Você está na página 1de 5

ATIVIDADE PEDAGÓGICA VALORADA DE

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PERÍODO: 1º SÉRIE: 3ª Ensino Médio

A atividade contará com três momentos:


1) A dupla assistirá ou mesmo reassistirá ao filme Pantera Negra (2018);
2) Em seguida, farão a leitura dos textos de apoio que servirão como bases contextuais,
históricas e analíticas para a reflexão sobre o filme. São três as fontes: a) Capítulo 28 do
Livro “Projeto Múltiplo – História – parte 2”; b) Artigo ‘Pantera Negra: uma breve análise
sociológica’; c) Artigo ‘Pantera Negra e o neocolonialismo de Hollywood’.
3) A dupla resolverá questões propostas no dia 20/03, em sala de aula, conforme o horário
previamente divulgado.

Pantera Negra: uma breve análise sociológica


https://www.pressenza.com/pt-pt/2018/02/pantera-negra-breve-analise-sociologica/

Sucesso de bilheteria, filme “Pantera Negra (Black Panther)” traz elementos da cultura africana e referências históricas.

Cinema e Representatividade – O caso Pantera Negra


Em dez dias o filme “Pantera Negra” (Black Panther no original) arrecadou 400 milhões de dólares nos Estados
Unidos e mais de 300 milhões ao redor do mundo, desbancando filmes como “Capitão América, o primeiro
vingador de 2011” e “Hulk: o homem incrível de 2008”. O trailer da trama teve quase 29 milhões de visualizações.

Os números astronômicos e o sucesso de bilheteria fazem de “Pantera Negra” um dos sucessos da Marvel. A
história fala sobre o reino de Wakanda, país fictício situado no continente africano e dono do metal mais precioso
da Terra: o vibranium, capaz de ser altamente resistente e gerar energia e riquezas sem precedentes. Por conta
de seu alto valor, muitos contrabandistas tentam roubá-lo. Wakanda detem a maior reserva do mineral. Uma
alusão clara aos recursos naturais africanos e a expropriação feita pelos países invasores e que atualmente ocorre
via grandes empresas multinacionais.

T’Challa é o príncipe herdeiro de Wakanda e o “Pantera Negra”. Após a morte do seu pai tem que assumir o trono
e as funções de rei. O país é um “El Dorado”, extremamente rico e detentor de alta tecnologia que é desenvolvida
por uma mulher. As mulheres no filme ocupam um papel central, o que traz a tona a questão da igualdade de
gênero.

(Imagem: divulgação)

Tipos Sociais e Representação: “Pantera Negra” e a Construção do Imaginário Coletivo


O cinema é extremamente potente. Filmes e conteúdos audiovisuais no seu sentido amplo são capazes de criar
signos. De dar sentido para as coisas. Uma construção paulatina e complexa que molda a forma que enxergamos
a realidade. No Brasil, por exemplo, sempre esteve em questão a forma em que as negras e negros apareciam
nas telenovelas, principal produto de nossa indústria audiovisual. Isto é: que tipo de papel era reservado para esse
segmento? Como os mesmos eram retratados?

Em “Pantera Negra” há negras e negros ocupando lugar de destaque. Como heróis, isso é extremamente
significativo para uma criança negra que brinca de super herói e que muita das vezes não se vê representada. O
recente filme sobre a Mulher Maravilha (2017) é um exemplo disso para o caso das meninas. Isso significa olhar
para um filme e se enxergar. Se ver representado.

O continente africano de um modo geral sempre fora retratado de modo animalesco, como se só existisse a vida
animal, como no caso do filme “O Rei Leão (1994)”. Os documentários disseminados mundo afora também
insistem em tratar apenas a vida animal ou retratar a extrema pobreza. Se torna vital falar dos problemas e das
dificuldades e questionar a sua origem, mas não se pode esquecer de toda a riqueza não somente material, em
diversas reservas de diamante, ouro e petróleo, como a riqueza cultural cristalizada nas diversas línguas,
expressões e formas de viver e de ver o mundo.

As referências a cultura afro permeiam toda a estética do filme, no figurino, nos cenários e nas trilhas sonoras que
trazem elementos do hip-hop e de ritmos africanos.
Lupita Nyong’o e Letitia Wright em Pantera Negra (2018) (Imagem: Divulgação)

Violência ou Não-Violência?
O filme é um choque para muitos por seu teor provocativo. Ao colocar personagens negros no centro, muitas
pessoas podem se sentir incomodadas, como tem acontecido no Brasil e no mundo afora. Além dos diversos
questionamentos a respeito das invasões e saques feitos por países europeus. O que toca no ego de muita gente.

Além disso o filme traz uma solução para o problema: a educação. A disputa de poder entre T’Challa e seu primo
Erik Killmonger pode ser entendida como uma alusão às duas alternativas para solucionar os problemas trazidos
pela chamada “colonização” e a escravidão/saque do continente africano. De um lado temos a solução da
violência, das armas e da ação segundo o modus operandi do colonizador. De outro temos a educação como
caminho para a melhoria da qualidade de vida e para a superação das desigualdades. O caminho da não
violência. A não-violência vence.

A representatividade é algo vital para diversos grupos marginalizados, como negros e negras, outras minorias
étnicas como os indígenas, LGBTs, pessoas com deficiência e etc. Dar voz e quebrar estereótipos se torna mais
do que necessário, se torna imprescindível para a construção de sociedades igualitárias. Pantera Negra se
constitui em uma filmografia obrigatória para pensar representatividade.

texto por Vinícius Chamlet


Pantera Negra e o neocolonialismo de Hollywood
https://porem.net/2018/05/11/pantera-negra-e-o-neocolonialismo-de-hollywood/

Imagem: Divulgação / Walt Disney Studios Motion Pictures


Roberto Blatt*

Finalmente assisti ao badalado Pantera Negra (EUA, 2018) dirigido por Ryan Coogler. Tenho costume de ser
honesto e rápido como crítico: não gostei desse filme, e quando digo não gostar eu quero dizer que ele tem coisas
realmente detestáveis. O papel do crítico, diz o coro, é analisar e não defender seu gosto. Essa concepção de
crítica não será praticada aqui.

Estabelecido esse pressuposto da minha liberdade de escrita, vamos lá. Eu já sabia que eu não iria gostar desse
filme do mesmo modo que não gostei de “Mulher Maravilha” que contém objetificação até no nome. Mesmo assim
tentei vê-lo sem prejuízos e na esperança de ser surpreendido positivamente. Essas esperanças estavam
depositadas na expectativa de um filme de afirmação do negro, de um artefato cultural que contribua para uma
nova cultura sem racismo. É possível que o filme tenha esse aspecto positivo pois, com ele, a juventude foi
exposta à um herói negro com todas as virtudes e belezas padrão de um branco. Obviamente esse argumento
também deve ser bem medido, visto que existem 17 filmes com heróis brancos e apenas 1 negro, ao menos no
universo Marvel.

A impressão que dá, com o conjunto da obra, é que a África para ser um lugar legal teria de ser uma Tóquio ou os
bastidores de um Movie Awards. Isso não me parece nada além de neocolonialismo expresso na própria origem
da produção do filme, no idioma predominante e mesmo nas subtramas da obra que implicam certas visões para
além do que os personagens falam. Por exemplo, o papel da CIA no mundo é “denunciado” numa ou outra fala,
mas ao fim e ao cabo, o agente branco é um herói crucial da história. É o novo cowboy. Tem quase o mesmo
protagonismo do piloto homem que se sacrifica em “Mulher Maravilha”.

A primeira hora do filme é realmente uma hora perdida, com exceção da bela paisagem, que não foge à um olhar
mais treinado para detectar CGI puro. A introdução de uma personagem (irmã do protagonista) como alívio cômico
soou muito clichê. E claro, cena de perseguição de carro, não pode faltar, ainda que seja nas ruas da high tech
Coreia do Sul. Bota esses carros modernos pra correr atrás do clichê que eles alcançam.

Os personagens dos filmes de heróis são sempre muito ruins e aqui não é diferente. Tem traços simplórios,
mesmos os protagonistas. Ficamos mais encantados com os sorrisos do que com qualquer traço psicológico ou
atuação dos atores que são sempre mais do mesmo, desde Chadwick Boseman até Danai Gurira, a Michonne de
TWD, que aqui parece … a Michonne de TWD.

A trama obedece aquilo que o estudioso David Bordwell classifica como o “desgastado e repetido” modelo de
roteiros hollywoodianos clássicos: uma situação de equilíbrio, seguida de uma instabilidade para finalmente
ocorrer a recuperação do equilíbrio. Boriiiiiing. E tem até beijo hétero no final, para alegria da audiência de novela
das 8.

Os estereótipos de ostentação também estão lá: grandes correntões usados nas periferias aparecem no peito dos
personagens! Essas correntes eu vejo como grilhões. Por fim, o rei-conservador-moderado derrota o esquerdista-
terrorista que queria distribuir a riqueza e insuflar a rebelião no mundo. Vitorioso, esse “CEO” de Wakanda propõe
uma ONG para dar futuro aos jovens que só vêem no basquete uma saída da pobreza. Ele é muito caridoso. Que
lindo! E ainda faz um belo discurso na ONU, essa instituição onde não há poder americano envolvido, essa
maravilhosa ágora idílica multicultural.

A única coisa interessante desse filme são as metáforas de colonialismo invertido. Wakanda é um reino hiper
tecnológico mas mantem-se neutra, não invade nenhum país, como poderia fazer se quisesse, para dilapidar suas
riquezas, prática de que a África foi vítima. Mesmo assim é uma metáfora nefelibata.

Não chego a falar em neo-tarzanismo. Devo dizer, porém, que a expressão não me parece totalmente fora de
foco. O filme tem suas qualidades como diversão, talvez no mesmo nível de alguns dos melhores desse gênero.
Diversão no mesmo nível de um dos meus preferidos X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, mas abaixo de
Logan. Muito abaixo do melhor filme de heróis que já vi, Watchmen do Zack Snyder. Aliás, Pantera Negra talvez
ainda fique abaixo de até Batman vs Superman, filme super detonado pela crítica, que aposto, irá envelhecer bem.
Mas as cenas de lutas de Pantera Negra são boas, e as tiradas de humor dão-lhe uma leveza que talvez nem
fosse necessária.

* Roberto Blatt, professor de filosofia na rede pública estadual, é fã de cinema, cineclubista e pesquisa as relações entre
cinema, filosofia e educação no âmbito do Mestrado Profissional em Filosofia da UFPR desde 2017.

Você também pode gostar