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SINOPSE

PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
GOSTOU DO LIVRO?
PRÓXIMO LANÇAMENTO
O CEO não sabia, mas uma única noite mudou toda a vida de Olivia.
Agora ela tinha um filho dele e ele nunca teve chance de conhecê-lo.

OLIVIA TURNER é uma estilista que se mudou para Nova Iorque para
buscar melhores chances e poder enfrentar uma gravidez inesperada, e acaba de
ser convidada para ser madrinha de casamento da melhor amiga. Mãe solo, teve
que amadurecer cedo para cuidar do pequeno Archie e apesar das adversidades,
não tem nada que não faria pelo seu filho. Só que o convite de casamento é um
convite para ela rever seus segredos.
Olivia saiu de Newport, Oregon, depois de descobrir a gravidez e o
casamento inesperado do pai do seu filho, prometendo guardar para si o segredo
que os juntava para sempre. E ela não está preparada para rever o primeiro
homem da sua vida.
JUSTIN MONRIE é um CEO recluso e fechado, que depois de perder a
esposa em um brusco acidente de carro, vê toda sua vida ser virada de cabeça
para baixo e ele não tem mais forças para seguir em frente. Anos depois,
vivendo para o trabalho, descontando sua solidão em coisas que não o satisfazia
mais, ele é convidado para o casamento da prima e com isso, vai descobrir
segredos que ele nunca imaginou.
Dois corações buscando alento, um segredo, uma criança inteligente e
um amor inesperado.
O amor não é algo para qualquer um.
Aprendi isso depois de muito quebrar a cara com esse tal amor. Cara, eu
era só uma mulher, que sonhou a vida toda que os príncipes encantados estavam
escondidos em alguma parte do mundo. Até que...
PAH. BUM.
A realidade bateu na minha cara, gritou e mandou eu me ligar na vida
real, onde os príncipes encantados não existiam e nem iriam aparecer em um
belo cavalo branco para lhe resgatar da bruxa malvada do Leste.
Não podem me julgar por isso.
Esta sou eu, Olivia Turner, filha única de um tradicional casal
apaixonado que hoje ainda viviam isolados do mundo, viajando quando bem
entendiam e aproveitando a terceira idade.
Suspirei. A ideia de amor perfeito veio dos meus pais, pois eles eram
tudo para mim e sempre foram apaixonados, o típico casal de filme de comédia
romântica.
E quando mais precisei, eles me deram a mão. Mas batalhei para lidar
com minha nova realidade. Meu presente inesperado do destino que acordava às
três da manhã e era meu mundo inteiro.
Recusava-me a falar “consequências dos meus erros”, pois meu filho
nunca seria um erro. Lembrava-me bem da confusão que nublou minha mente
no instante em que descobri que estava grávida... Tudo virou de cabeça para
baixo, e isso era normal, afinal eu tinha apenas vinte e um anos e estava naquela
linda fase de aproveitar tudo e nunca previ que uma simples noite poderia
causar tudo aquilo.
Porém, quando eu me encontrei novamente, vi que tinha que arcar com
tudo, de cabeça erguida e que se danasse todas as pessoas que olhassem torto. E
foi isso que fiz, não me arrependi de nada, pois quando recebi aquele pacotinho
embrulhado em uma manta cor do mar no hospital meses depois, tudo isso se
apagou, nada era comparado à beleza e amor que meu filho emanava.
Ele era meu tesouro, eu amava de modo imensurável e ninguém nunca o
faria sofrer.
Mudei-me para Nova Iorque logo após descobrir a gravidez, mamãe e
papai ficaram arrasados, tanto pela mudança quanto pelo neto, pois colocava um
longo caminho para eles acompanharem o crescimento de Archie.
Limpei a lágrima teimosa que caiu ao lembrar daquele exato dia. Pensar
em sair de lá sempre me assustou, pois tinha meus pais, meus amigos, minha
base inteira era naquele lugar, no entanto, eu sabia que era a coisa certa a fazer.
Encarei a foto na minha mesa de trabalho, onde mais ao lado tinha dois
quadros anexados um ao outro, um estava uma foto minha e de Archie no dia do
seu nascimento, enquanto eu estava em meio a rios de lágrimas e sorrisos bobos
para meu pequeno pacotinho de amor. Já a outra foto era ele, no seu último
aniversário, nos braços do avô. Cinco anos se passaram em um passe de mágica.
— Mamãe. — A voz dengosa do meu filho me fez olhar para o lado,
inclinando-me na cadeira confortável do escritório para vê-lo embaixo da mesa,
com as pecinhas de lego estendidas em minha direção.
Sorri.
— Oi. — Empurrei a cadeira para trás, abaixando-me em sua frente e
aceitando a peça.
— Brinca comigo. — O pedido era, como sempre, dengoso.
Quando eu tive Archie, foi o melhor momento da minha vida, sabia que
sempre eu teria o mais puro amor do mundo. E que a maternidade seria perfeita,
pelo menos, era o que eu pensava...
Grande engano!
A maternidade não é assim! Você chora, esperneia, chora de novo
enquanto faz a mamadeira durante a noite, lamenta um pouco mais quando ele
morde seu peito, ou quando os dentinhos estão nascendo e ele tem aqueles
momentos insuportáveis que nada o agrada. Tudo é uma verdadeira prova de
amor, isso eu aprendi, são um dos momentos mais difíceis que você enfrentará,
porém quando você parar e pensar em toda a caminhada, você chega à
conclusão que faria tudo de novo só para ter aquele cheirinho de bebê recém-
nascido, ou para ter a oportunidade de ficar com ele pequeno por mais tempo.
— Animado? — falei, deslizando a mão por sua bochecha suja de
iogurte.
— Não. — Estufou um biquinho manhoso em seus lábios.
— Por que não? — indaguei rapidamente, segurando a risada ao vê-lo
com calça de alfaiataria e um suéter azul marinho. Estranhamente, Archie
gostava de escolher suas próprias roupas. E ele sempre optava por peças do tipo.
Era sua escolha, e eu que lutava para produzir as melhores peças para ele.
Meu cliente mais exigente.
— Nada não — resmungou, batendo a pecinha de lego uma na outra e
apenas deixei que seu mau humor seguisse. Sabia que no momento certo ele me
contaria o que estava acontecendo, e que não precisava entrar em pânico.
Archie era meu melhor amigo e sabia que podia confiar nele.
Porém quando via picos de maturidade em meu filho de quatro anos e
três meses, sentia que a qualquer momento iria surtar. Ele sentia raiva, amor,
frustração e isso tudo era tão bem vívido, que me preocupava que daqui a um
tempo ele conseguisse resolver seus próprios problemas.
Meu filho cresceu na velocidade da luz, enquanto eu tentava
acompanhar e não surtar completamente, afinal isso queria dizer que estava
envelhecendo. O que me assustava ainda mais.
— Vou pedir nosso jantar — falei beijando a bochecha rosada, causando
uma risadinha nele. Levantei-me, pegando meu celular sobre a mesa e vi o
envelope que se destacava em meio às correspondências com meu nome e de
Archie escrito na frente, em lindas letras garrafais, marcando o início de um
novo ciclo para Eliza. Abri-o com um sorriso bobo.
“Elizabeth Monroe & Benjamin D’Ângelo os convida para sua
cerimônia de casamento.”
Eu nem sequer acreditava que isso estava acontecendo, Elizabeth
Monroe era a pessoa que assumia o cargo de minha melhor amiga durante toda
minha vida, desde que nos conhecemos no jardim da infância e salvei Liza de
um chiclete no cabelo que meninas malvadas queriam colar.
Ela e Benjamin se conheceram no primeiro período da faculdade, pouco
antes de tudo na minha vida mudar, desde então, não se desgrudaram. Aquela
era o tipo de conexão que eu sonhava ter um dia, ver aquele brilho que
Benjamin tinha nos olhos para Liza.
Era um amor perfeito, teriam um casamento perfeito e a madrinha mais
que perfeita. Euzinha!
Soltei um gritinho de animação, sem me deixar abater do quão triste era
o fato que a madrinha perfeita estava cada dia mais infeliz com toda essa coisa
de amor.
Eu havia desistido, não havia como um homem olhar para mim com
aquela admiração. Queria fazer todas aquelas coisas que os romances diziam,
ter o amor, o frio na barriga, as borboletas no estômago, conversas bobas e tudo
que tinha direito. Porém, a única vez que senti isso foi há muito tempo, e estava
restritamente ligado ao sexo.
O pai do meu filho, o primeiro homem com quem já troquei mais do que
simples beijos, o homem que chegou de forma inesperada e eu sabia que nunca
iria tê-lo. Porém, ele não sabia da existência de Archie, estava para lá de bêbado
quando eu decidi fazer a maior loucura da minha vida e dizer um sim.
E eu fugi antes mesmo dele acordar.
Ainda me sentindo tonta e incapaz de raciocinar o quão absurda fui em
entregar a ele algo tão precioso, porém não havia arrependimentos. Nunca
haveria.
Nem foi algo sem minha consciência, que fique bem claro, eu era a
única parte consciente de nós dois, e praticamente caí nos braços dele no
instante que o vi. Contudo, esse pequeno acontecimento mudou toda minha
vida, me deu meu maior presente, e eu seria eternamente grata.

A empresa estava praticamente vazia quando entrei na sala de reuniões,


caminhando ao redor da mesa de vidro que ia praticamente de uma ponta a
outra, pensando sobre tudo que havia acontecido hoje. A visita da minha ex-
sogra me pegou desprevenido e me deixou com as lembranças batendo em
minha porta, como um constante aviso de como Aubrey seria com o passar dos
anos, mas infelizmente, isso não aconteceu.
Ela não estava mais aqui.
— Hora de ir para casa. — A voz feminina me fez inclinar a cabeça
levemente para o lado, vendo Evelyn parada ali, segurando alguns documentos
contra o peito e sorrindo de canto. A expressão de tristeza da minha secretária
refletia meu próprio humor, afinal, ela me conhecia muito bem.
— Certo, vamos lá. — Indiquei, pegando a chave do carro no bolso do
paletó, caminhando em sua direção. Era de costume irmos juntos para casa, eu a
deixava no seu apartamento e seguia para minha residência.
— O casamento da sua prima é na semana que vem, pretende ir antes
como combinado, ou vai só no dia? — indagou caminhando ao meu lado e
estendendo o envelope em minha direção. Peguei entre os dedos, vendo ali
“Justin Moore” e sorri de canto, pensando no quanto Elizabeth merecia que
todos estivessem em seu casamento.
— Eu irei para todo o planejamento. Não posso faltar — falei de modo
cansado, puxando minha gravata quando entramos no elevador. As portas se
fecharam e pude abrir o convite, lendo o enunciado.
Elizabeth era uma dos meus vários primos, ela era a mulher da minha
família com quem tinha mais intimidade, porém desde que Aubrey faleceu,
nunca mais retornei para os eventos que minha prima organizava. Então estava
em dívida com aqueles que me amavam.
Vinha demonstrando pouco que também os amava de volta.
E eles respeitavam, aceitando minha perda, minha dor.
Porém, isso já tinha quase três anos e não tinha como eu adiar para
sempre reuniões familiares, crianças felizes e minha família indagando sobre
tudo da minha vida.
Como dizer a eles que tudo estava uma merda?
Sendo sincero, não havia nada de bom no que vivia.
— Então vou preparar tudo para a viagem. Vai precisar de mim para
mais alguma coisa nesta viagem? — Neguei, não prestando muita atenção na
falação de Evelyn, pois sabia que ela faria o melhor para mim de qualquer
forma. — Vai precisar de foco para encontrar sua família? Nem ouve mais o que
digo.
Abri um sorriso de canto, encarando a loira.
— Sei que fará o melhor para mim, Evelyn. — O tom saiu mais
galanteador do que preferia, e ela suspirou. Encolhendo os ombros como se
tivesse com medo.
A porta do elevador abriu e eu saí dali, ouvindo os saltos da minha
assistente correndo em minha direção. Abri a porta do Porsche escuro para que
ela entrasse, e vi quando os cabelos loiros passaram por mim, pegando o
assento do passageiro.
Dei a volta no veículo, entrando do outro lado e saindo do
estacionamento. Assim que parei no primeiro sinal, dei uma olhada de canto
para Evelyn, vendo que ela fazia todos os movimentos devidamente calculados,
como se tivesse decorado cada ato de modo eficiente.
Os cabelos loiros foram presos num coque para que ela mexesse em
todos aqueles papéis, as unhas longas pintadas em um rosa bebê, a roupa social,
camisa branca com uma gola mais alta, porém com um cropped estiloso preto
por cima, destacando a peça. A saia social ia até um pouco acima do joelho, de
modo elegante.
Foco na estrada, pensando no como as pessoas entravam em seu
caminho para fazer a diferença. Nada era por acaso. E via Evelyn dessa forma,
pois desde que abri a empresa e saí em busca de uma funcionária que fosse
eficiente e que combinasse com meu estilo de trabalho, Evelyn caiu como uma
luva. E ela estava comigo todos esses anos.
Não pretendia renunciar a ela.
Apesar da mulher já ter muitas propostas de emprego, brigava feio com
qualquer empresário malandro que queria entrar em meu caminho.
Havia coisas que aconteciam por acaso, e que deixava um turbilhão de
emoção para trás, provando que a vida sempre podia surpreender, que a
previsibilidade nunca era totalmente boa. Porém, neste momento eu desejava a
previsibilidade de um dia normal sendo mãe de Archie.
No entanto, como uma positivista, eu gostava de acreditar que apesar do
caos e bagunça, os bons momentos chegariam em algum momento. Era nisso
que baseava toda a minha vida.
Inclusive agora, quando Archie queimava de febre em meus braços, e eu
já fiz de tudo para abaixar, então eu simplesmente chorei enquanto tentava
pensar em como iria fazer meu filho se sentir melhor. Pois no momento, eu
arrancaria a dor dele e colocaria em mim.
Como eu falei anteriormente, a maternidade era isso. Era chorar de
desespero, mesmo quando você tinha que ser a parte forte, era manter os dois
fortes apesar de estar caindo em pedaços.
— Calma, meu amor... — murmurei, vendo-o gemer, com o rosto
branquinho completamente vermelho pela febre em seu corpo, com os olhinhos
fechados, por ser quase três da manhã e eu em completo desespero. — Irei ligar
para o tio Alexandre, ele vai saber nos ajudar.
Joguei seus fios loiros médio para trás, estava passando da hora de
cortar, e aqueles cabelos cor de ouro era a prova viva de quem ele pertencia,
nada parecido comigo, loirinho dos olhos azuis, enquanto eu tinha enormes
madeixas morenas, que desciam em meus ombros em uma cascata.
Disquei o número de Alexandre Sandres, que estava na discagem rápida
do meu celular, enquanto apoiava Archie em uma das pernas, balançando e
falando coisas em seu ouvido, querendo ter uma bola de cristal para amenizar a
dor do meu pequeno tesouro.
O celular chamou o número do meu amigo por alguns segundos, só
quando ele finalmente atendeu com voz sonolenta e grogue, eu suspirei em um
quase alívio. Alexandre era médico pediatra, amava o que fazia, eu o conheci
quando Archie teve sua primeira crise alérgica.
Foi ele quem cuidou do meu pequeno, e desde então vinha sendo assim.
— Oi... — Escutei sua voz sonolenta e o barulho de algo caindo. —
Liv? O que houve? — perguntou preocupado, Alex foi o padrinho de Archie, ao
lado de Elizabeth quando ele ainda tinha seus seis meses. Sim, demorei muito
para batizar meu anjinho, pois não acreditava muito nessas coisas, foi mais por
insistência da minha melhor amiga.
— O Archie, ele está queimando de febre — murmurei desesperada,
com as lágrimas molhando meu rosto. Efeito da maternidade.
Ouvi Alexandre suspirar, enquanto falava para colocar embaixo do
chuveiro em uma temperatura aceitável ao corpo dele, iria ficar na linha, caso a
febre não abaixasse, ele viria me ajudar. Fiz o que ele instruiu, levando meu
pequeno para o banho, colocando-o embaixo do chuveiro.
O grito de protesto pelo frio encontrando partiu meu coração, e eu me
juntei a ele, continuei chorando, pois era nestes momentos que eu sentia o quão
sozinhos nós estávamos, o quão duro era ter que lidar com cada crise, cada
doença, apenas eu e ele.
— Mamãe. Está frio! — protestou em meio a soluços, e eu me apertei
mais a ele, com a água sobre nós.
— Shiu... calma, querido, vai passar — sussurrei, alisando os fios loiros
molhados, ouvindo a respiração ruidosa dele. Archie era pequeno para sua
idade, baixinho, e ainda não tinha se desenvolvido completamente.
— Liv, quando você vir que o corpinho dele já não estiver tão quente, o
tire da água e o enxugue, vista um pijama grosso e coloque-o de volta na cama
— Alex instruiu pelo viva-voz, e eu fiquei ali, por mais alguns instantes, até que
senti o corpo de Archie baixando a temperatura pouco a pouco.
Abracei-o, levantando-me com cuidado para não cairmos enquanto o
colocava sobre o balcão do banheiro, tirando as roupas que ele vestia e o
enrolando em uma toalha felpuda que lhe manteria quentinho até que eu
vestisse suas roupas.
— Mamãe... — choramingou, com o queixo batendo de frio, beijei seu
rostinho.
— Vou pegar roupas, querido, já eu volto. — Tirei minha camisola rosa
clara no caminho, ficando apenas de calcinha, logo me enrolei em uma toalha,
peguei as roupas de Archie e segui de volta para ele, que se agarrou em mim
logo depois de vestir o pijama de carros que ele adorava, choramingando e
sonolento, escondendo o rosto na curva do meu pescoço. Deitei-o na cama,
ficando ao seu lado, vendo-o respirar baixinho.
Testei a temperatura, vendo que se normalizava pouco a pouco, com
isso, um suspiro de alívio e lágrimas de agradecimento saíram de mim.
Obrigada! exclamei em pensamento, vendo a imagem de cristo acima da minha
cabeça, onde mamãe a colocou em sua última visita.
— Baixou! — exclamei para Alex no telefone, ouvindo um suspiro de
alívio. — Obrigada, Alex. — Sorri, abraçando meu menino. — Não sei o que
seria de nós sem você. — Ouvi seu riso.
— Seria como hoje, vocês conseguiriam sobreviver maravilhosamente
bem. Não faço milagres, Liv, sou apenas seu amigo, que lhe apoia
independentemente de tudo. Todas as coisas que você e Archie superaram são
porque se amam, e nunca deixariam um ao outro sozinho ou sofrendo. —
Funguei, escutando-o rir. — Ah, para de chorar, Olivia!
Sorri contra os cabelos molhados de Archie. Impossível, eu havia
encontrado pessoas tão maravilhosas ao longo da vida, e eu era tão grata por
isso, um sentimento de gratidão inexplicável se apoderava de mim a cada
instante.
— Eu sei, apenas obrigada, Alexandre Sandres. — Ele riu, dando-me
boa noite, antes de dizer que qualquer coisa era só ligar. Sim, eu já sabia disso.
Alex era como um irmão, um anjo da guarda.
Eu o amava por isso.

Sorri, vendo Benjamim e Elizabeth brincarem um com o outro por


videochamada, enquanto eu aguardava o noivo largar minha melhor amiga, para
que pudesse conversar com ela. Logo em seguida, os olhos cor de amêndoas
dele se focaram em mim, sorrindo. Benjamin era um homem muito bonito, sem
dúvida nenhuma. Cabelos escuros, estrutura óssea imponente e marcante, lábios
cheios e um olhar que fazia a calcinha de qualquer mulher ir ao chão.
Porém, tinha que ter um, porém, né? Ele só tinha olhos para Elizabeth
Monroe, desde que se encontraram. Não houve nem mesmo aquela velha
competição boba de romance, ele dispensou todas, correndo atrás da minha bela
amiga de cabelos loiros esvoaçantes e sorriso alegre.
— Liv, manda um beijo para o meu sobrinho — Ben disse com um
sorriso, escorei meu rosto na almofada do sofá, com um sorriso bobo no rosto.
— Pode deixar — respondi rápido. Benjamin era uma das poucas
pessoas que me chamava de Liv, juntamente com Elizabeth. — Agora sai daí
que quero conversar com a noiva.
Ele fez uma expressão ofendida, colocando a mão sobre o peito,
fazendo-me gargalhar.
— Nossa, está vendo, Liz? Ela nem me ama — resmungou como uma
criança. Elizabeth sorriu, beijando os lábios do noivo.
— Estou vendo, querido, pode deixar. Essa menina anda muito malvada,
vou dar um jeito nela — respondeu, e logo ele caminhou para fora do quarto,
deixando minha amiga suspirando e encarando a bunda redonda de Benjamin
dentro da calça jeans.
— Cuidado, senão a baba cai — brinquei, vendo-a balançar a cabeça
rindo. — Quero falar com você. — Vi um vinco se formar entre as sobrancelhas
castanhas. — Vou demorar um pouco para pegar o voo para o casamento,
Archie ontem teve mais uma febre e eu decidi fazer uns exames nele antes de
irmos.
Ela arregalou os olhos, meu filho andava tendo várias crises durante a
semana, Elizabeth sabia de todas elas e ficava tão preocupada quanto eu.
— Ele está bem? — inquiriu preocupada, sorri, tentando não a assustar.
— Sim, Liz, foi só um susto. Mas vou levá-lo para que Alex dê uma
olhada, sabe como é, melhor prevenir do que remediar. — Ela concordou. — E
aí, me diz como anda os preparativos?
Ela deu um gritinho animado, sorrindo feliz.
— Primeiro, o casamento só acontece daqui a alguns dias, Liv, posso ir e
ficar com você até que Archie melhore. — Revirei os olhos, negando a ajuda.
Não, nem em sonhos. Elizabeth estava em seu melhor momento e mesmo que
eu quisesse, não a tiraria de lá. — Cabeça dura! — resmungou chateada com
minha negação. Sorri.
— Vai, me conta como anda os preparativos. Se tem lírios amarelos
como nós imaginávamos quando éramos pequenas, como é seu vestido, o sabor
do bolo — tagarelei, sentindo meus olhos úmidos com as lembranças povoando
minha mente. Ela riu, limpando a lágrima que caiu rapidamente.
— Confesso que tem muitas coisas que não decidi ainda. Quero você
aqui, para fazer a prova de bolo junto comigo, escolher as flores e ver qual dos
vestidos que mamãe fez cai melhor em mim. — Funguei, emocionada por ela
estar me incluindo nas pequenas coisas em sua vida. Era importante para nós.
Desde que nos entendemos por gente, sonhávamos com o casamento dos
sonhos. Brincávamos que seria um enorme casamento duplo, com duas noivas,
melhores amigas na vida, lírios amarelos, vestidos deslumbrantes criados por
Hilary Monroe, e o nosso sabor de bolo preferido: frutas vermelhas.
Mas tudo isso só iria acontecer com ela, pois minha vida deu uma
mudança enorme com a chegada de Archie.
Hoje eu não tinha o amor de um homem, eu não iria me casar, não iria
escolher o vestido dos sonhos e meu pai não iria ameaçar meu noivo ao me
deixar no altar. Mas eu tinha Archie e só isso já era perfeito.
Há certas coisas na vida que precisamos abdicar para viver outras. Eu
abri mão do amor, do casamento, do sonho, para viver meu filho. No fim, eu
sentia falta, mas nunca me arrependeria.
— Quero que vá experimentar o vestido de honra assim que Archie
estiver melhor. Ah, não esquece de ver o terninho dele, quero meu pequeno bem
lindo no casamento. — Sorriu, Archie entraria com a sobrinha de Benjamin, os
noivinhos. — Vou adiantar algumas coisas aqui, como a decoração que precisa
de tempo para ficar pronta, mas tem certos detalhes que preciso de você aqui,
Liv.
Funguei novamente. Eu tinha que ir, o mais rápido possível.
— Sim, arrume tudo. Irei ver o vestido e a roupa de Archie e quando
chegar finalizamos o resto — confirmei. — Estou louca para pegar um
bronzeado na praia de Nye Beach. — Suspirei, conseguindo até imaginar a
praia, o sol quente, batendo contra meu rosto enquanto a água aliviava o calor
que fazia naquela pequena cidade.
Liz sorriu, confirmando que tinha muitas atividades para os convidados
durante os acontecimentos. O casamento aconteceria em um sábado, porém,
todos os convidados receberam os convites para um evento que aconteceria em
cinco dias, mais o grande dia, e logo no domingo, todos estariam liberados.
Newport, Oregon, era uma cidade na costa leste dos Estados Unidos,
com muitos pontos turísticos. Os pais de Liz viviam ali havia mais de trinta
anos, apesar da vida agitada em Portland, afinal eram grandes empresários,
enquanto a mãe era uma famosa estilista que só ia para a casa de praia em
Orange quando estava cansada da cidade, o pai tinha uma companhia de
construção, muito bem requisitada.
Na infância, eu amava passar as férias na casa de praia dos Monroe, era
um verdadeiro sonho, o sol, a praia, as festas estilo luau e tudo que envolvia
aquela aventura praiana.
— Estou tão ansiosa! — exclamei animada, fazendo-a rir.
— Também. Ah, Romeo chegou hoje, mas já se enfiou em algum lugar
da cidade para ignorar a programação. — A loira revirou os olhos, fazendo-me
sorrir. Romeo Monroe era primo de Elizabeth, nosso amigo masculino mais
próximo, apesar de ele ter um péssimo temperamento. Ia ser um dos padrinhos
de Liz, e meu par. — Deus, aquele homem continua com um temperamento
horrível.
Sorri ainda mais. Lembrando do quão malvado meu enorme amigo de
tatuagens por todos os lados conseguia ser.
— Ah, para. Romeo nem é tão ruim assim — o defendi, vendo-a bufar.
— Para né, Liv? Você e Romeo só podem ter feito um pacto para um
defender o outro, não é possível. — Gargalhei. Romeo era um tanto protetor,
tanto comigo quanto com a prima, mas nós conseguimos criar uma ligação
única de anos. Era sem dúvida, meu melhor amigo, além de Elizabeth.
No fim, eu percebi que a saudade de casa estava me matando.

Romeo colocou a bebida na minha frente, enquanto seguia preparando a


sua. A cobertura que ele chamava de casa estava com algumas malas e caixas da
mudança recente, quando ele chegou em Nova Iorque, depois de uma longa
estadia no país coreano na qual ele estava fechando alguns negócios.
Meu primo tinha uma aura meio assustadora. Os cabelos loiros caindo
levemente sobre o rosto oval e magro, bem definido por causa da mandíbula
marcada, e um corpo alto, todo coberto por tatuagens, que geralmente ficavam
escondidos por trás de um terno sob medida, que era bem a sua cara.
— Estou de saída para Newport hoje — decretou, sorvendo o uísque
com cuidado.
Busquei os palitos da comida chinesa, levando aos meus lábios sem
emoção.
— Quando você irá? — tornou a falar quando não obteve nenhuma
informação sobre mim.
Sorri de canto.
— Evelyn está acertando tudo, não faltarei ao casamento de Elizabeth,
não se preocupe.
Ele me lançou um olhar cheio de julgamento.
— Sim, espero que não falte. Elizabeth te adora, diferente de mim, ela
faz questão que você esteja no casamento dela.
— Pare com isso, você é um dos padrinhos, ela ama você.
Romeo sorriu, de modo debochado.
— Eu não tenho dúvidas, mas diferente da sua relação com ela, a nossa
sempre foi cheia de brigas. Eu sempre protegi mais a Olivia, ela era mais
maleável, mas fácil de ser protegida. — Franzi o cenho rapidamente.
— Quem é Olivia?
— Como assim? Olivia. Ela é como uma segunda pele em Elizabeth, se
o sol e a lua são complementos um do outro, Olivia é a lua e Liz o sol. Como
dizem por aí, Olivia é a pessoa de Elizabeth. — A definição me deixou ainda
mais confuso. Romeo me encarou sério. — É mesmo que você não se recorda?
— Minha memória é fraca, faz muito tempo que fui a alguma reunião.
Algum tio teve alguma filha nova? Estou confuso.
Romeo revirou os olhos, impaciente.
— Pelo visto, sua inteligência é só para negócios — debochou. — Não.
Não é nossa prima, Justin. É filha dos Turner, Olivia e Elizabeth sempre foram
unidas. A garota de tranças, sorriso enorme, cabelos castanhos e olhos azuis.
A memória antiga rapidamente veio. E ela era uma garota em minha
mente.
— Ah, sim! Me recordo. — Engoli em seco, porém novamente as
memórias não pararam, vindo com mais força. A menina que acompanhava
minha prima para todos os lugares sendo transportada em uma série de
momentos, desde quando era apenas uma criança até nosso último encontro.
E foi como um baque caindo em minha cabeça.
Puta que pariu!
Olivia Turner.
A aniversariante e a mulher que fugiu da minha cama tão antes do meu
casamento que nunca sequer voltou à minha mente.
— Olivia Turner — sussurrei, atormentado, mas Romeo não me deu
ligação, mexendo no aparelho de som e ligando-o. Não contei a ninguém sobre
Olivia e nem pretendia.
Era uma caixa fechada.
Aconteceu só uma vez, como algumas mulheres que passaram pela
minha cama, acabou sendo esquecida, não mencionada nunca, exceto minha
esposa. E nenhum dos dois precisavam levar isso a público. Esperava que ela
pensasse o mesmo. Que também tivesse guardado para si.
Porém, pensando pelo lado racional, se Olivia tivesse dito algo a
Elizabeth, minha prima atormentaria até minha alma. E isso nunca aconteceu.
— Estava dodói, Archie? — a voz meiga do meu melhor amigo indagou
ao meu filho, enquanto passava o algodão com álcool em seu braço, preparando
para tirar sangue. Meu filho estava distraído com o pirulito que ganhou do
médico para que pudesse ficar quieto, porém sabia que no instante que olhasse a
agulha, começaria a chorar aos quatro ventos.
— Sim, dodoizinho — respondeu sugando o doce. — Doendo. Archie
chorando.
— Eu vi isso. Quase matou sua mãe do coração — Alex comentou,
sorrindo.
Continuei observando, enquanto dividia minha atenção entre eles e
Catarina, marcando um horário para irmos ver o vestido das damas de honra,
Nicole não poderia ir agora, pois ela estava no trabalho. Éramos três damas de
honra, Catarina, prima de Benjamin que se tornou uma amiga próxima em meio
a tantos eventos que partilhamos. E Nicole, uma jovem escritora de romances
açucarados — pelo menos, era assim que ela se dominava —, que Elizabeth
conheceu durante sua busca por melhores prestadores de serviços de
cerimônias, pois apesar de Nic estar sempre escrevendo um novo romance, ela
tinha uma certa paixão por casamentos, e com isso, abriu uma linda prestadora
de serviço que chamava “Doce Amor”, que estava organizando todo o
casamento de Liz.
Éramos um trio, cada uma entrou na vida da outra em momentos
diferentes, e apesar da minha ligação com Elizabeth ser única, eu amava minhas
amigas iguais, elas eram essenciais em minha vida.
Finalizei a conversa pelo aplicativo de mensagem.
— Vai quando para Newport? — Caminhei próximo a Alex, vendo-o
pegar a seringa e guardei o celular.
— Amanhã, vou pegar o voo das sete da noite, pois iriei atender durante
todo o dia. — Revirou os olhos castanhos, fazendo-me rir. Alex era um bom
médico, era ótimo em sua área de atuação e com isso, sua agenda sempre estava
cheia, porém, Archie sempre acabava passando na frente de algumas pessoas.
— E você?
Suspirei, pegando meu filho no colo e beijando seus cabelos para
começarmos a bagunça. Archie seguiu a mão do médico com o olhar,
observando o homem pegar a seringa dentro da caixa e abrir a embalagem, e no
instante que viu isso, foi automático, as lágrimas começaram a descer pelo seu
rosto, como se tivesse um botão de ligar.
— Calma, Archie, vai ser rapidinho, eu prometo. — Veio ao nosso
encontro, mas meu filho ficou rapidamente de pé em meu colo, escondendo o
rosto na curva do meu pescoço e chorando, com as pernas em torno da minha
cintura e as mãos segurando meu cabelo tão forte que parecia que estava
morrendo.
— Calma, amor, tem que saber o que está sentindo. Para não ficar mais
dodoizinho — o acalmei, beijando seus fios loiros e vendo-o fungando. —
Lembra que hoje iremos pegar o aviãozinho para ver a tia Eliza? O que você
mais quer fazer quando vê-la?
Ele não respondeu, continuou chorando. Alexandre esperava o momento
de distração de Archie enquanto eu conversava com ele.
— Hein, Archie, não vai fazer nada? Nossa, tia Eliza vai ficar tão triste.
— Brincar com ela — respondeu, dengoso. — E com tio Benj.
Sorri.
— Brincar de carrinho com o tio Benj?
— E de bola também. — Sorri e vi quando meu amigo pegou seu
bracinho, segui indagando sobre o que ele faria quando visse os tios, vendo o
médico amarrar o garrote em seu braço de modo sutil, e Archie só percebeu
quando o fio apertou, olhando rapidamente com os olhos azuis faltando saltar
do seu rostinho infantil. — Não pode, titio Alex!
Alex riu.
— Por que não, amor? É só uma furadinha. Nem vai doer.
Ele fez um bico enorme.
— Vai doer sim. Em nenê dói — resmungou, fazendo-me rir. Segurei
seu rostinho e encarei-o com firmeza. — Não deixa, mamãe... — pediu, choroso
e eu quase vacilei, levando meu filho para longe da agulha, mas sabia que não
podia.
— Vamos comprar o que no shopping hoje? Precisamos de um terno
para o Archie ir ao casamento da tia Eliza — falei, alisando seus fios e beijando
sua testa. De canto de olho, vi quando Alexandre inseriu a agulha e fechei os
olhos rapidamente, contando os segundos que ela precisava estar em seu braço
para fazer a coleta.
E quando acabou, ouvi meu amigo sussurrando:
— Pode abrir os olhos, Olivia. — Isso o fez rir de leve e encarei o
médico, vendo que Archie estava chorando baixinho, mas que não havia se
debatido, e eu como sempre, não consegui ver o tubo cheio de sangue.
Enquanto o outro tirava as luvas, sentando-se à mesa e pegando os
papéis, com toda certeza, ele iria receitar alguns remédios.
— Só vou depois de amanhã, iria amanhã ao meio-dia, mas acabei
cancelando o voo — comentei voltando ao assunto anterior. — Preciso fechar
alguns pedidos na loja antes de ir e verificar para ter certeza de que Archie não
vai ter mais uma crise lá, e ainda ver o bendito vestido da dama de honra.
Ele riu, jogando os fios escuros que já estavam compridos para trás.
— Fica tranquila, Archie está ótimo, só a garganta um pouco inflamada,
compre isso e dê a ele de forma correta que ficará novinho em folha para piscar
para as gatinhas do casamento — brincou, piscando para o meu menino, que
riu, escondendo o rosto na curva do meu pescoço. — Vamos fazer o exame, mas
é mais uma rotina do que uma preocupação.
— Nem brinque com isso, nada de gatinhas — resmunguei, vendo-o rir
ainda mais.
— Que isso?! Ele vai crescer um dia, ok? — Suspirei, sim, ele iria
crescer e não seria mais o bebezinho da mamãe.
Aceitar isso não fazia a realidade doer menos.
— Sim, ele vai crescer. Mas só vai namorar com 20 anos e continuará
sendo o bebezinho da mamãe. — Alex gargalhou, beijando minha testa.
— Não se iluda, querida, você não vai conseguir segurar esse garanhão
por muito tempo. — Alex e sua forma única de jogar na minha cara que estava
perdendo meu bebê.
— Vai você, garanhão. Arrume uma gatinha para você e deixe meu filho
— retruquei rindo, vendo-o revirar os olhos. Alexandre era um homem
sensacional, conheci-o por intermédio de Hilary, mãe de Elizabeth, e sabia que
ele era um grande homem, seu único defeito era que meu amigo tinha uma certa
aversão a relacionamento. Eu nunca entendi o porquê de alguém tão alegre e
disposto a ajudar a todos se tornou assim.
Não entrava na minha cabeça, entretanto, sabia que cada um tinha seus
próprios fantasmas, tinha que lidar com todas as cobranças e paranoias à sua
volta, e no fim, nunca sabíamos o passado das pessoas, o que ela viveu e sentiu.
Catarina sorriu, rodopiando pelo enorme salão da loja, enquanto Archie
observava tudo atentamente, rindo das presepadas da tia Cacá, como ele a
chamava. Os cabelos loiros de Catarina estavam esvoaçantes, enquanto o
vestido de madrinha em seu corpo combinava lindamente com seu tom de pele,
até que ela parou, encarando-me cheia de expectativa.
Os olhos azuis da minha amiga estavam brilhando, animada. Catarina
geralmente tinha uma personalidade difícil e não era dada a muitos sorrisos,
mas hoje ela estava animada, principalmente, porque ela e Benjamin eram
muito amigos, e ela sempre apoiou o relacionamento dele com Elizabeth.
— Ah, Liv, estou ansiosa para ver de quem será o próximo casório.
Imagina só, três casamentos lindos e cheio de amor, vai ser um sonho... —
Suspirou, referindo-se a nós, enquanto eu negava com a cabeça, porém, meu
olhar foi atraído para o rosto choroso da mulher que experimentava o vestido de
noiva do outro lado do salão, completamente sozinha e se encarando no
espelho.
Caminhei até ela, vendo sua imagem refletida no enorme espelho. Era
branca, corpo estilo mignon, tinha enormes olhos castanhos, cabelo cortado
estilo chanel e lisinho. Uma bela mulher, sem dúvida nenhuma, completamente
emocionada pelo vestido resplandecente de noiva que havia sido colocado em
si.
— Belo vestido — comentei sorrindo, ela se assustou, encarando-me
enquanto fungava e sorria tímida.
— Ah, obrigada. — Olhou-me da cabeça aos pés, medindo minhas veste
de honra, um belo vestido cor champanhe de seda, colado ao corpo em um
modelo único e exclusivo de Hilary Monroe. — Belo vestido, dama de honra?
Sorri animada.
— Ah, sim. Quando é seu casamento? — indaguei, vendo-a sorrir ainda
mais. Com toda certeza, uma mulher feliz. Seria esse o efeito do amor?
— Na próxima semana, um casamento simples, na verdade, apenas uma
pequena cerimônia para família. Apesar de eles acharem tudo uma grande
loucura e quererem me internar em um manicômio. — Arregalei os olhos. Era
isso que as pessoas achavam do amor? Credo, sei que ele nunca foi meu melhor
amigo, mesmo assim, eu acreditava nele.
— Por quê?! — indaguei curiosa e assustada.
— Pff. Acham a ideia de casar-se consigo mesma uma loucura. —
Arregalei ainda mais os olhos, tinha quase certeza de que se bobeasse, eles
cairiam no chão.
— O QUÊ?! — quase gritei, rindo nervosa segundos depois. Certo,
aquela mulher era completamente louca, porém não precisava de mais gente
desacreditando de suas decisões.
— Sim, eu estou cansada dos homens. Eles não fazem questão de
procurar viver um amor, então, eu decidi juntar todo o amor que dei a eles por
anos, e dar todo para mim. O resultado disso, me casarei comigo mesma. É
loucura, eu sei, mas eu sinto que foi a melhor decisão que já tomei em toda a
minha vida. — Eu estava estática, vendo-a tagarelar do quão lindo era amar a si
mesma acima de tudo, minha mente rodava com suas palavras. Era
completamente loucura, onde já se viu se casar consigo mesma? Nah, bobagem.
No entanto, eu ri, desejei felicidade e dei meia volta, encontrando o par
de olhos azuis e curiosos de Catarina, que ria da minha expressão perturbada.
— O que houve? — indagou rindo.
— Nem queira saber, é cada louco que me aparece. — Catarina deu uma
risadinha, entregando-me o blazer de Archie, chamei-o para experimentar a
roupinha. Certo, minha única certeza no momento era que não adiantava dizer
nada quando a pessoa estava certa de sua loucura.

Suspirei, brincando com a barra do pano de prato enquanto observava a


panela no fogo alto. Já eram quase oito da noite, Archie estava enrolado nos
cobertores na sala, assistindo a um desenho, Os Incríveis, na televisão.
Eu estava me movimentando com rapidez nas tarefas noturnas, para que
eu conseguisse entrar a tempo na reunião que as meninas iriam fazer por Skype
em alguns minutos. Até lá, queria estar com Archie na cama.
Com esse pensamento, segui para sala, levando sua mamadeira, vendo-o
cochilar, alheio aos barulhos que vinha da televisão.
— Archie — o chamei, pegando no colo seu corpinho pequeno enquanto
o despertava. Ouvindo seus resmungos baixinhos, sorri. — Você precisa nanar,
meu amor.
Ele fez careta.
— Mamãe, eu não sou mais um bebê. — Sorri, colocando a mamadeira
em sua boca, enquanto ele se recostava em mim. Ele já estava grandinho para
esse hábito, porém, apesar de comer como um garoto normal para a sua idade,
ele gostava do mingau e apesar de às vezes dizer isso, quando eu não fazia,
reclamava. Eu não recusava fazer isso por ele, era o momento em que eu o
abraçava e mimava ao máximo, na verdade, a melhor parte do dia, estar
abraçada ao meu filho.
O notebook fez um barulho sobre a mesinha de centro, segurei Archie
com um braço e me inclinei, para atender o pedido de conexão do aplicativo.
Logo a imagem das minhas amigas apareceu na tela.
Elizabeth sorria alegre, enquanto Nicole tinha uma expressão cansada,
Catarina lixava as unhas despreocupadamente, fazendo-me rir. Cada uma com
sua personalidade única, enquanto Liz era amiga, sorridente e alegre, Nicole era
romântica, tímida e metódica. Já Catarina tinha mil e uma personalidades em
uma só, era o sol e a luz em questão de segundos, conseguia brincar como uma
criança e ser chata como um adulto, no fim, ela tinha uma personalidade forte,
marcante.
— Ah, ele está dormindo — Liz protestou, vendo Archie ressonando
baixinho nos meus braços, com a mamadeira presa entre os dentes. Sorri,
Elizabeth e Archie eram como unha e carne, já perdi as contas de quantas vezes
fui abandonada por ela. Uma lástima.
Catarina sorriu, debochando da outra.
— Tia Cacá brincou com ele a manhã toda — se gabou, exagerando ao
se referir a manhã toda, eles só ficaram juntos quando eu precisei resolver
algumas coisas na loja e ela se ofereceu para cuidar dele.
Liz deu a língua pela câmera, fazendo-me rir.
— Gente, eu sei que meu filho é lindo. Claro, puxou à mãe. — Dei de
ombros, vendo Nicole revirar os olhos. — Mas não briguem por ele, vai ter
Archie pra todo mundo! — brinquei, feliz com todo amor que meu filho
recebia, só confirmava que tudo que eu passei por ele fez sentido, ele era
especial demais, via isso em pequenos gestos. Meus olhos lacrimejaram, o
coração apertou, dando aquela velha lembrança que eu tinha toda vez que eu
falava muito do meu amor por Archie Turner.
Talvez eu tenha errado em esconder e tirar sua chance de ter um pai, mas
agora era muito tarde para isso. Se eu pudesse, voltava no passado e mudaria
isso também, pois vê-lo perguntar por que não tinha um papai sempre partiria
meu coração em milhares pedacinhos.
Eu sabia que tinha grandes chances de encontrá-lo no casamento de
Elizabeth, na verdade, eu tinha completa certeza disso, mas isso não mudaria
em nada, tinha certeza de que ele nem mesmo se lembraria de mim. Afinal, está
casado e feliz. E quem seria eu para atrapalhar a felicidade alheia? Isso mesmo,
ninguém.
Abracei meu filho mais apertado, enquanto ria e conversava com as
melhores amigas do mundo, chegando à conclusão de que a vida era
maravilhosa. Eu só tinha que ter gratidão dentro de mim, pois apesar de tudo, eu
tinha as melhores ao meu lado.
Gratidão, palavra quase nunca usada, mas que poderia resolver grandes
problemas no mundo.

Evelyn colocou os papéis da viagem sobre minha mesa de trabalho,


sorrindo de modo enviesado em minha direção. A viagem para um estava
comprada e minha secretária estava feliz da vida em não ser arrastada para ela
junto comigo. A danada gostava de quando eu saía da cidade para ficar com
carga menos de trabalho, ou como ela gostava de dizer, mandar a prova dela
para um descanso e tirar um descanso.
— Preciso que chame a faxineira quando estiver retornando. Vou passar
muitos dias fora e provavelmente vai ficar empoeirado.
— Sim. Pode deixar.
— E não se esqueça de que é a mesma de sempre. — Encarei-a, firme,
vendo o sorriso dela de canto.
— Ok, pois qualquer outra não saberia a ordem certa das suas cuecas. —
Bufei com sua resposta espertinha, deslizando a caneta pelo papel e terminando
de assinar aquela negociação. — Me diga o que fazer com os negócios da
BMX.
— Eu ainda não resolvi essa pendência — falei preocupado. — Eric é
meu primo, mas se a empresa não tiver mais oferecendo uma parceria viável,
não poderemos continuar.
Ela assentiu.
— Fiquei sabendo, pela CFO da empresa dele, que desde que a esposa
entrou na quimio, ficou assim. — Encarei a imagem sobre minha mesa de
trabalho, nela estávamos eu, Romeo, Eric, Aubrey e a esposa de Eric. —
Catarina e sua prima que estão tentando segurar as pontas.
A esposa de Eric tinha leucemia e a essa altura, meu primo vivia
enfurnado no hospital, apenas lutando para salvar a vida de quem amava. Eu
não o julgava, faria tudo para trazer Aubrey de volta se tivesse chance.
Só que negócios eram negócios e isso vinha acontecendo há meses.
— Irei decidir, pensar bem sobre isso. Meu tio me ajudará, ele sempre
tem os melhores conselhos comerciais. — Coloquei a carga para depois da
viagem, pois precisava adiar isso ao máximo. Não queria ser o vilão da história
de Eric, principalmente quando Romeo era seu irmão e meu melhor amigo, mas
tinha coisas que não havia outra saída.
E eles precisavam entender isso.
— Ok, vou indo — Evelyn decretou pegando a bolsa e sua pasta de
trabalho. Hoje seus cabelos loiros estavam presos no topo da sua cabeça e o
vestido rosa de corações pequenos estava esvoaçando ao redor do corpo. Ela se
aproximou, e me levantei para dar um abraço, mas no intermédio de um beijo
na bochecha, o erro aconteceu. Nossas bocas se tocaram em um selinho de
segundos e me afastei rapidamente, percebendo o erro e abraçando de modo
amigável.
Quando me afastei, vi a loira estática, encarando-me com os olhos tão
arregalados que pensei que cairia do seu rosto bonito.
— Está tudo bem, Evy — a confortei, apertando seus ombros de modo
confortável. — Esse tipo de coisa acontece, não precisa ficar tão preocupada.
Eu a vi abrir um sorriso nervoso, dando um passo para trás e passando
os cabelos atrás da orelha. Sorri com sua vergonha, divertindo-me. Porém, parei
quando pensei que aquilo poderia me levar a problemas maiores com ela.
— Boa viagem, Justin, nos vemos em breve.
Sorri.
— Obrigada, Evy. Vá descansar. — Observei-a dando meia volta e
caminhando para longe, e quando a porta bateu, suspirei, cansado demais para
avaliar tal situação.
Nunca avancei neste sentido com Evelyn e ela também não, e como
disse a ela, isso foi um pequeno erro que poderia acontecer. Não era nada
demais. Primeiro que não queria criar um conflito, envolvendo-me com pessoas
com quem trabalhava, muito menos que não fazia o tipo que forçava um
relacionamento sem amor, mesmo que fosse sexual.
Isso só aconteceria se eu estivesse muito, muito maluco das ideias
mesmo.
E nunca aconteceu, que fique bem claro.
Peguei meu telefone, vendo algumas mensagens pendentes de Romeo,
mas o que me chamou atenção foi a chamada perdida de Eric, então retornei
rapidamente, já nervoso que algo tivesse acontecido.
— Oi — ele atendeu no segundo toque.
— Vi sua chamada perdida, o que houve? — indaguei.
— Ah, só para te avisar que me ausentarei um pouco da empresa e com
isso Romeo vai dirigir os negócios. Dei carta branca para que ele decida qual
contrato manter, qual acha que não está mais sendo tão viável. — Engoli em
seco.
— Como está Franie? — perguntei.
— Seguimos, nenhuma melhora, nenhuma piora. — Seu tom era tenso,
carregado de tristeza. — Não poderei ir ao casamento, então não nos
encontraremos.
— Imaginei isso. Qualquer coisa, só ligar.
— Eu sei, obrigado, tem sido paciente com minhas falhas. — Sorri, pois
esse momento para Eric era muito delicado. Diferente de Romeo, o irmão
sempre quis uma família, uma esposa, filhos e tudo que tivesse direito. Porém,
estava desmoronando.
A jovem esposa entre a vida e a morte deixava todos apreensivos.
— Estamos sempre aqui — sussurrei, pois compartilhava de sua dor,
entendia completamente. — Falarei com Romeo, não se preocupe com isso.
— Ok, obrigado. — Finalizamos a chamada e encarei a imagem
novamente. Pedir pela saúde de alguém que estava desenganado era se apegar a
uma chama de esperança que sabíamos que apagaria.
Eric estava sendo desgastado, levado ao limite da sua sanidade, apenas
para ser forte pela sua esposa. Enquanto eu não tive que passar por isso, eu
apenas lidei com a perda e o luto. Ele lidava com a doença, lidaria com a perda
e com o luto.
Mamãe segurou meu rosto com firmeza, obrigando-me a encará-la e
suspirei, encontrando meus olhos aos azuis límpidos dos seus. Vi o sorriso no
canto dos seus lados, como se esperassem por uma versão minha mil vezes pior
e sabia que deixei todos acreditarem que estava bem, mas mãe é mãe, mesmo
quando não contávamos, elas tinham o dom de saber o que estávamos sentindo.
— Vai evitar me encarar? — indagou de modo ranzinza, fazendo-me
sorrir de canto e abraçá-la quando ela abriu os braços para me receber. Encostei
meu rosto na curva do seu pescoço, lembrando das inúmeras vezes que ela
invadiu minha vida em Nova Iorque depois da morte de Aubrey.
— Saudades suas — falei sorrindo.
— Saudades nada, não me liga, não vem me visitar, então não sente
saudades! — Sorri com seu tom de repreensão e me afastei, pegando minha
mala, mas vi Elizabeth correndo em minha direção como se fosse um garoto de
cinco anos pelo aeroporto, quando ela me alcançou, jogando-se em meus
braços, sorri, abraçando minha prima apertado.
— Ei, loirinha. — Baguncei seus fios cor de ouro, fazendo-a rir.
— Justin! — exclamou. — Que saudade! — Afastou-se, arrumando os
cabelos enquanto fazia uma avaliação completa. A garota que vi crescer agora
era uma mulher muito diferente, com roupas de alfaiataria, ela estava cada vez
mais parecida com a mãe, mas continuava jovem e muito bonita. — Eu vou
bater em você! — Sua fala me fez rir, mas recebi um tapa no braço, deixando
claro que não era para rir. — Não ria, seu desgraçado, eu juro que vou matar
você, Justin Monroe.
Apontou o dedo em riste e vi mamãe puxar minha mala, lançando-me
um sorriso enviesado de quem não planejava me defender.
— Não sei por que está tão zangada, eu estou aqui. — Passei o braço em
volta do seu corpo, guiando-a para fora do aeroporto.
— Não, você sumiu, não vem às reuniões, vão vem aos domingos como
sempre acontecia e parece que não tem mais família. Só sei sobre você quando
Romeo me conta alguma coisa e para ele atender o telefone é quinhentos anos.
— Suspirei, alisando seu ombro em conforto. — Às vezes nós não podemos
viajar, pois somos empregados em uma empresa, você é o maldito de um CEO,
consegue a folga.
Sorri, ela estava irritada.
— Você trabalha com sua mãe, Elizabeth, ela te trata como filha até na
empresa. — Minha prima bufou ao me ouvir falar, afastando-se para me ver
colocar as malas no porta-malas do carro.
— Não, as coisas estão bem diferentes por aqui. Dona Hilary começou a
separar as coisas e disse que vou ter que conseguir tudo por mérito próprio. —
Expirou ao dizer isso, fazendo-me rir de lado. — Eu lá quero saber de mérito
próprio.
Eu sabia que ela falava de boca para fora, e que estava se esforçando
com as tarefas que a mãe designava a ela. Desde pequena Elizabeth foi
apaixonada pela empresa da mãe, ela fez moda, mas disse que não se encontrou
na parte de produção de moda, então quando começou a estagiar na empresa de
Hilary, foi para área de contabilidade e administração, e foi ali que tudo
aconteceu.
Ela fez uma nova graduação e hoje estava em sua especialização,
buscando alcançar seus sonhos, construiu sua história. E eu sabia que sua
história estava dentro da empresa que a mãe construiu com tanto esmero
durante toda sua vida.
— Eu sei que fala da boca pra fora. — Segurei seus ombros. — E que
está dando o melhor de si. E não precisa ficar brava comigo, estou aqui agora.
Eu a vi sorrir.
— Eu sei, mas é que você anda mais bonito do que o normal. —
Segurou meu rosto, vendo a mãe entrar no carro. — Nem tive chance de te
apresentar uma das minhas amigas.
— E nem vai.
— Ah, não seja malvado. Você está solteiro há muito tempo, deve ter
tido casos por aí, mas precisa de uma esposa. — Segurou meu rosto com
firmeza, não me deixando afastar. — Tenho três amigas incríveis, você vai amar
qualquer uma delas.
— Não, suas amigas são malucas, Elizabeth — decretei.
— Você nem conhece Catarina e Nicole para dizer isso! — exclamou,
irritada. — Só tem uma que você ainda conhece e é Olivia, e com toda certeza
ela não é maluca.
A imagem da mulher passou na minha mente e rapidamente fiquei tenso.
— Não, nem vem. Eu lembro de Olivia pequena na nossa casa, ela era
toda romântica, doida para achar o casamento perfeito — desconversei,
tentando achar um motivo convincente para afastar Elizabeth e suas ideias de
casamenteira.
— Mas Justin... — Afastei-me das suas mãos.
— Eu acho que isso é maluquice o suficiente — decretei, fazendo-a
revirar os olhos e me aproximei novamente. — Você pode não acreditar, mas
estou bem solteiro, prima, Aubrey foi um grande amor e dificilmente alguém
vai superar o que eu sentia por ela.
Vi seu lábio se franzir em um bico de choro.
— O que foi agora? — indaguei com impaciência.
— Nada. — Fungou. — É que é tão bonitinho como você fala dela.
Sorri e beijei sua testa.
— Tem amores que duram, Eliza, e sei que você e Benjamin são assim.
Tem sorte de terem um ao outro. — Ela se calou, passando o braço em volta da
minha cintura e aceitando ser guiada para o carro.

Eu amava viajar, adorava a sensação de estar indo de um ponto para o


outro, conhecer novos lugares e culturas. Porém, desta vez eu não estava lá tão
animada. A sensação de quem estava prestes a desmoronar caía com força
enquanto eu abraçava ao ursinho preferido de Archie, com meu pequeno
segurando minha mão ao caminhar pelo aeroporto de Nova Iorque, aguardando
minhas amigas.
Ele amava viajar, já perdi as contas de quantas vezes ele me abandonou
para sair em alguma aventura com Liza ou Ben. No fim, eu tinha um certo
receio de que Archie depositasse em Benjamin todas as suas expectativas de um
pai, e no fim, não poder alcançá-las.
Sabia que Benjamin amava Archie, e eu o amava por isso, porém, não
poderia deixar que meu filho criasse uma ilusão sobre o tio Ben.
— Ahhh, meu gatinho! — escutei Nicole exclamar, correndo até Archie
que riu da animação da tia, escondendo-se atrás das minhas pernas, como
sempre fazia ao vê-la. — Cadê o meu gatinho, hein? Estou com saudade dele.
Escutei meu menino prender o riso ao ouvi-la.
— Hum... sumiu, Liv. — A ruiva fez bico. — Vou ter que arrumar outro
gatinho para mim.
Archie pulou na frente da tia, com as mãozinhas cobrindo os olhos e o
sorriso bobo no rosto.
— Estou aqui, tia! — exclamou rindo das palhaçadas de Nic. Logo
Catarina apareceu, vestida toda de preto e com óculos escuros, tentando
esconder a ressaca da noite anterior. O que me fez rir.
— Isso, vai rindo, Olivia. Um dia eu vou fazer você ter uma ressaca tão
grande que nunca mais você beberá uma gota de álcool. — Gargalhei alto,
enquanto caminhávamos em direção à sala de embarque, com Archie no colo de
Nicole rindo e conversando animadamente.
Suspirei, limpando os fios inexistentes do meu vestido branco justo ao
corpo. Eu não havia bebido uma gota de álcool sequer desde a fatídica noite que
engravidei, não sabia ao certo por que, mas algo me dizia que álcool e Olivia
Turner não combinavam.
E eu achava melhor seguir essa intuição.
— Fiquei sabendo que Romeo está mais lindo que nunca. — Ouvi o
comentário cheio de malícia de Catarina, o que me fez rir. Ela não era uma
pessoa muito fácil de domar, e Romeo pior ainda.
— Aff. Romeo foi um horror da última vez que eu o vi. — Nicole
bufou, relembrando da noite em que foi anunciado a todos o noivado de Liza e
Ben. E meu amigo tomou todas e fez piadas sem graça em direção a ela.
Todos eles eram opostos, não podiam ficar juntos senão uma explosão
acontecia. Eu poderia até mesmo bancar o cupido, porém, eu era péssima em
meus próprios relacionamentos, imagine no dos outros. No fim, melhor não.

A viagem até Newport, Oregon, foi rápida e tranquila, acabei


adormecendo na poltrona do avião segundos depois, já que Archie estava
brincando com Catarina e Nicole. Suspirei, com meus pensamentos em
conflitos enquanto as seguia até o táxi que nos levaria a casa dos Monroe.
Observei a cidade pelas janelas, chegando à conclusão que não havia
mudado quase nada desde a última vez que pisei aqui. Lembro de gostar de
tomar café na Dalas e quanto amava o bolo de framboesa que eles faziam. E de
como eu passava as tardes enfurnada na biblioteca da cidade.
— Nostalgia é uma merda. — Ouvi Nic rir ao ouvir as palavras de
Catarina. Rolei os olhos. — É sério, a Olivia está aí, toda tensa com a sua volta
à cidade. Isso é loucura, e uma grande merda.
— Olha a boca, Catarina! — a ruiva ralhou com a outra, tampando os
ouvidos de Archie, que ria, divertindo-se com a situação.
— Ah, verdade! — Catarina exclamou suspirando. — Desculpe,
santinha dos ouvidos santificados.
Rimos, negando com a cabeça ao ouvir as besteiras que Catarina falava
por segundo. Era uma engraçadinha, os cabelos volumosos e loiros, com o rosto
em uma maquiagem leve, mas o batom vermelho chamava atenção em seus
lábios. Uma coisa que passava despercebido sobre ela, era que a mulher era uma
grande gênia dos números, tanto que alcançou sonhos altos ao ser contratada
como CFO da empresa de Eric, um dos primos de Elizabeth.
— Não é nostalgia, Cacá, são mais lembranças. Foi aqui que vivi a
maior parte da minha vida, um pedaço do meu coração sempre vai estar nesse
lugar — falei e meus olhos se encheram de lágrimas ao ver o bar culpado pela
primeira ressaca da minha vida. Sorri. — Mas a vida mudou, e eu não devo
ficar me lembrando de passado!
Neguei com a cabeça, mas logo em seguida fiz careta.
— Eu sei, Liv, é uma merda. Mas depois do pouco que você me disse,
com toda certeza ele vai estar lá e acho que você deve aproveitar a oportunidade
para contar a ele. — Engoli em seco ao ouvir as palavras de Nicole. Ela sempre
tão centrada, responsável e metódica, com toda certeza teria razão.
Como ele reagiria ao saber? Rejeitaria Archie? Eu não suportaria ver
alguém rejeitando ou maltratando meu filho. Se zangaria por passar anos sem
saber da existência do filho? Deus, isso era bem preocupante, pois isso poderia
fazê-lo querer tirar meu pequeno anjinho.
Isso me mataria completamente.

A mansão dos Monroe não era a única naquela região, mas de longe, a
mais bonita e elegante. A grama verdinha era vista de longe, cheia de palmeiras
que balançavam por causa do vento, mas adentro tinha o pequeno caminho de
pedras até a entrada da mansão, primeiro a área livre com várias redes dispostas,
sinal de que os convidados já começaram a chegar por aqui. A alguns metros da
praia, eu conseguia visualizar o mar azul se virasse minha cabeça para olhar.
— Acho que isso tudo só significa uma coisa — Catarina murmurou,
com Archie no colo. — Puta merda, os Monroe são muito fodas!
— CATARINA! — exclamei assustada, segurando o riso. — Se meu
filho falar um palavrão eu juro que corto sua língua.
Ela riu.
— Archie e eu vamos ter uma conversinha, ok? — ela falou ao meu
filho e a encarei com dúvida, vendo-a se distanciar para o meio das palmeiras
com meu filho no colo. Ele não foi colocado no chão um segundo sequer desde
que entramos no avião, sempre pulando do colo de uma para outra. O garoto
adorava todo aquele mimo.
Nicole riu, segurando a bolsa de mão, já que nossas bagagens foram
levadas aos nossos quartos por um empregado da mansão — achei estranho,
porém, não discuti, sabia que os Monroe eram cercados desses tipos de mimos.
— Digamos que Catarina é uma péssima influência para crianças —
comentou Nicole, fazendo-me suspirar.
Bom, não que minha família fosse muito abaixo deles. Só não tinha
tanto quanto. Papai, Michael Turner, foi um famoso escritor de polêmicas do
New, um jornal famoso em Newport, o que lhe rendeu uma boa aposentadoria.
E minha mãe é uma ex-estilista, ficou bastante tempo atuando junto a Hilary
Monroe, mas ela acabou saindo quando descobriu que estava grávida de mim,
voltou anos depois, mas se aposentou aos cinquenta anos.
Enquanto Hilary subiu mais e mais em sua carreira. Eu as admirava, foi
daí que veio minha vontade para estudar moda. Eu vivi com todas as teorias,
cores e desfiles, e quando eu finalmente cresci, só sabia de uma única coisa: eu
queria ser como elas.
— Com toda certeza ela é a pior das influências para crianças —
respondi enquanto caminhávamos em direção à mansão, com as mãos suando e
o coração palpitando.
Fomos abraçadas pela alegria da família Monroe assim que passamos
pela entrada da residência. Archie e Catarina já haviam voltado e estavam ao
nosso lado, enquanto Hilary caminhava em nossa direção. Na sala de estar bem
decorada e espaçosa estava os pais de Elizabeth, a avó, minha melhor amiga e o
noivo.
Hilary Monroe poderia ser definida em uma cor: amarelo. A cor da
alegria, pelo menos era isso que eu achava. Tão idêntica a todos daquela enorme
e poderosa família, a senhora Monroe tinha espessos cabelos loiros presos em
um coque estiloso no alto da cabeça, a blusa preta de seda marcava o busto
avantajado, e o corpo bem delineado por horas de academia estava escondido
embaixo da calça pantalona de alfaiataria preta. O sorriso constante no rosto
contracenava com belos olhos azuis, que me lembrava Elizabeth, e eu tive um
breve déjà-vu.
— Filha! — exclamou, espevitada, atraindo a atenção de todos na
pequena sala. — Querida, quanto tempo não vem ver sua mãe postiça.
Sorri, recebendo o abraço tão reconfortante quanto de alguém da
família. No fim, eles eram minha segunda família.
— Fiquei sabendo que você está na pista, querida. Rum, não gosto disso.
Minhas meninas foram feitas para viver um grande amor, e eu já consegui isso
com Liza, apesar dos pesares e não vou desistir de você. — Gargalhei com suas
palavras, afastamo-nos ainda de mãos dadas. Vi George Monroe se aproximar
com os braços dados com Liz e a vovó Monroe, que ria de alguma piada do
filho.
— Nem pensar, senhora Monroe — brinquei, vendo-a rir e abanar a
mão. Logo em seguida, Archie foi para seus braços, abandonando Catarina, que
ficou toda boba com a facilidade e amor que o meu pequeno emanava. —
Senhor Monroe — falei educada, antes de abraçá-lo.
Senti o cheiro típico de cigarro e perfume masculino, lembrando-me das
tardes que George Monroe e Michael Turner passavam assistindo jogos de
futebol americano na televisão.
— Querida, como está enorme. — Sorri, afastando-me e vendo o quão
generoso o tempo foi com todos. Nem sequer tinham cabelos brancos ainda. —
Fico feliz em vê-la tão linda e saudável, mas nada de casar-se, hein!? Já basta
essa loucura da Elizabeth.
Rimos, ele falava assim, mas amava Benjamin como um filho, apesar
dos ciúmes.
— Pode deixar. — Bati continência, passando para a vovó, que me
abraçou rindo e brincando, como todos na casa. Por fim, abracei minha melhor
amiga, sentindo o cheiro do seu perfume favorito. — Agr, estava morrendo de
saudade! — exclamei rindo enquanto ela me fazia pular em animação.
— Eu também, Liv — resmungou ainda abraçada a mim. — Tem tanta
gente da família que eu estou ficando sufocada. — Rimos, a família de
Elizabeth era enorme, e apesar de serem todos muito unidos e engraçados, uma
hora até isso cansava.
— Ah, finalmente eu cheguei para alegrar sua vidinha chata — zombei,
saindo do abraço.
— Hum, nada a ver. O que vai me tirar do tédio mesmo é esse gostoso
da tia — brincou fazendo voz de bebê para Archie que riu, escondendo o rosto
na curva do pescoço de Hilary. — Não se esconda, pequeno guerreiro, eu vou
encontrar você.
Sorri, caminhando até Benjamin, deixando-os babando no meu pequeno.
— Finalmente chegou o duende da festa. — Fiz careta com seu apelido.
— Como você está? — indagou, abraçando-me. Uma característica típica de
Benjamin era sua superproteção com todos, era engraçado e fofo aquilo.
O homem de quase um metro e noventa de altura, olhos escuros, cabelos
castanhos médios e o maxilar coberto por uma fina barba que era simplesmente
de tirar o fôlego, e ele combinava perfeitamente ao lado de Elizabeth Monroe, o
par perfeito.
— Estou bem, um pouco cansada. Andei quase correndo nos últimos
dias para entregar todos os pedidos na data certa antes de viajar, meus dedos
doem e minha mente protesta com a possibilidade de uns dias na praia. —
Rimos, afastei-me vendo seus olhos pregados em Archie no colo de Liz. —
Vocês vão ser pais tão babões. — Vi o sorriso genuíno nascer em Ben, e
observei seu novo visual com os óculos redondo de aro fininho.
— Ah, devo dizer que estou ansioso para isso. — Suspirei, vendo-o com
todo aquele olhar apaixonado para Liz.
— Perfeitos juntos — escapou dos meus lábios, fazendo-o sair dos seus
pensamentos.
— O que disse?
— Ah, você e Elizabeth, são tão perfeitos juntos que chega a doer. — Os
olhos de Benjamin brilharam com as minhas palavras. E eu tive certeza de que
aquele brilho era a meta de amor que toda mulher desejava.
— Sim, eu a amo tanto que não vejo a hora de estarmos oficialmente
casados. — Sorri. — Agora vá descansar. E tirar essas enormes bolsas dos
olhos. — Fiz careta para Benjamin e o vi rir da minha expressão.
— Ora, não posso descansar enquanto Archie não decidir que é legal
dormir — resmunguei.
— Vá dormir, mãezinha, não quero mais você. Apenas minha dinda
maravilhosa! — ouvi a voz de Liz, na verdade, a voz de robô que ela imitava,
causando risos em Archie.
— Não fale isso duas vezes, que juro que você vai ter que lidar com a
agitação de um garotinho de quatro anos e meio — falei e Eliza riu, beijando a
bochecha rosada do meu filho.
— Pode ir descansar, Liv, eu fico com ele, né, Archie? Mamãe pode
descansar? — perguntou olhando para ele.
— Pode sim, mamãe. Fico com a dinda — disse, abraçado a madrinha
que ele tanto amava.
Sorri, beijei sua bochecha e procurei saber em qual quarto da enorme
casa ficaríamos, assim que Liz me deixou lá, saiu correndo com Archie e eu
capotei na cama, sem nem mesmo tirar a roupa da viagem. Meu último
pensamento antes de adormecer foi: o que eu faria agora?
Eu não o havia visto. Mas será que ele já havia chegado? Será que ele se
lembraria? Será que reconheceria os traços dele em Archie?
O povo pensava que me fazia de boba. E com isso comecei a usar minha
lerdeza ou como eles pensavam “falta de noção” para observar coisas ao meu
redor, e descobri que às vezes saber um segredo pode ser angustiante. Era uma
pessoa observadora — mamãe dizia que isso era desculpa para não dizer
fofoqueira —, e no fim, eu passava mais tempo observando as pessoas do que
realmente falando.
Vi Olivia chegar com Archie e as meninas, rindo e conversando com
todos, mas eu conhecia aquela garota desde o jardim de infância, e apesar dela
nunca me contar a verdade sobre o pai de Archie, eu a amava e conseguia ler as
entrelinhas. Ela estava tensa. Eu via isso a quilômetros, e sabia o motivo.
Olivia sempre foi uma irmã para mim, cresceu na minha casa, comigo
passando noites na sua casa, e quando ela disse que estava grávida, eu tentei
descobrir de quem era aquela criança, mas ela nunca me contou.
E a partir disso, evitou todos os encontros da minha família.
Eu nunca consegui fazê-la dizer em voz alta sobre o nome do pai de
Archie, mas a minha amiga era fraca para bebida e quase vacilou. Várias vezes.
Observar me fez juntar tudo, criando um grande mosaico.
Eu sabia de uma coisa, foi o primeiro homem da sua vida, então concluí
que não havia como ser ninguém mais, pois ela ficou grávida depois da sua
festa de aniversário e descobriu isso poucas semanas depois. E os únicos
rapazes que estavam em sua festa não conseguiriam gerar a lindeza que era meu
sobrinho.
Não mesmo.
Foquei no momento desviando meus pensamentos. Justin riu de algo
que Benjamin disse e eu me aproximei caminhando até onde estavam e
segurando Archie pela mão.
Eu sabia que estava fazendo algo que poderia me arrepender, mas Liv
vivia cercada de amigos, e queria alguém para amar. Já Justin não tinha nenhum
dos dois.
Justin costumava dizer que nunca amaria ninguém como amou Aubrey,
mas eu sabia que isso não era totalmente verdade. O coração humano é feito
para amar, e mesmo que a gente recusasse isso, ele continuava latejando por
sentimentos intensos, a esposa deles.
— Bebendo, Justin, você está velho para isso, daqui a pouco cai no mar
— brinquei, aproximando-me, Ben pegou Archie no colo enquanto me sentei no
meio dos dois, encarando meu primo com um sorriso enviesado.
Ele suspirou.
— Eu não gosto desse seu sorriso, Elizabeth — retrucou, olhando
brevemente para Archie e fazendo um vinco se formar entre suas sobrancelhas.
— Mas me diga, noiva, feliz?
Tornei a rolar os olhos quando ele focou em mim novamente, não
percebendo a semelhança clara entre ele e seu filho.
— Melhor do que nunca — foi tudo que disse, afastando-me levemente
para encarar Archie e em seguida, Justin. Vendo que eles tinham até mesmo o
estilo de roupa parecido.
Sorri, pensando em quão perfeito seria quando tudo se acertasse e eles
pudessem ser uma família. Uma família grande e feliz, pois Olivia e Justin
mereciam. Mereciam muito tudo isso.
Justin Monroe era simplesmente maravilhoso, e ele sabia disso. Alto,
forte e com um péssimo gosto de roupas em tons escuros, o cabelo loiro se
destacava, os olhos azuis davam um ar ainda mais lindo a ele. O maxilar
travado e coberto por uma fina barba finalizava o visual característico de um
Monroe.
— Este é Archie Turner, filho de Liv — apresentei meu pequeno, que
estendeu a mãozinha de forma fofa.
— Prazer, senhor. — Sorrimos com a formalidade do garoto. — O que
vocês tão rindo? — indagou com curiosidade, Justin apertou a mão de Archie,
encarando-o com intensidade. Senti meus olhos úmidos ao ver quanto tempo se
passou, o que eles perderam da vida um do outro, e eu só podia sentir meu
coração se enchendo de dor e felicidade ao vê-los finalmente juntos.
— Prazer, Archie, me chame de Justin — Justin respondeu sorrindo para
Archie, eu sufoquei o suspiro ao ver a semelhança entre eles. Os cabelos loiros
idênticos, os olhos, e o sorriso. Tão parecidos que chegava a doer.
Olivia não teve muita sorte com a aparência de Archie, já que o menino
era uma cópia fiel ao pai, até mesmo na personalidade mais introvertida,
enquanto a mãe era dada a atos exagerados.
Archie fez uma expressão pensativa, logo em seguida sorriu, estendendo
os bracinhos para Justin, que sorriu com garoto dengoso que se exibia depois
que passava a fachada mais séria, porém meu primo o pegou no colo,
bagunçando os cabelos loirinhos.
Eu sentia a estupidez do meu primo de longe, ou ele não lembrava da
noite que ele e Olivia se emaranharam na cama, ou se fazia de louco, pois as
pistas brincavam na sua frente e ele continuava lá.
— Ah, e eu vou ser o novinho — contou Archie, mexendo as mãos
enquanto estava sentado no colo de Justin, que ouvia tudo atentamente.
— Vou ali, querida — Benjamin disse, antes de beijar meus lábios e se
retirar. Suspirei, voltando-me para os meninos.
— Vamos, Archie? Tenho que chamar as meninas para o lanche da
tarde. — Fiz careta para a programação exagerada da mamãe. Justin riu,
beijando a bochecha do pequeno e em seguida fizeram um cumprimento.
— Alguma dama de honra bonita e não pirada? — ele perguntou, com
um sorriso sacana no rosto.
— Agora você quer uma das minhas damas de honra — debochei.
— Sim, mas não para casar — avisou, fazendo-me rolar os olhos.
— Não, além de... — Justin não me deixou terminar.
— Não, Elizabeth, Olivia nem pensar. — Suspirei, mantendo minha
boca fechada, pois Archie estava atento à nossa conversa.
— Por que não? — indaguei intrometida.
— Nem vi Olivia, não sei nem se temos isso, Elizabeth, além do mais,
ela é meio louca pela ideia de um amor. — Fez careta, fazendo-me rir.
— Essa Olivia que você se lembra tinha doze anos, Justin, você não
pode julgar alguém pelo seu passado. — Ele riu, negando com a cabeça.
— Mesmo assim, eu recuso. — Revirei os olhos.
— Dinda, por que ele não gosta da minha mamãe? — Archie perguntou,
olhando de mim para Justin e novamente para mim.
Abri a boca, vendo meu primo corar.
— Não é que eu não goste, Archie, na verdade, a Olivia que estamos
falando não é nem sua mamãe. Entende, querido? — Justin tentou explicar sua
falha, isso me fez rir. Archie pareceu não acreditar muito nas palavras dele, mas
assentiu.
Virou-se para mim, com um biquinho manhoso na boca.
— Quero minha mamãe.
Sorri.
— Vem, amor, vamos buscar sua mamãe. Deixa esse chato aí. — Peguei
a mão do meu sobrinho e caminhei de volta para a mansão, passando por vários
parentes e amigos mais próximos que já estavam hospedados por aqui. Cheguei
a uma única conclusão: meu trabalho de cupido não seria nada fácil, porém, eu
nunca fui uma pessoa que desistia fácil.
Eu ainda iria receber um convite com o nome de Olivia Turner & Justin
Monroe lhe convidam para a cerimônia de enlace matrimonial. Ou eu não me
chamava Elizabeth Monroe.
Ah, e eu ainda teria muitos sobrinhos, todos loirinhos e tão especiais
quanto Archie. Suspirei, feliz com meus planos de cupido. Contudo, sabendo
que teria muita tarefa pela frente.
Sorri das palavras de Elizabeth sobre os preparativos, enquanto comia
meu bolinho de laranja com chocolate no meio, observando Archie brincar
animadamente com Caroline — sobrinha de Benjamin.
— Oh, sim. Claro que sim, inclusive, a despedida de solteira está sendo
organizada por mim e a vovó, minha avó é velhinha, mas a criatividade dá de
dez a zero na minha. — Eu a ouvi parar e rimos com a avó dela planejando a
despedida.
Suspirei, bebendo um gole do suco de laranja, que desceu de forma
ácida. Lembrei-me da forma que Archie ria para Justin quando ele pegou meu
filho no colo, senti meu coração pequeno com a cena.
Sim, eu havia visto. Tinha acabado de acordar e observava a
movimentação da mansão pela janela do quarto, quando vi Elizabeth se
movimentar com Archie, conversando e rindo até chegar a Justin, que tratou
meu pequeno cheio de sorrisos.
Fechei os olhos, sentindo a dor de cabeça se aproximar, enquanto
engolia em seco sem saber como agir. Uma hora eu iria encará-lo de alguma
forma, só que o medo de que as palavras pulassem da minha boca era enorme,
porém, maior ainda era o medo da forma que ele reagiria.
— Liv! — Catarina me chamou, balancei a cabeça, respondendo de
forma lenta. — Credo, garota. Estava voando.
Sorri, desculpando-me. Não estava me sentindo muito confortável,
estava até mesmo pensando em ficar na casa dos meus pais até a cerimônia, mas
sabia que Liza ficaria decepcionada.
Melhor não.
— Ah, estou com uma dorzinha chata de cabeça — murmurei,
arregalando os olhos ao ver Archie e Carol com os cabelos cheio de areia. —
Deus é mais... — As meninas viraram, para ver o que me causara tamanho
espanto, e riram da cara de traquina dos dois. — Crianças...
Suspirando, concordei que eram as coisinhas mais lindas, mas que no
fim, conseguiam colocar uma casa de pernas para o ar.
— Bom, mas estávamos falando da despedida de solteira, né? — Liza
assentiu diante o questionamento de Catarina, olhando-me estranho. — Estou
ansiosa, sempre imaginei despedidas de solteiras, acho uma coisa superlegal.
Elas riram do meu exagero, e engatamos na conversa, vira e mexe,
voltando ao ponto do café da manhã das damas de honra e seus companheiros,
junto à noiva e noivo, uma oportunidade perfeita para eu ficar ainda mais tensa.
— Ah, não se esqueçam do café da manhã. Senão irei arrancar todas de
suas camas. — Revirei os olhos para as palavras de Liza. — Não revire os olhos
para mim, mocinha — ralhou comigo, como fazia quando éramos adolescentes.
— Ok, mamãe — respondi irônica, vendo-a rir como criança.
— Certo — Nic interveio. — Não vamos precisar de nenhuma ação
contra a noiva como no filme “a vingança das damas de honra”, né? — Rimos
com a referência. — Ah, não, gente. Minha parte preferida é quando as meninas
pegam a noiva e a colocam contra a parede, simplesmente, magnífico. Um dia
ainda irei usar uma cena dessas em minha vida.
Gargalhei, lembrando-me da comédia romântica que sempre estava na
nossa lista de filmes nas noites de pijama, que agora não era nem mais tão
frequente, porém, deixava saudades.
— Nada a ver, Nicole. A parte perfeita é quando elas rasgam o vestido
da noiva... — Catarina comentou e abriu os braços para expressar sua felicidade
pela vingança maléfica de Abigail e Parker. — Simplesmente perfeito, eu faria
o mesmo.
Tornei a rir. Aquele ato era realmente algo de Catarina, enquanto Nicole
apelaria para o lado racional da situação.
— E a sua, Liv? — Elizabeth indagou, batendo palmas, esquecendo
completamente do porquê que estávamos ali.
— Eu adoro as cenas que tudo começa a dar errado para aquela noiva
fajuta. — Revirei os olhos, em meio a um suspiro. — O pula-pula de parque, as
flores erradas, as estátuas de gelo. — Tornei a suspirar. — Melhor vingança da
vida.
Continuamos falando sobre a comédia romântica, logo pulando para as
outras e quando vi, o sol já se punha no horizonte, o jantar seria servido em
breve e eu achei melhor levar Archie para um banho, já que ele estava
parecendo um porquinho, com areia até onde não deveria existir.
Fiz tudo em modo meio automático, respondendo ao que meu filho
perguntava, ajudando-o a tomar banho e brincando com ele de forma
automática, pois estava tão tensa que pensei que a qualquer momento
desmaiaria no chão. Assim que eu terminei de vesti-lo, ele se enrolou no meio
da cama.
— Nada de dormir, Archie, ainda não jantou — resmunguei. Ele me
encarou, abrindo os olhinhos e fazendo bico. A cena era tão clássica que me fez
sorrir para ele.
— Só um pouquinho, ok, mamãe? — perguntou juntando os dedinhos
um próximo ao outro, fazendo-me rir.
— Só um pouquinho — confirmei, ele logo se virou de costas, puxando
o lençol para cima de si, e eu entrei no banho, demorando embaixo do chuveiro
sentindo meus dedos se enrugando com a água gelada.
Eu deveria falar, eu sei que deveria. Mas não sabia como fazer isso, não
era tão fácil assim. Como chegaria no pai do seu filho, cinco anos depois e diria
que escondi a existência dele?
Senti as lágrimas salgadas de arrependimento se misturar com a água
enquanto eu abraçava a mim mesma, sentindo raiva e mágoa das minhas
próprias decisões. Por que eu não enfrentei o problema de frente anos atrás? Eu
simplesmente era muito medrosa, achei que ele recusaria, estava no auge da
vida e não iria querer um filho. Que sua família não aprovaria, um filho fora de
um relacionamento, ou ele até mesmo poderia dizer que aquele filho não era
dele.
Eram muitas questões, todas elas doíam meu coração, partia a cada vez
que eu olhava para Archie e o via crescer, sem conhecer seu pai, sem ter o
menor conhecimento de amor paterno. Vê-los juntos abriu algo dentro do meu
peito, fazendo-me ver com ainda mais visibilidade a semelhança entre os dois.
Saí do banho meia hora depois, com meu corpo tremendo pelo frio,
enrolei-me no roupão macio e quentinho, sentando-se na cadeira perto do
guarda-roupa. Encarei minhas mãos, enrugadas enquanto as lágrimas insistiam
em cair.
Sabia o que fazer. Exatamente o que eu tinha que ter feito cinco anos
atrás, mas novamente, eu não sabia como.
Sorri para imagem do meu filho dormindo de boca aberta, o lençol
cobrindo parcialmente o corpo pequenininho, as bochechas rosadas, os enormes
cílios, os cabelos caindo sobre a sobrancelha e eu senti meu coração pequeno.
Eles eram idênticos. Não havia nada de mim em Archie, ele era a cópia
perfeita do pai. Nem sabia como ele não havia notado isso.
Entrei dentro do vestido rosa, rodado que ia até a o joelho, calçando
minhas sandálias trançadas na frente, prendi meu cabelo no alto da cabeça,
passando pouca maquiagem no rosto, apenas para disfarçar a cara de quem
havia chorado horrores. Passei meu perfume favorito, que eu usava desde que
tinha quinze anos, e caminhei para cama, pronta para acordar Archie, mas foi só
me aproximar que um sorriso bobo saiu dos meus lábios.
Passei meus dedos em seu cabelo, sua bochecha e me inclinei para beijar
o rostinho com cheiro de bebê, sorri com isso, apaixonada demais pelo meu
filho para continuar privando-o de algo.
Eu iria contar. Era fácil, bastava eu ficar longe de qualquer contato a
mais com Justin Monroe, pedir para falar com ele em particular, mas com
alguém de confiança por perto, e contar a ele como tudo aconteceu. Pedir
perdão e implorar caso ele quisesse tirar meu filho. Sim, implorar. Eu faria
qualquer coisa para continuar com meu anjinho, nada no mundo o tiraria de
mim.
— Archie, querido, vem, acorde. — Ele resmungou, virando para o
outro lado. Sorri. — Ah, sim. Vou deixar meu bebê dormir, mas que pena, fiquei
sabendo que terá bombas de chocolate da tia Beck.
Ele se sentou, coçando os olhos, sonolento, fazendo-me gargalhar.
— Não, Archie quer bombas de chocolate. — Eu o peguei no colo,
ainda rindo enquanto caminhávamos para fora. Archie Turner amava chocolate
da mesma forma que amava super-heróis. — Mamãe, o tio Romeo vai chegar
quando?
Encarei-o, pensativa. Estava me fazendo a mesma pergunta, Romeo
ainda não havia chegado, e isso me preocupava, pois Elizabeth já estava ficando
louca com o atraso do primo.
— Não sei, querido. Espero que em breve — respondi, trancando a porta
do quarto, ouvi passos do outro lado, atraindo minha atenção. Tentei não me
mostrar tão surpresa ao ver Justin Monroe saindo do quarto em frente do meu.
Ele nos encarou abrindo um sorriso ao ver Archie em meus braços.
— E aí, garotão? — falou, fazendo um movimento com as mãos junto a
Archie, o que fez o menino rir e estender o braços a Justin. Arregalei os olhos.
— Filho! Você não pode sair pedindo colo para todo mundo. — Meu
menino riu, porém não abaixou os bracinhos, e logo estava nos braços do pai,
que ele ainda não conhecia como pai.
Meu coração se apertou.
Justin sorriu com isso.
— Ah, mamãe, é o tio Justin. Eu conheço ele. — Deu de ombros,
fazendo-me rir. Justin me encarou de verdade pela primeira vez desde que nos
encontramos no corredor, os olhos azuis analisando-me de modo demorado,
fazendo minhas bochechas corarem.
Justin estava mais lindo do que nunca, disso eu tinha plena certeza. O
cabelo loiro escureceu com o tempo, as covinhas se tornaram mais evidentes, e
o sorriso mais aberto. O suéter azul marinho destacava o tom dos olhos, com as
pernas grossas abraçadas a uma calça jeans e fiz essa análise o mais breve
possível.
Chegando à conclusão de que ele estava mais gostoso do que a última
vez que o vi.
— Olá, Olivia. — Tentei não me sentir afetada com a forma que meu
nome soou em sua boca. Sorri, na verdade, forcei um sorriso.
— Olá, Justin — respondi rápido. Cocei a garganta, tentando controlar
meus olhos, que procuravam pela aliança que deveria estar no seu dedo anelar,
mas nada encontrei. Engoli em seco com o susto desta constatação. — Vamos
descer?
Ele assentiu, descendo as escadas de dois em dois, fazendo Archie pular
em seu colo, causando risos altos nos dois. Desci mais atrás, sentindo-me
excluída e com medo.
Visivelmente, meu filho já o adorava. Como reagiria ao saber que ele era
seu pai? Bom, eu duvidava muito que fosse algo diferente. Archie já tinha por
ele aquela fascinação que apenas Benjamin, Alex e Romeo haviam conseguido.
Ele já o amava, sem nem mesmo o conhecer. Archie tinha essa
personalidade, era aberto demais a novos sentimentos, novas pessoas. Enquanto
eu parecia um casulo, negava-me a cada mísera mudança.
Elizabeth foi a primeira a ver a cena dos dois, juntando-se na bagunça
que eles criaram, Justin fazia aviãozinho com Archie, levantando-o para cima e
girando-o, o que fez o menino rir até se deitar no chão da sala, cansado.
Eu me senti perdida durante todo o jantar, com um bolo se formando na
garganta a cada vez que eu via meu filho pulando de colo para colo, brincando
com a família de Elizabeth, sorrindo e sendo bem recebido por todos.
Era um encontro de almas que, mesmo sem saber, se reconheciam. E eu
me senti triste, por tê-lo tirado isso.
Ouvi a cadeira ao meu lado ser puxada assim que o jantar acabou, e o
vinho foi servido enquanto as pessoas se dissipavam pela casa. Sabia quem
estava sentado ao meu lado, sua presença era imposta de forma que eu não
precisava olhar para saber.
— Posso saber o porquê dessa cara? — indagou Justin, fazendo-me
encarar o prato vazio. — Ah, ainda está com fome?
Não evitei o sorriso, lembrando-me de todas as vezes que ele vinha
passar as férias na casa de Elizabeth, junto com Romeo, e todos os nossos
colegas, fazíamos a festa em Nye Beach, como crianças ávidas pela vida.
Era bom ter lembranças felizes com Justin, pois eu tinha a certeza de
que em breve não seria assim.
— Ah, não. Eu estou bem. — Forcei um sorriso. — Você não tinha se
casado?
As palavras pularam no segundo depois, coloquei a mão sobre a boca.
Fazendo-o travar, e sorrir de leve em seguida.
— Sim, mas ela faleceu, há dois anos. — Soltei um suspiro desajeitado
com a revelação, e saberia disso se tivesse procurado saber da vida do pai do
meu filho. — Acidente de carro.
Soltei um arquejo, encarando a mesa novamente.
— Eu sinto muito — gaguejei, fora de foco. Encarei-o novamente. —
Eu não fiquei sabendo.
O sorriso em seu rosto era automático. Como se Justin tivesse ensaiado
isso nos últimos anos.
— Tudo bem, acho que foi superado. — O seu tom dizia tudo, menos
que havia sido superado.
— Hum... — murmurei. — Pensei que ainda estivesse, Elizabeth não
havia comentado nada. — Era a única coisa que eu poderia falar sem correr o
risco de vacilar.
— Sim, eu pedi uma certa descrição sobre o assunto. Não é algo que eu
goste muito de lembrar. — Assenti, como quem compreendia, mas no fim, eu
não entendia nada. Não entendia a dor de perder quem se amava. Acho que não
queria saber, pois no fim, me conhecia e sabia que não era forte o bastante.
— E você, como tem sido a vida de mãe? Confesso que fiquei surpreso,
também não comentaram nada comigo. — Engoli em seco, tendo certeza de que
estava entrando em um assunto perigoso. Mas não podia deixar de notar o quão
superficial a conversa parecia.
— Ah, tem sido uma mistura de sentimentos. Archie é a razão para que
eu todo dia acorde e tente fazer o melhor, ele é, na verdade, a melhor coisa que
aconteceu em muito tempo, apesar de todas as dificuldades impostas. — Senti
meus olhos úmidos, porém, assustei-me ao sentir sua mão quente sobre a minha
em meu colo.
Ele percebeu meu susto, e retirou o gesto, sorrindo.
— Ele é muito especial, a gente vê isso na forma que ele se dá tão bem
com todos. — Rimos ao ver Archie e senhor Monroe fazer uma competição de
caretas. — Está meio lotado aqui, e todos parecem bem, que tal tomar um vinho
e ver as ondas?
Minha mente travou. A última vez que eu misturei algum tipo de bebida
e Justin Monroe eu terminei em sua cama, perdi minha virgindade e isso me
trouxe um filho. Isso seria uma boa ideia?
— Ah, vai, Liv. Pelos velhos tempos... — Piscou, sorrindo e eu tive
plena certeza de que ele tinha lembranças daquela noite. Senti meu estômago se
revirando enquanto permanecia sentada, ereta e dura na cadeira. Justin levantou,
pegando uma garrafa de vinho quase cheia e duas taças vazias, estendeu a mão,
que eu aceitei depois de muito pensar, sentindo minhas bochechas vermelhas
enquanto saímos do recinto, encontrando Elizabeth e Benjamin aos beijos no
caminho, porém, isso não impediu que ela nos lançasse um olhar cheio de
curiosidade.
— Aonde vão? — indagou, franzindo o cenho.
— À praia — Justin respondeu por mim, balançando a garrafa no ar,
como se explicasse tudo.
Elizabeth tentou esconder o sorriso, mas eu notei, mesmo assim, não
evitando revirar os olhos.
— Certo... — Ben disse incerto, e nós nos afastamos com pressa. Estava
mais atrás, observando Justin caminhar em minha frente. Observando os
ombros largos dentro do suéter, movendo-se e isso atraiu minha atenção
novamente para todo seu corpo.
Não. Eu não podia complicar as coisas ainda mais.
— Não posso demorar muito, Justin, Archie pode notar minha ausência
— falei tirando minhas sandálias para sentir a areia contra meus pés.
— Calma, Liv. Tenho plena certeza de que todos naquela casa estão de
olho no pequeno. — Piscou novamente, meu corpo tombou ao seu e eu dei um
passo para trás, afastando-me o máximo que consegui. Observei o sorriso
sacana que Justin Monroe me lançou. Encheu as taças de vinho, estendendo-me
uma. — Pelos velhos tempos.
Brindamos sorrindo um para o outro, e mesmo com aquela sensação de
que estava pisando em um chão falso, eu prossegui, permitindo-me apreciar a
companhia daquele homem.
Mesmo sabendo as contraindicações.
Mesmo tendo um segredo que o envolvia.
Eu acho que estava hipnotizado.
Eu não sabia explicar a razão dos meus atos.
Pois no instante que vi Olivia Turner segurando o garoto espertinho
entre os braços, senti meu coração vacilar e a imagem da noite de cinco anos
atrás voltou com força em minha mente. Mas, naquela época, Olivia não
chegava nem à metade de tudo que estava hoje.
Ela era mãe, estava mais velha, mais bonita e consequentemente, mexeu
comigo. Como ninguém fez desde que conheci minha falecida esposa. Acredito
que não seja nada próximo ao que houve com Aubrey.
E talvez fosse praga de Elizabeth, mas segui meus atos impulsivos,
aproximando-me dela durante o jantar. E foi ali que paramos, na beira da praia,
encarando as ondas quebrando, ouvindo a música alta de fundo e a vendo
dançar em minha frente, sem ligar se os passos pareciam certos.
Com toda certeza, efeito do vinho que ingeriu.
Ela riu, jogando a cabeça para trás enquanto dançava, balançando no
ritmo da música que vinha da mansão, os pés descalços afundados na areia, eu
vi a menina que eu conhecia desde sempre se mostrar mais velha, mais
divertida.
Franzi o cenho, com aquela estranha sensação de não estar percebendo
algo, porém, o movimento das pernas bronzeadas de Olivia à medida em que ela
se balançava me fez desviar o pensamento.
Olivia e eu nunca fomos melhores amigos nem nada do tipo, apesar de
ela estar sempre por perto, eu a via como a garotinha melhor amiga da minha
prima, nada mais, e nem sabia o porquê de ter me aproximado dela depois do
jantar. Foi um ato impensado, e quando vi, já estava lá.
Ela havia mudado muito com o passar do tempo, hoje até mesmo tinha
um filho. Archie era a coisa mais linda, pequenininho e doce, lembrava-me
muito alguém, mas nada me vinha à mente.
— Ah, Justin, vem! — ela exclamou, puxando-me pela mão para
levantar-me da areia fofinha, o movimento colou nossos corpos balançando no
ritmo lento, fazendo-me sentir o cheiro do mesmo perfume que ela usava há
cinco anos.
Quando nos embolamos em uma cama, altos pela bebida e fizemos sexo
por uma grande parte da noite. Sim, eu me lembro, não tanto quanto eu gostaria
de lembrar, mas eu só tinha uma única certeza: fui o primeiro homem que
esteve com Olivia.
Aquilo me assustou por um longo tempo, pois, poxa vida, era Olivia.
Mas quando o choque passou, eu vi que sem dúvidas fora uma noite
sensacional. Ela era praticamente uma menina, mas não deixou nada a desejar.
Eu sei que eu deveria a ter procurado depois disso, me certificado que
ela estava bem, mas eu não o fiz, e hoje me arrependo por isso. Pois poderia ter
feito as coisas como um homem de verdade, mas poucos meses depois já estava
de casamento marcado com Aubrey.
Porém, talvez tenha sido o destino. Eu não merecia a mulher que ela era.
Apesar do meu corpo visivelmente reagir ao dela. A mulher era boa demais para
mim. Inteligente, decidida, divertida...
Enquanto eu só tinha solidão e um punhado de sentimentos cheios de
conflitos.
No fim da noite, observei seu rosto tranquilo enquanto ela ressonava
baixinho, completamente alheia à minha bagunça interior. Olivia deitou no chão
da praia e adormeceu, eu a trouxe de volta assim que tive certeza de que todos
na mansão já estavam dormindo.
E agora, eu estava aqui, petrificado no lugar, sem acreditar na beleza e
leveza que aquela mulher emanava.
Eu não tinha um coração livre para novos sentimentos. E por isso estava
aqui, encarando aquela novidade em meu caminho, sem conseguir me afastar.
Fechei os olhos, tirei minha blusa cheia de areia, jogando em um ponto
qualquer do quarto. Tranquei a porta para tirar a calça jeans, substituindo por
um short. Eu odiava dormir vestido, mas sabia que se Olivia acordasse primeiro
e nos visse quase pelados, ela surtaria.
E eu me deitei ao seu lado, dando espaço a ela. Meu último pensamento
ao dormir foi Archie — que tinha sido colocado na cama por Elizabeth, a meu
pedido —, o sorriso aberto e doce do menino. Senti meu coração apertado com
isso, mas ignorei a sensação. Não deveria ser nada demais.
Despertei com pressa, o corpo suando e minha cabeça girando de modo
assustador. O corpo de Justin abraçado ao meu foi a primeira coisa que eu
consegui distinguir em meio a um bilhão de pensamentos. Soltei um arquejo de
surpresa. Não. Não. Não. Eu não havia feito isso, havia? De novo? Caralho, eu
sabia que Justin e qualquer dose de álcool era demais para mim.
— Ei, pode parar por aí. Não fizemos nada. — Escutei sua voz, seu
corpo soltou-se do meu, e eu gritei, caindo da cama no alvoroço. Escutei a
gargalhada alta de Justin, que segurava a barriga de tanto rir.
— AI MEU DEUS — ofeguei, sentando-me novamente, notando meu
corpo vestido pela camiseta masculina que deduzi ser dele. — Como eu parei
dentro das suas roupas?! — perguntei, puxando a blusa para baixo.
Ele continuava rindo, porém quando finalmente parou, encarou-me, com
os olhos azuis que pareciam me despir ainda mais. Eu me remexi incomodada,
não gostava da forma que os olhares de Justin mexiam comigo.
— Não se preocupe, Liv. Não cometemos o mesmo erro de cinco anos
atrás, apesar de eu dizer que não foi, propriamente, um erro. — Abri a boca em
choque, tornei a fechá-la e abri-la por mais algumas vezes, como um peixe fora
d’água.
— Você se lembra? — indaguei em um fio de voz, lembrando-me do
propósito que havia feito comigo mesma ontem, antes de sair do quarto. Ele
sorriu de lado, e senti uma leve ansiedade em meu corpo com a beleza natural
daquele homem. Senti vontade de beijá-lo, mas eu já tinha muitos problemas
para arriscar mais um.
— Sim, eu me lembro. Não com muitos detalhes, estávamos meio alto.
Mas eu me lembro de bastante coisa — fez uma pausa, engoli em seco, sem
saber o que falar —, e eu me culpei por um tempo por ter tirado algo tão
importante de você.
Arregalei os olhos, ele riu da minha expressão, aproximou-se, tocando
minha bochecha com a mão livre, enquanto a outra se apoiava na cama.
— Você, Olivia, era apenas uma garota. — Rolei os olhos, eu não era
tão nova assim. — E eu me senti deslocado com a beleza de uma pessoa tão
inexperiente. Agora eu vejo, que você só estava se tornando o que é hoje, uma
mulher excepcional.
Sua mão em minha bochecha enviava calafrios pelo meu corpo, que
estava ereto, duro e incomodado com a atração que queria faiscar dentro de
mim, mas estava reprimida a qualquer custo. Abri a boca, pronta para falar.
— Eu preciso... — A imagem de Archie me veio à mente, dele sendo
feliz ao lado dos familiares na noite anterior, e a possibilidade de que Justin
poderia tirar meu menino bateu com força.
— Você precisa do que, Liv? — indagou e eu pulei da cama. Colocando
toda a distância que eu precisava entre nós.
— Nada... — falei pensativa, vi seus olhos desenharem meu corpo,
passando pela camisa meio aberta na região dos seios, descendo para minhas
coxas parcialmente cobertas. Caminhei rápido para o banheiro, segurando a
peça branca contra meu corpo, escutando uma risadinha sacana vir dele. —
Como foi que eu fui parar nessa blusa?! — quase gritei, para ele.
— Ah, doce Liv, um mestre nunca revela seus segredos — respondeu
sacana, fazendo-me rir. Enquanto eu procurava pelas minhas roupas,
encontrando-as em meio as dele em cima da pia de mármore. Vesti-me com
pressa, lembrando-me da forma que deixei Archie no jantar.
Que tipo de mãe eu era?! A pior de todas, claro. Saí do banheiro
resmungando comigo mesma, e estanquei no lugar, ao ver Justin e Archie
sentados na cama, rindo e brincando como se fossem velhos amigos.
— MAMÃE! — meu pequeno exclamou, pulando em pé e estendendo
os bracinhos. Ele ainda estava vestindo o pijama de carros que ele tanto amava.
Sorri, pegando-o no colo. — Mamãe, a dinda cuidou de mim e nós assistimos
os incríveis e comemos pipoca com brigadeiro — tagarelou, contando-me como
foi a noite ao lado de Elizabeth, fazendo-me rir de toda sua animação.
Sentei-me na beirada da cama de Justin, para beijar a bochecha de
Archie e sorri para cada palavra que ele emitia.
— Aí, quando o filme acabou, o tio Ben estava dormindo e roncava
parecendo um urso! — Gargalhamos, coloquei Archie no chão, segurando sua
mão. — A senhora estava onde? — indagou, encarando-me com aqueles
olhinhos pidões que eu tanto amava.
— O Justin levou a mamãe para um pequeno passeio — tentei explicar
sem mentir ao meu filho, ele encarou Justin, e voltou-se para mim. Deu os
ombros e disse:
— Ah, eu gosto do tio Justin. — Simples, ele achava que resolvia todos
os problemas da mamãe em simplesmente gostar de Justin.
— Eu gosto do Archie também — ele respondeu ao meu filho, pegando-
o no colo e girando-o, como ontem à noite, arrancando gargalhadas dele.
Deus. Eu tinha que fazer isso, eu tinha que contar a ele. Não era justo
guardar esse segredo só para mim, eu queria falar, mas algo me prendia, talvez
o medo do que poderia acontecer. Senti meus olhos úmidos e os olhos dos dois
se focaram em mim segundos depois.
— Tá tudo bem, mamãe? — Archie perguntou, quando Justin o colocou
sobre a cama novamente. Ele caminhou sobre o colchão, parando em minha
frente.
— Está sim, querido. Vem, temos que ligar para o tio Romeo e ver onde
aquele malandro se meteu — o chamei brincando, fazendo-o rir.
— É, tio Justin. O senhor tá sabendo? Meu tio Romeo é um malandrinho
— Archie disse, balançando o indicador na frente do rosto, arrancando risos de
Justin, que se abaixou, ficando cara a cara com Archie.
— Eu conheço Romeo, e ele com toda certeza é um malandro mesmo —
confirmou, fazendo meu pequeno juntar as mãozinhas em concha na frente dos
lábios, dando uma risadinha gostosa.
Levei Archie para o quarto, para nos prepararmos para o café da manhã
de iniciação. Temi por isso, esperava que apenas Elizabeth tivesse visto minha
fuga com Justin, senão iria ter que explicar a todas elas o que eu estava fazendo
com Justin Monroe. E isso com toda certeza não era algo que me agradava.
De hoje não passava. Justin precisava saber da verdade.

— Onde você está, Romeo?! Sua prima vai ficar louca se você não
chegar o mais rápido possível. — Rolei os olhos, sentando na bancada da
cozinha enquanto ouvia resmungos das minhas amigas na sala, estava tentando
falar com Romeo há meia hora e nada, ele finalmente atendeu minha chamada
depois de muita insistência.
— Ah, Liv. Meu amor... — Segurei o riso ao ouvir a voz masculina
tentando me ganhar com seu charme. Quando eu falei que Romeo era um
malandro, eu não estava brincando. — Minha viagem atrasou, mas fale para a
sem sal da Elizabeth que estou a caminho.
Revirei os olhos, ele e a prima não tinham jeito. Qualquer coisa era
motivo de implicância.
— Não quero saber, Romeo! Quero você aqui neste bendito fim de
mundo antes do café da manhã para as damas de honras e seus pares. Ah, ou eu
preciso refrescar sua memória de que eu sou seu par? — esbravejei, escutando
sua risada sacana. Eu tinha plena certeza de que ele já estava na cidade, e estava
enrolando para encontrar sua família.
— Mamãe! Mamãe! É o tio Romeo Malandrinho?! — Archie perguntou,
pulando de um pé para o outro em animação.
— É sim, querido. Quer falar com ele? — indaguei, vendo-o balançar a
cabeça com rapidez.
— Posso saber por que seu filho está me chamando de Romeo
Malandrinho? — Segurei o riso. — Olivia Turner, você é o amor da minha vida,
mas odeio quando você me dá apelidos tão poucos masculinos e viril como eu.
Rolei os olhos diante sua petulância, rindo com isso. Romeo era uma
peça.
— Ah, querido, amor da minha vida, escapou né? E sabe, nada passa
despercebido pelas crianças. — Podia vê-lo rindo e rolando os belos olhos.
— Ah, tanto faz. Passe para o Archie. — Sorri, atendendo ao pedido e
entreguei o celular ao meu filho, que riu de algo que Romeo disse e saiu da
cozinha, conversando com o seu tio malandrinho.
Olhei da cozinha em direção à sala, onde Catarina e Nicole brigavam
pela cor que combinava melhor com o vestido que usaríamos no casamento, e
me perdi em meio a xingamentos nada delicados da loira com protestos
exasperados da ruiva. Segurei o riso, vendo Elizabeth tentar intervir entre as
duas, pelo bem da humanidade.
— Pensativa? — Pulei de susto ao ouvir Justin em minhas costas, rindo
pelo nervosismo e sem jeito pela forma inesperada que ele chegou. Ele deu a
volta na banqueta que eu estava sentada, encarando-me com um sorriso.
— Ah, estava vendo a briga das damas de honra. — Apontei para trás
dele e ele se virou, rindo da cena das três patetas.
— Bom, é um casamento. Os ânimos estão à flor da pele — brincou.
— O seu teve toda essa animação... selvagem? — indaguei, ainda
encarando minhas amigas. Evitar encarar Justin era essencial.
— Hum... não. Aubrey tinha amigas rígidas demais para emoções à flor
da pele. — Balancei a cabeça, que queria dizer que compreendi, mas apenas o
encarei, sentindo minhas bochechas coradas.
Justin tinha os cabelos loiros molhados, penteados para trás, a barba por
fazer, a camisa gola polo preta marcava os músculos e o corpo magro e
definido, a calça branca o deixava ainda mais delicioso. Contive um suspiro de
apreciação.
— Então, vai me contar o porquê daquele risinho bobo? — disse,
inclinando-se para frente, sorri com isso. Lembrando-me de Romeo.
— Ah, foi Romeo — respondi pensativa, procurando Archie pelo olhar.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas, dizendo que ele estava
pensando sobre minha resposta.
— O que meu primo fez para te fazer sorrir tanto? — indagou, fazendo-
me dar um risinho sacana.
— Romeo é uma peça, você sabe. Ele e Archie juntos é como uma
bomba relógio. — Ele riu, ia falar algo, mas sua boca se fechou novamente ao
ouvir a voz de Elizabeth vindo até nós. Os saltos altíssimos dela batiam contra o
porcelanato, atraindo totalmente minha atenção.
Justin se afastou, sentando na banqueta do outro lado do balcão.
— Ah, Liv. Estava organizando os lugares para o café, já que tem gente
que ainda não desceu — se referiu a Romeo. — Alex chegou ontem bem tarde
da noite. — Arregalei os olhos, sorrindo. — É, seu sei. A primeira coisa que ele
foi atrás, foi de Archie e brincou com meu pequeno.
— Archie nem me falou nada — comentei ressentida por estar perdendo
meu bebê.
— Bom, eu vi uma falta enorme nos lugares. Romeo teve a cara de pau
de me enviar uma mensagem dizendo que não chegaria a tempo para o café da
manhã. — Segurei o riso, vendo-a bufar. — Juro que vou matá-lo até o fim da
cerimônia, Olivia.
— Ah, não seja assim. Ele não é tão ruim. — Ela me lançou um olhar
duvidoso e eu ri. — Certo, ele é um pouco terrível. Mas qual o problema dos
lugares?
Ela suspirou, fazendo uma expressão parecida com a de um cachorrinho
que caiu da mudança.
— Há um vagão enorme entre você e a próxima dama de honra. Isso é
inaceitável, Liv! — Arregalou os olhos azuis e eu ri.
— Ah, é só isso? — Ela fez uma expressão de indignação. — Está tudo
bem, amiga, eu não vou morrer simplesmente porque Romeo é um safado e não
cumpre seus compromissos.
Elizabeth choramingou, eu estranhei. Minha melhor amiga não era dada
a atos dramáticos.
— Não, você não está entendendo. Esse café da manhã vai ser todo
fotografado para entrar no álbum de casamento, tem que estar tudo
simplesmente perfeito! — Ouvi Justin segurar o riso. — Mas eu já resolvi,
Justin irá sentar-se ao seu lado enquanto eu não arrumo outra pessoa.
Revirei os olhos com a pouca imaginação da minha melhor amiga.
— Isso não vai resolver seus problemas, Liza. Vai ficar um espaço vazio
da mesma forma em Catarina. — Ela pensou por alguns instantes, batendo a
caneta rosa contra os lábios.
— Ah! Já sei. — Fez uma dancinha estranha, bem típico dela e riu. —
Você se senta com Justin e Caty vai se sentar com Jordan. — Ponderei sobre
isso. Jordan era um garoto de dezenove anos que havia sido preso na idade de
quinze, cheio de espinhas e muito inconveniente.
Porém, a ideia de tê-lo ao meu lado era ainda mais animadora do que se
sentar ao lado de Justin. Nós dois juntos, era no mínimo preocupante, sem falar
que eu guardava um segredo.
— Eu não posso me sentar com Jordan? — indaguei, mas ela já havia
girado sobre os saltos e voltado para o salão onde iria ocorrer o café da manhã.
Abri a boca feito um peixe e fiquei ali, estática.
— Bom, bela companheira de café da manhã. Te vejo em breve —
Justin disse, antes de se inclinar, beijando minha testa com carinho. Apreciei o
gesto, sentindo o sorriso bobo brincar em meus lábios ao vê-lo se distanciar.
Minha única certeza a respeito das suas palavras era de que aquilo iria
dar uma enorme merda.

Assim que eu me sentei à mesa do bendito café da manhã, senti meus


pelos eriçados pelo medo e ansiedade que dominava meu corpo. Justin se sentou
ao meu lado um segundo depois, falando com Benjamin sobre a empresa da
família. Senti meu corpo ainda mais ereto quando vi seu braço pousar de modo
casual no encosto da minha cadeira.
Estava tão nervosa que parecia que a qualquer momento iria morrer.
Não fiquei dessa forma com ele na praia. Talvez porque ainda não tinha
decidido falar com ele sobre Archie.
Mas agora, tudo mudava.
Ouvi a porta do salão de jantar — onde estava ocorrendo o café —
sendo aberta e me virei instantaneamente, vendo o rosto sorridente de
Alexandre adentrar no local, vestido uma blusa branca e calça jeans preta.
— Bom dia, pessoal. — Sorriu, cumprimentando Benjamin, Liza, e
chegando até mim. — Como está, baixinha?
Sorri com apelido infantil, levantei-me para abraçá-lo. Sentindo o cheiro
de perfume amadeirado, sabonete e o típico cheiro de homem. O abraço
conhecido de Alex me fez relaxar automaticamente.
— Hum... você demorou — resmunguei, rindo ao ser levantada do chão
por ele.
— Cadê meu pequeno, hein? — perguntou, procurando Archie com o
olhar.
— Na cozinha, sequestrando uns docinhos com a mãe de Elizabeth —
respondi, voltando para o meu lugar. Alex continuou cumprimentando todos,
sorrindo e quando chegou a Justin o encarou estranho. Estendeu a mão em
cumprimento.
— Alexandre, prazer — disse sério.
Justin sorriu, estendendo a mão enquanto eu olhava para Elizabeth, que
tinha as sobrancelhas arqueadas em dúvida. Segurei o riso, vendo que todos na
mesa se conheciam, mas Justin era o único que não fazia parte dos nossos
encontros em Nova Iorque.
— Justin, primo de Elizabeth — ele respondeu.
Perguntei-me se ele estava se sentindo deslocado. Alex se sentou ao lado
de Catarina, mostrando-me o quão diferente eles eram. Tanto em personalidade,
quanto em aparência.
Catarina tinha a pele branquinha, cabelos escuros e volumosos, e olhos
cor de amêndoas. Já Alexandre era branco, alto, com cabelos loiros claros, e
olhos azuis brilhantes. A personalidade dos dois parecia entrar em um conflito
silencioso.
Graças aos Deuses que o parceiro de Catarina era Justin e logo eles
estariam sentando juntos — bem longe de mim de preferência —, enquanto
Alex se sentava ao lado de Nicole, que sorria simpática e conversava
animadamente com ele. Aquilo ali que seria um casal combinando
perfeitamente, a personalidade tímida de Alex com a romântica de Nic.
Suspirei, imaginando o quão lindo meus sobrinhos seriam.
— É impressão minha ou Catarina e o loiro não se dão muito bem? —
Justin perguntou próximo ao meu ouvido, fazendo-me soltar uma risadinha
nervosa.
— Ah, não é impressão. É como óleo e água, não se misturam. Cat odeia
o fato dele ser tão bonzinho, e ele odeia a espontaneidade dela. — Revirei os
olhos, chegando à conclusão que os únicos amigos normais que eu tinha eram
Elizabeth e Benjamin.
Levantei o olhar, vendo os noivos encarando Justin e eu com sorrisos de
gatos, traiçoeiros como quem planejava algo grande.
— Posso saber por que desses sorrisos maléficos? — indaguei rindo,
tentando quebrar a conversa inusitada com Justin.
Elizabeth suspirou, fingindo calma.
— Nada, querida melhor amiga. Só pensando — falou e tirou um fio
inexistente do vestido rosa clarinho, e eu escutei a risadinha sacana de
Benjamin. Cerrei os olhos, tendo plena certeza de que eles estavam bolando
algo por minhas costas.
O café correu bem, em meio a risos, conversas paralelas e piadas idiotas,
consegui sobreviver. Assim que o relógio bateu dez e meia da manhã, Elizabeth
se colocou de pé, sorrindo e com os olhos marejados.
Com as mãos cruzadas em frente ao corpo, em uma posição ereta e
confiante, eu soube que minha garota me faria sofrer:
— Bom, eu tenho algo a falar. — Sorriu atraindo atenção de todos. —
Quero agradecer, todos aqui são muito importantes para mim, uns chegaram
desde quando eu era pequena — encarou-me, com os olhos marejados —,
outros foram chegando com o tempo, mas todos são amados da mesma forma.
— Coçou a garganta, rindo nervosa. — Eu me lembro quando éramos
adolescentes, eu e Liv costumávamos imaginar como iríamos nos casar, véu,
grinalda, noivo chorando, as pessoas sorrindo felizes enquanto nós entrávamos
juntas na igreja, como sempre fomos, irmãs.
Ela me chamou com a mão, e eu me levantei, sentindo minhas pernas
bambas por tudo que estava acontecendo.
— Muita coisa aconteceu nesse meio tempo, mas a nossa amizade nunca
mudou. Não vamos entrar juntas na igreja, mas ela vai ser minha dama de
honra, da mesma forma que eu vou ser quando minha garota preferida encontrar
um grande amor. Pois sei que ela vai! — exclamou com veemência, fazendo-me
rir ainda mais. — É um pouco doidinha, fora da casinha, mas é minha melhor
amiga.
Abraçamo-nos, ouvindo risos no fundo, senti meu coração explodir de
felicidade, ansiando pela felicidade daquela garota. Ela merecia.
A porta se abriu em um estrondo, virei-me, encontrando Romeo parado
na entrada, vestindo uma habitual jaqueta de couro e com Archie sorridente no
colo. Meu amigo abriu um sorriso ao ver que interrompeu o discurso de
Elizabeth.
— Bom dia, família — foi a primeira coisa que saiu dos seus lábios, eu
ia responder —, sentiram saudades de mim?
— Nem um pouco de saudades do meu primo babaca que sempre se
atrasa — ela disse brava, batendo o pé. Causando risos na sala, ele não pareceu
ligar, apenas entrou com toda sua autoconfiança e não se abalando pela raiva da
prima. Romeo Monroe era lindo, quase irresistível, e ele sabia disso. Apesar de
não ter herdado as características clássicas de um Monroe, ele tinha um charme
que atraía olhares por onde passava.
Olhos negros, cabelo ainda mais escuros, pele bronzeada, e a barba por
fazer, era coberto pelas habituais roupas pretas e de couro que ele vestia. O
homem emanava sensualidade, e ele usava isso contra todos e todas.
— Eu sei que sentiu saudades de mim, Lili — falou abraçando Elizabeth
e bagunçando seus cabelos loiros, quebrando com todo o clima formal do café
da manhã que minha amiga tanto organizou.
O dia correu bem, fui às compras com Catarina e Nicole, já que
Elizabeth teve que correr para o cartório e levar alguns documentos que
faltavam, ela disse que faria isso pessoalmente, pois ela leu o livro: O desafio de
Rachel Van Dicker e não confia em ninguém para assuntos tão importantes. Eu
só soube rir, pois já havia lido o livro e achava fielmente que aquilo não
aconteceria na vida real.
Olhei para o vestido preto em cima da cama, justo no busto, sem
mangas, e rodado da cintura para baixo. Era lindo, comprei para a festa que
ocorreria à noite, organizada por Elizabeth e sua avó, não era bem uma
despedida de solteiros, era mais uma interação entre os convidados.
E diferente do café da manhã, seria aberta a todos que foram convidados
para a cerimônia. Falei com minha mãe pela manhã, explicando que com os
preparativos do casamento, eu ainda não tinha conseguido ir vê-la, mas
combinamos de nos encontrar à noite, então estava tudo bem.
Sorri, pensando em Archie, na forma que ele ficaria no terninho preto
que escolhemos para ele. Ele escolheu passar a tarde com o tio Alex, matando a
saudade e deixando o tio Romeo com ciúmes.
Mas meu querido amigo não ficou assim por muito tempo, dizendo que
de uma forma ou outra, não iria ficar sozinho, pois iria sair com o amor da vida
dele — ou seja, eu. Brincadeiras à parte estava sendo coagida a sair com
Romeo.
Então era isso que eu estava fazendo, tirei minha calça jeans, a blusa
branca de seda que vesti pela manhã e troquei por um maiô preto, que escondia
tudo de forma adequada sem mostrar demais.
E por cima, coloquei uma saída de praia. Suspirei, soltando meus
cabelos do coque no alto da cabeça. Olhei o relógio em cima da cabeceira,
vendo que já passava das três da tarde, peguei meu protetor solar e desci as
escadas, de dois em dois, vendo Romeo me esperando encostado ao corrimão.
Vestindo apenas um short preto, deixando o peitoral tatuado e bem
definido à mostra. Sorriu ao me ver, o mesmo sorriso sacana de sempre, e
estendeu a mão, entrelaçando-a com a minha.
A mansão estava quase vazia, Elizabeth e Benjamin ainda estavam
resolvendo os assuntos do casamento, os convidados — a maioria — tinham se
hospedado em hotéis próximos à casa, o senhor e a senhora Monroe tinham ido
à cidade, pegar algumas coisas para a decoração.
Vi Justin pela parte da manhã, logo após o café, mas foi a última vez que
nos falamos. Eu agradecia por isso, eu tinha que falar tanto a ele, mas não sabia
como. Era bom manter uma distância até que eu estivesse totalmente preparada.
— Anda muito pensativa, meu amor — Romeo comentou, passando o
braço pelo meu pescoço enquanto caminhávamos pela casa, passando pela
varanda, jardim e logo alçamos a areia.
— Eu estou um tiquinho preocupada — respondi, encarando meus pés.
Não, Romeo não sabia quem era o pai de Archie, mas ele era a pessoa com
quem eu mais tinha coragem de falar sobre isso.
Vi seu cenho franzido, algo incomum para as expressões sempre alegre
dele.
— O que houve, Liv? — indagou, colocando-se à minha frente,
encarando-me com intensidade. Senti minha garganta se apertar, a vontade de
chorar vir enquanto eu tentava lutar contra isso.
Suspirei, encarando meus pés. Eu não iria chorar na frente dele, isso só o
faria ficar mais preocupado e obstinado a saber o que se passava.
— Estou preocupada com algumas coisas, nada demais. — Forcei um
sorriso, mas me senti vacilar no instante que os braços de Romeo me abraçaram,
bem apertado, fazendo-me esconder o rosto em seu peitoral.
Sorri, sentindo uma lágrima solitária cair rapidamente, mas não foi
notada.
— Eu não sei o que está acontecendo com você, minha menina, mas eu
quero que fique bem. E não importa o que aconteça, eu sempre vou estar aqui.
— Sorri, puxando-o mais para perto. Romeo era durão, irônico, gostava de dar
respostas ácidas e nunca se abria com ninguém, mas meu melhor amigo ainda
conseguia ser meu porto seguro tantas vezes, que eu era incapaz de contar.
— Eu vou lhe contar, assim que tudo se organizar, prometo que conto a
você — prometi, eu tinha que desabafar aquilo com alguém, mas não era hora.
Eu ainda não sabia qual seria a hora certa, pois tinha certeza de que no
momento que Justin ficasse sabendo, não seria mais um segredo.
Afastamo-nos, continuamos caminhando, rindo e brincando um com o
outro.
— Ah, saudade da Itália. Das mulheres, do vinho que aquece a alma —
ele disse, relatando sua última viagem. Romeo Campbell Monroe adorava
viajar, era seu hobby, e foi por isso que se tornou piloto, mas nos últimos
tempos estava assumindo a empresa da família paterna.
— E Ellen? Ela não vem?
Ele balançou a cabeça em negação.
— Tem sido o apoio de Eric com Franie. — Assenti com pena. Eric e
Ellen eram irmãos de Romeo, todos os três tinham pais diferentes, ligados
apenas pela mãe, que era irmã da mãe de Elizabeth.
Era uma família cheia de particularidades. E eu conhecia a todos muito
bem.

O vestido tinha caído como uma luva, eu me sentia muito bonita com a
imagem refletida no espelho do quarto, meus seios estavam um pouco maiores
pela forma que o tecido os faziam ficar mais juntos, marcava minha cintura,
indo até perto do joelho. Meus cabelos estavam lisos e jogados sobre os
ombros, a maquiagem fraca marcava levemente meus olhos castanhos, e o
batom chamava mais atenção para os meus lábios.
— Você está linda, mamãe. — Virei-me, vendo meu pequeno me
encarando do meio do quarto, com um sorriso lindo no rosto, vestindo um
smoking que comprei para ele. — Minha princesa.
Sorri, abaixando-me em sua frente com os olhos marejados pelo amor
que recebia de alguém tão pequenino.
— Obrigada, príncipe da mamãe. — Beijei sua bochecha, sentindo o
cheirinho do seu shampoo. — Vamos? — perguntei, vendo-o arrumar a gravata
como se fosse anos mais velho. Não evitei o sorriso, chegando à conclusão de
que eu estava o perdendo para idade, ganhando um pequeno homenzinho com
isso.
Daqui para frente, chegaria à adolescência, ele iria me deixar de cabelos
brancos por tudo e eu com toda certeza surtaria. Bom, talvez eu não estivesse
muito ansiosa para que isso acontecesse.
Ele com toda certeza podia continuar sendo um bebê, meu bebê.
— Vamos, o tio Romeo disse que ia acompanhar a senhora. Eu falei
nananinanão — disse ele, enfatizando enquanto balançava o dedinho, não evitei
o sorriso. — Minha mamãe já tem acompanhante.
Concordei, fechando a porta do quarto e descemos as escadas da casa.
Sorri para todos na sala, Nic estava sentada ao lado de Catarina, sorrindo para
algo no celular. Alex conversando animadamente com Benjamin, enquanto
Elizabeth falava algo muito séria a Justin e Romeo.
Senti meu coração golpear como louco em meu peito, ao ver Justin de
terno e gravata, a habitual barba estava feita e o sorriso petulante ao rosto dava
um charme a mais.
Romeo mantinha uma expressão de tédio para o que a loira falava,
olhando as unhas e fingindo desinteresse. Diferente — e ao mesmo tempo, tão
típico dele — de todos na sala, ele manteve a habitual calça jeans, botas pretas,
blusa regata branca e uma jaqueta de couro por cima. Ele estava tão Romeo que
chegava a dar nos nervos.
— Liv! — ela exclamou, rodando rapidamente e me encarou com um
sorriso enorme nos lábios brilhando pelo gloss. O vestido rosa esvoaçante
acentuava as curvas de Elizabeth, deixando-a parecida com uma boneca de
porcelana. — Vem cá, me ajude a convencer o engraçadinho do Romeo que ele
está péssimo assim e preciso que ele use o smoking... — choramingou,
enlaçando meu braço ao seu.
Romeo me lançou um olhar matador, que eu sabia bem o que ele
significava.
— Mas, Liza... — tentei falar.
— Não, Liv, não o defenda. Olha como Justin está, bem bonitinho de
terno e gravata. Por que Romeo não pode fazer o mesmo? — disse, passando as
mãos sobre os ombros de Justin, que sorriu achando graça. — Não é que ele
está bonito assim?
Encarei-a assustada. Ela não estava esperando que eu falasse com todas
as letras que ele estava simplesmente delicioso naquele smoking preto, né?
— Liv, responda! — exigiu, fazendo-me arregalar os olhos.
— Ah, sim. Ele está bem de smoking — respondi meio avoada, sem
encará-lo.
— E não é mesmo que Romeo ficaria ainda mais maravilhoso vestindo
um? — Segurei o riso.
— Sim, ele ficaria lindo, mas, Liza, ele está ótimo assim. Não conheço
uma roupa que se pareça mais com Romeo do que botas e jaqueta de couro. —
Os olhos da minha melhor amiga se arregalaram e a vi choramingar.
Romeo riu, abraçando-me pela cintura e rodando, como se estivesse
dançando valsa.
— Ah, obrigado, meu amor. — Beijou meus lábios levemente, como
fazia em um costume engraçado. Ri, abraçando-o pelo pescoço enquanto ele
comemorava, levando-me para o salão, deixando Elizabeth falando sozinha. —
Vem, vamos dançar e deixar a boba da Elizabeth para lá. Ela não entende nosso
amor — disse, segurando minha cintura, aproximando nossos corpos ao som de
All for me, do John Legend. As mãos de Romeo nas minhas costas me guiaram
pelo salão cheio de gente, conversando baixinho entre nós.
Vi a mamãe beijando as bochechas de Archie, enquanto Hilary ria,
segurando champanhe com a mão livre, enquanto a outra estava entrelaçada ao
braço do senhor Monroe. Procurei papai com o olhar, vendo-o conversando com
o tio de Elizabeth, sorrindo e bebendo champanhe.
Senti meu coração se aquecer de saudade e Romeo notou meu estado,
tirando-me do meio de tantas pessoas dançando.
— Vem, vamos cumprimentar meus sogros — brincou, guiando-me pelo
salão. Percebi que com a vinda para Newport eu quase não cuidava mais de
Archie, ele passava o dia todo pulando de companhia para companhia, e parecia
não se importar com isso.
— Vamos — afirmei e nos aproximamos da minha mãe, que soltou um
gritinho histérico ao me ver, abraçando-me com força. Sorri, morrendo de
saudade dela.
O perfume continuava o mesmo, concluí, ainda abraçada a ela. Senti
meu coração batendo forte contra o peito, fazendo-me ver o quão saudosa
estava dela. Abigail Turner tinha sedosos cabelos loiros escuros, olhos enormes,
cor de âmbar, e sorriso aberto, era um tanto exagerada e dramática, mas
ninguém podia dizer isso a ela.
— Meu amor, que saudade de você, minha princesinha. — Sorri,
limpando a lágrima que caiu dos meus olhos. Tinha quase um ano que eu não a
via pessoalmente, para quem não passava mais de seis meses sem estar com a
família, isso era um recorde. — Está tão linda... você e Archie estão cada dia
mais independentes e a mamãe não sabe lidar com isso.
Sorri, vendo papai se aproximar. Dei alguns passos rápidos até ele,
enlaçando em um abraço apertado, matando a saudade que estava tentada a me
matar. Michael era um homem vistoso, bonito, não parecia ter a idade que tinha.
— Princesinha — murmurou, alisando meus cabelos ainda abraçado a
mim. Eu e o papai sempre fomos muito próximos, com os dois, inclusive. Mas
diferente de todas as histórias que eu ouvia de pai e filho, meu pai era meu
melhor amigo, a única pessoa que eu não escondi nada na vida.
Ele sabia de tudo. Cada detalhe da minha adolescência e isso muitas
vezes o deixou louco, porém me entendeu, depois de muita resistência.
— Como você está, querida? Meu menino está cada dia mais lindo. —
Sorri pela forma carinhosa com que ele falou isso, olhando para Archie.
Comecei a narrar os últimos acontecimentos, contando sobre as crises que
Archie estava tendo e como estava sendo a vida em Nova Iorque.
Romeo se aproximou.
— Querido sogro... — cumprimentou papai, fazendo-o rir.
— Ainda não vi você pedir a mão da minha filha em casamento, senhor
Monroe — meu pai respondeu, e eu prendi o riso.
— Ah, eu vou. Com toda certeza, eu vou sim — Romeo respondeu.
— Odeio quando você me faz de boba, querido — respondi entredentes,
segurando o riso.
— Odeio quando você me deixa sem palavras, amor — ele respondeu,
desviando o olhar. Escutei mamãe e papai rindo da nossa bobagem e vi
Alexandre se aproximar, sorrindo.
— Oh, olha quem vem aí! Se não é o grande Alexandre! — papai disse
animado, fazendo meu amigo rir.
— Como está, seu Michael? — indagou meu amigo, estendendo a mão
em cumprimento.
— Bem, meu filho — respondeu, Alex beijou a bochecha de mamãe,
escutando os elogios dela para a beleza do meu amigo.
— Vim tirar sua filha para dançar, seu Michael. Espero que ela aceite —
o loiro disse, fazendo-me rir com a pose de reverência que ele fazia em minha
direção.
Inclinei-me, fazendo uma reverência boba e disse:
— Acho que não seria tão ruim. — Ele riu, e caminhamos de volta para
o salão. Ouvindo um rock antigo e romântico soar na caixa de som.
Alexandre me girou pelo salão, fazendo-me voltar diretamente para seus
braços, enquanto eu sorria com algo que ele falava.
— Catarina me expulsou da conversa. — Fez careta, fazendo-me rir da
atitude infantil de Cat. — Sua amiga tem probleminhas, Liv, cuide dela. — Ele
revirou os olhos.
— Ah, ela não é tão ruim — a defendi, vendo seu olhar cheio de
incertezas.
Ele riu irônico, e dançamos um pouco mais, até que senti meus pés
doendo e sugeri que fôssemos atrás de algo para beber. Alex me acompanhou
até a mesa, desviando de várias pessoas na pista de dança.
A decoração estava linda, o salão mal iluminado, cheio de pessoas
vestidas de forma elegante e conversando animadamente. Vi a noiva e o noivo
mais à frente, conversando com um casal mais velho. Elizabeth estava radiante,
e Benjamin sorria, observando a noiva argumentar algo.
— É, eles parecem até mesmo ter saído de um comercial de margarina
de tão perfeitos que são juntos — Alex comentou, fazendo-me rir e continuei
encarando-os.
Senti uma pontinha de inveja ao vê-los tão felizes e apaixonados, e
rapidamente me amaldiçoei por isso. Não havia pessoas no mundo que
mereciam mais isso do que eles, não deveria sentir esse sentimento estranho e
ridículo.
Mas eu sentia. Não conseguia evitar.
— Você vai encontrar um amor, Liv. Ele vai amá-la de forma
incontrolável, vai amar Archie e você vai ver esse homem se arrastando atrás de
você. — Sorri com as palavras do loiro. No fim, talvez eu fosse mesmo
transparente em relação aos meus sentimentos.

Dei um gole generoso no champanhe, observando mamãe e papai


engatarem em uma conversa animada com Hilary e senhor Monroe, enquanto
eu continuava ali, pensativa com os últimos acontecimentos.
Suspirei, cansada, querendo minha cama, descansar e esquecer todos
aqueles anseios que me rondavam.
— Você vai amanhã lá em casa, né, querida? — mamãe indagou,
voltando-se para mim.
Terminei de beber o champanhe, e a encarei, sorrindo.
— Vou sim, mamãe. Passarei a tarde com você e Archie — respondi
vendo meu filho dançar com Elizabeth. Ela me abraçou de lado, beijando meus
cabelos.
Meus olhos encontraram os de Justin do outro lado do salão, e eu senti
meu corpo formigar com um contato tão banal. Não era justo, não era certo eu
me sentir tão mexida com um simples olhar.
Ele me lançou um meio sorriso, caminhando entre as pessoas, com os
olhos azuis ainda focados em mim. Sorri de volta, abaixando a cabeça com o
gesto involuntário que aconteceu sem nem mesmo conseguir evitar.
Quando tornei a levantar a cabeça, ele estava apenas alguns metros de
mim, chamou-me, mexendo os lábios levemente eu senti minhas bochechas
rubras, quando desviei de mamãe e saí discretamente do meio deles,
caminhando até ele.
Eu me sentia em um desfile, com seus olhos me avaliando de cima a
baixo, fazendo-me abaixar a cabeça novamente, sentindo-me tímida diante sua
avaliação minuciosa. Porém, não deixei de notar o arrepio que subiu em meu
corpo.
— Oi... — murmurei baixo, escutando-o rir.
— Você está linda — ele disse, fazendo-me abrir e fechar a boca
rapidamente, nervosa. Eu deveria aproveitar uma dessas conversas para contar a
ele. Eu sei que deveria. — Acha que ainda tem uma dança para mim?
Sorri, nervosa. Uma dança parecia algo bem íntimo, próximo demais.
Novamente, contrariando a razão, não foi isso que respondi a ele.
— Acho que sim. — Justin sorriu com a resposta e eu quase gemi
baixinho com a beleza enigmática daquele homem.
Sua mão tocou a minha, levando-me para o meio do salão. Eu já havia
ido ali tantas vezes naquela noite. Com Benjamin, com Alex, com papai, senhor
Monroe, porém, pela primeira vez eu me senti ansiosa e nervosa, em meio a
milhões de sentimentos.
— Ei, relaxe. Você está tão tensa que consigo sentir daqui. — Sua mão
tocou minhas costas, aproximando-me ainda mais.
Sorri, com minha cabeça próximo a sua orelha.
— Você me deixa um tanto nervosa — comentei, mas as palavras eram
para ficar apenas em meus pensamentos. Porém, pulou dos meus lábios antes
que eu conseguisse conter. Justin riu, sua mão segurando minha mão direita, a
esquerda em minhas costas e me guiou ao som de I Don't Want To Miss A
Thing, da Aerosmith.
— Não fique nervosa comigo, Liv. Eu não vou morder você. — Quis
repelir suas palavras, dizer que não era disso que eu tinha medo. Mas a quem eu
estaria tentando enganar? Eu sentia medo dele pela reação que ele causava em
mim, pela forma que eu reagia a ele e por toda a história de Archie.
Eram tantos porquês.
— Difícil — murmurei em resposta, sentindo a música fluir entre nós.
Vendo a forma que nossos corpos se encaixavam, como se eles houvessem sido
feitos para isso. A diferença de altura era grande até mesmo com meus saltos,
mas eu o sentia por inteiro.
Seu cheiro. Seu toque. Sua voz. Tudo me embriagava e me fazia ansiar
por mais. Fechei os olhos com tantos sentimentos querendo ser expostos.
Sufocando-me.
— Pense em mim como um amigo, não como Justin. Me veja rindo e
conversando como faz com Romeo ou Alexandre. — Suspirei, escorando minha
cabeça em seu peito, sentindo meu corpo se acalmar pouco a pouco. — I could
spend my life... In this sweet surrender... — Engoli em seco ao ouvir o timbre
baixo e rouco murmurar as palavras cantadas em meu ouvido.
Meu coração errou uma batida. E eu senti uma lágrima fina cair do meu
rosto, abaixei a cabeça, temendo que alguém pudesse ver.
Eu queria muito não sentir. Não reagir. Porém, acontecia. Isso me
matava pouco a pouco.
Justin Monroe ainda tinha o mesmo poder em meu corpo de cinco anos
atrás. Cinco anos se passaram desde então, e eu ainda podia me sentir viva com
seu toque.
— Saia comigo amanhã, um piquenique de café da manhã — sugeriu,
fazendo-me encará-lo. — Vamos, diga sim — insistiu, meus olhos procuraram
Archie pelo salão. — Com toda certeza você pode levar Archie, na verdade,
prefiro que leve. Eu o adoro.
Sorri nervosa, e novamente, fiz algo impensado. Aceitei o convite de
Justin Monroe e eu soube no mesmo instante que estava assinando minha
sentença. Eu queria aquele homem, de forma quase louca e irresistível.
— Eu aceito — falei, sentindo-me corajosa em me arriscar. E vi o
sorriso irresistível nascer em seus lábios.
Eu não havia acordado muito disposta, mesmo assim, cumpri com
minha palavra e me arrumei para o bendito piquenique. Chegara uma
mensagem mais cedo de Justin, falando que passaria no meu quarto às nove, eu
perguntei como ele havia conseguido meu número, mas a única resposta que
obtive foi que um mestre nunca revelava seus truques.
Bufei. Vestindo a calça em Archie e o escutando tagarelar como a tia
Liza dançava mal, e que seus pezinhos estavam doendo da noite anterior.
Segurei o riso, pegando o pente e organizando seus cabelos rapidamente.
— Mas não disse isso para ela, né, mamãe. Ficaria magoada tadinha. —
Fez um bico enorme e eu dei risada. — Não ri da dinda, mamãe. Coitada, nem
sabe dançar direito.
Concordei, fechando a boca para impedir o sorriso.
— Sim, coitada da sua dinda. Por que você não a ensina a dançar? —
indaguei, vendo-o abrir um sorriso radiante. — Porém, só depois do casamento,
vamos deixar o tio Ben ficar com os pés doendo por uns dias — brinquei,
vendo-o dar uma risadinha sapeca. — Precisamos cortar seus cabelos, Archie —
falei alisando seus fios loiros que começavam a ficar compridos demais. Ele
choramingou. — Filho, está enorme.
Olhei para baixo, vendo a expressão chateada. Era sempre assim, ele
odiava cortar os cabelos, dizia que o dono do salão tinha cara do homem de meu
malvado favorito e que iria cortar a orelha dele.
— Não quero, mamãe! — exclamou chateado, ouvi alguém batendo à
porta e olhei o relógio em cima da cama. Nove horas em ponto. — Aonde
vamos?
Archie me olhou curioso.
— Vamos a um piquenique com Justin e depois falaremos sobre seu
cabelo, ouviu bem? — avisei, antes de abrir a porta. Ele bufou indignado, e eu
ri. Assim que abri a porta do quarto senti os pelos do meu corpo se arrepiando
ao ver o homem à minha frente. Vestindo calça caqui e um moletom, pois o
clima hoje estava estranhamente frio. Os cabelos loiros molhados, o sorriso
aberto e os olhos azuis brilhando, eu queria fazer algo que desejava desde que vi
Justin Monroe quando ainda era uma adolescente.
Queria beijá-lo.
Mas eu não fiz, pois eu sabia que isso jogaria meu autocontrole pela
janela.
— Bom dia! — ele desejou ainda com aquele sorriso no rosto. Archie
apareceu na porta, fazendo-o se abaixar. — Ei, pequeno campeão. Como você
está?
Meu filho sorriu, abraçando-o. Vi a surpresa estampada no rosto dele, e
meu coração bateu descompassado, eu me lembrei da missão que não poderia
ser esquecida.
— Bom dia, tio Justin — meu pequeno respondeu, afastando-se, logo
estendeu os braços ao pai que o pegou no colo sem hesitar. Novamente, eu tive
um mal presságio. Aquela conexão entre eles falava muita coisa.
— Bom dia, Justin — respondi, pegando meu celular em cima da
penteadeira. — Vamos? — perguntei sorrindo.
Descemos as escadas rapidamente, aproveitando o barulho que vinha da
sala de jantar, com toda certeza todos já estavam reunidos para o café da manhã,
saímos porta afora, com Justin carregando Archie nos braços, sem nem mesmo
fazer menção de colocá-lo no colo.
Eu iria ter tanto trabalho quando voltasse para casa, meu filho iria acabar
ficando acostumado com tantos mimos e vontades, no fim, eu que teria que me
virar nos trinta.
— Vamos para os fundos da casa? Onde fica o balanço. — Ele indicou,
pegando a cesta em cima da mesa da varanda. Concordei, fazendo menção de
pegar meu pequeno, mas ele agarrou o pescoço de Justin, fazendo-o rir.
— Archie! — resmunguei exasperada. Ele me lançou um sorrisinho,
escondendo o rosto no pescoço do pai. — Vem, filho, deixa o tio Justin carregar
a cesta.
Ele resmungou chateado.
— Deixa, Liv. Se quiser levar a cesta, eu o levo. — Assenti, pegando a
cesta de palha de tamanho mediano. Caminhamos rindo e conversando, e eu
senti uma onda de nostalgia passar pelo meu corpo assim que vi a árvore que
existia nos fundos da casa desde que éramos criança.
O mesmo balanço continuava lá, só que agora as cordas estavam meio
velhas e com toda certeza quebraria por peso demais. Archie deu um gritinho,
pedindo para ir ao chão, e quando Justin o soltou, ele correu até o balanço,
animado para brincar.
— Cuidado, Archie. As cordas estão velhas — falei, aproximando-me
para supervisioná-lo balançando levemente. Justin colocou a cesta no chão,
tirando uma manta xadrez de dentro, cobriu o chão cheio de grama e colocou
alguns vasilhames para fora.
Fui até ele, sentando-me ao seu lado.
— Você cursou moda, né? — ele perguntou, abrindo as vasilhas
enquanto eu estava empenhada em ajudá-lo, evitando seu olhar.
— Sim, e você? — indaguei, não me lembrava muito bem qual
faculdade Justin escolheu.
— Ah, eu optei pela administração. E fiz alguns cursos na área de
engenharia, para poder ter um conhecimento maior quando chegasse na empresa
da família. — Assenti, mordendo uma uva com os olhos colados em Archie e
seu balanço. — Quero cursar engenharia em algum momento, pois meu serviço
está pedindo isso mais do que nunca, mas é tantas coisas ao mesmo tempo, que
eu só fico adiando.
Sorri com isso.
— E você, tem trabalhado em quê? — indagou, fazendo-me suspirar.
— Antes eu queria seguir os mesmos passos que mamãe ou Hilary, mas
com o nascimento de Archie eu tive que procurar opções mais fáceis e rápidas.
Eu tinha um filho e ele era a prioridade. — Suspirei. — E quando me mudei
para Nova Iorque, montei um ateliê e é nisso que venho trabalhando desde
então. Mesmo após ter terminado a faculdade, com muita luta, devo admitir.
Escutei-o suspirar.
— Entendo, sabe, você deveria fazer algo que mudasse seu status
profissional. — Encarei-o, estupefata. Fazendo-o rir. — Ei, só uma opinião. Sei
que não devo falar isso, mas...
Cortei-o.
— Agora fiquei curiosa. Fala logo. — Justin bufou, com um sorriso
petulante no rosto.
— Deveria nem falar. — Rolei os olhos, tentei bater em seu ombro. Sua
mão foi mais rápida, pegando a minha com rapidez. Senti meus músculos tensos
com o contato, e os pelos do meu braço se arrepiando quando ele não largou
minha mão, segurando junto com a sua sobre a manta. — Tenho certeza de que
você tem o mesmo talento que sua mãe ou Hilary, afinal, é meio que uma
aprendiz delas. — Rimos. — Acho que você deve se arriscar, colocar seu
negócio na mídia, fazer acontecer. Porque dá certo sendo um pequeno negócio,
mas não pode dar muito melhor caso você o faça voar.
Fiz careta. Arriscar minha pequena empresa era algo que me
preocupava, pois era dali que eu me mantinha, era de lá que tirava dinheiro para
criar o meu filho. Tinha medo de que algo desse errado. Porém, não respondi
suas palavras.
Logo Archie se juntou a nós, reclamando que estava com fome. Sorri e o
ajudei a se servir, porém, ele se sentou ao lado de Justin, que riu e o ajudou a
cortar as frutas, alimentando meu filho em uma interação invejável.
Eu tinha que contar. Não poderia ignorar mais esse fato.
— Justin — o chamei, ele sorriu para mim. — Eu... — tentei falar, mas
as palavras se prenderam em minha garganta.
— Você? — ele perguntou rindo, com expectativa. Um vinco se formou
entre as sobrancelhas. — Está tudo bem, Liv?
Sorri trêmula, voltando a mim. Senti meus olhos úmidos e a vontade de
correr para longe se abateu sobre mim. Justin já amava Archie sem nem mesmo
saber a verdade.
Com toda certeza do mundo eu perderia meu filho assim que ele
soubesse que escondi um filho dele por todo esse tempo. Isso me matava,
dividia-me e deixava-me sem chão.
Eu não podia perder Archie. De forma alguma.
— Estou bem! — exclamei, sorrindo forçada com o coração acelerado.
Eu tinha que arrumar um jeito de reverter essa situação. O mais rápido possível.

A casa dos meus pais era de tamanho mediano, dois andares e pintada
em tons pastéis. Havia passado por algumas reformas, e muita coisa mudou
desde que vim aqui pela última vez. Porém, a única sensação que não mudava
era o sentimento de estar em casa.
Meu lugar no mundo.
Archie brincava na sala enquanto papai via um jogo na TV, mamãe e eu
estávamos na cozinha, fugindo dele. Já que o que papai tinha de inteligente,
tinha também de curioso, não podia nos ver juntas.
— Aff. Seu pai não me deixa fofocar — ela resmungou, olhando por
cima do ombro. Fazendo-me rir.
Mexi o chocolate branco que derretia no banho-maria com cuidado,
suspirei ruidosamente e ela me encarou com as sobrancelhas arqueadas.
— Vai, desembucha o que está acontecendo — disse séria. Mordi o lábio
inferior, lembrando do sorriso de Justin ao me deixar com Archie na casa dos
meus pais. Eu tentei recusar a carona, porém ele foi persistente e eu acabei
aceitando. — Já sei, isso tem a ver com Justin, estou certa?
Rolei os olhos pela forma que ela me conhecia. Quando eu disse que
ninguém sabia quem era o pai de Archie, eu meio que menti, na verdade, eu
omiti. Porém, meus pais eram as únicas pessoas que sabiam da verdade.
Parece loucura contar a eles algo que eu queria manter em segredo,
entretanto, eles dois sempre foram meus melhores amigos, e como eu aparecia
grávida e eles não exigiriam saber quem era o pai do bebê? Certo, claro que eles
ficaram muito tempo me falando para contar a ele ou ameaçando contar, só que
eu precisava guardar aquilo só para mim.
E assim as coisas correram, eles me apoiaram e eu cheguei até aqui, mas
no momento sentia que tudo poderia desmoronar com um simples vento.
— É Justin. Archie o adora, ele está se aproximando muito, eu quero
contar, mas eu tenho tanto medo — choraminguei, colocando meu dedo dentro
da tigela com chocolate preto derretido, recebendo um tapa na mão.
Mamãe suspirou, colocando os utensílios sobre a bancada da cozinha.
— Meu amor, não acha que está na hora dele saber? Sabe que não apoiei
sua decisão de esconder isso dele, é algo muito importante, seu filho sofre por
não conhecer o pai. — Senti as lágrimas que reprimia vir, molhando meu rosto.
— Eu sei, mamãe. Eu vou contar, está tudo virando uma bola de neve.
Me arrependo tanto por não ter contado quando tudo aconteceu. — Sentei-me
na cadeira, com minhas pernas tremendo pelo medo.
Ouvi o suspiro alto vindo de mais alguém, levantei o olhar, encontrando
a expressão preocupada de Michael Turner. Ele me lançou um sorriso,
aproximando-se, ficou abaixado em minha frente, segurando minhas mãos entre
as suas.
— Filha, eu lembro bem da primeira vez que você contou a nós sobre
Archie. Não foi fácil ver que minha princesinha agora iria ter que lutar por outra
pessoa além de si mesma, eu fiquei puto da vida. Cara, era minha filha. —
Sorri, limpando minhas lágrimas que continuavam a cair. — Mas apesar de tê-la
apoiado e ficado ao seu lado, nunca achei certo você esconder algo tão
importante. Archie merece saber, Justin também. Eles têm que se conhecer, já
passou da hora deles serem, finalmente, pai e filho.
Solucei alto, abraçando-o com força. E se meu filho ficasse contra mim?
Archie era adorável, pequeno e não entendia muito de assuntos de adultos, e
apesar de eu sempre ter fugido do assunto sobre o pai dele, eu sabia que meu
filho era inteligente o suficiente para entender o que eu fiz.
— Eu vou contar — prometi, mais a mim mesma do que a qualquer
pessoa. — Eu prometo.
Meu pai beijou minha testa, com os braços ainda me apertando contra si.
Vi o rosto curioso do meu pequeno aparecer na porta, preocupado, ele indagou o
que eu tinha, sorri e vi mamãe tentando desfazer sua preocupação, mostrando as
bombas de chocolate que ela estava fazendo.
Assim que entrei em casa após chegar da casa dos meus pais, ouvi de
Hilary que queria falar comigo no dia seguinte. Senti-me recebendo um balde
de água fria, ela estava rígida, e apesar de ter falado comigo com delicadeza,
consegui ver sua tensão a léguas de distância.
Com isso, nem desci para o jantar, já que passei a tarde comendo
besteiras com mamãe, nem tive tanta fome, quando Elizabeth veio me chamar,
apenas pedi que ela trouxesse algo para que Archie jantasse. E assim ela fez,
mesmo curiosa e sem entender meu desânimo.
Prometi que depois falaria com ela. Vi a dúvida povoando a mente da
minha melhor amiga, e sorriu ao falar que eu não fugiria dela no nosso chá das
dez, onde organizaríamos as lembrancinhas do casamento e alguns arranjos que
faltavam, como as músicas que a banda iria tocar ao vivo. A noite não foi das
melhores, pois eu sentia como se estivesse em meio a um fogo cruzado e que
meu tempo estava acabando.

— Mamãe — ouvi Archie me chamar, encarei-o, ainda penteando meus


cabelos. Ele vestia um calção jeans, camisa sem mangas e jogava no celular,
sentado na cama, esperando-me pacientemente. — A senhora tá bem?
Os olhinhos do meu filho brilharam ao perguntar, ele havia repetido
aquela mesma pergunta desde que saímos da casa dos seus avós, eu só falava
que sim e o abraçava, tentando não desmoronar na frente dele também.
— Estou sim, meu amor. Vamos descer e tomar café? — perguntei,
tirando o celular das suas mãos e colocando-o sobre a mesinha. Ele pulou da
cama, e descemos para a sala de jantar, ouvindo os sons altos das risadas que
vinha de dentro.
Era um dia quente, assim que adentrei no salão, vi as pessoas sorridentes
e quase todas vestidas para ir à praia, agradeci por isso, significava que a casa
iria ficar vazia a maior parte do tempo e eu poderia cumprir meus objetivos.
Esse pensamento se esvaziou no instante em que vi Hilary caminhando
em minha direção, com Elizabeth ao seu lado, sorrindo como se estivesse em
busca de uma presa. E eu era a presa.
— Liv! — minha melhor amiga exclamou, sorridente. Vestida em um
conjunto de seda vermelho com preto. — Archie, bom dia, meus amores.
Meu pequeno sorriu, abraçando as pernas da dinda.
— Bom dia — respondemos em uníssono.
— Vamos tomar café comigo, Liv? — Hilary perguntou, e eu senti meus
pelos da nuca se arrepiarem com isso.
Algo muito errado estava acontecendo. Meu olhar percorreu a sala, e eu
vi Justin e meus amigos sentados juntos à mesa do canto, conversando e rindo,
sem notar minha presença.
— Eu não vou mordê-la, Olivia — Hilary brincou, enlaçando seu braço
ao meu. — Eliza fica com Archie para a gente conversar e comer um pouco
daquele bolo de frutas vermelhas que vocês adoram.
Eu e Elizabeth bufamos, exasperadas com a leve chantagem. Hilary riu,
e eu tive a sensação de ter voltado à infância, onde era facilmente manipulada
por um pedaço de bolo de frutas vermelhas.
— Certo, você venceu — respondi, caminhamos para fora da sala de
jantar, passando pela sala de descanso e chegando à varanda. Onde tinha um
café da manhã completo servido na mesa redonda. — Você pensou em tudo, e
eu estou ansiosa para ver o que tanto tem para falar —falei, sentando-me em sua
frente. Hilary se serviu com um pedaço pequeno de bolo, caprichando ao
colocar um em meu prato, eu ri com o tamanho do bolo, porém não reclamei.
— Ah, Liv, não fique, querida. Sabe que amo você. — Assenti, tomando
um gole do café puro, tentando me acalmar. — Mas acho que está na hora de
falarmos sobre isso.
Um vinco se formou entre minhas sobrancelhas e eu me vi buscando na
memória qual era o assunto pendente que eu tinha com ela.
— Sobre o pai de Archie — ela foi direta, eu arfei em surpresa. — Eu
disse que ia falar isso, todo ano quando a via, a cada encontro, eu queria falar.
Porém, via que você estava feliz, se reencontrando ao lado do seu filho, e não
me permitia atrapalhar isso. — Suspirou, largando o talher em cima da mesa. —
Acho que já está na hora de Justin saber que é pai de Archie — ela disse,
arrancando de mim toda sanidade, enquanto eu via a mulher cheia de classe
olhar ao redor, para certificar-se de que estávamos sozinhos.
Fechei os olhos, sentindo aquela dor dilacerante que esse assunto me
causava. Ela sabia. Se Hilary Monroe sabia, quem mais estava sabendo? E pior,
como ela ficou sabendo disso?
— Ah, como fiquei sabendo disso? Bom, eu fiquei surpresa quando
você apareceu grávida, era só uma menina e não tinha namorados. — Tentei não
me mostrar à beira das lágrimas. — Eu tentei tirar informação de Elizabeth, da
sua mãe e quando elas não aguentavam mais, me contaram...
Abri a boca em choque.
— Mas... — Hilary não me deixou terminar.
— Sim, você não contou nem mesmo para a Eliza, eu sei. Mas de
alguma forma, ela descobriu e depois de muita insistência, me contou. —
Suspirei. — Como aconteceu? Pelo que me lembro, você e Justin andavam a
léguas um do outro.
Sorri, sentindo-me nervosa.
— Foi na festa de Elizabeth, cinco anos atrás. Eu estava um pouco
bêbada, ele também e acabou acontecendo — falei, fechando os olhos sentindo
uma dor de cabeça descontrolada se apoderar de mim. — Eu fugi logo que
acordei, e descobri semanas mais tarde que estava esperando um bebê.
As cenas de sofrimento e lágrimas de anos atrás voltaram tão vívidas em
minha mente, que me senti tonta.
— Eu tinha que ter contado, mas logo que descobri estava tão confusa,
tão cansada. Só queria fugir, dele, de mim e da minha situação. Pensei no que
meus pais diriam, no que as pessoas diriam e em tudo que mudaria. — Solucei,
desesperada. Era a primeira vez que eu falava abertamente com alguém sobre
isso. — Errei muito, Archie cresceu sem um pai, Justin não conhece o filho e
ver quanto eles se identificam, a forma que olham um para o outro me deixa
desconcentrada.
Hilary se levantou, sentou-se no braço da cadeira em que eu estava,
abraçando-me apertado. Solucei contra seu abraço, sentindo-me a pior pessoa
na face da terra.
— Você errou, querida, mas estamos aqui. Não vamos deixar você, só
precisa falar com ele. — Olhei-a assustada e ela riu. — Eu sei, conheço meu
sobrinho, ele é tão obstinado que chega a doer. Vai enlouquecer com essa ideia,
e tenho quase certeza de que envolverá a lei nisso. — Solucei com a ideia, que
já tinha sido muito bem analisada por mim. — Mas nunca a abandonaria,
Olivia, você é como uma filha. E estamos do seu lado, apesar de tudo. —
Suspirei, assentindo enquanto ela limpava minhas lágrimas. — Mas vi que
vocês têm andado muito amigos nos últimos dias, deveria ficar esperançosa de
que isso poderia terminar como mais um casamento?
Sorri, sarcástica, sentando-me direito na cadeira.
— Não, sem chance alguma — respondi bebendo mais um gole de café.
— Justin e eu? Hum. Não mesmo.
Ela riu, jogando os fios negros para trás.
— Ah, não sejam tão pessimistas assim. Vocês são jovens, bonitos e
com um coração vazio, que mal há nisso? — Revirei os olhos, sorrindo.
— Não é porque as pessoas são jovens, bonitas e com o coração aberto
que elas começam a namorar. É preciso bem mais que isso. — Ela arqueou a
sobrancelha loira. — Companheirismo, amizade, paixão e um pouco de fogo.
Ela riu alto com minha resposta sincera e bebericou o café.
— Ah, querida. Eu ainda vou vê-la se casando, e vou estar lá para
perguntar se tem fogo e paixão suficiente para você. — Gargalhei alto, olhando
ao redor.
Vi o sol vibrante, as palmeiras balançando com o vento forte e me senti
deslocada, pensei em Justin, no seu sorriso aberto, às vezes meio sacana e os
olhos azuis, a forma que ele ficava sexy e irresistível. Sorri com a imagem dele
na minha cabeça, e logo a imagem foi substituída pela de Archie e ele rindo
juntos, conversando e trocando brincadeiras e como eles pareciam em um
mundo só deles quando estavam juntos.
Eu não poderia privá-los disso.

Senti a fúria vir à tona enquanto as palavras ainda se repetiam em minha


mente. Indo e vindo a todo instante enquanto eu tentava não pirar e aparecer na
frente dela, gritando todos os mil xingamentos que estavam entalados na minha
garganta. Archie. Meu filho. Olivia.
Como eu não notei isso antes? Minha mente gritou, e eu senti o ar
sufocado em minha garganta, enquanto eu caminhava pelo salão, sem terminar
de ouvir a conversa de Olivia com a minha tia.
Eu sabia exatamente o que fazer quando entrei no escritório da mansão
Monroe, segui para a estante cheia de bebidas caras, servindo uma grande dose
de uísque, o líquido logo desceu pela minha garganta, queimando tudo por
dentro.
Archie Turner era meu filho.
Eu já havia tido essa dúvida muito tempo atrás, quando fiquei sabendo
que Olivia teve um filho, mas cheguei a uma conclusão que se fosse meu, ela
teria me falado. Porra de confiança. Ela não falou. Ela escondeu, tirou-me o
direito de vê-lo nascer. De criá-lo, de estar ao seu lado a cada momento da sua
vida, e eu não gostava muito da mulher que me escondeu tudo isso nesses cinco
anos.
Eu odiava tanto Olivia Turner neste momento que eu poderia tirar o bem
que ela mais amava só para vê-la sofrer.
Fechei os olhos com força, eu nunca fui uma pessoa egoísta e vingativa,
mas neste momento não me importava. Eu irei ver Olivia Turner sofrer esses
cinco anos que escondeu isso mim, eu não me arrependerei disso.
Teria seu coração, seu filho e tudo que ela mais amava, e quando isso
acontecesse, eu iria partir, e deixá-la à deriva da mesma forma que me sentia
agora.
Ouvi passos em minhas costas, eu me virei, sentindo-me meio tonto pelo
uísque que eu tomei. Alexandre Sandres entrou, segurando uma bola e rindo das
vozes de Archie e Elizabeth que vinha do corredor.
Eu tinha odiado aquele homem no momento em que ele apareceu, pela
forma que ele sorriu para Olivia, a pegou no colo como se fossem velhos
amigos. Porém, no momento ele poderia ficar com aquela mulher, pois ela não
me interessava.
Nada além de fazê-la sofrer me interessava.
— Cara, você está bem? — ele indagou e eu fechei os olhos, com raiva.
— Ah, você descobriu! — ele exclamou, meio avoado e eu o encarei raivoso, o
homem vestido com roupas de cores pastéis como um almofadinha. Era ridículo
aquilo, o loiro parecia prestes a desfilar para uma marca famosa e só era apenas
dez da manhã.
— VOCÊ? ATÉ VOCÊ SABIA?! — explodi, em meu limite enquanto
respirava com dificuldade. — Todo mundo na porra desta casa sabia a verdade,
menos eu?! — indaguei indignado.
— Olha, não. A Olivia nunca me contou a verdade, mas eu notei o quão
parecido você e Archie eram e vê-los juntos nos últimos dias só foi meio que
uma confirmação. — Inspirei com força, sentindo-me sufocado. A vontade de
ver Archie veio com força. — Eu só espero que você não machuque Liv. Ela
escondeu, errou e eu entendo isso, mas aquela mulher ama o filho mais do que
tudo no mundo, e perdê-lo seria como arrancar uma parte do coração dela.
Meus olhos estavam emitindo toda a raiva que eu sentia, e vi seu olhar
duvidoso em minha direção.
— Eu não ligo para o que Olivia vai sentir, só sei que ela se arrependerá
de esconder isso de mim por tanto tempo — prometi em voz alta, mais para
mim do que para ele. Coloquei o copo de uísque sobre a bancada com mais
força que o necessário e saí do escritório rapidamente à procura de quem eu
precisava ver naquele momento.
Meu filho.
Porra. Eu tenho um filho! Eu sou pai.
Isso foi o único pensamento que preencheu meu pensamento quando
Archie me viu, sorriu e estendeu os bracinhos, pedindo colo. Peguei-o,
embalando em meu colo enquanto beijava sua bochecha gordinha e com cheiro
de chocolate, pois ele segurava a iguaria doce entre os dedos.
Ela era a coisa mais perfeita do mundo. E era um pedacinho meu e de
Olivia, uma prova de que a noite cinco anos atrás não foi um mero sonho.
Bufei exasperado ao entrar novamente na festa de Elizabeth, sabendo
bem que preferia estar em qualquer lugar que não fosse o local cheio de jovens
que me irritavam. Eu parecia um velho falando isso, mas sabia que minha vida e
a daquelas pessoas eram bem diferentes, mas vim porque minha tia disse para
ficar de olho em minha prima e não a deixar enfiar a cara dentro de um balde de
bebida. Muito menos fazer loucuras, pois ela havia terminado com o namorado
por uma briga boba e isso podia acabar jogando fora a chance de uma
reaproximação.
Só que acabei me distraindo com as bebidas e quando vi, as horas
avançavam e eu seguia próximo ao bar, tomando uma dose e outra e observando
a festa. Porém, gemi quando vi a melhor amiga de Elizabeth sobre a mesa
sorrindo enquanto dançava. Pelo amor de Deus. Olivia do céu! Desce daí
criatura, pensei caminhando rapidamente até a morena que tinha a calcinha
sendo mostrada conforme balançava os quadris.
A situação estava pior do que eu previ.
Caminhei determinando em direção a ela, tirando alguns colegas da
minha prima do meio e alcancei a garota, pegando-a no colo antes que tivesse
chance de protesto, coloquei-a sobre meus ombros e saí dali, ouvindo sua voz
agitada pedindo para deixá-la, mas só o fiz quando alcancei o andar superior do
apartamento, entrando no quarto de hóspede que eu costumava ficar.
Coloquei Olivia no chão e fechei a porta rapidamente, impedindo que
ela saísse.
— Cadê Elizabeth? — indaguei com medo que ela acabasse em cima da
mesa igual a menina à minha frente. Menina sim, Olivia ainda estava na
faculdade enquanto eu começava a administrar uma empresa, ela ainda tinha o
rosto meio juvenil, porém era muito bonita, isso não dava para negar.
Olivia sorriu ao me ver.
— Ah, é você — bateu em meu ombro me reconhecendo —, Justin... —
falou embolado, fazendo-me rir suavemente. Olivia era divertida. Eu me
lembrava brevemente que nunca ficávamos muito sérios ao seu redor, porém
também não podia dizer que éramos grandes amigos.
— Cadê Eliza? — tornei a perguntar, fazendo-a sentar na beirada da
cama. Olivia me olhou por longos minutos e soluçou.
— Com o namorado dela — falou parecendo raciocinar. — Mas você
está tão bonito — disse de repente, alcançando meu rosto e em um gesto
delicado, desceu as mãos por minha barba. — Tudo bem, você é sempre bonito,
mas hoje você está muito bonito. — Segurei a risada, pois seu filtro ficou
perdido entre uma dose e outra de álcool. — Tem namorada, Justin? —
indagou, encarando-me.
Ai meu pai amado. Lidar com bêbados é difícil.
— Não. E você precisa sentar aí enquanto eu pego um café para você.
— Tornei a sentá-la, mas sua mão não me deixou ir, segurando-me ali. Encarei
seu rosto delicado, vendo que os olhos se abaixaram.
— Ok, então eu poderia beijar você? — inquiriu atrevida, segurando
meu rosto firmemente, fazendo-me encará-la. Senti meu corpo se arrepiar
quando ela ficou na ponta dos pés e passou o braço em volta do meu pescoço,
era baixinha então ficava facilmente pendurada em mim. Seus lábios tocaram os
meus. A boca de Olivia exigiu um beijo de verdade quando pediu passagem
para sua língua e senti meu corpo se inclinar para frente e enlaçar a cintura
franzina da mulher. Meu Deus. O que eu estava fazendo? Sentido, nenhum.
Razão? Muito menos.
Eu a afastei, vendo seu rosto ruborizado e sua respiração ofegante.
— O que está fazendo, merda? — xinguei.
— Beijando você — decretou com o corpo ainda todo contra o meu. O
desespero de desejar só beijá-la novamente enquanto minha mente falava que
não devia fazer isso. — Não é uma coisa de outro mundo.
— Sim, mas é você, Olivia. Beijos levam a caminho que garanto que
não é o que pretende. — Ela riu de modo debochado e segurou meu rosto.
— O que sabe sobre o que pretendo? — A indagação me fez calar.
— Eu não vou tocar em você, nem vem. — Afastei-me e senti quando
meu corpo me contradisse e ela riu.
— Seu corpo diz outra coisa. — Esfregou-se em mim de modo
despretensioso e abaixou o rosto, deslizando suas mãos pequenas e afoitas por
todo meu peitoral, fazendo-me estremecer.
— Eu... — tentei pensar em justificativas plausíveis para aquela reação
normal do meu corpo, mas nada me veio à mente. Não sabia que desejava
Olivia até ela me beijar.
— Eu vou te beijar de novo — falou, encarando-me e eu não dei tempo
para que fizesse, segurei seu rosto e choquei meus lábios sobre os dela. Senti
seu corpo pequeno caminhar para trás e a acompanhei até cairmos na cama,
com meu mundo girando rapidamente por causa da bebida. Deslizei minhas
mãos pelo corpo da mulher resvalando pelas curvas delicadas e bem definidas,
segurei o seio cheio na minha mão. Garotas jovens não faziam meu estilo. Mas
ali estava eu, duro, desejando só tocá-la mais.
Gemi quando desci meus lábios por seu pescoço, tocando-a por inteira,
alcançando o vale dos seios cheio beijando por cima e fiquei assustado quando a
menina me fez cair sobre o colchão, puxando o vestido acima da cabeça,
revelando o conjunto de lingerie vermelho que ficava destacada na pele leitosa.
— Ah, caralho — falei observando os seios, a barriga plana com uma
pequena manchinha um pouco acima do quadril, que era revelada pela calcinha
minúscula.
Olivia riu, apoiando as mãos sobre meu peito e se sentando sobre meu
corpo, fazendo sua boceta encaixar perfeitamente sobre meu pau. Ok,
autocontrole foi para o inferno.
— Você não vai querer fazer isso. — Encarei seu rosto e vi quando ela
moveu os quadris sobre mim, provocando-me. Estávamos num quarto que não
era nosso, bêbados, e quase nus. Olivia ia recuar.
Mas seu indicador passando por meu peito, com a unha pintada em um
rosa claro, me fez gemer em desespero.
— Eu definitivamente quero fazer isso. Não estou pedindo que se case
comigo, só que me coma. — Ela ficava sem filtros quando bebia e isso não era
segredo, mas safada era outra questão. Ela deslizou a mão para trás e fiquei sem
reação, vendo os seios ficarem livres na minha cara, e quando deitou novamente
sobre mim, esmagando-os contra meu peito, virei na cama, invertendo as
posições e ditando o ritmo daquilo. Segurei suas mãos atrevidas para que ficasse
quieta e parasse de foder com meus pensamentos e desci os lábios sobre os
peitos cheios e perfeitos, abocanhando um e mamando ali, deslizando minha
língua por toda a auréola rosada, escutando-a gemer baixinho com a atenção,
deslizei mais, mordiscando e fazendo-a se contorcer, tentando se livrar do
aperto das minhas mãos, deslizei minha boca ao segundo mamilo, dando ali a
mesma atenção.
— Vamos ver se você está molhada para mim, pequena — falei no seu
ouvido, sem soltá-la e tudo que recebi em resposta foi um gemido baixinho.
Deslizei minhas mãos por entre suas pernas e foi quando senti sua boceta quente
e molhada por cima da calcinha. Escorreguei o tecido para o lado, brincando
com suas dobras e guiei meu dedo para dentro dela, ouvindo-a gemer, repeti o
movimento, voltando com um segundo e a reação de Olivia me fez continuar,
indo e vindo, ficando ainda mais duro com a maneira que ela era apertada e
deliciosa, respondendo cada um dos meus toques com os gemidos baixinhos.
Meu pai, eu precisava estar dentro desta mulher.
— Quietinha, boneca — disse, beijando sua boca e a soltei para tirar
minha camisa, jogando longe e senti as mãos de Olivia em minha calça de
malha, que usava para academia. Ela deslizou o tecido para baixo, alcançando
meu pau com suas mãos, deslizando da base até a cabeça, rodeando ali com o
indicador, espalhando o pré-ejaculatório, fazendo-me gemer em desespero. —
Preciso te comer, Olivia, depois você admira meu pau.
Ela riu, ficando ajoelhada em minha frente e me encarando. Nunca
pensei que acharia Olivia Turner a mulher mais tentadora, mas ali estava ela,
com os cabelos escuros descendo em uma cascata por seu corpo, cobrindo
parcialmente os seios e senti minhas mãos coçando para tocá-la. Assim o fiz,
jogando os fios para trás e segurei seu pescoço firme, trazendo sua boca contra
minha.
— Fica de quatro, boneca, preciso comer sua boceta deliciosa assim. —
Ela soltou o ar preso e não recusou, virando-se e exibindo a bunda redonda em
minha direção. Deslizei minhas mãos por suas costas, tocando a base de sua
bunda e fui além, tocando seu buraco de trás e a vi tensa. Sorri, negando. Isso
era coisa para outro momento.
Eu a toquei por trás, sentindo sua boceta babando diante à excitação e
me aproximei, deslizando meu pau dentro dela, segurando seu corpo para
mantê-la estável e quando senti a leve resistência, que se rompeu com a falta de
cuidado, o gemido de Olivia não foi de prazer. Isso me congelou.
— Porra — xinguei assustado.
Ela estava tensa, totalmente parada.
— Olivia, você está bem? — indaguei preocupado.
— Hurum — foi tudo que respondeu.
— Não, merda. — Fiz menção de sair de dentro dela.
— Não — falou alto, encarando-me por cima do ombro. — Não,
termina — incentivou e eu não consegui. Saí de dentro da mulher. Encarei meu
pau com uma leve mancha de sangue, sinal claro da virgindade que ela me
oferecia.
Aproximei-me, deitando ao seu lado e a puxando em minha direção.
Beijei seu rosto, quando vi a lágrima de Olivia ali. Sorri, negando com a
cabeça, tornei a beijar seus lábios, envolvendo-a contra meu corpo, movendo-
me devagar com cuidado em cima dela. Afastei-me, encarando seu rosto bonito
e magoado.
— Sinto muito — falei.
— Você não terminou — disse como uma criança emburrada.
— Você me seduziu como uma mulher experiente, pensei que a parte de
primeiras vezes fosse coisa esquecida. — Ela riu suavemente e passou as pernas
em volta da minha cintura, fazendo nossos corpos se encontrarem e quase gemi.
Queria tanto tocá-la que meu pau não conseguiu se desligar nem com a
surpresa.
— Então termina — pediu, encarando-me. — É só uma primeira vez,
Justin, vai ter outros caras na minha vida e outras meninas na sua cama. Não é
nada demais. — E foi nisso, nela se aproximando e beijando meus lábios que
mandei minha noção para o fundo do baú, deslizando minha língua contra sua
boca, passeando minhas mãos pelo corpo de Olivia novamente, até alcançar o
nervo sensível e brinquei com meu dedo por ali, estimulando com seu ponto de
prazer até que a senti mais relaxada e deslizei meu pau novamente em sua
entrada, desta vez com mais cuidado, até que senti seu corpo apertado acomodar
todo meu tamanho, fazendo-a gemer baixinho, abraçando-me com as pernas.
Beijei sua boca, movendo meu corpo que precisava estar dentro dela,
sentindo-a gemer, respondendo aos estímulos e bati fundo em sua boceta,
gemendo seu nome e perdido nas curvas desconhecidas e deliciosas daquela
mulher.
Perdendo-me em alguém que significava algo.
Pela primeira vez.

Acordei assustado, com a respiração ofegante e encarei o quarto


desconhecido. Porém, vi a foto de Elizabeth em cima de uma das penteadeiras e
gemi, puxando na memória o que havia acontecido. Não era o quarto da minha
prima, e sim o de hóspedes.
Contudo, meu estômago se revirou e corri para o banheiro, despejando
tudo que bebi na noite anterior enquanto meu mundo ainda rodava. Voltei para o
quarto, vendo que vestia apenas a calça da academia e passei a noite em minha
mente. Assustado quando vi a imagem minha e de Olivia na cama. Não. Não.
Isso não aconteceu.
Caralho, Justin.
Claro que não aconteceu.
Não com Olivia.
Não comigo sozinho no quarto.
— Bom dia! — A voz da minha prima me fez virar assustado. — Pensei
que estaria acompanhado — falou olhando para o quarto.
Eu também pensei.
— Não estive com ninguém? — Franzi o cenho.
— Não saiu ninguém. — Deu de ombros. — Você ficou com alguém?
— ela indagou.
— Não lembro — respondi evasivo. Colocando aquela memória como
um sonho louco. — Onde você esteve? — Deitei-me na cama, pegando o
remédio que tinha dentro da gaveta. Caminhei para o banheiro e joguei o
comprimido na boca, bebendo água da torneira mesmo.
Encarei minha imagem no espelho enquanto pensava em tudo.
De fato, tinha que ter sido um sonho maluco.
Eu não tiraria a virgindade de Olivia, né?
Catarina riu, rodopiando dentro de um vestido de noiva simples e que
batia um pouco abaixo do joelho, um modelo minimalista perfeito. Ela estava
linda, e apesar da brincadeira de experimentarmos vestidos, o modelo caiu super
bem na minha amiga.
— Experimenta um, Olivia! — ela exclamou, fazendo-me rir enquanto
Nicole revirava os olhos para a brincadeira da outra.
— Nem em seus melhores sonhos — afirmei com veemência, sorrindo,
mas o sorriso sumiu ao ver Elizabeth sair de trás das cortinas de seda branca,
segurando as lágrimas enquanto carregava algumas camadas da saia do vestido
de noiva nas mãos.
Ela estava linda.
O vestido não era nem um pouco discreto como o que Cat vestia, era
com uma enorme saia de tule, que se afinava ao aproximar da barriga, marcando
a cintura. O busto do vestido continha rendas e minúsculas pérolas brancas,
dando um ar ainda mais bonito à peça. Não tinha alças e deixava os peitos dela
mais juntos, fazendo parecer maior.
Tive plena certeza de que no instante que Benjamin visse Elizabeth
entrando na igreja, ele choraria. E se não o fizesse, minha amiga teria que
cancelar o casamento, pois ela estava tão linda, que todas as vezes que ela
apareceu linda ao longo dos anos foi resumido a nada neste momento.
Funguei, emocionada.
— Você está tão linda! — exclamei, fazendo-a rir. — Uma noiva
perfeita — completei, escutando um gritinho animado de Catarina, que pulou
em cima da noiva, abraçando-a, enquanto Nic ria, levantando-se para fazer o
mesmo. Embolamos Elizabeth em um abraço triplo, sorrindo de felicidade por
ela.
— Obrigada, meninas. Eu amei. É perfeito. Agora a gente precisa correr,
ver a prova do vestido de vocês, e não podemos esquecer de escolhermos algo
para a despedida de solteiros.
A despedida de solteiro havia sido preparada pelos dois, com
brincadeiras e diversão que poderiam ser compartilhados por eles. Benjamin e
Elizabeth andavam tão ansiosos pelo casamento que recusaram até mesmo a
despedida preparada pelos padrinhos de forma individual.
Eu achava engraçado toda a pressa dos dois em se casarem logo, e
entendia, eles estavam noivos há muito tempo, desde a faculdade para ser mais
específica. E com isso, vinha tantas provações que nem mesmo um casal que
eram apaixonados conseguiria evitar.
Saímos da loja minutos depois enquanto pensava na minha situação com
Justin. Pretendia falar com ele, mas a correria do casamento estava me
impedindo de tomar coragem.
— Olha, Liv! — Elizabeth exclamou, tirando-me dos meus devaneios, e
eu sorri ao ver o vestido vermelho de seda. Era lindo, concluí enquanto
caminhava até o manequim, toquei a seda e vi que aquele era o vestido que eu
iria usar esta noite. O decote entre os seios dava uma sensualidade à peça, as
alças eram largas, e o busto justinho ao corpo. Vi a moça da loja se aproximar
com um sorriso satisfeito.
— Querem experimentar? Temos mais algumas cores, porém, modelos
diferentes. — Neguei rapidamente.
— Não, o vermelho está perfeito — respondi.

A festa seria em uma casa de festa próximo à entrada da cidade, que


havia sido aberta há poucos meses e segundo todos, era ótima. Eu não me
importava muito, lugares cheios não eram minha coisa preferida no mundo,
porém, não consegui esconder a animação ao ver que em breve minha melhor
amiga estaria fazendo seus votos de casamento.
Mamãe passou mais cedo para pegar Archie e levá-lo para a casa deles,
alegando que os dois passariam a noite assistindo filmes de ação, o que deixou
meu filho animado e pulando de um lado para o outro.
A risada de Catarina e Nicole me distraíam enquanto eu terminava de
me arrumar, pronta para encontrar Romeo em alguns minutos, porém, quando
saí do quarto tive meu ar roubado ao ser Justin parado do outro lado,
conversando animadamente com Alexandre. Os dois notaram minha presença,
olhando-me imediatamente, senti minhas bochechas corar à medida que os
olhos de Justin me avaliaram.
Ele se aproximou, sorrindo, enquanto meu amigo descia as escadas,
deixando-nos sozinhos.
— Onde está Archie?
— Foi com minha mãe, hoje ele vai passar a noite com ela. — Ele
assentiu, sorrindo logo depois. E eu vi meu coração golpeando forte contra meu
peito, minhas mãos suando. Cada mísero gesto que aquele homem fazia era
como um golpe no meu pobre coração.
— Vamos comigo? — indagou, estendendo a mão e percebi que Nicole
e Catarina já haviam descido, junto a Alex.
— Tenho que esperar o Romeo — murmurei, encarando sua mão
estendida.
Justin riu, e o som da risada dele fez meu estômago se revirar.
Eu não queria ficar tão afetada diante dele, pois era claro que aquele
homem não ligava para tudo que aconteceu anos atrás e muito menos desejava
um relacionamento.
— Ah, acho que deveria ir comigo então. Vi Romeo sair há poucos
minutos, sozinho. — Rolei os olhos com isso, tinha esperança de que ele
estivesse brincando quando disse que fugiria da despedida de solteira de
Elizabeth.
Sorri, aceitando a mão estendida de Justin, porém, ele não pareceu
satisfeito. Enlaçando meu braço ao seu enquanto descíamos as escadas, senti
meu corpo arrepiado com o simples contato.
— Você não me parece surpresa com a fuga de Romeo — ele brincou,
parando no início da escada, virei-me para encará-lo, vendo o sorriso aberto,
mostrando os dentes perfeitamente alinhados e destacando os lábios vermelhos
e chamativos.
— Não, na verdade. Nada que vem de Romeo me surpreende muito. —
Ele riu, sua mão tocou meu rosto e meu sorriso sumiu, dando lugar a uma
expressão tensa. Justin se aproximou, com nossas respirações se misturando,
arrepiando meu corpo em um misto de sentimentos.
— Você está linda — Justin emitiu, tirando-me da bolha em que eu
estava, fazendo-me rir em nervosismo. Eu estava tão nervosa que parecia que ia
desmaiar. — Não ria disso, Olivia, você é linda.
Seu braço enlaçou meu corpo, colando ao seu em um movimento ágil.
Eu o senti em todos os lugares, os músculos, o peitoral marcado pela camisa
fina, e o reflexo daquele movimento refletiu em meu corpo.
Justin se aproximou, respirando contra meu rosto, e quando eu pensei
que ele finalmente faria aquilo que minha mente estava fantasiando a dias, ele
beijou a ponta do meu nariz, em um gesto que poderia explodir meu coração de
tanta fofura, porém, a fofura não acabava com meu desejo de beijá-lo.
Eu estava ficando cada dia mais frustrada e preocupada com meus atos.

Sorri de Catarina, ainda sentada em uma das banquetas vermelhas da


mesa redonda, enquanto a garrafa de vidro girava entre nós, causando o riso
desenfreado de algumas meninas e os olhares apreensivos masculinos.
Eu nem sequer estava acreditando que estávamos jogando verdade ou
desafio em meus plenos vinte e sete anos. Qual foi a última vez que eu joguei
isso? Ahhh, uns dez anos atrás, ou mais. E eu me sentia uma adolescente rindo
feito boba com medo de que a garrafa parasse em minha direção.
Justin estava sentado ao meu lado, rindo de algo que Catarina acabava
da falar. Fiz careta, pegando minha bebida rosinha e tomando um gole generoso,
meu olhar acabou pousando em Benjamin e Elizabeth, dançando juntos na pista
de dança.
Já passava da meia-noite, já havia tido todo tipo de coisa por aqui.
Gogoboy, stripper, brinquedinhos para lá de eróticos e jogos, que eu me
perguntei de onde tanta coisa havia saído. Elizabeth e Benjamin fizeram isso
para os amigos e convidados, pois haviam passado o tempo inteiro juntos.
Rolei os olhos, chegando à conclusão que com toda certeza aquelas
algemas não serviriam para mim. Mas elas estavam no meu colo depois da
brincadeira com as meninas.
— A gente pode testá-las, se você quiser. — Senti os lábios de Justin em
meu ouvido, fazendo-me soltar um risinho.
Eu deveria cortar aquele tipo de conversa, pois eu não era muito segura
de mim quando se tratava daquele homem.
— Não sabia que você tinha esses gostos peculiares — brinquei,
mordendo o interior da bochecha para segurar o sorriso.
Justin sorriu, bebeu um gole do uísque em seu copo, enquanto sua mão
roçava em minha coxa descoberta. Eu estava meio bêbada, mas puramente
consciente daquele toque, e ele com toda certeza era bem-vindo.
Percebi isso ao sentir minha pele se arrepiando.
— Não, na verdade, você pode até jogar isso aí fora. Tenho minhas
técnicas — ele disse, medindo meus olhos, passando pelo meu corpo.
Corei, sentindo minhas mãos suando com suas palavras nem um pouco
sutis.
— Tá quente aqui, né? — indaguei, rindo nervosa enquanto me abanava
com a mão. Ele sorriu e segurou minha mão.
— Vamos dançar? — chamou arqueando a sobrancelha grossa em
direção à pista de dança, pulei de pé, cambaleando para me equilibrar. Senti
suas mãos em minha costas, ajudando-me e me inclinei para pegar minha
bebida.
Caminhamos para a pista de dança, em minha mão esquerda, meu drink,
enquanto minha outra mão segurava a de Justin. Assim que fomos
completamente engolidos pela escuridão da pista, senti a música fluir entre nós
enquanto meu corpo se remexia levemente.
Afastei-me, colocando a bebida em cima da mesinha na salinha
reservada mais ao fundo, voltando ao meu parceiro de dança rapidamente.
Remexi meus quadris, com minhas costas grudadas em seu peitoral enquanto
nos mexíamos ao som de uma batida eletrizante que vinha do DJ.
Vi o sorriso desenhando os lábios cheios de Justin e não evitei em ser
contagiada com ele, enquanto sua mão rodeava minha cintura, encaixando-me
mais junto ao seu corpo. Eu estava alterada, meio bêbada, com vontade de
quebrar minhas próprias regras e cometer o mesmo erro. A forma que nossos
corpos se encaixavam, a maneira única em que tudo parecia em seu devido
lugar.
E meu coração reagiu a isso, golpeando fortemente contra meu peito.
Virei-me para ele, sentindo meu corpo suando pela agitação e meu
sangue correndo rápido em minhas veias. Segurei seu pescoço, levantando meus
pés do chão até que minha boca tocou a sua, de forma lenta em uma pequena
carícia. Seus lábios reagiram ao toque, tomando os meus em um beijo intenso,
faminto e colando totalmente nossos corpos.
Eu já havia beijado Justin Monroe há muito tempo, e não me lembrava
bem da forma que seus lábios encaixavam nos meus, nem como era o gosto da
sua boca.
Mas no momento, ele tinha gosto de uísque caro e menta, e seus lábios
se encaixavam nos meus com uma perfeição invejável.
— Vamos sair daqui — pedi baixinho, afastando-me o suficiente para
isso. Ele sorriu e eu o puxei pelas mãos, a caminho dos fundos, porém, Justin
não saiu do lugar.
Encarei-o e vi o sorriso de lado em seu rosto. Senti suas mãos segurarem
meu rosto, afundando os lábios nos meus novamente. Enlacei meu braço em seu
pescoço, colando nossos corpos enquanto meus dedos afundavam em seus
cabelos cor de ouro, sentindo a maciez dos fios contra a palma da minha mão.
— Você e bebida não combinam nem um pouco, Justin Monroe —
murmurei próximo aos seus lábios. — Eu sempre faço alguma besteira quando
bebo e fico perto de você.
Ele riu, mostrando os dentes perfeitamente alinhados.
— Ainda está em tempo de desistir — respondeu próximo demais para
quem estava tentando me fazer mudar de ideia. Sorri, negando com a cabeça em
um gesto rápido demais.
Sua mão contra a minha me puxava para fora da boate, senti um agito
forte em meu corpo, senti o medo se apoderar de mim. Toda ocasião me
lembrava que eu deveria falar com ele sobre Archie, mas o medo ameaçava a
me dominar a todo momento.
Realmente, Justin e bebidas não eram uma boa combinação. Porém, eu
não estava nem um pouco arrependida, mesmo sabendo que quando acordasse
no outro dia, teria certeza de que compliquei minha situação em proporções
épicas.

Olivia estava sentada próxima de mim quando o táxi estacionou em


frente à casa da minha família, eu abri a porta, estendendo a mão para ela. A
mulher tinha as bochechas coradas e estava mais alegre pelo álcool, e deveria
ser algum tipo de problema que o álcool sempre era a resolução para nossos
problemas.
Minha raiva dela deu lugar ao desejo e eu apenas queria Olivia. Eu
falava que a odiava, mas a todo momento que ela me abria aquele sorriso, esse
sentimento era simplesmente sugado. E ela me tirou anos de estar ao lado de
Archie, mesmo assim, eu não conseguia chegar nem perto de desejar mal a ela.
O caminho entre a entrada e meu quarto foi feito rapidamente, pois eu
queria apenas segurá-la contra mim, mas não poderia fazer nada disso, pois a
casa dos meus tios estava cheia de convidados e eu não queria nenhum tipo de
conversa correndo por aí.
Assim que a porta se fechou em minhas costas, encarei Olivia, vendo-a
deslizar as mãos para o zíper lateral do vestido vermelho. Ela estava linda, os
cabelos caindo ao redor dos ombros, o vestido curto e os sapatos de salto fino
na mesma cor.
Aproximei-me, passando a chave para nos esconder por algumas horas.
Segurei seu rosto, beijando seus lábios, sentindo-a contra mim, com as mãos
descendo por meu abdome, alcançando a barra da camisa e a puxando para
cima, passando as unhas na minha pele.
Gemi baixinho, sentindo meu corpo responder.
Passei o braço em torno da sua cintura, tirando-a do chão e
aprofundando o beijo, deslizando por sua pele desnuda, seguindo em direção à
cama. Eu a deixei sobre ela, encarando-a de cima. Segurei seu rosto, focando
em seus olhos bonitos.
— Já disse o quanto você é linda, Liv? — Vi as bochechas corarem
levemente com a minha pergunta.
— Já, mas nunca nestas circunstâncias — falou sorrindo, descendo as
mãos para a barra do vestido, puxando-o para cima, revelando a lingerie
combinando. — E acho bom você saber usar meu estado bobinha de forma
correta.
Encarei os seios fartos, sentindo meu pau ficar duro dentro da cueca. Eu
me abaixei sobre ela, beijando a pele delicada do pescoço, descendo por entre
seus peitos, mordiscando a pele, desci minhas mãos pelas suas costas,
alcançando o fecho do sutiã, tirando a peça para longe do seu corpo. Desci
minha boca sobre o bico duro, sugando-o, ouvindo Olivia responder embaixo de
mim com um gemido baixinho. Deslizei minhas mãos pelo outro mamilo,
esfregando enquanto mamava naquela mulher, com as memórias embaçadas de
anos atrás se fazendo presente.
Puta que pariu. Tinha esquecido como ela era simplesmente deliciosa.
— Justin — sussurrou com as mãos segurando as minhas, descendo por
seu corpo do modo que desejava. Eu a toquei por cima da calcinha, sentindo-a
molhada contra meus dedos. Suspirei, abaixando-me entre as suas pernas,
beijando sua pele lentamente, alcançando sua calcinha rendada, mordiscando
sua pele, sentindo-a rebolando em meus dedos, fazendo-me afundar em sua
entrada, fodendo-a com os dedos.
Afastei sua calcinha mais para o lado, passando minha boca pelo interior
das suas pernas, sentindo seu cheiro. Olivia gemeu em antecipação e deslizei
minha boca por sua boceta molhada, brincando com ela, com meus dedos
entrando e saindo da mulher rapidamente.
Quando ela se aproximou do fim, parei, com ela gemendo em protesto.
— Justin, eu vou te matar — resmungou, fazendo-me rir, em seguida
beijei o interior das pernas dela.
— Calma lá, amor, preciso que goze, mas de preferência, no meu pau —
falei abrindo o zíper, abaixando minhas calças. Estava sem cueca hoje e isso era
gratificante.
O olhar de cobiça de Olivia desceu pelo meu pau duro enquanto eu
deslizava a camisinha sobre ele.
— Gosta do que ver, querida? — Sorri, vendo-a ofegar baixinho.
— Um pouco. — Abriu um sorriso lento, inclinando o rosto bonito para
o lado. — Agora preciso que pare de ser filho da puta para que eu sente em
você. — Neguei com a cabeça, rindo enquanto me aproximava da cama,
subindo em cima dela, segurando seus braços acima da cabeça, vendo-a suspirar
baixinho.
— Primeiro vamos brincar, amor — sussurrei contra sua boca,
deslizando meu pau por sua entrada, senti-a protestar com um grunhido baixo.
— Sim, sua boceta quer o meu pau, né? Deliciosa. Pronto para lembrar de como
é ter você, boneca.
Ela gemeu, movendo suas mãos, mas não saiu do meu aperto.
Beijei seus lábios, aprofundando, colando nossos corpos ainda cobertos
e afundei em sua boceta de uma vez, ouvi-a gemer contra minha boca e deixei o
gemido baixo escapar, moendo meu quadril contra o dela. Sentindo meu corpo
ser engolido pelo desejo, pelo prazer que corria contra minha pele em tê-la
sugando meu pau, tomando para si o que já era dela há anos, mas que eu
gostava de ignorar.
Olivia era minha.
Demorou anos para eu saber disso.
E eu não poderia pôr tudo a perder novamente.
Eu a soltei, deslizando as mãos por seu rosto, segurando seu pescoço
firmemente para beijá-la com mais vontade, com mais intensidade.
— Justin — ela sussurrou, com as mãos descendo por minhas costas,
por baixo da camisa e gemi quando suas unhas me aranharam, chegando ao
limite de vê-la gozando com uma expressão deliciosa. Beijei sua pele,
deslizando lentamente dentro dela, sentindo meu próprio limite chegando,
juntando-se a ela no ápice. — Justin — a voz sonolenta tornou a sussurrar.
— Sim, sim, eu sei — respondi beijando seu ombro, deslizando por seu
pescoço, afundando o rosto ali, repousando suavemente sobre ela. — Preciso de
você, Olivia, de novo, um pouco mais e mais uma vez quando acabar.
Ela sorriu suavemente.
— Sou toda sua, Justin. — O sussurro veio acompanhado de suas mãos
deslizando em meus cabelos. E sim, eu sabia que ela era minha. E era
maravilhoso saber que Olivia tinha ciência da dimensão disso. — Por esta noite,
sou toda sua.
Mas ela precisava saber também que não era apenas esta noite.
Eu a queria para sempre. Era cedo demais para pensar nisso, mas eu a
tinha, tinha meu filho e aquela era minha família. Eu só precisava reunir minha
família agora.
Gemi em êxtase, enquanto sentia meu corpo suado colado ao seu em
movimentos frenéticos, em busca da nossa própria libertação. Minhas unhas
arranharam o lençol de seda branca e eu gemi um pouco mais alto ao sentir
todas as minhas forças se esvaírem, respirando ruidosamente com o corpo de
Justin cobrindo o meu.
O sorriso em seu rosto fez meu coração bater forte em meu peito, e ele
me abraçou, trazendo-me para junto de si, com o braço rodeando minha cintura,
dando a certeza de que eu estava novamente nos braços daquele homem, depois
de anos me escondendo dele, eu havia caído na mesma tentação.
— Você está com cara de pensativa. — Sorri, fechando os olhos,
sentindo-me cansada. — O que tanto pensa?
Suspirei e virei-me, encarando-me. A cabeça escorada no travesseiro, o
corpo coberto parcialmente por um lençol fino, e os cabelos loiros e revoltos.
Uma imagem tão linda que fazia todo meu sistema reagir.
Sorri para ele, aproximando-me lentamente, beijei seus lábios, provando
seu gosto, mesclando ao meu enquanto ele me puxava mais para perto, em uma
resposta silenciosa de que me queria tanto quanto eu o queria.
— Estou pensando em muita coisa, mas no momento, prefiro não
mencionar nenhuma delas. — Ele assentiu, beijou o topo da minha cabeça e se
aconchegou mais a mim.
Justin Monroe poderia fazer o que quisesse de mim neste momento. E
era isso que mais me assustava, pois quanto mais próxima eu ficava dele, mais
sentimentos por ele eu estava criando, mais apego e eu sabia muito bem onde
isso poderia chegar.
Eu já era uma pessoa meio propensa a ilusões, e quando eu via uma
oportunidade para criar mais expectativa, agarrava-me a isso com força. E
muitas vezes eu saía machucada, chorando e com o coração partido.
Parte de mim dizia para arriscar, pois a vida era feita de riscos e
devíamos correr todos eles, mas tinha uma parte lúcida de mim que dizia que
não. Apenas pare.
Mas eu ignorei.

Sorri, inclinando a cabeça para trás enquanto ele tentava organizar meus
fios escuros. Justin estava deitado, com a cabeça entre os travesseiros e não me
viu levantar.
Vesti minhas roupas rapidamente, lembrando que às onze teria o último
ensaio com as damas de honra, e eu teria que buscar Archie na casa da mamãe,
pois ele teria que participar já que era o noivinho.
Joguei meus cabelos para frente, pegando o pente em cima da pia,
passando rapidamente pelos fios emaranhados. Minha cabeça estava uma
bagunça completa, desde o exato momento em que me permiti pensar no que
havia acontecido.
Eu dormi com Justin novamente, mas continuava mentindo para ele. E
isso não me agradava nem um pouco, posso garantir. Mentir não é lá uma das
minhas coisas preferidas, mas era tudo que eu fazia desde que tudo na minha
vida mudou.
Suspirei, voltando à realidade e saí do banheiro, vendo que ele ainda
estava dormindo e caminhei em direção à saída, sabendo que poderia falar com
ele mais tarde sobre o que havia acontecido.
— Pensei que você não fugiria desta vez — ele disse, depois de longos
minutos me encarando, e eu senti o ar preso dentro de mim. — Como da última
vez, sabe? Pelo visto, eu estava errado, você iria fugir de qualquer forma.
Arregalei os olhos, em choque das suas palavras nem um pouco sutil.
Justin riu, levantando com calma e veio até mim, invadindo meu espaço
pessoal.
— Você parece estar sempre fugindo, Olivia. — Revirei os olhos,
evitando encará-lo. — Olhe para mim, você ignora até quando eu a encaro, e
ainda tem a audácia de negar que não.
Inspirei, sentindo meu tempo correndo, meu espaço invadido e parecia
que tudo aquilo era uma armadilha. Porém, ignorei essa situação, Hilary nem
Elizabeth contaria a ele. Elas sabiam que eu nunca deixaria, além do mais, ele
merecia saber por mim.
— Eu não fujo de você! — protestei, sentindo-me uma criancinha de
cinco anos que dizia que não pegou algo ou fez algo. Justin riu, negando com a
cabeça.
— Não?! — indagou em forma de me confrontar, neguei, meio duvidosa
com meus atos. — Então desça comigo, vamos buscar Archie na casa dos seus
pais e quando voltar, iremos tomar um café da manhã decente, só nos três, na
sala de jantar.
Bufei, dando um passo atrás sem acreditar no que ele estava propondo.
Ele viu minha reação, rindo e negando novamente.
— Tenho o ensaio com os noivos. Você também e... — Justin não me
deixou terminar.
— Não, Olivia, você se esconde em meio a desculpas. Deixei espaço
aberto para você falar, mas pelo visto, vai morrer assim. — Mordi a língua, para
não soltar todas as palavras presas na minha garganta. — Você foge, de tudo,
fugiu de mim cinco anos, pelos próximos sete também e está fugindo agora.
Como se nada tivesse acontecido...
Meu rosto estava vermelho, eu não estava acreditando nas palavras dele
e senti-me à beira de um precipício. Eu não podia falar. Eu não podia. Não
assim, do nada.
— Você não sabe nada sobre mim! — gritei, apontando o dedo em riste
e me sentindo ridícula. — Não sabe nada, Justin. Você não tem o direito de me
julgar fujona por querer me proteger, por querer me manter a salvo de algo mais
à frente.
As lágrimas salgadas salpicaram meu rosto e eu solucei, afastando-me
devagar. Sentei-me na cama, abaixando a cabeça e me sentindo estúpida por
tudo, pelos cinco anos, por ter criado Archie sozinha, escondendo-o do pai.
— Quando você ia me contar? — Ouvi sua voz, depois de muito tempo
sentada. A primeira reação do meu corpo foi ficar duro feito pedra pelo baque
daquelas palavras. — Você nunca ia me falar nada, né?
As palavras saíram em meio a um sorriso sarcástico.
— Do que está falando? — indaguei, pedindo aos céus que ele não
estivesse falando de Archie. Não tinha como ele ter descoberto tudo.
— Porra, Olivia! — gritou, vermelho e com a respiração ofegante.
Encolhi-me por sua demonstração de raiva. — Não se faça de boba, pois sei que
não é. — Tive que concordar. — Sei que Archie é meu filho, sei que me
escondeu ele todos esses anos e juro que não acredito em toda sua frieza em
fazer isso com o menino.
Minha boca foi ao chão pela surpresa, senti minha cabeça rodando
enquanto tentava inutilmente engolir o bolo que se formava em minha garganta.
— Como você descobriu? — perguntei, foram as únicas palavras que
consegui emitir. As lágrimas caíram com mais força, senti meu coração doendo,
como se estivesse sido esmagado em pequenas partículas. Eu estava grata por
ele já ter descoberto, porém, isso não deixava de ser doloroso.
Pois tinha raiva, mágoa e um tanto de diversão nos olhos de Justin. Eu
nunca o tinha visto assim.
— Isso é mesmo importante? — A voz sarcástica daquele homem não
combinava nada com o amante que tive durante toda noite. E eu me senti um
tanto enganada.
Eu o encarei, séria.
— É claro que importa! — exclamei. — Porque eu passei dias criando
coragem de chegar em você e dizer isso. Pois eu queria evitar exatamente isso.
— Ouvi sua conversa com Hilary. — Fechei os olhos, lembrando-me
exatamente que escolhemos os piores lugares da casa para ter uma conversa tão
séria. — Eu tinha pensado sobre isso algum tempo atrás, mas cheguei à
conclusão de que você falaria se o filho fosse meu. — Riu. — Um engano
ridículo, né?
Ele não parecia o mesmo, eu vi a raiva brilhando em seus olhos e soube
no mesmo instante que ele fizera tudo aquilo por vingança, ele queria fazer com
que eu sentisse a mesma dor que ele por ter escondido Archie.
— Dormiu comigo como vingança? — indaguei, com medo da resposta.
Justin travou e quando não respondeu, tive minha resposta.
Senti-me usada, pela primeira vez na vida, me senti assim. E era uma
sensação horrível, posso garantir. Porém, eu não sabia se tinha o direito de me
sentir assim.
Forcei o bolo na garganta a se desfazer, sentindo-me suja e com meu
orgulho ferido.
— E sim, eu sinto muito por esconder Archie. — Foram as únicas
palavras que consegui emitir, em meio a um bolo de sentimentos que me
sufocavam cada vez mais. — Mas se serve de consolo, quando eu tive coragem
para falar, você ia se casar, Justin. O que queria que eu fizesse? Seria doloroso.
Para mim, para você, para sua esposa.
Ele assentiu lentamente.
— Isso não é desculpa para nada, Olivia.
Levantei-me, peguei meus pertences jogados sobre a mesinha de
cabeceira e caminhei para fora do quarto, passando por ele em silêncio, sentindo
minhas pernas moles feito gelatina provocado pela minha súbita instabilidade
emocional.
— Vai, Olivia, foge mais uma vez — eu o escutei murmurar.
Suspirei, buscando coragem para responder a ele, e quando encontrei,
senti meus olhos úmidos.
— Eu vou fugir sim, Justin. Fiz isso há cinco anos e fazer agora não
surpreenderia a ninguém. Agora, se você espera um “você tem razão”, tudo
bem. — Suguei o ar com força. — Você tem razão, eu não tinha o direito e sinto
muito, porém, eu não vou ficar aqui ouvindo você gritar e bater no peito sobre
seus direitos, ainda mais de ter dormido comigo como forma de conseguir me
atingir.
Escutei algo que parecia um arquejo de surpresa, contudo, não o encarei.
Em seguida, o escutei rindo, e eu quase jurei ouvir o barulho de algo se
partindo. Talvez fosse a merda do coração.
— Você também tem razão, Olivia. O que aconteceu essa noite não
passou de uma forma de quebrar você em vingança ao tempo perdido. — Uma
lágrima pincelou minha bochecha antes de abrir caminho para outras mais.
Sorri, em meio a toda aquela bagunça interior e respirei fundo.
Buscando racionalidade dentro de mim.
— Sabe, o que eu fiz foi ruim, mas isso foi baixo demais. Até mesmo
para você. — Abri a porta, saí, em seguida a bati em minhas costas e corri para
o quarto do outro lado, me permiti desmoronar sentindo aquela dor enorme
dentro de mim.
Tinha que contar a Archie sobre o pai, pois se eu não fizesse isso, ele
acabaria sabendo por Justin e isso seria ainda mais dolorido para meu filho, não
que fosse algo ruim, mas eu fugi tantas vezes sobre esse assunto que nem sei
bem a teoria que meu filho criou em sua cabeça.
Eu falhei tanto com ele nessa parte, que tudo que consigo pensar é em
não o magoar ainda mais.
Limpei minhas lágrimas, mesmo que elas insistissem em cair, levantei-
me da cama e caminhei para o banheiro, um banho tiraria de mim a sensação de
estar suja neste momento. Pelo menos, era isso que eu esperava.
Porém, mesmo quando um soluço irrompeu em meu peito, senti tudo
desmoronando novamente, percebendo que não adiantava mentir, doía muito
tudo que ele disse.

A raiva me cegou.
Ver Olivia fugindo na manhã seguinte, novamente, me deixou puto e
não consegui controlar a situação, magoando em dizer que havia sido apenas
por causa da vingança, sendo que eu sabia exatamente tudo que eu sentia
quando ela se aproximava, quando ela sorria ou simplesmente no fato de ser a
mãe do meu filho.
Eu me casei, eu sabia o que era amar alguém, mas, ainda assim, mesmo
com Aubrey, não havia sido daquela forma.
Olivia tinha um ponto de diferença.
Ela não era uma mulher que eu conheci de modo aleatório. Eu a
conhecia pela minha vida toda e sabia que ela estava magoada comigo quando a
vi sair do quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos cheios de
acusações.
Suspirei, afundando na cama e encarei os lençóis bagunçados, querendo
voltar algumas horas atrás e tê-la ali. Faria tudo diferente, controlaria a raiva e
não a magoaria.

Romeo colocou a taça de champanhe em minha frente, abrindo um


sorriso em minha direção. Ele segurava o telefone e virou em minha direção à
imagem de Eric com o filho nos braços.
— Diga a Eric — meu primo exigiu.
— O que, Romeo? — indaguei bebendo um gole do champanhe. A casa
estava um caos. Com o ensaio de casamento se aproximando, tinha funcionários
correndo por todos os lados e champanhe não era a coisa mais estranha às oito
da manhã. — Bom dia, Eric, conseguiu tempo para vir?
Ele negou rapidamente, balançando o menino em seus braços.
— Não, não. Só Romeo me perturbando às oito da manhã mesmo. —
Revirou os olhos. — Ele disse que você tinha novidades.
Meu primo virou o telefone para si mesmo.
— Ele e a Olivia estão juntos! — Romeo exclamou, fazendo-me
engasgar.
— Porra, como sabe disso? — indaguei rapidamente, colocando a taça
de lado. Romeo sorriu.
— Vi vocês juntos ontem. — Encolheu os ombros. — Mas e aí, se
acertaram?
Virou o telefone em minha direção.
— Não, brigamos — respondi frustrado. — Não saiu bem como o
planejado.
— O que você fez? — Eric indagou, franzindo o cenho.
— Sim, o que você fez? — Romeo já falou fechando o rosto em uma
expressão quase mortal. Revirei os olhos, sabendo que o sermão viria de ambos.
— Eu joguei na cara dela um fato e brigamos. Acabei dizendo que era
por causa de vingança. — Remexi-me inquieto, ouvindo Romeo bufar com
minha resposta e bebi meu champanhe calmamente, sabendo que nada que eles
falassem no momento mudaria minha situação.
Eu cavei minha cova com Olivia. E agora eu iria até o fim.
O ensaio da tarde não havia nem começado e eu já sentia todo meu
corpo tenso, meus dedos estavam brancos de tanto que apertei a barra do
vestido, enquanto meus olhos deslizavam de Catarina para Justin, conversando
animadamente.
Romeo tagarelou ao meu lado, fazendo-me rir de algo que eu não havia
entendido muito bem, porém, ele já andava meio desconfiado comigo, se eu
agisse estranho perto dele, seria o fim da farsa que eu tentava manter.
Archie saiu com papai para pescar pela manhã, então, quando fui buscar
eles não haviam chegado e mamãe garantiu que o traria de volta antes do
casamento amanhã, o que me deixou temerosa, pois eu queria falar com meu
filho antes de tudo, para ele ter tempo de digerir a informação.
— Vem, vamos fingir que você não está prestes a vomitar neste ensaio
— Romeo interveio em meus pensamentos, fazendo-me encará-lo arregalando
os olhos. — O quê? Pensa que nasci ontem, querida? Sei que você e o
engomadinho do meu primo andaram se amassando por aí, não sei bem o que
houve depois, pois minha bola de cristal quebrou, mas algo deve tê-la deixado
muito chateada.
Suspirei, enlaçando nossas mãos enquanto ele me puxava rumo à mesa
com café e vários petiscos que foram servidos. Sorri dele falando que odiava
casamentos de ricos, as pessoas nunca serviam comidas de verdade.
— Mas você é família, Romeo, não é nada novidade para você —
retruquei, mordendo um canapé.
Ele riu.
— Para você não, belezinha. Sua família também é cheia das
frescurinhas. — Sorri, negando com a cabeça. Sim, mas fazia muito tempo que
eu não participava e nem organizava algo para os amigos dos meus pais, então,
metade das etiquetas ficaram em segundo plano.
— Pessoal! Um pouco da atenção de vocês. — Virei-me escutando
Elizabeth nos convocando. Ela vestia uma calça de alfaiataria branca, de boca
larga e malha esvoaçante, blusa preta justa ao corpo e uma jaquetinha. Como ela
conseguiu fazer aquela combinação soar legal, só Deus sabe. — Martin disse
que a combinação de casais está horrível — fez careta olhando em direção ao
organizador, e eu fiquei automaticamente tensa —, ele recomendou algumas
alterações, nada muito crítico, prometo.
Senti meu corpo tremer, tinha um sentimento estranho de que nada de
bom viria daquilo. Ela colocou Nicole e Romeo juntos, fazendo minha amiga
arregalar os olhos em desespero. Logo mais, Alexandre gemeu ao ser colocado
ao lado de Catarina, que deu uma risadinha sacana em direção ao loiro.
— Vem, doutor, pelo menos eu vou ter uma desculpa para pisar no seu
pé durante a valsa das madrinhas — a loira falou e eu segurei o riso, vendo a
diversão dela ao fazer o loiro sofrer.
Porém, toda a graça evaporou ao ver que os únicos que restavam eram
eu e Justin, que tinha uma expressão de impaciência no rosto. A lembrança da
nossa discussão mais cedo me fez tremer.
— Justin, tire essa expressão do rosto e se junte logo a Olivia, sabem
muito bem que são os únicos que sobraram, não vou precisar desenhar —
Martin disse encarando as unhas em uma posição entediada.
Senti Justin se aproximando e ele estendeu o braço, onde enlacei o meu,
sentindo todo meu corpo queimando em uma sensação ruim, e o desconforto era
palpável aos olhos de qualquer pessoa.
— Tem como você fingir que não vai vomitar a qualquer momento? —
ele indagou, com a voz transbordando ironia.
Revirei os olhos.
— Não, não me importo se todos souberem o quão desprezível você
pode ser — murmurei em resposta.
Justin riu, abaixando a cabeça como se nada daquilo realmente o
abalasse.
— Fica fria, Olivia, não vai ser só eu quem eles vão me achar
desprezível. Porém, não pretendo jogar isso na fogueira e ver o circo pegar
fogo, estava com planos de ver você se destruir sozinha quando receber a visita
dos meus advogados. — Fechei os olhos com força, colocando um sorriso no
rosto. Levantei o olhar, olhando bem fundo daqueles olhos azuis brilhantes que
poderiam hipnotizar qualquer pessoa.
Contudo, no momento, minha raiva por ele era muito maior que
qualquer desejo.
— Eu estou tranquila, Justin, você pode tentar me atacar da forma que
quiser. Entretanto, eu amo meu filho e nunca vou abrir mão dele — respondi,
confiante e sorrindo. Vendo-o manter o sorriso.
De longe, parecíamos que estávamos conversando amigavelmente, mas
só quem ouvia sabia os significados daquelas palavras.
— Você tem opções, Olivia. Posso facilitar as coisas para você —
murmurou, senti seu hálito quente contra meu rosto.
Sorri, colocando-me à sua frente. Minha mão segurou a sua em um ato
íntimo, fingi estar em uma conversa amigável.
— Ah, e isso inclui me colocar na fogueira? — Justin se inclinou e
segurou minha cintura. Senti meu corpo em chamas, com o simples toque.
— Não, podemos nos casar. Você não vai perder seu filho e eu ainda vou
ter uma família para minha mãe parar de falar sobre mim. — Minha mão saiu
rapidamente da sua e coloquei-me ao seu lado novamente.
Senti a raiva inflando dentro de mim, sufocando-me.
— Eu esperava que você fosse me matar, seria menos baixo que sugerir
me casar com você por puro fingimento — retruquei, encontrando o olhar de
Elizabeth do outro lado do campo, onde ocorria o ensaio. Catarina e Alexandre
estavam na metade do caminho, os próximos seriam nós.
— Você quem sabe. Achar baixo é uma opção sua, porém, seria a
resolução de nossos problemas — ele retorquiu, guiando-me pelo caminho
improvisado de flores. Ouvindo um som de violinos no fundo. — Você não se
separaria de Archie, poderia aumentar seu ateliê e eu o teria, ainda poderia
amenizar a preocupação da minha família sobre eu estar de luto há muito
tempo. Todo mundo sairia ganhando.
Revirei os olhos, sentindo-me enjoada.
— Nunca, Justin Monroe, você nunca vai conseguir me convencer dessa
ideia. — Ele riu, como se minhas palavras nunca lhe atingissem. — Ah,
inclusive, pare com esses sorrisinhos, eles são irritantes — explanei, mal-
humorada.
— Ah, ontem à noite você não reclamou, querida — falou de modo
prepotente e eu quase caí na metade do caminho, mas ele me sustentou.
— Ora seu...! Esqueça que aquilo aconteceu. — Revirei os olhos,
sentindo minhas bochechas vermelhas. — Deus, você é tão cansativo e
presunçoso.
Justin se aproximou e beijou meu rosto assim que paramos ao lado dos
meus amigos, em um ato íntimo demais para quem estava trocando farpas.
— Sei que me ama, querida — murmurou em meu ouvido. Senti todo
meu corpo se arrepiando, minhas bochechas coradas com as lembranças da
noite passada passando em minha cabeça, antes de tudo acontecer, antes de as
boas lembranças serem tomadas pelas palavras duras que veio logo em seguida.
— Amo sim, Justin, amo quando você fica calado. É mais bonito —
respondi irônica, concentrando-me nas instruções de Martin sobre a minha
quase queda no meio do caminho. Alguns segundos depois nos sentamos para
tomar um lanche, assim que Elizabeth me viu sozinha se aproximou.
— O que você tem? — a loira indagou alisando meus fios escuros.
— Nada. Por quê? — Olhei sobre seu ombro, procurando Justin com o
olhar. Tinha medo de que a qualquer momento ele decidisse ir atrás de Archie e
falasse tudo.
— Então por que está chateada? Romeo disse que estava.
— Elizabeth! — exclamei, sorrindo. — Sério, não é nada — a
tranquilizei.
— Sabe que a gente precisa conversar sobre Archie, né? — ela
questionou e eu assenti, abaixando a cabeça. — Não estou brava com você,
Olivia, você é minha melhor amiga. Nunca poderia ficar zangada, porém,
confesso que fiquei um pouquinho magoada de você não ter me contado e
compartilhado um momento tão difícil para você comigo. Mas vou entender que
é seu momento, seu segredo.
Eu a abracei, sentindo uma lágrima teimosa cair dos meus olhos.
— Obrigada. — Ela riu e caminhamos juntas para o resto dos nossos
amigos.

Archie se jogou na cama assim que passou pela porta, sorrindo com
expectativa quando me sentei ao seu lado. Ele estava com as bochechas
vermelhas do sol, uma camisa velha e um macacão que ia até os pés, estava um
verdadeiro pescador mirim, pois havia passado o dia com meu pai no lago.
— Vovô disse para falar com a mamãe quando chegar. O que houve
mamãe? — indagou, encarando-me com aqueles olhinhos brilhantes. Abri a
boca para respondê-lo, mas as palavras ficaram presas em minha garganta.
Suspirei, fechei os olhos e senti sua mãozinha quente contra a minha,
que estava gelada pelo nervosismo. Senti meus olhos lacrimejando pelo
sentimento de conforto que meu filho me trazia e sorri, abrindo os olhos
novamente.
— A gente precisa conversar, Archie. — Ele balançou a cabeça, desta
vez não havia mais o sorriso aberto, apenas a velha obediência do meu pequeno.
— Sobre seu papai.
Ele arregalou os olhos, pulou da cama sorrindo enquanto eu via toda
uma felicidade transbordar dele, senti meu coração comprimir e ficar do
tamanho de um grão de areia.
— Ele voltou mamãe?! — perguntou, pulando novamente em meu colo
enquanto sorria feliz.
Franzi a testa, encarando-o.
— Como assim voltou, querido?
— Ah, sabe a Debby? — Assenti ao vê-lo mencionar a amiguinha da
escola. — Ela perguntou quando meu papai ia voltar, eu perguntei pra ela se os
papais voltavam. Debby disse que a mamãe dela explicou que os papais voltam,
às vezes eles demoram, mas voltam.
Ele me encarou, com os olhos cheios de expectativas.
Eu errei tanto com ele, que só soube pedir perdão em silêncio enquanto
abraçava seu corpinho junto ao meu.
— Perdão, querido. Me perdoa — murmurei contra seus fios loirinhos,
soluçando. Ele se afastou, segurando meu rosto contra suas palminhas
pequenas.
— Mamãe — choramingou dengoso e ameaçando a chorar. — Não
chora, mamãe. Papai voltou, né? Agora vamos ser uma família — ele
murmurou, beijando meu rosto por completo. Meu nariz, minha bochecha, e eu
sorri, com a simplicidade vista pelos olhos de uma criança.
— Sim, querido, ele voltou. Só que você já o conhece... — sussurrei
baixinho, com medo da reação que aquelas palavras teriam nele.
— Já? — indagou, com os olhos arregalados.
— Sim, sabe, você adorou conhecê-lo. Gosta de ficar no colo dele e
chama ele de tio Justin o tempo todo! — Sorri, beijando suas bochechas.
— O tio Justin?! — ele praticamente gritou. — Ele é meu papai?
Sorri, tentando tranquilizá-lo.
— Sim, bebê. O Justin é seu pai, desculpe não ter contado, querido.
Desculpe mesm... — Ele não me deixou terminar, jogou-se em meus braços,
abraçando-me enquanto sorria.
— Obrigado, mamãe. Obrigado. Agora nós temos o papai e vai ficar
tudo bem, entende? — Sorri, não, não ficaria tudo bem. Pelo menos para mim.
— Sim, meu bem. Tudo vai ficar bem. — Beijei-lhe a bochecha, com
ele em meu colo e caminhei para janela. — Você quer vê-lo, Archie? Quer falar
com ele?
E quando meu filho concordou, meu coração se afundou. Ele estava tão
feliz, enquanto eu sentia meu coração balançando dentro do peito pelo medo,
ansiedade e horror.
Caminhei para fora do quarto, passando pela porta de Justin e desci as
escadas. Vi Hilary sentada no sofá da sala, dobrando algo para se distrair, sorri
para ela e caminhei para fora da casa ainda com meu filho nos braços.
Tinha quase cinco anos, mas ele ainda andava como um bebê de colo.
Menos quando estava perto de seus coleguinhas, o que era divertido.
— Mamãe, o papai gosta de mim? — murmurou, contra meu pescoço.
Suspirei, com meus olhos esquadrinhando toda a praia deserta a alguns metros,
logo fui atraída pela figura de Justin que saía do mar, vestindo apenas shorts de
mergulho e com o corpo pingando e brilhando pela água.
Maldito seja a santinha dos homens bonitos.
Sorri, e beijei a testa do meu menino.
— Não se preocupe com isso, Archie, papai ama você — respondi
baixinho, repetindo isso para mim mesma.
Mesmo sabendo que nunca Justin trataria Archie mal, no entanto, eu não
sabia como estava as emoções dele sobre o assunto e eu tinha medo do que
poderia acontecer. Porém, respirei fundo e marchei rumo à praia, sentindo a
areia fofinha contra meus pés descalços.
Archie pediu para descer e logo foi correndo rumo a Justin, parando para
pegar várias cascas de caracóis na areia. Assim que chegou frente a frente ao
pai, parou, receoso com o que fazer.
Obriguei-me a caminhar até lá, parando de frente para Justin,
observando sua expressão confusa. Ele arqueou a sobrancelha em minha
direção, em uma pergunta silenciosa, assenti concordando.
— Ei, garotão. — Ele se abaixou na frente de Archie, porém, a
expressão surpresa se fez presente logo depois, quando meu filho se jogou
contra ele em um abraço apertado. Escondendo o rosto no pescoço do pai.
Justin o abraçou e eu segurei meus ciúmes ao ver o sorriso pincelando o
rosto dele.
— Papai — meu bebê disse, em meio um soluço todo manhoso e eu me
virei de costas para eles, sentindo minhas lágrimas molhando o rosto enquanto
eu os ouvia conversando baixinho.
Senti aquela mesma culpa me corroer enquanto falava a mim mesma que
não poderia me preocupar com isso agora em meio a tantas coisas para resolver.
Tinha que focar minhas forças em não deixar Justin levar meu filho de mim e...
— Papai, agora vamos ser uma família, né? Eu, você e a mamãe — meu
pequeno murmurou, quase me engasguei, encarando-os ainda meio abraçados.
Justin rui, bagunçou os cabelos loiros do meu filho.
A semelhança era tanta que me deixava tonta.
— É claro, meu garoto. Vamos ser uma família! — exclamou a última
parte, focando os olhos em mim, o sorriso arrogante que era inexistente para
Archie se fez presente e eu soube.
Justin Monroe não mediria esforços para me forçar a aceitar aquela ideia
ridícula. No entanto, eu estava disposta a tudo para não perder. Não iria perder
meu filho, nem que eu passasse o resto da vida lutando por ele.

Archie estava sentado em meu colo, falando sobre a escola e como era
sua vida com a mãe, enquanto Olivia nos observava de longe, conversando com
os pais próximo à entrada da casa dos meus tios. Beijei os fios loiros do meu
menino, sentindo o cheirinho de perfume infantil e Archie, e eu nunca pensei
que diria isso, mas era como encontrar uma metade perdida.
Estendi minha mão em nossa frente, vendo sua mãozinha sobre ela,
segurando meu dedo com firmeza. Apertei de volta, beijando o dorso em
seguida.
— Papai — falou atraindo minha atenção.
— Sim? — indaguei, encarando-o de lado. Archie lembrava minhas
fotos de quando era criança, o mesmo rosto, os cabelos tão loiros que chegava a
ser meio amarelado e os olhos no mesmo tom.
— Por que o senhor não voltou antes? — perguntou, fazendo-me travar.
— Como assim, querido? — indaguei, tirando os fios da frente do seu
rosto.
— Os papais às vezes ficam longe, né? Mas por que o senhor não veio
logo? Eu esperei muito, muito tempo — falou frustrado, bufando em seguida.
Sorri de canto, beijando sua bochecha. Seja lá a história que Olivia contou,
sobrou para mim, e isso fez a raiva ser novamente um sentimento latente.
— Papai esteve muito ocupado, querido, sinto muito. — Alisei seu
rostinho delicado. — Mas eu não vou mais embora, ok? — indaguei. — Não
vou mais a lugar nenhum, Archie.
Ele sorriu e se levantou, segurando meu rosto.
— Eu amo você, papai Justin — sussurrou. — Fico feliz que seja o meu
papai. É o melhor de todos.
A opinião de um garoto de quase cinco anos não era lá grande para
alguns, mas para mim, neste momento, significava o mundo inteiro.
— Você que é o melhor, Archie. E eu amo você. Do tamanho do
universo — sussurrei, arrastando-o contra meu peito, beijando o topo da sua
cabeça. Olivia me tirou anos disso, e acredito que no momento, o ódio tenha
retornado.
Saber o quanto era bom estar com Archie me fazia sofrer.
E eu queria que ela sentisse um pouco desse sofrimento também.
Aproximei-me do caminho de flores estendido no trapiche que fora feito
para manter a areia longe dos saltos. Suspirei caminhando ao redor, vendo as
cadeiras sendo preenchidas pouco a pouco.
Ouvi o murmurinho das pessoas, do sol se pondo no horizonte,
iluminando a praia ainda com poucos raios e logo fui chamada de volta, pois era
a hora das damas de honra. Eu seria a última, juntamente com Justin.
Meu vestido de seda rosé justo ao corpo, combinavam com meus saltos
dourados com duas fitinhas prendendo em meu tornozelo. Sorri, dando meia
volta e caminhei para junto às damas de honra, não iria falar com Elizabeth
antes dela caminhar até o altar, ela me fez prometer isso.
Dizendo que acabaríamos parecendo um panda se nos permitisse falar
abertamente do quanto aquele momento significava para nós. Eu concordava,
por isso, não era um sacrifício.
Justin estava me encarando de frente enquanto meus saltos faziam
barulho pelo porcelanato da casa, suspirei, pairando ao seu lado sentindo meus
músculos tensos com o que faríamos.
Não vai ser tão ruim. Não vai ser tão ruim. Não vai ser...
— Você pensou com carinho sobre o que falamos, certo? — o escutei
murmurando, fazendo-me gemer mentalmente em desespero. Ele riu da minha
careta nada discreta. — Ei, não faça essa cara. Archie está contando com isso,
não vai decepcioná-lo.
Rosnei em resposta, vendo Archie e a prima de Elizabeth de mãos dadas
entrando no salão improvisado e bem decorado.
— Ele está contando com isso, pois você deu a entender que seríamos
uma família feliz. Como aquelas de comercial de margarina! — exclamei
baixinho. — Mas, Justin, nós não somos. E nunca vamos ser, mesmo que você
tente me encurralar de todas as formas. Não quero me casar com você e não
vou.
Ele revirou os olhos de modo impaciente.
— Certo, eu estava tentando fazer isso fácil para os dois. Porém, você
não está colaborando, Olivia — murmurou calmo. — Então, vou optar por
opções mais difíceis e dolorosas.
Arqueou a sobrancelha em um desafio silencioso.
— Você pode tentar tirar meu filho da forma que quiser, Justin, não vou
desistir. Vou lutar por ele até o fim, até você ver que uma criança não é apenas
feliz com um pai e uma mãe. — Suspirei. — Existem casos que crianças
convivem bem morando com a mãe e tendo as datas de ficar com pai. Você
trabalha muito inclusive, nem teria tempo para ficar com Archie.
O rosto dele se tornou sério.
— Não vou ficar longe de Archie, Olivia, nem adianta todo esse
discurso seu. — Bufei em desespero. — E mais, eu trabalho muito, sim, mas
isso não vai ser problema para ficar com meu filho. Além do mais, fiquei
sabendo que seus pais não lhe ajudam a sustentar sua casa e meu filho, então
toda sua renda vem de um ateliê que pelo que pesquisei, não rende muito. E
analisando todos os prós e contra, vejo que deve se preocupar.
Senti meu corpo suando, meu coração batendo descompassado contra o
peito, porém, não era pelo fato que estávamos caminhando em direção ao altar
em meio a uma discussão, e sim, por raiva. Muita raiva.
— Não acredito que vai usar sua situação financeira para me atingir! —
exclamei raivosa, fincando minhas unhas contra seu braço.
— Estamos jogando sujo certo, Olivia? Então, usar meu dinheiro seria
só um bônus ao jogo. — Deu uma risada sarcástica, parando ao lado de Nicole e
Romeo, que me olhou com as sobrancelhas arqueadas. — Ah, não esqueça.
Estou voltando para Nova Iorque na terça, em breve você pode receber a visita
dos meus advogados.
Senti meu coração batendo forte contra meu peito, como se tentasse
fugir.
— A gente não pode mesmo fazer isso como pessoas civilizadas? —
rosnei, em desespero.
— Sim, você se casa comigo, e o único processo que teremos que
enfrentar é para colocar meu sobrenome junto ao dele, portanto, você não aceita
isso de forma alguma. — Ele suspirou, como se aquilo realmente fosse algo
muito horrível.
Eu tinha uma certa raiva das leis, muitas vezes, elas não eram nem um
pouco justas. No entanto, meus pensamentos foram roubados pela macha
nupcial, e eu encontrei o olhar feliz da minha melhor amiga, encarando
Benjamin com carinho.
Os cabelos loiros presos no alto da cabeça, o sorriso indo de orelha a
orelha enquanto os olhos azuis brilhavam pela emoção.
Sorri, limpando a lágrima que escapou dos meus olhos enquanto a via
rir, ao olhar rapidamente para mim.
Elizabeth chegou até Benjamin e eu senti aquela conexão de onde eles
estavam. Emanavam amor e companheirismo. O sol do fim de tarde estava
sobre eles, dando sua benção enquanto as mãos dos dois estavam entrelaçadas
ouvindo as palavras do juiz, sorrindo, em meio às lágrimas de felicidade.
— Por que você acha que também não podemos fazer isso? — escutei a
voz de Justin contra minha orelha.
— Porque eles têm amor, são companheiros, se respeitam, Justin. — Fui
sincera, ainda encarando as mãos dos dois unidas. — E nós nunca
conseguiremos ser bons nesses dois sentimentos ao mesmo tempo.
Meus lábios se fecharam em duas linhas tensas com essas palavras e eu
soube que aquela era a verdade. A mais nua e crua verdade.
Eu queria alguém que apenas me amasse, que fosse meu, que quisesse
tanto aquilo quanto eu. E Justin queria uma conveniência, e me machucar no
processo de tudo, queria me fazer sofrer por tê-lo tirado cinco anos com Archie.

Beberiquei o champanhe observando os noivos rindo dos discursos dos


padrinhos, Justin havia acabado de descer, logo após de Romeo seria eu, depois
só faltaria Nicole. Para finalizar essa parte e entrarmos finalmente na
comemoração.
Romeo riu de algo que ele mesmo falou, segurando o microfone contra a
bochecha em um gesto que seria fofo se ele não fosse o Romeo.
— Eliza, você sempre vai ser a garotinha com duas falhas no dente que
perturbavam até meus ossos — sorrimos —, mas eu amo você, irmãzinha,
mesmo que nunca apoie minhas loucuras, eu amo você. E se o babaca e
engomadinho do Benjamin fizer alguma besteira, tranquilo, eu acabo com ele.
— Romeo! — Elizabeth gritou, horrorizada enquanto ria das besteiras
do primo, caminhou até ele, abraçando-o forte. Ele a rodou no ar, fazendo a
loira gritar.
Logo ele me entregou o microfone e eu subi até lá, vendo Hilary
sorrindo para mim, com as mãos enlaçadas à da mamãe, como sempre ficavam
em todos os eventos.
— Bom, eu conheci Liz quando ainda era pequena, e hoje, vinte anos
depois, ainda somos melhores amigas. — Encarei a loira, vendo-a inclinar a
cabeça para o lado e sorrir. — Benjamin chegou depois. E juro que senti um
pouquinho de ciúmes dele no começo, pois até aquele momento, éramos apenas
eu e Liz.
Benjamin riu.
— Só que ele também se tornou um dos meus melhores amigos.
Conheço-os juntos e separados. Os dois são opostos de uma mesma moeda e
são perfeitos, pois merecem muito estar juntos e ser felizes. E é uma honra fazer
parte do dia especial de vocês.
Quando finalizei, estendi a taça no ar, ficando feliz pela minha melhor
amiga. Apesar de que, no momento, eu nunca estive mais triste.

A dança com os padrinhos seria uma tortura. Eu já sabia, mas fazer isso
com Olivia não me encarando era ainda pior. Ela tinha cheiro de morangos e
estava linda no vestido de seda rosé que era padrão em todas as damas de honra
de Elizabeth. Abaixei a cabeça, com o nariz próximo ao seu pescoço, sentindo
seu cheiro que estava vivo em minha memória desde a noite anterior.
Suspirei, movendo-me ao som da música instrumental.
— Eu odeio você de um tanto agora — ela falou baixinho, encostando a
cabeça em meu ombro, colando o corpo ainda mais ao meu. Deslizei minhas
mãos por suas costas, abraçando-a melhor.
— Não parece — sussurrei, beijando seu ombro lentamente.
Ela sorriu baixinho.
— É porque eu estou triste demais para brigar com você. — Virou a
cabeça, apoiada contra mim, mas me encarando desta vez. — Não acredito que
você vai ser responsável pelo meu único coração partido.
Coloquei a mecha escura do seu cabelo para trás, desconcertado com sua
sinceridade.
— Não é possível que eu seja seu único coração partido.
Olivia fechou os olhos. E isso era ruim, pois eu não conseguia ver o que
ela sentia, e quando eles estavam abertos, era como ter acesso à cada mísera
sensação dela.
— Talvez não — apertou meus ombros —, mas até hoje, é o máximo de
dor que eu senti por um homem. E olha que tive parto normal.
Sorriu de canto, ainda sem me encarar. Estávamos quase parados no
meio do salão e me aproximei, beijando o topo da sua cabeça.
— Sinto muito — sussurrei.
— Seu sinto muito não retira o que você disse. Nunca vai tirar. — O tom
de mágoa em sua voz era cortante. Doloroso, eu diria. E eu apertei Olivia em
meus braços, como se ela não pudesse escapar.
Na manhã seguinte ao casamento de Elizabeth e Benjamin, eu retornei à
Nova Iorque, depois de quase sair correndo de Newport para resolver todos os
problemas que estavam caindo em minha cabeça, recebi uma visita de Paul
McBloom, um advogado especialista em casos como reconhecimento de
paternidade. Ele me foi indicado por Romeo, que estava por dentro de tudo que
vinha acontecendo nos últimos dias.
Hoje já era a segunda visita do advogado e já tinha quase uma semana
desde que cheguei à cidade. O medo e nervosismo só aumentava a cada dia.
Paul sorriu, retirando de dentro da pasta de couro uma porção de papéis.
Eu os peguei, sentindo a textura pesada contra meus dedos.
— Nestes documentos estão todas as possíveis formas que o senhor
Monroe pode recorrer para o reconhecimento da paternidade e com isso, ficar
com a guarda da criança. — Assenti, folheando os papéis cheio de letras. Tudo
estava rodando pelo medo. — Hoje pela manhã, recebi uma ligação, avisando
que ele já havia entrado com a petição para o reconhecimento.
Assenti, colocando os papéis sobre a mesa de centro.
— Sim, ele me falou quando veio buscar Archie pela manhã —
respondi, sentindo minhas mãos tremendo. Eu as apoiei sobre meu colo,
tentando inutilmente me acalmar. — Justin ligou, perguntando se poderia pegá-
lo para um passeio.
Paul assentiu, encarando-me por breves instantes. O homem era um
enigma, não falava muito, tudo que eu sabia sobre ele era que tinha belos olhos
cor do mar, e era um belo vencedor em tribunal. Quase imbatível, podemos
assim dizer.
— Entendo, pelo que vi, você e o senhor Monroe tinham se envolvido
amorosamente há pouco tempo, correto? — Senti minhas bochechas ficarem
rosadas, nosso primeiro encontro não foi lá muito proveitoso. Bom, para mim,
foi vergonhoso.
Eu praticamente despejei tudo que havia rolado entre mim e Justin
durante todo o período que nos conhecíamos, desde a forma vergonhosa que
acabei em sua cama anos atrás, há minha última recaída, faltei dizer que o sexo
foi maravilhoso e provavelmente o melhor da minha vida.
É, digamos que eu não fui muito discreta.
Dei uma tossida básica tentando não ficar parecendo um tomate maduro.
— Sim, sim. — Pisquei várias vezes, vendo um sorrisinho de canto de
boca no advogado. A primeira expressão que eu consegui detectar em todo esse
tempo. — Mas não foi algo muito... relevante! Isso, não foi nada relevante —
voltei a afirmar, encarando meus tênis de corrida.
— A senhorita não acha que resolveria bastante coisa — fez uma pausa,
remexendo-se no sofá. Colocou os cotovelos apoiados nos joelhos, inclinando-
se para frente —, se casando com ele, já que os dois parecem envolvidos
amorosamente nisso?
Abri a boca, em completo choque, enquanto as palavras se repetiam
inúmeras vezes em minha cabeça. Qual é o maldito problema das pessoas?!
— Não! Eu não vou me casar com Justin apenas para ter meu filho —
resmunguei, cruzando minhas pernas em um gesto rápido. Paul abriu a boca,
assustado, em completo choque e segundos depois, assentiu.
Levantou-se e arrumou o paletó escuro, alinhando ao corpo.
— Tudo bem, senhorita Turner, podemos ir pelo caminho mais fácil... —
Levantei-me também, entendendo muitas falhas naquela negociação, cruzei os
braços em frente ao peito em um ato de defesa.
— Não, senhor McBloom, não podemos — respondi rápido, vendo-o
arquear a sobrancelha. — Não sei que merda está acontecendo, mas estou aqui,
pagando você para que fique ao meu lado e me mostre como defender meu
filho. Posso não ser o cliente que o senhor mais vai conseguir dinheiro, e
garanto, sinto muito, mas se não pode me ajudar da forma correta, peço que
saia, vá embora e nunca mais volte.
Vi a expressão fechada dele, e soube que minhas suspeitas estavam
corretas.
— O senhor Monroe teve uma conversa comigo mais cedo, senhorita.
— Uma risada sarcástica saiu dos meus lábios. — E ele não me ofereceu
dinheiro, mas disse que eu ganharia muito mais se fizesse a senhora ver que se
casar com ele é a melhor solução.
Neguei, balançando a cabeça e levantei o indicador em riste.
— Ótimo, você acaba de perder uma cliente e o dinheiro que Justin
poderia te dar. Pois não preciso mais dos seus serviços, Paul, espero que seus
clientes sejam tratados por você de forma mais profissional. — Sorri, antes de
caminhar para a porta, abrindo para que ele pudesse sair.
Senti meu corpo tremer de raiva pela cena que havia acabado de
presenciar. Justin tivera a audácia de subornar meu advogado! O que mais ele
queria?

Terminei de me arrumar, encarando meu reflexo no espelho do quarto


enquanto a música clássica que eu certamente odiava estava metida em meu
mix de canções. Suspirei, batendo no indicador na tela do celular para ouvir a
próxima música.
Dancei devagar, fingindo que todas as coisas que Justin vinha
acarretando em minha vida não me atingia. Grande merda, isso sim.
Eu estava péssima, a maquiagem mascarava meu rosto inchado por ter
chorado o resto do expediente, o vestido vermelho e rodado me dava um ar mais
confiante e era o que eu precisava.
Sentia-me vagando em um limbo sem fim, e odiava isso.
Deveria começar dizendo que sabia que podia acabar com tudo isso
aceitando me casar com ele, já que éramos terrivelmente atraídos um pelo outro
e ambas as partes sairia ganhando, mas como poderia viver ao lado de uma
pessoa sabendo que viveria em constante estado de ameaças de perder meu
filho?
Não é justo. Archie era tudo para mim, batalhei tanto para que nada na
gravidez saísse do controle, abri mão de tudo por ele, e meu filho era meu porto
seguro, eu nunca poderia perdê-lo.
Suspirei, voltando a mim enquanto fazia uma análise completa do look.
Joguei meu cabelo por cima do ombro, peguei minha bolsa sobre a cama
e caminhei para fora do quarto, ouvindo alguém tocar a campainha.
Abri a porta, vendo Archie nos braços de Justin, o ciúme teria se
apossado de mim no mesmo instante, se meu filho não tivesse estendido os
bracinhos em desespero para que eu o pegasse no colo.
Assim eu o fiz, beijando sua bochecha que tinha cheiro de sorvete de
morango.
— Andou tomando sorvete, né mocinho? — indaguei, ele riu,
escondendo o rosto na curva do meu pescoço.
— Ah, mamãe, foi só um pouquinho. — Fiz carinho em seus fios loiros,
caminhei para dentro e deixei a porta aberta para Justin, que me acompanhou.
— A senhora vai sair? — meu filho indagou, curioso.
— Sim, estava esperando você para irmos. Agora vamos tomar um
banho ok? Está parecendo um porquinho — brinquei, colocando-o no chão e
pincelando seu narizinho. Ele riu, correndo para o banheiro.
— Papai me ensinou a tomar banho sozinho — ele disse, parando no
meio do corredor. Estufando o peito com orgulho.
Justin riu e eu não evitei em sorrir também.
— Ah, claro. Então vai lá, me mostre que meu pequeno está ficando um
homenzinho — incentivei, vendo o sorriso aumentar e logo em seguida ele deu
meia volta, tornando a correr. Virei-me, encarando Justin séria. — A gente
precisa conversar.
Caminhei para o meio da sala do meu apartamento, com ele em meu
encalço.
— Sobre... — me instruiu a falar. Suspirei, cansada.
— Você tem que parar de ficar subornando as pessoas ao seu redor! — o
acusei, medindo a altura da voz para não assustar Archie. — Você suborna meu
advogado para que ele me convença daquela loucura...
Vi Justin em minha frente, olhando atento em minha direção. Pensei que
ele estava me ouvindo, mas sua mão desceu contra meu rosto, passando por
meus cabelos soltos e os jogaram para trás.
— O que você... — Sua boca não me deixou terminar aquela frase,
apenas desceu sobre a minha em um beijo inesperado, suas mãos desceram
pelas minhas costas, colando meu corpo ao seu e eu soube que poderia negar
qualquer coisa, menos o desejo que nutria por Justin.
Senti minha pele esquentar, como se pegasse fogo, suas mãos apalparam
minha carne exposta, com sua língua mergulhando dentro da minha boca, onde
gemi sentindo a fricção de seu membro contra meu ventre.
— Diz para mim se isso é loucura — murmurou, contra meus lábios.
Sua voz estava rouca pelo desejo que era evidenciado contra mim, e me
aproximei, sentindo-o contra mim.
Sua boca desceu sobre meu pescoço, beijando, e me deixando ainda
mais desesperada que estava. Apesar de minha razão falar que eu deveria me
afastar, que eu não poderia fazer isso, meu corpo estava em um estado que não
obedecia às minhas próprias ordens.
— Mamãe! — Archie gritou, despertando-me enquanto Justin se
afastava, encarando-me com os olhos escuros e brilhantes, com os cabelos
loiros em uma completa bagunça.
— Me diz — insistiu, baixinho. Olhei para trás, vendo que Archie me
chamava do quarto.
Fechei os olhos, sentindo minha garganta seca e pedindo por água.
— Sim, Justin, isso continua sendo uma loucura. Desejo não quer dizer
amor, são duas coisas muito diferentes. E para um casamento, é preciso amor.
— Arrumei meu vestido junto ao corpo. — Agora você pode ir? Tenho que
arrumar Archie para sairmos.
Caminhei para o quarto, ainda sentindo minhas pernas bambas e
duvidosas. Concentrei-me em ajudar meu filho a terminar de se arrumar,
sorrindo das coisas que ele contou que fez com o pai.
— Para onde vamos, mamãe? — indagou, encarando-me com os
olhinhos arregalados.
— Vamos para a casa da tia Catarina — respondi, beijando a pontinha
do seu nariz em resposta. Sorri, ainda sentindo meu corpo formigando pelos
toques de Justin, por tudo que aquele simples ato me causou.
E tive plena certeza: eu e Justin só nos dávamos bem em um lugar, e era
na cama, viver ao lado dele fingindo ser um casal seria um completo desastre.
Por esse motivo, tive mais uma afirmação: em hipótese nenhuma eu
poderia deixá-lo vencer no tribunal, teria que lutar com todas as minhas armas.

— Já resolveu sua vida? — meu primo, Romeo, indagou no exato


momento em que se sentou à mesa de jantar, junto com mamãe, revirei os olhos
em resposta. — Pensa comigo, resolva tudo e peça Olivia em casamento quando
ela estiver mais calma.
— Olivia, casamento? — mamãe interveio, confusa.
Vivian Monroe chegou hoje de Paris e estava desatualizada das últimas
informações. Ela me convidou para jantar em cima da hora e não tive como
desmarcar com Romeo antes de vir.
— Sim — respondi inclinando minha mão em direção à taça de vinho
sobre a mesa. Bebi um gole diante do olhar ansioso de mamãe. — Lembra de
Olivia? Melhor amiga de Elizabeth?
— Sim, claro — respondeu prontamente. — A filha dos Turner. O que
tem ela?
Coloquei a taça na mesa.
— Teve um filho.
— Sei disso também. Eu o conheci numa festa de Elizabeth, menino
adorável. — Sorriu, fazendo-me franzir o cenho. Olhei em direção a Romeo e o
vi encolhendo os ombros.
— Como assim o conheceu? — indaguei.
— Ah, Olivia é próxima de Eliza. Ela estava lá. — Deu de ombros,
como se não fosse nada.
— E nunca percebeu a semelhança? — Romeo indagou indignado.
— Que semelhança? — Encarou o sobrinho de modo assustado.
— Dele comigo — falei atraindo sua atenção, vendo o olhar arregalado
de mamãe. — Archie é meu filho. Eu e Olivia tivemos um pequeno caso antes
de me casar com Aubrey.
Mamãe estava congelada no lugar, como se não acreditasse, ou não
tivesse ouvido nada disso.
— Eu não sabia dele até o casamento de Eliza, onde Olivia acabou me
falando — continuei a história, fazendo uma pausa para degustar o filé ao
molho de queijo divino que só dona Vivian sabia preparar. Apesar de ter uma
vida fora de casa, um trabalho que geralmente levava muito dela, ela amava
cuidar da casa e cozinhar.
— Meu Deus, você é pai. — Encarou-me assustada, engasgando em
seguida. — De um filho de Olivia. — Colocou a mão na testa. — Eu achei que
ele me lembrava alguém, mas nunca cheguei a fazer uma ligação, pois não sabia
nada sobre o envolvimento de vocês.
— Foi apenas uma noite — esclareci. — Ainda nem tinha ficado com
Aubrey. Não tem traição, nem polêmicas, juro.
Ela sorriu, estendendo a mão.
— Você tem um filhinho — sussurrou, parecendo emocionada.
Sorri.
— E ele me adora — falei animado. — Vai amar te conhecer, mamãe.
Ela bateu palmas.
— E você e Olivia vão se casar, né? — indagou, mudando o rumo da
conversa. Troquei um olhar assustado com Romeo. — Se isso vir a público, será
um escândalo para a empresa, Justin... precisa pensar com clareza. Sem falar,
que você está há tanto tempo sozinho... precisa de uma família. Sua família.
Estava destinado.
Engasguei-me, mas não tive tempo para responder, pois mamãe colocou
a mão em meu rosto, em um típico carinho de mãe, fazendo-me suspirar. Sim,
eu sabia que agora dona Vivian Monroe não daria paz a ninguém até ter esse
casamento.
Suspirei, bebericando meu café que Justin trouxera assim que chegamos
à clínica. Ele estava sentado ao meu lado, balançando as pernas de um lado para
o outro, com Archie cochilando em seu colo.
— Você parece tensa — ele murmurou, quebrando o silêncio que havia
se estabelecido desde que nos encontramos aqui.
Alguns dias haviam se passado desde o episódio no meu apartamento,
agora parecia que tinha um rio inteiro entre nós, porém, isso me deixava
satisfeita. Pois era o objetivo ficar focada apenas em buscar formas de acabar
com Justin no tribunal.
Inclusive, fui em busca de um novo advogado, dessa vez saí um pouco
da minha bolha de recomendação, pois todos estavam ligados a Justin e busquei
por alguém confiável, mesmo que isso apertasse um pouco mais meu
orçamento.
— Ah, não, estava pensando — respondi vaga, encarando a porta branca
da clínica. Justin arqueou a sobrancelha, em dúvida. Meu novo advogado se
chamava Carl Sand, um senhor de quase setenta anos, que tinha ótimas
recomendações e me abrira o jogo.
Disse que lutaria junto a mim com tudo que pudesse, mas as chances de
que Justin conseguisse a guarda de Archie era de quase setenta por cento, eu
disse a ele que não fazia sentido, pois eu criei meu filho, que apesar dos pesares
nunca lhe faltou nada.
Ele me respondeu com aquela velha frase de sempre, de que a justiça
nem sempre era justa. Juro que senti meu mundo cair depois desta reunião,
senhor Carl percebeu, e segurou minha mão, afirmando que estaríamos juntos e
que conseguiríamos dar um jeito nisso.
Foi a primeira vez que sorri ao falar daquele assunto depois de tanta dor.
— Você está voando de novo, Olivia — Justin resmungou, arrumando a
cabeça de Archie na curva de seu pescoço. Sorri, mesmo que parte de mim
estivesse com raiva dele, não poderia negar que todo aquele cuidado com o
filho era muito bonito aos meus olhos. — Você está com problemas?
Neguei, encarando a parede novamente.
— Para que eu contaria meus problemas a você, Justin? — indaguei,
atrevida. — Você os usaria contra mim no tribunal. — Dei um risinho, irônico.
Levantei-me, caminhando até a lixeira onde descartei o copo de café no fim.
Cruzei os braços em frente ao peito, encarando-o. — Não fale comigo como se
fôssemos amigos, Justin, pois não somos. Estamos aqui quase faltando arrancar
os olhos um do outro, você não quer meu bem, e eu quero ficar bem com meu
filho. Então não me venha com essa conversinha.
Ele riu, negando com a cabeça.
— Isso tudo por que eu falei aquilo naquela manhã? De que usei você
para atingi-la como vingança. — Sorri, aproximando-me.
— Sim, metade de toda minha raiva por você é por causa disso. Porém,
nunca é apenas isso, existem milhões de coisas que você anda fazendo que não
me passa confiança. — Suspirei, prendendo meu cabelo no alto da cabeça. Senti
seus olhos sobre mim. — Desde aquela proposta ridícula, a subornar meu
advogado e por fim, quer levar meu filho de mim.
Ele ficou calado, não respondeu às minhas palavras como eu gostaria
que fizesse. Eu queria brigar, queria ferir da mesma forma que estava fazendo
comigo.
— Você está pelo menos comendo e dormindo, Olivia? — Eu o encarei
espantada, vendo que ele observava meu rosto e meu corpo com atenção.
— O que tem a ver com isso? — rebati, chateada e puxando meu casaco
de lã para cobrir ainda mais meu corpo, como se eu pudesse me esconder do seu
olhar avaliador.
— Você está magra, muito, na verdade. E seus olhos estão faltando ir na
nuca. — Revirei os olhos, vendo um sorriso petulante nascer em seu rosto. —
Daqui a pouco você será só olhos e roupas.
Bufei, tornando a me sentar ao seu lado impaciente.
— Ora, você não tem nada a ver com isso! — exclamei exasperada,
fazendo-o rir ainda mais.
— É minha responsabilidade saber se a mãe do meu filho está bem —
respondeu simples. Fazendo-me revirar os olhos.
— Não, isso não é sua responsabilidade. Posso garantir — confirmei,
vendo a médica caminhar com o envelope branco em mãos em nossa direção,
sorri, levantando-me. — Vamos acabar logo com isso.
Ele assentiu, acompanhando-me até a médica, que sorriu amigavelmente
ao nos ver.
— Aqui está o exame com todas as informações importantes.
Assenti, pegando o exame de DNA que ela me estendia, abri, para ler as
informações contidas. Sabendo que em poucos dias meu filho se tornaria Archie
Monroe.
— Ele é meu filho — Justin sussurrou sobre meu ombro, parecendo
assustado.
— Estava em dúvida disso? — resmunguei rabugenta, pois tudo que ele
falava era motivo para brigas nos últimos dias. Justin me encarou.
— É claro que não — falou rapidamente. — Mas, ainda assim, é como
se ainda não fosse realidade.
Sorri de canto.
— Que bom que isso não afeta tanto sua vida, Justin. — Eu o encarei.
— Pois você tem feito a minha um verdadeiro inferno desde que começou.
Distanciei-me dele, colocando o exame na bolsa, sabendo que cada dia
que passava, pior ficava.

Justin colocou Archie na cadeirinha. Meu filho continuava dormindo,


pois ontem foi dormir tarde depois da nossa maratona de Full House, que ele
amava e só dormiu depois que a primeira temporada acabou.
— Certo, vamos almoçar? — o loiro indagou, encarando-me.
Suspirei, sentindo meu estômago roncar.
— Sim, estou com fome. — Ele riu, abrindo a porta de carona do carro e
logo depois deu a volta, sentando-se no banco do motorista.
— Onde prefere? — Ligou o rádio, sincronizando na rádio local.
— Que tal comida italiana? — sugeri, podendo até mesmo sentir o
gostinho da lasanha maravilhosa que vendia a algumas quadras dali. — Tem um
restaurante a três quadras daqui, a comida lá é maravilhosa.
— Certo, comida italiana — concordou ligando o carro.
Alguns minutos dirigindo e a voz de Archie chamou nossa atenção,
quebrando o silêncio do carro.
— Estamos indo aonde? — indagou com a cabeça inclinada.
— Estamos indo ao restaurante italiano que você adora. — Pincelei seu
nariz.
Abri a porta do carro para que Olivia pudesse descer e vi quando fez
isso, parando em minha frente, levantando a cabeça para me encarar. Naquele
dia ela parecia ainda mais bonita, com o rosto quase sem maquiagem e os
cabelos presos em um rabo de cavalo. Quase me inclinei para beijá-la, mas
sabia que este não era o momento.
— Você precisa se alimentar melhor. — Alisei o vinco entre suas
sobrancelhas, vendo-a abaixar o olhar, pensativa enquanto meus dedos
desceram por seu rosto bonito, tentando me lembrar do motivo que ainda
precisava ser forte e resistente com ela, pois seria aquele o caminho que eu
escolhi e não podia simplesmente vacilar.
Depois de tudo que fiz a Olivia, acredito que no momento, nada poderia
me ajudar.
— Eu estou bem. — Levantou o olhar, encarando-me novamente.
— Não está — retruquei. — Precisa comer e se cuidar. Sei que Archie é
sua vida, mas não pode deixar você de lado para sempre.
Ela se afastou abrindo a porta do carro para tirar nosso filho da
cadeirinha.
— Vem, amor. — Ajudou o loirinho esperto a descer, que pulou em
nossa frente, estendendo a mão.
— Uma pergunta — ele disse de modo rápido, dando-me a mão,
enquanto se segurava na mão da mãe. — Quando vamos morar juntinhos, como
uma família? Nos filmes, as famílias moram juntas, a nossa não?
Sorri, olhando em direção a Olivia.
— Sua mãe quem sabe, querido. Pergunta pra ela — incentivei vendo
Archie se virar para Olivia, aguardando uma resposta.
— Estamos resolvendo várias coisas, querido, tem que ter paciência. E
pode não acontecer de morarmos juntinhos, sabe? Mas não deixamos de ser
uma família. Você vai ter eu, seu pai e vamos ser felizes, eu prometo. —
Abaixou-se para ficar frente a frente a Archie e eu parei, observando minha
mulher beijar o topo da cabeça do nosso filho.
— Ainda acho que seria incrível morar com vocês. — Ele olhou para
mãe e em seguida para mim. — E quando eu ficar maiorzinho, posso ter um
irmão, né? Acho que vai ser difícil ter um irmão, mas eu consigo, mãe, eu sei
que consigo.
Abriu um sorriso irresistível para Olivia e a vi encarando o loirinho
assustada.
— Sua mãe travou, querido, vamos dar uma pausa para ela — falei,
abaixando-me na frente dele. — Vem, que tal irmos de cavalinho? — Deixei
que ele subisse em minhas costas e estendi a mão para Olivia, chamando-a para
ir em direção ao restaurante italiano. — Mas me diga, o que vamos ver hoje à
noite?
Ele se animou com a ideia.
— Homem aranha! — gritou, animado. Quase gemi, pois desde que
Archie soube que eu era seu pai, já assisti a franquia de homem aranha umas
dez vezes, e apesar de amar os filmes, eu já sabia a fala do Tobey Maguire
decoradas.
— Ok, né? — Encarei-o de baixo. — Você quem manda, Archiezinho.
Ele sorriu ao ser chamado assim, e nos aproximamos da mesa livre do
restaurante. Olivia o tirou dos meus ombros e o colocou sentado na cadeira,
fazendo o mesmo ao seu lado.
Peguei um lugar na frente de Olivia, sorrindo em sua direção.
— Feliz, futura esposa? — indaguei sorrindo, vendo a garçonete se
aproximar.
— Assustada, isso sim — ela respondeu rapidamente, fazendo-me sorrir
de leve.
— Olivia, quero que entenda — Carl murmurou ao telefone, fazendo-me
ofegar cansada. Sentei-me na cadeira do caixa do ateliê, encarando as portas de
vidros com desânimo. — As coisas não estão muito favoráveis para nós, o
advogado do senhor Monroe é uma pessoa influente, muito boa em casos do
tipo. Não estou tão otimista, Olivia, sinto muito.
Uma lágrima caiu dos meus olhos, e eu a limpei rapidamente,
encostando-me no balcão e abaixando a cabeça.
— Certo, Carl, entendi — sussurrei. — Não há realmente nada que
possa fazer?
— Podemos ser verdadeiros, contar sobre sua ligação com seu filho,
sobre como foi sua adaptação com a chegada dele e com tudo que você já fez
por ele. A verdade é sempre o melhor caminho, Olivia. — Sorri, concordando.
— Em breve você receberá a notificação do oficial sobre a audiência final,
daqui para frente, provavelmente o sobrenome do pai já terá sido adicionado ao
nome de Archie.
Ele continuou explicando sobre como se dava esse processo pela
próxima meia hora, tentando nos deixar otimistas, porém, não consegui.
Finalizei a ligação, caminhando até a máquina do ateliê, onde peguei mais uma
peça exclusiva que estava trabalhando em cima.
Logo meu dia foi fortemente destruído por aquela notícia. Meu
advogado estava pessimista a respeito da nossa vitória, não havia muito o que
eu pudesse fazer, sentia meu coração pequeno e apertado.
Encarei a foto de Archie pequenininho em cima da minha mesinha do
escritório. Hoje, ele estava na escolinha e não fazia ideia do quão preocupada eu
ficava a cada dia.
Passei o dedo sobre as bochechas rosadas do meu pequeno, sorrindo
com o coração cheio de amor e pude sentir novamente a mesma sensação de
quando o vi pela primeira vez.
A porta se abriu rapidamente e os sininhos que eu colocara como aviso
fizeram barulho, fazendo-me levantar o olhar, dando de cara com uma mulher
jovem.
— Sou Ashley Hall, uma amiga me indicou seu ateliê, disse que é
desconhecida, mas faz vestidos bonitinhos e exclusivos — disse, enrugando o
nariz em minha direção, eu quase dei uma má resposta, porém, claramente
aquela era uma das peruas da alta sociedade então eu não poderia perdê-la como
cliente.
— Olá, Ashley, bom dia. Sim, eu crio vestidos exclusivos assinados em
meu nome, poderia me dizer qual o tipo de evento que você vai usá-lo? —
Observei o terninho justo ao corpo, marcando bem as curvas bem delineadas.
Os cabelos loiros platinados jogados sobre os ombros, a mulher parecia uma
boneca.
— É um evento da empresa em que sou sócia. Quero algo na cor preta,
bem sensual e ao mesmo tempo que não vá me deixar parecendo uma... isso,
uma vagabunda. — Mordi a língua, para não a responder novamente.
Busquei a pasta de modelos, juntamente com meu caderno de desenho.
— Aqui está minha pasta de modelos já... — ela me cortou.
— Não escutou o que eu disse? — inquiriu, brava. Baixou a cabeça,
apertando os dedos sobre as têmporas. Soube no mesmo instante que meu dia
não tinha muitas previsões para melhorar.

Já eram quase cinco da tarde quando Catarina me enviou uma foto com
Archie deitado no chão do seu apartamento, comendo pipoca doce e vendo
homem aranha na televisão enorme da minha melhor amiga.
Respondi com vários emoticons apaixonados, sorri, guardando o celular
embaixo do balcão, voltando ao meu desenho, concentrei-me, mantendo minha
mão firme para não borrar todo meu trabalho.
Já era quase a quinta vez que eu o refazia do zero, já que as outras vezes
parecia não transmitir de forma correta tudo que Ashley me falara. Nada que a
faria ficar como uma vagabunda, lembrei-me, com um sorrisinho sapeca no
rosto.
Assim que ela saiu, joguei seu nome no google para saber de que raios
havia saído aquela mulher. Minhas buscas me deram o resultado de que ela era
filha de políticos influentes, mas optara por trilhar sua carreira em engenharia
civil.
Sorri, vendo o desenho seguir por uma linha completamente inesperada.
E faltei fazer uma dancinha de vitória ao ver que estava saindo exatamente o
que eu não esperava, porém, não poderia ser mais perfeito.
O sininho voltou a tocar, fazendo-me interromper o que eu estava
fazendo e encarar a figura de Justin parado na entrada. Olhando cada mísero
detalhe do meu ateliê colorido.
Sorri, vendo sua expressão surpresa enquanto ele caminhava até o
balcão, focando seus olhos em mim. O homem vestia um terno azul marinho
sob medida, os cabelos loiros penteados para trás e estava tão lindo que quase
me esqueci que estava odiando-o no momento.
— Uau, esse lugar é incrível. — Não tive como evitar o sentimento de
orgulho que balançou em meu peito ao vê-lo falar assim do lugar que era tão
querido para mim.
Justin e eu nunca poderíamos ser um casal, mas nós tínhamos um filho
juntos, pelo menos falar amigavelmente deveria vir como regras de
convivência.
— Obrigada. Eu acho — murmurei, fechando o caderno.
— Ei, isso é um novo modelo? — ele disse, colocando a mão sobre a
minha em um gesto rápido. Assenti. — Posso ver?
Minhas bochechas coraram, havia muito tempo perdi a vergonha de
mostrar meus desenhos e criações a outras pessoas que não fossem meus
clientes, porém, a ideia de Justin analisando algo tão importante para mim era
incômoda.
— Claro — concordei, e isso foi involuntário. Abri o caderno,
mostrando o desenho inacabável. — Está incompleto ainda, comecei hoje. Logo
eu vou terminar de imaginar essa bainha, colorir de preto com detalhes
prateados...
Expliquei exatamente como o modelo estava vindo em minha memória,
passando meu indicador direito sobre os contornos do desenho, enquanto minha
mão esquerda continuava coberta pela sua em um ato um tanto íntimo.
— É isso, espero que fique legal da forma que estou imaginando —
concluí, levantando o olhar. Seus olhos azuis estavam sobre mim, olhando-me
com um misto de curiosidade e surpresa, os lábios estavam repuxados em um
sorriso.
— Uau. Vai ficar perfeito — murmurou, encarando o papel. Seu
indicador passou pela minha palma, causando-me arrepios. — Sabia que você
tinha o talento de sua mãe, só não imaginava que conseguisse fazer algo tão
simples como uma roupa se tornar algo tão magnífico...
Sorri, negando com a cabeça.
— Nunca é só uma roupa, Justin. Já pensou que esse terno que está
usando passou horas para ser desenhado? — indaguei, inclinando-me para ver o
terno Armani azul marinho que caía perfeitamente em seu corpo.
— Sério? — Ele se autoanalisou. — Pensei que fosse tudo da mesma
forma.
Gargalhei, fechando o livro e dando a volta para encará-lo.
— Não vou falar sobre moda com você, claramente, perderei meu
tempo. — Ele riu, segurando minha mão entre as suas. Encarei nossas mãos
unidas, sem entender. — O que está fazendo aqui, Justin? — indaguei,
encarando-o.
Ele suspirou, e encarou o teto do ateliê, parecendo pensar na resposta. E
quando os olhos azuis focaram em mim novamente, sorriu de canto.
— Queria ver você. — Abri a boca, em choque. Esperava alguma
resposta espertinha para me atingir, e não algo assim, porém, meu instinto de
proteção me lembrou daquela fatídica manhã na casa da praia e eu sorri,
tentando fingir que aquilo não me havia atingido.
— Você é tão espertinho, Justin Monroe, vem, me ajuda a fechar a loja
que levo você até Archie. — Caminhei para a porta, dando as costas para ele.
Escutei um suspiro exasperado, contudo, não tentei interpretar aquilo.
Na verdade, eu não queria tentar entender nada do que Justin falava ou do modo
que agia, era como se eu quisesse bloquear cada passo ou avanço dele.
Pois apesar da fase de farpas ter passado, eu ainda não o havia perdoado
por aquelas palavras depois que dormimos juntos, não havia por que perdoar, se
ele nunca admitiu ter mentido, nunca pediu perdão, então não havia
arrependimentos.
Era tudo verdade.
Não que eu vivesse esperando por isso, pois uma parte de mim acreditou
em tudo que ele dissera antes de fechar as portas contra minhas costas. E essa
parte ainda continuaria acreditando por um longo tempo.
Elizabeth riu, mordendo o bolinho e bebericou o café. Ela havia voltado
da lua de mel há uns cinco dias e vinha acompanhado a minha guerra fria com
Justin sobre a guarda de Archie. Ela tentou falar com o primo sobre entrarmos
em um acordo fora dos tribunais, mas o loiro estava irredutível sobre isso, o que
fazia minha raiva crescer em níveis elevados.
— Justin vai ver a razão, Olivia. Romeo ficou de falar um pouco com
ele. — Lancei-lhe um olhar incerto. Apesar de não acreditar mais tanto no
caráter de Justin, eu me agarrava em cada possibilidade de ele ver seu erro. —
Meu primo é inteligente, ele vai recuar, mas você já pensou em como seriam
casados?
Sorri, revirando os olhos em seguida, encostei meu cotovelo sobre a
mesinha da lanchonete, observando-a me convencer novamente. Ela já havia
tentado dizer que o casamento poderia ser bom, pois éramos atraídos um pelo
outro, mas eu recusei.
Pensava em como sempre sonhei em me casar por amor, o quanto de
encontros recusei porque as pessoas não significavam nada para mim... e
simplesmente entregar as pontas não fazia sentido.
Justin nunca me amaria da forma que eu desejava.
— Você parece estar a quilômetros daqui, Olivia — resmungou, fazendo
beicinho. Sorri, desculpando-me.
Realmente, eu não estava prestando muita atenção no que Elizabeth
falava.
— Desculpe, amiga — murmurei. Beberiquei meu café, desbloqueei
meu celular e vi que faltavam poucos minutos para eu ter que abrir a loja.
— Pensando em quê? Na audiência? — ela indagou, sorrindo nervosa.
Assenti. — Ainda acho que isso vai acabar não acontecendo.
Revirei os olhos, sem saber como falar aquilo. Era muito mais fácil falar
dos meus problemas com ele quando Justin implicava e ameaçava, só que nos
últimos dias ele andava em um chato costume de ser uma das melhores pessoas,
aparecia na loja de repente, sempre com café e donuts de chocolate — isso não
se faz com uma garota —, e eu sempre fugia dessas situações falando sobre
Archie, nosso assunto em comum.
— Não acredito muito no caráter de Justin Monroe neste momento.
Sinto muito se ele é seu primo, mas... — Encolhi os ombros, porém Elizabeth
não prestava atenção em e vi seus olhos se focaram em algo em minhas costas,
atraindo minha atenção.
Olhei segurando minha xícara contra minha boca, bebendo um gole e
engasguei com o líquido quente, enquanto meus olhos estavam focados na mão
de Justin sobre o ombro da mulher loira, com o corpo dela inclinado para
próximo ao seu falando em seu ouvido.
Senti meu corpo formigando, e falei a mim mesma que aquela cena era
algo mais comum do mundo para alguém solteiro como ele. Mulheres. Ora,
Olivia, ele também não é santo, claro que sai com mulheres.
Porém, isso não acalmou meus pensamentos, só fez com que eles
dessem mais e mais voltas sobre a forma que eles riam um para o outro. Encarei
Elizabeth, que mantinha uma expressão curiosa, e fingi que aquela cena não me
atingia.
No fim, não deveria me atingir. Justin e eu só tínhamos algo em comum,
e era Archie, nunca fomos nem sequer namorados. Tivemos duas noites e todas
elas acabaram muito mal.
— Olivia, para de pensar demais, estou vendo a fumacinha sair da sua
cabeça daqui — Eliza falou e sorri, mordendo o interior da bochecha e me
inclinei, pegando minha bolsa sobre a cadeira ao lado. — Ah, não, você não vai
embora! — minha melhor amiga protestou, não a deixei falar mais, levantei,
beijei sua bochecha rosada e caminhei rapidamente para fora da lanchonete.
Porém, assim que passei pelas portas de vidros, a mão de Elizabeth
segurou meu braço com firmeza.
— Você não pode fugir! — ela exclamou.
— Sim, Eliza, eu posso e eu vou. Sabe, Justin me falou há algum tempo
que eu costumo fugir de tudo que tem a ver com ele, e sim, ele tem razão. Pois
sei cada ponto do que aconteceu ou não aconteceu entre nós, e sei que se eu não
fugir, vou ter que juntar pedaços de mim mesma que jurei não quebrar por
ninguém — murmurei, vendo que todas as palavras pulavam da minha boca
sem que eu conseguisse conter.
— Liv... não fuja tanto — ela murmurou, no mesmo tom de voz
segurando minhas mãos entre as suas.
— Fugir é método de proteção, porque não sei mais se o Justin que se
mostrou desde que descobriu sobre Archie é o mesmo que eu conheço desde
que era uma garotinha. — Sorri, limpando a lágrima teimosa que escapou. —
Agora volte lá para dentro, tome seu café que eu preciso abrir a loja.
Beijei a testa da minha melhor amiga, dando volta e caminhando para
longe, logo em seguida, escutei seu nome ser chamado por Justin.
— Justin! Oi... — Eu a escutei responder, enquanto caminhava para
longe. Sim, eu estava fugindo dele, da mulher que estava com ele e da sensação
que essa ideia me causava.
Ciúmes. Eu sentia ciúmes, os mais puros e cru ciúmes, que amargava
minha boca e me fazia querer gritar aos quatro ventos que ele não poderia ter
mais ninguém. Caralho, Olivia, você não pode falar isso, ele é livre!, meu
subconsciente protestou.
Certo, é oficial. Eu estava completamente maluca.

A voz de Elizabeth me fez virar a cabeça enquanto saía de uma cafeteria


próximo ao ateliê de Olivia. Eu estava a alguns quilômetros de lá, pois queria
falar com a mãe do meu filho, mas virei a cabeça em direção à voz da minha
prima e arregalei os olhos quando vi Olivia sair pela porta, deixando a melhor
amiga para trás. Pedi um momento para minha secretária e caminhei até a saída,
chamando por Liz.
— Justin! Oi. — A loira virou para mim, abrindo um sorriso.
— Aquela é Olivia? — indaguei olhando em direção à calçada, onde a
mulher de botas de cano curto, meia calça escura e saia plissada caminhava. Ela
vestia um casaco curto e de longe eu via os cabelos castanhos se movendo.
— Sim, ela precisava abrir a loja. — Minha prima deu um sorriso
nervoso.
— Ou melhor, ela está fugindo de mim? — arrisquei a pergunta.
Elizabeth bufou.
— Eu estou ótima, primo, que bom que perguntou. E você? — ironizou
tocando meus fios loiros e jogando para trás. Eles estavam fora do lugar, pois
saí cedo e sem tempo essa manhã.
— Bem e você? — A loira bufou quando eu fiz a pergunta errada, ainda
observando Olivia de longe.
— É claro que ela está fugindo de você, você quer tirar o filho dela. —
Eu a encarei. — Sério, pensei que você fosse mais racional com isso, Olivia
ama o Archie, ela daria a vida pelo filho. — Segurou minha mão ao falar isso.
Encarei a calçada, pensando sobre a relação de Liv com meu filho. E eu
sabia que tudo que Elizabeth falava era verdade, mas eu não queria apenas
Archie, eu queria a mãe dele também. Pensei que as vias de fato fariam Olivia
decidir que merecíamos uma chance.
— Ela não cogita o acordo? — Encarei Elizabeth.
Ela riu.
— Sua ideia foi idiota. Liv sempre quis se casar por amor — falou,
engolindo em seco. — E é cabeça dura, não vai aceitar nada menos que isso.
Você deveria levantar uma bandeira de paz e conquistá-la. — Colocou a bolsa
no ombro. — Você mais do que ninguém sabe que não tem nenhum homem
melhor para Olivia. Da mesma forma que não há mulher melhor para você.
Sorri.
Eu sabia disso.
— Preciso ir — minha prima falou beijando minha bochecha. — Pensa
com carinho, viu?
— Ok — respondi baixinho, vendo-a entrar no carro estacionado no
meio fio, deixando-me sozinho analisando minha própria burrice. Homem é
burro, mas eu já cheguei em um estado elevado desde que reencontrei Olivia
Turner.

No dia seguinte, o plano já estava formado. Eu iria seguir o conselho de


Elizabeth e tentar trazer as coisas para uma bandeira de paz que poderia
favorecer nós dois. Pensar em Olivia querer se casar por amor me fazia
questionar, será que eu saberia fazer isso? Não fazia a menor ideia. Meu
casamento foi mais do que morno neste lance do amor, não tinha ideia se um dia
amei verdadeiramente minha falecida esposa.
Peguei o telefone, enquanto fazia meu café para despertar melhor e
analisei o nome dela salvo nos contatos. A ideia era levá-la para o trabalho e de
quebra ver Archie, mas não sabia como ela iria reagir e comecei a ficar nervoso
com isso.
A porta do apartamento se abriu e meu primo adentrou o local, abrindo
um sorriso.
— Bom dia — saudou parando na minha geladeira, abrindo como se
fosse de casa. E ele era, mas Romeo não precisava saber disso.
— Você não tem casa, não? — indaguei, pegando minha xícara na
cafeteria.
— Sim, mas prefiro comer na sua. Sua funcionária faz umas comidas de
café da manhã boas demais. — Saiu da geladeira com uma vasilha com comida
congelada e foi em direção ao micro-ondas. — Já decidiu como vai reconquistar
a mãe do seu filho? Sem ser um babaca, claro.
Sorri.
— Pensei em começar devagar.
Romeo bufou.
— Idiota. — Arregalei os olhos, sem saber o que havia de idiota nisso.
— Tem que primeiro finalizar esse lance da audiência, deixar esse assunto
quieto e conquistar sua família.
— Não posso simplesmente desistir no meio. O juiz vai ficar
desconfiado — pontuei.
— Sim, mas pior vai ser se você levar Olivia ao limite. Ela não vai te
perdoar. — Arqueou a sobrancelha e eu queria muito dizer que aquilo não era
verdade, mas Romeo era bem mais próximo de Olivia do que eu.
Peguei o celular, pronto para ligar para ela e conversar sobre isso.

Meu celular tocou sobre a mesinha de cabeceira e corri para pegar o


aparelho entre meus dedos, vendo a foto de Justin piscar na tela, suspirei,
cansada, porém atendi, já imaginando o que ele desejava. Deveria ser mais
alguma exigência sobre o processo de Archie.
Olhei em direção a foto do meu filho, contendo o segundo suspiro.
— Alô — atendi, caminhando para o guarda-roupas, de onde peguei um
macacão azul desbotado, com vários fiapos na barra. Segurei o telefone com o
ombro, enquanto me vestia em uma péssima posição.
— Está em casa? — Revirei os olhos, haviam se passado só vinte e
quatro horas desde o episódio da cafeteria, e esse era nosso primeiro contato
desde então. Porém, eu ainda estava um pouco zangada por causa da loira que
ele levara a tiracolo, não que eu tivesse por que ficar chateada.
— Sim, me aprontando para ir para o ateliê — respondi, terminando de
abotoar a peça jeans. Peguei uma blusinha para vestir por dentro, optando por
uma cheia de desenhos fofinhos. — Acabei de colocar Archie no ônibus da
escola, queria falar com ele? — indaguei, colocando o celular na viva-voz
enquanto terminava de me arrumar.
— Não, não — ele negou. — Posso passar para buscá-la?
Arregalei os olhos, balançando a cabeça em negação como se ele
pudesse ver.
— Hum... — murmurei, em dúvida. — Não vai dar, Alexandre vai
passar por aqui — menti como se lamentasse, porém, meu coração estava em
festa por inventar uma desculpa tão rápida.
Escutei um rosnado do outro lado e parei, pensativa.
— Você rosnou? — indaguei quase indignada.
— Não — respondeu curto, mas o som veio seguido de mais um
rosnado.
— Meu Deus, você está virando cachorro! — brinquei rindo, enquanto
jogava meu perfume sobre mim. Ele ficou calado, não respondeu por longos
minutos. — Era só isso que você queria, Justin?
— Sim, vai com Alex para o trabalho então. — Segurei o sorriso com
seu tom de voz irritado. — Bom dia, Liv. — A voz dele estava suave quando ele
murmurou isso, e senti essas palavras golpeando em meu coração.
Porra, Justin Monroe. Você nunca joga limpo.
— Bom dia, Justin — desejei em resposta. Jogando o celular sobre a
cama e caminhei para fora do quarto, desesperada. — Meu Deus, preciso ir
antes que o trânsito fique muito caótico — murmurei preocupada vendo um
envelope jogado em cima da mesinha de centro. Lembrei-me das
correspondências que chegaram e eu nem me dei o trabalho de conferir.
Peguei o envelope pardo entre os dedos, sorrindo com a reação de Justin
teve ao saber que eu iria com Alexandre. Tudo bem que eu não iria, mas ele
também não precisava saber disso.
Porém, todo sangue se esvaziou do meu rosto ao ver do que se tratava a
correspondência. Uma intimação, solicitando-me para a audiência final em
alguns dias. Senti minha cabeça rodar com as simples informações e eu me
apoiei contra o sofá, vendo que a qualquer instante minhas pernas cederiam.
Ai meu Deus. Archie. Eu não posso perder Archie.

O dia passou devagar, onde meus pensamentos voavam a todo instante


para meu conflito interno, sabendo que a qualquer instante eu acabaria surtando
completamente.
Assim que o fim do dia chegou, o vestido de Ashley estava quase
finalizado, de tanto que passei todo o dia enfurnada em trabalho para não pensar
sobre tudo, porém, essa técnica não foi lá muito eficiente.
Agora, meu filho estava deitado parcialmente sobre mim, enquanto
passava um comercial na televisão. Suas pernas estavam jogadas sobre as
minhas e eu quase ri da situação.
Meus dedos massageavam seus cabelos loiros e sedosos, fazendo-o
bocejar. Já estava pronto para dormir, e eu não o deixei colocar no canal de
filmes, pois acabaria indo dormir tarde demais e daria trabalho para acordar pela
manhã.
— Mamãe — murmurou contra meu peito.
— Oi, Archie — respondi, voando em pensamentos.
— Eu vou morar com o papai, mamãe? — ele indagou. Levantei-me
parcialmente, vendo que ele escondia seu rosto em meu peito.
— Você quer morar com seu pai, amor? — Meu coração batia de forma
rápida dentro do meu peito. O medo de ele simplesmente escolher o pai era
aterrorizante.
— Não quero morar com papai se eu tiver que ficar longe da senhora,
mamãe. Quero morar com o papai e a mamãe, como uma família — ele
respondeu, levantando o olhar.
Os olhinhos cheios de lágrimas partiram meu coração e eu me senti
sufocada por causar dor à pessoa que eu mais amava no mundo.
Se eu ao menos pudesse voltar no tempo...
— Vem cá — chamei, pegando sua mão e o trazendo para meu colo, ele
deitou a cabeça em meu ombro, soluçando. — Você não vai a lugar nenhum,
Archie, tudo vai ficar bem, querido. Você verá.
Massageei suas costas e temi pelas minhas palavras. Eu não sabia o que
falar, então prometi a ele aquilo que acalmaria seu coração, que ele não sairia de
perto de mim. Mas como cumprir, quando tudo que você mais sabe é que estar
com as mãos atadas para evitar o óbvio?
Eu só tinha uma saída.
Mas aí, eu sacrificaria minha vida.
Porém, eu salvaria Archie.
Observei Justin sentado junto ao advogado, a alguns metros de mim,
conversando e gesticulando de forma apressada, como se estivessem em uma
discussão. Virei-me, encarando Carl com os olhos arregalados.
Ele sorriu, amigável. Suas mãos tocaram meu ombro, dando um aperto
reconfortante.
— Vamos lá, Olivia. Sei que não estamos otimistas, mas devemos
lembrar que toda nossa causa é limpa, não mentimos em nada. — Assenti,
acompanhando-o para dentro da pequena sala, onde ocorreria a audiência.
Minhas pernas estavam bambas, a noite anterior fora terrível, assim
como a última semana. Porém, deixar Archie hoje na escola foi como partir meu
coração, senti tudo doendo. Ele me olhou com aqueles enormes olhos azuis,
como se pudesse ver minha alma, e sorriu, dizendo que me amava.
Sentei-me na cadeira ao lado de Carl, encarando o homem vestido de
preto na mesa no centro da sala. Tinha cabelos escuros, de meia idade e um
olhar duro, estava concentrado em vários papéis sobre a mesa, e eu vi que ele
não pensaria duas vezes em dar a guarda de Archie para Justin.
Justin. Levantei o olhar, encontrando com o seu do outro lado da sala.
Ele me lançou um sorriso de lado, e eu senti meu estômago revirando com isso.
O cabelo loiro estava bem penteado, o terno Armani preto caía sobre o corpo
definido como uma luva.
Estava lindo, e ele estava ali para tirar meu bem mais precioso. Por esse
motivo, abaixei minha cabeça, sentindo meu coração doer, como se fosse
apunhalado sem dó ou piedade.
— Bom dia a todos — o juiz disse em nossa frente chamando atenção e
se levantando. — Vamos dar início a audiência onde será definida com quem
ficará a guarda do menor, Archie Monroe Turner. Filho de Olivia Turner, com
seu advogado de defesa, o senhor Carl Sandon, e de Justin Monroe, como
advogado de defesa, o senhor Alberto Calum.
Justin se remexeu na cadeira, levantando o braço em pedido para falar
algo. Porém, não chegou a abrir a boca, a mão do seu advogado interveio,
puxando-o para baixo.
— Deseja falar algo, senhor Monroe? — Ele negou diante a indagação
do juiz, e eu senti uma sensação estranha e incômoda se apoderar de mim. —
Bom, dando continuidade...
Vi o resto da audiência passar na frente dos meus olhos como um borrão
vermelho, vozes sérias, desgastadas e cansadas. O juiz via que aquilo tudo era
loucura, eu era a opção mais óbvia e certa, mas assim que o martelo soou sobre
a mesa, senti meu mundo se esvair.
— Irei fazer uma pausa, para entrarmos em um consenso — disse
olhando levemente aos seus conselheiros. Senti meu coração bater rápido contra
meu peito, em um ritmo louco e descompassado.
Vi Justin e o advogado se levantar rapidamente, ele me encarou, e eu
senti minhas mãos suando ao mesmo tempo que meus olhos ardiam, querendo
desmanchar-se em lágrimas.
Tudo que eu fazia nas últimas semanas era ser forte.
Eu era forte por Archie.
Eu era forte pelos meus pais que ligavam todas as noites, perguntando
como estava a situação.
Mas no momento, eu só queria desmoronar.
— Vamos, Liv. Você está branca — Carl murmurou, segurando minha
mão e levando-me para longe. Eu o vi sumir no corredor pequeno dizendo que
iria pegar água e fiquei ali, parada e imóvel.
Sem conseguir mover um único músculo, engoli a bile que subiu
rapidamente, escorando-me na parede branca enquanto sentia minhas pernas
cederem.
Meus olhos estavam turvos e senti duas mãos segurarem meu corpo,
mantendo junto ao seu, enquanto eu mantinha meus olhos fechados, tendo a
plena certeza de que não conseguiria dar um mísero passo sozinha.
— Deus amado, Olivia. Você por acaso comeu hoje? — a voz de Justin
perguntou, alterada. Ele me colocou sobre uma cadeira, e eu escorei minha
cabeça na parede, ainda sentindo uma onda de tontura passar sobre meu corpo.
— Ei, olhe para mim — ele murmurou, segurando meu rosto entre as mãos
quentes, com o indicador passeando sobre minhas bochechas em algo que
parecia um carinho.
Abri os olhos, forçando um sorriso.
— Oi... — sussurrei, sentando-me novamente. Vi Carl caminhar até mim
com os olhos arregalados, mas a visão que eu tinha dele ainda era meio turva.
— Olivia! — ele exclamou, segurando minha mão gelada contra a sua.
— Meu Deus, querida, está gelada. O que aconteceu?
Entregou a água em minhas mãos e bebi um gole, fechando os olhos, eu
os ouvi e discutindo sobre mim baixinho.
— Estou bem, de verdade — resmunguei forçando um sorriso.
— Ah, claro. — Justin revirou os olhos. — Está branca, feito a parede é
sinal de quem está muito bem.
Carl sorriu, sentando-se ao meu lado.
— O que está sentindo, Liv? — indagou.
— Acho que foi a pressão. Tontura, enjoo e parece que minha cabeça vai
doer — murmurei baixinho, sentando-me corretamente na cadeira, mas meus
movimentos estavam lentos demais.
— Vou buscar algo para você — Carl disse, levantando-se. — Fica com
ela, Justin?
O loiro assentiu, e logo vi meu advogado andando para longe.
Justin se sentou ao meu lado, segurando minha mão entre seus dedos
quentes.
— Sabe, eu queria falar mesmo com você. — Revirei os olhos cansada.
Era um péssimo momento para falar dos nossos problemas. — Não faz essa
cara, Liv.
Suspirei.
— Justin Monroe, você é um cretino sem coração. — Meu xingamento
era sério, mas ele riu beijando minha mão logo em seguida. — E eu estou tonta
demais para revidar suas brincadeirinhas, não sou capaz de pensar com clareza
agora.
O som da risada dele seria reconfortante, se nós não estivéssemos dentro
de um fórum esperando o juiz dar sua decisão final sobre a guarda do meu filho,
eu iria achar reconfortante. Contudo, no momento, meu coração estava
minúsculo de dor.
— Você tem uma boquinha afiada, pequena Liv — ele disse, em meio a
um risinho. — Mas não era sobre isso que eu queria falar com você. —
Permaneci de olhos fechados. — Certo, é meio que sobre a guarda de Archie,
mas não é nada que vá fazer você surtar nem nada... — ele continuou falando,
mas minha mente estava longe.
Pensei nele como marido, em como ele seria casado, se seria um bom
marido e como seria se eu aceitasse aquela proposta maluca.
Seria a resolução de nossos problemas, ele tinha razão quando disse
isso.
Sem pensar direito, vi-me fazendo aquilo que jurei nunca fazer.
— Justin — murmurei, fazendo-o interromper seu discurso. — Eu aceito
me casar com você, se não tirar Archie de mim, eu me caso com você —falei,
em tom de súplica, sem saber mais como lidar com o desespero.
— Olivia, não estou entendendo. — Sua voz falhou e eu tive vontade de
sorrir, ouvindo passos no corredor.
— Ora, não é tão difícil assim. Você mesmo me pediu isso, lembra? —
Eu o encarei, vendo que Carl se aproximava. — Vamos nos casar, você ganha,
eu tenho Archie. Eu só preciso de Archie na minha vida
Encostei a cabeça em seu ombro e senti meu mundo ainda rodando.
A ideia de me casar com Justin era apavorante.

— Eu me caso com você...


O sussurro de Olivia ainda me era uma faca no peito. Mas parecia que
havia sido fincado com mais força e revirado lá dentro quando ela continuou:
— Vamos nos casar, você ganha, eu tenho Archie. Eu só preciso de
Archie na minha vida. — A dor daquelas palavras me fez apertá-la mais em
meus braços, beijando os fios escuros. Queria dizer que ela não precisava de
nada daquilo, que a guarda de Archie seria apenas dela, se isso a fazia tão
infeliz, mas eu não consegui.
Porque eu queria que Olivia fosse minha esposa.
Eu não queria apenas que fosse mãe do meu filho. Queria acordar com
ela, dividir tudo que tinha e ajudar em cada parte da sua vida se fosse
necessário.
Por quê...
Porque era insano admitir, mas eu estava completamente apaixonado por
ela.
Segurei seu rosto, encarando os olhos bonitos, sorrindo de canto.
— Sabe que não precisa.
Ela riu.
— Preciso sim. Eu adiei ao máximo — balançou a cabeça —, mas eu
não posso perder o Archie, eu prometi pra ele e...
Beijo sua testa, não querendo ouvir mais nada.
A dor das últimas semanas estava tão viva nas suas palavras que era um
tormento. E eu era a causa de cada dor que ela sentiu. A queda livre seria
horrível se eu não a libertasse agora.
— Por mais que eu deseje do fundo do meu coração que seja minha
esposa, Olivia — sussurrei contra sua testa —, por mais que acordar ao seu lado
seja a maneira mais tentadora que já passou em minha mente... não vamos nos
casar.
Afastei-me, segurando-a contra mim, vendo seus olhos confusos.
— Porque eu não quero que me odeie. A ideia de você me odiar dói pra
caralho. — Limpei a lágrima que caiu do seus olhos e beijei sua bochecha. —
Archie é seu. Perdão pela dor, pelo caos, mas não posso mais te fazer sofrer
com isso.
O suspiro dela foi inegável.
— Mas você... — começou. — O casamento?
Sorri.
— Não vamos nos casar. A não ser que queria de verdade. — Ela se
sentou ereta, com as mãos sobre os joelhos, encarando o nada. — A não ser que
queira ser minha, não vamos nos casar.
Ela me encarou, engolindo em seco.
Olivia era a coisa mais bonita que meus olhos já encontraram. Os
cabelos escuros caíam em uma cascata, parecia meio pálida ainda, mas isso não
diminuía nada o fato que estava sempre bonita.
— Não acredito que está fazendo isso — sussurrou desacreditada.
Sorri.
— Estou. — Segurei suas mãos, beijando o dorso com carinho. —
Devia ter feito isso há semanas.
Ela finalmente reagiu, puxando-me para um abraço apertado.
— Você é imprevisível, senhor Monroe.
Sorri.
— Bom saber, senhorita Turner. Bom saber. — Alisei seus fios escuros,
pensando no meu filho. Era o melhor para ele.
A sensação de não ter nada me ameaçando no momento era
indescritível. Justin me deixou em casa e disse que falaria com o advogado dele
antes de ver Archie à noite, quando iríamos jantar juntos. Sinceramente, eu até
consegui esquecer tudo que aconteceu na noite da despedida de solteira de
Elizabeth.
Meu apartamento estava em silêncio quando adentrei o local e a
primeira coisa que fiz foi me jogar contra o sofá, abraçando a almofada de
coração com força, pensando em como saí hoje destruída e agora tinha um
enorme sentimento de alívio dominando meu peito.
Meu celular tocou no bolso da minha calça jeans e peguei o aparelho,
vendo o nome de Alexandre aparecer na tela.
— Oi — atendi rapidamente, lembrando dos exames que Archie fez na
semana passada.
— Bom dia, Liv, os exames saíram — avisou, fazendo-me franzir o
cenho.
— Tudo certo ou precisamos falar sobre algo? — O suspiro do meu
amigo deixou meus ombros ligeiramente tensos.
— Posso passar no seu apartamento? Sei que tem tido dias difíceis com
o processo de Archie, mas precisamos conversar. — Engoli em seco, sentindo
meu coração martelando em meu peito.
Não gostava de suspense.
— Pode me adiantar algo? Estou quase vomitando de ansiedade —
brinquei com um fundo de verdade, pois meu estômago dava voltas.
Alex sorriu.
— Fica calma, ok? Chego em cinco minutos, estou próximo daí — falou
e finalizamos a chamada. Encarei a televisão desligada, pensando no que
Alexandre tinha para me falar.
Fiz uma porção de exames em Archie quando retornamos de Newport,
Oregon, pois ainda estava pensando na crise que ele teve antes da viagem, então
o medo de algo estar errado com meu filho me fazia congelar da cabeça aos pés.
Archie não tinha nada, era apenas alguma preocupação boba de Alex.
Mas e se... não fosse?
Tornei a pegar o telefone, pensando em ligar para Justin e falar sobre
isso, mas não o fiz, ele estava resolvendo sobre a situação com o advogado,
dando um jeito nisso, já que chegamos à via dos fatos, agora teríamos que
contornar tudo.
Mas ele iria me acusar de não contar a ele novamente.
Melhor chamá-lo.
Tentei ligar, colocando o telefone na orelha. Mas quando foi para caixa
de mensagens, desisti, tornando a me sentir ansiosa. Não demorou para que
Alexandre chegasse ao apartamento e assim que vi a expressão do meu amigo,
senti meu corpo tremer.
— Ei... — O loiro sorriu ao me ver. — Como você está?
— O que meu filho tem? — falei, procurando os exames em suas mãos,
mas não encontrei nada. Alexandre não carregava nada. Ele apenas riu e
adentrou meu apartamento.
— Calma, Liv, não vai adiantar nada sair do controle. — Sentou-se no
sofá enquanto eu me virava em sua direção, cruzando os braços em uma posição
de defesa.
— É meu filho, Alex, eu já passei por muitas coisas nos últimos dias,
saber que ele pode ter algo me deixa no limite. — Movimentei minhas mãos,
engasgando-me com minhas palavras e ele bateu no espaço no estofado,
pedindo que eu sentasse.
— Venha, Liv, sabe que eu não mentiria para você. E vim o mais rápido
que pude para você ficar tranquila, saber que é reversível e não se desesperar.
— Engoli em seco, sentindo as mãos de Alex contra as minhas. Encarei seus
olhos, procurando qualquer indício de que estava mentindo, que aquilo era uma
pegadinha, mas havia apenas uma coisa, sinceridade.
— O que Archie tem? — sussurrei com medo.
— Leucemia. Leucemia linfoide aguda, para ser mais específico. —
Senti tudo ao redor congelando, lentamente, como se meu corpo adormecesse.
— Archie foi diagnosticado em um estágio inicial e o tratamento é sempre
melhor quando é em crianças. A remissão dele é sempre mais promissora.
Promissora.
Remissão.
Câncer.
Meu Archie.
— Liv... — Meu amigo passou a mão em meu rosto, limpando as
lágrimas que eu nem sabia que estava caindo. — Calma, não é fácil dar esta
notícia, ainda mais para você.
A porta do apartamento se abriu e Justin passou por ela, segurando na
mão do nosso filho. Meu filho sorriu em minha direção, mas este sorriso foi
sumindo pouco a pouco ao me ver chorando.
— Mamãe? — Soltou a mão do pai, correndo em minha direção,
apertando-me em seus braços. Fiz o mesmo, escondendo o rosto na curva do seu
pescoço, beijando sua bochecha. Não, ele não, por favor.
Mas eu não conseguia parar de chorar.
Archie era simplesmente a coisa que eu mais amava no mundo.
Qualquer dor que ele sentia, meu primeiro instinto era sempre desejar
que fosse comigo.
— O que houve? — escutei Justin indagar a Alexandre e ele se levantou,
seguindo o pai do meu filho para o canto da sala. Acompanhei a conversa com o
olhar, colocando Archie em meu corpo, tentando inutilmente parar de chorar e
vi a reação de Justin ao ter a notícia que tirou meu chão.
Não havia lágrimas.
Ele apenas pareceu em choque. Sem reação.
Até que fixou os olhos azuis em mim, finalmente entendendo o que
estava acontecendo.
— Vou enviar para você uma cópia dos exames — Alex falou. —
Aconselho discrição — disse, olhando em direção a Archie, que ouvia tudo
atentamente. — Até termos mais informações. Mas Liv — se aproximou,
ficando em minha frente —, só fique calma, ok? Vamos fazer de tudo. O
impossível, prometo.
Era uma boa promessa, mesmo assim, eu não parava de chorar.

A sensação era como estar congelado. E eu finalmente entendi o que


acontecia quando cheguei ao apartamento e encontrei Olivia chorando, com o
amigo consolando-a. Archie estava doente e ver meu menino nos braços da
mãe, sem entender a dimensão daquilo tudo era horrível. Como apertar meu
coração em seus dedos e não soltar nunca mais.
Não queria nem imaginar como estava Olivia neste momento.
Assim que Alex saiu, eu a vi segurar o rosto de Archie entre os dedos,
sorrindo para o filho e beijando a testa dele. Aproximei-me, sentando-me no
sofá ao seu lado.
Estendi a mão em direção a ela, que colocou a sua contra a minha.
Beijei o dorso.
— Vai ficar tudo bem, prometo — falei com firmeza, sabendo que
estava prometendo algo perigoso. Ela me odiaria se algo ruim acontecesse ao
nosso filho, mas era a única coisa que eu sabia falar no momento.
— Você não pode me prometer isso — disse inclinando a cabeça para o
lado, abraçando Archie novamente. — Vou dar banho nele e já falamos sobre,
ok? — indagou.
— Ok. — Aproximei-me, beijando os fios loiros de Archie, fazendo o
mesmo com Olivia. — Mas não vamos desistir sem lutar, pequena Liv.
Prometo. Isso eu posso prometer.
O suspiro dela foi tudo que ouvi.
Ela foi em direção ao banheiro com Archie nos braços e me levantei,
pegando a sacola do restaurante italiano preferido do nosso filho e segui em
direção à cozinha de Olivia, pegando três pratos para preparar a mesa para o
jantar.
Não poderíamos apavorar Archie agora. Ele era só uma criança e ficaria
assustado caso não fosse preparado da maneira que deveria.
Olivia apareceu na cozinha minutos depois, com Archie novamente nos
braços, não tocou no assunto, somente abriu um sorriso.
— Comida italiana, é? — falou olhando para o prato.
— Sim! — nosso menino exclamou. — Papai comprou. Disse que ia
comemorar.
Ela sorriu para mim.
— Eu amei. — Colocou Archie na cadeirinha dele, colocando o prato do
homem aranha decorado em sua frente. Beijou os cabelos do filho, mas não se
afastou, dando comida na boca, apegada aos momentos. Archie já fazia tudo
sozinho e era clara a forma que Olivia agora estava se apegando a ele.
Não.
Aquilo não era necessário, pois tudo daria certo.
Archie passaria pelo tratamento. Seria difícil, mas ele estaria conosco ao
final.
Não íamos perdê-lo.
Tentei me convencer, mas cheguei a uma única conclusão: tentar ser
forte é uma merda.
Eram quase sete da noite quando terminamos de jantar e Justin se
responsabilizou por colocar Archie na cama. Sentei-me no sofá, vestida com
uma calça de moletom dois números maior do que eu usava, e um blusão
confortável e velho, sentindo o peso do dia cair sobre mim. Eu chorei tanto no
momento da notícia que agora era como se eu não conseguisse fazer mais nada.
Eu só pensava em uma coisa.
No tratamento do meu filho.
Os exames que o Alexandre enviou em meu e-mail estavam abertos no
notebook sobre a mesinha de centro. Inclinei-me, vendo o nome do meu filho
em cada documento.
Senti meus olhos pesarem, pensei na forma em que meu filho ficou feliz
com o jantar com os pais reunidos, em como falou da escola, conversou sobre
filmes de heróis com o pai e fez planos para assistirem Full House conosco.
Um sorriso pincelou meus lábios, mesmo que no fundo, a tristeza
consumisse tudo.
— Voltei. — Despertei dos meus pensamentos vendo Justin sentado na
mesinha de centro, observando-me.
— Podemos falar agora — sussurrei, encarando-o. Ele tirou a gravata,
jogando o tecido de lado.
— Sim, podemos. — Passou o braço em torno do meu ombro, puxando-
me para um abraço. Encarei a camisa de Justin com confusão.
— Por que isso? — indaguei levemente confusa.
— Porque quando Alex chegou, eu vi que você só precisava de um
abraço. Eu queria fazer isso, mas Archie ficaria ainda mais preocupado. — Ele
alisou minhas costas. — Vai ficar tudo bem com ele, Liv, eu sei que sim.
E eu desmoronei novamente, escondendo meu rosto na curva do seu
pescoço, apertando sua camisa como se aquilo fosse meu bote salva-vidas.
— Eu estou com tanto medo...
— Eu sei. — Beijou minha testa. — Estou morrendo de medo também,
mas vamos fazer o impossível por ele.
— Ele é tão pequeno, Justin. — Levantei-me assustada. — Por que com
ele? — inquiri chorando, cobrindo minha boca com a mão. — Por que não
comigo? Eu daria qualquer coisa para ele nunca passar por nada disso.
Ele tornou a se aproximar.
— Não fale assim. Eu daria qualquer coisa para não ver nenhum de
vocês assim. Você sem Archie não funciona, mas ele sem você, seria como
desmoronar tudo. — Abraçou-me novamente e deixou que eu chorasse em seu
peito. As lágrimas voltaram. Só que agora eu estava brava, irritada com o filho
da puta do destino que fazia meu filho sofrer.
— Falei com um médico que Alex indicou — ele sussurrou. — Disse
que está atendendo. Ele conseguiu uma vaga, podemos levá-lo lá. Alex disse
que é um dos melhores de Nova Iorque.
Suspirei quando ele disse isso, sem me afastar.
— Claro que vamos. — Apertei-me mais em seus braços, sentindo meu
coração doendo.
O médico que Alexandre indicou era realmente um dos melhores de
Nova Iorque e encaixou uma consulta quando me identifiquei. Graças a Deus
conseguimos fazer todo o procedimento em um dia, fomos a primeira consulta,
iniciamos a bateria de exames e segundo o doutor Dylan, a perspectiva sobre a
remissão da leucemia de Archie era promissora.
Olivia havia ido a uma consulta com a psicóloga do hospital, indicação
de Dylan quando ela começou a ter uma crise de ansiedade diante o quadro de
saúde do filho e acabei fazendo-a seguir as orientações, pois Liv tinha que estar
bem para cuidarmos de Archie.
— Está tudo bem, papai? — Archie indagou quando entramos em casa.
Ele estava curioso com o fato de que passou por muitos exames e ainda não
havíamos falado sobre tudo que vinha acontecendo. Eu e Olivia decidimos fazer
isso juntos, e hoje.
De hoje não passaria.
— Sim, querido, apenas alguns exames. — Caminhei em direção à
cozinha, abrindo a geladeira. A Dorothy apareceu minutos depois, indagando se
precisávamos de algo para almoçar. — Prepara algo para mim e Archie, por
favor? Não precisa ser nada elaborado. Ele apenas precisa se alimentar bem —
avisei, vendo-a assentir, já sabendo da situação. Passei o plano alimentar de
Archie para ela assim que saímos do consultório do médico e não queria que
isso fosse nada menos do que perfeito.
Todos os cuidados que Dylan passou já começaram a ser seguidos no
mesmo instante.
— Sente-se aqui, Archie — falei, colocando-o sobre a cadeira da
cozinha, sentando-me ao seu lado. — Sabe quando você fica dodói e vai ao
hospital?
Ele assentiu.
— E aí toma um remedinho e depois fica tudo bem?
— Sim, quando eu dei febre, mamãe me levou ao hospital para tomar
remedinho com tio Alex — falou, fazendo-me sorrir, orgulhoso. O ciúme de
Alexandre e Olivia acabou evaporando no instante em que ele começou a me
auxiliar com a situação de Archie.
Claramente, Archie vinha em primeiro lugar, sempre.
— Hoje foi do mesmo jeito, entende? — Alisei seus fios loiros. — Sua
mãe e você vão ficar bem.
Os olhinhos curiosos do meu filho se alargaram.
— É muito ruim, papai? — Segurou minha mão na sua.
— Não, não é. — Beijei sua testa, vendo Dorothy se aproximar com o
nosso almoço. — Rápido — brinquei com ela. — Obrigado, Dori — agradeci,
vendo que era um sanduíche natural com suco de laranja. — Aqui, Archie,
vamos comer tudinho antes de pegar sua mãe no médico.
Eu tinha uma ideia sobre toda a situação com Archie, mas envolvia a
mudança de Olivia para minha casa e tinha certeza de que ela diria não, mas eu
precisava estar perto para cuidar deles. E essa seria a solução mais prática.
No entanto, sabia que ela odiava minhas soluções.
Meu telefone vibrou e vi a mensagem de Elizabeth.
“Como estão as coisas por aí?” suspirei ao ler isso. Ela ficou sabendo
por Olivia, que passou a madrugada em claro pesquisando sobre a situação de
Archie e pensando sobre isso, acabou ligando para Liza desesperada e deu
nisso.
“Bem, Liv está em uma consulta com a psicóloga. Ela está péssima”
respondi, pois sabia que as duas se apoiavam nestas situações, e Olivia
precisava disso.
“Vou falar com ela.”
Deixei o telefone de lado.
— Quando a mamãe e eu melhorar, nós vamos para a praia ver a vovó e
o vovô, né? — Archie indagou, atraindo minha atenção.
— Claro — respondi prontamente, pois não acreditava mais que tinha
como falar não a Archie. Não por pena, mas sim pela sensação desesperadora de
que podia perdê-lo.
— Eu sempre disse pro vovô que eu ia encontrar meu papai — falou
mordendo o sanduíche. — E eu encontrei. Não é legal? — comentou tão
animado, fazendo-me sorrir também, mas, mesmo assim, senti as lágrimas
ameaçando romper. Eu demorei tanto para te encontrar, seria tão injusto te
perder logo agora...
— Então vamos visitar seus avós sim — respondi.
— E aí depois casamos você e a mamãe — ele falou, olhando dentro do
pão. — Pois eu preciso casar vocês.
Sorri.
— Essa é outra história. Sua mãe e eu somos complicados.
Ele piscou, analisando minhas palavras.
— Vocês não se amam? — tornou a indagar.
— Não é isso. É que somos muito diferentes. — Encolhi os ombros. —
E às vezes, os pais criam os filhos juntos, mas não casados, entende? — Ele
franziu o cenho.
— Mas eu quero que fiquem juntos — respondeu, como se o que ele
quisesse fosse o bastante. — Aí eu teria uma família. E depois eu teria irmãos.
Tia Liz disse que quando ficarem juntos eu vou ter irmãos.
Quase gemi com isso.
Eu não estava conseguindo nem fazer a mãe dele me aceitar, imagine ter
bebês.
Observei Archie comendo, respondendo às perguntas, rindo das coisas
que ele falava e de vez em quando, me permitia esquecer toda a reviravolta que
nossa vida dava.
A porta da cozinha se abriu e levantei a cabeça, encontrando Olivia na
entrada. Ela segurava um lenço de papel entre os dedos e tinha os olhos
vermelhos, mas sorriu ao nos ver juntos à mesa. Ela havia me mandado para
casa com Archie para dar almoço a ele, preocupada com os horários.
— Eu ia te buscar — falei, levantando-me. Caminhei até ela, passando o
braço em torno da sua cintura, puxando-a em minha direção para poder beijar
sua testa. Ela segurou minha camisa, suspirando contra meu ombro.
— Peguei um táxi. — Beijei sua têmpora, indicando para que se
sentasse ao lado de Archie, e coloquei o meu prato intocado com o sanduíche e
o suco à sua frente. — Mas isso é seu. — Olhou-me indignada, antes de beijar a
cabeça do nosso filho.
— Coma — indiquei, sentando-me ao seu lado —, você precisa se
alimentar.
Ela sorriu de leve.
— Obrigada. — E aceitou a comida, observando Archie. — Está
gostoso, filho? — indagou.
— Sim. O papai disse que quando ficarmos bons, eu e você, e ele — se
lembrou de mim já no fim da frase. — Vamos visitar o vovô e a vovó na praia.
Vamos, né?
Ele encarou Olivia de um modo pidão.
— Claro que vamos — disse rindo. Seu olhar encontrou o meu e ela
estendeu a mão, fazendo-me enlaçar nossos dedos. — Vamos fazer isso e muito
mais quando ficarmos bem. — A esperança em sua voz me deixava mais calmo,
sabendo que seu bem-estar também era importante.

— Então eu pensei que seria melhor — Justin sussurrou assim que


terminou de falar sobre a ideia de me mudar para sua casa durante o tratamento
de Archie. Não escutei muito bem, pois estava no piloto automático desde que o
doutor Dylan falou sobre o estado de saúde de Archie, confirmando tudo que
Alexandre havia dito. O medo era aterrorizante no momento, mas depois de
surtar com a ansiedade, a psicóloga conseguiu me acalmar, deixando claro que
era apenas uma fase, que o tratamento seria bem-sucedido caso fosse feito com
persistência.
Dessa forma, a primeira coisa que fiz foi vir para casa de Justin para
cuidar o máximo que eu conseguisse do meu filho.
— Sim, concordo — respondi no automático, sabendo que tudo no
momento dependia dos melhores médicos, e consequentemente, muito dinheiro.
E eu não conseguia lidar com isso. Justin era a pessoa que estava na frente de
tudo, e a saúde do meu filho dependia disso.
Sem falar que ter o pai presente faria Archie a criança mais feliz do
mundo.
— Sério? — O loiro arregalou os olhos e olhei em direção a Archie,
sentado no meio da sala, com os brinquedos que Justin havia comprado,
espalhados ao seu redor.
A casa de Justin não era nada parecida com meu apartamento. Era uma
casa de verdade, com uma sala grande, cozinha ampla e sala de jantar com
vários lugares. Era o lugar de formar uma família. Coisa que não éramos, mas
que precisávamos ser para o Archie.
— Por ele, Justin. — Olhei para o pai do meu filho. — Tudo que eu faço
é por Archie. Eu me casaria com você por ele, eu moro com você se ele
precisar, não tem nada que eu não faça pelo meu filho.
Ele abriu um sorriso de canto.
— Ok. Podemos pegar as coisas de vocês mais tarde. — Beijou meu
dorso, ato recorrente desde que Alex contou sobre a doença. Estava
acontecendo tão rápido que parecia uma bola de neve. — Eu havia preparado
um quarto para Archie, pois todos são fechados e sem mobília adequada,
acredito que vamos precisar dividir o quarto até que outro seja aprontado para
você.
Isso me deixou ligeiramente tensa, mas não esbocei nada.
Acredito que agora eu não iria mais chorar por causa de dividir a cama
com Justin Monroe.
— Ok — respondi, ainda encarando Archie.
— Olivia. — A voz de Justin não me trouxe de volta à realidade até que
senti sua mão, isso me fez encará-lo. — Vai dar certo, ok? Já deu. Dylan nos
deu esperança. Muita.
A vontade de chorar era esmagadora.
— Sim. Ele deu. — mas eu era a mãe dele, quis dizer, eu o vi nascer,
Justin, vê-lo sofrendo era sofrer cada momento de modo intensificado.
Suspirei.
— Sua mãe vem hoje, né? — Ele assentiu diante minha mudança de
assunto. — Eu posso tomar um banho? — Encarei minhas roupas, para mim, eu
cheirava a hospital. — Estou me sentindo meio cansada.
— Claro, claro. — Ele se levantou. — Vem, vou te mostrar o banheiro e
pegar uma muda de roupa para você.
Assenti, apertando minha mão na sua. Subimos as escadas em silêncio,
comigo pensando em Archie e em Vivian Monroe, que viria conhecer o neto, ou
melhor, encontrar o neto, já que ela conhecia Archie das festas dos Monroe.
Tinha medo da reação dela.
Vivian era uma mulher bem séria, nunca me tratou mal, mas era
diferente de Hilary e não queria nem imaginar a reação dela em saber que
escondi o neto deles esse tempo todo. Sem falar que... se ela achasse ruim meu
caso com Justin?
— Você está bem mesmo? — ele indagou, parando em minha frente,
enquanto entrávamos no seu quarto. O local era claro, com uma janela enorme
dando vista ao jardim e me fez sorrir de canto. — Gostou do quarto?
Passei por ele, seguindo em direção à janela.
— É uma vista linda. Deve ser ótimo acordar aqui. — Olhei para longe,
vendo que as árvores davam um clima perfeito, com as flores espalhadas pelo
jardim. Senti Justin em minhas costas.
— É sim, mas eu não aproveito muito. Fico bastante com janelas
fechadas.
Revirei os olhos, inclinando-me mais para ver o jardim, e senti meu
corpo batendo contra ele, fazendo-me endireitar a postura rapidamente,
engolindo em seco.
— Você não sabe aproveitar as coisas boas — resmunguei tensa,
suspirando. Foi a primeira vez que pensei em alguma coisa além de Archie e a
doença, pensei em como seria perfeito ter uma família e morar naquela casa.
Mas só uma das coisas seria real. E por um tempo determinado, pois
meu filho não ficaria doente muito muito tempo. Isso era certeza.
Em breve voltaríamos para casa, pois Archie iria ficar bem.
— Eu não sei mesmo — falou, fazendo-me olhar sobre o ombro,
encontrando seus olhos em mim, e por breves segundos, imaginei que ele não
estivesse falando sobre a casa.
Mas afastei-me, entrando no banheiro de Justin.

Enquanto Vivian não chegava, sentamo-nos com Archie para conversar.


Ele havia acabado de tomar banho e estava sobre a cama do pai, vestido em um
short preto e suéter branco, look escolhido por ele e lembrava-me um que vi
Justin usando há alguns dias.
A semelhança clara me fez sorrir.
— Vem cá, amor — chamei, batendo no colchão próximo a mim.
Archie veio rápido, encarando-me. Justin estava trocando de camisa a
alguns metros, percebeu minha intenção e aproximou-se, sentando ao meu lado.
Meu filho arqueou a sobrancelha diante do movimento.
— Hoje a mamãe tem duas coisas para falar com você, ok? — indaguei
escovando seus cabelos. Ele assentiu. — Sabe que fomos ao hospital hoje, e seu
pai já explicou que quando estamos doentes, vamos lá para tomar remedinho e
ficar bom.
— Estou doente, mamãe? — Arregalou os olhos.
Sorri, tentando passar tranquilidade, ao mesmo tempo que meu coração
era apertado como se estivesse sendo amassado sem nenhuma piedade.
— Um pouco, amor. — Segurei seu rosto. — Mas não precisa se
preocupar, ok? Eu e o papai estamos cuidando de tudo. Você foi ao doutor
Dylan e vamos sempre agora, vamos tomar todos os remedinhos, e às vezes,
você pode precisar ficar no hospital, mas eu prometo que vai ficar tudo bem.
Ele encarou o pai.
— Eu vou morrer, papai? — A pergunta me fez encarar o teto, sentindo
o limite chegando. Não sabia de onde ele tirou essa pergunta, mas era
desesperador.
— Não, Archie. Que isso, filho? — Justin se apressou em dizer,
abraçando-o de lado. — Nós vamos lutar contra a doença juntos. E ela vai
embora logo, para podermos ir visitar seus avós e depois... quem sabe, sua mãe
case comigo.
Olhou em minha direção, sorrindo de modo conquistador.
Revirei os olhos, vendo que isso fez um sorriso ampliar no rosto de
Archie.
— Isso! — ele exclamou parecendo ter esquecido da ideia da doença. —
Vem cá, mamãe. — Abriu os braços, pedindo-me um abraço e eu fui sem
reclamar, beijando sua bochecha.
— Você não vai morrer, Archie. É só uma doença, e a mamãe vai
mandá-la embora logo, logo, com a ajuda dos remedinhos e de muito cuidado
— falei chorosa, afundando o rosto na curva do seu pescoço. — E quando você
nem perceber, já vai ser meu nenê saudável novamente. Aí poderemos fazer
tudo, amor. Pois não há nada que não podemos fazer depois disso.
E tudo que eu falava, servia para mim, para me salvar do sentimento de
estar perdendo o controle.
Archie estava no jardim quando mamãe chegou. Olivia tinha finalmente
dormido, depois de falar com o filho. Agora eu estava sentado em frente a uma
senhora de cinquenta e cinco anos e bem irritada com o caminho da nossa
conversa.
— Eu vim conhecer meu neto. — Já tinha cerca de meia hora que eu a
enrolava para adiar o momento de colocar Archie de frente com ela, mas ela não
estava lá muito paciente com nada disso. — E quero saber onde está Olivia...
ela deve estar devastada.
No instante que falou isso, ouvi passos na escada e me virei, porém
travei ao ver uma Olivia descendo com minha camisa de vestido, roupa que dei
para ela vestir antes de sair do quarto. Ela só percebeu a mamãe minutos depois,
arregalando os olhos ao ter os olhos de Vivian Monroe julgando a forma que se
vestia.
Não de maneira ruim.
Acredito que seu objetivo de vida no momento fosse juntar eu e Olivia.
— Você não avisou que sua mãe tinha chegado... — Liv sussurrou
parando no início da escada, puxando a camisa para baixo. Segurei a risada
diante seu tom envergonhado, vendo-a corar de modo adorável.
— Olivia... — Mamãe se levantou, caminhando até lá e vi Olivia
arregalar os olhos quando Vivian a apertou em um abraço. — É tão bom rever
você, querida. Está linda. — Ela deu um passo atrás, segurando o rosto de Liv
entre os dedos e sorriu. — Cadê o meu neto?
Olivia arqueou a sobrancelha.
— É... — Engasgou com as palavras. — Bom ver você também, Vivian.
Archie estava com Justin.
Vi quando Archie retornou do jardim com Dorothy, sorrindo de algo que
a governanta falava.
— No jardim. — Apontei em direção a ele, que encarou a avó no meio
da sala, confuso, sem saber quem era aquela mulher. E antes que eu tivesse
chance de apresentar, ela já estava caminhando em direção a ele, abraçando-o e
tirando-o do chão.
— Archie. É tão bom te ver — sussurrou.
E meu filho reagiu da melhor forma possível, encostando a cabeça no
ombro da avó e sorrindo de canto.
— É bom te ver também, dona. — Passou os dedinhos pelos fios soltos
de Vivian, fazendo-a rir.
— Ele é adorável, Olivia. — Virou-se para Olivia ao dizer isso. — Você
se lembra de mim, querido?
Archie negou.
— Não — encolheu os ombros —, mas você me deu um abraço
gostosinho e eu abracei de volta — falou como se aquilo explicasse tudo,
fazendo-nos rir.
— Vou me trocar, volto num instante — Olivia disse quando me
aproximei, segurou meu braço e completou: — Eu te mato ainda. Mas explica
quem é Vivian para o Archie. — Assenti, inclinando-me para beijar sua testa
rapidamente.
— Você me adora — sussurrei baixinho, vendo o sorriso pequeno
apontar em seus lábios. — E seus pais ligaram, disseram que chegariam hoje em
Nova Iorque. Amanhã vão vir aqui para casa.
Ela suspirou.
— Ok. Já volto — falou à mamãe, mas ela estava entretida olhando para
Archie em seus braços, quando não obteve resposta, subiu as escadas para
trocar de roupa. Fui em direção aos dois, segurando a mãozinha pequena do
meu filho.
Acabei pedindo para um dos seguranças da casa ir ao apartamento de
Olivia pegar algumas roupas. E ela iria me matar quando soubesse que deixei
alguém mexer nas suas coisas.
— Archie — chamei a atenção do loirinho, que ria, segurando o colar da
avó entre os dedos. — Lembra que falamos sobre conhecer a vovó Vivian?
Minha mãe?
— Sim, você disse que ela estava animada em ter um neto bonito igual
eu — falou se achando, fazendo-nos rir.
— Estou mesmo — mamãe falou prontamente. — Você é ainda mais
bonito pessoalmente, Archie.
Ele arregalou os olhos.
— Você é minha avó?! — perguntou animado.
— Sim — mamãe disse, sentando-se no sofá, com ele em seu colo. Eu
os acompanhei, observando a interação dos dois. — Sempre quis um netinho, e
agora eu tenho um lindo, né? Fiquei sabendo que você é inteligente também.
Archie corou com o elogio.
— Ah, eu amei você, vovó. — Ele a abraçou, afundando o rosto em seu
peito, fazendo mamãe me encarar, com os olhos cheios de lágrimas.
— Também amei você, querido — sussurrou beijando os fios loiros, e
era importante demais neste momento. Eu, logo eu que, desde que fiquei viúvo,
nunca planejei nada do tipo, agora tinha absolutamente tudo. E eu era
completamente apaixonado por cada coisa fora do planejamento.
Quando Olivia retornou, vestia uma das peças que o segurança trouxera
em sua bolsa e sorriu ao ver o neto e a avó conversando animadamente.
Chamei-lhe para sentar-se ao meu lado e ela veio sem reclamar, passando o
braço em torno do seu ombro, puxei-a suavemente em minha direção,
encostando a cabeça na sua.
— Pedi para Oton pegar suas coisas. Algumas, não tudo.
Ela suspirou.
— Tem até calcinha, meu Deus, você só me faz passar vergonha. —
Sorri, mas não gostei de saber que o segurança mexeu nesse tipo de coisa, mas
não podia reclamar, afinal, eu quem o mandei ir buscar.
Encolhi os ombros.
— Apesar de ficar gostosa na minha camisa, você precisa de roupas
limpas — falei baixinho, abrindo um sorriso de canto, vendo seu rosto se tornar
um vermelho adorável.
— Vovó — Archie falou saindo do colo dela. A naturalidade que a
chamou de avó foi surpreendente. — Eu vou pegar o desenho que fiz da minha
família para a senhora ver. Fica aí. Vou colocar a senhora nele.
E correu pela casa, animado.
— Ai, Liv, ele é perfeito — mamãe disse com a mão sobre o peito,
chorosa. — Tão fofo e educado — estendeu a mão para Olivia, apertando-a em
sinal de conforto —, não faço ideia de como você deve estar se sentindo no
momento, querida — ela falou, fazendo os olhos da mãe do meu filho se
encherem de lágrimas. — Mas estamos aqui. Só vamos parar quando ele estiver
bem.
Sabíamos bem que a doença, o futuro não dependia apenas de nós. Se
fosse, escolheríamos sempre não ter Archie nesta situação, mas, mesmo assim,
reforçamos sempre que estávamos dispostos a tudo para vê-lo bem, porque era o
que fazíamos quando amávamos alguém, queríamos vê-la bem.
— Vamos sim — reafirmei as palavras de mamãe vendo Liv fungar.
— Obrigada, Vivian — ela agradeceu. — O apoio de vocês têm sido a
salvação. Ter Archie doente sempre me aterrorizou, eu chorei por causa de
febre, meu Deus. — Escondeu o rosto nas mãos. — E saber tudo isso está me
deixando exausta. Só queria tirar isso dele.
Eu a puxei para meus braços, pois sempre que ela desmoronava, sentia-
me na obrigação de segurá-la. Não sei como pude continuar por tanto tempo
com o processo de guarda, pois ver Olivia sofrer agora era como enfiar uma
faca no meu peito.

— Sua mãe foi incrível — falei sorrindo, enquanto Justin aprontava


nossa cama para dormir. Archie estava adormecido num cantinho dela, agarrado
ao travesseiro e não percebia nossa movimentação. Penteei meus cabelos para
trás, ainda lembrando da conversa com Vivian mais cedo. — Não esperava tudo
aquilo. Pensei até mal dela.
O loiro riu.
— Mamãe é de boa. Nem me preocupo. — Encolheu os ombros,
deitando na cama e se inclinou para alinhar os fios loiros de Archie. — Ela te
adora e claramente Archie é o novo protegido.
Sorri.
Ele era sim.
Amanhã meus pais chegariam em Nova Iorque e eu estava tão feliz com
isso, pois sabia que nos braços de mamãe, nenhuma coisa poderia me afetar, que
eu teria forças para cuidar do meu filho.
Coloquei o pente de lado e caminhei até eles, deitando-me entre os dois.
Escolhi o conjunto de moletom e shorts que tinha nas minhas coisas e agradeci
por ter algo comportado para vestir.
Encarei meu filho, beijando sua testa antes de me deitar, fitei o teto,
sentindo o braço de Justin roçando o meu.
— Foi um dia difícil. — O sussurro dele me fez suspirar. — Amanhã vai
ser um dia melhor.
Eu o encarei, pensando sobre.
— Tem certeza? Eu duvido muito. Só que estou animada. — Senti sua
mão descendo sobre o colchão, até alcançar a minha, enlaçando nossos dedos,
sorrindo de canto.
— Bom ver você assim — murmurou encostando a testa na minha. — E
mesmo que for um dia ruim, ainda vou segurar sua mão, pequena Liv.
Suspirei, sentindo meus olhos marejando.
— Obrigada por não a soltar. — Estava sendo tão difícil, mas ter meus
amigos, Justin e a nossa família para dar apoio mudava tudo. Tornava o peso
mais fácil. Elizabeth falou comigo na noite anterior.
— Sempre vou segurar sua mão. Sua e de Archie. São minha família. —
Engoliu em seco, e o encarei. Justin tinha os olhos fechados e era tão bonito que
era quase um soco no estômago sempre que eu o observava. — E eu nunca quis
uma família assim, mas eu amo cada momento. Quero tudo que vier.
Aproximei-me um pouco mais, deitando a cabeça em seu peito, sentindo
seu braço passar embaixo do meu corpo, apertando-me contra ele, e finalmente
deixei que o cansaço do dia batesse sobre mim, fazendo-me adormecer.
Quando acordasse amanhã, ele não soltaria minha mão.
Ele amava o que tínhamos.
Não a mim.
E eu já o amava.
Mesmo que isso fosse um sentimento recente, mesmo que fosse novo,
eu não podia negar.

Alexandre chegou cedo na casa do Justin para examinar Archie e ver


como ele estava. Não era um trabalho fixo nem fazia parte da rotina normal dos
funcionários, mas ele havia se oferecido para checar nosso filho sempre. E hoje
Archie amanheceu meio febril, o que me deixou preocupada. Eu o mantive na
cama, monitorando o clima e me certificando que nada estava fora do controle.
— Como você está? — meu amigo indagou, alisando uma mecha do
cabelo que saiu do lugar.
— Bem, tem sido difícil, mas estou sobrevivendo. — E era só o segundo
dia desse caos. — Meus pais chegam hoje, acho que vai ser mais fácil lidar com
isso com eles aqui.
Ele assentiu.
— Sim. — Tirou o estetoscópio, colocando a mão sobre a testa do meu
filho adormecido na cama. Os remédios começaram a causar efeito, e ele já
ficou bem enjoadinho esta manhã. Daqui a dois dias teríamos a primeira sessão
de quimioterapia e já estava com medo.
— Você é forte — Alex falou, abraçando-me de lado. — E cadê Justin?
— Na empresa. — Suspirei encostando a cabeça no ombro de Alex,
vendo meu filho dormir. — Ele foi só organizar algumas coisas, disse que vai
tirar uns dias de folga para acompanhar Archie nos primeiros passos no
tratamento.
Alex riu.
— O que foi? — indaguei preocupada. Não era algo para rir.
— Ele tem se empenhado como pai, né? — falou arqueando a
sobrancelha. Assenti.
— Sim, tem sido ótimo. — Encolhi os ombros. — E não é só com a
doença. É desde que ele soube que Archie é filho dele, foi mal comigo, mas
com Archie é só amor.
— Ainda quero socar a cara dele por entrar em um processo judicial —
resmungou irritado, fazendo-me rir.
— Se fosse só você, eu até daria um jeito. — Ouvi a porta abrindo-se e
virei a cabeça, vendo Justin parado lá, com um olhar sério em nossa direção. As
mãos de Alexandre em meu corpo se afastaram rapidamente e fiquei confusa
quando vi Justin adentrando o quarto, ficando entre nós, colocando um espaço
maior ali.
— Pensei que fosse ficar mais na empresa — comentei para mudar de
assunto.
— Queria ver como Archie estava. — Olhou em direção ao médico. —
Ele precisa ir ao hospital?
Alex negou.
— Não, é apenas uma febre. Vamos controlar em casa mesmo. Posso
ficar para verificar. — Justin assentiu. — Mais medicamentos e vai dar certo.
Archie não está em um estado avançado e o progresso vai ser bem-sucedido.
Justin passou o braço em torno da minha cintura, puxando-me em sua
direção. Encostei a cabeça em seu peito em um ato de reflexo, e vi Alexandre
olhando em minha direção, sorrindo de canto antes de negar em um aceno
rápido com a cabeça.
— Já tomou café, Liv? — Justin indagou com as mãos em minhas
costas.
Meu estômago roncou em resposta.
— Não.
— Ótimo, vamos tomar café e aguardar seus pais. Quer nos acompanhar,
Alex? — Meu amigo negou, sentando-se na poltrona no canto do quarto.
— Não, podem ir. Vou ficar para verificar mais o estado dele antes de ir
para casa, só entro no plantão a tarde. — Sorri, caminhando até ele e o abracei
de lado.
— Obrigada, Alex — sussurrei.
— De nada, Liv, vai comer, e receber seus pais. Se ele precisar de algo,
te aviso. — A tosse forçada de Justin me fez encará-lo, vendo o loiro arqueando
a sobrancelha.
Alguém explique para meus instintos que Olivia e Archie precisavam de
um médico para averiguar a situação do nosso filho constantemente, pois no
momento só conseguia pensar em uma forma de tirar aquele loiro sem graça de
perto dela. Segurei-a pela mão no instante em que entramos no corredor que
ligava as escadas e a cozinha, encostando-a na parede.
— O que você está fazendo? — indagou assustada, ofegante, com o
peito subindo e descendo rapidamente. E antes que tivesse chance de fugir,
meus lábios já desceram sobre os dela, em um beijo lento, explorando sua boca
com desejo, aproveitando cada momento, cada segundo, senti sua língua brincar
com a minha, com suas mãos passando em torno do meu pescoço, puxando-me
mais em sua direção, afundando os dedos em meus cabelos, fazendo-me gemer
baixinho enquanto ela os puxava. — Entendi o que estava fazendo — sussurrou
contra mim, passando o indicador por meus lábios, limpando o batom. Segurei
as laterais do seu rosto bonito, trazendo novamente seus lábios aos meus,
puxando-a para um segundo beijo.
Desta vez, mais longo e profundo, senti meu corpo responder, ficando
duro de desejo. Havia semanas desde que toquei em Olivia pela última vez e eu
repetia aquele momento a todo instante na minha cabeça.
Senti minhas mãos descendo por seu corpo, tocando-a por cima do
vestido rodado de verão que vestia esta manhã e quando ela se colou mais em
mim, aceitei aquilo como um sinal para deslizar contra o tecido, encontrando a
pele macia das pernas logo em seguida.
— Olivia — sussurrei em meio a um gemido, com sua perna direita
enrolada em torno da minha cintura, e meu pau duro esfregando contra sua
coxa. — Se não parar, eu vou ficar louco e vou acabar comendo você de café da
manhã. — Ela riu contra minha boca.
— Por mim, não teria problema. — Tocou-me por cima da calça. —
Mas precisa ser rápido, meus pais podem chegar logo. — Brincou com o botão
da minha calça, descendo o zíper e gemi quando ela entrou dentro da cueca com
a mão pequena e afoita, deslizando contra meu comprimento, brincando com a
base e em seguida, descendo em um movimento ritmado contra meu pau.
— Porra — grunhi no seu ouvido, sentindo sua outra mão segurando na
minha camisa, de modo tão apertado que nossos corpos eram uma junção que só
dava espaço para sua mão contra mim, fazendo-me gemer baixinho, entorpecido
com a sensação de prazer, e quando estava prestes a gozar, ela afastou a mão,
sorrindo de modo provocador quando a encarei, quase indignado.
— Porra, você é maligna — falei quando percebi que ela havia feito isso
como vingança por tê-la interrompido há algumas semanas. E não esperei
resposta, apenas me abaixei entre suas pernas, levantando o vestido,
agradecendo por ser um corredor escuro e Dorothy ter ido à feira, pois aquela
era uma cena e tanto.
Afastei a calcinha de Olivia para o lado, brincando com sua boceta
molhada, sentindo-a contrair contra minha mão, fazendo-me afundar dois dedos
dentro dela, sentindo seu canal apertado sugando-os, deixando-me ainda mais
duro, precisando gozar, precisando desesperadamente me libertar. E quando ela
estava perto, fiz o mesmo ato, afastei-me, vendo seu rostinho bonitinho
frustrado com isso, levantei-me, segurando seu maxilar, beijando sua boca de
modo duro, atraindo-a para o beijo e quando ela correspondeu à altura, afundei-
me em sua entrada de uma vez, sentindo sua boceta se alargar para me receber.
Gemi.
Moendo meus quadris contra o dela, sentindo suas mãos em meu corpo,
puxando-me em sua direção enquanto nossos corpos se uniam, os gemidos
baixinhos escapavam entre nós, fazendo-me tremer de prazer, sentindo o êxtase
aproximando-se.
Eu a beijei, querendo aproveitar cada momento dentro dela, senti suas
pernas passarem em torno do meu corpo, abraçando-me de modo completo
enquanto eu entrava e saía dela em um ritmo frenético. Gostava de ver Olivia
nua. Os seios, seu corpo perfeito nu aos meus olhos era sempre uma visão e
tanto, mas no momento, não tínhamos tempo.
Mordisquei o lóbulo da sua orelha, saindo dela por inteiro, ouvindo o
gemido de frustração.
— Fica de costas para mim, pequena — pedi contra seu pescoço,
ouvindo o resmungo baixo, mas Olivia não negou, ficando de costas para mim,
com o rosto contra a parede, e a bunda arrebitada em minha direção. Deslizei
meus dedos por sua calcinha de renda e afastei mais, para conseguir entrar nela
por trás, afundando completamente, moendo meus quadris, sentindo o ápice
aproximando-se. Deixei meus dedos se enrolarem em torno do tecido rendado
que tampava a visão da bunda dela, rasgando-o, fazendo meu corpo ir mais
firme contra o seu.
— Porra — gemi contra ela, sentindo meu gozo vir forte, derramando-
me dentro dela enquanto seu corpo tremia de prazer contra mim. — Isso, amor,
goza no meu pau — pedi em seu ouvido descendo as mãos por seu corpo
molhado de suor, sentindo-a fraca em meus braços.
Saí de dentro dela, beijando sua têmpora, amparando-a quando fez
menção de cair. E quando minha respiração normalizou, caminhei em direção à
cozinha da casa, colocando-a sobre a bancada vazia. Encarando seu rosto
assustado e vermelho.
— Não acredito que fizemos isso. — Escondeu o rosto entre as mãos.
Sorri e tirei suas mãos de lá, depositando um beijo rápido em seus
lábios.
— Dorothy está na feira — falei para tranquilizá-la, guardando a
calcinha estragada em meu bolso. O movimento atraiu sua atenção, arqueando a
sobrancelha. — E o Alexandre não vai se incomodar.
Ela franziu o cenho, pensativa, mas não disse nada.
— Mesmo assim, nosso filho está doente, não deveríamos ficar nos
agarrando por aí — pontuou parecendo culpada. — Sem falar que não estamos
em um relacionamento, não devemos mesmo nos agarrar por aí.
Aproximei-me, ficando entre suas pernas.
— Primeiro, estamos sob muito estresse, o sexo é ótimo para acabar
com isso. E estamos lutando contra uma coisa muito difícil, câncer, sim, mas
isso não quer dizer que devemos parar de viver. Isso serve para Archie, mas
principalmente, você, Olivia. — Segurei seu rosto. — Você faz o melhor com
ele. Archie não tem motivos para reclamar.
Ela suspirou e a campainha tocou, fazendo-nos pular.
Ela arregalou os olhos.
— É meus pais.
— É seus pais!
Falamos ao mesmo tempo, como dois malucos assustados.
— Preciso de uma calcinha. Não posso atender meu pai sem calcinha,
meu Deus — falou correndo para fora da cozinha, fazendo-me rir, e seguir em
direção ao banheiro social, certificando-me de que a filhinha deles não havia
feito uma bagunça em mim. Não que eu me importasse... mas Olivia sim.
Abri a porta, mostrando meu melhor sorriso a Michael e Abigail Turner.
Eu não havia apenas transado com Justin. Mas transado no meio da casa,
com visão para que qualquer um visse aquela cena, sem falar no péssimo
momento para ter um envolvimento amoroso com o pai do meu filho.
Meu filho. Sem falar que Archie precisava de mim, completamente e
sem distração.
Terminei de me vestir e saí para verificar Archie com Alexandre. Eu o
encontrei adormecido e meu amigo falando ao telefone. Chequei sua
temperatura e agradeci quando vi que ele já não estava mais quente como
quando saí.
— Baixou a febre. Ele está bem — Alex falou guardando o telefone. —
Eu vou precisar ir agora, mas se quiser, pode me ligar em caso de alguma
alteração.
Assenti.
Aproximei-me de Archie novamente quando Alexandre saiu do quarto,
beijando a bochecha do meu loirinho, ouvindo movimento no andar de baixo
junto com Justin.
— Mamãe? — O sussurro dele me fez sorrir.
— Sim, meu amor? — Alinhei seus fios claros para trás.
— Tio Alex já foi? Já tomei o remedinho hoje?
Sorri com carinho.
— Sim, amor. Ele já foi e você já tomou o remedinho. Podemos descer e
tomar café da manhã com a vovó Abi e o vovô Michael. Eles chegaram. — Ele
abriu os olhos, animado. — Vem no colo, vem. — Eu o peguei, encaixando-o
em meus braços. Quatro anos de idade e ainda andava como um bebê de colo.
Meu bebê...
Saí do quarto, descendo as escadas devagar, pois sentia meu corpo todo
agitado com tudo que aconteceu nos últimos minutos e vi quando Justin
percebeu nós dois descendo e veio me ajudar com Archie, pegando-o em seus
braços.
— Seus avós, querido. — Ele o soltou no chão, e vi meu menino correr
até meu pai, como sempre, ele abraçava primeiro o avô. Mamãe sorriu,
chamando-me para um abraço e já fui sentindo o choro ameaçando a chegar,
sentindo-me sentimental demais perto dela.
— Ah, minha menina — ela sussurrou contra meu ombro. — Vai ficar
tudo bem, eu tenho certeza.
Suspirei, contente.
— Eu sei, obrigada por vir — agradeci, sentando-me ao seu lado. E vi
quando Archie passou dos braços do avô para falar com a avó, e me aproximei
do papai, abraçando-o.
— Menina minha — beijou minha têmpora —, é momento de ser forte.
Como sempre, pequena Liv, você nunca deixa de ser forte.
E eu chorei, desmoronando em seu ombro, deixando que as lágrimas
descessem. A gente podia receber todo o apoio do mundo, mas nada era
comparado a ser abraçado por seu pai e sua mãe. Era o melhor sentimento.
— Eu estou com tanto medo, papai — sussurrei, não querendo que
Archie ouvisse.
Ele me apertou mais forte.
— Estou aqui, Liv. Estou sempre aqui. — Beijou minha testa, mas não
me afastei, deitando a cabeça em seu ombro, vendo Justin nos observando de
longe e as mãos do meu pai limpou as lágrimas cansadas, pois eu chorava há
dois dias e eu já me sentia sem lágrimas.

A mesa do café da manhã estava posta e o ovos com bacon era meu café
da manhã preferido, mas no instante que coloquei a comida na boca, meu corpo
reclamou, subindo uma bile rápida, mas controlável. Meu pai conversava com
Justin de modo distraído e encarei mamãe, vendo que ela estava atenta a Archie,
então ninguém me viu quase vomitar meu café da manhã. Empurrei o prato de
ovos para o lado de modo discreto, bebendo um gole do café preto e busquei
uma torrada simples, mordiscando a ponta para ver se o enjoo ia embora.
— E como anda a situação? — mamãe indagou, colocando um pedaço
de mamão na boca do neto. — Você está morando com Justin? Não me explicou
isso bem.
Sorri, corando levemente.
— Sim. Estamos morando juntos até o tratamento de Archie acabar.
Achamos melhor isso, pois é onde nós dois podemos cuidar dele. — Mamãe
assentiu, encarando Justin e em seguida eu, e fez isso algumas vezes antes de
mudar de assunto.
— Você enjoando é normal também? — ela indagou, inclinando em
minha direção. Arregalei os olhos, encarando o prato de ovos intocado.
— Como sabe?! — exclamei assustada, ela só chegou há uma hora...
Mamãe riu.
— Você enjoou ovos na gestação de Archie, lembra? — A lembrança
veio viva como nunca. — E é seu café da manhã preferido. Você come isso
desde que tinha cinco anos, Olivia. E eu nunca vi você deixar um prato cheio de
ovos e bacon na mesa.
Gemi, desesperada.
Não. Não. Não. Eu não estava grávida.
— Não, mãe — falei, mas acredito que tenha saído mais como eu
implorando. — Não posso. Está tudo um caos. — Ela riu.
— Eu sei, amor. — Alisou meus cabelos. — Mas faça um teste para
descargo de consciência. Talvez nem seja. — Beijou minha bochecha, tentando
me tranquilizar, mas em minha mente agora só passava a ideia de estar grávida
novamente. Dormi com Justin duas vezes desde que nos reencontramos, hoje e
há semanas, o que me levava a crer que poderia sim ser uma das possibilidades.
Mas eu não tinha um relacionamento.
E eu não podia ter outro filho sozinha. Amava o Archie, mas sei que ser
mão solo me tirou muitas coisas, como relacionamentos, não era cega em dizer
que não. Então a ideia de ser mãe de novo era esmagadora.
— Então você acha que está grávida? — Elizabeth falou enquanto me
seguia para dentro do quarto principal, com uma sacola de farmácia e meu
coração na mão, segui em direção ao banheiro, trancando-nos ali. — E por que
está tão assustada?
Suspirei, colocando meus cabelos para trás.
— Porque eu não estou casada, Elizabeth. Porque eu tenho um filho com
câncer e ele precisa de mim cem por cento, porque seu primo não me ama e...
— Ela segurou meus ombros quando comecei a tagarelar e sorriu.
— Só faz o teste, Liv. — Ela o colocou entre as minhas mãos,
incentivando-me. — Vou te esperar lá fora. — Saiu do banheiro, fechando a
porta em minhas costas. Compramos apenas um teste, pois segundo Elizabeth
era cem por cento confiável.
Mamãe e papai estavam em meu apartamento e decidiram voltar para
Newport, Oregon, apenas quando as coisas por aqui melhorassem, e agradeci
por tê-los por perto, assim não me sentia tão sozinha.
Justin estava sempre comigo, mesmo assim, ainda era estar sozinha, pois
não queria aterrorizá-lo com meus pensamentos ruins.
— Ok, vamos lá — falei sozinha.
— Isso, vamos lá. E na minha opinião, você não casa porque não quer.
Justin está todo cadelinha tentando se redimir — Elizabeth resmungou do outro
lado. — Se fizeram um bebê, é porque tem rolado, então atração e desejo não
faltam.
Abafei as falas de Elizabeth, fazendo o teste e me sentei no vaso
sanitário, encarando o objeto sobre o balcão de mármore, pensando em tudo que
vinha acontecendo. Demorei dois dias para conseguir ter coragem e fazer um
teste, então a sensação era de estar quase morrendo.
— Deu o tempo já de dois testes — minha melhor amiga falou do outro
lado, fazendo-me suspirar. Levantei-me, mas não consegui estender a mão e
pegar o teste, então fiquei encarando o azulejo, respirando fundo algumas vezes.
É só um bebê, Olivia. Não vai te morder...
Eu o pego.
Encarando o resultado. Positivo.
Um positivo que tirou meu mundo do lugar.
— Ai meu Deus... — sussurrei assustada, sentindo meu corpo tombar
para o lado, fazendo eu me sentar novamente. Desci minha mão sobre meu
ventre outra vez. — Eu vou ter um bebê... um bebê de Justin. — Engoli em
seco, assustada, sentindo meu mundo todo rodando.
A porta do banheiro se abriu e encontrei Elizabeth ali.
Ela encarou o resultado e só percebi que estava chorando quando ela me
abraçou, ajudando-me a limpar as lágrimas que caíam como se fossem uma
cascata.
— Você vai me dar um sobrinho. Outro sobrinho — falou rindo e tocou
minha barriga por cima do vestido. — Ai, meu Deus, Liv, eu estou tão feliz. —
E isso me fez sorrir feliz também, pois foi a mesma sensação de quando foi com
Archie. Medo e amor. Pavor e paixão. Tudo misturado.
— Eu também. — Deslizei minha mão sobre meu ventre novamente,
com a de Elizabeth cobrindo a minha.
— Ai, Liv — fungou, encarando-me. — Eu quero um bebê também.
O sussurro dela me fez sorrir de leve.
— Você vai ter. Logo, logo, ele estará aí. — Sabia que Benjamin e
Elizabeth vinham tentando bastante nos últimos dias e sabia que iriam
conseguir, pois eles mereciam tanto uma família grande e bonita.
Agora precisava decidir se contaria a Justin agora ou esperaria um pouco
até o tratamento de Archie começar a fazer efeito. Não queria que meu filho se
sentisse substituído pelo bebê. Não era isso que estava acontecendo.
— Onde Archie e Justin estão? — ela indagou atraindo minha atenção.
Decidi guardar o teste em meio às minhas coisas e encarei Elizabeth, vendo-a
arquear a sobrancelha. — Quando pretende contar a ele? — Cruzou os braços,
na defensiva.
— Assim que o tratamento de Archie começar a se estabilizar. Prometo.
E eles foram na casa de Vivian. Ela adora Archie — falei animada, mudando
rapidamente de assunto.
— Adora mesmo. Fez uma videochamada comigo por horas falando de
Archie e como você e Justin formavam um lindo casal. Sua sogra shippa vocês.
— Rimos enquanto descíamos as escadas, pois isso já era claro. Vivian vinha
sendo ótima, e eu achava divertido o fato dela querer eu e ele juntos.
— Ela é Olitin — brinquei com a junção de meu nome e de Justin.

Ver meu filho sofrer era uma sensação péssima. E podia realmente dizer
que entendia o que Olivia sentiu quando chegou a notícia da doença. Era algo
como estar de mãos atadas, flutuando, e você não podia fazer nada, além de
segurar a pessoa que era seu mundo inteiro nos braços, prometendo não soltar.
Uma semana depois, Archie tornou a ter uma crise de febre, mas nem
Alexandre conseguiu ajudar, e precisamos interná-lo. E era como sentir seu
coração sendo massacrado ao ver as dores, as medicações, os exames, a rotina
exaustiva até que meu menino começasse a encarar a parede, pedindo apenas
para o mundo dele parar de rodar.
Senti meus olhos arderem, beirando às lágrimas enquanto observava
Olivia tentando dar comida ao nosso filho. Archie perdeu um pouco da alegria
de sempre, das respostas na ponta da língua e comecei a me preocupar com ele
sempre cansado.
— Ele está bem — doutor Dylan costumava repetir. — É só a rotina. Os
remédios, a situação o cansam, mas estamos progredindo.
Não estávamos.
Estávamos com medo.
Aterrorizados para ser mais específico.
— Ele está bem? — indaguei, aproximando-me de Olivia. Ela sorriu de
leve, alinhando os fios do nosso filho, observando-o encarar o nada com
fixação.
— Disse que estava enjoado — ela sussurrou, respirando fundo.
Olivia vinha ficando no hospital dia após dia desde que ele foi internado
e estava claramente abatida, então me preocupei quando ela se segurou na
beirada da cama hospitalar, fechando os olhos, caminhei em direção a ela,
vendo-a ficar pálida rapidamente, eu a segurei em meus braços quando a vi cair.
Olivia desmaiou e eu não sabia o que fazer, então saí do quarto de
Archie com ela em meus braços, chamando por ajuda.
A primeira enfermeira que encontrei me ajudou a levá-la para checar os
sinais vitais, e me pediram privacidade enquanto examinavam a paciente. Os
dois quartos estavam a apenas duas portas de distância, então comecei a andar
em círculos, preocupado tanto com meu filho quanto com a mãe dele.
Olivia vinha andando estranha, mas acreditava que fosse por causa do
tratamento de Archie, então deixei que ela tivesse o momento dela. Mas quando
a enfermeira retornou, senti o ar faltar quando ela explicou o estado de Olivia.
— Os enjoos e tontura são comuns na gravidez. Ela está estável, só
colocamos um soro na veia, pois ela vem enfrentando uma doença difícil com
Archie e está muito agitada. É preocupante, ainda mais numa gravidez recente
como a dela — falou, fazendo-me arregalar os olhos. — Você não sabia que sua
esposa estava grávida?
Puta que pariu.
Grávida?
Que porra é essa?
— Não... — sussurrei, engolindo em seco. — Ela está acordada?
A enfermeira assentiu e autorizou minha entrada no quarto onde Olivia
estava. Eu a vi sentada na maca, tomando um soro na veia e encarando o nada,
pensativa. Parei ao seu lado, deslizando minha mão contra a sua, encarando seu
ventre completamente liso. E suspirei. Meu Deus, só podia estar ficando louco.
Iria acordar a qualquer momento e ver que isso era um sonho.
— Desculpe esconder. — A voz sussurrada dela me pegou
desprevenido. — É o pior momento para engravidar e eu não queria tirar o foco
do tratamento de Archie, Justin, ele está tão mal com os remédios e a
quimioterapia.
Encarei seu rosto, vendo as lágrimas pequenas descerem por eles.
E me aproximei, encostando a testa na sua.
— Shiu, não precisa. Não fique assim, a enfermeira disse que não pode
ficar com fortes emoções — falei, interpretando as palavras da enfermeira do
jeito que eu queria. — E está tudo bem, Liv, não controlamos uma gravidez até
certo ponto. Eu e você fomos descuidados, mas podemos lidar com isso. Eu,
você e Archie podemos lidar com tudo, estamos juntos.
Ela riu.
— Não quero contar a ele agora, Justin. — Encarou-me com os olhos
pedindo por piedade. — Nem sei o que pode passar na cabeça dele. Está tão mal
e com tudo um caos, um bebê pode fazê-lo sofrer.
— Ok, ok — concordei, beijando o topo da sua cabeça. — Só se acalme.
Vamos cuidar de você, de Archie e do nosso bebê. — Cobri sua barriga com a
minha mão. — Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Beijei seus lábios, sentando-
me na beirada da maca, encaixando-a contra meu peito, alinhando seus fios
escuros, sentindo-a suspirar baixinho. — Há quanto tempo sabe sobre o bebê?
— Uma semana. Eu tive um enjoo no dia que meus pais chegaram —
falou baixinho. — Mas levei dois dias para fazer o teste e deu positivo. Ainda
não fiz nenhum exame além desse.
— Vamos cuidar de tudo a partir de agora. Garantir que tudo fique bem,
ok? — Ela sorriu, assentindo. Encaramo-nos por alguns minutos e eu tornei a
beijar sua boca, descendo por sua bochecha, sentindo o cheiro leve de flores e
baunilha do seu perfume. — Estou ansioso para ser pai do nosso bebê, nosso
novo bebê. Temos dois agora.
Ela riu baixinho.
— Não vai pedir teste de DNA? Não somos exclusivos.
Neguei prontamente.
Nada em mim acreditava que aquele bebê não era meu.
— Não. Eu sou exclusivo seu, Olivia. Só seu. — A afirmação a fez
suspirar.
— Sou sua também, Justin. Mesmo não querendo ser. — E essa última
parte machucou.

Retornei para o quarto para ficar com Archie e fiz Olivia ir para casa,
dormir um pouco depois de alguns exames para ver como o bebê estava. Nós
dois passávamos o dia quase todo no hospital, às vezes eu saía para ir à empresa
e muito raramente, Olivia ia ao ateliê, mas havia cancelado muitos dias de
trabalho para cuidar de Archie e era bonito a dedicação dela, se não fosse
preocupante.
Terminei de ler a história dos Três porquinhos pela terceira vez em dois
dias. Sempre que Archie pedia, eu reiniciava, pois gostava de ouvir sua vozinha
pedindo os três porquinhos.
Ele quase não falava agora.
E era doloroso.
Aproximei-me da cama, puxando a coberta para deixá-lo aquecido e vi
os olhinhos curiosos dele me acompanhando.
— Minha mamãe está bem, papai? — O sussurro me pegou
desprevenido. Ele quase não se comunicava conosco.
— Sim, querido. Foi só um enjoo. Mandei-a descansar em casa. —
Apertei sua mãozinha, sentindo o bolo se formar em minha garganta. Archie me
encarou, sério.
— Ela vai ficar dodói igual eu, papai? — Franzi o cenho.
— Não, querido. Sua mãe está bem. Logo você vai ficar igual a ela.
Bem e saudável. — Pincelei seu nariz, vendo-o suspirar e encarar a parede de
novo. — Você está bem, Archie? — Ele assentiu.
— Não quero que minha mamãe fique como eu, papai. — As palavras
sussurradas me fizeram deixar uma lágrima escapar, não consegui conter.
— Sua mãe não queria que você ficasse assim, Archie. Ela daria tudo
para que não fosse desta forma, meu amor — sussurrei beijando sua testa,
vendo-o suspirar. — E não se preocupe. Ela está bem. Você vai ficar, eu tenho
certeza.
— Se eu não ficar. — Encarou-me novamente. — Promete que vai amar
muito minha mamãe, papai?
As palavras quebraram tudo dentro de mim.
— Archie, não fale assim — pedi limpando a única lágrima que caiu dos
seus olhos.
— Promete, papai. — Chorou mais. — Ela me ama muito. Se Deus me
levar igual no filme do cachorrinho onde Deus levava o cachorrinho —
relembrou Marley e eu que assistiu conosco antes do câncer, e que sua mãe
explicava que Deus levava o cachorrinho quando ele chorou ao final ao ver o
bicho sendo sacrificado. — Ela vai ficar triste, papai. Ela não pode ficar triste.
Dói no coração se ela fica triste, papai. — Fez um biquinho adorável e eu só
senti meu corpo se inclinando, abraçando-o forte, afundando meu rosto em seu
peito.
— Não fale assim, Archie. Deus não vai levá-lo. Não vai — afirmei,
mais para ele, do que para mim, pois no momento, tudo que sentia era
desespero. Meu filho de quatro anos já lidava com o fantasma da morte e isso
era demais para mim.
Daria tudo que tenho para não o ver assim. Trocaria de lugar com ele.
Nestes momentos, lamentava que o dinheiro não pudesse comprar isso. Ficaria
sem nada apenas para ter a certeza de que Archie viveria.
Senti suas mãozinhas em meus cabelos, como se me consolasse.
— Você não vai a lugar nenhum, Archie. Não vai — falei firme,
recusando-me a aceitar tudo que ele disse.
E para mim, encarar a morte tão de perto, pela segunda vez, era difícil.
Com Aubrey foi complicado, mas foi tão rápido que a dor só foi sentida dias
depois. Archie não estava desenganado, ele tinha esperanças todos os dias, mas,
mesmo assim, era como se o medo de perder me fizesse pensar constantemente
na morte.
Mamãe estava sentada à mesa do hospital quando vi papai passar pelas
portas da lanchonete onde nós almoçávamos juntas. Ele sorriu ao me ver,
aproximando-se e a primeira coisa que fez foi me abraçar, apertando-me em
seus braços. E me assustei quando ele tocou minha barriga de modo suave.
— Como está meu netinho? — Olhei rapidamente em direção à mamãe,
arregalando os olhos. Ela apenas encolheu os ombros, como se não tivesse nada
com isso. — Sua mãe me falou da gravidez, acabei de ver Archie e queria
parabenizar você e Justin pelo casamento.
— Casamento? — Quase engasguei com isso, vendo mamãe pedir calma
pelas costas do meu pai. — Como assim, casamento?
— Sua mãe falou sobre o pedido de Justin — meu pai falou, sentando-
se. — Fiquei muito feliz em saber que finalmente se acertaram. Você em Nova
Iorque e sozinha com Archie sempre me preocupou, mas com dois bebês, eu
não sei se conseguiria deixar você tão longe, Olivia. Ainda é praticamente uma
menina.
Ele falou isso apertando minha mão, depositando em mim uma
felicidade sobre meu casamento e eu sabia o quão romântico meus pais eram.
Eles sempre quiseram casar a única filha.
E quando eu abri a boca para falar que aquilo não era verdade, eu não
consegui.
— Sim, sim. — Abri um sorriso forçado. — Vamos nos casar.
Papai encarou minha mão.
— Ainda não tem aliança? — indagou com confusão. Revirei os olhos
de modo discreto. É claro que não tinha aliança, eu não ia me casar e assim que
meu pai saísse dali, eu iria matar minha mãe.
— Não tivemos como pensar nisso. Archie, as consultas, o bebê, é tudo
uma bola de neve. — Ele assentiu, apertando minha mão em sinal de conforto
novamente.
— Vai dar tudo certo. Vão se casar em breve e Archie vai estar saudável.
Você vai ter a família que sempre sonhou, minha Liv. — Beijou minha testa e
senti as lágrimas se aproximando, pois era difícil tocar naquele ponto. A família
que eu sempre sonhei. — E eu havia pegado isso no cofre da família quando sua
mãe e eu saímos da cidade. — Tirou uma caixinha do bolso, uma delicada
caixinha num tom rosê e eu sabia o que aquilo significava. Era o anel de
noivado deles. — Guardamos isso para você, afinal, era nossa única filha,
queríamos que usasse algo que significasse para nossa família.
Abriu e eu senti a primeira lágrima cair quando vi o par de alianças de
noivado. Eu já as havia visto em várias fotos da adolescência dos meus pais, vi
aquela caixinha sempre no fundo do porta-joias da mamãe, mas nunca tocava,
pois eu tinha medo de perder.
Era lindo. A feminina imitava uma coroa delicada. Parecia de princesa,
enquanto a masculina era um pouco mais larga e rústica, mas tinha o sinal da
cruz como design.
Suspirei.
— Não posso aceitar, papai. — Empurrei suavemente em sua direção.
— Claro que pode — tornou a repetir, fechando a caixinha e colocando
em minhas mãos. — É sua aliança e de Justin. Significa muito para mim e sua
mãe.
Trocou um olhar apaixonado com ela, fazendo-me suspirar, quase em
desespero. Os dias já estavam difíceis, e mentir sobre um noivado não ajudava
em nada. Mas eu não disse nada, apertando a caixinha entre meus dedos. Meus
pais eram os seres mais apaixonados que eu já conheci.
Ele fazia tudo por ela. E ela só tinha olhos para ele. Era como aqueles
casais de filmes melosos que você deseja para sua vida, mesmo que odeie
romantismo, você ainda pensa, que se for para ser brega e apaixonada, que seja
como eles.
Então, eu não sabia como dizer não a isso.

Entrei no quarto de Archie, vendo Justin dando comida ao nosso filho e


sorri quando meu loirinho abriu um sorriso em minha direção. O sorriso dele
valia muito para mim. E depois dos últimos dias terem sido intensos e
preocupantes, eu estava com medo do futuro, mas Archie tinha progredido nas
últimas quarenta e oito horas, ele já estava sem febre e se alimentava, o que era
positivo.
— Seus avós estão aí — falei, alisando seus cabelos.
— Eu vi — respondeu com a colher com a sopa se aproximando. — Tô
cheio, papai — falou colocando a mãozinha na frente da boca. A comida do
hospital não era muito boa e ele odiava, mesmo assim, comia, pois segundo
meu pequeno Archie, estava querendo ficar bom logo.
Justin me falou sobre a crise de quando ele me viu desmaiar, e tratei de
deixar claro que estava bem, que ninguém ia para o céu, mas sempre que eu
pensava nisso, eu começava a chorar novamente.
Eu não tinha como garantir nada disso.
A porta do quarto se abriu e Alexandre passou por ela, acompanhado de
Dylan mais atrás, que sorriram ao nos ver juntos ao redor de Archie. A rede de
apoio que tínhamos tanto de profissionais quanto de amigos era simplesmente
incrível.
— Nossa, alguém aqui estava com fome, hein? — Alex falou brincando
com Archie, que corou, colocando a mão sobre a bochecha. — Como está você,
pequeno grande Archie?
— Bem, hoje eu nem passei mal, titio — afirmou orgulhoso. Ele sempre
contava os dias ruins.
— Que ótimo, querido — Alex disse, alisando os fios loiros que foram
cortados mais rente na cabeça desta vez, para que ele não sentisse tanto quando
os efeitos da quimioterapia os fizessem cair. — Mas a boa notícia é que você
vai poder voltar para casa, pequeno. Eu e Dylan analisamos seus últimos
exames e vimos um progresso bom — falou isso para nós. — E acreditamos
que com todos os cuidados, podemos prosseguir de casa. Quimioterapia,
remédios, cuidados sempre ao máximo, mas a parte boa, Archie, é que você está
indo bem, querido. Estamos orgulhosos.
Quando Alex falou isso ao meu filho, deixei que as lágrimas descessem,
pois eu vivia chorando desde que tudo aconteceu. Não conseguia mais segurar
as emoções, pois sentia-me constantemente com medo e isso era assustador. Ver
meu filho tão frágil me machucava.
— Vem cá, pequena. — A voz de Justin me acalmou enquanto ele me
abraçou, sorrindo contra minha orelha. — Viu? Ele está indo bem. Vamos para
casa.
Suspirei, apertando sua camisa.
— Sim, nós vamos para casa.
A sensação de estar em casa com Olivia e Archie era boa demais para
ser descrita. Passamos duas semanas no hospital, com uma rotina muito ruim
para colocar em palavras e foi ótimo enxergar além das paredes extremamente
brancas, do cheiro de remédio e do medo constante que o local passava.
Hospitais eram para salvar vidas, mas, ironicamente, sempre tinha cheiro de
morte para mim.
— Estou sem sono, papai — ele falou, deitado na cama.
— Eu sei, meu amor, mas precisa descansar, o tio Alex disse que tem
que tomar cuidado, para que a parte ruim vá embora mais rápido — lembrei isso
a ele, que suspirou, apertando o urso em seus braços. O quarto de Olivia estava
quase todo pronto e ficava ao lado do de Archie, e enquanto isso, ela ainda
dividia o espaço comigo.
A diferença era que nessas duas semanas, não estivemos na mesma
cama, pois quando ela dormia em casa, eu estava no hospital e vice-versa.
— Papai vai tomar banho, ok? Já venho jogar videogame com você. —
Beijei sua testa, vendo-o assentir e saí do quarto encostando a porta de Archie e
levando a babá eletrônica comigo para ficar de olho nele. Encontrei Olivia no
quarto, enrolada em um roupão branco e segurando algo entre os dedos. Ela
estava perto da janela do quarto, de costas para mim, então não me viu se
aproximando.
Vi o anel delicado, em forma de coroa em seu dedo, enquanto ela
segurava um segundo anel dentro da caixinha, observando a forma que ficava
em sua mão. Sorri de canto, observando-a em silêncio, o contorno perfeito do
rosto bonito, a forma deliciosa que seus lábios se curvavam em um sorriso e...
— Você era mais educado — ela falou, guardando o anel dentro da
caixa, encarando-me por cima do ombro.
— De quem é o anel? — indaguei, observando a marca na caixa. Era um
modelo caro.
— Dos meus pais. — Suspirou, colocando a caixinha sobre a mesinha
de cabeceira. — Ele me deu, pensa que estamos noivos por causa do bebê. —
Apontou para sua barriga, fazendo-me sorrir de canto. Olivia já começou as
consultas e eu não tinha conseguido acompanhar todas, mas me esforçava, pois
tinha que estar com Archie e com ela ao mesmo tempo. Era difícil.
— Acho que deveríamos nos casar — falei sério, ponderando sobre isso.
Se eu a queria como minha esposa antes, quando só tínhamos Archie,
imagine agora, que teríamos mais um bebê juntos.
Olivia riu.
— Não vamos nos casar por causa de um bebê — pontuou séria. —
Nosso foco é Archie, totalmente ele no momento. Nem quero pensar quando o
bebê nascer. — Afundou o rosto entre as mãos, fazendo-me caminhar até ela,
abaixei-me em sua frente, segurei seu maxilar, fazendo-a me encarar.
— Não vamos nos casar pelo bebê, pequena. — Ela assentiu.
— Obrigada. Você finalmente entendeu.
Sorri de canto.
— Vamos nos casar porque nós queremos. Estamos juntos. Porque você,
Archie e o bebê são minha família. E famílias têm que permanecer juntas. —
Ela franziu o cenho. — Vamos nos casar, Liv. — Segurei seu rosto mais firme,
descendo por seu pescoço, tocando-a por baixo do roupão, sentindo sua pele
quente contra a minha. — Porque eu amo você, porque é minha mulher e eu não
vou deixar você escapar novamente... — Meus dedos tocaram levemente seus
mamilos nus, passando por sua pele, até alcançar a barriga plana, sentindo o
local onde nosso filho estava. — E você não pode negar, sei que me ama
também.
Ela não fez nada, além de gemer quando a toquei.
— E mesmo que sua boquinha atrevida goste de dizer não, sua boceta
não nega de quem é. — Meus dedos brincaram com sua entrada, e deslizei
minha boca na dela, engolindo os gemidos baixinhos, enquanto ela tremia com
meus dedos indo e vindo dentro do seu canal apertado.
Puta que pariu.
É claro que eu amava essa mulher.
Não sei quando em duas semanas isso ficou tão claro, mas estava tão
perto dela e de Archie nos últimos dias que a ideia de perder Olivia e minha
família caso não falasse isso, era desesperadora.
— Não pode achar que... — ela sussurrou, segurando-me, falando em
meu ouvido. — Vai conseguir um sim me seduzindo.
Sorri.
— Não. Mas posso fingir que sou seu noivo até você dizer sim. —
Beijei seu ombro, vendo que ela estava quase gozando, movi meu dedo por seu
clitóris, brincando com ele, atiçando o ponto de prazer, vendo a expressão
deliciosa de Olivia. — Isso, amor, goza nos meus dedos — murmurei em seu
ouvido, sentindo-a tremer, perdendo-se, entregando-se, molhando minha mão.
O suspiro que dei foi audível, pois eu estava duro, mas precisava ir tomar um
banho e voltar para ficar com Archie, então me afastei, lambendo meus dedos,
sem afastar o olhar do seu. — Deliciosa. — Beijei sua boca suavemente,
pegando o anel dentro da caixinha, e quando coloquei em meu dedo, fiz o
mesmo com o de Olivia, enlaçando nossas mãos. — E você vai falar sim.
Porque sei do que eu preciso. Preciso que você me ame — sussurrei contra sua
boca.
Ela sorriu.
— Eu também preciso que me ame para falar sim, Justin. — Jogou os
cabelos para trás. — Mas eu não sei se confio em você. — Encostei minha testa
na sua.
— Não se preocupe, pequena Liv. Tudo ao seu tempo. — Eu havia
passado por um período ruim ao fazer o acordo sobre a guarda de Archie e a
mentira da vingança, mas eu sabia que podia fazer muito melhor.
Afinal, que tipo de homem seria se não soubesse conquistar minha
mulher? Isso mesmo. Nenhum. Tudo era uma questão de tempo e paciência. Em
oito meses teríamos nosso segundo filho e daqui para frente, teria muito tempo
para conquistar meu espaço em seu coração.
Entrei no banheiro, focando no presente, encarando o anel de Olivia em
meus dedos. Eu não usava mais um desde que Aubrey morreu e nunca senti
falta, pois no instante que minha esposa se foi, achei melhor encerrar, encarar o
luto do modo mais real que tinha, aceitando que ela partiu e eu estava sozinho.
Só que, finalmente, chegou o momento de dizer, eu não estava mais
sozinho.
Justin Monroe não jogava limpo, pensei enquanto entrávamos no
hospital onde eu havia feito todas as primeiras consultas do nosso bebê. Hoje
era finalmente a previsão para sabermos o sexo do nosso segundo filho e eu
sentia meu coração golpeando no peito.
As coisas em seis semanas podiam mudar drasticamente.
Nas primeiras semanas de Archie em casa, foi tudo muito tenso, pois o
medo constante de voltarmos ao hospital. Na segunda, ele já estava
completamente careca, pois os cabelos começaram a cair e em um ato de
rebeldia, Justin o incentivou a raspar no zero, deixando meu pequeno guerreiro
sem nenhum fio loiro naquela cabecinha.
Meu filho estava indo muito bem. Segundo Alexandre e Dylan, Archie
estava tendo um progresso rápido e respondendo bem tanto aos medicamentos
quanto à quimioterapia. As crises diminuíram muito e eu estava agradecendo a
cada minuto por sua recuperação.
— Como você está hoje? — Justin indagou enlaçando a mão na minha.
— Agitada, ansiosa — falei sorrindo. — Será que é menino de novo?
Ele encolheu os ombros.
— Vamos descobrir. — Passou o braço em torno do meu pescoço,
encaixando-me em seus braços, apertei-o contra mim, lembrando da conversa
breve que tivemos no dia que começamos a fingir de noivos para toda nossa
família. E foi no mínimo confuso ter Justin dizendo tudo aquilo. — Preocupada
com Archie, podemos ir logo? Medo dele ficar muito tempo sozinho.
Justin riu enquanto abria a porta do consultório.
— Calma, Liv. Ele está com um batalhão lá em casa. Vivian, minha
prima, Cat e Nicole. Tem até um médico — pontuou, fazendo-me sorrir
nervosa. Com o progresso do tratamento de Archie, programamos de falar a ele
sobre o bebê mais abertamente hoje, assim que soubéssemos o sexo. Pois ele já
havia indagado sobre minha barriga, mas acabei desconversando e fugindo de
dizer que estava grávida.
E eu seguia nervosa.
Não fazia ideia do que ele sentiria.
Alexandre me explicou como era o processo de tratamento da leucemia,
consistia em quimioterapia, e caso não houvesse avanço, era necessário buscar
um doador de medula. O que, graças a Deus, não havia sido o caso de Archie.
Tudo foi descoberto em um processo inicial e começamos um tratamento
imediato, o que havia sido primordial para a recuperação.
Nunca era usado o termo cura. E sim, remissão.
Eu aprendi várias coisas nos últimos tempos com um grupo de apoio do
hospital. Um local cheio de mães que viam seus filhos naquelas situações e às
vezes, não tinha ninguém com quem dividir tudo.
— Vamos, querida. Vai dar certo. Archie está bem — ele me incentivou
quando me viu parada antes de entrar na sala de ultrassonografia. Encarei
Justin, aproximando-me, passei o braço em torno do seu pescoço, puxando-o
em minha direção, afundando meus lábios nos seus.
Senti seu gosto de menta e suspirei, sentindo meus dedos deslizar por
sua nuca, sentindo os fios loiros próximo a raiz, pois ele havia raspado a cabeça
junto com Archie, em um ato de solidariedade que fez meu filho chorar por
minutos.
— Sempre desconte a ansiedade me beijando, aceito tudo — ele
sussurrou contra minha boca, fazendo-me sorrir.
— Obrigada por não soltar minha mão. — Enlacei nossos dedos,
sentindo meu coração agitado.
— Nunca vou soltar, prometo, pequena. Te amo, lembra?
Sorri.
— Eu também amo você, Justin. — Passei meu indicador por seus
lábios, limpando a marca de batom. Era a primeira vez que eu falava aquilo,
diretamente. — E eu estou ansiosa para toda a tempestade terminar.
Ele suspirou.
— Também, amor. Também. — Apertou-me em seus braços, pois as
boas notícias chegavam, mas o medo de qualquer coisa dar errado era sempre
esmagador. Nós estávamos há poucos meses neste mesmo sentimento, mas ele
nunca ia embora. Segundo Alex, o medo perseguia a gente mesmo quando o fim
do tratamento chegava. E eu acreditava nisso, pois queria Archie bem, mas a
todo momento me perguntava como fazer para ele nunca mais passar por aquilo.
O visor do computador mostrava a típica e conhecida imagem borrada
do nosso bebê e eu já conseguia reconhecer alguns contornos, mas, ainda assim,
eu o perdia em meio aos borrões, o que era engraçado. Minha mão estava contra
a de Olivia e vi os anéis próximos, como se fosse uma realidade cruel
esfregando em minha cara.
Eu não desistiria, mas a paciência às vezes não era uma dádiva.
— Já podemos saber ou vão fazer chá de revelação? — a médica
indagou. — Pois esta criancinha cooperou hoje.
Sorrimos.
— Queremos saber, doutora — Olivia instruiu, apertando minha mão
com mais força. Os dois meses com ela passaram rápido e eu só queria que
fosse mais devagar, para aproveitar o momento ao seu lado, ao mesmo tempo
que queria que fosse rápido, para o tratamento do nosso filho chegar ao fim.
Archie estava bem. O câncer entrou em remissão e agora o
acompanhamento, quimioterapia e remédios eram apenas um suporte. Eu vivia
para ver o momento em que seria a última sessão dele no hospital.
— Prepara a vida de Archie, pois a garotinha da família acaba de ser
revelada.... — Arregalei os olhos quando ouvi isso, pois meus pensamentos
estavam longes, especificamente em Archie, e saber que ele seria irmão de uma
garotinha, me fez encarar Olivia de modo assustado, vendo-a cobrir o rosto com
as mãos, chorando.
— Uma menina, vamos ter uma menina! — exclamou feliz.
Sorri e me aproximei, beijando sua boca.
— Sim, amor, vamos ter uma princesinha — sussurrei, sentindo suas
mãos em meu corpo, apertando-me. — E eu quero que se pareça com você —
brinquei, tocando sua barriga avantajada, sentindo-a contra a palma da minha
mão.
— Vou deixar vocês um momento a sós — a médica falou, saindo da
sala. Puxei a banqueta para sentar-me ao lado da cama hospitalar, passando os
dedos pelos fios castanhos de Olivia, sentindo meu coração bobo errar as
batidas. Os hospitais não eram lugar de boas memórias, mas eu queria lembrar
para sempre da sensação de descobrir quem seria nosso bebê.
— Acho que Angel venceu, né? — ela indagou com um sorriso de lado.
—Angel.
Sorri.
— Sim, venceu. — Beijei o dorso da sua mão, sentindo meu coração
bater forte. Havíamos escolhido os nomes de acordo com a inicial de Archie,
pois queríamos que fosse uma combinação, e acabamos optando por Angel e
Arthur, mas pelo visto, teríamos uma princesinha. — Nosso anjinho. Archie vai
amar.
Ela suspirou.
— Será? Não quero pensar nele magoado.
Sorri.
— Ele não vai. Eu sei disso, porque nosso menino é incrível demais. —
Encostei minha testa na sua. — Igual você, amor. Ele tem seu coração incrível.

A notícia para Archie viria no fim do dia, quando estivéssemos só nós


três em casa, para ser um momento em família. O quarto de Olivia ficou pronto
com o passar das semanas, mas ela acabou nunca se mudando definitivamente
para lá. E mesmo que não houvesse sexo, nós dormíamos como se fôssemos
realmente um casal.
Nossos amigos já haviam ido embora quando nos sentamos para jantar, e
vi meu filho brincar com a comida italiana, sua preferida, enquanto a mãe o
encarava, ansiosa.
— Archie — ela chamou, recebendo um olhar curioso. Archie estava
bem, ainda tinha todos os cuidados, por isso era sempre suéter grosso e casaco
por causa do frio, ou sempre de olho para não ficar quente demais. Sem falar
que ele havia começado a usar boné nas últimas semanas, por causa do cabelo.
— Temos uma coisa para te falar. — A mão de Olivia buscou a minha sobre a
mesa da sala de jantar e ele acompanhou o movimento com o olhar.
— Marcaram a data de casamento? — indagou animado, fazendo-nos
rir.
— Ainda não, querido — Liv respondeu, fazendo-me encará-la de modo
assustado. Ela geralmente deixava o assunto morrer quando Archie ficava
perguntando sobre, mas desta vez, o fio de esperança estava estendido. —
Aconteceu uma coisa um pouco fora de ordem. E bagunçou um pouco a rotina
da mamãe, então acredito que o casamento vai ficar pendente.
— Ah — ele murmurou decepcionado. — Eu queria que vocês se
casassem.
Sorri.
— Em breve, Archie — falei, estendendo a mão em sua direção. —
Assim que você ficar 100%, eu e a mamãe vamos nos casar na praia, com você
levando nossas alianças. Né, amor? — indaguei em direção a Liv, vendo as
bochechas vermelhas dela.
— Sim — falou a Archie. — Mas hoje a novidade é esta. — Colocou a
caixinha na frente de Archie, incentivando-o a abrir. — Vai, querido. Quero
saber o que achou da ideia.
E ele abriu, pegando a camiseta branca decorada com a frase
“promovido a irmão mais velho”. Archie demorou a entender, encarando as
letras com fixação.
— Eu vou ser irmão mais velho? — perguntou arqueando a sobrancelha.
— Sim — Olivia concordou. — E um irmão de menina, pois eu e seu
pai descobrimos hoje que sua irmãzinha está aqui dentro, ansiosa para te
conhecer.
Ele encarou a mãe assustado, olhando em direção à barriga de Olivia e
para mim, depois para Olivia, e em seguida para mim. Olivia desmanchou o
sorriso, preocupada com ele e se abaixou em sua frente.
— Archie, amor, não gostou da ideia? — Quando não obteve resposta
me encarou. — Eu sabia que deveríamos esperar mais. — A mágoa estava em
sua voz. Olivia sentia tanta culpa da situação de Archie com a doença, do fato
de que ficou grávida quando o filho passava por uma situação tão difícil e era
complicado tirar todos esses pensamentos dela.
— Vem cá, Liv — chamei, puxando-a levemente do chão e fiquei em
seu lugar, para falar com nosso filho. — Ei, amor, não gostou da ideia? —
Alisei seus cabelos, mas não tive tempo de falar mais nada, apenas vi Archie se
levantando da cadeira, correndo em direção à mãe e abraçando sua perna.
Encostando o ouvido bem próximo ao pé da sua barriga, fazendo-me observar a
cena.
— Eu te amo, bebê na barriga — sussurrou, levantando a blusa de Liv,
encostando os lábios ali em um beijinho carinhoso, fazendo Olivia se
desmanchar em lágrimas, abaixando-se para pegar o nosso filho nos braços. —
Amei mamãe, agora vocês vão se casar, né? O bebê precisa de uma família.
Sorri.
— Precisamos da nossa família, Archie. Nós todos. — Aproximei-me,
passando o braço em torno deles. — E aqui está ela. Vamos nos casar sim, só
falta sua mãe dizer sim. — Sorri em direção a Olivia, vendo-a revirando os
olhos.
— Diz sim, mamãe! — A exclamação de Archie era um incentivo e
tanto, mas tudo que ele teve foi mais um abraço apertado.
Acredito que o fato de continuarmos vivendo nossa vida não queria
dizer que não estávamos sofrendo junto com cada momento de Archie, com
cada recaída, com os exames, com a quimioterapia, mas era um percurso que
iria durar anos, e se parássemos de viver, iríamos ficar infelizes e deixar nosso
filho ainda mais triste.
Então fazia parte do processo fazer Archie o mais feliz possível.
— Eu amo vocês — Liv sussurrou, apertando-o contra sua bochecha. —
Você, Angel e até mesmo você, Justin Monroe — falou com um sorriso de
canto, fazendo-me inclinar e beijar sua bochecha.
— Também amo você, pequena Liv.
De todo meu coração.
E para sempre.
— Também te amo, mamãe. — Archie segurou o rosto dela. — De todo
o coração.
Sorri quando ele usou meus pensamentos.
— Para todo sempre — sussurrei próximo a eles, eternizando isso. A
sensação de que você daria tudo para que eles nunca sentissem nada era cada
dia mais real. A primeira vez que senti foi com Archie, quando descobrimos a
doença, mas se tornou mais forte quando me apaixonei por Olivia, e quando
Angel chegou.
Um pai sempre quer proteger seus filhos. Era o que eu pensava... mas,
na verdade, um pai sempre quer proteger sua família. Era o significado de ser
dono de um lar, de ter uma família. Proteger, cuidar, estar ali quando o mundo
desmoronava e ser a terra firme quando estávamos à deriva.
Queria ser sempre isso para eles.
Queria que Olivia nunca duvidasse do que eu sentia, do que eu faria por
eles.
— Nunca foi sobre vingança, Liv — falei quando Archie foi para o
chão, segurando seu rosto entre os dedos, vendo seus olhos arregalados com a
súbita mudança de assunto. — Foi sobre a raiva que eu sentia, mas nunca foi
sobre vingança. Era sobre... — respirei fundo, encostando sua testa na minha
—, desejar você. Tão ardentemente que era a coisa mais poderosa que já senti.
E ela me calou.
Com um beijo.
E foi como das outras vezes. Simplesmente indescritível.
— Última consulta antes de viajarmos — falei a Archie, enquanto
saíamos do consultório do doutor Dylan, que finalmente autorizou Archie para a
viagem do dia de Ação de Graças com minha família. Parei quando meu filho
soltou minha mão, correndo em direção ao médico e abraçando suas pernas.
— Obrigado, tio Dylan — falou e o homem sorriu, abaixando-se para
abraçá-lo melhor e senti meu coração feliz com isso. Estava tudo indo tão bem
que às vezes eu me permitia soltar um pouco o controle das coisas e deixar
Archie ser apenas uma criança, sem o peso de estar constantemente ligado ao
câncer. Apesar dos médicos já terem deixado claro que não importava a época,
de uma forma ou de outra, ele estaria sempre ligado a esta fase da vida dele.
— Vamos encontrar o papai? — indaguei atraindo sua atenção. Ele
assentiu, mas se virou para o Dylan novamente.
— Sabia que minha irmãzinha está dentro da barriga da mamãe, tio
Dylan? — perguntou animado, fazendo o médico rir. Archie reagiu muito bem
às novas mudanças e isso era ótimo. Ele era adorável aceitando que teria uma
irmã, e não um irmão como era seus planos, sem se sentir nada desconfortável
com o fato de que em breve estaríamos dividindo nossa vida com mais uma
criança.
— Sim, sua mãe me falou. — Dylan se levantou ao dizer isso. — E está
ansioso com a chegada da bebê?
— Claro. Ela é minha irmã — falou como se aquilo fosse óbvio demais.
— Mas mamãe disse que os bebês choram muito, tem como a cegonha trazer
uma que não chora?
Rimos e senti meu celular vibrando nas minhas mãos.
— Não acho que isso seja um serviço para a cegonha, Archie —
intervim, estendendo a mão. — Precisamos ir. Seu pai acabou de mandar uma
mensagem.
— Ok, vamos. — Tornou a segurar minha mão e deu tchau para o
médico antes de sairmos completamente do consultório. A consulta do bebê e
de Archie estavam em dia e podíamos viajar com a consciência tranquila para
Newport, Oregon, e passar o feriado com a minha família. Isso me deixava
feliz, pois estar com eles era sempre reconfortante.
Assim que saímos do hospital, vi o carro de Justin estacionado na
entrada e Alexandre estava parado na porta, conversando de modo amigável, o
que era estranhamente divertido, já que Justin morria de ciúmes do meu amigo.
Não que ele admitisse isso, mas eu o conhecia.
— Chegamos — Archie falou animado, atraindo a atenção dos dois.
— Ei, filho. — Justin sorriu, abrindo a porta do carro e abaixou na
frente dele. — Desculpe não chegar a tempo, papai teve uma reunião. — Ele
não perdia uma consulta do nosso filho. Mas Archie não ligou para isso, apenas
estendeu os bracinhos pedindo colo.
— Tudo bem. A mamãe foi e segurou minha mão o tempo todo —
ressaltou o tempo inteiro, enquanto Alex passava o braço em torno do meu
pescoço, beijando meus cabelos.
— Como está Angel, hein? — ele indagou passando a mão suavemente
na minha barriga.
— Bem. Ansiosa por alguns dias na praia — brinquei, vendo os olhos de
Justin sobre mim, e me desvencilhei de Alexandre, indo em sua direção,
beijando seus lábios suavemente. — Pronto?
Ele respondeu prontamente, segurando-me contra ele, com Archie ainda
em seus braços.
— Sim — sussurrou com a mão segurando minha cintura.
— Boas férias, família — Alex falou pincelando o nariz de Archie. —
Eu vou para casa, com meu bom vinho e ouvir umas músicas iradas. Vai ser
legal.
Rimos.
— Vamos para a praia. Cat e Nicole também irão — dei ideia, vendo-o
franzir o cenho.
— Podemos cancelar o convite de Catarina? Aí apareço por lá. — Não
evitei a risada.
— Não seja assim — repreendi, colocando Archie dentro da cadeirinha.
Iríamos no avião privado da família de Justin, então eu não sabia se poderia
oferecer isso a Alexandre. Apesar de saber que para ele chegar em Newport não
era nenhum tipo de dificuldade.
— Vou pensar. Tchau! — se despediu caminhando em direção ao
próprio carro, deixando-nos sozinhos. Encarei Justin encostado na porta do
veículo e me aproximei, fechando a porta de Archie, parando na frente do pai
do meu filho.
Senti seu braço passar em torno da minha cintura, puxando-me
suavemente em sua direção.
— Você quase o chamou.
Suspirei, revirando os olhos.
— Quase, mas aí lembrei que você tem ciúmes de Alex — brinquei
arrumando sua gravata vermelho sangue.
— Eu não tenho ciúmes de Alexandre — Justin falou prontamente,
como se estivesse ensaiando sua frase. — Só acho que ele é muito seu amigo.
Muito mesmo.
— Ótimo, pois somos amigos há anos, e eu me sentiria meio mal se não
fôssemos amigos neste nível — defendi Alex, vendo seu maxilar travar. — E
que bom que não tem ciúmes. — Fiz menção de me afastar e senti sua mão me
mantendo contra ele, encostando nossos corpos de modo que o sentia em todos
os lugares. Sua boca próxima da minha, a respiração ofegante me fez suspirar.
— Eu não sinto ciúmes — pontuou novamente. — Ele só precisa manter
as mãos longe de você, Liv. Não é pedir muito.
E o ciúme escorria.
Mas eu não queria estragar a fantasia de Justin.
Então apenas dei um passo atrás, abrindo a porta do passageiro e
entrando no veículo, aguardando-o fazer o mesmo.

A casa dos Turner era estranhamente confortável no dia de Ação de


Graças. Com todas as festas de fim de ano se aproximando, decidimos
comemorar a data de hoje com os pais de Olivia e o Natal na casa da minha
família, com todos juntos. Archie estava na sala com o brinquedo que ganhou
do avô em um presente adiantado em um mês inteiro até o Natal. Segundo
Olivia, seu Michael não iria aguentar a pressão e acabaria dando outro presente
a Archie, pois ele era simplesmente bobo para o neto.
Estava na cozinha com a senhora Turner, ajudando a preparar a mesa
enquanto observava pai e filha assistir ao jogo de futebol americano na televisão
da sala. Olivia xingava o jogador do time adversário, como uma boa fã do
quarterback dos Giants, Jackson Foster, que hoje estava sendo passado para trás
pelo time adversário.
— Puta que pariu! — gritou ela, fazendo-me rir.
— Nem se preocupe, ela é assim desde pequena — a mãe dela falou,
aproximando-se. — E nem adianta dizer que Archie aprende tudo, ela esquece
minutos depois.
Neguei com a cabeça, pensando no que teria que fazer em algumas
horas.
— Eu não acredito que o Jackson está perdendo para o cabeça chata do
Carter — ela falou chegando à cozinha, abrindo a geladeira para pegar uma
garrafa de água. — Tipo assim, é o Jets, quem ainda torce para o Jets?! —
exclamou irritada.
Pensei em dizer que eu torcia, porém ela apontou o dedo em minha
direção.
— Você nem comece. Sei que é dos Jets, então não me irrite que estou
carregando seu filho. — Apontou para a própria barriga, fazendo-me segurar a
risada, desacreditado que acabamos em uma ditadura onde só o time de Olivia
era reconhecido.
Encarei minha futura sogra.
— Eu nem gosto tanto de futebol mesmo. — Encolhi os ombros,
fazendo-a sorrir. — Mas em defesa do Carter, ele é um bom jogador. — Ela
arqueou a sobrancelha, desafiando-me a falar algo mais. — Não que o Jackson
não seja. Mas algumas vezes seu time perde, Olivia. É a regra do jogo.
— Odeio regras — falou voltando para sala. Eu tinha medo de toparmos
com Jackson Foster em algum momento em Nova Iorque, pois o cara morava na
cidade e ficava pensando se Olivia simplesmente pularia em cima do jogador de
futebol bonitão que era sua paixão secreta.
Eu tinha quase certeza de que ela não pensaria duas vezes.
— Sabe que o Jackson é casado e você não pode me trocar por ele, né?
— brinquei aparecendo na sala. Ela bebeu um gole da água.
— Sei sim. A esposa dele é linda, inclusive. — Apontou para a
televisão. — Olha ela ali! — A ruiva apareceu na tela quando o intervalo do
jogo se aproximava e ela segurava um garotinho nos braços. Era ruivo e tinha as
bochechas pintadas nas cores do time do pai. — Aí, o David Foster é adorável.
— Minha futura esposa fungou.
— Bom saber que fui ignorado de novo. — Voltei para a cozinha,
ajudando a senhora Turner com o jantar de Ação de Graças. A certeza de dizer
minha futura esposa neste momento não era tanta, ao vê-la completamente
rendida por astros na televisão, mas eu tinha que ser positivo, afinal, o que esse
Jackson poderia fazer que eu não? Nada.
Tudo bem que ele jogava futebol e eu era CEO de uma empresa.
Mas, ainda assim, não era nada demais.
Olivia iria dizer sim quando eu a pedisse.
Certeza.

O jantar de Ação de Graças terminou. Quando estava finalmente a sós


com o pai de Olivia na área da casa, que dava de frente para a praia, senti meu
coração começar a acelerar, com o medo do que este homem iria falar. Não
importava a idade que você tinha, sempre ficaria tenso ao lado do pai da garota
que você escolheu para amar. A aprovação dele era sempre muito importante.
Tudo bem que ele achava que estávamos noivos. E isso era mais uma
preocupação, pois desta vez, queria sua benção de verdade. De modo sincero.
— Quando vai pedir minha filha em casamento? — ele indagou do nada,
fazendo-me arregalar os olhos em sua direção.
— Como é que é?! — exclamei, bebericando minha cerveja para molhar
minha garganta que começou a secar do nada. O nervosismo cresceu em meu
corpo, paralisando-me.
— Sei que estão noivos. Mas isso aconteceu por causa do bebê — falou
de modo prático. — Mas Olivia sempre sonhou com o casamento dos sonhos,
Justin. Ela merece um pedido. Se não sabe disso, talvez não seja o cara certo
para ela.
Encarou-me, firme, analisando-me de cima a baixo, enquanto sentia meu
corpo tremer.
Eu era o cara certo.
Eu sabia disso tudo.
Sabia que ela merecia um pedido de namoro. Um de casamento. E uma
festa incrível, pois Olivia sempre quis todos os clichês do amor e não era justo
perder nada disso.
— Eu planejo sim. Eu sei que ela merece — me apressei em dizer,
tocando a caixinha no meu paletó. Tirei de dentro, encarando a caixinha azul-
turquesa com o slogan da Tiffany. — Eu comprei isso há algumas semanas. —
Abri a caixinha, encarando o modelo do anel que me lembrava Olivia. Delicado,
bonito e único. — Queria sua benção. Não é comum, já trocamos toda a ordem
— sorri de canto, encarando Michael Turner —, mas é um dos clichês que
Olivia merece. Um pedido aprovado pelo pai que ela tanta ama.
Que ela não queria decepcionar.
E ele sorriu.
— É claro que tem minha benção, Justin. Mas deve saber que as
mulheres desta família são acostumadas a serem amadas de modo intenso, então
só a leve para si se poder dar isso. — Sorri.
— Não tem quem eu ame mais além de Olivia e meus filhos, senhor
Turner — falei com sinceridade, pensando no pedido de casamento que preparei
antes de vir. O hotel e restaurante a alguns quilômetros da casa de praia dos
Turner estava reservado para nós. Havia seu prato de comida preferido.
Elizabeth como ajudante e nada poderia dar errado.
— Preciso falar com ela agora. — Guardei o anel.
— Sim. Afinal, ela é romântica, mas ainda pode dizer não — brincou
bebendo um gole da sua cerveja. Eu pensei que ele estivesse brincando, mas...
— Brincadeira, Justin. Vocês já estão noivos! É uma formalidade. Uma surpresa
boa. Olivia vai adorar.
Tornei a me sentir nervoso.
Será mesmo que ela iria adorar?
— Papai. — Archie se aproximou segurando o quebra-cabeça. —
Podemos montar? Mamãe disse que estava enjoada e deitou. — Fez biquinho, e
eu não consegui dizer não, como sempre.
— Claro, campeão. Vamos lá. — Joguei a garrafa de cerveja fora assim
que terminei de beber o líquido e segui em direção à sala de estar, vendo o local
acomodando os amigos de Olivia. Mais especificamente, Nicole e Catarina
dividiam o sofá enquanto assistiam Friends, um dos episódios de Ação de
Graças.
— Finalmente conseguimos colocar Olivia para dormir. Ela não parava
de falar do jogo — a ruiva falou bocejando. Sorri, sentando-me ao lado de
Archie para montar o quebra-cabeça.
Elizabeth havia feito um convite para tomarmos um drink no bar do
Hamilton, um hotel conhecido em Newport, que atendia mesmo quando não
éramos hóspedes. Mas como Catarina e Nicole estavam, não seria problema
nenhum fazermos um encontro ali. Então escolhi um modelo longo para a noite,
sabendo que precisava estar confortável, pois senão iria querer voltar cedo para
casa.
Eu não ia beber. Com Angel na barriga, qualquer coisa alcoólica
passaria a metros de distância de mim. Mas era legal estar com meus amigos,
principalmente no Dia de Ação de Graças.
— Uau. — A voz de Justin me fez virar, encarando-o, ele vestia uma
bermuda branca e camisa escura, com os cabelos penteados para trás e sorri
quando seus olhos desceram sobre mim novamente, analisando-me da cabeça
aos pés. — Está perfeita.
Dei uma voltinha, gostando de ser elogiada.
— Checou Archie? — indaguei, aproximando-me, segurando a barra do
vestido verde e longo, que era transpassado nas costas e deixava um espaço de
pele à mostra. — Não confio nele sozinho cem por cento.
— Devo dizer que ele não está sozinho. — Segurou minha mão,
beijando o dorso. — Tem seus pais. E eles são piores que você no lance da
proteção. — Sorri, encolhendo os ombros, pois ser chamada de protetora com o
meu filho não era nenhum problema. Eu era mesmo. E sempre seria. Com
Archie, Angel e todos os filhos que um dia eu teria.
— Ok, mas ele tomou o remédio? Está bem coberto?
Justin riu, segurando meu rosto e beijando minha testa.
— Ele está ótimo, Liv, vamos. — Suspirei ainda contra ele, abraçando
seu corpo e encostando-me nele de modo completo. As mãos de Justin
desceram para minhas costas, tocando minha pele, arrepiando o caminho por
onde passava. — Eu tenho um pedido de desculpas, pequena.
Isso me deixou ligeiramente tensa.
— Passar por tudo que passamos me fez colocar em segundo plano uma
coisa importante que eu nunca deveria ter dito. — Tornou a me encarar,
segurando meu rosto ainda, sem se afastar. — Nunca foi sobre vingança. Eu
estava bravo e desesperado, mas quando dormi com você no casamento da
minha prima, não era vingança. Foi simplesmente porque eu não consigo
manter as mãos longe de você, amor. Eu te vejo e eu quero te tocar. Não consigo
ficar longe.
Senti minha garganta fechar.
Eu esperei tanto por um pedido de desculpas nos primeiros dias, mas
depois veio o processo, em seguida a doença de Archie e tudo isso não tinha
mais importância.
Justin errou comigo. Eu errei com ele e Archie. Mas enquanto o mundo
caía na nossa cabeça, o medo consumia, fomos uma família, ajudamo-nos e nos
protegemos. Era isso que fazíamos quando amávamos alguém.
Segurei seu rosto e aproximei meus lábios dos seus.
— Eu acho que isso é passado, Justin.
— Não. Não é. Não quero que tenha medo sobre mim, receio sobre o
que sente, Liv. — Beijou minha bochecha. — Eu demorei para encontrar você
de novo, amei uma vez e sei reconhecer quando isso acontece. É você, pequena
Liv. Apenas você. Você pediu que eu apenas te amasse e é o que faço há muito
tempo.
Senti meu coração bobo amolecendo.
— Também amo você — sussurrei, abraçando-o, encostando a cabeça
em seu peito. — Prometo te amar sempre, se prometer não quebrar meu
coração.
Ele sorriu.
— Posso te deixar doida, às vezes, mas não quero que sofra mais. Não
por mim.
O celular tocou sobre a mesa e me afastei, vendo o nome de Elizabeth na
tela.
— Sua prima — avisei atendendo.
— Estamos todos aqui. Vocês vão vir de quê? Mobilete?
Não evitei a risada.
— Estamos saindo. — Peguei minha cult sobre a cama, passando no
meu braço e apontei para Justin. — Vamos, vamos. A ditadura de horários de
Elizabeth Monroe começou.
Ele riu, mas apenas me seguiu.
O que tínhamos para falar já estava dito. Não precisávamos de grandes
coisas. O bom de reconhecer o erro era colocar isso numa balança e ver que nós
dois cometemos, mas que quando precisou, tudo isso ficou em segundo plano
pelo nosso filho.

O hotel era na beira da praia e tinha uma estrutura parecida de palafitas,


então quando Justin subiu para falar com Benjamin no restaurante, tentando
conseguir uma mesa em cima da hora, fiquei no lobby com Elizabeth e Nicole
conversando. Catarina estava no bar, pois ele estava vazio.
— Pensei que você tinha feito uma reserva — falei para Elizabeth,
vendo-a suspirar.
— Vamos verificar, vem. — Passou o braço em torno do meu em uma
resposta evasiva e me puxou em direção à escadinha de madeira que nos levava
para o piso mais alto do hotel. Era um lugar lindo, dava para ver os coqueiros, a
praia mais longe e quando a gente adentrava, era como se fosse um paraíso,
tudo tão bem pensado.
Subi na frente, segurando a barra do meu vestido e parei quando vi o
local vazio, fazendo-me arquear a sobrancelha em direção a Elizabeth, que
segurava o celular em minha direção.
— O que você está fazendo? — perguntei meio indignada.
— Nada, continua andando. — Empurrou-me e fui, vendo o Justin logo
em seguida, senti meu coração falhar uma batida quando vi a mesa preparada,
com nossos nomes no cartão de reserva. O pai do meu filho virou em minha
direção, abrindo aquele sorriso irresistível e senti como se o mundo estivesse
parando quando ele estendeu a mão. Fui sem pensar duas vezes, aproximei-me
dele. E quando apontou para o chão, vi as palavras se formarem ali. Um quer
casar comigo mais brega possível e tudo que fiz foi sorrir.
— Eu acho que já deixei claro o quanto eu amo você, pequena — falou,
atraindo minha atenção. — Mas eu não quero apenas ser o pai dos seus filhos.
Apesar disso me fazer muito feliz, eu quero mais. Quero que seja minha esposa.
Minha mulher. E eu preciso que me ame todos os dias, como me prometeu, pois
não há vida sem você e meus filhos aqui.
Senti sua mão em minha barriga, e o vi se ajoelhando em minha frente,
abrindo a caixinha azul-turquesa. Cobri meus lábios com a mão livre,
estendendo a outra em sua direção.
— Sim, sim. — Ele sorriu, colocando o anel com um solitário ao lado
do dos meus pais. E fiz o mesmo em sua mão, puxando-o para cima para selar o
novo começo com um beijo. Senti meu coração acelerar, meu corpo se
apertando mais contra o seu, pedindo por mais um contato, não queria me
afastar. — Eu amo você, Justin Monroe. Você me amou quando eu desejei, e eu
te amarei, sempre.

— Não acredito que você fez nossos amigos vir aqui e depois ir embora
— Olivia falou rindo, enquanto segurava meu braço, caminhando comigo na
praia. O local deserto era perfeito, pois não havia mais ninguém e eu quero
comemorar nosso noivado. Só Archie. Mas estava frio e Olivia nunca o deixaria
vir, com medo de um possível resfriado.
— Claro, você os queria na nossa comemoração? — Parei ao seu lado,
abraçando seu corpo pequeno contra o meu. Ela sorriu. — E sem falar, que
jantamos todos juntos. Brindamos. Quando voltarmos para Nova Iorque, damos
uma festa de noivado e todo mundo comemora. Eu precisava de alguém para
me ajudar a te trazer aqui sem dar suspeitas e ainda filmar o pedido. Colecionar
memórias. Ali. — Apontei em direção à manta de flanela que deixei jogada
sobre a praia, pois eu pensei sobre cada momento desta noite muito mais do que
era capaz de contar.
Sentamo-nos e vi Liv revirando os olhos enquanto segurava meu rosto,
beijando meus lábios.
— Você é terrível.
— E você me ama — respondi rapidamente, fazendo-a rir.
— É, você é terrível, mas até dá para o gasto — falou debochada,
fazendo-me suspirar, aproximei-me, beijando o ombro nu por causa do vestido.
Senti as mãos de Olivia em meus cabelos, alinhando os fios para trás. Beijei seu
pescoço, sentindo o cheiro do perfume delicado, mordiscando a pele e a senti
ela suspirando baixinho. — Não podemos fazer isso aqui — disse sorrindo, com
as mãos pequenas descendo contra minha blusa, adentrando-a até que encontrou
minha pele, eu a senti deslizando por lá, provocativa.
— Então não me provoque — falei contra sua orelha, puxando-a para
meu colo e senti o paraíso sendo descrito quando Olivia estava sentada em cima
de mim, mesmo vestida. Minhas mãos deslizaram em torno da sua perna,
subindo, fazendo o vestido se amontoar em sua cintura.
— Você quem começou — acusou, mas suas mãos já estavam na barra
da minha camisa, puxando a peça para cima e deixei ir sem nenhum problema
com isso. Busquei a sua boca, beijando-a lentamente, deslizando por suas
pernas, alcançando a calcinha de renda, puxando-a para baixo. Ela se moveu em
meu colo, dando espaço para que a peça descesse e subi novamente, tocando
minha futura esposa enquanto sentia sua boca na minha, suas mãos em meu
corpo, deixei um suspiro escapar, deitei-a sobre a manta e cobri seu corpo com
o meu.
Senti meu pau responder quando o gemido baixo de Olivia escapou,
fazendo-me mover os dedos contra sua boceta molhada mais rapidamente. Eu
não sabia o que acontecia, sexo sempre foi bom, mas com Olivia era sempre
melhor. Sem falar em como tudo acontecia rápido, passava a maior parte do
tempo desejando estar dentro dela e quando isso não acontecia, meu pau me
envergonhava, porque ele já estava completamente domado.
Puxei seu vestido para fora do seu corpo, deixando-a apenas de lingerie
embaixo de mim e me abaixei, ficando entre suas pernas, alcançando a barriga
onde nossa filha crescia e beijei ali, sentindo-me a porra do homem mais
sortudo do mundo neste momento.
Não queria parar de pensar no quanto era bom estar neste momento.
— Justin. — O sussurro veio como um pedido e me aproximei de sua
entrada, senti o gemido ficar preso contra os lábios de Olivia quando finalmente
juntei nossos corpos, sentindo sua boceta acomodando meu pau, e foi lento,
delicioso demais para conter, então apenas me movi contra ela, mantendo
minhas mãos pelo corpo da minha futura
— Eu amo você — sussurrei contra sua boca, suave. Não me lembro se
já estivemos assim, sem que tivesse mágoa ou raiva. Era apenas desejo, o mais
puro desejo quando sentia seu corpo se moldar ao meu. Ela sorriu, gemendo
meu nome enquanto suas pernas estavam ao redor da minha cintura. Aproximei-
me do seu pescoço, deslizando a boca pela sua pele, sabendo que não havia
nada melhor do que estar dentro dela.
DUAS SEMANAS DEPOIS
Parei em frente à enorme grade de tecidos, sem saber ao certo qual
escolher para essa peça que estava me dando um trabalhão. Era um vestido para
festa fantasia de uma aspirante à atriz. Queria algo que fosse elegante e, ao
mesmo tempo, sexy. E nisso, a mulher havia me metido em uma confusão de
ideias.
Suspirei, pegando uma peça de tafetá preto e joguei sobre o balcão,
encarando-o sem saber ao certo o que fazer. Bufei, contrariada, meu celular
acima do balcão apitou e eu não me dei o trabalho de ver.
A porta do ateliê se abriu e uma senhora passou por ela, carregando uma
bolsa quase maior que ela, fazendo-me segurar o sorriso. Porém, ela percebeu,
rindo junto e colocou a bolsa em um canto, arrumando os cabelos loiros no
lugar, organizando a roupa social e que me lembrava muito os ternos que Justin
vestia para o trabalho.
Eu gostava de brincar com ele, dizendo que parecia o poderoso
chefinho.
— Bom dia! — ela disse por fim.
— Bom dia — respondi. — Em que posso ajudá-la? — perguntei,
rezando para que não fosse nenhum pedido maluco.
— Sou Taylor Arnold, sou editora chefe do site Haphazard. — Abri a
boca, em choque. Recordando-me exatamente de onde a conhecia. — Somos
um dos maiores sites dos Estados Unidos no nicho de moda e estilo —
explicou, colocando um panfleto com a logomarca do site à minha frente.
O site fora criado há mais de sete anos, era referência em críticas de
novos modelos, dicas de vestimentas e com entrevistas e dicas de designs da
região. Só de pensar que eu estava falando com Taylor Arnold ficava com
palpitação. Fazia muito tempo que não a via em vídeos ou fotos, pois com o
crescimento do site, ela passou a designar outras pessoas para as mídias e ficava
mais como CEO e presidente da marca.
— Há pouco tempo, tivemos uma entrevista com Ashley Hall, onde
perguntamos onde fora feito o vestido usado no baile beneficente. — Abri a
boca, em choque. — Ela me passou seu nome, espero que seja Olivia Turner.
Sorriu simpática e eu tive dificuldades para respirar.
— Sim, sou eu mesma — respondi. Buscando ar.
— Ah, Olivia, fiquei apaixonada pelo seu modelo. Sério, estava perfeito.
— Eu a olhei com desconfiança, Taylor era conhecida no site por ser muito
exigente com a moda.
— Hum... obrigada — murmurei, sem saber ao certo o que falar.
— Tenho uma proposta a você, mas pelo visto, está muito ocupada no
momento. — Olhou ao redor, vendo o ateliê um tanto bagunçado. Senti minhas
bochechas corarem. — Quero que me ligue se estiver disposta a tomar um café
comigo para conversarmos melhor.
Anotou seu telefone no panfleto, deixando-me estática.
— Obrigada, vou ligar sim — garanti sorrindo. Vi Taylor se despedir, e
eu permaneci em pé, sem acreditar no que havia acabado de acontecer.

Juntei minhas coisas para ir ao almoço, Romeo havia vindo me buscar


pois iríamos almoçar com Vivian Monroe hoje. E meu filho já estava com a avó
desde bem cedinho.
— Você está bem? — indaguei, saindo do ateliê. Ele me acompanhou,
em seu andar vagaroso e observador. Meu amigo estava mais calado do que o
normal. E ser uma pessoa calada não fazia o feitio dele.
— Sim — respondeu distraído, fazendo-me bufar. — Pensei que Justin
fosse te buscar hoje.
— Ele tinha uma reunião — falei trancando a porta do ateliê.
— Hum... entendi — ele disse, olhando além de mim. Franzi o cenho.
— Então por que ele está olhando para mim como se quisesse me matar? —
indagou, fazendo-me virar rapidamente. Vi a imagem de Justin escorada no
carro dele, com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto bonito. Sorri,
espantando a surpresa e caminhei até ele.
— Oi, o que está fazendo aqui? — perguntei, pousando a mão em seu
braço. Romeo permaneceu em frente ao ateliê.
— Buscando minha noiva para almoçar comigo — disse, com um
sorriso, desfazendo a expressão ranzinza.
Sua mão segurou a minha, puxando-me levemente mais para perto, os
lábios cobriram os meus de forma lenta e doce, abraçando-me como se quisesse
me fundir ao seu corpo. E eu apenas me aproximei e deixei que meu foco fosse
nos lábios rosados que trabalhavam sobre os meus, de forma lenta e prazerosa.
Escutei um resmungo de Romeo às nossas costas, fazendo-me virar para
encará-lo, afastando-me de Justin.
— Romeo iria almoçar comigo e Archie, na casa da sua mãe, mas já que
você veio, podemos almoçar nos cinco — sugeri, dando-lhe um selinho rápido,
Justin apenas assentiu e eu o puxei em direção ao carro. — Vem, vamos.

Arrumei as roupas que Archie havia deixado jogada pelo quarto,


sentindo-me cansada pelo dia um tanto cheio de afazeres. O ateliê estava em um
período bom de vendas e encomendas, e isso significava que trabalharia em
dobro pelos próximos dias. Mas tudo bem, não estava reclamando.
Teve um tempo que tudo que desejei fosse que uma pessoa entrasse
pelas portas daquele local, e quando isso acontecia com mais frequência que o
planejado, meu coração ficava em festa. Pois era a realização de um imenso
sonho.
Peguei meu celular em cima da bancada de Archie, vendo uma ligação
perdida de Mimi e uma mensagem de Nicole. Franzi o cenho, desconfiando das
palavras da ruiva.
“Estou preocupada com Catarina, ela não fala comigo e está cada
dia mais estranha.”
Quis brincar e responder que estranha Catarina era a todo instante, mas
vi que Nicole não estava brincando, ela realmente estava preocupada.
“Vou ligar para ela”. Respondi, discando o número de Cat logo em
seguida. Chamou a primeira vez, a segunda, e pelas próximas vezes, até que a
voz dela se fez presente.
— Ei! Você ligou para o telefone de Catarina Watson, por favor, não
deixe seu recado, odeio notificações desse tipo e acabarei lhe matando. — Um
suspiro ruidoso foi ouvido. — Mas estou indo conhecer as ilhas gregas, não me
perturbe. Beijinhos!
Arregalei os olhos, diante das palavras gravadas dela. Escrevi uma
mensagem rápida e desesperada para minha amiga, perguntando o que havia
acontecido. Mas não obtive resposta.
Tornei a ligar para Nicole, fechando a porta do quarto de Archie e desci
as escadas, sentando-me no sofá.
— Por acaso você já tentou ligar para ela? — perguntei, suspirando.
Enrolei meus pés na coberta disposta por ali, o clima frio os estava quase
congelando.
— Sim, e tem aquela mensagem ridícula gravada. Com toda certeza,
quando encontrar Catarina novamente, vou brigar tanto com ela que vai se
arrepender de ter nascido — resmungou, contrariada. Sorri.
— Nic, você não briga nem com uma mosca — contestei, ouvindo seu
resmungo.
— Vou ficar tentando entrar em contato com ela, Olivia, sei que já está
cheia de coisa com o casamento, Archie e seu ateliê, desculpe lhe preocupar
ainda mais. — Sorri, Nicole vivia pedindo desculpas por coisas inexistentes,
isso uma hora teria que parar. — Mas obrigada por tentar falar com ela, estou
preocupada.
— Eu sei, Nic, fica calma e não se desculpe tanto. Sabe que Catarina às
vezes é meio impulsiva e impossível de controlar. — Ela bufou.
— Aquela menina é o diabo em pessoa. Nunca vi tão maluca das ideias.
— Rimos. — Bom, vou deixar você descansar. Te vejo no encontro de sábado,
leve Archie, estou com saudade do meu príncipe.
Sorri e finalizamos a ligação segundos depois. Iríamos nos encontrar no
sábado, na casa de Catarina, como havia sido planejado desde a última vez que
nos vimos, porém, agora teríamos que ir a outro lugar. Já que nossa amiga
achava legal viajar para Grécia sem avisar nada a ninguém.
Bufei, exasperada, peguei meu caderno de desenho e antes de focar no
esboço inacabado, mandei uma mensagem pedindo para que Catarina entrasse
em contato. Joguei o celular de lado, focando nos traços inacabados da folha
rasurada.
— Isso está uma merda — resmunguei, arrancando o papel e
amassando, eu o joguei na parede, acertando o quadro com uma paisagem
pintada em tons escuros. O papel se chocou nela e caiu no chão.
Recomecei o desenho, indignada com minha falta de criatividade e
concentração.

— Ei, acorde. — Revirei-me, afundando o rosto no travesseiro, suspirei,


fechando os olhos com força, sentindo meu corpo cansado. — Olivia, você
precisa ir para a cama.
Ouvi a voz de Justin contra meu ouvido, coloquei a mão sobre seu rosto,
sem abrir os olhos e o empurrei para longe.
— Para de coisa, eu estou na cama — grunhi, escutando-o sorrir. Seu
braço passou por baixo da minha cintura, segurando com habilidade, ergueu-
me, fazendo-me arregalar os olhos. — Ei! — protestei, zangada. Olhei para
onde eu estava, sentindo minhas bochechas rosadas por ver o sofá.
— Certo, a cama está um pouco diferente. — Fiz careta, fazendo-o
sorrir. Justin começou a andar, comigo em seus braços. — Preciso verificar
Archie. Não vi se ele está coberto e... — Ele me colocou sobre a cama, puxando
o edredom sobre meu corpo.
— Durma. Eu vejo Archie. Prometo. — Beijou minha boca, fazendo-me
suspirar e finalmente descansar, pensando sobre o encontro com Taylor mais
cedo. Eu havia ligado, mas não tive sucesso, então não fazia ideia do que ela
desejava comigo.
A porta do escritório se abriu quase no fim da manhã e eu levantei a
cabeça, vendo metade do corpo de Evelyn, minha assistente, ser colocado para
dentro, ela sorriu, desculpando-se por atrapalhar minha análise nos documentos
que havia trazido mais cedo. Arqueei a sobrancelha, indagando silenciosamente
o que ela desejava.
— Desculpe, senhor Monroe, é que Olivia está aqui, disse que queria vê-
lo. — Assenti.
— Evelyn, Olivia não precisa ser anunciada, não falamos sobre isso
antes, mas agora já está claro. — Ela assentiu, deu meia volta e fechou a porta.
Lembrei que havia combinado de almoçarmos juntos para falarmos sobre sua
reunião com Taylor Arnold, então me levantei, abri meu paletó, tirando-o logo
em seguida, joguei a peça sobre os ombros da poltrona, desfiz alguns botões de
minha camisa branca, ficando mais à vontade.
A porta tornou a abrir, e Olivia passou por ela, olhando ao redor,
observando cada canto do meu escritório. Os cabelos escuros dela estavam
presos no alto da cabeça, em um coque que tinha uma caneta segurando, sorri
com isso, observando o vestido florido e esvoaçante que ela escolhera pela
manhã.
Estava linda, o rosto com pouca maquiagem e eu senti meu coração
batendo como um louco desenfreado, como sempre acontecia quando eu via
minha futura esposa.
Ela se sentou na poltrona à minha frente, descuidada e foi logo tirando
os saltos, sem nem mesmo me cumprimentar primeiro. Segurei o sorriso ao ver
tamanha espontaneidade, entendendo também que a essa altura da gravidez, até
roupas a incomodava.
— Cara, esses saltos me matam. Vontade de jogar no rio — resmungou,
jogando o salto preto de lado, observei a peça, com curiosidade, era o mesmo de
algumas noites atrás quando jantamos juntos e acabou muito bem. Segurei o
gemido com a lembrança dela jogada na cama, com a respiração ofegante e
nada além do que aquele sapato em seus pés.
Repreendi meus pensamentos, suspirando resignado e me sentei na
beirada da mesa, sorrindo para Olivia.
— Olá, Olivia, como foi sua vinda até aqui? — indaguei irônico, como
quem não queria nada.
— Ah, oi, Justin. Como foi sua manhã? — rebateu, fazendo-me rir.
Inclinei-me, puxando a poltrona mais próxima a mim, o que fez um barulho
imenso no chão de madeira.
— Confesso que a melhor parte da manhã é exatamente essa — respondi
antes de beijá-la docemente nos lábios, logo a senti se levantando, encaixou-se
entre minhas pernas me dando livre acesso a intensificar nosso beijo.
Suspirei, quando minha língua encontrou o interior de sua boca,
sentindo aquela famosa sensação de paraíso se espalhar ao meu redor. Ao ver a
forma que ela se encaixava ali, como se nada mais no mundo fosse mais
perfeito.
Olivia era perfeita para mim. Nada mais no mundo se encaixaria tão
bem.
Afastamo-nos, com a respiração ofegante e vi seus lábios vermelhos.
— Como você está? — murmurou, enlaçando seu braço em meu
pescoço, trazendo-me mais para perto enquanto sua mão alisava minha barba
por fazer.
— Estou bem, e você? — indaguei, segurando sua cintura, fazendo
pequenos círculos na pequena parte de pele que o vestido deixava exposta.
— Estou bem, bom, podemos almoçar logo, estou com fome. Além do
mais, deixei Archie na casa de Vivian, ele vai almoçar lá e passar a tarde com
ela — contou-me e assenti. Archie estava ficando a maior parte do tempo com
minha mãe, devido aos remédios e cuidados que Olivia só confiava nos nossos
pais e nos médicos. Eu a entendia, e sabia que era difícil ela voltar ao trabalho
quando nosso filho ainda passava por um tratamento complicado.
— Bom, vamos pedir comida então — respondi, inclinando-me para
pegar o telefone e alguns panfletos que tinha dentro da gaveta, de restaurantes
perto da empresa.
Ela caminhou pela sala.
— Bonita aquela sua assistente, né? — indagou, de costas, observando a
estante que tinha do outro lado da sala, segurei o sorriso diante aquela pergunta
disfarçada de indireta.
— Sim, Evelyn é bonita, por que a pergunta? — rebati, observando a
reação de seu corpo.
Ela inclinou a cabeça, levantou o dedo em riste, mas não se virou, enfim,
respirou fundo e jogou os braços ao lado do corpo.
— Nada, estava apenas mencionando. — Não evitei a risada ao ouvir as
palavras secas, de quem obviamente falaria outra coisa. — Ei — me chamou, eu
a vi segurar um porta-retrato meu entre os dedos elegantes. — Essa é sua ex-
esposa? — perguntou, fazendo-me suspirar, vendo a foto do nosso casamento,
que eu sabia ao certo porque ainda estava por ali. Fazia tanto tempo, aquela sala
ainda carregava lembranças do meu velho casamento.
Na verdade, tudo ainda carregaria lembranças do meu velho casamento
se eu não tivesse me mudado logo depois do fim dele, para tirar de perto de
mim todas as marcas do meu antigo relacionamento.
— Sim — foi tudo que disse encolhendo os ombros. Não sabia ao certo
o que ela pensava sobre mim e Aubrey.
Mas a conversa não se estendeu, pois fiz o pedido de nosso almoço,
coisa que eu já deveria ter feito, mas estava ocupado demais a vendo desfilar
pela minha sala.
— Agora me diga como foi a reunião — falei, sentando-me ao seu lado
no sofá no canto do meu escritório. Olivia veio ao meu encontro, encostando a
cabeça em meu peito.
— Foi interessante. Fechamos um acordo — contou rapidamente,
fazendo-me encará-la assustado. — Eu sei que disse que ia verificar um
advogado antes, mas era tão bom tudo que não pensei direito.
Suspirei, sentando-me de modo que a encarei de frente.
— Me explica isso — pedi.
— Ela quer que eu faça parte de um dos programas on-line dela. É
transmitido pelo Youtube, poderia alavancar minhas vendas caso o povo compre
minhas ideias e me ache boa — ela falou animada. — E também há uma
segunda proposta.
— Sim? — indaguei, querendo entender onde Olivia se enfiou.
— Vou te mandar o contrato — disse do nada, pegando o telefone.
Ficamos sentados lado a lado, discutindo o contrato que ela e Taylor
firmaram, e fiquei assustado quando vi que sim, ela havia fechado um bom
negócio. Ela não faria apenas parte da equipe da marca, mas estaria lançando
uma coleção onde sua marca própria ganharia com isso.
E foi aí que entendi aquela frase clichê onde dizia que atrás de grandes
homens, havia sempre uma grande mulher. Olivia era gigante. Fechou um
contrato sozinha, arriscou seu trabalho, tirou sua própria conclusão do que era
melhor para sua marca e aquilo era incrível.

— Você está com ciúmes de Evelyn? — perguntei, depois de um tempo.


Ela revirou os olhos, em uma pose blasé, fazendo-me sorrir. Eu havia incluído
um champanhe sem álcool no nosso almoço, para comemorar o contrato de
Olivia e ela claramente, ela não esperava por esta pergunta.
— Eu não estou com ciúmes — resmungou prontamente. — Não sou
uma pessoa ciumenta, igual você — se defendeu e eu apenas sorri, encostando-
me na cadeira enquanto observava a forma irritadíssima que ela ficou com algo
tão simples. — Do que está rindo?
Levantei-me, segurando meu peitoral, para acalmar meu riso, caminhei
até ela, segurei sua cintura, puxando rapidamente em minha direção. A boca
vermelha e atraente se abriu, em um perfeito “O”, o que me fez suspirar.
— Você está com ciúmes de mim, Olivia, aceita isso antes que eu tenha
que desenhar. — Sua expressão se fechou e ela se debateu, com raiva. Sorri
ainda mais. — Mas se lhe acalma, também tenho ciúmes. Mesmo que não
admita, às vezes, não gosto de Alexandre ou Romeo perto de você. Eu
facilmente daria um chute na bunda do meu primo caso ele se aproxime demais
— finalizei, murmurando em seu ouvido. Mordisquei o lóbulo de sua orelha,
ouvindo-a suspirar, e seu corpo se arrepiar com o contato, fechei os olhos,
inspirando o cheiro de seu perfume e tendo a plena certeza de que Olivia era
demais para mim.

Saí do escritório de Justin uma hora mais tarde, em meio a conversas e a


comemoração do contrato com Taylor — o que eu nunca imaginei que iria
acontecer comigo —, eu me vi vivendo algo muito melhor do que eu idealizei.
Sorri, lembrando-me de como aquele tempo com ele conseguiu tirar toda
a tensão de meus ombros, ainda mais com ele falando sobre como o contrato
havia sido inteligente. Suspirei, entrando no ateliê, pronta para voltar ao mundo
real, onde tinha um milhão de problemas para resolver até o fim da tarde.
Porém, não consegui tirar o sorriso bobo da cara.
Horas mais tarde, meu celular vibrou sobre a pilha de papéis que eu
analisava com critério, peguei-o, vendo o nome de Justin balançando na tela.
Sorri ao ler a mensagem: “Pensando em você.”
Meus dedos bateram contra o vidro, digitando uma resposta rápida e
direta: “Ótimo, é assim que tem que ser.”
Quase podia visualizá-lo rindo, achando graça do meu ciúme bobo de
mais cedo. Que mesmo a contragosto, tinha que admitir, era puro ciúmes, não
conseguia não sentir quando ele parecia estar impregnado por todo meu corpo.

— Papai, me passa o molho — Archie pediu, indicando o molho de


mostarda que ele amava colocar sobre a carne. Justin concordou, servindo um
pouco mais em seu prato e sorriu, bagunçando os cabelos do filho.
— Como foi na casa da vovó, meu amor? — indaguei, tomando um gole
da água enquanto o observava comer. Melecando as bochechas de forma
engraçada, suspirei, sabendo que teria que colocá-lo embaixo d’água logo
quando subirmos.
— Foi bom, banhamos de piscina e assistimos Os Incríveis — disse
sorrindo, comentando sobre o filme e tarde com a avó, e era bom vê-lo tão
contente. Não estava indo à escola então não tinha contato com outras crianças,
o que me preocupava às vezes.
Quando encerramos o jantar, Justin subiu com ele, dizendo que iriam
tomar banho, escovar os dentes e colocá-lo para dormir. Coloquei os pratos na
lava-louça e subi as escadas, praticamente me arrastando, pois estava exausta e
só precisava de boas horas de sono.
Abri a porta do quarto, escutando risadas de Archie, o que fez um
suspiro feliz sair dos meus lábios. Contente com o correr das coisas, tudo estava
andando de forma tão calma que eu nem conseguia lembrar dos dias infelizes
que passei preocupada com a doença e com o processo, tudo causado por Justin.
São apenas as fases ruins, pensei, jogando-me na cama logo depois de
tirar meu vestido e trocar por uma calça de moletom velha, com blusa com um
enorme desenho de alienígena, que eu tinha há séculos, estava larga e com
alguns furinhos.
Sorri, Justin não gostava muito dela, segundo ele, se assustava toda vez
que deitava e dava de cara com aquele alienígena. Fechei os olhos, sentindo o
cansaço cair sobre mim.

Senti um braço enlaçar minha cintura, despertando-me levemente. Sorri,


enrolando-me no corpo de Justin, conhecendo automaticamente o cheiro de seu
perfume. Escorei a cabeça em seu peito, beijei o local levemente, em um boa
noite silencioso, porém, o gesto que partiu de mim foi diretamente para meu
coração e explodiu rapidamente em palavras rápidas e lógicas.
Eu amava aquele homem.
Com todas as minhas forças, de forma irrevogável.
— Boa noite, pequena — murmurou, contra meu cabelo jogado de lado.
Eu sempre ficava surpresa com a forma que a vida mudou nos últimos
meses, e se a garantia da felicidade tivesse no fim, eu passaria por tudo
novamente, afinal, as lutas nos faziam mais fortes. Eu só tiraria aquela doença
de Archie se tivesse o poder. Apenas isso.
A ruiva à minha frente finalizou a entrevista, sorrindo para a câmera
ligada e agradecemos a todos. Como me instruíram, acenei antes de tudo ser
finalizado, desligou as câmeras e liberou-nos.
Pulei da poltrona que estava sentada, caminhei até a mesa no fundo da
sala onde gravamos um vídeo sobre tendências de modas que retornavam
lentamente as passarelas, de forma claramente despreocupada e logo estava se
alastrando pelas ruas.
Aceitar a proposta de Taylor para fazer parte das colunistas do
Haphazard trazia muita bagagem, e mesmo com o trabalho duplicando cada dia
mais, minhas vendas no ateliê começaram a aumentar gradativamente, eu estava
ficando cada dia mais animada com o trabalho e como tudo vinha mudando.
Peguei meu celular dentro da minha bolsa, vendo uma mensagem de
Justin piscando na tela, sorri, deslizando o dedo pela tela. Combinei com ele
para pegar Archie hoje na casa de Vivian, pois não sairia a tempo.
Vi que já passava da uma da tarde, meu estômago roncou, em um
protesto nada discreto, fazendo-me suspirar e analisar minhas opções. Eu
poderia ir para casa, mas Dorothy estava de folga hoje, pois ninguém almoçava
em casa dia de quinta.
Poderia ir à empresa, sabia que Archie e Justin já haviam almoçado, mas
poderia pedir algo e ainda ver os dois homens que permaneciam em meus
pensamentos mesmo quando eles me faziam raiva.
Reli a mensagem dele: “Archie já almoçou.”
Revirei os olhos, sem querer imaginar o que eles haviam almoçado.
Deus me ajude que não tenha sido fast-food. Mas se bem... Justin não daria fast-
food ao filho.
Escrevi uma resposta rapidamente: “Espero que não tenha sido
besteiras. Estou indo aí.”
Ele respondeu com uma carinha de nervosismo, negando fielmente.
Sorri, sabendo que poderia procurar as embalagens de alguma lanchonete no
lixo, pois aquilo era típico dos dois. Que andavam cada dia mais unidos em
fazer da minha vida uma verdadeira roda gigante. Ter pai e filho juntos, que se
pareciam mais do que eu poderia prever, era algo realmente bem difícil.
Um verdadeiro carma em minha vida.

O táxi parou em frente às Indústrias Monroe, pulei do mesmo, vendo a


calçada naquele velho e caótico movimento de sempre. Caminhei rapidamente,
desviando de pessoas enquanto discava um número de algum restaurante. Quase
gritei de alegria, quando um disse que ainda estavam entregando e rapidamente
encomendei uma porção acompanhada de costelas ao molho, o que me fez
suspirar só de imaginar o sabor do prato.
Mandei mensagens a Justin, avisando que estava subindo. Assim que o
elevador se abriu, entrei no andar, atraindo a atenção de Evelyn e um homem,
que conversavam animadamente no balcão.
— Boa tarde, Evelyn. — saudei sua secretária. — Já avisei a Justin que
viria, vou esperar na sala dele — falei, caminhando até lá. Coloquei a mão sobre
a maçaneta, mas parei quando ela me chamou.
— Boa tarde, senhora Monroe, sim, senhor Monroe já havia avisado
sobre sua vinda. — Sorriu, balançando a cabeça conforme falava. Franzi o
cenho, era estranho ser chamada de senhora Monroe quando eu ainda nem tinha
me casado. — Estou saindo para almoçar agora, fique à vontade.
Entrei no escritório, observando com calma, olhando para cada canto da
sala, parecia que estava tudo igual à última vez que estive aqui, porém, meus
olhos pousaram sobre algo de diferente em sua estante.
A velha foto com a falecida esposa de Justin não estava mais naquele
lugar, permanecia um troféu ali, enfeitando o local.
Senti um calafrio bater contra meu pescoço, fazendo-me dar um passo à
frente, caminhei em direção à mesa do meu noivo, vendo a bagunça que estava
por ali. Belisquei meus dedos para não organizar os papéis que estavam jogados
de forma bagunçada sobre a mesa.
Sorri com sua despreocupação e me sentei na poltrona enorme e macia.
Meus olhos focaram sobre o quadro anexado duas fotos e senti meu
coração bater em um ritmo descompassado ao ver a foto do nosso pedido de
noivado, onde sua mão segurava a minha próxima aos lábios, com um olhar
beirando à devoção e eu tinha uma expressão boba e chorosa.
Com as bochechas coradas e eu sabia, que por dentro, meu coração
explodia de felicidade. Pois eu vivi aquela cena, e ela se repetia a todo momento
em minha mente, lembrando-me de quem era meu coração.
A segunda foto, era de Archie, bem pequeno, nos primeiros meses de
vida. Eu sabia de onde ele a havia tirado, pois ela ficava em cima da minha
mesinha de cabeceira, enfeitando o local e ela havia desaparecido nas últimas
semanas.
Eu era bobinha com este homem, pois saber que ele tinha a gente tão
próximo a ele o dia todo me fazia sorrir como idiota.
Hoje era o grande dia.
Não, eu não ia me casar nem nada do tipo, mas estava me sentindo tão
feliz quanto o dia em que Justin me pediu em casamento. Afinal, eu era um
pouco casada com o meu trabalho. E era tão bom estar fazendo tudo isso
ativamente depois de um período difícil.
O primeiro desfile da Turner, em parceria ao site Haphazard, com o
tema de gala, que passei os últimos dois meses empenhada em não deixar faltar
sequer nenhum detalhe. E tudo finalmente parecia perfeito aos meus olhos.
Foram noites mal dormidas, enlouqueci Justin com tantos detalhes e ele
me ajudou da forma que podia, cedendo o salão de eventos da Indústria Monroe
para que fosse realizado a cerimônia.
Eu estava ansiosa. Muito ansiosa para ser mais específica.
Trabalhar com um bebê apertando minha bexiga era apavorante, ainda
mais no último trimestre de gestação, com Justin faltando subir as paredes de
casa a cada vez que eu demorava um pouco mais no ateliê.
Eu havia de fato me mudado para a casa dele, pois segundo meu futuro
marido, não havia motivos para tirar Archie da casa dele, e muito menos ficar
longe dele. Sem falar enquanto ele era cuidadoso com toda a gravidez de Angel.
Vi Justin aparecer na porta do banheiro, com os cabelos loiros revoltos,
os olhos abertos em riste e a expressão sonolenta, sorri. Ele caminhou em minha
direção, colocou seu peitoral contra minhas costas.
Sua mão deslizou pela barriga, passando lentamente por cada extensão,
sentindo o movimento leve de Angel lá dentro, brincando com o tecido do meu
vestidinho fino. Escorei a cabeça em seu ombro, ouvindo seu coração bater
contra meu ouvido.
— Bom dia, pequena — falou, beijando a ponta da minha orelha, o que
me fez sorrir.
— Bom dia, amor — respondi, antes de virar-me para beijá-lo nos
lábios.
Pois não tinha melhor forma no mundo do que acordar ao seu lado.
Em pouco tempo teríamos nossa família completa. E apesar de hoje
ainda irmos ao hospital, termos os momentos difíceis com Archie, a ideia de
saber que poderia passar por isso juntos me confortava.
— Vou dar bom dia para o Archie — falei, afastando-me, saindo em
direção ao quarto do meu filho. Ele estava dormindo abraçado ao urso surrado,
sorri, sentando-me ao seu lado, inclinando-me para beijar sua bochecha,
alisando os fios loiros. Agora os fios começaram a crescer lentamente, e apesar
de continuar tomando remédios, as sessões de quimioterapia tinha passado a ser
com menos frequência, o que era um avanço e tanto.
— Bom dia, mamãe — ele sussurrou com a cabeça afundada no
travesseiro. A vozinha rouca e sonolenta me fez sorrir e beijei sua bochecha
novamente, sabendo que ele voltaria a dormir e eu iria para o trabalho. Archie
havia perdido praticamente um ano de estudos por causa da leucemia, mas achei
melhor deixá-lo em casa, devido a todo o conjunto de cuidados que devíamos
ter. Sem falar que Dylan mesmo recomendou isso. — Nos vemos à noite? — O
sussurro sonolento me fez sorrir.
— Claro, meu amor — respondi prontamente.

O dia passou voando, quando eu dei por mim, já estava totalmente


vestida para o evento, exausta, mas tão feliz que não conseguia parar de sorrir
um só minuto. Aquela era minha grande chance. A que eu esperei por anos por.
O vestido que eu havia escolhido era um dos modelos, não o principal,
mas sim muito bonito e um dos meus preferidos. A princípio, achei que meu
corpo não faria jus ao modelo por causa da gravidez, muito menos que minha
beleza daria destaque a ele, mas como sempre falavam que usando o produto
era a melhor forma de vendê-lo, cá estávamos nós. Era um modelo de costas
nua, vermelho chamativo, com uma cauda pequena e elegante, bastante justo ao
corpo, marcando bem minha barriga saliente. Sem mangas, o que deixava o vale
dos meus seios em destaque. Minha maquiagem estava forte e fora feito por
uma das meninas da equipe, com os lábios destacados e meus olhos parecendo
maiores.
Justin só havia visto um modelo desta coleção, e devo dizer que nem de
longe era este. Então fiquei imaginando qual seria sua reação ao me ver daquele
jeito. Modéstia à parte, eu parecia realmente de matar.
Sorri, pegando meu celular sobre a cama do quarto, aguardando o
motorista chegar para ir ao evento, pois queria fazer uma surpresa ao meu
futuro marido. Ele acabou indo primeiro com Archie alguns minutos atrás, pois
nos últimos dias meu filho ficou tão agitado com a ideia de um evento que
acabou convencendo todos a ir.
Caminhei para fora do quarto, tirei uma foto no espelho que tinha no
corredor e mandei no grupo das meninas. Recebendo a resposta segundos
depois, mais especificamente da minha melhor amiga.
“A perua mais gata.”
Em seguida, a de Nicole chegou.
“Orgulho da amiga, essa menina! ♥♥♥”
Sorri da mensagem da loira e mandei uma carinha brava, em seguida,
dois corações para a de Nicole, que era bem mais sutil que Elizabeth. E logo
acrescentei que estaria esperando-as no desfile.

Joseph sorriu com o resultado satisfatório em nossa frente, enquanto eu


observava a situação decorrer à distância. Meu funcionário foi o responsável
por ajudar Olivia com todos os preparativos juntos com a equipe da revista e eu
estava feliz pela festa dela estar sendo um sucesso. Toda a imprensa de Nova
Iorque estava cobrindo o evento e era exatamente aquilo que ela merecia. E
muito mais.
— Obrigado pelo apoio, Joseph. — Bati em seu ombro. — Esta noite é
muito importante para Olivia. Se puder me avisar caso algo saia do controle,
agradeço, não quero que nada atrapalhe.
— Irei sim, senhor — falou prontamente e eu agradeci, distanciando-me.
Abri a porta dos fundos da empresa, dando a volta pelo estacionamento para
entrar pela frente sem que ninguém percebesse meu atraso, mas sabia que na
hora que pisasse os pés na entrada, Olivia me questionaria. Havia deixado
Archie com a avó antes de sair do evento para dar uma olhada na organização.
Assim que consegui chegar até o centro do salão iluminado e
completamente lotado, senti o ar faltar em meus pulmões com a visão da mulher
rindo de algo que Taylor Arnold falava ao seu ouvido. Puta que pariu.
A visão do corpo delineado dentro do vestido vermelho, justo e sedutor,
fez-me sorrir enquanto meus pés caminharam apressadamente, vencendo cada
vez mais a distância entre nós.
Taylor foi a primeira a perceber minha presença, sorriu e assim que
minhas mãos enlaçaram a cintura da minha esposa, a editora chefe da
Haphazard se despediu, deixando-nos a sós e Olivia deu um gritinho de susto,
logo riu, encostando a cabeça em meu ombro, fazendo sua bunda ir de encontro
ao meu membro. Que deu sinais de vida devido ao contato.
— Puta que pariu, mulher, quer me matar do coração? — ofeguei,
fazendo-a sorrir anda mais.
— Era uma surpresa, mas quando cheguei, você não estava por aqui. —
Sua voz era para passar despercebida, porém, detectei o ar de acusação nela.
Sorri, rodei-a levemente, colocando-a de frente para mim, segurei seu
rosto entre as palmas das mãos, desejando beijá-la da forma que queria desde
que meus olhos encontraram seu corpo na multidão.
— Estava em uma reunião com Joseph, desculpe — respondi, alisando
sua bochecha antes de descer meus lábios sobre os seus, sugando levemente,
mordiscando e a trazendo mais para perto de mim.
Escutei um suspiro alto sair dos nossos lábios, enquanto ouvia risinhos
ao nosso lado, o que me fez abrir um dos olhos, vendo Archie e Vivian sorrindo,
e neguei com a cabeça ao ver nosso filho com as mãozinhas pequenas sobre os
olhos, fingindo não ver nosso beijo.
Sorri, afastando-me de Olivia e segurei sua cintura.
— Viu, vovó Vivian, papai e minha mamãe estão juntos — meu filho
falou, sorrindo orgulhoso de si e eu senti todo meu mundo entrar no eixo, pois
nada poderia ser mais perfeito.

Olivia girou pelo salão, na segunda música da dança que se estendia de


melodia em melodia, apesar de ela estar sempre de olho em Archie brincando
pelo salão, ela irradiava felicidade, rindo e focando nas boas energias para a sua
noite.
O instrumental perfeito ecoava pelo salão, embalado o corpo pequeno da
minha futura esposa com suavidade, em um giro rápido e leve, ela colou nossos
corpos, fazendo-me sorrir ao sentir seu ventre contra mim. Angel estava ali esta
noite também, vendo o sucesso que a mãe era.
— Você está feliz, pequena? — murmurei em seu ouvido, beijei o vão
do seu pescoço, sentindo sua pele se arrepiar com o contato. Sorri.
— Estou feliz, amor — falou, suavemente e eu fechei os olhos, tendo a
plena certeza de que nada poderia estar mais perfeito. — Sou sempre feliz com
vocês.
— Eu amo você, Olivia — sussurrei do nada, simplesmente pela
vontade de falar. — Eu amo você e não me canso de falar isso.
Ela sorriu levemente, segurou meu rosto entre as palmas das mãos e
beijou meus lábios suavemente, afundando a língua dentro da minha boca,
afoita, fazendo-me suspirar de prazer. Que logo foi cortado, quando ela se
afastou.
— Justin Monroe, às vezes eu sinto tanta raiva quando penso no nosso
percurso. — Beijei sua têmpora, não gostando de trazer este momento à tona.
— Mas eu amo você, mesmo quando quero chutá-lo por me deixar sem cobertor
durante a noite.
Encostou seu nariz ao meu, com nossas respirações se misturando,
enquanto a música embalava nosso momento, marcando para sempre em nossos
corações. Não importava o tempo que passasse, eu sempre iria amar Olivia,
sempre iria querer um pouco mais dela, pois essa mulher entrou em meu
coração muito tempo atrás. Eu só não havia percebido isso. Ela só queria que eu
a amasse, e eu só poderia amá-la e amá-la, cada vez mais e cada dia mais, dando
tudo de mim por ela. Para sempre.
— Você vai tirar férias depois disso, né? — indaguei, tocando seu
ventre. — Daqui a pouco Angel vai nascer no seu ateliê. — Ela riu.
— Prometo que vou — falou com a cabeça escorada em meu peito e me
inclinei, beijando sua testa. Olivia me deu uma segunda chance e era tudo que
eu precisava.
A história de Justin e Olivia continua em
Apenas me ame “a família do CEO”, lançamento
será divulgado em minhas redes sociais.
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que achou. E também faça parte do grupo de leitores no WhatsApp
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É estudante de pedagogia, nascida no sudeste do Pará, se apaixonou por
livros ainda na adolescência por meio das fantasias de Rick Riordan e
Cassandra Clare, mas acabou encontrando seu refúgio em romances dramáticos.
Começou a escrever por meio de fanfics e quando viu já estava desejando criar
seu próprio livro. Com mais de vinte títulos lançados, adora boas histórias que
juntam: drama, comédia e suspense.
Outros títulos:
1. Nove meses depois
2. Um encontro com o amor
3. Minha escolha
4. A paixão do médico
5. A redenção do juiz
6. O coração do CEO
7. Amor Maior
8. Quando te encontrei
9. Um amor inesperado
10. Nosso recomeço
11. Encontrei você
12. Louisa
13. Camilla
14. Luana
15. Nosso bebê inesperado
16. Coração calejado
17. A herdeira do CEO
18. Perfeita Aliança
19. Um natal no Vale Fontana
20. Apenas me ame
21. Minha redenção
Table of Contents
SINOPSE
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
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