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(Ensaio Monográfico) A Calamidade Da Seca e o Tráfico Interprovincial de Escreevizados No Rio Grande Do Norte (1876-1885)
(Ensaio Monográfico) A Calamidade Da Seca e o Tráfico Interprovincial de Escreevizados No Rio Grande Do Norte (1876-1885)
MOSSORÓ
2019
RESUMO: Com este artigo pretendemos analisar a relação entre a seca de 1877-79 e suas
consequências no tráfico interprovincial de escravizados sincrônico a seca até a abolição oficial
deste comércio, com a Lei do sexagenário, em 1885, Isto, dando ênfase na Província do Rio
Grande do Norte. Para isso, inicialmente investigaremos as Falas e Relatórios dos presidentes
da Província do Rio Grande do Norte, censos demográficos tanto imperial e também o
provincial. Além de consultar uma bibliografia de estudos consolidados, como os trabalhos de
Emília Viotti da Costas e Denise Mattos Monteiro, Sidney Chalhoub e outros trabalho
acadêmicos recentemente produzidos no Rio Grande do Norte, na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). O intuito é encontrar balanços qualitativos e quantitativos do impacto
da seca na economia da província, as políticas que foram desenvolvidas e possíveis relações
que transparecem na documentação sobre as nuances do número de escravizados.
Introdução
Desta cidade [Assú] conduziu Felippe Maximo o escravo Joaquim para a praça de
Pernambuco, fazendo-o embarcar em outro vapor costeiro, e tocando por escala nos
portos da capital desta província, da Parahyba, e por último ao seu destino. (Brado
Conservador, 6 de abril de 1877, p. ??)
Logo, pretendemos analisar a relação entre as grandes secas ocorridas no final do século
XIX e suas possíveis consequências no tráfico interprovincial da região Norte para com a região
ao sul do país, dando ênfase na Província do Rio Grande do Norte. Para isso, inicialmente
investigaremos as Falas e Relatórios dos presidentes da Província do Rio Grande do Norte,
censos demográficos tanto imperial e também o provincial. Além de consultar uma bibliografia
de estudos consolidados, como os trabalhos de Emília Viotti da Costas e Denise Mattos
Monteiro, Sidney Chalhoub e outros trabalho acadêmicos recentemente produzidos no Rio
Grande do Norte, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O intuito é
encontrar balanços qualitativos e quantitativos do impacto da seca na economia da província,
as políticas que foram desenvolvidas e possíveis relações que transparecem na documentação
sobre as nuances do número de escravizados.
O rápido crescimento das plantações de café fez do trabalho o problema mais urgente.
Como podiam os fazendeiros satisfazer suas necessidades de trabalho após a
interrupção do tráfico de escravos? O tráfico interno ofereceu uma solução temporária,
mas a auto reprodução dos escravos não podia satisfazer a demanda imediata.
(COSTA, 1999, p. 364).
Para que possamos ver com mais amplitude esta questão, podemos conferir a
demografia geral do Império, realizada poucos anos antes da grande seca. Vejamos:
Este foi o primeiro censo demográfico realizado oficialmente pelo Governo Imperial no
início da década de 1870, em 1872. E nos é muito útil para termos uma noção quantitativa da
condição civil da população brasileira, e mais propriamente no nosso caso, a da Província do
Rio Grande do Norte. A tabela acima nos mostra que já neste contexto a população de
escravizados se concentra na região Centro-sul do país, especificamente nas Províncias Minas
Gerais (370.459 mil), Rio de Janeiro (292.637 mil) e São Paulo (156.612 mil); respectivamente.
Na região Norte, a Província do Rio Grande do Norte corresponde a quarta província com
menor número de habitantes (233.979 mil), com um percentual de 5,6% da população em
condição de pessoas escravizadas (13.020 mil). Isto, as vésperas do período em que se acentua
a maior movimentação de escravizados para o Centro-sul. Chalhoub (2011, p. 50) em sua
celebre obra Visões da liberdade nos oferece um esboço quantitativo deste fluxo demográfico,
ele afirma que
De acordo com estas informações, é possível perceber a relação direta ao auge do tráfico
interprovincial de escravizados com a seca – além da crise econômica do Norte que
discutiremos a frente. Como coloca o autor, o auge de comercialização se da entre 1873 à 1881,
anos posteriores ao censo demográfico que apresentamos e, justamente, período que
circunscreve a ocorrência da seca. E juntamente a isto a demanda pelo emprego da mão de obra
escravizada para a produção da lavoura mercantil de exportação de café, ocasionou, como
podemos ver, uma fluxo migratório da população negra das províncias do Norte do país para a
região Centro-sul.
Dentro desta discussão, cabe a nos analisarmos, com mais clareza, os fatores
econômicos e políticos próprios da região Norte que contribuíram para tal fenômeno migratório
proporcionado por este efervescente comércio interprovincial de escravizados. Sabe-se, através
da historiografia, que o Rio Grande do Norte nunca teve um passado marcadamente
escravocrata. Sua economia, desde o período colonial, resumia-se na pequena lavoura de
subsistência, na pecuária dos Sertões e das sub-regiões do Agreste e Zona da Mata, alguma
atividade a açucareira com pouca expressividade. Dentre este e outros fatores, a concentração
de mão de obra livre, isto é não negra nem indígena escravizada, tinha um percentual
considerável logo no final século XVIII quando iniciou a lavoura de algodão. O primeiro ponto
a destacar, diz respeito a transição do escravismo para o trabalho dito livre nas províncias do
Norte, preponderantemente fomentado no interior da região devido as particularidades na
produção da lavoura mercantil do Algodão. A Província do Rio Grande do Norte foi uma das
grandes nesta atividades e foi atingida com suas consequências desde muito antes :
Se o trabalho livre já era predominante nos canaviais, foi muito mais presente
ainda nos algodoais, nessa expansão da década de 1860, pois, em primeiro
lugar, a cultura do algodão havia se transformado em lavoura mercantil
essencialmente com braços livres, desde o último quartel do século XVIII;
segundo, o fim do tráfico africano colocara dificuldades para o abastecimento
de escravos; e, em terceiro, a lavoura do café no Centro-sul do país havia
passado a animar um trafico interprovincial, que seria cada vez mais intenso.
(MONTEIRO, 2008, p. 100)
Assim como já foi dito, a produção de algodão emergência as áreas do interior do Norte
do país muito em função de fatores externos. Neste exato trecho, Monteiro (2008) aponta
algumas colateralidades do contexto das décadas finais da escravidão que contribuíram para a
transição antecipada para o trabalho livre. A venda de escravizados foi muito influenciada na
década seguinte, devido a “grande seca” de 1877-1879, que obrigou muitos dos proprietários a
se desfazerem deles para encarar as dificuldades da estiagem. Como foi o caso do município de
Mossoró, um dos pontos que centralizou um dos maiores números de retirantes1e que também
intermediava este negócio, como podemos conferir no relato abaixo:
1 Falla com que o Exm. Sr. Doulos Rodrigo Lobato Marcondes Machado, presidente da província,
abrio a 2ª sessão da Assembléia Legislativa provincial do Rio Grande do Norte, Cidade do Natal, em
27 de outubro de 1879, p. 50
No relato memorialístico em questão, de Francisco Fausto de Souza, escrito em 1930 e
publicado em diferentes edições no livro de Cascudo (2011), intitulado Notas e documentos
para a história de Mossoró, o autor nos apresenta uma relação direta entre os efeitos da seca a
venda dos cativos na localidade circundante do município de Mossoró. Além do mais, mostra
informações preciosas sobre os agentes deste comércio, destacando o Barão de Ibiapaba.
A venda de escravos nas províncias do Rio Grande do Norte, a partir de 1860, mostra-se
em números bastante pequenos, como mostra a tabela 01, o que é de se estranhar, para uma
região de número tão alto de escravos (PEREIRA, 2014). Com a dificuldade da seca, os
senhores de escravos começam a sentir necessidades financeiras, e passar a vender seus
escravizados. Para a venda ser permitida pelo juiz, alegavam o ser escravizado ser órfão, e que
estava o colocando à venda por extremas necessidades financeiras, colocando em risco
inclusive a alimentação da sua família. Segundo Ariane Pereira (2014):
A seca [...] deixava os senhores do semiárido sem condição de plantar ou criar. A saída
encontrada era vender parte dos seus escravos tanto para adquirir verbas, como para
diminuir as bocas para alimentar, vestir e desonerar os cativos que se encontram
ociosos já que as atividades produtivas estavam paradas. Fato é que os senhores
pediam para vender os escravos fora da área afetada pela seca, na tentativa de
conseguir melhores somas (NEVES, apud PEREIRA, 2014, p.60).
Por outro lado, na região Centro-sul, a Demanda de escravizados nos cafezais só crescia,
valorizando o preço destes (COSTA, 1998, p. 252):
Os preços subiam cada vez mais depois da alta sofrida imediatamente após a
cessação do tráfico, agravada pelo fenômeno inflacionário, eles oscilaram
durante mais ou menos dez anos entre 500$000e um conto, conforme idade,
sexo e mais atributos. Mantinham-se, em regra entre 650$000 e 700$000. Foi
neste período, provavelmente, que o suprimento de mão-de-obra, nas áreas
cafeeiras, se fez de maneira mais ou menos regular através da entrada de
grande número de negros provenientes do Nordeste. Depois, passaram os
preços a varias entre 800$000 e 1:500$000, seguindo-se outra alta acentuada.
Entre 1876 e 1880, atingiam os mais altos níveis: 1:000$000 a 2:500$000 e
até, excepcionalmente, 3:000$000. (COSTA, 1998, p. 252)
Neste trecho, Costa (1998) elucida a questão do crescimento do valor de mercado do
escravizado, isto no comércio interprovincial. O interessante é que o auge de seu preço se dá
justamente em um intervalo de tempo que circunscreve o período de seca na então região Norte
do país. Os fatores são adversos, entretanto, a demanda de mão de obra dos cafezais, no Centro-
sul, e a crise econômica e humanitária, no Norte, contribuiu em primeira ordem para esta
supervalorização – fenômeno econômico entendível pelo simples princípio liberal de oferta e
demanda de mercado, o Centro-sul demandando e o Norte ofertando os escravizados. Mais a
frente em sua discussão, a autora comenta que, devido a inúmeras restrições a este comércio –
muito por conta da atuação dos abolicionistas –, é que “só a partir de de 1885 que houve uma
depreciação do escravo e os preços caíram a 1:500$000 e 1:000$000” (COSTA, 1998, p. 253).
Ficara ostensivamente caro a obtenção e a manutenção deste tipo de mão de obra com as tais
condições impostas a este mercado. E, no contexto provincial , no momento auge dos preços
dos cativos Monteiro (2008, p. ) aponta que
Ou seja, âmbito da Província do Rio grande do Norte, o então senhor presidente Rodrigo
Lobato Marcondes Machado relatava em 1879 o contínuo estado de decadência financeira na
arrecadação de algumas atividades econômicas, mas que teve efeito em outras, devido o
fenômeno da seca:
Nos períodos de seca no século XIX nas províncias do Rio Grande do Norte, ocorreu
mudanças no comércio. As províncias começam a se adaptar ao mercado internacional, que
visava a cultura da cana-de-açúcar e algodão, pois a pecuária e a agricultura acabam se tornando
não mais viável devido os ataques climáticos, causados pelas seguidas secas locais. Neste
mesmo período a mão de obra escrava começa a entrar em declínio.
Conclusão
FONTES
Noticia da venda de um escravizado no Assú.
Falla com que o Exm. Sr. José Nicoláo Tolentino de Carvalho abrio a 2ª sessão da 21ª legislatura
da Assembléia Provincial do Rio Grande do Norte em 18 de outubro de 1877. Natal: Typ. do
Correio de Natal, 1878.
Falla com que o Exm. Sr. Doulos Rodrigo Lobato Marcondes Machado, presidente da
província, abrio a 2ª sessão da Assembléia Legislativa provincial do Rio Grande do Norte em
27 de outubro de 1879. Natal: Typ. do Correio de Natal, 1880.
Resumo histórico dos inquéritos censitários no Brasil. Diretoria geral de estatística. Rio de
Janeiro, 1951. Acessado: <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-
catalogo?view=detalhes&id=283964>, em 08 de out. de 2019.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão
na corte. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. Ed.7. Editora
Unesp. São Paulo, 1999.
____________ , Emília Viotti da. Da senzala a colônia. 4º Ed. São Paulo, SP: Editora Unesp,
1998.