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Relação entre renda familiar e o desempenho dos

estudantes dos municípios da região agreste no Enem.


Edson Thiago Cavalcanti de França (Graduando em Economia,
CAA-UFPE)1
Paulo Ricardo Alves de Almeida (Graduando em Economia,
CAA-UFPE)2
Andreza Daniela Pontes Lucas (Doutora em economia,professora
associada, CAA-UFPE)3

Considerado um país de renda média, o Brasil, apresenta uma renda mensal por
domicílio per capita igual a R$1353,00 em 2021 segundo dados da PNAD contínua, porém
quando observamos a renda mensal per capita por domicílio nas diferentes regiões temos que
na região nordeste essa renda chega a R$843,00 segundo dados do IBGE, mostrando um
quadro de forte desigualdade de renda no Brasil somando a um grave índice de pobreza
levantado pela fundação getúlio vargas (FGV) em 2021 onde 29,6% da população
brasileira(cerca de 62,9 milhões de brasileiros) vive com menos de R$497,00 mensais. Para
contornar esse cenário o Estado tem se empenhado em adotar um caminho pela via da
educação, juntamente com outras políticas sociais, para promover a redução das
desigualdades e da pobreza dado o entendimento de que através da educação haveria uma
maior capacidade de especialização da mão-de-obra que ao serem incluídas no mercado de
trabalho tenderiam a receber salários mais elevados, conquistado a partir da elevação da
produtividade média do trabalho considerando-se o nível de especialização dos indivíduos
com acesso à educação, de acordo com o estudo do insper sobre a correlação entre o nível
educacional e a produtividade por município concluiu-se que os municípios mais produtivos
apresentam percentuais mais elevados de concluintes do ensino médio e superior.

Compreendido a importância da educação na vida da população brasileira, uma questão se


coloca latente no debate público e no presente artigo: o quanto a renda familiar pode impactar
no acesso à educação e portanto na melhoria das condições de vida dos jovens brasileiros da
região agreste do estado de Pernambuco? Visto que um dos flagrantes problemas que
vinculam renda e nível educacional está o índice de evasão escolar que apresenta uma forte
correlação positiva entre renda e permanência na escola onde segundo dados do IBGE em
2018 o índice de evasão escolar chega a 11,8% entre jovens pobres de 15 a 17 anos o que
representa cerca 8 vezes o mesmo índice de entre os jovens mais ricos que é de 1,4%(gráfico
1) o que nos mostra que os diferentes níveis de renda podem impactar o nível de educação
dos jovens , dando enfoque para as questões regionais analisamos bases de dados dos
vestibulandos do Enem(principal forma de acesso ao ensino superior no Brasil) antes e depois
da pandemia(2019,2020,2021) dos mais diversos municípios da região agreste a fim de
demonstrar a possível correlação entre renda e desempenho no exame além de analisar a
presença dos diversos estudantes de diferentes faixas de renda no exame.

1 Edson.franca@ufpe.br
2 Paulo.ricardoalmeida@ufpe.br
3 Andreza.lucas@ufpe.br
Gráfico 1

A principal porta de entrada ao ensino superior no país atualmente é o Enem (Exame


Nacional do Ensino Médio). Esse exame foi instituído em 1998 com a finalidade de avaliar o
desempenho escolar dos alunos que acabavam o ensino básico, e, a partir de 2009 foi
remodelado e aprimorado para servir como porta de entrada dos alunos ao ensino superior
(INEP). Ademais, os principais mecanismos pelos quais os estudantes concorrem às vagas do
ensino superior utilizando a nota do exame são pelo SISU (Sistema de Seleção Unificada),
onde os candidatos concorrem por meio do sistema de cotas e de ampla concorrência a vagas
em universidades públicas federais e estaduais, sem custo; pelo ProUni (Programa
Universidade Para Todos), em que são distribuídas bolsas de estudos parciais e integrais em
universidades e faculdades privadas para aqueles que tenham até certa faixa de renda
familiar; e, por meio do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), em que os estudantes
pleiteiam conseguir financiamento para cursar o ensino superior e, posteriormente, pagam o
financiamento ao término do curso.

Não obstante, o exame é realizado em dois dias, com a aplicação de 1 redação e de 180
questões que são divididas entre os dois dias. São feitas no 1º dia as provas de linguagens,
códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; e a redação, enquanto que,
no 2º dia são realizadas as provas de ciências da natureza e suas tecnologias; e matemática e
suas tecnologias. Outrossim, as inscrições para o exame podem ser feitas de graça para
aqueles que tenham cadastro nos programas sociais de distribuição de renda do governo
federal.

A utilização dos dados proveniente do Enem como métrica balizadora do argumento a ser
demonstrado no presente artigo deve-se ao fato do caráter nacional do exame por contemplar
todos os municípios do país incluídos os da região agreste do estado de Pernambuco, além de
apresentar grandes séries históricas dado seu tempo de aplicação, com isso, forma-se uma
sólida base de dados referente a análise de desempenho dos vestibulandos o que será de
ímpar importância no transcorrer do artigo.

A pandemia da covid-19 foi algo devastador para a educação mundial, em especial para a
educação Brasileira, visto que, durante boa parte da pandemia, as escolas e universidades
ficaram fechadas. Dados do censo escolar de 2020 mostram que “O percentual de escolas
brasileiras que não retornaram às atividades presenciais no ano letivo de 2020 foi de 90,1%,
sendo que, na rede federal, esse percentual foi de 98,4%, seguido pelas escolas municipais
(97,5%), estaduais (85,9%) e privadas (70,9%).” (UNDIME, 2021), isso mostra o quão
danoso a pandemia foi para com a educação, visto que, mesmo com medidas como o ensino
remoto as dificuldades de ensino foram bastante agravadas tendo em vista que há diversas
barreira e problemas a serem enfrentados, como a indisponibilidade dos pais de famílias
carentes conseguirem adquirir equipamentos para os filhos terem acesso as aulas online,
como também, a dificuldade dos estudantes em manterem o foco nos estudos estudando em
casa cheios de distrações. Supõe-se que o impacto maior recaiu sobre as crianças que
frequentam o ensino fundamental, visto que, são as que têm menor idade e maior
dependência dos pais para o estudo, ocasionando um prejuízo enorme no nível educacional
que perpassa por anos, isso é provado em um relatório do Banco Mundial que revela: “a
pandemia pode fazer com que os sistemas educacionais da América Latina regridem e
voltem ao que eram nos anos 1960, com consequências duradouras para toda uma geração.”
(BERNARDES, 2021).

Ao observarmos as médias dos alunos obtendo uma média aritmética simples por faixa de
renda e considerando as notas apenas dos alunos que estiverem presentes nos dois dias de
provas dos municípios da região agreste de Pernambuco podemos transpor o gráfico 2(no
eixo horizontal os anos e no eixo vertical as notas médias), abaixo, onde no ano de 2019,
2020 e 2021 a nota média dos alunos de até um salário mínimo são as menores, em
contrapartida temos que as maiores médias são alcançada por alunos de uma faixa de renda
maior do que 10 salários mínimos nos três anos observados neste artigo que nos mostra uma
forte relação entre o desempenho no Enem e o nível de renda, que pode estar relacionada com
a capacidade de acesso a instituições preparatórias para o exame quanto melhores instituições
de ensino médio.

Gráfico 2

Fonte:Elaboração própria a partir dos microdados dados do Inep(2022)

Nos interessou também analisar a variação dos alunos que realizaram as inscrições nos anos
2019, 2020 e 2021(Gráfico 3) e que efetivamente compareceram aos locais de prova por faixa
de renda(Gráfico 4) obtemos a quantidade de inscritos em 2019, 2020 e 2021,
respectivamente 61.319, 67.533 e 42.277 notamos uma grande disparidade de alunos
inscritos nos anos 2020 e 2021(uma redução de 37,4% ou de 25.256 alunos) isso pode estar
relacionado a pandemia de Covid-19 que tornou-se mais intensa em 2021 causando uma
grande insegurança sanitária desincentivando os alunos a se inscreverem; considerar os
efeitos da renda na variação das inscrições do Enem não é cabível dado que os alunos que
apresentam uma renda familiar menor que um salário por pessoa está isento de pagamento de
inscrição.

Gráfico 3
Fonte:Elaboração própria a partir dos microdados dados do Inep(2022)

O gráfico 4 nos apresenta o alto grau de abstenções em todas as faixas de renda no ano de
2020 em comparação a 2019 e 2022 que pode indicar, novamente, os efeitos da pandemia
dado que na data de aplicação do referido exame ocorreu o surto de covid-19. O gráfico 4 nos
mostra as persistentes taxas elevadas de abstenção dos alunos de até um salário mínimo,
chegando em 55% em 2020, em comparação às outras faixas de renda isso pode se dar pelo
número total de inscritos dessa faixa de renda(até um salário mínimo) ser bem maior que as
demais como demonstrado no gráfico 5(em 2020 esse percentual chegou a ser de 64,2% dos
inscritos ou um total de 43.356 alunos da região agreste)

Gráfico 4

Fonte:Elaboração própria a partir dos microdados dados do Inep(2022)

Observa-se no gráfico 5 que há um grande ganho de participação dos candidatos que fizeram
a inscrição para o exame em 2020 e tem até 1 salário mínimo, saindo de 53,6% para 64,2%,
isso se deve a um aumento de 10477 estudantes inscritos a mais nessa edição, representando
um crescimento de 31,77% nessa faixa de renda, enquanto que, em todas as outras faixas de
renda houve um decréscimo da quantidade de estudantes inscritos. Ademais, algo bastante
importante de se analisar é o fato de, mesmo que, aparentemente a faixa de renda de até 1
salário mínimo e a seguinte de 1 a 3 terem apresentado um decréscimo não tão grande e um
pequeno crescimento, respectivamente, na distribuição relativa dos inscritos, houve um
grande decréscimo da quantidade de inscritos de ambas as faixas de renda no ano de 2021,
com taxas de crescimento negativas de 43,92% e 30,68% e diminuição de 19031 e 6195
inscritos, respectivamente. Logo, nota-se o quão impactante foi a pandemia do Covid-19 na
vida dos estudantes, que passaram a ter menos expectativas de conseguir uma vaga no ensino
superior, tendo sido os estudantes das faixas de renda mais baixas os mais prejudicados.

Gráfico 5
Fonte:Elaboração própria a partir dos microdados dados do Inep(2022)

Logo, conclui-se que a pandemia afetou negativamente e de forma drástica o aprendizado dos
estudantes das séries do ensino fundamental, principalmente os dos anos iniciais, como
também, o dos demais níveis de ensino, visto que, também tiveram uma perda de aprendizado
devido ao ensino remoto em que estavam sujeitos a muitas distrações. Ademais, os estudantes
que pretendiam ingressar no ensino superior tiveram um grande impacto nas expectativas,
devido ao prolongamento e descontrole da pandemia, fazendo com que muitos tenham
desistido de prestar o exame em 2020 e muitos deixaram de fazer as inscrições no ano
seguinte.

Com o que fora apresentado anteriormente podemos notar que há uma clara influência da
renda familiar dos alunos no desempenho dos mesmos no exame nacional do ensino
médio(Enem) mostrando que juntamente com a ampliação da educação se faz necessário uma
igual mobilização no sentido de prover uma renda cidadã que sirva de sustentação para toda
essa massa de alunos em situação de fragilidade econômica persistente na região agreste de
Pernambuco dado a transformação que o ensino em especial o superior que de acordo com
levantamentos realizados pela PNAD contínua do IBGE pode triplicar a renda dos formados
em relação aos trabalhadores que possuem apenas o ensino médio, exercendo uma forte
diminuição da pobreza e das desigualdades observadas em nível regional quanto no nacional.

Referência

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