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EGIPTOMANIA
O EGITO NO BRASIL
DOLCIOU
S
PARIS
Editorial
EGIPTOMANIA
O EGITO NO BRASIL
MARGARET BAKOS
( ORGANIZADORA )
EGIPTOMANIA
O EGITO NO BRASIL
JOCOU
PARIS
Editorial
Copyright © 2004 Margaret Bakos
2004
Paris EDITORIAL
Introdução 7
Margaret Bakos
Obeliscos brasileiros 71
Margaret Bakos e Márcia Regina Brito
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( 四十 JADE 1
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Margaret Bakos
O fascínio que o Egito exerce sobre a humanidade , com suas pirami
pirâmi
des , deuses , faraós, múmias e hieróglifos, não é um fenômeno recente .
Na realidade , é algo que existe desde a Antiguidade . Heródoto , por exem
Este livro busca respostas para essas e muitas outras perguntas . Mais que
XV, face ao incentivo dos humanistas , também redescobriu o Egito por meio
dos relatos dos viajantes e dos historiadores antigos .
Com a expedição científica e militar de Napoleão Bonaparte ao Egi
to , no século XVIII, a egiptomania passou a representar uma verdadeira
febre na Europa . A descoberta da famosa Pedra de Roseta, encontrada
AL
gueses , que deixaram amplos registros de sua paixão e interesse pelo Egito .
Da atuação de D. Pedro I , por exemplo , resta - nos um magnífico acervo de
peças egipcias , adquiridas por ele em 1824. Três décadas depois, D. Pedro
II fortaleceu o vínculo iniciado pelo pai entre o antigo Egito e o Brasil , ao
Este livro procura chamar a atenção para isso. Para tanto , alia a cu
riosidade científica típica da egiptologia à emoção mais autêntica da
NOTAS
1. J.M. Humbert (ed ) . Egyptomania: Egypt in Westem . 1730-1930 . Ottawa : Éditions e La Réunion
des Musées Nationaux , 1994.
2. Ibidem
3. O marco inicial deste trabalho foi 1995 , quando se formou um grupo de pesquisadores ,
tendo porbase o interesse de professores que , então , integravam o Laboratório de História
Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LHIA) . A pesquisa, no entanto , apenas
se desenvolveu com a aprovação do " Projeto Egiptomania no Brasil . Séc . XIX e XX” , pelo
CNPq, em 2001 , por meio da concessão de uma Bolsa de Pesquisa de Produtividade , para o
coordenador do projeto, e outra na categoria de Iniciação Científica. Desta feita, exceto
pelo apoio da PUCRS, que disponibilizou três bolsas PIBICPUC para o projeto, ao longo
desses anos todas as contribuições que constituem o corpus documental deste livro foram
fruto da colaboração espontânea de colegas e de seus dedicados alunos . A todos o nosso
agradecimento, que está também registrado nos capítulos em que constam as suas colabora
ções , sem as quais estes não existiriam .
As grandes colunas da Sala Hipostila, em Karnak, que impressionaram
o imperador D. Pedro II, um dos pioneiros da egiptologia no Brasil
COMO O EGITO
CHEGOU AO BRASIL
Margaret Bakos
Noo Brasil , aaegiptologiachegou
Brasil, egiptologia chegou no início do século XIX
XIX ,,pelas
pelas mãos
mãos
da família real portuguesa . Deve - se à iniciativa do imperador D. Pedro
dade de Dendera possui tumbas dos mais antigos períodos dinásticos , bem
como inúmeras mastabas dos monarcas locais . O sítio possui ainda ummag
Queóps , (4a dinastia , 4000 a.C. ) , cuja descrição foi achada na época de
Pepi (6a dinastia , 3700 a.C. ) .
COMO O EGITO CHEGOU AO BRASIL 23
Nos baixos relevos dessas câmaras , acham - se muitas indicações acerca das
cerimônias do templo . O quarto do fundo era o santuário de Hathor. A
procissão principal saía por ocasião do ano novo , que começava a 21 de julho,
dia em que Sothis (Sírio) nascia com o sol , coincidindo com a cheia do Nilo.
fato de Quediva Ismael ser pródigo com os seus palácios , mas desleixado
na conservação dessas construções , “ tão interessantes para o estudo do
Desenho feito por D. Pedro II. A legenda original, escrita de proprio punho
pelo imperador, informava: “Karnak, salle hypostile, 19 Décembre 1876 ".
24 EGIPTOMANIA
Pedro como uma pessoa melancólica , afável, que dispensa regras de eti
queta , se hospeda em albergues e aprecia muito visitar museus. Depois ,
&
peu
D e
t
NOTAS
1. Uma primeira versão deste texto foi publicada em Estudos Ibero-Americanos , PUCRS, v.XXIX ,
n.1 , p . 137-150 .
2. A informação sobre o obelisco foi obtida por Carolina Machado Guedes , acadêmica de
história da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do Laboratório de Pesquisas
Históricas (LHIA ) naquela universidade .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Antonio Brancaglion Jr
Cont - se que um certo Nicolau Fiengo teria desembarcado no Rio
arse
onta
Pouco se sabe sobre o tal Fiengo e existem dúvidas sobre sua nacio
nalidade . Na chegada , se declarou francês, mas pouco depois , com o
Fiengo desfez - se rapidamente das peças e partiu . Noutra versão , por ter
encontrado distúrbios políticos na capital argentina, voltou ao Brasil com
A única certeza que se tem sobre tudo isso é que , em 1827 , a coleção
de relíquias egípcias foi arrematada pelo imperador D. Pedro I , pela quantia
de cinco contos de réis , pagas à prestação , com parcelas nos prazos de
seis , doze e dezoito meses . As peças foram doadas ao Museu Real, prova
velmente seguindo os conselhos de José Bonifácio, que era maçom , por
certo inspirado pelo notório interesse desta confraria nas questões do
Egito antigo .
De qualquer modo , aquela entraria para a história como a primeira
coleção egípcia das Américas , caracterizando a iniciativa pioneira de D.
Pedro I. Nessa mesma época , na França , era criada por decreto real uma
sala no museu do Louvre consagrada aos monumentos egípcios – que
mumiformes, eram feitas com diversos tipos de materiais. Postas nas tum
bas , substituíam magicamente o morto na execução dos trabalhos que
este seria chamado a realizar no Outro Mundo . Geralmente trazem nas
Em agosto de 1995 , uma forte tempestade fez com que a chuva atingis
se parte da reserva técnica , inclusive a múmia de Hori , com o sudário exter
no original . Desde então , ela e as demais múmias do acervo são submetidas
Outros objetos foram doados ao Museu pela sra . Vera Maluf , a exem
plo da máscara em cartonagem e um falcão mumificado do Período Ro
mano (332-30 a.C. ) . Outros colecionadores , como os srs . Edgardo Pires
Ferreira e Ciro Flamarion Santana Cardoso , também doaram pequenos
objetos , como amuletos e imagens votivas . Mas a maior parte dos artefa
Eva Klabin Rapaport , ainda muito jovem, herdou de seu pai o hábi
to de colecionar, tendo o interesse voltado para a arte clássica e o
Renascimento italiano . Contudo , formou também uma relevante cole
ção egípcia, com objetos adquiridos em sua maior parte na Suíça e dos
quais não existem , infelizmente , referências sobre a procedência origi
nal . Alguns poucos artefatos foram adquiridos da coleção do sr. Willibald
Duschnitz , de Viena, e a estátua em madeira representando um oficial
fazia parte da coleção do dr. Leo C. Collins , de Nova York .
Todo o acervo , formado ao longo de sessenta anos , encontra - se hoje
na Fundação Eva Klabin Rapaport, instituição concebida pela própria
Eva para abrigar sua coleção de arte . Fundada em 1990 , funciona na
casa em que a proprietária viveu , no bairro da Lagoa, Rio de Janeiro .
A COLEÇÃO MINEIRA
NOTAS
1. Jean Capart , pai da egiptologia belga , obteve permissão para fotografar alguns objetos da
coleção, cujas reproduções atualmente encontram- se no acervo da Fondation Égyptologique
Reine Élisabeth .
O egiptólogo alemão Hermann Ranke ( 1878-1953 ) traduziu nomes pessoais de várias estelas
da coleção e publicou no Die ägyptischen Personennamen ), enquanto seu compatriota ,
Hermann Grapow ( 1885-1967) traduziu , principalmente, as estelas do Médio Império e ,
como colaborador de Adolphe Erman ( 1854-1937 ) , publicou -as no grande dicionário
Wöterbuch der ägyptischen Sprache ( 1926-31 ) .
O egiptólogo belga Baudoin van de Walle (1901-1988) publicou as estelas de Sahi (XII-XIII
dinastias, cerca de 1991-1668 a.C.) na Revue d'Égyptologie ( 1963 , n . 3) e o egiptólogo ameri
cano Alan R. Schulman publicou o belo fragmento em baixo relevo de uma capela votiva de
Meriptah (XVIII dinastia, reinado de Amenhotep III) no JournaloftheAmerican Research Center
in Egypt ( 1963) e a estela de Bakenwer na Biblioteca Orientalis ( 1986 , n. 43) . Mas o único es
tudo sistemático da coleção foi feito pelo egiptólogo inglês Kenneth A. Kitchen com o título
Catálogo da coleção do Egito Antigo existente no Museu Nacional, Rio de Janeiro ( 1990) .
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A grande esfinge de Gizé: o monumento original egipcio serviu de
modelo para cópias e recriações, inclusive em cemitérios brasileiros
PRESENÇA DO ANTIGO EGITO
NOS CEMITÉRIOS
encoberto pelas ruínas de outro , mais recente , o que o manteve a salvo dos
ladrões de tumba , atuantes desde a Antiguidade . Dentro , o tesouro do jo
vem faraó encontrava - se intacto , desde os objetos de uso pessoal até o
sarcofago, de ouro maciço . A descoberta , devido à sua riqueza e ineditismo ,
despertou ainda mais o interesse sobre o Egito antigo e seus mistérios .
A influência dos achados arqueológicos foi verificada em vários segmen
PIRÂMIDES E SARCÒFAGOS
ESFINGE
COLUNAS
OBELISCOS
TEMPLO
ENTRE NÓS
Margaret Bakos
Naa busca por manifestações da egiptomania no Brasil , fizemos algu
algu
mas descobertas deliciosas , muitas ao sabor do acaso . Afinal, até então , a
presença de elementos egipcíacos na arquitetura e na arte brasileiras não
havia sido registrada de forma sistemática , o que tornou a tarefa mais
difícil e instigante . Assim , os casos de egiptomania na arquitetura apre
sentados a seguir nem sempre têm autoria , procedência ou data de cria
ção devidamente conhecidas ” .
do Rio de Janeiro - que foi levado a efeito para adequar a cidade à con
dição de capitaldo vice - reinado - destaca - se a figura de Mestre Valentim .
Ele foi o artista contratado para a execução do grande projeto de remo
delação urbana da cidade , plano que previa desde obras de abastecimen
O CHAFARIZ DA PIRÂMIDE
RRADASRS
Numa pintura a óleo de Leandro Joaquim ,datada de 1789, vê -se em primeiro plano o
" Chafariz da Pirâmide ”: bom exemplo da união entre a arte e o objeto utilitário.
60 EGIPTOMANIA
pássaro saracura , de semelhança muito grande com o Ibis , uma das formas
do deus egipcio Thot , que teria , pelo mito de Heliópolis , ensinado a escrita
aos homens . A planta do cha
fariz obedece , em princípio , à
forma arredondada , em círcu
los concêntricos , com quatro
tanques que se alternam em
A "CASA EGÍPCIA” ( RJ )
Foi ele , por exemplo , quem lembrou , com a alegria do arqueólogo que des
cobre uma peça rara , a construção que o folclore carioca denominou de
nhos , e , nos outros dois , são de ferro, decoradas com figuras de escarave
lhos alados , emoldurados por flechas cruzadas . Enxertadas nas sacadas
do segundo piso , estão duas magníficas estátuas de ferro , retratando se
res humanos igualmente alados , que lembram as cariátides da
62 EGIPTOMANIA
tem inspirado muitos livros sobre sua arquitetura !4. De todas as constru
ções existentes , destacamos aqui a pirâmide da Legião da Boa Vontade, que
ilustra bem a relação atual entre a forma das pirâmides e o misticismo.
NOTAS
1. Agradeço as contribuições para este capítulo de André Chevitarese (Rio de Janeiro) , Caro
lina Machado Guedes (Rio de Janeiro ), Gilvan Ventura da Silva (Espírito Santo ), Fernanda
Coimbra C. Pereira ( Espírito Santo) , Pedro Paulo Funari (São Paulo) , Nathalia Monseff
Junqueira ( São Paulo ), Welcsoner Silva da Cunha (Pelotas), Rodrigo Otávio da Silva ( Rio
Grande do Norte) , Motel Faraó (São Bernardo do Campo ).
2. A. Lant , In : J.M. Humbert, J.H. Humbert, (ed ) . Egyptomania. Egypt in Western Art 1730
1930. Ottawa : Éditions e la Réunion des Musées Nationaux , 1994 , p.588 .
3. Ibidem , p.11 .
4. Ibidem, p.17 .
5. As pirâmides , pela forma e característica não figurativa (oposto de todas as outras escultu
ras do mestre) podem ser consideradas precursoras da escultura nacional e internacional.
Franco , Maria Eugenia . "As pirâmides triangulares de Mestre Valentim” . In : O Estado de S.
Paulo, Mestre Valentim. Suplemento literário . 10 dez.1996 .
6. Ibidem .
7. A.M. Monteiro de Carvalho , op cit .
8. J.Czajkowski . (org. ) Guia da arquitetura eclética do Rio de Janeiro , Rio de Janeiro : Casa da
Palavra, 2000, p . 64 .
9. Ibidem, p. 64
10. C. Duliére. A casa como obra de arte . Correio da Unesco , ano 18 , Rio de Janeiro , nº 10 , out.
1989 .
11. E.H. Kamide e T.C.Pereira . Patrimônio cultural paulista: Condephaat: Bens tombados 1968/
1998. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo , 1998 .
12. www.estadao.com.br/ext/frances/hilario
13. As primeiras referências e fotos desta casa foram feitas pela ex-bolsista do CNPq Viviane
Adrina Saballa , em 1995. Deve - se a Welcsoner Silva , membro do grupo de pesquisa o
levantamento da data de construção .
14. Ver: I. KERN . De Akenaton a JK , das pirâmides à Brasília. Brasília : ráfica Ipiranga Ltda . ,
1985 .
15. http://www.guiainforme.com.br/turismo/brusque.
ARQLIITETLIRA EGÍPCIA ENTRE NÓS 69
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WITTKOWER , R. R. Sobre la arquitectura en la edad del humanismo. Barcelona : Gustavo Gilli.
1979
에
ra
Os obeliscos são as referências arquitetônicas egipcias mais presentes nas cidades brasileiras
OBELISCOS BRASILEIROS
Margaret Bakos
e romanos . Assurbanipal , rei assírio , parece ter sido , no século VII a.Co
primeiro a transportar obeliscos egípcios para fora do seu território de ori
74 EGIPTOMANIA
sentes entre nós , ainda que não haja nenhuma informação sobre a exis
tência de obeliscos egípcios autênticos no país : todos os monólitos aqui
existentes são cópias ou recriações de seus modelos originais . Assenta
general brilhante por seu papel na expulsão dos espanhóis , que se fixaram
no Rio Grande, no século XVIII . Antigo governador da capitania , é reco
nhecido por muitos gaúchos como o verdadeiro fundador de Porto Alegre .
Para alguns cariocas, o monumento , além de ser uma obra de " mau
gosto ", atrapalha o trânsito na entrada do bairro de Ipanema . Protestos
incluem ainda o pórtico , erguido com o objetivo de ser uma passarela .
Moradores dos prédios vizinhos impediram a construção , alegando que o
Instigante releitura do
obelisco egipcio pelo artista
plástico Brennand. Elementos
amerindios e africanos no
w
lugar de hieróglifos
80 EGIPTOMANIA
todos os espaços . Esse efeito é obtido pelas duas pontas : uma apontando
para o alto (céu) , outra , para o chão ( as entranhas da terra) . O tratamento
PR
IN
CE L
SS DO
SU
NOTAS
1. B.Baczko. A imaginação social.
2. A história das palavras tem conhecido épocas em que elas sofrem viragens, mudando o
significado e deslocando - se da “ periferia” para o " centro” de um campo discursivo. (B.Baczko .
A imaginação Social , p.298) .
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SEVCENKO , N. Entre o paraíso e o inferno. Seminários de Arte ica , São Paulo : SESC, 1998 .
222
Pintura encontrada em um antigo túmulo faraônico: não são poucos os artistas que,
hoje em dia, ainda encontram inspiração na característica arte egipcia
ARTE E DECORAÇÃO EGIPCÍACA
Margaret Bakos
Pode
ode - se explicar a permanência dos elementos egipcios
egípcios na cultura
ocidental com base em dois enfoques fundamentais e interligados . O
primeiro consiste no fascínio pelos valores culturais dessa fase histórica ,
como o respeito à magia , em lugar do pensamento racional , e o culto à
imortalidade , em lugar do temor da morte .
ções continuaram sendo feitos, ao longo dos séculos , alguns sob formas
bizarras , indo ao encontro das fantasias dos usuários da modernidade , ao
sabor do imaginário social que as criaram e as mantém .
Outros apropriadores de símbolos egípcios foram movidos por moti
vos bem mais simples , como por exemplo os anúncios comerciais e a
busca pela estética criativa .Sabemos que determinados padrões de bele
za artística distinguiram os egípcios de outros povos contemporâneos ,
que muitas vezes os copiaram . Os hieróglifos até hoje são considerados
elementos mágicos da mais bela escrita do mundo .
PASTOR EGÍPCIO
1882
"O pastor Egipcio ", de Honório Esteves do Sacramento, artista brasileiro do século XIX .
90 EGIPTOMANIA
0
0 0
, ,
0 0
Urubu policrômico, com suas asas abertas e agitadas, força o visitante a olhar para cima:
artificio que evidencia o contraste entre um mundo misterioso e seu observador
O MOTEL FARAO
gantesca , mas também por exibir na fachada pinturas com motivos do antigo
Egito . Trata -se do Motel Faraó , que apresenta , na entrada principal, a fi
CHARGE DE CLEOPATRA
ESTÓRIAS HISTÓRICAS
122 N
wo
Bu
NOTAS
1. Agradeço as contribuições de Jean-Marcel Humbert (Paris) , André Chevitarese (Rio de
Janeiro) , Rodrigo Otávio da Silva (Rio Grande do Norte) , Antonio Otávio de Paiva Moura
(Minas Gerais) , Luis Augusto de Lima (Museu Nacional de Minas Gerais) , Carolina Ma
chado Guedes (Rio de Janeiro) , Gabriele Cornelli (São Paulo ), Flavio Carramillo (São Pau
lo) , Guido Bakos (Porto Alegre) e direção do Motel Faraó (São Bernardo do Campo) .
2. J.H.Humbert (ed) . L'Égyptomanie à l'éupreuve de l'archéologie . Paris: Musée du Louvre, 1996
p.135
3. A egiptomania possui duas formas de expressão freqüentemente indistinguíveis entre si: o estilo
neo -egipcio, uma revitalização da arte egipcia antiga , que reutiliza seus temas em um novo con
texto , e o estilo neo - egipcianizante, que adapta e apropria as formas da egiptomania mais antiga .
ARTE E DECORAÇÃO EGIPCÍACA 99
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Dançarinas egipcias, no detalhe de uma imagem que reproduz um banquete a Ísis:
historiadores defendem que assim surgiu o Carnaval
FESTAS, CARNAVAIS
E EGITO ANTIGO
Margaret M. Bakos
O carnaval começou no Egito
Egito.. Sua origem mais provável está nos
cultos cíclicos à deusa Ísis , que ocorriam em períodos de plantio ou de
carnaval como ritual que mistura pobres e ricos , negros e brancos , cultu
carnavalescas foram criadas por essa elite que buscava diferenciar- se do povo ,
" atrasado e selvagem" , que nas ruas jogava o “ bárbaro " entrudo .
Para a elite , o desfile “ ordenado” pelas ruas principais passou a ser a
des populares , a desfilar pelas ruas , ao som dos ritmos e das danças de
origens africanas. A elite , a partir de então , retirou - se para os salões ou ,
no caso de desfilar junto ao povo , saía sempre em " destaque ", evidenci
ando sua posição social ou cultural.
FESTAS, CARNAVAIS E EGITO ANTIGO 107
para ser visto e ouvido , ou seja, o carnaval passou a ser o lugar em que o
negro poderia expressar suas opiniões e sua visão de mundo . O carnaval
A ETIÓPIA É AQUI
portante salientar que esse rei teria um corpo místico , ou seja , encarnaria
duplamente a soberania secular e religiosa , profana e sagrada . O rei , as
sim como o faraó, virtuoso e justo , seria a encarnação do próprio Deus ,
isto é , o Deus em forma terrena . O rei seria assim um administrador
supremo , como ocorreu no Egito e na Etiópia , recebendo a fidelidade
dos súditos no duplo caráter de rei e de Deus .
referência à Etiópia por essa época , desta feita na quadra do Bloco Afro
Ras Goma , chefe da embaixada , enviado por sua majestade real Hailé
Selassié I , da Etiópia – tratado pelo grupo como “Haí É , o Seilassié ” (Lê
se : " Ai é ? Sei lá se é " ).
0 que pretendiam os Piratas do Riacho com tal trocadilho ? Pôr em
O REGGAE
Mas não é apenas nos dias de carnaval que a Etiópia mítica é evocada .
O mesmo acontece , e de forma ainda mais evidente , nas letras das músi
A HISTÓRIA
tura da religião egipcia era basicamente a mesma dos ritos yorubás prati
cados pelos negros africanos trazidos ao Brasil como escravos e , assim ,
usou o tema para exaltar a cultura negra .
o príncipe Custódio , dom Obá , rainha Ginga , Chico Rei , entre outros,
que reincorporariam esses atributos sacro - profanos e de luta pela justiça ,
igualdade e liberdade do povo africano e de seus descendentes .
É o caso também do samba - enredo “ Salomão e Sabá nas 1001 noites
Em seus 15 anos , a Samba Puro busca a paz que era o grande ideal do rei
judeu ”. Novamente surgem símbolos que nos remetem à Etiópia , à resis
tência, à utopia de paz , de igualdade , de liberdade do povo africano.
Desta forma temos uma África oriental mítica , utópica , milenar, presen
te na cultura afro -brasileira, mas cujos traços podem ser igualmente observa
dos em vários pontos do planeta . Temos a representação dessa África oriental
mítica desde a época da expansão do Império Romano , que expande também
o próprio cristianismo e suas utopias . Percebemos, então , a busca por um rei
negro cristão durante a Idade Média e Idade Moderna. Encontramos o pró
prio rei Salomão , que dá origem ao povo judeu da Etiópia , e visualizamos a
simples,mas profunda, relação entre a palavra Etiópia e utopia . Essa relação
engloba , no ideário do povo negro , a utopia da igualdade , da liberdade , da
unificação do povo africano , bem como do Oriente e Ocidente , na evocação
de um retorno à Idade de Ouro , à terra prometida, à unidade perdida .
FESTAS, CARNAVAIS E EGITO ANTIGO 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ZIEBELL , Zinka . Terra de canibais . Porto Alegre : UFRGS, 2002 .
Representação de Hórus, um dos principais deuses egipcios:
a Ordem Rosacruz é abertamente inspirada no misticismo do império dos faraós
A ORDEM ROSACRUZ E
A ARQUITETURA EGÍPCIA
Porém , a maior surpresa reservada ao público que visita esse museu está
mesmo no centro da segunda sala , onde vê - se a múmia de uma mulher,
Thotmea , que teria vivido no final do Terceiro Período Intermediário ( 1070
a 712 a.C. ) ou no início do Período Tardio ( 712-332 a.C. ) . A múmia , au
têntica , chegou ao Brasil em 1995 e é a única existente em toda a região sul
do país . Ao fundo, no mural, vê - se a cena da mítica pesagem do coração dos
mortos por Maat – a deusa da Lei, da Justiça , da Ordem e da Verdade - ,
conforme a crença egípcia .
nas Américas , Ralph Spencer Lewis , nutria manifesta admiração pela cul
tura faraônica. Seus discípulos , até hoje , realizam viagens e peregrinações
“místico - culturais” ao Egito, quando procuram se impregnar das “ emana
ções ” que supostamente recebem daquela milenar civilização.
Tão forte influência se reflete, inevitavelmente, na decoração e na
...3
Grande Loja do Brasil , sede nacional da Ordem , que existe no Brasil desde
1947. Essa organização surgiu , em nosso país , inicialmente em São Paulo ,
por iniciativa de um grupo de estudantes rosacruz . Em pouco tempo , no
vos núcleos se estabeleceram , especialmente no Rio de Janeiro ( 1951 ) e
em Belém ( 1954 ) . Inicialmente associados à Suprema Grande Loja, em San
José , EUA , esses grupos se organizaram e trabalharam para finalmente fun
dar, em 1956 , a Grande Loja do Brasil , cuja sede foi instalada no Rio de
Janeiro e , em 1960 , transferida para a capital paranaense , após receber como
amente e , assim , não podem ser lidos mesmo por um conhecedor dos si
nais da antiga escrita egípcia. Na verdade , da forma como foram dispostos
ali , tais hieróglifos nada significam . Além disso , também são encontrados
entre eles alguns sinais que foram simplesmente criados , não
serdab , palavra árabe que significa " cela ”, e pode ser descrita como uma
câmara secreta, onde ficava a estátua do morto . A parte interna da tumba
era composta por um poço vertical cujo interior levava a uma câmara fu
nerária que guardava o sarcofago ou o ataúde contendo a múmia .
A ORDEM ROSACRLIZ E A ARQLIITETURA EGÍPCIA 123
O TEMPLO
usado para a cobra naja sagrada , símbolo da realeza e dos deuses , daí seu
uso constante sobre a fronte das imagens .
124 EGIPTOMANIA
ile
BOG
O Portal de Aketanon, decorado com símbolos e cenas egipcias, com destaque para Aton
126 EGIPTOMANIA
um faraó entronizado com o cetro uas e o símbolo ankh nas mãos , que
rainha , identificável somente pela coroa que traz consigo . As duas mulheres
que a precedem carregam abanadores , enquanto as duas últimas trazem nas
mãos ramos de palmeira . O outro registro apresenta seis mulheres em sinal
PRÉDIO DA ADMINISTRAÇÃO
solar alado, no qual se funde a representação do deus Aton - o disco com raios
terminando em mãos. Sobre essa imagem há as iniciais da ordem : "AMORC ”.
A ORDEM ROSACRUZ E A ARQLIITETUIRA EGÍPCIA 127
ARC
O AUDITÓRIO
central contém uma reentrância em que estão dispostas seis colunas , três
de cada lado . As colunas são de estilo papiriforme e os detalhes da decora
ção foram pintados de azul - escuro e azul - claro . Na parte central há uma
porta dupla , cujos umbrais são arrematados com ornatos cilíndricos , e uma
cornija na parte superior. A superfície da porta foi decorada com as ima
gens , em relevo , de duas figuras masculinas douradas , usando saiotes com
128 EGIPTOMANIA
orlas curtas e portando cajados nas mãos . Logo acima das colunas obser
va- se uma moldura preenchida com uma seqüência de quarenta e nove
símbolos ankh . Está separada da cornija por um ornato cilíndrico, pintado
de marrom escuro , que também aparece nas laterais do edifício .
O MEMORIAL
formada por uma entrada , à que se tem acesso por uma rampa , decorada
com símbolos da vida , que está sobre um pequeno lago . As paredes , nas
laterais , possuem a forma de talude , isto é , um muro cuja base é mais
larga que seu remate .
A parede externa da entrada , à direita , apresenta duas linhas com
hieróglifos, na vertical, e um encavo com a imagem do faraó Akenaton
adorando o deus Aton (cena certamente inspirada no fragmento de ba
laustrada , conservado no Museu do Cairo ). Abaixo dessa figura seguem
seis linhas horizontais , sobrepostas , com hieróglifos.
No lado esquerdo da porta a seqüência com hieróglifos se repete .
No Memorial, como nos outros prédios da Rosacruz, hieróglifos reproduzem símbolos aleatórios
130 EGIPTOMANIA
Construção anterior à implantação da sede ganhou aspecto egipcio para abrigar o museu
הניי
A BIBLIOTECA ALEXANDRIA
NOTA
ROYAL
as Pirâmides
do Egito ...
e a máquina de escrever
ROYAL
A esfinge, numa alusão à sabedoria eterna, ajuda a vender até máquina de escrever.
Anúncio publicado na década de 1950. na Revista do Globo
MARKETING E EGITO
Margaret Bakos
Marcelo Chechelski
Flávia M.Dexheimer
Pira mide S / A ou Pirâmide Ltda . Existem , pelo menos, cerca de 235
irâmide
estabelecimentos comerciais no Brasil que ostentam este nome em suas
visita o Egypto
IDEA ! B
EUREKA !
. d.
EXTRACTO DE TOMATE
PEIXE
SIGA O
EXEMPLO
DE
MUITAS
GERAÇÕES
SCOTTS
EMULSION
ENULSAD
SCOTT
o
FRASCO
GRANDE FORTALECA OS SEUS FILHOS COM
E
MUITO
MAIS
ECONOMICO
SCOTT
O EGITO EM LOGOTIPOS
ORGANIZAÇÕES
Hórus tem no seu produto , livros , umajustificativa clara para escolher aquele
que também era considerado o deus da sabedoria e da vida pelos egípcios.
E , finalmente, no caso de uma empresa de informática também chamada
NOTAS
1. Agradecemos a colaboração de : profa. dra . Alice Moreira (PUCRS) ; Carolina M. Guedes
(UFRJ); Rodrigo Otávio da Silva (UFRGN) ; Nathalia Junqueira (Ribeirão Preto) , Fernanda
C. da Costa Pereira ( Vitória ), Viviane Adriana Saballa (PUCRS) ; Klaus Hilbert (PUCRS) .
2. Conclusões com base nas respostas aos questionários realizados em dois estágios dessa pesqui
sa : em 1995 e em 2003 , com o uso de bolsas de iniciação científica do CNPq e PIBIC /PUCRS.
3. V.A.Saballa . Egiptologia no Rio Grande do Sul: simbologias e manifestações ( 1995-1998) , Tra
balho de Conclusão de Curso, PUCRS , 1998 , p.95 .
4. Gilberto Luiz Teixeira Leite Strunck . Como criar identidades visuais para marcas de sucesso :
um guia sobre o marketing das marcas e como representar graficamente seus valores. Rio de
Janeiro : Rio Books, 2001 .
5. A pesquisa foi feita pela internet. A primeira busca, tendo como palavra chave pirâmide
usou o site da ‘ 102 eb' e depois o da Listel. M.Chechelski . Relatório parcial de pesquisa.
CNPq, 2002.
6. A.Lant. In.: J.M.Humbert. (ed ) . L'Égyptomanie à l'épreuve de l'archéologie. Paris: Musée du
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J.M. (ed ) . L'Égyptomanie à l'éupreuve de l'archéologie . Paris : Musée du Louvre, 1996 .
Estátua de um escriba. O fascínio exercido pela
civilização egípcia pode ser um ótimo aliado pedagógico
O EGITO NA SALA DE AULA
Mesmo aí, em boa parte dos casos , os textos dos livros didáticos con
tinuarão a tratar do Egito de forma bastante superficial e simplificada.
Por mais complexos que sejam, os diversos tópicos abordados nesse tipo
de material resumem - se , quando muito, a apenas um parágrafo, e muitas
vezes de forma descontextualizada. A vida dos camponeses do antigo
Não se pode negar, porém , que , nas últimas décadas , surgiram alguns
livros didáticos que buscam potencializar as estratégias de atividades na
sala de aula , levando o aluno a produzir o verdadeiro conhecimento. Vale
lembrar que o uso do livro didático é uma etapa importante no processo de
Crie com seu grupo uma agência de turismo e dê um nome para ela .
Reúna o que aprendeu sobre o Egito antigo e o atual para organizar o
roteiro de uma viagem a esse país . Faça um folheto com o nome da agência
e o mapa da África, destacando o Egito. Escreva um breve texto sobre o
Egito Antigo para despertar o interesse dos turistas pelo país . Nesse
folheto, coloque também a programação da viagem, que deve incluir um
passeio pelo rio Nilo, uma visita às pirâmides , aos templos religiosos e a
outros monumentos construídos na Idade Antiga . Você e seu grupo
deverão ilustrar o folheto com fotografias ou desenhos dos diferentes
pontos turísticos a serem visitados . Ao lado das imagens , escrevam um
pequeno texto explicando a importância histórica de cada um desses
Frases como estas seriam ditas pelo defunto perante os deuses . Reflita
sobre cada uma : qual ou quais dessas ações são consideradas hoje passíveis
de punição ? Qual ou quais delas são normas de conduta dignas, mesmo
não estando previstas em lei ?
O EGITO NA SALA DE ALILA 151
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Mb
Drário do Faraó
Abidos -47a.C.
Arruletes egipcios. Objetos feitos em metal , Colheita : A comunidade
moleira , pedra ,ceramica o material similar , cuja de agricultores de Menfis.es
a finalidade era ob to se preparando para o
ter determinados e . colheita de trigo ,cevadae
pepinos. A boa sa va cer
Suhados mágicos.Entre reu graças as cheias dotulo.
Os Amuletos mais co Oferta : Venda de caro
heados estão o f pos, po corservar 76
olho de Hórus , o Escaravelno e visceros dos moitas
cruz Ansata . Contötd : Mut
Fore :100.000
mas basta um exemplo para ilustrar todo o potencial desse recurso didá
tico : a obra de ficção Deus me livre, de Luís Puntel. O livro , considerado
um “ clássico ” desse tipo de literatura para jovens , foi reeditado inúmeras
vezes e traz em sua trama um caso de mistério .
154 EGIPTOMANIA
O roubo da tumba
Uma longa faixa do Egito era verdejante e fértil: o vale do Nilo . O Nilo é
um rio muito comprido que corre bem no meio do Egito . Recebe as águas
da Etiópia e da África central e deságua no mar Mediterrâneo . No século
passado (o XX , entenda - se) , foi construída uma enorme represa , mas
antes o rio transbordava toda a primavera , tornando - se ainda mais largo .
A água cobria quilômetros e quilômetros . Quando o nível baixava , o rio
deixava atrás de si um lodo negro em que tudo que se plantava crescia .
NOTAS
1. Agradeço aos que ajudaram na pesquisa e na redação deste texto: Margaret Bakos, Juan
José Castillos, André Leonardo Chevitarese , Maria Helena Rocha Oliveira Costa , Pedro
Paulo A. Funari, Melissa Ferronato , Fekri Hassan , Lynn Meskell , Ana Piñon, Lílian Ferreira
dos Santos . Lembro, ainda , o apoio institucional da Unicamp e da Biblioteca do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
2. Cf. Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky. Por uma história prazerosa e conseqüente . In
História na sala de aula , Leandro Karnal (org. ) São Paulo : Contexto , 2003 , p . 28 .
3. Cf. Janice Theodoro ." Educação para um mundo em transformação”. In História na sala de
aula, Leandro Karnal , (org. ) São Paulo : Contexto , 2003 , pp . 49-56 .
4. Vale a pena ressaltar que a maioria das pessoas que declaram ter livros em casa possuem
apenas a Biblia (Veja ano 36, n.29 , 23/07/2003, p.30) o que , no caso do Egito, constitui
fonte de referência , pois temas como a escravidão dos hebreus no Egito ( histórias de José e
Moisés) e a fuga de Maria , José e Jesus são bastante lidos e difundidos.
5. Sobre o tema, há muitas obras . Em português, consulte Martin Bernal, , In Pedro Paulo A.
Funari (org. ) Repensando o mundo antigo, Campinas , IFCH /Unicamp, 2003 (coleção Textos
Didáticos n.49) e, em espanhol, Juan José Castillos. Los antiguos egipcios, negros o blancos?,
Aegyptus Antiqua 5 , 1984, pp. 14-18.
6. Cf. Keith Jenkins , A história repensada . São Paulo : Contexto , 2001.
7. Pedro Paulo A. Funari . A renovação da história antiga , In Leandro Karnal (org. ) , História
na sala de aula : conceitos, práticas e propostas. São Paulo : Contexto , p . 101 .
O EGITO NA SALA DE ALILA 157
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KE
PEQUENA ANTOLOGIA
Elvo Clemente
La
MANUEL BANDEIRA
MACHADO DE Assis
Só me vingava em segui - la
Para a poder contemplar ;
Era uma sombra calada
Que oculta força levava ,
E no caminho aguardava
Para saudá - la e passar.
164 EGIPTOMANIA
CECÍLIA MEIRELES
Antônio e Cleópatra
VICTOR Silva
Esfinge
FREIRE RIBEIRO
Kheops
Não sabia esse Rei pela morte prostrado que , milênios depois , seria
sepultado na pirâmide azul , movediça do mar!
Sakkara
II
OSWALDO DE CAMARGO
Meu Grito
NOTA
1. Cabe aqui o agradecimento a Gisele Becker, mestre em história pela PUCRS, pela informa
ção sobre a poesia de Machado de Assis , e a José Carlos Teixeira, Secretário de Cultura de
Sergipe , pelo envio da obra de Freire Ribeiro.
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RIBEIRO , J. Freire . Sahara. Aracaju : Livraria Regina , 1962 .
ROBERT - FEUILLET. Introdução à Biblia -- antigo testamento . São Paulo : Herder, 1967.
Estatueta da época do Médio Império. A história egipcia é alvo de
apropriações na literatura, ajudando a propagar a egiptomania .
EGIPTOMANIA NA LITERATURA
antigüidades portáteis .
178 EGIPTOMANIA
ram os mais variados usos . Em certas ocasiões , deparamo - nos com obras
difíceis de classificar, por exemplo por misturarem elementos autentica
mente egiptológicos com especulações místicas que nada têm a ver com a
egiptologia. Um bom exemplo é o livro da escritora iugoslava Bika Reed,
discípula de Isha Schwaller de Lubicz , que , dada a repercussão de sua obra ,
auxiliou a produção de cineastas como Vittorio De Sica e Jean Renoir.'
A ligação entre egiptologia , egiptolofilia e egiptomania é inegável e
bastante complexa . Como mostra Humbert, há casos em que , mesmo
esposa vinda do Egito ”, 1913 ) e There was a king in Egypt (“Houve um rei
no Egito ”, 1918 ) , de Norma Lorimer . Neles , o espectro de Akenaton se
manifesta aos protagonistas numa linguagem que mistura fragmentos de
hinos a Aton , expressões do Antigo Testamento e imagens muçulmanas.
Nessa época , início do século XX , as pessoas misturavam teosofia encon
trar Mais tarde , dessas tentativas surgiria o movimento da Nova Era .
Outro exemplo é A máscara do faraó, de Robert Silverberg, publicado
originalmente em inglês em 1965 , com edição brasileira no ano seguinte
180 EGIPTOMANIA
no " e com as grandes utopias, numa época marcada pela preocupação eco
lógica e em que o próprio sentido de modernidade é questionado .
A segunda modalidade de romance que se apropria de elementos
egípcios nos interessa mais de perto . São romances históricos passados
na época amarniana , estendendo - se cronologicamente até o final da XVIII
dinastia e os primórdios da seguinte .
Esse tipo de romance têm sido escrito desde o final do século XIX ,
formando, hoje corpus bastante numeroso . Preferimos, aqui , ilustrar ten
dências maiores, sem a ilusão de cobrir todas as possibilidades. Selecio
namos três tipos de fatores principais : 11
1 ) Escritores de diferentes credos e inclinações reinterpretaram a fase
gay; grandes escândalos , como o caso Watergate, nos Estados Unidos , entre
AKENATON HOMOERÓTICO
Cyril Aldred ofereceu uma versão ainda mais influente desse con
ceito , baseada numa interpretação da iconografia de Akenaton . Na pri
meira de suas sínteses sobre o faraó, incluiu todo um capítulo sobre o
que seria a “ patologia” do monarca : a síndrome de Frölich . Mas esta tem
como uma de suas conseqüências tornar o paciente “ impotente e passi
vo ”. A quem atribuir, então , a extensa prole de Akenaton ? Sabe - se que
o faraó teve seis filhas com Nefertiti, conhecidas desde o início dos estu
dos arqueológicos de Amarna ; e outras que concebeu provavelmente
casando - se com duas de suas filhas. Além destas , atualmente atribui- se
a ele um filho, que chegou a ser o segundo sucessor, Tutankamon ( 1336
1327 a.C. ) , e outra filha, com a esposa secundária Kiya .
A resposta de Aldred é que a esposa de Akenaton , Nefertiti, teria
Que Smenkh -ka -Re subiu ao trono antes da morte de Akhenaten fica
suficientemente claro a partir de vários monumentos nos quais o rei mais jovem
é mostrado com o mais velho em situações que não sugerem uma relação
póstuma. Destas cenas, a mais surpreendente é a que aparece numa estela
inacabada conservada em Berlim, que aponta para relações homossexuais entre
ambos os governantes. Tal perversão parece ser enfatizada pelo epíteto " Adorado
de Akhenaten ", que Smenkh- ka - Re incorporou a seus dois cartouches , e por
ter ele adotado o nome Nefer-neferu - Aten, que Nefert- iti havia usado desde o
Ano 6 ( do reinado de Akenaton - C.F.C . ].16
volumes intitulados A god against the gods ( Nova York : Doubleday, 1976 ) e
Return to Thebes (Doubleday, 1977 ) . Drury, que escrevera anteriormente
romances e livros não - ficcionais sobre o mundo da política em Washing
ton , ganhando o prêmio Pulitzer com Advise and consent, foi fiel ao modelo
estabelecido pelo livro de Cyril Aldred ( 1969) e , ao mesmo tempo , trans
Drury arroga -se o direito de decidir por si mesmo , nem sempre de acordo
com os dados que foi buscar na egiptologia, como suas personagens devem
agir e falar, “ dentro dos limites da lógica e do sentido comum ”. Isto resul
tou numa mescla de arcaísmo pomposo e artificial - sendo difícil imaginar,
na intimidade , um irmão chamar outro , mesmo sendo o faraó, de “ Filho do
em que , no segundo romance , a velha rainha mãe Tiy, logo após o assas
sinato de Akhenaton e Nefertiti ( esta buscara em vão salvar seu marido ,
mesmo tendo sido por ele abandonada em favor da relação homoerótica
do rei com Smenkhkara) , que ajudara a planejar por razões de Estado ,
decide suicidar- se com vinho envenenado e , à janela do pequeno palá
cio construído para ela em Akhetaton pelo faraó seu filho, agora morto
com sua conivência , contempla a paisagem ( pp . 136-7 ) :
Sento - me sozinha junto a minha janela e olho , pela última vez , todas as
coisas adoráveis que tornam a vida tão feliz nesta terra para aqueles
abençoados com a boa sorte de gozar delas .
Não tenho sido abençoada assim há muitos anos .
O veneno cintila perto de mim na copa ; vou tomá - lo com vinho de modo
a não perceber quando ele agir.
Agora vou cessar minha contemplação e adormecer.
CONCLUSÃO
NOTAS
1. Dimitri Meeks e Jean- Jacques Fauvel. Égypte. Paris: Hachette , 1971 , p . 19 .
2. Amelia B Edwards . A thousand miles up the Nile. London: Century Publishing, 1982 (repro
dução fac - simile da segunda edição, de 1888 ) , pp . 1-2 .
3. Idem , ibidem , p . 1 .
4. Idem , ibidem, pp . 307-9 , 330-6 .
5. Idem , ibidem , pp . 353 , 449-50 ; ver também a p . 411 , no tocante a estarem proibidas as
escavações privadas .
6. FAGAN , Brian M. The rape of the Nile: Tomb robbers, tourists , and archaeologists in Egypt.
New York: Charles Scribner, 1975 , p . 85 .
7. WILKINSON, J. Gardner. A popular account of theancient Egyptians. London : Studio Editions ,
1988 (edição facsimilar que reproduz a de 1853 ) .
8. BRUNTON , Winifred. Kings and queens of ancient Egypt. London : Hodder & Stroughton,
1926 ; Great ones of ancient Egypt. London : Hodder & Stroughton , 1929.
9. REED , Bika . Rebel in the soul: A dialogue between doubt and mystical knowledge. Rochester
(Vermont): Inner Tradition International, 1987. A autora , em sua tradução de conhecido
texto egipcio , pretende estar corrigindo " inconsistências ” segundo ela presentes nas tradu
ções anteriores, feitas por egiptólogos, a partir de sua convicção - não demonstrada - de
tratar-se de um " texto iniciático" . Outro exemplo de escrito que mescla elementos autênti
cos de egiptologia com especulações esotéricas deve- se também a uma discípula de Schwaller
de Lubicz: LAMY, Lucie . Egyptian mysteries : New light on ancient knowledge. London : Thames
and Hudson, 1981 , em cuja p . 63 , a respeito do Livro de Amduat e outras composições
190 EGIPTOMANIA
funerárias do Reino Novo (segunda metade do segundo milênio a.C.) , lemos que “ a regene
ração do sol ocorre devido ao fluxo de correntes espirais que precipitam e coagulam inces
santemente a substância cósmica impalpável”.
10. HUMBERT, Jean- Marcel . “ Introduction ”. In : (org. ) . L’Egyptomanie à l'épreuve de
l'archéologie. Paris - Bruxelles : Musée du Louvre - Editions du Gram , 1996 , pp . 21-35 (especi
almente pp . 25 , 32 ) .
11. Inspiro -me, mas com muitasdivergências de detalhe, em MONTSERRAT, Dominic. Akhenaten :
History, fantasy and ancient Egypt. London -New York : Routledge, 2000, pp. 139-67 .
12. WEIGALL, Arthur. The life and times of Akhnaton, pharaoh of Egypt. London : Thornton
Butterworth, 1910.
13. NEWBERRY, Percy. “Akhenaten's eldest son - in - law 'Ankhkheprure !.” The Journal of Egyptian
Archaeology. 14, 1928 , pp. 3-9 .
14. ALDRED, Cyril . Akhenaten : Pharaoh of Egypt. London: Abacus (Sphere Books) , 1969 , pp.
100-5 ; ver, porém , na p. 105 , que alguma dúvida restava a Aldred .
15. MONTSERRAT, Dominic. Op. cit. , p. 47 .
16. ALDRED , Cyril. Op. cit . , p. 175. Devido a descobertas arqueológicas e textuais posteriores ,
Aldred recuou , em novo livro de síntese acerca de Akhenaton, de muitas de suas afirma
ções anteriores: ALDRED, Cyril . Akhenaten: King of Egypt. London : Times and Hudson ,
1988 , pp . 234, 287 , 289.
17. HOLLINGER , D. A. Postethnic America: Beyond multiculturalism . New York : Basic Books,
1995 , p . 126 .
18. Para este episódio e , mais em geral, para considerações extremamente divertidas sobre as
“ sexualidades ” atribuídas em diferentes épocas e veículos culturais às pessoas da família real
de Amarna , ver MONTSERRAT, Dominic . Op. cit. , pp . 168-82.WORTHAM , John David .
British egyptology 1549-1906 . Norman : University of Oklahoma Press , 1971 .
19. Idem , ibidem , pp. 157-60.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Kegan Paul International, 1987 .
EDWARDS, Amelia B. A thousand miles up the Nile. London : Century Publishing. 1982 .
FAGAN , Brian M. The rape of the Nile: Tomb robbers, tourists, and archaeologists in Egypt. New
York: Charles Scribner's Sons, 1975 .
HOVING, Thomas. Tutankhamun : The untold story. Harmondsworth : Penguin Books, 1980.
HUMBERT, Jean - Marcel (org. ) . L'Egyptomanie à l'épreuve de l'archéologie. Paris Bruxelles :
Musée du Louvre -Editions du Gram, 1996 .
IVERSEN , Erik. The myth of Egypt and its hieroglyphs in European tradition . Princeton (New Jersey) :
Princeton University Press , 1993 .
LECLANT, Jean et alii. Dictionnaire de l'Egypte ancienne. Paris: Albin Michel , 1998 .
MONTSERRAT, Dominic. Akhenaten: History, fantasy and ancient Egypt. London-New York :
Routledge, 2000.
SAUNERON , Serge. La egiptología. Trad. Alexandre Ferrer. Barcelona : Oikos- Tau , 1971 .
OS AUTORES
ISBN 85-7244-261-8
9117 8857211442619