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EEB PROF.

ª DOLVINA LEITE DE MEDEIROS

APOSTILA DE HISTÓRIA

ALUNO:_____________________________________________________________
3º ANO 01 PROF. LADIR
1. O CZARISMO, AS REVOLUÇÕES RUSSAS E A UNIÃO SOVIÉTICA

No começo do século XX a maioria dos governos de países europeus adotava regimes políticos liberais. Porém, o
Império Russo ainda era mantido sob uma monarquia autocrática1, comandada por um czar2. Ele nomeava e demitia
ministros conforme sua vontade, censurava jornais e revistas e decidia pela nação, tanto na política interna quanto na
externa. De 1613 a 1917, o Império Russo foi governado pelos czares da dinastia3 Romanov. O czar e sua família, a
nobreza (os boiardos) e o clero da Igreja Ortodoxa Cristã Russa possuíam enormes privilégios e eram donos da maior
parte das terras russas.

As atividades rurais predominavam na economia do império, que era um grande produtor de trigo e de outros
cereais. As estimativas apontam que, de cada 100 russos, cerca de 85 viviam no campo. A maioria era formada de
camponeses pobres (os mujiques). Analfabetos em sua imensa maioria, eram eles também os mais atingidos pelas
doenças e pelas crises de fome que assolavam o país com frequência. Os camponeses reagiram à servidão promovendo
revoltas. Entre os séculos XVII e XIX ocorreram várias rebeliões camponesas na Rússia; a maior delas foi a Rebelião
Pugatchev (1773-1775), que contou com a participação de milhares de camponeses e só foi derrotada pelo exército
czarista depois de muita luta. As rebeliões camponesas desgastaram a servidão, mas está só foi abolida em 1861. Ao se
abolir a servidão, no entanto, exigiu-se que os ex-servos pagassem ao governo czarista uma indenização por 49 anos.
Essa indenização consistia em uma prestação mensal em gêneros agrícolas. Além disso, a maioria dos camponeses
continuou sem acesso à terra e superexplorados pelos grandes proprietários. Para escapar dessa situação de extrema
pobreza, dezenas de milhares de mujiques migraram para as cidades em busca de uma vida melhor.

O Império Russo detinha um extenso território de 22,4 milhões de km², que ocupava parte da Europa e da Ásia. Em 1914, calcula-se que
viviam nesse império algo entre 150 milhões e 180 milhões de pessoas. Apesar da unidade política e territorial, a Rússia era composta de
um grande mosaico de povos e línguas. Além de russos e ucranianos, que correspondiam a quase metade da população, havia poloneses,
estonianos, lituanos, letões, finlandeses, alemães, georgianos, armênios, turcos, iranianos, curdos e mongóis. No campo religioso, a
diversidade também era grande: cristãos ortodoxos, católicos e protestantes, judeus, muçulmanos, budistas e animistas.

1.1 INDUSTRIALIZAÇÃO E MOVIMENTO OPERÁRIO

A partir da segunda metade do século XIX, o czar Alexandre II iniciou um programa de reformas liberais com o
intuito de transformar a Rússia numa nação moderna e industrial. A construção de uma rede ferroviária para interligar as
diversas áreas do imenso território imperial russo também fez parte desse projeto. Entre 1860 e 1870 foram construídos
milhares de quilômetros de ferrovias.

Essa industrialização se fez, principalmente, com capital estrangeiro. E assim foi possível, além da mencionada
construção de ferrovias, desenvolver a produção de ferro e aço, a indústria mecânica e têxtil, a construção naval e o
incremento da navegação a vapor. Ele também aboliu a servidão, distribuiu terras aos camponeses, incentivou as
atividades industriais e a fundação de bancos, melhorou o ensino e reorganizou o exército. Entretanto, algumas das
reformas fracassaram diante da forte oposição da elite agrária.

1
Autocracia: poder centralizado em uma pessoa que não sofre qualquer limitação, tendo total controle sobre a economia, a
sociedade e a política.
2
O termo czar serve para nomear os imperadores (ou imperatrizes, no caso, as czarinas) que governaram a Rússia do século XVI
até 1917. Czar significa "césar" e é uma tradução, para a língua russa, do título dos imperadores romanos da Antiguidade.
3
Dinastia: série de reis ou soberanos de uma mesma família que se sucedem no trono.
Em 1881, o czar Alexandre II, foi assassinado por membros de uma organização secreta
que pretendia revolucionar a Rússia pelas armas. Alexandre III (1881-1894) assumiu o poder e
suspendeu as reformas iniciadas pelo pai, governando a Rússia à maneira antiga, autocrática. Em
20 de outubro de 1894, Nicolau II sucedeu o pai Alexandre III no trono russo. O novo czar
procurou manter as tradições políticas herdadas de seu antecessor, isto é, um governo forte e
centralizado.

O governo do czar Nicolau II (1894-1917) estimulou mais investimentos estrangeiros na


Rússia, principalmente da Grã-Bretanha, França, Bélgica e Alemanha. Os investimentos
industriais se concentraram em centros urbanos populosos, como São Petersburgo, Moscou,
Odessa e Kiev. Nessas cidades formou-se um operariado de aproximadamente 3 milhões de
pessoas, que trabalhavam sob difíceis condições: os salários eram miseráveis e as jornadas de
trabalho eram de 12 horas ou mais. Os maus-tratos e as punições eram comuns nas fábricas. A
alimentação, as escolas e as moradias dos operários também eram precárias. Diante dessa
opressão social, os trabalhadores reagiram criando entidades inspiradas em ideias anarquistas e
socialistas.

No final do século XIX, surgiram os primeiros defensores de


A expressão socialismo ficou conhecida a
uma teoria revolucionária e científica para orientar a luta contra o partir das ideias do empresário inglês
czarismo e o capitalismo na Rússia. Entre eles estava Georgi Robert Owen, que propunha um sistema
Plekhanov o grande divulgador das ideias de Marx e de Engels na econômico baseado na formação de
Rússia. Foi graças ao seu trabalho que se formou a primeira geração cooperativas de trabalho, incluindo escolas
e moradias para os trabalhadores. Os
de marxistas russos, que fundou, em 1898, o Partido Operário Social franceses Saint-Simon e Charles Fourier
Democrata Russo (POSDR). também criticaram o capitalismo e
defenderam a instituição de formas mais
Desde a sua fundação, havia no interior do partido divergências igualitárias e fraternas de vida em
sobre o modo como a luta contra o czarismo deveria ser conduzida. A sociedade.
primeira cisão entre as duas correntes ocorreu no congresso do partido Para Karl Marx e Friedrich Engels, não se
realizado em 1903. Vladimir Ulianov, conhecido como Lênin, tratava de melhorar as condições de vida
defendeu a tese de que o partido deveria ser centralizado e dos operários, mas de abolir o capitalismo e
a exploração social. Por meio de uma
homogêneo, composto de militantes altamente disciplinados, revolução, os trabalhadores tomariam o
dedicados e preparados para ser a vanguarda da luta revolucionária. poder, centralizariam a produção
Por sua vez, Julius Martov defendia um partido aberto à integração de econômica no Estado e instaurariam a
diferentes tipos de militantes, que podiam ser profissionais “ditadura do proletariado”. Esse período de
disciplinados ou apenas simpatizantes, desde que concordassem com o transição é considerado como socialismo,
cujo propósito final é a extinção do próprio
programa. Estado, alcançando o comunismo.

Lênin venceu a disputa, e seus apoiadores ficaram conhecidos Recusando as teorias de Marx e Engels, os
anarquistas negavam qualquer forma de
como bolcheviques (maioria), enquanto os membros do grupo poder. Defendiam o fim do capitalismo e
derrotado ficaram conhecidos como mencheviques (minoria).) O do próprio Estado, além da necessidade da
rompimento definitivo entre os dois grupos ocorreu em 1912. Os plena liberdade individual, propondo o
bolcheviques formaram um novo partido e passaram a defender socialismo libertário.
abertamente a queda do czarismo por meio de uma revolução Outra maneira de compreender a expressão
proletária. socialismo tem origem no modelo
soviético, sobretudo a partir dos anos 1930,
com a imposição do poder de Stalin na
URSS. Muitos estudiosos o chamam de
PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL DEMOCRATA RUSSO socialismo real, ou “realmente existente”.
GRUPO BOLCHEVIQUE MENCHEVIQUE
LÍDER LÊNIN MARTOV Entre suas características estão a
estatização das empresas, a coletivização
Conseguir o poder
Conquistar o poder por das terras, a planificação da economia e a
aliando-se à burguesia e instituição de um único partido político.
OBJETIVO meio da revolução
obtendo a maioria no
socialista.
Parlamento. Na virada do século XIX para o XX, alguns
Confiar a luta Promover uma revolução partidos socialistas e socialdemocratas
revolucionária a um burguesa contra o europeus, herdeiros do pensamento
ESTRATÉGIA partido disciplinado que czarismo, e, depois, chegar marxista, paulatinamente abdicaram das
ideias revolucionárias. O caminho para o
unisse soldados, operários ao socialismo pela via socialismo não seria mais a revolução, mas
e camponeses. eleitoral. as eleições. Após a Segunda Guerra, com o
nome de socialismo democrático, tais
partidos, quando no poder, mantiveram
Esse partido foi duramente perseguido, sendo logo compromissos com o capitalismo e as
desmantelado pela polícia do czar, que prendeu vários de seus instituições da democracia-liberal, ao
membros; seus principais líderes, porém Lênin e Lev Bronstein mesmo tempo em que patrocinaram amplos
(conhecido como Trotsky), deixaram a Rússia e voltaram a se
organizar no exterior.

1.2 A REBELIÃO POPULAR DE 1905


Ferrovia Transiberiana
A construção da Ferrovia Transiberiana, ligando Moscou ao
porto de Vladivostok, e o interesse russo no Extremo Oriente
levaram a um choque de interesses com os japoneses, cujo
desdobramento foi a guerra iniciada em 1904 e que culminou com
uma vitória avassaladora do Japão.) Nesse conflito, o Império Russo
demonstrou toda a sua fragilidade e, principalmente, a
incompetência dos comandantes do Exército e da Marinha. As
repercussões internas e externas dessa guerra foram muitas. Externamente, os povos colonizados tiveram um alento,
pois, afinal, a vitória dos japoneses era a vitória de povos considerados
“atrasados” sobre aqueles “superiores”. Essa importante vitória colocava em
xeque o discurso tradicional da inferioridade dos povos asiáticos e africanos. Petição ao Czar
Majestade. Nós, trabalhadores e
A derrota aumentou o descontentamento da população com Nicolau II. habitantes de São Petersburgo,
Em janeiro de 1905, operários declararam greve geral na cidade de São nossas mulheres, nossos filhos e
nossos parentes velhos e
Petersburgo, então capital do país. Liderados por um padre, milhares de pessoas
desamparados, vimos à vossa
marcharam em direção ao palácio do czar; muitos deles carregavam imagens de presença, majestade, buscar
santos e retratos de Nicolau II. Apesar de não desrespeitarem a autoridade do verdade, justiça e proteção. Fomos
czar, para quem chegaram a cantar o hino da fidelidade ao governo, Deus salve transformados em pedintes, somos
oprimidos, estamos à beira da
o czar, a polícia atirou nos manifestantes, matando 92 pessoas e ferindo milhares morte [...]
de operários. O episódio ficou conhecido como “Domingo Sangrento”.
Paramos o trabalho e dissemos
A revolta se propagou por todo o Império. Trabalhadores entraram em aos nossos patrões que não
recomeçaremos enquanto não
greve, os povos alógenos se rebelaram; até mesmo os marinheiros do aceitarem nossas reivindicações
encouraçado Potemkim, da frota do Mar Negro, se amotinaram, matando os Não pedimos muito: a redução da
oficiais e assumindo o controle da embarcação. Mais de um terço dos jornada de trabalho para oito
horas, o estabelecimento de um
trabalhadores estavam de braços cruzados. salário mínimo de um rublo por
dia e a abolição do trabalho
A situação crítica obrigou o Czar Nicolau II a baixar um decreto, em 30 extraordinário [...]
de agosto (Manifesto de Outubro, pelo calendário juliano4), concedendo
Os oficiais levaram o pais à ruína
alguns direitos e, principalmente, convocando uma Duma (assembleia completa e o envolveram numa
legislativa). Tais medidas conseguiram acalmar boa parte da população. Como guerra vergonhosa Nós, os
apenas os trabalhadores urbanos e os socialistas mantinham o espírito trabalhadores, não temos como
nos fazer ouvir sobre a maneira
revolucionário, ficou mais fácil para o governo controlar a situação, utilizando como são gastas as enormes somas
todas as forças repressivas a seu alcance. que nos são retiradas em impostos.
[...]

Entretanto, o decreto de 30 de agosto tinha como objetivo permitir ao Estas coisas, majestade,
governo a retomada do controle. Não havia interesse real em promover as trouxeram-nos diante de vosso
palácio. Estamos procurando a
mudanças. Isso ficou evidente quando o Czar dissolveu a primeira Duma eleita, nossa última salvação Não recusai
na qual os liberais haviam conseguido ampla maioria. Em seguida, uma nova ajuda a vosso povo. Destruí o
legislação eleitoral fez que os votos da aristocracia valessem bem mais do que muro que se levanta entre vós e
os dos demais grupos sociais, evitando, assim, qualquer surpresa na eleição da vosso novo [...]
segunda Duma.

A derrota dos trabalhadores só não foi maior por causa da criação de conselhos de fábricas, ocorrida em 1905.
Denominados Sovietes5, esses Conselhos eram órgãos bastante democráticos e atuavam no interior das fábricas
fornecendo informações e garantindo certa coesão entre os trabalhadores.

Até 1916, a Rússia experimentou uma aparente democracia com a convocação da Duma. Após a quarta Duma, o
governo proibiu todos os debates de ordem pública e constitucional. À repressão política se somavam os prejuízos da

4
Calendário juliano: a Rússia adotava o calendário juliano, surgido com a reforma introduzida pelo imperador Júlio César em 45
a.C., que tem uma diferença de 13 dias em relação ao calendário gregoriano, adotado pelo Ocidente com a reforma introduzida pelo
papa Gregório XIII (1502-1585).
5
Sovietes: conselhos democráticos formados por delegados eleitos por operários, camponeses e soldados, que conferiram maior
representação política à população russa.
participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, criando um cenário de descontentamento e pressões sociais que
culminaria nas Revoluções de 1917.

1.3 O IMPÉRIO RUSSO E A I GUERRA MUNDIAL

Foi também Lênin quem afirmou: “A guerra foi o melhor presente que o Czar podia dar aos revolucionários”.
Antevendo o desastre que ocorreria, ele percebeu claramente que a participação do Império Russo no conflito mundial
seria responsável pela queda do governo autocrático.

No entanto, quando o Czar se decidiu pela participação na guerra, parecia que Lênin se equivocara, pois o
entusiasmo nacionalista foi muito grande. A pregação dos bolcheviques pelo não envolvimento não surtiu efeito, pois
trabalhadores e camponeses se animaram pela propaganda governamental. Era a “união sagrada”, a “defesa da mãe-
pátria”, que contava naquele momento. O sentimento antigermânico também era muito forte (esse, inclusive, era o
motivo do ódio que a população nutria pela imperatriz Alexandra, de origem germânica).

O Império Russo, no entanto, não tinha condições militares para vencer os alemães. E o desastre começou já em
maio de 1915, quando um grande ataque alemão provocou a morte de 150 mil russos e a prisão de outros 900 mil. A
Galícia, a Lituânia e a Polônia, ricas regiões do Império, foram ocupadas pelos alemães. Essa perda agravou a situação
econômica: os preços aumentaram e as pessoas que viviam de salários passaram a conviver com dificuldades enormes.
Em protesto, as greves se multiplicaram.

No dia 23 de fevereiro de 1917 (8 de março no calendário ocidental), trabalhadoras do setor de tecelagem da


capital Petrogrado (a nova denominação de São Petersburgo) entraram em greve e, em passeata,
conclamaram os metalúrgicos a aderir à paralisação). Em vários pontos da capital, milhares de
manifestantes saíram às ruas. Três dias depois, uma multidão se dirigiu à Duma cantando hinos
revolucionários e bradando: "Abaixo a autocracia!", “Abaixo a guerra!".

Os grupos revolucionários bolcheviques, mencheviques, socialistas-revolucionários e


anarquistas intensificaram suas ações. Nesse contexto, o presidente da Duma suplicou inutilmente
ao czar que atendesse a algumas reivindicações populares e formasse um novo governo. Nicolau
II ordenou que os soldados dispersassem os manifestantes, mas os oficiais se negaram a acatar a
ordem e se uniram à multidão. No dia 27, soldados e operários ocuparam o Palácio de Inverno e
em poucas horas a capital do império foi tomada pelos revolucionários. A partir de Petrogrado, a
revolução se propagou por toda a Rússia.

Sem esperar pelas decisões do Czar, a Duma elegeu um Governo Provisório, formado pelo
príncipe Lvov, por Milyukov e por Kerensky. Sentindo-se abandonado, Nicolau II optou pela abdicação. Seu irmão,
que não tinha vocação para herói de causas perdidas, recusou o trono. A família Romanov foi aprisionada. Era o fim da
autocracia no Império Russo. Na cidade de Petrogrado, operários e soldados elegeram seus representantes e formaram
um soviete, dividindo o poder com o governo menchevique.

1.4 O GOVERNO MENCHEVIQUE

Com o apoio da Duma, o príncipe Lvov chefiou o governo provisório, do qual participaram diferentes partidos,
como o menchevique e o dos socialistas revolucionários. Em julho de 1917, ante o agravamento da crise, o príncipe
Lvov demitiu-se em favor de seu ministro da Justiça, Alexander Kerensky. Os membros do governo provisório tomaram
algumas medidas importantes, como:

 redução da jornada de trabalho de doze para oito horas;


 anistia aos presos políticos e permissão para que os exilados voltassem ao país;
 garantia das liberdades fundamentais do cidadão (direitos de expressão e associação).

O novo governo não ofereceu, porém, respostas rápidas aos grandes problemas sociais que afligiam
os operários e os camponeses, como a falta de terra e alimentos. Além disso, tomaram uma medida
impopular: mantiveram a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial.

Em julho de 1917, o soviete de Petrogrado organizou uma grande manifestação, na qual os


bolcheviques, com Lênin retomando do exílio na Suíça graças à anistia política, divulgaram um
programa baseado no lema Paz, Terra e Pão. Pediam a retirada da Rússia da guerra, terra para os
camponeses e comida para a população - além de todo o poder aos sovietes. Esse levante confrontou
a autoridade do Governo Provisório, que aproveitou o fato para pôr o Partido Bolchevique na
ilegalidade e prender vários líderes. Para não ser preso, Lênin refugiou-se na
Finlândia. Parecia que a situação se acalmaria, mas o líder MANIFESTO DE OUTUBRO
desse grupo reacionário, o general Kornilov, tentou depor o O Governo Provisório foi deposto.
Governo Provisório, sem obter êxito, mas enfraquecendo a A maior parte dos seus membros já
posição de Kerensky. está presa.
O poder soviético:
Vai propor uma paz democrática
1.5 O GOVERNO BOLCHEVIQUE imediata a todas as nações e um
armistício imediato em todas as
frentes.
Com um grande número de militantes e com o apoio Vai proceder à entrega dos bens dos
de parte das forças armadas, em 7 de novembro de 1917 (25 grandes proprietários de terras, da
Coroa e da Igreja aos comitês de
de outubro, pelo calendário russo), os bolcheviques camponeses. Vai defender os
ocuparam lugares estratégicos da cidade de Petrogrado, direitos dos soldados e estabelecer
sede do governo provisório, e tomaram o poder. O líder do uma completa democracia no
Exército.
governo, Kerensky, conseguiu fugir, mas outros membros Vai instituir o controle operário da
do governo provisório foram presos. produção, assegurar a convocação
da Assembleia Constituinte na data
fixada e agir com presteza no
O poder no novo governo era exercido pelo Conselho de Comissários do sentido de abastecer as cidades de
Povo, sob o comando de Lênin. Trotsky ficou encarregado das relações pão e as aldeias de todos os gêneros
de primeira necessidade.
exteriores; Josef Stálin, dos negócios internos. O conselho tomou Vai também assegurar a todas as
imediatamente as seguintes medidas: nacionalidades da Rússia o direito
de disporem de si próprias.
O Congresso resolve transferir em
 Pedido de paz imediata - o governo da Rússia declarou todas as províncias o exercício do
unilateralmente sua retirada da Primeira Guerra Mundial! Em março de 1918, poder aos sovietes dos deputados
os membros do Conselho firmaram a paz com o governo da Alemanha, por operários, camponeses e soldados,
que devem manter a mais perfeita
meio do Tratado de Brest-Litovsk. Os bolcheviques atendiam ao desejo geral do disciplina revolucionária.
povo russo: a paz. Apesar de isso ser uma expectativa geral, muitos
bolcheviques deixaram o governo, considerando os termos do acordo humilhantes. Segundo esse acordo, o governo
bolchevique abriu mão de Finlândia, Letônia, Estônia, Lituânia, Bielo-Rússia, Ucrânia, Polônia e outros territórios. A
maior parte foi integrada ao Império Alemão, ao Império Austro-Húngaro e ao Império Turco, importante e tradicional
inimigo da Rússia.
 Confisco de propriedade privada - muitas propriedades, cerca de 150 milhões de hectares, foram confiscadas
dos nobres e da Igreja Ortodoxa, sem pagamento de indenizações, e distribuídas entre
os camponeses.
 Estatização da economia - o novo governo passou a intervir na vida
econômica do país, nacionalizando diversas empresas, como bancos e fábricas.

Após os bolcheviques tomarem o poder, foram feitas eleições para a formação


da Assembleia Constituinte. Entretanto, os bolcheviques conquistaram apenas um
quarto das cadeiras. Os socialistas revolucionários tinham a maioria. Lênin resolveu,
então, fechar a Assembleia após o início dos trabalhos. A partir daquele momento
ficou claro que os bolcheviques não intentavam construir um governo democrático,
que dialogasse com as várias forças políticas da época. Ao mesmo tempo, os sovietes
foram perdendo a autonomia e o poder decisório, transformando-se em instrumento
para referendar as decisões do governo, assim como aconteceu com os sindicatos, que também eram controlados pelos
bolcheviques. O governo instituiu ainda o confisco de cereais, em que homens armados, organizados nos chamados
destacamentos de ferro, tomavam a produção dos camponeses, gerando enorme insatisfação. Com essas medidas, os
bolcheviques se mostravam cada vez mais autoritários.

Em 1918 os bolcheviques passaram a se denominar Partido Comunista, nome que alguns anos mais tarde seria
modificado definitivamente para Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

1.6 A GUERRA CIVIL (1918-1921)

A assinatura da paz com a Alemanha permitiu ao governo bolchevique concentrar forças na defesa da revolução,
ameaçada pela oposição interna e por uma frente de potências capitalistas unidas para invadir a Rússia. A guerra civil
teve início em 1918. Do lado bolchevique, lutava o Exército Vermelho, dirigido por Leon Trotsky; do lado da
contrarrevolução, estava o Exército Branco, unindo monarquistas, aristocratas e liberais, apoiados por uma coligação de
forças ocidentais (britânicas, francesas, norte-americanas, japonesas e tchecas). Os socialistas revolucionários e os
anarquistas tentaram constituir um terceiro bloco, mas, com uma fraca base social, não tiveram êxito. A polarização
entre brancos e vermelhos eliminou outras alternativas.
A situação da Rússia, paralisada pela guerra civil e por uma crise de abastecimento nas cidades, estava à beira do
colapso. Para salvar a revolução, Lênin preparou um programa de governo radical, que ficou conhecido como
comunismo de guerra. O plano determinou o confisco dos cereais pelo governo, o congelamento dos preços e dos
salários, a suspensão dos direitos individuais e a imposição de uma severa censura à imprensa. O czar e sua família, que
estavam presos, foram executados, visando desmontar o plano de restauração monárquica.
O governo revolucionário saiu vitorioso da guerra civil, mas passou a dirigir um país arruinado. No início de
1920, recomeçaram as revoltas camponesas e, em fevereiro de 1921, eclodiram greves operárias em Petrogrado. No mês
seguinte, um episódio foi decisivo para os rumos da Revolução: os marinheiros da Fortaleza de Kronstadt - vistos como
revolucionários - apoiaram os operários em greve e lançaram um manifesto com uma série de reivindicações. Eles
exigiam democratização das instituições, voto direto e secreto para renovar os sovietes, liberdade de expressão, criação
de sindicatos livres, libertação dos presos políticos e investigação das denúncias sobre a existência de campos de
trabalhos forçados. A revolta de Kronstadt expressava o desejo de que a Revolução seguisse por outro caminho. Em
resposta, o governo exigiu a rendição incondicional dos marinheiros, ameaçando-os de aniquilamento, e atacou a base
naval em 7 de março. Após dias de combate, os marinheiros foram derrotados, com milhares de homens mortos e
feridos de ambos os lados.

Nessa época, todos os partidos políticos foram proibidos, o que deu lugar a
um regime de partido único: o Partido Comunista. Foram proibidas facções e
dissidências dentro do partido, além de serem suprimidos debates internos ou
manifestações de oposição.

Os bolcheviques acreditaram que a revolução na Rússia daria início a um


processo internacional, com movimentos similares na Europa, representando o
começo da revolução mundial. Lênin, Trotsky e o conjunto dos bolcheviques
afirmavam que a internacionalização da revolução era fundamental para o sucesso
do socialismo na Rússia. Mas nenhuma revolução socialista saiu vitoriosa na
Europa, nem mesmo a tão esperada revolução alemã. Portanto, era necessário
tomar decisões para garantir a revolução e o socialismo.

Cerca de 9 milhões de pessoas morreram em consequência direta dos conflitos ou vítimas de doenças e da fome.
A economia russa estava devastada. A produção industrial estava reduzida a 18% do que era em 1913 e a agricultura a
menos de 30%. Moscou tinha perdido quase 70% da sua população.

1.7 A NOVA POLÍTICA ECONÔMICA

Para recuperar a economia russa, o X Congresso do Partido Comunista da Rússia aprovou, em 1921, a Nova
Política Econômica, conhecida como NEP. As medidas fundamentais da NEP foram a formação de cooperativas
nacionais, a autorização para pequenas e médias empresas privadas funcionarem e a permissão para os camponeses
venderem seus produtos no mercado livre. As grandes indústrias, o sistema financeiro, os transportes e as comunicações
continuaram controlados pelo Estado.

O objetivo não era restaurar o capitalismo na Rússia, mas tomar providências urgentes que evitassem a falência
total da economia russa e salvassem o regime socialista recém-estabelecido. A ideia da NEP era desenvolver aspectos
capitalistas da economia para depois socializar a riqueza produzida. Partiu-se do pressuposto de que era necessário
estimular uma produção excedente no campo para abastecer as cidades e possibilitar o crescimento industrial da Rússia
soviética.

1.8 A URSS E A MORTE DE LÊNIN

Em 1922, foi implantada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma tentativa de contornar o
problema da desagregação da Rússia, composta de várias etnias. Negociada desde 1918, expandia o socialismo para as
muitas regiões do antigo império. As potências capitalistas procuraram isolar o novo país para impedir a propagação da
revolução para outras regiões do mundo, numa política conhecida como cordão sanitário.

Com a morte de Lênin, em 1924, o poder soviético foi disputado por Leon Trotsky, chefe do exército, e Josef
Stálin, secretário-geral do Partido Comunista. Trotsky defendia a revolução permanente, que pretendia difundir o
socialismo pelo mundo. Stálin pregava a consolidação interna da revolução, a estruturação de um Estado revolucionário
forte e a implantação do socialismo num só país, para então tentar expandir a revolução para a Europa. No XIII
Congresso do Partido Comunista (1924), Trotsky foi derrotado por uma aliança entre Stálin e importantes dirigentes
bolcheviques. O XIV Congresso do Partido Comunista (1925) aprovou a tese de consolidar primeiro o socialismo na
União Soviética, e Stálin tomou-se o principal líder soviético. Em contrapartida, Trotsky se empenhou numa luta sem
trégua contra o regime stalinista. Fundador do Exército Vermelho, principal líder do Soviete de Petrogrado durante as
revoluções de 1905 e 1917, Trotsky acabou sendo expulso do partido e exilado em 1927.

1.9 UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS (URSS)

Em dezembro de 1922, um grande congresso reunindo os diferentes povos que habitavam o território russo
fundou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Mapa da URSS de 1922. Menor, em comparação com o antigo império russo, a URSS teve os territórios perdidos como resultado da
1ª Guerra Mundial, do Tratado de Brest-Litovski, da guerra russo-polonesa 6 e da Guerra Civil russa. No início, a URSS era formada
pelas repúblicas da Rússia, Ucrânia, Rússia Branca e Transcaucásia.

2.0 A DISPUTA PELO PODER ENTRE STÁLIN E TROTSKY

Após a morte de Lênin, em 1924, teve início uma disputa pelo


poder entre Stálin e Trotsky. Stálin veio da militância de base e foi
subindo na hierarquia do partido conduzido por Lênin. Ele assumiu o
cargo de secretário-geral do PCUS em 1922. Tratava-se de uma
função importante e estratégica para o funcionamento político-
administrativo do sistema soviético. Trotsky, por sua vez, era um
grande líder político; teve papel de destaque na Revolução de 1917 e
comandou o Exército Vermelho durante a guerra civil. Mas sua
liderança carismática acabou gerando, entre os membros do partido,
o receio de que ele se tomasse um ditador.

Trotsky e seu grupo defendiam que a revolução socialista


deveria ser levada à Europa e ao mundo. Assim, o socialismo seria
construído em escala internacional, como parte da revolução da
classe proletária mundial, e não apenas de um país. Essa era a tese da
chamada revolução permanente. Stálin e seu grupo defendiam que a
revolução socialista deveria se consolidar primeiro na União
Soviética. Defendiam a construção do socialismo em um só país. A tese stalinista foi aprovada no XIV Congresso do
Partido, em 1925.

Dois anos depois, Trotsky foi expulso do partido e, em 1929, banido do país. A vitória de Stálin inaugurou uma
fase marcada por autoritarismo, perseguição, repressão política e assassinato de seus opositores.

2.1 A DITADURA DE STÁLIN

Para Stálin, a “construção do socialismo” no país exigia duas medidas: acabar com a propriedade camponesa da
terra e industrializar o país. Os recursos para investir na industrialização viriam da exportação de alimentos e de
impostos cobrados dos camponeses.

6
A Guerra Polonesa-Soviética foi um conflito armado envolvendo a Rússia Soviética e a Polônia de fevereiro de 1919 a março de
1921. Muito desconhecida porém muito importante, consulte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra Polaco-Soviética
A ascensão da ditadura stalinista foi favorecida por uma crise da
NEP. Em 1927, o abastecimento de alimentos não correspondeu às
expectativas do governo, provocando novamente o fantasma do
desabastecimento nas cidades. No campo, os produtores estocavam seus
excedentes e diminuíam a área semeada. No início de 1928, o governo
soviético estabeleceu "medidas extraordinárias” para obrigar os
camponeses a entregar os grãos estocados. O governo de Stálin implantou
o Primeiro Plano Quinquenal7. No campo, isso significava a coletivização,
com a eliminação dos kulaks - proprietários rurais que tinham no máximo Gulags eram campos de trabalho
10 hectares de terra e alguns animais, como cavalos e vacas, e eram forçado da ex-União Soviética
responsáveis por grande (URSS), criados após a Revolução
parte da produção agrícola da URSS. A mão de obra era familiar, Comunista de 1917 para abrigar
acrescida de um ou dois trabalhadores assalariados. Em janeiro de 1930, criminosos e '‘inimigos” do Estado.
Gulag era uma sigla, em russo, para
os kulaks foram obrigados a entregar suas terras, onde seriam formadas as “Administração Central dos Campos”,
fazendas coletivas estatais. Foram criados os sovkhozes (fazendas estatais) que se espalhavam por todo o país. Os
e os kolkhozes (fazendas coletivas). Milhões de camponeses perderam maiores gulags ficavam em regiões
suas terras e foram obrigados a trabalhar nas fazendas pertencentes ao geográficas quase inacessíveis e com
Estado. O resultado imediato foi a queda brusca da produção agrícola, que condições climáticas extremas.
nunca se recuperou, apresentando números sempre abaixo dos anteriores à
A combinação de isolamento, frio
coletivização. Em 1932 e 1933, a URSS enfrentou uma nova onda de intenso, trabalho pesado, alimentação
fome. mínima e condições sanitárias quase
inexistentes elevavam as taxas de
Os que se negavam, foram assassinados ou deportados para os mortalidade entre os presos. A
campos de trabalho forçado (Gulag, sigla em russo para Administração quantidade de campos foi reduzida a
Central de Campos) em regiões remotas do território soviético. As partir de 1953, logo após a morte de
Stalin - ditador que expandiu o sistema
operações de deportação visavam fornecer os recursos humanos
de gulags nos anos 30.
necessários à colonização e exploração das imensas riquezas naturais,
existentes nesses territórios desabitados. No total, são deportadas -
frequentemente de modo caótico e precipitado - cerca de 2,8 milhões de
pessoas.

2.2 HOLODOMOR

Holodomor ou "Holocausto Ucraniano" é o nome atribuído à fome


de caráter genocida causado por Stalin, que devastou principalmente o
território da Ucrânia, durante os anos de 1932/1933. Este acontecimento -
também conhecido por Grande Fome da Ucrânia - representou um dos Gráfico representando a população carcerária dos
mais trágicos capítulos da História da Ucrânia, devido ao enorme número Gulags durante a ditadura de Stálin.
de pessoas vítimas do bloqueio de alimentos feito por Stalin à Ucrânia.
Apesar de esta fome ter igualmente afetado outras regiões da URSS
avessas ao regime stalinista, o termo Holodomor é aplicado
especificamente aos fatos ocorridos nos territórios com população de etnia
ucraniana: a Ucrânia e a região de Kuban, no Cáucaso do Norte.

O “arquipélago Gulag". A localização de todos os


campos de trabalho forçado na URSS

Mapa da fome na região sul da URSS, correspondente à Ucrânia e o norte do Cáucaso.

As primeiras estimativas do número de mortos por estudiosos e funcionários do governo variaram muito. De
acordo com estimativas mais elevadas, diz-se que até 12 milhões de ucranianos étnicos morreram em consequência da
fome. Uma declaração conjunta da ONU assinada por 25 países em 2003 declarou que 7-10 milhões morreram. De

7
Primeiro Plano Quinquenal, um dos 3 planos econômicos com o objetivo de estabelecer prioridades para a produção industrial e
agrícola do país para períodos de cinco anos.
acordo com as conclusões do Tribunal de Apelação de Kiev, em 2010, as perdas demográficas devido à fome atingiram
10 milhões, com 3,9 milhões de mortes diretas por fome e mais 6,1 milhões de déficits de nascimentos.

A comunidade internacional tem, de forma gradual, vindo a assumir posições favoráveis ao reconhecimento do
Holodomor como genocídio, ou mais genericamente, como um crime contra a Humanidade.

 Andorra  Eslováquia  Lituânia


 Argentina  Espanha  México
 Austrália  Estados Unidos  Paraguai
 Brasil  Estônia  Peru
 Canadá  Geórgia  Polônia
 Chile  Hungria  República Checa
 Colômbia  Itália  Ucrânia
 Equador  Letônia  Vaticano

Lista de países que reconhecem o Holodomor com um genocídio ou crime contra a humanidade.
2.3 A INDUSTRIALIZAÇÃO

A coletivização do campo deu início à segunda etapa da “construção do socialismo”: a industrialização acelerada.
Nesse aspecto, os resultados foram muito positivos. Os investimentos voltaram-se prioritariamente para a produção de
matérias-primas e de fontes de energia, estimulando a produção de ferro, aço, carvão e petróleo. Grandes siderúrgicas e
hidrelétricas foram construídas, como também canais, ferrovias, fábricas de tratores e de automóveis e o metrô de
Moscou.

Os números da industrialização soviética são de fato grandiosos. Por exemplo, entre 1928 e 1940, o setor elétrico
cresceu de 5 bilhões de kWh para 48,3 bilhões, enquanto a produção de aço passou de 4,3 milhões de toneladas para
18,3 milhões. Ao final dos anos 1930, a URSS se tomou um país industrializado, capaz de produzir máquinas, turbinas,
tratores, aviões etc.

O financiamento para a industrialização foi obtido com os impostos cobrados dos camponeses e, principalmente,
com a venda de trigo e outros bens primários para o Ocidente. Mesmo com uma população carente de alimentos, o país
exportava produtos agrícolas para obter recursos usados na importação de máquinas, equipamentos e tecnologia para a
construção das fábricas. Na década de 1930, mais da metade das exportações inglesas e norte-americanas de máquinas e
de tecnologia era destinada à URSS.

O modelo de industrialização soviético foi, sem dúvida, um sucesso e deu origem a um sistema industrial que
produzia em grandes quantidades. Porém, como a prioridade dos investimentos ocorreu na indústria pesada, não havia
incentivo ao setor de bens de consumo, que foi relegado a segundo plano. Assim, a indústria soviética não era capaz de
atender às necessidades básicas de bens de consumo da população.

2.4 O GRANDE TERROR

Alegando que existiam inimigos infiltrados no partido, Stalin deu início a um traumático processo conhecido
como Grande Terror. Em 1936, começaram as perseguições em massa e os expurgos no partido e do exército 8. Durante
8
Na luta pela consolidação do poder, Stalin liquidou cerca de dois terços dos quadros do Partido Comunista da URSS, e ao menos
45.000 oficiais das forças armadas. O expurgo do Exército Vermelho e da Marinha Soviética afetou pesadamente a alta hierarquia
militar, removendo três dos cinco marechais (então equivalente a generais de cinco estrelas), 13 dos 15 comandantes do exército
(então equivalente a generais de três e quatro estrelas), oito dos nove almirantes (o expurgo caiu pesadamente sobre a Marinha, que
era suspeita de explorar as suas oportunidades de contatos com estrangeiros), 50 dos 57 comandantes de corpo do exército e 154 dos
186 comandantes de divisão. Em dois anos 45.000 oficias e comissários políticos militares foram presos sendo quinze mil deles
executados. Dos 139 membros dirigentes do Partido Comunista 98 foram executados. De acordo com os arquivos soviéticos durante
1937 e 1938, a polícia secreta da NKVD deteve 1.548.366 pessoas, das quais 681.692 foram executadas, uma média de mil
os dois anos seguintes foram instaurados os chamados Processos de Moscou, incriminando líderes bolcheviques que
participaram da Revolução de 1917. Vítimas de torturas e
chantagens, eles confessaram crimes que não cometeram.
Todos foram fuzilados.
Líderes bolcheviques reunidos em um Congresso em 1920. Sentado
(da esquerda): Mikhail Kalinin, Nikolai Bukharin, Mikhail Tomsky,
Mikhail Lashevich, Lev Kamenev, Evgeny Preobrazhensky, Leonid
Serebryakov, Vladimir Lenin e Alexei Rykov.
Os marcados com X na testa foram mortos à mando de Stálin na
década de 1930.

As perseguições contra os opositores cresceram e


culminaram com centenas de milhares de pessoas presas sob
acusações de espionagem, assassinatos, terrorismo,
sabotagens. O Grande Terror voltou-se especialmente contra os membros do Partido Comunista, atingindo, inclusive, as
Forças Armadas.
2.5 STALIN E O MODELO DE SOCIALISMO SOVIÉTICO

Apesar da violência e dos traumas gerados pelo Grande Terror, o poder que Stalin alcançou não pode ser
explicado apenas pela repressão. Outros fatores devem ser considerados, em especial a melhoria do nível de vida da
população russa.

Em 1928, havia 12 milhões de estudantes; em 1938, esse número chegou a 31,5


milhões. Antes da Revolução Russa, havia no país 20 mil médicos; em 1937, eles eram
105 mil. Também antes da Revolução, as bibliotecas públicas possuíam 640 livros para
cada 10 mil habitantes; em 1939, passaram a ter 8.600 livros para o mesmo número de
habitantes.

Com amplo apoio social, o Estado começou a produzir eloquente propaganda


enaltecendo Stalin. Sobretudo a partir de 1939, a propaganda chegou ao apogeu - Stalin
era chamado de “guia genial dos povos”, “construtor do socialismo”, “pai dos povos”,
“guia do proletariado mundial”, “melhor amigo das crianças”, “maior gênio militar de
todos os tempos” e “locomotiva da História”.

O HOMEM DE AÇO

Stálin é o pseudônimo de Josef Vissarionovitch Djugatchvili, nascido em Gori, na


Geórgia, no dia 18 de dezembro de 1878. Filho de um sapateiro e de uma costureira, foi
seminarista quando adolescente. Em 1899 foi expulso do seminário e iniciou sua
militância anticzarista e revolucionária. Entre os anos de 1902 e 1913, ele foi preso e
exilado seis vezes. Em 1917, Stalin participou da Revolução Russa, ao lado de Lenin e
teve importante papel na guerra civil, que desagregou o regime czarista. Depois da vitória
do movimento, Lenin chefiou o governo até sua morte, em 1924. O poder soviético foi
então disputado por Leon Trotsky, chefe do exército, e Stalin, secretário-geral do Partido
Comunista da União Soviética. Stálin, que pregava a consolidação interna da revolução, a
estruturação de um estado forte e a implantação do socialismo num só país, para depois
tentar expandir a revolução para a Europa, saiu vitorioso. A organização burocrática do
Partido Comunista deu a Stálin o controle da máquina do governo. Com o apoio dos
presidentes dos sovietes de Leningrado (Zinoviev) e de Moscou (Kamenev), Stalin
obrigou Trotsky a demitir-se do cargo de comissário da Guerra e deixar o país, exilando-se
na Turquia.

A partir de 1928, a economia soviética, sob o comando de Stálin, viveu a socialização total, com a abolição da
NEP, política adotada por Lênin, e a instauração dos “planos quinquenais”. Elaborados pela Gosplan, órgão encarregado
da planificação econômica, que objetivavam modernizar e industrializar a União Soviética. Nacionalista ferrenho e
autoritário, mais atento aos interesses da União Soviética e do poder pessoal do que aos princípios ideológicos do
comunismo, logo exercia o poder supremo no país. O primeiro plano (1928-1933) buscou o aumento da produção de
maneira global, estimulando a industrialização, sobretudo da siderurgia e maquinaria. No meio rural foi instalada a
coletivização agrícola implantando-se as fazendas estatais e as cooperativas, processo que levou à morte milhões de
camponeses. Com o segundo plano quinquenal, na década de 30, a indústria pesada ainda era prioridade e mostrava

execuções por dia.


grande progresso. Teve início a implantação da indústria produtora de bens de consumo. O terceiro plano quinquenal,
iniciado em 1938, visava desenvolver a indústria especializada, especialmente a
química mas não pode ser colocado em execução graças a explosão da Segunda
Guerra Mundial.

Stalin levou adiante uma intensa política de centralização do poder.


Usando métodos de extrema violência reafirmou sua autoridade ao afastar todos
os potenciais opositores por meio de julgamentos, condenações, expulsões do
partido e punições, em processos que ficaram conhecidos como “expurgos de
Moscou”. Antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) sem alarde, inúmeros líderes políticos e
cidadãos comuns foram aprisionados, executados ou mandados para prisões em regiões remotas da Sibéria. Em 1940,
Trotsky, que estava exilado no México, mas continuava fazendo oposição ao governo stalinista, foi assassinado a mando
de Stálin. Com um governo forte e uma economia em crescente desenvolvimento, a URSS começou a se transformar em
potência que teve papel decisivo na II Guerra Mundial o que a levou a dividiu o poder global com os Estados Unidos
durante a Guerra Fria. Stalin faleceu em Moscou, União Soviética, no dia 5 de março de 1953.

3. OS ESTADOS UNIDOS NOS ANOS 1920 E 1930: DO SUCESSO ECONÔMICO À GRANDE DEPRESSÃO

Terminada a Primeira Guerra Mundial, em 1918, os Estados Unidos transformaram-


se no motor do capitalismo mundial: de maior devedor (3 bilhões de dólares), o país passou
à invejável posição de maior credor mundial (11 bilhões de dólares). Mais que isso: os
Estados Unidos, que em 1918 já eram responsáveis por mais de um terço da produção
industrial mundial, em 1929 passaram para mais de 42%.

A década de 1920 foi - para os habitantes dos Estados Unidos - um período de


crescimento econômico e de aumento da produção e do consumo. Existia então grande
euforia com a possibilidade de comprar e usar bens até então inacessíveis. Consolidava-se
o que ficou conhecido como American way of life (estilo de vida americano). Esse cenário resultou de diversos fatores.
O país dispunha de petróleo, carvão e eletricidade para impulsionar a industrialização. Possuía ainda farta força de
trabalho, garantida pela intensa imigração. E também novas tecnologias e conhecimentos que, aplicados às indústrias,
impulsionavam a produção.

3.1 AUMENTANDO A PRODUÇÃO: O TAYLORISMO E O


FORDISMO

A expressão “taylorismo” tem origem no nome do engenheiro


estadunidense Frederick Taylor. Ele formulou métodos de trabalho nas
fábricas para que o operário produzisse mais em menor tempo. Para Taylor,
o operário deveria ser especializado em uma única função, como apertar
determinado parafuso de uma peça.

Os operários se revoltaram contra os métodos tayloristas. Eles se


recusaram a perder sua capacidade profissional. Mas os métodos de Taylor foram incorporados pelas indústrias e não
havia como retomar às antigas formas de trabalho. A produção em massa de mercadorias ampliou-se de forma
significativa: montava-se um veículo em apenas 93 minutos, diante do ritmo alucinante de trabalho imposto aos
operários. Sem aumentar o número de trabalhadores, as indústrias norte-americanas conseguiam ampliar sua capacidade
de produção e colocar à disposição do consumidor uma quantidade enorme de produtos.

Um dos industriais que adotou o método taylorista foi Henry Ford, dono de uma indústria de automóveis.
Adaptando as ideias de Taylor, Ford criou uma longa esteira rolante com operários dispostos ao longo dela. A peça
passava pelos operários sobre a esteira e cada um tinha sua função. Ao final da esteira, o automóvel estava pronto. Ford
havia inventado a linha de montagem e, como resultado, sua fábrica passou a produzir mais automóveis em tempo muito
menor. O Ford T - automóvel mais popular e barato - tomou-se símbolo desse novo mundo de consumo. Na primeira
década do século XX, existiam apenas 4 mil desse modelo rodando pelos Estados Unidos. Em 1929, os números
chegavam a quase 5 milhões. Segundo dados, 78% dos automóveis existentes no mundo, nessa época, estavam nos
Estados Unidos.

3.2 ANOS 1920: EUFORIA E PROBLEMAS


Henry Ford
A prosperidade dos anos 1920 era crescente. Havia grande euforia na sociedade estadunidense, pois acreditava-se
que a riqueza chegaria para todos. Mas havia distorções e problemas graves na economia que não foram percebidos.
O primeiro problema era a má distribuição da renda. Um terço da renda norte-americana concentrava-se em apenas
5% da população. As classes médias melhoravam cada vez mais seu padrão de vida e faziam compras por crediário.
Enquanto isso, os trabalhadores, a grande maioria, ganhavam cada vez menos. Assim, parcela significativa das
mercadorias deixava de ser consumida internamente. A dificuldade para expandir o consumo interno, enquanto a
produção do país aumentava, resultou numa grande estocagem de mercadorias.
O segundo problema na economia dos Estados Unidos era o
controle do mercado por grandes empresas. Em 1929, uma única
empresa produzia 32% de todo o aço do mundo. O resultado é que
muitos ramos da indústria e do comércio eram controlados por
poucas empresas. No mesmo ano, 200 grandes grupos capitalistas
controlavam 38% das empresas do país.
O aumento do número de investidores e do volume de
investimentos, contudo, tinha um limite físico. O mercado interno
limitado e o externo arrasado pela Primeira Guerra Mundial, com os
países europeus procurando recuperar sua produtividade,
completavam o quadro econômico. A superprodução sem
escoamento, gerando uma estocagem cada vez maior devido ao
subconsumo, levou a especulação financeira ao limite. Ou seja, o valor das ações estava muito acima de seu valor real,
baseado apenas na confiança de que esses papéis continuariam valorizados e não em lucros das vendas da produção.

A crise explodiu em 24 de outubro de 1929, a chamada Quinta-Feira Negra, quando muitas pessoas tentaram
vender suas ações e não encontraram compradores, o que provocou uma redução drástica dos preços. Os investidores,
atemorizados, tentavam livrar-se dos papéis, originando uma avalanche de ofertas de ações, que derrubou ainda mais
velozmente os preços, arruinando a todos. Do dia para a noite, prósperos empresários passaram a ser donos de papéis
sem nenhum valor - e mais de uma dezena deles cometeu suicídio. A desordem econômica atingiu profundamente toda a
sociedade estadunidense: 85 mil empresas faliram, 4 mil bancos fecharam e as demissões de trabalhadores alcançaram
um total aproximado de 12 milhões.

3.3 A GRANDE DEPRESSÃO

A crise nos Estados Unidos se espalhou por todos os países integrados ao mercado internacional, como os da
Europa e da América Latina. Nos Estados Unidos, a quebra da Bolsa foi seguida pela falência de milhares de empresas,
desemprego em massa e queda nos preços das mercadorias. Em pânico, a população retirou seu dinheiro dos bancos,
resultando na falência de milhares deles. Em 1929 havia cerca de 25 mil bancos no país. Em 1933 sobraram 15 mil. Os
fazendeiros já vinham enfrentando dificuldades com a queda dos preços dos produtos agrícolas antes da quebra da Bolsa
de Nova York. Após a crise, os preços caíram ainda mais e eles não tinham como pagar suas dívidas com os bancos.
Cerca de um terço dos proprietários rurais perderam suas terras para os banqueiros.

O presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover, era adepto do liberalismo econômico e negou-se a intervir na
economia. Ele acreditava que as leis de mercado resolveriam o problema. Ao nada fazer, a crise econômica se agravou.
O país mergulhou na depressão econômica. Entre o início da crise em outubro de 1929 até 1932, a produção industrial
recuou 46% e os preços caíram pela metade, prejudicando ainda mais as empresas e gerando mais falências e
desemprego. Cerca de 15 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Sem rendimentos, os desempregados não
podiam comprar e os que tinham emprego guardavam seu
dinheiro. Sem consumo, as empresas não vendiam suas
mercadorias. Para reduzir os custos de produção, elas
diminuíam o número de empregados, o que piorava a situação e
resultava em mais desemprego.

3.4 O NEW DEAL (NOVO PACTO)

Nas eleições presidenciais de 1932, o vencedor foi o


candidato Franklin Delano Roosevelt, do Partido Democrata.
O novo presidente reuniu um grupo de notáveis economistas
para assessorá-lo, e eles reconheceram a necessidade da
intervenção do governo na economia, abandonando o
liberalismo econômico. Era o New Deal, o “novo pacto”. O governo deveria intervir na economia para criar empregos.
Assim, os trabalhadores teriam poder de compra, consumindo mercadorias, e as fábricas voltariam às suas atividades
produtivas. A primeira medida do governo foi garantir o funcionamento dos bancos que não faliram. Para evitar o
retomo da especulação desenfreada, estabeleceu regras rígidas para os setores bancário e financeiro, bem como para as
bolsas de valores. Pelas rádios, Roosevelt incentivou a população a depositar novamente seu dinheiro nos bancos. Com
isso, garantiu, ainda que precariamente, o funcionamento do sistema bancário. Para criar empregos, Roosevelt convocou
jovens para trabalhos de reflorestamento. Depois contratou empresas para construção e conservação de obras públicas:
estradas, pontes, praças, prédios públicos, entre outras. O governo pagava a uma empresa para realizar a obra pública. O
empresário, por sua vez, contratava trabalhadores. Com essas medidas, Franklin Roosevelt abandonou o liberalismo
econômico. O governo passou a intervir diretamente na economia. Seu objetivo era capitalizar as empresas e criar
empregos. Com salários, os trabalhadores poderiam comprar produtos e reativar a economia.

3.5 A RECUPERAÇÃO

Os economistas do governo compreenderam que eram os gastos em investimentos e obras públicas e a criação de
empregos que estavam recuperando a economia do país. Assim, Franklin Roosevelt retomou o New Deal em 1936 com
mais determinação. Os gastos públicos aumentaram consideravelmente. Mesmo assim, em 1938 havia 10 milhões de
pessoas desempregadas. Os Estados Unidos somente superaram a Grande Depressão com a eclosão da Segunda Guerra
Mundial, em 1939. As fábricas estadunidenses passaram a produzir e vender tanques, aviões, armamentos e munições
para o Reino Unido e a França.
4. OS FASCISMOS - INTRODUÇÃO

Assim que a Primeira Guerra terminou, em 1918, principalmente nos países perdedores (Alemanha e os novos
Estados formados com o desmembramento da Áustria-Hungria), as dificuldades econômicas, as perdas humanas e
materiais e a instabilidade política pareciam reunir as condições favoráveis para uma revolução socialista, como a que
havia eclodido na Rússia em 1917. Para a grande burguesia e alguns setores da classe média, o “perigo bolchevique”
estava chegando ao Ocidente.

Evidências dessa ameaça não faltavam: na Alemanha, em 1918, uma revolução levou à queda do império; no ano
seguinte, na Hungria, nasceu a República Húngara dos Conselhos, organizada no modelo bolchevique russo. No
entanto, o perigo do comunismo foi logo afastado. A revolução foi derrotada na Alemanha e, na Hungria, uma aliança
de tropas contrarrevolucionárias, lideradas pela França e pela Romênia, depôs o governo revolucionário húngaro após
133 dias no poder. A derrota das duas revoluções, o isolamento da União Soviética e os primeiros sinais de recuperação
da economia europeia pareciam indicar que a estabilidade política e social tinha sido restabelecida e as democracias
liberais europeias estavam novamente seguras.

O cenário de estabilidade, porém, mudaria


completamente com a crise de 1929 e os efeitos que ela
produziu na economia europeia. Os capitais norte- BENITO MUSSOLINI
americanos investidos na recuperação dos países
europeus afetados pela guerra foram reduzidos
drasticamente. A instabilidade política e econômica, os
ressentimentos gerados pelos tratados de paz, o
sentimento de revanchismo, a rivalidade entre as nações e
o desemprego auxiliaram na escalada de movimentos
políticos autoritários e totalitários em várias partes do
Benito Amilcare Andrea Mussolini (29 de julho de 1883 -
mundo. Apesar de ambos os regimes serem 28 de abril de 1945) viveu os seus primeiros anos de vida
caracterizados pelo abuso do poder por parte do Estado, numa pequena vila na província, numa família humilde.
eles possuem algumas diferenças. Seu pai, Alessandro Mussolini, era um ferreiro e um
fervoroso socialista, e sua mãe, Rosa Maltoni, uma
humilde professora primária, era a principal provedora da
O totalitarismo se caracteriza pela máxima família. Tal como o seu pai, Benito tornou-se um
intervenção do governo na sociedade, pelo socialista.
ultranacionalismo e pela centralização do poder do Em 1901 tornou-se professor primário e em 1902 emigrou
Estado na figura de um líder. Nos regimes totalitários, os para a Suíça em parte para evitar o serviço militar. Ele
governos de partido único impõem uma ideologia e todos trabalhou brevemente como pedreiro em Genebra,
os opositores são perseguidos como inimigos nacionais; Friburgo e Berna, mas não conseguiu encontrar um
emprego permanente. Nos anos anteriores à 1ª Guerra
as relações sociais são reguladas pelo Estado, assim como
trabalhou como jornalista em jornais socialistas, serviu ao
os meios de comunicação, e o cotidiano é rigidamente exército italiano e voltou a lecionar em escolas.
policiado. Consideram-se totalitários apenas os governos Com o início da guerra foi expulso do partido socialista
da Alemanha nazista, da União Soviética stalinista, da por apoiar a participação da Itália no conflito. Na guerra,
Itália fascista e o da China maoísta. totalizou cerca de nove meses de guerra de trincheiras de
linha de frente ativa. Durante esse tempo, ele contraiu
Já o autoritarismo é um regime de governo febre paratifoide. Suas façanhas militares terminaram em
1917, quando ele foi ferido pela explosão de uma bomba
antidemocrático, caracterizado pelo abuso da autoridade e de morteiro em sua trincheira. Ele ficou com pelo menos
do poder e pela ausência de liberdade. Contudo, nos 40 fragmentos de metal em seu corpo. Ele recebeu alta do
regimes autoritários o controle do Estado é menos hospital em agosto de 1917 e retomou sua posição de
editor-chefe em seu novo jornal, Il Popolo d'Italia .
abrangente do que nos regimes totalitários. Assim, todos os regimes totalitários são
autoritários, porém os regimes autoritários nem sempre são totalitários.

4.1 O FASCISMO ITALIANO

A economia italiana teve um enorme impulso durante a Primeira Guerra Mundial.


Estimulada pela indústria de armamentos, a produção de aço e ferro, por exemplo, elevou-se de
200 mil toneladas por ano para 1 milhão de toneladas entre 1915 e 1917. Após 1918, no
entanto, a Itália encontrava-se numa situação crítica, apesar de pertencer ao bloco vitorioso da
guerra. Além das perdas humanas (500 mil mortos e 400 mil mutilados) e materiais, o orgulho
nacional saiu humilhado dos campos de batalha; as pretensões expansionistas que motivaram a
entrada da Itália na guerra não haviam sido plenamente atendidas; o país estava mergulhado na
retração econômica, com milhares de desempregados e muitas agitações sociais.

A estagnação econômica e o crescimento das forças de esquerda


levaram o Partido Socialista a ter 216 mil membros em 1920. Nesse ano, O FASCISTA
a Itália assistiu a um amplo movimento de ocupação de fábricas, com a 1. agradece a Deus por ter nascido
formação de conselhos operários nas unidades produtivas. No ano italiano
2. crê na religião dos Mártires e dos
seguinte, surgiu o Partido Comunista, a partir de uma cisão entre os Heróis
socialistas. O avanço das propostas socialistas, influenciadas pela 3. aspira à Pátria como uma recompensa
Revolução Russa, e a crise social, gerada pelas consequências da guerra, ao mérito
abriram espaço para a fundação dos Fasci Italiani di Combattimento, 4. crê na universalidade da ideia fascista
5. detesta a felicidade do ventre e
grupos paramilitares liderados por Benito Mussolini. desdenha a vida cômoda
4.2 O SIGNIFICADO DO TERMO FASCISMO 6. desconsidera o perigo e busca a luta
7. considera o trabalho um dever e o
O termo fascismo vem do italiano fascio, que significa "feixe". dever uma lei
No antigo Império Romano, o fascio era utilizado para abrir caminho 8. considera o sacrifício uma necessidade
e a obediência uma alegria
aos magistrados. Era formado por um feixe de varas, que simbolizava a 9. concebe a vida como um esforço
união, no qual se amarrava um machado, representação da autoridade contínuo de superação e de conquista
dos magistrados, que podiam julgar e decidir sobre a vida ou a morte 10. está pronto para todo sacrifício,
dos réus. Por isso, tornou-se um símbolo associado ao poder. mesmo ao sacrifício supremo, contanto
que o DUCE triunfe em seus ideais.
Além do fascio, Mussolini utilizou outros elementos da história
de Roma como simbologia do movimento. Um dos principais objetivos
de tal associação era criar um forte vínculo político e ideológico entre o
povo, o partido e o passado italiano.

4.3 – O COMBATE A ESQUERDA E O ASCENSÃO AO PODER

Em 1922, Mussolini e seu grupo atacavam violentamente as


organizações operárias e socialistas. Os fascistas contavam com apoio
financeiro dos principais latifundiários, comerciantes, banqueiros e
industriais italianos, que aderiram ao fascismo para impedir o avanço da
revolução socialista. Em outubro de 1922, os fascistas promoveram a chamada “Marcha sobre Roma”. Nela, exigiam a
entrega do poder para Mussolini. O rei, pressionado, convocou o líder fascista (a partir daí conhecido como o Duce, “o
Condutor”) a ocupar o cargo de primeiro-ministro.

4.4 O FASCISMO NO PODER

Depois de tomar o poder, Mussolini iniciou uma intensa repressão aos partidos e lideranças de oposição. Assim
conseguiram 65% dos votos nas eleições parlamentares de 1924. Entre 1925 e 1927, o governo fascista controlou a
política italiana e reorganizou o mercado de trabalho, interferindo decisivamente nas relações entre patrões e
empregados. A estrutura sindical passou a obedecer aos princípios corporativistas, com base nos quais a sociedade é
organizada como um corpo orgânico e coeso, e seus membros são vistos conforme princípios hierárquicos. Os
sindicatos ficaram sob o comando fascista e as greves foram proibidas, em nome dos interesses nacionais. Na prática,
isso significava subordinar os trabalhadores às condições de trabalho e remuneração impostas pelos patrões. A Carta
del Lavoro (Carta do Trabalho), promulgada em 1927, consolidou a legislação trabalhista com essa concepção, que
previa um total de 22 corporações de patrões e trabalhadores. Um Grande Conselho Fascista foi formado. Esse órgão
passou, então, a controlar o sistema político e jurídico italiano. Em 1939, a Câmara dos Deputados foi dissolvida e
substituída pela Câmara dos Fascios e das Corporações.
Na área econômica, a política fiscal protecionista estimulou a indústria de bens de consumo, fortalecendo o
mercado interno. Com isso, a Itália sofreu menos com a crise de 1929, embora o desemprego tenha aumentado. Com
uma forte política de obras públicas conjugada à redução dos salários, o desemprego voltou a baixar em 1935. A criação
do Instituto para a Reconstrução Industrial, em 1933, deu impulso aos setores siderúrgico, mecânico e de construção
naval, ampliando o número de empregos. O governo Mussolini deteve a importação de alimentos e, no campo, buscou a
autossuficiência na produção de cereais e favoreceu as pequenas propriedades e os sistemas de parceria.

A recuperação econômica da Itália foi significativa, mas não eliminou o desequilíbrio entre o norte e o sul e se
fez, em grande parte, à base do arrocho salarial. Em 1939, a renda per capita italiana era um terço da inglesa e metade da
francesa.

4.5 POLÍTICA EXTERNA E IMPERIALISMO


REVOLTA ESPARTAQUISTA
Mussolini iniciou o processo de expansão imperialista do
Estado italiano ao determinar a conquista das colônias na região do Em 1919, inspirada na Revolução Russa
ocorrida dois anos antes, a esquerda
Mediterrâneo, consolidar a dominação colonial italiana na Líbia e revolucionária, organizada em torno da
invadir a Etiópia (Abissínia). Após uma longa guerra contra as Liga Espartaquista (que se tornaria o
resistências locais, os exércitos italianos acabaram por subjugar Partido Comunista Alemão) promoveu
ambos os países. Entre 1936 e 1939, os fascistas se aproximaram do um levante para tomar o poder.
governo nazista alemão, estabelecendo o Pacto Antikomintern Liderada por Rosa Luxemburgo e Karl
(anticomunista) e lançando as bases da aliança militar denominada Liebknecht, a Liga foi reprimida e, em
Eixo Roma-Berlim. Berlim, a revolução foi derrotada e seus
5 – ANTECEDENTES DO NACIONAL-SOCIALISMO líderes assassinados. Em Munique, os
comunistas conseguiram se manter por
ALEMÃO algum tempo no poder. Na violenta
repressão aos revolucionários se
Ao final de setembro de 1918, o Supremo Comando do Império destacaram os Freikorps, que,
Alemão percebeu que as Potências Centrais não iriam mais ganhar a financiados pela grande burguesia,
agiram sob a proteção do governo
Grande Guerra. Com o Armistício de Tessalônica, assinado no dia 29 socialdemocrata na contenção do
de setembro de 1918, a Bulgária saía da guerra, deixando os impérios levante comunista.
Austro-Húngaro e Otomano vulneráveis. Os comandantes alemães,
então, propuseram ao imperador Guilherme II o caminho que a
Alemanha deveria fazer para conseguirem um armistício. No dia 30 de outubro de 1918, o Império Otomano realiza um
acordo de paz com os Aliados com o Armistício de Mudros. No dia 3 de novembro de 1918, a Áustria-Hungria também
realiza um armistício com os Aliados, o Armistício de Villa Giusti, após a sua derrota na Batalha de Vittorio Veneto,
frente aos italianos. A partir desse momento, os alemães estavam sozinhos contra os seus inimigos.

A república alemã foi proclamada em 9 de novembro de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, e foi resultado
de uma revolução conduzida por socialistas e liberais que obrigou o Kaiser (imperador) Guilherme II a abdicar do
trono9. Os revolucionários, inspirados pelas ideias socialistas, não entregaram o poder a conselhos de operários e
soldados, como fizeram os bolcheviques na Rússia, porque a direção do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
se opôs a isso. O SPD optou por uma assembleia nacional que formaria a base para um sistema parlamentar de governo.
Temendo uma guerra civil total na Alemanha entre trabalhadores militantes e conservadores reacionários, o SPD
planejou não retirou das antigas classes superiores alemãs seu poder e privilégios. Em vez disso, procurou integrá-los no
novo sistema socialdemocrata. Nesse esforço, os esquerdistas do SPD buscaram uma aliança com o Supremo Comando
Alemão. Isso permitiu que o exército e os Freikorps (“corpos livres” milícias armadas nacionalistas compostas
principalmente por ex-soldados) reprimissem à força a revolta espartaquista comunista de 4 a 15 de janeiro de 1919. A
mesma aliança de forças políticas conseguiu suprimir as revoltas da esquerda em outras partes da Alemanha, com o
resultado de que o país estava completamente pacificado no final de 1919.

9
As raízes da revolução estavam na certa derrota do Império Alemão na 1ª Guerra Mundial e nas tensões sociais que vieram à tona
pouco depois. Os primeiros atos de revolução foram desencadeados pelas políticas do Comando Naval alemão. Diante da provável
derrota, o Comando Naval insistiu em tentar precipitar uma batalha com a Marinha Real Britânica por meio de sua ordem naval de
24 de outubro de 1918. A batalha nunca aconteceu. Em vez de obedecer às ordens de começar os preparativos para combater os
britânicos, os marinheiros alemães lideraram uma revolta nos portos navais de Wilhelmshaven em 29 de outubro de 1918, seguida
pela rebelião de Kiel, nos primeiros dias de novembro. Esses distúrbios espalharam o espírito de revolta civil pela Alemanha e
acabaram levando à proclamação de uma república em 9 de novembro de 1918. Pouco tempo depois, o imperador Guilherme II
abdicou do seu trono e fugiu do país. O período revolucionário durou de novembro de 1918 até a adoção, em agosto de 1919, da
Constituição de Weimar.
Além dos problemas internos, o novo governo tratou logo de pôr fim à guerra e negociar a paz com os
vencedores10. Em 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes, que encerrava a guerra de forma definitiva. A assinatura do
documento, que estabelecia pesadas exigências, causou forte impacto moral na população alemã. O tratado declarou
como únicos responsáveis pelo início da guerra eram a Alemanha e seus aliados e comprometeu-os a fazer cessões
territoriais, desarmarem-se e pagarem indenizações aos vitoriosos. Após um ultimato, a Alemanha assinou o tratado em
28 de junho de 1919 no Salão dos Espelhos de Versalhes, Após a ratificação e troca de documentos, entrou em vigor em
10 de janeiro de 1920. Por causa de suas condições duras e do modo como surgiu, o tratado foi percebido pela maioria
dos alemães como ilegítimo e humilhante, preparando o terreno para discursos extremistas.

Outros tratados com os perdedores se seguiram: em 10 de setembro de 1919, o Tratado de Saint-Germain com a
Áustria alemã, em 27 de novembro de 1919, o Tratado de Neuilly-sur-Seine com a Bulgária, em 4 de junho de 1920, o
Tratado de Trianon com a Hungria e em 10 de agosto de 1920 o Tratado de Sèvres com o Império Otomano.
Perdas territoriais alemãs na Europa.

O Tratado de Versalhes
O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado
pelas potências europeias que encerrou oficialmente a Primeira
Guerra Mundial, sendo que a Alemanha o classificou como diktat
(imposição). Após seis meses de negociações, em Paris, o tratado foi
assinado como uma continuação do armistício de novembro de 1918,
que tinha posto um fim aos confrontos. O principal ponto do tratado
determinava que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades
por causar a guerra e que, sob os termos dos artigos 231-247, fizesse
reparações a um certo número de nações da Tríplice Entente. Em
1921, o custo total dessas reparações foi avaliado em 132 bilhões de
marcos (então 31,4 bilhões de dólares, equivalentes a 442 bilhões de
dólares ou 1 trilhão e 669 bilhões de reais em 2019). Os termos
impostos à Alemanha também incluíam a perda de parte de seu
território para nações fronteiriças, de todas as suas colônias e
restrição ao tamanho das suas forças armadas. A Alemanha também
aceitou reconhecer a independência da Áustria, já que esta, com o
fim do seu império, tentou unir-se à Alemanha.

A fim de efetuar os pagamentos estabelecidos pelo Tratado de


Versalhes, que se prolongariam por cem anos após o conflito, o governo da
agora República de Weimar11 assumiu enormes dívidas, principalmente com
os Estados Unidos. Essa situação deixou a economia alemã extremamente
frágil e dependente dos capitais estrangeiros.

Os problemas econômicos da Alemanha no início dos anos 1920


acirraram os problemas sociais: desemprego, concentração de renda,
empobrecimento da classe média e das classes trabalhadoras. A república
enfrentava oposição da esquerda revolucionária, interessada em
desestabilizá-la para repetir na Alemanha a revolução de outubro de 1917
russa e ainda a forte reação das classes conservadoras e dos nacionalistas,
que acusavam o governo de ser responsável pela derrota alemã e de
favorecer o movimento operário e socialista. Movimentos separatistas e tentativas de golpe políticos de esquerda e
direita serviram para agravar ainda mais a situação de instabilidade durante os primeiros anos da república.

A partir de 1923, a inflação na Alemanha assumiu escalas gigantescas, e o marco, a moeda alemã, desvalorizou-
se rapidamente, graças principalmente as indenizações e a ocupação por tropas francesas e belgas da zona industrial e
carbonífera do vale do Ruhr, em resposta ao fracasso no pagamento das indenizações financeiras previstas no Tratado
de Versalhes. O governo alemão ordenou uma política de resistência passiva na área ocupada, sendo os trabalhadores
instruídos a não trabalharem. Mas todos os trabalhadores em greve tinham que receber salários e governo solucionou o
problema imprimindo mais dinheiro para seu pagamento. Assim, a Alemanha logo foi inundada com papel-moeda sem

10
O Armistício de Compiègne foi um acordo formal assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de
um vagão-restaurante na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades na frente ocidental. Os principais
signatários foram o marechal francês Ferdinand Foch, comandante-em-chefe das forças aliadas, e Matthias Erzberger, o
representante alemão. Apesar do armistício ter acabado com as hostilidades na frente ocidental, foi necessário prolongar o armistício
três vezes até que as negociações do Tratado de Versalhes fossem concluídas e formalizadas no dia 10 de janeiro de 1920.
11
Com a saída do imperador Guilherme II e, consequentemente, o fim da monarquia constitucional, proclamou-se no país uma
república nos moldes parlamentaristas. O projeto de Constituição para a jovem república foi criado na cidade de Weimar; por isso, a
república alemã desse período ficou conhecida como República de Weimar.
lastro, resultando em hiperinflação. Um pedaço de pão que em Berlim custou cerca de
160 marcos no final de 1922 custou 200 bilhões menos de um ano depois.

5.1 O NASCIMENTO DO PARTIDO NAZISTA

Em 5 de janeiro de 1919, o Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP) foi fundado


em Munique pelo ferroviário Anton Drexler, pelo escritor Karl Harrer, pelo engenheiro
Gottfried Feder e pelo jornalista Dietrich Eckart, com pouco mais de 22 membros. Os
primeiros integrantes do DAP foram quase que exclusivamente colegas de Drexler (eleito
presidente do novo partido), que trabalhavam na estação ferroviária de Munique. As
primeiras reuniões do DAP ocorriam em bares e cervejarias de Munique, para discussões
com temas sobre nacionalismo, anticapitalismo, anticomunismo e antissemitismo 12. Em 17 de maio de 1919, apenas dez
membros estavam presentes na reunião, e uma reunião posterior em agosto só se observou 38 membros presentes.
Anton Drexler
5.2 A ADESÃO DE ADOLF HITLER AO DAP

Depois que a Primeira Guerra Mundial terminou, Adolf Hitler retornou a Munique. Com trinta anos, sem
nenhuma educação formal, família ou perspectivas de trabalho, ele tentou permanecer no exército pelo maior tempo
possível. Em julho de 1919, ele foi nomeado “agente de inteligência” de um comando de reconhecimento do exército,
encarregado de se infiltrar nas reuniões dos numerosos partidos políticos surgidos na época.

Neste contexto, Hitler recebeu uma ordem de seus superiores para investigar a natureza de uma organização chamada
Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP), sendo ordenado a comparecer a uma reunião e relatar a situação. Hitler o fez
em 12 de setembro 1919, em uma cervejaria local. Neste dia, Gottfried Feder discursava sobre o tema "Como e por
quais meios se elimina o capitalismo?". Nos debates seguintes, Hitler envolveu-se em uma acalorada discussão com um
visitante, um professor chamado Baumann, que questionou a
solidez dos argumentos de Gottfried Feder contra o capitalismo A SUÁSTICA
e propôs que a Baviera se separasse da Prússia para tornar-se A suástica é milenar e utilizada por diversos
parte de uma nova nação sul-alemã, junto com a Áustria. povos ao redor do mundo. No início do
Atacando veementemente os argumentos de Baumann, ele teria século XX ela simbolizava muitas coisas
impressionado os outros membros do partido com sua oratória e, para os europeus, sendo o mais comum a boa
de acordo com Hitler, Baumann deixou o salão “com o rabo sorte. Na esteira do uso generalizado na
Alemanha pós-guerra,Cabo Hitler, 1919
o recém-nomeado
entre as pernas”13. Após isso, Drexler o encorajou a entrar no Partido Nazista a adotou formalmente em
partido. 1920. O emblema era uma cruz suástica
negra sobre um círculo branco com fundo
Em menos de uma semana, Hitler recebeu uma cartão- vermelho. Esta insígnia foi usada na bandeira
postal confirmando que ele havia sido oficialmente aceito como do partido, crachá e braçadeira.
membro do DAP e que deveria comparecer a uma reunião do
Em seu Minha Luta, de 1925, Hitler escreve
partido para discuti-lo. Normalmente, membros do exército não que: "Eu mesmo, depois de inúmeras
eram autorizados a participar de partidos políticos. Neste caso, tentativas, havia estabelecido a forma final:
Hitler teve a permissão para se juntar ao DAP. Além disso, uma bandeira com um fundo vermelho, um
Hitler foi autorizado a permanecer no exército e receber seu disco branco e um suástica negra no meio.
pagamento semanal. Eu também encontrei uma proporção
definida entre o tamanho da bandeira e o
tamanho do disco branco, bem como a forma
Cartão de filiação do DAP de Adolf Hitler de
e a espessura da janeiro de 1920, quando uma
suástica."
numeração foi emitida pela primeira vez. Hitler teria sido o 55º membro do
partido mas recebeu o número 555º (a contagem começou no número 501 para
fazer o partido parecer maior). Em seu livro Minha Luta, Hitler afirmou ser o
sétimo membro do partido, mas ele era o sétimo membro executivo do comitê
central, não sétimo membro do partido. No cartão ao lado verifica-se a
posterior alteração do documento, trocando-se o 555 por 7.

O primeiro discurso DAP de Hitler foi realizado no


restaurante Hofbräukeller em 16 de outubro de 1919. Ele foi o
segundo orador da noite e falou com 111 pessoas. Hitler mais

12
O antissemitismo é hostilidade, preconceito ou discriminação contra os judeus.
13
Tal evento, a discussão com o professor Baumann é hoje questionado por alguns historiadores, já que o nome de Baumann só
aparece dois meses depois no livro de registros do DAP. Os historiadores afirmam que Hitler apenas fez uso da palavra, chamando a
atenção das lideranças do DAP pela sua oratória.
tarde declarou que foi nesse dia que ele percebeu que "sabia falar". No início, Hitler falou apenas para grupos
relativamente pequenos, mas suas consideráveis habilidades de oratória e propaganda foram apreciadas pela liderança
do partido. Com o apoio de Anton Drexler, Hitler tornou-se chefe de propaganda do partido no início de 1920.
Graças a Hitler o partido tornou-se cada vez mais conhecido do grande público e, em 24 de fevereiro de 1920, um
comício reuniu cerca de 2.000 pessoas. Foi nesse dia que Hitler enunciou os vinte e cinco pontos do manifesto do
Partido dos Trabalhadores Alemães que haviam sido elaborados por Drexler, Feder e por ele mesmo. Através destes
pontos ele deu à organização um programa muito mais ousado, com uma
clara política externa (revogação do Tratado de Versalhes, projeto de uma HIPERINFLAÇÃO
Grande Alemanha, expansão alemã para o oriente e exclusão de judeus da
cidadania). Em geral, o manifesto era antissemita, anticapitalista, No final de 1922, a Alemanha não
pagou à França uma parcela de
antidemocrático, antimarxista e antiliberal. Para aumentar seu apelo a
reparações previstas no Tratado
segmentos maiores da população, o DAP mudou seu nome para de Versalhes em dia, e a França
Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei ("Partido Nacional respondeu em janeiro de 1923
Socialista dos Trabalhadores Alemães", ou Partido Nazista). No mesmo dia enviando tropas para ocupar o
os membros do partido passaram a se comportar como militares, usando Ruhr, a principal região industrial
14
um uniforme marrom. Pouco tempo depois, a SA começaria a emergir. da Alemanha. O governo alemão
ordenou uma política de
O partido nazista cresceu significativamente em 1921 e 1922, em resistência passiva no Ruhr. Os
parte graças à oratória de Hitler, em parte pelo apelo da SA aos jovens trabalhadores foram instruídos a
não colaborar. Porém, todos os
desempregados, e em parte porque havia uma reação popular contra a trabalhadores em greve tinham
política socialista e liberal na Bavária à medida que os problemas que receber salário. O governo os
econômicos da Alemanha se aprofundavam. O partido recrutou ex- pagou imprimindo mais e mais
soldados da Primeira Guerra Mundial, a quem Hitler como veterano da dinheiro. O resultado foi uma
linha de frente condecorado poderia apelar particularmente, assim como hiperinflação. Um pedaço de pão
que em Berlim custava 160
pequenos empresários e ex-membros de partidos rivais. Comícios nazistas
marcos no final de 1922 custaria
eram frequentemente realizados em cervejarias, onde homens oprimidos 200 bilhões menos de um ano
podiam receber cerveja de graça. A Juventude Hitlerista foi formada pelos depois.
filhos dos membros do partido.

5.3 1923: O GOLPE DA CERVEJARIA

Em janeiro de 1923, a França ocupou a região industrial do Ruhr


como resultado do fracasso da Alemanha em cumprir seus pagamentos de
indenização. Isso levou ao caos econômico, a renúncia do governo e uma Nota de 50 trilhões de marcos.
tentativa de golpe do Partido Comunista Alemão (KPD). A reação a esses
eventos foi um surto de sentimento nacionalista. A filiação do Partido Nazista cresceu acentuadamente para cerca de
20.000. Em novembro, Hitler tinha decidido que era a hora certa para tentar tomar o poder em Munique, na esperança
de que o Reichswehr (o exército alemão do pós-guerra) se revoltasse contra o governo de Berlim e se juntasse à sua
revolta.

Na noite de 8 de novembro de 1923, os nazistas usaram uma manifestação patriótica em uma cervejaria de
Munique para iniciar a tentativa de golpe. Essa tentativa falhou quase imediatamente quando os comandantes os
governantes locais se recusaram a apoiá-lo. Na manhã de 9 de novembro, os nazistas organizaram uma marcha de cerca
de dois mil partidários em Munique, em uma tentativa de conseguir apoio da população. Tropas abriram fogo e 16
nazistas foram mortos. Hitler e vários outros foram presos e julgados por traição em março de 1924. Hitler foi
condenado a apenas cinco anos de prisão. Enquanto Hitler estava na prisão, ele escreveu seu manifesto político
semiautobiográfico Mein Kampf ("Minha Luta").

O Partido Nazista foi banido em 9 de novembro de 1923; no entanto, continuou a operar sob o nome de "Partido
Alemão" (Deutsche Partei ou DP) de 1924 a 1925.

5.4 A CRISE DE 1929 E A ASCENSÃO DO NAZISMO

Adolf Hitler foi libertado da prisão em 20 de dezembro de 1924. Em 16 de fevereiro de 1925, Hitler convenceu as
autoridades bávaras a levantar a proibição do NSDAP e o partido foi formalmente refundado em 26 de fevereiro de
1925, com Hitler como seu líder indiscutível. O novo Partido Nazista deixou de ser uma organização paramilitar e
negou qualquer intenção de tomar o poder pela força. De qualquer forma, a situação econômica e política se estabilizara

14
Sturmabteilung abreviado para SA e usualmente traduzida como "Tropas de Assalto" ou "Seções de Assalto", foi a milícia
paramilitar nazista desde 1920. Eram conhecidos como “camisas marrons” por usarem um uniforme dessa cor.
e o recrudescimento extremista de 1923 desaparecera, de modo que não havia perspectiva de novas aventuras
revolucionárias.

A situação começou a mudar devido à crise de 1929, cujos efeitos na Alemanha foram desastrosos. Os capitais
norte-americanos e ingleses foram repatriados, a inflação alcançou níveis estratosféricos, e o número de desempregados
chegou a 6 milhões em 1932. A crise fez com que o discurso radical da extrema direita tivesse sucesso eleitoral, já que
boa parte da população responsabilizou os liberais de centro e a esquerda socialdemocrata pelos efeitos da crise. Nas
eleições de 1930, o Partido Nazista foi o mais votado, mas não tinha a maioria absoluta necessária para formar o
governo. Enquanto isso, socialdemocratas, comunistas e católicos digladiavam-se, e uma aliança para formar o governo
se mostrou impossível.

Durante 1931 e em 1932, a crise política da Alemanha se aprofundou. Hitler concorreu ao presidente contra o
titular, Paul von Hindenburg em março de 1932, alcançando 30,1% no primeiro turno e 36,8% no segundo contra os
49% e 53% de Hindenburg. Na eleição para o Reichstag de 1932, os nazistas deram outro salto adiante, alcançando
37,4% dos votos e tornando-se o maior partido do parlamento. Nazistas e os comunistas 15 conquistaram 52% dos votos e
uma maioria de cadeiras. Uma vez que ambos os partidos se opunham ao sistema político estabelecido e jamais
apoiaram um ministério, tornou-se impossível a formação de um governo de maioria. O resultado foram ministérios
fracos governando por decreto.
Os votos que os nazistas receberam nas eleições de 1932 estabeleceram o Partido Nazista como a maior facção
parlamentar do governo da República de Weimar. Hitler foi nomeado primeiro-ministro (chamado de chanceler na
Alemanha) pelo presidente Hindenburg em 30 de janeiro de 1933.

5.5 OS NAZISTAS NO PODER: O TERCEIRO REICH

No poder, Hitler deu andamento a um programa radical de mudanças no Estado e na sociedade alemã. Logo em
28 de fevereiro, aproveitando-se da situação causada pelo incêndio do Reichstag (Parlamento) provocado pelo
comunista holandês Marinus van der Lubbe no dia anterior, o presidente Hindenburg foi pressionado lançar o Decreto
do Presidente do Reich para a Proteção do povo e do Estado,
decretando estado de emergência16 e suspendendo as liberdades
individuais. Quase um mês depois, em 23 de março, o Presidente Os campos de concentração
Hindenburg assina a Lei de Concessão de Plenos Poderes ou Lei
habilitante, através do qual o chanceler Adolf Hitler obteve Os primeiros campos foram erguidos
legalmente plenos poderes, estabelecendo assim a sua ditadura. março de 1933, imediatamente depois
Em março também se abre o primeiro campo de concentração, em que o partido nazista recebeu o controle
da polícia. Usados para aprisionar e
Dachau. Em 14 de julho, a Alemanha tornou-se um estado de
torturar adversários políticos e
partido único com a aprovação de uma lei decretando que o sindicalistas, os campos inicialmente
NSDAP seria o único partido legal na Alemanha. A fundação de reuniram cerca de 45 mil prisioneiros.
novos partidos também se tornou ilegal, e todos os partidos Posteriormente o papel dos campos se
políticos que ainda não haviam sido dissolvidos foram proibidos. expandiu para manter os chamados
"elementos racialmente indesejáveis",
O gabinete de Hitler usou os termos do dos dois decretos como judeus, deficientes, homossexuais,
para iniciar a Gleichschaltung ("coordenação"), que colocou todos criminosos e ciganos.
os aspectos da vida sob controle do partido. Estados alemães não
controlados por governantes nazistas eleitos foram forçados a
concordar com a nomeação de “Comissários do Reich” para alinhar os estados com as
políticas do governo central. Esses Comissários tinham o poder de nomear e remover
governos locais, parlamentos estaduais, autoridades e juízes. Desta forma, a Alemanha
tornou-se um estado unitário de facto, com todos os governos estaduais controlados
pelo governo central sob o NSDAP.

Todas as organizações civis, incluindo grupos agrícolas, organizações


voluntárias e clubes esportivos, tiveram sua liderança substituída por simpatizantes ou
membros do partido nazistas; estas organizações cívicas fundiram-se com o NSDAP ou enfrentaram a dissolução. O
governo nazista declarou um "Dia do Trabalho Nacional" para o 1º de Maio, e convidou muitos delegados sindicais para
as celebrações em Berlim. No dia seguinte, as SA destruíram escritórios dos sindicatos em todo o país; todos os
sindicatos foram forçados a se dissolver e seus líderes foram presos.

5.6 HITLER TORNA-SE O FÜHRER DA ALEMANHA

15
Sob as diretrizes do Komintern, os comunistas mantiveram sua política de tratar os socialdemocratas como o principal inimigo,
chamando-os de "sociais-fascistas" e assim dividindo a oposição aos nazistas.
Em 2 de agosto de 1934, o Presidente Hindenburg morreu. No dia anterior, o gabinete de Hitler havia promulgado
a "Lei Relativa ao Mais Alto Escritório do Estado do Reich", que afirmava que, com a morte de Hindenburg, o cargo
de presidente seria abolido e seus poderes se fundiriam com os do chanceler. Assim, Hitler tornou-se chefe de Estado e
chefe de governo e foi formalmente nomeado como Führer und Reichskanzler ("Líder e Chanceler") - embora
eventualmente o Reichskanzler tenha sido retirado. A Alemanha era agora um estado totalitário com Hitler à frente.
Como chefe de Estado, Hitler tornou-se o Comandante Supremo das Forças Armadas. A nova lei tinha um juramento de
lealdade alterado para os militares, que deveriam fazer um juramento de lealdade a pessoa de Hitler e não ao cargo de
Comandante Supremo ou ao Estado. Em 19 de agosto, a fusão da presidência com a chancelaria foi aprovada por 90%
do eleitorado em um plebiscito.

5.7 A RESTAURAÇÃO ECONÔMICA

Nos primeiros anos do regime nazista, a economia da Alemanha recuperou-


se e cresceu de maneira extremamente rápida. O desemprego de 1920 e do início
de 1930 foi reduzido de seis milhões de desempregados em 1932 para menos de
um milhão em 1936. Em 1938 o desemprego estava virtualmente extinto. A
produção nacional cresceu 102%, de 1932 a 1937, e a renda nacional dobrou. A inflação foi contida; a agricultura e a
indústria retomaram o crescimento com o congelamento dos salários. A relação entre trabalhadores e patrões passou a
ser mediada pelo Estado, por meio da Lei de Ordenação do Trabalho Nacional17 (1934). A Frente do Trabalho
Alemão18 (1934), por sua vez, centralizou todas as categorias de trabalhadores e patrões, dissolvendo o sindicalismo
livre. O PIB alemão cresceu a uma taxa de 9% ao ano atingindo um crescimento de 11% em 1939. O governo alemão se
declarava na época um defensor da livre iniciativa e da propriedade privada.

As políticas econômicas incluíam grandes programas de obras públicas apoiados por gastos deficitários - como
a construção da rede de autoestradas Autobahn - para estimular a economia e reduzir o desemprego. Porém uma das
principais bases da recuperação alemã foi o rearmamento, para o qual o regime nazista dirigiu sua força econômica, a
indústria e o trabalho a partir de 1934. Ficou conhecido como Wehrwirtschaft (economia de defesa), que devia funcionar
em tempos de paz e guerra.

Um ambicioso planejamento financeiro destinado à remilitarização foi elaborado pelo governo nazista em junho
de 1933. Destinou-se em torno de 35 bilhões de reichsmarks, os quais foram
gastos ao longo de oito anos, para despesas militares. Para fins de comparação,
toda a renda nacional da Alemanha em 1933 equivalia a 43 bilhões de
reichsmarks.

O rearmamento alemão foi um sucesso, com as forças armadas sendo


reconstruídas e expandidas (Hitler retirou unilateralmente a Alemanha do Tratado
de Versalhes, em 16 de março de 1935), com melhor treinamento para os
recrutas, aumento do quadro de oficiais e reaparelhamento com os mais
modernos equipamentos para a época. As fábricas alemãs passaram a trabalhar a toda a velocidade para construir novas
armas e fornecer o equipamento necessário para os militares. A força aérea alemã (Luftwaffe) foi recriada, recebendo
grandes investimentos em material e formação. A Kriegsmarine (marinha de guerra) também foi melhorada, ainda que
em menor escala, devido à um acordo com a Inglaterra que permitia aos alemães possuírem uma força marítima com
35% do tamanho da inglesa, a maior do mundo na época.

16
O decreto possuía uma base jurídica, que era o artigo 48 da Constituição de Weimar. Esse artigo permitia a liberdade para o
presidente tomar as medidas adequadas a fim de salvaguardar a segurança pública. Ele inclui 6 itens:
O artigo 1 estava suspendendo a maioria das liberdades civis - liberdade pessoal, liberdade de expressão, liberdade de imprensa,
direito de associação e de reuniões públicas, privacidade nos correios e telefones, proteção da casa e propriedades.
Os artigos 2 e 3 passam ao Governo central do Reich poderes normalmente delegados aos estados.
Os artigos 4 e 5 estabelece pesadas penas por delitos específicos, incluindo a pena de morte para a queima de edifícios públicos.
O artigo 6 afirma que o decreto entrou em vigor no dia da sua publicação, mas com efeito retroativo (o que possibilitou decretar a
pena de morte para Marinus van der Lubbe, causador do incêndio do Reichstag) e construir os primeiros campos de concentração.
17
Artigo 1 da lei afirmava que, a fim de restabelecer um serviço “nacional", funcionários públicos “não-arianos” deveriam ser
demitidos. Os funcionários públicos que eram descendentes de não-arianos deveriam se aposentar. Não-ariano foi definido como
alguém que descendia de não-arianos, especialmente aqueles com pais ou avós judeus. Membros do Partido Comunista, ou qualquer
organização relacionada ou associada seriam demitidos.
18
A Frente Alemã para o Trabalho (em alemão: Deutsche Arbeitsfront, DAF) foi uma organização alemã criada em substituição aos
sindicatos, suprimidos em maio de 1933 pelo Partido Nazista. Presidida por Robert Ley, reunia em seu seio tanto trabalhadores
como empresários, e desprezava a luta de classes empreendida pelas organizações de inspiração marxista. Chegou a ter 25 milhões
de afiliados e foi de grande influência na máquina estatal.
5.8 AS LEIS RACIAIS DA ALEMANHA NAZISTA

O Partido Nazista foi um dos vários partidos políticos de extrema direita na Alemanha após o fim da Primeira
Guerra Mundial. A plataforma do partido incluía o fim da República de Weimar, a rejeição dos termos do Tratado de
Versalhes, um antissemitismo radical e combate ao bolchevismo, descrito por Hitler como parte de uma conspiração
judaica internacional para a dominação mundial. Eram também parte de sua plataforma um governo central forte, o
Lebensraum (espaço vital, a expansão territorial alemã) e a formação de uma Volksgemeinschaft19 (comunidade do
povo) baseada na raça e na limpeza racial, através da supressão ativa dos judeus, que seriam destituídos de sua cidadania
e direitos civis.

A discriminação dos judeus intensificou-se após a subida de


Hitler ao poder; depois de um mês de ataques por membros das SA
às lojas dos judeus, às sinagogas e a elementos de várias profissões,
em 1º de abril de 1933 Hitler declarou um boicote nacional aos
negócios dos judeus, com a justificativa de ser uma represália ao
boicote às mercadorias alemãs declarado pela comunidade judaica
internacional.

A Lei para a restauração do serviço público profissional,


publicada a 7 de abril de 1933, forçava todos os não-arianos a
saírem do serviço público e de algumas profissões. "Alemães! Defendam-se! Não compre de judeus! ".

A violência e pressão econômica foram usadas pelo regime para levar os judeus a deixarem o país. A legislação
publicada em julho de 1933 retirava de todos os judeus alemães naturalizados a sua cidadania, criando uma base legal
para que os imigrantes mais recentes (em particular os judeus da Europa oriental) fossem deportados. Muitas cidades
puseram cartazes a proibir a entrada de judeus. Ao longo de 1933 e 1934, os negócios dos judeus foram sendo
impedidos de ter acesso aos mercados, proibidos de colocar anúncios nos jornais, e privados fazerem contratos com o
governo.

Outras leis promulgadas nesse período incluem a “Lei para a Prevenção de descendentes hereditariamente
doentes" (14 de Julho de 1933), que estabelecia a esterilização obrigatória de pessoas com histórico de doenças físicas e
mentais20. Sob a “Lei contra criminosos perigosos habituais” (datada de 24 de novembro de 1935), os criminosos
habituais eram forçados a também serem esterilizados. Esta lei foi também utilizada para forçar a detenção em prisões
ou em campos de concentração de "desajustados sociais" tais como os desempregados de longa-duração, homossexuais,
prostitutas, pedintes, alcoólatras, moradores de rua e ciganos.

A sétima Reunião do Partido Nazista, realizado entre 10 e 16 de setembro de 1935, incluiu a única sessão do
Reichstag feita fora de Berlim durante o regime nazista. Hitler havia decidido que o comício seria uma boa oportunidade
para apresentar as muito esperadas leis anti-judaicas. Em discurso de 12 de setembro, o médico Gerhard Wagner
anunciou que o governo iria introduzir em breve uma "lei para a proteção do sangue germânico". No dia seguinte,
Hitler convocou o Reichstag para se reunir numa sessão em Nuremberg a 15 de setembro, o último dia do comício.
Hitler disse no comício que as leis eram "uma tentativa de resolução legal de um problema, o qual, caso se provasse ser
um fracasso, teria de ser confiado por lei ao Partido para uma
solução definitiva". As duas Leis de Nuremberg foram aprovadas
por unanimidade no Reichstag em 16 de setembro de 1935.

A Lei Para a Proteção do Sangue Alemão e da Honra Alemã


proibiam o casamento e as relações sexuais fora do casamento entre
judeus e alemães, e proibia o emprego de mulheres alemãs com
menos de 45 anos de idade nos lares judeus. A Lei da Cidadania do
Reich declarava que apenas aqueles de sangue alemão ou
congênere eram elegíveis para serem cidadãos do Reich; os
restantes eram classificados como “sujeitos do estado”, sem
quaisquer direitos de cidadania. O texto da Lei da Cidadania
estabelecia que uma pessoa tinha de demonstrar "pela sua conduta
que tinha o desejo e era capaz de servir fielmente o povo alemão e
o Reich", ou seja, que aos adversários políticos podiam ser-lhes
retirada a sua cidadania alemã. Nos anos seguintes, foram promulgadas 13 leis suplementares que marginalizavam mais
ainda a comunidade judaica na Alemanha.
A classificação racial das Leis de Nuremberg
19
Volksgemeinschaft é um conceito pré-existente promovido durante o Terceiro Reich, que defendia uma comunidade nacional da
etnia alemã, com o objetivo de construir uma sociedade sem classes, baseada na pureza racial.
20
Cerca de 360 mil pessoas foram esterilizadas até 1939.
Classificação Tradução Herança Definição
Pertence à raça e à e nação alemã; aprovado para ter a cidadania
Deutschblütiger Sangue alemão Alemã
do Reich.
Considerado como pertencente à raça e a nação
Deutschblütiger Sangue alemão 1/8 judaica
alemã; aprovado para ter a cidadania do Reich.
Mischling Grades Raça mista Apenas parcialmente pertence à raça e a nação alemã; aprovado
1/4 judaica
zweiten (segundo grau) para ter a cidadania do Reich.
Mischling Grades Raça mista 3/8 ou 1/2 Apenas parcialmente pertence à raça e a nação alemã; aprovado
Ersten (primeiro grau) judaica para ter a cidadania do Reich.
Pertence à raça e da comunidade judaica; não aprovado para ter
Jude Judeu 3/4 judaica
a cidadania do Reich.
Pertence à raça e à comunidade judaica; não aprovado para ter
Jude Judeu Judaica
a cidadania do Reich.

5.9 AKTION T4 - O PROGRAMA DE EUGENIA E EUTANÁSIA DA ALEMANHA NAZISTA

Embora oficialmente iniciada em setembro de 1939, a Ação T4 pode ter sido iniciada de modo experimental no
final de 1938, quando Adolf Hitler instruiu seu médico Karl Brandt para avaliar o pedido de um pai para a eutanásia de
seu filho recém-nascido cego e com deficiência física, que foi morto em julho de 1939. Hitler instruiu Brandt a proceder
da mesma forma em casos semelhantes. A fundação do "Comitê do Reich para o Registro Científico de doenças
hereditárias e congênitas, para preparar e prosseguir com a matança maciça e em segredo de crianças ocorreu em maio
de 1939 e a respectiva ordem secreta para iniciar o registro de crianças doentes, ocorreu em 18 de agosto de 1939, três
semanas após o assassinato do menino mencionado. O programa continuou por boa parte do resto da guerra numa linha
semelhante, matando um total estimado em 5 mil crianças. O limite máximo de idade para remoção e assassinato foi
gradativamente elevado, primeiro para 8, depois para 12 e por fim para 16 anos. Na prática, algumas eram ainda mais
velhas. Muitas dessas crianças e adolescentes sofriam de pouco mais que um tipo ou outro de dificuldade de
desenvolvimento.

Hitler era a favor de matar aqueles a quem julgou de "vida


indigna de ser vivida", independentemente da idade. Em uma
conferência de 1939 com o ministro da Saúde Leonardo Conti,
poucos meses antes do decreto da eutanásia, Hitler deu como
exemplo de "vida indigna de ser vivida" a dos doentes mentais
graves adultos. Tanto seu médico, Dr. Karl Brandt e o chefe da
Chancelaria do Reich, Hans Lammers, testemunharam depois da
guerra que Hitler lhes havia dito, já em 1933, no momento em que
a lei de esterilização foi aprovada, que ele desejava matar os
doentes incuráveis, mas que sabia que a opinião pública não
aceitaria isso. Em 1935, Hitler disse ao líder dos Médicos do
Reich, Dr. Gerhard Wagner, que a questão não poderia ser tomada
em tempo de paz: "Tal problema poderia ser mais suave e
facilmente resolvido em guerra ", disse ele. Ele escreveu, "só um
caso de uma guerra radical para resolver o problema dos manicômios".

A guerra também deu a esse problema uma nova urgência para os olhos do regime nazista. Pessoas com
deficiências graves, mesmo após serem esterilizadas, ainda precisavam de cuidados do Estado. Elas ocupavam lugares
em instalações que, durante a guerra, seriam necessárias para soldados feridos e pessoas evacuadas de cidades
bombardeadas. Elas eram alojadas e alimentadas às custas do Estado e tomavam o tempo de médicos e enfermeiros. Os
nazistas não toleravam isso mesmo em tempos de paz, e não tolerariam em tempos de guerra.

Inicialmente os pacientes foram mortos por injeção letal, o mesmo método estabelecido para matar crianças, mas
a lentidão e ineficiência deste método para matar adultos, que precisavam de doses maiores de medicamentos cada vez
mais escassos e caros e que estavam mais propensos a precisar de contenção, tornou-se logo evidente. Hitler
recomendou à Brandt que o gás monóxido de carbono fosse usado. Em seu julgamento, Brandt descreveu isto como um
"grande avanço na história da medicina". O primeiro gaseamento ocorreu no Centro de Eutanásia Brandenburg em
janeiro de 1940, sob a supervisão de Widmann, Becker e Christian Wirth, um oficial da Kripo (polícia criminal) que
viria a desempenhar um papel de destaque na "solução final" ao extermínio dos judeus. Viktor Brack foi chefe dessas
operações.
6 – O EXPANSIONISMO ALEMÃO

A consolidação do nazismo esteve, desde o início, comprometida com o expansionismo territorial, resumido na
ideia pangermânica da Großdeutschland (originalmente buscava a união todos os povos alemães e possivelmente
também os de língua germânica em um único estado-nação conhecido como Grande Alemanha) e na teoria do “espaço
vital” (Lebensraum), que difundia a necessidade de novos territórios para o desenvolvimento da raça ariana.

Em janeiro de 1935, o Sarre, que havia sido colocado sob supervisão da Liga das Nações por 15 anos no final da
Primeira Guerra Mundial, votou para ser reintegrado à Alemanha. Em 1936, Hitler usou o Tratado de Assistência
Mútua Franco-Soviética como pretexto para ordenar que 3.000 soldados do exército marchassem para a zona
desmilitarizada na Renânia. Como o território
fazia parte da Alemanha, os governos britânico e
francês não achavam que valesse o risco de guerra
contrapor-se a Hitler.

Em março de 1938, Hitler anexou a Áustria


(movimento conhecido como Anschluss -
anexação) sem esforço militar, porque os
membros do Partido Nazista austríaco haviam
preparado o caminho político para a anexação. O
Tratado de Versalhes e o Tratado de Saint-
Germain21 proibiam explicitamente a inclusão da
Áustria no Estado alemão. O próprio Hitler era
austríaco. O Anschluss foi confirmado por um
plebiscito realizado na Áustria em abril de 1938.
A tomada da Áustria demonstrou mais uma vez as
agressivas ambições territoriais de Hitler e, mais uma vez, o fracasso dos britânicos e franceses em agir contra ele por
violar o Tratado de Versalhes. Sua falta de vontade encorajou-o a mais agressões.

Após o Anschluss da Áustria para a Alemanha nazista em março de 1938, a conquista e a dissolução da
Tchecoslováquia se tornaram a próxima ambição de Hitler. Hitler fez um discurso em Berlim em 26 de setembro de
1938 e declarando que a região dos Sudetos era "a última demanda territorial que eu tenho que fazer na Europa". Ele
também afirmou que havia dito a Chamberlain: "Eu asseguro-lhe que, uma vez que esta questão tenha sido resolvida,
não haverá mais questões territoriais para a Alemanha na Europa!". Em 28 de setembro, Chamberlain apelou a Hitler
para uma conferência. Hitler se encontrou no dia seguinte, em Munique, com os chefes dos governos da França, Itália e
Grã-Bretanha. O governo da Tchecoslováquia não foi convidado nem consultado. Em 29 de setembro, o Acordo de
Munique foi assinado pela Alemanha, Itália, França e Grã-Bretanha. O governo da Tchecoslováquia capitulou em 30 de
setembro e concordou em cumprir o acordo. O Acordo de Munique estipulava que a Tchecoslováquia deveria ceder o
território dos Sudetos à Alemanha. A ocupação alemã dos Sudetos seria concluída em 10 de outubro. A incorporação
dos Sudetos à Alemanha, que começou em 1º de outubro de 1938, deixou o resto da Tchecoslováquia enfraquecida,
tornando-a impotente para resistir à ocupação subsequente, iniciada em 15 de março de 1939.

Desde 1937, a Alemanha começou a aumentar suas reivindicações contra a Polônia por Danzig, ao mesmo tempo
em que propunha a construção de uma rodovia extraterritorial, parte do sistema Reichsautobahn, a fim de conectar a
Prússia Oriental à Alemanha, percorrendo o chamado Corredor Polonês. A Polônia rejeitou essa proposta, temendo que,
depois de aceitar essas demandas, ela se tornasse cada vez mais sujeita à vontade da Alemanha e, eventualmente,
perdesse sua independência como os tchecos. Em 31 de março de 1939, a Polônia formou uma aliança militar com o
Reino Unido e com a França, acreditando que a independência e a integridade territorial da Polônia seriam defendidas
com o seu apoio se fosse ameaçada pela Alemanha. Por outro lado, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain e
seu ministro das Relações Exteriores, Lord Halifax, ainda esperavam chegar a um acordo com Hitler em relação a
Danzig (e possivelmente ao Corredor Polonês). Chamberlain e seus partidários acreditavam que a guerra poderia ser
evitada e esperavam que a Alemanha concordasse em deixar o resto da Polônia em paz. Porém, em particular, Hitler
disse em maio que Danzig não era a questão importante para ele, mas sim a busca do Lebensraum para a Alemanha. Na
falta de solução diplomática, a Alemanha nazista invade a Polônia em 1º de setembro de 1939, dando início a Segunda
Guerra Mundial.

21
O Tratado de Saint-Germain-en-Laye foi assinado em 10 de setembro de 1919 pelos aliados vitoriosos da Primeira Guerra
Mundial, e pela República da Áustria alemã. O tratado declarou que o Império Austro-Húngaro seria dissolvido. A nova República
da Áustria reconhecia a independência da Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e da futura Iugoslávia e a perda dos Sudetos e da
Boêmia alemã para a Tchecoslováquia, o sul do Tirol para a Itália e o sul da Caríntia e Estíria para a Iugoslávia.
7 – A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O imperialismo japonês dos anos 1930
A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra global que durou
de 1939 a 1945. Envolveu a maioria dos países do mundo - Em 1926, Hirohito herdou o trono do
incluindo todas as grandes potências - formando duas alianças império em um momento no qual se
acirravam as tensões internas da política
militares opostas: os Aliados e o Eixo. Em uma guerra total
japonesa. A crise econômica de 1929
envolvendo diretamente mais de 100 milhões de militares, de mais afetou o Japão e causou ainda mais
de 30 países (incluindo o Brasil), os principais participantes instabilidade social, radicalizando as
colocaram todas as suas capacidades econômicas, industriais e posições à esquerda e à direita.
científicas por trás do esforço de guerra, obscurecendo a distinção
entre recursos civis e militares. Esse conflito foi de longe o mais Em 1932, os militares nacionalistas de
mortal da história humana; resultou em 70 a 85 milhões de mortes, direita conseguiram a hegemonia
sendo a maioria civis. Dezenas de milhões de pessoas morreram política e impuseram uma ditadura ao
país, pondo em marcha um plano de
devido a genocídios (como o Holocausto), bombardeios aéreos
expansão imperialista em direção à Ásia
indiscriminados contra populações civis, assassinatos em massa, continental. Em 1936, o Japão aderiu ao
fome e doenças. Pacto Antikomintern estabelecido com a
Alemanha nazista e com a Itália fascista.
Geralmente considera-se o ponto inicial da guerra como
sendo a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista em 1º de A Manchúria, no nordeste da China, já
setembro de 1939 e subsequentes declarações de guerra contra a tinha sido ocupada pelo Império do
Japão em 1931. Deste ano até 1937,
Alemanha pela França e Império Britânico. Alguns conflitos já
quando o Japão iniciou uma invasão em
haviam antecedido a Segunda Guerra Mundial na década de 1930, grande escala e que se considera o início
como a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)22, a Segunda Guerra da Segunda Guerra Sino-Japonesa, uma
Ítalo-Etíope (1935-1937) e a Segunda Guerra Sino-Japonesa (a série de escaramuças locais ocorreram.
partir de 1937).

7.1 – AS INVASÕES DA POLÔNIA

A invasão alemã da Polônia foi iniciada na madrugada de 1º de


setembro 1939. A justificativa nazista para a invasão foi o suposto
ataque polonês contra a estação de rádio da cidade alemã de Gleiwitz,
em 31 de agosto de 1939, onde foi lida uma mensagem anti-alemã.
Esse ataque foi encenado pelos próprios alemães, dentro de uma
operação de bandeira falsa23 chamada Operação Himmler. O objetivo
de Hitler na Polônia era reaver territórios que pertenciam à Alemanha
até a Primeira Guerra Mundial, sobretudo visando recuperar o
corredor polonês, o qual basicamente era uma faixa do território
polonês que separava a Alemanha da Prússia Oriental e onde se
localizava a cidade de Danzig. O ataque alemão fez com que
Inglaterra e França declarassem guerra contra a Alemanha nos dias 3
e 4 de setembro, respectivamente. Essas declarações de guerra
surpreenderam Hitler, que havia se convencido de que a Inglaterra recuaria e não declararia guerra.

O ataque alemão pegou os poloneses com exército parcialmente mobilizado, pois a Polônia havia sido orientada
pela França a não mobilizar suas forças para que Hitler não se utilizasse disso como pretexto para um ataque. Essa
escolha acabou sendo prejudicial para os poloneses, uma vez que, no dia da invasão, apenas 30% do exército estava
mobilizado e posicionado nas defesas. Os Aliados (Inglaterra e França) esperavam que a resistência polonesa suportasse
o ataque alemão durante alguns meses, no entanto, em questão de duas semanas a Polônia desmoronou. Os militares
poloneses adotaram uma estratégia de defesa equivocada, de defender-se ao longo de todas as suas fronteiras, o que

22
Na Espanha o impacto da Grande Depressão gerou grande insatisfação popular, favorecendo a queda da Monarquia e a
proclamação da República, em 1931. O governo republicano pôs em prática uma reforma agrária e militar, que contentou as
camadas populares, mas desagradou os grupos da elite e das camadas médias espanholas. Tais grupos se uniram então, e formaram a
Falange, um partido fascista que também usava a violência para combater e eliminar os adversários. Para fazer frente aos fascistas,
socialistas e comunistas aliaram-se aos republicanos e formaram a Frente Popular, que venceu as eleições de 1936, e assumiu o
poder na Espanha. Os fascistas, liderados pelo general Francisco Franco, apoiado por parte do Exército e dos membros da Falange,
reagiram pegando em armas; teve início assim uma sangrenta guerra civil. Hitler e Mussolini enviaram soldados para a Espanha a
fim de ajudar os fascistas liderados por Franco a derrubar o governo republicano. A Guerra Civil espanhola matou 750 mil pessoas e
foi vencida pelas forças do general Franco, que se aproveitou para instalar no país uma brutal ditadura (o franquismo).

23
São operações conduzidas por governos, corporações, indivíduos ou outras organizações que aparentam ser realizadas pelo
inimigo de modo a tirar partido das consequências resultantes. O nome é retirado do conceito militar de utilizar bandeiras do
inimigo.
facilitou as vitórias alemãs. Já em 12 de setembro, toda a Polônia a oeste do
Rio Vístula havia sido conquistada, exceto a agora isolada capital polonesa,
Varsóvia.
Em 17 de setembro, a defesa polonesa já havia sido praticamente
derrotada e a única esperança era recuar e se reorganizar ao longo da
chamada “cabeça de ponte romena24”, esperando um efetivo ataque dos seus
aliados ocidentais, algo que nunca aconteceu. No entanto, os planos se
tornaram obsoletos quase da noite para o dia, quando mais de 800 mil
homens do Exército Vermelho Soviético invadiram as regiões orientais da
Polônia, em violação do Tratado de Paz de Riga, ao Pacto de Não-Agressão
Soviético-Polonês e outros tratados internacionais, tanto bilaterais como
multilaterais. Inglaterra e França, que haviam declarado guerra à Alemanha
por ter invadido a Polônia não fizeram o mesmo em relação aos soviéticos.
A diplomacia soviética mentiu que estava "protegendo as minorias
ucranianas e bielorussas do leste da Polônia visto que o governo polonês
abandonou o país e o estado polonês deixou de existir". Na verdade, os
soviéticos cumpriam o protocolo secreto do Pacto de Não Agressão
Germano Nazi-Soviético25, em que a Alemanha nazista e a União Soviética
dividiam entre si a Europa Oriental em áreas de influência.

Diante de uma segunda frente, o governo polonês concluiu que a


defesa da cabeça de ponte romena não era mais viável e ordenou uma
evacuação de emergência de todas as tropas para a Romênia neutra. Em 6 de
outubro as forças alemãs e soviéticas ganharam controle total sobre a
Polônia. Em 8 de outubro, após um período inicial de administração militar,
a Alemanha anexou diretamente a Polônia ocidental e a antiga Cidade Livre
de Danzig e colocou o território restante sob a administração do recém-
criado Governo Geral. A União Soviética incorporou suas áreas recém-
adquiridas em suas repúblicas bielorrussas e ucranianas, e imediatamente
iniciou uma campanha de sovietização que incluiu o assassinato em massa de prisioneiros de guerra e da população civil
(em um total avaliado em 150 mil mortos), incluindo o evento posterior que ficou conhecido como “O Massacre de
Katyn”.

7.2 – A URSS ATACA SEUS VIZINHOS: FINLÂNDIA, ESTÔNIA,


LETÔNIA, LITUÂNIA e ROMÊNIA

Após a invasão soviética da Polônia, em 17 de setembro de 1939, e de


acordo com o Pacto Molotov-Ribbentrop, as forças soviéticas receberam
liberdade de ação sobre a Letônia, Lituânia e Estônia. O governo soviético
obrigou os estados bálticos a concluir “pactos de assistência mútua” que
deram aos soviéticos o direito de estabelecer bases militares em seus
territórios. Após a invasão do Exército Vermelho na metade de junho de
1940, as autoridades soviéticas obrigaram os governos dos três países a
renunciar. Os presidentes da Estônia e da Letônia foram presos e depois
morreram na Sibéria. Sob a supervisão soviética, novos governos
comunistas fantoches organizaram eleições fraudulentas com resultados
falsificados. Pouco depois, as recém-eleitas "assembleias populares"
aprovaram resoluções solicitando a admissão dos seus respectivos países na União Soviética. Em junho de 1941, os
24
Em 14 de setembro o comandante-em-chefe polonês da Polônia Edward Rydz-Śmigły ordenou que todas as tropas polonesas que
estivessem a leste do rio Vístula (aproximadamente 20 divisões) deveriam retirar-se para Lvov e depois para as colinas ao longo das
fronteiras com a Romênia e a União Soviética. Era um plano alternativo no caso de ser impossível defender as fronteiras polonesas e
assumia que as forças polonesas poderiam se retirar para a área, montar uma defesa bem-sucedida até o inverno e resistir até a
prometida ofensiva francesa na Frente Ocidental. Rydz-Śmigły previu que o terreno acidentado, rios, vales, colinas e pântanos do
rio Stryi e do rio Dniester forneceriam linhas naturais de defesa contra o avanço alemão. A área também abrigava muitos depósitos
de munição e estava ligada ao porto romeno de Constança, que poderia ser usado para reabastecer as tropas polonesas.

25
O Pacto de Não Agressão Germano Nazi-Soviético foi um pacto de neutralidade entre a Alemanha Nazista e a União Soviética
assinado em Moscou, em 23 de agosto de 1939, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros alemão Joachim von Ribbentrop e
comissário das relações exteriores soviético Vyacheslav Molotov. O pacto estabelecia esferas de influência entre as duas potências,
confirmadas pelo protocolo suplementar do Tratado da Fronteira Germano-Soviético alterado depois da invasão conjunta da
Polônia. As cláusulas do pacto entre os nazistas e os soviéticos incluíam uma garantia escrita de não-agressão. Para além do
estabelecido, o tratado incluía um protocolo secreto que dividia os territórios da Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, Finlândia e
Romênia em esferas de influência alemãs e soviéticas, antecipando uma "reorganização territorial e política" destes países.
novos governos soviéticos realizaram deportações em massa de "inimigos do povo". Cerca de 130 mil pessoas foram
deportadas, em um primeiro momento.
Em 1939, a Finlândia rejeitou demandas soviéticas semelhantes para que o país cedesse ou arrendasse partes de
seu território. A guerra entre os dois países começou com a invasão soviética em 30 de novembro de 1939, três meses
após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, e terminou três meses e meio depois com o Tratado de Paz de Moscou, em
13 de março de 1940. Apesar da força militar superior, especialmente em tanques e aeronaves, a União Soviética sofreu
perdas severas e inicialmente fez pouco progresso. Já a ocupação soviética da Bessarábia e da Bucovina do Norte,
territórios pertencentes à Romênia, ocorreu de 28 de junho a 3 de julho de 1940, como resultado de um ultimato da
União Soviética à Romênia em 26 de junho de 1940, que ameaçava o uso da força.

7.3 – A GUERRA DE MENTIRA E A INVASÃO ALEMÃ


DA ESCANDINÁVIA

O termo "Guerra de Mentira" é utilizado para designar o


período inicial da Segunda Guerra Mundial no ocidente europeu,
ou seja, o período compreendido entre a declaração do estado de
guerra da França e Reino Unido à Alemanha Nazista (setembro de
1939) e a invasão por esta última da França, Bélgica, Países
Baixos e Luxemburgo (maio de 1940), durante o qual não houve
grandes combates armados, à exceção da invasão alemã da
Escandinávia26 (Dinamarca e Noruega).

7.4 – BLIZKRIEG NO OCIDENTE: A CONQUISTA


ALEMÃ DA BÉLGICA, HOLANDA, LUXEMBURGO E
FRANÇA

Antes mesmo do fim dos combates na Escandinávia os


alemães lançaram, em 10 de maio de 1940, a ofensiva terrestre
contra a França, dentro de um plano operacional denominado
“Plano Amarelo”. Seguindo esse plano, unidades blindadas
alemãs atravessaram a região florestal das Ardenas, flanqueando a
Linha Maginot27, cercando e derrotando os defensores Aliados. A
Força Expedicionária Britânica foi evacuada para a Inglaterra no
que ficou conhecido como Operação Dínamo. A Itália declarou
guerra à França em 10 de junho e Paris foi ocupada pelos alemães
em 14 de junho. Em 17 de junho, o Marechal Pétain, novo líder
francês, anunciou publicamente que a França iria propor um
armistício. A rendição oficial se deu em 22 de junho de 1940 em Compiègne, no mesmo trem que a Alemanha, em
1918, ao final da Grande Guerra, fora forçada a se render. Reynaud, Primeiro-Ministro francês, se negou a assinar a
rendição e abdicou do cargo, que foi assumido pelo marechal Pétain, que anunciou ao povo francês, via rádio, a intenção
do governo em se render. Os alemães derrotaram completamente as forças aliadas em 46 dias, utilizando de um novo
conceito de combate denominado Blitzkrieg (Guerra Relâmpago), em que forças coordenadas de tanques, aviação e
infantaria atacam rapidamente com o objetivo de cercar e desequilibrar o inimigo, causando sua rendição.

7.5 – A GUERRA AÉREA NA GRÃ-BRETANHA

A Batalha da Grã-Bretanha foi uma campanha militar da Segunda Guerra Mundial, na qual a Força Aérea Real
(Royal Air Force - RAF) defendeu o Reino Unido contra os ataques em larga escala da força aérea da Alemanha nazista,
a Luftwaffe. Foi descrita como a primeira grande campanha militar travada inteiramente pelas forças aéreas.

O objetivo principal das forças alemãs era obrigar a Grã-Bretanha a concordar com um acordo de paz negociado.
À medida que a batalha avançava, a Luftwaffe também tinha como alvo fábricas envolvidas na produção de aeronaves e
infraestrutura estratégica. Eventualmente, empregou bombardeios terroristas em áreas de importância política e em

26
No início da manhã de 9 de abril de 1940, a Alemanha ocupou a Dinamarca e invadiu a Noruega como uma manobra preventiva
contra a planejada e abertamente discutida ocupação franco-britânica da Noruega, conhecida como Plano R4. O interesse anglo-
francês era cortar o suprimento de minério de ferro sueco que chegava à Alemanha pelos portos noruegueses. Após a ocupação da
Dinamarca, os enviados dos alemães informaram aos governos da Dinamarca e da Noruega que as forças armadas alemãs haviam
vindo para “proteger a neutralidade dos países contra uma agressão franco-britânica”.

27
A Linha Maginot foi uma linha de fortificações e de defesa construída pela França ao longo de suas fronteiras com a Alemanha
entre 1930 e 1936. O complexo de defesa possuía várias vias subterrâneas, obstáculos, baterias blindadas escalonadas em
profundidade, postos de observação com abóbadas blindadas e paióis de munições a grande profundidade.
civis. A Batalha da Grã-Bretanha marcou a primeira grande derrota
das forças militares da Alemanha, com a superioridade aérea vista
como a chave para uma invasão anfíbia a partir do território francês
ocupado, algo que não foi conseguido.
7.6 – TEATRO DO MEDITERRÂNEO E BÁLCÃS

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Frente do


Mediterrâneo abrangeu a luta entre os Aliados e as forças do Eixo
para conseguir o domínio do Mar Mediterrâneo e países limítrofes.
Os combates esporádicos entre a Itália fascista de Benito Mussolini
e a Luftwaffe alemã e os submarinos da Kriegsmarine (Marinha
alemã) contra a Marinha Real Britânica e a RAF, caracterizaram a
frente naval do Mediterrâneo. No sul da Europa, a fracassada
campanha italiana contra a Grécia motivou uma participação alemã,
que levou a subjugação política de nações como a Bulgária e Romênia e a militar da Iugoslávia e Grécia. No norte da
África os alemães do Afrika Korps e seus aliados italianos enfrentaram os britânicos pelo do Egito, depois das derrotas
de Mussolini frente aos ingleses.

7.7 – OPERAÇÃO BARBAROSSA – A INVASÃO


ALEMÃ DA URSS

Sob o nome de “Operação Barbarossa", a


Alemanha nazista invadiu a União Soviética em 22 de
junho de 1941, naquela que foi considerada a maior
operação militar germânica da Segunda Guerra
Mundial.

As ideias centrais da política exterior do


movimento nazista, desde a década de 1920, eram a da
destruição da União Soviética pela força militar, a
eliminação permanente da ameaça comunista à
Alemanha, e a conquista de terras consideradas
importantes aos objetivos nazistas ao longo das
fronteiras soviéticas para o assentamento dos alemães a
longo prazo. Adolf Hitler sempre havia considerado o
pacto Molotov-Ribbentrop de não agressão germano-
soviético, assinado em 23 de agosto de 1939, uma
manobra tática temporária. Em julho de 1940, poucas
semanas após a conquista da França e dos Países Baixos pelos alemães, Hitler decidiu atacar a União Soviética no ano
seguinte. Em 18 de dezembro de 1940, ele assinou a Diretiva 21 (a “Operação Barbarossa"), a primeira ordem
operacional para a invasão da União Soviética.

Desde o início do planejamento operacional, as autoridades militares e policiais da Alemanha desejavam travar
uma guerra de aniquilação contra o estado comunista e os judeus da União Soviética, que eles caracterizavam como
sendo a "base racial" da URSS. Durante o inverno e a primavera de 1941, os oficiais do Alto Comando do Exército e do
Serviço Central de Segurança do Reich iniciaram os preparativos conjuntos para a utilização de unidades especiais
(Einsatzgruppen) da Polícia de Segurança e do Serviço de Segurança por trás das linhas de frente da guerra para
aniquilar fisicamente os judeus, comunistas e outras pessoas consideradas perigosas para a instituição de um domínio
alemão de longo prazo alemão sob o território soviético.

Com 134 divisões com força de combate total e mais 73 divisões serem destacadas para ficar na parte de trás do
front de guerra, os alemães estavam equipados com cerca de 3.350 tanques, 7.200 peças de artilharia, 2.770 aeronaves
(que representavam 65 por cento da Luftwaffe), cerca de 600 mil veículos a motor e 625 mil - 700 mil cavalos. Três
grupos de exércitos, com mais de três milhões de soldados alemães apoiados por 650.000 tropas dos países aliados à
Alemanha (Finlândia e Romênia) e, mais tarde, por unidades da Itália, Croácia, Eslováquia e Hungria, atacaram a União
Soviética por uma linha de frente ampla, do Mar Báltico, ao norte, ao Mar Negro, ao sul. A União Soviética tinha cerca
de 23 mil tanques disponíveis, dos quais apenas 14.700 estavam preparados para combate. A Força Aérea Soviética
tinha uma vantagem numérica de um total de aproximadamente 19.533 aeronaves, o que a tornava a maior força aérea
do mundo no verão de 1941.

Por meses, a liderança soviética havia se recusado a prestar atenção aos avisos das potências ocidentais sobre o
movimento de tropas alemãs junto às suas fronteiras ocidentais, e quando a Alemanha e seus parceiros do Eixo
realizaram um ataque tático, a surpresa foi quase que total. Grande
parte da força aérea soviética foi destruída ainda no solo; os
exércitos soviéticos foram derrotados logo no início das
hostilidades. As unidades alemãs cercaram milhões de soldados
soviéticos que, sem suprimentos nem reforços, tinham poucas
opções além da rendição.
Apesar das perdas catastróficas sofridas nas primeiras seis
semanas da guerra, a União Soviética não foi derrotada, deitando
por terra a previsão da liderança nazista e dos comandantes militares
alemães. Em meados de agosto de 1941, a resistência soviética foi
intensificada, fazendo com que a estratégia irreal dos alemães fosse
alterada. Ainda assim, no final de setembro de 1941, as forças
alemãs chegaram a Leningrado (atual São Petersburgo), ao norte da
Rússia, e também tomaram as cidades de Smolensk, no centro
daquele país, e também de Dnepropetrovsk, na Ucrânia. As
unidades alemãs se espalharam pela península da Criméia, ao sul, e
chegaram aos subúrbios de Moscou no início de dezembro.

Em 6 de dezembro de 1941, a União Soviética deflagrou um


grande contra-ataque contra o centro da linha de frente nazista,
fazendo com que os alemães fugissem caoticamente das cercanias
da capital, Moscou. As forças alemãs precisaram de semanas
preciosas para conseguir estabilizar sua frente de batalha ao leste de
Smolensk. No verão de 1942, a Alemanha retomou a ofensiva com
um ataque massivo ao sul e ao sudeste, em direção à cidade de
Stalingrado (atual Volgogrado), no rio Volga, e aos campos petrolíferos do Cáucaso. A chegada dos alemães ao
subúrbio de Stalingrado e sua aproximação de Grozny, no Cáucaso, a aproximadamente 200 quilômetros da costa do
Mar Cáspio, em setembro de 1942, fizeram com que a dominação alemã atingisse sua expansão territorial máxima na
Europa.

7.8 – O INÍCIO DO FIM DA ALEMANHA NAZISTA: A DERROTA ALEMÃ EM STALINGRADO

A Batalha de Stalingrado iniciou-se oficialmente no dia 17 de julho de 1942. O ataque alemão à cidade de
Stalingrado iniciou-se com pesada carga de bombardeios pela Luftwaffe. Os ataques alemães transformaram parte da
cidade em ruínas. O primeiro grande ataque terrestre dos alemães ocorreu no dia 13 de setembro, após Friedrich Paulus,
comandante do 6º exército alemão, receber uma ordem de Hitler que estipulava um prazo para a conquista de
Stalingrado.

A situação das forças soviéticas em Stalingrado foi desesperadora, e os soviéticos estiveram à beira do colapso.
Eles resistiram graças à chegada diária de armamentos e novos soldados, que todos os dias cruzavam o Rio Volga às
pressas. A situação era tão desesperadora que por vezes os reforços viram-se obrigados a cruzar o rio durante o dia –
tornando-se alvos fáceis para os aviões alemães. A estratégia
montada pelos soviéticos, apesar de desorganizada, surtiu efeito.
Chuikov, comandante do 62º exército russo, optou por encurtar as
distâncias entre as linhas de fogo alemã e soviética. Além disso, as
ruínas espalhadas pela cidade dificultavam o avanço dos alemães e
de seus blindados. A condição de combate rua a rua também foi um
fator de dificuldade para os alemães, pois impedia maiores
movimentações e ataques estratégicos nos flancos.

Duas ofensivas soviéticas foram organizadas na virada de


1942 para 1943 e tiveram sucesso em expulsar os alemães de
dentro da cidade. Houve ainda uma terceira ofensiva, que não
obteve sucesso. De qualquer maneira, as ofensivas soviéticas
conseguiram expulsar os alemães do perímetro da cidade e encurralaram as tropas lideradas por Friedrich Paulus. Este
solicitou autorização de Hitler para recuar, no entanto, sua solicitação foi negada. A força de Paulus, que consistia em
cerca de 200 mil soldados exaustos pelo esforço de guerra, foi então condenada pela negativa de Hitler. Uma força de
resgate alemã liderada pelo Marechal Erich von Manstein, incapacitada de continuar avançando pela resistência
soviética, recuou, acabando com qualquer esperança de resgate.

A rendição dos soldados alemães que haviam permanecido em Stalingrado aconteceu em 2 de fevereiro de 1943.
Após meses de combates ferozes, os soviéticos ergueram-se como os vitoriosos. A Alemanha e seus aliados (romenos e
italianos, principalmente) sofreram o número máximo de 968.374 baixas em combate (mortos, feridos ou capturados)
entre todos os ramos das forças armadas. A URSS, segundo dados de arquivo, sofreu 1.129.619 baixas totais; 478.741
pessoas mortas ou desaparecidas e 650.878 feridas ou doentes.
Ao todo, cerca de 2 milhões de pessoas morreram durante os
combates travados em Stalingrado. A batalha foi o ponto de
virada da guerra na Frente Oriental, marcando o limite da
expansão alemã no território soviético, a partir de onde o
Exército Vermelho empurraria as forças alemãs, pelos
próximos dois anos, até Berlim.
7.9 – DE STALINGRADO A BERLIM: A DERROTA DA
ALEMANHA NAZISTA

Em 1943, a produção de armamentos soviéticos estava


totalmente operacional e superava cada vez mais a economia
de guerra alemã. A principal ofensiva alemã final no teatro de
operações soviético ocorreu durante julho e agosto de 1943
com o lançamento da Operação Cidadela, um ataque ao
saliente de Kursk. Aproximadamente um milhão de tropas alemãs enfrentaram uma força soviética com mais de 2,5
milhões de homens. Após a derrota da Operação Cidadela, os soviéticos lançaram contraofensivas empregando seis
milhões de soldados ao longo de uma frente de 2.500 quilômetros em direção ao rio Dnieper enquanto empurravam os
alemães para o oeste. Empregando ofensivas cada vez mais ambiciosas e taticamente sofisticadas, além de fazer
melhorias operacionais em segredo, o Exército Vermelho acabou por liberar grande parte da área que os alemães
ocuparam anteriormente no verão de 1944. A destruição do Grupo de Exércitos Centro, resultado da Operação
Bagration, provou ser um sucesso decisivo; outras ofensivas soviéticas contra os Grupos de Exército Alemães Norte e
Sul no outono de 1944 colocam a máquina de guerra alemã em retirada. Em janeiro de 1945, o poderio militar soviético
já visava a capital alemã, Berlim. Juntamente com as forças ocidentais, representadas por exércitos dos EUA, Inglaterra
e França, que haviam invadido o continente europeu a partir da Itália (03 de setembro de 1943) e da França (no
chamado Dia D - 6 de junho de 1944) a guerra terminou com a captura e fuzilamento de Mussolini e o suicídio de Hitler
e a capitulação da Alemanha nazista em maio de 1945.

8 – O JAPÃO NA GUERRA: DO ATAQUE JAPONÊS EM


PEARL HARBOR ATÉ AS BOMBAS ATÔMICAS

No final de 1941, era evidente para a inteligência


americana que o Japão planejava atacar os EUA. O ataque foi
elaborado pelo general Isoroku Yamamoto e atingiu a base naval
americana de Pearl Harbor, localizada no Havaí. Esse fato
aconteceu em 7 de dezembro de 1941 e resultou na destruição
parcial da frota americana. Por causa desse ato, os Estados
Unidos declararam guerra ao Japão.

A primeira fase desse conflito foi caracterizada pelas


vitórias japonesas. Em poucos meses, o Japão derrotou ingleses,
franceses e americanos em várias partes da Ásia: Filipinas,
Cingapura, Malásia, Birmânia etc. A presença japonesa na China e as conquistas realizadas no sudoeste asiático
resultaram em vários relatos de violência e atrocidades contra a população local e contra os exércitos adversários.
Apesar das vitórias iniciais, o decorrer do conflito mostrou a recuperação do Exército e da Marinha americana
gradativamente. Isso se explica pelo fato de a economia americana ser muito maior que a japonesa, portanto, poderia
sustentar uma guerra a longo prazo, diferentemente dos japoneses. Além disso, a produção de armamentos e
embarcações para guerra nos Estados Unidos era muito maior.

O conflito no Pacífico estendeu-se até setembro de 1945, quando o Japão se rendeu. A partir do segundo semestre
de 1942, os Estados Unidos passaram a ganhar todas as grandes batalhas. As grandes batalhas a partir de 1942 foram:

 Batalha de Midway (junho de 1942): tentativa japonesa de invadir as Ilhas Midway. Foram derrotados pela Marinha
americana, e a capacidade de guerra do Japão foi prejudicada de maneira permanente após essa batalha.
 Batalha de Guadalcanal (agosto de 1942 a fevereiro de 1943): invasão americana da Ilha de Guadalcanal. O objetivo
– alcançado com sucesso – era tomar a ilha para impedir que o Japão a utilizasse como base aérea.
 Batalha de Tarawa (novembro de 1943): conquista americana da ilha de Tarawa, o que permitiu aos Estados Unidos
utilizarem a ilha como base e destruir a aeronáutica japonesa durante 1944.
Ocorreram vitórias americanas significativas também nas Filipinas, Iwo Jiwa e Okinawa. Entretanto, a resignação
japonesa em lutar até a morte deixou bem claro para os comandantes americanos que a invasão do Japão resultaria em
milhares de mortes de soldados americanos. A partir dessa conclusão, optaram por utilizar uma arma poderosa que
haviam desenvolvido – bombas nucleares. Foram escolhidas duas cidades importantes no Japão – Hiroshima e Nagasaki
– para serem alvos das bombas. O ataque ocorreu em 6 de agosto, em Hiroshima, e em 9 de agosto de 1945, em
Nagasaki. A destruição completa das duas cidades forçou o governo japonês a assinar a rendição incondicional em
setembro de 1945. A transição do Japão após a rendição foi toda realizada pelos Estados Unidos conforme os termos
impostos ao Japão.

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