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SÃO PAULO
2022
FERNANDA BASTOS DOMINGUES PASSOS
SÃO PAULO
2022
Passos, Fernanda Bastos Domingues.
O impacto do Fundo de Manutenção da Educação Básica e a Valorização
dos Profissionais da Educação (FUNDEB) no desempenho dos alunos da
escola públicas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) / Fernanda
Bastos Domingues Passos. - 2022.
49 f.
CDU 37.014.543(81)
Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-
010191/O
Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP
FERNANDA BASTOS DOMINGUES PASSOS
Banca examinadora:
Public investments in education are extremely important in the economy and for
the development of countries. This thesis intends to evaluate the impact of the
Fundeb in the performance of public schools’ pupils on ENEM. Through the
difference in difference method, considering private schools as control group and
public schools as the treatment group, this work used ENEM`s microdata from
2001 to 2008, 2009, 2014, 2016, 2017, 2018 and 2019 in order to measure the
impact of Fundeb in the treatment group. It is extremely relevant to highlight that
since 2009 ENEM became the main way of getting into public universities, which
could negatively impact the difference between both groups, considering that
private school benefits from better resources to prepare their students for the test.
Through the difference-in0diference method we could verify that the difference
between public and private schools` students score in the test has been reduced
after Fundeb implementation.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 7
2 O FUNDEB E O ENSINO BÁSICO NO BRASIL ........................................... 10
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 18
4 METODOLOGIA ............................................................................................ 25
4.1 Diferenças em Diferenças Quantílico (DDQ) ........................................... 28
5 DADOS .......................................................................................................... 29
6 RESULTADOS ............................................................................................... 31
6.1 Diferenças em Diferenças Quantílico (DDQ) ........................................... 38
7 CONCLUSÃO ................................................................................................ 40
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 41
8 APÊNDICE ..................................................................................................... 45
7
1 INTRODUÇÃO
raça, sexo, região, idade e escolaridade, sendo o último fator o que mais contribui
para explicar os efeitos.
Apesar de considerações sobre mudanças na proporção de ocupação nos
extremos da distribuição de renda, a conclusão de Souza e Carvalhaes é de que
o mercado brasileiro se tornou menos desigual no período analisado. Tal
mudança se justificou principalmente em função de uma maior escolarização dos
trabalhadores, com consequente redução da desigualdade salarial no mercado
de trabalho.
No entanto, apesar de uma melhora nos dados educacionais e do
mercado de trabalho, o acesso ao Ensino Superior ainda é um obstáculo aos
jovens de baixa renda no Brasil. Os dados do Censo da Educação Superior,
publicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP) em 2019, mostram que somente 302 das 2.306 Instituições de
Ensino Superior (IES) são públicas, o que representa uma limitação ao acesso
às universidades. Adicionalmente, 23.2% dos 3,6 milhões de alunos
ingressantes no Ensino Superior concluíram o Ensino Médio em es colas
privadas. Tais números ganham ainda mais destaque quando colocados na
perspectiva do Censo Escolar de 2020, que aponta para somente 12,3% das 7,6
milhões de matrículas do ensino médio nas redes privadas de ensino. Dos 935
mil alunos matriculados na rede privada de ensino, 835 mil, ou aproximadamente
89%, ingressam nas universidades. Para alunos da rede pública de ensino, os
números apontam para um cenário completamente diferente, com somente 41%
dos 6,6 milhões de alunos matriculados no Ensino Médio ingressando no Ensino
Superior. É importante ressaltar ainda que esses números contemplam somente
os alunos que chegaram a se matricular no Ensino Médio, desconsiderando a
evasão escolar nos níveis de ensino anteriores.
Nesse contexto, é importante destacar que dois grandes programas foram
criados nos últimos anos com o objetivo de democratizar o acesso às
universidades. O Programa Universidade para Todos (PROUNI) é atualmente
um dos principais programas destinados ao ensino superior e fornece bolsas de
estudos parciais e integrais, em instituições particulares de ensino superior, para
que jovens de baixa renda possam ter acesso às universidades. Adicionalmente
a um desempenho mínimo no ENEM, os candidatos devem comprovar uma
baixa renda familiar bruta, sendo de até 1,5 salários-mínimos por pessoa para a
9
bolsa integral e até 3 salários-mínimos por pessoa para a bolsa parcial de 50%.
O Programa de Financiamento Estudantil (FIES), também focado no
ingresso de estudantes de baixa renda no ensino superior, consiste no
financiamento dos estudos de jovens que não têm condições de pagar a
faculdade. O financiamento pode ser feito por meio de três modalidades, sendo
a primeira direto do governo para os estudantes, e as outras duas por instituições
financeiras com recursos públicos, o que permite taxas mais competitivas do que
as oferecidas pelo mercado fora do FIES.
Sousa et al. (2013) apontam para integração entre esses dois principais
programas, uma vez que estudantes que não possuem a bolsa integral pelo
PROUNI podem financiar o valor não coberto por meio do FIES, aumentando
significativamente o número de vagas no Ensino Superior. Até 2013, um total de
1,2 milhões de estudantes foram beneficiados com bolsas de estudo do
PROUNI, sendo 68% bolsas integrais. Adicionalmente, os autores destacam que
500 mil estudantes estavam cursando o ensino superior com recursos obtidos
por meio do FIES em 2012. Portanto, é possível verificar o papel fundamental
dos dois programas na criação de oportunidades para que jovens de baixa
acessem as universidades.
Apesar da importância dos programas de financiamento do Ensino
Superior mencionados, o Ensino Básico possui um papel fundamental na
preparação dos alunos para ingresso em universidades públicas e privadas de
qualidade. No entanto, não é uma tarefa fácil a criação de uma política de curto
prazo para a melhoria do Ensino Básico, uma vez que se inicia aos 4 anos de
idade e contempla o Ensino Infantil, Fundamental e Médio. Dessa forma, tais
políticas focadas nesse período de aprendizagem levam anos para gerar
impacto, não permitindo uma avaliação de curto prazo.
Conforme será discutido neste estudo, desde 2009 umas das principais
formas de ingresso nas universidades públicas federais é por meio do ENEM. O
Censo escolar de 2020 mostra que, das 471 mil vagas em universidades
públicas, 275 mil foram preenchidas por alunos por meio do ENEM. Portanto, o
presente trabalho pretende analisar o impacto da implementação do Fundeb nos
resultados do ENEM. Nesse sentido, a partir da comparação do desempenho
dos alunos das escolas públicas e privadas no exame desde a implementação
completa do Fundeb em 2010 e o ano de 2019, foi possível verificar uma melhora
10
ano, além do valor anual mínimo por aluno e a complementação da União para
algumas regiões em que o valor por aluno ficar abaixo do mínimo definido
nacionalmente. Desde 2010, o VAAF passou a ser calculado de forma que o
Governo Federal contribuísse com 10% do total arrecadado pelos demais
estados, fazendo com que as transferências da União para o Fundeb fossem
positivamente impactadas por uma maior arrecadação. Essa composição de
gastos mostra que os recursos do Fundeb estão amarrados à arrecadação de
impostos de forma direta e indireta e, portanto, relacionados ao desempenho da
economia.
É importante destacar que a contribuição da União é destinada aos
estados que ficam com VAAF mais baixo, buscando diminuir a desigualdade
entre as regiões. Em 2019, por exemplo, a transferência da União foi de R$ 15,3
bilhões aos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Piauí, Ceará, Bahia,
Maranhão, Amazonas e Pará.
O Gráfico 1 a seguir mostra a evolução dos gastos do Fundeb, que passou
de R$ 46 bilhões no início da sua implementação em 2007 para R$ 168,5 bilhões
em 2019, indicando crescimentos menores em períodos de baixo crescimento
econômico.
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
2.1 O FUNDEF
2006, quando foi criado o Fundeb. O Fundef, no entanto, era focado somente
nos alunos do Ensino Fundamental da rede publica de ensino e era composto
por 15% das receitas do FPE, FPM, ICMS, IPIexp e da Lei Kandir.
Adicionalmente, o fundo, assim como o Fundeb, era focado na remuneração dos
professores, sendo um mínimo de 60% dos recursos obrigatoriamente
direcionados a remuneração dos profissionais do magistério do ensino
fundamental público.
Quanto as diferenças entre o Fundef e o Fundeb, Ramos (2010) destaca
que a criação do Fundef não estabeleceu um piso salarial para os professores,
o que permitia que a destinação dos recursos obrigatórios não refletisse
obrigatoriamente em aumento de salários. Com a aprovação do Fundeb em
2006, abrangendo toda a educação básica pública, ainda que o piso salarial
também não tenha sido definido, a alocação desses recursos ficou mais restrita.
Os 60% destinados a remuneração não mais poderiam ser usados para
capacitação dos docentes, o que liberou recursos para aumento da
remuneração, uma vez que a capacitação passou ser feita com os 40% dos
recursos restantes. Adicionalmente, em 2008 o piso salarial previsto pelo Fundeb
foi sancionado pela lei 1.738, conforme mencionado nesse estudo, que estipulou
um piso salarial para os profissionais do magistério publico da educação básica.
Dessa forma, Ramos (2010) avalia como o Fundeb permitiu um maior foco na
remuneração dos posicionais do magistério público ao segregar recursos de
capacitação da parcela direcionada a remuneração dos professores.
Portanto, é possível verificar que além das mudanças de abrangência do
ensino fundamental para todo o ensino básico e do aumento de recursos de
arrecadação e direcionamento da União, algumas características de
funcionamento dos dois fundos referentes à remuneração dos professores
também foram alteradas na transição do Fundef para o Fundeb. No entanto, é
importante ressaltar que o Fundeb apresenta uma continuidade e ampliação do
Fundef. Adicionalmente, também em continuidade ao Fundeb, o Novo Fundeb
aprovado em 2020 transformou o fundo em uma política pública permanente.
2.2 O ENEM
alunos do Ensino Básico no Brasil, podendo realizar a prova, alunos que estão
cursando ou já concluíram o Ensino Médio. Ao longo dos anos, o exame sofreu
algumas mudanças relacionadas tanto a sua metodologia e seu formato quanto
ao seu papel no sistema de ensino brasileiro. Adicionalmente, desde 2004, a
prova é usada como critério de seleção para o Programa Universidade para
todos (ProUni), programa do Ministério da Educação de concessão de bolsas de
estudos para cursos de graduação para alunos de escolas públicas e bolsistas
de colégios particulares.
Durante o período analisado neste trabalho (2001 a 2019), o Enem
passou de uma prova de avaliação de desempenho dos alunos no ensino básico
para ser uma das principais formas de ingresso nas universidades públicas
federais.
padrão de acertos.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4 METODOLOGIA
O método utilizado para avaliar o impacto do Fundeb nas notas dos alunos
no ENEM foi o de Diferenças em Diferenças. Como o Fundeb foi implementado
gradualmente entre 2007 e 2009, anos em que ocorreu a mudança da
metodologia TCT para TRI, além da alteração do papel do ENEM no sistema de
ensino, passando a ser a principal forma de ingresso nas universidades federais,
a análise será feita através da comparação do desempenho dos alunos nos anos
de 2001 a 2008 anteriores ao Fundeb, com os anos de 2014, 2016, 2017, 2018
e 2019, após a implementação do programa. Além disso, para dar mais robustez
ao resultado encontrado, a comparação também será feita individualmente entre
2009 e os anos de 2014, 2016, 2017, 2018 e 2019.
Ademais, após a avaliação do impacto da nota média, o método de
Diferenças em Diferenças foi aplicado também nos decis da distribuição para a
comparação entre 2009 e 2019, período que contempla maior tempo do
programa, tornando possível a análise do desempenho dos alunos ao longo da
distribuição. A metodologia de Diferenças em Diferenças, para estimar o impacto
de políticas educacionais, é frequentemente usada na literatura, tendo sido
adotada por Menezes-Filho e Pazello (2007) para estimar o impacto do Fundef
no salário dos professores e no desempenho dos estudantes, relacionando a
proficiência dos alunos com os salários dos professores e controlando para
características dos estudantes, dos professores e das escolas. Adicionalmente,
Silveira et al. (2017) também utilizam esse método para estimar o impacto no
Fundeb das notas de matemática e língua portuguesa no Saeb entre 2005 e
2011.
Como será descrito nos resultados a seguir, as escolas públicas e
privadas seguem uma mesma tendência de desempenho nos anos anteriores à
implantação completa do Fundeb, o que justifica o uso das escolas privadas
como grupo de controle e as escolas públicas como grupo de tratamento, apesar
dos diferentes desempenhos dos alunos de cada rede de ensino. Para mostrar
o histórico do desempenho, foi rodada a regressão da nota da prova objetiva do
Enem para verificar a diferença das notas dos alunos de escolas publicas e
privadas nos anos anteriores ao tratamento. Assim, foi estimado o seguinte
modelo de Mínimos Quadrados Ordinários.
26
𝑌 = 𝛼 + 𝛽𝐺 + 𝛿𝑋 + 𝜏𝑆 + 𝜂𝑅 + 𝜑𝑍 + 𝜀 (1)
14,000
12,000
11,715
10,000 10,874
10,350 10,557
9,168 9,428
8,000 8,944
8,358
6,000
4,000
2,000
0,000
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
É possível verificar que nos anos de 2002, 2006 e 2008 houve uma quebra
da tendência, o que pode ser devido a diversos fatores, como o nível de
27
Aqui 𝑌#,! representa a nota média no ano após tratamento para o grupo tratado.
Foi criada a variável G, que assume o valor 1 para o grupo de tratamento (alunos
de escolas públicas) e 0 para o grupo de controle; e a variável T para o tempo,
que assume o valor 1 para o período pós-tratamento (2019) e o valor 0 para o
período pré-tratamento (2009). Por fim, foi criada a variável G.T, a fim de verificar
a interação entre o tempo e o tratamento. Sendo assim, o parâmetro 𝜆 mostrará
o comportamento do grupo de tratamento após os anos de efeito do Fundeb no
28
5 DADOS
6 RESULTADOS
Esta seção irá mostrar o resultado da nota média obtida na prova objetiva
no ENEM nos anos de 2009 e 2019 e 2009 e os anos de 2014, 2016, 2017 e
2018 ajustada pelas variáveis de controle do modelo. O método de diferenças
em diferenças será aplicado para todos os anos mencionados a fim de verificar
se o impacto do Fundeb pode ser verificado ao longo do tempo após a
implementação. Conforme descrito, os dados foram padronizados para permitir
a comparação com os outros anos com metodologias diferentes, porém entre
2009 e 2019 a prova não sofreu alterações que possam impactar a
comparabilidade das notas, o que permitiu a comparação de 2009 com os anos
de 2014, 2016, 2017, 2018 e 2019.
Conforme já destacado neste estudo, em 2009 o Enem deixou de ser uma
prova de avaliação de desempenho do Ensino Médio para ser a principal forma
de ingresso nas universidades públicas federais. Como pode ser visto pelos
dados da Tabela 3, 4, 5, 6 e 7, as escolas privadas ocupam uma posição de
melhor desempenho em relação às públicas. No entanto, é possível observar
que até após a implementação do Fundeb ocorreu uma melhora nas notas do
grupo de tratamento em relação ao grupo de controle. A Tabela 3 abaixo mostra
a comparação da média dos anos anteriores e após o Fundeb utilizados nesse
trabalho. Para isso a variável “Pós Fundeb” na Tabela 3 representa a
combinação dos dados da nota média do ENEM dos anos de 2014, 2016, 2017,
2018 e 2019 comparados com os dados combinados dos anos de 2001 a 2008.
É importante destacar que os dados do ano de 2009 não foram agregados aos
dados de 2001 e 2008, uma vez que a prova do ENEM adotou outra metodologia,
o que poderia impactar a tendência das notas nesses anos.
Os dados mostram que os alunos das escolas públicas nos anos após o
tratamento apresentaram uma redução de 10,52 pontos em relação a alunos de
escolas privadas. As características socioeconômicas também estão em linha
com o esperado, com a educação dos pais, renda familiar e acesso à internet e
televisão impactando positivamente o desempenho dos alunos no ENEM.
Adicionalmente, a dummy de raça mostra um pior desempenho de alunos pretos,
enquanto as dummies de região mostram que somente a região Sul apresentou
notas melhores do que a região Sudeste.
Outro ponto de atenção na análise do resultado é a magnitude do impacto
de 10,52, que apesar de representar uma melhoria, uma vez que é uma
comparação de médias, pode também ter sido impactado pela alteração da
metodologia de correção das provas do ENEM a partir de 2009.
Com o objetivo de mostrar a evolução da performance dos alunos para o
período após a implementação total do Fundeb, os anos de 2014, 2016, 2017,
2018 e 2019 foram comparados com o ano de 2009, conforme abaixo.
33
1,000
0,500
0,000
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
Diff-in-Diff
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
a_America_Latina/links/0fcfd51012c2b34b0a000000/Distribuicao-da-Educacao-
e-da-Renda-o-Circulo-Vicioso-da-Desigualdade-na-America-Latina.pdf. Acesso
em: 20 jan. 2022.
8 APÊNDICE