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AET CorrecaoCentralComunicacoes CBV VDS2018
AET CorrecaoCentralComunicacoes CBV VDS2018
Resumo
Este estudo decorreu na Central de Comando, Controlo e Comunicações do
Corpo de Bombeiros Voluntários de uma Associação Humanitária com os
objetivos de melhorar as condições de trabalho, introduzir o sistema de
informação Forest Fire Finder e agilizar a interface. Os dados da Central foram
obtidos com recurso a observação direta, entrevistas (n=13) e aplicação de
uma ficha de avaliação. O estudo envolveu, a caracterização dos elementos
dos dois Postos de Trabalho e a organização do trabalho, seguiu-se a análise
ergonómica com recurso à ferramenta Ergonomic Workplace Analysis (EWA)
e por fim, foram recomendadas medidas de controlo. A metodologia consistiu,
em analisar de forma detalhada a Central visando a construção do perfil dos
postos de trabalho de Coordenador de Serviço e do Operador de Central.
Apresentando-se como mais significativo, as inadaptações do layout da
Central e dos postos de trabalho às características antropométricas e psico-
cognitivas dos trabalhadores e, os baixos níveis iluminância. Finalmente foi
apresentado o projeto de reconstrução da Central com as medidas de controlo
visando a correção das inadaptações e a eficiência do processo de trabalho.
Abstract
This study was conducted in a Command, Control and Communications
Central of the Volunteer Firefighter’s Unit of a Humanitarian Association to
accomplish the objectives of improve working conditions, introduce a Forest
Fire Finder detection system and streamlining the interface. The data to
analyse the communications Central was gathered with direct observation,
interviews (n=13) and application of an assessment form. The study involved
the characterization of the workplaces elements, work organization, work
analysis using Ergonomic Workplace Analysis (EWA) tool and the
recommendation of control measures. The methodology involved a detailed
analysis of the Central aiming the construction of the workplaces profiles of
Service Director and Communications Operator. The most significant results
are the inadequacies of the layout of the Central and workplaces relatively to
the anthropometric and psycho-cognitive characteristics of the workers, and
the lower levels of illuminance. Finally, was presented the reconstruction
project with the control measures to correct maladjustments of the
Communications Central and improve the efficiency of the work process.
1. INTRODUÇÃO
A atividade de proteção civil Nacional, distrital e local é desenvolvida por
diversas entidades com responsabilidades de planeamento, comando e
controlo aos vários níveis de operação. No nível de ação inferior da estrutura
temos as operações realizadas pelos Municípios, Associações Humanitárias
de Bombeiros Voluntários (AHBV), forças de segurança e cidadãos. Os Corpos
de Bombeiros Voluntários (CBV) desenvolvem a sua atividade no âmbito da
proteção civil nas áreas do socorro e emergência, transporte de doentes não
urgentes e apoio a eventos.
Segundo a lei que regulamenta o regime jurídico da promoção e prevenção
da SST (Lei nº 102/2009) “O empregador deve zelar, de forma continuada e
permanente, pelo exercício da atividade em condições de SST, tendo em
conta a adaptação do trabalho ao homem, especialmente no que se refere à
conceção dos PT, à escolha de equipamentos de trabalho e aos métodos de
trabalho e produção, com vista a, nomeadamente atenuar o trabalho
monótono e o trabalho repetitivo e reduzir os riscos psicossociais”.
Segunda a normalização brasileira (NR 17, 2007), “para avaliar a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonómica do
trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho,
conforme estabelecido na norma regulamentadora”.
Segundo Iida (2005), análise ergonómica do trabalho (AET) é direcionada à
análise da atividade através do diagnóstico das situações de trabalho,
promove a adaptação do trabalho ao homem e centra a sua atenção na
transformação dos agentes determinantes de dado cenário de trabalho.
Sendo assim, com a análise ergonómica do trabalho pode-se verificar as
condições reais do ambiente de trabalho, as funções desempenhadas e as
condições em que são executadas as tarefas pelos trabalhadores.
Os perigos devem ser descritos em relação aos campos da atividade
individual, tendo presente a exposição a máquinas e equipamentos, a
exigência física e mental humana em face das condições de trabalho físico,
químico, a exigência fisiológica e sensorial humana, o design ergonômico dos
centros de controle e o trabalho administrativo (Fisherova, 2013; Górny et
al, 2016; Kawecka-Ender, 2014).
As guidelines ergonómicas devem ser seguidas em todos os campos da
operação humana por serem essenciais para a realização de trabalho
eficiente, melhorando os resultados de produção com menores custos
humano e económico. Para garantir condições adequadas de trabalho, é
necessário empregar processos de melhoria que sejam ajustados à natureza
dos problemas em questão (Fisherova, 2013; Górny et al, 2016).
Para melhorar a eficácia das medidas tomadas contribuindo para a redução
ao mínimo do trabalho penoso, deve-se aplicar critérios ergonómicos
subjacentes as abordagens organizacionais pró-humanistas, consistentes
com princípios modernos de responsabilidade social (Górny, 2014).
1.1 Objetivo do estudo de caso
O Corpo de Bombeiros Voluntários (CBV) onde se efetuou este estudo, nos
últimos três anos percorreu uma média anual de 739.845 Km e realizou 5.512
missões dos vários tipos (AHBV, 2017). O processo e trabalho,
designadamente, o processo de decisão e preparação das missões decorre na
Central de Comando, Controlo e Comunicações (C4) do CBV.
Este trabalho foi realizado na C4 do CBV de uma AHBV, caso de estudo, com
os objetivos de efetuar a análise ergonómica do trabalho (AET), integrar o
sistema de deteção de incêndios Forest Fire Finder (FFF) nos existentes,
agilizar a interface para evitar desvios entre o trabalho prescrito e realmente
executado (correção de inadaptações detetadas).
Legenda:
1 - Bancada do PT1
2 - Bancada PT2
3 - Local de espera
4 - Painel de cartas topográficas
5 - Informação do operador
6 - Ar condicionado
7 - Bancada de rádios
8 - Televisão
9 - Parede/prateleiras
10 - Armários de arquivo
11- Informação e missões
→- Deslocamentos
2. METODOLOGIA
A análise decorreu de forma sistemática aos PT1 e PT2 e às tarefas realizadas.
A informação utilizada na caracterização e análise do local foi obtida a partir
de observações diretas, entrevistas e medições, seguindo os seguintes
passos: (i) análise da C4 e das tarefas realizadas, (ii) caracterização dos
fatores humanos, sociotécnicos, ambiente físico e organização do trabalho,
(iii) análise ergonómica do trabalho com recurso à ferramenta de Análise
Ergonómica dos Locais de Trabalho - EWA e (iv) identificação de fatores de
risco ergonómico seguido de apresentação de medidas.
3. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
A maioria dos trabalhadores realiza o seu trabalho nos turnos 2 e 3. Importa
enunciar que durante a pernoita o trabalho de coordenação é reduzido,
porque as ações realizadas neste âmbito decorrem durante o dia. Na pernoita,
o chefe de equipa acumula o papel de coordenador com o de operador de
Central, preocupa-se sobretudo com esta função (PT2).
Considerando que o turno 1 semanal é realizado sempre pelos mesmos dois
Bombeiros e que todos os respondentes efetuam os restantes turnos, esta
situação pode ter condicionado a avaliação individual percecionada, por
tenderem a dar maior enfase à função de operador de Central - PT2 (tempo
exposição), fato que pode ter influenciado a média de cada item.
No Quadro 5 são descritos os itens pela mesma ordem do questionário e os
resultados. A coluna da média de cada item reflete o ponto de vista dos
respondentes (coordenadores e operardes) e a análise do técnico.
4. ANALISE E DISCUSSÃO
Os resultados revelam a perceção dos elementos expostos através da média
das classificações dos Bombeiros e do técnico de segurança no trabalho. As
diferenças entre a média dos trabalhadores e do técnico não são
significativas, não carecendo por isso de uma reavaliação mais profunda.
Nesta análise ponderou-se o fato do trabalho mais intenso e permanente ser
efetuado pelos elementos no turno semanal diurno (T1) e a maioria dos
respondentes ter uma ação de coordenação mais reduzida nos outros turnos
durante a semana e fim de semana (ocupando o PT2).
Seguidamente são analisados os resultados mais relevantes:
Item 1 - Posto de trabalho – no PT1 a altura do plano de trabalho está
desajustada á tarefa mais exigente (1.2), a distância e angulo de visão são
condicionadas pelo layout do PT (1.3), o espaço disponível para as pernas na
postura de sentado é restrito (1.4) e o assento não é ajustável, no PT2 o
layout inadequado condiciona a distância e angulo de visão (1.3);
Item 4 - Postura de trabalho e movimentos – a posição do pescoço e ombros
é agravada pelo tempo de manutenção na postura de sentado, no caso do
PT2 a disposição do ecrã obriga à rotação frequente do tronco para o operador
obter e registar os dados;
Item 6: Conteúdo do trabalho – a função de coordenador (PT1) é muito
abrangente devido ao número, complexidade e variedade das tarefas
realizadas e, pela necessidade de utilização eficiente de todos os sistemas da
C4, quanto ao P2, o operador de Central concentra-se sobretudo nas
comunicações (telefone e rádio) e na plataforma IFfire;
Item 7: Restrições no trabalho – o processo de trabalho contempla as tarefas
necessária ao planeamento, coordenação e controlo das tarefas da função do
coordenador de serviço (ou chefe de equipa durante a pernoita - PT1), no
entanto o caracter imprevisível das missões (tipo, momento, meios
envolvidos e local) e disponibilidade dos meios, impõem a incerteza do
momento e o ritmo da ação, no PT2 em menor escala, mas o trabalhador
realiza o seu trabalho com restrições porque o seu desempenho é
condicionado pela imprevisibilidade e volume de chamadas;
Item 9: Tomada de decisões – o processo de decisão do coordenador de
serviço (PT1) é fortemente influenciado pela informação adequada e oportuna
disponibilizada nos vários sistemas/plataformas apresentados, bem como da
capacidade de conjugação dos dados no momento da decisão (vários
indicadores e comparação de várias alternativas), relativamente ao PT2,
normalmente o processo de decisão não se encontra subjacente à função,
mas tal pode acontecer quando o coordenador é empenhado na execução de
missões e surgem missões não previstas (inopinadas);
Item 12: Iluminação – os valores de iluminância medidos no PT1 durante o
dia são de 160 lux (fontes natural e artificial) e durante a pernoita nos PT1 e
PT2 de 143 lux e 232 lux, são inferiores aos 300 lux recomendados para
tarefas realizadas em secretárias e salas de comando (Norma DIN 5035-Parte
2: 1990), o PT1 encontra-se em zona de sombra provocada pelo coordenador
(a fonte de luz está colocada nas suas costas) e sofre algum reflexo do
monitor provocado pela insciência de luz natural em dias de céu limpo;
Item 14: Ruido ocupacional - O trabalho da Central requer comunicação
verbal e não foi percecionado ruido não conforme no interior da Central, o
valor do nível é condicionado pela ocorrência de comunicações rádio e os
trabalhadores sentem desconforto quando são acionadas as sirenes de aviso
de nova missão e no início da marcha das ambulâncias (DL n.º 182/2006);
Verificou-se que na implementação e distribuição espacial dos meios dos PT1
e PT2 (telefones, rádios, hardware, microfone e arquivo de documentos), não
foram materializados os critérios, (i) importância do sistema, (ii) frequência
de utilização e (iii) intensidade de fluxo da informação (missões);
Perante a diversidade de características antropométricas e idade dos
Bombeiros que realizam as tarefas, constatou-se que, as dimensões fixas do
mobiliário, o reduzido espaço entre PT, o layout do PT, os itinerários de
passagem e o nível de iluminação, são fatores que contribuem de forma
significativa para o inadequado espaço livre e execução de movimentos
extremos para alcançar os objetos, contribuindo assim para a adoção de
posturas inadequas (postura sentada continuada).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reconstrução da Central corporiza as medidas de controlo dos fatores de
risco identificados em 4. Todas as ações deverão ser acompanhadas de
formação e sensibilização para os riscos e efeitos da exposição.
Correção da altura do plano de trabalho, substituição do assento do PT1 e
alteração do layout da Central e de cada PT para evitar posturas inadequadas
pelos Bombeiros com medidas limite e aumentar a eficiência (Item 1).
No PT2, recolocação dos meios tecnológicos na bancada (alcances),
alternância da “postura sentada” com a “postura em pé” e execução de
pequenos exercícios de alongamento e relaxamento da zona
musculosquelética afetada (Item 4).
No PT1, devido à diversidade de tarefas e necessidade de recurso a todos os
sistemas, melhorar o processo de perceção cognitiva da informação através
da integração dos dados de apoio à decisão e, efetuar a formação dos
operadores para a adequada repartição das ações (item 6).
As restrições no trabalho resultam do caracter imprevisível das missões de
socorro e emergência. Restringir as entradas na Central e disponibilizar no
exterior da Central (parque auto) um écran de 50” com informação em tempo
real aos executantes, para diminuir a incerteza, aumentar o tempo de
preparação das equipas de missão e, diminuir a carga e ritmo de trabalho do
coordenador de serviço (item 7).
A tomada de decisão (PT1) é fortemente influenciada pelo fato dos dados
disponíveis nos sistemas serem adequados e oportunos a par da capacitação
do coordenador para efetuar a conjugação dos vários indicadores e comparar
as alternativas. Disponibilizar constantemente para os dois PT a informação
em seis écrans de parede com 43” (LED), colocando-os de acordo com
critérios de importância do sistema de dados, frequência de utilização e
intensidade de fluxo da informação, para reduzir o tempo de decisão e facilitar
a coordenação do processo de trabalho (Item 9).
Renovar o sistema de iluminação da Central aumentado o nível de iluminância
de acordo com a exigência das tarefas e redistribuir as luminárias, sem
prejuízo de colocação imediata de iluminação localizada (Item 12).
Para reduzir o ruido desconfortável e permitir uma maior concentração,
efetuar o isolamento interior da Central, substituir a porta de entrada e
colocar vidros duplos em todas as janelas (Item 14).
Mediante a análise ergonómica do trabalho, a necessidade de integração do
sistema Forest Fire Finder nos existentes e as medidas de controlo
apresentadas e aceites pela direção, está a decorrer a reconstrução da
Central, onde será implementado o novo layout e redefinidos os
procedimentos que compõem o processo de trabalho dos dois PT (Figura 5):
Legenda:
1 a 4 – Posição e bancada dos PT
5 - Consola Telefones/rádios no PT2
6 – Monitor do PT1
7 a 9 – Seis écrans dos sistemas
10 -Televisor
11 – Janela de observação do parque
12 – Armário com prateleiras fechado
13 - Mapa Fotoluminescente
14 – Guichê de atendimento
15 – Armário dos rádios portáteis
16 – Armário de fardamento
17- Cadeira de descanso (pernoita)
18 – Sistema de ar condicionado
19 – Iluminação geral
20 – Deslocamentos frequentes (→)
21 – Novo sistema sonoro
22 e 23 – Expositores de informação
24 – Monitor de situação/missões
25 - Espelho/Visor do Parque
Figura 4 Projeto de reconstrução da Central – C4 (Fonte: Autor)
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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