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Desigualdades na educação superior e

resultados dos graduados no emprego formal


no Brasil

André Vieira
Universidade Federal Fluminense

Cátedra Aloísio Teixeira


Universidade Federal do Rio de Janeiro
15 de dezembro de 2022
Motivando a nossa conversa

2018: ES ganha 2,5 vezes mais do que EM


(dif. 56% maior do que na OCDE).

2021: média salarial de ~R$ 5.500 ES vs


~R$ 1.700 EM.

Apesar da queda do retorno, o diploma


serve como proteção em momentos de
crise.

No entanto, várias questões permanecem


em aberto.
Motivando a nossa conversa

Crises e pandemia: achatamento salarial? Sub-utilização? Mercado de trabalho fragilizado?


Motivando a nossa conversa

Na ES: 30% dos ganhos com escolarização são


capturados pela elite (10% mais ricos).

Hipótese: fechamento social?

Como a expansão e diferenciação institucional


da educação superior está relacionada com
esses resultados?
Motivando a nossa conversa

Diversos países instituíram ou vêm organizando sistemas de dados para ampliar o acesso a
informações sobre as diferentes trajetórias e resultados econômicos que os egressos da
Educação Superior percorrem e alcançam.

OLE (Colômbia)
Mi Futuro (Chile)
ELMLP (Canadá)
College Scoreboard (EUA)
AlmaLaurea (Itália)
Graduate Outcomes (Reino Unido)

Subsídio à tomada de decisão por um amplo conjunto de atores sociais, incluindo estudantes e
suas famílias, formuladores de políticas públicas, empregadores e associações empresariais,
comunidade das instituições de educação básica e superior e pesquisadores.
Apresentando o problema

A educação superior tem importância crescente na configuração da


desigualdade no país, sobretudo pela forte expansão e relativa
diferenciação do sistema nas últimas décadas.

Avanço na literatura sobre expansão da


educação superior e desigualdades entre
graduados, mas…

… no Brasil, ainda temos alguma carência de


estudos empíricos com dados nacionais,
relacionando as dimensões qualitativas da
educação superior aos resultados dos graduados no
mercado de trabalho.
Literatura e dados disponíveis

A literatura sobre mobilidade social entre graduados sugere efeitos ambíguos da educação
superior sobre os destinos sociais: reforço da desigualdade ou equalização de
oportunidades (TORCHE, 2011; KARLSON, 2019; ZHOU, 2019; FIEL, 2020)?

As dimensões qualitativas da ES (TRIVENTI, 2013; KLEIN, 2019) e a distribuição dos graduados em


ocupações, setores e territórios importam para explicar as desigualdades no mercado de
trabalho (MANZONI; STREIB, 2018).

As áreas de estudo são um “primeiro filtro” de seleção para o emprego e são remuneradas
de acordo com as habilidades, motivações e atitudes específicas à ocupação que sinalizam
(BARONE; SCHINDLER, 2014).

A importância dos recursos familiares na entrada no mercado de trabalho varia de acordo


com as características da área de formação (JACOB; KLEIN, 2019).
Literatura e dados disponíveis – Brasil
Borges e Autor (2020), assim como Paul (2015), observam que os dados levantados e
sistematizados pelas IES são incompletos, não comparáveis e nem se prestam a
estudos longitudinais seguros.

Enade
Censo Demográfico
Censo da RAIS
Pnad
Educação Superior

Questionário Informações sobre


Cadastro censitário do
socioeconômico mercado de trabalho
emprego formal
Diferenças qualitativas Áreas de estudo (C)
Aplicação anual
Imprecisões na amostragem Informações
Análises longitudinais
socioeconômicas
Cobertura não homogênea
Literatura e dados disponíveis – Brasil

As desigualdades na ES têm implicações claras para os rendimentos no mercado de


trabalho, como a persistência de diferenciais de gênero e raça na renda do trabalho
(Ribeiro e Schlegel (2015)).

Disparidades acentuadas por área de formação e probabilidades maiores para algumas


áreas de o graduado ter uma ocupação não relacionada com a sua formação (Reis e
Machado (2015)).

Engenheiros credenciando-se a uma ampla maior de ocupações de nível superior do


que os seus pares das licenciaturas e médicos (Maciente e coautores (2015)).

Ainda se verifica uma “restrição de escolha” dos cursos por gênero e por origem social,
com as mulheres e estudantes com pais menos escolarizados concentrando-se nos
cursos de baixo retorno econômico e valor social (Vaz e Vaz, 2019).
A nossa agenda de pesquisas

(1) Na medida em que as várias áreas de formação têm valores sociais desiguais e que a
demanda por trabalho não absorve por igual os egressos dos cursos, como a educação
superior está associada a resultados diversos no trabalho? Quais mecanismos explicam
essa ligação?

(2) O diploma é capaz de “anular” desigualdades de origem social ou reforça a transmissão


de vantagens sociais e econômicas? Como as desigualdades na estrutura ocupacional e o
desencontro entre ES e ocupação expressam-se para os “novos estudantes” que mais
viram crescer a sua participação na educação superior?

3) Como os diferentes perfis de IES impactam os resultados dos graduados no mercado de


trabalho? Quais são os canais institucionais (por exemplo, qualidade, prestígio) por meio
dos quais diferentes perfis de IES influenciam os resultados dos graduados?
Pesquisa sobre graduados no emprego formal

Para realizar as estimativas, utilizamos os dados do Enade 2009-2011 e RAIS 2013-2015.

A combinação dos dados do survey do Enade com os dados administrativos da RAIS


oferece algo relativamente raro na literatura de estratificação:
Trajetória e experiências dos próprios graduados ao longo da formação no ensino
superior;
Firmas, empregadores, e de que forma alocam e remuneram as credenciais
obtidas pelos primeiros.

Entre as variáveis, destacam-se as seguintes informações:


Áreas de estudo, dependência administrativa da IES, Conceito Enade, IGC.
Experiência de trabalho ou estágio durante a graduação.
Estar formalmente empregado, emprego em ocupação típica, e salário no emprego
principal quatro anos após a conclusão do curso.
Informações sociodemográficas dos graduados.
Pesquisa sobre graduados no emprego formal
Pesquisa sobre graduados no emprego formal

Hipótese 1: Os graduados de estratos sociais mais elevados têm vantagem no acesso às


ocupações típicas, independentemente da área de estudo.

Hipótese 2: A origem social importa menos naquelas áreas que mobilizam habilidades de
tipo considerado técnico, como Ciências e Matemática e Engenharias, ou nas quais os
graduados costumam ingressar em ocupações com especificidade técnica relativamente
alta, como a área de Saúde, em que a produtividade depende em mais do que foi ensinado
durante os estudos, e não de habilidades ou recursos pré-existentes.

Hipótese 3: A graduação em instituições tradicionalmente mais seletivas e prestigiadas,


como é o caso de grande parte das públicas, está associado a um aumento nas chances de
emprego nas ocupações típicas, sobretudo nas áreas mais fechadas ou menos específicas
em termos ocupacionais.
Síntese dos achados e algumas questões
Instituições fazem diferença para além das áreas: observamos diferenças consideráveis
entre as áreas de formação e encontramos alguns padrões já sugeridos pela literatura
anterior. Aqueles que se formaram em instituições públicas, independentemente da
qualidade, recursos e estrutura física, alcançam as melhores posições no mercado.

Origem social é importante mesmo para os graduados: aqueles indivíduos que se


formaram em instituições e cursos com qualidade e recursos equivalentes obtêm ganhos
ainda mais altos quando vêm de famílias ricas e altamente educadas.

Habilidades no Enade e experiência de trabalho na graduação fazem diferença no


mercado de trabalho – discussão sobre papel da educação (sinalização, capital humano
etc.).
(1) as habilidades gerais são mais importantes para a entrada no emprego nas áreas
menos “específicas”;
(3) a graduação em IES públicas importa para os salários principalmente nas áreas
“imperiais”, caracterizadas por estratégias de fechamento.
Síntese dos achados e algumas questões

Os resultados socioeconômicos dos graduados no mundo do trabalho, bem como a


capacidade dos empregadores de contratá-los, resultam de muitos fatores
contextuais, alguns dentre os quais estão fora da competência das autoridades
da educação superior.

A utilização de informações sobre como os diferentes grupos de egressos acessam


e permanecem no mundo do trabalho é subsídio para o aprimoramento de
políticas públicas voltadas para a promoção da qualidade e da equidade na
Educação Superior.

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