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SEPULTURAS MEDIEVAIS DO
CONCELHO DO MARCO DE CANAVESES

Relatório final de EUGÉNIO QUEIRÓS para a cadeira de Seminário de Projecto II,


orientada pelo prof. Mário Jorge Barroca (2010/2011)
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Território: Geografia e História


As condições naturais de um território não podem ser dissociadas da sua evolução
histórica. Territórios de planície, de montanha ou de estuário podem definir, por
exemplo, grandes diferenças no processo histórico. Por isso, ter em conta a importância
dos factores naturais na análise das culturas continua a ser um imperativo. Que se
tentará cumprir.

As razões subjacentes às diversas dinâmicas dos territórios prendem-se, em primeiro


lugar, com a inserção/posição dos lugares em determinados contextos geográficos
(Gomes, 2009). As condições geográficas e os eventos históricos terão proporcionado a
fixação de pequenos núcleos populacionais que, explorando os recursos disponíveis e
outras dinâmicas, resultaram em territórios consubstanciados em quadros sucessivos de
jogo entre a natureza e a acção humana (Gomes, 2009).

O concelho do Marco de Canaveses apresenta-se hoje como um território que se


consolidou em função dos traços da topografia e das condições naturais, com o seu
povoamento e a rede viária a distribuírem-se essencialmente por vales, rechãs e encostas
de média altitude definidos pelos rio Douro e Tâmega e pelos contrafortes do Marão
(Gomes, 2009).

Saliente-se outra evidência: os dois grandes núcleos populacionais (Alpendorada e


Matos e a cidade de Marco de Canaveses) encontram-se em espaços com condições
topográficas mais suaves, na confluência de cursos de água (Gomes, 2009).

É no Norte de Portugal, país de quase 89 mil quilómetros, que se encontra 95% da


superfície de terras acima dos 400 metros quadrados e a quase totalidade das áreas
acima dos 700 metros, aí se registando uma influência conjuntiva da posição e da
orografia de que resulta um cariz mais atlântico que se contrapõe a um Sul com traços
fisionómicos dominantemente mediterrânicos (Brito, 1994). O Marco de Canaveses é
um concelho de média altitude, com esta a variar entre os 150 e 300 metros em quase
metade da sua área (Gomes, 2009), não sendo, como tal, um concelho tipicamente do
quadro geral de um Norte de terras altas mas revelando já algumas características desse
grupo, com o total de 41,2 % da sua área no intervalo referido e ainda com 39,8 % da
sua área acima da cota dos 300 metros.
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Orografia do concelho do Marco de Canaveses (Fonte: CMMCN)

A área concelhia tem, por outro lado, poucas áreas planas contínuas e estes pequenos
retalhos sempre foram aproveitados para a agricultura, com esta prática a implantar-se
nas encostas, através de socalcos.

A leitura do perfil orográfico permite ainda identificar dois encaixes pronunciados


provocados pelos vales do Tâmega e do Douro, o que marcou desde sempre a
inacessibilidade deste território e a importância dos lugares de passagem para as terras
vizinhas (Gomes, 2009). O que nem por isso tornou menos atractiva esta área aquando
da grande apropriação senhorial desenvolvida sobretudo nos séculos X/XII.

Uma outra marca idiossincrática da área do concelho do Marco de Canaveses é o seu


substrato rochoso, matéria-prima, no fundo, das sepulturas abertas na rocha e de muitos
sarcófagos registados aí. O concelho tem um substrato exclusivamente composto por
rochas granitóides, com duas grandes manchas predominantes que como que fracturam
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a meio o actual concelho: granitos de grão mais fino entre a confluência do Douro com
o Tâmega e mais ou menos a linha da serra de Montedeiras; e granitos de grão mais
grosso até aos contrafortes da Aboboreira e na margem direita do Tâmega. Onde os
vales se alargam e os fundos planos são cobertos por aluviões argilo-arenosos
relativamente espessos (Gomes, 2009). Podem hoje ser identificadas no concelho um
total de 100 pedreiras (muitas já abandonadas), com uma grande concentração numa
zona de granito de grão médio nas freguesias de Rosém, Favões, Vila Boa do Bispo,
Penha Longa, Ariz, S. Lourenço do Douro, Paços de Gaiolo, Magrelos, Manhuncelos e
Alpendorada e Matos (com predomínio nesta freguesia). Actividade bem repercutida
nas construções contemporâneas, cuja arquitectura rústica corresponde ao tipo de
matéria-prima usada.

Este é um concelho cuja morfologia sobe na direcção de Leste, em escadaria tectónica


que culmina no bloco composto pela serra da Aboboreira, sendo este plano cortado por
cursos de água e os respectivos vales. O povoamento aproveita as superfícies aplanadas,
principalmente abaixo dos 500 metros de altitude, e também as ligações entre as várias
rechãs. Condições favoráveis à fixação de populações.

Município desde 1852, o concelho de Marco de Canaveses, que integra a superior


divisão administrativa do Porto, abarca uma área de 201,89 km² que se encontra
subdividida em 31 freguesias, estando limitado a Norte/Nordeste pelo município de
Amarante, a Este por Baião, a Sul por Cinfães, a Sudoeste por Castelo de Paiva e a Nor-
noroeste por Penafiel. Grande parte da sua área está confinada ao espaço cada vez mais
apertado representado pela confluência do Rio Tâmega com o Douro.

Apenas sete das 31 freguesias marcoenses se localizam na margem direita do Tâmega:


Sobretâmega, Vila Boa de Quires, Maureles, Santo Isidoro, Constance, Toutosa e
Banho e Carvalhosa.
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24 das 31 freguesias encontram-se entre o Tâmega e o Douro (imagem Google Earth)

D. Maria II elevou o Marco de Canaveses a concelho no dia 31 de Março de 1852,


tendo este concelho absorvido os concelhos de Benviver, Canaveses, Soalhães e Porto
Carreiro, bem assim como parte dos concelhos de Gouveia e Santa Cruz de Riba
Tâmega.

Antes, a reforma de 1513/14 instituiu os concelhos de Portocarreiro, Soalhães,


Benviver, Santa Cruz de Riba Tâmega e Gouveia de Riba Tâmega, bem assim como a
vila de Canaveses. Os coutos de Tabuado e Tuías passam, no início do século XVII, a
pertencer à correição de Guimarães enquanto Porcarreiro, Benviver, Solhães e os coutos
de Entre-ambos-os-rios integram, nesse tempo, a correição do Porto. Canaveses foi
beetria do reino, sendo suas sufragâneas Santo Isidoro, Paços de Gaiolo e Gontiagem.
Em 1406, com D. João I, toda a correição passou para o Entre-Douro-e-Minho. Em
1776, St. Eulália de Banhos, Constance, S. Romão de Carvalhosa, St. Isidoro e St.
Cristina de Toutosa passam a integrar o território. Em 1836, o concelho da vila de
Canaveses e de Tuías fundem-se no concelho do Marco de Soalhães, até à definição
administrativa de 1852 (Monteiro, 1996).
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Apesar da contemporaneidade desta última reforma administrativa, muitas das


freguesias do concelho têm uma origem bem mais remota, com raízes mesmo nos níveis
mais profundos da Idade Média, antes da formação do reino de Portugal. Que nos
remetem para os primórdios da organização paroquial. Podendo, por outro lado, as
marcas do seu povoamento ser encontradas ainda mais para além. Com suficientes
evidências arqueológicas expressas em diversos lugares castrejos, na cidade romana de
Tongobriga e num par de castelos roqueiros, entre outros.

A conquista romana é o acontecimento de maior vulto, quer pela diuturnidade, quer pela
revolução total que operou nas condições anteriores existentes na Península Ibérica,
estendendo-se este domínio e uma influência mais marcada até 409 d.C. (Sampaio,
2008). Estes quatro séculos de romanização têm hoje grande expressão arqueológica no
centro e no sul de Portugal mas a cidade de Tongobriga acrescenta-se a Braga como um
dos grandes elementos deste período histórico-cultural a Norte da linha do Douro.
Confirmando-se também uma remota apetência para a fixação de populações por aqui…

Localizada na freguesia do Freixo, a Área Arqueológica do Freixo tem 32 hectares. O


nome Tongobriga surge referenciado na discutida “Divisão de Wamba” inserida no
Liber Itacii (Dias, 1997) e Lino Tavares Dias fundamenta-se no conjunto de edifícios e
na vastidão da cidade para a identificar como uma civitas, olhando o Marão e encaixada
nas arribas das margens do Douro e do Tâmega, sendo este espaço limitado por aquela
serra e por estes rios.

Tongobriga está construída sobre afloramentos de granitos porfiróides de grão grosso e


duas micas e tem uma localização que facilita um amplo horizonte visual (Dias, 1997).
Não está distante de duas fontes de águas minero-medicinais. Para Dias, Tongobriga
respeitava a estratégia romana, controlando a Foz do Tâmega, e podia estender-se até ao
Marão, sendo difícil definir os seus limites Norte e Oeste. Uma centralidade que se
deslocaria, já no século XI, para Alpendorada, onde então se construiu importante
convento (Dias, 1997).

Citando Alarcão, numa conferência realizada por este académico em Barcelos, em 1993,
Lino Tavares Dias aponta ainda a possibilidade de Tongobriga ocupar um território
geometricamente dentro de um polígono irregular cujos vértices eram ocupados pelo
vici situados em Várzea do Douro (actual concelho do Marco de Canaveses), Santa
Maria do Zêzere (Baião), Meinedo (Lousada), Lomba (Amarante) e Gatão (Amarante).
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Cumprindo a tradição, a necrópole romana de Tongobriga situava-se fora das “portas”,


junto da entrada Sul da cidade (Dias, 1997). Onde foram identificadas sepulturas
intactas, abertas no afloramento granítico e orientadas paralelamente à estrada romana
que a atravessava. Dias identificou dois tipos de sepulturas: um primeiro, mais antigo,
aproveitando muitas vezes as diáclases e fechadas com pedaços de granito; e um
segundo através de fossas abertas na terra até se encontrar o afloramento granítico. Os
dois tipos de enterramentos eram por vezes forrados de telha.

Aspecto de uma zona escavada da necrópole de Tongobriga (Lino, 1997)

Avançando. Almeida Fernandes, sempre polémico autor mas claramente um estudioso


do “Paroquial Suévico”, procurou identificar os nomina parochialia do século VI até
hoje (Fernandes, 1997), refutando que a toponímia tenha sido vítima de um
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aniquilamento durante a invasão muçulmana. Partindo desse princípio, este autor


identifica várias paróquias suevas com um grau de certeza por vezes próximo do
absoluto. Vamos segui-lo, com prudência, nas próximas linhas.

O Paroquial indica a existência de umas cinquenta paroécias no território do Minho ao


Douro, sem acentuadas diferenças de distribuição. Um número muito inferior às mais de
mil paróquias de que se conhecem notícias no século XII. Diferença que poderá ajudar a
desmentir as teorias do ermamento (Fernandes, 1997), que outras há…

Para além do argumento hagionímico, a persistência da toponímia resultaria muito do


facto de nem tudo se ter perdido em termos estruturais durante a desagregação do
mundo romano peninsular, com a villa a sobreviver no seu local de implantação, isto é,
no campo. Mais uma possibilidade (Fernandes, 1997). Com a palavra pagus a aplicar-se
a qualquer centro e seu território, resultando da fragmentação descontínua de unidades
territoriais comparáveis a vicus, castellum e villa.

Os centros paroecitanos e territórios respectivos terão sido, inicialmente, as civitates,


não passando o carácter episcopal de uma civitas de uma ocorrência singular
(Fernandes, 1997). Tendo o território paroquial a sua origem no territorium civitates.

Há que distinguir ainda, no Paroquial Suévico, os nomes fidedignos e os deturpados


provavelmente por copistas (Fernandes, 1997).

Persiste alguma ambiguidade, por outro lado, na forma como o Paroquial Suévico
divide as paroécias em eclessiae e pagi, como ocorre nas dioceses de Braga, Porto e
Tui. Distinção que Almeida Fernandes resolve ao dissecar o sentido do termo pagus.
Para este autor, este último termo referia-se a paróquias arianas, o maior problema
social do reino germânico (Fernandes, 1997).
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Tentativa de identificação das “parochiae” (Fernandes, 1997)

Inseridas no território Porculense, Almeida Fernandes identifica na área do concelho do


Marco de Canaveses a eclessiae de Leporeto, cerca de Vila Boa do Bispo, Tongobria,
na freguesia do Freixo, e Baubaste, em Vila Boa de Quires. Entre as paroécias pagi,
provavelmente Cepis, no limite dos concelhos do Marco de Canaveses e de Penafiel.

A arqueologia ainda não conseguiu confirmar estas paroécias mas fica a nota quanto a
uma provável presença significativa de referências a este tipo de organizações
administrativas na área do concelho do Marco de Canaveses, confirmando-o de novo
como um território atractivo e com um contínuo populacional relevante.

Tal como acontece noutras áreas sobretudo do Norte de Portugal, as marcas da presença
muçulmana no território do Marco de Canaveses sintetizam-se numa palavra: silêncio.
Apenas as lendas importam para aqui notícias das grandes surtidas de Almançor e de
Almodáfer no final do século X. É este um dos grandes problemas de um período
(desde a desfragmentação romana à manifestação de Portugal) no qual a nossa
historiografia ainda caminha com alguma dificuldade (Almeida, 1972)

Com embaraço mas conformados, avancemos de novo.

A cartografia do território de Anegia (Merêa e Amorim, 1943) demonstra a extensão das


unidades territoriais ao longo de ambas as margens do Douro, embora a documentação
não seja suficiente, conforme nota Carlos Alberto Ferreira de Almeida, para o delimitar
com toda a segurança. Este último autor estende-o a quase todo o território hoje de
Baião e também “a todo o concelho do Marco” e a grande parte dos concelhos de
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Paredes, Penafiel e Gondomar”, ocupando, a Sul do Douro, a área respeitante ao


concelho de Castelo de Paiva e grande parte do Norte do concelho de Arouca (Almeida
e Lopes, 1981).

O território de Anegia com os castelos da terra (fonte: C.A.F. de Almeida)

A defesa deste território era dirigida desde o pequeno esporão situado no Monte do
Coto – que se implantava no “alto da cividade”, aparentemente sem grande aparato
militar. A rede defensiva de Anegia, formada por outras pequenas fortalezas de
iniciativa local, podia estender-se-ia para Sul deste rio e também para Norte da sua
capital de civitas e para Oeste (até à cumeada da Serra Sicca, cordão montanhoso que o
Douro não fractura), numa área próxima dos 50 quilómetros quadrados, abrangendo
áreas dos actuais concelhos de Paredes, Lousada, Penafiel, Marco de Canaveses, Baião,
Amarante (uma pequena parte) – todos a Norte do Douro –, Castelo de Paiva, Arouca,
Cinfães e Resende – na margem Sul (Lima, 1993).

As referências mais antigas reportam de dois documentos (DC 8 e DC 9), datados de


875 e 882 e referentes aos mosteiros de Lardosa (Rans, Penafiel) e Soalhães (Marco de
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Canaveses), datas globalmente contemporâneas das presúrias de Portucale e Coimbra


(Lima, 1993).

Anegia, tal como a sua vizinha Santa Maria, do outro lado do grande rio, representa um
renascimento do processo de encastelamento, interrompido pelo esforço de
desmilitarização da paisagem desenvolvido pela monarquia visigótica, a partir de 585
(Barroca, 1991).

No caso concreto do Marco de Canaveses, a influência do poder militar e administrativo


de Anegia terá sido forte, cobrindo quase toda a área do actual concelho, embora alguns
autores não a alonguem para além da serra de Montedeiras. As civitates eram um
modelo de governo territorial essencialmente condal a que se seguiu, num segundo
tempo, uma nova organização em terras correspondente à crescente influência da
nobreza local, dos infanções, na afirmação de um modelo senhorial. Esta nova
organização terá surgido em meados do século XI, como resultado também das
campanhas de Fernando Magno, que voltaram a empurrar a linha de fronteira para além
do Mondego. Tendo o mesmo soberano outorgado forais a S. João da Pesqueira,
Linhares e Ansiães, no Douro Superior, ainda em 1055. O que comprova a aceleração
de um novo modelo de organização administrativa do território acompanhando esta
segunda grande vaga de avanço militar, após as investidas comandadas por Afonso III
no século IX, das hostes cristãs na direcção do levante. A partir da segunda metade do
século XI, as estruturas militares e administrativas de que Anegia é um feliz exemplo
tornam-se inoperacionais face aos novos condicionalismos geo-estratégicos (a linha de
fronteira foi claramente empurrada para Sul do Douro). As áreas de controlo reduzem-
se e os governos personalizam-se (Barroca, 1991). A documentação medieval passa a
referir-se a terras e não a civitas.

Este é um período que os documentos analisados por Domingos Moreira (Quadro I)


ilustram bem, surgindo aí as primeiras referências às actuais freguesias de Ariz (1068),
Fornos (1064), Favões (1068), Magrelos (1068), Manhuncelos (1066), Paredes de
Viadores (1070), Penhalonga (1080), Rosém (1066), Sande (1059) e do antigo couto de
Tabuado (1066), todos lugares do triângulo formado pelo Tâmega e o Douro (Moreira,
1972-88). Surgindo Ariz associada já ao território de Benviver, bem assim como
Paredes de Viadores. Por outro lado, Fandinhães, que hoje integra a freguesia de Paços
de Gaiolo, aparece relacionada com o território de Anegia em 1054, o mesmo
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sucedendo a Várzea do Douro, o que pode ser apenas uma espécie de revivalismo. É
precisamente no século XI que o conceito de paróquia começa a pressupor a existência
de um território sob a protecção e a jurisdição de um pároco, processo de
desenvolvimento que apenas cristalizou no século XIV (Mattoso, 1986).

O Douro visto desde o Convento de Alpendorada

Também no que se reporta à freguesia de Alpendorada, um dos mais antigos


documentos a ela relativos, datado de 1071 (DC 307), deixa expresso o seguinte:
“Baselice sancti iohannis apostoli (…) in uilla quos uocitant uiliulfus subtus alpe monst
aratrus discurrente fluminus durio território anegie”. Sobrevivência de um nome
antigo ou ainda a afirmação de uma territorialidade? Mário Barroca sugeriu a hipótese
de Anegia, cujo nome surge citado noutros documentos deste período, ter sobrevivido
como unidade territorial mas na condição de circunscrição de menor dimensão,
possibilidade de que discorda António Lima, sob o argumento de que com o
desaparecimento da civitas de Anegia, quase dois séculos depois da sua fundação, se
gerou “alguma confusão na já usual forma de referenciar a localização das
propriedades”. Mas o próprio Lima sublinha o facto de um documento de 1185 se
referir a um lugar da hoje freguesia de Eja (Aivol) como situado no “território de
Anegia…território Portugal” (LTPS 141). O que considera único elemento capaz de
provar a sobrevivência de Anegia como unidade administrativa de menor raio de acção.
Não é suficiente para confirmar mas também não servirá para negar…
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Quadro I
FREGUESIA DOC + TIPO REF.TERRITÓRIO TOPONÍMIA
ANTIGO DOC.
Aliviada* 1258 TT Arouca Sancto Martino de
Ouelha
Alpendorada** 1059 DC p. 257 «…in ripa durio ad Ecclesia de santo
n.º 419 radice montis aratri” iohanne de iuso contra
(1065) durio
Ariz 1068 DC p. 213 “subtus mons aradrus “uilla alarizi” (1046)
nº 345 território
benuier”(1128)
Avessadas 1255 TT “ecclesia de auezadas”
Pendorada
Banho *** 1220 Inq. 61 “Sancta Vaia de
Balneo”
Carvalhosa *** 1220 Inq.61 “Sancto Romano de
Carvalosa”
Constance 1258 Inq. 598 “Sancte Ovaye de
Constansi”
Fandinhães**** 1082 DC p. 239 “discurrente riuulo “Sanctus Martinus de
n.º391 dorii terridorio Fandiaes”
anegia” (1054)
Favões 1068 DC p. 296 “arugio de “Ecclesia uocabulo
n.º474 afauones(…)território Sancti Pelagij”
anegia”
Folhada 1320 Rol. A , cfr “Ecclesiam sancti
HI II.621 iohannis de pousada”
Fornos 1064 DC p 283 “(…)benuiuer (…)
n.º 451 uilla fornos”
Freixo 1258 Corpus Foi curato de Tuías “Sancte Marie de
I.484 freixeno de Briuias”
Magrelos 1068 DC p. 296 “Sanctus saluator de
n.º 474 Magralas”
Manhuncelos 1066 DC p. 283 “Sanctus Mames de
nº 451 Manucellos”
Matos** 1258 Corpus “Sancti Michaelis de
I.472 paredinas”
Maureles 1542 Cens. Mitra Foi curato de Lever “Samta Maria das
219 Medaas”
Paredes de 1070 DC p. 304 “terra de gouuea et de “uilla mazinata (…(
Viadores n.491 bemuiuer” (1320, rol. uilla paretes, uillla
A, cfr. HI II.621) manioncellos”
Paços de Gaiolo 1103 DMP III “uilla gaudiol luxta
p.98 n.113 alueum Dorii
discurrente riuulo
Gallinas”
Penhalonga 1080 Mem. P. “uilla quo uocitant “ Poiares et Eclesie
Sousa p. lotonario mons sancte Marie Penna
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157 n.30) genestacolo (…) Longa”


suuber mons
penalonga” (1068)
Rio de Galinhas 1542 Cens. Mitra “Sam Miguel de Rio
223 de Gualinhas”
Rosém 1066 DC p.283 “Sancta maria de
n.º 451 ranosendi”
Sande 1059 DC p.261 “Villa sandi”
n.º 420
S. Isidoro 1115 DMP III “Monasterio Vilar
(Ribatâmega) n.º504 (…)Sanctum Isidorum
de Vilar
S. Lourenço do 1230 Cens. 356 “Santi Laurentij de
Douro ripa Doirij”
Soalhães 875 DC p.5 n.º8 “Baselice Sancti
Martini Episcopi que
esta fundata in Villa de
Suylanes”
Sobretâmega 1137 ADP, “terra de Penafiel” “Sanctum Petrum de
L.Test. (1320) Canaueses”
f.57v
Tabuado 1066 DC p. 283 “in terra de baian uilla “Sancto Saluatore de
n. 451 tauolado” Tabulato”
Torrão 1120 Cens. 4 “freygesia do Terrão” “Monasterium (…) de
(1530) inter ambos rruios”
Toutosa 1101 DMP III p. “Sancta Christina”
21 n. 25
Tuías 1137 ADP, L. “territorio Benuiuer” “ecclesia Tuias”
Test. F. 57v
Várzea da 1120 Cens. 4 “Monasterium (…) de
Ovelha * Varzio”
Várzea do 964 DC p. 54 n. “…teridorio anegie “Varzena in ripa de
Douro 86 inter duiru et tamiga” durio”
Vila Boa do 1012 Cronica I “Monasterio S. Mariae
Bispo parte 287 Villaebonae”
Vila Boa de 1118 ADP, L. “Eclclesia de Portu “monasterio que
Quires Test. F. 22v Carreiro” dicent uilla bona de
queiriz”
* Várzea da Ovelha e Aliviada são hoje uma única freguesia

** Alpendorada e Matos são hoje uma única freguesia

*** Banho e Carvalhosa são hoje uma única freguesia

**** Freguesia extinta no séc. XVIII e incorporada em Paços de Gaiolo


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Pessoas e linhagens
A história não existe sem quem a produz, ou seja, o Homem. Embora possa parecer um
assunto que se desvia do objecto deste ensaio, não quisemos deixar de fazer uma
pequena síntese sobre as notícias relativas aos senhores – porque então só estes, como
hoje sob o título genérico de “celebridades”, eram notícia – que habitaram na área do
concelho do Marco de Canaveses. Uma área que após a fragmentação da civitas de
Anegia, fruto das razias muçulmanas e da pressão social exercida reclamando uma
divisão do poder militar e administrativo (Rosas e Pizarro, 2009), passou a ser
dominada pela terra de Benviver, aliás profusamente citada nos primeiros documentos
referentes a diversas freguesias marcoenses (quadro I).

A tendência para divisões administrativas cada vez menores acentuou-se com o passar
dos anos e assistiu-se ao desmembramento das terras em julgados, coutos e honras,
dando origem a muitos dos topónimos actuais e mesmo a santos patronos (Rosas e
Pizarro, 2009).

A terra de Benviver (Pedro de Azevedo chama-lhe “o último rosto da civitas de


Anegia”) tem uma primeira referência documental em 1066 (Lima, 1993) e parece ter
assumido um papel dominante nesta área onde Tâmega e o Douro se interceptam.

O processo de formação deste novo modelo de administração, geralmente designados


por terras, pode ter sido espoletado antes das campanhas de Fernando Magno (Lima,
1993) e após as campanhas de Almansor. Lima defende que a terra de Benviver
começou por ser capitaneada por um castelo situado no monte Aradros – local de
intensa ocupação castreja – e aí identifica uma estrutura militar. O mesmo autor
argumenta que esta terra terá posteriormente crescido no sentido da Aboboreira,
confrontando-se com a terra de Baião, num momento que acompanhou socialmente uma
mudança operada na Europa central no sentido de um sistema senhorial.

Quem foram, então, os primeiros senhores desta área geográfica?

José Mattoso cita os nomes de cinco tenentes de uma Anegia que, no final do século XI,
podia já não existir: Garcia Moniz, Mónio Viegas, Paio Peres “Romeu”, Afonso Peres e
Egas Ermiges (Mattoso, 2001). Todos eles contestados como tenentes de Anegia por
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António Lima. Eis um “pormenor” que iremos tentar desenvolver em fase de tese (se lá
chegarmos).

Em Benviver, Lima identifica Mónio Viegas, Paio Peres “Romeu” (dois nomes
repetidos), Sarracino Osores, Sarracino Viegas (de alcunha Spina), Afonso Pais e Paio
Soares.

Com base nos livros de linhagens, José Mattoso colocou no lugar algumas peças de um
puzzle difícil de compor. A linhagem dos Ribadouros, uma das mais importantes da fase
que acompanha o nascimento de Portugal como nação com rei, tem claramente uma
grande influência na área que nos ocupa. Do seu ramo principal, representando por Egas
Moniz, dito o “Aio”, saíram diversas famílias mas uma das que mais destacou foi a que
levou o nome de Moço Viegas, com grande influência na segunda metade do século XII
e no século XIII e muito bem documentada em Lamiares, Resende e Alvarenga, talvez
os mais importantes domínios senhoriais do “Aio” (Mattoso, 2001). Os grandes
senhores depressa iriam estender os seus domínios para Sul.

De todos estes nomes de grandes senhores medievais, o de Mónio Viegas é claramente


o que mais se entranhou na tradição historiográfica do Marco de Canaveses. Sendo
também ele um elemento da linhagem dos Ribadouros, cujas raízes remontam ao século
X, foi sepultado no mosteiro de Vila Boa do Bispo (Rosas e Pizarro, 2009).

Mónio Viega, o “novo”, tornou-se patrono da abadia beneditina de Pendorada, abadia


que teve em Velino o seu primeiro abade e que terá sido fundada em 1054. Velino era
presbítero na igreja de Santa Sabina, pertença deste Viegas a que sucedeu Garcia Moniz
(Mattoso, 2002), também sepultado em Vila Boa do Bispo, tal como seu pai.

Outros nomes, sobretudo das centúrias de trezentos e quatrocentos, podiam aqui ser
citados mas esse é um capítulo que desenvolveremos a propósito de alguns dos
moimentos relativos a essas épocas.

No seu estilo peculiar, sempre muito crítico em relação a outros autores, Almeida
Fernandes disserta sobre os diversos Gascos que constam do registo historiográfico.
Para este autor, o primeiro nome denominado “Gasco” foi o de Múnio (ou Mónio)
Viegas “O Velho”, herói da reconquista definitiva do Ribadouro ocidental (Fernandes,
2001). Este conde teve dois filhos, um dos quais Egas Moniz “o Velho”, dito também
Gasco e falecido no primeiro quartel do século XI. Este último deixou pelo menos seis
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filhos embora só um conste do Livro de Linhagens (Fernandes, 2001). Um deles será


Múnio ou Mónio Viegas, governador do vasto território ribaduriense Arouca-Penafiel.
O Egas Moniz que começa a ser referido no final do século XI é, para Fernandes, filho
deste Mónio Viegas, de que serve de atestado o direito do mesmo ao padroado de S.
João Baptista de Pendorada. Este Egas Moniz teria falecido antes do final deste século
não podendo por isso ser confundido com Egas Moniz “o Aio” (Fernandes, 2001), ele
também um “Gasco”. Sobre a estirpe dos “Gascos”, que tanta influência teve nesta área,
Almeida Fernandes não tem dúvidas em considerar que o primeiro deles, Múnio Viegas
I, é um prócere nado em terras portugalenses no final do século X, não tendo
participado nas campanhas do rei Ramiro III (966-984) e surgindo em cena apenas após
as razias muçulmanas. Recusando-se Fernandes atribuir a alcunha linhagística a uma
possível origem estrangeira (Gasconha), sendo “Gascos” apenas pelo facto de terem
estabelecido assento principal no lugar da Gasconha, no Sousa inferior (Fernandes,
2001). Pese embora o nobiliário do Conde D. Pedro afirme que os Gascos têm origem
numa Gasconha forânea…

As inquirições régias permitem também uma análise diacrónica deste processo de


reorganização administrativa, acelerado sobre um controlo régio que começou a
afirmar-se em meados do século XII, surgindo quase todas as freguesias do actual
concelho citadas já nas inquirições de 1258.
18

Cartografia das terras do final do século XIII (fonte: Rosas e Pizarro, 2009)

As inquirições de 1220 referem o julgado de Portocarreiro (terras da margem direita do


Tâmega e ainda a actual freguesia penafidelense de Abragão) e de Santa Cruz. As de
1284 fazem referência a Benviver e as de 1340 dão notícia já do julgado de Soalhães.
Importante também a referência feita, nas inquirições de 1258, conforme sublinha
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, ao “burgo” de S. Salvador de Entre-os-Rios (hoje
freguesia do Torrão), o que afirmava este lugar como “um dos raros exemplos de
povoação rural aglomerada do Entre-Douro-e-Minho” durante a Idade Média.
19

Trabalhos de campo
A arqueologia medieval produzida no concelho do Marco de Canaveses deve muito a
três homens. João de Vasconcelos, bacharel em Direito, na transição do século XIX
para o XX, fez um honesto levantamento arqueológico no concelho. O seu filho,
Manuel de Vasconcelos, médico, deu continuidade a esse trabalho. E João Belmiro
Pinto da Silva, historiador de arte, cujos trabalhos na década de 80 foram reproduzidos
numa importante edição dedicada às sepulturas medievais do concelho de Marco de
Canaveses. Três contributos que abasteceram com alguma generosidade a nossa base de
dados antes do início do trabalho de campo, a que se acrescentam ainda os resultados de
um relativamente recente (2002) levantamento patrimonial do concelho.

De João de Vasconcelos, falecido em 1913, no Marco, disse José Leite de Vasconcelos


que foi “um grande apaixonado pelas nossas velharias” e que “conhecia todas as
antigualhas do concelho”, tendo ambos realizado “algumas excursões arqueológicas que
foram um tanto rendosas para o Museu Etnológico”. Manuel Vasconcelos dá-nos conta
mesmo de um pormenor delicioso, quando sublinha a presença frequente de Leite
Vasconcelos no Marco e também de Francisco Martins Sarmento: “Sempre que aqui
vinham levavam o alforge carregado”.

Este autor deixou-nos, por outro lado, um curioso trabalho sobre costumes funerários
que, embora salvaguardando uma prudente distância, podemos enquadrar na temática do
nosso trabalho. A sua recolha etnográfica reporta-se naturalmente aos costumes e usos
vigentes no final do século XIX mas há pontos de contacto com o modo de enterrar de
um passado mais longínquo. Por exemplo, refere que na freguesia de Tuías era costume
“meter no caixão dos mortos uma moeda de cinco réis, levando ainda os mortos um
rosário de contas”. Em Constance, “os mortos levam no caixão uma moeda de dez réis,
um rosário de contas e uma agulha enfiada”. A moeda “é para dar ao diabo”. De uma
forma genérica, a tradição marcoense impunha, ainda, que os mortos deviam ir
“lavados, barbeados, limpos e bem vestidos” e que a água com que são lavados e a
respectiva bacia devem ser deitados “em sítios onde não passe ninguém”, sendo o pente
partido em três (número pernão). A cama do morto, por sua vez, deve ser queimada no
monte, ateando-se fogo com as costas golfadas enquanto se atirada uma golfada de sal
por cima do ombro, “desandando a fugir sem mais voltar o rosto para a fogueira”. Eis
aqui toda uma riqueza folclórica impossível de ponderar para a diacronia das sepulturas
20

cavadas na rocha mas que por si só nos faz imaginar todo um mundo protocolar para
aquele momento…

A realidade, porém, é diferente. Para além dos moimentos registados e que entretanto
desapareceram, fruto da evolução urbana e de actos de vandalismo, os que sobraram
surgem normalmente sem contexto e espólio. O problema é comum ao estudo de todas
as sepulturas deste tipo e não pode por ora ser resolvido, restando o desafio de um
registo fidedigno e o avançar de propostas de leitura.

Interessa sobretudo valorizar os legados dos Vasconcelos e de Pinto da Silva.

Nos seus “apontamentos”, Manuel Vasconcelos regista várias sepulturas cavadas na


rocha, umas que consegue observar e medir, outras de que sobra apenas notícia. No caso
concreto do Freixo, este autor observa uma sepultura logo à entrada da aldeia, no sítio
chamado da Rabela de Cima, outra no lugar mais elevado da aldeia (Outeiro das
Castanhas) e sinaliza várias (5, das quais só consegue observar 4) no lugar do “Quintal
da Venda”, junto à igreja paroquial.

Sepulturas desaparecidas, no antigo Quintal da Venda (Fonte: Manuel de Vasconcelos)

No mesmo lugar, para poente, Vasconcelos regista uma outra sepultura com a cabeceira
bem definida mas pouco afundada, omitindo qualquer referência a uma sepultura mais
21

tarde descoberta a par da primeira. Manuel Vasconcelos deu sempre a sensação de estar
mais focado no registo de gravações e de covinhas que propriamente em sepulturas
cavadas na rocha, o que pode explicar esta omissão. Note-se quer Manuel Vasconcelos
quer o próprio Leite Vasconcelos pisavam também um solo que encobria muitos
vestígios arqueológicos, passeando-se, sem o saber, pela cidade romana de Tongobriga.

O exemplo das sepulturas que existiam numa corte de gado do Quintal da Venda, no
Freixo, é um dos resultados das prospecções e dos pequenos levantamentos realizados
por Manuel de Vasconcelos, trabalho que o seu filho continuou. Cinquenta anos mais
tarde, João Belmiro Pinto da Silva confirmou alguns moimentos e registou o
desaparecimento de outros, acrescentando bastante informação e documentando
fotograficamente todas as sepulturas que conseguiu observar. Em síntese, do seu
trabalho de campo resultaram alguns registos inéditos, dúvidas diversas e uma pequena
proposta final de leitura dos moimentos observados. Concluiu Pinto da Silva que nos
moimentos observados no concelho há tipologias mais tardias que se podem associar a
sepulturas tipo banheira (embora poucas), outras em que predominam as formas
trapezoidais, um período de “antropomorfização” de que cita como exemplo o conjunto
da Folhada e outro de “antropomorfização plena” traduzida em casos do Freixo, da
Campieira e do Eidinho (Silva, 1990).

Os trabalhos na zona arqueológica do Freixo, onde se instalou uma escola de


arqueologia, contribuíram, por seu lado, para colocar Marco de Canaveses no mapa da
arqueologia nacional, embora se foquem obviamente no estudo da antiga cidade romana
de Tongobriga, local de grande concentração de sepulturas escavadas na rocha, como
resultou da escavação dirigida por António Lima, no início da última década do século
XX, na basílica paleocristã do Freixo, onde foi revelado um importante piso de
mosaicos. Infelizmente, ainda não foi publicado o resultado desse trabalho que reporta
ao levantamento de mais de 20 sepulturas abertas na rocha de mais localizadas no adro
do templo antigo.
22

Sepulturas abertas na rocha

Os problemas
Esta primeira fase do meu trabalho focou-se essencialmente na confirmação do
levantamento feito por João Belmiro Pinto da Silva durante a década de 80 do século
XX. Para uma segunda fase ficará a prospecção de áreas com sensibilidade arqueológica
para este tipo de ocorrências (sepulturas abertas na rocha) e também a realização das
suas plantas.

Tema quase enigmático da arqueologia medieval, as sepulturas escavadas na rocha são


um fenómeno (quase) exclusivamente ibérico que podemos balizar, embora sem
confirmação absoluta, numa diacronia que começa por volta do século IX e termina no
XII, correspondendo a um período em que a morte surge despersonalizada (Barroca,
2009).

O morto não se faz acompanhar por qualquer espólio – quebrado o protocolo religioso
romano que aconselhava o enterramento acompanhado por um “serviço de mesa” – nem
vê o seu nome perpetuado epigraficamente. Não está, por isso, facilitado o trabalho do
arqueólogo sobre sepulturas que muitos autores situaram em períodos mais antigos até
se conseguir algum consenso, no final da década de 80 do século XX, a partir do
trabalho apresentado por Mário Jorge Barroca no âmbito de provas académicas na
Faculdade de Letras do Porto (Barroca, 1987).

Esta despersonalização da morte não tem propriamente uma explicação, embora possa
estar relacionada com uma mudança operado entre os cristãos na sua relação com o
mundo dos mortos, até aí confiados ao seu espaço oculto desde o momento do
encerramento do túmulo e de aí para a frente necessitados de quem por eles continuasse
a velar, para mais facilmente atingirem o descanso do paraíso. Indo para além do que
dizia o apóstolo Lucas: “Deixa que os mortos sepultem os seus próprios mortos”. Na
sociedades hispano-visigótica, quiçá na sociedade bem mais efémera hispano-suévica,
há já uma menor apetência para a memorização dos nomes dos mortos (Barroca, 2010).
23

Em 1066, o concílio compostelano, reunido numa fase em que a igreja ibérica trocava o
seu próprio rito pelo rito recomendado por Roma, condenava cultos pagãos, incluindo o
culto das pedras e, mais especificamente, o culto das pias e covinhas (Coelho, 2009).

Tenha-se em conta também que Leão IX, em meados do século do séc. XI e


correspondendo a uma iniciativa do abade Odilon, instituiu a comemoração do dia dos
fiéis defruntos – permitindo que todos os mortos fossem recordados em oração pelo
menos uma vez por ano (Barroca, 2010) – e proibiu que os padres recebessem paga
pelas sepulturas dos mortos ou pelo baptismo. Tem algum significado a instituição do
dia dos finados neste momento em que o sepultamento anónimo aproveitando
afloramentos rochosos estava provavelmente a caminhar para um fim de ciclo.

Esta é uma época que temos de sentir não apenas como distante mas também diferente.
Correspondendo o período entre os séculos VIII e X ao auge dos enterramentos
anónimos, significando o regresso do epitáfio um acontecimento maior para a história
da memória (Barroca, 2000).

Tentamos procurar nos diversos concílios e sínodos realizados durante o primeiro


milénio da cristandade elementos que de alguma forma pudessem contribuir para a
percepção do fenómeno ainda hoje obscuro das sepulturas escavadas na rocha. A
consulta dos cânones não foi propriamente um grande sucesso. Fala-se muito pouco na
morte nos diversos concílios desse tempo, fala-se também muito poucos dos rituais a ela
associados. As grandes questões de debate são teológicas, ora sobre o mistério da
Trindade, ora sobre a natureza de Maria, ainda sobre a divindade de Jesus. Uma lacuna,
até prova em contrário, resultante de novas pesquisas, que por si só é uma pista
(Alberigo, 1994). Na (quase) omissão pode estar mesmo a resposta.

Relevem-se, contudo, alguns cânones conhecidos sobre este assunto: o concílio de


Braga, em 563, interdita todas as inumações no interior das basílicas dos santos mártires
e apenas permite os enterramentos perto dos muros dos templos; a recomendação
repete-se, em 813, no concílio de Mayence; e no concílio de Tribur os laicos são
expressamente interditados de ser sepultados nas igrejas (Ariés, 1983).

Com a adopção do Cristianismo, o corpo do defunto deixou de ser encarado como algo
de nocivo para os vivos. Partiu-se do princípio o espírito deixou de estar junto do corpo
através da transmutação em alma (Barroca, 1987). Ascendendo esta ao céu, garantida
24

pela adopção do credo, os vivos libertavam-se de qualquer compromisso com os


mortos. Os cemitérios puderam, por isso, retornar aos aglomerados humanos,
concentrando-se muitas vezes junto de templos onde foram depositadas relíquias. Este
tumulatio ad sanctos depressa seria condenado pelo direito canónico. Várias reuniões
conciliares promulgaram sobre práticas funerárias: contra a manutenção de círios acesos
nos cemitérios (Elvira, 300-306?), contra os enterramentos no interior dos templos
(Braga, 561) e contra as libações (Braga, 572). Mas nenhuma destas reuniões revela
uma preocupação especial e específica sobre as regras que deviam pautar um
enterramento (Barroca, 1987).

Urge, aqui, ter a consciência do que é regime e do que é regimento. Como salienta José
Mattoso, a “religião popular” pode ser entendida por oposição ao culto oficial e público
promovido pelas legítimas autoridades clericais. Num ambiente em que a preservação
de práticas mágicas de origem não exclusivamente cristã advém de uma diferente forma
de dominar e compreender a natureza no seu sentido mais amplo (Mattoso, 1984).

No cruzamento do que é doutrinário e das correntes por vezes fortes que circulam nas
suas margens pode estar uma das chaves que permita abrir uma porta por onde entre
alguma luz capaz de ajudar a esclarecer a ocorrência de um fenómeno tão singular como
os das sepulturas escavadas na rocha. Iremos insistir neste ponto.

A problemática
São antigos os estudos sobre sepulturas abertas na rocha em Portugal assinados por
nomes como Leite Vasconcelos, Santos Rocha, Martins Sarmento, Félix Alves Pereira,
Simão Rodrigues Ferreira, Amorim Gião, Alberto Correia, António Cruz e Virgílio
Ferreira, entre outros. Todos eles começaram por identificar uma longa diacronia de
utilização deste tipo de moimento (Tente e Lourenço, 1998).

Os estudos desenvolvidos por Alberto del Castillo – em Burgos, Sória e Logronho –,


nas décadas de 60 e 70 do século XX, encurtaram esta diacronia, apontando as
ocorrências para a época da reconquista. Estes estudos desenvolveram também uma
teoria tipológica, com Castillo a considerar uma evolução formal do não
antropomorfismo para um antropomorfismo cada vez mais nítido e definido. Esta e
outras conclusões, entre as quais as que aventava a hipótese de o polimorfismo sexual
25

ser responsável por formas diferentes dos moimentos, foram assimiladas e revistas por
diversos investigadores, de que são exemplos os trabalhos de Asunción Bielsa e de
Katja Kliemann. Apontando sobretudo para uma interpretação menos fechada e
conclusiva e apresentando casos que demonstravam coexistências formais e não
propriamente uma sequência formal lógica. Mais tarde, em 1982, Bolós e Pages
recuperam algumas das teorias de Castillo e fazem recuar as sepulturas não-
antropomórficas ao século VII, assinalando a sua generalização durante os séculos IX e
X. Mas nada nos assegura que a evolução no sentido do antropomorfismo tenha sido
simultânea em toda a Península Ibérica (Tente e Lourenço, 1998).

Por cá, fez escola o trabalho de Mário Barroca sobre as sepulturas medievais de Entre-
Douro-e-Minho, no qual as relacionou com uma realidade de povoamento disperso
numa frequência intermitente, não tendo no seu trabalho inventariado grandes
necrópoles, ao contrário do que ocorre, por exemplo, nas regiões por onde andou
Alberto del Castillo. Mas foi sobretudo o resultado dos trabalhos arqueológicos que este
investigador realizou no convento de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, que
trouxeram um dado novo à arqueologia portuguesa no estudo de sepulturas medievais
deste tipo especial. Detectando antropomorfismos muito tímidos em moimentos
relativos a níveis intermédios entre o templo suevo-visigótico e um outro classificado
por Manuel Real como galaico-astruriano. Aproveitando a sobreposição estrutural, este
investigador concluiu que a evolução a caminho do antropomorfismo “é seguramente
anterior ao século IX” e rematou a diacronia com exemplos de sepulturas do século XIII
com desenho antropomórfico bem definido e com profundos encaixes para tampas.

Outros trabalhos se sucederam.


26

Sepulturas de Castelo de Penalva (Viseu)

Jorge Adolfo Marques, em 1995, estudou a região em torno de Viseu e registou 168
ocorrências relativas a este tipo de moimentos, concluindo que a sua distribuição não é
uniforme no espaço geográfico estudado (Marques, 1995), com grandes diferenças entre
os vales encaixados de montanha e as bacias hidrográficas dos rios Paiva e Vouga.
Concentrando-se em zonas de mais baixa altitude e planas as estações registadas. É nos
vales pouco profundos e aplanados de pequenos afluentes do rio Dão e do Mondego que
se concentram a maiorias das estações inventariadas (Marques, 1995), com estas a
obedecerem a dois critérios: a implantação em locais destacados na paisagem
envolvente e a proximidade de caminhos cuja antiguidade é difícil de determinar.
Nomeadamente em pequenas elevações com boas áreas de afloramento rochoso.
Característica deste conjunto de moimentos é ainda o número reduzido de campas que
cada estação possui, tal como ocorre no Entre-Douro-e-Minho. Os locais com apenas
uma sepultura (53) representam 31,5% das estações inventariadas. Apenas 30 estações
puderam ser classificadas como pequenas necrópoles (entre quatro e dez sepulturas),
17,3% do total. Em quase metade deste grupo (14 das necrópoles), as estações têm
moimentos antropomórficos e não antropomórficos. Entre as maiores necrópoles (mais
de dez túmulos), que são cinco, Marques sublinha que apenas duas se encontram
polarizadas junto a lugares de culto.

Na região de Chaves, Ricardo Teixeira registou um total de 74 sepulturas escavadas na


rocha (tendo caracterizado duas dezenas), o que denotou uma boa representação naquela
região do Alto Tâmega. Deste estudo sobressai o largo predomínio das formas
27

perfeitamente antropomórficas (47 exemplares), com o desequilíbrio a poder ser mais


acentuado caso tivessem sido em conta algumas leves evidências em alguns dos
moimentos classificados como não antropomórficos. Aí não foram registadas sepulturas
dos tipos rectangular ou sub-rectangular.

Entre as sepulturas antropomórficas, verifica-se um predomínio das que possuem


cabeceira em arco ultrapassado sobre as que exibem arco peraltado. Teixeira salienta
que muitos dos exemplares inventariados apresentam cavidade tumular com forma
antropomórfica mais ou menos acentuados mas conservam a linha de superfície com
forma ovalada, considerando-os relativamente arcaicos dentro das sepulturas
antropomórficas (Teixeira, 1996). Estas sepulturas localizam-se predominantemente em
afloramentos ou penedos com uma posição sobranceira sobre locais com vestígios de
ocupação romana ou medieval mas entende este investigador que é difícil articular as
duas situações.

Marina Afonso Vieira trabalhou a região do Alto Paiva e identificou 86 sepulturas


escavadas na rocha, entre as quais apenas 8 com formas antropomórficas plenas. Nesse
região predominam as sepulturas em locais isolados e os núcleos constituídos por uma
ou duas sepulturas. Em apenas 3 dos 32 locais foi possível estabelecer uma ligação entre
as sepulturas com locais de habitat da época medieval ou um mais tardios. Locais
destacados, em outeiros ou a meia encosta, são predominantes para estes moimentos
nesta região (Vieira, 2000).

Isabel Justo Lopes, por seu lado, desenvolveu um grande estudo sobre este tipo de
moimentos na zona do Vale do Douro Superior e na região nas terras altas da Beira
Interior com o objectivo de confrontar materialmente as estruturas funerárias nas
margens do Douro. De que resultou um extenso catálogo e uma tentativa de ligar os
diversos moimentos a caminhos, castelos e templos antigos. De um total, que
impressiona, de 465 sepulturas registadas, 396 ocorrem a Sul do Douro e 69 a Norte
deste rio. A Norte do Douro manifesta-se uma predominância de estruturas não
antropomórficas em locais de povoamento que revelam indícios de uma longa ocupação
enquanto os moimentos mais evolucionados surgem foram registados junto de
fortificações. A presença de caminhos juntos destes sítios funerários é uma evidência. A
Sul do Douro, sobe a complexidade interpretativa e das 396 sepulturas aí inventariadas,
133 possuem tipologia não antropomórfica, sempre com esta forma a ocorrer nos locais
28

fortificados. Aqui, não se pode estabelecer uma nítida associação entre sepulcros não
antropomórficos e povoados abertos de longa diacronia (Lopes, 2002).

Nos concelhos de Carregal do Sal e Gouveia, Catarina Tente e Sandra Lourenço


registaram 158 sepulturas, entre as quais 93 de contorno antropomórfico. Mas as
sepulturas antropomórficas também estão bem representadas, sendo mesmo exclusiva
de uma necrópole com 9 moimentos, num sítio com vestígios de ocupação romana e
ainda activo. No entanto, a não exclusividade tipológica é a constante das necrópoles
aqui registadas. Dado importante refere-se, por outro lado, à orientação das sepulturas.
A orientação da cabeceira no sentido do Leste é mínima, dominando o conjunto
Este/Sudeste. O que as autoras explicam com a ausência de associação dos moimentos
com edifícios religiosos seus contemporâneos. Porém, a orientação canónica ocorre
sempre nas necrópoles articuladas com locais de culto.

Das mesmas investigadoras, um estudo sobre sepulturas escavadas na rocha do distrito


de Évora surpreende por não registar, entre 19 sepulturas inventariadas, moimentos
antropomórficos. Particularidade que as autoras explicam com a dificuldade de precisão
no talhe do xisto. Na região é notório o isolamento geográfico e a reduzida
proeminência espacial das sepulturas, ocultas na paisagem. Na maioria dos conjuntos
ocorrem cerâmicas provavelmente medievais (Tente e Lourenço, 2002 ).

Passando em revista algumas cartas arqueológicas (CA) já publicadas, salientamos


alguns aspectos que julgamentos relevantes neste problemática das sepulturas escavadas
na rocha.

Lagares de S. Sebastião, Mêda (fonte: Carta Arqueológica do Concelho da Mêda, 2009)


29

Na CA da Meda somam-se 17 registos, todos eles tratados no levantamento de Isabel


Justo Lopes, mas gostaríamos de destacar a pormenorização de um dos sítios
proporcionada por esta carta: o sítio de S. Sebastião, na freguesia do Rabaçal, num
espaço de ocupação longa com cerâmicas romanas e tardo-romanas. No local existe
uma capela. Os dois núcleos de sepulturas de tipologia distinta, num total de oito,
convivem com quatro lagares que podem ter sido apenas o resultado do alargamento de
alguns dos moimentos (Coixão, Cruz e Simão, 2009). O que nos remete para a
interpretação de alguns lagares ou lagaretas que podem ser, afinal, apenas o resultado do
aproveitamento de sepulturas abertas na rocha.

Monte Velho I: cavidade sepulcral e respectiva tampa (fonte: Nova Carta Arqueológica de Marvão, 2007)

Município com uma área de 154,85 quilómetros quadrados (Marco de Canaveses tem
mais 47,04 quilómetros quadrados), o concelho de Marvão, no distrito de Portalegre, é
pródigo em sepulturas escavadas no granito que ali domina. A nova carta arqueológica
do concelho raiano regista 101 moimentos, muitos deles agrupados. A maior necrópole
tem 13 sepulturas. Tipologicamente, 48 dos moimentos inventariados são
antropomórficos e um deles foi encontrado completo, isto é, com tampa sepulcral
(Oliveira, Pereira e Parreira, 2007). Uma sepultura completa que desmente por si só
toda uma teoria desenvolvida pelo sociólogo António Carvalho, que arrisca uma
proposta de interpretação das sepulturas escavadas na rocha ao associá-las ao culto de
Mitra, cujo culto se manteve em Roma até ao fim do século IV d. C. Para este autor,
o processo de cristianização lançou um anátema sobre todas as religiões que desde
30

logo classificou como pagãs. Carvalho sustenta a sua tese no facto de considerar
que estas sepulturas não tinham tampas e que não seriam sepulturas mas locais
para a prática de rituais de passagem (Carvalho, 2009).

Ainda no Alto Alentejo, a carta arqueológica do concelho de Fronteira – município


com 245,20 km² de área – contrasta com a do concelho de Marvão, no mesmo distrito,
ao registar apenas quatro sepulturas escavadas no xisto que aí é matéria-prima
dominante (Carneiro, 2005). Um povoamento aí porventura mais disperso e a
dificuldade em trabalhar o xisto podem explicar a diferença?

Finalizamos esta pequena revista de cartas arqueológicas com uma relativa a um


concelho quase vizinho do Marco de Canaveses: Lousada. Oito sepulturas, uma muito
deteriorada, e quatro junto de um templo, é tudo o que se regista na respectiva CA. Com
este tipo de sepulturas a ter uma incidência quase residual no inventário (Nunes, Sousa e
Gonçalves, 2008). Para uma área que justificou, nos séculos V/VI, uma sede episcopal
(Magneto), e que seria como tal de bom povoamento, não deixa de ser um resultado
muito abaixo de qualquer expectativa.
31

Sepulturas abertas na rocha


do Marco de Canaveses

No concelho do Marco de Canaveses conseguimos observar 23 sepulturas abertas na


rocha mas temos conhecimento de que pelo menos mais três se encontram intactas.
Muitas mais estariam visíveis no início do século XX mas um processo de urbanização
que se acelerou na década de 70 deste século fez com que muitos dos moimentos
fossem destruídos. É bem possível que após uma prospecção a locais com evidente
sensibilidade arqueológica mais alguns moimentos possam ser acrescentados a este
inventário de algum modo representativo de uma forma de enterrar durante uma
diacronia alargada, num território que nos séculos IX e XI confrontava com a mancha
de domínio muçulmano.

Entre os moimentos deste tipo registados no concelho do Marco de Canaveses há dois


grupos que se distinguem: as pequenas necrópoles da Folhada (5 moimentos) e de
Mória (8). Na primeira as sepulturas surgem no geral com contornos não
antropomórficos mas numa delas (Ficha n.º3/3) indiciam-se sinais de
antropomorfização. Em Mória, na freguesia de Avessadas, convivem as duas tipologias
principais. Alargado o espectro à totalidade dos moimentos observáveis, tenha-se em
conta a frequência de ocorrências de sepulturas com sinais de antropomorfismo e as
outras de cronologia para muitos autores mais recuada.
32

Tipologias

Antropomórficas
Não
Indefinidas

Analisando os 23 registos realizados durante o trabalho de campo a propósito de


sepulturas abertas na rocha, verifica-se um equilíbrio entre os moimentos com contorno
antropomórfico definido e os outros, restando uma pequena zona cinzenta. De que pode
ser exemplo um dos moimentos da Folhada, onde os ombros surgem indiciados.

Escala: 0,5 metros


33

A estas 23 sepulturas que observamos acrescem as quatro sepulturas fotografadas há


quase um século por Manuel Vasconcelos no Quintal da Venda (Freixo) de difícil
análise tipológica, ainda uma sepultura existente na Casa do Eidinho, em Vila Boa do
Bispo, de contorno antropomórfico, uma outra no Monte da Santinha, no Freixo,
rectangular, duas no sítio da Poça de Morradouros, em Tabuado, também rectangulares
(tipo lagares), uma na Coriscadas, Soalhães, igualmente rectangular, e ainda mais uma
na Campieira, em Tuías, de que resta apenas a cabeceira trapezoidal. De algumas delas
apresentamos fichas mas apenas consideramos para valor estatístico as sepulturas que
tivemos oportunidade de observar e analisar no terreno. Fora destas contas ficou
também a sepultura aberta na rocha do lugar do Passal que foi transferida para o Museu
de História e Etnografia do Porto.

Pudemos confirmar a existência física de 23 das mais de 50 sepulturas escavadas na


rocha do concelho do Marco de Canaveses (Quadro II) que foram registadas e
esperamos poder, numa próxima fase, acrescentar alguns outros elementos e outros
relativos às mais de 20 sepulturas abertas na rocha registadas por António Lima durante
a escavação do antigo templo paleocristão do Freixo, no início da última década do
século passado. A afinação da cronologia de um templo provavelmente paleocristão
com a cronologia das sepulturas descobertas no adro do mesmo pode ser um elemento
de grande valorização de toda esta problemática.

Por ora, eis o quadro que foi possível apurar:


34

Quadro II

Freguesia Microtopónimo Nº sepulturas Visibilidade


Avessadas Mória 8 SIM
Folhada Moura 1 SIM
Folhada Tapada 5 SIM
Freixo Rabêla de Cima 2 NÃO
Freixo Quintal da Venda 2 SIM
Freixo Quintal da Venda 4 NÃO
Freixo Outeiro das 1 SIM
Castanhas
Freixo Igreja Paroquial + 20 NÃO *
Freixo Monte da Santinha 1 NÃO
Rosém Quinta da Igreja 1 NÃO
Santo Isidoro Portela/Livração 1 NÃO
Soalhães Gruta das Coriscadas 1 NÃO
Soalhães Piagem 1 SIM
Soalhães Estrada para 1 NÃO
Câmpelo
Soalhães Fojo 1 NÃO
Soalhães Capela de Mirás 2 NÃO
Soalhães Monte do Pinhão Várias NÃO
Soalhães Poço 2 NÃO
Soalhães Capela N.S. 1 NÃO
Conceição
Soalhães Lavra Várias NÃO
Sobretâmega Monte das Campas 2 NÃO
Tabuado Poça de Marradouros 2 NÃO
Tabuado S. Mamede 2 NÃO
Tabuado Torre de Nevões Várias NÃO
Tabuado Outeiro 1 NÃO
Tuías Campieira 3 SIM
Tuías Campieira 1 NÃO
Várzea do Douro Passal 1 SIM
Várzea do Douro Passal 1 NÃO
Vila Boa de Quires Portela 1 SIM
Via Boa de Quires Portela 2 NÃO
Vila Boa do Bispo Capela do Eidinho 1 NÃO
Total 23
*Registadas por António Lima
35

Nem todas as freguesias do concelho possuem registos de sepulturas escavadas na


rocha. Tendo ainda em conta os moimentos que podemos observar, as freguesias da
Folhada, com seis moimentos, e de Mória, com 8, são as que têm mais ocorrências. Vila
Boa de Quires (1), Freixo (3), Soalhães (1) e Tuías (3) possuem também sepulturas
abertas na rocha que podemos observar (a cor vermelha no mapa). No mapa seguinte
vamos acrescentar também outros moimentos de existe registo arqueológico (cor
laranja).

Temos, por isso, registo in loco de sepulturas abertas na rocha em seis das 31 freguesias
a que se acrescentam notícias de moimentos deste tipo em mais cinco freguesias do
concelho do Marco de Canaveses.
36

Não deixa de ser significativo o grande números de ocorrências que se verifica na


freguesia do Freixo, onde foi descoberta a cidade romana de Tongobriga. É uma
freguesia que está encostada à actual cidade do Marco de Canaveses, num local mais ou
menos aplanado que se estende até Mória e Tuías, onde também há bastantes
ocorrências. Também Soalhães, ainda hoje um aglomerado populacional que domina
uma zona de média montanha, são bastantes os registos, bem assim como na vertente
Norte da Aboboreira (Folhada e Tabuado). São locais naturais de caminhos e de
passagens e também favoráveis para a prática de agricultura.

A metade norte do concelho é claramente dominante neste tipo de ocorrências. Ou seja,


o território mais distante quer da zona nuclear de Anegia quer posteriormente da terra de
Benviver é precisamente o que denota uma maior frequência de sepulturas abertas na
rocha.

Entre as 23 sepulturas que observamos, 14 têm uma orientação predominante no sentido


de Este, considerando o intervalo entre os 60º e os 130 º, indicações que podem ser
importantes também no sentido de apurar o momento do ano em que estes moimentos
foram escavados.

Entre os 80 e os 100º graus, “apontando” mais claramente para Leste, temos seis
moimentos, todos na freguesia da Folhada.
37

Mória
Coordenadas geográficas: 41º 09’ 81 N 8º10’ 68 W
Altitude: 249 metros

Mória não é a cidade dos anões da obra de Tolkien “O Senhor dos Anéis”, cidade
construído no interior das Montanhas Nebulosas, onde residia o clã dos Barbas Longas.
É apenas um lugar destacado da freguesia de Avessadas e aí está o Santuário do Menino
38

Jesus de Praga, inaugurado em Outubro de 1961 com o objectivo de formar noviços,


função entretanto abandonada. Aí residem os frades Emeritas Descalços. Bem perto do
edifício religioso que é local de peregrinações estão as oito sepulturas desta necrópole,
implantadas num destacado afloramento rochoso hoje no interior de um parque aberto
ao público por altura das festas do santuário. A necrópole era conhecida da família que
habitou a Quinta da Mória – cuja capela particular tem uma inscrição com a data 1929 ,
mas foi uma surpresa quando, no início dos anos 90 do século passado, foi encontrada
pelos clérigos, quando estes construíam o parque hoje ali existente.

Bem perto, nos anos 50, Tasso de Sousa escavou uma necrópole romana com espólio
(mais de 100 peças) datável do século IV d. C. (Torcato, 2001). A proximidade com
Tongobriga é algo que tem de se salientar sobre esta necrópole de que nada sobrevive
hoje.

Na crista do monte no qual se implanta esta necrópole existe um pequeno santuário : o


Castelinho, local de atracção durante muitos anos de procissões de penitência com
origem em várias freguesias do Marco de Canaveses. O Penedo do Cramol era o pólo
magnetizador de todas estas peregrinações e conserva-se com destaque, aqui se
verificando mais uma vez que os grandes monólitos continuam a ser objecto de respeito
e veneração.

Penedo do Cramol
39

Com orientação das cabeceiras para Sul, ocupando quase toda a área útil de um
afloramento granítico com 7X7 metros, estas cinco sepulturas destacam-se também pelo
seu alinhamento e ainda pela sua diversidade tipológica. Duas deste grupo de cinco
(Fichas 7/8 e 8/8) não apresentam sinais de antropomorfismo mas as três restantes do
alinhamento não oferecem qualquer dúvida quanto à sua antropomorfização (Fichas
9/8, 10/8 e 11/8), com os ombros definidos.

As restantes três sepulturas, com orientação canónica, não denotam sinais de


antropomorfismo e uma delas pode ser de um juvenil (Ficha 12/8). Registe-se o facto:
as sepulturas teoricamente mais arcaicas (as primeiras implantadas no local?) têm a
40

orientação normalmente recomendada (“olhando” na direcção de Jerusalém) e


aproveitam claramente a área de maior largura do afloramento, onde podiam desfrutar
dessa orientação. Quanto às outras cinco, duas delas não antropomórficos mas com
sinais muito incipientes de um contorno desse tipo, surgem alinhadas no que parece ter
sobrado do afloramento, aproveitando ao máximo o espaço disponível.

A diversidade tipológica desta interessante necrópole permite também outra reflexão.


Teriam estas sepulturas abertas na rocha evoluído mesmo do não antropomorfismo para
o antropomorfismo? Se assim foi, eis algo que pode contribuir para a defesa dessa ideia,
pois as primeiras realizações aproveitaram ao máximo o espaço disponível para uma
orientação canónica enquanto as restantes sepulturas, três delas antropomórficas,
parecem ter colocado à frente da orientação correcta a necessidade de aproveitar o que
sobejava do afloramento granítico.

Por outro lado, podemos também aqui encontrar aqui argumentos para contrariar uma
certa teoria evolucionista assente na gradual antropomorfização dos moimentos.
41

Tapada da Igreja Velha


Coordenadas geográficas: 41º 13’18 N 8º 05’18 W
Altitude: 169 metros
42

Reconhecidas para além da memória que três gerações normalmente conservam, as


cinco sepulturas que constituem a pequena necrópole da freguesia da Folhada
implantam-se hoje numa zona despovoada, claramente junto a um caminho que remonta
pelo menos ao início do primeiro milénio, no acesso a uma antiga ponte romana de que
ainda subsistem pequenos vestígios apesar de ter sido reconstruído na época medieval.

As cinco sepulturas, das quais uma truncada (Ficha 5/5), encontram-se num
afloramento rochoso que foi bastante alterado aquando de obras de alargamento do
estradão realizadas há alguns anos e é provável que pelo menos uma delas tenha sido
destruída pois José Augusto Vieira, em 1887, refere a existência naquele local de seis
sepulturas, faltando apurar se viu as sepulturas ou se alguém lhe contou (Vieira, 1887).
Manuel Vasconcelos, alguns anos mais tarde (Vasconcelos, 1916), dá conta também de
seis sepulturas. Vieira de Aguiar, em 1947, refere igualmente a existência de seis
sepulturas no lugar da igreja velha, situando aí a antiga igreja paroquial da freguesia.
João Belmiro Pinto da Silva revela, contudo, que teve acesso aos manuscritos de João
Vasconcelos e da sua descendência e que aí se diz que as sepulturas eram cinco.

As memórias paroquiais de 1758 referem também que no sítio chamado Casal do Padre,
perto da igreja paroquial (não tão perto quanto isso se tomarmos como certo que a igreja
referida é a actual), foram descobertas muitas covas abertas no saibro e outras em fragas
“ao parecer de sepulturas de gente”. Provavelmente neste relato está a fazer-se
43

referência a outras sepulturas, talvez no adro da actual igreja paroquial, como alguns
anos mais tarde reportaram outros autores.

João Belmiro Pinto da Silva foi o primeiro autor a pôr em evidência alguns problemas
relativos aos relatos mais antigos que se referiam ao lugar da igreja velha por associação
com estes moimentos (Silva, 1990), salientando que a actual igreja paroquial se situa na
parte superior da freguesia, a mais de um quilómetro de distância, muito perto do lugar
da Moura. Este autor sustenta-se numa notícia de José Augusto Vieira relativa à
existência de duas igrejas em 1887 na freguesia para declarar provado que o
microtopónimo “Tapada da Igreja Velha” consagrado pela memória popular tem
sustentação.

Estas sepulturas da Tapada da Igreja Velha surgem nos escritos antigos referidas como
próximas do castro da Moura, com diversos investigadores desse tempo a localizarem
este último numa saliente crista junto à ponte do Arco, na margem esquerda do rio
Ovelha, que dista três centenas de metros do sítio das sepulturas. Ora, muito perto da
actual igreja paroquial perdura também o lugar da Moura e aí existe uma sepultura
escavada na rocha, de que daremos conta a seguir.

As cinco sepulturas do lugar consagrado como da antiga igreja da Folhada são todas não
antropomórficas e orientam-se todas de forma canónica, explorando ao máximo o
afloramento. Pelo menos uma dessas sepulturas (Ficha 3/5) denota um sinal incipiente
de antropomorfismo no sentido da definição dos ombros. Pormenor considerado por
muitos autores como uma etapa da evolução do não antropomorfismo para sepulturas
com contornos humanos bem definidos. É um moimento que iremos estudar com mais
pormenor numa fase posterior.

Neste núcleo existe ainda uma sepultura de um juvenil (Ficha 4/5) e uma outra truncada
na zona da cabeceira (Ficha 5/5).
44

Campieira
Coordenadas geográficas: 41º 10’17 N 8º09’58 W
Altitude: 231 metros

Num afloramento rochoso próximo da Casa do Outeiro, na margem de campos


cultivados, na freguesia de Tuías, existem 3 sepulturas e uma espécie de pia ou lagar.
Há uma referência antiga (Vieira, 1887) a duas sepulturas a curta distância da igreja
45

paroquial de Tuías – localizada a cerca de 500 metros – que provavelmente não seriam
nenhuma destas inventariadas por João Belmiro Pinto da Silva (Silva, 1990). Este autor
refere-se a quatro sepulturas mas só encontramos, em duas deslocações ao local, três. As
sepulturas encontram-se numa eventual zona de influência do antigo convento de Tuías,
cuja origem remonta ao século XI/II, de que não restam vestígios. João Belmiro Pinto
da Silva para além de ter identificado quatro sepulturas considera que duas delas
“nitidamente antropomórficas”. Concordarmos com ele com ele em relação à sepultura
que o próprio registou e de que resta apenas a cabeceira (Ficha 26/4), mas não tanto
quanto à outra (Ficha 23/4) pois o incipiente antropomorfismo da zona da cabeceira
pode ser de origem natural devido à erosão que se nota nessa parte do moimento
(imagem abaixo).

As duas sepulturas que fazem par (Fichas 24/ e 25/4) estão orientadas para Este e a
outra, que se destaca no afloramento, para Nordeste. Esta última (Ficha 24/3) é uma
sepultura peculiar pela forma como aproveita a parte mais destacada do afloramento
rochoso (imagem abaixo).
46

As duas sepulturas que formam um par, por seu lado, têm a eventual zona dos pés
desgastada mas é possível avaliar a sua dimensão. “Eventual” porque, realisticamente, é
impossível afirmar se de facto a cabeceira é aquela que estamos a partir do princípio que
é… Tenha-se em conta, por exemplo, que a sepultura que surge à direita na imagem
abaixo é mais larga 10 centímetros na zona dos pés.

O microtopónimo “Campieira”, ou Campeeira, merece ser relevado pois pode ter tido
origem nas “campas” que ali se vêem há muitos anos. O nome repete-se noutra bouça
daquela zona, mais perto da igreja paroquial, onde no respectivo adro também terão
existido sepulturas escavadas na rocha.

Para além destas quatro sepulturas registadas há ainda uma intervenção feita pela mão
do homem no afloramento, embora não em conexão directa com as três sepulturas. Esta
espécie de lagareta, onde se nota abertura de um pequeno canal, é chamada pelo povo “a
cadeira do mouro” (imagem abaixo).
47

Quinta da Moura
Coordenadas geográficas: 41º 12’ 53 N 8º04’08W
Altitude: 367 metros

No lugar da Moura, na actual propriedade da Quinta da Moura, na parte mais alta da


freguesia da Folhada, encontra-se bem conservada uma sepultura com um
48

antropomorfismo demarcado (Ficha nº 6). A sepultura é desconhecida de muitos


habitantes da freguesia, inclusive da presidenta da junta. Todos, porém, conhecem bem
o núcleo de cinco sepulturas da Folhada, na parte mais baixa da freguesia. A sepultura
foi identificada durante o levantamento patrimonial realizado em 1992. Junto da
sepultura encontrava-se um poste de alta tensão da EDP mas o proprietário da quinta,
António Monterroso, pediu àquela empresa para deslocar o mesmo, o que aconteceu,
libertando a área do moimento, onde ainda se conserva a base de cimento onde
assentava a torre. Na memória da família Monterroso, que ali se encontra desde meados
do século XX, não há qualquer referência a outras sepulturas no local, distante cerca de
meio quilómetro da igreja paroquial e mais perto de um calvário muito conhecido na
região. Esta é uma sepultura na qual se definem os ombros, embora bem melhor o
direito que o esquerdo, notando-se algum assimetrismo entre ambos. A cabeceira
desenvolve-se através de um arco de volta (quase) perfeita.

O afloramento onde se destaca esta sepultura tinha espaço para outros moimentos. No
entanto, tudo indica que apenas apenas foi ali construída uma sepultura, num local com
vários índicios de ocupação de ampla diacronia.
49

Alguns metros acima existe uma curiosa “gruta” que já foi identificada como um antigo
eremitério e que actualmente serve de garrafeira. Na freguesia de Soalhães há outras
estruturas semelhantes, nomeadamente na Furna do Fojo (uma) e em Vinheiros (três).
Podemos estar na presença de antigos eremitérios entretanto transformados ao longo dos
anos e com utilizações diversas.
50

Piagem
Coordenadas geográficas: 41º09’16 N 8º04’16 W
Altitude: 650 metros
51

Situada em cima do limite entre os concelhos do Marco de Canaveses e Baião esta


sepultura isolada é aquela que no nosso estudo surge a uma altitude maior, acima dos
600 metros. Mas encontra-se junto de terrenos agricultáveis e que ainda hoje são
explorados. A sepultura (Ficha 19) está numa zona de plantio de eucaliptos, muito
próximo de um grande prado onde existe um monólito de granito que aparentemente
tem tudo para se revelar como um óptimo local para aí se construir uma ou duas
sepulturas.

No entanto, a sepultura surge num afloramento bem mais modesto, a cerca de 300
metros deste que se vê na imagem, numa zona já com pequeno relevo e de cariz
florestal. A sepultura não está distante dos campos de culturas mas também não se
sobrepõe a eles, como é o caso deste bloco de granito. Estará revelada a tendência para
construir este tipo de moimentos num espaço vizinho do espaço de trabalho mas
demarcado deste por factores fisiográficos?

A sepultura não parece estar, por outro lado, associada a qualquer templo, numa zona
ainda hoje de escasso povoamento e cortada por uma via rápida que liga Soalhães a
Baião.
52

A sepultura encontra-se no topo deste pequeno afloramento. Está ainda a uma centena
de metros do sítio conhecido por “Penedos de S. Francisco”, no lugar de Lavra,
pertencente ao concelho do Marco de Canaveses. O povo chama ao local onde se
encontra a sepultura “Piagem”, podendo ousar-se que a origem deste microtopónimo
tem origem na palavra “pia”. Não muito longe existe o lugar da “Bouça da Moura”.
Manuel Vasconcelos já tinha referido a existência de sepulturas rupestres neste local,
bem assim como no Monte do Pinhão, que não fica muito distante (ver mapa). João
Belmiro Pinto da Silva vez a prospecção da área do monte do Pinhão mas nada
encontrou. Iremos insistir em breve.

Na cabeceira deste moimento o ombro esquerdo surge destacado.


53

Fojo
Coordenadas geográficas: 41º10’06 N 8º04’39 W
Altitude: 550 metros
54

A freguesia de Soalhães é muito rica em registos históricos de sepulturas escavadas na


rocha. Mas apenas conseguimos observar um desses moimentos, que surge assim em
situação excepcional. A regra passa pela destruição de muitas das sepulturas, como foi o
caso da sepultura do lugar do Fojo, cujo registo fotográfico chegou às mãos de João
Belmiro da Silva há pouco mais de dez anos (Ficha n.º 21). Conforme nos informou o
proprietário da pequena quinta onde se encontrava o moimento, o afloramento rochoso
onde a sepultura se encontrava foi dinamitado para que a zona de cultivo de vinha
pudesse ser aumentada. A sepultura foi, por isso, destruída.

A quinta e, ao fundo, o afloramento que foi parcialmente desmontado a tiros de dinamite

A sepultura tinha um contorno antropomórfico e uma zona dos pés bastante rectilínea.
O registo foi introduzido já numa fase em que a edição policopiada de João Belmiro
Pinto da Silva estava quase concluída. Estaria orientada para Este.

A sepultura encontrava-se a uma cota alta relativamente à média deste tipo de


moimentos no concelho do Marco de Canaveses. Saliente-se a sua localização junto de
um campo onde era possível a agricultura e próximo de uma pequeno lugar
provavelmente com povoamento antigo, um local onde aí hoje quem por lá resta divide
a sua actividade entre a pastorícia e a agricultura. No lugar do Fojo existe uma fonte de
55

granito cuja antiguidade não conseguimos determinar e cujas calhas para canalizar a
água se encontram abandonadas (foto abaixo).

Na freguesia de Soalhães há referências a outras sepulturas que não conseguimos


localizar, tal como tinha acontecido com João Belmiro Pinto da Silva. Por exemplo, no
lugar das Coriscadas, um lugar com muito relevo e pontuado por grandes blocos de
granito, aquele investigador dá notícia de uma sepultura em saibro junto do sítio
conhecido por Gruta das Coriscadas. Uma gruta que os próprios populares tratam como
tal mas que não é uma gruta mas sim uma espécie de abrigo natural.

Ainda nesta freguesia há nota de outras sepulturas desaparecidas. Manuel Vasconcelos


deu conta de duas antropomórficas no lugar de Mirás ou Miraiz (como vem referido na
carta milutar n.º125). Num morro de granito junto à igreja paroquial de Soalhães
existiam diversas sepulturas abertas na rocha, informa ainda Manuel Vasconcelos.

Também no lugar do Eido, perto da capela da Nossa Senhora da Conceição, o dono do


terreno garantiu a João Belmiro Pinto da Silva que ali existia uma sepultura
antropomórfica. O mesmo sucedendo na estrada Soalhães-Campelo, perto dos Penedos
de S. Francisco e da sepultura que ainda subsiste no lugar da Piagem.
56

Outeiro das Castanhas


Coordenadas geográficas:
Altitude: 335 metros
57

Esta sepultura (Ficha n.º 15) insere-se na área arqueológica de Tongobriga, no ponto
mais alto da freguesia do Freixo mas encontra-se num quintal privado. É um moimento
com cabeceira antropomórfica que foi talhado num destacado afloramento rochoso,
muito próxima da igreja paroquial, onde há dez anos foram descobertas mais de 20
sepulturas abertas na rocha, no adro do antigo templo.

A sepultura aproveita a diáclase para se implantar e está orientada em função da


morfologia do afloramento (Barroca, 1987). Ou será que a zona de fractura que se vê na
cabeceira foi resultado de um aproveitamento posterior?

O moimento do Outeiro das Castanhas tem um comprimento de 1,92 metros e regista 44


centímetros de largura na zona dos ombros, para uma profundidade máxima de 30
centímetros.
58

Quintal da Venda
Coordenadas geográficas: 41º09’58 N 8º08’46 W
Altitude: 332 metros
59

Junto à Igreja paroquial de Santa Maria do Freixo, numa propriedade conhecida por
Quintal da Venda, no Freixo, muito perto da igreja paroquial, Manuel de Vasconcelos
identificou cinco sepulturas dentro de uma corte de gado, sepulturas de que resta apenas
a memória e o registo fotográfico. Num afloramento rochoso no interior da propriedade
subsistem duas curiosas sepulturas abertas na rocha (Fichas 16/2 e 17/2), ambas
antropomórficas e com cabeceiras muito peculiares, ao jeito olerdolano.

Uma das sepulturas tem a profundidade normal neste tipo de moimentos mas a outra
parece ser uma sepultura inacabada. Não é caso único mas é caso sempre para propiciar
algumas interrogações. O que estará por trás do abandono da construção de uma
sepultura que envolve um significativo investimento em mão de obra? Será que alguém
quis replicar, num tempo posterior, uma sepultura ali existente? Outras perguntas
podiam ser aqui colocadas. Fica, porém, a singularidade deste dispositivo
proporcionado por um par de sepulturas com cabeceiras com ombros rectilíneos,
situação única no concelho do Marco de Canaveses.

A sepultura inacabada (à esq.) apresenta invulgaridade de uma cabeceira em arco


ultrapassado declarado, arrancando ligeiramente acima da linhas dos ombros, enquanto
a outra (à dir.) tem o seu arranque de cabeceira na linha dos ombros, com esta a
desenvolver-se em ligeiro arco ultrapassado. Na primeira das sepulturas sobressai ainda
o pormenor de os ombros se projectarem em ângulo ligeiramente aberto. Esta sepultura
tem uma profundidade máxima de 12 centímetros.

Está aqui bem patenteada, no desenho da cabeceira, a intenção de promover a


imobilização da cabeça do defunto.
60

Portela
Coordenadas geográficas: 41º11’04 N 8º12’35 W
Altitude: 332 metros
61

Na aldeia da Portela, na freguesia de Vila Boa de Quires, há notícia de várias sepulturas


abertas na rocha mas apenas conseguimos observar uma. Segundo João Belmiro Pinto
da Silva, existiam pelo menos mais duas sepulturas (uma provavelmente de criança).

Esta sepultura (Ficha n.º 30) encontra-se na parte mais alta da freguesia, numa zona de
mato bastante encerrado e a meia encosta de um outeiro onde outrora existiu o que terá
sido um santuário. Ainda hoje é possível observar uma série de cortes intencionais em
grandes pedras, a cerca de 100 metros do local da sepultura.

Num local mais baixo deste lugar, numa zona já florestal onde recentemente se abriram
alguns estradões, o sr. Carvalho, agricultor local graças ao qual conseguimos registar a
sepultura antropomórfica, levou-nos ao topo de um dos montes, onde havia uma grande
estrutura rectangular com diversos bancos exteriores e que entretanto tem sido
desmontada, com a pedra a ser aproveitada de diversas formas. O povo não tem
memória de neste segundo local ter existido qualquer grande habitação ou mesmo um
templo.
62

Esta é porventura um dos moimentos de formato antropomórfico mais claro de todos os


inventariados no concelho, apresentando bem o desenho dos ombros e uma cabeceira
em arco de volta quase perfeita. A sepultura apresenta ainda uma singular plantal
trapezoidal, aproveitando quase na plenitude o declive do afloramento rochoso, num
local muito próximo de uma zona de cultivo. Mede 1,74 metros de comprimento e tem a
zona dos pés ligeiramente arredondada.
63

Passal
Coordenadas geográficas: 41º46’ 12N 8º 16’06 W
Altitude: 80 metros
64

Esta é a sepultura que encontramos a uma quota mais baixa, muito próximo do Douro,
mas ainda num local de relevo acentuado, de onde não se vislumbra o rio (Ficha n.º
27). O moimento tem 1,80 metros de comprimento e uma largura nos ombros de 55
centímetros, tendo a zona dos pés 27 centímetros de largura. A sua cabeceira
desenvolve-se na forma de um rectângulo com uma projecção de apenas 9 centímetros,
muito à semelhança de alguns sarcófagos de incipiente antropomorfismo.

O moimento aproveita bem o afloramento de granito grosseiro e a sua lateral esquerda é


bem mais alta que a direita (uma diferença de sensivelmente 40 centímetros). Junto do
moimento existe um tanque ainda activo e são visíveis também diversas perfurações no
granito, ao jeito de blocos de poste. Perto do local da sepultura, na Quinta do Passal,
foram descobertas várias lápides funerárias da época romana.
65

A sepultura do Passal encontra-se a cerca de 200 metros, embora numa cota superior, da
antiga igreja paroquial de Várzea do Douro, de traço medieval e de onde foram retirados
diversas lajes epigrafadas.

Tanto a dita Igreja Velha como a sepultura do Passal encontram-se na zona de


enquadramento do Alto de Penegotas, denominado nos documentos medievais como
“mono castro cathedra” devido a uma espécie de grande cadeira que ainda aí se vê
talhada na pedra. Do lugar do Passal foi também extraída uma sepultura aberta na rocha
na posse do Museu de História e Etnografia do Porto, há alguns anos fechado ao público
(Ficha nº 28).

Esta sepultura in situ está identificada na bibliografia (Barroca, 1987) como sita no
lugar do Machorro das Cavadas. Outros investigadores (Lanhas e Brandão, 1967)
referem que foi afectada por duas mutilações: uma que lhe abriu na metade inferior
direita do lateral esquerdo um “banco” e outra que destruiu a zona inferior, bem como o
início do lateral direito (imagem abaixo).
66

Curiosamente, em Julho de 2011 a mesma sepultura surge com a sua zona dos pés bem
mais definida.

O que aconteceu entretanto? A limpeza de terras terá proporcionado a definição do


desenho da zona dos pés ou esta foi modelada, como parece ter acontecido com os dois
“degraus” da lateral esquerda?
67

Passal
Coordenadas geográficas: --
Altitude: 80 metros

Esta sepultura foi “arrancada” de um local próxima da sepultura por nós referida como
do lugar do Passal, na Várzea do Douro, e oferecida pelo reverendo Gaspar Augusto
Pinto da Silva ao Museu de Etnografia e História do Porto, onde tem como número de
registo 5501, tendo entrado naquele museu no dia 28 de Dezembro de 1950. Trata-se de
uma sepultura antropomórfica (Ficha n.º 28) com a zona dos ombros bem esquadriada
(Lanhas e Brandão, 1967).
68

Outros túmulos

Abre-se aqui um novo capítulo a propósito de outras formas de tumular medievais, num
grupo com bastantes exemplos de túmulos móveis construídos em granito, normalmente
associados a templos religiosos.

Estes exemplos, alguns deles exemplares, correspondem provavelmente a um momento


relativo ao final da Idade Média, embora alguns deles nos dêem indícios de uma maior
antiguidade, podendo, mesmo, ter sido contemporâneos das sepulturas abertas na rocha
que no fundo são o objecto deste meu trabalho.

Decidimos colocar aqui uma linha de fronteira entre duas formas diversas de sepultar.
Mas não estamos convencidos.

Sobre este tema iremos tentar outros desenvolvimentos, até aqui impossíveis de operar
pois foi algo que entrou já no fim desta primeira etapa do estudo dos túmulos medievais
do concelho do Marco de Canaveses.
69

S.Sebastião
Freguesia: Alpendorada e Matos
Localização :
70

Perto da Capela de S. Sebastião – antigamente chamada S. Tiago – há muitos anos que


há notícias sobre uma sepultura. “Não é do meu tempo, é uma antiguidade”, assim se
referiu uma residente no lugar ao túmulo, que se encontra não muito distante do
Convento de Alpendorada.

Noticiada arqueologicamente desde o final do século XIX (Vieira, 1887), esta campa foi
desde então identificada como o local de sepultamento de um cavaleiro templário, tendo
em conta o facto de um dos seus elementos iconográficos ser uma cruz de Malta ou cruz
de S. João, símbolo associado a cavaleiros cristãos (Ficha n.º 46).

A sepultura não faz parte apenas parte do imaginário histórico local mas também, fruto
da sua divulgação, se tornou numa espécie de local de culto dos novos templários, que
em 2010 ali acrescentaram também um elemento…

A tampa anepígrafa e a respectiva estela onde se encontra gravada a cruz de Malta


corresponde ao que tudo indica a uma sepultura aberta na rocha, que ali não é
perceptível, levando-nos a crer que a tampa terá sido deslocada. A tampa tem apenas
1,55 metros de comprimento, para uma largura máxima de 50 centímetros e mínima de
36 centímetros. A corresponder, com uma margem de 10/15 centímetros para além do
corpo do morto, a uma sepultura aberta na rocha tal leva-nos a acreditar que essa
sepultura seria apenas de média dimensão, reportando-se aprioristicamente a um
sepultamento feminino, e lançando, a ser assim, o paradoxo sobre o imaginário criado
por esta sepultura.
71

A sua estela é a estrela deste moimento. Porque são raras as associações de estelas
rectangulares a sepulturas abertas na rocha (Barroca, 1987) mas também pela sua
iconografia: uma eventual cruz de Malta lançada por uma espécie de haste.

Na tampa sepulcral não é visível qualquer iconografia gravada mas João Belmiro Pinto
da Silva lançou a hipótese de ali ter sido gravada uma espada. Um registo fotográfico de
alta densidade de leitura poderá fazer também alguma luz sobre este assunto.
72

Campas
Freguesia: Vila Boa de Quires
Localização : na parte alta da aldeia de Gaia
73

Situada perto de dois lugares com topónimos muito “suspeitos” do ponto de vista do
registo arqueológico (Lagarelha e Gaia), esta sepultura (Ficha n.º43) constituída por
uma laje granítica rectangular encontra-se num lugar conhecido por “Campas”. Não é
difícil adivinhar, por isso, a origem deste nome, embora no local apenas se consiga
observar uma campa que o povo também associa à lenda dos quatro irmãos, que reporta
também a uma sepultura não muito distante, conhecida por “Dois Irmãos”. Esta
sepultura, orientada de forma canónica (80º), encontra-se à esquerda do caminho de
acesso ao Alto do Crasto, local de uma antiga povoação castreja, e foi muito difícil de
encontrar, pois estava praticamente coberta pela vegetação, a uma altitude de 370
metros.

Na suposta cabeceira surge gravada uma pequena cruz.


74

Casa do Outeiro
Freguesia: Tuías
Localização : no jardim da Casa do Outeiro
75

Na Casa do Outeiro, propriedade da família Sousa Guedes há muitos anos, encontra-se


um sarcófago de grandes dimensões (Ficha n.º 32). O sarcófago tem uma caixa interior
de formato antropomórfico e exteriormente é ligeiramente sub-trapezoidal, tendo como
largura máxima, na cabeceira, 67 centímetros e como mínima, nos pés, 53 centímetros.
O possante sarcófago terá vindo da igreja do convento feminino de Tuías, ali próximo,
de que não restam vestígios materiais. As beneditinas que ali viviam foram transferidas
para o Porto, para o Mosteiro de da Ave-Maria (onde se encontra a actual estação de S.
Bento), em 1518 (Sousa, 1994), para onde foram também transferidas as freiras das
casas de Rio Tinto, Vila Cova e Tarouquela. O sarcófago, que não tem decoração,
aproveitou um grande bloco de granito de grão grosso e róseo e o espaço disponível
para o cadáver tem 2,10 metros de comprimento para um comprimento total de 2.40
metros! O que faz supor que terá sido um moimento construído para um homem,
embora possa ser proveniente de um convento feminino. A cabeceira desenvolve-se
através de um arco peraltado. Hoje, encontra-se ao lado de um outro sarcófago
recentemente descoberto.
76

Casa do Outeiro
Freguesia: Tuías
Localização : no jardim da Casa do Outeiro
77

Há pouco anos, quando se procedia a trabalhos numa agra da Casa do Outeiro, a


máquina levantou um outro sarcófago monolítico que presentemente se encontra no
jardim daquela propriedade (Ficha n.º 33). O sarcófago sofreu uma ligeira mutilação na
zona dos pés, provocada pela máquina que o encontrou.

Trata-se de um curioso moimento até aqui inédito em termos de registo arqueológico.


Denota um antropomorfismo incipiente, o que faz supor uma cronologia do século XII,
enquadrando-se num período em que a construção de sarcófagos monolíticos se tornou
mais frequente. Esta é uma cronologia calculada e que tem em conta o facto de
podermos encontrar sarcófagos antropomórficos em tempos mais recuados que o século
referido (Barroca, 1987).

Este arcaz da Casa do Outeiro tem as laterais decorada com arcos peraltados e outros
motivos difíceis de distinguir e que iremos tratar brevemente recorrendo a técnicas
associadas à fotografia de alta definição (uma das laterais está mais desgastada mas
percebe-se que está lá algo, conforme se pode ver na imagem abaixo).

O tema dos altos peraltados é conhecido noutros sarcófagos monolíticos do Entre-


Douro-e-Minho, de que é um dos exemplos o arcaz de Venade, no concelho de Caminha
(Barroca, 1987).
78

Muito peculiar neste arcaz é também a sua cabeceira, quase esboçada e de formato
rectangular mas com cantos arredondados.

Possui ainda este sarcófago a particularidade de no fundo da sua caixa, perto da zona
dos pés, apresentar um motivo escavado num granito de grão médio.

Deve tratar-se de um aproveitamento do arcaz para funções vernaculares, ou seja, como


pequeno lagar. Segundo o proprietário da Casa do Outeiro, este tipo de afundamento é
conhecido em lagares ou lagaretas de pedra, permitindo um maior aproveitamento do
79

produto ali trabalhado, tanto mais que este sarcófogo não tem qualquer perfuração entre
a caixa e o exterior, ao contrário do outro arcaz da Casa do Outeiro.

Um motivo semelhante, curiosamente, identificámos junto de uma das paredes da igreja


de Sobretâmega, como apoio a uma torneira (foto acima).

Na Casa do Outeiro existe ainda uma provável tampa de um sarcófago, situação que
iremos tentar definir numa próxima visita ao local. Está aproveitada como degrau, muito
próximo dos arcazes. A chanfratura que se pode apreciar indicia precisamente que se
trata do aproveitamento de uma tampa sepulcral (foto abaixo).
80

Embora fuja do objecto deste estudo não quisemos deixar de fazer uma referência a dois
blocos de granito preservados José Maria de Sousa Guedes. Um deles tem claramente
uma cruz gravada, dando a sensação de representar um templo (imagem abaixo).

O outro será um tabuleiro de jogo medieval (imagem abaixo).

Parece tratar-se do Jogo do Moinho (na parte superior), observando-se rectângulos de


ângulos arredondados cruzados por traços recto. Este é um jogo que seria muito popular
e está bastante documentado no distrito de Castelo Branco, onde foram identificados
81

vários jogos deste tipo que remontam à antiguidade clássica (Fernandes e Alberto,
2009).

Tabuleiro do jogo do moinho no livro de jogos de Afonso X, o Sábio

Em Portugal conhecem-se mais de uma centena de tabuleiros de jogos gravados em


pedra e alguns ainda são jogados em algumas povoações alentejanas.

Relativamente ainda a Tuías, freguesia hoje integrada no contínuo urbano da cidade de


Marco de Canaveses mas na Idade Média claramente mais nuclear, há notícia de uma
dádiva especial de D. Teresa, mãe de Afonso I, a Egas Moniz, dito “o Aio”, antes de
1128, da igreja de S. Salvador de Tuías. Onde viria a ser fundado mosteiro importante
(Fernandes, 2001).
82

S. Brás de Fandinhães
Freguesia: Paços de Gaiolo
Localização :
83

Num templo já referido em 1054 (DC 391) encontra-se hoje no exterior uma tampa de
sepultura fragmentada em três mas completa (Ficha n.º 48), num local onde
antigamente existia a nave de um templo de que resta apenas a capela-mor mas onde se
continuam a celebrar missas.

Esta tampa sepulcral apresenta como ornamentação uma cruz patada com o grande pé
alto. Este motivo tem um comprimento de 1,68 metros. O bloco de granito onde se
insere tem um 1,90 metros de comprimento e uma largura máxima de 60 centímetros. O
pé alto do cruciforme tem dois pequenos semi-círculos centrais, tal como ocorre noutros
casos no Entre-Douro-e- Minho (Barroca, 1987).

O templo encontra-se a 501 metros de altitude e ocuparia uma posição central num
antigo povoamento, agora deslocado para uma cota inferior. Em redor do templo são
inúmeros os vestígios de suportes de construções em afloramentos.

A tampa apresenta ainda uma sigla funerária: uma cruz linear fechada num círculo (cruz
cíclica), muito comum no imaginário medieval.
84

A hoje Capela de Fandinhães (que já teve como oragos S. Brás e a Senhora da


Livração), centro de uma romaria que se realiza no mês de Maio, já foi igreja-matriz
mas viu a sua nave ser desmontada totalmente em 1873 (parte da sua pedra terá sido
aproveitada na actual Igreja de São Clemente, em Paços de Gaiolo), quando já se
apresentava em ruína. Será um templo que se enquadra num romântico tardio e de que
sobrevivem hoje alguns elementos característicos, como são os casos do ajimez e do
cachorro com uma figura antropomórfica com a mão no sexo, a seguir ilustrados.
85

S. Brás de Fandinhães
Freguesia: Paços de Gaiolo
Localização :
86

Junto da tampa sepulcral partida em três partes existe uma sepultura, nos últimos anos
revelada quando se limpou a superfície do solo do adro da Capela de Fandinhães (Ficha
n.º 49).

Trata-se provavelmente de uma de muitas sepulturas que existiram na nave da Capela


de Fandinhães, um nome de declarada origem germânica, segundo Almeida Fernandes.

É uma sepultura em princípio de pequenas dimensões: 91 centímetros de comprimento e


37 centímetros de largura máxima.

Tem inscrita uma cruz latina com as extremidades barradas, faltando determinar se
estamos perante uma gravação contemporânea do sepulcro.
87

Penhalonga
Freguesia: Paços de Gaiolo
Localização :
88

De formato “tipo banheira” e usado actualmente como floreira, encontra-se junto da


Igreja Paroquial de Penhalonga um possível sarcófago com 2 metros de comprimento
(Ficha n.º 50).

O arcaz foi encontrado num terreno próximo da Igreja Paroquial e está há muitos anos
no seu adro. A possível caixa feral tem 1,75 metros de comprimento, sendo, como tal,
adequada ao depósito de um cadáver.

O orifício existente junto da parte mais estreita deste arcaz é de grandes dimensões e
sobre o mesmo foi escavado um canal, pormenores que indiciam que tanto podem
ajudar a desmentir o carácter funerário deste bloco de granito trabalhado como a
utilização do mesmo para outros fins numa fase posterior.

Na possível cabeceira foi feito também um buraco, embora de pequenas dimensões.


89

Convento de Alpendorada
Freguesia: Alpendorada e Matos
Localização :
90

No local do antigo Abadia de Pendorada, fundada possivelmente em 1054 (Mattoso,


2002), existem dois sarcófagos actualmente colocados no claustro seiscentista que liga o
templo moderno ao Hotel Convento de Alpendorada.

O mais completo destes arcazes, produzido em granito de grão grosso, apresenta um


rebordo muito idêntico ao verificado no arcaz que existe junto à Igreja Paroquial de
Penhalonga (Ficha n.º 44). Dando a sensação que os seus rebordos, paralelos, serviram
para encaixar a tampa.

O túmulo tem ainda um entalhe vertical na zona da cabeceira.

Ña base da parede lateral direita tem um orifício circular com cerca de 8 centímetros de
diâmetro pelo exterior, dando a sensação de ter sido reutilizado como pia (Silva, 2001).

Este sarcófago mede 1,96 metros de comprimento e tem como largura máxima, na
cabeceira, 70 centímetros e mínima, nos pés, de 55 centímetros. Não revela qualquer
sinal de antropomorfismo e não possui sinais de perfuração.
91

Convento de Alpendorada
Freguesia: Alpendorada e Matos
Localização :
92

No mesmo claustro de Alpendorada existe outro sarcófago, ou melhor, o que resta dele,
depois de ter saído de um muro (Ficha n.º 45)

Trata-se de um sarcófago bastante mutilado com 1,90 metros de comprimento, 60


centímetros de largura na cabeceira e 50 centímetros na zona dos pés.

É possível perceber-se ainda o arranque da parede lateral deste arcaz, onde existem,
junto à fase da cavidade feral, dois orifícios.

Na parede lateral esquerda pode ler-se uma inscrição em latim.

A pedido de João Belmiro Pinto da Silva, Maurício Antonino Fernandes traduziu a


inscrição desta maneira:

“Ao imperador César, filho do Divino Augusto, com o poder de Pontífice


Máximo, os Bracaraugustanos dedicaram 2.ª vez este monumento…”

É uma tradução que apresentamos com a devida reserva. De qualquer dos modos,
deveremos estar perante um grande monólito epigrafado que numa fase posterior foi em
parte aproveitado para a construção de um arcaz. Sendo, por isso, um exemplo raro de
um sarcófago “oportunista”, quebrando uma tradição de sarcófagos vistos como
“oportunidades” para quem dele quis fazer outra coisa.
93

Santa Clara do Torrão


Freguesia: Torrão
Localização :
94

Na confluência do Douro com o Tâmega, junto da parede lateral Sul da Igreja de


Paroquial de Santa Clara do Torrão, freguesia onde Dona Chamôa Gomes de Touges
fundou o mosteiro de Santa Clara de Entre-os-Rios (Rosas e Pizarro), encontra-se um
sarcófago com 2 metros de comprimento e 70 centímetros de largura máxima na zona
de cabeceira e 50 centímetros na zona dos pés (Ficha n.º 47).

É um arcaz com tampa de duas águas e com uma das faces da tampa gravada com altos
relevos. O mais visível dos motivos é uma cruz latina com as suas extremidades
pomiformes. João Belmiro Pinto da Silva sublinhou a giz as figuras representadas e
obteve o seguinte resultado:

Resultando da leitura deste investigador, para além da cruz latina, um crescente lunar e
uma estrela na zona da cabeceira e um zoomorfo na zona dos pés (um cavalo?).

É um túmulo com uma arquitectura semelhante ao existente no exterior da Igreja


Paroquial de Vila Boa do Bispo mas não tem, ao contrário daquele, qualquer inscrição.

Iremos, numa próxima fase, tentar confirmar a iconografia revelada por João Belmiro
Pinto da Silva através da utilização de uma nova técnica fotográfica.

Segundo o povo, este é o túmulo onde esteve sepultada Santa Clarinha, antes de ser
transladada para o Porto, em 1416, quando as franciscanas residentes no convento para
ali foram.
95

Túmulo de D. Salvado Pires


Freguesia: Vila Boa do Bispo
Localização :
96

Na parede Sul encontra-se um sarcófago recentemente deslocado para junto do acesso à


torre sineira, na sequência de obras de restauro do templo concluídas em 2009 (Ficha
n.º 34).

As obras de restauro, a cargo da empresa de arquitectura de António Portugal e Manuel


Maia, com sede no Porto, actuaram sobre a fachada e aparentemente também
levantaram alguns túmulos no adro (conforme assinalado na foto obtida na Internet
relativa a uma fase dessas obras).

O sarcófago foi movido de um pequeno nicho entre a parede da capela-mor e a da nave,


tendo sido deslocado para junto da escada de acesso à torre sineira.

dfddd

Trata-se de um sarcófago monolítico com tampa de secção pentagonal e volume de duas


águas, lendo-se, hoje mal, numa das suas vertentes uma epígrafe.
97

A seguinte leitura da epígrafe parece ser a mais correcta (Barroca, 2000):

O túmulo foi resultado de uma encomenda feita depois de 1362 e antes de 1381, tendo
este nobre encomendado o seu próprio túmulo (Barroca, 2000). O túmulo apresenta
ainda um brasão no mesmo plano da inscrição mas no bloco relativo à arca funerária. É
de deduzir, por isso, que o arcaz tenha sido concebido para ter um dos seus lados
encostado a uma parede. O escudo é do tipo gótico ou francês, esquartelado,
apresentando dois peixes (um sobre o outro) e um pé-de-milho miúdo coroado por uma
espiga (Barroca, 2000), remetendo-nos para duas linhagens do Douro Litoral: os
Milhaços e os Peixões.

D. Salvado Pires foi parente de Nicolau Martins, pior de Vila Boa do Bispo, e de D.
Júrio Geraldes, corregedor de Entre-Douro-e-Minho (Barroca, 2000). O arcaz mede
2,10 metros de comprimento e tem uma largura máxima de 80 centímetros e mínima de
60.
98

Túmulo de D. Júrio Geraldes


Freguesia: Vila Boa do Bispo
Localização :
99

A Igreja de Santa Maria do Mosteiro de Vila do Bispo possui dois excelentes exemplos
de túmulos com figuras jacentes e de escultura da época gótica. Este tipo de moimentos
acompanha de perto a mudança de mentalidades, nos séculos XIV-XV. Concretamente,
a tomada de consciência da importância das imagens e do seu papel insubstituível como
modo de expressão dos anseios e preocupações do homem medieval face ao mistério da
passagem para o além (Ariés, 1983). A morte passa a ser encarada com maior
dramatismo, assistindo-se à apologia da individualidade e à afirmação do sujeito como
ser total e autónomo, impondo-se a necessidade de preservar o seu percurso neste
mundo (Goulão, 2009).

O túmulo de Júrio Geraldes (à dir.) foi inumado no início do século XX para aí ser
introduzido o caixão de chumbo de António Carneiro Geraldes, bem assim como os
restos mortais do cavaleiro medieval (Silva, 1990). O túmulo tem gravado dois brasões
iguais, representando as linhagens Milhaços, Martins e Cabral (Silva, 1990). Construído
num bloco de granito róseo e desenhado por mão de artista, o túmulo tem 2,17 metros
de comprimento e uma altura de 98 centímetros (0,53 centímetros correspondem ao
caixão). Mede 74 centímetros de largura (Ficha n.º 36)

O túmulo de D. Júrio Geraldes possui uma inscrição de duas linhas gravada na secção
lateral direita da tampa, com a seguinte leitura (Barroca, 2000):
100

Analisando o traço artístico, não há dúvidas que estamos perante uma peça de grande
valor que justificou a classificação de monumento nacional, à semelhança do moimento
de D. Nicolau Martins, muito provável irmão de Júrio Geraldes.

A figura jacente é representada de longos cabelos e farta comprida, à moda da Corte dos
meados do séc. XIV (Barroca, 2000). Desde o século XII que a moda importada dos
cabelos, barbas e bigodes compridos suscitou a desaprovação da Igreja, que via aí uma
aproximação pecaminosa ao infiel. Uma intenção lograda no século XIII e no início do
seguinte, quando se voltou ao hábito de rapar completamente a face. Porém, os cabelos
e barbas compridos voltaram a ser um costume, a partir de 1340 (Marques, 2010). Júrio
Geraldes, corregedor do Entre-Douro-e-Minho, do Tejo e de Riba Côa (Alarcão e
Amaral, 1986), certamente figura poderosa, faleceu em 1380, fazendo fé na inscrição
funerária. A figura jacente ostenta ainda vestes compridas civis e segura uma espada
com a mão direita colocada sobre o punho e a mão esquerda sobre a bainha. A arma é
uma espada típica do século XIV, exibindo pomos diagonais poligonais facetados
(Barroca, 2000).
101

Túmulo de D. Nicolau Martins


Freguesia: Vila Boa do Bispo
Localização :
102

Ao lado do túmulo com figura jacente de D. Júrio Geraldes encontra-se outro belo
túmulo com figura jacente onde jaz D. Nicolau Martins, falecido em 1348, vítima da
Peste Negra, também sob um arcossólio criado pela DGEMN nos anos 40 do século XX
(Ficha n.º 35).

Conhecido como “túmulo do bispo”, consequência da iconografia (a estátua jacente


exibe mitra e báculo),

O túmulo tem um comprimento de 2,30 metros e uma largura de 68 centímetros (menos


6 centímetros que a tampa). A altura total é de 87 centímetros, correspondendo 43
centímetros à altura da arca.

A parede da arca exposta é lisa e apresenta um brasão em relevo: um escudo partido,


com duas sequências de três rosas dispostas em pala (Barroca, 2000). Estando a
heráldica articulada com diversos testemunhos da bacia do Douro, segundo Armando de
Mattos.

O seguinte epitáfio encontra-se gravado na secção lateral direita da tampa (Barroca,


2000):
103

Túmulo de D. Múnio Viegas


Freguesia: Soalhães
Localização :
104

Túmulo com uma inscrição ao que parece gravada posteriormente (Barroca, 2000) onde
se encontram os restos mortais de D. Múnio Viegas e dos seus filhos D. Egas Moniz e
D. Gomes Moniz. A inscrição foi publicada desde o século XVII e foi grande o debate
entretanto espoletado. Sobretudo à volta da palavra “PROLI”, muitas vezes interpretada
como “PRIOLI” e levando muitos autores a crer estar perante a presença de um túmulo
de um eclesiástico (Ficha n.º 38).

Esta é a leitura proposta por Mário Jorge Barroca:

A inscrição, que se encontra na tampa, terá sido mandada executar muito para além da
data da morte de Múnio Viegas (1022?), provavelmente no século XIII (Barroca, 2000).

A inscrição encontra-se bastante degradada.

O túmulo mede 2,20 metros de comprimento, 67 centímetros de largura e 80


centímetros de altura, dando o moimento a sensação de ter sido mexido e mesmo
violado. O túmulo encontra-se embutido num arcossólio na parede leste do claustro do
convento.
105

Vila Boa do Bispo


Freguesia: Vila Boa do Bispo
Localização : claustro
106

Ainda no claustro do convento de Vila Boa do Bispo existe um outro túmulo em tudo
idêntico ao de Múnio Viegas e seus filhos e provavelmente contemporâneo deste. É um
túmulo infelizmente anepígrafo ligeiramente mais comprido que o anterior (2,30
metros) e mais largo (75 centímetros). Encontra-se embutido também num arcossólio
(Ficha n.º 37), na parede norte de um claustro hoje utilizado em diversos eventos
(sobretudo bodas).

Também este túmulo surge complementado por um escudo sobre o arcossólio,


apresentando-se este liso.

A tampa, abaulada, apresenta uma gravação ao que tudo indica feita próximo dos nossos
dias, lendo-se, em maiúsculas, a palavra D.R.A.O.S.

Neste mesmo claustro existe outro arcossólio, na parede oeste, onde não se vislumbra
qualquer túmulo. Sobre a moldura do túmulo vê-se um escudo semelhante ao do túmulo
de Júrio Geraldes, onde se vê um pé de milho, rosas e uma cabra – as armas dos
Geraldes (segundo Armando de Matos).
107

Túmulo da Igreja Matriz de Soalhães


Freguesia: Soalhães
Localização :
108

O mosteiro de S. Martinho de Soalhães é de fundação antiga (875) e foi transformado


em igreja paroquial por volta de 1267 (Rosas e Pizarro, 2009). O templo sofreu
entretanto outras remodelações. Numa dessas obras, em 1982, foi revelado um
sarcófago com 2,08 metros de comprimento e 70 centímetros de largura foi posto a
descoberto sob um arcossólio numa das paredes da capela-mor (Ficha n.º 31)

É um túmulo com uma arca de granito de grão fino e uma tampa de granito mais
grosseiro que exibe decoração numa das faces da arca e nas laterais da tampa chanfrada
(onde se vêem corolas florais de oito pétalas). Na lateral da arca desenvolvem-se oito
arcaturas que enquadram escudos que provavelmente seriam pintados (Silva, 1990).

A zona central da tampa é decorada por uma cruz com 1,93 metros de comprimento.
109

Classificada como monumento nacional desde 1997, esta igreja tem vindo a ser
reconhecida pelos especialistas como um dos exemplares mais notáveis que caracterizou
o estilo barroco em Portugal. Este imóvel sofreu ao longo dos tempos, vários restauros e
reparações, essencialmente a nível das portas e coberturas inicialmente pela Direcção
Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais e, mais tarde, pela paróquia.

Erguida no convento beneditino instituído entre os séculos IX e XI, extinto antes de


1245 por D. Sancho II (1209-1248), e convertido em abadia secular na centúria de XIII,
a igreja terá sido remodelada já em trezentos (IGESPAR).

Curioso “túmulo” na capela lateral da Igreja de Soalhães

As opiniões dividem-se relativamente a quem ocupou o lugar do morto no sarcófago de


granito. José Augusto Vieira, em 1887, fala em Vasco Annes de Soalhães mas não há
qualquer documento que possa suportar esta afirmação.
110

Igreja do Mosteiro de Santo André de Vila Boa de Quires

Freguesia: Vila Boa de Quires


Localização : 41º12’33 N 8º11’59 W
111

O Mosteiro de Santo André de Vila Boa de Quires está documentado desde 1118 e
pertenceu, no início do século XIII, à Ordem de S. Bento. É igreja paroquial desde o
início do século XIV (Rosas e Pizarro, 2009), quando já eram evidentes os seus traços
românicos (Almeida, 2001). O templo assume-se, segundo o IGESPAR, como “um dos
mais claros exemplos da qualidade e do grau de implantação a que chegou o Românico
Nacionalizado”.

O templo foi alvo de várias campanhas de restauro e na última decidiu-se levantar as


tampas de dois dos três túmulos existentes numa das paredes exteriores (sul). As tampas
foram retiradas com o objectivo de observar a tipologia das sepulturas mas nunca mais
foram colocados in situ.

As três sepulturas encontram-se alinhadas, todas sob arcossólios.

Um dos túmulos, o mais afastado da zona da capela-mor, tem 2,06 metros de


comprimento e evidente formato antropomórfico: cabeceira em arco peraltado com
almofada para apoio da cabeça. Este túmulo (Ficha n.º 39) tem 52 centímetros de
largura na zona dos ombros e 37 centímetros na zona dos pés, o que define a sua forma
trapezoidal. O túmulo do meio (Ficha n.º 40), cuja tampa não foi removida, tem um
comprimento de 1,93 metros enquanto o restante (Ficha n.º 41) tem 2 metros de
comprimento.

Os silhares dos arcossólios destes túmulos exibem diversas siglas de canteiro: 10 no


primeiro túmulo, 3 do meio e 5 no que se encontra mais próximo da capela-mor.
112

Quatro Irmãos

Freguesia: Vila Boa do Bispo


Localização : 41º11’55 N 8º11’26 W
113

No lugar conhecido por “Quatro Irmãos”, junto a um estranho e rústico cruzeiro,


servindo de banco para quem ali habita, podemos apreciar uma provável dupla sepultura
( Ficha n.º 42).

Diz a tradição que o lugar de Quatro Irmãos deve o seu nome a precisamente quatro
irmãos que ali se envolveram numa contenda, caindo dois deles mortos neste local.
Ficando a desgraça assinalada pelas duas sepulturas e por uma cruz (sinalizando mortes
violentas). Os dois irmãos que sobreviveram não aprenderam a lição e mataram-se perto
do sítio de Crasto, ainda segundo a tradição jazendo no local onde se encontra a
sepultura do lugar das Campas.

Orientada de forma canónica (140º), esta peculiar sepultura apresenta duas estelas
decoradas com uma cruz templária, muito idêntica à do moimento de S. Sebastião, em
Alpendorada. Uma das estelas está bastante fracturada no seu quarto superior direito.
Também uma das lajes exibe uma zona de fractura.

A sepultura mede 1,95 metros de comprimento. As duas lajes medem, cada uma, 36
centímetros. As estelas da zona de cabeceira não são decoradas
114

Memorial de Alpendorada
Freguesia: Alpendorada e Matos
Localização : claustro
115

Monumento nacional desde 1910, este possível de 2,50 metros de altura e 2,60 metros
de largura quase não é percebido hoje quem por ele passa na estrada nacional que
percorre a vila de Alpendorada (Ficha n.º 51)

Memoiral constituído por um plinto rectangular de duas fiadas de silhares graníticos,


com sapata, onde se abria uma dupla cavidade mortuária. Sobre esta base ergue-se uma
parede rasgada por um arco de volta perfeita composto por dez aduelas, sem decoração.
O conjunto é encimado por uma cornija com dupla moldura relevada horizontal, sendo o
remate constituído por pedras dispostas em duas águas de pendente acentuado. O vão do
arco não apresenta pedra sepulcral, possuindo a plataforma em que assenta o arco
gravada uma espada, tendo o punho um remate em esfera. O monumento encontra-se
rodeado por uma base de lajes graníticas. O túmulo foi deslocado aquando da abertura
da estrada, encontrando-se actualmente em plano bastante superior à estrada, na parte a
cavaleiro do talude sobre a estrada, o que afecta negativamente a sua visibilidade, sendo
o acesso ao monumento feito por uma pequena escadaria (IGESPAR).
Desde o século X que está documentada a existência de memoriais ou marmoriais
consolidadamente no século XIII, sobretudo nas inquirições. São inúmeras as
referências. No entanto, os memoriais que chegaram até aos nossos dias em relativo
bom estado são poucos, subsistindo muitas dúvidas quanto à respectiva funcionalidade:
apenas registo de uma memória com um conteúdo celebrativo ou monumento funerário?
É na região do Douro que este tipo de monumento melhor sobreviveu, de que são
exemplos este memorial de Alpendorada, o da Ermida, em Penafiel, e o de Santo
António do Burgo, em Arouca. Havendo também notícia de um memorial no concelho
de Baião (Ancede), entretanto desaparecido.
Este tipo de monumento parece ser exclusivo do território português (Barroca, 1987) e
alguns investigadores associam-nos ao percurso de cortejos fúnebres. No caso concreto
do Memorial de Alpendorada, a tradição popular assimilou a ideia de que o monumento
serviu de túmulo a um guerreiro da reconquista cristã enquanto alguns autores o
associam ao cortejo fúnebre beata Mafalda, filha de D. Sancho I, até ao convento de
Arouca.
O termo memorial deriva do latim memorae, que significa memória, enquanto o termo
marmorial deriva do antigo termo morbus, que significa doença ou morte (Fernandes,
1987). Este duplo sentido acentuam o valor simbólico e a singularidade deste
monumentos.
116

Memoriais de Santo António do Burgo (Arouca), Odivelas (Loures), Ermida (Penafiel) e Sobrado (Castelo de Paiva)

Em três destes memoriais subentende-se que foi deixado espaço para uma arca tumular,
com a excepção do caso de Odivelas, em tudo excepcional, sobretudo na tripla arcada e
no remate em telhado de duas águas. A suposta cavidade sepulcral do monumento de
Alpendorada revela, por outro lado, um elemento pouco comum neste tipo de
manifestação artística: apresenta a gravação de uma espada de punho esférico. Note-se
que o Memorial de S. António, em Arouca, revela na base do arcossólio uma superfície
debruada por um sulco, sugerindo um leito funerário (Silva, 2004).
117

O memorial foi deslocado do seu local original, acabando ficar num plano superior ao
da própria via. A sua base foi consolidada em 1976.

A espada gravada sob a suposta arca sepulcral mede 1,20 metros de comprimento, tendo
o arcossólio uma altura máxima de 83 centímetros e a sua base 1,60 metros. Medidas
um tanto ou quanto apertadas para a colocação ali de um arcaz.
118

O que falta e o que sobeja


Este primeiro inventário de sepulturas abertas na rocha do concelho do Marco de
Canaveses e de outros túmulos está ainda incompleto. É necessário aprofundar a
pesquisa bibliográfica e sobretudo, no caso dos moimentos rupestres, também
desenvolver trabalhos de prospecções em áreas com potencial arqueológico. Entre as
sepulturas escavadas na rocha não nos foi possível observar o que resta de uma delas na
pequena necrópole da Campieira, em Tuías, mas nem por isso quisemos deixar de
apresentar a respectiva ficha, baseada nos preciosos trabalhos de João Belmiro da Silva.
Cujo trabalho nos serviu muito mais que de ponto de partida, sobrando o desafio de pelo
menos conseguir estar à altura dos seus pergaminhos. Com ficha mas sem registo
actualizado fica também uma sepultura rupestre da freguesia do Freixo, sita no Monte
da Santinha. Duas tentativas para a encontrar resultaram infrutíferas. Mas vamos
insistir.

O mesmo aconteceu com duas sepulturas ou lagaretas da freguesia de Tabuado, no lugar


da Poça de Morradouros. O local é pouco habitado e de difícil acesso. Lá voltaremos,
também, tal como a Coriscadas, em Soalhães. Bem assim como à Casa do Eidinho, em
Vila Boa do Bispo, onde se encontra uma sepultura antropomórfica junto da capela
particular – a casa está fechada.

Entre os sarcófagos não há, por outro lado, muitas lacunas para preencher com base nas
informações bibliográficas. Mas também aqui será necessário tentar ir mais longe na
pesquisa, sobretudo na zona de Paços de Gaiolo. Embora não se reportem à diacronia
deste trabalho aqui deixámos também algumas imagens relativas a outros túmulos
associados a templos do Marco de Canaveses, com destaque para os que se encontram
junto das igrejas de Sobretâmega e de S. Nicolau, a um tiro de (bom) mosquete, cada
uma na sua margem do Tâmega.
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Tampa sepulcral junto associada à Igreja de S. Nicolau, sepultura no adro da Igreja de Sobretâmega, calvário e
sarcófago do lugar de Moura (na Folhada) e sepultura no adro da Igreja de Vila Boa do Bispo
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Concluíndo…
“Todos aqueles que delas se aproximam julgam descobri-las”

Jacob Bachofen sobre as necrópoles romanas, citado por Walter Benjamin

Se há algo que na nossa arqueologia surge como claro e indiscutível é a interpretação


das necrópoles romanas, cujos rituais merecem interpretações bastante consensuais.
Tenha-se também em conta que o verdadeiro leitor é aquele que lê o que nunca foi
escrito (Benjamin, 2008).

Ao contrário das necrópoles romanas, as sepulturas escavadas na rocha continuam a


afastar as opiniões daqueles que delas se aproximam com a intenção de ler de modo
diferente o que já foi escrito.

Há diversas abordagens possíveis deste fenómeno intrigante. O caminho da evolução


histórico-religiosa. Ou o caminho que coloca o registo arqueológico na vanguarda. A
chave provavelmente estará…a meio caminho. No lugar onde se cruzam duas linhas.

Podemos, por exemplo, olhar para estas sepulturas abertas na rocha como uma
reminiscência do milenar culto das pedras ainda hoje praticado e bem traduzido na
chamada mitologia nórdica, onde os mortos são conhecidos como elfos. Elfos que se
dividem em dois tipos: os brilhantes, associados à luz solar e ao solo fértil, e os
negros ou anões, habitantes das profundidades e representantes das energias
transformativas.

Na mitologia nórdica, a pedra, de que são feitas estas sepulturas, representa o


moinho cósmico, a mó do mundo, sobre a qual o eixo do mundo faz girar
constantemente sobre nós os céus estrelados (Jackson, 2008).

Demasiado esotérico? Talvez…


121

Face ao tema da chamada “morte anónima” que tem expressão máxima nas sepulturas
abertas na rocha (fenómeno quase exclusivo da Península Ibérica, naquele tempo), não
me parece que seja forçar a nota alargar o campo de prospecção também ao mundo
marginal das mitologias populares. Até porque muitas vezes é nas margens que
podemos encontrar os vestígios da grande corrente do tempo.

O cristianismo conseguiu apagar o politeísmo romano e constituiu-se essencialmente


como um fenómeno urbano. Em contrapartida, no meio rural não terá conseguido
eliminar com a mesma facilidade um paganismo ateológico, fundado em sacralidades
naturais do consciente colectivo (Verdete, 2009).

Com o final do século X e o aproximar do fim do milénio, assistiu-se a um


ressurgimento de todos o género de crenças mitológicas. Durante o século XI, as
crenças pagãs absorvidas pelo cristianismo apenas se manifestaram em momentos de
crise do próprio cristianismo, quando a teologia cristã não fornecia uma resposta clara e
objectiva às preocupações e fenómenos de difícil compreensão.

A emergência das ordens religiosas, no início do segundo milénio, tem também um


papel importante neste combate ao paganismo, quando aquelas procuram impor o
direito e a lei moral às tradições e aos costumes, tentando desmontar de forma directa
todas as mitologias populares e mesmo a mitologia clássica.

O estudo das práticas mortuárias na Europa da Alta idade Média foi, desde o século
XIX, uma forma de evidenciar a “barbarização” deste espaço. As sepulturas eram vistas
em termos de raças e religiões. Só mais tarde houve a preocupação de ver para além,
procurando-se uma interpretação com base em critérios económicos e sociais. Nos
últimos anos, estas práticas têm conhecido uma nova “agenda”, passando estes rituais a
ser olhados como um dos motores da transformação da sociedade e funcionando
também como formas de legitimação de poderes. Alargando ao mesmo tempo a
perspectiva para a análise da organização dos cemitérios, a sua monumentalidade e a
forma como se integravam na paisagem.
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Os mais diversos autores começaram a admitir finalmente que as práticas rituais


associadas aos enterramentos não podem ser vistas como filhas de uma única mãe,
admitindo diferenças regionais e não caindo na tentação fácil de encontrar uma única
solução para o “problema”.

A arqueologia, neste aspecto, dá-nos mais pistas, sobretudo através de novas leituras
sobre o que ocorreu na Alta Idade Média na Península Ibérica e no actual território
francês. Revelando-nos uma curiosa sobreposição, predominante, na ocupação de
espaços da pars urbana e rústica das antigas vilas romanas por espaços de
enterramentos. Com estes a deixarem de ser realizados fora dos limites civis, junto aos
caminhos, e a passarem a ser consumados no espaço de habitat, também ele
descentralizados em função dos templos possuidores de relíquias.

O habitat rural teve uma evolução heterogénea na transição da época romana para a Alta
Idade Média, evidenciando um dinamismo e uma plasticidade maior que aquela que a
investigação clássica vem propondo mediante modelos e esquemas demasiado rígidos e
simplistas (Quiroga, 2009). Estudos realizados na Meseta Central da Península Ibérica
revelaram, por exemplo, que em 282 habitat tardo-antigos e altimedievais 31% são
criações ex nihilo. Revelando esta excelente amostra que o sistema de povoamento e a
rede de habitat rurais entre os séculos V e X não coincide plenamente com a actual.
Resultando que a origem da maioria das nossas actuais aldeias se encontram durante a
afirmação do sistema senhorial numa fase já de polarização real. É um dado muito
importante que tentaremos aplicar ao território medieval do actual Marco de Canaveses
e de que resultam já alguns indícios interessantes. Sobretudo porque muitas das
sepulturas abertas na rocha que conseguimos observar e analisar se encontram
“descentradas” em relação às povoações, de que é exemplo paradigmático a necrópole
da Tapada da Igreja Velha, na freguesia da Folhada.

Não será fácil especialmente porque o enorme dinamismo do habitat rural entre os
século V e X terá tido na construção em madeira o seu grande modelo de edificação
(Quiroga, 2009), algo bastante evidente também em estruturas militares, como é o caso
do castelo de Matos, em Baião, construído com materiais perecíveis nos meados do
século XI (Barroca, 1998).
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Portanto, a este estudo falta claramente a percepção do que foi o povoamento medieval
no território hoje englobado no concelho do Marco de Canaveses, e o respectivo
inventário de sítios de habitat, para se perceber algo mais sobre as sepulturas abertas na
rocha aqui inventariadas. O mesmo se aplicando aos outros tipos de túmulos de época
em princípio mais tardia, um período já bem mais claro e com algum suporte
documental. É o que nos propomos fazer nos próximos meses.
124

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