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Apresentação do Módulo - 02

Estima-se que um bambu colhido e tratado


adequadamente pode durar acima de 100 anos, no
entanto, se não for colhido adequadamente e não sofrer
um tratamento preservativo, quando exposto ao tempo
pode durar menos que 3 anos.

Neste módulo iremos aprender qual o melhor


momento de colher o bambu, como colher, por que
devemos secá-lo, como a secagem deve ser feita e como
realizar o tratamento para garantir vida longa a sua
construção.

Boa leitura!
SUMÁRIO
1 - A colheita do bambu 4

1.1 - Idade de corte do bambu para uso em construções 5


1.2 Colheita 5

2 - Secagem 9

2.1 Secagem em estufa: 11


2.2 Secagem na mata: 12
2.3 Secagem ao ar livre: 13

3 - Tratamento do bambu 16

3.1 Agentes degradadores 16


3.1.1 Fungos 16
3.1.2 Insetos 17

4 - Métodos de tratamento 19

4.1- Métodos Naturais 19


4.2 - Métodos químicos 21

5 - Armazenamento 27

6- Considerações finais 28

7 - Referências Bibliográficas 29
APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

1 - A colheita do bambu

O manejo das touceiras é um aspecto muito importante no


desenvolvimento da construção com bambu. O corte é considerado o primeiro
tratamento, no entanto, outros tratamentos se farão necessários para
aumentar a durabilidade do bambu.

Devem ser retirados anualmente das touceiras os colmos maduros


para utilização, os colmos defeituosos e os que começam a secar na moita.
Esses últimos são indicativos de um manejo inadequado ou da presença de
pragas e deverão ser retirados.

A retirada precoce de colmos jovens e imaturos pode comprometer


o pleno desenvolvimento da touceira, pois estes contribuem para o
armazenamento de energia na forma de amido. Também é importante saber
que o envelhecimento dos colmos se inicia por volta do 8º ano e se estendem
até ao 10º ano, quando secam na touceira dificultando o manejo.

Tais ações de manejo garantirão um bambuzal limpo, arejado, sadio e


produtivo (Figura 01).

Figura 01 - Touceira de bambu gigante bem manejada.

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... a colheita do bambu

1.1 - Idade de corte do bambu para uso em construções


Quando a finalidade do bambu for à utilização em construções, o
corte do colmo deve ocorrer a partir do 3º ou 4º ano do nascimento do broto
para a maioria das espécies. A idade do colmo influencia na resistência, na
ocorrência de rachaduras e no ataque de insetos.

Como observado no quadro 01, a densidade do bambu Phyllostashys


pubscens, característica diretamente relacionada à resistência do colmo, sobe
significativamente ao longo dos três primeiros anos, depois se estabiliza até
iniciar um decréscimo a partir do oitavo ano. Por esta razão colhemos o bambu
a partir do terceiro ano, pois já possui resistência suficiente para o uso em
construções.

Quadro 01: Relação entre a massa específica aparente (g/cm³) de bambu da espécie
Phyllostashys pubscens. Fonte: CBRC,2001

Isto se aplica para a maioria dos bambus, com exceção do Guadua


Angustifólia, sendo que, na Colômbia é comum colher a partir do quinto ano
após o nascimento do broto.

Os colmos maduros apresentaram menor teor de amido, o que na


prática inibe o ataque de carunchos e brocas. Bambus não maduros racham
facilmente, principalmente em climas com grande variação da umidade do ar,
como o que ocorre em Brasília.

1.2 Colheita

Na hora da colheita é importante observar alguns critérios para


seleção dos colmos visando à utilização em construções. São eles:

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... a colheita do bambu

• Identificar as varas maduras pela presença de liquens na parede.


Esse fenômeno provoca uma coloração esbranquiçada indicando que
o bambu está maduro. Quanto mais liquens, mais maduro estará o
bambu (Figura 02);

Figura 03: Vista lateral e vista superior do sistema radicular do tipo entouceirante

• Varas maduras apresentam um som mais agudo quando batemos


o facão em sua parede;

Vídeo 1: Identificação do bambu maduro

Anote tudo pois cada


detalhe trará toda
informação necessária
para um bom projeto!
Frederico Rosalino

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

... a colheita do bambu

• O corte do colmo deve ser realizado logo acima do nó próximo


a base (Figura 03), isso impedirá que a água da chuva acumule dentro do
bambu, o que provocaria apodrecimento e comprometeria a saúde da
touceira/mata, além disso, facilita o acesso ao bambuzal;

Figura 03 – Corte do colmo próximo a base.

Vídeo 2: forma correta de cortar o colmo

• O corte deve ocorrer na lua minguante, quando o bambu retêm


menor quantidade de água em seus vasos;

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

... a colheita do bambu

• De preferência, a colheita deverá ser realizada antes do sol nascer,


pois, quando amanhece, dá-se início ao processo de fotossíntese, quando a
planta transporta água para as folhas. Isto faz com que a umidade do bambu
esteja mais elevada no momento do corte.

• Evita-se também o corte nos períodos de brotação para não


danificar os brotos que estão em processo de crescimento, o que pode também
prejudicar o desenvolvimento da touceira/mata, pois uma grande quantidade
de energia está sendo destinada ao nascimento e desenvolvimento dos brotos;

• No Brasil, especialmente na região de Brasília, a melhor época de


colheita é nos meses de outono e inverno, maio, junho, julho e agosto, para as
espécies alastrantes, e durante o mesmo período mais a primeira semana de
setembro, para as espécies entouceirantes;

• Para os bambus entouceirantes como o Dendrocalamus Asper,


recomenda-se deixar um vazio em forma de ferradura no interior da touceira
para facilitar o corte dos colmos maduros que ali se localizam;

• Após o corte, recomenda-se deixar os bambus secando na sombra,


próximo ao local do corte, por pelo menos uma semana, isto facilitará no
transporte, pois, neste período é possível que seu peso reduza até 30%.

• É importante observar a ocorrência de brocas no bambu durante o


período antes do tratamento, caso isso ocorra é importante elimina-los com a
aplicação de inseticida antes que comprometa a peça.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

2 - Secagem

Após o corte do colmo, a quantidade de água em seu interior pode


chegar a 70%, e, logo após o corte, já inicia-se um processo de secagem
natural. A redução de umidade de 70% até 30% ocorre rapidamente, em
média em duas semanas, onde o bambu perde toda sua água livre, ou seja, de
fácil liberação.

A partir deste 30%, o processo de secagem natural ocorre lentamente


até que, em aproximadamente 4 meses em média, o bambu perde toda a água
impregnada e chega a 12% de umidade, chamada de umidade de equilíbrio.
Após chegar nesta umidade de equilíbrio, a mesma irá variar de acordo com a
umidade do ambiente entre 10% e 20%.

Se a perda da água impregnada ocorrer muito rapidamente e de


forma desigual, deformações e rachaduras ocorrerão com facilidade. É
vantajoso submeter os colmos a uma secagem controlada, lenta e uniforme,
em local abrigado da chuva e do sol, e ventilado o suficiente para garantir a
redução por igual da umidade.

O quadro 02 apresenta uma pesquisa realizada para identificar as


retrações de uma peça de bambu, considera também a umidade de saturação,
ou seja a umidade presente na vara logo após colheita e a umidade quando
seco naturalmente ao ar livre.

Quadro 01: Resultados médios de umidade ( seco ao ar livre )


e retrações totais de três espécies de bambus gigantes.
Fonte-Lopes at al.2000

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...secagem

Retração radial - A retração radial seria quando o bambu depois de


colhido reduz sua dimensão no sentido de dentro da parede para fora, ou seja, se
uma peça da parte média de um bambu da espécie G. Angustifolia tem 10 cm de
diâmetro quando colhido, ao final de sua secagem, quando atingir 16% de
umidade em média, o mesmo terá 9,2 cm, retraindo cerca de 8,82%. (Figura 04)

Figura 04: Retração Radial do bambu

Retração Tangencial - É a retração no sentido da circunferência como


mostra a figura abaixo.

Figura 04: Retração Radial do bambu

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...secagem

Retração longitudinal - É a retração ao longo do colmo, paralelo as


fibras como mostra a figura abaixo, ou seja, quando cortamos uma vara com
6,0 metros do bambu Dendrocalamus Giganteus, até atingir sua umidade de
equilíbrio em torno de 0,26%, esta mesma vara irá medir em torno de 5,984
metros.

6,0 m

Comprimento pós retração longitudinal ( 5,984) 0,015 m


Retração

Figura 06: Retração tangencial do bambu

Estas informações são importantes principalmente para trabalhos


que exigem pouca ou nenhuma retração, tais como, pisos, móveis, etc.
Durante a secagem dos colmos, evite que fiquem expostos a ventos
fortes e constantes, pois, pode ocorrer um ressecamento excessivo
ocasionando trincas e rachaduras no bambu.
A umidade ideal para utilizar o bambu em construções é entre 12% e
20%, esta umidade será a de equilíbrio e irá variar dentro destes valores
dependendo da umidade do ambiente e da incidência solar.
Selecionamos três tipos de processos de secagem que podem ser
realizados, sendo que o primeiro necessita de um controle mais apurado.

2.1 Secagem em estufa:


A secagem em estufa (Figura 07) deve ser bem planejada com intuito
de evitar que os colmos sejam submetidos a variações bruscas de tempera-
tura. Como regra geral, recomenda-se controlar o processo de secagem de
maneira a se atingir uma umidade média ligeiramente abaixo da umidade de
equilíbrio do ar externo. Este processo embora seja muito eficiente exige um
controle maior.

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...secagem

Figura 07 – Secagem em estufa.

2.2 Secagem na mata:

A secagem natural na mata é realizada logo após o corte, quando os


colmos são deixados secando em pé, ainda dentro da touceira, apenas apoiados
em uma pedra para evitar o contato direto com o solo (Figura 08). Nesse caso
os galhos e a folhagem não devem ser removidos, pois são eles que aceleram o
processo estimulando a transpiração das folhas, e ao mesmo tempo reduzem
o número de pontos vulneráveis ao ataque de microorganismos.

Figura 08 – Secagem ao ar livre ainda na touceira.

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...secagem

2.3 Secagem ao ar livre:


Também podemos secar o bambu em local coberto, bem ventilado e
afastado do chão conforme a figura 09. Importante deixar um espaço entre o
colmos para que não favoreça o aparecimento de fungos.

Figura 9 – Secagem do bambu em local coberto.

Os colmos podem ser mantidos na horizontal ou na vertical, sendo


que, na vertical a secagem é mais rápida devido a maior facilidade de
escorrimento, porém é preciso grandes galpões para mantê-los cobertos
(Figura 10).

Figura 10 – Secagem do bambu em local coberto, na vertical.

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...secagem

É importante sempre observar a ocorrência de brocas no bambu


enquanto aguarda para ser tratado. Isto geralmente ocorre, pois o inseto
muitas vezes vem da mata junto com o bambu. Caso aconteça, pulverizar as
extremidades das varas com uma solução de 20 ml de Cipermetrina, 10 ml de
DDVP para 1 litro de água.

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Vídeo 3: Ataque das broca logo após colheita

É possível também armazená-los em áreas descobertas temporaria-


mente, na vertical, apoiadas em traves, isso ocorre geralmente quando as
peças aguardam para serem tratadas. É necessário colocar um apoio no pé da
vara para não absorver umidade do solo (Figura 11).

Figura 11 – Secagem do bambu em local descoberto, na vertical.

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...secagem

Após a secagem, o ideal é medir a umidade com a utilização de um


medidor eletrônico (Figura 12). Normalmente os colmos demoram em torno
de 1 a 3 meses para chegar a umidade ideal para ser utilizado na construção, o
que dependerá da umidade do ambiente no qual o bambu está armazenado.

Figura 12 – Medidor eletrônico de umidade.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

3 - Tratamento do bambu
Assim como a madeira, os colmos do bambu estão sujeitos a sofrer
alterações em sua estrutura ao longo do tempo. As principais alterações
podem ser: mudança de cor, deformações e rachaduras devido à variação de
umidade, e principalmente a degradação pela ação de fungos e brocas.

3.1 Agentes degradadores

3.1.1 Fungos
Os Fungos necessitam de três condições básicas para se
desenvolverem, presença de oxigênio, valores da umidade relativa entre 61%
e 95%, conjugados com temperaturas entre os 12 ºC e os 38 ºC. Os principais
fungos que podem ocorrer no bambu são:

• Fungos manchadores: visível a olho nu – coloração variada (azul ou


cinza escuro) - elevada tolerância a diversos produtos preservativos
(produtos químicos utilizados para o tratamento do bambu). Não alteram as
condições do lenho – comprometimento apenas visual.

• Fungos emboloradores: comum em colmos recém cortados,


expostas em meio com umidade relativa acima de 90% - redução da resistência
ao impacto.

• Fungos de podridão: dos tipo mole, parda, e branca – Visível a olho


nu - O bambu intensamente deteriorado por fungos de podridão apresenta
redução em todas as suas características mecânicas, devido à destruição dos
seus elementos estruturais.( figura 13 )

Figura 13 – Detalhe do fungo de podridão.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...tratamento do bambu

As bactérias também podem agir negativamente na estrutura do


bambu, podendo apresentar diversas manchas, distribuídas aleatoriamente
na sua superfície. O ataque de bactérias é comum em bambus que foram
submersas por semanas ou meses, ou em estacas de fundações. O maior
fator para a instalação das bactérias é a umidade. Há o aumento da permea-
bilidade, e a diminuição das características mecânicas.

3.1.2 Insetos
As brocas são insetos xilófagos que destroem o bambu em busca do
amido e outros hidratos de carbono armazenados em sua parede. Os Insetos
tendem a obter seu suprimento de alimentos a partir do bambu e degradá-
lo, portanto, os colmos devem ser tratados quimicamente para evitar a
infestação. Representam o maior problema em relação à durabilidade do
bambu. Algumas brocas como o Dinoderus minutus podem destruir o bambu
em pouco tempo (Figura 14).

Figura 16: Estrutura construída com Phyllostashys Pubsences - Arq. Celina Llerena

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...tratamento do bambu

Besouros e cupins são insetos que ocorrem mais comumente em


bambu. Eles não necessitam de condições específicas, apenas condições climá-
ticas quentes e úmidas. Nos países de clima frio e seco, a infestação de insetos
é menos frequente.

Um indicador para verificar a existência deste inseto é observar um


pó muito fino caindo do bambu, quando isto ocorrer, certamente ele está
cavando as paredes em busca do amido.

Outro inseto que muito frequentemente aparece para buscar o amido


presente no interior do bambu e para isso destrói suas paredes rapidamente é o
Chlorofhorus Annularis, conhecido como "Tigre do Bambu" (figura 15).

Figura 15 – Chlorofhorus Annularis e o estrago causado pela sua ação

Veremos no módulo 5 o que fazer quando estes insetos aparecerem


depois da obra pronta.
O ideal é sempre tratar adequadamente o bambu antes de construir,
pois então, veremos agora algumas formas de tratá-lo.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

4 - Métodos de tratamento

Existem diversos tipos de tratamento, naturais e químicos, que


podem ser realizados visando aumentar a vida útil do bambu, principalmente
contra o ataque de fungos e brocas. É importante que o processo de tratamento
atenda algumas premissas:

• Eficiência: Deve apresentar toxidez à gama mais ampla possível de


organismos xilófagos. Deve ainda permitir penetração profunda e uniforme
no bambu.

• Segurança: Deve apresentar toxidez baixa em relação a seres


humanos e animais domésticos, além de não aumentar as características de
combustibilidade e inflamabilidade inerentes ao bambu. A solução preser-
vativa não deve ser corrosiva a metais e plásticos com que são confeccionados
os recipientes e equipamentos.

• Permanência e resistência à lixiviação: Para ser resistente à


lixiviação deve ser insolúvel na água ou formar complexos insolúveis por meio
de reação química com os componentes da parede celular do bambu.

• Custo: Hoje em dia, os preservativos têm um peso considerável na


composição de custos, que sem dúvida deve ser uma preocupação permanente
na pesquisa de novas alternativas.

Não existe ainda um consenso se é melhor tratar o bambu recém


colhido, quando ainda apresenta alta porcentagem de umidade no seu interior,
ou quando já está seco, portanto, em breve novos estudos neste sentido nos
trarão informações mais precisas. Sugerimos que faça o tratamento, indepen-
dente se o bambu está seco ou úmido.
Apresentamos a seguir alguns sistemas de tratamento que mais se
enquadram a estes pontos.

4.1- Métodos Naturais


Trata-se de prevenções baseadas no controle do amido, substância
alimentícia presente nas fibras do bambu, o que faz dele uma planta vulnerável
ao ataque de pragas e fungos. São métodos que não utilizam produtos
químicos, e são menos eficazes na imunização do bambu, é importante

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento

ressaltar que se o objetivo é garantir a durabilidade do bambu, estas formas


de trata-mento não são as mais indicadas. Citamos aqui alguns métodos
naturais mais conhecidos:

• Imersão em água

Logo após a colheita, os colmos de bambu devem ser submersos em


água corrente (riachos), estagnada (lagoa), visando redução ou eliminação do
amido existente nos colmos, por meio da fermentação anaeróbica (ausência
de ar).

Esse tipo de tratamento deve variar de 12 a 14 semanas em água


parada, e 15 a 20 dias em água corrente. Os colmos de bambu são relativamente
leves e tentem a flutuar quando colocados na água. Lembre-se de forçar a sub-
mersão utilizando pedras ou amarrações.

Figura 16 – Bambus imersos em água

• Tratamento com Tanino

Inofensivo ao homem e animais domésticos, o Tanino é um produto


natural extraído da casca de diversas árvores, como a acácia negra, o quebracho,
dentre outras. A concentração recomendada é de 5 a 10% diluídos em água.
Nesta solução o bambu poderá ser imerso durante 5 dias.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento

A tonalidade marrom-escura do produto pode acabar tingindo o


bambu, o que pode ser desvantajoso para determinadas aplicações.
A aplicação do tanino poderá ser pelo método de substituição da
seiva, o que consiste em colocar o colmo recém colido (média de 24 horas)
dentro de um tonel cheio do produto e deixá-lo repousar por alguns dias.

Figura 17 – Colmos recém colhidos imersos em solução de Tanino

4.2 - Métodos químicos


Trata-se de métodos onde se aplica produtos químicos através do
processo de substituição da seiva, por imersão em tanque, difusão vertical,
método boucherie, em câmaras autoclaves ou até mesmo em tonéis como
mencionado anteriormente. São sistemas que apresentam maior confiabilidade
na qualidade do tratamento.
Neste material descrevemos os dois métodos mais eficazes para o
tratamento de colmos que serão utilizados em construções: o método de
imersão em solução de ácido bórico e bórax ou o octoborato e o de substituição
da seiva, utilizando o método recomendado pela Embrapa.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento

• Imersão em solução de ácido bórico e bórax

Esta combinação é bastante eficaz para a proteção contra fungos e


brocas. Consiste em adicionar a 54 litros de água uma solução de 1,5 kg de
bórax e 1,5 kg de ácido bórico. Estes produtos podem ser encontrados em lojas
especializadas em fertilizantes, observando sempre os que apresentarem
maior concentração do produto.
A combinação de ácido bórico e bórax na proporção de 1: 1,5 é um sal
alcalino chamado: octaborato dissódico tetra-hidratado (Na2B8O13 x 4H2O)
e está disponível na forma de pó pré-misturada, geralmente sob os nomes
comerciais: Tm-Bor ou Solubor, entre outros.
Octaborato dissódico tetra-hidratado é uma substância branca, sem
cheiro, em pó, que não é inflamável, combustível ou explosiva e tem baixa
toxicidade aguda oral e dérmica. O produto em si é retardante de fogo e não
apresenta qualquer decomposição perigosa.
Este sal é utilizado como um inseticida e fungicida, e é também eficaz
contra fungos e algas. Ele tem uma vida de prateleira infinito e não é afetada
pela temperatura.
Para tratar o bambu com esta mistura, é possível imergir em tanque
ou por outros métodos de substituição de seiva.
Esse tratamento, bastante utilizado na Colômbia e Indonésia, deve
ser realizado em um tanque por no mínimo 10 dias. (Figura 18).

Figura 18 – Tanque em concreto para imersão

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento

Algumas dicas são importantes para a realização deste sistema de


tratamento:

• os bambus deverão estar totalmente submersos na solução;

• Para melhor absorção e homogeneidade do tratamento, recomenda-


se furar os diafragmas dos colmos com um varão de metal ou vergalhão de ½”;

Vídeo 4:Furação dos colmos com vergalhão

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• Esse tipo de tratamento pode ser realizado em colmos secos ou


verdes, dando preferência para os que ainda estão verdes;

• Não descartar o produto no meio ambiente;

• Após a retirada dos bambus do tanque o líquido irá abaixar, pois,


parte dele será absorvido pelo bambu. Completar o tanque com água e adici-
onar proporcionalmente mais bórax e ácido bórico antes de tratar mais bambu;

• Se for possível, utilizar bomba para recircular a água do tanque


(Figura 19), pois estes produtos tendem a decantar; e

• Após alguns tratamentos, a água do tanque apresentará odor


desagradável, isto se deve a fermentação da matéria orgânica contida no tan-
que, a circulação da água reduzirá a produção de odores.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento

Figura 19 - Bomba para a circulação da água

O uso de dispositivos para manter o bambu submerso é essencial no


processo de tratamento, na figura 18 foi utilizado uma trave para esta finalidade.

É interessante também um tanque de apoio ao lado do tanque


principal, funciona muito bem quando irá tratar várias vezes (figura 18).
Consiste em transferir metade da água do interior do tanque para o tanque de
apoio, com isso, facilita muito para posicionar novos colmos no tanque
principal, pois, se os colmos forem colocados em um tanque já cheio, a
dificuldade de imergi-los será imensa, pois, quando tentamos afundar os
bambus, a força exercida por eles querendo voltar a superfície é muito difícil
de controlar. O passo a passo então seria:

1. preparar a solução no tanque de apoio;

2. furar os diafragmas do bambu;

3. posicionar os colmos dentro do tanque principal;

4. travar com barras dentro do tanque;

5. retornar a água do tanque de apoio para o principal; e

6. realizar a circulação da água diariamente

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...métodos de tratamento

Para tratamento por imersão em tanque, é possível utilizar um siste-


ma provisório que consiste em escavar um buraco no solo e cobrir com lona
resistente, pois a mesma tende a rasgar caso o bambu seja muito pesado
(Figura 20). Para realizar o descarte do produto, diluir em água de forma
abundante, pois o lançamento concentrado poderá queimar a vegetação e
contaminar o solo com sais.

Figura 20 – Tanque improvisado para tratamento por imersão


Fonte: The gift of the Gods, Oscar Hidalgo

Podemos utilizar também o OCTOBORATO DISSÓDICO TETRAHI-


DRATADO, é um composto de sais de boro com maior solubilidade em água,
deste modo é necessário um menor tempo de imersão, 6 a 8 dias, e sua
proporção é de 2,5 kg de octoborato para 54 litros de água.

• Utilização de (CCA) em Autoclaves - Cobre Cromo e Arsênio

O CCA é o composto mais utilizado no Brasil para o tratamento de


madeiras como o eucalipto, estudos verificaram uma proteção estimada de 50
anos ou mais, sendo o mais recomendado quando se deseja utilizar o bambu
ao ar livre, contudo, o composto contem Arsênio, um elemento altamente
tóxico proibido em alguns países da Europa e USA para o uso em tratamento
de madeiras.

O fato do bambu ser um material sustentável, o uso do CCA se torna


pouco requisitado, sendo que a preferência por preservantes não tóxicos é

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

...métodos de tratamento
maior entre os interessados no uso do bambu em construções, e por ser
altamente tóxico, deve-se ter um cuidado especial no descarte deste material,
por isso não e recomendável queimá-lo. Deve-se também utilizar máscaras
quando for lixar ou fazer cortes que soltem pó.

• Tratamento químico de Mourões por substituição da seiva.

Para uso do bambu como mourões para cerca, recomenda-se realizar o


tratamento conforme preconiza o material técnico da Embrapa “Método de
Substituição de Seiva para Preservação de Mourões”. Podem-se usar tambores
de 200 litros, inteiros ou divididos pela metade (Figura 21) ou em pequenos
tanques de concreto ou alvenaria os produtos utilizados e suas proporções são:

• Dicromato de potássio 1000 gramas;

• Ácido bórico 650 gramas;

• Sulfato de cobre 880 gramas;

• Ácido acético 25 mililitros; e

• Água 100 litros.

O bambu deverá ser tratado com no máximo 24 horas após seu corte, pois
os vasos entopem impossibilitando a penetração do produto, caso passe deste
período, realizar um corte na extremidade da vara antes de imergi-lo no tonel.

Figura 21 – Método de substituição da seiva.

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5 - Armazenamento
O armazenamento dos bambus após o tratamento deve ser realizado
em local coberto e bem ventilado, e preferencialmente em prateleiras
horizontais afastadas 15 centímetros do solo (Figura 22). Esses cuidados
possibilitarão uma maior circulação de ar entre o solo e as varas proporcionando
uma secagem por igual das peças.

Figura 22 – Armazenamento adequado dos bambus.

Recomenda-se constantemente observar a ocorrência de brocas e


fungos, caso isso ocorra, retire o bambu e submeta-o novamente ao tratamento
afim de não comprometer as outras peças que ali estão.
Separar as peças por diâmetros e tamanhos facilitará a seleção do
bambu ideal para a construção que irá realizar.

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Vídeo 5:Tratamento do bambu

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6- Considerações finais

Neste módulo vimos o quanto é importante tratar o bambu se deseja-


mos construções duráveis, e como realizar o tratamento, etapa importantíssima
no processo de construção.

Se você tem um fornecedor de bambu tratado, garanta que o método


de tratamento atende ao uso que o mesmo se destinará.

Os tratamentos naturais são mais indicados quando não há recursos


financeiros para o tratamento químico, ou seu uso é inviável por qualquer mo-
tivo, no entanto, é importante ter em mente que podem não ser 100% eficazes,
enquanto os tratamentos químicos geralmente são.

A etapa de tratamento é a que as pessoas que buscam construir com


bambu mais esbarram em dificuldades, no entanto, em 2005, quando dei início
às minhas construções, época de escassos recursos nesta área, conseguia tratar
meus bambus sem maiores problemas, deste modo, só depende do seu esforço.

A boa notícia é que em pouco tempo teremos bambus tratados dentro


de normas técnicas padronizadas, pois, muitos estão plantando, e muitos estão
desejando construir, ingredientes para o desenvolvimento desta cadeia produtiva.

Agora que sabemos como colher, tratar e secar, no próximo módulo


aprenderemos as características físico mecânicas dos bambus e muito mais
informações que precisamos para projetar e construir estruturas seguras e duráveis.

Procure compreender 100% do que foi passado, caso ainda tenha dú-
vidas envie-nos no e-mail suporte@bambuonline.com.br que faremos o possível
para exclarecêr-las no webinário deste módulo.

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APRENDENDO A CONSTRUIR COM BAMBU - MANEJO, COLHEITA, SECAGEM E TRATAMENTO - Módulo 2

7 - Referências Bibliográficas

KLEINE, Hans J. Bambu: Tecnologia e Durabilidade. Santa Catari-


na, Brasil.

LENGEN, Johan Van. Manual do Arquiteto Descalço. Porto Alegre:


Livraria do Arquiteto; Rio de Janeiro: TIBÁ, 2004.

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gotá, Colombia. Estudos Técnicos Colombianos Ltda, 1981.

MORAN, A. JORGE, TRADITIONAL BAMBOO PRESERVATION


METHODS IN LATIN AMERICA

PRESERVACIÓN DEL BAMBÚ EN AMÉRICA LATINA, MEDIANTE


MÉTODOS TRADICIONALES
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Engenharia Civil e Ambiental. Brasília, DF, Brasil, 2008.

OSTAPIV, Fabiano. Análise e melhoria do processo produtivo de


tábuas em bambu (Phyllostachys Pubescens) com foco em pisos.
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