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Sistemas Nacionais

de Proteção
Prof.ª Gisele Bonatti

Descrição

Análise dos Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e os


principais aspectos do Sistema Nacional de Gestão dos Recursos
Hídricos, como componentes do Sistema Nacional de Proteção
Ambiental.

Propósito

Diante da crise ambiental do século XXI, a proteção do meio ambiente


ganha cada vez mais importância, especialmente com o avanço dos
debates sobre o desenvolvimento sustentável. Assim, o estudo sobre os
Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e o Sistema de Gestão de
Recursos Hídricos é fundamental para a formação pessoal e
profissional do aluno.

Preparação

Para o melhor aproveitamento do seu estudo, acesse as leis: 9.985/00


(Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC); 12.651/12
(Código Florestal); 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos –
PNRH), disponíveis no site do Planalto (planalto.gov.br).

Objetivos

Módulo 1

Sistema Nacional de Unidades de


Conservação
Identificar a importância, os gêneros e as espécies de unidades de
conservação e suas formas de criação e extinção.

Módulo 2

Espaços Territoriais Especialmente


Protegidos (ETEP)
Reconhecer as áreas especialmente protegidas previstas no Código
Florestal e seus aspectos mais relevantes.

Módulo 3

Sistema Nacional de Gerenciamento de


Recursos Hídricos
Analisar os principais aspectos da gestão dos recursos hídricos
previstos na Lei 9.433/1997.

meeting_room
Introdução
Com o intuito de garantir o desenvolvimento ecologicamente
sustentável, o legislador constituinte estabeleceu no artigo 225,
parágrafo 3º, da Constituição Federal, o dever do Poder Público
em criar Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (ETEP),
ou seja, áreas que, por sua localização, características e
atributos, merecem proteção ambiental mais intensa. Podemos
pensar em áreas com cobertura florestal nativa; áreas que
abrigam espécies de flora e fauna raras ou ameaçadas de
extinção; espaços para a reprodução da fauna local ou migratória;
sítios naturais raros de grande beleza cênica etc.

O legislador constituinte não estabeleceu na Constituição quais


são as espécies de ETEP, deixando a cargo do legislador
infraconstitucional definir. Assim, foram instituídas leis como:
9.985/2000 ̶ Sistema Nacional de Unidade de Conservação da
Natureza, e 12.651/2012 ̶ Código Florestal, que disciplinam ETEP.
É importante esclarecer que muitas pessoas, equivocadamente,
consideram ETEP sinônimo de Unidades de Conservação (UC).
As UC são apenas uma espécie do gênero de ETEP. Existem
outros espaços que estão previstos no Código Florestal.
Não há consenso sobre a listagem de quantos e quais são os
ETEP na legislação brasileira. Portanto, analisaremos os espaços
mais conhecidos e definidos pela doutrina, como ETEP, estes são:

Unidades de Conservação;

Área de Preservação Permanente;

Reserva Legal;

Apicuns e Salgados;

Áreas de Uso Restrito;

Áreas Ambientais Municipais.

O conteúdo deste estudo não trata exclusivamente de ETEP, mas


também do recurso que está interligado a todo o espaço natural:
a água. A água é um recurso natural finito, e por ser essencial a
sadia qualidade de vida humana e dos demais seres vivos, é
fundamental à sua gestão de forma eficiente. Por essa razão, o
legislador criou a Lei 9.433/1997, instituindo a Política Nacional
de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gestão dos
Recursos Hídricos, sobre o qual estudaremos seus aspectos
mais relevantes.

1 - Sistema Nacional de Unidades de Conservação


Ao fim deste módulo, você será capaz de identificar a importância, os gêneros e as espécies
de unidades de conservação e suas formas de criação e extinção.

Unidades de Conservação e a
Constituição Federal de 1988
Neste vídeo, discorremos sobre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, bem como os tipos e espécies existentes destas
unidades.

Para o melhor entendimento sobre o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza (SNUC), previsto na Lei 9.985 de 2000, é
importante analisarmos a finalidade da proteção destas espécies de
Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (ETEP) e o dispositivo
constitucional que determina a competência do Poder Público para
instituir tais espaços.

Observamos que, na leitura deste texto, as siglas ETEP, SNUC e UC


significam:

ETEP

Espaços Territoriais Especialmente Protegidos.

SNUC

Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

UC

Unidade de Conservação.

Antes de adentrarmos nos aspectos técnico-jurídicos, fazemos a


seguinte pergunta: será que você já visitou, conhece ou ouviu falar sobre
alguma UC?

Provavelmente sim. Se você já passeou por Fernando de Noronha ou


tem em seus planos de viagem o destino deste incrível arquipélago,
você conhece um exemplo de UC. O arquipélago de Fernando de
Noronha é composto por duas UC Federais:
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha

Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha

Por que alguns territórios, como o arquipélago de Fernando de Noronha,


merecem proteção especial?

Existem diversos motivos, entre os quais a existência de fauna e/ou


flora exótica, ou por qualquer razão, comprovada por estudos científicos,
que demonstre que aquela área precisa ser especialmente protegida, ou
seja, espaços que precisam de cuidados extras, cautela maior, visando a
preservação e proteção do equilíbrio ecológico, sendo proibida qualquer
ação que comprometa os atributos que justificaram a sua criação.

Neste sentindo, o legislador constituinte estabeleceu, na Constituição


Federal de 1988, no artigo 225, parágrafo 1º, inciso III, a competência de
o Poder Público instituir estes espaços. Desta forma, dispõe:

III. definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e


seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidos somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção.

O legislador regulamentando, detalhando o disposto no artigo


supracitado, criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei
9985 de 2000, conhecido como SNUC. De acordo com o artigo 4º da Lei
9985, o SNUC tem como objetivos:

I. contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos


recursos genéticos no território nacional e nas águas
jurisdicionais;

II. proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e


nacional;

III. contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de


ecossistemas naturais;

IV. promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos


naturais;

V. promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da


natureza no processo de desenvolvimento;
VI. proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza
cênica;

VII. proteger as características relevantes de natureza geológica,


geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e
cultural;

VIII. proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX. recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X. proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa


científica, estudos e monitoramento ambiental;

XI. valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII. favorecer condições e promover a educação e interpretação


ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo
ecológico;

XIII. proteger os recursos naturais necessários à subsistência de


populações tradicionais, respeitando e valorizando seu
conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e
economicamente.

Atenção!

Nem todas as UC têm como preocupação direta o equilíbrio ecológico,


mas a preocupação antropocêntrica, já que visa proteger a estética,
como é o caso das UC Monumentos Naturais. É uma função cultural.
Assim, dispõe, dentre os objetivos previstos no artigo 4º, inciso VI, da
Lei 9985, “proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável
beleza cênica”.

Com a expressa incumbência do Poder Público em proteger a fauna,


flora, patrimônio genético, equilíbrio ambiental e criar espaços
espacialmente protegidos, conforme disposto no artigo 225 da
Constituição Federal, o legislador instituiu o Sistema Nacional de
Unidade de Conservação da Natureza, Lei 9985/2000, para regulamentar
e detalhar a criação e o funcionamento de tais espaços, que precisam
de proteção extra. Lembrando que as UC são apenas uma espécie de
espaços especialmente protegidos. Existem outros, como a Reserva
Legal e Área de Preservação Permanentes, que são regulamentados no
Código Florestal.

Partindo da compreensão da finalidade da criação da UC, analisada


anteriormente, perguntamos: qual seria a definição/conceito de UC?

De acordo com o artigo 2º da lei do SNUC, inciso I,


entende-se por Unidade de Conservação o espaço
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as
águas jurisdicionais, com relevantes características
naturais, instituído legalmente pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção.

Agora que já sabemos o que significa UC, vamos analisar as categorias


e características de cada espécie de UC.
Contudo, antes disso, é importante destacar que alguns termos serão
citados ao longo da lei, e qualquer dúvida a respeito dos conceitos das
expressões “conservação da natureza”, “diversidade biológica”, “recurso
ambiental”, “preservação”, “proteção integral”, “manejo”, “uso indireto”,
“uso sustentável”, “extrativismo”, “recuperação”, “restauração”,
“zoneamento”, “plano de manejo”, “zona de amortecimento” e
“corredores ecológicos” pode ser esclarecida por meio de consulta ao
artigo 2º da Lei do SNUC.

Dito isso, passamos à análise da classificação das UC. A classificação


está relacionada à intensidade da proteção. Existem dois grandes
grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. É
até intuitivo que as unidades de proteção integral possuem maior
proteção que as de uso sustentável.

Unidades de proteção integral


Nessas unidades, há uma série de limitações que, muitas vezes,
permitem apenas atuação humana para pesquisa científica e visitação
com fins educacionais, como no exemplo da Estação Ecológica.

Unidades de uso sustentável


Nessas unidades, como, por exemplo, as Reservas Extrativistas, como o
próprio nome indica, permitem a utilização artesanal dos recursos
naturais.

No total, são 12 espécies de UC. Existem cinco espécies de proteção


integral e sete de uso sustentável.

Unidades de Proteção Integral: Estação ecológica; Reserva


Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; Refúgio da vida
silvestre.
Unidades de Uso Sustentável: Área de Proteção Ambiental; Área
de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva
Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento
Sustentável; Reserva Particular do Patrimônio Natural.

A seguir, veremos as características de cada UC.

Características das Unidades de


Conservação
Neste vídeo, tratamos das principais características das Unidades de
Conservação, trazendo exemplos para um melhor entendimento.

Para facilitar o seu estudo, destacamos os aspectos mais relevantes de


cada UC. Contudo, é imprescindível a leitura dos artigos 9 ao 13 (UC de
proteção integral) e os artigos 15 ao 21 (UC de uso sustentável), da Lei
9985/2000. Sobre as unidades de proteção integral:

Estação Ecológica da Chapada de Nova Roma, Goiás.

Estação Ecológica

Tem como característica a preservação da natureza e


pesquisa. A visitação pública é proibida, exceto com finalidade
educacional.

Reserva Biológica Duas Bocas, Espírito Santo.


Reserva Biológica

Tem como objetivo a preservação integral da biota (fauna e


flora). A atuação humana é apenas permitida para a
recuperação do ambiente, diversidade biológica e equilíbrio
ecológico. A visitação pública é proibida, exceto com finalidade
educacional.

Parque Nacional do Iguaçu, Paraná.

Parque Nacional

É instituído para preservação de ecossistemas naturais de


relevância ecológica e beleza cênica. São permitidas atividades
de lazer, estudo, pesquisa e turismo ecológico. A visitação é
sujeita ao plano de manejo e regras da administração da
Unidade. No Estado, chamamos de Parque Estadual; no
município, Parque Natural Municipal.

Monumento Natural das Ilhas Cagarras, Rio de Janeiro.

Monumento Natural

Se destina à preservação de sítios naturais raros, singulares ou


de grande beleza cênica. A visitação pública é sujeita ao plano
de manejo e às regras da administração. Quando criada em
propriedade particular, e não compatível com o uso da
propriedade, poderá ocorrer desapropriação.

Refúgio de Vida Silvestre Quelônios do Araguaia, Mato Grosso.


Refúgio da Vida Silvestre

Protege ambientes naturais para a existência e reprodução da


flora e fauna local ou migratória. A visitação pública e
pesquisas estão sujeitas ao plano de manejo e às regras da
administração.

Sobre as unidades de uso sustentável:

Área de Proteção Ambiental de Caraá, Rio Grande do Sul.

Área de Proteção Ambiental (APA)

É, geralmente, extensa e com ocupação humana. Possui


atributos bióticos e abióticos, estéticos e culturais, importantes
para a qualidade de vida e bem-estar da população humana. A
visitação é permitida para fins de pesquisa e educação, sujeitas
as regras da administração da unidade e nas áreas particulares
pelo proprietário.

Área de Relevante Interesse Ecológico Ilha do Ameixal, São Paulo.

Área de Relevante Interesse Ecológico

É, geralmente, de pequena extensão, com pouca ou nenhuma


ocupação humana. Possui características naturais
extraordinárias ou abriga raros exemplares da biota regional. A
visitação é permitida para fins de pesquisa e educação, sujeitas
às regras da administração da unidade e, nas áreas
particulares, do proprietário.
Floresta Nacional de Três Barras, Santa Catarina.

Floresta Nacional

É uma área com cobertura florestal de espécies nativas. Nos


estados, é Floresta Estadual; nos municípios, Floresta
Municipal. Sua finalidade é de uso múltiplo e sustentado dos
recursos florestais, como a pesquisa científica voltada a
métodos de exploração sustentada de florestas nativas. É
permitida a mantença de população tradicional à época já
existente, segundo o que dispuser o plano de manejo. A
visitação pública e as pesquisas estão sujeitas ao plano de
manejo e às regras da administração da unidade.

Reserva Extrativista Chico Mendes, Acre.

Reserva Extrativista

É utilizada por população extrativista tradicional (subsistência


extrativista, agricultura de subsistência e criação de animais de
pequeno porte). Entretanto, as populações extrativistas
tradicionais não poderão usar espécies e seus habitats
ameaçados de extinção e, tampouco, impedir a regeneração de
espécies. O plano de manejo deve ser sempre respeitado. A
visitação é permitida segundo as regras da administração da
unidade.

Reserva de Fauna do Vale do Ribeira, São Paulo.

Reserva da Fauna

É área natural com animais nativos (terrestres ou aquáticos),


residentes ou migratórios. Sua finalidade é o estudo sobre o
manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. É
admitido o comércio dos subprodutos derivados das
pesquisas, segundo a lei de proteção à fauna. A visitação é
permitida de acordo com o plano de manejo e administração
da unidade. A caça é proibida.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, Rio Grande do
Norte.

Reserva de Desenvolvimento Sustentável

É área natural que abriga populações tradicionais, cuja


existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração
de recursos naturais, desempenhando papel fundamental na
proteção da natureza e manutenção da diversidade ecológica.
É proibido o uso de espécies ameaçadas de extinção e
impedimento da regeneração das espécies, sendo obrigatório o
respeito ao plano de manejo.

Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça, Minas Gerais.

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)

É área privada, gravada de perpetuidade e averbada às


limitações na matrícula do imóvel. O objetivo é conservar a
diversidade biológica. São permitidas pesquisa e visitação com
objetivos turísticos, recreativos e educacionais. O plano de
manejo é elaborado pelo proprietário com orientação dos
órgãos integrantes do SNUC. O proprietário que criar em sua
propriedade uma RPPN terá incentivos econômicos, como a
isenção do Imposto Territorial Rural.

Instituição, alteração e supressão de


UC
Neste vídeo, discorremos sobre as etapas pelas quais uma unidade de
conservação pode passar, desde a sua criação até uma possível
extinção.
Instituição da UC
Já sabemos sobre a importância das UC, suas categorias e espécies,
mas, agora, nos perguntamos: como é criada uma UC?

Sobre a criação, instituição, da UC, a Constituição Federal, no artigo 225,


parágrafo 1º, inciso III, é silente. O dispositivo constitucional apenas
obriga que, nos casos de alteração ou supressão de ETEP, seja somente
por meio de lei.

help

Será que a criação de uma


UC pode ser feita apenas
pela lei, ou seja, pelo Poder
Legislativo?

Resposta
Não! As UC também podem ser criadas por
decreto. A interpretação feita pela doutrina
majoritária, consolidada pelos Tribunais
Superiores, é de que as UC podem ser
criadas por lei (Poder Legislativo) ou por
decreto (Poder Executivo).

Em consonância com o anterior, o artigo 22, caput, da Lei 9985/2000, diz


que uma UC deve ser instituída por ato do Poder Público, ou seja, de
acordo com a interpretação feita, podendo ser criada tanto por lei como
decreto. Ambos são atos do Poder Público.

Recomendação

É importante ler os artigos 2º ao 5º do Decreto 4.340/2002, que


estabelece o procedimento técnico do ato de criação da UC.
Supressão e alteração de tamanho da UC
Depois de criada a UC, será que ela pode ter o seu tamanho alterado ou
ser extinta?

De acordo com o dispositivo anteriormente citado, artigo 225, parágrafo


1º, inciso III, da CF/88, é possível SIM alterar ou suprimir UC, desde que
seja por meio de lei formal, pelo Poder Legislativo.

Não é possível reduzir o tamanho ou extinguir uma UC


por meio de decreto ou de medida provisória, afinal,
espaços especialmente protegidos são de interesse da
coletividade.

No mesmo sentido, a Lei 9985/2000 dispõe, em seu artigo 22, parágrafo


7º, a mesma regra da CF/88, contudo, utiliza outras palavras: “É possível
desafetar ou reduzir os limites de uma Unidade de Conservação, porém
isso só pode ser feito por lei”.

Entendemos que somente por meio de lei formal será possível reduzir o
tamanho.

help

Para ampliar o tamanho da


UC, será possível apenas por
lei formal?

Resposta

Não. Seguindo o mesmo critério para a


criação, a ampliação poderá ser feita por lei
formal (Poder Legislativo) ou por decreto
(Poder Executivo).

Instituição de Unidade de Conservação


Vamos imaginar que uma pessoa possua um sítio com alta riqueza
ambiental, como cachoeiras e biodiversidade em sua propriedade
particular.
help

O Poder Público decide criar


uma UC nesta região. Será
que, pelo fato de o sítio ser
de propriedade particular,
isso impediria a criação da
UC?

Resposta

A resposta é não. A UC sempre poderá ser


criada, prevalecendo o interesse coletivo. O
SNUC determina que algumas UC podem ser
criadas em áreas particulares, embora em
outros casos deva-se desapropriar o
proprietário do imóvel.

E como saber se há ou não necessidade de desapropriar o proprietário


do imóvel? É necessário ler os artigos correspondentes aos 12 tipos de
UC e verificar se a unidade é de posse e domínio público e/ou particular.
Se for UC de posse e domínio público, o Poder Público deve
desapropriar a área de seu proprietário e criar a Unidade de
Conservação. Se a UC for de domínio particular, não há desapropriação,
desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a
utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.

As UC podem ser apenas de domínio público ou de domínio público ou


privado:

UC de domínio público
Estação Ecológica
Reserva Biológica
Parque Nacional
Floresta Nacional
Reserva Extrativista
Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

UC de domínio público ou privado


Monumento Natural
Refúgio da Vida Silvestre
Área de Proteção Ambiental
Área de Relevante Interesse Ecológico.

A Reserva Particular do Patrimônio Nacional é área de domínio privado.

Posto isso, imaginamos que, se for estabelecida uma Estação Ecológica


em uma área particular, por ser UC de domínio público, o Poder Público
irá desapropriar a área de seu proprietário para criar a UC. Caso não o
faça, o proprietário poderá ajuizar ação de desapropriação indireta e ser
indenizado. Se um Monumento Natural for instituído em uma fazenda
(área particular), não haverá desapropriação, desde que o proprietário
respeite as características desta UC.

Zona de amortecimento, corredores


ecológicos e plano de manejo
Neste vídeo, para um melhor entendimento do funcionamento das UC,
explicamos alguns conceitos apresentados pela lei do SNUC: zona de
amortecimento, corredor ecológico e plano de manejo.

Antes de finalizar o nosso estudo sobre os aspectos mais relevantes do


SNUC, abordaremos pontos importantes que merecem ser observados,
tais como: zona de amortecimento, corredores ecológicos, plano de
manejo, populações tradicionais e a discussão sobre a
constitucionalidade da compensação ambiental prevista no artigo 36 da
Lei 9985/2000.

Zona de amortecimento e corredores


ecológicos
Zona de amortecimento é a área que fica em torno da UC e serve para
amortecer os impactos diretos do meio externo sobre a UC. Quando o
Poder Público institui a UC, ele deve instituir também a zona de
amortecimento. Esta área está sujeita a normas e restrições específicas,
com o propósito de cumprir sua finalidade, que é minimizar os impactos
negativos sobre a UC.
Zona de amortecimento no entorno do Parque do Cocó, Ceará.

Por sua vez, corredores ecológicos são espaços que ligam UC,
possibilitando, entre elas, o fluxo de genes e o movimento da biota. Seu
objetivo principal é facilitar a dispersão das espécies e a recolonização
de áreas degradadas.

Atenção!

Todas as UC possuem zona de amortecimento, e quando conveniente,


corredores ecológicos, exceto as Áreas de Proteção Ambiental (APA) e
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Veja o artigo 25 da Lei
9985/2000.

Plano de Manejo (artigo 2º, XVII, Lei 9985/2000)


O Plano de Manejo é o documento que dispõe sobre as regras de gestão
da UC. Dessa forma, todas as UC possuem seu respectivo plano de
manejo, especificando quais ações são permitidas, proibidas ou
necessárias na UC. O Plano abrange a área da UC, assim como sua zona
de amortecimento e os corredores ecológicos. Veja o artigo 27 da Lei
9985/2000.

Convite aberto à comunidade para participar da elaboração do plano de manejo do Parque Ecológico
das Sucupiras, Brasília, 2022.
Populações tradicionais
Caso seja instituída UC que não permita que populações tradicionais
residam, estas serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias
existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público. Veja o artigo
42 da Lei 9985/2000.

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, Amazonas. UC cujo território foi concedido às


populações tradicionais.

Constitucionalidade do instituto da
compensação ambiental
De acordo com o artigo 36 da Lei 9985/2000, nos casos de
licenciamento ambiental de significativo impacto ambiental
(considerado pelo órgão ambiental licenciador com o fundamento no
Estudo Prévio de Impacto Ambiental), o empreendedor é obrigado a
compensar este impacto, apoiando a implantação e manutenção de UC
do grupo de proteção integral. Este “apoio” se dá por intermédio de um
dever de pagamento, cujo valor será calculado pelo órgão licenciador,
segundo o grau de impacto ecológico não mitigável constante do
Estudo Prévio de Impacto Ambiental. Percebe-se que, embora a lei não
mencione a obrigação de pagar quantia em espécie, mas de “apoiar”, a
doutrina majoritária entende que o pagamento deve ser in pecúnia.

Qual seria o valor a ser pago pelo empreendedor a título de


compensação?

Em consonância com o artigo 36, parágrafo 1º, da Lei 9985, o montante


não pode ser inferior a 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos
para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo
órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto causado
pelo empreendimento.

Diante dessa obrigatoriedade, os empreendedores questionaram a


constitucionalidade deste dispositivo, com os seguintes argumentos:

looks_one
Se na fase inicial (licenciamento prévio) ainda não há impacto
ambiental, por que pagar por algo que ainda não foi consumado?

looks_two
Por que o pagamento é calculado a partir de 0,5%, se o próprio artigo 36
estabelece que o valor deve ser de acordo com o impacto do
empreendimento?

looks_3
Se o empreendedor comprova que está investindo em tecnologia limpa,
como, por exemplo, filtros de alta qualidade, deveria haver uma
compensação de valores, caso contrário, o empreendedor estaria
pagando em dobro pela compensação ambiental.

Esses questionamentos resultaram na Ação de Inconstitucionalidade,


ADI 3378/DF.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a compensação ambiental é


constitucional e pode ser cobrada na fase inicial, uma vez que os órgãos
ambientais já têm noção de que a atividade tem potencial significativo
impacto ambiental.

Contudo, a respeito do valor mínimo, de 0,5% (meio por cento), o STF


entendeu ser inconstitucional, deixando a cargo do órgão licenciador
definir o percentual.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, assinale a


alternativa correta.

As Unidades de Conservação são criadas pelo


A Poder Público, exceto a Reserva Biológica, que
também poderá ser também criada por particular.

O artigo 225, parágrafo 1º, inciso III, da Constituição


Federal, ao dizer “espaços territoriais e seus
B componentes a serem especialmente protegidos”,
está se referindo, unicamente, às Unidades de
Conservação.
As Unidades de Conservação do grupo de proteção
C
integral não admitem visitação.

A classificação das Unidades de Conservação está


relacionada à intensidade de proteção, visto que as
D
unidades de proteção integral possuem maior
proteção que unidades de uso sustentável.

Todas as unidades de conservação possuem o


E mesmo grau de proteção, o que difere são os
recursos naturais que existem em cada uma delas.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20legislador%20constituinte%2C%20no%20artigo%20225%2C%20par%C3%A1grafo%201%C2

Questão 2

O prefeito de Serra dos Sonhos, após diversos estudos técnicos e


realização de audiência pública, decidiu criar uma Unidade de
Conservação, espécie Parque Municipal, para preservar exemplares
exuberantes de Mata Atlântica. O decreto foi editado delimitando os
limites do novo parque municipal. Após três anos, o prefeito
recebeu pedidos para que o parque fosse transformado em uma
Área de Relevante Interesse Ecológico, com redução de seus
limites. De acordo com o que analisamos neste módulo, assinale a
alternativa correta.

Como o Parque Municipal foi criado por decreto, sua


transformação e redução de limites podem ser
A
feitos por decreto, respeitando o princípio da
simetria das formas.

O Parque Municipal e Área de Relevante Interesse


Ecológico possuem o mesmo grau de intensidade
de proteção, isto é, ambos pertencem as unidades
B
de uso sustentável. Sendo assim, sua
transformação e alteração de tamanho poderão ser
feitas, tanto por decreto como por lei formal.

A transformação deverá ser feita por lei formal,


contudo, a redução poderá ser feita por decreto,
C
uma vez que ambas as unidades pertencem ao
grupo de proteção integral.

D
Não existe Parque Municipal, apenas Parque
Nacional.

Parque Municipal é uma espécie de unidade de


conservação de proteção integral, sua alteração
para Área de Relevante Interesse Ecológico, que é
E
Unidade de Conservação de Uso Sustentável, pode
ser feita por meio de lei formal, assim como a
redução de seus limites.

Parabéns! A alternativa E está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20cria%C3%A7%C3%A3o%20de%20qualquer%20tipo%20de%20Unidade%20de%20Conserva%
se%20de%20interesse%20coletivo%20preservar%20o%20meio%20ambiente.%20Contudo%2C%20somente%20

2 - Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (ETEP)


Ao fim deste módulo, você será capaz de reconhecer as áreas especialmente protegidas
previstas no Código Florestal e seus aspectos mais relevantes.

Os ETEP na legislação brasileira


Neste vídeo, definimos o que são os Espaços Territoriais Especialmente
Protegidos (ETEP) e suas principais características.

Anteriormente, tratamos de um tipo de ETEP, que são as UC. Contudo,


como explicamos, além das UC, existem outros tipos de áreas que
merecem ser especialmente protegidas, por possuírem algumas
peculiaridades ambientais e, por essa razão, devemos proteger para
preservar e conservar a forma como se encontram hoje.

De acordo com Paulo de Bessa Antunes (2021), existem dois tipos de


áreas protegidas:

Áreas protegidas por força de lei expand_more

Também chamadas de áreas genericamente protegidas, essas


áreas estão no Código Florestal, como, por exemplo: Área de
Preservação Permanente (APP); Reserva Legal (RL). Isso quer
dizer que, para a criação destas áreas, não precisa de ato do
Poder Público, como, por exemplo, decreto. Desde que
determinados requisitos legais estejam presentes, ela se aplica
genericamente a todo o país. No entanto, existem modalidades
de APP que são criadas por ato do Poder Público, como, por
exemplo: áreas cobertas com florestas ou outras formas de
vegetação destinadas a proteger as restingas ou veredas. Ver
parágrafo 1º do artigo 6 do Código Florestal.

ETEP criados por ato do Poder Público expand_more

Como regra, são as UC, previstas na Lei 9985/2000. As UC se


dividem em dois grandes grupos: unidades de proteção integral e
unidades de uso sustentável. A ideia principal das unidades de
proteção integral é que sejam utilizadas de forma indireta, ou
seja, não é permitida a utilização econômica destas unidades,
como, por exemplo: não é possível extração de madeira em um
Parque Nacional. Por outro lado, nas unidades de uso
sustentável, é permitido algum grau de atividade econômica,
desde que não gere problemas ambientais significantes dentro
da unidade, por exemplo: é possível que em uma Floresta
Nacional resida uma população tradicional.

É muito comum as pessoas confundirem os termos “Área de Proteção


Ambiental (APA)” e “Área de Preservação Permanente (APP)”. Para não
fazer confusão, vamos deixar claro que:

APA APP

É uma espécie de UC de Está disciplinada no


uso sustentável, que Código Florestal, e, para
precisa de lei formal ou ser instituída, basta a
decreto para ser criada. close verificação das
características listadas
nesta lei, aplicando-se
em todo o país.
Afinal, quais são os ETEP na legislação brasileira? São todas as áreas
que recebem proteção especial. Os ETEP mais destacados pela doutrina
são:

Unidades de Conservação (UC);

Área de Preservação Permanente (APP);

Reserva Legal (RL);

Apicuns e Salgados;

Áreas de Uso Restrito;

Áreas Ambientais Municipais.

A Área de Preservação Permanente, Reserva Legal, Apicuns e Salgados,


e as Áreas de uso restrito, estão disciplinados na Lei 12.651/2012 ̶
Código Florestal. Áreas Ambientais Municipais estão dispostas na Lei
6.766/1979 ̶ Lei do Parcelamento do Solo Urbano; e as Unidades de
Conservação, na Lei 9985/2000 – Sistema Nacional de Unidade de
Conservação da Natureza – SNUC).

Nos próximos tópicos, analisaremos os principais aspectos dos tipos de


ETEP, citados anteriormente, com exceção das Unidades de
Conservação, pois já tratamos deste assunto de forma exclusiva.

Área de Preservação Permanente


(APP)
Neste vídeo, discorremos sobre as Áreas de Preservação Permanente,
suas principais características e regulamentação prevista no Código
Florestal.

Já sabemos que a área de Preservação Permanente (APP) é uma


espécie de ETEP e sua regulamentação está prevista no Código
Florestal. Todavia, quais são as características de uma APP?

De acordo com o artigo 3º do Código Florestal (este artigo trata da


maioria das definições que constam nesta lei, por isso, recomendamos
a leitura), a APP, como diz o próprio nome, é uma área que deve ser
preservada permanentemente. Caso isso não seja feito, o resultado
poderá ser muito negativo para o equilíbrio ambiental.

Exemplificando o tópico anterior, vamos pensar na mata ciliar que se


situa nas margens do rio. Caso essa mata ciliar seja destruída, é muito
provável que a areia no entorno do rio entre dentro dele, resultando no
seu assoreamento, diminuindo, consequentemente, o volume de água
ou até mesmo acabando com o rio. Então, é necessário que essa área
seja permanentemente protegida, para que o rio siga existindo.

Devastação das matas ciliares às margens do Rio Pará, MG.

A APP pode existir em zona urbana ou em zona rural (artigo 4º do


Código Florestal). O objetivo é proteger o equilíbrio do ecossistema e
dos recursos hídricos, e preservar a paisagem e a estabilidade
geográfica. Sobre a estabilidade geográfica, imaginemos o topo de um
morro repleto de árvores. Quando chove, as árvores amortecem o
impacto da chuva, escoando suavemente para o solo, e as raízes das
árvores ajudam a segurar o solo. Porém, se essas árvores forem
cortadas e não restar mais nada no topo do morro, a água da chuva
baterá com força no solo, podendo haver deslizamento de terra,
enchentes e uma série de problemas ambientais. Para evitar este
problema, em áreas que apresentam estas características de topo de
morro, é criada a APP, para assegurar a estabilidade geográfica e o
equilíbrio ambiental.

Existem diversos tipos de APP, que estão previstos no artigo 4º do


Código Florestal. Destacamos os seguintes incisos:

I. Se refere às faixas que ficam no entorno do rio. Quanto mais largo


for o rio, maior será a área de cobertura vegetal protegida. Por
exemplo: um rio com menos de 10 metros de largura, terá 30
metros de margem protegida para cada um dos lados. Se o rio tem
entre 50 e 200 metros de largura, a faixa marginal, a título de APP,
será de 100 metros para cada borda do rio.

III. É interessante observar que, se houver reservatório d´água


artificial decorrente de barramento ou represamento de águas
naturais, deverá existir a APP, mas o seu tamanho será delimitado
no estudo apresentado no licenciamento ambiental do
empreendimento.

IV. Se refere às áreas que circundam nascentes e olhos d´água, que,


independentemente de sua localização topográfica, deverá ter um
raio mínimo de 50 metros.

A lei 14.285, de 2021, trouxe a novidade das “áreas urbanas


consolidadas” (sua definição está no artigo 3º, inciso XXVI do Código
Florestal). De acordo com o artigo 4º parágrafo 10, se a APP do inciso I
(faixas marginais entorno do rio) estiver localizada em área urbana
consolidada, os conselhos estaduais, municipais ou distritais do meio
ambiente, poderão definir, por meio de lei municipal ou distrital, tamanho
distinto do inciso I. Contudo, poderá ser de tamanho diferente do inciso I
somente se a APP não estiver em área de risco de desastre. Deverão
observar as diretrizes do plano de recursos hídricos. As atividades ou
empreendimentos a serem instalados na APP devem observar os casos
de utilidade pública (art. 3º, VIII, Código Florestal), interesse social (art.
3º, IX, Código Florestal) ou de baixo impacto ambiental (art. 3º, X,
Código. Florestal).

Recomendação

É imprescindível a leitura dos demais incisos do artigo 4º.

Observações finais:

radio_button_checked Caso o proprietário da área em que está localizada


a APP faça supressão da vegetação, ele será
obrigado a recompor a vegetação, salvo nos casos
autorizados no Código Florestal (Artigo 7º,
parágrafo 1º).

radio_button_checked A obrigação de recompor a vegetação, prevista no


parágrafo 1º do artigo 7º, é transmitida ao
sucessor, no caso de transferência de domínio ou
posse do imóvel rural (Artigo 7º, parágrafo 2º).

radio_button_checked Excepcionalmente, o Código Florestal autoriza a


exploração vegetal da APP, nos casos de utilidade
pública, Interesse Social e Baixo Impacto
Ambiental. Como exemplo de utilidade pública,
podemos citar a instalação de torre para
telecomunicações (Artigo 8º).

Reserva Legal (RL)


Neste vídeo, definimos o que é a Reserva Legal, bem como
descrevemos suas principais características.
Em conformidade com o artigo 12 do Código Florestal, todo imóvel rural
deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva
Legal (RL). Observamos que, à diferença da APP, que pode existir tanto
em imóvel urbano quanto em imóvel rural, a RL existe apenas em
propriedade rural.

O proprietário deve incluir o imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR), e


o órgão estadual ambiental ou instituição por ele habilitada irá aprovar a
localização da RL.

help

Qual é o percentual mínimo


em relação à área do imóvel,
que deve ser mantido a título
de RL? Em outras palavras,
qual é o tamanho mínimo de
uma RL?

Resposta

Varia de acordo com a localização. Ver artigo


12, I, Código Florestal. Se o imóvel rural
estiver localizado na <strong>Amazônia
Legal em área de florestas</strong>, 80%
devem ser protegidos a título de RL. Se
estiver <strong>na Amazônia Legal em área
de cerrado, 35%</strong>. Em campos
gerais, segue a <strong>regra geral de 20%
</strong>(inciso II).

Por exemplo: João tem uma fazenda na qual cria gado e cultiva soja. A
regra geral é que João deve criar uma RL com área mínima de 20%.
Caso a fazenda de João esteja localizada na floresta da Amazônia legal,
a área mínima protegida a título de RL será de 80%, e se estiver em
cerrado da Amazônia Legal, 35%. Entretanto, se estiver em floresta ou
cerrado não localizados na Amazônia Legal, aplica-se a regra geral de
20%.

Recomendação

Ler conceito de Amazônia Legal, estabelecido no artigo 3, I, Código


Florestal.

Será possível computar a área de RL no mesmo espaço que a APP?

Como sabemos, área de RL e APP são coisas distintas. A regra é que,


em um imóvel rural, que possua, por exemplo, um rio ou topo de morro,
devam existir as duas áreas: APP e RL. Contudo, há exceções, que
permitem computar a área da RL em APP. Ver artigo 15 do Código
Florestal. Por exemplo: no imóvel rural, existe um rio. Ao lado dele,
temos as margens protegidas (APP). Vamos supor que a RL possua 15%
de área. Será que poderíamos computar aquela área de APP (as
margens do rio) para alcançar os 20% exigido de área mínima de RL?
Sim, desde que:

looks_one
A área da APP não seja convertida em área de uso alternativo do solo. O
regime de proteção da APP não se altera.

looks_two
A área da APP que será computada esteja conservada ou em processo
de recuperação.

looks_3
O proprietário ou possuidor do imóvel tenha incluído o imóvel no
Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Caso o proprietário ou possuidor do imóvel tenha área de RL acima do


mínimo exigido por lei (exemplo: a lei obriga mínimo de 20%, mas o
proprietário tem 30%), ele poderá usar a área para fins de: servidão
ambiental, cota de reserva ambiental e outros instrumentos para
proteção do meio ambiente, previstos no Código Florestal.
Pode haver exploração econômica na RL?

De acordo com artigo 17, a RL deve ser conservada pelo proprietário ou


possuidor do imóvel, seja pessoa física ou jurídica de direito público ou
privado. A ideia geral é que não tenha exploração econômica nesta área.
Mas o Código Florestal prevê exceções nos parágrafos do artigo 17.
Admite-se exploração econômica da RL, desde que exista um plano de
manejo sustentável aprovado pelo órgão ambiental. As modalidades de
manejo florestal são:

Sem propósito comercial para consumo na propriedade;

Para exploração florestal com propósito comercial.

Ou seja, é permitido com ou sem propósito comercial, desde que seja


autorizado pelo órgão ambiental competente (artigo 20).

Comentário

Se a RL estiver localizada em pequena propriedade ou posse rural


familiar, o órgão ambiental realizará procedimento simplificado para
aprovação do plano de manejo. (Ver parágrafo 2º, artigo 17)

Observações finais:

radio_button_checked É obrigatória a suspensão imediata das atividades


em área de RL desmatada ilegalmente.

radio_button_checked Independentemente das sanções administrativas,


cíveis e penais cabíveis, deve haver a recomposição
da área desmatada ilegalmente (artigo 17,
parágrafo 4º). Essa obrigação é propter rem, ou
seja, se transfere ao novo proprietário.

radio_button_checked Observamos que as áreas de RL são isentas do


Imposto Territorial Rural (ITR). A RL não é tributável,
mas o restante da propriedade sim.
Apicuns, Áreas de Uso Restrito e
Áreas Ambientais Municipais
Neste vídeo, tratamos de outros espaços protegidos e suas principais
características. São eles: Apicuns, Salgados, Áreas de Uso Restrito e
Áreas Ambientais Municipais.

Nos tópicos anteriores, tratamos dos ETEP mais conhecidos do Código


Florestal: Área de Preservação Permanente e Reserva Legal. Contudo,
existem outros na Lei 12.651/2012, sobre os quais faremos breves
comentários a seguir. Estes são: Apicuns e Salgados e Áreas de Uso
Restrito. Também faremos observações sobre as Áreas Ambientais
Municipais, previstas na Lei 6.766/1979 (Lei do Parcelamento do Solo
Urbano, artigo 13).

Apicuns e Salgados
Para entendermos sobre estas áreas que merecem especial proteção,
partiremos dos conceitos. O que significa “Apicum” e “Salgados”?

Salgados

De acordo com a definição do artigo 3º, incisos XIV, Salgados,


também chamados de marismas tropicais hipersalinos, são áreas
situadas em regiões com inundações intermediárias entre marés,
com solos hipersalinos), onde pode existir a presença de
vegetação herbácea específica.

Marisma da Lagoa Santo Antônio dos Anjos, Santa Catarina.

Apicuns
Apicuns, como disposto no inciso XV, do artigo 3º, também são
áreas de solos hipersalinos nas regiões entre marés, contudo,
apresentam salinidade superior, sendo desprovidas de vegetação
vascular.

Apicum na transição para terra firme. Ilha de São Luís, Maranhão.

Em suma, a salinidade destes tipos de biomas é tão alta que não abriga
árvores, como no caso dos mangues. A vegetação, quando existente, é
composta por herbáceas que crescem na areia. Seria uma espécie de
brejo de água salgada à beira mar.

help

Que tipo de atividade pode


existir nos Apicuns e
Salgados?

Resposta

Carcinicultura (criação de crustáceos) e


salinas. Entretanto, para exercer estas
atividades, é necessário licença ambiental,
que será concedida se os requisitos dos
parágrafos do artigo 11-A, do Código
Florestal forem atendidos. Ler artigo 11-A. A
licença ambiental será de 5 (cinco) anos,
podendo ser renovada, se o empreendedor
comprovar o cumprimento das exigências da
legislação ambiental (parágrafo 2º, artigo 11-
A).

Caso a licença ambiental não esteja sendo respeitada pelo


empreendedor, o órgão licenciador, independentemente das sanções
administrativas, cíveis e penais cabíveis, poderá alterar as
condicionantes e as medidas de controle e adequação, mediante
decisão motivada (parágrafo 4º, artigo 11-A).
Áreas de Uso Restrito
Áreas de Uso Restrito têm como objetivo proteger o pantanal e as
planícies pantaneiras, como, por exemplo: o bioma do Pantanal Mato-
grossense. É permitida a exploração desta área, desde que seja de
modo sustentável, devendo considerar as recomendações técnicas dos
órgãos oficiais. Ler artigos 10 e 11 do Código Florestal.

Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.

Áreas Ambientais Municipais


A lei 6.766/1979 (Lei do Parcelamento do Solo Urbano, artigo 13) trata
das áreas ambientais municipais. São áreas de interesse especial, que
visam proteger os bens naturais, históricos, culturais, paisagísticos e
arqueológicos no processo de urbanização.

Para ilustrar, exemplificamos com as áreas verdes urbanas. Essas áreas


podem ser espaços públicos ou privados que contenham vegetação
nativa, indisponível para a construção e moradia, mas disponíveis para
recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos
recursos hídricos e manutenção paisagística.

Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Para a qualidade de vida humana, não basta termos edifícios e shopping


centers, é necessário mantermos o contato com a natureza. Sendo
assim, teremos essas áreas verdes urbanas para a manutenção da vida
nas cidades, como, por exemplo: jardim botânico, jardim zoológico,
praças, parques urbanos.

O Poder Público contará, para o estabelecimento de áreas verdes


urbanas, com os instrumentos, tais como: transformação das Reservas
Legais em áreas verdes nas expansões urbanas; estabelecimento da
exigência de áreas verdes nos loteamentos; empreendimentos
comerciais e na implantação de infraestrutura, dentre outros disponíveis
no artigo 25 do Código Florestal.

Finalizamos a análise dos tipos de ETEP e passaremos às observações


finais sobre o Código Florestal.

Cadastro Ambiental Rural (CAR) e


controle florestal
Neste vídeo, discorremos sobre a realização do Cadastro Ambiental
Rural e os principais aspectos que envolvem este processo.

Cadastro Ambiental Rural (CAR)


O CAR é um registro eletrônico obrigatório para todos os proprietários
de imóveis rurais. A ideia é que, por meio dos dados obtidos pelo CAR, o
Poder Público poderá ter mais um meio de informação, para saber como
está a questão do desmatamento no país e, assim, elaborar estratégias
e planos de proteção ambiental. Para o particular, o CAR é interessante,
pois, com esse cadastro, o proprietário ou possuidor do imóvel terá
direto a empréstimos com juros mais interessantes, linhas de créditos
fornecidas pelos bancos. Leia o artigo 29 do Código Florestal.

A inscrição do imóvel rural no CAR, deve ser feita


preferencialmente no órgão ambiental municipal ou
estadual.

Dito isso, veremos algumas questões.

question_answer
Será que o cadastro serve como meio de prova para o reconhecimento
de direito de propriedade ou de posse? Não serve.

question_answer
Essa inscrição no CAR é obrigatória? Sim e por prazo indeterminado
para os imóveis rurais.

Se a RL já tiver sido averbada na matrícula do imóvel, ainda é necessário


inscrever no CAR? Sim, mas não será obrigado a fornecer ao órgão
ambiental as informações relativas à identificação do imóvel por meio
de planta e memorial descritivo, contendo as informações previstas no
artigo 29, parágrafo 1º, inciso III – Ler este dispositivo e artigo 30. Para
esta desobrigação, deverá apresentar ao órgão ambiental a certidão do
RGI que conste a averbação da RL.

Controle da origem dos produtos florestais

Devem ser controladas as origens dos produtos ou subprodutos de


origem florestal, como madeira, sementes, carvão e subprodutos
florestais, pois, caso contrário, não teríamos como saber se aquele
produto tem origem de extração lícita.

O Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais –


Sinaflor, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo IBAMA, irá
cadastrar todas as informações relativas à origem destes produtos.
Recomendação: Ver artigo 35 do Código Florestal.

É importante destacar que:

radio_button_checked O plantio ou reflorestamento com espécies nativas


ou exóticas não precisam de autorização. Contudo,
devem ser informados ao órgão competente, para
fins de controle de origem (art. 35, parágrafo 1º).
radio_button_checked É livre a extração de lenha e demais produtos de
florestas plantadas nas áreas de uso alternativo do
solo, ou seja, que não sejam APP, RL. Então, se eu
plantei, e não é área de RL ou APP, posso extrair
produtos florestais (art. 35, parágrafo 2º).

radio_button_checked Corte ou exploração de espécies nativas em área


de uso alternativo do solo são permitidos sem
necessidade de autorização prévia. Atenção: deve
ser cadastrado no órgão ambiental competente o
plantio ou o reflorestamento, para o controle de sua
origem (art. 35, parágrafo 3º).

radio_button_checked O transporte e o armazenamento de madeira, lenha,


carvão e outros produtos ou subprodutos florestais
oriundos de florestas de espécies nativas, para fins
comerciais ou industriais, poderá ser feito somente
mediante licença do órgão ambiental competente, a
qual se formalizará por meio da emissão do
Documento de Origem Florestal (DOF), no qual
constará as características e volume do material,
origem e destino (ler artigo 36).

radio_button_checked Todo aquele que recebe ou adquire produtos


florestais, para fins comerciais ou industriais, é
obrigado a exigir a apresentação do DOF.

Proibição do uso de fogo e controle de


incêndios
É permitido o uso de fogo na vegetação? Não! Mas há exceções.

Recomendação

Leia os artigos 38, 39 e 40 do Código Florestal.

Vamos ver agora quais são as exceções.


Em determinados locais ou regiões que apresentem justificativa
para o uso de fogo na atividade agropastoril ou florestal, e que seja
aprovado pelo órgão estadual ambiental, o qual estabelecerá
critérios de monitoramento e controle. O licenciamento da
atividade deve conter o planejamento específico sobre o emprego
do fogo.

Em UC, desde que obedeça ao respectivo plano de manejo e


possua aprovação prévia do órgão gestor da unidade, com o
objetivo do manejo conservacionista da vegetação nativa.

Na realização de atividades de pesquisa científicas aprovadas


pelos órgãos competentes e feitas por instituição de pesquisa
reconhecido.

Por populações tradicionais e indígenas como forma de


manutenção da sua agricultura de subsistência.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O legislador constituinte, no artigo 225, parágrafo 1º, inciso III da


CF/88, ao incumbir o Poder Público de criar Espaços Territoriais
Especialmente Protegidos, não se refere exclusivamente às
Unidades de Conservação, pois existem outros espaços que
merecem proteção especial. Quais são eles?

Área de Preservação Permanente, CAR, Áreas


A
Ambientais Municipais e Áreas de Uso Restrito

Área de Preservação Permanente, Reserva Legal,


B Apicuns e Salgados, Áreas Ambientais Municipais e
Áreas de Uso Restrito

Área de Preservação Permanente, Reserva Legal,


C Recursos Hídricos, Áreas Ambientais Municipais,
Áreas de Uso Restrito

Área de Preservação Permanente, Reserva Legal,


D Sinaflor, Áreas Ambientais Municipais e Áreas de
Uso Restrito
Área de Preservação Permanente, Reserva Legal,
E Carcinicultura, Áreas Ambientais Municipais e Áreas
de Uso Restrito

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAl%C3%A9m%20das%20Unidades%20de%20Conserva%C3%A7%C3%A3o%2C%20existem%20ci

Questão 2

Sobre a Área de Preservação Permanente, assinale a alternativa


correta.

Trata-se de Espaço Territorial Especialmente


A Protegido, disciplinado na Lei 9985/2000, Sistema
Nacional de Unidade de Conservação da Natureza.

A Área de Preservação Permanente, assim como a


B
Reserva Legal, existe apenas em imóvel rural.

A Área de Preservação Permanente tem como


C
objetivo proteger o pantanal e planícies pantaneiras.

Independentemente de sua localização, em imóvel


rural, sua porcentagem será sempre 20% do total do
D
terreno, à diferença da Reserva Legal que varia de
acordo com a localização.

Trata-se de Espaço Territorial Especialmente


E Protegido, disciplinado na Lei 12.651/2012, Código
Florestal.

Parabéns! A alternativa E está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20%C3%81rea%20de%20Preserva%C3%A7%C3%A3o%20Permanente%20(APP)%2C%20enco
se%20disciplinada%20no%20C%C3%B3digo%20Florestal.%20De%20acordo%20com%20o%20artigo%203%C2%
se%20de%20%C3%A1rea%20protegida%2C%20coberta%20ou%20n%C3%A3o%20por%20vegeta%C3%A7%C3%
estar%20das%20popula%C3%A7%C3%B5es%20humanas.%20%C3%80%20diferen%C3%A7a%20da%20Reserva
3 - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
Ao fim deste módulo, você será capaz de analisar os principais aspectos da gestão dos
recursos hídricos previstos na Lei 9.433/1997.

Gestão de recursos hídricos no Brasil


Neste vídeo, discorremos sobre a gestão de recursos hídricos no Brasil
e sobre a política nacional de recursos hídricos.

No presente módulo, vamos tratar da gestão dos recursos hídricos no


Brasil, ou seja, gestão da água. A água é essencial para a qualidade de
vida, e se nós não a protegermos, comprometeremos a existência
humana e dos demais seres vivos na Terra. Por ser um recurso natural
finito, temos que protegê-la para garantir a existência das futuras
gerações.

A lei 9.433 de 1997, conhecida como Lei das Águas, institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), regulamentando o inciso
XIX do artigo 21 da Constituição Federal, o qual incumbe a União de
instituir a PNHR e definir critério de outorga de direitos de seu uso.

Atenção!

A água é de domínio público, ou seja, pertence ao Poder Público. Em


outras palavras, a água não é um bem privado, o que as pessoas
possuem é o direito de uso dela. A água é do Poder Público, e ele
permite que um concessionário explore esse recurso hídrico que será
utilizado por você, por exemplo, em sua casa. Lembrando que o uso da
água deve ser ecologicamente sustentável.
Para melhor entendimento do conteúdo deste módulo, organizamos a
estrutura da seguinte forma: primeiro, explicaremos os principais
fundamentos, objetivos e diretrizes da Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH). Posteriormente, passaremos à análise do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), abordando
os seus órgãos integrantes e os instrumentos utilizados por estes entes
para cumprir os objetivos da PNRH.

Fundamentos, objetivos e diretrizes


da PNRH

Fundamentos da PNRH

Quais são os principais fundamentos, bases e princípios da PNRH?


Estão estabelecidos no artigo 1º da Lei 9.433/1997. De acordo com o
artigo, a água é um bem de domínio público, ou seja, não é privado.

help

Você deve estar se


perguntando: eu não sou
dono (a) da água da minha
casa?

Resposta

A resposta para essa pergunta é não. O que


você tem é o direito de usar essa água
segundo os parâmetros definidos pelo Poder
Público. A água é um recurso natural
limitado e, por isso, não pode ser utilizada de
qualquer jeito. A água tem valor econômico,
então, com o objetivo de racionalizar a sua
utilização, o Estado cobra pelo seu uso, caso
contrário, pessoas tomariam banho de duas
horas sem se importar com a finitude deste
recurso.
Nossa legislação garante sempre o uso múltiplo das águas, isto é, a
água deve ser utilizada para beber, lavar roupa, carro, atividades
industriais, navegação, geração de energia, irrigação etc. Em situação de
escassez, por exemplo, seca em bacia hidrográfica, a PNRH prioriza o
fornecimento de água para o consumo humano e a dessedentação de
animais, mesmo que seja necessário cessar o uso da água para
irrigação, indústria etc.

A PNRH afirma que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a


implementação da PNRH, ou seja, a gestão dos recursos hídricos deve
ser feita individualmente por bacia hidrográfica.

O que seria bacia hidrográfica?

De forma sucinta, seria a área composta por um rio principal e seus


afluentes, que escoam para o mesmo curso d´água. Por essa razão, não
podemos pensar em gestão individualizada por municípios ou Estados.
Imagine um município que não tem preocupação com o rio, e toda a
poluição deste contamina a bacia hidrográfica. Então, a gestão deve ser
de um todo.

Ação do projeto Reviver Machado, voltado para a preservação de rios em Rondônia.

A gestão dos recursos hídricos é descentralizada e vai contar com a


participação do Poder Público, dos usuários das águas e das
comunidades. A nossa legislação não centraliza a gestão apenas no
Poder Público, mas permite a participação de outros interessados, por
meio dos Comitês de Bacia Hidrográficas, que analisaremos a seguir.

Objetivos da PNRH

Em alinhamento com os fundamentos, os objetivos da PNRH, dispostos


no artigo 2º, se resumem em:

Assegurar disponibilidade de água, atendendo aos padrões de


qualidade para as presentes e futuras gerações, afinal, não adianta
ter alta quantidade de água se não for possível o seu consumo
pelo ser humano, por estar contaminada;

Garantir a utilização racional e integrada dos recursos hídricos;

Realizar a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos


críticos, por exemplo, chuvas fortes que destroem casas;
Incentivar e promover a captação e aproveitamento de águas
pluviais (água de chuva), por exemplo, é comum fábricas
reutilizarem água de chuva no processo de produção de seus
produtos, atendendo diretrizes do modelo de indústrias
ecologicamente sustentáveis.

Diretrizes da PNRH
Seguindo a linha dos fundamentos e objetivos, as diretrizes gerais para
a implementação da PNRH, encontram-se previstas no artigo 3º. De
forma sucinta: a gestão dos recursos hídricos deve associar aspectos
de qualidade e qualidade da água.

Comentário

Não adianta termos muita água se não for possível seu consumo, como
também não é razoável ter pouca água de altíssima qualidade, pois é
necessário quantidade de água para atender outros usos.

A gestão deve se adequar a cada diversidade física, demográfica, social


e cultural das regiões do país, ou seja, a região Sul possui
características diferentes da região Norte, então, a gestão deve se
adequar as peculiaridades de cada lugar.

Também é importante a integração da gestão de recursos hídricos com


a gestão ambiental, com uso do solo. Não há como pensar que a gestão
da mata ciliar de uma APP não estará vinculada com a gestão do rio que
esta vegetação protege. Da mesma forma, deve haver integração da
gestão dos recursos hídricos com sistemas estuarinos e gestão
costeira.

Projeto Bacias Jaguariúna, São Paulo.

Por último, deve haver articulação entre os planejamentos da gestão dos


recursos hídricos e dos setores usuários.

Características e estrutura do SNGRH


Neste vídeo, tratamos do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos e de seus principais aspectos.
Feitos os esclarecimentos sobre os fundamentos, objetivos e diretrizes
da PNRH, nos perguntamos: quem irá implementar a PNRH? Quem fará
a gestão das águas? Será o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (SNGRH).

Objetivos do SNGRH
De acordo com o artigo 32 da Lei 9.433/1997, o SNGRH tem como
objetivos:

Coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar


administrativamente os conflitos relacionados com os recursos
hídricos;

Implementar a PNRH;

Planejar, regular e controlar o uso, preservação e recuperação dos


recursos hídricos e realizar a cobrança do uso dos recursos
hídricos.

Para a realização desses objetivos, o SNGRH repartiu as atribuições


entre os seguintes órgãos: Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
Agência Nacional de Águas; Conselhos de Recursos Hídricos dos
Estados e do Distrito Federal; Comitês de Bacia Hidrográfica; Órgãos dos
poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municípios,
cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e
as Agências de Água (artigo 33 da Lei 9.433/1997).

Órgãos integrantes do SNGRH


Conforme apontamos, o SNGRH é composto por diversos órgãos, ou
seja, sua gestão não é centralizada. Quais seriam as suas atribuições?
Comentaremos, de forma breve, as funções dos principais entes.

Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) expand_more

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) está


disciplinado nos artigos 34, 35 e 36 da Lei 9.433/1997. É
imprescindível a leitura destes dispositivos. Em suma, é o órgão
de instância máxima na gestão dos recursos hídricos. Os
critérios gerais serão estabelecidos por este órgão, como, por
exemplo: critérios para a outorga de direitos de uso dos recursos
hídricos e critérios para a sua cobrança. Os projetos de
planejamento e suas respectivas implantações deverão passar
por sua aprovação. Sua gestão será presidida pelo Ministro de
Estado do Desenvolvimento Regional.

Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) expand_more

No âmbito federal, a Agência Nacional de Águas e Saneamento


Básico (ANA), criada pela Lei 9.984/2000, é o órgão responsável
pela execução dos instrumentos da PNRH. Suas competências
estão previstas no artigo 4º da Lei 9.984 (é imprescindível sua
leitura), como, por exemplo: sempre que os recursos hídricos
forem de domínio da União, a ANA será competente para a
outorgar o direito de uso; fiscalizar os usos; implementar a
cobrança pelo uso; arrecadar, distribuir e aplicar as receitas
auferidas pela cobrança na forma da lei.

Secretarias Estaduais do Meio Ambiente. expand_more

No âmbito estadual, com as atribuições semelhantes às da ANA,


mas atuando em águas de domínio estadual, podem existir
entidades autônomas, mas o mais comum é que a gestão seja
feita pela administração pública direta, por meio de Secretarias
Estaduais do Meio Ambiente.

Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) expand_more

Os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) são os órgãos de


gestão participativa dos recursos hídricos. São compostos por:
representantes do Poder Público, geralmente das prefeituras,
câmara de vereadores, órgãos ambientais etc.; pelos usuários de
água, por exemplo, companhias de geração de energia elétrica,
irrigantes, companhias de saneamento; e representantes da
sociedade civil organizada, como: ONGs, associações
comunitárias, universidades e povos tradicionais. Eles se reúnem
para discutir decisões importantes sobre a gestão da bacia
hidrográfica, como a aprovação de seu plano. Também têm
competência para arbitrar em primeira instância administrativa
os conflitos relacionados aos recursos hídricos. Leitura
importante dos artigos 37 ao 40 da Lei 9.433.

Agências de Água expand_more

As Agências de Água são conhecidas como o braço executivo do


CBH. Como acabamos de ver, os CBH são órgãos colegiados
com atribuições normativas, deliberativas e consultivas na Bacia
Hidrográfica de sua jurisdição. As Agências de Água exercem a
função de secretaria executiva dos CBH, isto é, executam os
anseios e as decisões deliberadas pelo CBH. Ler os artigos 41 ao
44 da Lei 9.433.

Instrumentos de gestão dos recursos


hídricos
Neste vídeo, apresentamos as principais características e diferenciamos
os instrumentos de gestão de recursos hídricos.

Já sabemos quais são os órgãos responsáveis pela gestão dos recursos


hídricos, e agora nos perguntamos quais são os instrumentos de gestão
que estes órgãos utilizam para o gerenciamento das águas? De acordo
com o artigo 5º da Lei 9.433/2000, os instrumentos são:

Planos de Recursos Hídricos;

Enquadramentos dos corpos de água em classe, segundo os usos


preponderantes;

Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

Cobrança pelo uso de recursos hídricos e o Sistema de


Informações sobre Recursos Hídricos. Apesar da compensação a
municípios estar listada no artigo 5º, este instrumento foi vetado.

Vamos ver agora com mais detalhes cada um desses instrumentos.

Os Planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica,


por Estado e para o país. São planos diretores que fundamentam e
orientam a implementação da PNRH e o gerenciamento dos recursos
hídricos. Eles são planos de longo prazo, com horizonte de
planejamento compatível com o período de implantação de seus
programas e projetos.
Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Paraguai, MS.

Nele estarão informações como: diagnóstico da situação atual dos


recursos hídricos, análise de alternativas de crescimento demográfico,
evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de
ocupação do solo; metas de racionalização de uso, aumento da
quantidade e melhoria dos recursos disponíveis. Leia artigos 7 e 8 da Lei
9.433.

O enquadramento dos corpos de água em classes visa assegurar a


qualidade das águas com os usos destinados e implementar ações
preventivas permanentes de combate à poluição. Ler artigos 9 e 10 da
Lei 9.433.

A outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos


assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o
efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estarão sujeitos a
outorga atividades como:

Derivação ou captação de parcela de água existente de um corpo


de água ou extração de água de aquífero subterrâneo para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de
processo produtivo;

Lançamento de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,


tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou
disposição final;

Hidrelétricas e outras atividades que alterem a quantidade e/ou


qualidade da água.

Será que todos os usos de água necessitam de outorga? Não! O uso da


água para satisfação de pequenos núcleos populacionais distribuídos
na área rural; derivações, captações, lançamentos, acumulações de
volume de água, considerados insignificantes não precisam de outorga.

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A outorga pode ser


suspensa?
Resposta
Sim. Poderá ser suspensa parcial ou
totalmente, em definitivo ou por prazo
determinado, em casos como: não
cumprimento da outorga pelo outorgado;
ausência de uso por três anos consecutivos;
necessidade para atender situações de
calamidade; necessidade de se prevenir ou
reverter grave degradação ambiental;
necessidade de se atender a usos
prioritários, quando não se disponha de
fontes alternativas.

Por fim, o prazo da outorga não excederá a trinta e cinco anos, podendo
ser renovado. Lembrando que a outorga não implica na venda das
águas, pois são inalienáveis, mas o simples direito de uso. Leia os
artigos 11 ao 18 da Lei 9.433.

A cobrança do uso de recursos hídricos reconhece a água como bem


econômico, incentivando o seu uso racional.

Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos à outorga. Na


fixação dos valores, são considerados: as derivações, captações,
extrações, volumes retirados; o volume e as características dos esgotos
e demais resíduos líquidos ou gasosos lançados. Os valores
arrecadados serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em
que foram gerados. Consulte os artigos 19 ao 22 da Lei 9.433.

Rio Jucu, ES. Cobrança pelo uso da água foi aprovada pelo Conselho Estadual de Recursos
Hídricos.

Por fim, o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um


sistema de gestão de dados fornecidos pelo SNGRH. Seus objetivos
são: informar a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos
no Brasil; atualizar permanentemente essas informações que servirão
de subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos. Veja
os artigos 25 ao 28 da Lei 9.433.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9.433/1997,


assinale a alternativa correta.

A A água é um recurso natural ilimitado.

B A gestão dos recursos hídricos é centralizada.

C A água é um bem de domínio público.

Em época de seca, deve ser garantido,


prioritariamente, água para o consumo humano,
D
dessedentação dos animais e uso para atividades
de irrigação.

A gestão dos recursos hídricos é feita


E individualmente por cada estado e município ao qual
pertencer o rio.

Parabéns! A alternativa C está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20%C3%A1gua%20%C3%A9%20um%20recurso%20natural%20limitado%20e%20de%20dom%

Questão 2

Em relação à Política Nacional de Recursos Hídricos, assinale a


alternativa correta.

Os planos de recursos hídricos são planos de curto


A
prazo.

Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica arbitrar


B
definitivamente os conflitos pelo uso da água
Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados
C
por município, por estado e para o País.

Haverá cobrança pelos usos dos recursos hídricos


D
sujeitos à outorga.

Baseia-se no fundamento de que a água é um bem


E de domínio público, tornando-se privado após a sua
outorga.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20%C3%A1gua%20sempre%20ser%C3%A1%20bem%20de%20dom%C3%ADnio%20p%C3%BA

Considerações finais
Como vimos no decorrer deste conteúdo, os Espaços Territoriais
Especialmente Protegidos (ETEP) e a gestão dos recursos hídricos
fazem parte dos Sistemas Nacionais de Proteção ambiental.

Para ser assegurado o Direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado para as presentes e futuras gerações, o legislador
constituinte impôs ao Poder Público a proteção dos recursos naturais
por meio de instrumentos como a criação de ETEP e gestão da água.

A proteção dos ETEP tem o objetivo de proteger áreas que precisem de


atenção especial em função de sua localização, características e
atributos. Conforme analisado, existem dois grandes grupos de ETEP:
as Unidades de Conservação (UC) (Lei 9985/2000) e os espaços
disciplinados no Código Florestal, como a Área de Preservação
Permanente (APP) e Reserva Legal.

As UC se dividem em duas categorias: proteção integral e uso


sustentável. Para serem criadas, precisam de ato do Poder Público.
Podem ser instituídas por meio de lei ou decreto. Contudo, por serem de
interesse coletivo, só podem ser alteradas ou suprimidas por meio da
lei.

Os ETEP, por sua vez, previstos no Código Florestal, não precisam da


vontade do Poder Público, basta que sejam identificadas as
características daquele tipo de espaço correspondentes às definições
estabelecidas no Código Florestal, e ele será instituído, lembrando da
exceção de algumas espécies de APP que precisam de ato do Poder
Público.
Por fim, a água, por ser um recurso natural finito, é administrada pelo
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, composto
por seus órgãos, que, por meio de instrumentos específicos, atuam em
sua gestão com o objetivo de disponibilizar água em quantidade e
qualidade para as futuras gerações.

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Podcast
Agora, trataremos dos três diferentes sistemas nacionais de proteção
ao meio ambiente abordados ao longo deste conteúdo.

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Para entender melhor o funcionamento do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, acesse o site do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH).

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a gestão dos recursos


hídricos, consulte o site da Agência Nacional de Águas (ANA).

Referências
ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

FERREIRA, R. M.; FIORILLO, C. A. P. Comentários ao “Código” Florestal.


2. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2018.

MILARÉ, E. Direito do Ambiente. 12. ed. São Paulo: Revista dos


Tribunais, 2020.
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