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Origem social, habilidades e resultados dos graduados no

emprego formal no Brasil

André Vieira
Universidade Federal Fluminense

Diferenciação Institucional e Expansão Desigual do Ensino Superior: Estudos Cariocas e Brasileiros


Universidade Federal do Rio de Janeiro
14 de abril de 2023
Motivando a nossa conversa

2018: ES ganha 2,5 vezes mais do que EM


(dif. 56% maior do que na OCDE).

2021: média salarial de ~R$ 5.500 ES vs


~R$ 1.700 EM.

Apesar da queda do retorno, o diploma


serve como proteção em momentos de crise.

No entanto, várias questões permanecem em


aberto.
Motivando a nossa conversa

Crises e pandemia: achatamento salarial? Sub-utilização? Mercado de trabalho fragilizado?


Motivando a nossa conversa

Na ES: 30% dos ganhos com escolarização são


capturados pela elite (10% mais ricos).

Hipótese: fechamento social?

Como a expansão e diferenciação institucional


da educação superior está relacionada com esses
resultados?
Apresentando o problema

A educação superior tem importância crescente na configuração da


desigualdade no país, sobretudo pela forte expansão e relativa
diferenciação do sistema nas últimas décadas.

Avanço na literatura sobre expansão da


educação superior e desigualdades entre
graduados, mas…

… no Brasil, ainda temos alguma carência de


estudos empíricos com dados nacionais,
relacionando as dimensões qualitativas da
educação superior aos resultados dos graduados no
mercado de trabalho.
A nossa agenda de pesquisas

(1) Na medida em que as várias áreas de formação têm valores sociais desiguais e que a demanda
por trabalho não absorve por igual os egressos dos cursos, como a educação superior está
associada a resultados diversos no trabalho? Quais mecanismos explicam essa ligação?

(2) O diploma é capaz de “anular” desigualdades de origem social ou reforça a transmissão de


vantagens sociais e econômicas? Como as desigualdades na estrutura ocupacional e o
desencontro entre ES e ocupação expressam-se para os “novos estudantes” que mais viram
crescer a sua participação na educação superior?

3) Como os diferentes perfis de IES impactam os resultados dos graduados no mercado de


trabalho? Quais são os canais institucionais (por exemplo, qualidade, prestígio) por meio dos
quais diferentes perfis de IES influenciam os resultados dos graduados?
Pesquisa sobre graduados no emprego formal
Para realizar as estimativas, utilizamos os dados do Enade 2009-2011 e RAIS 2013-2015.

A combinação dos dados do survey do Enade com os dados administrativos da RAIS oferece
algo relativamente raro na literatura de estratificação:
Trajetória e experiências dos próprios graduados ao longo da formação no ensino superior;
Firmas, empregadores, e de que forma alocam e remuneram as credenciais obtidas
pelos primeiros.

Entre as variáveis, destacam-se as seguintes informações:


Áreas de estudo, dependência administrativa da IES, Conceito Enade, IGC.
Experiência de trabalho ou estágio durante a graduação.
Estar formalmente empregado, emprego em ocupação típica, e salário no emprego
principal quatro anos após a conclusão do curso.
Informações sociodemográficas dos graduados.
Pesquisa sobre graduados no emprego formal
Pesquisa sobre graduados no emprego formal

Hipótese 1: Os graduados de estratos sociais mais elevados têm vantagem no acesso às


ocupações típicas, independentemente da área de estudo.

Hipótese 2: A origem social importa menos naquelas áreas que mobilizam habilidades de tipo
considerado técnico, como Ciências e Matemática e Engenharias, ou nas quais os graduados
costumam ingressar em ocupações com especificidade técnica relativamente alta, como a área de
Saúde, em que a produtividade depende em mais do que foi ensinado durante os estudos, e não de
habilidades ou recursos pré-existentes.

Hipótese 3: A graduação em instituições tradicionalmente mais seletivas e prestigiadas, como é o


caso de grande parte das públicas, está associada a chances maiores de emprego nas ocupações
típicas, sobretudo nas áreas mais fechadas ou menos específicas em termos ocupacionais.
Síntese dos achados e algumas questões
Instituições fazem diferença para além das áreas: observamos diferenças consideráveis entre
as áreas de formação e encontramos alguns padrões já sugeridos pela literatura anterior. Aqueles
que se formaram em instituições públicas, independentemente da qualidade, recursos e estrutura
física, alcançam as melhores posições no mercado.

Origem social é importante mesmo para os graduados: aqueles indivíduos que se formaram
em instituições e cursos com qualidade e recursos equivalentes obtêm ganhos ainda mais altos
quando vêm de famílias ricas e altamente educadas.

Habilidades fazem diferença no mercado de trabalho – papel da educação (sinalização, capital


humano etc.).
(1) as habilidades gerais são mais importantes para a entrada no emprego nas áreas menos
“específicas”;
(3) a graduação em IES públicas importa para os salários principalmente nas áreas
“imperiais”, caracterizadas por estratégias de fechamento.

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