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Thais Oliveira - Apenas Me Ame
Thais Oliveira - Apenas Me Ame
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
GOSTOU DO LIVRO?
PRÓXIMO LANÇAMENTO
O CEO não sabia, mas uma única noite mudou toda a vida de Olivia.
Agora ela tinha um filho dele e ele nunca teve chance de conhecê-lo.
OLIVIA TURNER é uma estilista que se mudou para Nova Iorque para
buscar melhores chances e poder enfrentar uma gravidez inesperada, e acaba de
ser convidada para ser madrinha de casamento da melhor amiga. Mãe solo, teve
que amadurecer cedo para cuidar do pequeno Archie e apesar das adversidades,
não tem nada que não faria pelo seu filho. Só que o convite de casamento é um
convite para ela rever seus segredos.
Olivia saiu de Newport, Oregon, depois de descobrir a gravidez e o
casamento inesperado do pai do seu filho, prometendo guardar para si o segredo
que os juntava para sempre. E ela não está preparada para rever o primeiro
homem da sua vida.
JUSTIN MONRIE é um CEO recluso e fechado, que depois de perder a
esposa em um brusco acidente de carro, vê toda sua vida ser virada de cabeça
para baixo e ele não tem mais forças para seguir em frente. Anos depois,
vivendo para o trabalho, descontando sua solidão em coisas que não o satisfazia
mais, ele é convidado para o casamento da prima e com isso, vai descobrir
segredos que ele nunca imaginou.
Dois corações buscando alento, um segredo, uma criança inteligente e
um amor inesperado.
O amor não é algo para qualquer um.
Aprendi isso depois de muito quebrar a cara com esse tal amor. Cara, eu
era só uma mulher, que sonhou a vida toda que os príncipes encantados estavam
escondidos em alguma parte do mundo. Até que...
PAH. BUM.
A realidade bateu na minha cara, gritou e mandou eu me ligar na vida
real, onde os príncipes encantados não existiam e nem iriam aparecer em um
belo cavalo branco para lhe resgatar da bruxa malvada do Leste.
Não podem me julgar por isso.
Esta sou eu, Olivia Turner, filha única de um tradicional casal
apaixonado que hoje ainda viviam isolados do mundo, viajando quando bem
entendiam e aproveitando a terceira idade.
Suspirei. A ideia de amor perfeito veio dos meus pais, pois eles eram
tudo para mim e sempre foram apaixonados, o típico casal de filme de comédia
romântica.
E quando mais precisei, eles me deram a mão. Mas batalhei para lidar
com minha nova realidade. Meu presente inesperado do destino que acordava às
três da manhã e era meu mundo inteiro.
Recusava-me a falar “consequências dos meus erros”, pois meu filho
nunca seria um erro. Lembrava-me bem da confusão que nublou minha mente
no instante em que descobri que estava grávida... Tudo virou de cabeça para
baixo, e isso era normal, afinal eu tinha apenas vinte e um anos e estava naquela
linda fase de aproveitar tudo e nunca previ que uma simples noite poderia
causar tudo aquilo.
Porém, quando eu me encontrei novamente, vi que tinha que arcar com
tudo, de cabeça erguida e que se danasse todas as pessoas que olhassem torto. E
foi isso que fiz, não me arrependi de nada, pois quando recebi aquele pacotinho
embrulhado em uma manta cor do mar no hospital meses depois, tudo isso se
apagou, nada era comparado à beleza e amor que meu filho emanava.
Ele era meu tesouro, eu amava de modo imensurável e ninguém nunca o
faria sofrer.
Mudei-me para Nova Iorque logo após descobrir a gravidez, mamãe e
papai ficaram arrasados, tanto pela mudança quanto pelo neto, pois colocava um
longo caminho para eles acompanharem o crescimento de Archie.
Limpei a lágrima teimosa que caiu ao lembrar daquele exato dia. Pensar
em sair de lá sempre me assustou, pois tinha meus pais, meus amigos, minha
base inteira era naquele lugar, no entanto, eu sabia que era a coisa certa a fazer.
Encarei a foto na minha mesa de trabalho, onde mais ao lado tinha dois
quadros anexados um ao outro, um estava uma foto minha e de Archie no dia do
seu nascimento, enquanto eu estava em meio a rios de lágrimas e sorrisos bobos
para meu pequeno pacotinho de amor. Já a outra foto era ele, no seu último
aniversário, nos braços do avô. Cinco anos se passaram em um passe de mágica.
— Mamãe. — A voz dengosa do meu filho me fez olhar para o lado,
inclinando-me na cadeira confortável do escritório para vê-lo embaixo da mesa,
com as pecinhas de lego estendidas em minha direção.
Sorri.
— Oi. — Empurrei a cadeira para trás, abaixando-me em sua frente e
aceitando a peça.
— Brinca comigo. — O pedido era, como sempre, dengoso.
Quando eu tive Archie, foi o melhor momento da minha vida, sabia que
sempre eu teria o mais puro amor do mundo. E que a maternidade seria perfeita,
pelo menos, era o que eu pensava...
Grande engano!
A maternidade não é assim! Você chora, esperneia, chora de novo
enquanto faz a mamadeira durante a noite, lamenta um pouco mais quando ele
morde seu peito, ou quando os dentinhos estão nascendo e ele tem aqueles
momentos insuportáveis que nada o agrada. Tudo é uma verdadeira prova de
amor, isso eu aprendi, são um dos momentos mais difíceis que você enfrentará,
porém quando você parar e pensar em toda a caminhada, você chega à
conclusão que faria tudo de novo só para ter aquele cheirinho de bebê recém-
nascido, ou para ter a oportunidade de ficar com ele pequeno por mais tempo.
— Animado? — falei, deslizando a mão por sua bochecha suja de
iogurte.
— Não. — Estufou um biquinho manhoso em seus lábios.
— Por que não? — indaguei rapidamente, segurando a risada ao vê-lo
com calça de alfaiataria e um suéter azul marinho. Estranhamente, Archie
gostava de escolher suas próprias roupas. E ele sempre optava por peças do tipo.
Era sua escolha, e eu que lutava para produzir as melhores peças para ele.
Meu cliente mais exigente.
— Nada não — resmungou, batendo a pecinha de lego uma na outra e
apenas deixei que seu mau humor seguisse. Sabia que no momento certo ele me
contaria o que estava acontecendo, e que não precisava entrar em pânico.
Archie era meu melhor amigo e sabia que podia confiar nele.
Porém quando via picos de maturidade em meu filho de quatro anos e
três meses, sentia que a qualquer momento iria surtar. Ele sentia raiva, amor,
frustração e isso tudo era tão bem vívido, que me preocupava que daqui a um
tempo ele conseguisse resolver seus próprios problemas.
Meu filho cresceu na velocidade da luz, enquanto eu tentava
acompanhar e não surtar completamente, afinal isso queria dizer que estava
envelhecendo. O que me assustava ainda mais.
— Vou pedir nosso jantar — falei beijando a bochecha rosada, causando
uma risadinha nele. Levantei-me, pegando meu celular sobre a mesa e vi o
envelope que se destacava em meio às correspondências com meu nome e de
Archie escrito na frente, em lindas letras garrafais, marcando o início de um
novo ciclo para Eliza. Abri-o com um sorriso bobo.
“Elizabeth Monroe & Benjamin D’Ângelo os convida para sua
cerimônia de casamento.”
Eu nem sequer acreditava que isso estava acontecendo, Elizabeth
Monroe era a pessoa que assumia o cargo de minha melhor amiga durante toda
minha vida, desde que nos conhecemos no jardim da infância e salvei Liza de
um chiclete no cabelo que meninas malvadas queriam colar.
Ela e Benjamin se conheceram no primeiro período da faculdade, pouco
antes de tudo na minha vida mudar, desde então, não se desgrudaram. Aquela
era o tipo de conexão que eu sonhava ter um dia, ver aquele brilho que
Benjamin tinha nos olhos para Liza.
Era um amor perfeito, teriam um casamento perfeito e a madrinha mais
que perfeita. Euzinha!
Soltei um gritinho de animação, sem me deixar abater do quão triste era
o fato que a madrinha perfeita estava cada dia mais infeliz com toda essa coisa
de amor.
Eu havia desistido, não havia como um homem olhar para mim com
aquela admiração. Queria fazer todas aquelas coisas que os romances diziam,
ter o amor, o frio na barriga, as borboletas no estômago, conversas bobas e tudo
que tinha direito. Porém, a única vez que senti isso foi há muito tempo, e estava
restritamente ligado ao sexo.
O pai do meu filho, o primeiro homem com quem já troquei mais do que
simples beijos, o homem que chegou de forma inesperada e eu sabia que nunca
iria tê-lo. Porém, ele não sabia da existência de Archie, estava para lá de bêbado
quando eu decidi fazer a maior loucura da minha vida e dizer um sim.
E eu fugi antes mesmo dele acordar.
Ainda me sentindo tonta e incapaz de raciocinar o quão absurda fui em
entregar a ele algo tão precioso, porém não havia arrependimentos. Nunca
haveria.
Nem foi algo sem minha consciência, que fique bem claro, eu era a
única parte consciente de nós dois, e praticamente caí nos braços dele no
instante que o vi. Contudo, esse pequeno acontecimento mudou toda minha
vida, me deu meu maior presente, e eu seria eternamente grata.
A mansão dos Monroe não era a única naquela região, mas de longe, a
mais bonita e elegante. A grama verdinha era vista de longe, cheia de palmeiras
que balançavam por causa do vento, mas adentro tinha o pequeno caminho de
pedras até a entrada da mansão, primeiro a área livre com várias redes dispostas,
sinal de que os convidados já começaram a chegar por aqui. A alguns metros da
praia, eu conseguia visualizar o mar azul se virasse minha cabeça para olhar.
— Acho que isso tudo só significa uma coisa — Catarina murmurou,
com Archie no colo. — Puta merda, os Monroe são muito fodas!
— CATARINA! — exclamei assustada, segurando o riso. — Se meu
filho falar um palavrão eu juro que corto sua língua.
Ela riu.
— Archie e eu vamos ter uma conversinha, ok? — ela falou ao meu
filho e a encarei com dúvida, vendo-a se distanciar para o meio das palmeiras
com meu filho no colo. Ele não foi colocado no chão um segundo sequer desde
que entramos no avião, sempre pulando do colo de uma para outra. O garoto
adorava todo aquele mimo.
Nicole riu, segurando a bolsa de mão, já que nossas bagagens foram
levadas aos nossos quartos por um empregado da mansão — achei estranho,
porém, não discuti, sabia que os Monroe eram cercados desses tipos de mimos.
— Digamos que Catarina é uma péssima influência para crianças —
comentou Nicole, fazendo-me suspirar.
Bom, não que minha família fosse muito abaixo deles. Só não tinha
tanto quanto. Papai, Michael Turner, foi um famoso escritor de polêmicas do
New, um jornal famoso em Newport, o que lhe rendeu uma boa aposentadoria.
E minha mãe é uma ex-estilista, ficou bastante tempo atuando junto a Hilary
Monroe, mas ela acabou saindo quando descobriu que estava grávida de mim,
voltou anos depois, mas se aposentou aos cinquenta anos.
Enquanto Hilary subiu mais e mais em sua carreira. Eu as admirava, foi
daí que veio minha vontade para estudar moda. Eu vivi com todas as teorias,
cores e desfiles, e quando eu finalmente cresci, só sabia de uma única coisa: eu
queria ser como elas.
— Com toda certeza ela é a pior das influências para crianças —
respondi enquanto caminhávamos em direção à mansão, com as mãos suando e
o coração palpitando.
Fomos abraçadas pela alegria da família Monroe assim que passamos
pela entrada da residência. Archie e Catarina já haviam voltado e estavam ao
nosso lado, enquanto Hilary caminhava em nossa direção. Na sala de estar bem
decorada e espaçosa estava os pais de Elizabeth, a avó, minha melhor amiga e o
noivo.
Hilary Monroe poderia ser definida em uma cor: amarelo. A cor da
alegria, pelo menos era isso que eu achava. Tão idêntica a todos daquela enorme
e poderosa família, a senhora Monroe tinha espessos cabelos loiros presos em
um coque estiloso no alto da cabeça, a blusa preta de seda marcava o busto
avantajado, e o corpo bem delineado por horas de academia estava escondido
embaixo da calça pantalona de alfaiataria preta. O sorriso constante no rosto
contracenava com belos olhos azuis, que me lembrava Elizabeth, e eu tive um
breve déjà-vu.
— Filha! — exclamou, espevitada, atraindo a atenção de todos na
pequena sala. — Querida, quanto tempo não vem ver sua mãe postiça.
Sorri, recebendo o abraço tão reconfortante quanto de alguém da
família. No fim, eles eram minha segunda família.
— Fiquei sabendo que você está na pista, querida. Rum, não gosto disso.
Minhas meninas foram feitas para viver um grande amor, e eu já consegui isso
com Liza, apesar dos pesares e não vou desistir de você. — Gargalhei com suas
palavras, afastamo-nos ainda de mãos dadas. Vi George Monroe se aproximar
com os braços dados com Liz e a vovó Monroe, que ria de alguma piada do
filho.
— Nem pensar, senhora Monroe — brinquei, vendo-a rir e abanar a
mão. Logo em seguida, Archie foi para seus braços, abandonando Catarina, que
ficou toda boba com a facilidade e amor que o meu pequeno emanava. —
Senhor Monroe — falei educada, antes de abraçá-lo.
Senti o cheiro típico de cigarro e perfume masculino, lembrando-me das
tardes que George Monroe e Michael Turner passavam assistindo jogos de
futebol americano na televisão.
— Querida, como está enorme. — Sorri, afastando-me e vendo o quão
generoso o tempo foi com todos. Nem sequer tinham cabelos brancos ainda. —
Fico feliz em vê-la tão linda e saudável, mas nada de casar-se, hein!? Já basta
essa loucura da Elizabeth.
Rimos, ele falava assim, mas amava Benjamin como um filho, apesar
dos ciúmes.
— Pode deixar. — Bati continência, passando para a vovó, que me
abraçou rindo e brincando, como todos na casa. Por fim, abracei minha melhor
amiga, sentindo o cheiro do seu perfume favorito. — Agr, estava morrendo de
saudade! — exclamei rindo enquanto ela me fazia pular em animação.
— Eu também, Liv — resmungou ainda abraçada a mim. — Tem tanta
gente da família que eu estou ficando sufocada. — Rimos, a família de
Elizabeth era enorme, e apesar de serem todos muito unidos e engraçados, uma
hora até isso cansava.
— Ah, finalmente eu cheguei para alegrar sua vidinha chata — zombei,
saindo do abraço.
— Hum, nada a ver. O que vai me tirar do tédio mesmo é esse gostoso
da tia — brincou fazendo voz de bebê para Archie que riu, escondendo o rosto
na curva do pescoço de Hilary. — Não se esconda, pequeno guerreiro, eu vou
encontrar você.
Sorri, caminhando até Benjamin, deixando-os babando no meu pequeno.
— Finalmente chegou o duende da festa. — Fiz careta com seu apelido.
— Como você está? — indagou, abraçando-me. Uma característica típica de
Benjamin era sua superproteção com todos, era engraçado e fofo aquilo.
O homem de quase um metro e noventa de altura, olhos escuros, cabelos
castanhos médios e o maxilar coberto por uma fina barba que era simplesmente
de tirar o fôlego, e ele combinava perfeitamente ao lado de Elizabeth Monroe, o
par perfeito.
— Estou bem, um pouco cansada. Andei quase correndo nos últimos
dias para entregar todos os pedidos na data certa antes de viajar, meus dedos
doem e minha mente protesta com a possibilidade de uns dias na praia. —
Rimos, afastei-me vendo seus olhos pregados em Archie no colo de Liz. —
Vocês vão ser pais tão babões. — Vi o sorriso genuíno nascer em Ben, e
observei seu novo visual com os óculos redondo de aro fininho.
— Ah, devo dizer que estou ansioso para isso. — Suspirei, vendo-o com
todo aquele olhar apaixonado para Liz.
— Perfeitos juntos — escapou dos meus lábios, fazendo-o sair dos seus
pensamentos.
— O que disse?
— Ah, você e Elizabeth, são tão perfeitos juntos que chega a doer. — Os
olhos de Benjamin brilharam com as minhas palavras. E eu tive certeza de que
aquele brilho era a meta de amor que toda mulher desejava.
— Sim, eu a amo tanto que não vejo a hora de estarmos oficialmente
casados. — Sorri. — Agora vá descansar. E tirar essas enormes bolsas dos
olhos. — Fiz careta para Benjamin e o vi rir da minha expressão.
— Ora, não posso descansar enquanto Archie não decidir que é legal
dormir — resmunguei.
— Vá dormir, mãezinha, não quero mais você. Apenas minha dinda
maravilhosa! — ouvi a voz de Liz, na verdade, a voz de robô que ela imitava,
causando risos em Archie.
— Não fale isso duas vezes, que juro que você vai ter que lidar com a
agitação de um garotinho de quatro anos e meio — falei e Eliza riu, beijando a
bochecha rosada do meu filho.
— Pode ir descansar, Liv, eu fico com ele, né, Archie? Mamãe pode
descansar? — perguntou olhando para ele.
— Pode sim, mamãe. Fico com a dinda — disse, abraçado a madrinha
que ele tanto amava.
Sorri, beijei sua bochecha e procurei saber em qual quarto da enorme
casa ficaríamos, assim que Liz me deixou lá, saiu correndo com Archie e eu
capotei na cama, sem nem mesmo tirar a roupa da viagem. Meu último
pensamento antes de adormecer foi: o que eu faria agora?
Eu não o havia visto. Mas será que ele já havia chegado? Será que ele se
lembraria? Será que reconheceria os traços dele em Archie?
O povo pensava que me fazia de boba. E com isso comecei a usar minha
lerdeza ou como eles pensavam “falta de noção” para observar coisas ao meu
redor, e descobri que às vezes saber um segredo pode ser angustiante. Era uma
pessoa observadora — mamãe dizia que isso era desculpa para não dizer
fofoqueira —, e no fim, eu passava mais tempo observando as pessoas do que
realmente falando.
Vi Olivia chegar com Archie e as meninas, rindo e conversando com
todos, mas eu conhecia aquela garota desde o jardim de infância, e apesar dela
nunca me contar a verdade sobre o pai de Archie, eu a amava e conseguia ler as
entrelinhas. Ela estava tensa. Eu via isso a quilômetros, e sabia o motivo.
Olivia sempre foi uma irmã para mim, cresceu na minha casa, comigo
passando noites na sua casa, e quando ela disse que estava grávida, eu tentei
descobrir de quem era aquela criança, mas ela nunca me contou.
E a partir disso, evitou todos os encontros da minha família.
Eu nunca consegui fazê-la dizer em voz alta sobre o nome do pai de
Archie, mas a minha amiga era fraca para bebida e quase vacilou. Várias vezes.
Observar me fez juntar tudo, criando um grande mosaico.
Eu sabia de uma coisa, foi o primeiro homem da sua vida, então concluí
que não havia como ser ninguém mais, pois ela ficou grávida depois da sua
festa de aniversário e descobriu isso poucas semanas depois. E os únicos
rapazes que estavam em sua festa não conseguiriam gerar a lindeza que era meu
sobrinho.
Não mesmo.
Foquei no momento desviando meus pensamentos. Justin riu de algo
que Benjamin disse e eu me aproximei caminhando até onde estavam e
segurando Archie pela mão.
Eu sabia que estava fazendo algo que poderia me arrepender, mas Liv
vivia cercada de amigos, e queria alguém para amar. Já Justin não tinha nenhum
dos dois.
Justin costumava dizer que nunca amaria ninguém como amou Aubrey,
mas eu sabia que isso não era totalmente verdade. O coração humano é feito
para amar, e mesmo que a gente recusasse isso, ele continuava latejando por
sentimentos intensos, a esposa deles.
— Bebendo, Justin, você está velho para isso, daqui a pouco cai no mar
— brinquei, aproximando-me, Ben pegou Archie no colo enquanto me sentei no
meio dos dois, encarando meu primo com um sorriso enviesado.
Ele suspirou.
— Eu não gosto desse seu sorriso, Elizabeth — retrucou, olhando
brevemente para Archie e fazendo um vinco se formar entre suas sobrancelhas.
— Mas me diga, noiva, feliz?
Tornei a rolar os olhos quando ele focou em mim novamente, não
percebendo a semelhança clara entre ele e seu filho.
— Melhor do que nunca — foi tudo que disse, afastando-me levemente
para encarar Archie e em seguida, Justin. Vendo que eles tinham até mesmo o
estilo de roupa parecido.
Sorri, pensando em quão perfeito seria quando tudo se acertasse e eles
pudessem ser uma família. Uma família grande e feliz, pois Olivia e Justin
mereciam. Mereciam muito tudo isso.
Justin Monroe era simplesmente maravilhoso, e ele sabia disso. Alto,
forte e com um péssimo gosto de roupas em tons escuros, o cabelo loiro se
destacava, os olhos azuis davam um ar ainda mais lindo a ele. O maxilar
travado e coberto por uma fina barba finalizava o visual característico de um
Monroe.
— Este é Archie Turner, filho de Liv — apresentei meu pequeno, que
estendeu a mãozinha de forma fofa.
— Prazer, senhor. — Sorrimos com a formalidade do garoto. — O que
vocês tão rindo? — indagou com curiosidade, Justin apertou a mão de Archie,
encarando-o com intensidade. Senti meus olhos úmidos ao ver quanto tempo se
passou, o que eles perderam da vida um do outro, e eu só podia sentir meu
coração se enchendo de dor e felicidade ao vê-los finalmente juntos.
— Prazer, Archie, me chame de Justin — Justin respondeu sorrindo para
Archie, eu sufoquei o suspiro ao ver a semelhança entre eles. Os cabelos loiros
idênticos, os olhos, e o sorriso. Tão parecidos que chegava a doer.
Olivia não teve muita sorte com a aparência de Archie, já que o menino
era uma cópia fiel ao pai, até mesmo na personalidade mais introvertida,
enquanto a mãe era dada a atos exagerados.
Archie fez uma expressão pensativa, logo em seguida sorriu, estendendo
os bracinhos para Justin, que sorriu com garoto dengoso que se exibia depois
que passava a fachada mais séria, porém meu primo o pegou no colo,
bagunçando os cabelos loirinhos.
Eu sentia a estupidez do meu primo de longe, ou ele não lembrava da
noite que ele e Olivia se emaranharam na cama, ou se fazia de louco, pois as
pistas brincavam na sua frente e ele continuava lá.
— Ah, e eu vou ser o novinho — contou Archie, mexendo as mãos
enquanto estava sentado no colo de Justin, que ouvia tudo atentamente.
— Vou ali, querida — Benjamin disse, antes de beijar meus lábios e se
retirar. Suspirei, voltando-me para os meninos.
— Vamos, Archie? Tenho que chamar as meninas para o lanche da
tarde. — Fiz careta para a programação exagerada da mamãe. Justin riu,
beijando a bochecha do pequeno e em seguida fizeram um cumprimento.
— Alguma dama de honra bonita e não pirada? — ele perguntou, com
um sorriso sacana no rosto.
— Agora você quer uma das minhas damas de honra — debochei.
— Sim, mas não para casar — avisou, fazendo-me rolar os olhos.
— Não, além de... — Justin não me deixou terminar.
— Não, Elizabeth, Olivia nem pensar. — Suspirei, mantendo minha
boca fechada, pois Archie estava atento à nossa conversa.
— Por que não? — indaguei intrometida.
— Nem vi Olivia, não sei nem se temos isso, Elizabeth, além do mais,
ela é meio louca pela ideia de um amor. — Fez careta, fazendo-me rir.
— Essa Olivia que você se lembra tinha doze anos, Justin, você não
pode julgar alguém pelo seu passado. — Ele riu, negando com a cabeça.
— Mesmo assim, eu recuso. — Revirei os olhos.
— Dinda, por que ele não gosta da minha mamãe? — Archie perguntou,
olhando de mim para Justin e novamente para mim.
Abri a boca, vendo meu primo corar.
— Não é que eu não goste, Archie, na verdade, a Olivia que estamos
falando não é nem sua mamãe. Entende, querido? — Justin tentou explicar sua
falha, isso me fez rir. Archie pareceu não acreditar muito nas palavras dele, mas
assentiu.
Virou-se para mim, com um biquinho manhoso na boca.
— Quero minha mamãe.
Sorri.
— Vem, amor, vamos buscar sua mamãe. Deixa esse chato aí. — Peguei
a mão do meu sobrinho e caminhei de volta para a mansão, passando por vários
parentes e amigos mais próximos que já estavam hospedados por aqui. Cheguei
a uma única conclusão: meu trabalho de cupido não seria nada fácil, porém, eu
nunca fui uma pessoa que desistia fácil.
Eu ainda iria receber um convite com o nome de Olivia Turner & Justin
Monroe lhe convidam para a cerimônia de enlace matrimonial. Ou eu não me
chamava Elizabeth Monroe.
Ah, e eu ainda teria muitos sobrinhos, todos loirinhos e tão especiais
quanto Archie. Suspirei, feliz com meus planos de cupido. Contudo, sabendo
que teria muita tarefa pela frente.
Sorri das palavras de Elizabeth sobre os preparativos, enquanto comia
meu bolinho de laranja com chocolate no meio, observando Archie brincar
animadamente com Caroline — sobrinha de Benjamin.
— Oh, sim. Claro que sim, inclusive, a despedida de solteira está sendo
organizada por mim e a vovó, minha avó é velhinha, mas a criatividade dá de
dez a zero na minha. — Eu a ouvi parar e rimos com a avó dela planejando a
despedida.
Suspirei, bebendo um gole do suco de laranja, que desceu de forma
ácida. Lembrei-me da forma que Archie ria para Justin quando ele pegou meu
filho no colo, senti meu coração pequeno com a cena.
Sim, eu havia visto. Tinha acabado de acordar e observava a
movimentação da mansão pela janela do quarto, quando vi Elizabeth se
movimentar com Archie, conversando e rindo até chegar a Justin, que tratou
meu pequeno cheio de sorrisos.
Fechei os olhos, sentindo a dor de cabeça se aproximar, enquanto
engolia em seco sem saber como agir. Uma hora eu iria encará-lo de alguma
forma, só que o medo de que as palavras pulassem da minha boca era enorme,
porém, maior ainda era o medo da forma que ele reagiria.
— Liv! — Catarina me chamou, balancei a cabeça, respondendo de
forma lenta. — Credo, garota. Estava voando.
Sorri, desculpando-me. Não estava me sentindo muito confortável,
estava até mesmo pensando em ficar na casa dos meus pais até a cerimônia, mas
sabia que Liza ficaria decepcionada.
Melhor não.
— Ah, estou com uma dorzinha chata de cabeça — murmurei,
arregalando os olhos ao ver Archie e Carol com os cabelos cheio de areia. —
Deus é mais... — As meninas viraram, para ver o que me causara tamanho
espanto, e riram da cara de traquina dos dois. — Crianças...
Suspirando, concordei que eram as coisinhas mais lindas, mas que no
fim, conseguiam colocar uma casa de pernas para o ar.
— Bom, mas estávamos falando da despedida de solteira, né? — Liza
assentiu diante o questionamento de Catarina, olhando-me estranho. — Estou
ansiosa, sempre imaginei despedidas de solteiras, acho uma coisa superlegal.
Elas riram do meu exagero, e engatamos na conversa, vira e mexe,
voltando ao ponto do café da manhã das damas de honra e seus companheiros,
junto à noiva e noivo, uma oportunidade perfeita para eu ficar ainda mais tensa.
— Ah, não se esqueçam do café da manhã. Senão irei arrancar todas de
suas camas. — Revirei os olhos para as palavras de Liza. — Não revire os olhos
para mim, mocinha — ralhou comigo, como fazia quando éramos adolescentes.
— Ok, mamãe — respondi irônica, vendo-a rir como criança.
— Certo — Nic interveio. — Não vamos precisar de nenhuma ação
contra a noiva como no filme “a vingança das damas de honra”, né? — Rimos
com a referência. — Ah, não, gente. Minha parte preferida é quando as meninas
pegam a noiva e a colocam contra a parede, simplesmente, magnífico. Um dia
ainda irei usar uma cena dessas em minha vida.
Gargalhei, lembrando-me da comédia romântica que sempre estava na
nossa lista de filmes nas noites de pijama, que agora não era nem mais tão
frequente, porém, deixava saudades.
— Nada a ver, Nicole. A parte perfeita é quando elas rasgam o vestido
da noiva... — Catarina comentou e abriu os braços para expressar sua felicidade
pela vingança maléfica de Abigail e Parker. — Simplesmente perfeito, eu faria
o mesmo.
Tornei a rir. Aquele ato era realmente algo de Catarina, enquanto Nicole
apelaria para o lado racional da situação.
— E a sua, Liv? — Elizabeth indagou, batendo palmas, esquecendo
completamente do porquê que estávamos ali.
— Eu adoro as cenas que tudo começa a dar errado para aquela noiva
fajuta. — Revirei os olhos, em meio a um suspiro. — O pula-pula de parque, as
flores erradas, as estátuas de gelo. — Tornei a suspirar. — Melhor vingança da
vida.
Continuamos falando sobre a comédia romântica, logo pulando para as
outras e quando vi, o sol já se punha no horizonte, o jantar seria servido em
breve e eu achei melhor levar Archie para um banho, já que ele estava
parecendo um porquinho, com areia até onde não deveria existir.
Fiz tudo em modo meio automático, respondendo ao que meu filho
perguntava, ajudando-o a tomar banho e brincando com ele de forma
automática, pois estava tão tensa que pensei que a qualquer momento
desmaiaria no chão. Assim que eu terminei de vesti-lo, ele se enrolou no meio
da cama.
— Nada de dormir, Archie, ainda não jantou — resmunguei. Ele me
encarou, abrindo os olhinhos e fazendo bico. A cena era tão clássica que me fez
sorrir para ele.
— Só um pouquinho, ok, mamãe? — perguntou juntando os dedinhos
um próximo ao outro, fazendo-me rir.
— Só um pouquinho — confirmei, ele logo se virou de costas, puxando
o lençol para cima de si, e eu entrei no banho, demorando embaixo do chuveiro
sentindo meus dedos se enrugando com a água gelada.
Eu deveria falar, eu sei que deveria. Mas não sabia como fazer isso, não
era tão fácil assim. Como chegaria no pai do seu filho, cinco anos depois e diria
que escondi a existência dele?
Senti as lágrimas salgadas de arrependimento se misturar com a água
enquanto eu abraçava a mim mesma, sentindo raiva e mágoa das minhas
próprias decisões. Por que eu não enfrentei o problema de frente anos atrás? Eu
simplesmente era muito medrosa, achei que ele recusaria, estava no auge da
vida e não iria querer um filho. Que sua família não aprovaria, um filho fora de
um relacionamento, ou ele até mesmo poderia dizer que aquele filho não era
dele.
Eram muitas questões, todas elas doíam meu coração, partia a cada vez
que eu olhava para Archie e o via crescer, sem conhecer seu pai, sem ter o
menor conhecimento de amor paterno. Vê-los juntos abriu algo dentro do meu
peito, fazendo-me ver com ainda mais visibilidade a semelhança entre os dois.
Saí do banho meia hora depois, com meu corpo tremendo pelo frio,
enrolei-me no roupão macio e quentinho, sentando-se na cadeira perto do
guarda-roupa. Encarei minhas mãos, enrugadas enquanto as lágrimas insistiam
em cair.
Sabia o que fazer. Exatamente o que eu tinha que ter feito cinco anos
atrás, mas novamente, eu não sabia como.
Sorri para imagem do meu filho dormindo de boca aberta, o lençol
cobrindo parcialmente o corpo pequenininho, as bochechas rosadas, os enormes
cílios, os cabelos caindo sobre a sobrancelha e eu senti meu coração pequeno.
Eles eram idênticos. Não havia nada de mim em Archie, ele era a cópia
perfeita do pai. Nem sabia como ele não havia notado isso.
Entrei dentro do vestido rosa, rodado que ia até a o joelho, calçando
minhas sandálias trançadas na frente, prendi meu cabelo no alto da cabeça,
passando pouca maquiagem no rosto, apenas para disfarçar a cara de quem
havia chorado horrores. Passei meu perfume favorito, que eu usava desde que
tinha quinze anos, e caminhei para cama, pronta para acordar Archie, mas foi só
me aproximar que um sorriso bobo saiu dos meus lábios.
Passei meus dedos em seu cabelo, sua bochecha e me inclinei para beijar
o rostinho com cheiro de bebê, sorri com isso, apaixonada demais pelo meu
filho para continuar privando-o de algo.
Eu iria contar. Era fácil, bastava eu ficar longe de qualquer contato a
mais com Justin Monroe, pedir para falar com ele em particular, mas com
alguém de confiança por perto, e contar a ele como tudo aconteceu. Pedir
perdão e implorar caso ele quisesse tirar meu filho. Sim, implorar. Eu faria
qualquer coisa para continuar com meu anjinho, nada no mundo o tiraria de
mim.
— Archie, querido, vem, acorde. — Ele resmungou, virando para o
outro lado. Sorri. — Ah, sim. Vou deixar meu bebê dormir, mas que pena, fiquei
sabendo que terá bombas de chocolate da tia Beck.
Ele se sentou, coçando os olhos, sonolento, fazendo-me gargalhar.
— Não, Archie quer bombas de chocolate. — Eu o peguei no colo,
ainda rindo enquanto caminhávamos para fora. Archie Turner amava chocolate
da mesma forma que amava super-heróis. — Mamãe, o tio Romeo vai chegar
quando?
Encarei-o, pensativa. Estava me fazendo a mesma pergunta, Romeo
ainda não havia chegado, e isso me preocupava, pois Elizabeth já estava ficando
louca com o atraso do primo.
— Não sei, querido. Espero que em breve — respondi, trancando a porta
do quarto, ouvi passos do outro lado, atraindo minha atenção. Tentei não me
mostrar tão surpresa ao ver Justin Monroe saindo do quarto em frente do meu.
Ele nos encarou abrindo um sorriso ao ver Archie em meus braços.
— E aí, garotão? — falou, fazendo um movimento com as mãos junto a
Archie, o que fez o menino rir e estender o braços a Justin. Arregalei os olhos.
— Filho! Você não pode sair pedindo colo para todo mundo. — Meu
menino riu, porém não abaixou os bracinhos, e logo estava nos braços do pai,
que ele ainda não conhecia como pai.
Meu coração se apertou.
Justin sorriu com isso.
— Ah, mamãe, é o tio Justin. Eu conheço ele. — Deu de ombros,
fazendo-me rir. Justin me encarou de verdade pela primeira vez desde que nos
encontramos no corredor, os olhos azuis analisando-me de modo demorado,
fazendo minhas bochechas corarem.
Justin estava mais lindo do que nunca, disso eu tinha plena certeza. O
cabelo loiro escureceu com o tempo, as covinhas se tornaram mais evidentes, e
o sorriso mais aberto. O suéter azul marinho destacava o tom dos olhos, com as
pernas grossas abraçadas a uma calça jeans e fiz essa análise o mais breve
possível.
Chegando à conclusão de que ele estava mais gostoso do que a última
vez que o vi.
— Olá, Olivia. — Tentei não me sentir afetada com a forma que meu
nome soou em sua boca. Sorri, na verdade, forcei um sorriso.
— Olá, Justin — respondi rápido. Cocei a garganta, tentando controlar
meus olhos, que procuravam pela aliança que deveria estar no seu dedo anelar,
mas nada encontrei. Engoli em seco com o susto desta constatação. — Vamos
descer?
Ele assentiu, descendo as escadas de dois em dois, fazendo Archie pular
em seu colo, causando risos altos nos dois. Desci mais atrás, sentindo-me
excluída e com medo.
Visivelmente, meu filho já o adorava. Como reagiria ao saber que ele era
seu pai? Bom, eu duvidava muito que fosse algo diferente. Archie já tinha por
ele aquela fascinação que apenas Benjamin, Alex e Romeo haviam conseguido.
Ele já o amava, sem nem mesmo o conhecer. Archie tinha essa
personalidade, era aberto demais a novos sentimentos, novas pessoas. Enquanto
eu parecia um casulo, negava-me a cada mísera mudança.
Elizabeth foi a primeira a ver a cena dos dois, juntando-se na bagunça
que eles criaram, Justin fazia aviãozinho com Archie, levantando-o para cima e
girando-o, o que fez o menino rir até se deitar no chão da sala, cansado.
Eu me senti perdida durante todo o jantar, com um bolo se formando na
garganta a cada vez que eu via meu filho pulando de colo para colo, brincando
com a família de Elizabeth, sorrindo e sendo bem recebido por todos.
Era um encontro de almas que, mesmo sem saber, se reconheciam. E eu
me senti triste, por tê-lo tirado isso.
Ouvi a cadeira ao meu lado ser puxada assim que o jantar acabou, e o
vinho foi servido enquanto as pessoas se dissipavam pela casa. Sabia quem
estava sentado ao meu lado, sua presença era imposta de forma que eu não
precisava olhar para saber.
— Posso saber o porquê dessa cara? — indagou Justin, fazendo-me
encarar o prato vazio. — Ah, ainda está com fome?
Não evitei o sorriso, lembrando-me de todas as vezes que ele vinha
passar as férias na casa de Elizabeth, junto com Romeo, e todos os nossos
colegas, fazíamos a festa em Nye Beach, como crianças ávidas pela vida.
Era bom ter lembranças felizes com Justin, pois eu tinha a certeza de
que em breve não seria assim.
— Ah, não. Eu estou bem. — Forcei um sorriso. — Você não tinha se
casado?
As palavras pularam no segundo depois, coloquei a mão sobre a boca.
Fazendo-o travar, e sorrir de leve em seguida.
— Sim, mas ela faleceu, há dois anos. — Soltei um suspiro desajeitado
com a revelação, e saberia disso se tivesse procurado saber da vida do pai do
meu filho. — Acidente de carro.
Soltei um arquejo, encarando a mesa novamente.
— Eu sinto muito — gaguejei, fora de foco. Encarei-o novamente. —
Eu não fiquei sabendo.
O sorriso em seu rosto era automático. Como se Justin tivesse ensaiado
isso nos últimos anos.
— Tudo bem, acho que foi superado. — O seu tom dizia tudo, menos
que havia sido superado.
— Hum... — murmurei. — Pensei que ainda estivesse, Elizabeth não
havia comentado nada. — Era a única coisa que eu poderia falar sem correr o
risco de vacilar.
— Sim, eu pedi uma certa descrição sobre o assunto. Não é algo que eu
goste muito de lembrar. — Assenti, como quem compreendia, mas no fim, eu
não entendia nada. Não entendia a dor de perder quem se amava. Acho que não
queria saber, pois no fim, me conhecia e sabia que não era forte o bastante.
— E você, como tem sido a vida de mãe? Confesso que fiquei surpreso,
também não comentaram nada comigo. — Engoli em seco, tendo certeza de que
estava entrando em um assunto perigoso. Mas não podia deixar de notar o quão
superficial a conversa parecia.
— Ah, tem sido uma mistura de sentimentos. Archie é a razão para que
eu todo dia acorde e tente fazer o melhor, ele é, na verdade, a melhor coisa que
aconteceu em muito tempo, apesar de todas as dificuldades impostas. — Senti
meus olhos úmidos, porém, assustei-me ao sentir sua mão quente sobre a minha
em meu colo.
Ele percebeu meu susto, e retirou o gesto, sorrindo.
— Ele é muito especial, a gente vê isso na forma que ele se dá tão bem
com todos. — Rimos ao ver Archie e senhor Monroe fazer uma competição de
caretas. — Está meio lotado aqui, e todos parecem bem, que tal tomar um vinho
e ver as ondas?
Minha mente travou. A última vez que eu misturei algum tipo de bebida
e Justin Monroe eu terminei em sua cama, perdi minha virgindade e isso me
trouxe um filho. Isso seria uma boa ideia?
— Ah, vai, Liv. Pelos velhos tempos... — Piscou, sorrindo e eu tive
plena certeza de que ele tinha lembranças daquela noite. Senti meu estômago se
revirando enquanto permanecia sentada, ereta e dura na cadeira. Justin levantou,
pegando uma garrafa de vinho quase cheia e duas taças vazias, estendeu a mão,
que eu aceitei depois de muito pensar, sentindo minhas bochechas vermelhas
enquanto saímos do recinto, encontrando Elizabeth e Benjamin aos beijos no
caminho, porém, isso não impediu que ela nos lançasse um olhar cheio de
curiosidade.
— Aonde vão? — indagou, franzindo o cenho.
— À praia — Justin respondeu por mim, balançando a garrafa no ar,
como se explicasse tudo.
Elizabeth tentou esconder o sorriso, mas eu notei, mesmo assim, não
evitando revirar os olhos.
— Certo... — Ben disse incerto, e nós nos afastamos com pressa. Estava
mais atrás, observando Justin caminhar em minha frente. Observando os
ombros largos dentro do suéter, movendo-se e isso atraiu minha atenção
novamente para todo seu corpo.
Não. Eu não podia complicar as coisas ainda mais.
— Não posso demorar muito, Justin, Archie pode notar minha ausência
— falei tirando minhas sandálias para sentir a areia contra meus pés.
— Calma, Liv. Tenho plena certeza de que todos naquela casa estão de
olho no pequeno. — Piscou novamente, meu corpo tombou ao seu e eu dei um
passo para trás, afastando-me o máximo que consegui. Observei o sorriso
sacana que Justin Monroe me lançou. Encheu as taças de vinho, estendendo-me
uma. — Pelos velhos tempos.
Brindamos sorrindo um para o outro, e mesmo com aquela sensação de
que estava pisando em um chão falso, eu prossegui, permitindo-me apreciar a
companhia daquele homem.
Mesmo sabendo as contraindicações.
Mesmo tendo um segredo que o envolvia.
Eu acho que estava hipnotizado.
Eu não sabia explicar a razão dos meus atos.
Pois no instante que vi Olivia Turner segurando o garoto espertinho
entre os braços, senti meu coração vacilar e a imagem da noite de cinco anos
atrás voltou com força em minha mente. Mas, naquela época, Olivia não
chegava nem à metade de tudo que estava hoje.
Ela era mãe, estava mais velha, mais bonita e consequentemente, mexeu
comigo. Como ninguém fez desde que conheci minha falecida esposa. Acredito
que não seja nada próximo ao que houve com Aubrey.
E talvez fosse praga de Elizabeth, mas segui meus atos impulsivos,
aproximando-me dela durante o jantar. E foi ali que paramos, na beira da praia,
encarando as ondas quebrando, ouvindo a música alta de fundo e a vendo
dançar em minha frente, sem ligar se os passos pareciam certos.
Com toda certeza, efeito do vinho que ingeriu.
Ela riu, jogando a cabeça para trás enquanto dançava, balançando no
ritmo da música que vinha da mansão, os pés descalços afundados na areia, eu
vi a menina que eu conhecia desde sempre se mostrar mais velha, mais
divertida.
Franzi o cenho, com aquela estranha sensação de não estar percebendo
algo, porém, o movimento das pernas bronzeadas de Olivia à medida em que ela
se balançava me fez desviar o pensamento.
Olivia e eu nunca fomos melhores amigos nem nada do tipo, apesar de
ela estar sempre por perto, eu a via como a garotinha melhor amiga da minha
prima, nada mais, e nem sabia o porquê de ter me aproximado dela depois do
jantar. Foi um ato impensado, e quando vi, já estava lá.
Ela havia mudado muito com o passar do tempo, hoje até mesmo tinha
um filho. Archie era a coisa mais linda, pequenininho e doce, lembrava-me
muito alguém, mas nada me vinha à mente.
— Ah, Justin, vem! — ela exclamou, puxando-me pela mão para
levantar-me da areia fofinha, o movimento colou nossos corpos balançando no
ritmo lento, fazendo-me sentir o cheiro do mesmo perfume que ela usava há
cinco anos.
Quando nos embolamos em uma cama, altos pela bebida e fizemos sexo
por uma grande parte da noite. Sim, eu me lembro, não tanto quanto eu gostaria
de lembrar, mas eu só tinha uma única certeza: fui o primeiro homem que
esteve com Olivia.
Aquilo me assustou por um longo tempo, pois, poxa vida, era Olivia.
Mas quando o choque passou, eu vi que sem dúvidas fora uma noite
sensacional. Ela era praticamente uma menina, mas não deixou nada a desejar.
Eu sei que eu deveria a ter procurado depois disso, me certificado que
ela estava bem, mas eu não o fiz, e hoje me arrependo por isso. Pois poderia ter
feito as coisas como um homem de verdade, mas poucos meses depois já estava
de casamento marcado com Aubrey.
Porém, talvez tenha sido o destino. Eu não merecia a mulher que ela era.
Apesar do meu corpo visivelmente reagir ao dela. A mulher era boa demais para
mim. Inteligente, decidida, divertida...
Enquanto eu só tinha solidão e um punhado de sentimentos cheios de
conflitos.
No fim da noite, observei seu rosto tranquilo enquanto ela ressonava
baixinho, completamente alheia à minha bagunça interior. Olivia deitou no chão
da praia e adormeceu, eu a trouxe de volta assim que tive certeza de que todos
na mansão já estavam dormindo.
E agora, eu estava aqui, petrificado no lugar, sem acreditar na beleza e
leveza que aquela mulher emanava.
Eu não tinha um coração livre para novos sentimentos. E por isso estava
aqui, encarando aquela novidade em meu caminho, sem conseguir me afastar.
Fechei os olhos, tirei minha blusa cheia de areia, jogando em um ponto
qualquer do quarto. Tranquei a porta para tirar a calça jeans, substituindo por
um short. Eu odiava dormir vestido, mas sabia que se Olivia acordasse primeiro
e nos visse quase pelados, ela surtaria.
E eu me deitei ao seu lado, dando espaço a ela. Meu último pensamento
ao dormir foi Archie — que tinha sido colocado na cama por Elizabeth, a meu
pedido —, o sorriso aberto e doce do menino. Senti meu coração apertado com
isso, mas ignorei a sensação. Não deveria ser nada demais.
Despertei com pressa, o corpo suando e minha cabeça girando de modo
assustador. O corpo de Justin abraçado ao meu foi a primeira coisa que eu
consegui distinguir em meio a um bilhão de pensamentos. Soltei um arquejo de
surpresa. Não. Não. Não. Eu não havia feito isso, havia? De novo? Caralho, eu
sabia que Justin e qualquer dose de álcool era demais para mim.
— Ei, pode parar por aí. Não fizemos nada. — Escutei sua voz, seu
corpo soltou-se do meu, e eu gritei, caindo da cama no alvoroço. Escutei a
gargalhada alta de Justin, que segurava a barriga de tanto rir.
— AI MEU DEUS — ofeguei, sentando-me novamente, notando meu
corpo vestido pela camiseta masculina que deduzi ser dele. — Como eu parei
dentro das suas roupas?! — perguntei, puxando a blusa para baixo.
Ele continuava rindo, porém quando finalmente parou, encarou-me, com
os olhos azuis que pareciam me despir ainda mais. Eu me remexi incomodada,
não gostava da forma que os olhares de Justin mexiam comigo.
— Não se preocupe, Liv. Não cometemos o mesmo erro de cinco anos
atrás, apesar de eu dizer que não foi, propriamente, um erro. — Abri a boca em
choque, tornei a fechá-la e abri-la por mais algumas vezes, como um peixe fora
d’água.
— Você se lembra? — indaguei em um fio de voz, lembrando-me do
propósito que havia feito comigo mesma ontem, antes de sair do quarto. Ele
sorriu de lado, e senti uma leve ansiedade em meu corpo com a beleza natural
daquele homem. Senti vontade de beijá-lo, mas eu já tinha muitos problemas
para arriscar mais um.
— Sim, eu me lembro. Não com muitos detalhes, estávamos meio alto.
Mas eu me lembro de bastante coisa — fez uma pausa, engoli em seco, sem
saber o que falar —, e eu me culpei por um tempo por ter tirado algo tão
importante de você.
Arregalei os olhos, ele riu da minha expressão, aproximou-se, tocando
minha bochecha com a mão livre, enquanto a outra se apoiava na cama.
— Você, Olivia, era apenas uma garota. — Rolei os olhos, eu não era
tão nova assim. — E eu me senti deslocado com a beleza de uma pessoa tão
inexperiente. Agora eu vejo, que você só estava se tornando o que é hoje, uma
mulher excepcional.
Sua mão em minha bochecha enviava calafrios pelo meu corpo, que
estava ereto, duro e incomodado com a atração que queria faiscar dentro de
mim, mas estava reprimida a qualquer custo. Abri a boca, pronta para falar.
— Eu preciso... — A imagem de Archie me veio à mente, dele sendo
feliz ao lado dos familiares na noite anterior, e a possibilidade de que Justin
poderia tirar meu menino bateu com força.
— Você precisa do que, Liv? — indagou e eu pulei da cama. Colocando
toda a distância que eu precisava entre nós.
— Nada... — falei pensativa, vi seus olhos desenharem meu corpo,
passando pela camisa meio aberta na região dos seios, descendo para minhas
coxas parcialmente cobertas. Caminhei rápido para o banheiro, segurando a
peça branca contra meu corpo, escutando uma risadinha sacana vir dele. —
Como foi que eu fui parar nessa blusa?! — quase gritei, para ele.
— Ah, doce Liv, um mestre nunca revela seus segredos — respondeu
sacana, fazendo-me rir. Enquanto eu procurava pelas minhas roupas,
encontrando-as em meio as dele em cima da pia de mármore. Vesti-me com
pressa, lembrando-me da forma que deixei Archie no jantar.
Que tipo de mãe eu era?! A pior de todas, claro. Saí do banheiro
resmungando comigo mesma, e estanquei no lugar, ao ver Justin e Archie
sentados na cama, rindo e brincando como se fossem velhos amigos.
— MAMÃE! — meu pequeno exclamou, pulando em pé e estendendo
os bracinhos. Ele ainda estava vestindo o pijama de carros que ele tanto amava.
Sorri, pegando-o no colo. — Mamãe, a dinda cuidou de mim e nós assistimos
os incríveis e comemos pipoca com brigadeiro — tagarelou, contando-me como
foi a noite ao lado de Elizabeth, fazendo-me rir de toda sua animação.
Sentei-me na beirada da cama de Justin, para beijar a bochecha de
Archie e sorri para cada palavra que ele emitia.
— Aí, quando o filme acabou, o tio Ben estava dormindo e roncava
parecendo um urso! — Gargalhamos, coloquei Archie no chão, segurando sua
mão. — A senhora estava onde? — indagou, encarando-me com aqueles
olhinhos pidões que eu tanto amava.
— O Justin levou a mamãe para um pequeno passeio — tentei explicar
sem mentir ao meu filho, ele encarou Justin, e voltou-se para mim. Deu os
ombros e disse:
— Ah, eu gosto do tio Justin. — Simples, ele achava que resolvia todos
os problemas da mamãe em simplesmente gostar de Justin.
— Eu gosto do Archie também — ele respondeu ao meu filho, pegando-
o no colo e girando-o, como ontem à noite, arrancando gargalhadas dele.
Deus. Eu tinha que fazer isso, eu tinha que contar a ele. Não era justo
guardar esse segredo só para mim, eu queria falar, mas algo me prendia, talvez
o medo do que poderia acontecer. Senti meus olhos úmidos e os olhos dos dois
se focaram em mim segundos depois.
— Tá tudo bem, mamãe? — Archie perguntou, quando Justin o colocou
sobre a cama novamente. Ele caminhou sobre o colchão, parando em minha
frente.
— Está sim, querido. Vem, temos que ligar para o tio Romeo e ver onde
aquele malandro se meteu — o chamei brincando, fazendo-o rir.
— É, tio Justin. O senhor tá sabendo? Meu tio Romeo é um malandrinho
— Archie disse, balançando o indicador na frente do rosto, arrancando risos de
Justin, que se abaixou, ficando cara a cara com Archie.
— Eu conheço Romeo, e ele com toda certeza é um malandro mesmo —
confirmou, fazendo meu pequeno juntar as mãozinhas em concha na frente dos
lábios, dando uma risadinha gostosa.
Levei Archie para o quarto, para nos prepararmos para o café da manhã
de iniciação. Temi por isso, esperava que apenas Elizabeth tivesse visto minha
fuga com Justin, senão iria ter que explicar a todas elas o que eu estava fazendo
com Justin Monroe. E isso com toda certeza não era algo que me agradava.
De hoje não passava. Justin precisava saber da verdade.
— Onde você está, Romeo?! Sua prima vai ficar louca se você não
chegar o mais rápido possível. — Rolei os olhos, sentando na bancada da
cozinha enquanto ouvia resmungos das minhas amigas na sala, estava tentando
falar com Romeo há meia hora e nada, ele finalmente atendeu minha chamada
depois de muita insistência.
— Ah, Liv. Meu amor... — Segurei o riso ao ouvir a voz masculina
tentando me ganhar com seu charme. Quando eu falei que Romeo era um
malandro, eu não estava brincando. — Minha viagem atrasou, mas fale para a
sem sal da Elizabeth que estou a caminho.
Revirei os olhos, ele e a prima não tinham jeito. Qualquer coisa era
motivo de implicância.
— Não quero saber, Romeo! Quero você aqui neste bendito fim de
mundo antes do café da manhã para as damas de honras e seus pares. Ah, ou eu
preciso refrescar sua memória de que eu sou seu par? — esbravejei, escutando
sua risada sacana. Eu tinha plena certeza de que ele já estava na cidade, e estava
enrolando para encontrar sua família.
— Mamãe! Mamãe! É o tio Romeo Malandrinho?! — Archie perguntou,
pulando de um pé para o outro em animação.
— É sim, querido. Quer falar com ele? — indaguei, vendo-o balançar a
cabeça com rapidez.
— Posso saber por que seu filho está me chamando de Romeo
Malandrinho? — Segurei o riso. — Olivia Turner, você é o amor da minha vida,
mas odeio quando você me dá apelidos tão poucos masculinos e viril como eu.
Rolei os olhos diante sua petulância, rindo com isso. Romeo era uma
peça.
— Ah, querido, amor da minha vida, escapou né? E sabe, nada passa
despercebido pelas crianças. — Podia vê-lo rindo e rolando os belos olhos.
— Ah, tanto faz. Passe para o Archie. — Sorri, atendendo ao pedido e
entreguei o celular ao meu filho, que riu de algo que Romeo disse e saiu da
cozinha, conversando com o seu tio malandrinho.
Olhei da cozinha em direção à sala, onde Catarina e Nicole brigavam
pela cor que combinava melhor com o vestido que usaríamos no casamento, e
me perdi em meio a xingamentos nada delicados da loira com protestos
exasperados da ruiva. Segurei o riso, vendo Elizabeth tentar intervir entre as
duas, pelo bem da humanidade.
— Pensativa? — Pulei de susto ao ouvir Justin em minhas costas, rindo
pelo nervosismo e sem jeito pela forma inesperada que ele chegou. Ele deu a
volta na banqueta que eu estava sentada, encarando-me com um sorriso.
— Ah, estava vendo a briga das damas de honra. — Apontei para trás
dele e ele se virou, rindo da cena das três patetas.
— Bom, é um casamento. Os ânimos estão à flor da pele — brincou.
— O seu teve toda essa animação... selvagem? — indaguei, ainda
encarando minhas amigas. Evitar encarar Justin era essencial.
— Hum... não. Aubrey tinha amigas rígidas demais para emoções à flor
da pele. — Balancei a cabeça, que queria dizer que compreendi, mas apenas o
encarei, sentindo minhas bochechas coradas.
Justin tinha os cabelos loiros molhados, penteados para trás, a barba por
fazer, a camisa gola polo preta marcava os músculos e o corpo magro e
definido, a calça branca o deixava ainda mais delicioso. Contive um suspiro de
apreciação.
— Então, vai me contar o porquê daquele risinho bobo? — disse,
inclinando-se para frente, sorri com isso. Lembrando-me de Romeo.
— Ah, foi Romeo — respondi pensativa, procurando Archie pelo olhar.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas, dizendo que ele estava
pensando sobre minha resposta.
— O que meu primo fez para te fazer sorrir tanto? — indagou, fazendo-
me dar um risinho sacana.
— Romeo é uma peça, você sabe. Ele e Archie juntos é como uma
bomba relógio. — Ele riu, ia falar algo, mas sua boca se fechou novamente ao
ouvir a voz de Elizabeth vindo até nós. Os saltos altíssimos dela batiam contra o
porcelanato, atraindo totalmente minha atenção.
Justin se afastou, sentando na banqueta do outro lado do balcão.
— Ah, Liv. Estava organizando os lugares para o café, já que tem gente
que ainda não desceu — se referiu a Romeo. — Alex chegou ontem bem tarde
da noite. — Arregalei os olhos, sorrindo. — É, seu sei. A primeira coisa que ele
foi atrás, foi de Archie e brincou com meu pequeno.
— Archie nem me falou nada — comentei ressentida por estar perdendo
meu bebê.
— Bom, eu vi uma falta enorme nos lugares. Romeo teve a cara de pau
de me enviar uma mensagem dizendo que não chegaria a tempo para o café da
manhã. — Segurei o riso, vendo-a bufar. — Juro que vou matá-lo até o fim da
cerimônia, Olivia.
— Ah, não seja assim. Ele não é tão ruim. — Ela me lançou um olhar
duvidoso e eu ri. — Certo, ele é um pouco terrível. Mas qual o problema dos
lugares?
Ela suspirou, fazendo uma expressão parecida com a de um cachorrinho
que caiu da mudança.
— Há um vagão enorme entre você e a próxima dama de honra. Isso é
inaceitável, Liv! — Arregalou os olhos azuis e eu ri.
— Ah, é só isso? — Ela fez uma expressão de indignação. — Está tudo
bem, amiga, eu não vou morrer simplesmente porque Romeo é um safado e não
cumpre seus compromissos.
Elizabeth choramingou, eu estranhei. Minha melhor amiga não era dada
a atos dramáticos.
— Não, você não está entendendo. Esse café da manhã vai ser todo
fotografado para entrar no álbum de casamento, tem que estar tudo
simplesmente perfeito! — Ouvi Justin segurar o riso. — Mas eu já resolvi,
Justin irá sentar-se ao seu lado enquanto eu não arrumo outra pessoa.
Revirei os olhos com a pouca imaginação da minha melhor amiga.
— Isso não vai resolver seus problemas, Liza. Vai ficar um espaço vazio
da mesma forma em Catarina. — Ela pensou por alguns instantes, batendo a
caneta rosa contra os lábios.
— Ah! Já sei. — Fez uma dancinha estranha, bem típico dela e riu. —
Você se senta com Justin e Caty vai se sentar com Jordan. — Ponderei sobre
isso. Jordan era um garoto de dezenove anos que havia sido preso na idade de
quinze, cheio de espinhas e muito inconveniente.
Porém, a ideia de tê-lo ao meu lado era ainda mais animadora do que se
sentar ao lado de Justin. Nós dois juntos, era no mínimo preocupante, sem falar
que eu guardava um segredo.
— Eu não posso me sentar com Jordan? — indaguei, mas ela já havia
girado sobre os saltos e voltado para o salão onde iria ocorrer o café da manhã.
Abri a boca feito um peixe e fiquei ali, estática.
— Bom, bela companheira de café da manhã. Te vejo em breve —
Justin disse, antes de se inclinar, beijando minha testa com carinho. Apreciei o
gesto, sentindo o sorriso bobo brincar em meus lábios ao vê-lo se distanciar.
Minha única certeza a respeito das suas palavras era de que aquilo iria
dar uma enorme merda.
O vestido tinha caído como uma luva, eu me sentia muito bonita com a
imagem refletida no espelho do quarto, meus seios estavam um pouco maiores
pela forma que o tecido os faziam ficar mais juntos, marcava minha cintura,
indo até perto do joelho. Meus cabelos estavam lisos e jogados sobre os
ombros, a maquiagem fraca marcava levemente meus olhos castanhos, e o
batom chamava mais atenção para os meus lábios.
— Você está linda, mamãe. — Virei-me, vendo meu pequeno me
encarando do meio do quarto, com um sorriso lindo no rosto, vestindo um
smoking que comprei para ele. — Minha princesa.
Sorri, abaixando-me em sua frente com os olhos marejados pelo amor
que recebia de alguém tão pequenino.
— Obrigada, príncipe da mamãe. — Beijei sua bochecha, sentindo o
cheirinho do seu shampoo. — Vamos? — perguntei, vendo-o arrumar a gravata
como se fosse anos mais velho. Não evitei o sorriso, chegando à conclusão de
que eu estava o perdendo para idade, ganhando um pequeno homenzinho com
isso.
Daqui para frente, chegaria à adolescência, ele iria me deixar de cabelos
brancos por tudo e eu com toda certeza surtaria. Bom, talvez eu não estivesse
muito ansiosa para que isso acontecesse.
Ele com toda certeza podia continuar sendo um bebê, meu bebê.
— Vamos, o tio Romeo disse que ia acompanhar a senhora. Eu falei
nananinanão — disse ele, enfatizando enquanto balançava o dedinho, não evitei
o sorriso. — Minha mamãe já tem acompanhante.
Concordei, fechando a porta do quarto e descemos as escadas da casa.
Sorri para todos na sala, Nic estava sentada ao lado de Catarina, sorrindo para
algo no celular. Alex conversando animadamente com Benjamin, enquanto
Elizabeth falava algo muito séria a Justin e Romeo.
Senti meu coração golpear como louco em meu peito, ao ver Justin de
terno e gravata, a habitual barba estava feita e o sorriso petulante ao rosto dava
um charme a mais.
Romeo mantinha uma expressão de tédio para o que a loira falava,
olhando as unhas e fingindo desinteresse. Diferente — e ao mesmo tempo, tão
típico dele — de todos na sala, ele manteve a habitual calça jeans, botas pretas,
blusa regata branca e uma jaqueta de couro por cima. Ele estava tão Romeo que
chegava a dar nos nervos.
— Liv! — ela exclamou, rodando rapidamente e me encarou com um
sorriso enorme nos lábios brilhando pelo gloss. O vestido rosa esvoaçante
acentuava as curvas de Elizabeth, deixando-a parecida com uma boneca de
porcelana. — Vem cá, me ajude a convencer o engraçadinho do Romeo que ele
está péssimo assim e preciso que ele use o smoking... — choramingou,
enlaçando meu braço ao seu.
Romeo me lançou um olhar matador, que eu sabia bem o que ele
significava.
— Mas, Liza... — tentei falar.
— Não, Liv, não o defenda. Olha como Justin está, bem bonitinho de
terno e gravata. Por que Romeo não pode fazer o mesmo? — disse, passando as
mãos sobre os ombros de Justin, que sorriu achando graça. — Não é que ele
está bonito assim?
Encarei-a assustada. Ela não estava esperando que eu falasse com todas
as letras que ele estava simplesmente delicioso naquele smoking preto, né?
— Liv, responda! — exigiu, fazendo-me arregalar os olhos.
— Ah, sim. Ele está bem de smoking — respondi meio avoada, sem
encará-lo.
— E não é mesmo que Romeo ficaria ainda mais maravilhoso vestindo
um? — Segurei o riso.
— Sim, ele ficaria lindo, mas, Liza, ele está ótimo assim. Não conheço
uma roupa que se pareça mais com Romeo do que botas e jaqueta de couro. —
Os olhos da minha melhor amiga se arregalaram e a vi choramingar.
Romeo riu, abraçando-me pela cintura e rodando, como se estivesse
dançando valsa.
— Ah, obrigado, meu amor. — Beijou meus lábios levemente, como
fazia em um costume engraçado. Ri, abraçando-o pelo pescoço enquanto ele
comemorava, levando-me para o salão, deixando Elizabeth falando sozinha. —
Vem, vamos dançar e deixar a boba da Elizabeth para lá. Ela não entende nosso
amor — disse, segurando minha cintura, aproximando nossos corpos ao som de
All for me, do John Legend. As mãos de Romeo nas minhas costas me guiaram
pelo salão cheio de gente, conversando baixinho entre nós.
Vi a mamãe beijando as bochechas de Archie, enquanto Hilary ria,
segurando champanhe com a mão livre, enquanto a outra estava entrelaçada ao
braço do senhor Monroe. Procurei papai com o olhar, vendo-o conversando com
o tio de Elizabeth, sorrindo e bebendo champanhe.
Senti meu coração se aquecer de saudade e Romeo notou meu estado,
tirando-me do meio de tantas pessoas dançando.
— Vem, vamos cumprimentar meus sogros — brincou, guiando-me pelo
salão. Percebi que com a vinda para Newport eu quase não cuidava mais de
Archie, ele passava o dia todo pulando de companhia para companhia, e parecia
não se importar com isso.
— Vamos — afirmei e nos aproximamos da minha mãe, que soltou um
gritinho histérico ao me ver, abraçando-me com força. Sorri, morrendo de
saudade dela.
O perfume continuava o mesmo, concluí, ainda abraçada a ela. Senti
meu coração batendo forte contra o peito, fazendo-me ver o quão saudosa
estava dela. Abigail Turner tinha sedosos cabelos loiros escuros, olhos enormes,
cor de âmbar, e sorriso aberto, era um tanto exagerada e dramática, mas
ninguém podia dizer isso a ela.
— Meu amor, que saudade de você, minha princesinha. — Sorri,
limpando a lágrima que caiu dos meus olhos. Tinha quase um ano que eu não a
via pessoalmente, para quem não passava mais de seis meses sem estar com a
família, isso era um recorde. — Está tão linda... você e Archie estão cada dia
mais independentes e a mamãe não sabe lidar com isso.
Sorri, vendo papai se aproximar. Dei alguns passos rápidos até ele,
enlaçando em um abraço apertado, matando a saudade que estava tentada a me
matar. Michael era um homem vistoso, bonito, não parecia ter a idade que tinha.
— Princesinha — murmurou, alisando meus cabelos ainda abraçado a
mim. Eu e o papai sempre fomos muito próximos, com os dois, inclusive. Mas
diferente de todas as histórias que eu ouvia de pai e filho, meu pai era meu
melhor amigo, a única pessoa que eu não escondi nada na vida.
Ele sabia de tudo. Cada detalhe da minha adolescência e isso muitas
vezes o deixou louco, porém me entendeu, depois de muita resistência.
— Como você está, querida? Meu menino está cada dia mais lindo. —
Sorri pela forma carinhosa com que ele falou isso, olhando para Archie.
Comecei a narrar os últimos acontecimentos, contando sobre as crises que
Archie estava tendo e como estava sendo a vida em Nova Iorque.
Romeo se aproximou.
— Querido sogro... — cumprimentou papai, fazendo-o rir.
— Ainda não vi você pedir a mão da minha filha em casamento, senhor
Monroe — meu pai respondeu, e eu prendi o riso.
— Ah, eu vou. Com toda certeza, eu vou sim — Romeo respondeu.
— Odeio quando você me faz de boba, querido — respondi entredentes,
segurando o riso.
— Odeio quando você me deixa sem palavras, amor — ele respondeu,
desviando o olhar. Escutei mamãe e papai rindo da nossa bobagem e vi
Alexandre se aproximar, sorrindo.
— Oh, olha quem vem aí! Se não é o grande Alexandre! — papai disse
animado, fazendo meu amigo rir.
— Como está, seu Michael? — indagou meu amigo, estendendo a mão
em cumprimento.
— Bem, meu filho — respondeu, Alex beijou a bochecha de mamãe,
escutando os elogios dela para a beleza do meu amigo.
— Vim tirar sua filha para dançar, seu Michael. Espero que ela aceite —
o loiro disse, fazendo-me rir com a pose de reverência que ele fazia em minha
direção.
Inclinei-me, fazendo uma reverência boba e disse:
— Acho que não seria tão ruim. — Ele riu, e caminhamos de volta para
o salão. Ouvindo um rock antigo e romântico soar na caixa de som.
Alexandre me girou pelo salão, fazendo-me voltar diretamente para seus
braços, enquanto eu sorria com algo que ele falava.
— Catarina me expulsou da conversa. — Fez careta, fazendo-me rir da
atitude infantil de Cat. — Sua amiga tem probleminhas, Liv, cuide dela. — Ele
revirou os olhos.
— Ah, ela não é tão ruim — a defendi, vendo seu olhar cheio de
incertezas.
Ele riu irônico, e dançamos um pouco mais, até que senti meus pés
doendo e sugeri que fôssemos atrás de algo para beber. Alex me acompanhou
até a mesa, desviando de várias pessoas na pista de dança.
A decoração estava linda, o salão mal iluminado, cheio de pessoas
vestidas de forma elegante e conversando animadamente. Vi a noiva e o noivo
mais à frente, conversando com um casal mais velho. Elizabeth estava radiante,
e Benjamin sorria, observando a noiva argumentar algo.
— É, eles parecem até mesmo ter saído de um comercial de margarina
de tão perfeitos que são juntos — Alex comentou, fazendo-me rir e continuei
encarando-os.
Senti uma pontinha de inveja ao vê-los tão felizes e apaixonados, e
rapidamente me amaldiçoei por isso. Não havia pessoas no mundo que
mereciam mais isso do que eles, não deveria sentir esse sentimento estranho e
ridículo.
Mas eu sentia. Não conseguia evitar.
— Você vai encontrar um amor, Liv. Ele vai amá-la de forma
incontrolável, vai amar Archie e você vai ver esse homem se arrastando atrás de
você. — Sorri com as palavras do loiro. No fim, talvez eu fosse mesmo
transparente em relação aos meus sentimentos.
A casa dos meus pais era de tamanho mediano, dois andares e pintada
em tons pastéis. Havia passado por algumas reformas, e muita coisa mudou
desde que vim aqui pela última vez. Porém, a única sensação que não mudava
era o sentimento de estar em casa.
Meu lugar no mundo.
Archie brincava na sala enquanto papai via um jogo na TV, mamãe e eu
estávamos na cozinha, fugindo dele. Já que o que papai tinha de inteligente,
tinha também de curioso, não podia nos ver juntas.
— Aff. Seu pai não me deixa fofocar — ela resmungou, olhando por
cima do ombro. Fazendo-me rir.
Mexi o chocolate branco que derretia no banho-maria com cuidado,
suspirei ruidosamente e ela me encarou com as sobrancelhas arqueadas.
— Vai, desembucha o que está acontecendo — disse séria. Mordi o lábio
inferior, lembrando do sorriso de Justin ao me deixar com Archie na casa dos
meus pais. Eu tentei recusar a carona, porém ele foi persistente e eu acabei
aceitando. — Já sei, isso tem a ver com Justin, estou certa?
Rolei os olhos pela forma que ela me conhecia. Quando eu disse que
ninguém sabia quem era o pai de Archie, eu meio que menti, na verdade, eu
omiti. Porém, meus pais eram as únicas pessoas que sabiam da verdade.
Parece loucura contar a eles algo que eu queria manter em segredo,
entretanto, eles dois sempre foram meus melhores amigos, e como eu aparecia
grávida e eles não exigiriam saber quem era o pai do bebê? Certo, claro que eles
ficaram muito tempo me falando para contar a ele ou ameaçando contar, só que
eu precisava guardar aquilo só para mim.
E assim as coisas correram, eles me apoiaram e eu cheguei até aqui, mas
no momento sentia que tudo poderia desmoronar com um simples vento.
— É Justin. Archie o adora, ele está se aproximando muito, eu quero
contar, mas eu tenho tanto medo — choraminguei, colocando meu dedo dentro
da tigela com chocolate preto derretido, recebendo um tapa na mão.
Mamãe suspirou, colocando os utensílios sobre a bancada da cozinha.
— Meu amor, não acha que está na hora dele saber? Sabe que não apoiei
sua decisão de esconder isso dele, é algo muito importante, seu filho sofre por
não conhecer o pai. — Senti as lágrimas que reprimia vir, molhando meu rosto.
— Eu sei, mamãe. Eu vou contar, está tudo virando uma bola de neve.
Me arrependo tanto por não ter contado quando tudo aconteceu. — Sentei-me
na cadeira, com minhas pernas tremendo pelo medo.
Ouvi o suspiro alto vindo de mais alguém, levantei o olhar, encontrando
a expressão preocupada de Michael Turner. Ele me lançou um sorriso,
aproximando-se, ficou abaixado em minha frente, segurando minhas mãos entre
as suas.
— Filha, eu lembro bem da primeira vez que você contou a nós sobre
Archie. Não foi fácil ver que minha princesinha agora iria ter que lutar por outra
pessoa além de si mesma, eu fiquei puto da vida. Cara, era minha filha. —
Sorri, limpando minhas lágrimas que continuavam a cair. — Mas apesar de tê-la
apoiado e ficado ao seu lado, nunca achei certo você esconder algo tão
importante. Archie merece saber, Justin também. Eles têm que se conhecer, já
passou da hora deles serem, finalmente, pai e filho.
Solucei alto, abraçando-o com força. E se meu filho ficasse contra mim?
Archie era adorável, pequeno e não entendia muito de assuntos de adultos, e
apesar de eu sempre ter fugido do assunto sobre o pai dele, eu sabia que meu
filho era inteligente o suficiente para entender o que eu fiz.
— Eu vou contar — prometi, mais a mim mesma do que a qualquer
pessoa. — Eu prometo.
Meu pai beijou minha testa, com os braços ainda me apertando contra si.
Vi o rosto curioso do meu pequeno aparecer na porta, preocupado, ele indagou o
que eu tinha, sorri e vi mamãe tentando desfazer sua preocupação, mostrando as
bombas de chocolate que ela estava fazendo.
Assim que entrei em casa após chegar da casa dos meus pais, ouvi de
Hilary que queria falar comigo no dia seguinte. Senti-me recebendo um balde
de água fria, ela estava rígida, e apesar de ter falado comigo com delicadeza,
consegui ver sua tensão a léguas de distância.
Com isso, nem desci para o jantar, já que passei a tarde comendo
besteiras com mamãe, nem tive tanta fome, quando Elizabeth veio me chamar,
apenas pedi que ela trouxesse algo para que Archie jantasse. E assim ela fez,
mesmo curiosa e sem entender meu desânimo.
Prometi que depois falaria com ela. Vi a dúvida povoando a mente da
minha melhor amiga, e sorriu ao falar que eu não fugiria dela no nosso chá das
dez, onde organizaríamos as lembrancinhas do casamento e alguns arranjos que
faltavam, como as músicas que a banda iria tocar ao vivo. A noite não foi das
melhores, pois eu sentia como se estivesse em meio a um fogo cruzado e que
meu tempo estava acabando.
Sorri, inclinando a cabeça para trás enquanto ele tentava organizar meus
fios escuros. Justin estava deitado, com a cabeça entre os travesseiros e não me
viu levantar.
Vesti minhas roupas rapidamente, lembrando que às onze teria o último
ensaio com as damas de honra, e eu teria que buscar Archie na casa da mamãe,
pois ele teria que participar já que era o noivinho.
Joguei meus cabelos para frente, pegando o pente em cima da pia,
passando rapidamente pelos fios emaranhados. Minha cabeça estava uma
bagunça completa, desde o exato momento em que me permiti pensar no que
havia acontecido.
Eu dormi com Justin novamente, mas continuava mentindo para ele. E
isso não me agradava nem um pouco, posso garantir. Mentir não é lá uma das
minhas coisas preferidas, mas era tudo que eu fazia desde que tudo na minha
vida mudou.
Suspirei, voltando à realidade e saí do banheiro, vendo que ele ainda
estava dormindo e caminhei em direção à saída, sabendo que poderia falar com
ele mais tarde sobre o que havia acontecido.
— Pensei que você não fugiria desta vez — ele disse, depois de longos
minutos me encarando, e eu senti o ar preso dentro de mim. — Como da última
vez, sabe? Pelo visto, eu estava errado, você iria fugir de qualquer forma.
Arregalei os olhos, em choque das suas palavras nem um pouco sutil.
Justin riu, levantando com calma e veio até mim, invadindo meu espaço
pessoal.
— Você parece estar sempre fugindo, Olivia. — Revirei os olhos,
evitando encará-lo. — Olhe para mim, você ignora até quando eu a encaro, e
ainda tem a audácia de negar que não.
Inspirei, sentindo meu tempo correndo, meu espaço invadido e parecia
que tudo aquilo era uma armadilha. Porém, ignorei essa situação, Hilary nem
Elizabeth contaria a ele. Elas sabiam que eu nunca deixaria, além do mais, ele
merecia saber por mim.
— Eu não fujo de você! — protestei, sentindo-me uma criancinha de
cinco anos que dizia que não pegou algo ou fez algo. Justin riu, negando com a
cabeça.
— Não?! — indagou em forma de me confrontar, neguei, meio duvidosa
com meus atos. — Então desça comigo, vamos buscar Archie na casa dos seus
pais e quando voltar, iremos tomar um café da manhã decente, só nos três, na
sala de jantar.
Bufei, dando um passo atrás sem acreditar no que ele estava propondo.
Ele viu minha reação, rindo e negando novamente.
— Tenho o ensaio com os noivos. Você também e... — Justin não me
deixou terminar.
— Não, Olivia, você se esconde em meio a desculpas. Deixei espaço
aberto para você falar, mas pelo visto, vai morrer assim. — Mordi a língua, para
não soltar todas as palavras presas na minha garganta. — Você foge, de tudo,
fugiu de mim cinco anos, pelos próximos sete também e está fugindo agora.
Como se nada tivesse acontecido...
Meu rosto estava vermelho, eu não estava acreditando nas palavras dele
e senti-me à beira de um precipício. Eu não podia falar. Eu não podia. Não
assim, do nada.
— Você não sabe nada sobre mim! — gritei, apontando o dedo em riste
e me sentindo ridícula. — Não sabe nada, Justin. Você não tem o direito de me
julgar fujona por querer me proteger, por querer me manter a salvo de algo mais
à frente.
As lágrimas salgadas salpicaram meu rosto e eu solucei, afastando-me
devagar. Sentei-me na cama, abaixando a cabeça e me sentindo estúpida por
tudo, pelos cinco anos, por ter criado Archie sozinha, escondendo-o do pai.
— Quando você ia me contar? — Ouvi sua voz, depois de muito tempo
sentada. A primeira reação do meu corpo foi ficar duro feito pedra pelo baque
daquelas palavras. — Você nunca ia me falar nada, né?
As palavras saíram em meio a um sorriso sarcástico.
— Do que está falando? — indaguei, pedindo aos céus que ele não
estivesse falando de Archie. Não tinha como ele ter descoberto tudo.
— Porra, Olivia! — gritou, vermelho e com a respiração ofegante.
Encolhi-me por sua demonstração de raiva. — Não se faça de boba, pois sei que
não é. — Tive que concordar. — Sei que Archie é meu filho, sei que me
escondeu ele todos esses anos e juro que não acredito em toda sua frieza em
fazer isso com o menino.
Minha boca foi ao chão pela surpresa, senti minha cabeça rodando
enquanto tentava inutilmente engolir o bolo que se formava em minha garganta.
— Como você descobriu? — perguntei, foram as únicas palavras que
consegui emitir. As lágrimas caíram com mais força, senti meu coração doendo,
como se estivesse sido esmagado em pequenas partículas. Eu estava grata por
ele já ter descoberto, porém, isso não deixava de ser doloroso.
Pois tinha raiva, mágoa e um tanto de diversão nos olhos de Justin. Eu
nunca o tinha visto assim.
— Isso é mesmo importante? — A voz sarcástica daquele homem não
combinava nada com o amante que tive durante toda noite. E eu me senti um
tanto enganada.
Eu o encarei, séria.
— É claro que importa! — exclamei. — Porque eu passei dias criando
coragem de chegar em você e dizer isso. Pois eu queria evitar exatamente isso.
— Ouvi sua conversa com Hilary. — Fechei os olhos, lembrando-me
exatamente que escolhemos os piores lugares da casa para ter uma conversa tão
séria. — Eu tinha pensado sobre isso algum tempo atrás, mas cheguei à
conclusão de que você falaria se o filho fosse meu. — Riu. — Um engano
ridículo, né?
Ele não parecia o mesmo, eu vi a raiva brilhando em seus olhos e soube
no mesmo instante que ele fizera tudo aquilo por vingança, ele queria fazer com
que eu sentisse a mesma dor que ele por ter escondido Archie.
— Dormiu comigo como vingança? — indaguei, com medo da resposta.
Justin travou e quando não respondeu, tive minha resposta.
Senti-me usada, pela primeira vez na vida, me senti assim. E era uma
sensação horrível, posso garantir. Porém, eu não sabia se tinha o direito de me
sentir assim.
Forcei o bolo na garganta a se desfazer, sentindo-me suja e com meu
orgulho ferido.
— E sim, eu sinto muito por esconder Archie. — Foram as únicas
palavras que consegui emitir, em meio a um bolo de sentimentos que me
sufocavam cada vez mais. — Mas se serve de consolo, quando eu tive coragem
para falar, você ia se casar, Justin. O que queria que eu fizesse? Seria doloroso.
Para mim, para você, para sua esposa.
Ele assentiu lentamente.
— Isso não é desculpa para nada, Olivia.
Levantei-me, peguei meus pertences jogados sobre a mesinha de
cabeceira e caminhei para fora do quarto, passando por ele em silêncio, sentindo
minhas pernas moles feito gelatina provocado pela minha súbita instabilidade
emocional.
— Vai, Olivia, foge mais uma vez — eu o escutei murmurar.
Suspirei, buscando coragem para responder a ele, e quando encontrei,
senti meus olhos úmidos.
— Eu vou fugir sim, Justin. Fiz isso há cinco anos e fazer agora não
surpreenderia a ninguém. Agora, se você espera um “você tem razão”, tudo
bem. — Suguei o ar com força. — Você tem razão, eu não tinha o direito e sinto
muito, porém, eu não vou ficar aqui ouvindo você gritar e bater no peito sobre
seus direitos, ainda mais de ter dormido comigo como forma de conseguir me
atingir.
Escutei algo que parecia um arquejo de surpresa, contudo, não o encarei.
Em seguida, o escutei rindo, e eu quase jurei ouvir o barulho de algo se
partindo. Talvez fosse a merda do coração.
— Você também tem razão, Olivia. O que aconteceu essa noite não
passou de uma forma de quebrar você em vingança ao tempo perdido. — Uma
lágrima pincelou minha bochecha antes de abrir caminho para outras mais.
Sorri, em meio a toda aquela bagunça interior e respirei fundo.
Buscando racionalidade dentro de mim.
— Sabe, o que eu fiz foi ruim, mas isso foi baixo demais. Até mesmo
para você. — Abri a porta, saí, em seguida a bati em minhas costas e corri para
o quarto do outro lado, me permiti desmoronar sentindo aquela dor enorme
dentro de mim.
Tinha que contar a Archie sobre o pai, pois se eu não fizesse isso, ele
acabaria sabendo por Justin e isso seria ainda mais dolorido para meu filho, não
que fosse algo ruim, mas eu fugi tantas vezes sobre esse assunto que nem sei
bem a teoria que meu filho criou em sua cabeça.
Eu falhei tanto com ele nessa parte, que tudo que consigo pensar é em
não o magoar ainda mais.
Limpei minhas lágrimas, mesmo que elas insistissem em cair, levantei-
me da cama e caminhei para o banheiro, um banho tiraria de mim a sensação de
estar suja neste momento. Pelo menos, era isso que eu esperava.
Porém, mesmo quando um soluço irrompeu em meu peito, senti tudo
desmoronando novamente, percebendo que não adiantava mentir, doía muito
tudo que ele disse.
A raiva me cegou.
Ver Olivia fugindo na manhã seguinte, novamente, me deixou puto e
não consegui controlar a situação, magoando em dizer que havia sido apenas
por causa da vingança, sendo que eu sabia exatamente tudo que eu sentia
quando ela se aproximava, quando ela sorria ou simplesmente no fato de ser a
mãe do meu filho.
Eu me casei, eu sabia o que era amar alguém, mas, ainda assim, mesmo
com Aubrey, não havia sido daquela forma.
Olivia tinha um ponto de diferença.
Ela não era uma mulher que eu conheci de modo aleatório. Eu a
conhecia pela minha vida toda e sabia que ela estava magoada comigo quando a
vi sair do quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos cheios de
acusações.
Suspirei, afundando na cama e encarei os lençóis bagunçados, querendo
voltar algumas horas atrás e tê-la ali. Faria tudo diferente, controlaria a raiva e
não a magoaria.
Archie se jogou na cama assim que passou pela porta, sorrindo com
expectativa quando me sentei ao seu lado. Ele estava com as bochechas
vermelhas do sol, uma camisa velha e um macacão que ia até os pés, estava um
verdadeiro pescador mirim, pois havia passado o dia com meu pai no lago.
— Vovô disse para falar com a mamãe quando chegar. O que houve
mamãe? — indagou, encarando-me com aqueles olhinhos brilhantes. Abri a
boca para respondê-lo, mas as palavras ficaram presas em minha garganta.
Suspirei, fechei os olhos e senti sua mãozinha quente contra a minha,
que estava gelada pelo nervosismo. Senti meus olhos lacrimejando pelo
sentimento de conforto que meu filho me trazia e sorri, abrindo os olhos
novamente.
— A gente precisa conversar, Archie. — Ele balançou a cabeça, desta
vez não havia mais o sorriso aberto, apenas a velha obediência do meu pequeno.
— Sobre seu papai.
Ele arregalou os olhos, pulou da cama sorrindo enquanto eu via toda
uma felicidade transbordar dele, senti meu coração comprimir e ficar do
tamanho de um grão de areia.
— Ele voltou mamãe?! — perguntou, pulando novamente em meu colo
enquanto sorria feliz.
Franzi a testa, encarando-o.
— Como assim voltou, querido?
— Ah, sabe a Debby? — Assenti ao vê-lo mencionar a amiguinha da
escola. — Ela perguntou quando meu papai ia voltar, eu perguntei pra ela se os
papais voltavam. Debby disse que a mamãe dela explicou que os papais voltam,
às vezes eles demoram, mas voltam.
Ele me encarou, com os olhos cheios de expectativas.
Eu errei tanto com ele, que só soube pedir perdão em silêncio enquanto
abraçava seu corpinho junto ao meu.
— Perdão, querido. Me perdoa — murmurei contra seus fios loirinhos,
soluçando. Ele se afastou, segurando meu rosto contra suas palminhas
pequenas.
— Mamãe — choramingou dengoso e ameaçando a chorar. — Não
chora, mamãe. Papai voltou, né? Agora vamos ser uma família — ele
murmurou, beijando meu rosto por completo. Meu nariz, minha bochecha, e eu
sorri, com a simplicidade vista pelos olhos de uma criança.
— Sim, querido, ele voltou. Só que você já o conhece... — sussurrei
baixinho, com medo da reação que aquelas palavras teriam nele.
— Já? — indagou, com os olhos arregalados.
— Sim, sabe, você adorou conhecê-lo. Gosta de ficar no colo dele e
chama ele de tio Justin o tempo todo! — Sorri, beijando suas bochechas.
— O tio Justin?! — ele praticamente gritou. — Ele é meu papai?
Sorri, tentando tranquilizá-lo.
— Sim, bebê. O Justin é seu pai, desculpe não ter contado, querido.
Desculpe mesm... — Ele não me deixou terminar, jogou-se em meus braços,
abraçando-me enquanto sorria.
— Obrigado, mamãe. Obrigado. Agora nós temos o papai e vai ficar
tudo bem, entende? — Sorri, não, não ficaria tudo bem. Pelo menos para mim.
— Sim, meu bem. Tudo vai ficar bem. — Beijei-lhe a bochecha, com
ele em meu colo e caminhei para janela. — Você quer vê-lo, Archie? Quer falar
com ele?
E quando meu filho concordou, meu coração se afundou. Ele estava tão
feliz, enquanto eu sentia meu coração balançando dentro do peito pelo medo,
ansiedade e horror.
Caminhei para fora do quarto, passando pela porta de Justin e desci as
escadas. Vi Hilary sentada no sofá da sala, dobrando algo para se distrair, sorri
para ela e caminhei para fora da casa ainda com meu filho nos braços.
Tinha quase cinco anos, mas ele ainda andava como um bebê de colo.
Menos quando estava perto de seus coleguinhas, o que era divertido.
— Mamãe, o papai gosta de mim? — murmurou, contra meu pescoço.
Suspirei, com meus olhos esquadrinhando toda a praia deserta a alguns metros,
logo fui atraída pela figura de Justin que saía do mar, vestindo apenas shorts de
mergulho e com o corpo pingando e brilhando pela água.
Maldito seja a santinha dos homens bonitos.
Sorri, e beijei a testa do meu menino.
— Não se preocupe com isso, Archie, papai ama você — respondi
baixinho, repetindo isso para mim mesma.
Mesmo sabendo que nunca Justin trataria Archie mal, no entanto, eu não
sabia como estava as emoções dele sobre o assunto e eu tinha medo do que
poderia acontecer. Porém, respirei fundo e marchei rumo à praia, sentindo a
areia fofinha contra meus pés descalços.
Archie pediu para descer e logo foi correndo rumo a Justin, parando para
pegar várias cascas de caracóis na areia. Assim que chegou frente a frente ao
pai, parou, receoso com o que fazer.
Obriguei-me a caminhar até lá, parando de frente para Justin,
observando sua expressão confusa. Ele arqueou a sobrancelha em minha
direção, em uma pergunta silenciosa, assenti concordando.
— Ei, garotão. — Ele se abaixou na frente de Archie, porém, a
expressão surpresa se fez presente logo depois, quando meu filho se jogou
contra ele em um abraço apertado. Escondendo o rosto no pescoço do pai.
Justin o abraçou e eu segurei meus ciúmes ao ver o sorriso pincelando o
rosto dele.
— Papai — meu bebê disse, em meio um soluço todo manhoso e eu me
virei de costas para eles, sentindo minhas lágrimas molhando o rosto enquanto
eu os ouvia conversando baixinho.
Senti aquela mesma culpa me corroer enquanto falava a mim mesma que
não poderia me preocupar com isso agora em meio a tantas coisas para resolver.
Tinha que focar minhas forças em não deixar Justin levar meu filho de mim e...
— Papai, agora vamos ser uma família, né? Eu, você e a mamãe — meu
pequeno murmurou, quase me engasguei, encarando-os ainda meio abraçados.
Justin rui, bagunçou os cabelos loiros do meu filho.
A semelhança era tanta que me deixava tonta.
— É claro, meu garoto. Vamos ser uma família! — exclamou a última
parte, focando os olhos em mim, o sorriso arrogante que era inexistente para
Archie se fez presente e eu soube.
Justin Monroe não mediria esforços para me forçar a aceitar aquela ideia
ridícula. No entanto, eu estava disposta a tudo para não perder. Não iria perder
meu filho, nem que eu passasse o resto da vida lutando por ele.
Archie estava sentado em meu colo, falando sobre a escola e como era
sua vida com a mãe, enquanto Olivia nos observava de longe, conversando com
os pais próximo à entrada da casa dos meus tios. Beijei os fios loiros do meu
menino, sentindo o cheirinho de perfume infantil e Archie, e eu nunca pensei
que diria isso, mas era como encontrar uma metade perdida.
Estendi minha mão em nossa frente, vendo sua mãozinha sobre ela,
segurando meu dedo com firmeza. Apertei de volta, beijando o dorso em
seguida.
— Papai — falou atraindo minha atenção.
— Sim? — indaguei, encarando-o de lado. Archie lembrava minhas
fotos de quando era criança, o mesmo rosto, os cabelos tão loiros que chegava a
ser meio amarelado e os olhos no mesmo tom.
— Por que o senhor não voltou antes? — perguntou, fazendo-me travar.
— Como assim, querido? — indaguei, tirando os fios da frente do seu
rosto.
— Os papais às vezes ficam longe, né? Mas por que o senhor não veio
logo? Eu esperei muito, muito tempo — falou frustrado, bufando em seguida.
Sorri de canto, beijando sua bochecha. Seja lá a história que Olivia contou,
sobrou para mim, e isso fez a raiva ser novamente um sentimento latente.
— Papai esteve muito ocupado, querido, sinto muito. — Alisei seu
rostinho delicado. — Mas eu não vou mais embora, ok? — indaguei. — Não
vou mais a lugar nenhum, Archie.
Ele sorriu e se levantou, segurando meu rosto.
— Eu amo você, papai Justin — sussurrou. — Fico feliz que seja o meu
papai. É o melhor de todos.
A opinião de um garoto de quase cinco anos não era lá grande para
alguns, mas para mim, neste momento, significava o mundo inteiro.
— Você que é o melhor, Archie. E eu amo você. Do tamanho do
universo — sussurrei, arrastando-o contra meu peito, beijando o topo da sua
cabeça. Olivia me tirou anos disso, e acredito que no momento, o ódio tenha
retornado.
Saber o quanto era bom estar com Archie me fazia sofrer.
E eu queria que ela sentisse um pouco desse sofrimento também.
Aproximei-me do caminho de flores estendido no trapiche que fora feito
para manter a areia longe dos saltos. Suspirei caminhando ao redor, vendo as
cadeiras sendo preenchidas pouco a pouco.
Ouvi o murmurinho das pessoas, do sol se pondo no horizonte,
iluminando a praia ainda com poucos raios e logo fui chamada de volta, pois era
a hora das damas de honra. Eu seria a última, juntamente com Justin.
Meu vestido de seda rosé justo ao corpo, combinavam com meus saltos
dourados com duas fitinhas prendendo em meu tornozelo. Sorri, dando meia
volta e caminhei para junto às damas de honra, não iria falar com Elizabeth
antes dela caminhar até o altar, ela me fez prometer isso.
Dizendo que acabaríamos parecendo um panda se nos permitisse falar
abertamente do quanto aquele momento significava para nós. Eu concordava,
por isso, não era um sacrifício.
Justin estava me encarando de frente enquanto meus saltos faziam
barulho pelo porcelanato da casa, suspirei, pairando ao seu lado sentindo meus
músculos tensos com o que faríamos.
Não vai ser tão ruim. Não vai ser tão ruim. Não vai ser...
— Você pensou com carinho sobre o que falamos, certo? — o escutei
murmurando, fazendo-me gemer mentalmente em desespero. Ele riu da minha
careta nada discreta. — Ei, não faça essa cara. Archie está contando com isso,
não vai decepcioná-lo.
Rosnei em resposta, vendo Archie e a prima de Elizabeth de mãos dadas
entrando no salão improvisado e bem decorado.
— Ele está contando com isso, pois você deu a entender que seríamos
uma família feliz. Como aquelas de comercial de margarina! — exclamei
baixinho. — Mas, Justin, nós não somos. E nunca vamos ser, mesmo que você
tente me encurralar de todas as formas. Não quero me casar com você e não
vou.
Ele revirou os olhos de modo impaciente.
— Certo, eu estava tentando fazer isso fácil para os dois. Porém, você
não está colaborando, Olivia — murmurou calmo. — Então, vou optar por
opções mais difíceis e dolorosas.
Arqueou a sobrancelha em um desafio silencioso.
— Você pode tentar tirar meu filho da forma que quiser, Justin, não vou
desistir. Vou lutar por ele até o fim, até você ver que uma criança não é apenas
feliz com um pai e uma mãe. — Suspirei. — Existem casos que crianças
convivem bem morando com a mãe e tendo as datas de ficar com pai. Você
trabalha muito inclusive, nem teria tempo para ficar com Archie.
O rosto dele se tornou sério.
— Não vou ficar longe de Archie, Olivia, nem adianta todo esse
discurso seu. — Bufei em desespero. — E mais, eu trabalho muito, sim, mas
isso não vai ser problema para ficar com meu filho. Além do mais, fiquei
sabendo que seus pais não lhe ajudam a sustentar sua casa e meu filho, então
toda sua renda vem de um ateliê que pelo que pesquisei, não rende muito. E
analisando todos os prós e contra, vejo que deve se preocupar.
Senti meu corpo suando, meu coração batendo descompassado contra o
peito, porém, não era pelo fato que estávamos caminhando em direção ao altar
em meio a uma discussão, e sim, por raiva. Muita raiva.
— Não acredito que vai usar sua situação financeira para me atingir! —
exclamei raivosa, fincando minhas unhas contra seu braço.
— Estamos jogando sujo certo, Olivia? Então, usar meu dinheiro seria
só um bônus ao jogo. — Deu uma risada sarcástica, parando ao lado de Nicole e
Romeo, que me olhou com as sobrancelhas arqueadas. — Ah, não esqueça.
Estou voltando para Nova Iorque na terça, em breve você pode receber a visita
dos meus advogados.
Senti meu coração batendo forte contra meu peito, como se tentasse
fugir.
— A gente não pode mesmo fazer isso como pessoas civilizadas? —
rosnei, em desespero.
— Sim, você se casa comigo, e o único processo que teremos que
enfrentar é para colocar meu sobrenome junto ao dele, portanto, você não aceita
isso de forma alguma. — Ele suspirou, como se aquilo realmente fosse algo
muito horrível.
Eu tinha uma certa raiva das leis, muitas vezes, elas não eram nem um
pouco justas. No entanto, meus pensamentos foram roubados pela macha
nupcial, e eu encontrei o olhar feliz da minha melhor amiga, encarando
Benjamin com carinho.
Os cabelos loiros presos no alto da cabeça, o sorriso indo de orelha a
orelha enquanto os olhos azuis brilhavam pela emoção.
Sorri, limpando a lágrima que escapou dos meus olhos enquanto a via
rir, ao olhar rapidamente para mim.
Elizabeth chegou até Benjamin e eu senti aquela conexão de onde eles
estavam. Emanavam amor e companheirismo. O sol do fim de tarde estava
sobre eles, dando sua benção enquanto as mãos dos dois estavam entrelaçadas
ouvindo as palavras do juiz, sorrindo, em meio às lágrimas de felicidade.
— Por que você acha que também não podemos fazer isso? — escutei a
voz de Justin contra minha orelha.
— Porque eles têm amor, são companheiros, se respeitam, Justin. — Fui
sincera, ainda encarando as mãos dos dois unidas. — E nós nunca
conseguiremos ser bons nesses dois sentimentos ao mesmo tempo.
Meus lábios se fecharam em duas linhas tensas com essas palavras e eu
soube que aquela era a verdade. A mais nua e crua verdade.
Eu queria alguém que apenas me amasse, que fosse meu, que quisesse
tanto aquilo quanto eu. E Justin queria uma conveniência, e me machucar no
processo de tudo, queria me fazer sofrer por tê-lo tirado cinco anos com Archie.
A dança com os padrinhos seria uma tortura. Eu já sabia, mas fazer isso
com Olivia não me encarando era ainda pior. Ela tinha cheiro de morangos e
estava linda no vestido de seda rosé que era padrão em todas as damas de honra
de Elizabeth. Abaixei a cabeça, com o nariz próximo ao seu pescoço, sentindo
seu cheiro que estava vivo em minha memória desde a noite anterior.
Suspirei, movendo-me ao som da música instrumental.
— Eu odeio você de um tanto agora — ela falou baixinho, encostando a
cabeça em meu ombro, colando o corpo ainda mais ao meu. Deslizei minhas
mãos por suas costas, abraçando-a melhor.
— Não parece — sussurrei, beijando seu ombro lentamente.
Ela sorriu baixinho.
— É porque eu estou triste demais para brigar com você. — Virou a
cabeça, apoiada contra mim, mas me encarando desta vez. — Não acredito que
você vai ser responsável pelo meu único coração partido.
Coloquei a mecha escura do seu cabelo para trás, desconcertado com sua
sinceridade.
— Não é possível que eu seja seu único coração partido.
Olivia fechou os olhos. E isso era ruim, pois eu não conseguia ver o que
ela sentia, e quando eles estavam abertos, era como ter acesso à cada mísera
sensação dela.
— Talvez não — apertou meus ombros —, mas até hoje, é o máximo de
dor que eu senti por um homem. E olha que tive parto normal.
Sorriu de canto, ainda sem me encarar. Estávamos quase parados no
meio do salão e me aproximei, beijando o topo da sua cabeça.
— Sinto muito — sussurrei.
— Seu sinto muito não retira o que você disse. Nunca vai tirar. — O tom
de mágoa em sua voz era cortante. Doloroso, eu diria. E eu apertei Olivia em
meus braços, como se ela não pudesse escapar.
Na manhã seguinte ao casamento de Elizabeth e Benjamin, eu retornei à
Nova Iorque, depois de quase sair correndo de Newport para resolver todos os
problemas que estavam caindo em minha cabeça, recebi uma visita de Paul
McBloom, um advogado especialista em casos como reconhecimento de
paternidade. Ele me foi indicado por Romeo, que estava por dentro de tudo que
vinha acontecendo nos últimos dias.
Hoje já era a segunda visita do advogado e já tinha quase uma semana
desde que cheguei à cidade. O medo e nervosismo só aumentava a cada dia.
Paul sorriu, retirando de dentro da pasta de couro uma porção de papéis.
Eu os peguei, sentindo a textura pesada contra meus dedos.
— Nestes documentos estão todas as possíveis formas que o senhor
Monroe pode recorrer para o reconhecimento da paternidade e com isso, ficar
com a guarda da criança. — Assenti, folheando os papéis cheio de letras. Tudo
estava rodando pelo medo. — Hoje pela manhã, recebi uma ligação, avisando
que ele já havia entrado com a petição para o reconhecimento.
Assenti, colocando os papéis sobre a mesa de centro.
— Sim, ele me falou quando veio buscar Archie pela manhã —
respondi, sentindo minhas mãos tremendo. Eu as apoiei sobre meu colo,
tentando inutilmente me acalmar. — Justin ligou, perguntando se poderia pegá-
lo para um passeio.
Paul assentiu, encarando-me por breves instantes. O homem era um
enigma, não falava muito, tudo que eu sabia sobre ele era que tinha belos olhos
cor do mar, e era um belo vencedor em tribunal. Quase imbatível, podemos
assim dizer.
— Entendo, pelo que vi, você e o senhor Monroe tinham se envolvido
amorosamente há pouco tempo, correto? — Senti minhas bochechas ficarem
rosadas, nosso primeiro encontro não foi lá muito proveitoso. Bom, para mim,
foi vergonhoso.
Eu praticamente despejei tudo que havia rolado entre mim e Justin
durante todo o período que nos conhecíamos, desde a forma vergonhosa que
acabei em sua cama anos atrás, há minha última recaída, faltei dizer que o sexo
foi maravilhoso e provavelmente o melhor da minha vida.
É, digamos que eu não fui muito discreta.
Dei uma tossida básica tentando não ficar parecendo um tomate maduro.
— Sim, sim. — Pisquei várias vezes, vendo um sorrisinho de canto de
boca no advogado. A primeira expressão que eu consegui detectar em todo esse
tempo. — Mas não foi algo muito... relevante! Isso, não foi nada relevante —
voltei a afirmar, encarando meus tênis de corrida.
— A senhorita não acha que resolveria bastante coisa — fez uma pausa,
remexendo-se no sofá. Colocou os cotovelos apoiados nos joelhos, inclinando-
se para frente —, se casando com ele, já que os dois parecem envolvidos
amorosamente nisso?
Abri a boca, em completo choque, enquanto as palavras se repetiam
inúmeras vezes em minha cabeça. Qual é o maldito problema das pessoas?!
— Não! Eu não vou me casar com Justin apenas para ter meu filho —
resmunguei, cruzando minhas pernas em um gesto rápido. Paul abriu a boca,
assustado, em completo choque e segundos depois, assentiu.
Levantou-se e arrumou o paletó escuro, alinhando ao corpo.
— Tudo bem, senhorita Turner, podemos ir pelo caminho mais fácil... —
Levantei-me também, entendendo muitas falhas naquela negociação, cruzei os
braços em frente ao peito em um ato de defesa.
— Não, senhor McBloom, não podemos — respondi rápido, vendo-o
arquear a sobrancelha. — Não sei que merda está acontecendo, mas estou aqui,
pagando você para que fique ao meu lado e me mostre como defender meu
filho. Posso não ser o cliente que o senhor mais vai conseguir dinheiro, e
garanto, sinto muito, mas se não pode me ajudar da forma correta, peço que
saia, vá embora e nunca mais volte.
Vi a expressão fechada dele, e soube que minhas suspeitas estavam
corretas.
— O senhor Monroe teve uma conversa comigo mais cedo, senhorita.
— Uma risada sarcástica saiu dos meus lábios. — E ele não me ofereceu
dinheiro, mas disse que eu ganharia muito mais se fizesse a senhora ver que se
casar com ele é a melhor solução.
Neguei, balançando a cabeça e levantei o indicador em riste.
— Ótimo, você acaba de perder uma cliente e o dinheiro que Justin
poderia te dar. Pois não preciso mais dos seus serviços, Paul, espero que seus
clientes sejam tratados por você de forma mais profissional. — Sorri, antes de
caminhar para a porta, abrindo para que ele pudesse sair.
Senti meu corpo tremer de raiva pela cena que havia acabado de
presenciar. Justin tivera a audácia de subornar meu advogado! O que mais ele
queria?
Já eram quase cinco da tarde quando Catarina me enviou uma foto com
Archie deitado no chão do seu apartamento, comendo pipoca doce e vendo
homem aranha na televisão enorme da minha melhor amiga.
Respondi com vários emoticons apaixonados, sorri, guardando o celular
embaixo do balcão, voltando ao meu desenho, concentrei-me, mantendo minha
mão firme para não borrar todo meu trabalho.
Já era quase a quinta vez que eu o refazia do zero, já que as outras vezes
parecia não transmitir de forma correta tudo que Ashley me falara. Nada que a
faria ficar como uma vagabunda, lembrei-me, com um sorrisinho sapeca no
rosto.
Assim que ela saiu, joguei seu nome no google para saber de que raios
havia saído aquela mulher. Minhas buscas me deram o resultado de que ela era
filha de políticos influentes, mas optara por trilhar sua carreira em engenharia
civil.
Sorri, vendo o desenho seguir por uma linha completamente inesperada.
E faltei fazer uma dancinha de vitória ao ver que estava saindo exatamente o
que eu não esperava, porém, não poderia ser mais perfeito.
O sininho voltou a tocar, fazendo-me interromper o que eu estava
fazendo e encarar a figura de Justin parado na entrada. Olhando cada mísero
detalhe do meu ateliê colorido.
Sorri, vendo sua expressão surpresa enquanto ele caminhava até o
balcão, focando seus olhos em mim. O homem vestia um terno azul marinho
sob medida, os cabelos loiros penteados para trás e estava tão lindo que quase
me esqueci que estava odiando-o no momento.
— Uau, esse lugar é incrível. — Não tive como evitar o sentimento de
orgulho que balançou em meu peito ao vê-lo falar assim do lugar que era tão
querido para mim.
Justin e eu nunca poderíamos ser um casal, mas nós tínhamos um filho
juntos, pelo menos falar amigavelmente deveria vir como regras de
convivência.
— Obrigada. Eu acho — murmurei, fechando o caderno.
— Ei, isso é um novo modelo? — ele disse, colocando a mão sobre a
minha em um gesto rápido. Assenti. — Posso ver?
Minhas bochechas coraram, havia muito tempo perdi a vergonha de
mostrar meus desenhos e criações a outras pessoas que não fossem meus
clientes, porém, a ideia de Justin analisando algo tão importante para mim era
incômoda.
— Claro — concordei, e isso foi involuntário. Abri o caderno,
mostrando o desenho inacabável. — Está incompleto ainda, comecei hoje. Logo
eu vou terminar de imaginar essa bainha, colorir de preto com detalhes
prateados...
Expliquei exatamente como o modelo estava vindo em minha memória,
passando meu indicador direito sobre os contornos do desenho, enquanto minha
mão esquerda continuava coberta pela sua em um ato um tanto íntimo.
— É isso, espero que fique legal da forma que estou imaginando —
concluí, levantando o olhar. Seus olhos azuis estavam sobre mim, olhando-me
com um misto de curiosidade e surpresa, os lábios estavam repuxados em um
sorriso.
— Uau. Vai ficar perfeito — murmurou, encarando o papel. Seu
indicador passou pela minha palma, causando-me arrepios. — Sabia que você
tinha o talento de sua mãe, só não imaginava que conseguisse fazer algo tão
simples como uma roupa se tornar algo tão magnífico...
Sorri, negando com a cabeça.
— Nunca é só uma roupa, Justin. Já pensou que esse terno que está
usando passou horas para ser desenhado? — indaguei, inclinando-me para ver o
terno Armani azul marinho que caía perfeitamente em seu corpo.
— Sério? — Ele se autoanalisou. — Pensei que fosse tudo da mesma
forma.
Gargalhei, fechando o livro e dando a volta para encará-lo.
— Não vou falar sobre moda com você, claramente, perderei meu
tempo. — Ele riu, segurando minha mão entre as suas. Encarei nossas mãos
unidas, sem entender. — O que está fazendo aqui, Justin? — indaguei,
encarando-o.
Ele suspirou, e encarou o teto do ateliê, parecendo pensar na resposta. E
quando os olhos azuis focaram em mim novamente, sorriu de canto.
— Queria ver você. — Abri a boca, em choque. Esperava alguma
resposta espertinha para me atingir, e não algo assim, porém, meu instinto de
proteção me lembrou daquela fatídica manhã na casa da praia e eu sorri,
tentando fingir que aquilo não me havia atingido.
— Você é tão espertinho, Justin Monroe, vem, me ajuda a fechar a loja
que levo você até Archie. — Caminhei para a porta, dando as costas para ele.
Escutei um suspiro exasperado, contudo, não tentei interpretar aquilo.
Na verdade, eu não queria tentar entender nada do que Justin falava ou do modo
que agia, era como se eu quisesse bloquear cada passo ou avanço dele.
Pois apesar da fase de farpas ter passado, eu ainda não o havia perdoado
por aquelas palavras depois que dormimos juntos, não havia por que perdoar, se
ele nunca admitiu ter mentido, nunca pediu perdão, então não havia
arrependimentos.
Era tudo verdade.
Não que eu vivesse esperando por isso, pois uma parte de mim acreditou
em tudo que ele dissera antes de fechar as portas contra minhas costas. E essa
parte ainda continuaria acreditando por um longo tempo.
Elizabeth riu, mordendo o bolinho e bebericou o café. Ela havia voltado
da lua de mel há uns cinco dias e vinha acompanhado a minha guerra fria com
Justin sobre a guarda de Archie. Ela tentou falar com o primo sobre entrarmos
em um acordo fora dos tribunais, mas o loiro estava irredutível sobre isso, o que
fazia minha raiva crescer em níveis elevados.
— Justin vai ver a razão, Olivia. Romeo ficou de falar um pouco com
ele. — Lancei-lhe um olhar incerto. Apesar de não acreditar mais tanto no
caráter de Justin, eu me agarrava em cada possibilidade de ele ver seu erro. —
Meu primo é inteligente, ele vai recuar, mas você já pensou em como seriam
casados?
Sorri, revirando os olhos em seguida, encostei meu cotovelo sobre a
mesinha da lanchonete, observando-a me convencer novamente. Ela já havia
tentado dizer que o casamento poderia ser bom, pois éramos atraídos um pelo
outro, mas eu recusei.
Pensava em como sempre sonhei em me casar por amor, o quanto de
encontros recusei porque as pessoas não significavam nada para mim... e
simplesmente entregar as pontas não fazia sentido.
Justin nunca me amaria da forma que eu desejava.
— Você parece estar a quilômetros daqui, Olivia — resmungou, fazendo
beicinho. Sorri, desculpando-me.
Realmente, eu não estava prestando muita atenção no que Elizabeth
falava.
— Desculpe, amiga — murmurei. Beberiquei meu café, desbloqueei
meu celular e vi que faltavam poucos minutos para eu ter que abrir a loja.
— Pensando em quê? Na audiência? — ela indagou, sorrindo nervosa.
Assenti. — Ainda acho que isso vai acabar não acontecendo.
Revirei os olhos, sem saber como falar aquilo. Era muito mais fácil falar
dos meus problemas com ele quando Justin implicava e ameaçava, só que nos
últimos dias ele andava em um chato costume de ser uma das melhores pessoas,
aparecia na loja de repente, sempre com café e donuts de chocolate — isso não
se faz com uma garota —, e eu sempre fugia dessas situações falando sobre
Archie, nosso assunto em comum.
— Não acredito muito no caráter de Justin Monroe neste momento.
Sinto muito se ele é seu primo, mas... — Encolhi os ombros, porém Elizabeth
não prestava atenção em e vi seus olhos se focaram em algo em minhas costas,
atraindo minha atenção.
Olhei segurando minha xícara contra minha boca, bebendo um gole e
engasguei com o líquido quente, enquanto meus olhos estavam focados na mão
de Justin sobre o ombro da mulher loira, com o corpo dela inclinado para
próximo ao seu falando em seu ouvido.
Senti meu corpo formigando, e falei a mim mesma que aquela cena era
algo mais comum do mundo para alguém solteiro como ele. Mulheres. Ora,
Olivia, ele também não é santo, claro que sai com mulheres.
Porém, isso não acalmou meus pensamentos, só fez com que eles
dessem mais e mais voltas sobre a forma que eles riam um para o outro. Encarei
Elizabeth, que mantinha uma expressão curiosa, e fingi que aquela cena não me
atingia.
No fim, não deveria me atingir. Justin e eu só tínhamos algo em comum,
e era Archie, nunca fomos nem sequer namorados. Tivemos duas noites e todas
elas acabaram muito mal.
— Olivia, para de pensar demais, estou vendo a fumacinha sair da sua
cabeça daqui — Eliza falou e sorri, mordendo o interior da bochecha e me
inclinei, pegando minha bolsa sobre a cadeira ao lado. — Ah, não, você não vai
embora! — minha melhor amiga protestou, não a deixei falar mais, levantei,
beijei sua bochecha rosada e caminhei rapidamente para fora da lanchonete.
Porém, assim que passei pelas portas de vidros, a mão de Elizabeth
segurou meu braço com firmeza.
— Você não pode fugir! — ela exclamou.
— Sim, Eliza, eu posso e eu vou. Sabe, Justin me falou há algum tempo
que eu costumo fugir de tudo que tem a ver com ele, e sim, ele tem razão. Pois
sei cada ponto do que aconteceu ou não aconteceu entre nós, e sei que se eu não
fugir, vou ter que juntar pedaços de mim mesma que jurei não quebrar por
ninguém — murmurei, vendo que todas as palavras pulavam da minha boca
sem que eu conseguisse conter.
— Liv... não fuja tanto — ela murmurou, no mesmo tom de voz
segurando minhas mãos entre as suas.
— Fugir é método de proteção, porque não sei mais se o Justin que se
mostrou desde que descobriu sobre Archie é o mesmo que eu conheço desde
que era uma garotinha. — Sorri, limpando a lágrima teimosa que escapou. —
Agora volte lá para dentro, tome seu café que eu preciso abrir a loja.
Beijei a testa da minha melhor amiga, dando volta e caminhando para
longe, logo em seguida, escutei seu nome ser chamado por Justin.
— Justin! Oi... — Eu a escutei responder, enquanto caminhava para
longe. Sim, eu estava fugindo dele, da mulher que estava com ele e da sensação
que essa ideia me causava.
Ciúmes. Eu sentia ciúmes, os mais puros e cru ciúmes, que amargava
minha boca e me fazia querer gritar aos quatro ventos que ele não poderia ter
mais ninguém. Caralho, Olivia, você não pode falar isso, ele é livre!, meu
subconsciente protestou.
Certo, é oficial. Eu estava completamente maluca.
A mesa do café da manhã estava posta e o ovos com bacon era meu café
da manhã preferido, mas no instante que coloquei a comida na boca, meu corpo
reclamou, subindo uma bile rápida, mas controlável. Meu pai conversava com
Justin de modo distraído e encarei mamãe, vendo que ela estava atenta a Archie,
então ninguém me viu quase vomitar meu café da manhã. Empurrei o prato de
ovos para o lado de modo discreto, bebendo um gole do café preto e busquei
uma torrada simples, mordiscando a ponta para ver se o enjoo ia embora.
— E como anda a situação? — mamãe indagou, colocando um pedaço
de mamão na boca do neto. — Você está morando com Justin? Não me explicou
isso bem.
Sorri, corando levemente.
— Sim. Estamos morando juntos até o tratamento de Archie acabar.
Achamos melhor isso, pois é onde nós dois podemos cuidar dele. — Mamãe
assentiu, encarando Justin e em seguida eu, e fez isso algumas vezes antes de
mudar de assunto.
— Você enjoando é normal também? — ela indagou, inclinando em
minha direção. Arregalei os olhos, encarando o prato de ovos intocado.
— Como sabe?! — exclamei assustada, ela só chegou há uma hora...
Mamãe riu.
— Você enjoou ovos na gestação de Archie, lembra? — A lembrança
veio viva como nunca. — E é seu café da manhã preferido. Você come isso
desde que tinha cinco anos, Olivia. E eu nunca vi você deixar um prato cheio de
ovos e bacon na mesa.
Gemi, desesperada.
Não. Não. Não. Eu não estava grávida.
— Não, mãe — falei, mas acredito que tenha saído mais como eu
implorando. — Não posso. Está tudo um caos. — Ela riu.
— Eu sei, amor. — Alisou meus cabelos. — Mas faça um teste para
descargo de consciência. Talvez nem seja. — Beijou minha bochecha, tentando
me tranquilizar, mas em minha mente agora só passava a ideia de estar grávida
novamente. Dormi com Justin duas vezes desde que nos reencontramos, hoje e
há semanas, o que me levava a crer que poderia sim ser uma das possibilidades.
Mas eu não tinha um relacionamento.
E eu não podia ter outro filho sozinha. Amava o Archie, mas sei que ser
mão solo me tirou muitas coisas, como relacionamentos, não era cega em dizer
que não. Então a ideia de ser mãe de novo era esmagadora.
— Então você acha que está grávida? — Elizabeth falou enquanto me
seguia para dentro do quarto principal, com uma sacola de farmácia e meu
coração na mão, segui em direção ao banheiro, trancando-nos ali. — E por que
está tão assustada?
Suspirei, colocando meus cabelos para trás.
— Porque eu não estou casada, Elizabeth. Porque eu tenho um filho com
câncer e ele precisa de mim cem por cento, porque seu primo não me ama e...
— Ela segurou meus ombros quando comecei a tagarelar e sorriu.
— Só faz o teste, Liv. — Ela o colocou entre as minhas mãos,
incentivando-me. — Vou te esperar lá fora. — Saiu do banheiro, fechando a
porta em minhas costas. Compramos apenas um teste, pois segundo Elizabeth
era cem por cento confiável.
Mamãe e papai estavam em meu apartamento e decidiram voltar para
Newport, Oregon, apenas quando as coisas por aqui melhorassem, e agradeci
por tê-los por perto, assim não me sentia tão sozinha.
Justin estava sempre comigo, mesmo assim, ainda era estar sozinha, pois
não queria aterrorizá-lo com meus pensamentos ruins.
— Ok, vamos lá — falei sozinha.
— Isso, vamos lá. E na minha opinião, você não casa porque não quer.
Justin está todo cadelinha tentando se redimir — Elizabeth resmungou do outro
lado. — Se fizeram um bebê, é porque tem rolado, então atração e desejo não
faltam.
Abafei as falas de Elizabeth, fazendo o teste e me sentei no vaso
sanitário, encarando o objeto sobre o balcão de mármore, pensando em tudo que
vinha acontecendo. Demorei dois dias para conseguir ter coragem e fazer um
teste, então a sensação era de estar quase morrendo.
— Deu o tempo já de dois testes — minha melhor amiga falou do outro
lado, fazendo-me suspirar. Levantei-me, mas não consegui estender a mão e
pegar o teste, então fiquei encarando o azulejo, respirando fundo algumas vezes.
É só um bebê, Olivia. Não vai te morder...
Eu o pego.
Encarando o resultado. Positivo.
Um positivo que tirou meu mundo do lugar.
— Ai meu Deus... — sussurrei assustada, sentindo meu corpo tombar
para o lado, fazendo eu me sentar novamente. Desci minha mão sobre meu
ventre outra vez. — Eu vou ter um bebê... um bebê de Justin. — Engoli em
seco, assustada, sentindo meu mundo todo rodando.
A porta do banheiro se abriu e encontrei Elizabeth ali.
Ela encarou o resultado e só percebi que estava chorando quando ela me
abraçou, ajudando-me a limpar as lágrimas que caíam como se fossem uma
cascata.
— Você vai me dar um sobrinho. Outro sobrinho — falou rindo e tocou
minha barriga por cima do vestido. — Ai, meu Deus, Liv, eu estou tão feliz. —
E isso me fez sorrir feliz também, pois foi a mesma sensação de quando foi com
Archie. Medo e amor. Pavor e paixão. Tudo misturado.
— Eu também. — Deslizei minha mão sobre meu ventre novamente,
com a de Elizabeth cobrindo a minha.
— Ai, Liv — fungou, encarando-me. — Eu quero um bebê também.
O sussurro dela me fez sorrir de leve.
— Você vai ter. Logo, logo, ele estará aí. — Sabia que Benjamin e
Elizabeth vinham tentando bastante nos últimos dias e sabia que iriam
conseguir, pois eles mereciam tanto uma família grande e bonita.
Agora precisava decidir se contaria a Justin agora ou esperaria um pouco
até o tratamento de Archie começar a fazer efeito. Não queria que meu filho se
sentisse substituído pelo bebê. Não era isso que estava acontecendo.
— Onde Archie e Justin estão? — ela indagou atraindo minha atenção.
Decidi guardar o teste em meio às minhas coisas e encarei Elizabeth, vendo-a
arquear a sobrancelha. — Quando pretende contar a ele? — Cruzou os braços,
na defensiva.
— Assim que o tratamento de Archie começar a se estabilizar. Prometo.
E eles foram na casa de Vivian. Ela adora Archie — falei animada, mudando
rapidamente de assunto.
— Adora mesmo. Fez uma videochamada comigo por horas falando de
Archie e como você e Justin formavam um lindo casal. Sua sogra shippa vocês.
— Rimos enquanto descíamos as escadas, pois isso já era claro. Vivian vinha
sendo ótima, e eu achava divertido o fato dela querer eu e ele juntos.
— Ela é Olitin — brinquei com a junção de meu nome e de Justin.
Ver meu filho sofrer era uma sensação péssima. E podia realmente dizer
que entendia o que Olivia sentiu quando chegou a notícia da doença. Era algo
como estar de mãos atadas, flutuando, e você não podia fazer nada, além de
segurar a pessoa que era seu mundo inteiro nos braços, prometendo não soltar.
Uma semana depois, Archie tornou a ter uma crise de febre, mas nem
Alexandre conseguiu ajudar, e precisamos interná-lo. E era como sentir seu
coração sendo massacrado ao ver as dores, as medicações, os exames, a rotina
exaustiva até que meu menino começasse a encarar a parede, pedindo apenas
para o mundo dele parar de rodar.
Senti meus olhos arderem, beirando às lágrimas enquanto observava
Olivia tentando dar comida ao nosso filho. Archie perdeu um pouco da alegria
de sempre, das respostas na ponta da língua e comecei a me preocupar com ele
sempre cansado.
— Ele está bem — doutor Dylan costumava repetir. — É só a rotina. Os
remédios, a situação o cansam, mas estamos progredindo.
Não estávamos.
Estávamos com medo.
Aterrorizados para ser mais específico.
— Ele está bem? — indaguei, aproximando-me de Olivia. Ela sorriu de
leve, alinhando os fios do nosso filho, observando-o encarar o nada com
fixação.
— Disse que estava enjoado — ela sussurrou, respirando fundo.
Olivia vinha ficando no hospital dia após dia desde que ele foi internado
e estava claramente abatida, então me preocupei quando ela se segurou na
beirada da cama hospitalar, fechando os olhos, caminhei em direção a ela,
vendo-a ficar pálida rapidamente, eu a segurei em meus braços quando a vi cair.
Olivia desmaiou e eu não sabia o que fazer, então saí do quarto de
Archie com ela em meus braços, chamando por ajuda.
A primeira enfermeira que encontrei me ajudou a levá-la para checar os
sinais vitais, e me pediram privacidade enquanto examinavam a paciente. Os
dois quartos estavam a apenas duas portas de distância, então comecei a andar
em círculos, preocupado tanto com meu filho quanto com a mãe dele.
Olivia vinha andando estranha, mas acreditava que fosse por causa do
tratamento de Archie, então deixei que ela tivesse o momento dela. Mas quando
a enfermeira retornou, senti o ar faltar quando ela explicou o estado de Olivia.
— Os enjoos e tontura são comuns na gravidez. Ela está estável, só
colocamos um soro na veia, pois ela vem enfrentando uma doença difícil com
Archie e está muito agitada. É preocupante, ainda mais numa gravidez recente
como a dela — falou, fazendo-me arregalar os olhos. — Você não sabia que sua
esposa estava grávida?
Puta que pariu.
Grávida?
Que porra é essa?
— Não... — sussurrei, engolindo em seco. — Ela está acordada?
A enfermeira assentiu e autorizou minha entrada no quarto onde Olivia
estava. Eu a vi sentada na maca, tomando um soro na veia e encarando o nada,
pensativa. Parei ao seu lado, deslizando minha mão contra a sua, encarando seu
ventre completamente liso. E suspirei. Meu Deus, só podia estar ficando louco.
Iria acordar a qualquer momento e ver que isso era um sonho.
— Desculpe esconder. — A voz sussurrada dela me pegou
desprevenido. — É o pior momento para engravidar e eu não queria tirar o foco
do tratamento de Archie, Justin, ele está tão mal com os remédios e a
quimioterapia.
Encarei seu rosto, vendo as lágrimas pequenas descerem por eles.
E me aproximei, encostando a testa na sua.
— Shiu, não precisa. Não fique assim, a enfermeira disse que não pode
ficar com fortes emoções — falei, interpretando as palavras da enfermeira do
jeito que eu queria. — E está tudo bem, Liv, não controlamos uma gravidez até
certo ponto. Eu e você fomos descuidados, mas podemos lidar com isso. Eu,
você e Archie podemos lidar com tudo, estamos juntos.
Ela riu.
— Não quero contar a ele agora, Justin. — Encarou-me com os olhos
pedindo por piedade. — Nem sei o que pode passar na cabeça dele. Está tão mal
e com tudo um caos, um bebê pode fazê-lo sofrer.
— Ok, ok — concordei, beijando o topo da sua cabeça. — Só se acalme.
Vamos cuidar de você, de Archie e do nosso bebê. — Cobri sua barriga com a
minha mão. — Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Beijei seus lábios, sentando-
me na beirada da maca, encaixando-a contra meu peito, alinhando seus fios
escuros, sentindo-a suspirar baixinho. — Há quanto tempo sabe sobre o bebê?
— Uma semana. Eu tive um enjoo no dia que meus pais chegaram —
falou baixinho. — Mas levei dois dias para fazer o teste e deu positivo. Ainda
não fiz nenhum exame além desse.
— Vamos cuidar de tudo a partir de agora. Garantir que tudo fique bem,
ok? — Ela sorriu, assentindo. Encaramo-nos por alguns minutos e eu tornei a
beijar sua boca, descendo por sua bochecha, sentindo o cheiro leve de flores e
baunilha do seu perfume. — Estou ansioso para ser pai do nosso bebê, nosso
novo bebê. Temos dois agora.
Ela riu baixinho.
— Não vai pedir teste de DNA? Não somos exclusivos.
Neguei prontamente.
Nada em mim acreditava que aquele bebê não era meu.
— Não. Eu sou exclusivo seu, Olivia. Só seu. — A afirmação a fez
suspirar.
— Sou sua também, Justin. Mesmo não querendo ser. — E essa última
parte machucou.
Retornei para o quarto para ficar com Archie e fiz Olivia ir para casa,
dormir um pouco depois de alguns exames para ver como o bebê estava. Nós
dois passávamos o dia quase todo no hospital, às vezes eu saía para ir à empresa
e muito raramente, Olivia ia ao ateliê, mas havia cancelado muitos dias de
trabalho para cuidar de Archie e era bonito a dedicação dela, se não fosse
preocupante.
Terminei de ler a história dos Três porquinhos pela terceira vez em dois
dias. Sempre que Archie pedia, eu reiniciava, pois gostava de ouvir sua vozinha
pedindo os três porquinhos.
Ele quase não falava agora.
E era doloroso.
Aproximei-me da cama, puxando a coberta para deixá-lo aquecido e vi
os olhinhos curiosos dele me acompanhando.
— Minha mamãe está bem, papai? — O sussurro me pegou
desprevenido. Ele quase não se comunicava conosco.
— Sim, querido. Foi só um enjoo. Mandei-a descansar em casa. —
Apertei sua mãozinha, sentindo o bolo se formar em minha garganta. Archie me
encarou, sério.
— Ela vai ficar dodói igual eu, papai? — Franzi o cenho.
— Não, querido. Sua mãe está bem. Logo você vai ficar igual a ela.
Bem e saudável. — Pincelei seu nariz, vendo-o suspirar e encarar a parede de
novo. — Você está bem, Archie? — Ele assentiu.
— Não quero que minha mamãe fique como eu, papai. — As palavras
sussurradas me fizeram deixar uma lágrima escapar, não consegui conter.
— Sua mãe não queria que você ficasse assim, Archie. Ela daria tudo
para que não fosse desta forma, meu amor — sussurrei beijando sua testa,
vendo-o suspirar. — E não se preocupe. Ela está bem. Você vai ficar, eu tenho
certeza.
— Se eu não ficar. — Encarou-me novamente. — Promete que vai amar
muito minha mamãe, papai?
As palavras quebraram tudo dentro de mim.
— Archie, não fale assim — pedi limpando a única lágrima que caiu dos
seus olhos.
— Promete, papai. — Chorou mais. — Ela me ama muito. Se Deus me
levar igual no filme do cachorrinho onde Deus levava o cachorrinho —
relembrou Marley e eu que assistiu conosco antes do câncer, e que sua mãe
explicava que Deus levava o cachorrinho quando ele chorou ao final ao ver o
bicho sendo sacrificado. — Ela vai ficar triste, papai. Ela não pode ficar triste.
Dói no coração se ela fica triste, papai. — Fez um biquinho adorável e eu só
senti meu corpo se inclinando, abraçando-o forte, afundando meu rosto em seu
peito.
— Não fale assim, Archie. Deus não vai levá-lo. Não vai — afirmei,
mais para ele, do que para mim, pois no momento, tudo que sentia era
desespero. Meu filho de quatro anos já lidava com o fantasma da morte e isso
era demais para mim.
Daria tudo que tenho para não o ver assim. Trocaria de lugar com ele.
Nestes momentos, lamentava que o dinheiro não pudesse comprar isso. Ficaria
sem nada apenas para ter a certeza de que Archie viveria.
Senti suas mãozinhas em meus cabelos, como se me consolasse.
— Você não vai a lugar nenhum, Archie. Não vai — falei firme,
recusando-me a aceitar tudo que ele disse.
E para mim, encarar a morte tão de perto, pela segunda vez, era difícil.
Com Aubrey foi complicado, mas foi tão rápido que a dor só foi sentida dias
depois. Archie não estava desenganado, ele tinha esperanças todos os dias, mas,
mesmo assim, era como se o medo de perder me fizesse pensar constantemente
na morte.
Mamãe estava sentada à mesa do hospital quando vi papai passar pelas
portas da lanchonete onde nós almoçávamos juntas. Ele sorriu ao me ver,
aproximando-se e a primeira coisa que fez foi me abraçar, apertando-me em
seus braços. E me assustei quando ele tocou minha barriga de modo suave.
— Como está meu netinho? — Olhei rapidamente em direção à mamãe,
arregalando os olhos. Ela apenas encolheu os ombros, como se não tivesse nada
com isso. — Sua mãe me falou da gravidez, acabei de ver Archie e queria
parabenizar você e Justin pelo casamento.
— Casamento? — Quase engasguei com isso, vendo mamãe pedir calma
pelas costas do meu pai. — Como assim, casamento?
— Sua mãe falou sobre o pedido de Justin — meu pai falou, sentando-
se. — Fiquei muito feliz em saber que finalmente se acertaram. Você em Nova
Iorque e sozinha com Archie sempre me preocupou, mas com dois bebês, eu
não sei se conseguiria deixar você tão longe, Olivia. Ainda é praticamente uma
menina.
Ele falou isso apertando minha mão, depositando em mim uma
felicidade sobre meu casamento e eu sabia o quão romântico meus pais eram.
Eles sempre quiseram casar a única filha.
E quando eu abri a boca para falar que aquilo não era verdade, eu não
consegui.
— Sim, sim. — Abri um sorriso forçado. — Vamos nos casar.
Papai encarou minha mão.
— Ainda não tem aliança? — indagou com confusão. Revirei os olhos
de modo discreto. É claro que não tinha aliança, eu não ia me casar e assim que
meu pai saísse dali, eu iria matar minha mãe.
— Não tivemos como pensar nisso. Archie, as consultas, o bebê, é tudo
uma bola de neve. — Ele assentiu, apertando minha mão em sinal de conforto
novamente.
— Vai dar tudo certo. Vão se casar em breve e Archie vai estar saudável.
Você vai ter a família que sempre sonhou, minha Liv. — Beijou minha testa e
senti as lágrimas se aproximando, pois era difícil tocar naquele ponto. A família
que eu sempre sonhei. — E eu havia pegado isso no cofre da família quando sua
mãe e eu saímos da cidade. — Tirou uma caixinha do bolso, uma delicada
caixinha num tom rosê e eu sabia o que aquilo significava. Era o anel de
noivado deles. — Guardamos isso para você, afinal, era nossa única filha,
queríamos que usasse algo que significasse para nossa família.
Abriu e eu senti a primeira lágrima cair quando vi o par de alianças de
noivado. Eu já as havia visto em várias fotos da adolescência dos meus pais, vi
aquela caixinha sempre no fundo do porta-joias da mamãe, mas nunca tocava,
pois eu tinha medo de perder.
Era lindo. A feminina imitava uma coroa delicada. Parecia de princesa,
enquanto a masculina era um pouco mais larga e rústica, mas tinha o sinal da
cruz como design.
Suspirei.
— Não posso aceitar, papai. — Empurrei suavemente em sua direção.
— Claro que pode — tornou a repetir, fechando a caixinha e colocando
em minhas mãos. — É sua aliança e de Justin. Significa muito para mim e sua
mãe.
Trocou um olhar apaixonado com ela, fazendo-me suspirar, quase em
desespero. Os dias já estavam difíceis, e mentir sobre um noivado não ajudava
em nada. Mas eu não disse nada, apertando a caixinha entre meus dedos. Meus
pais eram os seres mais apaixonados que eu já conheci.
Ele fazia tudo por ela. E ela só tinha olhos para ele. Era como aqueles
casais de filmes melosos que você deseja para sua vida, mesmo que odeie
romantismo, você ainda pensa, que se for para ser brega e apaixonada, que seja
como eles.
Então, eu não sabia como dizer não a isso.
— Não acredito que você fez nossos amigos vir aqui e depois ir embora
— Olivia falou rindo, enquanto segurava meu braço, caminhando comigo na
praia. O local deserto era perfeito, pois não havia mais ninguém e eu quero
comemorar nosso noivado. Só Archie. Mas estava frio e Olivia nunca o deixaria
vir, com medo de um possível resfriado.
— Claro, você os queria na nossa comemoração? — Parei ao seu lado,
abraçando seu corpo pequeno contra o meu. Ela sorriu. — E sem falar, que
jantamos todos juntos. Brindamos. Quando voltarmos para Nova Iorque, damos
uma festa de noivado e todo mundo comemora. Eu precisava de alguém para
me ajudar a te trazer aqui sem dar suspeitas e ainda filmar o pedido. Colecionar
memórias. Ali. — Apontei em direção à manta de flanela que deixei jogada
sobre a praia, pois eu pensei sobre cada momento desta noite muito mais do que
era capaz de contar.
Sentamo-nos e vi Liv revirando os olhos enquanto segurava meu rosto,
beijando meus lábios.
— Você é terrível.
— E você me ama — respondi rapidamente, fazendo-a rir.
— É, você é terrível, mas até dá para o gasto — falou debochada,
fazendo-me suspirar, aproximei-me, beijando o ombro nu por causa do vestido.
Senti as mãos de Olivia em meus cabelos, alinhando os fios para trás. Beijei seu
pescoço, sentindo o cheiro do perfume delicado, mordiscando a pele e a senti
ela suspirando baixinho. — Não podemos fazer isso aqui — disse sorrindo, com
as mãos pequenas descendo contra minha blusa, adentrando-a até que encontrou
minha pele, eu a senti deslizando por lá, provocativa.
— Então não me provoque — falei contra sua orelha, puxando-a para
meu colo e senti o paraíso sendo descrito quando Olivia estava sentada em cima
de mim, mesmo vestida. Minhas mãos deslizaram em torno da sua perna,
subindo, fazendo o vestido se amontoar em sua cintura.
— Você quem começou — acusou, mas suas mãos já estavam na barra
da minha camisa, puxando a peça para cima e deixei ir sem nenhum problema
com isso. Busquei a sua boca, beijando-a lentamente, deslizando por suas
pernas, alcançando a calcinha de renda, puxando-a para baixo. Ela se moveu em
meu colo, dando espaço para que a peça descesse e subi novamente, tocando
minha futura esposa enquanto sentia sua boca na minha, suas mãos em meu
corpo, deixei um suspiro escapar, deitei-a sobre a manta e cobri seu corpo com
o meu.
Senti meu pau responder quando o gemido baixo de Olivia escapou,
fazendo-me mover os dedos contra sua boceta molhada mais rapidamente. Eu
não sabia o que acontecia, sexo sempre foi bom, mas com Olivia era sempre
melhor. Sem falar em como tudo acontecia rápido, passava a maior parte do
tempo desejando estar dentro dela e quando isso não acontecia, meu pau me
envergonhava, porque ele já estava completamente domado.
Puxei seu vestido para fora do seu corpo, deixando-a apenas de lingerie
embaixo de mim e me abaixei, ficando entre suas pernas, alcançando a barriga
onde nossa filha crescia e beijei ali, sentindo-me a porra do homem mais
sortudo do mundo neste momento.
Não queria parar de pensar no quanto era bom estar neste momento.
— Justin. — O sussurro veio como um pedido e me aproximei de sua
entrada, senti o gemido ficar preso contra os lábios de Olivia quando finalmente
juntei nossos corpos, sentindo sua boceta acomodando meu pau, e foi lento,
delicioso demais para conter, então apenas me movi contra ela, mantendo
minhas mãos pelo corpo da minha futura
— Eu amo você — sussurrei contra sua boca, suave. Não me lembro se
já estivemos assim, sem que tivesse mágoa ou raiva. Era apenas desejo, o mais
puro desejo quando sentia seu corpo se moldar ao meu. Ela sorriu, gemendo
meu nome enquanto suas pernas estavam ao redor da minha cintura. Aproximei-
me do seu pescoço, deslizando a boca pela sua pele, sabendo que não havia
nada melhor do que estar dentro dela.
DUAS SEMANAS DEPOIS
Parei em frente à enorme grade de tecidos, sem saber ao certo qual
escolher para essa peça que estava me dando um trabalhão. Era um vestido para
festa fantasia de uma aspirante à atriz. Queria algo que fosse elegante e, ao
mesmo tempo, sexy. E nisso, a mulher havia me metido em uma confusão de
ideias.
Suspirei, pegando uma peça de tafetá preto e joguei sobre o balcão,
encarando-o sem saber ao certo o que fazer. Bufei, contrariada, meu celular
acima do balcão apitou e eu não me dei o trabalho de ver.
A porta do ateliê se abriu e uma senhora passou por ela, carregando uma
bolsa quase maior que ela, fazendo-me segurar o sorriso. Porém, ela percebeu,
rindo junto e colocou a bolsa em um canto, arrumando os cabelos loiros no
lugar, organizando a roupa social e que me lembrava muito os ternos que Justin
vestia para o trabalho.
Eu gostava de brincar com ele, dizendo que parecia o poderoso
chefinho.
— Bom dia! — ela disse por fim.
— Bom dia — respondi. — Em que posso ajudá-la? — perguntei,
rezando para que não fosse nenhum pedido maluco.
— Sou Taylor Arnold, sou editora chefe do site Haphazard. — Abri a
boca, em choque. Recordando-me exatamente de onde a conhecia. — Somos
um dos maiores sites dos Estados Unidos no nicho de moda e estilo —
explicou, colocando um panfleto com a logomarca do site à minha frente.
O site fora criado há mais de sete anos, era referência em críticas de
novos modelos, dicas de vestimentas e com entrevistas e dicas de designs da
região. Só de pensar que eu estava falando com Taylor Arnold ficava com
palpitação. Fazia muito tempo que não a via em vídeos ou fotos, pois com o
crescimento do site, ela passou a designar outras pessoas para as mídias e ficava
mais como CEO e presidente da marca.
— Há pouco tempo, tivemos uma entrevista com Ashley Hall, onde
perguntamos onde fora feito o vestido usado no baile beneficente. — Abri a
boca, em choque. — Ela me passou seu nome, espero que seja Olivia Turner.
Sorriu simpática e eu tive dificuldades para respirar.
— Sim, sou eu mesma — respondi. Buscando ar.
— Ah, Olivia, fiquei apaixonada pelo seu modelo. Sério, estava perfeito.
— Eu a olhei com desconfiança, Taylor era conhecida no site por ser muito
exigente com a moda.
— Hum... obrigada — murmurei, sem saber ao certo o que falar.
— Tenho uma proposta a você, mas pelo visto, está muito ocupada no
momento. — Olhou ao redor, vendo o ateliê um tanto bagunçado. Senti minhas
bochechas corarem. — Quero que me ligue se estiver disposta a tomar um café
comigo para conversarmos melhor.
Anotou seu telefone no panfleto, deixando-me estática.
— Obrigada, vou ligar sim — garanti sorrindo. Vi Taylor se despedir, e
eu permaneci em pé, sem acreditar no que havia acabado de acontecer.