Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teoria da Literatura I
Coordenador da Disciplina
9ª Edição
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.
Realização
Autor
LEITURA COMPLEMENTAR
“Sobre o significado da palavra ‘Literatura’” (BELINSKI, 1841). (Visite
a aula online para realizar download deste arquivo.)
1
O bosquejo acima permite a seguinte leitura: o autor, com sua cultura,
sua experiência de vida, sua ideologia, escreve uma obra, que será lida por
alguém cuja recepção estará também impregnada de uma cultura, uma
experiência e uma visão de mundo. Essa obra abrigará um mundo
descortinado pela imaginação do autor em seus momentos de criação. É
evidente que, para que ocorra alguma interação entre os elementos da tríade
autor-obra-leitor, é necessário que haja entre o emissor e o recebedor um
mínimo de elementos culturais comuns, a começar pelo código utilizado na
escrita, ou seja, o idioma. Se imaginarmos uma situação ideal em que não
haja a menor interseção entre o campo cultural do escritor com o do leitor,
não haverá comunicação literária. Alguma interseção é necessária, como
mostra a área hachurada do diagrama abaixo:
FÓRUM
Neste tópico, discute-se a constituição do texto literário. Observe que
no primeiro diagrama apresentado acima aparece a expressão “mundo
ficcional”. Discuta com os participantes deste fórum o que vem a ser o
universo representado por essa expressão, tente enumerar suas
características principais e confronte suas conclusões com a ideia de
“mundo” que aparece no vértice superior do triângulo apresentado.
2
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 01: FUNDAMENTOS DO TEXTO LITERÁRIO
VERSÃO TEXTUAL
3
Nordeste, por exemplo, será possibilitado com muito mais eficiência
numa obra de geografia ou de geopolítica do que num romance como
Vidas secas, de Graciliano Ramos.
4
ele pode dispensar a linguagem denotativa, ou literal, e privilegiar a
conotação, a polissemia, a ambiguidade, a plurissignificação, que serão
abordados na próxima aula.
OLHANDO DE PERTO
O texto abaixo, de Roland Barthes, coloca em evidência a questão do
saber relacionado à literatura. Leia-o atentamente e depois discuta com
seu grupo as questões propostas.
[...] Se, por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie, todas
as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a
disciplina literária que deveria ser salva, pois todas as ciências estão
presentes no monumento literário. É nesse sentido que se pode dizer que
a literatura, quaisquer que sejam as escolas em nome das quais ela se
declara, é absolutamente, categoricamente realista: ela é o real, isto é, o
próprio fulgor do real. Entretanto, e nisso verdadeiramente
enciclopédica, a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza
nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso.
Por um lado, ele permite designar saberes possíveis — insuspeitos,
irrealizados: a literatura trabalha nos interstícios da ciência: está
sempre atrasada ou adiantada em relação a esta, semelhante à pedra de
Bolonha, que irradia de noite o que aprovisionou durante o dia, e, por
esse fulgor indireto, ilumina o novo dia que chega. A ciência é grosseira,
a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos
5
importa. Por outro lado, o saber que ela mobiliza não é inteiro nem
derradeiro: a literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de
alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas — que ela sabe
muito sobre os homens. O que ela conhece dos homens é o que se poderia
chamar de grande estrago da linguagem, que eles trabalham e que os
trabalha quer ela reproduza a diversidade dos socioletos, quer, a partir
dessa diversidade, cujo dilaceramento ela ressente, imagine e busque
elaborar uma linguagem-limite, que seria seu grau zero. Por que ela
encena a linguagem, em vez de, simplesmente, utilizá-la, a literatura
engrena o saber no rolamento da reflexividade infinita: através da
escritura, o saber reflete incessantemente sobre o saber, segundo um
discurso que não é mais epistemológico mas dramático.
(BARTHES, 2002, pp. 18-19)
EXERCITANDO
A respeito do texto acima, tente responder às seguintes questões.
6
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 01: FUNDAMENTOS DO TEXTO LITERÁRIO
FORMA
Também denominada linguagem, é o elemento que fixa o conteúdo e
permite sua transmissão de um espírito para outro. A forma é abstrata
enquanto exclusivamente mental, mas pode materializar-se quando
expressa (linguagem falada, escrita, mímica). A forma, nos mais variados
aspectos, é o veículo do conteúdo.
CONTEÚDO
É a suprarrealidade concebida pelo artista, [...] é a imagem da
realidade, mas da realidade que o artista conseguiu captar. [...] O conteúdo
é o elemento imaterial da obra literária, pois que existe apenas na
imaginação do artista e na do leitor: as personagens de um romance
interessam-nos, empolgam-nos, e jamais poderemos vê-las em carne e
osso.
7
Uma boa maneira de se familiarizar com as noções de literatura e, por
extensão, de arte é ouvir o que os escritores têm a dizer sobre ela, seja em
forma de poesia, seja em forma de prosa.
VERSÃO TEXTUAL
COMENTANDO A CITAÇÃO
O autor do texto acima associa o esplendor do pavão à grandeza da obra
de arte, ampliando-a depois para o tema do amor. O “luxo imperial” do
pavão que exibe suas cores metaforiza a obra de arte, cujo trabalho tem no
arranjo um de seus componentes mais importantes, isto é, a seleção e
combinação de elementos que irão produzir a beleza da obra artística.
Estendendo o mesmo raciocínio à obra de arte literária, constata-se que ela
se faz de uma escolha e arranjo de palavras em que o escritor procura tirar o
máximo efeito de sua utilização da língua, produzindo o que Roland Barthes
chamou no texto do tópico 2 de encenação da linguagem.
COMENTANDO A POESIA
8
Que acidente terá sido esse, desagradável ou infeliz, ou simplesmente
fortuito e inesperado? Há aí duas figurações essenciais, dois breves
momentos poéticos determinantes: a quebra do púcaro e o balbucio do
vento entre os galhos das árvores.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
São apresentados aqui (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.) textos poéticos sobre literatura e arte, do livro Caderno H,
do poeta Mário Quintana. Após cada um deles, faça uma interpretação do
texto, comentando a relação entre forma e conteúdo de cada fragmento. O
seu comentário deve ser enviado para o Portfólio Individual "AULA 01 -
FUNDAMENTOS DO TEXTO LITERÁRIO”, com o nome
"aula01_topico03.doc", e deve ter de sete a dez linhas aproximadamente.
REFERÊNCIAS
9
AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria da Literatura. Coimbra:
Livraria Almedina, 1968.
10
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 02: CONOTAÇÃO, RECEPÇÃO, AUTORIA
COMENTANDO A POESIA
PARADA OBRIGATÓRIA
O texto abaixo é um verbete do Dicionário de termos literários, de
Massaud Moisés. Leia-o e compare-o com o texto de nossa aula, para
11
complementar sua compreensão do assunto. Procure o citado dicionário
na biblioteca de sua universidade, ou de sua cidade, e pesquise também
outros termos relacionados, como denotação, ambiguidade e metáfora.
Tire todas as dúvidas com o seu tutor.
12
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.denso-wave.com/en/
13
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 02: CONOTAÇÃO, RECEPÇÃO, AUTORIA
VERSÃO TEXTUAL
Do outro lado da obra, temos o recebedor do texto. Ele pode ser o leitor
ou o ouvinte, ou expectador, e pertence ao mundo real. Ele é o ser que entra
em contato com a obra, reflete sobre ela, recria o universo fictício a partir de
sua própria experiência de vida e sua cultura. Esse ser pode apresentar várias
denominações: leitor, recebedor, ouvinte, expectador, destinatário,
alocutário...
Vamos então exemplificar com uma obra que pode provocar uma
atrapalhação no reconhecimento dos seres e seus mundos. A obra em
questão é Beira-Mar, do escritor Pedro Nava. O autor identifica a obra como
memórias; é, portanto, um texto em que Pedro Nava, já mais velho, conta a
história de um jovem personagem chamado Pedro Nava, que passa sua
juventude em Belo Horizonte, nos anos em que cursou a Faculdade de
Medicina.
EXEMPLO
Considerando que a narrativa do autor Pedro Nava NÃO é sua vida,
mas a REPRESENTAÇÃO escrita daquilo que o Nava idoso lembrou e
escreveu sobre sua vida de jovem, podemos considerar aqui a existência de
pelo menos três seres que se envolvem com essa escrita.
14
Fonte [1]
FÓRUM
No início dos anos sessenta do século XX, surgiu no mercado editorial
brasileiro um livro no mínimo curioso: Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus, negra, favelada, rudemente alfabetizada. O livro, na época,
vendeu perto de um milhão de exemplares, um verdadeiro fenômeno
editorial. A narrativa é o diário de uma favelada, também chamada
Carolina Maria de Jesus, que relata momentos difíceis de sua vida
miserável, com dois filhos para criar, sem marido. A linguagem utilizada
por ela foi mantida na publicação do livro, e revela momentos de intensa
poeticidade, embora apresente desvios da norma culta, como se pode
comprovar no trecho abaixo:
a autora;
a narradora;
a personagem principal;
15
o mundo real;
o mundo fictício.
16
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 02: CONOTAÇÃO, RECEPÇÃO, AUTORIA
Porém, há que se entender que a obra literária não paira absoluta sobre
um tempo e um espaço e sua origem é, muitas vezes, ponto de
enriquecimento para a interpretação, apesar de não ser obrigatória.
17
1.excluindo-se a intencionalidade do autor.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
A QUESTÃO DA INTENCIONALIDADE
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/iracema.pdf
[1] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
18
1. O papel da teoria da literatura;
2. A atitude que o autor de Gargântua espera dos leitores de seu livro;
3. Como as circunstâncias de produção podem ser responsáveis pela
recepção da obra em “Pierre Ménard, autor do Quixote”;
4. Como Proust encara a questão de intenção na obra literária;
5. Como se colocam as relações entre texto e contexto na obra;
6. Qual a função do “querer dizer” do autor;
7. A concepção de hermenêutica de Gadamer;
8. A diferença entre “compreender diferente” e “trair” o texto;
9. O conceito de “história efeitual”;
10. Os “cuidados especiais” de José de Alencar com seu texto;
11. O conteúdo do “argumento histórico” de Iracema;
12. A preocupação de José de Alencar com a linguagem;
13. A língua “brasileira” de José de Alencar;
14. Alencar e a questão da verossimilhança;
15. As medidas de proteção ao “filho de minha alma”;
16. O primado da primeira recepção;
17. Mesmo com tantos cuidados, pode haver outras leituras de Iracema?
18. A irresistível “visão européia” alencariana;
19. As passagens de Iracema que denunciam o eurocentrismo;
20. A concepção de Sílvio Romero sobre os índios e o Indianismo;
21. As relações entre o que o texto diz e o que o autor quis dizer.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, José de. Iracema. Lenda do Ceará. Fortaleza: Edições
UFC, 1985.
19
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 03: LITERATURA - O QUE DIZ, O QUE SE COMPREENDE, O QUE SE APRECIA
FÓRUM
Vamos estender nossa discussão sobre a constituição do texto literário
fazendo uma leitura do conto “Cães, marinheiros”, do escritor português
Herbert Helder. O texto foi publicado no livro Os passos em volta, que
tem edição brasileira (v. bibliografia), mas pode também ser encontrado,
em sua íntegra, no seguinte endereço eletrônico:
http://cercarte.blogspot.com.br/2008/10/ces-marinheiros-de-
herberto-helder-os.html [2]
O texto pode ser lido, numa abordagem social, como uma alegoria da
opressão, da falta de liberdade, ou pode ser lido enxergando os eventos
narrados como uma reflexão sobre a escrita. Exercite sua percepção do
texto literário, discutindo com os colegas as possibilidades de
20
interpretação desse texto. Envie seus comentários sobre a narrativa dos
cães e seu marinheiro para o Fórum e depois confira nossos comentários.
21
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 03: LITERATURA - O QUE DIZ, O QUE SE COMPREENDE, O QUE SE APRECIA
Fonte [1] Até a segunda metade do século XIX, a concepção mimética da literatura
predominou no pensamento ocidental, até que, a partir do século XX,
principalmente, algumas tendências da reflexão sobre a literatura passaram
a apresentar uma visão diferente, e preconizam a autonomia da literatura em
relação à realidade, ao referente, ao mundo.
22
literatura, que nos instalamos nela, o
funcionamento dos atos de linguagem fictícios é
exatamente o mesmo que o dos atos de linguagem
reais, fora da literatura.
Fonte [3]
23
literárias (convenções, um código, uma ideologia etc.). No dizer de Antoine
Compagnon,
CHAT
Após a leitura do texto da aula, do romance Iracema e revendo as
aulas anteriores, reflita e discuta com seus colegas e com o tutor de sua
turma, em Chat a ser marcado por ele, as seguintes questões, que vão
servir de base para seus comentários e suas perguntas, bem como de seus
colegas, durante a conversa:
24
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 03: LITERATURA - O QUE DIZ, O QUE SE COMPREENDE, O QUE SE APRECIA
O discurso literário é marcado por seu estilo. Mas o que é o estilo? Essa
palavra assume diversas conotações no decorrer da história da literatura:
pode ser a individualidade de um artista, a singularidade de uma obra, uma
escola literária, um gênero.
2 - O ESTILO É UM ORNAMENTO
3 - O ESTILO É UM DESVIO
25
A alma de uma nação, de uma raça, a unidade da língua e as
manifestações simbólicas de um grupo ensejam o aparecimento de um
modelo global, um motivo dominante.
26
nos com conceitos ligados ao valor, tais como: cânone, tradição, clássicos,
grandes escritores, panteão, obra-prima, autoridade, originalidade, revisão,
reabilitação.
LEITURA COMPLEMENTAR
O texto, de Antoine Compagnon, coloca em evidência a questão do
valor relacionado à literatura. Clique aqui. (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)
FÓRUM
Após ler atentamente o texto de Antoine Compagnon, discuta com seu
grupo as questões que seguem :
REFERÊNCIAS
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1999.
27
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 04: METALINGUAGEM E INTERTEXTUALIDADE
28
reflexão, que disserta sobre um outro discurso, o discurso literário de José de
Alencar.
VERSÃO TEXTUAL
02 - Desencanto
03 -
04 - O poema
05 -
29
No poema acima, Herberto Helder estabelece uma relação entre o
poema e o mundo. Ele nasce da carne, sua origem é humana, mas à
medida que se forma separa-se do mundo, com suas gêneses, suas
violências, seus amores e elementos naturais. O poema, em sua
trajetória, abarca o mundo, supera-o, torna-se infenso a seu poder,
diante do olhar perplexo de seu criador, que “ignora a espinha do
mistério”. O poema é imaterial e intemporal.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Você tem abaixo atividades relacionadas ao assunto metalinguagem.
Você deverá fazer as quatro, e enviar suas respostas para o Portfólio do
Ambiente Solar.
CLIQUE AQUI
Era só concha.*
nome de cona.
*
Era só concha: está nas lendas em Nheengatu e Português, na
Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, v. 154 (BARROS,
1998, p. 85)
30
1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
2. http://www.denso-wave.com/en/
31
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 04: METALINGUAGEM E INTERTEXTUALIDADE
VERSÃO TEXTUAL
VERSÃO TEXTUAL
02 - DEFINIÇÂO
1. Exemplo:
03 -
04 -
2. Paródia
TEXTO ORIGINAL:
CANÇÃO DO EXÍLIO
33
05 -
TEXTO PARODÍSTICO
CANÇÃO DO EXÍLIO
06 -
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
34
impregnados de cultura européia e norte-americana, a começar pelas
macieiras e pelos gaturamos.
07 -
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
1. Releia a canônica “Canção do exílio” de Gonçalves Dias. Clique aqui
(Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) para baixar o
poema de José Paulo Paes, que estabelece um diálogo intertextual com o
texto do poeta romântico. Redija um texto de aproximadamente dez
linhas, comentando como se dá essa intertextualidade, e se ela tem caráter
parodístico ou parafrásico, e por quê.
2. Com base nos poemas transcritos que você acabou de baixar, redija
um texto de aproximadamente dez linhas comentando a relação que se
estabelece entre um e outro, considerando a intertextualidade e poste no
Portfólio do nosso ambiente Solar.
35
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 04: METALINGUAGEM E INTERTEXTUALIDADE
CITAÇÃO
Citar um texto é transcrevê-lo tal como ele aparece em seu original.
Esse recurso é muito comum em trabalhos científicos, por exemplo, em
que outros autores concorrem para conferir autoridade a um determinado
estudo.
EPÍGRAFE
A epígrafe é um tipo de citação de outro autor que antecede um
poema, um conto, um capítulo de um livro, um romance etc. O texto que
aparece na epígrafe em geral guarda alguma relação com o texto que se vai
escrever.
ALUSÃO
Aludir é fazer referência a um texto, ao seu autor, a algum personagem
de outra obra, ou a algum acontecimento marcante que aparece em algum
livro.
BRICOLAGEM
A bricolagem é uma montagem feita de vários textos para produzir
outro.
36
PASTICHE
Fazer um pastiche é imitar o estilo de outro autor. Num sentido mais
antigo, o pastiche era considerado uma imitação de baixa qualidade,
subalterna, que um escritor “menor” fazia de um texto de um escritor
“maior”. Numa concepção contemporânea, a ideia de pastiche não envolve
juízo de valor.
A QUESTÃO DA ORIGINALIDADE
37
Mário, em Macunaíma, copia o Brasil, mostrando sua cara e
satirizando-o, mas não abre mão de sua autoria: “Meu nome está na capa de
Macunaíma e ninguém o poderá tirar”. Do livro do alemão, Macunaíma se
libertou e ampliou suas fronteiras inicialmente nortistas, agregando a si e a
sua ação “modismos, locuções, tradições ainda não registradas em livro,
fórmulas sintáticas, processos de pontuação oral, etc. de falas de índio, ou já
brasileiras, temidas e refugadas pelos geniais escritores brasileiros da
formosíssima língua portuguesa” (1999, p. 165).
EXERCITANDO
Clique aqui (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.).
REFERÊNCIAS
AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria da Literatura. Coimbra:
Livraria Almedina, 1968.
38
MENDES, Murilo. Poemas e Bumba-meu-poeta. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1988.
39
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 05: GÊNEROS LITERÁRIOS
A divisão dos textos literários nos três gêneros hoje conhecidos foi
proposta na Renascença a partir das considerações do filósofo grego
Aristóteles, que viveu no século IV a. C. Os textos foram então divididos em
três grandes gêneros: épico, dramático e lírico. Em sua Poética, Aristóteles
descreveu os gêneros épico e dramático, mas não chegou a detalhar o gênero
lírico. Supõe-se que ele o tenha feito em outra obra, que se perdeu.
GÊNERO ÉPICO
ou narrativo, é o relato da história de um povo, representado por um
herói que vivencia um espírito de coletividade com seu povo. Tinha caráter
didático. Evoluiu da conceituação clássica para a contemporânea como
“narrativa”.
GÊNERO DRAMÁTICO
é a representação, a encenação de uma história de um herói nobre,
ainda ligado à coletividade, mas em uma luta individual. Atualmente
caracteriza os textos teatrais.
GÊNERO LÍRICO
Considerado pelos gregos como uma modalidade menor, por ser mais
condizente com o temperamento feminino, é a expressão da subjetividade,
das emoções.
O socorro
40
Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era
cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que
cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para
cima e viu que, sozinho, não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu.
Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de
esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado.
A noite chegou, subiu, veio o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da
madrugada e, na noite escura, não se ouvia um som humano, embora o
cemitério estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. Só
pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo
da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria
apareceu lá em cima, perguntou o que havia: “O que é que há?”
Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem
se apela
MILLÔR FERNANDES
http://www.lainsignia.org/2005/agosto/cul_004.htm [1]
..................
..................
..................
41
..................
..................
(ASSIS, 1961, p. 376)
VERSÃO TEXTUAL
Os Elementos da Narrativa
1 - NARRADOR
42
que quer passar ao leitor a certeza de que foi traído e de que sua
vingança é legítima, mas não convence ninguém, desviando a simpatia
do leitor para a mulher supostamente adúltera; em Menino de
engenho, de José Lins do Rego, apresenta-se uma voz narrativa
vacilante entre menino e adulto; em Sargento Getúlio, de João Ubaldo
Ribeiro, temos o monólogo da missão e do destino inalterável.
2 - NARRADOR
43
de subjetividade (introspecção) ou de objetividade (extroversão); pode
ser alguém otimista, ou pessimista.
3 - NARRADOR X AUTOR
4 - AÇÃO OU ENREDO
Ou de três páginas.
Ou de trinta.
Nossa!
Eu botava bicho.
NUNES, 1988, p. 54
5 - PERSONAGENS
45
Normalmente, o “dono” da voz narrativa é, como se viu, o
narrador. Entretanto, o narrador concede eventualmente aos
personagens o poder de se expressar. Isso é feito de três maneiras
principais.
Exemplos:
Discurso direto:
“ (...) mas mesmo assim eu fui em frente “que tanto você insiste
em me ensinar, hem jornalistinha de merda? que tanto você insiste em
me ensinar se o pouco que você aprendeu da vida foi comigo, comigo”
e eu batia no peito e já subia no grito, mas um “ó! honorável mestre!...”
ela disse (...)”
Discurso indireto:
7 - TEMPO
46
enunciado), o tempo da narração (ou tempo da enunciação), e o tempo
da recepção ou da leitura.
ESPAÇO
8 - TEMA
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Clique aqui (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.) para ler os textos, identifique e classifique os seguintes
elementos da narrativa: narrador, ação, personagens, tempo e espaço.
Suas respostas devem ser enviadas para o Portfólio.
47
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 05: GÊNEROS LITERÁRIOS
EXEMPLO
SACRISTÃO: Faço.
MULHER: Em latim?
SACRISTÃO: Em latim.
PADEIRO: E o acompanhamento?
MULHER: Acho.
MULHER: Xaréu
TODOS: Amém
48
vai ao público, no entanto, é veiculado pelos personagens em discurso direto.
O texto que segue é parte de um romance, Quincas Borba, de Machado de
Assis. Embora não seja uma peça teatral, o fragmento transcrito tem uma
estrutura dramática, com o predomínio do diálogo sobre a narração.
EXEMPLO
― Não, senhor.
― Veja se conhece.
― De Barbacena?
― Não, senhor.
APROFUNDAMENTO
49
TEATRO — Grego théatron, lugar onde se vê.
50
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 05: GÊNEROS LITERÁRIOS
CONSOADA
— Alô, iniludível!
A mesa posta,
O texto acima não relata nem representa uma história. O que temos
aqui é a expressão de um sentimento, de uma emoção, ligada à chegada da
morte. O eu-lírico, ou seja, a voz que se apresenta no texto lírico
(equivalente ao narrador na épica), expressa um comportamento
hipotético relacionado ao momento final da vida. O poema é perpassado de
dúvida, de mistério, de ambiguidade.
Epigrama n° 1
51
Uma sonora ou silenciosa canção:
Motivo
sou poeta.
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
ou passo.
― mais nada.
52
Espaço, tempo e personagens, quando aparecem, são indefinidos, e servem
como pretexto para a expressão dos sentimentos.
FÓRUM
Leia o poema abaixo, de Manuel Bandeira, e procure dialogar com ele.
Faça a ele várias perguntas, tente dar algumas respostas, faça outras
perguntas, e dê um depoimento no fórum. Você deverá enviar pelo menos
duas postagens: uma com suas impressões iniciais sobre o poema, e mais
uma, ou mais outras, comentando a mensagem de algum colega.
Absortos na vida
Confiantes na vida.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1985.
JESUS, Maria Carolina de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2000.
53
MEIRELES, Cecília. Viagem e Vaga música. Rio de Janeiro: Record,
1982.
54
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 06: PROCESSOS ESSENCIAIS DE LINGUAGEM FIGURADA
Não obstante, podem-se extrair dos versos significações que estão “por
trás” das significações primeiras das palavras. Considerando que o texto está
inserido num contexto de recriação do passado pela memória, pode-se
perfeitamente associar a fragilidade das coisas e sua suscetibilidade ao
aniquilamento como uma característica da própria memória. Num sentido
conotativo, podemos dizer que a lembrança se perdeu, as reminiscências
perderam a nitidez. O destino das coisas não seria então o próprio
esquecimento, que nos dificulta o resgate intato do passado? O texto acima é
aparentemente mais referencial, mais “concreto”, mas mesmo assim ele nos
permite aprofundar em sua significação, desestabilizando a relação entre as
palavras e as coisas, o que, aliás, é prerrogativa da poesia.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Transcreveremos abaixo quatro pequenos textos literários para você
pensar sobre a linguagem conotativa e a denotativa. Para cada fragmento,
você vai escrever um comentário em torno de cinco linhas identificando
palavras, expressões ou frases que sejam predominantemente conotativas.
Disponibilize seus comentários no seu Portfólio.
Texto 1:
Palavras são feito gente, tem de todo jeito: bonitas, feias, gordas,
magras, simpáticas, antipáticas, sérias, engraçadas, alegres, tristes; todo
jeito. Beto diz que a gente pode aprender tudo com as palavras, mas para
isso é preciso a gente gostar delas feito a gente gosta das pessoas. Eu
também já pensei isso uma vez. Já reparou como é engraçado uma
palavra, se a gente fica olhando para ela muito tempo e pensando nela?
É engraçado, ela parece que começa a mexer, a viver; parece uma coisa
viva. Palavras parecem uma porção de bichinhos brincando; brincando
de serem palavras; já reparou isso? Fale uma palavra que você ache
bonita...
56
Texto 3:
Texto 4:
O ÚLTIMO POEMA
57
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 06: PROCESSOS ESSENCIAIS DE LINGUAGEM FIGURADA
METÁFORA
Ametáforaé tida tradicionalmente como a mais fundamental forma de
linguagem figurada, e é bastante utilizada no gênero lírico.
METÁFORA
VEJA O EXEMPLO
SÍMILE OU COMPARAÇÃO
Enquanto a metáfora assume que a transferência é possível ou já
aconteceu, asímile ou comparaçãoÉ mais óbvia do que a metáfora. O texto
abaixo apresenta uma série de símiles.
SÍMILE OU COMPARAÇÃO
VEJA O EXEMPLO
METONÍMIA
Outra imagem comumente utilizada na literatura, ao lado da metáfora e
da comparação, é a metonímia (o processo metonímico se baseia numa
contiguidade, ou extensão de uma realidade em relação a outra.) . Enquanto
o processo metafórico se fundamenta numa transferência de características
de uma realidade para outra de natureza completamente diferente (anjinho
= luz peregrina = estrela divina, por exemplo),
VEJA O EXEMPLO
E se não era
eterna a vida, dentro e fora do armário,
o certo é que
tendo cada coisa uma velocidade
........................................................
cada coisa se afastava
desigualmente
de sua possível eternidade.
59
entre as duas realidades. Outra característica da metonímia é que a realidade
a que ela conduz normalmente não é referida no contexto, dada sua
proximidade com ela, enquanto na metáfora ela geralmente é citada,
exatamente porque tem natureza diferente do ser com que ela se relaciona.
VEJA O EXEMPLO
MORRO DA BABILÔNIA
À noite do morro
descem vozes que criam terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema)
........................................................
Mas as vozes do morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
Que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro.
60
TEORIA DA LITERATURA I
AULA 06: PROCESSOS ESSENCIAIS DE LINGUAGEM FIGURADA
1. ANTÍTESE
DEFINIÇÃO
EXEMPLO
2. PARADOXO OU OXÍMORO
DEFINIÇÃO
EXEMPLO
(F. Pessoa)
61
3. SINESTESIA
DEFINIÇÃO
EXEMPLO
(Alphonsus de Guimaraens)
4. PERSONIFICAÇÃO OU PROSOPOPÉIA
DEFINIÇÃO
EXEMPLO
5. ANIMALIZAÇÃO
DEFINIÇÃO
EXEMPLO:
62
É o que acontece aos personagens humanos de Vidas secas:
(Graciliano Ramos)
6. HIPÉRBOLE
DEFINIÇÃO
EXEMPLO:
(C. Alves)
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Identifique uma figura de linguagem que aparece em cada um dos
trechos abaixo.
CLIQUE AQUI
a) “Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul.”
e) “o mar se estendia,
como camisa ou lençol
sobre seus esqueletos (...)”
63
i) “Mal comeu os doces, a marmelada, da terra, que se cortava
bonita, o perfume em açúcar e carne e flor.”
o) “Uma bandeira
que tivesse dentes:
como um poeta puro (...)”
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1985, p. 149.
64
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 1999.
65