núbia era administrada directamente pelos
ziram algumas inovações técnicas importantes - Egípcios através de um vice-rei nomeado.
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OS FARAÓS
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EM CIMA Ramsés II, no seu O comércio e o ouro núbio contribuíram muito em estátuas e relevos com os atributos masculi
carro, ataca a fortaleza
para a riqueza do país e para uma posição de nos atribuídos à realeza, incluindo a barba falsa.
hilita de Dapur, na Síria -
reconstrução de um relevo força nas relações internacionais e os tesouros Durante o seu reinado, o camareiro chefe,
pintado do Ramesseum, fúnebre reais subsistentes mostram uma riqueza Senenmut, assumiu uma posição de grande po
Tebas, c. 1270 a. C. e uma beleza estética sem precedentes. der como seu favorito e supervisionou a cons
Os faraós do Império Novo, em particular os trução do seu magnífico templo em Deir
da XVIII dinastia, suscitaram um maior interes el-Bahari, em Tebas.
se popular. Um dos primeiros faraós notáveis du Tutmés III continuou a política de conquis
rante este período foi, de facto, uma mulher ta com campanhas na Palestina, Síria e Núbia.
chamada Hatchepsut. Governou como parte Durante o seu reinado, foram feitas muitas cons
dominante e com personalidade, numa co-re- truções impressionantes e construídos muitos
gência com o seu sobrinho e enteado, o jovem túmulos privados importantes, o que é um sinal
Tutmés III. Está frequentemente representada dos proveitos económicos da sua política impe-
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A ANTIGUIDADE EGÍPCIA
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A ANTIGUID A D E E GÍPCI A
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O s deuses do Antigo Egipto podem parecer
estranhos e até assustadores, mas, para os
próprios Egípcios, eram uma parte essencial e em
conformidade com a sua vida diária. A sua apa
CAPÍTULO QUATRO
rente adoração de animais não deveria ser tomada
literalmente, pois os animais podiam ser usados
como símbolos convenientes e familiares para re
presentar os atributos de vários deuses. Eram
!
1 colocadas cabeças de animais em corpos humanos
i como meio de mostrar deuses a representar vários
rituais e para os relacionar com acções humanas.
i A adoração de deuses sob a forma de animais
Deuses remonta aos primeiros tempos do Egipto e pode
ter sido motivada pelo medo do homem pelos
animais e a utilidade que tinham para ele. Estas
primitivas sociedades desorganizadas olhavam a
ordem natural do reino animal com receio e como
um símbolo do poder divino. As qualidades espe
s cíficas dos animais, como a força do leão, a fero
cidade do crocodilo ou o delicado cuidado da vaca
3 pela sua cria, eram veneradas e acabaram por
estar associadas com os ideais humanos.
Com o decorrer do tempo, muitos deuses aca
baram por ser representados sob a forma humana,
li mas continuaram a manter a sua identificação
com determinados animais. Por volta do último
período, quase todos os animais por eles conhe
cidos estavam associados a um ou mais deuses.
!
As criaturas sagradas, que, em tamanho, iam
desde os escaravelhos até aos touros, eram mumi
ficadas e sepultadas com todo o cerimonial. Foram
criados vastos cemitérios para animais em vários
centros de culto e aqui as pessoas podiam mos
trar a sua devoção a um deus, pagando o funeral
do seu animal sagrado. A oportunidade para um
homem comum de fazer ofertas aos deuses prin
cipais só existiu na história egípcia posterior.
EM CIMA Figura de prata O acesso ao interior do templo era negado a
do deus Ré com uma cabeça todos, excepto ao clero, sendo só depois do Im
de falcão e o disco solar
(Museu Britânico).
pério Médio (c. 2000 a. C.) que foi permitido às
pessoas privilegiadas colocar estátuas votivas nos
pátios exteriores. Em geral, as imagens dos deuses
eram inacessíveis para o povo egípcio e qualquer
comunicação com eles era exclusiva do faraó ou
dos sacerdotes que agiam por ele. Acreditava-se
que o faraó era o ser supremo que mantinha a uni
dade e a prosperidade do Egipto. O destino do
povo egípcio estava ligado ao do seu faraó e o seu
bem-estar era também o deles. Venerar o faraó
era um meio de o encorajar a interceder junto de
outros deuses a seu favor. Os imponentes templos
egípcios não se destinavam ao culto da comuni
dade, como as catedrais europeias, e a sua prin
cipal função era serem a casa dos deuses.
O templo, com a sua entrada, pátios e salas era
construído em redor de um pequeno comparti-
44
OS DEUSES
mento, o santuário, onde se encontrava a está EM cima O templo era na prática, teriam sido normalmente desempe
tua usada pelo deus como seu lugar de descanso. a casa dos deuses nhados por sacerdotes. Em geral, estes relevos
e precisava de ter proporções
Estas estátuas deixavam os templos para festivais foram esculpidos com grande perícia e, frequen
sobre-luimanas. As colunas
religiosos especiais, alturas em que a gente comum do Grande Templo temente, encontram-se mesmo no topo das pa
podia aproximar-se, mas, mesmo assim, as suas de Kamac têm 31,6 metros redes e colunas, onde não podiam ser vistos.
imagens ficavam escondidas num sacrário trans de altura e 4,8 metros Não tinham por finalidade embelezar o edifí
de diâmetro na base. cio ou inspirar os crentes, mas apenas uma
portado num barco sagrado. Os rituais diários no
templo incluíam lavar e vestir esta estátua divina função inteiramente mágica. Além disso, pen-
e a apresentação perante ela de oferendas de sava-se que as colunas, tectos e pavimentos
incenso e comida. O significado deste ritual era tinham poderes mágicos, que podiam ser invo
manter, simbolicamente, a ordem divina da vida cados pelos rituais.
diária e não representava uma óbvia adoração do O templo não era visto somente como uma
ídolo. Nos relevos esculpidos no templo, o faraó representação simbólica do mundo, mas era tam
é sempre mostrado executando estes rituais, mas, bém construído como um modelo da sua cria-
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A ANTI C» 0 IDADE EGí PCI A
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ção. As fiadas onduladas de paredes de tijolo de
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interior do recinto as fileiras de colunas em
forma de papiros e de lótus simbolizavam a pri
mitiva vegetação do pântano. Na mitologia egíp
cia, este pântano representava a primeira
matéria sólida, ou talude, onde o deus Ré apa
receu e criou um par de divindades, Chu e
Tefnut, por masturbação ou cuspidela. Elas, por
seu turno, produziram a deusa do céu Nut e a
deusa da terra Geb cujos filhos foram os mais
familiares Osíris, Isis, Néftis e Set. Este grupo de
nove deuses, «enéada», era venerado em
Heliópolis, tendo outros centros grupos de
deuses semelhantes. Heliópolis era também o
centro mais importante do culto do deus-sol Ré, EM CIMA Ramsés II ajoelha- a sua morte, se juntaria ao pai Ré no paraíso.
mencionado cm muitos textos como o criador -se perante o deus supremo Outra das crenças era a de que o deus-sol nas
de todas as coisas. Amon-Ré na presença de cia todas as manhãs, crescia e morria, viajava de
seu pai Seti I e do deus-lua
O sol representou um papel central nas cren Khonsu e da deusa mãe Mut. pois através do mundo dos mortos durante a
ças religiosas através de toda a história egípcia. noite, o que era visto como o modelo de toda a
O deus-sol Ré tornou-se importante já a partir EM baixo Estátuas de regeneração. Ré ligou-se a um deus menor de
da II dinastia (c. 2700 a. C.) e quase certamente Ramsés II no pálio fronteiro Tebas, chamado Amon, para dar origem a
do Templo de Lucsor.
teve alguma ligação com a construção das pirâ Amon-Ré que se tornou o deus supremo do
mides. Por volta da V dinastia, (c. 2400 a. C.) À DIREITA O deus Osíris - Estado no Império Novo. Desde os primeiros
tinha-se tornado o deus supremo do Estado, es Rei da Morte, protegido por tempos que Ré também esteve associado com o
falcões - de uma pintura
treitamente associado ao faraó. O faraó tomou deus-falcão Hórus e o deus-compósito Ré-
num caixão (c. 1050 a. C.,
o título de Filho de Ré e acreditava-se que, após Museu Britânico). -Horakhti representava Hórus do horizonte.
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EM CIMA, À ESQUERDA O deus do sol matinal era Khepri, identificado de Aton eram arquitecturalmente diferentes dos
Figura de Osíris de madeira com o escaravelho. Acreditava-se que o escara de tipo habitual, abertos para o céu e sem um
pintada que deveria ter
contido um rolo de papiro velho sagrado se criara por si mesmo a partir da sacrário para uma estátua divina. Foi Amenhotep
do Livro dos Mortos própria matéria tal como o Sol parecia criar- III, pai de Akhenaton, quem primeiro levou o
(c. 1300 a. C, Museu -se todas as manhãs. culto de Aton à sua proeminência, mas
Britânico). O Sol está normalmente visível no céu do Akhenaton ordenou a exclusão completa de to*
Egipto e não é de surpreender que acabasse por dos os outros deuses. Contudo, depois da morte
EM CIMA, À DIREITA ser adorado. Com a aproximação do fim da XVIII de Akhenaton os velhos deuses foram reinstalados
Figura de prata e ouro dinastia (c. 1280 a. C.) houve no Egipto uma em Tebas e Akhenaton foi considerado um he
do deus Amam Ré (c. 900 revolução religiosa iniciada pelo faraó Amenhotep rege.
a. C., Museu Britânico). IV, mais conhecido como Akhenaton. Esta nova Uma parte essencial da religião egípcia foi a
religião baseava-se na adoração do Sol como crença na vida depois da morte e o julgamento
fonte exclusiva de toda a vida e criação, cujo final da alma do indivíduo. O deus Osíris era
poder estava visível na dádiva de vida dos raios tanto o rei da morte como o juiz do mundo infe
do disco solar chamado Aton. Akhenaton reivin rior. Na mitologia egípcia Osíris era um faraó bom,
dicava ser o único agente ou grande sacerdote de que fora morto pelo seu diabólico irmão Set, e a
Aton na Terra, o que lhe dava o direito de dis sua morte vingada por seu filho Hórus. Osíris foi
persar o clero local e fechar os templos das divin finalmente trazido de regresso à vida, não como
dades rivais. Os templos construídos para o culto um faraó humano mas como rei mumificado do
48
,
OS DEUSES
HM CIMA Khepri,
o deus-escaravelho sagrado,
de uma pintura num caixão
(c. 1050 a. C., Museu
Britânico).
EM BAIXO O faraó
Akhenaton e a rainha
Nefertiti com as suas filluis.
Por cima deles, o disco solar
com raios de sol,
simbolizando o deus Atou
que eles adoravam.
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sem e, desse modo, vir a gozar da vida eterna. Abi- Figura esmaltada da deusa-
-leoa Sekhmet (Museu
dos era um dos maiores centros do culto de Osíris Britânico).
e muitos Egípcios deixaram ali inscrições e ofer
tas ao deus. Aqui, podia-se testemunhar o drama EM BAIXO, À ESQUERDA Esta
51
A ANTIGUIDADE EGÍPCIA
52
OS DEUSES
NA PÁGINA AO LADO,
À esquerda Figura
ajoelhada de bronze de um
deus com cabeça de falcão
(Museu Britânico).
NA PÁGINA AO LADO,
À DIREITA Figura de
madeira dourada do deus
Piah do túmulo de
Tutankhamon
(c. 1350 a. C.).
53
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A A N T I G l’ IDADE EGíP0I A
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A s múmias são a primeira coisa em que a
maior parte das pessoas pensa ao meneio*
nar-se o Antigo Egipto, mas o que são exacta-
. mente, como e porquê foram feitas? Embora o
CAPÍTULO CINCO
termo «múmia» esteja associado com o Antigo
Egipto, também é aplicado aos corpos preserva*
dos de muitas outras culturas. A própria palavra
■
EM CIMA, À DIREITA
Sarcófago interior de
madeira dourada de uma
sacerdotisa tebana (c. 1290
a. C., Museu Britânico).
À DIREITA Figura
de madeira do faraó
Amenhotel) III. Estas figuras
eram colocadas nos túmulos
EM CIMA Sarcófago de
para levar a cabo trabalhos
madeira pintada e múmia
agrícolas para o defunto na
de uma sacerdotisa tebana
outra vida (Museu
(c. 1000 a. C., Museu
Britânico).
Britânico).
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AS MÚMIAS
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j :k sepultamento no deserto, com poucos haveres.
Os túmulos dos privilegiados, que tinham recursos
í para um sepultamento mais elaborado, eram
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construídos de pedra ou tijolo ou escavados na
íi. rocha sólida. São geralmente constituídos por duas
partes principais: a câmara funerária e a capela
funerária. Os túmulos do Império Antigo tinham
uma porta falsa que servia como uma entrada
mágica, através da qual o espírito do defunto podia
passar da câmara funerária, sobre o lado ocidental
do túmulo, para a capela, a leste. Aqui, o espírito
podia desfrutar das ofertas de comida e bebida pro-
videnciadas pelos familiares ou sacerdotes. Nos
relevos esculpidos nas paredes do túmulo, as cenas
de agricultura, de caça, de pesca, de cozedura e de
fennentação, asseguravam que as provisões para o
defunto estariam continuamente disponíveis.
A medida que o tempo passava, estas eram acres
centadas com modelos representativos e uma EM CIMA O túmulo Livros dos Mortos, que eram cópias das inscrições
grande variedade de haveres pessoais. Os túmulos da rainha Nefertiti, esposa em pedra do anterior Império Antigo, chamadas
de Ramsés II,
reais no Vale dos Reis, em Tebas, estavam comple Textos das Pirâmides. A principal função mágica
é provavelmente o túmulo
tamente fechados, com escadas de entrada para mais belamente pintado destes escritos era assegurar ao defunto uma vida
quatro passagens ou corredores, um vestíbulo e do Antigo Egipto (c. 1250 satisfatória depois da morte e dar-lhe a força para
uma câmara funerária. Tudo isto tinha um signifi a. C.). deixar o seu túmulo, quando necessário. Incluíam
cado simbólico na viagem do espírito pelo outro descrições pintadas de Anúbis, o deus da mumi-
mundo. ficação e mostram o julgamento final perante
Esta viagem do espírito está registada em por- Osíris, o rei da morte. A personalidade da múmia
menor em papiros que eram frequente ou espírito está identificada com o Pássaro-Ba, que
mente colocados em túmulos a partir do Império é representado como um pássaro com cabeça hu
Novo. Estes escritos religiosos são conhecidos como mana a pairar por cima da múmia.
62
Nos tempos antigos, os túmulos reais no Vale EM CIMA A ESQUERDA cutados. No último século, as múmias foram tam-
Caixão de madeira decorado bém reduzidas a pó para ser usado pelos artistas
dos Reis e das Rainhas, em Tebas, foram conti-
com faixas de inscrição
nuamente assaltados. Por forma a prevenir futu- que inclui uma prece para
como pigmento castanho e vendido em tubos rotu-
ras violações, as múmias foram removidas ofercas de comida. Na parte lados «múmia». Os antigos Egípcios também
secretamente pelos sacerdotes tebanos e a maio correspondente à cabeça, mumificavam toda a espécie de animais sagrados,
ria destas escondida num poço profundo na face dois olhos pintados permitem que eram colocados em santuários especiais por
que a múmia veja o exterior baixo dos templos e destes subsistiram grandes
do penhasco. Embora fossem finalmente des e uma falsa porta pintada
cobertas pelos aldeões locais no último século, que que o seu espírito possa quantidades. No virar do século, foram embarcadas
começaram a aproveitar-se da descoberta, foram passar (c. 2000 a. C., para Liverpool, para serem transformadas em
salvas pelo Serviço de Antiguidades Egípcio. Museu Britânico). adubo vendido a 4 libras esterlinas a tonelada, umas
Quando foram finalmente transportadas para o 300 000 múmias de gatos!
Museu do Cairo, em 1881, o funcionário adua A autópsia de múmias, em várias instituições,
em cima O corpo de um
neiro, às portas da cidade, cobrou direitos, classi homem preservado continua a ser levada a cabo por conceituados
ficando-as como peixe seco! naturalmente pela areia especialistas médicos, que usam as técnicas e equi
A maior parte das centenas de múmias distri quente e seca em que foi pamentos mais recentes. Poderosos microscópios
sepultado. O calor da areia electrónicos, ensaios de medicina legal e raios-X
buídas pelo mundo fora, em museus e colecções, absorveu a humidade sem a
data dos últimos períodos, quando famílias intei- qual as bactérias não podem
podem muitas vezes revelar as doenças de que os
ras foram sepultadas conjuntamente em cata desenvolvesse e provocar a Egípcios sofriam, a causa da sua morte e a sua
cumbas comunais. Cenas religiosas ricamente decomposição. Ironicamente, dieta. O exame dos dentes das múmias pode indi
esta modesta forma car que alimentos comiam e há provas de que pra
pintadas nestes caixões substituíram a necessidade
de sepultamento preservou ticavam a medicina dentária. Verificou-se que
de túmulos individuais. A partir da altura em que o corpo muito melhor do que
as múmias adquiriram valor mercantil, estes os túmulos mais elaborados e
alguns dentes continham uma forma de cimento
túmulos, onde as múmias eram empilhadas, foram as mais onerosas técnicas de mineral ou foram ligados entre si com um fino fio
saqueadas pelos aldeões que viviam perto dos ce cmbalsamação (c. 3200 de ouro. Ao detectar grupos sanguíneos e traços
a. C., Museu Britânico). hereditários em múmias reais é também possível
mitérios tebanos. No século XVI pensava-se que as
múmias tinham propriedades curativas especiais e identificar ligações familiares. O estabelecimento da
muitas delas foram reduzidas a pó para fazer remé idade de certos monarcas, ao tempo da sua morte,
dios. Por forma a acompanhar a crescente procura pode também ajudar os especialistas a verificar as
para este próspero negócio, foram produzidas imi datas de várias dinastias ou de acontecimentos
tações, utilizando os cadáveres de criminosos exe- importantes na história egípcia.
63
:•]
A A N T IGl'I P A PH E G í P C I A
I
Estilo perecíveis, como os tijolos de lama que se desa
gregam quanto envelhecem e que são agora uti
lizados como adubo. Muitas cidades e aldeias
de Vida
í continuaram a ser habitadas até aos tempos mo
dernos, em que, em muitos casos, as casas foram
: reconstruídas e os materiais reciclados. Muitas
1 povoações egípcias modernas assemelham-se
muito provavelmente às antigas, quer na sua
«1 construção quer no estilo de vida. Por vezes, al
m gumas colónias foram completamente abandona
!** das e a sua escavação pode dizer-nos muito acerca
da vida do dia-a-dia da gente comum. Os dois
i
sítios mais notáveis deste tipo são a cidade do
z faraó Akhenaton, em Tell El-Amarna, e o
aldeamento dos trabalhadores que construíram os
i túmulos no Vale dos Reis, em Deir el-Medina.
s i Esta aldeia cresceu durante mais de quatro sé
! . culos. Originariamente, muralhas rectangulares
cercavam as ruas e as casas, que estavam dispos
. N
tas regularmente. As casas individuais tinham
rf
fi aproximadamente o mesmo tamanho com excep-
•i • ..
ção das casas dos capatazes, maiores.
Uma casa típica tinha três divisões principais,
com um pátio, que funcionava como cozinha, e
dois celeiros para armazenagem. Havia frequen
temente nichos abertos nas paredes para lápides
com inscrições religiosas, imagens de deuses do
mésticos ou bustos de antepassados da família.
Muitas casas acabaram por ser modificadas para
EM CIMA Figura de madeira atender a necessidades ou actividades individuais
pintada de uma mulher e algumas tinham oficinas e lojas. Em Tell Eh
transportando um tabuleiro
de bolos (Museu Britânico).
-Amarna, as casas mais elegantes tinham dois
pisos e cave com divisões para armazenamento.
Podiam ter também uma sala de recepção, cozi
nha e instalações para a criadagem, enquanto
outras dispunham até de casas de banho e sani
tários. Um certo número de casas muradas tinha
um jardim com lago para peixes e árvores de som
bra. O mobiliário era constituído por camas, pe
quenas mesas, bancos e arcas de madeira para
utensílios e jóias. Cabides, capachos e tecidos
decoravam as divisões interiores. Como muitos
povos africanos, para dormir, os Egípcios usavam
apoios para a cabeça em vez de almofadas. Mui
tos destes, de madeira, marfim ou pedra, sobrevi
veram e são constituídos por uma gola curva
colocada no topo de um apoio que assenta numa
base oblonga. Tinham candeeiros, que eram sim-
64
plcs tigelas de cerâmica ou pedra, contendo óleo Sobreviveram muitos documentos legais de EM CIMA De uma pintura
e um pavio. Também usavam archotes de cerâ- Deir el-Medina relativos a crimes e julgamentos, mural num túmulo tebano,
mostrando joalheiros
mica, que podiam ser colocados em suportes heranças e transacções comerciais. Os antigos Egíp e carpinteiros a trabalhar.
existentes nas paredes. As cozinhas e as caves dis cios tinham um sistema legal de tribunais e magis
punham de fornos de barro e de potes para guar trados e uma vasta gama de punições que incluíam
dar vinho, óleo e cereais. campos de trabalhos forçados. Dispunham de um
Os trabalhadores que viviam em Deir el- tipo de força policial, diferente do exército, que,
-Medina eram canteiros, estucadores, escultores, com frequência, utilizava cães amestrados. Existia
desenhadores, pintores e carpinteiros. O vale um sistema de apresentação de provas sob jura
contém os restos das suas casas, túmulos, cape mento e os documentos contêm frequentemente
las, abrigos e detritos domésticos. Foram ali des assinaturas de testemunhas. Os documentos eram
cobertos muitos documentos escritos que tratam legalizados pela afixação de um selo e depositados
do progresso do trabalho e há até o mais antigo numa repartição de registos ou no templo. Os an
registo de uma greve, quando de um atraso no tigos Egípcios tinham escolas, mas estas teriam sido
pagamento dos salários. Os homens teriam tra para ensinar fiituros escribas e funcionários desti
balhado oito dias em cada dez, vivido em caba- nados ao sacerdócio ou à administração civil, que
nas para cima do Vale dos Reis e regressado ao eram exclusivamente do sexo masculino. A famí
aldeamento para os dois dias de descanso. So lia real tinha tutores especiais e a gente comum era
breviveram algumas listas de comparência e sa educada em casa. Tradicionalmente, o pai trans
bemos que o absentismo era comum. Perdiam-se mitia ao filho os conselhos e segredos profissionais
dias inteiros a fabricar cerveja, a beber e a cons relacionados com o seu negócio ou profissão. Os
truir casas e havia também muitos feriados reli artesãos, tal como os funcionários, tinham um sis
giosos. Os salários eram pagos em cereais, peixe, tema de aprendizagem.
vegetais, óleos cosméticos, lenha, cerâmica e A experiência técnica era muito admirada, mas
roupas. Usavam o talento uns dos outros para não havia distinção entre artistas e artesãos e, por
construir túmulos profusamente decorados para tanto, a arte é geralmente anónima. Os artesãos
si próprios e havia muitas oportunidades para se eram empregados pelo faraó ou pelos funcionários
ocuparem de trabalhos particulares para os teba- do templo e as suas realizações e perícia, utilizando
nos ricos. ferramentas simples, são notáveis.
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EM BAIXO, A ESQUERDA
Estátua de calcário pintada
de uma mulher sentada,
mostrando um estilo típico
de vestido (Museu
Britânico).
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ESTILO DE VIDA
incesto. Não havia cerimónia de casamento reli EM cima Grupo de mulheres mas eram redondas, enquanto outras eram
gioso ou civil, embora houvessem reuniões músicas, tocando harpa, cónicas. Eram às vezes adicionadas diferentes fa
alaúde, flauta e lira. rinhas, mel, leite e ovos. A carne era de vaca,
familiares e festividades para celebrar a ocasião.
O casamento era um acordo legal privado e o cabra, carneiro, porco, ganso e pombo. Todavia,
direito de ambas as partes à manutenção e ha a carne não se conservava no clima quente e
veres era estabelecido por contrato. Conse tinha de ser consumida rapidamente e, assim, para
quentemente, havia uma igualdade entre homens a maior parte das pessoas, deveria ser comida
e mulheres nas suas oportunidades comuns para apenas nos dias de festa religiosa. O peixe era
ter, gerir e receber bens. Em caso de divórcio, os comido mais frequentemente, em particular
direitos da mulher e do marido eram protegidos entre as pessoas que viviam junto aos pântanos.
de maneira igual. Durante alguns períodos da Além dos cereais com os quais o pão era feito,
história egípcia até mesmo a mulher que come a agricultura fornecia muitas variedades de vege
tesse adultério tinha certos direitos de manutenção tais que incluíam alhos-porros, cebolas, alhos e
por parte do anterior marido. Apesar de o con pepinos. Os figos, tâmaras, romãs e uvas estavam
trato legal formal de casamento facilitar o divór entre as quantidades de fruta disponível. As quin
cio, os casamentos não eram normalmente pouco tas forneciam leite e produtos lácteos e incubavam
duradouros ou isentos de afeição. Muitas estátuas ovos artificialmente. O mel desempenhava uma
e pinturas murais mostram casais exibindo gestos parte importante na dieta egípcia como substituto
de afecto mútuo e a literatura que sobreviveu do açúcar e provinha da apicultura. A cerveja era
sugere muitas vezes sinceros laços emocionais. EM CIMA, A ESQUERDA a bebida mais popular e preparava-se a partir da
Muitas pinturas tumulares mostram grandes Homens a colher uvas para cevada, que era moída e amassada para obter uma
banquetes, que tinham uma função mágica e nos fazer vinho; de uma pintura pasta e ligeiramente cozida como o pão. Este pão
tumular tebana. era depois ensopado em água, talvez com a adição
dão a ilusória impressão de que as reservas de
comida eram infindáveis. O camponês egípcio de tâmaras para adoçar. Após a fermentação, o lí
médio vivia provavelmente com alguns nacos de EM BAIXO, À ESQUERDA quido era coado para um recipiente. Também
pão, uma caneca de cerveja e algumas cebolas. Caixa de madeira com faziam vinho e várias regiões eram conhecidas pela
embutidos de marfim sua qualidade. Guardava-se em jarros de cerâmica,
O alimento principal era sempre pão e por altu coloridos e uma série de
ras do Império Novo havia umas 40 variedades. que tinham um rótulo com indicação da origem,
joalharia típica egípcia e
As suas formas variavam: umas eram ovais, algu- amuletos (Museu Britânico). produtor e data. Há muitos registos de casos de cnv
71
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briaguez especialmente depois de lautos banque
tes e recepções.
Sabe-se bastante acerca do vestuário que os
antigos Egípcios usavam, dado que está represen
tado nas incontáveis esculturas e pinturas. Mui
' tos exemplos do verdadeiro vestuário têm também
: j sido descobertos entre outros artefactos dos
i túmulos. Foi encontrado um grande número de
têxteis no túmulo de Tutankhamon, entre os
I
quais mais de uma centena de tangas e cerca de
30 luvas ou guantes para condução de quadrigas.
A veste mais antiga do mundo, feita de linho
cosido, foi descoberta em Tarkhan, no Egipto, e
data de 2800 a. C. O linho branco era o material
padrão para vestuário, por ser fresco e leve.
1
Os vestidos, muitas vezes, eram franzidos cuida
■: dosamente e mais dispostos em redor do corpo do
que talhados, com um mínimo de costuras.
As vestes eram simplesmente presas à altura das
d ancas. Durante o Império Novo foram frequen
i temente mais franzidas e as guarnições tomaram-
-se populares. As mulheres também usavam sobre
! o vestido uma elegante capa guarnecida e profun
damente franzida. Os homens usavam habitual
I; i mente um saiote curto, feito de um pedaço
rectangular de linho enrolado no corpo e atado
,í :• ou preso na cintura. Este, às vezes, era engomado
na frente para fazer de avental, ou franzido. Oca
sionalmente, podiam usar uma capa durante o
tempo mais frio. Os trabalhadores usavam apenas
uma tanga, ao passo que as crianças são frequen
temente pintadas nuas. Os ricos tinham uma es
pécie de serviço de lavandaria com métodos
meticulosos de lavagem e plissagem, e subsistiram
numerosas listas de lavandarias e marcas nas rou
pas. Usavam-se as sandálias feitas de junco
entrançado ou couro, às vezes de biqueiras vira
das para cima, como os chinelos turcos.
A joalharia, bem elaborada e colorida, con
trastava bem com os trajos usualmente simples.
As joias eram usadas tanto para adorno pessoal
como para protecção contra o mal. A mais ca-
racterística forma de joalharia era o colar, com
posto por numerosas fiadas de contas e com
pedras belas como a cornalina, jaspe e lápis-lazúli.
Eram usados adornos (anéis) para os braços, pul
sos e tornozelos e os anéis para os dedos tinham
muitas vezes o sinete do proprietário. No Impé
rio Novo, tanto os homens como as mulheres ti
nham as orelhas furadas e uma vasta gama de
brincos sobreviveu ao seu tempo. Há muitos es
tilos de penteados representados em esculturas e
em pinturas murais, com modas que variaram de
acordo com a época. Os homens usavam normal
mente um estilo de corte arredondado que seguia
a linha das cabeças. Andavam geralmente de cara
ESTILO DE VIDA
73
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ESTILO DE VIDA
óleos para manter a pele macia e flexível depois EM CIMA, A ESQUERDA festas religiosas. A música era um acompanha-
Mulher envergando um mento essencial para a dança, mas também era
da exposição ao quente sol do Egipto. Os perfu-
vestido do estilo usado por praticada por direito próprio. Eram usadas a
mes, alguns dos quais levavam meses a preparar, [mcionários e dignitários no
eram populares e também usados pelos homens fmai j0 Império Médio. Esta harpa e a flauta, juntamente com vários instru
durante certos festivais. Nos banquetes, as mu estátua é esculpida em mentos de sopro com e sem palheta, feitos de ma
lheres usavam, em cima da cabeça, uma forma quartzito, uma das pedras deira ou metal. Provavelmente o mais antigo
mais duras das trabalhadas registo conhecido de toda uma orquestra a dar um
popular de cone de incenso para perfumar as pelos Egípcios (Museu
perucas e o vestuário. Os Egípcios pintaram nos concerto data aproximadamente do ano 250 a. C.
Britânico).
seus túmulos muitos dos seus passatempos favo Isto aconteceu num festival para o faraó Ptolomeu
ritos, porque queriam desfrutar destes para sem II, onde 600 músicos tocaram simultaneamente.
pre no outro mundo. A caça era popular entre a EM CIMA, A DIREITA Os Egípcios também jogavam jogos de mesa.
Um homem com ofertas O mais popular chamava-se «Senet» (uma espé
nobreza e os ricos. Os jogos atléticos e os despor de alimentos que incluem
tos eram, com frequência, actividades de grupo e uma cabra, uma lebre
cie de gamão) e subsistiram muitas mesas alta
incluíam luta greco-romana, boxe, jogo do pau, e um tabuleiro com ovos mente decorativas, usualmente feitas de madeira
jogos de bola, ginástica e acrobacias. Sobrevive de avestruz- e marfim. Algumas dessas mesas ou tabuleiros têm
ram muitas pinturas de cenas de banquetes em um jogo alternativo no lado oposto a que chama*
que actuavam acrobatas e dançarinos. A pirueta ram « Vinte Quadrados». Havia também jogos
e alguns outros movimentos de ballet eram conhe chamados «Serpente» e «O Cão e o Chacal». As
cidos dos antigos Egípcios e a dança com acom crianças divertiam-se com uma variedade de brin
quedos que incluía bolas, piões, bonecas e figuras
panhamento rítmico de palmas, címbalos, sistros,
campainhas e cânticos também era popular nas de animais com partes móveis.
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í O Nilo corre através de mais de 6500 km de
terra e é um dos rios mais compridos do
mundo. E formado por dois grandes cursos, o Nilo
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Azul, que nasce na Etiópia, e o Nilo Branco,
1 nascido no Uganda. Juntam-se em Kartum para
CAPÍTULO SETE
se tomarem no principal rio que, através do de
■ serto, corre para norte para desaguar no Medi
1 terrâneo. Ao longo do seu curso, o rio é
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O Nilo interrompido em seis pontos por rápidos ou ca
taratas, e a primeira destas, perto de Assuão,
marca a entrada do Nilo no território egípcio.
Durante os últimos 160 km, o rio abre em le
que, em canais que correm pelas planícies pan
I tanosas do delta. Esta região norte do Egipto,
! que inclui o delta, é conhecida como Baixo
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Egipto. A parte para sul, chamada Alto Egipto,
!
é geograficamente muito diferente. Aqui, a terra
é mais seca e o rio é ladeado por penhascos de
*8 ambos os lados.
v* Todos os anos o curso principal do Nilo, car
q regado com as chuvas torrenciais etíopes, distri
bui tradicionalmente a sua água pelo Egipto.
2 Quando a água retrocede, deixa atrás de si uma
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organizarem em função do ciclo anual do rio foi aproximada mente de Março a Agosto, altura em
crucial para o desenvolvimento da sua civiliza que se podia fazer a colheita.
ção. Desde os primeiros tempos que trataram de Construíram diques para evitar que o rio inun
gerir as estações do ano consoante o comporta dasse as colónias situadas nas elevações, que se
mento do Nilo, tendo concebido o primeiro transformavam em ilhas quando o Nilo invadia
calendário prático de 365 dias, dividido em o vale. Também conceberam uma rede de reser
12 meses. Tinham três estações chamadas vatórios e canais para conter a água quando esta
«akhet», «peret» e «shemu». A estação da inun retrocedia. Era um trabalho difícil e a terra tinha
dação (akhet) começava por volta de Agosto e, de ser corrigida pelo nivelamento das elevações
por volta de Novembro, a água tinha descido o e enchimento das depressões deixadas no terreno.
suficiente para se fazerem as plantações. A es A água era encaminhada para canais artificiais,
tação final (shemu) era a da seca, que durava que corriam pelas colónias provinciais. Estes
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canais tinham de ser cavados e limpos e os seus
cursos planeados para irrigar, regularmente, o
maior número de campos possível. A água das
í j cheias, contida em reservatórios ou grandes re
i *i- , i presas cavadas no terreno, era levada aos canais
3 I
de irrigação por mecanismos de elevação simples
■ V mas eficazes. A introdução do «shaduf» (a cego
l• *
nha), no Império Novo, tomou o trabalho muito
mais leve e ainda hoje continua a ser utilizado no
Egipto. O «shaduf» é constituído por uma vara
com um balde numa ponta que é mergulhada na
água e depois levantada com a ajuda de um con
trapeso na outra extremidade. No fim do Verão,
eram feitos furos nos pontos mais altos dos diques
e, quando a quantidade requerida de água lama
centa já havia saído, estes eram tapados. Depois
da água absorvida, podia começar o trabalho e a
sementeira.
A construção e manutenção dos diques, re
EM CIMA Gansos numa servatórios e canais prosseguiam continuamente
pintura mural em Meidum e exigiam uma grande força de trabalho, que era
(c. 2500 a. C.).
recrutada por um sistema de recenseamento (no
Império Antigo, esta grande força de trabalho
AO MEIO Pôr-do-sol organizado podia ocupar-se da construção de pi
no Nilo. râmides durante a estação das cheias). Por for
ma a assegurar o desenvolvimento da irrigação
EM BAIXO Depois e o aproveitamento da terra, o Egipto estava
da construção da Barragem dividido num número de províncias administra
de Assuão, o Templo do Rio tivas chamadas «names». Quando havia crises
de Filae teve de ser removido
para outra ilha - um notável
políticas, a manutenção do sistema de forne
feito de organização. cimento de água ficava desorganizado e, em
pouco tempo, toda a economia do país se des
moronava. Numa terra praticamente sem chuva,
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O NILO
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NO TOPO Barco com vela Mesmo admitindo todos os riscos, o Nilo não é
enfunada. De uma pintura um rio particularmente terrível e, hoje em dia,
num túmulo tebano
(c. 2250 a. C.). as principais viagens de lazer no Egipto são fei-
tas em barcos de cruzeiro. Toda a força da água
necessária é fornecida pela corrente e pelo
EM CIMA Transporte de gado vento. A corrente pode fornecer força bastante
por barco. De uma pintura
num túmulo tebano. para se ser arrastado rio abaixo, enquanto o
vento, soprando de norte, pode ser aproveitado
para navegar rio acima. O registo mais antigo de
A direita Estátua de Hapi, um barco à vela está pintado num vaso egípcio
deus do Nilo abundante,
em granito preto (Museu que data de aproximadamente 3200 a. C.
Britânico). Os Egípcios foram os pioneiros do desenvolvi-
mento das embarcações fluviais e houve muitos
80
O NILO
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À ESQUERDA Modelo
de barco funerário que teria
transportado o defunto na
sua viagem final pelo Nilo
até ao tumulo (c. 1900
a. C., Museu Britânico).
tipos diferentes, construídos para várias funções. linguagem do Antigo Egipto contém muitas me-
Os produtos agrícolas, tropas, gado, madeira, táforas náuticas e ir para sul significava «subir a
pedra e cortejos fúnebres, tudo era transporta' corrente».
do pelo Nilo e seus canais. Os estaleiros podiam A terra em redor do delta do Nilo era parti
lançar à água barcos até 70 m de comprimento, cularmente fértil e a parte pantanosa estava
feitos de madeira nativa ou de coníferas do repleta de vida selvagem. Grande áreas do paul
Líbano. Sobreviveram navios completos, mode acabaram por ser cuidadosamente preservadas
los, desenhos pormenorizados e um vocabulário para a caça, criação de gado, frutos selvagens e
técnico, especificando os vários tipos de barcos, pesca. A pesca era uma ocupação próspera e os
com relações dos seus equipamentos. A própria que viviam nas margens dos pântanos estavam
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EM CIMA Pintura em papiro organizados em companhas para a pesca. O mé no rio egípcio, pois afastaram-se mais para sul,
que mostra a colheita
todo mais efectivo era puxar uma grande rede de para o interior do Sudão.
do linho (c. 1350 a. C.,
Museu Britânico). arrasto entre dois barcos e trazê-la até à margem. Nas extensas áreas pantanosas do Nilo, o
Todavia, alguns peixes eram animais sagrados de papiro enraizado na lama crescia a grande altura
certos distritos locais, onde era proibido comê-los. e alastrava em densos matagais. Os caules do
Os Egípcios foram provavelmente os primeiros a papiro eram a matéria-prima do fabrico do papel
considerar a pesca um desporto, bem como uma egípcio. Este papel era feito cortando finas tiras
fonte de alimento. Subsistiu um esboço de dese de medula (um tecido esponjoso contido na
nho que mostra um nobre a pescar num tanque haste de cada caule) e dispondo-as sobre uma
com cana e linha. A arpoação e a caça com pedra lisa. O papiro era então batido com
arremesso de vara eram também desportos popu maços de madeira até o suco natural, agindo
lares entre os ricos. como cola, ligar as tiras umas às outras. Depois,
O Nilo era também o habitat natural do hipo as folhas obtidas eram transformadas num
pótamo e do crocodilo e, embora ambos estives longo rolo. Sabe-se que os Egípcios já usavam o
sem associados aos deuses, o primeiro foi caçado papiro desde a I dinastia (c. 3100 a. C.). Em
com arpões. O belo templo de Kom Ombo foi épocas posteriores, o papiro tornou-se um
dedicado a Sobek, o deus crocodilo, havendo dispendioso monopólio do governo e o seu cul
registos de que no ano 10 a. C., no Lago Moeris, tivo foi finalmente restringido a uma determi
os sacerdotes egípcios tinham um crocodilo nada região. O papiro nunca mais cresceu
sagrado que domesticaram e alimentaram com naturalmente no Egipto e embora as pinturas
bolos e vinho de mel. Actualmente, nem o hipo vendidas nas prósperas lojas para turistas sejam
pótamo nem o crocodilo podem ser encontrados supostamente executadas sobre «papiro», o
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à esquerda Mulher
transportando um papiro -
a clássica planta florífera
do Baixo Egipto.
À direita Faraó
transportando um ramo
de flores de lótus sagrado,
que simbolizavam
o renascimento e eram um
emblema do Alto Egipto.
material utilizado é produzido a partir de casca pela barragem, submergiu povoações comple-
de banana. tas e obrigou à reinstalação de dezenas de mi-
O historiador grego Heródoto afirmava que lhares de pessoas. Perderam-se muitos restos
o primeiro faraó, Menés, tinha drenado a pla antigos importantes, mas foram salvos mais de
nície de Mênfis para ali construir uma nova 20 monumentos com um apoio à escala inter
capital e, desse modo, alterara o curso do Nilo. nacional. A mais impressionante operação de
Também há provas de um imenso reservatório salvamento teve lugar em Abu-Simbel, onde os
construído na região de Faium, com uma área enormes templos de rocha foram cortados em
de 100 km2 que tinhas vastos diques e repre blocos de 30 toneladas e depois reagrupados
sas. Actualmente, a Grande Barragem de num sítio idêntico acima do nível do lago. De
Assuão, construída entre 1960 e 1970, com a modo semelhante, os belos templos de Filae
sua imensa albufeira, acabou com o tradicio foram transferidos com extremo cuidado,
nal ciclo de inundações anuais do rio Nilo. pedra por pedra, para uma ilha próxima, a sal
O imenso reservatório, o Lago Nasser, criado vo das cheias do Nilo.
85
A A NT1GU IDADE EGíPCl A
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mesma - sistema útil na ausência de pontuação.
O egípcio antigo é a segunda mais antiga lín
gua de que há registo. Acredita-se que o sumério
seja ligeiramente mais antigo. Os primeiros
. !■ »• hieróglifos datam, aproximadamente, de 3100
a. C., enquanto os mais recentes apareceram quase
três mil e quinhentos anos depois (c. 394 d. C.).
Pode dizer-se que a linguagem escrita sobreviveu
quase 5000 anos, visto que a sua forma final é
ainda usada durante os serviços religiosos coptas.
Um pequeno número de palavras egípcias anti
gas abriu caminho para o vocabulário de várias
línguas modernas (ex. «oásis»). Os egiptólogos
identificaram cinco estágios no desenvolvimento
da língua: o Antigo (c. 2650-2135 a. C.), o Médio
(c. 2135-1785 a. C.) o Novo (c. 1500-700 a. G),
o Demótico (c. 700 a. C.-500 d. C.) e, final
mente, o Copta. Este último estágio começou no
século III e continuou até à Idade Média, altura
em que foi substituído pelo árabe como língua
egípcia.
em cima Estatueta A escrita hieroglífica era um sistema alta
de calcário pintado de um mente desenvolvido, pelo qual tudo, mesmo as
escriba real (c. 1500 a. G, formas gramaticais, podia ser expresso. Os hieró
Museu Britânico). glifos podem ser lidos da direita para a esquerda,
da esquerda para a direita e também vertical-
mente, de cima para baixo, de acordo com a com
posição do desenho. Uma inscrição hieroglífica
era tradicionalmente disposta em colunas. Mais
tarde, foi escrita em linhas horizontais e a parte
superior dos sinais estava sempre voltada para o
86
OS HIERÓGLIFOS
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TO2 H A pedra da Roseta
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em cima
é constituída por três
escritas: hieróglifos em cima,
dcmótico no meio e grego em
baixo. É um decreto de todos
os sacerdotes do Egipto
a favor do faraó reinante,
Ptolomeu V (Museu
Britânico).
88
OS HIERÓGLIFOS
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O Alfabeto em Hieróglifos
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Mão Víbora cornuda Poial Vista aérea de cabana
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Linho torcido Junco florido Semelhante a serpente Cesto
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Agua Tamborete Semelhante Boca Pano dobrado
a vertente
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SBUI :
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CH T TCH W Z
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Tanque Pão Arreata Pinto de codorniz Semelhante
a ferrolho
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O Sistema Numérico
Quando são escritos em conjunto, para formar um único número, os valores nvais altos
são escritos à frente dos valores mais baixos. Os múltiplos são indicados pela simples
repetição do sinal:
7 = 369 =
nnniim
nnnmi
24 =
nn 142,235 = nnn
89
A A N T I 0 1' 1 D A D E E O í P C I A
: : 'vV '■i v- $? * •::v nos tempos antigos. Este sistema egípcio de sinais
alfabéticos não foi geralmente usado para palavras
%%;■ • • v. , ( completas até aos tempos greco-romanos,
quando os vários nomes reais foram transcritos
para hieróglifos. Tem sido afirmado que certos
hieróglifos acabaram por entrar no nosso próprio
pditeí Sí iiSÍ .:ííi*5í _...... alfabeto por via proto-sinaica, fenícia, grega e
latina.
Os hieróglifos estão normalmente associados
às inscrições em pedra e a própria palavra vem
is’*. do grego «ta hieroglifica», que significa «as sagra
MmÊfmi/ m
m
das letras esculpidas». Os sinais da escrita são lar
gamente pictóricos no seu carácter e a maioria
destes são figurações reconhecíveis de objectos
naturais ou feitos pelo Homem. Os melhores
exemplos da escrita têm uma beleza intrínseca de
* >-v&* ■ linha e cor, que alguns afirmam ser a mais bela
escrita alguma vez esboçada. Era mais do que um
simples sistema de escrita e os próprios Egípcios
se lhe referiam como a «escrita das palavras divi
nas». Tal como as representações na sua arte, a
escrita era dotada de um significado religioso ou
mágico. Acreditava-se que o nome de uma pes
soa inscrito em hieróglifos incorporava a sua iden
tidade única. Se na representação faltasse um
nome, não haveria meio de continuar a exis
tência no após vida. Assim, muitos nomes de
!( í monarcas e deuses foram desfigurados ou apa
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gados dos monumentos pelos faraós posteriores
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pintado, representando Tot,
o deus da escrita, com
cabeça de ibis (Museu |
Britânico).
À esquerda Rótulo de livro
em faiança, provável e
originalmente ligado a um EM baixo Tábuinhas
caixa de papiros na de calcário com hieróglifos
Biblioteca Real em Tell EI- inscritos com um maço
-Amama (c. 1380 a. C., de madeira e cinzéis
Museu Britânico). de cobre (Museu Britânico).
Hieróglifos
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«hieratika» que significa «sacerdotal». Isto por Quando uma pessoa iletrada precisasse que lhe AO LADO, EM CIMA Relevo
em calcário pintado inscrito
que, durante o Ultimo Período, quando os Gre fosse lido ou escrito um documento, teria de
com os nomes e títulos
gos visitaram o Egipto, o seu uso havia ficado pagar a um escriba por esse serviço. Tradicional- de vários faraós (Museu
confinado aos documentos religiosos e o mente, um escriba levava 12 anos a aprender e Britânico).
demótico substituíra-o como principal escrita a escrever os mais ou menos 700 hieróglifos de
«comercial». O termo demótico vem do grego uso comum durante o Império Novo e o estudo
AO LADO, A ESQUERDA
«demotika» que significa «popular» e refere-se começava aos 4 anos de idade. Sobreviveram Estátua de granito
à sua função de escrita do dia-a-dia. A partir do muitos exercícios da escola antiga (completos, acocorada. Esta forma
período ptolomaico foi também usado para com com as correcções do professor), sendo estes fre «bloco» característica foi
posições literárias, bem como para textos cien quentemente cópias dos «clássicos egípcios» em a ideal escolhida para
tíficos e religiosos. inscrever longos textos
hierático.
(Museu Britânico).
Embora a escrita desempenhasse uma parte No período romano e cristão do Egipto,
importante na sociedade egípcia antiga, é impro desenvolveu-se a escrita copta à medida que as
vável que a instrução possa ter-se desenvolvido outras escritas nativas declinaram. A palavra AO LADO, À DIREITA Papiro
entre a população. A produção de escrita e o «copta» deriva do árabe «gubti», uma trans- relacionado com problemas
matemáticos e suas soluções
acesso directo a esta estava confinado a um literação da palavra grega para egípcio. Foi usada
(c. 1570 a. C., Museu
escol educado, composto pela realeza, funcioná pelos Árabes no século VII para designar os Britânico).
rios do estado e escribas. O escriba profissional habitantes nativos do país. O copta é constituído
era uma figura central em todos os aspectos da por 24 letras do alfabeto grego combinadas
administração do país - civil, militar e religiosa. com seis caracteres demóticos. O desenvolvi-
92
OS HIERÓGLIFOS
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OS HIERÓGLIFOS
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estava bem estabelecida por volta do século IV
da nossa era, está estreitamente associada à ex-
pansão do cristianismo no Egipto. Na sua forma
mais primitiva, o copta foi usado para escrever
textos mágicos nativos e não foi inicialmente
m ríin ■
/ imaginado para traduzir os evangelhos. Dado
que ainda é utilizado nos serviços religiosos
«L coptas, alguns acreditam que poderia indicar
pistas para a pronunciação da língua original dos
antigos Egípcios, embora os elos, com o decor-
rer do tempo, possam ter-se tornado demasiado
distantes.
A arte da leitura dos hieróglifos esteve per
dida durante séculos e foi um francês, chamado
Jean-François Champollion (1790-1832), o pri
meiro a decifrá-los completamente. A chave
mais importante para esta escrita esquecida foi
a famosa pedra de Roseta, descoberta em 1799,
com um texto bilingue. Era o decreto do faraó
Ptolemeu V escrito em grego antigo (uma lín
gua conhecida) e duas antigas escritas egípcias:
demótica e hieroglífica. Comparando estas escri
tas e fazendo uso do seu excelente conhecimento
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inscrições hieroglíficas. Após considerável pes
quisa foi capaz de reconhecer não apenas algu
mas das letras do alfabeto hieroglífico, mas
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também uma série de outros hieróglifos de certos sinais hieroglíficos, enquanto a sua com' EM CIMA Escrita hierática
preensão do texto grego o ajudou a identificar numa caligrafia
carteias reais. Conseguiu decifrar 79 nomes particularmente bela de
reais diferentes, dos quais reconheceu e classifi os caracteres pictóricos. «O Grande Papiro de
cou todas as letras, uma por uma. Depois, usan Com um conhecimento da língua, estamos Harris», o mais comprido
do o «alfabeto» - todas as letras que havia agora em condições de traduzir os incontáveis papiro conhecido (Museu
recuperado progressivamente - conseguiu iden escritos antigos que subsistiram. Os textos erudi- Britânico).
tificar palavras. Em alguns anos apenas, compilou tos foram os mais altamente considerados, espe À DIREITA, EM CIMA
um dicionário e uma gramática. Embora a lei cialmente os mais antigos, tendo sido populares O papiro do escriba Ani, um
dos mais belos exemplos do
tura dos nomes dos faraós fornecesse a chave durante toda a história egípcia. Contêm frequen
«Livro dos Mortos» egípcio
para o sistema de escrita, tal não teria levado à temente códigos morais e representam um ele (Museu Britânico).
compreensão da língua egípcia sem a ajuda do vado nível de pensamento. Além da literatura
A DIREITA, EM BAIXO
copta. Ao estudar o texto da pedra de Roseta, o religiosa e registos comerciais, os escritos do Hieróglifos pintados num
conhecimento que Champollion tinha do copta Antigo Egipto incluem assuntos tão variados caixão do Império Médio
permitiu-lhe determinar os valores fonéticos de como poesia, medicina e matemática. (Museu Britânico).
96
OS HIERÓGLIFOS
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A ANTIGUIDADE EGÍPCIA
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canos, particularmente o ouro, atraiu inúmeros
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técnicos viajaram com os produtos. O intercâmbio
cultural entre a África, a Ásia e os países medi
terrâneos aumentou durante certos períodos de
invasão e conquista. Os Fenícios, que eram mer
cadores de longo curso, tomaram de empréstimo
e adaptaram muitos elementos arquitecturais e
artísticos egípcios e divulgaram-nos pelo Mediter
râneo até à Grécia.
Os primeiros escritores gregos que viajaram
até ao Egipto admitiram a sua influência nos prin
cípios gregos de arquitectura e geometria. A escul
tura arcaica grega mais antiga reflecte tanto a pose
(com o pé esquerdo para a frente) como as pro
porções da do Egipto. Antes de Sócrates, os segui
dores de Pitágoras dirigiram-se ao Egipto para
completar os seus estudos de Geometria, Astrono
mia e Teologia, e os contos egípcios tiveram
em cima Alethe - sacerdotisa também uma influência importante no desenvol
de Uis, por Edwirt Lond vimento do romance helenístico. Além disso,
(1829-91). Esta pintura alguns aspectos da antiga religião grega podem ser
a óleo do século x/x reflecte detectados no Egipto. Os Gregos também se inspira
uma imagem romântica
idealística do Amigo Egipto.
ram na ciência médica egípcia, tendo os médicos
egípcios sido contratados pelos Hititas e Persas.
Os eruditos têm tentado demonstrar o desen
volvimento do nosso alfabeto a partir dos sinais
hieroglíficos, podendo certos conceitos da lei egíp-
98
■
O LEGADO
cia ter também chegado até nós. Contudo, tal EM cima Israel no Egipto, natureza, muitas vezes, fosse mal compreendida. :•?
vez o maior legado do Antigo Egipto tenha sido por Sir Lawrence Poynter Os Romanos importaram muitas estátuas egíp
(1836-1919).
o seu calendário, que foi adoptado pelos Roma cias e destas fizeram muitas cópias, frequente-
nos e constituiu a base do nosso calendário mente espúrias. Levantaram-se obeliscos no
gregoriano. EM BAIXO O Achamento templo de Isis e nas praças de Roma. Dado que
Os Romanos, tal como os Gregos antes de de Moisés, por Sir Lawrence Roma se tornou a cidade mais importante no
Alma Tadema (1836-1912). mundo clássico e cristão, a selecção e interpre
les, absorveram muitas crenças religiosas nativas Os assuntos bíblicos
depois de terem conquistado o Egipto. Adopta- forneceram aos artistas uma tação romana das formas egípcias influenciou
ram as práticas fúnebres egípcias, desenvolvendo desculpa para se entregarem fortemente a maneira como o resto da Europa
uma sofisticada técnica de embalsamação e apre a visões fantasistas encarou o Antigo Egipto. Em consequência, o
do Antigo Egipto. conhecimento transmitido à Europa Medieval e
sentação funerária. Foram também venerados
muitos deuses egípcios, embora a sua verdadeira do Renascimento foi largamente determinado por
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A ANTIGUIDADE E G í P C I A
À direita Múmia de um
rapaz romano.
Os Romanos adoptaram
os costumes fúnebres
egípcios e adicionaram-
-lhes retratos naturalistas
(Museu Britânico).
102
O LEGADO
A ANTIGUIDADE E G í P C I A
Astrologia tiveram provavelmente origem em EM cima Prato de porcelana reencarnações de sacerdotes ou sacerdotisas egíp
do séado XIX decorado com cias. Os estranhos deuses com cabeças de animais,
Alexandria, que se tomou um importante centro flores de lótus no estilo
cultural e comercial no mundo antigo. Foi aqui egípcio.
a misteriosa escrita hieroglífica, os amuletos
que muitos conhecimentos e crenças do Antigo sagrados e as crenças fúnebres do Antigo Egipto
Egipto, Grécia e Próximo Oriente se fundiram. fornecem um excelente tema a clarividentes
Escritos herméticos popularizaram a noção de que e escritores espiritas. Correm rumores de que
À direita Alimentando
os Egípcios eram possuidores do conhecimento as íbis Sagradas nos Salões
vendem genuíno pó de múmias numa farmácia
verdadeiro e puro. Embora a Astrologia tivesse de Karnak, por Sir Edward de Nova Iorque para uso em poções mágicas
chegado tarde à história egípcia, provavelmente Poynter (1836'1919). Estas secretas.
a partir da Asia Ocidental, há muitas represen gravuras popularizaram A influência dos antigos Egípcios sobre o
o estilo egípcio.
tações de estrelas, constelações e mapas do céu secreto é reforçada por muitas histórias de «mal
que foram tomadas pelos místicos, e mal, como dição da múmia», que continua a prender a ima
verdadeiros símbolos zodíacos. Os Egípcios tinham ginação pública. O mais antigo registo de uma
um sistema para determinar as influências felizes história de fantasmas, envolvendo uma múmia,
e infelizes do dia, como nos modernos horóscopos foi escrita em França, em 1699. «A Múmia»
diários que, todavia, não têm ligação com os juntamente com «Drácula» e «Frankenstein» pro
12 símbolos do zodíaco. O carácter feliz ou infe vam que o tema continua bastante popular para
liz do dia derivava dos eventos mitológicos que filmes de terror. A ligação do Antigo Egipto com
tivessem lugar nesses determinados dias. Na lite o oculto foi publicitada pela imprensa, que atri
ratura egípcia havia também uma crença de que buiu à chamada «Maldição de Tutankhamon» a
certos números tinham um significado mágico, morte de Lord Carnarvon. Este, patrocinador da
o que pode ter aberto o caminho para a nossa expedição, que tinha uma história de saúde
moderna superstição quanto a números felizes e débil, morreu de uma picada infecciosa de mos
azarentos. quito pouco tempo depois da descoberta do
A história mais antiga acerca de um mágico túmulo. Contudo, os que desejavam apoiar a
encontra-se no papiro «Westcar», que data de superstição acerca da sua morte nunca chamaram
c. 1700 a. C., e muitos espiritas, adivinhos e qui- a atenção para o facto do principal responsável
romantes usam nomes egípcios ou reivindicam ser pelo famoso achado, Hovvard Cárter, ter vivido até
104
O LEGADO
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EM CIMA Saleiro ele prata, aos sessenta e muitos anos. O The Times garantiu
aproximadamente de 1840, os direitos exclusivos de reportagem sobre a desco
decorado no estilo
renascentista egípcio. berta do túmulo e os jornais seus rivais, não tendo
história para relatar, foram forçados a inventar
uma. E foi assim que nasceu a mítica «maldição».
À ESQUERDA Colossal Além de influenciar as ciências ocultas, o
baixo-relevo de um moderno
edifício do centro DIY em
Antigo Egipto continuou a inspirar a arte ociden
Kensington, Londres, que tal através das suas exóticas e românticas associa
reflccte a moda da ções. No século XIX, um grupo de pintores
arquitectura renascentista europeus foi bem sucedido na produção de algu
egípcia na década de 90. mas reconstruções altamente imaginativas do
Antigo Egipto. Isto aconteceu em resposta a um
gosto geral, surgido nessa altura, pelos assuntos
do Médio Oriente, e muitos artistas viajaram por
todo o mundo islâmico. O tema das suas pintu
ras incluía inevitavelmente árabes com os seus
turbantes, a azáfama dos bazares, camelos, palmei
ras e cenas de harém levemente pornográficas.
As pirâmides e as antigas ruínas do Egipto foram
parte deste ideal romântico e são frequentemente
representadas em perspectiva exagerada, com
dramáticos ocasos. Estes elementos do fantástico,
PÁGINA AO LADO A Casa exótico e erótico faziam parte das visões fantasistas
Egípcia, Penzance. de muitos artistas acerca do Antigo Egipto. A sua
Construída no século XIX, na notável atenção quanto ao pormenor foi um
década de 30, esta estrutura reflexo dos ideais orientalistas e pré-rafaelistas
representa o estilo
renascentista egípcio
contemporâneos. Muitos artistas devem ter vi»i-
na arquitectura. tado museus de forma a fazerem estudos precisos
107
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A A MIOU P A P E EO1r0 I A
108
A ESQUERDA Uma estatueta
de bronze do período grego
do deus Amon-Ré mostra
como as formas egípcias
eram mal representadas
pelas culturas posteriores
(Museu Britânico).
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A ANTIGUIDADE EG íPC1 A
Índice Remissivo
Os números em itálico referem-se às ilustrações ou suas legendas
A
Abidos 30, 51, 94. 95.
Carpintaria 65, 66-67
Cárter, Howard 11, 15, 16,
F
Faiança, artigos de 67, 91,
ideogramas 86
nomes reais 31
templo em 15, 36 17, 38. 104 95 nomes, significado dos
Abu-Simbel, Templo de 8, Cestaria 67 Faium 85 90-91
, 8, 16, $5 Caixões 58,59, 61, 63, 63 Família, estrutura da 68, 71 pedra de Roseta 6, 95-96
Accio, Batalha de 38 Carroças 32, 33, 72 Faraós 30-43, 30 significado religioso ou
.Agricultura 66.67-68.70.71.82 Casa de Chicago 15 categoria como deus e rei mágico 90
aproveitamento de terras Casamento 6S, 71 30, 42-43, 44. 46 Hititas 35, 36, 98
30. 77 Cerâmica 67, 69, 91 coroas e insígnias reais 39 Horemheb 31, 36, 38, 43
camponeses agricultores Champollion, Jean-François Império Antigo 30, 31 túmulo de 50
26. 28, 29 6, 6. 95-96 Império Médio 30, 31, Hórus 24, 30, 46, 48, 51,
sistemas de irrigação 39, Monumentos do Egipto 14 32, 34 51,52, 100
67. 77-78, 102 Chu 46 Império Novo 32-36, 38 olho de (udjat) 58
Akhenaton 31, 34-35, 36, Ciência médica 73, 75, 9S mulheres 33, 34 Huncfer (escriba) 58
36, 41, 48, 49. 64 CleópatTa 16, 42 qualificações 43
Alexandre, o Grande 31, 3S derrota em Accio 38 rainhas 42
Alexandria 38 Cleópatra VII 31 Ferramentas 25, 65, 66-67
Alma Tadema, Sir Lawrence Clero 36, 44, 65 Filae, templos de 77, 78, 85 Imhotep 20, 27
O Achamenio de Moisés 99 Cobre, artefactos de 25, 67 Frith, Francis 17 Irrigação, sistemas de 30, 67,
Alquimia 102 Colossos de Memnon 35 77-79, 102
ísis 46, 51-52,51,95, 102
Amenhotep III 31, 34. 35,
39, 41. 4S
Comércio 68, 9S
Capta, língua 86, 95, 96 G
Colossos de Memnon 35
túmulo de 55
Amenhotep IV ier Akhenaton
Crença hermética 102
Cristianismo, influência da
cultura egípcia 100, 102,
Gardiner, Sir Alan
Gramática Egípcia 16
Great Harris, papiro de 96
J
Joalharia 65, 67, 70, 72
Amon 46, 52 102 Geb 46 Júlio César 38
Amon-Ré 46, 48, 109 Geometria 98
Ani (escriba) 97
Animais sagrados 44, 61, 63
Ankh signo de rida 102 Dario 31
D. Gira 16, 20, 21-23
Esfinge 26
Grande Pirâmide 16, 20,
K
Kadcch, Batalha de 36, 38
Anúbis 50, 57, 62 Daries, Nina 15, 19 21,22, 25, 26, 26, 28, Kamak, Grande Templo de
Apis, boi 53 Daries, Norman de Garis 29, 30 45
Armamento 32, 68 15 Pirâmide de Khafré 22, Khafré 24, 31
Arquitectos 20, 27 Deir el-Bahari, templo de 25, 26, 29 Esfinge 26
Artesãos 65-67, 65 33, 34 Pirâmide de Menkauré Pirâmide de 22, 26, 29
Artistas 65-66 Deir el-Medina 15, 64, 65, 22, 25 Khepri 48, 49
Assuão, Grande Barragem 68 Gregos Khonsu 52
de 15-16, S5 Demótica, escrita 6, 16, 86 conquista do Egipto 38, Khufu 30, 31
Astrologia 102, 104 Pedra de Roseta 95-96 43 barca fúnebre 29
Astronomia 98 Descrição do Egipto 6, 8, 9 influência da cultura Grande Pirâmide 21, 15,
Aton, culto de 34-35, 48, 49 Deuses 44-53 egípcia 98 26, 28, 29
Augusto, imperador 31 com a forma de animais Knum 51
Ay 36, 38, 43 44 Kom Ombo, Templo de 82
Dieta 71-72 H
B
Barcos 79-81, 79, 80. 81
Djoser 31
Pirâmide de degraus 20-
-21,21
Habitação 64, 73
armazenagem 64, 65 L
iluminação 64-65 Lanternas 64-65
funerários 29, 81 jardins 64 Lcpsius, Karl Denkmaeler 11
Barter; sistema de 68
Bastet 52, 53
Belzoni, Giovanni 8, 8, II
E
Educação, sistema de 65
mobiliários 64-65, 73
Hapi 76, 80
Hathor 52
Líbia 36, 38
Linho 67, 68, 72,82
Licht, mudança da
Bes 52, 53 Egipto Hatchcpsut 31, 33, 34, 42, residência real para 32
Borchardt, Ludwig 15 Alto e Baixo 76, 90 43 Livro dos Mortos 48, 58, 62,
Breasted, James 15 Sociedade de Exploração Templo de 33, 34 97
Bronze, artefactos de 32, 67, do 15 Hay, Robert 11 Lond, Edwin
67.72 unificação do 30 Heliópolis, centro religioso Alcthc - Sacerdotisa de ísis 98
Entretenimento 75 cm 46 Lótus, flores de 85
C.
Cabeça, descanso para a 64
Escultura 66
Esfinge 26
Heródoto 26, 85
Hicsos, invasão dos 32
Lucsor 15, 102
Templo de 46
Estrutura social 67 Hierática, escrita 91, 95
Caça 75, 82 Exército 36, 38 Hieróglifos 86-97, 98-99
Calendário 77, 99
Canopos, vasos 57, 58, 61
Exploração de pedreiras
25-26
disposição 86
fonogramas 86, 87
M.
Marco António 38
Camarvon, Lord II, 16, 104 Exportações 68 gramática 86, 87 Marictte, Auguste 11, 19
110
ÍNDICE REMISSIVO
Mastaba, túmulos 20, 21 Núbia 15-16, 32-33, 38 Ré 30, 43, 44, 46, 46 múmias descobertas cm
Mcdinct Habu, templo cm Templo de Abu-Simbcl Ré-Horakhti 46 11,63
15, 36 8. 8, 16, 85 Religião Ramesseum 17, 33
Meidum 78 Nut 46, 61 amuletos 52-53, 57-58, residência real transferida
Pirâmide de 21, 25 70,95 de 30, 32
Menés 31, 85 animais sagrados 44,6/, 63
Mênfis 21, 30, 52, 85
Menkauré 31
.0.
Obeliscos 18, 99
clero 36, 44, 65
crença na vida depois da
Templo de Deir el-Bahari
33. 34
Túmulos 65, 70, 77, 79,
Pirâmide de 22, 25 Ócio 74, 75 morte 48, 51, 54-55 80,81,95
Meroé, Reino de 16 Oricntalistas 107 culto de Aton 34-35,48,49 Vale dos Reis t er Vale dos
Metalurgia 67, 67 Osíris 30, 46, 47, 48, 48, deuses 44-53 Reis
Mitanni, Reino de 34 51,52, 58,61,62 faraós, adoração de 44 Tefnut 46
Mobiliário e acessórios 64-65,73 influência da religião Tell EI-Amama 15, 35, 36,
Modernas tecnologia 18 egípcia 98, 99, ICO, 102,
Moicris, Lago 82
Montet, Pierre 38
P.
Palestina, Império Egípcio
102
Livro dos Mortos 48, 58,
64
Templos, função dos 44-46,45
Terras, aproveitamento de
62, 97
Moore, Henry 108 32, 36 30, 77
Nilo, o 76
Mulheres, posição Papiro Grcat Harris 96 Tijolos de lama 20, 64
tempbs, (unção dos 44-46,45
na sociedade 71 Papiros 82, 82, 83, 85, 85, textos das pirâmides 62 Tot 91, 97
Múmias 54-63 88, 91, 96, 97 Renascimento Egípcio 103, Túmulos 53, 62-63, 64
amuletos protectorcs 57-58 Great Harris 96 104, 106, 107, 108 ladrões de 11, 21, 29
animais sagrados 61, 63 «Westcar» 104 Roberts, David modelos de 29, 55, 56,
caixões 58, 59, 61, 63, 63 Pâssaro-Ba 62 Obelisco 18 66, 73
embalsamação 54-55, 57 Perfumes 74, 75 Tempestade de Areia no múmias 54-63
envoltórios 57 Persas 38, 98 Deserto 100 pinturas 19,62, 64, 65,
escaravelho sagrado 58 Pesca 79, 81-82 O Templo de Abu-Simbel 8 70, 71, 77, 78, 79. 80,
falsas 63 Petrie, W. M. E 10, 11 Romanos 81,95
jarros canopos 57, 58, 61 Picasso, Pablo 108 Egipto, província pirâmides ver Pirâmides
órgãos de 55, 57 Pirâmides 20-29, 30 do Império Romano 38 Tutankhamon 31, 35-36, 40
pigmento feito de 63 câmaras fúnebres 29 influência da cultura túmulo de 11, 15, 16, 35-
remédios feitos de 63 construção de 21, 23, 25- egípcia 99, 100 -36, 43,61, 72, 104,
rostos, representação de -26, 28-29 Roseta, pedra de 6, 95-96 107, 108
58,61,6/ de degraus 20-21, 21 Rosscllini 6, 14 Tutmés l 42
sarcófagos 61 escala das 21, 25 Tutmés III 31, 33-34
Museu Britânico, colecção
do 8, 11
Museu de Berlim, colecção do 11
extraeção de pedra para
25-26
força de trabalho 26, 28,29
s
Sais, estabelecimento da .u
Museu do Cairo 11 Meidum 21, 25 capital cm 38 Udjat (olho de Hórus) 5S
Música 71, 75 Pirâmide «Inclinada» 21 Sakara
Mut 52 poços de ventilação 29 Pirâmide de Degraus 20-
Ré 46 21,21
túmulo de Nefer 57
V.
N
Napolcão, imperador 6, 21
saqueadores de 29
textos das pirâmides 62
ver também Giza; Vale
Salt, Henry 8, 10, 11
Sckhemet 51, 52
Vale dos Reis 15, 62, 63
Deir cl-Medina 15, 64,
65, 68
Narmcr 31 dos Reis Seneferu 31 Segunda Pirâmide 8
Nasser, Lago 85 Povoações 64 «Pirâmide Inclinada» 21 túmulo de Seti I 8, 10
Ncfertari, túmulo de 19, 62 Povos do Mar 36, 38 Scnenmut túmulo de Tukankhamon
Nefertiti 15, 35, 37, 42, 49 Poyntcr, Sir Edtvard (camareiro-chefe) 33 11, 15, 16. 35-36,43,
Nefertum 52 Alimentando as íbis Senusert 31 61. 72 104, 107,
Néftis 46 sagradas.... 105 Senusert III 32 108
Nilo, Rio 76-85 Psantck 31 Set 46 Vestuário 69, 72, 74, 75
canais 78, 81 Psuscnnes I 31, 38 Scti I 36, 38 cones de incenso 74, 75
cheia anual 76-77, 85 túmulo de 38 túmulo de 8, 10, 36, 61 cosméticos 67, 73
construção de pirâmides Ptah 52 Síria 32, 33, 34 joalharia 65, 67, 70, 72
no 25 Ptolomeu 38 Sistema legal 65, 99 penteados 72-73
Delta 76 Ptolomeu V 95 Sobek 82 perucas 69
Nilo Azul 76 Sudão 20 Vidro 67, 79
Nilo Branco 76
sistemas de irrigação 30,
67, 77-79 Rainhas 42
R T .W.
transporte e comunicação Ramsés 1 38 Tânis 38, 61 Wilkia^on, Sir John Gardner
79-81 Ramsés II 8, 11, 31, 33, 36, Taueret 52 8.1!
Nomes (províncias 38, 39,42,46 Tebas 52 Os Usos e Costumes dos
administrativas) 30, 78 Ramsés III 31, 36, 95, 101 Colossos de Memnon 35 Antigos Egípcios 11
111
A A N T 1 O l l D A PE ECíPCIA
Expressões de Consideração
e Agradecimento pela
Cedência de Fotografias
DEDICATÓRIA
A Meu Pai, C. S. Putman
112
1
í
A A \ T Ui u I D A n E
• •
EM CIMA A DIREITA A llUlis da inteligência humana, que seria necessária para
antiga múmia existente, julgamento no outro mundo). Os outros órgãos
do túmulo de Nefer, em
Sakara (c. 2400 a. C.).
eram secos com natrão e colocados em quatro
recipientes, chamados vasos canopos. O corpo
vazio era então lavado com vinho de palma e es-
EM BAIXO Chacal de peciarias e deixado a secar, coberto com sais de
madeira consagrado ao deus natrão. O corpo já seco era envolto em pano de
Anúbis. Estas figuras eram
colocadas nos túmulos para linho e especiarias para lhe dar novamente a sua
guardarem simbolicamente o forma e depois coberto com resina derretida para
defunto (Museu Britânico). o endurecer e impermeabilizar. A múmia era
então envolta numa faixa, com grande cuidado,
dado que o aperto do envoltório ajudaria a manter
a forma do corpo (recentemente, foi desfeito o
invólucro de uma múmia que estava coberta por
uma faixa de linho de 5 km de comprimento e
7,5 cm de largura!). O envoltório sujeitava nor
malmente os braços contra o corpo e juntava as
pernas, embora haja algumas múmias em que os
A esquerda Caixa de membros foram envoltos separadamente. Pelos
madeira pintada com figuras
envoltórios estavam distribuídos vários amuletos
«shabti». Quanto maior
o número de trabalhadores de protecção, normalmente em determinadas
representados, mais fácil posições. Um amuleto importante era o escara-
seria para o defunto a vida
no outro mundo (c. 1290
a. C., Museu Britânico).
57
k r. im ,\
baixo.
Embora a função básica do caixão fosse pro- EM BAIXO Conjunto
teger o corpo contra a violação por animais e de vasos canopos de calcário
ladrões, era também considerado a casa do espí- para conter os órgãos
miemos da múmia (c. 1000
rito. Através dos poderes mágicos das suas deco-
a. C., Museu Britânico).
rações e inscrições, podia assegurar o bem-estar exterior tinha um enorme par de olhos pintados
do defunto no outro mundo. O caixão sofreu num painel, perto do ombro esquerdo, para que
várias modificações no seu feitio, material e a múmia pudesse, do lado de dentro, olhar o
decoração durante o longo período de história do mundo exterior. Estes olhos eram frequentemente
Antigo Egipto. Alguns dos caixões mais antigos pintados por cima da representação de uma
eram pequenos e feitos de barro, de verga ou porta de entrada, através da qual o espírito da mú
madeira, onde o corpo jazia numa posição ar mia podia sair à vontade e ter acesso ao resto do
queada e de lado. No Império Médio (c. 2000 a. C.) túmulo.
foram muito utilizados, caixões de madeira com Os caixões característicos, na forma do
paredes duplas, a todo o comprimento do defun corpo mumificado com uma máscara facial idea
to. O interior podia ser feito com a forma da mú- A direita Alguns sarcófagos lizada, são na sua maioria datados do Império
mia, ao passo que o exterior era rectangular. No eram esculpidos em pedra, Novo ou mais tardios. Os rostos estereotipados
seu interior, este caixão era decorado com objec- como este belo exemplo em têm frequentemente uma barba falsa para sim
, . basalto feito para um vizir (c.
tos pessoais e textos mágicos, enquanto na parte 500 a. C, Museu Britânico). bolizar a sua identificação com o falecido rei
58
AS MÚMIAS