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Esta é uma obra de ficção.

Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais, é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte desta obra, através de quaisquer meios – tangível ou
intangível – sem o consentimento escrito da autora. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610 de
10/02/1998 e punido pelo artigo 184 do código penal.

C ©F V
Emocionantee polêmica, estafoi a primeirasérie lançada pela
autoraFernanda Verônica na Amazon. Neste Box, você encontrará
os quatro livros já lançados:
• Doce Tentação, livros 1 e 2.
• Minha Louca Tentação, livro 3.
• Inesquecível eTntação, livro 4.

Livroscinco e seis, chegam em novembro/2022 e janeiro 2023.


Sumário
DOCE TENTAÇÃO
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
CONTINUA...
DOCE TENTAÇÃO, PARTE II
Sinopse:
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epílogo
MINHA LOUCA TENTAÇÃO
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
INESQUECÍVEL TENTAÇÃO
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
Outros livros da autora
Sobre a autora
S
A tímida Jordana sempre segue as regras. Pelo menos, é assim que parece
para seus amigos. Mas ela tem um segredo: está apaixonada por Eduardo. E ela
tem certeza de que ele também está apaixonado por ela.
Todo mundo adora Eduardo Toledo. Para ela, ele parece completamente
inalcançável.
São os segredos escondidos por trás de seus profundos olhos que atraem
Jordana. Segredos mais sombrios e tristes do que ela jamais poderia imaginar.
Dono de uma das maiores construtoras do Rio de Janeiro, Eduardo está
decidido a nunca mais viver um novo amor e a regra para ficar com ele é facil de
seguir. É fácil de seguir porque expõe claramente a que veio. Essa é a única
maneira que sabe para manter seu passado enterrado.
Mas ele nunca esperou encontrar uma garota tão bonita. Ela está o
desafiando ao cruzar a linha. E ele nunca resistiu à tentação.
P

Clica aqui!
P
Eduardo Toledo

Seis anos atrás.

Eu e Bianca não esperávamosque nosso recentee conturbado


relacionamentode oito meses tomaria esse rumo. Tinha vinte e
quatroanos e, naquele ano, minha empresa finalmentealçou voos
que me colocaram nos destaques em uma revista conceituada.
De qualquer modo, não rejeitei a novidade. Ter um filho não
planejado não seria um grande problema, eu e a mãe dele nos
convencemos de que isso acabaria de vez com nossos
desentendimentos.

Ficamos parecendo dois loucos sonhadores, fazendo planos,


imaginando a vida com nosso filho. Bianca era tão romântica,
achava que a vida era um conto de fadas e, naquela época,
acreditamos que viveríamos um.

A princípio, a escolha foi um parto domiciliar, natural e


humanizado. Eu era o cara condescendente,ouvia de mamãe e da
mãe dela que deveria apoiar as escolhas dela para dar a luz. Foi o
que fiz. Descobrimosque era um menino, mas queríamosesperar
ver o rostodo nosso filho para escolher o nome. Saber qual nome
combinaria melhor para ele. A lista era infinita,mas Davi e Heitor
estavam em nossas prioridades.
Quando ela beirou as trintae duas semanas, o doutorpediu o
afastamentodas atividades, repouso absoluto. Não queríamosum
partoprematuroextremo.Cancelamos chá de fraldas,eram dias
preocupantes,mas ela estava sendo monitorada pelos melhores
médicos.

Com tr inta e quatrosemanas, ela teve mais contrações,me


deixava em pânico, mas o médico sempre conseguia me
tranquilizar
. Conseguimos –ela conseguiu –levar a gestaçãoatéas
trintae cinco semanas, mas apresentavamuitas dores, contrações
que em uma quarta-feira, o pior dia de toda minha vida, começaram
a vir sem intervalos.Bianca queria o partohumanizado em casa,
mas, dessa vez, eu precisei ir contra.Queria os melhores médicos
monitorando, queria que estivéssemos no melhor hospital para
eventuais complicações.

O doutortentouparecerotimista,conversoucom Bianca sobre


o trabalhode parto,que as chances de conseguir o partonatural
eram menores agora, mas que iria monitorare fazero possível.
Fiquei ao lado dela, dando apoio, mas o medo que me corroíaera
cruel.

Bianca estava confiante,era nosso primeiro filho, querí amos


pelo menos trê s, e ela queria o partonatural.Eu acatei, dei apoio,
fiquei ao lado dela. Coisa que me arrependiamargamentedepois.
Era um parto prematuro,difícil, eu devia ter insistido para a
cesariana, sei lá, talvez o destino tivesse sido outro.Foram horas
esperando a maldita dilatação, que estava lenta. O doutortentava
ser otimista,alegava que estava demorando, mas que poderíamos
esperar.

Quando se deu conta de que Bianca não iria evoluir, que não
seria possívelo partodos sonhos dela, já era tarde.Ela começou a
terdificuldade para respirar
, demorou a conseguirficarquietapara a
anestesia. Foi um inferno completo.

Bianca apresentou um quadro raro de CIVD (coagulação


intravasculardisseminada), e o imbecil do médico, preocupado
apenas em nos tranquilizar
, demorou a dar o diagnóstico,foi tarde
demais. Bianca ficou agitada no centrocirúrgico,eu não queria
deixá-la, mas com o agravamentodo quadro, foi preciso sair da
sala.

Não parei quieto no corredordaquele maldito hospital, os


médicos entravame saíam, o tempo pareceu correr , me fazendo
sentir um pânico que jamais imaginei ser possível.
Nossos pais estavamlá, mas eu não queria abraço,não queria
consolo. Queria esfolaro médico maldito que a deixou escolher
passar horas e horas tentandoo partonatural.Como profissional,
ele deveria saber que não daria, que teríamosque partirpara uma
cesariana. Me culpei, eu não deveria ter apoiado a decisão. A
gravidez começou a apresentarcomplicações há semanas, eu
deveria ter sido mais intuitivo, mais decisivo em contrariá-la.

O mundo pareceu rodarem câmera lenta. Tudo ficou mudo,


tudo que eu vi foi o médico vindo em minha direção, com uma
expressão desanimadora. Comecei a tremer
, tudo começou a
lancinar, eu me sentiasendo esfaqueado,despedaçado em milhões
de pedaços. Puxei a maldita touca que precisei colocar para entrar
no centrocirúrgicoe a apertei. Por um momento, não consegui
respirar
, o ar não entravadireitonos pulmões, tudodoía,maltratava.

A coagulação intravasculardisseminada é uma síndrome


adquiridacaracterizadapela ativaçãodescontroladada coagulação
no espaço intravascularlevandoà formação e deposiçãode fibrina
na microvasculatura.Na maiorparte dos casos de CIVD,há inibição
da fibrinólise,
o que contribuipara a deposição de fibrinaem
diferentesórgãos. A deposição de fibrinapode levar à oclusão
vasculare consequente comprometimento do fluxosanguíneo para
diversosórgãos, o que em conjunto com alteraçõesmetabólicase
hemodinâmicas pode contribuir para a falência de múltiplos órgãos.

O doutor tinha várias explicações médicas para o que


aconteceu com ela, mas nenhuma salvação, nenhum milagre.
Quando o vi em minha direção, rezei internamentepara que Bianca
se salvasse, minha prioridadeera a vida dela. Egoísmo,eu sei. Por
nosso filho ternascido prematuro,por ternascido abaixo do peso,
foi diret
o para UTI neonatal. Quando soube que ele estavaa salvo,
me culpei, sofri ainda mais. Não teríamossua mãe conosco,
seriamos apenas nós dois e eu havia desejado muito que fosseo
contrário. Queria que fosse eu e a mãe dele, apenas isso.

Tomei como um castigo, quando por complicações


respiratórias,
nosso filhotambémnão resistiu.Eu vivi no automático,
queria poder morrerjunto com eles, porque minha vida havia sido
dilacerada,completamentedestruída. Estavatudoamargo, sem cor,
sem nada. Eu havia perdido tudo.
C 01
Jordana Testa

Quando Marina apareceucom dois convitespara uma festaem


uma casa noturnaque eu nunca havia ouvido falar
, eu deveria ter
desconfiado. A fachada não diferia das boates convencionais, o
primeiroandar era pistade dança e bar. Havia um palco e um mine
palco, onde tinha um varão. Estranhei aquilo, mas Mari me
convenceu de que era apenas decoração.

Logo começaram a serviras bebidas e eu peguei um drink. A


banda começou a tocar, mas nós duas ficamospertodo bar. Vários
casais chegavam e subiam direto, fiquei apenas observando o
movimento. Mari era mais animada, dançava e bebia mais do que
eu.

Quando ela me chamou para subirmos e conhecermos os


outrosandares, eu definitivamente quis matá-la. No segundo andar,
o labirintoera formadopor cabines estreitas
decoradasapenas com
um banco acolchoado. Somente uma cabine possuía porta com
tranca e as outras estavam fechadas com cortinaspretas que
poderiam serabertaspor qualquer curioso.Meu coraçãocomeçou a
acelerare eu queria começara chorare gritarpor ela ternos trazido
para um lugar como esse.
— Fica calma — minha amiga falou,franzindoo cenho em uma
careta brava — ninguém nunca nem vai saber que estivemos aqui.
— Como você conseguiu entrar?Me diz? — meu tom de voz
se elevou um pouco e eu continuei dando o meu chilique.
— É pra uma matériana revista— ela falou, segurando meu
pulso para que eu não saísse correndo. Convenhamos, ela me
conhecia, eu sairia correndo.
— Eu não acredito que você me trouxenesse antrode... — eu
nem soube como nomear.
— Ninguém viria aqui sem me julgar — ela falou o óbvio e eu
encarei, eu estavajulgando. Mari riu, antesde explicar:— você não
vai sair daqui contando pra todo mundo que viemos em uma casa
de swing, vai?
— O QUE? — eu griteie um casal passou por nós, entrando
em uma das cabines — você não vai querer olhar, vai?
— Claro que não! — ela falou indignada — quero saber como
acontece. A experiência real vai me dar mais precisão quando for
detalhar. Posso até mesmo colocar esse seu showzinho...
— Não ouse mencionar! — eu falava alto e ela puxou meu
pulso, me levando para o outro andar
.

No terceiro andar, bar e pista de dança. No quartoandar, três


suítesprivadas, uma delas tinha uma parede de vidro que permitiria
que pessoas do lado de fora vissem o que acontecia lá dentro.
— Este tipo de ambiente é denominado nos clubes de swing
como aquário — Mari explicou, mas a encarei fazendo pouco caso,
não estava interessada— olha, eu prometoque da próxima vez
vamos sair pra um lugar decente...ipoT uma igreja!
— Eu nunca vou te perdoar— falei friamente,mas ela não me
levou nada a sério.
No quintoandar, havia um terraçocom bar e uma televisãoque
exibia clipes musicais. Mari pegou mais bebidas para nós e quando
descemos, havia um casal entrando no quarto de vidro.
— Qual tesão em poder ser assistidotransando?— perguntei
incrédula e ela olhou para mim, dando de ombros.

Quando descemos, eu achei que já iriamos embora,


finalmente.Mas ela queria mais para o seu trabalhomaldito. Eu e
ela ficamos pertodo bar. Deus, que ninguém nunca chegue em nós
duas.
— Relaxa, Dana — ela reclamou — dizem que nesses lugares
rola menos assédio e tals. São mais frequentados por casais.

No meio da noite, strippersentraramem ação. O show de


striptease foi realizado por um homem e uma mulher
simultaneamente,embora eles não interagissementresi. O show
incluía selecionar algumas pessoas da plateia. Mari foi uma das
primeirasescolhidas… A encarei incrédula, porque ela topou e virei
o rosto, não queria ser a próxima, mas nem que me obrigassem!

O pessoal deu um gritoalvoroçado, então eu preciseiolhar. O


homem a levantou pela cintura e a encostouna parede do fundo da
pista de dança. Após dançar sensualmente esfregandotodo nela,
ela começou a passar a mão em seu corpo musculoso e ainda
desceu um pouco mais.
Quando ela voltou pra cá, ele começou a tirara roupa. Uma
mulher próxima a nós olhava fixamente aquele corpo moreno
musculoso como se estivesse hipnotizada.

Uma mulher agarroucom forçaa mão do strippere a guiou por


seus seios e bunda, deixando a excitaçãolhe dominar… Mari fazia
algumas anotações em seu celular, eu estava confusa, nervosa,
amedrontada e me sentindo imunda por estar aqui.

Depois de exibir-se totalmentenu por algum tempo, o stripper


deu início à “cadeira do prazer”.Ele convidou uma promotorade
eventos do clube para juntar-se a ele. Os dois dançaram e
esfregaram-sepor alguns minutos. Ela começou a fazersexo oral
nele enquanto ouvia palavras de incentivo do público.

Felizmente, Mari se deu por satisfeitae pudemos ir embora.


Comecei a pensar naquelas pessoas sem pudor nenhum, talvez
fossepreconceito meu, mas eu dificilmentesentiriaprazersentotão
observada.
— Se eu tivesseum parceiroconfiável,acho que topariasim, ir
— ela falou para mim, quando já estávamosem frenteao local. Mari
se afastouum pouco para falar com o que eu imaginei ser um táxi
pelo celular.
— Eu jamais conseguiria— reforceiquando ela voltoue ela fez
uma caretasarcásticapara mim, colocando uma mecha do meu
cabelo para trás da orelha.
— É que você nunca fez um sexo gostosona vida, aí é toda
limitada — ela resolveu debochar e eu a encarei brava, tirandosua
mão do meu cabelo.
— Não foi ruim! — falei enfática.
— Aposto que aquele estru me sequer te fez gozar — ela
provocou e eu a encarei, ficando sufocada de vergonha por essa
conversa. Mari ia continuar falando, mas tampei os ouvidos e
comecei a cantarolar:
— Lá, lá, lá, lá... — continuei incansavelmentee minha amiga
começou a rir
.

Um carro SUV estacionoudo outrolado da rua e ela me puxou


pelo braço.
— Vamos. Aquele amigo que te falei vai nos levar pra tomar
alguma coisa.
— Eu te odeio, Marina — falei com toda convicção do mundo.
Ela entrelaçou nossos braços e atravessamos a rua.
— Pra onde vamos agora? — sussurrei,me recusandoa entrar
no carro.
— Pro apartamentode um amigo dele. Você vai gostar , não
tem nada de sexual por lá. Juro — ela cruzou os dedos indicadores
sobre os lábios. Suspirei, vencida e ela abriu a portatraseirapara
mim. Entreiatr ás e ela na frente.O loiro e ela deram um beijo bem
beijo, antes de ela nos apresentar . Acenei timidamentee os dois
foram conversando animados até chegarmos ao prédio luxuoso.
Subimos diretopara a coberturae quando Fred abriu a porta,
eu fui olhando as pessoas ali dentro.Olhei feio para Mari, só havia
homem ali.
— Ninguém vai te morder— ela prometeu,me puxando pela
mão. O amigo dela foi a apresentandocomo namorada para seus
amigos. Mari me olhou de maneira presunçosa, acho que pelo
namorada, nem ela esperava.
Fred pegou bebidas para nós duas e avisou que poderí
amos
ficara vontade. Tocava músicas animadas e os carasconversavam
as besteiras que homens adoram falar . Eu e Mari nos sentamosem
um dos sofás. A coberturaera enorme, conceito aberto, os
ambientes divididos por móveis. As janelas iam do tetoao chão e
dava uma bela vista do mar. Seja lá quem foro dono, era alguém
bem rico.
— Como vocês se conheceram? — perguntei,porque sabia do
amigo, mas não sabia muito. Ela deixou escaparum riso e eu fiquei
esperando.
— Jura que não vai me julgar? — perguntou,arqueando as
sobrancelhase a encarei séria. Era difícilnão julgar as maluquices
da minha amiga. No entanto,eu julgava porque duvidava muito que
teria coragem de fazer metade das coisas que ela faz. Mas eu
nunca a condenava. Quem era eu para condenar alguém?
— Juro — falei, bebendo um pouco dessa Gin tônica.
— Eu precisava de uma entrevistacom o sócio dele, o ricaço
dono do apartamentoaqui. Mas ele estava estressadocom uma
contaerradade algum projeto,que teriaque serrefeitoe atrasariaa
obra. Aí falou bem bravo que marcariaa entrevistase eu chupasse
o pau dele — ela falou e eu cresci os olhos, o coração deu uma
fincadacom a constatação,mas Mari apenas riu e continuou: — eu
falei que chupava.
— O QUE? — eu griteie dois carasque seguravamcopos com
uísque olharam para nós — você o que? — sussurrei estupefata.
— Aí ele ficou surpresoe eu fiquei lá, esperando. Amiga, eu
precisava da entrevista,porque eu precisava daquela matéria,
minha chefa é uma monstra.
— Você chupou? — sussurreie ela começou a rir
, negando
com a cabeça.
— Não aquele dia — ela falou, se divertindo com o meu
constrangimento.Ainda olhei ao redor para ver se ninguém nos
ouvia — ele se desculpou pelo modo como falou comigo e
conseguiu a entrevistacom o outro bonitão no mesmo dia. Aí
quando saí, ele veio de novo se desculpar e me chamou pra sair
.
— E você foi — deduzi o óbvio.
— Dois dias depois. Eu estava atolada de coisas da faculdade
também, era o final, né. E aí quando saímos...
— Eu já sei o que fizeram, não precisa detalhar — falei
rapidamente, antes que ela começasse.
— Você deveria parar de ser tão puritana. E de esperar o
príncipe encantado.
— No cavalo branco ainda — eu zombei e nós duas rimos. Mas
eu queria sim um romancemais sólido, um amor desses de cinema,
que ninguém na vida real parece mais acreditar
. Era querer muito?

Não condenava (porque eu julgava um pouco) as pessoas que


saíam por aí se aventurando em vários corpos, fazendo sexo
apenas por prazer
. Mas isso não era para mim. Ou talvez, como
minha amiga vivia dizendo, eu só me dei para o homem erradoe me
tranqueium pouco. Só queria agora algo perfeito.Se eu era muito
exigente?Era uma exigência exagerada quererseramada e não só
comida?
Eu não sei em que momento eu vacilei e Mari disse que iria
preparar outra bebida para nós. Mas ela apenas se foi. Procurei pelo
seu namorado e também não o encontrei.Fechei os olhos por um
momento, só me restavaesperar
. Nesse momento, já havia poucos
caras, passava das trêsda manhã. Quando um cara alto voltou lá
da ilha que separava uma das salas da cozinha, os últimos
convidados se despediram e ele foi levá-los até a porta.
— E você? — ele perguntouao voltar . Engoli pesado, quase
não achando voz para dizer. Estava aqui esperando minha amiga,
que provavelmente subiu essas escadas luxuosas e estava em
algum quarto fazendo sacanagens com um suposto namorado?

O homem veio chegando mais perto e meu coração foi se


apertando,estava tãoenvergonhada. Não haveria lugar pior para eu
estarexistindo! Ele era alto, bem alto. A barba por fazer
, cabelos
castanhosclaros e quando chegou mais perto,identifiqueique os
olhos eram claros.Daqueles que parecem florescentes
sob a luz do
sol. Afastei-meum pouco para o lado oposto,quando ele se sentou
ao meu lado no sofá.
— Conheci Marina há algumas semanas — ele comentou,
correndo uma mão na barba — bem louca, mas uma menina legal.
— Ela é — sussurrei.Ele olhou para a taça vazia que eu
segurava.
— Quer beber alguma coisa? — ele perguntou.Ponderei que
melhor não, devo terbebido umas trêstaçasde gin. Mas por outro
lado, eu estavatãonervosaque era melhor aceitar
. Aperte
i os lábios
e ele pegou a taça, se levantando e foi em direção à cozinha.
Respirei fundo e me levantei, era melhor que eu testasseo
equilíbrioe o teor de álcool em pé. Caminhei até lá e me escoreido
outro lado da bancada toda de mármore. Era tudo tão bonito e
elegante por aqui. Tão moderno que poderia inspecionar cada
ambiente. Venerava tudo relacionado à arquitetura
e por aqui era
tudo requintado demais.
— Não me disse seu nome — ele falou,preparandocaipirinhas
eu presumi.
— Jordana — falei baixo e ele olhou para trás rapidamente — e
você?
— Edu — falou, derramandouma dose generosa de vodca na
coqueteleira.Quando terminou,serviu em dois copos e pegou os
canudos.

Eu bebi um pouco, estava mesmo boa, apesar de forte.


— Acha que eles vão demorar?— Edu perguntou,se refe rindo
aos nossos amigos.
— Sabe onde estão?— perguntei— sabia que não deveria ter
aceitado o convite dela, só me mete em enrascadas.
— Ela tem cara de quem adora uma confusão,mesmo — Edu
pareceu se divertir— já soube como ela e Fred se conheceram? —
senti meu rostocorarcom a informação,fiz uma caretade dor e
assenti.
— Ela precisava da entrevista — eu falei.
— Estudavamjuntas?— ele perguntou.Neguei com a cabeça.
Ficamos conversandosobreessas aleatoriedadespor algum tempo,
até Fred voltar
, enrolado em um roupão pretoe pegou uma garrafa
de água na geladeira. Ele ia voltando, mas parou e perguntouse
estavatudo bem. Lancei meu pior olhar, para que Marina soubesse
que eu não queria estar aqui.
— Se responde a sua pergunta anterior , eles estão no meu
quarto— Edu falou e eu dei um riso desanimado, negando com a
cabeça.
— Já são quase cinco da manhã — eu falei,olhando no celular
— e eu aqui esperando a Marina.
— Não achei que a minha companhia fosse tão ruim — ele
falou e eu fiz uma careta — se você quiser
, posso te levar pra casa.
— Sério? — pergunteiesperançosa— esses dois não devem
terminar
, seja lá o que estão fazendo, tão cedo — fiz uma careta
melancólica e ele riu, concordando. Edu bebeu o último gole da sua
caipirinhae colocou o copo no balcão. Eu coloquei o meu tambéme
fui até o sofá, para pegar a minha bolsa.

Descemos para o estacionamento,onde ele destravouo carro


e abriu a portapara mim. Dessa vez, ele foi perguntandocoisas
mais íntimas.Se eu era solteira, se estavalivre e por último se nós
poderíamossair qualquer dia desses. Eu fiquei muda, um cara
desse perfilnão era bem o príncipede cavalo branco que eu estava
esperando.
— Talvez possamos marcarcom Marina e Fred — ele sugeriu.
Eu tentei processarse seria uma boa ideia. Se ele achasse que eu
era solta como Marina, tudo seria uma frustração. Nossa conversa
foi inter
rompida pelo celular dele. Ele avisou que era sua irmã e
atendeu no alto falante:
— Fala, Chiara — ele falou descontraído.
— Aconteceu uma merda! — ela falou, parecia estar aos
prantos. Edu me olhou rapidamente e franziu o cenho.
— O que?
— Eu perdi a minha aliança — ela realmentechorava — por
favor
, Edu! Você precisa vir me ajudar a procurar
.
— Tudo bem — ele falou tr
anquilamente — onde você está?
Eu vou te ajudar a encontrar
.

Ela chorava e chorava, mas passou o endereço para ele.


Quando ouvi o nome do clube, meu coração deu um salto. Edu
demorou alguns minutos até reconhecero lugar. O que pareceu
uma merda para mim, ele conhecia o lugar? Ele frequentou?

Ele sequer perguntouse eu queria ajudar, mas eu iria fazer o


que? Quando chegamos, ele pagou para entrarmose entrelaçouas
nossas mãos. Lá dentro,voltou a ligar para sua irmã, que estavalá
no último andar. Em um dos quartos.Eu estava tensa, duas vezes
em uma casa de swing, na mesma noite, Deus só poderia estarme
testando.

A irmã dele não se preocupou em explicar o que fazia ali,


estava desesperada demais. Ela revirava o quarto inteiro. Ele
chegou a perguntarse alguém entrouali depois dela, mas ela disse
que falaram que não.
— Se você encontrar
, por favor
, me devolve — ela falou para o
irmão, o nariz estava vermelho de tantochoro — o anel custou
quase duzentosmil reais. Gabriel vai terum ataque se eu perderde
verdade.
Meu coração palpitou. Duzentos mil em um anel. Pra que?
— Eu sei que você não está a favordo casamento — ela
continuava,fungando.Eu passei a procurartambém— mas é muito
importante encontrá-lo.
— Estou procurando,Chiara! — ele falouimpaciente,com mais
potência na voz. Me fez estremecer — não sei o que você queria em
um lugar como esse.
— Estou arrependida, não está vendo? — ela perguntou
melodramática.

Eu encontreio anel pertode uma poltrona,quase em baixo.


Como foi parar ali, eu não conseguiria explicar. E nem queria
imaginar.
— Aqui está — falei e os dois me olharam. Chiara correuaté
mim, pegando o anel e respirou aliviada.
— Obrigada — ela falou em êxtase,me abraçando eufór
ica —
você salvou a minha vida.

Ela me soltou e ia correndopara forado quarto,quando Edu


perguntou:
— Chiara, você estava aqui com quem?
— Com ele, oras — ela falou como se fosse óbvio — que agora
deve estar dormindo em meu quarto.
Ela não esperou por mais e saiu correndo.Edu começou a rir,
era uma situaçãoembaraçosa. Eu jamais ligaria para meu irmão vir
me ajudar em uma espécie de puteiro.
— Vamos? — ele perguntou,estendendo a mão em minha
direção. Num impulso cego, aceitei e notei como eu era pequena
pertodele. Tanto na altura,quanto na diferençade tamanho das
mãos. Deveríamosterseguido direto,mas ele estava na frentee
parou em frenteà janela do quarto de vidro. Meu coração se
comprimiuinteiroem puro constrangimento.
Marina certamente
diria
que era só sexo. Mas eu não estava mentalmentepreparadapara
ver duas pessoas transando.
— Já viu uma coisa dessas? — ele perguntoue eu o encarei
sem reação, mas neguei com a cabeça. Edu manteve o olhar preso
no meu por um momento, mas desviou e chegou mais pertoda
janela.

Eu queria uma maneira de fingir não estarvendo, mas estava


impossível.O casal já estava no ato, na cama, dava para ver tudo
daqui. Os dois pareciam sincronizados, ela toda aberta sobre a
cama. Dava para vê-lo entrandoe saindo dela. Deus, isso era tão
pornográficoe eu estavaassistindode mãos dadas com um homem
que sequer conhecia.

Meu coraçãoestavaa ponto de entrarem colapso. Eu deveria


nunca perdoar Marina por me fazer passar por uma coisa dessas.
— Não acha melhor irmos? — pergunteibaixinho, consumida
pela situação.Se eu não fosse tão arcaica aproveitariao erotismo
da situação, mas jamais conseguiria.
— Me desculpe — ele falou — vamos.
De volta ao carro,peguei minha bolsa e tireio celular, lendo a
mensagem de Marina:

“Fica com ele, sua boba!”

“Eu vou te matar!” — respondi.

Edu tentouquebraro clima tenso puxando conversa, falando


até mesmo sobre os casais que frequentamlugares como aquele,
como se fosse algo natural.
— Para eles, é — ele falou e eu fiz uma careta.
— Você gosta daquilo? — perguntei, ele deu de ombros.
— Acho que tudodepende — ele faloutranquilamente,olhando
para mim rapidamente — se o casal está a fim, vale tudo.
— Uau — balbuciei sem querer . Eu era uma inexperiente
completa no sexo. Não uma virgem em apuros, nem nada. Mas só
estivecom um cara a vida inteira.Namorei por seis longos anos, fui
traídade todas as maneiras possíveise quando mais precisei de
apoio, fui abandonada. Sexo definitivamentenão era minha
especialidade. Na verdade, o assunto me deixava arrepiada de
vergonha.
— Vamos falar de outra coisa. Já notei que isso te deixa
desconfortável — ele deu um sorriso maroto e eu assenti.
— Sua irmã disse que você não aprova o casamento... Por
quê?
— Porque ele quer fazerparecer que são o casal perfeit
o, pra
todo mundo bajular e ninguém desconfiarque ele ainda seja um
traidor
.
— E se você estivererrado? — perguntei e ele torce
u os
lábios.
— Se eu estiver errado, Chiara tem sorte.

Expliquei meu endereço exato e quando ele estacionou em


frente ao prédio, eu o olhei.
— Obrigada por me trazer— eu falei cordialmente— eu iria
acabar brigando com Marina, se ela me fizesse passar a noite
esperando.
— E o nosso jantar, qualquer dias desses? — ele perguntou,
quando eu já ia descendo. O analisei, tão bonito desse jeito, com
esse carrocaro, esse jeito elegante e charmoso e mal encarado,
com uma pitada de humor. Era tudo ao mesmo tempo. Eu queria
sair com ele?
— Podemos marcar— uma forçamaior respondeu, antesque
eu pudesse raciocinar melhor minha decisão. Antes que eu
descesse do carro,ele segurou meu braço suavemente e veio se
aproximando. Eu devo ter tido um mine infarto.Se eu iria
corresponder, já nem sabia mais. Provavelmente sim, estava
inebriada demais nessa loucura que foi toda essa noite, esse cara
que não apareceriaem minha vida se não fossetodaessa balburdia
que Mari nos enfiou, mas o celular dele começou a tocar e eu me
afastei num sobressalto.
— Eu te ligo — ele falou e eu assenti, descendo logo do carro.
C 02
Eduardo Toledo

Atendi ao Fred questionando minha demora. Não entendi sua


preocupação, uma vez que dentre quatro quartos em minha
cobertura, ele estava usufruindo da minha suíte máster
.

Voltei para meu apartamen to e o casal mais louco que já


conheci em toda minha vida estava na sala, comendo morangos
com calda de alguma coisa. Leite condensado, provavelmente.
— O que você fez com a minha amiga, seu tarado?— Marina
perguntou,apontando o garfo para mim. Eu joguei as chaves sobre
o aparador e neguei com a cabeça.
— A deixei em casa. E vocês dois? Aproveitarambem o meu
quarto?
— Eu avisei que você não iria gostar — ela falou, se
defendendo — mas que cama. Que senhora cama!
— Já trocamostoda a roupa de cama, cara — Fred falou e eu
fiz uma careta asquerosa. Ele estava residindo por aqui, até
encontrarum apartamento.Havia se separado há pouco tempo.
Saiu de casa depois que conheceu Marina. Se ela sabia sobre toda
a confusão dele, eu não fazia ideia.
— Jordana está furiosa — Mari contou.
— Ela parece ser tímida— comentei e a outradeu um sorriso
travesso, assentindo.
— Tímida daquelas que faz loucuras na cama ou tímida,
tímida?— Fred perguntou,focado na sua sobremesa, mas Marina
deu um cutucão forte, nele, que fez uma careta de. dor
— Ela iria explodir de vergonha se visse você dizendo algo
assim — ela reclamou.

Dei boa noite para os coelhinhose fui tomarum banho, para


então dormir
.

Acordei na manhã seguinte já tarde,e foi com Luísa ligando.


Respirei fundo, buscando paciência no ar que inspirava para lidar
com ela.

Eu e Luísanos aproximamos quando perdi Bianca e meu filho.


Ela, como uma próxima amiga de Bia se viu na missão de me
consolar. E eu, oco, amargurado,cheio de remorso,não neguei ou
notei suas intensões. Ela dedicou meses aguentando meu luto e
meu ódio pelo que aconteceu. Eu hoje ainda não entendia os
motivos de Deus terlevado meu amor e nosso filho, jamais iria
compreenderou aceitar , mas seis anos se passaram,a feridaficou
ali intocável.

Em uma noitede bebedeira, no aniversáriode Fred, estávamos


eu, Bruna, Luísa e ele, acabou acontecendo.

Nunca a enganei. Ela queria um caso e eu nunca neguei. Foi


sexo, ela alimentou os burburinhossobre nós dois para a mídia,
impulsionou sua carreirae até hoje esperava que fôssemosviver
algo sério.
Não iríamos. Namoro e filhos outra vez estavam
completamente fora de cogitação. Lembrar-me de como tudo
poderia estarsendo, se eu os tivesse comigo, doía muito. Bianca
adorava aniversário,quando chegava Junho, o mês dela, eu sofria
amargurado.E quando chegava setembro,eu sofriaem dobro. Era
quando deveríamosestarcomemorando a vida do nosso filho, mas
tudo era apenas dor
. Tudo escuro e sem cor
, apenas sofrimento.

Luísa e eu não tínhamosafinidade. Não tínhamosnada em


comum. Ela queria viver de aparência, status,só pensava na pele,
no cabelo, no corpo. Em dois dias iria para São Paulo, para realizar
mais uma cirurgia plástica. Dessa vez, trocaras próteses de
silicone. Eu não achava que uma mulher da idade dela precisasse
de tanto. Era bonita, mas como Chiara dizia, estava ficando
irreconhecível.

Mamãe achava que se eu desse chance para ela, acabaria me


apaixonando. Mas são anos, nesse caso forçado.Eu apenas cedia
porque era mais fácildo que negar. Eu nunca iria me apaixonar por
ela.
— Liguei pra saber se você estámortode ressacaou topa um
almoço comigo — ela falou animada.
— Mort o de ressaca — era mentira,mas eu não queria ficar
horas a ouvindo falarsobre os próximos procedimentos.Cedi meu
apartamentoem São Paulo para ela ficarenquanto se recuperava
da cirurgia, visando o alívio de não tê-la aparecendo do nada
quando queria algo. Em algum momento eu precisariacortarnossa
relaçãode vez, para que ela se desse contade que o que ela queria
não encontrariaem mim, mas eu adiava, porque era exaustivotocar
nesse assunto. Luísa nunca aceitava.

Fazia nossos pais e os pais dela acreditaremque nosso


destinoera ficarmosjuntos.Mas não era. Deus não poderia ser tão
cruel comigo. Eu já havia perdido demais, sofridodemais. Queria a
solidão eterna.A única pessoa capaz de ocupar esse espaço na
minha vida foi tirada de mim.

Levantei e Noêmia já me esperava com o caféda manhã. Ela


sempre foi como uma mãe para mim, então, quando eu e Bianca
decidimos morar juntos, era o óbvio por causa do bebê, ela veio
trabalharconosco. Depois da mortedolorosa dela, eu afundei em
um lutoterrível,emagrecimuito,bebia muito,queria desistirde tudo.
Talvez isso me impedisse de afastar Luísa de vez, ela me deu algum
apoio quando precisei. Mas Noêmia foi crucial. Era como se ela
entendesse toda a minha dor.
— Sabe onde estive ontem? — pergunteie ela se sentou à
mesa, esperando — casa de Swing. Sabe pra que? — ela continuou
esperando, chocada — procurar o anel de noivado da Chiara.
— Deus, que absurdo! — ela cobriu a boca com a mão e eu
comecei a rir — você segue não apoiando o casamento, né?
— Olha as coisas que esse cara faz. Eu não confionele — eu
falei e Noêmia negou com a cabeça.
— Dona Luísa ligou — ela falou e eu a encarei — conseguiu
falar com você?
— Dona Luísa? — repliquei inconformado.Me incomodava
muito essa formalidade que Luísa exigia dos meus funcionários.
Noêmia praticamente me criou, cuidava do lugar onde eu morava,
deixava minha comida prontae era uma boa amiga, como uma mãe
para mim. Não tínhamosessa formalidaderidícula,não precisava.
Ela até mesmo me dava broncas quando achava necessário.
Odiava Luísa querer impor essa formalidade, odiava ela se
incomodar por Noêmia sentar-se à mesa do caféconosco. Tudo em
Luísa me incomodava de algum modo.

Era uma cabeça de vento, fútil.E não tomo como fútilessas


coisas de mulher, eu não estava aqui para decidir o que cada um faz
de sua própriavida. Mas ela vivia em funçãode estética,na busca
de uma perfeiçãoinalcançável e não se dava chance para mais.
Essa semana uma cirurgia,amanhã um procedimentono rostoque
a impossibilitariade sair no sol por semanas. Ela passava tanto
tempo preocupada com a aparência que se esquecia de viver .
— Não vamos falarde Dona Luísa — fui sarcástico— acha
que Fred vai se separar dessa vez?
— Acho — Noêmia falou debochada — ele parece encantado
pela garota. E ela é uma boa menina, esforçada. Ele gostou disso.
— Ele gostou foi de outracoisa — falei presunçosoe ela me
olhou asquerosamente— de qualquer modo, acho que o casamento
dele já deu.
— Casou forçado,né — ela lembrou e eu assenti, bebendo
mais do café — ruim da separação que quem sofre são os filhos.
— Um menino e trêscachorros— eu falei. Fred tinha essa
mania de tratar os cachorroscomo filhos.Bruna estavaaté mesmo
querendo proibi-lo de pegar os animais, já que com o pequeno
Bruninho, ela não poderia fazer isso.
Mas ele tinha um plano: iria fingirquererconversare fugircom
todos de lá. Ela que brigasse na justiça.Era uma situaçãocômica,
mas na realidade, nenhuma separação era fácil.

Fiquei de bobeira durante a manhã do sábado e à noite


encontreiFred em um bar. Pedimos chope e ficamosconversando
besteiraforado trabalho.Quando Marina enviou mensagem para
ele, avisando que estavaem uma boate com as amigas, eu acabei
querendo ir junto.
— É sério esse negócio com ela? — pergunteie ele me olhou
de relance.
— É possível teralgo sério no meio de um divórcio? — ele
perguntouenfático,bebendo um gole do chope. Dei de ombros, de
todasas tentativas de separação,ele nunca estevecom alguém por
tantasvezes. Digo na questão de fazerprogramasde casal, ou
dormir junto quase todos os dias.
— E você, vai querera amiga dela? A santa?— ele perguntou,
rindo da própria piada sem graça — se bem que dizem que essas
quietinhas, são as piores...

Não continuei sua conversa maldosa e pagamos a conta ali.


EncontramosMarina e os amigos dela. Ela já estavatoda inclinada
para os efeitosdo álcool, apresentoutodo mundo, animada. Ignorei
a pontada de frustração por Jordana não estar, mas não ousei
perguntartambém. Mari e Fred se atracaramem um beijo eufórico,
então me virei para ir pegar uma bebida. Foi quando ela veio, toda
linda segurando duas taçasde bebidas. Entregouuma para a loira,
que se chamava July e reclamou de algo que a fez reviraros olhos.
Jordana parou um pouco surpresa a me ver, mas sorri e fui
cumprimentá-la.
— Pela sua cara,sei que estáadorando estaraqui — eu faleie
ela franziu o nariz, assentindo melancolicamente.
— Mari que temme arrastado,jura que se beber vou adorar—
revirou os olhos, não levando o conselho da amiga a sério.
Ficamos ali puxando conversa, falando besteirasenquanto o
outrocasal não se largava. Para minha infelicidade, logo os outros
trêsse aproximaramde nós e o rapaz, Antônio, ficou tomando a
atençãode Jordana. Ela dava sorrisosamarelospara o que ele dizia
e assentia, mas não parecia mesmo animada.
July começou a implicar com ela, se questionando os motivos
de ela ter vindo, se era pra ficar
com esse drama. Por isso, a chamei
para vir comigo pegar algo para beber
.

Pedi uísque no bar e ela se sentou no banco alto rente ao


balcão. Bebeu um pouco da sua vodca pelo canudo e olhou ao
redor
.
— Não quer voltar pra lá? — perguntei, quando o barman
voltou com minha bebida.
— Se quiser, pode ir... Cansada de July e suas alfinetadas—
ela mal terminou de dizer e Antônio apareceu, se dizendo
preocupado.
— Se quiser ir embora, sabe que eu posso te levar
.
— E depois ter que voltarpara buscar as meninas? — ela
perguntouindignada e negou com a cabeça — eu posso ficarum
pouco mais.
Comecei a me irritarcom esse cara insistente,atrapalhando
meus planos. Mas Jordana logo pediu para que ele voltasse para
onde estava, para as amigas não ficarem enchendo saco dela
depois. Quando ele se foi, ela pulou do banco e pegou a taça,
olhando para mim.
— Vamos? — perguntoue assenti,a seguindo pelo meio das
pessoas, até voltarmos para onde estávamos.
Dessa vez, Marina e Fred já não estavam atracados,
conversavamanimados com os outros.Ela abraçou Jordana ao vê-
la e tentoumovê-las no ritmoda música. Mesmo tentando,Marina e
nem ninguém conseguia contagiarJordana e fazê-la entrarno ritmo
eufórico.July disse logo que da próxima era melhor ela nem vir e
Marina defendeu. Jordana não dava atenção para as provocações,
bebia sua bebida devagar. Fred já havia notado meu interesse,me
olhava como se dissesse que não daria em nada. Mas eu gostava
desses desafios bobos.

Em um momento,cansada das provocaçõesda amiga July, ela


avisou que iria pegar outrabebida e saiu. Olhei para Fred, antesde
ir atrás. Ela pediu água ao barman e eu pedi outro uísque.
— Pelo visto não sou só eu quem está desanimada — ela
falou, pegando a garrafinha de água e abriu, bebendo um pouco.
— Por isso, poderíamos ir embora — sugeri e ela chegou .a rir
— Se não fossechateartantoa Mari, eu juro que já teriaido.
Assim, sem ninguém ver — ela falou enfática— mas ela acha que
eu preciso voltar a me divertir e sair e conhecer pessoas...
— Acha que ela vai ficarchateada por você ir embora comigo?
— perguntei e ela me encarou, ponderando.
— Ainda é meia noite, jura que quer ir embora? — ela
perguntou — porque se for a sua vontade mais profunda, eu topo.

Dei um sorriso,assentindo e sequer esperei minha bebida.


Saímosdali sem avisar, ela respiroualiviada longe da música alta e
agitação de todos lá dentro.
— Eu sou uma senhora de sessentaanos no corpo de uma
jovem de vinte e um — ela falou, me fazendo rir
, enquanto
andávamos até meu carro.
— Minha mãe tem cinquenta e nove, é uma senhora animada
— eu retruquei e ela fez uma careta.
— Temos espíritos trocados, então.
— Quer mesmo ir pra casa? Achei que poderíamosdar um
volta, conversar
... — propus e ela me analisou por um momento,
pensando no que dizer.
C 03
Jordana Testa

Se eu deveria tertopado dar uma volta ou seja lá o que ele


estivessepensando, eu não sabia. Minha experiência com homens
se resumia a abuso emocional e dor. Mas eu não era uma mocinha
traumatizada,no entanto.Só não queria me abrirpra qualquer um e
passar por tudo de novo. Como minha amiga zombava sempre, eu
estava mesmo à espera de um príncipe.

Paramos em um bar menos movimentado, não que eu


adorasse,mas já havia esgotado as chances de ser frescahoje. Lá,
ele cumprimentouo gerentee pegamos uma mesa mais reservada.
Deixei para Edu escolher nossas bebidas, havia muitas opções e ele
vetou quando eu disse água.

Ficamos falando sobre bobagens, principalmentesobre Mari e


Fred, já que era o que tínhamos em comum agora.
— Eu nem vou bancar a amiga protetora, porque se ele ferrar
com ela, ela vai descontar em dobro — dei um sorriso travesso. Mari
não havia ainda me contado sobre essa históriade ele estarse
divorciandoe eu nem sonhava que ele tinhafilhos.Quis perguntara
idade deles, por curiosidade, mas me controlei.
— Mas os filhosé um menino de nove anos e trêscachorros—
ele falou, me fazendo rir
.
— E você? — perguntei curiosa — sem cachorros e filhos?
— Sem cachorros e filhos — falou, desviando o olhar
rapidamente— então a sua avó tem um restaurante
lá no Leblon...
Vou passar por lá qualquer dia — ele comentou.
— Comida caseira,não acho que combine com o seu estilo—
eu provoquei e ele negou com a cabeça.
— Pois saiba que eu adoro. E aquela loira gelada também —
ele falou e eu o encarei confusa, o fazendo rir— a cerveja — se
corrigiu.
— Ah... — eu dei um riso, associando o trocadilho.

Bebi devagar para não ceder ao álcool tão rapidamente.


Ficamos por horas ali conversando, sem malícia, pelo menos da
minha parte.Era bom, pelo menos isso. Não precisava estarnuma
boate cheia de gente e fingindo adorar
. Não que eu não gostasse,
mas nos últimostemposeu havia perdido o costume.Isso para não
falarde July, que sempre me condenava. Não no pior sentido da
palavra, mas para ela, tudo relacionado a mim era drama.

Fomos embora quase quatroda manhã. Mas ali eu já estava


mais desinibida. Tanto pelos drinks quanto pelas conversas, já
poderia dizer que éramos um pouco amigos? Como se homem
fosse confiável, né? Mas mesmo assim.

Quando Edu estacionou em frenteao meu prédio, nos


encaramospor um momento, eu sentipelo olhar e clima tensoque
ele esperava mais. Talvez eu quisesse, mas eu queria porque
estava bêbada ou porque queria mesmo? Conseguia até mesmo
ouvir a voz de Mari gritandoque era só um beijo, não um pedido de
casamento.
— Então, a gente se vê — falei sem jeito e ele assentiu.Fiquei
agoniada sem saber o que fazer , ele queria que eu tomasse uma
atitudeou eu estavafantasiandocoisas? Aproximei-me desajeitada
para deixar um beijo em seu rostoantesde descer. Foi quando ele
me segurou pertoe virou o rosto.Eu resfoleguei,para ele poderia
ser só um beijo qualquer, mas para mim sempre seria algo mais. A
barba roçou pela minha bochecha e eu fecheios olhos. Quando os
nossos lábios se encontraram foi como se fizéssemosisso a vida
toda, tão perfeito,macio e sincronizado.Quanto tempo demoramos
naquele beijo? Eu não sei, mas se não fosseo meu celular tocando,
teríamos ficadomais. Ele acaricioumeu rostoao encerrar, olhou nos
meus olhos e pressionou os lábios nos meus outra vez.

Segundos depois, o celulardele tambémcomeçou a tocare ele


pegou, atendendo ao Fred. Olhou para mim e eu entendi, mas
neguei com a cabeça.
— Ela não está comigo, cara — ele falou e Mari voltou a me
ligar — estava ali, estou indo pra casa agora — Edu falou, se
inclinando para voltara me beijar, mas segurei o seu rosto,não
queria que desconfiassem.Mari iria fazeruma festa,mas eu não
achava necessário contarpara todo mundo que nos beijamos. E
daí?Foi só um beijo mesmo .

Ele desligou a ligação e nos despedimos, de novo, com outro


beijo. Dessa vez, mais eloquente e malicioso. Precisei encerrar
porque estava ficando acesa demais. Dei meu número para ele,
para marcarmosqualquer coisa um dia desses e desci. Não atendia
Mari, iria dizer que estava dormindo.

Saímos juntos pelo menos cinco vezes naquela semana. No


sábado jantamos, domingo fomos almoçar juntos e durante a
semana nos vimos quando dava. Mari perguntavaquando eu ia dar,
no entanto,eu não sabia quando isso iria acontecer . As coisas
esquentavammuito rápido, mas eu sempre parava antesque fosse
tarde demais.
— Tarde demais? — ela perguntouincrédula, se jogando na
minha cama — um homem daqueles e você acha que vai ser algo
negativo dar pra ele?
— Como está você e Fred?
— A ex dele o proíbede ver o filho. E deu o maior show do
mundo com ele, porque ele levou o garotopra almoçar conosco no
domingo — ela falou entediada — e eu não to nem aí pra ela. Pelo
que eu descobri, eles tentamse separar faz anos e ela nunca
aceitou. E a família dele o pressiona. Noêmia disse que foi um
casamentoforçado,porque ela era muito apaixonada e engravidou.
E na cabeça dos pais dele, ele nunca iria se apaixonar e se aquietar
.
— Você acha que ele vai? — perguntei curiosa.
— O que?
— Mudar? — perguntei, dessa vez, confusa.
— Eu não sei. Tem um mês e meio que estamossaindo, né —
ela começou a rir— mas eu gosto de sair com ele, gosto que ele
seja sincero quanto a esses problemas, sabe? Se der errado,vida
que segue. Não to querendo casar com ele, não.
— Cê gosta dele, né? — perguntei,cerrandoum pouco os
olhos.
— Eu gosto que a gente se complemente. Que o sexo é
delicioso, que temos liberdade um com o outro.Não tinha ficado
com alguém pra ser assim ainda. Mas dizem que quanto mais eu
ficar experiente, melhor vai ser daqui pra frente.
— Não tem medo de sofre r? — indaguei e ela se sentou,
puxando um travesseiro para colocar no colo.
— Ai, não sei. Se eu forficar com medo, não vou viver. Não
quero meus pais sonhando com isso também. Imagina se eles
imaginam que eu estousaindo com um milionário? Deus! Seria um
caos.
— Seria mesmo — fiz uma careta.
— Já sua avó, iria logo votarnaquele sonso do Bernardo— ela
revirou os olhos, se referindoao advogado recém-formado,que
almoçava no restaurante durantea semana. Ele vivia arrastando
suas asas para mim, mas eu não tinha o menor interesse.Segundo
minha avó e minha mãe, ele era o par perfeito para mim.
— Imagina, dois moscas-mortasjuntos— eu revireios olhos e
Mari começou a gargalhar , se divertindo com essa merda.
— Por isso, você tem que se aventurarcom um Edu da vida,
aquele gato... Deve ser um gostosotambém — ela parou de falar
porque a olhei feio — deixa Fred me ouvir falando assim — ela
mesma se bronqueou e eu sorri, negando com a cabeça.
— Não vai vê-lo hoje? — perguntei curiosa.
— Não... Ele está com o filho. Foi pra uma ilha aí com a
família...
— A ex foi junto?
— Eu não sei... — ela falou, parecendo pensar — se bem que
é a cara dela ter ido, né.
— Não fica desconfiada?
— Não — ela deu um sorrisotravesso— se ele resolvervoltar
com ela, que me avise e aí eu caio fora.Não vou ser amante dele,
jamais. Você pode ficartranquila,eu não estou iludida com esse
homem... E você? Espera o que de uma tardede filmes naquela
sala de TV incrível no apartamento do Edu? E com essa chuvinha?
— Você já deu naquele apartamentointeiro,né? — perguntei
fazendo uma careta e ela fez uma careta travessa, se entregando.
— Fred já encontrouum apartamento.Em um dos prédios da
construtora dele, mas está terminandoa obra, ele precisa esperar
mais algumas semanas antes de se mudar .
— Não esperonada além do filme— faleie ela me arremessou
o travesseiro.
— Sério, eu queria poder viraruma chave na sua cabeça. Vai
dar quando? Depois do casamento? — perguntouincrédula e eu a
encarei, como se dissesse: e daí?

Mari foi embora pelas trêsda tarde.Edu viria me buscar às


cinco. Arrumei-mecom um vestidinho leve, solto no corpo e calcei
uma sandália rasteira.Os cabelos permaneceramsoltos,passei um
pouco de blush nas bochechas e gloss nos lábios.

Quando ele chegou, desci e entreino seu carro.Demos um


selinho demorado, mas ele deu um riso e emaranhou uma mão no
meu cabelo, começando um beijo de verdade, profundoe malicioso.
Meu coração acelerou com o nervoso do que viria a seguir
.
Passamos em uma loja de conveniência e descemos. Ele
colocou sorvete,chocolate, pipoca, porque eu falei que queria, na
cestaque segurava. Esbarra mos com July em um dos corredores.
Ela não escondeu a surpresaa nos ver, desceu o olhar para nossas
mãos entrelaçadase acenou sem jeito, tomando seu rumo. Sabia
que ela iria falarsobre isso depois da maneira mais pejorativaque
encontrasse,mas eu não iria dar palco para suas implicâncias
gratuitas.

Deixei que ele escolhesse o filme e me aconcheguei no sofá


enorme e confortávelna sala de TV. Edu nos serviu o vinho e eu
bebi um longo gole. A chuva pareceu ficar mais forte, o ar
condicionado esfriavaaqui dentrotambém.Fiquei nervosaquando o
filme foi chegando ao final, mas ele serviu mais vinho e dessa vez,
colocou uma playlist de música para rodar.

Se eu não fosse tão arcaica, iria aproveitarmelhor tudo isso


aqui. Sei lá, uma voz gritavana minha cabeça para que eu deixasse
rolar
, que eu aproveitassetudo. Fizesse como a Mari estáfazendo.
Encontrouum cara legal, vai se deixar levar e se der errado, ela já
sabe que é só seguir em frente.Mas aí que estava o ponto, na
minha experiência, seguir em frente era doloroso.

Ele veio e me puxou do sofá, nos guiando no ritmo do sertanejo


que tocava, mas eu era dura e tímidapara dançar. De qualquer
modo, deixei que nos guiasse.
Entre uma taça de vinho e outra, a minha apreensão foi
sumindo. Fiquei mais a vontade, consequentementenós ficamos
mais íntimos. Começamos a nos beijar. Era só um beijo, mas
daqueles maliciosos que ele adorava. Eu adorava como ele sempre
acatavaos meus limites,mas estavacada vez mais difícilimpô-los.
Caí deitada no sofáe ele veio por cima, voltamosao beijo profundo
e fácil. Minha perna ficou dobrada, facilitandopara ele se encaixar
ali no meio. Resfolegueie ele mordiscoumeu lábio inferior , roçando
o seu no meu e voltou ao ritmo longo e profundo.

Por um momento, eu quis parar


. Deveríamosparar
. Não queria
só sexo com alguém, pelo amor de Deus. Mas os lábios macios, a
barba roçando pelo meu pescoço e logo em direção ao colo... Arfei
se joguei a cabeça para trás, com tantas emoções nervosas
misturadasque a mão chegava a suar. Ele arquejou ao afastaro
decotedo vestidopara o lado e circuloua língua no meu seio. Meu
gemido foi forado meu controle,eu estava nervosa, bem como se
fossea minha primeiravez na vida toda. Não era, mas era como se
fosse.

Pensamentosdesconfiadoscomeçarama me atormentar
, mas
espantei para aproveitara delícia do momento. No fundo, eu sabia
que estava fazendo merda, mas já não queria mais parar
.

Eu puxei a blusa de malha que ele usava e ele se afastoupara


terminar de tirar
. Voltamos a nos beijar
, dessa vez, ele foi avançando
com as mãos, acariciandominha coxa, trazendoa mão para a parte
internae subindo... Afundei minhas mãos no seu cabelo e o puxei
mais para mim, ele acariciou meu sexo sobre a calcinha, que já
estava escorregadiae gemeu contrameus lábios. Logo depois a
afastoupara o lado e passeou o dedo indicador entreos lábios
íntimos.Me senti latejando de tesão e ele afundou o dedo um
pouquinho, brincando na minha entrada.

Foi como um reflexo nosso, as roupas saíram de cena


rapidamente e ele desceu os beijos pelo meu corpo, sendo
carinhosoaté chegar ao meio das minhas pernas. Edu afastouuma
da outrae deu um beijo suave ali no meio, no ponto mais sensível.
Joguei a cabeça para tráse ele intensificoua língua e lábios em
meu sexo. Foi tão gostosoque eu só me joguei no momento, me
deixei levar. Achei que fossechegar ao orgasmo, mas ele parou e
subiu pelo meu corpo. Segurou o membro com a mão e o roçou no
meu sexo. Nos beijamos outravez, enquanto ele apenas roçava
nossos sexos, pressionando a cabeça do membro eretona minha
entrada,sem me penetrar . Eu estavaum pouco inclinada aos efeitos
do vinho, o que pareceu terme deixado mais sensívele querendo.
Estava escorregadia, úmida, e ele se contentando com essa
brincadeira.
— Vou pegar uma camisinha — ele falou quase sussurrandoe
eu assenti. Edu nos provocou mais um pouquinho. Quando meu
gemido lamentoso escapou guturalmente,eu não só queria como
precisavade mais, ele empurroua cabeça do sexo para dentroe eu
estremeci.Era enorme, eu havia o tocado,mas tão gostoso.Fiquei
apreensiva achando que ele iria continuar
, mas ele se levantou e
pegou a sua blusa para cobrir o membro excitado e saiu da sala. Eu,
sozinha ali, escorregueiuma mão para o meu sexo e massageei um
pouco o clitóris,fazia tanto,mas tantotempo que não sentia esse
tesão todo, que tudo parecia novo para mim.

Parei o que fazia quando Eduardo voltou para o quarto.Por


sorte, ele não ascendeu as luzes, a iluminação vinha do telão
apenas. Ele veio para cima de mim já desenrolando o preservativo
no membro grosso e comprido, fiquei o olhando todo e como se já
fossehabituado–óbvio que era –,afastoumais as minhas pernase
me penetrou de uma vez e fundo. Se forçou todo na minha
intimidade sensível. Tranquei a respiração,prestesa explodir no
meu orgasmo, por causa do meu toque em mim, segundos atrás.
Minha boceta o apertou em contraçõesque eu não conseguia
controlare nós dois gememos. Ele começou a ir e vir devagarinho,
era como se eu fosse apertadapara ele, mas não era ruim, pelo
contrário.Edu tentava ser carinhoso, por ser nosso primeiro
momentoeu presumi.Os movimentoseram lentos,mas deliciosos e
nos beijávamos intensamente. Tentei escorregaruma mão entre
nossos corpos, mas quando cheguei ao meu sexo, ele a puxou e
segurou a outratambém. Foi quando tudo fugiu do meu controle.
Ele ergueu meus braços, os segurando e veio mais forte,mais
rápido e roçava a pélvis na minha. Eu estremecia, sendo
completamentedevastava por todas as sensações. Meus gemidos
saíammais altos do que eu gostaria,eu jogava a cabeça para tráse
parecia uma descontrolada.Foi maldoso quando ele me levou ao
ápice dessa aventura louca violentamente e antes que me
empurrasseno abismo do orgasmo, diminuiu o ritmo.Eu tremitoda,
tomandomais controleda minha respiração.Edu beijou meu mamilo
devagarinho, chupando suavemente, metendo lá tão gostoso e eu
gozei. Meu corpoondulou sob ele, que pareciaterpremeditadotudo
e me levou até o fim. Quando eu fiquei mole, exausta e satisfeita,
ele soltou meus braços e escorregouas mãos sob meu corpo, me
segurando e afundou o rosto em meu pescoço. Eu estremeci
aliviada e acariciei sua nuca. Ele gemeu alto e forte,vindo mais
fundo e ficando, encontrando sua liberação.

Nossas respiraçõesforamdesacelerandoe ele se levantou.Foi


dolorido perdê-lo me preenchendotãoperfeitamente.Ele acendeu a
luz e o olhei, que tiravaa camisinha cheia. Quando me notou o
observando, deu um sorrisomarotoe entroupela portaque daria
para o banheiro. Ele voltou rapidamente,já limpo do seu sêmen e
veio se deitarao meu lado. Me puxou e deixou um beijo na minha
têmpora, virei o rosto e começamos um na boca.

Ficamos tão íntimostrocandocarícias,que nem vinte minutos


depois, já estávamosno ato outravez. E eu estavagostando,o que
para mim era surpresa.Eu havia simplesmenteadorado a maneira
que ele me segurava, me tocava, me beijava o corpo inteirocheio
de vontade e principalmenteme fazia chegar ao orgasmo duranteo
sexo. Isso, com certeza era novidade para mim.

Estávamosno quartodele, depois de trêsroundsde sexo e um


banho gostoso, juntos. Eu enrolada num roupão e ele numa toalha
da cintura para baixo, com a cabeça deitada no meu colo.
Acariciava seu cabelo úmido e ele tinha os olhos fechados.
Estávamos cansados, era meio óbvio o motivo.
Quando decidimos pedir o jantar
, eu me vesti com a minha
calcinha e uma camisa branca dele, que ficava enorme em mim.
Íamos sair do quarto,mas duas vozes gritandolá em baixo nos
fizerampararantes de chegar à escada. Edu me puxou pela mão,
para esperarm
os e uma criança subiu assustada. Edu me olhou
decepcionado e negou com a cabeça, antes de descer
.

Ele participou da discussão, eu conseguia ouvir seus gritos. Eu,


sem saber o que fazer , levei o menino para uma sala de jogos,
porque o quartode Eduardo era puro ranço de sexo. Ele, simpático
como o pai, disse seu nome e evitou falaralgo sobre a briga dos
pais lá em baixo. Disse só que não aguentava mais essa históriade
separação.
— Você quer que eles façamas pazes? — perguntei,enquanto
embaralhava o dominó e ele me encarou, ponderando se me
contava mais. Um momento depois, negou com a cabeça.
— Eles brigam muito — ele falou inconformado — eu não gosto
das brigas.
— Eles vão resolvertudo— falei,era o que eu tinhapara dizer.
— Eles nunca resolvem, ficam tentandome jogar um contrao
outro— o menino resmungou, pegando as suas sete peças para
começarmos a brincar
.

Tirando o fatode eu perderas quatropartidasque jogamos, foi


divertido.Pelo menos o distr
aiu da briga com seus pais. Edu voltou
para chamar o Bruninho e ele acenou para mim.
C 04
Eduardo Toledo

— Ela é sua namorada, tio? — Bruninho perguntou,enquanto


seguíamos para a sala.
— Ela é uma amiga — eu falei.
— A namorada é a tia Luísa, né? — perguntoucurioso, me
fazendo rir
.
— Não, tiaLuísa não é minha namorada — eu falei,chegava a
me dar pânico pensar em ter um relacionamentoafetivodessa
maneira com ela.
— Ela diz que é.
— Tia Luísa é doida — falei sem pensar
, fazendo o menino rir
.
— Mamãe disse que ela foi trocarde peitos— ele contoue eu
assenti — que você deu pra ela e nem pra isso meu pai serve.
— Mamãe deveria pensar melhor no que te conta — eu falei.
Descemos as escadas e o casal de inimigos estavalá, Bruna com a
cara fechadae Fred sentadoao sofá,com as mãos cruzadasatrás
da nuca.
— Eu não posso ficar?— Bruninho perguntoue Fred ergueu o
rosto.
— O seu pai não quer você aqui — a mãe dele resmungou.
— Se você quiser, pode ficar sim, meu filho — Fred falou
irritado— sua mãe é uma maluca, por isso quer afastarvocê de
mim.
Olhei irritadopara Fred, os dois bagunçavam a cabeça do
menino, que ficava ali no meio recebendo as farpasque trocavam.
Em algum momento me perguntei se haveria alguma chance de eu
e Bianca termos virado isso aí.
— Você não pensou duas vezes antes de se envolver com
aquela vagabunda e eu sou maluca, Frederico?— ela perguntou,
aumentando o tom da voz.
— Parem, vocês dois! — eu falei, esgotado dessa merda —
Bruno, se você quiser ficar
, pode ficar
. Seus pais que precisam
aprender a parar de brigar sem motivo.
— Ele não vai ficar!— a mulher falou decidida, indo puxá-lo
pela mão — eu já fiz muito o deixando passar o dia com esse
energúmeno. E só deixei por causa da família dele.

Eu não iria ficarme intrometendonessa briga infame, onde o


único prejudicado era o filho deles. Fui até a portae a abri para que
ela fosse embora logo. Ela não se deu o trabalhode se despedir de
mim, mas me abaixei para abraçaro pequeno, o que mais sentia
com toda essa confusão.
— Prometo que vamos fazer algo legal essa semana — eu falei
e ele sorriu animado, assentindo.
— Leva a sua amiga. Eu gostei dela — ele falou e o encarei
confuso,mas logo me lembrei de Jordana — mesmo que ela não
saiba nem jogar dominó.
— Se ela puder ir, eu levo — falei, para não comprometer
Jordana. Fechei a portaque dava para o elevador e olhei para Fred,
que parecia não entender a gravidade das brigas que estava
protagonizando com a ex.
— Seu filho não merece passar por isso, cara — eu
resmunguei — ele fica presenciando essas brigas, você falando
merda sobre a mãe dele e ela sobre você, jogando essa bomba na
cabeça do menino... Vocês dois estãoem crise.Mas ele mereceser
tratado com dignidade. Com um pouco disso pelo menos.
— Se ela é louca! — ele falou irritado— eu só não digo que
quero voltarno tempo e terdesconhecido essa demônia, por causa
do meu filho.
— Encontremum jeitode resolver. O menino não mereceestar
no meio dessa confusão, como se fosse culpado.
— Ela não tem a menor condição de criarmeu filho — ele
falou, me fazendo rir incrédulo.
— Pare. Apenas pare — eu fiz um gesto com a mão — ela tem,
porque é a mãe dele. Entenda que o seu problema é com a sua
esposa, não com a mãe do seu filho.

Ele pegou o celular e foi em direção à cozinha. Deduzi pela


conversa, enquanto ele bebia água, que falava com Marina.
— Vai ficarpor aqui hoje? — ele perguntou,pegando a chave
do seu carrosobre a mesa de centro.Cocei a nuca, não sabendo
como dizer que Jordana estava em meu quarto.
— Vou...
— Vou buscar Marina — ele falou, suspirando e negou com a
cabeça — pelo menos com ela, eu me distraio um pouco.
— Não estou sozinho aqui, cara — eu falei e ele me analisou
por um momento.
— Se foroutra,eu posso pedir segredo pra ela — ele falou
confuso e o olhei feio, então ele deu um sorrisopresunçoso —
rolou?

O encarei, não querendo confirmar. Eu e Fred nunca tivemos


essa de esconder essas coisas. E como ele e Marina eram dois
pervertidos,mesmo sem pedir, eu tinhadetalhesde coisas que nem
precisava. Mas Jordana era toda recatada, tímida, eu poderia
imaginá-la ficando completamente vermelha de vergonha se
sonhasse que eu compartilhei nossos momentos com alguém.
— Só pergunte i se rolou, não precisa contarcomo foi — Fred
provocou e eu assenti,desviando o olhar — sendo contagiadopela
santidadeda mocinha... — ele falou sarcástico,mas nós dois rimos
— foi bom?
— Sem detalhes, Fred — falei, acenando para ele e subi as
escadas.

EncontreiJordana no meu quarto e descemos. Ela sempre


confusano que escolher, quando fomospedir comida. Se sentouno
sofá e me olhou, esperando a minha decisão final. Acabamos
pedindo sanduiches com batata frita.Ela digitava algo no celular e
eu a observava, tão bonita e serena. Puxei o celular dela e a puxei
para um beijo carinhoso, mas depois que avançamos o nível, tudo
parecia nos levar para esse caminho sem volta. Eu, de tantoque
esperei, ficava excitado toda hora por ela.

Dessa vez, Jordana subiu no meu colo e eu puxei a calça de


pijama para baixo. Ela, a calcinha para o lado e desceu no meu pau
rapidamente.Ela não era a mulher mais experientecom quem já
estive, mas era tão gostosa... Ela ia para frentee para trás,
impulsionei os quadris para cima e me inclinei, erguendo a minha
blusa que ela vestia para beijar seus seios. Não iríamosgozar
agora, sabia que aproveitaría
mos o sexo por muitosminutosainda.
Começamos a nos beijar, eu, o enganado, à medida que ela foi
ficando mais lubrificada,caminhei com rapidez para o meu clímax,
mas tentei me segurar . Primeiro porque estava sem camisinha.
— Jordana, estousem camisinha — eu faleie ela, que tinha os
olhos fechados e se aproveitavade mim parou, me encarando e
assentiu. Começamos a nos beijar outra vez e ela parou, se
segurando para sair de cima. Foi quando Fred e Mari chegaram.

Jordana ajeitou a calcinha e a blusa, toda destrambelhada,e


para não perdertempo, ela mesma consertoumeu membro sob a
calça. Como não dava para disfarçara ereção sob o tecido fino de
malha, ela pegou a almofada de outrosofáe jogou sobre meu colo.
Foi nesse segundo que o casal entroupela portae ela se afundou
no sofá. Eu não consegui segurara risada, porque foi uma comédia
o desesperodela. Quis dizer que se fosseao contrário,os dois não
teriam se preocupado em parar , mas eram personalidades
diferentes.

Marina ficousurpresaao ver a amiga aqui. Não por estaraqui,


mas analisava a vestimenta.Depois olhou para mim e por último,
focouna almofada da outrasala pertoda varanda no meu colo. Ela
iria dizer algo, mas não tevetempo.Fred estavairritadohoje, queria
a namorada para aliviar seu estresse.
— Que vergonha — Jordana sussurrouincrédula e eu neguei
com a cabeça. Joguei a almoçada para o lado e me levantei,
levando as mãos para a cintura dela, a empurrando até que
encontramosuma parede. Comecei a beijá-la, que ia cedendo, mas
quando quis erguê-la no colo, ela parou.
— Edu, aqui não.
Jordana grunhiu de sustoquando a peguei no colo e subi as
escadas. Deveria ter chegado ao quarto, mas entrei na sala de
jogos e coloquei-a sentada à mesa de sinuca. A beijei, enquanto
puxava a calcinha para baixo e a tireidela, jogando em qualquer
canto.Ergui a blusa nela e puxei a minha calça para baixo. Era uma
delícia o sexo sem proteção,mesmo que tão perigoso. Ela me
abraçoupelo pescoço e eu comecei a estocarmoderadamente,num
ritmogostoso.Ela toda úmida, me sugando perfeitamente. Jordana
segurou meu rostoe deu um beijo gostoso na minha boca, me
fazendo estremecer .
— Você está sem camisinha — ela lembrou e eu assenti.
— Vou gozar fora— eu prometie ela assentiu. Passei um
braçoem voltado seu corpo,a puxei mais para a beirada da mesa e
fui mais fundo, tendo mais controleda situação.Ela acabou com a
minha sanidade quando desceu uma mão para o meio de nós dois,
tocandoseu ponto mais sensível. Fiquei olhando a maneira que ela
tocava o clitóris,circulando suavemente e estremeci.Ela jogou a
cabeça para tráse a bocetacomeçou a me apertare soltar , nessas
contraçõesdeliciosas enquanto ela estremeciae me lambuzava
todo.Eu a espereiterminarde gozar e puxei para fora,esguichando
meu esperma na mesa de sinuca. Abri os olhos e ela acaricioumeu
rosto.
Fomos nos lavar e logo depois nossa comida chegou. Mari e
Fred desceramdepois de um tempo, ela queria começara alfinetar
e provocar a amiga, mas se continha sob meus olhares feios em sua
direção.

Já tarde da noite, Jordana queria ir embora, porque não sabia o


que inventar para sua mãe em casa.
— Diz que está comigo — eu falei o óbvio e ela me encarou
entediada — qual o problema?
— Não vou dizer isso. Ela vai pensar besteiras— ela falou
indignada, se levantando para atendero celular. A olhei andando
pelada pelo quarto,enquanto dizia para sua mãe que estava na
casa da Marina. Dei um sorriso quando ela se virou de frente,só
entãose dando contada nudez. Ainda tentoucobriros seios, mas a
parte boa estava descoberta.
Quando acabou, jogou o celular sobre a cama e me olhou feio.
— Se soubesse que dormiriaaqui, teriatrazidouma roupa —
ela reclamou, voltando para a cama e se cobriu com o lençol.
— Mas você não precisa de roupa — eu provoquei e ela me
cerrouos olhos. Virei de lado e apoiei a cabeça na mão, me inclinei
para beijar suavemente os lábios dela.
— Você é muito safado — ela falou incrédula, quando fui
puxando o lençol — só pode tertomadoalgum remédio, pra ficartão
excitado tantas vezes assim.
— Não tomei nada. Mas poderia — falei tranquilamente—
assim eu ia meter em você incansavelmente, a noite toda.
— Meu Deus, Edu — ela sussurrouengasgada com as minhas
promessaspervertidas— eu não aguento. Já to começando a ficar
dolorida lá em baixo.
— Sério? — perguntei— dolorida ou sensível?— indaguei e
ela pareceu pensar — sensível você começa a gozar mais rápido.
— Sério? — ela fez uma caretae a encarei, porque parecia
que sim.
— Orgasmos menos intensos, talvez — falei incertoe ela riu,
ruborizando e escondeu o rosto em meu peito.
— Mas podemos fazeroutrascoisas e não só sexo — ela falou
com a voz abafada e eu acariciei seu cabelo.
— Sim, mas é que eu esperei tanto por você, que fiquei
descontrolado.
— Uma semana, você esperou — ela falou, mas lhe cerreios
olhos.
— Duas semanas — a corrigi, que revirou os olhos.
— Considerando que pessoas transamuma vez por semana,
nós já estouramosa cota de um mês — ela falou, voltando a me
olhar.
— Não. Pessoas casadas há quarentaanos devem fazersexo
semanalmente. Eu gosto todo dia. Toda hora não é nada mau
também.
— Por que eu ainda dou corda pra você, hein? — ela
perguntou me encarando brava, tão linda.
— Mas podemos dar uma trégua de sexo. Fazer outras
coisas... Atéporque eu só tenho mais uma camisinha. E vamos usá-
la amanhã de manhã.
— Você não tem jeito — ela falou vencida e eu me coloquei
sobre seu corpo, voltando a beijá-la.
C 05
Jordana Testa

Na segunda-feira, eu estava no caixa do restaurante,


exercendo minha função, quando Eduardo entrou, destoando do
lugar. Digo destoando por causa do ternoevidentementecaro, o
celular de última geração na mão e esse jeito de homem poderoso.
Deus, esse homem era uma completa perdição. Eu o olhava e me
sentiauma pervertidasuja, por todosos pensamentospornográficos
que ele me remetia.
Mas depois de tudo o que fizemos, era difícilnão imaginar
sacanagens. Ele quebrou todos os meus limites. Essa históriade
príncipeencantado no cavalo branco? Virou pó e se diluiu no ar. Eu
não achava que um homem como ele seria o meu príncipe
encantado, mas estava com o mesmo pensamento iludido da
Marina: dava para viver esses prazeres enquanto desse.

Eu sabia que ele estava aqui porque Marina brincou sobre


Bernardo ter um concorrente. Tentei explicar que entre mim e
Bernardo nunca houve nada, era a verdade, no entanto, esses caras
tipoeleeram meio possessivos.

Ele teve a coragem de acenar para mim e eu desviei o olhar.


Vovó perguntouse eu conhecia, mas neguei com a cabeça. Logo
depois Bernardo chegou, vindo se sentarao balcão pertodo caixa,
como fazia nos dias que almoçava por aqui.
As meninas que trabalhavamaqui comentaramsobre o figurão
que nunca havia aparecido.
— E tem uma Mercedes-Benz GLE, a Maria quem disse —
mamãe falou baixo, como se fosse uma fofocaimportantee eu
revirei os olhos. Bernardo começou a puxar conversa, como
sempre. Vovó dava mais atenção para ele do que eu. Estava
mesmo preocupada por Eduardo querer me cumprimentare eu
precisar explicar de onde o conheço.

Fiquei tensa,ele iria almoçaraqui. Ele nem tinha cara de quem


comia comida caseira, dessas tradicionaisno almoço. Na dispensa
dele só havia coisas chiques, e poucas, devia comer foraquase
sempre. Descobri porque fizemos sexo lá dentro.Começamos na
cozinha, mas Mari e Fred descerame ele nos levou para dentroda
dispensa. Fiquei arrepiadade vergonha por me lembrar
, eu não era
mesmo essa maluca pervertida há dois dias.

Eu mal conseguia respira r, ficava monitorando Eduardo,


desfocada no meu trabalho de receber os pagamentos.

Quando chegou a vez dele pedir a conta,o restaurante estava


cheio, eu precisei ir até lá. Mal olhei para ele, que deu um sorriso
divertido pela situação. Ele digitou a senha do cartão e se levantou.
— Nos vemos hoje? — perguntou baixinho e eu o olhei, não
sabendo nem o que dizer.
— Aqui está — falei, imprimindo a via dele, mesmo ele tendo
dito anteriormenteque não precisava. Eu fechei os olhos por um
momento, completamente confusa e ele riu.
— Eu passo pra te buscar mais tarde. Oito está bom? —
perguntou e eu o olhei outra vez — não precisa ficar nervosa.
— Oitohoras— eu falei— agora vai logo, eu ficonervosacom
você aqui — sussurreiasperamente. Me virei e voltei para o caixa
antes que ele fizesse algo mais e eu falecesse bem no meio do
restaurante.

Mari enviou várias mensagens se queixando da ex-mulher de


Fred, que foi até o trabalhodela fazerum escândalo. Depois que a
chefe dela brigou com ela, ela contou sobre o acontecido para ele.

“Ele disse que ia comprar a agência!!!!!” — ela falou, me


fazendo rir. Eu poderia visualizar a cara dela falando isso. Mari
sempre foi independente, solta, jamais iria gostarde terum homem
comprando algo para ela.
Ficamos conversando, eu respondia quando estava
desocupada. À noite, mamãe estava na sala vendo TV. Eu já não
sabia mais o que inventar para estar saindo tanto.
— Daqui a pouco se muda pra casa dela — ela falou, rindo —
juízo. Volta hoje?
— Volto amanhã cedo — prometi.

Edu estava dentrodo carro,em frenteao prédio. Eu já até


esperavaalgum vizinho começara bisbilhotare isso chegarà minha
mãe, mas não iria me preocupar com isso agora. Ele estava
cheiroso, com uma roupa despojada, um cordão de ouro no pescoço
e os cabelos úmidos. Inclinei-me para beijar sua boca suavementee
segurei seu rosto, descendo pelo pescoço, porque ele estava
terrivelmente tentador agora.
— Assim você acaba comigo, Jordana — ele falou, ficando
arrepiado e eu parei, voltando para o meu lugar
.
— Desculpe — pedi e ele fez uma carícia no meu rosto.
— Quer passar pra jantar antes? Ou pedimos algo em casa?
— Tantofaz— eu faleie ele me olhou feio.Eu sempredeixava
para ele as decisões.

Fomos comer em um restaurantejaponês. Não era minha


comida preferida, mas ele garantiu que eu iria começar a gostar
.
Tomamos uma bebida gostosatambém. Conversamos,ele não
perdeu a chance de perguntar sobre Bernardo.
— Ele almoça no restaurante durantea semana e é só isso —
eu falei — vovó acha que ele é o meu par perfeito,mas não estou
interessada.
— Ainda bem — ele falou, me fazendo revirar os olhos.
— Mari disse que a ex de Fred foi importuná-lano trabalho...
Você acha que ele vai voltar com ela? — perguntei e Edu me
encarou por um momento.
— Não posso prever. Mas sei que ele não quer.
— Ainda bem que você não tem ninguém — eu falei e ele riu,
assentindo.
— Não nasci pra isso... — ele falou vagamente e eu assenti,
incomodada com a confirmação,mas ele nunca me prometeuo
castelo e a coroa de princesa.
Demos uma volta pela orla, já que ainda estava cedo e o tempo
fresco.Ele contava algumas das suas loucuras de quando mais
novo. Só assim descobri que ele e Fred além de sócios e amigos
eram primos. Parentes de sangue mesmo.
— Só tem uma irmã? — perguntei curiosa.
— Sim, só uma.
— Eu tenho um irmão, mas depois que perdi meu pai, não
mantivemoscontato— contei desgostosa.Ele parou de andar e me
puxou de volta, passando os braços em volta da minha cintura.
Levei as mãos envolvendo seu pescoço e ele inclinou, começando
um beijo suave. Era gostosobeijar assim, na orla da praia, a brisa
batendo. Se bem que era gostoso beijá-lo em qualquer lugar
.

Nós voltamos para o apartamentodele e começamos a nos


agarrarjá no elevador. Isso porque eu havia prometidoque iriamos
mantera calma um pouco. Mas era difícil.Antes de fazermospela
primeiravez, eu tinha toda essa desculpa de nunca termosfeito.
Agora não havia motivo para renegar a vontade louca.

Entramosaos beijos na sala e só paramos porque um arquejo


nos interrompeu. Edu se afastou num sobressalto e começou. a rir
— Opa, Noêmia — ele falou para a governanta. Acenei
envergonhada, e se ele fosse desses caras que trazem garotas
aleatórias frequentemente? Eu era mais uma delas?
— Achei que fosse jantar em casa — ela falou.
— Mudei de ideia. Vamos subir. Boa noite— ele faloupara ela,
educado. Eu acenei mortade vergonha e nós fomos para o quarto
dele.
Edu tirou os sapatos e a blusa de malha branca. Eu tirei as
sandálias e me joguei nessa cama infinitamentemais confortável
que a minha. Quando me virei, ele estava apenas com a cueca.
— Podemos ver um filme — eu sugeri — fizemos sexo vezes
demais nos últimos dias.
— Tudo bem — ele falou tranquilamentee eu lhe cerrei os
olhos — pode escolher.
— Tá — eu falei e ele foi ao banheiro. Escolhi o filme e
coloquei para rodar
. Puxei o edredom macio e baixei a temperatura
do ar-condicionado. Ele voltou trazendo camisinhas e eu o olhei feio.
— É por precaução. Caso a gente mude de ideia — ele falou
assim, descaradamente.Eu o olhei todo, só com a cueca branca
marcando tudo, santa perdição.

Prestamos atenção no filme por um tempo, mas ele me


abraçou por tráse ficoupasseando a mão na minha coxa, subindo
sob o shortjeans. Virei o rostopara ele, que me encarou por um
momento. Eu adorava os olhos dele, tão bonitos como eu nunca
havia visto antes. Começamos a nos beijar deliciosamente, eu
adorava esse beijo e todas as sensações que me causava. Ele já
estava sem roupa, então fomos nos livrando das minhas. Chutei a
calcinha para forae ficamosde frenteum para o outro,nesse beijo
incansável.
— Você quer gozar na minha boca? — ele perguntoubaixinho,
chupando meu lábio inferiore eu estremeciimaginando. Edu deu
um sorriso malicioso e desceu a boca. Chupou os mamilos
devagarinho, olhou para mim e desceu. Achei que seria cauteloso,
mas abocanhou meu sexo tão sedentoque o meu gemido escapou
alto e estrangulado.Foi um erro me apoiar nos antebr aços para
olhá-lo. Ele circulou a língua em mim deliberadamentee chupou o
clitóris. Abriu os olhos e nos encaramos. Acariciei seu rosto e ele me
lambeu mais um pouquinho. Quando eu fuicedendo aos efeitos,me
aproximando do momentoglorioso,fiqueidesnorteada,a línguadele
continuava impetuosa, deliciosa.
Choraminguei não sabendo se me segurava ou me deixava ir.
Ele penetrou um dedo suavemente em mim e eu não aguentei,
gozei, caíintensamenteno precipíciodo orgasmo.Ele continuouaté
que eu chegasse ao último vestígio do meu gozo.

Trocamos de posição e foi a minha vez de fazer por ele. Chupei


a extre
midade, depois lambi toda a extensão. Edu gemeu fracoe
afundou a mão no meu cabelo, foi quando eu o chupei com ímpeto,
o levando fundo e voltando, nós dois gemendo. Era uma delíciavê-
lo se perdendo desse jeito. Acariciei os testículos,
mas parei antes
que ele acabasse. Ele tinha a respiraçãoirregulare me deu um
sorriso,antesde esticaro braçopara pegar a camisinha na mesa de
cabeceira.Ele abriu e a colocou rapidamente.Eu monteisobre ele e
desci de uma vez.
— Cada vez que fazemos você fica mais gostosa — ele
praguejou e eu comecei a rebolar
. Era verdade, cada vez que
fazíamostudo ficava mais gostoso. Acho que pela intimidade, a
vergonha se esvaindo. Ele beijou meu peito, lambeu meu colo e
pescoço, investia junto comigo. O puxei para outrobeijo, mas logo
trocamos de posição.
Fiquei de quatrona cama e ele veio, me penetrandofundo e
mais forte.Veio com um tapa na minha bunda e eu me empurrei
mais para ele. Ficamos algum tempo daquele jeito, fomostrocando
posições.

Acabamos agarrados,eu deitada de lado na cama e ele por


trás,estocandodevagarinho com o rostoem meu pescoço, o braço
em volta do meu corpo e os dedos acariciando meu clitóris,ele
gemia tão gostoso. Eu tinha o braço para trás, acariciando sua nuca.
Nós dois gemíamosmelodiosos, estavatãogostoso,que ao mesmo
tempo em que eu queria gozar, queria conseguir durarmais tempo
para aproveitaressas sensações. Ele esperou por mim, assim que
eu comecei a estremecer e contrair
, ele veio junto.
C 06
Eduardo Toledo

Acordei sozinho em minha cama, na quarta-feira.


Jordana teve
um jantar em famíliae não pudemos nos ver. E não tinha motivos
consistentespara nos vermos todosos dias, de qualquer modo. Só
pelo sexo gostoso, não valeria a pena.

Na manhã passada, Mari, intrometidacomo sempre, perguntou


se iríamosnamorar . Mas eu disse não. Fred completou,dizendo que
eu nunca namorava e eu dei um sorrisoforçadopara ela. Jordana
era toda certinha,cheia de princípios,mas deveria saber que não
iríamosteralgo sério,ou casar, por exemplo. Comecei a pensarque
deveria expor essa realidade para ela logo.

Mal tivetempode despertare meu celularcomeçou a tocarem


uma ligação de Luísa. Sequer estava me lembrando de sua
existência.Não atendi,iria fingirnão tervisto.Tomei um banho e me
arrumei para o trabalho.

Noêmia veio avisar queDona Luísahavia ligado, mas revireios


olhos impaciente e me virei para ela.
— A mande ir à merda — falei e ela negou com a cabeça. Logo
essa maluca estariade volta e eu teria que lidar com os seus
chiliques. Sempre acontecia quando eu saía com outra.
A manhã foi cheia, na empresa. No meio dela, Luísa ligou de
novo, mas dessa vez para pedir que eu desse um jeito de Bruna ir
com o filho para São Paulo, para fazercompanhia para ela, que
decidiu ficarpor lá pelo resto da semana, caso tivesse alguma
complicação por conta da cirurgia.Ela prolongou tantoo assunto
que eu um momento, deixei o celular sobre minha mesa e continuei
analisando os relatórios.Fred veio avisarque já havia providenciado
tudo logo depois, agradecendo por uma semana livre da maluca.
— E o divórcio? — pergunte i e ele me encarou, exibindo esse
olhar de puro escárnio.
— Você acha que ela assinou? To evitando entrarno litigioso,
já ofereci minha alma pra ver se ela sai da minha vida.
— Vocês precisam ser mais maduros. O filho de vocês quem
sofre.
— Ele contou à maluca sobre a sua amiga Jordana — Fred
comentoue o encarei surpreso — eu não sei que milagre ela ainda
não passou uma história envenenada pra Luísa.
— Luísa não pode fazer nada — falei o óbvio.
— Ela jura que vocês vão terminar essa vida juntos.
— Ela sabe que não vamos — eu falei desinteressadoe ele
fechou a porta,vindo se sentardo outrolado da mesa. Continuei
lendo os relatórios,mas Fred parecia curiosocom algo. Coloquei os
papeis de volta na mesa e o olhei.
— O que foi? — perguntei impaciente.
— Como a Bianca conseguia ser amiga delas? — ele
perguntou, mas eu odiava falar sobre Bianca. Eu era um
condenado, inconformado, não sabia ainda lidar com a perda
sentindo saudade e não dor e remorso.O encarei sério, para ele
não prolongar a conversa — desculpa cara, mas é que ela era um
pouco diferente...E eu só casei com essa louca porque ela ficou
grávida. Mas mesmo assim, eu nunca gostei dela.
— Espero que Luísa invente outraplástica e fique em São
Paulo pela próxima eternidade — eu resmunguei para nos tirar
dessa conversa e ele começou a rir
.
— Ela deve estarlouca pra voltar , pra te exibir os peitinhos
novos — ele fez um gesto imaginário e o encarei asquerosamente
— deixa de ser amargurado, Edu — ele reclamou.
— Marina comentou algo sobre Jordana? — perguntei,
tentando parecer desinteressado.
— Não...
— Mesmo? — insisti e ele negou com a cabeça.
— Ela falava muito da amiga, cara. Porque sofreumuito com o
antigo relacionamento, perdeu o pai, deixou de sair e curtir
... Não sei
mais nada dela. Sei sobre a Marina, aquela gostosa.
— Não quero que Jordana crie esperanças,só isso — eu falei
e Fred deu um riso, concordando.
— Você acha que ela espera algo de você? Porque Marina
deixou o celularcairna água, fuidar um novo, ela só faltoume fazer
engolir — ele falou e o encarei. A verdade é que éramos
acostumadoscom essas mulheres que querem a vida mole, fácil,
presentes caros e uma mesada gorda mensal.
— E seus pais?
— A perguntacorretaé e os seus pais — ele falou enfát ico —
pelo que mamãe disse, tio Danilo jura que você e Luísa se casam
até ano que vem.
— Eu me enforcaria se fosse obrigado a me casar com ela.
— E se ela engravidar?— ele indagou e o olhei, começando a
rir e neguei com a cabeça.
— Pra uma mulher ficargrávida, ela precisa transarcom o
homem. Não é algo que eu e Luísa fazemos atualmente.
— Sério? — ele cerrou os olhos e o encarei, confirmando.
— Luísa é frí gida, sei lá. Fica buscando perfeiçãoo tempo
inteiro.Ela quer status,dinheiro e seguidor, ela não quer a mim. Se
eu não fossefilho do meu pai, dono disso aqui e não tivesse tanto
dinheiro como eu tenho,ela jamais iria se interessar — faleio óbvio.
— Você fala dela de um jeito que...
— Não se esqueça de que ela é a melhor amiga da sua ex —
eu o interrompi e ele parou, assentindo rapidamente.

Eu e Fred fomos almoçar no restaurante da avó de Jordana. O


cara que a avó dela empurrava para ela estava lá, os dois
conversavam animados enquanto ele comia. A encarei e ela desviou
rapidamente, voltando sua atenção ao rapaz.
— Ciúme? — Fred perguntousarcástico.O olhei feio e não
respondi. Escolhemos uma mesa pertodo balcão e nos sentamos.
Logo uma garçoneteveio atender . Mal dava para ouvir a conversa
dos dois, mas pude ouvir de longe ele perguntandoque diamesmo
eles iriamver um filme. Soltei o ar, impaciente. A última vez que
paramos para ver um filme, transamos.Eu sabia bem as péssimas
intenções desse sem graça.
Fred ria das minhas caretase curiosidade na conversa dos
dois, mas a mulher estava na minha cama anteontem,já iria sair
com outro? Eu não estava saindo com outra, por exemplo.
Fred pediu uma feijoada e eu pedi o pratotradicional,com
arroz, feijão, ovo e pimenta. Não havia um vinho decente no
cardápio, então pedimos refrigerante.
— Só táfaltandovocê levantar e ir lá, socara caradele — Fred
debochou, quando ele fez uma florcom o guardanapo para ela e eu
fiquei olhando para a cena asquerosa.
— Deveria — eu resmunguei — mas eu não sou o dono dela.
— Dono, uau — ele falou presunçoso — ela é boa, né?
— O que?
— De cama... — ele complementoue eu revireios olhos — pra
você ficar assim, com medo de outrocara te tomara garota...Eu
sempre soube que essas santinhas são uma cadela no sexo.
— Cala a boca, Fred.
— Mas a Mari é gostosapra caralho, também — ele falou, se
divertindo por me irritar
.

Nossa comida não demorou a chegar e almoçamos. Quando


pedi a conta, Fred foi ao banheiro atendera ligação da ex-mulher,
Jordana veio com a maquineta do cartãoe sorriupara mim, tão
docemente.
— Só faltoubeijar o cara — eu falei baixo, para que ninguém
nos ouvisse.
— Se eu quisesse, poderia — ela falou tranquilamente , me
afrontando.Fiquei surpresocom a resposta,porque ela não parecia
nada afrontosaou provocativa.Ela pegou o cartãoda minha mão e
inseriu,virando para mim, para que eu digitassea senha. Depois de
feito,ela retiro
u o cartão,mas segurei a máquina, para que ela não
fosse ainda.
— Eu vou tebuscarhoje. Àsoito— avisei e ela me encaroude
volta, não me respondendo. Neguei com a cabeça e Fred voltou,
falando mal da ex-mulher
, como sempre.

Pensei que Marina pudesse ter dito algo sobre minha


afirmaçãode que não iríamosnamorar , mas deixei pra lá. Era a
verdade, ela teriaque lidar com isso. Foquei no trabalhoduranteo
dia. Tive uma reunião que se estendeu até tarde, então saí da
empresa direto para o endereço de Jordana.

Ela demorou pelo menos dez minutos para descer e diferente


das outras vezes, me deu um beijo no rosto.
— Está tudo bem? — perguntei e ela assentiu.
— Vamos?
— Pensei que pudéssemos cozinhar esta noite — eu falei,
ligando o carro para nos tirar daqui — o que acha?
— Por mim tudo bem — ela falou, forçandoum sorrisopara
mim. Não estendi a conversa, tenteiacariciá-la no percursopara
meu apartamento.Avisei que iria para o banho e a chamei, mas ela
estava tensa. Pergunteimais uma vez se estava tudo bem e ela
insistiu que sim. Neguei com a cabeça e subi.

Tomei um banho e vestiuma calça cinza de pijama, junto com


uma camiseta branca. Guardei uma camisinha no bolso, caso
precisassedela lá em baixo e desci. Jordana estava escorada ao
balcão da cozinha e mexia no celular. A abracei por trás,pegando a
conversa dela com Marina, mas ela bloqueou a tela antes que eu
pudesse ler algo. Ela se virou de frentee finalmentedemos um beijo
de verdade.
— O que vamos cozinhar?— ela perguntou— você sabe fazer
algo?
— Sei — falei triunfante e ela riu — risoto, você gosta?
— Gosto — ela falou, fazendo um bico.

Fizemos o caldo de legumes com o que tinha na geladeira e


ela ficou surpresa com a minha habilidade na cozinha. Pus a mesa e
nos servi, abri um vinho branco dessa vez.
— Sinceramente, eu achei que você sequer soubesse fritar
um
ovo — ela falou descontraída.
— Não sou um expert, mas eu sei me virar
.
— Sabe cozinhar feijão? — ela perguntoucuriosa. Aperteios
lábios e neguei com a cabeça.
— Mas sei fazer uma massa deliciosa...
— Está sozinho aqui? — ela perguntou e assenti.
— Fred está na casa dos pais, vai ficar por lá esta noite.
— Hum...

Depois do jantar
, bebemos mais uma taça do vinho e ficamos
na varanda, o ventofrescoestavagostoso.Ela se aconchegou entre
minhas pernas e entrelaçounossas mãos. Coloquei minha taça no
aparadorao lado do sofá e escorregueiuma mão pelo seu cabelo
macio, a puxando para um beijo delicioso.

Como não havia ninguém, não nos preocupamos em ir logo


para o quarto.
No final da semana, eu achei que faríamos
algum plano juntos,
mas ela foi com Marina para Angra. Fred estava furios
o da vida.
Acostumadoque era a tero controlede tudo, Marina o fazia dançar
a música dela. Era engraçado ver. Quando o provoquei, ele revidou
falando sobre meu descontr
ole com Jordana. Fechei a cara e não
remoí assunto.

Achei que não iríamosatrásdelas em Angra. Mas ele já havia


ligado para o piloto e o helicópteronos esperava no heliporto,no
terraçodo prédio da empresa. Eu não tinha nenhum motivo para ir,
mas ele estava tão irritado,que não achei uma boa ideia deixá-lo
sozinho.

No casarão em que as garotasprovavelmenteestavam, havia


movimento. Fred pagou para entrarmose não demoramos a
encontrá-las.Jordana usava um shortjeans apertadoe curto.E
apenas um top pretona parte de cima. Eu não sabia se eu estava
realmentea conhecendo, ou se agora Marina estivesseresignada
na missão de fazera amiga se divertir
. Havia pessoas com roupa de
banho, gentebebendo e se divertindopor todolado. Aquele Antônio
virava uma bebida diretoda garrafana boca de Marina. Fred olhou
impaciente para mim e foi até lá, parando a brincadeira.

Quando me aproximei, Jordana me olhava confusa, mas


estava sob efeito de bebida, era tão claro.
— Então você gosta disso — eu presumi e ela deu de ombros.
— Só ficoum pouco enjoada — ela fez uma careta,tombando
para o lado. Seria cômico, mas era ela, não combinava. Antônio
passou um braço em volta do corpo dela, a segurando.
— Vem, vamos beber uma água — ele falou, mas eu a segurei
pelo braço.
— Eu a levo — falei sério. Ele me encarou de volta, mas
Jordana se soltou dele.
— Tudo bem, Toni, eu vou com ele — ela falou completamente
aturdida.Demos a volta e ela se sentou em um dos bancos no
jardim do casarão.Consegui água com o pessoal que tomava conta
dos freezers e voltei para ela.
— Se eu vomitar , você vai ficarcom tantonojo de mim —
Jordana falou melancólica. Não a respondi, abri a água e dei para
ela.

Ela bebeu um pouco, mas logo parou e começou a vomitarno


gramado. Fiz uma caretae segurei seu cabelo, para não sujar. Ela
reclamava que nunca fazia essas coisas, mas Mari e ela beberam
tantasdoses de uma bebida barataque ela virou isso. Ela olhava
para mim e choramingava, completamente enjoada e vomitando.
— Sabe o que vai ser pior do que hoje? — pergunteie ela me
encarou, esperando — o amanhã. A ressaca.
— Ai... — ela choramingou tendo ânsias de vômito outravez.
Fiquei com ela até que acabasse e depois ela lavou a boca com a
água. Notei Antônio, seu amigo, nos observando de longe, mas o
ignorei.
Mari e Fred já haviam brigado e se resolvido. Jordana estava
sonolenta.Logo a amiga July apareceu,juntocom a Denise. Acenei
para elas. Peguei a chave do carro com Fred, mesmo Jordana
avisando que elas tinham um quartopara dormiraí no casarão.Eu
ignorei, não a deixaria sozinha e bêbada desse jeito nessa casa
cheia de gente má intencionada.

Mari foi o caminho todo para o hotel resmungando o quanto


havíamosacabado com a noite delas. E quando Fred retr
ucava, ela
ameaçava vomitar nele. Jordana estava grogue no banco dianteiro.
— Quando você planeja curtiruma noite toda, bebe devagar,
pra aguentara noite toda. É meia noite e Jordana está mortajá —
eu falei.
— Quem é você pra dizer algo? — Marina perguntoupara mim,
batendo no meu ombro — você nem quer namorar com ela. —
Jordana me olhou rapidamente, mas desviei e não respondi.

Quando chegamos ao hotel,Marina foina frente,pisando duro.


Não sabia ainda o motivo de todo seu ódio, mas descobriria depois.
C 07
Jordana Testa

Acordei na manhã seguinte e conseguia sentira batida da


música alta estrondando na minha cabeça, com a memória do
excesso de bebida na noite passada. Olhei para o lado e estava
sozinha na cama. Ouvi o barulho do chuveiro vindo do banheiro e
comecei a me situar dos últimos acontecimentos.

Mari e eu topamos a festanaquele casarão, porque segundo


ela, em outra cidade, Fred não viria importuná-la. Eu não sabia
ainda os motivosdos ódios dela, mas apostavaque envolvia algum
barracoda ex-mulher dele. Sem contarque ela se ofendeu quando
ele chegou com um celular muito caro, por ela terqueimado o dela.
Sacudi a cabeça e me levantei, sentindo tonturaainda. Eu não
estava acostumada a beber tanto, era óbvio que me daria tão mal.

Edu estava sob o chuveiro, a espuma dos cabelos descia pelo


corpo, santa perdição. Lavei a boca com o enxaguante bucal e tirei
a minha roupa, para entrarno Box com ele. Ele só se deu contade
mim, quando o abracei pelo torço.
— Como se sente? — ele perguntou,levando as duas mãos
para minha nuca, me segurando firme.
— Bem — falei incerta— há temposeu não fazia uma merda
dessas.
— Você bebeu muito— ele lembrou e eu assenti,fazendouma
careta de dor
.
— Não tenho resistênciaao álcool — eu lamentei — mas vou
ficarboa... Se você me beijar... — ele chegou a rirda minha carade
pau, mas começou um beijo suave, aprofundandoà medida que nos
sincronizávamos melhor.
Nos beijamos e nos tocamosduranteo banho, mas ele queria
mais e eu também. Me colocou contraa parede e ergueu minha
perna, se abaixando para me penetrar
. Ele deu um sorrisomalicioso
antes de beijar minha bochecha, minha boca, mas desceu para o
meu pescoço. Eu me segurei nele, que estocavaincansavelmente,
delicioso. Meus gemidos escapavam sem que eu pudesse controlar
,
ele me dominava inteira.Nós dois gememos eufóricos,ele beijou
meu pescoço e chegou a minha boca, começando um beijo sedento
e gostoso, intensificandoos movimentos do sexo no meu. Eu
comecei a estremecer e ele resfolegou,chupando meu lábio inferior
.
Meu gemido foi longo e agoniado, quando ele despretensiosamente
escorregouo polegar para o meu clitóris,completandoo que faltava
para o meu orgasmo chegar. Eduardo praguejou, me segurando e
me levou até o final.
Passei uma mão pelo seu rosto, procurandopor ele e beijei
seus lábios. A respiraçãodele falhou,e ele balançou a cabeça, mas
antes que terminasse, puxou para fora.

Terminamos o banho, ele barrando minhas caríciasno seu


membro ereto,e nos secamos um pouco. Ele me puxou de volta,
passando meus braçosem tornodo seu pescoço e voltamos a nos
beijar. Saímosdo banheiro e ele nos levou para a cama, voltandoao
banheiro para buscar o preservativo.Eu caí deitada e ele veio por
cima, afastando minhas pernascom o joelho e se encaixou de novo.
Eu gemi, o puxando de volta e ficamos nos encarando.
— Você é insaciável — eu falei, acariciando seu cabelo e ele
empurroufundo em mim, nós dois arquejamos. Eduardo nos levou
para o meio de cama, investindo tão gostoso.
— Você não? — ele perguntou, a voz estava irregulare eu
grunhi, me deliciando desses momentos.

Quando acabamos, nos lavamos e nos vestimos.Encontr amos


Mari e Fred para o café da manhã, mas eu não queria comer. Os
dois estavambicudos, eu e Edu não nos intrometemos.Ele estava
carinhosocomigo, o que eu não deveria dar relevância, ele já havia
deixado claropara minha amiga que nós dois nunca teríam os algo a
mais.

A verdade era que eu tinha as cartasna mesa. Ele não as


colocou, mas elas estavam lá. Eu quem tinha que decidir até onde
me deixar ir
.
Ele foi servirnosso caféno Buffete eu fiquei o encarando, tão
bonito e gostoso.
— Acho que nos metemosna maior confusãodas nossas vidas
— Mari resmungou, cruzando os braços, inconformada e bufou
impaciente. A olhei, não sabendo que dizer — odeio o Fred.
— O que houve?
— Ele acha que eu sou a dondoca que ele vai bancar e mandar
até nas calcinhas — ela falou, me fazendo rir— mas eu não sou.
Não estouà venda para ele. E aquela ex-mulher conseguiu acabar
com meu emprego. E sabe a solução que ele me deu? Ele mesmo
me pagar! — ela estava tão incrédula.
— Para ele não pareceu ofensivo? — perguntei e ela me
encarou, como se dissesse: esse é o ponto!
— Como se namorá-lo fosseo meu emprego — ela resmungou
furiosae choramingou, correndo as mãos no rosto— eu queria
poder enforcá-lo agora.
— Ele não se desculpou? — eu perguntei mais baixo.
— Se desculpou, mas isso não muda o que ele propôs — ela
falou. Paramos de falar porque os dois voltaram.

Depois do café,os rapazes fecharama contano hotel e fomos


embora. Mari avisou que as meninas estavamfuriosasconosco, por
termosas abandonado. Mas elas tinham outrasprioridadesnaquele
lugar.

Voltamos para o Rio de helicóptero,o que me fez tremerde


medo de altura, eu odiava voar. Mari zombou de Edu sendo
carinhoso e segurando minha mão. Até mesmo deu um beijo na
minha testa e prometeu que estava tudo bem.

Como tinha avisado para minha mãe que só voltaria na


segunda-feirade manhã, fomos todos para o apartamen to de Edu.
Mari e Fred forampara o quarto,e nós dois para a cozinha. Ele
dispensou Noêmia, a governanta. Ela avisou que Dona Luísaligou,
mas ele pediu para mandá-la à merda. Pelo “Dona”, imaginei ser
alguém importante com quem ele não quisesse lidar
.
Naquela tarde,Bernardoenviou uma mensagem, perguntando
se estava tudo bem. Era para ele terido à festade ontem, mas
aconteceualgo que o impediu. Ainda bem, pensei. Notei que Edu
bisbilhotava nossa conversa, já que eu estava encostada em seu
corpo.
— Eu não gosto desse cara.
— Ele é meu amigo — eu falei, fingindo não entenderseus
motivos. Na verdade, seus motivos eram inconsistentes.
— Seu amigo... — ele bufouum risoincrédulo— ele quer outra
coisa, isso sim.
— E daí? — pergunteipresunçosa,me virando para ele — até
onde eu sei, eu posso me envolver com quem eu quiser .
— Você estáse saindo melhor que a encomenda, mocinha —
ele falou sarcástico — de uma garota tímida à...
— Ei — eu o interrompi,fingindo estarofendida. Mas era certo
que eu havia me libertadoum pouco do medo de viver, nessas
últimas semanas. Graças a ele e à Marina, óbvio.
— Há quanto tempo vocês são... Amigos?
— Há alguns meses — falei amuada, meu celular vibrou em
uma mensagem e ele ia puxando para ver, mas pressionei o
aparelho contrameu peito, escondendo — e somos só amigos, se
você quer saber
. Não estou interessada nele.
— E temalgum outrocarano meu caminho? — Edu perguntou
impaciente. Lancei um olhar provocativo:
— Tá tão interessado por que, se não vamos namorar?

Ele não prolongou, se levantou e foi para a cozinha.


Preparamos espaguete juntos.
Durante a tarde, jogamos sinuca e depois ele tento u me
ensinar xadrez. Ele se divertiacom a minha confusão, mas eram
tantasregras. Quando decidimos ir para o quartodele, do corredor
conseguimos ouvir os gemidos do casal que Edu chamava
carinhosamente de coelhinhos. O empurrei pelo braço, para
pararmos de bisbilhotar.
— Vou me lembrar de não ser barulhenta — eu sussurrei
incrédula e ele riu, me puxando pela mão.

Como Mari e eu ficamospor ali com eles durantetodo o fim de


semana, fizemos programas de casais. Edu era todo gostoso e
carinhoso, mas era fatoque o outro casal era mais intensivo e
descontrolado que nós dois.

No domingo pela manhã, fomos à praia. Eu passei bastante


protetor solar, porque como não era habituada a ficartanto no sol,
iria virar um pimentão em um piscar de olhos. Por coincidência,
encontramosa irmã dele, Chiara. Sempre simpática.Ela estavacom
o noivo, a quem Edu cumprimentourapidamente.Dali, decidimos
almoçar juntos.
Chiara me intimou para o seu jantarde noivado na próxima
semana, fez Edu prometerme levar. Fiquei sem jeito, ele havia
deixado claroque não teríamos nada sério,disse para Mari que não
vivia essas coisas. Enfim, apenas sorrisem-graça, não sabendo o
que dizer.
Quando voltamos para o apartamentodele, tomamos um
banho bem malicioso juntos, saímos grudados do Box, minhas
pernasem voltado seu corpoe os braçosem tornode seu pescoço.
O membro enorme estava na minha entrada, querendo vir para
dentro. Ele nos colocou na cama e começou a estocar
deliciosamente, como sempre fazia. Paramos para ele colocar a
camisinha e eu me virei de quatro.Ele praguejou, me puxando pelo
quadril, me fazendo gemer alto com a forçae intensidade que veio
para mim.

Ele me deixou em casa na segunda-feira. Estávamos


grudados, não queríamos parar de nos beijar, mas eu logo
precisaria estar no restaurante.

Troquei-me e arrumei os cabelos, antes de sair de casa.


Quando cheguei lá, estavam mamãe, minha avó e uma loira perto
do caixa, numa conversa íntima.Aproximei-me confusa. Deu para
notara cinta dessas cirúrgicassob o vestido solto da mulher, além
do inchaço nos seios.
— Bom dia — falei e ia tomando meu caminho, mas mamãe
me chamou com certa braveza, me fazendo parar
.
— Essa senhora disse que você tem um caso com seu
namorado — mamãe falou e eu a olhei, confusa. Sequer a conhecia.
— Na verdade, disse que você tem bancado a prostituta dele
— falou minha avó.
— O que? — sussurreiincrédula— me desculpe, vovó, mas eu
sequer sei do que essa mulher está falando.
— Então vai negar o caso com Eduardo Toledo? — a loira
perguntouesnobe. Parei congelada, não sabendo o que dizer. Edu
havia dito que não havia filhos ou cachorros,mas nunca disse que
não havia uma namorada, disse? A encarei, sentindo a nuca
formigar de nervoso. Ela forjou um riso impaciente.
— Eu só vim aqui ordenar que mantenha distância do meu
namorado — ela falou cheia de si — o tempo que estive forada
cidade deu pra a ele a chance de se divertir
, mas isso acabou agora.
— Eu não sei do que você está falando — eu falei, a voz
chegou a embargar de raiva e de vergonha.
— Eu vou embora. Espero não precisarapareceroutravez —
ela avisou, se virando e saiu sem olhar para trás.Eu fiquei ali, refém
do olhar julgador de minha mãe. Vovó me lançou uma careta
asquerosa e foi atender algum cliente que acabara de chegar
.

Quando tive chance, contei para Marina o que havia


acontecido. Ela começou a questionara índole dessas mulheres,
mas nós sequer as conhecíamos, não sabíamos a real relação deles
com elas. Passei o dia inteiro chateada.
Não respondi às mensagens de Eduardo, não existia a
possibilidade de eu, a menina que estava esperando o príncipe
perfeito até três semanas atrás, me tornar amante de um milionário.
Na terç a-feira, mesmo com a falta de resposta às suas
mensagens, ele apareceu para almoçar com Fred. Não fui atendê-
los e dei uma saída para não precisarteralgum contatocom eles.
Voltei para o restaurante
quando os dois já estavam saindo, mas
abaixei a cabeça e fingi não vê-los.

“Estáfazendo algum jogo e eu não estouentendendo?” — era


Eduardo outravez. Fechei os olhos por um momento e neguei com
a cabeça. Essa mania de controleque ele tinha, eu definitivamente
não gostava.

“Você jogou comigo. Me enganou e mentiu. Não se faça de


desentendido.”— eu respondi.Mari logo começou a falarmal da ex-
mulher de Fred, mas logo questionei se ela era a única vilã. Não
dava para colocá-los em um pedestal. Eu sequer confiava em
homens, para fazer isso.

“Eu acho que ele a detestae ela me fez perdero emprego. Só


isso. Não estou de bem com ele, não.” — ela respondeu.

A sensação de engano me perseguiupelo restoda semana, eu


me entreguei completamente, e mais do que isso, estava
começando a sentircarência do contatoe do sexo com ele. Essa
coisa de vício era insana.
C 08
Eduardo Toledo

Eu tentava nadar, mas estavaperdendo o fôlego. As braçadas


para tentaralcançar um ponto raso não pareciam resolver. Tentei
puxar mais ar, precisavade mais oxigênio, mas nada era suficiente.
Foi quando avistei Jordana, andando, sumindo atravésda maré.
Tentei gritarseu nome, mas não conseguia. Tentei respirardireito,
nadar mais rápido,mas nada era o suficiente
. Tomei uma respiração
profunda,me sentei no susto e me deparei com Luísa em pé em
frenteminha cama. Levei uma mão para a testa,a velocidade com
que despertei e a agonia do sonho trouxeramuma pressão
dolorosa.
— O que eu façocom você, me diz? — ela falou, cerrandoos
olhos asquerosamente— eu fico foraalguns dias e você cai nas
garrasde uma garotinhade classe média! — ela falou incrédula —
se fosse para me trair
, que procurasse alguém de nível.
— Te trair
, Luísa? — perguntei, começando a rir da sua
loucura.
— Quase seis anos nesse relacionamentoque você insisteem
dizer não sersério— ela faloudesdenhosa. Neguei com a cabeça e
me levantei, indo diretopara o banheiro. Fechei a portae tireia
cueca que usava, entreino Box, para tomarum banho e começaro
dia.

Mas a maldita veio. Não me intimidei com sua presença, não


era como se nunca tivéssemos nos visto sem roupas. Ela se
escorou ao lado de forado vidro e cruzou os braços. Ignorei-a ali,
sabia que não iria entrar e molhar os cabelos escovados.
— Eu só voltei agora porque temos a festade aniversário da
minha avó nestasexta-feira— ela falou, projetandoa voz e eu não
respondi — você havia prometidoque ia. Vai pegar muito mal não
aparecer.
— Eu não quero ir — falei, passando shampoo nos cabelos e
ela bufou.
— De novo o seu chilique? Eu já prometique você ia. Meus
pais estão contando com a sua presença. Até mesmo convidei os
seus.
— Luísa, você precisa pararde agir como se tivéssemos um
relacionamento— falei impaciente — já disse que você deveria
procurar um homem que te ofereça tudo o que você quer.
— Você faz isso — ela falou sorrateira,
abrindo a portado Box
e a encarei sério — só precisa aprender a ser fiel.

Consumia-me completament e essa mania dela de tratar com


desprezoos meus casos. De tratar
como traiçõesque ela perdoava,
uma vez que eu não havia selado compromissonenhum com ela.
Além do que, eu a tratava muito mal.
Terminei o banho e me sequei um pouco, antesde me enrolar
com a toalha. Fui escovaros dentesna pia e ela continuavaali me
observando.
— Falei com ela essa semana — ela falou e eu parei o que
fazia, a olhando atravésdo espelho — com a sua amantezinha
pobretona.
— O que? — pergunteiapós cuspira pastade dentee me virei
para ela.
— Eu imaginei que você fosse querer se divertirum pouco
mais, já que ela é novinha e amiga da prostituta do Fred...
— Você vai começar a agir feito uma maluca, é isso? —
perguntei,ficandoinflamado pela sua intromissão— quantasvezes
eu vou ter que gritar na sua cara que não temos nada, Luísa?
— Para de ser tão amargurado, Edu — ela falou, não se
ofendendo com o meu tom de voz grosseiro — eu estou aqui
esperando você ficarpronto,sei que seremos felizes juntos. Todo
mundo aposta em nós dois. No nosso futuro.
— Eu prefiromorrera ter um futurocom você — eu falei
enfático.Enxaguei a boca e saído banheiro. Queria poder trancá-la
lá dentroe só quando eu saíssedaqui, Noêmia vir soltá-la.Mas eu
não era um malucoainda.

Havia uma explicação muito mais coerentepara o sumiço e


gelo de Jordana. Na minha teoria vazia, ela estavajogando comigo.
Me fazendo sentirfalta,depois que eu disse à Marina que não iria
namorar com ela. Mas não era isso. Era Luísa, como sempre,
infernizando a minha vida.

Ela continuou a falare falar enquanto eu me trocavae me


arrumavapara o trabalho.Mas eu já havia desenvolvido um super-
poder: o de conseguir ignorá-la. Foram anos aprimorando. No
começo, eu olhava, respondia, me irritava.Depois eu comecei a
concordarcom tudo, para terpaz. Agora, ela falava e falava. Era
como se estivesseno mudo. Éramos injustosum com o outro.Não
estavaaqui condenando Luísa ou dizendo que ela era uma pessoa
ruim. Mas ela definitivamente não era a mulher ideal para mim.
Como havia dito: essa, a vida fez o castigo de me tomar
.

Não havia a possibilidade de eu terum relacionamentocom


qualquer outramulher. Muitopior Luísa,que era amiga de Bianca. O
que ela pensaria? Que respeito eu tive por sua memória? Era um
caso sem importância, que em algum momento eu teria que
conseguir dar rum ponto final.

Noêmia me esperava com o café pronto, mas eu saí dali


apressado. Pensei em falar com Jordana, me desculpar pela
sandice de Luísa,mas ela não iria nem abrirminhas mensagens, já
que vinha ignorando tudo há dias.
— Você diz que não quer nada, mas vai estarlá na festada
avó dela, eu aposto — Fred falou desinteressado,sentando na
cadeira do outro lado da minha mesa.
— Eu não vou — falei decidido — Luísa está parecendo uma
carrapata,quando eu menos espero a pego ali, grudada, fazendo
planos impossíveis.
— Ela jura que vocês vão se casar— ele falou,mas cuspiu um
riso ao pensar nessa merda. Poderia terdado mais atenção para
essa baboseira, mas precisávamos trabalhar
.

Por sorte, o apartamentodele já estava prontoe nos detalhes


finais,o que queria dizer que sairia do meu muito em breve. Eu não
me incomodava com Fred morando comigo, no entanto, nada
pagaria minha solidão.
Saímos da empresa perto de meio-dia. Passamos em um
prédio que estava sob responsabilidade da construtora
e depois
fomos almoçar.
— Deus que me perdoe, mas se você ficarapaixonado por
essa garota,eu vou achar bem feito— Fred falou asperamente,
quando estacionei perto do restaurante da avó dela. O olhei bravo.
— Eu não vou ficarapaixonado por ninguém — faleio óbvio —
mas não sou um carrascosem noção, preciso me desculpar pela
ceninha que Luísa fez.
— Seria um alívio terdinheiro pra comprarum foguete.Eu
colocariaBruna e Luísalá dentroe enviaria as duas pro espaço. Só
assim teríamo s paz — meu amigo falou, me fazendo rir
desanimado.

Assim que entramosno estabelecimento,avistamos Marina


sentada no banco renteao balcão. Ela e Jordana conversavam e
riam de algo. Jordana tinhaos cabelos completamentepresose, por
um segundo de insanidade, me peguei desejando poder cheirare
beijar seu pescoço, mas Fred me trouxe de volta para a realidade.
— Olha ali, a dona de todosos meus ódios — ele faloulascivo,
se referindo à Marina.
— Se eu propusessedar mais dinheiro à Luísa,ela iria adorar
— eu falei e ele fez uma careta.
— Eu juro que não entendi a ofensa sobre isso — ele falou,
depois que nos sentamos em uma mesa — ofereciminha ajuda,
afinal por minha causa, ela ficou desempregada. E ainda disse que
poderia ser só até ela conseguir outrotrabalho.Mas isso pareceu
deixá-la ainda mais furiosa.
— Se eu pudesse pagar pra ela se manterlonge, eu iria adorar
— falei pensativo e Fred riu.
— Capaz que ela aceita...

Uma garçoneteveio nos atender . Notei quando o tal Bernardo


chegou, indo se sentarao lado de Marina. Por um segundo, Fred
ficouagitado imaginando coisas, mas o tranquilizei,aquele cara era
uma pedra no meu sapato, não no dele.

Ficamos olhando os três numa conversa íntima, feito dois


idiotas.
— Se chegar outrocara pertodeles, eu vou lá — Fred avisou
de um jeito engraçado. Dona Márcia, a avó dela, parecia mesmo
adorar o rapaz, o tocava e falava simpaticamentecom ele, que
retribuía.
Por um momentomuitorápido, meu olhar cruzoucom o de
Jordana, mas ela desviou no mesmo instante.
Engoli meu inconformismopor ter outro cara lá, recebendo
atenção dela. Almoçamos e não demoramos muito por ali. Quando
pagamos a conta e saímos do restaurante,Fred ainda estava
indignado pela indiferença das duas.
Marina saiu do estabelecimento e Fred a chamou quando ela
passou por nós.
— Entãoé isso que eu mereço... O seu desprezo— Fred falou,
esse dramático de uma figa. Ela arqueou as sobrancelhase olhou
para mim rapidamente.
— Eu não tenho tempo pra cair na sua conversa fiada,
Frederico — ela falou impaciente para ele.
— Eu tinha feitoplanos pra nós dois nesse fim de semana —
ele falou, mas ela jogou os cabelos e arquejou, desdenhando dos
planos dele.
— Eu tenhoprogramasmuitomais interessantes pra fazercom
minha amiga — ela falou e eu a olhei, querendo perguntarquais,
mas Fred se adiantou.
— É sério isso? — ele perguntou incrédulo. Fred era um
descontroladosem noção, adorava se meterem confusão— você
vai deixar de sair comigo pra aprontarsabe-se lá o que com a
Jordana?
— Aprontar? — eu perguntei, quase que involuntariamente.
— O que o Fred chama de aprontar
, eu chamo de curtira vida.
E eu acho bom você não se intrometer, Eduardo Toledo — ela
pronunciou meu nome com desprezo — a sua namorada já veio aí
dar um showzinho.
— Mari, vamos conversardireito— Fred recuou, dando dois
passos na direção dela. Eu não fiquei prestandomais atenção na
DR. Dei a volta e entrei em meu carro.

A portado casarão de D. Alma estava aberta.Consertei as


abas do paletó e respireifundo, sufocado desde já, por terque
entrar e lidar com toda encenação.
Não queria ser levado a mal, mas quando eu e Luísa nos
aproximamos, me encantei por sua habilidade em se relacionar
.
Simpática,sociável, se habituava muito bem em qualquer ambiente.
Mas era o meu eu fragiliz ado demais para fazer uma análise
coerente de qualquer coisa.
Com o tempo, descobrique era só a carcaça.A essência dela
era fútil. Me irritavaessa necessidade de exibicionismo, querer
explanar uma vida perfeita,forjarum relacionamentoinexistentee
engolir grosserias apenas para manter o statusque ela queria
manter .

O barulho do pessoal rindo, conversando,das taçasbrindando,


garçonscirculandoe da banda, que tocavaBossa-nova, inundava o
salão do casarão.Acenei para quem ia passando por mim e cheguei
à roda onde estavamLuísa,seu pai, Dr. Pedro Marinari,e sua mãe,
a avoada da Flávia. Passei um braçoem volta do quadril da Luísae
ela virou o rosto,sorrindoeducada. Aproximei-me e selei nossos
lábios rapidamente. Logo depois cumprimentei seus pais.
— Achei que não viesse — Luísa falou, bebendo um gole da
água em sua taça, mas fingi consertara gravata,não querendo
responder
. Não queria vir
, fui obrigado.
— Mas estou aqui.
— Não precisa ser grosso — ela falava baixo, de longe,
ninguém notaria que ela estava nos colocando em uma discussão.
— Não estou sendo grosso. Estou aqui, não era o que queria?
— Pra ficarcom essa cara? — ela perguntouimpacientee eu
suspirei, observando os olhares de seus pais em nós dois. Engoli
pesado, não querendo retru car, nem brigar em público. Para a
família dela, tínhamos um relacionamento perfeito.
Para mim era uma loucura sem tamanho, uma vez que sequer
tínhamoscostumes que casais reaistêm.E eu não queria costumes
de casais com ninguém.

Meus pais logo chegaram, junto de Fred, que tentav


a se
comunicar comigo por olhares. Mas eu estava tão frustrado por
cederàs loucurase encenações de Luísa,que não me esforceipara
entender
.
Luísa entrelaçounossos braços e falava de planos que nunca
fizemos, seus pais e os meus adorando e comprando a cena. Eu
não falava nada. Fred pegou uísque para nós e ficava alimentando a
loucura da Luísa, para me irritar
, certeza.

A noite que já estava ruim ficou pior, quando o sem sal do


Bernardopassou por nós e Dr. Pedro o chamou, o apresentando
animado para todos nós. Ele cumprimentoutodos com apertosde
mão. Mas o pior não estava por aí. Jordana estava com ele. Eu
encareiFred, que me lançou um olhar, era isso que estavatentando
me falarpor telepatia.Fechei os olhos por um segundo e neguei
com a cabeça.
— Então essa bela moça é a namorada? — Dr. Pedro
perguntou. O retardado sorriu timidamente e olhou para ela.
— Pela cara de apaixonados que eles têm — Luísa falou,
fingida — aposto que sim. Formam um belo casal.
— Eu vou pegar uma bebida — eu falei, saindo dali antes que
sufocassecom a faltade ar. Fred veio atrás,se divertindocom a
situação.
— Dói não poder externaro ciúme, eu sei — ele falou, quando
parei pertodo bar. O encarei desprezívele bebi um gole do meu
uísque — seu sogro está lá rasgando uma seda pro cara... Ele é
novo na área, mas muito bom.
— Vai se foder
, Fred — resmunguei asperamente.

Fomos nos sentar em uma das mesas. Luísa não estava


podendo beber, por causa das medicações que ainda tomava pós-
cirurgia, então encenava a preocupada querendo me privar
.

Jordana e o advogadozinho de merda passaram pertode nós


outravez. Aparentementeele queria exibir que estavacom alguém.
Ou ela estava achando que me provocava ciúme? Cheguei a rir
sozinho pensando nas possibilidades. Mas ela não tinha como saber
que eu estaria aqui hoje.
— Viu? — Luísa perguntou,devolvendo a sua taça com água
para a mesa e olhou para Jordana e Bernardopertoda escadaria—
não passa de uma oportunista.
Olhei para Luísa, porque se fôssemos encaixar alguém no
perfilde oportunista,
seriaela. Não retruquei.Ela falavae falavamal
de Jordana, como se isso fosseapagar meu interesseou a minha
atração.Fred estavasentadoà minha frentee focouo olhar atrásde
mim. O encarei confusoe ele acenou, com esse olhar sugestivoe
eu olhei para trás. O casal estavalá, dançando colado, no ritmoda
música que tocava.
— Eu acho que esse cara é gay — Fred falou de repente,
tomando toda atençãoda mesa — o advogado amigo do senhor —
disse ao pai de Luísa — quer impressionarcom uma gatinha, eu
aposto.
— Você nem o conhece, Fred — mamãe o repreendeu.
— Maior jeitode boiola— ele falou, me fazendoquererrir
, mas
não iria alimentar essa conversa.
— Tenha modos, Fred — mamãe falou sufocada de vergonha.
— Soube que estáde namorada nova, Fred — Luísacomentou
presunçosa — que é uma pobretona, seus pais odiaram.
— Meus pais odiaram a versão que Bruna contou dela. Mas
minha namorada é perfeita— ele falou para ela, como se ele e
Marina estivessem de bem.
— Soube que além de se aproveitarde você, queria empurrar
uma das amigas dela para o meu namorado — ela continuou. Eu
tranqueia respiração,ela tinha que me testar
, como sempre.Eu não
sabia por que ainda ficavasurpresocom as ceninhas de Luísa.Fred
riu, mas não a respondeu e bebeu do seu uísque.
LuísacontinuouprovocandoFred, que retrucava.Eu comecei a
prendero ar e contaros segundos que conseguia ficarsem respirar
.
Morrerde ódio agora não parecia uma má opção. Como podia
alguém ser tão mesquinha?
— Olha lá, o gay beijou a garota— Fred faloue eu me levantei
num impulso de merda, com o frissonnegativoque a infor
mação me
deu. Não havia beijo ainda, mas estavamtão próximos que não me
segurei. Peguei meu copo e andei rapidamente,trombeino casal e
passei no meio dos dois, para afastá-los.
C 09
Jordana Testa

Quando Marina me fez aceitaro convite de Bernardo,eu não


iria imaginar em um milhão de chances que Eduardo estariaaqui.
Para confirmar que eu estava vivendo um engano, ele estava lá,
junto com a namorada siliconada e toda a família dela.

Bernardoqueria uma acompanhante para não chegar sozinho


à festa da mãe de seu patrão.Era a verdadeiradona de tudo, ele
contou. E ele queria prestigiar
, já que DoutorPedro era um bom
homem.

Sabia que ele tinha segundas intensões, mas era amigável e


educado. Deixei claro, para não alimentaresperanças, disse que
iriamos sair como bons amigos. Mari revirouos olhos quando eu
falei isso, mas eu não estava a fim, não iria enganá-lo. Eu não era
como Eduardo, um mentiroso sem noção.

Conheci os pais dele, o chefe, alguns colegas de trab alho.


Quase desfaleci quando vi Edu e Fred. O combinado era ficarmos
um pouco apenas, depois encontraríamos Marina e o pessoal num
barzinho não muito longe daqui.

Quando Edu passou por nós dois, eu cambaleei para trás , mas
recupereio equilíbrioe olhei confusapara o rapaz em minha frente.
Olhei ao redor
, Fred estava em pé com as mãos na cabeça, mas
quando Edu sumiu de vista, ele pareceu relaxar
. Todos naquela
mesa nos olhavam.
— Vamos sair daqui? — pedi. Bernardo assentiu. Parecia
confuso, mas não retrucou.

Ele me levou para dar uma volta pelo jardim, eu sabia que
estava interessado,mas completamenterecluso a tomariniciativa,
então não incitei. Conversamos sobre o trabalhodele na empresa
de DoutorPedro. Chegou a falarde Luísa, a filha frescado chefe,
que todos falavam mal.
— Ela tem uns quinhentos mil seguidores, mas se sente uma
celebridade... Quando o pai nega algo, ela correpro namorado dar
— ele contou,se divertindoe eu fizuma careta,incomodada com as
descobertas.Ele tinha um relacionamentosério e mentiu para mim.
Eu estava completamente enganada em um posto de amante.
— Ela namora há muito tempo? — perguntei,mas iria fuçaras
redes sociais dela depois. Esse pessoal cheio de seguidores,posta
tudo, né? Eu descobriria algo em breve.
— O pessoal do escritóriocomenta que ele namorava e ia
casar com uma amiga dela, mas parece que houve uma troca—
Bernardo riu e eu estava cada vez mais cheia dessa história.
Eduardo era um cretino.Andamos mais um pouco e ele estava lá,
escondido em um dos bancos do jardim, um mais afastad o. Tinha as
pernas esticadas e olhava para cima. Antes que eu pudesse
completarminha análise sobre ele ser gostosoem qualquer ângulo,
a namorada passou trotandopor nós e foi até ele. Ela começou a
falare falar
, mas ele não mudou de posição. Ignorou até mesmo os
tapas de dondoca que ela deu em seu braço.
— Já podemos ir? Eu iria adorarpassarem casa e trocaresse
vestido — eu falei para ele, que assentiu, entrelaçandonossas
mãos.

Demoramos quase meia hora até o meu prédio. Para não ficar
esperando sozinho no carro,Bernardosubiu comigo. Ao entrarno
apartamento,nos deparamoscom vovó no sofávendo TV. Ela sorriu
ao ver Bernardoe o convidou para sentar
. Avisei que seria rápida.
Não dava para encontraramigos em um barzinho usando um
vestido longo de festa.

Vestirapidamenteuma bata tomaraque caia e um shortjeans


folgadinho. Coloquei a sandália alta outravez. Eu poderia matara
Mari, por ter me arrastadopara sair àquela noite, mas deveria
confessarque as aventurasdesde então me arrancaramo peso do
luto, a vergonha de sair por causa do antigo relacionamento.Não
era a maior fã de baladas, mas não as detestava.Havia caído na
lábia de um cara rico que só queria me comer? Sim. Mas iria
abstrairo erro,eu me conhecia e sabia que se soubesse a verdade
sobreele, não teriacaídona conversabarata,assim nunca teríamos
ficado.

Bernardotirouo blazer e abriu alguns botõesda camisa social.


Estava mais bonito, não que fossefeio, mas era difícilolhá-lo com
atração.

Quando chegamos, demorei longos segundos até avistarmeus


amigos. ArrasteiBernardoaté lá e Mari comemorou termosvindo.
July me lançou o olhar esnobe de sempre.
— Alguém abduziu você e devolveram outrapessoa no lugar
— Denise falou. Dei um sorr iso apertadopara ela. Nos sentamose
eu ia pedir água, mas Mari encheu meu copo com cerveja. Fiz uma
careta, eu não queria ter que lidar com a ressaca na manhã
seguinte.
— E eu trabalho — eu falei brava e ela me olhou desprezível.
— Você só não está sem emprego porque o restaurante é da
sua avó — ela provocou e eu suspirei inconformada.
— Fred estava lá — eu contei, sussurrando.Ela continuou
bebendo a sua cerveja, fingindo não me dar importância— Edu
estava com a namorada.
— Eu não sabia que ele namorava. Fred nunca falou nada —
ela falou indignada — os dois são farinhas do mesmo saco.

Deixamos de cochichare demos atençãoao pessoal. Bernardo


era amigável e as meninas puxavam conversa com ele. Pouco
tempo depois, o pessoal já animado pelo bar e a música ao vivo
tocando, começava a ficarem pé, dançar, beber. Mari tentava me
mover no ritmoda música, mas eu não era boa nisso. July começou
a parecersugestivacom Bernardo, mas eu não me incomodei. Seria
um verdadeiro alívio que eles flertassem.
Mari chegou a sugerirque
fez para me provocar , mas eu duvidava muito.

Minha amiga deu um chilique quando os dois caraselegantese


bonitos chegaram. Era bizarra a maneira como eles sempre
destoavam quando chegavam. No sentido de se sobressaírem,
chamarem atenção.
— Vamos ignorá-los — ela sussurroupara mim, mas estava
nervosa. Neguei com a cabeça e peguei o meu copo, bebendo um
pouco da cerveja. Eduardo ainda acenava para alguns possíveis
conhecidos, Fred estava com o olhar grudado em Marina.
— Esse cara quer pagar de doido com a própria dona do
hospício— ela faloupara mim, que comecei a rir
. Era a verdade, de
qualquer modo. Eles passaram bem perto de nós, cheguei a
tropeçarmesmo parada, e Bernardome segurou. Nos encaramos
por alguns segundos, mas eu recuei. Não dava para ficar com um
cara que eu precisava ver todos os dias.

E eu tinhatodaaquela históriade príncipeencantadono cavalo


branco.

Mari me chamou para irmos pegar uma bebida quente no bar,


para escolhermos qual dose queríamostomar . Eu avisei que não iria
querernenhuma, não era resistente ao álcool. Só fui me dar conta
das suas segundas intensões quando estávamos no balcão,
olhando as opções de doses. Minha amiga olhou e pensou, mas
pediu a tequila.
— Eu não vou beber isso — eu avisei, mas ela disse ao
barman que eu iria sim. Pagou para ele as duas doses e, ele logo
veio, trazendo com limão e sal.
— Eu não achei meu dinheiro no lixo e estou desempregada.
Então você vai terque beber — ela falou enfáticae eu a encarei
furiosa.Peguei o shot sobre o balcão e virei junto com ela, depois
chupei um pouco do limão, estremecendointeirapor ser tudo tão
amargo e azedo e ácido.
Fred logo chegou pertoda Marina e ela olhou para mim, mas
os dois introduziramuma discussão que eu não queria fazer parte.
Me virei e ia voltando para a mesa, quando Eduardo parou em
minha frente.Eu ia desviardele e ir por outrolado, mas ele segurou
meu pulso.
— Podemos conversar?— perguntou, me encarando firme,
com a merda desses olhos claros tão perfeitos.
— Não — falei e tenteime soltar , mas ele me segurou mais
firme.
— Houve um mal entendido, por favor , Jordana, vamos
conversar — ele falou mais incisivo.
— Não! — falei de novo, o deixando impaciente.Eu puxei meu
braçoe saídali rapidamente,antesque ele fizessealguma cena. Eu
não o conhecia, não sabia se faria.A pensarem como atravessouo
caminho entremim e Bernardo,eu não poderia duvidar de alguma
coisa.

Marina logo se rendeu, o que eu não aprovava, mas ela estava


pouco interessadana minha opinião. Volteipara a mesa e sorripara
os outrostrêsali presentes.Quando olhei ao redor , Mari e Fred já
estavamnaqueles beijos lá no balcão do bar. Neguei com a cabeça,
incrédula, ela falou mal dele a semana inteirae agora estava lá,
agarrada com ele.

Como notei o interessede July em Bernardo, fiquei mais


afastada,não queria mesmo ser um empecilho no caminho deles,
uma vez que eu não queria nada com o rapaz. Vovó iria ficar
arrasadacom a minha decisão, conseguia ouvir suas broncassobre
minhas péssimas escolhas, mas não poderia enganar ninguém. Eu
não era como Eduardo.

Decidimos ir embora quase duas da manhã. Dessa vez, eu


entreino banco traseiro,junto com Denise. Ele a deixou primeiro,e
depois foi me levar
. Desci e acenei para eles, que se foram.irei-me
V
e andei apressada para entrar no logo no prédio.
— Jordana — a voz firmee conhecida ecoou e eu congelei.
Por um segundo, pensei em me virar , mas não queria isso, queria?
Voltei a andar apressada, a merda do portão do prédio nunca
pareceutãolonge. Como num jogo em que estavapreste s a ganhar
e acabei fazendo algo errado, a passos de chegar ao portãodo
prédio, o maldito me alcançou. Eu arfeiquando ele me virou e nos
encaramos por um momento. Ele parecia irritado,como se fosse
mesmo a vítima da situação.

Minha respiraçãoacelerou, refletindoo meu nervoso. Eu não


poderia ser tão atraídapor um traidor
. Puxei meu braço, mas antes
que eu pudesse me virar
, ele me segurou pelos pulsos. O encarei
incrédula. Ele era acostumado a isso, obviamente. Coagir e
conseguiro que quer. Não sossegou até me levar para a cama. Por
mais que eu quisesse, se soubesse toda a verdade, jamais teria
feito.Grunhi de raiva e nervoso, me debati e me soltei novamente,
mas quando cheguei ao portãoe peguei a chave para abrir , ele me
puxou de novo.
— Por favor, vamos conversar — ele falou cauteloso,mas me
segurava como se eu fossefugir. Eu iria, se tivessecomo. Pensei
em sair correndofeitouma maluca em qualquer direção, mas tive
medo. Era tarde e não havia movimento ao redor
.
— Eu não quero conversar— falei com força,tentandome
desvencilhar dos seus braços.
— Aquilo foi um mal entendido — ele falou, mas virei o rostoe
aperteios olhos, como se fosse me impedir de ouvir — eu não
namoro ninguém. Soube do que ela fez, sinto muito, mas Luísa
estava errada.
— Deus do céu — eu faleiinconformada— você estavaem um
evento como namorado dela e ainda diz que houve mal entendido?
Eu posso não sera maior experienteem tudo,Eduardo, mas eu não
sou idiota!
— Eu não estou mentindo pra você. Me deixa explicar, por
favor— ele falou devagar. O encarei, mas desfoqueicom o quanto
eu adorava a cor dos olhos dele e esperei. Sabia que ele não teria
nada decente para me dar e me convencer de que eu estava
equivocada.

O aperto nos meus pulsos afrouxou e ele abaixou o olhar,


como se abaixasse a guarda. Eu bufeiimpacientee sacudi a cabeça
em negação.
— Podemos conversarem outrolugar? — ele perguntou,mas
eu neguei com a cabeça — eu não tenhonada com ela. Não estava
enganando você.
— Eu, tola, enganada, ainda acreditei que não havia
namorada. Claro que não contaria! Só queria me levar para a cama!
— Não menti pra você. Não estariaaqui fazendo esse papel
ridículo,Jordana! — ele falou áspero e eu continuei o encarando.
Ele apoiou o antebraçona grade do prédio, me cobrindo e olhou
para baixo. Eu senti pontadas na mandíbula, como quando
comemos algo muitoazedo e dói. Esse cretinoia me beijar e eu não
tinha coordenaçãonenhuma para reagir. Deveria dar um chutebem
no meio das pernasdele. Deveria começara gritare colocá-lo numa
enrascada. Deveria qualquer coisa, menos correspondê-lo.

Mas o toque da barba em minha bochecha, os lábios macios


procurando os meus. Santa injustiça. Eu estava sendo insultada
dias atráspor causa dele. Por aquela que se dizia sua namorada.
Mas nada pareciao bastantepara que eu não o beijasse de volta.A
mão livre, ele levou para a minha cintura,a escorregandopara a
base das minhas costas. Eu tenteificarquieta, não acariciá-lo,
porque ele não merecia, mas quando o beijo deixou de ser suave e
foi ganhando profundidade, ele me puxou mais para si e eu
emaranhei minhas mãos em seu cabelo. Nossos lábios chegaram a
estalarcontrao outro,tão sedentosque parecíamos.Ele arquejou,
subindo a mão pelas minhas costas. Por um momento, eu quis
descer a boca pelo pescoço dele, mas me contive. Edu encerrou
puxando meu lábio inferiorentreos seus e ficoupertinho,arfandoe
com os olhos fechados.
— Vamos pra casa comigo — ele sussurrou,me trazendopara
a vida real: ele queria me levar para a cama. Só isso.

Não fui grossa dessa vez. Neguei com a cabeça e o afastei,


entrandologo no prédio antesque ele me agarrassee me levasse,
me provocasse para conseguir o que queria. Nos olhamos uma
última vez, mas não cedi à minha vontade.
Não havia, na face da Terra inteirinha, uma desculpa
convincente para eu me deixar levar por ele.

Acordei na manhã seguinteagoniada com todasas sensações


pós um sonho completamente pornográfico.Havia uma diferença
entreerotismoe pornografia,na minha percepção. E o que aquele
cretinofazia com os meus sonhos, pensamentos e vontades, era
altamente pornográfico.

Por um momento, eu quis desceruma mão sob as cobertase


acabar com a minha vontade sozinha, mas eu pensava nele, não
queria dar esse gostinho para ele, nem em segredo. Não poderia
alimentar esse desejo.

Fui interrompid
a por Mari batendo na porta e pedindo para
entrar
. Me sentei,a encarando com toda expressãoque expusesse
meu julgamento pela decisão dela na noite passada.
— Eu sou uma idiota — ela falou desinteressada.
— Não adiantaficarfalandomal dele se você vai voltarcom ele
— eu falei o óbvio e ela fez uma careta chorosa.
— Ele quer me levar no jantarde noivado da irmã do Edu,
amanhã — ela falou a encarei — mas não sei... Ele disse que
estava apaixonado.
— Apaixonado ou que te ama? — indaguei. Ela suspirou,
tocando nos bordados do urso na beirada da cama.
— Que não imaginava que fosse ficartão apaixonado assim.
Que não planejou, mas aconteceu, ele não quer parar . Que sabe
dos problemascom a ex-mulher, mas não quer que ela seja o nosso
impedimento.
— Você confia nisso?
— Eu não sei... — ela foi perdendo a entonação da voz —
queria tentar
, mas não quero ser a namorada dele. Que é apenas a
namorada dele.
— Ai, Mari... Eu nem sei o que te dizer. Você quer conheceros
pais dele? A ex dele vai estar nesse jantar?
— Não... Fred disse que Chiara detesta as duas.
— Duas? — perguntei confusa.
— Ela e a tal Luísa...— ela falou e eu revireios olhos — disse
tambémque Edu e Luísanão namoram, ela que paga de louca e ele
deixa.
— E ele deixa — reforcei,mas me levantei, não iria dar
importânciaao assunto — e eu não estou nem aí pra esse cara,
sabe? Eduardo estámuito longe de ser o príncipeno cavalo branco
que eu tanto espero.
— Aposto que Bernardo seria...
— Acho que a July ficou com ele — falei presunçosa— e eu
adorei. Assim, ele não fica mais me pressionando.
— Pelo menos isso — minha amiga revirouos olhos — eu vim
tecarregarpra escolhero vestidocomigo. É um eventode ricos,por
favor
, eu preciso de um vestido a altura.
— Vou só tomar um banho.
C 10
Eduardo Toledo

Depois de deixar Jordana em casa, encontreiRavi, um velho


amigo, em um bar que costumávamos frequentare bebi. Não
deveria, estava dirigindo, mas o estressee frustração
em mim
exigiam que eu os afogasse.
— Embriagai-vos! Deveis andar sempre embriagados. Tudo
consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdeso fardo
horríveldo tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para
o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso — Ravi
recitoue eu me escoreina cadeira,depois de viraro restodo uísque
— tá mal, hein, cara? — neguei com a cabeça. Estava bem, no
entanto, frustrado, embriagado e contrariado.

Ficamos até quase quatroda manhã no bar, bebi mais do que


devia e fui para casa. Dirigi devagar, pensando que poderia estar
com Jordana, fazendo nosso passatempo preferidodos últimos
tempos. Mas logo me convenci de que era melhor assim. Ela
acabaria nos levando para a emoção e sairia machucada. Eu não
poderia dar para ela mais do que isso, jamais conseguiriaser o que
ela queria que eu fosse.

Colocar um fim definitivonessa coisa com Luísa era a minha


maior certezano momento.Saído elevador e entreina sala do meu
apartamento.Tropeceina tentativade tiraros sapatoscom os pés e
os deixei pelo caminho. Subi as escadas enquanto desabotoava a
camisa social e fui tirandoa roupa no caminho para o banheiro.
Parei, inflamado por Luísa estar sentada na cama.
— Já terminouo seu show? — ela perguntoue eu fechei os
olhos por um momento. Comecei a rir
. Eu deveria estarno meio do
meu carma, pagando ele com as tramoias de Luísa.
— Show? — perguntei, cambaleando, mas tenteimanter o
equilíbrio — você fez aquele escândalo, me chamou de traidor ,
insultouquem não estavapra se defendere que não merecia, e eu
que fiz um show?
— Sim. Negou nosso relacionamento, saiu e me deixou com
cara de taxo naquela mesa, com nossos pais esperando uma
explicação.
— Luísa — eu falei, a interrompendoe levei as mãos para a
cabeça, tentan
do mantero foco — eu não quero brigar . Já disse pra
você procuraroutrocara, alguém que queira isso aí que você quer,
porque comigo não vai rolar
.

Como ela ficouquieta, eu fui para o banho. Fiquei sob a água


por um longo tempo. Sabia que essa maluca não iria embora, então
queria voltar para o quarto e encontrá-la dormindo.

Vesti uma calça de pijama e fui para a cama. Suspirei, com


essa agonia, esse inconformismome corroendo,mas ao mesmo
tempo, eu conseguia me convencer que era melhor assim. Deveria
comemorarJordana não ceder, não tervindo comigo, assim evitouo
estressepor Luísa estar aqui. E eu acabaria arrumando outro
problema, se ela se envolvesse demais.
Não consegui pegar no sono, fiqueiolhando para cima, milhões
de pensamentos incoerentes me dominando. Quis enviar pelo
menos uma mensagem, pedir para conversarmosmelhor e com
calma, que eu queria continuara vendo, mesmo que não fôssemos
ter algo mais.

Luísa veio para mais perto,começou caríciasmaliciosas, mas


segurei sua mão, levantei da cama e saí do quarto.

Pela manhã seguinte,ela me procurouno quartode hóspedes,


mas me levantei e fugi dela. Soltei o ar de uma vez e cobri o rosto
com as mãos. Ela queria sexo apenas para insistir nessa
encenação.

Quando saí do banheiro, já de banho tomado, ela estava


sentada na beirada da cama.
— Vai me levar ao noivado da Chiara? — perguntou.
— Não. Não quero você e Chiara brigando no noivado dela.
— Não vamos brigar . E eu quero que as pessoas vejam que
estamos juntos — ela fez um beiço — vou me trocar , almoçamos
juntos?
— Luísa,nós não estamosjuntos— falei pausadamente,mas
ela fez pouco caso e se levantou.

Inventeium problema na empresae saíde casa, fuitomarcafé


fora, sozinho. Luísa logo começou a mandar foto do look que
provavelmenteusaria no noivado. Só queria ir para ser fotografada
ao meu lado, porque ela e Chiara se detestavam.
Fui almoçar com meus pais, para avisar sobre Luísa e não
pegar Chiara de surpresa em seu grande dia.
— Deus do céu — minha irmã falou inconformada— quando
eu pensei que você iria se livrar dessa ratazana...
— Não fale assim dela — mamãe repreendeu— se seu irmão
gosta dela, não podemos interferir
.
— E ele gostadela? — Chiara perguntouincrédula, apontando
para mim. Forceium sorriso,qualquer serhumano que ficasseperto
de nós dois por meia hora, saberia que não nos suportamos.
— Fred vai trazera namorada nova — mamãe comentou e a
olhei — Bruna vai ficar maluca...
— Ele casou forçado,era óbvio que não iria durar— Chiara
falou. As duas ficaram discutindo a relação de Fred e eu peguei meu
celular, olhando as mensagens de Luísa. Não respondi, ela nos
mantinha nesse caos, eu deixava, mas a trocode que? Uma fama
polêmica onde eu sou o traidore ela a dependente emocional que
não se liberta nunca?

No instagram, vi os Stories de Jordana, ela e Marina no


provador de uma loja. Depois as duas almoçando em um
restaurante,depois de um sorvete.E depois uma fotodela, muito
bonita, esse olhar marcantee decisivo, mesmo que ela fosse um
doce de pessoa. Fiquei admirando a foto,não me dei contaquando
Chiara queria minha atenção.
— Achei que estivesse com essa aí — ela falou, olhando a
foto, parada atrás de mim.
— Luísa estragou tudo.
— E você voltou com ela — ela falou, fazendo uma careta
asquerosa — ela colocou mais boca, ficou horrível.
— Não reparei — comentei, mas era a verdade.
— Você gosta de ser infeliz, não é possível.Estava até mais
alto astralna última vez que te encontrei,e agora assim, com a
energia sugada por aquela oportunista.
— Oportunista?— meu pai perguntou.Nós dois olhamos para
ele, na cabeceirada mesa — ela é herdeirade um bom patrimônio,
não vejo necessidade de se escorar em Edu.
— Herdeira. Isso não quer dizer que o pai dê uma vida mole
para ela — Chiara debochou — do contrário,ela não teria se
apoiado em Edu pra ficar conhecida, e não aceitaria tanto pra
usufruir de tudo que quer
. Porque ela quer
, ele dá.
— Pessoas de alto nível, querem se envolver com pessoas de
alto nível. É natural— papai falou como se isso fosse realmente
coerente.
— Pessoas deveriam se envolver por amor — Chiara falou
para ele.
— Como Edu não quer saber de amor, dor de cabeça vulgo
Luísa está ótimo — Fred falou, chegando para se sentar
.
— Eu apostei alto que você iria reconstituir seu casamento,
Frederico — papai falou para ele, que riu e negou com a cabeça.
— Ao contrário do seu filho, eu quero amor e felicidade, tio.
— Vai encontrarisso em uma desqualificada? — mamãe
perguntou — Bruna falou horrores dela.
— A senhora vai conhecê-la e eu apostoque vai adorá-la. Ela
acabou de se formar em Jornalismo.
— Eu a conheci rapidamente, mamãe — Chiara contou —
adorável. De verdade.

Quando chegamos à mansão de meus pais, já haviam vários


convidados. Luísaacenava para todomundo. Nos fezposarpara as
fotos,sairia uma nota no Jornal, obviamente. Uma amiga dela e de
Chiara em comum apareceu nos filmando e Luísa encenou
perfeitamente. Eu apernas acenei, para não parecergrosseiro.Já
havia aprendido a aceitar as consequências dos meus impulsos.

Fomos procurarminha famíliae eu cumprimenteios noivos,


mesmo sendo contraao casamento. Eu segurava uma taça de
champanhe e Luísaestavaao meu lado, focadano celular. Ela veio
para tirarmosuma fotojuntos, foiquando notouFred chegando junto
com Marina. O casal chamou atenção. Marina estava muito bonita,
elegante e serena. Os dois estavam de mãos dadas e Fred,
animado como sempre, sorria.Ele sussurroualgo para ela, que a
fez rir e Chiara os alcançou.
— Eu nem acredito que Fred estácom essa prostitutazinha—
Luísa falou enojada.
— Você deveria pararde julgar pessoas que não conhece. De
onde tirou isso?
— Uma menina classe média que transacom um milionário e
recebe dinheiro em trocaé o que? — ela perguntou,fazendo uma
caretade pouco caso — aposto que você estava bancando aquela
uma também.
— Você é louca — eu falei desacreditado por tamanho delírio.

Luísa ficou ainda mais frustrada,porque Fred e sua nova


namorada, por quem ele gritava aos quatro ventos estar
completamenteapaixonado como nunca esteve antes, roubarama
cena. Se a intenção de Luísa em algum momento foi desfocaros
holofotesde Chiara e seu noivado, ela se enganou completamente.
Fred quem fez isso.

No resumo de tudo, os pais dele gostaramdela, mamãe ainda


mais. Eu estava querendo ir embora e me esconder, ela contaria
tudo para Jordana. Era mesmo uma merda.
— Não sei por que Chiara deixou Fred levar aquela vaca —
Luísa falou, quando entramosno carro. Eu apertei as mãos no
volante e fechei os olhos, respirei fundo e soltei todo o ar — tá na
cara que só está com ele por interesse.
— Luísa,já deu! — faleiáspero e ela parou de falar , assustada
— eu vou televar pra casa. Depois disso, você vai dizer a todosque
terminamos.
— Mas...
— Mas acabou! — fui grosso,para ver se ela entendia de uma
vez — eu não amo você, eu não quero uma vida com você, eu não
vou mais voltaratráse fazersuas vontades.É insano, que situação
humilhante! Pra nós dois.
— Está terminandocomigo por causa daquela pobretona?—
ela perguntou afetada e eu suspirei com força.
— Estou terminando nosso teatro porque não aguento mais. Só
por isso — enfatizei— eu vou te levar pra sua casa, não vou mais
atendersuas ligações, não vou mais sair com você. Você estálivre
pra procuraroutrocara, um cara que te ofereçao relacionamento
que você quer.
— Você enlouqueceu, Edu? — ela perguntou incrédula,
surpresapor eu estarsendo tão grosseiro.Sempre era, mas nunca
para realmente dar um fim.

Não a respondi. Liguei o carro e dirigi rápido para deixá-la em


casa logo.
C 11
Jordana Testa

Mari chegou na segunda-feira para o almoço com duas


notícias:
a boa e a ruim. Era sobre o tal noivado que ela foi com
Fred. Eu pedi a boa, primeiro.Considerei que a ruim tivessea ver
com Eduardo e não queria saber.

Ela estava nas nuvens. Eu, preocupada. Fred poderia estar


apaixonado, mas ele ainda era casado pela lei. E tinha um filho. E a
mulher pintava e bordava como bem queria. Eu não duvidaria nada
de fazer alguma coisa para afrontar Marina.

Mas ela havia se dado bem com os pais e com a irmã de Edu.
Não ficou perto dele, por causa da entojada da namorada.
— Ela estava com lábios terrivelmenteenormes. Todo mundo
comentou— ela falou incrédula, me fazendo rir— Eduardo ficoude
cara fechada e bebendo. Mas eles tiraramvárias fotos.Segundo
Chiara, ela queria mostrar pra todo mundo que estavam bem.
— Que legal — forcei um sorriso, mostrando meu total
desinteresse na vida dele.
— Fred disse que ele não a suporta.Que poderia ver pela
expressãodo Edu que ele queria morrerde ódio bem ali — ela falou
cheia de pretensão e fiz uma careta enojada.
— Não a suporta,mas apostoque dorme com ela, que transa
com ela, que faz planos com ela. E que os chifresque ele coloca
nela são tipo nada perto da vida boa que ela tem.
— E do status.Chiara disse que estão juntos porque tudo o
que o pai dela nega, Edu dá — Mari completou— mas a mãe dele...
— voltei a olhá-la, que continuou a falar:— disse que tem pena por
ela viver esperando, uma vez que ele diz que eles não têm nada.
— Uma pena para ela — eu falei.
— O pai dele acha que ele casa se ela engravidar. Mas Chiara
debochou que ela acabou de colocarsilicone, nunca iria engravidar
.
E Fred emendou que Edu não quer mais ter filhos.
— Nossa, o noivado era da irmã dele e a atração era o
Eduardo — falei sarcástica.
— Na verdade, a atraçãofui eu e Fred — ela foi presunçosa e
eu a olhei, cerrandoos olhos — todos ficaramsurpresos,eu fiquei
com tanto medo. Mas no final foi bem legal.
— Você tá muito apaixonada — eu resmunguei e ela fez uma
careta emocionada.
— Tô, né — Mari levou a mão no peito e franziuo nariz — ah,
marquei com Chiara, vamos fazerum passeio de lancha esse fimde
semana. Vou chamar as meninas.
— Fred vai?
— Sim, o noivo de Chiara também. E alguns amigos dela. Mas
Edu não vai. Ela e a entojada se detestam.
— Eu não sei se vou, amiga.

Eu não sabia se minha raiva maior era por Marina não aceitar
minhas recusas,ou por eu não aguentarsuas insistênciase ceder.
No sábado logo cedo, ela passou para me buscar. Veio dirigindo o
carrode Fred e estavaanimada. Disse que tomoucafécom a sogra
e conheceu a mansão dos pais dele na Gávea.
— Seus pais já sabem? — perguntei e ela quebrou a
animação, me olhando feio.
— Eu toda animada e você falando deles — ela falou brava —
não sabem e eu não vou contar
.
— E se vocês se casarem?
— Ai que horror, Jordana — ela se benzeu — estamosjuntos
tem pouco tempo e você insinuando casamento.Eu quero termeu
emprego dos sonhos, morar sozinha e depois, se eu e Fred
estivermosjuntos e quisermos, pensaremos nisso. Mas eu duvido,
ele acabou de se separar
.
— Só perguntei — eu ergui as mãos, como se me defendesse.
— Ah, sabe quem vai também? — ela perguntoupresunçosa
— Bernardo...Sua avó vai ficar arrasadaquando souberdele com a
July.
— Vai mesmo — concordei e nós rimos.
— Agora ela deveria te agradecer. Só ficou com ele porque
você não quis.
— Eles já tinham se entr eolhado do começo. Rolou um
interesse imediato.
— Mas ele ter ia ficadocom você — ela insistiue eu revireios
olhos.
— Bom que quem sabe assim ela para de implicar comigo —
eu falei e Mari riu.

A lancha era simplesmenteincrível.Todos estavam animados,


empregados preparavambebidas e um DJ tocava lá no meio. Mari
me olhou e fez uma caretapresunçosa,isso para eles devia ser tão
normal.

No meio da tarde a festaprecisouparar. Chiara xingava Luísa


de todos os nomes possíveis,pelos vídeoschorososque ela gravou
contandoaos seguidoressobre o términocom Edu. Fiquei aturdida,
nervosa, Fred replicava que não era relacionamento, mas
encenação, a cada vez que ela mencionava Edu. Ela o pintou de o
possessivo, ciumento, dono de tudo, que não deu certoporque ela
se sentiu sufocada por ele. Que ele levava uma vida de solteiro
mesmo estando ao seu lado. E chorava, lamentava, disse que o
amava muito, mas iria superar , para os seguimores dela não se
preocuparem.

Eu fiquei confusa, porque o feminismo que habitava em mim


dava razão para ela. Ela sabe o que viveu, mas todos aqui diziam
que era encenação. E Chiara disse ser tudo bem feitopara Edu,
afinal ele alimentou essadoidaporque quis.

Encarei e assistitudo quieta. Ele era sim possessivo, ciumento


e se sentia dono de tudo. Até que ponto isso não seria destrutivo?
C 12
Eduardo Toledo

Eu estava em meu escritório,no meu apartamento.Fred


repetiaos vídeosde Luísa,se divertindocom a cena dela. Era muito
óbvio que ela não deixaria passarbatido. Que não aceitaria o fim e
seguiria em frente.

Nos comentários dos vídeos em um perfilde fofoca,pessoas


prestavam solidariedade para ela e me massacravam.

Havia coisas como “ele sempre foium grosso com ela” e


“parecia não suportá-la”e “ele não a merece”.

Eu atémereciaalguns dos comentários,era mesmo um grosso


com ela, não a suportava,não só parecia como encenava ao lado
dela para sanar sua vontade.

Pessoas também a questionavam, diziam que vivia a minha


custa,mas logo rebatiam,ela tinha o própriodinheiro, ganhava bem
com seu trabalhode influenciadora. Quando chegou a parteque ela
começou a chorar dizendo que me amava, Fred começou a .rir
— Ela fez você não poder aparecerpor aí com outranem tão
cedo — Fred falou e o encarei, era esse o ponto, ela fez de caso
pensado. Qualquer outra que fosse vista ao meu lado, seria
massacrada.
— Eu não me importo— resmunguei — daqui um tempo as
pessoas vão esquecerisso. Deus vai abençoar e vai apareceroutro
cara pra fazer o que ela quer
.
— Se ela quiser, vai mesmo — ele falou, concordando.

Voltei meu focoao notebook em minha frente,mas Fred voltou


a falar
.
— Sabe quem ficou de olho na santinha? — a perguntaveio
trazendo uma pressão no meu peito, o olhei, esperando — Ravi...
— E daí? — minha voz pareceu embargar e Fred deu um riso.
— E daí que você vai deixar ele ficar com ela?
— Eu não mando nela, Fred — resmunguei, tentandofocarno
meu trabalho, mas não consegui e voltei a indagar: — ela quis?
— Não sei — me amigo pareceu desdenhoso — Marina quem
está incentivando. Vamos sair amanhã, almoçar e beber alguma
coisa...
— Hum — falei, fingindo desinteresse.

Não iria ficarremoendo esse negócio com Jordana. Eu iria


aproveitarpor algum tempo, mas jamais ofereciaalgo mais, depois
iria descartá-la e deixá-la sofrendo? A troco de que?

Fred foi encontrarMarina à noite e eu fiquei de olho nas redes


sociais deles quatro,para saberse Fred não estavame escondendo
algo. Por desencargo de consciência, mesmo.

Bebi sozinho em meu apartamento,ouvi uma boa música, me


distraí.Lembrei-me do quanto eu gostava da minha própria
companhia. Lembrei-me de Bianca, também. De tudo que
poderíamos estar vivendo juntos, mas fomos brutalmente
interrompidos.

No domingo, eu tenteificarem casa, mas não suportariaver


um amigo meu levando a garota que foi minha. Insano,
completamentepirado, eu sei. Quando Fred me informou onde
estavam,eu fuiatélá. Fiquei nervoso,irritadopor ela sertãofácilde
seguirem frente.Mas o que eu queria, depois de todasas cenas de
Luísa?

A mesa deles estavacheia. Até mesmo Chiara estavalá, com


o noivo. Eles me olharam surpresos,afinal eu não havia sido
convidado. Fred pediu mais uma cadeira ao garçom e a colocou ao
seu lado. Mari deu um beliscão nele, bem imaginando que ele
estavamancomunado comigo. Quando me sentei,fiquei ao lado de
Jordana. E Ravi do outrolado dela. Chiara me lançou um olhar
incrédulo, mas começou a rir
.
— Contei alguma piada? — pergunteisério e ela cessou a
risada.
Daqui, eu conseguia ouvir a conversa do casal ao meu lado. Eu
estava igual um idiota aqui no meio, ouvindo tudo e engolindo
calado, sabendo dos planos dele de irem pra ilha dos pais dele, que
poderiam fazeralgo sozinhos depois daqui. Eu pareci terengolido
uma abelha, essa frustração entalada na garganta.
— Que desespero, Ravi — eu disparei. Senti o olhar de todos
na mesa me consumindo, mas não me importei— parece até que
nunca viu uma mulher.
— O que? — meu amigo perguntou confuso.
— Estáaí querendo sair sozinho a todo custocom a menina...
— argumentei.Fazia sentido?Não, mas que se foda. Ele sacudiu a
cabeça e voltou a falarintimamente com Jordana. Tocava o cabelo
dela, acariciavaa mão sobrea mesa. Fred não conseguia seguraro
riso. A cada vez que eu acompanhava os movimentos dele nela,
meu primo ria e Marina o beliscava.

Mais um casal chegou, o que eu achei uma merda. O tal


Bernardo sem sal chegou com July. Comecei a querer voltarno
tempo, ele era sonso, jamais iria avançar com Jordana como Ravi
estavafazendo. Ele jamais teriauma boa lábia para convencê-la de
algo. Eu conhecia Ravi, ele teria. Comecei a ficarirritado,esse
turbilhão de sentimentosconfusos me atormentando.Comecei a
pensar que quando saíssem daqui iriam ficarsozinhos, iriam se
beijar, Deus eles iriam transar ... Arfei sufocado com todas as
constatações.

Os dois foramembora primeiro,então assim que entraramna


BMW de Ravi, eu levantei e corripara o meu carro.Comecei a
seguir os dois, precisava saber para onde iriam, enterrarde vez
essa agonia.

Num impulso de merda, eu liguei para ela. Que não atendeu.


Mas insisti.
— Por favor
, vamos conversar— eu falei quando ela atendeu,
acelerando o carropara não perderos dois de vista. Ela não falou
nada — só queria explicar o que houve, depois disso, encerramos
tudo isso.
Ela não falou nada, mas pude ouvir Ravi perguntandoquem
era.
— Minha mãe — ela falou para ele e eu suspirei.
— Vai pra sua casa, vamos conversar , Jordana... Uma última
vez — eu implorei. Nem eu sabia os motivos disso tudo, mas já
havia perdido o controlede tudo nessa merda. Ouvi seu suspiro e
ela desligou.

Praguejei, batendo com as mãos no volante do carro e


continuei os seguindo. Meu coração se acalmou um pouco quando
reconhecio percursopara o prédio dela e eu pude respirarmelhor,
mais aliviado.

Ela desceu do carroe eu voltei a ligar. Ela parou, pertodo


portãodo prédio e olhou para mim, a expressãoera uma completa
decepção. Desci do carro,nem eu sabia o que tinha para conversar
com ela, mas só por ela não estarcom outro, eu já me sentia
melhor.
— Você faz valer tudo o que sua namorada disse ao seu
respeito— ela falou, se afastando quando tenteichegar mais perto.
Pisquei devagar, negando com a cabeça.
— Me desculpa — pedi cauteloso — eu e Luísa nunca
namoramos e... — ela me interrompeucom um riso sarcásticoe
olhou rapidamente para o lado — podemos conversarem outro
lugar?
— Eu não sei o que tantovocê tem pra conversarcomigo,
Eduardo — era a primeiravez que me chamava pelo nome inteiro,e
soou áspero.
— Esclareceras coisas, só isso. Eu sei que agi feitoum louco,
mas eu não sou esse cara mau — tenteidizer, mas minhas ações
provavam o contrário — vamos para o meu apartamento e...
— Não vou até o seu apartamentopra ouvir suas explicações
— ela falou como se fossealgo tão óbvio, mas fez uma pausa e me
encarou, se dando por vencida.

Ela me deixou entrarno prédio com ela. O olhar do porteirofoi


curioso. Assim como de dois moradoresque saíramdo elevador,
antesde nós dois entrarmos.Ela cruzouos braçose respiroufundo.
Queria poder agarrá-labem aqui, mas não conseguia preversua
reação. Comecei a ensaiar mentalmenteo que diria para continuar
ou convencê-la.

No quartoandar, o elevador parou e saímos.Ela abriu a porta


do apartamento e olhou feio para mim, que a segui.
— Não tem ninguém aqui? — pergunteiacuado e ela negou
com a cabeça.
— Minha mãe volta à noite — explicou desinteressadae foi se
sentar ao sofá. Analisei o apartamento,tamanho bom, bem
decorado. Era uma boa localização também, de tudo que Luísa
falou, nem pobretonase encaixava em Jordana. Mas isso não me
importava, de qualquer maneira.
— Então,não queria se explicar, se desculpar?Sei lá — ela fez
uma caretae fez um gestoimpaciente.Fiquei em pé, mudo sem ter
algo coerenteou convincentea dizer. Fui atéela e me senteiao seu
lado.
— Eu e Luísa nunca namoramos — comecei de novo,
parecendo um tapado sem noção. Mas ela me lançou um olhar
desdenhoso, e antes que eu pudesse continuar , ela se antecipou:
— Eu e meu ex-namorado também não. Foram anos em um
relacionamentodifícil,ele foi o único antes de você, não que isso
seja relevante.Mas enquanto eu jurava estarem um namoro sério,
fazendo planos de futuroao lado dele, ele se dizia solteiropor aí.
Me traiude todas as maneiras que você puder imaginar, todas —
enfatizou — quando meu pai adoeceu, eu descobri que ele
namorava outratambém. E sabe o que ele fez? Disse para ela que
eu e ele nunca tivemos nada. Porque naquele momento, eu não
estava mais tão disponível para ele, ele estava intere
ssado em
outra,eu precisavaser descartada.Então você acha que depois de
tudo o que eu vi, vou acreditarque você e ela nunca namoraram?
Que eu vou acreditarno seu melhor amigo que vocês não tinham
nada?
— Por favor
, não fica com ele — eu disparei, o que pareceu
piorar minha situação. Jordana ficou me encarando séria, eu
parecendo um moleque sem neurônios, sem termuito que oferecer
para ela, mas a querendo tanto.
— Eu não tenhoa menor intenção de ficarcom qualquer amigo
seu — ela falou, mas isso não me aliviou em nada.
— Eu e Luísa tínhamosuma espécie de acordo — falei,
parando e arranheia garganta,não querendo falarsobre isso, mas
era a única chance. Se ela tinha uma históriadramática
, eu tinha
também.
— Eu namorava outra, há seis anos mais ou menos, ela
engravidou... — desviei o olhar, ainda tão machucado por essa
história— mas deu tudo errado,a perdi no parto,junto com meu
filho... Depois de um tempo, alguns meses, sei lá, eu estava
bebendo e Luísa também, acabamos ficando. Mas nunca tivemos
nada, todos a minha volta sabem que eu sempre deixei claro que
não iria ternada com ela, nunca selamos um compromisso. Errei,
assumo que errei,não devia terdeixado Luísapintandoe bordando,
deveria terimpedido, mas deixei que ela usasse esse namoro falso
pra se exibir, ela gostavadisso, não fazia diferençapara mim... Até
agora — completei, perdendo a entonação na voz. Eu era um
canalha, assumo isso também. Não deveria terdito até agora e de
algum modo, dar essa esperança para ela, mas foi mais forte do que
eu.
Jordana ficou me encarando, como se não soubesse o que
dizer. Me senticovardepor dizer, externarmeu pontofraco.Ficamos
em silêncio e eu cheguei mais perto, nos encaramos tão
profundamenteque meu único desejo agora era poder beijá-la.
Coloquei uma mecha do seu cabelo para tráse fui chegando perto,
sem quebrarnosso contatopor olhar. Ela resfolegou,eu já estava
perto demais. Jordana trouxe a mão para a minha, que eu
despretensiosamente escorre gava pelo seu cabelo, mas antes que
ela pudesse afastá-la, juntei nossos lábios.

Um arquejo escapou da minha garganta, era um completo


alíviobeijá-la. Levei a mão para a nuca dela, a segurandocom mais
firmeza,para dar mais profun didade e eloquência ao nosso beijo. E
que beijo... Mordisquei seus lábios, voltei a beijá-la e me aproximei
mais dela. Lambi seus lábios, reencontramoso beijo e ela
resfolegou quando desci os lábios pelo seu pescoço, indo em
direção ao colo. Queria avançar, nos levar para o quartodela e tirar
toda essa roupa, mas uma voz sensata na minha cabeça alertou
que ela não permitiria.Iria ficarconvictade que eu só queria sexo.
Então eu parei e dei um selinho suave nos lábios dela.

Antes que pudéssemos dizer algo, a porta foi destrancada e ela


se levantou. Uma mulher entrou,mas parou no meio do caminho,
nos olhando confusa.
— É melhor você ir embora — Jordana falou para mim, mas
sua mãe nos encarava, esperando uma explicação. Jordana
suspirou impaciente e olhou brava para mim — mãe, esse é
Eduardo, amigo da Marina. Ele já está indo embora.

Mesmo sentindoolhares fulminantesde Jordana para mim, eu


fui cumprimentarsua mãe, que se chamava Laís.Ela me encarava
séria, não parecia satisfeitaem me ver. A mulher seguiu pelo
corredor e Jordana foi me levar até a porta.
— Podemos conversarmelhor outrahora? — perguntei,depois
que ela abriu a porta. Ela me encarava desgostosa.
— Eu não sei — disse, negando com a cabeça — não sei, eu
não acho que seja uma boa ideia.
— Mas você quer, não quer? — perguntei,querendo persuadi-
la, mas ela suspirou de novo. Cheguei mais pertoe segurei seu
rostoentreminhas mãos. Não a beijei, dei dois selinhos demorados
em seus lábios — eu te ligo e decidimos.
C 13
Jordana Testa

Quando Edu chegou junto com Fred no restaurante,na


segunda-feira, mamãe me lançou um olhar desgostoso com a
situação. Vovó já estava desolada por Bernardoestarsaindo com
July. Eu ignorava o drama das duas. Não iria namoraro Bernardo,e
Edu não era um inimigo, para minha mãe agir como se o
detestasse, afinal sequer o conhecia.

Nos falamosna noitepassada, mas pouco, eu estavacansada,


confusae falarcom ele me fazia ignoraros pontosimportantesdos
últimos acontecimentos.

Falei com a Mari e ela iria tentararrancaralgo de Fred, mas ele


tinhaesse passado, essa perda e eu não sabia como ele lidava com
isso. Namorarpor seis anos com aquela Luísa e não assumir isso
para ninguém não era um bom sinal. Eu não queria ser a próxima na
vida dele.

Dessa vez, minha mãe quem foi atendê-los, não me queria


pertodaquele homem. Achei bobagem, mas não retruquei.Entendia
a preocupação dela, depois da cena que a Luísa fez aqui no
restaurante. Foi vergonhoso.

E vovó se lamentava por eu terperdido Bernardo.Eu a olhava,


mas não dizia nada, ela teriaque superar
, alimentou esse contode
fadas, sozinha.

O dia foi cheio no restaurante.


Quando eu e mamãe chegamos
em casa, ela foiesquentaro jantarque trouxemose eu fui tomarum
banho. Saí e me troquei, estava em frente ao espelho
desembaraçandoos cabelos, quando vi meu celulartocando.Fiquei
olhando o nome piscando na tela, ponderando se deveria atender
.

Eram duas vias nessa história,ele não iria me dar o conto de


fadas que eu queria, havia deixado isso claro. E eu não sabia se
saberia lidar quando o fim chegasse para nós dois. Não iria me
convencer que era só sexo, nada nunca é só isso, a não ser que
seja casual.

Eu e Eduardo não nos aplicávamos no casual, no de vez em


quando ou no sem importância.Ele poderia não admitir , tersuas
convicções malucas, ser esse louco impulsivo e possessivo, mas
não tivemos um lance casual, de umas noites e nada mais. Ou
tivemos e eu não queria aceitar?

Atendi a ligação.
— Não podemos nos ver hoje? — ele perguntousorrateiro e eu
suspirei. Eu queria, mas não devia.
— Não sei.
— Quer que eu vá te buscar?Podemos jantarem algum lugar,
dar uma volta...
— Edu, eu não sei — faleibaixo — não acho que seja uma boa
ideia.
— To sentindofaltade você... De beijar você todinha... De... —
ele fez uma pausa e eu fechei os olhos, conseguindo imaginar, era
uma sacanagem sem tamanho o que ele fazia comigo.
— Eu vou jantarcom a minha mãe, depois eu te ligo e nos
encontramos — eu falei ignorando completamente a razão.

Desliguei antesque ele começasse a retrucar


e fui para a sala.
Mamãe estava conversadeira,falando sobre me conhecer e saber
que eu não me envolveria em confusão. Eu, sentada no banco e
com os braços escorados na bancada, queria que ela terminasse
logo com a comida, fosse para o quartoe eu pudesse sair sem
ninguém ver.

Essa históriade ir para a casa da Mari não iria mais colar. Eu


também sabia que não precisava ser um segredo, mas não queria
terque explicar. Para ela, eu sonhava com o príncipeno cavalo
branco, não iria mais me envolver com homens que manipulam e
enganam, como meu ex-namorado fez. E Eduardo era o opostode
tudo o que eu queria, ele deixava isso claro.

Mal consegui comer, estava nervosa e ansiosa. Era como se


eu tivesse planejado um crime inafiançável e estivesseesperando
minha mãe ir dormir para executá-lo.

Meu estômago se revirava inteiro,eu não conseguia pensar


direito,razão e emoção brigavam dentrode mim. Um lado meu
pensava que eu deveria me afastar
desse meio. Marina estavacom
Fred, mas eu não precisava tercontatocom ele ou com Edu. Ou
qualquer outroamigo deles. Eu não queria isso, eu sabia como
esses caras se comportavam.
Tudo para eles era sobre luxo, sobre conseguir. Eles tinham
tudo o que queriam. Quem me garantiriaque Edu não estava
apenas me persuadindo para se assegurarde que eu não ficasse
com seu amigo? Ego feridode homem era uma coisa difícilde ser
explicada. E se tratandodele, possessivo assumido, eu não poderia
duvidar de nada.

O outrolado, o pobre lado imaturoe excitado,gritavaque eu já


sabia de todosos contras,então poderia me jogar sem medo. Não
estava me iludindo com ele, sabia como ele era e o que fazia. E
sexo bom não faz mal para ninguém. Me atormenteicom as
lembranças desses momentos excitantescom ele, santa injustiça,
eu jamais conseguiria ser coerente.

Deveria haver algum estudocientificoque explicasse o porquê


de as pessoas poderem agir com razão e escolherema emoção, o
errado. Não era possível.

De qualquer maneira, não preciseiligar ou tomariniciativa.Ele


ligou quase oito da noite, minha mãe avisou que iria tomar banho e
deitar, estavamortade cansada. Dei um sorrisoamarelo para ela e
me afundei no sofá. Edu avisou que estava chegando e eu briguei
internamente comigo mesma, mas o erro já estava feito.

Me troquei,coloquei um vestidinho longo e passei perfume.


Calcei uma sandália rasteirae saídevagarinho para não sernotada.
O esperei na área externado prédio e quando ele estacionou em
frente, eu saí.

Nós dois nos olhamos, tínhamoscerteza absoluta de que


estávamosfazendo algo errado, mas isso se perdeu dentrode mim,
quando ele inclinou o rostoe selou nossos lábios suavemente.Não
deu um beijo, ele selou nossos lábios para me deixar querendo
mais.

Falamos sobreo dia, ele contouum pouco sobreo processode


obras na sua empresa, sobre os projetose coisas do tipo, assuntos
que eu claramentetinha interesse.Havia cursadoalguns semestres
de arquitetura,preciseitranca
r quando meu pai adoeceu e as coisas
apertaramum pouco e depois não pensei sobre voltar . Eu o
observava, tão gostoso e tão bonito. Comecei a pensar o quanto
Luísa poderia estarsofrendo , mas não me permitime colocar no
lugar dela. Deveria ser mais empática e solidária, mas um
pedacinho de mim remoíaela teraparecido para dizer que eu era
amante de Edu.

Fechei os olhos por um momento, estava tão confusa com


meus próprios pensamentos. Eu estava errada, por que queria
condenar outra pessoa? Prometi que depois desta noite, eu iria
analisar com mais pudor tudo isso, decidir melhor o que fazer.
Estava tão confusa, tão confusa...

Chegamos ao prédio dele e sumimos. Assim que pisei o pé na


sala, ele me puxou de volta, desse jeito brusco e certeiro,me
segurando firme.
— Queria ir com calma, mas estouqueimando de saudade sua
— ele falou asperamente,antes de começar a me beijar. Me senti
desfalecer
, mas me deixei levar. Já estava na merda, de qualquer
jeito.

Edu nos levou para o quartoe acendeu as luzes. Eu puxei o


laço do vestido no pescoço e ele caiu aos meus pés. Ele tiroua
camisa e a calça, e veio até mim, me puxando pela cintura.Nos
encaramos por um momento, ele inclinou para beijar minha boca,
dessa vez, carinhosamente.Passei meus braços em tor no do seu
pescoço, lancinando de vontade. Edu enroscouos dedos nas alças
da minha calcinha, foime guiando para trásatéque eu trombei com
a cama e caí sentada nela. Ele ficou em minha frentee puxou a
cueca para baixo, me fazendo salivar e sentirpontadas no maxilar.
Sem que ele esperasse, o coloquei na boca, chupando com
vontade, era tão gostoso.Lambi toda a extensão do membro cada
vez mais eretoe voltei a chupar. Ele gemia, eu adorava que ele
sempre gemia, expressava todo seu prazer . Quando eu o segurei
com a mão, para ficar lambendo a cabeça do seu membro,
circulandoa língua,chupando suavementee lambendo, ele levou as
mãos para a cabeça. Ergui o olhar e ele tinha os lábios
entreabertos, a respiraçãoirregular e as mãos puxando os próprios
cabelos. Fiquei muito tempo ali, me deliciando toda dele, encerrei
depositando um beijinho suave na extremidadedo seu sexo e ele
estremeceu inteiro.
Edu se abaixou e escorregouas mãos pelo meu cabelo para
beijar minha boca intensivamente. Foi nos levando para o meio da
cama e desceu os beijos molhados pelo meu corpo. Gemi fraco
quando ele chupou meu seio, estalando os lábios ali, chupando e
lambendo. Eu me sentia escorrerde tesão, adorando todas essas
sensações malucas. Ele fez no outro,depois desceu a língua pelo
meu corpo, beijando sob o umbigo e descendo. Eu choraminguei
porque ele acaricioumeu sexo sobrea calcinha, que estava úmida e
deslizando. Depois, ele afastoua peça para o lado e escorregouo
dedo para dentro, indo e vindo, me maltratando.
— Eu aposto que esse tesão todo é saudade — ele falou, vindo
para cima de mim e beijou minha boca rapidamente.Mordi meu
lábio inferiorpara contero gemido quando ele acaricioua ponta do
meu clitóris. Parecia se divertirem me ver desesperada por
libertação.
— Edu, por favor — eu sussurrei,mas ele me olhou e desceu
para a minha boca.
— Eu vou chupar você ainda — ele falou e eu estremeci— se
quiser, pode gozar.
— Não faz isso... — eu pedi desnorteada,ele nunca havia me
provocado no sexo. Fui interrompida pela sua boca na minha e ele
tiroua minha calcinha. Eu abri mais as pernas,em um momento,eu
tentei apressar as coisas, mas ele me segurou firme e disse não.

Estavaficandoinflamada e agoniada, mas respireidevagar e o


deixei fazer o que quisesse. Eu acabariatendoo que queria, mesmo
que no tempo dele. Edu falava sacanagens, me acariciava. Seu
membro estavaduro, as veias exaltadase ele soltavaum liquido de
antecipação. Estava nos maltratando só para se sentir no controle.

Foi tão gostosoquando ele finalmentelambeu meu sexo que


eu gemi alto, aliviada. Eu estava muito, muito lubrificada,ele girava
o rosto,se lambuzando e me matandode prazer . Eu estavaapoiada
nos antebraços, os joelhos dobrados e as pernas bem abertas,
assistindoessa delícia toda, mas caí esmorecida na cama quando
ele chupou meu clitóris,circulou a língua nele devagarinho. Tudo
pareceu vazio e nulo porque ele parou e se levantou para pegar a
camisinha. O acompanhei com o olhar, tão perfeitamente gostoso
andando pelo quarto enquanto desenrolava o preservativono
membro enorme. Ele veio por cima e como se houvesse um imã, o
membro deslizou para dentrode mim. Me movi, querendo acomodá-
lo mais fundo e ia limpar os resquíciosda minha lubrificação ao
redorda sua boca, em sua barba e no queixo. Mas ele riu e segurou
meus braços, os erguendo e me deu um beijo duro ao mesmo
tempo em que investia fortelá em baixo. Eu quis gritarcom essa
onda insana de prazer
, mordi seu lábio e voltei a beijá-lo, sentindo
todo meu gosto em sua boca.
Nos lambuzamos no sexo, gememos, gritamose ele me falava
sacanagens deliciosas de ouvir. Tive um orgasmoviolento,daqueles
que eu não achei que aguentaria,mas tãogostosoque me convenci
que pagaria a dor de cabeça que esse homem era. Ele gemeu altoe
rouco, apertouo entrelaçodas nossas mãos e afundou o rostoem
meu cabelo, estocando mais fundo e fazendo movimentos curtos,
estremecendo inteiro sobre meu corpo enquanto gozava.
Ele deixou o corpo parcialmentesobre o meu e passeou as
pontas dos dedos da minha cinturaaté o meu seio. Virei o rostoe
ele deu um beijo suave em meus lábios, depois afundou o rostoem
meu pescoço.

Eu me sentia trêmula.Incrivelmentesatisfeitae saciada. Ele


parecia estar do mesmo jeito.

Acordei sozinha na cama enorme de Edu, na manhã seguinte.


Me levantei para procurá-loe pisei sem querernos preservativos
jogados no chão. Eu suspirei, pegando os quatroe levei para o
banheiro, os jogando no lixo. Ele estava lá, de cabeça baixa sob o
chuveiro, lavando perfeitamente as partesíntimas.O analisei sob a
água, esse corpo perfeito,ele era todo perfeitofisicamente.Tão
bonito, marrento, gostoso.
Abri a portado Box e entreilá com ele, o abracei pelo torço.
Ele me abraçou de volta, dormimos bem pouco, estávamos
cansados de tanto sexo, mesmo que tenha sido tão gostoso.

Depois de um banho, me vesti e desembaracei meu cabelo,


que estava cheio de nó. Antes de sairmosdo quarto,Edu me puxou
para um beijo gostoso, segundo ele, beijo de bom dia.

Encontramos Fred saindo do quarto e ele nos olhou e


desconfiado.
— Então foram vocês — ele falou incrédulo, me deixando
confusa.
— O que, Fred? — Edu perguntou desinteressado.
— Que atrapalharammeu sono da beleza, gritandoe gemendo
alto.
— Vai se foder
, Fred — Edu falou incisivo e me puxou pela
mão, para nos poupar de mais gracinhas.
C 14
Eduardo Toledo

O término com Luísa estava sendo difícil.Ela e sua tropa de


fãsalienados ficavamalimentando os boatosde traiçãoe firmesem
descobrirquem foi a outra.A minha vontade maior era expor toda a
verdade, mas quem acreditaria em mim?

Não conseguia esquentara cabeça com isso, a semana estava


cheia na empresa, tivemos problemas com obra-prima na
construtora.Além do que, eu e Jordana estávamos expert no
quesito sexo, eu não conseguia pensar em outracoisa senão nela
toda nua e gemendo toda gostosa no meu ouvido.

Eu estava virando um maníacoviciado, mas sexo bom faz isso


com a gente. E tínhamosuma conexão incrívelno ato, a satisfação
era imensurável. Fred me olhava cheio de presunção, esperando
por mais. Não comentei nada, não queria que chegasse alguma
abobrinha em Jordana e ela se afastasse outra vez.

Eu não prometinamorar , casar ou dar filhos para ela. Disse


que queria viver o agora, que poderíamosaproveitarisso da melhor
maneira e que éramos livres. Ela estava consciente disso.

Nunca mais falamossobreo meu drama particulare nem sobre


o dela, o que achei melhor assim. A mãe dela parecia pouco
satisfeitacom nós dois. Pouco satisfeita,na verdade, era eu
querendo ser bonzinho. A mãe dela estava completamentecontra.
Por isso, eu e Fred paramos de ir almoçar no restaurante
da avó
dela.
— Nós vamos com vocês — Fred avisou ao entrarna minha
sala e o encarei confuso— pra Angra, pra aquela mansão perfeita
que eu projetei.
— Vocês não vão — eu forceium sorrisopara ele. Havia
planejado um fim de semana perfeitoe completamenteeróticopara
mim e Jordana no feriado de carnaval, não queria Fred e Marina lá.
— Você tá apaixonado por essa garota,não tá? — meu amigo
perguntousugestivo,para me provocar. O encareisério,não iria cair
nessa pilha errada.
— Não estou apaixonado, Fred. Eu não sou você, que se
encanta por todo mundo — resmunguei e ele fez uma careta.
— Você sabe que com a Marina é diferente...
— Sei — falei duvidoso.

Na sexta-feiraà tarde,partimos.Eu deixei Fred vetado dos


nossos planos, mas ele era assim, intrometido.Chegaram à mansão
na ilha logo depois de nós dois. Marina já devia conhecero lugar, foi
logo tomando seu espaço.

Eu não havia gostado, mas Jordana bem que adorou a amiga


tervindo. As duas foramse trocare colocar biquínis, Mari avisou
sobre a piscina aquecida e a jacuzi na varanda da suíteprincipal.
Como chegamos primeiro, pegamos esta.
— Você achou o que? — Fred perguntoudebochado — que
iriam ficar pelados e transar o final de semana todo?
— É — falei enfáticoe ele riu. Ele foi até o bar e serviu duas
doses de uísque para nós dois. Quando as duas voltaram já
trocadas,Mari carregouJordana para a piscina e pediu para Fred
levar as bebidas.

Eu fui me trocar para encontrá-las.Não iria reclamarda noite,


mesmo sendo fora do que eu havia planejado. Bebemos, jantamos e
bebemos mais. Dei água para que Jordana não cedesse tão rápido
aos efeitos da bebida.

O outro casal ficou até quase meia noite e entrou. Eu e


Jordana ficamos na piscina, agarrados.Conversamos pouco, mas
nos beijamos muito.
— Ei... — ela reclamouquando puxei o laço traseirodo biquíni.
A olhei rapidamentee me inclinei para chuparo seio dela — alguém
vai nos ver, Edu... — ela falou, mas era tão gostoso que eu não
parei. Fiz o mesmo no outroe subi os beijos pelo colo e pescoço,
logo chegando à boca.
— Você é muito viciado em sexo — ela sussurrouentreo beijo
e eu assenti.
— Viciado em você — sussurrei de volta.Não estavamentindo.
— Então vamos pro quarto— ela falou, toda inclinada a ceder
para mim bem aqui, mas saímosda piscina e ela se cobriu com a
toalha. Tiramos a roupa molhada no quartoe eu a levei para a
cama.
No fim de semana seguinte, Fred marcou uma noite com
nossos amigos em meu apartamento.Mais tarde,ele buscaria as
garotasem uma Boate.Coisa que fuicontrae deixei bem claromeu
desgostopara Jordana, mas ela apenas me lançou um olhar esnobe
e disse que não tínhamos nada, que eu mesmo deixei isso
escancarado na cara dela.

Me apeguei na personalidade doce dela, de que não saía por


aí ficando com todo mundo e deixei estar . Não precisava viver
grudado nela o tempo inteiro, por exemplo. Era aniversário da
Denise, então elas queriam comemorar .
— Esperandoalgo nesse celular? — Ravi perguntou,já que eu
não tirava os olhos da tela, esperando a respostapara a maldita
mensagem, mas nada vinha. O olhei confuso.
— Estouvendo as horas — disparei, soando incoerentee meu
amigo riu.
— Fred poderia terme dito que você estava com a garota,
assim eu não teria tido a chance de levar um fora — ele comentou.
— Ele deveria ter dito — falei, não querendo dar mais
explicações.
— A namoradinha dele é problemática,né? — Ravi perguntou
e o encarei. Eu diria que Fred era problemático,não Marina. Ela era
esquentada, apenas isso.
— Fred gostade problema, você bem sabe — eu zombei e nós
demos risada.

Bebemos e jogamos com nossos amigos. Eu contando os


minutos para Jordana aparecere me deixar tranquilo.Não deveria
ficarnessa insegurança toda, no entanto,qualquer cara poderia
aparecere bancar o príncipeencantadoque ela estavaesperando.
E todo mundo já sabia que eu não era esse cara.

Fred foi buscá-las quase uma da manhã, mas voltou só com


Marina, que acenou para o pessoal e subiu. Olhei confuso para
Frederico,esperando uma explicação, mas ele apenas negou com a
cabeça.

“Por que não veio?” — enviei para Jordana, que ficouonline e


não me respondeu. Queria ligar e exigir uma respostadecente,mas
ela já reclamava que eu era muito possessivo e tinha motivo
nenhum para ser , já que não tínhamos nada.

Eu sabia que ela fazia isso para me testar


, me fazerarder e
lidar com o peso das minhas escolhas. Bebi mais uma dose de
uísquee voltei minha atenção ao papo dos caras.Deixei Jordana e
o drama dela quietos, conversaríamos outro dia.

Mais tarde, quase quatrohoras da manhã, meus amigos já


haviam ido embora, eu estava embriagado no sofá e meu celular
vibrou em uma notificaçãode mensagem. Era uma fotodela, junto
com a amiga July e o Bernardo.

“July me detesta,mas só está namorando o Bernardo por


minha causa” — ela enviou, me fazendo rir da baboseira.

“Onde você está?”


“Indo pra casa. Não se preocupe” — bufei impaciente com o
seu sarcasmo e liguei para ela.

Jordana estavainclinada aos efeitosdo álcool, a entonaçãoda


voz entregava. Pedi para que ela me esperasselá, porque eu iria
buscá-la, mas ela disse que já estava no caminho para casa.
— Não, Edu... — ela falou brava — eu vou pra casa. Nos
vemos outro dia. Beijo! — e desligou.

No dia seguinte, acordei depois das dez da manhã. Fred e


Marina discutiam no corredor
, então não saí do quarto até eles
saírem.Jordana reclamava dos efeitosda ressaca e que sabia
muito bem todos os motivos de não beber. Estava indo buscá-la
para almoçar.

Eu mexia no celular quando ela entrouno carroe a olhei, tão


bonita,os cabelos presosem um rabo alto,pouca maquiagem, short
jeans e camiseta. Estava cheirosa, então me inclinei para selar
nossos lábios e ela segurou meu rosto,começando um beijo mais
longo e gostoso.
— Como foi a noite? — perguntei a olhando toda e ela deu um
sorriso maroto.
— Boa.
— Ficou com alguém? — indaguei e ela riu, negando com a
cabeça.
— Não, mas poderia.
— Poderia? — perguntei de novo e ela me encarou
presunçosamente.
— Poderia, afinal eu sou solteira — ela falou for jando
desinteresseno assunto. Eu suspirei impaciente, ela adorava me
provocar.
— Então eu poderia também — tenteiprovocarde volta, mas
ela apenas deu de ombros.
— Eu não gostaria,no entanto,não posso te impedir. Afinal
não temos nenhum compromisso — ela deu um sorrisoesguio e
encerramos o assunto.

Depois de almoçar, por ela não querer ir para meu


apartamento,fomos para o dela. Sua mãe não estava, então não
haveria problema. Fomos para o quartodela, que era pequeno, mas
tinha sua cara. Tudo organizado, cheiroso, decoração
completamenteromântica.Era notável o gosto dela e da mãe por
uma boa decoração.
— Quer fazero que? — ela perguntou,tirandoas sandálias e
foi ligar a TV, que ficava sobre uma cômoda encostadana parede,
em frenteà cama de casal pequena. Lancei um sorrisomalicioso e
ela revirouos olhos, vindo até mim e passou os braçosem volta do
meu pescoço, me puxando e demos um beijo suave.
— Só pensa em sexo — ela falou fingindo estar brava.
— É porque você é muito gostosa — precisei dizer e ela revirou
os olhos, negando com a cabeça.
— Lançou um filme que eu quero ver
, você não quer?
— Tudo bem. Primeiroo filme, depois o sexo — brinquei e ela
riu, assentindo.
Tirei os sapatos e ela ligou o ar-condicionado, pegou um
edredom macio no guarda-roupae jogou para mim. Ela trancoua
porta,para o caso de a mãe chegar. Sabia que odiaria me ver aqui.
Questionei toda essa reprovação,me arrependendo logo depois,
porque Jordana começou enumerar:
— Você está bem longe de ser o cara dos meus sonhos.
Mamãe odeia que você seja mais velho que eu, mesmo que pouco,
odeia que você seja muito rico e que não aceiteque o que temosé
uma espécie de namoro, que tenhaproblemascom a ex, a qualquer
momento posso ser atacada pelos fãs dela como sua suposta
amante. E eu não sou isso. Ela odeia que eu aceite o que você
propôs também.
— Você contou tudo pra ela? — perguntei incrédulo, me
sentindo ofensor e ela riu.
— Só conteique você não queria namorare que eu sabia onde
estava me metendo.
— E você quer namorar? — disparei e ela me encarou.
— Não, mas é estranhoestarcom alguém e tera certe za de
que não vamos à lugar nenhum — ela respondeu tranquilamentee
veio se deitar
.

O filme que ela escolheu era romance, longe de estarentre


meus preferidos.Ela entrelaç
ou nossas mãos e deitou a cabeça no
meu peito, mas prestava atenção no enredo e eu não quis
atrapalhar
. Queria sexo, estavaardendo de saudade dela na minha
cama há dias, mas poderia esperar
. Acarinhei seu cabelo, mas
acabei pegando no sono.
Quando acordei já estava tudo escuro e Jordana mexia no
celular. Fui a abraçando e deitei minha cabeça em seu colo.
— O belo adormecido acordou — ela falou solenemente,
mexendo no meu cabelo e se abaixou para deixar um beijo na
minha têmpora.
— O filme foi bom? — perguntei, ainda com a voz rouca de
sono.
— Sim, eu amo qualquer remake de contos de fadas. Você
deveria dar uma chance.
— Qualquer dia desses veremos um — prometi — ainda
estamos sozinhos?
— Sim... Minha mãe estána casa da minha avó, as duas estão
testandoumas receitasnovas... Deve demorar. Ainda são seis da
tarde.

Me levantei e pergunteionde era o banheiro. Ela apontou para


uma portano cantodo quartoe eu fuiatélá. Era bem pequeno, mas
sempre organizado. Lavei a boca com um pouco de pasta de dente
e voltei, já tir
ando a camisa. Jordana riu da minha pretensão
maliciosa e se levantou, vindo até mim.
— Você é tão safado que deveria tervergonha — ela falou,
puxando o cós da minha bermuda e a desabotoou. Segurei seu
rosto entre minhas mãos e beijei sua boca.
— Você que deveria ter
, de ser tão gostosae tentadora— eu
retruqueie ela revirouos olhos. Peguei a camisinha que guardei no
bolso e terminei de tirartoda minha roupa. Jordana fez o mesmo e
fomos para a cama.
Ela me fez sentircomo adolescente,apressando o sexo para
não ser pego. Começamos um beijo delicioso, sempre era, e
trocamoscarícias.Ela colocou a camisinha no me pau eretoe veio
por cima. A olhei, me deliciando ao vê-la toda desinibida rebolando
para mim, acariciando os própriosseios. Deixei minhas mãos em
sua cintura,estava adorando vê-la comandar dessa vez. Vez ou
outraeu acariciavao clitóris,mas não queria que acabássemos tão
cedo. Ela inclinou o corpo e beijou minha boca, minhas mãos foram
para sua bunda e eu as esfregueiali, a trazendomais para mim.
Começamos a falarsacanagens, nos guiar melhor e ela rebolava
toda gostosa, molhada, excitada. A segurei firme,seus os olhos
reviraram e comecei a investir nela, rápido e intensivo. Não
consegui contero gemido quando ela choramingou, avisando que
não aguentava mais segurar e gozei junto.
Jordana tiroumeu cabelo da testa,escorregouos dedos por
ele e beijou minha boca profundamente.Encerrou com vários
selinhos e saiu de cima. Eu ia tirandoa camisinha e jogando no
chão ao lado da cama, mas ela pegou antes e foi jogar no lixo do
banheiro.

Dei um riso, ela era toda organizada, enquanto eu era


bagunceiro, deixava tudo jogado. Tinha sortepor pagar para manter
tudo no lugar
.

Ela voltou e vestiu a calcinha e a camiseta,mas eu continuei


deitado e pelado na cama dela. Ficamos na cama abraçados e
falando bobagens. Não tivemos outra DR, graças a Deus.
C 15
Jordana Testa

Denise havia conseguido as entradas de uma festa que


aconteceriano meio da semana. Dessa vez, eu não avisei ao
Eduardo. Ele deveria se mantermais firmena sua decisão. Não
temosum relacionamentosério, ok. Mas ele me queria indisponível.
Como se eu pudesse ficarlá, até ele se cansare me descartar
. Não
funcionaria assim.

Estávamos ficando juntos quando queríamos, dormíamos


juntos,saíamos juntos,mas se eu quisesse sairsozinha sem avisar,
eu poderia. Se eu me deparasse com algum cara e quisesse ficar ,
eu também poderia. Fred disse que eu estava jogando duro com
ele, mas eu não estava. Estava sendo coerentecom tudo que
decidimos juntos.

Dessa vez, eu usava um vestido pretobem justo no corpo e


curto.Eu conseguia visualizar a feiçãode Eduardo por eu estarem
uma boatelotadausando uma roupa tãocurta,ciumentoque ele era
com tudo. Mas eu e Mari compramos vestidos novos para esta
noite. Minha avó estavaem casa quando Bernardopassou para me
buscar, e ela ainda não havia superado eu terperdido um rapaz de
bem e que iria me levar a sério.
— Agora está aí, sendo não sei o que desse mauricinho sem
noção — ela falava inconformada, me fazendo. rir
— Vovó, Edu é engenheiro, dono de uma empresa que faz o
maior sucesso.
— Ele vai te namorar?Vai te levar a sério? Não estoufalando
de dinheiro ou sucesso, mas de decisões sérias. Esse Eduardo
Toledo só quer te levar pra cama — vovó falava indignada. Ela nem
sonhava que Edu me levava para a cama quase todosos dias, e eu
jamais contaria.

July ligou impaciente e eu soprei beijos no ar antes de sair.


Falei com os trêsdentrodo carroe Denise disse que Antônio nos
encontraria por lá, junto com alguns amigos dele.
— Eu acho que ele se afastouporque a Jordana sempre
ignorou a paixão dele por ela — July falou sarcásticae eu fiz uma
careta. Nunca haveria a possibilidade de eu e ele ficarmos.

Quando chegamos, eu e Denise fomos pegar as bebidas no


bar e depois encontramoso casal. Ficamos por ali, a primeira dupla
sertaneja começou o show e logo Mari chegou, junto com Fred.
— Queria dizer a Edu que você está aqui, mas Marina não
deixou — Fred falou para mim, que o encarei entediada.
— Edu não é o meu dono, Fred — faleienfáticae Mari abraçou
o namorado, olhando para mim.
— Ele precisaver você com outro,isso sim — Mari falou — ia
ficar completamente louco.
— Ele não merece isso, amor — Fred falou para ela, que fez
uma careta.
— Merece sim. Não foi ele quem sempre deixou claro que não
tinham nada? — ela indagou cheia de convicção e o assunto foi
encerrado.

Para sortede Edu, eu nunca saía na intenção de ficarcom


alguém. E sendo mais sincera ainda, eu nem era a maior fã de
baladas.

Quando Eduardo chegou, junto com Ravi e mais dois caras,


Fred encolheu os ombros declarando sua culpa nisso. Ravi me
cumprimentouprimeiro,com um beijo no rostoe depois foifalarcom
Denise, Fred quem os apresentou. Edu veio logo depois de falar
com todo mundo. Revirei os olhos para ele.
— Não gostou de me ver? — ele perguntou e eu o encarei.
— Você é gostoso de ver, Eduardo — falei sarcástica— mas
estou procurandoo meu príncipeencantado, você aqui atrapalha
um pouco.
— Ei — ele reclamou — vem comigo pegar uma bebida —
pediu, já entrelaçando nossas mãos. Escorei-me ao balcão
enquanto ele pedia. O barman se foi e ele olhou para mim,
descendo o olhar pela minha roupa.
— Que foi? — pergunteiconfusa e ele chegou mais perto,
acariciando meu rosto.
— Nada, estou só olhando você.
— Sei...
— Está linda, embora eu tenha ciúme desse vestido curto—
ele falou e eu revirei os olhos.
— Vai quererdecidir o que eu uso também? — pergunteie ele
riu, negando com a cabeça.
— Tenho direito de sentir ciúme, não tenho?
— Não, você não tem — falei o óbvio e ele fez uma careta.

A bebida dele chegou e voltamos para onde estavam nossos


amigos. Edu me abraçou por trás,se assegurandode que nenhum
outrohomem chegasse perto . Ao mesmo tempo em que eu gostava
da segurança que seu abraço me trazia,eu ficava com raiva. Eu
gostavade tudo com ele, enquanto ele estavaapenas garantindoo
sexo fácil. E eu não poderia nem reclamar, estava tudo às claras
entrenós dois. Se eu chegasse para reclamar, iria reclamar de que?
Quando eu não aguentasse mais a situação, minha única opção
seria cair fora.

Logo um cantor de samba começou o show, Edu e Fred


arriscaramuns passos, o que foi terrivelmentetentador
. Mas quem
era eu para determinaralgo? Tudo em Edu era tentadore excitante
para mim. Ele me puxou pela mão, passou um braço em volta do
meu corpo e nos moveu no ritmoda música. Ele foi parando e
trouxeuma mão para minha nuca, me puxando para um beijo tão
gostoso.Levei minhas mãos em volta de seu pescoço e subi uma
delas pela nuca, puxando o cabelo macio. Encerramose eu desviei
dos olhares de Mari e Fred nos julgando.

Edu foi pegar mais bebidas para nós e Ravi foi com ele, dessa
vez.
— Ele é tão confuso — Mari falou e eu apertei os lábios,
assentindo — age como seu namorado, mas não é um.
— Ele vai agir assim, até que eu encontrealguém que queira
algo que eu quero. Aí vamos parar— expliquei e Mari arqueou as
sobrancelhas,como se duvidasse — posso baixar um aplicativo e
arrumar um encontro.
— Ah, pode. Mas acho mais fácil você enfartarde nervoso
antes de encontrarum estranho — ela falou, começando a rir
imaginando e eu fiz uma careta— Eduardo merecia um susto.Pra
decidir logo o que quer
. Está muito fácil pra ele.
— Está, né — fiz uma careta.

Que eu era fr aca para bebidas, não era novidade. Edu me


deixou beber o quanto eu quis. Em um momento, eu já deveria ter
parado, mas apenas continuei. No final, ele me deu água, para que
os efeit
os do álcool fossemamenizando. Apesar de embriagada, eu
estava lúcida. Mas isso não me livraria da ressaca.

Acordei na cama dele, na manhã seguinte.Olhei para o lado e


me deparei com esse caminho inteiro de perdição. Ele tinha os
braços para cima, todo despojado dormindo, pelado, o lençol
atravessandoa coxa, mas não cobria nada. Analisei todo ele, esse
gostosode uma figa. O membro estava eretosobre a barriga,tão
bonito e delicioso. Me sentei na cama e fiquei olhando, o acariciei
suavemente, mas me afastei e me levantei, indo logo para o
banheiro.

Tomei um banho rápido para tirara agonia da ressacae vestia


minha calcinha, junto com uma camiseta branca dele. Prendi os
cabelos em um coque e levei meu rosto, limpando o resto da
maquiagem. Procureipelo meu celular e voltei a me deitar
. Edu não
demorou a despertar, com toda a safadezaque existiaem seu ser,
pronto para me levar à loucura outra vez.

Nosso momento de prazeracabou quando ele viu fotosde nós


dois, tir
adas por terceiros,
na noitepassada. Eu demorei a assimilar,
mas estava sendo apontada como a outra, como o pivô do término.

Única coisa que fiz para não gerarmais alarde foi desativar
meu perfil no instagram.Edu perdeu a paciência e começou a
gravar storiesexplicando sua farsacom Luísa, o tempo que não
estavamjuntos,mas ele estressadodesse jeito perderiaainda mais
a razão. Ninguém comprariaa históriado homem injustiçado, nem
eu. O encarei sarcástica quando logo depois de postar os desaforos,
ele saiu apagando.
Eu estava sentadana bancada da cozinha e ele veio, parando
no meio das minhas pernas, fazendo manha por terque lidar com a
confusão. O abracei e fiz carinho em seu cabelo.
— Logo todos esquecem — prometi.

Fred e Mari logo desceram. Ele conseguia debochar, mesmo


com Edu sendo grossoe determinantesobrenão quererfalardesse
assunto.
— Ela só está rendendo esse assunto porque polêmica gera
engajamento — Fred continuou.
— E engajamento aumenta a visibilidade — Mari completou—
acho que logo ela encontraoutroassunto pra engajar no perfile
esquece você, Edu...
— Acho que o que mais tá doendo nela é que não vai mais ter
Edu bancando as plásticas — Fred provocou e Mari o cutucou.
— Eu não sei por que, já que essas influenciadorasganham
muito — Mari falou desgostosa.
— Podemos falar de outra coisa? — Edu perguntou irritado.
— Vamos — Mari falou — Jordana vai procurarum namorado
em aplicativos de relacionamento — ela falou!!! Eu a encarei,
engasgada com a sua denúncia. Edu me encarou, como se não
estivesseprocessandoa informação. O outrocasal começou a rire
eu o encarei, tomando controle da situação.
— Eu poderia, se eu quisesse — falei de uma vez — mas eu
não vou. Não confio em sair com alguém que nunca vi
pessoalmente.
— Quase morre sem oxigênio, hein, Edu — Fred falou para ele,
que olhou bravo e depois olhou para mim.
— Eu não quero que você saia com outro— ele falouincisivo e
impaciente. Eu o encarei, fazendo pouco caso.

Durantea semana Luísa e amiga dela, ex-esposa de Fred,


foram almoçar no restaurante.Quando a viu, vovó me mandou
entrar
, não queria uma cena em seu estabelecimento.Eu fui para o
seu escritório,mesmo contrariada. Ela não poderia me punir e
culpar. Não estava inocentando Eduardo em nada, mas eles
terminaram,segundo ele e todos à volta dele, os dois viveram uma
farsa,terminarame estávamos saindo juntos. Mas também não
queria ficar explicando nada, porque ficar defendendo a minha
escolha me fazia soar patética.
Preciseivoltarao trabalhoquando o movimento apertoue para
completara situaçãotensa,Edu e Fred estavamali. Sentaram numa
mesa afastadada delas, mas era como se o restaurante
tivesse
virado um campo minado. Contei para Mari o que estava
acontecendoe ainda enviei fotos.Vovó me olhou feio, e ficouainda
mais arrasada quando Bernardo chegou.
— Que belo dia para uma confusão — ele falou, quando o
entregueio cardápio. Fiz uma careta,era vergonhoso estarno meio
disso, dessa polêmica idiota.
— Como está o namoro com a July, meu filho? — vovó
perguntou, pronta para anotar o pedido dele.
— Bem, Dona Márcia. Ela é uma garotalegal — ele contou
tranquilamentee vovó me olhou possessa. Revirei os olhos e fuime
sentar no meu lugar
, lá no caixa.

Quando fui atender as duas, Luísa pegou a maquineta do


cartãoda minha mão bruscamente,mas quando foi inserir seu
cartão,deixoucair. Se ela não estivessena posição de clientee se
tratandode clientes, a gente se cala e obedece, eu diria que ela
jogou. Não teriacaído com tantaforçaao ponto de soltarumas
peças, mas pedi desculpa pela minha desatenção.Ao me virar
, Edu
e Fred olhavam apreensivos, mas neguei com a cabeça. Vovó me
lançou um olhar aturdidoe ela mesma foiatélá. Pude ouvir a voz de
Luísa, ela se alterandoao falardo péssimo atendimento. Neguei
com a cabeça, que humilhante...

Vovó contornoua situaçãodeixando o almoço delas por conta


da casa. Mal haviam tocadona comida, de qualquer maneira. Como
Mari havia dito, eu só não perdi meu emprego ainda, porque o
restaurante
era da minha avó. Porque minha mãe era a cozinheirae
porque essa era a fonte do nosso sustento.

Edu se desculpou por ela, me irritando,ele não tinha que se


desculpar ou tomardores dela. Passei a tardeouvindo minha avó
falarsobre eu ser muito ingênua ao quererme envolver com um
homem desses. Minha mãe ouvia, mas não falava nada, já havia
dado sua opinião. Fiquei quieta, eu concordavaque não devia, mas
era tudo tão gostoso, que querer parar não parecia uma boa opção.

Mas continuar e sofrerdepois seria muito pior. Afasteios


pensamentos e foquei nas minhas obrigações.

Na quinta-feira,eu e as meninas fomosa um barzinho pertoda


praia. Pedimos bebidas diferentese dessa vez, o focofoi sobre July
e Bernardo.Ela adorava sero foco,sempreera atéMari se envolver
com Fred e ter muito mais emoção para contar
.
— Ai que saco — July sussurrou,olhando para trásde nós
duas. Quando nos viramos,lá vinha os dois bonitões,como sempre,
sem desconfiômetronenhum. Fred era seguro de Marina, os dois,
mesmo com toda a confusãoque ele tinha na vida, eram certosdo
que viviam.

Eduardo, não. Ele não namorava comigo, mas morriade medo


de eu me envolver com outro cara. Porque tecnicamente, eu
poderia. Mas na pratica, ele estava sempre ali, pronto para impedir
.
— Agora ficaesse cara te perseguindo e atrapalhandonossos
planos — July falou para mim, impaciente — não vou expor minha
vida pessoal perto de estranhos.
— Ai, me poupa, Juliana — Mari falou, começando a rir
. Eles
chegaram perto de nós, nos cumprimentarame mudamos os
lugares da mesa. Edu colocou uma mecha do meu cabelo para trás
e deu um beijo no meu rosto
. Depois apoiou um braço no encosto
da minha cadeira.
— Se você é grudentoassim escancarandona minha cara que
não temosnada, eu não quero imaginar você no papel de namorado
— eu o provoquei, antesde beber um pouco do meu drink com kiwi
e Fred riu.
— Já teria se casado, certeza — Fred provocou.
— Estávamos passando por aqui, resolvemos parar — Edu
falou, mas a risada exagerada de Fred entregava a mentira.

Eles pediram um uísquedaqueles carose ficaramconversando


besteiras.Fred entregouas saídas de Denise com o Ravi. Mari o
cutucou, reclamando que ele era muito fofoqueiro,mas ele era
mesmo. Adorava entregar tudo.

Mamãe enviou uma mensagem, perguntandose eu iria dormir


fora, mas avisei que não. Que nem iria demorar
.

“Mas eu vou” — ela respondeu, me deixando confusa. Ela


nunca havia saídoou dormido fora,desde que perdemoso meu pai.
Mas eu não iria questionar ou deixá-la insegura.
“Tudo bem” — enviei apenas isso. Edu me olhava
serenamente, tão bonito que eu quis beijá-lo, mas me controlei.

A noite no barzinho foi até quase onze da noite. Amanhã todos


nós trabalharíamos.Todos nós, menos Marina, ela enfatizou
desgostosa.

Fred levou Mari e as meninas, enquanto eu fui com Edu. Ele


queria ir para o seu apartamento, mas eu queria ir para casa.

No elevador, uma criançaficouolhando para ele de cara feia e


eu fiquei incrédula por ele retrucar
.
— Sua mãe não está aí? — ele perguntou, quando eu
destranquei a porta e a empurrei. O olhei.
— Não, se estivesse, eu não deixaria você subir — falei o
óbvio.
— Não vou nem achar ruim, eu no lugar dela também me
odiaria — ele fez uma careta,indo se sentarao sofá.Eu ignorei e fui
até a cozinha beber um pouco de água. Quando voltei para a sala,
Edu folheava um álbum de fotos.

Me senteiao seu lado, me dando contade um álbum com fotos


de família.Pensei que minha mãe deveria estarvendo as fotos
antes de sair. Mas mesmo que doesse tanto a nossa perda
irreparável,ela tinha o direitode seguir em frente.Edu percebeu
meu desconforto e devolveu o álbum para a mesa de centro.
Depois, avançou para me dar um beijo delicioso.
Primeiro, ele veio para cima de mim, que me deixei levar e
ficamosnos agarrandono sofá, mas ele me ergueu em seus braços
e nos levou para o meu quarto.Eu me apoiei nos antebraços para
olhá-lo tirandoa roupa. Ele parou ao encontrarmeu olhar e deu um
sorriso malicioso, depois tirou a cueca e segurou o membro
semiereto,o esfregandoe eu revireios olhos. Ele foi trancara porta
do quartoe eu termineide tirarminha roupa toda, para não dar
chance de ele querer demorar em algo.

Eu gostavacomo ele era sempre precavido,andava munido de


camisinhas em todo lugar. Deveria desconfiarde ele usá-las com
outra?Não sei. Mas era de se esperarum homem que dizia nunca
mais querer um relacionamento ou filhos se proteger deles.

Nós dois estávamos no ato, pela manhã. Ele tinha uma mão
cobrindo meu seio, o rostoafundado em meu pescoço e estocava
devagarinho. Eu estavatão excitada,tão excitadaque queria poder
gemer mais alto, mas ouvimos a portasendo destrancadae mamãe
chamou por mim. Não paramos, nem quando ela deu duas batidas
na porta.Cobri a boca com a mão e mordi as costasdela quando
ele enfiou mais fortee fundo, ficando e estremeceusobre mim.
Apertei os olhos, não querendo fazer barulho.

Eu perdi tudo quando ele avisou que iria gozar e me chupar


todinha depois, apertoumeu seio mais fortee meteu mais fundo,
gemendo rouco e baixinho perto do meu ouvido, tre
meu todo
ficando e começou o seu momento delicioso. Eu adorava assistir
seu ápice de prazer
, o seu clímax, e fazerisso antesde alcançaro
meu momento, era perfeito.Ele relaxou o corpo sobre o meu e
procuroupela minha boca, logo depois desceu os beijos pelo meu
pescoço, pelos seios, barriga, e continuou até beijar meu sexo, tão
deliciosamente. Puxei um travesseiroe cobri meu rosto,morrer
sufocada seria melhor que não abafarmeus gemidos agora. Ele
chupava e lambia, era tão delicioso, mas só gozei quando ele ficou
circulandoa língua no meu clitóris,fazendo movimentosinsistentes
e certeiros do lado certo.Ele levou uma mão para o meu ventre,
segurandomeus movimentos.Ele ainda ousou dar uma chupadinha
suave em mim, quando eu já estava desfalecida sobre a cama.

Estremeci e tirei o travesseiro do meu rosto, enquanto ele vinha


por cima e tiroumeu cabelo bagunçado do caminho, para beijar a
minha boca. Limpei ao redor dos lábios dele, o fazendo .rir
— Fresca— sussurroue o puxei de volta. Edu levantou e tirou
a camisinha, a avaliando e pegou meu olhar curioso nele, mas
entrou no banheiro para descartar o preservativo.

Minha mãe bateu na portade novo e avisou que já estavaindo


para o restaurante. Gritei que tudo bem, logo a encontraria lá.
Ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado e encontreiEduardo
no banho.
C 16
Eduardo Toledo

Cheguei ao meu apartamentolendo as mensagens da minha


secretária,alertando sobre os compromissos da manhã. Fui me
trocar e Noêmia me esperava com o café na mesa.
— Dormiu onde, posso saber? — ela perguntoucuriosa, se
sentandocomigo. A olhei, lidando com essa presunçãono olhar —
Fred disse que está saindo com aquela moça...
— Jordana — completei e ela assentiu.
— Parece uma boa garota... Eu gostei dela, se você quer
saber.
— Não coloque expectativas demais — eu alertei.
— Já está na hora de você se deixar levar, não acha? — ela
perguntou,me servindo o café preto— de conhecer uma mulher
bacana, se apaixonar de novo... Ainda mais agora, que finalmente
terminou aquela coisa esquisita com Dona Luísa.
— Dona — resmunguei quase involuntariamente.
— Fred acha que você gosta dela... Da Jordana — Noêmia
comentou e eu suspirei impaciente — não quer avançar, tentarde
novo?
— Não — fui categóricoe a olhei inquieto — não quero outro
relacionamento amoroso, tenho outras prioridades agora.
— Você deveria pararde sertãocarrasco...Desde que... — ela
parou de falarcom meu olhar fulminantea impedindo de continuar
— que eu não vejo você assim, interessado em alguém.
Como a conhecia e sabia que ela não iria parar, bebi dois goles
do café e me levantei, mas antes de sair
, voltei dois passos e falei:
— Eu e Jordana estamos transando,apenas isso. Não vai
acontecernada além — falei irritadoe Noêmia cresceu os olhos,
assustadapela minha faltade pudor na explicação. Não prolonguei
a conversa e saí logo dali.

Naquele dia, tudo pareceu querer dar errado. Primeiro um


cliente desfazendo contratopor causa do show de Luísa. Era
contratante dos serviços de divulgação dela, que deve ter feito
alguma chantagem emocional. A explicação fajuta era que não
compactuava com o que eu fiz com minha ex. Deixei estar , essa
louca não iria me ferrar por causa do seu ego ferido.

O dia seguiu e tudo parecia inflamado, prestesa explodir. No


sentido mais literal da palavra. Quis demitir um dos meus
engenheiros iniciantes. Por um erro corriqueiroe corrigível,mas
queria descontar em alguém a minha sensação de impotência.Não
fiz, de qualquer maneira, Fred não deixou.
— Quer conversar?— ele perguntou,mas o encarei irritadoe
neguei com a cabeça. Saí dali e voltei para meu escritório.

Já à noite, avisei à Jordana que iria buscá-la, disse que


poderíamos jantar em um lugar legal, mas ela enviou uma
mensagem negando.

“Não vai dar por quê?” — respondi de volta.


“Vou sair com um amigo.” — fiz uma pausa na respiraç
ão ao
ler.

“?” — enviei apenas isso. Ela ficouonline e enviou uma fotoem


frenteao espelho. Usava um vestidoprateadode alças finas, curtoe
com uma fenda que subia demais até a coxa.

Não haveria explicação que me inocentasse, mas eu me


corroía em pensar nela por aí sozinha com essa roupa excitante. Ela
era bonita, diria que a mulher mais bonita com quem eu já estive,
era óbvio que chamava atenção de qualquer homem com olhos. A
nuca formigou com a impotênciaque me dominava nesse momento.

“Já estou indo. Beijo, Edu” — ela enviou e ficou off-line.


Cheguei a responder
, perguntarpara onde, mas ela sequer recebeu
a mensagem. Praguejei e solteio celularcom forçasobrea mesa de
centro.Puxei os primeiros botões da camisa social, os abrindo,
como se isso me fizesse respirarmelhor. Levantei e fui me servir
com uma dose de uísque, como se beber fosse me acalmar
.

Fred chegou e parou a me ver jogado no sofá,bebendo a essa


hora sozinho.
— Isso tem a ver com os problemas de hoje ou com a Jordana
estarsaindo com outrocara? — ele perguntoue eu o olhei furioso.
Fred deu um riso e pegou um copo, colocando uma dose também.
— Jordana pode sair com quem ela quiser — falei, forjando
desinteresse no assunto e virei o resto do uísque.
— Peguei a Marina na casa dela agora — ele contou — Mari
disse que era um cara desses aplicativosde relacionamento...Ela
ajudou a escolher.
— Isso não é problema meu, Fred — resmunguei.
— Vou jantar com meus pais, vou levar a Mari... Depois
estamos querendo ir pra algum lugar
, não quer ir?
— Não — falei rapidamente— to cansado, o dia foi maçante
hoje.
— Foi bordoada de todos os lados, né — ele replicou e eu
suspirei— imagino que vai passara noiteremoendo a santinhacom
outro cara.

Ignorei. Se ela estava me testando,era um tirono pé. E se


realmenteestava com outro,azar o dela. Tomei um bom banho e
vesti um pijama. Pedi jantar e abri um vinho. Ignorei todo o
incômodo pensando no que essa maldita provocadora estaria
fazendo e tentei,ao menos tenteiaproveitarminha solidão esta
noite.

Pela manhã, quando desci vestidoem roupa de ginástica,Fred


estavana cozinha, com essa caraamassada de sono e a feiçãoque
denunciava a ressaca.
— Espera que eu vou com você — ele avisou, terminandoo
copo com água e subiu corre
ndo. Fofoqueiroque ele era veio correr
comigo, mortode ressaca,apenas para poder contarsobre a noite
de Jordana.
— Eu não estou nem aí pro que ela faz da vida dela — falei,
tentandonão me corroerde ódio por ela ser tão provocativa— se
ela não estava satisfeita comigo, que fosse mesmo procurar outro.
— Nunca vai dar o braço a torcer , né? — Fred perguntou,já
cansado e parou de correr. Parei poucos metrosa frentedele e virei
para trás. Ele veio andando, arfando.
— Não tem ao que dar o braço a torcer , Frederico —
resmunguei e ele apoiou uma mão em meu ombro, estava
esbaforido.
— Não é mesmo do seu interesse,então? — ele perguntou,
falandosério,mas apenas o encarei— ela pode saircom esse cara,
que pra você está tudo ok?
— Está — falei, a voz querendo embargar
, mas não poderia me
dobrar tantopara essa mulher. Jordana queria algo que eu não
conseguiria dar
, deveria mesmo seguir em frente.
— Não quer nem saber quem era o cara?
— Conta logo, Fred — eu falei impaciente, ele não iria
sossegar até falar
.

Fingi não ouvir, não queria pensarnela com outro,me corroíae


incomodava. Eu fui o segundo, era óbvio que depois de mim viria o
próximo.

Ignorei os planos deles duranteo fim de semana, era melhor


que nós dois esquecêssemos o que vivemos nessas últimas
semanas. Mas na segunda-feira, eu queria ver se ela estavamesmo
dispostaa ficarcom outrohomem, então quando eu e Fred saímos
para almoçar , já se sabia bem para onde eu estava indo.
Fred ameaçou dizer algo, mas riu e se controloupor causa do
meu olhar fulminanteem sua direção. Foi corriqueiroalmoçar no
restaurante
da avó de Jordana, ela veio quando pedimos a contae
acenou educadamente para nós dois. A olhei, analisando a sua
tranquilidade para lidar comigo agora. Antes, era sempre uma
apreensão.
— Fim de semana foi bom? — perguntei,ouvindo um arquejo
debochado de Fred, mas o ignorei. Ela assentiu rapidamente.
— Edu está ansioso pra conhecer aquele seu amigo — Fred
falou e nós dois o olhamos.
— Não acho que vou vê-lo outra vez — Jordana falou
tranquilamente,mas antes que eu o Fred pudéssemos falarmais
besteiras, ela retirou o cartão e entregou para ele.

A acompanhei com o olhar até que ela voltasse para trásdo


balcão.
— Pelo menos ela não vai mais sair com ele — Fred falou, se
fazendo de desentendido — Mari disse mesmo que ela odiou o
encontro.

Não deveria contemplara sensação de alívio ao saber, mas


parecia inevitável. Quis falar com ela, mas não cedi para minha
vontade. Deveríamospararcom isso o mais breve possível. Seguir
em frente.Eu iria acabar a machucando se insistissenessa relação
torta apenas para sanar meu prazer.

Fred não perdia a chance de me provocar


. No fim da semana
aconteceriaa festade aniversário do meu pai, então todos já
estavamanimados para vê-lo com Marina outravez. Ao contráriodo
que eu pensava, os pais dele não se colocaram nada contraa
relação. O que estava pesando mesmo era a conturbação do
divórcio e a relação dele com o filho.
— Você poderia levá-la — Fred falou — Chiara iria adorar
, já
que agora andam em bando.
— Em bando? — indaguei confuso.
— Sim, saíramjuntas a semana toda. Ela, Mari, Jordana e as
outras duas.
— Não quero nem falarcom Jordana, muito menos levá-la em
uma festade família— sim, eu era um mentirosoe fazia isso muito
bem.
— Seu pai deve convidar Luísae os pais dela — ele comentou
e eu assenti, era meio previsível.
— Por isso, eu vou apenas passar lá e ir embora.
— Se parasse de ser tão teimoso, aproveitariamelhor as
relações que interrompe— Fred falou, se jogando no sofá e o
encarei, que riu — apesar de não ter tido alguém assim, tão
meiguinha e que te deixou mexido como a santinha.Mas já sei que
você nunca mais vai fazer isso e blá, blá, blá.
— Cala a boca, Fred— eu falei irritado,me levantando para
subir, mas ele voltou a falar:
— Se fosse ao contrário...Se você tivesse morridoe Bianca
estivesse aqui, ela estaria vivendo amargurada? — ele teve a
coragem de perguntar
, me fazendo lancinar inteiro.Eu quis voltare
socar a cara dele, mas apenas o ignorei.
O nervosoque a perguntame trouxe,a lembrançadaquele dia,
da perda, os pensamentos sobre tudo o que eu poderia ter feito para
evitarme maltratavamde uma maneira insana. Eu não era o cara
que chorava sempre. No começo, sim, eu chorava todo dia, toda
hora, por causa da culpa que me corroía,mas depois, não. Depois
eu fui secando, engolindo o inconformismo e recuperando as
atividades da vida, porque estava preocupando e fazendo minha
família e amigos sofrerem comigo.

Jordana mexia comigo, mas era uma mulher perfeita,doce,


linda, não poderia me esquecer de dizer que gostosa. Talvez
mexesse com qualquer cara. Perdê-la agora seria fácil para nós
dois.

Comecei a ignorar Fred, por conta da pergunta infame e


perversada noite anterior
. Saí com Ravi no final da semana, que
estavamesmo com a amiga das meninas, mas no bar luxuoso que
entramos,havia outrasmulheres a nossa espera. Ele era expert
nisso, em encontrarsexo fácil, casual e despretensioso.E eu logo
me convenci de que era isso que eu estavaprecisando:transar . Até
esquecer as transascom Jordana, porque com ela nunca seria
apenas sexo, estávamos sempre envolvidos em programas de
casais, não havia essa de foder e ir embora.

Acordei na manhã do sábado na minha cama, morto de


ressaca.Quando o bar fechou,fomosos quatropara o apartamento
da morena que estava comigo e bebemos destiladosbaratos.Não
queria mencionar o sexo sujo e baixo que fizemos, ou a trocade
casais. Não era adepto a nada disso, mas estavatão frustrado
que
não neguei proposta nenhuma.

Mergulhei em um pesadelo tão fortee aterrorizado


que quando
me virei, sentindo os efeitosda ressacame batercom força,Luísa
estava andando pelo meu quarto. Levantei num sobressalto,
buscando na memória o momento em que me encontreicom essa
maluca. Estava tonto,dolorido, com enxaqueca e sabia que havia
jogado minha dignidade no lixo na noite passada.

Por isso, fiz o juramentode nunca mais sair com outramulher,


como saícom Jordana. Achei que era espertodemais, que iria levar
a garota para cama e cair fora. Era o plano, mas executei errado.
Ela não foipara a cama comigo rápido como imaginei e depois eu já
estavaapegado à presença,ao corpoe a tudoque fazíamosjuntos.
Cortar assim o laço foi um baque estranho para mim.
— Eu sempre soube que você não iria durar com aquela
pobretona,mas precisava mesmo me humilhar como fez? Aposto
que não — ela faloudesdenhosa, entrandono closetmais uma vez.
Respirei aliviado quando descobri que não havia me encontrado
com ela. Estavaaqui apenas buscando alguns vestidose o restode
seus pertences.Foram quase seis anos vivendo algo, de qualquer
maneira. Saímosmuito,viajamos, dormimosjuntos.Apenas nunca a
prometi nada e não a suportava.
Fui para o banho, para lavar mais uma vez o corpo e aliviar o
peso na alma, arrancarum pouco do remorso.Estava me sentindo
um completo traidor, quando eu não era um. Eu saícom outras,me
enfiei numa espécie de orgia, mas ela também estava com outro.

Luísa entravae saía do banheiro, pegando coisas suas nos


armários. Não nos falamos, ela estava tranquila e sem toda a
insistênciade antes. O que era maravilhoso. Queria dizer que eu
estava livre dela de vez (?).

Noêmia me ajudou com os efeitosda ressacaduranteo dia, já


que eu precisaria estarbom para a festade papai à noite. Marina
veio se arrumaraqui e a minha alma curiosaqueria perguntarsobre
Jordana, mas me controlei. Não perguntei se ela iria como
convidada de Chiara ou Fred, não era da minha conta.

Eu já estavaquase prontoquando Noêmia chegou com o meu


blazer já passado. Terminei de abotoara camisa e me virei para ela,
que me olhava curiosa.
— Fred tem comentado sobre você e a garota...
— Fred é muito fofoqueiro— eu resmunguei — não sabe nada
e fica inventando história.
— Não sabe mesmo? Até eu havia notado você mais leve,
mais animado...
— Eu continuoassim. Não é porque não quis namorara amiga
da namorada dele que estou sofrendo.
— Não gostava mesmo dela? — Noêmia insistiu, recuando
com o blazer quando fui pegá-lo — não vai me dizer?
— Gostavade comerela — faleibruto,porque só assim ela me
deixaria em paz. Noêmia me lançou um olhar incrédulo, não
acreditandoque eu estava tão baixo e me entregou a peça de
roupa.

Cheguei logo depois de Fred e Marina. A mansão já estava


movimentada, tudo muito bem decorado e iluminado, para dar as
boas vindas aos sessentae cinco anos de meu pai. Deveria terido
procurá-lopara dar-lhe os parabéns,mas o meu focofoitomadopor
Jordana, andando ao lado de Chiara, que pareciaanimada. Um lado
meu questionou os motivos de ela estaraqui, afinal nem era seu
meio. Mas eu só conseguia reparar em como ela estava perfeita.
Nossos olhares se esbarrarampor um míserosegundo, mas
Chiara a levou em outra direção.
— Chiara está a apresentando por aí como a sua quase
namorada — Fred falou,me assustandoao pararao meu lado, e me
deu um copo com uísque dentro— seu pai até que gostou dela,
mas falou logo depois que a mulher certa pra você é Luísa.
— Meu pai estáficandogagá já — retruqueie bebi um gole da
bebida saborosa.
— Soube do que você aprontou ontem — Fred falou e o
encarei — não que seja novidade, mas olha só o quanto você
precisou apelar
. Jordana não chegou tão baixo.
— Por que na sua cabeça tudo tem que ser sobre ela? —
perguntei,ficando inflamado com toda essa pressão. Fred deu um
sorriso presunçoso e deu de ombros.
— Espero que Bruna não queira fazerum barracobem aqui —
ele falou, quando a mulher chegou junto com o pequeno Bruninho.
— Quem sabe assim você lida com os seus problemas e me
esquece... — resmunguei irritado, mas Fred parecia se divertirpor
me ver tão perdido — Marina sabe sobre a noite passada? —
perguntei,tent
ando parecerdesinteressado,mas era preocupante
que Jordana, a garotamais puritanaque eu já conheci ficarsabendo
sobre. Não que eu me importasse, já que tudo entre nós era assunto
encerrado.
— Se ela aparecerantes de contar
, eu peço segredo — Fred
provocou e eu fiz uma careta.

Fui finalmentefalarcom meu pai, abraçá-lo e desejar coisas


boas. Aproveiteipara abraçar mamãe também. Eu já fui um bom
filho,Bianca dizia que sabia que eu seriaum bom pai, porque eu era
um bom filho. Daqueles apegados, amorosos. Mas depois de tudo,
eu acabei reclusando de tudo, me afastando deles.
— Esperoque você ainda tenhachance de lutarpor ela — meu
pai falou e eu olhei na direção que ele olhava, vendo Luísa,com o
tal cliente que demitiu a empresa.
— Chance nenhuma — falei, acenando para os pais dela —
sinceramente?— pergunteie olhei para meus pais — estou muito
feliz por eles.
— Perdeu uma mulher incrívele não se deu conta disso —
papai falou decepcionado e deu dois tapasem minhas costas,então
entrelaçoua mão na da minha mãe e foramcumprimentaroutros
convidados.

Era uma boa festa,grande, o pessoal estava animado, uma


banda fazia show no palco montado no jardim. Fiquei na minha,
esperando o momento certopara ir embora logo. Pensei em entrar
na casa e subir para meu antigo quarto,mas aquilo era cheio de
lembranças antigas que me machucavam, apesar do tempo.

Notei Fred se bandeando para o lado de Chiara, mas era uma


boa estratégiadele. Estava aí com Marina, e pertode Chiara, eu
achava difícila ex dele querercausaruma cena. Ele me procurava
com o olhar vez ou outra,fazendo aquela expressão esquisita de
quem queria me contaralgo. Ele já deveria saber que eu não teria
como ler seus pensamentos ou entender seus olhares.

Bebi pouco, não queria alimentaro efeitoda ressacaque ainda


restavaem mim. Fiquei quieto no meu canto. Em um momento
papai veio questionarse eu estavaassim por Luísaestarcom outro.
Isso me fez rir
, não era.

Fred veio até mim e parou ao meu lado. Ficou quieto por um
momento, mas como era de se esperar
, começou a falar logo:
— Chiara está empurrandoJordana pro irmão do Gabriel. Ela
não parece tão a fim, mas está sendo educada — ele contou
rapidamente, como se fosse uma informação importante.
— Ela não quer rodarpor aí conhecendo gente? Ela que faça
— falei impaciente— e para de me falarsobre a vida alheia, Fred.
Eu não tô nem aí pro que ela faz.
Para o azar dele, Bruna parou em nossa frente.
— Eu não vou aceitar esse acordo ridículo de pensão,
Frederico.Dinheiro pra gastarcom a sua prostitutazinha
você tem!
Pro seu filho não? — ela perguntouexasperada, mas ele fez uma
caretade paisagem e fingiu não ouvir — e não adianta me ignorar
.
Passaremosa vida inteiranessa briga, mas eu não aceitoque você
rejeite o meu filho dessa maneira.

Fred saiu andando. Ela olhou para mim, me lançando uma


feiçãodesprezível.Eu não estavatãoa par do processode pensão,
mas seria uma surpresapara mim, Fred estarbrigando sobre os
valores pedidos. Afinal vivia dizendo que daria até a alma para se
livrar da briga logo.

Agora que eu já sabia um pouco do que acontecia na roda


deles, fiquei monitorando . Nesse momento, comecei a
involuntariamenteignorarmeus própriosalertaspara mim mesmo.
Aqueles de não querer , de não poder oferecerpara ela o que ela
queria, de ela jamais aceitar ser mais uma na minha cama. Nada me
fazia dar ouvidos à razão. Só me importavaaquele cara dando em
cima dela. Eu não gostava do Gabriel, o noivo da minha irmã. Era
meio obvio meu desapreço por seu irmão.

Os dois saíramjuntos, apenas eles, mas em direção ao bar


montado no jardim. Eu me sentisufocar
, era como se estivesseme
coçando inteiropara me segurarquieto aqui. Deus só poderia estar
me testando, ao me fazer passar por tudo isso.

Antes que os dois chegassem lá, eu andei apressado e em


passos largos. Fiquei cego, maluco, se amanhã quisessem me
internar
, eu deixaria. Mas antesque os dois chegassem ao bar ou a
qualquer lugar que estivessem indo, passei por eles e saí
arrastandoJordana pelo braço. Fui grosseiro,sem noção, tudo o
que quisessem dizer sobre mim. Não me importei com quem
estivessevendo a minha cena vergonhosa, mas já foi duro engolir
ela saindo com outrohomem. Se ela ficassecom alguém na minha
frente, meu coração iria parar de bater
, eu morreria de desgosto.
C 17
Jordana Testa

Eduardo nos levou para o seu carro,me colocou para dentroe


estavatão nervoso e eufóricoque eu não consegui reagir
. E jamais
iria. Imagine eu, a convidada da filha do homem causar um mal
estar na festa dele, envolvendo seu filho mais velho?

Ele deu a voltano carroe entroutambém.Veio, colocou o cinto


de segurança em mim, mas não teve a decência de dizer nada.
Fiquei o encarando a espera, não iria me derreter
por ele e dizer
que entendia seus traumas ou sei lá o que, que iria adorar ser usada
por ele até ele decidir me descartar, já que um relacionamento
decente nunca esteve nos seus planos.
— Podemos conversar em meu apartamento? — ele
perguntou,parecia cansado, a respiraçãoestava acelerada. Olhei
para mim, presa no carrodele que já estava em movimento, como
se ele tivesse me dado alguma escolha.
— Me desculpa. Eu não deveria teragido feitoum louco — ele
falava, dirigia rápido e estava focado nisso, olhava para frente—
mas aquele cara... Ele não merece alguém como você.
— E você merece? — eu perguntei, ficando irritada.
— Eu te garanto que ele é muito pior do que eu — ele falou
convicto. Fechei os olhos por um momento e neguei com a cabeça.
— Eu não quero ir conversar com você! — falei mais alto e com
força. Ele diminuiu a velocidade do carro e olhou para mim
rapidamente.
— Eu só queria... Eu só quero me explicar
, me desculpar e...
— Eduardo, não temo que explicar!— eu faleiincisiva — você
não pode, não consegue e nem quer teralgo mais comigo. E nem
com ninguém, pelo que diz por aí. E tudo bem, sério. Eu não posso
obrigarvocê a se abrir
, se deixar levar e pelo menos não deixar
escancaradoque é só isso, que em algum momentovamos parar!E
você também não pode — enfatizei— me obrigara querer ser mais
uma que você come, não é o que você diz por aí? Que me come e
apenas isso?
— Eu não quis dizer nada disso... As pessoas ficaramme
pressionando e...
— E você resolveu me rebaixarpra validar seu desapego! —
meu tom se elevou tantoque cheguei a gritar
, mas me recompuse
respireifundo.Corrias mãos no rostoe suspireioutravez — você já
deu o seu showzinho, já acabou com a minha noite, agora, por
favor
, me leva pra casa.

Ele tencionouo maxilar e me olhou irritado,tantoque os olhos


pareciam avermelhados refletindoa sua raiva. Eu queria continuar
nossa briga, mas para que? Não mudaria nada. Ele seguiu para o
meu endereço,ficamosem silêncio atélá. O olhei por um momento,
antesde descer. Ele deveria ser muito louco, mesmo, para estaraí
lutando contra o que queria. Não estava sendo presunçosa ou
convencida, mas eu sabia que estávamos nos apegando, ele
poderia deixar levar e ver até onde iria. Não precisava prometer
nada para mim, não precisava de ilusões ou mentiras.Mas ele
preferiavetar, desfazere me humilhar. Dizer por aí que apenas me
comia era insultante. Ultrajante e nojento.
Antesque eu descesse do carro,ele me segurou pelo braço e
foi chegando mais perto,mas desviei o rostoe me afastei.Não era
me seduzindo que ele iria me fazermudar de ideia. Era um beijo
perfeito,o sexo delicioso, tudo com ele era incrível,mas eu deveria
pensarno que ele faziae dizia quando estavasem mim. Ele poderia
sentir, e eu acreditavaque estava pelo menos apegado como eu,
mas jamais iria dar o braço a torcer e consertar a nossa história.

Nos encaramos por um momento e eu neguei com a cabeça.


Desci do carro e corri para entrar
.

Ao entrarem casa, mamãe estava na sala com um balde de


pipoca e via um filme. Estranhouque eu já estivesseem casa tão
cedo, já que ultimamenteeu nem costumavavoltar . Avisei que nem
deveria terido, não deveria mesmo. Mas aceiteipara que? Para ver
Eduardo, porque obviamente, eu sabia que ele estarialá? Suspirei,
sufocadacom essa agonia. Nos meus planos, quando eu quisesse
voltara me relacionar
, tudo seria um mar de rosas.Mas me deparei
logo com esse cara cheio de confusões.

Mari enviou uma mensagem perguntandose estavatudo bem,


contouque todo mundo ficoucomentandosobre a cena em que eu
fui sequestradapelo filho do anfitrião.Me sentienvergonhada, mas
eu poderia fazero que? Eduardo achava que poderia fazer tudoque
quisesse.
“Sr. Danilo se irritoumuito. Logo depois Fred e a ex-esposa
brigaram, ela ficou rodeando ele e soltando piadas sobre mim.”

“Sinto muito, amiga” — eu respondi.

“Ele disse que Eduardo e Fred sempre foramproblemáticos,


sempre...” — ela continuou digitando:
“O Theo pediu seu número... Posso passar?”

“Pode. E, por favor


, não deixa o Fred ficarcontando tudo ao
Eduardo. Cansada de confusões.”

“Fred é muito fofoqueiro,não consigo controlá-lo.A mãe dele


disse que ele sempre foi assim, na casa deles, ele é conhecido
como Maria-fifi.” — comecei a rir incrédula.

Fui tirara roupa, a maquiagem, tomei um banho e fui deitar .


Como estava sem sono, procurei algum livro no Kindle para ler e
assim fiz, até conseguir dormir
.

Na manhã seguinte, acordei e logo vi a mensagem do Teo,


irmão do noivo da Chiara. Eu não queria dor de cabeça com
homens nem tão cedo, mas ele parecia descomplicado, não iria me
arrancarum pedaço ser ao menos educada. Embora eu não
esperasse que depois do show de ontem, ele se mantivesse a fim.

Me troqueie fui tomarcafécom minha mãe, depois segui com


ela para o restaurante.
Eu não trabalhavaaos sábados, na verdade,
era o meu dia de folga, mas como estava sem nada para fazer
,
decidi ir, para me ocupar um pouco.

Para meu completo azar, Fred e Edu decidiram almoçar no


estabelecimentode vovó Márcia. Como estava cheio, eu fui pegar
os pedidos deles dois. Fred me lançou um olhar culpado e apertou
os lábios, Eduardo era mesmo um louco sem noção.

Entreipara almoçar na cozinha do restaurante


e fugirdos dois
lá fora,mas quando acabei, para acabar de piorartudo, Teo e seu
irmão estavamaqui também. E Eduardo já havia dito que detestava
o cunhado, por que estavam na mesma mesa?

Contei para Mari o que estava acontecendo e ela enviava


emojis rindo.
“Fred já me pediu socorroaqui, do jeito que Edu anda doido,
capaz de querer brigar
...”

“Sério, eu devo terjogado pedra na cruz” — respondi. Queria


ficarescondida na cozinha até que eles fossemembora, mas vovó
logo me chamou para ajudar. Fiquei no caixa, me recuseia sairdali.
Teo quem tomoua liberdade de vir atémim, ficoupuxando conversa
enquanto o pratodele não chegava. Eu conseguia notaro olhar de
Edu em nós dois, o que era bizarro. Eu era o que para ele? O
brinquedo que ele iria querer brincaraté decidir não querer mais
brincare ainda assim, me deixar guardada para ser dele e apenas
dele? Eu não iria fazermais esforçospara entendê-lo.Ele tinhaalgo
a oferecer do jeito que eu
não queria.
Gabriel o chamou e ele voltou para a mesa. Dessa vez,
Eduardo veio pagar a conta aqui, mas Fred o alcançou e tomou a
frente.Ele me deu um sorrisonervoso e ele mesmo pagou a conta
dos dois. Eduardo tentouvir até mim outravez, mas o Fred não
deixou, acenou para mim e o empurrou para fora.

Quando o movimento diminuiu, vovó me deixou ir embora. E


pela tarde,Chiara quem me convidou para um programade casais.
Não estava animada, mas não havia motivos para não. ir
C 18
Eduardo Toledo

A família estava toda reunida na casa dos meus pais, na área


de lazer. Fred e eu passamos para buscaro filhodele e o menino foi
animado para a piscina.

Ele me repreendiao tempo inteiropelo meu descontrole,mas


eu estava irreprimível.Queria dizer poucas e boas para Jordana,
que ela era sim uma oportunista.Já estavatodafácilpara o canalha
do Teobaldo. Esse sem noção.
— Você não quer a garota,já deixou isso claro. Fez o papel
mais ridículo que eu já vi um homem fazer
, e ainda assim quer achar
ruim por ela querersair com outro?— meu primo perguntou,para
ver se havia entendido bem. O encarei, não querendo dar
explicações.
— Ele não é bom pra ela — eu falei, notando Chiara
bisbilhotando nossa conversa — o que foi? — pergunteipara ela,
grosseiramente.
— Você, sendo louco só pra variar— ela falou debochada —
vou sair com ela hoje. Com ela, meu noivo e meu cunhado.
A informaçãoentravacomo uma facadadescendo na garganta,
mas engoli isso e assenti.
— Esperoque ele coma muitoela. Não é isso que ele quer? —
eu disparei e Fred me encarou desacreditado.
— Se você continuaragindo desse jeito,eu vou pararde tentar
te entender— ele falou, ficando impaciente — vai ficarnesse não
fode e nem sai de cima? Falando mal da menina à toa?
— Estavacomigo não temuma semana e já estáaí,com outro
— eu continuei. Estava angustiado, tudo estava amargo com essa
confusão.
— Se você não quer valorizara Jordana, vai terquem faça. É
uma boa menina, educada, gatapra caralho,pelo que eu sei não vai
ficaraí sofrendoa trocode nada na tua mão — Fred falou incisivo
— não tem como ficardo seu lado, você está errado em tantos
níveis, que eu nem sei dizer
, cara.
— Sei que Teo a adorou — Chiara faloupresunçosa— e quem
não gosta dela? Jordana é um doce, né? Tratatodo mundo bem,
não provoca...
— Não provoca? — eu perguntei incrédulo, chegando a rir
.O
que ela estava fazendo comigo era o que então?
— Você acha mesmo que tudo que ela faz é sobre você? —
Fred perguntousarcástico,me encarando. O encarei, não querendo
responder— ela está voltando a sair agora, cara. Tá voltando a
viver, óbvio que vai se deixar levar. Igual deu uma chance pra você
e você desperdiçou.

Me levanteie saídali, furiosoque estava.Entreina casa e subi


para meu antigo quarto.Era doloroso entrarali, mas me joguei na
cama e cobri o rostocom o travesseiro.Estava exausto, confuso,
me sentindo um traidor e traído também.

Não notei quando Chiara entrou no quarto, apenas quando


puxou o travesseiro e se sentou na cama, o colocando no colo.
— Você não acha que deve se desculpar? — ela perguntou
cautelosae pegou minha mão entreas suas — sei que você é um
cara bom, só está com medo de se envolver de novo.
— Chiara, eu não quero e nem devo me desculpar com
ninguém.
— Tem certeza?— ela cerrouum pouco os olhos — não acha
que seria bom conversar com ela, se abrir
, dizer como se sente... Dá
pra notar que tem algo aí entrevocês dois, você vai mesmo deixar
morrerpor medo? Por se sentirculpado demais pra ser feliz de
novo?
Não a respondi, não queria ser consolado por ninguém, me
fazia sentirfraco,impotentee ridiculamenteinferior . Não precisava
de ninguém me dizendo o que fazer , eu já havia tomado a minha
decisão, precisava arcar com as consequências dela.
— Olha, pensa no que você quer. Mas para de condenar quem
não tem culpa, o que você está fazendo com a Jordana é injusto.
— Injusto por quê? — cheguei a perguntar , mas suspirei
impaciente— eu não vou mais sequer tocarno nome dela, Chiara.
Não se preocupe. A embrulhe e dê presenteao escrotodo seu
cunhado, porque eu não me importo.— Chiara me encarou por um
momento e negou com a cabeça, antes de se levantare sair do
quarto.

Esperei por Fred para irmos embora. Ànoite, pedimos pizza e


ficamos jogando no vídeo game com o pequeno. Quando fiquei
sozinho no quarto,tenteiolhar o perfilde Jordana, mas ela havia me
bloqueado. Amaldiçoei sua vingança, mas entrei no perfil da
empresa e fui olhar mesmo assim.
Havia foto do drink e a localização do bar que estava, Chiara
costumava frequentaro lugar. Dali, eu fui olhar o perfilda minha
irmã, vendo as fotosdela com o noivo e depois com o cunhado.
Respirei fundo, soltando o ar com força para aliviar minha agonia.

Depois, desci as fotosdo meu perfile olhei as minhas fotos


com Bianca, revivi lembranças de nós dois, tentandome convencer
de que isso aqui foi amor, embora tudo que me dominasse fosse
remorso,e eu não queria sentirnada parecido por outra,não queria
passar por nada disso de novo.
C 19
Jordana Testa

— Fred vota no Edu, mas é meio que obrigação dele, né? —


Mari perguntouao se sentarna minha cama, quando conteisobre o
fim de semana com Teo. Era um domingo e eu havia chegado em
casa há pouco tempo, então ela veio me encontrar— não tenho
contado nada para ele, eu sei que meu namoradinho não sabe
guardar segredo.
— Os rumoresdele com Luísa... É verdade? — pergunteie ela
começou a rir
, negando com a cabeça.
— Ela queria polemizar, eu acho. Você acredita que Fred
queria se pronunciar? — ela perguntouincrédula, mas ria, achando
mesmo graça da situação — nem era sobre ele!
— Não acho que quero continuar saindo com ele — eu
confessei e Mari me encarou confusa — é legal, mas não é
extraordinário... É como se eu estivesse o fazendo perder tempo.
— Eu sei que você não deu, mas nem por isso ele está
perdendo tempo, amiga... Chiara acha o que?
— Ficou perguntando se eu e Edu teríamoschance de
fazermosas pazes. Mas falei que não, isso não depende de mim.
Quem cagou com tudo foi ele — lamentei — mas é esse o ponto,
não quero sair com alguém por estar magoada com outro.
— Está saindo só por isso? — ela perguntoucautelosa e a
encarei, apertando os lábios.
— Se eu pudesse, voltava no tempo e não teriaido àquela
casa de swing com você. Ou, não teriaido beber alguma coisa com
o seu supostoamigo. Deveria tervoltado para casa, jamais teriao
conhecido e...
— Teria o conhecido em algum momento, porque eu e Fred
continuamos saindo...
— Mas eu tenho certezade que a July ficariacom ele, não eu
— falei brava e ela riu, assentindo.
— Homens como Edu viram a cabeça, né? — ela perguntou
maliciosa, mas fiz uma careta desgostosa — Fred é incrível, mas ele
não fode com a pessoa, Eduardo é um problemão...
— Ele é... — falei vagamente.

Minha mãe apareceu, avisando que iria encontrarum amigo,


que voltaria tarde. Eu imaginava que voltaria pela manhã. Pelo
menos havia evoluído do apenas sair, para encontrarum amigo.
Não iria pressioná-la, ela teriaseu tempo para me contartudo, se
quisesse. Nunca fomos tão próximas, mamãe conseguia ser mais
arcaica do que eu.
— Bom que ela esteja saindo e conhecendo alguém — Mari
comentou tranquilamente — vamos pedir pizza?
— Vamos — respondi, pegando o meu celular para
escolhermos.

Pedimos pizza salgada e doce, sorvete e refrigera ntes.


Ficamos na sala vendo filme, conversando bobagens, ela me
divertindocom as palhaçadas de Fred. Entramosrapidamenteno
assuntosobre as ameaças fajutasda ex-esposa dele, mas ela não
se sentia intimidada.
— Única coisa que pega para mim é que ficam os dois se
insultando para o filho. Já alerteio Fred, ele prometeque vai se
controlar, mas quando se irrita com ela, estálá, brigando outravez.
E tem o negócio da pensão, o advogado dele tentounegociar um
valor e ela não aceitou.Estápedindo trintae dois mil mensais — ela
contou e a encarei estupefata— disse que está dentro das
possibilidades dele, que manteriaa manutençãodo padrão de vida
do garoto.
— Nossa...
— Fred está disposto a aceitar , se livrarlogo disso, mas ela
sempre prolonga.
— É muito dinheiro — falei chocada.
— Amiga, um vinho que ela tomanum fimde semana qualquer
custaisso... — ela falou,revirando os olhos — mas é muitodinheiro
sim...
— Ele é um bom pai?
— Meio doido, né — ela riu — mas ele tenta.E o garotoé
louco por ele, então isso já conta um pouco.
— Seus pais já sabem?
— Claro que não — ela franziu as sobrancelhas, rindo
indignada — seriaeu contare eles começarema falare fazer merda
a respeito.
— Como você pretendemanterum relacionamentoescondido?
— Amiga, eu ganhei um celular e já rodou pela famíliaque
estou me prostituindo.E eles alimentam. Então, não. Eu não vou
contar. Fred insiste em conhecê-los e eu nem tenho coragem de
contar como é a minha relação com a minha família.
— Eu sinto muito — lamentei, mas ela abanou a mão.
— Está tudo bem — ela garantiu.

Falamos mais um pouco sobrea vida alheia, comemos e já era


quase uma da manhã quando Fred ligou para Marina. Ela estranhou
o horário, já que o esperava pelo menos até dez da noite para
buscá-la. Como ele desapareceu, ela pegou um pijama meu
emprestado e iria dormir por aqui.
— Sério? — ela perguntou,parecendo preocupada. Eu a olhei,
aturdida,imaginando ser algo com Edu — eu vou abrire você sobe
com ele.

Eu a encarei incrédula, mas ela apenas foi liberara entrada


dele.
— Ele está com Edu, que está bem mal, bêbado... — ela
contou séria, mas parou e começou a rir— bebendo pra afogara
mágoa. Deveria se sentir, porque sabemos que é por sua causa.
— É muito bonita a maneira como ele erroucomigo e vocês
insinuam que tudo de ruim que ele anda fazendo é graçasa mim —
eu resmunguei — se não fossepela loucuradele, eu estarialá, igual
uma idiota iludida na cama dele.
— Ele só não está sabendo lidar
, amiga — ela falou pesarosa.
— Ele não tem cinco anos de idade — eu retruquei.
— Fred disse que é difícilpra ele. Que não justificacomo ele
está lidando, mas entende que é doloroso...

Mari foi abrir a porta e Fred entrou, carregando Eduardo


apoiado. Este, por sua vez, parecia tão alcoolizado que mal se
equilibrava em pé.
— Deveria ter levado ele pro apartamentodele — eu falei
impaciente,não fui ajudá-los. Fred me olhou pesarosamentee Edu
soluçou. O cheiro da bebida dava para sentir daqui.
— O cara estána merda, Jordana. Sei que ele feztudoerrado,
mas não vai te matarajudá-lo — ele falou, segurando o braço de
Edu em voltade seus ombros. Eu suspirei,vencida. Fred me seguiu
até meu quartoe o levou para o banheiro. Colocou Edu sentadono
vaso com a tampa fechada e eu precisei apoiá-lo.

Fred mudou a temperatura do chuveiro para friae eu comecei


a tiraro blazer de Eduardo. Ele mal conseguia mantera postura.
Fred parou perto dele, com as mãos na cintura e o avaliou.
— O que ele bebeu? — perguntei.
— Tudo. Saiu ontem à noite, com Ravi — ele explicou — se
não fosse tão cabeça dura, não estaria passando por isso.
— Não venha me dizer que por minha causa — falei
asperamente para Fred, que assentiu.
— É por causa dele que não se liberta— ele falou e o encarei
— depois conversamos — ele saiu do banheiro e eu fui tirandoa
roupa de Edu, que soluçava. Estava tão alcoolizado que não
retrucava,não conseguia mais falar . Eu nunca havia visto alguém
tão bêbado assim.
Desabotoei a camisa branca, tireios sapatos e meias dele,
tentei levantá-lo. Fred havia deixado o chuveiro ligado e Edu
cambaleou para dentro.Entreitambém, para equilibrá-lo de alguma
forma.Ele apoiou as mãos na parede e a água caía gelada nele,
respigando em mim. Ficamos alguns minutosali, até ele estarmais
despertado.O ajudei a tiraro restoda roupa e com o banho. O
sequei também, e o levei de volta para o quarto.Ele não falava
nada, mal olhava para mim. Caiu sentadona beirada da cama e só
então nos encaramos por um momento. Ele tinha as pupilas
completamente dilatadas, os olhos avermelhados e tremia um
pouco. Peguei uma toalhade rostopara secarum pouco os cabelos
dele, que me abraçou pela cintura.
Parei por um momento, deixando, era tudo por conta da
bebida. Puxei a colcha da cama e o incentivei a deitar. Depois
peguei um edredom para ele, que já estava deitado e o abri,
querendo cobri-lo. Tudo em mim se revirouquando ele resmungou
algo e puxou a toalhaque estavacobrindoseu corpodo quadril para
baixo e a jogou para o chão.

Eu nunca perdoariao Fred por tê-lo trazido,por me obrigara


enfrentaressa situação. O cobri e ele me olhou rapidamente,
piscando algumas vezes, mas logo caiu em um sono profundo.

Voltei para a sala e Fred e Marina estavamno sofá.Ele comia


um pedaço da pizza doce que sobrou.
— Me desculpa — ele falou, ainda de boca cheia e fez um
gesto, para terminarde engolir a comida — ele estava impossível.
Sumiu hoje o dia inteiro, fiquei preocupado. Até que Ravi ligou,
porque já iria para casa e Edu não parava de beber
.
— Onde ele estava?— pergunteifriamentee Fred me encarou
cauteloso, como se não quisesse dizer — você traz o homem
nessas condições pra minha casa, não se importase eu não vou
poder cuidar dele, e não quer me contar tudo?
— Não acha melhor ele te contar?
— Não! — falei, perdendo a paciência — eu não pedi por essa
confusão. Eu caí de paraquedas nela, não vou esperarEduardo
acordare tera boa vontade de me contaralguma coisa, porque sei
que ele não vai!
— Estava no apartamentode umas modelos, amiga — Mari
falou vencida. Era amargo saber que ele estava com outra,mas
fazia algumas semanas desde nosso último desentendimento — ele,
Ravi e mais duas mulheres. Fred disse que eles fazem coisas que
você jamais iria querer saber
.
— O que? — perguntei,me sentindo machucada por ir tão
fundo. Fred suspirou, negando com a cabeça.
— Depois eu sou o fofoquei ro — Fred a repreendeu— nada
que ele vá se orgulharde dizer. Deixa isso quieto. Ele só precisa
assumir pra si mesmo o que sente, garanto que vai se desculpar
.
— Enquanto ele não assume pra si mesmo o que sente, eu que
me foda, Fred? — perguntei com força, gesticulando.
— Me desculpa, Dana — ele falou, usando o apelido que ouviu
vovó usar um dia desses no restaurante — eu não sabia o que
fazer
, dessa vez, ele passou de todos os limites, imaginei que
estando pertode você, se vocês conversassem, poderiam tentar
resolver
.
— Resolver o que? — perguntei, ficando irritadapor essa
insistência.
— Eu vou embora — Fred avisou, me deixando ainda mais de
mãos atadas— volto pela manhã pra buscá-lo. Qualquer problema,
pode me ligar — ele falou, colocando a borda da pizza na caixa de
pizza vazia.
Mari me lançou um olhar de desculpas e eu pisquei devagar,
negando com a cabeça decepcionada. Me entregaramEdu como
um problema que eu deveria resolver?Eu nem tinha como fazer
isso, ele era sem solução.

Fui trancara portaquando eles saírame peguei tudo da mesa


de centro.Joguei foraas embalagens descartáveise arrumeitudo.
Troquei o pijama que estava molhado e olhei para esse homem
adormecido na minha cama. Se eu conseguiriaentendertudo o que
ele feze aceitar, eu não sabia, mas estavadifícilolhá-lo assim e não
desejar que nossa história tivesse sido de outra maneira. Que
tivesse sido mais fácil, pelo menos.

Peguei um cobertore fui para o quartoda minha mãe. Não iria


dormircom ele, deixá-lo acordare ver que eu estavaali. Como um
bom ser humano que eu era, não iria deixá-lo na mão, mas Edu
deveria saber que eu não cederia para ele outra vez.

Não consegui dormir


. Cochilava, mas não caía em um sono
profundo. Era como se eu estivesse preocupada com ele, não
sabendo o que fazerquando ele acordassee os efeitosdo álcool já
não estivessem mais dominantes.

Estava cansada pela manhã. Minha mãe ligou, como se fosse


uma ajuda divina para ela não precisarpresenciaressa cena, jamais
veria com bons olhos, e avisou que iria para o restaurante
de onde
estava. Levantei e fui para o banheiro.
Depois de lavar o rosto e escovar os dentes também,
finalmentecriei coragem para ir até o meu quarto.Ele ainda dormia,
então cheguei mais perto, o analisando.

Estranhei todo o suor, já que o ar estava ligado numa


temperaturarazoável. Como se sentisse que estava sendo
observado, Edu se mexeu e se virou para o outrolado. Saí do
quarto devagar para não acordá-lo, pelo que Fred havia contado, ele
deveria estar bebendo e sem dormir pelo fim de semana todo.

Teo enviou a corriqueiramensagem de bom dia, que eu logo


respondi. Eu me odiava completamente,poderia estarinteressada
nele, porque seria recíproco.Ou não, talvez ele só estivesseassim
até me levar para a cama. Eu bem me lembrava de como Edu era
um belo de um príncipe.

Eu estava na cozinha preparandocafé, quando ele apareceu.


Estava enrolado na toalha apenas e parecia desnorteado.Levou a
mão para a cabeça e eu continuei o encarando.
— Como eu vim parar aqui? — ele perguntou,a voz rouca
falhando.
— Estátudo bem? — pergunteie ele fez uma careta,negando
com a cabeça.
— Não vai me responder?
— Fred te trouxe — falei rapidamente— você estava bem
mal...
— Por que ele me trouxe?
— Não sei, oras — falei o óbvio — tenha certezade que eu
não pedi.
— Eu preciso ir embora — ele falou e eu revirei os olhos,
assentindo — cadê o meu celular?
— Deve terficadocom ele — falei confusa— vou ligar pra ele
vir te buscar
, não se preocupe.

Deixei o cafée fui pegar meu celular no quartoda minha mãe.


Edu veio atrás,grunhindo com o incômodo da ressacafodida que
deveria estarsentindo.Ele se sentouà beirada da cama e respirou
fundo, fechando os olhos por um momento, como se buscasse
algum alívio.

Fred não atendeu minha primeiraligação, então insistiligando


para Marina. Pedi para que trouxessemuma roupa para Edu, ele
não poderia sairdaqui de toalha. Quando noteique ele ainda tremia
um pouco, tendo calafriose arquejando, fui como num reflexomedir
sua temperatura.Franzi o cenho, confusa, estava quente. Não
apenas febril. Não achava havia um termômetropor aqui, mas
mesmo assim, fui procurar na cozinha, numa caixa de remédios.
Eduardo me seguia pela casa, como um robô adoecido e dessa
vez, ficou sentado no sofá. Eu medi a temperatura
dele com um
termômetro velho, que por milagre ainda funcionava. Quando se deu
conta de que estava com febre, a temperaturaestava acima de
trintae oito graus, Edu começou a ficarsonolento.O que para mim
foi puro drama, mas não questionei.
Por contraprópria,eu dei um antitérmicopara ele. Na minha
vida inteirade automedicação, eu imaginava que terdormido com o
cabelo molhado, com o organismofracopor causa de tant a bebida e
provavelmentealguma droga no meio, foi um pratocheio para o
resfriado.

Quando reagiu um pouco, disse que a gargantaestavadoendo


também. O encarei jogado no meu sofá, tão bonito e cheio de
manha. Deverí amos mantera briga, a birraum com o outro, mas eu
resolvi dar uma trégua. Ele estava errado em todos os níveis
possíveis,mas se sentia mal pelos efeitosda febre,da gargantae
da ressaca.

Fred chegou com uma muda de roupas e o celular dele. Parou


em frente ao Eduardo, jogado no sofá se entregando
completamenteao resfriado,ou seja lá o que fosse. O primo o
encarava com as mãos na cintura,o rostoinclinado para o lado e
parecia se divertir
, achar bem feito.
— Vamos pra casa? — Fred perguntou e eu fui pegar as
roupas molhadas dele no banheiro, mas parei no meio do caminho,
estática quando Edu começou a dizer:
— Não. Jordana vai cuidar de mim hoje — a voz soou fracae
Fred olhou para mim, como se pedisse complacência. Ele adorava
se comunicar com as pessoas por expressões,Marina dizia que já
estava expert nisso.
— Não acha melhor ir pro seu apto? — Fred perguntou e
Eduardo olhou para mim, esperando que eu tomasse a decisão.
Encarei Fred, querendo que ele entendesse o meu desgosto
por terque fazerisso. Peguei as roupas dele do meu banheiro e
coloquei em um saco plástico, para poder levar. Me troqueie prendi
os cabelos. Edu continuava seu drama, não que Fred estivesse
realmente caindo na cena, mas resolveu não desmascará-lo.

Ele nos deixou na garagem do prédio e eu e Edu subimos. Em


silêncio. Quando chegamos, a governanta, Noêmia, pareceu
confusaa me ver e ao vê-lo nesse estado,mas quando conteio que
havia acontecido,ela já parecia saber lidar. Ele subiu as escadas e
Noêmia pegou as roupas sujas dele comigo.
— Ele é dramático, logo você vai se acostumar— ela falou,
apertandoos lábios e negou com a cabeça. Eu suspirei, não teria
que me acostumar , não estava nos planos me manterpertodesse
problema que era ele.

O encontreino quartoe ele tirava a roupa. Foi para o banheiro


e tomou um banho rápido. Voltou de lá se secando e olhou para
mim, que mesmo sem querer, não conseguia pararde olhá-lo todo.
Só desviei quando fui pega.

Sentei-meà poltronade couro no quartodele, que se trocouna


minha frente,como se quisesse me provocar , mas não retruquei.
Fiquei quieta. Noêmia logo chegou com um suco verde e remédios
para Edu, perguntouo que eu queria comer, mas não queria nada.
Ele bebeu rapidamenteo suco e os remédios, depois, sem que eu
esperasse,veio se sentarno chão, entreas minhas pernas e deitou
a cabeça no meu colo.
Parei sem reação, com as mãos no ar e o olhei, que virou o
rosto e fechou os olhos.
— Esses dias foram caóticos — ele murmurou, suspirando
forte.
— Sinto muito — falei baixo, irritadapor ele conseguir se
colocar de vítima dele mesmo.
— Senti sua falta— ele faloue eu tranqueia respiraçãopor um
momento, esse cretinoqueria me manipular? Eu não voltariacom
ele para ele ficarpor aí falando bobagens, validando o macho-alfa
desapegado que só me comia.

Ele depositou um beijo suave na minha perna, depois virou o


rostoem minha direção e ia subindo, mas o empurreie me levantei
apressada.Edu se levantou,correuas mãos no cabelo e olhou para
mim.
— Me desculpa — ele falou, vindo em minha direção. Eu o
encarei, ficando nervosa por todas essas sensações malucas. De
tudo que eu imaginei sobre ele, isso aqui que estávamos vivendo
nunca se passou pela minha cabeça.
— Eu sei que fiz tudo errado, eu me arrependo.
— Eu não me importo— falei baixo, mantendo o olhar firme
nele — eu não estava cobrando nada de você, e tudo o que você
fazia por aí era me insultar
.
— Me desculpa — ele falou com mais entonaçãona voz — eu
não devia, eu fiquei desesperado, não devia, eu errei!
— Você já se sente melhor? — pergunteie ele piscou devagar,
negando com a cabeça lentamente.Suspireisufocada,eu sabia que
deveria ir embora o mais rápido possível,mas usava essa doença
fajuta dele como desculpa para ficar
.

Ele não precisava de mim, era tão óbvio, mas havia essa coisa
destrutiva e maior querendo dar a atenção que ele nem merecia.
— Eu vou precisarir embora logo, tenhoque trabalhar— avisei
e ele suspirou, desanimado. Foi se sentarna cama e bateu ao seu
lado.
— Podemos conversardireito?— perguntousuavementee eu
resmunguei, indo me sentar ao seu lado.
— Pode dizer — eu falei, esperando que ele começasse, afinal
eu não tinhanada para explicar. Antesque ele começasse, se é que
ia, meu celular vibrou trêsvezes e o nome de Teo apareceu na tela.
Ele bisbilhotou sem pudor e o repreendi com o olhar
.
— É sério o seu negócio com esse cara? — perguntou
impaciente.
— Não sei, mas ele não saiu por aí dizendo que apenas me
comia — eu o provoquei e ele fez uma pausa na respiraç
ão, fechou
os olhos por um segundo e voltou a me olhar
.
— Você transou com ele? — ele perguntou, parecendo
incrédulo. O encarei firme.
— Se eu tivesse, não seria um problema seu.
— Mas você fez? — insistiu e eu fiz uma carranca,negando
com a cabeça — está mentindo pra mim?
— Não estoumentindo pra você, Eduardo! — Falei impaciente
— e eu não devo satisfação pra você.
— Me desculpa — ele recuou outravez — me desculpa por
tudo que eu falei, eu não devia, agi como um menino covarde, eu
me arrependo.
— Certo. Eu já posso ir embora? — perguntei friamente.
— Não pode me fazer companhia? — ele perguntou mais
calmo e eu o encarei. Nos encaramos por alguns segundos, ele
parecia mesmo péssimo, mas era muito bem feito.Eduardo devia
ser o tipo de homem que errae coloca a culpa no erro,não nele —
não pode ligar para a sua avó, pedir para faltar hoje?
C 20
Eduardo Toledo

Toda vez que Jordana mencionava precisarir embora, eu fazia


manha. Pareci um idiota mimado – que eu realmente era –,
querendo o afago e o carinho dela. Que me dava, mesmo
contrariada.

Eu sabia que teriaque me desculpar, que precisava, mas não


sabia como fazer isso sem me corromperinteiro. Ela não iria
abandonar toda sua vida outra vez para ficar comigo sem que eu me
corrompesse,abandonasse meu remorsoe o meu medo. Mas eu
não me sentia capaz ainda.

Ela ficou sentada na cama, escorada à cabeceira e mexia no


celular. Eu sabia que falava com o outroidiota lá, mas não banquei
o possessivo maluco, eu não era esse cara. Mas como eu era o
idiotaque desprezavao que vivíamospara não parecerapaixonado,
ficava inseguro de ela encontrar tudo sublimemente em outro cara.

A minha sortefoi a febre.Imaginava que o ritmofrenéticodas


últimassemanas, onde eu me alimentei mal, bebi muito e fiz várias
merdas ajudou a acabar com a imunidade. Uma noite de cabelo
molhado no ar condicionado deve terme resfriado.Juntando isso
com a ressaca desgraçada, eu fiquei um caco.
Deitei minha cabeça no colo de Jordana e ela deixou o celular
sobre o colchão. Começou a acarinharmeu cabelo, passeando os
dedos entre os fios.
— Eu não entendo você — ela falou um tempo depois e eu
mantive os olhos fechados — deixou claro pra todo mundo que
nunca teríamos nada... Depois me humilhou dizendo que só me
comia. Agora está aí, fazendo esse drama, me deixando confusa e...
— Eu não queria te encher de promessas ou esperança de
que... — parei de falar— eu fiquei com medo. Não acho que eu
esteja capaz de dar pra você o que você merece. Que eu vá
conseguir...
— Ou você apenas não quer? — ela perguntou, me
interrompendo e eu fiquei quieto por um instante.
— Eu tenho medo — falei, a voz chegou a travare eu engoli
pesado — eu tive medo...
— E por que eu estou aqui agora? — ela perguntou— você
pode olhar para mim? — neguei com a cabeça, covarde e incapaz.
Jordana suspirou com forçae parou de passear os dedos por
meu cabelo. Seu celular começou a tocar e eu não tive tempo de ver
quem era, antes de ela pegá-lo.
— Oi, vovó... Eu não estoume sentindobem agora... Muitador
de cabeça... Sim, aquela enxaqueca horrível...Obrigada... Vou
tomar. Beijo — e desligou, soltando o celular na cama de novo.
— Obrigado por ficar aqui comigo — eu murmurei,
envergonhado por tudo o que andei fazendo, por como andei
agindo. Pareci um moleque, mas nem quando mais novo eu fui tão
impulsivo e ridículo dessa maneira.
— Eu sabia desde o primeirominuto que você seria problema
— ela falou lamentosa — não imaginei que desse tamanho.
— Eu posso tentarconsertaralgumas coisas — eu falei e ela
deu um riso desanimado.
— Você estevecom outrasmulheres, eu não acho que tenha o
que consertar
... Está tudo quebrado.
— Você saiu com o idiota do Teo — eu retruquei , não
acreditandoque me deixaria entrarnesse caminho. Mas estava
fracodemais sem ela, viciado demais para querermantero orgulho,
apesar de todo o medo.
— Eu não tran sei com ele — ela replicoucom mais ênfase, me
deixando aliviado e eu me sentei.
— Eu sintomuito— faleisério,a encarando— eu posso tentar
melhorar, não agir tão impulsivamente...Não sair falando bobagens
por aí, só pra camuflar o meu medo.
— Medo de mim? — ela perguntou incrédula.
— Medo de dar tudo errado.De machucarvocê — falei baixo,
sendo sincero e ela negou com a cabeça — você não quer? Não
sentefaltade nós dois? — pergunteichegando mais perto. Ela me
encarou por um segundo e desceu o olhar para a minha boca. Fui
chegando perto,achei que fôssemosnos beijar, mas ela se levantou
num impulso e andou apressada pelo quarto.
— Eu acho melhor eu ir embora — ela falou nervosa,
procurandopelas sandálias que tiroupertoda poltronae eu caí
deitado na cama, cobrindo os olhos com o antebraço.
— Eu to me sentindomal, ainda... Com febre,cheio de dor —
comecei essa ladainha fajuta.A febreera real, o mal estartambém,
mas nada que a obrigasse ficarme dando corda. Eu apenas a
queria aqui, me dando esse carinho e conforto.
— Por favor , deita comigo, me faz sentirmelhor — continuei,
ouvindo seu suspiro, enquanto ela resmungava. Jordana se deitou
comigo, que me afastei e a puxei para abraçá-la.
— Eu não deveria mesmo dar ouvidos pra você — ela
resmungava, mas eu me moldei em seu corpo e afundei o rostoem
seu pescoço — se isso que você tem for contagioso, eu vou
adoecer e...
— Se sentir saudade for contagioso, eu espero que você
pegue, que sinta a faltaque eu sinto de você — eu retruquei,a
interrompendo e ela soltou o ar asperamente, mas não me
respondeu. Ficamos abraçados por um tempo, eu me sentimelhor,
queria dormir, mas não queria que ela fosse embora sem nos
resolvermos.

Para minha surpresa,ela pegou no sono, não eu. Deveria ter


dormido mal à noite, talvez. Fiquei a observando, tão bonita, doce,
parecia tão indefesa e eu aqui, fazendo todo esse caos para nós
dois. Evitei pensamentosdestrutivos,talvez fossemelhor nós dois
tentarmos,talvez eu merecesseme deixar levar e ela merecia uma
boa versão de mim, não esse cretino sem noção que eu fui.

Como se tudo fossefácil, igual nos meus pensamentos,onde


eu assumo que a quero, que quero que tentemos,que eu poderia
tentarser o cara que ela queria que eu fosse, o celular dela
começou a tocar , quebrando minha ilusão de que seriamesmo fácil.
Era o idiotado Teobaldo. Eu queria atender
, dizer para ele que a vez
dele já venceu, o tempo dele esgotou, mas o que havia esgotado
mesmo foi as minhas chances de fazer merda.

Jordana acordou meio perdida com o barulho do celular


tocando, mas eu silenciei a ligação e ela foi se situando, olhando
confusapara mim. Eu acariciei seu rostoe fui me aproximando, na
intençãode beijá-la, mas antes que acontecesse,o maldito voltou a
ligar. Ela se afastou,despertandode vez e se sentou, pegando o
celular e se levantou, andando para pertoda portaque dava para a
sacada enquanto falava. Fiquei bisbilhotando a ligação, enquanto
ela repetiaos sintomas que disse para a avó. Jordana me olhou
brava, enquanto mentia para o idiota e finalizou dizendo que se
melhorasse, mais tarde ligaria para ele.
— Eu te odeio — ela falou com força,mas dei um sorriso
esguio e neguei com a cabeça — o próximo passo é o que? —
perguntouirrita da, mas me levanteie fuia sua direção.A puxei pela
cinturae escorregueiuma mão pelo seu cabelo até a nuca — me
comere sairpor aídizendo que fazapenas isso? Que não sou nada
importante?
— Que você virou a minha cabeça e me deixou perdido,
maluco e com medo — eu falei, estava apelando para ela me aceitar
de volta — mas que agora eu vou tentar fazer tudo certo.
Não a esperei respondere encerreitoda essa merda com um
beijo de verdade. Ela correspondeu,seguindo meu ritmointenso e
cheio de saudade. Eu havia, sim, beijado outrasmulheres durante
essas semanas separados, mas nenhuma conseguia me fazer sentir
essa plenitude toda.
Ela deve terimaginado que eu nos levaria para a cama, o que
não seria uma mentira, caso eu não estivesse tão mal, porque
encerrouo beijo e se afastounum sobressalto.Mordi o lábio inferior
,
a olhando, que arfava.
— Eu não quero — ela faloucom a voz entrecortada e pegou o
celular sobre a cama, antes de sair do quarto.Peguei a chave do
meu carroe corriatrásdela, a encontrandoa tempo de entrarno
elevador.
— Eu te levo pra casa — falei cauteloso— é o mínimo, já que
te fiz vir até aqui.
Só recebi silêncio. Tudo bem, eu merecia.O caminho longo até
o endereço dela foi silencioso, a não ser pelo som ligado em um
volume baixo. Ela desceu sem se despedir e a olhei até que entrou
no prédio. Escorei a cabeça no volante e suspirei.

Me dava pânico cogitarme deixar ficarapaixonado por essa


garota,mas haveria maneira de controlar?Eu conseguiria recuar?
Se pertoeu já era um estrago ambulante para ela, de longe eu
parecia me tornar pior
.

Voltei para casa, onde Noêmia, já acostumada com os meus


sintomas tenebrososda ressaca, cuidou para que eu melhorasse.
Pela tarde até mesmo consegui ir trabalhar . Fred apareceu,
querendo saber o que aconteceu,mas preferinão contar . Fred era
um fofoqueironato,devia estarse corroendopor não obter todasas
informações.
— Não me importo — meu primo falou, me lançando uma
careta cheia de deboche — Marina vai me contar tudo mesmo — dei
um riso, porque provavelmente iria.

Tentei falar com Jordana durantea semana, mas ela respondia


seca, nos mantendo distantes.Estava se protegendo, eu sabia.
Estava certa, mas se agora eu queria tentar , custava para ela
ceder? Se ela quisesse, claro.

No meio da semana, eu saí com os caras. Fomos para um


clube de jogos e bebíamosuísquescaros,colocávamos a conversa
em dia. Menos eu, claro. Fred fumava um charutoe ria de uma das
piadas sem graça de um dos nossos amigos. Tudo se inflamou em
mim quando Gabriel chegou com seu irmão.

Fomos jogar buraco, eu e Fred de dupla, os outros dois contra.


— Vê se não arrumaconfusão — meu amigo falou, antes de
irmos nos sentar
. O olhei sério, não tinha essa intenção. Bebi a
últimadose do meu uísquee começamos o jogo. Fiquei em silêncio,
não gostava de Gabriel e ele sabia disso.
— Chiara me contou que você não quer aceitarser nosso
padrinho — meu cunhado comentou, quando acabamos a partida.
Foi acirrada,mas eu e Fred ganhamos. O encarei, seria a coisa
certa,afinal padrinhos deveriam amar o casal e eu não amava o
casal.
— Não acho que eu esteja apto.
— Prometipra ela que tentariadar uma trégua.Não sei os
seus motivos pra me detesta
r, mas estou dispostoa consertar
. Por
ela.
— Sei — resmunguei sarcástico.
— Eu a amo, Eduardo — ele faloue eu suspirei,esperandopor
algo mais convincente — aquele incidente ficou enterradono
passado. Se ela me perdoou foi porque confia em mim.
— Eu esperoestarerradoao seu respeito,Gabriel — faleisério
— porque se Chiara estivererrada,ela quem vai sofrer
. E eu não
quero isso.
— Eu te garanto que ela estácerta— ele falou, me encarando
sério,mas seriadifícileu compraressa lorota— ela iria ficarfelizse
você aceitasse o convite. É importante pra ela.
— Vou pensar — falei e Fred me olhava feio. Ouvi um riso do
outrobabaca e olhei rapidamente,mas este estava entretidono
celular. Ia desfocar dele, que começou a gravar um áudio:
— Estou num clube com meu irmão, gata... Sair daqui
podemos nos ver — Fred pareceu apreensivo, certamente
pensando que se tratavada Jordana, obviamente. O olhar de Teo
encontrou o meu e ele franziu o cenho, confuso.
— Que foi?

Olhei para Fred e me levantei, saindo logo dali. Minha vontade


maior era a de espancar os dois, mas as leis proibiam.

Saímosdali e Fred ligou para Marina, passaríamospara buscá-


la na casa da Denise.
— Jordana está com ela? — pergunteienquanto dirigia. Fred
deu um riso.
— Deve estar
. Sempre estão juntas.
Fiquei quieto, se tudo estava bagunçado desse jeito era culpa
minha. Fred notou minha agonia quando chegamos e Teo chegou
logo depois. Jordana e Marina saíramjuntas da casa, mas a outra
foi em direção ao cretino.Eu poderia descrevera exata sensação
como se estivessem me contorcendopor dentro. Pegaram meu
coração e torceramcom toda a força.Acompanhei-a com o olhar,
até que ela atravessoua rua e o babaca a cumprimentoucom um
abraço, logo depois um beijo. Engoli o sabor azedo de assistira
cena nojenta. Os dois entraram no carro e saíram dali.
— Acho melhor eu ir dirigindo agora — Fred falou, mas apertei
as mãos no volante e o olhei irritado — é sério, cara...
O ignorei. Marina ficou quieta no banco de trás.Ignorei com
toda minha forçaa vontade de seguir o carro,e dirigi para meu
apartamento.

Já em casa, tomei um banho querendo me acalmar. Eu não


queria nada com ela, sabia que não queria viver outrapaixão na
vida, não deveria estarme corroendotanto.Tenteime convencerde
que era só posse, mas não era só isso. Eu sempre fui ciumento,
mas nunca extrapoleilimite nenhum, sabia a linha do permitido,
nunca fui de querer controlarninguém. Atribuíameu descontrole
com Jordana à faltade certezasobre o que nós dois tínhamos.Eu
sabia que ela não era de ter nada casual com ninguém, a amiga
deixou isso escancaradona minha carao tempotodoe ela também.
E sempre deixei escancaradopara ela que nós dois nunca teríamos
nada, desfiz dela e de nós dois, então eu sabia que ela estava
abertaa outraspossibilidades, isso me matava. Deveria terrecuado
primeiro, não ter deixado tudo se quebrar
.

Parecia haver tantoscacos para serem remendados que eu


nem sabia se isso seria possível.

Na sexta-feira, como Marina viajou para um evento familiarem


Niterói,Fred e eu iríamospara uma casa noturna.Antes,iríamosao
jantarna casa dos meus pais, Chiara estariadando um jantare
queria reunir a família.

Quando chegamos e eu notei que o cunhado maldito estava


acompanhado de seu irmão, já fiquei com o humor instável. Fred
pediu para eu ignorá-lo, e foi o que fiz. Sorriamarelo para o convite
de Chiara para ser padrinho de seu casamento. Dessa vez em
público, que era para me deixar sem ter como escapar. Estava
contrariado, não confiava nesse sem noção.
— Sabe quem vai ser madrinha comigo? — Teo perguntou,
mas fingi não ouvir e me levantei, indo encontrarmeu pai lá fora,
apreciando seu charuto.Ele me deu um, que corteie acendi e
ficamosali foracontemplando o silêncio. De todo modo, era melhor
que ele vir me azucrinardizendo que perdi a Luísa,uma vez que eu
havia me livrado dela. E ela de mim, obviamente.
Ele recebeuuma ligação e se afastoupara atender
. O observei
caminhando pelo jardim. Mamãe passou por mim, me dando um
abraço e beijo no rosto, antes de ir atrás do marido.
— Soube que está se corroendo porque eu estou com a
Jordana — Teo falou, parando ao meu lado. O ignorei e continuei
apreciando o charuto de meu pai, mas ele voltou a falar merda:
— Eu só queria te agradecer, afinal graças à sua burrice,eu
fatureiuma gata... — ele estava sendo malicioso e presunçoso
demais, mas ainda assim, o ignorei — e gostosa — a última
afirmaçãoveio como uma bomba dentro de mim. O olhei, mas
continuei quieto. Ele deu um sorrisoconvencido, de quem estava
conseguindo o que queria.
— Vai se gabar porque ficou com a garota, é isso? —
perguntei, tentando não parecer afetado, mas estava.
— Estou te agradecendo, apenas isso — ele continuou. A
minha vontade era queimá-lo agora. Bancar o maluco e enviar o
charutoaceso bem no olho dele, mas não foio que eu fiz.Ele voltou
a falar: — estou tendo o melhor sexo da minha vida e isso
provavelmenteé graças a você, que a deixou escapar. Se gabou
tantoque estavaapenas usando e comendo a garota,mas agora é
minha vez. Quem está comen... — eu deveria ter cegado esse
panaca, mas deixei cair o charutono chão e avancei nele com um
soco. Ele foi pego de surpresa,acostumadoa provocare sair ileso.
Mas falardessa maneira foi demais, fiquei cego. Avancei nele de
novo, o acertandoum, dois socos no rosto,mas milagrosamenteele
se recuperoue veio para cima de mim, me acertandoum. O abracei
pelo torço, e o empurrei até a parede, o jogando com força nela.

Conseguimos trocarmuitas porradas,a dor era menor que a


minha fúria. Já sentia gosto de sangue na boca, mas o nariz dele
escorria. Se iríamos parar? Provavelmente quando um de nós
desmaiasse. Mas nos notaram e vieram separar
.

Mesmo com Fred e meu pai me segurando, eu tentavame


soltar
, precisava dissipar mais um pouco essa fúriae esse panaca
era o saco de pancada perfeito. Porque ele merecia.

Eles me levaram para o escritóriode meu pai e me colocaram


sentado ao sofá. Mamãe logo veio trazendo um kit-primeiros
socorros.Eu nem conseguia dar atenção à dor latenteacima do
olho, mas sentia o inchaço vindo. O canto do lábio estava cortado,
mas meu nariz estava ileso, o que para mim queria dizer que eu
havia ganhado.
— Ganhou? — Fred perguntou, começando a rir — sério,
cara... — ele balançou a cabeça em negação e tinha os braços
cruzados, enquanto minha mãe limpava meus ferimentos— assim
era melhor ter se declarado pra garota e implorado pra ela .voltar
— Não foi por causa dela — eu resmunguei, mas ele riu
duvidando — ele ficou falando merda. Ele comeu ela? Você acha
que comeu?
— Olha o linguajar, Eduardo! — mamãe, sempreprezando pela
elegância e bons costumes, me bronqueou.
— Vou perguntarà Marina — Fred falou e eu grunhi quando
mamãe passou um remédio no corte da sobrancelha,
— Como vai aparecerna rua desse jeito? Como vai traba lhar?
Tem uma bolha de sangue no seu olho! — ela estava indignada.
— Eu vou ficar bem — eu falei. Havia dor nas costelas
também, mas nada muito forte, então não havia quebrado nada.
Ela demorou cuidando dos meus machucados, inclusive nas
mãos. Fred conversava no celular e teve a coragem de vir tentar
tirar uma foto meu estado deplorável, mas mamãe o impediu.
— Deus do céu, vocês têm trintaanos e ainda agem como
moleques! — ela faloubrava com ele, tomandoo celulare bloqueou
a tela, o escondendo.
Chiara entrou na sala, me olhando com desgosto.
— Ele só queria te agradecer por aceitar o meu convite,
Eduardo — ela falou estarrecida, mas a encarei.
— Você acha mesmo que eu iria brigar com ele por causa
disso? — perguntei incrédulo e Fred começou a. rir
— Prima, a briga foi por Jordana. Acredite, até eu estou
surpreso.Porque pra quem só estava comendo a garota,Edu está
completamenteforado controle— Fred resolveu provocar
. Eu o
encarei irritado.
— Quer ser o próximo? — pergunteifurioso.Chiara deu um
suspiro impaciente e correu as mãos no rosto.
— Você estragoutudo com ela. Então, por favor , se limite às
consequências dos seus erros! — ela falou com força,aumentando
o tom da voz — se não quiser ser meu padrinho, sinta-se
desconvidado! — ela falou irritadae ia se virando para sair do
escritório, mas comecei a dizer:
— Você perdoou mesmo aquela traição, Chiara? — eu
pergunteiincrédulo e ela parou de andar — ou só estámantendo a
relação pelo status de casal perfeito que a mídia dá pra vocês?
— Você é ridículo,Eduardo — ela falou desacreditadae tomou
seu rumo.
Mamãe me olhou incrédula.
— Eu não aprovo esse casamento.
— Você traiua Luísadurantetodo o relacionamento,Eduardo.
Foi perdoado dezenas vezes por ela, nem por isso é um cara mau.
— Eu não amava a Luísa.Não a suportava,só Deus sabe por
que nos deixei ficartantotempo naquela relação.E ela sabia que eu
não nos levava a sério — falei, esgotado de tudo. Mamãe não
rendeu o assunto. Separou um anti-inflamatórioe me deu para
tomar agora e daqui algumas horas.
Fred e eu fomospara casa. Lá, ele me mostroua conversa de
Marina com Jordana.

Foquei apenas na última mensagem:


“Não dei amiga, que curiosidade louca kkkkk, mas foi bem
quase, as coisas estão esquentando...ocê
V sabe!”

Olhei para Fred e neguei com a cabeça. A dor, agora que a


adrenalina não estavadominante dava as caras,eu sentiao cortee
o olho inchado latejando, fora o corte na boca e a dor na costela.
— Eu queria ver a reação de Jordana se te visse desse jeito.
— Já consigo imaginar o drama que aquele idiota vai fazer pra
ela — eu falei desanimado — e não me importo.Ele falou merda,
mereceu apanhar .
— Você precisa resolveressa sua questão sentimentallogo,
cara. Está ficando difícilte defender— Fred falou pesaroso, mas
neguei com a cabeça.
— Ela não quer mais, não tem o que resolver
.
— Por que não marca uma conversaséria, expõe o que sente,
propõe algo sério pra vocês?
— Não vou atrásde uma mulher que está com outro— falei
decidido. Fred bufou insatisfeito, mas não insistiu.
C 21
Jordana Testa

Meio de março era aniversário de Marina. Fred havia


preparadouma surpresapara ela em seu apartamento,que havia
ficadoprontopor esses dias. Eu estavao ajudando com tudo,já que
melhor do que ele, eu conhecia os gostosdela. Fiquei de convidar
as amigas da gente, mas não fiquei confortávelde incluir Teo na
lista, por exemplo, já que provavelmenteFred convidaria os seus
amigos.

Ele me mostrou a listade bebidas caras,era tudocaro,mas eu


não deveria me assustar . Para um cara que pagaria mais de trinta
mil de pensão e ganhava riosde dinheirosmensais, nada era muito.
Escolhemos o Buffet,a decoração e ele fechoucom o barman
para a festa, fora o DJ.
— No meu mundo, surpres a era um bolo, algumas vodcas
baratas, refrigerantes,docinhos e o pessoal esperando o
aniversariantepara cantaros parabéns— eu faleipara provocá-loe
ele riu, assentindo.
— É o primeiro aniversário dela que nós passamos juntos,
quero que seja especial — ele falou e eu sorri,toda derretida.Ele
gostava dela, pelo menos era o que parecia. E desde que eu
conheço a Mari, e isso faz muitosanos, décadas, ela nunca esteve
tão louca por alguém.
— Ela vai ficar louca com a festa, mas vai adorar
.
— Os pais dela são bem rígidos,né? — ele pergunt ou —
pensei em convidá-los, mas ela nem sequer me deixou conhecê-los
ainda.
— A relação dela com eles é um pouco conturbada— eu falei,
não querendo entrar no assunto, porque ela odiava expor
.
— E tudo bem pra você, Edu vir? — Fred perguntou,digitando
no celular e olhou para mim.
— Tudo bem...
— Soube da briga dele com Teo? — ele perguntou curioso.
— Sim, eu soube. Teo disse que quebrou o nariz. Poderia ter
dado ruim pro Eduardo, se ele desse queixa.
— Ele provocou — Fred defendeu, como sempre — e Eduardo
tem estadoem criseexistencial. Você deve imaginar que não é fácil
pra ele estar apaixonado depois de tudo o que ele passou.
— Não vou me derreter porque todo mundo diz que ele está
apaixonado. As atitudesapaixonadas dele me assustam — falei
com veemência.

Fred me levou para casa e eu liguei para Marina, confirmando


nosso jantarde amigas estanoite. Fred havia dito para ela que não
poderiam ficarjuntos hoje, porque ele teriaque ficarcom o filho e
não queria dar motivos pra ex-esposa procurar mais brigas. Era uma
mentira, obviamente. E ela havia entendido, Mari dificilmente
esquentariaa cabeça por algo relacionado ao filho de Fred, afinal
ele sempre viria em primeirolugar. Como ela mesma dizia: se ele
não desse valor e amor ao filho que ela ficaria preocupada.
Por estratégia,eu havia escolhido um restauranteperto do
prédio de Fred. Mari logo perguntouse eu queria mesmo gastar
tantoem um jantartão caro, mas jurei que ela merecia. E eu tinha
dinheiro guardado. Não uma fortuna, mas provavelmente
conseguiria pagar um jantar chique para nós duas.

Quando o taxi estacionou em frenteao prédio, nós duas


descemos. Ela me encarou confusa e eu sorri animada.
— Fred disse que queria te ver, antesde irmos. Vai ser rápido
— falei tranquilamente.Entramose subimos para a coberturade
Fred. Enviei uma mensagem e ele deixou a portaaberta.Saímosdo
elevador e estouraram confetes, todos começaram a cantar
parabéns e Mari parou abismada, não acreditandono que estava
acontecendo.Fred foi até ela, a beijando e a levou para a mesa do
bolo, onde uma vela espalhafatosaestava acesa, denunciando a
idade dela: 24.
Cantamos os parabéns e Fred a mandou fazer um pedido.
Depois pediu para, por favor
, ela pedir por ele, fazendo todo mundo
rir
.

Quando acabou, ela não cortou o bolo, então fomos pegar


bebidas. Ela afirmouque eu a enganei, mas Fred a convenceu que
estarcom o filho era real. Notei Edu em um canto, bebendo com
Ravi, mas ignorei. Fui beber um pouco com as meninas, e quando
elas começarama dançaranimadas com os funksque tocava, eu fui
me sentar . Me distraíno celular. Desde mais cedo, eu não estava
respondendo as mensagens de Teo. Não estavarolando para mim.
Poderia culpar Eduardo, mas não somente.
Percebi antes de ir além, que quando as coisas entremim e
Teo esquentavam,eu pensava em como foiperfeitocom Eduardo. E
me dei conta de que ficava excitada pelas lembranças, não com o
momento real. Não seria justo comigo e nem com ele, transar
pensando em outro. Não era de meu feitio fazer isso.

Chiara chegou atrasada,junto com o noivo. Mari perguntoupor


Teo, mas ela avisou que não achou uma boa ideia tra zê-lo, por
causa de Eduardo e todo seu descontrole.

O noivo de Chiara foi para onde os homens estavam.Ela veio


se sentar comigo, depois de pegar um drink no bar
.
— Meu irmão não tirao olho daqui — ela comentou, sugando
um pouco da bebida pelo canudo — nunca achei que ele se tornaria
esse doido — ela falou de um jeito engraçado, que me fez. rir
— Não venha dizer que por minha causa.
— Por causa dele, né. Mas quem o deixou assim perdido de
amores e sem querer assumir , foi você.
— Ele é complicado demais. Eu não gostode problemas — eu
falei suavemente, fingindo observaras meninas tentandoacertar
uma coreografia juntas.

Chiara parecia não estarmuito a fim de se divertirdançando,


então foi bom, me fez companhia. Bebemos alguns drinks e
conversamos sobre tudo, principalmente os preparativos do
casamento dela.
Ela resolveu ir embora, antes que o noivo e Eduardo se
desentendessem.Não achei que teriammotivo para tanto,mas não
retruquei.Aproveitei para ir ao banheiro e me olhei no espelho.
Passei um pouco mais de gloss nos lábios. Quando saí, lá estava
ele, escorado à parede em frenteà portado lavabo. Ergui o rosto,
tomando coragem de encará-lo.
— Podemos conversar?— Eduardo perguntoucauteloso, me
encarando de uma maneira serena, como se quisesse demonstrar
que estava abaixando a guarda.
— Não acho que tenhamosalgo pra conversar— falei o óbvio,
mas quando ia saindo, ele me puxou pelo braço.
— É sério, Jordana... Eu não estou mais aguentando a
situação. Vamos tentar , pelo menos tentar resolver? — ele
perguntoue eu o encarei. Eduardo era de longe o cara mais bonito,
alto, grande e charmoso com quem já me envolvi. Ele nos levou
para dentrodo lavabo e fechou a porta.Eu me virei de frentepara
ele e o esperei dizer
.
— Me desculpa por tudo, mais uma vez — ele começou,
desviando o olhar, desconfortávelcom a nossa situação — eu
passei esses últimosdias tentandonão pensarem você... Achei que
seria melhor pra nós dois que não nos envolvêssemos de novo,
mas... Eu não consigo.
— Não consegue? — indaguei, chegando a rir — eu acho
melhor sairmos daqui.
— Eu não queria gostarde você — ele falou, quando eu já
estava com a mão na maçaneta e eu parei — eu não queria sentir
nada disso de novo, pra mim, amor... Essa paixão que arde e
maltrata é dolorosa, eu não soube lidar
.
Meu coração começou a acelerar
, meu peito subia e descia
com a informaçãoque eu não esperava. Todos, inclusive eu, já
sabíamosque ele sentiaalgo, que eu sentiaalgo, mas nunca achei
que ele externaria.O sentichegando mais pertoe pareci ficarmole,
meio trêmula.
— Eu tentei,achei que dando tempoao tempoesqueceríamos,
mas cada vez que insinuam você com outro,que falamde você, que
eu penso em você... Tudo dói, porque sei que poderíamos terdado
certoe eu estragueitudo — ele continuou, a voz rouca de quem
deve ter andado bebendo e fumando além da conta. Minha
respiraçãoficou acelerada, eu não conseguia dizer nada. Se nos
encarássemos,fracado jeito que eu era, iria me jogar nos braços
dele e ceder a tudo que ele quisesse.

Uma voz bem mortiçatentoume alertarque ele só queria me


comer, disse isso incontáveisvezes por aí, mas ela foi abafada pelo
meu eu completamente insano e apaixonado.

Eu me virei, inteiramentedominada por ele, por essa situação,


pela declaração. O encarei, sentindo a mandíbula lancinar com o
amargo que era ceder, mas eu queria tantoque não me policiei. Ele
foi chegando perto,meu coração tão acelerado que eu pensei que
iria pararde bater . Eu resfole
guei, mas ele foiágil ao levar uma mão
para a minha nuca, inclinando para juntar nossas bocas
bruscamente.Nossos lábios se encaixaram tão perfeitamente, dizer
que eu estavaparando de respirare isso foia rajada de ar explicaria
o alívio que foi ser beijada por ele outra vez.
Passei meus braços em volta do seu pescoço e ele levou a
mão livre para a curva da minha cintura,me apertandoe puxou um
pouco meu cabelo, tombando minha cabeça para trás.Eduardo
mordiscou meu lábio inferiore voltou a me beijar eloquentemente,
tão intensamente que eu ardia inteira por ele.

Os lábios dele logo ganharam outrorumo, descerampelo meu


maxilar, ele correu a língua macia deliberadamente pelo meu
pescoço, indo atéa minha orelha, onde ele mordeu tãogostosoque
eu gemi, mortade saudade. Ficarcom outrofoibom, mas com esse
aqui eu não precisava imaginar nada, ele era o meu fetichereal e
materializado.Voltamos a nos beijar e dessa vez ele levou a mão
para a minha coxa, me apertandoe subindo o meu vestido. Ele
parou o beijo para me olhar de uma maneira tão profunda, as
pupilas dilatadas e o olhar tão intensivo no meu. Meus olhos
reviraramquando ele acariciou a minha boceta sobre a calcinha e
inclinou o rosto,me analisando inteira.Edu deu um beijo na minha
testa,bem entre os olhos e afastoua minha calcinha para o lado,
acariciando-meentreos lábios íntimos.Me segurei toda nele e virei
o rostopara ele encontrarnossas bocas. Ele me fez desfalecerde
prazer quando começou a me beijar suavemente enquanto me
tocava. Ficamos muito tempo naquilo, mas bateram na porta e
precisamos nos recompor
.
— Quer ir pra casa comigo? — ele perguntou baixinho,
procurandopela minha entradae deslizou dois dedos ágeis para
dentro,me arrancandoum gemido duro. Haveria alguma chance de
eu negar, se ele não estivesse com dois dedos dentroda minha
boceta, me explorando tantoe se não estivesseroçando os lábios
nos meus tão perfeitamente.
— Quero — sussurrei.Mais do que ser sensata agora, eu
precisavade alívio. E a saciedade que eu procurava,eu acreditava
que só encontraria nele.

Eu espiei atravésde uma fresta da portase havia alguém no


corredor
, massa felizmente estava livre.

Como todos estavam distraídos bebendo, as meninas


dançando, saímossem nos despedir. Iria causaralgum alvoroço,eu
imaginei, se fôssemos contar. Eduardo me beijou no elevador e
antes de entrarmos em seu carro.

Enquanto dirigia, entrelaçounossas mãos e me olhava toda


hora. Eu sentia um pouco de medo por estararriscandode novo.
Tentei me convencer de que apenas iriamos transar
, mas era só
isso?

Ele me puxou pela cintura quando entramos no seu


apartamento,eu o incitei a tiraro blazer e fui desabotoando sua
camisa-social. Andamos atracadospela sala e eu trombeicom um
sofá e caí deitada nele. Edu desafivelou o cinto e desabotoou a
calça, veio para cima de mim e voltamosa nos beijar. Nossos lábios
se chupavam, estalavam querendo mais. Eu desci uma mão entre
nossos corpos e puxei seu membro para fora da cueca, depois
puxei a minha calcinha para o lado. Edu segurou o pau eretoe o
roçou em mim, colocando um pouco para dentro. Nós dois
gememos e eu o abracei. Ele deixou o peso do corpo sobre o meu,
ficandointeiroarrepiadoenquanto me penetravae eu mordi o lábio
inferior
, mas o gemido veio fortedo fundo garganta.Ficamos um
pouco naquela posição, no sofá, mas logo as roupas estavam
ocupando espaço demais, ele se levantou para tirar
, e puxou a
minha calcinha, a arrancandode mim. Fui pega de surpresacom o
beijo delicioso que ele deu no meu ponto mais sensível e
choraminguei, estremecend
o. Ele me puxou pelas mãos, me
colocando sentada e puxou meu vestidopara cima. Ergui os braços
e ele o tirou,se abaixando para chupar meu mamilo devagarinho.
Acariciei seu cabelo e ele fez o mesmo no outro. A mão veio
maliciosa para o meio das minhas pernas.
— Vamos pro quarto— ele sussurroue eu assenti. Edu me
ergueu no seu colo. Eu grunhi, me segurando toda nele, as pernas
grudadas em volta do seu corpo. Ele subiu as escadas e me
prensou contra a parede, arquejando e voltou a me penetrar
,
estocando rápido, nós dois gemendo desesperados, os lábios
encostados,mas não nos beijávamos, nos encarávamos, sentindo
todo esse prazer mútuo.

Quando finalmente fomos para o quarto,ele me colocou na


cama e foi até o banheiro. Voltou de lá desenrolando o preservativo
no membro ereto e veio por cima, tirandoa mecha do meu cabelo
que estava pelo rosto,me encarando tão sublimemente enquanto
nos unia. Afastei mais a perna e ele veio fundo, se acomodando tão
gostoso. Edu levou uma mão para a minha coxa, me segurando
firme beijou a minha boca, começando estocadas moderadas.
Escorreguei as mãos pelo seu cabelo, correndo meus dedos por seu
cabelo macio enquanto transávamos, tão cheios de saudade.
— Estava mortode saudade de sentirvocê gozando só pra
mim — ele sussurrou,puxando meu lábio inferiorentreos seus,
sabendo que eu estavacom o pé no paraíso,começando a gozar e
tremersob ele — assim, tão gostosa,toda minha... — meu gemido
veio guturalmente,ele metia delicioso, me quebrando inteira, só
depois ele se deixou chegar ao seu momento glorioso.

Pela manhã, acordei com um homem excitado atrásde mim.


Dormimos agarradose pelados, não era surpresaque ele estivesse
tão aceso. Levei uma mão para trás,para sua nuca e ele apertou
minha bunda, escorregando o polegar para a minha intimidade.
— Posso colocar? — perguntou sorrateiro,roçando a boca no
lóbulo da minha orelha. Grunhi manhosa e assenti, ficando
arrepiadaquando ele foi me penetrando.Virei o rostopara juntar
nossos lábios e ele me segurou com mais firmeza,começando a
estocardevagarinho e me beijar carinhosamente.Poderia dizer que
era a posição que eu mais gostava.

Ele assim, por trás, carinhoso, estocando devagarinho, me


segurando firme e me enchendo de prazer
.

Comecei a ficarmais lubrificadae ele deslizava mais fácil,


gemendo contra a minha boca. Edu afundou o rosto em meu
pescoço e escorregou os dedos hábeis para o meu clitóris,o
rodeando. Me contorciinteirae fecheios olhos. Por um segundo me
preocupei por ele estarsem camisinha, mas ele lambeu e beijou
meu pescoço, me fazendo gozar tão intensamente. Ouvi seu gemido
áspero, o membro grosso pareceu mais rígidodentrode mim, mas
ele puxou para forae eu me virei, o vendo derramarseu sêmen no
lençol branco. O abdome contraíae marcava os músculos
tonificados,ele gemia com força e os jatos foram perdendo a
intensidadeatéacabar. Nos olhamos e eu levei uma mão para o seu
rosto, me aproximando para selar nossos lábios.
— Bom dia — eu sussurrei e ele assentiu sorrateiro.

Nos levantamos e fomos para o banho. Me vesti com uma


camisetadele e quando saímos do banheiro, já haviam trocadoos
lençóis. Ele havia pedido à Noêmia antes de irmos para o banho.
Descemos para tomarcafé da manhã e ficamos a manhã inteira
grudados, matando a saudade. Se eu estavafazendo a coisa certa
em deixar acontecerde novo, eu não sabia. Meu coração estava
dividido, mas eu queria muito tentar
. Se desse errado,eu estaria
descartandode vez a dúvida e a vontade de que tudo fosse bom
para nós.

Teo ligou pertodas onze horas. Eu e Eduardo estávamos na


enorme varanda, no sofá aconchegante e enorme, no maior
amasso. Ele até mesmo já havia me tocadoem partesíntimas,e eu
fizo mesmo. Quando viu na tela do celularque era Teo ligando, Edu
perdeu o clima eróticode nós dois e se sentou, esperando minha
reação. Eu neguei com a cabeça e silenciei a ligação.
— Eu lido com ele depois — avisei tranquilamente,afinal ele já
sabia que eu estava saindo com outro— espero que você não
procure mais confusões.
C 22
Eduardo Toledo

Eu queria terpegado o celular dela e atendido a ligação, só


para me vingar daquele desgraçado, dizer que agora ela estava
comigo, e era de mim que ela gostava. Mas não era a coisa mais
saudável do mundo fazerisso. Se fossepara tentarmos,eu queria
que fosse do jeito certo. Precisaríamos prezar pela confiança.
— Ele não cansa? — pergunteiincomodado, nós dois olhamos
para o celular que parou de chamar — ele vai ficarmal o bastante
por ter perdido você. E muito bem feito.
— Sei — ela cerrouos olhos, vindo se deitaraconchegada ao
meu corpo, logo depois que eu me deitei e dobrei o braço para
apoiar a cabeça.

Noêmia veio nos chamar para almoçar , parecia curiosa, mas eu


não iria falarnada sobre isso. Não agora. Precisavame concentrar
no que eu queria, não cederà insegurançapara não fazermerda de
novo.

Depois do almoço, eu dispensei todo mundo. Queria


privacidade, ficar sozinho com Jordana e podermos fazer o que
quisermos sem nos preocupar se alguém estaria vendo.

Sua avó quem ligou pela tard


e, preocupada com o sumiço. Ela
me olhava enquantoinventava uma desculpa esfarrapada. Expliquei
para Fred o que estava acontecendo, porque ele não me deixaria
em paz.

Passamos o final de semana inteirojuntos. Ela nem se deu o


trabalho de querer ir à sua casa para pegar roupas, eu logo a
convenci de que não precisaríamos disso.
— Você é muito safado— ela falou toda trêmula,enquanto eu
descia os lábios suavemente pelo corpo dela, que estava sentada
na bancada da cozinha.

Foi tantosexo duranteo sábado e o domingo que meu pau


parecia sensível, estava avermelhado. E ela já reclamava também.
— Sabe o pior? — ela falou, quando a peguei no chuveiro e a
puxei para mim, passando um braço em volta da sua cintura— se
você começara me provocarde novo... — a voz foi falhando com o
beijo molhado que dei em seu pescoço — é capaz de eu querer
... —
choramingou, porque a outramão, eu levei para o meio das suas
pernas.
— Vou tedeixar descansar— prometi,voltandopara beijar sua
boca — mas estava com saudade, não queria desgrudar
.
— Safado — ela beliscou minha bochecha e eu a encosteià
parede, voltando a beijá-la profundamente.

Terminamos o banho e ela se vestiucom o vestidoque estava


na sexta-feira.A calcinha havia se perdido. Eu queria levá-la ao
jantarna casa de meus pais, só para o noivo de Chiara nos ver
juntos e contar logo ao seu irmão.
Teoricamente,ele havia feitomenos pior do que eu. Veio se
gabar, enquanto eu nos reduzi ao sexo. Mas eu tive meus motivos,
por mais incoerentes que eles soassem.

Jordana negou logo, não teriaessa coragem, depois de todas


as cenas que já protagonizamos.

A levei para casa, enquanto ela estava mais distraídano


celular, disse que falava com Marina. Levei uma mão para a sua
coxa e fui subindo, aproveiteipara chegar mais para cima, quando
parei no sinal fechado.
— Edu... — ela reclamou, relaxando sobre o banco e eu
acaricieia bocetaum pouquinho. Ela deu um suspiroe afastoumais
as pernas. Ela era toda contida, mas não poderia negar que uma
safada. Ela estremeceuquando encontreium ponto sensível no
clitórise grunhiu, tentandome parar. O sinal abriu, mas estava tão
gostoso vê-la agoniada que não dei partida no carro.

Um carro começou a buzinar freneticamenteatrásde nós e ela


puxou a minha mão.
Demos um beijo gostosoantes de ela descere a espereientrar
no prédio para tomar meu caminho.

Chiara ainda não estava muito amigável comigo, mas eu não


conseguia me livrar desse instintomaldito e dar o apoio que ela
queria para esse casamento.
— Vê se não arrumaconfusão hoje — mamãe falou ao vir me
abraçar— Fred contou sobre as suas nojentices, eu odiei — ela
falou e eu fiquei confuso por um momento.
— O que?
— Saindo com prostitutas— mamãe estava estarrecida,mas
não dei importância — um homem tão bonito se prestando a isso.
— Mamãe, Fred é um mentiroso— eu falei, segurando seu
rosto para beijar sua testa.

Meu pai me serviu uma dose de uísque e eu peguei o copo,


indo me sentar ao sofá.Logo o noivo de Chiara chegou, dessa vez
com o irmão e os pais. Cumprimentei-oseducadamente. Ninguém
mencionou a briga e, dessa vez, fomos civilizados.

Fred também chegou, junto com seus pais e o filho, que veio
correndo me mostrarum jogo, um mine-game, daqueles bem
antigos. Me distraícom o pequeno, para não terque participardo
teatro.
— Mamãe disse que você deve estarse corroendoporque a tia
Luísaestánamorando outro— o Bruninho falou, fofoqueiroigual ao
pai e o encarei, sorrindopresunçoso — mas eu acho que não tá
não.
— Não to mesmo. Tia Luísaera muito insana — falei e ele riu,
negando com a cabeça.
— Eu sei, mas mesmo assim, gosto dela.

O jantarfoi longo, mas a comida estava boa e Bruninho me


distraiu,me tirouo foco do resto.Em algum momento Teo tentou
insinuar algo, mas o olhei rapidamente e ignorei. Há minutos,
Jordana havia me enviado fotodo filme que iria assistirantes de
dormir
. Me oferecipara ir junto, mas ela negou logo, a mãe estava
em casa.

“Ela nunca vai saber de nós dois?”

“Saber ela vai. Querervocê dormindo aqui que não, né” — ela
respondeu rapidamente, me fazendo rir . Qualquer mãe iria querera
filha com um cara como eu. Digo bonito, gostoso e milionário... A
mãe e avó dela não. A queriam com alguém pacato, para correr
atrásdos sonhos junto com ela. Um cara como eu poderia comprar
o sonho que ela quisesse.

Eu e Jordana nunca falamos sobre isso, sobre sonhos, mas


haveria tempo.

Por um míserosegundo, a memória retrocedeu,mas me parei.


Eu não queria ficarsofrendoe lamentando, Deus sabe o quanto me
dói tudo o que eu perdi, mas eu não estava mais aguentando
continuar submergindo.

Meus pais começaram a estranharminha presença durantea


semana, mas minha mãe era perspicaz. Logo se deu conta. Eu e ela
ficamos conversando na biblioteca, a interrompi nesta tarde,
enquanto ela lia um livro.
— Eu queria que conhecessem uma pessoa — eu falei
finalmentee ela se levantou, tirandoos óculos de leiturae veio se
sentar ao meu lado — na verdade vocês já conhecem...
— A Jordana? — ela perguntou, tomando minha mão entreas
suas. Assenti,olhando para baixo e mamãe deu um riso — gosta
dela, não é? Por isso todas as loucuras?
— Foi difícilaceitar, quereraceitarque poderia ser feliz com
alguém de novo... — eu falei, suspirando, não querendo deixar a
angústiame dominar — mas eu gostodela. Por isso, queria que ela
se sentisse acolhida... Já fiz tantamerda com ela, não queria que
ela pensasse que só estou... A usando...
— Tudo bem — mamãe falou, para não me deixar entrarmais
profundamente nas merdas que fiz — e a Luísa?
— Mamãe, você me via com a Luísa e achava que teríamos
um futuro?Sinceramente, você achava que eu amava aquela
mulher?
— Achei que vocês eram convenientes... — ela falou
desinteressada e deu de ombros — que formavam um belo casal.
— Não seriajustocom ela. E nem comigo. Eu a detesto— falei
enfático — não suporto as futilidades dela, a arrogância, a
soberba... Não to dizendo que ela é má, mas que nós dois éramos
muito incompatíveis.
— Não acreditaque opostosse atraem?— mamãe perguntou
divertida e eu fiz uma careta.
— Opostos se estressam — eu falei.
— Venham jantarconosco nesta sexta. Vou prepararseu pai,
ele jurava que você iria cair em si e se casar com Luísa.
— Obrigado — falei e ela trouxe uma mão, acariciando meu
rosto.
— Eu só quero ver você e sua irmã bem. Não é meu papel
escolher por vocês.
— Se eu pudesse, escolheria por Chiara — falei enfático.
— Ela gosta dele, sabe o que está fazendo — ela falou
carinhosamente — vai chamá-lo pro jantar?
— Por favor, não! — pedi determinantemente.Não havia
espaço para o meu cunhado ou seu irmão.

EncontreiJordana à noite, depois que saí da empresa. Ela


esperou a mãe sair para me deixar ir ao seu apartamento.Quando
cheguei, a puxei pela cintura e beijei forte a sua boca.
— Vou te levar pra jantarcom meus pais sexta— avisei e ela
parou, me olhando confusa — que foi?
— Não precisamos corrertanto — ela falou confusa, na
verdade, pareciamais assustada — você nunca jantoucom a minha
família, por exemplo.
— Eu quero que as coisas entrenós sejam sérias,sem espaço
pra outras pessoas. E minha mãe ficou animada...
— Sério? — ela cerrou os olhos, duvidando.
— Sério — dei um sorrisotravesso— estava toda fugindo de
mim quando eu não queria nada, agora que eu quero você vai
recuar?
— Você é muito oitoou oitenta— ela reclamou,mas dei risada
e roubei um beijo nos seus lábios.
— Vou tomar isso como um elogio.
— Mas não é, viu — ela avisou — já jantou? Roubei lasanha
do restaurante
— ela contouanimada, indo para a cozinha e a olhei,
que tirava as marmitas do forno. Fui me sentar ao balcão e jantamos
ali, ela contando sobre as broncas da avó pelo sumiço.
— Eu nunca fui rejeitadopor sogra — contei,brincando com o
restoda comida no pratoe olhei para ela, que me esperoucontinuar
— na verdade, as mães das garotasque eu ficava,torciampra dar
em casamento.
— Só porque é rico, aposto— ela fez uma careta,me fazendo
rir
.
— Não me acha gato e gostoso? — perguntei para provocá-la.
— E ainda convencido — ela falouincrédula— vovó não confia
em partidões como você.
— Diz pra ela que eu mudei...
— Assim, da água pro vinho? — ela perguntouduvidosa e eu
dei de ombros.
— Eu tinha a opção de sofrer sem você ou ficar com você.

Terminamos de comer e ela levou a louça para a pia. Guardou


as sobrasda lasanha na geladeira e fomospara o sofá.Dessa vez,
eu pude escolher o filme e ficamos aconchegados no sofá.

Quando acabou, começamos a trocarbeijos suaves, mas em


um desses, eu a segurei firm
e. As coisas foramesquentando tanto
que tira
mos a roupa ainda na sala. Peguei a camisinha no bolso da
calça e me cobri, me colocando por cima dela.
— Se alguém nos vir aqui... — ela falou, toda perdida com os
meus toques nela e a penetrei de uma vez. Ficamos algum tempo
na sala, mas ela se dava para o momentoe logo recuavacom medo
de alguém aparecer .
Fui para a sua cama e ela veio logo depois, trazendonossas
roupas.Ela veio por cima, me matandode tesãoao vê-la comandar.
Eu a olhava toda e focavaali onde nossos sexos se encontravam...
A boceta me engolindo até o fim. Jordana choramingou quando
toquei o clitórise estremeceu.Ela apoiou as mãos no meu peito,
vindo mais impetuosa, buscando sua libertação.Era a coisa mais
gostosa que eu poderia assistirna vida. Ela começou a tremere
gemer, jogou a cabeça para tráse apertouas mãos, rebolando mais
forte.A segurei firmee me sentei também. Peguei seu braço e
passei em volta do meu pescoço. Tomei cuidado para não nos
separar enquanto nos virava na cama e comecei a deslizar
enquanto a mantive firmee circulava o polegar no clitórisereto.Ela
me puxou para um beijo e afastoumais as pernas. Não parei os
movimentos e ela soltou meu lábio, estremecendo.
— Eu acho que vou gozar... — ela sussurrou,me deixando
louco e eu assenti, a encarando enquanto ela revirouos olhos e
gozou toda perfeita.A levei até o final, até que ela deu um suspiro
aliviado. Estoquei mais um pouquinho, mas tireio membro de dentro
e fui desenrolando o preservativo.Ela me olhou confusa,mas subi
pelo seu corpo até chegar à sua boca.

Ela não recusou, me chupou com tantogosto e me segurou


dentroquando comecei a latejar
. Afundei uma mão em seu cabelo,
esporrando na sua boca. Ela encerrou dando uma lambida
deliberada na ponta e eu caí cansado ao seu lado. Olhei para ela,
que correu o polegar no cantoda boca e virou para mim, roubando
um beijo dos meus lábios.
Ficamos algum tempo na cama, trocandocarícias,mas ela
achou melhor eu ir para casa. Fiz manha, disse que sua mãe teria
que nos engolir, mas ela respeitava muito a mulher
.
— Amanhã você dorme comigo — eu avisei enquanto me
vestia.
— No final de semana. Eu não posso abusar dos privilégios de
ser neta da minha avó — ela ponderou e eu fiz uma careta.
— Você gosta do seu trabalho?
— Gosto... Desde que eu precisei trancara faculdade que
estou lá — ela contou confusa.
— Fazia faculdade de que? — perguntei curioso.
— Arquitetura.Tranquei no quartosemestre,quando meu pai
ficou doente e... Enfim...
— Sinto muito — falei, indo dar um selinho em seus lábios —
vai me levar até a porta?
— Vou — ela deu um sorri
so bonito, antes de se levantare
vestir um pijama para me levar até a porta.
C 23
Jordana Testa

Edu havia combinado comigo de irmos para alguma praia na


Bahia, no final de semana. E teve a audácia de pedir segredo, para
Fred não se infiltrar nos nossos planos.

Cada dia da semana que passava e deixava a sexta-feira mais


próxima, eu ficava mais nervosa. Não era como se eu não
conhecesse os pais dele e isso tornavatudo pior. Deixava-me ainda
mais insegura.A mãe pareciauma eternaapoiadora dos filhos,mas
o pai eu sabia que torcia para que ele e Luísa tivessem se casado.

Mari insistia que eu estava sendo exagerada com o medo,


apesar de terem suas prefe rências, ela imaginava que eles não
iriam interferir nas escolhas do Edu.
— Se fosseassim, não deixariam Chiara se casar— ela falou
sugestivamente— porque o cara a traiumuitas vezes no passado.
E agora ela o perdoou, estão juntos...
— Edu não perdoou essas traições— eu falei, franzindoo
nariz.
— Fred também não confiano cara. Sonho dele é colocarum
detetiveatrás,mas não é assuntodele, né — ela falou o óbvio, mas
deixou escapar um riso — Fred não deveria ser arquiteto,deveria
ter uma revista de fofoca. Seria muito mais realizado na profissão.
— Amiga! — eu a reclamei, mas nós duas rimos.
Ela me ajudou a escolher uma roupa ideal, mas nada parecia
bom o bastante.Por fimescolhemos um macacão longo, sofisticado
que eu nunca havia usado. Mari separou a sandália alta de salto fino
e decidiu que eu iria fazer ondas no cabelo.
— To nervosa — sussurrei e ela me encarou enfezada.
— Sabe que vai dar tudocerto.Aquelas pessoas veneram Edu,
se você estiver o deixando feliz vão adorar você.
— A conhecedorada famíliainteira— eu falei brava e ela deu
um sorriso presunçoso.
— Estou mesmo, afinal namoro o primo mais fofoqueiro dele.

Avisei para minha mãe que estariasaindo com Edu. Estava


sempre deixando avisado que estava saindo com ele, que iria dormir
com ele, que estávamos mais ou menos juntos. Ela não gostava
nada, mas não tinha que se opor. Eu era nova, se desse tudo
errado,teriaque seguir em frente.Mas estávamostão bem juntos
que eu não queria ficarpensando se daríamoserrado,ou quando.
Vovó nem sonhava, brutado jeito que era, iria ficarme provocando
o tempo inteiro.

O ritmode Bernardodiminuiu no restaurante,


então ela já me
culpava. Não a perda do cliente, mas o pretendenteperfeitoque
deixei escapar.

Quando ele chegou, eu entrei no carro e ele me puxou


bruscamentepela nuca, invadindo minha boca, eufórico,em um
beijo muito malicioso. Estive impossibilitada de satisfazersuas
necessidades sexuais durantea semana, por causa do meu ciclo e
ele usou isso para me provocar. Meu celular estava recheado de
fotosdele pelado em frenteao espelho, do seu membro excitadoe
havia um vídeo dele se masturbando,mas este eu apaguei, morria
de vergonha, embora ficasseexcitada ao ver. Ele desceu os beijos
intensospelo meu pescoço, correndoa línguadeliberadamentenele
e chegou ao decote da minha roupa, querendo beijar mais, mas o
segurei.
— Estou morto, morto de saudade — ele falou cheio de manha,
mas afundei uma mão em seu cabelo e o fiz me olhar .
— Você não quer que eu apareça toda amassada, quer? —
pergunteibrava, mas ele tinha esse jeitoque eu não conseguia falar
sérioe manter. Segurei seu rostopara dar um beijo carinhoso nele e
encerrei mordendo levemente seu lábio inferior
.
— To contandoos segundos pra teressa boca gostosano meu
pau — ele falou e eu o encarei, chegando a resfolegarcom a sua
safadeza — tão tímida...Nem parece que faz loucuras comigo na
cama.
— Deus, eu vou tamparos ouvidos e começara cantarolar—
eu falei sufocada de vergonha e ele ia continuar
, mas tampei os
ouvidos com as mãos e o vi rindo.

Edu trocoua marcha do carroe nos tiroudali rapidamente.Eu


o observava, era gostoso estarconhecendo alguém e admirar a
beleza, o jeito, o jeito de falar e o toque. Me distraí
o admirando tão
gostoso que me perdi no que ele estava falando.
— Não tem?
— Hum? — sacudi a cabeça, confusa.
— Alguma preferência...Escolhi um hotel bom que me
indicaram, sairemos daqui amanhã bem cedinho — ele contoue eu
assenti. Se eu estava nervosa de viajar sozinha com ele? Muito.
Mas acreditava que seria incrível.

Quando chegamos, Edu entrelaçou nossos braços. Minhas


mãos estavam geladas de nervoso e ele olhou rapidamentepara
mim, sorrindo fraco. Sua mãe estava na porta da casa nos
esperando, parecia animada. Primeiroela abraçou o filho, depois a
mim.
— Seja bem vinda, Jordana — ela falou carinhosamente,
acariciando meu rosto — tão bonita como sempre.
Dei um sorriso,envergonhada que nem consegui agradecer .O
pai dele, Danilo, veio me cumprimentarcom um abraço também,
feliz por termos nos acertado, finalmente.
— Esse aí estava forado controle— ele falou, olhando para o
filho, que desviou o rosto,como se não tivessemesmo feitovárias
merdas.
— Está tudo bem agora — prometi.

Chiara desceu as escadas e veio animada me cumprimentar .


Todos ali queriam me fazersentiracolhida, mas Mari já havia dito
que foi assim com ela, na casa de Fred. Embora tivessem suas
preferências, não queriam se meter nas decisões dos filhos.

Nora nos serviu champanhe, Edu foi com seu pai em um


uísque.O homem ficouindagando como nos conhecemos, fazendo
perguntascorr iqueiras para parecer amigável. Eles conversavam
muito, sobre tudo, queriam saber de tudo.

Mari enviou uma fotodela e Fred, esperando saber tudo sobre


o jantar
. Edu pegou meu celular e respondeu com uma foto dele.

Depois do jantar e da sobremesa, voltamos para a sala,


bebemos um pouco mais. Eduardo começou a ficar agoniado
querendo ir embora, mas não encontrávamoso momento perfeito
para nos despedir logo. Quando isso finalmente aconteceu, ele
suspiroualiviado. Ele era um viciado em sexo, não dava para negar.

Começou a me provocarno carro,mas perdeu a linha quando


eu revidei. Ele não esperava,era óbvio, tantoque promet
eu não me
deixar ter um descanso esta noite.

Não era novidade que uma das primeiras atividades que


fazíamospela manhã, quando dormíamosjuntos, era sexo. Depois
de mais uma rodada deliciosa, fomostomarum banho e passamos
em minha casa para eu poder pegar a mala para a viagem.

Fomos para o aeroportoe de lá, fomosno jatinho dele, com a


logomarcada empresadele e de Fred. Descemos em Porto-Seguro,
onde já havia um carro a nossa espera.
Chegamos ao hotel e eu estava cansada, por terdormido bem
pouco e acordado cedo. Meus planos eram dormir, então tomei um
bom banho e coloquei um baby-doll fresquinho.Edu começou a
desfazer sua mala, porque como era bagunceiro, iria perder e
amassar tudo se deixasse dentro. Aproveitei a vista do nosso
quarto,a piscina na varanda, mas fechei as portase as cortinas,
ouvindo o riso de Edu.
— Como uma boa carioca,você deveria serum piolho de praia
— ele provocou, guardando as roupas no guarda-roupa de madeira.
— Branca desse jeito, eu seria o própriocamarão — falei o
óbvio e ele riu, assentindo.Fui me deitar
, com pena de desfazera
decoração românticada cama, as pétalas de rosa em formatode
coração.Mas desfiztudo e me aconcheguei, prontapara dormiraté
as duas da tar de, quando sairíamospara conhecertudo um pouco.
Edu já conhecia, mas era a minha primeiravez. O olhei chocada
quando ele começou a desenrolaro bolo enorme de preservativos.
Havia pelo menos uns vinte ali.
— Não — eu falei, porque era inviável ele pensar que
conseguiríamos usar todos.
— Você não quer?
— O nosso corpo não aguenta — eu falei o óbvio, mas sexo
nunca era demais para ele. Edu veio para a cama comigo, e quando
mencionei que ele era um viciado e que sexo nunca era demais, ele
beijou a ponta do meu nariz.
— Sexo com você nunca é demais.
— Ai, você não presta— falei incrédula, deixando que ele
ficasse roubando beijinhos dos meus lábios.
Ele me deixou dormir
, e depois de terminarde desfazera mala,
deve ter vindo descansarum pouco também. Quando acordei, ele
estavadormindo, tododespojado na cama e só de cueca. Eu nunca
perdia a chance de admirar a delícia que era esse homem.

Só não iria dizer que deveria ajoelhar e agradecerporque ele


era problemático. O imaginei sem roupa nessa posição, tão
gostoso...Eu poderia lambê-lo todo, adorava quando ele gozava na
minha boca e... Sacudi a cabeça, eu era doente. Havia sido
contaminada por ele.

Conteifinalmentepara Mari onde estávamose ela comemorou,


mas era certoquando dizíamos que com Eduardo tudo era oito ou
oitenta.

“Aproveita os oitenta, então, com esse gostoso” — ela enviou.

“Deixa Fred te vir falando desse jeito...” — respondi.

Lavei o rostoe a boca, e fui acordarEdu. Nos trocamose


passeamos por ali, depois escolhemos um restaurante para jantar
.

Aproveitamos as praias, e mesmo que eu tenha usado


bastanteprote
torsolar, estavavermelha. Havia um sinal de bronze,
mas era mais para vermelha mesmo.
Se eu achava que havia conhecido todosos níveise limitesdo
prazer
, estava tão enganada. Esse homem havia me levado além.

Fiquei desfalecida na cama e ele se levantou para beber um


pouco de água. Corria mão na minha barrigatoda suja de sêmen.
Passamos a tarde bebendo, provamos todos os sabores de
caipirinhas do hotel, era óbvio que eu iria ficarbêbada. Quando
viemos para o quarto,com planos de tomarbanho para irmosjantar,
começamos a nos beijar e paramos na cama.
Eduardo não havia colocado a camisinha, mas interrompeue
me sujou inteir
a. E tudo bem, pagava os orgasmos que ele me fez
alcançar em poucos minutos, coisa que eu nem pensava ser
possível. Antes dele, até o orgasmo com penetraçãoera um mito
para mim.

Dessa vez, ele quem escolheu o restaurante


onde jantaríamos,
mas como eu nunca era boa em escolhas, não iria me opor. Fiquei
pronta primeiro, em parte porque ele ficou no celular jogando.
Passei um pouco de maquiagem até, e depois perfume.Não estava
branca como um palmito, então o vestido branco curtinho até
contrastava um pouco.

Como esse era perto do hotel, fomos andando mesmo, já


havíamos comprado lembrancinhas para nossos familiares e
amigos. Passeamos por onde ele determinouser melhor, já que só
ficaríamos dois dias.
Ainda me sentia embriagada, mas com o passar das horas, o
efeitodo álcool foi diminuindo. Edu pediu mais caipirinhaspara nós
e eu, mesmo sabendo que deveria ter recusado, bebi com ele.

Pedimos risotode camarão para o jantare depois sorvetede


chocolatebelga para a sobremesa. Ao contráriodo dele, o meu veio
em uma bandeja coberta.Edu fezum sinal para o garçomabrire eu
fiquei confusa.

Havia um cartãocom letrasgrandesno meio de um coraçãode


pétalas de rosas e quando peguei o cartão,notei a caixinha de
veludo atrás.Demorei a assimilar, me assustei por um segundo,
mas o ar saiu cheio de alívio quando li:
“Quer namorar comigo?”

Olhei para Edu, que me encarava esperando e eu não sabia o


que fazer. Notava as pessoas das mesas ao redor nos olhando,
cheios de curiosidade.Meu coração batia tão acelerado que eu não
conseguia dizer nada.
— Não vai dizer nada? — Edu perguntou,contendoum sorriso
e eu assenti, ainda chocada. Ele fez uma reviravoltasobre o que
nós teríamos em tão pouco tempo, que eu fui pega de surpresa.
— Quero — falei embasbacada e ele deixou escapar um riso.
Pegou a caixinha, que não havia um anel, mas um cordão bem fino
com um menininho e uma menininha. Olhei para ele, que veio para
colocar em mim.
— Eu e você — ele falou suavemente, me causando arrepios
no âmago. Demos um selinho demorado, eu não queria alvoroço,
iria morrer de vergonha.
C 24
Eduardo Toledo

Estava em meu escritório, relendo alguns contratos


importantes,quando Fred entrou. Ele andava preocupado, e eu
imaginava que era algo sério, afinal ele nunca guardava segredo.
— Não quer me contar? — perguntei, colocando os
documentos sobre a mesa.
— Marina estáatrasada— ele falou e o encarei confuso— ela
nem chegou a me contar
, mas eu sei...
— E por que estápreocupado? — pergunteie ele me encarou
indignado.
— Eu e ela estamosnos conhecendo, cara... São o que? Seis
meses juntos? Nem isso...
— Se ela não contou nada, é porque não tem nada errado —
eu sugeri.
— Ela está estranha...em
T algo errado — ele falou enfático
— Se ela estiver grávida, o que você vai fazer?
— Eu vou sair louco por aí, desesperado gritandopor socorro
— ele resmungou, correndoas mãos no rosto— depois eu assumo,
né. Vou fazero que? — ele perguntoutão incrédulo que eu acabei
rindo.
— Desculpa, cara.
— Essa históri
a de confiarem camisinha... Não dá certo!— ele
voltou a falar— a gente acha que vai usar toda vez, mas sempre
tem aquela vez.
— É verdade — comentei, mas eu e Jordana já havíamos
falado sobre não confiar em coito interrompido.Sobre usar o
preservativosempre. Deveríamosóbvio, mas o tesão e intimidade
me convenciam fácil de que era mais gostoso sem.
— Deus só pode estarquerendo me castigar , cara. Eu mal saí
de um casamento cagado e vou engravidar minha namorada?
— É isso que dá não se protegerdireito— eu o provoquei,
como se o meu tetonão fossede vidro. Mas tomariaisso como um
aviso, eu já estava relaxado, confiando na ajuda divina. Não iria
mais vacilar.

Jordana só notounossos nomes gravadosnos bonequinhos do


colar que dei para ela dias depois, e enviou fotosachando fofo.Dei
um sorrisofraco,era muitofácilestarcom ela, muitogostosoe bom.

Mamãe estava feliz por nós dois, sempre ficaria. Apoiava,


torciapara que eu me deixasse ser feliz outravez. E eu estava
começando a achar que eu merecia, mesmo. Meu pai não iria se
colocarcontra,mas todo mundo sabia que a nora dos seus sonhos
era Luísa.

À noite, passei para buscar Jordana. Iríamossair para jantar


em um restaurante que eu adorava. Ela veio, toda bonita em um
vestido preto curto e saltos altos.
— Deus, minha avó até hoje não superou que o Bernardoestá
namorando a July — ela falouimpacientee eu noteia senhora lá na
área externa do prédio. Ela parou de falar e olhou para mim,
sorrindo carinhosamente.
— Alguma chance de ela vir aqui? — perguntei,porque a avó
dela olhava para o carro.Jordana riu e negou com a cabeça. Me
aproximei para roubarum beijo suave dos seus lábios, mas ela me
segurou e o tornou mais profundo.
— Sem bebidas hoje, mocinho — ela avisou, mas a olhei
rapidamente, não iria acatar
.

Assim que entramosno restaurante, para nosso azar, Luísa


estava em uma mesa com Bruna e outrastrêsmulheres. Jordana
me olhou apreensiva, mas Luísa não iria causar nenhuma cena.

Fomos para a mesa que eu havia reservadoe eu pedi o drink


de amora para Jordana. Uísque para mim.
— Você é alcoólatra— ela sussurroubrava, mas não dei
atenção. Ficamos conversando sobre bobagens um tempo. Ela se
interessavapelo meu trabalh o, gostavade saber. Eu me perguntava
se ela não pretendia voltarpara a faculdade,quem sabe terminaro
curso? Mas nunca nos aprofundamos nesse assunto.

Jordana deixou para mim, a funçãode escolhernossos pratos,


como sempre. Era indecisa, não queria escolhere errar
, não gostar
.
Pedi uma massa que eu gostava para nós dois.

Para sobremesa, pedimos doces portuguesesdeliciosos e ela


quis um sorvete.Minha namorada destrambelhadadeixou um pouco
do sorvete cair e desceu escorregandopelo decote. Ela me olhou
assustada,mas continuei seguindo com o olhar. Deus, tudo o que
eu queria era infligiras leis e avançar dela, limpar com a minha
língua. Ela passeou o guardanapo, tentandoser discreta
. Meu pau
começou a latejar
, eu era um condenado viciado em sexo com ela.
— Eu vou chupar você inteiraessa noite— eu prometibaixinho
e ela cresceuos olhos em minha direção.Sorripresunçoso,Jordana
era toda recatada, ficava sufocada com as minhas promessas
pervertidas, mesmo que me adorasse as cumprindo.

Como chegamos cedo em casa, fomos para a sala de jogos.


Ela tirouos saltos altos e eu abri a gaveta da mesa de sinuca.
Peguei as bolas e as arrumei na posição certa. Ela até sabia
seguraro taco,mas não era expertnos movimentos.Ela estavaem
uma posição perfeita,toda inclinada focadaem acertaro alvo, mas
interrompia brincadeirae a abracei por trás,levando as mãos para
suas coxas e subi o vestido. Me inclinei para beijar seu pescoço e
ela empurrou para mim, me fazendo sorrir .
— Você é uma safada — eu falei, enroscando os dedos nas
alças da calcinha para descê-la. Depois subi mais o vestido e ela se
virou de frente.Começamos um beijo intenso, mas muito malicioso
e ela grunhiu quando a coloquei sentadaà mesa de sinuca. Lambi o
pescoço até a boca, não deixei tempo para ela me beijar de volta e
me afasteipara me livrarda minha roupa. Ela me olhava inteiro,
cheia de lascívia. Gemi lamentoso quando ela tirou o vestido e
apoiou os pés na mesa, ficando completamenteescancarada à
minha espera. Parei no meio do caminho e coloquei as mãos na
cintura,inclinei o rostopara o lado e observei o seu ponto mais
íntimo.Ela resfolegoue jogou a cabeça para trás,não teriacoragem
de fazer me olhando, e desceu uma mão para a boceta,passeando
um dedo entreos lábios íntimos. Depois acariciouo clitórise ficouo
rodeando e rodeando. Não aguentei esperare a tomei para mim,
penetrando fundo, nós dois gemendo alto.

Afundei uma mão em seu cabelo, tombando sua cabeça para


tráse beijei duramentesua boca. Jordana estava escorregadia,eu
teriaque pararpara pôr a camisinha muito em breve. Senti uma
contraçãofracado seu sexo no meu e ela deu um gemido fraco,
mas a segurei firme no meu pau e continuei investindo.
— Edu... Amor — ela sussurrou, revirando os olhos e
estremecendo inteira. A encarei, analisando todas as suas
sensações. Voltamos a nos beijar, mas ela estava perto e eu
também, não queria parar . Eu ia tirare gozar fora,mas ela deu um
gemido áspero e enroscou as pernas em volta do meu corpo, os
braços em volta do meu pescoço e contraiuinteira,eu me senti
preso, não consegui nos soltar. Senti o primeirojato indo dentroe a
segurei, metendo duro e fundo até que nós dois acabássemos.

O mundo pareceu ficarmudo ao nosso redor , ela soltou o


aperto das pernas em minha volta e desceu os braços, me
abraçandopelo torso.Continuamosgrudadose acaricieiseu cabelo,
dei um beijo em sua cabeça. Ficamos agarradospor um momento,
contemplando a plenitude depois do orgasmo.

Felizmente eu não precisei pressioná-la quanto à pílula do dia


seguinte, ela mesma alertouque precisaríamosde uma o quanto
antes. Depois disso, eu vesti minha cueca e peguei uma caixa de
charutosem uma das estantes.Ela vestiu a minha camisa de
botões, mas mal os abotoou. Os cabelos estavam bagunçados,
estava tão linda e relaxada. Me sentei em uma das poltronase
cortei o charuto, o acendendo.

Jordana olhava a estantecom os livros, perguntouse poderia


pegar algum para ler, caso quisesse.
— Fique a vontade — falei e ela deu um sorriso maroto,
assentindo.Ela bisbilhotoutudopor ali, depois veio querendo provar
o charutoe meu senhor... Se havia coisa mais deliciosa do que ela,
logo depois de transarmos, vestidasó na minha camisa e com esse
charutona mão, eu desconhecia. Ela puxou e tossiunas primeiras
tentativas. Mas fui ensinando e ela pareceu até gostar
.

Ficamos ali na sala de jogos, eu corrompendominha garotae


ela se divertindo com isso.

As semanas forampassando e eu era dominado por pesadelos


eventuais. Como se algo quisesse me alertarpor estarvivendo o
novo, um amor tranquilo e bom. Como se eu não fosse merecedor
.
Por sorte,nas vezes em que isso aconteceu,Jordana estava
comigo na cama, então eu logo era dominado pelo sentimentode
paz que ela me fazia sentir
.

Com o passardo tempo juntos,eu notei que ela era ciumenta.


Se corr
oía só de ver outraolhando para mim. Não que eu fosseum
soberano, tinha ciúme de tudo. Numa discussão sobre isso,
aceitamos que éramos dois ciumentos, mas não achava que
extrapolávamos limite algum. De qualquer modo, eu sentia
tranquilidadenela. De que ela jamais fariaalgo para me magoar, ela
me deixava seguro. Eu esperava representar o mesmo para ela.
Não seria fácil viver uma relação insegura.

Em um fim de semana ensolarado, marcamos um passeio de


lancha. Fred e Marina não apareceram.Eu não sabia no que havia
dado no negócio da gravidez, mas se fossereal, Jordana saberia.
Marina e Fred se desentenderam por algum motivo e eu não sabia
qual.

Jordana, eu sabia que não estava, já que fomos obrigados a


passar uma semana em abstinência por ela não conseguir me
deixar vê-la nem no banho, enquanto estava naqueles dias.

Chiara e Gabriel já estavam na lancha a nossa espera. E


algumas outrasamigas de Chiara, Ravi e outrosamigos nossos. O
pessoal estavaanimado, mas eu e Jordana bebemos muitona noite
passada, só viemos para Chiara não ficar reclamando.
Nós dois adorávamos o tempo juntos, só nós dois. Beber
juntos, passar o tempo fazendo nada juntos, além do que,
poderíamos passar horas conversando que não se tornariaum
martírio.
Eu havia comentadoque não era acostumadoa ficartanto
sozinho com a namorada, mas isso pareceu diverti-la.
— É porque além de namorados, nós somos amigos, seu
bobinho — ela falou o óbvio.
Ficamos sentadose morgados por um tempo, mas minha irmã
logo se incomodou e veio puxar Jordana para ficarcom ela e as
amigas. Jordana se recupero
u mais rápido do que eu, mas estava
bebendo refrig
erante. Ela e Chiara conversavam, enquanto as
outras dançavam e eu fui até elas, abraçando Jordana por trás.
— Estávamos falando sobre bebês — Chiara falou para me
provocar
.
— Chiara pensa em planejar no próximo ano — Jordana
contou, bebendo um pouco do seu refrigerante.
— Mas vai que aconteceum acidente e vem antes — minha
irmã falou de uma maneira travessa— qual seria a reação do
Gabriel?
— Se jogaria no mar e morreriaafogado — falei o óbvio e ela
fez uma careta.
— Mais fácilser a sua reação — ela retrucoue Jordana olhou
para mim, mas roubei um beijo em sua boca.
— Não, se a Jordana engravidar, eu assumo — falei, mas
sentiaarrepiosde pânico só em pensar. Não estariapreparadopara
viver essa experiência outra vez.
— Mas isso não vai acontecer— Jordana falouincomodada —
de repentevocês levaram a conversa pra um caminho que eu não
gostei — ela falou, me fazendo sorrir
.

O passeio de lancha não fez bem para mim, o cara com


ressaca. Fiquei enjoado e me sentei, tomei Coca-Cola para tentar
aliviar. Por isso, assim que a lancha voltou para a marina, eu quis ir
embora.
C 25
Jordana Testa

Eduardo era um frouxo.Qualquer mal estaro derrubava. A


ressaca dele mais parecia uma dengue severa e ele se jogava fundo
nos efeitos, fazia o maior drama e muita manha.

Chegamos ao apartamentodele e ele tiroutoda a roupa, se


jogou na cama e cobriuos olhos com o braço.Eu imaginava que ele
deveria estarsentindo algum desconforto pelo excesso de bebidas
na noite passada, mas ele era muito exagerado.

Quando vi que ele não iria reagir


, liguei para Noêmia, pedindo
socorrosobre o que ela fazia para curá-lo dessa doença. Ela se
divertiacomigo e com ele, porque ele fazia manha e eu deixava.
Dizia que eu estava o deixando muito mal acostumado. E estava
mesmo. Mas eu estava tão apaixonada que cuidar dele se tornava
involuntário.

Dei o remédio que ela indicou e fiz um suco verde detox. Edu
bebeu tudo e dormiu um pouco. Tomei um banho e vesti uma
camisetadele. Como ele estavaadormecido, eu saído quartoe fui
para a sala de jogos. Fucei a estanteprocurandoalgum livro legal,
mas havia mais livros clássicos. Entreeles, peguei um álbum, como
se estivesse escondido entre tantos livros de capa dura.
Ao abrir
, eu vi as fotosdele com a mulher loira, de cabelos lisos
e olhos bem verdes, como os dele. Fotos em um centrocirúrgico.
Meu coração falhou uma batida, era o momento do parto?Me deu
certopânico ver e pensar sobre aquilo, mas continueipassando as
fotos.Ele parecia tão animado, sorrindotão bonito e ela também.
Depois dessas, havia mais fotosdo casal, eu não vi todas, estava
doendo em mim, pensar no que ele havia passado, na perda.

Eu perdi meu pai e sabia como era doloroso perder alguém que
amamos, mesmo que com meu pai, nós meio que fomos preparadas
por meses, quase dois anos aliás, de tratamento.Não foi algo
fulminanteou repentino.Era terrível,
não haveria algo pior, mas ele
tinha planos felizes e a perdeu em um momento tão importantee
não esperava.

Ouvi Edu me chamando e escondi o álbum atrásde mim. Me vi


desesperada para não ser pega olhando, ele não queria sequer se
deixar viver outroamor depois dela, certamentenão iria quererme
ver olhando. Coloquei o álbum de qualquer jeito na estante e saída
sala de jogos antes que ele entrasse.
— Está melhor? — perguntei,mas estava nervosa — dormiu
pouco...
— Um pouco — ele falou, coçando o olho com uma mão e me
puxou pela cintura. Dei um sorriso, quando ele me abraçou e
afaguei suas costas — nunca mais vamos beber desse jeito.
— Você que é tãodramático,meu bem... Eu não fiqueitãoruim
assim e olha que nem sou acostumada— eu falei e ele se afastou
para me olhar
, mas me abraçou de novo, tão dramático...
— Vamos pedir algo pra comer? — ele perguntou e eu assenti.

Jantamos pizza e um suco de laranja muito gostoso. Depois


ficamosno sofáagarrados,namorando. Ele encerroumais um beijo
e eu acariciei seu rosto, me aproximando para roçar nossos lábios.
— Eu te amo — sussurrei,erguendo o olhar até o seu. Não
sabia se haveria hora certapara dizer, ou se ele se sentiacomo eu,
mas estavasegurando há dias, eu queria que ele soubesse sobre o
meu amor. Edu não me disse de volta, mas escorregouuma mão
pelo meu cabelo e voltou a beijar
, tão delicioso.

Eu e Eduardo estávamos juntos há pouco tempo, eu sabia,


mas parecia que estávamosjuntos desde sempre. Vovó ainda não
se conformava, mas parei de dar importância.Mari e Fred brigaram
por algum motivo e ela se afastou.Eu tentavame manterpertodela,
saber como ela estava, mas ela me afastava.Excluiu-se de tudo e
se mantinha isolada. Edu sugeriu que eu desse um tempo para ela,
a deixasse pensar melhor sozinha. Fred também não estava nada
legal. Eu e Eduardo o resgatamospodre de bêbado em um bar, em
um dia desses. Ele começou a quererfalarmal da Mari quando me
viu, mas mal conseguia dizer palavras inteiras.
— Você ficouassim — faleipara Eduardo, querendo provocá-lo
e ele riu.
— Foi vergonhoso. Fred deveria terme levado pra casa. Eu
deveria levá-lo pra casa dela, pra me vingar
.
— Eu não deixaria, ela tem uma péssima relação com os pais
— eu falei logo e ele me olhou de relance — eles estão sofrendo,
ninguém diz os motivos... Difícil ajudar
.
— Dessa vez, nem eu sei. E olha que Fred não é de guardar
segredos — Edu comentou. O levamos para o apartamentode
Eduardo e ele foi ajudar o primo com um banho. Deu água para ele
e o colocou no quartoque ele costumavaficarquando passou uma
temporada por aqui.
EspereiEdu na sala e ele desceu as escadas, suspirandoforte.
— Amar errado dói — ele falou, me fazendo. rir

Numa quarta-feira,ele foi ver jogo com seu pai e familiares.


Depois viria me ver. Estávamos mesmo grudados, mas início de
relacionamentoera assim mesmo, não é? O casal vai se moldando,
está naquela fase de vício extremo.

Mamãe estavade namorado novo, não queria me contarquem


era ainda, mas que quando decidisse que era algo sério, eu iria
conhecê-lo. Só queria minha opinião, se eu não achava cedo. Mas
não era meu papel julgá-la.

Torci para ela sair logo, para Edu poder chegar e ficaraqui
comigo por um tempo. Ele chegou logo depois que ela se foi,
trazendoalguns dos petiscosda noite com sua famíliapara mim.
Mas eu coloquei sobre o balcão e fui beijá-lo.
— Estava com saudade? — ele perguntou e eu assenti,
animada para irmos para o quarto.
— E com vontade — eu repliquei e ele me pegou pela cintura,
me levando logo para o meu quarto.Eu fui tirandoa roupa e ele foi
trancar a porta.
— Anda bem safadinha, acho que estragueivocê — ele falou,
enquanto tiravaa própriaroupa. Eu me senteià beirada da cama e
o puxei pelo quadril, segurandoseu membro semieretopara colocá-
lo na boca, fazendo-o gemer .

No começo de maio, uma terça chuvosa, Luísa apareceu no


restaurante,com a ex-esposa do Fred, para almoçar. Pela primeira
vez, eu me peguei pensando que estava tudo perfeito demais. E não
queria sentir medo disso. Mas realmente estava. Eu e Edu
parecíamostão apaixonados, tão conectados e querendo um ao
outro.Eu me sentiatranquilacom ele, com a nossa relação. Mesmo
com mamãe e vovó não aprovando tantoassim, e eu entendia os
motivos delas, nós dois estávamos perfeitosjuntos. A mãe dele
havia me ditoem um jantar, um dia desses, que ficavafelizem ver o
filho sendo tão amado, que sentia que ele estava mais leve, mais
feliz. Disse que Edu sofreumuito, ninguém mais esperava que ele
fosse encontraroutra mulher e amá-la, como estava fazendo
comigo.

E eu estava mergulhada em nós dois. Havíamos falado sobre


eu voltar à faculdade, era importante,caso eu quisesse, terminaro
curso.Ele me incentivavamuito.Eu já havia atémesmo conversado
com minha mãe, se haveria a possibilidade financeira para isso.
Pela primeira vez nesses meses com ele, ao me depararcom
Luísa olhando em minha direção, eu fiquei com medo. Não de ele
fazeralgo errado, me trair
. Não era sobre isso. Mas de ele regredir
,
voltara não quererviver nossa relação, revivero luto. Nunca mais
falamossobre a perda dele. Ele não deixava nem brecha para que
tocássemos no assunto.

Eu não queria ir atendê-las, mas quando pediram a conta,


apenas eu estava desocupada e precisei ir até lá.
— Soube que a família de Edu tem se preocupado com
vocês... — Luísa quem falou, fingindo desdém. A olhei, mas não
disse nada — que você estáocupando o lugar de uma mulher que
morreu...
— Quando Edu se der conta disso, vai te largarna hora —
quem completou foi a outra,a Bruna. Senti tudo estremecerpor
dentro, mal consegui inserir o cartão na maquineta.
— Vocês até que se parecem — Luísa voltou a provocare
olhou para amiga, as duas deram um riso — talvez você seja mais
fiel.

Continuei muda, não iria cair na provocação das duas. Notei


que mal haviam tocado na comida, como sempre. Só vieram para
isso, para plantar essa agonia. E eu não iria deixar
.

Vovó estava de olho, já esperando por alguma cena, mas não


houve nada. Elas só queriam me desestabilizar
. Voltei para o caixa e
respireifundo, inspirei o máximo que consegui e soltei todo o ar,
como se isso fosse me acalmar .

Depois pude entrarpara almoçar e vi a mensagem de Edu,


mostrandoo seu cordão com dois bonequinhos, iguais aos meus.
Ele era tão bobo, cheio dessas manias fofasque me derretiam
inteira,eu não devia ficarpreocupada por tudo estarbem demais.
Devia?
Enviei uma mensagem para Marina, querendo saber sobre ela,
se estava melhor, mas ela não queria falar sobre nada ainda.
Então, quando saído restaurante,pela tarde,peguei um carro
por aplicativoe fuipra o endereçode Marina. Quem atendeu foisua
mãe, sendo simpáticaao dizer que ela estava no quarto
. Mas logo
completouque estavauma completaimprestável.Pedi licença e me
dirigi ao quartodela. Bati duas vezes na portaantes de entrar
. Lá
estava ela, a pessoa mais animada que eu conhecia, derrotadana
cama.
— Pensei que tivesseditoque queria ficarsozinha — ela falou,
suspirando pesado e foi se sentar à cama.
— Eu dei tempo pra você ficarsozinha — eu falei, indo me
sentar ao seu lado — não vai me contar o que houve?
Mari me encarou por um momento, relaxando a posturae
negou com a cabeça, logo desviou o olhar
.
— Eu não quero terque falar disso... Eu fiz tudo tão errado...
Achei que fosse a coisa certa, mas...
— Mari, eu estou preocupada. O que houve? Por que você e
Fred terminaram?— pergunteirealmentepreocupada com o que
havia acontecido. Ela olhou para mim, respirou fundo, se
preparando para começar a falar
.
C 26
Eduardo Toledo

Fred voltou à rotina de trabalho, mas andava amargurado.


Incorporouuma versão de mim, uma versão mais suave, mas ainda
assim era desastroso.
— Quando eu estava amargurado desse jeito, você me
incentivou a procurarJordana... Nos resolver
. Por que não faz o
mesmo? — perguntei,mas ele tinha um olhar vago, apoiando o
rostona mão. Joguei uma bolinha de papel amassado dele, que
sacudiu a cabeça, como se despertasse.
— O que?
— Você assim sofrendo...Não acha melhor tentarse acertar
com a Marina?
— O que ela fez não tem perdão — ele resmungou — e não
quero falar disso. Não vou morrer de desgosto, não.
— Certo, Fred — eu falei, não querendo forçá-lo.

Focamos no trabalho durante todo o dia. Não deixei nada


trabalhosopara ele, para não correro risco de aconteceralgum
erro.Desse modo, pela tarde,o mandei para casa. O homem estava
derrotado. Seja lá o que tenha sido, só poderia ser algo grave.

Pensei que houvesse traição,que ela tivesseoutro,mas nada


do que eu pudesse ter imaginado se aproximava da realidade.
EncontreiJordana à noite. Ela desceu junto com a avó e as
duas pareciam estardiscutindo.Minha garotaentrouno carroe eu
me aproximei para beijá-la.
— Deus, vovó ainda não te supera — ela falou indignada.
— Estavam brigando?
— Não... Não é pra tanto.Estávamosdiscordando— ela falou,
me fazendo sorrir
. Liguei o carro e fomos para meu apartamento. Lá,
pedimos comida japonesa, a deixei escolhendo enquanto fui para o
banho.

Quando desci, abri um vinho para nós dois e servi nas taças.
Ficamos agarradosno tapete da sala, bebendo um vinho bom e
conversando. Ela adorava saber sobre o meu dia na empresa, por
isso, sempre que dava, eu a incentivava a voltar para a faculdade.
— Estive com a Mari hoje — ela comentou, colocando a taça
sobre a mesa de centro e se virou para mim.
— Descobriu o motivo do término? — perguntei,bebendo um
pouco mais do vinho e coloquei minha taçaao lado da dela. Jordana
assentiu, suspirando.
— Fred não contou nada?
— Não. Não quer falarsobre. Disse apenas que não vai morrer
de desgosto.
— Ela também está sofrendo.Se ele fosse um pouco mais
maleável, teria entendido os motivos dela.
— E o que houve? — perguntei— não sei se você sabe, mas
eu sou primo carnal de Fred. O sangue fofoqueirocorrenas minhas
veias — tenteibrincar , mas ela parecia séria. Jordana deu um
sorriso doce e acariciou meu rosto.
— Começou com uma desconfiançade gravidez e terminouem
um aborto— a informaçãoveio como uma bomba, eu sequer soube
o que dizer. Pisquei algumas vezes, tentandoabsorvero que havia
descoberto, mas não conseguia elaborar uma frase coerente
sequer.
— Como ele descobriu?
— Ele pegou um exame na bolsa dela — ela contou,
devolvendo a taçapara a mesa de centro— sim, ele bisbilhotou. E
logo depois encontrouo segundo exame, o negativo — ela contou
cautelosa, mas eu estava embasbacado. Consegui me colocar no
lugar de Fred, mas eu teria ficado frustrado ou aliviado?
— Por que ela abortou?Como ela fez isso? Ele teriaapoiado,
você sabe disso? Ela sabia disso?
— Ela tem uma péssima relação familiar, sofremuito com os
pais, sabe? Não iria querer um filho não planejado, estando
desempregada e com um namoro tão recente, de um cara que ainda
sofrepressãoda ex. Na verdade, Mari nunca foi inclinada a querer
filhos.
— Deus, ele está devastado...
— Está agindo como se ela tivesse matado o filho deles —
Jordana resmungou— ela estásofrendo,é um baque muitogrande,
eu acho, passar por isso. E ela não teve apoio de ninguém. Só do
primo médico que fez uma receita,pra ela conseguir compraros
medicamentos.
— Coitada... — sussurrei, completamente sem reação.
— Eu espero que ela fique bem logo. Nunca a vi tão mal... —
ela suspirou e negou com a cabeça — disse que não me contou,
senão eu jamais teria permitido que ela fizesse.
— Ela se arrependeu?
— Não sei, Edu. Ela provavelmentedeve pensar no e se não
tivesse feito,né? Já que agora Fred demonstraque teriaquerido.
Mas ela está nova, tem a vida toda pela frente pra tentar de novo.
— É. — falei, não sabendo como reagir
.

Fiquei angustiado com as descobertas,mas logo trateide nos


tirardesse assunto. Fiquei com a frasedela impregnada, dizendo
que jamais teria permitido a amiga abortar. Ela jamais faria um
aborto, deveríamos tomar mais cuidado.

A comida chegou e eu fui pegar. Jordana serviu mais vinho


para nós dois e jantamos.Tentamosnão focarsobre Fred e Marina,
era de se abalar, mas já estava feito,os dois teriamque encontrar
um jeito de superar . Eu e Jordana terminamoso jantar e fomos
procurarum filme para ver. Não opinei na escolha, não tinha a
menor intenção de realmente ver o filme.
C 27
Jordana Testa

O aniversáriode Edu estava chegando. Só descobri quando


Chiara me ligou contando, avisando que a famíliadaria uma festa
para ele. Afinal não era todo dia que se completavam trinta anos.

Dessa vez, cheguei a convidar minha mãe e minha avó, mas


vovó recusou prontamente,ainda inconformada.Segundo ela, sabia
que isso entrenós dois não iria para frente.Mamãe, no entanto,foi
mais delicada, adoraria ir, mas já tinha planos com o namorado
misterioso.
— Por isso ela não contaquem é o homem — apontei o garfo
para vovó, que fez pouco caso.
— Aposto que não é um herdeiromilionário se aproveitando
dela — vovó devolveu a minha provocaçãoe minha mãe começou a
rir
.
— Mãe... Daqui a pouco Bernardo estácasado com a Juliana e
a senhora remoendo essa história...Jordana gosta de partidões,a
senhora não se lembra daquele ex?
— Que horror , mãe — falei incrédula, seria muito injusto
compararEdu com o meu ex. Apesar de todosos errosdele, eu me
sentiasegura e tranquila.Além de amada e muito bem saciada em
todas as questõesdo nosso relacionamento.No anterior, nunca foi
assim.
Na manhã seguinte, no sábado, fui à praia com a Mari. Ela
estava tristinh
a, mas tentavase recuperar. Contou sobre a nova
possibilidade de emprego, já que ficarsem trabalharnão poderia se
tornar uma opção.

Ela reclamou por eu só ficar sob o guarda-sol e toda


lambuzada de protetor . Mas eu não era como ela, que pegava um
bronze bonito, eu iria, no máximo, ficarvermelha e daqui uns dias
descamar inteira.
— Vovó segue odiando Eduardo — eu conteie ela deu um riso
desanimado.
— Vocês estão perfeitos, né?
— É — fiz uma careta — Fred quem não anda nada bem...
— Ele nunca vai me perdoar— ela negou com a cabeça e
olhou em direção ao mar — não sei se eu fiz a coisa certa,mas
definitivamente,eu não estava preparada. Ele não precisava agir
como se eu tivesse cometido um crime. Mesmo que essa merda não
seja realmente legalizada no país.
— Ele ficou mais abalado porque desconfiava e você decidiu
tudo sozinha.
— Sim, mas era pra ser minha decisão. Eu sei que ele é um pai
legal e que ama o filho. Mas ele é pai de final de semana. Eu não
teria como assumir a responsabilidade de um filho na casa dos
meus pais. Iria criar uma criança desestabilizada.
— Ele não te deixaria na mão, amiga — eu tenteiargumentar ,
mas isso fazia parecerque eu estava julgando-a. Eu não queria
fazer isso. Mari me olhou por um momento.
— Você iria quererviver a custado Edu? Dependendo dele pra
tudo?
— Não! — falei o óbvio.
— Além do que, você ainda teriaapoio da sua mãe e avó. Eu
não ter ia ninguém. Só me sobrariaa opção de ser uma coitada
dependente de pensão. Não foi isso que eu planejei pra mim.
— Tudo bem. Você também não tem que se culpar. Só tentei
ver o lado dele, vejo os dois sofrendo... É triste.
— Logo vai passar. E eu vou me cuidar melhor. Eu e Fred
confiamos muito só no preservativo.
— Você engravidou usando? — sussurreiapavorada e ela deu
um sorriso triste.
— Não. Houve uma vez que não usamos. Uma única vez. Eu
achei que não estavaovulando e não tomeia pílulado dia seguinte.
Só por isso, ele já ficouligado se eu iria menstruar
. E aconteceu—
ela resmungou — não quero falar sobre isso, me dói, sabe?

Mudamos de assunto,Mari ainda se abalava com este.Saímos


da praia e fomos almoçar em um restaurante por perto . A deixei
escolher. Pegamos uma mesa pertoda janela e um garçom veio
trazero cardápio. Minha amiga provocou quando pedi chope para
nós duas, já que anteseu não costumavabeber. Anteseu não tinha
ânimo para nada que divertisse.
— Mas continuouma ameba, com dois goles ficobêbada — fiz
uma caretabrava e ela riu. Contei sobre a festade Edu, a chamei
para ir comigo, mas ela recusou logo. Não queria de jeito nenhum
enfrentar a família deles.
— Eu não acho que Fred tenha contado. Ele não contou nem
pro Edu.
— Mas acho melhor não. Não tenho cabeça pra encontrarcom
Fred ainda.
— Não acha que seria bom, se vocês se vissem?
— Não. Não tem mais conserto.Sempre vai ficarisso entr
e nós
dois, tudo quebrado — ela deu um suspiro forte— estou ficando
bem, amiga. Não se preocupa.
— Tudo bem, me desculpa por insistir — pedi.

Bebemos o chope enquanto esperávamos a comida. Edu


perguntouonde eu estava, mas eu sabia que estava com Fred,
então avisei rapidamente que iria almoçar com a Mari.
Nós duas estávamos rindo de algo, quando ela parou e eu
olhei para trás,para a entradado restaurante. Lá estavam elas,
sempre juntas: Luísa e a outra, a ex do Fred.
— Essas duas são asquerosas — Mari sussurrou— estão
vindo nessa direção.
— Não vão fazernada — eu, ingênua, falei. Mas elas pararam
na nossa mesa e fingiramnos analisar, com esse deboche todo,
cheias de superioridade.
— Edu ainda não largou você? — a ex de Fred perguntoupara
mim, que a olhei, esperando que continuasse— porque Fred já se
deu conta do golpe que estava caindo.
— Edu não deve terse cansado ainda de usá-la, amiga —
Luísaquem falou dessa vez. As duas rirambaixinho e eu revireios
olhos.
— Se ele demorou seis anos até se cansar de você, Jordana
ainda tem muitotempopra aproveitar— Mari retrucoue eu arregalei
os olhos em sua direção — e ele a adora, enquanto berravaaos
quatro ventos que não te suportava.
— Não dizia por aí que só estavaa comendo? — Luísatentou
retrucar
.
— Isso foi antes — Mari abanou a mão.
— Eu já aposto que isso não vai durar . E eu tenho motivos
contundentespra acreditar— a ex de Fred faloucheia de si, mas eu
apenas olhava para cima. Não iria retrucar as provocações.
— Então mande sua amiga ficar na fila, quando eles
terminarem,ela voltaa se rastejarpela atençãodele — Marina falou
impaciente. O garçom se aproximou e Mari lançou um olhar
suplicante para ele: — moço, essas mulheres estão me
incomodando!

Eu olhava incrédulapara ela, por sercapaz de enfrentá-la


s. Eu
era mais adepta à políticado silêncio. Deixaria que falassem e
falassem, tentassem plantar a discórdia, mas Mari já estava
frustrada com tudo na vida, não iria engolir calada. Não poderia
dizer se elas prolongariama cena, se Luísa usaria sua influência
digital para sair ganhando, mas Edu apareceu de surpresa, para
alívio da minha amiga, sozinho. Ele pareceu confuso e veio se
sentarao meu lado. Só depois de segurarmeu rostoe pressionar
nossos lábios, olhou para as duas.
— Estão aprontandoo que? — ele perguntoupara elas. Dessa
vez, Luísa deu um passo à frente e começou a dizer:
— Estávamos reparandocomo o jeito doce da Jordana lembra
a Bia... — ela franziuo cenho, olhando fixamentepara ele — você
não acha?

Eu e Mari nos encaramos por um momento e ela piscou


devagar, negando com a cabeça. Era tão evidente que Eduardo era
mexido e ainda sofriapela perda, eu não poderia começar a sentir
ciúme da históriadele, do passado doloroso. Mas não queria ser
comparada, Luísa fazia parecer que eu era o estepe que ele
encontrou.
— A versão pobre dela, talvez — Bruna quem completou, um
tempo depois. Eduardo as olhava friamente.O garçom parecia sem
jeito presenciando a cena.
— Já pediram? — Edu perguntoupara nós duas, decidindo
ignoraras outras.Mari assentiu e Edu olhou para o garçom, logo
depois pediu para que ele trouxessepara ele, o mesmo que eu
havia pedido.
— Mas você nem sabe o que escolhi — falei e ele deu um
sorriso travesso.
— Seu gosto é confiável. Você namora comigo — ele
provocou, me fazendo rirda baboseira. As outrasduas mulheres
tomaramseu caminho e foramse sentarnuma mesa mais afastada,
Luísanão era idiota, nem nada. Eduardo era um grosso,se ele não
tinha paciência para algo, ele não se importava em ser gentil.
— Jordana bebendo antes do almoço é uma surpresa— ele
comentou com a Marina, que assentiu empolgada.
— Você a corrompeu completamente.
— Vou levar isso como algo positivo— Edu falou, bebendo um
pouco do meu chope.

Depois do almoço, deixamos Mari em casa e fomos para o


apartamentode Edu. Tomamos banho juntose fomostentarver um
filme. Busquei escolher um que ele pudesse gostar
, porque meu
namorado era um pervertido, iria me seduzir
.

Como eu estava resignada no filme, Edu pegou no sono,


abraçadoao meu corpo.Quando o filmeacabou, me virei para ele e
toquei seu rosto,quase preocupada com tudo o que a Luísa dizia,
mas estávamos vivendo algo tãobom. Digo a segunda fase,não iria
me apegar à mágoa do início.

Foi um dia de preguiça, literalmente.Escolhi outrofilme para


ver e Edu acordou perdido no tempo, o que foi uma graça. À noite
pedimos sanduiches e batatafrita.Por ele teríamospedido algo
requintado, e seria bom. Mas fast-food era tão gostoso.

No dia da festadele, eu fiquei apreensiva, nervosa. Não queria


que me vissem e me julgassem não-boa para ele. Ou que me
achassem parecida com a... Com a Bianca e pensassem que ele só
estava comigo para tamparo sol com a peneira. Que sentissem
pena.
Mari logo brigou comigo, eu estava me deixando levar por
Luísa, e era isso que ela queria. Ainda disse que pra ser amiga
daquelas suas e aguentá-las,no mínimo era igual. Poderia teruma
índole melhor, mas achava difícilser o opostodelas duas e suportá-
las. Ainda disse que apostava que Edu e todos os outros só
endeusavam a mulher porque ela morreu.Não deveria usar isso de
acalento, mas me apeguei.

Edu não queria festa,mas sua mãe e irmã fizeramquestão,


entãoelas que arrumaramtudo.Eu me arrumeicom um vestidomidi
apertadoaté a cintura,mas soltoem baixo. Era ombro a ombro, na
cor branca. Calcei uma sandália alta de saltofino e prendi o cabelo
em um rabo alto. Me maquiei levemente. Passei bastante rímel, uma
sombra clara e passei batom vermelho.

Não sabia o que dar para ele e ignorei a sugestãode Marina


para eu mesma ser o presente. Ele iria adorar
, viciado em sexo que
era, mas eu queria algo mais simbólico e especial. Como ele não
era o tipode caraque estariaprecisandode algo, fizuma caixa com
fotosnossas, cheias de declaraçõesfofase dentroum bombom que
ele gostava. Dei logo de manhã. Depois dei para ele.

Por incrívelque pudesse parecer


, eu fiquei prontaprimeiroe
fiquei o esperando, conversando com a Mari pelo celular. Ele saiu
finalmentedo banheiro e foi para o closetse trocar
. Quando voltou
de lá, já vestido na calça, meias e a camisa de botões branca
aberta,eu o admirei um pouquinho, tão gato e tão gostoso.Ele deu
um sorrisoao me pegar o secando e eu fiz uma careta.Depois de
pronto, Edu consertou o cordão com nós dois pendurados no
pescoço. Mari achou bem patético,pior do que se tivéssemos
decidido usar alianças em um namoro tão recente.

Me levantei e ele veio até mim, não disse nada, mas segurou
meu rosto para selar nossos lábios suavemente,como se soubesse
que não poderia manchar o batom.
— Você está perfeita — ele sussurrou.
— Obrigada — sussurreide volta. Dei uma última olhada no
espelho para conferir que estava tudo no lugar e descemos.

No caminho para a mansão de seus pais, eu o olhava. Levei


uma mão para o seu rosto,o acariciando e ele virou, beijando a
palma dela.
— Se eu pudesse trocar
, teriaescolhido um jantarzinhosó nós
dois — ele comentou — de preferência sem roupa.
— Deus, Edu — eu comecei a rir— você sempre quer fazer
coisas sem roupa.
— Sempre — ele foi enfáticoao dizer — e só eu posso me
julgar, afinal só eu namoro você.
— Bobo... — eu reclamei.

Quando chegamos, ele foi recebido primeiramentepelos pais.


Amorososque eram. Depois os convidados que já haviam chegado,
até agora não muitos, vieram cumprimentá-lo.Eu já havia sido
apresentadaa alguns, mas agora Edu repetiuo ato.Ele me arrastou
atéo bar e pegamos taçasde champanhe. Ficamos por ali, segundo
ele, quem chegasse o veria e poderia vir parabenizá-lo. Sua mãe
logo brigou, disse que ele tinha que receberos convidados. Mas
Edu não estava nem aí para bons modos.

Chiara apareceucom o noivo e estavaanimada. Ficou conosco


e Edu não parecia a vontade com o cunhado. Eu até entendia os
motivos dele para não aprovar o relacionamento,mas se Chiara o
perdoou, ele tinha que dar um voto, confiar na decisão dela.

Edu resmungou com seu pai quando Luísa chegou junto de


seus pais, mas sua mãe se apressou em pedir que ele fosse
educado. E ele foi, os cumprimentoue me apresentoucomo sua
namorada.
— Ela trabalhanaquele restaurante
do Leblon, papai — Luísa
falou, como se fosse mesmo um assunto plausível — garçonete,
não é? — olhou para mim.
— É da avó dela, o restaurante
— Edu falou,olhando friam
ente
para Luísa — e a comida de lá é maravilhosa.
— Nossa, eu não sabia. Quero conhecer, qualquer dia desses
— Nora falou educada.

Logo fomos para uma mesa e eles vieram, todos. Luísa toda
hora soltava uma provocação inocente, Edu estava suspirando
impacientee me olhava cauteloso. Eu me aproximei mais dele e fiz
um carinho em seu rosto, estava tudo bem.
— Imagina se ela ficagrávida de surpresa,também? — Luísa
perguntoue Eduardo a olhou subitamente.Eu puxei sua mão, não
queria uma cena na festadele. Pelo amor de Deus, seria tão
vergonhoso. Ela iria logo distorcer e dizer que eu causei tudo.
— Deixa — eu sussurrei— olha lá, Fred chegou — eu falei,
quase aliviada. Fred não era mais o cara animado de semanas
atrás,mas obviamente saberia provocarLuísa de volta. Eduardo
não iria provocá-la de volta, seria grosso, causaria mal estar
.

Ele se sentou ao lado de Edu, depois de falarcom todos e


respondeu que seus pais logo chegariam.
— E o seu filho, Fred? — Luísa perguntou para ele.
— Com a mãe. Graçasa Deus ninguém chamou aquela cobra
— ele desandou a falare a mãe de Edu arregalouos olhos em sua
direção, Fred a fariaexplodir de vergonha até o fim da noite, eu
tinha certeza.Ela era tão elegante e educada, qualquer coisa fora
da linha a deixava apreensiva. Eu quis rir
, mas me controlei.Edu
notou, e acho que achou engraçada a minha vontade de rir
, porque
deu uma risada e negou com a cabeça.

A festa não era das mais animadas. Era elegante, tudo


requintadoe bonito, vários garçonscirculando,banda tocandoMPB
e músicas internacionais.Chegavam muitaspessoas importantes do
ciclo social deles. Os amigos de Eduardo não eram muitos. Chiara
disse outravez que ele já foi o cara que andava com uma turma
enorme, mas depois do que aconteceu,ele mudou um pouco. Não à
toa eu o via sempre com Fred. E para aprontar, com Ravi. Este
chegou juntocom a minha amiga Denise. Foi surpresapara mim, eu
poderia teraversão a ele pelas coisas que aprontava,mas Eduardo
já havia feito o mesmo, seria pura hipocrisia.
Luísatentou remoer as provocações,então Edu se levantou e
me chamou para dançar. O encarei incrédula, ele sabia melhor do
que ninguém que eu não era boa nisso. Mas quando fomos para a
pista de dança, varias pessoas vieram também.

Tastes like strawberries


On a summer evening
And it sounds just like a song
I want more berries
And that summer feeling
It's so wonderful and warm
Breathe me in Breathe me out
I don't know if I could ever go without
I'm just thinking out loud I don't know if
I could ever go without

Edu tinha os braçosem volta da minha cintura,enlaçando meu


corpoe eu passei meus braçosem voltado seu pescoço, o olhando.
Ele deu um sorriso para mim, mas logo começou a .rir
— Deus, eu daria a vida pra Fred terchegado mais cedo — ele
falou, se divertindo— iria sufocarmamãe de vergonha duelando
com Luísa.
— Ela foi um pouco desnecessária.
— Um pouco? — ele replicou indignado — sortedela é que
você é boazinha.
— Não gostode brigar— eu falei, negando com a cabeça. Ele
assentiue foise aproximando, inclinando o rostoe encaixou nossos
lábios. Eu acariciei sua nuca, mas fiquei com medo de borraresse
batom inteiroe ficarparecendo uma palhaça, então apenas selei
nossos lábios.
— Mamãe poderia termontado um repertório
mais animado —
ele resmungou — não vejo a hora de podermos fugir daqui.
— Mal chegamos, seria muita desfeitacom sua mãe — eu
reclamei com ele — podemos ficaraté o final, não é um grande
esforço.
— Vamos passara noite aqui e eu não vou poder beijar você?
— ele perguntou incrédulo. O encarei séria, isso não era um
problema.

I been tryna call


I've been on my own for long enough
Maybe you can show me how to love, maybe
I'm going through withdrawals
You don't even have to do too much
You can turn me on with just a touch, baby

Edu cantaroloubaixinho, conhecia esta música. Eu o encarei,


cantava bem mal, mas era um gostoso. Para não deixar esse
homem mimado sem beijos, ele foi comigo ao lavabo e eu tireio
batom. Era melhor sem do que toda borrada.Ele ficou escorado à
pia enquanto eu tomava cuidado para remover sem tirar a
maquiagem ou manchar ao redorda boca. Quando acabei, ele me
puxou bruscamentee me beijou eloquente.Me deixei levar e só nos
parei quando ele me colocou sentadana bancada, se eu deixasse,
iríamos transar aqui e eu não teria coragem de sair nunca mais.
Passei um gloss que tinha na bolsa e voltamos para a mesa.
Fred estava sentado bebendo uísque, desanimado. Eu toquei seu
braço, para ser notada.
— Está tudo bem? — perguntei. Ele apertou os lábios e
assentiu— não acha que vocês deveriam conversar?— eu falava
baixo, não queria que alguém nos ouvisse. Era algo pessoal.
— Eu não quero... — ele falou vagamente e desviou o olhar —
e ela não quer também.
— Não querem mesmo? — perguntei— já tentouentenderos
motivos dela?
— Não muda nada... Ela devia terme contado. Não quero
entrarna conversa de corpo dela, escolhas dela. Era o nosso filho,
ela não confiou em mim para me contar . Eu talvez tivesse a
apoiado, tivesse a entendido, eu a amava, Dana... Mas ela não
confiou em mim.
— Ela também está sofren do... Sinto muito — eu suspirei.
Quando me virei para Edu, no percurso, olhei Luísa nos
bisbilhotando. Desviei o olhar dela e olhei para Edu, pegando
camarões empanados com o garçom.

Depois que todos já haviam chegado, a festaestava cheia e


começaram até mesmo pedir músicas para a cantorada banda.
Tudo pareceu mais animado, ou era o efeitoda bebida. Eduardo já
estava embriagado na hora dos parabéns, ria e cantava junto.
Depois cortouo bolo e me puxou para o seu lado, pegou o primeiro
pedaço e dedicou para mim.
— A pessoa que me fez ver que era possívelamar de novo! —
ele falou, acho que pegou todos de surpresa,afinal foi motivo de
aplaudirem. Meu rostoqueimava de vergonha, eu odiava estarno
centrochamando atenção. Ele me abraçou fortee beijou a minha
boca. Depois disso, voltamos para a mesa.

Em algum momento, eu havia dito para mim mesma que era


hora de parar de beber, mas Edu apareceu com uns drinks que
disse serem deliciosos e nós bebemos. Depois estávamosos dois
no bar, experimentando o cardápio. Eu sabia que iria superar a
ressaca como uma ressaca. Ele, não. Ele iria atrave ssar uma
doença séria amanhã.

Decidimos ir embora quase quatroda manhã. Sua mãe não


queria deixar, disse que ele não estava em condições para dirigir
.
Talvez não estivesse mesmo, mas eu estava sem condição para
admitir
. De qualquer jeito, Fred pegou a chave do carro dele e
avisou que nós iríamos com ele.

Chegamos ao apartamentode Edu e já estávamosatracados,


eufóricose cheios de desejo. Ele se frustrou
com o meu vestido,até
que encontramoso zípere ele saiu facilmentede cena. Ele arquejou
ao enroscar os dedos nas alças da minha calcinha fio-dental
vermelha e se abaixou enquanto foi a descendo. Depois afastouas
minhas pernas e me chupou tão delicioso e que minha cabeça
tombou para trás e afundei uma mão em seu cabelo.

Fomos para a cama e ele tirou toda sua roupa rapidamente,


vindo por cima e afastouas minhas pernascom a sua, mergulhando
em mim duro e profundamen te, veio de uma vez. Eu abri mais as
pernas para ele, que emaranhou uma mão no meu cabelo, o
puxando e beijou a minha boca, começando a estocar
dolorosamentelento.Estiqueiuma das pernase nós dois gememos,
estava tão gostoso, estávamos tão grudados que eu me sentia
estimulada por todos os lados.

Trocamosde posição algumas vezes, nós dois querendo adiar


o orgasmo. Terminamos do jeito que eu mais gostava, de lado, ele
por trás,massageando meu clitóris,minha perna enroscada na dele
e a mão na sua nuca. Virei o rostopara tráse ele deixou nossos
lábios se roçando, enquanto metia gostosoe me levava à loucura.
Eu estavatãoexcitada,tãomolhada e nós dois gemíamosbaixinho.
Meus olhos reviraram,abri a boca em um gritomudo quando meu
orgasmo veio, desse jeito violento e maravilhoso. Edu me segurou
firme no seu pau, metendo e metendo, eu apertei seus cabelos e me
dei toda para essa sensação indescritível.Eu ainda desfalecia
quando ele deu um gemido áspero, afundou o rosto em seu
pescoço, então senti seu membro mais rígido, em seguida o
esperma quente dentro, enquanto ele me segurava e estremecia.
Ficamos agarrados na mesma posição por um tempo, mas ele
puxou para fora e ficou despojado na cama. Depois me puxou.
Puxei os lençóis e me aconcheguei toda nele, não demoramos a
dormir.

Edu obviamente acordou derrotadopela ressaca, mas dessa


vez eu já estava preparada.Ele fazia as manhas de sempre e eu
tinhaos remédios e sucos e chás que o ajudariam. Comecei a achar
graça, ele era mesmo um fro
uxo. Poderia apostarque uma dor de
cabeça acabava com ele.

Ficamos na cama o dia todo no domingo, pedimos comida e


saímos apenas para pegar e trazer . Depois eu levava as
embalagens para a cozinha, para não impregnar o cheiro no quarto.
— Te amo — ele sussurrou,segurando minha perna dobrada
em volta do seu corpo e eu o beijei carinhosamente. Eu já
imaginava que era amada por ele, todasas suas ações diziam isso,
mas ouvi-lo dizer foi tão bom.
C 28
Eduardo Toledo

Eu sempre ficava mexido nos aniversáriosde Bianca. Três


semanas após o meu, vinha o dela e eu sofria.Não iria renegarque
estava feliz, que estava apaixonado e queria que eu e Jordana
continuássemos dando certo.

Eu gostavade ser solteiro.Não vou considerarLuísa,uma vez


que nunca deixei de me relacionar com outras,por causa dela.
Nunca tivemos nada e sempre deixei claro. Mas namoraralguém
que se ama era sublime. Ter aquela parceria, amizade,
companheirismoe tesão...Era tãobom. E Jordana me ofereciaisso.
De uma maneira nova e completa. Nós dois nos bastávamos,
estávamossempre juntos e sozinhos. Tínhamos nossos momentos
sociais, mas adorávamos ficarmos juntos, apenas nós dois.

Na segunda-feiralogo cedo, saí de casa e fui até o cemitério.


Eu prezava o costumede ir até lá, rezarpor ela, colocar uma flor
.
Nada iria apagar o que vivemos. Mesmo com os altose baixos que
todo casal tem. Há seis meses, eu não acreditavaque conseguiria
amar outramulher. Acreditav a que ela seria a única. E queria que
tivesse sido.

Parei de me confundire fiquei um tempo ali, contemplando


lembranças,querendo, mesmo com todo o novo na minha vida, que
tudotivesse sido diferente.Ela se foitãonova, com tantopara viver.
Me dava calafr ios de dor e remorsopensar que um cuidado a mais
poderia tê-la salvado.

Não seriaum dia fácil,para completaro tempoestavafechado,


combinando com o meu baixo-astral.

Fui trabalhar
, tinha uma entrevista
marcada para uma revistae
não poderia me atrasar. Quando cheguei, Fred veio querendo saber
como eu estava. Acenei com a cabeça, não queria preocupá-lo.

Mais tarde, como sempre passava para pelo menos ver


Jordana, enviei uma mensagem dizendo que não estava me
sentindo muito bem e iria para casa. Ela logo respondeu reclamando
de cólicas, que iria tomaralgum remédio e dormir
, o que de algum
modo foi um alívio. Nós dois transamos sem camisinha e eu fui até o
fim, no meu aniversário.Fui me lembrardo blefe dias depois, era
tardedepois para qualquer remediação. Decidi nem pensar sobre
isso duranteos dias, Jordana vinha tomando uns chás que eu nem
sabia se fariam efeito, mas era bom que não tivesse dado em nada.

No dia seguinte, eu acordei e Noêmia já me esperava com o


cafépronto.Havia um lugar a mais na mesa, imaginou que Jordana
estivesse comigo.

Senti falta da minha garota,então antes de ir para o trab


alho,
passei para vê-la. Ela havia acabado de acordar e me mandou subir
.
Demos um beijo gostoso, cheio de carinho e ela foi terminarde
preparar seu café.
— Não quer dormircomigo hoje? — pergunteie ela virou o
rosto para trás, me olhando de uma maneira travessa.
— Não vou dormircom você naqueles dias — ela falou como
se fosse algo óbvio.
— O que tem? — pergunteiconfusoe ela riu, negando com a
cabeça.
— Você é muito safado, eu não vou fazernada de safadeza
nesse estado— ela reclamou, trazendoa xícarapara o balcão e se
apoiou nele.
— Estava preocupado — confessei — depois do meu
aniversário, você sabe.
— Não me dei conta, sequer pensei, mas tomei tantochá de
canela que ficou tudo bem — ela revirou os olhos, mas deu um
sorrisodoce — por isso, eu vou começara tomara pílula.Se eu fico
grávida de você, minha avó morre de desgosto.
— Que isso, Jordana — eu reclamei, fingindo estarofendido,
mas ela se divertia com a aversão da avó.
— E soube por uma mulher que me detesta,que você não quer
mais ter filhos — ela provocou e eu fiz uma careta.
— Mas não quero que a opção seja tão renegada — falei
confuso — assim parece que eu não valho a pena.
— Você é dramático— ela falouenfática— andei conversando
com a minha mãe. Acho que vou tentarvoltarà faculdade,agora no
segundo semestre.
— Isso é muito bom — eu falei, animado — se precisarde
algo, sabe que pode me falar
, não é?
— Qual a chance de a minha avó deixar você custearalgo? —
ela zombou, rindo — não se preocupe, daremos conta de tudo.
— Sua avó me fazparecerinvalido — eu levei uma mão para o
peito, fingindo estar magoado, mas ela ria.
— Não se conformaque o escolhido dela namora a minha
amiga — ela revirou os olhos.

Não demorei muito com ela, para não me atrasar . Nos


despedimos com um beijo que demorou demais, eu não conseguia
deixá-la.

Quando cheguei à empresa,fuidiretopara a minha sala. Minha


secretáriaveio atrás, para me informarsobre o dia. E parecia
apressada, mas quando abri a portae me deparei com a Luísa na
minha cadeira, entendi o aviso que Cássia queria me dar
.
— O que você quer, Luísa? — perguntei.Acenei para Cássia
sair e ela puxou a porta, a fechando.
— Sabe com quem estive ontem? — ela perguntou, se
levantando — acho melhor você se sentar , é sério o que eu vim te
contar.
— Eu não tenho tempo pras suas lorotas, Luísa.
— Estive com a mãe da Bianca — ela falou rapidamente,
quase me interrompendo.Parei estático,recebendo a informação
como um soco — ela me entregouisso aqui — Luísa balançou o
envelope na mão e arqueou as sobrancelhas.
— O que é isso?
— Olha, Edu, a sua sogrinha me pediu para que eu não
contasse nada pra você, porque já se passou tantotempo. Mas
você foi enganado, eu acho que merece, sim, saber toda a verdade.
— Que merda você está falando, Luísa? — indaguei, com a
falta de paciência que tinha com ela desde sempre.
— Eu não abri, se você quer saber — ela revirouos olhos e se
levantou — mas, mesmo que eu já soubesse de alguns fatos,o que
a mãe dela me contou foi muito pior — ela continuou a falar ,
enquanto vinha até mim. Peguei o envelope.
— O que tem aqui?
— Veja você — ela falou petulante e sorriucheia de sarcasmo
— eu vou embora. Sei que você é um ingrato,que no lugar de me
agradecer , vai me maltratar
— ela ia se dirigindo à porta,mas a
puxei pelo braço.
— O que você soube?
— Edu, convenhamos que você não tenha sido o mais fiel dos
caras. Nem com Bianca, nem comigo e eu duvido que mantenha
seu papel de príncipeencantadocom a pobretonapor muito tempo.
Mas soube que Bianca descontou — ela deu de ombros, me
deixando inflamado de raiva. Resfoleguei,não era verdade, eu não
fui infiel. Eu e Bianca nos amávamos. Nos desentendemos algumas
vezes – poucas – e chegamos a romper , mas sempre voltávamos.
— Eu fico impressionado em como você consegue me
surpreendernegativamente— eu falei asquerosamente,a soltando
— não sei como suportei você durante todos esses anos.
— Edu, você vai aprendera pararde descontarem mim tudo o
que você faz de errado— ela falou, forjandodoçura e convicção. A
ignorei e fui até a porta, a abrindo. Esperei que ela saísse e fechei.
Olhei para o envelope em minha mão e tenteiimaginar o que
poderia tersido. Fui me sentar , achando que poderia ser mais um
plano mirabolante dessa louca, mas nada do que eu pensei se
aproximava do que me esperava.Por um momento,quis pensarque
era tudoforjado,uma mentira.Mas eu reconheciaa caligrafiabonita
da minha falecida namorada, e recordava da sua assinatura.

“Edu, se você está lendo esta carta, é porque alguma coisa deu
errada. Sei que parece loucura ter deixado uma confissãoescrita,
mas pensei que meu filho pudesse precisar. Como passei parte da
gravidez inteiramente preocupada, e por causa dos últimos
acontecimentos, pensei que poderia ocorrer algo. Não sei, mas
queriadeixaralgopor precaução. E porque você mereciaa verdade.
Nosso últimodesentendimento, por causa dos meus ciúmes e a sua
faltade paciência,eu saí por aí com as meninas. Uma noite de
bebedeira, um homem e, uma noite estranha... Não imaginavaque
nove meses depois eu teria um filho.
Quando voltamos,quando nos propusemos a fazer dar certo,
eu não sabia da gravidez.Se soubesse, não teria te enganado. E
quando descobri, você ficoutão encantando com a notíciaque eu
não tive a coragem de estragar tudo. Nós dois vivemos uma fase tão
bonita, estávamos tão apaixonados, você traçou a linhaperfeita
para o seu futuro tão promissor, eu ia adiando, dia após dia, a
missão de te contar a verdade e estragar nossa felicidade.
Se você está lendo esta carta, foiporque algo deu errado,
então, peço encarecidamenteque não desconte o peso dos meus
erros em meu filho.Entenderei perfeitamentese você não puder
ficarcom ele, assumir um papel que não é seu por obrigação.
Deveriaestar maisotimista,mas diantedos últimosacontecimentos,
deixar tudo esclarecido,dada a minha faltade coragem de contar
toda a verdade, me pareceu uma opção mais fácil.Nós dois
vivemoso amor maislindoque eu poderiaimaginar
, especialmente
nos últimos meses.
Você foi perfeito, e sou muito grata por Deus ter te colocado em
meu caminho. Não tenho dúvidas de que fomos almas gêmeas,
mesmo com os tropeços e erros de ambas as partes. Escrevo isso
aqui torcendo para que você não precise ler, para que eu possa
contar pessoalmente, para que nós dois possamos quem sabe
decidirseguir juntos, criandonosso menino cheiode amor. Você é
um homem bom, sei que posso contar com você para tudo. E sei
que ele também poderá. Com amor, sua Bia.”

Eu quebrei. Me dividi em tant


os pedaços que não saberiacomo
me pegar e colar de novo. Reli de novo, sentindo as facadas
atravessando meu peito, a sensação de engano, tudo o que
vivemos sendo jogado no lixo por uma traiçãotão sem tamanho.
Não consegui reagir
, não conseguia sequer respirar
.
Eu não sabia o que doíamais:a mentira,a traição,saberque o
bebê que eu tantoesperavae venerava não era meu. Ou ela pensar
que ele estava vivo, que teria medo de eu rejeitá-lo. Eu não
conseguia imaginar uma situação onde a perdemos e eu rejeitariao
bebê. Não queria ser dominado por mágoa, mas ela estava aqui,
ardente. Estava tudo tão injusto, meu Deus, como ela pôde?

Eu me sentia sufocado, a respiração curta,irregulare difícil.


Tanta confusãopor dentro,eu não conseguia sequer assimilartudo
que li.
Fred chegou e veio até minha sala, como sempre fazia quando
estava desocupado.
— Estátudobem? — ele perguntou— você estápálido, cara...
— tentei pensar em algo para dizer, mas estava mudo,
desesperadamentemudo. Ergui um pouco a folha de papel em
minha mão e ele franziuo cenho. Como não falei nada, Fred veio
até mim e pegou o papel, segurando e lendo com o cenho franzido.

Ele ficou chocado, perplexo, mas não mais do que eu. E


tambémnão soube o que me dizer. Quando pensei na dor de todoo
ocorrido,a dor do engano, a perda, tudo o que eu sofri...Tudo
parecia me derrubarem dobro agora. Fred ficou preocupado,
quando eu, sem conseguir controlar
, comecei chorardesesperado,
sem freio, doendo, lancinando, tudo parecia tão amargo agora.
— Essa cartaé real? — meu primo perguntou,como se isso
fosse me consolar
. Eu funguei e tentei limpar as lágrimas.
— É a letradela, eu reconheço... Não acho que Luísa teria
motivos pra inventar algo assim.
— Não acha melhor falarcom a mãe dela? Saber melhor? Ou
entãoignorartudo isso. Depois desse tempotodo,nem vale a pena,
cara.
— O que mais me dói... — eu tenteifalar
, mas o chorodolorido
me dominava e eu funguei — é ela pensar que o nosso... Que o filho
dela — corrigi — teria sobrevivido.
— Melhor não pensar nisso — Fred falou mais uma vez — do
jeito que vocês estavamfelizese apaixonados, eu acho muito difícil
você terrejeitadoo menino. Ele já era esperado e amado por todos
nós.
— Eu preciso ficar sozinho — falei, tentando controlar a mistura
negativa de emoções — preciso pensar um pouco.
— Vou pegar seus compromissos com a Cássia. Pode ir, eu
cuido de tudo por aqui — ele falou tranquilamentee eu me levantei
— qualquer coisa, pode me ligar.

Não fui para casa, saí de carro e dirigi sem rumo por um
tempo. Precisava pensar, ou melhor, ignorarqualquer pensamento.
A confusão me rondava, a mulher que eu achava ser perfeitame
traiu,mentiu e me enganou. Eu sentia raiva, culpa, remorso.Ela
talvez não tivesse tido tantas complicações, se não tivesse
carregadoessa mentiraconsigo durantetoda a gravidez. Se estava
inteiramentepreocupada, isso provavelmenteinterferiu
em algo. Eu
não conseguia conter a agonia, tudo se estrangulando por dentro.

Dirigi por muito tempo, mas não queria ficarno Rio, ouvir
condolências ou que eu deveria deixar isso pra lá. Era tãofácildizer,
é tão fácil solucionar problemas de terceiros,quando não é você
que está sentindo toda a dor
.

Fui sozinho e sem avisar para ninguém à Petrópolis.Estava


chuviscando quando cheguei à cidade, o clima combinando
perfeitamente
com o meu humor derrotado.Fui diretopara um hotel,
tireio paletóe desabotoeia camisa. Me joguei na cama e fiteio teto.

Eu venerei uma mulher que me enganou, me traiu. Eu me


culpava, porque se ela tivesse me contado a verdade, eu não
poderia garantir
, mas talvez tivéssemosficado juntos, ou teríamos
rompido e ela teriaprocuradoo pai biológico do menino. Mas talvez
ela estivesse viva. Arcaria com seus erros, mas estaria viva.
Meus olhos estavam sensíveis,de tantoque eu chorava, mas
estava difícil segurar
, não sofrer de novo.

Não daria mais para contemplar as lembranças de nós dois


com saudade, com pesar
. Tudo agora parecia um triste engano.

Comecei a ir além, pensar que se nada tivessedado errado–


por Deus, eu preferiria
isso –,mas se nada tivessedado errado,eu
estariahoje enganado, criando o filho de outro e amando uma
mulher que me traiu.

Pela tarde,Jordana estranho


u meu sumiço, dado ao fatode eu
sempreficarenviando mensagens idiotaspara ela, só para ficarmos
conversando nos minutos de folga. Funguei, tentando parar de
chorar
, mas não a respondi.

Nosso relacionamento era outro engano. Estava perfeito


demais, estávamos apaixonados demais, fazendo planos demais.
Igual antes, com a outra. E tudo não passou de um engano.

Ela enviou outramensagem, mais tarde,foi quando desliguei o


celular. Estava inflamado demais, sofrendodemais, não queria e
nem poderia descontar nela.

Saí do hotel para uma farmácia. Não queria beber, estava


derrotadoe machucado demais. E por esse fato,não havia nada
que eu pudesse fazerpara consertar
. Comprei alguns calmantes,
precisava dormir , ficar tranquilo, assimilar melhor a descoberta,
decidir como lidar com isso.

Acordei já era noite e eu sentia fome. Pedi o jantarno quarto,


mas nada descia. Havia esse buraco em mim. Peguei e liguei meu
celular, logo recebendoas notificaçõesde ligações perdidas,foraas
mensagens.

Fui para responder Jordana primeiro,a minha garotairia ficar


preocupada, e estava. Mas antes que eu digitasse uma resposta
convincente para primeirosuas mensagens preocupadas e depois
suas mensagens furiosaspor eu deixá-la tão preocupada, eu recebi
uma foto da Luísa.

“Olha só quem acabei de ver juntinhos” — a foto era de


Jordana e Teo, os dois em frenteao restauranteda avó dela.
Ignorei, não iria levar isso em consideração. Ela não poderia
controlar quem frequenta o lugar
.

Havia ligações de mamãe, Chiara, Fred. Aparentementeagi


como um imaturo,mas precisava de paz. Não respondi ninguém,
apenas Jordana. Disse que precisava ficarsozinho, o que pareceu
chateá-la.
“Aconteceu alguma coisa?” — ela perguntou.

“Sim.” — respondi — “O que você estava fazendo com Teo


hoje?”
“Ele esteve no restaurante, mas mal nos falamos.”

Soltei o ar que inspirei e neguei com a cabeça. Era melhor que


não nos falássemos até que eu estivesse mais sereno e mais
tranquilo.Já queria começar a imaginar que eu confiei em Bianca
demais, iria fazer o mesmo com Jordana e ser enganado de novo.
C 29
Jordana Testa

Quis insistirpara Eduardo me explicar melhor sua mudança


repentinade humor. Até mesmo brinquei que EU estava de TPM,
não ele. Mas ele não entrouno espiritoda coisa. Pergunteionde ele
estava, uma vez que ao ligar para seu apartamento,Noêmia disse
que ele havia saído cedo para trabalhar e não voltou até agora.

Eram quase onze da noite,quando ele finalmentedeu um sinal


de vida. Eu já estava com raiva, um sumiço desses era de se
desconfiar, ainda mais depois de Luísa aparecer no restaurante
insinuando que a fase de bom samaritanode Edu teriaprazo de
validade. Afinal ele sempre se cansa de ser bonzinho.

Eu estavaa ignorando, porque até então eu não tinha motivos


para colocar créditose validar as afirmaçõesprovocativasdela.
Vovó quem acreditavanisso fielmente,também. Mas eu o amava e
iria confiar
nele.

Depois da minha explicação sobre o Theo, eu ainda insistina


conversa,mas ele não respondeu e logo sumiu de novo. Perguntei
para Fred se havia acontecido algo, e sim, havia, mas não me
contou o que.

Fui dormirtão preocupada que demorei a pegar no sono. Mas


eu teria de ir cedo à universidade, para saber os trâm
ites para
retomar o curso.

Levantei cheia de cólicas na manhã seguinte e peguei o


celular, mas nem sinal de Eduardo. Esse chilique repentinodele
estava começando a me irritar. Estava me sentindo perdida, como
se ele estivesse precisando de algo e me excluído. Ou ele estava
aprontando? Eu não conseguia pensar nessa possibilidade, por
causa de tudo que estávamosvivendo. Era segura da gente. Mas e
se eu estivesse sendo uma tola?

Tomei um banho, estranhandoa faltada menstruação,assim


tão, tão rápido. Mas por precaução, coloquei um absorvente.
Encontreicom a Mari e fomosjuntas,a manhã foi corrida,então só
me dei conta de ir adular meu namorado, quando cheguei ao
restaurante. Mas ele sequer recebia as mensagens.

Eu não sabia se havia um limite para a minha insistência,mas


eu estavamesmo preocupada com ele. Edu nunca sumiu assim, do
nada, e sem dar explicações. Além do que, havia me dito que essa
semana seria cheia na empresa, ele ficava manhoso querendo
atenção em dias cheios. Não desaparecia e me ignorava.

Parei de mandar mensagens, engoli minha preocupação e


ignorei os olhares vitoriososde vovó, como se dissesse “eu avisei”.
Queria retrucar que aconteceu algo sério, ele tinha motivos para
sumir assim, mas eu não seria essa patética.
Não soube como agir quando a mãe dele apareceu no
restaurante,
ela e Chiara, para almoçarem. Eram tão educadas e
elegantes,que apenas não soube o que dizer quando perguntaram
pelo filho e irmão problemático que tinham.
— Brigaram?— Chiara sugeriu, cerrandoum pouco os olhos.
Mas neguei com a cabeça e dei um sorrisopara ela, querendo fazer
parecerque estava tudo bem. Não havíamos brigado, de qualquer
maneira.
— Eu sinto falta da época que meu filho era apegado à família
— Nora falou, revirando os olhos — hoje mal consigo vê-lo...
— Você poderia incentivá-lo,Jordana — Chiara falou animada
— ele tem jeito de fazer todos os seus gostos.
— Prometo tentar — falei, mas se não brigamos ainda,
provavelmente iríamos, se ele continuasse desaparecido.

Peguei os pedidos delas e vovó ficou fazendo perguntas


curiosas, que eu respondi tranquilamente.Ela deveria saber que
Edu não estavaapenas querendo me levar para a cama. Depois de
todo aquele show, estávamossimvivendo algo bom e sério.

Pelo menos até agora... Eduardo demorou dois dias até


aparecer. Fred não queria me contaro que havia acontecido,o que
me irritoucompletamente.Ele sempre era um grande fofoqueiro,e
quando realmente precisava ser não queria mais?

Sentialívioquando ele apareceu,finalmente.Mas quando ligou


pela tar de, dizendo que tinha muitas pendências na empresa, me
ligaria assim que saísse de lá, que iríamosconversar , eu fiquei
preocupada. Havia algo errado. Queria mergulhar na minha mais
profundaingenuidade e tolice, mas a intuição era como o colete
salva-vidas, não me deixava afundar
.
C 30
Jordana Testa

Quando ele chegou, não me dei o trabalho de pegar meu


celular para descer, sabia, pelo tom dele que não iríamosà lugar
algum. Entrei no carro e ele desligou a música que tocava em
volume baixo. O vi engolindo forte e ainda olhava para frente.

Ele me traiu? Iria me contar? Comecei a especular várias


coisas, não querendo acreditar que ele poderia ter sido capaz.
— O que aconteceu? — perguntei,já que ele não disse nada
— eu ligo, mando mensagem, mas você não responde!
— Não é de se surpreender— ele falou, sem a decência de
olhar para mim. Fiquei trêmula por dentro, já esperando pelo. pior
— O que está acontecendo? — perguntei completamente
confusa. Mas ele apenas negou com a cabeça, insistia em olhar
vagamente para frente— você estábem? — insisti,foi quando ele
virou o rostodevagar. O olhar triste
me pegou e eu sabia que havia
algo errado. Tudo remexeu por dentro, me deixando angustiada.
— Jordana, eu vou ser franc o com você. Não vou me estender
muito, mas... — ele parou, desviando o olhar novamente — eu não
quero mais.
— O que? — pergunteicomo num reflexo,mas fiquei sem
reação. Em um dia fazemos planos, estamosfelizes e no outroele
não quer mais? — se essa foruma brincadeirade mau gosto,saiba
que eu...
— Não é uma brincadeira — ele balançou a cabeça
negativamentee olhou para as mãos sobre o colo — eu não sou
esse cara que você quer que eu seja.
— Você pode olhar pra mim? — pedi, quase prontapara me
humilhar por uma explicação decente. Mas jamais faria isso.
Ele balançou a cabeça novamente e virou o rostodevagar, me
olhando profun damente, querendo que eu acreditasseque haveria
motivo coerente para isso agora.
— Por que está fazendo isso? — perguntei e ele piscou
devagar. Notei que não usava mais o cordão com nós dois, não
havia nada no pescoço. Eu me sentia quebrando, dominada
intensamente por essa terrível sensação de engano.
— Eu não sou esse cara... — ele resmungou, soltandoum riso
forçadoe sem ânimo — sei que isso aqui me manteriaentretidopor
um tempo, mas eu logo iria magoar você.
Fiquei quieta,sem sabero que dizer. Tentarentendê-lonão era
uma coisa fácil. Ceder por estarapaixonada foi, mas eu deveria
saber que para ele não passava de um jogo idiota.
— Foi tudo uma mentira,então — eu afirmei,falei baixo e
friamente.Ele me encarou rapidamente,o olhar avermelhado, mas
negou com a cabeça.
— Não foi uma mentira.Mas estarem outrorelacionamentoé
demais pra mim — ele falou baixo, com a voz contida e eu o
encarava,como se eu quisesse ou pudesse ler sua mente,entendê-
lo. Mas era impossível.
— Certo — sussurrei, até o sussurro saiu embargado.
— Eu to cansado de agir como um homem que eu não sou —
ele falou, me fazendo sentiro peso da ingenuidade batercom força
outra vez — eu não quero mais fazer isso. Me desculpa.

Edu permaneceu me encarando, como se esperasse que eu


dissesse algo. Não sei, eu poderia estarentendendo tudo errado.
Tudo parecia estrangulado em mim, embargado, os olhos
marejando, mas não iria chorar na frente dele.

Por um segundo, quis perguntar se ele me traiu, mas não


mudaria nada. Só me deixaria pior. Não iria ficarespeculando, isso
não mudaria nada. Ele destravouo carro,o que me fez entender
que era hora de ir
.

Não olhei para tráspara ver se ele me esperava entrar


, como
faziasempre.Subi e fuipara o meu quarto,fecheia portae apaguei
as luzes. Puxei um traves seiro ao me deitar e o abracei, me
sentindo tão pequena, sozinha e enganada. Eu simplesmente me
dei toda para ele, deixei passar todos os seus errose agora ele
estava terminando comigo, por um motivo incoerente.

Logo me convenci de que fui um jogo para ele. O desafiei de


alguma maneira, ele só sossegou quando me teverendida aos seus
pés. Agora não havia mais graça alguma, então era hora de
terminar tudo.

Mari e mamãe pareceram preocupadas quanto ao término, mas


tenteilevar da melhor maneira. Edu sempre teve trejeitosde ser
problemático,eu não iria ficarchorando na frentedos outros,ou
remoendo que eu não me conformavacom como tudo acabou sem
que eu esperasse.

Se estivéssemosem uma crise, daria para entender


. Mas era
tudo tão novo, tão bom, não dava para prever
. Isso que não dava
para entender.

Como uma ironia da vida, Mari e Fred estavam tentando se


entender. Ela não estava colocando muita esperança nisso, já que
ele não superava a decisão dela, mas se se gostavam, tinham
mesmo que tentar .

Vovó, eu sabia que estavacom a línguacoçando para me dizer


poucas e boas, mas apenas disse que sentiamuito,que eu era uma
boa menina, ele não sabia o que estava perdendo. Eu merecia
alguém melhor. Apenas agradeci, ela poderia terme deixado bem
pior, bruta como era. Mas preferiu ser gentil.

As semanas foram passando chatas. Eu estava irritada,


angustiada,um mistolouco de sentimentose inconformismo.Sabia
que iria superá-lo. Dessa vez, não iria sair e tentarconhecer
alguém. Não queria isso. Fui firmeao dizer às meninas que queria e
precisava ficarem casa, pelo menos até tudo por aqui estarmais
estável.

Sem contarque Mari estariasempre com Fred, e Denise com


Ravi. Eu não iria saircom elas e correro riscode enfrentar
Edu com
outras.E também não iria sair com July, já que nem nos dávamos
bem. Inventei até mesmo que iria revisar algumas matérias da
faculdade, não queria voltarcompletamenteperdida em tudo. Mari,
a mais insistente,para minha sorte,entendeu. Denise era boazinha
demais, sabia que não devia viver uma relação fácil com Ravi.
Porque imaginava que como Eduardo era problemático, Ravi
parecia ser bem mais.

Soube por Mari que Chiara havia terminadoo noivado, o que


foi uma surpresapara mim. Fred estava com ela almoçando no
restaurante no dia, não deixou de me contar
todos os detalhes.
Elee Edu seguiramo vagabundo, o pegaram entrando em um
motel com outra. O esperaram na saída do lugar, e Edu bateu o
carro dele bem de frente no do cretino.

Se eles achavam que esse era o modo certode resolveras


coisas, eu não iria me intrometer. Mas o que era um carrobatido
para o bolso deles, de qualquer maneira... Fred salientou que Edu
estava aliviado de salvar a irmã desse traidor
. Depois descobriram
uma mulher que vivia em Copacabana, bancada por ele. Fred disse
que Chiara apenas decidiu terminar
, se fossem vasculhar,
encontrariam inúmeras amantes.

Fiquei piedosa por ela, o casamento já estava quase pronto,


ela parecia tão animada. Mas Fred me garantiuque ela estavamais
animada para a festa do que com o noivo. Senão teria o perdoado.
Por um momento de saudade, sentindo falta dele, da
companhia, do sexo de tudo, me peguei querendo ligar, mas me
controlei. Se ele quisesse, teria feito. Mesmo que fosse um
orgulhoso. Já havia pensado até mesmo em ir com Mari e Denise
para o aniversáriode Fred, porque sabia que Edu estarialá. Queria
ver sua reaçãoa me ver. Vovó disse que eu estavasendo narcisista,
que poderia me machucar numa tentativafrustradade chamar
atenção dele.

Só descartei a possibilidade, porque na quinta-feira do


aniversário,acordei indisposta, tão enjoada que ao beber um gole
do café, corripara jogar tudo para fora.A minha sortefoi estar
sozinha em casa. Achei que fossemelhorar , mas a indisposição, a
náusea e toda essa ânsia de vômito me perseguirampela manhã
quase toda. Procureina internetalgo que poderia aliviar todo esse
mal estar
, mas a primeira matéria que apareceu sobre dizia:
Nove maneiras de aliviar o enjoo na gravidez.

Meu corpo inteiro pareceu formigar


, como uma urticáriaou
pânico. A visão ficou turva só de pensar e eu graças à Deus
consegui chegarao sofá,antesde cairno chão. Sentei-me e escorei
a cabeça para trás,tentandome ventilarcom mão. Eu estava até
mesmo suada, as mãos geladas, a pressão deve ter caído
completamente.

O pânico me atormentava, quis me convencer que a


menstruação estava em dia e que depois dela, eu não havia
transadocom ninguém. Mas havia sido apenas um borrãoestranho
e rápido, tão passageiro que eu não havia entendido. E eu e Edu
transamos sem camisinha algumas semanas antes. Mas, além
disso, ficamos confiando em coito interrompido sempre que
tínhamos vontade de transar e ele não estava com algum
preservativo por perto, quem confia nisso nos dias atuais?

Vovó me ligou, avisando que o movimento no restaurante


estava apertan
do, prometique chegaria muito em breve. Ignorei o
pânico que me dominava e tenteime convencerque o enjoo foi por
causa do excesso de batatasfritasna noite passada. Eu havia
comido tantodelas cheias de bacon de queijo cheddar. Comecei a
me coçar inteirade nervoso, de medo. Quis ser mais evasiva e
deixar chegar a data do próximo ciclo. Faltavam poucos dias para
acontecer, mas a raiva e o nervosome corroíam.Então,no caminho
para o restaurante, eu parei em uma farmácia.

Como um instinto, tomei cuidado se não havia algum


conhecido ou vizinho pelo estabelecimento.Peguei o exame barato
na prateleirae olhei, torcend
o e rezando para ser apenas um blefe
meu. Não que eu não quisesse filhos,mas eu queria um bebê com
um pai amoroso, não com esse louco que me revirouinteirae foi
embora.

Andei pelo corredorem direção ao caixa, olhando fixamente


para o testeque não me dei contaquando trombeicom alguém. Ao
olhar para cima, me deparei com Luísa, me encarando com esse
seu jeitosuperiore debochado. Ela franziuo cenho e tentoupegar a
caixa da minha mão, mas eu não deixei.
— Ora, ora... — ela falou presunçosa, chegando a rir com
desdém — então você tentouum golpe da barriganele? Soube que
terminaram,achou esse seria um belo jeito de reatarem?— ela foi
completamenteasquerosae petulante,e eu resfoleguei— mas Edu
do jeitoque é, vai tefazerabortare fingirque isso nunca aconteceu.
Eu o conheço e você sabe muito bem que o conheço — ela me
lançou um olhar irônico de pena. Eu neguei com a cabeça irritadae
me virei, voltando e dei a volta por outro corredor
.

Eu estava trêmula, apavorada. Poderia me enganar se


estivéssemosjuntose achar que ele iria levar numa boa. Mas dizer
que tudobem quando a coisa não é real é muitofácil.Sentia-metão
pequena, tão humilhada. Era só o que me faltava,estargrávida de
um homem que me rejeitou e ainda ser coagida a abortar
.

Saí apressada da farmácia, escondi o rosto com óculos


escurosgrandes, não consegui seguraro choro. Andei em passos
largos, a fim de chegar logo ao restaurante,
fingirque estava tudo
sob controle.Talvez estivesse e eu, sofrendoa faltadele, estava
ficandoparanoica. Notei o carrobranco me seguindo devagar, mas
ignorei. Olhei rapidamente para o lado, só para confirmaressa
maluca sem noção da Luísa, se divertindoà custa da desgraça
alheia.

Para piorartudo, ela desceu e entrouno restaurante. Estava


cheio, mal guardei minha bolsa e tive que ir atendê-la. Fiquei muda
esperando que ela dissesse o que queria, mas ela apenas me
analisava. Cheia de ironia e superioridade.Tão mesquinha e louca
que era.
— Encontreium cordão desses aí que você tem, na casa dele.
Achei mesmo que você fossecomo uma adolescentezinhaque não
supera o ex tão fácilassim — ela falou baixo. Eu olhei em direção à
parede, a ignorei — ele jogou firmepra tervocê. Sabia que iria jogar
fora logo...
— Por deus, Luísa, o que você vai pedir?
— Primeiro,o colar. Não quero você com lembranças do meu
namorado — ela falou e eu resfoleguei.Só então me dei conta de
que para tervisto o colar na casa dele, ela teriaque terestado lá.
Quase desmoronei bem ali, a insultando e sendo grosseiro,ele
continuou se encontrandocom ela. Puxei o colar com tantaforça
que pareceu assarmeu pescoço. Joguei sobre a mesa. Ela deu um
riso irônico e pegou sua bolsa, se levantando e parou em minha
frente, um tanto mais alta que eu.
— Agora eu vou embora — ela deu um passo para frente,
como se quisesse me empurrarcom o corpo, mas eu desviei.
Tranquei o ar por um momento e o soltei, querendo manter a calma.

Fui atender outra mesa e depois voltei para o caixa.

O dia foi um verdadeiro inferno, sequer me lembrava do maldito


exame a minha espera. Não iria contarpara ninguém, também. No
máximo, se desse positivo, eu procurariaMari e descobririacomo
ela se livrou do bebê. Euteriaque fazer o mesmo.
Mamãe nem voltou para casa, se arrumou e o namorado a
buscou do restaurante.
Foi o único momentobom do dia, quando eu
e vovó tentamos espioná-la.

Levei sobras de dobradinha para o jantare coloquei sobre o


balcão. Fui tirando a roupa no caminho para o banheiro e me
lembrei do exame. Mas li na caixa que era melhor fazerpela manhã.
Mas se estivesse positivo, acusaria em qualquer horário... Deixei
sobrea cama e fuitomarum banho, tiraro peso do dia massacrante
de hoje.

Havia decidido que se Luísa voltasse a me importunar , eu


falariacom ele para impedi-la. Não estávamosjuntos,eu não estava
no caminho dele. Mari ainda ligou, perguntandose eu não havia
mudado de ideia. Mas permaneci resignada.

Tomei um banho e vesti um pijama confortável.Jantei vendo


TV e fiquei procurando distraçãona internet,vendo a vida dos
outros pelo instagram.

Mais tarde,Mari enviou um vídeo de Edu e Luísa.Ela tentava


abraçar um braço dele para parecerem o casal, e ele puxava
grosseiramente,estavasério. Ela repetiuo ato trêsvezes, mas não
teve sucesso.

“Eu acho que ela gostade passaressa vergonha. Todo mundo


sabe que ele não a suporta.Fred disse que ele nem come ela.
Depois olha o instagram,ela postoufotodeles dois e ainda fez um
bolo temáticopra comorar”— Mari enviou e eu revireios olhos. Eu
duvidava muito que ele não transassecom ela. Luísa poderia ser
mesquinha, bancara superior e gostarde humilhar as pessoas, mas
ela era muito bonita. Muito mesmo, apesar do exagero de
procedimentosestéticose de boca. Para mim era muito difícil
entenderque uma mulher como ela, que poderia encontraralguém
que a valorizasse, ou talvez o homem que quisesse, ficava se
humilhando para Eduardo.

Bem, eu já quis me humilhar para ele também, quando a


saudade ficavaapertadae eu parecia necessitarde pelo menos um
abraço dele. Mas eu não fiz. Não queria ser tratada como ele a trata,
mesmo que eu achasse que ela merecia.

Cheguei a olhar as fotosda Luísa, dela e Eduardo de mãos


dadas, ela com um sorrisogenuíno e ele com essa caretainsossa
desconfortável.Depois a foto do bolo, com os bonequinhos deles
dois em cima. Fiz uma careta
, mesmo que não fosseele e ela, fazer
uma mine festa para comemorar uma volta de algo que ele chamava
de encenação era patético.

Só ao ler as legendas entendi que no aniversáriode Fred, eles


faziam aniversáriode namoro. Por isso o bolo em homenagem aos
dois. Quis vomitar
, literalmen
te, ao constatar
e me sentirainda mais
enganada.

Fui deitarcedo, não queria ficarespeculando a festade Fred,


veria as mensagens da Marina amanhã. Antes,no entanto,fui fazer
o maldito exame. Daria negativo e eu tiraria isso da cabeça de vez.

Mas não foi o que aconteceu. Foi o tempo de eu fazerxixi no


palito precário,me secar, vestira calcinha e o shortdo pijama, para
pegar e lá estavamelas:as duas linhas rosa. Uma mais clara que a
outra.Mas não por muito tempo, logo depois as duas estavambem
nítidas.
O mundo pareceunulo ao meu redor, nada pareciatãoobscuro
quanto olhar para esse test
e desgraçado. Eu sentia remorsopor
condenar tanto,mas eu não queria. Não iria sobreviverse tivesse
que lidar com um bebê rejeit
ado e definitivamentenão sabia o que
esperar de Edu.
Iria criaruma criançasozinha? A famíliadele me deixaria com
a criança, depois que soubessem dela? Tantas perguntasmalucas
rodavam minha cabeça que apenas nesse momento, eu entendi
perfeitamente a decisão da Mari. Obviamente ela foi muito mais
decidida que eu, mas eu entendia como era assustador tercaído
nesse limbo maluco.

Fiquei tonta,sem ar com a descoberta.Estava preocupada,


mas a maior parteera sofrimentopelo términoprecoce. A outra
acreditavaque não haveria como, por isso, sequer pensei. Não sei
quanto tempo fiquei no banheiro ignorando todos os pensamentos
que rodavam a minha cabeça.

Escondi a caixa e o testeno meu guarda-roupa,não queria que


mamãe descobrisse acidentalmente e, se eu fosse mesmo
interromper
, seria um completo segredo meu. Ao me deitar
, no
escuro e sozinha, comecei a me sentir mal por pensar em
interromperpor medo. Eu nunca pensei em aborto.Digo na vida
inteira, quando essa conversa surgia. Era do time à favor da
legalização, acreditavaque era questãode saúde pública, Mari era
o belo exemplo disso. Se a mulher quer tirar
, ela vaitirar. Mas não
era o meu caso. Eu nunca quis fazerisso. Eu sempre pareci estar
inclinada em ser à mãe determinada, que faz de tudo pelo bebê.

Mas eu iria parar toda minha vida de novo? Agora por algo
mais importante,mas iria terque viver em funçãodisso? E os meus
planos de voltarà faculdade? Deus, por que fez isso comigo? As
lágrimas silenciosas escorriame eu soluçava, sofrendotanto,tão
apavorada, solitária e confusa.

Na manhã seguinte, acordei e logo fui tomada pela onda de


enjoo. Se tornariarotineiro,será? Dispensei os pensamentosmais
suma vez, eu teriaque fazerum exame, descobrirde quanto tempo
estava, depois descobrir uma maneira secreta para dar um fim.
oda T
vez que eu falava mentalmenteem dar um fim, um tremorme
sucumbia. O tremore a culpa, o medo, remorso.Jamais perdoaria
Eduardo por me fazer chegar tão fundo.

Fui para o restauranteno horário de sempre, pelas dez da


manhã. A cabeça estavaa mil, eu andava tãorápido que nem sabia
se estavano caminho certo,tãocega e louca. Nem me dei contade
que era seguida por aquela doente. Só repareiquando ouvi o pneu
queimar no chão e ela estacionaro carrode qualquer jeito,correndo
de saltos em minha direção. Aperteio passo, não suportariafalar
com ela, mas Luísame puxou pelo braço e arfou,depois puxou os
óculos e começou a falar:
— O exame deu positivo, hum? — perguntou,como se eu
fosse dizer algo para ela.
— Não sei do que você estáfalando — falei com forçae puxei
meu braço, mas ela segurou de volta, me impedindo de andar
.
— Se não me disser, tereique contarao Eduardo e ele tomará
as providências — ela falou sério — estamosjuntos,não quero que
ele seja enganado!
— Por Deus, você é tão louca! — falei incrédula, puxando meu
braço,mas ela não soltou— o exame não era meu! Pergunteà Edu
se há alguma chance de eu ter engravidado! Banque a louca
insegura que você é! Eu não quero — enfatizei,falando mais alto
que nem me dei conta — ficarcom ele. Não sou o empecilho de
vocês! Então me deixe em paz! — sim, eu estavagritandono meio
da rua, mas não aguentava mais os insultos dessa mulher
.

Como se Eduardo tivesse o direito de tomar alguma


providência ao meu respeito.Se eu quiser levar a gravidez para
frente,não há nada que ele possa fazer . Pode escolher não
participar
, não me apoiar em nada, mas jamais poderia decidir por
mim.
Luísame analisou por um momentoe cerrouos olhos, como se
desconfiasse, mas voltei a falar
.
— Eu não estou grávida. E muito menos dele. Faz semanas
que terminamo s, não nos vimos depois e eu estavamenstruadano
dia que ele rompeu — falei,tentandoparecerconvincente, mas valia
tudo para ela me deixar em paz. Por um momento, sentipena dela.
Vivia nessa insegurança,implorando migalhas e agora descontando
a frustração em mim. Eu, pelo menos, nunca estive com ele para me
sentirdesse jeito. Pelo contrário,quando ficamos juntos, eu me
sentia amada, cuidada e tranquila. Como nunca antes em um
relacionamento. Para ela não querer falar nada com ele, atalhei:
— E eu acho que ele não vai gostarde saber que você esteve
aqui me perturbando— faleie ela pareceudesestabilizarum pouco,
eu tinha razão. Ele não a suportava.Talvez achasse mais fácil
deixa-la ali pintando e bordando, do que afastá-la.Talvez nem
conseguisse afastá-la.Luísadeu de ombro, lançando uma caretade
superioridade e desdém.
— O pai dele ficou muito feliz que voltamos — ela falou e eu
revireios olhos. Puxei meu braço e saíandando. Poderia terficado
feliz por achar Luísaideal socialmentepara o filho, mas eu poderia
apostar que o filho problemático dele, não estava feliz.

Fiquei na cozinha quando cheguei ao restaurante. Tive uma


abruptaqueda de pressãoe logo aleguei que era calor e o sol. Saí
de casa sem comer nada.
Quando voltei, me assusteiao me depararcom Edu e Fred em
uma mesa. A respiraçãofalhou, o medo me invadiu e eu sabia que
levaria uma bronca, mas peguei minha bolsa e saí correndo dali.
Por um momento de insanidade, enquanto eu corriade volta
para casa, pensei que Luísahavia contadoalgo para ele, insinuado
e o forçadoa averiguar, por isso estavaali. Foi quando me dei conta
de seja lá o que ele fossepensar, se quisesse ou não assumir, eu
queriao bebê. Eu não teriacoragemde interromper
, só me convenci
que sim para parecer ter controle sobre isso.
Chorei copiosamente ao entrarem casa. Fechei a portae me
senteiao chão, abraceios joelhos e escondi o rosto,me encolhendo
apertada,como se pudesse me proteger . Estava tudo tão confuso,
tão estranho e dolorido que eu não sabia mais o que fazer
.
Teria que contarà minha mãe, torcerpara que tivesse seu
apoio, porque para Edu, eu só contariaquando fossetardedemais
para ele tomar alguma providência.

A dor que eu sentiame rasgavaa alma, o choroera alto,como


se fosse me aliviar. Fiquei tanto tempo ali que me senti cansada.
Vovó ligou, mas a ignorei, não teria condições para lidar com ela.

Fui para a minha cama e chorei até que peguei no sono, mas
sabia que dormir e evitar o problema, não o faria desaparecer
.
CONTINUA...
S :
Após uma descobertadesastrosaque mudaria sua vida para
sempre e cercada de informações que em sua percepção a coloca
em risco, Jordana se vê de mãos atadas e sem saber como agir.
Eduardo continua o homem sedutore volátil, mas lida com seus
própriosdemônios e não quer se envolver de novo. Ignora a falta
que sente dela, o amor e todo o resto,resignado a não viver um
novo amor.

Mudar de decisão, no entanto,seria o bastantepara tê-la de


volta? Seu amor bastaria? Ele já a machucou uma vez, ela o
deixaria fazerisso de novo? Ele saberá lidar com tudo que estápor
vir?

Já sabemos que o amor não é o obstáculo. Mas só ele basta?


C 01
Eduardo Toledo

Derrotado.Devastado. Era assim que eu me sentia enquanto


mamãe abria as cortinaspelo controlee deixava a claridade invadir
meu quarto,me cegando dolorosamente.Eu puxei um travesseiro e
cobrio rosto.Ao contráriodo meu pai, ela não estavanada felizcom
o término repentino com Jordana.

Não havia contadoainda sobre as recentesdescobertassobre


Bianca, mas eu estava tão machucado, não iria pedir para que
alguém me entendesse. Ninguém iria, eu imaginava. Luísa se
aproveitoudo meu pior momento para grudar de novo e estava
querendo a todocustofazerisso pareceruma grande coisa, mas eu
esperava dominar a situação e em breve
terminarcom ela de novo.
— Eu gostariamuito que você fosse menos teimoso, mais
abertocom você mesmo — mamãe falavaimpaciente— Deus, Edu!
De novo agindo feitoesse carrascosem coração?Por mais que seu
pai idolatreessa posturadura, eu prefiroquando você está feliz.
Leve, vivendo.
— O filho de Bianca não era meu — eu falei, sem descobriros
olhos e ela parou de falar
. Um silêncio repentinoinundou o quarto,
então continuei:— é de um Gael Rivera. Sabe quem é? Porque eu
não. — tentei zombar , mas não era momento.
— O que? — a voz de mamãe saiu fina e preocupada. Neguei
com a cabeça, sentindo tudo lancinar e me sentei, pronto para
enterrar esse assunto de vez.
— Nós havíamos nos desentendido pouco antes de ela
descobrira gravidez, sei lá, ela ficoucom outrocara e resolveu me
enganar.
Mamãe pareciachocada, demorou alguns longos segundos até
procurar algo decente para me dizer
. Não que fosse adiantar algo.
— Por que terminoucom a Jordana? — ela perguntoue eu
bufei irritado, voltando a cobrir os olhos com o braço — vai
descontarnela o errode outrapessoa? E essa pessoa que já não
vive entre nós, merece ser condenada?
— Deus, mamãe, não venha defender— eu falei inflamado e
magoado — ela poderia terme contadoa verdade. Poderia não ter
carregado essa culpa e talvez não tivesse enfrentadotantas
complicações. Ela poderia estar viva!
— Você não pode mudar o passado, Eduardo — mamãe falou
com malemolência e se sentouà beirada da cama — estáfeito.Não
estrague a sua vida refém de uma mágoa.
— Ela escreveu a cartaacreditando que o bebê estariavivo...
— falei mais baixo, sentindo tudo embargar aqui dentro — se
estivesse,eu teriaficado sabendo que não era meu filho? Estaria
criando o filho de outro cara?
— Isso importa agora? — ela perguntou de uma maneira
carinhosa e pegou minha mão entreas duas — e que históriafoi
essa de voltar com a Luísa?
— Não estou com a Luísa. Ela que não larga do meu pé.
Parece uma carrapata maluca.
— Pare de insultá-la. Se ela fica no seu pé, é porque alguma
esperança você dá.
— Por Deus, mamãe — eu faleiincrédulo— se Luísaacha que
a maneira como eu a tratoé dar esperança,ela precisarevero que
espera de um relacionamento.
— E a Jordana? Você estava tão bem ao lado dela... Todos
comentaram,ninguém achava que veria você feliz, alegre daquele
jeito.
— Eu iria estragartudo — eu falei baixo, nada parecia
convincentee ninguém iria quererme entender— iria fazê-la sofrer
,
ela iria se vingar e tudo iria se repetir
.
— Você acha que ela faria algo assim?
— Eu não quero mais carregaro peso de uma relação. Ainda
mais com ela, que espera o cara perfeito. Eu não a mereço.
— Ninguém pode serperfeito,e eu apostoque ela amava você
— minha mãe falou, insistente, mas neguei com a cabeça.
— Eu não quero mais, pode respeitar minha decisão?
— Posso, mas não concordo com ela — ela suspirou, se
levantando — vamos, Noêmia disse que você mal tem se
alimentado. Só anda bebendo e fumando. Não quero você desse
jeito.

Tomei café com ela, que insistia em saber um motivo


consistentepara o término.Mas não havia. Era apenas a minha
convicção, fiquei sufocado,com medo. Eu tinha o direitode sair da
relação quando bem quisesse, assim como ela também teria.

Fred me levou para almoçar no restaurante


da avó dela. Achei
faltade consideração, por nós dois. Por mais que eu tenha tomado
a decisão, não queria dizer que estava sendo fácil. Ele chegou a
provocar
, afinal ela era amiga da Marina, se os dois voltassem,
teríamosque aprendera conviver. Mas isso não queria dizer que
não precisaríamos de tempo para esfriar tudo.
— Quando você a vir com outro,vai ficarlouco e eu vou te
bater— Fred avisou quando nos sentamos.Eu olhei em direção ao
caixa, onde ela sempre ficava, mas foi nesse segundo que ela
passou correndo e saiu do estabelecimento.
— Tá vendo o que você fez? — perguntei irritado.Ia me
levantar e ir embora, mas uma garçonete veio nos atender
.

À noite, quando cheguei em casa, Luísa estava lá, gravando


uma publicidade no cenáriodo meu quarto.Era proposital,para que
todosque a seguissem pudessem ver que estávamosjuntos.Soltei
o ar de uma vez e fui diretopara o banheiro. Me tranqueiali e fiquei
encostado na parede, me olhando no espelho. Esse seria o
momento de encontrarJordana, mesmo que nem fôssemosdormir
juntos, para ficarmosum tempo agarradose matando a saudade.
Mas logo quebrei o pensamento, o vício e a dependência dela que
eu ainda tinha. Teríamos que seguir em frente.

Com Luísa era fácil, porque ela queria apenas essa fanfic,eu
tinha liberdade. Não a suportava,não precisava ser perfeitopara
ela.

Comecei a suar e entrarem pânico por pensar em passar uma


noite com Luísa enfurnadaem meu apartamento,então liguei para
Ravi, ele sempre arrumariaalgo indecente, que tirariatodo meu
foco. Se eu inventassede sair com Fred, ele tentariacolocar meu
juízo no lugar
, e eu não queria isso.
C 02
Jordana Testa

Passava o dia contandoos minutospara dar seis da tardee eu


poder voltarpara casa. Para poder chorar
, deixar sair tudo o que eu
passava o dia segurando.Lidar com tudoisso me feriua alma, eu já
não sabia quanto tempo aguentaria.

Procureina internettudo sobre o aborto,até quanto tempo eu


conseguiria fazer e meios para que ninguém nunca soubesse. Eu
precisavade todasas inform ações. Estavatão apavorada, que nem
minha mãe, muito menos minha avó estavaentendendo todo o meu
sofrimento.

Se fosse só para lidar com o término,eu levaria numa boa.


Provavelmenteficariacom raiva dele, estavacom raiva, frustrada
e
me sentindo enganada, mas apenas seguiria em frente.Grávida
dele, tudo virou um vendaval.

E mesmo que eu tivessetodas as informações,eu não queria


interromper
, mesmo que não quisesse lidar. Queria apenas não ter
mais algum vínculo com alguém tão inconstante,imaturoe egoísta
como Eduardo. Amá-lo não apagava todos os defeitosque só ele
mudaria, mas que não queria mudar
.

Eu mal conseguia comer. Os enjoos matinais eram certeiros,


mas para minha sorte,vinham apenas naquele horário. Mamãe
quase nunca estava em casa e quando sim, eu só saía do quarto
quando ela já havia ido para o restaurante.
Pelas minhas contas,eu
já devia terpelo menos quatrosemanas de gravidez. Ou cinco...
Estava sendo tão difícillidar com o términoe com a gravidez ao
mesmo tempo, e sozinha ainda por cima, que eu me sentia
completamente perdida.

Desmoronei quando a mãe dele ligou, querendo entendero


motivo real do término.Se Edu havia aprontadoe eu não queria
perdoar, porque se fosse,ela entenderia,mas não conseguia aceitar
um fim de algo tão bonito sem uma boa explicação.
— Se ele fez algo, eu não sei — eu falei, quase sussurrando,
para a voz não falhar
, tudopareciaqueimar por dentro,a dor que eu
sentiaera quase física,meus lábios tremiamde angústiae medo —
eu não sei por que ele termi
nou, Nora. Mas não vou ficar insistindo
para voltarmos. Não é a primeira vez que Edu faz algo assim
comigo.
— O que ele fez? — ela insistiu — podemos nos encontrar?—
ela perguntou.Desatei a chorare limpei o rostocom a mão que
estavalivre. Ela deve ternotadomeu descontroleemocional, porque
me deu tempo para acalmar. Funguei e tenteipararo choro, mas
era tão difícil.
— Eu não sei... — falei, agora com a voz denunciando a
aminha fraqueza.
— Ele também não está nada bem... Não que não mereça,
afinal, foi ele quem procurou fazer besteira.Mas não acha que
depois de um tempo, com os ânimos mais calmos, vocês não se
acertam?
— Não... — sussurrei,as lágrimasvindo à tonacom forçaoutra
vez, me fazendo soluçar
.
— Olha, meu bem, se precisar de qualquer coisa, pode falar
comigo. Eu sei que meu filho vai cair em si, vai quererconsertaras
coisas com você. Ele passou por algumas descobertasdifíceis,está
sofrendo com tudo isso.
— Descontar em mim foi a solução — presumi — obrigada pela
preocupação, Nora. Espero que Edu fique bem logo. Preciso
desligar, tenho algumas coisas para resolver, beijo.

Não esperei que ela respondesse. Já imaginava a conversa


indo para um caminho onde ela me sugeria procurá-lo,onde me
pedia para lutarpor nós dois. E eu não iria fazerisso. Dava meu
melhor para ele, fazia tudo o que ele queria, e amava. Poderia
apostar que os pais de Luísa e o dele deveriam incentivá-la
também, do contrárioela não pagaria tão alto por esse papel
ridículo. Ou sei lá, vai saber
.

Mari queria que saíssemosna sexta-feira,disse até mesmo


que não iria me deixar afundarde novo, me isolar de tudo. Mas eu
tinha motivos consistentespara não poder sair com ela. Primeiro
que ela não entenderiase eu não bebesse, iria logo desconfiar
. E se
ela contasseao Fred, Eduardo ficariasabendo. A gravidez estando
recente,seria muito fácil Eduardo vir com todo seu descontroleme
forçar a interromper
.

Chorei porque eu o amava, e ele não parecia agora ser um


bom homem. Era o cara rico, cheio de poderes compráveis, tudo
sempre do seu jeito, no seu tempo.

Chorei porque não queria terum bebê sem pai, mas queria
menos ainda não tê-lo.

Mamãe veio me chamarpara jantar, não estavagostandonada


de me ver sofrendo e chorando tanto.Prometique logo iria. Havia
decidido primeiromarcaruma consulta,saber como estavao bebê,
confirmar realmente a gravidez e depois contar para ela.

Mari ficaria com raiva, eu imaginava, mas teriaque entendere


respeitar
, assim como eu respeitei o tempo dela de reclusão.

Depois do jantar
, minha mãe avisou que no sábado, iríamos
jantarcom o namorado novo dela. Prometeuque eu iria adorá-lo.
Contou que tinha dois filhos, um de vinte e trêse uma menina de
oito anos.
— Ele se separou há dois anos — ela explicou, parecia
animada — mas eu não queria criaralgum alarde, vai que não dava
certo.
Dei um sorrisoamarelo para ela, assentindo e ela franziuo
cenho, confusa.
— Está acontecendo algo que eu preciso saber? — ela
perguntou,parecendo preocupada, mas suspirei e neguei com a
cabeça — sei que é difícilter
minar, ainda mais porque você apostou
todas as fichas nele, foi contra sua avó... Mas parece tão abatida.
— Está tudo bem — falei baixo, brincando com o restoda
comida no prato.
— Animada pra voltar às aulas? Já sabe quando as aulas
retornam?— ela perguntouanimada. A olhei, sequer estava me
lembrando disso. Teria que trancar
. Depois que o bebê nascesse, e
eu me estabilizasse, eu voltaria. Não teria como sustentara
faculdade e o bebê. Lidar com gravidez, trabalho e estudos.
— Vou procurarsaber — falei, não sabendo como contarpara
ela que teriaque adiar de novo. Por um ano, talvez. Sabia que
quando soubessem, ela e vovó iriam querer que eu procurasse
Eduardo, que ele arcassecom os custosda criança,afinal seriasua
obrigação. Me deu pânico pensar em terque fazer , eu não queria
que ele se metesse, nem que soubesse da gravidez. Eu
definitivamente estava numa sinuca de bico, não sabia o que fazer
.

E a pensar que Fred pagava uma pensão absurdament e alta


para o filho, Eduardo iria quererpagar bem mais para se ver livre.
Assim como bancava os luxos da Luísa para mantê-la entretidae
longe dele.

Quase comecei a chorarbem ali, mas felizmenteela recebeu


uma ligação e avisou que estava indo.
— Vai se casar com esse cara? — pergunteiconfusa e ela
parou no meio do caminho, me olhou sem reação.
— Se algo acontecer , se não quiser vir morarconosco, sabe
que o apartamentosegue em seu nome, todos os custos serão
pagos pela minha parteno restaurante, não é? — ela falou tão
atrapalhadaque eu quis rir
, e não gostouda minha caretasarcástica
pelo seu nervosismo, me olhou feio e consertou a bolsa no ombro —
e eu aposto que você vai adorar morar sozinha.
— Mãe... — eu falei, começando a rir— não se preocupe. Eu
vou adorar morar sozinha.
— Obrigada — ela falouconfusa, me divertindocom o seu jeito
de quem estava aprontando.

Limpei a cozinha e fui para o meu quarto.Coloquei um filme,


mas não conseguia prestaratenção.Fechei os olhos, pensando em
como tudo ficariadaqui para frente.Se minha mãe se casasse, seria
ótimo porque eu teria mais espaço nesse apartamento.Era
pequeno, mas confortável e vovó não morava tãolonge. Quando ele
estivesse maiorzinho, com certeza ela o olharia para que eu
pudesse voltar às aulas.

Mas talvez, se eu voltasse agora, adiantaria algum tempo.


eria
T
que ver tudo isso depois.

Chamei Mari para ir comigo à faculdade, foi quando descobri


que aquele cretinohavia deixado pagas, as mensalidades de todoo
semestre.Comecei a tremerde raiva, não conseguia nem assimilar.
Ele queria que eu comemorasse?Achava que isso pagaria o meu
tempoao seu lado? Ou como uma indenização por todoo dano que
me causou?

Mari conseguiu tomara frentee conversarcom a mulher que


me deu a maldita informação , me tiroudali, mas ainda no campus
da universidade, eu me sentei em um banco e desateia chorar. Era
isso que ele fazia com tudo? Pagava para se livrar?
Ela quis conversar
, me apoiar, mas eu fiqueiquietae volteilogo
para casa.
— Nós vamos passear de lancha esse fim de semana — ela
comentou,enquanto ainda estávamosno táxi — você não quer vir?
Chiara está querendo aproveitar muito a nova solteirice.
Eu a olhei, não iria arriscarficarnuma lancha, provavelmente
ficaria enjoada.
— Com Edu e Luísalá? — pergunteidesgostosa— obrigada,
amiga. Mas eu não vou.
— Deveria mostrarpra ele que não está nem aí. Ele iria ficar
louco, você sabe. E eu duvido que Chiara os chame, ela odeia
Luísa.
— Eu não vou — falei irritad
a, mas me controlei— desculpa,
eu... — corrias mãos no rosto e suspirei— eu não quero provocar
esse louco, eu entendo que ele tenha traumas,os problemas dele,
mas eu não vou ficar por perto.
— Não queria te ver tristinha assim...
— Eu só estou estressada.Logo fico melhor — eu falei, me
recostandoao banco. No percursopara casa, eu fiquei enjoada. O
movimentodo carro,eu sempre enjoava e agora nesse estado,tudo
acontecia mais rápido. Mas consegui segurare desci apressada,
voltei apenas para dar o dinheiro do táxi para Marina.
— Se mudar de ideia, me avisa — ela falou e eu assenti.

No aplicativo do meu celular, a notificaçãode ciclo atrasado


gritavatoda hora. Não que fosseuma surpresa,mas me fazia sentir
uma pontada no peito a cada vez que aparecia. Logo a desativei.
Procurei na internet algum médico, precisaria marcar a
consultalogo. Mamãe chegou do restaurante
com almoço para mim,
me encarando desconfiada.Eu franzio cenho e a olhei, esperando
sua explicação.
— A mãe do seu ex estevelá hoje — ela comentou,tirandoa
quentinha da sacola e deixou sobre o fogão — parecia gostarmuito
de você... Ficou preocupada, não entendeu o término.Ainda disse
que odeia essa versão carrasca do filho.
— Não tenho culpa se ele é problemático — eu falei
rapidamente e minha mãe deu um sorriso.
— Se ela tivesse aparecido antes, talvez sua avó tivesseaté
apoiado vocês. Ficou um tempãoconversandocom a mulher... Ela é
bonita, né? Toda pomposa, elegante.
— É — suspirei forte.
— Como foi na faculdade?
— Mãe, eu acho melhor trancarde novo — falei e ela parou,
me olhando confusa — esperarpra ver como a vida da gente vai
estar pelos próximos meses...
— E o que mudaria? — ela perguntou,se virando para mim e
me avaliou por um momento— estáme escondendo algo, Jordana?
— Não! — falei rapidamente— mas você pode estarpara se
mudar. Não sabemos como tudo vai ficar
. Não vai matarninguém
esperar.
— Achei que estivesse animada. Até porque, quanto antes
você se formar
, mais rápido vai atuarna área. E eu aposto que vai
ganhar bem mais como arquiteta do que como garçonete.
— Eu sei, mas... — eu não terianenhuma desculpa coerente
— aquele desgraçado deixou o semestre inteiro pago — falei
envergonhada.
— Mandem devolver o dinheiro. Ele está achando que não
temos como pagar?
— Eu não sei o que ele pensa — falai baixo, exaustade tentar
lidar com Eduardo.
— Amanhã nós duas vamos lá resolverisso. Aliás, vou mandar
sua avó fazer— ela faloudecidida e sorriu— eles não vão aguentar
dois minutos do barraco que ela vai fazer
.
— Vou deitarum pouco — falei, me sentindo estranham
ente
exausta.
— Anda tão cansada... Não devia deixar esse cara afetartanto
você.
— Eu sei — resmunguei — mas ele é tão sem noção... Não
sabe nada sobre a minha vida e fica se metendo.
C 03
Eduardo Toledo

Eu tinha a cabeça tombada para trás,os olhos cobertoscom o


braçoe não conseguia pensarnum motivocoerentepara estaraqui.
Em plena segunda-feira,num motel com uma modelo amiga de
Ravi.

Ela se empenhava em me dar prazer , enquanto eu não fazia


nada por nós dois, estavaum caco. Mas carregaressa culpa tirava
o foco de todo o resto.Meu pau estavaereto,porque eu conseguia
ser mais sujo ainda e pensava em Jordana me chupando, me
lambendo e provocando. Seria possível que nenhuma outra iria
conseguir me fazer sentir
aqueletesão?

Sexo casual para mim era bom, antes dela. Mas eu seguiria
resignado, não iria voltare daqui um tempo nos fazersofrerde
novo. Essa dor e esse remorso todoiriam passar. Ela iria ver que foi
melhor assim.

Marina já havia dito que ela odiou o meu gesto de deixar as


mensalidades da faculdade pagas. Mas fiz de bom grado, ela
poderia usar o dinheiro para outracoisa. Queria que visse como o
meu último gestode carinho, já bastavatodo mal que fiz a ela, por
causa das minhas questões internas, que ninguém entendia.
Fred avisou que no meu próximo show, ele me espancariae eu
já acordaria internadoem uma clínica psiquiátrica.Mas o ignorei.
Mamãe estava insistente,não aceitava que eu estivessedeixando
Luísa fazer esse papel humilhante outravez. Mas eu não estava
deixando. Eu não conseguia impedi-la. Era trabalhos o demais
expulsá-la.

Afundei a mão no cabelo da morena, aperteios olhos e me


deixei fantasiarJordana me engolindo desse jeito, massageando
com a língua e voltando devagarinho, me enchendo de beijos
suaves por todo o membro excitado.Ela viu que eu não iria parare
me soltou. Deu a volta no quartoe pegou a camisinha, colocando
em mim. Eu olhei o corpo bonito da morena, não conseguia lembrar
seu nome.

Acabamos ali, paguei a conta e a deixei em casa. Fui o


caminho até meu apartamento rezando para Luísa não estar lá.

Sabia que estava desimpedido, poderia fazer o que bem


quisesse, mas o remorso me corroía injustamente.

Quando subi, lá estava ela, sempre gravando vídeos. Corri


para o banheiro, não queria ter que aparecer
, porque não iria deixá-
la nessa loucura outravez. Tomei um banho e saí enrolarem um
roupão. Luísa me olhou sugestivamentee deixou o celular sobre a
cama, se levantou e veio até mim.
— Vai continuar estranho desse jeito? — ela perguntou,
fingindo consertaras abas do roupão — sabe o que andei
pensando?
— O que? — perguntei desinteressado.
— Que deveríamostero um filho— ela mal terminoude falar e
eu comecei a rir , um riso meio frustrado, porque só poderia ter
perdido a sanidade de vez. Para não dizer que não transamos,eu e
Luísafomos para a cama no aniversáriode Fred, porque ela não me
deixou sozinho e ficouprovocando.Já estávamosaqui, não mudaria
nada.
— Não.
— Se fossecom a sua ex pobrinha, você ia querer , aposto —
ela falou impaciente. Eu tranqueia respiração.Não iria querer, no
sentidode planejar. Mas se Jordana tivesseengravidado pelo nosso
descuido, eu não iria deixá-la desamparada. Graças à Deus não
aconteceunada. Seria tão difícillidar, eu sinceramentenão saberia
como iria reagir, depois de tudo que descobri recentemente.Além
do que, ela era tão nova, iria afetar todo seu futuro.
— Iria — falei duramentepara ela, que parou surpresa.Fiz
uma pausa e fechei os olhos, segurando os pulsos de Luísa, para
que ela me olhasse — por favor, Luísa,vamos pararcom isso. Você
estáperdendo tempo, eu só estoute maltratando,eu não sei quem
consegue convencer você que isso aqui vai dar certoem algum
momento.
Ela não aceitou, suspirei impaciente e a soltei, indo para o
closet pegar alguma roupa, foi quando ela voltou a falar:
— E se ela aparecessegrávida agora, o que você faria?— ela
perguntou sarcástica e eu a encarei.
— Ela não está grávida. E se isso forum teste,saiba que eu
reagiria muito mal. Me sentiria enganado.
— Se fosse comigo, me fariaabortar?— ela perguntou,me
deixando tontopor tantasperguntassem noção. Nem a respondi,
não seriacapaz de uma barbárie dessas. Troquei-me e volteipara o
quarto, onde ela estava. Ia saindo, mas voltei e expliquei:
— Eu não far ia você e nem ninguém abortar . Mas isso não
quer dizer que ficaremos juntos — avisei.

Na manhã seguinte,depois de uma reunião importantecom os


colaboradores da empresa, eu contei à Fred sobre a conversa
esdrúxula com Luísa. Ele ficou tão confuso quanto eu, mas logo
descartamosa possibilidade de Jordana estargrávida. Além do que,
quando terminamos,ela estavabem naquela semana que nos fazia
ficar em abstinência.
— E Marina me contaria — ele falou o óbvio — ficou
preocupado?
— Preocupado de Luísa cismar em engravidar . Louca do jeito
que é.
— Não adianta ficara insultando se você transacom ela —
Fred falou o óbvio e eu assenti.
— Pensando seriamenteem me mudar daquele apartamento,
pra não ter que encontrá-la — resmunguei e meu primo riu.
— Acho que Jordana vai nos encontrarno sábado, só estou
avisando porque acho melhor você não ir — ele falou, me atingindo
cheio. Nessa situação,todosestavamao lado dela. Atémesmo meu
pai insinuava que ela foi vítima da minha confusão.
Como fiquei quieto, ele voltou a falar:
— E vê se para de chamar Ravi pras suas merdas. Ele e
Denise não estão nada bem.
— Não o obrigo a nada, Fred — falei impaciente.
— Só estou te avisando. Você não é obrigado a namorar, se
não quiser. Mas aprenda a respeitaros outros.E principalmentea
sua ex.
— Não vou fazernada para machucá-la — falei o óbvio — só
fui precavido. Não iria dar certo.
— Se você diz... — ele deu de ombros.
C 04
Jordana Testa

Fui sozinha à primeiraconsultacom o obstetra.


Já havia feitoo
exame de sangue para confirmar a gravidez.

As minhas contas estavam certas, fizemos o bebê no


aniversáriodele. Eu ainda sentiatantomedo, chorava por me sentir
sozinha, despreparada, mas quando ouvi o coraçãozinho dele
batendo no consultório,tudo pareceu sumir. Só havia aquilo, os
batimentos, a vida crescendo dentro de mim.

Os enjoos estavamliteralmenteatrapalhandoa minha vida. Eu


havia forjado um atestadoe inventei uma virose, mas minha mãe
andava bem desconfiada. Até quando eu iria esconder, eu não
sabia. Segundo o doutor, ele já tinha o tamanho de um feijãozinho.
Estava tudo bem, eu teria outra bateria de exames para fazer ,
desses que toda grávida faz. E para os enjoos, o que eu poderia
fazer era não ficar longas horas sem comer, e descansar bastante.

Toda vez que Luísa aparecia no restaurante para se certificar


que eu não estava grávida, eu ficava nervosa, irritada,querendo
chorar
. Eu sabia que Eduardo não seria um bom pai, e não queria
sequer dar chance para ele provaro contrário.Deixaria para pensar
nisso o mais tarde possível.
— É porque estamostentand
o — ela falou,mas foicomo enfiar
uma facada em mim. Fiquei a encarando, sem reação, cheguei a
tremerinteiracom essa dor que saíado peito,pareciaserfísica— e
não quero nenhum importunonos surpreendendo,porque quero que
seja um momento mágico.
— Luísa,se você se sentetão inseguracom esse cara,deveria
procuraralguém que te tranquilizassee te desse amor. Porque eu
não sou o seu empecilho, não tenhoa menor intençãode atrapalhar
vocês. E não — enfatizei— estou grávida. Aquele exame não era
para mim, era pra uma amiga. Se eu estivesseesperando um filho
dele, com certezaele seriaa primeirapessoa a descobrir
, porque eu
não iria lidar com as consequências, sozinha.
— Ele te fariaabortar— ela deu de ombro, desfazendo da
situação — o pai dele jamais iria aceitar um bastardo na família.
— Você é louca — falei descrentee saído caixa, entreipara a
cozinha e segui para o escritório.

Fiquei ali atéque essa louca tivesseido embora. Ela estavatão


insegura, sabia do desprezo de Eduardo por ela e morriade medo
que nós dois voltássemos, eu só conseguia essa explicação. Porque
se voltássemos, ele não daria espaço para ela. Mas eu jamais iria.
Era magoada, decepcionada e enojada demais por como ele agiu.

Para afastar as desconfianças de Luísa,no sábado, eu topei ir


com Marina para o passeio de lancha. Fred pareceu animado por
me ver e lamentou por Eduardo, mas ignorei qualquer fala
relacionada a ele.

Ter que enfrentar


a gravidez sozinha e ocultá-lapor não poder
confiarnele foi como o estopim de tudo, não dava para relevar
. E
não tinha essa de eu estarconfiandodas lorotasda Luísa, mas de
poder facilmente associar essa postura à inconstância dele.

Mari foi logo animada pegar bebidas para nós, mas eu sabia
que não deveria beber nada. Enrolei com a primeirataça cheia de
vodca, o cheiro me dava náusea. Quando consegui um momento e
joguei a bebida no mar, fui eu mesma pegar outra.Pedi para o
Barman não colocar nada alcoólico. Entreino bar junto com ele e
coloquei suco de limão, água com gás, gelo e algumas rodelas de
limão. Peguei um canudo e voltei para onde Mari estava.

Por um momento, senti receio de começar a enjoar aqui, mas


felizmentenão aconteceunada. E para completar , nas várias fotos
que Mari e Chiara postaram,eu aparecia bebendo. Pensei que isso
deveria bastar
.

Por outrolado, pensei em como meu filho me condenaria por


tê-lo escondido, mas era a minha maneira de protegê-lo.Quando
ele nascesse, eu ficaria mais tranquila para enfren
tar o que
precisasse enfrentar
.

Chiara logo apareceu aos beijos com um de seus amigos, e


Fred ria, dizendo que ela tinha sorte por Edu não estar aqui.
— Ele precisa de um psiquiatra— eu disparei e eles me
olharam, me senti envergonhada, mas continuei — porque é
acostumado a poder causar confusão com tudo, isso não é certo.
Comi bem pouco no almoço. Não poderia ficarsem comer,
para não enjoar, e nem comer demais. Já estava pegando as
manhas dessa situação toda.

Já à noite,Mari estavabem bêbada e reclamandoque bebeu o


mesmo que eu, mas eu estava ainda plena.
— Ela fez pausas e bebeu água, amor — Fred explicou e eu
dei um sorriso, não havia bebido álcool, na verdade.
— Amanhã tenho um almoço com o namorado da minha mãe,
não poderia ir de ressaca. O que ele pensaria? — perguntei
incrédula. Ela pareceu pensar
, e concordou.

Cheguei em casa e fui para o banho. Meu corpo magro não


denunciava a gravidez, ainda. O doutorjá havia dito que poderia
demorar , por ser a primeiragravidez, talvez a barrigasó começasse
a dar as caras lá pelo quinto mês. O que me daria um bom tempo
para... Nem sei para que.

Me certifiqueique minha mãe estavaem seu quartoe fecheia


portado meu, a trancando,para poder olhar as fotosda primeira
ultrassonografia.Estava com tanto medo, mas estra nhamente
familiarizada também. Por um segundo, pensei que não poderia
confiarnas coisas que Luísadizia, mas Eduardo sempre disse que
não queria filhos. Duas vezes brincou sobre, mas nada que eu
pudesse relevar . E a pensar em como terminou comigo, me
descartandosem mais nem menos, eu não poderia correro risco.
Não poderia confiarnaquela maluca, no entanto,não dava para
duvidar também. Afasteios pensamentos que me davam medo e
me deixavam confusa,teriaque agir com cautelae com maturidade,
mas enquanto fosse o meu segredo, tudo ficaria bem.

No domingo fuicom minha mãe ao almoço com seu namorado.


Era um cara conservado, gente boa e animado. Foi simpático
comigo, que estavaenjoada, então tenteiao máximo não ser chata.
O almoço foi agradável, pedi água com limão no lugar de suco ou
refrigerante, costumava melhorar meu mal estar
.

Comi pouco, deveria me alimentarmelhor, mas os enjoos não


deixavam. Eu vivia mais pensando em como evitá-los no que em
que comer. Diziam por aí que depois de certotempo passaria e eu
estaria livre.

Ao contráriode Mari, que não pensou duas vezes antes de


interromper a gravidez, afloravaum instintomaternoem mim, maior
até mesmo que todo amor que Edu me fez sentirnesse tempo que
passamos juntos. Era como se eu fosse capaz de qualquer coisa
pelo meu filho, e isso teria que justificar todas as minhas escolhas.
C 05
Eduardo Toledo

Acordei no domingo atropelado pelos efeitosda ressaca e


todasas drogasque Ravi nos arrumouna noitepassada. Comecei a
sentirfalta de Jordana, dela, da vida que estávamoslevando, além
do que, nem a putamais carado universochegariaaos pés do sexo
gostoso que ela fazia comigo.

Eu estava condenado. Não iria relutar


, achar que iria superar
fácil,porque estavadoendo mais do que um dia achei que pudesse
doer. Queimava. E eu estava tão errado,havia desgastadotantoo
que vivemos, que nem sabia se haveria alguma maneira de
consertar
, caso eu quisesse.

Mal tive tempo de tomarum banho, sai do banheiro enrolado


na toalha e Fred adentrou meu quarto bruscamente, me assustando.
— Que merda você tem na cabeça? — ele perguntou furioso —
seu egoístade merda! — desviei quando ele veio para cima de mim.
— Eu fiz o que, Fred?
— É muito difícilpra você, respeitarao menos o vício dos
outros? Ou você vai dizer que não sabe sobre o problema do Ravi?
— O que? — pergunteiconfuso, a cabeça latejando de dor.
Tossi algumas vezes, tentando entendê-lo.
— Eu só vou te pedir uma coisa, Eduardo. Uma coisa — ele
enfatizou,gesticulando— para de agir feitoum revoltado.Por mais
que as coisas te magoem e te machuquem, você não pode sair por
aí destruindotudo. O cara está... Estavano meio de um tratamento
sério contra o próprio vício e você invés de ajudar
, incentiva?
— O que? — perguntei,não conseguindo assimilar — você
acha que se eu soubesse disso, teriadeixado aconteceralguma
coisa?
— Ele não quer que ninguém saiba, resistemuito, Denise
quem contou para Marina — ele resmungou — senão nem seu
saberia. Mas um viciado dá sinais, vê se aprende a olhar e pensar
no outro.
Fiquei quieto, me sentindo envergonhado, não tinha como me
defender . Apenas não sabia sobre. Ravi sempre foi exagerado,
havia semanas que farreava todo dia, mas eu nunca parei para vê-lo
como um dependente do álcool ou das drogas. Pensei, na verdade,
que fosse como eu, fazia eventualmente.
— Jordana saiu com vocês? — perguntei baixo. Fred me
encarou indignado e deu uma risada, como se não acreditasse
nisso.
— Você terminou com ela, quando poderia ter conversado,
desabafado e pedido apoio. Então não me peça informações.
— Vai ficarcontramim, Fred? — pergunteibaixo — se eu
tivesse insistido naquele namoro e fizesse merda com ela, tudo
seria pior
.
— Não estou te criticandopor querer terminar . Mas por se
entregar, se punir por um erroque não foi seu. Está aí sofrendo,
parece que gosta de se sentir assim.
— Eu não gosto — falei impaciente — eu a amo, não queria
prolongartoda essa merda, deixá-la ainda mais apegada e depois
fazê-la sofrer ainda mais.
— Certo,Edu. Só toma cuidado. Quando você cair em si e
quiser consertar todos os seus erros, pode ser tarde demais.
— O cara encontrouo tal Gael? — pergunteie ele me encarou
incrédulo.
— Não. Você acha mesmo que descobrirquem é o carae onde
ele mora vai mudar algo? — Fred perguntouincisivo, indignado com
a minha teimosia — Luísanão deveria terteentregadoa carta.Se a
mãe da Bianca achasse que você deveria ficarsabendo, ela teriate
entregadoisso há seis anos, e se ela não fez, foi porque sabia que
isso não iria amenizar seu sofrimento.
Se a Luísateentregouagora,
foi por saber que você é mente fracae que iria sair fazendo merda,
como você fez. E agora ela está aí, sendo louca achando que
namora você!

Eu não tinha argumentonenhum para lidar com Frederico . Ele,


em toda conversa que tínhamos,me fazia sentirum covarde sem
noção.
— No dia que ela aparecergrávida e fizervocê viver o mesmo
infernoque eu vivi com Bruna, você vai viver com o desejo de voltar
no tempo e ter feitotudo diferente— ele avisou, mas permaneci
quieto.

Houve um jantarna mansão dos meus pais, e eu fui sozinho,


mas Luísa estava lá e logo veio grudarem mim. Fechei os olhos
querendo mantera calma, mas não poderia nos deixar preso nessa
merda porque era mais conveniente para mim ignorara me impor.
Ela veio querendo postar foto de nós dois, mas delicadamente
peguei seu celular e descartei.
Chiara ficoupor um tempo, mas estavaem uma fasede sair e
curtirmuito, revoltadacom o término.Eu não gostava nada disso,
mas já havia sido terminantemente proibido de interferir
. Mamãe
olhava para mim e Luísalado a lado no sofáe me lançava caretas
de decepção. Apesar de nunca se envolver nas decisões dos filhos,
ela sabia muito bem como eu andava apaixonado e feliz com
Jordana. Volta e meia e eu me pegava com saudade, com vontade
de me rastejarpara ela pedindo perdão, de prometerque eu iria
mudar, amadurecer , dar valor para nós dois, porque não aguentava
mais. Mas logo voltava para a realidade dura e sofrida:eu era esse
cara problemático, me conhecia, não me entendia muito bem e em
longo prazo a faria sofrer
.

Quando Luísa usou da sua habilidade em ser sociável para


introduzira conversa sobre quererengravidar , dizendo até mesmo
que havíamos falado sobre isso, mamãe ficou inquieta, aturdida,
parecia até mesmo mais corada. Foi quando preciseiintervir
. Deixei
claro que nós dois não poderíamoscontinuarcom isso, joguei a
culpa para mim, porque era, de algum modo, eu a deixava chegar
tão longe. Luísa ficoumuda, sem reação por tersido desmentidana
frentede todos. Como não havia mais clima para ficarali, pedi
desculpa e me levantei, saindo logo da casa.

Chiara estava na área externa, fumando um baseado. Eu


neguei com a cabeça, irritad
o por ela quererbancar a adolescente
revoltada aos vinte e dois anos, mas quem era eu para julgar?
Conseguia sermais adolescentee revoltadoque ela. Ao me ver, ela
saiu apressada indo em direção à área de lazer da casa, mas a
segui.
— Se você veio aqui me dar sermão, pode ir embora — ela
falou, indo se sentar em uma das espreguiçadeiras — e não
atrapalhe meu momento.
— Você acha que ele merece isso? — eu perguntei, me
sentando na espreguiçadeir a ao lado dela. Minha irmã deu de
ombros, querendo fazer pouco caso e puxou uma tragada longa.
— Acho que eu perdoei demais, queria viver um contode fadas
e ele se mostr ava perfeito.Mas estava enganada. E agora eu não
quero mais viver um conto de fadas... — ela falou, completamente
chapada e deu uma risada fraca— deveria terconfiado em você,
mas você andava tão estranh o nos últimosanos, que eu não queria
confiar no seu julgamento.
— Você já deve saber que o filho da Bia... Não era meu — eu
falei mais baixo e ela assentiu.
— Descontarem Jordana foi a solução que você encontrou?
Hum?
— Não... Mas você via como Bianca e eu éramos... E tudo
acabou desse jeito.
— Eu gostavada Bia, mas isso não tirao peso de seramiga da
Luísa. E vocês dois se desentendiam muito, ela bem que adorava
provocar ciúmes em você.
— Tudo com ela era perfeito,Chiara... — eu discordeie minha
irmã me lançou um olhar sarcástico.
— Se tornouperfeitoporque você a perdeu, porque se sentia
culpado, tinha todo o remorsopor não terinterferido nas escolhas
dela sobre o parto.
— Eu a amava... — falei, o tom da voz se perdendo com a
amargura da afirmação.
— Cert o, Eduardo. Você a amava, mas a perdeu. Descobriu
agora que em um términode vocês, ela engravidou de outro.Ela
não te traiu.Não estoumenosprezando sua mágoa e dor, mas você
estava finalmente feliz de novo e resolveu que deveria sofrer
. Não
entendo.

Fiquei quieto, não havia argumento coerente. Os meus


argumentos que faziam sentido em mim, não convenciam ninguém.
— Estouindo pra SantaCatarinasemana que vem, vou passar
alguns dias resolvendo os contratosde uma obra, você não quer
vir? — perguntei e ela me olhou.
— Não quer chamar a Jordana pra ir?
— Ela jamais aceitaria— falei rapidamentee sacudi a cabeça
— e não vou ficarbrincando com ela, a afastandoe querendo de
volta quando eu bem quiser.
— Até porque eu não acho que ela aceitaria— minha irmã
provocou — sua sorteé que ela é muito boazinha, não faz o perfil
de mulher que terminao namoro e sai por aí pegando geral. Se o
Gabriel que aprontoutodas comigo, está louco por me ver assim,
você iria morrer de tanto ódio.
— Pare de provocar , Chiara — eu falei impaciente — quando
ela resolver seguir em frente, eu não vou interferir
.
— Sei — ela me cerrou os olhos.
— Eu vou pra casa. Luísafez uma cena que eu preciseicortar ,
o clima aí estádos piores — avisei e ela deu de ombros, não tinha
interesseem participardo jantar
, de qualquer forma— se forviajar
comigo, me avisa.
— Acho que vou. Quem sabe não saímospor lá também, pelo
menos o louco do meu ex-noivo traidornão vai estar por lá
enchendo saco.
— Se eu o vir te enchendo, vou quebrarele na pancada —
prometi e ela deu um sorriso travesso.
— Em outrostempos,eu teimpediria. Mas vou adorarque faça
isso. Fred já deu uns socos nele por você.
— Por isso ele é o meu melhor amigo — brinquei e ela riu.
C 06
Jordana Testa

Comecei a fazerplanos, querendo adequá-los ao meu tempo.


Se eu voltasse para a faculdade agora, conseguiria terminaro
semestree se me saíssebem, teriaapoio para voltarno próximo,
depois que tivesse o bebê.

Eu estava exausta por terque trabalhar . Não era reclamação


sobreo trabalho, mas sobreo sintomado bebê. Me dava mais sono
que eu jamais imaginei poder sentir
, fome, vontade de comer muito
e em seguida enjoos. Fora o monte de sensações e sentimentos
que me dominavam.

Estava feliz por conseguir levar isso com mais frieza


, não
querer depender do apoio de Edu. Talvez se não fosse Luísa
enchendo meus ouvidos e me alertando,ele saberiae ter
íamosque
enfrentara situação,mas era melhor que eu fosseprecavida, não
queria correro risco de ele pensar que poderia tomar alguma
decisão por mim. Ele saberia quando fosse necessário.

Eu tentavamantera cabeça no lugar, mas contrabandeara


gravidez e escondê-la de todos me deixava tão maluca... Mamãe,
eu poderia jurar que já desconfiava de algo. Porque eu não
conseguia ficarsofrendocomo no começo, lamentando o fim. Eu fui
reduzida ao papel de mãe do meu filho e, por isso, todasas minhas
decisões pareciam ser pelo bem dele. Já estava com nove
semanas, nem sinal de bebê ainda, mas eu não tinha pressa.

Me pegava ansiosa para descobrirse seriaele ou ela, as vezes


me pegava com vontade de terEdu por perto,mas não poderia
vacilare começara terestres ses que poderiam me fazeralgum mal.
Eu poderia ser romântica,ingênua e apaixonada, mas eu sabia dos
limites para tudo. Apesar de parecerestarfazendo uma tremenda
loucura,era isso ou sofrera possibilidade de serinsultadae coagida
a abortar. Havia também uma pequena chance de eu estarsendo
equivocada, mas não poderia arriscar
.

Quando eu era mais nova, minha avó costumava dizer que


uma mãe fariaqualquer coisa pelo seu filho, e já sabia que isso era
totalmenteverdade. Poderia estarcometendoum grande erro,mas
eu errava tentando acertar e era tudo pelo delebem.

Em uma noite dessas, sonhei com o bebê. Comigo o


segurando, foi tão gostoso, como um carinho na alma. Me peguei
pensando se eu teriapreferênciapor menino ou menina, mas eu
não tinha. Poderia até mesmo pensar em nomes para as duas
opções.

Esperava conseguirlevar o segredo até pelo menos as quinze


semanas, segundo o meu médico, depois disso, era provável que
ele resolvesse dar as caras. Mas barrigão mesmo, eu poderia
esperarlá pelo sétimo mês. Me pegava ansiosa, tão familiarizada
com a novidade tão inesperada.
Mari já estavaficandoirritadacomigo, por não querersair com
ela e o pessoal. Ainda mais agora que Chiara estavasolteira,seria
uma ótimacompanhia para mim. O que eu duvidava muito,a mulher
costumavafrequentar casas de swing com o noivo, solteira,deveria
aprontarcoisas que eu nem conseguiriaimaginar. Além do que, eu
não queria ficarvulnerável ao Edu. Distânciaera o melhor remédio.
E eu sabia disso.

Eu estava olhando a fotodo bebê, a coloquei dentrode um


livro para escondere não correro riscode ser pega. Era tão louco,
esse serzinho que sequer existia já era dono de todas as minhas
decisões, até as mais malucas. Me assustei quando notei minha
mãe escorada no arco da porta, me olhando curiosa.
— Que foi? — perguntei confusa.
— Estranhote ver de volta sempre em casa — ela comentou.
Fechei o livro e me sentei direito — você está bem?
— Estou — falei — não acho que seria legal sair com as
meninas, sendo que agora os amigos de Eduardo estão sempre
com elas. Melhor evitar
.
— É...
— Tem algo pra contar?— pergunteicuriosa, mas ela negou
com a cabeça e colocou uma mecha do cabelo para trás.
— Animada pra voltar a estudar?
— Depois de tantotempoparada, é meio estranho.Mas irei me
acostumar , vai ser bom fazer isso — eu falei, suspirando e me
arrasteipara a beirada da cama, para me levantar— vou pedir uma
pizza, vai querer escolher algum sabor?
— Pode escolher — ela falou — vou tomar um banho.

Mari me enviava informaçõ


es sobre uma viagem de Edu e
Chiara para Balneário Camboriú, Fred e ela os encontrariamno final
da semana, Edu havia ido assinaralguns contratos de alguma obra,
não quis me aprofundar . E comecei a me irritarcom ela, estava
parecendo com a mãe dele, achando que eu deveria ficarpor perto,
querendo que ele enxergasse o quanto me ama. Eu não seria a
próxima Luísa da vida dele. Mesmo que fôssemosterum filho. E
sendo muito sincera, até mesmo egoísta,eu via o bebê como
apenas meu, e sentia muito que ele não tenha me feitoconfiarao
ponto de ter coragem para contar e ficar segura.

Eu entravana décima segunda semana no próximo sábado,


estava mesmo ansiosa para a próxima consulta, para o ultrassom
morfológico.

No sábado, para comemorar que eu estava definitivam


ente
saindo do tempo em que as chances de abortoespontâneo são um
pouco altas,eu saísozinha pela manhã e fuidar uma voltana praia.
Tomar um pouco de sol seria bom, eu pensei. Li na internetque a
próxima ultrass
onografiaseriaa crucial,onde veríamostudosobreo
bebê.

Enquanto caminhava, pensava que ser mãe solo nunca esteve


nos meus planos. Eu queria mesmo o cara perfeito e um
relacionamento perfeito. Mas teria que dar conta.
Algo começou a me incomodar, querendo que Eduardo
soubesse logo, agora ele não teriamuito o que fazer
, mas eu ainda
tinha medo. Parei para compraruma água de coco e me senteiem
uma das mesas. Peguei meu celular, vendo logo as mensagens da
Marina.

“Você estáme irritando.Não fuieu que termineicom ele, e não


sou seu que vou atrás dele.” — respondi secamente.

“Dois orgulhosos... Assim fica difícil ajudar


.”

Depois, como ignorei o assunto anterior, ela mostroufotoda


casa. Uma delas, propositalmentemostravaEdu, vestido apenas
numa bermuda e exibindo esse corpo delicioso dele. Cresci a foto,
focando apenas nele, todo bronzeado, tonificadoe enorme. Eu
sentia falta de sexo, talvez fosse um problema hormonal da
gravidez, mas eu sentia mais falta do que em toda a vida.

Voltei para casa antes que o sol começasse a ficar forte demais
e eu virasseum camarão. Tomei um banho e pela primeiraanalisei
o meu corpo. A diferençaera mínima, tão mínima que poderia ser
confundida com um “eu comi demais”.

Me troqueie mamãe estava na sala. Fui pegar um copo com


água, quando ela começou a falar:
— O Pedro, filho do Arnaldo, engravidou a namorada — ela
comentou tranquilamente,mas me assustei e me engasguei feio
com o gole de água. Ela se virou para mim, confusae eu ergui os
braços, tentandopararde tossir . Minha mãe ia até mesmo vir me
ajudar, mas me recuperei antes e tomei uma respiração profunda.
— É mesmo? — pergunte i surpresa — e como estão as
coisas?
— Ele ficou assustado,mas o pai deu apoio, vai ficartudobem.
A pena é que a menina tem só dezessete anos... É um baque, né?
— É... — falei — vou aproveitarque estou de folga hoje e
repassar algumas matérias...
— Está gostando?
— Estou — falei, mas não era verdade. Eu gostava do curso,
mas precisava pegar o ritmo.Além do que, eu ficavabem cansada e
sonolenta. Mas valeria o esforço.

Não queria ir à consultasozinha, mas não sabia como contar


para minha mãe sequer. Vovó iria surtar
, eu imaginava. Iria me dar
tantossermões, senão morrer de desgosto,bem na minha frentee
me culpando. Depois, ressuscitariae amaria o meu bebê? Iria
passar o resto da vida odiando Eduardo, era a minha maior certeza.

Eu estava já em frenteà faculdade, esperando minha mãe,


quando ele estacionou. Meu coração se comprimiu inteiro, no
segundo seguinte tive medo de estarse envolvendo com alguma
outra e ter vindo buscá-la.

Ele havia falado comigo mais cedo, mas eu não respondi. A


culpa me corroíapor estaromitindo algo tão importante,mas o
medo ainda era tão maior que a vontade de contarlogo. Não queria
que pensasse que fizde propósito,ou que queria dar um golpe nele,
apesar de achar essa história de golpe a maior furada.Foquei o
rostona tela do celular, fingindo não vê-lo, mas só pelo perfume,eu
o sentiachegando perto.Fiquei tremendode nervosoquando ele se
sentou ao meu lado, tudo parecendo se estrangularpor dentro,a
respiraçãoacelerandoe eu poderia começara chorarcopiosamente
a qualquer segundo.
— Queria falarcom você — ele falou suavemente,mas apertei
a mordida, eu jamais poderia ou conseguiriafalarcom ele e mentir
descaradamente— por favor , Jordana... Eu sei que fui um escroto
sem noção, que eu mereço o seu desprezo, mas... Eu só queria
poder me explicar
.
— Eu não quero que você se explique — eu falei baixo, mas a
voz começou a travare eu parei. Respirei devagar, sem coragem
para olhá-lo e continuei olhando para a frente— eu não vou ser o
seu brinquedo. Aquela que está sempre te esperando. Hoje estamos
bem, mas amanhã talvez eu tenha que entenderos seus traumase
sofrer a sua ausência... Eu não quero, Eduardo.
— Sonhei com você... — ele falou baixo e com esse tom de
voz manso. O olhei rapidamente — que estávamos juntos... Sinto
tanta falta, que...
— Não pensou duas vezes antes de sumir, me deixar
preocupada e aparecer me descartando. ocê
V não é esse cara. Está
sentindofaltaagora, mas daqui a pouco vai se cansarde novo — o
interrompi,sendo grossa— eu não quero mais ficarcom você. Não
tenho a menor condição de acompanhar o seu ritmo— me levantei
ao notaro carroda minha mãe e andei apressada,não quis esperar
que ele dissesse algo mais.
Minha mãe perguntou sobre Edu ali, ao meu lado. Como
ignorei, começou a perguntar sobre a aula. Eu fui contando, era uma
aluna aplicada, esforçada.Não tiravaas melhores notasdo mundo,
mas tirava boas notas.Além do que, o cursologo começariaa ficar
mais intensivo, eu teria que me preparar para isso.

No caminho, passamos por um outdoorde sorvetee eu fiquei


com tanta vontade, que fiz mamãe passar comigo para comprarmos.
Desci para pegar e ela me esperou no carro.

Já em casa, eu tomei um banho e coloquei um pijama. Voltei a


namorara fotoda primeiraultrassonografia,
estava viciada em ver.
Agora o bebê já devia estar maior. Pensei que se mamãe se
casasse logo, ele poderia terseu próprioquarto,do contrário,eu
poderia tirara cômoda e uma poltronarosa retro,para colocar o
berço. Tudo se ajeitaria.

Como estava cansada, não demorei a pegar no sono. Estava


tentandoacordarcedo todos os dias, assim eu conseguia dar uma
volta na praia, tomaruma água de coco, tomaro sol da manhã.
Sabia que não me faria mal e emocionalmente me fazia tão bem.

Quando acordei naquela terça-feira,talvez por tê-lo visto,


sonhei transan
do com ele a noite toda. Tanto que acordei suada e
dolorosamente excitada. Se tentei acabar com essa agonia
sozinha? Sim, eu tentei.Mas nada adiantou, eu continuava com
vontadedele.
Continuei minha rotinada manhã, me deixava mais disposta
também. Comecei uma das atividades da faculdade, mas teria
alguns dias para entregá-la ainda.

Fui para o restauranteno horário de sempre e exerci meu


trabalho,mas toda hora ficava pensando em Edu, querendo sexo
com ele. Eu estava começando a jogar a culpa de todos os meus
excessos na gravidez.

Havia coisas que eu não fazia, como comer comidas cruas,


beber refrigerante,
álcool e tudo que não se fosse recomendado
para gestantes
. Se eu não estivesse grávida, poderia ficarcom
outro. O que parecia uma piada, como se eu fosse mesmo
conseguir sair por aí transando com qualquer um.

Ànoite, a minha aula acabou mais cedo e eu voltei para casa,


morrendode fome.Minha mãe iria apenas me deixar e seguirpara a
casa do namorado, o que seria bom, também. Eu estavaadorando
ficar sozinha com o meu segredo. Parecendo uma maluca, eu sei.

Estava ainda no elevador, quando meu celular começou a


tocar
. Por um momento, imaginei ser a Marina, mas não era. Eu
ignorei o friona barriga,iria ignorar
, mas um impulso cego me fez
atender .
— Oi — falei baixo e friamente.
— Não quer sair pra jantarcomigo? — Eduardo perguntoude
uma vez e eu revirei os olhos — só pra conversarmos... Por favor
.
— O que você quer? — perguntei inconformada — não
encontrounenhuma outrapra fazeras suas vontadese decidiu me
encher o saco?
— Você é tão má comigo — ele falou sorrateiro,querendo
baixar a guarda para me amolecer — eu to tão condenado de
saudade sua, que eu nem consegui dormir direito.
— Nossa, depois de quase três meses você resolveu que sente
falta.
— Antes eu me sentia indigno de te procurar— ele falou, me
fazendo rir
.
— Você é tão cara de pau — eu falei incrédula.
— Sonhei que estava beijando seu corpo todo... — ele
começou a falar
. Eu deveria ficarcom raiva, ele queria sexo, apenas
isso — e principalmente naquele lugar que você mais gosta — ele
falou mais docemente e eu engoli duro, estava me deixando tão
louca só de pensar. Não por dizer
, mas por eu estar tão necessitada.
A boca chegou a salivar. Edu continuou fazendo promessas, me
deixando molhada de tesão.

Me senti impotente,eu já havia ouvido por aí que grávidas


ficammais intensivaspor causa dos hormônios, mas não que fosse
tão incontrolável. Quando vi, já havia dito que queria.

Tentei me condenar por estarescondendo algo tão crucialdas


nossas vidas, mas ele pediu por isso. Me olhei no espelho, os seios
estavam maiores, bem inchados, o que eu achava lindo. Mas o resto
era completamentedisfarçável.Pelo menos me fiz acreditarque
sim.
Se em um universo paralelo Eduardo fosseadorara gravidez,
jamais iria me perdoar por esse momento.

Ele chegou tão rápido que eu tinha certezaque já estava por


perto.O encarei séria ao abrir a portae ele me puxou para um
abraço, que eu não consegui ceder. O coraçãolatejava de nervoso
e de medo, eu não deveria terdado essa brecha. Me sentia tão
culpada.

Ele havia saídotardeda empresa, estavaem uma reunião que


durou horas e estava com fome, assim como eu. Pedimos uma
massa deliciosa que ele adorava e eu o olhava, que agia como se
estivesse mesmo tudo bem. Não estava tudo bem, estávamos
apenas fingindo para podermos transar
. Ele fazendo isso por achar
que eu não cederia apenas por ceder, afinal sabia que eu não
levava sexo na brincadeira. Dois tão enganados um pelo outro.

Ele quis saber sobre a faculdade, se eu estava gostando, não


mencionou o fatode vovó terido lá desfazerseus pagamentos.
Ainda bem. Quando o jantar chegou, me lembrei de ir ao meu quarto
verificarse não havia nada sobre a gravidez exposto, mas eu
mantinha tudo bem guardado, sempre.

Comemos e ele contava sobre os avanços dos últimos


contratosaparentemente milionários que fechou nas últimas
semanas. Eu dava sorrisosamarelos para ele, não sabendo como
estavaconseguindo estarfre
nte a frentecom ele e não dizer nada.
Mas seria tão pior contare teruma péssima reação. Quando o
assunto acabou, ficamos nos encarando no sofá, até que ele
chegou mais perto e inclinou o rosto para o meu. Estava tão
nervosa, me sentindo tão corrupta.

Começamos a nos beijar, ele queria ser carinhoso, mas eu


estava sensível de tesão. Cheguei para mais pertoe passei um
braço em volta do seu pescoço, a outramão, levei logo para o meio
das pernas dele. Ele arquejou surpreso,eu era sempre mais calma,
o esperava vir primeiro.Quebrei o beijo e o olhei, mas voltei e dei
um beijo duro em sua boca.
— Vamos pro quarto?— sussurrei.Ele pareceu meio confuso,
me cerrouos olhos por um momento, mas antesque fizesse algum
drama, o beijei novamente.

Me levantei e fui na frente.Ele chegou logo depois, e acendeu


a luz que eu deixei apagada. Eu me virei para ele e apaguei a luz.
— Como quiser— ele faloue eu sorrinervosa.Voltamosa nos
beijar e eu empurrei a porta. Não estava um completo escuro
porque o blackoutda cortinaestavaaberto.Comecei a desabotoara
camisa dele, fomos trocando carícias enquanto tirávamos a roupa.

Havia uma voz gritandoque eu estava terrivelmente suja ao


fazerisso, transarcom ele omitindotudo,mas eu tinhaoutraopção?

Não queríamo
s nos desgrudar
, nos livramos rapidament
e das
roupas e eu caí deitada na cama. Edu veio pelo meio das minhas
pernas, parou com a cabeça em direção ao meu sexo e deu uma
lambida que me pareceu macia e áspera ao mesmo tempo. Ativou
todos os pontos sensíveis em mim. Ele passou a língua macia
devagarinho pelo clitórise eu gemi melodiosa, me abri toda e joguei
a cabeça para trás.Depois deu uma chupadinha tão suave que eu
ondulei, quase gozei bem ali. Ele subiu pelo meu corpo, e eu nos
virei na cama. Beijei a boca dele, o pescoço enquanto acariciavaos
testículossuavemente com a mão. Ele arquejava e estremecia.
Desci os beijos pelo seu corpo inteiro, até chegar ao membro
excitado. Ele gemeu fortequando o coloquei na boca, estava
inquieto. Esticou uma mão e acendeu o abajur, deu um arquejo
melancólico e afundou uma mão no meu cabelo. O levei o quanto
consegui e fiquei brincando com ele, o levando ao limite do prazer
.
Parei para não acabar com tudo agora e Edu foi pegar a camisinha.
Conserteios travesseiros para me apoiar neles e apaguei a luz do
abajur. Ele voltou para a cama e veio, se colocando por cima e
cobriu meu corpo com o seu. Abri as pernas para ele e o abracei.
Ele estremeceu ao me penetrare tombou a cabeça para frente,
depois procurou pela minha boca. Nós dois demos um gemido
longo, era tão delicioso senti-lo ir e vir, assim nem muito rápido nem
devagar demais. Eu estava tão lubrificada que ele deslizava
facilmente,chegava a estalaros barulhos dos nossos sexos em
contato.Ele resfolegoue desencontrouo beijo, apoiou o corpo nas
mãos e olhou para nós dois lá em baixo, não que desse mesmo
para ver. Edu começou a vir mais rápido, dava gemidos ansiosos e
eu me sentiaestranguladade tantoprazer. Dei um gritoalto e cheio
de agonia, ele olhou para mim e deixou beijou meu seio. Tentei
contermeu barulho, mas estava toda melecada lá em baixo, tão
perto do orgasmo que parecia vir pronto para me matar . Ele
choramingou junto comigo, quando desci uma mão para o meio de
nós dois e acaricieimeu clitóris,me comprimindointeirasob ele, me
contorcendo.O aperteicom forçae griteidesesperada,como se não
pudesse mesmo aguentartoda essa onda. Ele como sempre, me
segurou firmee me fez aguentartudo, até o último espasmo de
prazer .
Edu continuoumetendo,atéafundaro rostoem meu pescoço e
ficar
, gozando intensamente para mim.

Ficamos grudados na cama até que tudo se neutralizasse.Ele


procuroupela minha boca, demos um beijo cansado e carinhoso,eu
estava toda trêmula e exausta.
C 07
Eduardo Toledo

Eu sabia que era um cara privilegiado, só por terdireitoa essa


visão dos deuses. Jordana devia estarexcitada e querendo sexo
para caralho, porque estava tão desinibida e tinha orgasmos que
pareciam ser mais intensosdo que já vi antes.Agora de manhã, ela
tinha as mãos emaranhadas no própriocabelo e rebolava no meu
pau. Estávamos sem camisinha, mas estavatão gostosoque quem
iria se importa
r? Inclinei o corpo para chupar o seio dela, mas ela
estava frenética,vinha rápido, se esfregavatoda em mim e me
empurrou de volta para os travesseiros.

Tudo perdeu o sentido quando ela parou do nada e se


levantou,virando de costas.Segurei meu pau, que soltouum pouco
do líquido e eu limpei, mas estava todo lambuzado da lubrificação
dela. Ela veio de costas, me matando – sim, me matando – e
inclinou o corpo para frente.Espalmei minha mão em sua nádega,
inclinei o rostopara o lado e tudo que importavaagora era a boceta
engolindo meu membro, indo e vindo. Estava tão molhada que
escorreuuma linha da excitaçãono meu membro que latejava, as
veias todas saltadas. Meus olhos se reviraram.Acariciei o ânus
pequeno e rosado, Deus, essa mulher iria me matarde tesãoessa
manhã.

Abri a boca em um gemido mudo e tranquei a respiração


quando senti uma contraçãofracano meu pau, ela choramingou e
veio com força, rodando o quadril, fiquei inteiro arrepiado. Ela
continuourebolando, as mãos apoiadas no colchão e ela de costas
para mim. Eu gemi asperamentequando ela estremeceue começou
a ondular, se havia visão mais perfeitado que ela no meio do
orgasmo, eu não conhecia, sinceramente.

Meu cérebroexplodiu, literalmente,tudoestateloupor dentro.A


explicação que eu poderia dar era quando a gente tá sonhando que
faz xixi e não consegue pararpara ir ao banheiro? Todo mundo já
teve uma experiência dessas, que na hora é maravilhoso, mas o
arrependimento vem depois.
Empurreitodo nela, nós dois descontroladose eu esporrava
com força, o orgasmo violento varrendomeu corpo todo, enquanto
ela também aproveitava seu momento.

Ela caiu deitada meio de bruços, meio sentada em mim,


nossos sexos ainda grudados. Dei um tapa leve em sua bunda, em
trezeanos de vida sexual ativa, eu não havia experimentadotantas
sensações tão maravilhosas como com ela.

Ela se arrastoupara nos afastar e se levantou,indo logo para o


banheiro. Tomei coragempara ir atrás,mas me sentiafraco,embora
tão saciado.
A abracei por tráse ela se virou de frente,me abraçando pelo
pescoço, demos um beijo rápido e ela puxou uma das toalhas
penduradas, saindo logo do banheiro. Terminei meu banho, iria ficar
com o cheiro do sabonetedela impregnado no meu corpo, sentindo
mais saudade ainda, sabia disso.
Jordana voltou para o banheiro vestida num baby-doll e jogou
as embalagens da camisinha da noite passada no lixo. Eu já havia
acabado o banho e olhei sarcástico para aquilo.
— Adiantou nada, eu fui um fiascosobre proteçãoessa manhã
— resmunguei. Ela me olhou pelo espelho e deu um sorriso fraco.
— Eu posso tomar uma pílulado dia seguinte,não se preocupe
— ela falou e revirou os olhos.
— Vai que eu mato a sua avó de desgosto,se você engravida
— eu tentei brincar
, para não nos colocar em uma discussão.
— Soube que você e Luísa estavam planejando — ela falou,
saindo do banheiro e eu fui atrás.
— Nunca. Se isso forimportante,nós sequer ficamos — eu
falei. Era uma mentira, porque aconteceu uma vez.
— Você acha mesmo que eu vou acreditarnisso, Edu? —
Jordana perguntou descrentee forçouuma risada — eu não me
importo,você faz o que quiser. Só não a quero no meu trabalho
fazendo uma ceninha. Eu só não perdi o emprego, porque a minha
avó é a minha patroae a minha mãe sócia dela — ela falou brava.
Fui até ela, a puxando para mim e beijei sua boca — e para de me
beijar.
— Não parecia estarbrava comigo enquanto me gozava todo
— eu provoquei e ela cresceuos olhos, incrédula — podemos nos
ver hoje de novo?
— Não. — ela falou e manteve o olhar no meu. Jordana
pareceu incomodada e tentouse afastar , mas a impedi — eu tenho
aula, trabalhoo dia todo,tenhoassuntospra estudar
. Não sou a sua
namoradinha desocupada.
— E vai voltara ser a minha namorada? — eu perguntei.Ela
negou com a cabeça, me encarando solidamente. Engoli amargo,
eu merecia isso. Não sabia nem explicar os motivos dela para ter
passado a noite comigo, devia estar querendo sexo mesmo.

Vestiminha roupa e ela se sentouà beirada da cama. O clima


entre nós ficou estranho, mas decidi não forçar
.
— Ainda temo colarque eu te dei? — pergunteie ela me olhou
confusa, depois negou com a cabeça.
— Luísapegou — ela falou, me deixando inflamado. Luísaera
essa mimada sem noção, que achava que podia passarpor cima de
tudo.
— Por que você deu?
— Ela disse que estavamjuntos,que não queria que eu tivesse
lembrançassuas. Achei que a deixaria segurae que ela me deixaria
em paz.
— Ela não tem limites— falei impaciente— me desculpe, não
sabia que ela estava te importunando.
— Acho melhor você ir logo — ela falou, se soltando
rapidamente e foi pegar o celular — daqui a pouco minha mãe
chega, não quero ter que explicar que você dormiu aqui.
— Se já não gostavam do nosso namoro antes, imagina
agora...
— Não vamos voltar— ela falou, querendo parecerfirme,mas
eu não iria desistir
.
— Eu mereço o seu desprezo, Jordana — falei desgostoso,
terminando de abotoar a camisa — mas eu não vou aceitar
.
— Vamos ver se daqui algum tempo você vai quererolhar na
minha cara — seu tom era cheio de escarnio e eu a encarei
confuso.
— Ficou com alguém?
— Seria motivo pra você ficar com raiva? — ela perguntou
debochada para provocar . Permaneci a encarando sério — não
fiquei com ninguém, ao contrário de você.
— Então não acho que tenha algo pra me fazerficarcom raiva
— eu falei convictoe ia até ela, que desviou — soube que minha
mãe te procurou.
— Sim, arrasadaporque você estavaagindo feitoum carr asco.
Seu pai foi o único feliz com o término.
— Não feliz com o término.Feliz com as fanficsde Luísa— eu
resmunguei e ela deu um riso indignado — eu fui um idiota
impulsivo, mas já me arrependi.
— Eu não sou sua mamãe, Edu — ela falou sarcástica— não
vou ficar aqui aturando você indo e vindo quando bem quiser .
— Não quer nem me deixar voltar ... — falei incrédulo — como
eu vou sobreviver sem você?
— Para de ser dramáticoe vai embora logo — ela resmungou
e eu respirei fundo.
— Não vou desistirde você — eu falei, mas ela me encarou
como se duvidasse.
C 08
Jordana Testa

Edu saiu pela portae eu a fechei,me escorandonela e respirei


fundo, aliviada por não precisar mais ficar encenando.

Eu e ele não poderíamoscontinuarnos vendo, eu não deveria


tersido tão louca em ceder para uma vontade carnal e impura. Fui
tão imprudentee egoísta...A culpa começou a me corro er, eu não
poderia ficaro condenando e brincandocom a caradele. Deveria ter
jogado mais nele, dito que Luísa avisou que se eu estivesse grávida,
ele me faria abortar
, deveria ter sondado sua reação.

O meu segredo começou a perder o sentido. Sabia que a


minha intençãoera apenas me protegere protegero meu filho, mas
e se eu estivesseerrada?Sacudi a cabeça e suspirei forteoutra
vez, eu não poderia me deixar levar por ele, tão inconstanteque se
mostrava ser.

Saí do restaurante à tarde,pouco antes da minha consulta.


Andava nervosa de um lado para o outro,enquanto esperava o
carro do aplicativo, porque eu não queria estarsozinha em um
momento tão importante.

Já no consultório, foi aquela coisa maluca: ver o bebê


mexendo, o coração batendo, a coluna formadinha...Eu segurei a
onda lá dentro
, mas quando saí e entreino táxi, comecei a chorar
,
tão emocionada, cheia de culpa e com tantomedo. Era tudo ao
mesmo tempo.

Queria começar a me prepararpara contarà minha mãe, para


depois estar mais segura sobre o que fazer em relação ao Edu.
Mesmo assim, guardei meu segredo por mais algum tempo.Os
enjoos eram bem rarosagora, o que eu adorava, e meu apetite
começava a voltarao normal. Mas o meu sono continuava absurdo,
e eu tinha que tentar driblá-lo, o que me deixava de mal humor
.

Comecei a ignorar Eduardo pelas semanas seguintes, não


estava em posição e nem em momento de lidar com sua
inconstância.E bem, uma semana foi tempo suficientepara quem
visse a minha barriga desconfiasse de algo. Vestida, passaria
batido, com certeza.Estavausando roupas mais largas, não queria
terque explicar. Mas eu já conseguia ver o bebê querendo dar as
caras.

Não consegui ficarna aula até o fim, naquela noite. Estava


inquieta,nervosa,pedi um carropor aplicativoe fuiembora. Quando
paguei e desci do carro,lá estava ele. Era como se eu estivesse
sentindo.O encarei, mesmo não tendo motivospara ignorá-lo, quis
fugir
, mas ele me alcançou antes.
— O pessoal está no apartamentode Fred, pensei que
quisesse ir — ele falou e eu parei, me virando para encará-lo.
— Iria ficar aqui me esperando até quando? — perguntei
desconfiada e ele deu um sorrisotravesso,dando de ombros —
sabe que eu não vou.
— Sua amiga está chateada por você tê-la afastado.Parece
até que está se vingando.
— Sério? Marina deveria entender que eu não ando com tempo
sobrando — eu resmunguei, e não estava mesmo. Talvez desse
para inclui-la no meu segredo, mas qual a chance de ela não contar
tudo ao Fred?
— Não vou te obrigar a me beijar, nem nada — ele falou,
erguendo as mãos em um sinal de paz e eu revireios olhos, era
muito cinismo dele dizer não me obrigar. Uma vez que sempre me
convencia.
— Eu posso guardaressas coisas? — perguntei— mas não
estou bebendo, acordo bem cedo amanhã.
— Pra?
— Pra correrna praia — falei confusa e ele deu um sorriso,
assentindo..
— Vou com você — ele falou, me fazendo reprimirtudo por
dentro.Como eu guardariao segredo com ele na minha cola? Ou
pior, e se eu contasse agora, como ele reagiria?

Eduardo subiu comigo, e ainda comentou sobre minha mãe


não estarficando em casa. Fui até o meu quarto para guardar
minhas coisas e troqueide roupa, vesti um vestido mais solto no
corpo e longo. Soltei os cabelos também e passei um pouco mais de
perfume. O que foi um erro, o cheiro doce quase me pegou.

Sobre mamãe não estar mais ficando em casa, eu


comemorava. Ter privacidade guardando esse segredo louco era tão
melhor, assim eu não precisava tertantoscuidados. E a pensar em
como ela apenas levava suas coisas e não a traziade volta, seria
uma questão de tempo para se mudar de vez. Ela tentavame
preparar
, achava que eu ficariachateada,e eu entendia muito bem
que não cabia a filhade vintee um –quase vintee dois –anos dela,
indo morarjunto com ela no apartamentodo seu novo namorado.
Além do que, eu só conseguia pensar nos pontos positivos, meu
bebê poderia ter seu próprioquartoe não só um berço alocado no
meu.

Eduardo não tentou nada comigo, mas o clima dentro do


elevador era tenso. Quando chegamos ao apartamentodo Fred,
notei os dois trocandoolhares significativose olhei para Eduardo,
que acenou para mim e eu fui em direção às meninas.

Chiara veio logo me oferen do um shot de tequila, Edu não


perdeu tempo em provocar essa fase descontrolada da irmã.
— Eu não acho que ela mudou — Fred falou, me trazend o um
copo que enchia com um vinho rosê.Eu dei um sorrisoamarelo, me
sentindoencurralada, mas peguei a taça— ela apenas estásendo
descontroladasolteira— quando ele falouisso, ela deu um beliscão
nele, daqueles que Marina dava toda vez que ele saía da linha.

Encostei a bebida nos lábios para não fazer desfeita, e


coloquei a taçasobre a mesa. Edu pegou um copo e se serviu com
uísque. Eu não odiava o cheiro antes, mas como ele se sentou ao
meu lado e o cheiro da bebida veio intenso em minhas narinas, eu
senti o arrepioácido da náusea. Nesse impulso, tenteibeber um
gole bem curtodo vinho, mas com a bebida na boca, segurei e quis
cuspir. Não teriacomo. Deus, que esse gole não faça mal ao meu
bebê. Engoli o líquido e a culpa se instalou.Pedi água para o Fred,
disse que estava com calor, mesmo que houvesse um ar
condicionado central deixando o ambiente agradável.

Eles pediram comida japonesa, o que era uma merda, meu


médico havia pedido para evitar , não comer sem saber se foram
bem preparadas e higienizadas. Esse testefoi bom, até que todos
soubesse sobre a gravidez, não dava, simplesmentenão dava para
sair com eles.
Edu tentava ser carinhoso comigo, querendo me ganhar
obviamente. Para ele era tão fácil ser assim. Ele cometia seus
impulsos, errava, nos fez sofrere como se arrependeu,achava que
era só voltar
.

Me levantei para ir ao banheiro e Mari veio atrás.Lavei as


mãos apenas e molhei um pouco a nuca, querendo esfriartodaessa
tensão. Quando saí, Mari me puxou para o final do corredore me
colocou em sua frente.Meu coraçãocomeçou a acelerarporque ela
me analisava.
— Por que você sumiu? Recusou todosos meus convites,não
saiu comigo nem pra tomar um sorvetee agora está aqui com
Eduardo? Vocês voltaram? — eu fiquei tonta com tantas perguntas.
— Está tudo corridocom essa rotinade terque estudar, não
tenho tempo pra quase nada... E Eduardo apareceu, eu nem sei
porque vim com ele, não voltamos e eu não acho que vamos.
— Não vai perdoá-lo? — ela perguntoue eu franzio cenho, a
questão agora não era se eu o perdoaria, mas se ele iria me
entender, aceitar e quererparticiparda gravidez. Eu sabia como ele
tinha um ego frágil e se magoava por pouca coisa.
Mari foi ao banheiro e eu voltei para a mesa, o assuntoda vez
era exatament e gravidez. Fred ria de como Chiara planejava um
bebê para o próximo ano. Edu estendeu a mão para mim, agindo
como se realmenteestivesse tudo bem para nós. Dei um sorriso
sem graça e aceitei o gesto, fui puxada para pertodele, que me
abraçou pela cinturae deu um beijo na minha barriga.Sabia que foi
inocente, mas as pernas ficaram moles, eu fiquei gelada.
— Acho muito difícilele deixar você — Chiara falou para mim,
enquanto seu irmão me abraçava. Olhei para ela, tão perdida com
tudo, o peito subia e descia com a minha falta de reação.
— Estavam falando de que? — Mari voltou, indo se sentareu
seu antigo lugar
.
— Primeirosobre como Chiara poderia estargrávida em um
momentodesses — Fred falou, mas olhou para a prima e cuspiu um
riso — mas Deus foi bom pra ela, imagina estargrávida daquele
traidor
.
— Ninguém achou graça, Fred — ela falou desgostosa e bebeu
um longo gole da sua bebida — mas depois falamos de como Edu
não consegue desgrudar da Jordana.
— Imagina se ela engravidasse — Mari falou cheia de
sarcasmo, ela e Fred riram. Aparentemente,a históriade aborto
havia sido superada. Minha pressão pareceu ir aos meus pés, eu
fiquei tão nervosa que nem sei como voltei a me sentar
. Edu negou
com a cabeça e olhou para mim, eles não tinham limites. Peguei
Chiara nos olhando, mas ela deu um sorrisofracodirecionado ao
irmão.
— Que conversa chata — falei, finalmente.
— Vai dizer que nunca deram uma escapulida? — Fred
perguntou, servindo mais vinho para todo mundo. Minha taça
permaneciaintacta,mas mesmo assim, ele colocou um pouco mais.
Encarei para Edu, ele sabia que eu odiava esses assuntos. Ele
voltou com o seu copo de uísque para mesa, antes de começar a
falar:
— Já, algumas vezes. Mas nunca deu em nada — ele falou
tranquilamente,tão enganado. Eu sinceramentenão sabia em que
momento nós invertemos os papéis e eu me tornei a vilã.
— Mas e se desse? — Chiara perguntou,nos lançando um
olhar cheio de malícia.Edu olhou para ela, provavelmentese sentia
encurralado,mas não tantoquanto eu. Eu suava, a nuca parecia
formigar
, estava prestesa explodir. Meu coraçãobatiatãoacelerado
que eu precisei esconder as mãos sob a mesa, tremendode tão
nervosa. Quis fecharos olhos com força,com medo da resposta
dele, o sentiapoiar o braço no encostoda minha cadeira, como se
isso nos aproximasse.
— Se desse, teriadado. Ia fazer o que? — ele falou e deu de
ombros, logo voltou a beber mais do uísque.
— Imagina Edu sendo papai — Mari quem provocou.Deus, por
que eu precisava passar por isso?
— Se acontecer, quero que venha uma menininha — Chiara
falou — imagina com os traçosda Jordana e os olhos de Edu? Eu
seria uma tia muito babona.
— Sua mãe seria uma avó muito babona. Certeza que a
criança teriaum quartona casa dela e — Fred enfatizou— uma
brinquedoteca.
— Que conversa mais insuportável— eu disparei, sufocada
com tudo isso.
— Você toma algum anticoncepcional? — Chiara perguntou.
Eu estava no limite, queria sair chorando por aí, era tão nítidoque
eu fiz tudo errado. Dessa vez, Eduardo negou por mim — entãonão
é impossível, é?
— Pare com essa conversa, ela fica desconfortável.
— Pelo menos não é você desconfortável— Fred falava, se
divertindo — há um tempo era tão irredutível quanto a isso.
— Há um tempo, as opções de mãe eram Luísa— Chiara falou
incrédula, fazendo os outrosdois rirem.Eu e Edu nos olhamos por
um segundo e ele negou com a cabeça. Fred já era bem
descompensado, mas Chiara era tantoou pior, então os dois juntos
eram insuport
áveis. Digo insuportável porque esse assunto me
matava por dentro.

Comecei a realmenteme sentirindisposta,então acharam que


foi por causa dessa conversa e mudaram de assunto. Pedi para
Eduardo me levar embora antes que ficasse tarde, assim eu
passaria o dia irritada e cansada amanhã.

Quando estávamos sozinhos no carrodele, eu queria chorar .


Toda vez que o olhava, me sentia tão culpada. Eu deveriatersido
mais corajosa, deveria ter enfrentado tudo de frente. Ele não poderia
me sequestrar e me forçar a tirar o bebê. O que eu havia pensado?

Edu tentouum beijo quando chegamos, queria descer para


ficarcomigo, mas eu precisava ficarsozinha, precisava pensar,
encontraruma maneira de montar esse quebra-cabeça do jeito
certo. Eu iria decepcionar não só a ele, mas todo mundo.
C 09
Eduardo Toledo

Descobrirsobre o vício de Ravi foi uma surpresa.Ele insistia


em não falar conosco sobre isso. Em um dia desses, quando
saímospara almoçar eu, ele e Fred, eu ia pedindo um drink e meu
primo barrou,trocamospor água com gás. Ravi ficou nitidamente
incomodado, mas não disse nada.

Queria até mesmo poder brigarcom ele sobre as noites que


teve passando com Chiara, porque eu era ciumentoe protetor
. Nos
últimos anos bem menos, e depois que ela esteve naquele
relacionamentocom Gabriel, nos afastamosainda mais. Mas eu
protegiaminha irmã de homens como ele. Além do que, ele não
estava com a amiga das meninas? A Denise? Mas não havia nem
clima para isso, para sermão. O cara devia estarenfrentandouma
barradifícil.Além de admitiro vício, tinha todo o esforçoem não
poder se deixar levar
.

Não havia essa de vou beber socialmente, porque não iria


parar
. Ou o vai beber somente nos finsde semana. Ou não vai usar
drogas todo santo dia. Eu não era um dependente químico, mas o
pouco que eu poderia associar era à dependência emocional, ao
sofrimento.

Então, por esse lado, ele tinha sorte.Mas Chiara não iria me
ouvir. Eu já fui muita coisa erradanessa vida, já apronteie errei
muito, mas não aprovava e muito menos apoiava traição.
— Como estávocê e a Jordana? — Fred quem perguntou,mas
dei de ombros. Jordana estava estranha.Não achava que ainda
estivessecom raiva de mim, nem parecia estarfazendo joguinhos
para me torturar–e eu merecia –,mas não queria simplesmente
voltar
. Havia dias que estávamos próximos, outrosque ela sequer
me respondia. E eu permanecia aqui, esperando.

Não terencontradoo tal Gael e buscar dele alguma resposta


amenizou tudo um pouco. Eu achei melhor deixar essa históriapra
lá. Não valeria a pena condenar Bianca pelo seu erro.Mas jamais
entenderiae aceitaria.E não valeria a pena me condenar também.
Mesmo que queimasse pensar nesse assunto, eu teriaque lidar
com ele. Como mamãe havia dito, se eu estava feliz, iria remoer
algo tão velho, que já causou tantosofrimentopra que? Eu amei
aquela mulher, talvez tivesse perdoado, talvez não, mas eu não
poderia ficar com perguntas que jamais teriam respostas.
— Mari também tem a achado esquisita — ele comentou —
mas acho que tem a ver com o namoro da mãe, talvez dê em
casamento.
— Não acho que isso a pertu
rbaria— eu faleio óbvio, Jordana
era complacentedemais, boazinha demais para se opor à felicidade
da mãe.
— Você estáesse tempo todo atrásdela e nem estãoficando?
— Fred voltou a perguntar . Era óbvio que por não conseguir
respostas de Marina, iria querer arrancá-las de mim — está
mentindo pra mim?
— Não estou mentindo, Fred — resmunguei — se ela
quisesse, estaríamos, mas não estamos.
— Acha que ela te superou, cara? — ele perguntou
preocupado, como se analisasse a situação.A perguntaveio como
uma facada e o encarei.
— Se superou, você mereceu — Ravi falou, negando com a
cabeça — pelo que eu soube, você chegou do nada e term inou com
ela. Imagina se ela não quiser voltar mais, cara?
— Vocês são muito fofoquei ros — eu falei irritado,não queria
nem pensarnessa possibilidade, doíademais — se você estácom a
Denise, estava saindo com a Chiara pra que? — dessa vez, Fred
começou a rir .
— Você acha mesmo que a Chiara vai sofrerna mão dele,
Edu? — ele perguntousarcástico— do jeito que ela anda solta e
louca, vai pegar muito amigo seu ainda.
— Eu não quero falar disso.

Fred ficou remoendo quando ela era mais nova, a dor de


cabeça que dava por aprontar
, mas eu não iria pensar nisso.

Quando voltamos para a empresa, Cássia avisou que Luísa


estava em meu escritório.A ouvi rirquando dei a volta e entreino
elevador. Não iria, em hipótese alguma, dar espaço para Luísa de
novo.
C 10
Jordana Testa

Minha mãe me olhava como se já esperassepor algo grave, eu


tinha as fotosda última ultrassonografia
que fiz nas mãos, estava
nervosa, mas quando entrei na décima sexta semana, parecia
impossível usar uma camiseta e ninguém notara barrigasaliente.
Estava uma graça, mas ao mesmo tempo em que eu queria
aproveitaro momento, me sentia amedrontadae culpada. Eduardo
estava tão amigável, sendo o cara perfeitode quando não está no
meio de uma crise existencial.

Eu me massacrava sobreterfeitotudoerrado.Poderia culpara


Luísa, mas adiantaria? Eu caí na pilha errada dela, fiquei
apavorada, a culpa então era toda do Eduardo. Ele nos trouxepara
esse ponto atual. Não confiei em ninguém, tive medo de não ter
meu filho. Ou filha. Eu tinha um pressentimentosobre ser menina,
havia sonhado com Edu segurando uma menina, um sonho tão
bom.

Queria acreditarque eu contariapara ele, que ele entenderiae


ficariatudo bem, mas o conhecendo, eu sabia que não poderia
esperar por isso.
— Há algumas semanas — eu comecei, na verdade há três
meses e meio eu descobri — eu descobri uma coisa — falei
devagar. Ela já devia imaginar, me encarava séria, esperando.
Engoli pesado, a voz querendo embargar
, mas pigarreei e respirei
fundo.
— Descobriu uma coisa — ela incentivou. Eu parei de andar
em sua direção e fechei os olhos por um segundo. Minha mãe se
levantou no mesmo momento em que comecei a dizer:
— Mãe, eu estou grávida — falei rápido e asperamente.Ela
não soube o que dizer, obviamente. Nós nunca tivemos uma
conversasobresexo ou proteções,nem nada pertodisso. Entãoela
não saberia o que me dizer agora. Ela voltou a se sentar, chocada
com a informação.
— É sério? — perguntouum tempo depois, um longo tempo,
diga-se de passagem.
— É sério — confirmeimais baixo e fui me sentarao seu lado
— descobri há algumas semanas, quando eu e Edu terminamos.
— Esse tempo todo? — ela perguntouexasperada, mas se
conteve— por que não me contou?Foi por isso que term
inaram? —
neguei com a cabeça devagar.
— Não, ele não sabe ainda.
— Como ele não sabe? — ela perguntou, parecendo
impaciente. Cocei um olho, sem saber como explicar tudo, ela não
aceitariaos meus motivos, estava tão na cara, mas mesmo assim,
comecei a explicar.
— Eu fiquei com medo, quando descobri. Aquela mulher, a
Luísa,me viu na farmáciacom o testede gravidez na mão e disse
que ele me fariaabortarassim que descobrisse. Achei que seria
mais seguro não contar— falei, mas as palavras se diluíam no ar,
ele não poderia ter tanto poder
.
— Mas ele precisa saber, afinalé o pai — mamãe falouincisiva
— um bebê dá trabalho...Meu Deus! E os gastos? Bebê é muito
caro. Você tem feitoum acompanhamento direitinho?Sabe se está
tudo bem? — ela desatou a perguntar
, chegando a resfo
legar e eu
esperei que se acalmasse.

Contei tudo que sabia até agora. Mamãe estava em choque,


não sabia nem como contarà vovó, nossa única certezaera que
odiaria Edu para todo sempre. Ela andava tão animada com a minha
volta às aulas, tantoque minha frequênciano restauran
te tinha se
perdido completamente, tudo para que eu pudesse focar nos
estudos.

Ela pareceu emocionada quando mostrei a última


ultrassonografia, onde o bebê já estava bem grandinho.
— O doutordisse que mexia muito, duranteo exame — contei
e ela me olhou, não sabendo nem o que me dizer.
— Você planejou isso? — perguntou,fungando e correuas
costasda mão no nariz. A encareiindignada e ela abanou a mão —
você não era ingênua ao ponto de não saber dos riscos.
— Não planejei... Mãe! — falei indignada e ela negou com a
cabeça.
— Já está feito — ela falou — quando vamos descobrir o sexo?
Se a sua avó souber, vai querer pagar por aquele exame que
descobre...
— Sexagem fetal — eu falei — mas é um exame caro, não
acho que seja necessário. Além do que, é certeza que vamos
descobrir na próxima ultra.
— Como vai contarpra ele? — ela perguntoue eu a encarei, o
medo me corroendoferozme nte — ele vai terque saber. Você vai
precisar de apoio.
— E se ele não quiser? — indaguei.
— Eu não o escolheria como pai dos meus netos, sabe que
esses tipões podem mudar de ideia sobre tudo a qualquer momento,
e acham que podem comprartudo que querem. Não à toa achou
que poderia pagar sua faculdade,menosprezando nosso esforço.E
para ele, eu sei que não foi ofensivo.Mas se ele participoudisso aí,
ele merece saber. O que ele vai fazercom a informação,não é
problema nosso.
— Não quero brigarna justiçapor pensão — falei rapidamente
e minha mãe riu, assentindo.
— Se ele não quiser ser um pai que dê amor, não vamos
querer nada dele — ela falou cautelosa — então teremosdois
bebês... Pelo menos você não engravidou aos dezessete.
— Mãe! — eu falei indignada, mas ela riu.

Naquela manhã, ela saiu para caminharcomigo. Paramospara


tomarágua de coco e encontramosa Marina, de roupa de ginástica
também. Ela parou e se sentou conosco, parecia cansada.
— Eu estavacom o Fred — ela contou— mas ele corremuito,
eu não consigo acompanhar.
— Logo ele volta e te encontra — eu falei.
— Eu vou indo, quero chegar mais cedo ao restaurante —
minha mãe avisou — juízo — ela falou para nós duas. Eu revireios
olhos e ela ainda deixou um dinheiro comigo, para pagar as águas
de coco.
— Você está diferente— Mari falou, me avaliando toda —
engordou, não foi?
— Que indiscreta, Marina — eu falei incrédula, nervosa.
— Edu está preocupado sobre você tersuperado ele — ela
falou, começando a rir— eu disse que não, mas Fred já acha que
pode teracontecido. Porque você não quer mais ficarcom ele. E
ainda disse que foi bem feito, porque Edu fez tanta merda, né.
— Mari... — eu reclamei — eu e Edu não vamos ficar juntos.
— Eu sei que ele foium idiota impulsivo, mas olha... Eu no seu
lugar daria uma chance pra ele — ela faloupresunçosa— às vezes,
tudo que a pessoa precisa é de uma segunda chance.
— Eu dei uma segunda chance. Dei sem pestanejar , só aceitei
e fiquei com ele, e ele me largou — falei enfática.
— Tudo bem... Então você o esqueceu — ela falou entediada.
— Estou grávida — eu falei, quase a interrompendo.

Marina virou com tudopara mim, se engasgou com o ar e ficou


sem cor. Eu quase pensei que ela morrerianesse momento,
engasgada com a minha notíciainesperada. Ela ergueu os braços,
os lábios foramficando roxos e eu fui socorrê-la,batendo em suas
costas,eu não sabia mesmo o que fazer
. Num passe de milagre, ela
conseguiu se recuperar e foi parando de tossir
.

Sabia que queria me fazermilhares de perguntas,mas Fred


nos encontrou.Sem freiocomo era, também notou meus quilos a
mais. E nem era isso, eu estavamais inchada por contado bebê. As
bochechas um pouco mais rosadas, havia uma carga hormonal
muito forteem mim, para gerar essa criança. Tudo mudou. Os
quadris alargavam, os seios enormes. Mas meu peso estavaótimo,
não havia engordado tanto.O ideal era que não passasse dos oito
ou dez quilos.

Marina estava inquieta, Fred puxava conversa, falava sobre


Eduardo e até mesmo disse que poderíamosfazeralguma viagem
de casal no feriadode setembro.Mas eu não poderia. Ela começou
a dizer que ele iria se atrasarpara o trabalho,mas ele disse que não
iria não, estava mais intere ssado em se inteirarsobre a minha
versão sobre mim e Edu.
Marina esfrego u o nariz, impaciente com a curiosidade dele e
eu dei um sorriso travesso para ela.
Ele ficou pelo menos mais vinte minutos conosco, e Marina
suspirou aliviada quando ele recebeu uma ligação de Eduardo, o
apressando, porque sim, ele estava atrasado.
— Fred insuportável— ela falou nervosa, me fazendo rir—
como assim você estágrávida? — ela sussurrou,puxando a cadeira
para mais pertoe teve a audácia de puxar a camisetalarga que eu
usava, para cima. Como já era notável a barriga começando a
aparecer, ela abriu a boca, descrente e depois olhou para mim.
— Não faz essa cara, tá me assustando— eu reclamei. Ela
cobriu a boca com a mão e negou com a cabeça.
— Quando você descobriu?
— Há várias semanas — contei,não precisavamentirpara ela
— e eu não conteipra ninguém. Minha mãe soube hoje, porque logo
não terei como disfarçar.
— Eduardo não vai saber?— ela sussurrou,franzindoo cenho,
confusa— por isso você ficoudaquele jeito, quando falamossobre
gravidez...
— Quando fui comprar o primeiro teste, logo quando
desconfiei,Luísa esbarroucomigo. Disse que ele me fariaabortar
.
Não estou jogando a culpa pra ela, mas eu pensei que deveria
proteger o bebê.
— Como tem sido?
— Estranho porque nunca imaginei que aconteceriadesse
jeito. E bom, eu me sinto capaz de tudo pelo bebê... O que é
estranho, mas enfim...
— Sua avó já sabe?
— Minha mãe vai contar— eu suspirei — ela vai odiar, eu
aposto. Até se acostumar
, vai ficar bem furiosa.
— Ou não — ela deu de ombros — não é todo dia que fica
grávida de um milionário.
— Meu Deus, Marina — eu falei indignada — eu já deixei
avisado que não vou brigarpor pensão. Não quero dinheiro dele. Se
— enfatizei— ele quiserpart iciparda vida do bebê, serum bom pai,
ele tem todo direitopra isso. Mas se não quiser, também não quero
só dinheiro. Não fiz de propósito.
— Quando foi? Você sabe? A gente sabe o dia que acontece,
não sabe? — ela perguntoumaliciosamente e eu fiz uma careta
amarga.
— No aniversário dele — falei e ela deu um sorrisoanimado,
me fazendo revirar os olhos — nós dois bebemos muito.anto
T que a
mãe dele não o deixou voltar dirigindo. E nós já tínhamos
descuidado algumas vezes, mas eu tomei a pílula do dia seguinte
quando achei necessário. Dessa vez, no aniversáriodele, eu não
lembrei. Passou batido. Quando ele comentou, já não adiantava
mais. E pior — me lembrei, contandotudo porque precisava mesmo
desabafar— eu achei que estivesse menstruada.E não estava,
nem sei o que foi aquilo. E antes que eu pudesse sonhar que
estivesse grávida, ele terminou comigo.
— Eu nem consigo pensar na reação dele — Mari falou,
fazendo uma careta— Eduardo é tão inconstanteque seria capaz
de adorar a notícia. Ou surtar com ela.
— Luísaestavacom ele, eu não iria correro risco.Eu não sei
como ficariase me sentisseobrigada a interromper
. Se ele ficasse
me atormentandocom rejeição. Podem me condenar o quanto
quiser, mas eu fiz o que achei certo.
— A família dele jamais iria deixá-lo agir impulsivamente.
— Luísadisse que o pai dele jamais aceitariaum bastardona
família— eu falei, mas a Marina me lançou um olhar bravo, por eu
ter levado logo ela tão a sério.
— O pai dele apenas tem uma preferênciapor Luísa, eu não
acho que rejeitaria um bebê.
— Quando a ex de Fred engravidou, eles o fizeramcasar— eu
retruquei e ela riu.
— É verdade. Por isso, seria mais fácil levarem Edu
encabrestadoaté o altar
, do que rejeitaremseu bebê. Eles não são
más pessoas, não sei por que você tem esse receio —- ela falou
confusa, mas neguei com a cabeça.

Ficamos ali por mais um tempo, mas logo eu precisariair para


o restaurante.
Fiz Mari jurarque não contarianada ao Fred, mas foi
o tempode eu chegarem casa, tomarum banho e comeruma fruta,
para receber sua mensagem:
“Desculpa, amiga. Esse demônio fofoqueiro arrancou o
segredo de mim” — eu bati com a mão na testaao ler, qual a
chance de ele não se precipitar e contar tudo ao Edu?

“Espero que vocês saibam que é o meu dever contartudo ao


Eduardo” — enviei de volta.

Ela enviou mais mensagens de desculpas, que eu ignorei.

Minha mãe não havia contado nada para vovó ainda. Então o
dia foi tranquilo, corriqueiro.
C 11
Eduardo Toledo

Fred me encarava sugestivoe eu já estava ficando irritado.O


encarei de volta, impaciente pela invasão.
— Vi Jordana hoje — ele comentou — está diferente...
— Diferente?
— Mais bonita... — ele deu de ombros, me deixando confuso e
ia voltar a falar
.
— Se você vier com a história de ela terme superadode novo,
eu vou quebrar a sua cara — eu o interrompi e ele riu.
— Não acho mais que tesuperou — ele provocou— se brincar
acho até que vocês casam.
— Você é louco — falei incrédulo.
— Luísa voltou a te procurar?— ele perguntou,mas neguei
com a cabeça.
— Ela tem que se mancar. Você acredita que estava
importunando a Jordana?
— Não duvido — ele balançou a cabeça — queria que Marina
fosse ao jantar de bodas de ouro dos meus pais. Mas ela não quer
.
— Com a Bruna lá, melhor ela não ir mesmo — eu falei.
— Ela não tinha nada que ir — ele falou indignado — ela é mãe
do meu filho, só isso.
— Dizem que não existe ex sogros né — eu comentei
desinteressado e ele bufou impaciente.
— Um carma na minha vida, isso sim — ele falou, me fazendo
rir
.
Eu não tinha planos de ir para esse jantar
, mas fui obrigado.
Chiara ainda pediu para que eu a levasse. Falei com Jordana,
queria que nos reaproximássemos,que ela me desse outrachance,
mais uma vez.
— Depois vamos pra onde? — minha irmã perguntouanimada
e eu a encarei.
— Pra casa.
— Sério, Edu, não vamos ficarem casa. Eu não tenho nada
pra fazer hoje — ela falou forjando melancolia.
— Eu trabalho amanhã.
— Estácom medo de sair e a Jordana te congelar mais tempo
ainda? — ela perguntou para me provocar . Não respondi. Não
queria sair, beber e passar a noite com outramulher aleatória,e
ficar congelado por mais tempo. Poderia, poderia pegar meu orgulho
de volta e dizer que adorava isso, a farra,a solteirice.Mas eu
amava aquela mulher, então reconquistá-laera mais importanteque
isso.

Quando chegamos, mamãe já dava uma bronca em Fred,


porque ele não tinha papas na língua e já estava discutindocom a
ex. O pequeno Bruninho revirava os olhos, sentadocom seu celular
em uma das poltronas luxuosas.

Chiara cumprimentoua todos e eu acenei, indo parabenizar


nossos tios.
— Pensamos que Fred chegaria as bodas de ouro, também —
a mãe dele falou e Fred começou a rir exagerado.
— Não com essa louca — ele retrucoue Bruna o encarou
incrédula. Mamãe puxou outroassuntopara interromper
a próxima
discussão. Mais convidados foram chegando, então mamãe
engatavaum assuntoaleatór
io atrásdo outro,para não dar tempoà
Fred.

Peguei uma bebida e fiquei quieto, olhando o celular para ver


se tinha respostade Jordana. Ela demorava a responderà noite,
talvez me desse uma chance depois que chegasse da aula.
— E você, Eduardo? — Bruna perguntoue eu voltei minha
atençãopara eles, a olhei, esperando — não vai voltarcom aquela
garçonete?
Fred fez um barulho de descontentamento por ela mencionar
isso como algo redutor e eu dei de ombros.
— Se ela quiser, vou — eu falei e ela fez uma careta.
— Luísaa viu comprando um testede gravidez — ela voltou a
falar
, tomando atenção de todos nós — aposto que foi logo ver se
não tinha um bebê pra garantir uma pensão gorda.
— Quem fez isso foi você — Chiara retrucou para ela.
— Meu Deus, vocês já estão tão velhos pra isso — mamãe
falou, odiava essas situaçõesconstrangedoras— esses dois com
trintaanos nas costas,agindo feitomoleques. Todo encontrouma
cena!
— Acontecenas melhores famílias,Nora — tio Tarcísio,pai de
Fred, falou para apaziguar
.

Fred pegou o celular e saiu pela portada frente.Peguei meu


copo e fuiatrásdele. Ao me ver, ele apressouo passo, me deixando
confuso. Então eu o segui.
— Eu não sei de nada! — ele falou alto e agoniado, andando
para longe de mim.
— O que?
— Lá, lá, lá... — Fred começou a cantarolar
, feitoum maluco e
eu parei de andar
.

O jantarseguiu com provocações de Fred e a ex e toda vez


que eu o olhava, ele virava o rosto.Só quando já estava em meu
apartamento,fui pensar que pudesse tera ver com Jordana, com a
afirmação sem noção da Bruna.

Tentei descartar, porque Luísa não teriaperdido a chance de


me contar. Fiquei revirandona cama, tão inquieto e a insônia me
consumindo. Quando finalmentepeguei no sono, tive um sonho
estranhocom uma bebezinha, mas não fiqueipensando nisso, devo
ter absorvido a provocação da ex de Fred.
C 12
Jordana Testa

Pela manhã, Mari chegou cedo, prontapara me acompanhar


na caminhada de todo dia. Minha mãe cuidou de dar mais dinheiro
para eu me hidratar
. Eu tinha e ela sabia disso, mas seus cuidados
comigo estavam intensificando.Além disso, me incentivava a usar
óleos e cremes na barriga,agora que estava crescendo, era bom
prevenir as possíveis estrias.

Mari olhava a pequena saliência no meu ventre, ainda


abismada em como isso era real. Eu tentavaparecersegura de
todasas decisões que tomei,mas por dentroestavaapavorada com
medo da reação de Eduardo, quando descobrisseque foi o último a
saber.

Descemos e já em frenteao prédio, eu parei para prendero


cabelo. Enquanto passeava os dedos pelos fios, para alinhá-los,
Marina se inclinou e ergueu um pouco a minha camiseta branca,
acariciando a barriga ainda tão pequena.
— Sabe, eu acho que vai ser um menininho — ela falou,
colocando o ouvido encostadona barriga,como se assim pudesse
descobrir — você acha que é o que?
Terminei de amarraro cabelo e ia olhar para baixo, para
respondê-la, mas me deparei com Eduardo bem a minha frente.A
tensão foi tão estranhaque Marina se levantou e parou ao meu
lado, nós duas como duas bandidas flagradas.Eu não conseguia
respirar
, comecei a suar frio,queria desmaiar bem agora para não
ter que dar alguma explicação.
— Oi, Edu — Mari quebrou o silêncio. Eduardo pareciacorado,
como se o sangue tivessesubindo todopara a cabeça, a respiração
dele estava curtae rápida. Continuei o encarando e neguei com a
cabeça.
— Podemos conversardepois? — ousei perguntare ele deu
uma risada colérica, azeda.
— Depois? — ele perguntou amargamente — quando?
Quando essa criança nascer?
— Edu, eu...
— Jordana, a única explicação aceitável pra eu não saber
sobre isso, é se eu não foro pai — ele falou grosseiram
ente, mas
um tapa na cara teriadoído menos. Marina o encarou incrédula,
mas antesque respondesse,eu segurei seu pulso, a segurando ao
meu lado.
— Se não forpra termosuma conversamadura e decente, eu
não vou ficaraqui ouvindo insultos— falei firme,o encarando firme.
Talvez em outromomento eu entrassenuma discussão infantil,nos
deixaria dominar pela emoção e brigaríamossem resolvernada.
Mas agora... Agora eu fazia tudo pensando no meu filho, e ficar
estressada,insultadae sofre
ndo além da contanão fariabem para
ele.
— Vamos, então — ele falou irritado— eu quero saber a sua
explicação decente e madura pra ter me escondido.

Olhei para Marina, que parecia apreensiva. Ou talvez apenas


curiosa.Eu suspireie neguei com a cabeça, me virei para entrarno
prédio. Marina disse algo para ele, antes que ele viesse atrásde
mim.

Ele entr ou sério,o elevador pareciatãopesado, que eu não me


surpreenderiase despencasse. A respiração dele era forte,ele
estavarealmentefurioso.Comecei a ficarnervosa, imaginando que
a sua ira se devia ao tempo, em ser tarde para ele insistir em aborto.
Quando entram os no apartamento,ele ficouem pé, atrásdo sofáe
eu não sabia nem como começar . Tudo parecia tão raso e insano.
— Vamos, estou esperando — ele falou irado e eu o encarei
séria — esse filho é meu?
— Você tem a coragem de... — eu ia continuar , mas ele era
assim, descontrolado,não adiantariair por esse caminho. Corrias
mãos no rosto e soltei o ar de uma vez — eu fiquei com medo.
— Medo? — ele abriu os braços mostrandosua completa
indignação — medo de que?
— Eu não esperava, Edu... Quando nós terminamos...— eu
nem sabia como explicar, tudopareciaturvoe sem razão de tersido
assim. Eu iria culpar a Luísa? Só porque ele não a suportava?Ela
apenas plantou a discórdia, quem regou e fez crescer fui eu.
— Você esteve com outro, Jordana? — ele perguntou,
chegando mais perto.Eu quis desviar, mas não recuariadele, não
teria medo. Ficamos cara a cara, ele inclinou o rosto e
permanecemosnos encarando. A respiraçãodele era forte,curtae
pesada, ele estava muito furioso — eu só preciso saber disso!
— Não — eu falei friamente — eu não fiquei com ninguém!
— Por que infernonão me contou? — ele gritou,batendo com
as mãos ao lado do corpo e andou para longe de mim.
— Eu tive medo! — eu falei indignada, querendo começar a
chorar, mas não queria ser tão fraca— você não queria nem um
relacionamento comigo, quem dirá um filho?
— E eu ia fazer o que, infern
o? — ele gritava,completamente
desnorteado — arrancar o bebê de você?
— Edu, por favor — eu pedi melancólica, o coração apertado
de culpa — tentaentender . Eu ia te contar , mas queria que tudo
estivesse seguro. Não queria que pensasse que fiz de propósito.
— Quando aconteceu? — ele perguntou,correndoas mãos
pelos cabelos e fechou os olhos, tentando se acalmar.
— No seu aniversário— falei baixo, culpada demais. Ele olhou
para mim, a ira caindo sobre mim por esse olhar que me cortava
inteira.Minha vontade agora era correrpara ele, abraçá-lo e buscar
segurança, me sentia tão pequena agora, tão egoísta.
— Quando nos encontramos ... Você já sabia? — seu tom de
voz veio baixo dessa vez, como se ele já soubesse a resposta.
Assenti, não conseguindo mais encará-lo.
— Por que. Não. Me. Contou? — ele perguntouentredentese
pausadamente,as mãos estavamna cabeça, como se dessa forma
ele se mantivesse quieto ali.
— Eu achei que você iria me forçara tirar— eu faleia verdade,
o olhar dele parecia queimar, ficando avermelhado — eu não
suportaria, preferiria enfrentar tudo sozinha.
— Você nunca confiou em mim — ele falou, parecia seco e
amargurado,a voz ficoumais rouca que o normal e ele arquejou —
era isso que imaginou que eu faria?Iria te forçara fazer algo que
não queria?
— Me desculpa, Edu — eu pedi, ameaçando dar um passo em
sua direção, mas ele fez um gesto para que eu parasse — eu só
achei que estava fazendo a coisa certa...
— A coisa certa?— ele voltou a gritar— me enganar, me
esconder?
— Por favor , tenta entender
... — eu sussurrei,as lágrimas que
eu queria segurardescendo uma atrásda outra— eu fiquei com
medo, você tinha terminado comigo, estava agindo como um
estranho,eu não sabia o que esperar . Não saberia lidar com uma
rejeição.
— Eu vou embora — ele avisou e eu ia em sua direção, mas
ele se virou e foi rapidamente, puxando a porta com força.

Eu fiquei ali, despedaçada, chorando. Ele sequer quis saber


algo sobre a gravidez, sobre o bebê, tinha só a fúriapor tersido
golpeado.
C 13
Eduardo Toledo

Entreiem meu escritório e me senteià minha cadeira. Respirei


fundo e pressionei a palma da mão na testa,como se isso fosse
aliviar alguma coisa. Estava queimando de tudo que fosse ruim
nesse momento. Me sentiaenganado e doía mais do que qualquer
outro engano, porque eu ainda amava essa mulher insana, que
chegou na minha vida pronta para tomar tudo.

Eu não queria namorar


, mas namorei com ela. Não queria amar
de novo, e a amava. Agora um filho. Jordana veio para me testaro
tempo todo, sempre me contrariando, me dominando e enganando.

Fred entrouem minha sala, tínhamosuma reunião importante


em poucos minutos. Eu o encarei, minha vontade, se não
tivéssemosum compromissosério em pouco tempo, era quebrara
cara dele. Elesabiae não me falou nada.
— Eu não podia falar
, cara — ele falou, como se precisasse se
explicar — era sobre vocês dois. Eu precisei ficar na minha.
— Se ela resolvesse me contarsó depois do nascimento,você
seria conivente? — perguntei friamente e ele me encarou.
— Não sei, eu provavelmenteiria te contar. Mas não precisar
ficar assim.
— Por isso Luísaveio com a históriaridículade tentarmos,
ela
já desconfiava — eu resmunguei — que inferno.
— O que você vai fazer?
— Não sei — falei ríspido.
— Não vai assumir a criança? — ele perguntouconfuso e o
encarei.Era tãoóbvio que iria. Mas não sabia mais sobremim e ela,
sobre eu querer tentarde novo. Ela não confiavaem mim, não faria
o menor sentidoinsistirem nós dois. Mas isso não tinha nada a ver
com o nosso filho.

Não o respondi. Fomos para a sala de reunião, apresentaro


novo projeto ao cliente.

No almoço, corripara o colo da minha mãe, ela sempre era


calma com tudo,eu precisava de um pouco de tranquilida
de. Queria
poder me encolher e chorar
. Não estariapreparadopara fazerparte
e acompanhar uma gravidez outra vez.
Mamãe não entendeu quando cheguei e deitei a cabeça em
seu colo, mas acarinhou meu cabelo. Fechei os olhos com o
indicador e o polegar
, e respirei fundo.
— Quando você chega assim, já sei que aconteceualgo sério
— ela falou logo, fazendo carinhos em meu cabelo. As lágrimas
começaram a descer, tanto que eu havia segurado. Tudo se
passava em minha cabeça, desde o momento em que Bianca
começou a ter enjoos, o primeiro exame, a primeira vez que
ouvimos o coraçãodo bebê. Eu era um cara tão diferente,tão mais
leve e achava a vida tão fácil, que todos os meus sonhos eram
alcançáveis. Fui nocauteado e não soube me reerguerda maneira
correta.Agora parecia estarme afogando novamente, não sabia o
que fazer. Sentiatantopor teragido erradocom Jordana, ao mesmo
tempo em que estava tão magoado por ela.
— Estou ficando preocupada, meu filho — mamãe falou e eu
solucei, as lágrimas e a intensidade do choro aumentando. Neguei
com a cabeça, não queria ter que falar
, queria me acalmar primeiro,
agir com cautelae maturidad e. Não sair por aí bancando o maluco
covarde que fui anteriormente.Como percebeu que eu não iria me
explicar agora, minha mãe me deu colo, me esperou ficarmais
calmo.

Chiara chegou à sala e parou, me olhando nessa situação


deplorável e deu uma risada.
— Eu já sei que aconteceu— ela falou, como se não fosseum
assunto extremamente sério.
— O que houve? — nossa mãe perguntoue eu funguei, limpei
o rosto ao me sentar.
— Jordana está grávida — eu murmurei.O silêncio perdurou
por segundos que pareceramhoras. Por um momento, me sentium
adolescenteenrascado,assustadocom a novidade. Era um fatoque
eu não queria terfilhos, por não quererenfrentar
os riscosde uma
gravidez. Não suportariaver tudo dando errado outra vez. Das
vezes que engoli minha aversão quando mencionavam, foi apenas
para não assustarJordana, eu já havia esgotado todas as minhas
cotas de agir feito um babaca com ela.
— Você acha que ela fez de propósito?— mamãe perguntou,
meio embasbacada e surpresa. Era como se realmente não
esperasse. Eu dei de ombros e Chiara começou a .rir
— Ela não poderia obrigarEduardo a gozar dentro— ela falou
e eu a encarei, contagiadopelo constrangimento
que Jordana tinha
com esses assuntos. Mamãe também não gostou, a encarou
boquiaberta e ela fez uma careta de obviedade: — pra ela
engravidar
, vocês tiveramque transar
. E mamãe, eles fizeramo
bebê no aniversário de Edu.
— Bêbados como saíramdaqui... — mamãe resmungou, se
aprumando no sofá,como se tentasseabsorverda melhor maneira
— só poderia ter dado nisso.
— Ela sempre deixou claro que não tomava algum
anticoncepcional— Chiara defendeu — você não se cuidou porque
não quis.
— Não precisa me massacrar . Não está fácil assimilar tudo
isso.
— Ai, Edu, fala sério — minha irmã falou impaciente, mas se
divertiacom a minha situação deplorável — você está parecendo
um moleque, que não consegue enfrentar uma situaçãoséria sem
surtar.
— Se eu soubesse que ela estavagrávida, não teriaterminado
com ela — eu falei, mas não havia nada que me inocentasse.
Terminei porque achei que tomaríamoso mesmo rumo do meu
antigo relacionamento, que eu iria magoá-la e ela iria se vingar
.
— Pelo que Mari contou, ela tem um instintomaternoprotetor
de dar inveja. E, por isso, ela escondeu até achar que era seguro
você saber. Eu não vou julgá-la, porque você voltou com a Luísa,e
a Luísaficouazucrinandoa garota,dizendo que você a fariaabortar .
— O que? — mamãe perguntou incrédula — Luísajamais faria
uma coisa dessas!
— Mãe... — Chiara falou cheia de escárnio — Luísa ficou
apavorada quando desconfiou que Jordana estivesse grávida. E
muito tr
isteque ela tenha ficado esse tempo todo sendo maltratada
por Edu, a troc
o de nada. Aliás, a trocode umas fotosbonitas pro
instragram.
— Não me faça carregar mais essa culpa — eu falei
angustiado, porque sempre fui um escrotocom Luísa. Mas ela não
tinha o direito de importunar e assustar Jordana.
— Se ela engravidou no aniversáriode Eduardo... — mamãe
falou pensativa — deve estar com quatro meses?
— Por aí — Chiara concordou, mas logo grunhiu animada —
eu amei a novidade. Jordana não é uma sugadora, é uma boa
pessoa e pelo que eu já soube dela, vai ser uma ótima mãe.
Fiquei quieto, incapaz de conseguir concordar ou retrucar
alguma coisa. Estava tão assustado,minúsculo e impotenteagora.
Não voltei para meu apartamento,queria o colo de minha mãe, que
eu imaginava não concordar em nada comigo, mas não tinha
intenção de me fazer sentir pior
.
Quando meu pai chegou, ficouparado pertodas escadas, com
a mão no nó da gravata,como se tivessese sufocadocom a notícia
da gravidez. Ele ficou um bom tempo parado, absorvendo e
procurandoo que dizer. Logo presumiu que por isso, Luísa queria
tentar engravidar. Chiara debochou da afirmação. Eu estava
desnorteado, flutuado, a ficha não havia caído.
— Já foi procurá-la? — mamãe perguntoue eu neguei com a
cabeça. Apoiei os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos, suspirei
forte, querendo aliviar essa agonia, mas nada era suficiente.
— Não. Ela não tinha a menor intenção de me contarsobre a
gravidez — falei, queimando essa mágoa.
— Mas você tem responsabilidadesagora — mamãe falou de
uma maneira incisiva — precisa falarcom ela, se inteirarde como
ela está, como o bebê está.
— Ela teve interesse em me contar?Não. Me escondeu. Não
bastassetudo que eu passei, mamãe... Jordana não tinha o direito
de me dar essa rasteira.
— Não vai participar
, é isso? — ela perguntoucautelosa,me
fazendo sentiro peso da minha burrice.Eu poderia não participar
,
ignorartudo isso e custeartudo para me manterdistante.Mas eu
suportariafazerisso? Seria mesmo uma proteçãoemocional? Eu
conseguiria ser esse pai escroto? O coração gelou com a
constatação crua: eu seria pai. Nós dois teríamos um filho.

A boca amargava só de pensar, o estômago revirava. Eu


precisaria de tempo para me acostumar e agir corretamente.

Meu pai subiu e voltou de banho tomado, como se duranteele,


tivessearquitetadotodo um plano para minha vida. A ordem correta
para ele era casamento, depois filhos. Nada sobre costumes sociais,
mas sobre estabilidade emocional para uma criança.
— Uma criança criada em um lar estruturado crescecom um
emocional mais forte,eu acredito — meu pai falava, como se
estivesse em modo automático — sei que Eduardo sempre foi
problema, mas eu acredito na mudança. — Dessa vez, Chiara
cuspiu um riso, mas ele olhou feio e ela se conteve.
— Desculpa, pai. Mas Edu já tem idade o suficientepra pensar
sozinho. Ele fez trinta anos no dia em que fez o bebê!
— Por isso, a coisa certaa se fazeré ele ficarao lado da mãe
da criança.
— Não vou ficar com ela — eu falei sério — eu vou apoiar, eu
vou fazer a minha parte.Mas não vou insistirpra voltarpra uma
mulher que não confiou em mim.
— Me poupe, Edu — Chiara resmungou, quase me
interrompendo— eu tambémnão confiariaem você, depois de você
sair por aí dizendo que só comia ela, depois de namorarcom ela e
terminarcom ela do nada, eu teriamedo da sua reação, também. E
isso se validaria muito mais com uma namorada sua no ouvido dela
dizendo que você a faria abortar.

Meu estômago se reviravacom isso, como ela pôde acreditar


que eu seria capaz? Se ela quisesse, a conversa era outra.Mas
jamais partiria de mim, eu jamais cogitaria ou coagiria alguém.
— Olha o que ela esperava de mim — falei friamente,cansado
emocionalmente — poderia não confiar , mas deveria saber que
apesar de tudo, eu jamais coagiria alguém a fazer o que não quer
.
— Certo,Edu — ela falou entediada, não iria me dar razão —
Marina contou que ela já deixou claro pra mãe que não vai brigar
nem por pensão. Não quer nada de você — ela completou, como se
me desse a última facada,me tornandoum completoinsignificante.
Ela contemploue cuidou de tudo sozinha, nunca sequerpensou que
eu quisesse saber, que eu ficaria feliz em saber. Só me reduziu à
insignificância e ao desmerecimento.
— Ela pode não me quererpor pertoe eu também não quero
mais voltarcom alguém que não confiaem mim — falei, comprando
a razão que eu não tinha — mas vai terque me aturarna vida do
meu filho. E eu não vou aceitarque ele tenha menos do que eu
acho que mereça — completei irredutível,sabia que querer dar
dinheiro para ela soaria uma ofensa,mas era sobre o meu filho, ele
tinha direitos e iria usufruir de tudo.
C 14
Jordana Testa

Acordei com uma dor de cabeça incômoda, pela tensão toda


do dia anterior
. Eduardo não se preocupou em me procurarpara
saber sobre o bebê, mas Marina já havia dito que a essa altura,ela
não ficaria surpresa de Fred ter contado à família inteira.

Eu chorei até dormir , me sentindo culpada, medrosa, não


queria que achassem que poderiam dominar minhas decisões. Era o
meu filho, as portasestavamabertaspara Edu ser um pai, mas ele
teriaque fazeresse papel com maestria.Para trazerproblemas, eu
preferia que se ausentasse.

Mamãe iria contarsobre o bebê para minha avó esta manhã,


então era melhor que eu não fosse tão cedo para o restaurante.
Levantei, tomei um banho e vesti um shortjeans e um top, queria
poder ver a barriga, esperava que pudesse sentiro bebê mexer
mais impetuosamente a qualquer momento.

Acariciei o ventreem crescimento e olhei pelo espelho, queria


poder escrevera minha históriade outramaneira, mas já amava
tanto o meu filho, que não conseguia nem explicar
.

Comi uma fruta,não estavacom apetite,mas não poderia ficar


sem comer, senão ficaria muito enjoada. Peguei o material da
faculdade,iria focarmais em estudar
, depois iria para o restaurante
e à noite para a aula. Dava para conciliar, e depois que o bebê
nascesse, eu precisariarevisar os planos e planejar tudo de novo.
Mas tudo se encaixaria.

Me assusteiquando interfon
e começou a tocare fui atender
.
Ao ouvir a voz de Eduardo, eu fiquei muda, mas não poderia agora
privá-lo de tudo. Respirei fundo e liberei sua entrada,depois fui
destrancar a porta e deixei entreaberta para ele .entrar

Fiquei nervosa e senti a boca seca, por isso, fui pegar um


pouco de água para beber. Ele entrouno apartamentoe eu parei
atrásdo sofá,nós dois ficamosnos encarando, comecei a me sentir
culpada por fazê-loterque assumiressa responsabilidade,uma vez
que sempre deixou claro que não queria. Mas não foi premeditado,
eu também não queria, estava me apegando apenas aos pontos
positivos de tudo.
— Precisamosconversar— ele falou baixo e eu assenti,não
consegui dizer mais nada.

Eduardo mantinha distância,fazia questãode deixar explícitaa


sua mágoa. Eu não implorei seu perdão, uma vez que tudo chegou
a esse ponto por causa das atitudes inesperadas
dele. Mostrei todos
os exames, ele queria tercertezaque estavatudobem. Viu todosos
ultrassons. Ao pegar o primeiro, o mais antigo, deu um riso
desgostoso e negou com a cabeça.
— Você fez esse exame em junho — ele resmungou
desacreditado — sequer pensou em me ligar pra contar.
— Achei que me forçariaa abortar— falei a verdade, ele teria
que lidar com isso — posso tersido injusta,mas tudo que eu fiz, foi
pensando em proteger meu filho.
— Nosso — ele fezquestãode me corrigir— nosso filho— ele
falou friamente, colocando o exame de volta na mesa de centro. Nos
encaramospor um momento,mas nenhum de nós estavadispostoa
recuar e selar a paz. Eu não daria o primeiro passo, ele errou
primeiro e por causa disso, tudo chegou onde estávamos.
— Jordana, eu não acho que exista um jeito de nós dois
ficamos juntos de novo. Mas eu quero participarde tudo, da
gravidez, da vida do nosso filho. Quero que ele tenha tudo do
melhor, tudo que eu puder pagar .
— Eu não vou ser apenas a progenitoradessa criança — eu
falei,começando a me irritar, ele estavame insultandoe sabia disso
— eu tomo as decisões sobre o nosso filho. Ele não precisa viver
inundado em um luxo desnecessáriosó porque você quer me ferir .
Ele não vai viver achando que com você vai termais do que comigo,
isso aqui jamais se tornaráuma competiçãopra você afagar o seu
ego ferido.Eu agi como eu achei que seria certo,que seria melhor.
Você está agindo assim agora, quer ser participativo,porque agora
não tem mais o que você fazer. Ou você participa,ou ignora. Não
pode mais interromper . Não me jogue a certezade que teriame
apoiado, porque depois de tudo o que eu passei por você, nada me
surpreenderia!
— Você deveria terconfiadoem mim! — ele falou irritado,mas
logo se conteve — eu estava vivendo uma fase ruim, não queria
descontarem você, por isso, terminei.Mas eu te amava... Eu não
conseguia parar de pensar em você, só queria ter conseguido
assimilar tudo sem sofrertanto. E você não me deu chance,
descobriuque estavagrávida, aproveitoutudosozinha, nem me deu
a chance de provar que eu teria sido um cara melhor!
— Eu não vou me culpar — falei firme, o encarando. Ele
suspirou, recuando sobre a discussão e correu as mãos no rosto.
— Certo— ele resmungou e se levantou, logo depois pegou a
carteira no bolso da calça jeans — quanto você gastou com tudo?
— Eu não quero seu dinheiro! — eu falei, me sufocando de
raiva por ele sempre querer resolver tudo com dinheiro.
— Não é pra você. É pro nosso filho.
— Eduardo, eu não vou aceitarisso — eu falei, me levantando
também e caminhei para longe dele. Ele me encarava sério, cheio
de rancor, como se tivesserazão — eu não quero viver desse jeito.
Não me menospreze com o seu dinheiro. Você vai fazer parteda
vida dele, vai poder dar amor, vai custearo que fornecessário!Mas
não venha me insultar como se eu não fosse capaz.
— Você está me insultando. Me reduzindo a nada! Como
sempre! Sempre me maltratando, decidindo tudo por nós dois!
— Você acha mesmo que precisamosviver nessa guerra?—
pergunteimais baixo — acha que nosso filho vai querer nos ver
desse jeito? Brigando o tempo todo?
— Não estou brigando. Quero resolveras coisas da melhor
maneira. Você não acha que deveria pensar em um apartamento
melhor? Um lugar melhor? Contratarprofissionaispra cuidar de
tudo, pra você não fazermaiores esforços?Quererdar conforto pro
meu filho é ofendervocê? — ele parecia incrédulo. Eu soltei o ar,
desistindode tentarfazê-lo entenderque eu não iria mudar a minha
vida para ser a mãe do filho dele. Ele teriaque mudar o seu jeito e
se tornar um bom pai.

Me virei e fui para o meu quarto, não iria prolongar a discussão,


ele não estava dispostoa colaborare eu não sabia quanto tempo
levaria para ele ceder e relevar as minhas decisões.

Eu e Eduardo não conseguíamos nos entender . Ele deveria ter


o ascendenteem um signo muito rancoroso,para não entenderos
meus motivos e me dar razão. E eu era escorpiana demais para
entendera mágoa dele. O pessoal da faculdadeestavacomeçando
a descobrira gravidez, o que era uma graça. A essa alturada vida,
eu era a paparicada da turma,por causa do bebê. Mesmo que todos
se referissema ele como ele,eu teimava que seria uma menina. Eu
já havia me enturmado, tudo estava fluindo melhor
.

Além do que, as meninas que eu havia me aproximado,


adoravam que o pai do bebê era Eduardo oledo.
T
— Ele vai sertãobonito,se puxar o pai, vai tocaro terror
nessa
cidade quando crescer— Mariana, a morena de cabelos cacheados
falouanimada. A olhei e dei um sorriso,Eduardo tinhaessa péssima
fama de garanhão, eu não gostava nada, mas isso não era uma
novidade para mim.
— Como a Luísa reagiu? — dessa vez, Ana Carolina perguntou
e eu a encarei. Nem havia me lembrado dela, mas felizmenteela
não se sentiu no direito de vir me importunar— achei que iria
aparecer nos stories do instagram chorando por ter sido trocada.
— Segundo Eduardo, eles nunca tiveramnada — a outrafalou.
Eu comecei a me sufocarcom essa conversa, essa históriade
Eduardo e Luísaera tão louca e desrespeitosados dois lados, que
eu não queria nem tentar entender
.

Minha mãe veio me buscarno horáriode sempre e me deixou


em casa. Dessa vez, no caminho, ela comentousobreuma possível
recentemudança. Sempre parecia desconfortávelem falar disso,
ainda mais agora, que se sentiriaculpada em me deixar sozinha e
grávida.
— Mas eu tenho um dinheiro guardado, poderemos dar uma
mudada nos quartos— ela falou, como se quisesse me animar. Eu
sorri para ela e assenti, jamais me colocaria contra sua felicidade.
— Como está você e Edu?
— Na mesma. Se quer saber, vovó reagiu pior que ele — eu
falei para amenizar e ela riu. Vovó deu um chilique horrí
vel de que
aquele canalha me corrompeu e me enganou. Chegou a desmaiar ,a
pressão subiu, mamãe disse que por um trisela não morreu de
tanto drama.

Mass agora o meu bebê já tinha sapatinhos de crochê


bordados por ela, além de luvinhas e uma touca.
— A mãe dele lamenta que vocês se gostem tantoe não
queiram fazer por onde se acertar
.
— Mãe, ele acha que eu fui erradae quer me condenar por
algo que nem se eu quisesse, poderia mudar — eu falei e ela me
olhou rapidamente, mas focou na direção. Eu poderia me
arrepender?Poderia, mas eu não queria pensar em como teriasido
se eu tivesse corrido para contar à ele, logo quando descobri.

Eu fiqueiassustada,chorosa,sofrendo,estavamais frágil,teria
ficado pior com uma péssima reação. Mesmo que ele tenha
descoberto antes que eu planejasse contar , àquela altura do
campeonatoeu já estavaacostumadae cuidando de tudo,havia me
preparadoparartodasas possibilidades, de qualquer form
a, foimais
fácil.Eletinha que se redimir
, não eu.

Mamãe reclamou que eu fossetão orgulhosa, mas não era só


isso. Eu dei chances para ele e ele descartoutodaselas. Agora, eu
estava com as portasabert as para ele participarda vida do filho
dele, desde o ventre.Ele poderia escolherparticiparou se ausentar
,
não iria obrigá-lo a nada. Mas ele participava,para toda minha
surpresa. Estava sempre querendo saber de tudo.

Ao chegar em casa, tomei um banho, me troquei e comi


alguma coisa. Dormi cedo, portanto,só fui ver a ligação de Edu na
manhã seguinte.

Quando entreina decima nona semana, tinha outraconsulta


marcada. Por isso, quando acordei, Eduardo já estava na minha
porta,ansioso, porque agora descobriríamoso sexo do bebê. Ele
estava impaciente, mas dessa vez não manteve a frieza, era a
primeiraconsultaque ele participaria.Tomei um suco de laranja que
havia acabado de fazer e torradascom uma geleia gostosa.
Eduardo pegou o pote, analisando a tabela nutricional,mas minha
mãe já monitorava tudo isso. Era zero açúcar, uma opção menos
pior que a tradicional.Mordi um pedaço da torradae o peguei me
olhando. Nesse momento, notei que sentia tantafaltadele. Queria
tantoque as coisas entrenós tivessemcorridode outramaneira...
Mas não havia tempo de sofrer. Eu o tireidas minhas prioridades,
tínhamos que priorizar o nosso filho agora.

Quando tomei um pouco do suco, pela primeiravez, senti o


bebê mexer. Já havia sentidoalgumas coisas antes,mas não dessa
maneira impetuosa. Agora, era como se eu tivessea certezade ter
sentido.Contei para ele, que se abaixou em minha frente,colando o
rostona minha barrigadepois de erguera minha bata,mas não deu
para ver nada. Mesmo assim, escrevi no diário de gravidez que o
primeiro chute forte foi na décima nona semana.

Eu e Eduardo fomospara o consultório.Já havíamosdiscutido


sobre a minha escolha de obstetra.Eu adorava meu médico. A
consulta era sempre completa, ele era amável, me passava
confiança e tranquilidade. Além do que, era animado. Edu disse logo
que a famíliadele tinha alguém de confiança. Eu poderia apostar
que sim, mas não queria trocar de médico no meio da gravidez.
— Ansiosa? — ele perguntou,enquanto esperávamos e eu o
olhei. Estávamos tão magoados um com outro. Éramos mais
orgulhosos do que eu pensei. E não falava isso para se ele cedesse,
eu cederia também.Mas porque se ele cedesse, eu não iria cedere
sabia que ao contráriotambém não daria certo. Estávamos
irredutíveis
e eu não iria abrir mão da minha razão, das minhas
certezas.
Eduardo estava ocupando o seu papel do jeito certo,eu não
iria menosprezá-lo. Ele cumpria com as suas obrigações enquanto
pai da criança, parecia até um cara maduro, diferentedo homem
impulsivo e inconstanteque eu lidava antes.O que se assustoupor
ficarapaixonado, que debochou do que tínhamose depois quis
namorar, mas logo depois me largou. Era muito problemático
mesmo.
— Eu acho que é menina — falei tranquilamente,comendo um
pouco do chocolate. A mãe dele havia dito que comer chocolate
poderia deixar o bebê inquieto, assim, não correriao risco de ela
passar mais tempo sem saber se seria Alice ou João. Eu já havia
dito que estas não eram minhas opções, mas ela disse tantofaz.
Queria apenas uma certeza e logo.

Eu não poderia negar que a famíliadele me surpreendeucom


a reação. Eu era acostumadacom essas famíliasmilionárias cheias
de regras, poderes,mas eles, não. Eram tranquilos,não estavamse
importandose Edu se casaria com a preferidado pai, ou qualquer
outra. Se eu estava grávida, eles apenas comemoraram. Pelo
menos não soube de nada negativo. Cheguei a pensar que Edu
estavaaqui forçadoa assumir suas obrigações,mas ele era sempre
curioso, preocupado e cuidadoso.

Era tudo tão confuso, a cabeça dava um nó. E esses


problemas, eu deixava sempre pra entenderdepois. As prioridades
eram outras agora.
Quando chegou a minha vez, levei os novos exames para o
doutore Edu fazia várias perguntas,ainda teve a coragem de dizer
que eu era teimosa e comia muita besteira.
— Queria ver você com desejos — eu falei brava e o doutor
deu um riso. Era a primeiravez que Edu vinha na consulta,porque
era a primeira desde que ele descobriu.
Mas estava tudo bem, eu estava ganhando peso dentrodo
esperado, mas não era do meu biotipo crescermuito. Na hora da
ultrassonografia,
nós dois ficamosmuito nervosos.Eu tremiainteira
por dentro, as mãos suavam.

Eu sempre achei bizarroquando ouvia as mães dizendo que


nada era tão perfeito e tranquilizante quanto ouvir o coraçãozinho do
bebê bater, mas hoje via quão verdadeiraera a afirmação.O som
ritmado inundava meu coração de amor. E quando olhei para
Eduardo, vi que ele sentia o mesmo, estava vidrado na tela, como
se pudesse entendercada movimento e cada pedacinho do nosso
filho.
— Dá pra ver se é menino ou menina? — Edu perguntouao
doutor
, que deu um sorrisotravessoe assentiu.Já havia nos dado
todas as informaçõessobre o bebê, e era tão bom que tudo
estivesse perfeito e nós dois estivéssemos saudáveis.

Edu segurou a minha mão e o doutormoveu o aparelho sobre


minha barriga, ficado no monitor
, começou a dizer:
— Vocês terãouma menininha — ele falou e eu solteio ar que
segurava sem perceber
, aliviada e feliz — parabéns!
Eu comecei a rire quererchorarao mesmo tempo. Só então
noteique Edu pareciasem reação, apertandoa minha mão entreas
suas. Limpei a barriga e me sentei, consertandoa minha roupa.
Pulei da maca e abotoei o short,já havia comprado algumas roupas
em numerações maiores para não apertar e incomodar na barriga.

Nos despedimos do doutor


, depois que nos entregoua pasta
com as fotos do exame e saímos do consultório. Estranhei o
caminho que Edu pegou, sendo diferente do meu prédio.
— Minha mãe quer ver você — ele falou, me olhando
rapidamente — gostou que é uma menina?
— Eu havia sonhado... Estava confianteque seria menina —
contei e ele deu um riso — você não gostou?
— Gostei...— ele falou tranquilamente e deu um sorridofraco
— Chiara vai amar também.
— E você? — insisti e ele diminuiu a velocidade do carro,
olhando para mim. O analisei por um momento, sempre tão bonito,
agora parecia mais calmo e menos impulsivo.
— Gostei... Estou aliviado que vocês estão bem.
— Vai dar tudo certo— prometi,por um impulso incontrolável,
levando a mão para o seu rosto.Foi tãoestranhoque parecemos ter
dado choque, me afastei rapidamente e foquei no asfalto.

Era a primeira vez que eu encontrariaa mãe dele, estava


nervosa por isso. Quando chegamos, descemos do carrodele, mas
Eduardo voltou para pegar a pasta com a ultrassonografia.
Eu o
olhei, deveria estarsendo afetadapor algo que fugia da minha
explicação, mas ele parecia tão bonito, tão gostosoe tentador
, que
se ele propusesse,eu até daria uma tréguapor uma noite. A merda
já estava feitamesmo, uma transae nada mais não nos renderia
mais nada nessa altura do campeonato.
Mas sacudi a cabeça, me tra
zendo a forçapara a realidade, eu
não poderia ser dominada por uma crisehormonal e agir feitouma
louca. Nós dois éramos incompatíveis, ele um problemático
inconstante.Eu deveria me apegar ao fatode que nós estando
separados, Eduardo agia com mais maturidade,as chances de me
magoar de novo, diminuíam dessa maneira.

Nora, que nos esperava na sala de estar


, veio me recebercom
um abraço e me avaliou inteira.
— Não quero mistério— ela faloude uma vez — você estátão
bonita... Sabia que do jeito que estavam apaixonados, isso iria
acontecer .
Ela sequer se deu conta do constrangimentopelo que havia
dito. Depois de me cumprimentar
, foi abraçaro filho. Nos sentamos
e ela esteve pronta para ouvir tudo de mim, desde quando
desconfiei, como descobri e porque escondi por tanto tempo.

Em nenhum momento eu incluí Luísa nas minhas decisões,


não queria que ela achasse que eu estava a culpando, porque
mesmo que ela tenha plantado a dúvida, se Eduardo tivesse me
dado a confiança necessária, eu não teria levado a sério.

Contei tudo como realmentefoi, depois da primeiraconsultae


os meus motivosde não tercontado.Mas me redimi, também. Não
queria ficarremoendo essa culpa em cima de Edu. Estávamos
encaixando as peças agora e tudo ficaria bem.
— É menina, mamãe — Edu falou, estendendoa pastacom o
exame para ela. Nora ficouolhando, toda emocionada, de qualquer
maneira, era sua primeira neta.
— Ficaram felizes com a descoberta? — ela perguntou
melancólica e fungou — ela vai ser a cara de Edu, olha esse perfil...
— Mãe — Edu deu um rido — nem dá pra ver direito.
— Espero que puxe os olhos dele — eu falei, olhando
rapidamente para ele e trocamosum sorrisocarinhoso — eu já
sabia que era menina — destrambelheia falare Nora me olhou
curiosa,esperando a minha explicação — havia sonhado como Edu
segurando uma menina com laço rosa...
— Eu sonhei também — Eduardo comentou pensativo, como
se estivesse se lembrando.
— É mesmo? — sua mãe perguntou animada — quando
vamos poder pensar no enxoval?
— Logo. Eu não façoideia do que um bebê realmenteprecisa.
Mas minha mãe já avisou que a maioria das coisas fofa s que vou
querer comprar pra ela, vai ser inútil, porque não vou .usar
— Ah, mas é a primeirafilha, você pode abusar de comprar
tudo que quiser — Nora falou, mas neguei com a cabeça.
— Quero ser consciente — eu falei.
— Jordana é econômica, mamãe — Edu falou,com uma pitada
de deboche no tom da voz e eu lhe cerreios olhos — ao contrário
de você.
— Você ganha milhões de dinheiros e acha que a mãe da sua
filha precisa economizar? — ela perguntou incrédula, mas ele
ergueu as mãos, se declarando inocente.
— Por mim, ela gasta o quanto quiser — ele falou, mas eu
revirei os olhos.
— Já podemos pensar no quarto,em tudo! — Nora parecia
deslumbrada.
— Na verdade, estamosdecidindo isso ainda — preciseidizer
e ela me deu atenção— se minha mãe se casarlogo, vamos fazer
uma pequena reformanos quartos, senão, só um berço por
enquanto.
Dizer isso pareceu ofendê-la, o que fez Eduardo. rir
— Você permitiu isso? — ela apontou para ele, tão incrédula.
— Jordana não quer o bebê cheio de luxos desnecessários.
— Pare de zombar — eu ralhei para Eduardo — moro em um
apartamentomuitobom, não quero me mudar. É muitoprovável que
minha mãe vá morar com o namorado, então há uma grande
possibilidade de elater um quarto solo logo ao nascer
.
— Certo — Nora falou, como se tentassese concentrar—
quando vamos sair pra começar a comprar tudo?

Eu a encarei, que parecia eufóricapor isso e Eduardo voltou a


rir
, se divertindo pela ansiedade da mãe.
— Ou você quer fazero enxoval todo fora?Se não forseguro
viajar, conheço uma pessoa que pode mandar tudopro Brasil!— ela
falou enfáticae eu olhei para Eduardo, pedindo socorro
, mas ele
apenas negou com a cabeça, como se dissesse que eu não tinha
chance.
C 15
Eduardo Toledo

Estavaem um bar com Fred e Ravi. Não estávamosbebendo,


por respeitoà fase que nosso amigo evitava comentarconosco.
Fredericonão parava de olhar as fotosda ultrassonografia.
Jordana
me deixou ficar com duas.
— Eduardo é tão contraditório, que afirmavatodo convictoque
não queria filhos e está todo participativo...
— Não dava pra deixar a menina na mão — eu falei
condescendente — e eu já me acostumei.
— Sua mãe deve estarmaluca planejando coisas — Fred
falou, já conhecia a peça e eu concordei.
— Jordana quem vai terque lidar com ela, agora. Pra ela é
muito fácil recusartudo que eu posso oferecer
, quero ver convencer
minha mãe de que a minha filha teráapenas o necessário — contei
e eles dois riram.
— Ela é estranha,né? — Ravi perguntou— outrano lugar, iria
aproveitar, porque engravidar de você foi tipo ganhar na loteria.
— Não penso que engravidar seja isso — Fred falou, mas logo
em seguida riu — no caso da sanguessuga da Bruna foi, né.
— Não comece — eu pedi, para ele não começara falarmerda
sobre a ex.
— Ela poderia garantircoisas em prol do bebê — Ravi sugeriu
— mas não queria nem te contar
, né...
— Ela não é gananciosa — eu falei — sei que vai acabar
cedendo um pouco, pela pressão. Mas está nem um pouco
interessada no meu dinheiro.
— Isso é uma merda, cara — Fred falou, fazendo uma careta
de pesar — se ela gostasse grana, você ainda teria uma chance.
Ravi riu, mas não gostei da brincadeirae o encarei sério, até
eles pararem.
— Ela ficougata grávida, né? Mas a mulher grávida ficabonita
mesmo — Fred continuoudizendo — pena que Marina nunca queira
um.
— Vocês estãojuntoshá pouco tempo, cara. Não acha cedo?
— Ravi perguntou e ele deu de ombros.
— É cedo, mas se acontecesse, não seria o fim do mundo.

Trocamoso assunto,mas foi pior, que Fred remoeu Ravi estar


dormindo com Chiara. Provoquei, irritado,sobre ele e Denise, afinal
era ela quem aguentava o trancojunto com ele sobre seu vício.
Deixei claro que eu não aprovava o que ele e Chiara faziam com a
menina.
— Tomara que ela descubra — eu falei impaciente — e deixe
você na mão. Chiara não tácom a cabeça no lugar, não vai discernir
o certo do errado.
— Sabe o pior? — Fred perguntou,já que o outroficou em
silêncio — deve ter uma fila de caras esperando pra ficar com ela.
— Eu não quero falar sobre isso! — falei incisivo e irritado.

Naquela noite, recebi uma mensagem de Jordana. O coração


palpitoucom uma falsaesperançae abri. Mas ela apenas perguntou
se eu poderia buscá-la na faculdade.Larguei os caras,sem nem dar
explicação e fui, o mais rápido que consegui.
Quando cheguei, avisei para ela, que logo veio com mais duas
mulheres e elas riam de algo. Jordana vestia um vestido longo
amarrado no pescoço e eu me imaginei o tirando dela, estava
ficando incontrolável, mas eu ainda tinha raiva por ter sido
condenado por ela.
Antes de entrarno carro,ela perguntouse eu poderia levar
suas colegas, as duas moravam na direção do seu endereço. Não
iria negar
, obviamente.
— Sabe que ela não parou de mexer esta noite? — Jordana
perguntouanimada e eu a olhei, não consegui contero sorrisoe
num impulso, levei a mão para o seu ventre.
— É mesmo? — perguntei,me esquecendo das outrasduas no
banco de trás— apostoque é o nervosismoda avó louca querendo
comprar o mundo pra ela.
— Ah, eu vou conseguirfrea r a sua mãe — ela falou convicta,
mas a olhei. Eu duvidava muito.
— Fazem um casal tão bonito, que eu nem sei por que não
estão juntos — uma das duas falou e Jordana se virou para trás,
incrédula — quando ela se formar, vai trabalhar pra você?
— Se ela quiser — falei tranquilamente.

Jordana interrompeunervosa, explicando o exato endereço da


primeira, a morena de cabelos enrolados. Quando deixamos a
segunda em casa, insisti para que passássemos para comer algo
fora.
— Jura que não está mal intencionado? — ela perguntou
receosa.
— Não estou. Estou apenas com fome.
— Então tábom — ela falou,me fazendorir— estoucom fome
também.

Escolhi um bom restaurantee Jordana não sabia o que


escolher, como sempre. Escolhi por nós dois e pedi um vinho para
mim, suco para ela.
— O meu médico disse que se eu sentisse muita vontade,
poderia beber um ou dois goles de vinho, que não fariamal — ela
falou e eu a encarei incrédulo.
— Quando eu digo que esse seu médico é louco, você não
acredita.
— Eu gosto dele. Me passa confiança.
— O que ele diz sobre o parto?— perguntei,não querendo
precisartocarnesse assunto. Jordana bebeu um pouco da água e
colocou a taça de volta na mesa.
— Não falamos ainda. Mas eu não quero partonormal — ela
falou, fazendo uma caretaculpada — sei que dizem ser melhor pra
mãe e pro bebê, mas você olha pra mim e acha que eu vou ter
coragem? Eu choro e fico arrasadaquando tropeçoe bato o dedo
mindinho em algum lugar. Não acho que exista uma maneira de
alguém me tranquilizar
.
— Tudo bem — falei suavemente — vai ser tudo como você
quiser, tá?
— Obrigada — ela falou, suspirando aliviada e eu a olhei.
Jordana olhou ao redor , em direção as janelas do restaurante,
que
dava uma bela visão do mar. Não consegui tiraros olhos dela, do
jeito confiante,ninguém tinha dúvidas de que ela seria uma boa
mãe.
— Você tem dormido sozinha? — perguntei, com a
preocupação repentina tomando conta.
— Sim... Minha mãe se sente culpada, por logo agora, sabe?
Mas não quero interromper a felicidadedela. E eu não estoudoente.
Se algo acontecer, eu posso ligar pra vocês.
— Mas e se não conseguir se comunicar? — perguntei
preocupado e ela riu.
— Eu grito por algum vizinho — ela revirou os olhos, me
deixando ainda mais apreensivo — não vai acontecernada. Eu me
sinto bem, os únicos sintomas são completamenteesperados, e
agora recorrentes. Você não vê? A minha respiraçãofica ofegante
mais rápido, mas eu ainda respiro muito bem.
— Jordana — eu a repreendi, por zombar da minha
preocupação. Ela, que segurava a taça de água, deu um sorriso
travesso.
— Está preocupado que eu durma sozinha? Quer dormir
comigo? — ela arqueou as sobrancelhase eu a encarei, sufocando
com a sua provocação.Por Deus, eu queria, mas não iria fazerisso.
Não iria entregar tudo de bandeja, depois do que ela fez.

Para minha sorte,nosso prato principal chegou e ela amou o


cheiro do risoto. Já a sobremesa ela recusou, me provando que tudo
na vida era equilíbrio.Mas depois que paguei a conta e voltamos
para o carro, ela avisou que estava mesmo era enjoada.
Como o mal-estarnão passou, eu desci com ela e subi. Ela
bebeu um pouco de água, mas ficou mesmo indisposta.Talvez por
causa do risoto.
— Não quer vomitar?— pergunteie ela me encarou, fazendo
uma careta— então deita um pouco — pedi e ela assentiu.A segui
para o quartoe puxei a colcha da cama, arrumeios trav esseirose
quando a olhei, ela puxava o nó do vestido.Um arrepiocorreumeu
corpo, se ela tirasseessa roupa na minha frente,era um sinal de
que queria algo. Por Deus, existealgo que uma mulher não consiga
de um cara apaixonado?
— Vou só tomar um banho — ela falou, segurando o vestido
antes que ele caísse e foi para o banheiro.
Eu me sentei na cama e me segurei ali. Meu pau latejava
implorando para eu parar de ser orgulhoso, me rastejarpara
podermos ficarjuntos,mas eu não fui atrásdela no banho. Jordana
voltou do banheiro enrolada na toalha e pegou um pijama no
guarda-roupa.

Respirei devagar, querendo controlaro volume no meio das


pernas. Eu não seria esse cara. Não iria pensar com a cabeça de
baixo e complicartudo. Daqui a pouco eu poderia fazeruma merda
e ela me afastaria cruelmente e sem dó.
— Você pode ficar aqui um pouco? Pra eu não ficarsozinha —
ela falou e eu assenti — afinal você me deixou grávida.
— Não fiz de propósito.Me desculpe — falei sarcásticoe ela
revirou os olhos, indo se deitar
.
C 16
Jordana Testa

Meus hábitos matinais continuavam os mesmos. Eduardo


acabou pegando no sono e eu não quis acordá-lo apenas para que
ele fosse embora, não faria mal para nenhum de nós se ele
passasse a noite. E eu não queria ficar sozinha.

Estavacomeçando a me sentirsolitária,por causa da gravidez.


Não iria culpar as meninas, mas era uma fase tão particulare
apenas eu passava por algo assim. Denise estavamergulhada nas
confusõesde Ravi, Marina, eu imaginava que não teriaestômago
para ser tão presente durante toda a gestação, uma vez que
interrompeua sua e Fred deixava tão claro que nunca rejeitariaum
bebê. Seria remoeruma culpa que ela não tinha que carregar . E
July, bem, eu nem precisava explicar sobre ela. As colegas da
faculdade eram apenas colegas de faculdade. E apesar de eu
gostardelas, estavam mais empolgadas por eu estargrávida de
Eduardo Toledo e tudo o que ele representavano meio da
construção civil do que para serem de fato minhas amigas.

Quando contei isso para ele, ele me encarava com uma


expressãocheia de sarcasmo,achei até que fosserir
, mas cerreios
olhos para ele e ele teve que se conter
.
— Agora você me fez sentirque eu sou a chatado rolê — eu
falei brava e ele começou a rir dessa vez.
— Quando conheci você, você era a chata do rolê. Que não
gostava de nada e nem queria beber
.
— Olha, Eduardo, foi por beber demais que eu acabei grávida
— eu apontei para a barriga desnuda e ele deu um sorriso
carinhoso, abotoando a camisa e sentado na minha cama.
— Mamãe disse que a sua avó nunca vai me perdoar— ele
falou.
— Eu poderia dizer que nunca é tempo demais. Mas sim, ela
nunca vai perdoar você — eu revirei os olhos, vovó fazia cada
drama...
— Eu vou caminhar com você, se você quiser. Preciso só
passar em casa pra trocaressa roupa — ele falou e eu fiquei
animada, eu gostavade ir sozinha, não me incomodava em fazeras
coisas sozinhas. Sempre fui filha única, apesar de um irmão mais
velho ausente,entãoera o normal para mim. Mas todo dia se tornou
maçante.
— Obrigada.
— Vou pedir pra Noêmia prepararum caféda manhã para nós
dois — ele avisou e eu assenti.

Vesti uma camiseta branca por cima do top pretoe prendi o


cabelo em um rabo alto. Passei um pouco de protetor
solar no rosto
e outrono corpo. Peguei Eduardo me olhando, era terrível, mas
estávamos sempre nos observando.

Chegamos ao apartamentodele e Noêmia veio logo me levar


para a mesa já posta na sala de jantar
. Havia de tudo ali à
disposição, provavelmente alimentaria umas dez pessoas se
quisesse. Me sentei e ela perguntou o que eu queria.
— Sinceramente?— perguntei,arqueando as sobrancelhas—
é muito desconfortáveleu comer sozinha enquanto você estáaí em
pé — fiz uma careta.Odiava essas formalidadesinúteis,ainda mais
com ela, que Eduardo parecia ser apegado. Avisei que eu poderia
me servir sozinha, e escolhi uma taça com salada de frutas.
A campainha começou a tocare ela foi atender . Peguei a
colher e comecei a comer as frutas,mas parei ao ouvir a voz da
mãe de Edu. Tudo se comprimiu por dentro.Eu gostava dela, mas
ela era tão insistente.
— Ah! — ela falou parecendo surpresaou agraciada. A olhei,
que tinha juntado as mãos cruzadas em frenteao peito, enfatizando
a reação — cadê Edu?
— No banho — eu avisei e ela deu um sorrisoderretido,vindo
se sentar à mesa.
— Como você está?
— Muito bem — sorripara ela — costumocaminhar todas as
manhãs, Edu se ofereceu para me fazer companhia.
— Nada mais justo,afinalele é o pai — ela falouanimada — já
pensaram nos nomes? Vão decidir juntosou têm algum acordo? Eu
e Danilo concordamosque o menino ele escolheria,e a menina, eu
escolheria.
— É uma ótimaideia — eu falei e ela abanou a mão, acenando
com a cabeça em negação.
— Ele queria chamar meu Edu de Janício. Para homenagear
seu avô — ela parecia incrédula e eu segurei o riso — Eduardo tem
que me agradecer, hoje poderia ter um apelido carinhoso de
Janinho.
— Meu Deus — eu falei, mas comecei a ririncontrolavelm
ente
— ele seria muito mais problemático do que já é!
— Seria — ela lamentou. Noêmia colocou mais um lugar na
mesa e serviu café para Nora.

Eu pretendiacomer apenas a salada de frutas,mas ela achou


que eu precisava de mais. Me incentivou a tomarmais do suco de
laranja e Noêmia avisou que havia acabado de fazer
. E ainda pediu
um misto para mim, num pão integral.Eu não recusei, a ideia do
misto quente foi muito boa.

Eduardo voltou e me lançou um olhar, como se pudéssemos


nos comunicar por olhares. Fred quem tinha dessas, mas apenas
sorripara ele, estavatudo bem. Comecei a ver como ele estavatão
gostoso com esses cabelos úmidos penteados para trás , o cheiro
gostosoe frescodo perfumecaro, a roupa de ginásticamarcando
nos braços for tes.Eu suspireie desviei a atençãopara a mãe dele,
não poderia ficardesejando tão loucamente esse homem. Éramos
incompatíveis, personalidades completamente opostas.
— Dormiram juntos? — Nora perguntou, fingindo estar
desinteressada,mas nós dois ficamos em silêncio. Noêmia voltou
com o meu misto e eu mordi logo um pedaço, para não precisar
responder , mas ela continuou:— vou tomarisso como um sim —
ela deu de ombros, bebendo um pouco mais do seu café preto.
Ela continuou fazendo perguntas, mas eu não poderia
respondera tudo. Eu não sabia ainda se minha mãe iria de fato
morar com o namorado, se iríamosreformaros dois quartosou
adaptaro meu para acomodar o bebê. Quando ela sugeriu contratar
um arquitetopara projetar o quarto da minha filha aqui no
apartamento de Edu, ele interviu.
— Jordana vai quererfazerisso, tenho certeza— ele falou,
olhando para mim, que assenti.Não achava que ela precisariade
um quartopor aqui tão cedo, mas adiantarianegar? Pelo menos
ficaria com o meu gosto.
— Então ela vai terdois enxovais? — Nora perguntou— como
vocês vão se dividir? Nos primeiros meses, o bebê é completamente
dependente da mãe.
— Daremos um jeito — Edu prometeu.
— Vou cuidar de tudo sozinha? Ou você vai participar?— ela
perguntou para mim. Eu a encarei, sufocada com tantas decisões.
— Acho que podemos começar a pensar no quartodela. E
depois no enxoval. É bom que não ficatudo pra cima da hora — eu
falei e ela assentiu animada.
— Eu tenho algumas sugestões — ela falou e ia tirando algo da
bolsa, mas Edu a freou.
— Mamãe, vamos sair agora. Vocês duas podem fazerisso
outrahora? — ele perguntoue ela fez uma caretadesgostosa—
Jordana gosta de caminhar pela manhã, antes que o sol fique forte.

Enquanto andávamos, Edu começou a perguntarsobre o


nome. Se estavacedo para decidirmos,se eu queria escolher sem a
interferência
dele. Eu só conseguia olhar para ele, por que ele tinha
que sertãogostoso?Eu conseguia difundirmuitofácila minha raiva
com o meu tesão por ele. Poderia muito bem transarcom ele,
mesmo estando magoada. Mas se ele dormiu comigo e não tentou
nada, talvez não sentisse mais atração por mim. Será que a
gravidez me tornouindesejável? Ele estava transandocom outra
mulher?
— Está me ouvindo? — ele perguntou e eu o olhei confusa.
— O que?
— Acho que você e sua mãe poderiam pensar em um
apartamentomaior, com trêsquartos— ele falou e eu o encarei,
cheia desse assunto — eu tenho alguns apartamentosperto de
onde vocês moram, poderia passar um pra você.
— Não — falei enfática— mamãe vai acabar se mudando, ela
só estáhesitandopra não me deixar sozinha, mas nem dorme mais
em casa. E eu gosto de onde eu moro, gosto que seja pertinhoda
praia, que seja pertodo restaurante,
que eu tenha passado a vida
toda por ali.
— Sempre morou ali? — ele perguntoue eu neguei com a
cabeça.
— Morávamos em uma casa maior. Depois minha mãe achou
que era melhor vender e comprar o apartamento.Aí ela investiu
mais no restaurante e guardou um pouco. Mas não vem ao caso.
Não quero mudar de apartamento.Acho que onde estou morando
vai abrigar perfeitamente a nossa filha.

Eduardo não prolongou a conversa.Depois de quinze minutos


caminhando, ele perguntouse seria seguro eu correrum pouco.
Avisei que sim, não havia nenhuma restrição e tenteiacompanhá-lo.
Se torn ava difícil,porque quando ele começou a suar, tiro
u a maldita
camisa e eu tive a visão perfeitado seu abdome tonificado,
marcando os músculos, tudo se comprimia querendo poder grudar
nele e só soltá-lo quando eu estivesse satisfeita.

Mas e se ele estivessedormindo com outra?Sacudi a cabeça,


eu não deveria ficartãoparanoica.Mas a dúvida me corroía.Eu não
iria sair transando com qualquer um, porque estava grávida.
Certo, eu não iria transarcom qualquer um porque eu era
patéticae não levava sexo apenas como diversão. Só com ele, mas
bem, com ele eu poderia, de qualquer maneira. Estavagrávida dele,
não haveria algum problema.

Parei de correrpara recuperara respiraçãoe Eduardo parou


alguns metrosna frente,se virando e voltou em minha direção.
Havia algumas gotasde suor escorrendopelo peito e meu coração
estava acelerado de desejo e de raiva.
— Cansou? — ele perguntoue eu assenti— vamos encontrar
algum lugar e tomar uma água, então.

Por impulso, ele entrelaçounossas mãos e eu quase deixei.


Mas não queria me confundir e me deixar levar. Poderia dizer que
talvez eu não estivesse mais tão magoada assim, mas ele era
inconstante demais para eu me deixar levar estando grávida. Eu não
queria que qualquer intercorr
ência inesperada –e tudo com ele era
inesperado –, me abalasse e prejudicasse o bebê.
Edu me olhou por um segundo, quando puxei a mão da dele,
mas continuamos andando lado a lado até um quiosque e nos
sentamosem uma mesa. Ele pediu água de coco para nós dois. Eu
me recosteina cadeira, logo a sentindo mexer. Eduardo chegou
para mais pertoe ergueu a minha camiseta,mas por foraera tão
difícil notar
, fazia apenas uma leve onda e parava. E então
acontecia de novo.
— Eu achava isso tão bizarro antes — eu contei, mas ele
estava vidrado no meu ventre — agora parece tão perfeitoe
mágico...
— Você vai amar muitas coisas bizarrasainda — ele falou,
olhando para mim rapidamente.Eu quis poder abraçá-lo,porque ele
já havia passado por isso uma vez e deu tudo terrivelmente
errado.
Por tudo que era mais sagrado, eu não queria que nada se
complicasse para mim ou minha filha. Me dava pânico só em
pensar.
— É mesmo? — perguntei e dei um sorriso travesso.
— Tipo me ver conversandocom a sua barriga— ele começou
— me ver cantando também.
— Você canta tão mal.
— Ela vai terque lidar com isso — ele falou, mas riu — quero
que ela se acostume com a minha voz.
— Vou fazer isso também, então — eu falei — quero que ela se
acostume com a minha voz também.
Eu e Eduardo nos olhamos por mais que um segundo dessa
vez. Mas ele voltou para a vida real e se afastou,pegando a sua
água de coco e sugando um pouco pelo canudo.
Caminhamos de volta para o prédio de Edu e ele avisou que
tomariaum banho, assim, depois de me levar, ele seguiria para o
trabalho.A mãe dele ainda estava ali, ela e Noêmia conversavam
animadas. Eduardo quase veio em minha direção, não sei o que
pretendia,mas provavelmenteme daria um selinho antesde subir?
De qualquer maneira, ele se conteve antes e subiu as escadas
saltando os degraus.

Peguei o olhar de Nora em nós dois e queria poder fugir dela.


— Eu me sinto tão só — ela falou para Noêmia e eu me
aproximei, me sentando no sofá vago — Chiara anda parecendo
Eduardo em tempos de solteirice,não quer mais sequer ouvir falar
em relacionamentos sérios.
— Aposto que é só uma fase — Noêmia falou convicta.
— Espero que sim. Ainda bem que vou teruma neta, assim
vou ocupar meu tempo a mimando — ela falou, olhando
maliciosamente para mim.
— É muito difícilvocê impor limites para uma avó — Noêmia
falou para mim, que suspirei.
— Mas não quero que ela cresçaachando que pode tertudo,
que o mundo é fácil.
— Eu quero poder torná-loo mais fácil possível para ela —
Nora falou — e como você vai decidir sobre as aulas? Vai voltar
assim que a tiver? Ou vai esperar um tempo?
— Eu decidi que vou pensar sobre isso depois. Quero ver
como vai ser, sabe? — perguntei— se ela forum bebê tranquilo,
talvez dê pra conciliare Edu possa ficarcom ela por algumas horas
durantea noite... Eu não sei, nunca estivecom um bebê antes,não
sei como lidar ainda...
— Você e Edu deveriam pararde orgulho besta... E ficarem
juntos de uma vez!
C 17
Eduardo Toledo

Fred enviou uma mensagem avisando que estavana praia com


Jordana e Marina. Eu havia dormido pouco, mas acabei querendo ir.
Sabia dos motivos consistentes para evitarficarcom Jordana, mas
eu queria estar perto durante a gravidez, ser participativoe
merecedor , adquiriro costumede ser um bom pai. Eu tive um pai
legal, queria passar isso adiante. E meus pais jamais permitiriam
que eu fosse um escroto sem noção, nem que eu quisesse.

Quando cheguei, eles estavam sob um guarda-sol enorme.


Jordana fazia poses e Marina a fotografava.A mão ia
automaticamente para a barrigae eu ansiava em poder tocá-la.Era
como uma fatalidadeaceitarque eu iria passara gravidez dela toda
sem tocá-la, mas havia um bem maior a frente da minha decisão.

No começo, houve apenas mágoa. Agora, eu não confiava


mesmo em mim. Poderia dar tudo certoentrenós dois e isso seria
ótimo, mas se desse errado,eu iria me culpar e se desse erradoe
isso fizesse algum mal a nossa filha... Eu não conseguia pensar
.

Ela estava perfeita.O ventre crescendo para abrigar nosso


bebê, eu deveria, mas não conseguia nem guardaro ódio que senti
quando descobri e soube que ela estava me escondendo de
propósito,por não confiarem mim. Era como se eu comprasse
todos os motivos dela e a entendesse.
Ela estava gostosa nesse biquíni pequeno amarrado nas
laterais,a barrigasaliente abrigando nosso bebê e os seios bem
maiores que antes. Cocei a têmpora, poderia ficarpor horas a
admirando, mas se continuasse por mais tempo, iria terque sair
daqui para escondero volume que se formariano meio das minhas
pernas.

Eu precisavadesesperadamentede sexo. Mas não queria ficar


com outra,porque seria uma espécie de traiçãoe eu andava todo
melindroso, para não estres sar Jordana. E eu queria transarcom
ela, de qualquer jeito. Sabia que a satisfaçãomomentânea com
outramulher não saciaria a minha vontade especificadela. Era a
minha pena, eu já havia aceitado.

Cheguei mais pertoe cumprimenteitodomundo, menos Chiara


e Ravi. Eu não era um exemplo de homem. Mas nunca compactuei
com tra ição, cresci com esse exemplo dentro de casa. Um dos
alicercesde um relacionamento saudável é a lealdade, a fidelidade
e respeito.Eu não compactuava com traição,com prometeramor
para uma pessoa e ficarcom outra apenas por conveniência e
prazerbarato.Chiara não estava pensando em ninguém, magoada
como andava, não pensava que isso não dava para ela o direitode
magoar outrapessoa. E Ravi, eu nem iria comentar , tinha ao seu
lado uma garotalegal, disposta a ajudá-lo a superarum vício que
talvez o estivesse destruindo. Mas era muito mais prazeroso e
conveniente estar com Chiara, essa surtada sem noção que o
levava para onde ele queria, mas não deveria querer. ir
Nos vimos rapidamentena noite passada, quando cheguei ao
apartamentode Ricardo, um amigo nosso. Não fiquei por muito
tempo, me sufoqueirapidamentee só pensava em Jordana. Estava
um completo condenado mesmo. Poderia tersaído dali com outra,
se eu quisesse, mas eu não queria.
— Achei que iria estar morto de ressaca hoje — Jordana
comentou, se sentando ao meu lado na mesa colocada na areia.
— Por que estaria?— arqueei uma sobrancelhae ela fez uma
careta.
— Um passarinho me contouque você esteveem uma festa—
ela falou desdenhosa e deu de ombro.
— Um passarinhochamado minha irmã? — perguntei,olhando
rapidamentepara Chiara e ela quase riu, se entregando— mas fui
embora cedo, estava cansado.
— Cansado por quê? — ela perguntou, fazendo um bico
tendencioso e pegou a sua garrafa de água — saiu na sexta?
— Encontrei alguns amigos, mas não demorei.
— E fez o que ontem para estar tão cansado? — ela
perguntou,não se importand o em ser discreta.Notei Fred focado
em nós dois, mas ele tentou disfarçar
.
— Muito trabalho na empresa, acabei tendo que monitorar
alguns projetos de engenheiros iniciantes e peguei alguns para
refazer , fui à Santa Catarinapara uma reunião, voltei no mesmo
dia... E depois tive que passar horas ouvindo minha mãe falar—
desatei a falar e ela assentiu, torcendoos lábios — não estou
saindo com outra, se é isso que quer saber
.
— Hum... — ela falou, forçandoo desinteresse— eu também
não estou saindo com outro.
— Isso é ótimo — eu murmurei,engolindo pesado — eu não
gostaria de ver você e a minha filha por aí, com outro homem.
— Mas depois que ela nascer, eu vou poder — ela falou,queria
me provocar, eu sabia disso. Eu a encarei sério.
— Espero já termorrido antes de terque ver isso — falei,
quase ralhando. Ela pareceu surpresacom a minha radicalidade e
para sua sorte,Marina a chamou. Estávamosem uma partemenos
frequentada, com poucas pessoas ao redor , de modo que
poderíamos ficar mais à vontade.

Depois que Jordana saiu, Fred se sentou ao meu lado e


pigarreou algumas vezes. O encarei, mas não queria ouvir seus
conselhos. Ele pigarreou outra vez e eu suspirei entediado.
— O que foi, Fred? — pergunteie ele me olhou, se fazendo de
desentendido.
— Você e Jordana, se mordendo um pelo outro— ele riu — e
fingindo que não querem mais.
— Se eu quisesse, tentaria— falei como se fosseo óbvio. O
que não era, porque eu queria.
— Sei... — ele falou vagamente — olho pra ela e penso que
Marina esteve grávida e...
— Você precisasuperar— falei mais baixo — porque toda vez
que você lembra, sofree, se você lembra pra ela, ela sofre.Não há
mais o que fazer
, cara...
— É... — ele suspirou — a louca da Luísa não apareceu
fazendo algum drama?
— Se ela aparecer depois que você a mencionou, eu vou
quebrara sua cara — avisei ríspidoe ele deu uma risada — ela
insinuou ao meu pai que o bebê poderia não ser meu. Porém, é
mais fácil eu ter engravidado outra por aí, do que Jordana ter
transado com outro cara.
— Você confia mesmo nela, né?
— Pior que sim — resmunguei — e nem estoumais com tanta
raiva, se você quer saber.
— Por que não tentam voltar?
— Porque eu sou problemático, não quero chateá-la na
gravidez e isso afetá-lade alguma forma.Estandoseparados, ela e
eu entendemos alguns limites.
— Entãodepois que o bebê nascer... — ele sugeriue eu dei de
ombros.

Passamos o dia por ali. Eu e Fred bebemos, na verdade todos


estavam bebendo, até mesmo Ravi, que não deveria, imaginei.
Menos Jordana, porque estava grávida. Almoçamos por ali e logo
depois Chiara apareceu com uma bebida destilada.Eu não deveria
terbebido tanto. Talvez por tercomeçado antesde comer, eu tenha
cedido mais fácil aos efeitos do álcool.

Fato era que quando decidimos ir embora ao final da tarde,


Jordana dirigia meu carro–e eu nem sabia que ela dirigia –,e eu
estava tonto no banco dianteiro. Achei iriamos para seu
apartamento,porque sim, eu estava embriagado e já havia até
mesmo me declarado para ela duas vezes, que apenas me revirou
os olhos, não acreditando mais no meu amor e tesão.
— Meu Deus, Eduardo! — ela falou ríspida,dirigindo devagar
rumo ao meu apartamento— quando eu penso que você não pode
piorar! — ela estava brava e parou no sinal vermelho, para consertar
a minha sunga e eu grunhi com o contatorápido da mão suave dela
no meu pau.
— A última pessoa com quem eu estive foi você — eu falei,
piscando devagar — e eu só queria um beijo...
— Não... — ela falou e ia voltando a se sentarno banco, mas
nossos olharesse encontrara m e ela me analisou com mais cautela,
depois desceu o olhar para a minha boca e engoliu pesado. Pisquei
devagar e fui me aproximando, iriamos nos beijar, mas a droga do
sinal abriu e ela se afastou.
Soltei o ar, frustrado,mas deveria apenas agradecer a
intervenção.

Quando chegamos ao meu apartamento,eu fuipara o banheiro


e tireia sunga, usava apenas isso. Tomei um banho rápido e saído
banheiro, enrolado na toalha. Logo depois de mim, ela entrouno
banheiro. Ignorei a tentaçãopara ir espiá-la e me joguei na cama.
Cheguei a cochilar, mas ainda notei Jordana vindo para a cama, no
entanto, ela foi se deitar na outra ponta, longe demais.

Cheguei para mais perto,puxando o mesmo cobertorque ela


usava e me aproximei ainda mais um pouco.
— Só quero dormir assim — eu prometi, sussurrando . Ela
suspirou quando a abracei por tráse afundei o rostona curva do
seu pescoço. Notei que ela teve uma onda de arrepiose rocei o
nariz em seu pescoço, a cheirando.A mão foidespretensi osa para o
ventre,ali
, eu determinei que tinha direitode tocar
, porque abrigava
nossa filha, mas sobre a minha camisa que ela vestia não tinha
graça. Eu fechei os olhos com força, porque quando subi a
camiseta,percebique ela estavasem calcinha. Poderia terlevado a
mal, mas ela não tinha calcinha aqui e vestiaapenas o biquíni e um
shortjeans que nem abotoava mais. Respirei fundo, ignorando meu
pau ficando duro, e nem me afasteitambém. Ela que sentisse a
minha ereção e a ignorasse, como eu estava fazendo.
Passeei as pontas dos dedos pela barriga dela, indo até o
ponto mais baixo e voltava. Ela remexeu, agoniada, mas não me
impediu. Continuei os carinhose em uma das vezes, desci os dedos
até o clitóris,que retesouna minha mão. Fiz parecerque foi sem
querer e fiz de novo, dessa vez rodeei o indicador nele e ela
suspirou, não dizendo nada. Por isso, recuei a mão e a levei por
trás,no meio das suas pernas e passeei o dedo entreos lábios
íntimos,aperte i os olhos porque ela estava lubrificada.Acariciei o
clitóris mais uma vez e voltei, afundando a procura da entrada.
— Está gostoso assim? — perguntei e ela arquejou, se
contorcendo,mas se control
ava — quer que eu faça assim com a
minha língua? — sussurrei, lambendo sob sua orelha. Dessa vez ela
não controlouo gemido fortee eu dei uma chupadinha de leve em
seu pescoço, ela choramingou e segurou a minha mão.
— É melhor a gente não fazerisso — ela falou, me frustrando,
seria possível ser racional agora?
C 18
Jordana Testa

Houve um momento em que eu neguei, fui lógica e coerente


com tudo o que vivemos. Essa históriarepentina,louca e intensa
que acabou em gravidez. Quem poderia imaginar? Considerando
que eu não me protegia com algum contraceptivoque não
dependesse de Eduardo, e nós sempre quebrássemos a regra
sobre a camisinha, uma hora acabaria acontecendo.Mas tão cedo
foium golpe duro do destinopara mim. Porque para ele pouca coisa
mudaria. Se ele quisesse ser um pai-perfeito,sim, poderia mudar
algumas coisas, mas ainda assim seriam poucas. O homem tinha
dinheiro e pareciadesapegado com isso, tinhae não se incomodava
em gastar .

Eu não era nada intensa. Sempre melindrosa, apavorada e


estava completamente reclusa há anos, por todos os
acontecimentos trágicos que enfrentei. Pensei, por um segundo, que
meu pai iria ou odiar Eduardo, ou amá-lo, vai saber. Mas ele
identificaria
o perigo e me protegeria,como tentoufazercom o meu
antigo relacionamento.Nunca aprovou, mas eu estava envolvida
demais para dar ouvidos, e quando se está em um relacionamento
abusivo e cheio de traições,é muito complicado entendera razão e
seguir conselhos.

Eu não colocaria Eduardo nesse grupo de abusadores. Talvez


traumatizadodemais, confuso,medrosoe inconstante?Mas ele não
me maltratavaintencionalmenteemocionalmente, me culpando de
todos os seus erros.E nem me agredia, ou me fazia ter medo de
perdê-lo. Nós apenas éramos incompatíveis,porque eu não tinha
mais o medo de sofrer, e quando ele se foi, doeu, mas eu descobri
que estavagrávida e tudo foi tão confusoe complicado. Agora, ele
me cuidava e protegiada maneira que achava certa.Estávamos
magoados um com o outro,mas nem assim ele me pressionava e
maltratava. Poderia estar enganada em inocentá-lo.

Mas em outra comparação — comparações que eu nem


deveria estarfazendo, claro –, quando eu falei que era melhor
pararmos, ele resmungou e se afastou,se levantou e eu fiquei
amargurada na cama, porque eu queria, mas era melhor não.
— Eu vou dormir no outroquarto— ele falou, a toalha cobria,
mas não disfarçavaa ereção — se precisarde alguma coisa, por
favor
, me chame — assenti, afundada na cama, me sentindo
péssima por renegarnosso desejo. O olhei indo para forado quarto
delee quando já estava chegando à porta, eu não me controlei:
— Edu, espera — eu disparei nervosa, apertandoo lençol com
as mãos — eu não quero ficar sozinha.
— Jordana, eu não tenho a menor condição de ficarnuma
cama com você agora — ele falou com forçae eu assenti, me
sentindo péssima, mas achei que ficaria pior se ele fosse.
— Eu sei, mas... — solteio ar, nem tinha o que dizer. Eduardo
ia até o closet,mas o interro
mpi outravez: — não precisa colocar
uma roupa.
Foi um impulso de merda, mas ele estavaembriagado, não iria
mesmo negar a sua vontade. Imaginei que faríamosum sexo cheio
de sacanagens e várias trocasde posições, mas Eduardo estava
carente, apenas nos beijamos e ficamos agarrados enquanto
transávamos,estava tão delicioso que eu soltava os seus lábios
para poder respirarmelhor e gemer. O meu orgasmo veio mais
rápido do que eu esperavae eu joguei a cabeça para trás
, abri mais
as pernas, como se isso facilitasse para ele, que estremeceue
gemeu melodioso, delirando junto comigo. Me agarrei toda nele,
estremecendoe contraindo,aproveitandoa maravilha que era poder
gozar refémdele. Edu me esperou ficarcalma e relaxada sob seu
corpo, então diminuiu o ritmoe passou uma mão pelo meu rosto,
tirandouma mecha do cabelo da testa,depois pressionou nossos
lábios suavemente. Ficamos nos encarando enquanto ele estocava
devagarinho, como se quisesse aproveitarmais desse momento
gostoso. E eu também teriaquerido, mas não consegui segurar .
Minha boca abriu em um gemido mudo quando ele trem eu e veio
mais forte,mais fundo. Eduardo tentoudizer algo, mas ao mesmo
tempo senti seu esperma quente me inundando intensamente e ele
deu um gemido áspero, afundou o rosto em meu pescoço e
aproveitou seu momento até o fim.
— Eu não sei como suporteiesse tempo todo, sem gozar em
você assim — ele falou um tempo depois, me fazendo rir
, porque
tinha que falar uma besteira, óbvio.

Achei que já iriamos dormir


, mas ele se levantou e disse que
estava com fome. Depois, quando se deu conta de que eram
apenas seteda noite, perguntou o que eu tinha na cabeça para nos
colocar na cama tão cedo. Antes que eu pudesse responder
, Edu
presumiu que era esse o meu plano para seduzi-lo. O encarei
incrédula e nem me dei o trabalho de responder
.

Enquanto ele pediu jantarpara nós dois, eu fui me lavar. E ele


logo me encontrou, cheio das suas safadezas.
— Tinha me esquecido de como você é toda certinha— ele
falou, me ensaboando bem lá. Eu o encarei desdenhosa e ele
roubou um beijo da minha boca — porque da última vez que
transamos, você estava muito safada.
— Eram os hormônios — eu falei, para me defender . Ele me
encarou, mudando o humor , porque daquela vez, eu estava omitindo
dele a gravidez.

Nós nos secamos depois do banho e eu vesti de novo a camisa


dele. Edu vestiuapenas um samba-canção de seda, me exibindo de
propósitoesse corpo gostoso. Descemos e ficamos na varanda,
sentindo a brisa bater
, era uma delícia ter essa vista incrível do. mar

Nosso jantarnão demorou a chegar e eu fui ajudá-lo a pôr a


mesa. Edu logo se preocupou por não terme perguntad o sobre o
que eu queria, já que poderia enjoar, mas estava tudo bem.
Jantamos uma massa muito gostosa, mas a sobremesa me deu
enjoo só de olhar.
— Acho que são os doces — eu falei desgostosa — não
consigo comer nada doce que me dá enjoo.
— Pelo menos doce não é nada saudável, não faz mal evitar —
ele falou, buscando um ponto positivo e eu assenti.
Quando terminamos de comer, fomos para a sala de cinema
dele, que agora prometeuque veríamosum filme, mas foi só o
tempo de a nossa filha começar a mexer, eu contarpara ele, que
veio erguendo a sua camisa em mim, eu estava sem calcinha e
começamos de novo.

Era tão gostoso fazersacanagens com ele, porque ele sabia


realmentecomo dar prazerpara uma mulher. O que quase me fez
pensar se ele não estavamesmo transandocom outra,mas afastei,
não iria pensar nisso agora.
— Eu não sei se prefiro...— tenteifalar
, a voz toda falhando e
ele me chupando perfeitame nte fortelá em baixo — gozar no seu
pau... — um gemido falho me escapou, eu estava com o pé no
paraíso— ou assim, na sua língua... — Edu gemeu, me puxando
pelos quadris e deu uma lambida deliberada no meu sexo,
chupando o clitórise rodeando a língua nele. Meu gemido foi mais
alto do que eu imaginei, e o orgasmo veio perfeitamente intenso,
quase violento,mas perfeito.Eu ainda estremecia,quando ele subiu
pelo meu corpo, me penetrando,ele faziaparecerque havia um imã
que o puxava para dentrode mim, e começou um beijo gostosoe
profundona minha boca. Estava cheio do meu gosto, mas não me
importei.

Estava ficando perigoso estarpertode Eduardo, esse tarado


sem noção. Já passava de uma da manhã, quando descemos
novamente para comer, já que não dormimos e ele colocou uma
lasanha no micro-ondas. Agora que não tínhamosmais que nos
preocuparcom a camisinha, ele não se segurava, e como achava
que estartempo demais sem sexo era uma desculpa aceitável,era
só o tempo de ele se recuperar , para recomeçarmos.Eu deveria
pará-lo, não sabia se sexo demais poderia afetaro bebê, mas era
tão gostoso.E depois do orgasmo, ela mexia muito, o que Eduardo
também adorava ver.

Ele estava com as mãos no mármore,uma em cada lado do


meu corpo, nós dois já estávamos pelados na cozinha, ele investia
delicioso enquanto nos beijávamos. Minhas mãos estavam
emaranhadas no cabelo macio dele.
— Eu vou gozar — anunciei, soltando o seu lábio, surpresa
com a agonia que veio tão rapidamente.
— Já? — Edu sussurrou,passando um braço em volta do meu
corpo,me puxando para me segurarmais firme.Eu desfaleci e gemi
manhosa — então goza gostoso...
— Meu deus — sussurreitoda dominada por ele e procurei
pela sua boca de novo. Foi o estopimpara mim quando ele levou o
polegar para o meu clitórise eu me deixei cair de novo. Edu olhou
para mim, quando acabei e passeei uma mão pelo seu rosto,tão
deliciosamenteexausta.Ele revirouos olhos e eu dei um sorriso,ele
ia gozar, era perfeito.

Acordei na manhã seguinte com Eduardo deixando beijos


suaves pela curva meu pescoço, enquanto a mão habilidosa já
traçava o caminho da minha boceta. Eu gemi fraco, ele era
incansável, e eu já sabia disso.
— Posso? — ele sussurroue eu levei uma mão para a sua
nuca, assentindo. Mordi o lábio inferiore afasteium pouco a perna,
para ele colocar o membro e me penetrar
. Edu fez devagarinho e
veio até o fim, mas antes que fizéssemos mais alguma coisa, a
porta do quarto abriu bruscamente.

A mãe dele levou uma mão ao peito, respirandoaliviada e eu


só conseguia agradecerpor estarmoscobertos,e ser um edredom
grosso, do contrárioeu iria terque mudar de planeta, para nunca
mais correr o risco de encontrá-la.
— Todos estão loucos atrásde você, Jordana! — ela falou,
pareciamesmo preocupada.Meu coraçãoestavaacelerado, porque
Eduardo deveria no mínimo terbrochado com esse flagra maldito.
Ela pareceu logo se dar conta de não que estávamosna situação
mais apropriada, então se desculpou e saiu, puxando a porta.
— Relaxa — ele falou irreverente, mas não havia mais clima
para sexo e eu me afastei.Eduardo se sentouna cama e cruzou os
braços, mas não me comovi.
— Eu nunca mais vou conseguir olhar para ela — eu falei
incrédula, tendo palpitações só de lembrar que poderíamos estar em
uma posição diferente,que poderíamosnão estarcobertos.Dava-
me formigamento.

Fui para o banheiro, enumerando as possibilidades de isso ter


sido tão pior. Quando abri a portaado Box e entrei,logo ligando o
chuveiro, Eduardo me encontrou, e ria. Ele ria!
— Eu aposto que ela sabe que transamos— ele falou, se
divertindo.
— Se você quer me deixar pior, está no caminho certo!— eu
falei brava, mas ele passou os braços em volta do meu corpo e
inclinou para selar nossos lábios.
— Ela nunca vai mencionar o que viu — ele prometeu.
Suspirei, não havia alternativa senão superar
.

Mas assim que descemos, a mesa do café posta e ela lá,


conversando com Noêmia, Nora nos olhou sugestivamente,
segurando uma torrada e deu um sorriso maroto.
— Fico feliz que estejam juntos — ela falou, dando de ombro
— apostei caro que isso iria acontecer
.
— Não estamos juntos.
— Então como quer chamar? — ela perguntou para mim.
Eduardo nem se deu o tra balho de responder , foi se sentar e
Noêmia serviu café para ele, que agradeceu logo depois, sempre
tão bonito, em seu terno,enquanto eu usava a camisetadele e o
short jeans.
— Uma noite casual com o pai da sua filha? — ela provocou,
me deixando sufocadade vergonha — e não venha dizer que não
fizeram nada, porque estavam fazendo!
— Mamãe, assim você vai matá-la de vergonha — Eduardo
falou desinteressado.Eu fiz uma careta e fui me sentar . Essa
inconveniência deveria ser de família,porque Fred e Chiara eram
assim. Mas ela, a mulher que se constrangiae ficavasufocadacom
qualquer coisa forada sua elegância, eu não imaginava que seria
igual!
Tomei um suco verde que estava gostoso, com folhas de
hortelãe espinafree comi um mistoquente que Noêmia trouxepara
mim. Nora ainda investigava sobre mim e Eduardo, mas como não
dei aberturapara essa conversa –nem eu sabia o que estávamos
fazendo –, ela mudou para o enxoval do bebê.

Eu e ele teríamosque pensar em um nome logo, chamá-la de


ela estava ficando tão injusto e frio...
— Mãe, eu vou deixar Jordana em casa e depois vou pra
empresa. Vai ficar?
— Vou. Pelo menos Noêmia me faz companhia — ela falou,
revirando os olhos — sinto falta da sua irmã...
— Chiara? — Edu perguntou e ela o encarou.
— A antiga Chiara. Dessa doida que sai todo dia e não me dá
nem tchau, eu tenho é raiva — ela falou magoada, me fazendo
quererrir— ainda bem que você e Jordana estãojuntos.Eu nunca
tive uma nora que gostasse, até agora.
— Mãe — Eduardo falousério.Ela fingiufecharum zípersobre
os lábios. Sabia que deveria ser duro para ele, ela falardesse jeito,
porque a ex-namorada estava morta, por uma fatalidade.

Ele estavaresolvendo algo pelo celular e eu não quis interferir


,
parecia tão importante,gostoso, estava sempre gostoso. Quando
descemos no elevador, na garagem do prédio, ele veio até mim e
me roubou um beijo suave dos lábios.
— Meu dia vai ser corridohoje, mas podemos nos ver a noite
— ele falou e eu pisquei devagar, seria uma boa ideia? — posso te
buscar na faculdade.
— Eu te ligo à noite, então. Quando a aula estiverpara acabar
— eu promet i. Ele ligou o som do carro, fomos conversando
besteiras até chegarmos ao meu prédio.
— Ei — Edu reclamou quando eu ia descendo e eu parei, o
olhando confusa — meu beijo.
— Ah — revirei os olhos e me aproximei, selando nossos
lábios. Edu riu, segurando meu queixo e beijou lenta e
profundamentea minha boca. Ao encerrar, se inclinou e deixou um
beijo no meu ventre.Era um gesto tão bobo, mas me encantava
tanto.
C 19
Eduardo Toledo

Jordana estava entre minhas pernas, enquanto eu massageava


o creme que ela usava todo santodia, para evitaralguma estriana
barriga.Não havia nada disso, ela estava perfeitae reluzente.Eu
atribuíao reluzente a mim, já que eu conseguia fazê-la gozar
lindamente toda vez que transávamos. E uma mulher grávida
saciada ficava esplêndida.

Eu já havia aceitando a minha pena, era um tarado


irremediável.Estávamoscompletandoo quinto mês de gestação.A
barrigaestavaperfeitamente redonda e ela estavalinda. Nossa filha
ainda não tinhaum nome e mamãe a chamava de Alice. Eu já havia
dito a Jordana que se não decidisse logo, minha mãe iria fazertodo
mundo acostumarcom Alice e teríamosuma filha com qualquer
outro nome, mas o apelido se tornaria Alice.

Era um sábado de outubro,aniversárioda Chiara e ela estava


dando uma festaà fantasia.Desse jeito,eu e Jordana estávamosde
Aladim e Jasmine. Como eu havia me esquecido e Jordana,
ocupada demais com os trabalhosna faculdade,esqueceu também,
conseguimos alugar algo de última hora. Ela estava perfeitanessa
calça azul, o top da mesma cor e a nossa filha guardada no ventre
da mãe mais perfeita que poderia ter
.
Nós dois nunca sentamospara conversarsobre nós dois, mas
também não paramos de dormirjuntos e ficarjuntos o tempo que
quiséssemos. Teríamos uma filha, poderíamos fazer o que
quiséssemos, eu pensei.
— Tem a possibilidade de alguma ex sua estarlá? — ela
perguntou,quando depositeium beijo no ponto mais alto da barriga
dela e eu a olhei, sabia que se referia à Luísa.
— Por Chiara, não — falei — mas isso importa?
— Não sei, não queria ter que enfrentá-la.
— Está tudo bem — prometi.

Seguimos para a mansão e na partemais extensa do jardim


estavaa decoraçãoda festa.Agarreia mão de Jordana, para evitar
qualquer especulação idiotados fofoqueiros
de plantão.Poderíamos
não teroficialmentevoltado e amanhã decidirmos pararcom tudo,
mas era melhor que os outrosachassem que estávamos juntos.
Fomos cumprimentandoos conhecidos por quem passávamos, e eu
apresentava Jordana a quem ainda não a conhecia. Logo
encontramos minha família.
— Nem sei o que te dizer sobre o presente— Chiara falou, ao
se jogar em meus braços, para um abraço. Afaguei seu cabelo.
— Não que você estivesse mesmo merecendo — avisei.
— O que foi o presente?— Jordana perguntoucuriosa e eu
passei um braço em volta do seu corpo, repousando a mão em seu
quadril.
— Uma Porsche — murmurei — Chiara queria há anos.
— Oh — ela murmurousurpresae piscou devagar. Peguei o
olhar de meu pai em nós dois, talvez isso explicasse o desconforto
de Jordana. Fomos nos sentarem uma mesa, enquanto a maioria
das pessoas pareciamais animada em beber e aproveitara música.
Mamãe logo veio se juntara nós, em seguida, os pais de Fred
e o meu. Peguei água para Jordana e uísquepara mim, quando um
garçom passou por nós.

A conversana mesa era animada, mas não consegui segurara


risada quando minha mãe começou a conversarcom a barrigade
Jordana, foi só notar a nossa filha inquieta que se abaixou e
começou a cutucar o lugar onde viu mexendo.
Se Jordana já achava bizarroeu fazendo isso, deveria triplicar
vendo minha mãe.

Por sorte, quando Luísachegou, junto com Bruna e o pequeno


Bruninho, mamãe tinha ido acompanhar Jordana até o banheiro.
Acenei para os que acabaramde chegare infelizmentese sentaram
na mesma mesa. Neguei com a cabeça e suspirei.Meu pai mudou
de lugar, se sentando ao meu lado.
— Estáfeliz? — perguntourepentinamentee o encarei — com
tudo isso...
— Estou — falei — você não?
— Só quero que faça a coisa certa— ele falou sério — não
queria que cometesse o mesmo erro.
— Não estou cometendo algum erro — retruquei rapidamente e
olhei ao redor
, procurandoJordana e minha mãe — não caia na
conversa de Luísa, por favor
.
— Não quero dominar suas decisões, Eduardo. Mas todo
mundo sabe como você ficaimpulsivo quando se apaixona — meu
pai faloumais baixo e incisivo. Eu solteio ar e me levantei.Ele tinha
apenas a opção de comemorar a gravidez de Jordana. E
comemorava, mas era só ver Luísa que começava todas essas
dúvidas.

Fred e Marina demorarama chegar e eu cheguei a questionar


sobre Ravi, mas Marina respondeu baixinho que estava com
Denise. Neguei com a cabeça e procureipor Chiara, porque ela
estava mesmo se enfiando em um problema.
— Ela não estáapaixonada por ele, cara — Fred garantiue eu
o encarei.
— Mais um motivo pra não se meter.

Fred foi até a mesa onde estava nossa família, para


cumprimentá-lose falarcom o filho.Queria arrastarMarina, mas ela
se soltou e ficou.
— Se aquela mulher solta uma piadinha, ele responde e vira
aquela bola de neve — ela explicou — e ele foi levar um remédio
pro filho uma noite dessas e ela desceu de roupão pra pegar. E
ainda ficou abrindo, se insinuando pra ele — Marina estava
incrédula, enquanto eu comecei a rir — não é engraçado, Edu.
— Desculpe — pedi, me controlando.
— Depois fica insultando ele, colocando o menino contraele.
Aí o pior, ele invés de conversarcom o filho direito,vai lá e fala mal
da mãe pra ele — ela estava incrédula e negou com a cabeça —
ainda bem que o juiz mesmo impôs que a criança precisava de
terapia desde já. Porque os pais... Dois loucos.
— Deixe Fred te ouvir falando assim dele — Jordana a
repreendeu,mas ela não se importou.Estavafalandoa verdade, de
qualquer maneira.
— E essas marcas de beijos na barriga? — ela perguntou
curiosa, me fazendo voltar a.rir
— Jordana acabou com qualquer composturaque minha mãe
tinha em público, ao aparecer mostrandoa barriga— contei, me
sentindo estran hamente afagado, porque parecia estartudo tão no
eixo. Marina olhou em direção à mesa, pela demora de Fred. Ele e
Bruna pareciam mesmo estaremtrocandofarpas,ele não aprendia
nunca. Não conseguia controlar a raiva que a mulher lhe causava.

Ele fez um gesto brusco,como se dissesse chega, arrumouos


cabelos com as mãos e veio em nossa direção, rapidamente.
— Qual motivo da briga? — perguntei quando ele chegou.
— Por incrívelque pareça, Jordana — ele falou, suspirando
forte — que criatura detestável!
— Luísa? — Jordana perguntou.
— Também. Mas a mãe do meu filho — Fred parecia furioso.
— E o que ela disse sobre mim?
— Nada que mereça ser repetido— Fred falou, olhando para
mim.
— É sobre mim — Jordana o encarou mais firme— eu quero
saber!
— Ela não vai fazerum barracoaqui, Fred, pelo amor de Deus,
é a Jordana — Marina falou o óbvio e Jordana fez uma expressão
brava. Mas era a verdade, ela jamais fariaum barracoem qualquer
circunstância.
— Que Edu estava doido para cair no mesmo golpe uma
segunda vez e a verdade iria aparecer— ele falou contrariadoe
Jordana franziuo cenho, mas agarreisua mão na minha e neguei
com a cabeça. Eu confiavanela, não porque precisava,mas porque
sabia que ela não mentiria para mim. Não sobre isso.
— Se eu estivesse grávida, ela iria morrerde tantoódio. Ficaria
adoecida — Marina falouacida — eu não duvidaria nada de fazeros
pais dele exigirem um exame de DNA e, ela dar um jeitode falsificar
o exame.
— Nossa, você é criativa — Jordana falou, mas parecia
desconcertada.Na certapor Bruna tercriadoessa cena na frentede
tantas outras pessoas.

Por sorte,para encerraro assunto,Chiara apareceu, trazendo


um garçom a tiracolo e uma bandeja recheadade shotsde bebidas.
Ela pegou água e deu para Jordana.
— Sinto muito, mas você não pode beber — Chiara explicou,
como se precisasse— quem sabe na festado ano que vem, não
bebemos juntas?
— Ela está bêbada — avisei para Jordana, que assentiu e
pegou a taça com água. Depois disso, minha irmã distribuiuos
copinhos de shot de tequila para nós quatro e o limão com sal.
— Em pensar que eu poderia estar casada uma hora dessas —
ela falou, com a voz embargada pela acidez da bebida e grunhiu,
devolvendo o copinho para a bandeja. Todos nós fizemoso mesmo.
Depois disso, fomos para o meio do pessoal, Marina e Chiara
começaram a dançar e logo Fred a puxou. Abracei Jordana e nos
movi no ritmoanimado da música, ela logo se virou de frentee
passou os braços em volta do meu pescoço. A envolvi em meus
braços, me inclinando para beijar sua boca.

Já passava das quatroda manhã, eu havia bebido mais do que


deveria terbebido, mas agora mamãe já havia mandado preparar
um quartode hóspede para nós dois. A festajá estavachegando ao
fim e eu a levei para dentroda casa, ela estavacom sandálias altas
e os pés cansados. A ajudei a tiraras sandálias, me recostandoao
sofá de qualquer jeito em seguida.
— Você vai fazer tantodrama quando acordar— ela lamentou,
trazendo uma mão para o meu rosto.
— Ainda bem que você vai cuidar de mim.
— Dessa sua doença — ela falou sarcástica,rindo do meu
drama com qualquer mal estar
.
— Prometoque não vou beber depois que a Alice nascer —
falei, a ponto de começara embolar as palavras, mas quando notou
isso, Jordana me fez parar e começar a beber água.
— Quer chamá-la de Alice? — ela perguntou e eu dei de
ombros.
— Todos a chamam assim — sussurrei, soluçando e ela riu.
— Amanhã decidiremos, então.
— Obrigado — murmurei e ela me olhou confusa, mas não
rendeu a conversa.

Meus pais entrarame minha mãe bocejou, acenando para nós


antesde nos desejar boa noite. Já meu pai, nos avaliou minucioso,
e antes que subisse também, perguntou:
— Vocês não acham que seria seguro, um exame de DNA? —
ele perguntou.Eu estavasob efeitodo álcool, não me dei contada
gravidade da pergunta.
— O que? — perguntei,a voz pareceu sair fina, porque era
uma sugestão ridícula e ofensiva.
—- Vocês dois sempre foramconturbados...Pensei que seria
mais seguro — meu pai insistiu. Eu tombei a cabeça para tráse
cobri os olhos com o braço, me recusando a dar palco para essa
conversa, mas ouvi Jordana responder:
— Se o senhor acha necessário,eu não me importoem fazer
— ela falou baixo, mas o tom de voz era pura mágoa. Eu conhecia
bem o seu tom de voz manso e magoado.

Achei que fôssemossubir, mas Jordana achou melhor irmos


embora. Pegou a chave do meu carroe as suas sandálias, então
saímos.

Eu odiaria meu pai para todo sempre, por teracabado o meu


clima de romance na noite, porque Jordana ficou tensa e séria,
quando chegamos ao meu apartamento,ela foi tirara maquiagem e
eu fuipara o banho, ainda na esperançade ela vir tambéme eu nos
convencer bem ali, mas ela não veio. Terminei meu banho e me
sequei um pouco, me enrolei na toalha e parei atrásdela, me
inclinando para deixar um beijo em seu pescoço.
— Está tudo bem? — perguntei, a olhando atravésdo reflexo
do espelho e ela assentiu,apertandoos lábios em um sorriso.Fui
para a cama sem me dar o trabalhode me vestir , ansioso por ela,
mas ela veio vestida no pijama, depois do banho.
— Está mesmo tudo bem? — insisti e ela assentiu.
— Só cansada — ela falou mais baixo e eu suspirei.
— Tudo bem — murmurei,a puxando para mim, para ficarmos
abraçados.

Na manhã seguinte, Noêmia quem veio trazernosso café na


cama, já sabendo que eu poderia estarno meu drama eventual da
ressaca.Mas nada parecia tão dominante dessa vez. Mamãe logo
ligou, questionando o motivo de termos vindo embora e nos
intimando para um almoço em família.
— Almoço em família— repedi, para Jordana saber, mas ela
negou com a cabeça, me deixando confuso — qualquer coisa
apareço aí. Beijo, mamãe.
— Eu preciso ir pra casa — ela falou enfática— estou aqui
com você desde quinta-feira.
— Amanhã você vai, não pode?
— Quero estudar um pouco, também — ela falou,
desconversando— e se a Luísa estiverna sua casa com os pais
dela, eu não quero estar lá.
— Tudo bem — resmunguei, vencido — tem certezaque está
mesmo bem?
— Por que não estaria?— ela retrucoucom um pouco de
impaciência no tom da voz.
— Pelas asneiras que meu pai disse ontem — falei e ela me
encarou, mas não me respondeu.
— Se ele acha mesmo necessário,eu não me importo— ela
falou, orgulhosa como era — não quero que a minha filha nasça
com alguém duvidando sobre quem seja o pai dela.
— Deixa de besteira!— eu falei ríspido— eu nunca questionei
isso.
— Já sim!
— Certo,mas eu estava com raiva! — falei mais alto, ficando
irritadopor ela querer levar isso adiante — meu pai só sugeriu
porque provavelmente Luísa ficou falando merda na cabeça dele.
— Então é ótimo que a gente faça o maldito exame! — ela
falou mais alto também e se levantou — não quero que ninguém
fique insinuando que eu poderia enganar você!
— Eu não quero que isso vire motivopra nós dois brigarmos —
eu falei pausadamentee ela me encarou, respirandodevagar — eu
não quero que você se submeta a isso, pelo amor de Deus! —
esfregueio rostocom as mãos — esses exames são invasivos,
oferecem riscos ao bebê! E eu sei que é minha, eu conheço você!
— Eu quero ir pra casa — ela falou mais baixo, cansada
dessas confusões que apareciam por minha causa. Não falei mais
nada, não iria ficaraqui implorando para ela não fazero maldito
DNA, Jordana só fazia o que queria.

Ela se trocoue pegou as suas coisas, separou as fantasias


para poder entregartambém. Eu suspirava, querendo conter a
irritação, mas não ousei puxar conversa.
— Nos vemos hoje? — perguntei, quando estacioneiem frente
ao prédio e ela me olhou, estava evidentementechateada. Mas
seria injusto jogar a culpa disso para mim.
— Não sei.
— Se quiser alguma coisa, me liga — eu pedi, estava
começando a me contagiarpelo seu mau humor, mas recuei e,
antesque ela descesse, a chamei — meu beijo — pedi e ela soltou
o ar, fazendo um som choramingado, mas voltou e pressionou
nossos lábios. Eu dei um sorriso e a segurei, a beijando direito.

Dali, segui para a mansão dos meus pais. Lá já estavam Fred e


o filho, Chiara, com óculos maiores que o próprio rosto para
esconder sua ressaca,os pais de Fred, os pais de Luísa e ela. A
mesa do café estava posta na área de lazer e meu pai veio, como
se nada estivesse acontecendo e se sentou na cabeceira da mesa.
— Porque diabos você foi pedir um exame de DNA pra
Jordana? — pergunteisem manobraro assunto.Sem me importar
com quem estivesseolhando. Meu pai me olhou surpresopor eu
falar sobre isso aqui, em público.
— Não acha que é a coisa certaa ser feita?— ele perguntou,
tirandoos óculos escuros e se levantou — melhor falarmossobre
isso em particular
.
Eu queria negar, esclarecerisso para todos,mas Luísaestava
aí e eu não queria dar mais motivos para ela inventarburburinhos
por aí.
— Pra quem já assumiu o filho de outrocara, você deveria ter
aprendido com os próprioserros— ela falou, mas ignorei e segui
meu pai.

Ele entrouem seu escritórioe eu entreilogo atrás,fechandoa


porta atrás de mim.
— Soube recentementeque o filho que Bianca esperava não
era seu — ele falou, e eu forcei um riso indignado.
— E o que Jordana tem a ver com isso? — indaguei furioso.
— Eduardo, é nítido o seu descontrole com a garota — meu pai
falou impaciente — alguém precisaagir com o mínimo de razão. Se
ela tem tantacertezaque a menina é sua filha, nem deveria se
ofender
.
— Se ela tem tantacerteza,por que você — enfatizei— está
duvidando?
— Não me venha com esse drama! Ela pode nem saber! —
meu pai parecia irritadoe eu levei as mãos para a cabeça, incrédulo
com esses insultos para ela — até ontem estava saindo com o
irmão do Gabriel! Não sabemos se esteve com mais alguém. Você
vai brigarcom a sua famíliapor causa de uma mulher que conheceu
há poucos meses? Veja bem, Eduardo! Você mal a conheceu e ela
já quis engravidar
.
— Meu Deus, quem conseguiu envenenar você desse jeito? —
eu perguntava, incapaz de sequer querer entender seus motivos.
— Me desculpa, meu filho, mas alguém tem que agir com a
razão aqui. E se ela estivermentindo pra você? E se a criança não
for sua? V
ai ser muito mais doloroso lidar com isso depois.
— Eu vou embora — eu avisei.
— Eduardo, você precisalidar com a dura verdade, pararde se
enganar só por estarapegado. Por mais que você a ame, que talvez
ela te ame, isso não exclui o fatode ser um bom negócio pra
qualquer mulher
, ter um filho seu.

Foi como explodir o que faltava, eu saí dali furioso,cego de


ódio. Consegui ouvir Luísadizer algo, mas voltei apenas para dizer
que queria inventaralguma lei, que me permitisseenforcá-la.Era
sempre ela por trás das descobertas dolorosas em minha vida.
Não queria me deixar contaminar pelas dúvidas do meu pai e
por Deus, eu não estava duvidando dela. Não queria que ela se
ofendesse com o maldito exame, mas seria mais fácil se
fizéssemos,para esfregarna cara dele e seguirmos em paz, sem
ninguém questionando. Mas fazerisso, mesmo que ela pensasse
como eu, seria como abrir uma lacuna para nós dois.

Iria quebrartoda a sublimidade e a magia de nós dois com a


gravidez. Sempre haveria esse fatomaldito de termostido que
provar que nós dois fizemos, de ela ter que passar por essa
humilhação, quando nunca esteve com outro cara depois de mim.
C 20
Jordana Testa

Minha mãe não conseguia entendermeu mau humor. Eu não


havia contado nada sobre a grande dúvida do pai de Eduardo, era
humilhante. Se eu tivesse dado motivos para desconfianças,
aceitaria como preocupação, mas ele apenas se deixou levar
.

Só então eu soube, por Marina, que o bebê da falecida


namorada não era dele, então eu deveria dar um desconto.Mesmo
assim, eu não aceitava a acusação.Elaerrou, não eu. Em todo esse
tempo, o único cara com quem mantive alguma relação sexual foi
ele, não haveria, nem se eu quisesse, a possibilidade de a minha
filha ser de outro.Isso consequentementeme fez voltarà parteem
que nós dois éramosincompatíveis.Eu não queria viraruma dessas
mulheres que engravida do cara, e todosao redorinsinuam que foi
para garantir dinheiro. Eu jamais faria algo assim.

Me sentia culpada, porque eu estava me envolvendo com


alguém muito rico, cheio de problemas, deveria terme protegidode
gravidez de outra maneira. E agora estava feito.Eu sabia que
aceitar, seria compraruma briga com Eduardo. Mas recusarfazer
esse exame seria como dar munição para todas as desconfianças
do pai dele.

Por isso, eu estavame afast


ando de Eduardo. Não queria que
ficássemosbrigando, uma vez que estávamosvivendo tão bem um
com o outro.Não daríamoscerto,eu teriaque aceitaresse fato.A
famíliadele adorava se reunir
, ele deveria sempre estarlá. Depois
disso, eu não iria quererdar as caras, como ele iria aceitaruma
coisa dessas? Além do que, pelo que pude perceber , os pais de
Luísa eram muito próximos, ela se garantiademais e nunca ficaria
longe, sempre alfinetando e insinuando alguma bobagem.

Notei também como a minha barriga cresceu


consideravelmente,na últimasemana. E ele nem acompanhou isso.
Apenas sabia que estava tudo bem com a nossa filha. Na última
ligação, ele insistiu sobre o nome. Eu não estava pronta para
escolhere mesmo que anteseu tivesseachado fofoe engraçado, a
mãe dele tercomeçado a chamar a menina de Alice, agora eu já me
sentiainvadida. Eles não estavamme vendo aqui. Eu era apenas a
grávida do Eduardo, o cara que todos eles veneravam.

Eu quase estavapensando que deveria terfeitocomo Marina,


que interrompe
u sem nem pensar muito, mas por outrolado, eu
amava a minha filhaincondicionalmente.Apenas precisariasermais
impetuosa e forte,não deixar que eles dominassem tanto a
situação.

No meio da semana, Eduardo passou para me buscar depois


da aula. Ele estava ainda com a camisa social de mais cedo, mas
agora já havia tiradoo paletó e havia alguns botões da camisa
abertos.
— Por que você estátão bagunçado? — eu perguntei,ele deu
um sorriso travesso e olhou para mim — não que eu me importe.
— Estavacom calor, não vejo a hora de poder chegarem casa
e tirar essa roupa.
— Como estão as coisas com os seus pais? — eu perguntei
solenemente,mas estavatris te por termosque falarsobre isso. Ele
me olhou rapidamente, e voltou a focarna direção, mas insistie ele
deu um suspiro brusco.
— Minha mãe está chateada, não queria que ninguém
chegasse a esse ponto.
— Qual ponto?
— Não estoufalando com meu pai — ele falou mais baixo, era
quase como se não quisesse dizer — e não acho que eu esteja
errado.
— Mas...
— Da outravez, quando era realmentenecessário, quando
existiam falhas no meu relacionamento,quando sabiam que ela
esteve com outrocara, porque todo mundo soube, mas a gente se
gostava, quisemos voltar, então todo mundo apoiou. Mas logo
depois ela descobriu a gravidez, acho que nem se deu conta,
comemoramos e nunca sequer cogitei a possibilidade de não ser
meu. Mas ali, sim, todostinham motivospara nos alertar, e ninguém
fez nada.
— Edu... — eu parei de falar quando ele virou para mim.
— Quando eu penso hoje, consigo fazercontasmais cert eiras,
e nem as datas faziam sentido. Mas eu estava feliz demais pra
pensar.
— Eu sintomuito— sussurrei,angustiadapor tudoisso. Por ter
que pagar o preço,por causa disso — acha que estariamjuntos?—
quando notei, já tinha perguntado.
— Não — ele falou, suspirandopesado e tencionouo maxilar.
Engoli amargo, não esperando que ele fosse continuar, mas ele
voltou a dizer:— eu nem gosto de pensar sobre isso, porque pra
ceder ao que eu sentiae ficar de vez com você, eu sofrimuito, mas
hoje, analisando tudo comorealmentefoi, eu não acho que teríamos
seguido juntos.

Abri a boca em um O mudo, não tinha nada para acrescentar


sobre isso.
— E eu sei o dia exato que fizemos a nossa filha. Sei que foi o
meu presente de aniversário.
— Ainda bem que você confia em mim — eu murmurei,
sentindo a boca ficaramarga — mas se não confiasse,eu não me
importaria também.
— Eu sei que não. Sei que se não fosseminha filha, você teria
esfregado na minha cara sem dó.
— Porque era a coisa certa — eu falei o óbvio.
— E eu sei que você não teria tido coragem de transarcom
outrocara — ele falou e eu o encarei brava — e eu fico muito
aliviado por isso.
— Essa coisa possessiva de homem é difícilde entender.
Porque você ficou com outras — o sondei, que ficou quieto.

Edu perguntouse eu estava sozinha em casa, mas era claro


que estaria. E logo depois emendou um convite para eu passar a
noite com ele. Dei um sorriso maroto, mas recusei.
— Então eu vou ter que sequestrarvocê — ele falou
tranquilamente,me fazendo olhá-lo incrédula. Edu acelerou um
pouco mais, dando ênfase ao sequestro e eu comecei a retrucar que
ele deveria respeitar minhas decisões.

Mas era tudo em vão. Ainda argumentouque estava sozinho


também. Como já fui levada contraminha razão ao apartamento
dele, quando fomos pedir algo para comer, eu escolhi estrogonofe,
não queria um dos pratos chiques que ele adorava.
— Se quiser vir tomarum banho comigo — ele falou, tirando
rapidamente a camisa ainda na sala — eu vou amar.
— Para de ser safado — eu reclamei.

Na manhã seguinte, depois de uma noite cheia de amor e


carinho –era mesmo muito difícilnão ceder aos encantos desse
homem gostoso–,eu acordei sozinha na cama, mas foi o tempo de
me sentare esfregarum pouco os olhos, para Edu sair do banheiro
esfregando os cabelos molhados com a toalha, completamente
pelado. Eu suspireio olhando inteiro,tinhacertezade que faziauma
caretade cão sem dono, porque ele riu e veio até mim, inclinando
para pressionar os lábios nos meus.
Me levantei e fui para o banheiro, enquanto ele foi se trocar
.
Vestia minha roupa e prendi o cabelo em um coque. Edu voltou do
seu closet fazendo o nó na gravatae eu fiquei o admirando, esse
gostosode uma figa. Ele veio até mim, me puxando pela cinturae
começou um beijo profundo e delicioso.
— Vou fecharum contratoimportantehoje — ele murmurou,
deixando a boca pertinhoda minha — queria te ver mais tarde,pra
podermos comemorar .
— Edu...
— Não quero que a gente se afastepor acusações alheias —
ele falou, me soltando e foi até o banheiro, logo voltou de lá já
perfumado.

Descemos para o café e Noêmia já nos esperava com o tudo


pronto. Ela não deixou de comentar sobre barriga um pouco maior
,o
que fez Edu vir acariciar meu ventre.
— Já até prevejo você um papai babão — ela falou para ele,
que deu um sorrisocarinhoso. Ela trouxepão na chapa, porque eu
pedi. Mesmo Eduardo insistindo pra que eu comesse mais frutas.
E
começou a puxar conversa sobre essa fase da gravidez.

Quando cheguei em casa, minha mãe estava no sofá, me


esperando com uma feição preocupada. Pergunteilogo se estava
tudo bem, mas ela parecia hesitante.
— Quem está ficando preocupada sou eu — eu falei
apreensiva e ela suspirou, pronta pra começar a falar
.
O discurso sobre se juntarpara morarcom o namorado não
veio como surpresapara mim, porque ela já vinha me sondando e
insinuando isso há semanas. E eu não me colocaria contra.Nem
julgaria o fato de eles não se casarem no civil.
— Se você quiser, sabe que pode vir morarconosco, que eu
vou amar — ela replicou, mas neguei com a cabeça. Eu e ela mal
nos encontrávamosduranteos dias úteis, eu estava construindoa
minha vida, e ela, a dela — e poderemos começar a pensar na
reforma do quarto. Já pensou em que nome quer dar pra sua filha?
— Anda não me decidi. Mas vou pensar nisso em breve.
— No sábado, faremosum almoço, pra comemorar
. Se quiser,
pode chamar o Edu.
— Vou avisá-lo — falei tranquilamente.
— Não estámesmo sentindoque estouteabandonando, está?
— Claro que não — eu franzio cenho, era tãoóbvio — se quer
saber, eu adorei. Estoumesmo feliz que vou poder fazerum quarto
só pra ela — falei, acariciando a barriga como num impulso.

À noite, quando Eduardo saiu do trabalho,passou para me


buscare seguimos para o apartamentodele. Noêmia havia deixado
o jantarpronto
, mas ele subiu antes para um banho. Eu olhei ao
redor, me certificandode que estávamos mesmo sozinhos e subi
atrás dele.

Ficamos nos encarando sob o chuveiro, enquanto eu o


ensaboava e descia as mãos. Ele mordeu o lábio inferiore tomboua
cabeça para trás,quando cheguei ao seu membro, o esfregando
devagarinho.

Eu sabia que descer para jantar com ele e ficar por aqui vestida
apenas numa camiseta dele era um gatilho para ele. A comida
estava deliciosa, Noêmia sempre fazia algo para me agradar,
segundo Edu, agora até mais do que para ele.
— Pelo menos ela ainda gosta de mim — eu dei de ombro,
mas ele não levou isso como algo para apaziguar e apertouos
lábios, negando com a cabeça. Depois trouxea mão e segurou a
minha, acariciando-a.
— Minha mãe só ficoupreocupada, mas ela sabe que não tem
motivospra desconfiarde você — ele falousuavemente— e ela fica
cedendo as paranoias de meu pai, está com medo de se apegar
demais e... — ele dizer isso foi como uma facadaem mim, eu pareci
estremecer
.
— Eu jamais teriaessa coragem — eu falei, a voz parecia um
pouco presa. Edu deu um sorriso travesso e assentiu.
— Eu sei. Você não teria coragem de ficar com outro homem.
— Eu fiquei com outrohomem — eu revireios olhos — não
transei com ele, mas eu dei uns beijos.
— Isso, Jordana — ele falou afetado— mata o pai da sua filha
— ele teve a coragem de levar a mão ao peito e fazer uma careta de
dor. Eu dei risada e revirei os olhos.
— Ainda bem que voltamos — eu precisei dizer, me
aproximando para acariciarseu rosto.Ele pegou a sua taça com
vinho rosê e bebeu um pouco.
— Ainda bem que voltamos — ele repetiu, carinhoso.

Como ainda era cedo, fomos ver um filme na sua sala de


cinema, mas eu acabei pegando no sono, refémdos seus carinhos
e caríciasno meu pescoço. Acordei já era dia, e ainda estávamos
no sofágigantee confortável,enroladosem um edredom fofinho.Eu
me aproximei mais dele, que me abraçouassim por tráse afundouo
rostoem meu pescoço. Achei que ele estivessedormindo e fosse
apenas fazer isso, mas foi questão de segundos para sentir o
membro ereto me cutucando lá atrás.
— Você é muitosafado— eu faleiincrédulae ele foipuxando a
camiseta para cima.
— Ser safado tem uma ligação muito forteem te deixar
satisfeita
— ele falou contrao meu pescoço, acariciandomeu sexo
antes de vir com o membro. Eu arfei, contaminada pela sua
excitação. Nós dois demos um gemido forte e ele veio até o fim.
— Por Deus, eu espero que você goze rápido — ele falou com
a voz abafada, mas isso me fez rir
. Eu sabia que ele odiava quando
chegava ao orgasmo antes de mim, mas estava tão excitado. Meu
riso foi interrompidopor um gemido, quando ele deu um beijo
gostoso e molhado no meu pescoço, ao mesmo tempo em que
escorregou a mão para o meu clitóris, massageando tão
perfeitamente. As estocadasforamganhando ritmoe eu mordi meu
lábio inferior
, mas não consegui seguraros gemidos e fiquei ainda
mais agoniada quando ele ordenou que eu gemesse mais alto. Edu
me levou tão alto, que eu chegava a deixar escapargritoschorosos
e tentava me conter, mas parecia impossível.Comecei e tremere
ele deu um rugido grosso e aliviado, vindo forte e inteiro para dentro,
massageando meu pontomais sensívele me segurou,me deixando
gozar, ao mesmo tempo em que ele vinha para mim, tão delicioso.

Eu me virei de frentepara ele e me aconcheguei contraseu


corpo, logo depois senti nossa filha mexer e ele acarinhou meu
ventre, deixando um beijo na minha testa.
— Te amo — sussurrou,me deixando toda emotiva. Levei uma
mão para o seu rostoe procurei pela sua boca, começando um beijo
carinhoso e suave.

Saímos dali e fomos para o quartode Edu. Só então me dei


conta de que já passava das nove da manhã. Quando descemos,
Noêmia já estava lá com o café pronto.Comecei a terarrepiosde
vergonha, por imaginar que ela pudesse terouvido meus gritoshá
poucos minutos. Cheguei a apertaros olhos e engolir amargo, eu
não deveria ceder tantoàs loucuras sexuais de Eduardo nesses
horários.
— Estátudobem? — ele perguntouconfuso,mas assentie me
sentei.
— Não vai tra balhar esta manhã, Edu? — Noêmia perguntou
para ele, servindo um café na xícaradele. Depois veio e colocou
suco para mim.
— Pode se sentar
, Noêmia — ele falou para ela, bebendo um
pouco do café — garanto que Jordana não vai se incomodar
.
— Claro que não vou me incomodar — falei, quase indignada
por ela cogitara possibilidade. Noêmia me deu um sorrisoapertado
e puxou a cadeira, se sentando também.
— É nessa hora da manhã que falamossobre a vida alheia —
ela contou para mim, que dei um riso.
— Tem um sangue fofoqueirocorrendo nas veias desse
homem, eu sei — eu falei para ela, antesde morderum pedaço do
meu misto quente.
— Nada que supere Frederico— ela falou, começando a rir—
ele brota com cada uma.
— Foi graças a ele que salvamos Chiara daquele casamento
— Edu lembrou.

Hoje, mais do que das outr


as vezes, eu me senti à vontade
com Noêmia. Talvez ela tenha notado que eu estava insegura pelo
afastamentoda famíliadele e estivessequerendo me deixar mais
tranquila. Não achava que eles deveriam me engolir a qualquer
custo, mas doía muito saber que duvidavam do meu carátere
integridade.
— Vi as foto s da ultrassonografia— ela falou para mim,
quando Edu levantou para atendero celular — você precisaver as
fotosde Edu bebê... É triste
carregara criançae ela nascera cópia
do pai.
— Ah, mas eu vou amar. Ele é tão bonito.
— A mãe dele quer muito falarcom você. Está se sentindo
péssima por terse afastado.Não consegue mais nem chamar a
menina de Alice.
— Que pena — eu falei, sentindoa boca ficaramarga — eu só
não queria que desconfiassemde mim, que achassem que eu seria
capaz. Mas já disse ao Edu que se eles quiserem, eu não me
incomodo de fazermos o exame.
— Mas eu me incomodo — a voz de Edu soou grave atrásde
mim e eu virei o rostocima, o olhando — meu pai só estácom essa
desconfiançarepentinapor causa de Luísa, você sabe disso tanto
quanto eu.
— Não seria melhor então tiraressa dúvida da cabeça deles?
— Noêmia perguntou — sua mãe está sofrendo.
— Porque ela quer — Edu falou categóricoe eu fiqueiquieta—
eu poderia entender
, se Jordana tivessedado motivos para eles. E
azar o deles, também. Se continuaremassim, eu que não vou
querê-los perto da minha filha.
— Edu... — Noêmia o repreendeu,mas ele não prolongou essa
conversa.
— Não quer aproveitara manhã pra dar uma volta? Caminhar
um pouco? Aproveitar que me dei uma folga e posso te
acompanhar... — ele falou para mim. Eu assenti e olhei para
Noêmia, lançando um olhar de desculpas.

Passamos em meu apartamentopara que eu pudesse me


trocar
, enquanto Eduardo falava que eu poderia deixar algo pela
casa dele. Eu não iria fazerisso, não queria ninguém insinuando
que eu estavaquerendo ocupar espaço ou forçaralgo mais com ele.
Não achava que porque estávamos grávidos, teríamosque nos
casar. Era muito cedo para pensar sobre isso. E já havíamos
quebrado todo meu cronogramade príncipeencantado no cavalo
branco, quando eu engravidei.
C 21
Eduardo Toledo

Deixei Jordana em casa depois de darmos uma volta na praia e


segui para meu apartamento.Lá, dei de cara com minha mãe, mas
passei diretopara as escadas. Precisavame arrumar
, para almoçar
com calma e ir trabalhar
.

Quando desci, a encareisério,queria que ela soubesse que eu


não estava nem um pouco confortável,muito menos querendo
entender sua reação.
— Não podemos conversar?
— Sobre o que? — perguntei,inclinando o rostopara o lado e
franzia testa— sobrevocê tercaídonas conversasde meu pai? Ou
sobre ele ter caído nas provocações da Luísa?
— Edu, depois do que descobrimosrecentemente,você acha
mesmo que estávamos errados?
— Mamãe... — eu falei, pressionando uma têmpora, me
sufocavaver como ela era condescendentecom ele — você acha
mesmo que Jordana iria mentir desse jeito?
— Mas...
— Mas ela nem queria me dizer, com medo de eu rejeitar!
Porque Luísa esteve lá, azucrinando a cabeça dela afirmandoque
eu a fariaabortar!Que vocês jamais aceitariamum bastardona
família! Em que século vocês estão vivendo? — perguntei,
começando a me alterar
. Mas eu parecia mesmo um bicho raivoso
quando se tratavade Jordana. E pelo amor, estavamduvidando de
algo sério, me machucava também.
— Não acha que seriapior, caso seu pai estivessecerto,deixar
para verificar depois?
— Eu não vou fazerisso com ela — eu falei friamente,já havia
feito merda demais com Jordana, eu não iria fazer isso nesse
momento. Ela não merecia.
— Seu pai disse que ela esteve com o irmão do Gabriel — ela
jogou esse argumentofalido e eu esfregueio rostocom as mãos,
era quase impossível lidar com eles dois.
— Esteve.Ela ficoucom ele algumas vezes, antesde nós dois
começarmosa namorar . Se você conhecesse a Jordana, mamãe...
Se a respeitasse— preciseisalientar—, não iria desconfiar que ela
fosse capaz.
— E eu achei que a conversa sobre a menina de perfilse
parecer com Edu fosse real — Noêmia quem falou dessa vez,
trazendo as fotinhos que Jordana me deu — não vão fazer outra?
— Vamos, Noêmia — eu falei. Eu e Jordana queríamosver
como a nossa filha estava, porque ela achava que fazíamossexo
demais. Mas não nos deram nenhuma contraindicaçãoe ela não
sentia nenhum desconforto.
— Seu pai só ficou preocupado, você apaixonado se torna
perigoso para si mesmo.
— E você? Não pensa igual a ele? — indaguei — eu espero
que você e nem ele, se arrependam.Se continuaremassim, não
vou deixá-los perto da minha filha.
Eu devo tersido duro demais com o meu ultimato,mas eu
precisavaque eles soubessem disso. Eu não iria querê-lospor perto
para maltratar Jordana de graça. O olhar de minha mãe pareceu
brilhar
, ela abriu a boca em um O mudo, mas não conseguiu dizer
nada.

Cheguei à empresa e fui direto para o meu escritório.Fred já


estava lá, segurando uma caneta dourada, brincando com ela,
sentado à minha cadeira.
— Sua mãe me ligou chorando — ele comentou e olhou para
mim. Coloquei minha pasta sobre minha mesa e me sentei na
cadeira confortáveldo outr o lado da mesa — disse que você
enlouqueceu, que está enxergando a proteção deles como um
ataque.
— Eu só falei a verdade. Não é justoo que eles estãofazendo
com Jordana.
— Sabe, eu falei isso com ela. Que ela iria se arrependerde
desconfiar— ele negou com a cabeça, mas depois deu um riso— e
você todo protegendoa santinha... É consciência pesada por tudo
que já fez com ela, né?
— Ela não merece que eu aja como um idiota de novo. E nós
dois estamosbem, não quero estragarisso só pra agradar a pilha
errada dos meus pais.
— Eu acho que sua mãe vai se arrependere correratrásdela,
se redimindo.
— Eu espero que Jordana seja bem dura com ela.
— Não acha que seria melhor tranquilizá-los?Fazer o exame?
— Fred perguntou, mas neguei com a cabeça.
— Podemos fazer
, quando a minha filha nascer. Mas eles
saibam que isso vai criaruma lacuna maior que eu posso calcular
entrenós. Porque fazerisso, Fred, vai ser colocar Jordana em um
papel de impostora,provarque eles não confiam nela, que eu não
confiei.Ela nem teve coragem de contarà mãe e à avó sobre isso.
Porque seria capaz de elas mesmas não quereremninguém de nós
perto da criança.
— Eu to feliz que você está animado com a gravidez — ele
comentou e eu assenti.
— Não teria planejado, mas eu to curtindo muito.
— A minha experiência com grávidas se resume a louca da
Bruna, e foi uma bosta,porque ela não queria sexo, ali eu já sabia
que não iriamos para frente.Não nos suportávamo s — ele
resmungou, me fazendo rir . Nem iria falarnada, porque sabia que
humor e libido de grávida oscilam muito, então era melhor tudo
como estava.Eu não gostarianada se ela de repentenão quisesse
mais transar
, ficaria arrasado.
— Sabe o que mais me frustra? Minha mãe se deixar levar .
— Cara, eu falei com ela que a Jordana era quieta demais pra
transarassim com qualquer um. E pelas contas de todo mundo,
vocês fizeram a criança na semana do seu aniversário.
— No dia — o corrigi,que deu risada — ela estavaem um dia
fértil,não tinha como errar
. E foi a única vez naquela semana que
fizemos sem camisinha.
— Cara, eu já me conformeique se a sua namorada depende
da sua camisinha pra não engravidar , ela vai engravidar— ele falou
enfático,mas de uma maneira engraçadae eu preciseiconcordar—
a não ser que vocês tenham uma vida sexual inativa.
— Não era o meu caso — eu resmunguei.

Continuei mantendo distância dos meus pais. No final da


semana, eu e Jordana saímos para almoçar, junto com Marina e
Fred. Dessa vez, Ravi e Denise nos encontraram.Lancei um olhar
reprovador para o meu amigo, mas ele ignorou completamente.

A conversa na mesa foi a gravidez de Jordana e sobre como


eu estava obcecado por elas duas. Mas eu precisava estar , já que
meu pai resolveu agir como um insensívele eu não sabia se Luísa
poderia quererprovocara Jordana. Eu sabia que Luísaestavamuito
longe de ser uma mulher nociva e perigosa, mas ela era
provocativa,raivosa, não se importavaem chatearas pessoas. Para
ela, ela poderia fazero que bem entendessepara conseguir o que
quer. E desestabilizar meu relacionamento era como uma
necessidade dela. Jamais iria aceitarde bom grado tersido trocada
por uma mulher simples e bondosa como Jordana, jamais iria
aceitarque por Jordana, eu estava disposto a mudar, a fazerdar
certo. Jamais fiz isso por Luísa, no entanto, eu sempre deixei claro.

Separamos alguns nomes, agora que Alice saiu de nossas


prioridades.Fred disse que fomosmuito duro com minha mãe, mas
ela teve seu tempo para se redimir e não se dispôs a fazer isso.

Fizemos uma ultrassonográfica em 4D, onde eu e Jordana


brigávamos sobre com quem nossa filha iria se parecer . Eu achava
a minha cara, o jeito da face. Já estava perfeita,na formade um
recém-nascido, toda formadinha. E era cabeluda também. Eu estava
aliviado que as duas estavam tão saudáveis e se dependesse de
mim, iria ser assim até o nascimento.
— O problema é que ela acaba comigo, quando me aparece
mostrandoa barriga— eu falei para Marina, que alfineto
u que toda
hora eu faziaum carinhono ventrede Jordana. Mas era um impulso
e eu amava fazer. Ela não tinha uma barriga muito grande, mas
estava tão perfeita.

Dali, fomos para meu apartamentoe ficamos na varanda,


abraçados e aproveitando o tempo fresco.
— Sabe — Jordana falou, enquanto eu cutucava o lugar em
que a nossa filha estavamexendo, para ela mexer de novo. A olhei,
esperando— você não ficacom medo? De quando tudoestáassim,
calmo demais?
— O que? — perguntei confuso e ela suspirou.
— Quando estavatudo perfeitodemais, você terminoucomigo.
Aí eu estava grávida, brigamos, voltamos de novo. E tudo ficou
perfeitooutra vez. Mas aí apareceu o seu pai, desconfiando de
mim... — ela negou com a cabeça, me interrompendoantesque eu
começasse — e agora está tudo calmo de novo...
— Não vai acontecernada pra tirarnossa paz — eu prometi,
deixando um beijo em sua testa.
— Você não acha que seria bom acalmar os seus pais? — ela
perguntou— não estouachando que você compactuariacom nada
disso... Mas pra você e eles não ficarembrigados. Eu me sintomal
sabendo que sou a causa disso.
— A causa disso é meu pai — eu a corrigi,a abraçando — ele
quem veio interferir onde não foi chamado.
— Quando ela nascer, não vai custar muito — ela falou
insistente— não quero que alguém fique insinuando que tivemos
medo de provar.
— Não temosmedo, Jordana — eu faleicansado — não temos
motivos pra provar
.
— E eu sei que ela vai sera sua cara— ela contoucontra
riada
— não vai me ofender fazer isso.
— Falaremos disso depois — prometi — Laura ou Helena?
— Helena — ela respondeu, finalmente.
C 22
Jordana Testa

Dois dias depois da mudança da minha mãe, eu comecei a


pensar no que poderia querer mudar no quartodela, que seria o
meu agora. Talvez mudasse apenas a decoração,meu focomesmo
era montar um lugar bonito, aconchegante para a minha filha.
Helena. Edu já a chamava pelo nome, e eu não sabia se isso
magoaria a sua mãe de alguma maneira. Mas eu não iria interferir
.

Eu tinha um projetomais ou menos pronto,de como eu queria.


Havia esboçado algo com uma colega na faculdade.Depois iríamos
às compras.Sobre o enxoval, eu não havia comprado nada, ainda.
Mas já estava me inteirando do que iria precisar para ela.

Por agora, eu precisava apenas de roupas mais confortáveis.


Apesar de a barriganão ser enorme, ainda, as minhas roupas não
estavam servindo como deveriam.
Eu não estava indo para o restaurante,decisão que vovó
tomousozinha, achou melhor que eu tivessetempopara descansar,
e não me sobrecarregar com as aulas e trabalho.Eu achava que
teria dado conta, mas não reclamei do privilégio.

Mari apareceu pela manhã da quarta-feira,


para irmos juntasà
praia. Edu havia passado por aqui, antesde ir trabalhar
, porque eu
cheguei cedo da faculdade e ele ficou preso em uma reunião de
trabalho, junto com o Fred, então não nos vimos no dia anterior
.
— Ele anda todo protetorcom você — minha amiga falou
presunçosa — Fred acha que porque já fez merda demais.
— Essa históriade DNA me chateouum pouco — eu suspirei
— mesmo que eu tenteentender o lado do pai dele, sabe? A
proteção,eu poder realmenteseruma louca interesseira,
mas é que
foi nojento insinuar que eu faria Eduardo assumir um filho de outro.
— Foi coisa da Luísa— ela falou, negando com a cabeça em
condolência — ele estavatodo animado, de repenteela começou a
plantar, né?
— Achei que depois de tudo, as coisas ficariam mais fáceis.
— Vai ficartudo bem, amiga. Pelo menos ela nunca vai poder
insinuar por aí que você abortou— ela sugeriu e eu a encarei — a
Bruna fez isso.
— Como ela soube? — perguntei e ela deu de ombros.
— Alguma funcionáriado apartamentode Fred contoupra ela.
A trocode que, eu não sei. Mas eu não to nem aí. Eu já tenho
problemasna minha família.Não vou me importarde tercom a dele
— ela falou cheia de sarcasmo e eu a encarei incrédula — e eu
sinto muito, viu? Posso não ser milionária, mas sei que nem eu e
nem você, somos as sanguessugas que Luísae Bruna são. Luísaé
rica, mas quem vivia bancando os luxos dela era Eduardo.
— Eu não quero nem falarsobre essas coisas — eu pedi —
Edu trouxe um mundo de comida pra eu tomar café, não quer
comer?
— Na volta — ela falou, então saímos do apartamento.
— Já pensou que se você tivesse realmentenegado o meu
convite pra sair aquela noite, poderia nem estargrávida? — ela
perguntou, enquanto eu trancava a porta, e eu comecei.a rir
— Por favor, o sentimentoque domina quando penso nisso é
ambíguo demais. Me deixa culpada.
— Edu que me agradeça muito, viu? — ela perguntou
presunçosa — se vocês não tivessem se conhecido e ficado, ele
poderia estar até hoje nas garras da Luísa.
— Ou da July — sugeri dando de ombros e ela me encarou
incrédula.
— Que seria quase uma Luísa. July está boazinha, porque o
Bernardo é bonzinho. Ela com Eduardo seria um desastreem
deslumbre — ela falava afetada, me divertindo com as teorias.
— Vovó o superou, eu acho — contei.
— Pelo menos isso.

Quando eu estavapertode completaro sétimomês, a barriga


parecia terdobrado de tamanho. Eu ficava admirada, ainda mais
com os chutestãocerteiros.
Edu teveuma semana cheia, era fimde
ano, eu também estava bastanteocupada com tudo relacionado à
faculdade.

Por isso, mal nos vimos durante toda a semana. Saíamospara


almoçar juntos, mas não tínhamos tanto tempo livre. Além do que eu
estavasonolentae cansada, mais que o normal. Então, quando ele
passou para me buscar depois da aula –estava todo cheiroso, de
banho recém-tomado, eu queria pular a parte em que
encontraríamosnossos amigos e ir diretopara a que tirávamos a
roupa no quarto dele, ou no meu.
— Eu só estou indo porque o pessoal tem reclamado, dizem
que eu só tenho tempo pra você — ele falou, trazendouma mão
para a minha barriga—, mas a minha vontade, você sabe qual é —
ele me olhou presunçoso e eu apertei os lábios em um sorriso
travesso.

Como eu havia me trocadoantesde sair da faculdade,passei


um pouco mais de perfume no carro antes de descer. Edu
entrelaçoua mão na minha, e nos levou para dentrodo bar luxuoso
em que seus amigos estavam. Mari e Denise estavam também.
Acenei para todos eles e Edu me apresentouaos que eu não
costumava ver. Me lembrava vagamente do rostode alguns, na
noite em que estive pela primeira vez em seu apartamento.

A noite parecia animada, e como mesmo antes,eu não era de


beber muito, não poder agora, não mudava muita coisa. Eduardo
pedia uns drinks gostosos para mim, sem álcool. Foi puro azar
nosso, quando Luísa chegou junto com a ex de Fred. Dessa vez,
acompanhadas do ex da Chiara e o irmão dele, o Teo. Fred e Edu
trocaram um olhar confuso, mas o outro riu.
— Só o que faltava mesmo — ele falou debochado. Mas
ninguém quis render essa conversa.

Mostrei as fotos do quarto da Helena já pronto para as


meninas, enquanto os homens conversavam sobre um jogo de
futebol.
— Apostoque queriam falarsobre sacanagens e estamos aqui
— Denise falou baixinho e eu dei um sorriso, concordando.
— Eu não quero Fred saindo sem mim, com esses caras —
Marina falou e eu a olhei. Ela me retrucoucom uma caretade
obviedade — vai que o influenciam?
— Eu não acho que Edu fariaalguma coisa — eu falei, mas
elas duas riram— não sou patéticapor confiar
, ele sabe que se fizer
algo, acabou! — sussurrei.
— Eu sei, amiga. É que Edu é diferente,né — Mari falou, para
me acalentare eu revireios olhos — acho que ele não é de trair ,é
obcecado por você.
— Fred é?
— Não sei, ele diz que já tinha batido o martelo sobre se
separarquando nos conhecemos. Tanto que no primeiroencontro,
ele havia acabado de se mudar para o apartamentode Edu — ela
deu de ombros. Denise ficou quieta e pegou seu copo, sugando a
bebida pelo canudo.

A música que tocava no bar era agradável, pelo menos eu


gostava.Quando comecei a quererir ao banheiro, Mari e Denise se
oferecerampara ir comigo. Era muito difícilsegurara vontade de
fazer xixi, que vinha toda hora.

Entramos no banheiro e eu segui para uma das cabines.


Quando saí, lavei as mãos e Mari passou um pouco do seu gloss
em mim. Marina revirouos olhos olhando em direçãoà portae eu já
sabia do que se tratava,mas fingi não ser nada relevante.A outra
entrou numa das cabines e Luísa veio até a bancada da pia, colocou
a bolsa de grife sobre o mármoree tirouo batom nude de lá. Ela
passou nos lábios enormes de preenchimentoe depois olhou para
nós.
— Soube que o pai de Eduardo não está caindo nesse golpe —
ela falou petulante,correndo um dedo ao redor do lábio inferior
,
como se limpasse o excesso de batom. Olhei para Marina, como se
pedisse para ela não entrarnessa provocação.Era sobre mim e eu
iria ignorar
. — e que você negou, não quer mesmo ser
desmascarada. Afinal se descobrem antes dessa criança nascer,
você perde qualquer chance de aproveitaro luxo que Eduardo vai
proporcionar. Afinal não teria engravidado pra sofrer as
consequências, sozinha.

Me fazia mal ouvir essas acusações, como se eu precisasse


ficar me provando. Em que situação eu inventaria um absurdo
desses?
— Vamos sairdaqui — Mari falou baixinho e eu assenti.Denise
saiu e ia lavar as mãos, mas Marina a arrastoupara fora
, ela ainda
saiu reclamando.
— Não ouviu as merdas que a ex de Edu estava falando? —
ela perguntouexasperada — não dava tempo você lavar as mãos!
— Mari falou, exagerada como sempre.
Quando voltamos, Edu estava em pé, olhando em nossa
direção.Eu fuiatéele, que passou um braçoem voltado meu corpo
e deu um beijo suave na minha testa.
— Tão protetor esse homem... — Fred falou melodioso, me
fazendo sorrirfraco.Mas Luísa havia roubado meu bom humor —
mas eu falei pra ele que você saberia se defender . Já disse a
Marina, se Bruna a encher, ela enfia a mão na cara dela, ninguém
tem que aguentarofensasde graça — olhei incrédula para ele, que
deu de ombros, como se isso não fosse grave.
— Não vou fazerisso, amiga. Relaxa — Mari me prometeue
eu respirei aliviada.

A noiteseguiu tranquila,eu sabia que Luísanão viria fazer uma


cena com Edu, porque seriacomo pedir para ele sergrossocom ela
em público. E havia um movimento considerável no lugar, pessoas
chegavam nela para pedir fotoe Fred chegou a mostr ar que um
perfilde fofocapostouque eles dois estavamno mesmo lugar. Cada
um com seus respectivosatuais. Me senti humilhada vendo os
comentários,mas Edu disse que era assim que o pessoal se
comportava nesse mundo.

Eu fiquei toda emocionada quando a nossa filha começou a


mexer e ele passou a conversar com ela, ignorando todos que
achavam isso a coisa mais bizarrado mundo. Nós fomos embora
primeiro, eu estava cansada, quando mencionei, não como uma
reclamação real, mas como um estado físico,Eduardo quis ir
embora logo, ele queria aproveitar a nossa noite de outro jeito.
— Se você quiser dormir
, eu não me importo — ele falou
quando chegamos ao seu quartoe eu dei um sorrisomalicioso,
caminhando atéele. Passei meus braçosem voltado seu pescoço e
o puxei para um beijo.
— Não to cansada pra isso — falei e ele assentiu, roçando
nossos lábios, me dando beijos rasos e rápidos, até começar um
intenso e delicioso.
Na manhã seguinte, acordei primeiroe fui para o banho. Me
troqueie vesti uma camisetade Edu, junto com a minha calcinha.
Peguei meu celulare volteipara a cama, não queria descersozinha.

Quando ele acordou, foi para o banheiro e depois nós


descemos. Noêmia já nos esperava com o café pronto, como
sempre. Perguntou sobre a Helena, e Edu tomou a frentepara
responder, dizendo que estávamos perfeitamente
bem, e ele não
poderia estar mais feliz por isso.
Depois que comemos, ainda ficamosali jogando conversafora
com Noêmia. Fred já havia ligado mais cedo e como não conseguiu
falarcom Edu, contou logo pararNoêmia sobre a briga de Chiara
com Luísa no bar. Eu comecei a rir
, era melhor terbrigado com
Luísa do que com Denise, a pobre era como eu, jamais saberia
entrarnuma briga e Marina iria sofrerpara tomarum partido,uma
vez que o errado era Ravi.

E não que Luísamerecessea briga por contado ex de Chiara,


mas ela merecia umas bofetadas, com certeza.
— Fred ainda disse que daria tudo para ver Marina batendo na
Bruna — Noêmia revirouos olhos, mas eu não conseguia pararde
rir
, ele era cômico — disse que jamais poderia, e nem bateriaem
uma mulher, obviamente. Mas vocês conhecem aqueles dois, ela
não está nada disposta a deixá-lo em paz e ele não consegue
apenas ignorar
, briga sempre.
— Marina jamais iria compraruma briga. Ela não tem motivos
pra bater na ex mulher de Fred — eu defendi, porque mesmo que a
outraprovocasse, o problema dela era com o Fred. Ela fazia isso
para chamar atenção dele. Eu não conseguia imaginar como
deveria ser duro amar alguém e não ser correspondida,e pior, ser
desprezada. Já fui descartada,mas não fiquei me humilhando e
infernizandoa vida do meu ex, jamais insistiriaem fazer parteda
vida de alguém que não me quer ao seu lado. Noteique Edu estava
concentradoem seu celular e continuei falando bobagens com
Noêmia, era bom que eu me sentissequerida por ela, e uma merda
que a famíliadele tivesse se afastado.Talvez eu fosse orgulhosa
demais para me humilhar atrás deles, ou estivesse mesmo na minha
razão, eu não tinhaque provar meu caráter para eles.

Edu recebeu uma ligação e se levantou,parou apenas para me


dar um beijo. Era para sersó um selinho, mas ele desistiue deu um
beijo de verdade, delicioso.
— Algo sério?
— Não, resolvo rápido e volto — ele prometeu,já que éramos
completamentegrudados — te amo — ele sussurroue eu franzio
cenho em uma caretamelosa, ele raramentedizia isso, então era
como um evento.

Comi mais alguns morangos, que estavamazedos e eu estava


amando, enquantoNoêmia me atualizavasobreo restoda fofocade
Fred. Ela chegou a perguntarsobre o que eu e Edu iriamos querer
para o almoço, mas eu era péssima para essas escolhas. Me
recostei na cadeira e acariciei a barriga, que estava cada dia maior
.
— Acha que um dia os pais dele vão confiarem mim? —
perguntei de repente, enquanto ela tirava a mesa. Havia me
oferecidopara ajudar, mas ela vetou logo, disse que era muito bem
paga para isso. E Edu iria ficar muito possesso se soubesse. Achei
uma bobagem, mas voltei a me sentar
.
— A mãe dele deve estarse roendo inteirapra ir atrásde você
e implorarseu perdão — ela falou, parecendo convicta,mas eu não
estava convencida — ainda mais depois de ver as fotos do
ultrassomem 4D. Mas ela apoia demais o marido, no fundo ele
consegue fazê-la temer que tenha razão.
— Eu nunca faria uma coisa dessas, Noêmia — eu murmurei,
angustiada— depois de tudoque Edu passou eu teriaque sermuito
desumana pra fazê-lo passar por isso de novo.
— Eu sei — ela falou solenemente, me encarando com pesar
— e eu já ouvi muito sobre você, mesmo antes de você e Edu
namorarem... — ela foi pretenciosae eu a encarei confusa —
Marina dizia não se confor
mar em como uma moça tão bonita
gostava de ser sozinha. E Fred ficava embasbacado ao saber que
você só tinha estadocom um cara a vida toda — ela contoue eu a
encareiincrédula,a pontode começara ficarvermelha de vergonha
— ele te chamava de santinha.
— Que cretino! — eu falei incrédula, fazendo Noêmia. rir
— Sei que Edu te ama, nunca o vi tão sereno, feliz e
apaixonado. Ele está positivamente obcecado.
— Não existepositivamenteobcecado — pontuei e ela deu de
ombros, levando a última bandeja cheia para a cozinha. Dessa, eu
fuiatrás.Havia outrafuncionária limpando tudo.Pareciaatébesteira
querer ajudar, mas queria ocupar o meu tempo fazendo algo.
Poderia tertrazidoalgum materialda faculdade, assim eu ficaria
estudando, mas deixei no carrodele. Ou deveria terido para casa
quando Edu saiu, mas a conversa com Noêmia estava boa.

Edu mandou mensagem perguntando se eu não queria


almoçar fora.Falei que sim, e salienteique queria comer peixe. Eu
estava na sala de jogos dele, havia pegado um livro entre as
dezenas que haviam ali e me sentei à mesa. Estava tão distraída
que não me dei conta quando o homem entrou na sala. Ele
pigarreoue eu o olhei. Me ajeitei na cadeira e fechei o livro sem
querer.
— Ah, oi — falei, tentandosorrir
. Mas já não me sentiamais à
vontade na presença dele.
— Esperava encontrarEduardo aqui — ele falou seriamente,
desviando rapidamente o olhar — mas é bom que seja você.
Eu fiquei quieta, sentindo tudo amargar e ele se sentou na
cadeira do outro lado, respirou fundo pronto para começar a falar:
— Como você já sabe, eu não confioem você... Eu sintomuito,
Jordana. Mas depois do que o meu filho passou, eu não vou
suportarvê-lo passarpela mesma situaçãode novo, só porque está
cego, apaixonado — ele parou um segundo, esperando alguma
intervenção,mas eu não iria dizer nada. Não iria brigarcom eles,
gritarque acreditassemem mim, uma vez que eu nunca dei motivos
para eles desconfiarem da minha índole — não sei o que te levaria a
enganar meu filho, mas eu tenho fontesmuito contundentesque
confirmamtodas as minhas desconfianças. Me fazem quase ter
certeza— ele enfatizou,gesticulando— que essa criançapode não
ser filha de Eduardo.
Continuei quieta, tudo parecia se contorcerpor dentro, os
lábios tremerame eu passei a respirarmais devagar, para não cair
no choro bem aqui.
— Você não querer fazer o exame agora, tudo bem, tento
entender
, mas se negar a fazero DNA depois que a menina nascer
me deixa ainda mais certoda minha intuição— ele era incisivo, não
tinha dó de me machucar e era duro ter que enfrentarisso —
poderia ao menos ficardistante,não fazê-lo se apegar, passar por
tudo de novo! Mas estáaí, o fazendo crerque pode ser o pai dela.
Sendo que nem você sabe se é! — a minha respiraçãofalhou, ele
não tinhao direitode me acusardesse jeito,dizer que eu não sabia,
quando eu tinha toda certezado mundo. Não era uma leviana que
transava com qualquer um por aí, muito menos sem proteção.
Nunca sequer houve outro . Quis gritar
, externartoda a minha
indignação, mas fiquei quieta. Não queria fazerEdu brigarcom os
pais, não mais do que já havia feito.
— Me diga, quantovocê quer? — ele perguntoue eu o encarei,
parecendo dormentecom a perguntei,tão ofendida que me senti
minúscula — cem mil, um milhão? Qual o seu preço? Eu pago
qualquer coisa, só não quero ver meu filho em outra enrascada!
— Eu não quero seu dinheiro! — consegui dizer, a voz
embargada e o choro vindo com tudo. Por isso, saí correndoda
sala, rumo ao quarto de Edu.
As lágrimas vinham intensivas, a agonia parecia me rasgar
inteira.Empurrei a portae fui atrásdas minhas roupas. Me vesti
rapidamente,calcei a sandália e saídali apressada,não queria dar
explicações ou ouvir ninguém. Ainda na sala, ou ouvi dizer que
sabia que eu havia feitode propósito.Estava tão envenenado que
não media as especulações. Ou engravidei de propósitoou dei pra
todo mundo e não sabia quem era o pai da minha filha. Ele teriade
decidir.

Saí andando sem rumo, enquanto pedia um carro por


aplicativo. Estava trêmulae parei para esperaro carrochegar. Fui
para casa e ao chegar tomei outrobanho, agora um banho frio,
tentando me livrar dessa agonia, a tremedeirae nervosismo.
Quando saí,vestium pijama confortávele desembaraceios cabelos
molhados. O soluço estavaaqui presente,como a ressacado choro.
Mas eu ficaria bem.

Edu ligou, preocupado, já que quando chegou em seu


apartamentopara me buscar para sairmos, eu não estava mais.
Prometique estavatudo bem, não iria preocupá-lo e nem iria contar
sobre os insultos de seu pai, eu não queria colocá-los um contrao
outro.Antes dessa desconfiançatoda, o homem parecia ser bom.
Talvez quisesse apenas protegero filho e não medisse esforços
para isso. Talvez ele soubesse como Edu ficou ao sofrertodas as
perdas e não quisesse vê-lo passando por nada parecido de novo.
Poderia entender
, mas jamais perdoaria.

“Fred e Marina vão, não quer mesmo ir?” — Edu insistiu. Eu


suspirei, jogada no sofá e digitei que não. Que ele poderia ir com
eles, estava tudo bem.

Naquela tardeeu tive contra


ções. Já havia sido alertadapelo
meu médico que eu saberia diferenciar as contrações de
treinamentopara as reais. E como estava levando uma gravidez
completamentesaudável, sabia que era uma dessas. Além do que,
mesmo tendo sido encorajada, eu não queria mesmo enfrentar o
partonormal. Li muito sobre os pós dos dois, mas tudo variava
muito de mulher para mulher. Eu não me sentiasegura para o parto
normal e Edu foi bem grossocom o doutor, ao afirmarque era o que
eu queria que seria feito.

Chorei ao me lembrar dele, sempre tão prote


tor
...
Positivamente
obcecado, como disse Noêmia.

Edu estavaparecendo impacientecom a minha ausência, mas


achei que fossemelhor ficarmosmais afastados.Eu não queria ficar
expostaa qualquer contatocom a famíliadele e usei de desculpas
as provas finais na faculdade.

Quando isso acabou, já era hora de pensarmos no Natal e


réveillon. Pensamos também em um quartopara a nossa filha no
apartamentodele, coisa que pude ouvir seu pai, em uma ligação,
sendo completamente contra, e eu não conseguia controlar o quanto
isso doía em mim. Era isso que eu contariaa minha filha? Que o
avô dela não iria querê-la por pertoporque achava que eu não
passava de uma golpista? Eu não iria quererminha filha pertode
alguém como ele. Ele poderia ter sido mais maleável, ter tentado por
outro caminho que não o da intolerância.
Eu estava dobrando alguns pijaminhas de recém-nascido,para
colocar no guarda-roupa dela.
— Eu jurei que não iria dar nada desnecessariamentepara ela
e estouaqui, terminandode arrumartudono segundo quartodela —
eu reclamei negando com a cabeça e Edu deu um sorriso carinhoso,
estava folheando um diário de gravidez que compramos
recentemente.Eu estava escrevendo em um caderno algumas
coisas que queria lembrar
, mas um diário fofinhoparecia bom. E eu
não podia querer nada perto de Edu, que ele ia lá e comprava.
Já que tive a chance, abusei da minha criatividadee fiz dois
quartos diferentes,mas bem aconchegantes para ela. Edu me
convenceu fácilque quando eu viesse dormiraqui com ele, era bom
que ela realmente tivesse o canto dela, feito para ela.
Ele pensou em uma babá para cuidardela e me ajudar, mas eu
neguei. Minha mãe e vovó já ocupariam esse papel e eu queria
cuidar dela. Quando eu voltasse para a faculdade, caso ele não
desse conta, provoquei, poderíamos contratar alguém.

Eu me sentia tão bem no quartinho dela, em qualquer um


deles, que me pegava ansiosa para tê-la logo nos braços.

A previsão do nascimento era para fevereiro,faltava bem


pouco. Edu queria que passássemos o Natal em família,mas fui
categóricaao dizer que eu não iria em nenhum evento da família
dele. E não sentia muito por isso. Primeiroporque Luísa estarialá,
segundo porque me insultarame depois, eu sempre passava natais
com minha mãe e minha avó.
— Eu vou passar na casa dos meus pais e encontrovocê logo
depois, tudo bem? — ele perguntoue eu assenti— eu sinto muito
que eles tenham feito isso.
— Tudo bem — falei,não querendo brigarcom ele — você não
teve culpa.
C 23
Eduardo Toledo

Na véspera de Natal, o meu dia pareceu começar caótico.


Começou com Jordana me enviando uma fotosó de biquíni logo
cedo, e eu estava ardendo por ela há um dia e meio. Poderia
parecerpouco, mas não para mim. Ela ficou ajudando a mãe a
organizar o jantarde Natal na casa do padrastoe dormiu muito
cedo, não deu tempo de nos encontrarmos.E agora pela manhã
essa foto. Quase pedi uma foto sem nada, mas sabia que levaria um
belo de um não.

“Vou levar nossa filhapra tomar um sol... Te vejo à noite,papai”


— ela enviou, deixando meu coração pequeno. Eu a amava tanto,
mas tanto, Jordana era o meu ponto suave da vida. Onde eu
encontrava um pouco de paz, de carinho, de tudo que era bom.

Depois de ficardesejando que chegasse o momento aonde


chegávamos a um quartoe ficávamoslivres de roupas, mesmo que
agora as nossas posições para o sexo estivessemlimitadas, ainda
era perfeito. E ela adorava as minhas habilidades em deixá-la
saciada.

Depois disso, esbarreicom Luísa,num almoço com Fred e um


de nossos fornecedores.O homem foiembora assim que tratamos
o
necessário, e Fred ficou trocando farpas com Luísa.
— Eu encontrei o pai do seu outro filho — ela falou e
finalmente Fred ficou quieto, me olhando cauteloso. Olhei para
Luísa, ela era louca. Fred se levantou para ir ao banheiro e eu
permaneci encarando Luísa friamente.Queria poder ser dono de
alguma lei que me permitisseenforcá-la.Não estava inocentando
meu pai, mas era culpa dela que ele tivesse ficado tão desconfiado.
Ela era boa em manipular, usou as artimanhas certas,
relembrandotoda a conturbaçãoentremim e Jordana, Jordana ter
aparecido com Bernardona festada avó dela, Jordana e Teo terem
ficadoem algum momento. Mas ele deveria ir pela razão, tudo que
Jordana fez foi reflexodos nossos desentendimentos.Depois que
voltamos,demos certoaté eu estragartudo outravez. E por ela ter
descobertoa gravidez quando estávamosseparados, meu pai não
queria mesmo voltar atrás e dar um voto de confiança.
— Não quer saber onde ele está?
— Claro que não — falei o óbvio. No começo, com a feria
recém-aberta,eu quis, queria poder mataro desgraçado que fez
partede tudo. Mas não queria mais alimentaresse ódio. Esperava
nunca encontrarcom esse energúmeno por aí, apenas isso. E
focaria na minha felicidade, na minha filha que chegaria em breve.
— E vai cair no mesmo golpe pela segunda vez — ela
suspirou, negando com a cabeça em descrença — lamento por
você, Edu. Poderia ternos levado a sério, porque eu jamais faria
algo assim com você.
— Luísa,o único golpe que eu caí,foi o seu. Por seis anos —
falei grosseiramente,mas ela deu um sorrisoque nem cabia na
nossa conversa.
— Poderíamostercontinuado nossa relação. Era boa pra nós
dois.
— Meu deus, você precisa de um psiquiatra— eu estava
irritado, mas não poderia sair daqui sem pagar a maldita conta.
— O seu pai aprovaria muito, você sabe disso.
— Luísa, eu vou falarpela última vez: Eu amo a Jordana —
faleiincisivo, a encarandofirme— eu a amo de um jeitoque eu nem
sabia que poderia amar uma mulher, eu fariaqualquer coisa por ela
e...
— Até mesmo assumir um filho que não é seu? — ela
perguntoume interrompendo— ou você acha mesmo que ela e Teo
não transaram?

Eu desisti.Me levantei e saí dali. Enviei uma mensagem para


Fredericopagar a conta quando chegasse e o esperei dentrodo
meu carro.

À noite, quando cheguei à mansão dos meus pais,


cumprimentei quem já estava no salão arrumado para o jantar
.
— Jordana não quis vir? — mamãe teve a audácia de
perguntar e a encarei — sinto muito — falou com pesar e eu assenti.
EncontreiChiara ao lado de um garçom, bebendo uma taçade
champanhe atrásda outra.Quando ia pegar a última cheia, eu a
interrompi.
— Quer dar um vexame bem aqui? — perguntei à minha irmã.
— Sinceramente,eu odeio o nosso pai — ela faloufuriosae eu
bebi um gole curto,assentindo.Compactuavado mesmo sentimento
atualmente— ele deveria ser pai da Luísa, já que apoia tudo que
ela faz.
— O que foi dessa vez?
— Acreditaque ela está aí com o Gabriel? — ela sussurrou
exasperada — e sabe o que o papai disse? Que eu não quis
perdoá-lo, então que lidasse com as consequências.
— Ele surtou,apenas isso — falei,vendo que mamãe vinha em
nossa direção. Ela chegou a pedir que fossemosnos enturmar , mas
preferia ficar aqui no canto com Chiara. Logo iria embora.
— Queria que o Fred chegasse logo, pra trocarfarpascom
essas loucas — ela falou e eu quase ri. Fred conseguia rebater
Luísa sem se afetar.
— Bruna veio?
— Com o irmão do meu ex — ela falou enojada — eu as
detesto tanto!
— Relaxa, Chiara — falei tra nquilamente — você não merecia
um homem como aquele.

Na nossa mesa estavammeu pai, mamãe, eu, Chiara, os pais


de Luísa, os de Fred, o pequeno Bruninho, a mãe dele, Luísa,
Gabriel e Teo. Meu pai era no mínimo desumano por fazer Chiara
passar por isso em pleno Natal.
Segurei sua mão, como se dissesse que ficariatudo bem e ela
deu um sorrisochoroso. Eu impedia Chiara de continuarbebendo,
não queria que ela embebedasse e se metesse em confusão. Ela
contouque Ravi estavana casa dos pais de Denise, faleique sentia
muito, mas ela sabia que ela e Ravi nunca teriamnada sério. E ela
nem gostava dele.
— Você estavase divertindo,mas estavamagoando alguém —
eu falei e ela me encarou,fazendouma caretaculpada e encostoua
cabeça no meu ombro. Acarinhei seu cabelo, sabia que ela iria
colocar a cabeça no lugar e seguir em frente da maneira correta.

Fred e Marina chegaram depois do jantar , já passava da meia


noite. Chiara foi a primeiraa falarsobre o anel gritandono dedo de
Marina, o que fez Bruna quase explodir bem ali.
— A pedi em casamento— falou Fred, me fazendo crescer os
olhos. Todos olharam para o casal e a mãe dele levantou surpresa,
indo felicitar o casal.
— Ela fez um aborto!— Bruna falou, se levantando e soltou o
guardanapo sobre a mesa. Todo mundo olhou para ela, inclusive
Fred. Marina perdeu o bom humor na expressão, mas Frederico
conseguiu contornar a situação.
— Você mordeu a isca direitinho, Bruna — Fred falou com
irreverência— pegou uma informaçãoerrada e saiu espalhando
merda por aí.
— Então os exames que eu tive acesso são falsos? — ela
perguntou de uma maneira acusatória.Chiara revirou os olhos,
todos olhavam para a cena, era um vexame.
— Não, não eram falsos— Fred falou irritado— mamãe, me
desculpe, mas essa históriade incluí-la nos eventos de famíliapor
ser mãe do meu filho não faz sentido nenhum.
— O que não faz sentido é você ficarcom uma criminosa! —
Bruna cuspiu as palavras para eles.
— Não vai explicar, Fred? — Luísa quem falou, dessa vez,
como se não se importasse— porque já não bastaa namoradinha
de Edu grávida e sem saber de quem.
— Eu duvido muitoque Teo e Jordana tenhamido pra cama —
Chiara falou desgostosa— ela não é como você, Luísa,que transa
com todo mundo.
— Ah, vai me dizer que era uma virgenzinha? — Luísa
perguntouzombeteira,me fazendo quererexplodir em cima dela,
mas nem me movi.

Mamãe estava pálida em sua cadeira, sufocadade vergonha.


Mas era ótimoque passasse por isso, assim escolheriamelhor seus
convidados. Sabia que mais do que a cena vergonhosa em si, doía
nela todos os outrosconvidados em outrasmesas presenciando
tudo.
— Está se mordendo, não é Luísa? — Chiara falou irrita da —
não sei o que é pior, se é esse cretinoestaraí do seu lado quando
você ainda é obcecada pelo meu irmão, Teo deixar você insinuar
que ele transoucom a Jordana e não fazernada a respeito,porque
ele sabe que não fez nada, ou você — ela falou asperamente — que
paga esse papel de vagabunda nojenta, humilhada e ainda acha
que está por cima. Na verdade, o pior papel da noite vem do meu
pai — Chiara olhou para ele, que não disse nada — que tem dois
filhos,mas só tem olhos e só da razão pra essa ratazan a aí — ela
apontou ara Luísa— Edu estátão feliz com Jordana, eles se amam
tantoque eu sinto até inveja de ver. Mas você tinha que semear a
discórdiaque Luísaqueria plantar, só porque é amigo dos pais dela,
só porque ela queria fazerparteda família...Mas no final de tudo,
eu sinto pena da minha mãe — ela olhou para nossa mãe, que
cresceuos olhos, mamãe era capaz de desmaiar no momento em
que se levantasse — que estava adorando a novidade, poderia
estaraproveitandotudo e preferiuse isentar
, porque teve medo,
porque achava muito fácil Jordana ser uma golpista, quando sabia
que ela não é. Eu sintomuitomesmo por você, mamãe, porque Edu
sabe o quanto a namorada dele é orgulhosa, você vai penar muito
pra se reaproximardela. E desse modo, é possível que só tenha
algum contato direto com a neta quando ela não depender
exclusivamente da mãe pra tudo. E só pra não deixar você sair
ileso, Gabriel, obrigada por tersido tão cretino.Eu sou muito grata
ao universo por tertiradoalguém tão mau caráterdo meu caminho.
E o sexo com você era uma merda, por isso eu apelava tanto
naqueles fetich
es malucos — ela se levantou e ia deixando o salão,
mas depois de dar dois passos, ela voltou e olhou para oeo:
T
— Teo, quando você beijava Jordana, ela disse que pensava
em Edu. Por isso, vocês não fizeramnada além. A cada coisa que
vocês faziam,ela só queria o meu irmão, porque ela o ama. Você foi
só um estepe,sei lá, um consolo que nem soube consolar — ela fez
uma caretaasquerosae saiu. Eu engoli amargo com a constatação,
a pontada do ciúme me corroendo por pensar nesse cretino
beijando a Jordana.

Bruna tentoucontinuarprovocando Marina sobre aborto, foi


quando Fred criou uma versão sobre gravidez e abortoespontâneo,
que os dois sentiammuitopela perda, que não queriam ter passado
por isso. Era uma mentira,certo.Mas Bruna precisava disso. Já
havia passado da hora de seguir em frente.Não inocentavaFred de
tratá-latão mal, mas ele e a mulher extrapolavaos limites e na
frentedo filho. No meio da cena, mamãe forjouum desmaio. Era a
maneira perfeita de acabar logo com a festa.

A peguei em meus braços e a levei para a casa, subi as


escadas e a coloquei em sua cama. No mesmo momento ela
despertou, segurando minhas mãos para não me deixar sair
.
— Me desculpa, Edu — ela pediu melancolicamente e eu a
analisei, não cabia a mim esse perdão, eles insultaramJordana. Eu
havia exigido para pararem— eu só tive medo... Medo por você,
não suportaria te ver sofrendo daquele jeito de novo.
— Eu não mudo minha opinião — meu pai falou ao entrarno
quarto, trazendo uma xícaracom um chá para mamãe. O olhei
asquerosamente— eu não mudo minha opinião. Use sua memória,
Eduardo. Seja sensato uma vez na vida. Você estava exatamente
assim há seis anos. Estava capaz de tudo por aquela mulher e no
final o filho não era seu. E olha que naquela época nós nem
tínhamostantosmotivospra desconfiar . Agora existemprovas mais
do que escancaradasna sua cara e você fechouos olhos! Tudo por
estar apaixonado?
— Parem de remoeressa história!— mamãe gritoucom força
e nós a olhamos — parem de maltratara memória de quem não
está mais entre nós! Bianca está morta, nada vai mudar o que
aconteceu! Não adianta mais condenar!
— Deus que perdoe, mas seria um alívio se acontecesseo
mesmo com Jordana — meu pai resmungou baixo e meu coração
perdeu uma batida, eu não estava acreditandono que ouvia — se
Jordana estivessecertade tudo, Eduardo, ela topariao exame na
hora, nem que fossesó pra me provarque eu estava errado!Mas
estãoos dois se negando, preferiram
alimentarminha desconfiança!

Eu teriaque pedir perdão à Deus mais tarde,mas não controlei


o impulso cego e acerteimeu pai com um soco. Foi tão pego de
surpresaque caiu no chão. Minha mãe me encarouincrédulae meu
pai levou a mão para o cantoda boca, me encarando como se não
acreditasse.Saío do quarto,mas consegui ouvi-lo dizer sobre o que
essa mulher estava fazendo com nossas vidas.

Quis voltare rebaterque a mulher que estavadestruindonossa


boa convivência era Luísa, e isso porque meu pai alimentava esse
poder que ela achava ter sobre tudo. Para ela era divertido ter
controle,eu a conhecia bem. Nunca deitavaa cabeça no travesseiro
para medir o certo e errado.

Deveria terido encontrarJordana, mas estavatãocontaminado


que não queria levar isso para ela, não queria contarnada agora, no
calor da raiva e estressá-lade algum modo. Como os convidados
foramembora, eu, Chiara, Fred e Marina ficamosna área de lazer e
bebemos. Eu bebi quieto, mais do que devia. Jordana enviou
mensagem pela madrugada, querendo que passássemos a noite
juntos.Mas eu já estavamais para embriagado do que para sóbrio,
achei que tinha respondido e não havia.

Os outros trêsestavam de viagem marcada para o réveillon,


iriam daqui a dois dias, mas eu e Jordana não poderíamosfazer
alguma viagem longa.
Acordei, o que nem era mais novidade, doente de ressaca.Dei
bom dia para Jordana, me desculpando pela noite anterior
.

“Se sente mal? Está de ressaca?” — ela perguntoulogo e eu


quase sorri.Iria adorarque ela viesse me acalentarnesse dia que
seria tão desconfortável.

“Sim, me sinto péssimo”

“Ótimo, você merece isso.” — ela respondeu, me fazendo


crescer os olhos para a tela do celular
.

Como havia dormido na casa dos meus pais, desci para e


mamãe estava sozinha na mesa, parecia desolada.
— Eu sintomuitopor ontemà noite— eu faleie ela apertouos
lábios.
— Se eu não tivessesido conivente com as desconfiançasdo
seu pai, se eu tivessemantido os pés no chão... — ela negou com a
cabeça — talvez ele tivesse mudado de ideia.
— Não deveria ter sido conivente. Jordana sofreu muito,
mamãe — eu falei cauteloso — tudo que eu faço por ela hoje, é
porque ela merece. Ela não é uma golpista, nem interesseira.Ela
tem ambições na vida, mas está longe de ser gananciosa como
Luísa é. Ela jamais faria o que Luísa fez, olha o mal-estarque
causou para toda a famíliaem uma noite que sempre consideramos
especial. E você acha que ela se importa? — dei um riso incrédulo.
— Você precisa se desculpar com seu pai. Vocês precisam
conversarfeitohomens maduros — ela falou insistente— eu não
vou suportarver vocês dois brigados, meu filho... — a voz dela
chegou a falhar e eu a olhei.
— Eu sintomuito,não deveria terfeitoo que fiz.Mas eu só falo
com ele, depois que ele se desculpar com Jordana.
— Edu... — ela falou pesarosa — eu mal preguei o olho essa
noite, está sendo muito difícilenfrentar
tudo isso. Primeiroo medo
de você estar sendo enganado e...
— Mamãe, vocês dois foram enganados. Luísa nunca me
enganou, nem quando forçavanosso relacionamento— eu falei,
quase rindo, porque parecia uma piada — Não queiram abstrair tudo
o que Luísa fez. Foi doentio. Primeiroficou importunandoJordana,
dizendo que eu a faria abortar , depois quando não conseguiu
mantero statusde casal perfeitopros seguidoresmalditosdela, foi
importunar meu pai, manipulando, como sempre faz.
— Nem ela sabe a gravidade de tudo que fez — mamãe
lamentou.
— Que seja, mas ela não pode continuar agindo desse jeito. Eu
não vou aturar
. Próxima gracinha e eu vou pedir uma medida
protetiva,vou entrarna justiça pra que ela não chegue pertode
Jordana, nem mencione meu nome. Já deu de Luísa achar que
pode conseguir tudo que quer na marra,que pode brincar com as
pessoas desse jeito.
— Não vai tomar café? Parece tão abatido...
— Eu vou pra casa — falei impaciente, quase ficando com
pena por ela estaraí sozinha. Mas eu precisava de um banho, de
um remédio e algo que me fizesse melhorar
.
C 24
Jordana Testa

No dia vinte e cinco, a mãe de Edu apareceu de surpresa,


trazendo muitos presentes para a Helena e se desculpando,
chegando a chorarpor tersido tão mesquinha. Mas queria que eu
entendesse o seu lado. Eu fiquei quieta, não sabia o que fazere
Edu não estava comigo, uma vez que estavamortode ressacaem
seu apartamento.E sozinho, eu sabia que ele fariamais drama do
que tomaria providências para se curar
.

Deixei que ela falasse, estava querendo começar a chorar


também, porque tudo me fazia chorar. Queria conseguir deixar ir
embora toda a mágoa, dar chance para ela confiarem mim, mas eu
tinha medo. Eu já sabia do show de horroresque foi a véspera de
natal na casa dela, Marina havia me contado tudo.
— Eu sei que nem mereço seu perdão — ela fungou, limpando
o canto dos olhos — eu queria tantoteracordado mais cedo... Eu
pré-julguei você, levando em conta os errosde outrapessoa. Eu
errei,mas só pensava no meu filho... Eu não suportari
a ver meu
filho sofrendo como sofreu no passado, Jordana. Ninguém
acreditava que ele fosse se reerguer
.
— Está tudo bem — falei mais baixo, completamentesem
reação.Não havia outracoisa a se fazer
, eu iria colocá-la para fora?
Iria afastar Edu da sua família por me sentir magoada? Eu sabia que
se eu virasse completamente a cara, do jeito que ele andava
fazendo tudo que eu queria, ele iria se afastarde vez e eu não
queria isso. Até começarem com todas as desconfianças, eles
pareciamserboas pessoas. Tantoque Mari contavasobreeles com
maior apreço. Eu dei uma segun... Uma terceirachance para Edu e
não estava me arrependendo.Talvez pudesse fazerisso pelos seus
pais. Pelo menos pela sua mãe.
— Pode me dar um abraço?— ela perguntouemocionada e eu
assenti, a abraçando de volta.

Nora tentouquebraro clima tenso,eu deixei que ele se fosse.


Minha filha iria gostarde tera avó paternapresente.Foi então que
percebi que mães faziam tudo para o bem estar dos seus filhos.

Ela perguntou sobre a data do parto,se iriamos querermais


filhos. Só soube dizer sobre a data do parto,que estava marcada,
mas poderia vir antes e estava tudo bem. A conversa rendeu por
tantotempo, com milhões de perguntas,que eu fiz até mesmo um
chá para nós duas.

Quando ela decidiu ir embora, fuiacompanhá-la atéa porta,foi


no momentoem que Edu apareceu,me trazendoum buquê. Eu quis
rirda atitude,não era como se eu estivesserealmentebrava com
ele. Não por terpassado a noite com sua irmã e primo e Marina,
mas por terbebido demais sabendo como ficariano dia seguinte.E
também porque eu queria vê-lo e ele não veio. Mas já havia
passado. Demos um abraço apertado e ele acarinhou minha barriga.
Sua mãe assistiaa cena enquanto esperava o elevador, mas Edu
entrou sem dar muita atenção para ela. Por sorte, o elevador
chegou e eu fechei a porta,indo colocar os girassóisem um vaso
com água.
— Estámelhor? — pergunteie ele se sentouao sofá,apoiando
o tornozelo no joelho.
— Me mediquei — ele falou, mas fazendo rir — o que ela
queria?
— Se desculpar — falei tran
quilamente e fui me sentarao seu
lado.
— Não se sinta pressionada a perdoá-la — ele falou e eu o
olhei séria — não foi certoo que eles fizeram.Ela parece estar
mesmo arrependida, mas e se não viesse a tempo? Nossa filha iria
mesmo carregaresse peso? Eu não iria deixar. Eles são os
culpados do que causaram.
— Mari me contou tudo — eu falei desgostosa — sinto muito.
— Quem sabe numa próxima meus pais não aprendam e
reflitammelhor sobrea listade convidados. Foi feiopra todomundo.
— Até pra mim — eu fiz uma caretapenosa e ele deu um
sorrisotriste— o pedido era falso — contei — Fred queria uma
maneira de a ex parar de importuná-lo.
— Me dá arrepios lembraro show de horrores— Edu falou,
sacudindo a cabeça e eu ri, assentindo— ainda bem que você não
estava lá.
— Eu só consegui pensar isso — eu falei, levando uma mão
para o seu rostoe o acariciei. Edu foi me olhando desse jeito
sorrateiroe chegando para mais perto,até que logo estávamosnos
beijando.
Tentei encerrarporque queria conversardireitocom ele sobre
seus pais, saber melhor sobre a briga dele com o pai. Nora não
entrou em detalhes, mas disse que foi muito feia a briga.
Mas Edu começou a desceros beijos e a minha roupa, logo a
língua quente e macia rodeava o meu seio sensível e, por favor,
quem iria trocarisso por uma conversa estressante,mesmo que
necessária?

O levei logo para o meu novo quarto,agora um pouco maior, o


que eu havia amado, e então pudemos matartoda a saudade. Era
claro que ele estava mais carinhoso e cauteloso agora, o que me
irritavaporque às vezes eu só queria que ele viesse fortee intensivo
como antes.Eu acabaria satisfeita como sempre, mas precisavade
mais, então pedi para invertermosas posições e o coloquei em
baixo de mim, montei nele e o coloquei para dentro.O levei fundo,
me esfregando contraseu corpo e gemi em satisfação.Edu me
observava, acariciando minhas coxas suavemente, tudo que eu
poderia quererera um tapa, mas ele não fariaisso comigo grávida,
era óbvio. Comecei sem me mover muito, para frentee para trás,
mas não era o bastante.Eu estavadescobrindoas posições que eu
mais gostavaagora com a gravidez mais avançada, e gemi mais e
mais quando comecei a meio que cavalgar sobre ele, sem tirá-lo
muito de dentro, eram movimentos curtosque me estimulavam
inteira.Joguei a cabeça para tráse aperteios olhos, Edu levou as
mãos para os meus seios, os acariciando e eu chegava a gritar ,
subindo cada segundo mais alto.

Quando apoiei minhas mãos em suas coxas, me inclinando um


pouco para trás,ele soube o que fazer e gemeu junto comigo,
acaricioumeu clitórise eu preciseiolhá-lo. Edu estavacom o olhar
em nós dois lá, me cariciando perfeitamente.Acabou e eu caí
abruptamentequando ele segurou o meu ponto mais sensívelentre
o polegar e o indicador, o esfregando.Abri a boca em um gemido
que saiu estrangulado,afundei as unhas em suas coxas e deixei
que o orgasmo viesse, rasgasse meu corpo inteiro.Foi quase no
mesmo momento que ele deu um gemido áspero e chegou ao seu
momento incríveltambém. Desaceleramos juntos e eu me inclinei
para beijá-lo.
— Isso foi gostoso — sussurrei e ele assentiu preguiçoso.

Fui para um banho rápido depois de ficarmosalgum tempo


trocandocaríc ias na cama. Pedimos jantar , mesmo a mãe dele
tendo ligado nos convidando, eu protestei com ele dizendo que não
iria. Ela tentouse redimir
, mas eu não sabia sobre o pai dele. Nem
ele queria falarcom o pai, eu não ficariaexpostaa humilhações que
eu não merecia.

Na quarta-feiraa mãe dele apareceu de novo, com mais borys


e um ursorosaenorme para a Helena. Quando eu abri a porta,gritei
altopara Edu, que a sua mãe estavaaqui. Havia acordadohá pouco
tempo, então eu não me surpreenderiade Edu sair do banho e vir
atrás de mim pelado.
— Mas que droga! — ele gritoulá do banheiro e eu dei um
sorriso apertado para sua mãe, dando espaço para ela entrar
.
— Não é sobre a senhora — falei sem jeito e ela apertou os
lábios, assentindo.
— Fico felizque estejambem — ela faloue eu tenteisorrir
, não
poderia tomarcomo algo genuíno da partedela, já que há dois dias
acreditava que eu poderia estar enganando seu filho.

Pedi para que ficasseà vontade e nos sentamosao sofá. Edu


chegou quando ela me mostravaas roupinhas que trouxepara a
nossa filha e deu uma espiada no mínimo sarcástica.
— Jordana já comprou tudo, mamãe — ele falou e foi para a
cozinha.
— Nada é demais — ela retrucoue eu dei outrosorris o. Só
conseguia fazerisso. Edu tomoucafésozinho na cozinha, enquanto
sua mãe mostravaos presentese falava como se estivessetudo
bem.

Talvez quisesse fazer ficartudo bem, nos reaproximarpara


quando a minha filha chegasse não existirmais algum mal estar .
Fuzilei Eduardo quando terminou de comer e avisou que veria TV no
quarto. Eu achava que eu era orgulhosa, mas ele era
significativamente pior
.
— Tudo bem — Nora falou, passando as mãos na saia lápis
que usava — vou considerar que mereço isso.
— Sinto muito — falei envergonhada.
— É melhor eu ir — ela falou — nós estamos planejando
passar o réveillon em Angra, se você e Edu quiserem ir, eu ficarei
muito feliz.
— Eu vou falarcom ele — falei, mas não pensava em sequer
cogitar a ideia.
— Vamos levar a minha mãe, ela iria gostarde conhecervocê
— ela falou e eu engoli pesado, mas assenti.
A levei atéa portae ela me deu um abraçoantesde ir embora.
Voltei para o quartoe ainda espiei Eduardo deitado na cama, com o
braço dobrado atrásda cabeça, vestido só na bermuda que veio
vestido e mudava os canais da televisão, mas desviei e acariciei a
barriga, enquanto me aproximava dele.
— Sua mãe nos convidou para passarmoso réveillon com eles
em Angra — conteie ele olhou para mim, estendendouma mão. Me
sentei na beirada da cama e suspirei.
— Não acho que vamos querer .ir
— Ela disse que a sua avó vai estar lá.
— Posso te levar para conhecê-la outrodia. Aposto que ela
sequer vai questionaralguma coisa — ele resmungou — e eu fiz
reservas em uma das melhores suítes do Copacabana Palace.
— Daqui a pouco vão dizer que você vive em funçãode mim —
reclamei e ele riu, se sentandoe se aproximou para deixar um beijo
suave nos meus lábios.
— Nos conhecemos não faz um ano, Jordana, dei atençãopra
todo mundo a minha vida inteira.Partedesse tempo, passamos
desentendidos.Eu só estoutentandoreparar— ele falavaenquanto
deixava beijos suaves e rápidos nos meus lábios — porque eu te
amo, porque você merece isso. E porque eu sou feliz fazendo isso,
espero que você esteja também.
— Eu não sabia que você era um romântico— eu falei toda
derretida com qualquer coisa melosa que ele me dissesse.
— Achava que eu era só safado, eu sei — ele falou me
arrancando uma risada e eu concordei.
— Precisamos falarsobre você e o seu pai — eu falei e ele
mudou a expressão.
— Meu pai estáerrado— ele falouenfático— ele foicruel,não
vou procurá-lo porque num impulso refém das merdas que ele
estava falando, eu acertei um soco nele.
— Você bateu nele? — perguntei incrédula.
— Ela não contouessa parte?— ele perguntoudesintere
ssado
— Jordana, eu conheço a minha família e sei que em algum
momento, pelo menos minha mãe vai cair em si. Sei que ela está
tentandoreparar e eu sou muito grato,ela tem sortede você estar
cooperando. Mas meu pai excedeu todos os limites.
— Excedeu, mas... Ele é o seu pai — falei melancólica.
— Sabe o que é melhor do que falarmossobremeu pai? — ele
perguntou,tirandomeu cabelo do caminho e roçou os lábios em
meu pescoço, me fazendo arrepiar— eu poder beijar seu corpo
inteiro— ele sussurrou,vindo para a nuca e eu me curvei inteira—
todinho, principalmente naquele lugarzinho que você adora...
— Edu... — eu gemi, ficando toda mole e inebriada.
C 25
Eduardo Toledo

Eu passava as fotosde Jordana, sentadoà minha cadeira. Ela


havia feitofoto
s dessas que toda grávida faz,a amiga Denise fezas
fotos,fazia alguns trabalhoscomo fotógrafa,mas eu nem sabia
disso até então.Estavatãodistraído,
admirando a minha garotaque
não me dei contade quando Fred entroue se sentouna cadeira do
outro lado.
— Chiara aprontoutodas na viagem — ele comentou e eu o
olhei, dando atenção — mas acho que foi bom pra ela.
— Chiara é muito problemática — eu resmunguei — mas
espero que ela recupere o bom senso logo.
— Ela vai, você a conhece. Só está revoltada,não quer se
renderao sofrimento...— ele negou com a cabeça — como estão
as coisas por aqui? Sua mãe contouque você e seu pai não estão
se falando...
— E eu não vou falar — eu falei incisivo e Fred ficou me
encarando — ele chegou a insinuar que seria bom que Jordana
tivesse o mesmo caminho de Bianca... Ele está cego.
— Luísa usou argumentosfortes,cara. Tenho certezaque a
intenção era apenas te proteger
.
— Não foi, Fred. Ele ficou cego, passou a desconfiare odiar
Jordana, a colocou numa posição de impostorae deixava Luísa
alimentar tudo isso.
— Ele jurava que vocês eram almas gêmeas — Fred falou,
mas não conseguiu seguraro riso — ela devia romantiz
ar muito a
maneira asquerosa como era tratada.
— Eu nunca vou entender , Fred — resmunguei — Luísa e eu
nunca fomosum casal que pelo menos se dava bem. Nunca houve
nada.
— Você está livre dela agora. E só tem tempo pra Jordana —
ele resolveu provocar
, mas não me importava.
— Ela está grávida, cara. E eu gosto de passar o tempo com
ela, além do que, é bom que a gente se aproxime e se conheça
mais, mal tivemos tempo pra isso e ela engravidou.
— Foi rápido mesmo — ele deu um sorriso— sortea sua que
ela quis o bebê.
— Sorte a minha — suspirei, era a verdade afinal.

Naquela tarde,quando eu voltava para o meu escritório,junto


com Chiara, ao abrira portame deparei com a Luísana minha sala.
Eu parei segurando a porta aberta e ela veio em minha direção.
— Podemos conversar?
— Não — falei o óbvio e deixei a portaabertapara ela sair de
uma vez.
— É sério, eu só queria me desculpar, mas queria falar com
você sozinha — ela falou mais baixo e olhou para Chiara, que fez
uma caretasatíricae cruzou os braços, não iria sair — eu passei
dos limites,não queria fazervocê e seu pai brigarem.Achei que ele
te faria acordar
.
— Achou que eu iria cair nas suas mentiras,Luísa? — eu
perguntei sarcástico, forcei um riso porque era bizarro.
— Eu só fiquei preocupada, Edu — ela reclamou — vocês se
conhecem e num piscar de olhos ela está grávida. Ainda mais
depois de esfregarna minha cara que estava menstruadaquando
terminaram...Só fomossaber sobre a gravidez meses depois! Você
foi muito burro em confiar naquela sonsa!
— Você vai sair daqui ou eu vou precisar te colocar pra fora?
— Depois de tudo o que você passou, não deveria fechar os
olhos pra uma mulher que mal conhece!
— Pare de falar sobreJordana, Luísa.A filhaé minha, nós dois
estamos juntos e não há nada que você possa fazer— eu falei
grosseiramente— eu não sei o que você tem na cabeça de ficar
aqui enchendo o saco! Só pode te divertirpassar por essa
humilhação!
— Eu só queria que tivéssemos dado certo.
— Eu poderia ser educado com você. Tentarentendervocê e
esse sentimento que você jura existir, mas que eu sei que não
existe. Mas não depois do que você fez. Se você não sair daqui
agora, eu vou pegar você pelo braço e jogar na rua — falei baixo,
mas sério e ela sabia que eu faria isso, porque me encarou
incrédula.
— Eu não acreditoque você estáenterrandonossa históriapor
causa de uma vagabundazinha que nem sabe se está esperando
um filho seu! — ela falou incrédula e Chiara começou a rir— não
vejo graça, Chiara. Não desconteem mim a sua frustraç ão e o seu
ciúme.

Eu sabia que Chiara andava descontrolada,então quando ela


avançou em Luísa,a pegando pelos cabelos, eu apenas saída sala.
Cássia me olhou assustada,mas não me incomodei em separá-las.
Luísa não tinha nada que estaraqui, qualquer chance sua havia
esgotado. E Chiara não iria cometer nenhum crime.

Entreina sala de Fred e tranqueia porta,não queria mais


sequer chegar perto dessas confusões mesquinhas.
— Que isso? — pergunteicurioso e ele girou a caixinha de
veludo em minha direção — outro anel?
— Esse é de verdade — ele comentou meio aéreo.
— Vai fazer o pedido? — perguntei surpresoe ele deu de
ombros.
— Eu ia pedir de verdade, mas ela começou a pirar e eu
inventei aquela históriafajutade ser um pedido falsopra enganar a
minha ex e quem sabe assim ela nos deixar em paz — ele
resmungou e eu comecei a rir . Fred me encarou sério e eu tentei
parar , mas era engraçado.
— Desculpa, cara.
— Agora eu ando com esse anel, esperando um momento
ideal e que ela não vai sair correndo assustada...
— Só me rest a desejar boa sorte— eu falei e ele apertou os
lábios em um sorriso, assentindo — Luísa e Chiara estão brigando.
— Elas sempre estão— ele falou, negando com a cabeça em
decepção — Luísa precisava de mais limites. Ela acha que pode
tudo, né? A conta dela vai ser alta.
— Sei — eu falei sarcástico— gente como ela não arca com
as consequências. Por isso ela age desse jeito.

Poderíamostercontinuadoa conversafiada, mas Cássia ligou


para Fred e pediu ajuda para separaras duas loucas. Fred me
encarou feio por não terexplicado que a briga era aqui e agora e
saiu apressado. Eu fui atrás.Ele puxou Chiara e Cássia segurava
Luísa. As duas descabeladas, vermelhas e indispostas a parar
.

Fred trouxeChiara para a sala dele e Cássia ficouajudando a


Luísa. Eu comecei a rir enquanto Fred me olhava feio.
— Vocês dois — ele falou impaciente— parem de brigarcom
as pessoas! Que coisa horrível!
— Ela veio jurar que eu sou frustradae tenho ciúme porque o
energúmeno do meu ex está transandocom ela! — Chiara ainda
tinha respiração irregular
, acelerada por causa da adrenalina.
— E esse idiota! Que vê e não separa!
— Eu não ia deixar a Luísa achando que eu estava a
defendendo — tentei me explicar .
— Ela ficou pior que eu — Chiara falou e Fred a encarou
incrédulo.
— Vocês são iguais! Coitada da mãe de vocês! — ele estava
irado. Chiara arqueou as sobrancelhas, fazendo pouco caso e deu
de ombros.

Ficamos ali com Chiara até ela se acalmar. Ela queria reunião
com algum bom arquitetopara um novo apartamentoe eu iria
marcar
, mas fomos interrompidos por toda essa confusão.

Fui levá-la para casa já no fim do dia e mamãe pediu pra que
eu descesse, ao menos por um minuto. Eu iria negar, mas minha
irmã alegou que ela andava tão arrependida que eu me comovi.
Chiara não perdeu tempoem contara sua versãoda briga com
a Luísa, deixando nossa mãe cheia de horror . Ela também não
poupou Luísa de adjetivos pejorativose ainda xingou um pouco
mais o ex. Eles mereciam, eu não iria pará-la. Externartodo o ódio
poderia fazer bem, algo como jogar pra fora e não ficar absorvendo.
— E Jordana, como está? — mamãe perguntou para mim.
— Está bem, tem aproveitadoas fériaspra descansar — eu
falei tranquilamente.
— Vai encontrá-lahoje? — ela perguntou,queria realmentese
aproximare eu estavaficandosem espaço para renegá-la. Balancei
a cabeça, confirmando.
— Vou tomar um banho, não demoro — Chiara falou.
— E eu vou embora — avisei e ia me virando.
— Por favor, Edu, espera — mamãe falou como se suplicasse,
me cort ando por fazeresse papel de vítima— eu não aguento mais
essa situação.Você e seu pai brigados,todaessa confusãoque nos
envolvemos. Por favor... Vamos tentar resolver!
— Mamãe, eu não criei confusão nenhuma.
— Tente ser mais condescendente, tente colaborar para
melhorarmosas coisas — ela falou, chegando mais perto— eu
quero fazerparteda vida da minha neta,quero poder consertar
tudo
isso. Mas eu preciso que vocês me deem a chance.
— Mamãe, por favor— eu pedi me sentindosufocado— eu e
Jordana não vamos proibir ninguém de tercontatocom a nossa
filha, mas eu não quero que ela passe por nenhum estresse
desnecessário durante a gravidez.
— Tente se acertarcom seu pai, por favor. Vocês sempre se
deram tão bem, agora estão como dois inimigos...
— Você não acha grave o que ele insinuou? O que ele falou?
— forcei um riso incrédulo — porque eu não consigo esquecer
.
— Eu não estou defendendo, mas ele está fora de si. Na
cabeça dele, ele está apenas te protegendo.
— Me protegendoenquantomaltratae magoa a mulher que eu
amo? — eu perguntei descrente e mamãe negou com a cabeça.
— Ele só acreditou nas circunstâncias,Luísacriou uma versão
que fazia algum sentido, até eu desconfiei.Mas eu estou tentando
consertar, sei que fui equivocada, que errei.

Eu não sabia o que dizer, ela queria ouvir que estava tudo bem,
mas se eu dissesse isso, estariamentindo. Para piorar , meu pai
chegou e ia subindo as escadas, sem se dar o trabalho de
cumprimentar
, mas minha mãe não aguentou a pressão.
— Por favor, Danilo, pare de agir desse jeito você também! —
ela falou desesperada — nossa famíliaestá sendo arrastadapro
esgoto, estamos todos vivendo um infernoe ninguém quer mais
ceder! Eu não aguento mais!
— O que você quer que eu faça, Nora? — ele perguntou,
dando a volta e chegou mais pertode nós — já soube que Chiara e
Luísabrigaramhoje. A conversachegou rápido na empresa.A troco
de que?
— Pare de agir como se a Luísafossea sua filha — eu rosnei,
porque parecia que era o que ele queria.
— Vocês deviam pararde maltratar
a garota.Chiara terminouo
noivado, ok. Você não quer levar em consideraçãoos argumentos
de Luísa, ok. Mas não custa muito deixá-la em paz.
— Por favor
, parem — mamãe falou,pareciaesgotada,a ponto
de começara chorar— eu não aguento mais ver você desse jeito,
nossos dois filhoschateadoscom você! Por favor , tentemconsertar,
repensar. Luísa não é nossa filha, ela já extrapolou todos os limites.
— Ela só queria proteção, Nora. Coisa que nós dois
deveríamos ter feito por ela, mas Edu conseguiu engravidar outra.
— Eu engravidei outrae nem assim ela nos deixou em paz.
Com essa obsessão em fazerpartedessa família— eu resmunguei.
— Se a nossa famíliaestáconturbada,a culpa é de vocês. De
vocês e das escolhas erradasque fazem — meu pai falou, dono da
razão e ia em direção as escadas, mas minha mãe voltou a falar
antes:
— A culpa é sua! — ela só faltougritar
, até eu me assustei —
era pra estarmosvivendo um momento tranquiloe bom, esperando
nossa neta chegar e você resolveu que a Luísatinha razão, que ela
fazia sentido. Contaminou tudo com a sua desconfiança cega!
Proteçãodemais estraga,Danilo! E eu to cansada de ver você
agindo como o dono da razão, julgando alguém que não conhece,
decidindo verdades por contaprópria!— ela parou e respirou,achei
que iria parar
, mas voltou a falar alterada:
— Eu quero que você peça desculpas ao nosso filho, quero
que consertetodas as ofensasdigeridas à namorada dele, que é a
mãe da nossa neta e a mulher que ele ama! E eu não quero mais
ouvir o nome de Luísa na minha casa! Ela já causou confusão
demais, feriunossos dois filhos e eu não vejo motivospara tê-la por
perto! Não a quero por perto!
Tudo parecia mudo, o mundo pareceu parar
, meu pai a
encarava, as pupilas dilatadas e a respiraçãoacelerada, mas ele
não conseguia dizer nada. Minha mãe, irredutível
que estava,voltou
a dizer:
— Ou é isso, ou quero o divórcio.
C 26
Jordana Testa

Edu chegou no começo da noite perguntandoo que eu havia


feitocom Noêmia. Como ele estava passando mais tempo aqui do
que em seu apartamento,achou que Noêmia deveria ficaraqui
fazendo tudo por mim, o que me sufocounas primeirasduas horas.
O encarei e continuei mexendo o meu molho branco com queijo
para o macarrão.Ele então tirouo paletó e começou a desfazeros
botões da camisa, o espiei rapidamente,sempre gostoso, mas me
controlei.Edu foise sentarà mesa e só entãome contaque a mesa
ali no canto era completamente esquecida.
— Quer saber sobre a confusão na casa dos meus pais hoje?
— ele perguntou e eu o olhei confusa.
— Mais confusão?Vocês adoram, só pode — falei indignada e
ele deu de ombros.

A cada informação que Edu me contava, eu ficava mais


boquiaberta, ele parecia se divertir com a minha incredulidade.
— Ela pediu o divórcio? — eu repeti,não acreditandoe ele
assentiu.
— Eu acho que para colocá-lo contraa parede — ele negou
com a cabeça — quer mostrarque estádo nosso lado agora. E eu
acredito que ela realmente não aguente mais essa situação.
— Nossa, seu pai defende muito a Luísa — eu fiz uma careta.
— Anos convivendo, ele tem um carinho por ela. Mas ele
precisa separar as coisas — Edu resmungou.
— Acha que se ele não ceder, ela vai mantera chantagemdo
divórcio? — perguntei— eu acho que ele vai me culpar, dizer que
tudo isso é porque vocês estão cegos me defendendo.
— Eu acho que ele, apesar de tudo, ama a mulher que tem e
uma hora vai terque tomaruma decisão. Não é como se meu pai
quisesse se casar com a Luísa — Edu falou, achando muita graça
da própria piada sem graça, porque começou a rir muito da alusão.
— Eu tenhopena dela — eu fizuma careta— eu não acho que
ela seja uma pessoa legal, nem nada. Mas também não acho que
seja ruim. Só precisavade mais limite,de mais compaixão... Eu não
ficaria atrás da atual do meu ex.
— Eu não sou ex dela — ele corrigiu e eu revirei os olhos.
— Eu não ficaria atrásda atual do meu ex — repet i com
veemência — com o único intuito de importuná-la.
— Você é boazinha demais — ele faloue eu o olhei, dando um
sorriso levado —, boazinha e safada. Eu sou um cara de sorte.

Enquanto eu terminavao jantar


, Edu foi para o banho e voltou,
dessa vez vestido só numa cueca boxer branca, o que era
terrivelmentetentador. Jantamos na mesa e eu comentei que esse
canto da casa era tão esquecido, que eu nem me lembrava dele.
Havia gelatina para a sobremesa, ficamos mais algum tempo
ali conversando, ele ponderando como iria agir caso seu pai
cedesse.
— Se ele ceder, você vai ter que se desculpar — e falei
contrariada — pelo soco que deu nele, só por isso.
— Ele não merece que eu peça desculpas — ele resmungou.
— Mas caso ele tenteremediar alguma coisa, não acho que
você tenha que dificultar
.
— Você é muito boazinha — ele falou indignado — não quero
mais conversar— ele falou, pegando as taçase levou para a pia
também. Eu o olhei presunçosa.
— E você quer o que?
— Quero sexo — ele falou, me puxando pela mão, para me
levantar — quero transar até não aguentar mais.
— Tarado — sussurreiincrédula, correspondendoao seu beijo
rápido e me virei para ir para o quarto.Foi quando ele me deu um
tapa na bunda e veio me abraçando por trás.

Pela manhã, nós dois já acordamosacesos. Eu estavadeitada


na cama, com as pernas sobre as dele, que estavadeitado de lado,
me penetrandodevagarinho, estremecendotodo, porque acordou
excitado,mas precisavame esperar . Foi a posição mais confortável
que encontramos,havia outrasconfortáveis, mas essa foi a que eu
mais gostei, porque estava toda deitada na cama, as pernas
apoiadas, a barriganão pesava e ele metia delicioso. Edu olhava
para os nossos sexos conectadose gemia e espirava a cada vez
que saía e voltava. Ele estava concentradoem nós e eu nele, tão
gostoso cheio de tesão. Eu estava muito lubrificada,ele deslizava
fácile estavadelicioso. Afastei um pouquinho mais as pernas e ele
gemeu mais alto, vindo e ficando, estremeceue eu achei que
chegarialáagora, mas ele ficou quieto e inclinou para beijar a minha
boca, desceu e beijou meus mamilos, levou a mão para o meu
clitórise eu mordi meu lábio inferior
. Eu tentavaficarsilenciosa pela
manhã, não queria ser ouvida, mas quando ele começou a brincar
no meu clitóris com o indicador, dei um gemido forte,estava
delicioso. Tentei abrirmais a perna, mas ele segurou e olhou para
mim, sorrindotãogostosoque eu estremecie meus olhos reviraram.
Edu voltou a se mover, a acariciarmeu ponto mais sensível e
inclinou para chupar meu mamilo, eu não aguentei, joguei a cabeça
para trás, devo tergritado,cobri o rostocom as mãos e despenquei
no meu orgasmo violento. Edu me guiou perfeitamente até o final,
logo depois comecei a sentirseu sêmen dentro,ele me segurou
firme para penetrar e ficar e gemer
, até acabar o seu clímax.

Ficamos agarradosna cama, eu, exausta,prontapara voltara


dormir. Edu ficou acariciando a minha barriga, logo a Helena
começou a mexer e ele a conversar com ela.
— Parece até que to vivendo um sonho — eu falei, sempre
ficava emocionada o vendo falar com a nossa filha.
— Você tem sorte.Hoje eu posso tirarà tardede folga — ele
falou e eu acariciei seu rosto.
— Só vai me ouvir reclamar — eu falei, mas andava
reclamando de tudo. Nenhuma posição era boa realmente para
dormir, eu cansava rápido, sentia dores na coluna. Mas sabia que
era a retafinal e conseguia ficar melancólica e chorosa.Estavaum
mar de emoções confusas.

Edu foi para o banho e eu me virei na cama, mas estavacheia


do sêmen dele, me levantei e o encontreino Box. Eu sabia que era
erradoprocuraresse homem sem limitesno banho, ele começou a
me acariciarinteira,massagearmeus ombrose descendo. Comecei
a gemer, me dando toda quando ele chegou à boceta e ele começou
a beijar a minha boca.
— Vontade de chegar atr asado só pra transarmais um
pouquinho — ele falou e eu resfoleguei,mas voltei à razão. Por ele
era o que realmente faríamos, mas achei melhor parar
.
— À noite — eu prometi,o afastandoe ele praguejou — só
banho agora.

Quando terminamos,ele ao invés de ir se trocarpara não


perder tempo, pegou primeiro um dos cremes que eu usava no
corpo e veio prontopara passar em mim. Eu comecei a rir
, mas ele
não se importava, queria ficar o tempo todo me devorando.
— Sim, eu sou obcecado — ele falou enfadado, passeando as
mãos pela barrigae escorregandoaté lá em baixo de propósito—
nunca vi uma boceta tão bonita e tão gostosa.
— Nunca vi um pau tão bonito e gostoso também — eu o
provoquei de volta e ele fez uma careta desgostosa.
— Se você colocar uma perna aqui — ele bateu no colchão ao
seu lado — eu posso me abaixar um pouco e chupar você.
— Deus, Eduardo! — eu falei indignada, mas acabei rindo —
você é muito viciado em sexo.
— Tudo bem, eu vou trabalhar . É que eu ficoexcitadodemais
quando estou estressado.
— Você é muito safado, isso é doentio e contagioso!— falei,
tomando o hidratante dele e fui terminar de passar sozinha.

Nos vestimose ao chegarà cozinha, a mãe dele estavalá com


Noêmia. Acenei um sorriso, pedindo internamente para que elas não
estivessem aqui meia hora atrás.
Ela estava tentandomelhorar tudo, Edu achava que eu era
boazinha demais, mas eu acreditavaem segundas chances. O pai
dele parou de insinuarqualquer bobagem, mas isso não queria dizer
que estava tudo bem. Eram dois orgulhosos, iguais, como dizia a
mãe dele, mas ela estava confiante,disse que estava trabalhando
na cabeça do marido para fazê-lo ser mais complacentee entender
a verdade. Eu não nos deixava muito nesse assunto, era
completamente desconfortável.

Edu voltou à tarde e fomos almoçar fora,demos uma volta e


caminhamos na praia um pouco. Voltamospara o apartamentodele,
onde tentamosver um filme, mas começamos uma maratonade
sexo deliciosa. Ele havia procuradoas melhoresposições para essa
fase da gestação, todas que tentamosforam incríveis,ele era
incrível.Quando acabamos outravez, eu fiqueicompletamentemole
na cama, tremendointeira,o corpo tendo espasmos de arrepiosde
tão satisfeito e relaxado.

Nossa farrafoivetadapelo médico na consultado dia seguinte,


a penúltima antesdo parto,porque não queríamosacelerarnada e
orgasmo era um ótimo indutorde parto.Eu achei que Edu faria
algum drama, mas ele era perfeitamente responsável com essas
coisas.

No domingo, ele precisariafazeruma viagem rápida à SP, mas


não queria ir, com medo de não estaraqui e a Helena chegar. Mas
prometique não iria acontecer nada, iria à praia com a Marina, Fred,
Ravi e Denise, depois passaria o dia descansando.
— Já descansei tantoque não aguento mais — falei para ele,
que moldava as mãos na minha barriga, sem querer se despedir
.
— Qualquer coisa me liga — ele falou, pegando o celular que
tocava e olhou para mim, se aproximando para selar ternamente
nossos lábios — te amo.
— Amo quando você diz — eu falei,acariciandoseu rosto— te
amo também.

Saídali com ele e encontreiFred e Marina em frenteao prédio.


Era engraçado como Edu missionava Fred para cuidar de mim,
como se qualquer imprevistoseria culpa dele. Revirei os olhos com
tantasrecomendações, demos um último beijo e ele foi para o seu
carro.
— Esse homem está muito apaixonado — Marina falou e eu
dei um sorriso travesso, ele estava mesmo. E eu amava.
Encontramosos outrosdois e Chiara logo chegou com um cara
alto e muito musculoso. Fred não gostou nada, parecia querer
provocarRavi, disse ele. Embora eu achasse que ela estava em
fase de pegação, mesmo.

Eu aproveiteiDenise disponívelpara tirarmosmais fotos,agora


com a barrigamaior do que eu achava que ficaria.Estava sendo
bom passar o dia com eles, melhor do que ficar sozinha
descansando. E eu não tinha nenhuma prescrição de repouso
absoluto. Apenas não fazermuito esforço,eu não queria induzir o
partoe como estavapara completartrintae nove semanas, Helena
poderia vir a qualquer momento.

Eduardo começou a mandar mensagens a cada dez minutos.


Mas ele fariaapenas uma viagem rápida a trabalho,estar
ia de volta
ainda hoje, não precisava de tanta preocupação.
Como eu não dei tanta importância ao drama dele, ele
começou a perturbarFrederico, que ria do primo, sendo tão
exageradamente protetor
.
— Como estána sua casa, Chiara? — ele perguntoupara ela,
servindo mais cerveja no copo e ela deu de ombros.
— Melhor que quando estávamos todos brigando, mas longe
de sercomo antes— ela falou entediada— meu pai fazum esforço,
porque ele se curva para mamãe, mas ele não faz o esforço
suficienteainda — ela olhou para mim, que fiquei desconcertada,
porque sabia que era sobre mim.
— Ele vai se redimir, tenho certeza— Fred falou e eu sorri
fraco.Não iria fazerquestãodisso, embora eu odiasse que Eduardo
estivesse sem falar com o pai.

Fred logo me fez beber água de coco, Eduardo havia


mandado. Eu reviravaos olhos, porque ele ficavacuidando como se
eu realmenteprecisasse. Marina se divertia,ela adorava que eu
estivesse vivendo isso, eu poderia apostar
.

Quando os homens foramjogar vôlei por ali, eu fui com Denise


tirarmais fotos.Queria muitas, queria encher a casa de fotosdo
barrigão.Para minha tristeza,quando voltei, Luísa estava ali, junto
com o ex de Chiara e o irmão dele. Denise me lançou um olhar
condolente,mas eu acreditavaque agora a briga de Luísaera mais
com Chiara do que comigo.
— Você ficou com o resto que eu cuspi, não se contenta e acha
que temque me provocar, Luísa!Pelo amor de Deus, cadê algum fã
seu pra ver quem você realmente é? — Chiara gritava. Denise
pegou a câmera e tirou foto das duas, em uma discussão evidente.
— Olha a outragolpista! — Luísa falou, apontando em minha
direção — agora que Eduardo não está aqui, assume que não
transoucom Teo! As-su-me! — ela vinha em minha direção, mas
Chiara a segurou.Eu parei, fiqueiquieta,não iria entrarnisso — tão
dissimulada! — ela gritoufuriosa,puxando os braçospara se soltar
— eu sei atédetalhesde vocês! — ela cuspiu as palavrase eu olhei
para o Teo. Que detalhes? Não havia detalhes.
— Que detalhes? — indaguei quase num impulso, era difícil
não se contaminarpor essa tensãomaluca e sem fundamento — o
que nos beijamos?
— Apenas isso? — Teo perguntou, num tom insinuativo e eu
franzi o cenho.
— Houve mais? — indaguei o encarando. Fred chegou,
parando entre mim, Luísa eeo.
T
— Tem certezaque não, Jordana? — Teo quem perguntou,
forjandosua indignação — posso lidar com a sua indiferença,tanto
faz pra mim. Mas mentirpra que? — eu o encarei, completamente
confusa, notei o olhar de Luísa mudar, virarpura satisfação.Fred
me encarou cauteloso, como se pedisse para eu não cair nessa
conversa.
— Eu não fui pra cama com você — eu falei, mas Luísaforçou
uma risada e tentouvir para pertode mim, mas Fred a segurou e a
levou de volta para trás.
— Está mortade medo de ser desmascarada!— ela rosnou,
tentandose soltarde Fred — eu espero que você sofrao dobro do
que eu sofrina mão daquele cretino!Espero que o pai dele rejeite
essa criança, que eu tenho certezanem ser de Eduardo! Espero
que vocês dois se façam muito mal! — ela desatou a falar ,
desequilibrada. Eu não devia me afetar
, não devia levar nada disso
em conta, mas tudo vinha com força. Essa energia pesada e
negativa, esse ódio gratuito que refletia apenas a indignação dela.

Eu poderia tentarentender
, foramanos implorando por algo
que nunca veio. Anos aceitando, anos ele deixando, não deve ter
sido fácil, mas eu não era culpada.
— Melhor irmosembora — Fred falou,entregandoLuísapara o
ex de Chiara, foi no momento que senti uma pressão estranhano
baixo-ventre,por sorteDenise estava bem ao meu lado e eu me
apoiei nela. No segundo seguinte senti escorrero liquido quente
entre as minhas pernas.

Eu deveria teragido com mais coerência,terficadocalma, mas


só em terexperimentadoalgumas contraçõesde treinamentohá
alguns dias, umas bem doloridas que me deixaram em pânico, eu
fiquei apavorada, eu não deveria entrarem trabalhode parto.Não
queria esperara bolsa rompernem nada, eu queria a cesariana a
todo custo. Meu médico havia dito que eu tinha todos os pontos
favoráveispara o partonormal, mas nada me convenceu. Eu queria
a intervençãocirúrgicae preferialidar com todos os julgamentos
que poderiam vir. Vovó mesmo, ela me julgou, disse que eu era uma
frouxa, que teve mamãe de parto normal e a recuperação foi
incrível.Minha mãe também teve o bendito parto normal, tinha
relatos incríveis.

Mas eu, não. Eu tinha medo. Era inexplicável.

Não sei o que houve, mas eu apenas sentias pernasperderem


a força,estavatudo saindo do meu plano de partoperfeito,onde eu
acordariajunto com Edu, nós dois iriamos para a materni
dade e ele
ficava comigo enquanto a nossa filha chegava. Seria perfeito.Mas
não, eu tinha que passar por isso.

Pude ouvir os gritos desesperados do pessoal, e alguém,


provavelmente Fred, me segurando. No segundo seguinte, tudo
virou escuridão.
C 27
Eduardo Toledo

O piloto do helicópteroestavaatrasado.Disse que pegou uma


via com um trâ nsitoparado e estavafazendoo possívelpara chegar
aqui logo. Eu já estava impaciente com a espera. Havia enviado
várias mensagens para Jordana, que logo se sufocoue me deixou
falando sozinho. Então comecei a dar minhas recomendaçõespara
Fred.

O piloto demorou quase uma hora para chegar e quando


finalmente chegou, eu já não queria mais ir. Estava com essa
sensação estra nha, mas a verdade é que eu não queria desgrudar
de Jordana. Talvez fosseo traumado que eu passei anos atrás,eu
estavatentand o mantera calma, mas estavaapavorado com medo
de algo se complicar na gravidez dela, andava conversando muito
com Deus, precisava dar tudo certo.

Quando entramos no helicóptero, no entanto, meu celular


começou a tocar e eu pedi para esperarem.
— Cara, a bolsa da Jordana estouroue estamos indo pra
maternidadeagora — Fred falou sem esperarque eu dissesse pelo
menos oi — ela ficou assustada,acabou desmaiando. Assim que
chegar, nos encontra!
Meu celular caiu da minha mão, seria perfeitoque eu
desmaiasse também, para completar
. Não haveria dinheiro no
mundo que me fizesse cumprir os compromissos hoje, então
cancelei tudo,mandei o pilotode voltapara casa e fuicorrendopara
a maternidade em que Jordana estava. Liguei para o médico dela no
caminho, mas ele já havia sido informado.

Comecei a chorardescontro
lado, o medo era tão grande que
eu me sentia minúsculo. Quando cheguei, liguei para o Fred me
encontrare ele me deu um abraço, ali desmoronei de novo, abraço
desse jeito queria dizer notícia ruim.
— Se você quiser matara Luísaagora, eu deixo — ele falou e
eu o encarei confuso.
— Como Jordana está?
— Está bem, já está no quartoque vocês tinham escolhido,
esperando você chegar. Ela ficou apavorada com medo de tero
parto normal. Falava sobre com muito medo.
— Eu precisovê-la — eu falei e ele assentiu,então seguimos.
Fred me contoupor cima o que havia acontecidoe eu negava com a
cabeça, incrédulo. Luísasó poderia terenlouquecido perversamente
de vez.
— Sabe a melhor parte? Denise fotografoutudo, Marina
gravou. Luísa vai se envolver em uma polêmica feia dessa vez.
— Não quero expor Jordana — eu avisei — vou lidar com
Luísana justiça.Ela estádescontrolada,não vou mais aceitarnada
disso. Já passou de ser só brincadeiraou inconformismo.Há muito
tempo que deixou de ser.
— Pensa nisso depois.
— Acha que essa tensão de hoje pode tercausado alguma
complicação? — perguntei,mas avistei o obstetrade Jordana e fui
até ele. Repeti a perguntae ele torceuos lábios. Abstraí
as transas
na noite passada, já havíamos sido alertados que sexo era um ótimo
indutor de parto, mas Jordana estava tão sedenta e eu era tão
safado que não resisti a ela. Nos convencemos que a única
recomendação para não fazermos era não apressar o parto.
— Talvez, se ela estivesse em casa em repouso, tivesse
prolongado um pouco mais — ele falou tranquilamente— mas eu já
havia dito que poderia acontecer a qualquer momento. Ela só ficou
assustada, mas já está tudo bem, estávamos apenas esperando
você.
— Obrigado — falei um pouco mais aliviado e entreino quarto.
Jordana estava na cama, já vestida na roupa do hospital, o cabelo
preso para trás. Senti tantoalívio, tantoamor ao vê-la e tercerteza
de que estavabem que só fuiatéela e segureiseu rostopara beijá-
la.
— Fiquei tão assustada que desmaiei — ela contou dengosa —
e vovó dizendo que eu aguentaria o parto normal.
— Não sente dor? — perguntei, acariciando a barriga e ela
negou com a cabeça.
— Espero estaranestesiadaantesde sentiralguma contração
— ela falou carrancuda e eu dei um sorriso.
— Vai ser tudo como você quer — prometi— já avisou à sua
mãe e avó?
— Já, estãoa caminho. Fred ligou pros seus pais — ela falou,
trazendouma mão para o meu rostoquando me senteià beirada da
cama — acha que o seu pai virá?
— Azar o dele se não vier — eu falei, segurando a sua mão.
— Preparadopra conhecernossa menininha? — ela perguntou
docemente,fazendotudoembargarpor dentro,meus olhos arderam
e eu funguei, assentindo — estou muito, muito ansiosa.
— Eu te amo muito — sussurreie ela me encarou serena, se
aproximando para beijar minha boca. Eu, não querendo deixar
nenhum sentimento que não esse de paz me dominar, chorei sem
conseguir segurar
, mas fechei os olhos e a beijei de volta.

Encerramosquando Marina chegou fazendo barulho. A olhei e


limpei meu rosto.
— Trouxe as coisas que você pediu — ela falou para Jordana
— o doutor avisou que o anestesistaestá vindo. Aí eu posso
maquiar você.
— Obrigada — Jordana falou.

Tudo pareceu acontecerrápido, dali para frente.Jordana foi


devidamente anestesiada e Mari passou maquiagem nela. Denise
aproveitava os momentos e fotografavatudo. Quando o doutor
voltou, avisando que já iriamos para o centrocirúrgico,mandou que
eu fosse me trocar , para acompanhá-la. Foi tudo rápido, desde o
momento que saí para me trocar , ao que Marina fez drama por
Denise participar do parto,já que a outrafotógrafaque contratamos
não teriatempo de chegar e ela estavaaí, preparadapara registrar
tudo.

Eu estava nervoso, as mãos pareciam dormentes, mas


Jordana estavaanimada, otimista.Uma das enfermeirascolocou um
banco para que eu me sentasse. Olhei para Jordana, demos um
sorrisoternoe eu beijei sua testa.O doutorperguntouse eu não
queria ver o parto lá, mas eu queria ficar aqui, ao lado dela.
Estávamos tão imersos em nós dois, ela tão confiante,
tranquila,que eu fui me tranquilizandotambém. Daria tudo certo.
Tinha que dar.
O tempo passou que não me dei conta, de repente ouvi o choro
da nossa Helena, que nasceu e berrava,anunciando sua chegada,
tão saudável e perfeita.Ela foi diretopara os braços da mãe, que
chorava emocionada. Eu olhava para ela, para nossa filha, não
poderia estar mais grato.

Corteio cordão umbilical quando chegou o momento certoe


depois pudemos curtir nossa menina por alguns minutos.
C 28
Eduardo Toledo

Eu não conseguia parar de olhar para ela. Helena dormia o


tempotodoe mamava muito.Jordana reclamouum pouco da dor no
corteda cirurgia, mas a avó tratoulogo de avisar que ela escolheu
assim. Ela não estava arrependida,de qualquer maneira. Retrucou
que era bem suportável.

O mundo parecia nulo lá fora, como se só nós três


importássemos.Como a nossa filha veio antesdo esperado, toda a
programação para receber nossos amigos e familiares foi
atropelada.Mamãe não parava de chorar . Quando segurou Helena
no colo pela primeiravez, eu precisei pegar minha filha, porque a
avó dela estavacompletamenterendida ao choro.Eu e Jordana nos
olhamos naquele momento, eu sabia que havia muita culpa
envolvida.
— Você expulsou a minha mãe — Jordana falouincrédula,mas
dei de ombros, ninando a nossa filha. Dona Laís queria ser a
acompanhante de Jordana, ficaríamos por mais um dia, e eu disse
que não precisava. Eu ficaria com ela.
— Eu não ia conseguirpassara noite sozinho — eu falei e ela
revirouos olhos. — Eu expulsaria a minha mãe também — conteie
ela riu, negando com a cabeça — quero que seja o nosso momento.
— Ela dorme tanto — Jordana falou — espero que seja assim,
dizem que mães não dormem, né?
— Eu acho que ela se parece comigo — comentei, avaliando
nossa menininha em meus braços — sinto muito — a provoquei,
que deu risada, mas parou. Não podia rirou fazeresforçopor causa
dos pontos.
— Eu espero que ela tenha os seus olhos.
— São verdes — falei o óbvio — é a cópia do papai.
— Vovó disse que podem mudar com o tempo — ela retrucou
pensativa.
— Não vai, vai ficarassim, perfeito— eu prometi,todo bobo
por esse serzinho. Olhei de volta para Jordana, que deu um sorriso
carinhoso.
— Faz um ano que nos conhecemos, exatamenteum ano —
ela comentou — e já temos tudo isso.
— Tivemos sorte— eu falei, não haveria nada além de tudo
que era bom para resumir , no final das contas — ainda bem que
bebemos muito no meu aniversário,que transamossem proteção,
que não nos lembramos disso. Que temosnossa filha... — parei de
falar e suspirei — no final, tudo foi como tinha de. ser
— Eu estou muito grata por isso — ela falou carinhosamente.

Denise nos enviou algumas fotos de nós dois no centro


cirúrgico.Eu e Jordana não havíamos postado alguma fotojuntos,
até então. Ela estava receosa por causa de Luísa e seus milhares
seguidores.Então tomei o primeiropasso. Posteia fotode nós três,
na legenda escrevi:família ♥.

Ela escolheu outrafoto,não havia postado nem fotográvida.


Não queria especulações, uma vez que aconteceu tão
inesperadamente.Mas iria fazer tudo isso agora. Nossa filha já
estava entre nós, tínhamos o direito de compartilhar nossa felicidade
por aí.

Por questão de logística, era melhor que ficássemos no


apartamentodela, porque não havia escadas. Mamãe e Noêmia
estavam lá, a nossa espera quando ela e a Helena tiveram alta.

A mãe dela veio com a avó para irmos juntospara casa. Para
começaro primeirocapítuloda históriada nossa filha. Meu pai não
havia aparecido ainda, eu já não tinha esperança que fizesse.Mas
não iria ficar pensando nisso.

Quando chegamos, Jordana foilogo comer, estavacom fome e


não quis o café da manhã do hospital. Noêmia veio pegar a minha
filha, emocionada, porque quem diria que eu estariavivendo isso
dessa maneira? Chiara chegou logo depois, trazendo vários
presentesdesnecessários,na percepção da mãe da Helena, mas
ela dificilmenteconseguiria controlarisso, pelo menos agora, que
estavam todos eufóricos com a chegada dela.
— Aquela ratazana insinuando merda — Chiara falou
asquerosa,segurando a Helena. Mamãe a colocou sentadano sofá
para só então deixá-la pegar a minha filha — é a sua cara. Pobre
Jordana, carregoupor esses meses todose nasceu a carado pai —
ela negou com a cabeça — eu achava que seriaa caradela, com os
seus olhos.
— Você fala demais — mamãe falou para ela, que fez uma
caretaem resposta— o seu pai gostariade fazeruma visita— ela
começou cautelosa,nesse momento Jordana voltava do quarto—
vocês se importam?
Eu fiquei quieto, ele teve tempo para isso, por mim, eu diria
não.
— Tudo bem — Jordana falou, ignorando meu olhar
significativoem sua direção. Ela veio até mim e segurou a minha
mão, me lançou um sorrisocomplacente— é o avô dela, querendo
ou não.
— Ele está arrependido. Só não é bom em se desculpar —
mamãe tentou remediar , mas Chiara riu.
— Depois do castigoque a senhora deu nele, ele tinha mesmo
que se arrepender— minha irmã provocou.Mudamos de assunto,a
avó de Jordana já estavacomeçando a questionaros motivos,mas
ela achou melhor que não soubessem sobre esse desentendimento
com meu pai.
— Mas veja só! — a mãe de Jordana falou de repente,
exaltada e nós a olhamos — a neta do meu marido nasce hoje!
— Helena já vai ter uma amiguinha — dona Márcia falou
animada.

Elas ficaramalgum tempo conosco, mas logo Helena chorou,


era hora de mamar. Só eu e Noêmia ficamos.Jordana se sentouao
sofá, segurando nossa filha e eu fechei a portadepois que Chiara
saiu.

Noêmia ficou por mais algum tempo, preparounosso almoço,


ficouconosco pela tarde.Eu e Jordana demos banho na Helena, eu
queria participar de tudo.
Naquela noite, meu pai enviou uma mensagem, se
desculpando. Mas eu não caí muito naquilo, disse à Jordana que
havia sido minha mãe, mas ela me olhou séria.
— Mesmo que tenha sido, se ele a deixou enviar, já é um
começo. Não precisase abrir , apenas dê o espaço suficientepra ele
chegar, se ele quiser — ela falou, terminandode colocara fraldana
Helena e a ergueu no colo — e olha essa garota,perfeita!Azar o do
seu pai se não quiser fazer parte da vida dela.
— Me deixe colocá-la pra dormir— eu pedi, porque quando ela
dormia, ficávamos os dois velando o sono dela, só a esperando
acordar. E foi dito e feito,a coloquei no meio da cama de casal e
ficamos lá, admirando nossa menininha.
— Somos dois patéticos— Jordana falou e nós demos um riso
sussurrado.Me aproximei para beijar sua boca e acaricieiseu rosto.
— Nem se eu pudesse te dar o mundo, seria o suficienteperto
de tudo que você me trouxede volta— eu preciseidizer e ela juntou
nossas bocas outra vez.

Noêmia já estava por aqui pelas manhãs logo cedo, deixando


tudo prontopara nosso café da manhã. Fred achou bobagem que
eu quisesse ficaros primeirosdias inteiroscom Jordana e minha
filha, uma vez que quando ele teve o bebê, só o deixaram assumir
as funçõesrealmentenecessáriasde um pai, que segundo ele era a
financeira.

Era diferentecomigo. Eu estava vivendo algo novo, porque


Jordana me arrancouda zona de confortoque eu havia criado. Há
um ano, eu não pensava que poderia amar alguém, que seria feliz
me tornando pai. Nós dois estávamos construindo algo novo,
completamentenovo para mim, eu queria que a base fosseperfeita.
Afinal eu já havia errado tanto.

Eu fiquei na cozinha, enquanto Noêmia falava e perguntava


sobre a noite com a Helena. Mas ela só chorava quando queria
mamar, era dorminhoca e muito boazinha. Nesse momento Jordana
estava com uma consultorade amamentação, então achei melhor
deixá-las sozinhas.
— Puxou a mãe, então — ela comentou,me fazendo sorrir—
Jordana é muito boazinha, depois de tudo sequer se opôs a uma
aproximação do seu pai.
— Ele teve sortecom isso, Noêmia — eu suspirei,colocando a
xicaracom caféde voltana mesa — se dependesse de mim, eu não
iria facilitar
.
— Ele vai aprendera se desculpardireito— ela falou,como se
pudesse ter certeza.

O interfonetocou e Noêmia atendeu, liberando a entrada.


Como não disse nada, eu imaginei que fossea mãe ou a avó dela,
mas quando abriu a porta,me deparei com meu pai. Ficamos os
dois congelados, eu não iria tomar iniciativa, achava que ele
também não. Ele disse coisas duras e eu revidei, não me
considerava errado. Meu pai franziu os lábios, eu continuava
achando que minha mãe estava o obrigando.
— Não quer um café, seu Danilo? — Noêmia perguntou
educada — Jordana está com uma consultorade amamentação,
logo traz a menina pro senhor conhecer
.
O clima era tenso entrenós e Noêmia se atrapalhavatodapara
tentaramenizá-lo. Bebi um pouco mais do meu café pretomeu pai
chegou mais perto.Noêmia falou para ele ficarà vontade e ele se
sentou. Notei o embrulho grande de presente em sua mão.
— Fico feliz que correutudo bem — meu pai falou e eu forcei
um riso sarcástico.
— Não foi o que desejava.
— Edu! — Noêmia me repreendeu, mas a ignorei.
— Eu sintomuito, meu filho — ele falou baixo e pigarreoupara
voltara falar— eu passei dos limites, errei com vocês, mas eu
quero ter a chance de consertar
.
— Se tivesseacontecidoalgo com Jordana, papai, se ela e a
minha filha não estivessemaqui e bem agora, como você iria se
sentir?— joguei para fora,era um cara magoado e ele poderia até
querer me proteger , mas ficou cego e me desejou ainda mais
sofrimento para validar a sua desconfiança.
— Eu sintomuito — meu pai falou baixo, desviando o olhar —
eu sei que vai levar tempo, mas eu quero poder mostrarque eu
mudei. Que vamos superar esse mal entendido.
— Mal entendido criado por você — eu o interrompi.Nesse
momento Jordana veio, ainda vestida na camisola e o robe. Ela
segurava a nossa filha e a outramulher, Clara, se despediu de nós,
avisando que voltaria em alguns dias.
— Ah, oi — ela falou para o meu pai, meio sem jeito, mas era
boazinha demais para tratá-locomo eu achava que merecia. Meu
pai a avaliou por um momento, ensaiou dizer algo e não conseguiu.
Típicodele, eu sabia que iria doer muito assumirque errou e errou
feio. Não assumirem palavras, isso ele já havia feito,mas assumir
para si mesmo.
— Olha quem veio te conhecer— ela falou para a nossa filha,
tão carinhosa — o vovô!

Eu trinquei o maxilar, com tudo amargando por dentro,porque


depois de tudo, ela iria apenas deixar passar. Meu pai deu um
suspiroforte,deu um sorrisoe não conseguia dizer nada. Eu queria
que ele se massacrassecom a culpa, porque nada do que fez para
Jordana, ela merecia. E dane-se que eu fosse esse protetor
exagerado.
— Não quer segurá-la? — ela perguntou ao meu pai, que
soltou o ar, parecendo mais aliviado e se levantou. Antes que
pegasse a Helena, Noêmia fez meu pai lavar as mãos, o que fez
Jordana rir
, ela ainda era desligada com esses mínimos cuidados.
Meu pai pegou a menina com cuidado, sabia como fazer , de
qualquer modo. Helena fezum barulho, se mexendo no colo do avô,
mas ele a aninhou e fechou os olhos por um momento, como se
pudesse apreciar o momento.
Ele podia fazer isso, graças à Jordana. Para mim, ele não
merecia. Noêmia me lançou um olhar sagaz, mas dei de ombros e
tomei o restodo meu café. Meu pai tentoudizer algo, mas a voz
parecia embargada e ele desistiu. O vi contornara sobrancelha
clara da minha filha, parecia admirado.
— Deixe meu pai curtira neta um minuto e venha tomarcafé,
Jordana — eu falei e ela olhou para mim, sorrindofracoe veio.
Antes de se sentar , eu pedi um beijo e ela riu, se abaixando
cuidadosa para selar nossos lábios.
Noêmia trouxemistoquente porque ela era viciada nisso, mas
trouxefrutastambém. A avó dela queria que ela deixasse de comer
muitacoisa, para evitarcólicas na Helena, mas ela aderiu a ideia de
ir testan
do, sentia fome o tempo todo e não queria se privar , uma
vez que o doutor disse para ela que isso variava de bebê para bebê.
Perguntei como foi a consultoriae ela foi contando, havia
sentido algum desconforto
com a amamentação e mamãe mandou
logo alguém vir socorrer.

Jordana comeu e eu fiquei olhando meu pai com a minha filha.


Noêmia quem ficou falando com ele, quebrando essa barreira. Sabia
que eu não faria.Falou sobre os olhos verdes, que Jordana estava
torcendopara não mudarem de cor. Jordana complementou que
passou a gravidez inteira rezando para ela vir com os meus olhos.
— Deus foi e mandou ela toda igual ao pai — Noêmia provocou
e as duas riram. Eu fiqueimais recluso,mas logo Jordana estavalá,
contandosobreos primeirosdias com a nossa filhaem casa. Ele, se
não estivesse realmenteinteressado,pelo menos estava fingindo
bem.
Jordana repreendeu por nossa filha ter ganhado mais
presentescaros.No pacoteprateadohavia algumas roupinhas,uma
pulseira de ouro com o nome dela cravejado em diamantes. Eu
sabia que isso era arteda minha mãe. E dois brinquinhospequenos
com os diamantes pequenininhos.
— Não gostou? — meu pai perguntou e eu o encarei.
— Jordana não quer que nossa filha cresçaachando que pode
ter tudo e vire uma deslumbrada — eu falei e ele assentiu.
— Mas agora ela não vai entender, pode aproveitar— meu pai
faloupara Jordana, sabia que as coisas entremim e ele demorariam
até pelo menos estabilizar — estão morando aqui? — ele perguntou,
olhando rapidamente ao redor.
— Não estamos morando juntos — Jordana respondeu, me
olhando e eu revireios olhos. Sabia que isso feriameu pai de novo,
porque na versão que ele deixou Luísacriarde Jordana, no mínimo
estariaem uma coberturamaior que a minha, ela querendo usufruir
de todo luxo que poderia, porque eu daria, se ela quisesse. Mas ela
não era assim. Jordana gostava de ter
, mas não era exagerada em
nada. Gostavade conforto,não luxo desnecessário,e mais do que
tudo isso, ela não queria depender de mim. Já relutavaem me
deixar pagar todas as despesas da nossa filha.

Ele ficou por mais algum tempo, mais que achei que ficaria,
mas quando chegou a hora de Helena mamar, ele se despediu. Não
deixou de perguntarse poderia vir mais vezes e eu fiquei quieto,
mas Jordana respondeu.
— Claro. Venha quando quiser — ela disse, sempre doce.
Noêmia levou meu pai até a porta e Jordana veio se sentarà
cadeira, com nossa filha nos braços.Ela a colocou para mamar ali.
Minha mãe disse que ela quereramamentarsentada em qualquer
lugar poderia afetartambém,mas Jordana era teimosa,achava uma
bobagem ter um lugar especifico para dar leite à nossa filha.
— Você poderia tersido menos sisudo — ela falou para mim,
mas olhava para a nossa filha. Eu não respondi, então ela ergueu o
olhar — pelo menos ele está tentando.
— Sim, ele precisatentar— faleisolenementee ela balançou a
cabeça em negação.
— Você também precisa tentar e deixar
.
— Estou deixando — falei petulante e ela revirou os olhos.
— Eu perdi o meu pai, daria a vida para ele estaraqui. Sabia
que iria babar muito na neta...
— Acha que ele me aprovaria?— pergunteie ela me olhou de
uma maneira travessa.
— Talvez... Não se soubesse de tudo.Mas eu queria muitoque
ele estivesse aqui, que pudesse curtira neta... O seu está — ela
falou, puxando o ar e soltou de uma vez — sei que ele errou,mas
todo mundo erra, Edu. Não gosto de pensar que vamos perder
tempo só cultivando mágoa.
— Mas...
— Mas se ele não quisesse consertar
, mesmo que tenhao jeito
dele te tentar
, mesmo que a sua mãe esteja insistindo,se ele não
quisesse, não estaria aqui. Deixe-o ao menos tentar
.
— Você deveria ser um pouquinho só mais rancorosa— eu
falei e ela me lançou um olhar atrevido.
— Se eu fosse rancorosa, não teria voltado com você.
— Nem fale isso — eu falei e ela riu, assentindo. Noêmia
repreendeu por Jordana estar amamentando numa cadeira
desconfortávele nós fomos para o quarto. Fiquei com as duas,
admirando minha filha que tinha a mãozinha no seio da mãe,
mamando tão perfeitamente.
— Eu gosto que você seja positivamenteobcecado em nós
duas — Jordana falou para mim, que caí deitado na cama e
comecei a rir
. Noêmia havia dito isso para ela e ela zombava
sempre.
C 29
Jordana Testa

Tem um bebê na minha vida. Ela é toda minha, mora na minha


casa e depende inteirament
e de mim. Eu não poderia estarmais
feliz. Andava cansada, a amamentaçãoestavalonge de ser o conto
de fadas que eu imaginei que fosse, mas terEdu aqui me dando
apoio e exercendo o papel perfeitode pai me deixava tão tranquila.
Eu não imaginava o quanto isso seria necessário.

Vivemos na nossa bolha por duas semanas, tão envolvidos em


nós trêse nas necessidades da nossa filha, que só me dei contada
faltade Marina aqui quando ela veio fazeruma visita. Eu sempre
imaginaria que ela se afastavanesses momentos que tudo era
sobre o bebê, porque poderia estarvivendo isso também. Mas
nunca iria externar
. Ela fez o que achou que seria melhor
.
— Ai, o pai de Edu deve termordido a língua com forçaumas
cinquentavezes — ela falou, segurando a Helena, sentadano sofá
— eu ficaria com ódio de fazer um bebê e vir a cara do pai.
— Eu nem tento contesta r — eu falei pretenciosa — é
unânime, todo mundo que vê diz que parececom Edu. E ela só tem
quinze dias de vida.
— Ah, pelo menos ele é um gostoso— ela faloue eu revireios
olhos — Fred veio aqui? — neguei com a cabeça, dando conta
disso também.
— Está tudo bem entre vocês?
— Sim, está. Mas ele ficou bem sentido quando a Helena
nasceu. Poderíamosterpassado por isso também — ela revirouos
olhos e suspirou forte.
— Eu sinto muito, amiga.
— Mas foi a coisa certa— ela negou com a cabeça e voltou a
olhar para a minha filha — como Edu está?
— Precisei brigarcom ele para voltara trabalhar— eu falei e
ela começou a rir— não quer sair de perto,mas tem sido perfeito.
Ele tem sido perfeito.
— Eu poderia dizer que não faz mais que a obrigação — ela
provocou e eu dei um sorriso, concordando.
— Mas é perfeitomesmo assim — franzio nariz — é como se
eu tivesse ficado ainda mais apaixonada. Consigo me lembrarde
todas as coisas perfeitasque ele me disse duranteo parto,meu
Deus, eu o amo muito.
— E dizem que a mãe deixa o parceirode lado depois que o
bebê nasce — Mari faloue eu a olhei confusa— temrelatosde pais
que ficam até com ciúme, porque são esquecidos.
— Sério? — pergunteiquase horrorizada— acho que porque
eu e Edu mal vivemos a dois e logo já tínhamosa Helena... E a falta
de sexo também, antes nós sempre nos interrompíamospara
transar. E agora que não podemos, quando a Helena dorme, somos
apenas nós dois.
— Meu deus — Marina começou a rir— é a primeiravez que
eu vejo alguém dizer que falta de sexo é bom.

Noêmia veio do quartoe começou a conversarcom a gente


também. Logo veio a mãe de Edu, trazendoa mãe de Fred para
conhecera Helena. Eu já sorria e reviravaos olhos a cada “mas ela
é cara do Edu” que ouvia. Se Eduardo queria uma vingança para o
seu pai, eu acreditava que essa era a vingança perfeita.

Não aconteceu um pedido desculpas, mas houve vários “eu


errei”e olharesculpados. Ele sabia que estavaerrado.E eu não iria
banir ninguém que quisesse ser bom para a minha filha, por orgulho.
Marina ficouquase sem reação quando Nair perguntouse ela e
Fred não queriam não planejarum bebê. Senti que foi provocação,
porque todo mundo sabe os meios de não engravidar.
— Mas eu e Edu esquecemos que não fomoscuidadosos. Não
planejamos — eu falei receosa e ela me deu um sorriso acolhedor
.
— Estavam bêbados — a mãe de Edu falou, me fazendo olhá-
la incrédula — mas quem liga? Graçasa isso temosessa belezura
aí.
— Jordana disse que está adorando essa fase sem sexo —
Marina disparou e eu quis poder matá-la. Ela parecia nervosa,
queria apenas sair daquela conversa confusa.
— O que? — as outras duas perguntarame em seguida
começaram a rir .
— Não foi isso que eu quis dizer — eu falei, sentindo a nuca
formigarde vergonha e olhei feio para a minha amiga — é só que
eu... — não havia uma maneira menos constrangedora de explicare
eu travei, mas respireifundo. Sexo não precisava ser um tabu, era
tudo bem falar sobre.
— É só que antes...— droga, não precisavaser um tabu, mas
era muito constrangedorexplicar que Eduardo me deixava viciada
nele.
— Tudo bem, nós entendemos — a mãe de Fred falou,
percebendo meu desconforto e eu respirei aliviada.

Noêmia trouxeum café para elas e algumas frutaspara mim.


Peguei Helena dos braços da mãe de Fred para deixá-la mais à
vontade e acaricieiseu rostin
ho, ela era tão perfeita.E eu a amava
tanto.Estava tão cheia de amor, que poderia explodir a qualquer
momento.

Edu chegou mais cedo, eu e Noêmia já estávamos contando


que a cada dia ele estava em casa dez minutos antes. Era um
patético,mas ele sabia dos seus compromissos,se estava aqui era
porque dava. Ele cumprimentouas outrastrês,veio me dar um beijo
e fez um carinho em nossa filha. Ele iria logo para o banho, para
voltar bem limpinho e matar a saudade dela.
— Positivamenteobcecado — falei para Noêmia, que deu um
sorriso travesso.
— Ele está morando aqui? — Nair perguntou curiosa. Eu
começava a me sentirculpada por essa pergunta,porque era como
se aqui fosse pouco pertodo que Eduardo poderia usufruir . Mas
achava uma bobagem também. Não estávamos literalmente
morando juntos, eu não queria apressarnada, afinal nossa história
foi toda atropelada.
— Ele temficadomais tempopor aqui, por causa da Helena —
eu expliquei e ela assentiu.
Se existia cena mais perfeitano mundo, eu desconhecia. Edu
estava deitado no sofá, passava um jogo de futebolna TV. Ele
estavasem camisa e nossa filha dormia aninhada em seu peito. Eu
havia ido para uma consulta com o meu médico esta tardee ele
ficou com ela. Aproveiteio tempo para dar uma volta com Marina
também, havia deixado leite armazenado caso ela quisesse mamar
.

A minha vida estava girando apenas em tornoda Helena. A


rotinaera toda sobre ela. Desde o dia-a-dia, quando tinha vacina,
consultacom pediatra.Mas ela estavaperfeitamente saudável e eu
agradecia muito por ela terum ambiente tão cheio de amor para
crescer.

Quanto a minha rotina com Edu, ele era um safado e eu


também. Primeirocomecei a pensar que tudo bem, eu não poderia
tersexo, mas eu poderia namorá-lo. Só que Helena quase sempre
interrompiae ele tinha que terminarsozinho. E eu já estavavivendo
contando os dias para podermos transar.

Estávamos programando um bolinho para comemorar o


primeiromês da Helena, eu havia jurado que não iria fazer
, mas ela
merecia que comemorássemos. Nós queríamoscomemorartodos
os dias.

Ainda enfrentávamosjulgamentos por eu optar ficarmosno


meu apartamentopequeno, enquanto tínhamostodo o luxo na
coberturade Edu, mas eu gostavada praticidade.E ele não estava
se importando.
Naquela tarde, quando Noêmia chegou com compras do
supermercado,eu termineide amamentare ela ficoucom a Helena.
Avisei que tomariaum bom banho e quando cheguei ao meu quarto,
Edu estavano chuveiro.Eu fui encontrá-lolá, estavasendo tortuoso
tomar banho com ele sem podermos ir além. Dessa vez, eu o
abraceipelo pescoço e ele inclinou o rostopara beijar a minha boca.
Ele desceu as mãos para a minha bunda, me apertando e
arquejava, o membro duro cutucava minha barrigae eu desci uma
mão, o segurando que latejou e eu gemi.
— Eu quero tanto sentir ele dentro de mim — eu falei
incoerentee ele estremeceu,descendo os beijos pelo meu pescoço.
— To louco por isso também — ele sussurrou,beijando meu
mamilo suavemente, depois o outroe foi apenas descendo. Tudo
estalouem mim quando ele chegou lá.Edu deu um beijo gostosono
meu ponto mais sensível e eu afundei a mão em seu cabelo.
Depois foia minha vez, mas ouvi o choroda Helena e nós dois
paramos.
— Me espera — eu pedi e ele segurou meu rosto,
pressionando nossos lábios e assentiu.

Me enrolei em um roupão e saí apressada, pegando a minha


filha do colo de Noêmia.
— Ela já ia parar — ela falou, mas sempre que Helena
chorava,eu vinha correndo.Queria que ela soubesse que eu estaria
ali para ela sempre. Foi só eu pegá-la e ninar um pouquinho para
ela parare se aconchegarem meus braços.Acabei me esquecendo
de Eduardo no banho, mas eram tão sublimes esses momentos com
a minha filha que nem me importei.
C 30
Eduardo Toledo

Se alguma vez na vida, eu estive tão desesperado por sexo,


não me lembrava. Havia essa agonia queimando em mim, eu e
Jordana ardendo de desejo um pelo outroe nossa filha sempre
dispostaa nos atrapalhar
. Já cheguei ao ponto de tentarconvencer
Jordana de que quinze minutos chorando não iria fazermal para
Helena, mas eu não era prioridade. Ela apenas me lançava um olhar
significativo e ia socorrer a nossa filha.

Eu já andava irritado,não com ciúme, mas sentindofaltade um


tempo a sós com ela. Fizemos uma pequena comemoração para
nossos amigos e familiares,quando Helena completouum mês, no
final de fevereiro.Jordana já estava recuperada da cirurgia, o
médico já havia liberado sexo, atividades físicase não havia mais
alguma proibição pós-parto.
— Minha vontade é começar a chorartambém, pra ver se ela
vê que eu não aguento mais esperar— eu falei para Fred, que ria
do meu drama.
— Coitada da Jordana, com duas crianças pra cuidar — ele
provocou e eu fiz uma careta.
Mesmo com a vida sexual jogada para escanteio, eu ainda
amava a nossa nova rotina.De chegar em meu apartamento, ou no
dela, e passar um tempo com a Helena, acompanhar cada
desenvolvimento novo dela, e acredite, um bebê evolui a cada dia.
Não havia contado para Jordana ainda, mas eu movia um
processo contra Luísa. Por calúnia, difamação e injúria. Eu fui
terminantemente contraas amigas de dela jogarem na internetas
fotose vídeos de Luísa no dia da discussão com Jordana. Nesse
meio, sempre haveriam os defensoresde Luísa, os denominados
fãs,que iriam atacara Jordana e fazervaler tudo que Luísadizia a
respeito dela.

Eu queria que resolvêssemosna justiça,que Luísaparassede


brincarcom as pessoas dessa maneira, que nos deixasse em paz.
Por sua obsessão em um relacionamentoque nunca existiu de
verdade, ela abalou a relação da minha família. Não estava
inocentando meu pai, mas tudo começou por um ponto e partiu
dela.

Eu tinha provaso suficientepara pelo menos impedir que Luísa


mencionasse a mim ou Jordana. Não queria correro risco de ela
quererse promover , fazendo uma cena de vítimae quem sabe usar
a minha filha para validar alguma traição.

Queria paz, queria distância.E apenas pedindo, Luísanão iria


entender . Ela era acostumada a dar a palavra final em tudo,
perturbavasem se incomodar, não tinha limites. Eu era bom em
ignorá-la, seguia a minha vida ignorando os ataques ou
encenações, o que me fez ser conivente por anos. Mas Jordana
não iria agir da mesma maneira e não era justo deixar Luísa sair
impune ou achando que poderia importunar a minha garota.
Quando as aulas de Jordana voltaram,ela ficou receosa, não
queria desgrudar da Helena, mas aí eu entravaem cena. Aleguei
que seria o meu momento com a nossa menina, daríamo s um jeito.
Faltavapouco para ela termin
ar o curso,era importanteque levasse
a sério.

Aproveiteia desculpa para um dia antes,deixar a Helena com


minha mãe. Jordana se convenceu que precisávamos mesmo de
um tempo sozinhos, apenas nós dois, só caríciasno banho ou
quando estávamos na cama não estavam resolvendo nosso
problema. E sexo apressadonão estavamatando a minha vontade,
cheguei a dizer que isso estava me matando.Passamos para deixar
a Helena com ela, que veio toda animada, com um lenço pendurado
no ombro.
— Me preparei a semana inteira pra esse momento — mamãe
falou, segurando a neta no colo. Uma empregada veio e pegou a
bolsa com Jordana, onde havia tudo que Helena pudesse precisar.
Como ela ainda mamava exclusivamenteno peito da mãe, Jordana
deixou leite armazenado.
— Não sei se consigo — ela sussurroupara mim, mas minha
mãe já acenava para nós.
— Vai ficar tudo bem — eu prometi e ela me olhou.
— Só estádizendo isso porque quer transar— ela falou brava
e eu aperteios lábios, em parte,era isso. Mas também porque nós
dois nunca mais tivemos um tempo para nós, digo enquanto casal.
Não que Helena atrapalhasse,longe disso. Mas Jordana era uma
louca protetora, qualquer grunhido e ela saía correndo.
— Vamos sair, jantar
, passar um tempo juntos. Se você achar
melhor, passamos para buscá-la. Ela não precisa dormir aqui.
— Tá bom — ela falou.
— Vão logo — mamãe falou, aninhando a Helena.

Eu e Jordana fomosjantar . Ela demorou a relaxare aproveitar


o momento,mas finalmenteconseguimos. Ter um filhotransformava
todaa rotinado casal, eu não queria que nos perdêssemosno meio
de toda a turbulência.
— Eu só vou mandar uma mensagem — ela falou brava,
quando tentei pegar o celular
.
— Não faz meia hora que chegamos — eu falei e ela me
lançou um olhar autoritário.
— É que é a primeira vez que saímos. E ela mal está no
mundo e já a abandonamos — Jordana falou, dramáticaque era e
eu dei risada, mas parei por causa do seu olhar feio para mim.
— Eu acho que vai ser bom esse tempo com os avós — eu
comentei — ela mal vê o meu pai.
— Na verdade ele tem nos visitado— ela falou — você que é
sisudo demais, mas eu acho que o seu pai tem se esforçado.
— Ele se desculpou com você?
— Não, mas...
— Mas então ele ainda não fez o bastante— eu a interrompi,
que suspirou, cansada de tentarme convencer. Não iria entrarde
novo na questãode todasas acusações do meu pai serem graves,
tudo o que ele fez foi sério demais. O mínimo era um pedido de
desculpas decente.
— Como Fred vai ser padrinho dela se ele nem consegue ficar
muito tempo com ela? — Jordana perguntoue eu a olhei — Chiara
eu acho que está mesmo apta, tem sido um amor .
— Ele ainda se sente bloqueado, você sabe o motivo... Mas
com o tempo ele vai se acostumar . E ai de nós se escolhermos
outra pessoa.
— Se fosse há algum tempo, eu escolheria meu amigo Antônio.
Mas ele desapareceu, não fala mais comigo.
— Eu acho que ele era apaixonado por você — provoquei e ela
revirou os olhos — mas frouxo demais pra admitir
.

Mamãe enviou uma fotodela, com meu pai e Helena. Jordana


se comoveu, o que era quase engraçado. Ela se derretiacom
simplesmente tudo relacionado à nossa filha. Não que eu ficasse
muito atrás,mas ela definitivamenteera insuperável. Se Helena
tinha uma fã, com certeza era a mãe dela.

Acordei incrivelmente relaxado na manhã seguinte.Jordana ria


do meu drama, mas eu queria que fizéssemos mais isso. Pelo
menos uma vez na semana, eu achava que poderíamossairapenas
nós dois.
— Helena vai achar que somos dois irresponsáveis— Jordana
tentavafalar
, enquanto eu beijava seu pescoço e estremecia— já
deveríamos ter ido buscá-la e...
— Isso é tão delicioso... — eu falei enquanto roçava os lábios
sem seu pescoço e acomodava meu pau em seu sexo, bem fundo.
— Você é muito insaciável e me deixa louca por isso também
— ela falou, a voz veio falhando e eu comecei a me mover. Apoiei
os braços ao lado da sua cabeça e a olhei por um momento, a
amando tanto.Inclinei o rostoe roceinossos lábios, Jordana gemeu
baixinho e eu aprofundei o beijo. Ela estremeceue passou os
braços em volta do meu pescoço, entrelaçounossas pernas e me
puxou, juntando ainda mais os nossos corpos. Nós dois arquejamos,
gememos e deliramos de tesão.

Trocamos de posição algumas vezes, terminamoscom ela de


quatro na cama, eu consegui ver suas expressões deliciosas
atravésdo espelho. Jordana mordia o lábio inferiore revirava os
olhos. Ela deu um sorrisosafadoquando levei a mão atravésdo seu
ventre, descendo até chegar à boceta e eu quebrei de prazer
quando senti as contraçõese ela jogou a cabeça para tr
ás, fechou
os olhos e mordia o lábio, gozando toda deliciosa. Eu fiquei
assistindo seu ápice de prazer , queria poder aproveitaresse
momento para sempre, mas o meu momento maravilhoso chegou e
eu me deixei ir, esporrando dentro dela.

Caímos deitados na cama, tão saciados como há tempos não


ficávamos. Ela se aninhou no meu corpo e começamos um beijo
carinhoso.Ela encerroupuxando meu lábio inferior
, mas emaranhei
uma mão em seu cabelo e a puxei de volta.
— Eu amo ficar aqui agarradapelada com você — ela falou,
tentandopararo beijo, mas eu não queria parare ela riu — mas
temos uma filha agora... — ela resfolegou, porque a puxei,
segurando sua perna dobrada em volta do meu quadril. Sortedela
que eu não ficariaduro pelos próximos minutos, senão ficaríamos
aqui por mais tempo.
— Eu sei — sussurrei,a esfregandocontrameu corpo —
temosque buscá-la... Pra você passaro dia grudada com ela e não
fazer tanto drama quando precisar ir para aula.
— É... — ela falou, gostando do atritodo seu sexo no meu
corpo.
— Mas se você quiser... Eu posso fazerassim — comecei,
correndo a língua macia sob sua orelha e ela arfou — lá em baixo.
— Edu — ela falou,todatentada.Volteia beijá-la na boca, mas
o celular dela começou a tocar e precisamos parar
.

Fomos buscar nossa filha e mamãe nos fez descer. Lá,


tomamos café da manhã com eles, enquanto minha garota matava a
saudade da Helena. Meu pai olhava o carinho de Jordana com a
pequena, mas ela era sempre assim, tão amável. Eu e Helena
tínhamos tanta sorte por tê-la, que ela jamais conseguiria imaginar
.
— A noite foi boa? — mamãe perguntoue Jordana olhou para
ela, depois para mim, que não consegui segurar o riso.
— Foi, sim... — eu falei — Jordana ficouum pouco apreensiva
no começo, mas depois conseguimos aproveitar
.
— Ela chorou à noite? — ela perguntouà minha mãe, que
negou com a cabeça.
— Acordou algumas vezes para mamar, apenas isso. Mas ela
é tão boazinha... Achei até que fosseestranhar
, mas não puxou ao
papai nisso.
— Tinha que herdar algo de mim — Jordana falou presunçosa.
Chiara chegou animada e pegou a sobrinha no colo. Ela tinha
uma esperança de que Helena virasse uma criança aventureira,
mas Jordana tinha até medo de altura,se puxasse à mãe, iria ser
bem calminha. Se puxasse a mim, deixaria Jordana maluca.
— Animada pra voltar a estudar
, Dana? — ela perguntou.
— Pouco... Bom que faltapouco. Ruim que vou ficarlonge da
Helena à noite.
— Já prevejo Edu te dando de bandeja todos os projetos
desejados naquela empresa — ela provocou e Jordana fez uma
careta.Do jeito que eu era louco por ela, era bem capaz de fazer
isso mesmo.
— Se ela fortão boa quanto parece ser, claro que vou fazer
isso — eu falei e Jordana me encarou incrédula.
— Já levou Helena pra conhecer o pessoal da empresa? —
meu pai perguntou, mas Jordana quem respondeu:
— Ainda não. Na verdade, nem eu fui lá ainda... Mas Edu quer
fazer isso em breve.
— Devem estartodossurpre sos — Chiara faloue eu assenti—
soube que está processando a Luísa. Como está sendo?
— Estáindo. Só não a quero mencionando meu nome ou o de
Jordana. Inventando mais coisas.
— Deveria ter deixado as meninas soltarem os vídeos.
— Não. Não deveria — eu falei convicto — sempre vai ter
alguém pra dar razão ao que ela fez. E muita gente iria validar a
versão dela dos fatos.Achei melhor evitaro estresse.E não estou
castigandoa Luísa. Estou apenas protegendoa minha mulher e a
minha filha.
— Acha que vai rolarum acordo? — Chiara perguntoucuriosa
— eu acho que seria melhor, não acha? Vocês não falam sobre os
escândalos e importunaçõesdela, e ela deixa você em paz. Vocês
dois, na verdade. Melhor do que ficarno meio de um processo.
Além do que, quem convive de pertosabe que o relacionamento
que ela gostava de expor nunca existiu.
— Veremos como tudo vai ficar. Não vou dar importânciapra
esse assunto — eu falei.

Ficamos algum tempo ainda com eles. Depois mamãe foi


mostraralgo para Jordana, que me chamou para ir também. Em um
dos quartosde hospedes, foi feitoo quartoda Helena aqui. Jordana
me lançou um olhar inconformado,porque já tinha dito que era
desnecessário, mas quem iria controlarminha mãe? Fora isso, a
decoração ficou impecável.
— Assim parece que você vai sequestrarnossa filha, mamãe
— eu brinquei e ela fez uma careta brava.
— Quando ela fordormiraqui, quero que ela tenha o próprio
espaço e se sinta muito amada.
— Eu tenho certezaque ela já se senteamada. Mas tudo isso
é exagero — Jordana tentouargumentar— de qualquer modo, já
está feito. Obrigada, Nora.

Achei que Jordana iria falarsobre o processo movido contra


Luísa, mas ela usou o tempo até o apartamentodela para matara
saudade de Helena. Achei que não precisaríamosmais teressa
conversa, que meus advogados se resolveriamcom os de Luísa.
Mas assim que colocou Helena no berço, eu ia saindo de fininho,
fugindo mesmo, ela me chamou e eu parei.
— Acha mesmo necessário processar a Luísa? — ela
perguntoue eu me virei. Fiz uma caretade pesar, não queria que
ela se estressasse com nada disso.
— Não queria te importunarcom esse assunto. Luísa é um
problema que eu preciso resolver
.
— Acha mesmo necessário? — ela voltou a perguntar ,
chegando mais perto — porque eu tenho certeza que ela vai
encontraruma brecha pra falarsobre e colocar todo mundo contra
você.
— Temos vídeos comprometedoresdela, amor — eu falei
cauteloso e ela permaneceu me encarando, esperando mais
explicações — ameaças fajutas e insultos pra você. É fácil
desmascarar a Luísa, só nunca achei necessário. Não queria
atrapalhara vida dela, mas isso ficaem cheque quando ela se torna
um incômodo pra você.
— Não quero me envolver, ok? — ela falou incisiva — eu só
acho que ela vai começar a dizer que nos envolvemos quando
vocês estavam juntos, não quero que ela mencione a Helena... Eu
nem sei o que fariase isso acontecesse...Não quero que insinuem
que minha filha fez parte de uma traição e...
— Ei — falei rapidamente, a interrompendo e segurei seu rosto,
a encarando profundamente— ninguém vai insinuar nada disso.
Nós dois vivemos algo perfe
ito, que eu nunca consegui viver com
outraantes. O que estou fazendo não é para punir ou maltratara
Luísa,é por nós dois. Não quero que você sofraameaças de algum
fã maluco. Não vou ficarem paz se colocara sua segurança e a da
nossa filha em risco.Luísanão é burra,ela sabe que é melhor ficar
quieta, porque ela sabe que qualquer coisa que ela insinue, pode
sim tomar proporções desastrosas pra todo mundo.
— Tudo bem — ela falou, como se não tivesse parado para
pensar sobre isso com cautela e me olhou preocupada — eu
sempre ficoreceosaquando tudo estáindo bem demais... — negou
com a cabeça, cansada — não sei porque acreditoque vai continuar
assim.
— Vai ser tudo perfeito.
— Não quero terque andar com segurançasna minha cola —
ela falou e eu assenti, não queria isso também. Era terrivelmente
sufocante.
— Então... Meus advogados vão cuidar de tudo.

Demos um beijo cheio de carinho e amor, antes de eu seguir


para o trabalho. Ela ficava mandando mensagem a cada hora,
preocupada com essa históriade processo.Mas prometique ficaria
tudo bem.
C 31
Jordana Testa

Vivia comentando com Edu que a maternidademe afastoudas


meninas. Não estava as culpando, mas entretodas nós, eu era a
única vivenciando essa faseperfeita,e desafiadora,cheia de altose
baixos. Elas tentavam ser carinhosas com a minha filha, sempre que
vinham visitar
, traziam presentes,tiravam foto,faziam dengos e
amavam a minha pequena, mas eu não estava mais inclusa nos
programas delas.

Reclamei que vi uma fotode Mari, Denise, July e até a Chiara,


juntas em um bar balado aqui do Rio, na noite passada. E eu nem
sabia que elas iriam até lá.
— Você nem iria — Edu comentouo óbvio, enquantoanalisava
um relatórioe eu o olhei brava. Ele soltou o papel na mesa de
centro e olhou para mim petulantemente — iria?
— Não... Mas... — eu suspirei e cruzei os braços — custava
chamar?
— Se você sente faltade sair com elas, poderia você mesma
marcaralguma coisa — ele sugeriu — eu não me importode ficar
uma noite sozinho com a Helena.
— Não vai ficar com ciúme de eu sair sozinha com as minhas
amigas? — provoquei e ele deu um sorriso travesso.
— Não — ele falou prontam ente — sei que você não vai ficar
meia hora e vai ligar choramingando querendo a Helena.
— Afê! — eu reclamei brava e ele riu, chegando para mais
perto — mas meia hora com elas seria legal.
— Sim — ele falou — ou poderíamosfazeralguma coisa em
meu apartamento.Peço pra Noêmia ficarlá com a Helena, assim,
qualquer coisa você também estará por perto.
— Ai... — eu falei emocionada e quebrei o espaço que faltava
entre nós dois no sofá — eu te amo muito.
— Eu te amo também — Edu falou, inclinando o rostopara
encaixar nossos lábios, mas antes que o beijo começasse, ele parou
e deu um sorriso safado — e eu quero transar muito hoje.
— Meu deus — eu falei incrédula, mas fui interrompidapelo
seu beijo delicioso.

Toda vez que eu precisava ir para a aula, eu sofria. Era


tranquilo passar o dia em casa estudando, porque minha filha
estava sob meus cuidados e eu não sentia faltadela. Mas cortar
esse laço por algumas horas doía muito. Edu achava puro drama,
afinal era o momento dele com a nossa filha.

Eu sabia que ele era apegado, que amava nossa menina, que
cuidava dela, enquanto poderia tercontratadouma babá para esse
horárioda noite. Mas sabia também que ele ansiava para quando
ela estivesse maiorzinha e entendesse mais as coisas, que
interagissemais do que dar sorrisose risadas.Aos trêsmeses, tudo
que ele conseguia fazer era colocá-la de bruços para vê-la erguendo
o pescoço e algumas interaçõesque bebês nessa idade começam a
fazer
.
De qualquer modo, eu agradecia por tudo ter entrado nos
eixos. Do jeito como as coisas acontecerampara nós dois, eu havia
imaginado que enfrentariatudo sozinha. E sinceramente? Seria
muito azar dele se não tivesse lutado para participardas nossas
vidas. Helena era o motivomaior de todaminha alegria, meu motivo
maior de querer viver e eu era tão feliz por ser a mamãe dela.

No aniversáriode Edu, ele como semprenão queria festa , mas


sua mãe jamais iria deixar passarem branco.Não era todo ano que
se completavatrinta e um, disse ela. Quis que fosse apenas uma
festaíntima,mas eles logo me deixaram de lado quantoa isso, o pai
de Edu disse que essas datas comemorativasera um bom pretexto
para reunir todos os amigos.

Terminei de arrumara Helena, perfeitano vestidinho branco,


meia-calça, sapatinhos iguais de boneca e um laço no cabelo. A
ergui em meus braços,sentindo o coraçãoficarpequeno para caber
todo esse meu amor. Se havia uma coisa que eu nasci para ser,
com certeza era ser a mãe dela.

A coloquei de volta no meio da cama de Edu e fui terminarde


me trocar. Depois fui para o banheiro dele, para terminar a
maquiagem e ali, o espiei atravésdo Box de vidro, tão gostosono
banho.

Para sorte dele, nossa vida sexual já estava entrando nos


eixos. Estávamosconseguindo conciliare as rapidinhaspela manhã
ou a noiteficavam cada vez mais gostosas.Eu iria logo procurarum
métodocontraceptivo,
não queríamosum bebê tãopertodo outro.E
eu precisava terminar a faculdade e pensar na minha vida
profissional antes do segundo filho.

Edu entrava remotamentena conversa de segundo filho,


porque ele se assustavacom a ideia de para sempre juntos. Mas
tudo teria o seu tempo. Eu não gostava de pensar que no futuro
iriamos terminar, porque todo términodói, e estávamos tão bem,
que era melhor focarmos no agora. No nosso presente.

Eu não sabia como andava o processodele contraLuísa.Eles


tentavamacordo, mas aparentemente,ela conseguia uma maneira
de prolongar, afinal já fazia tempo que isso estava correndo.
Felizmente, até agora Luísa não havia dito nada em suas redes
sociais. Volta e meia saía em perfisde fofocaalgo sobre ela, as
insinuações sobre casamento e filhos, sobre ter esperado demais de
quem não merecia nada dela. Mas não chegava a citarnomes. De
qualquer modo, todossabiam que se referiaa Edu. Chegavam atéa
marcá-lonos comentários.Mas o perfildele era mais voltado ao seu
trabalho,na verdade agora o feed dela era quase todo da Helena,
ele nem tinha tempo de ficar lá retrucando.

Quando Edu desceu as mãos, ensaboando o membro e o


esfregando, eu não resisti e fui até lá, abri a porta do Box para poder
ver mais de perto.Ele deu um sorrisosafado porque fui olhá-lo e
tornou o movimento erótico, me fazendo contrair inteira por dentro.
— Não quer entrare namorarum pouquinho? — ele perguntou,
me deixando tão tentada.E daí se chegássemos atrasadosna
própriafestadele? Mas Helena começou a chorar , provavelmente
teria perdido a chupeta na cama.
— Querereu queria — eu falei, me afastandoe deixei o pincel
de maquiagem que eu segurava sobre a bancada da pia.

Peguei minha menina no colo e a acalmei, antes que ela


realmentecaísse a chorar . Já havia notado que ela detestava ficar
sozinha, sempre choramingava. Esperei Edu sair do banho e se
trocar
, para ficar com ela enquanto eu terminava de me arrumar
.

Chegamos à mansão dos pais dele, dessa vez, mamãe e vovó


vieram e já estavam lá, numa mesa com eles. Edu me lançou um
olhar significativoquando vimos os pais de Luísae ela. Mas eu não
iria dar relevância para isso. Sabia que os pais dela eram amigos
dos dele, mas ela vir era completafaltade bom senso dela. Só que
o que eu iria pensar? Luísa sempre foi descompensada mesmo.

Mari disse uma vez, que ela deve quererser a vilã da própria
história,mas não tinha maldade o suficientepara causar o estrago
que queria. E ainda bem que não, ela já me causou muitos danos
sem ser malvada o suficiente.

Edu recebia os parabéns e eu logo comecei a ouvir o quanto a


Helena se parecia com o pai. Era corriqueiro,as pessoas se
impressionavam, talvez por Luísa ter espalhado por aí a versão
maluca dela sobre Edu não ser o pai da filha.
Entramosde mãos dadas, enquanto ele tinha a nossa filha no
colo e todosque nos abordavam, falavam sobre isso, a menina era
a cara do pai. Talvez pelos olhos claros, o cabelo castanho e
lisinho... O jeito dela era mais doce, mais calmo, herdou de mim, eu
achava.

Quando chegamos à mesa em que nossa família estava,


mamãe veio pegar a neta, vivia dizendo que a via menos do que
gostaria,mas estavam sempre juntinhas. Minha pequena era tão
amada, que eu não tinha do que reclamar . Aliás, reclamava do
excesso de presentes,eu não queria mesmo que Helena crescesse
com o costumede tertudodemais, de termais do que o necessário.
Já sabia que ela seria uma completa privilegiada e que dinheiro
jamais seria um problema na vida dela, mas queria que ela
soubesse da importância das coisas. E não achava que era
esbanjando demais, que ela saberia valorizar . Mas eu poderia
pensar nisso daqui alguns anos, quando ela começasse a entender
tudo. Agora, eu era um voto vencido, porque ela era o único bebê na
família de Edu, todos queria paparicá-la de alguma forma.

Na minha família, eu não corria o risco de mimarem em


excesso a minha filha, afinal eu não fui mimada assim.
— Por isso, Helena vai precisarde pelo menos dois irmãos,
assim eles aprendem a dividir as coisas — minha sogra falou, se
divertindo quando Edu mencionou, mais uma vez, que eu não queria
Helena ganhando presentestodos os dias. Porque a mãe dele se
aproveitouda ocasião para dizer que Edu não precisava de mais
nada, então o presente iria direto para a filha dele.
— Como se você fossedar chance para eles teremque dividir
algo — falei brava, mas sempre acabava relevando.
— Então existe a chance de virem mais netos — o pai dele
quem comentou agora, presunçosamentee deu um sorriso.Eu não
achava que a nossa relação seria perfeita,embora não pudesse
prever o futuro.Mas ainda existia o resquíciode mal estar . Edu
insistia que era a falta do pedido real e genuíno de desculpas.
— Claro que existe— Edu falou, colocando o copo com uísque
sobre a mesa e olhou para mim — só não queremos agora... Mas
queremos pelo menos mais um.
— Só? — Nora perguntouincrédula — eu imaginei a casa
cheia de crianças.
— Mamãe... — Edu deu um riso marotoe descontraído— aí
você teria que ter tido mais filhos.

Edu aproveitouque Helena teriaatenção de sobra, para curtir


nosso momento. Pudemos dançar, mesmo que eu não soubesse
tanto,tomei duas taças de vinho, não era recomendado que eu
bebesse, mas mamãe disse que duas taças não fariam mal algum.

Em um momento, conferiminha filha, que estavadormindo no


colo da minha mãe, e fui dar uma volta com Edu. Ele falava sobre
nosso últimoano, tantacoisa aconteceu.Exatamentenesse dia, um
ano atras, concebemos o maior presente das nossas vidas.
— Se eu soubesse que estaríamostão felizes juntos, que eu
saberia o jeito certode ser bom pra você... — ele falou carinhosoe
paramos de andar, nos escondemos sob uma arvore grande na
lateral da casa — teria evitado alguns erros.
— Tudo bem — falei de uma maneira solene — está tudo
perfeito agora.
— E vou fazero possívelpra continuar— ele falou carinhoso,
me encostandoao troncoda arvoree levou as mãos para a minha
cintura— tervocê comigo, tera nossa filha... Parece que é Deus
me recompensando. E de uma maneira tão sublime, tão
maravilhosa.
— Você fica emotivo em aniversários— eu constateie ele
assentiu— e eu amo isso, amo que você tenha se dado a chance
de ser feliz. Não queria terque procuraro meu príncipeencantado
em outro homem.
— Ainda bem que não precisouprocurarem outrocara — ele
falou, me fazendo quererrir— eu ia terque morrersufocado com
meu próprio ódio.
— Meu deus, Edu — eu comecei a rir
, ele era tão dramático.
— Eu te amo muito, muito mesmo — ele falou, roçando os
lábios nos meus e eu assenti, passando um braço em volta do seu
pescoço, para começarmos um beijo gostoso.

Era para ser só um beijo, mas como andávamos insaciáveis,


logo ele erava eretoe eu comecei a apertaro membro atravésda
calça jeans. Edu arquejava e ele resfolegoualiviado quando eu
desabotoei a calça e puxei a cueca, para conseguir seguraro pau
excitado com uma mão. Dei um último selinho em seus lábios e o
olhei. A iluminação nesse ponto era péssima, não havia ninguém.
— Você quer que eu chupe um pouquinho? — pergunteie ele
estremeceu,assentindo.Demos um beijo rápido e eu olhei ao redor
.
Fomos para o outrolado do tronco,eu me encosteie ele desceu um
pouco a calça e a cueca, ansioso que estava,me fezsorri
r animada.
Era perigoso fazermosisso. Ele deveria estarlá, cumprimentando
os convidados, mas estávamos aqui, fazendo safadezas.

Edu apoiou as mãos na arvore e eu me abaixei, o chupando do


jeito que ele sempre pedia. Alternava chupadas mais intensas,
lambidas e chupava a cabeça do membro, depositando beijinhos
suaves na ponta. Lambi a extremidadee passeei a língua no freio,
ele tremeue deixou escapar um gemido abafado. Voltei fazendo
tudo de novo, chupando e o levando mais fundo, acariciei os
testículos
e ele deu um gemido mais ansioso, o pau latejava na
minha boca.
— Jordana... Pelo amor de Deus — a voz dele saiu toda
trêmula— eu vou gozar... — ele avisou, mas era a intenção,então
não parei. Edu soltou um arquejo abafado na gargantae afundou
uma mão no meu cabelo, no mesmo segundo sentio liquido quente
descendo pela minha garganta e o levei até o último espasmo.
O soltei devagar e me levantei. Ele me prensou contrao seu
corpo e troncoda arvoree começou um beijo tranquilo,estavatodo
saciado, pelo menos pelas próximas horas.
— Gostosada minha vida — ele sussurroue eu acarinhei seu
rosto.
— Aposto que você vai aproveitar melhor a sua festa.
— Vou... Vou ficarcontando os segundos pra chegarmos em
casa e eu poder grudarem você e não soltartão cedo, de te fazer
gozar ensandecida na minha boca, no meu pau... — ele falou e eu
dei um sorriso, ficando arrepiada com a promessa.
— Ansiosa pra gozar do jeito que você quiser me fazergozar
— falei, porque ele sempre sabia o que fazere eu sempre acabava
satisfeita.Ele assentiu sorr
ateiro e aproximou o rosto do meu,
roçando nossos lábios. Deu uma mordida leve no meu lábio inferior
,
antes de começar o beijo delicioso outra vez.

Fui lavar as mãos quando voltamospara a festadele, e Edu foi


falar com Fred e Marina. Acenei de longe, mas não poderia ir
cumprimentartodo mundo depois de tocarEdu e engolir o sêmen
dele. Iria morrer de constrangimento só de pensar
.

Quando saído lavabo, Luísaestavaao lado da porta,olhando


para as própriasunhas, mas assim que saí,olhou para mim, desse
seu jeito presunçoso e esnobe, arrogante.
— Você deu sorte— ela falou desdenhosa — quero só ver
quanto tempo Eduardo vai aguentar encenar com você.
— Não acho que ele esteja encenando — retruqueie ela deu
um sorriso,trazendoa mão para uma mecha do meu cabelo, mas
me afastei.
— Você garantiuuma galinha de ovos de ouro agora, todo
mundo está animado com a novidade de um bebê. Mas quando
enjoarem da sua filhotinha...Edu vai se cansarde você. E sabe pra
quem ele vai voltar?— ela perguntouprovocativae eu a encarei —
ou você acha mesmo que ele manteriaum processocontramim à
toa? Ele quer manterum elo entrenós dois — ela completou, me
fazendo querer rir
. Porque um processo não era um elo entreos
dois, era o encerramento. Mas não iria entrar nessa questão.
— Eu poderia cair na sua provocação, Luísa. Mas eu apenas
sinto pena de você. Edu não gosta de você, o que um dia me fez
acreditarque ele era um homem ruim, pelo jeito que te tratava.Mas
não era isso, ele não suportavavocê, vocês não deram certoe ele
não conseguia te convencer a aceitaro término.Pra ele foi mais
fácildeixar você na sua zona de conforto,
expondo uma relaçãoque
todosao redorde vocês sabem que nunca existiu.A troc o de que?
Eu poderia não confiarnele, ficarcom o pé atras,mas também sei
que se um dia ele acordare disserque não quer mais, eu não vou
ficarpassando esse seu papel humilhante, porque eu me amo em
primeirolugar. Você, uma mulher tão bonita, bem sucedida no que
faz, conhecida e querida por muitos, se prestando a essa
humilhação, por um homem que já construiuuma famíliacom outra?
Se quer um conselho, aprenda a se valorizar
. O que você acha que
sentepor ele pode serqualquer coisa, mas não é amor. E, por favor
,
me deixe em paz. Não tem nada que você possa fazerpra me
deixar com medo ou insegura, porque eu não sou nada disso que
você tenta dizer
.
— Pelo visto o dinheiro dele já subiu pra sua cabeça! — ela
falou com força, mas a deixei falando sozinha.

Poderia dizer que havia um por cento de dúvida ao comprar


essa briga e defenderEdu, mas não existia, não. Se a situação
fosseoutra,eu jamais o defenderiae a culparia. Mas Luísajá tinha
esgotado as suas chances. Ela precisava acordare cair na real,
assumir seu papel de mulher empoderada que pregava tantonas
redes sociais e ir atrasda sua própriafelicidade.Arrogância demais
não faz bem nem pra quem é, nem pra quem convive com a
pessoa.

Voltei para onde Edu estava,com Fred, Marina, Ravi, Chiara e


Denise. As duas não se falavam, o que eu achava uma besteira.
Denise estavacom ele, então não fazia sentidoperdoarapenas um
pecador, se o pecado dos dois foi o mesmo. Mas não iria me
envolver nisso. Chiara já estava até mesmo com outro cara, que não
queria apresentarà famíliade jeito nenhum. Disse para Marina que
tinha certeza de que Edu iria odiar
.

Edu toda hora me puxava para um beijo delicioso, o que fez a


mãe dele relembrarque nesse ritmo,há um ano, fizemosa Helena.
Eu parei de beijá-lo e olhei para ela, que passou por nós, se
movendo no ritmoda música que tocava,em direçãoao marido e os
dois se envolveram numa dança sincronizada.
— Eu amo você — ele falou, pela milésima vez esta noite —
sei que não digo isso todo dia, mas eu quero que saiba que eu amo
você.
— Você me faz sentir amada todos os dias — eu falei,
acariciando seu rostoe ele se aproximou, começando mais um
beijo.
— E não seria tão ruim, se fizéssemos outro filho hoje.
— Não vamos fazer , Helena tem apenas trêsmeses — eu o
alerteie ele riu, assentindo.Sabia que estava cedendo aos efeitos
do álcool.
— Então no próximo aniversário,faremos— ele sugeriu e eu
fingipensar, mas ainda seriacedo. Não daria para conciliar retafinal
da faculdade com dois bebês demandando toda minha atenção e
cuidado.

Quase dez da noite, todos se reuniram para os parabéns.


Helena acordou pouco antes,então consegui amamentá-la e Edu a
pegou no colo. Tiramos algumas fotosem família. Edu parecia
animado. Fred quem começou a pedir um discurso depois que
acabaram de cantare baterpalmas, então todoso acompanharam.
Foi quando tudo ficou embaraçoso. Nora pegou a Helena e saiu a
ninando. Edu olhou ao redor
, depois para mim.
— Há um ano, eu e essa mulher aqui, fizemoso maior e mais
precioso bem das nossas vidas. Entre altos e baixos, nós dois
conseguimos trilharum caminho perfeitopara nossa história, para o
nosso amor. Eu tinhamedo de pensarno futuro,medo de quererum
feliz para sempre, mas ela veio, com o jeito mais doce, mais amável,
me fazendo ceder, acreditar
, amar de novo, ser feliz de novo. E eu
não achava que conseguiria,não achava que seriacapaz. Você não
faz ideia, Jordana — ele olhava para mim, que já estava com a
respiração acelerada, tão emocionada e trêmula — mas eu e
Helena temostantasortepor tervocê... Tanta sortepor termostodo
seu amor, seu cuidado. Eu pensei muito nesses últimos dias, tive
tantomedo, mas sei que com você eu sou capaz de tudo, que ao
seu lado, eu me tornoum cara melhor, porque você me transmite
paz, você me faz tersentimentossublimes. Eu pensei muito nesses
últimos dias, e eu não consigo imaginar um futurosem você estar
nele.
Minha respiraç
ão deu uma falhadabrusca,eu cobria boca com
as mãos, porque esse maldito sedutortirouuma caixinha de veludo
do bolso e se ajoelhou, assim, na frentede todo mundo e abriu a
caixinha, me mostrandoo anel em ouro rosê, todo cravejado e uma
pedra muito bonita rosa no meio, e no centrodela, mais diamantes.
Edu sabia que eu não era tãoalucinada por joias, mas sabia que ele
não iria aparecer com algo simples para um pedido.
— Eu prometotentar , todos os dias, ser o príncipeencantado
que você sonhava encontrar . Que vamos fazer dos desafios,
aprendizados, e que vamos nos amar ainda mais a cada dia que
passar — ele falou de uma maneira carinhosa. Senti uma lágrima
silenciosa escorrere segurei a respiração, para não desatar a
chorarfeitouma doida bem agora — eu te amo mais do que eu
posso explicar, nada do que eu disser vai conseguir expressara
dimensão do meu amor. Eu quero poder passar o restoda minha
vida ao seu lado, te dando amor, carinho e... — ele me deu esse
sorrisosafado,e outraslágrimas vieram. Eu não fazia ideia de que
ele fariaum pedido, estava tão emocionada, tão feliz e o amando
tanto....
— Eu te amo muito também — sussurrei de volta.
— Você quer se casarcomigo? — ele perguntou,finalmente.E
todoscomeçaram a aplaudir. Assenti,sem conseguirdizer nada, fui
tão pega de surpresaque só sabia chorar. Mas de felicidade. Ele
colocou o anel em mim e segurou meu rostopara me dar um beijo
profundo, embora tenha sido rápido.

A festavoltou a acontecer
, Edu subiu comigo, para colocarmos
a Helena para dormirde novo. Dessa vez, eu troqueia roupa dela,
por um pijama bem confortável. Edu ficou abaixado ao nosso lado,
enquanto eu estavasentadana poltronaconfortáveldo quartodela
na casa dos avós. Ela já cedia ao sono, eu a acariciava e falava
carinhosamentecom ela. Olhei para Edu e trocamosum sorriso
cúmplice. Eu amava esse homem, mais do que deveria, talvez. Mas
não iria me vestircom alguma insegurança. Eu queria confiarnele,
viver o nosso amor.
C 32
Jordana Testa

Fiquei monitorandoa Helena pela babá eletrônicaatravésdo


celular. Não conseguia saberque ela estavalá dentrosozinha e não
monitorar , apesar de ela estar dormindo tão perfeitamente.Só
relaxei, quando depois de a meia noite, Chiara avisou que iria subir
para descansar, que a levaria para seu quartoe colocaria o berço
acoplado na sua cama.

Nora se fazia de desentendida quanto aos excessos, porque


Helena precisariaapenas desse berço que acoplava na cama, mas
ela tinha tudo.
— Estoutão feliz que minha filha voltou ao normal e agora não
é mais aquela doida que sai todo dia — minha sogra falou, porque
Chiara havia conhecido alguém, finalmente.Ninguém o conhecia
ainda, mas não queriam apressá-la em nada. Tudo que sua mãe
não queria era que ela voltasse a sair e ficar com todo mundo.

Edu parecia animado. Em algum momento, Luísa tentou


alfinetarsobre algo e Fred questionou o que ela fazia aqui. Antes
que a discussão se tornassepior, arrasteiEduardo para a pista de
dança. Nos divertimospor mais algum tempo, mas logo subi para
amamentara Helena. Chiara estavadeitada com ela na cama, que
dormia. Mas eu semprea acordava para mamar nos horárioscertos.
— É tão perfeita essa garota— ela falou e eu dei um sorriso.
Era o nosso momento mais perfeito.Helena olhava para mim, que
acariciava seu cabelo suavemente, enquanto ela mamava.
— Eu não consigo nem imaginar a minha vida se eu não a
tivesse — eu falei baixinho.
— Eu quero um bebê — Chiara fez um beiço — um bebê pra
ser todo meu, sabe?
— Por que esse mistério sobre o namorado novo? — eu
perguntei curiosa — todos estão loucos para conhecê-lo.
— Porque Edu vai odiá-lo.
— Por que você acha isso? Seu irmão anda tão tranquilo... Não
acho que vai se opor à sua felicidade.
— É que é o pai do filho da Bianca, filho que ele pensava ser
dele — ela falou tão de uma vez, que eu me afasteicom o susto,
Helena começou a chorar com a perda repentina do peito. Eu
respirei devagar, pegando a minha filha e a balançando, a
devolvendo o peito e ela segurou com a mãozinha, voltando a
mamar.
— Desculpa — eu sussurrei,andando pelo quarto com a
Helena, que mamava e Chiara negou com a cabeça.
— E eu não quero fazerEduardo terum surtoidiota, sabe? Eu
conheço meu irmão, ele vai reagir mal ao descobrir
.
— É... — eu falei vagamente. Não era uma questão de ter
ciúme, mas de conhecer o homem. Eduardo jamais aceitaria,iria
revivera perda, a dor, a dor do engano. Iria tomaro cara como seu
inimigo, iria infernizaro relacionamentoda irmã. Não queríamos
isso.

Fui me sentarna cama de novo, Helena enroscoua mãozinha


em uma mecha do meu cabelo e puxou, então tenteisoltare olhei
para ela, que me encarava concentrada.
— Não pensa em fazeroutro filho logo? Acho que Edu iria
estartão concentradoem você grávida, que jamais iria se importar
que eu estou saindo com o inimigo dele.
— Eles não são inimigos — eu precisei dizer, mas nós duas
conhecíamos Edu.
— E eu iria adorar outro sobrinho.
— Não, não vou fazeroutrobebê hoje — eu falei o óbvio, e
comecei a rir, parecia que todos estavam esperando por isso — é
inviável. Preciso terminara faculdade, é difícil conciliar com a
Helena, que é assim calminha. Eu aposto que o próximo vai vir
esquentado igual ao Edu.
— Então o segundo vocês vão planejar — Chiara sugeriu,
cerrandoos olhos, para fugirda conversa anterior— Helena vai
ficar com ciúme, porque ela veio de surpresa.
— Mas ela é tão amada, que não vai ficarbrava. Ela vai saber
que por causa dela, eu e Edu ficamosjuntos — falei presunçosae
Chiara riu, negando com a cabeça.
— Edu já estava doido pra se rastejaraos seus pés, pedindo
pra voltar. Ele só ficou meio perdido, com medo... Não estou
defendendo os errosdele, mas eu acho que ele tentase redimire
melhorar, não é?
— É — suspirei, porque era a verdade — mas não fuja do
assunto. Você vai precisar enfrentar a situação.
— Sei disso. Mas vou esperarum pouco mais. Tenho gostado
de Gael, sério, muito mesmo. E com tudo recenteassim, é muito
fácil algo interferir e nos fazer terminar
.
— Tudo bem.
— Não vai contarnada pra ele, né? — ela perguntoureceosa e
eu assenti.
— Não vou contar
. Prometo— eu falei carinhosamente— mas
você já fique sabendo que isso será motivo pra uma briga de nós
dois.
— Aquele homem te venera. Se você tiraa roupa, ele esquece
qualquer coisa — ela falou descontraída, me deixando boquiaberta.

Quando chegamos ao meu apartamento,eu fui colocarHelena


no berço e Edu já me esperava no quarto,tirandotodaa roupa. Tirei
a minha também, não queria perder tempo com roupas pelo
caminho. Ele veio e me puxou pela cintura,começamos um beijo
carinhoso e ele foi descendo pelo meu pescoço. Nos olhei através
do espelho, eu tinha tanto tesão por ele, mas tanto , que não
conseguia explicar. Ele me dava agora o conto de fadas perfeito.
Não apenas romântico,mas sensual, erótico,delicioso. Mesmo com
alguns desentendimentos naturais, não concordávamos em
absolutamentetudo, o que era tão óbvio. Passei os braços em volta
do pescoço dele e o puxei de volta para um beijo.
— Eu amo tanto você — prometi, o acariciando.
— E eu vou te matarde prazeressa noite — ele falou, me
fazendo ansiar por tudo.

Pela manhã, eu estavano sofá com a Helena, que mamava e


olhava para mim tão concentrada.Peguei meu celular, vendo a
mensagem da Marina, me encaminhando os storiesda Luísa. Avisei
que não iria ver
, mas ela logo enviou um áudio:
“Ela está respondendo várias perguntas e insinuandosobre
você e Edu. Se eu fosse você, veria”

Respirei fundo, não queria me importarcom os dramas que a


Luísa criava. Avisei que estava ocupada, depois veria. Mas não
demorou nem meia hora para o meu aplicativo começar a enviar
várias notificações de novos seguidores. Depois, mensagens
ofensivas.Eu decidi ignorar , mas quando começarama falar sobrea
Helena, a ameaçar a minha filha, desejar coisas absurdas para se
desejar a uma criança tão inocente, eu me desesperei.
Eduardo veio assustado e pegou a nossa filha, ainda meio
sonolento. Tentei explicar, mas eu não havia visto nada do que ela
disse para causar isso. Eduardo tentou tomar o controle da situação,
logo estavacom um dos seus advogados no celular. Ele não queria
acordo.

Fiquei tão assustada, poderiam ser só mensagens, mas


nenhuma mãe ficaria tranquila recebendo ameaças à sua filha.
— Jordana — ele chamou meu nome, vindo se sentarao sofá
e o olhei — fique tranquila, Luísa só quer causar. Já estão
noticiando as indiretas idiotas dela, mas não vai dar em nada.
— Não venha me dizer que estousendo exagerada! — eu falei
enfática.
— Não está,mas não ficanervosadesse jeito,vou me resolver
com Luísa. Ela vai parar , ela precisa começar a arcar com as
consequências do que faz.
C 33
Eduardo Toledo

Em todo esse tempo, eu não agi pensando em destruira


carreirade Luísa. Não quis expor nada para prejudicá-la, porque
nutri de um pouco de esperança de que ela fosse deixar Jordana e a
minha filha em paz.

Só saí de casa depois que Marina e Chiara chegaram para


ficar com ela, que estava realmente abalada pelas ameaças
ridículasque recebia por mensagens no instagram.Provável que
dos fãs alucinados daquela maluca.

Peguei todos os vídeos que Marina tinha da discussão de


Luísa e Chiara, depois Chiara atacando a Jordana. Eu nunca
respondi aos perfisque tentavamcontatopara eu me posicionar,
nesses anos todos,Luísasempre causou mal-estarcom os nossos
desentendimentos,me colocava como vilão e eu deixava, me sentia
assim também. Para depois fingirdemência e expor que estávamos
bem, o que eu deixava de novo, sempre em silêncio. Eu nunca
apareci para alimentaros fãs dela, para me explicar ou qualquer
coisa.

Dessa vez, com o alvoroço que ela causou respondendo


perguntassobre traição,vontade de ter filhos e uma específica,
onde perguntaramsobre a filha do ex. Que seria eu. Ela forjouum
tom lamentoso para dizer que se preocupava muito comigo, mas
não podia fazer nada. Que um dia a verdade iria aparecer e veriam
quem era a minha atual de verdade.

Minutos depois, apareceu dizendo que não queria falardesse


assunto, mas como dividia tudo com os seguidores, não poderia
ficarcalada. E contou a mesma versão que envenenou meu pai.
Sugeriu que Jordana me chantageava, porque só isso explicaria a
minha submissão.

Saí furioso,ela ultrapassoutodosos limites.Não sabíamosse


deveríamoslidar com as ameaças como apenas um delíriode fã,
mas achei melhor tomartodas as precauções. Já havia colocado
seguranças no prédio dela, em frenteà portae disponibilizei um
motoristapara Jordana não andar por aí sozinha. Eu duvidava que
ela fosse querer sair
, mas cuidado nunca era demais.

Um dos perfis com quem falei, fez perguntas sobre meu


relacionamentocom Luísa. Nunca falei sobre isso, nunca. Sempre
deixei Luísa criara versão dela, mas agora eu precisava contara
verdade.

Não demorou muitoatécomeçara veicularo que eu havia dito.


Para minha sorte,logo depois alguém soltouum vídeo dela em um
restaurante. A imagem estava péssima, mas ela dizia:
— Com a versão que conteiao paidele,pelomenos abalada a
relaçãona famíliavaificar
. Quero só ver se vão deixarEduardo com
aquelahorrorosa, se vão deixarque eleassuma outro filho que não
é dele.Alémdo que, o paideleme adora. Óbvioque fica
riaao meu
lado. E eu não dou dois meses pra Eduardo cair em si e voltar a
comer aqui na minha mão.

Fred começou a rir, porque eu nunca comi na mão de Luísa. Eu


o olhava, porque não havia nada divertido nessa situação.
— Desculpa, cara — ele falou, se contendo— mas ela é muito
fútil, muito doida.
— Enviei todos aqueles vídeos que não queria soltar— eu
resmunguei, frustrado por não saber como encerraressa situação.
Nem Luísa teriaesse controle— quer dizer, corteias partesque
Jordana aparece, não quero que fiquem importunando-a.
— Acho que nunca vi um cara tão apaixonado como você está
por Jordana — Fred falou e o olhei — sério, acho que você carrega
a culpa pela maneira como a históriacom ela aconteceu e quer
remediar a todo custo.
— Eu não sei... Não sei nem o que seria de mim se ela não
tivesse me perdoado.
— Eu sabia que ia perdoar . Não só por terengravidado. Mas
porque ela ama você também. Agora se fossecomo a Marina, você
ia penar até esquecer
, aquela ali é fogo.
— Eu nunca esperei que Luísa chegasse tão baixo — falei
sufocado, correndo as mãos no rosto.
— Ela não se aguentou de frustração, cara. Você fez um
pedido emocionantepra Jordana ontem, dá para Jordana o que ela
esperou por anos e não teve... Não estou defendendo, mas eu
entendo a frustração dela.
— Eu sempre deixei claro que ela deveria procuraroutrocara.
Eu errei em não terdado um basta definitivoantes, mas eu nunca
consegui dar um bastae convencê-la a não insistirnessa merda de
encenação.
— Ela só pode tersurtadode vez, aposto que a maluca da
Bruna incentivou — ele negou com a cabeça.
— Mandei rastrearem todosos perfisque enviaram mensagens
ofensivas e ameaças à Jordana. Vou processartodo mundo —
avisei e Fred riu, mas assentiu — eles que paguem o preço por
idolatrar a Luísa.
— E com ela? Vai fazer algo? — ele perguntou e o encarei.
— Vou. Meus advogados saberão o que fazer.

Como se tivessem aproveita ndo o embalo, o assunto do dia,


nos perfis de fofocade subcelebridades, foi a Luísa. Ela convencia
bem em frenteàs câmeras, mas várias pessoas aparecerampara
contar sobre péssimas experiências com ela. Sobre terem sido
destratadase humilhadas. Chegaram a dizer que eu não aguentei
ficar com ela, porque era educado demais para aturar as
arrogâncias de Luísa com todo mundo.

Um perfilfake contouaté mesmo sobre a relação dela com os


meus funcionários.Falaram sobreNoêmia. Fred quem estavavendo
tudo em tempo real e me contando. Parecia se divertir
.
— Uma hora dessas, Luísa deve estarchorando e querendo
voltar no tempo, não ter provocado nada.
— Bem feito — falei irredutível.
— Uma hora dessas, seus advogados já devem estar
rastreandoos perfis que ameaçaram Jordana e essas pessoas
arrependidasde seremfãsda Luísa— ele continuou— sério,se ela
não aprender agora... Já posso dar como caso perdido de vez.
— Se algo acontecesse à minha filha, eu nem sei.
— Relaxa, vai ficar tudo bem — Fred falou tranquilamente.

Para finalizaresse assuntoe deixar o mais grave nas mãos de


quem realmente conseguiriaresolver , posteio vídeo que Fred havia
feitodo pedido. Repetio texto na legenda do vídeo,me sentindoum
completo patético apaixonado por aquela mulher, mas ela não
merecia nada menos do que isso. Na verdade, depois de tudo, eu
fazia o mínimo, perto de tudo o que ela me trouxe de volta.

Volteipara casa e Jordana estavana cozinha, enquantoChiara


brincava com a Helena no tapete da sala.
— Você viu que a Luísaperdeu quase cem mil seguidores em
menos de trêshoras? — minha irmã perguntoue eu dei de ombros.
Ela procurou por isso.
— Estátudo bem? — Jordana perguntoue eu assenti— você
me fez chorarcom o vídeo que postou. Mas fiquei esperando fãs
dela irem comentar besteira.
— Deixa eles. Depois de todo esse caos hoje, não acho que
alguém vá dar créditosà Luísa — eu falei — poderia sentirmuito,
mas ela deveria estarvivendo a vida dela e deixando a nossa em
paz.
— Ai, eu não sinto muito. E eu fiz questão de criarum perfil
fake pra contar sobre as arrogâncias dela com Noêmia e o pessoal
que trabalha no seu apartamento. Falta de respeito total.
— Você também não perdeu a chance de falarcoisas pelo seu
— eu retruquei e ela deu um sorriso travesso.
— Ela deve estarchorandonesse momento.Tem pessoas indo
no perfil das empresas que a contrata pra questionar a índole dela.
— Ela mereceu provardo próprioveneno, Chiara — eu falei,
suspirando cansado — ela podia fazer os seguidores atacarem
Jordana e ameaçarem a minha filha, mas ninguém pode fazero
mesmo com ela? Sei que ela vai ficar cancelada por umas semanas,
mas logo a assessoriadela contornaa situação e fica tudo bem.
Numa próxima, ela pensa duas vezes antesde atacaralguém maior
que ela. Seguidor não é tudo nessa vida.
— O pai dela ligou para o papai — ela comentou — mamãe
ligou aqui enfezada, não queria uma confusão.Mas não deixou que
o papai intervisse. Ele iria fazer o que? Brigar com você de novo?
— Nossa, não consigo nem pensar em outrabriga deles dois
— Jordana falou, voltando para a sala — eles nem fizeram
realmenteas pazes, estão apenas convivendo civilizadamente. Se
brigam outra vez, eu nem sei...
— No dia que ele pedir desculpas, um pedido decente, eu
esqueço essa históriae sigo em frente— eu falei e ela me olhou
entediada.

Fui para o banho e me vesti com uma roupa confortável. Com o


pedido de casamento,eu já achava que Jordana poderia ceder e ir
para o meu apartamentode vez, mas o dia hoje foi tão cheio e
caótico, que eu não iria entrar nessa conversa.
C 34
Jordana Testa

Tem um segurança na minha cola e eu detestoa sensação.


Mas era tãomedrosa,e as mensagens ultrajantes
ainda não haviam
parado, Edu achou melhor que exagerássemos na precaução
mesmo.

Havia uma divisão entre pessoas que defendiam Luísa, e


pessoas que acreditavamem como ela era má. Mas de qualquer
modo, para evitarperdermais seguidores,ela desativouo perfile o
pai dela procuroupor Eduardo, para pedir para que ele parasse.
Seja lá o que ela tenha feito
, ele acreditavaque tinha aprendido a
lição.

O processo foi encerrado em base de acordo. Os dois


assinaram documentos. Fred zombou que foi pior que o divórcio
dele, ele sempre tentavafazeras situaçõesteremum ar de graça e
talvez isso fosse bom. No entanto,eu achava que ele tinha mesmo
era que consertarsua relação com Marina. Não que tivesse algo
errado,mas os dois tinham muitospingos para pôr nos is. Ela tinha
que se abrirsobre a famíliacaóticadela, para conseguirser ajudada
e se libertar
, ele precisariaencerrarde vez o restode mágoa pelo
aborto,os dois tinham que aprendera conviver com a ex-mulher
dele, afinal ela era mãe do filho dele. Havia um bem maior ali que
precisava de mais amor e cuidado. Eu não conseguia imaginar a
minha filha no meio de uma separação e eu e Eduardo brigando
feito loucos, bagunçando a cabeça dela.

A conversa sobre morarmos juntos surgiu logo depois do


pedido de casamento. Alguns dias depois. Eduardo disse que
gostavado meu apartamento,que cabia nós três,mas não cabia as
coisas dele, porque ele era bagunçado. E porque ele tinha muita
coisa. No começo, fiquei com pena de desfazer do quarto da
Helena, dos três que ela tinha, o meu preferido era esse.

Comecei a ficarneuróticacom a possibilidade de largartudo


para morarcom ele e dar tudo errado,mas minha mãe veio e me
tranquilizou.
— Tem cara de que vai dar muito certo — ela falou
carinhosamente — e se não der
, você tem pra onde voltar
.
— Espero só que não vire uma dondoca mimada — vovó
resmungou e eu dei um sorriso travesso.
— Até parece, vovó — eu reclamei.
— Queria um conto de fadas e vai terum — mamãe resolveu
brincar e eu revirei os olhos, mas sorri.
— Depois de alguns imprevistos.
— Contos de fadastêm imprevistos— ela falou presunçosa—
e esse homem ama você, então eu fico tranquila.
— Se ele aprontar , vai lidar comigo — vovó falou e Edu
chegou, vindo cumprimentá-las.
— Jordana já contou a novidade? — ele perguntou e elas
assentiram.
— Vai ficarum pouquinho mais longe, mas tudo bem, vocês
têm mesmo que construira vida de vocês — mamãe falou. Elas
ficaramconosco até o começo da noite. Amamentei Helena, vovó
deu banho e a colocou para dormir
.

Quando foramembora, eu aproveiteio meu momento preferido


do dia: deitare ficaragarradacom o Edu, refémdos seus carinhos.
Não importavase iríamosfazersexo ou não, só queria ficargrudada
nele, sentindo seu cheiro gostoso, seu calor e abraço, essa
sensação gostosa de proteção.Eu era toda dele, me sentia tão
protegida em seus braços, que era mesmo difícil me imaginar sem.
— Eu estava aproveitando o momento romântico e você
começa com safadezas— eu falei quando ele começou a passear
uma mão suavemente pela minha bunda.
— Eu até tento seguir o seu ritmoromânticoe genuíno, mas
você é tão gostosa, que eu fico excitado sempre.
— Acho que você vai sentir falta daqui. Da nossa privacidade.
— Acha que vai mudar algo em meu apartamento?
— Não sei, mas lá, duranteo dia sempre tem alguém — eu
presumi e ele assentiu — e você passa o dia fora, eu não.
— Não quer morar lá?
— Não é isso — suspirei— é só que acabei de teresse lugar
só pra mim e eu gostava daqui, e não to nada acostumada a ter
alguém fazendo tudo pra mim. Lá, quando eu sinto sede, se eu
comentar, me brotaum copo com água — reclamei e ele riu — já
estávamos juntos de qualquer maneira. E eu nunca me imaginei
morando num lugar enorme daqueles. Só o seu quartoé quase o
apartamentoaqui inteiro— eu desatei a falar
, confusa com meus
sentimentos. Era só o medo do novo.
— Quer procuraralgum outrolugar? — ele perguntouconfuso,
mas soltei o ar e neguei com a cabeça.
— Está tudo bem... Só estou apreensiva — neguei com a
cabeça, piscando devagar .
— Não me deixa nervoso — ele falou de uma vez, de uma
maneira que me fez quererrir— por um momento achei que você
iria quererdesaceitaro pedido.
— Jamais fariaisso. Você me deu um anel de princesa, uma
filha incrível e me dá muito amor
. É o meu sonho se realizando. Fora
os desentendimentos,mas minha mãe lembrou que todosos contos
de fadas tiveram os seus altos e baixos.
— Você é encantadora.E eu um safado sem solução — ele
falou fingindo decepção e eu dei um sorriso travesso.
— Acho que um equilibra o outro— eu falei,tocandoseu rosto,
o olhando e como ele era tão bonito...
— E eu amo você.
— Eu amo quando você dá os seus ataques românticose diz
que me ama cinquentavezes no dia — eu zombei dele — e eu amo
você também. Amo mais do que um dia achei que se poderia amar
alguém.

No dia da mudança, eu fiquei toda emotiva. Era como


abandonar e encerraressa fase para começar a fase seguinte.
Eduardo estavaanimado, a verdade é que ele era acostumado a ter
espaço e luxo. Embora gostasse do meu apartamentopequeno,
sabia que ele só ficou esse tempo no meu apartamento,para me
agradar, acabava sentindo falta de ter onde esconder sua bagunça e
de ter alguém que ele pagava caro para mantertudo no lugar e
fazercoisas simples para ele. E nós dois já não nos desgrudávamos
mesmo, não faria diferençanenhuma nos firmarmosem um só
lugar. E seria mais óbvio optarmospelo mais luxuoso. Seria uma
ofensa à famíliadele, July falou, eu obrigá-lo a morar no meu
cubículo enquanto ele constrói os maiores prédios e casas dessa
cidade.
— É porque Deus não dá asa a cobra, viu — ela falava,
enquanto Mari tiravaas roupas da Helena do guarda-roupae dava
para ela guardar na mala — porque se fosse eu com um homem
milionário desses, só ia andar na grife, no luxo.
— Eu sabia — Mari falou, rindo — Jordana pode aproveitar
tudo isso e nem faz questão.
— Eu gosto de coisas boas, mas não sou exagerada — eu
tentei me defender.
— É uma trouxa— July ret rucou — aposto que ele te daria
tudo que você quisesse. E você não quer nada.
— Acho isso uma bobagem. Eu já aceito demais, não quero
depender dele pra tudo. Por ele, eu sei que poderia andar no luxo e
nas grifes, mas nunca fui alucinada por nada disso.
— Queria o príncipeencantado,mas não queria a fortunaque
os príncipes têm — July voltou a provocar.
— Queria o felizes para sempre — eu zombei e Mari riu.
— Acha que ele dá contade cuidarda Helena sozinho? — July
perguntou.
— Estácom o Fred — Mari falou e eu deu um sorrisotravesso
— os dois devem se divertirmuito com cada gargalhada que a
Helena dá.
— Se divertem mesmo — precisei concordar , mas eu nem
poderia julgar, parecia uma doida me divertindocom qualquer coisa
que minha filha fazia.

As meninas me ajudaram com a mudança. Apenas precisaria


levar as roupas, mas viria depois para ver se não falta
va alguma
coisa que eu quisesse levar. Eu adorava a decoração do
apartamentode Edu, mas era tudo céticodemais, eu queria dar um
ar familiar para tudo.Entãocomecei a decorarcom fotosnossas, da
nossa filha também.

Com o passardas semanas, foimais fácillidar com a confusão


que Luísacausou em nossas vidas. E de qualquer maneira, ela foia
mais prejudicada. Eu tive medo, mas também tive proteção.Ela
perdeu contratoscaros, não seria fácil recuperara confiança e
aquela imagem de mulher rica e bem sucedida. Edu deu o primeiro
passo em expor a péssima personalidade dela, mas isso tomou
proporçõesexageradas. Muitas pessoas tinham vontade de falar
dela, mas nunca encontraram uma situação que desse evidência.

Resolvi deixar pra lá. Ainda andava com segurançae motorista


particular
. O que me sufocava de alguma maneira, mas por outro
lado, eu não estavasegurapara sairpor aísozinha ainda. July disse
que se eu quisesse virar uma digital influencer , o momento era
agora, porque eu recebia milhares de solicitaçõesde seguidores.
Além de mensagens fofas,apesar das outrase muitas,mensagens
ultrajantese ameaças. De qualquer jeito, eu não nasci para isso.
Queria a minha vida anônima. Terminar a faculdade e focarna
minha carreira , criara minha filha. Sabia que mantera Helena no
eixo seria difíc
il, por causa dos pais de Edu, sempre a mimando em
excesso. Mas ela tinha amor de sobra e isso era o mais importante.

Numa terça-feira,Edu estavana empresa dele, Noêmia estava


lá em baixo cuidando do jantar
. Eu estavano quartoda Helena, ela
no tapetedistraída,enquantoeu mexia no celular, marcando de sair
com as meninas. Foi quando o pai dele chegou, trazendo um
ursinho para Helena. Eu sempre agradecia, mas não queria que
toda vez que viessem visitar a neta, trouxessem presentes.
— Na verdade, eu queria falar com você — Danilo falou, meio
sem jeito e o olhei, por um segundo com medo de algum insulto,
como em outra vez. O olhei, tremendo por dentro, mas apenas
esperei, então ele voltou a falar:
— Sei que apenas passamos por cima de tudo para seguir em
frente,mas... — ele desviou o olhar. Eduardo havia herdado dele a
dificuldade em se desculpar, eu apostava — faltouum pedido de
desculpas. Não acho que preciso ficar explicando aqui, eu agi
errado,fui duro e injusto com você. Meus motivos pareciam certos
naquele tempo, mas reconheço que fui equivocado.
— Estátudo bem, agora. O senhor duvidou do meu caráter
, da
minha dignidade, me humilhou, sim, mas eu não vou guardar rancor
.
Eu jamais iria colocar Edu contrao própriopai. Eu perdi o meu de
uma maneira dolorosa, daria tudo para ele estaraqui, participando
da vida da minha filha, sei que tentariaentendê-lo, mesmo quando
não concordasse.Espero que Edu perdoe realmenteo senhor, que
ele queira reconstruir
a relação que tinham antes, mas enfim, já
passou — eu tenteisorrir
, a conversaera muito estranha— vamos
apenas esquecer.
— Obrigado — ele falou mais baixo — sei que você e Edu se
gostam e serão muito felizes juntos.
— Espero muito que sim — suspirei, mais tranquila.
— Ele comentouque você achou aqui muitogrande... — Danilo
falou,para mudar a conversaque para ele era muitodesconfortável.
Contei por cima que não achava necessáriotantoespaço, mas iria
me acostumar , quem não se acostumarianão é mesmo? Minutos
depois, a avó mais babona que a minha filhatinhaentrouno quarto,
se esparramandono tapetee perdendo toda a compostura,para se
divertircom ela. Edu e Chiara diziam que a única capaz de fazera
mãe perder a pose, era Helena.
— Chiara disse que você queria um príncipe,o castelo e a
princesa — Nora falou divertida e eu me encolhi, levaram a sério
demais essa brincadeira de contos de fadas — faltou a festa.
— Ah, mas faremosem breve — eu falei — quero o vestidode
noiva e tudo isso. Mas agora não dá tempo.

Quando Eduardo chegou, seu pai foi atrasdele, queria se


desculpar também. Olhei para Nora, conhecia quando ela tinha
todos os dedos envolvidos em algo, ela não conseguia disfarçar
.
Logo mudou de assunto, perguntando sobre o namorado
misteriosode Chiara. Mas eu não poderia entregarnada, Chiara
queria segredo.
No aniversáriode Bianca, Edu ficounum embate internosobre
ir ou não visitar o túmulo dela. Eu não queria me envolver e tocar
nessa feridadele, há um ano ele estavaterminandocomigo por não
quererlidar com seus problemas de uma maneira madura. Eu não
queria que ele enfiasse os pés pelas mãos outra vez.
— Eu acho que você não deveria guardarraiva — eu falei, o
analisando e ele olhou para mim — a história de vocês foi
interrompida,você não sabe se ela iria levar a mentiraadiante. Ela
poderia contar pra você depois.
Ficamos em silêncio por alguns longos segundos e eu suspirei,
acarinhando seu rosto.
— Fred disse outrodia que ela não era como Luísa e Bruna.
Então, se ela tivesseo mínimo de bom senso, o que eu acho que
tinha, afinal deixou uma carta...Ela teriacontado.E eu penso muito
no quanto as amigas ficaramfalando sobre você jamais entender ,
tem vários lados nessa história, mas o mais importantedeles, não
está mais aqui pra explicar direito.
— Obrigado por tentarme entender— ele falou, a voz saiu
sussurrada — acho que eu nem mereço tanto.
— Eu amo você — sussurrei,apertandoa sua mão e ele veio
chegando mais perto,inclinando o rostopara beijar a minha boca —
se você quer ir até lá, se você quer manteresse costume,eu não
vou ficar contra.
— Obrigado — ele sussurrou. Quis perguntarse ele teria
perdoado, caso soubesse de tudo, mas conhecendo Eduardo, era
impossível saber sua reação.
Queria que ele pudesse confiarem mim sobre esse tra
uma,
para que déssemos certo.Que não saíssecorrendocom medo de
não ser capaz. Eu não seria capaz de dar uma quartachance para
ele, terí
amos que fazerdar certoagora. Deitamosna cama, ficamos
agarradose ele me olhava sereno, imaginei que havia decidido não
ir, no meu interior
, iria preferir
sim que ele superassede vez essa
história, a perda e toda a dor
, mas não iria cobrar
. Imaginei que seria
no tempo dele.
— Te olhar me acalma — Edu falou baixinho, fazendo uma
caricia no meu rostoe eu me aconcheguei mais pertodele — e
amar você com calma é muito gostoso.
— Tentando saber se isso é uma declaração românticaou
safada— murmurei,escondendo o rostoem seu peitoe ele deu um
riso, afagando meu cabelo.
— Um amor calmo é engrandecedor
, Jordana — Edu voltou a
dizer — eu não consigo imaginar a minha vida sem você. E eu sou
um cara de sorte por você ter me deixado ficar
.
— Vai me fazer chorar desse jeito — eu avisei, toda
melancólica.
— Você queria o príncipeencantado...Estoume esforçando—
ele brincou e nós dois rimos.
— Estáfazendo direitinho— eu falei. Assim como eu zombava
dele sobre o positivamente obcecado, ele brincava com essa
históriade príncipeno cavalo branco. Ergui o rostoe começamos
um beijo carinhoso e tranquilo. Edu demorou a ficar realmente
safado, e quando fez isso, ouvi o choro de Helena pela babá
eletrônica e me levantei.
Edu ficou jogado na cama e eu corripara o quartodela, a
peguei no colo, que logo foiparando de chorar
. A levei para o nosso
quartoe a coloquei no meio da cama. O pai dela logo começou a
distraí-la e eu fui preparar um banho para ela.

Quando voltei, os dois estavaminteragindo,eu amava que ele


se divertia apenas por fazê-la rir, meu coração ficava em paz,
apesar de tudo, no final tudo ficou de um jeito bom para nós.

Edu veio com ela e eu a peguei, ele queria dar o banho, mas
era a minha parte preferida.
— Todas as partessão as suas preferidas— ele falou sem
emoção e eu o olhei, fazendo pouco caso. Às vezes parecia que
estávamos competindo quem fazia mais coisas por Helena e ele
reclamava que eu estava na vantagem, já que ele passava o dia
forae ela dependia de mim para comer. Eu logo retrucavaque ele
tinha a noite sozinho com ela, até eu voltar da aula.

Quando acabei, Edu veio para trocá-la,mas comecei a rire


desviei dele, que desistiu e foi se sentarà poltronano quartoda
nossa filha. Ele falava sobre eu ser possessiva demais.
— Deveria agradecer que eu gosto de participar— ele
reclamava, mas eu não estava nem aí. Logo Helena iria crescere
eu não teria mais que fazer nada disso.
— No próximo eu deixo você cuidar sozinho — falei, mas era
uma mentira óbvia e ele me encarou entediado.
— Sei — ele resmungou.
No meu aniversárioem novembro, eu estava com a Marina
numa boutique, estávamos escolhendo roupas novas para o meu
jantar
. Eu não queria festa,queria um jantarcom a famíliae amigos.

Eu e Eduardo estávamos nos entendendo melhor do que eu


imaginava. Quando fui morarcom ele, fiquei com medo de algo dar
errado,mas tudo ficou nos eixos. E eu esperava que continuasse
assim. Ele estavasendo um bom parceiro,aquele homem delicioso
no sexo e um pai amoroso.

Como eu passava algumas horasda noitefora,Edu ficavacom


a Helena. E em uma dessas, ela balbuciou papai. O cretinofilmou,e
ficavamostrandopara todomundo. Mas agora Helena já balbuciava
papaitoda hora, me deixando azeda de ciúme. Ela já falava do seu
jeito embolado várias outrascoisas, estavapertode completarnove
meses. Mas nem sinal de pelo menos ummama.

Para se vingar, como o xeque-mate, ela deu o primeiropasso


com ele também. Que parecia estarsempre prontopara filmá-la.
Não estava andando ainda, mas se equilibrava nas coisas e tentava.
Minha mãe disse que Edu a incentivavaa tentarqualquer coisa que
quisesse, enquanto eu era toda melindrosa, cuidadosa, queria a
minha filha sem aventuras,o pai dela a jogava para o alto e ela
adorava.

Passamos para comprarum conjunto mais sensual, eu queria


conseguir aproveitara noite inteiracom o Eduardo hoje. Não que
nossa vida sexual estivesse ruim, mas não era todo dia que nós dois
conseguíamosseguir aquele ritmointensivo que ele amava. E eu
sentia faltatambém. Depois fomos comer alguma coisa, eu estava
morrendode fome e ela também. Ela estavafugindo de Fred, sabia
que ele iria querer avançar as coisas e ela definitivamentenão
estavapreparada. Para mim soava engraçado, eu também não me
sentiapreparadapara uma gravidez não planejada e tão nova, mas
dei conta. Dei piti quando me vi indo morarcom Edu, mas estava
sendo maravilhoso. Não dava para prever, mas se o coração pede
pra tentar
, o melhor caminho é segui-lo. Não dava para entrarem
uma nova faseda vida temendo tanto,com pensamentosnegativos.
Mas era certoque eles ainda estavam com vários pontos soltos,
antes de avançarem tanto.
— Nem sei como contariaaos meus pais sobre isso — ela
falou mais baixo — parece que seria contare tudo dar erradode
vez.
— Você precisa se libertardeles, amiga. Não to dizendo pra
cortarde vez todosos laços, mas pararde se privarpor medo deles,
medo de atrapalharemvocê — falei, mas até mesmo eu sabia
pouco do que ela passava com a família. Ela preferia nem contar
.
— Iriam quererfazero Fred acreditarque eu sou péssima pra
ele — ela falou como se fosse óbvio e acabou rindo desanimada —
imagina se ele faz um pedido... Ele parece estarapenas esperando
o momento em que eu não vou sair correndo.Mas em qualquer
momento eu vou sair correndo.
— Mari...
— É que usara desculpa de que ele acabou de se separarnão
está mais funcionando. A mãe dele disse que ele só assinou os
papeis há pouco tempo, mas levava a vida de solteirocom Edu e
Ravi há anos.
— Como está ele e Denise? — perguntei. Depois que
engravidei, me afasteide todasum pouco. Apesar de estarmos nos
vendo com mais frequênciaagora que a Helena já estava maior,
Denise ficou muito mais próxima da Marina.
— Você sabe que é um sofrimentolidar com alguém viciado.
Eu já disse que no lugar dela, teriadeixado ele se ferra
r sozinho.
Mas ela está apaixonada e Fred diz que ele também, mas né,
escroto — ela sussurrou a última palavra.
— Que horror — sussurrei e ela me encarou entediada.
— Não falosó pela relutânciaem assumire tratar
o vício— ela
faloucomo se fosseóbvio — mas ela briga quando ele quer sairpra
lugares onde vai apenas recair e piorar
, eles se desentendem e ele
fica com outras.Não lembra do rolo dele com a Chiara? Por mais
que ele goste da Denise, quando tem uma crise de abstinência,é
essa confusão.
— Sim, mas...
— Olha, sei que eu dou graças a Deus por terficado com o
menos problemáticodo trio.Porque Fred é um louco, mas ele não
chega aos pés de Edu e Ravi — ela faloupretenciosae eu a encarei
brava — é a verdade. Se fosse eu, quando Eduardo deu aquele
show e Ravi meio que ficou interessadoem você, eu no seu lugar,
teria ficado.
— Marina! — eu falei incrédula, mas ela não estavanem aí —
ainda bem que você ficou com o Fred. Iria deixar Eduardo louco
completamente.
— Olha, sei que ele tá o príncipeque você sonhava hoje, mas
ele bem que merecia terpassado uns apertosmaiores. Sortedele
que você é boazinha.
— Vocês falam como se ser boazinha fosse ruim — falei
fingindo estarmagoada — não iria ficarme vingando dele. Iríamos
colecionar vinganças e depois? Voltaríamossem o menor respeito
um pelo outro?Não daria pra voltar . Não gosto de pensar que as
coisas poderiam tertomado outrocaminho e eu não teriatido a
Helena.
— Você venera muito a sua filha... — ela falou carinhosamente
— acho isso tão fofo.
— Se ela é perfeita! — falei enfática e ela deu um sorriso.

Demos uma volta pelo Shopping, olhamos algumas vitrinese


eu acabei comprando um vestidinhonovo muito lindo para a minha
filha. Na mesma loja apareceu a avó dela, a mãe do Edu. Nora me
lançou um olhar de puro escárniopor eu estarcomprando algo para
a Helena, uma vez que eu vivia dando chiliques por eles viverem
enchendo a minha filha de mimos luxuosos. Mari pareceu se divertir
com a cena, quando logo eu me dei conta de que ela estava aqui
para comprar algo para Helena também. Ela ainda ousou tentar
olhar algo, que eu vetei. Nora saiu descontentadada loja, mas
seguiu conosco, queria passar na loja de uma velha amiga e
fizemos companhia.

Lá, fui apresentadapara a mulher, que mencionou eu parecer


tão nova e já terum bebê. Nora começou a experimentaralgumas
sandálias elegantes, enquanto eu e Mari olhávamos algumas, mas
eu não tinha pretensãode comprarnada. Ainda mais numa loja de
luxo. Sabia que Edu estava pouco se importandocom quanto eu
gastariado dinheiro dele, e eu tinha uma renda mensal do aluguel
do meu antigo apartamento.Minha mãe achou justoque eu ficasse
com o dinheiro, então eu o usava para a faculdadee o que sobrava
eu não saía gastando loucamente. Mas dar esses valores em um
par de sandálias ainda era dolorido pra mim. A dona da loja, que
dava nome à marca,logo começou a puxar conversacomigo, queria
saber o que eu fiz para amolecer Eduardo, já que todos
comentavam o quanto ele andava feliz.

Dei um sorrisosem jeito,a minha sogralogo respondeue ficou


conversando com ela, contando a versão dela sobre meu
relacionamentocom o seu filho. Como estávamosnum lugar mais
reservado do local, Luísa não nos viu quando chegou com sua
assessora,pelo que entendi fariaum provadorna loja. Mari revirou
os olhos até não poder mais, mas Nora não achou necessário
apressar nossa saída dali. Experimentou vários pares, me fez provar
também, até Mari entrouna brincadeira.Acabei levando um modelo
clássico de salto fino e tirasfinas, o bico fino na frente.Nora levou
uns cinco pares, isso porque queria ser contida.
Mari escolheu uma sandália parecida com a minha também.

Quando fomos pagar para irmos embora, Mari me puxou pelo


braço e vimos Luísa destratandouma das vendedoras, com essa
mania de se sentirsuperior
. Ela segurou a sandália com desdém e
deixou cair com nojo.
— Não foi essa que eu pedi dessa vez — ela falou, nesse tom
esnobe de sempre. Só então ela nos notou, Nora nos alcançou e
parou ao meu lado — olha só quem encontrei— ela falousimpática,
se dirigindo apenas à mãe de Edu, afinal não podia me mencionar
nem chegar perto de mim.
— Está bem, Luísa? — Nora perguntou cordial — hoje é
aniversárioda Jordana, viemos comprarsandálias novas, vamos
comemorar— Luísa nem se deu o trabalhode falarmais alguma
coisa, se virou e foi atrásda vendedora que estava tr
azendo as
sandálias que ela mostrava na sua vida de rede social.

Não sabia como andava a vida dela, apenas sobre as brigas


dela com Chiara, uma vez que Luísa ficou mesmo com o ex-noivo
da minha cunhada. Com ele ao menos poderia expor o
relacionamentoque queria. E Chiara não a engolia, tinha mágoa do
ex ainda, descontava em Luísa, pelo que eu havia entendido.
— Vocês acham que a Chiara vai levar o homem? — minha
sograperguntou,enquantoíamos para o estacionamento.Eu e Mari
nos entreolham
os, eu queria o aval de Chiara para falarsobre isso
com Edu, sondar a reação dele. Uma hora ela teriaque falarsobre
isso, caso o relacionamento se tornasse mesmo sério.
— Vocês sabem de alguma coisa? — ela perguntou, nos
avaliando — vocês sabem de algo... O homem não é boa coisa, é?
— Não o conhecemos — Mari falou rapidamente— acho que
depois do baque que foi o último relacionamento, ela não quer andar
rápido demais com esse.
— Fred não sabe de nada, não é? — ela perguntou , me
fazendo rir
. Era óbvio que se Fred soubesse, não seria mais um
segredo.

Como deixei Helena com Edu para vir com a Mari, viemos no
carrodele. Deixei Mari no apartamentode Fred e segui para casa.
Quando cheguei, encontreiEdu sentado no sofá com a Helena no
colo, o queixo dele apoiado no topo da cabeça dela e ele olhava
atento para Noêmia, que dizia algo e parou ao me ver
.

Acenei para ela e solteias sacolas sobre a poltrona,indo falar


direto com a minha filha, que jogou os bracinhos para cima,
esperando que eu a pegasse.
— Você joga sujo — Eduardo falou incrédulo, me cerrandoos
olhos e eu o olhei desdenhosa. Helena poderia ter dito papai
primeiro, mas não podia me ver que se jogava.
— Essa garota vai crescertão mimada... — Noêmia alertou,
mas era tão mais forteque eu. Sabia que saberia tomar decisões
sérias e certas,quando fosse necessário. Mas agora ela poderia
ganhar todo dengo do mundo.

Deixei que Edu a levasse para a empresa, já que ele não teria
algum compromisso sério e isso me daria tempo para arrumar tudo
para o jantar mais tarde. Ele logo postou uma foto com a nossa filha,
em seu escritório.Na legenda, ele colocou: trabalhando com o
papai.
Eu me derretiainteira,era uma patéticaapaixonada por eles
dois. Comentei que os amava muito. Mas larguei o celular, antes
que passasse para ver todo o feed dele, que era todo da Helena.
O pessoal que viria arrumare serviro jantarchegou seis da
tarde.Entãoeu fuitomarum banho e arrumaro cabelo. Edu chegou
e eu fui aprontara Helena. Minha filha ficou linda no vestido azul
com o laço nas costas,a meia calça e o sapatopreto,como os de
boneca. Eu adorava vesti-la assim, bem embonecada. Chiara já
gostavade algo mais estiloso.Era só passaruma tardecom a tia e
madrinha, para Helena voltar de calça jeans, all-star e uma boina.

Nossos convidados começaram a chegar quase oito da noite.


Eu recebia presentese felicitações,todos me acolhiam tanto,que
eu achei uma besteiramanter orgulho ou mal estarcom o pai de
Eduardo. Não seria capaz disso.

O pequeno Bruninho brincava com a minha filha, enquanto


todos os outrosconversavam animados. Ele a apoiava, que se
divertia dando passinhos.
— Jordana, estamos falando com você — minha mãe falou
enfática e eu a olhei.
— Essa aísó temolhos pra Helena — Edu falou,servindomais
uma dose de uísque e eu fiz uma caretapara ele. Entraramem
outro assunto aleatório e eu prestei atenção dessa vez.

Antes do jantarser servido, Noêmia veio com o bolo e velas


espalhafatosas,anunciando meus vinte e três.Todos cantaramos
parabéns e todasessas cantigas de aniversário.Depois, Edu pediu
para me dizer algumas palavras e eu o olhei, me aproximando para
beijá-lo no rosto.
— Você está levando à sério demais essa história de príncipe.
— Quando eu conheci você, eu não me dei conta do impacto
que teve no meu coração. Foi quase que imediato. Eu bati o olho
em você, e sentialgo diferente.Hoje, quando eu olho pra você, vejo
o quanto eu sempre te amei tantoe demorei a perceber . Acho que
você se deu contaprimeiro,mas eu estavaocupado demais com os
meus medos, enquanto você era a única coisa boa que morava em
mim, principalmente naqueles momentos.
— Meu deus, eu te amo — eu sussurreipara ele, que se
aproximou para selar nossos lábios e acariciou meu rosto.
— Eu te peço perdão por ter bagunçado tudo em algum
momento. Não queria que tivesse sido assim, não queria que
tivéssemoserrospara contar
. Eu queria ternotado antes,terpulado
os nossos desentendimentos.Você é tudo, meu amor. Meu coração
escolheu você e eu sou muito feliz por você ter me escolhido
também.
— Edu só está fazendo isso pra ganhar o primeiropedaço —
Fred falou e eu olhei para ele, que levou um cutucão da Marina.
— Eu desejo pra você, meu amor — Edu voltou a dizer — as
melhores coisas do mundo. E prometo que farei de tudo para
realizar seus maiores sonhos.
— Vocês são tãomelosos — Fred voltoua alfinetare eu o olhei
brava, adorava Edu meloso, não era todo dia que ele me inundava
de declarações.
— É só Edu sendo o príncipe que a Jordana queria — a mãe
dele falou o óbvio.
— E eu amo. Obrigada, meu bem — eu falei para ele, que me
puxou pela cintura e demos um beijo breve.
Não corteio bolo, porque o jantarseria servido logo mais e
fomos aproveitara companhia dos nossos amigos e familiares. Eu
gostava da casa cheia, de recebernossas pessoas queridas. Edu
estava em outro ambiente da sala gigantesca com os outros
homens, eles conversavam e riam, bebiam também.
July estava brincando com a Helena, embora nos
alfinetássemos,ela queria fazer parteda minha vida milionária. E
vovó ainda conversavacom Bernardo,melancólica, porque segundo
ela, era para ele ser o pai da minha filha. Se enganava quem
pensava que ela hoje adorava o Eduardo.

Fui amamentara minha filha para colocá-la para dormire Mari


e July vieram comigo. July ficou admirando o quarto,o que me
divertia muito.
— Aposto que o Bernardovai se tornarum advogado muito
rico, amiga — Mari falou, rindo e ela lançou um olhar feio.
— Eu gosto de luxo, mas eu amo o Bernardo. Não tem
problema se ele não ficarrico da noite para o dia — ela falou brava
— sua avó que não supera, né Jordana?
— Ai, nem me meto mais — avisei, enquanto trocavaa roupa
da Helena. As meninas começaram a zombar por eu ficarfalando
mamãe repetidamente para Helena. Mas eu queria ouvir logo.
— Estáazeda de ciúme porque ela falapapai — Mari provocou
e eu fiz uma carranca impaciente.
— Papá — Helena balbuciou e eu grunhi de ódio, fazendo com
que as outras duas rissem.
— É uma vingança de Eduardo para mim — eu falei convicta,
mas elas apenas se divertiam.
— Ela já dorme a noite toda? — July perguntou.
— Quase sempre — falei animada.
— Para a felicidade do pai dela — Mari completou.
— Aquele safado — sussurrei e elas riram.
A noite foi deliciosa, era mais do que eu poderia pedir. Estava
vivendo uma fase tão boa, que só poderia agradecer . Para
completar, só poderia pedir que meu pai estivesseconosco, seria
tudo perfeitamente completo.

Eu e Edu passamos para conferir a Helena, e fomos direto para


o quarto. Começamos um beijo intenso, profundo e malicioso. Ele foi
logo tira
ndo nossas roupas do caminho, ansioso para aproveitara
noite.
— Já estava enlouquecendo de vontade de você — ele falou,
vindo para cima de mim e beijou a minha boca. Ele foi descendo os
lábios, foi roçando os lábios pela minha barriga e provocando
quando chegou ao meio das minhas pernas.
— Provoca mais que tá pouco — eu falei, gemendo lamentosa
com o beijo gostoso que ele deu no meu lugar mais sensível e
sedento por atenção. Edu riu e voltou a provocar , me deixando
enlouquecida de vontade.Mas logo recueie o deixei me judiar, tero
controledo nosso sexo gostoso.Eu acabaria sempre tendo o que
queria, no final das contas.

FIM!
E
Jordana Testa

Quatro anos depois...

Pulei da mesa de Eduardo e cambaleei toda trêmulapara o


banheiro, a fimde consertar
a minha roupa e limpar o que restoudo
nosso clímax. Ele veio logo depois, molhando os cabelos para
colocá-los de voltano lugar. Ele me abraçoupor tráse deu um beijo
no meu pescoço.
— Gostosa — disse asperamentee eu virei o rosto,ganhando
mais um beijo dele.
— Vou parar de vir aqui te procurar
, sempre acabo comida.
— Que isso, Jordana — ele começou a rir— até parece que
você não gosta.
— Esse é o problema — eu retruquei brava.
— Quem sabe numa dessas eu meto outracriançaem você —
ele falou, voltando para o escritório e eu fui atrás, incrédula — minha
mãe já está impaciente.
— Eu estouconsolidando a minha carreira,acho que podemos
esperar— eu falei — e você já pode pararde falarpara Helena
pedir um irmão.
— E ela só quer se formenino — Edu tevea coragemde rir—
vai ficar muito brava se vier outra garota.
— E dessa vez, eu vou estarpresentenos primeirospassos e
ele ou ela, vai dizer mamãe primeiro— eu falei convicta— não vou
aguentar se você for o pai preferido de novo.
— Eu era o pai legal, você só queria emperiquitara menina e
apertá-la.
— Era o meu jeito seguro de amá-la — falei dramática— e eu
não sei porque você quer se gabar. Se colocar eu e você, ela
prefere a tia Chiara — eu provoquei, que fez uma careta.

Quando saímos do trabalho,passamos na casa dos pais de


Edu, para buscara Helena. Ela veio, toda linda com esses cabelos
castanhosenormes, esses olhos clarosque herdou do pai e o jeito
doce. Eu me abaixei para ela me abraçare ganhei um beijo na
bochecha.
— Brincou muito com a vovó? — perguntei.
— E ganhei um quebra-cabeçaenorme — ela contoutriunfante
— vamos terminar de montar outro dia.
— É mesmo? — perguntei animada.
— E a vovó mandou perguntarsobre o meu irmão — Helena
fez um bico pretencioso e eu fiz uma careta.
— Vovó pressiona tanto, não é? Só perde pra você e seu pai —
eu reclamei.
— Ah, mas eu queria um irmãozinho... — ela falou insistentee
presunçosa— eu ia poder brincarcom ele, levar pra passear... —
eu comecei a rir
, isso mais parecia o que se fazia com cachorros.
— Mamãe pode dar um cachorrinhopra você, o que você
acha?
— Acho ótimo! — ela falou animada.

Demos as mãos e voltamospara o carro.Ela foicontandopara


Edu sobre o dia na casa dos avós e sobre a propostado cachorro.
Edu me olhou feio, ele queria outrofilho, não queria ficarvelho
demais, segundo ele, para fecharmos a fábrica.
— Tem que escolher, princesa — ele falou para ela — ou o
cachorro ou o irmão.
— Eduardo! — falei incrédula, começando a rir
. Ele me lançou
um olhar safado e eu cerrei os olhos — o irmão demora nove
meses, filha. O cachorro chega amanhã.
— Então eu quero os dois! — Helena falou animada e eu
grunhi, fazendo Edu começar a .rir

Coloquei Helena diretono banho quando chegamos e depois


de aprontá-la, sequei um pouco os cabelos molhados no secador.
Ela avisou que iria pedir um espaguetepara Noêmia e eu a mandei
ir.

EncontreiEduardo no banheiro do nosso quarto,no banho,


esse gostoso de uma figa. Não o encontrei, porque sabia que
iriamos demorar e deixar Helena nos esperando para o jantar
.

Quando encontramosnossa filha na sala de jantar , a mesa já


posta e Noêmia lá com ela, ela já contava sobre as minhas
promessas de cachorroe irmão. Eu cerrei os olhos, sabia que
queria outrofilho, mas queria adiar um pouco. Quem sabe daqui a
um ano ou dois? Edu esquecia que eu fui mãe nova demais, ao
contráriodele. Mas por outro lado, queria que Helena pudesse
crescer quase junto com o irmão ou irmã.
Outras dúvidas me assombravam. E se ela tivesse ciúme? E se
começasse a sentirque estava sendo deixada de lado? E se eu
fossedessas mães que prefereum filhomais do que o outro? Eram
tantosmedos. Eu não poderia ser hipócritae reclamarda minha
experiência com a maternidade.Tive os meus desafios, mas tive
muita sorte,tudo vinha fácil para mim. Emocionalmente foi fácil,
comparando com relatos que li por aí.

E se algo mudasse no meu conto de fadasquase perfeitoe eu


e Edu nos separássemos? Eu não queria ser mãe solo de dois
filhos. Não queria imaginar que um dia pudéssemos nos
desentendere brigar. Estavasendo neurótica?Talvez. Mas que mãe
nunca pensou nisso? Todo mundo sabe que a maioria dos pais não
assumem completamente a função depois da separação. Edu
assumia tudo que estava ao seu alcance, tínhamosmuita ajuda,
éramos pais amorosos, presentes. Não queria que minha filha
perdesse isso na vida.

Olhei para o meu marido gostoso, que conversava os seus


planos de dar um irmão para a Helena, com ela e Noêmia. Poderia
apostarque se ele sonhasse com os meus pensamentos,iria ficar
muito bravo e ofendido. Edu fazia o possívelpara me fazerviver o
amor de princesaque eu sonhava, nos desviando de qualquer crise.
Convenhamos, todo casal passa por isso. Não me venha dizer que
nunca acordoue queria sumir para não terque lidar com casamento
e filhos, porque eu poderia apostarque já. Mas quando a sensação
de esgotamentopassa, lá estavameles, esperandopor mim, cheios
de tudo que me completava nessa vida.
Mais um filho viria para acrescentar
ou transbordar
de vez? Eu
estava pronta? Saberia se estivesse?

Sei que aquela conversasobre engravidarrendeu mais alguns


dias. Eu sempredesconversando os dois. Helena já cresciaesperta,
eu e Edu já havíamosconversado sobre pararde dar duas opções
para essa garota, ela sempre acabava levando as duas.
— Ela puxou ao papai — Edu falou, quando voltamos para o
quartoe eu cerreios olhos — espertatoda. Vai ganhar um cachorro
e um irmão.
— Não tomamos nenhuma decisão ainda — eu avisei — não é
só fazerque vai dar certo.Vamos começar a pensar. Não quero
babá no começo, se forcalmo como a Helena, quero que façamos
como fizemos com ela. Só nós dois, dando todo amor e cuidado.
— Nós três— ele me corrigiu e eu assenti, era claro. Já
tínhamos nosso bem precioso. — E sobre o cão?
— Acha que vai dar certotomarconta de um cachorr o em
apartamento? — perguntei, apesar do que, espaço não faltaria.
— Helena vai deixar Noêmia maluca — Edu falou,se divertindo
e eu dei um sorriso,iria mesmo — um de portepequeno, acho que
seria legal.
— Deveríamosadotar— eu alertei— acho bobagem ter que
ser de raça. Mas é uma conversa muito controversa.Veremos. Se
ela não esquecer do cachorro, daremos um de aniversário.
— Falta mais de um mês pro aniversáriodela. Ela vai ficar
maluca e nos deixando malucos até lá — Edu falou o óbvio, nossa
menina ficava ansiosa com promessas. Eu fiz uma careta
melancólica, tão vencida.
— Essa garotacarregaa gente no bolso — eu reclamei, mas
tínhamossorte.Nossa filha era tão amorosa, tão preocupada, tão
doce. Era como se Deus soubesse que ela precisava ser assim,
para nos completar com seu jeito incrível.

Edu deu um sorrisosorrateiro


e veio atémim, me puxando pela
cintura. Levei minhas mãos para o seu rosto, o puxando para mim.
— Eu amo você — ele sussurrou,me fazendo sentiresse
afago gostosona alma. Edu me puxou para mais pertoe o abracei
pelo pescoço, começamos um beijo delicioso, que foi se
aprofundandoa cada segundo. Esse homem tinha toda a malícia
para me levar aos céus, eu sonhava para que nunca perdêssemos
esse tesão um pelo outro.

Fomos tirandoas roupas do caminho, nos tocando e matando


a vontade, que já vinha tão acesa de novo. Fiquei o olhando
enquantotrans ávamos, a parteboa de uma rapidinha duranteo dia,
era que se fizéssemosde novo, mais tarde,era assim, carinhoso,
desacelerado, apenas nós dois nos amando tanto.

Eduardo Toledo

Quando ela recusou a taça de vinho que servi para nós dois,
eu já sabia. Comecei a desconfiarmuito antes dela, quando ela
começou a acordarindisposta e parou de competircom Fred pelos
projetosque ela adorava fazer sozinha, por estarexausta demais,
eu soube do que se tratava. Mas não a pressionei.

Já havia insistido muito, como a Helena quando queria algo,


para fazermos o segundo filho logo. Pensei que eu ficariavelho
primeiroque ela, queria nossos filhos crescidose terfeit
o partede
todas as fases das vidas deles. Quem diria? Eu, pai, marido,
amoroso e feliz... Antes de perder Bianca, não era um plano
absurdo, mas ali ainda era tudo tão incerto. Antes de Jordana
chegar, ninguém mais esperava que eu fosse mudar .

Talvez pensassem que eu e Luísa viveríamosuma relação de


aparências, a que ela queria naquela época, mas seria cruel para
ambos. Seria maldoso pensar que pudéssemos estar vivendo
aquele caos. A chavinha na minha cabeça havia virado, eu amava
construira minha família,amava tero meu amor, que era o meu
tudo.E amava mais ainda a nossa filha,o nosso bem mais precioso.

Coloquei uma música lenta em volume ambiente. Estávamos


apenas nós dois. Chiara veio nos visitaresta tardee Helena já
desceu com a mochila prontapara ir dormircom a tia. Aproveitei
para fazer um jantar romântico para mim e minha mulher
.
Olhei para Jordana, que parecia tranquilae nervosa ao mesmo
tempo.A puxei pela mão, nos movendo no ritmolentode Se eu não
te amasse tanto assim, e ela passou os braços em volta do meu
pescoço. Inclinei e comecei um beijo carinhoso, suave e delicioso.
Não havia nada mais doce, mais tranquiloe bom, do que amar
alguém em quem confiamos. Eu sentia esse sabor
, todos os dias.
Não queria o medo de perder
, o medo de não dar conta. Não
havia mais isso. Éramos a leveza, a paz e amor genuíno. Quase o
conto de fadas que Jordana esperava encontrar . Pegávamos fogo
na cama, nos levávamos ao limite no sexo, onde tudo era permitido
para nós dois. Passávamos pelos desafios que todo casal passa,
obviamente, mas eu não dava ênfase para eles.

Encerreio beijo e selei nossos lábios algumas vezes, ela olhou


para mim de volta, acariciei seu rostoe dei um sorriso,eu tinha
sortedemais na vida. Depois de toda dor, de todosos erros, eu tive
a chance de fazertudo certo.Ainda bem que agarrei e não me
deixei levar à caminhos errados.
— Estou grávida — ela sussurrou, me fazendo cair,
transbordar
. Eu já sabia, mas ouvi-la dizer era tão perfeito— e com
muito medo.
— Eu sei — sussurrei de volta — não precisa ter medo.
— Não quis contarquando parei a pílula — ela continuava
sussurrando — para não criarmos tantas expectativas.
— Eu amo você — falei e ela fungou, uma lágrima silenciosa
escorreu e logo depois veio outra.
— Fiquei com medo, me lembrei de quando descobria Helena
e...
— Vai ser tudo perfeitoagora, do começo ao fim — prometi —
vamos comemorar, queríamos tanto. Eu principalmente.
— Ando tãoenjoada — ela confessoumelancólica e eu a puxei
para mim, para ainda mais perto e afaguei seu cabelo — tão
exausta...
— E eu vou fazero que puder pra você ficarmelhor — prometi
outra vez e ela deu um riso, mas chorou junto, tão cheia de
sentimentos.
— Fiquei pensando que você ia desistirde querere ficardoido,
porque a Helena temandado tãomanhosa, tãocheia de birra— ela
falou,me fazendo quererrir. A últimasemana com a nossa filhanão
havia sido fácil. Como Jordana andava exausta e indisposta, não
pôde fazer tudo que Helena queria, como a pequena estava
acostumada.Então Helena começou a ficarmanhosa, fazendo birra
por qualquer coisa. Dar banho nela havia virado um desafio, não
aceitava, não queria.
— Jamais iria desistirde querer— eu falei — eu quero tudo
com você, sempre vou querer.
— E do jeitoque ela anda, se não formenino, ela vai chorar—
Jordana falou, chorando mais e eu dei risada.
— Ela vai terque aprendera lidar com as frustrações
na vida
— eu falei e ela me olhou incrédula.
— Você também vai se frustrar?
— Claro que não, meu amor — eu faleio óbvio — seriaincrível
termosum casal. Mas vai ser tão incrívelquanto, termosduas
meninas.
— Ainda estou apavorada — ela sussurrou— parece bizarro,
mas... É que eu tive a certeza hoje.
— Você me faz o homem mais feliz desse mundo inteiro— eu
falei e ela franziuo cenho emocionada, voltando a chorare eu sorri
— e sabe que eu faço qualquer coisa por você. Qualquer coisa.
— Obrigada — ela soluçou, afundando o rostoem meu peito e
afaguei seu cabelo.
Jordana chorou por mais um tempo, tensa com a novidade,
mas logo essa sensação de medo sumiria e viveríamosa plenitude
da gravidez. Dessa vez, sem nenhuma intercorrência.
Para minha sorte,ela não enjoou o jantare logo já estávamos,
na verdade ela estava mais tranquila.Eu a olhava, tão linda, dona
de todas as minhas decisões, dona do meu amor
.

Planejamos como contar para Helena, mas Jordana queria


esperar passar os primeiros meses, pelas contas dela, quando
esses sintomas chatos passariam. Agora, Helena far ia manha,
entenderiaque por causa do bebê, a mãe a deixou um pouco de
lado, uma vez que ela sempre foi o centro do nosso universo.

Mamãe ficarialouca de felicidade, mais do que qualquer um.


Dessa vez não haveria medo, não haveria briga, nem nada. Seria
nós dois, nossa filha e nosso bebê a caminho, consolidando ainda
mais a nossa família.Se eu estava sonhando demais? Quem se
importa? Eu já fui um cretino errante, jamais repetiria isso de novo.

Agora, éramos um presentecom muita ansiedade de futuro.


Nossa intimidade contaria histórias. Nós dois somos risadas
intermináveis, tesão que move montanhas e tristezas que
transformamos em alegrias.

Se seria assim para sempre? Não poderia prever


, mas fariao
possível para que sim. Mais do que qualquer pessoa, Jordana
merecia que terminássemosisso aqui com um e viveram felizes
para sempre.

FIM!
Mas Deus já falou:Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se
apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde
você andar". Josué 1:9
P

Clica aqui!
S
Chega um dia na vida de um homem em que ele entranuma
sala, com a esperança inundando o coração e um anel no bolso,
completamentepreparadopara se ajoelhar e prometersua eterna
devoção e lealdade à mulher amada.
Ele sente que chegou a hora de fazer aquela pergunta,
prometeramá-la e adorá-la para sempre,atéque a morteos separe
e amém.
Mas quando FredericoToledo encontroua mulher da sua vida,
a sua cara metade, esse dia nunca chegava. Marina já conhecia as
expressões do namorado, a cada vez que ela o via prontopara
colocá-la contr
a a parede e fazero maldito pedido, saíacorrendo–
feito uma maluca.
Talvez seja mesmo um desafio conviver com uma pessoa tão
igual e tão diferenteao mesmo tempo. Não tem essa de “se forpra
dar certo,atéos ventossopram a favor”,só dá certoquando os dois
lados enfrentam as dificuldades e tentam o impossível.
P
Como tudo começou

Marina Marques

Eu não sabia o que havia sido mais caóticono meu dia. Se a


discussão eventual de caféda manhã, o trânsitoque eu peguei até
chegar ao trabalho, ou se foi ter essa maldita entrevistapara
entregar em dois dias. Como se eu fosse mesmo conseguir
.
— Ou você me entrega a entrevista,ou está na rua — a
maquiavélica falou, antesde consertar os óculos no rostoe voltara
atençãoao computador . Fechei os olhos por um segundo e respirei
fundo, nada que fosseme matar . Ela estavalouca para me colocar
no olho da rua, desde que o cretinode seu marido me assediou,
aquele nojento. Foi tão sutil, que ela notou, eu notei e apenas
fingimos que nada aconteceu. Desde então ela queria um motivo
para me demitir sem que eu tivesse a coragem de expor o caso.

Saí da revistae fui para a maldita empresa, conseguir, ou pelo


menos tentar, a maldita entrevista.O que eu não achava nada
provável. Um tipão como esse Eduardo Toledo não fazia o perfilde
quem concedia entrevistapara uma revistade fofoca.Tudo bem,
abordávamos outros temas e a construçãocivil era uma bela
desculpa, mas eu sabiaque queriam mesmo era esse nome e essa
figurabelíssimapara estampara matéria.Do contrárionão haveria
tantas perguntas pessoais.
Foi uma verdadeira batalha chegar ao andar dos donos do
negócio e lá, havia outro,junto com a secretáriabaixinha que não
queria me deixar nem tentar . Então apelei. Li no crachá pendurado
no pescoço o nome do outro , FredericoToledo. O sócio. Ele tinha
uma pranchetanas mãos, os cabelos estavam meio desgrenhados
e ele era gato. Não soava tão impetuosoquanto o outro–só havia
visto por foto, então vai saber –, mas era muito, muito bonito
também. Ele achou graça da minha necessidade da entrevistae
disse que Edu jamais perderiao tempo dele com isso. E que estava
ocupado demais resolvendo problemas realmenterelevantes para
me ajudar, o peguei em um péssimo dia.
— Mas eu vou perdero meu emprego se você não me ajudar!
— eu falei com força, não poderia perder meu emprego. Morar sob o
mesmo tetoque os meus pais já era difícilpara mim, agora morar
sob o mesmo tetodeles sem dinheiro para custeara minha parte
das despesas seria completamenteinviável. Na primeirabriga eu
estariamorando em baixo de uma ponte! Certo,estavaexagerando
um pouco, mas no mínimo dificultariae muito a convivência que
nunca foi fácil.

Por um momento, esse cretino egóico me deixou falando


sozinha, achando que por ignorara minha presençaeu iria embora.
Ele atendeu uma ligação e deu uma bela bronca em alguém, pelo
que entendi, eles não poderiam atra sar essa obra e alguém cagou
com tudo. Lancei um olhar de descaso quando ele me olhou com
essa cara de “você ainda está aí?”. Depois negou com a cabeça e
saiu falando no celular, preocupado com essa merda. Mas eu
também tinha os meus problemas, não iria simplesmentedesistire
ser demitida. Fora isso eu tra
balhava muito bem, era impecável em
tudo e as minhas matérias costumavam bombar no site.
— Você ainda estáaí,é? — o sócioperguntou ao voltare eu o
encarei, era tão óbvio.
— Eu preciso da merda dessa entrevista!Você está o que?
Com ciuminho porque escolheram o bonitão pra eu entrevistar?
Acha mesmo que eu queria estaraqui me humilhando se não fosse
importante?— comecei a me alterar
, já fazia quase uma hora que
eu estava aqui em pé, enquanto esse idiota não queria facilitar
.
Notei que ele estavafalando com alguém por mensagem no celular,
estava muito impaciente lendo algo.
— Eu arrumoessa porcariase você chupar meu pau — ele
disparou irritad
o e eu grunhi de raiva, estavafazendo isso para me
fazerdesistir?Ou me assediar? De qualquer maneira, ele não faria
nada e eu não iria embora e perderiameu emprego só porque ele
foi grosseiro.
— Eu chupo! — falei com raiva, cansada de terque esperara
boa vontade desse homenzinho mimado. Não sabe nem resolvera
merda de um problema.

Ele finalmente olhou para mim, pareceu surpreso, mas


felizmentebaixou a guarda. Continuei o olhando, cruzei os braços,
parecendo segura do que havia dito, embora nem estivesse.
— Me desculpe — ele falou, respirandofundo. Correu uma
mão pelo cabelo desgrenhado e eu notei que até poderia me atrair
por ele, realmente — me desculpe, estou em um dia ruim. Eu vou
falar com ele, mas não prometo nada.
— Só saio daqui com a entrevista
— dei um sorrisofalsoe me
sentei em um dos sofás na sala de espera.

[...]

Algum tempo depois, saí da sala com tudo que precisava.


Eduardo Toledo contornouas perguntassobre sua vida pessoal,
disse apenas que não tinhanamorada e não queria mais falarsobre
isso. Mas foi bem decidido nas perguntasprofissionais,ele e Fred,
segundo ele, formavam a dupla perfeita e todos os seus
funcionárioseram tão aptosquanto os dois para executaremo que
qualquer cliente desejasse. Quis dizer que não era o que parecia,
quando o tal Fred estava maluco por um errode iniciante pouco
tempo atrás, mas fiquei quieta.

Quando entrei no elevador, Frederico me seguiu. O olhei,


fazendo pouco caso das suas desculpas, ele foi ultrajante.
— Sério, eu to me sentindo péssimo — ele voltou a dizer,
dessa vez mais calmo, e eu o olhei, era uma mentira óbvia —
estavacom um problema para resolver
, você me deixou sufocadoali
em pé, insistindo.
— Então a culpa foi minha — pontuei, o avaliando e ele negou
com a cabeça rapidamente.
— A culpa foi minha. Por isso, estou me desculpando.
— Hum.
— Não vou conseguir dormirà noite, se você não disser que
estou desculpado — ele falou, me fazendo querer rir , mas me
contive.
— Está desculpado.
— Assim não me convenceu — ele falou, me olhando mais
profundamente— diz assim:está desculpado e eu aceito sair com
você hoje.
— Não houve um pedido, não tem o que aceitar — retruquei.
— Aceita sair comigo hoje?
— Hoje eu não posso. Mas eu aceito— eu falei e ele pareceu
surpreso — outro dia.

[...]

No apartamentodo meu primo e sócio, ele ria do vídeo que a


Luísa havia mandado, da Bruna rasgando e cortando todas as
minhas roupas. Eu não dei importância,servi mais uma dose de
uísque e virei de uma vez.
— Espero que isso sirva de prova pra alguma coisa —
resmunguei,mas já estavaacostumadocom os excessos da Bruna.
Sempre causava e fazia escândalo.
— Não dou um mês e você já está lá, convencido a tentarde
novo.
— Esse é o ponto. Não vou mais ouvir minha mãe — falei
indignado — não tem nada pra ser restauradoali. Entende?
Passamos esse tempojuntosporque ela ficougrávida, mas... Porra,
desde quando disseramque eu ia terque me casarque eu falo que
não quero! Bruna não me suporta e eu não a suporto também!
— Depois sua mãe morrede sofrimento e te convence a voltar
— ele repetiu o repertorio e eu assenti sufocado.
— Não vai ser assim dessa vez.
— Ela tem medo que você faça como eu — Edu zombou e o
olhei — que decida não querer mais se casar. O que vai ser dela se
o único filho não tiver uma família feliz?
— Você também não pode zombar da minha cara de idiota —
eu provoquei — qualquer dia desses Luísachega aíe tearrastapro
altar
.
— Ela nunca vai conseguir. Nem ela e nem ninguém — ele deu
um sorrisozombeteiroe depositou o copo de volta na mesa de
centro— se eu conseguisse fazê-la entender , jamais deixaria que
passássemos por essa relação ridícula. Me envergonha.
— Não parece te envergonhar . Já faz mais de cinco anos que
está nisso.
— Sim, porque ela não aceitae não vai viver a vida dela. Não
posso fazer nada — ele deu de ombros,acomodado com a situação
— pensei em chamar a garota da entrevistapra sair, qualquer dia
desses. Peguei o telefone dela com o fotógrafo.
— Eu vou sair com ela — contei, porque sabia que Eduardo
teriamais chance do que eu com a mulher que quisesse. Não falo
só fisicamente, mas ele era mais acostumadoa fazerisso do que
eu, o cara que vivia preso como um condenado em um casamento
que nunca deveria ter acontecido. Ele me olhou surpreso,mas
acabou sorrindo presunçoso.
— Por isso saiu de casa...
— Eu sei que fui um péssimo marido pra Bruna, mas eu ainda
não sou um traidor— eu falei, o fazendorir
, porque houveram crises
em que eu e Bruna saíamos com outraspessoas. Tecnicamente,
nos traímos, mas ninguém se importou.
— Ela não vai aceitarque não seja traição,você sabe disso —
ele avisou.
— Mas eu saíde casa, nós já estávamosdormindo em quartos
separados há semanas. Não estou traindo ninguém — eu falei
enfático— se ela conta isso e minha mãe descobre, morre do
coração na hora.
— Tia Nair é muito dramática.

Eu já estava pronta no horário marcado. Saí do quarto


segurando as sandálias de saltos altos nas mãos, torc
endo para
todo mundo já terido para o quarto.Saí sem fazerbarulho, não
queria ser questionada, muito menos ouvir insultos gratuitosessa
hora da noite.

Fiquei nervosa, por um momento achando que não deveria ter


aceitado o convite. Ele me insultou e depois me chamou para sair,
provavelmentesó queria me levar para a cama. Não que fossemau,
também. O último cara com quem eu saívirou namorado da minha
irmã.

Quando Fred desceu do carro e veio me encontrar


, nos
cumprimentamoscom beijo no rostoe ele deu um sorrisobonito.
Porra, ele era muito bonito. E cheiroso.
O jantar foi uma delícia. Não só a comida, o restaurante
luxuoso, mas ele, que além de lindo era muito engraçado.
Passeamos por todosos assuntos,inclusive a mãe dramáticadele.
Desviei quando ele questionou sobre a minha, o que eu iria dizer?
Brigamos desde que eu tenho cinco anos de idade e os motivoseu
não sei dizer? Jamais falaria.As coisas pioraramcom o nascimento
da minha irmã, quando eu tinha sete anos, mas eu não estava a
culpando por isso.

Do jantar, esticamospara uma boate, onde os amigos dele se


encontravam.Lá conheci Ravi, e Edu falou comigo de uma maneira
casual. Os dois estavam acompanhados de modelos bonitas e
sensuais demais. Não que me importasse,mas foibem estranhover
a loira lambendo o ouvido de Ravi, enquanto deviam falar
sacanagens.
— Ele é nojento, não liga não — Fred falou para mim, que o
olhei e sorri fraco,envergonhada por ser pega observando. Ele
trouxebebidas para nós dois e ficamosali. Eduardo e a outraforam
embora pouco tempo depois, ele parecia sisudo, cheguei a
perguntar para Fred se ali era a namorada, mas ele riu e disse não.
Ele reclamou que eu queria falarsobre os amigos dele, mas
deixei-os de lado e falamos sobre a nossa noite, sobre nós dois
aqui, do nada.
— Você não teria tido a sorte de sair comigo, se não me
arrumassea entrevista— eu provoquei e ele, que inclinava o rosto
para vir me beijar, deu um sorrisosorrateiro.
O olhei uma última vez
e quebrei o espaço que faltavaentrenós dois, começando um beijo
suave. Ele trouxeuma mão, a emaranhando pelos meus cabelos e
tomou o controle da situação, nos envolvendo mais no beijo.

Sei que tudo pareceu quererpegar fogo entrea gente ali. Mas
não quis apressarnada, pelo amor, era o primeiro encontrocom
esse cara. Se ele queria sexo agora, teriaque tomaro primeiro
passo.
Fomos embora quando Ravi saiu por alguns minutos e voltou,
não só com a modelo loira que o acompanhava, mas duas delas.
Achei divertidoo fatode Fred achar que eu me assustariacom
aquilo. Não que fosseadepta a esses fetichesou orgias, mas não
iria condenar ou me assustar com quem praticava.

Ele ficouse desculpando pelo excesso do amigo, mas eu ria e


revirava os olhos. Estava tudo bem.
— Tem algum compromissoamanhã cedo? — ele perguntou,
enquanto dirigia.
— Amanhã, não — eu falei — não trabalhoaos sábados — na
verdade, eu não deveria trabalhar
, mas a minha chefa arrumava
alguns extraspara mim e outrasfuncionáriasem alguns sábados do
mês.
— Não quer ir ao meu apartamento?Achei que poderí
amos
beber alguma coisa, conversar um pouco mais.
Quando chegamos, ele entrelaçouas nossas mãos e acenou
para o outro,que bebia sozinho no apartamentogigantesco. Uma
verdadeira obra de arte, minha amiga Jordana diria.
Subimos diretopara o quarto. Lá, ele me puxou pela cinturae
começamos um beijo que mais parecia um carinho. Afundei minhas
mãos em seu cabelo, o puxando e ele entendeu que não precisava
sercauteloso,eu tinhaconsciência do que faríamos
aqui. Se iria me
arrepender? Já não sabia, mas provavelmente não.
Encerrei o beijo e dei um selinho preciso em seus lábios,
depois me afasteie olhei o quarto.Achei que encontrariaalgo mais
pessoal, mas era bem cético.
— Estoumorando aqui faz poucos dias... Na verdade até meu
apartamento ficar pronto.
— Hum, entendi — comentei — mas aqui é enorme, cabe
vocês dois.
— É, mas Edu gostada privacidade dele — ele resmungou —
e eu não quero incomodar
.
— Não são amigos?
— Sim... Na verdade primos também — ele falou, parecendo
atrapalhadoe veio até mim de novo, me puxando pela cintura—
quer ficar só conversando?
— Prefiroque me beije — falei, levando uma mão para o seu
rosto, a roçando na barba e logo escorreguei pelo cabelo.

Dessa vez, parecemos mais conectados ainda. As mãos


exploravam mais, ele me acariciava e apertava, estava delicioso.
Fred me levou para a cama e eu caí deitada nela, mas me
apoiei nos antebraços.Ele tirouas minhas sandálias e subiu a mão,
me acariciando até que subiu o meu vestido. Eu o olhei, por um
momento pensando se faríamos apenas uma vez e nunca mais, ou
se nos veríamos de novo. Mas não me importaria com isso agora.
[...]

Todo mundo sabe que quanto mais se faz sexo, mais


habilidade se adquire. Quer dizer, não adianta você terinformação,
habilidade e até mesmo experiência se não tiver um bom parceiro.

Poderia dizer que eu tive bons parceiros.Em vinte e trêsanos


de vida, nunca havia experimentadoa conexão com esse que me
tomava por tráse puxava o meu cabelo com uma pegada que me
deixava maluca.

Fred correu uma mão pela minha bunda, afastando uma


nádega da outra.Ok, era cedo e saímos apenas trêsvezes, digo
sexta,sábado e domingo, mas ele queria o meu corpointeiro.Todas
as parte
s dele. E fazia tudo ser tão gostosoque eu queria apenas
entregar
. Sem joguinhos ou provocações.
Ele roçou suavemente o polegar no meu ânus, me fazendo
contraire deu um riso, arfandoe meteu fundo, ficando e gemendo
áspero junto comigo. Empinei mais o quadril, o acomodando dentro
de mim e puxei a mão que me acariciavaatras,para ele fazerisso
no meu clitóris que pedia atenção.
— Se você fazassim — orienteie ele gemeu ansioso, metendo
mais rápido e resfolegando.
— Você goza — sussurrou,sabia que estavano limitetambém.
A massagem no meu ponto sensívelveio do jeito certoe eu fechei
os olhos, me deixando ser dominada por ele. Nós dois gemíamos
alto, estava tão gostoso. Não sabia nem dizer quando foi mais
gostoso,se a primeira,a segunda, ou essa. Todas as vezes foram
incríveis demais.

Talvez a segunda vez tenha sido mais carinhosa, fizemos


agarradosde frente,no meio da noite, preguiçosose excitados.A
primeira,estávamos no conhecendo. E agora, estávamos indo ao
limite de tudo.
Ele deu um arquejo bem áspero quando me empurreipara trás
e apertei os olhos, tentandonão gritar
, meu orgasmo veio mais
violento do que eu esperava e eu tremiinteira,me esfregandonele
que não parou até que eu estivesse caída na cama.

Mamãe estavado outrolado da minha mesa, falandoe falando


sobre como eu não poderia abandonar um casamento dessa
maneira. Que no tempo dela, as pessoas reconstituíam,se
apegavam às promessasde Deus para suas vidas e consertavamo
que estava dando errado.

Por Deus, eu nem teriao que remendarnaquele caos, porque


eu e Bruna não nos suportávamos.Ela rasgou todas as minhas
roupas e ok, eu não sairia pelado por aí, mas foi prejuízo do
caramba.

Não queria ser a vítimada relação, não era. Eu não era um


bom parceiropara ela. Dava dinheiro, mas não tinha nada além
disso para oferecera ela. Nosso casamento falido estava nos
tornando péssimos pais. Eu queria que meu filho tivesse um
exemplo que pudesse seguir. Refém da mãe dele, eu me tornava
um cara que eu não queria ser
.

A deixei falare abri a mensagem de Marina, uma fotodela só


de calcinha, uma vermelha rendada e bem transparente.Era a
respostapara a fotoque enviei do meu pau ereto,querendo o calor
da boceta dela.
— Ela disse que você está a traindo— mamãe falou e eu
bloqueei a tela do celular, a olhando finalmente— mas que está
disposta a perdoar
.
— Meu Deus — eu falei cansado, sufocadodessa insistência
— eu não estou traindo a Bruna, mamãe. Eu saí de casa. Já
estávamoshá semanas em quartosseparados.Custaentenderque
não dá mais?
— Ela ama você — ela falou, tão desacreditadaporque sabia
que não amava. Se Bruna me amasse, mesmo sem ser recíproco,
pelo bem do nosso filho eu tentariaaté o fim — Você acha que vale
a pena trocaro casamento pra viver... — ela pareceu pensar —
igual ao Edu? — perguntoutão incrédula que pareceu choramingar
,
sempre tão dramática.
— Se insistiremnesse casamentoque vou viver igual ao Edu.
Vou pagar de louco, igual ele faz,dizer pra todomundo que não sou
casado e deixar ela ser doida sozinha.
— Você está saindo com outra, Frederico?
— Estou— falei com firmezae ela me olhou surpresa— estou
e não quero parar. Não quero que ela sinta que é minha amante,
uma vez que ela não é.
— Quem é a moça? — ela perguntou desconfortávele eu
suspirei, negando com a cabeça. Marina não parecia dessas
mulheres que sai com o cara e almeja o relacionamentosério. Mal
me dava abert ura para entrarem sua vida. E tudo bem, estávamos
saindo há duas semanas. Tempo equivalenteao que eu saíde casa.
Não havia motivos para apressarmos as coisas.
— Você não conhece.
— Leve-a ao jantarde Natal— ela faloue eu quis rir
. Duvidava
de Marina aceitar — preciso conhecê-la. Saber se eu aprovo.
— Mãe, eu não vou levar ninguém para esse jantar . Eu vou
sozinho. Espero que não chame a Bruna.
— Ela é a mãe do seu filho.

Por sorte,Edu chegou à minha sala e mamãe se despediu. O


encarei, querendo que ele entendesseatravésda minha expressão,
que eu não queria ser coagido a tentarsalvar o que não tinha
salvação.

Na noite da sexta-feira,saímos. Eu, Edu e Ravi. Eles


reclamaram quando passei para buscar Marina, mas não me
importei. Ravi pagava pau para essas modelos, mas eu tinha
Marina. E ela me dava o melhor sexo que eu já tive na vida.
Considerando que eu não tive a chance de conhecer centenas de
corpos por aí. Mas, de qualquer maneira, isso pouco interessava.

Ficamos pouco com eles, porque Edu fezo favorde avisarque


Luísaestavavindo. E se me visse com outra,iria acionar a maluca
da minha ex.
— Pareceuapressadopara sairmos— Mari comentou,quando
chegamos ao apartamentode Eduardo e eu fechei a porta, me
virando para ela depois.
— A amiga da minha ex estava indo pra lá — expliquei — sinto
muito, não queria que nos envolvesse em alguma cena.
— Faz muitotempo que terminaram?— ela perguntou,indo se
sentar em um dos sofás.
— Na verdade, ainda estamos no processo de divórcio —
contei e ela virou para mim rapidamente— mas será resolvido em
breve.

Não soube se ela acreditougenuinamente em mim, mas era


hora de começara dizer verdadesinteiras,se eu quisesse fazerisso
continuar. E eu queria que continuasse,era a primeiravez que eu
experimentavaalgo pertode uma relação que era gostosa de se
viver.
C 01
Marina Marques

Dias atuais...

Eu estavaprontano meu quartoà esperade Frederico.Irí


amos
jantarnos seus pais, depois esticaríamos
para alguma balada, onde
beberíamoso suficientepara passarmosum tempo reclamando da
ressaca amanhã.

Saí do meu quartopara beber água e esbarreicom a minha


mãe na cozinha. Ela, Dona Margarete,não perdeu a chance de me
lançar esse olhar de escárnio, me analisando de cima a baixo.
— Vai pra onde vestidadesse jeito? — perguntoue eu a olhei
de volta, mas antesque pudesse pensar em responder , ela atalhou:
— está parecendo uma vagabunda nesse vestido decotado.
De qualquer maneira, não respondi. Já tenteibuscar algo que
explicasse nossa péssima relação, mas o que realmente se
aplicava? Era assim estranhacomigo, mas na contramãoadorava a
filha mais nova, Tereza. Nós duas éramos irmãs de sangue, mas
crescemos parecendo duas rivais.

Minha mãe não perdia a chance de insultar


, brigar
, me culpar e
causar cenas em que meu pai conivente se fazia de cego por não
tercoragem de me defender
. Eu ainda não era a expertem lidar, as
reações saíam do meu controlemais fácil do que eu gostava, por
isso, tentavaao máximo ignoraras provocações.Estava realmente
cansada de comprar brigas que não aguentava pagar
.

Fred deveria, sim, me agradecer por mantê-lo longe dessa


família desmantelada. Digo em relação a mim. Eu era a filha
indesejada? Vai saber, mas eu lidava com o descaso e desprezo de
quem deveria cuidar de mim desde muito nova. Não houve uma
fase em que fomos mãe e filha, como ela era mãe para ereza.
T

Bebi água e volteipara o meu quarto,onde Tereza estava,com


o guarda-roupa abertopara pegar algum vestido meu. Desde que
comecei a sair com Fred, os lugares que frequentávamosexigia
roupas mais requintadas, o que rendia vários questionamentos
sobre com que dinheiro eu comprava os vestidos caros. Estavam
longe de ser as grifesmilionárias que Chiara usava, por exemplo.
Mas era com o meu dinheiro, do meu trabalho.Não havia um velho
rico me bancando e mesmo que meu namorado de trintaanos
vivesse me oferendo coisas e até mesmo dinheiro, eu não aceitava.

O meu sonho de consumo era conseguir juntar dinheiro o


suficientepara sair de casa, mas o que eu ganhava não era muito.
Ajudar nas despesas de casa e manterdespesas pessoais levava
todo meu salário. E Frederico não poderia sonhar que eu, pelo
menos, queria mais dinheiro, senão iria fazeralgum drama sobreeu
não aceitar ajuda dele.
Nossos maiores desentendimentos atuais eram porque ele
estava mortode inveja da nova vida de Edu e Jordana. Ele queria
um contode fadas também. Soava patético,ele, namorarcomigo, e
querer viver num reino encantado.

Não falei nada sobre minha irmã pegar minhas roupas


emprestadas, porque qualquer comentário se tornaria uma
discussão sobre meu egoísmo e petulância nessa casa. Já havia
aceitado e desistido de nadar contraelas duas, porque qualquer
palavra entendida errada por elas, causava um cenário de três
contra uma, e eu não conseguia lidar
.

Peguei uma bolsa onde havia colocado o que precisariapara


um fim de semana com ele, sem ter que vir para casa.

Fred chegou e eu desci sem nem me despedir, mas ao passar


pela sala, minha mãe fez questão de dizer ao meu pai sobre a
minha roupa e sobre não saber para onde e o que eu estava indo
fazer
. Já que nos finais de semana eu desaparecia, então só
poderia estarfazendo vida. Só isso explicaria
de onde vem o meu
dinheiro.

Meu trabalho de segunda à sexta em uma agência que


controlavavários nomes da mídia digital, obviamente não contava.
Ela duvidava muito que algo ligado a internetpudesse dar algum
dinheiro.
Fred pressionavasobreconhecerminha família,mas qual seria
o sentido de colocá-lo perto delas? Meu pai, eu não sei,
provavelmenteseria amigável, mas e elas? Iriam fazero possível
para nos afastar
.

“O bom de terduas avós neuróticas,é que se eu quiser sumir


por duas semanas, a Helena não vai ficardesamparada”— Jordana
enviou uma mensagem, junto com uma fotodela segurando a filha
no colo, as duas em frenteao espelho. Como se ela fosse mesmo
sumir por duas semanas. Sair uma noite sem a menina já a deixava
maluca de saudade.

Entrei no carro de Fred e me aproximei para selar nossos


lábios tername nte. Ele me olhou sorrateiro,
achei que me daria um
beijo carinhoso, mas levou a mão para a minha nuca e me puxou
bruscamente,enfiando a língua na minha boca em um beijo que no
primeirosegundo foi desencontrado,mas logo depois levei as duas
mãos para o seu rosto e nos sincronizei.
— Mortode saudade — ele avisou e eu revireios olhos, rindo
dele.
— Edu e Jordana já estão na casa dos seus pais — eu
comentei e ele ligou o carro, trocando a marcha para nos tirar dali.
— Minha mãe está aproveitando a Helena, antes que a tia Nora
chegue — ele falou — você já vai preparada pra pressão psicológica
que ela vai fazer
.
— Claro — revirei os olhos.
Quando chegamos, cumprimentamostodo mundo e fomosnos
sentar
. Meu sogro serviu Gin para mim, e Fred serviu seu próprio
uísque.Depois ficoumais pertoda portaenorme de vidro que dava
para a lateral da casa, com seu pai e Edu.
— A mãe de Fred já fica completamentealucinada com a
sobrinha-neta— Jordana falou baixinho quando me sentei ao seu
lado — quando for um bebê de Fred, então... Vai ter quarto,
brinquedoteca e casa na Disney assim que nascer.
— Ela já tem um neto — eu disparei, mas me dava pânico
pensar no assunto. Jordana olhou para mim, me analisando.
— Pelo que Edu diz, Fred está louco pra casar, terfilhos... —
ela arqueou as sobrancelhas. Eu desviei o olhar e bebi um longo
gole da minha bebida. Olhei em direção ao Fred, sempre animado,
mesmo que fosse um louco que perdia a composturaquando se
irritava.Ele era a minha parteleve na vida, mas eu não queria
apressar nada.
— Eu acho que estou muito nova ainda — eu falei e dei de
ombro, mas ela riu e negou com a cabeça.
— Eu acho que você traçouuma meta,mas que talvez,poderia
reconsiderar. Casar com ele, ter uma festa incrível...
— Eu não quero casar agora. Não quero sair da casa dos
meus pais pra casa do meu namorado — eu falei,na minha linha de
raciocínio,eu precisava de condições financeiraspara terminha
completaindependência, e só depois pensarem um relacionamento
dessa maneira. Quando conseguiria? Só Deus poderia dizer
.
— Não quer sair de uma prisão e se sentirem outra— ela
completoue eu suspireia olhando culpada — não deveria ver como
prisão. Olha só, Edu não conseguiu morar por muitos meses no meu
apartamentopequeno e nos mudamos para o dele, mas eu não me
sinto presa a ele. Eu me sinto completa.
— Se algo der errado,você tem pra onde voltar— eu precisei
dizer. Era muitofácilapontarsolução para a vida dos outr
os, usando
os meios que resolveriama sua. Jordana tinha um apartamento
próprio,uma boa renda mensal, avó e mãe que faziam de tudo por
ela. Se amanhã Eduardo desse um siricuticode que não queria
mais, o que eu duvidada muito, ela não ficaria desamparada.

Se eu cedo para o Fred, me caso com ele e depois dá tudo


errado, eu estou ferrada.
— Você é muito pessimista— ela falou baixo, mas eu estava
mais para realista.Para encerraro clima tenso, minha sogra veio,
meio descabelada segurando os bracinhosda Helena, para ela dar
passos rápidos.
— Se ela continuarassim, vai andar antes de completarum
ano! — ela falou empolgada e soltou a pequena, que deu dois
passinhos e Jordana a segurou.
— Entreandar e falarmamãe, vocês já sabem o que eu prefiro
— Jordana falou azeda — porque papai ela sai repetindo
loucamente por aí!
— Papá! — Helena repetiu , parecendo se divertircom a
conquista e Jordana revirou os olhos.
— Aquele... Moço! — ela falou brava, me fazendo .rir

Os pais de Edu chegaram, e Helena, por incrívelque pudesse


parecer, adorava o avô. O homem tinha sortede Jordana ser tão
boazinha. Não achava que todomundo superariafáciltodaa ofensa
e dúvida sobrecarátere deixaria tudoficarbem. Mas hoje a relação
deles já havia melhorado bastante.Jordana disse que foi por um
bem maior, não valeria a pena deixar a relação de toda a família
estremecida.

A competição da vez era se ela falaria vovô, mas Jordana


ficava repetin
do mamãe o tempo todo. Durante o jantar , ela
balbuciou um mam. Não foi um mamãe, mas a mãe de Helena
comemorou muito. Eu notava Fred admirando de longe, mas nunca
falava sobre isso. Eu sabia, pelo que conhecia dele, que se
martirizavaporque se não fossea minha decisão de abortaraquela
vez, poderíamos estar passando por algo parecido.

Se eu me arrependia?Talvez. Mas já havia me convencido de


que foi a escolha certa.Eu não estava pronta.Eu não tinha base
familiar
, estavadesempregada.Minha vida se tornariaum pesadelo.
Na percepção de Frederico,não, obviamente. Ele seria o cara que
custeariatudo. Para ele, a vida era simples. Era fácil.Ele tinha pais
que o adoravam e faziam qualquer coisa para vê-lo feliz. Era sócio
de uma empresa que fazia o maior sucesso. Talvez fosse
acostumadoa tertudo no seu tempo e do seu jeito, mas teriaque
aprender a ceder e entender que esse não era o meu sonho.

E para completar:eu tinha pavor de me tornarmãe e ser igual


a minha era comigo.

Quando saímosdali, fomosnós quatropara uma boate.Eu não


me preocupava em encontrarTereza nos lugares que ia com Fred.
Porque eram realidades opostas. Então eu me sentia segura.
Dançamos, bebemos e nos beijamos muito durantea noite, sem
deixar nenhum mal estarprevalecer , por causa das indiretassobre
casamento e filhos durante o jantar
.
— Eu quero ir embora — Fred sussurrouno meu ouvido,
escorregandoas mãos para a minha bunda. Ele deu uma lambida
safada sob minha orelha, indo em direção a nuca, me deixando
mole e arrepiada — quero comer você de todas as maneiras
possíveishoje — ele continuou e eu passei um braço em volta do
seu pescoço, emaranhei a mão na nuca e o puxei para um beijo
eufórico e profundo.
— Acho que podemos ficarum pouco mais — eu falei ao
encerrare o olhei. Ele fez uma caretade descontentam
ento e eu
sorri,limpando o meu batom ao redor de seus lábios — Edu e
Jordana raramentesaem, podemos aproveitara companhia deles
mais um pouco.

Voltamos para nossos amigos e Jordana pegou uma taça de


vodca com o garçomque passava. Edu e Fred foramse sentarnum
dos sofás no canto do camarote.
— Eu apostoque eles querem ir embora — Jordana falou para
mim, os espiando — Edu quer sexo — ela falou como se fosse
segredo e eu comecei a rir
. Era bem difícilver Jordana falando algo
malicioso, mas estava bebendo, então explicava.
— Não vamos agora — eu falei brava — vai começara banda
que eu gosto!
— Não vamos agora — minha amiga replicou. Nós duas
olhamos para os dois homens sentados no sofá, bebendo uísque
caro, mas puxei Jordana. Uma provocação de Eduardo e ele a
levava para onde quisesse.

Bebemos e dançamos os sambas e sertanejosque tocava.


Jordana cedeu muito aos efeitosdo álcool e Edu a resgatou,
pedindo água para ela. Eu peguei água para mim também, e parei
em frente ao Fred, que me olhou de baixo para cima e mordeu o
lábio inferior
. Eu coloquei a garrafinhade água na mesa e me sentei
ao lado dele.
— E agora, já podemos ir? — ele perguntoue eu o olhei, me
aproximando para beijar seus lábios suavemente.
— Podemos — sussurrei,antes de começar a beijá-lo mais
sofregamente.Ele levou a mão para a minha coxa e me puxou com
força, de modo que ficamos atracados em um beijo muito malicioso.
Ele encerroue olhou ao redor. Nossos amigos já não estavam
mais ali, então também fomos embora.

Ele se serviu com uma última dose de uísque em seu


apartamentoe eu corripara o seu quarto.Antes que eu chegasse
ao banheiro, Fred me puxou e eu trombeicontraseu corpo, de
costas.Ele começou a erguer meu vestido e eu joguei a cabeça
para trás,procurandopor sua boca. Ele deu um sorriso safado,
roçandonossos lábios e ainda lambeu os meus, mas não me beijou.
Fred me empurrou,me segurou e me virou bruscamente,me
mantendo firmesob seus comandos e eu arfei.Depois ele ergueu
meus braços e tiroumeu vestido. Eu ia tirara calcinha, mas ele
segurou minhas mãos e negou com a cabeça.
— Você vai me maltratar
— presumi, mas maltratarnão era o
termocerto,uma vez que eu só recebia estímulosde prazer
. Ele
deu de ombros.
— Se você acha assim — falou despretensiosoe me levou
para a cama.
— Vai me amarrar? — perguntei e ele riu.
— Vou, senão não consigo fazer metadedo que planejei — ele
explicou — afinal você é uma pervertida.
— Você pareceu tergostado — eu retruqueipetulantee ele
desceu uma mão macia para a minha bunda, acariciou e deu um
tapa leve — eu gosto que me bata — eu provoquei e ele deu um
tapa forte, depois bateu com os joelhos nos meus, me fazendo
tombarpara cima da cama. Eu subi ajoelhada, mas me virei para
ele, que fez um bico luxurioso e olhou para os meus seios.

Achei que dominaria meu namorado, parecia fácil quando ele


deixava, mas ele me tomou em um beijo apaixonado e ardente,
molhado e profundo,tão perfeitoque eu latejava no ponto mais
íntimo. Fred me dobrou tanto, que apenas cedi tudo para ele.
Quando dei por mim, ele pegou uma gravatae amarrouas minhas
mãos, e me prendeu na cabeceira da cama.

Num primeiro momento, cheia de tesão e querendo ser


saciada, eu protestei,mas depois, quando ele beijou meu seio,
lambendo com a língua quentinha e mordiscando,eu deixei e soltei
o ar.
— Me consola muito que não importao que você faça — eu
comecei a dizer ele parou com a língua no mamilo intumescido e
olhou para mim — eu vou gozar muito gostoso...
— Sim, você vai — ele concordou, indo beijar o outroseio, o
colocando o quanto conseguiu na boca, mordiscando e lambendo. O
que foi feitopor todo meu corpo. Eu achei que ele fosseme fazer
aquelesexo oral que só ele sabia, mas quando ia chegando ao cós
da calcinha, voltou e subiu para os meus seios. Meu gemido
protestante o fez rir e ele acariciou a boceta sobre a calcinha.

Fred parou e tiroua camisa de linho branca, os sapatos e a


calça. Eu revirei os olhos vendo esse corpo perfeito,estava tão
ansiosa para tê-lodentrode mim, para ficarmosenroscados atéque
só restasse alívio sobre nós dois.
Ele veio entreminhas pernas e enroscou os dedos nas alças
da calcinha, me chupando a região pélvica, cada centímetro
que ia
descobrindo até que a língua sedenta e macia alcançou meu lugar
necessitado de carinho. Eu não sabia se olhava para ele, se fechava
os olhos e aproveitavaa delíciaque era esse homem me devorando
inteira,a língua me dominando, explorando cada pedaço da minha
carne sedenta. Ele chupava os lábios íntimos,mordiscava,enfiava
a língua em mim e gemia comigo. Não, na verdade, eu gritava e me
contorcia.
A respiração ficou falha, meus gemidos pareciam um choro e
eu mordi meu lábio inferior
, ergui os quadris em direção dele, mas
depois de uma chupadinha suave no meu clitóris,ele me deixou. Eu
tranqueia respiração,ficando com raiva dele por terfeit
o isso, por
ter parado no meu momento mais importante disso tudo.
— Eu odeio você — faleibaixinho, mas ele apenas riu e deu de
ombros.
— Vai gozar meu pau todo dizendo que me ama — ele falou,
vindo me soltar
. O olhei brava, mas ele puxou a cueca para baixo e
parou em minha frente.Eu o olhei, abrindo os lábios para recebê-lo.
Lambi a cabeça do pau ereto, limpando a lubrificação que ele deixou
escapar. Fred então segurou minha cabeça, movimentando para
dentroe gemeu satisfeito.
Nos olhamos e eu relaxei a garganta,ele
veio fundo e estremeceuum pouco, o corpo contraiue a cabeça
tombou. Levei minhas mãos para o seu quadril e o levei mais além,
tentandonão engasgar com ele todo dentro.Fred deu um gemido
desesperadoe áspero quando o levei inteiropara dentro,mas logo
voltei e ele me puxou pelo cabelo, se abaixando para me beijar e
logo depois me colocou sentada em seu colo, estocandobem fundo
dentro de mim.
Começamos devagarinho, eu indo e vindo sem muita pressa,
deslizando sobre ele. Mas logo ele me puxou pela bunda e nós dois
gememos com força.Foi questão de segundos para estamosnum
sexo eufórico, delicioso. Nos sincronizamos perfeitam
ente e eu
comecei a quicar, levei as mãos para meus cabelos e joguei a
cabeça para trás.Nossos gemidos perdiam o controle,saíam fora
de tom, mas a cada estocada dele em mim, eu ficava louca.
Subimos tão alto que parecíamos um só, loucos buscando alívio.
Ele abocanhou meu seio, sugando fortee eu quebrei, afundei uma
mão em sua nuca e o segurei, me apoiando, gozando tão
intensamentee rebolando impetuosa, com força.Fred começou a
investirde volta, gemendo áspero e no momento seguinte senti os
jatos no meu ventre.
Me senti tão cansada depois da euforia,que ele me pegou e
me deitou na cama, puxei os lençóis e me cobri.Fred deitouao meu
lado depois de apagar as luzes e dormimos agarrados,suados e o
mais importante, saciados um do outro.

[...]

Pela manhã, acordamos com sua mãe avisando que viria tomar
café conosco. Fred relutou, mas já havíamos acordado, de qualquer
jeito. Deveríamos ter levantado, tomado banho e descido para
esperar sua mãe, mas estava tão gostoso sob os lençóis que
começamos e nos agarrar
. Eu só me empurrei um pouquinho e
empinei o bumbum, o bastantepara o pau vir no caminho certo,
todinho para dentro.A mão dele estava na minha coxa e o rosto
afogado em minha nuca. Ele dava gemidinhos curtos, me apertava e
puxava para vir mais fundo.
Não estávamos nem perto de gozar, quando a mãe dele
começou a bater na porta. Não respondemos, por isso, ela entrou.

Numa reação habilidosa, nós dois fingimos estardormindo.


Nair fez um barulho de descontentamentoe saiu puxando a porta.
Logo depois Frederico começou a rir
.
— Ela só vai pararquando pegar a gente numa posição bem
exposta — ele falou e eu tive um calafrio por pensar
.
— Com certeza,eu terminariacom você, só pra nunca mais ter
que enfrentá-la— falei, ficando nervosa só por pensar — vou tomar
um banho pra recebê-la direito.
Fred veio junto e terminamoso que começamos, no chuveiro.
Nos trocamose descemos animados, nem parecia que bebemos
todas na noite passada.
C 02
Frederico Toledo

No domingo pela manhã, prepareium caféda manhã delicioso


para nós dois e levei para a cama. Coloquei uma rosa vermelha e
peguei o maldito anel, que andava guardado comigo para que no
momento certo, elanão tivesse como escapar .

Só poderia ser uma provação divina, mas eu nunca vi alguém


tão irredutívelquanto Marina. Não havia um motivo coerentepara
suas recusas, ela apenas não estavapronta.Não iríamosnos casar
no dia seguinteao pedido, mas eu precisavadessa confirmação,de
que nós dois teríamos um rumo, que iríamos além.

Não aceitava mais a históriade teracabado de me separar


. Já
se fora
m dois anos, eu não me separei almejando solteirice.Mas
porque não amava aquela mulher, porque me casei forçado,porque
me fizeramacreditarque era a coisa certa.Ela engravidou e meu
filho precisava de uma família.Demorei a me dar contade que pais
separados e felizes era muito mais saudável do que juntos e em
guerra.

Não que eu e Bruna não vivêssemos em guerra hoje, mas


conseguíamos criar nosso filho sem muitos conflitos.

E eu queria mais filhos, queria uma famíliacompleta. Sendo


mais sinceroainda, queria algo parecido com o que Edu e Jordana
construíam.

Marina sorriupara mim, ao me ver sendo carinhoso logo pela


manhã, mas pareceu ter notado algo errado e pegou o celular.
Atendeu uma ligação, que por Deus, eu nem ouvi chamar, se vestiu
apressada e saiu correndofeitouma maluca. Fechei os olhos por
um momento e solteio ar, não era a primeiratentativaque ela saía
correndo. Parecia adivinhar
.

Mais tarde, ela ligou avisando que estava com Jordana no


apartamento deles.
— A Denise está aqui também — ela contou, parecia nervosa.
— Está tudo bem? — pergunteidesanimado e ela suspirou,
chegando a rir
.
— Claro. E você?
— Você saiu correndo — eu rosnei.
— Tive um imprevisto — ela falou como se fosse verdade.
— Eu quero me casar — falei pausadamente.
— A ligação está péssima, preciso desligar. Te amo muito,
beijo! — ela falou apressada e desligou antes que eu dissesse algo.

Joguei o celular sobre a cama e respirei fundo. Se havia mulher


mais complicada e indecifrávelque Marina, eu desconhecia. Eu
entendia que ela não queria depender de mim, não estavaimpondo
ser seu patrocinador . Queria ser parceiro,que morássemosjuntos,
que a nossa vida fosse pensada juntos. Que pudéssemos fazer
planos além de qual festavamos na semana que vem, ou que
restaurante vamos jantar
.
— Tô muito frustrado— resmunguei com Edu, na segunda-
feira,quando entreiem seu escritório.Olhei para ele, que estava
empenhado em fazer a pequena Helena andar .
— Jordana não entende Marina também — ele comentou— e
olha que eu achei que o problemático fugindo de compromisso fosse
eu — ele zombou e eu fiz uma careta.
— Nós temos um compromisso — falei com força — não
consigo entender por que ela foge tanto.
— Ela tem o que? Vinte e cinco anos? Tá nova pra casar
.
— Jordana temmenos e estáaí,sendo a princesado seu reino
— eu resmunguei azedo e Eduardo riu.
— Jordana queria ser a princesa — ele explicou — e eu me
esforçopra dar isso a ela. Marina não parece querer. Além do que,
tem essa conversa sobre não se dar com os pais.
— Mais um motivo pra vir morar comigo.
— Você precisa desacelerar , Fred. Estão juntos, estão bem...
No tempo certo, as coisas vêm pra vocês.
— Ela poderia engravidar . Mas aí ela vai lá e tira —
resmunguei e ele me olhou feio — eu não digeri isso ainda, me
desculpa.
— Você precisapararde pressionar . A coitadaparece estarte
decifrandoo tempotodo,só pra conseguirfugira tempo— ele falou
e eu o encarei entediado.
— Eu sequer conheço os pais dela — falei decepcionado — ela
tem vergonha de mim, é isso?
— Sério, cara? Você acha isso? — Edu perguntousarcásticoe
ergueu a filha no colo — Helena falou mamãe — ele contou e a
pequena repetiua palavra. Sorrifraco,desanimado — Jordana está
radiante.
— Eu nunca vou viver isso? — perguntei inconformado.
— Claro que vai... — ele falou para me animar — e vai viver
melhor, porque vai planejar. Sei que estamos muito bem e felizes
agora, mas eu e Jordana sofremos muito antes disso.
ocêV e Marina
não precisam sofrer.
— Sofrermais, você quer dizer? Porque eu a perdoei, agora
ela cria outro problema?
— É ela quem está criando? — Edu indagou e eu o encarei,
piscando devagar. Jordana veio buscar a pequena, havia passado
para fazer uns exames. Ainda perguntei, preocupado, se estava
tudo bem.
— Controle de natalidade — ela falou e Eduardo fez um
barulho descontente— tenho que fazeralgo contraas novenas da
mãe dele sobre engravidar logo.
— Mas vamos teroutrobebê, não vamos? — Edu perguntoue
ela o olhou, cerrando os olhos.
— Você estábem, Fred? — ela perguntoupara mim, para fugir
do noivo.
— Está sofrendo como eu. Porque ele quer ter filhos também.
— Vocês já têm — Jordana falou azeda e o olhou brava —
parece até que não está satisfeitocom a Helena — ela cerrouos
olhos para Eduardo, que cresceu os olhos, incrédulo.
— Estou! — ele faloualtoe bravo — você quer jogar a situação
contramim? Eu só quero mais filhos, pra somar. Eu AMO a minha
filha.
— Gostou do sentimento?— ela indagou — assim que me
sintocom a pressão de vocês. E a sua mãe já táme deixando doida
com as ideias malucas da festade um ano da Helena! E eu já vou
indo, tenho um dia cheio hoje!
— Como está a Marina, Dana? — pergunteie ela me olhou
rapidamente.
— Fugindo — Jordana deu de ombros e começou a rir— ela
chegou lá em casa apavorada. Me desculpe, Fred, mas você
poderia desacelerar.
— Vocês dois têm toda a moral do mundo sobre falarem ir
devagar — eu ironizei.
— Por isso falo com propriedade — ela retrucou petulante.
— Não gosta de como as coisas estão? — Edu perguntou,
dramático.
— Eu amo, mas sei que casal nenhum precisa aceleraras
coisas. E Mari temum cronograma, você poderia entendere aceitar
.
Vão começar uma crise desnecessária?
— Só eu tenho que ceder e aceitar nessa relação? — perguntei
incrédulo e ela me olhou sarcástica.
— Edu poderia te dar umas aulas — ela provocou o noivo e
começou a rir— agora é sério, precisoir. Espero que vocês dois se
entendam.
— Espero isso também.
— Não quero ninguém sofrendo à toa — ela falou, suspirando.

Eu e Edu reto mamos nossa rotina de trabalho e eu foquei


nisso, evitando pensar nos meus desejos. De qualquer maneira, o
dia foi cheio, não tive tempo. iVsó a noite, que Marina havia enviado
uma foto de um Ravioli, pelo instagram.Respondi a chamando para
irmos jantar
, mas ela avisou que já estava deitada e prontapra
dormir
.

“às oito da noite?” — enviei, era uma mentira deslavada.

“dia cheio hoje, estou muitooooo cansada. Beijo, te amo”.

Dei like na mensagem e subi para tomarum banho. Jantei


comida congelada e fiqueivendo TV no quarto,enquantocomeçava
um projeto novo pelo notebook.

A semana foi rotineira,eu e Mari não nos vimos, ela andava


fugindo, obviamente. Nem quando fui jantarna casa dos meus pais,
ela quis ir. Mortade medo de eu resolverfazeroutropedido. E em
público, negar se tornaria muito pior
.
— Eu acho que ela desmaiaria — Chiara falou quando
confessei minha indignação.
— Quem? — mamãe perguntou curiosa e eu me encostei na
cadeira, cruzando os braços.
— Marina. Se Fred resolverfazer um pedido de casamento,ela
desmaia, se não puder sair correndo — Chiara explicou.
— Essa garotaé estranha— meu pai falou — que mulher não
iria querer entrar pra nossa família?
— Mari não quer depender do Fred pra nada, orgulhosaque só
— Chiara revirou os olhos — eu bem adorava gastaro dinheiro
daquele energúmeno do Gabriel.
— É diferente— Jordana falou, protestando— você tem muito
dinheiro, gastar do dele não te torna uma oportunista.
— Mas nós sabemos que ela não é uma oportunista— minha
mãe falou confusa — não querercasar não tem nada a ver com
usufruirou não, do dinheiro do marido. Eu não usufruodo dinheiro
do meu, tenho a minha clínica, me sustentoperfeitamentebem
sozinha. Casamento tem a ver com querer construirfamília,eu
acho.
— Tá vendo? — perguntei, me direcionando a Edu e Jordana.
— Talvez ela só não queira casar e terfilhos— Chiara deu de
ombros, me fazendo angustiar — as vezes o casal tem propósitos
diferentespra vida. Eu prezava fidelidade, o Gabriel colecionava
amantes, por exemplo — ela resolveu zombar
.
— Mas e se eu quiser? — pergunteie ela olhou para mim,
lamentando.
— Vocês precisamconversar— ela faloupara mim, mais baixo
dessa vez — se vocês dois não tiveremum meio termosobre os
sonhos pro futuro, não vai dar pra continuarem juntos.

Por sorte, minha mãe notou o desconfortoda conversa e


começou a falar sobre a Helena, que estava cada dia mais esperta.

Ela me evitou durantetoda a semana, não teve jeito. Até nos


falamos, mas Marina deixava claro que estava muito ocupada no
trabalho.Enviou até mesmo fotosde uma matériasobre a casa de
algum subcelebridade e outrada sua agenda cheia. Fomos nos ver
na noite de sábado, porque ela tinha um evento da agência que
trabalhava e não queria ir sozinha.
Não fiz parecerque estava tudo perfeito,porque não estava.
Ela apenas perguntouse estavatudo bem, quando entrouno carro.
Mas como estava com um batom escuro nos lábios, sequer nos
beijamos.
Chegamos ao hotel onde aconteceria o evento e ela
cumprimentou os colegas de trabalho que conhecia. Fui
apresentado à sua chefe, que conhecia de vista. Pegamos
champanhe com o garçom que passava por ali e ficamos em um
canto mais reservado.
Olhei ao redor
, magoado por ela trataras minhas questões
como descaso ou infantilidade,não iria forçarconversa, insistirem
nada. Se era pra ser tudo no tempo dela, então que fosse.

Conversamos pouco, a música tocava agradável de uma banda


no palco. O jantarfoiservidoe a festacontinuou.Marina só cedeu e
entrelaçou nossas mãos, chegando mais perto, quando Bruna
chegou, junto com Luísa.A olhei e neguei com a cabeça. As outras
duas vieram em nossa direção,provavelmenteiriam provocar, o que
não renderia nada. Iríamossair dali, mas a chefe de Marina as
alcançou e vieram as três, exalando elegância falar conosco.
— Não sabia que as conhecia, Mari — a mulher falou
pomposa.
— Bruna é mãe do meu filho — tomei a frentepara dizer e
olhei para Bruna, que fez uma careta asquerosa.
— Ah — a mulher falou, não sabendo se isso era uma coisa
boa aqui. Ela acenou para alguém e saiu, avisando que precisava
cumprimentar um amigo.
— Deve doer na sua alma de mulher independente, saber que
só conseguiu um bom emprego por causa de um homem, ou
melhor, porque a mãe dele interferiu
— Luísa soltou para Marina,
que fingiu não escutar. Ela então deu um sorrisopresunçosoe eu
olhei para cima, torcendo para nos deixarem em paz.
— Já superaram o aborto? — quem perguntou foi a Bruna, mas
Marina continuou ignorando. Não iríamos fazer cena aqui, não
queria prejudicar Marina de alguma forma.
— Assassinato. Alguém deveria ter te denunciado — Luísa
falou,balançando a cabeça em desdém e arqueou as sobrancelhas.
Ela provavelmenteiria continuar
, talvez a intenção fosse provocar
Marina, as duas entraremnuma briga aqui e queimar minha
namorada de alguma maneira. Bruna e Luísa eram mestres nisso.

Há umas semanas, Luísa se envolveu em uma confusãocom


uma amante do Gabriel, o ex da Chiara. Não deu em nada, porque o
energúmeno preferiua mulher de Copacabana. Só restoupara ela
fingir que nada aconteceu e seguir em frente.

E, como estavaproibida judicialmentede mencionar Jordana e


a filha dela, usava Bruna para provocarMarina. Na verdade, ela
sempre ignorava. Não estava nem aí para Bruna e suas lorotas,
dizia que tinha problemas demais para dar um minuto de atenção
para essa amargurada.

Só que falar sobre o aborto como assassinato era demais.


— Eu sinceramentequeria entender... — Luísacontinuoue eu
respireicom força,perdendo a paciência. Marina apertoumais o
entrelaçoem nossas mãos, mas a loira voltou a falar:— Jordana
garantiua vida boa engravidando, por que você não fez o mesmo?
Parece tão sedenta por um cara rico e... — ela foi interrompidaao
sentira bebida de Marina indo diretamenteem sua roupa. Deveria
tersido no rosto,eu pensei. Luísaolhou incrédula para o vestidode
grifemanchado e molhado, e deu um gritofino e forte.Ela iria fazer
uma cena, ainda mais quando a chefe de Marina chegou perto.
Segundos antes, eu troquei nossas taças.
— Foi um acidente— falei,olhando lamentosopara minha taça
vazia — sintomuito, Luísa.Espero que não tenha sido um prejuízo
muito grande.
— Fred está cansado, então acho melhor irmos embora —
Marina falou e nos despedimos das três. Ela ainda ousou se
despedir das inimigas
com um beijo no rostoe saiu me puxando
pela mão.

Quase me deixei levar, por ela provocá-lase revidar


, queria rir
,
mas me lembrei do nosso problema. Ela ligou o som do carro,
escolheu uma música, pegou o celular, digitou algo e o soltou no
colo, depois começou a rir
.
— Que foi?
— Elas não estão velhas pra esse tipo de provocaçãonão? —
ela perguntou indignada — você e Edu não são os únicos homens
do mundo.
— Meninas malvadas, versão dois ponto zero — eu
resmunguei — queria saber porque Luísa não se envolve em mais
polêmicas.
— A assessoriadela trabalhaduro pra abafar— Mari falou— e
você... Estábem? — perguntou, acariciandolevemente meu rostoe
eu a olhei rapidamente — hum?
— Não sei...
— Quer conversar?— ela perguntou, me fazendo sufocar
.
Conversardaria em que agora? Daríamosum tempo para pensar?
Chegaríamos em um acordo? Isso, eu tinha certeza que não.
— Hoje não — falei, não sabendo se era a melhor decisão,
mas eu definitivamente não queria ficar mais tempo sem ela.

Já no meu apartamento,ela escolheu um vinho na adega e eu


peguei as taças.Abri a garrafae servi para nós dois. Mari escolheu
a música, uma playlistinternacional.Bebemos duas taçasde vinho,
a puxei para dançarmos, mas começamos um beijo molhado,
gostoso.Caímosno sofáe não nos soltamosmais. Tiramosa roupa
toda e eu me coloquei no meio das suas pernas, usei o polegar e o
indicador para afastaros lábios íntimos, latejando excitado e
dolorido ao ver os fluidos da sua lubrificaçãose afastandojunto.
Segurei meu pau com a outr
a mão e o rocei na bocetaquentinha e
molhada, me forcei para dentro, tão concentradoem nós dois.
Observei meu pau grosso entrandona boceta, ela me engolindo
todo. Empurrei até o fim e nós dois gememos com força.Marina
afastou mais as coxas e eu empurrei de novo, nos olhando
conectados.
— Parece que nós dois fomos feitosum pro outro — eu
sussurrei,acariciandoo clitóris eretoe ela jogou a cabeça para trás.
Acariciei de novo e ela se contorceu, me arrancando um sorriso e eu
continueio carinho, enquanto socava dentrodela com força.Marina
começou a se contorcer
, em um momento tentoufecharas coxas e
me parar
, mais precisamentequando puxei a pele que cobria seu
ponto mais sensível e acariciei a pontinha. Senti um jato de sua
lubrificação no meu pau e choraminguei, tremendo todo, era gostoso
demais. Voltei a olhá-la, que revirou os olhos e mordeu o lábio
inferior
, tudo dela parecia se comprimir , inclusive a minha boceta.
Soltei o clitórise me inclinei sobre ela, emaranhando as mãos em
seu cabelo e volteia estocarcom força,Marina me agarroude volta,
estremecendo e gemendo alto.
— Me beija — ela sussurroudesnorteadae eu avancei em sua
boca, começamos um beijo eufórico,sem coordenaçãonenhuma e
eu puxei seu cabelo, estava intenso demais, ela jogou a cabeça
para tráse soltou o ar, o olhar perdeu o foco e ela revirouinteira.
Tudo me golpeou com força,muita força,a tensãosexual querendo
a viraralívio. Marina gozou escandalosa, delirando e me molhando
todo,ainda mais. Eu a segurei, metendoe metendo,jorrandodentro
dela, afundando o rosto em seu cabelo.

Nós dois estávamosarfantes


, eu me joguei por cima dela, que
escorregouuma mão para minha bunda, me apertandoe entrelaçou
nossas pernas.

[...]

Depois de recuperados,ela se levantou,se vestiucom a minha


camisa e foipegar mais vinho. Vestia cueca e me joguei sentadoao
sofá, admirando essa mulher, tão bonita e gostosa. Ela parou em
minha frentee me deu uma taçavazia, a encheu e depois serviu a
sua. Eu ergui a minha camisa, as coxas dela escorrendo nosso gozo
e lubrificação.Marina riu, colocou a garrafana mesa de centroe se
sentou ao meu lado, colocando uma perna sobre a minha.
— Estavacom saudade — ela falousolenemente,bebendo um
pouco do vinho e eu a olhei, levando uma mão para a coxa, a
apertando — achei que iríamos brigar
.
— Por que brigaríamos? — perguntei, fingindo não entender
.
— Não sei — ela deu de ombros, tão cínicaquanto eu. Dei um
sorriso travess
o e subi minha camisa. Marina revirou os olhos,
puxando mais impetuosa, me mostrando o que eu queria ver
.
— Se não estivesse toda suja de esperma, eu chupava um
pouquinho — eu faleiquando ela ia bebendo e ela cuspiu o vinho de
volta na taça, começando a rir
.
— É? — ela perguntou,colocando a taçaao lado da garrafa—
eu não tenhonojo de chuparvocê, depois que você me come — ela
me provocou.
— Você é uma safada— eu falei,colocando a taçana mesinha
também e cheguei mais perto,colocando uma mecha para trásda
orelha — e eu te amo.
— Promete que não vai me pedir em casamento — ela
sussurrou,me encarando cautelosae desceu o olhar para a minha
boca — pelo menos não esse ano. Que já estáacabando... Nem no
próximo — ela fez uma careta confusa.
— Por quê? — perguntei exausto.
— Não gosta do jeito que estamos? — ela perguntou
presunçosa.
— Gosto, mas eu queria avançar
...
— Só está assim, porque viu que Edu está vivendo e
gostando... — ela provocou — você não está ficando pra trás.Já
tem um filho, isso é muito bom.
— Você vai quererum dia? — eu pergunteie ela me encarou,
mas invés de responder , juntou nossas bocas em um beijo
carinhoso.
Marina veio, se acomodando no meu colo e rebolando em cima
de mim. Ela desbotoou a minha camisa e tirou, a jogando em
qualquer lugar. Acariciei os seios dela com as pontas dos dedos,
nossas bocas sempre grudadas.
— Vamos pro quarto — ela sussurrou,descendo os beijos
molhados pelo meu pescoço e eu grunhi.
— Vamos — concordei, afundando uma mão em sua nuca e a
trouxe de volta.
C 03
Marina Marques

Acordei e notei meu namorado me observando. Eu grunhi


preguiçosae toqueiseu rosto, me aconchegando ainda mais no seu
corpo e afundei o rosto em seu pescoço.
— Sei que dormimos pouco, mas em meia hora vamos sair
com o Bruninho — ele falou e eu ergui o rosto,me lembrando. Esse
era o fim de semana dele, mas o garotofoi dormirna casa de um
amigo e passariamo dia de hoje juntos.Eu, ainda tomada de sono,
queria dizer que não iria mais, mas havia prometidoao Bruno que
veríamos um filme novo no cinema.

Fred devia me achar patéticapor me divertircom como uma


adolescentecom o Bruninho, mas eu sabia que adorava o fatode
eu e o filho dele nos darmos muito bem.

Me levantei, quase indisposta, mas depois de um banho, eu


despertei.Me maquiei, coloquei uma roupa, prendi o cabelo em um
rabo alto e peguei óculos escuros.

Fiquei irritadaao ver que eram oito da manhã, havíamos


dormido menos de quatro horas.
— Preferiaestardormindo do que gozando? — Fred perguntou
e eu, que limpava as lentes dos óculos com o lenço, parei e olhei
para ele — porque do jeito que você estava...
— Queria uma terceiraopção onde tudo estivesseincluso —
eu falei petulante.
— Foi gostoso demais — ele falou, batendo com a mão na
minha coxa, me apertando— ainda mais quando você caiu deitada,
tão saciada que nem se mexia mais.
— Você é um convencido — retruquei.
— Um convencido bom de cama, você tem que admitir— ele
falou envaidecido e eu comecei a rir — ao menos deixo minha
namorada saciada.
— Foi gostoso demais — eu repliquei, juntou a tensão
acumulada, nós dois, meio distantesdurantea semana, o medo de
conversarmose decidirmosque não chegaríamosem um consenso.
Eu não abririamão dos meus planos, e ele parecia ansioso demais
para selarmos o acordo de futuro juntos.

Bruninho escolheu onde iríamostomarcafé, foi me mostrando


um livro de Harry Potterque eu queria ler, havia trazidopra me
emprestar.
— Cê acha filho, que a Mari vai ler esse livro enorme em uma
semana? — Fred perguntou e eu o olhei incrédula.
— Claro que vou!
— Quero só ver se vai ser fã igual a mim! — o garotofalou
presunçoso e fiz um bico.
— Se eu gostar, falo pra você.
— Aí o meu pai te dá de presente — ele falou, me fazendo
. rir

Fred fez escolhas saudáveis para o café, pediu frutas,ovos


mexidos e café preto sem açúcar. Eu e o filho dele pedimos
sanduiches e suco de laranja. Queríamosrefrigerante,
mas meu
namorado vetou e pediu o suco.
— O dia nem bem começou e vocês já estãocomendo porcaria
— ele falou desgostoso.
— É domingo. Hoje pode — eu falei o óbvio e Bruninho
completouque o suco equilibrava. Como os planos era passaro dia
fora, fomos para a praia. Sentamos em um quiosque, bebemos água
de coco e conversávamos com o pequeno sobre bobagens. Ele
contavasobrea semana, como estavaindo na escola, já que estava
prestes a entrar de férias.

Almoçamos com os pais de Fred e depois ele foi com o pai e o


filho para a área de lazer, estavam jogando vôlei. Eu fiquei na sala
com a Nair, que serviu um café expresso para nós duas.
— Estão mesmo bem? — ela perguntou,depois bebericaro
cafezinhoe eu a olhei — ele andou meio apreensivoessa semana...
— Ah... Estamos bem, eu acho — franzi o cenho.
— Acho que ele vê Edu e Jordana em passos largos na
relação. E quer adiantar vocês também.
— Eu penso a mesma coisa — falei para ela — não é que eu
nunca vou querer casar. Eu só não queria agora. Tão rápido.
— Aceitaro pedido de casamentonão é casarno dia seguinte
— ela ponderou e eu suspirei, não achava que Fred pensava a
mesma coisa — poderiam ficar noivos...
— Ele se separou e mal aproveitou a solteirice— eu disparei,
porque ficava nervosa com essa conversa e saía falando sem
pensar.
— Ele se apaixonou por você, Mari. Quando Fred engravidou a
Bruna, estavapara completar vinte anos. Ela, de uma famíliamuito
tradicional,nos deixou de mãos atadasaqui. Meu filhonão queria se
casar, mas nós o convencemos. Achamos que eles construiriamo
amor, sabe? Já estavamficando mesmo, achei que daria certo.Mas
foi conturbadopros dois lados. Pra ele, e pra ela, coitada.Toda vez
que Fred saíade casa, querendo o divórcio,vinha pra cá, mas nós o
convencíamosa voltar . Ele ia, tentavade novo. Foram váriasvezes.
Em um momento, ele ligou o foda-se e começou a agir feitoum
moleque, saía muito, vivia como um solteiro. Brigamos muito,
tentamosorientar . Depois ele veio pra cá de novo, disse que queria
o divórcio, que não aguentava mais. Mas o Bruninho adoeceu e ele
e a Bruna decidiram ficarjuntos, pelo bem da criança. Mas não
durou nem seis meses. Quando ele saiu de casa e foi morarcom
Edu, em vez de vir pra cá, eu soube que não tinha volta. E logo
depois ele estavanamorando você, tão feliz como nunca havíamos
visto. E apaixonado, ele fazia questão de escancararo quanto te
amava, que era pra ninguém ficarcontra— ela contou cautelosa,
mas engoli pesado e fiquei quieta.
— Se o meu filho quisesse curtire pagar de garanhão, eu
aposto que ele faria. Que não enganaria você pra isso.
— Mas...
— Mas vocês dois precisam entrarem um consenso. Se
entenderem,você pararde fugir , ele entenderque não é momento
pra tentar
. Uma hora vai acabar acontecendo, não vai? Vão se casar
e ter mais filhos, filhos que ele sonha tanto...
— Mas e se eu não quiser? — perguntei, me sentindo
soterradade culpa. Nair apertouos lábios e deu de ombros. Não
poderia consertartudo por nós dois. E eu não queria que nossa
relação se tornasseum peso para ela. Como mãe, ela sempre
estava preocupada com o Fred, sempre se mantendo próxima,
prontapara ajudá-lo em qualquer coisa. Só queria estarali. Mas não
queria que isso se tornassepreocupação,que ela ficassecom medo
de nos fazermos sofrer de novo.

Nós ficamos para o jantar , que estava uma delícia. Bruninho


agradeceu pelo dia, coisa que corroíao Fred, porque ele achava
que era um esforçodo pai passar o dia com ele, mas sempre era
tão bom. Sabíamos que era coisa da mãe dele, pelo menos eu
imaginava que fosse.
— Sabe o que você precisa? — perguntei, enquanto
esperávamoso Bruninho entrarno prédio e encontrara babá — vir
visitá-lo mais vezes, durantea semana. Só passar pra deixar algo
não supre a falta.
— Tem razão — ele falou baixo — próximo final de semana, ele
fica comigo de novo. Bruna vai viajar
.
— Tá bom, acho ótimo — falei tranquilamente.

Eu e Fred ficamos agarrados na cama, sob edredons


quentinhos e o ar condicionado bem gelado. Assistíamosum filme
de suspense, ele adorava essa temática e tentava me contagiar
.

Vimos o filme inteiro,que foi bom até, mas eu reclamei do final


previsível.Fred discordoude mim. Fomos tomarum banho quente,
fizemos juntos, cheio de mãos bobas e caríciasgostosas.Saímos
de lá atracadose nos escondemos sob os edredons.Fizemos amor,
como costumávamos chamar o sexo mais calmo, sem pressa.

[...]

A convivência em casa não estava nada boa, por causa dos


meus sumiços. Minha mãe e irmã estavam convictas que para
conseguir sair tanto e manter a ajuda mensal nas despesas de casa,
eu estava, sim, me prostituindo.
Queriam ver minha contabancária,
que eu desse a fatura do meu cartão de crédito para analisarem.

E tudo piorou quando eu saí com Jordana para comprarmos


biquinis novos. Passaríamoso próximo final de semana na ilha dos
Toledo, em Angra. Chegar em casa com sacolas novas, um
descuido idiotaporque eu estavaanimada demais, rendeu uma bela
discussão. Eu as ignorei o quanto pude, mas depois de tomarum
banho e sair do quartopara pegar água na cozinha, minha mãe
começou:
— Você viu o que a Marina fez, Acácio? — ela perguntou,
como se estivesse ofendida — estamos precisando trocaro
microondas e ela comprando roupas!
— Não foi com o dinheiro de vocês, posso garantir— eu falei
com força.
— Nem sabemos de onde vem esse dinheiro! O quanto você
ganha! Some todo final de semana e espera que acreditemosque
estátrabalhando?— ela perguntavaincrédula,adoecida. Eu respirei
fundo, não iria me abalar
, nem comprar uma briga.
— Aposto que tem um velho rico no meio — Tereza falou
asquerosa. Meu pai olhou para mim e inclinou o rosto,esperando
que eu dissesse algo.
— Vocês são loucas — falei enojada e saíem direção ao meu
quarto.Pude ouvir os gritossobre eu terque respeitá-las,coisa que
nunca fizeram por mim.

Fred sempre estranhavaque eu dormissecedo quando estava


em casa. Mas era como a minha alforria.Ou estavatrabalhando,ou
fugindo deles. Se ele soubesse, com certezaacharia tão mais fácil
ceder ao seu pedido, me agarrara essa chance e ir embora daqui.
Ou talvezse virassecontramim, eram mestresem tentarfazerisso.
Os reais motivos, eu jamais saberia. Cresci com elas convictasde
que eu era uma pessoa ruim, ao ponto de me fazeremduvidar de
mim mesma.

No sábado pela manhã, Fred veio me buscar, já junto com o


filho. Por sorte,ninguém estava acordado ainda e eu não tive que
enfrentar nenhuma provocação.
— Animada? — Bruninho perguntou e eu assenti. Ele
perguntousobre a leitura,mas havia começado apenas algumas
páginas. Fred começou a rir quando contei, porque ele já sabia
disso.
— É o tempoque me falta.Mas estouadorando — eu retruquei
e Bruninho me cerrou os olhos.
— Pelo menos está tentando... — ele eu de ombros.
— Na semana que vem, vou estarmais livre, aí consigo ler
mais — prometi e ele cerrou os olhos, mas acabou decidindo me dar
um voto de confiança.

Fomos de helicóptero para a ilha e, ao chegar, todos já


estavam por lá. Jordana estava com a Helena na área gigantesca
da piscina, a menina com o look todo combinando com o da mãe.
— Quando eu for mãe, vou fazer igual — Chiara falou animada,
vivia falando sobre quererterfilhos logo. Apostamosno namorado
misterioso,mas o relacionamento não parece tervingado como ela
queria e Jordana temia que tivesse dedo da sogra, para evitaro
homem perto de Edu. A cada vez que Chiara mencionava querer ser
mãe pertode Edu, ele tinha um ataque, com medo de ela tentarter
um com Ravi, o que parecia inviável, porque tudo indicava que ele
gostava mesmo de Denise, mesmo com a relação complicada dos
dois. Eu não falei nada sobre e Fred me encarou, observando. Mas
negou com a cabeça e foi levar nossas coisas para o quarto.
— Ainda inconformado— Jordana comentoue eu assenti,me
sentando em uma das espreguiçadeiras — tadinho, amiga...
— Eu vou fazer o que? — pergunteitaxativa— me casarcom
ele amanhã e engravidartodo ano? — rosnei e Jordana me olhou
feio.
— Não deixá-lo tão no escuro. Dar um sentidoe acalmar todas
essas dúvidas que ele tem criado — ela falou cautelosa— se você
quer saber, Edu me pede outrobebê, toda hora. Não é motivo de
briga, porque ele sabe pra onde estamosindo, que vamos planejar
daqui a alguns anos. Mas eu apostoque se eu fugisseda conversa,
renegasse...
— A sua vida é completamentediferenteda minha — eu a
interrompi,que ficou quieta, me esperando dizer — você é amada
por todos ao seu redor
, não tem conflitosfamiliares,o pai da sua
filha é louco por você. O que tem de errado na sua vida? —
pergunteisarcástica— Edu quer teroutrofilho logo e você quer
esperar? Isso?
— Você deveria se apegar a parteboa da sua vida, se libertar
,
seguir em frente.Enquanto continuarcolocando empecilho e não
tomar decisões sérias, nada vai mudar. Parece que tem medo,
Mari...
— Não posso aceitar um pedido, mudar de vida e depois contar
com o felizes para sempre como a única opção. Se não der certo...

Parei de falarao ver Fred se aproximando, todo gostoso em


uma sunga preta.Jordana revirouos olhos, porque eu sempre fugia
da conversa e não aceitava os atalhos dela como solução.
— Cadê o pai dessa criança? — Ele perguntou para Jordana.
— Dormindo, derrotadode ressaca — ela revirouos olhos —
vocês precisavam ver o drama desse homem no helicópteroaté
aqui... Ainda tinha a cara de pau de dizer que sabia que de lancha
seria pior — ela começou a rirjunto com Fred. Eduardo de ressaca
parecia um doente grave — e quer saber? Acho ótimo, porque ele
saiu com o pai e bebeu todas ontem.

Ela ficou conosco um tempo, até a sogra vir chamá-la para


ajudar o noivo a se recuperar . Jordana se foi e deixou Helena no
colo de Fred. Eu fiquei apreensiva no primeirominuto, mas depois
ele começou a brincar com ela e eu relaxei. Ele levava jeito, adorava
a garota.Eu sabia que só não era mais próximo da afilhada, porque
se martirizavapor não termostido um, nas mesmas circunstâncias
inesperadas que a Helena veio. Fred aproveitouseus minutos até
Chiara vir pegar a garota, avisando que era hora de ela comer
.

Toda hora eu passava protetor


solar no Fred, porque ele ficava
vermelho muito fácil. Jordana reclamou sofrercom isso, enquanto
Edu e eu pegávamos um bronze bonito facilmente.

Helena brincou o dia todo, dando pausas só para comer e tirar


as sonecas. Jordana e Edu tiravampar ou impa para decidir quem
ia dar banho e trocar as fraldas da garota, o que era bizarro.
— Ela faz muito coco — Edu falou bravo, quando ficou com
essa função e todos começaram a rir. Jordana comemorava, disse
que o banho era a partepreferida.Helena dava gritinhosde alegria,
mexendo num brinquedo que dizia os números, de acordo com o
botão que ela apertava.

Eu estava bem, mas queria estarmais animada. Comecei a me


sentirpéssima, como se eu estivessetirandode Fredericoa chance
de tertudo isso outravez. Ele já tinha um filho, mas queria mais, eu
tinha o direitode interferir?
De decidir não querere quererficarcom
ele mesmo assim?

Eu estava em pé, escorada ao balcão, com o meu Cozumel


feitopor Chiara, quando ele veio e me abraçou por trás,fungando
em meu pescoço. Virei o rostoe ele deu um beijinho suave nos
meus lábios.
— Está tão quietinha... — ele falou e eu me virei de frente.
— Vou me animar, prometo — forceium sorrisopara ele,
tentando convencer de que estava tudo bem.

A mãe de Fred parecia preocupada conosco, sempre


intermediandopara garantirque estávamos bem, enquanto casal.
Chegou a me dizer que Fred não trouxenenhum anel para me
pegar desprevenida.

Subimos primeiro, no começo da noite, o sol ainda estava se


pondo. Jordana estava brava porque Edu foi colocar Helena para
dormire quem pegou no sono foi ele, o homem estava dormindo
junto com a filha em todas as sonecas. Porque estava de ressaca.

Depois do banho, dessa vez fizemos separados, eu e Fred


ficamosdeitados na cama, esperando dar a hora para o jantar . Ele
saiu apenas para se certificar
que o filhojá tivessedeixado os jogos
com o avô e ido se banhar e ficar pronto também.

Eu me sentia estranhamenteem casa com ele, em qualquer


lugar que estivéssemos.Mas não era isso que eu queria como única
opção. Eu queria tera minha liberdade, a completaindependência.
Poderíamoscontinuarnamorando, felizes. Depois de alguns anos,
quem sabe não nos casaríamos?Eu me sentiriapreparadapara ser
uma boa mãe? Ele não poderia me exigir um filho, como se viesse
junto um manual de como amar. Se fosse assim, eu seria amada
incondicionalmente pela minha. E, por favor
, eu não era.
Ele acarinhava meu cabelo e eu continueicom o rostoafogado
em seu pescoço, inalando seu cheiro gostosoe toda essa proteção
que ele me dava. Era tão pleno, sublime. Fred me fazia sentirum
amor quase palpável, que eu nunca havia experimentado antes.
Talvez por isso minha relutânciaem cedertantopara ele, em aceitar
tudo que ele queria propor . Eu nunca havia experimentadotodo
esse cuidado, amor e dedicação, não poderia mergulharfundoe me
esquecer que a vida real existe.

Não falamos nada, contemplamos a companhia um do outro.


Ele escorregoua mão pela minha nuca, emaranhando os dedos em
meu cabelo molhado e puxou meu rosto de encontro ao seu,
começando um beijo profundo e lascivo.

Por um momento, eu quis que fôssemos um casal mais


romântico que safado, para aproveitarmosum bom beijo como
apenas isso, mas o beijo vinha ascendendo algo mais, sempre
ardentee cheio de tesão.Ele veio para cima de mim, que afasteias
pernas e ele se acomodou entreas minhas coxas. Não paramos o
beijo, quebrávamos entremordidinhas e lambidas gostosas, mas
voltávamos a nos devorar. Não levou muito tempo para que eu
pudesse sentir a ereção me cutucando.
Fiz um impulso e Fred deixou que eu nos virasse na cama,
assim, eu fiquei parcialmentesobreele, o olhei, acaricieiseu rostoe
me inclinei, lambendo seus lábios. Voltei a beijá-lo e comecei a
apertar o pau ereto sob a calça de linho.
— Me chupa um pouquinho — ele sussurroucontraos meus
lábios e eu assenti,desabotoando a calça e desci pelo seu corpo.
Beijei o pescoço, o fazendo arrepiare puxei a calça e a cueca um
pouco para baixo.
Umedeci meus lábios e segurei o pau excitado. Coloquei a
cabeça na boca e fui girando, o engolindo e massageando com a
língua. Fred gemeu, mas voltei com os lábios e esfreguei
suavemente a língua na partede trás,movendo meus lábios ao
redor
. Com a mão fiquei o esfregando.Foi rápido para ele, que
começou a pulsar e trouxe uma mão para a minha nuca, me
segurando firmepara meterna minha boca. Ele gozou tão gostoso,
tão bonito que me fez estremecerinteira, brincando com o seu
sêmen na minha língua, antes de engolir tudo.

Frederico caiu deitado na cama, completamenterelaxado e


praguejou algo. Subi e deixei um selinho na sua boca, antesde me
levantar
. Ele se levantou rapidamentee consertoua roupa, quando
Bruninho bateu na porta, vindo nos chamar para o jantar
.

O pessoal seguia animado, a comida estavadeliciosa. Era uma


família unida, apesar de qualquer coisa. Depois da sobremesa,
abrirammais vinhos e ficamostodosna sala. Era uma vibe familiar
deliciosa. Eu me aconcheguei no abraço de Fred, quando nos
sentamose não quis mais beber. Jordana tomou qualquer coisa de
teor alcoólico do noivo, o culpando de ser dramático.

No final, ficamos apenas nós cinco, contando com Chiara.


Todos os outrosforamdormir . Com muita insistência,minha amiga
liberou uma taça para Edu.
— Estou rezando pra Helena dormira noite toda — ela falou
para ele, quando lhe entregou a bebida.
— Minha mãe nem vai deixar você escutar
, vai correrpra pegá-
la — Chiara falou o óbvio. As duas falaram um pouco sobre
amamentação, mas eu não me aprofundava nesses assuntos
maternos.

Como eles queriam aproveit


ar mais a noite, fomos para uma
sala de jogos, onde havia proteçãoacústica e poderíamos fazer
mais barulho e colocar música. Chiara escolhia os funks e até
dançávamos algumas músicas. Jogamos sinuca, onde eu e Fred
ganhamos. Depois fomosbrincarno caraoquê, todo mundo cantava
mal, mas ninguém se importou com isso.

Chiara recebeu uma ligação de vídeo e foi para seu quarto


primeiro.Jordana queria beber e cantarmais, segundo ela. Mas em
algum momento Edu a pegou para um beijo, disse algo que a
convenceu muito rápido a ir dormir. Fred olhou presunçoso para os
dois saindo como se fossem escondidos, mas riu e foi fechara
porta.
— Ele sempre leva ela — eu falei entediada. Edu sempre
convencia Jordana, quando piscávamos, os dois já tinham sumido.
— Agora eu quero ver você ganhar de mim — Fred falou
competitivo,pegando as bolas de bilhar de novo e foi arrumá-lasdo
jeito certo.

[...]
C 04
Frederico Toledo

Em um dia ensolarado, quando Edu avisou que encontraria


Jordana no restaurante
da avó dela, eu acabei indo junto. Iria levar
Marina para almoçar comigo, mas ela enviou uma mensagem
dizendo que não conseguiria sair do trabalho, se desse, nos
veríamos mais tarde.

Ao chegar lá, Jordana deixou a filhaconosco e saiu apressada,


disse que tinha hora marcada com a sogra, algo sobre a festada
Helena.
— Mamãe estáagindo como se esse fosseo evento do século
— Edu revirouos olhos. Já havia um cadeirão infantilna mesa que
separarampara nós e ele colocou a filha ali. Logo depois a sogra
trouxe o almoço da pequena.
— Acho que ela viveu esperando pelo momento de mimar os
netos— eu zombei dele, que me cerrouos olhos — não que tenha
mimado pouco os filhos.
— Estou usando esse argumento para Jordana querer
engravidarde novo logo — ele falou, começando a rirsozinho —
Helena não pode ter todas as atenções só pra ela, precisa dividir
.
— E ela? — perguntei,já sabendo que ela não iria ceder por
agora. Não antes de terminar a faculdade.
— Disse que era só você e Marina teremum, que a atenção
seria dividida — ele falou e eu suspirei,era quererme ofendertocar
nesse assunto. Edu percebeu, porque logo se desculpou.

Ele deu o almoço da filha, enquanto esperávamospelo nosso.


Eu olhava a cena, me perguntandopor que diabos não aproveitei
nada disso quando tivemos o Bruninho. A idade justificava?Ser
muito novo e imaturo, despreparado era o motivo? Ou eu me
mantive distante de propósito?Não que nunca tenha feitonada,
mas mal me lembrava de tertrocadouma fraldaou terdado um
banho no meu filho bebê. Tudo bem que eu estava na faculdade,
mas isso justificavatudo?Eduardo cuidava da filhasozinho e desde
que ela nasceu, ele e Jordana conseguiam dividir as tarefasda
pequena.
— E acabou! — meu primo comemorou e Helena grunhiu
animada, erguendo os bracinhos. Dona Laís veio pegar a neta,
reclamando da sujeira que os dois fizeram e logo depois nossa
comida chegou.

Eu queria ir embora logo, me contaminava ver a vida que ele


construía,a famíliade Jordana que o acolheu, os dois formando
uma famíliaperfeita.Não era que eu não quisesse vê-lo feliz, não
queria que tirassemnada de Edu. Eu queria viver algo sublime e
completo também, com Marina. A avó de Jordana nos avisou que
tinha sobremesa nova no cardápio e Eduardo quis experimentar. Eu
soltei o ar e me escorei na cadeira.
— Está tudo bem?
— Calor — resmunguei e ele franziuo cenho, já que agora
havia ar condicionado por aqui.
Dona Márcia passou por nós, dessa vez, acompanhada de
uma mulher alta,esbelta,com carade poucos amigos. Ela parou de
repentee olhou para mim e Edu. Primeiro,apresentouEduardo a
mulher, soltandouma piada sem graçasobreos burburinhosda filha
de Jordana não ter pai.
— Alguém soltou por aí que não sabiam nem como Jordana
pagava a faculdade — dona Marcia falou — mas eles até moram
juntos.
— Vamos nos casar ano que vem — Edu completou e eu o
encarei, querendo rir
, porque ele tentavase mostrarcomprometido
para elas. Todos já sabíamosque ele era um completoapaixonado,
mas ele se colocou numa posição de se redimir o máximo possível.
— E Fred é o namorado de Marina — dona Márciacompletoue
a mulher olhou para mim.
— E desde quando Marina namora? — ela perguntou,
arqueando as sobrancelhase eu suspirei.Já havíamosbrigado por
ela dizer a avó de Jordana que ficávamosde vez em quando. De
vez em quando! Desde que me separeihá dois anos, não fiqueicom
outramulher, e para ela queria dizer de vez em quando. Mas voltei
ao momento atual, onde isso já havia sido esclarecido.
— Margareteé a mãe de Mari, Fred — a senhorafaloue eu fui
golpeado com a notícia.Me levantei para cumprimentá- la direitoe
foi a vez de Eduardo querer .rir
— Não consigo entenderporque minha filha escondeu isso de
mim — ela falou ofendida, mas eu não tinha o que dizer sobre isso.
Não dava para amarrá-la e forçá-la a me assumir pra família.
— Apostoque estavaesperando o momentocerto.Jordana me
escondeu Eduardo até aparecer grávida — dona Márcia falou, mas
era uma mentira, já que desde que Eduardo ficoucom Jordana e se
pegou obcecado, vivia por aqui atrás dela.
— Marina sempre foi assim — a minha sogra falou, realmente
decepcionada — parece até que não gosta da família...Se eu não
tivesse vindo conferir a reforma, jamais conheceria você.
— Sinto muito — falei, me sentindo encurralado. Uma
sensação estranha. Na verdade, era como conhecera paranoica da
minha namorada. Ela não iria gostar nem um pouco disso.
Para nossa sorte,Jordana chegou, olhando confusapara nós
quatroaqui reunidos. Ela cumprimentou todo mundo, perguntouse
já havíamos sido apresentados e me lançou um olhar significativo,
que dessa vez, infelizmente não decifrei.
— É um namoro tão recente,talvez por isso a senhora não
tenha conhecido ainda — Jordana falou para Dona Margarete—
Mari devia estaransiosa para apresentá-loa todos vocês — dessa
vez, eu olhei para Jordana, porque ela estava mentindo
deslavadamente.
— Então melhor esperarm os que ela conte — a mulher
respondeu, olhando para mim de volta — foi um prazerconhecê-lo,
Fred. — ela se despediu com um beijo no rosto.
— Fiz merda? — dona Márcia perguntou,porque Jordana a
olhou e negou com a cabeça.

Eu queria insistirpor explicações decentes. Que mal haveria


nisso? Na minha percepção, nenhum. Marina teriaque lidar com
isso. Edu recebeu uma ligação e tivemos que sair apressados.Ele
apenas deixou o cartão de crédito para Jordana pagar nosso
almoço.
[...]
C 05
Marina Marques

Se eu soubesse o que me esperava em casa, teriadeixado


meu celular carregandomais dez minutos,só para não terdesligado
no momento em que Fred ligou. Assim, teríamosido diretopara o
apartamentodele, onde aproveitaríamosa noite sem nenhum
estresse, possivelmente.

Ao entrarem casa, comecei a estranharos olhares sarcásticos


em minha direção. Não que fossem incomuns, acontecia sempre.
Mas não assim, mutuamente.No segundo seguinte, recebi uma
mensagem de Jordana, mas não pude ler naquele momento. Minha
mãe deu um riso sarcásticoe cheio de deboche, me lançando um
olhar de cima a baixo.
— Conheci seu namorado — ela falou,arqueando rapidamente
as sobrancelhas e tudo dentrode mim estalou. Uma sensação de
pânico começou a quererme dominar, mas tenteimantera calma e
o foco na realidade e não perder o controle.
— O que? — minha voz saiu baixa, o meu coraçãoameaçava
a perder o compasso.
— Ele é o que? Motoristado pai da filha da Jordana? — ela
perguntou,porque na cabeça dela, motorista não era uma profissão
consagradae obviamenteeu não conseguiriamais do que o que ela
julgasse pouco. Quase neguei, mas pensei que melhor pensando
isso. Mas também pensei que ela não deveria terdestra
tado Fred,
ele não aceitaria.
— Se for
, pelo menos é motoristade alguém rico. Deve ganhar
mais de um salário — Tereza falou e eu a encarei, sufocando de
raiva.
— Deve morrerde inveja da amiga — minha mãe falou —
nunca conseguiria um milionário pra chamar de seu.

Soltei o ar, tão irritadacom a mesquinharia delas, mas desisti,


sequer cogitei compraruma discussão. O meu feitode termantido
as duas longe de Fred todoesse tempohavia acabado. Eu teriaque
ver isso como algo positivo.Já não estavatudo mil maravilhas para
nós dois, mesmo.
Jordana contou sobre o episódio da avó dela com minha mãe,
mas a tranquil
izei, teriaque ficartudo bem. E se não ficasse, vida
que segue. Meu relacionamento não poderia ser tão frágil,já havia
se passado dois anos.

Fred ligou e eu nem pergunteio que faríamos,apenas aceitei


sair com ele para qualquer lugar. Ele achou graça da minha pressa,
mas nem dei tempo de ele contar sobre ter conhecido a sogra.

Tomei um banho rápido. Passei maquiagem, vesti um short


jeans e uma camiseta. Prendi o cabelo em um rabo alto e passei
perfume.Era um Carolina Herreraque eu havia ganhado há pouco
tempo, mas como T ereza vivia usando, estava já quase no fim.
Desci sem dizer nada, estava levando até as roupas para ir
diretopara o trabalhona manhã seguinte.Já em frenteao prédio, vi
Tereza e minha mãe, na janela espionando. EstranheiFred aparecer
com o carrode Edu, mas assim que entrei,ele explicou que o primo
foi visitar uma obra com o carro dele e destrocariam logo mais.
— Conheci sua mãe — ele falou, ligando o carroe nos tirou
dali. Fred me olhou sério, quando respireipesado, mostrandoque
não havia gostado.
— Algum problema? — ele perguntou e eu dei de ombros.
— Não, eu só não queria que se conhecessem — forceium
sorrisopara ele, que negou com a cabeça e aumentoua velocidade.
Passamos pelo condomínio de Eduardo para ele pegar o seu
carroe seguimos para o dele. Fred me olhava, observador. Eu já
começava a me sentirencurralada,não queria simplesmentecontar
nada para ele. Já imaginava ser taxada de filha ingrataou mimada
demais. Não queria isso.
Ou, na pior das piores hipóteses, ele se veria como o meu
refúgioe me pressionariaainda mais. Ele já sabia o básico, que eu
tinha problemas familiares.

Pedimos um hamburguer em uma hamburgueria de um


conhecido dele e eu peguei duas long-necks de cerveja no freezer
,
abri e dei uma para ele.
— Milagre quererbeber no meio da semana — ele comentoue
eu me sentei ao balcão, no banco alto. Dei de ombros e Fred veio
até mim, parou entreminhas pernas e colocou a garrafinhaverde
sobre o balcão de mármore.
— Por que me escondeu todo esse tempo? — ele perguntoue
eu, que bebia um longo gole da cereja, parei, engoli, coloquei a
garrafaao lado da dele e o olhei — tem vergonha de mim? — eu
comecei a rirda pergunta.Que mulher teriavergonha de ser amada
por um homem como ele?
Fred não gostou de eu terachado graça, então acariciei seu
rosto e me aproximei para beijá-lo.
— To falando sério, Mari — ele reclamou, insistente que era.
— Que mulher teriavergonha de você, me diz? — perguntei
enfática e ele deu de ombros, fazendo drama.
— Pelo visto,a minha namorada... Nunca nem postouuma foto
comigo — ele remoeu e eu comecei a rir, mas logo me contive.
— Você também não — retruqueie Fred fez uma careta,ia se
esticando para pegar o celular e eu o segurei.
— Eu poderia resolver isso agora.
— Não precisa — falei rapidamente — fotonão quer dizer
nada.
— Edu e Jordana vivem postando, se exibindo por aí — ele
falou e eu revirei os olhos.
— Não somos Edu e Jordana.
— Eu gostei de conhecer a sua mãe — ele falou e eu o
encarei, esperando por mais — achei que seria mais bem recebido,
mas ela ficou surpresa.Depois Jordana apareceu dizendo que era
recentee você adoraria contar . Por que esconde tantoa gente,
Mari?
— Fiquei com medo de você não se separarde verdade, ela
iria fazer da minha vida um infernose sonhasse que me envolvi com
alguém meio comprometido.
— Marina — Fred pronunciou meu nome com mais firm eza,
não comprando a minha desculpa ridícula — são dois anos. Juntos.
— Me desculpa, Fred — falei vencida, amolecendo o corpo —
eu não me dou nada bem com ela e nem com minha irmã, achei que
seria mais fácil pra nós dois ficarmos assim, sem elas saberem.
— Como iríamosnos casar se eu não posso conhecer a sua
família?— ele perguntou,arqueando as sobrancelhase eu suspirei
com força, não querendo mesmo enfrentar essa conversa.

[...]

Deitadosna cama dele, eu acarinhava seu cabelo macio e ele


estava quase se rendendo ao sono. O observei sob a luz baixa do
quarto,sempre tão leve, sereno. Se nos perdêssemos por algum
incidente, eu sofreriamuito. Mas nem isso seria motivo de largar
todos os meus planos para viver apenas os dele. Me sufocava
pensar em ser aprincesa do reinodele.
— Não vai dormir?— ele perguntoue eu suspirei, chegando
mais pertoe fui recebida com um abraço — o dia hoje foi cheio, to
muito cansado — Fred reclamou, apoiando o queixo no topo da
minha cabeça. Rocei o nariz no pescoço dele, inalando o cheiro
delicioso do perfume fresco e ele ficou arrepiado.
— Falei que to cansado — Fred falou, querendo se fazerde
difícil,mas cedeu todo para o meu beijo em seu pescoço. Continuei
provocando e ele resmungou algo, nos virando na cama e segurou
meus pulsos. Nos olhamos por um momento e ele deu um sorriso
malicioso, delicioso que era, e aproximou para roçaros lábios nos
meus.

[...]
Eu e Fred tínhamosum defeito.Quando ficávamosnervosos,
estressadosou refémde algum sentimentoque não conseguíamos
assimilar nem resolver , descontávamos no sexo. Para sanar a
vontade dele, deixei que ele marcasse um maldito almoço com
meus pais e irmã. Pedi para que não fosse forae vetei qualquer
possibilidade de ele levar a mãe dele. Seria um pratocheio a minha
mãe conseguir disseminar qualquer mal estarentremim e minha
sogra.E convenhamos que a Nair tivessemotivosde sobra para me
querer longe de seu filho. Não que quisesse, não era esse o ponto.

Por causa disso, eu queria sexo o tempo todo. Estavausando


como válvula de escape. Se parássemos, se ficássemos muito
tempo ociosos e na companhia um do outro,eu iria me fr ustrarcom
ele, chorarde raiva, dizer que ele estavaindo por um caminho para
acabar com a nossa relação.

Talvez, só talvez, eu estivesse sendo neurótica demais.


Deveria confiar mais nele, em nós dois. Mas não conseguia
simplesmente relaxar .
— Foi tantosexo que eu me sinto um pouco... Assada —
sussurrei para Jordana, que cresceu os olhos em minha direção.
— Assada tipo... Assada?
— Sensível — fiz uma careta — se você estivesse no meu
lugar, iria entender. Eu olho pra ele e penso que na semana que
vem, vai estardormindo no quarto da Tereza. Igual o idiota do
Lucas.
— Sério, você acha que o Fred vai cair nisso? Aquele garoto
era um idiota, não sei mesmo porque você chegou a ficar com ele.
— Um idiota que acabou apaixonado pela minha irmã — eu
lembrei, mas era irrelevanteisso agora e ela fez uma careta— e
depois de conhecer meus pais, como ele tantosonha, ele vai ter
cúmplices pra querer casar.
— Eu acho que ele logo vai se tocarque você não convive bem
com eles. E deixar isso quieto. Como sempre esteve.
— Eu queria que a minha vida fosseoutra,sabe? Mais estável.
— Poderia aceitarum pedido de casamento do homem que
você ama, planejar a vida ao lado dele, termais conforto
pra pensar
no lado profissional e...
— Chega, por favor — eu pedi enfática.

Para deixar Edu mais frustrado,Ravi chegou junto com a


Chiara. Esse rolo dos dois, colocava a mim e Jordana em uma
sinuca de bico. Não podería mos delatartudo para Denise, porque
ela insistiaem ajudar esse energúmeno, que entreuma crise e outra
parava no hospital,o corpopedindo socorropor tantoálcool e droga
que ele consumia. E não conseguíamoscolocarjuízo na cabeça de
Chiara.
— Eduardo tem um mine infartotoda vez que ela diz que quer
engravidarlogo — Jordana sussurroupara mim, que comecei a rir
— ele e Fred matariam o Ravi, se a Chiara ficar grávida dele.
— Ela fala que quer, mas ela quer planejar, tudo bonitinho
dentro dos conformes.
— Sim, mas você conhece essa dupla — minha amiga
retrucou.
— Ele se mata,se conseguirperdera Denise de vez — eu falei
entediada.

Fred e eu passamos a tardedo sábado com nossos amigos,


fizemosum churrasco,bebemos e nos divertimostodosjuntos.Pelo
menos foi um bom dia, antes de encontrarmos meus pais.

Eu estava tão nervosa na manhã seguinte, que não consegui


comer nada no café.Fred estava animado, o que de alguma forma
começou e me irritar
. Ele não notava meu desconforto?
Achava que
eu só estava querendo ser rebelde?

“Eu acho que ele se consideraum partidãoe temcertezaque a


sua família vai adorá-lo” — Denise enviou e eu fiz uma caretade
ódio para o celular
. Se soubesse as especulações que fizeram sobre
ele...

“Eu acho que ele tem certez a que vocês dois vão viver como
príncipee princesadepois que almoçarcom seus pais...” — Jordana
enviou e continuou digitando — “E acho que vai tranquilizá-loum
pouquinho... O homem anda louco por aíquerendo que vocês deem
um avanço no namoro”

“Fred parece estarvivendo nos anos vinte, que namorou tem


que casar” — respondi para Jordana — “não que eu queira terminar
em algum momento, mas to me sentindocomo alguém que perdeu
o controle”
Minha amiga sabia disso, logo mencionou que estava certa.
— Não vai comer? — meu namorado perguntoue eu o olhei —
olha, se não for uma experiência legal, eu prometoque não insisto
mais nisso.
— Eu não tenho vergonha de você — eu falei baixo, parecia
estarfuriosa,mas só estavainsegura.E ele não deveria cogitarisso
em hipótese alguma. Denise comentou uma vez, sobre Fred poder
se sentirinseguro porque andava com Eduardo e Ravi, que na
teoriaeram dois brutamontezinhos
e solteiros,que semprepegavam
muitas mulheres. Fred aproveitou pouco disso, de qualquer maneira.
Mas ele era perfeito,pertodos dois. Ok, casou cedo, forçado,tinha
uma péssima relação com a ex, não se suportavam.

Mas eu poderia apostarque ele já tentoudar certoum dia.


Ninguém fica casado tanto
s anos sem ter tentado ser feliz na
relaçãoem algum momento.E ele era perfeitopara mim. Carinhoso,
cuidadoso, divertido e protetor
. Nunca teríamosenfren tado uma
crise se eu não tivesse ficado grávida e abortado o bebê. Ele
sempre soube o que queria.

Quando não queria casar, quando quis se separar


, quando quis
ficarcomigo. Ele não enrolava nas decisões. E isso também me
dava medo, ele queria se casar de novo.

Fred começou a fazerperguntassobre meus pais, perguntou


se só florespara minha mãe estavabom. Estavaanimado, ansioso
como se fazermosisso depois de tantotempo, desse para ele um
alicerce, uma segurança de que não estávamos perdendo tempo
juntos.Eu o olhava, tentandonão ser grossa,não adiantaria.Nada
nunca estariabom para minha mãe. Ela iria veneraras floresna
frentedele, mas depois iria achar algum defeito.Louco por vinhos
que era, estava levando um da sua coleção, um vinho branco suave,
delicioso e muito caro.

Àmedida que nos aproximávamos da minha casa, um bolo se


formava na minha garganta. Minha vontade era começar a
espernearpara ele que eu não queria ir. Mas eu já quase dei um piti
desses quando ele me levou para jantarcom os pais dele. E eu fui,
não reluteitanto,porque estava apaixonada demais e estávamos
nos entendendo depois de episódios de querer me dar celular caro e
suprir a falta do meu salário, quando perdi o antigo emprego.
— Pelo menos, depois de hoje, você vai poder encher seu
instagramde fotosnossas — eu falei e ele começou a rir
, trazendo
uma mão para a minha coxa.
— Você e engraçada, meu bem — ele falou, negando com a
cabeça.
— Não temnenhum anel com você, tem?— pergunteiazeda e
Fred me olhou rapidamente , deu um sorrisomarotoque me fez
crescer os olhos e riu outra vez, finalmente negando.
— Seria capaz de você me largare me deixar lá com cara de
taxo no meio da sua sala.
— Seria, mesmo — falei séria. Logo me desculpei por estar
sendo grosseira com ele, que não merecia, de qualquer maneira.

Minha mãe agradeceu as flores e eu apresentei Fred


formalmente,sem muito ânimo, era demais quererque eu fingisse.
Tereza logo perguntousobre o carro,desmedida como era. Fred
ficouconfuso,mas logo respondeu sobre o modelo e o ano. Depois
ela perguntou animada se era dele e ele respondeu que sim,
naturalmente.

Mais pergunta
s vieram, sobre emprego, idade, por que
escondemos e tudo que elas poderiam querer saber, sendo
muuuuuitosimpáticas,para ele nunca achar que elas eram as vilãs.
Eu suspirava e reviravaos olhos, mesmo Fred me olhando feio por
causa disso.
— Então você e o namorado da Jordana são sócios — minha
mãe falou, não conseguindo esconder a surpresa.
— E primos — Fred contou divertido,logo acrescentandoque
formavamuma pela dupla profissionalmente.Tereza, inconveniente,
perguntouse tudo era dividido meio a meio e ele disse que sim, se
divertindocom essas curiosidadesridículas.Não era perguntade se
fazer
.
Quando ele contou sobre o filho, que completariaonze anos
daqui a pouco, elas ficaramalertas.Nada que Fred perceberia,só
que eu já vivia na defensiva.
— Então você se separou há pouco tempo? — minha mãe
perguntou,nos analisando. Pelo seu olhar, era como se ela tivesse
encontrado a falha que queria, mas Fred logo cortou isso dela.
— Me separei meses antesde conhecerMarina — ele contou,
omitindoporque foimelhor assim, me olhando confiantee eu apertei
os lábios.
— Ela e o seu filho se dão bem? — Tereza perguntoucuriosa,
chegando mais perto de nós dois, mesmo sentada no outro sofá.
— Muito, graças a Deus — Fred deu um riso. Peguei meu
celular e fiquei contando para Jordana tudo que estava
acontecendo. Ela logo achou que tudo daria super certoe que
ficariatudo bem, afinalelas não iriam quererespantarum milionário.

Logo fomos para a copa, e minha mãe serviu o almoço. Era


uma lasanha, que eu particularmente
adorava, mas ela raramente
fazia.Fred comentouo cheirinhobom da comida, sempresimpático.
Meu pai abriu o vinho e eles dois começaram uma conversa sobre
isso, Frederico adorava, então não me incomodei. Pelo menos
assim paravam o interrogatório.

Havia sobremesa, um mousse de maracujá e eu dispensei,


estava evitando doces, mas Fred adorou, como parecia estar
gostando de tudo. Era bom que ele não fosse fresco.

Eu estava tão tensa, que olhei feio para as duas quando


perguntaramse eu não iria ficarem casa, porque eu não queria ficar
aqui depois dessa cena toda. Eu queria ir com ele, ficarcom ele e
esquecer a minha tensão.

Fred esqueceu as suas paranoias por um momento, comentou


por alto que eu não morri por tercedido um pouco e completou
dizendo que estavamuito feliz, que me amava muito. Eu sentitudo
se comprimir por dentro, esse cretino me fazia sentir pouco
merecedorade tudoo que ele queria oferecer
. Não por não merecer
realmente,mas por poder facilitare querer e mesmo assim não
quererfacilitare abrirmão dos meus planos para pulá-los e seguir
os dele.

Eu poderia, claro.Não afetariamuitoo meu futuroou o dele, se


fôssemosmesmo ficarjuntos para sempre. Mas não queria que a
minha históriade vida fosseassim. O caos na minha casa e depois
a esposa de alguém. A minha identidade iria ficarperdida no meio
do caminho.

Jordana disse que eu era muito maluca, isso sim. Mas ela
sempre sonhou com o que vivia. Talvez não esperasse ser a
princesa de um milionário, mas ela queria viver um amor tranquilo,
se casar e terfilhos. E para ela era tudo mais fácil, por isso suas
opiniões nunca iriam combinar com as minhas escolhas.

Quando chegamos ao apartamentodele, eu corripara trocara


roupa, queria me sentirmais leve, entãovestiuma camisetaenorme
dele. Fred logo veio para o quarto, se trocando por algo mais
confortável
também. Ele veio por trásde mim, me abraçando e com
a outramão começou a acariciara minha coxa, enroscando um
dedo na alça da minha calcinha e roçou os lábios suavemente no
meu pescoço.
Eu resfoleguei, ficandotoda mole e me virei de frentepara ele.
Fred deu um sorrisosuave, desses que me derretiamna alma e
inclinou o rosto,roçando nossos lábios e eu emaranhei uma mão
em seu cabelo macio, o puxando para começarmos um beijo de
verdade.
C 06
Frederico Toledo

— Como foi com a sogrinha? — Edu perguntou com uma


pitada de sarcasmo e eu o olhei feio, que começou a rir —
Desculpa, cara, mas você insistiu até que conseguiu, né?
— Foi bom.
— Bom? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Quando você conheceu a mãe de Jordana, ela te detestou
de cara.
— Com razão — Eduardo retrucourapidamente,sempre se
colocando como o culpado que foi.
— Elas são curiosas...Tipo, muito... Mas foramsimpáticas—
dei de ombros — esperava que Marina relaxasse mais.
— Ela não vai — Edu falou, negando com a cabeça — ela e
Jordana ficaram conversando na noite passada... Ela não vai
bloquear suas vontades, mas não se sente nada confortávelcom
isso.
— É difícil,cara — eu falei cansado — e eu não quero ser o
cachorrinhoadestradoda Marina. Igual você é da Jordana — eu
provoquei e ele me lançou um olhar frio, mas nem ousou negar
.
— Pelo menos ela aceitou meu pedido de casamento — ele
retrucou minha provocação infame, me atingindo forte. Logo
trocamos o assunto, precisávamos trabalhar.

Eu havia separado um espaço para Marina no meu closet, e


não sabia se comemorava ou ficavadesconfiadocom ela passando
tantos dias seguidos por aqui, trazendo pertences pessoais.
— Não suportoaquela casa — ela falou enfática— e não vou
me casar com você... agora.
— Marina — eu resmunguei, parando em pé nos pés da cama,
onde ela sentou e deixou o corpo cair deitado — o que houve?
— Queria me encolher e chorar feito uma menininha.
— Você é uma menininha — eu constateie ela riu cansada,
fechando os olhos — o que houve?
— Eu acho que não sou nada do que você quer que eu seja.
Às vezes acho que vamos conseguir levar, mas e se não
conseguirmos?— ela perguntou,sem coragemde olhar para mim e
cobriu os olhos com o antebraço — parece que estamos nos
soterrando nisso, sabe?
— Que conversa é essa? — perguntei confuso.
— E se eu nunca quiser terfilhos? — ela perguntou,mantendo
o olhar escondido para não me enfrentar— casar, eu sei que vamos
em algum momento. Pelo menos morarjuntos...Vai acontecer , não
vou fugir pra sempre. Mas e...
— Você nunca vai querer?— eu perguntei,me referindoaos
nossos filhos.Ela descobriuos olhos devagar e nos encaramospor
um momento. Foram poucos segundos, mas pareceu uma
eternidade dolorosa. Para nossa sorte,meu telefonecomeçou a
tocar e eu fui atender
, era meu filho.

Falei com Bruninho, olhando Marina deitada na cama sem


reação.Ele queria sairpara comer pizza, aproveitarque a mãe tinha
um encontrohoje e não nos víamos há alguns dias. Eu tinha sorte
de ele não se importar em tomar iniciativa, talvez as avós
incentivassem,assim ficávamos mais próximos, mesmo com meu
tempo corrido.
Falei com Marina e a arraste
i para o banheiro. Nos arrumamos
e passamos para buscar meu filho, que contava animado sobre as
últimas notas das provas que havia feito.
— Ansioso porque vou passar o natal com você — ele falou
para mim, animado — vou até comprarpresentepra minha avó e tia
Nora.
— E os planos da sua mãe? — perguntei, esperando que
ninguém tivesse convidado a Bruna.
— Vai viajar, eu acho. Com a tia Luísa — ele contou, meio
duvidoso. Não por não saber, mas por não saber se devia contar
.

Chegamos à pizzaria e logo fizemos o pedido. Pedimos pizza


doce também. Marina se distraiuconversando com meu filho, os
dois tinhammuitaafinidadee isso era maravilhoso.Não sabia como
seria me relacionarcom alguém que não gostassedo meu filho, por
exemplo.

No meio da semana, recebiuma mensagem pelo instagram,da


minha sogra, convidando para um jantar . Disse estarpreocupada
por Marina não pararem casa. Avisei minha namorada, queria um
motivo convincente para ela estar fugindo tanto, mas nada veio.
— E eu espero muito que ele não tenha esse jogo — ela falou,
me ignorando completamente.
— E vamos jantarcom seus pais? — pergunteie ela me olhou
rapidamente,mas voltou a focarno sorveteque segurava. Suspirei,
ficandoirritadocom a sua relutância.Compramosalguns presentes,
porque na semana do Natal, nós dois estaríamossem tempo, por
causa do trabalho. Eu precisava deixar tudo encaminhado para
poder tiraralguns dias de folga e viajarmos no réveillon. Ela
também.

No dia seguinte, fui almoçar com Eduardo no restaurante da


avó de Jordana. Eu sempre me pegava observando a relação dele
com a famíliada noiva. A avó de Jordana não era a melhor amiga
dele, também pudera, mas eles se davam bem. Ele não precisava
do aval dela, por exemplo, para passar um tempo com a sogra.
Quando Dona Márcia perguntousobre a neta, ela chegou junto
com Marina. As duas tinham sacolas nas mãos e Eduardo
perguntoucurioso o que era. Marina fez um carinho no meu cabelo,
antes de sentare colocou as suas sacolas no chão ao lado da
cadeira.
— Tá bem? — perguntei, me aproximando para pressionar
meus lábios sobre os dela, que apertou os lábios e assentiu.
— Comprei uns brinquedinhos... Acho que você vai amar — ela
falou presunçosa e eu a encarei, quase adivinhando.
— Ansioso pra ver.
— Jordana comprou também — ela falou e nós dois olhamos
para Jordana, que cresceu os olhos e as bochechas pareceram
mais coradas. Eduardo riu, como se gostasse de saber
.
— Cadê a minha filha? — ela perguntou, para fugir dessa
conversa desconfortável.

[...]
Ficou acertadocom Dona Margareteque nos encontraríamos
na quinta-feira.Marina parecia uma maluca pelo meu apartamento,
com pouca paciência para mim e minha insistência.Para sortedela,
eu estavamesmo empenhado em fazerisso entrenós dois avançar
mais um pouco, então não iria começar a brigar
.
Ela falava brava, algo como eu estarfazendo tudo que a mãe
dela queria, que era ganhar minha confiança para nos afastar
.
— Que mãe faria isso? — perguntei indignado e ela me
encarou irritada — e ninguém vai me colocar contra você.
— Você não convidou seus pais, né? — ela perguntouazeda e
eu a olhei, ficando sufocado com os seus bloqueios.
— Não, Marina.
— Tudo que eu não queria era um jantarcom meus pais. Por
favor, você acha que eles fazem essas coisas?
— Na minha casa, fazem — falei friamentee fui para o
banheiro.

Nos encontramos no resta urante que eu havia escolhido.


Marina estavalinda em um vestidopretobrilhoso e saltosaltos.Dali
iríamos encontrarDenise e Ravi em uma casa noturna. Não
pretendíamos demorar , afinal trabalhávamos na manhã seguinte.
Cumprimentei seus pais e irmã, que dessa vez, estava
acompanhada do namorado. Marina falou com os três,menos com
o cunhado, o que me deixou encucado, mas perguntari a o motivo
depois. Para não gerar grande mal estar, Marina resolveu ser menos
evasiva, interagiae tentavapareceranimada. Digo tentava,porque
a conhecia e sabia que não era tão espontâneoassim. E tudo ficou
tenso por um minuto, quando Dona Margaretequis contaralgo
sobre Marina e ela cortou,parecendo grosseira,mas se desculpou
em seguida. O pai dela mudou a conversa, falando logo sobre os
nossos planos.
Ao contrárioda minha namorada, os pais dela pareciam
bastante interessados em nossos planos para futuro.
— Pensam em casar? Ter filhos? — Seu Acácio perguntou,
tentandoparecerdivertidoe Marina soltou o ar, fazendo um som
sarcástico. A olhei rapidamente, antes de responder:
— Pensamos... Eu quero mais filhos, mas isso depende dela —
dei um sorrisoe Marina me exibiu aquele sorrisofalso de quando
estava irritada.
— Imagina só... Marina, mãe! — Tereza falou como se não
conseguisse acreditar, ela e sua mãe riram.
— Aposto que ficarianas minhas costaspra cuidar — Dona
Margaretefalou, me deixando desconfortável— não que eu fosse
odiar, pelo contrário— Neguei com a cabeça, não entrandonesse
assunto.
Conformeas taçasde vinho foramentrando,eu esperava que
o clima estabilizasse, ficasse ameno e neutro.Queria a qualquer
custo uma família perfeita,um relacionamento perfei to, planos
perfeitos.
Mas Marina e a irmã entraramem uma discussão, mesmo
que em tom baixo e sarcástico.Tudo virou animosidade. A mãe
tentava intervir
, mas não conseguia ajudar.
— Mas você é muito desagradável mesmo! — ela falou para
Marina, como se ela realmente tivessecomeçado a trocade farpas.
Ela continuou, entendo, mas não começou coisa alguma.
Achei que iria acabar ali, mas minha namorada se levantou da
mesa e deixou o restaurante.Olhei sem reação para ela indo
embora, depois sem saber o que dizer aos seus pais. A irmã deu um
riso incrédulo, negou com a cabeça.
— Sempre quer sair de vítima —ereza
T falou indignada.
— Me desculpe por isso, Fred — Dona Margaretefalou
desapontada — Marina sempre foi assim, sempre fez isso. Parece
que nos detesta.

Eu não soube o que dizer. Já havia passado por muitasituação


ruim com Bruna, mas nada como isso, como ficarplantado numa
mesa sem saber qual posição tomar . Pedi a conta e, como estava
demorando muito, fui até o caixa, deixei algumas notasde cem lá e
saí apressado para que Marina não chegasse muito longe.

Olhei para os dois lados e saíandando para o direito,vendo o


ponto brilhoso andando rápido e sem direção. Corripara alcançá-la
e parei em sua frente.Marina odiava que eu a visse chorando,
odiava parecera mocinha frágilem busca de proteção.Ela era mais
aquela que se virava sozinha. Nos encaramos por um momento e
ela negou com a cabeça, ia desviar
, mas a segurei pelos braços.
— Eu faleio tempotodoque não queria isso — ela faloubaixo,
mas a voz denunciava a vulnerabilidade dela.
— Tudo bem, me desculpe — eu falei, não havia nada para
dizer além disso. Eu insisti,achei que era bobagem dela não querer
.
E para mim ainda era. Não que eu fosse continuarinsistindo em
tornarrotineiroos encontros,já havia notado que não dava certo.
Mas queria me sentir parte da família.
— Jordana está vindo me buscar — ela falou e eu a olhei
confuso — não vou pra casa com você hoje.
— O que? — perguntei, sentindo uma pontada de
desapontamento — por quê?
— Porque você insistiuem algo que eu não queria, como se
não confiasseem mim. Você tem agido como se só a sua vontade
importasse,como se só os seus planos valessem. Não quero ficar
com você hoje.
— Mari, eu sei que insisti,mas eu não esperavaque... — eu fui
interrompidoporque Jordana chegou, dirigindo a Mercedes de
Eduardo. Ela baixou o vidro e buzinou. Eu olhei decepcionado para
ela, que apertouos lábios. Marina se afastoue foi até lá, entrouno
carro e as duas se foram.

Observei o carro indo embora, segundos depois sumiu de vista.


Respirei fundo e voltei. A família de Marina estava saindo do
restaurantenaquele momento, a mãe dela ainda veio se desculpar,
dizendo que Mari era muito mimada, por isso a cena. Neguei com a
cabeça e falei que estava tudo bem. O pai dela agradeceu pelo
jantare disse que sentia muito. Assenti e trocamosum apertode
mão, então eles se foram.
Peguei meu carroe liguei para Eduardo, querendo saber de
Marina.
— Eu to sozinho em casa com a minha filha — ele falou —
Jordana saiu com Marina.
— Pra onde? — perguntei inconformado.
— Eu não sei, cara. E é a primeiravez que Jordana sai sem
me dizer pra onde — ele começou a rir— porque sabia que eu iria
te contar
.
— Mas que droga.
— Já sei que o jantarfoiuma bosta— ele falou— se quiser vir
pra cá, eu e Helena estamos construindo uma casinha.
— Que merda — eu resmunguei, antes de desligar.

Fui para o apartamentode Eduardo, que não ficava longe de


onde eu estava.Quando subi, ele abriu a portae fomospara a sala
de jogos. Helena estava lá, entretidacom uns tijolinhos e Eduardo
construía casinha
a .
— Jordana sabe que você a deixou sozinha por um minuto com
essas peças pequenas? — perguntei,me sentando ao redor da
mesinha da pequena e ele me olhou assustado.
— Acha que ela engoliu algo? — Edu perguntou,analisando a
filha,que feza mesma caretadele — abre a boca, papai — ele falou
para Helena, segurando o rostinhoda filha. Depois ele abriu a boca
e colocou a língua para fora,falando “A” e ela repetiu,não havia
nada errado, mas ele era paranoico.
— Ela não engoliu nada — eu falei desanimado.
— Pensei que se ela começasse a brincarcom essas coisas,
iria querer ser engenheira.
— A garotatem nem um ano, são dezessete anos até ela
começar a pensar no que quer — eu falei e ele fez uma careta.
— Eu e Jordana estamosdisputandose ela vai ser engenheira
ou arquiteta— ele falou pretencioso,rindo — por isso, precisamos
de mais um filho, pelo menos. Assim cada um escolhe uma
profissão e não ficamos com ciúme.
— Vocês são doidos — falei desgostoso.
— Por que Marina ligou pra Jordana pedindo socorro?— ele
perguntou, passando o cimento no tijolinho, colocando no lugar
certo e eu observei, mas Edu pigarreou e eu o olhei.
— Porque eu fui um idiota. Achei que se me aproximasse da
família dela, teria aliados. Mas não foi como imaginei.
— Ela foi contrao tempo todo — ele relembroue eu suspirei,
angustiado— Jordana disse que ela sempreteveuma relaçãodifícil
com a família.
— Mas...
— Uma mulher não esconderia um cara como você, se tivesse
uma família incrível.Jordana nunca me privou de estarpor pertoda
mãe e avó dela. Mesmo quando elas me odiavam.
— Por que comigo nada pode ser fácil assim? — perguntei
indignado e Edu negou com a cabeça.
— Você teve tudo fácil,Fred — Edu falou, voltando a construir
.
Helena pegava os tijolinhose dava para ele, como se entendesseo
que estava fazendo.
— Fácil?
— Você casou forçado,eu sei. Mas sempre teve tudo fácil.
Teve um filho incrível,se separou e lidou com as confusões da
melhor maneira... EncontrouMarina, se apaixonou por ela e nunca
renegou o que sentia.Eu, não. Tive perdas irreparáveis,que nunca
vou superar. Fui enganado também. Eu tive sorte,eu sei... Mas eu
precisei colaborarcom a vida, pra poder usufruirdisso tudo agora.
Você precisa colaborar também.
— Você fez uma planta? — perguntei, pegando o papel e
analisei. Eduardo começou a rir
, assentindo.
— Não vejo a hora de Helena ficarmaior e poder se divertir
mais com isso — ele falou sobre o brinquedo — mais divertidoque
fazer maquete.
— Sério? — perguntei duvidoso e ele assentiu.
— Pensei atéem fazertodoo rebocoda casa e pintar . Vai ficar
perfeito— ele falou e eu cerreios olhos, incrédulo. Para me distrair
um pouco, comecei a ajudar na construção,mas logo fizemosuma
pausa para Edu trocarHelena. Logo depois Jordana ligou o
lembrando de dar o leite dela e que já estava na hora de colocá-la
para dormir
.

O ajudei, ele trocoua pequena, deu banho e eu preparei a


mamadeira dela.
— Jordana diz que eu a deixo mal acostumada, a colocando
pra dormirno colo — Eduardo falou baixinho, enquanto a pequena
segurava a mamadeira e ele a balançava devagarinho no colo —
mas ela é tão pequena... Depois vai crescere eu não vou mais
poder aproveitar esses momentos.
— Eu quero viver isso também — sussurrei e ele assentiu.
— Você vai, cara... Na hora certa,você vai... — ele falou,
acariciando o cabelo da filha.
A angústiame soterravacom força,eu olhava toda essa rotina
de Eduardo com a filha, era tudo que eu queria. Não estava com
inveja dele, mas eu queria poder pelo menos sonhar. Não adiantava
ficarnessa de “na hora certaacontece”,se a pessoa com quem eu
queria dividir a vida, tinha planos tão diferentes dos meus.

Quando Helena dormiu, Edu subiu com ela e voltou com o


monitorda babá eletrônica.Nos sentamosno sofá da sala. Ele em
um sofá e eu na poltrona confortável.
— Ela não disse onde estavam? — perguntei,apoiando os
braços nos joelhos e escondi o rostonas mãos. Neguei com a
cabeça, não queria me colocar como culpado, a minha intenção não
era ruim.
— Não seriabom dar um tempo, cara?— ele perguntoue eu o
encarei — pra esfriarem as ideias, analisarem os planos.
— Não vou terminarcom ela — falei o óbvio e meu primo
assentiu devagar
.
— Então você precisa lidar com a possibilidade de ela não
querer ter filhos. Parar de insistir como você vem fazendo.
— Qualquer mulher iria quererusufruirde tudo que eu quero
dar pra ela e...
— A personalidade da mulher que iria quererusufruirde tudo
isso, não combina com você — Edu falou, começando a rir— é
meio óbvio.
— Mas que droga, custava muito pra ela ser mais
transparente?
Eu tenho que ficardecifrandoMarina o tempo todo
e.... — solteio ar e neguei com a cabeça — eu só queria... eu nem
sei o que eu queria.
— Depois vocês conversam com calma, decidem o que fazer
.

Jordana chegou, tropeçandonos saltosaltosque calçava e eu


me levantei num impulso, achando que Marina estivesse com ela.
— Opa — ela falou, chegando pertode nós — deixei Marina
em casa. To amando esse carro,sério, me sintomuito livre dirigindo
sozinha essa hora da noite e... — ela destrambelhoua falare parou
diante o olhar desconfiado de Edu.
— Eu já vou, então — falei — como ela estava, Dana?
— Chateada... Olha, Fred, eu poderia passar horas te contando
detalhes,mas sei que ela se sentiriaexpostademais se eu fizesse
isso. Então, se você quer um conselho, conversa com ela. Direito.
Expõe o que você quer, peça para ela fazero mesmo, cheguem em
um acordo. Senão... — Jordana olhou para Eduardo por um
momento — eu nem sei. Não queria que terminassem.
— Eu não quero também— faleimais baixo. Me despedi deles
e fui para casa.
C 07
Marina Marques

Acordei com dor de cabeça na manhã seguinte. Muita dor.


Causada por terdormido pouco e pelo estresseda noite passada,
eu tinha certeza. Mas precisava levantar e me arrumarpara o
trabalho.

No meu celular, havia uma mensagem de Fred. Um bom dia,


seguido por um eu te amo. Respirei fundo, respondendo friamente.
Estava tão magoada com ele, tão insegura de nós dois.

Sai do quartoe fuitomarbanho, depois me troqueie passei um


pouco de maquiagem. Tinha um dia cheio hoje, por sorte,
conseguiria um recesso de uma semana para o réveillon. Tive a
sortede sair sem ninguém terlevantado ainda. Havia combinado
com Jordana de sairmos para tomar café juntas. Ela chegou
cedinho, para que eu não me atrasasse para o trabalho.
— Edu não fica com ciúme do carro?
— Ele temoutro— ela falouo óbvio, estavaamando sairpor aí
com o carrãodo amado — até evito falarisso, porque vai que ele
me aparece com um carrodesses? Eu iria enlouquecer. Vovó iria
dar um ataque de que ele está me comprando.
— Vocês moram juntos e têm uma filha.
— Não quero presentescaros assim, parece que sou uma
interesseira— ela começou a rir
, estava tão leve e feliz que era
injusto importu
ná-la com meus problemas — Fred estava lá com
Edu, ontem... Tão abalado. Confuso.
— Ele causou tudo isso.
— Ele não causou, amiga. Ele só queria dar mais um passo,
achou que encontraria pessoas legais na sua família.
— Me dá enjoo só de lembrar . Eu aposto que tudo que a
Tereza queria, era contarde uma maneira envenenada o meu caso
com o Lucas.
— Só se ela contasse uma mentira.Todo mundo sabe que
vocês estavamjuntos,quando eles começarama ficar— ela falouo
óbvio — e foi um favor que te fizeram, sinceramente.
— Foi — suspirei cansada — mas iriam colocar alguma
insegurança no Fred. Aposto que o fariamacreditarque nossa má
relação é por causa disso.
— Olha, se vocês tivessemuma boa relação, sua irmã jamais
iria ficar com seu namoradinho — ela falou o óbvio.
— Vou esquecer isso.
— Denise estavacom Ravi, sinceramente,eu não sei como ele
tem essa coragem — Jordana falou indignada — ele está sempre
conosco, mas a cada encontro uma mulher diferente.
— Eu no lugar dela, já teriadesistidodele — falei o óbvio —
você também?
— Não sei, né — ela falou exacerbada — eu perdoei Edu... —
ela riu, me olhando rapidamente.
— Ai, amiga — falei,rindo incrédula por ela comparar— Edu tá
um cadelinho apaixonado.
— Sabe o que é pior? — Jordana perguntoue eu esperei que
continuasse — Edu acha que ele realmente gosta dela.
— Dela quem?
— Denise — pontuou — mas ele é muito problemático.E não
consegue resistira Chiara. Isso que deixa ele frustrado.
Que se
fossecom várias mulheres aleatórias,ele entenderiao problema, o
vícioem termuitas.Mas ele só continuase encontrandocom Chiara
porque com ela, ele pode tudo.
— Sabe o que foi surpresapra mim? — eu pergunteie ela me
olhou — eu jurava que a Denise transava. Antes dele.
— Você me julgava por terficado com um só. Imagina se ela
contasse que era virgem?ocêV não iria aceitar
.
— Claro que iria. É completamentediferentevocê esperar pra
ter a primeira vez. E ter a primeira vez e não ficar com mais
ninguém nunca mais — eu falei e Jordana revirouos olhos — não
pra ternúmeros, mas porque você deixou de viver, praticamente.
Quem te vê hoje, não acredita em como você era há dois anos.
— É verdade.

Jordana escolheu o lugar e tomamoso caféda manhã, falando


muitoda vida alheia. Ela perguntouse eu iria almoçarem casa, mas
só pelo meu olhar, ela já sabia que não.
— Nem acho que vou conseguir sair hoje pra almoçar. Vou
comer algo por aqui, mas se você quiser, podemos sair à noite —
falei presunçosa, deixando claro que Fred não estava nos meus
planos.
— Adoraria, juro. Mas Eduardo estádramáticoe vou ficarcom
ele hoje.
— Você fica com ele todo dia — reclamei, fazendo drama.
— Você me liga mais tarde,aí decidimos — ela falou vencida
— não vou te deixar sozinha.

[...]

Cheguei em casa no começo da noite, trocandomensagens


com a editorada agência. Fred havia mandado mais mensagens
duranteo dia, que eu estavarespondendo friamente.Teríamosque
conversar e eu não queria fazer isso chateada.
— Uma vez que te damos um voto de confiança, nos faz
passar uma vergonha sem tamanho daquelas — minha mãe falou
quando entreie eu ergui o rosto,pegando seu olhar raivoso em
minha direção — o que esse cara deve pensar de você?
— De mim, nada. Porque ele me conhece. Agora de vocês, eu
já não sei — falei sarcástica.
— Você fez de propósito.Queria nos fazerpassar por esse
papel ridículo a todo custo!Só sossegou quando conseguiu! — ela
falou indignada, o tom até parecia melancólico. Eu respireifundo —
você não merece um cara desses, Marina!
Ignorei.

Respirei fundo e ignorei a vontade de ficardiscutindo.Jordana


avisou que poderíamossair e tomaralguns drinks, Edu iria levar a
Helena na mãe dele e depois nos encontraria.Eu sabia que isso iria
querer dizer Fred indo junto, mas não me opus.

Me arrumei e fiz uma maquiagem bem forte,para destacaros


olhos. Vesti uma calça de cinturaalta e um cropped de gola alta.
Escolhi uma sandália alta de salto fino e coloquei pulseiras e
brincos. Jordana chegou no momento em que termineide passar
perfumee eu desci. Minha mãe e Tereza falaramalgo na sala, mas
não dei atenção. Eu já estava tão calejada delas duas, que não me
permitiamais entrarprofundamentenos sentimentostristes
que me
causavam.

Denise nos encontrouno restaurante do Hotel escolhido por


Jordana, ela mesma havia cuidado das reservaspara seis pessoas.
Decidi me distraire ignorartodos os problemas. Eu sabia que não
facilitava muito para Fred, mas ele precisava parar de criar
problemas que não precisavam existir
.

Eu e as meninas conversamos e jantamos,só nós três.Depois


pedimos bebida e mais tard e, os homens chegaram. Fred estava
muito bonito, vestido todo de preto, o que contrastavasua pele
branca. Os cabelos estavam penteados para tráse a barba ali
dando o toque perfeito em seu visual incrivelmente sedutor
.
— Tudo bem? — ele perguntou ao se sentarao meu lado. O
olhei, balançando a cabeça positivamente.
Edu logo deu uma bronca em nós dois, falando também que
éramos o casal mais animado que ele conhecia e agora estávamos
assim. Olhei para Fred, que retribuiu,estávamos bem até ele
começarnessa agonia de quererapressaras coisas. Então eu não
achava que a culpa era minha.

Ficamos um pouco no restaurante, mas logo Ravi encontrou


uma festapara irmos. Eu estava um pouco cansada, havia dormido
pouco, mas não recusei. Quando chegamos lá, Fred foi comprar
bebidas para nós dois e Jordana estavadiscutindocom Edu, sobre
algo que daqui não dava para saber. Ela bateu com o pé no chão,
gesticulou demonstrandoimpaciência e ia vir até mim, mas ele a
puxou, não dando tempo para ela pensar e começou um beijo.
Comecei a rir, era muito fácil para Edu lidar com ela, coitadinha.
Sempre a seduzia e se redimia.

Fred voltou com nossos drinks, mas nós dois estávamos


estranhos.Talvez eu estivesseestranha,esperando só o momento
de ele decidir não querer mais. Se ele queria uma relação de
comercial de margarina, não era comigo que encontraria.E ele
sabia disso desde o primeiro momento. Nunca fomos um casal
convencional. Começamos no meio do divórcio dele, eu fui para a
cama dele no primeiroencontro,não paramos mais, mas tivemos
vários impasses no caminho.
E todo mundo sabe que é muito mais fácilquando o homem é
o quebrado da relação. Estão acostumadosque a mulher espera,
que ela o ajuda, que ela perdoa.

Reclamei de dor de cabeça por alto e ele perguntouse eu já


queria ir embora. Olhei para ele, eu iria com ele? Mas ir com ele era
melhor do que acordarem casa em um dia que não iria trabalhar .
Mas aí eu estaria apenas o usando.

Não deu meia hora e Jordana veio avisar que iria embora, o
que era óbvio, já que Edu não parava de provocá-la.
— Me desculpe — ela falou pesarosa, mas sacudi a cabeça.
— Tudo bem — falei tranquilamente.
— Saudade de quando estávamosassim — Fred falou e eu o
olhei. Ele passou um braço em tornoda minha cinturae depositou
um beijo em minha têmpora— sem freio,não conseguíamosficar
muito tempo num lugar, precisávamossair pelo menos pra aliviar a
vontade e voltar depois.
— As coisas mudam, Fred — eu faleie ele assentiu— embora
eu sinta falta disso.
— Agora que Jordana e Edu se foram,to com medo de ir e
deixar Ravi com Denise, sozinhos.
— Eles não vão fazernada demais — falei confusa— a não
ser que ele faça.
— Esse é o ponto... Chiara estáaí também. Com outrocara —
ele falou, como se Ravi se importassepor Chiara ficarcom outros
caras.
— Coitada da Denise — sussurrei. Ficamos com eles,
conversamos,nos divertimos.O outrocasal foi embora primeiro,e
logo depois, eu e Fred saímos.

Chegamos ao apartamentodele aos beijos. Não sei em que


momento decidimos ignorar todos os nossos problemas de casal
para tra
nsarmosbem gostoso, mas eu nem queria pensar nisso. O
beijo estava profundo,sôfrego.Um desses beijos que acaricia o
âmago. Ele tinha uma mão firme em minha nuca, nunca me
deixando escapar. Ficamos tanto tempo só no beijo que tudo
começou a estalarquerendo mais. O empurrei,que caiu sentadono
sofáe monteino seu colo. Tirei o cabelo do caminho e volteia beijá-
lo, que apertav
a minha bunda, me puxando para pressionarcontra
seu corpo. Fred resfolegou quando desci os beijos pelo seu
pescoço, mordiscando e beijando lascivamente.
— Tira essa roupa toda — ele falou engasgado e começou a
puxar a partede cima, logo conseguimos tirá-la.Depois me levantei
e tir
ei a calça, mas ele olhou todo sério para minha calcinha e eu
desci. Dei risada da sua cara de cão sem dono, olhando no meio
das minhas pernas.
— Você é muito safado— eu faleie ele mordeu o lábio inferior
,
desabotoando a camisa preta.
— Vem, senta aqui no meu colo — ele falou, batendo na coxa e
eu montei nele de novo, dobrando um joelho em cada lado — eu
amo tervocê pelada em cima de mim, vou comervocê todinha hoje.
— Fred — falei mole, ele segurou meu cabelo em um rabo na
sua mão, me inclinando para tráse lambeu o bico do meu seio
direito. Depois lambeu o outro, mordiscando e chupou suavemente.
— Você é gostosa demais — ele resmungou, me lambendo
toda, pelo colo, pescoço, indo sob a orelha em direção à nuca. Eu
instintivamente
rebolava sobre ele, buscando qualquer fricção— to
doido pra você gozar meu pau todo — a voz saiu sussurradano
meu ouvido, me deixando toda arrepiada— apostoque a bocetatá
toda encharcada me querendo.
— Fred — eu falei, pareceu mais um pedido. Não, eu implorei
ao chamá-lo. Ele deu um sorrisosafado, voltando a provocar, me
acariciando e lambendo pelo corpo todo.

[...]
Acordei primeiro na manhã seguinte, com a dor de cabeça
insistente voltando. Fred se mexeu, mas milagrosamente não
despertou. Com o seu movimento, o lençol embolado entre as
pernassaiu de cima do membro que estavaeretoe eu o olhei. Olhei
esse homem todo, tão gostosoe intensivo,inconstante.Me levantei
para ir ao banheiro, mas isso deve tê-lo acordado de vez e ele veio
atrás.
— Intimidade é uma merda — eu reclamei para ele, enquanto
fazia xixi, mas ele não se importavacom essas coisas há muitos
meses. Ele negou com a cabeça e jogou uma água no rosto,depois
escovou os dentes.
Fiz o mesmo quando acabei, mas quando pensei em voltar
para o quarto,doida para dormir mais um pouco, ele me puxou,
escorregando uma mão pelo meu cabelo, emaranhando ali e
começou um beijo delicioso na minha boca. Depois me sentou na
bancada, afastando minhas coxas para se colocar no meio.
— Eu transeicom você a noitetodae ainda sonhei com isso —
ele resmungou, me puxando e forçouo membro excitadona minha
entrada,vindo devagar e exalando seu alívio — porque eu sou um
condenado e viciado em você.
— Que gostoso— eu sussurrei,o abraçando e ele passou os
braçosem volta do meu corpo, me puxando para mais pertoe veio
todinho para dentro, deliciosamente.
— Ainda bem que você é safada — ele falou, me fazendo rir,
mas deslizou para forae veio forte,me arrancandoum gemido alto.
O apertei mais no abraço, as mãos enlaçadas no seu pescoço e
afundei o rostoali, fechei os olhos, me deliciando toda dele. Logo
ele me ergueu no colo e me levou para cama, vindo por cima. Fred
levou uma mão para o meu rosto,me segurando para me beijar e
logo estávamos fazendo amor outra vez.

Eu estava tão lubrificada,tão excitada por vê-lo tão cheio de


vontade por mim. Ele gemia e resfolegava,diminuía a velocidade
das investidas para conseguir fazer durar
.
— Eu não aguento mais — ele falou, estremecendotodo e
angulou o quadril, ficandodentroe eu afasteimais as pernas — eu
quero muito gozar... — a voz veio sussurrada,o que me fez querer
rir
. Afundei uma mão em seu cabelo, o puxando para que me
olhasse e ele juntou nossas bocas. Fred não aguentou quando
forceicontraçõesdo meu interiorno seu pau, teve espasmos fortes,
gemendo agoniado e no minuto seguinte fui inundada com seu
sêmen. Apreciei cada segundo do seu momento mágico, era tão
gostoso vê-lo tão cheio de tesão, se perdendo no seu orgasmo.
— Não precisa se desculpar — eu falei rapidamente.Era tipo
uma ofensa para ele, não me esperar
.
C 08
Frederico Toledo

Com medo de que uma conversamais séria resultasseem um


término,eu deixei que Marina conduzisse nossa relação. Em uma
conversa mais sensata com minha mãe, ela alertouque não iria
funcionarpor muito tempo. Nós dois já não éramos mais crianças
para agirmos desse jeito, termos medo de chegarmos em um
acordo. Mas o tristeera que nem ela e nem eu, estávamos
dispostos a ceder nossos planos e vontades.

Queria poder pagar pela independência que ela tantoalmejava,


mas porra, qual sentido dessa mulher querer morar sozinha, se
acabaria vindo morar comigo de qualquer maneira?

Sua mãe falou comigo umas duas vezes, insistindo em se


desculpar. O que achei desnecessário. Porque depois das
desculpas, ela replicava algum defeito de Marina.

Como era véspera de Natal e Bruninho passaria este comigo,


nós dois saímos para comprarpresentes.Avisei para Marina onde
estávamose pedi uma pistado que ela queria ganhar. Não por mim,
mas para meu filho, que queria dar algo útil para ela.
— E se eu der uma roupa? — ele perguntou animado e
ponderei, não teriaerro — mamãe diz que tenho bom gosto pra
escolher.
— Então vamos procurar— concordei com ele. A tardeno
shopping foiprodutiva,embora estivesselonge de serum dos meus
programaspreferidos.Bruninho comprou uma bolsa de marca para
Marina. Ele não olhou preços, deixou essa partepara mim. Eu já
imaginava Marina surtandocomigo por terdeixado, mas ele queria
agradá-la. Minha mãe havia conversado com ele, sobre uma
possibilidade de nos separarmos e ele achava que se fosse legal
com ela, as coisas iriam melhorar
.

Eu gostaria que tudo fosse assim tão fácil. Para minha mãe, ele
comprou um par de brincos. A mãe dele tinha razão quando dizia
que tinha bom gosto, mas zero controle com gastos.
Paramospara comeralguma coisa e por azar Luísachegou ali,
e, para cumprimentaro Bruninho, acabou se sentando na mesa
conosco, a convite dele, e pediu uma salada.
— Uau, só coisa de grife— ela falou, olhando superficialmente
as sacolas.
— Faltou o presente da Jordana — meu filho falou, como se
lembrasse de repentee eu comecei a rir . Luísa fez uma caretade
desgosto,mas não se deixou abater— o que foi? — ele perguntou
para mim, completamente confuso.
— Nada, meu filho — falei, mas não conseguia pararde rir .
Luísa perguntoupara ele sobre o presenteda Bruna, que já havia
deixado predefinido. Uma bolsa cara que me custou milhares.
— E você quer que o papai e a mamãe voltem? — ela
perguntou e eu a encarei sério.
— Não. Eles só brigam — Bruninho falou o óbvio — e eu
prefiro muito mais meu pai com a Mari.
— Sério? — Luísa perguntou entojada — acho ela tão chata.
— Eu não acho — meu filho retrucou— e eu não quero falar
dela com você.
— Tá bom... — Luísa revirouos olhos e os dois mudaram de
assunto.

Ànoite, passamos para buscar Marina, que veio toda linda em


um vestidode seda na cor vermelha. Demos um selinho demorado
quando ela entrouno carroe depois ela falou com o meu filho. Deu
logo o presentepara ele, um jogo que os dois estavamfalandooutro
dia.
— Espero que não tenha incidentes nesse natal — eu falei
para ela, que começou a rir
.
Ainda no carro,Bruno deu o presentede Marina, que ficou
chocada, mas não tinha como retrucarou recusar. Se fosse eu,
provavelmente a bolsa estaria descendo goela abaixo. Ela
agradeceu o presente e eu a olhei presunçoso.
Chegamos à mansão dos pais de Edu, que já estava
movimentada. Toda a famíliaestariapresente,dessa vez, apenas a
família.Isso se devia ao incidente desastrosodo Natal passado.
Passei meu braço ao redor da cinturade Marina e ela parou de
andar, segurando meu queixo para beijar meus lábios suavemente,
agora que Bruninho já havia ido correndo para encontraras
pessoas.

Por mais que eu quisesse empurrarqualquer frustração


para
longe, toda vez que eu via a famíliaperfeitade Eduardo, eu olhava
para Marina, não conseguindo não questionaro porquê de nós dois
não podermos dar passos largos também. Depois tinha que me
convencer a voltarpara a minha realidade e lidar com todos os
bloqueios dela. Tiramos fotoem família,em casal. Helena já saía
dando vários passinhos sozinha, o que deixava todo mundo louco
de animação.

Quando tia Nora começou uma conversa sobre a festade


batizado ser logo depois da de um ano da pequena, Chiara
começou um chilique dramáticode que teriaque sera madrinha. Eu
sabia que o padrinho dela seria eu, não abririamão desse posto.
Jordana lançou um olhar significativopara Marina, que deu um
sorrisocomplacente. Considerando a proximidade de Chiara com
Helena, era justo que fosse ela.
— Mas vamos termais filhos,Mari — Edu prometeupara ela,
ignorando os olhares fuzilantes de Jordana.
— Deixa eu te mostrarmeu presentenovo — Jordana falou
para Marina, a arrastando pela mão.
— Eduardo se superou em todos os sentidos — tio Danilo
falou, começando a rir
.
— Um homem apaixonado faz qualquer coisa pela mulher
amada — minha mãe quem retrucoue me olhou rapidamente.Era
muito fácil quando o homem era apaixonado por uma mulher que
faz todas as suas vontades e caminha junto com ele. Entraram
rapidamentena conversa sobre Eduardo terse apaixonado desse
jeito outravez. Engraçado como carasque se regeneramlevam um
crédito a mais por isso.
Caras apaixonados e que sabem o que querem, não passam
de insistentes sem noção, como diria Marina.
C 09
Marina Marques

Jordana me mostravao presentede Natal que Edu deu para


ela. Uma Mercedes Benz A 200. Ela estava simplesmente admirada,
comentou que Edu adorava essa marca. Já estava até com a
cadeirinha para Helena, acoplada no bando traseiro.
— Por um momento, eu quis negar. Nora percebeu na hora
meu olhar de pânico, aíChiara apareceudizendo que eu deveria me
acostumar , já que fazia parteda família— ela desatou a falar
, do
seu jeito meio retraído,mas estava feliz demais para conseguir
guardarsó para si — e eu estava roubando muito o carrode Edu,
achei que poderia ser bom ter um.
— Se tr atandode Eduardo e vendo o presenteque ele deu pra
Chiara, foi até modesto — eu brinquei e ela riu, assentindo— e é
lindo, a sua cara.
— Não é? — ela perguntouemocionada, tocandona ponta do
laço enorme que estavano carro— pareceatéque eu tosonhando.
— Mas também, depois de tudo o que vocês passaram, você
merece viver o seu conto de fadas perfeito.
— Li esses dias sobre acreditarnos desejos... Parece que faz
com que aconteçam — ela falou presunçosa— mas e você e Fred?
Sei que estãotentando,mas quem conhece aquele casal engraçado
e aquela conexão toda, sabe que não estão nada bem.
— Eu não sei mais o que fazer — falei baixo, o tom da voz foi
se perdendo até virar um sussurro.
— Facilitar não é mesmo o caminho?
— Facilitar
, Jordana? — pergunteiindignada — você acha que
tem alguma chance de dar certo,ceder aos planos de Fred só
porque ele quer? E eu, o que eu quero não importa mais?
Ela me analisou por um segundo, coçou a nuca sem saber
como argumentar , então voltei a falar:
— Você queria um marido, queria se casare terfilhos.Sempre
quis. Pode teracontecidona ordem errada,mas no finalvocê teveo
que queria, exatamenteo que queria, não foi? Mas esse não é o
meu sonho. Não quero ser a esposa e mãe dos filhos de alguém.
Não quero me reduzir a isso.
— Você acha que sou só a esposa e mãe do filho de alguém?
— ela perguntoue eu a olhei, finalmente.Neguei com a cabeça, me
sentindo culpada por colocar dessa maneira — vamos aproveitara
noite. Vocês dois se amam, não é? Vão acabar se entendendo em
algum momento.
— Eu acho que pra sempre vamos carregaro peso daquele
aborto— eu falei mais baixo, instintivamente
olhando ao redorpara
me certificar de que ninguém estivesse ouvindo.
— Eu acho que vocês já superaramisso — ela falou cautelosa
— que foi um baque, mas vocês lidaram com isso quando
aconteceu.Fred é engraçado e bonzinho, mas ele é orgulhoso, não
teria voltado pra você sem ter te perdoado.

Decidi não prolongar , mas eu não achava que ele tivesse


perdoado genuinamente. Eu diria que ele relevou e passou por
cima, cobriu com alguma coisa, para poder ficarcomigo, porque me
amava. Porque estava mais difícil ficar longe.
[...]

No domingo, manhã de Natal,eu e Fred ficamosna cama dele,


cheios de fogo. Eu não queria sair daqui, do aconchego e da
pegada dele para cumprirmo s a agenda de final de ano da família
perfeitadele. Mas seria capaz da mãe dele apareceraqui e nos
levar pelo braço.

Eu fui para o banho primeiro,enquanto ele estavaescoradona


pia, pelado, mexendo no celular. Terminei meu banho e me enrolei
na toalha, passei por ele e me levantei na ponta dos pés para roubar
um selinho que ele nem esperava, então me segurou e me deu um
beijo gostoso.

Fui me trocarenquanto ele tomava banho, e depois passei um


pouco de maquiagem. Sequei os cabelos e passei perfume.Fred
ficou prontoquase junto comigo e comemoramos termosacabado
ao mesmo tempo.
Tínhamos um hábito saudável de falarda vida alheia, porque
quem conhece o Fred, sabe que ele é expertnisso. Único fracasso
da vida de fofoqueirodele, foi não ter descobertoo namorado
misterioso da Chiara.
— O romance nem vingou e eu fiquei sem saber — ele falou
enfático,me fazendo rir— agora como que trocaum boy misterioso
pelo Ravi, que é claramentelouco por outra? — ele perguntou
incrédulo.
— Deixe seu amigo te ouvir falando assim.
— Amor... — Fred falou, me olhando rapidamente— o cara
tem um romance conturbadocom a Denise, e a Chiara fica aí no
meio, sabe Deus porquê. E ainda provoca!

Bruninho não participava das nossas fofocas matinais.


Chegamos à casa dos pais de Fred e fomos muito bem recebidos
para o café da manhã, na área externagourmet.Eu conversava
com a minha sogra, enquanto Fred estava distraídodigitando no
celular. Bruninho gritoupelo pai num campo na área de lazer e ele
foi, deixando o celular com a tela desbloqueada ali.

Eu nunca fui de fuçaro celular dele, embora nunca tivéssemos


estabelecidoum bloqueio sobre. Só nunca sentivontade de olhar e
procuraralgo. Do jeito que Fred era, se ele aprontassealgo, não
conseguiriaguardar, era óbvio. Ser transparentedemais chegava a
ser quase um defeito dele.

Mas subiu uma notificaçãode Margarete Marques. Toquei na


tela para o celular não bloquear e peguei o celular. Nora falava
sobre os planos megalomaníacosda irmã para a festada Helena,
disse até que Jordana estava ficando maluca, nada acostumada
com tantoluxo e dinheiro. Mas eu achava que era questãode tempo
atéela relevare lidar com isso como algo rotineiroda vida dela. Não
achava que se tornaria uma maluca deslumbrada, mas pararia de se
chocar com coisas caras demais.

Nair continuoutagarelandoe eu peguei o celularde Fred. Olhei


para ela, que parecia distraí
da com um arranjode floresenquanto
falava e falava. Toquei na conversa,sabendo que Fred iria me odiar
por cinco minutos por eu fazer isso.

Subi a conversa toda, desde quando ela se desculpou por eu


ser tão mimada. Sempre se colocando de vítima,a mãe rejeitada
pela filha e não o contrário.Fred respondia sempre educado,
mesmo que não desse muitacordapara alimentarfalarmal de mim.
Era o mínimo, no entanto.

No final, estavam conversasde convite para um almoço hoje,


lá em casa, nada chique, mas de coração. Revirei os olhos ao ler.
Fred respondeu que falaria comigo e logo confirmaria.
— Sabe, não que eu estejapressionando...Mas quando você e
Fred tiverem um neném... — olhei para Nair, que cerro u os olhos
como se projetasse — vai ser a coisa mais linda do mundo.
— Você sabe que eu tenho pavor dessa conversa — eu falei
enfática.
— Meu marido diz que você é estranha— ela falou, rindo e eu
fiz uma careta— qualquer mulher iria quererse casar e entrarpra
essa família.
— Menos a que eu amo — Fred falou e eu olhei para trás,o
vendo pararatrásde mim. Ele inclinou e deu um beijo na minha
cabeça.
— Formam um casal tão lindo... Não vejo a hora de poder
bancar a maluca, igual Nora vem fazendo. Festa de um ano,
batizado, depois casamento... Ela está se realizando.
— Está mesmo — Fred falou, se divertindo— e depois vai
pressioná-los ainda mais pro segundo bebê.
— Do jeito que a Jordana é bobinha, vai ceder fácil — ela falou,
abanando a mão — sabe uma curiosidade secretaminha? — ela
perguntou mais baixo, para enfatizaro segredo e Fred esperou
atencioso — saber como Luísa está com isso tudo...
C 10
Frederico Toledo

A notícianas mídias sociais, principalmente aqui pelo Rio,


rodava sobre Luísa estrelarem um filme. Eduardo não queria falar
sobre nada da ex, que ele não consideravaex, mas eu queria falar
disso com alguém. Tantas perguntasme rodeavam. Que tipo de
papel ela iria fazer? A boca estava gigantesca,e eu apostava que
depois dessa última lipo, injetou algo na bunda, estava
completamente desproporcional.

“Você e pior que uma mulher


, Frederico” — Marina enviou.

Não que eu estivesse julgando ou menosprezando, mas era


difícilconhecerLuísaa longo prazo e acharque fariaum bom papel.
Marina não brincava quando dizia que a assessoria dela jogava
duro. Tanto para cobriras fofocas sobre a soberba dela com as
pessoas, quanto para conseguirbons trabalhose fazeras pessoas
acreditaremque ela era incrívelcomo influenciadora.Mari disse que
eu estava falando mal, mas seria o primeiro a querer assistirao
filme. Mas era óbvio, eu teria que dar meu parecer
.

“Eu torindo de você, sériokkkkkk” — minha namorada voltoua


dizer.

Mais tarde, alimentando meu eu curioso, Mari disse que a


chefe dela iria entrevistar
Luísa e falarsobre esse novo projeto,a
entrevista
sairia em vídeo no Youtube e ela me avisaria em primeira
mão.

“Vou esperar MUITO ansioso” — respondi e ela respondeu


rindo.

Eu estava aliviado que nós dois estávamosconseguindo pisar


nos nossos conflitose paramos de brigar. Não fomos almoçar com
os pais dela. Prometi para minha sogra que poderia fazer isso
quando voltássemos de viagem, mas acabei me sentindo
pressionado a prometerque passaríamoslá para vê-los antes de
partimos.Ela, curiosa, perguntoupara onde iríamose Marina me
vetou de dizer
.

Não esperavaquando Jordana apareceue me entregoua filha,


disse que iria sair com Marina, as duas queriam fazercompras e
Helena não poderia ir.
— Vai ficar com o padrinho — ela sorriu largo para mim,
sarcásticae eu peguei a pequena no colo — e o pai dela está em
reunião.
— Você sabe que eu adoro ficarcom ela — eu falei e Helena
esfregou a mãozinha na minha barba, parecendo se divertir .
— Ela está com mania de puxar cabelo, então cuidado —
Jordana avisou, colocando a bolsa de grife da garota na minha
mesa — tem tudo que ela precisa aí. Dá água pra ela, está muito
calor... E daqui a uma hora, se eu ainda não tivervoltado, pode dar
uma banana que tem aqui dentro.Tem fralda,outraroupa caso ela
precise e... — ela desatou a falar— se quiser dar uma volta com
ela, tudo bem também. Edu disse que você tem a tardelivre, por
isso a trouxe.
— Tudo bem.
— Acha que Marina ficouchateada por não termosa escolhido
como Madrinha? — ela perguntoucuriosa, cerrandoum pouco os
olhos.
— Ela estáde boa. Edu prometeuque vocês dão o próximo pra
ela — eu falei e ela revirou os olhos.

Fiquei com Helena, mas logo o entretenimentoali no meu


escritórioficou limitado para nós dois. O pessoal da empresa
adorava a garota,até hoje algumas pessoas não acreditavamque
Eduardo tinha uma filha e era tão amoroso com ela. Quando ele
terminousua reunião, veio resgatara filha, que dava gritinhosde
alegria só por vê-lo. Sorrifr
aco os observando, queria tanto viver
isso de novo, aproveitarmais todas essas fasesde descobertada
criança.

Meu filho ligou no final da tarde,para contarque viajaria com a


mãe pela madrugada, iriam esquiar e ele estava ansioso. Na volta,
combinamos de fazeralgo só nós dois. Ele até disse que tudo bem
se eu quisesse levar a Marina, mas era bom que fizéssemosalgo
apenas nós dois.

Passei para buscarMarina quando saíe passamos para jantar ,


antesde irmos para meu apartamento.Sairíamosdo Rio dia vinte e
oito rumo à Fernando de Noronha. Dessa vez, Jordana e Eduardo
iriam conosco, mas ela já havia desistido umas trêsvezes, não
querendo passar a virada do ano longe da filha.

Antes de irmos, daqui a dois dias, eu havia prometidopara a


mãe de Marina que iríamoslá para vê-los. Ela, como sempre, havia
dado seus chiliques, mas parou, respirou fundo e cedeu.

Naquela noite, Mari começou a experimentaros biquinis que


havia comprado, se trocandona minha frente.Ela adorava essa
luxúria, me provocare se sentirdesejada. Eu não tinha uma lista
incontávelde mulheres,como Eduardo e Ravi, por exemplo. Mas de
todascom quem já estive,nenhuma me dava esse tesãomaluco de
desenfreadoque Marina me fazia sentir . Talvez ser apaixonado
demais acendia esse fogo incontrolável,mas ela era gostosade um
jeito que eu nunca imaginei achar alguém.

Por último, ela experimentouum biquini bem pequeno, a parte


de baixo tinha alças finas e cobria pouco, eu diria que só o
necessário. Em cima ela conseguia regular melhor, cobrindo os
seios onde precisava cobrir, e amarrou um laço no pescoço.
— E esse? — ela perguntoue eu, que olhava o meio das
pernas, imaginando que era só afastara peça pequena para o lado
que tudo ficariafácil. Sacudi a cabeça e a olhei, que deu dois
passos em minha direção. Falando sério, eu me senti salivando de
vontadedela, que deu um sorrisomarotoe chegou mais perto.Eu ia
puxá-la, mas ela pegou as últimaspeças que estavamao meu lado
na cama.
— Essa, eu tenho certezaque você vai amar — ela falou e eu
aperteimeu pau sobre a cueca. O coração perdeu o compasso,
acelerando enquanto ela tira
va o biquini. O próximo não era roupa
de banho, mas um lingerie branco rendado, todo vazado. Mostrava
exatamentetudo que eu amava ver, a renda branca contrastavaa
pele bronzeada.
Dessa vez, ela chegou mais perto e, para não perder tempo, eu
a puxei pelo quadril. Rocei os lábios pela barrigadela, descendo em
direção ao cós da calcinha e puxei para baixo, não perdendo tempo
em começar a beijar toda a região pélvica e desci.

Marina agarroumeu cabelo com uma mão e me empurroupara


trás,montando no meu colo e eu nos impulsionei para o meio da
cama. Começamos um beijo eufóricoe sincronizado enquanto ela
puxava a minha cueca para baixo. Levantou o corpo para segurar
meu membro tão sensível e excitado, colocando na aberturada
calcinha e eu a olhei, tão serena enquanto nós dois nos enchíamos
de tanto tesão.
Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás.Eu puxei a
cueca mais para baixo e a chutei com os pés. Ela começou a
rebolar, me levando fundo e eu encontreio fechodo sutiã,que caiu
entre nós dois e eu o joguei para qualquer lugar. Mari gemeu
impetuosa quando chupei devagarinho um mamilo e começou a
quicar no meu pau, deliciosa, rebolando fortea cada vez que me
engolia todo. Se existia coisa mais prazerosa,ninguém falou sobre
ainda.
Voltamos a nos beijar, deliciosamente, aproveitandotodo esse
momento. Depois trocamosde lugar, ela caiu deitada na cama e eu
puxei as alças da calcinha, nos livrando dela. Subi pelo meio e abri
bem as pernas dela, observando a boceta escorrendolubrificada.
Tudo ao redorde nós dois foi se anulando quando me coloquei por
cima e a penetrei,começando a estocarfundo e aumentei o ritmo.
Marina enroscou as pernas nas minhas e emaranhou uma mão na
minha nuca, me puxando para um beijo. Eu choraminguei sem
quererquando ela arqueou as costase chupou meu lábio inferior,o
soltando e os lábios tremeram.A intensidade do meu orgasmo
aumentava com força,apoiei os antebraçosao lado da cabeça dela
e roceimeus lábios pelo rosto,indo em direçãoa boca devagarinho,
mas antesque chegasse, ela deu um gemido alto,seguido por outro
e se contorceutoda, gozando escandalosa, me melando todo. Eu
não aguentei, afundei o rosto em seu pescoço e me deixei ir
também.
C 11
Marina Marques

No momento em que Fred chegou para o maldito almoço,


pouco antes do nosso voo, eu já estava irritada.Ignorei todas as
piadinhas de Tereza, como se eu tivesse mesmo inveja dela.
Segundo ela, eu não me deixava ir além com Fred porque tinha
inveja do relacionamento dela com o Lucas. Porque nunca o
superei. Mas eu nunca fui apaixonada, era outrahistória. Eu era
magoada, sofri com provocaçõesdentrode casa, depois criaramum
cenário onde eu fui a irmã mal caráter
. Com o tempo eu relevei, ela
parecia realmenteapaixonada por ele, segui em frentee conheci o
Fred.

Nosso começo era bizarro,mas eu amava o jeito bizarro que


ficamos juntos. Foi por acaso.
Fred chegou, trazendochampanhe, um que ele adorava. Sorri
falsopara ele quando abri a portae ele me roubou um selinho. Não
resisti,ele estava gostoso e cheiroso demais, então segurei seu
queixo e dei um beijo apertado.
Ele cumprimentou a todos, até meu cunhado, que eu não
olhava nem na cara. Como não tínhamostempo, logo minha mãe
serviu o almoço. Eu ajudei, claro. Mas sob alfinetadasde não fazer
nada direito. Entre conversas irreverentes,Fred soltou nosso
destinofinal e eu peguei o olhar de minha mãe brilhando em minha
direção,mas ela disfarçoue deu um sorriso,comemorandocomo se
estivesse genuinamente feliz por nós dois.
Tereza falou que tinha o sonho de casar na praia, e ele
também, que conseguia até mesmo nos imaginar num cenário
desses.
— Você é muito sonhador, isso sim — falei para ele, que
franziu o nariz e aproximou para me dar um beijo no rosto.
— Se a conversa de casamentoexiste, quem está enrolando
quem? — minha irmã perguntou curiosa e eu revirei os olhos.
— Marina está me enrolando — ele falou, como se
estivéssemosentreamigos — ela sabe que o que eu mais quero é
casar e ter mais filhos.
— Eu tentoimaginar Marina mãe, e realmentenão consigo —
minha mãe falou quase incrédula — mas confessoque ficaria muito
feliz com um netinho... Ou netinha.

Minha vontade foi dizer que não colocaria esse fardona vida
dela, como ela quase mencionou dessa maneira outrodia, mas não
queria estragara bolha de Fred na véspera da nossa viagem. Ele,
comunicativoe simpático,tambémtentavaconversarcom meu pai e
o Lucas.
Depois ainda conseguiram tempo pra falar sobre Jordana,
Tereza perguntando se ele não havia se interessadopela minha
amiga primeiro.Eu suspirei impaciente, ela sempre procuravaum
jeito de me fazer parecer inferior
.
— Na verdade, Edu se interessoupor Marina primeiro— Fred
faloue eu o olhei, crescendoos olhos incrédula— Mari apareceuna
empresa, precisando entrevistá-loe ele até cogitou chamá-la pra
sair, mas eu corri e tomei a frente.
— Ainda bem — falei incrédula, começando a rir dessa
babaquice.
— Jordana sabe disso? — Tereza perguntoue eu revireios
olhos.
— Nunca falamos disso... — Fred constatou.
— Então você quase roubou o marido da amiga — Ela falou
como se estivessebrincando, apontando o garfoem minha direção.
Respirei fundo, Fred nunca entenderiaque qualquer brincadeirase
transformaria em ofensa aqui.

Se fosse na casa dele, essa conversa renderiaboas risadas,


com certeza.Diriam logo que se Edu tivesseme chamado pra sair,
realmente, nós dois teríamosterminado de enlouquecer um ao
outro. Como já havia dito para Jordana uma vez, ela foi muito
resilientee pacientecom ele, buscou entendê-lo por amá-lo. Se eu
me apaixonasse por uma personalidade igual a de Eduardo, as
coisas teriam sido de outra maneira.

Isso me dava toda certeza do mundo de que as coisas


acontecemdo jeito que tem que acontecer . Fred era a minha cara
metade, apesar de qualquer impasse. Ele era o homem que me
entendia,me amava, me faziaamar como eu nunca consegui antes.
Ele me protegia,me mimava, nós dois nos complementávamosem
tudo, principalmente no sexo. Abrir essa questão não me fazia
pensarem outrohomem como “e se...”. Não existiao “e se fossede
outrojeito”. O jeito certo,apesar de estarum pouco torto,era esse
aqui. Era eu e ele juntos.
— E eu aposto que ela se interessoupor mim primeiro— ele
falou presunçoso, me fazendo rir , porque assim que falou
estressadoque me arrumariaa entrevista eu o chuparia, eu aceitei.
Eu fizporque não poderia perdero emprego, que sempreestevepor
um fio, tantoque foi só Bruna aparecerlá, que fui demitida. E o
motivo era o assédio sutil do marido da minha antiga chefe. Para
ela, eu era culpada, ela só precisoude um motivo mais consistente
que não rendesse um processo contra ela e o marido.
— Claro que foi— falei,tentandobrincar, fazendode tudopara
manter o clima ameno — foi quase amor à primeira vista.
— Quase? — Fred perguntouincrédulo,me fazendorir , por um
segundo me esquecendo de onde estávamos.
— Sim, você estava estressado demais aquele dia.

Como tudocorreubem, saímosno horáriopara não perdermos


o voo. Lá, Edu e Jordana já nos esperavam. Ela estavacarrancuda
por não quererpassara virada longe da filha, ao mesmo tempo que
queria muito aproveitar
.
— Quando a gente voltar , ela nem vai se lembrar que somos os
pais dela — ela falou melancólica, me fazendo quererrir , mas me
segurei pelo seu olhar feio.
— Ela vai se divertir muito com a tia Chiara — Edu prometeu —
e a minha mãe estava louca por isso. Quando mencionei que
estávamospensando em viajar, ela desmarcoutodosos seus outros
planos.
— Pelo menos todo mundo ama ela — Jordana falou,
dramática que era.
Entramos no jatinho e escolhemos nossos acentos. Eu e
Jordana tiramosfoto,ela falando pela milionésima vez que não
estava acostumada com essa vida de gente rica, o que fez Edu
revirar os olhos.
— Vovó me deu cem reais — ela sussurroupara mim — como
se desse pra comprarum almoço no lugar que eles frequentam—
ela falou, me fazendo gargalhar
.
— Ela teve boa intenção — eu falei — vai dar pra comprar
lembrancinhas...
— É — ela suspirou, olhando pela janela. Depois de decolar,
nos serviram champanhe e alguns petiscos.

[...]
C 12
Frederico Toledo

Eu olhava a fotoque Marina postou, de nós dois, na nossa


viagem que foi incrível.Não havia uma legenda super romântica,
mas eu nem poderia reclamar , depois desse tempo todo, era um
avanço ela expor algo nas redes sociais.

Escolhi outrae postei também, contando para quem quisesse


ver meu perfil,que eu a amava. Meu filhologo comentou,animado e
dizendo que nos adorava.

Mamãe logo perguntouem público quando iríamosnos casar,


exagerada como sempre. Parecia até não conhecer a nora que
tinha.
Logo a mãe e irmã dela curtirama minha foto, mas não
comentaram nada.

Mais tarde, naquele dia, Marina enviou mensagem


desesperada,porque a chefeadoeceu e a deixou encarre
gada para
entrevistarLuísa. Comecei a rir , porque ela estava apreensiva,
imaginava Luísa sendo indiscretae pirou imaginando o pior. Mas
depois de dez minutos, contou que o momento de surto havia
passado, Luísa não iria se queimar só para provocar alguém.

Além do que, a dona da agencia, no caso, chefeda chefedela


era amiga da minha mãe, não iria colocá-la pra forasó porque Luísa
era amiga da minha ex.

“Eu to MUITO ansioso pra ver! Tanto a entrevista,quanto o


filme” — eu enviei para ela.

Com a festade Helena se aproximando, nós dois começamos


a pensar no presente.Eu acabei comprando um carrinhorosa, que
imitava um modelo da Audi. Vinha com controlepara o adulto poder
controlar. Mostrei para Marina, que não se opôs ao brinquedo.

À noite nos encontramos,demos uma volta e paramos para


jantar
. Minha namorada estava provocativa, com um decote
profundo que eu estava louco para explorar
.

No dia seguinte, dia que seria gravada a entrevistade Marina


com Luísa, fomos almoçar juntos. Ela estava apreensiva, era a
primeiravez que apareceriano canal da agência e não sabia como
seria, sequer esperava uma coisa dessas. Mas eu tentava
tranquilizá-la, seria bom para ela, de qualquer modo.

Jordana chegou ao restaurante sozinha e se sentou conosco,


lamentando para Marina que sua avó havia convidado seus pais
para a festade Helena. Não vi problema nisso, uma vez que eram
conhecidos da família.Além do que, tia Nora estava convidando
todo mundo.

Insisti para Marina me deixar acompanhá-la na gravação da


entrevista,
mas ela vetou na hora. Jordana reviravaos olhos para o
fato de Luísa fazer parte da minha diversão e curiosidade.
— Nora ficou apreensiva sem saber se poderia convidar os
pais dela — ela comentou desgostosa— sei que são amigos da
família, mas me soou estranho.
— Você acha que ela vai se infiltrar?
Nem combinaria ela na
festade um ano da filha de Eduardo — Marina falou o óbvio e
Jordana suspirou, dando de ombros.
— Não tenho me envolvido muito. Por mim teríamos
planejado
só uma festapros mais ínt imos. Mas vocês conhecem a minha
sogra.
— Ela viveu por esse momento— eu garanti— minha mãe fez
tudo isso e mais um pouco na época do Bruninho...
— Elas são exageradas — Jordana falou enfática— estavasó
vendo as fotose vídeos dele na Suíça, muito chique. Edu estava
querendo ir, disse que até fevereiroé uma época boa. Mas já vetei,
minha filha vai se sentir muito abandonada.
— Você é tão dramática,amiga — Marina começou a rir— ela
nem vai se lembrar , aposto que fica tão distraída com os avós.
— Ai, ela pode não sofrer . Mas eu sofro— Jordana falou
irredutível
— se um dia você tiverum, vai saber como é difícillargar
— ela provocou e Marina ficou quieta, pegou o copo com água na
mesa e bebeu um pouco.

Mari mal terminoude almoçar e ligaram para ela, pedindo para


que chegasse mais cedo e ela se despediu de nós apressada.
Jordana desejou boa sorte com a megera e ela se foi.
— Edu sabe que você não é mais tão boazinha? — provoquei,
porque era muito raro ver Jordana falando algo depreciativopra
alguém.
— Peguei pesado? — ela fezuma careta,mas dei um sorrisoe
neguei com a cabeça. Pertodo que Luísajá aprontoucom ela, isso
era nada.
— E vocês dois? — ela perguntou curiosa — sinto que estão
quase bem... Mas tem uma faísca ainda, não tem?
— Tem, mas estamosignorando — eu resmungueie ela negou
com a cabeça de uma maneira pesarosa— no final,o que importaé
que estamos bem.
— Se vocês acham que ignoraré o caminho, não vou discutir
— ela ergueu as mãos — só torço pra ficarem bem, de verdade.
— Vamos ficar — apertei os lábios.
— Ansiosa pra ver a ex de Edu atuando — ela falou
empolgada, se divertindo— e amo falarex de Edu, porque ele
odeia.
— Você tem adorado provocá-lo — eu repliquei e ela riu,
assentindo.Para nossa surpresa,Tereza chegou ali e pediu almoço
para viagem. Acabou se sentando conosco e Jordana foi amigável
com ela, embora nada próxima. Mas talvez a diferençade idade
explicasse.

Para não me deixar sozinho com a cunhada, ela ficou.


Começou a falarsobre a festade Helena, já que todos estavam
convidados.
— Fred já te contou que Edu se interessou por Marina
primeiro? — ela perguntou divertida e Jordana fez uma careta
surpresa — sorte que ele passou na frente.
— Quando conheci Edu, Marina já namorava com o Fred.
Então isso é irrelevante.Eu também teriame interessadopor Fred,
se o visse por aí — ela falou tranquilamente— as pessoas se
interessam por outras, isso não quer dizer que são apaixonadas.
— Até porque o homem te ama — eu falei divertidoe ela riu,
concordando.
— Consigo visualizar uma realidade paralela onde Marina lida
com Edu... — Jordana falou, começando a rir— o homem é gato,
Tereza, mas pensa num gênio difícil...— ela sussurroucomo se
fosse segredo.
— Ah, mas vale tudo pra ter um cara desses — ela retrucou.
— É verdade — Jordana concordou, me olhando rapidamente
— muito dinheiro, muito luxo... Por isso eu tive logo uma filha dele
— eu crescios olhos, surpresopor ver Jordana afrontandoalguém
— eu to brincando, Deus sabe o susto que eu levei quando
engravidei. Mas sou tão feliz hoje que não mudaria nada. Eu e Edu
tivemos sorte.
— Ele teve muita sorte — repliquei e ela sorriu.

Edu chegou no momento em que o pedido da minha cunhada


chegou também. Jordana os apresentou formalmente, sendo
educada e ela se despediu de nós.
— Acabei de saber que você esteve interessadona minha
amiga — Jordana provocou o noivo, que a encarou confuso e se
sentou — a Marina.
— Sério? — ele perguntoudesinteressado— Fred desenterrou
isso depois de anos?
— Desculpa cara, só fiz uma brincadeira,não imaginei que
fosse render
.
C 13
Marina Marques

O dia da festade Helena havia chegado e eu estava ansiosa.


Fred comprouum carrocaríssimopara presenteara afilhadae eu já
imaginava Jordana maluca, mas não achava que ela ganharia
presentesinferioresa isso, não dos conhecidos e familiaresde Edu.
Além do que, era a primeira filha do homem que a famíliatoda
venerava.

Fui me arrumarno apartamentode Fred, não querendo dar


espaço para chegar junto com meus pais e ficar a noite toda
ouvindo piadas e provocações subentendidas.

Meu vestidoera preto,brilhoso e com mangas compridas,que


eu ergui até os cotovelos.Calcei uma sandália pretade salto fino,
alta e prendi o cabelo em um rabo alto. A maquiagem era leve nos
olhos, mas passei um batom escuro, que eu adorava.
Passei perfumee coloquei acessóriosbásicos, para não pesar
no visual.

Fred perguntava da entrevista com Luísa, mas correu dentro do


esperado. Fora das câmeras,recebi provocaçõesque ignorei, afinal
não me comprometeriaem ambiente de trabalhoe quem era ela na
minha vida? Tomar as dores da ex de Fred não fazia o menor
sentido, depois desse tempo todo.
No mais, ela queria ingressarna carreirade atriz,e achava que
tinha mesmo talento pra isso. De repente descobriu uma nova
paixão. Precisei perguntarsobre novos relacionamentos,mas nada
que passasse do ponto. E no final fizemosalgumas brincadeirasde
interações, que os fãs dela adorariam ,ver
provavelmente.

Chegamos cedo ao lugar do evento, que havia seguranças,


fotógrafosna entrada,tudo muito gigante. Tocavam músicas infantis
e as pessoas estavamcomeçando a chegar. O presentede Helena,
Fred entregou mais cedo, quando fomos visitá-los.

Logo encontramosnossos amigos, a pequena estavalinda em


um vestido branco, o cabelo preso em um coque, vestiameia-calça
e sapatinhos de boneca. Estava linda, muito linda. Tiramos fotos
com ela, com Edu e Jordana e depois com todaa família,antesque
todo mundo chegasse.

Fomos nos sentar


, já que Jordana precisava levar a filha para
ser apresentadaaos que ainda não a conheceram. Edu ia atrás,
animado e bebendo uísque. Fred logo pegou uma dose para ele e
um drink de cereja para mim.

Bruninho e Bruna logo chegaram, não queríamos que ela


viesse para nossa mesa, mas como Bruninho veio, ela o seguiu. Por
sorte,Nair veio no mesmo momento, a cumprimentandoamorosa,
como sempre foi.
Meus pais chegarame mesmo que eu não quisesse, vieram se
sentarna mesa em que eu e Fred estávamos.Minha mãe comentou
sobre a festa,muito chique, mas era o esperado. Eu me sentiafeliz
por Jordana, por vê-la tão bem. Depois de anos vivendo o luto, se
excluindo de tudo, ela merecia, obviamente. Quando Ravi e outros
amigos deles chegaram, Fred foi até lá. Só bastouisso para minha
mãe começar.
— Poderia dar uma de sonsa e aproveitartodoesse luxo — ela
começou soberba — se acha tão espertae não agarra um cara
desses.
Eu não respondi, bebi um gole do meu drink e coloquei o copo
de volta na mesa. Comentei sobre outracoisa, para não parecer
antipáticacom eles. Pergunteipara Tereza porque o Lucas não veio,
mas ela fingiu não me ouvir, era corriqueiroela fazerisso, eu dizer
algo e ela fingir não escutar
, ignorar
.
Por muito tempo, eu tenteifuraressa barreira,insistirem fazer
partedelas, ignoraros insultose mantera boa convivência. Eu quis
serparteda famíliae serbem tratada,mas a cada tentativ a, eu saía
machucada, era maltratada,insultada,diminuída.Com o passardos
anos, na verdade, depois que conheci Fred e a minha vida mudou
de rumo, socialmente falando principalmente, comecei a me
distanciare me cobrarmenos. Eu me sentia amada por ele e de
algum modo isso supriu a falta de amor fraterno.

Talvez não tenha suprido essa falta,mas ocupou um espaço


emocional importante.E, tambémpor isso, eu não queria que ele se
tornasse o meu ponto de dependência para tudo.
Garçons passavam servindo e eu beliscava alguns canapês e
camarões empanados, deliciosos que estavam. Fred voltou, dessa
vez acompanhado da sua mãe e do filho. Ele parecia animado, feliz
por apresentá-los a minha famíliae eu tenteiparecer gostarda
situação. No mais íntimo, eu não gostava.
— Nós estávamos ansiosos para conhecê-los — Nair falou, se
sentando.Bruninho se sentouao meu lado e ficouna cadeira entre
mim e Fred. Minha sogra puxou conversa com meus pais, contou
um pouco sobre Fred, bajulando e enaltecendo o filho.
Bruninho começou a me mostrarseu relógio novo, um Apple
Watchde últimageração.Como não nos vimos desde que ele voltou
de viagem, ele começou a contarsobre estarcada vez melhor no
Ski. Mostrouaté alguns vídeos. Foi bom, porque assim não me
inteireina conversados outros. Só quando Bruninho avistouHelena
disponível e queria tirar fotos com ela.
— Ah, mas Fred está louco pra casar
. Ele vê Edu e Jordana em
passos largos e quer avançar também — Nair contou, porque
teoricamenteestávamosem família— mas Marina quer esperar—
ela me olhou rapidamentee deu um sorrisocúmplice — meu marido
acha ela estranha,qualquer mulher iria quererse casar com meu
bebê.
— Bebê — Fred resmungou para mim, que dei um sorriso
complacente.
— Quando ela o perder , ela chora — minha mãe falou,
começando a rir e bebeu um pouco do champanhe.
— Ah, mas teria que fazermuitoesforçopra me perder— Fred
falou, passando para a cadeira vaga ao meu lado.
— Sei que eu não vejo a hora de planejar festasde casamento
e de aniversário de crianças...
— E batizados — Fred lembrou entediado e ela assentiu,
animada. Logo Seu Tarcí sio, o pai de Fred, chegou e foi
apresentadoaos meus pais. Ele ficou conosco por um tempo, mas
logo voltou ao seu habitatnatural.Nair quem ficou, parecia estar
gostando de interagir com minha mãe.

Jordana e Edu vieram cumprimentá-los,se desculpando pela


demora, mas não conseguiam parar . Minha mãe pegou Helena nos
braços,comentandoo quantoela se pareciacom o pai e Helena até
pareceugostardela. Jordana pediu para ela contarquantosaninhos
estava fazendo e ela mostrou a mãozinha, fazendo o número um.
— Fizemos uma maratonapra ela andar antes de um ano —
Edu falou, como se as caminhadas e apoios para a garotativessem
mesmo adiantado o tempo.
— Você tá tão linda, Dana, não me canso de admirar— a mãe
de Fred falou amorosa. Jordana usava um vestidolongo azul-bebê,
de mangas bufantese compridas, uma maquiagem impecável e os
cabelos presos, um penteado baixo para o lado. Além do que,
Jordana brilhava felicidade, era engraçado de ver
.
Edu e Fred olharam na mesma direção, e eu acompanhei,
vendo Luísae os pais chegando. Jordana revirouos olhos, Nora e o
marido foramaté eles e a loira entregouum embrulho prateado,o
presente para Helena, claro.

Depois, Nora trouxeos trêspara conhecerema Helena e Luísa


se abaixou, falando com a pequena. Jordana olhou para mim,
demonstrando sua indignação, mas ela jamais faria uma cena. Luísa
se levantou e cumprimentou o casal com um aceno.
— Ela é realmentea cara do pai — ela comentou, acenando
para todos nós na mesa. Edu deu um sorriso apertado,
completamentedesconfortável com a situação.Nair, achando estar
entreamigos, contoudepois de formasecretapara minha mãe que
Luísaera ex de Edu, mas ele ouviu isso e corrigiua tia, negando o
relacionamento como fez a vida inteira. Jordana riu disso, chamando
o noivo de patético e avisou que iria pegar um drink.
Me levantei e me oferecipara ir junto com ela, que entrelaçou
nossos braços.
— Tereza me contou que antesde Fred, Edu se interessoupor
você — ela comentou e eu revirei os olhos com força — sério, se ela
achou que eu teria ciúme...
— Eu correrialéguas de um cara como Edu, me desculpa —
eu falei, querendo rir— Fred comentou disso muito tempo depois,
achei desnecessário...Aliás, foi porque alguém comentouque tinha
certezaque ele se interesso u por você primeiro...Pra insinuar que
fui a sobra. Aí ele tentou me defender
.
— Ai amiga... — Jordana começou a rir e chegamos ao bar
. Ela
pegou o cardápio, as bebidas tinham nome das palavras que Helena
já pronunciava, mesmo que errado.
— A mãe de Fred está adorando... Como minha mãe atua bem.
Eu que lute pra aguentar depois — eu resmunguei baixinho e
Jordana olhou para mim, depois de pedir dois drinkscom morango e
hortelã.
— Sabe o que eu fiquei pensando... — Jordana comentou
pensativae deixou escaparuma risada — eu e Fred daríamoscerto
em um universo paralelo, porque somos muito amigos e tal, tanto
que ele é padrinho da minha filha.Mas não consigo pensarem você
e Edu, sem todos os problemas possíveis.
— Que? — perguntei confusa.
— É que eu acho que eu equilibro a inconstânciade Edu e
Fred equilibra você, sabe? Por isso, o universo conspirou pra você
não sair com Edu. Poderia ter acontecido,tipo você o entrevistou,
ele poderia terte chamado pra sair. Mas quem fez isso foi o Fred.
Posso compararisso com Ravi e Denise, ela cuida dele, mesmo ele
não merecendo. Chiara aflora tudo negativo no homem, tudo que
ele não deveria fazer
, é o pontode destruiçãodele. Entende?— ela
perguntoue eu assenti,entendia o que ela queria dizer — ai, foi só
um devaneio. Acho que estouficandobêbada — ela fezuma careta,
me fazendo rir
.

Depois de cantaros parabéns para Helena, onde ela batia


palminhas e invés de se assustar com aglomeração e todos
cantando, ficou animada e sorridente,ela brincou um pouco nos
brinquedos. Edu e Fred foramno pula-pula com ela, que saiu de lá
toda suada e o penteado já não estava mais impecável. Ela foi no
carrossel também e num escorregador
, toda aventureira.

Notei de longe Bruna e Luísaobservando a diversão da garota


com os pais e padrinhos. Em um momento, Jordana reclamou
Denise na tervindo, inventou uma desculpa, mas sabíamosque foi
por causa de Chiara. E atalhou que era muito ruim ficarno meio de
uma situação como essa deles três.
— Outrodia comenteicom Fred sobre esse triânguloamoroso
e ele rebateu, disse que Chiara não ama Ravi.
— Óbvio, né? A personalidade da Chiara é muito fortepra
aceitaresse tipo de relação. Ela se diverte,sem pensar em como
está magoando outra mulher .
— Pior que ela sabe a dor de sertraída— eu faleimais baixo e
Jordana me olhou pesarosa.

Olhei aturdidaquando notei Bruna e o filho pertodos meus


pais, o coração pareceu dar fincadasde medo do que ela poderia
dizer, mas Fred chegou e me abraçou pela cintura.Seus cabelos
estavam completamentedesgrenhados e eu passei os dedos, os
colocando no lugar. Ele se aproximou e selou carinhosa e
suavemente nossos lábios, me fazendo sentir um afago no âmago.
— A mãe de Jordana vai levar Helena embora — ele comentou
— disse que já está tarde pra ela estar agitada desse jeito.
— Eu ficariamuito brava de me levarem pra casa no auge da
minha festa.Depois que term inasse de receberos convidados, falar
com tanta gente... — falei indignada e ele riu — e olha que ela foi
bem comportada.
— Foi mesmo — ele replicou — ansioso pra passarmos por
isso... Um dia.
— Fred... — eu reclamei e ele encerroucomeçando um beijo
suave.

Logo voltamos para a mesa, dessa vez, com nossos amigos.


Eduardo estava feliz, puxava mais conversacom todos.De repente
haviam mais duas mesas e como partedos convidados estavaindo
embora, deixando só os mais íntimose familiares, juntaram as
mesas e ficamos todos juntos.
Minha mãe perguntou porque a avó e mãe de Jordana já
haviam ido tão cedo, e levado a pequena, mas dona Márcia tinha
costume de acordar muito cedinho, não ficaria mesmo até a
madrugada.

Ravi passou para se despedir de nós, parabenizando mais uma


vez Edu e Jordana pelo aniversárioda filha. Cinco minutos depois,
Chiara se levantou e foi embora também.
— Pobre Denise — Fred sussurroupara mim, que o encarei
pesarosa. Denise nem sequer perguntava mais sobre esses
episódios. Eu achava que ela deveria ter vindo. Em algum momento,
Chiara iria cair em si, ver que essa situaçãonão os levaria a lugar
nenhum. Por outrolado, Denise deveria encerrarde vez e aceitar
que o homem não iria mudar. Mas tambémera difícillargá-lo e vê-lo
se destruindoem drogas e álcool. Nunca falávamos sobre, mas
todos nós sabíamos da dependência dele, do vício.

A noite por ali foi até quase três da manhã. Fred e Edu
começaram a degustaro cardápio de uísques caros, o que os
deixou embriagados. Jordana ficou brava, porque tudo bem, Fred
ficava engraçado bêbado e no dia seguinte superaria a ressaca
naturalmente. Eduardo, não. Ele iria ficar doente e fazendo drama.
— Pelo menos ele é um dramáticoque quis casarcom você —
Fred falou para Jordana, quase começando a embolar a voz —
Marina não quer casar comigo — Jordana riu do drama da vida
desse meu namorado, mas eu revirei os olhos. Peguei o olhar
desgostoso da minha mãe em mim, mas desviei e olhei para Fred.
— Vocês precisam casar e ter filhos, porque Jordana só quer
teroutrofilho depois de vocês — Eduardo quem falou dessa vez e
Jordana me lançou um olhar se desculpando.
— Hora de colocar esses dois na cama — Nora quem falou,
conhecendo as duas peças — boa sortepra vocês duas — ela
lançou um sorriso apertado para mim e Dana.
— Eu gostode beber pouco — meu sogro falou e Fred ergueu
o olhar, o olhando atencioso — pra aproveitarbem a noite com a
minha gata.
— Que isso, papai — Fred falou irreverente
— um banho e eu
a deixo acordada o resto da noite.
— Fred — faleiincrédula,porque tudobem, esses comentários
eram bem aceitosna famíliadele. Mas minha mãe pegaria qualquer
falha para reclamar de mim depois.
— Eu também— Edu falou,soluçando e seus pais começaram
a rir
.
— Seu problema é o amanhã, Eduardo — Danilo falou
descontraído.
Eu tinha certezaque Jordana estariapara explodir de
vergonha.
— Que conversaconstrange
dora — Jordana sussurroue eu a
olhei, mais corada do que minutos antes.

Quando fomosembora, peguei a chave do carrode Fred e ele


entroupelo lado dianteiro.Meu namorado quis me provocardurante
todo o percurso,mas eu me concentreina direção. Ao chegarmos
no apartamento dele, ele tiro
u o blazer, foi desfazendoos botõesda
camisa e tropeçoupara tiraros sapatos.Ele parou de tirara roupa a
me ver e eu dei um sorrisocomplacente,estava tão lindo, ele era
tão lindo e sereno, não merecia mesmo lidar com meus dramas
internos.

Subimos para o quarto e eu tirei todos os acessórios que


usava, as sandálias altas e antes que pudesse ir para o banheiro,
Fred me pegou por trás,me guiando para a cama e eu caísentada.
Ele fez um aceno com a cabeça, que eu entendi para subir direito na
cama e eu fiz. Ele veio por cima, resmungando algo, mas segurou
meu queixo e começou um beijo tãogostosoque nós dois gememos
de alívio.

[...]

Cheguei em casa depois de um dia caótico no traba


lho e
respireifundo. Estava louca para encontrarFred e poder esquecer
tudo por um momento, aproveitarnosso momento de plenitude,
enquanto isso fossedurar
. Assim que fechei e tranqueia portado
apartamento,minha mãe apareceu, vindo da cozinha e me lançou
esse olhar sarcástico.Eu a encarei de volta, não entendendo e ela
riu desgostosa.
— Por um momento,eu quase acrediteinesse seu namorico—
ela começou e eu engoli a saliva, não querendo discutirsobre isso
com ela — achei que o cara poderia até gostarde você... Mas
depois da festada Helena... É nítidoque ainda existealgo entreele
e a ex... E ela é amiga daquela bonitona famosa, né? Que
namorava o pai da Helena... Não sei, não... Mas acho que você e
Jordana vão terminar essa história chupando dedo.
— Até porque, que homem deixaria aquelas duas poderosas
pra ficarcom vocês? E essa históriade querercasar? — Tereza
perguntouincrédula— ficouna caraque era pra provocara ex. Eles
têm um filho juntos, a mãe do cara parece adorara mulher... Acho
que você estáperdendo tempo com ele. Pelas conversasde finalde
noite, você e Jordana são apenas lanchinhos pra eles dois.

Por um segundo, eu pensei em me defender , defendermeu


namoro, defenderJordana e defendero Fred, mas me calei. Fui
para o meu quarto,tireia calça jeans, a camisa branca e o blazer, e
fui para o banheiro tomarum banho. Fiquei prontano minuto em
que Fred ligou, avisando que já estavaaí em baixo me esperando.
Passei perfumecorrendo,coloquei uma muda de roupas para ir
trabalhar amanhã e deixei os cabelos soltos.

Quando passei pela sala, Tereza estavalá com o namorado e


tentou parecer divertida ao dizer que eu já estava indocomida
ser .
Fred mexi no celular, escolhendo uma música e olhou para
mim, me exibindo esse sorrisosafado.Se aproximou para me beijar
na boca e seguimos para seu apartamento.
Ele começou a falarque agora a conversa na famíliaera a
festade casamento de Edu e Jordana. Nora queria que fosse no
Copacabana Palace, e já tinha ideias extraordinárias.
— Depois que encerrarcom Edu, Chiara que se cuide — ele
zombou, quase desanimado, porque tinha medo de eu nunca topar
.
— Chiara vai adorar
, desde que tenha alguém. Eu não acho
que ela sonhe viver o conto de fadas dela com Ravi.
— Até porque, se ela larga o posto de amante e vira a oficial,
alguém vai ser a outra— Fred zombou e eu o empurreide leve o
braço, fazendo uma caretabrava — esses dois só me dão dor de
cabeça.
— O cara misteriosodela é o pai biológico do filho que Edu
perdeu — eu contei, para cortaro baratodele, que parou, porque
não deveria, mas como conhecíamosseu primo, isso era sim, muito
sério.
— E essa é uma coisa que eu não posso contarpra ele — ele
deduziu obviamente e eu concordei, balançando a cabeça — por
isso ela largou dele?
— Não sei... É difícilser confidenteda Chiara, uma vez que
sou amiga da Denise há muito tempo — dei de ombros — ela conta
o que todo mundo pode saber. Mas não sou a pessoa que ela
procura pra desabafar e pedir conselhos.
— Você apoiaria?
— Não sei, Fred — resmunguei — você apoiaria? Às vezes
penso que a mãe deles soube e a aconselhou a se afastar
. Tenho
certezaque se esse cara aparecessee se aproximasse da família
de vocês, a relação de Edu e Jordana poderia estremecer.
— Não sei o que pensar, achei que fosseum homem casado,
sei lá... — ele desabafou e riu incrédulo — mas Chiara sempre foi
problemática.
— Acho que essa terceirageração da sua famíliaé toda assim
— provoquei e ele me olhou bravo.
— Eu não sou problemático.
— É imediatist
a — retruquei— quer tudo no seu tempo, quer
viver o que seus amigos vivem.
— Não, não é assim. Você sabe disso — ele falou sério — eu
quero avançar nossa relação... Quero que você seja minha.
— Fred — eu falei, começando a rirdele — eu te amo, mas
essa coisa de posse não combina com a gente.
— Bruna vai à São Paulo fazer uns exames e meu filho vem
passar a semana comigo. Acho que vai ser bom pra nós dois.
— Vai, sim... Que milagre ela terconcordado— eu comentei—
mas isso é bom. Vocês dois precisame querem ser mais próximos.
Imagina se você tem outro filho e ele se sente jogado de lado?
— Então termosum filho é uma possibilidade real? — ele
perguntou e eu suspirei, disparei sem pensar
.
— Não sei.
C 14
Marina Marques

Como Bruninho foi para o apartamentode Fred na terça


-feira,
achei melhor não atrapalhá-los. Disse à Fred que tinha umas
matérias para entregare era importanteque eu me mostrasse
produtiva, caso quisesse alguma promoção. Ter gravado uma
entrevistacom Luísafoi um avanço, pelos comentários,os diretores
da agência gostarambastante do meu desempenho e de como
consegui levar e manterum bom conteúdo, porque todos sabiam
que a entrevistada era um tanto quanto arrogante.

Na noite da quarta,os dois saírampara ver um jogo em um


bar, Edu foie levou Helena, vestidana camisa da seleção brasileira,
o que eu achei uma graça.

Fred me buscou para almoçarmos juntos na quinta-feira,


estavacheio de manha dizendo estarcom saudade. Aproveitouque
o filho foi jogar têniscom o avô em um clube e iriam almoçar por lá.
Nem falamos com a empregada no apartamentodele, subimos
atracadospara o quartoe logo nossas roupas não estavam mais
pelo caminho. Fred empurroua portae trancou,para não sermos
pegos. Ele veio por cima de mim, me beijou na boca, sendo
carinhoso e desceu pelo pescoço, seios e voltou, afastandomais
minhas pernas para roçar o membro ereto na minha boceta.
Escorregueiuma mão pela sua nuca e o puxei para mim, queria
mais beijo e quando nos beijamos, intensa e profundamente,Fred
veio todo para dentro, devagarinho e deslizando na minha
lubrificação.
Comecei a gemer por ele, chamando seu nome, meio
desesperadae cheia de vontade.Ele estremeciasobremeu corpoe
ficavainteiroarrepiado.Nossos lábios se roçavam, ele me lambia e
beijava, mordiscava e eu delirava de tesão, querendo alcançar o
melhor dos orgasmos.
Fui pega de surpresaquando ele saiu e me olhou sorrateiro,
desceu os lábios pelo meu corpo e chupou meu clitóris tão
gostosinhoque eu choraminguei. Me apoiei nos antebraços,porque
a melhor visão da face da terra,era vê-lo me chupando tão
maravilhoso e empenhado. A segunda era quando eu o apreciava
gozando para mim. Fred acariciou minha entradacom a ponta do
dedo, me chupando com a pressão perfeita,meu gemido escapou
mais alto, eu estavame entregandomesmo que quisesse aproveitar
mais um pouco. Ele sabia disso, começou a circulara língua no meu
ponto mais sensível, no lugar perfeito.Meus olhos se reviraram,
comecei a terespasmos de arrepios,ondas de prazerintensas e
joguei a cabeça para trás.As pernas abriramum pouquinho mais e
ele escorregouo dedo para dentro,me sentindo.Eu quebrei no meu
orgasmo delicioso, do jeito que eu queria e fui guiada perfeitamente
até o fim.

Fred continuou me chupando, depois correua língua macia na


bocetatoda e eu caíesmorecidana cama. Ele correuas costasda
mão na boca, prontopara me pegar e encontrara sua libertação.Eu
dobrei os joelhos e abri as pernas para ele, que riu e veio por cima,
me penetrando fundo e gemendo junto comigo.
— Eu amo quando você goza desse jeito — ele sussurrouno
meu ouvido, lambendo ali e desceu os beijos molhados pelo meu
pescoço — só pra mim.
— U-hum — eu grunhi, emaranhando os dedos pelo seu
cabelo macio — e eu amo quando você goza assim — sussurrei,o
observando.Fred mordeu o lábio inferior
, estocandomais rápido e o
corpo ondulou por cima do meu, o gemido áspero veio quando ele
apertouos olhos e no momento seguinte senti os jatos intensos
dentro de mim.

Quando acabamos, eu fui para o banheiro me lavar, ele veio


logo depois. Nos vestimos e descemos como se não tivéssemos
feitonada. Eu sabia que se a empregada estivessepor aíespiando,
terianos escutado,porque não éramoslá o casal mais silencioso na
transa.

Ela serviu nosso almoço na sala de jantare foi para a cozinha.


Olhei para Fred, quase incomodada com isso. Eu não gostava das
empregadas de Fred. Elas nunca ficavam muito tempo, sempre
acabavam subornadas por Bruna e Fred perdia a paciência fácil
com isso. A vida pessoal dele não dizia mais respeitoà ex. Quanto
ao filho deles, sim, obviamente. Mas nossa relação e o que ele
andava fazendo da vida, não era mais da conta dela.

[...]

Quando saí do trabalhono final do dia, encontreiJordana e


saímos para tomarum café. Ela estava feliz, mas receosa. Eu já
achava que ela e Edu resolveram tudo o que tinham para resolver
,
não havia mais impasses no caminho deles.
— É que toda vez que algo ficaperfeitodemais, aconteceuma
merda daquelas — ela resmungou, bebendo um pouco do seu café
expresso e eu a encarei. Eu não queria começar a pensar desse
jeito também. Achar que depois da calmaria viria outra tempestade.

Pelo amor, tudo o que eu e Fred não precisávamosera de mais


desentendimentos.O final de semana de Fred seria com o filho, e
como resolvera m ir para Angra, preferificar. Sabia que seria bem-
vinda, mas queria que Fred criasse um laço mais fortee de mais
proximidade com o filho. Se eu fosse,o menino ficariasó com os
avós e meu namorado grudado em mim. Denise achou que eu
estava incentivando muito os dois, porque sabia que Fred iria ficar
ainda mais apegado ao curti r por mais tempo a companhia do filho.
Isso, quem sabe, tirariadas ideias dele a vontade de termais filhos.
Se ele reconsiderassee aceitassea possibilidade de não termosum
bebê nosso, talvez pudéssemos pensar em ficarnoivos. Ela estava
certa, de qualquer maneira.

Conversamospouco sobre ela e Ravi, evitava falare era triste


ver como estava apegada. Sempre encontrava um motivo para
continuare tinha certezade saber o que estava fazendo. Se eu
pudesse, dava uns sacodes nela, para acordar , procuraro que
almejava para relacionamentoscom outrohomem. Mas não poderia
decidir por ninguém.
— Você apoiava Jordana com Eduardo — ela tentouretrucar e
eu lhe encarei, não sabia nem como dizer. Jogar para ela a dura
realidade de que por mais parecidos que Edu e Ravi possam ter
sido em algum momento, Eduardo se apaixonou por Jordana, teve
uma filha e vai casarcom ela. Não só isso, o homem demonstrouter
mudado, tinha cuidado e respeito pela noiva. Ele pediu um voto de
confiança e fez bom uso dele. Ravi, não. Ele aprontavae voltava
com o rabo entreas pernas, como o homem fracoque não sabe
viver sem ela, mas não temforçao suficientepara mudar e lutarpor
eles dois.

Eu não iria quereralgo assim, nunca. Poderia termeus erros


com Fred, não acompanhar o ritmodele e dar passos mais curtos
em nosso relacionamento, mas nós dois nunca faltamos com
respeitoe nem traímosum ao outro.Com outraspessoas. Não iria
voltarao assuntodo aborto,porque sinceramente,na maior partedo
tempo eu sabia que tinha feito a coisa certa.

Saí com ela e Jordana no sábado. Edu ficoude babá da filha e


eu gostava como a relação dos dois evoluiu. Eu não achava que
esse homem suportariaver a noiva sozinha em um bar badalado no
Rio de Janeiro em pleno sábado de verão.
Por azar, Chiara chegou ali com duas amigas, o que deixou
Denise apreensiva.
— Se Ravi aparecere falarcom ela, você deveria ficar com
outrona frentedele — eu resmunguei, porque era o que eu faria.
Ela me olhou incrédula, era muito difícilque ela fizesse isso. Não
era puritana,certo,mas era seletiva.Não à toaesperoutantotempo
pra perder a virgindade.
— Eu fiz isso. Deixei Eduardo louco, mas ele não admitia —
Jordana falou, sugando seu drinque pelo canudo. Dei risada,
concordando.
— Você acha que terengravidado ajudou a relação de vocês?
— Denise perguntoue meu coraçãofalhouuma batida— não estou
planejando isso, Mari, não sou louca.
— Eu amo a minha filha. Mais do que tudo. E sempre foi meu
sonho teruma família,vocês sabem, enfim... Ela facilitouas coisas,
eu não acho que teria perdoado Edu, se a situação fosse outra.
— Não teria?— perguntei,cerrandoos olhos e ela deu de
ombros.
— Eu não sei... Hoje é tudo perfeito,mas se eu não tivesse
engravidado, ele ficarianessa de me tere afastar quando quisesse.
Viveria nas crisesexistenciais. E não era o tipo de relacionamento
que eu iria querer viver. Entendo a dor do que Eduardo viveu,
compreendi, aceitei, mas termos tido uma filha, juntos, o ajudou a
enterrar isso, se abrir para o novo e ele ama ser pai.
— Edu teve sorte — eu falei e ela riu, concordando
presunçosa.
— Então você fez de propósito?— Denise perguntou,quase
cerrando os olhos e Jordana invés de se ofender
, começou a rir
.
— Olha bem pra minha cara de quem teria coragem de
planejar um golpe do baú, Denise. Fiquei desesperada quando
descobri, escondi de todo mundo, achei que ele me forçariaa
abortarse soubesse logo — ela falou apressada — hoje eu me
cuido, não quero outrofilhotãocedo. Tenho muitasorte,suportepra
poder continuarestudando e não preciso abrirmão de nada pela
Helena. Isso é incrível,mas só é incrívelporque Eduardo mudou.
Imagina se ele não aceita a gravidez, nós dois continuássemos
brigados e eu precisassecuidar sozinha da Helena? Sei que amor
não faltaria,mas eu só seria outra coisa além de mãe daqui a
alguns anos. Você acha que Ravi mudaria?
— Não estou pensando em ficar grávida — Denise
desconversou, mas eu havia ficado preocupada.
— Mari poderia pensar, Fred ficaria louco de felicidade —
minha amiga provocou, me sufocando por me envolver nessa
conversa.
— Eu acho que você tem que ser muito louca de pensar em
ficargrávida de um homem desses — eu falei para Denise — eles
têmdinheiro, financeiramentefalandoninguém ficariadesamparado,
mas isso não é tudo.Um suporteemocional é muitomais importante
e eu não acho que hoje, Ravi te daria isso — preciseiser dura com
ela, para que se a ideia estivessecriandoraízesem sua cabeça, ela
começasse a descartar — você ficariaem casa grávida, ele tendo a
certeza de ser seu dono e com outra na rua. É isso que ele faria.
— Não precisa de tudo isso, Marina. Não vou engravidardele
— Denise falou séria e eu respirei fundo.
— Me desculpe — pedi, me controlando— não quero ver você
sofrendo mais por causa dele, só isso.
— Vamos falarde outracoisa, antes que vocês briguem —
Jordana falou e pegou o celular, nos mostrandoa casa que Edu
estava construindo com Helena.
A pequena virou o centroda nossa conversa por um tempo.
Depois falamos de Fred e até especulamos o que Bruna estaria
fazendo em São Paulo. Eu deduzi que alguma plástica. A pessoa
tem que fazer vários exames antes, não é?
Fomos embora quase duas da manhã. Edu veio buscar
Jordana e nos deixou em casa. Depois de deixar Denise, Edu
comentou que Ravi estava indo encontrar Chiara.
— Ele passa a semana com uma e festejano final com a outra
— falei enojada.
— Se eu pudesse, dava uma corsa em Chiara, para ela
acordare pararde ser tão... Doida — Edu falou incomodado — a
coitada da Denise aguenta muito por esse homem.
— Não podemos fazernada — Jordana falou pesarosa— não
dá pra amarrá-la e dizer que ela não vai mais ficar com ele.
— Ele acha o máximo. Se acha o maioral por terelas duas —
Edu resmungou e Jordana riu.
— Você já foi assim.
— Nunca fiz isso com você — ele retrucouna hora e os dois
mudaram de assunto. Eu gostava como evitavam os
desentendimentosdo passado, porque se decidiram seguir juntose
estavamfelizes, não valeria a pena remoere jogar na cara os erros
dele.

Fred chegou no domingo à noitee eu não sabia que viria jantar


em casa. Soube só minutos antes, quando ele enviou uma
mensagem de que minha mãe o convidou. Havia risoto de
abobrinha para o jantare eu engoli meu desgostopor terque fazer
isso. Tereza quem foi abrira portaquando Fred chegou porque eu
estavaterminandode me vestir . O escuteiperguntarpor mim e pedir
para vir até o meu quarto
. Eu estava em frenteao espelho
desembaraçando os cabelos molhados e ele parou no arco da porta,
se escorando.
Trocamos um sorrisoaperta
do, e quando terminei,fui até ele,
para dar um selinho, mas Fred não se contentou.Em um gesto
habilidoso, me virou contraa parede e começou um beijo profundoe
lento, segurando meu rosto em suas mãos.
— Estavalouco de saudade — ele sussurrou,pressionando os
lábios nos meus outra vez.
— Eu também — sussurre
i de volta — como foi o fim de
semana?
— Foi ótimo, você tem razão quando diz que preciso me
esforçarmais e ser mais presentena vida dele. Mais amigo, sabe?
Ele está entrando na pré-adolescência, acho que vai ser bom confiar
mais em mim.
— Tenho certeza que sim — eu atalhei — notícias da ex?
— Chegou hoje de São Paulo — ele falou vagamente — depois
pergunto para que foram os exames.
— Deve ser algum procedimentoestético— eu deduzi, era o
que combinava com ela.
— E você, como foi aqui?
— Saícom as meninas. Ando preocupadacom Denise, por um
momento fiquei pensando que ela pode quererengravidarde Ravi.
Eu sinto que ela o compara muito com Edu e talvez ache que um
filho pode consertá-lo.
— A históriade Ravi é completamentediferente.Edu se tornou
aquele cara porque perdeu a mulher e o filho, quando viu que
poderia terisso de novo e que amava a Jordana, pra ele era melhor
ceder e mudar
. Ravi é um viciado que precisa de tratamento.
— Eu disse pra ela — eu reclameie Tereza apareceuna porta,
nos chamando para jantar
.
Lucas chegou, trazendo chocolates para minha mãe e um
abridorde garrafaspara meu pai, entendique trouxede lembranças
de uma viagem que fez.Fred andava curiosopara saberporque não
nos falávamos, mas não queria dizer para ele. Era humilhante
demais.
Fred estava mais pegajoso do que de costume, porque nos
vimos pouco essa semana e passamos o final dela separados
fisicamente.E ele era carent
e, adorava ficarde grude. Por isso toda
hora me fazia um carinho, me dava beijo no rosto.Depois do jantar,
fomos para a sala, e minha mãe resolveu mostrarfotosminhas
quando bebê para Fred. Eu queria que saíssemoslogo daqui, mas
ele pareceu animado em poder ver e conhecer mais de mim.
Minha mãe ficava alertaa cada toque carinhoso de Fred em
mim, como quando ele passou um braço em tornodo meu pescoço
e entrelaçou nossas mãos.ereza
T não estava se importando, estava
mais interessada em matara saudade do namorado, entãopor isso,
logo foi com ele para seu quarto.Sem Tereza, as provocações da
minha mãe não aconteciam,porque ela precisava de alguém para
validar o que ela dissesse e por mais conivente que meu pai
pudesse ser, ele não alimentava e nem fazia algo igual.

Isso foi uma merda, porque fez Fred acreditarque ele tinha
razão em quererconhecer e se aproximarda minha família.Minha
mãe soltou coisas como eu ser preguiçosa,desleixada, bagunceira
e não ajudar em nada. Como se fosse algo engraçado, mas me
incomodou. Não era verdade. Quando eu não trabalhava fora,
ajudava nas tarefasde casa, por exemplo. Hoje em dia não dava
tempo, mas ainda assim, partedo meu salário que não era muito
alto, ia para ajudar nas despesas. Meu pai era aposentado, não
ganhava muito, mas o suficientepara termosuma vida confortávele
sem faltarnada, ajudar nas despesas era o mínimo que eu poderia
fazer
. Na verdade, eu não achava que minha mãe aceitaria que eu
morasse aqui sem colaborar
.

Tereza pulava de emprego em emprego e não sabia o que


queria ainda, mas como era a filhaque minha mãe proteg
ia, recebia
tempo para se decidir
.

Nos despedimos depois das dez da noite, o assuntoentreeles


três acabou rendendo. Reclamei com Fred da demora, quando
chegamos ao apartamentodele e fomos diretopara o quarto.Ele
cogitou vermos um filme e ia pegando o controleda TV, mas eu o
encarei sarcásticae avisei que não queria assistirnada, queria ficar
agarrada com ele.

O sexo foi tão gostoso,que eu achava difícilalguém conseguir


nos desvencilhar. Eu adorava quando aconteciaassim, quando ele
me levava à estímulostão intensivosque eu gozava uma vez atrás
da outra, nos melando inteiros,sentindo o sabor de uma morte
deliciosa. Ele adorava que eu era escandalosa, mas era difícil
controlar até isso, com esse homem me deixando tão louca.
Acabamos de conchinha, a mão dele passeando suavemente
pela lateraldo meu corpo. Nós dois estávamos exaustos, eu nem
tinha mais forças para me mover
.
— Às vezes me sintouma viciada, por gostartantode sexo —
eu falei e ele riu, roçando os lábios na curva do meu pescoço.
— Eu me sintosortudopor você gostartantode transarcomigo
— ele sussurrou,me deixando arrepiadae depositou um beijo no
meu ombro. Me virei de frent
e para ele e começamos mais um beijo,
sabia que se não parássemos, dormir não se tornaria uma opção.
C 15
Frederico Toledo

Jordana sempre dizia que ficava receosa quando tudo estava


perfeitodemais. Segundo ela, quando ela e Edu emplacavam em
uma fase sem problemas, algo muito ruim acontecia logo depois.
Hoje, nem eu e nem ninguém próximo a eles acreditavaque algo
poderia abalar aquela relação. Não era como se fosseperfeita,mas
eles a tornaram sólida.

Eu e Marina, no entanto,agimos como se tivéssemosdeixado


nosso relacionamentoperfeito,mas em pouco tempo percebi que
não era sólido. No meio da semana fomoseu, ele e Helena almoçar
no restauranteda avó de Jordana. Em um momento, Edu precisou
sair para trocar a fraldada filha e pôde ir até o escritório,para ter
privacidade. Ele demorou mais do que eu gostaria que tivesse
demorado. Nesse meio tempo, a irmã de Marina apareceu e veio me
cumprimentar .

Ela comentou sobre o aniversáriodo namorado, e disse que


adoraria nos convidar, mas como Marina não olhava na cara do
Lucas, isso parecia impossível. Eu caí na besteirade perguntaro
motivo e aí veio a bomba. Ela teve um caso com o cunhado. Não
entendimuitobem a história,mas se ela não amava o cara, guardou
essa mágoa por quê?
— Achei que com vocês dois juntos as coisas iriam melhorar
,
mas ela parece nunca tersuperado essa história— Tereza revirou
os olhos e negou com a cabeça — mamãe acha que se você a
pedisse em casamento,talvez ela esqueceriae voltariaao menos a
ser civilizada com ele, afinal não tivemos culpa.
— Eu já a pedi em casamento — disparei, mordido pela
desconfiança — e ela negou.
Tereza pareceu aturdidacom a novidade e pareceu pensar por
um momento.
— Acha que ela pode ser apaixonada pelo Lucas até hoje? —
ela franziuo cenho, parecendo preocupada — isso explicaria as
recusas do pedido, não?

Antesque eu pudesse tentartirarmais conclusões, Edu voltou


com Helena e a colocou no cadeirão. Ele acenou para Tereza, que
foi até o balcão fazerseu pedido. Meu humor ficouácido, eu estava
com raiva, nesse momento. Ser apaixonada pelo cunhado poderia
explicar muita coisa, não?

Me quererlonge da família,por exemplo, para não expor outro


cara para ele. Não querercasar comigo, porque queria casar com
ele. Um bolo se formouno meu peito e tudo parecia amargar , nem
consegui comer.

O vídeo da entrevistade Luísa foi lançado às nove da noite,


mas fingi não ver o celular. Marina enviou o link, sabia que eu
estava interess
ado em ver. Não a respondi. Assistio vídeo, vendo
minha namorada à vontade em frenteàs câmeras, a desenvoltura
dela foi impecável para uma primeira vez. Ela adorava trabalhar
nesse meio digital, se empenhava muito, merecia ser reconhecida
dentrodaquela empresa. Nos comentários,o pessoal elogiou muito
Marina. Alguns hatersde Luísa disseram que Mari conseguiu até
mesmo deixá-la mais amigável, já que Luísaera sempre petulante,
falsa. E era verdade.

Marina enviou um printdo seu perfilno instagram,em questão


de minutos havia ganhado quase três mil seguidores e ficou
chocada. Dei parabénspor isso, fuiseco, porque estavairritadocom
as possiblidades que inventei na minha cabeça.

Mas não me tirariaa razão, a culpa também era dela. Digo


também porque eu sabia que não era perfeito.Mas eu queria
iluminar nosso caminho, que nossa relação fosse mais abertae
sólida, mas não, nós dois criávamos um problema, batíamosna
teclado problema e não resolvíamos.Depois apenas ignorávamose
fingíamosque estava tudo bem. Foi assim com o aborto,foi assim
com o pedido de casamento e eu sabia que seria assim com a
conversa sobre filhos.

Pensei que não dava para viver empurrando com a barriga,


daqui a pouco nossa vida teria passado e seríamosdois velhinhos
juntos por amor, mas com tantas mágoas que não nos
suportaríamos.

Eu não queria sero carafrus


trado,que queria mais filhose não
teve. Mas não queria ser o homem que está com alguém por
conveniência, já fiz isso uma vez, sabia que não dava certo.Assisti
o vídeo de novo, só para admirarMarina, tão bonita, segura de si.
Nem parecia esse mar de confusõesque realmenteera. No vídeo,
passava uma imagem onipotente.

Ela logo perguntou se estavatudo bem e eu falei que sim, que


era só enxaqueca. Depois disse que amanhã poderia vir dormir
comigo e eu não respondi.

Edu logo notou que estávamosestranhos.Isso em um almoço


na mansão dos pais dele. Mas Marina logo rebateuazeda que eu
estava estranho. E que ela já tinha desistidode entender. Quando
Jordana subiu para dar banho em Helena, ela foi atráse Edu me
olhou pesaroso.
— Você estásisudo com ela — ele falouentediado— por quê?
— Você sabia que ela teve um caso com o cunhado? —
pergunteiindignado — e nunca me contou.Até hoje não fala com o
cara, porque ele preferiu a irmã dela.
— O que? — Edu perguntouconfusoe negou com a cabeça —
eu não acredito nessa história. Sério mesmo.
— Cheguei à conclusão de que ela pode ser apaixonada por
ele até hoje — eu falei, sentindo o bolo no peito de novo.
— Já falou com ela sobre isso? — Edu perguntou e eu o
encarei, me sentindo covarde.
— Não, porque se ela for , vai terminarcomigo — mal ter minei
de dizer e me primo começou a rir . A rirmesmo, como se eu tivesse
contado uma piada incrível.
— E ficartratandodesse jeito é a sua punição pra ela? Sério,
Fred, eu não acho que Marina seja apaixonada por outrocara que
não você.
— E se ela estiver comigo por conveniência?
— Se fosse,já teriaaceitadotodasas suas propostas— dessa
vez, quem falou foi minha mãe — ela ficouduvidosa se o seu mau
humor com ela tem a ver com a promoção no trabalho.
— Claro que não — falei indignado. Marina vinha ganhando
seguidores na última semana. Estava longe de ser uma digital
influencer
, mas as pessoas pareciam tergostadodela na entrevista
com Luísa. Segundo ela, a chefa cogitou mantê-la nesse quadro,
iriam testar
, ver como seria com o próximo convidado. Ela ficou
animada, porque com isso, viria um aumento.

Quando as duas desceram, Mari segurava Helena no colo,


porque Jordana vinha digitando no celular. Meu coração ficou
pequeno a imaginando com um filho nosso nos braços, a soma
perfeitade nós dois. Eu não conseguia deixar de imaginar que seria
incrível.Ela veio e se sentouao meu lado, com a pequena no colo e
Jordana entregou um mordedor para ela logo depois. Marina
interagiu um pouco com a Helena, mas a avó dela logo veio
sequestrá-la, era hora da soneca da tarde.

Ficamos mais algum tempo com minha família,mas inventei


dor de cabeça para irmos embora. Marina logo se irritoucom meu
temperamento,mas achava que era melhor ficarcalado do que
brigar
.
— Se for pra ficardesse jeito, eu quero ir pra casa — ela falou
azeda, cruzando os braços com força e eu a olhei rapidamente.
— Quando ia me contarque teve um caso com seu cunhado?
— perguntei amargamente.
— O que? — Marina pareceu tão incrédula que gritou.Eu dei
um riso sarcástico, focando na direção — quem te falou isso, Fred?
— Isso não importa,Marina — falei irritado,como se tivesse
finalmentejogando isso pra fora ou como se eu tivesserazão — por
que nunca me contou?
— Eu não tive um caso com meu cunhado! Você dizer isso
torna tudo nojento!
— E não foi? — disparei, cego de ciúme, de insegurança. Ela
me encarou irritada,mas invés de me explicar, se calou. Eu arfei,
ficandosufocado de raiva e aumentei a velocidade do carro,queria
deixá-la logo em casa para não tornar isso pior
.

Minha respiraçãoestava pesada, quente, eu estava furioso


como há temposnão ficava.Poderia assimilarcom o ódio que senti
quando descobri sobre o aborto, mas talvez não chegasse nem
perto. Naquele dia eu fui ao inferno e fiquei lá queimando por horas.

Marina não quis me explicar nada, desceu do carrocalada e


entrouno prédio, pouco se importandocom as minhas dúvidas, não
se importou em me explicar nada.

Ficamos sem nos falarpor trêsdias, que foi quando eu enfiei o


rabo entreas pernase fuiprocurá-la.Eu sabia que minha namorada
era orgulhosa, mas não queria que continuássemos brigados.
Quando ela saiu do prédio em que trabalhava,parou do outrolado
da rua a me ver encostadona latariado meu carro,a esperando.
Ela piscou devagar e respirou fundo, esperou o carro passar e
atravessou a rua.
— Não podemos conversar ? — perguntei manso e ela me
encarou firme, não se deu o trabalho de pegar a .flor
— Devemos. Porque vai ser a última vez que falaremossobre
isso — ela falou resignada. Eu não senti alívio, mas pelo menos
teriauma explicação decente, quem sabe não ficaríamosbem de
novo.

Meu intuito era nos levar para meu apartamento,onde


conversaríamos,nos entenderíamos e faríamos aquele sexo
gostosoque só nós dois sabíamoscomo fazer
. Passaríamosa noite
juntos,agarrados.Mas ela cortoumeu baratodizendo que precisava
ir para casa.

Fui ficando inseguro de novo, pronto para dizer que não


aceitariaum término,nem que precisassebancaro maluco. Quando
estacionei pouco antes do prédio que ela morava, Marina tirouo
cintode segurançae correuas mãos no rosto,prontapara começar
a falar
.
— Antes de conhecer você, eu estava com o Lucas e nós
ficamosjuntosalgumas vezes. Ele não namorava a Tereza, ele nem
a conhecia. Em um dia, eu nem sei qual, ele dormiu comigo aí em
casa, ela o viu. Depois disso eu não sei como aconteceu.Não sei
quem deu o primeiro passo, nunca me contaram,jogaram sujo
comigo. Eu estava sem tempo, porque era o último ano na
faculdade, o emprego me demandava muito tempo e eu estava
cansada. Fui pega de surpre
sa quando o vi dormindo no quartoda
frente.Foi um choque, eu nem lembro bem de como tudo
aconteceu. Eu nunca fui apaixonada por ele, o que doeu foi o
engano, o deboche, as pirraçasque aguentei calada. Quando meus
pais não estavam em casa, eu era obrigada a ouvir gemidos altos,
que eu sabia serem de propósito. Outra vez, quando minha mãe deu
um jantar para Tereza, ele esfregouna minha cara que a escolheu
porque ela era a mais bonita, mais nova, mais espertado que eu.
Que era mais mulher do que eu, se divertiupor me humilhar. E é por
isso que eu não olho na cara dele, porque ele é falso,porque ele é
sujo, é mesquinho. Ela me esfregou na cara a faceta do eu venci por
semanas, até se tocarque eu não estava mais me importando.
Depois vi que ela gostava dele de verdade e não cabia a mim
decidir que ele não era homem pra ela. Deixei pra lá. Logo conheci
você e foi incrí
vel, apesar de todosos nossos desentendimentosno
começo. E por Deus, Fred, nós tentamos muito...
— Mas... — eu ia começara falarqualquer coisa, a impedir de
continuar esse discurso, mas ela me olhou friamente e eu me calei.
— E depois disso, eu percebi que por mais que a gente se
goste,se deseje, se devore, não damos certoporque não temosum
relacionamento sólido. Qualquer coisa nos abala e isso nos
machuca muito. Não almejamos as mesmas coisas, você agora
quer construiruma família e eu fui empurrando com a barriga
porque não queria te perder
, mas sempre vai ter algo pequeno
reascendendo uma mágoa na gente.
— Mari, me desculpe, eu sei que...
— Eu não quero mais — ela falou,me interrompendo,foicomo
me atropelar, tudo doeu — não posso viver dizendo que talvez um
dia eu queria filhos,porque na maior partedo tempo,eu sei que não
quero. Posso te prometercasar, mas depois do casamentovão ter
outras cobranças e eu vou te fazer sofrer
.
— Podemos nos adaptar— falei, entrandoem desespero.Era
sempre assim, lidar com ela era como mexer numa caixa de
marimbondos.
— Não vamos, Fred — ela falou, a voz chegou a embargare
uma lágrima solitáriaescorreu,mas ela limpou rapidamente — nós
deveríamossaber disso no começo. O meu sonho e o que eu
almejo está a léguas de distância do que você quer
.
— Mas eu te amo — falei, meio atordoadopor estarsendo
deixado e não ter como reagir . Estava em choque. Nunca
terminamos.Já brigamos feio, nos desentendemos e maltratamos
por algo que eu não queria que ela tivesse feito.Mas depois nos
entendemos e nos amamos ainda mais.
— Você não confia em mim. Não como deveria. Depois dessa
semana inteirasendo tratadacom friezapor conclusões que você
tirousozinho, eu sei que vai acontecerde novo. Você pode me
amar, não duvido disso nem por um segundo, mas é frustrado
comigo, eu sei que é. Você me ama, mas não consegue de mim o
que quer. Você me ama, mas no fundo tem aquela faíscade
descontentamentoporque eu não quero te dar vários filhos, me
casare sera sua esposa. Eu não acho justoque eu mintaou tefaça
falsas promessas só porque eu te amo demais e não queria ficar
sem você.
— Eu não aceito — eu disparei, como se não tivesse
conseguido assimilar nada. Eu concordava com ela, mas preferia
que sofrêssemoscom nossos impasses depois. Empurraríamos
com a barriga, como sempre fizemos com nossos desejos opostos.
— Eu sinto muito — ela falou mais baixo e se moveu para
descer do carro, mas a segurei pelo pulso.
— Por favor
, Mari — eu pedi, me sentindo oco por dentro—
não quero te perder
, não faz isso comigo.
Fui me aproximando dela, notando sua respiraçãoacelerando
e os olhos verdes marejando. Quando nossos lábios se tocaram,foi
como se desse choque. Ela segurou meu queixo com uma mão,
começando o beijo que foi lento e doloroso. Eu chorei, me sentindo
um covarde impotente,não era capaz de convencer a mulher que
me amava a ficarcomigo. Porque fui inseguro, porque tínhamos
desejos incompatíveis.
Ela encerrou o beijo rapidamente e eu me afastei
abruptamente, virei o rosto e a esperei
. ir
C 16
Marina Marques

Quando minha chefa veio conversar , me promovendo a


apresentadorado canal no Youtube, eu deveria tercomemorado
mais. Significavaaumento de salário, embora tivessemais trabalho
agora. Mas a dor de lidar com o términome deixava muito para
baixo. Eu não queria terterminadocom Fred, mas sabia que Tereza
havia ido envenená-lo e ele caiu fácil nessa conversa. Dali pra frente
tudo iria transcender e piorar para nós dois.

Tudo o que eu não queria era que Fred e eu nos tornássemos


um casal inseguro que se detestamais do que se ama. E eu já
pensava sobre isso há semanas, de qualquer modo. Não queria de
jeito nenhum perdê-lo, mas eu nunca fui a mulher mais feliz do
mundo, poderia lidar com mais uma tristeza.

Nós dois estávamosandando em caminhos opostos.Um lado


teriaque ceder o seu baú no final do arco-írispara ir buscar o do
outro.E eu sabia que eu tinha mais poder para fazê-lo largarseus
desejos e seguir os meus. E não digo por controlaras coisas, mas
se eu não quisesse terfilhos, ele não teriacomo me obrigar . Se
fosse ao contrário, eu quisesse e ele não, eu daria um jeito, faria
acontecer. Ver Jordana e Edu felizescom a filha me dava remorso,
eu não poderia tirarisso de Fred e qualquer custo. Ele já estava
frustradocomigo, simplesmentetudoseriamotivopara ele ficarcom
raiva, mesmo que ele tentasse controlar
.
Eu não conseguia imaginar uma trajetória
para nós dois onde
encontraríamos um consenso.

Com o carnaval se aproximando, eu decidi impulsionar Denise


para irmos para a Sapucaí. Consegui ingressos para um dos
camarotesna agência, para nós duas. Nem cogitei incluir Jordana,
porque não era o tipo de programa que ela adoraria.Além do que,
ela e Edu iriam viajar, só os dois. Nora estavaeufóricarezando para
eles fazeremo segundo filho nesse feriadão,mas Edu cortouo
barato dela contando que Jordana estava tomando a pílula. De
qualquer modo, ela rezaria para o anticoncepcional falhar
.

Não sabia dos planos de Fred. Única coisa que Jordana me


contou foi que ele estava sofrendo muito, até o viu chorar
.
Em casa, minha mãe duvidava de que quem havia terminado
fosse eu. Duvidava mais ainda que um homem daqueles me
suportariapor muito tempo. Ela e Tereza sempre alfinetavam que
sabiam que esse relacionamento não seria duradouro. Que fui
apenas o lanchinho do milionário. E riam, pareciadivertidopara elas
me humilhar.

Não era fácil lidar com o término.Doía muito, o corpo pedia


socorro, pedia por ele. A alma sentia falta desse amor. Das
conversas, das fofocas,das piadas idiotas dele, de tudo. De todo
jeito, eu estava ignorando a dor e focando no profissio
nal. Se eu
firmassea minha imagem apresentandoum programano Youtube,
talvez as coisas começassem a realmente melhorar
.
Quando a semana de festaschegou, eu e Denise fomos para
um bloquinho, primeiro.As chances de encontraros figurõeseram
baixas em lugares como esse. Obviamente. Eu jurei que ficariacom
vários, que beijaria muito, mas não consegui. Foi uma pena. Denise
muito pior. Mas aproveitamos e nos divertimos, pelo menos
tentamos.

Na noite que fomosassistiros desfilesna Sapucaí,ela veio se


arrumar comigo. Jordana enviou fotos dela e Edu nas ilhas
Maldivas, nos matando de inveja – mas uma inveja boa, preciso
salientar
.

Denise se vestiu com um short jeans clarinho e uma


maquiagem cheia de glittere o abadá. Já eu, coloquei um short
jeans na corpretae o abadá. Muitoglitterna maquiagem e o cabelo
deixei bem liso e solto. Nosso amigo Antônio veio nos buscar,
fingimos que nunca houve esse afastamentoentrenós e nem ele
insistiu na conversa. Talvez soubesse que nos reaproximamos
porque estávamos solteiras. Não que fosse justo.

Quando saímos, minha mãe perguntoucom que dinheiro eu


consegui compraro ingresso, já que o namorado milionário não
existia mais. Não respondi e Denise se despediu dela
educadamente.

Ao chegar, fomos pegar bebidas e aproveitamoso show de


dentro.Eu queria estarmais animada, mas não dava pra forçar
muito. Denise deu um foraem um bonitão que chegou nela, mesmo
que eu a fuzilassecom o olhar. Ela deu de ombros, se desculpando
e veio até mim.

Ravi chegou por ali e eu o vi primeiro.Denise pergunt


ou se
Chiara estavano lugar, mas eu neguei com a cabeça. Chiara pouco
se importava com Ravi, só o usava para seu bel prazer
.
Nós duas meio que nos escondemos, mas ele não demorou a
encontrá-la.E ele não era burro,sabia que as chances de ela ficar
com outro em uma festa eram maiores, então grudou nela,
formandoum casal. Revirei os olhos e fui dar uma volta. Peguei
outrodrink e volteipara onde os dois estavam,mas parei e volteiao
ver Fred junto. Meu coraçãofalhou uma batida, perdeu o compasso
e as pernas ficarammoles. Saí dali e andei mais um pouco, logo
encontreiduas meninas do trabalhoe fiquei com elas. Eu mantinha
uma boa relação com o pessoal do trabalho,mas nunca fiz uma
amizade ou uma proximidade mais forte com ninguém.

Assisti aos desfiles, me emocionando, era mesmo lindo. Já


mais tarde,pela madrugada, eu voltei para onde Denise estava.
Respirei aliviada por Fred não estarpor perto. Não achava que
saberíamos ser civilizados, nem que nos faria bem forçar
proximidade. Mas doeu no ego vê-lo pertoda ex e de Luísa, com
essa boca que pareciacada dia maior. Não deveria contemplar, mas
senti alívio quando Ravi voltou, passou por eles, cumprimentouas
duas, passou um braço em tornodos ombros de Fred e o trouxe
para cá.
Nós dois nos encaramose eu sentitudo estalarpor dentro,me
torcendo,o mundo pareceu congelar ao redor . Engoli pesado e
tenteimantero focona respiração,mas o coraçãojá acelerava, as
pernas ficavam moles. Acenei de longe, não suportariater que
cumprimentá-lo formalmente.

Pisquei algumas vezes e me virei, focando na escola que


desfilava, no samba, nas pessoas tão felizes só porque era tempo
de festa. Em algum momento, um cara chegou, me paquerando e
eu ainda fui educada, mas ao olhar para o lado oposto,me deparei
com Fred nos observando. Eu poderia ter cedido, ter beijado o
estranhobonito, assim ele veria que nós dois acabamos mesmo e
não poderia insistir
. Mas não consegui. O dispensei e fui para mais
perto de Denise. Dançamos, bebemos e tenteime divertir . Não
estava no espírito da coisa, mas não iria desperdiçar a noite.

Eu fui uma mulher fortee resignada, porque acreditavaque


havia tomado a decisão certa.Era o mais certoa se fazer
, no nosso
caso. Deveríamosficarlivres, ele precisava encontraralguém que
fizesse tudo da maneira como ele queria. Isso até as quatroda
manhã, quando eu já havia bebido o suficientepara me convencer
de que o amava muito e não suportariae nem sobreviveria se
passasse essa noite longe.

Parei na cama dele, pelada, de quatro,por cima, sob ele, de


lado, de todos os jeitos porque estávamoscom tantasaudade que
nada parecia suficiente.Queríamosfundirnossos corpos e nossas
bocas se chupavam, o beijo sincronizava profund amente e
desencontrava na mesma proporção. As estocadas dele eram lentas
e profundas,como se ele precisasseme sentire eu precisassedele
todo. Ficamos enroscados, arfando e suando, as pernas
entrelaçadas,tudo remetendoamor e tesão, saudade e paixão. Eu
amava esse homem e nunca daria certoou seria o que ele queria
que eu fosse.

Começamos a ondular juntos, eu comecei a me contorcer


embaixo dele, a boceta contraíaem torno do pau duro, muito
excitado.Fred entrelaçounossas mãos e ergueu nossos braços,eu
não conseguia parare ele adorava me ver perdida refémdo seu
corpo. Meu orgasmo era violento e longo, ele lambia meus lábios,
me observava e gemia comigo. Depois me virou de bruços e me
penetroude novo, montadosobremeu corpoe inclinou, tirandomeu
cabelo do caminho para beijar minha nuca. Empinei o bumbum e ele
veio mais fundo, uma mão foi direto para o meu clitóris.
— Porra, Marina — ele falou áspero, me levando de volta para
gozar e estremeci.Fred deu um tapa na minha bunda, aumentando
o ritmo das estocadas e ficou dentro, senti o primeiro jato de
esperma e choraminguei, era delicioso e ele continuou, intenso até
terminar
.
C 17
Frederico Toledo

Enquanto Marina quicava no meu pau pela manhã – leia-se


meio dia –achei que tínhamosvoltado. Eu devorei essa mulher, me
saciei dela, transamosigual dois animais no cio, não conseguimos
nos desgrudar , colados até que a vontade aliviasse um pouco. Meu
pau só queria uma coisa: a boceta dela.
Eu beijava o mamilo a cada vez que conseguia abocanhá-lo e
ela cavalgava com força, se esfregava em mim, disse que me
amava muito pelo menos quatrovezes e quando ela gozou, foi tão
forteque eu preciseisegurá-la, até que o corpo acalmasse. Depois
mamei o mamilo mais um pouquinho e comecei a meter
, até gozar
para ela, foi gostoso demais.

Caímos deitados na cama e nos olhamos. Ela acariciou meu


rostoe se aproximou para beijar minha boca. A puxei para mim e
dormimos por mais alguns minutos. Quando despertamos,
começamos toques maliciosos e beijos intensivos,logo estávamos
lá outravez. Fizemos um 69 de respeito,ela gozou na minha boca e
eu na dela, foimaravilhoso.Descansamos e transamosde novo, em
um momento eu chegava ao orgasmo e não ejaculava mais.
Terminamos o dia fracos, não nos alimentamos de mais nada.

Quando finalmente saímos da cama e fomos para o banho,


pedimos pizza e no meu sofá imenso, quando termineide comer e
fui deitar a cabeça no colo dela, ela começou a dizer:
— Isso não quer dizer que voltamos — ela falou, colocando a
borda da pizza na caixa vazia.
A ignorei e puxei minha camiseta que ela vestia, chupei a
boceta e ela gemeu fraca,mas abriu as coxas, me dando total
acesso ao ponto mais sensível.

Havia alguns pelos, não que eu ligasse. Mas Mari andava


sempre lisinha, depilada, e tomei isso como faltade intenção de
transarcom outrocara.A chupei devagarinho, acendendo a vontade
aos poucos, atéque ela se abriu toda,deitandono sofá.Ela puxou a
camisetatoda para cima e a tirou,me fazendo gemer. Parei com a
língua na ponta do clitóris,a olhando toda arrepiadae puxei a pele
que o cobria, lambendo a ponta exposta e ela se contorceu.
Abocanhei tudo, lambendo a carne sedenta e inchada, meus
lábios estalaramnela e eu chupei de novo e de novo. Mordisqueios
lábios íntimose lambi no meio, ela começou a lubrificare querer
mais, fiz até que não aguentei e fui por cima, penetrando e
absorvendo o calor e umidade. Mari já estava tão sensível que
gozava rápido, orgasmos leves, mas que vinham rapidamente.

[...]

Encontreia mãe de Marina no Shopping, uma semana depois


do carnaval. Ela lamentou o fim do namoro, não que ficasse
surpresa,sabia como o gênio da filha era difícilde lidar. Dei um
sorriso amarelo, aceitando as condolências, mas não culparia
Marina sozinha. Eu procurei também.
Não nos vimos mais desde aquele dia. Única coisa que eu vi
dela, foi outrovídeo dela, entrevistandodessa vez Gabriel, o ex da
Chiara. Poderia me taxar de louco, mas ele deu em cima dela.
Jordana defendeu, disse que eu estava vendo coisa, mas Eduardo
também percebeu. Ele deu em cima dela. Reassisti ao vídeo,
tentandonotarse ela retribuiuos flertesou só foi educada, mas
quando ia falar minhas percepções, Jordana me lembrou que
Marina estava solteira. Tomei isso como uma confirmaçãodas
minhas dúvidas e joguei para Eduardo a missão de me ajudar.
Quando era ele fazendomerda e olha que ele era muitosníveispior
do que eu, Marina incentivou Jordana a perdoá-lo.

Nesse dia, Edu me encaminhou um áudio de Marina dizendo


para ele que eu e ela não terminamosporque fizmerda. Mas porque
nossos planos não eram os mesmos, eu não confiava nela como
deveria e ela não poderia me fazer promessas que nunca cumpriria.

Não me aguentei, na sexta-feira, eu não consegui ficarem


casa remoendo tudo isso e deixando Marina escaparporque fomos
incapazes de fazernosso amor dar certo.Teríamosque resolver ,
que consertar.
Quando toquei a campainha, a mãe dela quem veio abrire me
encarou surpresademais, para dizer a verdade. Dei um sorriso
amarelo, perguntandose Marina estavae ela demorou a dizer, mas
seu Acácio disse que estava, sim. O cumprimenteicom um aceno e
pergunteise eu poderia vê-la. Dona Margaretedisse que a filha
estava no quarto,achava que iria sair, não sabia que era comigo.
Pedi para ir até ela e ela me deixou à vontade.
Batiduas vezes na portado quartodela, que abriu e parou com
olhos grandes de surpresa a me ver. Ela entrou no quarto,
colocando os brincos e jogou o cabelo para o lado, passando
perfumelogo depois. Estavabonita demais, usava um vestidocurto
de gola alta e tinha os cabelos soltose lisos. Maquiagem forte,sem
nada nos lábios ainda.
— Não sabia que ia sair — eu falei meio sem jeito e pigarreei.
Ela suspiroue pegou o celular, digitou algo e o jogou sobre a cama,
voltandoa terminarde se arrumar— queria tever, sentimuitoa sua
falta.
— Fred, nós decidimos terminare não é tendo recaídasque
isso vai funcionar.
— Eu não quis terminar . Nunca quis — eu falei mais baixo.
— Iria acabaracontecendo,de qualquer jeito— ela resmungou
— eu sinto falta também, não dá pra esquecer assim tão rápido.
Mas nós precisamos tentar .
— Por favor , Mari — eu pedi, indo até ela — por favor , volta
comigo.
Ela se virou para mim, ficamospertoum do outroe eu engoli
pesado. Ela me observou e deu um passo para trás.
— Estou saindo com Denise hoje — ela falou decidida — se
você quiser, podemos conversar amanhã.
— Eu quero dormir com você hoje — falei insistente— eu
acordo durantea noite, você sabe, tenho sono leve. Não consigo
ficar em paz sabendo que não tenho mais você.
— Você é muito dramático,Fred — ela falou desgostosa—
passou dias me tratandomal, com raiva de algo que você criou
sozinho. E agora não vive sem mim.
— Me perdoa — eu pedi e ela deu um riso sarcástico— eu
erreie me arrependo, devia tersido mais confiantecom você, mas...
— Mas eu ia contratudo que você queria. Você me amava,
mas não se encontravaperfeitamente em mim. Estavafeliz comigo
ao mesmo tempo que se questionava.
— Por favor , Mari — eu implorei de novo, caindo ajoelhado e
abracei pelas pernas. Marina fez um barulho de descontentamento e
tentou se desvencilhar das minhas mãos. Não adiantou.
— Eu vou sairagora. Por favor, não vamos fazeruma cena que
meus pais podem ouvir — ela falou impaciente — podemos
conversar amanhã?
— Não — eu falei insistente , escondendo o rostoentresuas
pernas — você vai sair e ficar com outro cara, vai me esquecer e...
— Você não vai me comover com essa cena — ela começou a
rir
. Seu celularcomeçou a tocare ela foipegá-lo. Eu me levanteie a
ouvi dizendo à Denise que já estava descendo.
Depois de guardaro celular na bolsa, Marina veio até mim e
parou bem perto. A encarei de volta.
— Se você quiser, podemos conversaramanhã — ela falou
decidida. Quis negar, dizer que se não fosseagora, eu não queria
mais. Mas não conseguiria.Estavadesesperadopor ela, mais uma
semana e eu teria uma crise feia de abstinência do nosso amor
.

Ravi insistiaque era faltade sexo, mas não era. Eu não estava
a fim de sexo com qualquer mulher, eu sabia que conseguiria isso
facilmente, se fosse.
[...]

No dia seguintenos encontramos,tivemosuma conversalonga


que não chegou a lugar nenhum porque Marina estava irredutível.
Achava que agora era hora de focarno trabalho,estava ganhando
espaço e não iria desperdiçar. E a nossa relação estava frágil
demais naquele momento.

Encerramos com sexo, muito sexo, do jeito que sempre


fazíamos.Comecei a me fazeracreditarque me contentariacom
isso. Com doses homeopáticas de Marina uma vez na semana,
quando não suportasse mais viver sem ela.
C 18
Marina Marques

Eu estava no quartode Helena, jogada no tapeteenquanto


brincavacom ela, num piano barulhentoe desafinado.Havia notado
que nossa relação evoluía muito quando eu não tinha a pressãode
Fred querendo um bebê.

Eu poderia interagir, brincare dar amor para a pequena que


ninguém falari a o quanto eu estava apta a ser mãe. Me manter
afastadada Helena foi como uma defesa instintiva.Se eu não
levasse jeito e não gostasse de crianças, ninguém acharia possível
que eu tivesse uma.

Mas eu amava a garota.Tão esperta,divertidae inteligente.


Jordana e Eduardo tinham feitoum verdadeirotriunfo,Helena era
perfeitae eu a amava cada vez mais intensamente.A ensinei a
dizer tiaMa. Que ela não falava direitoainda, mas seria questãode
tempo.

Quando Jordana saiu do banho, desci com a pequena no colo,


ela agarradaao meu pescoço, apegada que estava ficando a mim.
Fomos para a sala de jantar, onde Noêmia preparavaum lanche
delicioso para nós três, mas infelizmente, Fred e Edu chegaram.

Por um segundo eu quis parar de dar as frutinhas para Helena,


eu tinha jeito, qualquer coisa que se faz com amor, se pega o jeito.
Mas não parei, acenei para os dois e volteiminha atençãoa Helena.
Jordana comia enquanto fazia um trabalhono notebook em sua
frente.

Eu não havia contado para ninguém sobre minhas transas


escondidas com Fred, seja no meio do dia ou à noite. Seria dar
esperança de volta e eu não achava que conseguiríamosvoltar .
Ainda mais agora, que ele se envenenava fácil com o que minha
mãe ou irmã diziam sobre mim.

Ele e Edu forampara o escritóriode Eduardo e Jordana me


olhou pesarosa, por ser tão fria.Ela se rendeu fácil ao drama de
Fred, mas não me comovia. Era o melhor para nós dois. Um dia, ele
encontrariauma mulher que daria para ele exatamenteo que ele
queria.
— Tá falandosério,Mari? — perguntou,porque não acreditava
e eu fiz uma careta.Eu falava da boca pra fora,nem conseguia
imaginar se ele encontrasseoutrae se apaixonasse loucamente,
como me amava.
— Não posso obrigá-lo a ficar comigo e todos os meus
bloqueios emocionais — eu resmunguei. Helena colocou a mão no
pratoe a encheu com morangos, amassando e levou para a boca.
Não me importei, Jordana fez uma careta pela bagunça e a pequena
ainda me ofereceu um pouco.
— Ele está louco pra voltar — ela falou mais baixo, se
escorandona cadeira — Edu me fez prometerque vamos teroutro
bebê, se você e Fred se casarem esse ano.
— Sério? — perguntei,me divertindocom isso deles dois — e
se aconteceuma coisa, eu fico louca e caso com Fred, você vai ter
um filho por agora?
— Claro que não — ela falou o óbvio, quase incrédula —
precisoterminara faculdade,quero trabalhartambém. Essa vida de
dondoca não é pra mim.

Quando cheguei em casa, no começo da noite e sem planos de


sair, fui pega de surpresacom minha mãe, que veio furiosapara
cima de mim. Quando o primeirotapaacertouforteno meu rosto,eu
tenteiraciocinar. Mas logo ela me segurou pelos cabelos e veio
outro tapa e gritos furiosos.

Tudo pareceu virarum borrão,os gritossobre eu ser capaz de


qualquer coisa por ter feitoum aborto, ficaramimpregnados na
minha cabeça. Ela berrava que eu era uma ameaça, me puxava
pelo cabelo e me dava tapas, ninguém a afastoude mim, não vi se
meu pai estava na sala. Quando viu que eu não ia reagir, eu nem
forçastinha pra isso, só trem
ia e tentavaassimilar, ela me empurrou
para o chão. Me afastei, humilhada e me levantei.
— Eu quero essa vagabunda forada minha casa! — ela falou,
olhando para o meu pai, que ficou quieto sem dizer nada, como
sempre.
— Eu saio — falei baixo, trêmula.
— Você é uma aberração, Marina! Uma aberração! — ela
voltou a berrare vinha para cima de mim de novo, mas meu pai a
segurou.
Me tranqueino quarto,não sabendo como ela soube disso
depois de tantotempo. Mas não importava, de qualquer modo.
Consegui ouvir os gritosde que eu vivia a ameaçando, coisa que
nunca aconteceu. Que ela sempre teve medo de mim, sempre
soube que eu era perigosa. Minha vontade era de voltarlá, retrucar
cada acusação falsa,se fosseem outrotempo, eu fariaisso, iria lá
gritarde volta e renderíamosuma briga que duraria horas de
discussão.
Quando ela começou a querer ligar para a polícia, me
denunciar por ameaçá-la, gritava mesmo, como se chorasse,eu me
desesperei. Tremia muito, não sabia como reagir
. Achei que talvez
fossemelhor sair do quarto,mas a discussão se tornoudela e do
meu pai e eu não sei o que houve, tudo pareceu virarborrãona
minha mente.

[...]

Quando voltei ao meu estado normal, sentia um ardorque já


não me era estranho.Liguei a luz e fui até o espelho, vendo os
arranhõespelo pescoço, alguns na testa,bochecha e pertodo lábio
inferior
. Grunhi de raiva, não fazia isso há anos. Associava esses
episódios a quando a raiva e sensação de impotênciaficavammaior
que a minha capacidade de lidar com elas, com a dor emocional, eu
descontava me causando dor .

Mas a última vez que aconteceufoi há muitos anos, antes de


eu conhecer Fred, aliás. Eu ainda tremia,me sentindo apavorada.
Para não terque sair do quarto,peguei um algodão e limpei os
arranhões. Depois passei uma pomada e torci para acalmar e
conseguir cobrir com maquiagem na segunda-feira.

Fred ligou mais tarde, mas não atendi. Depois enviou uma
mensagem, disse que só queria conversar , ouvir minha voz, poderia
ser por telefone,por ele tudo bem. Comecei a chorar , não teria
condição nenhuma de falar com ele. Os próximos dias seriam
caóticos e eu não queria que ele quisesse me ver nem tão cedo.

Falei que estava com muita dor de cabeça e nos falaríamos


depois. Comecei a me dar contaque mesmo que nossos planos de
futurofossem diferentes,que ele quisesse construiruma família
grande e eu não quisesse terfilhos,eu não queria ficarlonge dele.
Quando estávamosjuntos,eu não precisavaficaraqui, enfrentando
tudo isso.

Jordana queria ir à praia com Helena no domingo de manhã e


me convidou, reclamou que o pai da criançaestavana sua doença
da ressaca, porque bebeu todascom Fred ontemà noite.Eu neguei
e ela não aceitou, então preciseicontar
, envergonhada, o que havia
acontecido.Enviei fotosdo meu estadofísico,que não era tão mau
quanto o emocional. Minha mãe seguia dizendo que eu a
ameaçava, que tinha medo de mim. Externou toda a raiva que
sentia pela minha existência, ao saber que interrompi uma gestação.

Desliguei o celular duranteo restodo dia, não saí do quarto.


Não comi nada e nem água bebi. Acordei fracana segunda-feira,
acordei bem cedo para não esbarrarcom ninguém. Tomei um bom
banho, lavei os cabelos, os arranhõesestavammenos vermelhos e
eu conseguiria disfarçar com uma boa maquiagem.
Coloquei uma blusa de gola alta,que não combinava nada com
o clima do Rio de Janeiro. Mas não havia outraescolha. Passei
maquiagem e tomei um café antes de sair. O desespero que me
dominava era difícilde explicar, um tremorinsuportávelinternome
sucumbia toda hora, eu sentia tanto medo.

Imaginava minha mãe me denunciando por ameaças que


nunca existiram,fazendotodos ao seu redoracreditaremque eu era
essa psicopata, que eu não era.
À noite, meu pai veio se desculpar por ela, incapaz de colocá-la
como errada.Neguei o abort o, não dava para confirmare deixá-los
aumentando tantoessa história.Neguei e disse que quem falou
isso, queria muito ferrar
comigo. Mas só me fez parecermais louca.
Disseram logo que eu tinha síndrome de perseguição.

Desisti, me calei e voltei a me trancar no quarto.


C 19
Frederico Toledo

Acordei no domingo e me sentei assustadoao ver Bruna me


trazendocafé na cama. Eu e Eduardo bebemos todas em um bar,
na noite passada. Mas por mais louco que eu estivesse, me
conhecia e sabia que não ficaria com essa doida.
— Mesmo que você venha apelar pra uma amnesia alcoólica,
eu sei que não fiquei com você — falei convicto e ela começou a. rir
— Claro que não, que horror! — ela falou rapidamente,quase
me atropeland o — achei que o combinado era sermos apenas
amigos — ela falou descontraída— pelo bem do nosso filho. Não
ficamos, mesmo. E nem vamos.
— Hum — falei sem acreditarnela — e eu não selaria um
acordo de amizade com você.
— Mas você selou — ela ret
rucou petulante— e eu acho que
já passou da hora de a gente pararcom essa guerra.Não somos
mais um casal, mas temosum filho juntose ele não suportanos ver
brigando. Se quer saber, você choramingou sobre Marina a noite
inteirinha e eu não me incomodei.
Não falei nada, apenas a encarei analisando, não sabia em que
acreditar.
— Eu vou deixar você sozinho. Se quiser desabafar , pode me
ligar — ela falou e saiu, puxando a portado quarto.Espiei o caféna
bandeja, mas deixei lá e fui para o banho. Tirei a roupa da noite
passada e entrei no Box.
Na segunda-feira,fui procurarpor Marina. A esperei no lugar
que costumavaesperar, para ela sairdo trabalho.Mas ela fingiunão
me ver e entr
ou em um táxi. Digo fingiu não me ver, porque nos
encaramos por um mísero segundo.

Mais tarde,naquela noite, meu filho ligou, me chamando para


comer pizza. Eu sabia que tinha dedo de Bruna ali, querendo nos
reaproximar a todo custo, mas não consegui negar meu filho.
Cheguei lá e eu e Bruninho escolhemos os saboresda pizza e
da pizza doce. Para meu desgosto, Luísa chegou ali, cheia de
sorrisos falsos, lamentando cinicamente o fim do meu namoro.
As duas forambeber um vinho rosê, que eu dispensei. Preferi
jogar damas com meu filho. Como Luísapostavatudo que vivia, da
maneira mais entojada possível, logo Chiara encaminhou o vídeo
onde eu apareci e eles reconheceram meu antigo apartamento.

“Você enlouqueceu?” — Edu enviou, junto com a tela gravada


do vídeo. Nem me dei ao trabalho de responder , não existia a
possibilidade de mim e Bruna termosalgo de novo. Tentaruma
relação mais amigável e menos turbulentacom ela seria bom, pelo
menos para nosso filho. Não custavatentar
. E já se sabia que pais
fazem tudo pelo melhor de seus filhos.

Os dias passaramnebulosos, completamenteo opostodo que


eu gostava.Sentia faltade Marina, se ficarsem ela foi difícilem um
momento em que eu estava furiosocom ela, agora, quando ela
decidiu terminar por motivos que eu não concordava, eu estava
noventa por cento pior
.
Sentirfaltade alguém era tortuoso,ainda mais alguém que eu
planejava passar o resto dos meus dias junto.

Marina estava sendo comentada, pelo menos na mídia mais


jovem dessa cidade. O seu desempenho apresentandoagora o
podcastno canal do Youtube estavaimpecável, eu adorava assisti-
la e matarpelo menos um pouco da saudade. Se eu tent ei procurá-
la? Obviamente, sim. Mas ela não queria mais conversar
. Disse que
não tinha nem tempo, mesmo que quisesse.

Minha vontade era sair e encher a cara, empurrara mágoa


para longe, fazeruma merda atrásda outrapra me ocupar com o
remorso e esquecer minha saudade. Mas isso não combinava
comigo.

Meu filho comentou por alto que se sentia aliviado por eu e a


mãe dele não estarmosmais em guerra,porque sentiaque a culpa
dos nossos desentendimentos era ele. Hoje, por exemplo,
conseguíamosnos ver, ele ia para meu apartamentoquando queria,
ela não ficava implicando e proibindo visitas. Eu sabia que muito
disso tinha a ver com não estar namorando Marina, mas não
alimentar qualquer picuinha já ajudava muito.

À noite saímos, nós dois. Fomos jogar boliche, depois fomos


lanchar. Depois vi Marina postando algo em uma balada, estava
saindo muito com Denise. Logo pergunteipara Ravi, se ele estava
com elas e como sim, pedi para me dizer os passos de Marina. Não
que eu fossefazeralgo, mas queria saber se ela estava seguindo
em frente.

[...]

No começo da semana, deixei meu filhona escola e segui para


o trabalho. Eu e Eduardo teríamosum dia cheio. Focar no trabalho
me arrancava um pouco desse luto de fim de relacionamento.
— Eu sinceramente prefiro meu jeito de sofrer— Edu
resmungou, quando terminamosde apresentarum projeto e eu o
encarei desgostoso.
— Bebendo, se drogando e fazendo orgias? — indaguei
enojado e ele riu, não me respondendo.
— Ficar nessa fossa que não dá, Fred — ele falou
condescendente.
— Ela está bem? — perguntei.Não queria Marina mal, longe
disso. Mas queria que ela sentisseminha falta,que não aguentasse
ficar sem mim.
— Ela disfarçabem — ele falou superficialmente— não me
leve a mal, mas acho que você procurouo término.Ela engoliu tudo
o que não queria. Acho que se te queria longe da família, motivos
pra isso teve de sobra.
— Acha que eu a pressionei demais?
— Acho. Você quis prenderum bicho solto — ele falou e eu
suspirei, ficando irritadocom isso. Talvez ela tivesserazão quando
disse que queríamoscoisas diferentes,mas se não fossecom ela,
eu também não queria casar e terfilhos. Se fossepara terisso a
qualquer custo, eu nunca teria me separado.
Edu me aconselhou a dar um tempo para Marina esfriaras
ideias, sentirminha faltasem se sufocar , mas não consegui. Ainda
naquela noite eu liguei para ela, insistindo para nos vermos, pelo
menos conversar. Ela retrucou,disse que não tinha mais nada para
resolvermose eu não desisti.Quando avisei que estava em frente
ao seu prédio, ela ficou quieta, depois disse que duvidava, mas a
me ver ali, falou que ia descer
.
Esfregueiuma mão na outra,tão nervoso que soava bizarro.
Destraveio carroe baixei os vidros quando a avistei.Ela entrouno
carro e eu a observei, tão bonita, sisuda e brava.
— Eu nem sei porque vim aqui — ela começou a dizer .
— Seria muito humilhante me deixar plantado na sua porta—
eu falei e ela cerrou os olhos.
— Não temos nada pra conversar .
— Temos, sim — eu retruqueie ela suspirou, revirando os
olhos.
— Estava com a sua ex, achei que tivesse tentandoter o
casamentodos sonhos com ela de novo — ela falou petulante e eu
comecei a rir — não é engraçado, Fred.
— Eu nunca teria algo com ela de novo. Na verdade, eu nunca
teria algo com outra mulher que não fosse você — eu falei enfático e
ela me lançou uma careta de quem não acreditava em mim.
— Fala logo, o que você quer? Eu quero voltarpra casa. Nem
meu celular peguei — ela avisou.
— Não podemos conversar?
— Sobre você e Bruna, vamos lá — ela falou topetud a, se
virando no banco e eu a encarei — se meu ex estávoltando com a
mãe do filho, eu preciso saber
, oras.
— Não estouvoltando com ela. Eu não enlouqueci ainda — eu
resmunguei— Bruna propôsuma tréguae eu aceitei,foisó isso. Eu
achei que poderia ser bom, meu filho agradeceu nosso esforço,se
sentiamuitomal por vivermosnaquela guerra,achava que era culpa
dele.
— Oh — ela falou vagamente, como se não esperasse— pelo
que Luísa andou dizendo, pareceu outra coisa.
— Eu não mentiriapra você. Nunca menti pra você — eu falei,
a encarando e ficamos em silêncio por um momento. Engoli a saliva,
piscando devagar antes de voltar a falar:
— Eu sinto muita faltade você — eu falei mais baixo, ficando
angustiado— não me importode ficaraqui humilhado dizendo isso,
dizendo que te amo e não sei mais como faz pra ser feliz sem você.
— Não adianta a gente voltar e fingirque vai dar certo— ela
falou, o tom de voz mudou por causa do seu desconforto.
— Podemos tentar fazer dar certo.
— Fred...
— Posso tentarnão pressionar tanto,deixar que a gente siga
no nosso tempo.
— Meu tempo é diferentedo seu — ela retrucouimpaciente—
eu quero viver outrascoisas antes de pensar em casamento, não
sou a mulher que vai viver em função de você e...
— Você é a mulher que eu amo e isso já basta — eu falei,
mesmo que por enquanto — não quer sair pra comer algo? Eu não
jantei ainda, to com fome.
— Tudo bem — ela falou, não vencida pelo cansaço, eu a
conhecia o suficiente,ela aceitou porque queria dar uma trégua
também.

Fomos em uma hamburgueriae nos sentamosem uma mesa


no canto, mais nos fundos do lugar. Marina não achava uma boa
ideia algum conhecido nos ver juntos e eu achei melhor não ir
contra. Talvez fosse melhor irmos voltando devagarinho, sem
explanar pro mundo. Assim, eu a pressionariamenos, e ela não
teria tantos motivos para fugir
.

Depois de comer, nós ainda tomamos um chope, que estava


uma maravilha. Demos uma volta pela orla da praia, perto do meu
apartamentoe dali, ela quis ir embora, mas inventeiuma reformano
meu apartame nto, algo novo que eu queria mostrarpara ela. Isso
não existia, era óbvio.

Mari me cerrou os olhos, não sabendo se acreditavae eu


insisti, prometi que a levaria para casa em seguida.

A agarrei no momento em que fechei a porta, ela pareceu


assustada com meu impulso, mas cedeu e se entregouao meu
beijo. Foi como se eu estivesse realizando uma necessidade
urgente, tendo nas mãos aquilo que eu mais queria.
C 20
Marina Marques

Fechei os olhos quando ele caiu deitado ao meu lado, depois


de me beijar na boca. Meu peitosubia e descia, a respiraç
ão voltava
ao ritmo desacelerado, mas o corpo ainda tinha arrepios de
satisfação.
Esse homem me saciava de um jeitoque eu nunca conseguiria
fazersozinha, e isso era perigoso, porque eu sempre fui boa em
explorarmeu próprioprazer . Mas com ele era ainda melhor, muito
melhor.
Ficamos em silêncio, eu, prontapara quererir embora. Fred,
do jeito que era, devia estarpensando que errouem ternos levado
para a cama rápido demais. De novo. Era sempre assim. Era difícil
pra nós dois nos beijarmossem termosvontadede tirara roupa. Foi
como se precisássemos disso para matar a abstinência e a
saudade.

Eu queria ficarcom ele, namorarcom ele. Queria poder correr


para ele e contar que algo na minha vida mudou, eu estava
avançando no trabalho,crescendo mais rápido do que imaginava,
profissionalmente.Na verdade, indo por um caminho que nunca
imaginei. Eu dava o meu melhor em cada entrevista,talvez fazer
com prazer, com determinaçãoe querer que desse um resultado
incrívelajudasse, todosaprovarammeu desempenho atéque recebi
um contrato onde meu salário mais do que dobrou.
Claro que não contei isso em casa, seria como entregara
minha cartade alforriapara eles rasgarem.Logo eu poderia sair de
casa e terum lugar confortável e só meu. Mas contarisso para Fred
seria como ofendê-lo. Por que eu não poderia vir morarcom ele?
Por que eu tinha que ir pelos caminhos que projetei,sem ceder e
pular as minhas fases? Eu nem tinha resposta para essas
perguntas,mas queria desse jeito. Poderia estarsendo teimosa,
mas se eu viesse morarcom ele, logo ele ficariaperturbando,me
forçandoa parecerfeliz com a ideia de ser mãe. Tem mulheres que
nascem com esse espiritomaterno,acho incrível.Tem mulheresque
nascem decididas a não quererde maneira nenhuma, que visam a
felicidade em outra coisa que não a maternidade. E tem as como eu:
que talvez gostariam,mas o medo de reproduzirtoda a rejeição se
tornou muito maior ao longo da vida.

Não dava para acreditarem quem diz que não iria, quem iria
me garantir?Se tivessem dito para minha mãe que ela me
desprezaria tanto, ela teria me tido? Eu duvido muito.
— Mari — fuitiradados meus devaneios malucos quando Fred
me chamou — te amo.
Não disse nada, mas me aconcheguei no corpo dele, fui
abraçada e ele deu um beijo no topo da minha cabeça. Virei o rosto
e ele deu um beijo na minha testa,entreos olhos e virei mais um
pouquinho, queria o beijo gostoso na boca.

Eu gostava demais de como ele era safado, foi só o tempo de o


beijo aprofundar, nossas mãos começarem a acariciar nossos
corpos e eu erguer uma perna dobrada em volta dele para
começarmos de novo.

Acabei dormindo com ele. Por sorte,eu não trabalhar ia na


manhã seguinte. Bônus da minha nova função.
Como eu tinhaa manhã livre, Fred ligou para Edu e avisou que
estava doente, só iria trabalharpela tarde. Achei uma desculpa
pouco convincente, mas ele afirmou não ter algum evento
importante nesse horário.

Eu estava sem celular, o que era horrível.Não achava que


minha mãe ou alguém iria se preocuparcom meu sumiço, mas teria
que inventar algo que não envolvesse Fred.
Contei por alto o que houve quando minha mãe descobriu
sobre o aborto,por isso, não a queria sabendo de nós dois outra
vez.
— Se decidirmos voltar — eu atalhei.
— Ela vai notarquando você pararde dormirem casa — ele
falou provocativo.
— Vou inventar alguma coisa — decidi — você achou que seria
incrível ter minha família como aliada, Fred, mas não foi.
— Só queria que ficássemosainda mais unidos — ele falou e
eu concordei.
— Eu prefiroquando ficamossó nós dois, assim, sem precisar
provar nada pra ninguém.
— Eu quero muito que a gente fique bem — ele sussurrou,
fazendo manha como sempre.
— Deveríamosinsistirno tér
mino. Mas eu te amo muito — eu
falei e ele chegou mais perto, me puxando para ficarmos grudados.

Quando descemos para tomarcafé, fomos pegos de surpresa


por uma visitada ex. Ela ficou completamentesem reação a me ver
ali, colocou umas sacolas sobre a mesa e tentou engolir o
desconforto para sereducada. Afinalsegundo o que Fred contou,os
dois estavam tentando ser amigáveis.
— Não sabia que estava acompanhado, Fred — ela falou,
completamentedesconfortáv el. Eu apertei os lábios me sentindo
incomodada. Eu usava apenas uma camisa grande dele, e ele
apenas um samba-canção. Meu cabelo estava embolado em um
coque, mas os dele estavam desgrenhados. Qualquer ser humano
saberia que estávamos em um sexo desesperado minutos atrás.
— Se tivesse avisado, saberia — Fred falou descontraído—
fica pra tomar café com a gente?
— Na verdade, não... Vim só trazeralgumas coisas pro
Bruninho. Ele fica com você esse fim de semana — ela falou,
passando o olhar por mim rapidamente,mas decidiu me ignorar .E
sinceramente,era a coisa certa.Seria o cúmulo da falsidade ela
querer ser educada comigo agora.
— Não sabia que tinham voltado — ela disse.
— Na verdade, não voltamos — eu falei e Fred me olhou
desgostoso, mas foi se sentar
.
— Bem, isso não é da minha conta— ela abanou a mão — eu
já vou, não quero atrapalhar
.
A empregada de Fred, Amanda, foi acompanhar Bruna até a
porta e eu fui me sentar ao lado dele.
— Então ela tem te visitado — eu falei desinteressada,
colocando minhas pernas no colo dele.
— Não é possível que você tenha ciúme — ele falou, tão
desacreditadodisso que eu comecei a rir . Fred não era de me
causar ciúme. Não que eu não fosse ciumenta, mas ele evitava
qualquer situaçãoque pudesse me deixar insegura. Então, quando
estávamos juntos e bem, eu evitava fazer o mesmo.
Tomamos café, entrebeijos e conversas descontraídas.Era
bom que conseguíssemosir do infernoao céu tão rápido, assim
conseguíamos poupar tempo depois de uma briga ou um término.

Ficamos agarrados no sofá pela manhã, assistimos à


programaçãoda TV abertamesmo, na verdade deixamos passando
e ficamos nos acariciando, era bem mais gostoso fazer isso.

Jordana ligou pelas dez da manhã. Pra ele, preocupada com a


doença. Os dois se tornarammuito amigos, próximos, quase
confidentes, se Jordana fosse de se confidenciar com alguém.

Almoçamos juntose Fred me deixou em casa, antesde seguir


para o trabalho. Quando cheguei em casa, fiz o possível para
ignorarseus comentáriosácidos sobre eu ser uma vagabunda. Não
sabia onde passei a noite, só poderia estarvendendo meu corpo
para qualquer um. Que Fred teve sorteem terme enxergado e
abandonado antes que eu desse um golpe nele. Porque segundo
ela, era o que eu faria.
Aceitei o convite de Jordana para darmos uma volta com
Helena, meu dia estava vago. Minha mãe acreditavapiamente que
se eu estava trabalhandomenos, era porque fui rebaixada. Queria
dizer justamenteo contráriodisso. A minha imagem foi bem aceita
pelas pessoas que consumiam o conteúdo do canal da agência,
então foi como se eu passasse a valer mais. Eu agregava mais
conteúdo para eles, e era remunerada por isso. Nesse caso, tive
sorte.

Quando voltei para casa, ela já estava fora do controle.


Chegava a tremer, vermelha de ódio. Dessa vez, meu pai a segurou,
mas comecei a retrucar os insultos.Coisas como cachorrano cio,
inescrupulosa,criminosae o que mais ela quisesse me xingar. Dizia
envenenada que precisavame dar uma corsa,que eu merecia isso.
Fazia parecerque eu era uma louca, tudo o que ela dizia mesmo,
desesperada sem conseguir disseminar tanto desprezo que sentia.

Já me perguntei muito os motivos para isso, mas hoje eu


apenas lidava com as situações.Acontecia isso, depois fingíamos
que nunca aconteceu até acontecer de novo.

Parecia com uma relação onde o marido é o agressor . Na hora


que apanha, a mulher senteraiva, quer ir embora. Depois vem algo
que amacia e convence a ficar
.
— O coitadodo Fred tentandoreatarcom a mãe do filhodele e
essa vagabunda nojentafazendode tudopra atrapalhar!— ela falou
com tanto ódio, com tantador na voz, que eu desistide ir para meu
quarto.
— O que? — pergunteiincrédula, uma fincada fez doer por
dentro.
— Não se cansa de nos envergonhar!Sempre agindo como
uma puta!— ela falavaincansavelmente,meu pai precisava segurá-
la, mas sempre parecia calado com esses ataques.
— Vá pro quarto, Marina — ele falou mais baixo.
— Não ouse defenderessa aberração,Acácio! — ela falou, se
voltando contraele — ela cria toda essa situaçãopra você querer
defendê-la? Faz de propósito! Quer ver nossa família na lama!

Eu queria retrucar
, estava tremendo, nervosa, os olhos ardendo
e eu não queria chorarna frentedeles, porque iriam dizer que eu
estava chorando para me fazerde vítima.Quando me virei e fui
rapidamenteaté meu quarto,ela começou a gritarque eu a deixo
nesse estado e me tranco, para me divertirà custa do seu
sofrimento.

Chorei desolada, silenciosa. Era mais fácil quando Fred nem os


conhecia, quando não sabiam da existência dele em minha vida.
Assim eu corri
a para ele, me refugiavae ficava bem, sem terque
dar alguma explicação. Morreriade vergonha de expor o que ouvia
de alguém que deveria me amar e proteger
.

Não satisfeita,
ela começou a baterna porta,gritandoque se
eu estava pensando que atrapalharia o homem a reatar o
casamento, estava muito enganada.
Enviei uma mensagem para ele, contando que alguém veio
dizer à minha mãe que eu estava me tornandoamante dele. Não
preciseidizer nomes, a única pessoa que nos viu juntos,sendo que
nos reencontramosapenas ontem, foi a Bruna. E a única que tinha
interesse em nós dois separados, era ela.

Essa conversa de amizade pelo bem do filho deles foi só o


pretextoque ela encontroupara se reaproximar
. Talvez tivesse a
certezaque se nós dois não voltássemos, em um momento de
carência, ele acabaria cedendo para ela.

Contei sobre a fúriada minha mãe, mas Fred entendeu como


uma mãe superprotegendo a cria, ela não suportaria me ver em uma
situaçãoultraja
ntedessas. A realidade era completamentediferente.
Ela sequer pensou em confirmar , usou disso o motivo para me
atacar
, adorava quando tinha motivos para fazer isso.

Todos nós fomospegos de surpresaquando ele chegou, quase


seis da tarde.Ninguém esperava, ele subiu sem avisar porque o
porteirojá o conhecia. Saí do quarto apavorada, com medo de
minha mãe começar a criarcena com ele também. Ela me lançou
um olhar que brilhava raiva.
— Marina me contou que...
— Olha, Fred, eu sintomuito se ela foi inventaralgo pra você,
mas... — minha mãe o interrompeu.
— Eu só queria dizer que eu me separeihá mais de dois anos,
e não existea menor possibilidade de eu estarvoltando com a mãe
do meu filho. Não sei por qual motivo ela procuroua senhora pra
dizer algo tão sujo, mas eu queria esclarecerque essa histórianão
tem o menor sentido.
— Eu queria acreditarem vocês. Nela — ela virou o rosto pra
mim, toda lamentosa,como se estivessesofrendoe levou uma mão
para o peito — mas conheço minha filha o suficientee não consigo,
me desculpem. Não apoio mais isso e não quero ver vocês dois
juntos,me adoece pensar na sujeira dessa relação — a respiração
dela chegou a falhar
, com essa cara de quem estavamal com tudo
isso, o que não era verdade. Era muito fácil desaprovara relação,
torná-la suja do que aguentar me ver feliz.

Ficamos apenas nós dois na sala, ambos sem reação. Eu


estavaesgotada, como quando algo suga toda a energia e te deixa
muito para baixo. Ele sem saber como reagir
, provavelmentenunca
foi acusado e tratadodessa maneira gratuitamente.Comecei a
sentir pena dele, não merecia estar no meio disso. Me sentia
ofendida, maltratadae minúscula sem poder contornare mudar
alguma coisa.

Quando sugeri que era melhor ele ir, em outro momento


resolveríamosas coisas, Tereza apareceu, junto com o namorado.
Ela nos olhou confusa, mas arrastou o Lucas para o quarto.
— Vamos comigo — ele falou, meio sem norte, não
entendendo muito bem o que aconteceuaqui. Se soubesse o que
eu aguentava, ou se voltariacontramim, ou iria quererme resgatar
a qualquer custo.
Pedi para ele me esperarlá em baixo, seria só o tempo de eu
arrumaruma muda de roupa para encontrá-lo.Quando se deu conta
de que eu iria sair, minha mãe voltou, resignada a instalaro caos,
mas eu ignorei. Antes que eu pudesse passar pela porta,ela me
segurou fortepelo braço, mas a portajá estavaabertae um vizinho
nos olhou estranho,já devia ser acostumadocom os gritosde nós
duas. Ela me soltou, voltando a posturade vítimae eu saí. Desci
pelas escadas, para não ter que enfrentar ninguém no elevador
.

Fred perguntoucomo eu estava, mas disse que estava bem.


Ele estavaembasbacado com o que ouviu, surpresopor minha mãe
não nos dar um voto de confiança, por nem tentarnos ouvir e
acreditar em nós dois.

Pedi para deixarmos essa históriapra lá, depois tentaríamos


resolver
. Mas solteipor altoque eu e ela nunca tivemosuma relação
genuína de mãe e filha. Quis dizer que ela nunca gostou de mim,
mas Fred iria achar um exagero.

Ele subiu para tomarbanho e eu fiquei na sala, esperando.


Comecei a me sentirem pânico, mas não queria me deixar dominar.
Comecei a ficarcom medo de que minha mãe convencesse Fred
que eu era um ser humano terrível,que o convencesse a se afastar
de mim. Comecei a ficar paranoica, por isso eu não devia ter
ninguém. Antes dele, perdi o cara para minha irmã e tudo bem,
superei fácil. Mas se eu perdesse Fred para algo que envolvesse
minha família, seria muito doloroso lidar
.
Quando eu o perdi porque ele não soube lidar com uma
decisão minha, eu sofri,mas entendi. A culpa foi minha. Quando eu
termineicom ele, a culpa foi dele. Era o nosso problema e sempre
resolvemos. Perder alguém por causa de terceiros,por tramoias
seria muito pior
.

Ele voltou e eu funguei, limpei meu rostorapidamentee tentei


me animar. Como se fosseuma maluca bipolar, tenteime convencer
de que nós dois nos amávamos e isso bastaria.

Por incrívelque pudesse parecer


, não transamos,nem uma
vez. Não que fosse absurdo, mas considerando o casal ativo que
sempre fomos, era de se estranhar. Mas não existia em mim
vontade de fazer nada, só tinha medo, angústia. Preferificar
abraçada com ele, vimos um filme, pedimos comida japonesa e
tomamos meia taça de vinho cada um. Não falamos sobre o
episódio de mais cedo de novo e acabamos dormindo cedo.

Fred saiu primeirona manhã seguinte,Edu passou para buscá-


lo porque os dois iriam visitaruma obra grande. Ele deixou o carro
comigo, daqui eu iria para o trabalho.Reclamei que a ideia era que
ninguém ficassesabendo que estávamosnos entendendo, mas ele
disse que era inviável esconder, não tínhamostantotempo nem
disposição para bolarmos planos mirabolantes para fingir não
estarmos juntos. Ganhei um selinho demorado e ele se foi.

Me arrumeicorrendoe saísem tomarcafé,mesmo que a mesa


estivesse posta. Ouvi Amanda reclamar que era absurdo ela
preparartudo isso e ninguém comer, mas não dava tempo. Quando
abri a porta,dei de caracom a Bruna ali. Ela me lançou um olhar de
cima abaixo, mas eu suspirei impaciente. Talvez em um universo
paralelo, ela imaginou que encenaríamosalgo como Jordana e
Luísa, onde minha amiga caiu nas lorotasdaquela blogueira fútile
ficou com medo de enfrentar
tudo no começo. Mas eu não tinha
medo dela.
— Quero só ver como você e Fred vão permanecerjuntos,se
nem sua mãe suportavocê — ela falou presunçosa,consertandoa
alça da bolsa de grifeno ombro. Eu comecei a rir
, sem vontade,mas
ri e ela ficou confusa.
— Quero só ver se hoje Fred vai querercontinuarsendo seu
amiguinho — faleisarcástica— sei que ele tentou,mas em nenhum
momento foi por você. Ele se esforçou pelo filho de vocês.
— Ele não vai acreditarque eu fiz alguma coisa — ela falou,
queria parecerconvicta, mas sabia que não tinha como tersido
outra pessoa. Quem além dela teria a mão inteira envolvida nisso?
— Bruna, eu vou te agradecerpor isso. Sério mesmo. Como
você mesma disse, minha mãe não me suporta.E eu lido com isso
há anos. Mas ela estava encenando para ele e eu não aguentava
mais. Você fez um favorpra mim. Arrancoua máscara que minha
mãe sofriapra sustentar
e agora Fred não precisaviver rodeado de
pessoas que não estavamsendo sincerascom ele. E eu sintomuito
que o seu plano adolescente tenha ido pelo ralo.
— Mas sua... — ela começou a dizer furiosa,mas passei
correndoao ver o elevador se abrindo. Um moradordo apartamento
ao lado saiu e eu entrei, antes que se fechasse.
Mais tarde,quando fiquei livre no trabalho,li as mensagens de
Fred, falando sobre o chilique de Bruna. Não me comovi e ele
mandou um áudio, dizendo que eu era maquiavélica e ele adorou
isso. Alguém precisava enfrentarBruna usando as mesmas
artimanhasofensivasdela. Mas eu não achava que tinha ido longe
com ela.

Fui jantarcom Jordana, como não tinha planos de voltarpara


casa hoje e Fred saiu com Edu e Helena, aproveitamos.Denise
acabou nos encontrando também.
— Fred queria que vocês fossemo casal que engravida numa
recaída— Jordana disparou e eu parei de beber do meu vinho, a
olhando incrédula.
— Não me descuidei dessa vez — eu falei. Teria que ser muito
ingênua de cair no conto de parar o anticoncepcional porque
terminei o namoro.
— Eu sei, ele também. Mas disse que queria.
— Você acha que ele vai engolir e esquecer essa história de
ser pai? — Denise perguntou e eu dei de ombros.
— Acha que vai quererser mãe um dia? — Jordana perguntou
dessa vez e eu a encarei. Minha certezade um não se aproximava
dos oitenta por cento, para ser sincera.
— Eu to muito nova ainda.
— Jordana engravidou com vinte e um — Denise lembrou
presunçosa.
— Jordana queria um bebê — eu retruquei azeda e ela fez uma
careta incrédula.
— Eu acho que você precisava de um terapeuta— Jordana
falou e eu a encarei — to falando sério, Mari. Iria te ajudar a
assimilar tudo, você sabe do que estou falando. Hoje, com o que
você ganha, sei que já poderia terse mandado daquela casa e não
consegue cortaresse cordão,acha que não vai conseguirviver sem
eles. E talvez, só talvez, se você vai embora da vida deles,
consigam criar uma relação de outra maneira.
C 21
Marina Marques

Eu não era boa em seguir conselhos. Não que duvidasse do


que Jordana havia dito, mas havia ainda muito bloqueio em mim de
como tomaras rédeas da minha vida. Eu precisava de paz interior
para lidar com a nova faseda minha vida profissional.Nunca sonhei
em ser famosa, não que fosse, mas o público alvo do canal da
agência vinha me aceitando bem como apresentadora.E foi do
nada. Caí de paraquedas e tive essa sorte.Por isso, fechei um
pacote de consultascom uma psicóloga e isso durariaum mês, se
eu gostasse do resultado, continuaria, claro.

Fred e eu viajamos no meu aniversário, ele escolheu uma


pousada em Petrópolise passaríamosdois dias longe da vida real.
O tempo havia esfriadoum pouco, o que para nós, acostumados
com o calor, qualquer baixa na temperatura surtia efeito imediato.

Ele acendeu a lareira, o quarto era bem rústi co e


aconchegante, delicioso. Abrimos um bom vinho e ficamos
agarrados e enrolados em uma manta.

Comecei a me perguntarse algo nos afastaria


de novo, se nós
dois criaríamos
um conflitoe terminaríamosde novo. Eu não queria
que acontecesse. Quando contei isso para psicóloga, ela questionou
os motivos de eu não querer me casar com ele.
Entramossuperficialmente na questãode eu não quererfilhos,
se era a minha decisão final ou se eu tinha apenas medo. Medo de
não seruma boa mãe, de não conseguiramar um serzinhoindefeso
que dependeria emocionalmente de mim. Eu não queria cogitara
possibilidade de repetiro mesmo erroque cometeramcomigo. E se
eu apenas reproduzisseo que vivi? Não queria outroser humano
sentindotodoo desprezoque eu sentipor todosesses anos. Se não
fossea minha vontade, tudo bem, eu não era obrigada a gerarum
bebê porque a sociedade decidiu que eu deveria.
Mas se eu tinha apenas medo, eu não poderia descartaras
possibilidades da vida temendo. Se um dia eu quisesse, já era um
grande passo para fazer com amor e fazer dar certo.

Eu não queria pensar nisso agora, mas ficava mais tran


quila.
Se Fred era o amor da minha vida, se nós dois ficássemosjuntos,
quem sabe um dia não quisesse uma próxima geração fr uto de nós
dois? Mas precisávamos chegar em um consenso, ele precisava
saber que se eu não pudesse ser a esposa-mãe que ele sonhava,
não dava para nos enganarmos.
De qualquer maneira, não achei que uma data comemorativa
fosse momento ideal para uma conversa como essa.

Os preparativo
s do casamentode Jordana e Edu estavamindo
a todo vapor, então eu já esperava que Fred pudesse voltarcom
essa conversa em breve.

Conhecendo Jordana, eu sabia que ela queria algo íntimo,só


para os mais próximos,mas conhecendo a sogradela, eu sabia que
isso já devia ter sido vetado.
Eu e Fred seriamos padrinhos de Jordana. Denise e Antônio
também,juntocom July e Bernardo.Eu imaginava que houve algum
mal estar sobre Ravi e Chiara serem padrinhos de Edu, mas era o
Lógico. Ele já tinha cedido Fred. Mais alguns outrosamigos seriam
padrinhos dele, para encher o espaço, já que hoje em dia a
proximidade era pouca.

A festa estava prevista para outubro e Nora se via fazendo tudo


as pressas. Logo mais começaria a ver um vestido para a ocasião.
— Sabe o que eu acho o máximo? — Fred perguntoupara
mim, completando minha taça com mais vinho e eu o observei,
usando só uma calça de moletom, o abdome marcando os músculos
tonificadosna medida certapara meu gosto,as entradasdescendo
em um V, mostrando alguns pelos na região pélvica.
Ele continuou falando, mas a voz ficou distante, eu só
observava esse corpo delicioso em minha frente.Sacudi a cabeça
quando ele insistiu meu nome impetuoso.
— O que? — pergunteiconfusa,voltando a encará-lo no rosto
e ele cerrou os olhos.
— Não ouviu o que eu falei?
— Não, desculpa — falei, exibindo um sorrisosafadoe o puxei
pelo laço da calça. Coloquei minha taçana mesinha ao meu lado e
o puxei para mais perto — não vai reclamar
, vai?
— Claro que não — ele falou o óbvio, puxando a calça para
baixo e eu coloquei seu sexo em minha boca.

[...]
No nosso último dia em Petrópolis, dia exato do meu
aniversário,minha mãe enviou uma mensagem me parabenizando e
dizendo que estava com saudade. Eu queria e deveria guardar
mágoa dela, mas ainda era difícilser dura assim. Agradeci, assim
como as mensagens de alguns familiarese comentei com Fred
sobre. Não imaginava que ela, meu pai ou minha irmã fossemfalar
comigo, por causa dos últimos acontecimentos.

Eu queria ter coragem de contar sobre a real situação, mas não


conseguia. E nem achava que um dia teriacoragem. E isso não era
bom, porque o deixava achando que tudoestavabem, que foisó um
desentendimento.

Quando voltamos para o Rio, antes mesmo de chegarmos à


cidade, Bruninho ligou para Fred, dizendo que estava no hospital
com a mãe. Que a encontroudesmaiada no quartoe chamou uma
ambulância. Ele me encarou preocupado e fomos diretoencontrá-
los.

O filho dele estavameio perdido, sozinho na sala de espera e


correupara os braços do pai ao vê-lo. Fred pediu para Bruninho
ficar comigo, que ele iria procurar informações.
— Você falou com alguém?
— Liguei pra minha avó, mas deu desligado — ele falou, meio
assustado, preocupado.
Por um momento, o primeiromomento, eu achei que foi só um
desmaio, mas depois Fred conversou com o médico que pegou o
caso dela, e quando ela acordou contouque estavaprestesa fazer
uma cirurgia para retirada das mamas.
O encarei sem reação, quando a gente vê uma mulher como a
Bruna, com todo seu jeito de superioridade, segurança e
provocação,a últimacoisa que vai se passarpela sua cabeça é que
ela tem uma doença grave.

Fred me encarouinexpressivo,como se não tivesseassimilado


nada direito.Depois pediu ao médico para vê-la, me lançou um
olhar pesaroso, mas jamais iria me opor a isso. Nós duas tínhamos
diferenças,claro. Mas ela ainda era a mãe do filho do homem que
eu amava, não faria um show de que não era da conta dele.
— Você acha que a minha mãe vai morrer?— Bruninho
perguntou para mim, que passei um braço em torno de seus
ombros, o puxando para mais perto e o abracei.
— Não vai não. Seu pai vai falarcom ela e vai ficartudo bem
— eu falei convicta — onde já se viu alguém como ela adoecer?
Não acontece.
— Tomara que não.
— Você sabia de algo? — perguntei e ele negou com a cabeça.

Fred ficou com ela por mais de meia hora. Quando voltou,
perguntou ao filho se queria falar com a mãe, antes que ela
precisassedescansar. Logo seria liberada para ir pra casa também,
os médicos só queriam mantê-la em observação mais algumas
horas.
Ele levou o filho até o quartoque a mãe estava e voltou, se
sentando ao meu lado.
— Com tudo isso e ela não falou nada — Fred falou frustrado,
correndoas mãos no rostoe apoiou o cotovelonos joelhos. Depois
virou o rosto para mim.
— O que ela contou?
— Que descobriutrêsnódulos. Dois em um lado, um em outro.
A médica dela aqui no Rio disse que era algo hormonal, mas ela
não se convenceu, porque a avó tevea doença muitonova também,
então foi em outromédico, em São Paulo. Não queria causaralarde
aqui. Lá descobriramque era maligno, em um estágio avançado,
mas os médicos com quem ela passou ainda deram esperanças.
— Que coisa louca... — falei embasbacada — ela está bem?
— Disse que estava fraca,tem acontecido porque ela não
sente vontade de se alimentar direito. E agora vai fazer mais
exames pra cirurgia.
— Ela estáotimista?— pergunteie ele suspirou,como se não
soubesse.
— Espero que sim, que dê tudocerto— ele faloumais baixo —
vai dar tudo certo.Ela vai ser assistidapelos melhores médicos que
puder ter, quero que tenha o melhor tratamento. Se os pais dela
soubessem, teriamprovidenciado tudo, tenho certeza.Mas Bruna é
assim, quer sempre estarpor cima, aposto que se não fosseisso,
nunca contaria pra ninguém.
— Devia estar sendo difícil passar por isso sozinha — eu falei e
ele concordou.
— Prometi ir com ela à São Paulo daqui a dois dias, você se
importa? — Fred perguntou, me encarando firme para poder
analisar todas as minhas reações. O encarei de volta, querendo
dizer que sim, eu me importava. Eu não queria, não o queria perto
da ex, mas não seria justo.Era a mãe do filho dele, se ela queria o
apoio dele e ele se sentia capaz de fazer isso por ela, eu não
poderia me colocar contra.
C 22
Frederico Toledo

Me despedi de Marina com o coraçãoapertado,ela nunca iria


se colocar contra,era boa demais para isso. E eu não conseguiria
deixar a mãe do meu filho passar por algo difícil sozinha.

Bruninho estavapreocupado demais, mas garantipara ele que


tudo ficaria bem. Não achava justo deixá-lo no escuro, mas queria
termais informações,e conversarcom o médico que assumiria o
tratamento seria melhor, para depois poder contartudo da melhor
maneira possível.

Eu estavaotimista,mas lidar com uma doença tão agressivae


traiçoeira me deixava amedrontado.

Na tarde que eu passei em São Paulo com Bruna, ela fezoutra


ressonância, mais exames de sangue e seguimos para um
apartamentomeu na cidade. Ela tentavapareceracostumadacom a
situação, mas achava difícilestar
. De qualquer modo, eu preferia
Bruna sendo a maluca que eu brigava sempre, do que se rendendo.

À noite, Marina postou uma fotocomemorando os cem mil


seguidores no instagram.Na legenda contava que não esperava
nada disso, caiu literalmentede paraquedas nesse mundo e não
poderia deixar de expressar sua gratidão.
Digitei um comentário, entre as centenas de pessoas
comemorando, dizendo que a amava muito e que ela era
merecedora de cada conquista.
— Ela acha que cem mil a tornoufamosa?— Bruna perguntou
e eu virei o rosto, estava atrás de mim no sofá.
— Mas você gostade ser provocante,hein? — pergunteie ela
fez uma careta esnobe — está se sentindo bem?
— Estou — ela falou brava e seguiu para a cozinha.

Pedimos nosso jantar e depois ela desabafou sobre como


estava temerosa. O fato de retiraras mamas a deixava muito
insegura, mas se isso contro
lasse o problema, era o melhor a ser
feito.E, de qualquer maneira, ela tinha que confiarnas decisões
médicas.
— Depois você faz as outras cirurgias pra reparar — falei.
— Ah, vai ficar lindo — ela falou sarcástica — mas o importante
agora é sair viva disso. Não suportariadeixar meu filho nesse
mundo. Pra você e aquela uma cuidarem.
— Eh, Bruna... — falei reticente e ri — você não muda mesmo.
— Não pense que vai se ver livre de mim tãocedo, mocinho —
ela falou cheia de convicção.
— Nem quero isso. Precisode você pra atormentar meus dias
felizes — eu brinquei e ela riu desanimada.

Precisei ficarmais dois dias com ela em São Paulo. Para


esperaros novos exames e marcara cirurgia.Ela chegou a pedir
para Luísa vir fazercompanhia, mas a amiga tinha compromissos.
Não me surpreendia,Luísa não iria querer ser amiga de alguém
debilitada em uma fase difícil.

Sentique Marina não gostouda minha demora, mas ela jamais


iria externar
. Eu a conhecia, sabia que alguma insegurança pairou
sobre ela, talvez alguém possa ter insinuado algo.
— Você acha que a sua namorada vai quererterfilhos com
você um dia? — Bruna perguntou, aparecendo na sala com uma
toalha enrolada na cabeça. Eu, que trabalhavapelo computador ,
ergui o rostopara encará-la direito— porque se ela abortouuma
vez...
— Não vamos remoer essa história.
— Sua mãe diz que você anda alucinado pra casare teroutros
bebês.
— Pelo menos mais um — falei, voltando minha atenção para a
tela do notebook.
— E se ela não quiser?
— Se ela não quiser, paciência — falei incomodado e a olhei
de novo — tere i que lidar com isso. Pelo menos já tenho o Bruno, e
o amo demais.
— Pensei que iria se separar dela e procurar outra que queira.
— Não — respondi rapidamente — isso já foi motivo pra
desentendimentos,mas acho que se ela não quiser mesmo ter
filhos, não vamos nos separar .
— Estranho...Ela é estranha.No finalo que importadisso tudo
é o que a gente amou, não é? Os filhos... Uma carreiradeve ser
legal, mas no final ela não se importa com você.
— As pessoas têm desejos diferentes, Bruna.
— É... — ela falou,vindo se sentarno sofá,quase ao meu lado
— sabe os motivos da mãe dela detestá-la?
— Não acho que a mãe dela a deteste— retruqueie ela deu
um riso.
— Detestasim. Tem desprezo. Por mais que eu e minha mãe
tenhamosdesentendimentos,se alguém chegar pra ela falando mal
de mim, ela vai me defender. Se nós duas acabarmos de brigar
agora e no minuto seguinte alguém for falar mal de mim e me
caluniar, ela vai me defender . A mãe dela alimentou tudo que eu
falei e ainda falou mal dela pra mim, com desprezo, tinha mágoa no
olhar.
— Você sente orgulho do que fez? — pergunteie ela deu de
ombros.
— Achei que se vocês permanecessem separados, iríamos
acabar nos entendendo melhor .
Eu a olhei, ela deveria saber que não aconteceria.Nós dois
não funcionávamos como um casal, porque não havia amor. Houve
desejo em algum momento, houve conveniência, tentamos ser
felizes juntos e não conseguimos.

Não rendi essa conversa, logo mostreium projetofinalizado,


mostrei alguns que ficariam prontos em alguns meses.

Quando a mãe dela chegou, junto com a minha para


acompanhá-la nos próximos passos do tratamento, eu pude voltar
para o Rio. Avisei que se ela precisasse de algo, não precisava
hesitar em me chamar . Eu ajudaria no que fosse necessário.
— Eu sei — ela falou, apertando os lábios quando nos
abraçamos — obrigada, Fred.
— Gosto mais de você assim, sem acidez — eu falei,
brincando para não nos deixar em um clima tenso.
— Se é pra ser ácida, não queria meu filho com a sua
namorada. Mas a agradeça por mim. Ele gosta muito dela.
— Olha só, está até sendo amável com ela — eu falei e ela
revirou os olhos. Prometi que daria tudo certo e segui para o
heliporto,prontopara entrarno helicópteroe voltarpara o Rio. Tinha
trabalhos urgentes nesta tarde, que não poderia .adiar

Conteipara Edu sobreo estado de saúde de Bruna e perguntei


se Mari falou algo com Jordana. Sobre como estava se sentindo
com isso tudo. Mas não disse nada. Quando nos encontramosà
noite, em meu apartamento,contemplei a sensação de alívio por
abraçá-la e segurei seu rostopara pressionarmeus lábios sobre os
dela. Queria um beijo daqueles que dá vontade de tirar logo a roupa,
mas meu filho estava aí e eu fui abraçá-lo apertado.
— Como ela está?
— Vai ficar boa logo — prometi — tá louca de saudade sua.
— Quando vou poder vê-la?
— Próximo final de semana, certo? — perguntei e ele
concordou — não queremos você perdendo aulas.
— Não consigo nem me concentrar , preocupado — ele
reclamou.
— Sua mãe está bem, meu filho — falei, acreditandopiamente
nisso — vai fazer o tratamento e vai ficar boa.
— A avó de um amigo meu morreudessa doença — ele falou,
me encarando firme e eu pisquei devagar
.
— Sua mãe é nova, tem os melhores médicos e vai fazero
melhor e mais eficaztratamento. E logo vai estaraí,pra brigarmuito
comigo.
— Não quero que briguem — ele resmungou.
— Tudo bem, podemos não brigar também — falei
condescendente — já falou com ela hoje?
— Por telefone não é a mesma coisa — ele falou baixo — mas
vou acreditar em você, que vai ficar tudo bem.
— Isso aí — falei, tentandopareceranimado — vou tomar um
banho, depois podemos pedir algo.
— Pizza — Bruno falou, antes que surgisse outra ideia.
— Ótimo. Vão pedindo, que eu logo volto — avisei, antes de
subir as escadas.

Quis que a noite fossemais amena, um pouco animada. Mas


os dois, meu filho e Mari estavam apreensivos. Senti insegurança da
partedela e ele estava muito preocupado, com medo de perdera
mãe. O que sabia sobre essa doença maldita era muito pessimista,
não conseguia se contaminar com esperança e apenas otimismo.

Depois de acompanhar Bruna nas consultas,entendi que ela


tinha chances. Não seria fácil, ter uma rede de apoio seria
essencial. Mas ela sairia dessa, eu tinha fé nisso.

Quando acabamos a pizza, Bruno avisou que ia subir, ia


repassaralguma matériae depois dormircedo, porque tinhaaula na
manhã seguinte. Marina me olhou por um momento, depois juntou
as caixas de pizza e levou para a cozinha.
— Está tudo bem? — pergunteipara ela, a observando. Ela
assentiu,vindo até mim e eu afasteia cadeira, dando espaço para
ela sentar de lado em meu colo.
— Assustada— ela falouconfusa— em um dia ela estáaínos
provocando e no outro precisamos apoiá-la.
— Ela agradeceu por você terfeitocompanhia ao nosso filho
— eu falei e Mari me olhou duvidando. Dei um sorriso,depositando
um beijinho em seu ombro — soltou uma piada ácida antes, mas
realmenteagradeceu. Ela pode não se dar bem comigo e com você,
mas ela é a mãe dele e o ama.
— É, por esse lado, eu acredito. E não foi um esforço,você
sabe que eu o adoro — ela falou e eu concordei,não duvidava disso
em momento nenhum.
— Ela confessou que foi até sua mãe — eu resmunguei.
— Fiquei com medo de você querer voltar com ela — ela
disparou e eu franzi o cenho — de achar que seria a coisa certa.
— Não seria — falei confuso — voltar com ela por pena?
— Sei lá — ela fez uma careta.
— Eu vou apoiá-la no que eu puder, mas isso não muda que
estamos juntos — eu falei o óbvio — eu e você.
— Espero que ela fique bem — Mari falou. Contei sobre Luísa
ignorar os chamados de Bruna. Como amiga, seria o mínimo
acompanhá-la. Além do que, Luísa esteve em São Paulo essa
semana, mas disse não ter tido tempo.
— Que bela amiga — ela falou indignada — é tão estranh
o ver
alguém passar por algo difícil.Mesmo alguém que eu não ame
loucamente, como a sua ex.
— Dá um susto, um medo — eu falei.

Ficamos em silêncio por quase um minuto, comecei a roçaros


lábios pelo colo bronzeado, a marquinha do biquini dando a voltano
pescoço. Meus lábios estalaram na pele dela e eu desci querendo
alcançar o seio, puxei a regata para o lado, junto com o sutiã e
chupei o mamilo devagarinho, suguei, me sentindo acalentado e
grunhi, fechando os olhos.
Quando soltei, lambi suavemente e voltei beijando o pescoço,
indo em direção à nuca.
— To louco de vontade de comer você todinha — sussurrei
pertodo ouvido e beijei atrásda orelha, a deixando toda mole e
arrepiada — quando eu pegar você, nada vai nos desgrudar
.
Marina arfouum gemido, como se quisesse se conter . Minha
mão escorregoupara o meio das pernas e eu acariciei sobre o
short, beijando a nuca e ela cedeu completamente.
— Vamos pro quarto— ela sussurrou,saiu tudo entreco rtado,
ela estava tão excitada que a lubrificação passou pelo short jeans.
— Eu vou metertudo, vou fazervocê gozar meu pau todo —
prometie ela se contorceutoda — e vou te chupar todinha, vou
chupar cada pedacinho desse corpo gostoso.
Ela não disse nada, só gemeu, estavaagoniada querendo e eu
também.
C 23
Marina Marques

Coloquei um travesseiro
sobre a cabeça e o aperteicom força.
Eu estava escancarada sobre a cama e Fred me chupava muito,
sempre impetuoso e gostoso demais. Tudo o que eu queria era
poder gritar
, mas era impossível. Eu sentiaque não suportariatoda
essa tensão maravilhosa quando ele viesse me penetrar
.
Fred abafou qualquer eventual gemido beijando minha boca,
meteu fundo na minha boceta molhada e eu me agarreitoda nele.
Os movimentos eram curtos,ele quase não saía de dentroe isso
me estimulavapor todosos lados. Nosso beijo estavasincronizado,
por algum milagre, mas era muito gostoso. Ele chupou meu lábio
inferior e voltou ao beijo profundo.
— Me coloca por cima — eu pedi, louca para gozar, mas queria
aproveitaressa pressão no meu ventrepor mais um momento. Ele
assentiu,nos virando na cama e eu rebolei devagar, o acomodando
dentro.Depois levou as mãos para minhas coxas e eu apoiei as
mãos no seu abdome. Mantive o olhar firmeno dele, me deliciando
e satisfazendo, rebolando devagarinho.
— Assim é maldade, amor — ele falou manhoso, mas eu não
queria aumentar. Fiz desse jeito e depois apoiei os pés no colchão,
comecei a quicar do jeito que ele amava e ele mordeu as costasda
mão, incrivelmente duro, estava maravilhoso cavalgá-lo. Fred
apertouos olhos, apertoua mão que estavana minha coxa e virou o
rosto, como se fosse incapaz de me assistir, mas no segundo
seguinte, quando eu me contorciinteira em cima dela e gozei,
peguei seu olhar em mim, nos nossos sexos.
— Eu vou gozar muito agora — ele falou desnorteado,mordeu
as costas da mão de novo, apertouos olhos e franziuo cenho,
fazendo uma caretade puro prazere eu continuei,olhei para baixo
a tempo de ver o sêmen escorrendopelo pau eretoe de dentrode
mim.

Cai deitada por cima dele e afundei o rostoem seu pescoço.


Ele apertou minha bunda e me abraçou em seguida. Ficamos
agarrados por um tempo, depois fui tomar banho e ele me
acompanhou.

[...]

No final da semana, Fred foi levar o filho para visitara mãe,


como havia prometido.Ele voltariano mesmo dia, deixaria o menino
com a mãe e avós. Logo Bruna passaria por uma cirurgia muito
invasiva e que mexeria com sua autoestima,de qualquer forma,se
sentir acolhida da maneira que quisesse seria bom.

Há dois dias, ela enviou uma mensagem, pelo instagram,se


desculpando por qualquer mal estarentrenós e agradecendopor eu
não terimpedido Fred de apoiá-la. Fiquei sem saber o que dizer,
então disse que estava torcendo por sua recuperação.

Fui para casa, aproveitei o dia livre no sábado para lavar


roupas, organizaro quartoe dei uma olhada nos meus próximos
trabalhos.
— Você não acha que deveria cair foradesse cara? — minha
mãe perguntou,parando na portada área de serviço e eu a olhei
confusa— ele estálá, com a mulher e o filho...E você fazendo esse
papel ridículo no meio deles três. Destruindo uma família.
— Eu não vou falar disso com você — falei decidida.
— O seu problema é a sua falta de respeito, Marina — ela falou
indignada — não posso dar um conselho que você vem com sete
pedras na mão.
— Obrigada pelo conselho — falei irônica, me virando para a
máquina de lavar e assim fiquei.

Fred não voltouno mesmo dia, enviou uma mensagem dizendo


que o filho pediu para que ele ficasse. Infelizmentemeu celular
estava sobre a bancada da cozinha e minha mãe viu a notificação
primeiro, deu um riso de “eu sei o que está acontecendo” e não
falou nada. Preparei um miojo, comi e fui para o quarto.Tinha mais
o que fazer do que ceder às provocações.
E jamais seria a pessoa egoístaque deixa a insegurançafalar
mais alto. Eu iria brigarcom ele por isso? Dessa vez não era um
caprichoda ex-mulher. Se fosse,ele não cederia.Evolvia algo muito
maior, a compaixão dele como ser humano.
Era a mãe do filho dele. Se ele achava necessário dar mais
suporte emocional, estava certo em fazê-lo.

No entanto, minha mãe começou a plantarisso em mim. Se a


mãe do filhodele precisavade apoio, eu não tinhaque ficarno meio
esperando que ele se desdobrasse para me dar atenção. Seria
exaustivo se dividir em três.O pai, o que apoia a mãe do filho e o
que me namora. Ele não precisava dar prioridade para nós dois
agora.
Segundo minha mãe, eu sequer merecia. Evitei retrucar
, não
dava para comprar uma briga maior com ela nesse momento.

[...]

Quando ele chegou, na segunda-feira, eu estava em uma


sessão de fotospara uma publicidade de uma linha de batons. Ele
apareceu de surpresa no estúdio e quando acabei, veio me
encontrar com um abraço apertado.
— Como Bruna está?— pergunteie ele negou com a cabeça,
pela cara, não parecia estar tudo perfeito.
— É desesperador . Ela estáno estágiotrês,o que é incomum
na idade dela. Mas vai fazera cirurgia,retirartudo e depois vai
combinar a imunoterapiacom a radioterapia— ele contou, falando
mais baixo e olhou ao redor — como tem sido?
— Legal — franzio nariz — não era o emprego dos meus
sonhos, mas não posso reclamar que é um dinheiro que vem mais
rápido e mais fácil.
— Você tá gostando? Isso que importa, não é?
— To gostando— falei,não poderia reclamar . Era um emprego
mais fácil e rentável do que o cargo anterior . Além do que, eu
recebia carinho de pessoas que nem me conheciam, pelas redes
sociais.
— Bruninho não queria vir — ele contou,vindo comigo para eu
me trocar— mas não quero que ele perca muitasaulas. Depois da
cirurgiada mãe dele, vou tentarconversarna escola dele, se ele
não consegue ficar pelo menos uma semana lá...
— Ela vai fazer todo o tratamento lá?
— É — ele suspirou— um médico amigo da famíliavai cuidar
do caso de perto.A gente sabe o quanto um profissionalque se
confia passa mais segurança.
— Vai dar tudocerto— falei,tentandoparecerconvicta— logo
ela vai estar aí, provocando a gente.
— Tomara — Fred falou.

Saímosda agência de mãos dadas e dali fomosjantarem um


restaurante japonês. Fred não conseguia ignorar toda a
preocupação, o que não me deixava insegura, mas era triste. ver
Ele
se preocupava pelo filho, tinha medo de algo não sair como o
planejado. Mas logo dizia que precisávamos ser mais otimistas.

No final da semana, encontramos nossos amigos, no


apartamentode Edu. Fred levou um vinho delicioso para mim e
Jordana, já que Edu havia comprado um uísque caríssim
o para os
dois degustarem. E charutos.

Olhei incrédula vendo Jordana se divertindo,ela já sabia até


mesmo cortar e acender o negócio.
— Você desvirtuouminha amiga completamente— eu falei
indignada para Eduardo, que começou a rir
.
— Você adora isso — Jordana falou o óbvio e eu dei um sorriso
travesso.Ela estava animada para beber esta noite, já que a filha
estava na casa da avó materna, mas Fred iria levar o filho à São
Paulo na manhã seguinte e, por esse motivo, não iríamosficaraté
tarde e nem beber todas.

Eu não estavacom ciúme dele, nem insegura, porque de uma


coisa eu sabia, a gente se amava. Mas era incômodo. A situação
como um todo. Ela estar doente, num estágio avançado, ele precisar
ajudá-la. Era como se a nossa felicidade tivesse ficado suspensa
por esse tempo, até tudo se resolver
. E não digo isso à toa. Mesmo
que Fred não estivesselá, dando todo suporte,não ficaríamos em
paz até tudo se resolver
.
C 24
Frederico Toledo

Eu fiquei com meu filho no apartamentoem SP, no dia da


cirurgiada Bruna. Quis trazerMarina para nos fazercompanhia,
mas ela achou que era melhor não vir. Ela e Bruna nunca se deram
bem, não faziasentidoela se infiltrar
em um momentodifícildesses.

Bruninho ficouapreensivodurantetodaa madrugada. Eu, ele e


a mãe de Bruna ficamosna sala, esperando notíciasdos médicos.
Meu filho queria ficarlá no hospital,se possívelgrudado na portado
centrocirúrgico,mas eu achei melhor virmos para casa. Lá, ele só
ficariamais apreensivo e ansioso. Tentamos nos distra
ir com um
videogame, conversamossobrealgumas bobagens. Minha ex-sogra
preparou uma sopa de legumes que meu filho adorava.

A angústia não dava trégua. Eu temia que algo saísse ao


contráriodo que queríamos,que era a cura dela. Os olhares de
minha mãe e da mãe dela em mim me fazia sentirculpa, mas não
fariao menor sentido termin
ar com Marina e fingirpara Bruna que
teríamos um futuro juntos por pena.

Em uma discussão com mamãe, precisei jogar isso e parecer


frio,eu não amava Bruna, não queria um relacionamentocom ela e
sabia que ela não sentianada por mim. Estaraqui, dar apoio, rezar
pela cura dela e torcercom todas as minhas forçasera meu papel
de ser humano, de homem que por muitos anos viveu com ela. E
porque era a mãe do meu filho.Eu fariaqualquer coisa para não vê-
lo sofrer
.

De qualquer maneira, eu e Marina ficávamos mais distantes.


Edu desconfiou primeirode que minha mãe pudesse terum dedo
envolvido nesse sucesso repentino dela nas redes sociais. De
repente,ela foi escalada para apresentarum canal do Youtube com
milhões de seguidores. Tudo bem, Mari era gata pra caralho, tinha
uma sensualidade natural,era comunicativa e soube como fazer ,
tantoque todos a adoraram de cara. Mas ela não era ativa nas
redes sociais, antes disso. Não haveria um motivo para terema
escolhido de uma hora para outra.Ou até haveria, mas minha mãe
resolveu agilizar. Mari sentia que caiu de paraquedas ali e soube
fazer bom uso da oportunidade.

Hoje, a história era outra. Ela já conversava com os


seguidores, que eram curiosos. Mas o pessoal da internet tinha esse
poder, levava a pessoa para a fama em horas. E cancelava na
mesma velocidade.

Acreditávamosterdedo de mamãe, porque ela queria que eu


tivessetudo que eu queria. E eu queria me casar. E Marina queria
experimentara completaindependência antesdisso, então, dar um
empurrãozinhona carreiradela, mesmo que não fosseo rumo que
ela planejava, foi o jeito que encontrou para adiantar as coisas.
Quando perguntei, enquanto voávamos de jatinho para São
Paulo, ela fez aquela careta de desentendida, mas não negou.
— Como ela está lidando com isso? — ela perguntou
preocupada e eu suspirei
— Não tem o que fazer . Mas estou feliz por não termos
terminado.
— Logo tudo fica bem — ela falou, não soando muito
convincente— Bruna congelou óvulos, pro caso de não conseguir
ter mais filhos depois do tratamento.
— Oh — falei vagamente e mamãe continuou me encarando.
Desviei o olhar, incomodado e ela deu um sorriso triste.
— Sua vida seria mais fácil se você fosseapaixonado por ela
— ela falou e eu torcia boca — teriaum casamentoincrível,teriam
quantos filhos você quisesse. Ela viveria pra te fazer feliz.
— Mamãe — eu falei incomodado — eu não posso fazer
nada... Não tenho culpa. Se eu pudesse escolher... Nem gosto de
falarsobre isso — falei, olhando atravésdo vidro da janela — e eu
amo Marina.
— Eu sei... — ela falou retic
ente — ela estáse saindo melhor
do que a encomenda, não é? O pessoal mais jovem a adora. Nora
comentou que Luísa não gostou nada dessa fama repentina,logo
ela tem mais seguidores e já está roubando contratos.Os
comentáriospor aí é que o perfildela ficou estagnado, talvez isso
melhore com o filme.
— Não se rouba contratos — falei, bufando um riso — Luísaé
uma falsa. Não deu um telefonema pra Bruna. Não quis nem saber .
— Fiquei surpresa por isso, Bruna não merecia se sentir
abandonada pela melhor amiga num momento desses — ela falou.
Quando chegamos, fui diretoprocurarmeu filho. Dali iríamos
para o hospitalonde Bruna estavainternada.Meu filhoestavasério,
mal conseguia falarquando viu a mãe, não podia nem abraçá-la,
como queria tanto.
Pudemos ficarpouco com ela, o médico explicou os próximos
passos do tratamento e pediu que fôssemosmais confiantesainda,
daria tudo certo.Ao ouvir isso, Bruninho tentouse segurar, mas
ficava muito emocionado. O puxei para abraçá-lo e deixei que
chorasse, que aliviasse a angústia.

Nos despedimos de Bruna e avisamos que amanhã estaríamos


de volta.
— Por que a Mari não quis vir, pai? — meu filho perguntou,
quando já estávamos no carrode volta para casa e eu o olhei —
não acho que a minha mãe iria implicar agora.
— Ela tem trabalhadomuito — expliquei incerto— próxima
vez, vou trazê-la. Prometo.
— Seria legal — ele falou vagamente — eu acho...
— Não sei... Não queremos sua mãe estressada— falei e ele
deu um riso— apesardo que, preferiaela mil vezes mais implicante
do que doente.
— Eu também — ele falou inconformado.

[...]

Os dias de bate-volta entre Rio e São Paulo estavam se


tornandomaçantes.Angustiosose pesados. Eu sentiamedo de não
dar conta. Sentia faltade Marina. Me preocupava com Bruna e com
meu filho. Às vezes, tudo o que eu queria era me dar o luxo de
entrarem desesperoe pedir socorropra alguém. Mas eu precisava
aguentar. Meu papel nessa situação era o menos pior de todos.

EncontreiMarina em um ensaio de fotosna praia. Fotos de


biquini, o que de algum modo me deixava com ciúme. Excitado,mas
com ciúme. Antes, ela era toda reservadanas redes sociais, hoje
precisava expor tudo que pudesse parecerlegal, porque era isso
que seus seguidores queriam ver. Fiquei observando, ela estava
com o corpo mais tonificado,resultadode uma dieta e atividades
físicas impostas por sua assessoria.

Dois dias atrás, postou uma foto comemorando os trezentos mil


seguidores. Ela saiu e voltou com outro biquini, um preto bem
pequeno, alças finas. Foi quando finalmenteme notou e acenou,
fazendo coração com as mãos. Soprei um beijo e me aproximei.

Deram água de coco para ela quando acabou e ela bebeu um


pouco, devolveu e veio atémim, me abraçandoapertado.Passei um
braçoem voltade seu corpoe escorregueiuma mão pelo cabelo até
a nuca, a segurei firme e pressionei nossos lábios.
— Não sei como estou vivendo longe de você — sussurrei.
— Logo isso tudo vai passar — ela falou, me beijando outra
vez.
— To com ciúme de ver você assim, posando de biquini pra
todo mundo ver — falei cheio de manha e ela riu.
— Imaginei que você ficarialoucamente excitado por me ver
assim — ela falou provocativa — que ficaria louco pra tirar tudo.
— E eu to — falei enfático— louco pra comer você todinha —
falei mais baixo e beijei seus lábios outravez. Olhei para trásdela,
vendo o fotógrafo se aproximar e fui cumprimentá-lo.Ele mostrou
algumas fotos,enviou algumas para Marina e avisou que quando
ficasse pronto, passaria para o pessoal dela. Nos despedimos e
Marina se trocou para irmos embora.
— Eu ganho tanta coisa — ela falou meio embasbacada,
colocando as trêssacolas cheias de biquinis e saídasde praia no
meu carro. Depois entramos.
— Tipo, imagina essas pessoas que tem milhões e milhões de
pessoas seguindo e engajando, quanto não devem ganhar?
— Devem ganhar muito — eu falei, não sabendo como
dimensionar a vida dessas pessoas. Via agora de pertoum pouco
desse mundo de influenciadorde digital, mas ainda pouco porque
eu e Marina estávamos com ocupações intensas que não se
encontravam.
— Estou saindo de casa — ela contou,um pouco apreensiva e
eu a olhei. Em outromomento, eu daria o maior chilique do planeta,
porque não fariao menor sentido ela sair da casa dos pais para
morar sozinha, quando poderíamos nos casar e morar juntos.
— Por quê?
— Porque a minha convivência com a minha famíliaestálonge
de ser um contode fadas.Minha mãe ficouinsinuando muita coisa
suja sobre meu emprego e sobre como eu estaria ganhando
dinheiro. Eu queria muito terum lugar só meu e experimentarum
pouco de paz. E agora que eu posso me dar esse presente,não
vejo motivospra não fazer— ela falou devagar, eu a conhecia, não
queria me falarnada disso. Fiquei quieto, a olhando observadore
por fim balancei a cabeça devagar, concordando. Liguei o carroe
troquei a marcha, nos tirando dali.

Já no meu apartamento,fomos para o banho, juntos.Eu enchi


a banheira e ela colocou espuma de banho, alguns sais e essências
na água morna. Demos um beijo intensoantes,mortosde saudade
de passarmos o tempo juntos e entramos na água. Em outros
tempos,faríam os sexo atésairmosdaqui tremendosem forças,mas
dessa vez, a saudade que sentíamosnão era só uma saudade
erótica, era saudade emocional, saudade que chegava a doer.
Queria ficar abraçado com ela, absorvendo sua companhia.
— E se eu virar uma doida deslumbrada?
— Não acho que vá — eu falei baixinho, roçando meus lábios
na curva do seu pescoço e ela virou o rosto,me olhando e eu beijei
suavementeseus lábios — você é incríveldemais pra se vender por
uma carreira.
— É, é verdade — ela suspirou — estoucom medo de sair de
casa.
— Medo?
— Eu sempre quis fazerparteda minha família.Ser ouvida por
eles, sabe? — ela perguntou e eu a encarei, me sentindo
angustiadopor ela começara se abrirem um momento que eu não
tinhacomo sero melhor para ela. Estavadesgastado,amedrontado,
queria um portoseguro e estava me dando conta de que Marina
sempre foi frágil também.
— Nunca foi?— pergunteie ela negou com a cabeça — Bruna
comentou que quando procurousua mãe, ela alimentou todas as
loucuras que ela inventou. Sinto muito por isso.
— Eu não entendo. Na verdade, eu entendo, mas não
compreendo e nem aceito. O espaço genuíno de uma famíliaficou
vago na minha vida e por muito tempo eu me machuquei tentando
preencher— Mari falou e se virou de frentepara mim. A espuma
escorreudos seios e meu olhar acompanhou, mas ela soltou uma
respiraçãofort
e para me chamar atençãoe eu ergui o olhar para os
seus — sempre dava de cara com uma barreira de vidro que parecia
me machucar. Já sofrimuitocom isso, depois secou. Eu espereipor
anos o dia que pudesse terdinheiro o suficientepara ir embora da
vida deles. E eu conseguiria antes, mas algo me deixava presa, o
medo.
— Poderia ter vindo morar comigo, aposto que seria incrível.
— Não poderia agarraruma única oportunidadee tercomo
única opção o feliz para sempre.
— Não acha que seremosfelizespara sempre?— perguntei,o
olhar teimosoescorregandopara os seios descobertosda espuma e
ela deu um sorriso safado.
— Não se forçarmos.
— Eu amo você — eu falei— sei que não tono momentomais
maravilhoso da minha vida e que não to conseguindo acompanhar
seu sucesso, mas eu amo você.
— Eu sei, Fred — ela falou, chegando para mais perto— eu
amo você também — Mari acariciou meu rostoe juntou nossos
lábios.

Depois do banho relaxante


, nos enxaguamos e trocamos
muitas carícias
. Eu estava dolorido de tão duro, mas ela leu em
algum lugar que se esperássemos para transar , adiássemos a
vontade, seria muito mais incrível
. Eu, salivando e doido para ter
cada pedaço dela sob meus comandos, apenas aceitei. A ideia de
ser ainda mais incrível do que já era sempre me deixou excitado.

Meu pau latejavadolorido a querendo, que pareciaadoraressa


luxúria, esse domínio e saber o quanto eu a venerava e desejava.
Depois de duas taçasde vinho, nós dois incendiamos. Não deu pra
seguir a linha do esperar
. Teria que sermuito mais incrível
agora.

A coloquei contraa parede, desesperado e ela arrancou a


minha camisetaque usava e a jogou no chão. Eu grunhi quase em
desespero, aliviado quando abocanhei o mamilo, depois engoli o
quanto consegui do seio e me deliciei dela assim. Fui chupar o
outro,depois beijei o pescoço e gemi desesperadocontrasua boca
quando nos beijamos.
— Eu to tão louco por você, que vou gozar no minuto que
estiver aí dentro — eu falei e ela resfolegou.
Fomos para o quarto e ela subiu de quatro na cama,
empinando o bumbum em minha direção. Me livrei do meu pijama e
apertei meu pau pela base, me abaixei para olhar a boceta
completamente lubrificada e um gemido agoniado me escapou.
— Caralho — sussurrei,correndo dois dedos entreos lábios
íntimos— você tá completamente...Molhada — foi um sussurro
mudo.
— Eu tomei um negócio — ela falou, gemendo quando enfiei
dois dedos e girei lá dentro— ai... que gostoso...— ela empurrou
contraminha mão e eu dei um tapana bunda, com força,porque ela
gostava.
— Chupa meu pau antes — eu falei, louco para sentira boca
dela me dominando. Marina virou e eu olhei meus dedos pingando
sua lubrificaçã
o. Meu gemido escapou alto quando ela deu uma
lambida deliberada até a ponta e engoliu inteiro, massageando
perfeitamente
com a língua. Ela foi e voltou, lambendo a cabeça do
meu pau e eu soltei um líquido. Ela pressionou a língua na
extremidadee acariciou os testículos.Afundei uma mão em seu
cabelo e a olhei, tão perfeita e gostosa.
Ela parou antes que me fizesse gozar e voltou a ficarde
quatro.Eu coloquei meu pau rentea bocetadela e penetreidevagar.
Segurei cada parteda bunda bem abertae fui até o fim. Ela gemeu
chorosaquando acaricieio ânus com o polegar e se contorceutoda
quando comecei a estocar num ritmo delicioso.
Escorregueiuma mão para o clitórisquando seus gemidos
ficarammais ansiosos, ela chegava a dar gritinhosde desespero.
Fiquei passeando um dedo na ponta, em movimentos circularese
diminuí o ritmo.Marina puxou a respiraçãocom forçae pareceu
trancaro ar, prestesa explodir em tornode mim e meu Deus, estava
maravilhoso.
— Não aguento mais — ela sussurrou,virando o rostopara
tráse mordeu o lábio inferior
. Mari empinou mais o quadril, forçando
contraçõesque me fizeram instintivamenteaumentar o ritmo. A
segurei mais firme com uma mão, a outra massageava o clitóris dela
e ela trouxea sua por cima, me guiando e nós dois explodimos
juntos. Eu não aguentava vê-la entregue,gozando meu pau todo e
se deleitando do nosso sexo gostoso.Esporreicom força,fazia dias
que não transávamos,dias que eu estava segurando para matar
essa vontade louca. Ela acabou exausta, mas a segurei pelo quadril,
metendo até meu último jato de prazer
.

Quando a soltei, ela caiu deitada e se virou de frente,desceu


uma mão até o meio das pernas e eu inclinei o rosto,olhando. Um
pouco do meu sêmen escorreupara fora,junto com a lubrificaçãoe
gozo dela.
Caí deitado ao seu lado e a puxei, me agarrandoao seu corpo
e beijei sua testa.
— Gostosa — sussurrei.

[...]

Antes que pegássemos no sono, a mãe de Bruna ligou,


contando sobre uma piora inesperada e sua ida para UTI. Marina
ficou sem reação, perguntouse eu iria até lá e eu assenti.Ela foi
para o banho e depois eu fui me lavar também. Passamos a noite
em claro. Não falamos muito. Ela ainda cochilou algumas vezes, nos
meus braços, mas eu não consegui pregar o olho.
— Bruna congelou óvulos antesde começaro tratamento
— eu
falei, meio no automático,como se não soubesse lidar com a
situação. Mari, que tinha o rostoafogado em meu pescoço e me
abraçava, ergueu para me olhar.
— Ela quer mais filhos?
— Nunca se sabe, mas foimelhor prevenir— eu falei,soltando
um suspiro angustiado — nunca imaginei passar por isso.
— Não dá pra saber o porquê de acontecer
.
— A mãe dela contou que avó dela teve, teve nova, morreu
cedo porque não tinha muitos recursos na época.
— Ela vai ficar bem, Fred — Mari falou — os médicos não
disseram que está indo tudo bem? Então, vamos confiar
.
— Você não quer vir comigo? — pergunteie ela me olhou
pesarosa.
— Não acho que ela gostariade me ver lá. Não sei como
interpretaria isso.
— To tãocansado — sussurrei— com medo pelo meu filho.Já
o fizemos sofrertantoquando brigávamos e o envolvíamos, agora
isso...
— Ele ama vocês e só quer ver os dois bem. Não fica se
martirizando — ela falou.

Ainda pela madrugada, começamos um beijo malicioso e


caríciasque nos levaram de voltapara nosso passatempopreferido.
Mas dessa vez não estávamos apressados e nem provocativos
como na maioria das vezes. Estávamos fazendo amor, puro e
simplesmente. Ela sussurravaque estava louca para gozar, mas
não queria perderessa sensação maravilhosa que sentiaenquanto
eu a possuía.E eu estava do mesmo jeito. Nossas mãos estavam
entrelaçadase com a outra,eu segurava sua coxa, a mantendo
abertano ângulo perfeito,a segurando firmesob meu corpo. Nosso
beijo era profundoe sincronizado, eu rebolava sobre ela, metendo
na intensidade perfeitae poderíamos ficar nessa dança para
sempre. A boceta absorvia e soltava meu pau, até que eu precisei
de mais. Chegou um ponto que eu não aguentava mais, mas queria
mais e ela também. Marina puxou minha mão da sua coxa e abriu
mais as pernas, eu escorregueimais fundo e comecei a metermais
rápido, era instintivo,chegamos em um ponto que só aproveitaro
momento não bastava, ficamos loucos pela libertaçã o. Minhas
estocadaseram fundase curtas,eu não queria perdermais nem um
centímetro do seu calor
.
Soltei um gemido lamentoso ao vê-la revirando os olhos,
gemendo ansiosa. Chupei seu lábio inferiore ela estremeceu,a
boceta começou a contrair
. Apertouuma vez mais fortee depois
contraiu repetidamente.Eu a levei até o fim, até que ela se
contorceusob meu corpoe estremeceualiviada. Afundeio rostoem
seu pescoço e me deixei ir
, aproveitei meu momento até o fim.
C 25
Marina Marques

Eu não avisei aos meus pais que estava saindo de casa. Na


verdade, depois de fechar o contrato de um ano em um apartamento
no prédio em que Jordana morava antes de ir morarcom Edu, eu
comecei a levar as minhas coisas aos poucos. Como se estivesse
levando para a casa de Fred.

Fui com medo, medo de dar errado,de precisarsair, de me


perder no caminho da independência. Mas precisava tentar .
Esperava muito que com tudo isso, minha relação familiar
melhorasse, mas já não poderia contarcom isso como um sonho
real.

Com a piora de Bruna, Fred passava mais tempo em São


Paulo do que aqui, o que resultava em nós dois distantes.
Tentávamos conversaro tempo todo, mas era difícilmanteruma
constância.
— Ela ainda estána UTI — ele falou,quando liguei para ele no
fim do dia — os médicos querem mantê-la lá por mais alguns dias,
pra evitarqualquer eventual infecção, sei lá — ele falou de uma
maneira áspera no final.
— Você vem pro aniversáriode Edu? — pergunteicautelosae
ele ficou quieto.
— Não sei... — falou um tempo depois.
— Como o Bruno está?
— Arrasado...Ele tem pegado as atividadespor e-mail com os
professores.
Tenho tentadofazê-loestudar , assim ele não vai repetir
o ano. Mas tem sido tão... difícil.
— Eu sinto muito, meu bem — falei angustiada.
— Preferiaque fosseeu — ele resmungou e nós dois ficamos
quietos por um momento — assim ele não sofreria tanto.
— Fred...
— É muito mais fácil pra um filho perder o pai — ele falou
amargurado, tudo em mim apertou.
— Ele não vai perderninguém — eu falei, mas o tom de voz
ficou embargado — para de falar assim.
— A mãe dela é cética,só pensa no que viu a mãe sofrercom
essa doença. Agora vê a filha — ele falou indignado — é muita
injustiça.
— O tratamento é demorado mesmo, você sabe disso. Mas vai
ficartudo bem. Ela está em um ótimo hospital, com um ótimo
médico. Vai dar tudo certo.
— Deus de ouça, Marina — ele falou de uma maneira pesada.
— To com saudade de você — falei mais baixo.
— Por favor , Mari, vem pra cá — ele falou de uma maneira
insistentee insegura e eu senti o maxilar estalarpor dentro,tudo
azedo e amargo — eu preciso de você — ele atenuoudevagar, mas
precisamente.

Eu pisquei algumas vezes, me colocando no lugar da ex dele.


Ela não gostavade mim, eu não achava que seria saudável ir até lá
em um momento desses. Por ele, claro, eu iria. Poderia produzir
conteúdo e postar publicidades agendadas para a semana de
qualquer lugar. Poderia ir hoje, voltar no dia da gravação e ir
novamente no dia seguinte. Não seria um esforço,para fazer a
vontade dele. Mas eu me colocava no lugardela.
— Já entendi — ele resmungou frustrado com o meu silêncio
— eu vou desligar, nos falamos depois.
— Fred — eu chamei, antes que ele desligasse — eu te amo.

Fred não ficou ligando, nem procurandoconversa, chateado


pela minha decisão de não ir ficarcom ele. Ele não veio para o
aniversáriode Edu. Esse ano não haveria festa,mas iría
mos jantar
e depois tomaralguns drinks. Entreamigos, mesmo. Eu e Jordana
já estávamoschateadas,porque como era aniversáriodo irmão de
Chiara, já imaginávamos com quem Ravi estaria.

Eu e Fred nos falamos apenas pela manhã, depois ele não


apareceu mais online. Mas falou com Edu agora a noite para
parabenizá-lo. Assim soube que não houve alguma piora com a
Bruna. Ainda bem.

Quando cheguei ao apartamentodeles, Jordana veio me


recebere eu cumprimenteitodosos outros.Helena estavaandando
pela enorme sala em seu Audi rosa, uma graça. Enviei uma foto
dela no carro para Fred, mas ele estava tão chateado que não
respondeu.

Depois do jantar
, os mais velhos foramembora e a mãe de
Jordana levou Helena, para o casal poder aproveitarmelhor a noite.
Era engraçado como Jordana corava quando falavam algo que
insinuava sua vida sexual.
— Por que não foi ficar com Fred, Mari? — Ravi quem
perguntou, ao servir mais vinho na minha taça.
— Porque não achei que seria justocom a Bruna. Ela saberia
que eu estava lá, ela não gosta de mim e está em um momento
difícil.
— Ele também está em um momento difícil — Ravi protestou.
— Eu acho que pelo temperamentodela, foi melhor não terido
— Edu quem falou — sei que Fred está mal com tudo isso, quem
não ficaria,afinal? Mas é melhor evitarqualquer estressepra ela
nesse momento.
— Não vamos falarsobre isso, por favor— eu pedi, era um
assunto que me deixava muito mal.
— Como tem sido a vida de morar em dois lugares? — Jordana
perguntouforçandomais animação, para nos tirarmesmo daquela
conversa.
— Eu não sei como enfrentar e contarque me mudei — eu
reclamei — mas vai dar tudo certo.
— Claro que vai, amiga — ela falou o óbvio — ainda mais
agora que você é famosa.
— Aposto que a Luísa está se corroendo — Chiara falou
empolgada — e eu amei. Sério, você é muito mais querida do que
ela.
— Mas isso não é uma competição — eu falei.
— Quando uma marca deixa de contratá-lapra contratarvocê,
é, sim, uma competição — ela retrucou petulante.
— Já foi reconhecida na rua, Mari? — Eduardo perguntoue eu
dei risada, mas neguei com a cabeça.

Vi Fred online ainda pela madrugada, mas ele não me


respondeu. Devia estarmesmo chateado. Mas não me culpei, fiz o
que achei ser o melhor no momento.

Denise postou uma fototoda arrumadapara sair, já sabia que


ela iria sair com Antônio e alguns outroscolegas nossos. Ravi viu a
foto, ela de vestido bem curto, exibindo as pernas grossas e
torneadas.Ele não gostou nada, porque ela logo enviou printda
conversa deles dois.

“Enquanto isso está aqui com outra”— Jordana enviou para


mim. Trocamos um olhar confidente e eu neguei com a cabeça.

Falei para Denise dar para o primeirobonitão que aparecesse,


isso no nosso grupo com as amigas, mas Jordana logo rebateu que
era mais fácilela fazerisso. Se não fossecasada, enfim.Mas revirei
os olhos, nem ela e nem a outra, seria o tipo de coisa que eu faria.

Fui para casa quase duas da manhã. Para a casa dos meus
pais, por receiode não acordar em casa depois de passaruma noite
fora.

Na manhã seguinte, quando estava na cozinha tomando café,


tive uma briga feia com minha mãe. De repenteela estava ali me
acusando, fazendoum drama feioe dizendo o quantofazia mal para
ela me olhar. Eu não reagi, quase nunca estava reagindo. Mas
quando os seus insultosperderama proporçãoque eu aceitava,eu
avisei que não ficaria mais ali.

Quando comecei a enfiaro que restavadas minhas roupas


dentrode uma mala, ela veio tentarimpedir, como se eu não tivesse
o direitode levar o que era meu. Mas eu tomava os cabides das
mãos dela e colocava de qualquer jeito. Tereza apareceu, meio
assustadavendo que a minha decisão era real. Eu não falei nada
para ela, mas puxei as minhas roupas das mãos da minha mãe e
coloquei de novo dentro da mala.

Não sei como, ela fingiutersido empurradapor mim e se jogou


no chão, começou a gritar e forjar um choro sobre eu tê-la agredido.

Meu pai apareceu para ajudá-la, me lançando esse olhar de


quem jamais me defenderia e foi ajudar a esposa.

Tereza ficou quieta, deixando valer a versão de eu ter


empurradoa nossa mãe. Ali entendi que não tinha mais jeito. Eu
queria, no fundoeu queria serparteda família,seramada e cuidada
como parte deles, mas eu nunca fui.

Era duro lidar com a realidade. Eu não era perfeita,mas eu


aguentava tudo que me faziam, todo dano emocional, todos os
insultos, insinuações mentirosassobre mim, acusações de coisas
que eu não fiz. Deixei passar tudo por anos. E como em um jogo,
cada fase, ao invés de melhorar
, ficava pior, mais difícile eu mais
calejada.

Era como se eu entendesseque o único remédio para nossa


relaçãoque não se encaixava, fossea distância.A minha existência
não fazia bem para ela e isso pesava toda a relação familiar
. Não
dava para forçar
, para querer acalento e esperar por um milagre.

Como ela mesma disse: fazia mal para ela me olhar, não
suportava ouvir minha voz. E os motivos eu jamais entenderia.

Não chorei ali, por sorte,eu tinha agora como viver sozinha.
Terminei de arrumartudo, muita coisa ainda ficou, mas não faria
falta.Pedi um carropor aplicativo e fui embora. Chorei durantetodo
o caminho, como se tivesse cortadoum laço. Mas eu precisava
aceitar
, entender
, colocar um curativo nessa ferida de uma vez.

Uma sensação de inconform


ismo me dominava. Que pessoa
não queria ter uma família saudável e feliz? Por que eu não tive?

Levei a mala para o quarto.Não estavanada luxuoso por aqui.


Havia o básico, eu poderia redecorarcom o tempo, agora que
parecia real: eu iria morar aqui.

Jordana veio com Helena me visitar


, assim que contei o que
aconteceu. Ela não lamentou por isso, disse que seria muito bom
para mim.
— Falei com Fred hoje cedo — ela falou, enquanto Helena
estava sentada no sofá com o celular da mãe, vendo algum
desenho infantil.Jordana disse que não conhecia ainda uma mãe
que disse não deixar o filho vendo alguma tela e cumpriu, porque,
segundo ela, às vezes era a única maneira de fazera criançaficar
quieta.
— E ele? Não me respondeu ainda — lamentei.
— Disse que só queria seu apoio — ela falou cautelosa— que
a cabeça está a mil... T
em sido difícil pra ele.
— Eu queria ir, queria ficarcom ele, Dana — eu faleiindignada
— mas a mulher não iria gostar de me ter por perto.
— Ela não precisariasaber— ela falou— quando ela tiver alta
e puder ir pra casa, você vem embora.
— Como se eu fossea amante dele — eu resmunguei — eu
vou falar com ele, vou ver o que fazer
. Não quero sofreracusações
dela. Torçomuito,muitomesmo pela recuperaçãodela. Não consigo
imaginar o quanto está sendo difícil,só quero que ela fique bem.
Que tudo termine bem. Mas eu não imagino que ela vai amar saber
que eu estou lá, confortando o filho dela e o ex marido.
— Fala com ele... Fred estámuito abalado — Jordana falou e
deu um gritinhode sustoquando Helena deixou cair seu celular —
meu deus, isso custou uma moto! — ela falou brava, pegando o
aparelho do chão, o que me fez rir
.
— Se quebra, Edu compra outro — eu falei sarcástica.
— Não é porque o homem tem dinheiro que vou viver
esbanjando — ela me olhou inquisitiva.

[...]
Quando Fred ligou, numa terça-feira, eu acabei cedendo. Disse
que iria e voltaria em dois dias. Afinal tinha trabalhospara cumprir
.
Quando ele avisou que resolveriatudo para mim, eu vetei, poderia
muito bem pegar um voo, ele me pegaria no aeroporto.

Lá, quando já estávamossaindo, depois de darmos um abraço


confortante,eu nem sabia que a minha saudade era desse
tamanho, um cara me reconheceu do Youtube e pediu uma foto.
Notei que Fred não gostou,mas eu não poderia negar. O cara que
nem me falou seu nome, me deu um beijo no rostoe acenou para
Fred, antes de ir embora.
— Dando em cima de você na cara dura — ele falou
exasperado e negou com a cabeça. Eu comecei a rire fui até ele,
roubando um beijo — sinceramente...
— Você fica delicioso com ciúme — eu falei provocativae ele
fez uma careta — e agora, vamos fazer o que?
— Bruninho está no hospital, tem passado as tardeslá — ele
falou e eu aperteios lábios — tem sido muito duro ver meu filho
passando por isso, Mari — a voz dele travouum pouco no finale eu
parei de andar, o puxei para um abraço de novo. Fred me abraçou
de volta, afagando as minhas costas.
— Você tem ido lá também?
— Vou... Quando dá a hora de ir buscá-lo. Vou um pouco antes
pra poder ficar um tempo — ele explicou e eu assenti.
— Estoumorrendode fome. Podemos ir comer alguma coisa?
— perguntei e ele concordou.
Pedimos hamburguerese refrigerantes,
eu escolhi. Ao chegar
no apartament
o, fui para o quartoque Fred ocupava e fui tomar
banho. Ele não resistiue veio junto, me encostou na parede e
segurou meu rosto em suas mãos. Nos encaramos por um
momento, era como se eu pudesse me perdertoda nele, de uma
maneira boa. Começamos a nos beijar, fazercaríciasno corpo um
do outro, mas fomos interrompidos, porque Bruninho chegou,
chamando pelo pai. Fred me olhou surpreso,afinal ele sempre ia
buscá-los.
— To no banho, filho! — Fred gritoude volta. Terminamos o
banho rapidamente e nos trocamos no banheiro.

Bruninho pareceu surpresoa me ver, mas correu para me


abraçarlogo depois. A mãe de Bruna acenou com a cabeça e eu
sorriapertadode volta. Ela contou sobre o dia da filha no hospital,
dependendo dos exames, amanhã mesmo ela já seria transferida
para o quartoe poderia retomaro tratamento.
Os médicos alertaram
que mesmo apresentandomelhoras, prefeririammantê-la sob os
mais rigorososcuidados no hospital,atéo corpodela responder aos
tratamentos e a doença regredir completamente.

À noite, pedimos pizza. A mãe de Bruna, que se chamava


Tânia, comeu conosco, mas avisou que iria deitar , se sentia
cansada. Eu estava angustiada, conseguia sentira preocupação
dela.
Bruninho parecia mais tranq
uilo, agora que a mãe sairia do
quarto de UTI. E Fred tentava animá-lo o tempo todo.
Como ele estava dormindo no quartocom Fred, eu avisei que
poderia dormirem outro,que tudobem. O pequeno tentouremediar ,
disse que iria para o quartodele, mas eu não queria que ele se
sentisse sozinho em um momento desses.
— Tem certeza?— ele perguntou,me cerrandoos olhos e eu
dei um sorriso confiante.
— Absoluta.Até porque eu dormia com seu pai quase todo dia
— eu falei de uma maneira irreverente e ele se convenceu.
— Obrigado, então — ele falou — não queria mesmo ficar
sozinho.
— Então, vamos — Fred falou, olhando o relógio de grife em
seu pulso — amanhã você acorda cedo pra estudar— ele falou
enfático para o filho, e veio até mim, me puxando pela cintura.
Bruninho foi escovar os dentes e Fred me deu um beijo
gostoso na boca.
— Quando ele dormir
, vou encontrarvocê — ele sussurrou,me
fazendo sorrir — estou louco, louco de saudade.
— Tá bom — eu falei, ganhando mais um beijo. Fred me levou
até o quarto e foi encontrar o filho.

Vesti o pijama e liguei a TV. Escolhi um filme levinho e deixei


passando, enquanto mexia no celular. Respondi algumas
mensagens no instagram,achava engraçada a maneira como a cor
do meu esmalte poderia interessarpara alguém. Mas tentavaser
sempre educada, embora me sentisse invadida em alguns
momentos. Algumas pessoas perguntavamsobre namoro, queriam
sabercomo aconteceu.Queriam sabersobremim, como se a minha
vida fosse um livro aberto ou interessante o suficiente para eles.
Fred chegou cerca de uma hora e meia depois. Entrou
devagarinho, como se não pudesse fazer nenhum barulho. Ele
fechou e trancou a porta. Sorri ao vê-lo. Nós dois já nos
complicamos tanto,por besteira,que agora eu só queria poder
voltarno tempo e terevitado muitosdos desentendimentos.Assim,
lidaríamoscom essa turbulênciasem o sentimentode que sempre
algo acontecia no meio de nós dois.
— Ele ficouconversando e demorou a dormir— ele explicou e
eu dei uma risada baixinha — mas estáconfiante,isso me alivia um
pouco.
— Ele é um menino muito maduro, vocês dois têm sorte— eu
falei. Fred veio para debaixo do edredom e chegou bem perto,
passou um braçoem voltado meu corpo,mas levou uma mão sob a
minha camiseta do pijama.
— Eu queria ficarconversando com você também — Fred
falou, alcançando meu seio — mas to completamentelouco de
vontade.
— Você é um safado— eu reclamei, como se eu não adorasse
isso nele. Para facilitar
, me sentei e tireia camiseta. Ele grunhiu,
tentandoalcançar meu seio com a boca, mas deitei antese ele riu,
vindo parcialmente para cima de mim, cobrindo o mamilo direito com
a língua quentinha.
— Quero devorarvocê todinha — ele sussurrou,circulando a
línguamacia no mamilo e eu pisquei uma, duas, trêsvezes — quero
te fazer gozar na minha língua, no meu pau... Quero amar você até
ficar exausto.
— Fred... — eu falei, a voz saiu toda entrecortada.
— Vou lamber cada pedacinho do seu corpo — ele prometeu
sorrateiro,
chupando o mamilo devagarinho e uma mão desceu sob
o short,ele passeou um dedo longamente entreos lábios íntimos,
procurandopela minha entra
da. Mordi as costasda minha mão para
abafarum gemido e ele penetroudois dedos em mim, os levando
fundo e girou lá dentro. Depois veio e beijou a minha boca.
Eu puxei o shortpara baixo e Fred terminoude tirá-lo,sem
soltar minha boca, a língua vinha deliciosa, me explorando e
excitando ainda mais. Abri as pernas e ele começou a acariciaro
clitóris, do jeito perfeito que me deixava louca.
— Eu vou continuarassim, mas não goza — ele sussurroue
meus olhos reviraram,voltamos a nos beijar e eu procureipelo sexo
dele, puxei para fora da calça de pijama e comecei a esfregar
devagarinho, Fred mordiscoumeu lábio inferiore lambeu. Ele puxou
sua calça para baixo e se colocou por cima. Em um movimento
rápido e habilidoso, muito gostoso,ele estava dentrode mim. Nos
agarramose ele começou a estocarrapidamente,abafávamos a
vontade de gemer com beijos profundos.

Mordi com forçameu lábio inferior


, quando ele se sentou na
cama e me levou junto, me colocando por cima. Nos encaramos e
eu me agarreinele, passando os braçosem volta dos seus ombros,
uma mão subi até a nuca, puxando seus cabelos. Comecei a
rebolar
, a beijá-lo e sabia que nós dois estávamosno mesmo ritmo.
Cruzei minhas pernas em sua cintura,indo para frentee para trás,
nossas bocas ficaram coladinhas e eu estremeci.
— Isso, meu bem — ele sussurrou e eu estremeci.
— Quero muito gozar — sussurrei e ele lambeu
deliberadamentemeu pescoço, levou as mãos para minha bunda,
vindo bem fundo e eu estremeci inteira.
— Assim... — ele falou satisfeito,
me guiando perfeitamente

eu amo você gozando todinha pra mim — ele sussurro u no meu
ouvido e eu o aperteimais no meu abraço, aumentando um pouco
meu ritmo. Quando minha boceta começou a apertarseu pau nas
contraçõesincríveisdo meu orgasmo,Fred afundouo rostoem meu
pescoço para abafaro gemido e gozou junto comigo. Foi intenso,
tanto para ele quanto para mim, ele não me soltou quando
acabamos. Ficamos grudados e satisfeitosaté tudo desacelerar.
Demos um beijo apaixonado quando acabou e ele me colocou
deitada na cama. Me aconcheguei no corpo e ficamosabraçados,
peguei no sono que nem me dei conta,sequer vi quando ele saiu e
voltou para o outro quarto.
C 26
Frederico Toledo

Pela manhã, eu fiz duas reuniões online e Edu apresentariao


projetopresencialmente.Ele estava fazendo o possívelpara suprir
minha falta,sendo muitocompreensivo.Depois, monitoreimeu filho,
se estava indo em dia nas matérias da escola, entregando as
atividadesem dia. Na semana de provas,ele teriaque ir para o Rio,
não teria outro jeito.

Pedimos almoço e quanto chegou, Marina foi com Bruninho


pegar, na portaria. Eu estava pondo a mesa, quando minha ex-sogra
apareceu.
— Você gostamesmo da garota,não é? — ela perguntoue eu
a olhei, me sentindo culpado, mas por outrolado, todos sempre
souberam que eu nunca amei a Bruna. Assenti,balancei a cabeça
devagar e ela suspirou.
— Torcemostantopra você e Bruna darem certo...Mas juntos
era dor de cabeça pura, não se suportavam.
— Era... — falei vagamente — mas acho que hoje estamos
conseguindo ter uma boa relação. Pelo bem do nosso filho.
— Ainda bem — ela falou, erguendo as mãos como se
agradecesse aos céus — acho que ela vai se tornaruma pessoa
mais resiliente e calma, quando sair dessa.
— Espero que seja logo.
— Contei a ela que a sua namorada estáaí — ela falou e eu a
olhei surpreso— não quero que ela se engane com vocês dois. Não
acho que ela ainda te ame como um homem, mas ainda sonha com
uma família perfeita. Não quero que crie alguma esperança.
Eu fiquei quieto, não tinha como argumentar
. Ela tinha razão,
mas eu queria poupar Bruna de qualquer estresse.
— Como ela reagiu?
— Falou que imaginava... Reclamou de você, por não querer
dizer. Disse que detestaMarina, mas pelo menos ela adora o Bruno,
isso ninguém pode negar, os dois se dão muito bem e isso a deixa
mais tranquila.

Eu aperteios lábios, não sabendo o que dizer. Tânia contou


que Bruna tinha planos de fazera reconstruçãoda mama depois
que estivessecompletamentecurada, que fosseliberada para isso.
Deixei claro que poderia custearqualquer coisa, que fazia questão.
Mas sabia que eles não precisavam de nada financeiramente.
— Eu poderia negar — ela falou, deixando escaparuma risada,
porque conhecia a filha — mas a minha filha vai querer extorquir
você.
— Eu sei, trabalho pra isso.

Não fui para o hospital à tarde, porque queria aproveitar o


último dia com Marina. Escolhemos um filme de ação, depois
transamos. Transamos muito, maravilhosamente. Tudo pareceu
estalare ficarnulo ao nosso redor . Com uma última estocada,
montado sobre ela, que estava de bruços,eu comecei a gozar e ela
também. Marina deu um gemido desesperadoe afundou o rostono
travesseiro.Eu, afoguei o meu em seu pescoço, morrendoem um
orgasmoprimitivo,tãolouco e violento.Estremecisobreela e fechei
os olhos, relaxando depois dessa onda incrível.
Puxei para fora,sentindo faltado calor da boceta quente e
enxarcada e caí deitado ao seu lado.
— Você nem foi e eu já estou louco de saudade — sussurrei.
— Como você acha que vai ser daqui pra frente?— ela
perguntou — Bruna vai terminar o tratamento... E nós dois?
— Espero te fazer um pedido e que você não saia corren
do —
eu falei baixinho e ela chegou para mais perto.
— O que a mãe dela diz sobre mim, sobre eu estar aqui?
— Todo mundo sabe que eu e Bruna não demos certo,que não
nos amamos pra ficarmosjuntos.A mãe dela acha que ela vai sair
dessa se tornando uma pessoa melhor... Em tudo.
— Não acham que isso vai tefazerapaixonar? — Mari indagou
confusa e eu neguei com a cabeça.
— Posso te confessaruma coisa? — pergunteie ela fran ziu o
cenho, ponderando, mas balançou a cabeça positivamente.Tomei
uma respiraçãoprofundae a olhei, tão bonita e relaxada depois de
um orgasmo arrasador .
— Fala — ela falou curiosa.
— Se eu sentisseque Bruna me amava, se fossegenuíno, se
ela fosserealmenteapaixonada por mim, eu teriatentadodar certo
— eu faleie ela continuoume encarando,pareciasurpres a, mas era
a verdade — pelo nosso filho, pela nossa família, pra não
desapontarnossos pais. Eu tenteipor muitos anos, Mari. Não saía
de casa pedindo o divórcio porque queria ser solteiro.Saía de casa
e pedia socorro,porque nós dois não nos suportávamos.Teve um
ano que não transamos.Que casal consegue? Nós dois... Se eu fico
uma semana sem você, parece que vou enlouquecer
.
— Você ficouum ano sem sexo? — ela perguntou,me fazendo
rir
.
— Não. E acreditoque nem ela. Saíamosaos finsde semana
pra lugares diferentes, nosso filho ficava com a babá.oltávamos
V no
dia seguintee fingíamosque nada aconteceu.Mas se eu falava em
divórcio,era motivopra brigar — falei,sem mágoa sobreisso — nós
dois não nos suportávamosao ponto de não sentirmostesão um no
outro.Tudo foi morrendo, só restouanimosidade. Foi quando te
conheci, me apaixonei e fui morarcom Edu. Quando não voltei pra
casa dos meus pais, acho que todo mundo percebeu que não tinha
mais volta. E ela ficoucom raiva, porque soube que eu saíde casa
porque estava gostando de você. Dificultouo que pôde naquela
época, você sabe.
— Pelo menos estão se entendendo agora.
— Um dia enchi a cara e acordei com ela no meu quarto,me
levando café. E propondo uma trégua.
— Ficaram?
— Não. Ela negou prontame nte. A faltade desejo é tantaque
ela falou incrédula, esclareceu na hora. Bruna querervoltarcomigo
era só por status, pra não ter que procuraroutrafamíliaperfeita.
Como Luísa querer manter aquela coisa esquisita com Edu.
— Sinto muito — ela falou confusa.

Ficamos nos encarando por um momento, ela tocoumeu rosto


e acariciou a barba com o polegar
.
— Como você se sentiu quando soube que eu fiz um aborto?
— ela perguntou,nunca realmenteconversamos e esclarecemos
essa história. Brigamos, nos magoamos, sofremos. Depois
voltamose achamos que tínhamosenterradoo assunto.O que não
era uma completa verdade. Por um segundo, revivi a sensação
tenebrosa daquele dia.
— Foi como se eu tivesseganhado uma passagem ao inferno.
Fiquei queimando lá por dias, cego de ódio, me sentindoenganado,
traído,incapaz. Me sentia péssimo, insignificantepra você. Achava
que você deveria ter me contado, pensei que poderia ter te
convencido a não tirar... — falei, quase reascendendo o que senti,
mas afasteipara longe —por muito tempo eu fiquei no escuro com
você. Te amando ao pontode ignorartudoisso só pra não teperder .
— E agora você entende?
— Não — falei lamentoso.
— Eu tenho pavor a pensar em ter filhos — ela falou
angustiada, o olhar pareceu marejare ela levou minha mão até o
peitoesquerdo, o coraçãobatiadescompassado — me dá medo, eu
tenho medo de reproduzirpra outroser humano o que minha mãe
fez comigo. Não posso simplesmente arriscar . Eu não posso
reclamar, sempre tive casa e comida. Mas sempre fui desprezada e
foi duro aprender a lidar. Porque ninguém acreditava em mim.
Ninguém duvida de uma mãe, Fred. Você acreditounelas em algum
momento.
— Acha que ela não ama você?
— Acho que ela não sabe lidar comigo. Ela se irritasó por me
ver. E eu não posso explicar os motivos. Tem dias que está tudo
bem, conseguimos conviver numa boa. Mas na maioria deles, não.
— Sinto muito, Mari — sussurrei,não sabendo como lidar com
isso. Por meses eu insistiem me aproximarda famíliadela e isso só
desandou nosso relacionamento.
— Está tudo bem agora.
— To ansioso pra conhecer seu apê novo — falei e ela riu,
assentindo — aposto que vou ficar maluco pra mobilhar
.
— Nem vou protestar, porque você tem bom gosto— ela falou
presunçosa — mas não temos pressa, as prioridadessão outras
agora.
— Tem razão — eu falei, então ouvimos vozes vindas da sala.
Nos levantamos e nos vestimosapressados.Mais tarde,fui levá-la
ao aeroporto.
C 27
Marina Marques

Fred veio para o Rio no seu aniversário.Eu e a mãe dele


preparamosuma surpresa.Nada grande, não era momento para
isso. Bruna estava firme no tratamento,mesmo com todas as
dificuldades que vinham junto com ele. Fred disse que era muito
doloroso vê-la passarpor isso, que as reaçõeseram tristes
demais,
chegou a chorar . Disse que ela estava muito magra, como se
estivesse definhando. Que era muito duro se manterfortee ele
precisava ser, todos ao redor dela precisavam, para que ela
acreditassena cura. Ela mais do que ninguém, poderia desanimar.
Ser resiliente era muito importante.

Ele estava mais magro também, mais bagunçado, meio


estressadoe confuso.Quando chegou, ficamosabraçadospor mais
de cinco minutos, ele só queria isso, um afago, um descanso.
— Eu e sua mãe escolhemos aquele Buffetque você ama —
eu falei, tentandoanimá-lo e ele sorriufraco— achei que Bruninho
quisesse vir com você.
— Ele não quer sair de perto.Se deixássemos, moraria no
hospital. A sortedele é que os professoresestão colaborando,
senão ele iria ter que repetir o ano.
— Ele é esforçado, logo recupera tudo — falei e Fred assentiu.

Nos arrumamosjuntos no meu apartamento.Eu coloquei uma


blusa de mangas compridas e gola alta, um short jeans todo
rasgado de cinturaalta e calcei uma bota. De presente,comprei
para ele um tênis que ele comentou superficialmentetergostado,
em uma das poucas conversas amenas que tivemos nas últimas
semanas. Sabia que a última coisa que ele faria agora, era se
preocupar em comprar sapatos. Estava em frenteao espelho
consertandoo rabo alto no meu cabelo, quando Fred me abraçou
por tráse segurou o celular, tirandofotode nós dois. Na segunda,
posamos direitoe essa ele postou, na legenda contou que estava
comemorando o aniversáriocom o amor da vida dele, me deixando
toda derretida.

Postei a fotono storie,no meu perfil,logo recebendo várias


mensagens elogiando a beleza do casal.

Antesde sairmos,Fred encontroualguns afrodisíacos naturais,


além de outros brinquedos eróticos.
— Foi de uma publicidade — expliquei, enquantoele analisava,
depois olhou para mim, presunçoso.
— Posso levar?
— Pode — falei — mas melhor usarmos depois. Quando
sairmos da casa dos seus pais.
— É — ele falou, olhando os dois frascos.Um masculino e
outro feminino — você tomou isso outro dia?
— Foi, na verdade tomei três— contei,segurando o sorriso—
e foi muito gostoso.
— Imaginei — ele pontuou, guardando no bolso e veio até mim,
me puxando pela cinturae me olhou, avaliando — agora não quero
mais sair.
— Você é muito safado— eu falei,mas nem era uma novidade
— e vamos, porque seus pais, familiarese amigos estãoesperando.
— Ordenei que Ravi levasse Denise — ele falou, me fazendo
rir — Chiara precisa parar
. Ela sabe a dor de ser traída.
— Denise e Ravi não estão namorando, amor .
— Mas se ele diz que gosta dela, precisa fazerjus a isso.
Depois ela terminae ele fica choramingando atrás,só faltamorrer
— ele resmungou, fofoqueiro que era, estava sempre a par de tudo.
No caminho, fiquei vendo os comentáriosda fotode Fred. Vi
que Tereza comentou “lindos” e um emoji de coração. Curti o
comentário dela e agradeci ao de Jordana.

Quando chegamos, Fred foi recebido calorosamentepor todos.


Talvez ele precisassede um momento desses mais feliz e saísse
um pouco da dura realidade que enfrentava.
Tiramos fotocom Helena, que estavalinda vestidanuma calça
jeans, bota e uma blusa de mangas cumpridas de gola alta,
parecida com a minha.
— Obviamente arrumada pela madrinha — Chiara falou,
porque Jordana vestia a filha sempre como uma boneca.
— Quando ela aparece toda estilosa assim, a gente já sabe
quem foi — Fred falou,se sentandoao meu lado e passou um braço
em volta dos meus ombros. Virei o rostopara ele, que me olhou
amoroso e se aproximou para beijar minha boca.
— Soube do seu plano, Frederico — Chiara falou para ele, o
fuzilando com o olhar — e sinceramente não me importo.
— Eu sei — ele retrucou,sorrindofalso para ela. No minuto
seguinte,Ravi chegou com Denise, que parecia desconfortável
com
a situação. Chiara revirou os olhos e foi pegar uma bebida.

Edu e Jordana pareceramterdiscutidopor algo, mas nem meia


hora depois fizeramas pazes, o que me fez rir
. Ela não conseguia
ficar brava com ele por muito tempo.

Eu e Fred tomamos o estimulante sexual, misturamos na


bebida. Oferec i para Jordana, que ficou horrorizada,mas Edu quis
um par.
— Você anda traficandoessas coisas — Fred falou fingindo
horror , abrindo a boca em um O e cobriu com a mão, me fazendo
gargalhar .
Como passou um tempo e ele reclamou não tersentido nada,
eu despejei outro disfarçadamente no uísque dele, que rodou o copo
para misturare olhou a redor , como se estivéssemosfazendo algo
ilícito.
— Você é tão engraçado, Fred — eu falei, me divertindocom
ele.
— Se eu ficarde pau duro aqui, vamos terque ir embora — ele
avisou, me fazendo dar risada e seus pais nos olharam.
— Queria saber a piada — seu Tarcísiofalou, quando parei de
rir
, refém do olhar curioso deles dois.
— Marina anda traficandocoisas — Fred falou, me fazendo
crescer os olhos — se olhar a bolsa dela, cheio de produto erótico.
— Meu Deus, Fred! — falei mais alto do que gostaria,mas
seus pais pareceram se divertir com isso.
A noite foi agradável com as pessoas que mais amávamos no
mundo. Chiara ficou até receber uma ligação misterio sa e Fred
sussurrou para mim, se não poderia ser o inimigo de Edu.
— Não é inimigo de Edu — eu reclamei, mas ele me cerrou os
olhos, nós dois bem conhecíamosEduardo — não sei, acho que
não...
— Acha que Ravi se incomodou? — ele perguntoue nós dois
olhamos para Ravi, que tinha uma mão entrelaçadana de Denise e
os dois conversavam intimamente, pareciam bem.
— Acho que ele e Chiara tem uma relação sexual bem
resolvida — pontuei — só que deve feriro ego dela, saber que ele
ama outra.
— Eu acho que ela se convence de que ele não ama outra—
Fred retrucou e eu fiz uma careta.

Mais tarde, depois dos parabéns, Fred deu o primeiropedaço


do bolo para mim. Sua mãe o encarou incrédula, sempre foi para
ela.
— Desculpe, mamãe — Fred falou, fazendo uma careta
inocente para ela — mas hoje eu preciso enalteceressa mulher.
Que me ama, me cuida e me entende. E dizer que sou muito
agradecido e aliviado por não termosdesistido do nosso amor,
quando pareceu mais fácil desistir
. Eu te amo muito, Mari. Quero
viver a vida toda com você.
— Poderia emendar um pedido de casamento — Jordana
provocou, do seu jeito doce e eu a olhei. Fred me puxou pela
cintura,deixando um beijo no meu rostoe eu virei, dando um em
sua boca.
— Eu te amo muito, também — sussurreie nos beijamos
suavemente outra vez.

Bebemos um pouco mais, conversamos amenidades com o


pessoal, nos divertimos. Fred reclamou da falta de efeito do
afrodisíaco e eu dei outro. Dessa vez, tomei mais um também.

Pouco tempo depois, começamos a ficar mais inquietos.


Sensíveis.Fred ficoumais grudado em mim, me fazendo carinhose
me dando um beijo no rosto,na boca, na curva do meu pescoço. A
mãe de Edu levou Helena, Jordana comemorou por sempre terum
suportee poder teruns descansos, momentos a sós com o noivo,
com os amigos, uma vez que ela não queria babá em tempo
integral.E a ajuda que ela fazia questão,era a de teralguém dando
conta de afazeresexternos,como mantertudo limpo, não dando
suporte emocional para a pequena. Isso quem faria eram eles.

Fomos para a área externa,colocamos música animada. Me


sentei na mesa de madeira e Fred ficou entre minhas pernas.
Passei meus braços em volta do seu pescoço e o puxei para um
beijo delicioso.

Nossos amigos reclamaram , deveríamosinteragirmais com


eles, mas o beijo estava tão sincronizado que eu não parei.
Tomamos cuidado apenas para não deixar as coisas esquentarem
demais. Demoramos no beijo, cheguei a arfarquando ele encerrou,
nossos lábios estalaram ao desgrudar e Fred deu um selinho
demorado, roçou nossos lábios e eu o olhei. O olhar dele ficoumeio
cerrado,a respiraçãoirregular e ele tiroua jaqueta, reclamou sentir
calor.

Comecei a rir
, porque meu namorado se sentou e colocou a
jaqueta sobre o colo. Fiquei com medo de, por causa do que
tomamos, ele três vezes ainda, não relaxasse e ficasse assim,
completamente duro até irmos embora.

Seus pais logo vieram nos acompanhar. Dançaram,


conversarame se divertiramcom a gente, até muito tar
de. Fomos
embora com o dia ameaçando clarear , Frederico nervoso, não
suportando mais esconder a ereção.

Ele gemeu aliviado ao entrarno carro.Peguei a chave da mão


dele e fui pelo lado do motorista.Quando entrei, ele já havia
desabotoadoa calça e a puxou para baixo, depois soltouo membro
excitado da cueca e acariciou a ponta, que soltou um liquido de
lubrificação.
— Você é muito safado— sussurrei,não conseguindo pararde
olhá-lo se tocando tão suavemente.
— To louco pra gozar — ele falou embriagado, acariciando a
cabeça do membro e tudo dentrode mim pareceu se comprimir .
Olhei ao redor
, os dois carros, de Edu e Ravi se foram, mas nós dois
ficamos — é sério, Mari...
— Então goza — falei, salivando e umedeci meus lábios. A
respiraçãoficoudescompassada — estoulouca pra ver você gozar
assim...
Fred deixou escapar um gemido e puxou a cueca para baixo,
junto com a calça. Queria chupá-lo, mas estavasendo excitantevê-
lo se tocarassim, tão desesperado de vontade que chegava a
investirpara cima. Eu levei uma mão para os testículos
e acariciei,
Fred afastou mais as pernas e eu desci a mão. Peguei seu olhar
firme no meu e acariciei mais atrás.
— Isso é bom... — ele falou, recostandomais no banco e
esfregou mais o membro ereto.
— Vamos terminar em casa — eu falei e ele fez um beiço.

Dirigi devagar até o prédio dele, que foi se tocandoo caminho


todo, sem pressa. Quando estacionei na garagem, olhei para ele,
que estremece u e olhei para baixo, no segundo seguinte o pau
começou a latejare esporra r intensamente.Fred deu um gemido
forte e puxou a camisa que usava para cima, se sujando todo.
— Segurei tanto pra nada — ele resmungou.
— Bom que na próxima demora mais — o provoquei, que
começou a limpar a bagunça com a jaqueta. Ele consertoua roupa
e descemos do carro.

Tirei todaa maquiagem, enquantoFred tomavabanho e depois


o encontreino chuveiro. Nos abraçamos e começamos um beijo
gostosoe longo. Ele deu um riso quando o pau cresceuentrenós
dois.
— Ele se recupera rápido — ele falou, me fazendo rir .
Terminamos ali e fomospara a cama. Ele puxou a toalha de mim e
em um movimento práticoe habilidoso, já me manteve sob seus
comandos, prontopara me deixar louca de tesãopor quanto tempo
quisesse.

[...]

Acordamos bem tardeno dia seguinte, mas nós dois teríamos


o dia livre. Fui olhar a fotoque ele havia postado e senti angústia,
pena, preocupação ao ver que Bruna havia comentado. “Lindos,
sejam mto felizes!”
e alguns emojis batendo palmas. Mostreipara
Fred, que me olhou pesaroso. Meus olhos arderam, eu funguei,
sentindo tanto medo por ela.udo
T parecia amargar por dentro.

Fred respondeu ao comentário,agradecendo. Segui o perfil


dela, que logo retribuiue fui olhar. Havia as fotosdela na vida
milionária que sempre viveu, mas a última era dela no hospital,
fazendo um V com a mão e dizendo que estava confianteda sua
vitória. Estava muito magra, com acessos e roupa de hospital.

Me preocupei com Bruninho, também. Se eu me sentia dessa


maneira, ele, o filho dela, deveria estar em um pânico imensurável.
Fred tentou me tranquilizar, mas não adiantava. Nem ele
conseguia ficartranquilo.Todos nós só sossegaríamosrealmente
quando ela estivesse completamente curada.

No dia que Fred ia voltarpara São Paulo, surpreendentem


ente
Bruna pediu para ele me levar, disse que precisávamosconversar.
Ele reclamou com ela no telefone,disse que detestavaesse tom de
despedida e eu o encarei assustada.
— Então para de me assustar— ele reclamou — vou pedir
para ela ir, acho ótimo que acertemas coisas. Mas você vai ficar
boa, Bruna!
Continuei o encarando, prestandoatenção na conversa. Ele
maleou no tom, se desculpou com ela, mas disse que não aceitava
outra opção para ela que não a cura.
Tudo estalou, parecendo doer em mim, comecei a chorarem
desespero e Fred veio me abraçar . Não tive como negar o pedido
dela, iria me corroerde culpa de não fosse, e seria mesquinharia
pura. Era hora de deixarmosos nossos desentendimentospara trás.

Quando chegamos ao hospital, Bruninho veio me abraçar


também. Ele estava evidentementearrasado.Fisicamente estava
bem mais magro, a expressão triste,os olhos cansados. Não quis
soltá-lo do abraço, doía em mim ver todo mundo sofrendodessa
maneira. Não era justo.

Precisei colocar uma roupa esterilizadae máscara para entrar


no quarto,higienizei bem as mãos. Fred me levou atéa portae eu o
olhei assustada,mas chegou em um ponto que faríamostudo que
ela quisesse, era tão óbvio.

Bruna deu um sorrisotristea me ver e o enfermeirosaiu,


puxando a porta.Havia uma cadeira pertoda cama, provável que
alguém se sentasse nela para fazer companhia.
— Os médicos estão sendo cautelosos, pra eu não ficar
exposta a nenhuma eventual infecção— ela explicou o motivo da
roupa e máscaras — a vida dá muitas rasteiras na gente, não é?
— Você vai sair dessa, Bruna — eu falei, a voz travo
u um
pouco — e vai dar tudo certo.
— No começo, eu tinha certeza que sim — ela falou, o olhar
brilhou e eu me senti entrarem pânico — mas agora eles
descobrem muitas coisas que não deveriam estaraparecendo...
Enfim, não vou desistir
, mas às vezes eu aceito.
— Não faleassim, você temos melhoresmédicos e vai sempre
ter o melhor tratamento — eu falei e ela assentiu.
— Eu queria me desculpar com você... Por tudo, sabe? Hoje
tudo que Fred vem fazendo por mim me deixa culpada, por toda
implicância que fiz com vocês dois... Eu via a vida de outrojeito,
Marina... — ela falava baixo, o tom de voz era cansado e doía vê-la
assim — eu achava que podia tudo, que tinha que ser tudo do meu
jeito. Mas eu vejo hoje que nada está literalmentesob nosso
controle.Eu errei com vocês, reconheço isso. E nem assim fui
abandonada. Queria me desculpar
, me sentir em paz com vocês.
— Estátudobem — falei,dando um passo em sua direção,por
impulso — passou, nós já superamos isso.
Ela assentiu e engoliu pesado, parecia sentir incômodo e
passou a língua sobre os lábios pálidos.
— Mari... — ela voltou a dizer — se o pior acontecer
...
— Não fale assim... — a interrompi.
— Mas eu preciso ficartranquila.Se o pior acontecer
, por favor
,
cuida do meu filho — ela sussurroue eu comecei a chorar , era
inevitável, eu não conseguia controlar— eu sei que ele confia e
gostamuito de você. E ele precisade alguém para orientá-lo...Fred
é um bom homem, sei que ele tenta, mas é completamente
dependente de cuidados, também.
— Eu sei — sussurrei, fungando.
— E eu preciso saber que meu filho vai ser amado... Que a
mulher que o pai dele escolheu vai amá-lo como se fosse filho dela.
— Por favor , Bruna, você não vai morrer — eu falei
desesperada.
— Deus te ouça, mas chega um ponto desse tratam ento
maldito que a gente tem que lidar com todas as possibilidades — ela
falou cansada e eu solucei, a visão já estava embaçada pelo meu
descontrolecom as lágrimas— e eu não queria que ficassenenhum
mal entendido.
— Olha, você vai sair dessa. E nós duas vamos conviver
melhor... Você vai ver.
— É uma promessa, então — ela falou, piscando devagar —
no começo, achei que fariaa cirurgia,algumas sessões de quimio,
ou imunoterapia e estaria curada, pronta pra pensar na
reconstrução,
no tamanhodas próteses.Mas depois a gentevê que
não é como nos contos de fadas.
— Vai dar tudo certo— eu falei, tentandoparecerconvicta—
logo você vai estar recuperada.
— Você não me disse — ela falou e eu a olhei confusa— se
vai cuidar e amar meu filho como se fosse seu.
— Claro que vou — eu falei, voltando a chorar em desespero, a
minha vontade era de me curvar , me encolher e segurar essa dor
que eu não sabia mais dimensionar— eu sempredou o meu melhor
pra ele, nunca seria diferente.
— Obrigada — ela falou, puxando o ar com mais intensidade
— muito obrigada...
— Mas você vai estarlá, também — insisti e ela assentiu
devagar.

Olhei para a portae o médico dela entrou,acenando para mim.


Perguntoucomo ela se sentia,se desejaria mais morfinae ela nem
titubeou,não queria nem pensar em sentiraquelasdores. O doutor
pediu que eu me retirasse,era bom que Bruna usasse o restoda
tarde para descansar
.

Me agarrei em Fred quando o encontreina sala de espera,


chorei em desespero,um medo que poucas vezes eu sentina vida.
Falava coisas desconexas para ele, como ela falardaquelas dores
como algo comum. Como ela se prepararpara não resistir
. Era tão
ruim, tão ruim.

Depois desse dia, eu não quis ir embora para o Rio, sem o


Fred. Se para mim foidifícilvê-la daquela maneira, se eu preciseide
consolo, eu sabia que ele precisavatambém. Que não era fácilficar
sozinho.

Jordana não aprovou minha decisão, mas nos dias seguintes,


quando passei a visitá-la, nós duas pudemos conversarmais. Ela
me contou sobre o fracasso do casamento dela e de Fred, a sua luta
para não perder a imagem de relação perfeita,que nunca foi. A dor
da separação foi mais no ego, nunca foi emocional. Falamos disso,
porque ela queria que eu entendesse que nós duas nunca
precisamos ser inimigas. Mas sabíamos também que nunca
teríamos
nos dado uma trégu
a se não fosseisso. E eu preferiaque
continuássemos em pé de guerra, que ela nunca tivesse adoecido.

No começo, Bruna quem me consolava, no quartode hospital.


Mas não era justo, até ontem nos detestávamose agora ela teria
que me acalentarsendo que quem estava precisando de consolo
era ela?

Fiquei duas semanas com eles em São Paulo, mas precisei


voltarpara o Rio. Esbarreicom Luísano shopping, quando fui com
Jordana comprarcalças jeans para ela. Ela provocousobreeu forjar
amizade com Bruna, mas eu retruqueiimpiedosa que falsaera ela,
que sequer se deu o trabalh o de visitara amiga. Eu não estava lá
sendo falsa, fui porque era a coisa certaa ser feita,porque ela
estava frágil, vulnerável e qualquer segurança que pudesse ter
agora, faríamos o possível para dar a ela.

Se ela queria uma tréguacomigo, ela teria.Se ela queria uma


amiga nesse momento, ela teria.Se ela queria promessassobre eu
cuidar do filho dela como se fossemeu, ela também teria.Todos ao
seu redor estavam fazendo de tudo para aliviar o estressee as
dores do tratamento. Enquanto ela, não. Ela sequer enviava uma
mensagem se mostrandopreocupada. Só foi melhor amiga quando
conveio para ela. Quando Bruna realmente precisou, ela sumiu.

Infelizmentealguém notou nossa mini discussão e filmou tudo.


Pela primeiravez, eu me vi refém de uma polêmica. Mas não era a
vilã. Jordana se chocou em como os perfisde fofocadescobriam
tudo. Logo passaram a matériacompleta para os fofoqueirosde
plantão.
— Luísa de novo sendo cancelada por ser má — Jordana
falou, lendo comentários— apostoque você vai ganhar milhares de
seguidores e ela vai perder
.
— Isso não importa agora — eu falei, suspirando cansada.
— Gostei do que você disse, ela mereceu ouvir — minha amiga
falou e eu olhei para qualquer lugar, vagamente — Mari — ela
chamou e eu a olhei — já parou pra pensar se ela não resistir?
— Me dá pânico — eu sussurrei— se é tão difícillidar, sendo
alguém distante...— minha voz embargou — eu não sei como
Bruninho, Fred, a mãe dela estãosuportando...Ela estádefinhando
naquela cama de hospital,Dana... — uma lágrima teimosaescorreu
e eu limpei rapidamente— ela tentase manterfirme,não desistirdo
tratamento porque isso acabaria com todos nós. Mas os médicos
não estão mais tão confiantes quanto no começo.
— Sinto muito — Jordana falou, sentida.

Ela me ajudou a fotografar


alguns looks de uma loja, sempre
comemorando como minha vida mudou para melhor. Eu estava
odiando ficarsozinha. Mesmo que eu quisesse muito, nesse exato
momentoda vida, não estavasendo incrível.Ter o meu espaço, não
viver em meio a conflitosfamiliares era bom. Até me dei o luxo de
falar com meu pai por telefone, um dia desses. E apenas
conversamos amenidades.
Tereza enviava uma mensagem ou outrapelo instagram,que
eu respondia educada. Mas minha mãe, nada.
Fred veio para o Rio e ficamos no meu apartamento . Ele
estavaexausto,chorava, como se não aguentassemais segurar
.E
eu sabia o quanto estava sendo forte para seu filho lá.
— Quando isso tudo passar, vou fazerum projetoe cuidar de
tudo aqui — ele falou e eu assenti, acariciando seu rosto.
— Não temos pressa — falei baixinho — como ela está? —
pergunteie ele fez uma caretade dor, negando com a cabeça e
afundou o rosto em meu pescoço, me apertando mais no abraço.
— O que mais me dói, é que só nos entendemosagora — ele
soluçou — poderíamos ter sido mais maduros. Eu e ela.
Poderíamos ter entendido tudo antes, nos tornado amigos, antes.
— Não se martiriza,Fred — eu falei — vocês dois se
entenderam, fizeram as pazes, se desculparam. E ficou tudo bem.
— Me sinto tão incapaz — ele falou com a voz abafada pelo
choro — tão minúsculo e em pânico...
— O que os médicos dizem? — perguntei,mas não queria
ouvir a resposta.Fred não respondeu, mas choroucheio de dor, não
era um bom sinal. Ele chorou até que dormiu. Não saí de perto.

A mãe de Bruna me agradeceu por tercolocado Luísaem seu


devido lugar, e disse que ela mereceu ter sido exposta.
Voltei com Fred para São Paulo, um pedido de Bruna. Ela disse
que era bom que eu distraísse
Bruninho, o pequeno estavasofrendo
tanto.Ainda conversei com ela pela tarde, estava tão cansada,
sempre refém de medicamentos para conteras dores. Falamos
sobre amenidades, ela não queria se tornarum peso para ninguém
e eu cortei isso na hora, garanti que não era. Que todos nós
queríamosvê-la bem. Ela perguntouentão sobre a minha carreira,
como foi cair de paraquedas nesse mundo digital. Fui contando,
tentandodistraí-la.Logo Bruninho entroue ficou falando que os
professores o ajudariam a não repetir o ano.
— Quero ver só nota boa, hein — ela falou para o filho, que
estava em pé ao lado da cadeira que eu estava sentada e passou
um braço em tornodos meus ombros. Bruna olhou para nós dois e
deu um sorriso sereno e fraco, que eu sinceramente não gostei.

A sensação que eu tinha, era que quando ela se deparou com


a doença agravando ao invés de regredir
, foi se preparando para
tudo. Se libertando de qualquer sentimento negativo. Quis se
resolver com as pessoas que importavam agora. Eu e Fred,
principalmente. Porque se acontecesse o pior, nós dois quem
cuidaríamos de seu filho.

A mãe dela tinha razão, quando disse para Fred que ela sairia
dessa uma pessoa melhor. Por isso, eu disse a ele, que ela merecia
a cura. Era como se ela estivesse passando por uma provação, e
aprendido tudo. E ensinado muito também. Sobre pessoas
mudarem, se entenderem, se perdoarem e se darem segundas
chances.
C 28
Frederico Toledo

Era uma quarta-feiracinzenta de setembro,o tempo em São


Paulo nunca era dos melhores. Bruna havia tidouma hemorragiana
noite passada e precisou ser entubada, para passar por uma
cirurgia. Eu e Bruninho estávamos em um corredorqualquer do
hospital, sentados no chão e em pânico. Minha ex-sogra quem
conseguia segurara barrapor nós. Parecia conformada.E isso me
deixava furioso. Não poderíamos nos entregar
, nos conformar
.

Marina chegou no hospital e conseguiu fazerBruninho comer


alguma coisa, mas estava difícilfazê-lo se alimentar direito. Ele
estava quebrado emocionalmente.

Quando os médicos deram o caso como irreversível,eu só


sabia chorar
. Horas depois Jordana chegou com Eduardo, minha
mãe, meu pai, o pai de Bruna e tia Nora. Jordana também chorava,
como se estivesse revivendo o que passou com o pai, soube que o
perdeu para essa doença desgraçada também.

Meu filho estavaem choque, sem reação.Como se não tivesse


entendido muito bem o que queria dizer quadro irreversível.Eu
apertava Marina no abraço, tremia inteiro, em pânico. Era
definitivamente o pior momento de toda a minha vida.
Perguntasrodavam minha cabeça, por que com ela? Por que
tão rápido? A dor me dominava, se tornando física.O doutor
perguntouse não queríamosvê-la, e eu não sabia se aguentaria.
Mas Marina retrucoulogo, eu iria me arrependerse não fosse.Tânia
entrelaçounossas mãos, do outrolado segurou a do meu filho, que
não esboçava reação nenhuma. Estava em choque, era tão claro.

Ficamos horas ali, Bruna estavacansada, debilitada demais. A


doença se espalhou mais rápido do que os médicos esperavam, foi
muito agressiva e ela não respondeu a nenhum dos tratamentos.
Insistir agora, seria apenas fazê-la sofrer ainda mais.

Ela deu algumas instruçõespara nosso filho, ordens para mim,


como pai. Me deixava em desespero. E pedia para que eu não
chorasse.Eu não conseguia. Ela falou que nós dois falhamoscomo
casal, porque nunca deveríam
os tersido um. Funcionamos tão bem
como amigos nesses últimos meses, que foi uma pena termos
perdido tantos anos em pé de guerra.
— Mas pelo menos fizemos o Bruninho — eu falei, soluçando
— valeu a pena.
— Valeu, sim — ela falou devagarinho — não fica assim,
Fred... Por incrível que pareça, eu estou em paz.
— Não é justo, Bruna, não é justo — eu falei indignado.
Ficamos muito tempo com ela ali, uma enfermeiravinha sempre
para monitorar a dose da morfina.

Passamos a noite no hospital. Bruna conseguiu dormir


, meu
filhotambém. Ficou com ela no quarto,com ela e a avó. Eu fiqueina
sala de espera, com Marina. Não dormimos, eu não consegui. Mari
ainda deitou a cabeça no meu colo e cochilou um pouco.

Foram dias tortuosos,dilacerantes, amargos, intensivos. O


tempo cinzento combinava com nosso sentimento de perda, de luto.

Na sexta-feira,
quase nove horas da manhã, ela se foi. Eu não
estava no quarto, não conseguiria. Meu filho ficou com ela,
segurando sua mão e rezando até o fim. Preciseido colo de minha
mãe, que me abraçava apertado,tentandome dar um pouco de
conforto.
Bruninho parecia terentendidotudoisso melhor do que eu, era
bizarro. Ele saiu do quarto meio desnorteado,mas não chorou.
Estava com o olhar vago, disse estarmuito triste.Mas a mãe dele
vinha explicando que insistirno tratamentoestava sendo muito
doloroso, e não estava resolvendo. Se estivesse,se ela estivesse
melhorando, lutaria até o fim.

O pai dela cuidou de toda a papelada, tudo que precisar


ia ser
resolvido, a transferênciado corpo para o Rio. Eu tomei alguns
calmantes,não soube lidar com tudo que estavaacontecendo.Mari
ficou comigo o tempo todo, estava muito sentida também.

Luísaapareceu no velório, mas sequer olhei na cara dela. Era


muito cinismo vir, depois de terignorado Bruna por todos esses
meses. Bruninho chorou ao ver a mãe ali, ao se dar conta de
aconteceu mesmo, de que nós a perdemos.
Eu não sabia como lidaríamoscom tudo isso de agora para
frente,estava doendo demais. Bruninho quis ir para o apartamento
em que morava com a mãe. Eu e Mari o levamos lá. Ele olhou as
coisas todas,as fotosdeles dois na sala, foiatéo quartodela, olhou
o closet. T
anta coisa que ficaria aí.
— O que vamos fazercom tudo isso? — meu filhoperguntoue
eu embarguei, voltariaa chorarno momento em que dissesse uma
palavra.
— Acho que a sua avó vai saber o que fazer— Mari respondeu
— você quer ficar aqui?
— Não... não adianta nada — ele falou confusoe suspirou —
vou pegar algo de lembrança, só. Aquele colar dela com uma fotinho
nossa, vou procurar.
— Quer que eu te ajude? — Mari perguntou.
— Não precisa,podem me esperaraqui — ele falou, indo pelo
corredore eu me sentei,escondi os olhos com uma mão e desateia
chorar.
— Não fica assim, Fred — Mari falou condolente — ela já
estava sofrendo muito, descansou...
— Era pra ela termelhorado — eu solucei, inconformado—
meu filho não merecia perdê-la.
— Ele vai guardarsó boas lembrançasda mãe, vai entendere
aceitar
. Você precisa ficar bem também.
— Dá raiva, sabe? — eu funguei — a pessoa tem um
diagnosticohorrível,se enche de esperança,começa um tratamento
achando que vai se curar e acontece isso...
— É injusto — ela concordou — mas agora você precisa ser
forte, sabe?
— Eu sei...
— Eu vou estaraqui pra você, você sabe — ela falou e eu
assenti, me agarrando nela — vai ficartudo bem — ela falou,
afagando meu cabelo e deu um beijo na minha testa.

Bruninho pegou o colar que queria e os álbuns de fotocom as


últimasviagens dele com a mãe. Ficamos sentadosvendo algumas.
Ele não resistiu,pegou o álbum de casamento e mostroupara
Marina, que não sentia ciúme, não havia nem motivo. Contou para
ela a versão que sua avó Tânia contou, de que eu fui forçado,só
porque nós o teríamos.Comecei a rir disso, casei literalmente
forçadoe Bruna pouco se importou.Falei diversas vezes na cara
dela que não queria casar e ela fazia pouco caso, me irritava
profundamente.

Mari começou a rir


, porque em uma das fotos,Bruna desenhou
chifres em mim e escreveu em um balão desenhado por ela
também:corno. Dei um riso e neguei com a cabeça, éramos tão
infantis.
Bruninho pegou o diploma da mãe também, emoldurado no
escritório.
Bruna se formouem biomedicina, quis se especializarem
estética, mas preferiu a vida de madame e deixou pra lá.

Ficamos algum tempo ali, como se reviverlembrançase tiraro


peso dos meus desentendimentoscom ela, fosseamenizar alguma
coisa.
Fomos embora e pedimos comida japonesa para o jantar .
Bruninho colocou o escapuláriocom o pingentecom a fotodele e da
mãe no pescoço, disse que iria usar pra sempre.

Mari pensou que seria melhor ir embora, mas meu filho insistiu
para ela ficar
.
— Você não vai ficar com meu pai? — ele perguntou,
segurando uma mão dela, que encarou e balançou a cabeça —
então fica, a gente precisa de você.
Ela olhou para mim, como se não soubesse o que fazer .
Havíamos prometido para Bruna que cuidaríamos de Bruninho
juntos,que faríamos o melhor para ele. Que Mari cuidariadele como
se fossefilho dela. O que foi bizarro,Marina nem queria ser mãe.
Mas acatou o pedido e prometeu dar o seu melhor .

Quando fomosdormir , Bruninho não queria ficarsozinho, então


fomos todos para meu quarto.A cama era enorme, tinha espaço
para nós três.E assim dormimos por semanas, até meu filho se
sentirseguro para ficarsozinho. Eu entendia a necessidade de
companhia, de se sentir acolhido.

O tempo foi amenizando a dor da perda, fomos aprendendo a


lembrarcom saudade, guardar só a parteboa e esquecer toda a
guerra que travamos. Volta e meia eu olhava uma foto dela,
desacreditado, havia acontecido essa tragédia mesmo...
C 29
Marina Marques

No natal, eu e Bruninho saímos para comprarpresentes.A lista


era enorme. Jordana nos encontrouno shopping, juntocom Helena.
Compramosalgumas coisas e paramospara comer, depois levamos
a pequena para brincarnuma piscina de bolinhas e o Bruno entrou
com ela, para segurá-la lá dentro.
— Eu amo esses programasde mãe — Jordana falou para me
provocare eu dei um sorrisocansado — fugiu tantoda função que
caiu de paraquedas nela, não foi?
— Foi... Mas eu amo o garoto,não tem sido uma missão difícil
— contei e ela me olhou, sorrindo como se já soubesse.
— Eu tinha certeza que você seria incrível. Já pensou em como
seria ter um? Aproveitar a magia da gravidez, cada descoberta...
— Mas não por agora — falei vagamente, fazendo Jordana
vibrar
. É que passar mais tempo com Fred e Bruninho e assumir a
funçãode ajudar a criá-lo,dar amor, suporte,conselhos, acolher, me
fazia sentircapaz. Mas não pensava nisso agora. Não havíamos
superado a perda completamente, ainda doía. Era duro lidar, não
seria rápido. Tentávamosseguir em frente,porque a vida precisava
continuar.

Outrodia Bruninho comentouvagamente se por um acaso ele


não teriaum irmão ou irmã. Fred nem respondeu, ficou olhando
para mim presunçosamentee eu dei de ombros, incapaz de negar.
Depois, conversamos sobre, só nós dois. Mas ele entendia que
nesse momento, onde eu trabalhava muito, não daria tempo.

Outro dia minha mãe ligou, para ele, reclamando que eu


esqueci que tinha família.Nos chamou para jantar
, mas eu neguei.
Falei que cederia no natale não queria sermal interpretad
a, mas só
eu sabia o que havia sentidocom tudo que passei nas desavenças
gratuitascom ela. Não queria dar espaço para que isso voltassea
acontecer .

Fred entãoprometeuque almoçaríamoscom eles no feriadode


Natal. E eu agradeci por ele não me forçar
. No entanto,ele notava
uma imensa diferençaem mim, depois que saí de casa, que me
afastei,que as brigas acabaram. Eu era mais segura, não tinha
medo de tomardecisões e muito provavelmentenão fugiriade um
pedido importante só por medo de dar tudo errado.

Bruno voltou com a Helena no colo, a pequena toda


descabelada e Jordana arrumou. Voltamos para a missão das
comprase nós dois escolhemos um relógio para Fred. Com o cartão
dele. Eu andava ganhando um bom dinheiro, mas não ao ponto de
milhares de reais em um relógio.
— Eu adoro o conceitotambém — Jordana provocou— de dar
presentescaríssimos para Edu com o dinheiro dele — ela falou e
começamos a rir— porque as coisas materiaisque ele consome,
não cabem no meu orçamento.
— Aí você se dá de presente— eu falei baixinho e ela riu,
assentindo.
— Ele ficariamuito feliz se eu anunciasse que estou grávida,
isso dinheiro nenhum pagaria.
— Está? — cresci os olhos e olhei para sua barriga.
— Não... — ela riu irreverente— daqui a uns dois anos, quem
sabe... Helena já vai estarmaiorzinha, entendendo tudo, vai estar
menos dependente. E poderíamos planejar juntas.
— Jordana — eu resmunguei e ela riu.
— Tenho dois anos pra te convencer — ela falou petulante e
apressou o passo, alcançando os outros dois mais à frente.

À noite, ajudei Bruninho a escolher o que vestir . Acabou


decidindo por uma camisa social branca, calça jeans e colocou um
blazer.
— Um mine seu pai! — falei incrédula e ele riu. Fred entr
ou no
quartodo filho, vestido quase igual, se não fosse pela blusa de
malha preta que usava por baixo do blazer azul marinho.
— Eu ficariamuitobrava de fazer um filhoe ele serigual ao pai
— eu falei para o Fred, que deu um sorrisopresunçosoe veio até
mim, segurando meu rosto para selar nossos lábios.
— Preferemenino ou menina? — meu namorado perguntoue
Bruninho olhou para trás.
— Eu queria um menino e uma menina — meu enteado
replicou.
— Ai, vocês dois — eu reclamei, me levantando — vou
terminar de me arrumar
.

Coloquei um vestidomidi um pouco rodado, com uma alça só e


uma sandália dourada de saltos finos. Coloquei um cinto para
marcara cinturae os cabelos deixei soltos,bem lisos, escovados. A
maquiagem não era forte, apenas um delineado e gloss.

Coloquei as bebidas erótic


as para mim e Fred na bolsa,
estávamos ficando viciados em usar brinquedinhos que
aprimoravam nossa noite. Trocamos os presentes ainda no
apartamentodele, depois pegamos os presentesdos demais e
saímos.

Na mansão dos pais de Edu, Bruninho desceu do carroquando


Fred estacionou e correu animado para encontrar os familiares. Fred
me puxou pela mão, pareciaapreensivoe me mostroua caixinha de
veludo. Pela primeira vez, encarei ansiosa, feliz ao ver o anel, o
mais lindo de todas as vezes. Ele riu quando comentei isso, mas
quando eu ia tocar a joia, ele fechou.
— Hum? — perguntei confusa.
— Você vai aceitar?— ele perguntoue eu franzio cenho —
quero te pedir em casamentoestanoite, mas só vou fazerse você
não for sair correndo ou forjar um desmaio.
— Vou contaresse como o pedido oficial — eu o provoquei,
que piscou impacientee eu sorri,me aproximando e beijei sua boca
— eu quero, Fred.
Ele deu um sorrisomaroto,guardou a caixinha no bolso do
blazer e passou um braçoem voltado meu corpo,me puxando para
o seu e beijou meus lábios outra vez.

Fred estava feliz esta noite. Como eu não via há semanas. E


isso enchia meu coraçãode alívio, de sentimentosbons. Eu estava
no sofá com as mulheres da família, conversávamos sobre
bobagens, coisas amenas. Bruninho brincava com Helena,
controlandoo Audi dela, que adorava, erguia os bracinhos e o
chamava de “Muno”.

Olhei para trás, vendo Fred e os outros homens em uma


conversa deles, bebendo. Ele me notou e trocamosum sorriso
cúmplice. Nunca havia me sentido tão preparada para planejar
passar o resto da vida ao lado dele.
Quando avisaram que o jantarseria servido, Fred pediu um
momento e eu o olhei, achei que ficarianervosa, mas quando ele
veio até mim, e olhou para todos ao nosso redor
, eu senticomo se
fosse a coisa certa.
— Eu queria dizer algumas coisas — ele falou e eu o encarei.
— Ela vai desmaiar — Chiara provocou, me fazendo .rir
— Como vocês já sabem, eu amo essa mulher — Fred
começou, engraçadocomo era sempre— e que eu venho querendo
algo há muitotempo.Só queria dizer que há muitotempoeu sei que
to te amando, que confio muito em quem estou amando.
— E é tão doce confiarem quem se ama — Jordana falou e
Fred olhou para ela, sorrindo acolhedor
.
— O nosso encontro nos deu chance de contar qualquer
segredo, daqueles que poucos entenderiam. A nossa confiança,
nossa cumplicidade, tudo que lutamos para manter porque nos
amamos tanto,hoje nos permitesentimentostão felizes,e eu tenho
muita sorte por ter você.
— E eu te amo — sussurrei,me sentindo tomada por uma
imensidão de sentimentosbons e seguros.Sorripara ele, que sabia
que eu não era nada chegada em cenas completamenteclichês,
mas ele se ajoelhou para fazer o pedido.
— Quer casar comigo?
— Quero — sussurreirapidamentee ouvi o suspiroaudível da
mãe dele, aliviada. Quando a olhei, ela levou até a mão ao peito.
Fred colocou o anel em mim e se levantou. Nos aplaudiram quando
nos beijamos e eu o olhei. Literalmentedei para ele tudo o que ele
queria, mas o mais importante era que eu estava feliz com isso.

Chiara comentou que toda mocinha independente pode


apreciarum pouquinho do conto de fadas,mas eu não achava isso.
Eu seria feliz e completa com ele, mesmo sem um pedido fofoe
clichê. O ponto era que eleera assim, queria viver isso. E por amá-
lo, eu poderia ceder. E sabendo ceder um para o outroque iríamos
longe, que evitaríamosconflitose crises. Entendemos que não
poderíamosforçaro outroa fazernossa vontade, que a felicidade
era um conjunto de nós dois e não apenas as exigências de um
lado, e assim trilhamosum caminho mais sólido para nossa relação.

[...]

Eu sentia lá no fundo que não deveria terdeixado Fred aceitar


o convite para o almoço de Natal. E, dessa vez, ele quis levar o
Bruninho para conhecer a minha família. O pequeno estava
animado e ansioso, fez até Fred passarpara compraruns bombons
para dar de presente.
O coraçãofoificandoaceleradoquando fomoschegando perto,
mas tenteirelaxar
. Eu não poderia me afetar
. Ela convidou, ele quis
aceitare tudo bem. Seriam só algumas horas e depois voltaríamos
para nossa nova vida real.

Minha mãe recebeu Fred animada, o abraçando e desejando


Feliz Natal. Tereza e Lucas estavam aí e eu acenei para eles
superficialmente,enquantoFred apresentavaseu filhopara os meus
pais. O sorrisoda minha mãe quase se desfez ao olhar para mim,
mas ela se conteve.
— Engordou, Mari — ela falou e eu olhei para mim mesma, não
achava. Pelo contrário,eu passava a maior partedos meus dias em
uma dieta mais saudável e andava praticando mais exercícios.
— Deve ser impressão — eu falei confusa,mas deixei pra lá.
Havia um novo integrantena família,um pinscherfilhote,que Tereza
ganhou de presentedo namorado. Bruninho contou logo que tinha
três,mas que estavammorando na casa da sua avó agora. Mas já
que os planos era morarmostodosjuntos,o pai dele construiriaum
apartamentomaior, ou uma casa, ele contou animado, e nós
levaríamos os bebês.
— Vão morar todos juntos? — minha mãe perguntou,
passeando o olhar por nós dois.
— Papai pediu a Mari em casamento — meu enteado contou
animado — ontem!
— Nossa — meu pai falou completamente surpreso —
parabéns.
O clima não era nada ameno, pelo menos não para mim. Fred
contou mais ou menos nossos próximos planos e ficou interagindo
com eles. Eu, só sentei ao seu lado e fiquei quieta.

“Eu acho que só deixei Fred aceitaressa merda pra mostrar


que eu me dei bem” — eu enviei para Jordana, que enviou emojis
rindo e concordou.

“Você tinha esse direito” — ela respondeu.

“To me sentindo péssima. O gosto da vingança é azedo”.

“Mas você não está se vingando, Mari... Aproveitao momento


e relaxa” — foi o que eu tentei fazer
. Fred havia trazido um
espumante caro e abrimos antes do almoço ser servido. Tudo
pareceu correr bem. Bruninho, na sua pura inocência, comentou que
sim, queria um irmão e minha mãe faloupara ele que eu nunca quis
ser mãe, falou curta e grossa, depois tentou remediar
.

Eu e Fred nos olhamos e eu não retruquei.Depois da


sobremesa ser servida, que eu recusei porque não estava com
vontadede comerdoce, minha mãe começou a perguntarsobrenós
dois. Fred quem respondia,animado com essa nossa faseenquanto
casal. Que tudo se completava ainda mais porque eu amava seu
filho.
— Mari gostando de criança é novidade para mim — minha
mãe negou com a cabeça, sorrindofraco— mas ainda bem que
eles se gostam, seria muito difícilficarcom alguém que não se dá
com a criança.
Fred concordou, sempre levando numa boa o que eu levava
como implicância gratuita.

Quando meu pai, Fred, Lucas e Bruninho foramjogar dominó,


Tereza desceu para pegar algo com uma amiga e eu fui ajudar a
arrumara cozinha, lavar a louça do almoço. Era o mínimo a ser
feito.Eu já estava terminandode enxaguar os últimos pratos,que
minha mãe ia secando quando ela soltou um riso e começou a dizer:
— Apostoque comemoroua morteda outra— ela falouem um
tomprovocativo,me fazendotremerpor dentro— único jeitode ficar
com ele foi esse, não é? Senão eu duvido que fosse te querer
.
O pratocaiu da minha mão, porque dizer isso ultrapassoua
desumanidade. Só nós sabíamos a dor da perda e o quanto
queríamosque Bruna tivesse sobrevivido, se curado. Eu a olhei,
sem conseguir dizer nada.
— É muita faltade respeitoa senhora dizer uma coisa dessas
— Fred faloue eu me virei, estremecendo,quase desabando — nós
torcemosmuitopra Bruna sobreviver , ficamosao lado dela, inclusive
Marina.
— Me desculpe, Fred. Marina me provocou e eu me expressei
errado — minha mãe falou para ele, franzindoo cenho e tentou
sorrir
. Ele suspirou pesado e perguntouse eu já tinha terminado,
porque precisava levar o filho na casa da avó materna.Ele queria
vê-los para entregar os presentes.
Deixei tudo ali sem terminar
, nervosa demais para reagirsem
instalaro caos. Foi como revivertodo aquele pânico de quando foi
decretadoo estado terminale tudo aconteceutão rápido, devastou
todos nós.

Bruninho perguntouporque eu tremiatanto,mas Fred inventou


uma desculpa, disse que eu quebrei uma louça cara e a minha mãe
ficou muito brava.
— A gente compra outrapra ela — ele falou o óbvio e eu sorri
fraco, concordando. Fred entrelaçou nossas mãos e beijou as
costas da minha, nos olhamos por um segundo e trocamosum
sorriso triste, embora cúmplice.

Tânia veio encontraro neto e nos desejou boas festasde fim


de ano. Depois disse que se Bruninho não quisesse ficarpara
dormir
, ela o levaria mais tarde.
— Vou deixar os dois pombinhos aproveitaremuma noite sem
mim — ele falou, fazendo um gestode beijos com as duas mãos e
eu fiz uma careta para ele.
— Sabe que você nunca atrapalhaa gente — eu falei, fingindo
estar brava — fico até com saudade quando você não está lá.
— Eu não fico não — Fred falou irreverente,
porque como na
maioria das noites Bruno queria dormir conosco na cama, ele
aproveitavanossos momentos a sós, e o filhodeu línguapara ele —
to brincando, filho. Qualquer coisa, é só me ligar
.

Toda vez que víamosa mãe de Bruna, a sensação de dor e de


perda voltava, as coisas deveriam estarsendo de outramaneira.
Era para ela estaraí, comemorando vitóriasdo tratamento,
fazendo
Fred pagar a cirurgiade reconstruçãosó por implicância, já que
dinheiro nunca foi problema para eles.
Mas eu precisavaempurraresse sentimentode dor para longe.

Como estávamos sozinhos, achei que Fred iria querer


aproveitaro tempo transando.Agora que tínhamosuma rotinade
casal com filho, mesmo desejando tanto,a vida sexual dava uma
diminuída no ritmo. Na intensidade, não. Continuava incrível.

Mas ele sentou comigo no sofá, nos serviu um vinho caro,


desses que ele adorava e disse que estava prontopara me ouvir.
Fiquei o encarando por longos minutos, bebi dois goles do meu
vinho, não querendo dizer nada. Achava que já tinha dito o
suficiente, o que precisava ser dito.

Entendi que eu também não queria condenar minha mãe,


expor cruamentetudo o que passamos ao longo da vida, do meu
ponto de vista,seria fazerisso, colocá-la no seu lugar de vilã. E eu
não queria fazer isso.

Talvez porque filhostenhammuitadificuldadede tirara mãe do


pedestal de mãe. E eu também tinha, embora nunca pudesse me
ajoelhar sob ela e pedir amor
, acolhimento e conselhos.

Eu não sabia o que dizer e ele perguntouquando eu notei que


não nos dávamos bem. Neguei com a cabeça, porque eu não sabia.
Desde sempre. As minhas lembranças da infância não eram nada
amorosas. Não que eu tivesse sofridomaus tratos,não era isso.
Não me faltounada ao longo da vida, falando de coisas materiais.
Mas nunca fui amada como uma filha deles, nunca fui parteda
família. E não tinha um motivo para isso.

Eu já tinha tentado quebrar isso, já tentei ajudando


financeiramente,não uma ajuda que mudaria a vida deles, mas
querendo que vissem que eu poderia fazeralgo por eles, que eu
queria colaborar
. Já tenteiconversarsobre amenidades, mas era
sempre ignorada. Me sentia desprezada.

A sortefoi nunca terrealmenteme abalado ou sucumbido a


isso. Sempre tive boas amizades, uma vida social ativa, me divertia
e não ficava por aí me lamentando.
Mas Fred não queria a minha explicação, que eu tirasseculpa
de ninguém. Ele queria saber tudo. Queria me despir a alma para
encerrarmosesse assunto com uma chave que jogaríamosfora,
talvez.

Mesmo com medo, contei para ele minhas maiores tragédias,


esperandoolharesde julgamentosque não vieram. A verdade é que
eu acostumei ser a culpada, então externarera esperarque me
apontassem onde eu errei para tudo isso ter acontecido.

Mas eu não tinha culpa.

Me senti minúscula, como a garotinha que precisava de


cuidados que eu nunca quis ser. Fred nem soube o que dizer,
apenas disse que estava do meu lado, que nunca sairia do meu
lado.

Mais tarde, minha mãe se desculpou com ele de novo,


acostumada a levar todos para o time dela e me deixar sempre
sozinha. Não deu certo,dessa vez. Fred era meu time, éramos
parceirosde vida, ele não poderia jogar contramim, se quisesse
ficar comigo.
— Você é uma pessoa boa e valiosa — ele falou, depois de
decidir não responderà mensagem e eu o olhei, querendo chorar
,
mas não queria perder tempo com lamúrias e reclamações.

Trocamosvárias declaraçõese logo fomospara a cama. Vimos


um filme juntinhos, bebemos um vinho gostoso e depois, pura e
simplesmente, quando um beijo suave se tornoumais profundoe
demorado, fomos tirandotoda a roupa, explorando nossos corpos
porque sabíamos exatamentecomo nos levar ao limite de todo
prazer
.

[...]

No ano novo, como se nada tivesseacontecido,ela ligou para


Fred de novo, querendo saber dos nossos planos e se não
queríamos marcar uma viagem em família. Ele, educadamente
recusou. Disse que nós já não estávamos no Rio.

Eu ainda me culpava, uma porcentagempequena que vivia


abafada sonhava com uma famíliaamorosa. Na última sessão de
terapia,entendi que se eu quisesse uma famíliaamorosa, unida,
parceira, eu teria que construir a minha. Do zero. Daqui pra frente.

Não precisava, e nem deveria travaruma guerracom ela ou


confrontá-la.
Atéporque, ela não faziaa menor questãode me dizer
um Oi. Falava om Fred, sabe Deus por que. Mas manterdistância
era a minha única opção. Não havia outra,não havia um botão que
eu pudesse apertar para fazer com que ela me amasse
genuinamente, me tratassebem, não me insultassee humilhasse
tanto.Não tinha como eu mudar isso. A única coisa que eu poderia
fazer por mim, era focar em mim, não nela, e me afastar
.

Poderia apostar que a convivência deles trêsdentrode casa


ficou infinitamente melhor sem mim por perto.

Talvez, ela não gostassedo fatode eu termudado de vida, ter


construídouma carreiraque se tornavacada vez mais sólida, ter
conseguido um parceiroque me apoiava em tudo. Eu tive mesmo
muitasorte,como se o destinoestivesseme compensando por toda
falta emocional que tive a vida inteira.

Soube pela avó de Jordana que ela ficava convencida pelo


meu sucesso repentino, que eu nem via dessa maneira, sendo
muito sincera, eu via como meu emprego.

Antesde pegarmosestrada,passamos para visitaro túmulode


Bruna. Meu enteado quem pediu, queria rezarpela mãe e apenas
concordamos. Passaríamosa virada do ano em Arraialdo Cabo,
alguns amigos de Bruninho iriam para lá e ele escolheu o destino.
Depois iriamos para Angra, encontrar a família.

O ventoda estrada bagunçava o cabelo dele, que cantavauma


música com o filho, os dois desafinados e gritantes,mas era o
melhor som do mundo, porque nos transmitia felicidade.

O amor
É como um pedacinho de céu
Sou todo love love
São lábios de mel a esconder você
Onde é que foi parar?
Por que será?
Amor é onde eu queria estar com você
E amar, espalha a brisa em alto mar

Quis poder gritaro quantoeu o amava. Eu semprevia pessoas


por aí querendo gritaro que sentiam, por ser grande demais e
achava uma bizarrice.Até sentirigual. Eu sempre tive certezade
amá-lo, nunca duvidei. Mas no mais íntimo comigo mesma,
duvidava muito de que fossemos conseguir ficar juntos.

E conseguimos.

Porque amor sempre dá certo.Quando a gente vibra coisas


boas, fazemos a nossa parte,tudo volta pro lugar certo,tudo se
esclarece.
Claro, acontecemcoisas que não queríamos,que preferíamos
de outraforma,mas não cabia a nós explicar os planos de Deus
para nossas vidas.

Aos pouquinhos, eu e Fred voltávamos ao astral que


adorávamos, a ser o casal que mais se diverte,que se devora, que
tiraa roupa sem medo, que tem uma intimidade de dar inveja, que
se resolve sempre. Que faz o melhor sexo do mundo inteiro,que
ama isso. Alguns até nos julgam por falartão abertamentesobre
sexo, mas não estávamosnem aí. Vivíamos a nossa felicidade do
nosso jeito. Agora, perfeitamente sincronizados.

Eu sem medo dele e ele, sem me pressionar


.

Os planos eram nossos, as decisões eram nossas. Sabíamos


que sempre chegaríamosem um consenso e não precisávamos
criar atrito por nada disso.

Como quando ele quis casar e eu não estava pronta , ele


deveria ter esperado. Porque se tivesse esperado, teria feito o
pedido apenas uma vez. Quando não estivéssemos no mesmo
ritmo,um dos dois precisariadesacelerare esperarpelo outro,não
apressar.

Como ele disse outravez, estávamos nos tornandoum amar


leve, duas pessoas resignadas a passar o resto da vida
completamente entregues, desnorteados de felicidade.
C 30
Frederico Toledo

Chegamos na ilha em Angra e meu filho foi animado contar


para o avô sobre a viagem. Mari se divertiuquando Bruninho nos
contou,ainda em Arraialsobre o beijo que deu na Sofia. Eu olhava
para a delinquente, queimada de sol, loirinha de olho azul.
— Doze anos — rosnei para Marina, que fez pouco caso.
— Jordana começou a namorarcom essa idade também— ela
falou — eu até que demorei, mas não acho que isso seja parâmetro
pra decidir se o menino vai pegar todas...
— Ele é uma criança — eu continuei, indignado, mas voltei ao
ponto importante — Jordana namorou com doze anos?
— Doze — ela contou, segurando o riso — mas não adiantou
nada, ficou só com um cara a vida toda.
— Sortede Eduardo — eu falei incrédulo e ela me encarou
desprezível— eu não ligo pra essas coisas, mas ele deve se sentir
o macho alfa por ter sido o único cara da esposa.
— Claro, claro — ela revirou os olhos, mas começou a. rir
— Ela transoucom quantos anos? — pergunteipreocupado e
olhei na direção do meu filho, quase entrando em pânico.
— Com quatorze— ela contou e eu a olhei, crescendo os
olhos. Era difícilimaginar que Jordana tenha iniciado a vida sexual
tão cedo.
— E se ele engravidar alguém? — sussurreiapavorado e
minha noiva começou a rir da minha loucura.
— Ele não vai fazerisso, ele só deu um selinho na menina.
Você é tãoexagerado, Fred — ela faloucondescendente— imagina
se tivesse uma menina?
— Não tenho coração pra teruma menina — eu falei e ela
cerrou os olhos — se tivermos um, vai ser menino, eu sinto.
— Coitada da Helena. Jordana vai precisaresconder muita
coisa de Edu — Mari constatou— se você que eu achava ser
tranquilo é assim, ele vai ser completamente louco.
— Principalmente porque ele foi um canalha — eu repliquei —
ele vai querer proteger a filha dos brutamontes desse planeta.
— Ela nem completou dois anos, ele tem...
— Dez anos até começar a pensar nisso — eu completei e
Marina começou a rir. Depois prometeuque conversariaum pouco
sobre namoros com meu filho. Que pediria conselhos para minha
mãe, sobre o que dizer
, para me tranquilizar
.
— Quando você tinhaonze anos, sua mãe falavao que? — ela
perguntou, deitando ao meu lado no chaise da área externa da
casa.
— Nada, eu não beijava ninguém com onze anos — falei
bravo.
— E você beijou com quantos anos?
— Com quatorze.
— E transouquando? — ela perguntou,se sentando para me
olhar.
— Dezessete— resmunguei — e depois conheci Bruna, achei
que era o maior transanteda face da terra.Quando eu tinha
dezenove, ela engravidou — comecei a rir— aí eu casei. Não tive
muitas mulheres.
— Consegue contar?— Jordana perguntou,vindo se sentar
conosco e eu a olhei — porque a vida sexual de Eduardo é um show
de horrores.Me dá ciúme só de lembrar — ela fez um gesto
impaciente.
— Menos que Eduardo — falei e Marina me olhou presunçosa
— acho que Edu perdeu uma lista quando estava chegando em
cento e cinquenta.
— Tá vendo? — Jordana parecia incrédula, enquanto Marina
parecia se divertir
.
— E eu aposto que nessa lista, ele não colocou as que ele
pegava nas orgias nojentas que participava— Jordana teve um
arrepio asqueroso e Marina gargalhou.
— Amiga, você não precisa lembrar disso — ela falou
carinhosamente— depois que te conheceu, ele não teve olhos pra
mais ninguém.
— Depois que ficamos juntos, pelo menos — ela deu um
sorrisinhoconvencido — mas não acho que teruma listacom mais
de cem mulheresseja motivode orgulho. Se fosseeu com uma lista
desse tamanho, ele não iria achar bonito.
— Só você colocardois zeros depois do seu um, antesdele —
Mari provocou e eu comecei a rir . Jordana fez uma careta,
mostrando seu completo desgosto.
— Por que vocês chegaram nessa conversa,hein? — Jordana
perguntou indignada.
— Meu filho beijou na boca — contei de uma vez e ela olhou
para meu filho, lá do outro lado, junto com meus pais.
— Nossa, foi cedo.
— Você também— Mari retrucoue ela fezpouco caso — acha
que Helena vai namorar cedo também?
— Helena não vai namorar nunca. Edu não vai deixar —
Jordana falou convictae deu um sorrisodoce para nós. Por falarno
homem, ele chegou, colocando os óculos escuros no rostoe se
sentou ao lado de Jordana, no outro sofá chaise.
Passamos a novidade para Edu, que achou o máximo o
moleque terbeijado na boca e nos abandonou, para saber dele as
novidades. Meu filho me lançou o pior olhar do mundo e Jordana
disse que eu pareci a avó dela. Quando ela menstruou,ligou para
todo mundo contando.

Minha mãe, louca que era, já queria conhecer a garota e


Bruninho me dava olhares fuzilantespor eu tertornadoisso desse
tamanho todo. Depois, quando estávamosapenas nós dois no sofá,
já era noite e Marina e Jordana cantavam no caraoquê, ele
perguntou se a mãe dele ficaria brava.
Nós dois imaginamos a reação dela, porque provavelmenteiria
analisar a menina inteira,colocar um defeitoe morrerde ciúme do
filho.

Já tarde da noite, quando todos foram dormir


, eu, Mari, Jordana
e Edu fomos para a sala de jogos. Mari pegou um jogo de cartas,
que por um segundo, eu pensei ser um baralho. Mas agora ela
andava cheia de apetrechos eróticos.
— É uma brincadeira— ela falou brava para mim, quando a
acusei presunçoso — cada carta tem uma pergunta.
— Curiosopra brincar— faleie ela riu. Edu trouxea garrafade
tequila, mas Jordana ficou firme na sua Gin tônica.
Chiara chegou animada para brincare beber também. Ela foi a
primeiraa tiraruma carta,que queria saber o número de parceiros
sexuais de cada um.
— Ah, não! — Jordana falou indignada — eu só estive com
dois!
— Que pena, porque não existe mais uma maneira de você
aumentar esse número — Eduardo sorriu falso para ela e eu
comecei a rir
.
— Seu número também não é incrível, Fred — Jordana
descontou em mim.
— E eu também não vejo uma maneira de ele conseguir
aumentarisso — Mari falou, se sentando de lado no meu colo e
pressionou os lábios nos meus.
— Nem quero — falei para ela.
— Número define experiencia, é? — Chiara perguntou
sarcástica — vocês são dramáticos.

Desistimos da brincadeira quando Jordana se sufocou de


vergonha com uma perguntaousada, leu para Edu e quando ele foi
responder, ela disse terformi
gado de tantavergonha e ele parou, se
levantando para trocar a música.
— Que bobagem, amiga — Mari falou, abanando a mão — ter
um homem que chupa você é uma delícia.
— Você vai matá-la — Edu avisou para Marina, aumentando
um pouco o volume da música.
— Pelo menos ela tem vergonha só de falar— Mari voltou a
provocara amiga e eu segurei o riso, porque quando pensei em
começar a rir
, Jordana me lançou o seu olhar mais bravo.
— Vocês são horríveis.
— Amiga, é sexo. Todo mundo faz sexo — Marina falou
descontraída.
— Eu te chuparia na boceta — Eduardo respondeu,
encerrandoo assuntoe eu pensei que Jordana fossedesmaiar —
até você gozar — ele continuou e ela tampou os ouvidos,
completamente desnorteada e todos nós rimos.

Bebemos, conversamosbobagens e ouvimos música até tarde


da noite. Quando todos forampara seus respectivosquartos,eu e
Mari ficamos no enorme sofá, abraçados, apenas contemplando a
companhia um do outro. Estávamos embriagados, tocava uma
música de Os paralamas do sucesso, agora em um volume baixo.
— Eu te amo muito — precisei dizer para ela, que ergueu o
rostoe demos um beijo suave. Ela encerroucom um selinho e eu
resfoleguei,detestandoperder nosso contato.Nos virei no sofá,
ficando sobre ela e comecei um beijo mais intenso, sôfrego e
ousado.

Parei de beijá-la para poder olhá-la e ela deu um sorrisotão


cúmplice, enchendo meu coraçãode amor, de todo sentimentobom
que qualquer ser humano deveria experimentarum dia. E saber
valorizar
, não deixar se perderporque em algum momento estarão
em ritmos diferentes.
Descobrimosjuntos que dá pra desacelerar
, ou acelerar
, mas
entendemos que sempre dá pra contornarum desejo meu que ela
não estáprontaainda, ou ao contrário.Por amor, sabendo que vale
a pena, a gente faz qualquer coisa e no final, a vida dá um jeito de
colocar tudo no lugar certo, do jeito certo.

Ao lado dela esqueço das rasteirasque a vida nos deu, e ela


diz que eu curo seus traumas, que a faço feliz.
No nosso amor tem um bocado de pureza, mesmo que
sejamos safados e maliciosos, que não consigamos ficar muito
tempoem um beijo genuínoporque nossos corposparecemtersido
feitospara viverem colados, pelados e buscando satisfação.Nosso
amor é puro, verdadeiro e bom.

Apesar de todasas nossas diferenças,eu não imaginava uma


companheira de vida mais incrívele feitasob medida para que eu
fosse tão feliz. E com ela eu fazia valer a recíproca,da melhor
maneira possível.

FIM!
E
Marina Marques

Três anos depois...

O meu primeiro desentendimento com a minha sogra foi


quando eu e Fred decidimos nos casar em Punta Cana. Ela,
sistemática,queria uma festagigantesca, cerimônia grandiosa na
igreja que ela havia se casado. Segundo ela, as melhores datas
eram reservadas até dois anos antes, mas ela daria um jeito.
Só que eu não queria. Não queria centenasde pessoas que eu
não conhecia, sendo muitosinceraeu nem sonhava com casamento
na igreja e um festão.Como Jordana e Edu tiveram. Ela ficou
arrasada e fez um dramalhão para o Fred, que não estava mais nem
aí se iríamos casar na igreja, porque de qualquer maneira,
estávamos morando juntos.

Quando viu que não teriamilagre que me fizesse mudar de


ideia, ela cedeu e tomou a frentepara todosos preparativ
os. A lista
de convidados, se nós custearíamos a passagem e hospedagem de
todos, isso a assustou, porque ela tinha uma lista gigante de
pessoas que queria convidar. Foi quando Fred explicou que por isso
eu escolhi outro país. E enfrentamos outro drama dela.

Meu contatocom meus pais não era frequente,mesmo depois


daquele almoço de natal, eu insisti, meses depois, em tentar
. Me
convenci incansavelmentede que eu poderia pelo menos visitá-los
eventualmente.Uma vez ou outradava tudo certo.Mas era só dar
mais abertura para um incidente acontecer
.

Ser a filha famosa que ela pode se gabar era muito melhor.
Conviver, admirar e tratarbem, ser uma boa mãe, jamais. Mas
estava tudo bem. Tem coisas que aprendemos a lidar sem sofrer
tantopela falta. Talvez o que mantivessea minha forçade vontade
em não encerrartodo o vínculo fosseo apego ao laço sanguíneo,
não era fácil anular
.

Nos últimos trêsanos a minha vida mudou completamente.


Profissionalmentefalando, principalmente.E eu não poderia ser
mais feliz e realizada. Eu os convidei para o casamento,mas minha
mãe inventou uma desculpa, disse que tinha outrocompromisso
justamentenaquela semana e eu não insisti. Tereza acabou indo
com o namorado, o que foi até bom, afinal, apesar de tudo, éramos
irmãs.

Helena foi nossa daminha e Bruninho me levou até o altar


. Foi
tão emocionante. Fred fez declarações lindas e posso dizer que
fizemos o sexo mais incrível do mundo aquela noite.

O segundo desentendimentocom a minha sogra aconteceu


quando ela cismou que meus seios estavammaiores.Passamos um
mês e meio sem nos ver. Viajei a trabalhocom outrasblogueirase
passei um mês longe de Fred. Foi tortuoso,mas nos falamos por
telefonetodos os dias e Bruninho prometeucuidar do pai. O que
quero dizer, é que nessas semanas em Orlando, vários passeios,
publicidades, trabalhos e o conteúdo que eu precisava postar
diariamente,acabei não tomando anticoncepcional.A primeirafalha
foi quando eu esqueci. Havia chegado de uma campanha em
Goiânia, tudo tão corrido.Tinha poucas horas para arrumara mala.
A necessairecom todas as maquiagens e a cartelada pílula ficou
em cima da ilha no meu closet.Ao chegarmos, fiquei de sair para
comprar . Precisaria de maquiagens novas, pelo menos o básico e
comprariao remédio também. Mas eu não fui comprar . Uma das
meninas me tranquilizou,eu não estariacorrendoperigo longe do
marido em outro país. Então deixei pra lá. Nem maquiagem
comprei,porque acabei ganhando de uma seguidoraquerida. Foi só
comentarnos Stories que havia esquecido todas as maquiagens,
que alguém foi me presentear . Eu já havia me acostumado com o
carinho em excesso de algumas pessoas. Assim como aquelas que
faziam de tudo para criticar
.

E quando cheguei no Rio, Fred me esperava no aeroporto.


Dali, nem fomos para casa, porque como Bruninho estava lá,
seguimos diretopara um Motel e transamosa tardeinteira.Usamos
todosos apetrechosdo quart o de luxo, uma cadeiramaravilhosae a
banheira de hidromassagem. Foi tantosexo que pegamos no sono
bem ali e chegamos em casa pela madrugada. Meu enteado nos
lançou um olhar cerradopelo sumiço, estava preocupado. Depois
veio me abraçar , porque estava com saudade e eu também. Fred
subiu com as minhas malas, mas a de mão eu peguei, para pegar
os presentes.
Bruninho queria um modelo novo de celular e um notebook
também. Eu havia comprado. Para Fred eu trouxe um perfume
importadoque ele reclamavaque queria e nunca ia comprar
, porque
não se dava tempo.

A rotinade trabalhoestava intensa, semanas depois, fomos


para um jantarna casa dos pais de Edu. Foi só me olhar, que a
primeiracoisa que Nair comentoufoio tamanhodos meus seios. Eu
a olhei brava e falei que era por causa da menstruaçãoque estava
para chegar. Ela cerrou os olhos e pareceu ter se convencido.

Mas em outrodia, eu tive uma queda de pressão. E ela nem


falou nada, mas eu falei para parar
, porque eu conhecia esse olhar e
não gostava nada.

Comecei a me sentircansada, irritadae com cólicas. Mas


acrediteique era menstruaçãochegando. E a rotinade trabalho
estava muito intensa. Estava gravando todos os dias, produzindo
uma linha de maquiagens com uma marca que adorava. Era muita
coisa para administrar
.

Eu não lembrei de tomara pílula. Mas lembrava de transar


todos os dias, não podia ver Fred dando sopa que ia quente
provocá-lo.

Se não fosseeu, se eu não me conhecesse e se não morasse


dentrode mim, diria que fiz de propósito,porque quem esquece de
tomara pílula? A conversa sobre filhos ficou parada, tocávamos
remotamente no assunto, bem superficialmente.Isso quando
Bruninho falava sobre terum irmão ou irmã, mas ele já tinha quase
quinze anos, um bebê não seria a melhor companhia para ele, que
agora começava a querersairmais com os amigos, ficavacom uma
menina ou outrapor aí, deixando Fred maluco de preocupação.
Toda vez que Bruninho comentava de uma menina, Fred cismava
que ele iria engravidaralguém. Mas ele nem transavaainda. Outro
dia, ele trouxea Anna e os dois foramver um filme no quartodele.
Tínhamos uma sala de cinema incrívele ele preferiuir pro quarto,
Fred só faltou infartar
, enquanto eu me divertia.

E depois de descobrirque Jordana transouaos quatorz e, ele


sabia que poderia acontecer com o filho também. Mas tínhamos
uma relação abertao suficiente para que ele nos contasse quando
acontecesse.
— Não sei pra você, que espalhou pra todo mundo sobre o
primeirobeijo — eu desdenhei do meu marido, que estavavermelho
de apreensãono corredor— mas pra mim ele vai contar . E ele é um
garoto esperto, bem orientado.
Nós três íamos sempre visitaro túmulo de Bruna, levávamos
flores,rezávamos por ela. Eu não sabia como seria a nossa relação
se ela estivesseaqui, mas eu queria muito que tivéssemostido a
chance de tentarmos dar uma trégua.Lidar com a perda ainda fugia
do meu entendimento,parece que com o passar dos anos a gente
aceita, busca algo positivo para falarda pessoa, tem saudade de
momentos que nem chegou a viver, daquilo que poderia tersido.
Bruno ia sempre visitaros avós maternose os cachorros,que
acabaram ficando por lá, mesmo.
Numa noite de sábado, Fred também comentou dos meus
peitos.E estavaamando, estavaminchados e durinhos, reluzentes,
ele disse. E ficoulambendo e chupando um tempão,gemendo cheio
de manha, porque para ele eu era gostosa demais.

No domingo, acordamos cedo porque havíamos prometido


para mãe dele que almoçaríamospor lá. E ela iria fazero salmão
assado que eu comentei por mensagem estarcom muita vontade.
Eu estava no closetem frenteao espelho, depois do banho, olhando
meu corpo todo, meio desconfiada, mas em negação.

Usava só uma calcinha de renda, na cor branca e olhava os


seios inchados, durinhos e reluzentes,como Fred descreveu. As
aureolasestavammais sensíveis, mas me convenci que foipor Fred
ter passado muito tempo beijando e chupando na noite passada.

Fred finalmente levantou da cama, onde estava deitado


enrolado na toalhae mexendo no celular, e veio se trocar
. Ele parou
a me ver seminua e puxou a toalha, a jogando num pufe e parou
atrásde mim. Ele deu um beijinho no meu ombro e eu me recostei
em seu corpo. Levei uma mão para a sua nuca, querendo me sentir
mais segura, porque nesse momento, eu estava começando a me
apavorar. Ele deu um beijo suave na minha bochecha, depois abriu
a câmera do celular e tirou uma foto nossa.
— Fred! — eu reclamei, mas ele adorava ter fotosnossas
assim, mais íntimos. Segundo ele, quando estivéssemos mais
velhos, iriamos adorar relembrara nossa juventude com fotos
ousadas.
— Os seus peitos são bonitos demais, precisava regist
rar—
ele falou, se inclinando para beijar um deles e eu grunhi, toda
sensível.A mão, ele escorregoupara dentroda minha calcinha e eu
só me entreguei, fraca demais para resistir a esse homem delicioso.

O coloquei sentado no pufe e tireia calcinha, montei no seu


colo e cavalguei sobre ele, incansavelmente até gozar, o que
aconteceu rápido. Depois continuei, até que ele começasse a dar
esses gemidos cortados,os jatos quentes começaram a se perder
dentro de mim.
— Ah, Mari... — ele falou, afagando as minhas costas— eu
amo muito você.
— Pra variar , vamos nos atrasar— eu falei para ele, me
levantando. Fred só limpou o pau todo gozado com a toalha e foi se
trocar
. Eu fui me lavar e me troquei rapidamente.

Quando chegamos, seu Tarcísioserviu champanhe, que eu,


instintivamenteachei melhor não beber. Fiquei bebericando,
molhando os lábios e não conseguia fazerdescer um gole grande.
Meu enteado chegou pouco antes de o almoço ser servido. Mas
antes, minha sogra me chamou para mostrarum vestido novo que
comprou, em seu quarto.

Eu não tinhaporquê negar, entãome levanteie a segui. Ela me


puxou para dentro do quarto e trancou a porta, dizendo nervosa:
— Você tá gravida! — ela falou! Não foi uma pergunta,ou uma
desconfiança.Ela falou como se eu tivessefeitoexames, mostrado
o resultado e já soubesse até o sexo.
— Eu não to grávida — eu falei o óbvio.
— Seus peitosnão ficamassim só porque você vai menstruar
— ela falou como se me conhecesse completamente.
— Para com isso, Nair — eu falei desinteressadae ia abrira
porta, mas ela me segurou e se colocou na frente.
— Eu comprei um teste— ela falou, estavaquase começando
a externar sua animação, por isso, resolvi cortar logo.
— Não tem como eu estargrávida — falei impacientee ela fez
pouco caso — e vou fazer o teste porque sei que vai dar negativo.

Ela não recuou. Quando foi pegar o teste,em sua gaveta da


mesa de cabeceira, eu pensei em fugir
, mas a malditahavia tiradoa
chave da fechadura,porque já me conhecia o suficiente.Parei e
fechei os olhos por um momento, me sentindo prisioneiradessa
sogra prepotente. Amorosa, participativa, mas prepotente.
— Vamos ficaraqui até você tervontade de fazerxixi — ela
falou e eu puxei o exame com força da mão dela.
— Você vai apenas se frustrar
, porque vai estarnegativo — eu
faleiquerendo parecerconvictae ela me lançou um olhar de “vamos
ver”.

Fiz xixi no lugar indicado no exame. Nesses segundos, revivi o


momento em que fiz um exame parecido, há cinco anos. Quando
entreiem completo desespero, porque era um momento terrível.
Morando na casa dos meus pais, desempregada, Fred não
conseguindo se acertarcom a Bruna e fazendo do emocional do
filho um completo caos.

Era tão diferenteagora. Eu não pensava em ser mãe. Não era


o meu sonho, como era o de Jordana e Denise, por exemplo. Como
vem sendo o de July, que eu só via eventualmente.Mas já estava
grávida de gêmeos. Bernardo não era o cara milionário que ela
sonhava, no entanto,ela o amava e isso era mais importanteque
qualquer dinheiro.

Mas agora, se desse positivo, tenteime acalmar, eu era bem


sucedida, as pessoas me adoravam. Pelo menos a maior partedas
que me conheciam. Nunca me envolvi em polêmica e tentavanão
me tornar uma dessas blogueiras que mentem por dinheiro.

Não era o meu sonho, algo que eu venerei a vida inteira


, mas
eu poderia fazer dar certo. Eu era uma ótima madrasta para
Bruninho, ele falava que sentia como se eu fosse mãe dele, e no
mais íntimo, eu me sentia assim. Eu exercia essa função com
maestria.Não estava roubando o lugar da mãe dele, como minha
mãe insinuou outravez. Eu poderia, sim, amar um filhomeu. Porque
era uma pessoa boa.

Pensei em milhares de coisas incríveispara se desse positivo.


Mas quando Nair entrouno banheiro e eu peguei o exame, quando
vi o gravida 3+ ali, entreiem completo pânico. Me faltavaar, eu
tremia inteira, estava gelada. Olhei para minha sogra, os olhos
grandes de medo, nem parecia que eu já tinha vinte e nove anos.
Ela segurou minha mão entreas suas, afagando e deu um
sorrisoacolhedor, que não adiantouem nada, eu não me conformei.
— Eu sabia — ela falou convicta — intuição de mãe não falha!
— Eu quero o Fred — consegui dizer, antesde desabarem um
choro desesperado.Eu ia sair, queria sair correndo,mas a portado
quarto estava trancada. Minha sogra veio, me puxou para um
abraço e afagou meu cabelo. Ela me deixou chorar
, por quanto
tempo eu não sei. Mas meu choro era daqueles de lavar a alma.

Depois do pânico, outrossentimentosforamme dominando.


Olhei para ela incrédula e ela olhava admirada para o exame.
— Quando você parou a pílula? — ela perguntou,vindo se
sentar ao meu lado no sofá branco que ficava em frente a sua cama.
— Não parei — respondi, meio robótica.Ela franziuo cenho e
eu sacudi a cabeça, corrend
o as duas mãos no rosto— eu parei,
mas não foi intencional. Esqueci de levar pra Orlando, quando voltei,
estava tudo tão corridoque não lembrei de voltara tomar . Porque
antesera um hábito,eu tomavatodosos dias ao acordar . Como não
estava fazendo há semanas, não me lembrei... Depois até lembrei,
mas esqueci — abanei a mão, voltando a chorar , era como
engravidar na adolescência e minha sogra riu quando eu disse isso.
— Você já tem quase trinta — ela atalhou, se divertindo.
— Precisode Fred — eu falei, fazendo uma caretapara chorar
mais um pouco e ela veio se abaixar em minha frente.
— Acho melhor você se acalmar primeiro— ela começou a
dizer — meu filho vai ficarlouco de felicidadequando souber, então
acho que depois de tudo, ele merece uma surpresa feliz.
— Eu estoufeliz — falei indignada e forceium sorriso,mas as
lágrimas vieram grossas e não consegui convencê-la.udo
T o que eu
queria era um abraço dele agora.
— Você já está nervosa demais, não vou saber lidar com os
dois surtando— ela decidiu, se levantando — consegue guardar
segredo? Preciso só de algumas horas pra preparar uma surpresa.
— Nair... — falei, amolecendo os ombros.
— E seus seguidoresvão adorarum vídeo,quer gravar?— ela
perguntou, sempre pensando em tudo.
— Quero — falei bicuda, as lágrimas sempre vindo com força,
eu não sabia se conseguia comemorarou estavaapavorada. Estava
mais para apavorada, sem acreditar
. Mas eu já devia saber que era
muito fértil,da outravez um vacilo só resultouem gravidez. Dessa,
também.

Ela pegou a chave do nosso apartamentoe saiu depois do


almoço. Disse que estava indo buscar Helena, ela adorava a
sobrinha-netae isso convenceu Fred rapidamente.E como ele e o
pai estavamem uma conversainteressantíssima
para eles mesmo,
nenhum dos dois se importou.

Eu fiquei enjoada depois de comer muito do salmão assado,


que estava delicioso. Agora eu já sabia o porquê. Subi para o antigo
quartode Fred e deitei um pouco, ainda flutuandocom a novidade.
Bruninho veio perguntarse eu estava bem e deitou comigo. Ficou
contando sobre a Anna, ele adorava conversarsobre a sua vida e
eu dava apoio sempre. Aos quatorze,quinze anos, era mesmo bom
tercomo preocupação a menina mais bonita da sala. E Bruninho
tinha todosos jeitosde ser desses garotosque deixam as meninas
caidinhas, Nair dizia que se parecia com Edu, nisso. E não gostava
nadinha.

Ele desceu para pegar brigadeiro,quando decidimos ver um


filme, ali mesmo. Mas quando comi uma colherada do doce, algo
maior do que apenas ânsia me dominou com muita força. Eu
comecei a meio que soluçar, olhei para a portado banheiro e no
segundo seguinte decidi que passaria. Depois veio mais fortee eu
me levantei, correndo para o banheiro e coloquei tudo para fora.

Sinceramente, não havia coisa mais humilhante do que


vomitar
. Meu enteadoveio, todopreocupadoe seguroumeu cabelo,
mas as ondas de vômito não paravam e eu fiquei ali, tendo ânsias,
até finalmente conseguir parar
.
— Ai que coisa horrível— sussurrei,limpando os olhos que
chegaram a lacrimejare funguei. Lavei a boca e Bruninho voltou
para o quarto. Quando saí do banheiro, ele estava sentado na
cama, me olhando com olhos grandes e assustados.
Antes que eu pudesse dizer, a avó dele chegou. E contou a
novidade. Ele ficou meio estagnado, mas depois correupara me
abraçar e fez um carinho na minha barriga.
— Meu pai vai ficarmuito, muito feliz — ele falou cheio de
convicção. Disso, ninguém duvidava — ainda mais porque ele nem
sonha que pode estar acontecendo.
— Ah... — eu grunhi, voltando a quererchorare Nair começou
a rir
.
— Sonhei com esse momento — ela falou, me devolvendo a
chave de casa. Depois ela me mostrou onde preparou a surpresa.

A encarei incrédula. No nosso quartode hóspedes, sobre a


cama, havia uma caixinha branca com trêssapatinhos de bebê,
branco,neutro. Havia balões pelo quarto,e ela mostroudando zoom
na foto as mensagens para o mais novo papai. Na cama também
havia uma camiseta para o Fred, escrita “vou ser papai de novo”.

Bruninho foi para o quartoquando chegamos em casa. Fred


disse que ia tomarum banho porque estava muito calor, mas eu o
segurei e disse que tinha feito uma mudança no quarto de
hóspedes, que eu queria mostrar para ele.
— Sério, amor? — ele perguntoue eu fiz um beiço, assentindo
— o que você e minha mãe estavam conversando? Demoraram...
— Ela só estava me mostrandouma cosia — abanei a mão —
vem — eu entrelaceinossas mãos e o puxei. Fred estavaachando
uma bobagem eu terfeitouma mudança, porque eu nunca fazia
essas coisas. Sempre era ele o antenado na decoração da casa.
Abri a portado quartoe entrei,me emocionando ao ver tudo ali
preparado para contar para ele.

Ele ficou completamentedesnorteado,me olhou meio perdido


e depois chegou mais perto da cama.
— Amor — ele chamou, meio sufocadoe surpresoe pegou um
dos sapatinhos. Eu parei ao lado dele, olhando tudo também —
mentira...— a voz dele já estava embargada quando ele pegou a
camiseta. Fred levou as mãos para a cabeça e as lágrimas
escorreram em seu rosto.
— É sério — eu falei — eu acho...
Ele soluçou, desatandoem um choro emocionado e me puxou
para um abraço apertado.Eu o abracei de volta, me sentindo tão
amada e tranquilaao ouvir todas as suas declarações,ouvi-lo que
ele era o homem mais feliz do mundo.

Fui para o banho com ele, que segurou meu rostoentreas


mãos para me dar aquele beijo molhado e profundoque eu adorava.
Aconteceu rápido, nossas línguas se embolaram, deixamos o
chuveiro e nos enroscamosna cama. Peguei, chupei e senteinele,
que estava incrivelmenteduro, desnorteadamentefeliz. Hoje, eu
tinha certeza, Fred era, sim o cara mais feliz e realizado do planeta.

Gozei ainda mais apaixonada por ele, caídeitadaao seu lado e


nos olhamos. Ele deu um sorriso maroto, teve um arrepio e
estremeceu.
— Se você achava que não tinha como eu te amar ainda mais
— ele falou, enquanto eu me aconchegava em seu peito e entrelacei
nossas mãos — hoje eu te amo infinitamente mais do que ontem.
— E eu me sinto do mesmo jeito — prometi,depositando um
beijo em seu peito.
— Vamos terum filho — ele falou, ainda embasbacado com a
novidade — você planejou?
Eu virei a cabeça, o olhando. Queria dizer que sim, que eu o
amava tantoque de repentebrotouessa vontade louca em mim, e
eu quis surpreendê-lo,porque como sabia que ele sempreabraçaria
a novidade com todo amor do mundo, poderia, sim, fazer a
surpresa. Mas não mentiria.
— Eu te contei que esqueci a necessaire quando viajei —
comecei, contando toda a históriae ele começou a rirdos meus
grunhidos bravos por ter sido tão insolente.
— Entreiem pânico quando sua mãe me fez fazero exame —
eu contei — mas, agora já estou tão feliz.
— Só fez o exame de farmácia?
— Acha que pode terdado errado?— eu pergunteie ia me
sentando,quase me sentindofrustrada,
mas ele me puxou de volta
e negou com a cabeça.
— Você está grávida — ele falou enfático, escorregando
sorrateiramenteuma mão para o meu ventre— e nós dois vamos
fazer dessa, uma experiencia incrível.
— Vamos, sim — eu falei,não tínhamosoutraopção que não a
sermos os melhores do mundo nisso.
— Bruninho vai adorar a novidade.
— Ele já sabe — eu contei,não conseguindo seguraro sorriso
quando ele fez uma careta incrédula.
— Quem mais sabe?
— Nesse momento, só eu, você, sua mãe e Bruninho — eu
falei, mas Fred me olhou, duvidando que nesse momento, só nós
quatro soubéssemos.

Ela já deveria ter contado para o marido, que me achava


estranha demais por ter tantosbloqueios. Que estavam sendo
quebrados ao longo dos anos, e isso era maravilhoso. E minutos
depois recebemos mensagens de Edu e Jordana, nos
parabenizando. Ela esperava um menino e vibrava muito porque
passaríamospor essa experiencia juntas, dessa vez. Depois, me
enviou print de uma conversa dela e Fred, dele dizendo que
transamostant o, no dia em que cheguei de viagem, que se ele não
tivesse certeza que eu tomava pílula, teria me engravidado
bem ali .

Comecei a rir
, porque provavelmenteele me engravidou bem
ali, mesmo.
Frederico Toledo

Marina rebolava gostosa no meu pau, me abraçava pelo


pescoço e beijava minha boca. Recosteimeu corpona cabeceirada
cama e levei minhas mãos para os quadris dela, agora mais largos,
o corpo mudando perfeitamente para abrigar nosso bebê.
Ela andava muito safada, mais do que antes e isso era
maravilhoso. Mas surpreend entementeestava amando viver essa
nova fase, enfrentandoos sintomasdesconfortáveis
com maestria,
sendo incrivelmente perfeita, como sempre foi.

Descobrimosque teríamos uma menina. Em um chá revelação


que minha mãe fez questão de nos torturar por dias. Jurei três vezes
que não voltar
ia mais a falarcom ela, que não se comoveu. Então
recuei.Depois disse que eu era o pai, eu tinhaque saberantes,não
era justo descobrirmosjunto de todo mundo. Mas nada comovia
aquela mulher.

Marina pouco se importou,estava tão tranquilae sem pressa


que por ela, descobriríamosna hora do parto somente. Mas foi
emocionante, choramos apaixonados, ansiosos e tão felizes.

Mari me mostrouque é muito importantedarmos valor aos


percalços,o que fazemosenquanto chegamos lá. Que o que vale a
pena mesmo é aproveitar o caminho. Fui feliz enquanto
caminhávamos até aqui, para esse sonho meu de ser pai de novo.
Mesmo que não tenha vindo premeditadamente,porque a realidade
é que nunca sabemos o rumo que a vida vai tomar
. Entendi que a
estrada tem que ser tão divertida quanto a chegada, que precisamos
apreciar cada momento.

Foi isso que me fez desacelerar e caminhar no ritmo dela,


porque ela era minha. Minha companheira, cúmplice, parceirade
vida. No meio da nossa caminhada, invertemos prioridades,
mudamos de rota, retomam os a rota e nos amamos em cada
segundo. Decidimos que não nos abandonaríamosmais e assim
fizemos.

Ela tem a segurança de deitar a cabeça no meu peito e tera


certezade que é a mulher mais amada do mundo inteiro,eu queria
e faria ser sempre assim.

Meu passatempo preferidoera admirá-la, atiçar todo esse


nosso desejo. E vê-la gozar, tão deliciosa, entregue,gemendo e
estremecendosobre mim era a sensação mais prazerosada vida,
porque me fazia chegar ao melhor dos orgasmos no minuto
seguinte.

[...]

Encontramos nossos amigos no apartamento de Edu e


Jordana. Meu filhoficouem casa assistindofilmecom dois amigos e
a Anna. Marina falava que eu estava sendo implicante, porque não
via maldade em um namorinho adolescente. Mas eu ficava
paranoico.
Me sentei ao sofá e peguei o copo com uísque que Edu me
serviu. Olhei para Jordana e Marina, juntas em frenteao espelho,
medindo o tamanho das barrigas.Edu achou graça das duas, mas
era o sonho da esposa dele viver isso com alguma amiga.
— Você e ela estão quase andando saltitando de tão realizados
— ele falou, colocando o copo sobre a mesa de centro.
— E tem como não ficar?
— Não, não tem — ele concordou,olhando serenamentepara
elas duas — já superou o namoro do seu filho?
— Não — falei prontamente— ele é muito novo. Isso foi má
influência sua — provoquei e Eduardo começou a .rir
— Se bem orientado, ele pode, sim, aproveitartodasas coisas
boas da vida.
— Não com quatorze anos — eu retruquei inconformado.
— Fred é tão dramático— Mari falou, vindo se sentarao meu
lado — o menino é responsável, não vai, por exemplo, engravidar
alguém.
— É mesmo? — perguntei irônico — você esqueceu a pílula.
— Mas eu não tenho quatorzeanos. E nem fala nada, porque
você amou.
— Amei mesmo — falei, para não entrarmosem uma
discussão desnecessária — to vivendo um sonho bom.
— Já pensaram em nomes? — Jordana perguntou,trazendo
uma tábua de friose colocou na mesa de centro— eu queria Davi
ou Heitor
.
— Mas ainda não temos certeza— Eduardo completou —
gostamos de Gabriel, também.
— Ou Leandro... Quem sabe Felipe? — ela olhou para ele,
pensativa.
— Vocês sempre sofrem na escolha dos nomes — Mari
constatou— e eu não pensei ainda. To bem de boa, nada ansiosa.
Fred quase morreuaté descobriro sexo... Por mim, descobriríamos
no parto.
— Jordana tem pavor ao parto — Edu lembrou, rindo e
lembramos que ela desmaiou em meus braços quando a bolsa
estourou. Tudo isso porque não queria de maneira nenhuma
enfrentar um parto normal.

Mari já era mais prática,estava levando tudo realmentenuma


boa. Ia deixar essas escolhas de parto para o bebê, se tudo
estivesse completamente saudável.
— Quando você sentira primeira contração,vai pedir pela
cirurgia— Jordana falou — e eu nem precisei sentiruma, pra ter
essa certeza.

Ficamos horas com os dois, falando bobagens, elas duas


empolgadas com as novidades da gravidez. Eu sabia que
estávamosno caminho certo.De nós dois, na vida. Ela amava meu
filho, cuidava dele como se fosse dela. Venerava nossa história,
termos decidido ficar juntos e fazer dar certo.

Falávamos sempre um do outro com brilho no olhar, com


admiração e paixão, com respeito e vivência de um casal que
amadureceu.
E essa tranquilidade de um amor maduro vem com o
aprendizado dos erros cometidos, erros que não repetiríamos
jamais.

Hoje nós dois já não nos cobrávamos mais nada. Se houve


uma promessa um dia, sabíamos que na hora certa ela se cumpriria.
— E assim ele teve o contode fadasque sonhou — Mari falou
debochada, enquanto eu acarinhava o ventredela e ela contava
exatamente como ficou grávida.
— Eu planejei — Jordana contou fazendo um bico — Edu e
Helena pediam demais, adiei o máximo que consegui. Depois eles
me contaminaram com a vontade de ter um bebê.
— E ainda bem que foi menino. Não sei como explicarí amos
para nossa menina mimada que ela teriauma irmã — Edu falou,
rindo sozinho disso.
— Ainda bem que agora terãodois bebês pra dividir a atenção
— Jordana retrucou — como contou aos seus pais?
— Ela nos chamou pra almoçar — Marina contou
superficialmente.Na realidade, eventualmenteaceitávamos algum
conviteda mãe dela. Quando ela contouque estavagrávida, o pai e
a irmã comemoraram.A mãe dela também, mas não senti que foi
genuíno. Depois, quando ficou sozinha com Marina na cozinha,
disse presunçosa que ela estava garantindoum ovo de ouro, que
sabia que ela estavafazendoisso para me segurare foiespertapor
isso. Como se Marina algum dia tivesse se interessadopelo meu
dinheiro.
Por isso, hoje eu não forçavamais e nem insistia alguma
aproximação com a famíliadela. Poderíamosquerer
, claro. Mas era
difícilse forçara ficar em um lugar que não se é bem-vindo.
Fazíamospelo laço sanguíneo,pela consideração.Mas para certas
relações, o único remédio é a distância.

Eu e Marina fazíamosfotosiguais, todomês, para acompanhar


o crescimento da barriga. Fizemos um ensaio do jeito que
combinava com a gente, e eu admirava as nossas fotos.Adorava
guardar várias lembranças de como nos desejamos tantoe não
vivemos um sem o outro.

Chegamos em casa, depois de jantarmosforae lá estavam


eles, meu filho e a pseudo-namorada, com um jogo de cartase
jogavam na mesa de centro.Mari me lançou um olhar reprovador ,
por eu ter ciúme e preocupação, depois foi lá falar com eles,
animada. Perguntouse já comeram e meu filho contouque pediram
comida japonesa, devia estar para chegar. Eu ia implicar com o
horário, ela iria dormir aqui? Mas ainda eram sete e meia.

Avisei que ia subir para tomarum banho e Mari ficou lá com


eles. Depois, neurótico,só me passava pela cabeça que meu filho
iria engravidar alguém e arruinartodo seu futurobrilhante,enviei
uma mensagem para Marina, perguntandose ela iria dormiraqui.
Logo depois ela me encontro u no quarto,rindo da minha completa
loucura.
— Eu apostoque isso nem se passa pela cabeça dele ainda. E
nem na dela — Mari falou, parando bem a minha frente,que estava
sentado na poltrona confortáveldo quarto. Dei um suspiro, me
sentindo patético por parecer estar contra.
— Não estou contra — expliquei para ela — só preocupado.
— Ele vai nos contar
, tenhocerteza— ela tinhaessa convicção
— vai quererorientações,aposto... E você não vai querer que ele
tenhaessa conversacom Edu, vai? — ela perguntoucheia de graça
e eu cresci os olhos.
— Deus, não — faleiindignado — ele iria fazerdo meu filho um
mine pegador canalha.
— Não é pra tanto,Fred — Mari ria — e eu não quero que ele
pense que precisa fazernada escondido. Ou, que a garotaque ele
gostanão é bem vinda aqui... E, por favor
, é só a primeiranamorada
dele, essas coisas são sempre especiais.
— Sei — falei, me dando por vencido e a puxei para mais
perto.Ergui a camisetaque ela usava e acaricieio ventre,a barriga
redondinha crescendo, nossa filha no forninho. Depositei um
beijinho suave ali e ela acarinhou meu cabelo.
— Mais tardevamos levá-la pra casa — ela contoue eu ergui o
rosto — a Anna.

Ficamos no quartovendo alguns episódios de uma série que


estávamos assistindo juntos. Marina levava muito a sério o
compromissodo seriado, porque outrodia, acho que um domingo,
ela viajou a trabalhoe eu fiquei sozinho entediadoem casa, assistia
quatroepisódios sozinho e ela deu um verdadeiropiti. Depois me
fez assistir tudo de novo, junto com ela.
Mas for
a isso, nosso amor era tãogostoso,preguiçoso,seguro,
tão genuíno que era difícilse explicar. Ele apenas existiae nós dois
tínhamosmuitacertezadisso. Ser felizpoderia sersimples e a cada
dia desvendávamos esse mistério juntos.

Como quando a nossa filha deu o primeiro chute, quando


mexia ao ouvir minha voz. Quando decidimos o nome dela, seria
Aurora, aquela que brilha como ouro. Vivemos momentos
magníficosdurantetodaa gravidez, já éramosgrudadose parceiros
antes, e agora infinitamente mais.

Outrodia, peguei sem quereruma conversade meu filho com


Marina, no celular dela. Não andava nunca fuçando o celular dela,
mas ela deixou abertosobre a cama e foi para o banheiro vomitar
.
Eu não resisti, fui curioso.

Eu já havia notado um sumiço repentinoda Anna e não sabia o


motivo.Mas Mari sim. Pelo que li nas conversas,ela acabou ficando
com um colega deles. Dei um riso e neguei com a cabeça, e eu
preocupado com o que meu filho pudesse fazer de errado...

Ele pediu para ela não me contarnada ainda, não queria que
eu comemorasse na cara dele, já que eu parecia tão contra.Isso foi
como uma facada no peito, mas eu mereci. Depois, ela disse que
ele podia confiar nela, afinal era como o filho mais velho dela.
“E você como uma mãe pra mim. Obrigado” — joguei o celular
para longe de mim na cama e ela voltou, resmungando de ter enjoos
nessa faseda gravidez. Já faltavapouco para nossa menina chegar.
Eu e Jordana duelamos o projetodo quartoda Aurora,e dessa
vez eu aceitei a derrota.Mostramoso resultadofinal para Marina
escolher, sem dizer de quem era cada um e ela escolheu o da
amiga.

Nós dois fizemos amor na noite anteriora nossa menina


chegar. Foi tãomágico, estávamos tãocheios de carinhoe de amor.

Na maternidadevivemos momentosúnico. Ela foiatéo fim,tão


guerreirae escandalosa. A cada contraçãoMarina gritava,mas não
a deixei sozinha. Cada apertodoloroso em minhas mãos, gritosde
desespero por ter esquecido o anticoncepcional e agora estar
passando por isso, o arrependimentode não ter optado pela
cesariana quando ainda dava tempo. As promessasde amor para
nossa filha e para mim. Quando Aurora chegou, escandalosa e
chorando muito, nós dois desabamos. Ela veio diretopara o colo da
mãe e eu acarinhei o rostinhodela. O mundo ofuscou ao nosso
redor, havia só nós trêsagora. Mari olhou para mim, as lágrimas
vinham intensas e ela parecia aliviada. Deu tudo certo.Estávamos
aqui, com nossa família perfeita e feliz.
Não merecíamos menos do que isso e estávamos em uma fase
da vida que não tínhamosnada para pedir, estávamos apenas
agradecendo.

Corteio cordão umbilical e voltei para elas. Pudemos ficarcom


nossa filha e logo a pegaram para limpar, pesare fazeros primeiros
exames. Depois voltou para Marina e foi hora de amamentar
.
Mamãe havia preparado uma verdadeira festa para
recebermosamigos e familiares.Muitas lembrancinhas, e na casa
dela havia ainda mais. Provavelmente, quem a visitasse pelas
próximassemanas, seriaagraciadocom presentespela chegada da
segunda neta.

Nossa pequena dormia muito, era tão quietinha. Nós a


admirávamos o tempo todo, nos admirávamos o tempo todo
também. Bruninho veio e não queria desgrudar da irmã, tão
pequena e indefesa em seus braços.

Jordana e Edu vieram, com suas duas crianças:Helena e


Heitor
. Helena se sentou e pediu, do seu jeito onipotente, para
Bruninho colocar a prima em seu colo. Ela já estavaacostumadaa
se sentar para seguraro irmão. Que veio do jeito que ela queria:
cabeludo e olhos castanhos.
— Se eu soubesse que era assim tão bonitinha, tinha pedido
uma menina — Helena falou, fazendo um carinho no rosto de
Aurora e nós todos rimos, ela nos olhou curiosa.
— Nem inventem — Jordana falou rapidamente. Ela foi se
sentar na cama com Marina e as duas falaram sobre o parto.
— Sabe, mamãe — Helena disse para Jordana, que a olhou
carinhosa, esperando —Olie vai amar ela também... — ela falou
animada.

Edu e Bruninho conversaramsobre o término dele, que já


estavaem outra.Resolvi parar de implicar, o garotoera namorador
.
E talvez eu tenha o achado menos criança depois que completou
quinze. Marina já teve uma conversa sobre sexo e preservativos
com ele, pro caso de ele pensar em começara praticar
. Eu fui mais
longe, enviei vídeos ilustrati
vos de como colocar o preservativoe
comprei vários. Entregueipara ele e avisei que era bom praticar.
Bruno ficou me olhando com olhos grandes de vergonha, mas se ele
queria transar
, não deveria ter vergonha de falar sobre.
De qualquer modo, eu não queria teralguma barreiracom meu
filho.Eu era o caraque ele deveria procurarpara desabafar e contar
coisas importantes.Eu não queria que Eduardo fosse o seu
conselheiro mor
.

Chegamos em casa e fomos para o quarto com nossa


pequena. Marina a colocou deitada no meio da nossa cama e veio
querendo abraço. Afaguei seu cabelo e deixei um beijo no topo da
sua cabeça.

Respirei, tão completo de tudo, tão feliz. Com essa sensação,


sabor e cheiro daquilo que queremos sentirtodos os dias. Apesar
das cicatrizes,das sombras, nós dois quisemos ficarjuntos. Nos
entendemos atravésde olhares e tínhamosa completa segurança
do que temos,do que sentimos.Não temosum contode fadas, mas
temos um amor tranquilo.

E eu queria, pela eternidade,o beijo dela no meu. Sem hora


pra acabar
.

FIM!
Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao
mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira.
— Tati Bernardi
P

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Inesquecível Tentação
Série tentação –olume
V 4
S
Ele é um lindo mentiroso, um valentao, um salvador, um
monstro e um perfeito amante.

Ela está carentee faminta.Bonita e evasiva, ele demorou a


entendê-la e conquistá-la.Mas quando invadiu sua vida virou tudo
de cabeça para baixo.

Ela pagou o preço. Eles estão forados limites. Ele travauma


luta contraseus própriosvíciose isso deveria fazê-la desistir
, mas
sente que cabe a ela protegê-lo e salvá-lo.
• Doce tentação -olume
V 1
• Doce tentação -olume
V 2 (História de Eduardo e Jordana)
• Minha louca tentação- Volume 3 (Históriade Marina e Fred, o
rei da fofoca)
• Inesquecível tentação -olume
V 4
• Imprevisível tentação olume
-V 5, em breve
P
Denise Malta

Foi quando meu primeiro namorado me traiu que eu decidi


esperar
. Não era a mulher mais religiosa do planeta, minha decisão
não foi por isso. Mas fiquei muito enganada, sofrida,derrotada
quando soube da traição.Sinceramente,eu não sei mesmo como
Marina superou perderum quase-namorado para a irmã mais nova
tão rápido.

Não mencionava para elas a minha vida sexual inativa, porque


virariamotivopara pressão.Jordana não me julgaria, era óbvio, mas
Mari jamais aceitaria.Iria dizer que eu estava desperdiçando as
melhores coisas da vida. E eu não estava. Estava esperando a
pessoa certa.Além do que, era algo íntimo,eu não precisavadizer
nada.

Quando conheci Ravi, em uma boate aqui no Rio, fiquei logo


alerta.Ele era amigo íntimodos figurõesproblemáticoscom quem
minhas amigas estavam saindo, longe de ser alguém por quem eu
me interessaria.Certoque isso pareciacoisa de filmeclichê, mas eu
me senti excitada e atraída de uma maneira que eu desconhecia.

Já havia beijado alguns caras, namorado, mas nada nunca foi


para frente–eu acreditavaque era a faltade sexo. E eu estava
pouco interessadaa corrompermeus valores só para fazer um
homem ficar . Era muito difícil alguém querer ficar sem a parte
erótica da relação, isso é fato.

Meu segredo era ainda mais inexplicável, uma vez que eu


adorava festas,bebia, me divertia com coisas mundanas. Mas
acreditava que só o homem certo poderia me esperar
.

Não que nunca tivesse sentido vontade, já, e muitas vezes,


mas a razão sempre falou mais alto.

Por outra razão que fugia de todas as minhas explicações, eu


comecei a ceder às investidas desse bonitão. O charme, as palavras
certas no momento certo, o jeito como me puxava para dançar e nos
guiava num ritmo sincronizado e perfeito.Relutei até que não
consegui mais. Depois de alguns drinks, não beijá-lo pareceu uma
tortura terrível.

Eu não era como nenhuma das minhas amigas. Nem como


Jordana, que esperava o prí
ncipe encantadoe queria viver o conto
de fadas, nem como Mari, que queria exploraro mundo e corpospor
aí –bem, até encontrarFred e ficarapaixonada como nenhuma de
nós viu algum dia. Também não era como July, que queria um
homem, mas se ele fossemuito rico. E, enquanto isso, se divertia
loucamente por aí.
Diria que estava em um meio termo,eu aproveitavaa vida do
meu jeito. Me divertia,mas tinha minhas convicções. Como não
transaraté tercertezade que encontreio cara certo,que merecia
isso. Como diria July, que mereceriaentrarno meu templo sagrado.
E não sonhava com casamento perfeito,filhos, nem nada disso.
Terminei a faculdadede direitoaos vinte e um, mas não levei nada
pra fre
nte, sequei fiz a prova da OAB. Arriscava a vida como
fotógrafa,
o que se tornavamais fácilcom a pensão confortável
que
recebia do meu pai, um figurãoaí que eu via uma vez por ano.
Morava com uma tia, Carolina, que era jovem e animada.

Nos beijamos muito, embora não passasse disso. Ele tinha


jeito
, muito jeito nisso. A língua me explorava e ele sabia o segundo
exatode me dar mordidinhasleves, voltara aprofundaro beijo e me
deixar quente. Eu controlariaisso fácil, era óbvio. Mas seria uma
completa frust
ração para ele, quando chegasse ao final da noite e
fosse para casa sozinho. Se é que ficaria depois que nos
despedíssemos.

Continuamos nos vendo, depois da primeiranoite. Eu deveria


tercaído fora,porque tinha uma faíscaavisando que ele não era
homem pra mim, me deixava excitada demais, querendo demais,
era habilidoso demais. Em um sábado chuvoso, quando me
convidou para ver um filme em seu apartamento,eu recusei.
Inventei que estava resfriada, por causa da mudança de tempo.

Bizarro, eu sei. Mas foi convidando para ver um filme que


Eduardo levou Jordana para a cama. Eu não poderia ceder à
tentação.
Eu imaginava que a minha relutânciaem transarcom ele o
fazia insistir
, e achava que ele iria desistirrápido, mas talvez eu
tivesse virado uma missão impossível, ele queria me vencer
.
De qualquer modo, eu não desperdiçaria a minha única
primeiravez para depois esse cara sumir. E me convenci disso por
um tempão. Voltava para casa queimando, cada vez menos
convencida da minha decisão de esperar . Eu estava esperando o
que?

Em um domingo, nós ficamos no terraçoda coberturadele.


July acabou vindo, porque eu não queria ficarsozinha com ele.
Coloquei um biquini com alças finas, para não pegar uma marquinha
feia. Ravi quem passou bronzeador em mim, e ter suas mãos
acariciando meu corpo foi como teruma brasa percorrendocada
centímetro que ele tocava.

Almoçamos ali, nós três.Bebemos alguns drinksdeliciosos que


ele preparava, enquanto falávamossobre amenidades do cotidiano.
Ravi era carinhoso, mas eu não confiava nele. Achava que toda
noite, depois que de me deixar em casa, ele encontravaoutra.Sem
contarque eu ouvia barbaridadesdele, sexualmente falando. Mari
se divertia contando, achava o máximo, ao mesmo tempo que
agradecia Fred não praticaras mesmas coisas. Quando estavaem
crises existenciais, Edu era igual.

Entramos na piscina e bebemos um pouco mais, mas eu


comecei a frearmeu ritmono álcool, não estavamais confiandoem
mim e nas minhas percepções.Eu tinhamotivosescancaradospara
fugir dele e continuava aqui. Por quê? Por quê?
Quando começamos um beijo, já estávamosapenas nós dois
no começo da noite, dentroda piscina, perdi o control
e de tudo,
como se estivesse a ponto de me entregarcompletamente.Ter
esses lábios macios indo pelo meu pescoço, colo, no decote do
biquini, ele voltava quando ficava tentadoa puxar para o lado e ir
além, porque eu sempre brecava qualquer avanço, mas tudo isso
estava me deixando maluca.

Meu coração acelerava e eu tinha certezaque estava toda


lubrificadalá.Preciseidizer a verdade, estavabrincando com ele, o
testando,me testandoe acabando com convicções que cultiveipor
anos. Ele parou o que fazia, os lábios tocando minha pele do colo,
como se tivessesido atingido fortecom um “eu sou virgem”. Ravi
demorou alguns segundos para conseguirme olhar de novo e bolar
uma coisa que não fosse grosseira para dizer.
— Tudo bem — ele falou por fim — tudo bem... — ele falou
mais baixo — podemos nos beijar, então?
Eu demorei a assimilara pergunta, mas balancei a cabeça, me
sentindo com vergonha por ser virgem aos vinte e três.Mas ele
tentou me tranquilizare eu quase fiquei desconfiada. Depois
acrediteique ele só não queria ser mal educado, iria sumir quando
não estivéssemos cara a cara.

Não aconteceu, ele não sumiu. Nunca houve uma propostade


namoro, mas ele ficou mais carinhoso, protetor
. Outrodia postei
uma foto, jantando com minha tia Carolina e ele se convidou.
Quando contei, ela pareceu animada, achava a maior bizarricedo
planeta eu estaresperando o cara certo,porque segundo ela, que
foi traídapor todos os namorados que teve, nenhum homem era
certo.

Eu imaginava que ele tinha outrosmeios de satisfazersuas


necessidades sexuais, mas eu já não aguentava mais, estava
literalmentepegando fogo, chegava a sonhar com ele todo pelado
me possuindo e ficava estremecida. Estava perdendo o foco de
tudo, só pensava nisso. O tempo todo.

Também sabia que talvez ele estivessesó me convencendo,


que eu pudesse terme torn ado um desafio, afinal não é todo dia
que se encontra uma garotavirgem. O que me dava forçaspara não
ceder era exatamente isso. Eu perderia completamente a graça para
ele depois que ele conseguisse o que faltava.Então era melhor que
ele caísse fora por desistir do que por me vencer
.
— Você é completamentelouca — tia Carol falou, colocando o
bule de café na mesa. Eu estava trabalhando pelo notebook,
editandoas fotosque precisava entregarainda essa semana para a
confecção do álbum.
— Qual a chance de ele ficar apaixonado? — perguntei
desacreditada — pra mim é zero.
— Você meio que estáiludida por ele e com os pés no chão ao
mesmo tempo...
— O homem é um gato, inteligente, você já viu... Muito gato,
sedutor. Chama atençãopor onde passa. Jordana acha Edu o mais
bonito dos três,mas eu sinceramenteacho Ravi. Só que sei coisas
que realmente não gosto.
— Se não vai dar em nada, por que não dispensa de uma vez?
— ela perguntoume encarando e arqueou uma sobrancelha.Voltei
minha atençãoao que faziano editorde fotos,não queria dispensá-
lo. Apesar de saber cruamentea estirpede Ravi, todas as coisas
sujas que ele gostava, eu não queria pararde vê-lo, de passar um
tempo com ele, de podermos conversar . De rirjunto com ele. E de
beijá-lo também. Outrodia ele estava tão cansado e estressado,
que veio me buscar e passamos a noite abraçados, apenas
contemplando a companhia um do outro. E foi muito bom.

Minha tia saiu para jantarcom algum namorado novo e assim


que abriu a porta,deu de cara com Ravi, que traziaum buquê de
peônias para mim. Tia Carol me lançou um olhar sarcásticoe saiu,
puxando a porta.Ele veio até mim, demos um beijo carinhosoe eu
fui colocar as flores em um vaso.

Ravi ficouvendo as fotosque eu terminavade ajeitare depois


pedimos comida japonesa. Ele escolheu um vinho caro, mas já se
sabia que ele era milionaríssimo.

Incrivelmente,quando estávamosvendo um filme –na sala, eu


não estava louca de ir com um homem desses para o quarto–,
começou um temporal. Eu imaginei que duraria pouco, mas foi
longo, dava até mesmo alguns trovõese eu tinha medo, então pedi
para ele ficaraté que minha tia voltasse.Mas ela logo enviou uma
mensagem avisando que não voltaria essa noite.
— Eu posso dormir com você — ele falou e eu o encarei
assustada— só dormir
, não vou fazernada demais — certo,lá no
fundo me irritadaele ser tão paciente comigo, porque só deixava
claro que ele tinha outros meios de saciar sua vontade de sexo.
— Certo — falei, tentando parecer segura.
— Posso dormir num colchão, ou no sofá — ele falou e eu
suspirei, concordando.
— Temos um quarto de hóspedes — avisei — você pode
dormir nele.
— Tudo bem — ele falou condescendente e eu continuei o
encarando, odiando a sensação de ciúme que me incomodava — o
que suas amigas dizem sobre isso?
— Nós dois? — pergunteiconfusa — elas não sabem, não
comentei com ninguém, só July
.
— Sobre você ser virgem — ele explicou.
— Ah... — falei reticente— elas não sabem também. Imagina,
o que Mari diria? — comecei a rir— iria me pressionara transar
com o primeiro homem que aparecesse.
— É incomum ver isso hoje em dia...
— Claro que é — repliquei — as pessoas estãoacostumadasa
viverem de corpos em corpos por aí, o que até pode ser divertido,
mas perde o sentido quando a gente para pra pensar
.
— Como assim?
— Eu poderia ir pra cama com todos os caras que quisesse,
mas depois de matar a vontade o que sobraria? Nada... Só
lembranças de uma diversão rápida.
— Não acha que vale a diversão?Vai esperarpelo casamento?
— Nem penso em casamento— falei confusae ele franziuo
cenho, tentandome entender — quando eu encontraralguém que
me dê confiança de que não vou desperdiçaro momento, alguém
que eu vou poder confiar
, que não vai desaparecer
...
— Não encontrouainda — ele presumiue eu dei de ombros—
vem cá...
Ravi me puxou para mais perto e acariciou meu rosto.
Começamos um beijo delicado e, dessa vez, ele não nos acendeu
demais. Sempre que ameaçávamos perdero controle,ele recuavae
nos acalmávamos.
— Sabe — ele falou, a respiraçãoestavaum pouco irregular e
eu espiei rapidamenteo volume na sua calça jeans, mas voltei a
olhá-lo — eu gosto de namorar assim. Nunca fiz isso.
— O que? — sussurreiconfusa, a voz ficou presa e eu
pigarreei.
— Eu gosto de sexo — ele explicou, contendo um sorriso
sorrateiroincrivelmentebonito. Deus do céu, o homem era uma
perdição! — sou um viciado. E desse seu jeito, conseguimos
aproveitaroutrascoisas. Como um bom filme, um bom vinho, um
jantar
, conversas legais... Apostoque se ficassecomigo de vez, não
ia querer fazer outra coisa.
— Você é um convencido — falei incrédula, mas comecei a rir
— a chuva está passando, você pode até ir embora se quiser
.
— Não quero.
— Ravi... — eu reclamei e ele riu, se levantando.
— Vamos, vou te colocar na cama.

O encarei brava e lhe mostr


ei o quartode hóspedes. Mas ele
reclamou, disse que poderíamosdormirna mesma cama, sem fazer
nada. Eu deveria terrecuado, mas aceitei. A verdade é que eu já
estava um pouco apegada e estava ficando cada dia mais difícil
resistir
. Eu sentiapontadasno maxilar, salivando por ele, quase uma
desesperada.

Avisei para ele que iria tomarbanho e ele disse querer se


oferecerpara ir junto, mas ergueu as mãos em sua defesaquando
lhe lancei um olhar feio.
— Ninguém nunca me viu pelada — disparei quase assustada
e ele fez uma careta de dor
, me encarando profundamente.
— Se você quer me matarde vontade, pode continuar— ele
resmungou e eu revirei os olhos.
Peguei um baby-doll e calcinha, para me trocar no banheiro.

Ravi desfez a cama e eu peguei um edredom quentinho no


guarda-roupa. Peguei dois, para nos manter protegidos e ele
começou a rir
.
— Posso tiraressa blusa? — ele perguntoue eu o encarei.
Senti um apertono peito, imaginando o peito quente e queria me
aninhar nele. Engoli pesado, não conseguindo nem falar , mas
balancei a cabeça, concordando.Tentei não olhar muito, ele tiroua
blusa e veio se deitar . Eu estava tão atordoada que não me
incomodei em escolher o filme. Me senti tensa por um momento,
desconfortável,mas relaxei um pouco quando ele me abraçou por
tráse nos colocou de conchinha. Depois depositou um beijo suave
em minha têmpora.
— Por que continuainsistindo,se sabe que não vou ceder? —
perguntei, querendo nos jogar um balde de água fria.
— Sei lá... Eu gosto de você — ele falou tranquilamentee eu
suspirei — mesmo que você não acredite.
— Sei — falei desconfiada e me virei de frentepara ele —
poderia estar nas suas festinhas uma hora dessas.
— Mas eu pref iro ficaraqui — ele falou,se divertindopor saber
que eu não acreditava — não estou mentindo pra você.
— Tá, vou acreditar
. Até porque se você quisesse, poderia. ir
— Não quero ir — ele falou enfático — posso beijar você?
O encareie toqueiseu rosto.Escorregueia mão atéa nuca e o
puxei, juntando nossos lábios. Comecei a involuntariamente
imaginar como seria nós dois indo além, como se estivesse se
tornandouma necessidade urgente.Mas eu sabia que não era. A
razão e excitaçãobrigavam dentrode mim, o beijo me deixava tão
excitada e querendo, ele tinha um jeito tão gostosoe tão diferente
de me beijar. Não estavaromantizando,devia ser assim com todas,
mas surtiaem mim um efeit o que eu não havia sentido antes. Um
tesão louco que fugia muito do meu controle.

Já senti vontade, fiquei excitada e querendo com outros,mas


nunca com essa agonia me consumindo para tirartoda a roupa,
para ser explorada por ele, para beijá-lo no corpo todo. Devaneei
tantoque ele escorregouuma mão para o meu quadril, dobrando
minha coxa em volta do seu corpo, me fazendo sentiro volume
pressionado bem no meio das minhas pernas. Eu arfei,louca para
ser tocada lá em baixo, o beijo não quebrava, não perdia o ritmo.
Ravi não avançou demais, decidi que apertarminha bunda não era
ir além, já havíamosnos beijado quando eu estavasó de biquini, ele
já me encostou ali. O agarrei pelos cabelos e ele mordeu
suavemente meu lábio inferior
, roçou nossas bocas e eu estremeci
inteira.
— Queria chupar sua boceta— ele sussurroue eu sem querer
puxei o cabelo em sua nuca, queria mordera língua para sentirdor
e esqueceressa vontade— mas tudobem se você quiserseguraro
ritmo um pouco.
— É melhor — falei,a voz todatrêmulaporque eu já nem tinha
mais certezadisso. Ele soltouo ar, pressionouos lábios nos meus e
nos afastou.Meu rostoesquentou quando ele se levantou e notei a
minha umidade em sua calça. Ele deu um sorriso safado.
— Vou pro outroquarto— ele falou serenamentee eu engoli o
bolo no meu peito — boa noite.
— Espera — eu disparei — fica aqui comigo.

Ele hesitoupor um momento,mas eu puxei o edredom e ajeitei


o dele, que deu um riso e veio. Como uma vontade maior do que
qualquer explicação decente,nós já estávamosatracadosde novo.
Eu propus que poderíamos dar muitos amassos, mas que não
iríamos transar
. Ele resfolegou, roçando os lábios nos meus e
prometeuque não iria avançar demais, mas logo estávamosloucos
demais. Ravi praguejava, estremeciae estavainteiroarrepiado.Ele
deu um gemido lamentoso quando desci beijando seu pescoço, eu
queria ir mais, beijar o corpo dele inteiro,mas me contro
lei e voltei
para a sua boca. Nós dois gememos de alívioquando nossas bocas
se chuparam, ele me pressionoucom forçacontrasua ereção e eu
instintivamente me rocei
lá.
— Porra, Denise — ele sussurroumeio desesperado, me
esfregandomais lá. Era tão bom, mas pouco perto do que eu
realmente precisava — você vai acabar me matando...
— Quer parar agora? — perguntei, mas ele negou com a
cabeça e voltou a me beijar. Dessa vez, carinhosamente.
Estávamos perdendo o controle.Eu ainda mais, logo eu queria
beijar o pescoço, me agarrava nele todo.
— Me deixa tirar essa calça — ele sussurrouexasperado e eu,
montada no colo dele, achei que fosse uma boa ideia. Eu fiquei
olhando para o volume sob a cueca boxer de grife. Queria me
encolher e chorar. Uma voz berrava lá no fundo para não
desperdiçara minha únicaprimeiravez com um homem como ele,
mas outraparteimplorava pela libertação.Eu sentia uma pressão
dolorosa no baixo ventre, estava sendo tortuoso.
Ele voltou para a cama e eu decidi que era hora de vermos o
filme de verdade. Mas não dava, não conseguíamos.Estava tudo
faiscando. Ele desceu as alças do meu baby-doll e beijou meus
mamilos suavemente, lambendo e sugando com uma pressão
perfeita.

Eu poderia passar a vida toda aqui o beijando, sentindo esse


prazer
, querendo essa libertação.
— Queria poder chupar seu corpo todo — ele falou manhoso
pertodo meu ouvido e lambeu sob minha orelha — chupar essa
boceta deliciosa e te deixar louca de tesão por mim... Até você
gozar — ele sussurroue eu gemi, choraminguei, estavatão perdida
que se ele ousasse fazer
, eu só deixaria.
Eu dobrei mais a perna em tornodo seu quadril e me agarrei
melhor ao corpogrande e quente.Involuntariamentedesci uma mão
para o membro, mas quando cheguei lá, quase tocando, eu recuei.
— Quer pegar nele? — ele perguntou,deixando nossos lábios
quase colados e eu resfoleguei.Ficamos nos encarando, parecia
haver um bolo na minha garganta.Ravi pegou minha mão, sem
pararde me encarar. Deveria ser patéticopara ele terque ser tão
melindroso comigo. Quando toquei o membro rijo, fechei os olhos,
salivando querendo chupá-lo. Ele latejou na minha mão e Ravi
desceu um pouco a cueca, facilitando. Fiquei o encarando,
observando suas reações,mas o que eu queria mesmo era olhar lá
em baixo. Esfreguei devagarinho, suavemente. Era grande, grosso.
— Eu nunca peguei em um antes — eu falei e ele revirouos
olhos — parece besteira,eu sei... Quem faz isso? — eu perguntei
entediada, o sentindo pulsar na minha mão — também nunca
chupei um antes — eu falei de novo, como se confessasse. O
abdome dele enrijeceu e o membro pulsou de novo na minha mão.
Depois de novo e ele puxou a minha mão.
— Eu vou gozar, desse jeito — ele sussurroue eu me sentei
num impulso, sentindoa nuca formigar. Não consegui evitar
, quando
ele desceu a mão para o própriosexo e apertoua base. Me contorci
internamentevendo o líquido que se formou a ponta e precisei
umedecer os lábios. Ele se sentou também e chegou para mais
perto,escorregouuma mão pelo meu cabelo, até a nuca e me deu
um dos seus beijos intensivos e dominantes. Eu não conseguia mais
me controlar
, era inexplicável e mais fortedo que eu. Eu seria uma
completa vitoriosa se não tr ansasse com esse homem esta noite.
Volteia acariciar o pau duro, estavamuitoduro. Eu limpava o líquido
que ele soltavana ponta,estavalouca para chupar, me deliciardele,
mas não tinha coragem. Ravi estavanervoso, chegava a mordiscar
mais forteo meu lábio e investirna minha mão. Ele chutoua cueca
para forae a visão dele todo pelado tão pertoera quase como me
matar.
— Eu to louco pra gozar... — ele sussurrou,lambendo meus
lábios, estava desesperado e eu louca para ver — se você não
parar, eu não vou conseguirsegurar— ele estremeceu,segurando
meu rosto com mais forçae gemeu gostoso para mim, lambendo
impetuosamenteos meus lábios, tentandome beijar, mas era tão
claro que ele já estava na borda e fazendo um esforçodo caralho
para não cair — Denise...
— Eu queria sentiro seu gosto— dispareisem querere ele se
revirouinteiro,gemeu mais alto,áspero,eu salivei só por ver. O pau
começou a pulsar e no segundo seguinte ele começou a esguichar o
esperma, grosso,forte.Eu continueio estimulando,até que os jatos
foram perdendo a intensidade e acabou. Ravi estremeceu, o
abdome contraiu e ficamos nos encarando em silêncio por
segundos. Ele pegou a cueca para limpar a minha mão e me roubou
um beijinho nos lábios.
— Foi um dos melhoresorgasmos da minha vida — ele faloue
eu o encarei, duvidando. Ele me olhou desconfiadoe se levantou, o
abdome escorrendoseu própriosêmen — eu vou limpar isso aqui.
Quando eu voltar , vou chupar você. Até você gozar. Não estou
pedindo, to te avisando — ele avisou e meu coração perdeu uma
batida.

Mil coisas se passaram pela minha cabeça, mas quando ele


voltou do banheiro, secando o abdome e membro com a minha
toalha, tudo sumiu, deu branco. Meu clitórislatejava de vontade,
mas eu sabia que era a coisa erradaa ser feita.Ravi não colocou a
cueca de volta, veio e me puxou pelo quadril, para a beirada da
cama, onde ele se abaixou.
— Eu não sei se quero — eu disparei nervosa, nenhum outro
homem havia me visto pelada.
— Tem certeza? — ele me encarousério,enquantodeslizava o
polegar sobre a minha calcinha e eu afasteium pouco mais as
pernas — se realmente não quiser, eu paro.
— Ravi... — eu sussurrei, eu deveria não querer
. Mesmo.
— Tira esse pijama — ele falou autoritário,
mas eu neguei com
a cabeça — só vou chupar você, vida — ele falou carinhoso dessa
vez.
— Você estáme matando — eu avisei, quando ele se levantou
para tirar meu baby-doll.
— Você é muito gostosa — ele praguejou, me olhando tão
minucioso, que eu fecheios olhos — Deus foimuitobom comigo me
dando você assim, tão pura e gostosa.
— Eu ainda sou virgem — falei, mantendo os olhos fechados.
— Eu sei — ele falou tranquilamente,beijando meu mamilo
direito,para depois o esquerdo — mas eu sei que vai ser minha, a
tua virgindade — ele falou, beijando meu mamilo outravez — não
me importa quando... Eu espero o tempo que for
.
— A gente não devia estarfazendo isso — eu falei, o sentindo
tirara minha calcinha e gemer forte.Eu estava lubrificada,doendo
de tesão — ninguém nunca me viu pelada — eu repeti.
— Eu sou o primeiro.E eu gostodisso — ele falou, afastando
cuidadosamenteas minhas coxas, que eu insistiaem quererfechar .
Ravi usou as pontas dos dedos para afastarmeus lábios íntimose
meu clitórispulsou. Ele gemeu, acariciando a ponta — é a boceta
mais bonita do mundo.
— Meu Deus, que horror — eu falei e ele riu.
— Abre mais as pernas,amor — ele pediu, mas as afasto
u por
mim — eu gosto assim.
Eu ia retrucar, relutarpara voltarmospara a sensatez. Mas
nesse momento ele deu uma lambida macia, longa de baixo para
cima e eu nem consegui abafaro gemido. Foi tortuoso,perfeito,
delicioso. Ele chupou o clitóris e lambeu de novo, aprof
undando a
língua em mim. Estava sendo tão gostoso, que eu não conseguia
me arrepender de teresperado tantopara terexperienciassexuais.
Jordana teve relações muito cedo, mas pelo que soube, só foi ter
orgasmosquando conheceu Eduardo. E Mari era uma safada, mas
dizia sempre que nunca esteve com alguém como Fred. July nem
mencionava a primeiravez, para ela foitraumática.
E as trêsfizeram
entre os quatorze e dezessete.

Ravi me chupava com tantogosto,grunhindo e limpando tudo.


Eu não sabia se ficavasentada,se inclinava o corpo ou deitava na
cama. Estavainquieta,me segurandona borda com medo de gozar.
Acariciei seu rostoe ele olhou para mim, no momento em que
circulava a língua no meu clitóris e eu desfaleci. Queria esse homem
em cima de mim, dentrode mim, queria gozar toda grudada nele,
com ele, queria sentiros jatos quentesde esperma dentrode mim...
Estava tão louca de tesão. Comecei a gemer manhosa, sem
conseguir abafar
, quando ele afastoumeus lábios íntimos,seguiu
rodeando a língua em mim toda, meu Deus, eu não sei se gritei,
tudofoise anulando ao meu redor
. A borda que eu me segurava era
mais alta do que imaginei e ele ainda ousou dizer que eu
aproveitariamelhor se deitasse.Foi gostosodemais sentira ponta
do dedo na minha entrada,ele mamando meu clitóriscom a pressão
exata, uma mão no meu seio. Eu caí. Gozei. Gozei muito. Como
nunca imaginei que seriapossível.Ele não parou atéque eu relaxei.
Depois veio por cima de mim, o pau encostandolá. Demos um
beijo gostoso e cheio de satisfação, cheio do meu gosto.
— Foi a coisa mais gostosaque eu já fiz até agora — ele falou
e eu acariciei seu rosto. Para mim, foi mesmo.

Acabamos pegando no sono pelados e ao acordar , ele ficou


roçando o sexo na minha boceta, entre os grandes lábios, me
provocando. Eu fui cedendo, pedindo, gemendo por ele, que recuou
e disse que não queria que fosse daquele jeito, de qualquer jeito,
que já esperamos até aqui. Tomamos um banho juntos, onde
ficamos muito tempo desperdiçando água, atracado s sob o
chuveiro, trocando carícias.Eu queria mesmo era que ele me
pegasse no colo e enfiassecom tudo em mim. Estava beirando a
loucura, como se tivéssemos invertido a posição.

Quando na sexta-feira
vi foto
s dele em um bar com os amigos,
e depois ele não apareceu, nem me convidou, eu fiquei irritada,
decidi que ainda bem que não passamos de masturbaçãoe sexo
oral incrível.
No sábado a noite ele apareceu, falando sobre a ressaca
desgraçada,como se fossedivertido.Eu o encarava séria, mas não
havia motivos para cobrar alguma coisa.
— Esteve com outra? — perguntei e ele me encarou
minucioso, torceuos lábios e negou com a cabeça. Eu o encarei
entediada, não estava acreditandoe ele segurou o riso — é sério,
vida. Não fiquei com ninguém.
— Não estou cobrando nada de você. Não precisa mentirpra
mim — eu faleiimpacientee ele me puxou, me fazendocair sentada
ao seu lado no sofá.
— Eu sei — ele falou tranquilamente— eu só bebi demais.
Não quero outra mulher
.
— Sei — falei, duvidando.
— Só penso no dia que vou transarcom você — ele falou e eu
o encarei séria, enciumada também — quero te terlouca grudada
no meu pau, te encher com minha porra.
— Você é muito pervertido— eu falei incrédula, mas vivia
pensando nisso.
— Eu sei — ele confirm ou descaradamente — e você
potencializouisso em mim. Não paro de pensarna gente.A imagem
da tua boceta perfeita tá impregnada na minha mente.

[...]

Aconteceuna noiteda festade aniversáriode Eduardo, não sei


como conseguimos esperar tantosdias. Mas Ravi queria que já
estivéssemos mais íntimos sexualmente falando, segundo ele,
assim seria muito melhor para mim. Assim também tive tempo de ir
ao ginecologista e decidir um meio contraceptivo.Não queria
engravidar por acidente, e do jeito que estávamos, era o que
acabaria acontecendo.
Cumprimentamoso casal. O homem estavalá, feliz ao lado de
Jordana. Nos ver juntos deixou minha amiga muito surpresa.Fui
apresentadaaos amigos dele como a namorada. Conheci sua mãe,
que foi educada, surpresapor Ravi apresentaralguém formalmente
e toda derretida por ele ser tão carinhoso comigo.

Nem ficamosmuito. Estava difícilpara nós dois contertodo o


desejo. Fomos para o apartamentodele. Lá, bebemos um vinho, a
garrafainteira.Ouvíamosmúsica e ele ainda me puxou para dançar.
Meu peito subia e descia porque eu sabia que estavaabandonando
todas as minhas convicções, mas a vontade de me entregarera
muito maior do que a de esperar o cara certo,se ele existisse
mesmo. Além do que, nós já havíamosfeitotudo, só faltavaselar o
sexo com penetração.Ele estavaansioso, cheio de carinhos.Eu já
sabia que Ravi era um homem possessivo, ciumento,embora muito
carinhoso e atencioso.

Subimos para o quartodele, que era enorme, bem decorado,


tudo escuro e moderno. Combinava com ele. Ravi me abraçou por
tráse prometeuque se eu achasse que era cedo para irmos mais
longe, ele iria parar
. De qualquer modo, ele sempre parava quando
eu pedia. Fato é que eu já havia parado de pedir, só queria
continuar.

Nós quase transamos outra s vezes, mas algo o fazia querer


esperarmais um pouco. Ravi pareceu nervoso por um momento,
ansioso, me devorava no beijo, explorava meu corpo.
— Eu quero que seja perfeito— ele sussurrouno meu ouvido,
roçando os lábios em direção à minha nuca — e inesquecível.
Eu trem ia um pouco quando ele foi tirandoa minha roupa, o
que era bizarro.Puxei a camisa dele e desfizos botões,desabotoei
a calça e ele me segurou, me guiou para a cama.
— To me sentindo uma garotinhade quinze anos — sussurreie
ele parou, rindo da minha piada sem graça.
— Está uns oito anos atrasada— ele brincou e, num gesto
habilidoso abriu o fecho traseirodo meu sutiã. Ele deu um sorriso
presunçoso — estou me sentindo um adolescente também.
— Pelo menos você já me viu pelada — eu disparei nervosa e
ele puxou a minha calcinha para baixo.
— Ainda bem — ele falou, me observando completamente.
Depois afasto u minhas pernas e olhou no meu ponto sensível,
franziuo cenho e correua língua para umedecer os lábios. Ravi se
inclinou para beijar minha boca, depois se afastoue terminoude
tirarsua roupa e sapatos.Minha respiraçãoficoumais fracaquando
ele mostrouo membro, já tão excitado e grande, grosso, as veias
saltadas. Me senti salivar querendo.

Eu adorei cada momento. Desde o sexo oral incrível,a língua


me explorando perfeitamente até quase me levar ao orgasmo. Eu o
chupei, toquei, me deliciei dele, que gemia gostosorefémde mim.
Eu não deveria me sentirtão nervosa, não era só uma menininha
inexperiente. Eu sabia muito sobre... Algumas coisas. Já sabia como
levá-lo a loucura. Era só o nervosismo de terabertomão de uma
convicção antiga. O observei vindo por cima de mim. Segurei seu
rostoem minhas mãos e nos encaramos por um momento, depois
nos beijamos.
— Se quer saber, isso é novo pra mim também — ele
sussurroue eu assenti. Ravi depositou beijos pelo meu rostoe
ergueu o corpo, segurou o sexo e roçou na minha intimidade. Eu
resfoleguei,comprimindo inteira e ele olhou para mim, me exibindo
esse sorriso audacioso.
Ele veio devagarinho e eu tr anquei a respiração,mas quando
ele se colocou por cima e entrelaçousua mão esquerda na minha
direita,eu comecei a relaxar . Dei um gemido dolorido na primeira
investida e ele recuou, veio até a metade e voltou. Ravi tremiaum
pouco por terque se controlar e continuoudevagar, investindoatéa
metade e voltando. Eu ergui o rostoe o beijei, solteisua mão e me
segurei toda nele, mas deixei as pernas abertas. Ele gemeu
lamentosoe forçoutudo, foi como se eu tivessesentidoo momento
em que tudo se rompeu, ele também, porque deu um gemido áspero
e deu uma investida mais forte, me fazendo aguentar tudo. Era difícil
pensar só na excitaçãosentindo dor, ele era grande, parecia estar
me rasgando inteira e isso porque eu estava lubrificada e
loucamente excitada antes.
— Você me deixa tão louco — ele sussurroue eu enrosquei
minhas pernas em suas costas — está tudo bem?
— Está — sussurrei — só dói... Um pouco.
— Quer parar?— ele perguntou, mas eu neguei com a cabeça
— vai ficar gostoso, prometo.
— Tá bom — falei baixinho e ele procuroupela minha boca.
Ficamos parados por um momento, nos beijando até que eu afastei
as pernas, arrancandoum gemido lamentoso dele, que começou a
investire eu mordi meu lábio inferior. O desconfortofoi sumindo e
logo começou a ficarbom, ele gemeu áspero, até as estocadas
ficavam mais fáceis, ele deslizava, indo e vindo num ritmo gostoso.

Logo estávamosem uma dança sincronizadae deliciosa, nada


me faria sentir arrependida. Ele ficou louco quando sentei por cima e
comecei a cavalgar, beijava meu seio e me segurava com uma
pegada perfeita.Mas só cheguei ao orgasmo quando ele me
penetroude lado, os dedos habilidosos massageando meu clitóris.
Tentei seguraros gemidos, mas ele queria me ouvir escandalosa,
disse que adorava saber como eu estava me sentindo. Quando
comecei a ondular e contrair
, ele deu um gemido áspero e aliviado,
deixando claro que estava apenas se segurando para esperaro
meu momento, foi delicioso sentir os jatos quentes dentro de mim.

Desaceleramosjuntos, Ravi acariciava a lateraldo meu corpo


suavemente e me deu um beijo na boca. Senti um vazio dolorido
quando ele puxou para fora.

Me sentei e abracei os joelhos dobrados, apoiei meu queixo e


respireifundo. Ravi voltou do banheiro secando o sexo com uma
toalha branca e a jogou sobre uma poltrona de couro preta.
— Como se sente? — ele perguntou, se inclinando para
pressionar os lábios nos meus.
— Bem...
— Foi bom esperar?
— Foi... Sabia que não aguentariaesperarmuito tempo com
você — eu falei e revirei os olhos.
— Eu estavalouco já, pegando fogo de verdade — ele falou e
eu o olhei, depois acariciei levemente seu rosto.

Achei que as coisas esfriariamentrenós depois disso, veja


bem, eu não transei com ele imaginando que viveríamos um
relacionamentosério nem nada disso. Foi só porque não aguentava
mais segurar a minha vontade, estava ficando doloroso esperar .
Mas depois disso, Ravi começou a se sentirmeu namorado, já nos
apresentavaassim antes, aliás. Queria ficarcomigo o tempo todo,
me proteger
, saber de tudo.

O sexo ficava cada vez mais gostoso.Eu sentia que inflava o


ego dele, por ser o único homem com quem me relacionei dessa
maneira. E o domínio que ele tinha sobre o meu prazer era
indescritível.Eu fui aprendendo mais sobre o que ele gostava, era
delicioso saber dar prazer para quem se amava. Juntos,
protagonizávamos uma dança perfeita e deliciosa de prazer mútuo.

Com a proximidade excessiva, logo fui notando seus defeitos,


seus excessos. Ele queria sempre sair para clubes, adorava jogos,
bebidas, drogas, era como se não conseguisse dizer não. E como
alguém que o amava e queria seu bem, comecei a alertá-lo, pedir
para parar
, pelo menos um pouco. Mas ele não conseguia.

No começo até tentou.E foi muito bom. Viajávamos juntos,


conheci sua família,seu irmão, avós, tios, todo mundo. Achei que
superaríamoso lance do vício, ele até se propôs a começar um
tratamentopara se manterna linha, quando brigamos por ele beber
durante uma semana inteira. Ficou tão fraco que precisei pedir ajuda
à sua mãe. Coisa que não durou muito, ele logo começou a sentir
falta.Queria que eu fizessevista grossa, mas não suportavavê-lo
sempre em farra,sempre bebendo, sempre fumando, sempre
usando algo. Porque ele não tinha controle,não tinha limite. Se
sentia vitoriosopor conseguir disfarçaruma ressaca daquelas. E
quando eu decidia terminar, ele ia fundo, só parava quando o corpo
pedia arrego e ele precisava de cuidados médicos.

Começamos a viver entreidas e vindas, um relacionamentotão


recente.Fui aconselhada a cair foralogo, mas estava apaixonada,
apegada e preocupada demais para abandoná-lo. Não conseguia
deixá-lo, temendo que assim ele terminasse de se destruir
completamente.
C 01
RaviFerrari

Cheguei ao escritóriorefémde uma ressaca que há tempos


não me dominava dessa maneira. O corpo inteiroestavadolorido, a
língua dormente, toda água que eu bebia me dava enjoo. Mas
persisti.Tinha reuniões importantesque não poderia adiar e, de
qualquer maneira, já estavaacostumadoa driblaros efeitosde uma
noite excessiva.

Enviei uma mensagem para Denise, desejando bom dia e


dizendo que a amava.
Sabia que não remediava muita coisa, mas apesar de tudo, eu
era completamente apaixonado por ela.

Com Denise era tudo diferente,era amor. Ela era minha.


Aquela companheira não só para momentosbons, mas para todos.
E, mesmo que eu detestasse, para os que eu precisava.

Ela já tentouterminarcomigo outrasvezes, mas eu nunca


consegui aceitar
. Em momentos de sensatez, eu sabia que era
melhor deixá-la ir. Meu amor era bondoso o bastante para
reconhecerque ela mereciaseguirem frente,que eu não a merecia.
Mas eu não conseguia. Logo a saudade apertava,eu começava a
doer e ficarincomodado sem ela, a vida não tinha graça sem ela.
Era quase como a minha relação com o álcool, eu sabia que
precisava deixar, mas algumas horas sem me dava crise de
abstinência.

Quase ninguém sabia que eu fui seu primeirohomem. Eu já


cheguei a acreditarque isso era o que me deixava ligado nela, mas
já sabia que não era.

Depois dos compromissosdo dia, passei no apartamentodela,


que não queria sequer me deixar subir, mas avisei que só iria
embora depois de vê-la.
Ela deixou a porta entreab erta e eu entrei. Ignorei nosso
desentendimentoe a puxei pela cintura,acaricieiseu rostoe a puxei
para um beijo.
— Eu não quero mais — ela falou se soltando e num
movimento rápido, passou por mim, indo para longe.
— Mas eu quero — falei, indo até ela, que começou a rir
incrédula.
— Ravi, eu estou avisando pra depois você não vir pagar de
louco comigo. Eu não vou mais agir como sua namorada e nem vou
ser fiel à você.
— Que isso, vida? — perguntei indignado — eu amo você!
— Ah, me poupe! — ela bateu com as mãos nas latera is do
corpo — olha só pra você, acabado de novo! — ela apontou em
minha direção e eu olhei para baixo, como se me analisasse, mas
ela já reconhecia quando eu aparecia depois de uma noite
daquelas.
— Eu não fiznada demais — falei,estavamentindo.Abusei de
tudo que tinha vontade, matei minha abstinência, aguentei três
semanas sem uma gota de álcool, estava no limite, querendo a
morteou a coisa mais fácil, que era sanar, me deixar fazer
. Mas
precisavanos fazerficarbem — saícom os caras,bebi mais do que
devia e...
— Você sempre bebe mais do que devia! Você nunca
consegue não beber. Nunca consegue parar!E eu não suportoficar
aqui, fingindo que amo você enquanto você se destrói!
— Para com isso, vida — eu falei sorrateiro,
chegando mais
pertoe ela respirou fundo — eu prometoque não vou fazer de novo
— falei tentandoparecerconvicto, mas nós dois sabíamosque eu
não conseguia. Duas semanas limpo e eu já me sentia à beira da
loucura. Na terceiraeu já parecia um desequilibrado precisandode
alívio, do prazer da bebida.
— Eu não acreditoem você — ela falou irritada— eu só quero
que você vá embora, tenho muito que fazer.
— Já pensou se vai fazera prova da OAB? — pergunteie ela
me encarou, irada por eu tentarignorar nossa briga — podemos
estudar juntos, posso ajudar você.
— Meu Deus — ela falou incrédula — você é inacreditável.
— Me dá uma chance... — comecei a dizer e ela começou a rir,
negando com a cabeça. Achei que ela cederia, mas já conhecia
Denise e como demorava a me perdoar depois de um deslise
desses.
Ela foipara o quartoe se tran
cou, atéque eu desistissee fosse
embora. A tia dela chegou do trabalho e me lançou um olhar
entediado, mas puxei conversa com ela. Carol não me odiava, mas
já foi o tempo que apoiava alguma coisa entre mim e a sobrinha.
Fui embora e na manhã seguinte, mandei entregarflorespara
ela. Um buquê desses com quinhentas rosas e os chocolatesque
ela adorava. Enviei mensagens dizendo que a amava e só queria
que ficássemos bem, mas não adiantou.

Ela me ignorou durante a semana inteira. Não bloqueava,


porque devia estar adorando me ver humilhado querendo seu
perdão. De qualquer maneira, isso não importava. Eu estava
fazendo um esforçodesgraçadopara ficarlimpo e assim voltarcom
ela.
— A sua sorteé que ela não sai por aí procurandooutrocara
— meu irmão Pedro falou, parecendo se divertire eu o olhei mal
humorado. Estava furiosocom tudo, a vontade era de esganar
alguma coisa para ver se aliviava minha agonia. Era como sentir
fome e não poder comer — eu só queria ver sua reação se ela
ficasse com outro.
— Ela não ficaria com outro— falei convicto,mas meu irmão
começou a rir
.
— Porque é uma idiota. Bonita do jeito que é, deveria terte
largado há mais tempo.
— Ela não me largou — falei o óbvio — ela está brava, me
dando um tempo pra... pensar
.
— A coitadanão mereceisso, cara— meu irmão faloue eu me
levantei — buquê de três mil reais não compra o perdão dela.
— O meu amor compra — falei impacientee meu irmão riu em
negação.
Na noite da quinta-feira,vi fotodela com Marina e Jordana em
um bar. Fiquei agoniado a vendo ali, solta,sozinha, então fui pra lá.
Nenhuma das amigas gostou quando cheguei, eu não era o
exemplo de homem preferidodelas, também pudera. Jordana era
mais educada, mas Marina deixava escancaradoseu ódio por mim.
Chegava a brigar com Denise quando ela me perdoava.

As cumprimentei educado. Perguntei sobre a Helena, que


estava cada dia mais espertae completariaum ano no final dessa
semana, em um festãoque a mãe de Edu fez questãode organizar
sozinha.
Denise virou o rostoquando tenteiselar nossos lábios e eu me
contentei. Logo Eduardo chegou e por último, Fred.
— Chiara veio comigo — meu amigo falou para Jordana, mas
em tom alto e eu virei o rosto para ele, tomei como provocação.
Denise se levantou e avisou que ia ao banheiro. Mari foi junto
com ela.
— Você é um idiota — Jordana falou e Eduardo olhou
assustado para ela — não sei como elas suportam.
— Deixa que eles se resolvam — Edu falou para ela, que
revirouos olhos. Denise não parecia nada dispostaa se entender
comigo, mas entendiisso como um teste.Chiara veio falar com todo
mundo, me cumprimentandocomo os amigos que éramos. Edu me
lançava olharesdesaprovadores,mas conhecia a irmã e sabia como
ela gostavade provocar. O que eu não gostavaera de ser colocado
como o cara que seduzia Chiara e a enganava. Com ela sempre foi
tudo às claras, eu raramentea procurava,mas ela aparecia em
momentos muito convenientes para mim, que não conseguia
renegar suas propostasindecentes. Era como a minha desculpa
perfeitapara não ser reduzido ao alcoólatra que renegava um
tratamento.Doíapensarassim, no fundoeu nem achava que era, já
que ainda me mantinha sóbrio a maior partedo tempo. Era mais
fácil parecer um traidor
.
Agradeci internamentequando ela voltou para a mesa que
estava com as amigas, o clima pareceu até amenizar
.

Quando Edu e Jordana avisaram que iriam embora, Denise


quis ir também, mas Marina pediu para ela ficarmais um pouco, que
ela e Fred a levariam.
— Por favor , vamos comigo — eu pedi em tom baixo e a
encarei, que ficou séria e negou com a cabeça.
— Você deveria ir ficarlá... Com a sua amiga — ela falou e
forçouum sorrisopara mim. Virei o rostoe peguei meu copo com
água com gás e limão, bebi um gole e devolvi para a mesa. Denise
não era a mulher mais briguentado mundo, mas ela sabia ser dura
quando queria. E isso foi mais um teste.

Quando o amigo Antônio chegou, ela ficou de conversinhas


íntimascom ele, me deixando louco de ciúme, mas fiquei quieto. Eu
não era o cara que queria proibir amizades, me importava com
roupa curtaou se ela ia sair sem mim, confiava nela, era a mulher
da minha vida. Não abusava da liberdade dela. Mas eu era ciumento
com esse idiota. O cara a levava para festasquando brigávamos,
incentivava a me largar e eu tinha certeza de que se ela desse mole,
ele pegava. Por favor, Denise era perfeita,que homem resistiriaa
ela?
— Saindo daqui vou pra casa do Rafa... Pessoal está lá
bebendo — ele falou e eu virei rapidamenteo rostopara eles. Ouvi
Fred rindo — as meninas iam gostar de te ,ver
Dê.
— Vou adorar— ela falou docemente — até porque tia Carol
viajou com o namorado.
Eu me senti queimando, por estar aqui igual um idiota
esperando-ame perdoare ela fazendoplanos de enchera caracom
esse panaca e outrasamigas. Mas como eu merecia, fiquei quieto.
Tomei como provocação quando ela começou a terconversasmais
sussurradase até afastoua cadeira de mim, para que eu não
escutasseas conversinhascom o amigo. Marina logo reclamou dos
dois de segredinhos.
— Depois eu te conto, Mari — Denise falou para ela e eu me
levantei. Peguei um maço de cigarrosno bar e me afastei.Peguei
um e acendi com o isqueiro, dei uma tragada longa e segurei,
querendo me sufocarpara queimar toda a raiva. Soltei a fumaça e
tentei me acalmar
, nada que resolvesse muito.
Minha vontade maior era ligar o foda-se e ir para outrolugar,
me divertircomo sempre fiz, mas se eu fizesseisso agora, Denise
teria motivos triplicados para manter o término.

Chiara não demorou ali com as amigas, sabia que iriam para
algum lugar mais animado e deveria terido junto,pelo menos assim
eu matariaminha vontade de encher a cara, estava sendo uma
desgraçalidar com os efeitosde abstinência,a cada dia se tornava
pior e torturante, como se estivesse faltandoalgo que me dava
prazer. Eu só queria o alíviode poder sanarminha vontade,o prazer
de poder beber em paz. Queria ter coragem de deixar Denise
bancando a orgulhosa sozinha, mas eu não conseguiria magoá-la
ainda mais. Eu não sabia o que era pior, pararde beber ou ficarsem
ela, sem poder afundaro rostoem seu pescoço e ganhar seus
carinhos,sentir seu amor genuíno e fazero sexo perfeitoque só eu
e ela fazíamos. Era uma verdadeira guerra dentro de mim.
Joguei a bituca do cigarrono chão e pisei para terminarde
apagar. Voltei para a mesa e, dessa vez, o amigo dela não estava.
Achei que ele tivesseido embora, mas quando voltou, Denise
se levantou. Ela ia deixar algum dinheiro com Marina, para pagar o
que havia consumido, mas eu não deixei.
— Vida — falei sérioe ela me olhou desinteressada— você vai
pra onde?
— Vou sair — ela falou confusa — nos falamos depois.
Ela acenou para Fred e deu um abraço e beijo no rostode
Marina. Para mim, nada. Antônio entrelaçouo braço dela no dele e
os dois se foram.
— Que inferno— disparei sem querere peguei um olhar de
deboche para Marina em minha direção — eu não me importo,
Marina. Se ela quer fazer isso, que faça.
— Tá bom — ela falou, começando a rir— tomaraque ela
fique com outro.É um desperdício,Denise bonita desse jeito presa
a um homem só.
— Mari — Fred a repreendeu.
— Ué, ele não adora as festinhas privadas com Chiara? Não
deveria se incomodar se Denise fizer o mesmo.
— Ela não vai fazer— eu rosnei, queimando atordoadosó por
pensar na possibilidade.
Eu queria terido para outrolugar, fazermais merdas e beber
até não conseguir mais levantarda mesa, assim ela se comoveria
também. Mas não queria desse jeito, queria consertaras coisas,
então fui para meu apartamento.

Ao chegar, tomeium banho e vestium samba-canção de seda.


Fiquei jogado na minha cama, olhando para o teto, indignado
pensando no que Denise estaria fazendo. Enchendo a cara?
Falando mal de mim para os amigos? Ficando com outro?Neguei
com a cabeça, eu me faziaacreditarque ela não teriacoragem de ir
para a cama com outro,porque nós dois demoramos até ela decidir
se entregare deixar para trása sua decisão de não transarantesdo
casamento, ou seja lá o que fosse.

Mas agora ela já havia se libertadodessa decisão, promessa,


sei lá o que. Poderia fazersem culpa. Eu não conseguia lidar com a
possibilidade. Já era duro lidar com o fato de ela estar lá, se
divertindo sem mim enquanto estávamos brigados.

Não consegui pregaro olho. Quase quatroda manhã, comecei


a ligar. Ela rejeitavaas ligações, mas eu não desistia.Até que fui
longe demais e liguei para Antônio.
— O que você quer? — Denise falou impaciente,
evidentemente embriagada.
— Por favor
, Denise — eu pedi, tentandomalear o tom irritado
— me diz onde você está.
— Não.
— Eu não consigo dormirsem saber onde você está — falei
enfático — por favor
, vamos conversar
.
— Pra que? Pra você decidir que eu sou sua e amanhã me
fazer de idiota de novo? — ela gritou e eu fechei os olhos.
— Não vou fazerisso — falei mais calmo — eu juro que não
vou mais fazerisso — fecheios olhos. Uma parteminha queria que
fosse verdade, mas eu já sabia que não conseguiria aguentara
pressão por muito tempo.
— Eu não acredito em você.
— Eu te amo, Denise — falei com força— por favor , não me
deixa passar essa noite sem você, tem sido um inferno!
— Que droga, Ravi. Que droga! — ela falou, se dando por
vencida. Sabia que só estava cedendo porque bebeu.

Me troquei e fui buscá-la. A frente da casa estava movimentada


e ela veio sozinha, olhando para os lados como se não quisesse ser
vistavindo me encontrar . Destraveio carroe ela entrou,me olhando
brava, mas tão linda que eu sorri.
— E eu quero ir pra minha casa — ela avisou, mas não dei
importância.

Denise não retrucouquando chegamos. Abri a portado carro


para ela e subimos em silêncio. Denise tirouos saltose se sentou
na beirada da cama. Eu fechei a portado quarto,coloquei meu
celular e a chave do carro sobre a cômoda alta.
— Você não pode agir como se fosseminha obrigaçãoperdoar
tudo que você faz — ela falou e eu parei, era verdade. Respirei
fundo e fui até ela, me abaixei em sua frente.
— Eu me arrependi, por favor
, vamos esquecer isso e seguir
em frente— eu falei a encarando e ela soltou o ar, rindo
desacreditada— eu amo você, Denise, não estoumentindo quando
digo isso.
— Você tornaisso tãobanal... Sério, eu não sei o que eu tenho
na cabeça pra ficaraqui insistindo em você. Não faz nada que se
preste.Não procurase trata r, não para de... não vou nem colocar
como traição,afinal nem voltamos. Mas não para de sair com outra,
pelo amor de Deus, me dá vergonha encararos meus amigos como
a trouxa que aguenta tudo que você faz!
— Eu não vou fazer de novo! — falei indignado.
— Vai pararde beber? — ela perguntou,se sentando de uma
vez.
— Eu vou tentar
, Denise — falei vencido e me sentei ao seu
lado — eu não insistiria em você se não te amasse!
— Eu preciso de um banho — ela falou desanimada, se
levantando. Nunca dormia sem banho, ficava agoniada se não
fizesseantes de vir para a cama. Havia tudo dela por aqui, desde
produtos de beleza, higiene, roupas.
— Me deixa ir com você...
— Não! — ela falou, quase me interrompendo.

A acompanhei com o olhar, enquanto ela ia. A porta do


banheiro foi empurrada,mas não chegou a se fechar . Mordi meu
lábio inferior
, uma partemuito pequena ia obedecê-la, mas ela foi
esmagada impiedosamente e eu me levantei.
— Eu faleipra você não vir — ela falouao me notare eu tireia
minha roupa. Não falei nada, abri a portado Box e entrei.Ela ficou
quieta quando a abracei por tráse escorregueiuma mão para seu
ventre,a puxando para mim. Inclinei o rostopara roçaros lábios na
curva do seu pescoço e dei um beijo em seu ombro. Depois a virei
para mim, enrosquei meus dedos em seu cabelo e comecei um beijo
profundoe eloquente, cheio de vontade, porque senti sua faltaa
semana inteira.
Ela se rendeu, passou os braços em volta do meu pescoço e
arranhoulevemente minha nuca. Logo a encosteicontraa parede e
encerreio beijo mordendo seu lábio inferior
, nos encaramospor um
momento e eu voltei a beijá-la.

Denise se afastounum impulso e, arfando, avisou que iria


terminaro banho. Concordei e liguei o outrochuveiro, fiquei em
baixo da água morna, a observando, salivando e me segurando ao
vê-la se tocarcom delicadeza. O cheirosuave do óleo de banho era
delicioso em sua pele macia, eu adorava tocá-la e beijá-lo o corpo
inteiro.Ela traziapara mim a partefácilda vida. Sem fetiches,sem
complicações, sem excessos. Desde que a conheci, ela se tornouo
meu ponto de paz, meu port
o seguro. Incontáveisvezes me dando
apoio e força quando eu não merecia. Nosso sexo era
descomplicado, cheio de tesão, era como se fôssemos tão
complementaresque não precisássemossempre de muito para nos
levarmos à loucura. Teríamo
s um relacionamentodescomplicado e
leve, se não fosse eu.

Ela terminoue puxou a toalha, se enrolou e saiu do banheiro,


diretopara o meu closet.Eu me apresseipara ir atrásdela, que me
lançou um olhar frio,mas eu estava aceitando se era essa sua
punição.

Ela se secou, passou o hidratanteque era como sua marca


registrada,seu cheiroperfeito
. Ela tinhapijamas por aqui, tudoaliás.
Mas pegou uma camisa branca minha, não se deu o trabalhode
vestiruma calcinha sequer e eu quase sorri,mas seus olhares me
faziam recuar
.
— Você está sendo cruel comigo — eu falei e ela fez pouco
caso, passou por mim e voltou para o quarto.Eu suspirei, não me
dei o trabalh
o de colocar uma roupa, porque mesmo que
continuássemos brigados, eu sabia que roupa não iríamos usar
.
C 02
Denise Malta

Mantive minha birracom ele, mesmo quando ele veio apenas


enrolado na toalha para a cama. E fez pior, antes de se deitar
,
puxou e jogou na poltronapreta de couro. Eu fiz uma carranca,me
virei para o lado opostoe comecei a enfiaro edredom por baixo do
meu corpo, deixando claro que queria distância.
— Eu sei que faço tudo errado com você... Que eu nem
mereçoseu amor, Denise — ele começou a dizer — mas desde que
nos conhecemos, eu sinto uma coisa que foge das minhas
explicações. E eu sei que deveria te deixar em paz, mas eu não
consigo viver sem você.
— Você mentetãobem — falei tãobrava, tãobrava comigo por
gostar tanto desse energúmeno.
— Se eu não te amasse, não estaria insistindo tanto por
capricho. Você sabe que eu não seria capaz.
— Você só temme machucado e acha que não consegue viver
sem mim? É prazeroso pra você me fazer sofrer?
— Eu vou mudar, eu juro — ele falou mais enfático,então o
senti chegando mais perto— não é isso que você quer? Que eu
seja um cara sério, sem excessos, que te ame como você merece?
— Você quer sexo — eu resmunguei e ele quase riu, mas se
conteve.
— Eu quero você — ele falou, puxando o edredom que nos
separava. Eu deixei, já estava aqui, de qualquer maneira. Não
poderia ser hipócrita,eu vim sabendo onde a noite term
inaria. Eu
queria o sexo, apesar de tudo.

O beijo nos levou exatamentepara onde ele queria, eu logo


estava nua, ele com a boca no meu ponto mais necessitado de
atenção. A língua macia me lambia longamente e ele dava
chupadinhas no meu clitórisque me deixava muito excitada.Afastei
mais as pernas e ele as segurou para cima, começou a acariciar
minha entradacom a ponta do dedo e grunhir , porque eu estava
lubrificadademais. Mordi meu lábio inferior
, me sentindo tão bem
refém disso tudo e estremeci inteira quando ele desceu, circulando a
língua até chegar ao meu ânus. Meu corpo contraiue eu gemi mais
forte,achei que ele me deixaria gozar lindamente, mas ele se
afastou.Eu estiqueias pernase me apoiei nos cotovelos,o encarei,
que limpou a boca com as costas da mão e deu um sorriso
malicioso, veio por cima de mim. Eu juntei as pernas, disposta a
negá-lo, mas ele as afastoudo seu jeito cheio de habilidade, beijou
duramente a minha boca e no segundo seguinte eu estava
completamente preenchida por ele.
Ravi tremeu todo sobre meu corpo e eu queria renegá-lo,
deixá-lo com raiva por recusar, mas ele já havia me deixado a um
passo de um orgasmo arrasador .
— Meu lugar preferidono mundo é aqui — ele sussurrou,
roçandonos lábios nos meus e começou a se mover — quer assim?
— perguntou , quando começou movimentos lentos. Eu me
acomodei melhor sob ele e abri mais as pernas, facilitandoe ele
gemeu junto comigo.
— Eu não queria — falei e ele riu, emaranhando uma mão no
meu cabelo, tombou minha cabeça para trás,deu um beijo lascivo
no meu pescoço e começou a se mover mais rápido, me matando
de tesão. Eu me sentidesfalecer, esse desgraçadoera tão gostoso,
tão gostoso... Comecei a gemer, saía tudo entrecorta do, eu já
estava louca para gozar
.
— Não queria, mas já tá louca pra me melar todo — ele
sussurroue eu revireios olhos. Era muito injustoser tão dominada
por ele, mesmo quando fisicamente.
— Meu Deus — sussurrei,resfolegandoe ele tentoume beijar,
mas já não conseguia mais corresponder . Ele começou a gemer
junto comigo, estocandomais rápido e eu me agarreitoda nele, só
não as pernas,que deixei bem abertasporque adorava senti-lobem
fundo, me preenchendo completamente. Ravi puxou meu lábio
inferiorentreos seus, passou a meterdo jeito que eu adorava, nem
saía muito de dentro, forçandoe me expandindo toda. O olhei,
querendo adiar por um momento, estava gostoso demais. Ele
apertouminha bunda e afogou o rostoem meu pescoço, quase nos
virando. Puxei seu cabelo e me entregueiao orgasmo que vinha
delicioso. Ele gemeu áspero, ficandointeiroarrepiadome sentindo,
metendo rápido, me guiando até acabar. Ele continuou gemendo
gostoso pertodo meu ouvido, me segurando e metendo até que
senti os jatos fortese intensos no meu ventre.Gemi maravilhada,
era incrível quando ele gozava.

Ficamos agarradosna cama imensa, tãosatisfeitos.


Ele fechou
os olhos e eu comecei a beijá-lo pelo rosto,até que cheguei a sua
boca.
— Diz que me ama, vida — ele sussurroue eu lambi seus
lábios, ele sorriue me beijou outravez — porque eu não sei viver
sem você.
— Eu te amo — sussurrei,apaixonada demais para conseguir
manter o orgulho, a razão.

Não que eu estivesse o salvando, sabia que estava longe


disso. Ele precisava de tratamento e cair em si.

Como não tinha trabalhona sexta-feira,fiquei no apartamento


dele, sozinha. Sempre ficava por aqui, tinha minha digital
cadastradana fechadurae cópias das chaves. Ravi veio para o
almoço, ignorando meus alertas de que não havíamos voltado.

Ele teve a tarde livre, então acabamos pegando no sono,


agarrados,o Ar-condicionado em temperaturabaixa. Infelizmente
acordei primeiroe peguei o celular dele, porque estava mais perto,
para ver as horas.

Fatoé que tinhanotificaçãoda Chiara e eu fiqueimuitoirritada.


Fui para o banheiro para abrir
. Fechei e tranqueia porta,para ele
não acordar e vir me encontrar
.

Subi as conversas, me irritandopor tercedido de novo meu


amor para esse energúmeno imbecil e traidor , um condenado ao
alcoolismo que não aceitava ajuda, não aceitava que precisava se
tratar
.
“Então quer dizer que você não vai mais me ver? A nossa
última noite não me sai da cabeça” — era a mensagem dela. Um
arrepio asqueroso me dominou, mas continuei fuçando.

“Sinto faltade Denise, Chiara. Não vou mais arriscare ser o


seu brinquedo”

“Tá bom... Quero ver quanto tempo você vai aguentar sem
sentir a minha falta hahaha” — era mensagem dela.

“kkkkkk é sério. Eu vou ficarquieto, tentarvoltarcom ela. Para


de provocar” — ele enviou. Depois disso, uma fotodela usando
apenas um sutiã em frenteao espelho. Não fiquei olhando, não
queria ver Chiara pelada seduzindo Ravi.

“Gostosa”— ele respondeu para a foto,me fazendo arderem


mágoa.

“A gostosa aqui vai sentir falta de você e das nossas aventuras.


Mas vai lá, reconquistara sua namoradinha sem sal, que mais
parece sua mamãe querendo te controlar” — Chiara enviou.

Ravi não respondeu mais nada, a próxima mensagem era a


dela, enviada hoje.

Primeiro, uma foto dela com uma amiga. Depois, o convite.


Tudo amargou por dentro.Quando na vida, Ravi recusariauma
insinuação de ménage com Chiara? Por causa da demora dele em
responder, ela enviou fotode uma bancada com incontáveisopções
de bebidas, dizendo que estava louca pra matara vontade dele.
Claro, se ele pensasse em recusaro sexo cheio de fetichescom ela
–o que eu achava difícil–,com certezanão recusariaas bebidas.
Eu já havia notado como ele cedia muito rápido aos efeitosdo
álcool. Dois goles de uísque para ele, dava a sensação de que ele
precisavada garrafainteira.Foi assim que comecei a notar, lá atrás.
Ele tinha uma necessidade urgentepela bebida, seja qual fosse.
Uma taçade vinho não bastava,uma dose de uísquetambém não.
Uma vez que ele começava, só parava quando o corpo pedia
arrego,socorro.Deveria ser divertidopara ela convencê-lo, sentir
que o dominava. Fechei os olhos por um momento e soltei o ar,
sabendo que estava insistindo nele à toa.

Todo mundo deveria ganhar um manual dizendo que homens


não mudam nunca. A minha obsessão, o meu amor, não eram
suficientespara fazê-lo mudar. Dizer que me amava também não.
Eu poderia quererculpar as más companhias dele, mas ninguém
além dele tinha essa culpa. Ninguém vinha até aqui arrastá-lo
forçado, ele ia porque queria, porque gostava, porque era um
viciado. E a única realmentemachucada era eu. Poderia jogar a
culpa para Chiara, descontar a minha frustraçãoe a minha raiva,
mas eu não era criança. Ravi era um doente, um viciado. Se não
fossecom ela, se não usasse as propostasindecentesdela como
um motivo a mais, usaria outromotivo. Ele não ia apenas para o
sexo sujo que ela estava sempre propondo. Ele ia como se esse
fosse o seu dever
, encher a cara o seu bônus.

Era uma situação tão humilhante, tão ridícula. Eu tinha


vergonha de falar para as minhas amigas, porque Jordana era
cunhada de Chiara. E estavaaí um belo exemplo: Eduardo. Ele se
parecia com Ravi antes de se apaixonar por Jordana. Depois que
assumiram um relacionamento,ele não andava por aí traindo,a
enganando.

Apaguei a conversa com Chiara. Não deveria, eu sei. Não


deveria manipular os acontecimentose não estava, ela deveria
mandar tudo de novo depois. Queria que ele soubesse que eu vi,
que fizesse sabendo que eu estavaconscientede mais uma traição.

Eu, com medo de esperarele sumir, dizer que ia fazeralgo


importantee voltarhorasdepois, completamentebêbado e drogado,
peguei minhas coisas e fui para casa.

Não atendi suas ligações, fiquei com raiva, chateada e


insegura. Era melhor deixá-lo livre para fazer a merda que
desejasse. Até que não aguentasse mais e seus pais tomassem
providências, o internasse de uma vez.

Silvia ligou pela madrugada, pedindo ajuda, uma vez que um


amigo de Vincenzo encontrou Ravi em um bar, completamente
bêbado, sem condições de ir para casa sozinho. Dessa maneira, o
levou para a casa dos pais. Fiquei muda desse lado, engolindo a
vontade de chorar
, a vergonha, o medo. Ravi parecia cada vez pior.
Pessoas viam seus vexames, como não imaginavam logo que se
tratava de um alcoólatra?

No dia da festade Helena, eu havia atécompradoum presente


para a pequena, mas Ravi chegou, com a expressãoressabiadae o
jeito que eu já reconhecia, a ressaca tenebrosao consumindo,
chegava a tremer . Ele passaria os dias assim, se pudesse.
Enchendo a cara, se drogando e outrose recuperandorefémde
uma ressaca terrível.
Ou curando a ressaca com mais álcool, até
passar mal ao ponto de ter que procurar atendimento médico.
— Eu não saíontem, se é por isso que estáme olhando desse
jeito — Ravi falou e minha tia foi para o quarto.Eu fingi não ouvir e
ele veio se sentarao meu lado no sofá — você veio embora sem
avisar, não me atendeu, não quis me ver... Achei que tivéssemos
feito as pazes.
— Pra que? — pergunteiirritada— então você não passou
mesmo a noite com Chiara e a amiga dela? — pergunteicheia de
sarcasmo e ele me olhou confuso.
— Eu não passei a noite com ela, Denise. Eu...
— Para de mentir pra mim! — eu gritei e ele estremeceu,
estavamortode ressacae quase não conseguindo disfarç
ar — meu
Deus, você acha que eu sou o que? O que você quer? Acabar
comigo de vez?
— Eu não fiz nada! Você está sendo injusta — ele falou
impaciente — eu teria passado a noite com você, se você não
tivesse sumido!
— Você é muito cínico — eu falei incrédula — acha que sou um
robô sem sentimentos,que tenho que ficarà sua disposição quando
você quiser. E ainda fingindo não me importar com o que você faz!
— Eu não fiz nada, Denise!
— Vai embora, por favor — eu falei, pressionando uma
têmpora, a cabeça ameaçava começar a doer
.
— Eu venho te buscar mais tarde, pra festa de Helena.
— Eu não vou — falei friamente e fui para o quarto.

Ravi ia vir atrás,mas minha tia interviue pediu para ele ir, que
quando eu estivesse mais calma, nós conversaríamos.

Ela já nem tentava mais conversar sobre isso. Me ouvia


quando eu precisava desabafar
, mas não dava mais conselhos,
sabia que não adiantava.Assim como Ravi precisavade tratamento,
eu precisava aprender a desistir dele.

Inventei para Jordana que estavacom uma enxaqueca terrível,


que até mesmo fui ao hospital, por isso, não fui à festada pequena.
Nem pergunteisobre Ravi, o que ele havia feito.Se não tivesse
mesmo passado a noite com outra, segundo Marina não havia
mesmo, ele não recusouum próximo convite,porque desapareceue
veio aqui, como o cão sem dono e vítimade si mesmo, na segunda-
feira,com a aparência derrotadade quem não havia dormido, os
espasmos e tremoresde quem estava refém de uma ressaca
devastadora.
Dessa vez, eu saí. Liguei para meu pai e fui encontrá-lo em
Niterói. Ravi ligava incansavelmente, insistindo, mas eu estava
resignada dessa vez. Não iria voltar. E assim segui por duas
semanas. Nos últimos dois dias até comecei a crerque ele estava
caindo em si, sobre nós dois, acreditando que eu estava resignada a
não voltar
. As ligações pararam, mesmo que doesse, era melhor
assim. Foi quando a mãe dele ligou, dizendo que ele chegou perto
de sofrer uma overdose acidental, o que me deixou desesperada.
— Ele pede muito por você — Silvia falou do outrolado — não
queria estarligando, você sabe... Mas estourealmentepreocupada
com ele — ela fez uma pausa e ouvi sua respiraçãoforte— disse
que preferemorrerse você não vier — ela faloumais baixo, sempre
vencida pelo drama do filho.
— Eu vou até aí — falei derrotadapelo vício dele, mais uma
vez.

[...]

Quando cheguei ao hospital,a mãe de Ravi veio me encontrar


e me levou até o quarto.Edu estavalá com ele e acenou para mim,
antesde sair. Ele tinha um acesso na mão direitae me estendeua
outra.
— Ainda bem que você veio — ele falou mais baixo e eu o
encarei séria.
— Como você está?
— Vivo — ele ousou rire eu respireifundo, soltando minha
mão da sua.
— Como foi isso?
— Não sei — ele resmungou — só passei mal, isso foi
saudade.
— Não seja cínico, Ravi — eu falei mais baixo — como isso
aconteceu?
— Bebi demais — ele reclamou e eu o encarei séria,
esperando a verdade — foi só bebida, é sério.
— Você vai acabar se matando — eu falei indignada — só vai
sossegar quando morrer
.
— E eu prefiroisso a ficarsem você — ele falou e eu respirei
fundo, agoniada com a chantagem emocional. Olhei para trás,
vendo sua mãe nos observando. Eu, talvez ficaria para
conversarmos,porque me preocupava muito com ele, mas Chiara
chegou ali e eu saí. Ravi me mandou esperar , até se levantou e
tentoutiraro acesso, sempre excessivo para me comover, mas eu
saí do quarto.
— Denise, espera— ouvi Sílvia chamare desacelerei,parei de
andar, me virei e ela me alcançou — não podemos tomar um café?
Conversar?
— Pra que? — abri os braços, indignada, por um momento
querendo chorar de inconformismo. Ela me olhou pesarosa e
entrelaçou nossos braços, nos guiando para a lanchonete do
hospital.
Lá, ela pediu café para nós duas e me observou por um
momento, me deixando desconfortável.
— Não vou defendê-lo — ela falou e eu a encarei. Abri a boca,
mas me calei, sem saber e sem ter o que dizer — não estou
passando a mão na cabeça de Ravi, mas sei o quanto ele se
controla quando vocês estão bem.
— Eu não sou o remédio pra essa... Doença dele — eu falei
frustrada
— duas ou trêssemanas sem beber não são a salvação
pra ele.
— Ele ama você, Denise... Sei que age como um louco, mas
ele ama você — ela franziuo cenho, estendendo a mão em minha
direção e eu engoli amargo, neguei com a cabeça.
— Sinto muito, Silvia — falei, a voz saiu embargando e respirei
fundo — não posso continuar tentando sozinha fazer isso dar certo.
— Jordana consertouEdu engravidando — ela disparoue eu a
encarei, não captandoo que ela estavasugerindo. Pisquei algumas
vezes, incrédula com o que ela insinuou.
— Não acho que ele vai se consertarcom um filho — falei um
tempo depois — e eu não estragariatoda a minha vida. Isso só
daria mais segurança para ele... De que estaríamoscolados pela
eternidade,jamais iria mudar, reconhecer
, se tratar
. Ravi precisade
tratamento!— eu insistia nisso sempre, mas ela queria que ele
fosse por si só, por um caminho mais fácil. A conversa sobre
internaçãovinha apenas como um castigo “se” ele não parasse
sozinho.
— Eu acho que Ravi já temidade o suficientepara terum filho,
e que isso o fariatermais responsabilidades— ela falou convictae
eu a encarei, mas neguei com a cabeça.
— Acho que ele pode fazer isso com outra agora.
— Com uma inconsequente igual a ele? — perguntou
sarcástica — ele nem tentaria.
— Nem eu — falei firme.
Edu se desculpou comigo por Chiara, mas ela era dez por
cento do problema. E nem era problema meu. Poderia quererque
ela tivesse mais consideração por mim, como mulher, essa coisa
toda de sororidade. Além do que, ela terminou um noivado por
causa de traições.Entendia bem o que era isso. Queria que ela
entendessea gravidade do problema dele, do vício, a doença, não
era uma brincadeira.Mas o que mais eu cobrariadela? Exigiria que
ela se mantivesselonge do meu namorado, como se ele fosseum
pobre inocente seduzido? A maior parte de toda a culpa era
unicamente dele.

Saí com as meninas, no sábado. Edu ficou de babá da filha e


Mari comentou sobre a evolução da relação deles, o que era ótimo.
Por azar, Chiara chegou ali com duas amigas, o que me deixou
apreensiva.
— Se Ravi aparecere falarcom ela, você deveria ficar com
outro na frentedele — Mari resmungou, porque era o que eu
deveria fazer
. A encarei incrédula e ela riu, negando com a cabeça.
Ravi saiu do hospital e tentouinsistirnuma conversa, mas fiquei
histérica,desesperadaporque ele acabaria se matando. Gritei,feito
uma maluca, que queria o fim agora. E se ele insistisse, eu
procuraria meios legais para afastá-lo de mim.
— Eu fiz isso. Deixei Eduardo louco, mas ele não admitia —
Jordana falou, sugando seu drinque pelo canudo em seguida.
— Você acha que terengravidado ajudou a relação de vocês?
— Perguntei e Mari fez um barulho de incredulidade — não estou
planejando isso, Mari, não sou louca.
— Eu amo a minha filha. Mais do que tudo. E sempre foi meu
sonho teruma família,vocês sabem, enfim... Ela facilitouas coisas,
eu não acho que teria perdoado Edu, se a situação fosse outra.
— Não teria?— Mari perguntou,cerrandoos olhos e ela deu
de ombros.
— Eu não sei... Hoje é tudo perfeito,mas se eu não tivesse
engravidado, ele ficarianessa de me tere afastar quando quisesse.
Viveria nas crisesexistenciais. E não era o tipo de relacionamento
que eu iria querer viver. Entendo a dor do que Eduardo viveu,
compreendi, aceitei, mas ter
mos tido uma filha, juntos, o ajudou a
enterrar isso, se abrir para o novo e ele ama ser pai.
— Edu teve sorte— Mari falou debochada e Jordana deu um
sorriso presunçoso.
— Então você fez de propósito?— perguntei,quase cerrando
os olhos e Jordana invés de se ofender
, começou a rir
.
— Olha bem pra minha cara de quem teria coragem de
planejar um golpe do baú, Denise. Fiquei desesperada quando
descobri, escondi de todo mundo, achei que ele me forçariaa
abortarse soubesse logo — ela falou apressada — hoje eu me
cuido, não quero outrofilhotãocedo. Tenho muitasorte,suportepra
poder continuarestudando e não preciso abrirmão de nada pela
Helena. Isso é incrível,mas só é incrívelporque Eduardo mudou.
Imagina se ele não aceita a gravidez, nós dois continuássemos
brigados e eu precisassecuidar sozinha da Helena? Sei que amor
não faltaria,mas eu só seria outra coisa além de mãe daqui a
alguns anos. Você acha que Ravi mudaria?
— Não estou pensando em ficar grávida — desconversei.
— Mari poderia pensar, Fred ficaria louco de felicidade —
minha amiga provocou.
— Eu acho que você tem que ser muito louca de pensar em
ficargrávida de um homem desses — Mari falou,sendo dura e firme
— eles têm dinheiro, financeiramentefalando ninguém ficaria
desamparado, mas isso não é tudo. Um suporteemocional é muito
mais importantee eu não acho que hoje, Ravi te daria isso — ela
fez uma pausa e eu fiquei quieta — você ficariaem casa grávida,
ele tendo a certezade ser seu dono e com outrana rua. É isso que
ele faria.
— Não precisa de tudo isso, Marina. Não vou engravidardele
— eu falei, não querendo lidar com isso, mas essa era a verdade.
— Me desculpe — ela pediu condescendente— não quero ver
você sofrendomais por causa dele, só isso. Ravi não precisade um
filho, ele precisa de tratamento médico.
— Vamos falarde outracoisa, antes que vocês briguem —
Jordana falou e pegou o celular, nos mostrandoa casa que Edu
estava construindo com Helena.
A pequena virou o centroda nossa conversa por um tempo.
Depois, Edu chegou e nos levou para casa.
C 03
Denise Malta

Como decidi que era melhor enterrar qualquer outratentativa


de fazer Ravi dar certo e mudar
, comecei a sair com uns amigos, me
distrair
, beijar na boca de qualquer um. Isso o deixou maluco,
completamente desnorteado. Evitava ir para os mesmos lugares que
ele frequentava,não queria vê-lo em uma noite de bebedeira sem
fim, há anos não achava isso charmoso, nem legal. E não queria
que ele bebesse ao ponto de pararno hospital,me culpando por ter
ficado com outro em sua frente.
Marina achava uma burriceeu ainda acreditarno amor dele,
mas fatoé que eu acreditavae sentia. Não estava inocentando
Ravi, precisava ser repetitivapara mim e para o mundo. Eu não
vendava os olhos para os errose para a doença dele, eu sabia
exatamentecomo tudo funcionava. Ter insistido tantonele foi por
amá-lo demais, por me sentiramada apesar dos conflitose por
quererque ele se salvasse. Ler depoimentosde alcoólatrasera tão
doloroso e mais ainda ver depoimentos de pessoas que perderam
entes queridos para essa desgraça de vício.

Eu estava sendo transparentequanto a tudo. Quando ele


perguntava se eu havia ficado com alguém, eu confirmava,
reafirmavaque dessa vez, eu não iria mais voltar
. Precisávamos
encerraresse ciclo. Eu precisava encarara minha derrota.Ele não
iria ceder e se tratar
. Talvez, se ele chegar em um ponto deplorável
do vício, seus pais tomarãoalguma providência, mas eu não teria
forças para aguentar até lá, nem suportaria perdê-lo.

Eu recusei quando ele me convidou para o jantar de


aniversáriode sua mãe, mas ela veio pessoalmente me convidar.
Sempre mancomunada com o filho,se convencendo porcamentede
que o maior problema dele era ser infiel. Eu fiquei sem jeito, sem
querer ir
, seria muito desconfortável para todos nós.
— Você vai como minha convidada — ela falou convicta— por
favor
.
— Tudo bem — falei, não encontrando uma desculpa
convincente para recusá-la de novo.
— Pedro vai passarpara te buscar, então. Não vou forçarvocê
e Ravi estanoite — ela deu um sorrisoamigável e veio me abraçar ,
mas eu sabia que era mentira.
A levei até a portae respireifundo. Haveria uma maneira de
me desvincular dele sem sofrertanto?Eu deveria ser mais incisiva,
negar mais firme,ser mais dura. Não estava preparadapara vê-lo,
não sabia quando estaria.

Eu ignorava a maioria das mensagens que ele enviava


diariamente,como mencionei, respondia as perguntasimportantes,
onde eu conseguia validar nosso término.Ignorei as florese quando
ele insistiu em enviar mais um dos buquês caros que costumava,
para se desculpar, eu joguei fora.Que isso doeria tantono bolso
dele, eu sabia que não. Mas queria que ele visse que eu não iria me
comover. Além do que, o cheiro das floresme deu dor de cabeça.
Tia Carol se divertiucom a minha agonia. Cheguei a contarpara ela
sobre a insinuação de Silvia sobre terum filho para consertarRavi,
mas ela jogou friamenteque eu seria apenas a barrigade aluguel.
Ele não iria se regenerare se livrarde víciospor eu ficargrávida. Se
ele quisesse filhos, ele mesmo falariasobre. A insinuações sobre
isso vinham apenas superficialmente, como conversa de casal que
já quis construir um futurojuntos,ou quando ele via Helena e Edu, a
garotavenerava o pai completamente,o que deixava Jordana toda
orgulhosa e cheia de ciúme bobo.
— E espero que você não pense nisso — ela completou.
— Não pensei — falei, mas não era uma completa verdade.
Uma parte pequena do meu ser, que era muito apaixonada,
completamentedependente,que o amava com todocoração,queria
acreditarque ele seria como Eduardo. Mas eu logo me levava para
pôr os pés no chão. Jordana engravidou logo no começo, poucos
meses depois de conhecê-lo, Eduardo não teve tempo de estragar
tudo com ela. Talvez, se não fosseHelena, ele teriafeito,teriasido
como Ravi, cheio de excessos e idas e vindas. Mas eles
engravidarame fizeramfuncionar . Eduardo não era doente, não era
alcoólatra.

Ravi não seria igual.

Pedro veio me buscar às sete, horário que Silvia marcou


comigo. Ele era um ano mais velho que Ravi, personalidade oposta
à do irmão. Era alegre, educado, a aparência limpa de quem não
carregava nenhum vício ou problemas sérios. Eu achava Pedro
mais elegante, embora Ravi fosse muito mais sedutor
. O
problemático de sempre.
— Ravi já está lá, te esperando — meu ex-cunhado falou e
negou com a cabeça, rindo.
— Não vou voltar com ele — eu falei e ele me olhou
rapidamente — é sério.
— Sei...
— E sua namorada? — perguntei, para mudarmos de assunto.
— Demos um tempo — contou desinteressado.
— Por quê? — pergunteisurpresa— você não aprontoucom
ela, né?
— Ela que quis, disse que estava sufocadacom nosso namoro
— ele contou despretensioso — e está tudo bem.
— Não achava que você gostava dela — eu falei para
provocar .
— Gostava,mas não amava, mamãe que pressionavamuito—
ele falou, suspirando — e ela notou obviamente.

Quando chegamos, eu fui cumprimentaros ali presentes.Os


pais de Eduardo vieram, amigos de longa datade Silvia e Vincenzo,
não à toa Ravi e Edu eram tão amigos. Pedro não era próximo dos
caras, eu nem sabia se havia algum motivo especial. Fui bem
recebida e Ravi veio me abraçarapertado.O pai dele me serviu do
espumante que as mulheres bebiam e Ravi recusou bebida
alcoólica. Cerrei os olhos para ele, duvidando disso. Ravi ficava
olhando, desse jeito de quem sabia que me dominava inteira,mas
eu desviava, eu queria me dar tapasna cara por tervindo. Era para
eu ter sido mais firmecom Silvia, jogar a realidade para ela: eu e
Ravi terminamosporque eu não suportavamais sofrer , aguentar
calada os excessos dele, as recaídasdisfarçadascom traições,as
idas dele ao hospital.Ravi estavase matandoe ninguém fazianada
para impedi-lo.

Notando meu desconforto,


ela veio e me puxou para pertode
suas amigas. Nora pergunto u logo sobre mim e Ravi, mas Silvia
quem tomou a frentepara responder. Depois contou apenas para
que eu escutasseque ele não estava mais bebendo, pelo menos
estava tentando.Mas não iria acreditar , conhecia esse repertório.
Ele passava tantotempo gastando forçaspara se manterlimpo e
voltarmos, que quando eu cedia, ele não aguentava segurar e
precisavade alívio. E quem estarialá para bancar a diversão dele?
Isso mesmo, Chiara. Era até um milagre ela não estar por aqui.

A mãe de Ravi fez questão de postar uma foto comigo,


certamente querendo mostrarpara Chiara que eu estavaaqui, como
se ela tivessemesmo totalculpa de alguma coisa. Quando Marina
viu, começou a mandar mensagens desaforadas,brigando por eu
ceder. Pedi licença e me afastei para ouvir os áudios de broncasda
minha amiga. Prometique não iria voltarcom Ravi e expliquei que
apenas não consegui negar o convite de Silvia, que sempre foi
acolhedoracomigo. Não mencionei as insinuações sobreengravidar
para Mari, ela se teletransportaria para me resgatar nesse momento,
se soubesse. Estavatão focada em convencerminha amiga que eu
iria me libertarda missão falida de salvar Ravi, que não notei
quando ele se aproximou.
— Podemos conversar?— ele perguntoue eu o encarei. Não
dava para negar na frentedessas pessoas todas.Aperteios lábios e
balancei a cabeça, pegando a mão dele e ele nos levou pelo jardim.
Nos sentamos em um dos bancos por ali e ele começou a
contarcomo foios dias no hospital,não havíamosconversado sobre
desde então.Disse que dessa vez estavadispostoa parar com tudo
isso, que não fazia bem pra ele. Disse que o médico alertousobre
os resultadosdos exames, ele precisavase cuidar. E que assim ele
acabava sempre magoando quem mais amava no mundo: eu.
— Eu vejo meus amigos felizes, construindo um
relacionamento sólido com as mulheres que amam, e sei que
poderia estarfazendo a mesma coisa. Que poderia te fazer feliz e
eu errei, Denise, mas eu queria uma chance...
— Outra? — ironizei.
— A última — ele falou mais baixo — por favor
.
— Eu não sei — falei. Deveria terdito não sem titubear, mas
não consegui.
— Vou começar a frequentar um grupo de... — ele parou de
falar
, sempre relutavae sempre acabava desistindo— acho que vai
ser bom ter mais um incentivo, sabe?
— E vai durar?
— Com você me incentivando, sei que vou conseguir — ele
falou, sempre jogando para mim a missão de ajudá-lo a se salvar.
Era como se eu estivesseaqui querendo ajudá-lo e ela lá, do outro
lado, incentivandoa ir fundoem tudoque não deveria. E não estava
a culpando, uma vez que ele fazia a escolha de ir com ela.
Ravi se escorou no banco e olhou para o céu, estava estrelado,
bonito.
— Antes de te conhecer, eu não havia me apaixonado desse
jeito — ele falou e eu suspirei, o observando — aconteceu tão
naturalmente,que... Eu nem sei, quando dei por mim, não sabia
mais ficar sem você, já estava contando as horas pra te
. ver
— Nem isso te faz não me magoar .
— Me perdoa, vida — ele falou sereno e me olhou — eu só to
te pedindo uma chance. A última.
Eu me escorei no banco e cruzei os braços, fechei os olhos,
sentindo o amargo de querer ir embora e uma partetraiçoeirae
muito maior querer ficar
, pagar pra ver de novo.
— Não vira as costaspra quem te ama tanto,Denise — ele
falou um momento depois e eu o olhei, que veio se aproximando
esperando a minha intervenção. Inclinei o rosto, o permitindo
encaixar nossos lábios e começamos um beijo suave.

Nossa trocafoi naturalmentese aprofundando,ele trouxeuma


mão para o meu rosco, escorregou pelo cabelo até a nuca,
emaranhando os dedos em meu cabelo, me devorando nesse beijo
que eu amava tanto.Ficamos um longo tempo em beijos que logo
foram ficando lascivos, me ascendendo, nossas bocas se
chupavam, nos explorávamos profundamente.Só paramos porque
sua mãe veio nos chamar e eu me levantei assustada,
envergonhada por ela nos pegar em um beijo arrasador desses.
— Não queria atrapalhar— ela falou, contendo o sorriso —
mas o jantar será servido.
— Já estamos indo, mamãe — Ravi falou e ela assentiu.

Naquela noite, depois de um sexo intenso, começamos na


sala, depois fomospara o quartoe ficamosentrelaçados,colados e
desesperadospor alívio,ele deu um beijo carinhosona minha boca,
se levantoue foipegar água. Eu fiqueijogada na cama, toda mole e
trêmula,há tempos não gozava tão loucamente como agora e ele
adorava quando me deixava perdida desse jeito.
— Minha mãe pareceu a mãe de Fred, esta noite — ele falou
ao voltar
, bebendo um pouco de água e deixou o copo na mesa de
cabeceira.Olhei para o membro satisfeito,
ainda com os resquícios
dos nossos gozos, depois olhei para ele, os cabelos desgrenhados,
mas ele era tão bonito. Ravi se deitou novamente e me puxou para
os seus braços.
— Elas se ocupam com isso, parece... A mãe de Edu está
louca pela festa de casamento — eu falei preguiçosa.
— Senti que você não gostou, quando ela insinuou que um
bebê por acidente seria muito bem vindo — ele tocou nessa
conversa e eu o encarei, avaliando. Toquei seu rostoe ele se
aproximou, me beijando na boca profundamente.
— Você pensa nisso? — perguntei ao quebrar o beijo.
— Filhos? — perguntoue eu assenti— nunca pensei a fundo
sobre, não como um plano de agora... V
ocê já?
— Eu quero ter filhos, mas não assim, por acidente. E nem
numa relação conturbada — falei e ele me encarou por um
momento, parecendo entender
.
— Eu te amo — sussurrou, querendo fugir dessa conversa e eu
comecei a rir — você parece não acreditar mais em mim.
— Eu acredito — falei, não conseguindo dizer isso séria — mas
acho que você ama muitas outras coisas também.
— Eu te amo muito — ele falou mais enfático,mas eu só ria.
Ravi segurou meus pulsos e veio por cima, beijando a minha boca
com eloquência.
Logo estávamos conectados outravez. Dessa, eu pedi para
nos virare sentei nele por cima, ficamosabraçados e eu rebolava
devagarinho. Ravi tinha arrepios e gemia junto comigo. Ele me
apertouem um abraço, com uma mão em minha nuca e afundou o
rostoem meu pescoço. Eu o levei mais fundo e fiquei rebolando,
estava tão gostoso que eu gozei rapidamentee ele beijou minha
pele, me segurou para investir de volta e gozou logo depois.

Demos um beijo apaixonado e eu saíde cima dele. Dessa vez,


eu fuitomarum banho e ele veio juntocomigo. Saíprimeiro e fuime
trocar. Estavaem seu closet, passando hidratanteno corpo quando
ele chegou, já seco e pelado. Uma bela visão erótica,tudoperfeitoe
gostoso. Ravi foi pegar uma cueca e vestiu apenas isso. Ele ia
voltando para o quarto, quando parou e se virou para mim.
— Vida — ele chamou carinhoso e eu o olhei — se quiser ter
um filho comigo, fique à vontade para tentar— ele falou e eu
cambaleei para trás, não absorvendo isso direito.
C 04
Denise Malta

Não toquei nesse assunto,desfiz a cama e puxei o edredom.


Ravi me abraçou por trás,cheirou meu pescoço e logo pegou no
sono. Eu acaricieiseu braço em volta de mim, por um segundo me
deixando pensar sobre essa história de filho.

Ele mudaria? Não estavaachando que filho segurava homem,


não era sobre isso. Mas cheguei a pensar que com um bebê para
dar exemplo, para criar , para dar amor, talvez ele cedesse e
entendesseque não o acusávamos de uma doença inexistente.Que
reconhecesse a necessidade de tratamento.

Contei para July sobre essa maluquice, porque Jordana iria


apenas romantizar e Mari seria capaz de vir me tirar daqui agora.

“Ele teengana tantoe você adora... Se você acha que um filho


vai regenerar esse homem, vá em frente...”— July enviou e eu
respireifundo. Decidi deixar isso pra lá. Depois, quando conversei
com minha tia sobre isso, ela lembrou sobre a minha relação
distantecom meu pai. Não me faltavadinheiro. Ok, eu não levava
uma vida milionária, mas sempre tive tudo que quis. No entanto,
nunca tive uma presençapaternapresente.E nem materna,já que
quando completei quinze anos, minha mãe foi morarnos Estados
Unidos. E nos víamosanualmentetambémou nem isso, mas quase
não nos falávamos.
Era aquilo que Mari disse, dinheiro não faltaria,mas um apoio
emocional valia muito também.

Só que Ravi começou a ficar mais amoroso, mais gostoso


também. Eu insisti para que ele procurasseajuda médica, que
tivessenas mãos tudo que pudesse facilitaro processo.Só quem já
conviveu com um dependente sabe como as crisesde abstinência
são duras e dolorosas. Mas ele ficava impaciente, se dava metas,
prometia que conseguiria sozinho.

Nosso sexo estavauma delícia, ele ficavaainda mais safado e


excitadoquando parava de beber. O ritmono grupo de dependentes
químicosfoise perdendo, mas ele jurava que não iria parar , culpava
a faltade tempo. Já até quis ir com ele, para incentivá-lo, mas ele
não queria me colocar nessa situação – de novo –, porque eu
sempre chorava ao ver pessoas que chegaram ao fundo do poço
tentando se reerguer
. Temia que ele chegasse ao extremo também.

Num sábado de sol, estávamos nós dois no terraçodo


apartamentodele, que deixou a área cobertaporque estávamos
completamentepelados na piscina. Ravi havia trazidoum óleo de
massagem comestível,que esquentava e derramouum pouco nos
meus mamilos, os massageando com as pontasdos dedos. Depois
passou um pouco nos dedos e massageou suavemente o meu
clitóris,que já estava ereto querendo atenção. Dei um gemido
manhoso, ele passeava as pontas de trêsdedos lá em baixo e
chupou devagarinho o mamilo direito.Cedi as sensações, ao prazer
,
ele me puxou bruscamente,eu enrosqueias pernasem voltado seu
corpo, meu sexo encostando em seu abdome. Ele me segurou
firme, inclinou o rosto e deu uma lambida deliberada em meu
pescoço, vindo pertoda orelha e mordiscou a ponta, me deixando
inteira arrepiada.
— Você me deixa tão louco de tesão — ele sussurrou,
descendo a mão habilidosa para a base das minhas costas, me
esfregando um pouco mais em seu corpo. Os lábios passearam pelo
meu pescoço, colo, eu gemia, completamenterefémdele, amando
as chupadinhas suaves nos meus seios, as lambidas e os gemidos
dele. Comecei a ficarinquieta, poderia traçarmeu caminho para o
orgasmo desse jeito e ele notou, apenas fechei os olhos, joguei a
cabeça para tráse comecei a gemer. Mas resolveu parar e me
puxou para dentro da água.
Dei um sorrisoo observando, era tão bonito, o desgraçado.
Passei meus braços em volta do seu pescoço, subi uma mão para
sua nuca e acariciei carinhosamente.Ravi inclinou o rost
o, roçando
nossos lábios e deu um selinho suave.
— Você é a mulher da minha vida — ele sussurrouentre
beijinhos rápidos e eu balancei a cabeça, o olhando, que tinha os
olhos um pouco cerrados por causa do sol, destacando ainda mais o
azul perfeito.
— Mete logo — sussurreimanhosa, cheia de vontade e ele riu,
voltando a me beijar e no segundo seguinteestavainteirodentrode
mim.

Reclamei da água, disse que estava me atrapalhandoe Ravi


me dava sorrisospresunçosos de quem sabia que havia me deixado
maluca de tesão. Saí da piscina e quando ia chegando ao sofá
chaise pertoda piscina, ele me pegou, do jeito sempre habilidoso,
ele faziatudoparecerfácilno sexo. Me inclinou para frentee me fez
apoiar um joelho no sofá.Aperteios olhos quando ele veio, enfiando
tão devagar só para me torturar
. Levei uma mão para trás,para sua
nuca e a emaranhei em seu cabelo, o puxando e ele afundou o rosto
em meu pescoço. As estocadas estavam lentas, ele tinha as mãos
na minha cintura e vinha fundo, me segurando e gemendo gostoso.

Ele deu um gemido áspero quando eu me afastei abruptamente


e eu engatinhei em direção as almofadas. Dei um gemido
involuntárioquando me virei, tendo essa visão perfeitadele, que
passou o dedo na ponta do pau excitado, limpando. Ravi veio por
cima de mim, me penetrand o rapidamentee nós dois gememos.
Abri bem as pernase o puxei para o beijo. Eu estavainquieta,meus
gemidos escapavam mais desesperados,ele me segurava firmeno
pau gostoso e estremecia inteiro em cima de mim.
— Vida — eu o chamei, a voz falhandotodae ele gemeu, invés
de responder — me deixa chupar você... — ele gemeu mais
desesperado, instintivamenteaumentando o ritmodas estocadase
nós dois grunhimos. Achei que ele não iria se segurar , estava
ansioso e metendo incansavelmente, mas ele deu uma última
investida mais funda e parou, saindo de cima de mim. Revirei os
olhos ao ver o pau gostosoe robusto,tão ereto,reluzindo, as veias
saltadas.Ele se sentoue eu me sentisalivando, engatinheipara ele
e deitei de bruços, entresuas pernas. Acariciei o membro todo, os
testículos,vendo pulsar. Passeei o dedo indicador na cabeça e
pressioneina extremidade.Ravi soltouum líquido de antecipaçãoe
eu dei um beijinho ali, limpando. O olhei, que tinha os lábios
entreabertose a cabeça tombada para o lado. Ele deu um gemido
alto e gostosoquando dei uma lambida sedenta e fui o engolindo.
Ele afundou uma mão na minha nuca, me acariciando e gemia
desesperado, me alertavaque estava louco para gozar, louco de
verdade. Era magnífico.Incrivelmente,minha boceta roçava numa
das almofadas e eu chegava a investir , me deliciando de tudo,
desse homem delicioso perdido refém de mim.
Eu adorava quando ele gemia assim, querendo se segurar
. Ele
começou a estremecere me segurar , mas quando foi jogando a
cabeça para trás,se entreg ando, eu o soltei. Nos olhamos, ele
completamenteperdido, achei que fossegozar bem agora, mas ele
soltou o ar devagar, teve um espasmo de arrepioe segurou o pau
pela base, apertando.Ele choramingou porque lambi a gota que
escorreu.
— Você está impossível hoje — ele falou áspero — e eu to
louco pra gozar nessa sua boca.
— Vai gozar dentrode mim — falei petulante.Ravi gemeu,
estava mais pertoda borda do orgasmo do que eu, obviamente.
Comecei a lamber e chupar os testículos dele, desci mais um pouco,
para o períneoentreos test ículose o ânus, sabia que ele amava.
Ele ofegava, praguejava que eu estava o matando. E ficou ainda
mais agoniado quando dei uma lambida macia e deliberada,
descendo até o ânus.
— Caralho... — ele sussurrou,estremecendo— eu quero
gozar, vida, sério— ele falou, mas insistiem lamber ali, do jeito que
ele amava. Afasteimais uma nádega da outrae cuspi, circulandoo
dedo e depois a língua,enquantoele abafavaos gemidos e avisava
que ia gozar, completamentedesnorteado.Continuei o beijo-grego
por mais um pouco, segurei o pau com a mão, apenas acariciando.
Quando parei e fui por cima dele, Ravi já estavamole, sedentopor
um orgasmo. O coloquei para dentro, eu estava literalmente
escorrendode tesão. Foi só o tempo de sentarnele e beijar sua
boca, para ele me segurarfirme e investirpara cima, começando a
gozar intensamente dentro.
Eu observei suas reações, suas sensações, nós dois
entrelaçadose ele se perdendo de prazer . Corriuma mão pelo seu
cabelo macio, tirandoda testae o beijei longamente. Ravi soltou a
respiração, completamente aliviado.
— Faltavocê agora — ele sussurrou,nos virando e eu balancei
a cabeça, concordando. Ganhei um beijo sobre os lábios e ele foi
descendo, me lambendo e chupando inteira. Me apoiei nos
antebraçosquando ele chegou ao meio das minhas pernas e as
afasteimais um pouco. Ravi correuos dedos, tentandolimpar o seu
sêmen dali e eu comecei a rir. Ele me lançou um olhar atrevidoe
sujou meus lábios. Depois limpou mais um pouco e sem que eu
esperasse,me deu uma lambida deliciosa na boceta.Choraminguei,
joguei a cabeça para tráse me deliciei do sexo oral que ele fazia
com maestria.

Ficamos agarrados ali, contemplandoa sensação de satisfação


pós-sexo. Ravi acarinhava meu cabelo, eu estava abraçada nele,
com o rosto entre seu pescoço.
— Faz um filho comigo — ele sussurrou,acariciando meu
corpo, da curva da minha cinturaaté o quadril, mas fiquei quieta —
desde que mamãe começou a insinuar , não paro de pensar sobre.
— Vamos falar sobre isso depois — eu falei, era sempre melhor
desconversar
.

Naquela noite,fomosjantarnos seus pais. Pedro havia reatado


o namoro, mas pelo que eu entendi, foi pressão de Silvia. Estava
uma graça vê-la insinuando bebês feito uma maluca.
— Ela vai criar, então. Já que quer tanto — Pedro falou
desinteressadoe eu comecei a rir— está louca pra fazerigual à
Nora. Construir parquinho e tudo.
— Tá vendo? — Ravi perguntou para mim, que o encarei
sarcástica— se fizéssemosum, teriatodas as regalias por ser o
primeiro neto.
— Vocês estão impossíveis— eu falei enfáticae ele chegou
mais pertode mim no sofá,passou um braçoem voltado meu corpo
e deu um beijo em meu rosto.
— Só queria um bebê, com a mulher da minha vida — ele
falou, cínico que era e eu fiz uma careta.
— Seria um bebê perfeito— Silvia falou ao voltar
, mostrando
que escutavaa conversae me lançou um olhar inquisitivo— e você
estána melhor idade pra se terfilhos.Apostoque é muito fértil,não
tem complicações, tudo a favor
.
— Pobre Denise — Pedro cantaroloue eu o olhei, que me
lançou um sorrisobonito — vai aguentara campanha de mamãe e
Ravi pra engravidar agora.
— Não quero ser pai muito velho — Ravi falou sério e eu o
encarei, lançando um sorrisinhopetulante— e acho que estamos
em uma fase muito boa pra tentar
.
— Uma fasemuito boa pra aproveitarmostambém — eu falei,
acariciando suavemente seu rosto.

Achei que a conversa morreriapor ali, mas as insinuações e


planos hipotéticoscontinuaram.Silvia quem mais vibrava. Eu ainda
tentavaserrealista,não fantasiar
e romantizartanto,mas realmente
estávamos em uma boa fase. Ravi também. Não andava mais
bebendo, estava frequentand
o um grupo de dependentesquímicos,
mesmo que com pouca frequênciae contando os dias que estava
limpo, estávamos mais unidos e eu quase completamente
convencida de que agora ele sairia dessa. Quando notei, já havia
desistido do anticoncepcional.
Não conteipara ninguém além dele, foiem uma conversamais
íntimae mais séria entrenós dois que falamossobre terou não um
filho. Ele queria muito. Combinei comigo mesma que se
acontecesserapidamente,é porque era para ser. Se não, eu voltaria
a me proteger e deixaria as coisas acontecerem no tempo certo.
C 05
RaviFerrari

Estavacom Denise na casa de um dos sócios da firma,morto


de ciúme de um panaca que flertavacom ela como se eu não fosse
relevante.Não que ela desse mole, não precisava ficarrepetindo
que confiavanela, mas era difícilcontrolar
, juntadoa agonia que me
consumia, o maxilar parecendo amargaro tempotodo,a vontadede
pegar pelo menos um copo, porque sabia que aliviaria alguma coisa.
Daqui, encontraríamoso pessoal e eu temia que Chiara
estivesse por lá. Não seria nada confortávelmanteras duas no
mesmo ambiente. Eu era o culpado, não estava me absolvendo a
qualquer custo, mas Chiara adorava provocar
.

Eu ignorava meus erros,mas não me inocentavadeles a todo


custo. Sabia que se não fosse por minha causa, pelo meu vício
infernale toda inconsequência com Chiara, ela e Denise seriam
amigas. Já até ensaiaram algo quando Chiara ainda era noiva. Por
isso, Marina me recriminava sempre.

Fred queria se casar, o que deixava a mulher maluca. Eu tinha


sortecom Denise, precisavareconhecer . Ela não era como Jordana,
que soube colocarEdu contraa parede sem parecerque estivesse.
E nem como Marina, que não fazia absolutamente nada do que Fred
queria. Ela era doce e brava, buscava me entender , me perdoar,
fazia tudo o que eu queria, estava lá por mim mesmo que eu não
merecesse e eu sabia que era porque me amava. Eu estava
tentandoretrib
uir, ser mais recíproco
em atitudes,já que sempre fui
sentimentalmente.Não era segredo pra ninguém, era a mulher da
minha vida.

Eu sabia que ela não estava mais fazendo uso de


anticoncepcional.Quando decidiu parar , eu fui o primeiro a saber,
decidimos juntos depois de tantainsistência,minha e de mamãe. No
dia seguinte à nossa conversa, ela ligou, contando daquele jeito
firme,doce e bravo ao mesmo tempo, para que eu pudesse recuar .
Mas não recuei. Eu não sabia se uma gravidez resolveriatodos os
nossos problemas, acabaria com os restosde mágoa dela por mim,
mas não seria o fim do mundo. Seria uma luz para nós dois,
selaríamosnosso amor e enterraríamos de vez toda a mágoa que
eu nos causei. A mágoa dela e o meu remorso.Além do que, eu
queria ser um bom pai.
Não contamos para ninguém, nem para mamãe, que vivia
insinuando. Um fatosobrenós era que mantínhamostudosob muita
discrição. E como nosso relacionamentonunca foi um conto de
fadas perfeitos,achamos que seria melhor sem ninguém dando
opiniões.

A noite com nossos amigos não era a mesma coisa para mim,
o cara escondendo duramenteos efeitossombrios da abstinência.
Ansiava por chegar em casa, pelo menos durante o sexo eu
esquecia tudo isso um pouco, o tesão incontrolávelque ela me
causava, ajudava a me manter na linha, às vezes até mesmo
reclamando do nosso ritmo frenético.
Eu já estava ansioso, torcendo para que conseguíssemos
assim, no primeiromês tentando.Não ficamosmuitocom o pessoal,
eu quis ir embora logo e ela não se opôs.

Mas infelizmentenaquela noite, estávamos no ato em minha


cama, ela me sujou de sangue. Não tínhamosproblemas com isso,
ela estar menstruadanunca foium impedindo para nosso sexo, mas
não era o que eu queria que acontecesse.Denise respiroualiviada,
se desculpou pela reação, mas ficoumais leve depois. Fui com ela
para o banheiro e terminamos ali, para não sujar os lençóis.
— Eu vou voltar com a pílula — ela avisou, quando já
estávamos deitados na cama, depois de trocarmosa roupa de
cama. Fiquei quieto por um momento, não tendo um argumento
decente para fazê-la continuardeixando corrersolto — se isso for
motivo pra você voltar a agir feito um cretino, que seja.
— Não vou fazerisso — falei o óbvio e ela respiroufundo —
embora ache que poderíam os tentar, por pelo menos mais um
tempo.
— Tenho tantomedo... Não quero repetircom um filho meu o
que meus pais fizeramcomigo. E não me sintorejeitada,mas nunca
tive um apoio emocional próximo deles. Só supriramo financeiro,
não quero fazer isso, repetir tudo de novo.
— Não vamos fazerisso — eu prometi,acariciandosua coxa, a
pele macia — nosso filho vai ser amado, vamos ser pais incríveis.
— Não acho que Edu e Jordana sejam exemplo de relação a
ser seguida — ela voltou a dizer — você e Fred querem isso, porque
ela é boazinha, colocou ele na linha e Eduardo foi um exemplo
muito clichê de redenção. Mas o nosso caso é completamente
diferente.
— Eu to mudando, Denise — falei e fechei os olhos, odiando
essa conversa com acusações nas entrelinhas.
— Certo...— ela suspirou— e se no próximo mês eu aparecer
grávida? O que acontece?
— Você vem morarcomigo? Planejamos o futurodo bebê? —
pergunteie ela deu um riso — ou você quer casar?Com cerimônia
na igreja e festa depois? — continuei a indagar, mas não achava
que a segunda opção combinava com a gente. A verdade é que
nunca sonhei com casamento na igreja e toda essa históriafofa,
nem ela, pelo que conversávamos.Se sonhasse, não teriatopado
planejar um filho assim, forada ordem. Além do que, praticamente
morávamos juntos, com a gravidez acontecendo, apenas iríamos
tornar definitivo.
— Você parece mais um adolescente falando — ela
resmungou.
— Você queria — eu presumi, por causa da frustração — e
ficou irritada porque não aconteceu.
Ela ficou quieta, então voltei a falar
.
— Você me deu uma chance e eu totentandonão decepcionar,
porque eu te amo muito, vida. Mas não quero ficarsendo acusado,
ver você com raiva, magoada à toa.
— Não é à toa, Ravi — ela faloue eu respireifundo— vai dizer
que não sentefaltade encher a cara e passara noite... Sabe-se lá
onde!
— Não, Denise. Eu não sinto — eu falei. E era mentira.Eu
sentia falta de poder beber sem ninguém me controlando, não
passar por esse infernode precisar, mas não poder fazer , porque
não poderia mais magoá-la. Com Chiara eu podia fazer isso. Mas eu
não amava Chiara. Para dizer a verdade, eu sentiaapenas remorso.
Como uma compulsão, eu matavaa vontade,transavacom ela para
terum álibi, bebia aténão poder mais, pareciadivertidona hora, era
aliás, mas ficava péssimo depois. Eu já fui o cara que aproveitou
muito bem todos os fetichese orgias mundo a fora,mas tudo isso
acabou perdendo a graçadepois de Denise. Mesmo que eu fizesse,
nunca mais seria como antes. E eu nem acreditavanessas coisas,
antes dela aparecer . No mais, eu não sabia o que era pior, os
sintomas de abstinência ou o remorso.

Denise me tratavacomo um doente que não poderia sequer


ver uma bebida, isso me irritavaprofundamente.Mas eu tinhaamor,
algo maior, que eu não poderia e nem queria perder . Se ela
engravidasse, era uma garantia de que teríamostempo para
consertara relação, nos encaixarmos e nos entendermosmelhor.
Tínhamoso mais importante,que era amor. Desses que toma conta
da alma. Era a única certeza que eu tinha na vida.

Talvez fosseprecipitadoinsistir , mas eu já estava com trintae


dois, não estava cedo para terum filho. Passei um braço em volta
do seu corpo e a puxei para mim. Nos encaramospor um momento
e eu a beijei. Nada explicaria o sabor e a sensação de alívio que eu
sentia a cada vez que os lábios dela tocavam os meus, que nos
beijávamos, nos tocávamos e fazíamos amor. Eu era
completamente apaixonado por ela.
[...]

EncontreiEdu e Fred para um almoço, mas Fred saiu logo, ia


para São Paulo acompanhar Bruna e as notíciassobre ela não era
nada animadoras. Edu lamentava, ninguém merecia passar por isso.
— Fiquei surpresoquando você e Chiara pararamde se ver —
meu amigo comentou,como se estivessesondando — e aliviado. A
Denise não merecia isso.
— Acha que tertidouma filhacom Jordana melhorou a relação
de vocês?
— Acho que deu um susto na gente, mas trouxealgo bom...
Não foia gravidez que consertou,foio amor, sei lá, você lembra que
Jordana me escondeu a gravidez por meses — ele falou confusoe
deu um sorriso— mas a melhor coisa que me aconteceu foi a
Helena. Você sabe que eu sempre quis ter filhos.
— Sei — arqueei uma sobrancelha.
— Quando mais novo — se corrigiu— e Jordana trouxeessa
luz de volta pra minha vida.
— Acha que ela fez de propósito? — perguntei, temendo
parecer ofensivo e ele riu, negando com a cabeça.
— Ela nunca tomou nada, cara. E eu sabia. Vacilamos sem
querer, mas no final foi ainda bem — Edu falou, se divertindocom
isso e eu dei um riso desanimado.
— Andei falando sobre com Denise... Mas ela não parece
segura.
— E com razão — ele retrucou— você precisa tercerteza,
porque depois que acontece,não é algo que você vai poder voltar
atrás.E pedir filhopra depois fingirque não temé de uma canalhice
inexplicável. Além do que, o bebê precisade um ambiente tranquilo
e feliz pra crescer. Eu sou muito feliz sendo pai, cara. É a melhor
partede tudo que tenho na vida, hoje tudo que eu façoé pensando
no futuroe na felicidade da minha filha. Eu quero ser o cara que
está lá sempre que ela precisar, e eu sei que é assim. Quando eu
chego em casa, ela vem de braçosabertosme receber , é magnífico,
não sei nem como explicar. Estou lá em cada coisa que ela aprende,
em cada momento importantee nós dois, eu e Helena, temos uma
conexão perfeita.Mas isso não aconteceu sozinho. É um esforço,
tem que terpaciência, entendera criança, saber as necessidades
dela. E sou muito gratopor Jordana estarcomigo nessa, nós dois
nos amamos ainda mais depois de Helena, consegui reconquistá-la
por terme tornado um bom pai, mas você sabe que pra terum
relacionamentobom, é preciso renunciar muita coisa. Você está
prontopra isso? — ele perguntoue eu engoli amargo, não sabendo
se estava. Eu queria, era fato.Mas não sabia até que ponto eu
conseguiria ser
... Como Eduardo se descreveu como um pai.
— Não comenta nada com a Jordana, por favor— eu pedi e
ele assentiu, logo mudando de assunto.

Para nossa surpresa,Chiara chegou ali. Eduardo não queria


nos deixar sozinhos, mandou Chiara ir embora duas vezes, mas
recebeu uma ligação e precisou ir resolverseus problemas. Antes
de ir, ele tentou arrastarChiara junto, mas ela se recusou
impaciente.
— Edu é tão chato — ela falou de uma maneira irreverente,
pegou seu copo com uma dose de uísque e bebeu um pouco.
— Só estava preocupado...
— Você sumiu, Ravi — Chiara falou, desse seu jeito carentee
ao mesmo tempo conquistador. Ela chegou para mais pertoe eu a
encarei, sempre tão bonita e tentadora.Afasteio corpo para trás,
me afastando.
— Tive meus motivos — falei tranquilamente — você sabe.
— Senti falta— ela falou mais baixo, sorrateira
e eu pisquei
algumas vezes. Quando dei por mim, ela já estavapertodemais —
é difícil esquecer tudo que fizemos.
— Chiara... — a repreendi.Certo,repreendi,mas deixei que
ela roçasseos lábios nos meus. O cheiro da bebida me fez salivar.
Um arrepiocorreumeu corpo e eu sentia boca amargar , era como
se eu realmente precisasse de uma dose, de alívio. O coração
começou a acelerar, a boca salivar, aguentar essa torturaera
demais para mim. Eu precisava de pelo menos uma dose para
acalmar, para relaxar
.
— Não sentiu a minha? — ela perguntou manhosa.
Eu não sentifaltade Chiara. Não estavadesmerecendo.Sexo
é sempre bom, ela era bonita, cheia de vontades inusitadas. Os
feticheseram divertidos,mas não era disso que eu sentia falta.Eu
me satisfazia com Denise de um jeito que nenhuma outramulher
seria capaz de fazer
. Eu dominava o sexo com a minha mulher, nós
dois éramos o encontro perfeitona cama. Quis dizer que não
poderíamosmais, porque eu estava em um relacionamento.Tive
sortede Denise me deixar ficar e me amar depois de tudo, mas era
tão difícil não ceder à porra do álcool.

E Denise era minha. Só minha. Não me importavacom essas


coisas, mas me refiro aos sentimentos. Era tudo único com ela.
Por que caralho eu não conseguia me segurar?Por que cedia
tanto para prazeres carnais e vícios infernais que não me
acrescentavam em absolutamente nada?

Chiara bebeu um gole do uísquebem perto,ela queria que eu


sentisse o cheiro maldito, queria me tentar
. Eu deveria ter me
levantado,saídocorrendodaqui, mas ela me ofereceuum gole, que
infelizmentenão recusei. Bastou isso e uma promessa de que em
seu apartamentohavia uma garrafainteirapara nós dois, para que
eu não conseguisse pensar em mais nada. Foi como criança
querendo doce. Não, foi pior. A necessidade foi mais intensa, era
uma desgraça, mas eu não consegui negar
.

Jurei que essa seria a nossa despedida. Eu e Chiara não


tínhamosessa de fingir
, eu não precisava mentirpara ela e ficava
aliviado quando a deixava me convencer de que eu não era um
viciado. Fomos para o apartamentodela, que nem estavarealmente
pronto ainda, mas não quisemos um motel.

Ela nos serviu doses generosas de uísque. Pude apreciar,


matando a minha agonia, que eu estava firmeaguentando esses
tempos todos. Era como se eu estivessesendo salvo. Precisei de
mais uma dose e ela pareceu se divertir
, servindo.
C 06
RaviFerrari

A puxei pela cintura e levei uma mão para sua nuca, a


segurandoe a olhei, sempretãobonita.Quem olha para Chiara não
imagina a mulher safada e cheia de desejos imundos que ela é.
— Duvido que você vai conseguir viver sem mim — ela falou
presunçosa e eu lambi seus lábios, antes de começar a beijá-la.
Era impetuoso, o beijo com ela. Cheio de lascívia,desejo e da
minha parte,dessa vez havia culpa. A culpa dobrada. Aperteisua
cintura,ignorando a voz que me pedia para cairna real e ir embora.
Ela puxou o meu paletó e o jogou no chão, depois começou a
desabotoar minha camisa branca de linho. Puxei o nó da gravata e a
tireipelo pescoço. Volteia beijá-la, e desci as mãos para desabotoar
a calca jeans que ela vestia, puxei a blusa dela para cima e nos
afastamos para tirá-la.
Logo não haviam mais roupas pelo caminho, eu vestia só a
cueca e ela estavaescancaradana cama. Me abaixei na beirada da
cama e a puxei pelos quadris. As pernas dela ficaramdobradas e
ela se mexeu, como se tentasse se acomodar melhor
.

Dei uma lambida longa na bocetabranquinha, a olhando e ela


mordeu o lábio inferior
, abafando o gemido. Focei a língua entreos
lábios íntimos, matando a saudade do seu gosto e comecei a chupar
com vontade, a deixando louca. Chiara afundou uma mão em meu
cabelo, me puxando e me colocou para chupar o clitóris.Dei um
sorrisosafadoe mamei suavementeali, passeei a pontado dedo na
entradinha da boceta e ela contraiu inteira, toda arrepiada.
— Não para... — ela gemeu resfolegando e as costas
arquearam. Eu poderia levá-la até o orgasmo assim, mas parei
ignorando seu gemido frustrado. Peguei a minha calça e tirei a
camisinha de lá. Chiara me puxou, descendo a cueca e abocanhou
me pau, dando uma lambida da base atéa ponta,antesde me levar
fundo em sua garganta.Dei um gemido rouco, era gostoso. Abri o
preservativo,mas antes,apreciei a boca dessa mulher deliciosa no
meu pau por mais um pouco. Ela foi me soltando e chupou
suavemente a ponta. Desenrolei a camisinha e ela subiu para o
meio da cama, toda escancarada me esperando. A peguei e enfiei
fundo, me acomodando perfeitamente em seu interior. Chiara se
agarroutodaem mim, os olhos se fecharame ela afogouo rostoem
meu pescoço.
Comecei a estocarrápido, rodeando o quadril quando chegava
ao limite e ela choramingava, dizia que assim que ela gostava. A
puxei pelo cabelo e nos encaramospor um momento, ela mordeu o
lábio inferior
, completamenteentreguee beijei sua boca. Ela dava
gemidos ansiosos, abafados.
— Me coloca por cima — ela sussurrouquando separeinossas
bocas. Nos virei na cama e apoiei o corpo nos travesse iros. Olhei
para ela pelada sobre mim, rebolando impetuosa, a boceta
engolindo meu pau a cada quicada, os seios tão bonitos pulando.
Me sentei,beijei o mamilo, chupei um e depois o outro.Ela levou as
mãos para o cabelo e jogou a cabeça para trás.Tracei um caminho
com a língua, desde o seio, pescoço, até que cheguei à boca. Ela
me olhou apreensiva, doida para gozar
.
Nós dois estremecemosquando ela começou a rebolar , se
esfregandotoda em mim, nossos corpos completamentecolados.
Passei um braço em volta do seu corpo, a segurando coladinha em
mim e a outralevei para meio de nós dois, comecei a circularo
clitórisdevagarinho e ela quebrou inteira,ondulou e contraiu,me
deixando mais excitado. Ela tentouum beijo quando se deu por
satisfeita,
mas dei um gemido áspero e a segurei firme,investindo
para cima e comecei a gozar.

Ela roubou um selinho e saiu de cima, se jogando na cama e


deu um suspiro de satisfação.
Peguei a camisinha e dei um nó na ponta, me levantei e fui
descartá-lano banheiro. Limpei meu membro e voltei para o quarto.
Peguei a garrafade uísquee enchi o copo atéa metade,virando um
gole longo. Eu prometique iria pararpor aqui, mas não estavamais
conseguindo. Bebi o que restouno copo e servi mais da bebida.
Chiara mexia no celular e eu parei ao ouvir o meu chamando, na
mesa de cabeceira.

“Denise”

Soltei o ar e cocei a nuca, sentindo o remorsome corroer


.
Silenciei a ligação e me deitei na cama. Chiara veio e se
aconchegou no meu peito, toda preguiçosa.
— O que vai fazeramanhã? — ela perguntou— eu vou em
uma festa, se quiser
, posso incluir seu nome.
— Decidimos isso depois — falei.
— Sabe o que eu queria? — ela perguntou, de repente
animada e se sentou.
— O que? — perguntei, sabendo que viria algo novo.
— Isso aqui — ela falou presunçosa, pegando o celular. Ela
procurou por algo e virou a tela para mim.

Assisti aos segundos de vídeo. Uma menina loirinha e dois


carasgrandesna cama com ela. Ao contráriodos vídeosque vemos
por aí, não era algo selvagem. Um cara a pegava por trá
s e o outro
chupava a bocetadevagarinho. Meu coraçãofalhouuma batida,não
dava para negar isso a ela. Ou dava, mas eu já estava ficando
embriagado, querendo mais um pouco daquele uísque, não pensei
direito.
— Você estámesmo decidida a realizartodosos fetichesantes
de... Encontraro príncipe encantado — constateie ela sorriu
animada, concordando.
— Você vai comigo? — ela fez um beiço, fazendo uma careta
manhosa.
— Vou — falei mais baixo — já escolheu o candidato?
— Mais ou menos, não teriacoragem se não fossecom você
— ela falou — me sentiria julgada.
— Jamais te julgaria.

[...]

No meu celular havia duas ligações perdidas de Denise, que eu


não tive como atender
. Quando deixei Chiara onde estava seu carro,
retorneie inventei que estava em uma reunião de trabalho, me
desculpei obviamente.
— Tudo bem... — ela falou — nosso fim de semana com meu
pai está de pé?
Demorei a responder, havia me esquecido. O convitede Chiara
me veio à mente, mas eu precisava ser mais sério das minhas
decisões. Eu pedi um filho para essa mulher, não poderia ficara
enganando e traindoachando que eu tinha esse direito.Que só a
minha vontade importava.
— Claro, claro — falei meio anuviado — você está bem?
— To, almocei com sua mãe hoje, ela apareceu de surpr esa e
me arrastoupra um restaurante muito requintado... De qualquer
maneira, eu amei.
— Ela sabe que estamos tentando? — perguntei, ficando
angustiado. Era pra eu manter um relacionamentodecente com
Denise, fazerjus ao que eu sentia.Mas agora a única coisa que eu
conseguia pensar era em ir para algum lugar terminarde matara
minha vontade. Precisava de mais alguma bebida, estava sedento,
bem como se tivesse parado no meio do sexo e continuasse
excitado. Eu precisava de alívio.
— Não... Não tenho nem coragem de contar. Depois acontece
algo e... — ela parou de falar
, sempre externandoessas mágoas
que eu nem dava tempo sararem.
— Não vai acontecernada — prometi,me sentindo sufocado
de remorso.
— Vem me ver hoje? — ela perguntou sorrateira.
— Amor, eu tenho uma reunião com um cara chato agora,
posso te ligar depois?
— Ah, certo... V
ai, lá... — ela falou vagamente.
— Te amo, beijo.

Soltei o celular no banco dianteiroe respireifundo, com essa


sensação corrosivame torturando. Chiara mandou uma fotopela
tarde,dizendo que estava ansiosa para amanhã. Eu não respondi,
sabia que não deveria continuarcom isso, mas a essa alturaeu já
estava conturbado sob os efeitos do álcool.
C 07
Denise Malta

Ravi chegou desse jeito amuado que eu detestava,no final da


tardede quinta. Era uma verdade que eu estava cansada de viver
pelo conflito, sempre esperando algo acontecer
.
Eu me torneiuma mulher insegura, que amava demais, mas
que não tinha nenhuma certeza nesse homem. Olhá-lo agora,
depois de ele tersumido na noitepassada, era me sentirpequena e
sem chão.
Ele sequer conseguia me olhar nos olhos, nos beijamos e ele
desviou logo, começou a falar o que fez durante o dia, estava
nervoso, como quem fez algo que eu não gostaria de saber.
— Parece nervoso — comentei,enchendo um copo com água
e dei para ele. Ravi se escorou ao balcão da cozinha e bebeu dois
goles, negou com a cabeça e colocou o copo de volta no mármore.
Notei que estava um pouco trêmulo, mas não disse nada.
— Só estressado— ele resmungou, mas era sempre isso.
Algumas semanas na linha e ele ficava logo nervoso, se
desesperando para sair e encontraralívio. Se é que já não havia
feito.Ravi não era o cara que desaparecia, estávamos sempre
juntos, quando estávamos bem. Mais por ele querer do que por
mim. Quando não, era porque ele queria beber e se afogar no vício.
— Vou sair com Marina e Jordana amanhã — conteie ele me
encarou por um momento — vamos nos encontrardepois, ou você
tem algum plano?
— Vou sair com os caras — ele falou, me fazendo sentir uma
pontada no peito — não vai ter nada demais, só pôquer
.
— Meu pai está nos esperando no sábado, para o almoço —
eu falei, para lembrá-lo — tenta não beber
.
— Não vou beber — ele falou rapidamente,desviando o olhar
— nervoso para finalmente conhecê-lo.
— Vocês já se falaram— eu falei presunçosa— ele não vai te
odiar.
— Deus teouça, amor — Ravi falou,se divertindoe deu a volta
na bancada, me puxou pela cinturae deu um beijo carinhoso em
meus lábios. Nos encaramos por um momento, quando nossos
lábios se afastaram
e eu o puxei de volta, dessa vez, para um beijo
mais profundo e malicioso.

Só paramos porque minha tia chegou.


— Vocês estão aí — ela falou, trazendoalgumas sacolas de
supermercado para a pia — fica pra jantar
, Ravi?
— Claro que sim — eu quem respondi, animada — ela vai
fazer aquele ravioli que você ama, com massa caseira.
— Não poderia recusar — ele falou.
— Você estáestranho— constatei,o puxando pela mão para o
sofá e nos sentamos. Ele negou com a cabeça, aninhando o rosto
em meu pescoço, quando nos sentamos.Quis acreditarque não era
uma ressaca, mas se fosse, ele estava conseguindo ficar
completamente displicente.

Fui ajudar com o jantar


, cortando alguns temperos. Ravi
puxava conversa, e eu o observava, mas decidi não questionare
pressioná-lo para uma confissão, estava cansada de viver nesse
tormento.
Empurrei esses sentimentospara longe, não precisava viver
atormentada.Eu quis perdoar e tentarde novo, deveria respirar
mais leve e aproveitar
. Deveria confiarnele. Mas eu não confiava.
De qualquer modo, deixei isso pra lá e aproveitei a noite com ele.

Depois do jantar
, eu fui lavar a louça e ele me ajudou, secando
e guardando. Ficamos estranhospor alguns segundos, mas ele
manobrou isso, me puxou pela cinturae eu o abracei pelo pescoço.
Afundeio rostoem seu peitoe respirei,querendo decidirseguirsem
culpa e mágoa, por mais que parecesse difícil,porque o amava
demais, porque eu e sua família acreditávamos que assim
freávamos um pouco o problema.

Fomos para o meu quarto e eu desfiz a cama. Fui para o banho


e ele veio logo atrás.Não desgrudamos. Ravi me secou antes de
irmos para a cama e apagou a luz, mas eu odiava escuridão e
acendi o lustreao lado da cama. Ele trancoua portado quartoe
veio por cima de mim, me beijando amoroso enquanto me
penetrava, sempre tão gostoso.

Não fiquei pensando no que me atormentava,só me deixei


levar pelo momento, pelo erotismodele, tão gostoso e carinhoso
dessa vez, me beijando, acariciando e lambendo o corpo inteiro.
Chegamos ao orgasmoquase ao mesmo momento.Ele estremeceu
sobre meu corpo e afundou o rostoem meu pescoço, depois disse
que me amava e caiu deitado ao meu lado.
Cruzei as mãos sobre meu corpo e olhei para cima, me
sentindoatormentada.Ravi notou, porque me puxou e nos colocou
de conchinha. Ficou correndoas pontas dos dedos na lateraldo
meu corpo nu, me deixando arrepiada, mas eu estava tensa,
preocupada.
— Está tudo bem?
— Fico pensando que estamossendo precipitadospor planejar
um filho — falei meio confusa e suspirei. Ele deu um riso e
depositou um beijo em meu ombro.
— Vamos ser pais incríveis,não vamos? — ele perguntou,me
fazendo sentir um frio na barriga angustioso.
— É... — falei vagamente.
— To tão cansado — ele reclamou e eu fiquei quieta — você
está estranha, amor, o que houve?
— Nada... — falei e me virei de frentepara ele. Toquei seu
rosto e rocei nossos narizes. Beijei suavemente seus lábios e
quando me afastei, ele beijou de novo.
— Você tá tensa — ele falou, me desvendando e eu respirei
fundo — não quer falar mesmo?
— Não... — falei, porque se eu desabafasse, iríamos brigar
.
— Não vou fazernada, vida — ele falou e eu fechei os olhos,
me acomodando melhor em seus braçose desceu uma mão para a
minha bunda — quero que a gente dê certo dessa vez.
— Tudo bem, vou ficar bem.
— Eu teamo mais do que tudo, você sabe disso, não é? — ele
perguntoue eu fiquei o encarando. Não o respondi, afundei o rosto
em seu pescoço e me agarrei toda nele, que não conseguiu ficar
quieto muito tempo, logo estava provocando e me excitando outra
vez.

Pela manhã, acordei primeiro.Olhei para o homem delicioso


dormindo ao meu lado. Ravi tinha o lençol embolado entre as
pernas, um braço dobrado sob a cabeça e os lábios entreabertos.
Me apoiei em um braço e o olhei melhor, mas parei confusa ao ver
uma marca leve de arranhãoem seu peito. Me senteinum impulso,
não me lembrava de tê-loarranhado durantea nossa transa,que foi
bem calma a noite inteira.

Peguei o celular dele, que vibrou na mesa de cabeceira e me


levantei, indo para o banheiro. Eu sabia que estava chegando ao
fundo do poço nessa relação, quando comecei a quererolhar as
mensagens dele.

Não abria nada que não fossedo meu interesse.Mas o “bom


dia, gato! Nossa noite tá de pé?”, não iria passar despercebido.

“Claro!” — eu respondi. Ela começou a digitare eu bloqueei a


tela. Deixaria estar . Eu já estava tão calejada com as merdas que
Ravi aprontava , que nem me abalava mais saber que ele estava
planejando me trair . Poderia culpar o vício, mas nunca era só a
bebida. Era isso e Chiara. Poderia culpá-la? Ela não era a única
culpada, ninguém tinha como jogar para ela a responsabilidade de
fazer Ravi me trair.
Quando chegou outra mensagem dela, eu abri, ouvindo o áudio
nojento:
— Vaiser a coisamaisloucaque vou fazerna vida.Mas estou
ansiosa e excitada desde já! — meu coração começou a se
comprimir inteiro, ele iria fazer o que com ela? Que raiva, ele já tinha
planos com outra e inventando pôquer com os caras.

Saí do banheiro e deixei o celular dele na cama. Me troqueie


saí de casa cedo, antes que ele pudesse acordar . Queria procurar
alguma amiga, um ombro para me consolar, mas ninguém iria me
dar apoio. Só queriam que eu saíssedessa relação, que desistisse
dele, que nunca iria mudar. E eu só queria isso também, coragem e
forçapara abandoná-lo. Já era tão difícilvê-lo destruídorefémdo
álcool, mas ser traídae fecharos olhos para o que nunca mudava
estava me fazendo tão infeliz.

Não demorou a que ele começasse a ligar. Primeiroachei que


se chatearia por eu ter fuçado seu celular, mas ele estava se
explicando. Como se tivesse explicação. Desliguei quando ele
começou a se desculpar, admitindoa culpa, o impulso, a vontadede
beber atéque a vontadeacabasse, atéque parassede sofrercom a
abstinência. Era muito confortávelpara ele. Se colocava com o
doente que era para mim, quando era conveniente,mas para a sua
mãe, ele só admitiaserum traidor. Eu não precisavamais viver isso.
Precisava terforçaemocional para deixar que sua famílialidasse
com seus problemas quando ele passasse dos limites.
“Vai fazer as coisas sujas que você ama e me esquece, Ravi”
— enviei e coloquei o celular em modo avião.

[...]

Tenteinão pensarsobreo que estavaacontecendo,atéporque


não era novidade. Eu sabia onde estavapisando, insistipor amor e
já estava me convencendo de que amá-lo não resolvia nada. Sem
tratamento e forçade vontade, sem me respeitar , meu amor não
valia de nada. As meninas saíramna sexta-feirae eu acabei indo.
Tia Carol orientouque era melhor não ir. Mesmo que fossemminhas
amigas, Jordana era casada com Edu e Mari namorava Fred, não
era seguro sair com os amigos dele, se eu quisesse realmente
terminar
. Tentei parecer amarga e resignada quando disse que
ficaria com qualquer outro, se quisesse. Mas ela riu da minha
babaquice, sabia que eu não tinha muita coragem.

Jordana queria vir me buscar com Edu, mas Mari chegou na


frente,com o carrode Fred. Ela queria vingança contraRavi a todo
custo,Jordana tentariame acalmar, para que não fizessenada no
impulso.

Quando chegamos, Fred trouxe logo bebidas para mim e


Marina e não demoramos a encontrarEdu e Dana. Me lembrei no
meio da noite de desmarcaro almoço com meu pai em Niterói.Ele
chegou a lamentar
, mas nada que causasse sofrimento,
obviamente.
Fred notouque eu fiqueiagitava ao ver Chiara chegando, junto
com duas amigas. Ravi viria? Eu o veria com ela? Por que diabos
isso me atormentava?
— Ele não estácom ela, Denise — Edu falou, parando bem ao
meu lado e eu o olhei, tãoenvergonhada. Era tãohumilhantepassar
por isso. Engoli amargo, mas não disse nada — Ravi nesse
momento em está um clube, com uns amigos nossos.
— Clube? — indaguei confusa.
— Jogando pôquer — ele falou e eu neguei com a cabeça. Só
foi para o pôquer porque eu descobri as intençõesmalditas antes,
claro. Ou, eu precisavaser realista,beberia lá até não poder mais e
encontrariaChiara depois, para realizarem os fetichesloucos no
final da noite. Pensar nisso doía muito, queimava por dentro.

Enviei uma mensagem para minha tia, a única além de mim e


Ravi consciente da loucura de tentar engravidar
. Disse que iria voltar
a tomar o anticoncepcional logo. Depois disse que não, não
precisavatomar, eu não iria mais voltarcom ele. Não iria ficarcom
ninguém tão cedo, não precisava me encher de hormônios a toa.
Mas eu me conhecia, sabia como Ravi me seduzia fácil, eu não
poderia engravidarpor descuido de um homem que eu queria tanta
distância. Deixei a confusão pra lá, precisava aproveitar a noite.

Mari tentavame animar, enquanto Jordana estava focada em


Edu, os dois não se desgrudavam. Fiquei aliviada quando Pedro
chegou, junto com alguns amigos. Um deles, um moreno alto que eu
não conseguia lembrar o nome, ficou mais próximo, nitidamente
interessado.Eu estava na minha, tentando recuar
, mesmo que
Marina incentivasse completamente.
Estava sendo educada, claro, mas não sabia se queria sair e
ficar com o primeiro cara que aparecesse.

Dana veio e nos chamou para ir ao banheiro, aproveiteiporque


queria ir também. Entreiem uma das cabines para fazerxixi, acabei
saindo antes das meninas e fui lavar as mãos. Uma pontada de
desgosto me incomodou quando Chiara entrou.Como não havia
uma cabine disponível, ela se escorouà pia, bem ao meu lado. Eu
deveria ter saído, claro, mas o olhar de sarcasmo dela me fez. ficar
Ela deu um suspiro audível, desses que mais parecem uma
provocação,mas me mantivequieta.O clima pareceupiorarquando
uma amiga dela entrouno banheiro, passou por mim e deu aquela
olhada de cima a baixo, como se quisesse me fazer inferior
.

Minha vontade era sair daqui, correrpara casa, me deixar


chorar
. Marina saiu da cabine e me lançou um olhar significativo,
acenou para Chiara e me puxou pela mão para fora, onde
esperamos por Jordana.
— Fred disse que Ravi chegou aí — ela falou, depois olhar o
celular — você quer ir embora?
— Não — falei, mas queria, sim.
— Deveria ficarcom o cara na frentedele. Deixá-lo fazero
drama que quisesse, sem se comover. Já passou da hora de Ravi
lidar com as consequências do que faz. Você não é obrigada a
perder mais tempo nessa relação tóxica.
— Eu sei, amiga — falei angustiada.
— Sei que não é fácil, mas torçopra você conseguir — ela
falou complacente — sabe que vou te apoiar sempre, mas sei
também que a melhor coisa pra você, é se livrardele. E não me
importocom o que ele pensa, Ravi sabe que o odeio — ela lançou
um sorriso falso e eu sorri fraco, tão cansada emocionalmente.
— Acha que ele vai ficarcom ela? — perguntei,me referi
ndo à
Chiara. Mari negou com a cabeça devagar, disse que achava que
ele não seria capaz de fazer isso na minha frente.Mas completou
dizendo que ele merecia que eu fizesse na frente dele.

Dana saiu do banheiro perguntandose eu estava bem, mas


afirmeique sim. Quando íamos chegando para onde estávamos,
Ravi estava lá, com Fred e Eduardo. Segurava uma garrafade
energético e estava tão bonito, mesmo que eu estivesse tão
magoada.

Não fui até lá, parei um pouco antes,onde estavaPedro e seu


amigo. O moreno bonito me abraçou e devolveu o meu copo, deu
um beijo em minha testa.Meu coração se comprimiu e revirou
inteiro,mas virei o rostoe depois do beijo na testa,nos encaramos
por um momento e ele me deu um beijo na boca. Foi raso, macio,
um beijo nebuloso. Eu revirava inteirapor dentro,tinha certezaque
Ravi estavavendo e isso me matava, mas eu precisavaencerrara
nossa história, eu precisava seguir em frente.
C 08
Denise Malta

Tudo pareceu ficardesfocado ao redor , quando quebramos o


beijo. Parecia só haver Ravi ali, olhando firme,sem reagir. Minha
vontade era de sair correndo
, me esconder, choraraté dormir
. Tudo
pareceupiorarquando Chiara se aproximou deles, era a hora de ele
se vingar e me fazersofrerainda mais? Quis fecharos olhos para
não ver, não descobrir. Ela falou com Fred, Edu, mas na vez de
Ravi, ele apenas acenou e saiu andando. Passou por aqui para falar
com o irmão, mas não olhou para mim. Cumprimentouo moreno,
que ele chamou de Nic. Deveria serNicolas? Não me incomodei em
perguntar. Ravi passou entre mim e Nic, propositalmentenos
afastando . Quando olhei para Pedro, ele negou com a cabeça e me
lançou um olhar condescendente.

A noite virou um campo minado, pelo menos era o que eu


sentia. Procureipor Ravi com o olhar, preocupada com o que ele
pudesse fazeresta noite. Tentei me convencer de que não era da
minha conta, mas era inevitável.

Não queria mais ficarcom o moreno, Nic. Eu queria ir para


casa. Se fossepara ser solteira,que eu saíssepara outroslugares,
onde jamais veria Ravi. Mas continuei ali, tenteifazerparecerque
estava me divertindo,mas não estava mais. Os beijos não eram
deliciosos como deveriam ser, meu coração estava apertado, a
cabeça em outro lugar
.
Não sei se foi piada do destino, mas quase uma da manhã, o
moreno recebeu uma ligação urgente,não me explicou muito bem,
mas precisaria ir para casa por um problema familiar. Quis que eu
fossejunto,depois poderíam os aproveitarmelhor a noite.Mas achei
melhor ficar
. Pedro me lançou um olhar significativo,era melhor que
eu fosse mesmo, talvez.

Voltei para onde as meninas estavamcom seus pares, Marina


me revirou os olhos por terficado, mas logo fomos pegar outra
bebida. Toda hora eu procuravaRavi com o olhar, mas precisava
parar com essa tortura.

Estava distraídacom as minhas amigas, eu e Mari distr aindo


Jordana para ela não ceder à Eduardo e toda a provocação de
sempre e ir embora. Ele sempre a levava. Não notei quando Chiara
chegou, só quando entrelaç ou um braço no de Jordana, que me
lançou um sorrisoapertado,como se se desculpasse. Notei o olhar
de Chiara, sempre querendo parecer superior , de cima a baixo.
Dessa vez não recuei, olhei de volta, com raiva por ela fazerparte
de tudo que me fazia sofrer
.

Meu coração falhou uma batida, comecei a ficar dormente


quando Ravi voltou para os amigos, dessa vez com um copo de
uísquee um cigarroelétricona outramão. Claro que ele iria beber.
Chiara se soltou de Jordana e foi até eles, abraçando Ravi pelo
torso.Minha respiraçãopareceu travar, era tão doloroso. Ele ia se
vingar agora? Mostrarque eu era mais fraca,que não deveria ter
comprado a briga? Os segundos pareciam corrertão lentamente,
me matando. Edu notou que eu os olhava, no milésimo de segundo
seguinte, eu e Ravi nos encaramos. Tudo parecia trancadoe se
quebrando em mim, ele iria beijá-la na minha frente?Ravi não
merecia o meu perdão e só deixava isso cada vez mais claro.

Mari notou meu desespero,me abraçou e nos moveu no ritmo


da música.
— Eu queria tanto poder dar um chute bem no meio das pernas
dele — ela falou brava, me fazendo rir
. Era seu maior desejo esta
noite, eu poderia apostar — Chiara é tão sem noção...
— Queria ir embora — eu reclamei e ela nos afastoupara me
olhar — é sério, acho que já deu pra mim.
— Ele estáolhando pra cá. Se ele chegar perto,eu vou chutar
as bolas dele.
— Ele merecia isso — eu resmunguei, virando o rostopara
olhar. No momento em que Ravi pareceu quererse aproximar , Edu
o puxou pelo braço, o que achei melhor
.

Aproveiteiquando as meninas quiseram ir ao banheiro para ir


embora. Não avisei, para ninguém querer impedir. Meu estado
emocional pedia um banho e cama, para assimilar e aceitarque
tomei a melhor decisão.

Mari quem enviou mensagens perguntando, só quando já


estava em casa, de banho tomado e prontapara me esconder sob
as cobertas,respondi. Ela não contousobre Ravi, quem fez isso foi
Jordana.
“Ele não para de te procura
r. Edu queria levá-lo para casa,
acha que estáficandobêbado e não para de beber... Deu um basta
em Chiara na frentede todos, foi tristever.” — sentia negação
enquanto lia a mensagem. Deu um basta em Chiara porque sabia
que Jordana era boazinha o bastantee iria me contar
. Mari jamais
contaria,deveria viver almejando o momento de chutaras bolas
dele.

Eu já estavadormindo quando Ravi apareceu. Tia Carol quem


subiu com ele, que estava completamentebêbado, soluçando e
incoerente.Parecia que com o passar do tempo, ele ficava mais
viciado e menos resistenteaos efeitosda bebida, ou porque com o
passar do tempo, ele bebia muito mais em menos tempo. Eu e
minha tia trocamosum olhar cheio de significados,ele sempre fazia
isso. Ele fazia algo errado, eu terminava e ele afundava nas
bebidas, para ficar desse jeito e me comover
.

O pior de tudo era que eu sabia todo o repertorio.


Deveria ligar
para a mãe dele, fazê-la vir aqui, vê-lo nesse estado, queria que
voltassem com a conversa de uma clínica de reabilitação, que
fizessemalgo para pará-lo. Não como uma ameaça para ele, para
que eu ficassecom ele, mas como algo real, para impedi-lo, para
tratá-lo.Não era casual, não era só diversão. Ele simplesmentenão
conseguia ficarlonge dos vícios.Eu não conseguia salvá-lo. Estava
cansada de ser colocada nessa posição.
Não bebia socialmente. Se saíssemoscom nossos amigos e
ele começasse, depois quando todos fossem embora, ele não iria
mais parar
. Isso quando não parava na cama com outra.
— Eu te amo — ele soluçou, como se dizer isso fosseremédio
para toda a dor que me causava — por favor , me perdoa...
— Seus amigos deveriam ver esse seu showzinho — eu falei
brava — onde você estava?
— Em um bar — ele falavasem forças,evidentementetonto—
não consigo fazer nada, só penso em você.
— Olha, eu vou pro quarto— minha tia falou, depois de me
entregar um copo com água, que eu dei para ele beber.
— Eu prefiromorrera ficarsem você — ele falou e eu respirei
fundo.
— Se você me amasse como diz, não me fariasofrertanto —
falei friamente — toda vez é isso, você deveria ter vergonha.
Ele piscou algumas vezes, tentou me puxar, mas eu recuei.
— Não vou voltarcom você, Ravi — eu falei séria e ele me
encarou, negando com a cabeça.
— Sabe como isso vai term inar? — ele perguntou,dando um
sorrisosorrateiro e eu soltei o ar, impaciente — nós dois juntos,
casados — ele disse cheio de convicção.
— Pra isso eu tenho só que aguentarcalada tudo isso que
você faz. Até você se matarcom tantabebida e tantadroga — falei
sarcástica,não me comovendo com a promessa ou seja lá o que
isso fosse.
— Eu vou mudar...
— Você não vai mudar — eu resmunguei — não por mim.
— Porque eu te amo — ele soluçou outravez, o tom de voz
insistente e melancólico.
— Teus amigos deveriam saber que você acaba a noite aqui,
fazendo esse papel ridículo — eu falei, ficando irritada.
— Eles sabem que eu te amo — Ravi falou, completamente
bêbado.
— Vamos pro quarto— falei vencida, sabendo que não teria
como mandá-lo embora sozinho nessas condições.

Ele sabia que eu não iria deixá-lo dormircom essa roupa da


rua, sujo. Foi direto para o banheiro, cambaleando e tirando a roupa.
Quando viu que eu não iria, ele voltou e se escorouna porta.Eu o
olhei. Era tão injusto como ele era sedutor , mesmo nessas
condições deploráveis. Ele deu um sorrisosafado, como se fosse
me convencer, mas fui até ele e o empurrei para dentro do Box.

Troquei a temperaturada água para fria e quando abri o


chuveiro com ele em baixo, ele praguejou vários palavrões.
— O sustoé bom, pra ver se você acorda — eu resmunguei e
ele me olhou bravo — pra vida.
— Denise, volta aqui — ele falou asperamente,mas fechei a
porta do Box e voltei para o quarto.

Ele desligou o chuveiro, provavelmentepara esquentara água


e voltou de lá com o cheiro do meu sabonete adocicado. Quando
notou que eu havia separado um pijama seu que havia aqui, ele fez
uma carranca, como o homem mimado que sempre foi.
— Eu odeio dormir de roupa — ele falou e eu o encarei séria.
— Se quiser dormirsem roupa, vai pro outroquarto— avisei e
ele parou por um momento — e é só porque você estábêbado que
vai ficar aqui — falei incisiva. Ele piscou algumas vezes, ainda
estava tonto, claro.
Ravi pegou só o short do pijama, puxou a toalha e eu o
observei. O membro estava semiereto,o que me fez crerque ele
estava se tocando no banho. Era tão bonito, o desgraçado. Tudo
parecia tero tamanho perfe ito e sob medida para ele. Ravi era a
definição perfeita de Deus ter dado asas a uma cobra. Bonito,
gostoso, grande, alto, forte, rico e sedutor
, canalha, egoísta.

Só notei que eu o olhava demais, quando ele pigarreoue eu o


olhei, me sentindo péssima. Eu queria sair dessa relação fodida,
mas não dava um passo fir me para tornarreal essa decisão. Um
beijo dele e eu já estava rendida em seus braços.
Mas mesmo assim, me recompus e o mandei se vestir. Ele
negou com a cabeça, achando a minha decisão péssima, mas eu
estava certa. Eu sempre estava certa.
Desfiz a cama e peguei dois edredons, porque assim
ficaríamos mais separados, mesmo na mesma cama.
Quando deitamos e eu apaguei a luz, ele veio com gracinhas,
querendo me abraçar
, a mão vindo pela minha coxa. Mas eu peguei
rudemente e a tirei, me afastando.
— Vivi os pioressegundos da minha vida hoje — ele faloue eu
fiquei quieta — ver você com outro cara foi como visitar o inferno.
— Eu não vou abraçaressa culpa — eu avisei — se você
achou que doeu eu fazerisso solteira,imagina como seria incrível
se eu ficasse com alguém enquanto te namorava.
— Eu me arrependo de tudo,vida — ele falou,soluçando — eu
não sei porque faço tudo tão errado... Eu não sei porque não
consigo seguir meus planos... Só queria terforçapra não recair, pra
não fazer tantamerda — a voz chegou a embargar . Senti tudo
amargar
, não iria confiar nele.

A noite não foi fácil. Entrechoros melancólicos, muito drama,


enjoos e vômitosque ele não conseguia simplesmentesegurar , Ravi
falava de como estava arrependido. Quando toda essa agonia
passou e finalmenteele conseguiu ficardeitado, começou a ter
taquicardia.Culpa de tantoenergéticoe uísque que havia bebido.
Ou sabe-se lá o que mais usou.
— Me deixa ficarabraçado com você — ele falou e eu fechei
os olhos, irritada com ele e comigo.
— Eu deveria ter ligado pra sua mãe — eu comecei a
resmungar, enquanto ele nos colocava de conchinha na cama. Ele
deu um riso e fungou na minha nuca, cheirando meu cabelo — ou
para Pedro. V
ocê não deveria estar aqui.
— Eu te amo muito — ele falou e tranqueia respiração,com
raiva de tudo isso.

Ele não demorou a dormir , ao contráriode mim. Ainda assim,


acordei primeiro,resignada a mantero término.Me levantei e fui ao
banheiro. Ao sair, parei a poucos passos da cama e encarei esse
homem. Neguei com a cabeça, eu me mantinha tão presa a ele por
quê? Sexo? Era só o que funcionava para nós. Por medo? Eu
achava mesmo que estava conseguindo controlá-lo em alguma
coisa?
Saí do quartoe fui para a cozinha, onde peguei um copo com
água. Estava angustiada pensando em como seria quando ele
acordasse.Se eu bem conhecia Ravi, iria quererfingirque estava
tudo bem. Mas dessa vez, eu não iria deixar ficar
.
C 09
Denise Malta

Pedro quem ligou para saber dele, uma vez que não estava
atendendoas ligações de Silvia e ela sempreficavapreocupada aos
fins de semana. Principalmente quando terminávamos.

Prepareicafé da manhã para dois, sabia que ele iria acordar


fraco,não deixaria brecha para dramas. Deixei o celular sobre o
balcão da cozinha e estava despejando o suco verde no copo
grande. Ao me virar
, lá estavaele, a cara ainda amassada de sono,
o cabelo bagunçado. Era tão bonito. Tinha mesmo que ser? Nos
encaramospor um momento,ele suspiroue ia dar a volta, mas meu
celular vibrou algumas vezes e nós dois olhamos. Ravi não era de
pegar meu celular para olhar, mas também nunca tive problemas
com isso. Ele me olhou confuso, depois avançou no celular como
um impulso. Ele tinha a senha antiga, tentoudesbloquear com ela e
não conseguiu, eu havia mudado.
— Por que mudou? — ele perguntoubaixo e eu o encarei, não
consegui dizer nada. O celular vibrou outravez e ele deu um riso
descrente,negando com a cabeça — agora é Pedro, não vai
responder?
— Por que esse sarcasmo, Ravi? — pergunteifriament e, me
fazendo de desentendida.
— Você foi longe demais na noite passada — ele resmungou,
olhando novamente a tela do meu celular — já foi fazerfofocapro
meu irmão? É sério isso?
— Vai ficaraqui brigando? — pergunteiimpaciente— você não
é vítima de nada aqui.
— Então você acha certoo que fez? — ele perguntou , me
irritando por achar que teria chance de reverter a situação.
— Ravi, eu vou serbem claracom você. De uma vez por todas
— falei firme,mais alto do que gostariae ele estremeceu— eu não
me importose você se machucou porque fiqueicom outrocara.Não
me importose doeu em você. Não acho que você preciseficaraqui
fazendo show, sério. Você não vai me comover e não vai jogar a
culpa pra mim. Se chegamos até aqui, a esse ponto, foi por culpa
sua! — eu quase gritei,meu celular não parava, mas ele não soltou
— não adiantaquererfazerdrama, me culpar, se fazerde magoado.
Machucada estou eu, o tempo todo aguentando você, o seu vícioe
a sua amante com propostasimundas! — ele tentoufalar, mas eu
interrompiantes que começasse:— na madrugada você disse que
terminaríamos isso aqui casados, juntos.Mas eu não acreditonisso.
Eu não quero mais isso. Eu estou cansada, no limite, sofrendo,
insegura,com medo de você adoecer, se matar!Eu precisoterminar
com você, eu precisote esquecere buscaruma vida tranquila.E eu
sinto muito, mas ao seu lado não tenho paz.

Ficamos calados por segundos longos e tensos,a tensãoentre


nós dois era gigantesca,dolorosa. Não parei de olhá-lo, não queria
que ele pensasse que eu iria ceder como sempre cedi.
— Pode me devolver o meu celular? — pedi mais baixo e ele
colocou o aparelho de volta no balcão. Eu peguei, vendo que o seu
chilique foi por aparecermensagens de Nic. Era apenas um bom
dia, ele perguntandose eu dormi bem e que havia pegado meu
número com Pedro. As de Pedro, perguntandoo estadode Ravi ao
acordar
, se já havia acordado.
Respondi os dois e quando soltei o celular, Ravi ainda me
encarava. Ele queria poder brigar
, eu via no seu olhar que queria
poder me culpar e descontarsua raiva, mas ele não tinha esse
direito.
— Você vai se vingar de mim, é isso? — ele perguntou
amuado, me fazendo rir.
— Não estou me vingando de ninguém — eu falei resignada,
embora estivesse tão dilacerada por dentro— vem comer alguma
coisa. Como você veio pra cá? Está com seu carro?
— Pare de agir desse jeito, Denise! — ele resmungou, mas eu
precisava mais do que tudo ser firme dessa vez. Do contrário
acabaria grávida no meio dessas confusões.
— Venha comer, por favor . Você passou mal a noite toda,
precisa se alimentar
.
— Eu não quero — ele rosnou e voltou para o quarto.
Respirei fundo. A sanduicheira apitou, indicando os mistos
prontose eu os coloquei em um prato.Eu deveria terficado quieta,
mas não consegui, fui atrásdele no quarto.Ravi já se vestia, com
uma bermuda e camiseta larga dele que estava por aqui. Ele
parecia agitado procurandoalguma coisa, provavelmentea chave
do carro.
— Ravi, pare! — eu pedi, mas ele me ignorou, revirando a
cama, depois a calça que usava antes.
— Não é term inar que você quer? — ele perguntouirritado,
fungou e correuuma mão no nariz, mas não parou a sua busca —
eu vou te deixar em paz! Faça o que você quiser
.
— É assim que você quer terminar?Brigando? — pergunteie
ele parou por um momento, como se não estivesse assimilando
muito bem que eu queria mesmo terminar . Parecia atordoado,
perdido.
— É me fazersofrerque você quer? — ele perguntouexaltado,
gesticulando,a voz grossafalhando,mas não o respondi— sinta-se
satisfeita. A sua vingança está sendo um sucesso!
— Pare com isso, Ravi! — eu griteiindignada — eu não estou
me vingando de você! Pare de se colocarcomo vítima!Eu fiz o que
devia ter feitohá muitotempo!Não quero voltarpra você, não quero
ficaraqui só esperando o momento da próxima recaída!Que nunca
é só uma recaí da! Você me mataum pouco a cada vez que fazisso,
que se destrói,que me trai!E agora acha que eu estoume vingando
por não querermais seguraressa barracom você? Estou há anos
pedindo pra você se tratar! Aceitarque precisade ajuda e toda vez!
— eu não consegui segurar , as lágrimas vieram com forçae eu
solucei — toda vez você corre pra Chiara! Vai atrasdela e mata o
vício! Me trai,toda vez você me trai!— eu escondi o rostonas
mãos, me deixando chorartudo que estavasegurando— não pense
você que estásendo fácil!Não está!Porque eu amei você com todo
meu coração, eu amei você mais do que eu deveria, do que você
merecia.Eu quis salvarvocê e eu não consegui! E nessa históriade
tentarresgataro que ainda restade você, estoume matando junto!
Me destruindo, sofrendo, vivendo angustiada!
— Por favor, vida — ele falou bem baixo, o olhar avermelhado,
as lágrimas descendo grossase fungou — por favor , me deixa ficar
.
Me deixa consertar as coisas.
— Não — eu falei resignada.
O celular dele começou a tocarna mesa de cabeceira e eu
corripara pegar. Era Silvia, preocupada como sempre. Ela deu um
suspiro aliviado ao ouvir minha voz.
— Eu não sei como ele veio pararaqui — eu falei, fungando
para contero choro. Ravi se sentouna beirada da cama, escondeu
o rosto entre as mãos e não parava de chorar .
— Ele não está de carro?
— Não sei, Silvia. Não encontroua chave — eu falei devagar,
não queria preocupá-la com meu choro.
— Com quem ele estava?— ela perguntou,mas eu não tinha
respostas.Em algum bar, com algum amigo? Sozinho? Nem ele
devia saber. Ela voltou a fazer perguntas,como se eu pudesse
responder, mas a voz ficou distantepara mim, porque Ravi se
levantoue correupara o banheiro. Eu fuiatrás,tentandoouvir Silvia,
mas não conseguia mais dar atenção. Parei ao ver que ele
vomitava, mas o pânico se instalouquando ele se virou e correuas
costas da mão na boca, estava suja de...
— Isso é sangue? — eu disparei incoerente.
— Estou indo pra aí! — ouvi Silvia dizer
, mas soltei o celular
.
C 10
RaviFerrari

Eu já me sentia melhor quanto aos enjoos e, se estivesse


sozinho, teriaignorado essa merda de estarvomitandosangue. Não
queria preocupar ninguém, odiava me sentir esse lixo que só
desagrada a todosque amo. Ver Denise apavorada, mesmo que eu
tentasse acalmar
, me quebrava por dentro. Me envergonhava.

Mamãe chegou, nervosa como sempre, trouxe meu irmão


junto. Não falei nada. Não respondi à perguntanenhuma, não tinha
idade para ser tratado como criança, me enfurecia demais,
envergonhava demais.

Quis ser mais infantil,exigir que Denise não fosse, já estava


irritadocom os últimos acontecimentos.Ela iria ficarlá, insistindo
numa internação desnecessária. Seria perfeito para ela. Me
trancariam numa clínica de reabilitação e ela se veria livre de mim.

Tentei insistirque estava tudo bem, eu poderia ir para casa.


Contei que Denise havia terminado comigo, mas mamãe me
lançava esses olhares significativos.
— É pedir demais quererque ela fique ao seu lado — ela falou
um tempo depois. Nós dois ficamos quietos,atéela voltara dizer:—
eu queria muito que você acordasse antes que isso acontecesse.
Não posso ficar insistindopara ela insistirmais em você, Ravi. Você
já tem idade o suficiente pra dar mais valor à mulher que diz amar
.
Não falei nada. Não tinha explicação, não havia defesa para
mim. Denise estava esgotada, pra ter chegado ao ponto de ter
beijado outrocara em minha frente,queria me causar raiva, queria
decretarnosso fim.Eu queria culpá-la, tentei,aliás. Mas como faria?
Eu era o condenado da nossa relação.

Por um minuto, quis fazer birra e não descer do carro na


clínica, mas era bom que fosse examinado por um médico, que
pudéssemos descartar a possibilidade de algo mais grave.
Denise chegou com Pedro, logo depois. Nos encaramos por
um momento, mas eu, que já estavameio tonto,meio fra
co, sentio
mundo ao redor ficando turvo. Pedro quem me segurou, me
colocando sentadoem uma das cadeirasna sala de espera. Denise
veio com um copo de água, que eu não queria, mas não recusei.O
que foi uma merda, ao beber, o enjoo veio com força,mais fortedo
que eu poderia controlar
. Não vi para onde correr , não tinha nem
forçapra isso, de qualquer maneira. As ânsias de vômito eram
intensas,ácidas. Dessa vez, não havia tanto sangue assim. Queria
dizer que eu estava bem.

Entrea fraquezae tontura,quando vi, já estavaem quartosolo,


deitado na cama de hospital. Havia um acesso venoso no braço
direito,eu já nem usava mais a roupa de antes.Era o pesadelo de
sempre, como quando eu acabava precisando de cuidados médicos.
Era humilhante quando Denise presenciava todo o processo.
Particularmente,eu preferiaquando ela chegava aqui depois,
quando eu já estava para ter alta.
Mamãe entrou na sala, sozinha, parecia cansada e
preocupada. Era um fato,não era para ter essas preocupações
nessa altura da vida.
— Como estáse sentindo?— ela perguntou,parando ao lado
da cama e eu a olhei, dando de ombro — não aja como uma criança
agora, Ravi.
— Cadê ela? — pergunteie mamãe continuoume encarando,
me deixando angustiado.
— Estána sala de espera, com Pedro. DoutorEdgar logo vem
conversar com você — ela falou, parecia cautelosa.
— Foi só uma fraqueza, já me sinto melhor — eu falei
desinteressado.

DoutorEdgar não demorou mais que uma hora até chegar.


Cumprimentou,tentandobrincarque não fazia muito tempo desde
que nos vimos.
— E o sangue no vômito? — mamãe perguntou apreensiva.
— Como ele havia vomitado muito durantea madrugada, pode
ter causado ferimentosnos vasos sanguíneos da garganta, ou
esôfago,o que produziu o sangue no vômito. E o que é necessário
daqui pra frente,pra controlaressa alteração,é abstinência,cortaro
álcool. Semana que vem quero que você façaalguns exames, seria
bom descartar a possibilidade de alguma alteraçãono fígado— ele
disse para mim.
— Quando vou poder sair daqui? — perguntei.
— Em algumas horas — doutorEdgar falou tranquilamente.
Mamãe recebeu uma ligação e pediu licença, saindo para atender
.
Eu suspirei, estava entediado, com um pouco de ressaca ainda,
mas a fraqueza não se fazia dominante.

Queria ver Denise, me desculpar


. Tentar parecer o cara maduro
que a deixa ir, se ela achar que é a melhor decisão. Ter mais
empatia pelo meu amor, queria amá-la ao ponto de aceitarque eu
não era bom para ela. Mas eu a amava e queria comigo, queria
conseguir fazê-la feliz.

Quando finalmentetive alta, tudo o que eu queria era chegar


em casa e tomarum banho, me sentia péssimo. Precisaria ir até o
apartamentode Denise para pegar meu celular. Pedro encontrou
meu carro, estava com meu amigo Fábio, quem me deixou em
frenteao prédio de Denise, mas eu não me lembrava. Peguei meu
celular de trabalho e liguei para ela, avisando que iria até lá,
precisava pegar o celular
, queria vê-la.
— Ravi, espera— ela falou,antesque eu desligasse — eu vou
até aí. Levo tudo seu que está aqui, quero pegar as minhas coisas
também — ela falou e eu fiquei quieto, era como me dar uma
facada. Nunca tivemos essa de pegar nossos pertencesem algum
término.E, por favor, eram quase trêsanos juntos, tínhamosmuita
coisa para devolver
, se fosse assim.

Praticamentemorávamos juntos,seja aqui ou lá, no apto dela.


Era como querer levar uma vida em uma mala.
— Tudo bem — falei mais baixo, angustiado demais.
Eu sabia que eu havia plantado tudo isso, mesmo sem querer
aceitar
. Depois de um bom banho, subi para o terraçoe me sentei
numa das poltronas. Olhei ao redor , lembrando dos nossos
momentos aqui, principalmente quando ficávamos só nós dois,
pelados. Bebi bastanteágua, estava completamenteinchado por
conta do soro.

Denise chegou e eu desci. Nos encaramos por um momento,


ela carregava duas malas grandes, estava mesmo resignada a
terminar. Pisquei algumas vezes, não tendo argumentopara fazê-la
desistir
, para que ficasseaqui comigo. Estavame sentindopéssimo
por como tudo aconteceu hoje, humilhado, envergonhado,
minúsculo, sem moral para quererimpor alguma coisa. A sensação
era que ela deveria ter vergonha de amar um cara como eu.

A ajudei com as malas. Já no meu quarto,ela me entre gou o


celular e foi para meu closet.Eu deixei o aparelho sobre a cama e
fui atrásdela, que pegava alguns de seus vestidos que estavam
pendurados.
— Vida — eu a chamei e ela parou, segurando as peças nos
cabides — você tem certeza?
— O que o médico tedisse? — ela perguntou,saindo do closet
— me ajuda a tirar as suas roupas das malas, vou precisar.
Eu suspirei, mas não recusei, não era momento de fazer
pirraça,irritá-laainda mais. Ela olhou feio quando só despejei tudo
no chão do closet.
— Alguém vai arrumar depois — eu falei — quer ajuda?
— Quero — ela falouamuada. Comecei a pegar as peças dela,
guardando na mala com cuidado. Enquantoela tiravaas roupas dos
cabides, eu abri sua gaveta,peguei algumas peças de lingerie, uma
bem sensual e transparente e dei um sorrisotravesso,cheio de
saudade de quando ela se vestia com essas coisas, me provocava e
me deixava ainda mais louco de tesão.
— Eu não vou saber viver sem você — disparei, ficando
incomodado por pensar nessa merda como real — a vida é muito
ruim quando não tenho você.
— Sua mãe me falou que o médico pediu alguns exames — ela
falou, me ignorando e pegou o perfume.
— Me deixa ficarcom ele — eu pedi e ela me encarouconfusa
— pra tero seu cheiro, poder te sentiraqui nem que seja só um
pouco.
— Não — ela falou incisiva — a ideia de terminar
, é esquecer.
— Não quero te esquecer— eu retruquei— quero amar você a
vida toda.
— Você não acha que tá na hora de levar a sua doença à
sério?
— Eu vou parar , Denise. Vou ficar limpo dessa vez.
— Eu estoufalando sério, Ravi — ela falou impaciente— você
deveria ser mais sensato. Essas doenças no fígado são perigosas, o
médico alertou sua mãe, você pode evitar , ainda dá tempo.
— Confia em mim, eu vou tentar dessa vez. De verdade — falei
sério e ela suspirou — não fique preocupada, não sou criança, sei
que está me afetando, afetando minha saúde. ouVparar
.
— Acha que sem ajuda médica vai conseguir? — ela perguntou
cautelosae eu desviei o olhar. Odiava com todasas forçasquando
ela me encurralavae me jogava na cara que eu era um viciado. Um
doente.
— Vou tentar— a minha voz embargou um pouco, era uma
desgraça ser eu nesse momento — se achar que não consigo,
procuro ajuda.
— Vou torcerpra você conseguir sozinho — ela falou
carinhosamente— mas se achar que precisa de ajuda, não ache
que estarásendo um fraco.Pelo contrário.Você vai mostrarque é
mais forte, que quis se salvar
.
— Pare de falar desse jeito, Denise — pedi agoniado.
— Vou pegar meus óleos no banheiro — ela falou, passando
por mim rapidamente.Soltei o ar com força,escoreio antebraçona
parede e apoiei o rosto. Meu mundo estava desmoronando, a
mulher da minha vida estava me deixando. E eu não podia insistir
para ela ficar
, não conseguia, não agora, estava envergonhado
demais.
— Está se sentindo bem? — Denise perguntou, mas não
respondi — você devia ir deitar
. Descansar um pouco.
— Eu estregueitudo, você não tem que se preocuparmais
comigo — eu resmunguei.
— Não façaisso, Ravi, não se coloque de vítima— ela falou e
eu fiquei quieto — vai se deitarum pouco, enquanto eu termino
aqui.

Insistino silêncio. Não havia o que dizer. Saí do closete me


senteina cama. Fiquei ali, feitoum idiota travandoa guerrainterna.
Devia ir lá, fazer o que faziade melhor, convencê-la a ficar nem que
fosseno sexo. Mas eu a amava. Não queria vê-la sofren
do ao meu
lado, por minha causa, aguentando por obrigação.

A bolsa dela estava sobre a cama, ouvi o celular vibrar


, duas
vezes seguidas. Não devia mexer, estava sentindo na pele o gosto
amargo da insegurança. Tudo pareceu adormecerpor dentro,uma
agonia estranh a. Eu nunca tive medo de perdê-la. Na verdade, eu
sabia que ela me amava, que sempre ficaria comigo.

Mas agora havia esse caraenviando mensagens, nunca houve


ninguém mandando mensagens para ela. Ela iria falarda merda que
foi a nossa relação? No final dizem que por causa da mágoa, só
lembramos da parte ruim, era isso que Denise iria fazer? As
palavras duras dela, de mais cedo, ecoavam e doíam em mim,
machucava, porque ela sempre tinha razão.

Me ofereci para levá-la, quando ela acabou. Tudo tremiapor


dentro, uma sensação que se parecia com pânico, ela estava
mesmo dispostaa decretaro nosso fim. Nunca terminamosdesse
jeito, com esse sabor ácido, amargo e doloroso, que parecia cortar
tudo por dentro.
— Estoucom o carroda minha tia — ela explicou e eu assenti,
me sentindo tão reduzido à nada.
— Sinto muito por tudo, vida — eu falei angustiado, os olhos
arderame eu não consegui continuara encarando — só Deus sabe
como eu queria ser um cara diferente.
— Tudo bem — ela falou baixo, suspirou forte— espero que
você fique bem.
A observei ir. Ajudei a descer com as malas, contendo a
vontadede impedir de qualquer jeito,mas mesmo querendo, eu não
tinha força, nem coragem.
C 11
Denise Malta

Mari não estava acreditandomuito nessa históriade Ravi ter


aceitado muito bem o término.Ela ligou, preocupada, para saber
como eu estava, depois que Fred soube do que houve com Ravi.
Aparentemente,Silvia comentou com Nora, que contou para Nair,
que contou para Fred.

Eu não sabia o que achar, o que pensar. Estava dormente,


desconectada, não havia entendido muito bem tudo o que
aconteceupara nós dois. Mas eu não conseguiria mais ficarcomo
um remédio paliativo, abrandando por muito pouco tempo todo o
problema.

Não sabia se agora ele iria aproveitara vida de solteirocomo


antes, escancaradamente.Mas temia por ele, pela saúde e vida
dele.

Nos dois primeiros dias, Ravi não falou comigo. Achei que
estava encarando o fim como o fim real, assim como eu estava
tentandofazer
. No terceirodia, eu pergunteipara Pedro sobre ele.
Meu ex-cunhado respondeu que estava bem, meio pra baixo, mas
ao menos estava mergulhado no trabalho.

Na quinta-feira,ele enviou que encontroucalcinhas minhas, na


sua gaveta de cuecas. Claro que deveria terficadoalgumas coisas,
era impossível juntartudo em minutos, peguei o grosso, a maior
parte, para ele ver que eu queria separar a minha vida da dele.

Na sexta-feira,
quando Jordana postouuma foto,saindo com o
noivo, fiqueiapreensiva.Ravi iria também?Estariacom Chiara? Era
duro pensar. Ele iria beber? Eu tinhaque me preocupartanto?Achei
melhor não sair, mas ao ver que ele estavaarrumado,em uma foto
com Silvia na casa dela, meu coraçãose comprimiu. Eu começaria
a sentir falta dele, era isso?

Aceiteio convitede meu amigo Antônio para uma boate. Eu já


fiz isso, poderia sair com outrosamigos e conhecer gente nova.
Encarar o término, buscar o lado positivo disso tudo.

Antônio enfatizava o tempo todo que eu tomei a melhor


decisão. Chegamos e eu cumprimenteio pessoal, comecei a beber
gin tônica devagar, mas minha cabeça só pensava se Ravi iria só
jantarna casa dos pais ou de lá, iria para os clubes nojentos que
tantoadorava. Silvia não poderia ser tão irresponsável,o médico
havia alertado,ele precisava cortaro álcool e fazeros exames, se
certificar que estava tudo bem, ela não poderia deixá-lo. sair

Cortei minhas paranoias, respirei fundo e tentei aproveitar


melhor a minha noite, embora não tenha conseguido. Postei uma
fotono espelho da boate, marquei onde estava, só pra ele ver que
eu saí.Não como uma provocação,mas para mostrarque eu estava
seguindo em frente.Depois pedi um carro por aplicativo e fui
embora.
Tia Carol me encarou surpresaquando entrei,estava no sofá,
com um balde de pipoca e via um filme. Tomei um banho e fui fazer
companhia, mas acabei pegando no sono. Poderia não parecer
,
mas a semana foi exaustiva. E não falava de trabalho.

No sábado, quando acordei, respondi às mensagens de


Jordana, chamando para irmos à praia com Helena.
— Edu estáderrotadode ressaca,então vamos só nós três —
ela falou animada no áudio, me fazendo rir
.

Respondi que iria me arrumar, era o tempo de ela chegar e


sairmos. Passamos o dia com Helena. A manhã na praia, depois
almoçamos e fomos para seu apartamentoà tarde.Edu apareceu
pelas duas, recebendo broncas da amada, não era hora para
acordar. Depois de um beijo e uma declaração corriqueira,ele
avisou que iria encontrar Fred.
— Alguma notícia da Bruna? — perguntei.
— O mesmo — Jordana disse angustiada — é um infernoo
tratamento. E eu tentonão opinar, quando as coisas com meu pai
saíramdiferentedo que os médicos prometeram,o final foi muito
ruim.
— Espero que dê tudo certopra ela — eu falei e ela assentiu.
Dana tentou perguntarsobre Ravi e eu, mas fui friaao dizer. Se ela
dissesse algo à Edu, que soasse que eu tinhacertezada decisão. E
eu tinha, mas a saudade dele já me incomodava tanto.A saudade,
se misturandoà preocupação. Quis saber se ele e Chiara andavam
se vendo, mas me controlei.
[...]

No domingo, quando acordei, Ravi havia enviado uma fotode


uma bandeja de café da manhã, na sua piscina.
“Faltou você aqui” — veio logo depois. Eu amarguei, era tão
doloroso ele quererfazerisso. Mostreipara tia Carol, que ficoume
olhando, não sabia nem o que me dizer.
— Se ele resolvesse se tratar, aceitasseque é um dependente
alcoólico que precisade ajuda, você voltaria?— ela perguntoue eu
fiqueiquieta.Queria dizer que sim, que seriacapaz de perdoá-lo, se
ele aceitasseque precisavade tratamento médico. Não duas ou três
semanas aguentando a abstinência, mas de ajuda, de
acompanhamento psiquiátrico e farmacológico.
— Acho que infelizmente,os pais dele só vão agir, quando ele
adoecer — falei, estremecendo só por pensar .
— Ele só não adoeceu ainda, porque pra voltarcom você, se
obrigava a dar um tempoe o corpodescansava — ela falou e negou
com a cabeça — no começo não parecia que daria nisso.
— Poderia serpior, eu poderia terengravidado — tenteibrincar
e ela me olhou feio.

Como não o respondi, ele enviou uma fotonossa em seu


terraço, em um dos dias que ficamos pelados e fazendo sacanagens
até não poder mais. Eu não gostavade gravarvídeos,ou tirarfotos
comprometedoras, não que mostrassemnossos rostos,mas vez ou
outra,Ravi me corrompiacompletamente.E eu, fotógrafa que era,
estudava posições perfeitaspara nada sair do eróticoe cair no
pornográfico.
“To com tantasaudade sua... Dá nem pra explicar” — veio
junto. Na fotoestávamos com roupa de banho, ele sentado na
espreguiçadeirae eu de lado em uma de suas pernas. Meu braço
direitoem voltado pescoço dele e a mão esquerdana lateralde seu
rosto,nossos lábios se encostando. Era uma fotomuito bonita. A
iluminação estavaincrível,o meu biquini contrastava
na minha pele.
Mas não dava para alguém ver, Ravi tinha uma ereção enorme ali
no meio, muito evidente sob a sunga branca.
Eu sentia faltade sexo, muita. Mas não valia a pena todo o
desgaste para apenas isso funcionar.

“Você fez os exames?” — eu enviei de volta. Ele visualizou na


hora.

“Sim. Na sexta. Não peguei os resultados ainda.”

“Como tem se sentido? Está evitando beber?” — enviei.

“Sim... E com muita saudade de você, vida.”

Solteio celular. Não iria me comover. Deixei o celularlonge por


um tempo, não queria e nem poderia fraquejar .

Me distraídurante o dia, aproveitei para arrumarmelhor o


quarto, assisti a um filme. No fim da tarde, Jordana ligou,
convidando para um jantarem sua casa. Só eu, ela, Mari e Helena,
claro. Edu iria sair com uns amigos e poderíamosaproveitar. Não
recusei.Havia outramensagem de Ravi, dessa vez um vídeo. Meu
coração inteirose comprimiu ao abrir
, ele era tão covarde. Sabia
que não tinha moral nenhuma para me convencer com prós do
nosso relacionamento, tentaria pelo sexo.

Não deveria terabertoo vídeo. Era nós dois, na verdade não


mostravanada além das nossas partesíntimase gemidos de quem
estava adorando o momento. E estávamos, não sei nem como
conseguimos filmarperfeitamente. O pau grosso reluzia a minha
excitação, vindo todo para dentro,meu clitórischegou a pulsar e
nesse momento, Ravi o acariciou com o polegar. Escutei meu
gemido mais forte,o celular que eu segurava tremeue ele apoiou
melhor. Meu coração acelerou com a adrenalina de assistira isso,
mas nesse momento o celular caiu, não dava mais para ver a
conexão perfeita.Mas eu me lembrava perfeitamente. Ele havia me
segurado de jeito, metendo incansavelmente,me levando para um
orgasmo arrasador , como sempre.

“Pare de me enviar essas coisas, Ravi” — eu respondi.Deveria


apenas ter ignorado, claro.

“Vai sair hoje?” — ele enviou no mesmo minuto.

“Vou.” — respondi assim, limitada. Deixei o celular e fui me


arrumar . Como não iríamossair, vestium shortjeans de cinturaalta
e uma camiseta,que coloquei por dentro.Solteios cabelos e passei
um pouco de maquiagem, perfume.Peguei emprestadoo carrode
tia Carol, já que ela não estava em casa e não precisaria.
Cheguei quase junto com Marina. Helena estava distraídana
sua mesa de atividades,que Jordana colocou na sala de jantarpara
poder ficarde olho na pequena. Nos serviu um vinho rosê caro da
coleção de Edu, que era muito gostoso. Achava o máximo essa
coisa de colecionar vinhos, ele e Fred faziam isso. Ravi jamais
poderia. Imagina você serlouco por doces e terum montedeles em
casa? Não daria certo.

Pedimos comida japonesa, falamos sobre tudo e mais um


pouco. July reclamou por não termos a chamado, mas ela
raramente nos encontrava, segundo Mari, vivia para o Bernardo.

Quando perguntaramsobre Ravi, tenteiparecerfirmeao dizer


que acabou, de verdade. Depois de comer, fomos para a sala,
Jordana pegou mais um vinho, estavaamando. Helena dormiu logo
depois de tomara mamadeira, no colo da mãe. Dava um afago
gostosona alma ver, talvezeu tivessequerido tanto,mas ao mesmo
tempo era um alívio não ter acontecido. Seria muito para. lidar

Me levantei e fui até o lavabo, mas na volta, escuteia voz de


Ravi, junto com Eduardo. Eu parei no meio do caminho, o que ele
queria aqui? Jordana veio me encontrare lançou um olhar de
desculpas para mim, óbvio que Ravi só veio porque eu estava aqui.
— Tudo bem, amiga — eu falei condescendente. Voltamos
para a sala e eu me sentei onde estava antes. Edu perguntoudo
que falávamos e Mari tomoua frentepara dizer inventandoqualquer
coisa. Sentia o olhar de Ravi firmeem mim, mas não o olhei de
volta.
Peguei meu celular, comecei a ver qualquer coisa no
instagram, estava nervosa, agoniada aqui. A saudade dele era
maior do que eu pensei que fosse,era tão doloroso. Eu precisava
esquecê-lo, encerrar nosso ciclo, precisávamos de paz. Edu contava
sobrea rotinade Helena, todoapaixonado pela filha,era tãofofover
o que ele e Jordana se tornaram.Era como se minha amiga tivesse
sido recompensada por todo sofrimentoque já passou, tantocom
um relacionamento longo e a perda do pai, tudo quase junto e ela
tão nova.
— Vendo vocês desse jeito com ela, o úteroquase coça —
Mari falou debochada e Edu sorriu.
— Fred iria amar
, você sabe — ele falou.
— Eu iria amar também — Ravi falou. Foi quase involuntário,
eu o olhei imediatamente.Nos encaramos por um segundo, até
Marina dizer:
— Denise não enlouqueceu ainda — Ela falou petulantee eu
dei um sorrisoamarelo. Se sonhasse sobre a minha loucura de ter
tentado em um momento, eu nem sei o que faria.

Eu não conseguiria relaxar e aproveitara noite com meus


amigos, não com Ravi tão perto, com esse embate desgraçado
dentrode mim. Pedi para tia Carol me ligar e avisar que precisava
do carro, era uma mentira, mas assim ela fez.

Notei Ravi inquieto quando fui me despedir. Abracei as


meninas e apenas acenei para ele e Edu.
— Dá um beijo na pequena por mim — disse à Jordana, que se
levantou para me acompanhar até o elevador
.

Respirei fundo quando entrei no carro. Dirigi devagar no


caminho para casa, pensei que estava tomando a melhor decisão.
Nosso amor nunca foisuficientepara ele, terminaragora seriaevitar
mais sofrimento.Teria que me convencer de que eu não precisava
me preocupar
, Ravi tinha dinheiro, vinha de uma família com
condições financeiras maravilhosas, eles tomariam providências
quando ele precisasse de ajuda, quando não pudessem mais
ignorar que ele precisava de ajuda médica.

Guardei o carrona garagem e subi. Fui separando a chave da


porta,mas ao sair do elevador, Ravi estava lá, com essa cara de
culpado, o cachorrosem dono. Travei. Eu iria deixar tudose repetir?
De novo?
C 12
Denise Malta

— O que você quer aqui, Ravi? — eu pergunteiimpaciente,


sufocada comigo mesma.
— Não aguento mais fingirque sou maduro a ponto de aceitar
perdervocê — ele falou simplesmente. Forcei um riso incrédulo e
ele voltou a dizer:— eu queria ser generoso com você, ser desses
carasque amam tantoque deixa ir, que sabe que agora não sou o
cara que você queria que eu fosse.Eu sei, vida, eu sei que te dei
todos os motivos do mundo pra me odiar, mas é que eu ainda te
amo.
— Ravi, eu não quero nem começar a teressa conversa— eu
avisei, mas fiquei quieta no lugar, se eu chegasse muito perto,eu
não sei o que aconteceria.Eu queria ser mais rancoro sa, sei lá,
guardartoda a raiva dele. Por mais magoada que estivesse, o calor
da raiva não era mais dominante. Por que tudo se esvaía tão
rapidamente?Ele não mereciamais alguma chance. Não mereceua
primeira, nem as incontáveis que dei.
— Como você está? Vi que tem saído... Com Antônio...
— Você é inacreditável — eu falei incrédula.
— Tem visto alguém? — ele perguntou.Eu sabia que ele não
estava se aguentando, que se referiaao amigo de seu irmão. Mas
não respondi, não iria aliviar isso para ele, mesmo que não
estivessevendo ninguém. Era muita coisa para assimilar, processar
e esquecer. Não tinha cabeça para alguém agora. Parei de
responder o Nicolas e ele não insistiu.
— Eu acho melhor você ir embora — eu falei e ele negou com
a cabeça — é sério, Ravi. Nós terminamos, não vamos mais voltar
.
— Eu não consigo viver com isso — ele resmungou, insistente
que era.
— Você pegou o resultadodos exames? — pergunteie ele
negou com a cabeça — quando vai pegar?
— Na próxima semana — ele falou, parecia desinteressado.
Não era sobre isso que queria falar. Como fiquei o encarando,
esperando que ele dissesse mais sobre isso, ele torceuos lábios,
desviou o olhar por um momento.
— Ficou com alguém? — perguntei, o encarando firme para ver
a reação, mas ele não fez nada. Só balançou a cabeça.
— Não, não quero outra,Denise — ele resmungou— só quero
você. Tenho amargurado esses dias todos, eu sei que errei feio,
mas eu sei que posso consertar
.
— Eu não quero mais, Ravi. É sério— eu falei,a voz chegou a
embargar — o relacionamentoque eu queria ter com você, só
existia na minha imaginação.
— Eu faço qualquer coisa pra tornarreal, vida — ele falou de
uma maneira quase melancólica. A portado aparamento ao lado
abriu, noteique havia alguém bisbilhotando.Não queria burburinhos
pelo prédio. E sabia que Ravi não iria embora só por eu deixá-lo
plantado.

Solteio ar, cansada de tudoisso e fuidestrancar


a porta.Entrei
e ele veio logo depois. No meu celular havia uma mensagem de
Marina, perguntando se ele veio aqui.
— Não faz assim, vida — Ravi falou, porque não disse nada e
vim para o quarto. Eu me sentei à beirada da cama e o encarei.
— Quer que eu façao que? Voltecom você e esperea próxima
recaída?Que eu vende meus olhos pra quando você não suportara
abstinênciae cair na tentaçãode ficarcom Chiara de novo? O que
você quer? Que eu seja a mocinha paciente que fica aqui bem
quieta esperando você se matar?— eu disparei a perguntar, quase
me alterando, mas me recompus e ele ficou quieto por um
momento. A tensãoentrenós dois era tão pesada, eu queria poder
correrpara ele, me agarrarnele e guardarnossos momentosbons.
Queria a paz de quando eu nem imaginava que ele era um
dependente alcoólico.
— Eu marquei com um psiquiatra,especialista em... — ele
começou a dizer um tempo depois, mas travou, não conseguia
nomear. Eu o olhei, quase surpresa.
— Não está mentindo pra mim, está?
— Estoufalando a verdade — ele falou mais baixo, vindo para
mais pertoe se abaixou entreminhas pernas — eu não falei com
ninguém, fiquei com vergonha, não quero ser o cara que precisou
de ajuda médica e ainda assim fracassou.Prefiroque ninguém
saiba — ele continuou a dizer e eu fiquei calada, tudo parecia se
estrangulardentrode mim, eu o encarava, queria poder apagar o
meu amor. Queria me fazerentenderde uma vez por todas que não
adiantava amar quem só me fazia sofrer
.
— Eu não vou aguentarpassar por isso de novo, Ravi — eu
falei. A voz saiu completamenteentrecortada, eu não consegui não
chorar
.
— Me perdoa, vida — ele sussurrou— eu juro que vou tentar
,
que quero melhorar , quero poder fazer você feliz... — eu não
conseguia acreditar
, mas eu queria tanto.

Nem falei nada, Ravi me puxou, caiu sentadoe me colocou de


frenteem seu colo. Eu encarava, me odiando por querere sentir
faltado gosto dele, do beijo dele, do corpo. Ele escorregouuma
mão pelo meu cabelo, a emaranhando na nuca e sem prolongar
começou um beijo profundo, molhado e tão gostoso que eu grunhi.
— Eu te amo mais do que tudo — ele sussurrouao quebraro
beijo, mas roçava nossos lábios e puxava o meu inferio r entreos
seus — meu coração só fica em paz quando eu to com você, vida...
Voltei a beijá-lo, incoerenteque era. Não deveria terfacilitado
tantopara ele. Se me amava tanto,deveria se curar , melhorarem
todosos aspectose depois me provarque valeria a pena voltar . Eu
não deveria ceder para ele, acalentá-losem uma prova concretade
que dessa vez a mudança era real. Mas quando ele começava a me
beijar, eu esquecia do mundo, da razão.

Ficamos tantotempo aos beijos, como se esses dias todos


longe precisassemser compensados. Só nos separamos porque o
celular dele começou a tocar e era sua mãe. Nos levantamos e eu
fui para o banho.

Silvia prendeu Ravi na ligação, quando ele veio para o


banheiro, eu já estava terminando.
— O que sua mãe queria? — perguntei,puxando a toalha para
me enrolar.
— Monitorar , saberonde estou — ele deu de ombro e eu puxei
o ar, sabia que estava tomando uma péssima decisão, mas o meu
amor e apego estavam falando mais alto.
— Você deveria ir embora — eu resmunguei e passei por ele
para voltar ao quarto. Ravi veio atrás, ficou me observando
minucioso.
— Me deixa ficar
. Só essa noite — ele falou. Fechei os olhos
por um segundo, era uma confusão tão grande dentrode mim, eu
nem sabia mais o que estava fazendo.

Me troquei, ignorando seus olhares me devorando a alma.


Como se impôs a ficar , Ravi foi para o banho. Voltou de lá com o
cheiro do meu sabonete, cabelos úmidos e completamentepelado.
Eu grunhi de raiva, lancei meu pior olhar para ele e fui pegar uma
cueca e uma calça de pijama dele que encontreiperdida quando
arrumei melhor o quarto.
— Que droga — ele teve a cara de pau de reclamar , mas
ignorei. Desfiz a cama e ele pegou um edredom, ligou o .ar
Nos deitamos e ele me puxou para seus braços. Eu respirei
fundo,mesmo com tudoquebrado, eu amava estarnos braços dele.
Liguei a TV e coloquei em um seriadoaleatório,desses de comédia.
Ravi estava pouco interessadoem assistir , tentavame acariciar,
mas eu barrava.
— Poxa, vida... — ele falou cheio de manha, senti os lábios
quase roçando em meu pescoço — eu to com tantasaudade de
você...
— Ravi, para — eu falei firme.
— Eu penso em você o tempo todo — ele começou a dizer, se
aninhando em mim como um gato querendo carinho.
— Você vai passar a noite aqui, apenas isso. Não quer dizer
que vamos voltar .
— Nós dois estávamos planejando um filho, você não se
esqueceu disso... — ele falou e eu suspirei.
— Foi a prova de que eu sou louca, foi um blefe e já vamos
esquecer essa história.
— Eu não quero ficarsem você — ele falou manhoso e eu me
virei de frente.Nos encaramos por um momento— eu não gostode
dormir sem você...
— Você acha que eu acreditonisso? — pergunteie ele fechou
os olhos, me puxando para juntar nossos corpos.
— Não acredita que eu te amo?
— Eu deveria começara teamar exatamentedo jeitoque você
me ama — eu falei e ele me encarou confuso— te amar saindo por
aí, transandocom qualquer cara, enchendo a cara, fingindo que
você não existe. Aí, quando eu voltarpra casa, me lembrarde você
e te procurar
.
— Eu não faço isso.
— Você é tão cínico— falei cansada — acho que Deus sabe
tudo o que faz, porque imagina se eu tivesse engravidado?
— Voltou a tomar a pílula?
— Não... — falei um momento depois.
— Vai voltar?— ele perguntoumais baixo e eu engoli pesado.
Não poderia brincarcomo se um filhofossea clínicade reabilitação.
— Vou.
— Não faz isso — ele falou com a voz mais embargada — me
dá a última chance... Só essa.
— Quantas últimas chances eu já te dei? Você nunca
aproveita.Sempre faz merda de novo. E eu acabo aqui, presa, com
a vida travadaesperando por uma coisa que eu sei que não vai
acontecer .
— Eu sei que não mereço, mas eu quero. Eu quero porque
amo você, porque sei que vou conseguir te fazerfeliz — ele falou
mais baixo e eu fiquei quieta. Não adiantava ficarconversando,ele
queria a chance porque achava que depois teriaoutrae mais outra,
até quando quisesse ter
.
— Vamos dormir , Ravi — falei vencida, nunca chegaríamosem
algum lugar.

Deixei que ele me abraçasse, mas barrei qualquer toque


malicioso, o quanto consegui. O que não foi muito, ele me
convenceu com beijos deliciosos pelo pescoço e a nuca. Eu tentava
ignorar
, mas a excitação era dolorosa.
Minha respiração falhou quando ele puxou o shortpara baixo,
ficou me acariciando sobre a calcinha até que eu mesma a puxei
para o lado. A sensação foi de alívio quando ele me explorou com
dois dedos ágeis, longos e eu adorei quando foi me penetrandoos
dedos até o final. Deveria terficadoquieta, mas não resistie afastei
mais as pernas, facilitando.
— Você é muito, muito gostosa — ele sussurrou,girando os
dedos lá dentroe os moveu, como se os dobrasse e eu mordi o
lábio inferior — to louco pra comer você toda, vida...
— Não — falei, mesmo que estivesselouca por isso — não
quero arriscar
, não estou tomando a pílula.
— Só um pouquinho... Eu tiroantes — ele sussurrava,me
tocando tão perfeitamente, mas neguei com a cabeça — posso só te
fazer gozar então?
Não respondi. Um gemido fracome escapou quando perdi o
contatodos dedos dentrode mim, ele puxou as cobertase montou
sobre meu corpo. Fiquei o encarando, deixando claro que não iria
mover uma palha para colaborar com ele, que não estava se
importando.Ele tiroua minha camisetado pijama e cobriu meu seio
com uma mão. Eu virei o rostoquando ele veio para me beijar,
bastariaum beijo para que eu não aguentassee me agarrassetoda
nele.
— Se é assim que você quer... — ele falou, roçando os lábios
por minha bochecha, indo para o pescoço e eu resfoleguei, mas me
controleie voltei a ficarquieta. Ravi desceu os lábios, até que
chegou ao meu seio e chupou um, abocanhando e depois
lambendo. Sempre me escapava um gemido de satisfaç ão, que eu
logo abafava. Ele fez a mesma coisa no outroe desceu beijando
minha barriga.Depositouum beijo no meu ventre,roçandoos lábios
suavemente ali. Me movi, como se alguma posição deitada fosse
aliviar esse tesão injusto. Ele me segurou pelo quadril, senti a
respiraçãono meio das minhas pernas e tudo parecia latejar, meu
clitóris estava dolorido querendo atenção.
Um gemido longo e alto saiu, completamentefora do meu
controle,porque o cretinome seguroubem firmee deu uma lambida
deliberada, macia e longa na minha boceta.De baixo para cima. Eu
deveria odiar esse homem, por tudo que me fez, mas era tão
inegável que ele sabia como chupar uma boceta. Elegostava.
Me apoiei nos antebraços,era tão incrívelassistire sentir tudo
isso. Mordi meu lábio inferior
, tentandonão fazerbarulho, mas não
conseguia me controlar . Ele combinou as lambidas com
chupadinhas leves, lambia o clitórise chupava, insistianisso e para
não me fazergozar logo, voltavae passeava a línguaem todolugar.
Meu corpo caiu deitado na cama quando ele afastouos lábios
íntimoscom as pontas dos dedos e seguiu circulando a língua
perfeitamente
por toda minha intimidade. Minhas costasarquearam
quando senti a língua brincando na minha entrada. Eu gemia e
choramingava,completamenteforade mim e tudoficouainda pior, e
mais gostoso, quando ele voltou a dar atenção ao meu clitóris,
lambendo e chupando, me fazendo subir cada vez mais alto. Ele
estalava os beijos suaves ali e se lambuzava todo, me deixando
louca de tesão.Foi o estopimde tudo quando ele ficourodeando a
língua no meu ponto mais sensível e necessitado, fazia com a
pressãoperfeita.Eu comecei a me perder
, um dedo dele rodeava a
minha entrada e ele até deixava vir um pouco para dentro,
choraminguei e levei as minhas mãos para os cabelos, joguei a
cabeça para trás,me senti escorrendoum pouco e ele deu um
gemido dolorido nesse momento. No segundo seguinte caí em um
dos mais intensosorgasmos que já tive. Foram os segundos mais
deliciosos, ele não parou nem quando eu acabei. Me lambeu toda,
limpando tudo.

Como eu havia dito que não queria, ele só depositou um


beijinho no meu clitórispara encerrar
, depois outro,e veio se deitar
ao meu lado. Me sentipéssima por ceder, não devia transarcom ele
e nem confiarnessa históriade tirarantes,mas me virei e o puxei,
me agarrandonele e passei uma perna dobrada em volta do seu
corpo.Fechei os olhos e procurei por sua boca, sentindomeu cheiro
ao redor, logo meu gosto. Comecei a beijá-lo, que não tomou
iniciativa, embora o sexo estivesseali, completamenteereto.Puxei
o pijama dele para baixo, e ele terminoude tirar
. Ravi me moveu,
para o membro encontrara minha bocetae ele deslizou facilmente.
Ele estremeceu, ficando inteiro arrepiado, a respiraçã
o parecia
contida. Acariciei seu cabelo, emaranhando minha mão em sua
nuca e ele nos deixou do jeito que eu mais amava, completamente
colados. As estocadas ganharam ritmo,mas aperteiminha perna
em seu quadril e ele gemeu rouco, diminuindo.
— To louco de vontade de gozar — ele sussurrou, me
apertandoe veio fundo, deu um gemido áspero e parou — você
quer gozar de novo?
— Hu-hum — falei baixinho e ele resfolegou.Dei um sorriso,
seriauma tortura para ele e era excitantever, porque ele era viciado
em sexo. Era um fato.Mas detestavanão me deixar completamente
satisfeita.

Ele continuou devagarinho, me beijando e parava para se


segurar. Eu acariciava seu rosto, seu cabelo e me segurava toda
nele, que me comia tão gostoso. Uma mão estava na base das
minhas costas, por baixo do meu corpo, e a outra na minha bunda.
— Meu deus, eu quero muito gozar — ele sussurroude novo,
tremendoos lábios e eu o aperteicom as paredes vaginais — você
vai me matar
, assim...
— Goza — sussurreie ele choramingou, os olhos reviraram e
ele ficou inteiroarrepiado. Senti o membro mais rígidodentrode
mim e ele negou com a cabeça. Ravi me seguroucom mais firmeza,
beijou meu pescoço, logo voltou para a boca. Vê-lo tão perdido me
deixou acesa, me ver acariciarmeu clitóriso levou à perdição. Eu
gozei sem premissanenhuma e dei um gemido manhoso, amando o
orgasmo preguiçosoque me dominou. Ele deu um gemido áspero e
aliviado, metendofundoe ficou.Ficamos nos encarando,ele revirou
os olhos e o membro latejou dentro,eu senti o primeirojato forte,
depois outro, ele voltou a investir até que acabou.
Ele não me soltou, ficamos grudados até que só restou
calmaria para nós dois.

[...]

O tempo foi passando e eu mantive o decretode fim, mesmo


que não estivesseparecendo. Ravi foi à consultacom o psiquiatra,
mas recusouqualquer tentativade medicamento.Disse que preferia
tentarsem tomarnada, que seria forte.Não retruquei,achei que ele
estava decidido, ao menos estava com acompanhamento
terapêutico, era um avanço.

Não volteia tomara pílula.EncontrávamosEdu e Jordana com


frequência,uma vez que Fred passava mais tempo com a mãe do
filho em São Paulo e Mari não tinha tempo para nada, por causa da
nova carreira.Ver Helena, como Edu era com ela, como Jordana
amava ser mãe, me deixava ansiosa por isso também. E ver Ravi
tentandopor outrocaminho me deixava mais a vontade. Eu queria
tentare me fiz acreditarque se tivéssemosum filho, ele teriaum
motivo a mais para não desistir
.

Mas depois de tantotempo, nós dois com a vida sexual muito


ativa, sem nenhuma proteção anticoncepcional, nada havia
acontecido. Não apenas estávamos fazendo muito sexo, nós dois
fazíamosainda mais quando eu estava ovulando. Eu não sabia
explicar o misto de alívio com preocupação, porque poderia haver
algo erradocom um de nós dois. Ou com os dois. Ele parecia sentir
a mesma coisa que eu. Edu e Jordana vacilaram uma vez e
aconteceu. Marina e Fred a mesma coisa, mesmo que ela tenha
interrompido. Nós dois, que estávamos tentando, não
conseguíamos? De algum modo, essa história de tentar e não
acontecer
, estava nos consumindo.

Mais uma vez, estávamos transando quando minha


menstruaçãochegou, na verdade já havia dado sinal que chegariae
eu resolvi ignorar
. Ravi parou, fez uma pausa na respir ação e se
levantou. Não disse nada, só foi para o banheiro. Eu o segui, não
ficávamos constrangidospor isso, sempre fazíamosquando eu
estavanesses dias, mas todomês ele ficavaesperandoenjoos, não
sangue.
Ele se lavava e virou o rosto, me encarando sugestivo, mas
não queríamosfalarsobre isso. Talvez não fosse algum problema
nosso, mas Deus, nos protegendo da destruição completa.

Eu não queria ir para o aniversáriode Fred, mas ele ligou,


intimando. Disse que não aceitava uma recusa, queria aproveitara
noite com amigos. Achei respeitosoda partedele, para que Ravi
não fossesozinho para onde Chiara estivesse,de qualquer modo,
essa recusa sempre teriaque partirdele. Mas Ravi estava lidando
ainda com os sintomas desgraçados de abstinência, então era
melhor que não tivesse algo o incitando a achar que poderia recair
.

Estava na mesa da cozinha, trabalhando no computador


,
quando minha tia chegou, me analisando.
— Tem tempo que você e Ravi não se desentendem — ela
comentou e eu a olhei — isso é bom?
— Sinceramente?— perguntei,quase rindo — não sei. Eu
continuoachando que ele precisade um tratamento
mais intensivo,
que poderia aliviar a abstinência
— Voltoua tomara pílula?— ela perguntoucuriosa.Quis dizer
que sim, para não alarmar nada, mas suspirei e neguei com a
cabeça — acha que pode ter algum problema?
— Eu? Acho que não — falei confusa, mas não dava para
saber — ou ele...
— Já falaram sobre?
— Não. Eu não ando me dando o trabalhode me preocupar
com isso — falei desgastadae ela deu um riso confuso— não vou
me consumircom o que Ravi pode ou não fazer . Eu fui ao ápice da
minha loucura, quando topei planejar com ele um filho, quando
comecei a querere sonhar com isso. Mas eu nem sei se quero ser
mãe nessas circunstâncias.
— Eu sabia que você cairia em si.
— Não caí em mim — eu retruqueio óbvio — continuo
deixando rolar
, só tive a sorte de não acontecer
.
— Seu problema é ser muito apaixonada por ele...

Não falei nada, era o meu maior fracasso,realmente. Ravi


passou para me buscar quando saiu do trabalho.Levei tudo que
fosse usar esta noite e me arrumei lá com ele.
Eu já estava em seu closet, de banho tomado e maquiada,
quando ele chegou, completamente pelado. O olhei inteiro,
aproveitando essa visão incrível e ele me lançou um sorriso
presunçoso.
— Te amo, vida — ele falou,roubando um beijo na minha boca.
Voltei a terminarde me vestire ele se trocourapidamente,vestindo
jeans e uma blusa de mangas compridas e gola alta.
Quando já estávamospronto s, ele veio por trás,me abraçando
e tir
ou uma foto nossa no espelho. Não estávamos mais expondo
nada em redes sociais, porque era vergonhoso ser esse casal ioiô,
que posta e apaga na velocidade da luz. Virei o rostopra ele, que
beijou minha boca e me encarou por um momento. Ele deu um
sorriso carinhoso e beijou minha testa.

Reclamei quando ele publicou em seu instagramuma fotode


nós dois. Colocou “vida” e um coração na legenda, sua mãe foi a
primeiraa comentar . Ela devia terativado todas as notif
icações do
perfil do filho, era a primeira em tudo.
CumprimentamosFred e o pessoal ao chegarmos, mas era
inevitável o desconfortode estarno mesmo ambiente com Chiara.
Não estava me colocando em situação de rivalidade, não éramos
rivais, nunca sequer ocupamos o mesmo posto. Ela foi traídae
parou de se importarcom todo mundo, talvez achasse que ela
sobreviveu às traições,qualquer pessoa poderia passarpor isso. E
Ravi... Bem, era Ravi.
A últimas semanas correrambem, mas eu sempre esperava
pelo conflito,pela próxima vez. Eu ficariamais segurase ele tivesse
optado por um acompanhamento mais rígido, por ajuda
farmacológica, as suas crises de abstinência eram duras. Ele
tentava disfarçar e mesmo fingindo que não, eu notava tudo.

A mãe de Edu nos observava vez ou outra,o que me deixava


tão envergonhada... Ela obviamente sabia sobre Ravi e Chiara. E
achava que eu era o que? Uma insistente oportunista?
Ravi pegou água com gás, eu reconhecia seu esforço,estava
aguentando tudo e eu sabia que não estavasendo fácil.Eu peguei
uma taça de champanhe. Ele se sentou ao meu lado e passou um
braço em torno dos meus ombros, entrelaçou nossas mãos.
— Falei com minha mãe — ele comentoubaixinho e eu o olhei
confusa— que estamostentandohá meses e... — a fraseficouno
ar, mas eu havia entendido.
— E ela?
— Falou que seria bom procurarmosum médico — ele falava
baixo, porque era um assunto particular — você quer?
— Não sei — sussurrei, angustiada por pensar nisso.
— Eu quero... — ele falou, olhando rapidamentepara Eduardo
brincando com a filha no colo — acho que vai ser incrível.
— Não romantize,Ravi. Talvez não aconteceuporque não seja
pra ser
.
— Eu vou ao médico, então — ele decidiu e eu pisquei
algumas vezes — ver se tem algo errado comigo.
— E se não houver? — pergunteiincrédula e ele ficou me
olhando de uma maneira serena, mas cheia de significados.Se o
problema não fosse ele, poderia ser eu. Ele não disse nada, só
aproximou o rostoe deu um beijo em meu cenho. Suspirei e virei o
rosto, ganhando um selinho na boca.
C 13
RaviFerrari

Eu e Denise decidimos deixar o tempo dizer, não procur


amos
médico, nem nos prevenimos. Fiquei receoso em procurarum
especialistae descobrirque o problema estavaem mim. Não quera
que fosse com ela também. Preferificar no escuro, continuar
tentando. Estava começando a ficar frustradocom isso. Tentar ,
tentare tentar, e nada acontecer. Ela já nem esperava mais, o ciclo
era regular
, sempre nas mesmas datas acontecia a mesma coisa.

Nosso primeirodesentendimentosobreisso veio quando sugeri


que procuráss emos um médico e fizéssemos uma inseminação
artificial,se o caso fosse mais grave, uma FIV, mas ela se irritou,
começou a dizer que eu estavaagindo como se ela fosseo depósito
de esperma, a barriga de aluguel. Não aguentei, toda tensão de
meses me segurando sobre tudo, sobre bebidas, drogas, o que mais
fosse,me fizer
am estourarcom ela, gritarde volta. Era como se eu
estivesse depositando toda a minha esperança num filho nosso,
como se fossea minha válvula de escape, a salvação, mas nunca
acontecia,eu estava sufocando, morrendoa cada dia e nunca era
salvo.
— Eu não quero mais! — ela falou histérica,gesticulandoe eu
parei, sentindo tudo se quebrar— estamos caminhando pra uma
relação ainda mais tóxica! Não quero mais! — repetiu
pausadamente.
— Você estásendo injusta— eu falei mais baixo, embora tudo
refletisse a minha fúria.
— Você está sendo injusto — ela retrucoue caiu sentada no
sofá, escondeu o rostoentreas mãos. Eu recuei, respireifundo e
me sentei ao seu lado.
— Eu não queria brigar — falei friamente— só que... Viver
nessa agonia, Denise, sem saber se temos algum problema...
— Se tivéssemosum namoro saudável, eu não hesitariaem
procurarajuda. Mas pareceque estamosquerendo filhosó pra colar
de qualquer jeito, pra não ter como desfazer
. Não é a coisa certa.
— Pensei que era porque a gente se amava — falei incrédulo,
peguei um maço de cigarros e fui para a varanda.

Ela não veio atrás,nem foi embora. Fumei um cigarroatrásdo


outro,sabia que se voltassepra lá agora, iríamosbrigarfeio. E eu
me conhecia o suficientepara saber minhas reações pós briga. Já
estava sendo duro ficarlimpo, sem pôr uma gota de álcool por
semanas, quase três meses. Estava vivendo um verdadeiro inferno.

Denise se rendeu primeiro, veio para a varanda e pegou o


cigarroda minha mão, apagou e deixou no cinzeiro, junto com os
outrosque eu havia fumado antes. Depois se sentou de lado em
uma das minhas pernas e acariciou meu rosto, roçou nossos narizes
e começou um beijo suave e lento na minha boca.
Aperteisua coxa, a deixando controlaro momento, mas logo
desci os beijos pelo maxilar dela, o pescoço, me deliciando da pele
macia. Desci pelo colo, lambendo e chupando devagarinho. Afastei
a camiseta de seda que ela usava, lambi o mamilo e suguei, era
completamente viciado nessa mulher, apesar de sermos tão
turbulentos.
Ela resfolegou, como se retomassesua razão se levantou,mas
a puxei pelo quadril e a abracei.
— Me desculpa — pedi e ela respirou fundo — só queria
apressaras coisas. Eu te amo muito, quero que a gente dê certo,
que a gene se entenda como no começo.
— Vamos falardisso depois — ela resmungou e eu concordei,
para ficarmos amenos e evitarmos mais desentendimentos.

Para combinar e piorar nosso clima tenso, Eduardo ligou à


noite, contando sobre o falecimentode Bruna, em decorrênciade
um câncer. Aconteceu na manhã dessa sexta-feira.Denise ficou
chocada, embora só conhecesse Bruna de vista.Eu estavacom os
pés no chão, desde que o tratamento não evoluiu positivamente,
essa já parecia ser a sentença. Fiquei triste,fomos cunhados e
acabamos tendo uma amizade quando ela namorou meu irmão
Pedro, antes de se envolver com Fred. A ficha demorou a cair,
pensei no filho que ela deixava, em como Fred deveria estar
abalado. Até mesmo Marina.

Eles todos estavam em São Paulo. De algum modo, isso fez


com que eu Denise fizéssemos as pazes. Ficamos abraçados,
lamentosos com o luto pairando e sobrecarregando tudo.

[...]
Deixei Denise desfalecidae estremecendosobre minha cama,
na manhã da segunda-feira . Eu tinha audiência logo cedo e não
poderia ficarcom ela aproveitandoaté mais tardecomo queria. Ela
estavatão mole, que nem veio para o banho comigo. Me troqueino
closete saíabotoandoa camisa branca.Ela ainda estavalá, jogada
na cama, uma perna dobrada e a outraesticada,aberta s, do jeito
que deixei. Dei um sorrisopresunçoso, eu adorava esse domínio
que tinha sobre o prazer dela. Se eu quisesse, a deixava louca,
completamenteperdida e depois incrivelmentesaciada. Parei na
beirada da cama, a olhando e desci o olhar para o meio das pernas,
estava cheia do meu sêmen, o que me frustrava. Ela já deveria ter
engravidado.
Terminei de vestira camisa e coloquei a gravata,dando o nó
habilidoso. Vesti o paletó, depois passei perfume.Só então fui até
ela, me sentei na beirada da cama e me inclinei para beijar seus
lábios.
— Vai dormir?
— Vou — ela falou manhosa — só um pouco.
— Vou te levar pra almoçar com meus pais hoje — avisei e ela
balançou a cabeça, concordando — vão receberalguns amigos,
minha mãe quer que a gente vá.
— Tá bom — ela falou cansada.
— Qualquer coisa me liga.
— Juízo — ela falou e eu dei um riso, a beijando uma última
vez.

[...]
Foquei no trabalhoa manhã inteira.Passei para buscarDenise
onze horas. Ela desceu, arrumada em um vestido longo de alças
finas, linda como sempre. Demos um beijo demorado quando ela
entrou no carro e seguimos para a casa dos meus pais.

Mamãe estava até estranhando estarmosbem esse tempo


todo,sem tantostérminos.Mas eu estavana linha. Quero dizer, nas
vezes em que fiz tudo o que ela não queria que eu fizesse, mantive
em sigilo. E não houve traição.

Denise me olhou séria quando chegamos e Chiara estava lá,


acompanhando os pais. Os pais de Fred estavam presentes
também. Ela engoliu sua animosidade com Chiara e cumprimentou
todo mundo, educada como sempre. Fiz o mesmo e fomos nos
sentar. Falaram pouco sobre Bruna, Nair quem comentou o quanto
Fred estava arrasado.Mas era difícilnão ficar
, ele a acompanhou
em todo o tratamento e de qualquer modo, os dois já viveram uma
história, tinham um filho juntos.

Depois de mostraruma fotoque Jordana havia enviado, de


Helena, Nora falou o quanto quer mais netos e logo. Depois falou
cheia de descrençaque Chiara também quer um bebê, e quer pra
já. Peguei o olhar de Denise profundo em mim, ela chegou a puxar a
mão que estava entrelaçada na minha.
— Minha mãe fala de um jeito — Chiara falou, se divertin
do —
quero um bebê, mas quero planejar. Edu acha que vou aparecer
grávida de um estranho a qualquer momento...
— Do jeito que você diz, é o que parece — a mãe dela falou,
rindo.
— Chiara temsó vintee trêsanos, não temque se apressar—
Danilo, o pai dela, quem falou. A conversase tornavainsuportável,
porque Denise ficoutensa.Percebendo isso, minha mãe desatoua
falar:
— Acho que estamos mesmo velhas... — ela falou para as
amigas — todas nós loucas por netos logo... Já chorei pedindo à
Ravi e Denise.
— Tento imaginar Ravi pai e não consigo — Chiara falou
presunçosa e eu sorri sem graça.
— Pedro nem namorada tem mais, não posso contarcom ele
agora — mamãe falou melancólica.
— Se te consola, Marina não quer nem se casar com meu
bebê — a mãe de Fred falou e as duas riram.Eu e Denise ficamos
quietos,ela estavatensa,nós dois estávamoscarregandodinamites
nas mãos, tudo parecia sempre prestes a explodir
.
— Ainda bem que Edu tem Jordana. Ela tão apaixonada,
sempre faz o que ele quer — Nora falou e Chiara riu, pelo que
víamos atualmente, era bem ao contrário.Mas ninguém ousou
retrucar
.
— Adiaram o casamentopra quando? — perguntei,querendo
que saíssem dessa conversa de filhos.
— Para depois do aniversár
io da Helena, de dois anos — ela
explicou — não restouclima pra festasesse ano, decidimos adiar,
foi melhor assim.
— Mamãe estava com medo de Edu desistir— Chiara falou
provocativa— acho que se ele aprontaralgo e Jordana largar, ela
morre do coração.
— Claro! — a mulher retruco
u — eu prefiromeu filho amoroso
e presente, como tem sido. Além do que ele está feliz.
— Pouco mimado, aquele homem — Chiara zombou e olhou
para mim, depois para Denise — e vocês dois? Não pensam em
casar, ter filhos? — eu me engasguei com a saliva, era muitaafronta
ela perguntar isso. Minha mãe e a dela ficaram nitidamente
desconfortáveis, Denise não se obrigou a responder . Eu pigarreei,
tentando conter as tosses.
— Pensamos — falei e olhei para Denise, que me encarou
séria, nada satisfeita em estar aqui dessa maneira.
— Prat icamente moram juntos, pra oficializaré só questão de
tempo — mamãe respondeu animada — ainda bem que eu tenho
uma nora que eu gosto — ela olhou complacente para minha
namorada, que deu um sorriso fraco.

Denise mal tocou na comida, estava calada, triste.Chiara não


parava de falar também, sempre espaçosa, animada, me
perguntandocoisas amenas como se fôssemosapenas amigos. Se
eu não conhecesse essa mulher, diria que foi para provocar. Estava
tão difícilconsertartudo, eu já erreitantoque ela sequer confiava
em mim. Tudo a deixava insegura e irritada.
— Fred está terminando meu apartamentoessa semana
também — ela contouempolgada — vou receberalguns amigos no
final da semana, vocês deviam ir
.
— Não vamos estarno Rio, Chiara — eu falei, já que Denise
não iria responder
.
— Ah, tudo bem — ela deu de ombros.
— Está tão quietinha, Dê, está tudo bem? — minha mãe
perguntou e ela a olhou, sorrindo desanimada.
— Tive uma noite difícil,não estou muito bem — ela falou, o
que era mentira.Nossa noitefoimaravilhosae dormimosagarrados,
feito pedras até o despertador tocar
.
— Vocês estãobem, não estão? — mamãe voltou a perguntar
e Denise olhou para mim, mas voltou para minha mãe e balançou a
cabeça, confirmando.
Ela dispensou a sobremesa,estavacomeçando a me irritar
por
estartão séria. Mas tenteirelevar
, ela tinha motivos consistentes
para isso.

Denise só se animou um pouco quando Jordana chegou,


trazendoa filha, a pedido de Nora. Ela deixou a pequena correr
soltacom o pessoal, que a venerava e se sentouao lado de Denise.
Jordana não deixou de me lançar um olhar abominável.
As duas conversaram cochichando, eu mal conseguia ouvir
.
— Estávamosfalando sobre como queremos netoslogo, Dana
— minha mãe falou para ela, que nos olhou e deu um sorriso
surpreso.
— Não dá pra negar que seria um bebê lindo — ela falou, mas
lançava olhares intensos para Denise — você quer
, Ravi?
— Quero. Por quê? — perguntei e uma tensão estranhase
instalou na sala. Olhei ao redor, pegando uma expressão surpresa
de Chiara. Para os outrosera normal, naturalum casal que estáhá
tanto tempo junto, querer avançar na relação.
— Na verdade, estamos meio que tentando— Denise falou,
como se estivesse testando algo.
— Ah, isso é maravilhoso — a mãe de Eduardo falou
empolgada — a partechata de tentar , é que parece demoraraté
acontecer
. Quando tive Eduardo, foi quase um ano tentando.Com
Chiara foi pior
, tentei por um ano e meio.
— Quando não estamos tentando, vem no primeirovacilo —
Jordana falou docemente, fazendo todos os outros rirem.
— Não reclame, Dana — a sogra dela falou — temos esse
tesourinho enchendo nossas vidas de luz.

Ficamos algum tempo ali ainda, mas logo recebi uma ligação
urgentedo escritório,precisava assinar uns documentosantes das
três da tarde. Denise respirou aliviada por irmos logo embora.
A levei para a firmacomigo e ela pareceu surpresaao ver uma
foto nossa no porta-retrato em minha mesa.
Minha secretáriatrouxeos papeis e eu li tudo minuciosamente,
antes de assinar. Denise se sentou na cadeira do outro lado da
mesa e mexia no celular, concentrada.Quando acabei, a observei
por um momento, estavatensa,mas eu não sabia se era momento
de ter uma conversa mais séria.
— Não pensa mesmo em ser advogada?
— Não — ela deu um sorris o falso — se um dia despertara
vontade em mim, eu insisto na carreira.
— Você está bem?
— Me sentindopressionada— ela confessou,suspirando— e
não gostei de como foi no almoço.
— A culpa foi minha. Me desculpe — eu pedi e ela negou com
a cabeça, como se não quisesse falardisso. Acariciei sua coxa
sobre o tecido macio do vestido e rocei o nariz na curva de seu
pescoço. Ela ficou arrepiada e escorregouuma mão pelos meus
cabelos, me puxando e juntou nossos lábios.
Demos um beijo demorado e gostoso,ficamosnos acariciando
e namorando por um tempo, até que eu tive reunião marcada com
cliente e ela se foi levando meu carro.
C 14
Denise Malta

Ravi chegou em casa por volta das seis da tardee eu estava


no terra
ço, com July e Bernardo. Ele cumprimentouos outrosdois
educado e me deu um beijo na testa.
— Vou me trocare encontrovocês — ele falou e eu assenti.
Havia preparadouma tábua de friose o casal bebia um vinho. Eu
não andava costumando beber, porque álcool e qualquer coisa
relacionada me remetiao maldito vício. Ravi e eu não tínhamoso
costume de beber uma taça de vinho no jantar nem nada disso.

Eu havia entregadotodas as garrafasque ele guardava aqui


para sua mãe. Não iria jogar as bebidas que custaramtãocarofora,
então ela faria melhor proveito sem desperdiçar
.
Não sabia quanto tempo isso iria durar . Não conseguia
acreditarque ele estava há meses sem beber ou extra polar com
nada. De todo jeito, mesmo sem afundarno álcool e em outras
drogas ilícitas,ele andava fumando mais do que o normal. Se eu
não controlasse,mesmo sob discussões, ele acabaria com três
maços em um dia facilmente.

No começo, eu achava charmoso vê-lo fumando, era bonito,


manuseava o cigarroe tragavatão experiente.Hoje, me dava raiva.
O cheio me incomodava, era tudo em excesso, porque eu sabia o
quanto fazia mal pra ele.
Jordana enviou várias mensagens perguntando sobre essa
históriade tentarengravidar
, mas eu não havia respondido ainda.
Era tãoruim tocarnesse assunto.Eu ficavano meio de ser proteção
divina ou um problema de infertilidade nosso.

Mal conseguíamossuperarnossos problemas, tudo quebrado


entre nós dois, e queríamos colocar uma criança no mundo?
July não estavapreocupada, achava Ravi rico demais, só isso
já bastaria. Mas eu não pensava desse jeito.
Ravi voltou já de banho tomado e eu servi da água com gás e
limão que eu tomava para ele.
— Não tá bebendo, cara? — Bernardoperguntouem sua pura
inocência.
— Não, nós dois estamos evitando — eu respondi
rapidamente.
— Estão tentando engravidar — July falou, era sempre
desmedida — deve ser por isso.
— Nossa, que legal — Bernardo falou carinhosamente.

Nossos amigos ficaramconosco por um tempo, foramembora


pouco antes do jantarporque tinham compromisso. Eu comecei a
arrumaro terraçoe desci para encontrarRavi, que esquentava um
ravioli enviado por minha tia.
— Tenho uma sessão de fotosamanhã, da sobrinha do meu
pai — eu comentei, me escorando ao balcão e ele se virou para mim
— em Niterói.
— Volta amanhã?
— Volto na quinta — expliquei e ele assentiu,vindo até mim e
me puxou pela cintura.
— Uma pena... Você estava ovulando nesses dias — ele
lamentou,me fazendorir , porque depois desses meses todos,ele já
sabia os dias perfeitos para tentarmos.
— Vai ficar bem sozinho?
— Vou — ele falou confuso e nos olhamos — não vou sair,
nem beber e nem fazer nada.
— Deveria parar de fumar — eu reclamei — tem exagerado.
— Vou maneirar , prometo— ele falou,se inclinando para beijar
minha boca rapidamente— sentium pouco de julgamento das suas
amigas, ao descobrirem o que queremos.
— Você teve sorteque Marina não soube ainda — eu falei
zombeteira.
— Não sei mais o que fazer pra elas me perdoarem — ele falou
dramático. O micro-ondas apitou e ele foi tirar nosso jantar
.

[...]

Os dias em Niterói foram produtivos,e eu adorei. Adorava


poder fotografare fazerdisso o meu trabalho.Era bom terincentivo,
eu devia começar a focare voltara trabalharmais. Eu sabia que
Ravi queria que eu focassena carreirade advogada, mas aquilo
não era pra mim. Nunca foi. Nem quando eu estava na faculdade,
me identificava com o curso.

Cheguei ao Rio na sexta-feirapela manhã. Fui para casa e


trabalheipela manhã inteira,editando algumas fotose escolhendo
os modelos dos álbuns, para mandar para impressão.

EncontreiRavi apenas no final do dia, quando ele chegou e


minha tia notou logo pelo jeito dele, que estava de ressaca. Ela se
despediu, não querendo fazer parte de nenhum desentendimento.
— Você bebeu — falei friamentee ele me olhou, querendo se
aninhar no meu pescoço, me abraçando, mas eu me afastei.
— Só um pouco — ele reclamou, mas se tratandodele, nunca
era só um pouco — não fiz nada, juro. Só bebi. E bem pouco, não
sei porque estou tão mal.
— Com quem, Ravi?
— Com Fred e Eduardo — ele resmungou — pode ligar pra
eles, se quiser. Não estou mentindo.
— Eu tenho que ligar pros seus amigos agora? — perguntei
indignada — olha só como você está!
— Só com um pouco de ressaca, Denise. Não seja exagerada.
— Tudo bem — falei contrariada.Ele tentou me distrair ,
mudando de assunto.Perguntousobre a viagem e eu cedi, deixei o
mal estar passar .

Mari e Jordana vieram para um almoço entre amigas. July


estava presa no trabalhoe não poderia sair. Conversamos sobre o
boom na carreirada Marina, embora ela estivessebem pra baixo
ainda, com tudo que havia acontecido com Bruna, a ex de Fred.
Pelo que eu soube, os trêsconseguiram finalmentese entender ,
uma pena que tarde demais.
— Se te anima um pouco, Mari — Jordana começou a dizer e
eu coloquei a formade vidro com a lasanha sobre a mesa já posta.
Mari olhou para ela, dando atenção — Denise e Ravi estãotentando
engravidar — ao ouvir isso, Marina me olhou incrédula e tentou
processar algo para dizer.
Em outros tempos, eu ouviria um belo sermão, mas ela não
estava em condições para isso. Por isso, eu presumi, Jordana
resolveu contar logo.
— Você é louca — ela falou incrédula.
— Estamos tentandohá meses — eu confessei— mas não
acontece.
— Deus estáprotegendovocês — ela faloucomo se fossealgo
óbvio — olha Denise, eu sei que Jordana conseguiu um belo conto
de fadas do jeito que queria, mas você tem que compararEdu e
Ravi, ser menos cega, sabe?
— Eu acho que ele pode mudar. Só deveria ceder ao
tratamento. Entendo que deve ser difícilviver lutando contraesses
vícios — Jordana defendeu e eu suspirei. Era tão dividida sobre
tudo isso — Edu contou que ele não consegue maneirar . Quando
começarama beber, ele não quis mais parar , pareciadesesperadoe
aliviado ao mesmo tempo.Edu não o deixou sozinho, mas disse que
foi difícil ver
. Não foi legal — ela falou, me deixando tão angustiada.
— Eduardo não era viciado em álcool, cigarros,outrasdrogas
que a gente nem sabe, e nem mantinha uma amante, Jordana —
Marina falou desgostosa— me desculpa estarsendo tão dura com
você, Denise, mas eu só não quero te ver sofrendo mais.
— Eu entendo, amiga — falei e Jordana me olhou indignada.
— Ele se separou de Chiara? — ela perguntou,era sempre
dura quando se tratavade Ravi. Não soube responder . Jordana
chegou a dizer que achava que ela iria procuraro boy-mistério,o
que deixou Marina ainda mais indignada.
— Então Denise temque contarcom Chiara namoraroutro,pra
não ser traída?A culpa não é só dela, Jordana. É dele, em mais de
setenta por cento.
— Achamos que podemos ter algum problema... — falei
desconfortável— mas não quero procurarajuda. Eu quero, porque
parece ser a coisa certa pra consertarnossa relação, mas ao
mesmo tempo, não acho que uma gravidez vai resolver .
— A vida dele não vai mudar. Se você aparece grávida e
amanhã ele decide que não quer mais, vai encher você de dinheiro
e se manter distante.
— Você é muito pessimista, Mari — Jordana reclamou —
Eduardo poderia ser completamente igual ao Ravi...
— A diferençaé que você engravidou antes que ele tivesse
chance de estragartudo.Ravi já sabe que Denise perdoa, que ela o
ama acima de tudo, senão não teria topado essa... Loucura!
— Você não apoiaria, então — presumi e ela respiroufundo,
negando com a cabeça.
— Te dar apoio, caso acontecer , não quer dizer que eu ache
certovocê se arriscartanto.O homem erratantocom você e pra se
redimirtedá uma sentençadessas? Mas não vou me meternisso, a
decisão é sua.
— Vamos falarde outracoisa — Jordana pediu e eu concordei,
para evitar mais mal estar . Almoçamos e ficamos à tarde toda
juntas.Jordana foi embora primeiro,porque precisavabuscara filha
na casa da mãe. E Mari se desculpou por tersido grosseira,embora
eu conseguisse entender seu ponto de vista e até mesmo proteção.
Prometipara mim mesma que se até o final do ano Ravi não
saísseda linha, eu poderia realmenteconfiarnele. O que parecia
inconsistente,mas eu o amava e achava que poderia tentarnos
fazer dar certo.

Ele chegou no final do dia, me trazendo flores. O olhei


desconfiada, mas correspondi ao seu beijo carinhoso.
— Como foi com as amigas hoje? — ele perguntoue eu o
encarei, cerrando um pouco os olhos.
— Marina deu um piti ao saber dos nossos planos, mas eu já
esperava — contei e ele suspirou, negando com a cabeça.
— Ela deu uma chance pra Eduardo, não pode dar pra mim?
Eu não fico no pé do ouvido de Fred resmungando sobre ela não ser
tudo o que ele sonhava.
— Não seja ridículo,Ravi — eu resmunguei — ela só está me
protegendo.
— De mim?
— Claro — faleio óbvio, começando a rir— acha que estamos
loucos. E eu acho também.
— Por mim já estaríamosem um médico, descobrindo o
porquê de não termos conseguido ainda.
— Não — falei rapidamente.
— Qual o plano pro final de semana? — ele perguntou
presunçoso, me puxando pela cintura e eu o olhei.
— Não quero sair — falei manhosa e ele riu, me roubando um
beijo na boca. Mas nos manterem casa era quase como mantê-lo
longe do álcool — poderíamos ficar em casa, só nós dois, de
preferência...
— Sem roupa — ele completou, me fazendo .rir
— É, pode ser — concordei por fim.
C 15
RaviFerrari

Saí com Denise para jantar, junto com Eduardo e Jordana. Por
azar, Chiara veio junto com o casal, o que deixava Denise furiosa.
Eu já começava a acreditarque Chiara estava fazendo para
provocar
, já que eu estava firme em manter distância. Não
respondia mais as mensagens, com o passar das semanas ela
finalmenteparou de mandar e provocar , ou então era indiferente
para ela. De qualquer maneira, Denise precisava entender que eu
não controlava os outros. Eu estava fazendo a minha parte,
tentandome redimira todo custo,provarpara ela o amor e agora, a
minha lealdade.

Minha namorada recusoubebidas e pediu água com gás, para


mim também, sem esperar que eu escolhesse outra coisa. Eu
odiava quando ela me tratavacomo um viciado, mas decidi não
brigar
, já estávamos em campo minado.

Por sorte–ou azar, meu irmão chegou e Eduardo praticam ente


o intimoua se sentarconosco, mas invés de conterChiara, ele ficou
conversando com Denise e Jordana. Comecei a ficarfaiscando
quando peguei o olhar de Pedro em Denise, mas sacudi a cabeça e
me controlei, meu ciúme saía do controle, às vezes.

Denise pediu uma salada, junto com Jordana, já Chiara repetiu


o meu prato.Denise suspirou,eu sabia que se sentiano limite, mas
nunca faria uma cena de ciúme ou algo parecido.

Pedimos sobremesa, eu e ela dividimos a mesma, já que ela


não queria abusar de doces esta noite. Ficamos conversando
amenidades, Eduardo sempre falava orgulhoso sobre a filha, era
uma graça. Não à toa eu e Fred queríamos viver a mesma coisa.
Certoque eu não fui decidido com meu amor como ele foi com
Jordana. E que Marina nunca cederia fácil para as vontades de
Frederico,mas queríamosa partefácil da relação. Os dois, Edu e
Jordana, tornaram tudo fácil e pareciam felizes.
Ele teve tantasorte,que ela trabalhariajunto com ele. Os dois
caminhariamjuntosem direçãoaos sonhos. Eu queria isso também.

Denise ficou séria, mal me respondia ou correspondia aos


meus carinhos. Ela deu um suspiro audível e aliviado quando
entramos no carro e eu a olhei, que se encostou ao banco dianteiro.
— Que foi? — ela perguntou.
— Está tudo bem?
— Está.
— Parece sempre magoada — eu resmunguei e ela ficou
quieta. Não insisti na conversa, porque não queria brigar
.
Chegamos ao meu apartame nto e ela foi diretopara o banho,
depois pegou o celular e foi para a cama. Eu a observei por um
momento, mas deixei pra lá e fui para o banho também.
Como ainda era cedo, desci para meu escritórioe fiquei
resolvendo algumas coisas de trabalho. Me deparei com uma
garrafade uísque na estantecheia de livros e fiquei encarando,
querendo me deliciar com ela, mas sabia que Denise ficaria furiosa
se eu bebesse. Desfoquei dali e voltei a trabalhar
, mas a
concentração já não era a mesma.
Não resisti,achei bobagem renegarminha vontade e bebi uma
dose do uísque, mas pareceu não matarminha vontade e eu bebi
mais uma. Deixei o trabalhode lado, conecteimeu celular na caixa
de som e escolhi uma playlist. Encontreium maço de cigarrose
acendi um. Deveria terparado, ido procurarDenise, mas já estava
no limite com essa históriade tersido perdoado e ela sempre ficar
remoendo a mágoa. E o álcool potencializava tudo isso.
Minha vontade, depois de doses intensas de uísque, era de
ligar pra alguns amigos e sair, encontrá-los,mas me controlei.
Fumei alguns cigarros,me acalmando sozinho ali. Quando voltei
para o quarto,procurandopor ela, Denise fezmanha, não querendo
ceder. Mas quase a convenci. No entanto,ao se virare vir para me
beijar, sentiuo cheiroda bebida e parou, me olhando desacreditada.
— Você bebeu — ela falou fr iamente, se afastando.Soltei o ar,
não querendo brigarpor isso e tenteiacariciá-la,que não deixou —
eu não quero, Ravi!
— Você ficoucom raiva de que, afinal?— pergunteiimpaciente
e me levantei da cama. Ela se sentou de uma vez.
— Nesse momento, de você terbebido! — ela falou mais alto,
se alterando e eu forcei um riso sarcástico.
— Eu não posso mais, é isso?
— Não seja cínico! — ela falouindignada — se soubesse fazer
,
não seria um problema!
— Eu to com saudade, amor — falei, querendo desviar da
briga, mas ela estava resignada a tornar isso difícil.
— Eu. Não. Quero — ela falou pausadamente, se afastando
como se eu pudesse ser capaz de forçá-la.
— Certo, Denise — eu resmunguei, enfiando os pés nos
sapatose comecei a abotoar a camisa — se você quer tornarisso
uma briga, então faça. Eu não vou ficaraqui pra potencializar—
falei, tropeçando para sair do quarto.
C 16
Denise Malta

A minha vontade era pegar todas as minhas coisas, pedir um


carropor aplicativo e ir embora. Eu deveria querer mais do que
nunca pôr um ponto final. Se ele resolvesse,de novo, que não era
um viciado, iria cair nessa ladainha de se permitirbeber uma dose
ou duas. Mas depois da segunda, ele se sentiriacapaz de pararna
terceira,o que não era real. Quando eu piscasse, já teríamos
discutido,ele ligaria para alguém e sairia, passaria a noite usando
drogas, bebendo, fumando e fazendo sabe-se lá mais o que. Isso
quando não aparecia Chiara, o fazendo se sentir o super-herói.

Era doentio, doloroso para mim.

Não peguei no sono, os cochilos que eu dava sem querereram


inquietos e eu logo acordava no susto.Ravi chegou quase seis da
manhã, nem falou nada, viu que eu estava acordada e foi direto
para o banho.

Engoli a minha vontade de brigar, de implorarque ele parasse


com isso, porque eu não aguentava mais. Me levantei, troqueide
roupa, peguei meu celular e saí do apartamento dele.
Logo que notou minha ausência, ele começou a ligar, mas eu
não atendi. Por sorte,um taxi estava passando vazio e eu fiz um
gesto para parar
.
Tia Carol já conhecia quando eu voltava para casa desse jeito,
magoada, frustrada,me sentindo derrotada.Ela apenas me lançou
um olhar condolente e desejou bom dia.

Tomei um banho quente, vestium pijama quentinho, liguei o ar


e fui para debaixo dos edredons, no meu quarto.Triste, mas já
calejada com tudo isso. E, no meu quarto,me sentimais tranquilae
acabei pegando no sono.

Quando acordei, já era quase trêsda tardee Ravi estava na


sala, esperando por mim. Eu o encarei friamente,decidida a
terminar
. Ele se levantou, com esse jeito de quem já dominava os
efeitos da ressaca e veio até mim, me puxando para um abraço.
— Fiquei tão preocupado — ele falou, afagando meu cabelo e
eu permaneci quieta, sem correspondê-lo — não queria brigar
.
— Não vamos mais brigar— faleide uma maneira asquerosae
ele assentiu, me apertando mais no abraço.
— Eu sei, eu te amo.
— Eu não quero mais — falei enfáticae ele enrijeceu. Me
soltou do abraço e me encarou confuso — não faz essa cara, eu
não quero mais. Onde você passou a noite?Num clube nojentocom
aqueles que se dizem seus amigos? Bebeu todas? Participoude
alguma orgia? Seja lá o que tenha sido, eu não me importo. Não vou
mais ficar aqui, como se eu pudesse reabilitar você ficando grávida.
— Não seja tão radical, Denise. Foi um deslize, apenas isso,
eu não traí você.
— Um deslize, Ravi? Desde que estamos juntos estou
aguentando traições,uma atrasda outra. Aguentando seu vício,
coisa que você nem assume, nem tentarealmentese curar!E acha
que por isso, eu sou obrigada a estragara minha vida esperando
você se consertar?
— Estávamostentandoterum filho, Denise! Isso não é prova
de amor pra você?
— Não! — falei com força , começando a tremere ele me
encarou profundamente, não acreditandono que ouvia — não é
prova de amor. Foi só você, querendo me terpresa, destruídasob
seus comandos ridículos,depositando o seu vício em outracoisa.
Deus foi muito generoso comigo, não deixando acontecer!
— Eu não aceito — ele falou e eu comecei a rir
.
— Eu não me importose você aceita ou não. Eu não estou
mais em um relacionamentocom você. Sinta-selivre pra seramante
de quem você quiser.
— Eu não quero outrapessoa, Denise! — ele falou indignado
— para de fingir que não acredita no que eu sinto!
— Não acredit o mais! — eu gritei— e eu não quero mais viver
isso! Passei a noite inteiraqueimando no inferno,era pra termos
ficado juntos e você preferiu sair
, encher a cara, me trair!
— Eu não traí você!
— Deveria ser mais honesto, pelo menos isso — eu
resmunguei,puxando meus braçoscom forçae cambaleei para trás.
— Eu não vou terminar com você.
— Vai fazero que? — provoquei furiosa— me prender?Me
obrigar?
— Eu amo você — ele falou irritado,chegando mais pertoe
segurou meu queixo, aproximando o rostodo meu — e eu não
aceito te perder
, não sei viver sem você.
— Que fizessepor onde! — eu voltei a gritar
, o empurrando e
ele tent
ou me puxar pelo braço, mas fui mais rápida ao me afastar
— não quero namorar um viciado, um pervertidonojento! Que
prefere passar a noite na rua a ficar comigo!
— Eu errei uma vez, Denise! Não seja tão dramática, eu
aguentei por meses e fiz isso por você! — ele falou, sempre
minimizando as merdas que fazia.
— Não me importomais! — falei com força— não quero mais
e essa é a minha decisão final.
—- O próximo plano é o que? Sair por aí e ficarcom qualquer
outro?— ele perguntousarcástico,nunca cogitandoa possibilidade
como real.
— É! Vou procuraralguém que me ame de verdade, que me dê
valor!
— Por favor , vamos conversar com calma, feitodois adultos—
ele resmungou, chegando mais perto— vamos conversardireito,
por favor
... Não quero brigar
, não quero te perder
.
— Eu não quero mais ficar com você — falei firme, o
encarando e ele estalou os lábios, duvidando da minha decisão —
pode ficar aí insistindo, eu não vou voltar atrás.

E ele ficou, minha tia voltou, fez o jantar e ele ficou ali,
esperando que eu deixasse tudo para trás.Mas eu não saí do
quarto. Ela enviou mensagens dizendo que ele não iria mesmo
embora sem se acertarcomigo, mas eu falei que não iria acontecer
.
E era muito mais fácil terminarcom ele no calor da raiva. Eu
precisava fazer isso
agora.
Mais tarde,Mari enviou uma mensagem, chamando para sair.
Eu não estava com vontade, mas me arrumare sair, deixá-lo aí
sozinho, seria uma ótima desculpa para fazê-lo acreditarque eu
estava resignada a terminar
.

Me arrumeicom um vestido colado no corpo, bem curto, só


para irritá-lo. Ravi não era o tipo ciumento por roupa, era seguro
demais para achar que eu daria mole para outrocara. Mas isso até
que eu fiqueicom outroem sua frente.Coloquei saltosaltose deixei
os cabelos soltos.Mari passou para me buscarjunto com Fred, que
me cerrou os olhos.
— E ele não desceu te perseguindo? — Mari perguntou
sarcástica, porque ela piorava tudo em Ravi. Não estava o
defendendo, mas ele não era do tipo que forçava,ou me perseguia.
Ele ia me convencendo, depois viria o drama. Mas eu teriaque ser
forte para pôr um fim.

Ainda no caminho, ele começou a ligar para o Fred, que nem


disse para onde estávamos indo. Mari comentou que eu deveria
beijar o primeirocara que aparecesse,mas não tinha vontade para
isso. Não havia nem vontade de estar aqui.

Bebi alguns drinks, mas já não achava tão prazerosoassim


beber. Fomos surpreendidoscom Edu e Jordana, que já chegou
animadinha, deviam estarbebendo em casa, antes.Ela lamentou a
briga com Ravi, mas não dei continuidade ao assunto, seria
desgastá-las com a minha relação complicada.
Como Fred e Marina não tinham planos de ir embora tão cedo,
eu peguei uma caronacom Edu e Jordana, lá pelas duas da manhã.

Acendi uma luz baixa na sala, quando entrei,porque estava


tudoescuro.Tirei os saltosaltose me senteiao sofá,respireifundo,
me sentindoexausta.Quando ergui o rosto,notei a chave da BMW
de Ravi na mesa de centro.Neguei com a cabeça, já devia esperar
que ele fariao drama de terficado aqui me esperando. Era muito
fácil para ele ser desse jeito, depois fariaum drama e eu teriaque
perdoá-lo.

Peguei as sandálias do chão, meu celular e fui para o meu


quarto.Ele estava lá, jogado na cama, adormecido. Usava só uma
calça de pijama que estavapor aqui e estavadescoberto.Era uma
bela visão, mas a minha dependência emocional e sexual não
poderia ser tão incontrolável assim.

Éramosdois doentes,ele por bebidas, drogase sexo sujo e eu,


por ele. Fui para o banho e depois me troquei,vesti um pijama
frescoe fui me deitar . Peguei um edredom macio e liguei o ar-
condicionado. Liguei a luz do abajur e me virei de lado, olhando para
ele.

Queria voltarao dia em que ficamos pela primeiravez e ter


feito diferente. Não ter ficado, não ter deixado ir tão longe.
Ele se mexeu e acordou, como se não tivéssemosterminado,
me puxou para se agarrarao meu corpo e eu deixei. O abracei de
volta e ele deu um beijo no topo da minha cabeça. Afundei o rosto
em seu pescoço, sentindo o cheiro do meu sabonete nele, o que
ficava maravilhoso.
— Como foi a noite? — ele perguntou,com a voz rouca e
sonolenta.
— Boa.
— Eu te amo, vida — ele falou e eu suspirei com força— eu
sei que nem mereço você, mas eu não suportoa ideia de não ter
você.
— Não quero conversar , Ravi — falei resignada — o que você
mais teve foi chance pra não errar de novo.
— Não me deixa...

Não falei nada, não iria adiantar


. Eu teriaque fazê-lo acreditar
que era mesmo o fim, com ações. Peguei no sono rapidamente,me
sentia tão confortáveldormindo agarrada nele que o sono vinha
tranquilo.

[...]
C 17
Denise Malta

Decidimos passaro réveillon com a famíliadele, numa ilha em


Angra dos Reis. A históriade colocar um ponto final se esvaiu por
aí, não sei onde foi que a minha decisão se perdeu e continuamos
juntos, enterramos mais um erro. Talvez foi na manhã seguinte,
quando acordamos excitadose eu não tive tempo de pensar, voltar
para o momento de término que vivíamos. Fizemos um sexo
delicioso ao acordar, pelas contasdele, eu estavafértile disse que
eu estava lubrificadacomo ele nunca sentiu.Ignorei suas fantasias,
estava como sempre, claro. Imaginei que ele preferiase fazer
acreditarque se tivéssemosum problema, ele seria meu, não dele.
Mas eu não estavaquerendo me preocuparcom infertilidadeagora.
No fundo achava que o problema fosse ele, álcool e drogas em
excesso poderiam tercomprometidoalguma coisa, mas nunca iria
comentar a minha dúvida.

No penúltimodia do ano, passamos o dia no Iate,juntocom os


pais de Edu, ele e Jordana e infelizmente, Chiara. Eu sempre
deixava claro que não a condenava, mas era inevitável o meu
desapreço.

O meu desconfortodepois do almoço passou despercebido,


juntei isso ao balanço do barco. Ravi estava bebendo água tônica,
depois da última briga, ele foi para uma consultacom o psiquiatra,
queria se comprometera parar de novo. Mas os efeitos da
abstinênciase faziam presentes.Ele conseguia disfarçaraté bem,
mas certas coisas eu já notava, como os tremores,enjoos
principalmentepela madrugada. O cigarro,ele não largava nunca.
Edu quase foi fumarcom ele, mas Jordana entregoua filha para ele
segurar, esperta que era, e veio até mim.
— Você tá bem? — ela perguntou e eu franzio cenho, confusa
— parece meio... verde?
— O que? — perguntei, sem entender nada.
— Vocês dois estão bem? — ela perguntou, olhando na
direção de Ravi.
— Levando — suspirei — as vezes eu queria conseguir
terminarde verdade... Às vezes acho que vamos dar certo.Eu o
amo, Dana, muito— faleibaixinho e olhei ao redor— mas estoutão
cansada...
— E a história de engravidar?
— Mari acha que é Deus intervindo — eu sussurreie Jordana
deu um sorrisocomplacente— eu acho que temosalgum problema.
— Não vão procurarsaber? — ela perguntou do seu jeito
sempre doce e eu aperteios lábios, negando com a cabeça — vale
a pena continuar desse jeito?
— Não sei — sussurrei.Chiara chegou pertode nós duas,
trazendouma garrafade um Gin caroe colocou na taçade Jordana.
Eu bebericava do champanhe. Ela teve a audácia de se sentar
conosco um pouco, mas logo foi até Edu e pegou a sobrinha.
Observeias duas, a maneira como ela não se importavacom o meu
desconforto,mas eu iria fazero que? Colocar Ravi como o pobre
seduzido que não.
Fui para a tenda com Jordana, ela trouxeum balde de gelo
com champanhe, os mais velhos estavamna área gourmet.Tiramos
algumas fotos, pelo celular mesmo, a iluminação estava
simplesmenteperfeita.Edu veio com Ravi e ficamosos quatroali,
jogando conversafora.Tentei não causaruma cena com Ravi, mas
não estavagenuinamentefelizao lado dele. Era como estarsempre
o esperando recairoutravez. Só ficariasegura com um tratamento
mais severo, com um acompanhamento mais intensivo, com
medicamentos que o ajudassem com os sintomas de abstinência.
Eu sentia que ele se recusava a usar qualquer medicamento,
porque assim, quando não aguentassemais, ele recairiasem correr
maiores riscos.

Chiara chegou para pertode nós, sempre animada demais.


Jordana e Edu trocaramum olhar cheio de significadose eu sabia
que era sobre nós três.Me sentia tão envergonhada, que só queria
ir embora, conseguir terminar isso aqui, iniciar um novo ciclo.
— Seu irmão não veio por quê? — Edu perguntou para Ravi.
— Viajou com uns amigos — ele contou desinteressado. Chiara
foi para onde batia mais sol e tiroua saída de praia. Ela chamou
Jordana, pedindo para tirarfotosdela. Continueiquieta,contandoos
minutos para o dia acabar logo.

Minha sogra, quando veio aqui, logo notou meu humor baixo,
mas tentei disfarçar
.
— Ela não está meio verde? — Jordana perguntoue eu revirei
os olhos.
— Só um pouco desanimada.
— Não quer descansar um pouco? — Silvia perguntou
carinhosamente.
— Vida, se quiser, vou com você — Ravi falou.
— Assim conseguimos aproveitarmelhor a noite — Jordana
falou, incentivando e eu me levantei. Ravi bebeu o restoda água,
antes de me puxar pela mão e descemos.

Haviam quatro suítese entramos em uma delas, a cama


confortávelrealmente me chamando. Ravi fechouas cortinase nos
deitamos. Ele veio por cima de mim, querendo beijo e eu
correspondi, me deliciando.

Puxei a sunga dele para baixo e fiquei esfregandosuavemente


o membro semiereto.Ele puxou a minha canga e os laços laterais
da calcinha do biquini, mas não o tiroude mim. Ravi puxou o laço
frontaldo meu biquini tomara-que-caiae praguejou aliviado ao ver
meus seios.
— Você é gostosademais — ele resmungou, montando sobre
meu corpo, um joelho apoiado em cada lado do meu quadril. Olhei
para o pau eretoem minha direção e me apoiei nos cotovelos, me
inclinando na intenção de alcançá-lo e ele chegou mais para cima.
Nós dois gememos, ele mais alto, vindo fundo na minha garganta.
Chupei um pouco, engolindo todo e depois voltei, corria língua em
toda a extensão e fiquei chupando a cabecinha, enquanto ele
estremecia e gemia gostoso.
Fiquei um tempo brincando assim, até que ele me segurou e
puxou para forada minha boca e se inclinou, beijando duramentea
minha boca, me forçandoa deitarna cama. Comecei a gemer toda
manhosa com ele beijando meu pescoço, deixava beijos molhados e
macios, indo para os seios, onde abocanhou o quanto conseguiu e
lambeu o mamilo. Depois foipara o outro,mas nesse, ele seguroue
ficouchupando o mamilo deliciosamente,chegou a estalaros lábios
ao sugar e lambeu, antes de soltar.
— E essa boceta — ele perguntou, enquanto descia pela
minha barriga e eu me apoiei nos cotovelos para olhá-lo — tá
pronta?
— Me chupa — falei e ele deu um sorrisosafado, mas antes,
depositou um beijo suave no meu ventre.
— Quero meter uma criança em você logo — ele falou
asperamentee eu acaricieiseu rosto.Ravi puxou a minha calcinha
e a jogou para o lado. Foi muito rápido, ele abocanhou meu sexo tão
sedentoque foicomo se tudocomeçasse a estralarao meu redor ,a
boca lancinava e eu estremeciinteira.Minhas pernas se abrirame
ele as segurou para cima, girando a língua macia em mim toda, me
erguendo um pouco mais e foi até o ânus, onde deu um beijo
molhado bem lá. Eu choraminguei, porque com uma mão ele
segurava minhas pernas e outrauma nádega, me beijando no ânus
e explorando tudo.
Eu desci uma mão para o meu clitórise fiquei o acarinhando
delicadamente,estavatão gostosoque me sentiescorrerum pouco
e ele percebeu, porque deu um gemido agoniado e pressionou a
língualá.
Parei de me masturbar , mas meu ponto mais sensívelsentiua
faltado toque,pareciadolorido. Ravi veio me lambendo e abriu bem
as minhas pernas, lambeu tudo, limpando tudo e roçou os lábios no
clitóris.Eu choraminguei, era maldoso demais e ele adorava isso.
Ele fez de novo, o olhando e eu nem conseguia pararde reviraros
olhos, a pressão no ventre era tortuosa. Era tesão demais.
— Você é muito safada,mocinha — ele falou, puxando a pele
que o cobria e passeou a língua na pontinha.
— Meu Deus — eu falei, como um pedido de socorroe ele riu,
lambendo de novo, me fazendo escorrer de tesão.
— Eu amo ver você louca de tesão desse jeito, melando tudo
— ele sussurrou, roçando os lábios pela boceta toda, como se
quisesse se sujar dos meus fluidos — to louco pra você gozar...
— Então deixa — eu falei chorosa e ele riu, negando com e
cabeça e deu um beijo delicioso em mim lá. Em joguei a cabeça
para trás e gemi forte.
— Quero que goze no meu pau — ele falou e eu apertei os
olhos, mais uma caríciae eu não aguentaria.Ravi deu um beijo na
minha coxa e se levantou, vindo por cima e me penetroude uma
vez e com força, vindo bem fundo. Eu me agarrei toda nele, nós dois
demos um gemido áspero, ele só precisou se mover, todo duro
dentroe esfregara pélvis no meu clitórisque eu gozei. Foi tãolouco
e intensoque ele cobriu a minha boca com a mão, abafando o que
talvez seria um grito. Ele continuou se movendo lá dentro, se
esfregandotodo em mim, já sabia o jeitocertode me levar a loucura
até acabar.
Eu me contorcitoda em baixo dele, que me assistia sério,
fazendo uma caretade dor e tesão, metendo bem fundo. Minha
última convulsão se foi, deixando o alívio corrermeu corpo e eu
relaxei sobre a cama, embaixo dele. No segundo seguinte senti os
jatos quentes dentro de mim, inundando meu ventre.
Peguei no sono ainda agarradanele, que afogou o rostoem
meu pescoço e só se deu o trabalhode puxar para forada minha
intimidade.

[...]

Acordei enjoada, muito nauseada. Acrediteique por estarmos


em um Iate,mas no jantar , eu não suportavamais a ideia de terque
olhar para qualquer comida. A sensação que eu tinha,era que se eu
vomitasse, me sentiria aliviada, mas não conseguiria.

Venci essa sensação horrívele fui me arrumar


. Por sorte,
voltaríamospara a mansão na ilha e Chiara iria embora com sua
família.Parecia crianciceminha, mas eu me sentiamelhor sem ela
por perto.
Ravi me abraçou por trás,fungando meu pescoço enquanto eu
terminava de me maquiar. Me virei de frente para ele,
correspondendoao seu beijo e cruzei os braços em volta do seu
pescoço. As mãos dele ficaram na curva da minha cintura.
— Te amo muito, vida — ele sussurroue eu assenti,mantendo
os olhos fechados— e sonho com uma vida calma e feliz ao seu
lado, em poder te fazer muito feliz.
Só balancei a cabeça, incapaz de dizer alguma coisa. Quando
nos afastamos, notei Chiara na portado quarto,que, de qualquer
maneira, já estava aberta.
— Mandaram chamar vocês pra jantar — ela avisou, me
analisando rapidamente.Queria sabero que ela pensava de mim. A
sonsa que não largava o osso? Que não se importava em ser
traída?Que eu era louca por amar Ravi? Por quereracreditarque
ele mudaria um dia? Não poderia mais dizer que confiava nele, eu
não confiava. Vivia numa dubiedade de sentimentos,cada vez mais
tensa e confusa.
Chegamos para o jantar
, havia um sushiman servindo e eu pedi
uma água com gás e limão. Jordana insistia que eu estava ainda
mais verde e eu a encarei, querendo rir, porque com verde ela
queria dizer enjoada? Helena começou a repetirvede,
o uma graça.

Foi o tempo de sairmosdo Iate e voltarmospara a casa, para


eu corr
er para o banheiro e vomitar todo o jantar. Uma tensão
completamentenegativa começou a me corroer , lavei a boca e
joguei uma água no rosto.Olhei para o vaso sanitárioe puxei a
tampa para baixo, dei descarga. Me olhei no espelho, me sentindo
sem chão, completament e desnorteada. O coração batia
descompassado, eu estava tremendo.Pisquei algumas vezes, não
conseguindo entendermuito bem o que estavaacontecendo, mas a
intuição me alertava.

Peguei meu celular na bolsa de lado que eu carregavae liguei


para tia Carol, completamentedesesperada. Comecei a sussurrar ,
mas ela estava em um lugar barulhentoe não conseguia entender
muito bem.
— Eu acho que estou grávida — sussurreiexasperada e ela
agora não parecia mais estar no meio de alguma bagunça.
— O QUE?
— Não fala pra ninguém — eu pedi, começando a chorar
silenciosa.
— Você já tem certeza? — ela perguntou cautelosa e eu
funguei, começando a contar
.
Ela conseguiu me tranquiliza
r, dizendo que poderia serpelo dia
no barco, eu não tinha costume, poderia influenciar
. Eu sempre fui
de enjoar em viagens, além do que, se não aconteceuatéagora, as
chances eram mínimas.
— Chegar aqui, você vai ao médico e, por favor
, Denise, ficou
claroque você não estáprontapra isso — ela faloumais rígidae eu
funguei, concordando.

Não consegui aproveitarmais nada, estava desesperada, não


queria contarnada para Ravi, vê-lo comemorarenquanto eu estava
tão apavorada. Iríamosbrigar, ele não iria ficarnada feliz ao me ver
rejeitandoo que ele tomou como a solução de todosos problemas.
Os enjoos não paravam, estava difícildisfarçar
. Não quis ir para a
festa de réveillon com a família de Eduardo. Se Mari e Fred
estivessemlá, pelo menos, mas os dois forampara Arraial do Cabo
com o Bruninho.
Ravi não se opôs, sua mãe se preocupou com o nosso jantar
de ano novo, mas prometi que nos virávamos.

Nós dois escolhemos um filme e fizemos fondue de queijo e


chocolate.Cortamosalgumas frutas,
pegamos um brownie e para o
de queijo, pegamos torradas,batatascozidas e carne. Bebemos
suco de laranja, que eu fiz, estava delicioso.

Quando acabamos de comer, ele veio deitara cabeça no meu


colo e ergueu a minha blusa, deixando um beijo no meu ventre.Um
arrepio estranho correu meu corpo, ele vivia fazendo isso
ultimamente, como se pedisse ao universo.
— Para com isso — pedi, estranhamenteirritadae ele me
olhou confuso — fica fazendo isso como se resolvesse —
resmunguei.
— Sempre fiz isso — ele falou sem entendere eu respirei
fundo — que foi?
— Nada.
— Pensei que estivéssemostentando— ele falou.Eu fecheios
olhos por um minuto e corrias mãos no rosto— está tudo bem?
Está estranha desde cedo.
— Eu to cansada. E não quero mais tentar— falei de uma vez
e ele se sentou — não acho que estamosprontos.Quero voltara
tomar a pílula, quero me sentir segura de novo.
— Por quê? — ele perguntoumais baixo e eu engoli amargo,
parecia haver um bolo na garganta.
— Porque eu não sei se você está preparado,também. Toda
semana brigamos, pelo menos uma vez no mês você tem uma
recaída,isso quando não fica uma semana inteirasem conseguir
parar... Fora que quando está tentandonão recair
, sofrecom os
sintomas de abstinência. Nunca estamos em paz. Eu não sei se
aguento segurar essa barra. — falei angustiada e ele ficou me
encarando, sem conseguir me dizer algo — eu queria que você
procurasseum especialista,que cedesse aos medicamentospra te
ajudar com as crises de abstinência, que fosse mais responsável
com a terapia. Estou aqui por você, eu te amo muito, Ravi, mas
desse jeito, eu não acho que vamos ser bons pais.
Ravi ficou me encarando, não queria teressa conversa, era
óbvio. Ele chegou para mais pertoe segurou meu rostoem suas
mãos, depois pressionou nossos lábios, os roçando suavemente.
— Eu te amo muito, vida — ele falou baixinho, roçando nossos
lábios e dando beijos carinhososem mim — se você acha que não
está pronta, podemos esperarmais um pouco. Não quero brigar
.
Quero muito viver tudo com você, só com você, to louco pelos
nossos filhos, pelo nosso futuro...Mas quero que você esteja
ansiosa por isso também, não angustiada e com medo.
— Obrigada por me entender — falei meio amuada.
— Eu te amo mais que tudo, você sabe disso — ele falou, me
encarando e eu cheguei mais pertodele, acariciei seu rostoe me
aproximei para beijar seus lábios.
— Eu te amo também — falei e ele soltou o, ar
aliviado.

Brindamos ao ano novo e transamosno sofá, sem o menor


medo de sermos pegos. Estava tão gostosa, a nossa transa.Ele
estava carinhoso, ficamoscoladinhos no sofá, não querendo fazer
muito barulho. Nosso beijo estava sincronizado, as estocadasdele
eram quase lentase eu estavatão excitada,com muito tesão.Ravi
parava vez ou outrae descia beijando meu corpo todo, queria me
deixar à beira do abismo, para me enlouquece e voltava, me
segurando firmeno pau gostoso. E assim ele fez. Choraminguei
desesperada quando aconteceu finalmente,me segurei toda nele,
escondi meu rostoem seu pescoço e no meio das minhas ondas de
prazer intenso, comecei a sentir o sêmen dele dentro de mim,
enquanto ele estremecia e gemia tão gostoso.
Ficamos pelados no sofá, fizemos amor mais duas vezes,
mesmo cansados. Na última, acabados de ladinho, ele me
segurando toda, os dedos habilidosos no meu clitórissensívele eu
todapreguiçosa, uma mão em sua nuca, acariciandoe puxando seu
cabelo. Ravi gemia todo manhoso, dava beijos molhados no meu
pescoço.
— Eu amo fazer amor assim — ele falou carinhoso, me
arrancando um riso — eu amo você toda, essa sua boceta
maravilhosa... Cheia da minha porra.
— Porra, Ravi — eu reclamei e ele deu um riso maroto,
aumentando as investidas.
— Toda melada de mim — ele voltoua dizer e eu grunhi com o
beijo gostoso sob minha orelha — já quer gozar de novo, vida?
— Quero — sussurrei,apertandoos olhos e abri mais a perna,
entrelaçando na dele.
— Não quer gozar na minha boca dessa vez? — ele perguntou
cheio de manha, me fazendo delirar — ia ser tão gostoso, não
acha?
— Meu Deus, amor — eu sussurrei.Ravi encontrouum ponto
sensível no meu clitóris,que parecia me adormecer as pernas,
incendiando tudo no meu ventre. Dei um grito sem querer
,
estremecendo toda e ele gemeu rouco, me segurando.
— Vou te deixar gozar no meu pau, mesmo louco pra chupar
essa boceta gostosa, que é só minha — ele sussurrouno meu
ouvido e eu dei um gemido longo, choramingado. Joguei a cabeça
para trás,me senti escorrermuito, desesperadae ele não parava a
caríciaardente,maravilhosa e dolorida ao mesmo tempo. O pau
gostoso dentro de mim me estimulava toda, eu estava
completamenteperdida, louca, gozando do jeito que ele adorava
ver, sem controlede nada, o melando inteiro.Me contorciinteira,
adorando o alívio pairando sobre meu corpo. Dei um grunhido
satisfeitoe Ravi continuou metendo sem pressa, beijando meu
pescoço e quando virei o rosto,começamos um beijo profundona
boca, ficamosassim até ele chupar meu lábio inferior
, estremecer
e
gozar, dessa vez mais contido, me segurou para ficarfir
me dentro,
afundou o rosto em meu pescoço e aproveitou seu orgasmo.

Na manhã seguinte, eu acordei depois dele, que estava no


banheiro escovando os dentes.Mas a primeiracoisa que eu precisei
fazer
, antes mesmo de fazer xixi, foi vomitar
. Foi muito forte,o
estômago chegou a doer. Foi tão angustiante, que quando
finalmenteacabei, baixei a tampa do vaso e me sentei, apoiei os
cotovelosnos joelhos e corrias mãos no rosto,indo até os cabelos
e apoiei a cabeça nas mãos.
— Estátudo bem? — Ravi perguntou,o tom de voz saiu meio
gélido, assustado. Eu balancei a cabeça, não sabendo se estava
assentindoou negando. Ele cuspiu a pastade dente e enxaguou a
boca. Depois se abaixou em minha frentee levou dois dedos sob
meu queixo, me fazendo erguero rosto.Não consegui segurarao
olhá-lo. Eu o amava, mas o sentimentonão era só alívio e coisa
boa. Meu amor carregavamuita insegurança, muito medo, muita
incerteza. Faltava confiança, faltava muita coisa para torná-lo
genuíno e saudável. E tudo que faltavamelhorar , estava forado
meu alcance.
Eu passariaa vida toda aceitando isso? O vendo se destruire
voltando porque eu o amava tanto?
Há tempos eu não respirav
a com alívio, vivia esperando o
momento de tudo desandar outra vez.
— A menstruaçãotáatrasada ? — ele perguntou,mas ele sabia
o meu ciclo. Neguei com a cabeça, poderia vir daqui a alguns dias
— está desconfiada de algo? Por isso aquela conversa ontem?
— Estou rezando pra não ser nada — eu sussurreie ele me
encarou — foi muito irresponsável da nossa parte achar que
estávamos prontos pra isso. Estou repetindo o mesmo erro dos
meus pais.
— Para com isso, vida — ele falou, correndoas mãos dos
meus joelhos até as minhas coxas — se estiver
, vamos fazerser
incrível.
— Sei — sussurrei,me sentindo travartoda, querendo muito
me encolher e chorar
.
— Eu promet o pra você. Vai ser perfeito.Vamos ter um
menininho e depois uma menina — ele falou tentando parecer
animado e as minhas lágrimas escorreramgrossas, eu funguei e
não consegui dizer nada.
— Não me sintopronta— eu sussurreium tempodepois, a voz
saiu toda cortada.
— Vou reconquistar tua confiança — ele falou cheio de
convicção e eu chorei mais. Como ele fariaisso, se se recusava a
mudar, a se tratardireito?— vou te provar que seremos felizes
juntos, que o seu perdão valeu a pena.
— Tomara, Ravi — eu falei, a voz abafada pelo choro —
porque eu não suportaria passar por nada daquilo de novo.
— E não vai. Porque eu te amo muito.
— Estouapavorada — sussurreie ele me puxou, caiu sentado
no chão e me colocou sentada em seu colo. Ficamos abraçados até
que eu ficasse mais calma.

Lavei o rosto e escovei os dentes, fiz xixi, estava muito


apertada.Depois voltei para a cama. Ele desceu, dizendo que me
trariacafé na cama. Sozinha no quarto,tive vontade de ligar para
Marina, dizer que, se estivesse positivo, eu tentariatirar
, porque
estava apavorada. Ela fez uma vez, soube que conseguiu os
remédios com um primo médico e ele ainda passou outrospara
alguma eventual complicação e dor.

Mas qual o sentido? Eu deixei acontecer , eu parei a pílula


conscientedo que estavatentando.Respirei fundo. Cruzei as mãos
em cima da barriga e relaxei sobre a cama.

Eu já estavacom vinte e cinco anos, não estavanova demais


para ser mãe. Além do que, Ravi também não era um adolescente.
Nós dois, mesmo no meio do caos, quisemos tentar. Se eu estiver
mesmo grávida, teriaque pensar com responsabilidade.Não foi por
descuido, não seria uma notícia inesperada. Deveria ser uma
descoberta feliz, eu deveria sentir que foi o nosso desejo se
realizando.

Mas estava me sentindo tão pequena e sem chão...


C 18
RaviFerrari

Todos já haviam notado que Denise estava estranha,mamãe


me lançava olhares significativose dizia que eu estavaperdendo a
minha mulher. A sensação que me dominava era medo e raiva. Eu
sabia dos meus erros,não estava me inocentando, mas detestava
quando alguém minimizava o meu amor.
Fiquei sozinho no deque, fumando um cigarroatrasdo outro,
até que todos estivessemprontospara irmos embora. Eu e Denise
iriamosde lancha para a marina e de lá, voltaríamos
de carropara o
Rio. Meus pais voltariam de helicóptero.

Ela, Denise, estava ainda mais impaciente, angustiada, desde


os enjoos aquela vez. Eu a olhava e evitava dizer algo, para não
começarmos a brigar. Eu queria isso, sabia que ela era a mulher
certapara sera mãe do meu filho,por tudoque sentíamo s, por tudo
que ela representavapara mim. Nunca haveria outra,eu sabia, no
mais íntimo comigo mesmo que jamais amaria outramulher como
eu a amo. Sentia que isso seria a cola para nossa relação, a força
maior que enterrariade vez toda a mágoa dela, porque eu me
esforçaria, seria um cara melhor
, seria um bom pai.

E mesmo depois de deixar rolar por meses, ela agora deu essa
de não querermais? Soltei o ar, exalando toda a fumaçado cigarro
e o apaguei no cinzeiro do balcão, soltando ali ao ver Denise se
aproximar. Ela passou os braços em volta do meu corpo, se
aninhando e eu passei um em volta da sua cintura,não disse nada.
Estavaansioso, querendo, mas ao mesmo tempo preocupado. Não
a queria infeliz se estivessegrávida, queria que fosseperfeitopara
nós dois.

Meus pais vieram avisar que já estavam indo e logo depois


Mari ligou, dizendo que estavam vindo pra cá esta tarde,se não
queríamosadiar a volta para aproveitarmoso dia amanhã entre
amigos.
Denise ficavame olhando, porque se isso fosseincluir Chiara,
ela iria dispensar, eu tinha certeza.Não esperei sua intervençãoe
avisei que ficaríamos, nos encontraríamos amanhã.

Ela então voltou para o quarto e se trocoupor um biquini.


Analisei o corpo, se daria para notaralgo diferente,caso aquele
enjoo quisesse dizer gravidez. Um arrepiocorreua espinha, meio
que me assustando, eu queria, talvez ela quisesse. Mas uma
realidade me fezpensar... E se não conseguíssemosnos entendere
tivéssemos um filho?

Nosso sexo era o único ponto que continuava perfeito,sem


nenhuma rachadura. Mas todo o resto precisava ser restaurado.
— Vai ficarassim até quando? — perguntei, jogando meu
celular na cama e me sentei — pra que eu consiga resolver, vida,
você precisa me falar
. Se calar e ficardesse jeito não ajuda em
nada.
— Só estou com medo — ela falou baixinho — não acho que
você possa resolver
.
— Você precisaconfiarem mim — falei insistente— se estiver
grávida, e daí? Nós não queríamos isso?
Ela ficou calada, me encarando e eu suspirei. Deixei o corpo
cair deitado na cama e cobri os olhos com o antebraço,não iria
insistirnessa conversa, estávamos sozinhos por aqui. Havia os
empregados, mas era um motivo a mais para evitar briga.

Espereio humor dela melhorare me troquei,vestiuma sunga e


descemos para almoçar. Depois ficamosna área da piscina, onde
tenteibrincarsobre estarbem sem nenhuma bebida. O que não era
verdade, mas eu estava firme em ficar limpo.
— Em compensação não para de fumar— ela resmungoue foi
para a espreguiçadeira. Eu a olhei e neguei com a cabeça.
Preparei um drink para ela, sem álcool, claro. De qualquer
maneira, Denise não recusou. Eu bebia água de coco. O que eu
queria mesmo era virarum copo de uísqueatrásdo outro,mas não
poderia perder a linha.

Dei um mergulho e a chamei para a piscina, mas ela estava


assim, mal humorada e dura comigo. eVio e se sentou na beirada da
piscina, colocando as pernas para dentro.A água estava morna,
aquecida, então não teria do que reclamar
.
— Saudade de passarum tempo sozinho com você — eu falei
e ela suspirou, trazendouma mão para o meu rosto— de ficarmos
bem.
— Se você facilitasse, ficaríamos — ela retrucou e eu assenti.
— Prometoque nesse ano vai ser tudo diferente— eu falei,
depositando um beijo em sua coxa. Dei um sorrisosafado e dei
outrobeijo, subindo e puxei a calcinha do biquini para o lado. Dei
uma lambida longa na boceta e ela se contorceu.
— Alguém vai nos ver — ela sussurrouexasperada e eu ergui
o rosto. Olhei rapidamente ao redor , mas havia apenas uma
funcionáriapassando para dentrocom roupas de cama nas mãos,
ninguém iria nos bisbilhotar
.

Puxei os laços laterais da calcinha do biquini e tirei dela.


Denise me encarou estupefata, mas eu sabia que iria adoraro que
eu queria fazercom ela. Abocanhei a bocetacom vontade, cheguei
a grunhir ao afundara língua nela, que cedeu e abriu as pernas.
Lambi entre os lábios íntimos e mordisquei.
— Estava gostoso — ela sussurrouquando parei por um
momento e eu passeei a língua, indo até o clitóris e chupei de leve.
— Tira a partede cima — eu mandei e ela fez uma careta
brava — então não vou chupar .
— Ravi... — ela reclamou dengosa, mas puxou os laços do
biquini e o tirou. Depois olhou ao redor para ver se não havia
ninguém. Voltei a chupar do jeito que a deixava louca, cada vez
mais lubrificada.Denise gemia, me deixando louco de vontade.Tirei
minha sunga e joguei junto com o biquini dela. Comecei a esfregar
meu pau, era gostoso demais vê-la se perdendo refémda minha
boca. Ela apoiou o corpo nas mãos, inclinando para tráse abriu
mais as pernas, a olhei, toda nua, escancarada, entregue.
Ela foipega de surpresaquando a puxei para dentroda água e
se agarrouao meu corpo. Começamos um beijo gostosoenquanto
eu a penetreifundo. Ela emaranhou os dedos na minha nuca, se
segurando em mim e nossos lábios estralaram,ela lambeu o meu
inferior e mordiscou levemente.
— Te amo — sussurrou,me deixando cheio de alívio, de paz.
Continuei metendo devagarinho.
— Diz de novo — pedi e ela gemeu choramingando.
— Te amo muito — ela repetiue eu voltei a beijá-la. Depois
escorregueios lábios pelo pescoço, segurei seu cabelo para beijar
em direção a nuca. Ela estava toda agoniada, talvez louca para
gozar, mas eu não queria que terminássemosagora. Fui com ela
para a partemais rasa da piscina e me sentei, a colocando por
cima.
Denise começou a quicarno meu pau, tãoexcitadaque soltava
gritinhos deliciosos, eu estava louco de tesão.
Abocanhei o seio, sugando o mamilo e ela jogou a cabeça para
trás,deu uma rebolada gostosa e um gemido áspero. Ela gozou
toda gostosa, contraindoe gemendo, até que relaxou sobre meu
corpo. Abracei seu corpo e ela continuou rebolando, até que foi a
minha vez.

Ficamos agarradospor um momento, mas ela me roubou um


beijo e foipara a partemais funda da piscina. Fui atrás.Ficamos um
tempo na água, pelados e aproveitandoo tempo sozinhos. Eu pelo
menos, aproveitei o tempo sem a tensão de antes.

[...]

Nossos amigos chegaram pouco antes das onze da manhã,


deixaram Chiara com as crianças. Mari exibia o anel de noivado que
Fred deu e Denise admirava. Pensei se ela não queria isso também,
que nos casássemos, déssemos uma festapara provarao mundo
nosso amor.
— Estãobem? — Jordana perguntou,se escorandoao balcão
e eu, que estava sentado no banco alto a olhei — sinto que estão
menos nebulosos...
— Estamos bem — falei meio incerto.
— E você e Chiara?
— Não existeeu Chiara — falei rapidamentee baixo. Jordana
me cerrou os olhos e eu suspirei.
— Achei que gostasse dela também — ela provocou, me
fazendorirdesanimado. Não odiava Chiara, mas não havia nenhum
sentimentoamoroso no meio. O que nós dois fizemos foi sujo, iria
ficar no passado.
— Mas eu amo a Denise.
— E a históriado bebê? Estãomesmo preparadospra ter um?
— ela perguntoudocementee eu aperteios lábios, mas balancei a
cabeça, confirmando.Jordana não era de se intromete r muito na
vida alheia, mas parecia preocupada. Eduardo, ciumento que era,
logo veio e abraçou a amada por trás.
— Vocês não estavam preparadose estão adorando — eu
provoquei e Eduardo fez uma careta confusa — to falando da
Helena.
— Estou amando tanto que quero mais — Edu falou.
— A mãe de Edu acha que seria legal vocês dois fazerem
terapiade casal — Jordana disse — ela fez com Danilo. Depois do
episódio todo de eles não se entenderem por causa da minha
gravidez e tudo mais.
— Vão pagar pra poderem trocarfarpas— Edu presumiu e
Jordana riu, negando com a cabeça.
— Vão poder jogar as mágoas para fora e um profis sional
capacitadovai saber aconselhar— Jordana explicou — acho válido
tentar
.
— Vou pensar sobre isso — falei vagamente.
— Você tem sorte,Ravi — Jordana disse e eu a encarei —
porque ela te deu mais chances, sabe? Se Eduardo me traísse, eu
não voltaria com ele. Se Fred traísse a Mari, ela trairia de volta...
— Eu me arrependo, Dana — falei baixo, me sentindo
sufocadopor essa conversa— não queria tererradotantocom ela,
sei que ela não merece.
— Só quis dizer que as pessoas parecem destinadas às
pessoas certas — ela comentou — soube que Edu quis chamar Mari
pra sair
, antes de me conhecer?
— Fred contou isso e ela ficou azeda de ciúme — Eduardo
falou, começando a rir e Jordana fez uma careta — Ravi se
interessou por você, não sei se está lembrada.
— E você nos seguiu — eu lembrei, começando a rirtambéme
Jordana revirou os olhos.

Tivemos polvo para o almoço e Denise não conseguiu nem


ficarna mesa. Ela já não gostava do pratoem tempos comuns,
agora então... Peguei o olhar desprezível de Marina em mim,
quando se deu contade que a amiga saiu para vomitar
. Eu ia atrás
dela, mas Jordana quis tomar a frente.
— Ela está grávida? — Fred perguntou num sussurro
exasperado, depois que Marina seguiu as outras duas. Dei de
ombros — Chiara sabe?
— Chiara não tem lugar nessa história,cara — Eduardo falou
impaciente — e se tiver
, de novo, vou quebrar os dois.
— Sério, cara,a gentenão precisaficarteaconselhando sobre
serfiel— Fred falou— ainda mais se ela estivergrávida. Você acha
que Marina iria engravidarsó porque eu quero? — ele perguntoue
negou com a cabeça — você temsortecom ela, faztudoo que você
quer.
— Acho que o problema dela é esse — Marina falou ao voltar
,
e se sentouao lado de Fred de novo — fazo que você quer, teama
demais, não solta a sua mão. E o que recebe em troca?
— Como ela está? — perguntei.
— Bem... Jordana entende de enjoos, as deixei lá — ela
revirou os olhos.
— Acha que se Denise estivergrávida, Jordana vai quererde
novo agora? — Edu perguntou descontraído.
— Não é parque de diversões,Edu — Mari faloupara ele — se
acalma e espera. Helena não completou dois anos ainda.

Denise voltou com Jordana. Tentei amenizar o peso dos


sintomas,quis deixar claro para todosque era o que queríamos,se
aconteceu, era uma benção, nosso desejo se realizando.
C 19
Denise Malta

O positivo no exame de sangue não era uma surpresa,mas


caiu como uma bomba no meu coração. Me sentia culpada,
apavorada. Rezei tantopara não ser, queria tantovoltarno tempo e
ter sido mais realista.
Meu relacionamentonão estava bom e eu nunca achei que
filho fosse clínica de reabilitaçãopara relacionamentoruim. Ravi
estava em outra cidade, em uma audiência. Enviei uma fotodo
exame, focando bem no positivo.
Deveria estar em festa? Comemorando?

Ravi iria mudar mesmo? Se tornariaum bom parceiro, eu


conseguiria confiarnele? Outrodia Jordana disse sobre um amor
tranquiloe bom, que tinha a sensação gostosade poder fecharos
olhos e se jogar para Edu, que ele sempre estava lá fazendo tudo
que ela queria, ninguém tinha o direitode questionara segunda
chance que ela deu para ele, ela confiava nele como seu melhor
amigo. Não era à toa que Ravi e Fred queriam imitar o
relacionamentodos dois. Eduardo era tipoum devotodela, a amava
e queria tudo com ela o tempo todo.

Fred queria, mas Marina tinha outros planos.

Eu queria, Ravi queria, mas era todo complicado.


Não conteipara ninguém além dele a confirmação,mesmo que
todos já esperassem. Entre
i em uma padaria e me sentei numa
mesa, pedi um suco, fiquei olhando para o copo, me sentindo tão
vazia, tão sem reação. Comecei a pensar cruamentesobre tudo
isso. Ele não queria uma vida ao meu lado. Ele não queria casar
comigo. Ele me pediu um filho, queria me terpresaa ele, queria que
tivéssemos um bem maior para que terminar se tornasse uma opção
distante. Para que tivesse algo maior para pôr à frente do seu vício.

Comecei a me preocupar . Agora que ele já tinha o que queria,


eu estava finalmente grávida, iria recair mais uma vez?

Voltei para casa e fiquei sentada ao sofá, encarando o papel


em minhas mãos. Minha tia chegou e pegou o exame, me
encarandocom um ar estranho,era pura decepção. Tudo pareciase
apertar por dentro de mim, eu não sabia o que fazer
, o que dizer.
— Ele já sabe? — ela perguntoue eu assenti — como você
está?
— Sei lá — falei confusa e ela se jogou ao meu lado no sofá.
— Jordana engravidou e só se deu bem, né? O homem mudou,
se converteu, a ama...
— Não acho que Ravi seja condescendentecomo Edu — falei
angustiada — não vou me iludir
.
— Você tentou, Dê. Quis isso, não foi?
— Fui equivocada — sussurrei — mas agora já está feito.
— Ele disse o que? — perguntou e eu neguei com a cabeça.
— Estáem audiência em outracidade. Mas já esperávamos—
falei desinteressada.
— Tenta se animar... — ela falou carinhosamente— vai dar
tudo certo.

Tentei relaxar, tomei um bom banho e vesti um pijama


confortável.Ravi chegou no começo da noite, me trazendoflorese
chocolates. Nos abraçamos e ganhei um beijo profundoe longo,
promessasde amor que eu já não esperava que ele fossecumprir .
Depois ficamos agarrados na minha cama.
Ele notou que eu não estavafeliz. Não como deveria e eu me
sentia culpada por isso. Mas também não tocou nesse assunto.
Fingi ter pegado no sono e ele deixou um beijo na minha têmpora,
se levantou e saiu do quarto devagarinho.
Soltei o ar, me sentindo tão fracae impotente.Eu deveria ter
terminadocom ele, não caídonas suas promessasque eu já sabia
serem falsas. O que eu tinha na cabeça pra tentarengravidarse
sabia que não estávamos bem?

Saí do quarto,mas parei no corredorao ouvir minha tia e Ravi


conversando. Falavam baixo, mas dava para ouvir.
— Acha que devo fazero pedido? — ele perguntou,parecia
meio incertoe eu me encostei na parede, não queria ser vista— eu
esperava que ela fosse ficar mais... feliz.
— E você está? — tia Carol indagou e eu engoli pesado. Ravi
deu um suspiro audível antes de dizer:
— Preocupado. Como disse, achei que ela ficariamais feliz, só
queria que ela passasse por cima de tudo, me desse uma chance.
Mas uma chance real. Que não ficasse com medo, sempre
melindrosa... Não acho que ela esteja errada,sei que eu pisei na
bola, que tenho sortede Denise me amar e não me deixar, mas
achei que iríamoscomemorar mais, que seria a notíciadas nossas
vidas...
— Acho que vocês têm que pensar no bebê agora — ela falou
para ele — pensar nele antes de tudo.

Voltei para o quartome senteina cama. Quase escorregueias


mãos para o meu ventre,mas estava tão culpada e receosa, que
voltei e encolhi as mãos no pescoço. Ravi veio para o quartoe se
sentou ao meu lado.
— Já sabe como contaraos nossos amigos? — ele perguntou
e eu suspirei, virando o rosto para ele — relaxa, vida — ele
reclamou — isso vai ser incrível.
Não consegui dizer nada. Só cheguei para pertodele e me
aconcheguei no seu abraço. Ravi contou que passaria a semana
fora resolvendo tudo desse caso, mas nos falaríamos o tempo todo.
— Se desse, eu adiava — ele resmungou — não queria perder
nada desse começo...
— Tudo bem — eu falei — filmo tudo, se puder, e mando pra
você.
— Se anima, vida — ele pediu insistente— confiaque vai dar
tudo certo. Pro nosso bebê e pra nós dois.
— Tá — falei, como se quererfossea forçacapaz de fazê-lo
não recair
. Mas decidi não ser tão pessimista.
— Mamãe vai adorar — ele falou, se divertindo.
— Vou ligar pros meus pais, pra contarlogo — eu falei e ele
afagou minhas costas— depois dessa, você vai terque conhecero
meu pai.
— Vou, não estou fugindo — ele deu um riso — tomaraque
seja um menino.
— Não tenho preferência.Mas se formenina, eu escolho o
nome — eu decidi e ele apenas concordou.
Falamos um pouco mais sobre a gravidez e eu consegui ficar
mais tranquila, romantizar e comemorar um pouco o momento.

Fomos almoçar com os pais dele no meio da semana, quando


ele conseguiu voltarpara o Rio e eu prepareiuma surpresapara
eles, anunciando a chegada do primeiro neto. Ravi parecia
orgulhoso de si mesmo, me beijava o tempo todo e fazia promessas,
como sempre. Nada que conseguisse me arrancara sensação de
peso, o peso de saber o tamanho da loucura que havia cometido.
Era como se eu soubesse que tudo cairia apenas no meu colo.
E eu não poderia e nem queria fugirda responsabilidade.Já estava
me acostumandoe me apegando ao bebê, que não devia ternem o
tamanho de um grão de feijão.

Silvia abriu a caixa com o sapatinho e pegou a cartinha,que


havia escrito:
“Vovó e vovô, preparem o colinhoque daqui a nove meses
estou chegando. Já amo vocês!”

Ela pareceu mais chocada do que feliz. Quer dizer, ela queria
muito um neto, mas quando me via completamente louca e
apaixonada por Ravi, a mulher capaz de tudo por ele. Alguma coisa
havia esfriado.Eu estava lidando com a realidade dura de que
minha vida passou a girar demais em torno apenas de Ravi.
Praticamenteabandonei meu trabalho,não focava em mais nada,
era só ele, ele e ele. E preocupações sobre ele. Era como se eu
estivesseme cansando de me anular em prol de uma cura que não
existia. De amar demais e esquecer que só amor não salva
ninguém.

Não achei Vincenzo animado também, mas qualquer pessoa


que visse o perfil de casal que eu Ravi éramos, ficaria receoso.

Minha sogra logo começou a fazer planos, iria querer um


quartopara o futuronetoaqui, bem como Nora fezcom Jordana. Eu
dava sorrisosamarelos, querendo ser contagiada genuinamente
com essa sensação de esperançaque ela resolveu se dar, mas eu
olhava para Ravi e só me perguntava quando seria a próxima
recaída.

Depois do almoço, encontrei July e passamos uma tarde


juntas.Ela era bem ácida, mesmo sem querer
. Disse cruamenteque
eu quis isso, deveria apenas comemorar . E se eu e Ravi não
déssemos certo,e daí? O homem era milionário e pelo que via dos
amigos dele, não faziao tipoque seguravadinheiro. Fome meu filho
não iria passar
, pelo contrário, viveria no luxo.

Mas o ponto não era esse. Mesmo não sendo milionária, eu


poderia dar assistência ao meu filho se ele fugisse da
responsabilidade.Era só que eu não estavafazendo filho para isso,
em algum momento, perdida no meio dessa bagunça toda, eu nos
imaginei uma família feliz, sem problemas com vício e sem
infidelidade. Ou talvez no meu subconsciente, no mais íntimoe
quase involuntário,eu imaginei que não iria acontecer
. Achei que
ficaríamos
na espera, ele tentando não recair
, mesmo que recaindo
e esperando o tão sonhado bebê.

Na primeira consultacom o obstetra,


Ravi foi comigo. Nós dois
ficamos apreensivos, fiz a primeira ultrassonografia tra
nsvaginal.
Era uma gravidez recentede apenas seis semanas. Peguei as guias
com todos os exames e tentavapareceranimada, empolgada e
feliz.

Demos uma voltano shopping, ele se empolgou e comprouum


bory para o bebê, disse tercertezaque era um menino. Depois
fomos comer alguma coisa.
— O que te faz acreditarnisso? — perguntei presunçosa,
quando chegamos ao restaurante.
— Intuiçãode pai — ele faloutriunfante,
tãobonitoe eu dei um
sorriso fraco — como você está?
— Bem... Me acostumando— falei solene e ele me observou
por um momento.
— Já disse que não precisa ficarinsegura — ele falou e eu
assenti — que eu não vou decepcionar você.
— Tá, eu sei — falei rapidamente.
— Vamos amar esse moleque, vai ser incrível, vida — ele falou,
esticando o braço e entrelaçou nossas mãos.
— Vai, sim — eu suspirei.
— Eu te amo muito — ele sussurroue eu dei um sorrisofraco.
Um garçomchegou com o cardápio. Ravi escolheu uma salada com
vieiras e eu escolhi lagosta. Serviram canapês de entrada e eu
amei. Ravi disse que era desejo, mas eu duvidei.

Ficamos conversando besteiras, ele empolgado com a


gravidez, aliviado que não tínhamos nenhum problema de
infertilidade.
— Já consigo até pensar nos nomes — ele falou, dando esse
sorriso safado que eu amava — Davi ou Bernardo.
— Não vai homenagear seu pai? — pergunteie ele deu de
ombros. Houve uma conversa assim outra vez.
— Pode ser, não pensei — ele falou tranquilamente— e vou
ser amigo dele, como eu e meu pai não fomos.
— Não fiqueidealizando demais, pode seruma menina — eu o
alertei.
— Vou amar se foruma princesinha, do mesmo jeito — ele
falou tendencioso e eu balancei a cabeça — como vai querer
chamar, se for ela?
— Não sei... — falei vagamente — vou pensar com carinho,
quando chegar a hora.
— Eu teamo — ele sussurroue eu aperteios lábios, querendo
sentir a certeza nisso, como sentia antes.
Dei um suspiro impaciente ao ver Jordana e Chiara chegando
ao restaurante.
Logo atrásestavam Edu e o filho de Fred. Os dois
andavam bem próximos, desde que Bruninho deu um beijo em uma
garotae Fred ficou neurótico.Entãoele buscava apoio em Eduardo.

Bruninho veio falarcom Ravi e falou comigo, parabenizando


pela gravidez.
— Agora meu pai fica doido, Mari não quer dar um bebê pra ele
nem tão cedo — ele falou divertido e eu dei um riso.
— Edu não fica muito atrás.Há um tempo tínhamosdecidido
não quereroutrofilho tão cedo, eu pisquei e Eduardo mudou de
ideia — Jordana falou ao chegar. Olhei para ela e para Chiara ao
seu lado, apenas acenei educadamente.
— Por ele, vocês têm um bebê por ano, Dana — Bruninho
falou para ela.
— Nós combinamos três— Eduardo se defendeu — como
vocês estão?
— Bem... Denise acabou de terum desejo — Ravi contoue eu
revirei os olhos.
— Não foi um desejo — eu retruquei.
— Quando é desejo, você vai comer e vomitartudo — Jordana
falou e eu olhei para Ravi, fazendo uma careta óbvia.
— Viu? Jordana é experiente — eu falei para ele.
— Ficam pra almoçar conosco? — Ravi perguntou. Jordana me
lançou um olhar de desculpas, mas neguei com a cabeça, estava
tudo bem. Eles se sentarame logo o garçom veio de novo, para
pegar os pedidos.

Eu estava quieta, ainda mais quando os outrostrêstinham


muito assunto, pareciam se divertirmuito com o início da vida
amorosa de Bruninho.
— Fred fica tão louco com isso — Jordana sussurrou para mim,
que a olhei — acha que Edu é uma péssima influência...Ele queria
que o filho fosseromântico— ela fez uma caretaengraçada e eu
comecei a rir
.
— Eles trêse todo o comboio não são exemplo pra ninguém
né.
— Ah, Edu até que faz por onde — ela deu de ombros,
defendendo o noivo — e Fred sempre foi um cadelinho da Marina.
— Só Ravi que não muda — eu resmunguei.
— Desculpe, não quis dizer isso — ela falou baixinho e eu
neguei com a cabeça. Não dava para negar o óbvio — ele tem uma
chance a mais agora, com o bebê.
— Será? — perguntei e apertei os lábios.
— Helena quem mudou Edu — ela deu de ombros e eu
suspirei, angustiada.

Eu dispensei a sobremesa e Ravi perguntouse estava tudo


bem. Falei que sim, não precisávamos sair correndo.Jordana ficou
perguntandosobre a gravidez, mas era tão recenteque não havia
muita novidade. E eu não queria externartodo meu arrependimento
por tertentado. Estava focando apenas na parteboa. Eu teriaum
bebê para chamar de meu e daria todo amor possível para ele.
[...]

Meu pai veio ao Rio para conhecer o pai do meu bebê, mas o
encontronão foi nada como eu queria. Descobri um grupo onde
estava Ravi, Chiara, mais duas mulheres e uma delas enviou um
vídeo pornô. Tudo estralav a por dentro, a língua tinha estalos
doloridos. As duas conversavam, reclamavam que Ravi não
respondia e zombavam sobre ele querer ser homem de família.
Chiara logo começou a mandar fotosdo seu estoque de uísques
caros, claro, isso iria subornarRavi, que estava tentando,como
sempre, não beber. As crises de abstinências eram cruéis, eu
condenava que Chiara soubesse da doença dele e usasse isso a
seu favor
. Eu não deveria fazerisso, mas saído grupo e deixei lá a
conversa para ele ver o que eu havia feito.Bloqueei o celular e
deixei onde estava.Fui retocaro batome volteipara a cama, estava
me sentindo cansada esta noite.

Ravi saiu do banheiro já seco, pelado e o pênis estava


semiereto.Ele andava mais safado que o normal e eu ainda o
desejava, mas estava tão magoada que não queria dar esse
gostinho para ele.
O acompanhei com o olhar, ele foi até o closet, se trocoue
voltou. Usava uma blusa de malha pretade gola alta e um blazer
por cima. E calça jeans. Tão charmoso. Ele passou perfume e
depois um spray de menta na boca, sempre tentandodisfarçaro
cheiro do cigarro, que não largava nunca.

Encontraríamos
meu pai e Estela, sua esposa, no restaurante
que ele escolheu. Ravi pegou o celular e eu me levantei,
desentendidae fui me olhar no espelho. Usava uma calça jeans de
cinturaalta, a lavagem escura e uma camisa de linho, branca de
botões. Coloquei uma sandália alta de salto fino e os cabelos
estavamsoltos. Passeei a mão pelo ventreque ainda não mostrava
nada, era bem recente,de qualquer maneira. Ravi veio até mim e
me abraçou por trás,pegou o celular e posamos para a foto.Ele
escorregou a mão para o meu ventre e tirou outra.
— Te amo, amor da minha vida — sussurroue eu virei o rosto
para ele, que selou nossos lábios ternamente.
Chegamos no horáriomarcado e eu os apresentei.Estela já
conhecia Ravi por foto,me lançou um olhar significativoe depois
sussurrou que ele era mesmo bonitão.
Meu pai perguntousobre o bebê, expliquei que eram poucas
semanas ainda, não havia muito o que dizer. Ravi complementou
que estávamos muito felizes e animados, tentamos por meses.
— Sério mesmo? — meu pai perguntou surpreso, não
imaginava que havia sido planejado. Mas não havia nem o que
cobrar
. Não éramos nada próximos. A conversa rendeu, os dois
encontrarammuito sobre o que conversar
, o que foi bom. Era bom
que ele causasse boa impressão.

Reclamei que estava cansada logo depois da sobremesa,


porque meu pai e Ravi conversavam sobre esportesagora, sobre
tudo e poderiam demorarhoras. Então pedimos a conta e fomos
embora.

Ele falava animado, arrependidopor não terconhecido antes,


mas essa culpa era exclusiva dele. Eu estavapreguiçosa,fui para o
banho, tireia maquiagem e hidrateio corpo. Eu não abria mão de
dormir bem limpa e cheirosa e ele acabou pegando o costume.
Deiteina cama dele, enrolada no roupão e quando saiu do banheiro,
Ravi também não se deu o trabalho de colocar uma roupa.
— To muito preguiçosa hoje — eu avisei e ele veio, parou na
beirada da cama e eu me arrastei,puxei a toalha e coloquei o
membro na boca. Ele gemeu e eu comecei a chupar
, do jeito que ele
gostava. Dava lambidas longas e chupava a cabecinha,
pressionandoa línguana extremidade.Ele gemia descompassado e
quando engoli todooutravez, me seguroue ficouassim, gemendo e
adorando a sensação.
Depois puxou para foradevagar e veio por cima, puxando o
laço do roupão que me cobria.
— Me chupa — eu falei, antes que ele me penetrassee ele
procurou pela minha boca.
— Você gosta, né — ele sussurroue eu balancei a cabeça,
confirmando — quer gozar na minha língua...
— Quero — falei, tudo se comprimindo por dentro imaginando.

[...]
C 20
RaviFerrari

Coloquei Denise deitada na cama, quando acabamos e


estávamos satisfeitos,ela toda mole e relaxada. Só se deu o
trabalho de virar para o lado e puxar o edredom. Fiquei a
observando, que logo pegou no sono.

Mais cedo ela havia saídode um grupo que Chiara criou, com
mais duas amigas dela. Eu não havia respondido, sem tempo e
vontade para isso, mas havia visto as fotos das bebidas, me
tentando. Era inevitável, inexplicável a tentaçãodaquilo. Queria
poder fazersem culpa, sem me sentirum viciado, um doente de
merda. Mas não iria voltar
, recair. Precisavafocarno meu presente,
Denise estava grávida e não merecia que eu fizesse isso apenas
por não conseguir lidar com os meus demônios.

Eduardo dizia que se eu fosse mais claro com Chiara, desse


um bastadefinitivo,ela iria parar
. Parecia até não conhecera irmã.
O meu silêncio deveria deixar claro a minha recusa.

Os próximos dias seguiram corridos,eu estavaresolvendo um


caso em Teresópolis e acabei dormindo por lá duranteos dias úteis.
Mamãe quem enviou uma foto junto com Denise, na quinta-feira,as
duas foram almoçar juntas e encontraramPedro. Mal nos falamos.
Eu até tentavapuxar conversa nas horas vagas, mas basicamente
estávamos nos desejando bom dia e boa noite. Eu me sentia
culpado, insistinessa históriade gravidez como se assim fôssemos
conseguir consertartudo, traçarum caminho novo de momentos
felizes.Mas Denise não ficoufeliz,nem aliviada. Entãoeu sabia que
mamãe forçarmais proximidade com minha namorada, era para
tentarconvencê-la que não estava me amando tantoem vão. Que
éramos uma família.

Naquela noite, depois de avisar que ia dormir


, fui pego de
surpresapor Chiara, que só pode terme rastreado.Ela tinha uma
garrafade champanhe nas mãos e uma caretasafadade quem veio
completamentemal intencionada. Neguei com a cabeça, incrédulo
comigo mesmo, mas já me conhecia o suficiente,sabia que não iria
recusá-la.Pensar na bebida descendo pela gargantae o alívio que
viria no segundo copo me deixava ansioso, sedento.

Bebemos a noite toda, conversamos,mas eu deixei claro que


não ficariacom ela de novo. Atéa porcariado cigarroque eu estava
evitando, voltei com força.Me convenci de que aqui, pelo menos,
ninguém ficaria sabendo que eu fraquejei, que eu recaí.

Não sei em que momento tudo mudou. Me senti imundo, o


remorsode sempreme corro endo, mas depois de algumas taçasde
champanhe e boas doses de uísque, era como se eu não
respondessemais por mim. Era só um fracassadorefémdo álcool
falando. Achando que não poderia negar uma mulher como Chiara.
Nós dois sabíamos o jeito insano de transar , sem pudor e sem
limite. Uma voz gritava distanteque eu não deveria estaraqui,
precisava pegar estradacedo, tinha que estarno Rio pela manhã.
Pela madrugada, uma amiga dela nos acompanhou, trouxealgumas
balas, queria dar mais gás à nossa noite.
Eu não sabia se o fetichede Chiara era se agarrarcom outra,
ou me deixar louco vendo, me deixar dominá-las. Acabamos comigo
metendo em Chiara, que a essa alturajá estavaexcitadademais, a
bocetaescorriade tesão,a ruiva, Bia, a chupava intensivamente,já
havia aproveitado seu momento comigo.
Demos um gemido explosivo quando ela chegou lá, se
contorcendotoda, tinha estímulospor todosos lados. Ela arranhou
meu pescoço, na nuca, com força.A bocetacontraíano meu pau e
eu não resisti,estavatudo eróticodemais, mesmo com toda a porra
do remorso me rasgando, gozei quase junto com ela.
Como a cereja do bolo, Bia veio limpando tudo, tirou a
camisinha cheia e chupou meu pau, a boceta de Chiara toda
gozada.

Caí deitado na cama e cobri os olhos com o braço. Queria


poder pararmeus pensamentos turvos,poder desligar tudo, sumir
daqui. Chiara se vestiu com a minha camisa de botões e a outra
com o blazer. Me vesti com a cueca boxer e liguei na recepção,
pedindo mais um combo de bebidas. A noite seria longa.

[...]

Acordei morto de ressaca na manhã seguinte. Deveria ter


pegado estrada às seis, para chegar a tempo da consulta de
Denise, mas acordei quase meio dia, com ela ligando.
— Perdi a hora, amor — falei, a voz rouca e sonolenta. No
mesmo momento,Chiara saiu do banheiro, completamentepelada e
eu engoli o meu remorso.Era como tercaído numa armadilha que
eu poderia terevitado. Eu fiz por quê? Por causa da bebida? Essa
seria a minha justificativa?
Poderia terenchido a cara sem envolver
outramulher no meio. Em que momento eu achei que era uma
necessidade transar com outra?A trocode que? Beber sem culpa?
Pra que?
— Que pena, só não queria ir sozinha — ela falou baixinho.
— Vou pedir ao meu irmão pra te acompanhar, tudo bem? —
perguntei,tentandoparecercarinhoso — foi uma semana puxada
aqui, peguei no sono tarde, sequer ouvi o despertador
.
— Tudo bem — ela deu um suspiro — você está bem?
— To... — a voz chegou a travar e eu pigarreei — E você?
— Ansiosa... Mas sei que o doutorsó vai conseguir ver se é
menino ou menina mais pra frente. Oito semanas é muito cedo, né?
— To ansioso por isso — eu falei, vendo Chiara reviraros
olhos, em pé nos pés da cama.
— Acha que o Pedro vai se incomodar de ir comigo? — ela
perguntou— tia Carol não estáno Rio. E a sua mãe já se lamentou
toda ontem, tinha uns procedimentoshoje... Lá com a mãe de Fred,
não poderia adiar .
— Ele vai adorar— eu falei, me sentindo péssimo por fazer
isso com ela, de novo.
— Tudo bem, mas se ele não quiser, não o pressione.
— É o sobrinho dele — falei o óbvio.
— Ou sobrinha — ela replicou e eu dei um riso — sinto que
você vai dar chiliques se for uma menina.
— Não vou, não — eu reclamei — vai ser a princesa do papai.
— Tão fofovocê falando assim — ela falou carinhosamente,
fazendo meu coração ficarpequeno para caber tantaculpa — vou
desligar, pra não perdera hora. Pede ao Pedro pra me levar pra
almoçar também — ela falou petulante.
— Ele vai fazer o que você quiser — prometi— te amo, vida.
Mais do que tudo.
— Te amo, beijo.

Soltei o ar com forçae joguei o celular na cama. Olhei para


Chiara, que tinha uma caretasarcástica,mas ignorei e fui para o
banheiro.
Fizemos o checkoutno hotel e procureipor um restaurante na
cidade. Não gostava de ser grosseirocom Chiara, não poderia
condená-la quando eu cedia tão fácilàs suas provocações.Mas eu
precisei deixar claro que isso aqui entrenós dois e suas amigas
havia acabado. Não era mais tempo de diversão para mim. Eu nem
deveria terbebido, pra começar. Era tortuoso
passarpelas crisesde
abstinência,mas era terrível terque recomeçarde novo. Eu estava
sempre recomeçando e nunca chegava em lugar algum. A ressaca
estava me matando, dessa vez. Doía o corpo todo, um mal estar
como poucas vezes senti na vida. Ela, como sempre, não levou
nada do que falei a sério. Ficou zombando e falando sarcástica
sobre quanto tempo eu iria aguentar
.

Denise começou a mandar fotosdos exames e de algumas


vitaminas que o doutor passou para ela. Contou tudo sobre a
consulta, estava finalmente animada com a gravidez.
Pedro logo enviou mensagem me xingando todo, mas nem
retruquei,eu merecia, era fato. Ele encerrouo sermão dizendo que
eu mereciaque ela encontras
se outrocarae me largasse. Era o que
eu merecia realmente.

Mas eu iria mudar, realmenteconsertaras coisas e nós dois


iríamos dar certo.
Cheguei ao Rio e fui para o meu apartamento.Tomei um
banho, para arrancaro peso e o cheiro de traiçãoque estava
impregnado no meu corpo.
Depois fui encontrarEduardo e Fred em um bar. Não devia
beber, porque segundo Denise, era assim que começava, eu achava
que iria contro
lar e não contr
olava. Mas já estavana merda mesmo,
então acompanhei os caras em uma dose de uísque. Prometique
seria só esta, era acostumado a manobraros sintomasde ressaca
com mais álcool.
— Ela sabe que foi a última vez? — Fred perguntou,
arqueando as sobrancelhas em uma careta sarcástica.
— Não, mas... — eu resmunguei e peguei o olhar enojado de
Edu em minha direção.
— Antes eu ainda tentava não me incomodar. Mas agora
Denise está grávida — ele falou impaciente — vocês se protegem
pelo menos? To falando de camisinha, porque a tua mulher está
grávida...
— Chiara acha que está fazendo o que? Se vingando dos
chifresque o Gabriel colocou nela? — Fred perguntoue começou a
rir
. Tentamos mudar a conversa quando Marina e Jordana
chegaram, mas Mari já sabia da minha noite com Chiara.
— Sorteque Denise nem a segue, porque ela postou onde
estava— Jordana falou tranquilamente, mais focadaem acariciara
barba de Edu. Depois olhou para mim — ela está grávida, Ravi...
Não sente remorso?
— Não acho que sexo deveria ser considerado traição —
disparei, me sentindo encurralado e Edu deixou escapar um riso.
— Eu mataria Fred se ele pensasse assim — Mari falou,
parecendo brava só por pensar e Eduardo começou a rir ,
concordando.
— Eduardo se matariase eu pensasse em fazercom outro—
Jordana falou docemente, olhando para o noivo, que perdeu o
senso da graça rapidamente— não consigo nem pensar nele com
outra, não dá pra cogitar
.
— Porque eu só desejo você — ele falou de uma maneira
engraçada, que me fez rir
.
— Os dois são melosos, né — falei para Fred, que balançou a
cabeça, concordando.
— Porque não trouxe Denise? — Mari perguntou.
— Ela passou o dia fora, estava cansada demais.

Os dois casais ficaramum tempo e quando foramembora, eu


pedi outradose de uísque e liguei para Denise. Ela não atendeu,
devia realmente estar dormindo.

Eu deveria terido para casa, mas o corpo pedia mais uma


dose. Não sei por quanto tempo tenteime convencer de que era a
última dose.
C 21
Denise Malta

Acordeicedinho na manhã do sábado e a primeiracoisa que fiz


foi me olhar no espelho. Agora, mais tranquilae acostumadacom a
gravidez, eu estava querendo ver cada detalhe. Todos os dias eu
tiravauma foto,na mesma posição. Hoje, por incrívelque pudesse
parecer, dois dias antes de completar nove semanas, havia dado um
salto.

Ok, se eu não tivessedescobertoainda, nem imaginasse que


estivesse grávida, passaria despercebido, mas do jeito que eu
estava ansiosa, notaria qualquer mudança.

Tomei um banho quentinho, hidrateio corpo, vesti uma roupa


confortável,um short de moletom e um top branco. Os seios
estavambem sensíveise maiores, o que eu achava até bonito, mas
incomodava um pouco. Jordana já havia me passado a real:iria
piorar
.

Mari havia ficado enciumada por termostantoo que falar , já


que Jordana havia passado pela gravidez recentemente
e eu estava
grávida, mas seu ciúme passou quando Dana simplificou e disse
que era só ela engravidar também. Mas ela não fariatão cedo.
Estavachegando rápido à marcade um milhão de seguidorese sua
carreira,apesar de terido por um caminho completamentediferente
do que ela esperava, estava alavancando até que rápido.
Tive enjoos quando fuiescovar os dentes,mas como já sabia o
motivo,não me deixava abalar. Fui comeralguma coisa e liguei para
Ravi, que não atendeu.

Deixei pra lá, eram oito da manhã ainda, não haveria chance
de ele estar acordado mesmo.

Fiz um suco de laranja e pão com manteiga na chapa. Me


sentei à mesa e peguei meu celular, mas rodei pouco pelo
instagram,até ver, pelos storiesde um amigo de Ravi, que ele
estavaem uma boate. Só o mostravano fundo, com dois copos de
bebidas na mão. E no vídeoseguinte,esse Jonas e Chiara posando
para um boomerang. Soltei o pão no prato e voltei os vídeos,
revendo com atenção.

Eu não estavasurpresa,nem deveria estardecepcionada. Em


algum momento esperei algo diferentedisso? Tirei printe enviei
para ele, depois o bloqueei no whatsapp.Não queria conversarcom
ele, não iria perdermeu tempo ficando nervosa e estressadacom
coisas que eu já sabia que iriam acontecer
.

Respirei fundo, calejada demais de apanhar emocionalmente


nessa relação. Era como se só eu fizessepartedela e respeitasse.
Ravi sempre agiu como solteiro.

Pedro respondeu a minha mensagem, onde agradeci pela


companhia na tarde passada, afinal não era sua obrigação. Ele
perguntouse estava tudo bem e eu, magoada demais, enviei os
prints de Ravi na farra para ele.

Eu me sentia na necessidade de provar que não iria me


incomodar de ele sair com os amigos, a vida dele não precisava
girarem tornode mim. Mas eu estava grávida, ele poderia tero
mínimo de respeito.

“Que merda, Dê... To indo jogar tênis na praia, não quer vir?
Passo pra te buscar”

Eu nem queria, para ser sincera. Mas sabia que Ravi viria para
cá bancar o arrependidoque estava em processo de mudança e
fazer mais promessas mentirosas,então era bom que ele nem
soubesse onde eu estava.
Avisei que era só o tempo de eu trocarde roupa. E era bom
tomarum sol, ar fresco,esquecer que eu estava completamente
ligada a um homem que não fazia o menor esforço para me ver feliz.

Vesti um biquini e coloquei shortjeans e uma camiseta por


cima. Calcei chinelos e prendi o cabelo em um rabo alto e frouxo.
Coloquei em uma bolsa de praia protetor solar e uma canga. No
caminho, enviei mensagem para July, Marina e Jordana, a que
respondesse primeiro talvez pudesse me encontrar .

Pedro foi contando sobre a animação de sua mãe sobre o


bebê, tentavame animar. Acabei mostrandoo gif de fotos que fiz,
desde quando descobri a gravidez até hoje. Dessa maneira, dava
para ver nitidamente que estavacrescendo.Ele achou um máximo,
disse que Ravi iria adorar ver e eu revirei os olhos.
— Ele vai acabar caindo em si, Denise — ele falou
tranquilamente, quando descemos do carro.
— Ele não é muito mais novo que você — eu retruquei— não
dá pra falar como se Ravi fosse um menino imaturo.
— Vocês vão acabar se acertando— ele falou, me olhando
rapidamentee eu balancei a cabeça. Não dava nem para negar,
logo eu estaria lá, tentando de novo.
— Não sei atéquando — garanti,mas ninguém colocava muita
fé nisso. E eu me sentia cada vez mais sufocada.

Jordana se animou e logo mandou fotodela com a filha, as


duas com maiôs iguais. Helena tinha um bucket hat na mesma
estampa da roupa de banho. Respondi com emojis de coração. Eu
me imaginava fazendo as mesmas coisas com o meu bebê. Queria
ser tão amorosa quanto Jordana era com Helena.

Elas duas chegaram e a babá de Helena colocou a piscina


inflável dela sob o guarda-sol que estávamos, logo a encheu de
água e Jordana colocou os brinquedos para a pequena se divertir
.
Ela toda hora lambuzava a menina de protetor
.
— Ansiosa pra viver isso também — falei toda derretidae
Jordana olhou para mim docemente.
— Vai ser incrível— ela falou. Mostreipara ela as fotos da
barriga, e ela ficou maravilhada, não registroumuito o início da
gravidez e se arrependia muito.
Compramos água de coco e ela deu um pouco para Helena,
que se apossou do coco todo e ficousentadinhana areia, sugando
o líquido pelo canudo.

Marina chegou pelas dez da manhã, com óculos maioresque o


rostoe tentandodisfarçara ressaca, disse que bebeu todas com
Fred na madrugada.
— Pelo menos Fred reage — Jordana falou para ela —
Eduardo fica realmente doente toda vez que bebe muito.
— Estátudobem, Denise? — Marina perguntoupara mim, que
apenas as observava, mas assenti — parece preocupada...
— Está tudo bem — falei, tentando parecer convicta.
— Cadê Ravi? — ela perguntou e eu a encarei incomodada.
— Não sei — falei impaciente,sufocadade raiva, de vergonha
— e não quero falar sobre isso, por favor
.
— Tudo bem, me desculpe — ela falou mais baixo — como
está o bebê?
— Ai, ela registroutudo,desde o primeiromomento— Jordana
falou animada, me fazendo sorrirfracoe eu mostreio gif para
Marina, que se divertiu vendo.
— Imagina isso quando estiver com o barrigão? — Marina falou
empolgada — vai ser incrível.
— To ansiosa por isso — falei complacente.

Pedro logo veio ver se estava tudo bem, ou se eu não queria


algo. Agradeci a preocupação, mas estava tudo bem. Marina deu
uma bela olhada nele, que nem percebeu, mas Jordana a fuzilou
com o olhar e deu um cutucão.Acabei rindo e o observei também,
dessa vez de costas.Pedro era ligeiramentemais altoque Ravi, era
mais largo também, acho que malhava com frequência,embora
Ravi fosse bem mais bonito. Você nunca veria Ravi praticando
esportesem um domingo. Ele até fazia algumas vezes na semana,
mas nada regular
.

Jordana pigarreou,porque eu e Marina olhávamos o homem


voltando para o seu jogo e eu sacudi a cabeça.
— Olhar não tirapedaço — Mari falou desentendida— e Fred
também olha as pessoas, ele não é cego.
— Sei — Jordana cerrou os olhos e ela deu de ombros.
— Você escolheu o irmão errado— Mari faloupara mim, que a
encarei entediada.
— Marina! — Jordana a repreendeu incrédula.

July e Bernardo chegaram juntos, quase onze da manhã. Por


sorte,o sol não estavatão fortee poderíamosficarpor mais algum
tempo. Eu não queria mesmo voltar para casa.

Bernardonos cumprimentou,mas preferiuir brincarna areia


com Helena, os dois faziam castelinhos com os baldinhos da
pequena.
— Se a avó de Jordana visse isso, iria se corroerinteira—
Marina falou baixinho e nós quatro rimos.
— Ela nunca vai superar— Jordana revirouos olhos, mas tirou
uma foto para provocara avó. Ficamos ali até a hora do almoço.
Edu ligou para Jordana, para encontrá-las.Fred iria passaro dia em
um clube com o filho, então Mari estava livre.
Quando acabou mais uma partida,Pedro foi para o mar, dessa
vez, eu, Mari e July ficamoso olhando, era um belo caminho inteiro
de um pecado, eu poderia dizer. Jordana nem se dava ao luxo, era
certinha demais para isso.
— Vocês são patéticas— ela falou entediada, me fazendo rir .
Ele veio para pegar a toalhae se secou um pouco, depois se sentou
ao meu lado e perguntouse eu não queria ir almoçar. E se havia
falado com Ravi. Aceitei o convite e neguei a segunda pergunta.
— Edu estávindo, podemos ir todosjuntos— Jordana sugeriu
e eu concordei. Como meu celular estava em modo avião, se Ravi
tivesse tentadoligar, já que não conseguiria falarpor mensagem,
não teve sucesso também.

Mas de maneira nenhuma imaginei que Ravi viria com Edu. Ele
não tinha como saber que estávamos brigados. Ao contráriode
Eduardo, Ravi não tinhaproblemasem driblaros efeitosda ressaca.
Mas a sua aparência entregava.Os olhos avermelhados de quem
não estava cem por cento sóbrio, o olhar cansado e enérgico,
deveria terusado cocaína, obviamente, ou sei lá mais o que. E
claro, não havia dormido.
Ao ver que não estavatudobem entrenós dois, Edu me lançou
um olhar de desculpas.
— Eu não quero conversar
, Ravi — falei rapidamente, me
levantando e procurei pelo meu short jeans na bolsa.
— Denise, não faz isso — ele falou, meio que me cercando, me
deixando irritada.
— O que você quer falar? — perguntei mais alto do que
gostaria.Nunca fiz cena em público, sempre me controlava,engolia
o que sentia, mas talvez os hormônios da gravidez estivessemme
afetando.
— Podemos conversarcom calma? — ele perguntou,olhando
rapidamenteao redor
. Edu e Jordana fingiam não prestaratenção.
July e Bernardojá nem estavam mais aqui. Mas Mari deixava claro
que observava tudo. Ela e Ravi se desentendiamas vezes, porque
ela era diretasobre o que pensava dele e ele retrucava,como se
pudesse se defender
.
— Não quero conversarcom calma. Não quero conversarcom
você!
— Não tem motivo pra isso tudo, amor — ele falou, voltando a
me cercar e eu grunhi irritada.
— Não tem? Você me traiu, escancaradamente,pra quem
quisesse ver! — eu estava quase gritando, completamente
descontrolada— entãovoltepra sua amante,façao que tefazfeliz!
Me deixa em paz! — eu falei com forçae me virei para passar por
ele, mas ele me segurou pelo braço. Eu olhei incrédula e olhei para
a mão em meu braço, mas ainda assim ele não soltou.
— Eu não traívocê. Juro por Deus, Denise, eu não estivecom
ninguém na noitepassada — ele faloubaixo e firme— porque eu te
amo, por favor
, vamos conversar
.
— Não vou! — eu falava alto, não conseguindo colocar acima
da minha raiva, os nossos amigos presenciando essa cena — vai
me obrigar?
— Ravi, depois vocês conversam, cara — Edu quem falou
dessa vez, mas ele negou com a cabeça, então Eduardo se
aproximou e colocou uma mão em seu ombro — ela está grávida,
não a deixe mais irritadae nervosa, pode não fazerbem ao bebê.
Ainda mais no começo da gravidez.
— Vamos pra casa comigo? — Ravi perguntou,mas eu puxei
meu braço e fui para o lado de seu irmão, um pouco atrás,sabia
que ele não iria enfrentar
.
— Eu não vou com você — falei na defensiva,indo mais para
trás de Pedro, detestando colocá-lo nessa situação.
— Não precisadisso tudo, Denise — Ravi falou contrariado—
não precisava dessa cena, eu não fiz nada demais.
— Eu quero terminar— falei quando ele estava se virando.
Falei no impulso, todos ficaram olhando, dessa vez, sem reação.
Meu coração batia acelerado, eu estava suando nas mãos e
tremendo,a respiraçãocomeçou a se perder
, era como se eu fosse
começar a chorar a qualquer momento.
— O que? — ele perguntou,foi quase um sussurromudo, mas
continuei o encarando firme. Jordana começou a ficar nervosa,
balançava Helena no colo e estava agitada, como se ela fosse
refém da situação toda.

Ele vinha em minha direção, talvez fosseme puxar, me levar a


forçapara entãome convencerde que ficaríamos juntos,ou apenas
fariao drama de sempre, mas virado, bêbado ou drogado como
estava, eu poderia esperarqualquer coisa. Pedro tomou a frentee
Edu puxou Ravi, o levando a força, tanto que ele tropeçou e
cambaleou, mas acabou indo.
C 22
Denise Malta

Me vesti rapidamente e Pedro pegou a minha bolsa. Mari


perguntouse eu não queria ir com ela, para não ficarsozinha e
acabamos indo com Pedro. Paramos para almoçar, se eu ficasse
sem comer, iria enjoar e estava evitando.
Pude escolheronde comeríamos,já que estavagrávida, o que
me fazia sentirmimada. Mas logo fui convencida de que era o
mínimo. Jordana contouque Ravi falava como se fossevítima,mas
não iria me comover com isso. E defendeu a tese de que ele não
esteve com Chiara, ela estava com outrohomem, mas isso não
minimizava nada. Não apagava a doença dele. Tudo começava com
a doença, o vício.
Comemos peixe frito,de algum modo, eu estavaviciada nisso.
Depois deixamos Marina em casa.
— Vai pra casa? Ou vai falar com ele? — Pedro perguntou,
focado na direção e eu não consegui dizer nada. Ir pra casa seria
me sentircoagida a falarcom ele. Devia terficadocom Marina, mas
no apartamento do amigo dele, ele se sentiria no direito de ir até lá.
— Não queria falarcom ele ainda — falei angustiada— estou
tão envergonhada... — Pedro me olhou rapidamentee voltou o foco
na direção.
— Ele já... — ele nem soube como completar— ele já foi mais
agressivo com você? — seu tom de voz era preocupado.
— Não, é sério — falei e ele soltou o ,ar
mais aliviado.
— Quer ir pra casa comigo? — ele perguntou — até se
acalmar... Depois você liga pra ele.
— Não vou incomodar? Sua mãe vai odiar que brigamos de
novo...
— Não vamos pra lá — ele falou tranquilamentee fra
nzi o
cenho confusa.

Fomos para um prédio luxuoso, onde ele tinha um flat.


— Achei que morasse com seus pais — comentei, quando
entramos.Fui diretopara a varanda, tinhauma pequena vistapara o
mar.
— Mais ou menos — ele fez uma careta— bom terum lugar
assim...
— Pra trazeras garotas— eu falei presunçosae ele deu um
sorrisoapertado, se entregando— desculpa te colocarno meio dos
meus problemas com Ravi — eu falei envergonhada — mas tem
ficado tão difícil assimilar
.
— Relaxa, não vou julgar vocês — ele falou, abanando a mão
como se quisesse me tranquilizar
.
— É que eu engravidei porque ele quis e agora ele acha que
tenho que aceitarisso o tempo todo — falei cheia de angústia e
Pedro ficoume encarando — é muito triste,eu só queria o mínimo.
Que reconhecesse que precisa de ajuda, que é um viciado...
— Talvez ele amadureça com a chegada da criança — ele
falouconfusoe eu assenti,suspirandofundo.Não dava para confiar
nele, mas eu iria dizer o que? Fazer o que?
Me senteiao sofá,sentindopouco à vontade,achei que estava
incomodando. Pedro tentoume tranquilizar
, afinal eu estavagrávida
do sobrinho ou sobrinha dele, o mínimo era sermos amigos.
Conversamos um pouco, mas ele recebeu uma ligação de uma
cliente,estavalidando com caso de pensão, que pelo que eu havia
entendido, era sua especialidade.
— Se quiser deitar, pode ir pro quarto— ele avisou, indo em
direção a outrasalinha, onde deveria usar de escritório.Olhei ao
redor, a decoração toda em tons cinzas e preto, o estilo da
decoração parecia com o do apartamentode Ravi. Fui para o
quarto,que tinha janelas em toda uma parede, com uma vistamais
incrível para o mar
.
Me deitei na cama, no edredom fofinhoe olhei meu celular
rapidamente.Mas voltei para o modo avião e acabei pegando no
sono.

Acordei assustada,olhei pela janela e vi que o sol já estava


indo embora. Era quase seis da tarde.Levantei, meio deslocada
pelo lugar inesperado e ouvi um som de violão. Segui a música e
parei na porta, vendo Pedro perto da janela, era outro quarto,
menor. Ele estava em uma poltronaconfortávele tocava algumas
notas, olhando através da janela.
— Oi — falei e ele parou, olhando para mim — peguei no sono
que não vi...
— Estámelhor? — ele perguntou,apoiando o violão no chão e
o encostou na parede.
— To... — fiz uma careta.Torci os lábios, queria perguntar
sobre Ravi, mas me contive — com um pouco de fome... Acho
melhor ir pra casa.
— Quer comer o que? — ele perguntou,se levantando. Eu
pensei um pouco — podemos ir em algum lugar , se quiser.
— Eu iria querer um banho, no mínimo — eu falei, olhando
para mim, vestida ainda no biquini — você deve estarenjoado da
minha cara, tendo que me fazer companhia...
— Relaxa com isso — ele falou descontraído.

Eu subi e tomeium banho rápido, Pedro decidiu me esperarno


carro.Tia Carol perguntoupara onde eu estavaindo e avisei que iria
comer alguma coisa com o cunhado e voltarialogo. Mexendo no
celular, vi uma publicidade de fast-foode acabei desejando isso,
então fomos para o Mc Donalds. Me sentei em uma mesa e Pedro
foi pegar nossos pedidos.

Pensei por um momento se não deveria desbloquear Ravi,


para conversarmoscomo dois adultos,afinalteríamos um filho,mas
iria deixar para amanhã. De qualquer maneira, se ele estavavirado
da noite passada, uma hora dessas, já deveria ter ido dormir
.

Pedro voltou, eu já estava envergonhada por tomar tanto


tempo dele. Talvez estivesseatrapalhandoalgum plano dele, aqui,
incomodando como a namorada do irmão problemáticodele. Não
queria isso.

Sacudi a cabeça quando ele chegou e dei um sorrisofraco.


Peguei meu hamburguer e batata frita,junto com o milkshake.
Comemos, ele falando sobre o jogo de mais cedo.
— Só não deixo você jogar, porque estágrávida — ele falou e
eu fiz uma careta.
— Bom não fazermuito esforço,mesmo — eu reclamei —
acha que Ravi vai serum bom pai? — perguntei,devolvendo o copo
de milkshake para a mesa.
— Ele vai tentar— ele falou — e tentaré um passo largo para
ser.
— Acha que devo perdoar? — pergunteie o observei, mas
qualquer pessoa iria quererdizer que eu não deveria perdoar . Ele
pareceu desconfortável para responder.
— Acho que você vai sabero que fazer , e acho que ele não vai
querer te perder — ele falou, negando com a cabeça.
— Acha que ele é apaixonado por Chiara? — perguntei,sabia
que Pedro não queria responder essas perguntas, não iria se
comprometer com o irmão, mas eu precisava saber .
— Não sei... Acho que não — ele franziuo cenho. O encarei,
duvidando.
— Então porque não consegue largá-la? — eu indaguei e
Pedro soltou o hamburguer , me encarando preocupado.
— Acha que ele iria te pedir um filho se amasse outra?— ele
perguntou de uma maneira carinhosa, como se quisesse me
tranquilizar
. Tudo travou por dentro, não consegui responder —
acho que ele se senterefugi ado com Chiara. Aqui, tentamostrazer
ele pra realidade, jogamos na cara dele que ele é um viciado, que
ele precisa parar, que ele precisa de ajuda. Ele não quer aceitar
.E
com ela, ele mata o vício, ela o incentiva, infla o ego dele...
Não consegui dizer nada, não sabia qual versão dele com ela
seria pior
.
— O relacionamento de vocês é muito conturbado — ele
resmungou — difícil entender
, aconselhar.
— Só queria um pouco de paz, sabe? — perguntei,fazendo
uma careta— parece que mesmo tentando,eu ficosó esperando o
próximo conflito.
Ficamos em silêncio por um momento,atéque eu volteia falar:
— Por isso, eu queria terminar
. Pelo menos por um tempo —
falei, a voz chegou a embargar.

Pedro ficou me encarando, mas não soube o que me dizer.


Suspirei e voltei a comer, não iria desperdiçara comida. Ele não
tocoumais no seu lanche, o que me fez sentirculpada. Terminamos
ali e demos uma volta no shopping, olhamos uma vitrinede loja de
bebê. Tomamos um sorvete antes de ele me levar pra casa.
— Obrigada por ficaresse tempo comigo — agradeci, era o
mínimo — sem me julgar .
— Qualquer coisa, pode ligar
.
— Não vou teincomodar, juro — eu faleie ele revirouos olhos.
— Está grávida do meu sobrinho, não será incômodo — ele
falou e eu assenti.
— Obrigada, sério — falei, me aproximando e dei um beijo em
seu rosto, antes de descer.
Entreino prédio e fuipara o meu apartamento.Tia Carol estava
na sala, com um balde de pipoca e eu dei boa noite.

[...]
Eu e Ravi conversamos somente na quarta-feira.Ele ficou
nervoso quando se deu contade que eu não cairia na sua conversa
mole. E começou a chorar
, dizendo que iria mudar, que dessa vez
era sério.

Eu estava tão cansada, que só aceitei. Deixei estar , talvez


fossemesmo dessa vez. Mas nada estava ardentedentrode mim.
Tia Carol disse que talvez fosse a gravidez, quando o bebê
nascesse, talvez o meu sentimentopor ele pegasse fogo outravez.
Mas talvez fossem os errosdele, soterrandotudo o que eu sentiae
toda a força que me fazia querer ficar com ele, estivesse se
perdendo.

Dormíamosjuntos quase todas as noites, mas eu preferiadez


vezes mais passaro tempocom Pedro. Bizarro,mas pelo menos eu
tinha nele um amigo. Poderíamossair, dar uma volta, conversar
, ele
tentava me entender
, sem me julgar.

Como Ravi iria para Teresópolisde novo, dessa vez no final da


semana, eu havia combinado com meu cunhado de irmos para a
praia. Ele ia jogar beach tênis e eu encontraria Jordana e Helena.

A barriga estava ressabiada em dar as caras, mas eu


conseguia notar a diferença.Chegamos e eu logo encontreiJordana
e Helena, no lugar de sempre. Dessa vez, sem a babá.
— Mari não vem? — perguntei, forrandoa cadeira com a
canga.
— Ela, Edu e Fred beberam todas ontem — ela revirou os
olhos — estoutãobrava com Edu, que estálá, jogado na cama com
a doença dele — dei um riso,como eu queria que os únicos motivos
para briga entre mim e Ravi fossem tão amenos. Mas até as
bebedeiras dele acarretavamalgo pior. E a minha vontade estava
sendo mais largar de mão, deixá-lo se fundar
, se perder
.
— Chiara está no Rio? — perguntei, sentindo o bolo na
gargantapor perguntare olhei para o mar. A imensidão perfeitaque
era ele. Jordana ficou desconcertada, sem saber o que dizer
.
— Eu não sei, amiga — ela falou docemente e apert
ou os
lábios — e o bebê, como está?
— Estamosbem — falei, suspirandoe tenteipareceranimada
— ansiosa pra ter um barrigão logo. E ansiosa pra descobrir o sexo.
— O tio aí vai ser o padrinho, né? — ela perguntou,apontando
com o queixo em direção aos caras que jogavam.
— Ele tem sido um bom amigo, ainda bem — eu soltei o ar
aliviada — você sabe que nessas horas a gente se sente tão
sozinha...
— Sabe que pode me ligar sempre que quiser... Só que é tudo
tão corrido, sinto muito — ela negou com a cabeça, fazendo uma
careta.
— Tudo bem, eu entendo — eu falei, já que quando ela esteve
grávida, eu não fui a amiga mais presente do mundo.

Ficamos a manhã na praia. Brinquei com Helena, tão esperta.


Ela já estavame chamando de Tia Dê. Fui com Pedro para a casa
dos seus pais, Silvia queria me ver, sempre mandava mensagens
para saber como eu estava e sobre o bebê.
Quando chegamos, eu fui para o banho, havia trazidouma
roupa, porque já estava com esse almoço marcado. Ela adorou a
minha ideia de fazer o gif com as fotosdiárias. Assim as fotos
passavam rapidamente e dava para notar o crescimento da barriga.
— Ansiosa pra saber se é menino ou menina — ela falou
animada.
— Ravi está louco por um menino, não é? — Vicenzo
perguntou e eu o olhei, sorrindo fraco.
— Tomara que seja — dei de ombros, achando que se fosse
um menino, ele cairia na real e mudaria realmente.Mas nem isso
me fazia acreditar
.

Fiquei no sofáconfortável
da sala, Pedro e seu pai apreciaram
um uísque caro, eu bebi um suco de laranja com beterr
aba, Silvia
disse sermuitonutritivo.Não reclamei,mesmo que não fosseo meu
preferido. Ela logo foi bisbilhotar o almoço na cozinha.

Eu e Chiara havíamos nos bloqueado no instagram.Mas eu


estavacuriosa,então,cheguei ao fundodo poço. Criei um perfilfake
e fui olhar os storiesdela. Ela não era realmenteblogueira, mas
milhares de pessoas a seguiam para acompanhar sua vida
milionária.

Havia alguns vídeosdela dirigindo a Porscheque Eduardo deu


de presente, depois com algumas amigas, bebendo uma gin
importada.Eu ia desistirde continuarvendo, mas o próximo era a
fotodo volante e a localização era Teresópolis. O coração falhou
uma batida, me senti perdero norte,tudo amargou por dentro,a
língua pareceu dormente.

No próximo ela postouuma fotoem um restaurante


de lá, junto
com uma amiga ruiva e um cara, que provavelmenteera namorado
ou ficantedela. Meus olhos arderam,eu puxei o ar pelo nariz, para
fazer as lágrimas sumirem.

Me levantei e saí em direção ao jardim, queria respirarum


pouco. Não era nada surpresapara mim, eu estava grávida de um
homem que não fazia o menor esforçopara o meu bem estar . Seus
vícios estavam acima de qualquer coisa. De tudo. As lágrimas
vieram intensas, sem que eu pudesse controlar. Não tive nem
vontade de bloquear
, de brigar com ele.

Só sentia medo. Já amava o meu bebê, sabia que seria capaz


de qualquer coisa por ele/a, mas se eu pudesse voltarno tempo,
meu único desejo era ter acordado mais cedo.

Me acalmei ali sozinha e quando decidi voltar


, Pedro me
encontrou,fezuma caretapesarosae me confortoucom um abraço.
— Está tudo bem — eu prometi, com a voz abafada em seu
peito.
— Eu sinto muito — ele falou mais baixo.
O clima no almoço foipura tensão. Os pais deles sabiam o que
havia me tiradoo sorriso,a paz, mas ninguém condenava Ravi. Era
a famíliadele. Talvez o pai um pouco, mas não o suficiente para ele
sentiro peso dos errosque cometia. Silvia tentoume animar, mas
eu iria comemoraro que? O quartoe a brinquedotecaque ela queria
fazerpara o neto? Meu relacionamentoestava arruinadohá muito
tempo e mesmo fazendo vista grossa, não havia mais o que ser
restaurado ali.
C 23
RaviFerrari

Minha mãe e Pedro quem foram com Denise na consultaem


que o doutorprovavelmenteveria o sexo do bebê. Ela poderia ter
feitoo exame de sexagem fetal,mas quis aguardarum pouco mais
e curtir a curiosidade, que segundo ela, era boa.

Ela estavaafastada.Nossa última briga foi na frentedos meus


pais e eu não tive como reagir , não havia o que explicar, me
desculpar não estava mais adiantando. Queria poder voltar no
tempo e fazertudo diferente.AfastarChiara de vez, encerraresse
caso maldito, que não tinha um motivo sequer para ainda existir
.
Parecia um looping maluco, eu dizia que não, de repenteestava
bêbado demais, drogado demais para negar qualquer coisa que
fosse.Eu não poderia deixar meu vício maldito acima de nós dois.
Não poderia interferirna minha relação com a gravidez, com o
nosso filho.E estavavirando algo grande o bastantepara realmente
estremecertudo, a minha vida estava parecendo um borrão
bagunçado.

Ela só me avisou da consultaquando já estavalá com mamãe


e Pedro, o que me irritou,mas pelo menos era a minha famíliacom
ela. Fui encontrá-lose os peguei já saindo da clínica. Denise e
Pedro estavam animados, ela ainda mais. Por isso, eu soube que
era uma menina.
Uma pontada de decepção me incomodou, mas afasteipara
longe. Ela parou a me ver e eu me aproximei, a encarandoe esperei
que me dissesse, mas apenas nos encaramose ela não disse nada.
— Quer adivinhar? — mamãe perguntoue eu a olhei, puxando
o ar, quase emocionado — uma princesinha — ela falou animada,
vibrando — sei que amaria um campeão, mas nós trêsestávamos
torcendo pela princesa.
— Tá feliz? — pergunteipara Denise, que assentiu.Um clima
estranho se instalou, todos nós percebemos.
— E você?
— Estou— respondi, olhando para os lados — estátudo bem
com vocês?
— Estásim... só aquelas contraçõeschatas,mas nada que um
repouso não resolva — ela explicou.
— Estãoindo pra onde? — perguntei.Estávamostão distantes
que eu tinha receio de fazer perguntas para ela.
— Vou pra casa — ela falou e mamãe a olhou confusa — é
melhor.
— Mandei prepararo peixe que você queria — minha mãe
falou para ela, Denise havia ficadoviciada em peixe fritodesde que
ficou grávida — não aceito essa desfeita.
— Tudo bem — ela suspirou, vencida.
— Vem comigo? — pergunteie ela me encarou, trincandoo
maxilar.
— Ela vem comigo e Pedro — mamãe tomou a frentepara
dizer e eu parei um por um segundo, ela estava sendo dura comigo.
Olhei para meu irmão, que parecia mais interessadono que
mexia em seu celular. Não retruquei,nos encontraríamos lá, de
qualquer maneira.

Meu pai também torciapor um menino, mas era a primeira


neta, então era motivo de festade qualquer jeito. Para não perder
mais pontos com Denise, não bebi nada alcoólico. Estava sem
beber nada há três dias, e pretendia continuar
.

Me senteiao lado dela no sofá,que me deixou ver as fot


os da
ultrassonografia.
Olhei para ela, que já não tinha mais aquele olhar
intenso em minha direção.
— To com saudade sua — falei mais baixo — sei que fiz tudo
errado, mas eu ainda amo você. Muito.
— Entrei na décima quarta semana — ela falou, piscando
algumas vezes — agora acho que a barrigavai realment e começar
a crescer
. Te mandei um videozinho da evolução desse tempo todo.
— Está incrível — falei e ela concordou, balançando a cabeça.
— Sim...
— Pensei em pegar um quartono Copacabana Palace... Pra
comemorarmos— sugeri e ela ficou quieta — afinal você queria a
menina.
— E eu estou feliz por isso, mas teriaficado com um menino
também — ela deu um sorriso esguio.
Ela viu Pedro passando para a sala de jantare se levantou,
indo atrásdele. Eu soltei o ar de uma vez e me escorei no sofá,
olhei para cima, fitando o lustre.
— Estácolhendo pouco, pert
o do que plantou — meu pai falou
e eu o olhei rapidamente — ela aceitou muito até esfri
ar pro seu
lado.
— Vamos nos acertar
... Como sempre.
— Se você diz — meu pai falou sarcásticoe eu fiz uma
carranca.
— Sempre nos acertamos— falei convicto— e ela me ama.
Eu a amo...
— Tá bom — meu pai falou e eu ignorei.
C 24
Denise Malta

Aceitei o convite de Ravi, porque em um delírio louco, eu


queria que minha filha tivesse uma famíliaunida. Eu não queria que
ela tivesse um pai distante e imaginei que se eu e Ravi
conseguíssemosficarjuntos,ele seria um bom pai. E, talvez, sendo
um bom pai, ele aceitassea doença e resolvessese tratar. Queria
me colocarem primeirolugar, mas agora, eu pensava na minha filha
e em como eu não queria repetircom ela o que meus pais fizeram
comigo. Digo sobre a falta emocional.

Chegamos à suítemaster do Copacabana Palace e havia


pétalasde rosa pelo chão, um coraçãode floressobre a cama. Ele
não pediu nada de bebidas, queria se provarpara mim. Bebemos
um suco de uva delicioso, brindamos à nossa filha. Ele parecia
desesperado para conseguir o meu perdão.

Pedro havia dito, por mensagem, que qualquer coisa,


desentendimentoque fosse,era só eu avisar que ele me buscaria.
Pelo menos me deixava segura. Estava sempre lá para me dar
conforto. E Ravi nunca fazia isso, pelo contrário, só me tirava a paz.

Demos um beijo profundodepois do brinde. O jantarchegou,


ele escolheu risoto,não reclamei. Eu estavamais calada, não tinha
muito o que conversarcom ele. Iríamosfalarsobre ele e Chiara?
Colocá-lo como a vítimapara que eu pudesse fingirque estavatudo
bem? Pelo que ela contouà Mari, foi uma coisa terrivelm ente louca
entreela, ele e o casal amigo dela. Me dava nojo. Não queria saber
se ele estava bêbado, refém do vício, fraco para negar, não
importava mais. Se ele realmente quisesse, procurariaum bom
profissional,começaria um tratamentosério. Se achasse que não
seria capaz, que se internasse. Mas ele queria apenas
compreensão. Não existe amor para compreender tanta destruição.

Eu o olhava, sempre achei Ravi bonito, gostoso, charmoso e


sedutor, mas especialmente hoje, eu não conseguia sentirdesejo
por ele. A mágoa estava se sobressaindo. Não era bom sentir
.
Encerrei o beijo e fui colocar mais suco na minha taça.
— Está tudo bem? — ele perguntoue eu balancei a cabeça
positivamente, sorrindo fraco.
— Andei pensando nos nomes — eu falei, estava
completamentedesconfortáv el. Corria língua sobre os lábios e os
esfreguei — Alice, ou Beatriz?em T alguma preferência?
— Gostode Alice — ele falou, vindo atémim, que num impulso
desviei, fingi que fui colocar a taça na mesa e me sentei. Queria
poder sair correndo daqui, queria tantoser amada por ele que
ignorei todos os sinais de cair fora a tempo.
— Ou pensei em escolher e quando ela nascer, o que mais
combinar com ela, fica.
— Acho uma boa ideia também — ele concordou, vindo se
sentar à mesa comigo — está tudo bem? oT
sentindo você tensa...
— Só um pouco — fiz uma caretae nos encaramos por um
momento. Ravi travou o maxilar e engoliu pesado.
— Me perdoa, vida — ele sussurrou,saiu tudo embargado e
seus olhos parecerammarejar— eu sei que nem mereço, que fiz
tudo errado,que te dei todos os motivos do mundo pra me deixar.
Mas eu vou fazer dar certodessa vez, vou teamar do jeitoque você
merece — ele chegou mais pertoe entrelaçounossas mãos — eu
entro em pânico quando penso que estou te perdendo — uma
lágrima solitária escorreu, depois veio outra, mas ele fungou e
limpou.
— Estou cansada, Ravi — eu falei — esgotada disso.
— Eu te amo muito — ele falou meio acelerado — quero viver
pra sempre com você.
Não consegui dizer nada, era um amor tão inseguro que eu
não estava mais confortávelem alimentá-lo. Toquei seu rostoe ele
chegou mais perto,começou a me beijar e logo fomos para cama.
Ele veio, querendo fazeraquilo que fazia de melhor, me convencer
no sexo, me deixar louca de tesão,mas eu não conseguia relaxare
me deixar ir.

Ele beijou meu corpo todo com gosto, me desejando, mas eu


não conseguia ceder e correspondera isso. Uma partequeria, mas
eu não estavafelizpara ceder, ele não merecia.Fiquei olhando para
o tetoenquanto ele me chupava, era gostoso,mas eu não estava
entregue.Comecei a pensar se seria assim daqui pra frente.Se era
coisa da gravidez, a perda da libido, ou se eu havia perdido o tesão
nele. Franzi o cenho pensando, confusa demais.

Afundeiuma mão em seu cabelo, me sentindomeio em pânico,


a única coisa que realmentefuncionavapara nós era o sexo, se isso
parasse, o que restaria?Um amor meio tóxico? Pisquei, nem
aproveitando o sexo oral que sempre foi tão gostoso.
Ravi parou, ignorou que eu não caíde tesãopor ele, que não o
melei todo com meus fluidos,veio por cima e começou a me beijar,
mas quando senti o membro roçando a minha boceta, o segurei.
— Coloca uma camisinha — eu falei e ele me olhou estranho,
mas não recuei — é seguro.
— O que? — ele perguntou, chegou a resfolegar— está
duvidando de mim?
— Não sei com quem você esteve— eu falei o óbvio e engoli
amargo a sensação.
— Você estásendo injustacomigo — ele falou, se levantando.
Não havia mais nem ereção e eu não iria provocarpara reascender
alguma coisa. Não devíamos nem estar aqui.

Ele se enrolou num roupão e foi para a sala. Não fui atrás,
fiquei deitada na cama, olhando para cima, tão angustiada. Me
levantei só para desligar a música. Voltei para a cama e fiquei um
tempo ali deitada, inquieta e angustiada.
Me levantei e coloquei um roupão também, passei para a sala
e lá estavaele, no sofá,com o corpoinclinado e os braços apoiados
nas pernas, o rostoescondido entreas mãos. Esbarreicom uma
mesinha de canto e segurei o arranjo que estava sobre ela. Ele
ergueu o rostoe eu não aguentei,fuiatéele e me senteide lado em
seu colo. Ravi me segurou e afundou o rostoem meu pescoço, me
deixando sem reação porque começou a chorar .
Não falei nada, não iria consolá-lo, eu não era a vilã de nós
dois. Ele era.
Corri meus dedos pelo seu cabelo, na nuca e ele afastouo
rosto,nos encaramos por um momento, levei a mão para o seu
rosto,limpei as lágrimas com o polegar e o encarei de novo, séria.
Pisquei algumas vezes, decepcionada com tudo isso, por tudo que
viramos.
— Eu não quero te perder— ele sussurrou,derramandomais
lágrimas, que não me comoviam mais. Suspirei e empurrei tudo
para longe, o encarando, me aproximei e beijei seus lábios. Ele
fechou os olhos, mas eu não, estava o olhando, que me
correspondia, eu não conseguia aprofundar o beijo.
— Quero ir pra casa — sussurrei,me sentindo despedaçada,
mas não queria mais ficar aqui.
— Por favor, fica comigo — ele falou, me segurando firmeem
seus braços — eu prefiro morrer a perder você.
— Tudo bem, vamos pra casa — eu pedi.
— Vamos ficarbem? — Ravi perguntou,como se dependesse
de mim. Eu suspirei e acariciei seu rostooutra vez. Pressionei
nossas bocas e assenti, era mais fácil assim.

Fomos para meu apartament


o e eu tomeium banho antesde ir
para a cama. Ravi foi logo depois e veio, querendo provocar, mas
fingi terpegado no sono. Dormimos agarrados,de conchinha. Ele
não deve ter dormido, já que ficamos muito tempo grudados.
Ele saiu cedo na manhã seguinte, queria encontrarum cliente
antesda audiência. Nos despedimos com um selinho insosso, mas
estava inevitável.
— Estão estranhos— tia Carol comentou, passando para a
cozinha e eu a olhei — se resolveram?
— Não sei — falei confusa — acho que não consigo mais.
— E precisou engravidarpra descobrir— ela constatoue eu
aperteios lábios — mas essa princesinhavai sermuitobem vinda e
amada.
— Vai sim — repliquei.

[...]

Ravi estava resolvendo aquele caso em eresópolis,


T mas já era
o esperado, ele ia para lá, e Chiara logo confirmavaa localização na
mesma cidade e quando ele voltava, estava acabado na ressaca,
cheio de dores estranhasque nunca reclamou terantes. Os lábios
estavam mais ressecados, ele devia estar bebendo
compulsivamente duranteesses dias, para se convencer de que
aguentaria ficar sem quando voltasse. Já havia doído tantoque
parou de doer ver sobre isso. Comecei a me perguntarse ela era
apaixonada por ele, se queria que eu visse de algum modo, para
largá-lo de vez e ele ficarlivre para ela. Ou se era só o seu instinto
rebelde que queria se sentirdona de si, a capaz de pensar apenas
nela mesma.

Eu não conseguia decidir qual das opções soava pior para


mim. A que ela o amava pelo menos existia a desculpa do amor,
mesmo que tão destrutivo.

Tive uma consulta com meu médico, porque sentia muitas


contrações,algumas chagavam a doer e só o repouso não estava
adiantando. Como Ravi não estavana cidade, pediu para Pedro me
levar.

Mas não queria mesmo encontrarRavi. Vê-lo se destruindo


sem poder fazernada me destruía também. E não transamosmais,
desde quando pedi para ele pôr uma camisinha.

Ele até tentouprovocarem outrosmomentos, sempre aliás,


mas eu não conseguia me entregarao momentoe nunca fezo perfil
dele me forçar.

Eu estava indo aos sábados assistirPedro e os outroscarasno


beach tênis, Jordana levava Helena para brincarna praia, vez ou
outraMarina nos encontrava . Ter em Pedro um bom amigo estava
sendo bom, pelo menos.

O doutor passou um remédio para dessensibilizar o útero,e


pediu que eu fizesserepouso o quanto conseguisse. Evitassefortes
emoções e todas as comidas não recomendadas para grávidas.
— Mas podemos sair pra almoçar, não é? — Pedro perguntou
para o doutor e ele deu um sorriso, concordando.
— Sem muito esforçoe, qualquer coisa, só me ligar — ele
falou, vindo se despedir de mim com um abraço e um aperto de mão
com Pedro.

Fomos almoçar no Shopping, porque aí teriauma desculpa


para dar uma volta. E isso me distraía,evitava de pensar que Ravi
estava em outracidade, com outra.Nem comentei sobre isso com
Pedro, ele já devia saber
.

Almoçamos e na saída, entramosem uma loja de bebê. Eu


comprei um vestidinhorosa, com um laço nas costas,meia calça e
um sapatinho.
— Não vejo a hora de poder vesti-la— falei toda sonhadora e
sorri esguiamente. Pedro me encarava, observador
.
— Ela vai sermuitoamada — ele faloue eu preciseiconcordar
.
— Azar do pai dela, se ficar distante— dei de ombros, mas
sacudi a cabeça e olhei mais alguns sapatinhos. Não queria
exagerar em coisas que ela perderia muito rápido, queria ser
prática,focarno que fosseútil. Na casa da avó paterna,já estava
uma quebradeira no quartoque Silvia escolheu para ela, iria fazero
quartinho junto com a brinquedoteca. Logo mais Jordana nos
apresentaria os dois projetos. Nem pensei em quarto no
apartamentode Ravi, porque não me via mais morando com ele e
ela não iria dormir com ele nos primeiros meses, não sem mim.

Comprei um all staramarelo, todopersonalizado,uma graça.E


uma calça jeans, que ela só usaria com pelo menos quatromeses,
mas não resisti.Na parte de gestantes,comprei dois vestidos
longos. Na ala de brinquedos, não resistie comprei um cavalo de
madeira, todo pintado de branco, iria ficarlindo em algum lugar do
quarto dela. E depois, quando ela estivesse maiorzinha, poderia
brincar no balanço que ele fazia.
O cavalo foi presentedo tio Pedro. Ele saiu carregandoas
sacolas e paramos para tomarsorvete.Eu me sentia melhor, mais
leve e era bom passaro tempo com ele. Me fazia tão bem ternele
um amigo.

Ele teve que me ajudar a subir com o cavalo, que era um


pouco pesado e não era para eu fazeresforço.Mostre i para ele
onde seria o quartoda minha filha, e logo começaria a reforma.
Nada muito drástico, só o papel de parede e a marcenaria mesmo.
— Minha mãe está com planos loucos lá em casa — ele
contou, se escorando ao arco da porta e cruzou os braços.
— Ah, editei o vídeo. Estou achando incrívelfazerfotostodos
os dias.
— Me deixa ver — ele falou e eu peguei o celular, mostrando
para ele — essa garotatem sorte,com a mãe fotógrafa,
vai tertudo
registrado sempre.
— Vai, mesmo — falei empolgada e fui pegar meu celular, que
começou a chamar no mesmo momento.

Ignorei ao ver que era Ravi, era o cúmulo da cara de pau me


ligar. Não tinhanenhuma explicação para ele me traire ainda querer
sair de vítima.Acostumouque era só chorare tudo estariabem. Ou
que me traía porque era um viciado, então merecia ser perdoado.

Voltamos para a sala e Pedro pegou um porta-retrato


no
aparadoratrasdo sofá, era uma fotominha grávida, havia feitohá
uma semana mais ou menos.
— Olha a diferença que dá em uma semana — eu falei, meio
tensa,mas aliviada e fui até ele — daqui pra frentevai crescermais
rápido.
— E passa tão rápido — ele comentou e eu puxei o ar,
concordando. Só então notei o relógio caro que ele havia dito que
iria comprar
. Peguei seu pulso, analisando.
— Olha, sinceramente?— pergunteie ele segurou o riso, me
esperando dizer — você encontrariaum tão bom quanto, por bem
menos.
— Não gostou?
— É bem bonito — eu falei sinceramente— é ouro, né? Tem
diamantes... — constateie ele começou a rir— minha filha pelo
menos vai poder pedir presentes caros pro tio.
— Vai ser muito mimada — ele prometeue eu dei um sorriso
doce — melhor eu ir — ele falou, arranhandoa garganta — você
precisa descansar
.
— É, aproveitar o tédio do repouso — revirei os olhos.
— Qualquer coisa, sabe que pode me ligar — ele falou sério e
eu assenti — não espere piorar pra se desesperar
.
— Tudo bem, qualquer coisa, já sei pra quem ligar — eu falei
petulante e fui abrir a porta para ele.
— Sua tia não vem hoje?
— Volta só domingo, estácom o namorado novo — eu contei,
revirandoos olhos — mas está tudo bem. Sou acostumadaa ficar
sozinha.
— Qualquer coisa, liga — ele falou enfáticoe eu balancei a
cabeça positivamente.
Descansei pela tarde, tomei um bom banho, assisti a uma
série. No começo da noite, Pedro veio me trazeruma sopa
preparadapela sua mãe, disse animado que há anos não via Silvia
na cozinha. Entendi, quando ele perguntouse eu estava mesmo
bem, que estava preocupado se eu fui procurarver algo sobre Ravi,
sobre Chiara.

Abri a portado apartamentono momento em que ele saiu do


elevador e nos encaramos por um momento, sentia sua pena
pesada sobre mim, era desconfortável.Peguei a vasilha de vidro e
levei para a cozinha, coloquei no balcão e abri. Estava muito
cheirosa.
— Ela costumavafazeressa sopa de salmão quando eu e Ravi
éramos crianças — ele comentou, fechando a porta e veio, se
escorandodo outrolado do balcão — segundo ela, é muitonutritiva.
— Parece deliciosa — eu falei animada, salivando de vontade.
Peguei uma colher e Pedro me fez companhia enquanto eu tomava
a sopa, que estava muito, muito boa.
Falamos sobrea festade um milhão da Mari, mas eu não sabia
se queria ir
.
— É a sua amiga — ele falou o óbvio — e vai ser bom sair, se
distrair
. Claro, se não tiver num desses episódios de contrações.
— Tomara que não tenha mais. To me sentindobem melhor —
eu contei, instintivamenteacariciando a barriga— mas não quero
estar no mesmo lugar que Chiara.
— Ela é quem está errada nisso tudo...
— Ela e ele — o interrompi.
— Ia completarisso, então não é você quem tem que se privar
— ele falou e eu revirei os olhos.
— Me sintoum pouco envergonhada... — fiz uma careta— eu
planejei um filho com um homem que não é nem um pouco leal a
mim... Não perde a chance de me trair
, acha que resolve tudo
chorando, não reconhece e nem aceita os próprios vícios e
excessos, continua se destruindo e não aceita que precisa se tratar
.
— Eu nem sei o que dizer, Dê — ele falou desconcertado,não
podia simplesmente consertar o irmão.
— Tudo bem — suspirei— ele nem se incomodou em saberse
estou bem — resmunguei e ele apertouos lábios — deve estar
bêbado demais uma hora dessas.
— Talvez só estejaocupado — ele falou condescendentee eu
neguei com a cabeça.
C 25
Denise Malta

Passaram trêssemanas até que chegou a grande festada


Marina. Ela estava tão nervosa e apreensiva, mas havia alguém
cuidando de tudo. Ela só precisariachegar lá e mandar ver. Invejei
por um momento o casal que ela e Fred formavam.Ela sempre
soube que nunca quis depender dele, era toda dela, os planos dela
vinham em primeirolugar. E, como um bom parceiro,ele a apoiava.
Jordana e Edu, eu nem precisava falar , driblaram tudo e deram
certo, eram perfeitamente certos um para o outro.

Cheguei à festa com July e Bernardo. Eu e Ravi não


estávamosnos falando, ele não tinha controlesobre si e sobre os
seus desejos mundanos, precisou ir para o hospital essa semana,
estava tão fracorefémde um fim de semana muito intenso que
passou mal no trabalho.Na verdade, ele já vinha reclamando de
vários desconfortose dores há mais tempo. E como Ravi era
resistenteà dor, eu sabia que para ele chegar a comentar, não
estava sendo pouca coisa. Como ele insistia que não era nada
demais, não tínhamoso que conversar
. Além do que, olhar pra ele
me dava ânsia. A aparência dele estava estranha, ele estava
estranho.

Silvia quem ligava para saber sobre o bebê, ela e Pedro, todos
os dias. Pedro ainda se incomodava em me levar para comer, me
distrair
, achava que eu não precisava viver trancadae sofrendo,o
errado nisso tudo era Ravi.

Ele ligava, mandava mensagens daquele jeito dramáticocomo


se alguém na face da ter ra ainda acreditasseque ele estava
mudando. Ele nem queria mudar, só queria que eu aceitasse. Mas
eu não iria viver com um alcoólatra,viciado em tudo que não era
bom. E engravidar me deu mais certezaainda disso. Eu poderia dar
o mundo para ele, que não seria suficientepara ele mudar. Nas
últimas semanas ele entrouem um ritmotenebroso,não sei nem
como estava aguentando, como seus pais ainda fingiam não ver
.

E Ravi só parou de insistir quando o culpei por todos os


episódios de contrações.Ele ficou assustado,o acusei e ameacei,
deixei que se eu tivesse um partoextremamenteprematuroe a
nossa filha não sobrevivesse, a culpa seria unicamente dele. As
visitas e a pressão pessoalmente pararam, mas ele seguiu nas
mensagens e ligações.

Mari tentavabrincarque eu havia escolhido o irmão errado,


mas não era simples assim. Pedro me fazia companhia, me tratava
bem, era carinhoso sobre eu estargrávida de seu irmão, já se
colocava no lugar de padrinho da minha filha e eu não achava que
outrapessoa além dele ocuparia bem esse lugar. Mas nós dois
construíamosuma relação mais para fraterna,eu confiava e me
sentia respeitada por ele. Não havia malícia.
Eu sentia faltade me sentirextremamentecuidada por Ravi.
Queria que ele fosseum cara diferente.Mas teriaque conformare
aceitar que ele nunca seria.

Peguei uma taçacom água com um garçomque passou e Mari


logo juntouas amigas para uma foto.Tenteime animar, posarbonita
e alegre para a foto.Não queria que minha filhasoubesse que eu fui
uma mulher triste durantea gestação.Eu escolhi tê-la.Mesmo cheia
de insegurançase com tudodizendo não¸ eu prosseguicom o plano
maluco de engravidar . Teria que dar o meu melhor para ela.

Saí da fotoquando Chiara foi posar com as meninas, não


precisavafingir que estavatudobem. Não seriamosamigas. Não só
por ela escancararque era amante de Ravi, adorarexpor todas as
pornografiasque faziam juntos, como se fosse legal. Mas porque
como mulher, ela nunca me respeitou.

Fui até a mesa em que Silvia estava com o marido e os


cumprimentei.Pedro se levantou para falarcomigo e eu respirei
aliviada dentro do seu abraço.
— Como você está?
— Bem — falei, sempre acariciando a barriga, era quase
involuntário — queria me sentar um pouco...
— Bom não fazer tanto esforço — ele concordou, puxando uma
cadeira para mim. Peguei o olhar de Silvia me observando e dei um
sorriso doce para ela.
— Você precisa ver como o quartodela está ficando — ela
falou, tentando parecer animada.
— Claro... — falei educada. Amaciei o tecido do vestido, nas
coxas, como se tentasseesquentaras mãos. Pedro pegou outra
água para mim, mas era bom que eu nem bebesse tanto,senão
começaria a ir ao banheiro toda hora.
A mãe de Fred veio cumprimentaros amigos, acarinhou minha
barriga e lamentou que Mari e Fred não queiram um bebê.
— Ela não quer, né — Vincenzo falou descontraído— Fred
choraminga por aí seu maior desejo.
— Só uma obra divina pra fazeracontecer— ela abanou a
mão, se divertindo.

Muitaspessoas chegavam, muitosinfluencersdo mesmo nicho


de Marina também. Ela parecia à vontade nesse meio, era bom de
ver. Ravi chegou já tarde,passou cumprimentandoa quem conhecia
e eu fingi não ver quando ele se sentou na última cadeira vaga na
mesa, ao meu lado.
— Não vai mesmo falarcomigo? — ele perguntoue eu o olhei
friamente — você está sendo exagerada, Denise.
— Falar com você me dá nojo — eu falei de uma maneira
asquerosa, magoada demais, tudo isso estava se sobressaindo à
saudade e ao amor que eu tinha por ele.
— Você não pode me tratardesse jeito a vida toda — ele
resmungou e eu dei um riso sarcástico— quero que a gente
conserteas coisas, que a gente possa preparartudo e receber
nossa filha em uma família feliz.
— Família feliz? — perguntei,sentindo uma pontada no peito
— quem? Eu, você e Chiara?
— Não tem outra,Denise — ele falou mais baixo, olhando ao
redor
, mas era claro que seus pais ouviam, eu já nem me importava
mais. Já havia sido humilhada o suficiente por tudo o que ele fazia.
— Vai dizer que me ama e que vai mudar? — perguntei
sarcástica— eu não acreditomais em você, Ravi. O meu ápice de
loucura aconteceuquando decidi que era uma boa ideia engravidar
.
E depois disso você provou que eu fui burrademais por confiare
amar você.
— Vamos conversarem outro lugar, por favor — ele falou
insistente, mas eu me levantei subitamente e saí andando.

Queria chorar , tomada intensamentepor vários sentimentos.


Mas tinha certezade que não iria dar mais uma chance para Ravi.
Era melhor nos acostumarmos e pôr um ponto final agora,
tentarmossuperar , esquecer. Para quando nossa filha nascesse,
não entrássem os em guerra por tudo. E motivos, ele me daria
sempre.

Me sentei em um banco da área externae olhei para cima,


fechei os olhos. Respirei fundo, tentando me manter calma.
Estranheiquando no meu momento de busca da paz interior , Luísa
se sentou ao meu lado.
— Oi — falei confusa. Não éramos amigas, eu não gostava
dela. E não havia um motivo sequer para ela vir até mim. Logo
imaginei que deve terficadocom Ravi e veio me provocar. Quase ri
da teoria.
— Descobri uma coisa, acho que você vai saber o que fazer
com isso — ela falou, me avaliando e deu um sorriso— quem sabe
se vingar?
— Me vingar? — perguntei, fazendo uma careta.
— Me dá seu número — ela pediu — não vou temostrar
, quero
te enviar
. Você vê quando achar melhor .
— Eu não quero me vingar de ninguém, seja lá de quem você
estejafalando — falei claramente. Mas ela continuoume encarando
sugestiva.
— É sobre Chiara — ela falou, me deixando curiosa e estendeu
o celular. Soltei o ar, impaciente e digitei meu número no celular
dela, que se levantou e voltou para a festa.Era óbvio que mesmo
ela e Mari não se dando bem, ela não deixaria de virprestigiar
.

Logo depois chegou uma mensagem no whatsapp. Um vídeo.


Suspirei, pouco interessadaem saber algo sobre Chiara. Mas não
estava fazendo nada, então abri.

Um tremorde pânico corroeu meu corpo quando vi, eu não


sabia descrevera sensação ao abriro vídeo. Era um misto de dor
tão forteque virava dormência. Ravi estavasentadonuma cadeira,
tãoembriagado que mal sustentavaa cabeça no lugar. Ele usava só
a cueca, minha vontade era vomitar vendo, e ficou pior quando
Chiara apareceu, completamentepelada, bebeu um gole da bebida
no copo de uísque e se inclinou para Ravi, cuspindo a bebida na
boca dele.
Estavame dando ânsia ver, eu deveria parar
, mas precisavade
mais esse choque de realidade. A cretinase abaixou para puxar a
cueca dele para baixo, não se deram o trabalho de pôr uma
camisinha. Era tudo tão escancarado, logo notei que era uma
terceira pessoa filmando, por causa das frases nojentas para os dois
transando e as risadas.
— Chiara, espera — ouvi Ravi Dizer, a voz arrastada
embolando as palavras —é sério, eu tô passando mal.

Eu ia sair do vídeo, era demais para mim, iria acabar me


fazendo mal. E eu não queria em hipótese algum outroepisódio
doloroso de contrações.Mas Ravi se levantou, tirandoChiara de
cima e a impressão era que o nariz estava ensanguentado. Não
dava para ver nitidamente,porque nesse momentoa câmeraperdeu
o foco e no segundo seguinte pararam de filmar
.

Eu achava que não conseguiria me decepcionar ainda mais


com Ravi, mas ele sempre provava o contrário.Era tão sujo, tão
desleal, tão... Não havia palavras que nomeassem toda essa
sujeira. Para ela poderia ser só diversão, era, claro. Mas ele estava
se matando.

Guardei meu celular e me levantei. Precisava ir embora. Falei


com Marina, para não desaparecer sem dar notícias.Disse que
estavacansada por causa da gravidez. Ela fezum carinhona minha
barriga e depois me puxou para um abraço.
— Fica bem, viu? — ela perguntoue eu assenti. Falei com
Jordana e Edu, e avisei à July que já estavaindo. Fui atéSilvia, não
iria bancar a mal educada com ela e o marido, nem com Pedro. Me
despedi deles, ignorei Ravi. Seria capaz de vomitar nele se
precisasse falar com ele.
— Eu te levo — Pedro falou prontamentee eu iria negar, mas
tersua companhia iria me ajudar um pouco. A pelo menos esquecer
tudo isso.
— Vida — Ravi chamou, mas eu ignorei e saí andando.
Cheguei ao estacionamentoe notei que ele vinha junto com Pedro.
Comecei a entrarem pânico, ficando muito tensa. Não devia ter
vindo, eu já sabia que os dois faziam sexo, que faziam ménages,
orgias, trocasde casais e todos os fetichesexistentes.Mas eu não
precisava ver, ainda mais desse jeito, com ele naquele estado
deplorável. Luísa só queria que eu espalhasse, para expor Chiara. E
eu não fariaisso. Ou talvez ela mesmo espalhasse e tentariame
culpar. Fui tão ingênua.
— Vida, vamos conversar— Ravi falou, ouvir sua voz me deu
nojo, me deu ânsia. Eu não conseguia olhá-lo e imaginar que um dia
eu fui capaz de tudo por amá-lo.
— Vamos? — pergunteiao Pedro, que assentiue eu fui atrás
dele, procurando pelo seu carro. Ravi nos seguia.
— Denise, para com isso, não precisa de tanto— Ravi falou
insistente.Eu parei de andar e me virei para ele — vamos conversar
— ele falou mais baixo, chegando perto.O cheiro do seu perfume
me enojava, devia viver impregnadonela.
— Pode dizer — falei, pegando meu celular da clutch em minha
mão. Estava tremendo, o celular reconheceu minha face e
desbloqueou.
— Eu te amo — ele falou o de sempre, sem uma explicação
coerente.Nunca mudava o repertório— eu to sofrendosem você,
me sinto culpado... Sinto faltade nós dois. Não sei mais o que to
fazendo da minha vida.
— Só isso? — perguntei, tremendo tanto para colocar na
conversa de Luísa e abri o vídeo.
— Me perdoa — ele falou e ia se ajoelhando, mas parou sem
reação quando virei a tela para ele. O silêncio dominou, se não
fossetoda a música de fundo, que já era distante,os gemidos dos
dois e a risada de quem filmava. Ravi perdeu um pouco a cor nos
lábios, era muito fácil quando ele se sentia capaz de negar. Fazia
parecer suposição, depois ignorávamos, tentávamos de novo.

Não precisei dizer nada, ele me encarava cheio de culpa,


remorso talvez? Ou vergonha por ter sido desmascarado
explicitamente?
— Eu vou embora agora. E eu não quero que você me procure
nunca mais — eu falei decidida, ele resfolegou,ensaiou dizer algo,
mas não conseguiu — aproveitaa noite com a mulher que te deixa
louco, que fazloucurascom você, que apoia e incentivao seu vício,
a sua doença. Se mata, se destrua,Ravi. Eu não me importomais.
Quer saber? Eu ficariaaliviada! Se não quiser, como já não tem
participado mesmo, não precisa nem lembrar que teremos uma filha,
ela cert
amente teriavergonha de um pai como você. Porque eu me
sintoenvergonhada de terme envolvido com você, vergonha de ter
tentado tanto por alguém como você!ocê
V me enoja!

Pedro estavaquieto, sem reação. Entramosem seu carroe eu


não consegui segurara barra,desateia chorar
. Estavatão sozinha,
tão perdida. Ele não ligou o carro, não nos tirou dali.
— Me desculpa — eu pedi, soluçando e limpei as lágrimas,
mas em vão.
— Sinto muito, Dê — ele falou lamentosoe eu não conseguia
conter o choro.
— Estou exausta disso — a voz saiu toda engasgada, eu
chorava dolorosamente— e ele ainda acha que tem direito de
perdão...
— Depois disso... Na verdade, já tem tempo que vocês não
estãobem — ele falou cauteloso— não vale a pena, se forpra ser
assim.
— Eu fui muito burra— eu falei, limpando meu rosto— que
exemplo de pai ele vai ser?
— Não pensa nisso agora — ele falou, acarinhando levemente
o meu rosto — as coisas vão se encaixar
, você vai ver.
Não disse nada, só tenteiparar de chorar feitouma louca.
Limpei meu rostoe tenteiadormecertodosesses sentimentosruins
que me dominavam.

Quando ele estacionou em frenteao meu prédio, eu o olhei,


meio sem jeito de pedir, andava realmenteabusando da sua boa
vontade. Pedro não tinha obrigação nenhuma de fazernada por
mim.
— Não queria ficarsozinha — eu falei baixo, me sentindo
humilhada por dizer
.
— Quer que eu fique com você? — ele perguntoue eu fiz uma
caretade dor, me sentindo péssima — acha que ele vai vir te
procurar?
— Acho — eu falei, fungando — só me faz companhia por um
tempo, até eu me acalmar
.
— Tudo bem — ele falou — sabe que pode contarcomigo
sempre.
— Obrigada, Pedro — falei ternamente— não devia te
incomodar tanto, nem sei como agradecer
.
C 26
RaviFerrari

Fiquei parado, sem reação, plantado no lugar. Culpa, remorso


e vergonha me dominavam. A caminhonete branca de Pedro se foi e
eu não tinha nenhum argumento que fizesse Denise me escutar
.
Esperei um tempo ali sozinho, tentandonão culpar ninguém.
Queria saber quem mostrouo vídeo para ela, que intenção tinha
nisso? Magoar Denise?
Voltei para a festa,mas só para pegar a chave do meu carroe
me despedir do pessoal. Minha vontade era a de procurarDenise,
tentaralgo para que ficássemosjuntos, como sempre. Mas esses
episódios de contraçõese o risco de ela entrarem um trabalho de
partoprematuro,me segurava no lugar. Eu jamais me perdoariase
algo acontecesse a ela ou com a nossa filha.
— Está tudo bem? — minha mãe perguntou e eu a olhei,
queria um consolo, que alguém me dissesse que ficariatudo bem.
Ela me aceitaria,perdoariameus erros,seriamos um casal feliz e
bons pais para nossa filha.
— Pelo vistojá fez merda de novo — meu pai falou sarcástico
e eu o olhei desprezível— ainda coloca o irmão pra vigiar a menina,
assegurar que ela não faça nada.
— Não fiz isso — eu falei na defensiva. Era bom que Pedro
fizesse companhia para ela. Apesar de não sermos tão próximos,
ele era meu irmão e confiávamos um no outro.
— O que houve, filho? — mamãe perguntou e eu a olhei,
negando com a cabeça. Jamais poderia dizer
.
Enviei uma mensagem para Denise, pedindo perdão por tudo
isso, mas ela não respondeu. E quando insisti, dizendo que a
amava, ela me bloqueou. Um garçom passou servindo uísquee eu
achei que uma dose me acalmaria, mesmo que uma voz bem lá no
fundo dissesse que era melhor não.
Mamãe me olhou condescendente,pediu para não beber, mas
ignorei. Num impulso cego, quando vi Chiara passando com
Jordana, iam na direção dos banheiros, eu fui atrás.
Havia uma garotalá dentro,mas quando ela saiu, eu entreie
fechei a porta.Chiara me olhou confusae deu um sorriso,que se
desfez ao notar minha feição séria.
— Quem mandou o vídeopra Denise? — indaguei furiosoe ela
franziu o cenho, a animação de segundos atrás indo embora
completamente.
— O que?
— Eu não estou brincando, Chiara — eu resmunguei —
alguém enviou aquele vídeo maldito pra Denise. Quem foi?
— Você não está achando que eu... — ela começou incrédula e
Jordana saiu de uma das cabines. Eu suspirei, ficando
desconcertado e ela nos olhou séria.
— Então ela viu algo e foi embora? — Jordana pergunto
u, era
sempre doce, mesmo quando não estava confortávelem uma
situação— vou deixar vocês sozinhos, isso não é assuntomeu —
ela ergueu as mãos. Mas antes de sair, as lavou na pia.

Eu fiquei olhando para Chiara, esperando sua explicação, mas


ela era ousada demais, não iria me falar
. Quando deu um riso
incrédulo e ia passarpor mim, para seguir a cunhada, eu a segurei
pelo braço.
— Ela está grávida, Chiara. Se você foi capaz de fazer isso...
— Eu não mandei nada pra ninguém! — ela falou mais alto,
irritadae num impulso se soltou de mim — me admira muito você
me acusar! Eu iria mesmo me expor! A trocode que? Fazê-la
passar mal?
— Então quem foi, Chiara?
— Eu não sei! — ela só faltou gritar— eu sei o peso do que
fizemos, mas eu não sou monstruosa desse jeito!
Ela saiu apressada, puxando a portacom força.Eu corrias
mãos no rosto e grunhi, sufocado com tudo isso.

Fui embora e não consegui me segurar , deixar tudo como


estava, nosso relacionamento estava cada dia mais soterrado.
Imaginei que com a gravidez iriamos consertaras coisas, mas eu
apenas piorei tudo.
Tive a sorteda tia dela estarchegando, junto com o namorado
e estacionei o carrode qualquer jeito, desci correndopara alcançá-
los.
— Ah, oi — Carol falou educada — achei que talvez estivesse
com Denise — ela fez uma careta confusa, parecia um pouco
embriagada. Acenei para o homem ao seu lado.
— Queria falar com ela — falei e ela me analisou por um
momento, como se pensasse se deveria.
— Não vão brigar, né? Sabe que o médico a liberou hoje, com
promessassérias de evitaremoções fortes.
Não queremosum parto
prematuroao extremo— ela falou, me fazendo sentiruma pontada
no peito.
— Não vamos brigar — eu prometi — só preciso vê-la.
— Ela já chegou?
— Já, meu irmão a trouxe — expliquei e ela assentiu.
Subimos todos juntos, mas a decepção veio quando entramos
e ela não estavaali. Ainda insisti,fui até o quarto,banheiro. Passei
rapidamentepelo quartoda nossa filha,que já estavatodopronto.O
berço, armários,prateleiras,o trocadorsobre a cômoda. O papel de
parede era um rosa bem claro e na parede onde a cadeira de
amamentaçãoestava,havia escritoem uma caligrafiabonita:Olívia.

Senti uma pontada no peito, pelo cheiro da tinta,deve tersido


pintado entre ontem e hoje. E eu nem sabia que ela já havia
escolhido. Também não me coloquei em posição de ter querido
decidir juntos.
— Então ela não veio pra casa — Carol falou confusa, pegando
o celular e ligou, mas ela não atendeu.
Comecei a ficarpreocupado, liguei para meu irmão, enviei
mensagens e nada também. Pergunteipara July se ela sabia de
Denise, mas nada. Havia desaparecido.
— Eu vou esperarpor ela, tudo bem? — pergunteie ela deu de
ombros.
— Quando conseguirfalarcom ela, me avise — ela pediu e foi
para seu quarto com o namorado.

Fui para o quarto de Denise e me sentei à cama. Insisti


mandando SMS’s, mas se ela via, ignorava a minha preocupação.
C 27
Denise Malta

Quando Marina contousobre a discussão de Ravi e Chiara, eu


pedi para Pedro me tirardo meu apartamento.Ele já iria embora, de
qualquer maneira, e eu, mesmo sem querer incomodá-lo, não
hesitei.Eu conhecia Ravi, sabia que ele iria me procurar
, se fazerde
vítimade si mesmo, implorarpor um perdão que não tinha valor
nenhum para ele.

Era aquele clichê de que ele só estavaarrependidoporque foi


pego. Não que antes não tenha sido, mas eu tinha uma prova
nojenta e escancarada dele e dela, ele não podia nem tentar
contestar
.

Pedro arrumoua cama no seu flatpara mim e ia para o outro


quarto,mas eu pedi que ficasse. Então ele pegou o colchão de
solteiroe colocou no chão ao lado da cama. Conversamos sobre
muita coisa, o gosto dele por tocarviolão e a minha paixão pela
fotografia.Contei a pressãode Ravi para que eu investisse na área
de direito,mas não era minha vontade.Ele tentoudefendero irmão,
óbvio, jogando a maior parteda culpa nos vícios,mas eu não queria
mais aceitar isso.

Eu fui ficando sonolenta, mas pelo menos estava mais


tranquila, não havia me abalado tanto posteriormente ao vídeo.
Quando acordei na manhã seguinte, logo me situei de onde
estava, de tudo que estava acontecendo. Escorregueiuma mão
para a barrigae acariciei o ventreredondinho. Depois me virei e
noteique Pedro ainda dormia, no colchão de solteiroque colocou ao
lado da cama.

Me levantei e fui para o banheiro. Havia trazido tudo que


precisariapara passara noite. Tomei um banho, fiz xixi, escovei os
dentes e vomitei por causa da pasta de dente. Isso deve ter
acordado Pedro. Dei descarga e lavei a boca de novo, insistindo
para não ficar com mal hálito.

Quando abri a portado banheiro, ele estava em pé pertoda


janela e mexia no celular. Ele sabia que Ravi iria falar
, mas o celular
descarregou e ele colocou no carregador e não pegou mais.
— Se puder não dizer que estouaqui — falei rápido, para dar
tempo intervire ele me olhou. Engoli pesado, incomodada com tudo
isso, mas não queria ver Ravi, falar com ele, não agora.
Pedro assentiue voltou a focar no celular. Eu não sabia se ele
tinha uma namorada nova, ou sei lá, alguém e eu estava
atrapalhandoe tomando seu tempo, mas se fosseo caso, ele teria
dito.
Ele entrouno banheiro e eu fui pegar o meu celular. Vi as
mensagens de July, falando sobre como Chiara estavafuriosa,pelo
que havia entendido,Ravi a culpou pelo vídeoterchegado atémim.
Mas ela queria o que? Ele não respeitavaa mãe da filha dele, a
mulher que vivia enchendo de juras de amor, de promessas, iria
respeitar a mulher que fazia de amante? Era bizarro.
Tia Carol avisou que ele estavalá em casa, o que me fez não
querer ir. Pedro voltou com um cheiro frescodo seu perfume,
vestido numa bermuda de ginastica, bem confortável.
— Então vou pedir café da manhã pra nós — ele avisou e eu
fiz uma caretaculpada — relaxa, Denise — ele falou, rindo — sabe
que não é incômodo nenhum te fazer companhia. Você está
esperando a minha sobrinha... E afilhada — enfatizoue eu dei um
sorriso carinhoso.
— Me sintopéssima — eu lamentei manhosa — e o pior é que
eu prefi
ro me sentirpéssima por tomarseu tempo do que enfrentar
tudo agora, com raiva.
— E está certa, não é bom se estressar— ele falou
carinhosamentee se sentouao meu lado — Deixa Ravi se acalmar,
você assimilartudoisso, depois vocês conversam.Vai querercomer
o que? — perguntou, abrindo um aplicativo de delivery
.

Pedimos suco de laranja, pão na chapa e alguns pães de


queijo. Não demorou a chegar e comemos. Depois fiquei no sofá,
vendo a ondinha que a barrigafazia, com a minha filha mexendo.
Pedro ficou animado, já havia sentido antes, mas ainda não dava
para ver externamente.Agora ela dava uma ondinha e eu cutucava,
falando com ela para animá-la.
— Posso tocar?— ele perguntou e eu o olhei serenamente,
assentindo. Pedro tocou meu ventre,acarinhando e eu senti um
afago bom no peito, o olhando. Ele falava com a minha filha, a
chamando pelo nome que eu escolhi, tão carinhoso. Depois ainda
filmou um pouco, para mostrar à Ravi depois.
— Ela está agitada hoje — ele comentou, se afastandoum
pouco e eu tentei sorrir
.
— Ela fica um pouco, duranteas manhãs — contei — logo
depois que como.
— Acha que ela vai ser elétrica ou quietinha quando nascer?
— Esperoque seja amorosa— eu faleipresunçosae ele riu —
às vezes me pego com um sentimentode loucura, tipo me achando
burrapor terdeixado acontecer . Mas na maioria do tempo, estou
ansiosa pra poder ver o rostinho dela.
— Faltam quatro meses e meio só — ele lembrou e eu assenti.
— O quartodela está quase pronto— eu falei — e eu fico
louca pra sair comprando tudo quanto é roupinhas, mas Jordana
disse que a maioria nem vou usar
.
— É que no nível que compraram tudo pra Helena, seria
preciso pelo menos umas dez criançaspra dar conta de consumir
tudo — ele lembrou e eu comecei a rir
.
— Ela se sente culpada, sabia? — eu defendi — até doou
muita coisa.
— No próximo vai ser tudo exagerado igual.
— Acha que vem o próximo? — pergunteipresunçosae ele me
encarou como se fosse algo óbvio.
— Qual a chance de não vir?
— É estranho você não ser próximo de Edu, Fred...
— Namorei a ex de Fred, antes dele — ele explicou e eu o
olhei, completamentesurpresa— brigamos feio na época... Hoje já
ficou tudo bem, mas o ciclo de amizade sempre foi outro...
— Ninguém nunca comentou sobre isso — eu falei, ainda
chocada com a novidade e ele deu um riso cansado.
— Não foialgo grandioso,também.Mas éramosjovens, tudoà
flor da pele, foi uma guerra desnecessária.
— Foi tudo tão inesperado com ela — eu comentei — tão
triste...
— Foi, foi terrí
vel — ele concordou e ficamosem silêncio, isso
até minha filha voltar a mexer e a ondinha nos distrair
.

Logo Silvia ligou para ele, pedindo para que me buscasse. O


encarei com um sorrisoatrevido, jogaram a missão de não me
deixar sozinha na gravidez em cima dele, era quase uma pena, mas
pelo menos nos dávamos bem.
— Pediu pra eu te buscar, pra você ver o quartoda Olívia —
ele falou — disse que ia te ligar
.
— Rápida — falei desconcertada ao ouvir meu celular tocar .
Não recusei o pedido e ela avisou que Pedro chegariaem vinte
minutospara me buscar, e que não queria saber se eu tinha outros
planos.
— Ela está empenhada em te manter por perto — Pedro
comentou e eu balancei a cabeça. a Tlvez Silvia tivesse medo de que
eu e Ravi rompêssemos de vez e com o desinteressedele na
gravidez, ela ficasseafastad
a da neta. Mas eu jamais a manteria
longe da neta.

Levantei para pegar minha bolsa e ele foi se trocar


. Voltou com
uma blusa brancabem larga e uma bermuda jeans, e chinelos. Todo
simples, despojado.
Deixei minha bolsa no carrodele, quando chegamos e Silvia
veio logo me encontrar . Como a camiseta que eu usava era um
pouco curtae folgadinha, mostravaum pouquinho da barrigae ela
parecia maravilhada vendo. Contei que passei a noite com Pedro
para fugirde Ravi e ela negou com a cabeça, mas não tentava
realmente defender os erros absurdos do filho.
— Já comeu?
— Tomei café — expliquei — não estou com fome, não se
preocupa.
— Vamos, você precisa ver o quarto dela — ela falou
empolgada, me arrastando escada acima.

A decoração aqui era toda em tons bem clarinhos. Rosa e


branco. Ela fez uma divisória ripada, uma partehavia uma cama de
casal e a outrao quartoda Olívia. Tudo tão sofisticadoe clássico.
Eu olhava meio chocada, não precisava de tanto.
— A brinquedoteca resolvemos que seria melhor lá em baixo,
pertoda área externa...— ela falou e eu a encarei quase incrédula
— e achei que seria bom você terum cantopra descansar, quando
vier trazê-la nos primeiros meses.
— Eu nem sei o que dizer — falei chocada.
— Ravi disse que vem ver, logo estáaí — ela falou e a minha
feiçãomudou na hora — achamos que com a gravidez vocês iriam
se acertar
.
— Eu também achei. Do contrárionem teriatentado— falei
incomodada, não querendo falar do vídeo.
— Mas tudo bem, terãoque aprendera conviver pelo bem da
Olívia.
— Ele vai quererser presentepra ela? — pergunteiduvidosa,
cheia de acidez e Silvia me encarou preocupada — não se
incomodou nem em saber se eu havia escolhido o nome, está
sempre ocupado nas consultas,nunca pode dar um tempo pra nós.
Pedro que é tio dela, está mais por dentro de tudo.
— Ele tem sido bom pra você, como pode os dois serem tão
diferentes...— ela disse — deve estarquerendo conquistaro posto
de padrinho.
— E seriamais do que justo— eu falei— mas o pai dela quem
deveria quererser presente,saber de tudo, curtira gravidez. Afinal
ele dizia querertanto,se eu insistiaem pararde tentar
, ele fazia um
drama para continuarmostentando! — fui irônica e amarga ao
desabafar
.
— Vamos, vou temostraronde vamos fazera brinquedoteca—
ela falou, para mudar de assunto.

Comecei a ofegardepois do touraté o lugar. Ela me mostrou


os brinquedos que queria colocarlá, queria que a netativessemuito
com que se divertire sentisseque foi muito esperada. Quase disse
que isso não iria suprir a falta paterna, estava magoada com Ravi.
Há algum tempo, eu queria que ele mudasse. Depois ele foi
esmagando meu sentimento, meu amor e ardor por ele com
mágoas, com traições,faltade respeito.Eu engravidei porque ele
também queria, me convenci que seria bom para nós, que seria um
motivo maior para ele quererse tratar
, fiz como prova de amor e ele
fez o que fez.
Eu fui só mais uma prova de que filho não muda homem.

Ravi chegou e eu o olhei, tão incomodada com sua aparência


estranhade que não estava nada bem. Ele cumprimentoua mãe
com um abraço e beijo na testa.
— Onde você passou a noite? — ele perguntoupara mim, que
o encarei desentendida — vamos, Denise, não faça suspense.
Passei a noite no inferno preocupado, sem saber onde você estava.
— Por aítraindoalguém, que não foi— eu faleiazeda e ele me
encaroufirme.Pedro soltouo ar de uma vez e se levantou, Ravi não
aprendia nunca. Eu queria ir atrásdele, ficaraqui com Ravi seria só
para brigarmos.
— Eu não to brincando, Denise — ele resmungou.
— Quantas noites você não passou no mundo enquanto eu
estava sozinha? Por que agora se incomoda em saber onde eu
passei a noite?— pergunteiirritadae ele recuou,correuas mãos no
rosto e negou com a cabeça.
— Eu fui à sua casa — ele falou mais baixo — vi o quartinho da
nossa filha... Olívia.
— Está pronto há mais de uma semana.
— Eu quero fazer partedisso, vida — ele falou malemolente,
vindo para mais pertoe eu recuei — eu quero ser um cara melhor
pra vocês.
— Eu tenho no meu celular um vídeo seu, transandocom
outra.Quando foi? Eu estavaaqui, cheia de contrações?Ou estava
em uma consulta?Será que foi enquanto você ignorava as minhas
fotospedindo a sua ajuda pra decidir o papel de parede do quarto
da nossa filha? Ou em uma das noites em que me deixou sozinha
pra encher a cara? — destrambelhei a perguntar , mas não dei
tempo para ele responder— ah, melhor, foi à trabalho,não é? O
seu caso em Teresópolis, que você começou a inventarque ainda
estavaem andamento, só pra se sentirmenos culpado por me trair
e me enganar.
— Eu estou arrependido,Denise — ele falou seco, num tom
baixo e amargurado— eu sei que errei,não estoume inocentando.
Mas eu amo você.
— Eu não amo mais você. Há muito tempo eu to pedindo pra
você se tratar
, recuar
, reconhecer que precisa de ajuda. Está cada
vez mais acabado, estranho
, parece estardefinhando e acha que
tem alguma razão! Me trairé o problema mínimo, vendo de perto
que você está se matando! — falei firme, sentindo o coração
acelerarcom o peso da minha afirmação.Uma empregada passava
com roupas de cama dobradas, ia subir a escada e parou ao me
ouvir. Ravi olhou feio e ela tomou seu caminho.
— Não diz isso, vida — ele falou meio chocado, vindo para
mais perto e tentouacariciarmeu rosto,mas eu tirei sua mão
rispidamente— o amor que sentimos um pelo outro não pode
acabar desse jeito.
— Hoje eu só sintonojo, Ravi — falei,era mais fortedo que eu,
eu queria machucá-lo de alguma forma— tudo o que eu aguentei
ao seu lado, que eu perdoei, que eu passei por cima, foi porque eu
te amava, estavacega. E ainda bem que eu estivecega em algum
momento, porque hoje eu amo a nossa filha, eu estou ansiosa por
ela. Mas eu não consigo mais pensarem viver isso. Não vou colocar
minha filha no mundo, pra ela me ver aceitandotudo isso que você
faz. Pra ela crescervendo você inventardesculpas vergonhosas só
pra saire enchera cara.Um homem adulto,que deveria honrarcom
as própriasresponsabilidades e não tem coragem de fazerisso.
Prefereviver no sujo, se destruindo,achando que é só por diversão!
— Eu faço o que você quiser, Denise! — ele falou com força,
mas não me comovia, por isso, nem conseguia driblartudo com um
beijo, me seduzir e me levar para cama. Porque antes, depois do
sexo, nós dois fingíamos que estava tudo bem e ficávamos juntos.
— Eu não quero mais nada, Ravi — eu falei decidida — sinto
muito, mas eu não quero mais nada.

Ravi tentouum drama, ficouirritadoquando viu que não iria me


comover e começou a chorar . As lágrimas vinham grossas, me
deixando de mãos atadas,porque seus pais sempreesperavamque
eu fosse esperar ele mudar
, que eu tivesse o poder de salvá-lo.

Quem não o conhecesse e visse, diria que eu era a mulher fria


que estavao deixando sofrer, que estavasoltandoa sua mão. Meu
sentimentopor ele não sumiu da noite pro dia, nem diria que sumiu,
ele foi soterradopor mágoa, dor. Hoje eu não conseguia pensar em
dizer que estávamosjuntos,eu sabiaque nada seria diferente.Que
não valia a pena.

Ele começou a dizer que parava de beber, que parava de sair,


que se isolava do mundo para ficarcomigo, e soluçava no meio do
choro desesperado. Neguei com a cabeça, nada disso me
convencia mais. Se comovesse, eu já teriaperdoado no início, ele
não ter
ia que chegar tão longe. Era humilhante para nós dois. Eu
queria que ele se tratasse,que freasseo vícioque estavaacabando
com ele, era visível. Dizer que parava de beber não resolvia nada.
A agonia da cena me fez teruma contraçãoe eu reclamei, me
sentei. Ele não parou logo, estava desesperado, queria me
convencerde qualquer jeito.Eu tenteinão focarnisso. Contraçãode
treinamentoera comum, mas quando eu tinha uma, logo vinham
outras,e começava a doer. Não era seguro me emocionar demais.
Eu estava liberada do repouso absoluto, depois que o doutor
suspendeu o remédio e eu não tive nada. Mas também não poderia
fazer nenhum esforço. Sexo estava fora de cogitação, por exemplo.
— Ravi, chega! — eu falei mais alto e mais forte,então ele
segurou o choro, me olhando, não se deu o trabalhode limpar o
rosto,porque tinha que validar seu sofrimento.Eu já conhecia o
repertório. Me levantei, respirando fundo para me manter calma, não
queria entrar em uma crise de contrações, de maneira nenhuma.
Ele não teve mais coragem de dizer nada, deve terfinalmente
percebido que absolutamentenada mexeu comigo, não como ele
queria que mexesse.
— Eu quero ir pra casa — falei cansada — quero descansar,
não posso me estressar à toa.
— Me desculpa — ele falou, fungando e correuas mãos no
rosto, limpando as lágrimas — vamos, eu levo você.
— Acho melhor não — falei friamente— não quero conversar
,
não tem nada pra resolver
, Ravi. Sinto muito, mas eu não quero
mais.
— Me deixa só te levar pra casa — ele pediu cauteloso— não
vou fazer nada.

Fiquei o encarando, queria ir com Pedro, queria conversarcom


ele, tersua amizade me acalmava, mas não queria mais problemas.
Silvia pediu para sermoscautelosos,enfatizoupara Ravi que eu não
podia me estre ssar. E pediu que eu ficasseem repouso o restodo
dia, qualquer coisa, era só pedir que ela providenciaria
. Mas era
claro que eu não abusaria da sua boa vontade.

Ravi parecia mais aliviado, como se me levar para casa


dissesse que iríamos voltar
, ele estava acostumado com isso.

Ele tentoupuxar conversano caminho, acariciavameu ventre,


queria parecercarinhoso, mas eu estava sufocada dele. O olhar
estava avermelhado, ele queria parecer confiante, mas estava
apenas desesperado.Era como se no mais íntimodele mesmo, ele
soubesse que estavachegando ao fundo do poço. Fiquei quieta até
chegarmos.Ele pediu para subir, disse que não faríamos
nada, mas
eu não queria ficarna companhia dele. Olhar para ele me fazia
lembrar daquele vídeo, analisá-lo me angustiava.
— Eu quero ficarsozinha — falei cansada e fiz uma careta,
recuando da mão dele, que vinha acariciar meu rosto.
— Não me deixa, amor — ele falou pesaroso, a voz
completamente embargada, os olhos marejando de novo. Me
convenci que o choro não era de dor, de medo por estar me
perdendo. Era raiva por estar sendo contrariado.
— Podemos conversardepois? Estou cansada — pedi, para
sairmos dessa situação logo — me deixa descansar
.
— Eu te amo — ele falou, me encarando e eu pisquei devagar
— você é tudo pra mim, sabe disso, não é?
— Eu vou dormir agora a tard
e — falei,desconversando— nos
falamos depois.
C 28
Denise Malta

Fiquei deitada no meu quarto,acariciando o ventree olhando


para o teto.Não dava para explicar como as coisas mudaram aqui
dentro.Não foirapidamente,talvezfoicomo tinhaque ser, no tempo
certo,talvez eu precisasse da minha filha, antes de deixar Ravi.
Talvez eu não fossedeixa-lo e em outrarealidade conseguiríamos
consertaras coisas, mas era tão difícilpensar desse jeito agora,
quando as lembranças do vídeo dele com outraainda eram tão
vivas em mim.

Doía muito pensar. Eu só engravidei porque achava que assim


ele tirariaforçaspara se tratar
, mas foi o contráriodisso. Desandou
ainda mais, tantoo vício dele, quanto o nosso relacionamento.Ele
iria relutar
, mas uma hora cairia em si. Ele precisava saber que o
maior culpado de estarmosdessa maneira, de me fazerperdero
tesão, o desejo, foi dele. Ele foi enterrando isso cada dia mais.

De qualquer modo, eu não queria carregarmágoa. E também,


mesmo que Silvia achasse que eu deveria, não iria insistirpara ele
ocupar o lugar de pai na vida da nossa filha. Isso tinha que partir
dele.
— Pelo menos você quer muito o bebê — Mari falou, quando
chegamos juntas à praia, em um sábado.
— Mas é bem louco imaginar que fiz por ele, e ele não está
nem aí — falei frustrada— acho que em algum delírio louco,
imaginei que ele se transformaria, como Edu fez.
— Ele teriasorte,se tivesse mudado — minha amiga falou
pesarosa — no final só ele quem perde. Sei que vai sofr
er quando
se der conta que perdeu.

Arrumamoso guarda-sole as cadeirassob ele, eu me enchi de


protetor solar e compramos água de coco.
— Acha que eu conseguiria perdoar e tentarde novo? —
pergunteiincrédula,sentindouma pontadano peitopor cogitar
. Mari
deu de ombro.
— Acho que você vai tertempopra pensarnisso, cuidarda sua
filha... Acreditoque as coisas se encaixam na hora certa— ela deu
um sorr iso atre
vido — se encaixaram pra Jordana, pra July, pra mim
e Fred... Pra você também vai.
— Acha que Ravi vai ficarcom Chiara? — pergunteie ela me
encarou duvidosa — que ele gosta dela?
— Acho que são dois pervertidosjuntos,apenas isso. Quando
ele se der contade que te perdeu, não vai nem olhar na cara dela,
tenho certezadisso. Não perdeu tempo em ir culpá-la, brigarcom
ela por... — ela se referia ao vídeo. Balancei a cabeça.
— Não consigo mais me imaginar com ele — confessei,
sufocada disso tudo — quero ser madura, enfrentar as coisas da
melhor maneira pela nossa filha, mas não consigo nem olhar pra ele
direito. Tudo tem gosto e cheiro de traição,de uísques caros e
pornografia.Ravi estáestranho,se destruindoe ninguém da família
dele faz algo pra impedir
.
— Eu poderia dizer que você acordou tarde,mas talvez sejam
os hormônios, o instintoprotetor— ela provocou, mas deu um
sorrisoacolhedor — e um bebê é uma benção. E você vai amá-la e
cuidar com todo amor do mundo. Então foi como tinha que. ser
— É... Gosto de pensar assim também.
— Lembra que Jordana tinha planos de escondera Helena de
Edu? — ela perguntoue nós duas rimos — ele ficou louco quando
descobriu.
— Ela é boazinha, mas soube se defenderquando ele foi um
cretino.
— Eu não gosto de defenderas burricesde homem, mas eu
entendo que Edu tinha traumas, medo de sofrer de novo.
— Ravi nunca passou por nada disso, não precisavaser esse
canalha — lamentei e ela assentiu lamentosamente.
— Quando eu e Fred ter minamos aquela vez, foi muito
doloroso, pela maneira como aconteceu. E quando achei que não
iríamosmesmo nos acertar , me convenci de que pelo menos valeu
as experiências sexuais — ela falou petulante.
— Sexo era a única coisa que ainda funcionavapara nós dois.
E agora eu tenho nojo só de pensar em fazercom ele — eu falei,
me sentindo péssima por desabafar .
— Você fez a sua parte,amiga. Você perdoou Ravi incontáveis
vezes, fez todasas provas de amor que um homem poderia querer .
Fez tudo o que ele queria. Mas estamosfalandode um viciado, sem
ele reconhecer que é uma doença e que precisade ajuda, qualquer
coisa vai ser em vão.
— Se você aparecessegrávida agora, Fred te daria o mundo,
não é? — perguntei, sorrindoamigavelmente e ela fez uma careta,
mas acabou assentindo,não tinhacomo negar — acho que imaginei
que Ravi fariao mesmo. Como Edu fez por Jordana. Era muito fofo
vê-los, ele estavasempre com ela. Ravi só foi a uma consultae foi
bem tenso.
— Jogou o irmão pra cumpriras funçõesde pai que deveriam
ser dele — ela constatou e eu suspirei angustiada.
— To tão cansada de pensar nisso tudo, nessa bagunça...

[...]

Os pais de Edu sempre davam festano aniversáriodele. Eu


queria não ir, por causa de Chiara. Mas já estava tudo tão
indiferente,que eu não descarteio convite de Jordana. Queria sair
um pouco, estava fazendo repouso a maior parte do tempo,
cuidando mais de mim, evitando Ravi. Ele, segundo Silvia, estava
perdendo o focoaté mesmo no trabalho,seu pai já estavafuriosoe
Pedro também. Em uma semana dessas, bebeu de segunda à
segunda, sem pausar. Outro dia Pedro e Vincenzo precisaram
buscá-lo caídoem um bar, dando vexame e pedindo por mim. Doía
saber, mas talvez Silvia tivesse pensado que se eu voltasse, como
sempre fiz quando ele perdia completamente o controle, ele
recuasse.Mas eu não seria mais o remédio temporário.Ele ficaria
duas semanas ou um mês quieto, aguentando firmeas crises de
abstinênciapara provarque mudou, mas depois voltariaa fazertudo
de novo.

Ele até perguntavasobre a gravidez, mas era só dar brecha


que vinha com as insistências sobre nós dois. Mais cedo, ele
perguntou se eu ia para a festa de Edu e eu confirmei.
“Então eu passo pra te buscar e vamos juntos” — ele falou.

“Eu vou com Jordana, nos vemos lá” — falei, para evitá-lo.

Fui me arrumarcedo, com calma. Sequei os cabelos e fiz


ondas com o babyliss. Vesti um vestido preto de gola alta, que
mostravaa barrigade cinco meses, mas só quando ficava de lado.
Como estava um pouco curto,coloquei um blazer que passava um
pouco do vestido por cima e calcei uma sandália alta de salto fino.
Fiz uma maquiagem mais natural,mas coloquei batom vermelho
escuro nos lábios.

Postei uma foto no story do instagram e Ravi logo respondeu:


“Linda! Mulher da minha vida.
e amo!”
T

Revirei os olhos ao ler pela barra de notificação.Há alguns


meses, eu iria me agarrarà sua promessa de amor, adorar a
declaração, me colocar na missão de salvá-lo dessa desgraça de
vício.Me convenceriade que comigo, ao menos ele tentavaparar .É
muito triste quando a mágoa se sobrepõe ao amor.
Jordana chegou no horáriomarcado, com Helena, que estava
bem faladeira hoje.
— Conta pra tia Denise o que você deu pro papai hoje — ela
falou para a filha e eu a olhei, na cadeirinha no banco traseiro.
— Chocolati e perfôme — ela falou, dando um sorriso
triunfante, me derretendo inteira.
— E comeu o chocolate do papai também — Jordana entregou.
— Ele deixou! —Helena contestou logo e minha amiga sorriu.
— Ela não come açúcarainda — ela me explicou — encontrei
uma marca de doces mais saudáveis. São meio caros, mas vale a
pena.
— Me conta qual depois — eu pedi — assim, quem sabe meu
médico não deixa.
— Está tudo bem com vocês, não está? — ela perguntou
enquanto dirigia.
— Só não posso fazermuita coisa, pra evitaras crises de
contrações — expliquei.
— Edu comentou que você não tem facilitado pra Ravi.
— Todo mundo deve me achar muitoburrapor terengravidado.
Não foi um acidente, nós planejamos.
— Não, amiga — Jordana rebateu docemente— nós achamos
que você deu o seu melhor, porque o amava, você semprelutoupor
ele, pra salvá-lo. A culpa não é sua, se ele não deu valor. E azar o
dele, que está te perdendo e nem se dá conta disso, porque é
egocêntrico demais pra notar .
— Ele acha que vamos nos acertar , que eu tenho que aceitar
— eu resmunguei — mas seria a conta de voltarmospra ele se
sentir seguro e aprontar como antes.
— Foi muito erradotudo que ele e Chiara fizeramcom você,
mas eu acho que é só porque ele consegue sanar todos os vícios ao
lado dela. Ela e Eduardo estão brigando muito, por causa disso
tudo...Todos estãocomentando que ele estáforade controle,como
nunca vimos antes— ela reclamou — mas sei tambémque você vai
superar, vai ficar bem, vamos amar Olívia com toda força.
— Vamos sim — falei amigavelmente, não querendo dar
brechapara procurarmosmotivospara os errosde Ravi. Ele não era
mais criança.

Quando chegamos, Edu veio nos encontrare se abaixou para


pegar a filha, que foi correndo.Jordana revirou os olhos com o
ciúme fajuto, mas com um sorrisosatisfeito, antes de dizer que a
filha venerava o pai. Senti uma pontada de inveja, minha filha teria
orgulho do pai? Seria próxima e amada por ele? Ela iria vibrardesse
jeito só por vê-lo, depois de poucos minutos de distância? Isso
porque Edu morava com ela, era mais do que presente.

Fui cumprimentá-lo e parabenizar, educada. Depois eu e


Jordana fomos para onde Mari e Fred estavam. Edu ficou com a
filha, recebendo os convidados. Ravi chegou e veio se sentarao
meu lado, tentou um beijo no rosto,que eu recuei. Mari me lançou
um olhar significativo e eu apertei os lábios.
Ele, sempre se achando superior a todas as coisas, estava
bebendo uísque, o que só por fazer
, já me irritava.Devia estarsem
controlenenhum mesmo. Não apreciou a dose, virou tudo de uma
vez, como um necessitado.
Peguei uma água e Jordana me traziacanapês e camarões
empanados toda hora que um garçom passava servindo. Ela logo se
sentouao meu lado, para não dar chance à Ravi e assim pudemos
falar sobre a gravidez.

Dessa vez, Pedro chegou, junto com os seus pais. Ele nunca
vinha nesses eventos, era bem raro, e agora eu até entendia o
motivo. O acompanhei com o olhar, os trêscumprimentavampor
quem passava, tão elegantes. Era bom que ele estivesse aqui,
assim frearia qualquer tentativa insistente de Ravi.
Chiara veio trazerHelena para a mãe, e se sentiuno direitode
me lançar um olhar asqueroso, que eu ignorei. Em outr os tempos
isso iria me machucar, eu tomaria como provocação, mas senti
apenas desprezo.Por ele e por ela. Depois disso, Ravi chegou para
mais pertoe passou um braço em volta da minha cadeira. Jordana
notou meu desconfortoe me chamou para darmos uma volta, ela
queria colocar Helena para brincar num pula-pula.

Ela tirouos sapatinhos de Helena, nessa parteda casa, só


havia nós duas e a pequena. Tinha pula-pula, escorregador
, cama
elástica e balanço. O próprio parquinho da Helena.
— Não me olha com essa cara, sua sogra vai fazero mesmo
— Jordana se defendeu e eu comecei a rir
.
— Elas são exageradas — fiz uma careta.
— Helena adora vir pra cá, quando se entedia em casa, chora
logo querendo a vovó.
Ficamos falando bobagens, amenidades enquanto a pequena
pulava e dava gritinhosde alegria. Quando conseguia um impulso
maior e ia mais alto, pedia para que nós olhássemos.

Edu chegou por trásde Jordana, a abraçando e reclamou que


queria ficar aqui, escondido com a gente.
— Está fugindo de Ravi? — Edu perguntoupara mim, que fiz
uma careta culpada — não estou atrapalhando, estou?
— Não, amor — Jordana falou amorosa — estávamosfalando
da agenda cheia de Helena.
— Ah, claro — ele falou animado, rindo — ela adora natação,
já sabe até o dia de ir
.
Edu desatoua contarsobre a rotinada filha e Jordana dizendo
que às vezes, ele fugia do trabalhopara acompanhar. Ele logo se
defendeu, disse que Helena só teriadois anos uma vez, ele não
poderia perdercoisas importantes
na vida dela. Eu os olhava, queria
tantoque eu e Ravi tivéssemostomadoo mesmo caminho certodos
dois. Mas foicomo se em algum momento,tivemosdois caminhos e
invés de escolhermos um, juntos, cada um foi para um canto.
Quando dei por mim, Eduardo já havia tiradoos sapatos e
estava na cama elástica com Helena.
— Um meninão — Jordana falou, se divertindo, toda
apaixonada.

Pedro quem logo chegou, ele falava no celular e parou ao nos


ver aqui. Demos um abraço carinhosoe ele fez um carinho no meu
ventre.
— Ocupando o papel de dindo direitinho, né? — Jordana
provocou e ele deu um sorriso travesso.
— Eles não têm nem chance de escolher outra pessoa —
Pedro falou e eu sorri animada — Ravi está te procurando.
— Não quero falarcom ele — falei de uma vez — deveria
procurar Chiara.
— Ele não vai procurá-la— Edu falou, sentado na escadinha
do brinquedo, para calçar os sapatos, ele arfavaum pouco. Olhei
para o lado e vi Jordana lutando para tirara filha de lá. Helena se
divertia, fugindo da mãe — nem que eu tenha que amarrar Chiara.
— É muito lindo você terque amarrarChiara, pra Ravi não me
trair— falei sarcásticae ele apertouos lábios, como se lamentasse
— soube que ele foi pararno hospital outrodia? Essas coisas ele
não conta, né?
— Não estou defendendo os errosdele, Denise — Edu falou
cauteloso — mas eu sei que ele gosta de você, de verdade.
— Imagina se não gostasse — eu resmunguei. Estava
magoada demais, não conseguia diluir um pouco desse sentimento
ruim e pensar em Ravi como um cara que realmenteprecisava de
ajuda.

Eu também precisava dele, ainda mais agora. E ele nem


tentavase controlar
, se tratar
, não achava que tinha que se tornar
melhor e menos vulnerável à bebida, ficarbem para mim e para
nossa filha.
Segurei o riso, quando Jordana não conseguiu tirara filha do
brinquedo, mas Edu só precisou falarmais sério, para a pequena
perdero senso de diversão, cruzaros braços e sair. Ele calçou os
sapatinhosdela, que tinha os braçoscruzadose uma caretabrava,
tão linda.
— Jordana a mima demais, por isso Helena não a leva a sério
— ele reclamoue Jordana olhou para as própriasunhas, se fazendo
de desentendida.
Mari chegou logo depois, falando que Nora estava lá,
reclamando que não estávamos aproveitando a festa que ela
preparou. Pedro acenou para nós, me deu um beijo no rostoe
voltou, junto com Edu e Helena.
— Fred odeia que eu fale que Pedro é gato — Mari falou
animada — e eu amo que ele é ciumento.
— Porque o ciúme dele é fofo — eu falei, porque Ravi com
ciúme era mais um bicho raivoso.
— Edu com ciúme ficabravo — Jordana falou,dando de ombro
— eu não sou ciumenta.
— Não? — Mari perguntousarcástica— ficouazeda de ciúme
quando Fred contou aquela história.
— Que história? — perguntei.
— Que Edu ia chamar Mari pra sair — Jordana falou sisuda,
me fazendorir. — Não sei como Ravi não ficoucom ciúme do irmão
ainda — ela falou curiosa e eu revireios olhos — Edu ficaria,eu
acho. Mesmo que não tenha segundas intenções.
— É que Edu é tipo um Golden, hoje tem só tamanho — Mari
falou, se divertindo — um homão daqueles, quando fica bravo
ninguém acreditamais. Só dá chilique e depois se rastej
a pra você
abanando o rabo.
— Mari — Jordana falou, mas começou a rir
, era bem desse
jeito mesmo.
— Ravi, não, ele é realmente perigoso — Mari falou, sempre
piorando tudo em Ravi.
— Diria que esquentado, não perigoso. E seria como assinaro
atestadode loucura,ficarcom ciúme do próprioirmão. Além do que,
ele quem colocou Pedro na minha cola — eu falei para elas e
respirei fundo.
— Se fosse eu, com um gato desses na minha cola e passando
tudo o que você passa, teriaficado — ela falou. Eu e Jordana a e
encaramosincrédulas— Ravi mereciaisso. Ia doer muitonele, mas
ele merecia sofrer
. Ele jura que vocês vão voltar
... Tipo hoje — Mari
falou, senti uma pontada no peito com isso, porque não tinha
vontade nenhuma de passar a noite com ele, de tenta
r de novo,
sofrer de novo.
— Um homem deve saber que uma mulher grávida é capaz de
tudo... — Dana disse docemente — até mesmo esquecê-lo.
— Eu disse que não o amava mais — contei e elas me
encararamsurpresas— ele não acreditou,sabe que foipra assustá-
lo.
— Ele vai surtar quando cair em si — Mari falou.
— Eu sou romântica— Jordana falou e eu a olhei — acho que
tudo sempre tem que ter o final feliz.
— Ele procuroupor isso, não foi?— Mari perguntouimpaciente
— ele tem sorteque Denise está grávida e não vai procuraroutro,
mas era o que deveria fazer
.
— Vamos falar de outra coisa, por favor — eu pedi,
completamente constrangida com a situação.
— July anda tão ocupada com Bernardo,que não tem tempo
pra mais nada — Mari falou rapidamente— ela vai acabar casando
antes de Jordana e Edu.
— É que com o adiamento do casamento,não marcamosuma
nova data ainda — ela explicou — como se eu tivessequererné,
Nora quer dar uma festa bem daquelas.
— A mãe de Fred também, só fala disso. Mas já vetei — Mari
falou— e nos desentendemos.Mas quero um casamentona praia...
E agora não tenho tempo pra casar — ela revirouos olhos e nós
trêsrimos — e já moro com Fred, podemos esperar as coisas
acalmarem.
— Vamos voltar
, logo vão cantar os parabéns pra Edu —
Jordana falou e deu um sorrisopresunçoso— aí ele vai se declarar
para mim — ela levou a mão que segurava o celular ao peito e deu
um suspiro apaixonado — é possível eu amá-lo ainda mais?
— Se amar mais um pouquinho vai explodir — Mari a
provocou.

Voltamos para a mesa onde estávamos e Ravi questionou a


demora. Expliquei que estava com as meninas, conversando. Mas
estava completamentedesconfortável.Ele trouxeuma mão para o
meu rosto, acariciando minha bochecha com o polegar.
— Eu não quero, Ravi — falei, quando ele ia se aproximando.
— Poxa, vida... — ele falou manhoso — estou com tanta
saudade sua... Louco de vontade de amar você a noite toda.
— Eu não quero — falei firme, o encarando e ele piscou
devagar, fazendo uma careta decepcionada.
— Não acha que seu castigopra mim já deu? Eu já aprendi a
lição.
— Não estou te castigando — eu falei incrédula, tirandosua
mão do meu rostocom mais rispidez que gostaria,porque vi Chiara
passando. Ele me olhou confuso,não entendendo minha relutância,
afinal sempre fui tão fácil para ele.
— Eu não aguento mais, Denise — ele falou baixo, indignado
— eu já admitimeu erro,pedi perdão, quero consertar
as coisas. Eu
te amo, vida...
Fechei os olhos por um momento, queria que esse me amasse
direito.Quer dizer, eu sentia raiva, me amava tantoe fez tudo isso
com a gente?
Nos levantamos para a mesa com o bolo muito bonito de Edu.
Ele segurava Helena no colo, que batia palminhas a cantava
parabéns pro papai dela. Depois o abraçou pelo pescoço e deu um
beijo em seu rosto.Edu, como sempre, discursou. Primeiro para
Helena, que disse logo que o amava muito demais. E depois, para
Jordana, se derretendode amores por ela. Nada de novo sob o sol,
mas tão lindo de se ver
.

Ravi tentou me abraçar


, tentoume beijar, mas eu fugi dele. Em
um momento, me sufoqueitantoque avisei que ia ao banheiro e na
volta, não voltei para a mesa em que estávamos com nossos
amigos. Fui para onde seus pais estavam, com os pais de Luísa e
Pedro. Cumprimenteia todose me senteina últimacadeira vaga, ao
lado de Pedro, entre ele e sua mãe.
— Achei que iria se acertarcom Ravi — Silvia falou baixinho,
arrumando uma mecha do meu cabelo e eu a olhei decepcionada.
— Não quero mais, Silvia. Sinto muito.
— É uma pena — ela lamentou — formavamum casal tão
lindo.
Não forcei esse assunto, apenas apertei os lábios
pesarosamente.
C 29
RaviFerrari

Fiquei monitorando Denise, impaciente com essa relutância


toda. Não precisava disso tudo. Comecei a desejá-la mais, a
vontadede tomá-lae nos matarde prazerme dominando com força.
E ela não queria ceder
.
Sabia que se ela desse brecha, eu conseguiria reascender tudo
para nós dois, quem sabe consertar
. Eu estavacaminhando no fogo
do inferno,minha vida estava inteirarevirada, tudo amargo, sem
sabor, tudo doendo o tempo inteiro.

Jordana veio animada para a mesa, mas Denise, depois que


voltou do banheiro, foi para a mesa em que meus pais estavam.
Suspirei impaciente, ela estava dificultando tudo à toa.
— Achei que estivessem bem, cara — Fred comentou.
— Você bem fez por onde não estar— Mari provocou. Notei
um olhar observadorde Eduardo, mas ele não disse nada. Nem
Jordana. Na verdade, quando a olhei, ela começou a sugara bebida
pelo canudo e desviou o olhar de uma maneira apreensiva.
— Mas eu a amo — eu retruquei Marina.
— Se Fred me amasse desse jeito, eu pegaria um amigo dele
— ela falou e Frederico engasgou a bebida. Marina faria isso
mesmo, mas não Denise.

Irritação me dominou quando ela veio, para se despedir


.
— Me deixa te levar
, amor — eu pedi, me levantando.
— Não — ela falou decidida — Pedro vai me levar, não se
preocupa.
— Denise — eu insisti — vamos conversar
, por favor
.
— Eu tocansada, Ravi. Não posso me esforçar muitotambém,
você sabe — ela falou e eu engoli pesado.
— Não vou te estressar , prometo — eu falei, me sentindo
humilhado e ela não cedia nunca.
— Depois nos falamos — ela falou.
— Jordana te leva, Denise — Eduardo falou de repente— ela
adora dirigirpor aí— ele falou descontraído
— Mari pode atéir com
ela, pra não voltar sozinha.
— Estou bêbada — Jordana falou meio confusa, o que fez
Marina rir — melhor Pedro levar.
— Dana... — Eduardo a repreendeu.
— Sou uma ameba, bebo dois goles e ficolouca, posso fazer o
que? — ela perguntouindignada e eu sacudi a cabeça, voltando a
olhar Denise.
— Por favor, vida — eu pedi de novo, mas nada baixava a
guarda dessa mulher .
— Eu não quero ir com você — ela falou impetuosa, me
fazendo sentir uma pontada no peito — sinto muito.
— Me avisa quando chegar, pelo menos — eu resmunguei,
voltando a me sentar . Denise se foi e eu fiquei ali, derrotado.Não
podia insistirdemais, por conta das complicações que ela teve na
gravidez.
— Quanto mais espaço você dá pra ela, mais ela tem tempo
pra te esquecer — Eduardo falou.
— Ela estágrávida, cara,não quero forçardemais e ela acabar
tendo alguma complicação — eu falei, jamais me perdoaria se algo
acontecesse com elas.
— Jordana me escondeu a gravidez por quatromeses — ele
falou e ela o olhou brava — tinha planos de não me falar nunca,
descobri por acaso. Não ache que gravidez segura relacionamento.
— Vocês dois ficaram juntos.
— Porque eu o amava e porque ele se redimiu e cuidou de
mim. Eu queria um príncipeencantado e ele faz o possívelpra se
tornarum, o tempo inteiro. Edu participou da gravidez, me fez
companhia o tempo todo. Uma grávida sabe como fica sozinha
nesse tempo, são muitas mudanças. E em momento nenhum ele me
deixou sozinha, mesmo quando estávamosseparados.Você deixou
Denise sozinha, Ravi — ela falou de uma maneira calma, e eu não
soube o que dizer, não tinha como me defender— eu gostava de
caminhar na praia de manhã. Edu ia comigo todos os dias. Não
faltoua nenhuma consultadepois que soube, ele cuidava de tudo
pra mim. Se preocupava com o que eu ia comer, estavasempre lá.
Fez da gravidez um momento único pra nós dos. Me fez quererter
uma família ao lado, me fez amá-lo ainda mais. Quando vi, já não
me via mais sem ele. E acerteina decisão, se eu tinha alguma
mágoa naquela época, ele fez com que diluísse.
— Além do que, ele não traiuvocê — Marina falou e eu a olhei
desprezívelpor me jogar isso na cara — não quero brigarcom você
de novo, Ravi. Mas eu acho que vocês dois não tem volta.

Eu ia retrucar
, me defendere explicar, mas fiquei quieto. Elas
não iriam me dar razão. Eduardo tentouremediar , disse que nada
poderia estartão perdido assim, eu só precisava mudar e correr
atras do tempo perdido. Eu concordei com ele.

Não consegui ficarmuito mais tempo ali. Saí em direção ao


apartamentodela, fui ligando no caminho, mas chamava até cair.
Quando cheguei, interfonei e Carol quem atendeu, parecia
sonolenta.
— Me desculpa, Ravi, mas Denise não voltou pra casa — ela
falou e meu coração falhou uma batida.
— O que? — eu pergunteiincrédulo, o coração perdendo o
ritmo e acelerando.
— Ela foi pro aniversário do marido de Jordana.

Liguei para o meu irmão e ele avisou que os dois estavam em


uma hamburgueria. Resmunguei que ela avisou que queria
descansar.
— Eu vou encontrarvocês — avisei e desliguei. Dirigi rápido
até o lugar e entrei, procurando por eles.
Observei Denise, que sugava um suco pelo canudo e quando
devolveu o copo para a mesa, começou a rirde algo que Pedro
disse. Fiz uma carranca,não queria mais deixar os dois tão amigos,
ele ocupando meu lugar escancaradamente.
Outrodia mencionei uma tensão entreele e ela, e meu pai
cismou que eu era louco, Pedro jamais faria isso.

Mas era só olhar para Denise, que homem resistiria?Ela tinha


todos os motivos para se vingar de mim.
Ela me olhou quando cheguei à mesa.
— Veio fazero que aqui, Ravi? — ela perguntoue eu puxei
uma cadeira, me sentei ao seu lado.
— Vamos conversar , por favor— eu pedi mais uma vez e
Pedro deu um riso. O olhei feio e ele se calou — vamos pra casa
comigo, por favor...
— Pra que, Ravi? — ela perguntouindignada e eu aperteios
lábios, minha vontade era começar a chorarde raiva, de remorso,
por não conseguir amolecê-la.
— Eu quero recuperaro tempo perdido — falei e ela me olhou
com mais cautela — participarda gravidez, quero ser um pai legal
pra nossa filha... Por favor
, amor... Mesmo que a gente não volte,
me dá a chance de tentar , por ela — olhei para seu ventree ela
pareceupensar. Denise piscou algumas vezes, eu a conhecia, sabia
que não me negaria isso.

Pedro pediu a conta e eu me ofereci para pagar


, mas ele foi mais rápido. Achei que Denise iria comigo, que
passaríamos a noite juntos, assim, eu conseguiria me redimir e voltaríamos. Ela se levantou e saiu andando
na frente. Pedro me lançou um olhar decepcionado e negou com a cabeça.
— Vê se não faz merda — ele avisou para mim.
— Vai levá-la pra casa?
— Vou — ele falou e ia se virar para sair
, mas voltou e começou a dizer: — deixa pra conversar com ela
depois, quando ela assimilar e esquecer essa história de vídeo um pouco.
— Não é justo, cara — eu falei, mas ele negou com a cabeça e se foi.
C 30
Denise Malta

Acordei na manhã seguinte com Silvia me ligando. Quando


começou a pedir para eu ficar calma, eu já sabia que tinha
acontecido algo com Ravi.
Minha vontade maior era deixá-lo sozinho, se fez para chamar
atenção, ou seja lá o que tenha feito,que arcassesozinho com as
consequências. Mas quando ela contou que ligaram do hospital
porque ele estava vomitando sangue no bar e chamaram uma
ambulância, eu não consegui ficarem casa e continuarfirmena
decisão de não ceder, nem para os seus excessos ou
consequências.

Peguei um taxi e fui para o hospital que ele estava. Sua mãe
me encontroue me levou até o quarto.Nem me dei ao trabalhode
perguntaro que ele havia aprontado,nos últimos tempos nem o
próprio corpo dele estava aguentando tudo que ele queria fazer
.
— Você vai acabar se matando — eu falei inconform ada.
Estava pálido, o acesso venoso na mão direita e a expressão
cansada.
— Eu não consigo viver sem você — ele falou baixinho e eu
neguei com a cabeça. Olhei para Silvia, cansada de ela depositar
em mim a expectativade salvar seu filho disso. Eu não tinha esse
poder. Talvez eu tivesseme feitoacreditarque o freavaum pouco,
mas não, ele sempre me deixava e ia atrásde quem o apoiava para
sanar essas vontades.
— Você vai acabar se matando, Ravi — eu falei de novo e me
aproximei — o que você fez?
— Nada, só bebi um pouco — ele resmungoue eu o encarei—
é sério, eu bebi pouco, não sei porque passei tão mal.
— Não sabe? — insisti e ele me encarou condescendente.
Pedro chegou logo depois e nós dois o olhamos.
— Então, já sabe o que teve? — ele perguntoupara o irmão,
que negou com a cabeça.
— Estourezando pra que não seja nada grave — Silvia falou e
eu olhei para trás, para ela, parecia tão preocupada.
— Não vai ser, mamãe — Ravi falou tranquilamente,fazendo
uma careta, como se segurasse alguma dor .
— Está tudo bem, Ravi? — pergunteie ele assentiu. Nesse
momento, o doutorchegou, com uma pranchetae os exames que
ele havia feito.
Ele nos olhou e depois para Ravi.
— Pode dizer, doutor — ele falou.
— Os resultadosdo hemograma não são nada animadores —
o médico disse cauteloso — quero alguns exames, pra confirmar
minhas suspeitas e assim começarmos um tratamento... Logo.

Olhei para o médico, sentindoo chão sumirum pouco, cheguei


a cambalear e me apoiei na cama de hospital.A respiraçãoacelerou
um pouco, a preocupação me dominando com força.
Ravi ficou quieto, ele não parecia tão surpresoassim, ninguém
estavasurpreso,na realidade. Ele apenas concordoucom o médico,
disse que poderia marcar os exames o quanto antes.
— Se puder, hoje — o doutorfalou — quero ver como está a
função hepática — ele falou e eu resfoleguei.
— É algo grave? — eu perguntei, queria tersido friae deixá-lo
sozinho nessa, mas não conseguiria.
— Não posso dizer ainda — ele respondeu friamente— mas
vamos tentar tratar
.
— Tentar?— eu pergunteiincrédula, sentindoas emoções me
dominarem com força.
— Não posso dar um diagnósticosem ver mais exames — o
doutor explicou — vou marcar e pedir pra um enfermeirovir te
buscar, Ravi.
— Obrigado — ele falou. Olhei para Ravi, queria ficarperto
dele, parecia tão abatido, não tão diferentede como estava ontem.
Quer dizer, hoje ele estava se rendendo à dor. Corri atrás do
médico, precisava de uma luz, saber o que estava acontecendo.
Ele não queria dizer nada sobre suas suspeitas, disse duas
vezes que eram apenas suspeitas,por causa dos primeirosexames
e todo o históricode Ravi. Mas com a minha insistênciae vendo
meu desespero, ele contou que se fôssemos otimistas
provavelmente estávamos falando de uma hepatite alcoólica.
Comecei a fazervárias perguntas, que ele não queria responder
ainda. Não poderia dar um prognóstico de não tinha batido o martelo
no diagnóstico.
— Se for, é tra
tável e tem cura, mas ele precisa colaborar—
ele falou e eu balancei a cabeça, concordando — pedi para
maneirarna vez passada, evitar , os exames já não estavam bons,
avisei que ele não deveria se convencerde que eram alteraçõespor
estarsob efeitode álcool. Pedi pra ele repetiros exames e ele não
fez. Agora piorou de vez. No pior dos casos, já evoluiu para uma
cirrose. Mas não posso confirmar nada ainda.

A sensação de pânico me dominou e eu não consegui dizer


nada, ele já sabia que não estava muito bem, não era de agora que
apresentavasintomas.E nem assim resolveuse cuidar. Me encostei
na parede do corredor
, me deixando sucumbir ao pânico por um
momento. Se Ravi precisassede um tratamento mais sério, onde
realmenteprecisasse ficarem abstinência para se tratar
, eu não
sabia como seria.

Já era difícilsegurá-lo por uma ou duas semanas, sempre


acabávamos brigando e ele lá, com outra, onde encontrava tudo que
eu renegava pelo bem dele. Comecei a procurarna intern et sobre a
possíveldoença, me desesperando ainda mais, ao ver que se não
tratada direito, poderia evoluir para uma insuficiência hepática.

Quando me acalmei um pouco, Pedro me trouxeágua e eu


voltei para o quarto.Olhei para Ravi, um homem tão bonito, com
tudo para continuar a sua carreirabrilhante, se destruindo por
álcool, drogas e sexo sujo.
— Eu deveria te deixar sozinho — eu falei, a voz embargada
ainda, queria conseguir deixá-lo, mas não conseguia pensar na
realidade de ele continuarinconsequentee correndoriscos— estou
cansada de lutar por você, de tentar salvar você.
— Eu vou mudar — ele falou, mas eu neguei com a cabeça.
— Eu vou deixar vocês sozinhos — Silvia falou e eu a olhei
pesarosa, mas ela se foi e puxou a porta.Funguei, inconformada
com as lágrimas que escorrerame Ravi estendeu a mão. Eu fui e
me encolhi ao seu lado na cama. Me sentiaminúscula, nada do que
eu fiz por ele, foi capaz de evitar isso.
— Obrigado por vir — ele sussurroue eu o abracei, escondi o
rostoem seu pescoço. Queria que não passasse de um pesadelo. E
era tudo culpa dele.
— Não deveria — eu resmunguei inconformada— mas eu
ainda me preocupo com você.
— Não me ama mais? — ele perguntou, sabia que se
aproveitaria da situação. Ergui o rosto e o encarei pesarosa.
— Você não merece que eu ame tanto você.
— Eu sei — ele sussurrou,fungando e encostoua cabeça no
travesseiro,olhando para cima. Observei a lágrima solitáriaque
escorreu,seguida por outrae ele fungou — eu sei que não mereço
você e tudo o que você é e faz por mim... Mas eu te amo mais do
que tudo nessa vida, queria tersido um cara melhor pra você. De
verdade, vida. Eu só queria ter conseguido te amar direito,
demonstrar com toda a força que eu sinto...
— Ravi, você sabe o que pode teragora? — pergunteie ele
assentiu friamente,trincando o maxilar — sabe que depende
unicamente de você pra melhorar?
— Sei.
— Você deveria se internar— eu falei finalmentee ele me
encarou confuso — se tratar melhor, aceitarque é um viciado, que
precisa de ajuda e que sozinho não vai dar conta.
— Eu só preciso de você.
— Se só eu bastasse, Ravi, você não teriachegado a este
ponto — eu falei, ficando irritadae me sentei — se só ficarao seu
lado resolvesse, você não me magoaria tanto!Está nos matando e
não consegue recuar!
— Deixa o doutor voltar , ver os outros exames, depois
decidimos o que fazer— ele falou, se sentandotambém e fez uma
careta de dor
.
— O que você tá sentindo? — pergunteiindignada, olhando
para o abdome e depois para ele — onde mais dói? — insisti.Eu o
conhecia, sabia que não falaria se achasse que conseguiria
suportar.
— Não é nada, vida. Estátudo bem — ele falouinsistente, mas
eu fiz uma careta irritadae ele piscou devagar, vencido — o
estômago, só um pouco — ele falou, mas não acrediteique era
pouco. Ravi não era sensível a dor, ele aguentava muito até
externar.
— Você precisa agir como um adulto, Ravi — eu resmunguei
— se você morre,eu não vou ficaraqui sozinha — falei, queria que
ele sentissemedo, sei lá. Que imaginasse que eu ficariacom outro,
caso ele não fizesse por onde melhorar
.
— O que?
— Você pode tornarisso tudo mais fácil.Se cuidar, por você e
pela nossa filha — eu falei inconformada— você pode vencer isso,
não cair em armadilhas que você mesmo cria. Estou aqui o tempo
inteirotentandote fazeracordar . Mas se você continuarescolhendo
o vício, você não vai sobreviver. E a minha vida vai precisar
continuar— faleifirme,doendo inteirapor dentro,mas precisavaser
dura, precisava que ele lidasse com a realidade e as opções que
estavadeixando disponíveispara si — eu não vou ser a mulher que
vive em luto eterno.
Ele não teve tempo de dizer mais nada, por sua sorte.Afinal
não teria nenhum argumento. Iria se alterare fazer drama. O
enfermeirochegou e o levou para a sala dos exames, onde ele faria
também uma ultrassonografia abdominal.
Quando voltamos para o quartoe o médico dele apareceu, eu
contei sobre a dor no estômago. Ravi insistiu que não era nada
demais, mas não me importei.Ele estavacom dor, já estavaaqui e
deveria averiguar
.

Me sentei no sofá da sala de espera do quarto, junto com


Silvia. Ela segurou a minha mão, porque eu estava nervosa demais.
— Ainda bem que ele tem você — ela falou para mim — Ravi
não escuta ninguém, mas ele quer você de volta, vai fazer o
possível pra melhorar e te ter de volta.
— Luísa me mandou um vídeo dele com Chiara — contei
amargamente,sentindotudolancinarpor dentroe ela ficouquieta,a
mão apertoua minha um pouco mais, ela não esperava— e eu não
consigo simplesmenteesquecero que eu vi. Eu estouaqui tentando
salvá-lo, mas quando ele sente muita faltade álcool, corre pra ela,
porque ela apoia tudo isso, acha uma besteiraele se privar. Se
divertepor sero refúgiodele, manda fotosde mesas recheadas das
bebidas que ele adora quando ele nega ou não responde. Não estou
a culpando, Silvia. Juro que não estouinocentandoRavi, ele não é
santo, mas Chiara poderia reconhecerque ele é um doente, um
dependente químico e procurar outro meio de se divertir
.
— Ele vai mudar, tenho fé que vai — ela falou e eu pisquei
devagar, queria tantoacreditarnisso. Seria capaz de perdoá-lo se
pudesse acreditarnuma mudança real, mas não conseguia pensar
em me arriscar de novo para ele fazer tudo igual. Mais uma vez.

Os exames ficaram prontos na manhã seguinte, porque o


médico pediu urgência. Ele foi conversarcom Ravi primeiro,eu e
Silvia ficamos na sala de espera, as duas tão angustiadas.

O médico veio e repetiuo diagnósticopara mim e Silvia. Era o


que ele esperava, e ao ouvir todos os riscos da doença, hepatite
alcoólica, eu comecei a chorar
. Era mais fortedo que eu, que só
queria que a vida fosse mais fácil. O doutor batia na tecla de
abstinênciaao álcool, era o mais importante.Associariaisso a uma
alimentação balanceada e uso de medicamentos. Contei, sendo
enfática,que ele precisavade uma intervençãomais intensiva,para
o alcoolismo. Ele não suportaria a abstinência, a doença, ele recairia
e acabaria se matando. Vendo que eu estavaarrasada,devastada,
o doutor tentouparecerotimista.Tudo seria infinitamentepior se já
tivesse evoluído para uma cirrose,por exemplo. Se fosse mais
grave, a expectativa de vida dele seria muito pior
.

Comecei a ficarnervosa,como conseguiríamosmanterRavi na


linha? Fiquei neurótica,com medo de perdê-lo, de a minha filha
nascer sem pai. Na pior das hipóteses, se o tratamentonão
adiantasse e o quadro dele piorasse, ele entrariapara a fila de
transplante.
— Quando ele vai poder voltar pra casa? — Silvia perguntou.
— Vai ficar no soro por mais algumas horas. E vou pedir uma
endoscopia — ele avisou e pediu licença, saindo logo em seguida.
Num lapso de loucura, avisei para Silvia que ele iria para a
casa dela. Não daríamoso poder de escolha para Ravi, se ele
queria agir como um dependente alcoólico, seria dependente de
outrascoisas também. Ele insistiaque eu estava exagerando, mas
passando esse tempo na casa dos pais, ele teria mais cuidados com
alimentaçãoe com os medicamentos.Eu conhecia Ravi. Outravez
pegou uma gripe forte,a garganta infeccionoue nem os antibióticos
tomava nos horárioscertos.Além do que, seria mais fácilmonitorá-
lo assim.
— Você está sendo exagerada — ele voltou a dizer, mas
desistiu de contestar quando o encarei furiosa.
— Você teve sorte— eu resmunguei — teve um diagnóstico
cedo, tempoucos sintomas,temmuitosuportee chances altíssimas
pra se recuperar
. E isso só depende de você.
— Não vou te decepcionar de novo, vida — ele falou
solenementee eu o encarei. Respirei fundo, queria muito que fosse
assim, mas já não acreditava mais.
Baixei a guarda e comecei a mostrarpara ele o vídeoda última
ultrassonografia.Queria que ele se apegasse à gravidez, ficasse
mais próximo. Que pensasse na nossa filha e que ela precisavade
um pai.
— Vou fazerfotosde Helena essa semana — contei e olhei
para ele — ela e Edu, a pequena está toda animada pra fotografar
com o papai...
— Eles são muito apegados — Ravi comentou — acha que a
Olívia vai ser assim comigo?
— Vai depender só de você — eu falei tranquilamentee ele
balançou a cabeça, assentindo. Ficamos nos encarando por um
momento e ele fez uma careta de dor de novo — que foi?
— Queria um beijo — ele falou e eu revirei os olhos.
— Não vou te dar beijo, Ravi — falei impaciente — não tente
me manipular, estou aqui como a mãe da sua filha. Não vamos
voltar
.
— Aposto que eu ficariamelhor com um beijo — ele falou e eu
o encarei, fazendo pouco caso. Ia retrucaralguma coisa, mas o
doutor entrou no quarto e avisou que ele tinha visitas.

Me sentipéssima por cogitarser Chiara, mas fiquei aliviada ao


ver que eram Edu e Fred.
— Uma hora dessas você mata a gente do coração, cara —
Fred falou — e eu não to preparado pra perder mais ninguém.
— Vou ficar bem — Ravi falou e eu o olhei.
— Vou deixar vocês — eu avisei, me levantando — aproveitar
pra comer alguma coisa.
— Mari está aí com a Silvia, Denise — Edu avisou e eu assenti.
Enviei uma mensagem e descobrique elas estavamna lanchonete
do hospital, então, fui até lá. Silvia já havia pedido uma sopa para
mim, avisou que iria até mesmo levar. Agradeci e me sentei com
elas.
— E eu jurei que dessa vez, vocês iriam mesmo terminar—
Mari falou e deu um sorriso carinhoso — como você está?
— Preocupada... — fizuma careta— não quero deixá-lo desse
jeito.
— Estácerta,é o pai da sua filha — ela falou e suspirouforte
— ele tem sorte por tervocê. Disse à Fred que iria dizer à Ravi que
iria adorarse ele morresse,assim te deixaria em paz — ela falou
petulantee Silvia cresceuos olhos — por isso Fred não me deixou ir
com eles. Mas eu não fariaisso, só fiquei brava. Ele deveria recuar
e ceder que precisade ajuda médica. Todos nós nos preocupamos.
Fred veio o caminho inteiropreocupado se seria compatível,caso
Ravi precisasse de transplante.
— Ele é tão exagerado... — falei achando graça.

Os amigos dele ficarampor um tempo, isso pareceu animá-lo.


Eu sentia que precisavair embora, descansarmelhor em casa, mas
não ficariatranquila.Ele teriaalta na manhã seguinte, depois da
endoscopia. Mas o doutorachava que tudo era sobre o fígado,só
queria descartar qualquer outra coisa.

Pedro veio me buscar, me levaria em casa para que eu


pudesse tomarum banho e trocaressa roupa. Ele não falou muito,
só achava que eu deveria descansar e evitar todo esse estresse.

Ele subiu comigo e foi olhar as novidades do quarto da


afilhada, sempre tão amoroso. Contei para tia Carol o que estava
acontecendo e que passaria a noite com Ravi no hospital. Silvia
levaria roupas para Ravi se trocarantes de sair pela manhã. E já
havia mandado alguém fazeras malas dele, ele não ficariasozinho
em seu apartamento.
No hospital,vimos um filmejuntos,abraçadosna cama. Depois
de jantar uma sopa sem graça, eu conteique Olie estavamexendo
e ele se virou de lado, ergueu meu vestido e deixou um beijo em
meu ventre.Dei um sorrisofraco,seria tão mais fácil se ele fosse
mais decidido e responsável, nem que fossecom a própriasaúde.
Imaginava que talvez, se não fosse os seus excessos, seriamos
felizes juntos. Mas pagar para ver poderia custarmuito caro. Me
convenci que estar aqui, acompanhá-lo, era meu papel de ser
humano. De mãe da filhadele. De acharque eu poderia dar alguma
força, como Fred fez para Bruna.
— Olívia... —- Ravi chamou, me fazendo sorrire cutucou no
lugar onde fazia uma leve ondinha — papai ama você... — ele falou
carinhosamentee eu acariciei seu rosto,foi quase involuntário.Ele
deu outrobeijo no meu ventree depois, safado irremediávelque
era, puxou a minha calcinha, querendo olhar lá dentro.
— Não, Ravi — eu reclamei. Ele olhou para mim e deu um
sorriso safado — nem me olha desse jeito, você não vai me
convencer.
— To com tant
a saudade de você, do seu corpo, de grudar em
você até gozar... — ele começou a dizer e eu puxei o ar, o
ignorando.
— Achei um milagre Chiara não vir te ver — eu falei e ele
desfez a feição animada — bom senso, ela não tem né.
— Me perdoa, vida — ele falou relutante,querendo esconder o
rostoem meu pescoço — se eu pudesse voltarno tempo... Teria
evitado tantacoisa... Eu te amo tanto,não sei porque fiz tudo tão
errado.
— Eu cheguei a pensar que você gostava dela — eu
resmunguei — e tive medo, porque se você e ela ficassemjuntos,
você iria se destruir completamente, enquanto se divertiam.
— Eu amo você, só você.
— Certo, Ravi — eu resmunguei.
C 31
Denise Malta

Saímos do hospital quase meio dia. Ravi estava meio grogue


por causa da anestesia para a endoscopia. Se declarava para mim e
Olie toda hora. Seria fofo, se eu não estivesse tão machucada.

Silvia havia mandado limpar todas as bebidas alcoólicas que


pudessem haver em sua casa. Ele ficaria onde era seu antigo
quarto,agora quartoreformadopara nossa filha. Eu fui com ele, ela
havia preparado um almoço daqueles, convidou nossos amigos,
queria animá-lo. Ela sentia que dessa vez, ele não tinha
escapatória, precisaria de apoio para superar as fases de
abstinência. De um vício que ele sequer admitia .ter

Quando chegamos, lá estavam os pais de Edu, a mãe de Fred,


ele, Mari, Edu, Jordana, Pedro e logo depois, Chiara. Eu ignorei
meu desconforto por ela vir, sempre sem se importar
, só fazia o que
queria.

Como Ravi ainda estavameio grogue, eu o levei para o quarto.


Ele olhou tudo ali e se jogou na cama.
— Vida — ele chamou e eu, que colocava os papeis dos
exames sobre a cômoda da Olívia, parei e o olhei — eu te amo
muito. Obrigado por ficar ao meu lado, sei que não é fácil pra você.
— Só quero que você fique bem — eu falei tranquilamentee
sorrifraco— e não quero que a minha filha nasça sem pai — tentei
brincar e ele deu uma risada cansada.
— Não vou fazer isso com vocês, prometo.
— Então se cuida, tá? — perguntei. Ele se consertouna cama,
se escorando nos travesseiros.
— Deita aqui comigo — ele pediu sorrateiro — eu gosto de
ficar abraçado com você, só te sentindo perto.
— Por quanto tempo, Ravi? — eu perguntei,mas fui me deitar
com ele.
— Eu vou dar o meu melhor, vou fazerpor onde merecero teu
perdão — ele falou convicto,me abraçando e ficamosde conchinha
— eu te pedi um filho, e se fiz isso, é porque te amo demais.
— Você perdeu quatromeses da gestação — eu lembrei —
porque preferia farrear e me .trair
— Eu estavacego, só queria... Eu nem sei o que queria — ele
parou de falar — foi mais forte que eu, mas estou arrependido.
— Não fique me provando com palavras, Ravi — eu falei
incomodada — se cuida, se livra desse vício, procure ajuda...
Sobreviva. Eu quero que você tenha a chance de se tornarum bom
pai.
— E nós dois?
— Eu não quero falarde nós dois — sussurreisufocada.Não
dependia de mim decidir nosso futuro.Haviam vários “e se”, antes
de um possívelfeliz para sempre. Se é que houvesse um para nós
dois.

Silvia veio nos chamar para almoçar, mas Ravi pediu para
comer no quarto, mimado que sempre foi.
— Vai ficarcom ele? — ela perguntoupara mim, que assenti,
não queria enfrentar Chiara.
Odiava me colocar nessa posição de parecer estar ao lado dele
e não limpar a barradela, mas não estava dessa maneira. Eu não
estava apoiando Ravi para que ficássemosjuntos, mas porque eu
estavagrávida dele e queria que a minha filha tivesseum pai. Não
um homem dependente de álcool e drogas, mas um pai sóbrio,
presente, amoroso, que a tem como prioridade sempre.

Logo uma empregada trouxenosso almoço. Ele comeu bem


pouco, andava sem apetitee tinha que se esforçarpara comer.
Depois ficamosdeitados,ele acarinhando meu cabelo e logo pegou
no sono.

Mais tarde, como em todos os episódios mais marcantesdos


últimos tempos, eu comecei a ter contrações.Primeiro não falei
nada, me convenci de que iria passar. Mas foram ficando mais
intensas e dolorosas.
Ravi estava dormindo, eu não queria acordá-lo. Só assim me
dei contade que ficamostão afastadosna gravidez, que eu não me
sentia nem confortávelem pedir ajuda para ele, minha primeira
reação foi ligar para Pedro.

Depois me acalmei e liguei para meu médico, que, dessa vez,


em vez de me deixar tomaros remédios que estava acostumada,
me mandou logo para o hospital.
— Por que não chamou Ravi? — Pedro perguntoue eu solteio
ar, não sabia nem o que dizer.
— Me desculpa te incomodar de novo — eu falei, sufocada
demais.
— Relaxa, Denise — ele falou condescendente— mas se você
quer fazê-lo se apegar à gravidez...
— Ele estavadormindo... — fiz uma careta— nem falei com a
sua mãe, não queria preocupá-la.
— Foram dias caóticos...Fiquei com medo de acontecerisso,
sempre que te via naquele hospital tão tensa e preocupada.
— Esperoque ele se recuperee aceiteque precisade ajuda —
eu falei. Pedro ficouquieto, ninguém poderia garantirisso por Ravi,
mas eu torcia tanto, tanto.

Quando chegamos, um enfermeirome trouxeuma cadeira de


rodas. A contrações vinham de cinco em cinco minutos,ou trêsem
três,variando. E doíam. Eu não queria, mas preciseificarinternada
para fazero uso do medicamentointravenoso.Minha maior vontade
era me encolher e chorar , queria um colo, sem incomodar mais
ninguém.
Ao escolher engravidar , eu não imaginava que seria dessa
maneira, cheia de complicações. Refém de um sedativo, acabei
pegando no sono e pude assim descansar melhor .

Dormi por horas. Quando acordei, a luz do quartoestavabem


baixa e no segundo seguinte me dei conta de Ravi na cadeira ao
lado da cama, segurando a minha mão. Ficamos nos encarando,
tudo embargando aqui dentro,fizemostudo tão errado.Deveríamos
terterminado,seguido caminhos diferentes.Sabia que essa teria
sido sua completa ruína, mas a minha salvação.
O corpo talvez estivesse descansado, mas a alma pedia
arrego, eu não aguentava mais.
— Como se sente? — ele perguntou,acariciando minha mão
na sua e eu dei de ombros.
— Bem, eu acho.
— Sinto muito, vida — ele falou baixinho. A voz estava
embargada, fraca,como a de alguém que andou chorando — sei
que isso tudo é minha culpa, mas quero que saiba que vou fazero
possível pra remediar, pra mudar tudo.
— Não quero promessas,Ravi — eu falei devagar, mas logo
um enfermeiroveio, avisando que eu devia evitarfalar, me mexer e
o repouso agora seria absoluto. Eu passaria essa semana no
hospital, para ser melhor monitoradae tentarao máximo evitarum
partoextremamenteprematuro.Por impulso me preocupei se o meu
plano de saúde cobririaa internação, mas Ravi me interrompeu,era
óbvio que esse não seria o problema.
— E depois? — Ravi perguntou.
— Depois, provavelmente, repouso absoluto em casa — o
enfermeiro falou e acenou para nós, antes de .sair

Ravi havia trazido os remédios que precisaria tomar pelas


próximas horas. Mas ele também precisaria se cuidar, isso me
deixava pior. Ainda que eu precisasse de mais cuidados, se ele
tivesse sido mais prudente,talvez estivessecom uma boa saúde
para me ajudar, dar apoio e cuidar de mim. Mas, não! Estávamos
nós dois à espera de uma criança, sem condições emocionais e
nada saudáveis para isso.
Eu chorava todahora, inconformadacom a bagunça de nossas
vidas. Não queria estarpassando por isso, estava tão indignada,
que talvez isso piorasse meu estado de saúde. Eu temia não
conseguirsegurara minha filha, cada semana era como uma vitória
para mim.

Na primeirasemana que eu estive internada,Ravi tentouser


prudente.Estava seguindo seu tratamento à risca. Se alimentava
bem, completamente saudável, tomava os medicamentos nos
horários certos, ficava o tempo todo comigo. Pedro teve que assumir
todos os seus casos, para que ele pudesse me acompanhar. De
qualquer modo, ele já havia dito que Ravi não andava cumprindo
nenhum prazo e acabaria afastado do escritório até se recuperar
.

Infelizmentetive um descolamentode placenta,o que não era


nada bom, considerando as minhas crises de contrações.
Silvia vinha me visitartodosos dias, viver no hospitalera muito
ruim, mas eu não poderia reclamar
. Faria qualquer coisa para salvar
minha menina.

Ela ficou mostrandoas fotosdas roupinhas que encomendou


para Olívia,o que me faziachorare chorar. Sentiatantomedo, tanto
medo... Dei um sorrisofracoao ver Ravi entrar. Usava uma camisa
pretade mangas compridas, que ele havia erguido um pouco e
jeans. Os cabelos estavam úmidos e eu adorava o seu cheiro
fresco.Havia trocadoo perfu me, o que eu agradecia internamente.
Este tinha um cheiro fresco e elegante.
Eu me pegava o olhando e me perguntavase um dia iriamos
recuperar a confiança, se sentiríamos calma por estarmos juntos. Se
ficaríamosjuntos. Ele estava mais magro, mas era resultadodo
tratamentoe faltade atividade física.Depois de dar um abraço na
mãe, ele veio até mim e me deu um beijo na testa,depois um
sorrisodoce e um selinho em meus lábios que eu não tivetempode
recuar.
— Estáse sentindobem? — perguntou,acariciandomeu rosto
e eu assenti. Evitava falar ao máximo também, por orientação
médica. Sua mãe ficou conosco mais um tempo e depois que foi
embora, Ravi se deitou comigo. Me aconcheguei um pouco nele, do
jeito que dava sem me mover muito. Não conseguia entendere
dimensionar o tantode raiva e mágoa, junto com toda a minha
vontade e amor por ele. Pelo meu bem e da minha filha, decidi que
era melhor pensar nisso depois.

Jordana achava que ele iria mudar dessa vez, já Marina


achava que eu deveria me libertare seguirem frente,deixar do jeito
que estava enquanto precisava de tudo mais calmo, ok, mas depois
a coisa certa seria terminar
.

Meu pai ligou preocupado,mas não tevetempopara fazeruma


visita.Tia Carol vinha um dia ou outro,mas nos falávamos mais por
mensagens.

Estava aproveitandoesse tempo ocioso para assistirséries,


filmes e ler alguns livros sobre maternidade.E quando estava com
ele, ficamos mais abraçados, sem podermos fazer nada, nem
conversar tanto.

Ele me ajudava no banho, coisa que eu nem tomava


diariamente,como não fazia nada além de ficardeitada, com as
pernas um pouco elevadas, não fazia diferença.
— Estoucansada de ficarfazendo nada — eu comentei,e ele
deixou um beijo suave na minha testa,entreos olhos. Virei mais o
rosto e ele deu um sorriso travesso, pressionando nossos lábios.
— Eu te amo muito — sussurrou, mas eu não disse nada.
C 32
RaviFerrari

Denise dormia na cama do hospital e eu andava de um lado


para o outrona sala do quarto. Estavafirmeno tratamento,
que no
começo foi muito mais fácil.Três semanas em completaabstinência
de tudo, os sintomas causados pela hepatite já não eram tão
dominantes. Em breve eu repetiriaos exames e acreditavaque
estava indo bem, mas especialmentehoje, eu desejava, precisava
de pelo menos uma dose.

Vi fotos de Chiara e alguns amigos, pelo instagram, se


divertindoe levando uma vida fácil.As garrafassobre a mesa eram
como gatilho para mim, a mão suava, a nuca chegava a formigar,a
língua parecia dormente.Eu estava ignorando tudo isso, mas era
um verdadeiromartírio.
Estava me esforçando,mas senta que não
aguentaria mais por muito tempo.

Pedro chegou e me lançou esse olhar de alguém que já me


conhecia o bastante.Minha vontadeera inventaruma desculpa, sair
e matara minha vontade,afinalisso não me mataria.Mas precisava
pensar em Denise e na minha filha agora, em salvá-las. Jamais me
perdoaria se, por um deslize meu, ela perdesse a nossa menina.
— Parece ótimo — Pedro foi irônico e eu o encarei friamente —
como ela está?— perguntoue eu fiquei o encarando. cismado com
ele perto dela, sendo o cara legal que eu nunca fui, mas mamãe
tratou de quebrar minha loucura. Era meu irmão, não faria nada.
— Dormindo... Isso saiu completamentediferentede como eu
imaginei.
— E como você imaginou, Ravi? — ele perguntoue ficou me
encarando, esperando a resposta.Neguei com a cabeça e me
sentei ao sofá, respirei fundo, querendo me livrar de toda essa
agonia.
— Queria sair um pouco — resmunguei.
— Não faça isso — ele falou firme — se você aprontar de novo,
dessa vez, eu vou pedir uma intervençãopra te internar— senti
uma pontada no peito ao ouvir, não suportarialidar com isso — e aí
você vai perder toda a gravidez de Denise, quiçá os primeiros
meses da sua filha.
— Tem sido tão difícil — sussurrei.

Larguei o celular e Pedro ficouum tempo comigo. Antesde ir,


foi falar com Denise, que estava ainda sonolenta. Só acordou
porque precisava comer. Logo mais fariaoutrosexames para ver
como estavanossa filha. Fiquei sentadono sofá,escoradoolhando
para cima, completamenteirritado,sufocado.Queria que tudo fosse
mais fácil para nós dois.

Quando meu irmão foi embora, eu fui para o quarto, onde


Denise estava mexendo no celular
.
— Como você está? — ela perguntou e eu apertei os lábios.
— Contando os segundos pra ficarmos bem — falei
carinhosamente e ela deu um sorriso fraco — se sente melhor?
— Sinceramente? — ela perguntou desgostosa — não.
— Sinto muito, vida — eu falei e ela fez uma careta.
— Se não quiser ficaraqui, não precisa — ela falou, mas
neguei com a cabeça.
— Quero ficaraqui com você — eu falei e ela suspirou —
suspendeu o remédio?
— Vamos ver como fico,acho que vai sertranquiloagora — ela
falou — não posso ficar refém de medicamento a gravidez inteira.
— Vai dar tudo certo — prometi.
— Deitaaqui comigo um pouco — ela pediu e eu suspirei. Tirei
os sapatose me deitei na cama do hospitalcom ela, que se mexeu
para se aconchegar e afundou o rostoem meu pescoço. Afaguei
seu cabelo, a culpa por tudo isso me corroendo, a vontade de
mandar tudo para os ares e me afundarem algo que me tiraria
dessa agonia, nem que fosse por algumas horas, me consumindo.
Mas não poderia deixá-la sozinha aqui, piorarqualquer coisa
seria nos matar
.

Denise ergueu um pouco o rostoe eu escorregueiuma mão


pelo seu cabelo, para a nuca. A segurei firmee comecei um beijo
gostoso em sua boca. Ela resfolegou, mas correspondeu e se
entregouà nossa troca.Ficamos um longo tempo aos beijos, tão
deliciosos, nebulosos, sei lá. Encerreie dei um selinho demorado
nela.
— Eu te amo muito, você é tudo pra mim — eu sussurreie ela
balançou a cabeça — eu faria qualquer coisa pra mudar tudo isso...
— Tudo bem — sussurrou,me abraçando e escondeu o rosto
em meu pescoço. Ficamos assim, quietos, ela logo pegou no sono
de novo.
A noite foi tra
nquila para ela, pelo menos pareceu. Denise
dormiu logo, mas eu não conseguia, estava nervoso, preocupado,
com medo de mim mesmo.

Na manhã seguinte,ela acordou mais animada. Sempre ficava


quando o doutor suspendia os medicamentos e ela não tinha
nenhuma contração. Mas quando ele veio monitorá-la e ela
perguntou se iria voltar pra casa logo, ele vetou.
— Que droga — ela sussurrou brava e olhou para mim, que
apertei os lábios — e a minha filha, como está?
— Queremos mantê-la aí até pelo menos as trintae sete
semanas — o doutorfalou e ela suspirou — e quero te manterem
repouso absoluto até lá.
— Amanhã comemoramosvinte e três— ela deu de ombro —
quatorze semanas internada é muito tempo.
— É, você vai poder ler muito, ver muitas séries, filmes... E
passa rápido.
— Na próxima gravidez vai ser desse jeito? — ela perguntoue
eu a encarei surpreso.
— Não dá pra prever— o doutorrespondeu— mas tudoo que
você passou pode ter contribuído, não dá pra dizer
.
— Bom dia — mamãe falou ao entrare eu a olhei — trouxe
Murfins pra Denise. Não sabia que estava aqui, filho.
— Estou sempre aqui — falei o óbvio e ela fez uma careta.
— Como vocês estão? — ela perguntoupara Denise. Eu me
sentei à poltronae peguei meu celular, olhei alguns e-mails, sentia
falta de trabalhar , mas fui afastado da firma por tempo
indeterminado. Tentei contestar
, mas sabia das minhas falhas.
Sentia falta de tudo, até mesmo da vida que eu poderia ter
construído e não construí.

Poderia terfeitoigual ao Eduardo, que jogou tudo pro alto e


deu para Jordana o conto de fadas que ela queria. Ter feitoda
gravidez um momento sublime para Denise, mas até agora, tudo
não passava de um borrão.

[...]
C 33
Denise Malta

Eu tentava ignorar os sintomas de abstinência de Ravi, o


tempotodo.Estanoite,ele se mexia o tempointeiro,faziacarrancas
e não parava. Em um momento, se levantou e foi para o banheiro,
tive certeza de que estava vomitando.

Era dilacerante ver de perto, ver que ele não aceitava que
precisava de ajuda médica e psicológica. O seu esforçopara não
ceder ao víciodoía em todosnós. E talvez tenha sido isso que nos
trouxe até aqui.

Cada semana era uma vitória, um pouco de alívio, mais


chances de que se um parto prematurose tornasseinevitável,
nossa filha sobrevivesse.
Viver no hospital era horrível,mas era por um bem maior e
precioso. Eu me apegava nisso para superar
.

Nós dois não entramos em uma conversa sobre nosso


relacionamento,sempreque ele tentava,eu cortava.Evitava pensar
nisso agora, não sabia como seria.Não iria voltarpara viver tudode
novo e com a nossa filha submetida a isso. E mesmo o amando
tanto,eu não conseguia mais imaginar um futuronosso, como um
casal.
Minhas amigas vinham me visitarcom frequência.Outrodia
Jordana trouxeHelena, e foi como um sopro de alegria na minha
tarde ociosa.

Quando completei trintasemanas, Ravi desapareceu. Eu já o


sentia inquieto demais, irritadodemais. Tinha andado fumando e
nós quase discutimos, mas encerrei dizendo para ele que não
gastaria mais minha energia tentando salvá-lo. Sequer voltou a
repetiros exames que deveria, completamenterelapso, apenas
lutando contra o vício. Eu já sabia que não iria vencer
.

Chorei, sozinha no quarto, quando ele saiu dizendo que ia


tomarum banho e trocarde roupa em casa, e não voltou.Silvia veio
me ver, como todasas manhãs e tardes,e quando foianoitecendoe
Ravi sequer olhou o celular, eu soube que estava em algum lugar
matando a maldita vontade.

Eu já deveria saber. Ele nos colocou como prioridade por


semanas, não aguentou demais. Jamais aguentaria sozinho, mesmo
que uma partedele quisesse. Tentei me acalmar, não iria colocar
minha filha em risco.Estarem repouso absolutoe cuidar da minha
estabilidade emocional era crucial para mantê-la aqui dentro o
máximo de tempo possível.

Mari veio no começo da noite, toda arrumada.Passou para me


dar um oi, nos falávamos mais por mensagens, ela se lamentava
pela falta de tempo.
— Vai passara noitesozinha? — ela perguntoue eu assenti—
estou aliviada que falta pouco agora.
— É...
— Você está melhor? Você e Ravi? — ela perguntoue eu
neguei com a cabeça — azar o dele, então.Quando você sairdaqui,
quando Olívia nascer
, nós vamos falar muito mal do pai dela.
— Vamos sim, amiga — eu falei e ela deu um sorriso
lamentoso.
— Amanhã venho com Jordana, pra ficarmais tempo, tá? —
ela prometeu e eu balancei a cabeça.
— July vem também — eu comentei.
Duas batidasna portatomara m nossa atençãoe Pedro entrou,
trazendouma caixa de biscoitos amanteigados que eu comentei
outro dia.
Mari o cumprimentou e se despediu de nós dois. Ele nem se
deu o trabalhode perguntarpor Ravi, era a primeiranoite que ele
não estava aqui, mas eu não iria me desesperar por isso.
— Não precisa perdera sua noite pra ficaraqui, Pedro — eu
falei e ele me encarou entediado — por pena — falei brava.
— Estouaqui porque quero te fazercompanhia — ele ret rucou
— a semana foi caóticano escritório,achei que você me escutaria
desabafar .
— Pode falar— eu falei, abrindo a caixa e peguei um dos
biscoitos.

Ele ficou comigo até que eu peguei no sono. Falamos sobre


bobagens, assistimos um filme dramático que me fez chorar
.
Quando acordei na manhã seguinte, o meu celular não parava.
Meus amigos mais próximos não enviaram nada, obviamente. Não
iriam querer me deixar nervosa. Mas alguns conhecidos
perguntavamse eu já havia visto o vídeo. Um tremorestranhome
sucumbiu, logo uma colega da época da faculdade enviou o vídeo,
pelo instagrammesmo. E avisou que estava circulando muito na
internet, no witter
T .

Senti o chão sumindo, me senticaindo, o desesperoquerendo


vir à tona. Mas tenteime acalmar, eu já sabia do vídeo, já havia
visto.

Perfisde fofocade subcelebridades postavam sobre Chiara


Toledo. Pediam empatiae que não compartilhassemo vídeoe todas
essas coisas que fazem quando algo íntimo de alguém é exposto.
Nos comentários pediam o @ de Ravi. Outras pessoas
zombavam sobre como ele estava embriagado. Poucas viram o
vídeo até o momento em que ele diz estarpassando mal. Minha
respiraçãoestavaacelerada, mesmo que eu tentasseme controlar,
a agonia tomava conta de tudo.

Larguei o celular e fechei os olhos, tentando bloquear os


pensamentos insanos que me vinham à mente.

Levantei e fui ao banheiro. Depois voltei para a cama, para a


única posição que deveria ficar o tempo todo. Uma enfermeira
trouxeo meu café da manhã e, mesmo sem fome, me forceia
comer um pouco.
Pela tarde meu médico veio e dessa vez, fizemos uma
ultrassonografia.
Me apeguei aos sons dos batimentoscardíacos,a
vê-la pelo monitor . Mas não havia nenhuma melhora no
descolamentoda placenta, por isso, eu continuariainternadae em
repouso absoluto, tomando os medicamentos e injeções para
amadurecera bebê. Nem contestei,estava arrasadademais para
isso.

Voltei para o quartoe Silvia estava lá. Estava tensa, mas não
mencionou sobre o tal vídeo. Marina e Jordana vieram um pouco a
tarde, Jordana completamente desconfortável,ninguém queria
mencionar sobre o vídeo ter sido compartilhado.
— Eu já sei sobre o vídeo — eu falei e ficamos em silêncio.
— Sinto muito, amiga — Mari falou e eu neguei com a cabeça.
— Tudo bem... Alguém sabe onde ele está? — perguntei,me
sentindo completamentehumilhada. Ela negou com a cabeça e
apertou os lábios.
— E como você está? Isso que importa,não é? — Jordana
perguntou.
— Vou ficar bem — resmunguei — como Chiara está?
— Arrasada,né — Jordana falou lamentosa — mas fazero
que?
— As pessoas colhem o que plantam. Eu achei bem feito,pra
ver se ela acorda — Marina falou, não se intimidando com o olhar
de Jordana — Edu concordae pensa como eu. A gente sabe como
o mundo é machista e como vão venerar ou vitimizar Ravi e
humilhá-la. Eu defenderiaChiara se a situação fosse outra,mas
olha tudo o que ela ajudou a causar. Ela mereceu. Teve apoio de
todos quando foi traída,quando terminou o noivado, não tinha
motivo para agir como uma desalmada. Ela colheu pouco pertodo
que plantou.
— Estou colhendo a plantação de alguém, então — eu falei e
ela fez uma careta.Para não ficarmosnesse clima ruim, trateide
mudar de assunto.Falamos sobreos preparativosdo casamentode
Jordana, a marcaram a data para dezembro.

Elas foram embora quase quatroda tarde.Foi quando pude


tomarum banho rápido. Quando saído banheiro, com a escova nas
mãos, para desembaraçaros cabelos na cama, me assusteia me
deparar com Chiara no quarto.

Eu não gostava de vê-la. Ela de maneira nenhuma


representavacoisas positivas para mim, mesmo que eu nunca
estivesse disposta a travar uma briga com ela. Porque na verdade, a
minha briga nunca foi com ela. Era com Ravi, era para salvá-lo. E
ainda assim, eu já havia me conformadocom a derrota.Só ele se
salvaria e eu não achava que ele teriaforçaspara conseguir. Eu já
estava tão acostumada com a sensação de pânico ao pensar em
como seria o fim para ele, que estava virando dormência.
— O que você quer? — perguntei franzindoo cenho e fui para
a cama, mas antesque eu pudesse voltara me deitar , ela começou
a dizer:
— Denise, eu sei que você estáse colocando como a vítimade
tudo, mas o que você fez, a sua vingança ultrapassoutodos os
limites.Destruir a minha vida, me expor, tentarme derrubarnão vai
mudar Ravi — ela falou, parecia desnorteada. Se eu pudesse
descrever
, porque não a conhecia tão bem, diria que estava com
uma ressacadaquelas, ou ainda sob efeitode drogas recreativas.
Eu tremiapor dentro,parecia meio dormente,sem nem conseguir
reagir
. Chiara deu um riso cansado e deu um passo à frente,antes
de voltar a falar
.
— Eu não estou me inocentando, mas quando eu comprovar
que foi você quem vazou esse vídeo, você vai pagar e vai pagar
caro por isso.
— Você se tornaamante de Ravi, dá pra ele a vida destrutiva
que ele queria, o ajuda a se matar
, se deixa filmarenquanto transa
com ele, alguém vaza o vídeo e você quer vir aqui me culpar? —
perguntei,como se eu não pudesse acreditarque estava mesmo
vivendo isso.
— A única pessoa que tinha esse vídeo além dele era você! —
ela se exaltou um pouco, mas se recompôs. Eu continuei a
encarando,e talvez,ver que não estavame afetandocomo gostaria,
a deixava mais frustrada — achou o que? Que me expondo faria
Ravi me deixar, se tornarum cara fiel à você? Vai passar a vida
inteira o inocentando para me condenar?
— Chiara, eu não acho que você seja culpada pelos erros de
Ravi comigo — eu falei, tentandome mantercalma, precisava me
deitar e ficar quieta, encerrar isso, ignorar o acontecimento.
— Deve doer saber que ele nunca vai me deixar — ela falou,
como se quisesse me ferir— insistetantoem um homem que não
está nem aí pra você.
— Certo, ele ama você, faz loucuras com você. Não me
importomais. A minha única preocupação era com a saúde dele,
mas pelo visto você tem plena certezade que a felicidade dele
caminha junto com você, em se destruir
, se mataraos poucos. E
essa culpa, eu não vou carregar
. Não posso decidir por ele, mas
tenho certezade que eu nunca iria te procurarem um hospital,
grávida, cheia de complicações pra te culpar por um erro meu.
— Estáse roendo porque sabe que ele passou a noite comigo
— ela disparou, foi como dar uma facada em mim, mas num
impulso, revidei com um tapa forteem seu rosto.Não era como se
eu não soubesse, eu desconfiava, mas a verdade escancarada
sempre doía mais. Chiara levou uma mão para a bochecha, chegou
a rire negou com a cabeça — que é pra mim que ele correquando
quer um refúgio,quando não suportamais a vida sem graça que
você quer dar pra ele. E se você achou que vazando o vídeo iria
acabar com tudo isso, você se enganou completamente.

Comecei a suar, sendo pega intensamentepela confirmação.


Tudo começou a parecer lancinar dentro de mim, eu fiquei
desnorteada.Pisquei algumas vezes, querendo me livrardo borrão
que a minha visão virou. Me apoiei na cama, levei uma mão para
cobriros olhos. Não vi quando Chiara desapareceu,por sorte,uma
enfermeirachegou e me ajudou a deitar . Depois mediu minha
pressão,que estavaum pouquinho só mais alta,talvezpor causa do
nervosismo do momento, sei lá.

O medo de ficar sozinha começou a me corroer


, o medo de ter
mais contrações,de entrarem trabalhode parto.Todos os meus
planos felizes forampor água abaixo. Eu não continuei fazendo as
fotosdiárias, o vídeo ficou incompleto. Não fiz nenhum ensaio
incrível como queria, nem com Ravi, nem sozinha, nem com
ninguém. Minhas lembranças seriam sempre tórridas, nesse
hospital, presa numa cama porque não tinha outra opção.

Passei a vida inteira jurando que se tivesse filhos, eu daria para


eles uma família perfeita.Que ironia da vida, eu não estava
repetindo o que meus pais fizeram. Eu estava fazendo .pior

Pedi por um calmante,disse que queria dormirum pouco e não


estava conseguindo. Não queria recebervisitashoje, fiquei deitada
na cama. Em alguns momentoseu estavarealmentedormindo, em
outros,eu continuava com os olhos fechados, para ninguém me
incomodar.

Chorei sozinha à noite. Me sentindo desamparada, solitária,


abandonada.

Pela madrugada, tive contra


ções de treinamento.Entre
i em
pânico, mas felizmente, depois de alguns minutos elas cessaram.

Ravi chegou pela manhã, querendo fingir que nada estava


acontecendo.Chegou no momento em que me trouxeramo caféda
manhã. Tentei ignorarsua presença,mas ele veio querendo me dar
um beijo e eu o empurrei devagar
.
— Que foi,vida? — ele perguntouconfusoe eu o encareiséria.
Ele correuuma mão no rosto,puxando uma cadeira e se sentouao
lado da cama.
— Não quer me contar? — perguntei sarcástica— onde
passou as últimas noites?
— O que?
— Sua amante esteveaqui, veio me culpar porque vazaram o
vídeo íntimode vocês — falei azeda, irritadae ele me encarou
assustado— ou você achou que teriauma maneira de eu não ficar
sabendo?
— Não vamos brigar por isso, amor — ele falou de uma
maneira insistente,me irritandoainda mais, me deixou mais nervosa
ver que ele estava trêmulo, o olhar avermelhado e os lábios secos.
— Não vamos brigar, Ravi — eu falei claramente— ela deixou
claro que você jamais a deixaria, tentoude todas as maneiras me
culpar. Não é pra ela que você corre quando quer se refugiar ,
quando quer se matar , se destruir?Então você estálivre pra tornar
isso real. Não precisa fazerde Chiara sua amante, fique com ela!
Alimente seu vício,se mata de uma vez! Sinceramente?Vai ser um
alívio!Vou sofr
er, mas vai passar. Não tervocê vai acabarcom esse
inferno!— eu comecei a gritar
, afasteia bandeja e me levantei. Ele
estavasem reação,procuran do o que me dizer, mas não conseguia,
não tinha como argumentar
.
— Eu não quero ficarcom ela! Eu quero você! Eu amo você! —
ele falou meio desnorteado, não esperava que eu estivesse
sabendo de tudo, o que era tão bizarro.Achava que me colocaria
numa bolha para me esconder todos os seus deslizes.
— Você acabou com a minha vida! — eu falei amargamente e
ele negou com a cabeça, vindo até mim. Tentei me afastar
, recuar
,
mas ele segurou meus pulsos.
— Eu te amo, Denise! Por favor
, se acalma — ele falou firme,
me encarando. Minha respiraçãofalhou, eu estava tão frágil,tão
sozinha, com tantomedo — eu não quero outramulher, eu quero
você! A minha vida é você!
— Você quer me matar!— eu falei, puxando as minhas mãos,
o choro, as lágrimas vieram de uma vez, porque eu não aguentava
mais — fez da minha gravidez um momento traumático,terrível,
com tantosriscos!Não colaborou nem um pouco pra isso melhorar!
Não me deu segurança, só preocupações!
— Eu não fiz nada, vida! Por favor
, vamos conversardireito—
ele falou, porque andei para longe dele, corrias mãos no rosto,
desesperada, como se tudo que eu andei segurando essas
semanas todas viesse à tona e eu não conseguisse controlar
.
— Eu sinto nojo de você! De mim por terte amado tanto!Por
tertentadotanto!— eu falava nervosa, exaltada — chegar ao ponto
de outra mulher vir aqui, sem um pingo de remorso, cheia de
segurança, porque sabe que domina você do jeito que quiser!
— Vida, por favor
...
— Vai embora, Ravi! — eu gritei,apontando para a portae ele
negou com a cabeça, vindo até mim.
— Eu te amo, Denise! Não faça isso com a gente! Por favor
,
amor! Por favor
, vamos conversar com calma...
— Eu não quero! — eu falei, o choro alto, sem controle nenhum
cortandotudo. Joguei a cabeça para trás,sentindo essa dor me
rasgando inteira.Tão forteque não consegui identificarquando se
tornoufísica.Senti algo morno molhando a minha calcinha, foi tudo
tão confuso,Ravi vinha até mim, assustado.Levei uma mão para o
meio das pernas e quando vi o sangue, tudo perdeu o sentido.
Griteide dor, de medo e desespero,caísentadano sofá, tudo
pareceu um borrão.Vi, meio inconsciente,cheia de dor, de medo,
de raiva, o médico chegando, os enfermeiros.

Toda dor que eu sentia ficava pequena perto do medo de


perdera minha filha. O doutor fez alguns exames, colheram sangue
para um hemograma. Mas tudo perdeu o sentido quando tive uma
contração, de verdade, dessa vez. Dessas indescritivelmente
doloridas. Já tive contraçõesdoídas, mas não como essa. Gritei
fortede dor, apertando tudo ao meu redor
. Senti alívio quando
passou, mas logo veio outra, e outra.

TiraramRavi da sala, o que achei melhor. O doutorvoltou, me


examinou outravez. Disse que estava com quatrocentímetros
de
dilatação.
— Quero um centrocirúrgicoagora — o doutorfalou,eu estava
tão concentradanas minhas dores que não me dei conta do que
estava acontecendo — vamos fazer uma cesariana de emergência!
— O que? — sussurreidesnorteada,com tantador que queria
vomitar
, tudo me fazia contorcer
.
Ele ainda foi calmo em me explicar, mas eu não conseguia
entender
, dividida entrea dor e o medo. Era definitivamenteo pior
momento de toda a minha vida.
C 34
RaviFerrari

Depois de anestesiada,Denise foi categóricaao dizer que não


me queria no centrocirúrgic
o. Parei sem reação, a essa alturado
campeonato, eu não tinha como contrariá-la.A levaram e eu fiquei
plantado,cheio de medo, de remorso,carregandoa culpa do mundo
nas costas.

Liguei para meus pais, contando o que estava acontecendo.


Minha mãe ficou muda do outrolado da linha. Na última consulta,
Olívia estava com um quilo e quinhentos gramas, era crucial que
Denise conseguisse levar a gravidez o mais longe possível.

Meus pais chegaram, logo depois meu irmão. Liguei para


Carol, que não demorou a vir. Foram os piores minutos da minha
vida inteira. Ela me culparia pela eternidade e algo acontecesse com
a nossa menina. Eu me culparia eternamente se algo pior
acontecesse com elas.

Eduardo e Fred chegaram. Fred tentouficarmais calmo, mas


Edu estava em pânico. Havia perdido Bianca e o filho dessa
maneira, e ela estava com mais tempo de gestação. Ao lembrar
disso, entrei em pânico, não consegui segurar o otimismo.

Me senteino chão do corredor


, desesperadodemais, tremendo
e segurando o choro, para não parecermais covarde do que já
havia sido. Eu deveria estarlá com ela, queria estarlá, precisava
disso e arranquei esse momento de mim. Estraguei as nossas vidas,
só queria morrer.
— Tenha fé, cara — Edu falou, se sentandoao meu lado e eu
solucei, incapaz de segurar
, a agonia me dominou com força.
Escondi o rosto,com vergonha do homem que me tornei— vai dar
tudo certo.
— Eu não vou suportarperdera minha filha, não vou saber
viver sem Denise — eu falei, a voz saiu entrecortada
e comecei a
chorar, como o caracovardeque eu fuiesse tempotodo.Incapaz de
dominar meus próprios vícios, de me controlar
.
— Vai dar tudo certo,Ravi — ele falou, não tinha nada além
disso para dizer, na verdade — Denise é forte,vai sair dessa, Olívia
também.
— Ela não merece nada disso, cara — eu falei, a voz abafada
pelo choro — e a culpa é toda minha... oda
T minha...
Dessa vez, ele nem disse nada, não tinha o que dizer. Não
dava para me inocentar . Fiquei o tempo todo ali, no chão do
corredor, querendo morrer, não suportandoa dor e angústiaque me
dominavam.
Ergui o rostoao ouvir passos e me levanteiao ver o médico de
Denise. Ele puxou a máscara e eu limpei o rosto, funguei.
— Olívia nasceu com trintae seis centímetros, um quilo e
quinhentos e noventa gramas e está na UTI — ele falou cético e
devagar, para não deixar dúvidas. Eu quebrei, voltei a chorar
, sem
conseguirsegurar— Denise teve uma pequena hemorragia, que foi
rapidamentecontrolada,recebeu uma transfusão e estábem agora.
Vai descansar pelas próximas horas.
— Posso vê-la? — perguntei, a voz embargada pelo choro
intensivo e doloroso. Era como se estivesse me rasgando a alma.
— Ela foi clara quando disse não quererrecebervocê — ele
falou — em algumas horas, poderá ver sua filha.

Balancei a cabeça e ele foi falarcom meus pais na sala de


espera. Fred veio até mim, me dando um abraço reconfortante,me
deixando chorarem um ombro amigo por um longo tempo.Ninguém
quis dizer, mas eu sentia a culpa caindo duramente sobre mim.
C 35
Denise Malta

Pude ver minha filha já pela madrugada. Consegui levantare


andar um pouco, depois de duas tentativasque resultaramem um
quase desmaio.

Só precisava vê-la, saber que estavabem, que sobreviveria.O


doutorperguntouse eu queria ver o pai, mas neguei. Minha única
certezaera que eu estava desistindo dele. Depois disso tudo, ele
poderia ir pararno hospital,poderia morrer
, eu não iria mais perder
o meu tempo, a minha saúde e a minha sanidade tentandosalvar o
que não tinhasalvação. Ravi era um condenado. Insistirnele era me
dar essa sentença também.

Olívia estavacom os aparelhos para ajudá-la a respirar


, o que
me faziasentirtãoculpada. A trouxepara esse mundo difícile ainda
dessa maneira... Chorei sozinha a vendo, queria poder pegá-la
agora. Mas poderia fazer logo, o doutor prometeu.
— Sei que é desesperador , mas ela está muito bem — uma
enfermeirafalou carinhosa — e aposto que não fica nem dois dias
com os aparelhos respiratórios... É uma neném linda.
— Tão linda... — eu repetisussurrando,as lágrimas descendo
sem que eu pudesse controlar
.

Eu não queria tertido alta do hospital, mas dois dias após o


parto,eu fui liberada. Não queria ir para casa sem a minha filha,
queria ficar com ela o tempo todo.

Ao chegar em casa, eu chorei, chorei muito. Olhar o quartinho


dela, sem ela comigo, sem poder colocá-la no bercinho, no
quartinho que preparei com tanto amor
.

Estavatão fraca,que não tive forçasnem para terminarde vez


com Ravi. Ele estavaaí,fingindo que fingiríamos
consertar
tudo.Ele
veio e me deu um abraço, que eu nem queria, não queria ser
confortadapor ele, o culpava por tudo isso. Por dar mais
importância ao maldito vício do que a mim e a minha filha.

Não queria nem comer, passava o dia inteiro contando as


horas para voltar ao hospital e ficarlá com a minha menina. A
primeira semana foi a mais difícil.A mais dolorosa, tudo era tão
novo, tão incerto.

Mas ela começou a ganhar peso, abandonou os respiradores,


pude amamentá-la,segurá-laem meus braços.Eu chorava o tempo
todo, não sabia se estava chorando de gratidão,por ela estarse
recuperando, reagindo, crescendo. Ou de medo, medo de algo
desandar. Mas agora, só ela importava.

Ravi ficavao tempotodo,mas eu não queria mais lidar com ele


como algo meu. Ele seria o pai da Olie e só.

Foram quase trintadias na UTI. Mas Deus foi generoso com a


gente, minha filha saiu de lá forte,tão linda, prontapara receber
todas as bençãos do mundo. Quando ela teve alta, Ravi não pôde
vir. Enviou uma mensagem dizendo que estava preso no trânsito,
mas ele havia sumido ontem,provavelmentese rendendo à vontade
de se refugiarcom Chiara? Bebendo com os amigos? Se drogando?
Não me importei em saber. Nem o respondi.

Pedro e Silvia vieram animados e ela emocionada em


finalmentepoder levar a neta para casa. Ninguém mencionou Ravi,
estavammeio gelados com ele, o que eu nem achava certo,porque
queria que ele tivesseapoio e incentivopara se tratar
, mas não iria
mais interferir
.

Eles forampara meu apartamentocomigo. Silvia olhou tudo


pelo quartinhodela, adorando. Tia Carol a segurou pela primeira
vez, tão emocionada. E eu tinha certezade que minha filha seria
amada.

Quando fiquei sozinha com ela, a levei para meu quartoe a


coloquei na cama. Deiteiao seu lado, me virando só para admirá-la.
Não existia amor maior que esse, eu tinha certeza.Acariciei seu
rostinho, era tão pequena, mas tão cheia de luz.
— Mamãe te ama tanto...— eu sussurrei,querendo chorarde
tantaculpa, mas tendo certezade que fariatudo ser incrívelpara
nós.
Me distraítantocom ela, que nem vi quando Ravi chegou, não
ouvi interfone, nem tia Carol indo abrir a porta.
— Oi — eu falei — chegou tarde, ela adormeceu.
— Estou feliz que ela já está em casa — ele falou baixinho e eu
assenti. A peguei com cuidado e coloquei no berço acoplado na
cama.
— Podemos conversar? — perguntei, não queria deixá-lo
pensando que estávamos bem, que viveríamos dessa maneira,
ignorando tudo isso.
— Está tudo bem? — ele perguntou,segurando minha mão,
quando passei. Balancei a cabeça e puxei minha mão
delicadamente, fui para a sala.

Ele veio logo atrás,se sentandoao meu lado. Eu o observei, o


homem bonito, que parecia seguro de si, que escondia tantos
excessos. Suspirei, mas estava em paz comigo mesma. Certada
minha decisão. Não iria continuarcom essa relação que só nos
trazia sofrimento.
— Eu tinha dito pra mim mesma que iria esperara nossa filha
sairdo hospitalpra poder ter minar com você — eu faleie ele franziu
o cenho, talvez realmentenão esperasse.Engoli pesado e apertei
os lábios, espereialguns segundos, para se ele quisesse dizer algo,
mas nada veio — nosso relacionamento foi muito complicado,
chegamos ao limite de tudo, tentamosde tudo pra ficarmosjuntos.
Eu aceitei coisas que ninguém aceitaria, suportei demais, amei
demais. Eu te dei uma filha porque achei que assim você teria
forçaspra mudar. Mas entendi que nada muda você. Achei que teria
em você o meu refúgio,que iríamosencontrarum caminho para
sermosfelizesjuntos.E agora eu entendique não existeesse lugar.
Não existeum lugar onde eu estejafelize você estejafeliztambém.
Existe apenas a opção de eu ficar aqui, esperando você, pra quando
você conseguir me dar o que eu quero.
— Eu amo você — ele falou, quase me interrompendo.
— Eu acreditonisso — falei sinceramentee franzio cenho —
acreditoque a gente tenha se amado, que se ame, sei lá... Acredito
que exista uma vontade de ficarcomigo, de me dar amor, uma
porcentagemno seu ser que queira se tornaro cara que eu quero
que você seja. Mas tem uma maior, muito maior e mais destrutiva,
que te domina, que te leva mais fácil.
— Eu não quero outravida que não seja com você, vida — ele
falou,chegando mais perto.Nem recuei,o encareifirme,perto,para
ele não duvidar da minha decisão.
— Eu quero uma relação de carinho, cumplicidade, fidelidade,
lealdade. Isso você não pode me dar. Não quero só amor.
— Eu quero tedar tudo,vida — ele faloumais baixo, descendo
o olhar para a minha boca — eu quero ser tudo pra você. Eu faço
qualquer coisa pra isso.
— Isso de querere fazernão funciona pra você. E eu já dei
chances demais pra nós dois. Fiquei buscando isso de forma
incessante,deixei você nos soterrar de mágoas, sofrimuito, Ravi.
Passei noitessozinha no infernosem saber de você. Eu quis salvar
você, ignorei tudo, enlouqueci por você. Só queria você, só queria
que você saísse disso, que reconhecesse que precisa de ajuda.
Mas você deixou todomundo esfregarna minha caraque eu sou só
a mulher que está sempre aqui pra você. E agora eu não estou
mais.
— Eu não sei viver sem você, Denise — ele falou mais firme,
mas neguei com a cabeça. Estava calma, serena, foramsemanas
pensando antesde tornarreal a decisão — de uma hora pra outra,
você decide que não dá mais?
— Não. Eu pensei muito,mas eu decidi que eu não quero mais
tem muito tempo. Só não tinha coragem pra dizer pra mim mesma
que eu sou capaz de ficarsem você — falei e ele me encarou meio
sem reação, meio surpreso.
— Eu te amo, Denise — ele falou, mas eu neguei com a
cabeça.
— Amor é troca,Ravi. E você me ama, mas não sabe me dar
amor. Você sabe me dar prazer , mas eu não quero mais tersó isso.
Eu entendi que por mais que eu tenha te amado, eu não era mais
feliz ao seu lado. Você me destruiucompletamente,eu não vou
conseguir perdoar .
— Eu mudo qualquer coisa, eu faço qualquer coisa, mas, por
favor, não me deixa — ele falou e eu neguei com cabeça. Pisquei
devagar, nada iria me comover ou mudar minha vontade.
— Não quero que mude por mim. Não vou te pedir mais nada.
Não espero que você caia em si e mude por minha causa. Eu
espero que você tenha consciência e salve a sua vida pela nossa
filha, por ela. Porque eu não vou deixar você sozinho com ela nas
condições que você vem vivendo.
— Denise, nós planejamos a nossa filha pra ficarmosjuntos,
não pra... — ele parou de falar porque fecheios olhos e neguei com
a cabeça.
— Planejamos porque você insinuou, eu quis, achei que você
mudaria, mas nada sai como planejado e está tudo bem.
— Eu não quero ficarsem você — ele falou decidido, mas dei
um sorriso desanimado e levei uma mão para o seu rosto, o
acarinhando.
— Eu não quero ficarcom você — falei e me afaste
i, me
levantando.

Ravi ficou sentado no sofá, me olhando sem reação, como se


não estivesse assimilando muito bem o que eu havia feito.Sem
coragempara me impedir também. Mas nós dois éramosa prova de
que não bastava amor para se tergarantiade finais felizes. Amor
requercuidados, entregase renúncias.E ele nunca estevedisposto
a renunciar
. Ele remediava, mas não resolvia muita coisa.

[...]

Mari, Jordana e July vieram conhecerminha pequena na tarde


de sábado. Helena ficou admirada e falando que ela parecia sua
boneca. Tiramos fotosdas duas juntinhas, Helena a segurando
sentada. Uma graça.

July perguntoulogo sobre Ravi, mas contei superficialm


ente
sobre o término.
— Não acho que ele acredito u no término— Mari falou e eu a
olhei — Fred disse que ele jura que vai consertar as coisas.
— Tem como consertar?— pergunteidebochada — Chiara foi
ao hospital, quando eu estava internadaainda. Um dia antes do
parto.
— Acha que contribuiu?— Jordana perguntoupreocupada e
eu dei de ombro.
— Não vou culpar ninguém — eu falei — como ela está?
— Arrasada, né — Jordana falou desconfortável— mas ela
está colhendo o que plantou. Essas coisas ficam marcadas pra
sempre na vida de alguém. Edu não está falando com ela, ele a
culpou por tudo — ela contoue eu neguei com a cabeça. Ela tinha
culpa, mas Ravi tinha muito mais.
— Eu e Fred gravamos algumas coisas — Mari confidencioue
eu a olhei, sorrindopresunçosa — mas não fazemos showzinhos
pra ninguém.
— Você é uma safada,Mari — eu faleipara ela, que mostroua
língua — e a sogra, parou de pressionar sobre o bebê?
— O que você acha? — ela perguntou e eu dei risada.

Ravi sabia que as meninas estariamcomigo esta tarde,então


logo perguntouse poderia trazerEdu e Fred para conhecer Olívia.
Não me opus, mas tomei isso como uma maneira dele, de querer
me fazer querer ficarcom ele, vendo as minhas amigas com os
seus. Não mudaria minha decisão, poderia levar tempo, mas ele
cairia em si.

Helena estendeu a mãozinha para o pai dela, quando eles


chegaram e o levou até o carrinho, onde minha filha estava,
animada mostrando para o papai dela a sua amiguinha.
— Já falou pra mamãe que você quer uma assim? — ele
perguntoupara ela, que deu uma risada gostosa,me fazendo sorrir
.
Jordana revirouos olhos, Mari não era a única pressionada sobre
bebês.
Ravi veio e se sentou ao meu lado, teve a audácia de deixar
um beijo em minha bochecha, mas me afasteidele. Mari me lançou
um olhar significativo e eu apertei os lábios.
Fred logo pediu para segurar a pequena e eu a peguei,
entregando para ele, que a ninou um pouquinho.
— Eu levo jeito, Mari — ele lembrou para a noiva, que fez uma
careta sarcástica — ela lembra você, Denise — ele comentou.
— Ela teve sorte— Jordana falou do seu jeito doce, mesmo
brava — eu pari uma cópia de Edu.
— Mas ela e doce igual a você, amor — Edu falou carinhoso.
— Doce assim, cinquentapor cento— Fred falou,se divertindo
— uma mine dona do mundo, igual ao papai.
Eles ficaram um tempo, o que foi bom, me distraiu.Peguei
Olívia para amamentá-la, foi quando se despediram e foram
embora. Ravi os levou até a portae veio até mim, que estava na
minha cama. Adorava colocá-la aninhada ao meu corpo, deitada
com ela, para mamar. Acariciei seu rostinhoperfeito,enquanto ela
segurava meu seio com a mãozinha tão pequena e mamava cheia
de vontade. Era o momento mais sublime de nós duas.
— Como você está? — Ravi perguntou e eu o olhei
rapidamente.Dei um sorrisofracoe voltei minha atenção à nossa
filha.
— Está tudo ficando bem — falei e ele chegou mais perto, se
sentando na cama.
— Me deixa ficar
, vida — ele pediu insistente,mas não
respondi. Ficamos em silêncio, até ele voltar a falar:
— Procurei um médico — ele falou vagamente — refiz os
exames, vou terminaro tratamento, não quero piorar— continuei
quieta, observando a minha filha. Ele deu um suspiroaudível e eu o
olhei. Havia parado de me importar
, de perguntar
, de pedir para ele
se tratar
— vou tentarme tra tarem casa... — a voz dele travouum
pouco e eu soltei um riso cansado.
— Não é uma vergonha você admitirque precisa de ajuda —
eu falei impaciente — é corajoso da sua parte.
— Se eu não conseguir conter as crises de abstinência, vou me
internar— ele falou mais baixo e eu sentium friono âmago. Engoli
pesado e assenti, sem coragem de olhá-lo. Não sabia se estava
dizendo só para me comover, ou se era real. Ia perguntarsobre a
psicoterapia,mas ele se antecipou:— marquei sessões de terapia,
também.
— Vou ficar aqui, torcendo pra você conseguir
.
— Me deixa ficarcom você — ele falou de novo, mas eu
neguei com a cabeça, não tinha mais como, não dava mais. Estava
machucada demais, ignorando todo o pânico que vivi nos últimos
meses para conseguir aproveitar cada fase da minha filha. Eu
olhava para a nossa menina e às vezes nem acreditavaque ela
estavaaqui, que tivemosa chance de tê-la,depois de tudo. Sempre
chorava sozinha, desesperada. Sempre me ajoelhava e agradecia
por Deus terme permitidoa chance de criara minha menina. Eu
não iria suportar encarara vida se a Olívia não estivesse aqui. Me
culparia pelo restodos meus dias, porque eu fui insistent
e em Ravi,
me machuquei insistindo nele.

Olíviasoltouo peitoe eu me sentei,trocandoe dei o outro.Dei


um sorrisoesguio, acariciando o cabelo ralo dela, era tão perfeita,
tãoguerreiraa minha menina... Olhei para Ravi, que nos observava.
— Sei que você vai conseguir— falei para ele — bastaquerer
,
aceitar ajuda. Ficar longe do que te impulsiona a recair
.
— Eu amo você, vida — ele faloucom a voz embargada, talvez
se dando contade que eu estavarealmentedecidida a não voltar?
Vai saber.
Não falei nada, fiquei observando a nossa filha, admirando,
contemplando todo meu amor por ela. Quando ela acabou, a dei
para ele segurar
, que ficou meio sem jeito, inseguro, mas ficou em
pé com ela, a balançando até ela arrotar
.
C 36
RaviFerrari

Comemoramos o segundo mês de vida de Olívia e eu não


estava em um bom dia. Lutarcontrameus própriosdemônios e
vontadesse tornavapior a cada dia. A vontade que eu tinha era de
enrolar uma corda no pescoço e morrerpara acabar com tanta
vontade que eu não poderia saciar
.

Cada sinal de abstinência que eu reconhecia, tentavaabafar ,


ignorar
, mas não era fácil.Era tenebroso,penoso, terrível.
Fui até a
cozinha e bebi um copo grande com água mineral, como se isso
fosse me ajudar no tremor. De qualquer modo, eu sabia que se
vencesse essa fase inicial, teria mais chances de vencer as
próximas.

E sabia que esse era o passo principal para fazer Denise voltar
.
Ninguém acreditavamais nisso, ela parecia resignada, mas eu não
iria desistir
.
— Estátudo bem? — ela perguntouao chegar mais pertoe eu
a olhei, balançando a cabeça positivamente.
— Está. E você, animada?
— Estou, ela está tão feliz e esperta— ela falou derretida,
agora era tudo sobre a nossa pequena — espero que Chiara não
venha.
— Ninguém a convidou — eu falei incomodado. Se não fosse
isso, eu e Chiara, eu duvidava que Denise tivesse terminado
comigo.
— Pensou na minha proposta?— eu perguntei,mas ela deu
um sorriso indignado.
— A respostacontinua sendo não. Não vou viajar com você,
Ravi. A boa relação que eu tento manter é por causa da nossa filha.
Ela ia se virando para sair
, mas questionei:
— Então não me ama mais? — ela parou ao ouvir e me
encarou séria, fez um barulho de descontentamentoe saiu da
cozinha.
Suspirei com força e bebi mais água.

Uma pontada de vergonha me incomodou, quando meus


amigos chegaram. Não serviríamosnenhuma bebida alcoólica, por
minha causa e isso era no mínimo humilhante. Tiramos fotoscom
nossa filha, nossa família.Quando peguei para ver, me incomodei
ao notar que Denise se manteve afastadade mim. Como aquela
coisa de linguagem corporal, sei lá.

Fiquei em pé, sozinho em um canto na área externa,onde foi


montada a decoração da festa.A irritaçãome queimava, talvez se
ela cedesse, me desse chance, seriamais fácilpassarpor tudoisso.
— Eu não confiariaem deixar Denise tão próxima de Pedro —
Chiara falou, parando ao meu lado e eu a olhei surpreso.Não pelo
que disse, mas por ter vindo.
— O que você está fazendo aqui, Chiara? — perguntei
desgostoso e olhei ao redor
. Ela deu de ombros.
— Sua amada já destruiua minha vida, eu não acho que
precisorecusarconvite,vim aqui a vida inteira— ela falou como se
fosse algo óbvio. Mas veio para provocar Denise.
— Você fala de Luísa, mas é quase igual.
— Não sou, não — ela retrucou.
— E eu duvido que Denise tenha vazado alguma coisa — eu
falei, defendendo. Mas era a verdade, ela jamais fariaisso, nem
com seu pior inimigo. Marina faria algo assim, talvez. Chiara
também. Mas ela e Jordana, jamais.
— Como você está? — ela perguntou e eu a olhei rapidamente.
Chiara me remetiatantoremorso, nós dois éramos um poço de
insensatez.
— Indo...
— Mamãe se preocupou que eu pudesse estar uma
dependente também — ela zombou, mas era tão desconfortável
lidar com isso que fiqueiquieto.Era fácilzombar quando não era ela
passando pelos sintomasdesgraçadosda abstinência— mas estou
sem beber e nem usar nada há mais de um mês, me sinto ótima.
— Sorte a sua — resmunguei. Olhei ao redor , procurando
Denise e lá estava ela, segurando Olívia enquanto Pedro as
fotografava.Uma pontada de ciúme me incomodou, mesmo que
fossem só amigos e ele seria o padrinho da minha filha, eu não
queria nenhum homem pertode Denise enquanto ela decidia me
esquecer.

Chiara, pouco se importandose incomodava alguém ou não,


ficou ao meu lado, puxando conversa, nunca se colocando como
culpada de tudo que fizemos.Eu puxava para mim a maior parteda
culpa, não seria hipócrita, me libertava com ela quando não
conseguia aguentar ficar sem beber, se não fosse ela, eu
encontraria outra maneira, mas ela
não deveria estar aqui.
Eduardo se aproximou, segurando sua taça com suco de uva.
— Todo mundo comentandoDenise com Pedro — Edu falou e
eu o encarei confuso — era você quem deveria estar lá.
— Ela não me quer lá — eu resmunguei.
— Acha que não tem volta? — ele perguntoupreocupado. Dei
de ombros.
— Só o tempovai dizer — falei,não iria entregarpara ninguém
meu conformismo.Jamais desistiriada mulher que eu amo tanto.
Pedi licença e fui até eles. Os dois riam de alguma coisa, mas a
graça se foi quando cheguei.
— Vou pegar uma água — Pedro falou e eu o olhei se
afastando.
— Deveria tercontinuado na sua conversa íntimacom Chiara
— ela falou, aninhando nossa filha. Nos encaramos por um
momento. Eu merecia isso. Não iria dizer que estava colhendo
injustamente,porque eu plantei tudo, eu plantei e reguei, fiz crescer
e agora estava desmoronando.
— Não tenho mais nada com ela, Denise — eu falei mais
baixo, mas ela negou com a cabeça.
— Não temagora — ela retru cou convicta— estáachando que
eu ou voltar
, quer fazeruma média e dizer que mudou mesmo, mas
está perdendo tempo. Espero muito que leve o tratamento a sério,
que se cure, que não deixe esse vício maldito de destruir
, mas se
quiser ficar com ela, você está livre pra isso.
Eu fiquei a encarando, angustiado demais para responder ,
tentarconvencê-la. Se esse era o meu castigo,que Deus soubesse,
não estava sendo fácil. Ela saiu e foi para a mesa onde nossos
amigos estavam. EntregouOlie para Marina segurare se sentouao
lado da amiga.

Não fui para perto deles, não queria pesar o momento,


atrapalhar. Não que estivesseme fazendo de vítima,estava sendo
realista.

Entreiem casa e me senteino sofá,escoreio corpoe a cabeça


para trás,respireifundo e fecheios olhos. Estavatudo tão amargo,
sem cor.
— Por que não aproveitaa noite lá fora?— ouvi a voz de
Pedro, mas não abri os olhos. Ele se sentouao meu lado e ficamos
em silêncio por um momento, mas ele logo voltoua falar:— ela está
magoada, cara... Muito. Eu não sei como ela conseguiu lidar bem
com tudo que passou.
— Estoutentando,Pedro. O que eu posso fazer , estoufazendo
— eu falei sufocado.
— Isso muda o que já aconteceu? — ele perguntoue eu virei o
rosto,o encarando. Dei de ombros, cansado demais disso tudo. Ser
o vilão da minha própriahistórianão me dava muitos direitosde
querer algo — Chiara não deveria ter vindo.
— Eu não a convidei. Não enlouqueci ainda.
— Ela ainda gostade você. Denise... — Pedro faloue eu soltei
o ar, querendo me livrardessa agonia — mas a prioridadeagora é
outra, você sabe.
C 37
Denise Malta

A noite com os amigos foi boa, era delicioso comemorarcada


dia com a minha vida, que estavatão saudável. Não fiquei surpresa
por Chiara estaraqui, acostumadaque era a nunca carregarsuas
culpas, ela não iria se privar
. É claro que tentariamostrarque nada
era tão grave quanto pareceu ser
. Aliás, quanto realmente foi.

Deixei a Olívia com Jordana dessa vez e fui ao banheiro. Ravi


estavana sala quando entrei,mas segui para o lavabo. Ele poderia
achar que eu estava sendo dura com ele, jogando, mas era o
contráriodisso. Eu estava nos colocando com os pés no chão.
Voltarseria dar para ele a segurança de que poderia continuarse
destruindo.Que ele sempre teriatudo do seu jeito. E eu não queria
mais viver me machucando.

Não iríamosmais voltar . Eu não poderia viver apertando a


mesma tecla, insistindo, sempre voltando ao ponto do sofrimento.

Sentia falta,claro. Saudade. Queria alguém para beijar, queria


beijá-lo, queria transarcom ele, ser levava aos limites extremosde
prazer . Mas não queria desse jeito. E precisava me libertardesse
sentimento.Sabia que não poderia ceder, porque não conseguiria
perdoar. A mágoa era maior que tudo em mim. Eu duvidava muito
que alguém na minha situação, perdoaria. Eu fiz muito por ele,
enlouqueci de amor por ele, quase estragueia minha vida em nome
desse amor. Porque se hoje a minha filha não estivesse aqui,
crescendo saudável, eu não sei o que seria de mim.

Quando saí, ele não estava mais na sala. Respirei fundo, ele
precisava parar de se jogar em um sofrimentoque ele mesmo
causou. Deveria começara enfrentar tudocom mais clareza.Ele me
traiu.Não foiuma simples traição,não foiapenas traição,ele repetiu
o mesmo erroincontáveisvezes. Ele recaiu incontáveisvezes, me
enganou, tentoumentir. Mas para ele, eu tinha que voltar e aceitar
que ele continuassefazendo. Eu havia conversado com o médico
dele, apesarde tudo,ainda era o pai da minha filha,eu queria saber
como estava indo, precisava saber como ele estava indo, do
contrário não confiaria em deixá-lo sozinho com Olívia.
— Se você não vai voltarpra ele, continua aqui rodeando a
famíliadele por quê? — a voz de Chiara veio de uma maneira
invicta e eu franzi o cenho, me virando para ela.
— Já pensou em fazerterapia?— pergunteisarcásticae ela
chegou mais perto— porque você precisa.Sei que seu ex-noivo te
traiu,que te enganou, mentiu pra você. Eu também passei por isso.
Você — enfatizei— me fezpassarpor tudoque tefezsofrer , só que
pior. E nem por isso eu fico condenando e descontando em outra
pessoa. Eu sintopena de você, Chiara. Poderia tersido mais lúcida,
sei lá. Poderia terfeitomais por você mesma, do que se tornara
amantede Ravi, do que se tornarisso aíque você virou. Eu não sou
uma cega que não via todos os errosde Ravi, mas eu não vejo
vitórianas suas atitudes.Você só manipulava um cara doente, que
estava com hepatitealcoólica, com a vida comprometida.Ele não
conseguia parar e você achava que estava ganhando, aliás, ao
contráriodo seu noivo, Ravi largava tudopra beber com você — dei
um riso cansado e neguei com a cabeça — pra se destruirao seu
lado. Se ele não tivesse parado a tempo, se ele tivesse morrido,
qual seria a sua reação agora? A de que não sabia a gravidade da
doença dele? Ou vir aqui, onde voce não é bem vinda, pra tentar
invertera situação?Eu não sou culpada, Chiara. Você é. Você e ele.
A minha filha correuriscode vida por causa de vocês! Eu não tinha
complicação de saúde nenhuma, deveria terlevado uma gravidez
saudável, tranquilae por causa de vocês dois eu quase perdi a
minha filha! Enquanto vocês estavamse destruindo,enquanto voce
ajudava Ravi a se matar, eu estavaem uma cama de hospital,sem
poder nem falar direito. Ravi foi canalha, egoísta,inescrupuloso
comigo. Eu o perdoava, eu tentavasalvá-lo, eu queria, eu queria
muito que nosso amor tivesse sido de outramaneira, mas eu já
entendi que não deu certo.E eu já disse pra ele, que ele está
completamentelivre pra se destruirao seu lado. Não me importo
mais. Não estou rodeando a famíliadele, não estou forçandoa
minha presença aqui. Você está. Estou aqui comemorando a vida da
minha filha ao lado da famíl
ia dela e dos meus amigos. Você nem
devia estar aqui.
— Você acha que venceu porque vai passar a noite com ele?
— ela perguntou sarcástic a e eu deixei escapar uma risada,
desacreditadado que estava ouvindo. Foi como terfalado para as
paredes, completamente.
— Não vou passar a noite com ele — falei o óbvio, era bom
que ficasse claro para ela, que soubesse que eu não estava
competindoninguém — sabe quem você estáparecendo? Luísa.A
despreza tantoe está aí, ficando amarguradaigual a ela. O que te
tornouassim? As traiçõesdo seu ex? As provocaçõesdela? O fato
de seus pais terem te privado de um relacionamentoque você
queria, só por preferirem
Eduardo? Por priorizarema felicidadedele
a sua? Acha que me fazendo sofrervai mudar alguma coisa? A sua
vida é tãovazia assim? Ah, claro! Participarde uma orgia é o que te
faz feliz. Deixar que te gravem transandocom um cara que estava
completamentefora de si inflou seu ego. Ah, não — eu falei,
fingindo me lembrar— ligar pra um cara que dá sinais clarosde ser
um dependente alcoólico, que sempre precisa complementarisso
com drogas e saber que ele não resiste às suas propostas
indecentes te faz feliz? Você sentia que pelo menos alguém se
deixava manipular por voce, não é? Eu não sou uma iludida que
inocentou Ravi, Chiara. E nem condenei você. Quem criou uma
ilusão foi você, que ficou desesperada, se perdeu e achou que
descontar em mim te aliviava em alguma coisa. Eu não vou mais dar
espaço pra serprovocadapor você. Vai dizer o que? Que fuitraída?
Que fui enganada? Que dei inúmeras chances pra um homem que
não aproveitounenhuma delas? Eu sei disso. Não me arrependode
tentadosalvaro homem que eu amei, mas que fiqueclaropra você:
isso acabou aqui. Se você quer Ravi, não é me irritando,
importunandoque vai conseguir. Eu não sou seu saco de pancadas,
não sou sua inimiga, eu só tenho pena de você. E sinceramente?
Espero que você se reencontree não desperdice sua vida, não
chegue ao fundo do poço, porque Ravi chegou e só ele sabe como
tem sido difícil lutar pra sair de lá.

Eu me virei para sair andando, não sabia se ela tinha a


intenção de dizer algo, mas ficou me encarando pelo segundo que
esperei, sem reação talvez. Parei de andar ao ver Jordana na
entradada casa, segurando Olívia. Ela estava meio estática,devia
ter escutado tudo. Mas não iria me importar
.
— Achei que estava ficando frio pra ela lá fora — ela falou meio
desconcertada.Chiara passou voando por nós duas e ao sair da
casa, correupara chegar logo ao seu carro.Olhei pesarosa para
Jordana e ela negou com a cabeça, como se me tranqu ilizasse —
depois converso com ela, relaxa.
— Vou levá-la pro quarto— eu falei, e pegando com cuidado
— sintomuito,Dana — faleie ela assentiu,tocandomeu braçopara
me tranquilizar sobre isso.
— Só não acho que os pais dela tenham preferência.Mas
concordoque possam terinterferido.De qualquer maneira, isso não
deu pra ela o direito de fazer tudo que fez. Acho que ela está
perdida, sabe? Edu sempre defendeu e protegeuChiara, agora se
voltou contraela. Acho que ela está sentindo o peso de tudo que
fez...
— Não acho que sinta algo.
— Edu comentou que ele voltou para o tratamento, até parou
de beber também, para incentivá-lo — ela contou e eu suspirei.
— Espero que dê certo dessa vez.
— Vai dar amiga, vamos terfé— ela falouotimista— vai voltar
pra ele?
— Não — falei rapidamente e ela me observou por um
momento — não vou voltar , é sério.
— Tudo bem. Vai lá agasalhar a pequena, vou voltarpra mesa.
Edu diz que sou exagerada com o frio,mas ela é muito novinha
ainda.
— Obrigada, vou lá — acenei com a cabeça e ela sorriu
docemente, voltando para onde estava.

Subi com Olívia para o quartodela aqui, junto com o de Ravi.


Abri a portadevagarinho e entrei,me deparando com ele pertoda
janela. O ouvi fungare correr as mãos no rosto,antes de se virar .
Me cortava vê-lo assim. Se eu estivesse certa das minhas
observações,ele estavasofre ndo mais do que eu, quer dizer, agora.
Não só pelo término,ele enfrentavamuito mais do que eu agora. E
eu aproveitava mais a chegada da minha filha, as descobertascom
ela, não tinha tempo para enfrentaro luto da perda do
relacionamento. E resolveria minhas questões traumáticasmais
tarde, com terapia, obviamente.
— Por que não fica lá em baixo? Com nossos amigos...
— To cansado — ele falou, a voz embargada de quem andou
chorando tanto.
— Quer ficaraqui com ela? — perguntei,indo para a poltrona
de amamentação. Peguei a almofada e me sentei com a Olívia.
Fiquei olhando para a pequena, tão linda. Ela tinha os olhos
parecidos com os de Ravi, mas se parecia mais comigo. Foi um
acalentoda vida para mim? Talvez. Mas não me importariase fosse
igual Helena, que saiu a cópia fiel do papai dela.
Pergunteipara Ravi se ele havia vistoa fotoque Pedro postou,
já se declarando padrinho dela. Ele era tão amoroso com a Olívia,
que não tinha alguma chance de alguém tomar esse posto dele.
— Vocês estãobem próximos — ele falou e eu franzio cenho.
Ravi deu um soluço involuntário,desses pós-choro e eu aperteios
lábios.
— Somos amigos — dei de ombros— não existemaldade, não
seja maldoso.
— Ele tem feitotudo que era pra eu fazerpor vocês — ele
falou, a voz parecendo travar. Mas eu não iria me culpar. Não
confiavanele ainda, não conseguiria deixá-lo sozinho com ela, sem
que eu estivesse por perto supervisionando.
— Você ainda banca ela — eu provoquei e ele deu um riso
cansado.
— Não gostode lidar com seu desprezo— ele faloue eu fiquei
confusa — com toda essa frieza.
— Não estou sendo fria,Ravi. Eu tomei uma decisão, apenas
isso. Não estou te castigando.

Ele ficou quieto e suspirou, ficou nos olhando por um tempo,


mas logo foipara o banheiro. Respireifundo,teríamosque aprender
a administrar tudo isso, ele precisava enfrentar e superar tudo.
Quando acabei de amamentarminha filha, Ravi já estava na
cama, deitado mexendo no celular. Vestia só a calça do pijama.
Olhei seu corpo por um momento, mas me freei.
— Quer ficarcom ela? — pergunteie ele deixou o celular, se
levantou e veio até mim. Pegou nossa pequena com cuidado e a
balançou, ninando. Ela se aconchegou no colo dele, que já tinha
jeito, claro — se ela chorar
, me chama.
— Ela não vai chorar . Só quando sentirfome de novo — ele
falou se divertindo e eu concordei.

Voltei lá para forae roubei um dos docinhos na mesa. Me


senteiao lado de Jordana, Mari estavado outrolado, e Fred ao seu
lado.
— Cadê Ravi? — Eduardo perguntou.
— Colocando a Olie pra dormir — eu expliquei. Silvia estava
passando perto e parou, nos olhando.
— Vai ficarpra dormir
, Dê? — ela perguntoucarinhosamentee
eu me senti encurralada. Não iria.
— Não sei — falei mais baixo.
— Se quiser, mando preparar um quarto— ela avisou e eu
assenti.
— Se eu brigarcom Marina, mamãe me botapra forae dá meu
quarto pra ela — Fred falou.
— Mas vocês moram juntos— Jordana falou entediada — ela
dorme fácil, amiga? — perguntou para mim.
— Às vezes, dorme. Mas acorda durante a noite pra mamar
.
— Ravi temparticipado?— ela perguntoudocemente.Balancei
a cabeça, afirmando. Não iria desmerecer , ele ajudava no que
poderia, mas vivia nos seus conflitosinternose eu não cobrava
muito.
— Helena está ansiosa pra ela começar a andar — Edu falou.
— Daqui a pouco ele está aqui todo dia, fazendo maratonas
pra adiantaros passos da Olie — Jordana falou indignada e eu
comecei a rir — com sete meses ele já queria que Helena andasse.
— Quando o bebê vai ficando mais durinho, mais esperto,é
muito mais legal — Edu se defendeu — e quando começa a falar
também. Jordana nunca superou que Helena disse papai primeiro.
— E sinto ciúme até hoje — Jordana confidenciou — porque
ela é muito louca por esse pai dela, e eu* sou só a segunda opção.
— Jordana é tão dramática — Mari falou.
Eles ficarampor aqui até quase onze da noite. Como era uma
quinta-feira,Fred logo deu a ideia para irem em outrolugar. Mari me
convidou, mas achei melhor não ir. Logo Olívia acordaria para
mamar, eu estava apegada demais para quererficarmuito tempo
longe dela.

Os amigos de Silvia ficarampor mais algum tempo. Vi um


garçomservindo vinho para eles, quando todosse foram.Silvia veio
até mim, perguntandose eu não queria um quartosozinha, mas
neguei, não me sentiria confortável.
— Então isso quer dizer que podem se acertar— ela falou
sugestivae cerrouum pouco os olhos. Neguei com a cabeça e ela
suspirou,acarinhando meu rosto— tudo bem, você tem toda razão
de estar assim.
— Eu só quero que ele se recupere,que supere o vício. Vou
apoiá-lo como puder, mas não quero mais voltar
.
— Tudo bem — ela sussurrou e sorriupara mim — apenas
deixe isso claro pra ele.

Entrei no quarto no mesmo momento em que meu celular


notificoua mensagem de Ravi, avisando que Olívia havia acordado.
Ele já estava com ela no colo, que choramingava.
— Já está com fome, mamãe? — perguntei carinhosa, a
pegando para mim.
— Vai ficaraqui? — ele perguntou e eu assenti, piscando
devagar. Fui amamentá-la na cama dessa vez. Depois, entreguei
para Ravi e fui para o banho. Como não havia trazidoroupa, vesti
uma camisa grande Ravi e a mesma calcinha. Usei os hidrantesde
corpo dele, tinha a pele mais seca e odiava não hidratardepois do
banho. Prendi o cabelo em um coque e voltei para o quarto.
Desfiza cama dele e fui até o guarda-roupaspara pegar outro
edredom. Ajeitei a cama e fui ver a minha filha, quando Ravi a
colocou no berço.
— Não sou acostumadaa dormirtão longe dela — eu falei e
ele deu uma risada sussurrada.
— Longe? — ele perguntousarcásticoe eu olhei para a cama,
medindo a distância — ela dorme na cama com você, não é?
— É — reclamei chorosa — e fico olhando a respiraçãoo
tempo todo.
— Quer colocá-la na cama então — ele constatoue eu fiz um
beiço — vontade de beijar essa sua boca — ele resmungou, mas
revireios olhos e peguei a nossa filha do berço. Ela resmungou um
pouquinho, mas logo reconheceu a mamãe aqui e relaxou.
— Não é um amor meio louco? — pergunteipara ele, que deu
um sorriso carinhoso e apertado — não voltaria no tempo e
escolherianão tê-la, parece que a minha vida só faz sentidoporque
a tenho agora.
— Eu me sinto do mesmo jeito — ele falou baixinho. Nos
encaramos por um momento e eu me virei, indo para a cama.
A coloquei no meio e me deitei, puxando o cobertor . Ravi veio
logo depois, se deitando e se virou de lado, olhando nossa bela obra
de arte.
— Se sente fr
ustradoporque ela se parece mais comigo? —
perguntei sussurrando.
— Você é tão linda... Me sinto feliz.
— Jordana não se conforma
va... Helena se parece muito com
Eduardo.
— Helena precisavase parecercom Eduardo, pra calar a boca
do pai dele — ele faloue eu fizuma careta.Ficamos em silêncio por
um momento, os dois admirando a Olívia.
— Acha que Fred ficasentidopor Mari não quererengravidar?
— perguntei e ele deu de ombro.
— Acho que ele tentase acalentar
, porque pelo menos eles
ficaram bem...
— Ficou com ciúme de Pedro? — pergunteie ele me encarou
sério — pelo que disse mais cedo.
— Fiquei com medo.
— Por? Acha que eu seria capaz de me envolver com seu
irmão? — perguntei, quase incrédula, mas acabei rindo.
— Não sei, Denise — ele falou mais bravo — estão tão
próximos...
— Ele é padrinho dela — falei o óbvio — e somos amigos.
— Você não ficaria com um inimigo — ele falou impaciente.
— Ele está conhecendo uma garotaaí. Não tem sido fácil,
porque ela tem só dezenove, acabou de completar aliás.
— Ah — ele falou sem interesse.Dei um suspiro e me deitei
direito na cama.
— Boa noite, Ravi — falei, quando ele apagou as luzes.
— Boa noite, vida.

[...]
Olívia acordou pouco durante a noite. Pela manhã, quando
despertei,Ravi não estavamais na cama. Levantei apressadapara
o banheiro, apertadapara fazerxixi. Mas ele estava lá, dentrodo
Box, de olhos fechadose esfregavao membro ereto.Eu me senti
comprimir inteira por dentro, mordi a bochecha por dentro, me
segurando para não fazer barulho. Ele afastoumais as pernas,
aumentando o ritmoe deu um gemido áspero, investindoum pouco
contraa própriamão. O abdome contraiuum pouco e ele mordeu o
lábio inferior
. O observava inteiro,tão dividida entremágoa e tesão.
Ele gemeu aliviado e no segundo seguinte o membro começou a
esguichar intensamente, enquanto ele se deliciava do orgasmo.

Pisquei algumas vezes, me trazendode volta para a realidade,


mas antes que eu pudesse sair, ele abriu os olhos e me encarou.
Fiquei sem graça, não devia estaraqui vendo. Não que já não
tivesse visto algo parecido antes. Mas não escondida.
— Quer vir? — ele ainda perguntou,mas o encareientediadae
fui fazerxixi. Depois lavei o rostoe escovei os dentes com uma
escova nova que peguei no armário, e um exaguante bucal.
— Me leva pra casa — eu falei, quando ele voltou para o
quarto. Ele não retrucou, só concordou e foi se trocar
.

Troquei a fraldada Olívia e a roupa também. Coloquei uma


tiaracom um laço enorme nela. Quando descemos, Ravi levando a
pequena no bebê-conforto,Silvia nos levou logo para a mesa do
café. Eu tentei negar
, mas ela não aceitou minha recusa.
— Dormirambem? — perguntou,não conseguindo escondera
animação.
— Apenas na mesma cama — Ravi falou, para cortaro barato
dela logo. Pedro deu um riso e negou com a cabeça.

Depois do café, amamentei a pequena de novo e Ravi me


levou para casa. Ele ficou meio sem jeito quando eu ia descer do
carro, queria dizer algo, mas não teve nem coragem.

Pela tarde,enviei uma mensagem para ele, avisando que iria


saircom as meninas, se ele queria ficarcom a filha.Eu deixaria leite
armazenado para ela por uma noite.
“Posso ficaraí com ela, até você chegar. Assim ela não passa
a noite inteira sem você” — ele falou. Franzi o cenho, quase
surpresa por ele não relutar
.
C 38
RaviFerrari

Quando cheguei ao apartamentode Denise, ela já estava


pronta para sair
. Mas segurava a nossa filha, apegada que era a ela.
Dei um sorriso fraco e fui até elas, peguei minha filha com cuidado.
— A vontade de sair até passa quando fico assim grudadinha
com ela — ela falou baixinho — mas acho que vai ser bom, preciso
me distrair um pouco também...
— Esperoque não fiquecom ninguém — eu faleie ela fezuma
careta.
— Estou solteira, Ravi — ela falou e eu fiquei quieto. Me afastei
e fui com Olívia para o quartodela. Denise veio antesde ir, avisou
como eu preparariao leite dela armazenado no freezere deu uma
última olhada na pequena.

O vestido que ela usava era curto,saltos altos, perfumadae


bem maquiada. Estavalinda, deliciosa. Mamãe logo a incentivouem
tratamentos estéticos, massagens, acompanhamento com
nutricionista,o que ela tivesse direito para perder o que havia
ganhado durantea gravidez. Eu sentiatantafaltadela, sentiatanto
medo. Todos os sinais eram claros, mesmo que eu não quisesse
aceitar:eu havia perdido a única mulher que amei. Porque fui
egoísta,cego, imaturo. Fui o pior canalha para Denise e ainda
queria seu perdão.
Tudo se corroíaaqui dentro,eu não deveria terme oferecido
para ficaraqui, deveria terdeixado com mamãe, sei lá, assim iria
para onde ela iria. Mas se eu fosse, iria acabar bebendo e
desencadeando tudo de novo.

Minha vida se tornou um inferno, tudo sempre sendo


premeditado para que eu não recaísse.Do contrárioacabaria
internado,ou com uma doença mais grave no fígado.Não estava
seguindo firme o tratamento,a terapia apenas porque queria
Denise, porque achava que a única maneira de tero amor da minha
vida de volta era adormecendo esse vício maldito, eu já sabia que
havia estragadoa nossa história.Mas eu acabaria me matando,
deixaria a minha filha sozinha, uma vez que a vontade de tê-la partiu
de mim. Eu queria amar a minha pequena, cuidar dela, vê-la
crescer. Indo mais longe, para poder explicar melhor:eu queria que
ela me visse e sentisseorgulho. Que desse gritinhoseufóricosde
alegria só por me ver, como Helena faziapor Eduardo. Queria que a
minha filha tivesseem mim o seu portoseguro, o seu super-herói.
Não um cara que machucou sua mãe e não venceu uma doença
desgraçada, mesmo tendo todo suporte para isso.

Postei uma fotocom minha filha no Storyno instagram,logo


recebendo várias felicitações.Fiquei olhando toda hora se Denise
postava algo, e quase duas da manhã veio uma fotoque mais
pareceu uma bomba. Ela e Pedro sorrindo para a câmera. Ela
escreveu “compadre” na foto, junto com um coração.
Se era me causar dor e ciúme que ela queria, ela estava no
caminho certo
. Mas já nem acreditava nisso. Denise não me
provocaria,ela deixava claro que estavatudo acabado. E depois de
tudo que ela passou, eu não tinha mais coragem de correratrase
tentarvoltar
. Como era a primeira noite que eu passava sozinho
com minha filha, tive alguns imprevistos.Trocarfraldanão era tão
fácil quanto parecia, mas venci. Aqueci o leite e coloquei na
mamadeira para ela, que chorou quando acordou com fome, mas
logo consegui acalmá-la.

Fiquei a olhando dormirno berço, mas quando cansei, a levei


para o quartode Denise e a coloquei no berço acoplado na cama.
Procureipor um pijama meu e me troquei.Liguei a TV em volume
baixo e tenteime distraircom uma sérieque estavaacompanhando.
Mas toda hora pegava o celular.

Olívia acordava a cada duas ou trêshoras para mamar, era


quando eu conseguia não pensar no que Denise poderia estar
fazendo. Ela chegou quase quatro da manhã, tropeçando nos
própriossaltosaltos.Eu estavana cozinha, com a pequena no colo,
que mamava.
— Bebi duas taças de vinho — ela falou — sua mãe disse que
tudo bem eu amamentarmesmo assim, só que eu estaria sendo
hipócrita. Julguei Jordana quando ela fez isso.
— Não acho que vai fazer mal — falei e ela torceu a boca.
— Vou tomarum banho. Já volto— ela faloue saiu apressada.
Fiquei nervoso querendo que ela terminasselogo, dormisse
logo. Peguei meu celular e me sentei no sofá. Perguntei para
Eduardo se Denise esteve com alguém, mas quem me respondeu
foi Jordana, completamente embriagada em um áudio:
— Não é da sua contaaaa!
Soltei o ar ao ouvir, deixei isso pra lá, ninguém me contaria
alguma coisa hoje. Denise veio minutos depois, com um pijama
confortávele cheirosa, como sempre. Ela se sentou bem ao meu
lado para pegar a filha e deu um sorrisoamoroso e emocionado,
como se tivesse passado uma semana longe.
— Aproveitou a noite? — pergunteie ela me encarou por um
momento.
— Aproveitei...Dancei com as minhas amigas... Chiara estava
lá — ela falou, me deixando incomodado, cheio de remorso. Se não
fosseo meu descontrolecom Chiara, talvez não tivessedestruído
tanto nossa relação.
— Não tenho nada a ver com Chiara.
— Agora, talvez — ela deu de ombros — como você está?
— Com saudade de você.
— Não sobre nós dois, Ravi — ela falou impaciente — fiquei
preocupada de sair , você se sentir no direito de fazer a mesma coisa
e...
— Denise, eu estou me esforçando,não vou sair e ceder a
nada. Fique despreocupada.
— Pedro comentou sobre as crises de abstinência...
— Mas estou seguindo firme. Ele queria o que? Que eu
recaísse? Já faz um mês que estou limpo.
— Estou torcendopra você seguir assim — ela falou mais
baixo.
— Ficou com alguém? — pergunteinum impulso e ela me
encarou por um momento, parecia incrédula com a minha quase
acusação.
— Não. Nem pensei nisso, na verdade. Mas não quer dizer que
não vai acontecer em algum momento — ela falou e eu fiquei quieto,
amargando a possibilidade.

Ela falou com Olívia um tempo, aninhando a nossa filha.


Quando ela começou a adormecer , Denise se levantou e a ninou por
um tempo.
— Vamos pro quarto— ela sussurroue eu a acompanhei com
o olhar. Fiquei mais um tempo na sala, pouco, mas precisava
respirar, aceitar que eu nos trouxepara essa situaçãoincômoda e
agonizante de agora.
Quando entrei , ela já tinha colocado a pequena no berço e
pegava cobertas diferentes para nós dois.
— Se quiser, posso ir embora — falei e ela me encarou
entediada.
— Não seja tão dramático — ela falou condescendente — pode
ficar
, você sabe que não gosto de ficar sozinha.
Desfiz a cama e ela jogou os dois cobertores.Parei pertodo
berço e olhei para nossa princesinha dormindo, tão serena. Era tão
boazinha, dorminhoca, só chorava quando estavacom a fraldasuja
ou com fome.
Denise parou ao meu lado e deu um suspiro apaixonado, era
louca pela filha, não tinha como negar
.
— Quase cinco da manhã — ela reclamou — daqui a pouco ela
acorda e eu nem fui dormir .
— Vamos dormir , então— eu faleie ela concordou,indo para o
seu lado da cama. Apaguei as luzes e fui me deitar também.

Não consegui dormir


, saber que estávamostão perto,mas tão
cheio de cacos no nosso caminho. E eu sabia que eu havia
quebrado tudo, Denise tentou nos remendar por muito tempo.

Acordamos quase oito da manhã, ela mal humorada por ter


dormido pouco, já havia trocadoa pequena e amamentava,sentada
ao sofá.Prepareicafépara nós dois, corteialgumas frutas. Quando
acabou o que fazia, ela colocou Olívia no carrinhoque estava na
sala e o empurrou para perto da mesa.
— Conheci sua nova cunhadinha — ela falou presunçosae eu
a encarei, me sentindo aliviado — ela é legal, eu achei...
— Ficaram amigas, então — eu falei e ela deu risada.
— Quando sua mãe souber, vai ficarlouca. Como Pedro vai
dar mais netos pra ela, namorando uma menina tão nova?
— Assim, teremosque fazermais um — eu brinquei e ela deu
risada, me achando um louco.
— Não sei se quero mais filhos.
— Perguntou ao médico se poderia ter complicações na
próxima gravidez — eu a lembrei, que deu de ombros.
— Eu só queria saber das possibilidades. Mas sempre disse
que só queria um filho. No caso, filha — ela apontou para o carrinho.
— Posso ficaraqui com vocês? — pergunteie ela me encarou
confusa — o fim de semana todo.
— Ravi... — ela falou, reclamando e nos encaramos por um
tempo.
— Acha que não vai resistira mim, não é? — perguntei,
tentandoparecerdescontraídoe ela deu um sorrisodesanimado,
soltando o pão no prato.
— Não tenho medo. Estou decidida, nós dois acabamos. Se
estoumaleável e te deixo perto,é porque voce é o pai dela, só por
isso. E eu jurei pra mim mesma que não repetiriaos mesmos erros
dos meus pais com a minha filha. Não pense que estou feliz, que
quero te terpor perto.Eu não quero. Mas sei que voce está se
esforçandono tratamento, sei que quer serum bom pai pra ela. Mas
comigo voce não terámais nada. Nunca mais. Não quer dizer que
eu não estejatorcendo,não quero te ver recaindo — ela falou e eu
balancei a cabeça, mereci isso também.
— Não vou fazer isso, vida.
— Como temse sentido?— perguntoude novo — quero saber
sobre as crises de abstinência, Ravi.
— Alguns dias são mais fáceis que outros, mas estou
superando. Já entendi que em algum momento isso vai passar
.
— E você sabe que nunca mais vai poder voltara beber? —
ela perguntou incisiva e eu suspirei, balançando a cabeça para
confirmar— quando vai voltarpra repetiros exames? Saber como
está o fígado?
— Daqui a alguns dias — falei, me sufocandodessa conversa
— não vou desistir
, vida. Quero tera chance de consertar
tudo com
você, e estar saudável pra cuidar da nossa filha.
— Tudo bem se você ficaraqui — ela falou depois de um
tempo quieta — mas isso não quer dizer que vamos ficarjuntos. É
só porque eu acho bom que você fique mais tempo com a Olívia,
isso é bom pra você e pra ela.
— Obrigado, vida — eu falei e ela apertou os lábios.

Denise me incluiu na rotinada pequena, até banho me fez dar,


com sua ajuda, claro. Ela parecia gostarde me ver participando,
interagindo,mas não era pra ser novidade que eu amaria nossa
filha.

Quando ela dormiu, pela tard


e, deitamospara ver um filme. Ela
veio com pipoca e consertouos travesseiros
para se encostar
. Não
consegui prest
ar atenção no enredo do filme, tê-la tão pertoe não
poder nem dar um beijo me matava.
— Minha vontade é deitare dormir— ela falou de repente—
mas tenho medo de dormir e não escutara Olívia quando ela
acordar
.
— Pode dormir — eu falei tranquilamente— eu estou aqui,
cuido dela também.

Peguei meu celular e respondi uma mensagem de minha mãe,


preocupada por eu não tervoltado pra casa. Era humilhante ter
alguém monitorandoe se preocupandoo tempointeiro,nessa altura
da vida. Mas relevava e aceitava.

Denise colocou o balde de pipoca na mesa de cabeceira e


checou a filha,antesde se deitar
. Ela estavacansada, foiuma noite
praticamentevirada, não demorou a dormir . Peguei um cobertorno
armárioe a cobri, a observando, tão bonita, eu a amava tanto.Era
difícilexplicar porque fiz tanta merda. Difícilprever se eu seria
perdoado. Acaricieiseu rostosuavementee ela se mexeu, quase se
curvando para o meu carinho.

Me afasteiquando Olie começou a dar sinais de começar a


chorare a peguei, saindo do quartocom ela. Denise devia termuito
leite, os peitos viviam enormes e ela armazenava bastante.Pela
tarde,dei banho na pequena e a vesticom um bory branco, escrito
“eu amo meu papai” na frente
. Dei leitepara ela e logo ela já estava
dormindo outra vez.
Não tinha muito o que fazercom um bebê de dois meses, ela
mais dormia.
Denise acordou quase seteda noite,assustadapor terdormido
tanto.Nesse momento, nossa filha dormia no berço do quartodela.
Ela reclamou por eu tê-la deixado dormir tanto, mas não dei
atenção.

Pedimos jantar e ficamos na sala, ela me mostrando as


centenasde fotosque tiravada Olívia. Fotosminha com ela tinham
poucas, mas quando reclamei, ela prometeuque teríamostempo
pra mudar tudo isso.

Dormimosna mesma cama, sem nenhum contatoromânticoou


sexual. Para ela poderia estar sendo fácil, mas para mim, um
verdadeiro martírio.

Os sintomas de abstinência sempre me pegavam em algum


momento do dia, mas eu já estava aprendendo a driblar
, ignorar
.
Cuidar da minha filha, ficarpor aqui, longe de tudo, me acalentava
um pouco. Amenizava a sensação de pânico.

No final do domingo, primeiravez que nossa filha teve cólicas,


Denise ficou chorosa, arrasadae se culpando, mas logo mamãe
trouxeum remédio fitoterápico
para ajudar e em poucos minutosela
ficou melhor
, até ria das caretas que a avó fazia.

Minha mãe queria que eu fosse para casa, receosa que eu e


Denise nos desentendêssemos e eu pudesse sair sem rumo por aí.
— Ah, não — Denise interviu rapidamente— estou sozinha,
não gosto de ficar
.
— Qualquer coisa me liguem, então — ela falou, indo abraçar
Denise — e você, juízo— falou para mim, vindo se despedir. Revirei
os olhos e segureiseu rosto,deixando um beijo em sua testa— vou
ficarmuitofelizse voltarem— ela falou.A levei atéa portae Denise
me encarou cerrando os olhos.

Pedimos uma salada no jantar e ela tomou até chá, se


convencendo de que assim Olívia não teriamais cólicas. Culpou as
taças de vinho.
— Já estáótima, você já pode relaxar— eu falei e ela fez um
bico, se sentando ao meu lado no sofá.
— Eu sou muitotrouxa— ela resmungou— mas tenhoque ser
madura e deixar você perto da sua filha.
— Eu to muito feliz de poder ficar pertinho dela.
— Pedro comentou que você quer voltara trabalhar— ela
lembrou e eu concordei.
— Mas achamos melhor que eu estivesse mais estável —
resmunguei, odiava falar sobre isso e ela bem sabia — vou ao
escritório amanhã, ver como está lá, acho que vai ser bom.
— Vai, sim — ela falou, sorrindo fraco— se você se sente
seguro pra voltar às atividades normais, acho que pode tentar
.
— Exatamente — falei e cheguei mais perto.Nos encaramos
por longos segundos e eu coloquei uma mecha do seu cabelo para
trás da orelha.
— Ravi... — ela falou com a voz embargada, mas não recuei.
Me senti angustiado por não resistir
, precisava tentar
, queria tê-la
comigo. Inclinei o rosto,prontopara começarum beijo em sua boca,
mas ela levantounum sobressaltoe saiu desnorteadapara o quarto.
Relaxei o corpo no sofá e respirei fundo.
C 39
Denise Malta

Eu sabia que não deveria ficar pertodemais de Ravi. Viver ao


lado dele, ficarpertodemais seria como ele ficarpertode bebidas
alcoólicas. Em algum momento não conseguiriaresistir . Quer dizer,
eu iria. Não voltariapara ele, não queria isso. Mas não queria dizer
que estava sendo fácil.

Quando ele foi para o banho, eu fiquei igual uma louca


andando de um lado para o outrono quarto,em frentea portado
banheiro, que estavafechada, mas não trancada.Andando para um
lado, eu pensava que poderia entrar
, ele nunca iria me rejeitar
. Para
o outro,eu me voltavapara a razão e lembrava de todosos motivos
para não querer voltar com ele. Não poderia ser tão leviana e
imatura a troco de sexo.

Ele saiu do banheiro enrolado na toalha e quase nos


trombamos. Dei um grunhido de susto e entrei apressada no
banheiro. Achei que um banho friopoderia me acalmar e tiraressa
loucura da minha alma, mas eu odiava água fria.

Fiquei um longo tempo no banheiro, sabia que se a pequenina


chorasse,Ravi saberia cuidar. Pelo menos estavase esforçando.E
eu decidi acreditarque estava fazendo isso porque era o pai dela,
não para me reconquistar.
Uma coisa gritavana minha cabeça para não dormirmosna
mesma cama, eu estava agoniada e nervosa. Depois que eu
amamentei a nossa filha, ele a trocou e colocou para dormir
.
Quando nos deitamos, até o barulho das nossas respirações
parecia alto demais. Me senti sufocada, sem poder me mexer
.
— Posso te abraçar?— Ravi perguntoue eu fiz uma carr anca.
Ele estava se aproveitandoporque me deixou vulnerável. Como não
respondi, ele achou que poderia.

Uma sensação desconfortávelmisturadaa paz de ele estar


aqui se misturou dentrode mim. Mas eu não poderia ser tão fraca,
viciada nele ao ponto de esquecer todos os machucados e tudo o
que eu passei por ele não me colocar como prioridade em
momentos cruciais, que eu precisei ser
.

Cedi ao abraço, relaxando o corpo e deixei que


aproveitássemoso momento. Talvez, se não fossetantasmágoas,
nós contornássemostudo e ficássemosjuntos. Mas era difícilaté
pensar nisso.
— To com tantasaudade, vida... — ele falou carinhoso — de
ficarassim, abraçado em você. Me dá tantapaz. — Fiquei quieta,
dava paz, mas não conseguia tero mínimo de consideração, me
traiu incontáveis vezes. Quando eu parava para pensar, não
conseguia entenderse me doía mais me traircom uma mulher só,
ou com várias, descontroladamente por aí. Achava que o problema
era o vício,eu tentavacontrolá-loe ele corriapara quem liberava de
tudo e mais um pouco, mas achar isso era como inocentá-lo.
Comecei a pensarque se ela o procurassede novo, ele cederia. Era
um mês limpo, andando na linha, sendo monitoradode pertopor
todos que queriam seu bem, mas um mês não era uma garantia.

Me afastei num impulso. Ravi era muito acostumado a sair


ileso de tudo que fazia de errado, eu não iria mais compactuar
. Meu
corpojá pedia pelo dele, eu também queria beijá-lo, mas não valeria
a pena ceder estandotão magoada. E eu não sabia se conseguiria
acabar com toda essa mágoa.
— Que foi? — ele perguntou e eu dei um suspiro forte.
— Eu acho melhor não confundirmosas coisas — falei de uma
vez — nossa prioridadeé aproximarvocê da Olívia.E cuidarda sua
saúde.
— Tudo bem — ele falou mais baixo — boa noite, vida.
— Boa noite, Ravi.
— Eu te amo. Muito — ele falou e eu apertei os lábios,
amargando. Eu acreditavanisso, era bizarro, parecia imaturoda
minha parte.

Demorei a pegar no sono e acreditoque ele também. A rotina


da noite foi como sempre, depois que se tem um bebê em casa.
Acordei de vez às sete da manhã. Ravi ainda dormia e eu enviei
uma mensagem para Pedro, perguntandose era seguro ele voltara
trabalhar
. Sempre haveriam reuniões forada firma,ele encontraria
clientesem restaurantes,lugares que poderiam deixá-lo vulnerável.
Era assim que ele sempre voltava. Tudo bem, um mês inteiroera
um avanço, para quem não suportavaduas semanas, mas não era
uma certeza.
Depois que Olie estava alimentada e limpinha, a coloquei de
bruços. Era incrívelvê-la curiosa com tudo ao seu redor, cada dia
mais esperta.Eu tive sorte,ela nasceu prematura,mas não teve
complicações graves, estava perfeita.A deixei no tapete de
atividades dela, que ficava observando atentaos bichinhos que se
moviam e no som que faziam.

Ravi não demorou muito para acordartambém, e veio logo ver


a filha.Tia Carol chegou na hora de sairpara o trabalhoe estranhou
ver Ravi aqui, ainda. Mas se recompôs e nos desejou um bom dia.
Ela só veio ver e falarcom a minha filha quando já estava
pronta para sair.
— Super feliz em me ver — Ravi falou sarcásticoe eu dei um
riso.
— Não seja dramático.
— Quer comer o que? — ele perguntou,se levantando. Eu
pensei por um momento, mas me levantei e fui para a cozinha com
ele.

Aproveitamosque o dia estava bonito e o sol não muito forte,


para levarmos a pequena para dar uma volta. Achei que seria bom
um pouco de ar fresco.Demos uma volta na orla da praia, tiramos
várias fotosdela. E dela com o pai. Eu guardaria o máximo de
lembranças possíveis de todos os momentos.

Enquanto andávamos, um rapaz passou panfletando a


inauguração de um restaurante
japonês nessa área. Eu comentei
que queria muito comer comida japonesa, fazia algum tempo que
não provava, aliás, desde a gravidez.
— Não quer ir lá? — ele perguntou,indicando o papel em
minha mão. Fiz uma careta,indecisa — mamãe pode ficar com a
Olívia. Não vai demorar tanto, aliás.
— Não sei, não... — falei, tentada.Uma voz gritavapara eu
mantê-lo afastado,sem essa de pensar na proximidade que eu
queria que a minha filha tivesse com o pai, só porque eu nunca tive
isso com o meu e fazia falta.Mas fazerisso me amolecia com ele e
eu tinha medo de me machucar de novo.
— Não quer ir na quinta?
— Vou pensar, Ravi — falei o encarando, que balançou a
cabeça e voltou a empurrar o carrinho da Olívia.
Voltamos para casa depois de uma água de coco e eu fui
amamentar de novo. Fiquei sentada no sofá, e Ravi no outro,
mexendo no celular. Estávamos quietos e eu o olhava. Não queria
mais ser essa mulher que ignora todosos alertase procuramotivos
para perdoar um homem que só fazia errado.

Não queria viver na insegurança, duvidando se ele realmente


estava mudando ou eu só estava sendo enganada outra vez.

Ele deu risada para o celular e pegou meu olhar curioso nele.
— Pedro vai levar a namorada pra jantarcom nossos pais hoje
— ele contou — acho que mamãe vai fazer um show .
— Quatorzeanos de diferença,né — eu lembrei — mas acho
que isso não muda nada, também. Ela já é maior de idade, parece
ser legal...
— Isso me deixa aliviado — ele falou e eu franzi o cenho
confusa. Mas nos encaramos e eu fiz uma careta desgostosa.
— Você é muito louco de maldar seu irmão e eu. Foi a única
pessoa que realmenteficou ao meu lado quando precisei — falei
ácida e ele ficouquieto— ele é meu amigo, padrinho da nossa filha,
seu irmão — enfatizeiainda mais o final. Ravi não falou nada,
deveria terse arrependidode tertocadono assunto,entãocontinuei
— as pessoas só desconfiam dos outrosquando são capazes de
fazerigual. Eu nunca maliciei você e a minha tia, por exemplo. E
vocês têm a mesma idade.
— Me desculpa, Denise — ele falou um tempo depois.
— É melhor você ir — falei e ele balançou a cabeça.
— Posso vir vê-la amanhã?
— Pode vir quando quiser— faleimais tranquilae ele assentiu,
se levantando. Ele foi para o quartose trocar, mas não se deu o
trabalho de levar suas coisas.
— Quer ir ao jantarhoje? — ele perguntouao voltardo quarto
— eles vão gostar de te ver e ver a Olívia.
— Tudo bem.

[...]

Quando cheguei à casa dos avós da minha filha, Silvia veio


logo pegá-la, a aninhando em seus braços e reclamando da
saudade. Perguntou como estávamos e sobre mim e Ravi, eu
respondi educadamente.Falei com Vincenzo e depois fui até Pedro
e Vitória
. Os cumprimenteie logo depois a garotaloirinha foi ver a
minha pequena filha.
— Como isso aconteceu? — perguntei confusa, já que ele
havia dito que não pretendiatornarsério tão cedo. Ele me encarou
como se fosse algo óbvio, mas não captei.
— Ela foi ao meu escritórioe mamãe nos pegou — falou
desgostoso— o restovocê já sabe — comecei a rir , era a cara da
mãe dele fazer isso.
— Desculpa, Pedro.
— E ainda ficou preocupada com a idade — ele reclamou —
mas está tudo bem.
Ravi chegou até nós dois. Pedro comentou sobre a volta dele
ao escritório, ao trabalho.
— Acha seguro? — perguntei.
— Só vou sabertentando— ele respondeu— não vou desistir
,
vida. Já falei isso.
— Você que sabe — falei, me virando para ir até as outras
duas.

A noite foi agradável. Silvia só largou da neta quando ela


dormiu. Eu e Ravi nos estra
nhamos um pouco, mas logo ficamos
tranquilos.Eu não poderia ficardescontando minha raiva nele o
tempointeiro.Raiva, não. A mágoa, o inconformismopor ele não ter
sido alguém que eu queria que ele fosse.Mas eu me sufocavacom
ele achando que voltaríamos
, que era só questãode tempo,achava
que eu estavajogando com ele, o testandopara depois pararcom o
castigo. Não estava castigando ninguém, eu só queria que ele
mudasse por mim, me amasse tantoquanto diz, da maneira certa,
me desse amor, paz, tranquilidade.Eu não queria apenas amor e
prazer e caos.
Ele me levou para casa pertodas onze da noite. E queria ficar
para dormir, mas vetei. Ele subiu comigo para me ajudar com as
coisas da Olie e depois o levei até a porta.

Tomei um banho antesde dormire fiquei um tempo admirando


a minha filha. Postei uma foto dela no Story e marquei Ravi. Ele logo
repostou e escreveu: se tem amor maior, desconheço.

A semana foi dentrodo esperado. Procureinão sair da dieta,


tantopara perderos quilos que ganhei durantea gravidez, quanto
para evitar cólicas na Olívia.

Ravi queria que saíssemospara jantarna quinta.Havia voltado


a trabal
har na quarta,me contousobre as duas sessões de terapia
dessa semana, e uma reunião no grupo de apoio à dependentes
químicos.

Mudei o jantarpara sexta-fe


ira. Eu queria sair um pouco, de
qualquer maneira. Sem ter que ouvir conselhos de ninguém, e
encontrarminhas amigas agora, era passar por isso. É fácil ouvir
quando a gente meio que sabe o que quer, o que deve fazer . O
conselho vem e te dá ou tiraa certeza.Quando a gente não sabe o
que estáfazendo, quando tudo estáum verdadeirocaos, ouvir uma
segunda, uma terceiraopinião, só trariamais agonia e indecisão. Eu
sabia que não iria voltarcom Ravi, mas não sabia se era a coisa
certa deixá-lo tão perto.
Silvia passou para buscar Olívia às cinco da tarde.Eu ainda
estava arrumandoas coisas dela, que não precisava de tanto,já
que ela tinha tudo por lá.
— Ravi está animado essa semana — ela comentou e eu a
olhei, era sempre defensorado filho— temido à terapia,atémesmo
ao grupo de apoio à dependentesquímicos,você sabe... Ele odiava
ter que .ir
— Vou continuar torcendo pra que ele consiga.
— Sinto que ele está mais leve. Acho que com o passar do
tempo, sem recair
, ele não vai mais sofrercom abstinência e vai
levar uma vida normal.
— Ele tem apoio de todosnós pra isso. A única parteque falta
é a dele mesmo.
— E agora ele está fazendo a partedele — ela replicou e eu
suspirei — como vocês estão?
— Bem... Não estamos juntos, mas teremosque nos tornar
amigos. Pelo menos ter uma boa convivência.
— Isso inclui jantarzinho romântico? — ela perguntou,
sondando. Dei um rido indignado.
— Não é um jantarromântic o. Estamossaindo pra comer, tem
tempo que não faço isso. E acha mesmo que não vai ser um
incômodo ficar com ela?
— Incômodo? — ela perguntouincrédula — tem dias que a
minha vontade é vir sequestrá-la.
— Mas passar a noite não é tão legal quanto o dia — eu alertei,
mas ela abanou a mão.
— As avós servem pra dar um descanso às mães. Eu tivedois,
sei como faz falta uma boa noite de sono.
— Obrigada, Silvia.
— Estou torcendopra que vocês tomem a melhor decisão.
Seja juntos ou não, que sejam felizes.
— Obrigada por não pressionar— faleie ela deu um sorr
isinho
apertado, encolhendo os ombros.
— Saiba que vou ficarincrivelmentefelizse reatarem,também.
Você faz bem ao meu filho, ele precisa de você.
— Não vou entrarnessa conversa — avisei logo. Peguei uma
bolsa térmicapara colocar o leite. Quando abri o Freezer
, ela ficou
surpresacom a quantidade de leite que eu conseguia armazenar
.E
foi como um milagre, depois de todas as complicações e parto
prematuro,eu tertantoleite. Mas continuavabebendo muita água e
chás que prometiam aumentar a produção de leite.

Depois de tudopronto,peguei minha pequena tãoindefesa,me


sentindo culpada por me afastardela, mesmo que por uma noite.
Comecei a achar que seria melhor levá-la quando estivéssemos
saindo, mas ela tinha leite para toda a noite na bolsa térmica.E
Silvia tentou me convencer de que eu teriamais tempo para me
arrumar com calma.

Foi o que fiz. Comecei a me arrumarcedinho, Ravi mandou


mensagem pelas seis e meia, confirmandonosso jantar . Arrumeios
cabelos, escovando-os. Fiz uma maquiagem bonita. Tirei leite perto
de sair, para dar tempo e eu não ficarvazando. Mesmo assim
coloquei absorventepara os seios. Depois um sutiã bonito, um
vestido pretocolado no corpo, com a gola alta, mas sem mangas.
Calcei um salto alto e fino, passei perfume e coloquei alguns
acessórios.

Enviei mensagem para Silvia, perguntandose estavatudo bem


e ela me enviou um vídeoda Olie brincandono tapetede atividades,
que na casa dela era enorme e cheio de funções.

Quando Ravi chegou, peguei minha bolsa pequena de grife,


que ganhei de aniversário dele, no primeiro ano que ficamos juntos.
Ele estava escorado ao carro, bebendo água por uma
garrafinha pet e deu um sorriso a me .ver
— Você está perfeita— ele falou carinhosamente,vindo me
abraçar e me deu um beijo no rosto.
— Você também — eu falei. E ele estava. Usava uma camisa
de malha branca,tambémgola alta,mas mangas cumpridasque ele
ergueu até os cotovelos, jeans e um tênis branco. Estava tão
cheiroso.

Como ele havia feitoreserva,chegamos e fomoslevados até a


nossa mesa. Pedimos água com gás e limão quando o garçom
chegou.
Quando o primeiro prato chegou, postei uma foto,
acidentalmenteapareceu uma parteda mão de Ravi, o relógio, e
Marina reconheceu.

“Nem creio, Denise” — ela respondeu. Eu não respondi nada,


não tinha o que dizer
.
Silvia mandou um vídeo da nossa filha para ele também, que
me mostrou,me deixando loucamentederretida.Falamos sobreela,
sobre os planos dele de volta ao trabalho, a animação com o
tratamento.
Parecia acreditarque conseguiriadessa vez, havia pelo
menos aceitadoque precisava conseguirsair dessa. Há um tempo,
ele relutavaem admitirque era um viciado, não queria saber de
terapia e muito menos de um tratamento farmacológico.

Fiquei apreensiva, porque pessoas ao nosso redor bebiam,


garçons passavam por nós com bebidas, mas ele não se deixou
abater
. Ou, se sentiu algo, soube disfarçarmuito bem. Mas de
qualquer modo ele disfarçava bem até uma ressaca tenebrosa.

Eu gostei da noite com ele, foi amena. Sem excessos ou


medos. Pedimos um drink sem álcool, eu comi muito,principalmente
das vieiras trufadas,que eu amava. Encerramos com uma
sobremesa da casa, até gostosa, com chantily, sorvet
e e frutas
vermelhas.

Ravi pagou a conta e saímos do restaurante.Comecei a


reclamar de saudade da nossa filha e ele me olhou todo acolhedor
.
— Quer buscá-la?
— Quero — falei amuada, mas dificilmenteconseguiriapassar
uma noite inteira longe dela.
— Tudo bem — ele falou tranquilamente,pegando o celular.
Quando ia ligando para sua mãe, o celular começou a tocar
. Para o
meu alívio era Fred, o convidando para irmos ao apartamentodele,
porque estavam todos lá. Eu o olhei preocupada quando ele me
passou a informação, eles estariam bebendo, não era nada
confiável para Ravi estar lá.
— Eu vou terque conviver com pessoas, Denise — ele falou o
óbvio — e estou aprendendo meus limites. Confia em mim.
— Tudo bem, Ravi — falei condescendente— mas não vamos
demorar
, não quero passar o dia cansada amanhã.

Entramosno carroe dessa vez, ele colocou música para tocar


.
Ele cantarolavaa música, mas começou a cantarmais empolgado
no refrão.

Que eu não quero ficar com mais ninguém, o


Que você me dá me faz tão bem, eu
Quero almoço de domingo
Tudo que vier, eu topo.

Depois tentoume acariciar


, e eu, tola, quase deixei, mas Mari
enviou mensagens perguntandose era seguro levar Ravi lá. Disse
que não sabia, mas já alerteipara que nem oferecessemnada pra
ele. O que já era tão óbvio.

Mari veio nos receber quando subimos, Jordana e Edu


estavam lá também. Perguntei por Helena, descobrindo que ela
estava viajando com os avós paternos.
— Levaram ela pra Gramado — Jordana contou— são só três
dias, mas estou louca de saudade.
— Três dias é justificável,Dana — Ravi falou para ela —
saímos de casa há poucas horas e Denise já queria ir pegar a
Olívia.
— Eu entendo, amiga — ela falou para mim — dói ficarlonge.
E mamãe disse que na adolescência vou sofrermais, porque ela vai
querer sair com as amigas, namorar
, não vai querer ficar comigo.
— Ela não vai namorar — Edu falou tranquilamente,me
fazendo rir
. Ele e Fred bebiam uísque,Mari trouxeuma água tônica
para Ravi, que agradeceu.
— E você, estábebendo amiga? — ela perguntou,mas neguei
com a cabeça.
— Tomei duas taçasde vinho aquele dia e a Olie tevecólica —
reclamei — vou na água também.

A conversacom eles rendeu agradável, como era sempre.Ravi


seguiu firmena água tônica, mas eu repudiava internamenteFred
por tê-lo convidado. Não inocentando Ravi, era lidando com essa
doença desgraçada que era esse vício.

Em um momento,eu noteio desconforto dele, pareciainquieto,


mesmo que tentassedisfarça
r. Estávamosmais afastadosno sofáe
eu cheguei para perto,peguei sua mão na minha, a dele estava
gelada e suando. Nos encaramos por um momento e eu passei seu
braço em volta do meu corpo, ficando bem perto dele, colada.
Entrelacei nossas mãos e tentei voltar à conversa.

Esperei alguns minutos, mas logo falei que não queria chegar
muito tarde em casa.
— Aliás, se Silvia estiveracordada, quero passarpara pegar a
Olívia — falei, já me levantando — não vou suportara noite inteira
longe dela.
— Jordana era igual — Edu falou e eu dei um sorrisoapertado.
— Vamos marcaralguma coisa qualquer dia... Vocês andam
tão sumidinhos — Jordana falou, se levantando para me abraçar
.
— Quero vocês em meu aniversário — Fred falou, se
levantando para se despedir de nós. Abracei Marina também, antes
de irmos. Ela me lançou um olhar significativo,mas apertei os
lábios, queria que ela entendesse como eu estava confusa e
preocupada.
— Se quiser conversardepois... Prometo que não vou ser
brava — ela falou e eu balancei a cabeça.
— Obrigada.
— Parecepreocupada...— ela falou,colocando uma mecha do
meu cabelo para trás da orelha.
— E estou— falei, olhando Ravi rapidamente— mas vou ficar
bem.
— Se cuidem — ela falou para mim e ele.

Peguei a chave do carrodele, o achei apreensivo demais para


dirigir
. Quando entramosno carro,ele pegou a garrafatérmicaque
guardava água e bebeu bastante.Me senti angustiada vendo, será
que sozinho ele iria se privar
, resistir?
Ele iria aguentar?Jurava que
as crises de abstinênciaestavampassando, mas foi só ver, sentiro
cheiro, sei lá, que ficou desse jeito.

Não falamosnada, se ele quisesse, teriadito. Nos levei para a


casa dos seus pais, ele estava morando lá, de qualquer maneira.
Ravi pareceu surpresoquando abri o portãoe entreicom o carro.
Estacionei na garagem e desci com ele.
— Vou ficarcom você hoje — falei e ele soltou o ar, parecia
nervoso e angustiadocomo eu. Entramosna casa e ainda na sala,
ele me puxou pela mão, me abraçando apertado.
— Obrigado, vida — ele sussurrou,afagando minhas costas
como se se confortasse — muito obrigado.
— Será que a Olie está no seu quarto?— perguntei,quando
nos afastamos.
— Quartodela que estouusando, você quis dizer — ele tentou
brincare eu dei um sorriso— mas mamãe levou um berço móvel
para o quarto dela, quando saí mais cedo.
— Será que ela vai se chatear se eu for buscá-la?
— Se ela acordar chorando, vamos escutar . Deve estar
dormindo — ele falou e eu me dei por vencida.

Fui até a cozinha pegar um pouco de água e encontreiRavi no


quarto,tirandoa roupa. O observei inteiro,o corpo mais tonificado,
Pedro devia estaro levando para se exercitarou malhar junto com
ele. Ou talvez foi orientação médica, liberar endorfina ajudaria a lidar
com a abstinência.

Esperei que ele dissesse algo sobre irmos encontrarnossos


amigos, sobre teruma prova de que ainda não era momento de se
colocar em provação. Mas nada veio. Ele tiroua roupa inteira,me
matando. Mas nem um convite veio.
Havia muita mágoa em mim, coisas que se dissipariamcom o
tempo, mas ele ainda era um homem gostoso, apesar de todo o
caos. E eu uma mulher carente, confusa, que não transavahá
meses.

Fiquei tentadaa ir incomodar Silvia e pegar minha filha, assim


aniquilaria qualquer chance de Ravi e eu transarmosessa noite. E
era a coisa certaa se fazer . Mas pensei que ela se chateariae
depois, caso algum dia eu realmenteprecisasse,ela não iria querer
ficar
.

Claro, eu poderia contratar


uma babá, mas não queria entregar
meu ser mais precioso e indefeso para alguém que eu não
conhecia.

Quis entrarno banheiro, invadir o banho dele e me entregar


completamente. Sabia que terminaria a noite completamente
satisfeita. Mas era a coisa certa a ser feita? Claro que não.

Ele saiu enrolado na toalha e eu me apresseiem ir. Tomei um


banho morno. Quando saí, hidratei o corpo com um hidratante
cheiroso dele. Saí enrolada na toalha e peguei uma camiseta de
Ravi para fazerde pijama. Ele estavasó de cueca, em pé pertoda
cama e mexendo no celular.

Uma voz começou a gritarna minha cabeça para pegar a


Olívia e colocá-la bem no nosso meio, mas a coragem para isso foi
pouca.
Pensei que deveria ter trazido alguns absorventesde seios
extras na bolsa, eu logo estaria vazando. Poderia usar essa
desculpa para incomodar Silvia. Mas o combinado foi pegar a Olie
amanhã pela manhã só. Os sentimentosambíguos me dominavam
e eu fiz uma carrancainvoluntariamente,Ravi me olhou confuso,
mas neguei com a cabeça e fui para a cama dele.

Quando notei que ele não tinha intenção de vestir mais nada, ia
vir para a cama também, questionei:
— Não vai se vestir?— perguntei indignada. Ele olhou para si
mesmo, parecendo confuso.
— Estou vestido — ele falou o óbvio — você sabe que eu gosto
de dormir pelado.
— Não, Ravi — eu falei brava, mas ele não se incomodou,
apagou as luzes e veio deitar
. Estávamossob o mesmo cobertor ,o
ar gelava o quarto,mas me mantivelonge. Ficamos em silêncio, até
ele quebrar:
— Obrigado, vida — ele falou e eu fiquei confusa— por terme
notado... Segurado a barra comigo. Não foi fácil... Imaginei que seria
mais fácil— a voz embargou um pouco, mas ele conseguiu segurar .
— Eu vou apoiar você, Ravi. Quero que você saia dessa, não
precisamos estar juntos pra que eu queira o seu bem.
— Eu não sei como seria se eu não tivesse você... Me
entendendo, apesar de tudo.
— Você é o pai da minha filha — falei, como se só isso
bastasse— quero que seja exemplo pra ela. E torçopra que seja.
De mudança, superação.
— Ter você acreditandoque vou conseguir, me deixa mais
forte.De verdade. Não estou falando por falar
, não quero te
enganar, nem comover, mas porque quero que saiba que você é
tudo pra mim. De tudo que eu vivi na vida, terme apaixonado por
voce foi o que me salvou e eu sou muito gratopor voce não terme
virado as costas, mesmo quando eu mereci que fizesseisso — ele
falava baixinho, a voz quase rouca embargando. Minha respiração
ficou descompassada, tudo se comprimindo por dentro. Fiquei
quieta, deveria tersido forte,terido pra casa. Não era justoque eu
precisassesegurara barracom ele, depois de tudoque me fez.Não
era justo que eu o amasse tanto, depois de tudo que passamos. Eu
iria fazer o que? Bancar a tola que acredita na mudança?

Me convenci de que era a carência.Eu estavaexcitada,queria


transar, queria o sexo oral maravilhosoque ele me faz,serdevorada
e saciada por ele. Mas não deveria querer.
Cheguei para mais pertodele, que me abraçou, moldando seu
corpo no meu, era incrívela sensação. No escuro,procurei por ele,
afundei uma mão em seu cabelo, até a nuca, o puxei para um beijo
e ele grunhiu surpreso, não só me correspondendo, mas
controlando o momento, do jeito que sabia que eu amava.

Ficamos um longo tempo aos beijos, intensos e profundos.


Passei uma perna dobrada em torno de seu quadril e ele me
segurou, pressionando o corpo no meu e eu gemi, chupando seu
lábio inferiore soltei. Desci uma mão entrenossos corpos, puxei a
cueca para baixo e peguei o membro, que latejou na minha mão.
Ele puxou a minha calcinha, até que nos livramos dela e depois a
camiseta que eu usava.
Ravi me segurou firme,nos dois virados de frenteum para o
outro e colocou o pau ereto na minha abertura. Ele veio
dolorosamentelento, meu gemido foi penoso e ele abafou com a
sua boca. Nossas bocas se devoravam lentamente,eu me agarrei
toda nele, tão excitadaque estavamuito lubrificada.Ele ficouinteiro
arrepiado quando chegou ao final, o membro todo dentro de mim.
— Estoucom muito, muito tesão — eu sussurreie ele gemeu,
estremecendo, se acomodando melhor dentro — você é tão
gostoso... Que saudade que eu estava.
— Eu te amo demais — ele falou, a voz toda entrecorta
da —
quer que eu faça como? Devagarinho?
— Hu-hum — falei, passando uma mão pelo seu rostoe ele
grunhiu, começando a se mover lentamente,nos matando. Nossos
corpos estavam inteirosgrudados, ele saía devagar e voltava, era
uma torturamaravilhosa, mas logo precisamos de mais. Ele
aumentou o ritmo,mas eu comecei a gemer descontro lada, toda
agarradanele e paramos. Acendemos uma luz baixa, o escuronão
era incrível assim.
Viramos na cama e eu fiquei por cima. Ravi se apoiou nos
antebraços,me olhando toda e eu grunhi, rebolando em cima dele.
Me inclinei, segurando seu rosto e beijei sua boca, rebolando
devagarinho e nós dois gememos.
— Quero chupar essa boceta gostosa — ele falou asperamente
e eu choraminguei, quicando um pouco, nos saciando. Ele jogou a
cabeça para tráse mordeu o lábio inferiorquando fiquei assim, indo
mais rápido. Beijei seu pescoço, o puxando e voltei a beijar a boca
dele.

Ele se sentou e me segurou, afundou uma mão em meu


cabelo, me segurandona nuca e tombouminha cabeça para o lado,
lambendo meu pescoço. Eu me movia, estavatão lubrificadaque o
barulho de nós dois lá em baixo se perdia nos nossos gemidos.
Engatei em um ritmoacelerado, rebolando e rebolando, Ravi deu
um tapa na minha bunda, se deliciando como eu.
— Me deixa chupar você, vida — ele choramingou — tá tão
melada, tão gostosa...Oh... — ele gemeu com forçae eu me forcei
toda nele, gemendo desesperada, me comprimindo inteira— que
gostosa... — ele falou desnorteado, descendo as mãos para a
minha bunda, me puxou e começou a investirem mim também.
Voltamosa nos beijar, ele desceu pelo meu pescoço e lambeu meu
mamilo, mas o puxei pelo cabelo.
Ele deu um sorrisosafadoe nos virou na cama, vindo por cima.
Abri as pernas e ele sentou no meio delas, usou as pontas dos
dedos para afastarmeus lábios íntimos.Comecei a me perdersó
por imaginar o que ele faria.
Ravi acariciou a ponta do meu clitórisinchado e querendo
mais, eu me contorcie ele ficou rodeando a ponta do clitóris,me
matando, tudo ameaçava adormecer . Mordi as costas da mão
quando ele abaixou e deu uma lambida longa e macia de baixo para
cima, um dedo me penetrou sorrateiramente, como se fosse
estratégico,
tudo parecendo estalarpor dentro.Me sentiescorrerde
tesãoe ele deu um gemido dolorido, deve tersentidoisso, porque o
dedo girou dentro de mim enquanto ele me chupava tão gostoso.
— Ravi — o chamei, a voz toda entrecortada,eu
completamenteperdida de tantotesão— eu quero... — tentei dizer,
engasgada com tudo isso, mas ele não parava. Me apoiei nos
cotovelos e o olhei, tão concentradoque meus olhos reviraram.A
língua rodeando o clitóris, depois ele mamando e soltando,
lambendo tudo. Ele chupou meu clitórissuavemente e soltou, me
olhando.
— Quer o que, vida? — perguntousuavemente e eu joguei a
cabeça para trás.Choraminguei porque ele voltou a chupar e abri
mais uma perna.
— Quero gozar no seu pau — falei finalmente,porque ele veio
lambendo tudo, estalandobeijos na minha boceta,rodeando o rosto
para se melar inteiro, como sempre adorou fazer . Ele parou e
resfolegou, veio por cima e me penetrou fortee de uma vez,
abafando meu gemido com a boca. Limpei ao redor enquanto o
beijava, ele metendo rápido dessa vez, me segurando fir
me no seu
pau gostoso.
Meu orgasmo veio intenso,rasgando meu corpo e ele afundou
uma mão em meu cabelo, o puxando, me levando e segurandomeu
corpo, até que não conseguiu segurare explodiu dentrode mim,
gozando tão intenso quanto eu, gemendo forte e desesperado.

Meu corpo estremeceu sob ele, que me deu um beijo


preguiçoso e afundou o rosto em meu pescoço.
— Eu te amo tanto,vida... Tanto — sussurroucom a voz
abafada. Soltei a respiração, afaguei seu cabelo.
C 40
Denise Malta

Acordamoscedinho, ele agarradoao meu corpoe a ereçãome


cutucandopor trás.Eu puxei o lençol para nos cobrirmelhor e ele
escorregou uma mão para o meio das minhas pernas, me
acariciando lentamente e preguiçoso.
— Bom dia, gostosa— ele falou, afundando o rostoem meu
pescoço. Eu afasteia perna e ele veio, me penetrandodevagarinho
— como a gente conseguiu viver sem? Parece que eu estava me
afogando e você me salvou com essa boceta maravilhosa.
— Meu deus, Ravi — eu falei, começando a rir
, mas parei
porque ele veio mais forte.Levei uma mão para a sua nuca,
empinando mais o bumbum para ele, que se acomodou
perfeitamente aqui dentro.
— Poderia ficar a vida toda transando com você — ele
sussurrou, começando a se mover , enquanto massageava o clitóris.
Me virei de fre
nte, queria beijá-lo e voltamos a grudarnossos
corpos, como se tivesse um imã. O abracei pelo pescoço,
acariciandoa nuca e beijei sua boca. Ele escorregouuma mão para
a minha bunda, onde deu um tapa leve e ficou segurando, me
segurando. Meus peitos já vazavam leite, mas ele não pareceu se
incomodar, pelo contrário, ficou acariciando devagarinho as
aureolas, bem suave.
— Posso chupar eles? — ele sussurroue eu grunhi nervosa,
era estranho e excitante.Ravi desceu, lambendo os seios cheios,
enormes e chupou um pouco um, depois o outro,onde ficou mais
tempo, enquanto metia gostoso na minha boceta. Ele voltou,
beijando o colo, pescoço, maxilar
, até chegar à minha boca.
Estávamos em um beijo tão sincronizando, era como se
estivéssemossubindo juntos para nos jogar no orgasmo, e assim
foi. Quando a pressãocomeçou a subir, me dominar, ele ficoumais
agoniado, me segurando fir me para que eu não tropeçasseno
caminho. Eu soltei sua boca e comecei a gozar e no segundo
seguinte senti os jatos quentes em meu ventre.

Tomamos um banho juntos,depois me troqueicom a roupa da


noite anterior e prendi o cabelo que estava todo bagunçado.

Não falamos nada, mas Ravi entrelaçounossas mãos e nos


levou para a sala de jantar
. Sua mãe notou que ficamos,era meio
óbvio. Não fui pegar a Olívia e ela sabia que eu teriaido, porque
estava aqui. E ela notou que não estávamos apenas dormindo,
quando levantou pela madrugada para pegar o leite da pequena.
— Não tentem me enganar, sou esperta — ela falou
presunçosae eu fiquei muda. Peguei a minha filha, mas com esse
vestido seria impossível amamentá-la.
— E ela acabou de tomaro tetê— Silvia falou — a noite foi
boa, Ravi está tão sereno... Você também, Denise. Quem olha pra
vocês sabe que transaram— cresci os olhos assustada em sua
direção. Ela deveria termais papas na língua. Ravi deu um riso
incrédulo e negou com a cabeça, se servindo com café preto.
Acabei tomando um suco e comi uma omelete que Silvia mandou
fazer na hora para mim, mesmo eu dizendo que não precisava.
Matei a saudade da minha filha. Ravi nos levou para casa e
desceu comigo, para subir com a bolsa dela, enquanto eu a
segurava. Não era necessário, mas ele fez questão.

Fui tiraro vestido enquanto ele a segurava. Voltei usando um


pijama, que era fácil para amamentá-la durante o dia.
Ravi a colocou no carrinhoque estavano meio da sala e veio
até mim, me puxando e segurou meu rosto em suas mãos.
— Como ficamos? — perguntoume encarando e eu dei de
ombros. Não sabia. Cedi porque a vontade foi maior que a razão.
Não estava arrependida, mas não sabia se conseguiria voltar
.
— Foi só uma noite, Ravi. Por favor
, não vamos confundir as
coisas.
— Eu te amo, vida — ele falou e eu o encarei— quero que a
gente se case, que a gente conserte tudo, que eu tenha a chance de
consertar e te fazer feliz.
— Se quer me ver feliz, se esforcee não tenha uma recaída.
Siga o tratamento e seja um pai incrível pra nossa filha.
— Prometoque vou seguir firme— ele falou — obrigado por
não me deixar sozinho nessa...
— Eu vou te apoiar, voce é o pai da minha filha.
— Posso vir ficar com vocês hoje?
— Pode — falei complacentee dei um sorriso,negando com a
cabeça — ela vai adorar
.
— E você?
— Como você estámanhoso, Ravi — eu falei, zombando e ele
me puxou para um abraço — já disse que quero voce pertodela. É
a sua filha.
— Vou temandar mensagem todahora — ele faloue eu revirei
os olhos, rindo dele.
— Tá bom.
— Te amo — ele falou e eu suspirei. Ele acariciou meu rosto,
foi aproximando. Eu fiquei sem reação, sabia que não deveria
corresponder
, mas estava completamente sedenta. Só nos
afastamos porque tia Carol abriu a porta e entrou no apartamento.

Ela nos olhou curiosa,mas não disse nada além de bom dia e
foi até o carrinho da Olívia, para falar com ela.

Ravi se foi e ela olhou para mim.


— Então voltaram?— ela perguntouretoricamente e eu dei de
ombros — esse amor que você sente te domina muito, Denise.
— Não voltamos.
— Então não passaram a noite juntos e não estavam quase
aos beijos aqui agora? — ela indagou e eu fiquei quieta — cuidado
pra não engravidar de novo.
— Não engravidei por descuido — eu precisei retrucar .
— Espero que você não se machuque de novo — ela alertoue
eu balancei a cabeça, concordando. Chega um ponto do
relacionamentoque as pessoas já nem conseguem mais torcer
, e
não estavam erradas por isso.

Pela tarde, saí para dar uma volta com Marina, que
milagrosamente estava ociosa hoje. Na orla da praia, algumas
pessoas pediam para tirarfotocom ela, era até bizarro como a
pessoa fica conhecida de uma hora para outra.
Voltamos para o apartame nto dela e de Fred, Olie ainda
dormia, mas quando acordou, Bruninho pediu para pegá-la.
— Eu e meu pai queríamosmuito um bebê — ele comentou e
Marina fezuma caretasarcástica,foiuma nada indiretae eu segurei
o sorriso — mas Mari não quer .
— Denise está sem dormir desde que ela nasceu — minha
amiga disparou, como se isso fosseo motivo para não se terfilhos.
O garoto deu um riso e ficou olhando para minha filha, tão
pequenininha em seus braços.
— Ela se parece muito com você — ele falou para mim — tem
algo que lembra tio Ravi... Mas parece mais você.
— Todos ficamimpressionados — Mari comentou— Helena foi
uma xérox de Eduardo...
— Eu amo que ela se pareça comigo — eu falei convencida.
Como ele tinha aula particularde matemática,quando a professora
chegou, os dois foram para o escritório de Fred.
— Não quer mesmo um bebê? — perguntei para Marina,
consertando a minha filha nos meus braços e acariciei seu cabelo.
— Por agora não. E nem sei quando — ela falouincerta— não
veto completamentea possibilidade, mas Fred sabe que não estou
pronta.
— Se surgiruma vontade,já sabe que seráincrivelmentebem-
vindo.
— Exatamente — ela deu um sorrisofraco— e você e Ravi?
Voltaram mesmo, né?
— Não sei — falei sufocada — eu ainda o amo... Mas não
posso me apegar às chances de ele mudar. Mas ao mesmo tempo,
é como se eu precisasse ficar ao lado dele, sabe? Ajudá-lo...
— Ajudá-lo pra quando ele se livrardo víciote traircom outra?
— ela disparou, mas fez uma careta,como se se arrependesse—
me desculpa, amiga... Sério, eu sei que sou muito dura as vezes,
mas eu já comenteicom Fred, você seria a mulher perfeitapra ele.
Ravi não merece as chances que você dá pra ele.
— Eu sou muito tola por apoiá-lo? — fiz uma careta— queria
saberse ele vai controlaro vício,como vai se comportar ... Acha que
vai continuar um traidor? — doía externar essas dúvidas.
— Ninguém pode prever ... É difícildizer que um homem que
feztudoo que ele fezvai mudar. Isso acontecenos contosde fadas,
o mocinho se regenerae faz tudo pra consertar . Mas Ravi é um
alcoólatra, talvez a raiz do problema esteja sendo tratada.
— Estoutão confusa.Ele ficou angustiadoquando viemos pra
cá, achou que teria sido mais fácil.
— Se você não estivessecom ele, certezaque teriabebido. E
sabe-se lá como teria terminado a noite — ela falou e nos
encaramospor um momento, como se ela entendesseo meu ponto
— mas você não tem que seguraressa barracom ele. Você já fez
muito.
— Eu o amo — falei mais baixo, sufocada.
— É muito arriscadoo que você está fazendo. Cedendo todo
seu cuidado, paciência, amor e esperança sem poder tera certeza
de que quando tudoisso acabar, ele vai mudar e teamar como você
merece. Mas eu te conheço e sei que você vai pagar pra ver.
— Me sinto com tantomedo... Mas ao mesmo tempo não
consigo mais lidar com a possibilidade de deixá-lo. Não agora.
— Tudo bem, amiga. Você está dando o seu melhor, restaa
genteacreditarque ele vai fazer o mesmo. Edu mudou por Jordana,
não foi? Eu também mudei por Fred — ela tentouremediare eu dei
um sorriso triste.

Pouco tempo depois, Jordana ligou avisando que estavavindo.


Foi só eu postar uma foto mostrando que estava com Marina.
Helena chegou toda animada, falando da Olívia.
— Todo mundo louco por bebês — Mari zombou. Jordana logo
quis dar sua opinião sobremim e Ravi, mas ela era mais sonhadora
e romântica que Marina, veria sempre o lado positivo das coisas.
Além do que, dizia que Ravi se confidenciavamais para Edu, então
ela acreditava que ele estava querendo melhorar dessa vez.
Acreditava que ele me amava.

Fiquei apreensiva quando Ravi chegou, junto com Fred e Edu.


Mas os dois não ousaram beber na frentedele de novo. Ao lembrar
da festade aniversáriode Fred, eu fiquei nervosa, imaginando que
seria mais um teste para Ravi.

Não sabia se era a coisa certa deixá-lo sofrendo provações que


deveria evitar
, mas ele era teimoso e achava que precisava. Fiquei
com as meninas em uma parte da sala, e os caras em outra,
jogando algum jogo com baralho.

Fomos embora pelas seis da tarde, mas foi bom passar o


tempo com os nossos amigos, sair de casa um pouco, distrair
,
conversar e desabafar
.
Amamentei a Olie logo quando chegamos e depois a entreguei
para Ravi, estava louca por um banho. Ele entrou no banheiro
quando eu já passava os cremesno corpo e pegou o pote em cima
da bancada, pegou um pouco com as mãos e veio passarem mim.
Parei de massagear os braços, sentindo o toque gostoso pelas
minhas costas, as mãos descendo em direção a cinturae uma veio
sorrateira para o meio das minhas pernas.
— Ravi — eu o repreendi,mas o toquesuave na minha boceta
era tão tentad
or — eu falei que não quero voltar
, não quero ficar
com voce.
— A pequena dormiu — ele falou, tirando meu cabelo do
caminho para beijar meu pescoço. Eu fechei os olhos, amando a
sensação, o beijo suave e molhado no meu pescoço, a mão
brincando na minha boceta — hora da gente aproveitar um
pouquinho...
— Você é tão safado...
— É um elogio — sussurroue eu grunhi manhosa. Me virei de
frentepara ele e passei meus braços em volta do seu pescoço, o
puxando e começamos um beijo gostoso.

[...]
C 41
Denise Malta

Chegamos à festade Fred, que seria na mansão de seus pais,


atrasados.Primeiroporque eu não queria deixar Olívia. Dessa vez,
Pedro e Vitóriaficariamcom ela, já que Silvia e Vincenzo estariam
por aqui. Depois, porque quando fomosnos arrumar , Ravi me pegou
no banho e não estava nada a fim de apenas uma rapidinha.

Minhas pernas ainda pareciam meio moles em cima do salto


alto, mas a sensação de satisfaçãoera magnífica. Eu ficava
arrepiadatoda hora, só lembrando tudo o que ele me fez há poucas
horas. E estava safado prometendo mais.

Fomos cumprimentaro aniversariantee o pessoal. Depois


encontramosJordana e Edu em uma mesa. Edu bebia uísque, mas
trocoupor água quando um garçom passou por nós. Peguei um
drink sem álcool para mim e Ravi. Desse modo, Jordana continuou
com o seu coquetel. Ela perguntou por Olie e eu respondi
tranquilamente, no impulso, perguntando por Helena.
— Ficou com a tia Chiara — ela falou e eu assenti. Queria
saber como ela estava, mas não era assunto meu.
Ravi seguiu firme,às vezes olhava para um garçom passando,
mas bebia água com gás e limão. Fiquei pertodele o tempo todo,
querendo que isso bastasse. Ele entrelaçounossas mãos e me
olhou por um momento, um olhar intensivo e cheio de significados.
Poderia estar sendo equivocada e leviana, me iludindo e
enganando, mas sentia que ele precisava de mim. Como a
convicção de Jordana de que as pessoas sempresão destinadasàs
pessoas certas.Não que ele tenha sido perfeitopara mim, muito
longe disso. Mas ele precisavade mim, precisava de alguém capaz
de enlouquecer por amor, de ficar, de ver milagre onde ninguém
mais veria, de alguém que não soltassesua mão. Eu queria que ele
se curassedessa doença infernal,queria que saíssedessa. Levei
uma mão para o seu rostoo acariciandoe ele aproximou, deixando
um beijo suave na minha boca.
— Te amo, vida — sussurroubem baixinho, contraos meus
lábios e eu balancei a cabeça positivamente,pressionando nossas
bocas outra vez.
Voltamos a interagircom nossos amigos. Fred logo veio até
nós, segurandoum copo de vidro, com uísquee água de coco, senti
o cheiro daqui. Ele não percebeu logo, mas a verdade é que
ninguém tem essa obrigação. Marina quem o cutucoue ele pareceu
se dar conta, o que era péssimo, o astral de Ravi mudou
completamente.

Fred virou toda a bebida de uma vez, parou um garçom e


trocouos copos por água. Sabendo que Ravi adorava virarcopos
com um bom uísque, isso deve ter sido uma torturapara ele,
completamente.Sua mão apertouna minha e ele juntou a cadeira
ainda mais na minha.
Pergunteise ele queria ir embora, mas ele pediu para que
esperássemosao menos os parabéns. Era difícilvê-lo se testando
desse jeito, sinceramente,era como se ele caminhasse para uma
recaída, parecia tudo tão culminante.
Todos ao nosso redorestavam se divertindo,se embriagando.
Em um momento, Ravi reclamou com Edu e Fred, que não deveriam
se privar por sua causa. Mas eles tentaram disfarçar
.

Eu inventei dor nos seios para irmos embora logo. Expliquei


estavaproduzindo muitoleite–o que não era mentira–e se ficasse
muito tempo sem tirar ou amamentar
, sentiamuitador.

Cheguei a enfatizar sobre o tamanho que já estavam, e que era


péssimo. Ravi tentoubrincarque adorava isso, nem se dando conta
de que o que eu queria mesmo era tirá-lodaqui. Nos despedimos de
todos e Mari prometeuque me levaria bolo e docinhos e todos os
petiscos deliciosos que estavam servindo.

Antes de chegarmos ao carro,Ravi me puxou bruscamentee


juntou nossas bocas, começando a me beijar profundamente. A mão
estava firmena minha nuca, levei as minhas sob o seu blazer e o
abracei, amando o beijo, o amando tanto.
— Obrigado por tudo— ele falou ainda com a boca pertinho da
minha, roçando nos meus lábios — eu sei que nem mereço você,
mas eu te amo e tenho muita sortede você estaraqui. Eu prometo,
vida, eu prometopor tudo que existe de mais sagrado que vou
honrara nossa história,que vou te fazermuito feliz. Hoje eu olho
pra tudo que aconteceu e sofro,porque se eu tivesse aceitado,
reconhecido que precisava de ajuda mais cedo, aceitado que não
estava bem, teriaevitado muito sofrimento— ele falava baixinho,
me encarando, os olhos marejando e ele fez uma pausa, engolindo
pesado para se conter— eu te amo com todo meu coração.Quero
repetiro tempotodo,quero tefazerconfiarem mim de novo, sei que
não vai ser fácil,nem rápido. Mas dessa vez, eu vou fazertudo ser
diferente, viu?
Não soube o que dizer, precisariaconfiarainda mais nele para
correspondê-lo com palavras. O puxei e voltei a beijá-lo.

Fomos para a casa dos pais dele e seguimos diretopara o


banho. Eu estava com fome e como Ravi saiu primeiro,foi buscar
algo para comermos.Foi o tempo de eu terminar
, passaros cremes
dele dessa vez, vestir um pijama de seda, todo rendado e
transparente,não coloquei calcinha, para ele chegar com
sanduiches e suco de acerola para nós dois.

Comemos e depois ele colocou música para tocar . Colocou


baixinho e me puxou para dançar. Comecei a rir , ele parecia mais
leve aqui. Dançamos no ritmode um forró-sertanejo até a música
acabar e caímos na cama já aos beijos. Como eu estava sem
calcinha, só tive o trabalhode puxar a calça de pijama dele para
baixo e gemi contraseus lábios. Mas ouvi o choro da nossa filha
pelo corredor e paramos.
— Que droga — ele sussurrou, consertandoa roupa e se
levantou para pegá-la. Senti tantoalívio ao vê-la nos braços dele,
que a ninava e trouxe para mim. Ravi andava com uma aura
diferente,como a de alguém que caiu em si e se deu contado que
queria? Estava tudo diferente dessa vez. Não só sobre nós dois,
mas principalmente ele. Estavatudo mais leve. A tensãoe o medo
estavam sumindo. Me encostei na cabeceira da cama, Ravi
consertouos travesseirospara me aconchegar e pressionou os
lábios nos meus. Nos encaramos por um segundo e ele acariciou
meu rosto, como se quisesse me dizer algo, mas nada veio, apenas
outro beijo forte.

Ele me esperou terminarde amamentar a Olie e a pegou.


Soube que estava ainda mal intencionado, depois que ela dormiu,
ele a levou para o berço.
O encarei condescendentee sarcástica,mas ele foijá tirandoa
calça e veio para a cama, me puxando e voltamosao que fazíamos
minutos antes. Como não poderíamos fazer barulho, ficamos
agarrados,as mãos entrelaçadase as bocas grudadas enquanto
transávamos bem gostoso.

[...]

Acordei cedinho na pela manhã, com a Olie choramingando.


Não eram nem sete da manhã ainda. Mas Ravi não estava na cama.
Estranhei, mas fui primeiro socorrer a minha filha. Olhei a fralda, que
estava sequinha, o pai dela deve tertrocado.Mas ela estava com
fome. Me sentei na cadeira confortávelde amamentação e usei a
almofadatambém. Eu e ela nos encarávamose ela seguravao meu
dedo com a mãozinha, tão perfeita.Apesar de todas as dores e
preocupações, eu jamais me arrependi de escolher tê-la. Foi um
equívoco planejá-la, mas com certeza o meu maior acerto da vida.
Acariciei o cabelo dela, contornei o rostinholindo e ela piscou
devagar, apreciando meu carinho.
— Mamãe te ama muito — sussurrei, era como se ela
entendesse.Ravi voltou para o quartoe parou pertode nós, cruzou
os braçose ficounos observando. O encarei,sorrindoconfusae ele
respirou fundo, parecia apreensivo.
— Está tudo bem? — perguntei e ele correu uma mão na
barba, mas assentiu.
— Podemos conversar?Quando ela acabar aí — ele apontou
com a cabeça e eu concordei.

Coloquei a pequena para arrotare voltei com ela para o berço.


Liguei o mobile para distraí-lae fui até Ravi, que me esperava
sentado na cama.
C 42
RaviFerrari

Quando liguei para meu médico dizendo que dessa vez eu


queria a internação,ele tentou me alertarde que eu estava indo
bem, agora. Que colocava fé de que eu conseguiriadessa vez. Mas
eu não suportariamais evitar eventos sociais ou sofrercom eles.
Colocar Denise nessas situações que me envergonhavam. Mal
consegui dormir a noite, com tremorese náuseas, a irritaçãome
matando por dentro.Por mais resignado que eu estivesse,eu temia
que em algum momento não controlasse a agonia.

Nem sempre ela estarialá para me salvar. Eu não sabia até


quando aguentariasegurar. E não era justoque ela carregasseesse
peso, esse far
do comigo. Denise já havia feitomuito por mim. Eu a
queria ao meu lado, mas não como a mulher que precisaseguraro
meu far do. Eu a queria ao meu lado para que eu pudesse fazê-la
feliz. Ela veio depois de minutos e se sentou em minha frentena
cama. Dei um sorrisofraco,a encarando. Eu tinha sortede tê-la
apesar de tudo o que fiz. Não me orgulhava de nada daquilo, não
me isentava de culpa, mas hoje não queria tersido aquele cara.
Sentia vergonha, remorso.

Magoei, machuquei a mulher que me amava e estava aí


disposta a fazer tudo por mim.
— Liguei para o meu médico hoje cedo — eu contei e ela
franziu o cenho, confusa — pra falar sobre a internação.
A peguei de surpresa,porque sua expressão mudou. Cheguei
mais pertoe acariciei seu rosto,escorregueiuma mão pela nuca e
inclinei para beijar seus lábios, um selinho forte.
— Por quê? — ela perguntou, não entendo a minha decisão.
— Vamos conversar agora a tarde, decidir como faremos.
— Eu imaginei que não estava sendo fácil — ela atalhou —
que voce estava sofrendo.
— Não quero te colocar na posição de terque me socorrer
sempre.
— Está com medo de ter uma recaída, é isso? — ela perguntou
cautelosa e nos encaramos por um momento. Eu travei sem
conseguir responder. Em outrostempos, só cairia fora,sumiria por
uns dias e mataria minha vontade. Agora eu queria fazer isso
funcionar
. Uma partequeria sanar o vício,fariaoutrasmerdas para
não jogar o foco na bebida, usaria como desculpa, mas eu não
queria mais ser esse exemplo merda para minha filha e para a
mulher da minha vida.
— Eu acho que vai ser melhor assim — falei, a voz trav
ou no
meio e eu pigarreei para continuar
.
— Eu acho que voce está sendo corajoso. E que é a escolha
certa. De verdade, meu bem.
— Obrigado, vida — sussurrei,prontopara começar a chorar ,
feito um moleque, mas ela interrompeu com um beijo suave.
— Que horas vai ver o médico? Posso ir?
— Você quer ir? — eu perguntei,estava angustiado por nos
fazerpassarpor isso. Deveria ser sensato,terminarcom ela, deixá-
la livre de mim e dos meus problemas, mas eu a amava e a queria
ao meu lado. Sabia que se me livrasse dessa doença maldita, me
livrasse do vício, conseguiria fazê-la feliz.
— Quero — ela respondeu, se levantando — será que a sua
mãe fica com a Olívia?
— Nem precisa perguntar— eu falei o óbvio, mamãe era
alucinada na neta.

Pedi para não comentarcom ninguém sobre isso ainda, minha


mãe iria entrarem pânico quando soubesse. Achava que eu era
forteo suficientepara conseguir sozinho. Eu já não aguentava mais
contera agonia queimando por dentro,acabaria descontando em
alguém se não descontasse na bebida.

Sabia que era um passo importante dessa merda de


tratamento terassumido o meu problema, essa doença. Mas não
era tudo.Eu precisava entenderque estavachegando ao meu limite
também. E o acompanhamento psicológico foi fundamental para que
eu entendesse os meus limites.

Chegamos ao consultóriomédico, ele falou que a internação


era mais indicada em casos onde o paciente já perdeu o
discernimento dos atos. Um paciente em estado grave não
consegue mais manter alguma relação saudável, não tem
comprometimento com mais nada.

Mas insisti, ficaraqui, solto, vendo todos ao meu redor se


privando enquanto deveriam estar vivendo, me matava.
— Podemos entrarcom uma medida mais intensiva, também
— o doutorsugeriu, talvez queria testarse eu realmentequeria a
internação.Mas o fatoera que eu não queria, eu apenas precisava
— com várias outras abordagens.
— Eu me conheço, doutor— eu faleifirmee olhei para Denise,
me sentindo péssimo por fraquejar— sei que desse jeito não vou
muito longe. Nunca fui, você sabe — falei para ela, que tomou uma
respiração profunda e tentou relaxar
, assimilar.
— Tudo bem, eu acho que voce vai se sair muito bem — ela
falou mais baixo — eu vou te apoiar. Então, como vai ser tudo? —
ela perguntou, se voltando para o médico.

Saímos do consultóriocom tudo acertado.Mamãe notou algo


estranhoquando chegamos e Denise foi logo pegar nossa filha. Me
senti péssimo por nos colocar nessa situação, péssimo e
envergonhado como nunca estive antes. Afetava a todos nós,
ninguém saía completamenteileso. Denise se sentou ao sofá para
amamentar Olie e mamãe pareceu tensa quando pedi para
conversarmos.

Contei tudo, o que me levou a tomara decisão, a fraquez


a, eu
sabia que tentaçõesnão faltariam,não poderia culpar ninguém,
jogar a responsabilidade para outrapessoa, mas estava em um
nível que se alguém me oferecesse uma válvula de escape, eu
apenas iria.
Queria evitar
, dessa vez, seguir firme,pela minha filha. Por
Denise, pela nossa família.Começar sério uma vez não foi fácil,
recomeçar seria muito doloroso, para todos nós. Eu sabia que
evitariaisso com a internaçã
o. Meu maior problema era o álcool, a
minha portade entradapara todo o resto,não era fáciladmitir
. Mas
infelizmente se tratava de uma droga lícita de fácil acesso.
— Como é voluntário,estamos pensando em um tratamento de
noventa dias — Denise explicou. Mamãe estavamuda, sem reação
— as visitas estão liberadas semanalmente, já que o foco é
restabelecero emocional, as crisesde abstinência.Lá eles têm um
plano de tratamento intensivoe estruturapra tornaros sintomasde
abstinência menos desconfortáveis.
— Mas você já estátão bem — mamãe reclamou — achei que
conseguiria assim, aqui pertoda gente. De qualquer maneira, eu
acho incrívelque você tenha se notado e procuradoajuda, sem que
algo pior acontecesse.Eu não esperava, mas sei que vai dar tudo
certo. Que você terá nosso apoio.
— Como ele já estáem processode desintoxicação,vai poder
levar celular. O doutorsugeriu que trocasseo número por enquanto,
manter contatoapenas com quem for realmente necessário —
Denise replicou.
— E Ravi sabe quem realmenteé necessárioagora — mamãe
revirouos olhos — trêsmeses passam voando, vou ficarpositivae
confiante. Como vão ser as visitas?

[...]

Aproveiteio dia inteirocom a minha pequena, que dava risadas


gostosascom as minhas brincadeiras.Tomamos banho de sol pela
manhã, no jardim. Falei para Denise que precisaríamosde uma
casa maior, com jardim e um lugar incrível para nossos filhos
poderem brincar. Ela me olhou sarcásticae se sentou na manta
estirada no gramado.
— Já quer mais um? — ela perguntouzombeteirae eu dei um
sorriso travesso.
— Ou dois.
— Acho trêsdemais — ela fez uma careta,acariciando meu
rosto— mas eu tenhogostado da ideia de dois. Talvez um casal, ou
uma dupla de meninas?
— Por favor, Deus, um casal — pedi implorando e ela deu
risada.
— Quando você se recuperarcompletamente— ela começou,
me fazendo sentirfriona barriga— podemos começar a pensar.
Daqui a um ano, quem sabe? Já vou estartrabalhandode novo,
você também.Agora sintoque somos dois dependentesdos nossos
pais.
— Não sou dependente dos meus pais — falei indignado e ela
deu um sorriso travesso, chegando para mais perto.
— Sabe o que fiquei pensando? — ela perguntou,acariciando
meu rostoe eu a olhei, esperando — vou sentirmuita faltade sexo
esses meses todos.
— Mas eu vou quererum quartoindividual — falei incrédulo e
ela revirou os olhos, achando uma bobagem — já vou ver você uma
vez na semana e não vou poder fazer nada?
— Não perguntamosao médico — ela deu de ombro — e
aposto que quando chegar o dia de visitação, você vai querer
mesmo é ver e aproveitar com a Olívia.
— Acha que vou conseguir? — perguntei angustiado.
— Tenho certezaque vai. Você sempre teve nosso apoio,
incentivo. Só faltavaquerer
, era o mais importante.E agora você
quer.
— Eu te amo muito, vida — prometie ela inclinou o rosto,
beijando meus lábios suavemente.Paramoscom o barulho animado
da nossa pequena, que conseguiu segurar um dos brinquedos
barulhentos sozinha e fomos dar atenção para ela.
C 43
Denise Malta

Fui com Ravi e fizemos um tourpela clínica.Era agradável o


lugar. Muito verde, vista muito bonita, piscina, campos, lago,
refeitórioe cozinha industrial.Como disse a enfermeir
a que nos
acompanhou:seria possíveldesfrutar de um ambiente revitalizador
,
altamente terapêutico, ele não iria se arrepender
.

Era bom que ele pudesse usar o celular, nem todos os


pacientes eram liberados, uma vez que estavam em níveis mais
críticosda doença. Ravi não chegou nesse estágio, eu acho. De
precisar ser controlado por outra pessoa. Talvez, se não
reconhecesseque precisava parar , se não tivesse adoecido, teria
chegado mais longe, mas felizmente algo o fez acordar. Segundo
Silvia, foi Olívia e eu.

Por fim, fomoslevados à ala dos quartos.A maioria eram com


duas ou trêscamas de solteiros,mas Ravi preferiuum só para ele.
Era modesto,uma cama de solteiro,em um tomamadeirado escuro,
mesa de cabeceira, uma mesinha de canto com uma cadeira e
abajur e uma cômoda.
— Nem fuie já estoumortade saudade — eu reclameie fizum
beiço. Ele esperou a enfermeirasair e me puxou pela cintura—
acho que vai ser bom pra você, aqui é confortávele você vai ter
mais assistência do que em casa.
— Estou fazendo isso por mim, por nós, pela nossa filha. E
estou muito aliviado que você está comigo nessa.
— Eu amo você — falei, para que ele não duvidasse — quero
que fique bem.
— Eu te amo muito, vida — ele falou, roçando os lábios nos
meus e eu toquei seu rosto— e se não fossevocê, insistindoem
mim, sei que não teriareconhecido nada. Você pode nem saber,
mas salvou a minha vida.
— Ainda bem que vamos poder nos falarpor mensagens, vou
poder mandar vários vídeos e fotos da Olívia.
— Vou morrer de saudade dela — ele falou manhoso.
— Ela vai sentirorgulho de você por isso, por terquerido se
recuperar
. Só por querer
, já foi um grande passo.

Eu deveria terido embora, claro, mas fiquei para ajudá-lo a


desfazeras malas. O médico dele chegou, avisando que logo agora
ele teriaa primeira reunião em grupo. Ravi nunca foi o maior fã
dessas reuniões em grupos de apoio, se sufocavadelas, se sentia
oprimido e envergonhado. Mas já estava lidando melhor, se
acostumando e tomando como exemplo os depoimentos daqueles
que estavam seguindo firme sem recair
.

Era a minha hora de ir. Demos um abraço apertadoe um beijo


carinhoso. Ele resmungou que seria um martírioficarsem mim,
dessa vez, falava de sexo. Estava em um ritmofrenético.Por isso,
eu aproveitaria esse tempo longe dele para procurar um
ginecologista e estudarmosuma opção segura de contracepção.
Entregarnas mãos de Deus, com uma filha pequena e depois de
toda a conturbação que foi a gravidez, não daria mais.

Cheguei à casa dos pais dele para buscarOlíviaque estava no


chão da sala, em seu tapetede atividades, junto com a avó e avô
dessa vez. Silvia, que estava esparramadano chão se divertindo
com a neta, se sentou direito e me encarou, esperando.
— Como foi lá? Como ele ficou?
— Tranquilo — falei, dando de ombros — era o que ele queria.
Achei corajoso da parte dele se internar
. Pra evitar o pior
.
— Eu também acho — Vincenzo replicou e nós o olhamos —
se ele recaísse,ou se sentiriaum lixo e voltaria a relutar pelo
tratamento,ou culparia vocês. Reconheço que Ravi está se
esforçando, mas sabemos como ele pode ser impulsivo.
— Vai dar tudo certo,ele vai ficarbem — eu falei convicta—
pensei em voltarpra casa hoje, preciso começar a retomarminhas
atividades.
— Pode se dar seis meses de férias— Silvia falou, mas voltou
sua atenção à neta — o papai banca tudo! — ela fez uma voz
dengosa e brincalhona, falando para Olívia e eu comecei a rir
. Não
queria isso, me tornar dependente de Ravi, até porque não
precisava,todasas minhas despesas sempre foramcusteadaspelo
meu pai, que nunca questionouou se negou, mesmo quando atingi
a maioridade. A questão era que eu queria voltara me sentirmais
ativa e independente.
— Papai estánuma clínicacara, em um tratamento demorado
que custa uma fortuna— eu falei enfática,indo me sentar ao sofá.
Silvia nem deu bola e eu não prolonguei a conversa.Ela se divertia
muito com a neta, se pudesse, passaria o dia inteiro cuidando dela.

Deu banho, passou o hidranteda Olie e massageou os pés, as


perninhas, os braços, as mãozinhas. A pequena adorou, ficou toda
relaxada. Eu poderia me apegar à mágoa de tudo de ruim que
passei, achava que se Ravi tivesse se rendido ao tratamento, se
comprometido logo no começo, quando notei, quando fiquei
importunando e querendo controlá-lo,teríamosevitado muito de
tudo isso, mas estávamosvoltando tudo pro lugar. Havia muito que
limpar da nossa bagunça, eu teriaque olhar com mais cautelapara
as minhas feridas e tertoda a certezade que elas iriam cicatrizar
sem deixar marcasirreversíveisem mim. Mas com o tempo tudo se
ajeitaria.

Mandei vídeos da Olie para Ravi, que demorou a respondere


contou que estava no refeitório, foi pedido para que ele usasse o
celular no quarto apenas. E logo se derreteu inteiro pela filha.

Como Silvia fez toda a rotinada Olívia, eu acabei ficandopara


dormir
, para não tero trabalhode estressara neném a tirandodo
berço e a levando para o carro.
— Sabe que pode ficarpor aqui — ela falou — sei que sua tia
tempassado mais tempocom o namorado e você não gostade ficar
sozinha. E ter você e Olie aqui é uma alegria para mim.
— Obrigada, Silvia — faleiamuada — não quero incomodar, só
isso.
— Você é como uma filha pra nós, sabe disso. Não precisase
sentir acuada, é a sua casa também.
— Muito obrigada — repeti,me sentindo acolhida com o seu
abraço.
— E eu sou muito gratapor você não terdesistidode Ravi —
ela falou,beijando o topoda minha cabeça — sei que sem você, ele
não teria essa garra toda pra persistir
.
— Obrigada, de novo — falei e ela deu uma risadinha.
— Pedro logo estáchegando aí, o intimei para jantar
. Agora só
quer viver grudado naquela menina.
— Não gostou dela? — perguntei, sondando.
— Não gostei de ela teracabado de completardezenove. Ele
tem trinta e três,devia estarpensando em constituir uma família!—
ela fez uma caretabrava, mas logo amoleceu — quero mais netos
logo!
— Acho que vai terque aproveitara Olie por mais um tempinho
— eu provoquei e ela franziuo nariz, assentindo e olhou para o
berço.

Pedro logo chegou, reclamando ter pegado a afilhada já


dormindo. Mas já o alertei que ele teria a manhã para se divertir com
ela, não precisava se preocupar . Descemos quando o jantar foi
servido e enviei mensagem para Ravi, que contou sobre uma das
atividades da noite. Reclamou que lá tinham o hábito de dormir
cedo, mas pela vibe do lugar, era meio claro isso. E sabia que ele
era noturno, sempre foi de dormir tarde.
Ravi não queria dormir cedo, toda hora reclamava. Quando
voltei para o quarto,ele começou a enviar mensagens safadas e
fotos bem excitantes.
“se alguém entraraí e pegar você...” — enviei, mas ele logo
respondeu:

“tá todo mundo dormindo, não sei por qual milagre não
desligaram o wifi kkkk” — revirei os olhos e ele continuou
provocando, logo enviou um vídeo, me matando porque ele não
estariaaqui para aliviar minha vontade. O que beirava a loucura,
passamos a noite juntos.

Ficamos trocandomensagens até quase meia noite, quando


ele infelizmente parou de receber as mensagens, devem ter
realmente desligado o wifi e lá não tinha sinal de operadora.
Olívia acordou poucas vezes durantea noite, mas a deixei na
cama comigo, adorava dormir com ela pertinho.

Pela manhã, depois que ela já estava alimentada e limpinha, tio


Pedro veio pegá-la e eu pude dormirmais um pouquinho. Quando
acordei, Ravi já estava contando sobre a rotinada manhã ali. Não
era nada como ele adorava, mas as sessões de acupuntura,cardio
e natação ele gostava.

No terceirodia, já estávamos contando os minutos para


podermos nos ver. Era meio louca essa coisa de perdão, sei lá,
segundas chances, porque eu só queria vê-lo bem. Não sabia se
isso seria garantiaficarmosjuntos, darmos certode vez, mas seria
garantia do bem estar dele e isso era importante também.

Fiz um ensaio da Olie para ter fotos quando ela completasse os


quatro meses. Era tão incrível toda a evolução dela.

Depois de uma semana cheia de provocações,quando chegou


o dia de visitarRavi, fiquei tentadaa nem levar a Olívia. Mas ele
queria vê-la. Ficamos decidindo se queríamostransarou brincar
com a pequena. Depois fiquei culpada demais e a coloquei como
prioridade.

Nos encontramosna área externa.Eu empurravao carrinhoda


minha filha e foi tão bom vê-lo. Sereno e tranquilocomo nunca vi
antes. A verdade é que eu não conheci Ravi longe do vício, ele
sempre foi cheio de excessos desde o primeiromomento. Demos
um abraço apertadoe ele segurou meu rostoem suas mãos, para
beijar minha boca.
— Estava morrendode saudade já — ele sussurrou,beijando
meus lábios fortemente
outravez. Ele se afastoupara pegar Olívia,
que reconheceuo papai imediatamente,dando as risadasgostosas
para ele.
Caminhamos em direção a umas mesas sob uma árvore
grande e nos sentamosali. Ele colocou Olie sentada, a segurando
para dar apoio.
— Ela já rola da cama, não posso mais confiarem deixar
sozinha — contei e ele olhou para mim, sorrindoanimado — e ela
disse aga. Não sei o que quer dizer
, mas é tagarela quando quer
.
— Aga? — Ravi perguntou, arqueando uma sobrancelha e
analisou nossa filha — vai puxar a mamãe então.
— Como você está?
— Àsvezes sintovontade de sair correndo— ele falou, como
se desabafasse — mas me sinto mais seguro. Se eu quiser sair
correndo,não vou por acaso entrarnum bar — deu de ombros,
tentandobrincar com a situação séria. Cheguei para mais perto
dele, entrelaçandonossos braços e ele virou o rosto,depositando
um beijo em minha cabeça.
— Estou orgulhosa de voce. Por estarsendo transparente,
sincero.
— Uns dias são mais fáceisque outros,mas to confiante
. Tem
gente com históriade vida bem pior que a minha e que está se
recuperando bem.
— Você já venceu, Ravi. Só estánas lutasfinais,sabe disso —
eu falei e ele balançou a cabeça — e estaremosaqui toda semana,
pra reforçar.
— Te amo, vida — ele falou e eu dei um sorrisofraco— eu e
Olívia temos muita, muita sorte de ter você.
— É bom saber, ficoconvencida — faleidivertidae ele riu — fui
ao médico essa semana — conteie ele me olhou confuso— pra ver
como estou, quero algum método contraceptivo.Sua mãe não
gostou nadinha...
— Quer a casa cheia de netos — ele presumiu e eu concordei
— eu quero também, mas agora não quero nada conturbado,você
sofreudemais por minha causa. Sei que não posso consertaro que
já quebrei, mas quero que daqui pra frenteseja melhor. Você
acredita em mim?
— Você tem me mostradoque posso acreditar— eu falei,
abanando a mão.

Ele brincou com a Olívia um tempo, trocoua fralda dela e


fomosprocurar um lixo para jogar a suja. Depois me mostroualguns
lugares da clínica, que eu não tinha visto na visita anterior
.
Colocamos a pequena no carrinhoe andamos pela área verde
dali, conversamos e falamos de nós dois, do futuro.Não como
antes, na agonia de promessas falsas. Com mais serenidade,
vontadede construir
algo. Se eu estavasendo ingênua demais, só o
tempo diria.
Quando precisei ir embora, demos um beijo gostoso,cheio de
malícia. Não queríamos nos desgrudar
, era delicioso demais.
— Meu deus, vida — ele falou contrameus lábios — quando
eu pegar você, nada vai desgrudar
.
— To louca por isso — falei e ele ousou, desceu a boca pelo
meu pescoço — tem gente vendo, Ravi — eu reclamei, toda
arrepiada, e ele recuou.
— Me avisa quando chegar — ele pediu e eu ia me afastando,
mas não resisti e voltei para beijá-lo.
— Fica bem — faleiao encerrare pressioneios lábios nos dele
uma última vez — te amo.

[...]

Voltei a marcaralgumas sessões de fotos,porque amava fazer


e ocuparia meu tempo durante a semana. Além do que, Silvia
adorava ficar algumas horinhas do dia com a Olívia.
Eu mandava vídeos dela todos os dias para Ravi, como
queríamosum temposozinhos na próxima visita,ele teriaque matar
a saudade da pequena virtualmente.E foi meio tristequando ele
deu um bastaem sua mãe, que queria vê-lo. Me sentimal por ela,
que sentia falta e queria vê-lo, saber de perto como ele estava.
— É assim que eles são, mesmo — Silvia falou para mim, me
fazendo sentirculpada e eu encolhi os ombros. Poderia ceder e
deixá-la ir. Na verdade, poderíamosir as duas, mas assim não
poderíamos dar uma pequena fugida para transar
.

Ela achava que o doutor poderia liberar mais visitas por


semana, eu também, mas logo entendemos que era melhor não.
Dessa forma,indo vê-lo todos os dias, ele poderia sentirfaltada
vida ativa aqui forae achar que estava apto a deixar a clínica. E
Ravi estava indo muito bem no tratamento para cogitar mudá-lo.

Quando o grande dia chegou, eu trateide deixar Olívia pronta,


alimentada e dormindo, para não dar trabalhoà avó. Entendia e
adorava a ajuda dela, mas não queria abusar. Mandei uma fotopara
Ravi, da nossa filha tão linda, antes de sair
.
Peguei o álbum do último ensaio que fiz dela também, toda
vestida de abelha e a decoração combinando, para deixar lá com
ele.

Silvia mandou uns bolinhos de chocolateque ele havia pedido


e me cerrouos olhos, não havia gostado nadinha de Ravi terme
escolhido do que ela, já que na semana anterior
, eu fui.
Quando cheguei, ele estava sob a árvoregrande, onde havia
dito que estava e dei um sorrisoaliviado ao vê-lo. Ele se levantou,
vindo até mim e nos abraçamos apertado.
— Pedro comentou que saiu uma nota no jornal, sobre a
internação— ele resmungoudesgostosoe eu aperteios lábios, não
iria comentar — o que estão dizendo sobre?
— Que foi corajosoda sua parteassumiro vícioe se tratar

dei de ombro. Não era mentira,mas um perfildo instagramque
costumavapostarsobre os advogados do Rio, postou sobre isso e
alguns comentáriosnão eram lá tão agradáveis. Algumas poucas
pessoas chegaram a dizer que achava que foi por causa do vício em
sexo.
— Sei — ele resmungou.
— Sua mãe ficoumuito brava por você não tê-la deixado vir —
eu conteie ele deu risada,mas tossiualgumas vezes depois — está
tudo bem?
— Só um resfriado— ele falou desinteressado— será que é
seguro te beijar resfriado?
— Não sei, mas vou querer o beijo mesmo assim — falei
petulantee ele quase me interrompeu,me puxando firmepara me
beijar na boca.
— Quer dar uma volta? — ele perguntouao encerrar— ou ir
conhecer meu quarto.
— A segunda opção — fran
zi o cenho e ele deu um sorriso
travesso.
Ele cumprimentou dois homens por quem passamos e eu
perguntei sobre eles, mas era bom que ele conhecesse e se
permitisseaproximar de pessoas com a condição parecida com a
sua.
Coloquei o pote com os bolinhos sobre a cômoda e ele fechou
a porta.Não dava para trancar
, o que me assustouum pouco, mas
era o lógico.
Tirei o álbum da Olívia da bolsa e ele falou que veria a noite,
assim depois que desligassem a internet, ele teria o que fazer
.

Me sentei na cama de solteiroe ele veio, se sentandoao meu


lado. O olhei maliciosa e me aproximei, começando a beijá-lo
carinhosamente.Mas Ravi não era sempre carinhoso e estávamos
sedentos de vontade. Comecei a tirara roupa dele, porque se
fossemospegos, ele não tinha muitos problemas em ser visto, eu
morreria de vergonha com certeza.
— O seu médico não proibiu sexo? — ainda perguntei,quando
já havia nos livrado da bermuda dele e eu esfregavao membro
devagarinho, que latejava inteiro na minha mão. Os olhos dele
cerraram um pouco e ele resfolegou.
— Se ele proibiu, vou ter que burlar a regra — ele falou
engasgado e gemeu rouco quando o coloquei na boca. Estava tão
duro que eu presumi que ele não andava por aí se tocando e
aliviando a vontade sozinho. Fizemos uma chamada de vídeo há
dois dias e quando estávamosno ápice da coisa eu parei e prometi
que iria esperar por ele. Estava ansiosa.
Chupei-o inteiro e dei uma lambida deliberada e macia,
arrancandogemidos excitantesdele. Coloquei a cabecinha na boca
e fiquei lambendo e chupando, ele soltavafluidose eu pressionava
a extrem idade. Desci beijando o pau inteiro,e chupei os testículos,
do jeito que ele gostava.
Ele deu um gemido lamentosoquando o larguei e me levantei.
Era uma visão dos céus vê-lo inteiropelado, o membro enorme e
duro me esperando. Ravi correuuma mão no cabelo e me puxou
pelo quadril. Ele me encarou incrédulo quando ergueu o meu
vestido, pelo gesto, ele foi certeironas alças da calcinha, mas não
havia nada ali.
Não que andasse por aí sem calcinha, havia tiradono carro.
Puxei o vestido para cima e termineide tirá-lo,mas no meio do
caminho, ele se abaixou e correu a língua longamente entre os
meus lábios íntimos,de baixo para cima, deslizando perfeitamente.
Quebrei toda e afasteimais as pernas, me empurrandopara ele,
que me chupava tão gostoso. Ele escorregou o corpo e caiu sentado
no chão, eu dobrei mais as pernas, o alcançando e comecei a me
esfregartoda nele, que me lambia e chupava. Afundei uma mão em
seu cabelo e o segurei, criando forçaspara me afastar
, mas quando
fiz isso, ele me puxou de volta pelo quadril e chupou o clitórisentre
seus lábios, me fazendo choramingar .
— Agora sentaaqui — Ravi sussurroue me abaixei, montando
em seu colo, ele segurou o membro e eu desci nele, estr
emecendo
inteira de prazer
.

[...]

Voltei para casa dos pais de Ravi, para buscar Olívia. Estava
leve, confiantee relaxada. Em momentos assim, eu validava a
minha decisão de ficarao lado dele. Posso tersido teimosa,talvez
eu quebre a cara, teriasido mais corajosoe frioda minha parteter
apenas seguido em frente, mas eu me sentia segura para tentar
.

Cheguei e uma das empregadas avisou que Silvia estava


tomando um chá com uma amiga lá fora,então segui para lá, morta
de saudade da minha filha.Parei no susto,surpresaao ver Chiara à
mesa, segurando a minha filha. A mãe dela estava lá também. Foi
meio tensoquando me notaram,mas Chiara não se intimidou. Deu
um sorrisosimpáticoe me deixou pegar a Olie.
— Como foi lá? — Silvia perguntou,pegando um dos biscoitos
amanteigados, como se fizesse pouco caso.
— Foi ótimo — me limitei a dizer. Mas com Chiara aí, eu não
queria dar detalhes.
— Como funciona a internação,Denise? — Nora perguntou
preocupada — quando vemos algo assim, a sensação é
preocupante.
— No caso de Ravi, foinecessário.Ele não estavalidando bem
com as crisesde abstinência— Silvia quem explicou — e como o
conhecemos, sabíamos que seria muito difícilfazê-lo retomaro
tratamentose houvesse uma recaída.
— Foi corajoso da parte dele — Nora falou educada — e
vocês, como estão? — ela perguntou para mim.
— Eles estão ótimos — Silvia se antecipou em responder ,
pareceu até um pouco nervosa — Ravi teve muita sortepor Denise
apoiá-lo. Apesar de tudo, ele a ama muito e está louco pela filha.
— Nair brinca sempre que ele e Edu tiveramsorte,porque se
tivessemse envolvido com Marina... — Nora deixou a fraseno ar —
ainda bem que Fred é um bom rapaz, seria muito difícilterum
temperamentodifícile se apaixonar por ela. Ficamos tão felizes
quando ela aceitou o pedido, ele merecia esse ponto de felicidade
depois de tudo.
— E você, Chiara? — Silvia perguntou para ela,
involuntariamente, a olhei — nenhum pretendente a vista?
— Quem eu quero, não posso ter— ela lançou um olhar ácido
para sua mãe. Por um segundo me sentiincomodada, mas logo me
dei contade que ela não falava de Ravi — mas estoutranquila, não
preciso de um relacionamento agora. A vida não gira em torno
disso. Eu não seria capaz de perdoar os erros que a sociedade acha
que mulheres tem que perdoar.
— Como tem lidado com a exposição daqueles vídeos? —
perguntei,porque senti que essa indiretafoi para mim. Um silêncio
incômodo se instalou, o que foi uma merda. Parecia machista
perguntar, o tempo inteiroeu parecia estarinocentando Ravi, mas
não era dessa forma.
Me desculpei pela inconveniência e me levantei, avisando que
levaria Olívia para amamentá-la. Peguei o lenço dela e limpei a boca
dela, que tentou segurar e eu deixei.
— Espero que o seu esforçoem permanecercom ele não seja
em vão — Chiara falou, quando eu ia me afastandoe eu parei, sem
coragem até para virar— é muito fácil quererinocentá-lo, jogar a
culpa para mim. Como você voltariacom ele e fingiriaque estátudo
bem? A culpa tem que cair em outrapessoa, ele foi o coitadinho,
enganado, seduzido. Quero ver quando sair dessa clínica, como vai
se comportar
. Porque eu nunca o obriguei. Pelo contrário.
Meu coração perdeu uma batida, o compasso, eu iria fazero
que? Me virare dizer que ela estava blefando? Me virei, precisava
encará-la. As outras duas, sempre aprumadas e elegantes,
pareciam não saber o que fazer. Olívia notou a tensão, resmungou
algo e puxou o lenço de vez da minha mão.
— Me desculpe, Nora. Mas dessa vez, eu não posso deixar
isso passar batido — Silvia disse para a outra, que balançou a
cabeça, de uma maneira que eu não sabia se foi um gesto de
negação ou concordância. Nora perdia a compostura,ficava sem
reação em situaçõesde tensão — Chiara, eu sei que é fácil pra
você. A sua vida sempre foi fácil. Você pode sair hoje, encher a
cara, se divertircom mil coisas ilícitas.Se semana que vem você
decidirnão fazer, nada teacontece.Você não ficaem casa refémde
tremores,enjoos, a agonia e luta internaque Ravi passava a partir
do momento em que ficava sóbrio. Você não ficava frustrada,
com
vergonha em terque assumire aceitarque estádoente, que estava
adoecendo. A cada vez que ele tentava,aparecia você. Não tente
se inocentar a todo custo, eu vi conversas, vi mensagens, vi o vídeo.
Eu sei de tudo, todo mundo sabe. Você é uma mulher bonita,
tentadora, estava disposta a dar pra ele tudo que a gente aqui lutava
pra ele negar. Mas qual era a sua vitória?Estava ajudando um
homem desequilibradoe doentea se matar?Ele poderia atéquerer ,
mas não conseguia renegara vontade. Denise foi a primeiraa notar
que havia algo errado,que o consumo e a vontade dele não eram
de alguém saudável, mas de um dependente.Ficamos anos na luta,
uma semana ele se rendia, prometia se tratar , começava o
tratamento. Na outraestavacom você. É irônico dizer sobre ser um
traidor
, porque desde que ele se envolveu com Denise, a única outra
foi você. O que me deixa na dúvida: era por ser você, por estar
apaixonado por você, ou por você liberar pra ele tudo o que ele
queria? E to falando do álcool. Das drogas, de coisas que ele
achava necessitardesesperadamente. Ravi foi parar no hospital
diversas vezes, nós estávamos cansados de lutar por ele, nem
quando descobriu a hepatitealcoólica ele sossegou. Denise teve
uma gravidez difícil,quase perdemos a Olívia e nem assim ele
sossegou, não caía em si. A dependência alcoólica e adicta era
muito maior. E eu falo com propriedadeque foi isso, porque depois
que ele viu que perderiaseus bens mais preciosos,que a filha que
ele tant
o insistiupra planejarem cresceriasem tê-lo por perto,que
ele começou a se tratar, a levar a sério e reconhecerque tinha uma
doença, tudo aqui mudou. E é por isso que eu não vou deixar que
você provoque Denise dessa maneira. Se não fosse ela, se não
fosse por causa dela, eu teria perdido meu filho. Tenha mais
empatia,sororidade.Não estamosenfrentandoum momentofácil—
ela fez uma pausa, olhando para mim. Eu estava dormente,sem
conseguirreagir e notava que Nora estavado mesmo jeito, parecia
nem estarrespirando — meu filho teve sorte,e muita sortepor ela
terdecidido lutarao lado dele, porque sozinho eu não sei se ele
conseguiria. E com você provocando e incentivando o vício, muito
menos. Não estou inocentando Ravi, não acho que ele seja santo,
mas ele precisa mais do que nunca da colaboração de todos,
inclusive da sua. Eu reconheço, não sei se eu no lugar dela teria
tantagarrapra ficar
, pra lutar por alguém que já a machucou tanto.
E é por isso que eu vou apoiá-lo, porque eu quero que ele nunca
mais repita os mesmos erros , que ele saia dessa com a certezade
que pode seguir saudável, que pode se redimire fazerquem ele
tantoama, feliz. Que ele cresça e dê valor à famíliaque ele quis
construir
.

Eu fiquei muda, ninguém mais disse uma palavra. Só Silvia,


que me pediu para ir, para amamentarminha pequena. Chiara saiu
da mesa bruscamente,dessa vez, nem sua mãe a defendeu.Ficava
esse embate dentrode mim, era mesmo como se estivéssemosa
culpando para inocentar Ravi? Ou só queríamos que ela
reconhecesseque ele tinha um problema? Que a doença dele não
era o parque de diversões para o ego dela?
Me sentei à poltronade amamentação e coloquei minha filha
confortavelmente na almofada de apoio. Ela já estava expertna
pega do peito, nós duas sincronizadas. Suspirei angustiada e tombei
a cabeça para trás, os pensamentos confusos me dominando
dolorosamente.Ser um dependente alcoólico, um adicto,sei lá, não
muda o fatode que me traiuincontáveis vezes. Com a mesma
pessoa ou não, não mudava o fato.

E se depois, quando decidíssemosmorarjuntos, essa mágoa


ficassevindo à tona? Ou pior, se mesmo longe do vícioele sentisse
necessidade de outras?Eram coisas que eu só saberia tentando,
claro, mas eu deveria querer tentar?
C 44
RaviFerrari

Estavadistraíd
o com o álbum da Olívia, revendo as fotosmais
uma vez, quando fui pego de surpresapor Chiara. Era dia de visita,
Denise deveria estarpara chegar, dessa vez, junto com mamãe e
nossa filha.

Fechei o álbum sobre a mesa e me levantei. Não sabia o que


ela queria vindo aqui, Denise havia comentado sobre o que minha
mãe havia feito. Entendi que foi para defender Denise das
provocações, era típico de Chiara provocar , um traço de sua
personalidade talvez, ou um reflexo da sua rebeldia e inconformismo
por tudo que aconteceuem sua vida. Mas eu não achava justoque
a culpassem de alguma maneira. Que trouxessemà tona algo que
já estávamos enterrando.

Puxei o ar fresco e tossi algumas vezes, estava sendo


perseguido pelas tossese uma dor incômoda no peito há alguns
dias, mas não achava ser nada grave. De qualquer modo, faria
alguns exames na quinta-feira, para garantir que estava tudo bem.
— Surpresa ver você aqui — falei confuso e ela apertouos
lábios.
— Surpresa você terse rendido — ela retrucoupetulantee
olhou para o álbum sobrea mesa rapidamente— soube que era dia
de visitas e não achei que seria mau te ver
.
— Eu soube do que minha mãe fez — falei tranquilamente.
— Estágripado? — ela perguntou,por causa do chiado na voz.
Dei um riso e neguei com a cabeça — achei injusto me culparem.
Você nunca foi santo e não foi eu quem te jogou nessa vida.
— Concordo com você — falei condescendentee fomos nos
sentar
. Ela ainda puxou o álbum da Olíviae olhou as duas primeiras
fotos, mas desistiu e empurrou de volta para perto de mim.
— É que tem sido foda aguentarsozinha... E antes eu ainda
poderia me distrair com você. Hoje nem isso posso mais.
— Eu iria acabar me matando e perdendo tudo, Chiara, se não
recuasse.
— Achei que estavafazendo isso por Denise — ela provocou,
sarcástica.Eu suspirei fundo, tossindo de novo algumas vezes,
estava mesmo uma droga essas tosses insistentes.
— Estou fazendo por ela, porque quero que a gente supere
todos os meus errose recomece. Que possamos ficarjuntos. Pela
minha filha também, eu insistitantopara planejarmos um filho e no
final estava envolvido demais em meus próprios vícios pra
aproveitarcada fase.E por mim, claro, porque quero viver bem. Foi
difícilassumire aceitarde vez que eu sou um doente,um alcoólatra
— falei veemente e ela se mexeu, desconfortável em me ouvir dizer
assim — mas estou mais em paz e aliviado. Me sinto um cara de
sorte por ter Denise ao meu lado depois de tudo. Eu estava
destruindoe machucando demais a mulher da minha vida. Sei que
errei muito, Chiara, mas eu nunca escondi o quanto amava Denise.
— Era difícilaceitarque você tinhaesse... Problema. Senão eu
teriarecuado,não teriateincentivadoem tantascoisas que usamos
e fizemos, mas... — ela nem sabia o que dizer, parecia perdida
também, talvez só quisesse tirarum pouco da culpa que jogaram
sobre ela.
— Não precisa se culpar — eu completei e ela fez um bico,
torcendoos lábios e balançou a cabeça — e se eu puder te dar um
conselho... — dei um riso, sem moral alguma para isso, mas
continuei— sai dessa vida enquantohá tempo.Parecedivertido,eu
sei... Mas no final você só vai se afastar
de quem realmentete ama
e magoar essas pessoas. Quando se der conta, vai estarsozinha,
lutandopraspessoas que você ama teenxergareme tedarem outra
chance.
— Em pensar que tudo começou porque o Gabriel me tr aiu —
ela resmungou desgostosa.
— E você está se vingando dele ou de você mesma? —
indaguei e ela me encarou, mas ficou quieta.
— Essas pessoas nunca vão me perdoar . Nem a sua mãe —
ela reclamou — vou ser sempre a garota que induzia você.
— Você sabe que não é assim — falei cauteloso.Chiara não
me induzia, ela facilitava,dava para mim o que eu necessitava
desesperadamente,sem que eu precisasseir mais longe — sabe
que basta mudar pra todos esquecerem. Eu tive a sortede uma
segunda chance, Chiara. As pessoas que eu mais amo poderiam ter
me abandonado, mas não soltarama minha mão. Você pode mudar
tudo na sua vida, bastaquerer. E sabe que teráo apoio de todosa
sua volta pra isso.
— Acha mesmo? — ela perguntou petulante,fazendo uma
caretadebochada — mamãe me fez terminarcom Gael, quando
soube que ele foi o cara que engravidou Bianca. Ela não pensou na
minha felicidade.
— Eu soube disso. E aposto que se Eduardo tivesse ficado
sabendo, mesmo com um chilique inicial, iria te apoiar depois — eu
falei incerto,era difícilpreveruma reação de Eduardo, vendo como
ele reagiu com a perda e depois, quando soube que foi enganado.
— Ninguém queria testarmeu irmão, ele estavacom a família
feliz que mamãe sempre sonhou pra ele... Mas já passou. Ele está
até com outra— ela deu de ombro e eu dei um riso cansado — me
sinto vítima da vida e ainda acham que eu sou a vilã.
— Eu nunca culpei você — eu deixei claro, mas eu via de
dentro. Para mamãe e Denise, Chiara deveria ter pensado com
sensatez quando vinha me provocar . Eu, sempre em crise, não
negaria tudo o que ela tinha a oferecernaquele tempo. Hoje eu já
conseguia ver tudo de outra maneira, conseguia pensar como
alguém que estava saindo do campo de completa dependência.
— Tudo bem... — ela suspirou — fico mais tranquilaassim. E
prometopararde provocarsua amada. No fundo sei que ela não
merece como agimos. E você teve sorte,porque outramulher não
iria te perdoar
.
— Eu sei — falei, sentindoo remorsome corroerpor isso. Era
uma responsabilidade muito grande para Denise, terme perdoado,
estarme dando apoio e amor depois de tudo. Porque se eu não
desse valor, a conta seria mais alta para ela. Mas eu não iria
magoá-la outra vez, jamais.
— Agora você precisaser o príncipeque Edu é pra Jordana...
Mamãe jura que ela faztudoo que ele quer, mas sabemos que é ao
contrário. Ele parece um cachorrinho abanando o rabo pra dona.
— Você queria algo assim, não é? — foi mais uma pergunta
retorica e ela balançou a cabeça, olhando ao redor rapidamente.
— Até Marina que fugiu das propostasde Fred como o diabo
correda cruz, conseguiu um contode fadas.Eu, que passei a vida
toda sonhando com isso, querendo um cara incrível, filhos
perfeitos...
— Você tem a vida inteirapra encontrar— eu falei convicto—
não é no caminho que estávamosque encontraríamos o que nos faz
feliz.
— Tão romântico,nem parece você — ela provocou e deu
risada — toda hora você olha ao redor , ela vem te ver
, não é?
— É... — falei vagamente — deve estar chegando, aliás.
— Eu já vou, não quero enfrentar outrosermão da sua mãe.
Foi vergonhoso. Me dá remorso lembrar .
— Ela defende muito Denise, a tem como uma filha — eu
expliquei.
— Claro, ela deu uma neta pra ela — ela falou, mas não era
apenas por isso, claro. Chiara se levantou, mas ao se virar , deu de
cara com mamãe e Denise, que empurrava o carrinho da Olívia.
Chiara apertouos lábios, como se soubesse que não deveria
estar aqui.
— Vai lá — faleitranquilamente.Ela colocou os óculos escuros
no rosto e foi por outra direção, para não enfrentar mais ninguém.

Denise perguntou o que ela queria aqui e eu expliquei por alto.


No mais, arrancarum pouco da culpa que sentia. E não era justo
que eu a culpasse ainda mais. Há alguns meses, eu encontravanas
propostasde Chiara meu refúgio, mas se não fosse isso, pela
libertação e alívio do vício, eu encontraria outra maneira.
A puxei para um abraço apertado,era penosa a saudade que
eu sentia dela. Denise logo reclamou das tossese avisei que faria
alguns exames logo, mas insisti no resfriado.
— Resfriadonão dura tantotempo — ela falou brava. Mamãe
não me deixou pegar a pequena, vai que fosse algo contagioso,
disse ela.
— Não gostei de vê-la aqui — Denise comentou quando nos
sentamos.
— Ela só veio porque estava se sentindo culpada — eu falei
incomodado — mas quero que você fique tranquila, nada mais
daquilo vai nos perturbaroutra vez, porque eu vou fazer bom
proveito da chance que você me deu.
— Tudo bem — ela suspirou pesado — eu confio em você.
— Obrigado, vida — falei, deixando um beijo em sua bochecha.
Ela me encarou por um momento e inclinou o rosto,pressionando
nossos lábios.

Elas ficaram um tempo bom comigo. Mamãe havia trazido


bolinhos, suco em uma garrafatérmicae biscoitosamanteigados,
que Denise adorava mais do que eu.

[...]

Depois dos exames, já no consultório,um diagnósticoque eu


não esperava veio à tona. As perguntasdo médico, sugestõesde
sintomasnão vinham como surpresapara mim, mas foi muito fácil
confundiro mal estarcom a abstinência. Se não fosse a tosse
insistente, eu demoraria a notar algo errado.
Ele não quis aliviar, foi duro quanto ao prognósticoe os riscos
da inflamação dos brônquios pulmonares. Fiquei quieto ouvindo
tudo,a doença era comum em fumantese aumentavao risco de um
enfisemapulmonar. Quando pesquisei sobre a doença, a sensação
de pânico me dominou.
— A bronquitenem sempre tem cura, há boas chances se o
paciente seguir o tratamento à risca, mas não é um tratamento
rápido — ele falou seriamentee eu fiquei quieto, assimilando. Eram
tantosefeitoscolateraisde tudo, que eu dificilmentecederia a um
sintomae procurariaajuda rapidamente. Se estivesseem casa, por
exemplo, talvez deixasse passar como um resfriadoaté deixar de
parecer ser só isso.
E o medo de um enfisemapulmonar era imenso em mim, seria
preocupar todos ao meu redor
, levar uma vida cheia de limitações.

Começamos o tratamentocom broncodilatadores e eu


começaria sessões de fisioterapia respiratória.

Não contei nada para Denise, não achava justo que ela
soubesse por telefone,distantesem poder me ver e tercertezaque
eu estou bem. A conhecia o bastantepara saber como ela ficaria
chateada e cheia de preocupação. Mal havia me recuperadoda
hepatite alcoólica, não queria preocupar mais ninguém.

A tosse não passaria rapidamente,nem os outrossintomas


desconfortáveis,
mas tenteibrincarque pelo menos isso me tirariao
foco dos sintomas da abstinência, já que agora eles se misturavam.
— Talvez os sintomas de abstinência já estejam
desaparecendo e você nem se deu conta ainda — uma enfermeira
falou, quando voltou com um dos medicamentosque eu precisaria
tomar.
C 44
Denise Malta

Os meses seguintes de tratamento


ficarammais fáceis para
Ravi, mas tudo era motivo de se comemorar. Nós dois sempre
conversávamos muito, estávamos tentando reconstruirnosso
relacionamento de outra maneira e dessa vez, eu realmente
acreditava que estava fazendo a coisa certa.

Estavamexendo no celular, quando vi que ele postouuma foto.


Era dele, havia ganhado um pouco de peso desde que começou a
tomaroutrosmedicamentos, dessa vez para tratar a bronquite. E
estava muito mais bonito assim. O olhar não era mais nebuloso,
Ravi estava leve, sereno.

“Hojejásão noventa e doisdiasde internação.Pouco maisde


cento e vintediasde tratamento. De quando tomeia melhordecisão
que poderiater tomado. E o maisincrível,extraordinário,é que não
sou mais o mesmo sujeitoem mais de um aspecto. Não sinto
nenhuma vontade de beber, na verdade, é como se eu nunca
tivesse bebido. Faço um tratamento farmacológicomuito bem
sucedido, e o grande barato pra mim hoje é não passar dias
almejandoapenas o próximo dia de beber outra vez. Passava o
tempo inteirocriandomotivopara poder encher a cara. É incrível
a
sobriedade, gostar de mim dessa maneira. Senti alívio.
O grande prejuízoque tivefoi em relaçãoà vidaprofissional,
mas isso se recupera. Quanto à familiar
, sou um homem de sorte:
minha mulher extraordinária,amor da minha vida, nunca soltou a
minha mão. Nunca desistiude mim, me trouxe de voltaà vida.Me
deu amor apesar de tudo, e todo o suporte necessáriopara que eu
nunca desistisse.

Deixar de beber foium empreendimento interessantíssimo,


porque para mim,o álcoolsempre foia porta de entrada para outras
drogas. E hoje estou limpo.Trato outras doenças decorrentes do
abuso do álcoole cigarros,mas tenho certeza que será mais uma
batalha vencida.

Você vairecair, não vaiser fácil, não apenas no começo, mas


quando voltar a se sentir vivo, tudo vai valer a pena a partir daí.”

Os amigos dele logo começaram a comentar


, animados com a
recuperação. Comentei também, que o amava demais.

Passamos o Natal juntos por chamada de vídeo, ele se


divertindocom as descobertasda Olívia, que já conseguia sentar ,
ela ainda precisava de apoio, mas estava cada dia mais esperta.

Nossos amigos viajaram no réveillon, e Ravi já ensaiava ter


alta da clínica,o que me deixava tão ansiosa. Nossos planos eram
de compraruma casa ou construir , agora que ele fazia questão de
morarmosnum lugar com uma área verde e com muito espaço. Ele
precisariase firmarnovamente no seu meio profissional,mas teria
todo apoio para isso.

Tia Carol estava para se mudar, ia morar junto com o


namorado, e, mesmo apreensiva comigo e Ravi, ela dava seu apoio.

Chiara tentouensaiar um pedido de desculpas, em um jantar


na casa dos pais de Fred, que eu acabei indo porque estava
cansada de ficarem casa. E Helena queria muitover a Olívia. Mas
não dei abertura.Queria que ficasse muito claro que o meu
problema com ela não se referiaunicamenteà Ravi. Por isso, tudo
já estava resolvido, para nós três.Mas das suas provocações, não
terrespeitadomeu momento de dor na gravidez, terido me acusar,
sem procurar saber a verdade. Por ter me provocado, como se
quisesse tirarde mim o direito de lutarpela saúde e pela vida de
Ravi.

Ter resolvido perdoá-lo, insistirno nosso relacionament


o era
nada pertoda minha agonia e medo de que ele não aceitasse ajuda,
tratamento, de que o perdêssemos para o vício.

No mais, disse que estava tudo bem. Eu estava bem, nem


combinava comigo manterraiva e ódio de alguém. Mas não queria a
amizade dela. Esperava que ela se reencontrassee encontrasse
algo que a fizesse feliz, porque apesar de qualquer coisa, eu
acreditavaque era o que todos merecíamos,a felicidade. A mais
pura e doce felicidade.
Silvia havia saídopara compraralgo para o jantarde ano novo.
Esse ano ninguém aqui quis viajar, nem Pedro e a namorada. Vitória
estava lá na sala, brincando com a Olívia. Mesmo que eu odiasse
essa história,ela ensaiou terciúme de mim e Pedro, o que parecia
insano. Ele foi o grande apoio que eu tive, no momento em que mais
precisei, mas nossa relação sempre foi fraterna.De qualquer
maneira, eu a sentiainsegura demais no relacionamento.Nem eu e
nem Silvia achávamos mais que duraria muito tempo. Era uma
pena.

Eu estava no quarto,separando as coisinhas da Olívia para o


banho dela, quando fui abraçada por tráse me assustei, mas logo
reconheci o cheiro, o toque e o jeito de roçar o nariz em meu
pescoço.
— O que você tá fazendo aqui, seu louco? — perguntei,
soltando o bory da Olívia em cima da cômoda, e me virei de frente.
— Não tá feliz em me ver? — ele perguntou e eu dei um sorriso
óbvio, o abraçando pelo pescoço.
— Muito, muito feliz em te ver — eu falei empolgada e ele
afagou minhas costas — me conta, porque saiu?
— Achamos que estou apto a voltaràs minhas atividades —
ele falou convencido, apertando a ponta do meu nariz — vou
continuarfrequentando o grupo de apoio, claro... E logo vamos
testar como fico sem os medicamentos.
— Vai se sair super bem, tenho certeza— falei convictae ele
deu um sorriso travesso — já viu a Olívia?
— Já, e tocomeçando a acharque ela se parececomigo — ele
provocou, mas era inegável que a garota era minha cara.
— Pode se enganar, querido — eu falei e ele riu, nos
interrompendocom um beijo gostoso. Eu estava com saudade de
beijá-lo, o grunhido que escapou foi involuntário.Ravi subiu uma
mão sob a minha camiseta,enroscandoum dedo no fecho do sutiã
e a outra mão, levou para o meu cabelo, a emaranhando na nuca.
Eu resfolegueiquando ele chupou meu lábio inferiore voltou a
aprofundar nosso beijo, me deixando louca de vontade.
— Acha que podemos matara saudade agora? Hum? — ele
perguntoude uma maneira inebriantementesedutorae meus olhos
reviraram.Balancei a cabeça confirmando,o que nem era verdade,
eu deveria deixar Olívia pronta para poder me arrumarcom calma
para o jantar. Ravi deu uma lambida macia em meus lábios e se
afastoupara ir trancara porta. Foi nesse momento que Vitória
apareceu, trazendo nossa filha, que ensaiava começar a chorar
.
— Parece que adivinhei. Já estavaindo buscá-la — Ravi falou,
me fazendo querer rir, era muito cinismo dizer isso.
— Acho que ela precisa ser trocada— Vitóriafalou e eu dei
risada.
— Ela já vai para o banho, Vic — eu avisei — obrigada por
cuidar dela.
— Por nada, você sabe que eu adoro — ela falou,antesde sair
do quarto, puxando a porta.

Ravi conversavacom a pequena, como se ela pudesse mesmo


entender
, mas ele afirmouque entendia, sim, até ria das baboseiras
que o pai dizia. Eu tireia fraldasuja e a limpei, enquanto Ravi
preparava a banheira dela, que estava no banheiro. A entreguei
para ele, que quis dar o banho e de algum modo, conseguia
arrancar gargalhadas da nossa filha, só com as caretas que fazia.
— Mas é uma mini mamãe mesmo — ele falou abismado,
porque até os trejeitosdela eram meus. Olhei convencida para ele,
enquanto a trocava.
— Ainda bem que você vai estar aqui pertinho, quando
começarmos a introduçãoalimentardela — eu falei animada —
estava muito ansiosa por isso.
— Ela continua mamando muito, né?
— A própriabezerra— eu zombei e ele riu, achando graça da
piada sem graça.

Silvia chegou e veio ver a neta, se deparando com Ravi.


Primeiroela ficou incrédula, completamentedesacreditada.Depois
ele pediu um abraço e ela foi, toda emocionada. Dei um sorriso,
assistindoa cena. Há alguns meses, nós jamais acharíamosque
isso seria possível.Fiquei toda emocionada quando ele prometeuà
mãe que não iria mais decepcioná-la.
— Ahhhh — ela falou indignada, fungando e correua mão no
nariz — não vim aqui chorar
, vim sequestrar minha neta.
— Vou dar o tetêpra ela primeiro, assim consigo me arrumar
com calma — falei e ela fez uma careta, assentindo.

Ravi foi ver seu pai, contarque estavade volta. Mas Vincenzo
e ele nunca foram melhores amigos.

Brindamos ao ano que chegava, com promessasde alívio, paz


e finalmente, a felicidade genuína que eu tantosonhava. Só quem
lida ou já lidou com um dependente químico sabe a sensação de
estarvencendo. Não temcura,é um tratamento perpétuoonde você
escolhe lutar junto a quem você tanto ama, ou desistir
.

Eu já quis desistir
, mas ainda bem que resolvificare lutarjunto
com ele, por ele.

[...]
C 45
Denise Malta

Na primeirareunião do ano no grupo de apoio da clínica, Ravi


me levou. Algumas pessoas contariamseus testemunhos,mas eu
não imaginava que teriagente para contarsuas perdas. Ravi me
deu um lenço, porque eu estava muito sensível com tudo que
escutei. Sempre ficava, aliás.

Quando foi a vez dele falar


, contando de tudo que passou, de
como relutouatécederseriamenteao tratamento e largaraquilo que
ele achava fazê-lo feliz, mas só o traziaremorso,eu desabei outra
vez. Contou sobre as complicações no fígado,a bronquitecausada
provavelmentepelo excesso do cigarro,tudo que me deixou passar
e não enxergava.
— Eu me envergonho daquele cara que já fui, me dá remorso
lembrar. Mas também sou muito grato por você nunca ter me
deixado, vida — ele falou para mim, que funguei, limpando as
lágrimas outra vez — tenho certezaque esse é o nosso novo
começo. O ponto de partidapara sermos felizes. E entendi que
admitir o vício não foi sinal de fraqueza, pelo contrário. A
dependência afetatoda a família, e por mais que seja difícil,não é
impossível sair dela.
O pessoal sempre aplaudia a cada términode depoimentos.
Ravi voltou a se sentare eu entrelaceinossos braços,o puxei para
mais perto quando ele virou o rosto e pressionei nossos lábios.
— Eu sou muito chorona — sussurreiinconformadae funguei.
Uma mulher loira se levantou e olhou para todos nós, antes de
começar a falar:
— Sou Gabriela, tenho trintae quatroanos. Ontem completou
dez anos que meu pai perdeu sua luta para o álcool. Foi um pai
maravilhoso, profissionalexemplar e muito amado pelos irmãos e
toda família. Eu e minha famílialutamosjunto com meu pai durante
quase oito anos e o vimos se degenerardia após dia por causa da
bebida. Minha mãe frequentoumuito o AA sozinha pois ele mesmo
nunca admitiu que precisava de ajuda. Desenvolveu cirrose hepática
e vomitou sangue, ou melhor, o fígadoe foi internadoduas vezes.
Na terceiravez infelizmente não aguentou. As marcas desse
período de dor estão e estarão para sempre em meu coração...

Ravi passou um braço em volta do meu corpo, tentandome


confortar , porque eu chorava emocionada nos depoimentos com
finaisfelizes, ou os que estavam caminhando para isso. Mas ficava
desesperada,desolada quando vinha um assim, de alguém que não
conseguiu vencer o vício. Poderia tersido ele, a dor poderia ser a
minha.

Silvia achou estranhoo meu estado,quando chegamos em sua


casa. Os olhos inchados de tantochorar. Prometique estava tudo
bem e Ravi foi pegar água para beber. Ele ainda fazia fisioterapia
respiratóriaquatrovezes por semana e eu acreditavaque ele se
curaria da bronquite em breve, sem nenhuma piora.
Mari tentoubrincar
, por mensagem, que pelo menos ele não
teve nenhum problema com disfunção erétil,o que também teria
sido péssimo. Era até difícilimaginar um homem sedutor e safado
desses com problemas de ereção.

Fomos para meu apartamen to no final do dia, o que deixou


Silvia arrasada.Mas eu queria que começássemos a pensar na
nossa vida a dois, não queria morarna casa da sogra, nem nada
disso. Além do que, depois que fotografeiMarina para uma
campanha de biquinis, não parava de chovertrabalhosrelacionados
ao que eu amava fazer , então eu queria mesmo começar o ano
organizando a vida inteira.Queria abrir meu próprio estúdio, dar
mais vida ao meu trabalho.

Por um milagre, Ravi não quis fazerparteda Rotina da Olívia


esta noite. Então fui sozinha. O berço acoplado na minha cama já
não existiamais, doei para a netade uma moça que trabalhavapara
o noivo de tia Carol. Como estava novinho, dava para ser
reaproveitado.
Quando ela terminoude mamar, fiquei um tempo com ela no
colo, a ninando e querendo que ela sentisseo quanto era amada. A
coloquei no berço quando ameaçou começar a cochilar, assim ela
pegaria no sono já nele e não acordariano momento em que eu a
colocasse lá.

Liguei um som do úteroe peguei o monitorda babá eletr


ônica,
saí do quartodevagarinho e fechei a porta,para a claridade não
incomodá-la.
Ravi estava com a mesa de centroposta com uma barca de
comida japonesa. Havia um suco de uva servido em duas taças e eu
fui até ele. Me abaixei e pressionei nossas bocas, antes de me
sentar.
— Lembro como se fossehoje a primeiravez que ficamos—
ele comentou e eu franzio cenho, confusa— você achou que não
iria dar em nada, nem queria, mas eu precisava de você.
Desesperadamente, desde o primeiro momento.
— E você conseguiu — eu revirei os olhos.
— Pois é — ele deu um riso — alguma coisa me deixou
agoniado querendo te ver de novo. Eu nem precisome esforçar pra
lembraro cheiro do teu perfumeaquela noite... Que nem parecia
importantepra nós, mas foi o começo de tudo. De uma hora pra
outravocê virou meu ponto fraco.Só me passava você na cabeça,
seu rosto, sua voz, seu corpo...
— Só pensava no dia que conseguiriatirarminha roupa toda—
provoquei e ele franziu o nariz, assentindo.
— Mas você me cativava de todos os jeitos possíveis.Todo
mundo já sabia que eu estava te amando, mesmo que eu...
— Pode pular toda essa parte— eu falei — não queremos
remoer mágoas.
— Eu não quero sair de perto de você nunca mais — ele falou
baixo, mas com uma entonação fortee eu engoli pesado, o peito
ficandoapertado e o friona barrigasucumbindo — eu amo tudo em
você, eu pertençoa você, eu quero serseu pelo restoda minha vida
— meu coraçãoperdeu uma batida, porque ele tiroua mão debaixo
da mesinha e a caixinha de veludo apareceu.
Meus olhos cresceram,porque eu já sabia que ficaríamos
juntos, que moraríamosjuntos, mas nunca achei que fizesse do
perfil de Ravi fazer um pedido.
— Eu tenho muita sortede não terte perdido, Denise. Porque
você é a mulher da minha vida. Quer se casar comigo? — ele
perguntoue eu fiquei incrédula, embasbacada, sei lá, um pedido
nunca pareceu tão emocionante. Eu me arrasteipara ele, peguei a
caixinha com o anel clássico com um diamante gritanteno
chuveirinho, coloquei na mesa de centroe montei no colo dele,
começando a beijá-lo.
— Quero — sussurrei,pressionandonossos lábios uma última
vez — e espero que sejamos muitos felizes juntos.
— Eu prometo que sim — ele falou, me encarando e
emaranhou uma mão no meu cabelo, me puxando para outro beijo.

Deixamos o jantarpara depois e fomos para o quarto,tirando


as roupas pelo caminho. Estávamostão eufóricosque fizemos em
pé, sentados, deitados. De lado, de frente,de quatro. Sempre
adiando o gozo para nos explorarmosainda mais. Entreo suor e os
puxões de cabelo, eu sentada nele, demos uma pausa para durar
mais tempo e um beijo apaixonado, que me fez estremecerinteira.
Comecei a gemer manhosa e desesperada, não conseguindo mais
aguentar
.
— Você no meu colo gozando desse jeito — Ravi falou,
arfando — é como ter o paraíso nas mãos.

FIM!
E
RaviFerrari

Dois anos depois...

Eu estava em pé, no altar. A gravata parecia estar me


sufocando, Denise estava mais atrasadado que eu imaginei que
estaria.Estaraqui, na frentede todasas pessoas que eu conhecia,
pior, de todas as que meus pais conheciam, o que tornavatudo
muito maior, era me colocar em prova.

Nós já morávamos juntos, na casa que eu queria, cheia de


espaço e muita área verde, para nossas crianças brincarem.
Tentaríamosmais uma gravidez daqui a um ano, e depois,
partiríamospara adoção. Não sei quando foi que essa vontade
nasceu em nós dois, mas Denise sofreu muito na gravidez da Olie e,
mesmo me culpando por isso, se na próxima ela tivesse alguma
complicação, completaríamos nosso time adotando.

Mas ela estavademorando tantoque eu comecei a achar que


ela havia desistido. Não havia motivo para desistir
, mas nessas
horas se passa de tudo na cabeça de um homem.

Eu toda hora puxava um pouco o nó da gravata,me sentindo


sufocado.Eu não tinhauma crisede bronquitehá meses, entãonão
era isso. E estava limpo desde que me internei,não achava que
corria riscos de recair
. De qualquer maneira, eu não bebia nem
fumava também.

Soltei o ar, quando começarama tocara marcha nupcial, pela


cara de mamãe, querendo rir, eu devia estarpálido e a cor deve ter
voltado ao meu rosto.Os padrinhos entrarame depois veio Helena,
a nossa florista.

Antes de Denise entrar


, veio Olívia, carregando as alianças. Ela
veio como ensaiamos por semanas, mas ao ver tantagente, se
assustouum pouco e eu desci alguns degraus,para ela me ver e vir
ao meu encontro. Ouvi alguns risinhos quando minha pequena
correupara os meus braçose eu a peguei. Logo atrasvinha Denise,
incrivelmenteperfeita.Meu coraçãobatia descompassado, como se
não estivéssemos levando uma vida de casado há anos.

Mas eu ainda me sentiaum sortudo,privilegiado por tê-la, por


ela não terme deixado. Eu amava essa mulher, amava mais que
tudo. E ela insistiuem mim, salvou minha vida. Olívia limpou uma
lágrima teimosa que escorreue eu a olhei, deixando um beijo em
sua testa.
— Mamãe tá muito linda — eu falei para ela, que olhou para
Denise e balançou a cabeça positivamente.
— Muito, muitolinda — ela replicou.Denise chegou e eu desci,
a encontrando.Cumprimenteiseu pai, que pegou Olívia no colo e
entrelaceias mãos nas de Denise, me aproximei e dei um beijo em
sua testa.
— Te amo muito, vida — sussurreie ela virou o rosto.Dei um
selinho em sua boca, mas um pigarro do Padre chamou nossa
atenção e subimos, nos ajoelhando no genuflexório do altar
.

Denise e eu nos encaramosquando o Padre começou a falar ,


ler umas passagens da Bíblia. Ela deu um sorrisoapertadoe um
soluço involuntário escapou.
— Estava chorando? — foi um sussurromudo, para que ela
fizesse leitura labial.
— Estou grávida — ela falou da mesma maneira. Eu crescios
olhos, não sabendo se havia entendido certo, mas seus olhos
marejaram e uma lágrima escorreu.
— Tá feliz?
— Tô — ela falou sussurrandoe fungou. Entrelaceinossas
mãos.

Foi impossível não chorar quando juramos amor, lealdade,


fidelidade acima de qualquer coisa. Na saúde, na doença, na
riqueza, na pobreza. Eu me emocionei mais do que ela, porque me
sentia um sobreviventedesse vício maldito. Eu sobrevivi e tive a
segunda chance da mulher da minha vida. Éramos felizes juntos,
teríamos mais um filho. Eu poderia querer mais o que?

Mamãe quem cuidou da festa,no Copacabana Palace. Do jeito


que ela sempre quis fazer
. Denise jogou o buquê e quem pegou foi
Helena, toda animada para brincar com as flores.
Eu ainda frequentavao grupo de apoio para dependentes
químicos. Não como antes, mas pelo menos uma vez ao mês eu
estavalá, para nunca mais esqueceros motivosde não colocaruma
gota de álcool na boca. E para dar meu incentivo, mostr
ar que por
mais difícilque fosse, era possível recomeçar. Que valia a pena
recomeçar
.

Depois de cumprimentaros convidados, puxei Denise para


dançar. Tocava Eu amo você, de Tim Maia, na voz doce e afinada
da cantora.
— Eu amo você, menina... — cantaroleie ela deu um sorriso
travesso,os braços enlaçados em meu pescoço, nos dois no ritmo
calmo da música — vamos manter segredo?
— Do bebê? — ela perguntou e eu assenti.
— Por enquanto... Depois mandamos mensagens pros nossos
amigos contando. E vou fazeruma surpresapra sua mãe — ela
contou— Estavafalandocom as meninas sobreperdão e segundas
chances — ela faloue eu a olhei, esperando— sobrecomo a gente
sabe dentroda gente — ela parou confusa, pensando em como
dizer e eu dei um sorriso— a gente sabe como pesar e decidir. Por
experiencia própria,eu disse que só quem está dentrosabe o que
quer fazer. Que podemos acreditarno destino, se ele vai fazerou
não dar certo.Mas que na verdade, devemos acreditarno parceiro
quando queremos continuar . Eu dei chance pra nós dois porque
acrediteique você seria capaz de mudar, não coloquei as fichasno
destino.Eu quis ficarcom você, então assim assumi as chances de
dar certoou não. Mas eu sabia, naquele momento, que daria. Tudo
já havia mudado.
— Acho que ele nos uniu porque sabia que só você seria capaz
de me salvar — eu falei e ela ficou me encarando — eu tive apoio
de todos ao meu redor
, não estou sendo ingrato. Mas sei que se não
fosse você me incentivando, me tirando da zona de confortoe
jogando na cara a gravidade e de tudo aquilo, eu não teria
conseguido. Você me deu tudo, vida. Não me canso de dizer sobre
o quanto eu te amo, sobre como eu tive sortee como eu sou grato
por você ter me trazido pra vida.
— Mari disse que você deu sorte,passou a jogar direitono final
do jogo.
— No acréscimodo jogo, talvez — eu zombei e ela revirouos
olhos — eu consegui virare consertar as coisas. Mas eu tinha você
no meu time.
— Ainda não caiu a ficha que estou grávida de novo — ela
sussurrou e eu a puxei para mais perto, colando nossos corpos.
— Achei que planejaríamos daqui a um ano...
— Achei também — ela falou brava, mas acabou rindo —
estava fazendo tabelinha. E bem tranquila,já que da última vez
demoramos meses.
— Acho que Olívia vai adorar — eu falei — porque o papai tá
doido pra poder fazer uma dancinha de comemoração.
— É mesmo? — ela perguntou, cerrando os olhos e contendo a
risada.
— Precisamos da casa cheia de filhos, se quisermos a casa
cheia de netos — eu provoquei, porque vivíamos fazendo planos
para quando estivéssemos velhinhos.
E era delicioso poder planejar a vida tão feliz, com sonhos,
metas. Saber que vencemos dava uma sensação de realização
pessoal que nada no mundo seria capaz de explicar
.

Se eu pudesse dar um conselho, para quem quer que seja, era


para não se afastaremdo amor, de quem te ama. Porque o amor
salva.

Nos juntamos aos nossos amigos e aproveitamosa festaao


lado deles. Ninguém desconfiaria da gravidez a não ser que
contássemos,porque como nenhum de nós bebia, nada pareceu
diferente.
Subimos para nossa suítepresidencialquando a festaacabou
e Denise colocou música outravez. Eram duas da manhã e iríamos
aproveitar muito ainda.

Dessa vez, tocavaPorque eu sei que é amor.

Tivemos a transamais carinhosa das nossas vidas nestanoite.


Como se fossea primeiravez. E era. A primeiracomo casados, com
a vida selada uma na outra.As roupassaíramde cena com cautela,
os beijos eram molhados e intensos,pelo corpointeiro.Jurei amá-la
para todo sempre, incontáveis vezes. Nos perdemos de tesão um no
outro várias vezes, até que caímos exaustos na cama.
— Quero que você seja a mulher mais feliz e amada desse
mundo — sussurrei,a puxando para mim, meu corpo moldando o
dela. Ela acariciou meu rosto, toda preguiçosa e roçou nossos lábios
— Você me faz assim, vida — sussurrou de volta, se
aconchegando ainda mais em mim. Escorregueiuma mão para o
seu ventree ela acariciou minha nuca, toda preguiçosa. Fechei os
olhos, apenas nos contemplando.

Descomplicamos tantoao ponto de tudo ficarfácil. Tão fácil


que só precisamos sentirpara entenderque amor transforma. E
mesmo que nada seja incrivelmenteperfeito,entendemosque nada
nunca é, nosso foco estava apenas no que nos fazia feliz. E isso
basta.

FIM!
Uma históriamemorável de paixão se recusaa ficarapenas na
memória. O destino assumiu o controleou ela apenas entregou
todas as suas decisões? Sem planos, Chiara deixou que os
acontecimentos decidissem por si só.
Tem que serbom, temque dar certo.Camuflare enterrar
o seu
passado era a missão principal.
Ela não era mais a mesma mulher despreocupada. A vida
mudou. Ela mudou. Ele mudou. Nada seria como antes.
Tinhaque ser bom, tinhade dar certo, mas o que ela não sabe,
é que não acreditarem destino e pessoas predestinadasa ficarem
juntas, não a desviaria do que era para ser seu.
Talvez eles não fossemcertosum para o outro,mas por quanto
tempo os corpos suportariam a decisão?
Amor pode ser imprevisível, não?
O

Eu sou seu
Você passaria o resto da sua vida com o seu primeiro amor?
ocêV
seria capaz de perdoar todos os erros para tentarem de novo?

Mudanças – V
ol 1
Anna e Bruno se esbarraram por uma coincidência, não imaginando
que a breve história de amor que viveram mudaria as suas vidas
para sempre.

Mudanças – V ol 2
Após perder um grande amor da adolescência, Bruno encontrou um
jeito meio torto de seguir a vida. Depois de três anos seguindo em
frente, uma nova namorada e um estilo inconsequente de viver, ele
recebe a notícia de que Anna está voltando.
Ele só não contava que ela não estava voltando sozinha. E nem que
isso mudaria a sua vida para sempre.

Viradas de Jogo
Danilo e Duda estavam com a vida em ordem até tudo conspirar
contra e os incitar a nadar contra a maré. Ela tinha uma visão
frustrada do amor, ele não queria amar ninguém, mas de repente,
estava apaixonado pela namoradinha do melhor amigo. Sob o mais
difícil disfarce, eles embarcam numa história intensa a fim de
descobrir se vale a pena lutar por esse amor
. Mas esconder pra
que? Uma hora o que se sente é descoberto.
Virada de jogo – o
Vl 2
Duda e Danilo descobriram juntos que cumplicidade e confiança são
coisas impagáveis, que dividir a vida um com o outro não era fácil,
mas os deixava cara a cara com a f-e-l-i-c-i-d-a-d-e. O difícil mesmo
vai ser lidar com as reviravoltas, porque é como se o passado
retornasse, trazendo uma pessoa diferente, para revirar o que
parecia estar perfeito.

No Limite da Razão
"Henrique e Drica caíram numa dessas pegadinhas da vida. Havia
amor, mas tudo conspirava contra. Será que eles conseguem driblar
todos os obstáculos para viver esse amor?"

Golpe do Destino
Existem coisas maravilhosas na vida, mas nada é melhor do que
dormir de consciência limpa. É assim que Anna se sente após se
considerar sabotada pelos amigos e ex-namorado. Com o coração
fechado para novas descobertas, se recusa a ceder para alguém
que tanto mexe com ela, não quer saber de rimas ou metáforas, não
quer saber de amar ninguém. Nunca mais, se possível.

Mas o amor, por si só, é poesia, mesmo em prosa. Se aparece


alguém disposto a quebrar toda a barreira e ficar
, você consegue
mandar embora? V ocê quer mandar embora? Ela tem enxergado o
lado mais fútil dos homens, acreditava que nenhum deles seria
capaz e arrancá-la da preguiça de construir um amor
. Mas o fato é
que ela ainda não havia o descoberto nos detalhes. A intimidade
sólida e borboletas no estômago. Com todos os seus traumas e
medos, ela descobre que o mais perto que chegou de amar alguém
foi a mera empolgação inicial.
Desatando
Desatando conta a história daati.
T Uma jovem completamente
confusa e dependente do namorado. Ela costuma passar por cima
do seu orgulho para perdoá-lo e não perdê-lo, na esperança de que
ele mude. Mas a verdade é que ela precisa mudar
.

O amor e outros jeitos de sobreviver


"Você já sentiu que a sua vida foi chacoalhada? Como uma
turbulência tão forte em que tudo ao seu redor se tornou distorcido e
abalado? Eu tive uma experiência assim. E eu nunca imaginei que
pudesse acontecer ."

A história conta a trajetória de Eloísa, que luta contra a dependência


social e emocional após perder o amor da sua vida para o câncer
.
Amor de Novela
Mulherengo, inconsequente, sem-vergonha e um conquistador
barato. Isso define Dante Novaes. Acostumado a dominar as
situações e conquistar toda mulher com quem se envolve, ele não
tem problemas em dispensá-las. Seu lema é não insistir no que não
deu certo, não esmurrar ponta de faca, como vive dizendo e sempre
partir para outra. Quando ele e Ana se reaproximam, ele não espera
que ela seja diferente das outras. O problema é que ela namora o
seu melhor amigo e acredita amá-lo. João é o cara certo pra toda
mulher que quer viver um relacionamento estável e saudável. Mas
será que viver no comodismo satisfaz por muito tempo? A falta de
emoção, aventura e do perigo podem induzi-la para o caminho
errado. E, às vezes, quem você está amando não é a pessoa certa
pra você.

Ben, o divorciado
Bento se viu no impasse da terceira separação e pensou que
apenas superar os seus erros para tentar de novo fosse a escolha
certa. Mas a vida lhe reserva surpresas. Quando ele conhece a
menina do passado agitado, não imagina que ela esconde tantos
segredos e a cada nova descoberta, ele percebe que a história dela
esconde bem mais do que ele pensava.

Jorge Maravilha
Cecília passou sete anos dividindo a vida com um cara que ao
terminar com ela, a fez concluir que ele não era mesmo o que ela
queria para o futuro. Em contrapartida, o neto do bilionário Arnaldo
Dellare cai de paraquedas em seu caminho. Ele é irmão mais velho
da sua melhor amiga e fez parte da sua grande paixão platônica da
adolescência. Dela e de todas as garotas de sua cidade.

Jorge não quer deixar a vida que escolheu viver para seguir os
passos de seu avô e não imagina que as confusões em que vem se
metendo constantemente são completamente premeditadas. Ele luta
com a razão e emoção, mas seu grande vício por mulher sempre o
leva para o mau caminho. Quando ele decide brincar com Ceci para
provocar o ex-namorado dela, a quem ele detesta gratuitamente,
não imagina que perderia o controle das suas decisões.

E assim, seu avô encontra a maneira perfeita de interferir e coagi-lo


a se tornar quem planejou que fosse.

Uma história profundamente intensa e sensual, que prova mais uma


vez: dinheiro compra status, mas não compra amor verdadeiro.
Amor verdadeiro você conquista.

Jorge Maravilha em o que acontece depois do ponto final


Quem conhece Jorge Dellare há tempos, sabe que se casar e
assumir o império de seu avô estava completamente fora dos seus
planos. Até ele conhecer Cecília. O garanhão demorou a se render
e assumir seu amor, mas aqui está ele: terrivelmente apaixonado,
monogâmico, casado e o mais importante: feliz!

Lidar com a vida de casado se torna difícil quando os planos da sua


esposa não combinam com os dele. Ele queria apenas uma coisa:
continuar tudo como estava. Era pedir muito?
Confiança senta ao lado dos melhores beijos e é o carro chefe de
um amor saudável. Eles tinham isso. Amor, confiança,
companheirismo, intensidade. iVciados um no outro. O melhor e
mais feliz casal do mundo todo. O maior amor do mundo era o que
ele sentia por ela. Mas uma hora, as promessas feitas, são
cobradas. É mais fácil quebrá-las, ou cumpri-las?

Dividida em dois
Murilo Pacheco sempre foi o típico cara charmoso-sedutor
,
acostumado a chamar atenção por onde passa. Quem vê o charme
e a polidez do homem, não imagina as batalhas que ele enfrenta
para se libertar de um relacionamento cheio de perdas e fracassos.

Ellen é acostumada a ganhar no grito, no drama. Não mede


esforços para conseguir o que quer
.

Quando Murilo conhece Elizabeth Bauer


, decide ignorar os alertas
para ficar longe e resolver antes de tudo, o seu casamento falido. A
doçura e intensidade com que os dois se envolvem, não deixam
espaço para um casamento que só existe no papel atrapalhá-los.
Pelo menos é o que ele se força acreditar
.

Ellen não aceita o divórcio e joga todas as cartas que tem na mão
para não perder o marido.

Elizabeth se envolve e se deixa dançar no ritmo do bonitão, mas até


quando ela consegue? História de amor tem que ser fácil, não é?
Amor liberta, traz leveza. A gente acredita que encontra o, amor
quando reconhece a paz no outro. Ele estava encontrando isso, pela
primeira vez. Mas como abrir mão de tudo que acredita para viver
na intensidade e no fogo da paixão?

Dividida em dois conta a história de um cara, que tentou de todas as


maneiras ser feliz em um casamento sem amor . Por respeito e
lealdade. Pelas juras que se fazem em casamentos. Mas que
encontrou o amor sublime, em outra pessoa. Murilo tem a vida
completamente dividida em dois pedaços, resta saber uma maneira
de permanecer ao lado certo.

Meu Conflito Preferido


Iasmin Luísa tem certeza de uma coisa: o universo conspirava
contra ela. Não bastasse o noivo ter um caso com a modelo
contratada para fotografar toda sua coleção de verão, e ter a foto da
mulher estampada por todo lado em sua loja, Felipe, o garoto que
tocou o terror na sua infância está de volta. Além do ódio pelo fim do
noivado, ela agora tem que lidar com algúem que odeia mais que
tudo, no seu grupo de amigos.

Felipe Sodré não é mais o demônio mirim que Iasmin odiava tanto,
mas ela não está nem um pouco interessada e descobrir
.

Por trás do charme, beleza e ousadia, tudo o que ele queria era
recomeçar a vida com leveza. Mas vai cair nas garras (e na cama)
de uma mulher que cresceu acostumada a dar a palavra final em
tudo. Se não for do jeito dela, não vai ser de jeito nenhum. Iasmin
tem seus traumas, mas não quer ninguém se lamentando por ela. A
máscara de quem quer mandar em absolutamente tudo, esconde
muito bem a garota desamparada que ela ainda é.

Um casal às avessas e mocinha-alfa e mocinho-gato. Ela manda e


desmanda em tudo, evita a linha romântica e deixa ele desnorteado!
Esses dois têm muitos problemas, problemas sérios que precisam
resolver, mas juntos, são perfeitos um para o outro.

Doce tentação – vol 1

A tímida Jordana sempre segue as regras. Pelo menos, é assim que


parece para seus amigos. Mas ela tem um segredo: está
apaixonada por Eduardo. E ela tem certeza de que ele também está
apaixonado por ela.

Todo mundo adora Eduardo T


oledo. Para ela, ele parece
completamente inalcançável.

São os segredos escondidos por trás de seus profundos olhos que


atraem Jordana. Segredos mais sombrios e tristes do que ela jamais
poderia imaginar
.

Eduardo está decidido a nunca mais viver um novo amor e a regra


para ficar com ele é facil de seguir
. É fácil de seguir porque ele
expõe claramente a que veio. Essa é a única maneira que sabe para
manter seu passado enterrado.
Mas ele nunca esperou encontrar uma garota tão bonita. Ela está o
desafiando ao cruzar a linha. E ele nunca resistiu à tentação.

Doce tentação –olV2


Após uma descoberta desastrosa que mudaria sua vida para
sempre e cercada de informações que em sua percepção a coloca
em risco, Jordana se vê de mãos atadas e sem saber como agir
.
Eduardo continua o homem sedutor e volátil, mas lida com seus
próprios demônios e não quer se envolver de novo. Ignora a falta
que sente dela, o amor e todo o resto, resignado a não viver um
novo amor. Mudar de decisão, no entanto, seria o bastante para tê-
la de volta? Seu amor bastaria? Ele já a machucou uma vez, ela o
deixaria fazer isso de novo? Ele saberá lidar com tudo que está por
vir?Já sabemos que o amor não é o obstáculo. Mas só ele basta?

Minha Louca Tentação

Chega um dia na vida de um homem em que ele entra numa sala,


com a esperança inundando o coração e um anel no bolso,
completamente preparado para se ajoelhar e prometer sua eterna
devoção e lealdade à mulher amada.

Ele sente que chegou a hora de fazer aquela pergunta, prometer


amá-la e adorá-la para sempre, até que a morte os separe e amém.

Mas quando Frederico oTledo encontrou a mulher da sua vida, a sua


cara metade, esse dia nunca chegava. Marina já conhecia as
expressões do namorado, a cada vez que ela o via pronto para
colocá-la contra a parede e fazer o maldito pedido, saía correndo –
feito uma maluca.

Talvez seja mesmo um desafio conviver com uma pessoa tão igual e
tão diferente ao mesmo tempo. Não tem essa de “se for pra dar
certo, até os ventos sopram a favor”, só dá certo quando os dois
lados enfrentam as dificuldades e tentam o impossível.

Inesquecível T
entação

Ele é um lindo mentiroso, um valentão, um salvador


, um monstro e
um perfeito amante.

Ela está carente e faminta. Bonita e evasiva, ele demorou a


entendê-la e conquistá-la. Mas quando invadiu sua vida virou tudo
de cabeça para baixo.

Ela pagou o preço. Eles estão fora dos limites. Ele trava uma luta
contra seus próprios vícios e isso deveria fazê-la desistir
, mas sente
que cabe a ela protegê-lo e salvá-lo.

*contém cenas inadequadas para menores*

Aqui tem dependência alcoólica, muito hot, drama e polêmica.

"A autora foi fundo nas emoções. Sacudiu mesmo as estruturas. É


um tema difícil e dolorido e mesmo final
com feliz, vc fica um pouco
triste, pq no caminho sempre tem perdas, mas na vida real é assim
também. O romance de certa forma espelha a realidade. Foi o
melhor livro da Fernanda, com certeza."

Essa história faz parte da série tentação. São enredos


independentes, então pode ser lida separadamente. Boa sorte na
leitura, garanto fortes emoções.
S

Mineira de GovernadorValadares, Fernanda Verônica foi para


a Bahia aos 7 anos de idade, onde mora até os dias atuais.
Começou a publicar suas históriasem 2011, nas comunidades do
Orkut. Atualmente tem 21 livros publicados na Amazon!

https://www
.instagram.com/fernandaveronicaautora/

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