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Dramaturgia – Um gênero nem sempre lembrado.

Givaldo Moises de Oliveira

Quando falamos de literatura, imaginamos imediatamente prosa e poesia, e esquecemos que a


dramaturgia faz parte da literatura, pois pertence ao gênero dramático, e que possui tanta
importância quanto à poesia e a prosa. Mas sentimos que essa área literária é muitas vezes
deixada para trás, muitas vezes por falta de contato com este estilo literário ou por falta de
conhecimento dos seus aspectos estruturais. Pois a literatura dramática reconstitui tanto quanto
a poesia/prosa toda a visão econômica, social, política da história de uma sociedade. Segundo
o dicionário de teatro (Dicionário de teatro/Patrice Pavis:tradução para língua portuguesa sob
a direção de J.Guinsburg e Maria Lúcia Pereira- São Paulo:Perspectiva,1999.p 113 ):
“A dramaturgia, no seu sentido mais genérico, é a técnica (ou a poética) da arte
dramática, que procura estabelecer os princípios de construção da obra, seja
indutivamente a partir de exemplos concretos, seja dedutivamente a partir de um
sistema de princípios abstratos. Esta noção pressupõe um conjunto de regras
especificamente teatrais cujo conhecimento é indispensável para escrever uma
peça e analisá-la corretamente... A dramaturgia, no seu sentido mais recente,
tende portanto a ultrapassar o âmbito de um estudo de texto dramático para
englobar texto e realização cênica... O objetivo final da dramaturgia é
representar o mundo ,seja sobre a ótica de um realismo mimético ,seja quando
toma distancia em relação a mimese ,contentando –se em figurar um universo
autônomo .”

Neste sentido Antonino Solmer (Manual de teatro-Cadernos ContraCena,Lisboa ;1999,p 81)


faz uma reflexão sobre as mudanças ocorridas no que tange a dramaturgia :
A definição de texto de teatro, ou a de texto para teatro, não é tido pacífica como
possa parecer à primeira vista. Se até ao final do séc. XIX tal definição estava
relativamente assente, aplicada a um conjunto de obras da literatura universal
caracterizado, grosso modo, por possuir personagens cênicas definidas, diálogos
e conflito modelado em situações dramáticas, ao longo deste século, essa certeza,
como muitas outras, foi razoavelmente posta em causa. E, se é evidente que o
conceito clássico de “peça de teatro” não desapareceu, e continua a ser
cultivado, editado e ensinado, não é menos verdade que a noção de “texto” em
teatro sofreu um questionamento e uma evolução — acompanhando a própria
evolução dos estudos literários e lingüísticos — que não deixou incólume a pró-
pria noção de “peça” como “objeto literário apropriado para mostrar em cena”.
Assim, a primeira bifurcação no conceito de texto em teatro poderá situar-se hoje
entre o texto de teatro e o texto para teatro.

A reflexão sobre o texto de teatro e o texto para teatro se refere aos meios empregados na
produção literária, pois ambos são textos literários, mas uns possuem uma narrativa construída
que dificulta a possibilidade de representação. Sendo assim texto para teatro seria aquele que
inspira teatralidade cênica, e texto de teatro corresponde a uma literatura dramática apropriada
apenas como leitura teatral.De acordo com Henning Nelms (Como fazer teatro/Henning
Nelms: tradução Bárbara Heliodora. -Rio de janeiro: Letras e Artes, 1964,p 38), “... A função
primordial de um texto é a de inspirar os artistas interpretativos... A segunda função do texto
é a de favorecer aos atores as palavras que deverão dizer no palco”.Compartilhando do
pensamento de Henning, Maria Lucia Aragão (Manual de teoria literária/Org. Rogel Samuel-
Petrópolis, Vozes, 1985. p79) diz : “...Consideramos, pois obras dramáticas, aquelas em que

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a história ( fábula,o mito) ou os caracteres e as emoções são imitados não através do
discurso de um narrador (como no caso do épico),mas sim através de personagens em ação”.

Uma vez que o gênero dramático é uma literatura que provoca ação, essa ação
automaticamente reflete o pensamento e valores ideológico do qual está inserida. Nesse
sentido Hennig Nelms (Como fazer teatro/Henning Nelms: tradução Bárbara Heliodora -Rio
de janeiro: Letras e Artes, 1964, p 48-49) apresenta uma escala de valores presentes nos textos
dramáticos:

Valores Intelectuais.
1) As idéias que dominam uma peça são chamadas “os valores filosóficos”. Uma moral.

2) - Além dos valores filosóficos, um texto tem valores educacionais. O didatismo no teatro
em geral tem de ser bastante disfarçado, mas isso de forma alguma diminui sua eficiência.

Valores emocionais
1) Em muitas peças as experiências dos personagens (ou pelo menos dos principais), são
compartilhadas pela platéia por meio da imaginação. Essa “experiência por identificação”
produz emoções e é uma das principais formas de atração do teatro”.

(2) Também existem valores emocionais nos quais o espectador está emocionalmente distante
do personagem. O melhor exemplo é o do riso - rimos de um personagem sobre o qual alguém
fez uma piada, mas não rimos com o personagem que disse a piada.

Valores Abstratos.
Ficam incluídos: 1) elementos visuais - beleza, espetáculo, etc.
2) elementos auditivos - poesia, tonalidade de vozes, música, etc.
3) atrações abstratas para a mente que se formam por meio da coerência do espetáculo, seu
ritmo, etc.

O valor intrínseco nos textos dramático de acordo com o gênero teatral reflete o contexto a
qual o homem está inserido. Em se tratando de gênero dramático – tragédia / comédia –
analisaremos agora de forma sucinta cada categoria e sua especificidade.

A TRAGÉDIA

Segundo o dicionário de teatro (Dicionário de teatro/patrice Pavis:tadução para língua


portuguesa sob a direção de J.Guinsburg e Maria Lúcia Pereira- São Paulo:Perspectiva,1999.p
415-416 ) tragédia corresponde :

(Do grego tragoedia, canto do bode — sacrifício aos deuses pelos gregos.)
Peça que representa uma ação humana funesta muitas vezes terminada em morte.
ARISTÓTELES dá uma definição de tragédia que influenciará profundamente os
dramaturgos até nossos dias:
“A tragédia é a imitação de uma ação de caráter elevado e completo, de uma
certa extensão, numa linguagem temperada com condimentos de uma espécie
particular conforme as diversas partes, imitação que é feita por personagens em
ação e não por meio de uma narrativa, e que, provocando piedade e temor, opera
a purgação própria de semelhantes emoções” (1449b).

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Vários elementos fundamentais caracterizam a obra trágica: a catharsis ou
purgação das paixões pela produção do terror e da piedade; a hamartia ou ato
do herói que põe em movimento o processo que o conduzirá à perda; a hybris,
orgulho e teimosia do herói que persevera apesar das advertências e recusa
esquivar-se; o pathos, sofrimento do herói que a tragédia comunica ao público. A
seqüência tipicamente trágica teria por “fórmula mínima”: o mvthos é a míimese
da práxis através do pathos até a anagnoris. O que significa, dito de maneira
clara: a história trágica imita as ações humanas colocadas sob o signo dos
sofrimentos das personagens e da piedade até o momento do reconhecimento
das personagens entre si ou da conscientização da fonte do mal.

Segundo Lúcia Helena (A tragédia grega/Lúcia Helena; In: Teatro sempre.Rio de


janeiro,Tempo brasileiro n.72,1983,p.23), “...A tragédia configura o caráter do herói e o seu
destino. A ironia trágica seria exatamente a oscilação entre estas duas tabuas de valores, a
impossibilidade de se poder optar por uma em particular.” Na visão de Aristóteles a tragédia
exalta a imitação das ações nobres, isso seria as atitudes elevadas dos seres humanos .

O coro na tragédia

Termo comum à música e ao teatro. Desde o teatro grego, coro designa um grupo homogêneo
de dançarinos, cantores e narradores, que toma a palavra coletivamente para comentar a ação,
à qual são diversamente integrados.
A tragédia grega teria nascido do coro de dançarinos mascarados e cantores: o que demonstra
a importância desse grupo de homens que, aos poucos, deu forma às personagens
individualizadas, depois que o chefe do coro instaurou o primeiro ator, que pouco a pouco se
pôs a imitar uma ação (tragédias de TÉSPIS). ÉSQUILO, depois SÓFOCLES introduziram
um segundo ator e em seguida, um terceiro.
A origem do teatro grego — e com ele, da tradição do teatro ocidental — confunde-se com as
celebrações ritualísticas de um grupo no qual dançarinos e cantores formam, ao mesmo tempo,
público e cerimônia. A forma dramática mais antiga seria a recitação do corista principal in-
terrompida pelo coro. O coro trágico, disposto num retângulo, compreende uma dúzia de
coreutas, ao passo que o coro da comédia utiliza até vinte e quatro pessoas. A partir do
momento em que as respostas e comentários do coro são cantados pelos coreutas e falados
pelo corifeu (chefe do coro), o diálogo e a forma dramática tenderam a suplantá-lo e o coro se
limita a um comentário marginal (advertência, conselho, súplica).A partir do momento em que
as respostas ao coro passam a ser dadas por um, depois por vários protagonistas, a forma
dramática (diálogo) passa a ser a norma, e o coro não é mais senão uma instância que comenta
(advertências, conselhos, súplica).

Evolução do Coro

Na comédia aristofânica, o coro se integra amplamente à ação, dirigindo-se ao público, para


expor os pontos de vista ou reclamações do autor. Depois, tende a desaparecer ou a restringir-
se apenas à função de entreato lírico.
Na Idade Média, assume formas mais pessoais e didáticas e atua como coordenador épico dos
episódios apresentados, e se subdivide, no interior da ação, em subcoros que participam da
fábula.
No século XVI, em particular no drama humanista, o coro separa os atos, toma-se entreato
musical. SHAKESPEARE o personaliza e o encarna num ator encarregado do prólogo( parte
que antecede a peça propriamente dita,trata-se de um prefácio da peça sem entrar nas intrigas

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e desenvolvimento do espetáculo) e do epílogo(discurso recapitulativo no final de uma peça
para tirar as conclusões da história , agradecer ao publico,e estimular a extrair a lição moral ou
política do espetáculo). O clown e o bobo, que prenunciam o confidente do teatro clássico
francês, são sua forma paródica.
O classicismo francês, em ampla escala, renuncia ao coro, preferindo a iluminação intimista
do confidente (personagem secundário que houve confidencias do protagonista, aconselha-o e
o orienta) e do solilóquio (discurso que uma pessoa ou um personagem mantém consigo
mesma).
No século XIX realista e naturalista, o emprego do coro entra nitidamente em declínio para
não chocar a verossimilhança; ou, então, se encarna em personagens coletivas: o povo. Um
vez ultrapassada a dramaturgia ilusionista, o coro faz, hoje, sua reaparição como fator de
distanciamento (BRECHT), ou na comédia musical (função mistificadora e unanimista do
grupo soldado pela expressão artística: dança, canto, texto).

A COMÉDIA

Segundo Patrice Pavis (Dicionário de teatro/patrice Pavis:tadução para língua portuguesa sob
a direção de J.Guinsburg e Maria Lúcia Pereira- São Paulo:Perspectiva,1999.p52): “No
sentido literário e antigo ,comédia designa qualquer peça ,independente do gênero”.
Tradicionalmente, define-se a comédia por três critérios que a opõem à tragédia:
• Suas personagens são de condição modesta.
• Seu desenlace é feliz e sua finalidade é provocar o riso no espectador. A visão de
Aristóteles representava uma imitação de homens de qualidade moral inferior. A
comédia nada tem a extrair de um fundo histórico ou mitológico; ela se dedica à
realidade quotidiana e prosaica das pessoas comuns: daí sua capacidade de adaptação a
qualquer sociedade, a infinita diversidade de suas manifestações e a dificuldade de
deduzir uma teoria coerente da comédia.
• Quanto ao desenlace, ele não só não poderia deixar cadáveres nem vítimas
desencantadas, como desemboca quase sempre numa conclusão otimista (casamento,
reconciliação, reconhecimento).
O riso do espectador ora é de cumplicidade, ora de superioridade: ele o protege contra a
angústia trágica, propiciando-lhe uma espécie de anestesia ativa.
O público se sente protegido pela imbecilidade ou pela doença da personagem cômica; ele
reage, por um sentimento de superioridade, aos mecanismos de exagero, contraste ou surpresa.
Tendo surgido ao mesmo tempo que a tragédia, a comédia grega, e depois dela toda peça
cômica, é o duplo e o antídoto do mecanismo trágico.
Os dois gêneros respondem, então, a um mesmo questionamento humano, e a passagem do
trágico ao cômico (como a do sonho angustiado do espectador “paralisado”, ao riso libertador)
é garantida pelo grau de investimento emocional do público.
Tal movimento produz estruturas bem diferentes em cada caso:
• Do mesmo modo que a tragédia está ligada a uma série obrigatória e necessária de
motivos que levam protagonistas e espectadores em direção à catástrofe, sem que dela
possam se “desvencilhar”.
• A comédia vive da idéia repentina, das mudanças de ritmo, do acaso, da inventividade
dramatúrgica e cênica.
Isto não significa, entretanto, que a comédia sempre escarneça da ordem e dos valores da
sociedade em que opera; de fato, se a ordem é ameaçada pela extravagância cômica do herói, a
conclusão se encarrega de chamá-lo à ordem, às vezes com amargura, e de reintegrá-lo à

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norma social dominante. As contradições são finalmente solucionadas de modo agradável (ou
estridente) e o mundo restabelece seu equilíbrio.
A comédia apenas deu a ilusão de que os fundamentos sociais poderiam ser ameaçados, mas
“era só para rir”. Ainda aí, o restabelecimento da ordem e o happy end devem passar primeiro
por um momento de flutuação no qual tudo parece perdido para os bons, que desembocará, em
seguida, na conclusão otimista e na resolução final.

TIPOS DE COMÉDIAS

È necessários ter em mente que a comédia se divide em: Baixa e alta conforme a qualidade
dos procedimentos cômicos.
A baixa comédia usa procedimentos de farsa, de comicidade visual (gag, lazzis, surra de
pauladas), enquanto a alta ou grande comédia usa sutilezas de linguagem, alusões, jogos de
palavra e situações mais ‘espirituais”. A farsa ou a bufonaria pertencem à baixa comicidade.

Comédia Antiga: No teatro grego (século V a.C.), a comédia antiga derivada dos ritos de
fertilidade em homenagem a DIONISO, era uma sátira violenta, muitas vezes grotesca e
obscena (Aristófanes).
Comédia-Balé: Comédia em que balés interferem no curso da ação da peça ou como
intermédios autônomos entre cenas ou atos. Usualmente, a comédia-balé é construída com
base em uma sucessão de entradas de balé, passagens dançadas que formam uma série
ininterrupta de cenas sucessiva.
Comédia Burlesca: Comédia que apresenta uma série de peripécias cômicas e chistes
(burlas) burlescos que ocorrem com uma personagem extravagante e bufona.
Comédia de Caráter: A comédia de caráter descreve personagens esboçadas com muita
precisão em suas propriedades psicológicas e morais. Ela leva a um certo estatismo ao propor
uma galeria de retratos que dispensam a intriga, a ação e o movimento contínuo para tomar
corpo. Floresce no Grande Século e no início do século XVIII.
Comédia de Costumes: Estudo do comportamento do homem em sociedade, das diferenças
de classe, meio e caráter (ex. a Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, e no século XIX, o drama
naturalista).
Comédia de Gaveta: A comédia de gaveta oferece uma seqüência de esquetes ou de cenas
curtas em torno de um mesmo tema e com variações de um mesmo conflito, multiplicando
episódios cuja tendência é se tornarem autônomos. Os Importunos de Moliêre, é o exemplo
mais célebre de uma galeria de retratos da pessoa desagradável na sociedade do século XVII.
Comédia de Humores: A comedia de humores surgiu na época de Shakespeare e de Ben
Johnson. A teoria dos humores, baseada na concepção médica dos quatro humores que regem
a conduta humana, visa criar personagens-tipo, que são determinadas fisiologicamente e que
agem em função de um humor, mantendo comportamento idêntico em todas as situações. Esse
gênero é semelhante ao da comédia de caráter” que diversificará os critérios de
comportamentos estendendo-os a traços sociais, econômicos e morais.
Comédia de Idéias: Peças onde são debatidos, de forma humorística ou séria, sistemas de
idéias e filosofias de vida.
Comédia de Intriga: Opõe-se à comédia de caráter. As personagens são esboçadas de modo
aproximado e os múltiplos recrudescimentos da ação propiciam a ilusão de movimento
contínuo da ação.
Comédia de Salão: Peça que quase sempre mostra personagens discutindo num salão
burguês. O cômico é exclusivamente verbal, muito sutil e à procura da palavra certa ou da
palavra do autor. A ação se restringe à troca de idéias, de argumentos ou de mordacidades
formuladas de modo agradável.

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Comédia de Situação: Peça que se caracteriza mais pelo ritmo rápido da ação e pelo
imbróglio da intriga que pela profundidade dos caracteres esboçados. Como na comédia de
intriga passa-se sem cessar de uma outra situação, sendo que a surpresa o qüiproquó e o golpe
de teatro são seus mecanismos favoritos.
Comédia Heróica: Gênero intermediário entre a tragédia e a comédia, a comédia heróica
coloca personagens de alta linhagem em apuros numa ação de final feliz. A tragédia toma-se
heróica quando o sagrado e o trágico cedem lugar à psicologia e ao compromisso burguês. O
heróico, na comédia e na tragédia, manifesta-se pelo tom e pelo estilo muito elevados, pela
nobreza de ações, por uma série de conflitos violentos (guerra, rapto, usurpação), pelo
exotismo de lugares e personagens, pelo tema ilustre e heróis.O herói-cômico é uma paródia
do tom heróico, uma descrição em termos prosaicos de ações nobres e sérias.
Comédia Lacrimosa: Gênero equivalente ao drama burguês do século XVIII,Cujos temas,
tomados por empréstimo à vida quotidiana do mundo burguês, provocam emoção, e até
mesmo lágrimas do público.
Comédia Negra: Gênero que se aproxima do tragicômico. A peça, de comédia, só tem o
nome. Sua visão é pessimista e desiludida sem dispor sequer do recurso da solução trágica. Os
valores são negados e a peça só acaba “bem” por um esforço irônico. (Ex: A Visita da Velha
Senhora, de Dürrenmatt).
Comédia Nova: Teatro cômico grego (século IV a.C.) que pinta a vida cotidiana, apela para
tipos e situações estereotipadas. Influencia os autores latinos, prolonga-se na Commedia
dell’arte e na comédia de situação e de costumes da era clássica.
Comédia Pastoral: Peça que exalta a vida simples dos pastores, eleitos como protótipos da
existência inocente, utópica e nostálgica dos bons e velhos tempos. Aparece, sobretudo, nos
séculos XVI e XVII.
Comédia Satírica: Peça que põe em cena e critica uma prática social ou política ou um vício
humano.
Commedia Dell’ Arte: A Commedia dell‘arte era, antigamente, denominada comédia de
improviso, na França, comédia italiana, comédia das máscaras.
Foi somente no século XVIII que essa forma teatral, existente desde meados do século XVI,
passou a denominar-se Commedia deIl’arte - a arte significando ao mesmo tempo arte,
habilidade, técnica e o lado profissional dos comediantes, que sempre eram pessoas do oficio.
Farsa: Modalidade teatral cômica que se caracteriza pelos personagens e situações
exageradas, a farsa se distingue da comédia propriamente dita por não observar regras de
verossimilhança e difere da sátira ou da paródia por não pretender questionar valores.
Geralmente desligada da reflexão estética e de propósitos éticos ou didáticos, às vezes ganha
conteúdo crítico ou de denúncia à revelia do autor.

A TRAGICOMÉDIA

A tragicomédia é uma peça que participa ao mesmo tempo da tragédia e da comédia, O termo
(tragico-comoedia) é empregado pela primeira vez por Plauto no prólogo do Anfitrião.A
tragicomédia se desenvolve realmente a partir do Renascimento. O que difere a tragédia da
tragicomédia e a finalização, pois na tragicomédia tudo acaba bem. Pode-se ver na
tragicomédia um romance de aventuras e de cavalaria. Aí se passam muitas coisas: encontros,
reconhecimentos, qüiproquós, aventuras galantes. Enquanto a tragédia clássica é respeitosa
com as regras, a tragicomédia se preocupa com o espetacular, com o surpreendente, com o
heróico, com o patético, com o barroco, para dizer tudo.

O DRAMA

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Num sentido geral, o drama é o poema dramático, o texto escrito para diferentes papéis e de
acordo com uma ação conflituosa. Representa o intermediário entre a comédia e a tragédia,
sendo uma dramaturgia híbrida, criada no romantismo, que propõe a harmonização dos
contrários através da fusão do tragico com o cômico, do sublime com o grotesco, etc.

AUTO

Os autos eram peças religiosas alegóricas representadas na Espanha ou em Portugal por


ocasião de Corpus Christi e que tratam de problemas morais e teológicos (o sacramento da
eucaristia). O espetáculo era apresentado sobre carroças, e mesclava farsas e danças à história
santa e atraía o público popular. Elas se mantiveram durante toda a Idade Média, conheceram
seu apogeu no Século de Ouro, até sua proibição, em 1765. Tiveram grande influência sobre
dramaturgos portugueses (Gil Vicente) ou espanhóis (Lope De Vega, Calderon etc.) no Brasil
(José de Anchieta, Ariano Suassuna, etc.).

As funções dos personagens na dramaturgia

Nem mesmo os personagens principais são importantes em si mesmos, mas apenas quando
interpretados em relação ao total da peça.
Segundo Hennig Nelms (Como fazer teatro/Henning Nelms: tradução Bárbara Heliodora -Rio
de janeiro: Letras e Artes, 1964, p 61-62) “Numa peça cada personagem preenche várias
funções, sendo que uma delas é a dominante. A compreensão da função principal ou das
várias funções de um personagem é o primeiro passo na interpretação desse personagem”.
A seguir as funções mais comuns dos personagens:
Protagonista: O personagem cujo histórico é relatada no enredo é, muitas vezes, a chave da
interpretação de toda a peça e é conhecido como “personagem principal”. Normalmente o
protagonista é o personagem mais em evidência e também aquele que sofre a ação.
Antagonista: É o principal oponente do protagonista.
Confidente: Nas peças modernas quase todo pensamento é dito alto e ouvido por alguém, e há
personagens que são incluídos com o único objetivo de ouvirem essas declarações,
Personagem útil: A maioria das peças tem um personagem, muitas vezes um empregado
doméstico, que atende a porta, o telefone, recebe recados etc. Tais personagens geralmente
têm pouca relação com o enredo ou outros valores, mas sua importância técnica é
considerável.
“Raisonneur”: é o personagem que expressa os pontos de vista do autor.
Personagens representando grupos ou pressões: personagens que representam grupos são
muito comuns sua função é simbolizar a resistência.
Personagens que servem a determinados valores: existem apenas para servir de elemento
cênico, para sugerir um certo realismo (sim, pois mesmo uma corte romântica deve ser
povoada), usar as roupas adequadas, e formar composições agradáveis no palco.

Elementos que compõem o texto dramatúrgico

Vários elementos fazem parte da composição do texto dramático como veremos a seguir.
Ato – divisão externa da peça teatral em partes sensivelmente iguais,relativas ao tempo e ao
desenvolvimento da ação.
Cena – divisão do ato da peça teatral, momento de uma peça.Nas atividades de expressão
desenvolvidas em sala de aula, cena é um conjunto de ações em torno de um tema. No

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decorrer da historia do teatro, vem sendo empregado para designar diversos aspectos
dramáticos do cenário, do espaço cênico.
Espaço dramático: lugar implícito ou descrito no texto, no qual se desenrola a ação ou parte
dela, e que permite ao espectador construí-lo pela imaginação.
Subtexto: intenções contidas num texto. A leitura de um texto dramático permite ao ator
identificar o enredo, as personagens, o conflito etc., através dos diálogos e indicações
(rubricas) criadas pelo autor. Em cada fala há uma intenção (idéia, sentimento) que, decifrada
pelo ator, dá significado à sua interpretação, sentido para as falas e gestos.
Conflito dramático: é a marca da ação e das forças opostas da trama.Há conflito toda vez que
duas ou várias personagens tem atitudes,idéias ou visão de mundo oposta: ódio/amor,
repressor/oprimido.
Clima: no decorrer da apresentação, as personagens atuam expressando um sentimento:
angústia, revolta, amor etc., criando o clima (atmosfera).
Clímax: O conflito dramático evolui gradualmente no decorrer da peça,vai acentuando-se, até
chegar ao apogeu, ponto alto da peça.
Nó: conjunto de conflitos que bloqueiam a ação, são os motivos dinâmicos que destroem o
equilíbrio da situação inicial.
Qüiproquó: segundo Patrice Pavis (Dicionário de teatro/patrice Pavis:tadução para língua
portuguesa sob a direção de J.Guinsburg e Maria Lúcia Pereira-São Paulo
:Perspectiva,1999.p319):Equívoco que faz com que se tome uma personagem ou coisa por
outra. O qüiproquó é tanto interno (vemos que X toma Y por Z), quanto externo em relação à
peça (confundimos X com Y), como também misto (como uma personagem, tomamos X por
Z).
Planos de um texto:
Plano externo - dos fatos (enredo) acontecimentos
Plano da situação social - classe / nacionalidade / ambiente histórico
Plano literário - estilo / idéias (influências)
Plano estético - tudo o que refere à produção / cenário / figurino, etc.
Plano psicológico - ação interior dos sentimentos
Plano físico - caracterização exterior
Plano dos sentimentos criadores pessoais - ator

Curva da peça

Clímax

Conflito
Término do conflito

Final
Apresentação dos personagens

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CONCLUSÃO

O estudo ora concluído mostra que a partir do momento em que conhecemos um pouco mais
da produção do gênero dramático, expandimos a possibilidade de igualar o valor desse gênero
às vezes esquecido, ao seu merecido reconhecimento.

BIBLIOGRAFIA

PAVIS, Patrice .Dicionário de teatro: tradução para língua portuguesa sob a direção de
J.Guinsburg e Maria Lúcia Pereira- São Paulo:Perspectiva,1999.
NELMS, Henning .Como fazer teatro/ tradução Bárbara Heliodora. -Rio de janeiro: Letras e
Artes, 1964.
ARAGÃO, Maria Lucia.Manual de teoria literária/Org. Rogel Samuel- Petrópolis,Vozes,1985
SOLMER, Antonino. Manual de teatro-Cadernos /ContraCena,Lisboa ;1999.
HELENA, Lúcia. A tragédia grega; In: Teatro sempre.Rio de Janeiro, Tempo brasileiro n.72.

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