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Revista Brasileira de Nutrição Esportiva


ISSN 1981-9927 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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A ASSOCIAÇÃO DA ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL AO EXERCÍCIO DE FORÇA NA


HIPERTROFIA MUSCULAR
1
Andréia Andrade da Silva ,
1
Nathália Silva Lemos Nogueira da Fonseca ,
1
Luiz Claudio Gagliardo

RESUMO ABSTRACT

A prática regular de exercícios físicos, unida à The association between nutritional orientation
alimentação saudável, está cada vez mais and weight exercise for muscle hypertrophy.
associada à melhor qualidade de vida, levando
as pessoas às academias de ginástica para a The regular practice of physical exercises,
prática da musculação por promover redução linked to healthy eating, is increasingly
da gordura corporal e hipertrofia muscular. A associated with better quality of life, taking
pesquisa objetivou analisar a relação da people to gyms for bodybuilding by promoting
orientação nutricional ao exercício de força na reduction of body fat and muscle hypertrophy.
hipertrofia muscular de 30 praticantes de The research aimed to analyze the relationship
musculação de uma academia de ginástica do of nutritional guidance to strength exercise on
município de Belford Roxo-RJ. Realizou-se muscular hypertrophy of 30 bodybuilders of a
avaliação antropométrica durante três meses gym in the city of Belford Roxo-RJ. An
consecutivos e avaliação dos hábitos anthropometric assessment was conducted for
alimentares através de um Questionário de three consecutive months and the evaluation
Frequência Alimentar (QFA) aplicado no início of eating habits was through a Food Frequency
e no final do estudo. A amostra foi dividida Questionnaire (FFQ) applied at the beginning
equitativamente em Grupo A (controle) e and end of the study. The sample was equally
Grupo B (experimental) o qual recebeu divided into the Group A (Control) and Group B
orientações. O IMC revelou que 46,67% do (Experimental) which received the guidelines.
grupo A e 66,67% do grupo B eram eutróficos. The IMC revealed that 46.67% of Group A and
Na última avaliação, a DCT de ambos os 66.67% of Group B were eutrophic. In the
grupos apresentou 93,33% de eutrofia. No latest assessment, the TSF of both groups
grupo B, o percentual de CB com risco para presented 93.33% of eutrophy. In Group B, the
desnutrição foi alterado para eutrofia e a percentage of AC with risk for malnutrition was
porcentagem de indivíduos com musculatura changed to eutrophy and the percentage of
desenvolvida permaneceu 26,67%, e no grupo individuals with muscular developed remained
A houve uma redução. O grupo B passou a 26.67% and in the group A there was a
consumir mais fibras e lipídeos insaturados decrease. The Group B began to consume
diariamente. O consumo de carboidratos e more fiber and unsaturated lipids daily. The
proteínas dos grupos mostrou-se relevante. No consumption of carbohydrates and proteins of
grupo B, a redução do consumo de gorduras the groups proved to be relevant. In Group B,
saturadas e a prática do exercício podem ter the reduced consumption of saturated fats and
influenciado na redução de DCT e IMC deste the exercise may have influenced the reduction
grupo. Concluiu-se que a alimentação of TSF and BMI in this group. It was concluded
saudável adquirida através de uma orientação that healthy eating acquired through an
nutricional adequada, mostrou-se adequate nutritional orientation was essential
imprescindível para as modificações positivas to the positive changes in anthropometry of the
na antropometria dos indivíduos. individuals.

Palavras-chave: Alimentação, Antropometria, Key Words: Feeding, Anthropometry, Motor


Atividade Motora, Treinamento de Resistência. Activity, Resistance Training.

E-mail:
1-Universidade do Grande Rio, Duque de andreiandrad@hotmail.com
Caxias, Rio de Janeiro. nathy_amore@hotmail.com
luiznutrj@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO para a formação, reparação e reconstituição


dos tecidos, mantendo sua estrutura e suas
O processo de Transição Nutricional funções, possibilitando assim a realização dos
no Brasil caracterizou-se pelo aumento de exercícios (Hernandez e Nahas, 2009; Piaia,
práticas alimentares inadequadas e o aumento Rocha e Vale, 2007; Theodoro, Ricalde e
do sedentarismo, o qual tem mostrado uma Amaro, 2009).
maior relação com o aparecimento de doenças O equilíbrio energético é o
crônico-degenerativas que são as principais determinante fundamental para a otimização
causas de morbimortalidade na população do desempenho, modificação da composição
mundial (Lopes e colaboradores, 2010; Silva e corporal, ganho de massa muscular e perda
colaboradores, 2010; Souza, 2010). de gordura visceral, pois trata-se da relação
Em contrapartida, a prática regular de entre a energia adquirida por meio da
exercícios físicos, unida a uma alimentação alimentação e a energia gasta através da
saudável, está cada vez mais associada a prática de exercícios bem como da realização
uma melhor qualidade de vida, uma vez que de atividades da vida diária (Chandler e
promove benefícios fisiológicos e psicológicos Brown, 2009).
aos indivíduos (Silva e colaboradores, 2010). Desta forma, a ingestão de macro e
Nos dias atuais, é possível observar micronutrientes deve ser equilibrada, em
um crescente interesse pela busca da quantidade e qualidade, seguindo as
qualidade de vida, condicionamento físico e recomendações nutricionais para indivíduos
estética, que são alguns dos principais motivos fisicamente ativos (Kamel e Kamel, 2003).
que tem levado as pessoas à prática de Assim, a orientação nutricional torna-
exercícios físicos, principalmente em se fundamental, pois proporcionará aos
academias de ginástica (Hirschbruch e indivíduos fisicamente ativos a alimentação
Carvalho, 2008). adequada para um melhor rendimento do
Os frequentadores de academias de organismo promovendo, sobretudo, a saúde
ginástica são indivíduos fisicamente ativos, dessas pessoas (Piaia, Rocha e Vale, 2007).
geralmente situados na faixa entre 18 e 35 Mediante o exposto, a presente
anos de idade, motivados para a prática do pesquisa teve como objetivo analisar a relação
exercício e que objetivam principalmente a da orientação nutricional ao exercício de força
diminuição da gordura corporal e o aumento na hipertrofia muscular, traçando suas
da massa muscular, o que justifica o fato da principais influências e benefícios ao exercício
musculação ser a modalidade mais procurada praticado.
no âmbito das academias (Hirschbruch e
Carvalho, 2008). MATERIAIS E MÉTODOS
Para a prática da musculação, os
exercícios com peso são os mais utilizados, A população estudada foi composta
exigindo a força como principal capacidade por 30 indivíduos, praticantes de musculação,
motora, ocorrendo assim o aumento da força frequentadores da academia de ginástica
muscular que apresenta como principal Academia 15, situada no bairro Lote XV, no
modificação morfológica a hipertrofia município de Belford Roxo/RJ.
muscular, a qual é definida como um aumento Os critérios de inclusão foram:
do volume de um determinado músculo praticantes de musculação, ambos os sexos,
ocorrido em consequência do aumento da idade entre 18 e 35 anos e recém-
área de secção transversa das fibras que o matriculados, isto é, somente aqueles que
constituem (Crozeta e Oliveira, 2009; Gentil, efetivaram sua matrícula há pelo menos 30
2011). dias antes do início do estudo. Foram
Sabendo-se que a prática do exercício excluídos aqueles que possuíam algum tipo de
físico ocasiona um aumento do gasto patologia, os que faziam uso de suplementos
energético e das necessidades calóricas, nutricionais e os indivíduos que praticavam
pode-se dizer que o melhor desempenho irá outra modalidade além da musculação.
depender da alimentação, visto que uma dieta Como se tratou de uma pesquisa em
balanceada, adequada em quantidade e que foram coletados dados dos indivíduos
qualidade, de acordo com as recomendações para uma posterior análise, todos assinaram o
dadas à população em geral, é importante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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A avaliação antropométrica foi francês, pão de forma, tubérculos, cereais e


realizada uma vez por mês, durante três leguminosas), fibras (pão integral, produtos
meses consecutivos para uma posterior integrais, frutas e verduras), lipídeos saturados
avaliação do desenvolvimento da composição (margarina, manteiga, frituras de imersão e
corporal dos indivíduos no decorrer da salgadinhos) e insaturados (óleos, azeite e
pesquisa. Os dados coletados foram peixe) e proteínas através da análise da
devidamente registrados em uma Ficha de frequência de consumo dos alimentos
Avaliação Antropométrica individual. pertencentes a cada grupo.
O peso foi obtido através de uma A amostra estudada foi dividida de
®
balança (Filizola com carga máxima de 150 forma equitativa em dois grupos: Grupo A
kg e precisão de 50 kg) com o indivíduo (grupo controle) o qual realizava somente a
utilizando roupas leves e sem sapatos. musculação objetivando a hipertrofia muscular
Mensurou-se a estatura através de um e Grupo B (grupo experimental) que além de
estadiômetro de unidade de medida em mm, realizar a musculação, recebeu as orientações
da mesma balança, com o indivíduo em nutricionais baseadas na Pirâmide Alimentar
posição ortostática. A partir destas variáveis Brasileira, adaptada por Philippi (2008), foram
obteve-se o Índice de Massa Corporal (IMC) orientados sobre fracionamento e variação de
para classificação do estado nutricional do alimentos que iriam compor a dieta, além de
indivíduo, utilizando-se como parâmetro a receberem dicas sobre a alimentação pré, per
classificação da Organização Mundial da e pós-exercício.
Saúde (OMS, 1995). O tratamento estatístico utilizou-se a
Utilizando-se um adipômetro científico estatística descritiva para os dados obtidos foi
(Lange® com precisão de 1mm) foi por meio do software Microsoft Excel 2010®.
mensurada a Dobra Cutânea Tricipital (DCT), A pesquisa apenas foi realizada após
aferida na linha média posterior do braço, a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
meio caminho entre o acrômio e o olécrano, Universidade do Grande Rio, de acordo com a
com o braço do indivíduo mantido livremente Resolução nº. 196/96, do Conselho Nacional
ao lado do corpo e de função antagônica. de Saúde, sob o nº. do protocolo de aprovação
Foram realizadas três mensurações - 00890212.8.0000.5283.
consecutivas, tomando-se a média das
medidas. RESULTADOS
A Circunferência do Braço (CB) foi
mensurada utilizando-se uma fita métrica em Observou-se que 66,67% (n=20) dos
fibra de vidro, com o indivíduo na posição indivíduos participantes da pesquisa eram do
ereta, braços pendentes livremente aos lados gênero feminino e 33,33% (n=10) eram do
do corpo, mãos orientadas para a coxa e de gênero masculino.
função antagônica, obtendo-se uma medida Analisando-se o gráfico 1, constatou-
horizontal a meio caminho entre o acrômio e o se que 46,67% (n=7) dos indivíduos do grupo
olecrano. A possuíam o IMC de eutrofia, o qual
A partir dos valores de DCT e CB, foi permaneceu por toda a pesquisa.
possível obter a Circunferência Muscular do O número de indivíduos com
Braço (CMB) utilizando-se a fórmula CMB(cm) obesidade grau I da 1ª avaliação passou a
= CB(cm) – (DCT[mm] x 0,314). pertencer a faixa de sobrepeso, uma vez que
As classificações dos percentis de seu percentual foi alterado para 53,33% (n=8)
DCT, CB e CMB foram identificadas de acordo na 2ª avaliação. No grupo B, na 1ª avaliação
com Frisancho (1990). havia 66,67% (n=10) de indivíduos eutróficos,
A avaliação dos hábitos alimentares foi 13,33% (n=2) com sobrepeso, e 6,67% (n=3)
obtida através de um Questionário de de indivíduos com obesidade graus I, II e III,
Frequência Alimentar (QFA) qualitativo respectivamente.
orientado, adaptado de Círico e Oliveira (2006) Já na 2ª avaliação percebeu-se que
em que os indivíduos responderam no início e não havia mais indivíduos com obesidade grau
no final do estudo. III, que pode ser explicado pelo aumento de
Após, interpretou-se os questionários indivíduos com obesidade grau II que passou
dividindo-se os alimentos em grupos, tais para 13,33% (n=2). O mesmo ocorreu com a
como: carboidratos simples, complexos (pão faixa de sobrepeso que aumentou para 20%

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(n=3) enquanto o número de indivíduos com eutróficos, surgindo 13,33% (n=2) de


obesidade grau I passou a ser inexistente. indivíduos com risco para desnutrição na 2ª
Na 3ª avaliação do grupo B, ainda no avaliação, reduzindo para 6,67% (n=1) na
gráfico 1, observou-se que o número de última avaliação, enquanto 93,33% (n=14)
indivíduos eutróficos diminuiu para 60% (n=9) ficaram na faixa de eutrofia. No grupo B houve
o que justifica o aumento de indivíduos com a permanência de 100% (n=15) de eutrofia da
sobrepeso para 26,67% (n=4). amostra nas duas primeiras avaliações, no
O gráfico 2, mostra a classificação do entanto, na 3ª avaliação este número foi
estado nutricional de acordo com a DCT, a reduzido, uma vez que 6,67% (n=1) dos
qual revelou que no grupo A, inicialmente, indivíduos passaram para um estado de risco
100% (n=15) dos indivíduos estavam para desnutrição.

Gráfico 1 - Distribuição % de indivíduos do Grupo A (a) e Grupo B (b), segundo classificação do


estado nutricional através do IMC por período de avaliação.

(a) (b)

Gráfico 2 - Distribuição % de indivíduos do grupo A (a) e grupo B (b), segundo classificação do


estado nutricional através de DCT por período de avaliação.
(a) (b)

Ao avaliar CB através do gráfico 3, Já no grupo B, houve a presença de


constatou-se que o grupo A sofreu poucas 6,67% (n=1) de indivíduos com risco para
variações. Na 1ª avaliação havia 80% (n=12) desnutrição, 66,67% (n=10) de eutróficos e
de eutróficos e 20% (n=3) de indivíduos 26,67% (n=4) apresentando obesidade na 1ª
apresentando obesidade, durante a 2ª avaliação.
avaliação o número de indivíduos com Na 2ª avaliação, verificou-se que o
obesidade aumentou para 26,67% (n=4) e, percentual de indivíduos com risco para
consequentemente, o número de eutróficos foi desnutrição encontrava-se na faixa de eutrofia,
reduzido para 73,33% (n=11), no entanto, na 73,33% (n=11) a qual permaneceu na última
última avaliação esses dados se igualaram avaliação, assim como o número de indivíduos
novamente aos da 1ª avaliação. com obesidade, 26,67% (n=4).

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A CMB do grupo A, representada no número de indivíduos com obesidade ou


gráfico 4, mostrou que 53,33% (n=8) dos musculatura desenvolvida na 3ª avaliação,
indivíduos eram eutróficos e 46,67% (n=7) totalizando 40% (n=6) da amostra, enquanto o
estavam com obesidade ou musculatura número de indivíduos eutróficos foi alterado
desenvolvida, esses dados permaneceram na para 60% (n=9).
2ª avaliação, porém houve um redução do

Gráfico 3 - Distribuição % de indivíduos do grupo A (a) e Grupo B (b), segundo classificação do


estado nutricional através da CB por período de avaliação.

(a) (b)

Gráfico 4 - Distribuição % de indivíduos do grupo A (a) e grupo B (b), segundo classificação da CMB
por período de avaliação.

(a) (b)

Ainda no gráfico 4, observa-se que na O gráfico 5, mostra a frequência de


1ª avaliação do grupo B, houve a presença de consumo de carboidratos, proteínas e lipídeos
6,67% (n=1) de indivíduos com baixa massa do grupo A no início e no final da pesquisa,
magra, 66,67% (n=10) de eutróficos e 26,67% notou-se que houve um aumento do consumo
(n=4) com obesidade ou musculatura diário de carboidratos simples para 66,67%
desenvolvida. Porém, notou-se que os (n=13) e redução no consumo de 2-3
indivíduos com baixa massa magra vezes/semana para 13,33% (n=2). Pode-se
apresentaram um estado de eutrofia na 2ª perceber também que inicialmente todos
avaliação, passando para 73,33% de consumiam carboidratos complexos
indivíduos eutróficos o qual permaneceu na diariamente e, no entanto, 6,67% (n=1) passou
última avaliação. O número de indivíduos com a consumir de 2-3 vezes/semana. A ingestão
obesidade ou musculatura desenvolvida não diária de fibras aumentou de 33,33% (n=5)
sofreu alterações durante a pesquisa. para 40% (n=6) e 26,67% (n=4) dos indivíduos
A partir dos dados coletados através passou a ingeri-las de 2-3 vezes/semana e
do QFA aplicado no início e no final da 26,67% (n=4) dos indivíduos continuaram
pesquisa, foi possível traçar o perfil dietético nunca consumindo fontes de fibras.
dos participantes.

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Gráfico 5 - Frequência de consumo de nutrientes do grupo A no início (a) e final (b) da pesquisa.

(a)
(b)

A frequência de consumo de lipídeos consumir carboidratos complexos diariamente


do grupo A, ainda observada no gráfico 5, e sobre o consumo de fibras, observou-se que
demonstra que 66,67% (n=10) dos indivíduos 6,67% (n=1) continuaram a consumi-las
consumiam gorduras saturadas diariamente e raramente e que o consumo diário aumentou
que o quantitativo de indivíduos que para 80% (n=12) com consequente diminuição
consumiam 1vez/semana, 13,33% (n=2) para 13,33% (n=2) de indivíduos consumindo
reduziu para 6,67% (n=1), enquanto 26,67% fibras de 2-3 vezes/semana. Notou-se que o
(n=4) dos indivíduos passaram a consumir consumo diário de proteínas aumentou para
este tipo de gorduras 2-3 vezes/semana, ou 93,33% (n=14).
seja, aumentando a frequência de consumo A frequência de consumo de lipídeos
deste nutriente e no que diz respeito às do grupo B, ainda no gráfico 6, demonstra que
gorduras insaturadas a frequência de consumo houve redução de 46,67% (n=8) para 40%
diário aumentou para 93,33 % (n=14). (n=7) do consumo diário e de 33,33% (n=4)
O gráfico 6, mostra a frequência de para 20% (n=3) do consumo de 2-3
consumo de carboidratos, proteínas e lipídeos vezes/semana e a ingestão de gorduras
do grupo B, no início e no final da pesquisa. insaturadas aumentou para 100% (n=15) na 2ª
Observou-se que houve um aumento do avaliação, ou seja, todos os indivíduos
consumo diário de carboidratos simples para passaram a consumir fontes de gorduras
93,33% (n=13) e 6,67% passou a consumir insaturadas diariamente.
raramente. Todos os indivíduos passaram a

Gráfico 6 - Frequência de consumo de nutrientes do grupo B no início (a) e final (b) da pesquisa.

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DISCUSSÃO treinamento possibilita o controle e gasto


calórico, oxidação lipídica pós-treino, e
A predominância do gênero feminino principalmente, significativas reduções de
na pesquisa pode ser explicada pelo fato de as percentual de gordura, o que pode justificar
mulheres, nos dias atuais, mostrarem uma esta modificação notada durante a pesquisa.
maior preocupação com a estética, através do A CMB do grupo B demonstrou que
controle do peso corporal e da manutenção da indivíduos com baixa massa magra tornaram-
saúde por meio da prática de atividade física se eutróficos e indivíduos com obesidade ou
(Gonçalves e Alchieri, 2010). musculatura desenvolvida permaneceram
A redução do número de indivíduos nesta faixa até o final da pesquisa,
situados nas faixas de obesidade graus I e III constituindo assim um dado importante devido
do grupo B mostra-se um fator de grande ao fato de que a principal alteração
relevância para a pesquisa uma vez que a proporcionada pela musculação é a hipertrofia
obesidade é responsável pela morte de 2,6 da musculatura esquelética notada através
milhões de pessoas a cada ano, além de ser das alterações da CMB dos indivíduos.
fator preditivo de comorbidades como a O consumo de carboidratos e
hipertensão, diabetes do tipo II, cardiopatias e proteínas de ambos os grupos mostrou-se
alguns tipos de câncer (Costa e relevante uma vez que os carboidratos são
colaboradores, 2009). essenciais para a prática da musculação pelo
Na 3ª avaliação do grupo B, notou-se fornecimento de energia, enquanto as
um aumento do número de indivíduos com proteínas, por sua função plástica, são
sobrepeso, porém isto pode ter ocorrido essenciais ao exercício de força. Porém é
devido ao aumento de massa magra, uma vez necessário saber a real quantidade de
que neste mesmo grupo notou-se a redução proteínas consumida, uma vez que seu
da DCT e aumento da CMB. excesso pode acarretar problemas hepato-
Costa e colaboradores (2009) e Rossi, renais ou até mesmo a desidratação
Caruso e Galante (2009) ressaltam que (Hernandez e Nahas, 2009).
indivíduos que praticam exercícios de Enquanto a redução do consumo de
hipertrofia muscular, podem apresentar IMC gorduras saturadas associada ao aumento do
elevado devido ao aumento do peso referente consumo de gorduras insaturadas notados no
à elevação da massa muscular, além de CB e grupo B pode ter influenciado, juntamente com
CMB acima dos valores recomendados e, no a prática do exercício na redução de DCT e
entanto, não possuírem outro parâmetro IMC deste grupo.
antropométrico que indica nível de tecido
adiposo elevado, requerendo um maior CONCLUSÃO
cuidado para classificação do estado
nutricional destes indivíduos. Enquanto Mediante os resultados adquiridos
indivíduos com DCT e IMC acima dos valores através da antropometria e da avaliação
adequados associado a um baixo nível de nutricional dos praticantes de musculação de
atividade física podem então serem ambos os grupos, concluiu-se que os
classificados como obesos com mais exatidão. indivíduos do grupo B obtiveram resultados
Desta forma, pode-se concluir que o positivos em sua composição corporal,
IMC deve ser interpretado em conjunto com sobretudo a hipertrofia muscular observada
outros parâmetros antropométricos como as mediante os resultados da CMB.
dobras cutâneas e as circunferências para a Estes resultados podem ter sido
obtenção de uma classificação mais fidedigna influenciados pelas modificações dos hábitos
do estado nutricional do indivíduo. alimentares desses indivíduos, os quais
Ao avaliar DCT do grupo B notou-se passaram a ingerir mais fibras alimentares,
que alguns indivíduos passaram de uma faixa reduziram o consumo de gorduras saturadas e
de eutrofia para risco de desnutrição, uma elevaram a ingestão de gorduras insaturadas,
revisão de literatura realizada por Santos, além do consumo diário de proteínas, que é
Nascimento e Liberali (2008) a qual consistiu um importante nutriente utilizado para a
no levantamento de dados sobre o reparação e formação de tecido muscular.
treinamento de resistência muscular localizada Desta forma, acredita-se que essas
e suas implicações, concluiu que esse tipo de importantes modificações alimentares tenham

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ocorrido devido às orientações nutricionais 8-Hernandez, A.J.; Nahas, R.M. Modificações


dadas com o intuito de promover uma dietéticas, reposição hídrica, suplementos
alimentação saudável entre esses indivíduos. alimentares e drogas: comprovação de ação
Com isto, concluiu-se que a ergogênica e potenciais riscos para a saúde.
alimentação saudável adquirida através de Rev. Bras. Med. Esporte. São Paulo. Vol. 15.
uma orientação nutricional adequada, Num. 2. 2009.p. 3-12.
mostrou-se imprescindível para as
modificações positivas na composição corporal 9-Hirschbruch, M.D.; Carvalho, J.R. Nutrição
como a hipertrofia muscular, e para um melhor Esportiva: uma visão prática. Manole. 2008. p.
condicionamento físico, promovendo a 430.
desejada melhora da estética e da autoestima,
e consequentemente da saúde. 10-Kamel, D.; Kamel, J.G.N. Nutrição e
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18-Theodoro, H.; Ricalde, S.R.; Amaro, F.S.


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Endereço para correspondência:


Andréia Andrade da Silva
Rua Assis Chateuabriand, nº30, casa 16,
Parque Vitória - Duque de Caxias - RJ
CEP: 25045-540

Recebido para publicação em 27/11/2012


Aceito em 28/12/2012

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 6. n. 35. p. 389-397. Set/Out. 2012. ISSN 1981-9927.

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