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Resumo: Este artigo analisa o mercado de trabalho jovem na região Centro-Sul do Ceará no
ano de 2021. Buscou compreender as dinâmicas e desafios enfrentados pelos jovens
(indivíduos entre 15 e 29 anos) que ingressam no mercado pela primeira vez e por aqueles que
buscam uma nova oportunidade de emprego. Além da pesquisa bibliográfica, se fez presente
uma análise quantitativa por meio dos microdados da Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS). Com base nessa base de dados, foram consideradas um total de 2.275 observações
(609 para o grupo de primeiro emprego e 1.666 para o grupo de reemprego). Na estimação
dos resultados foi considerado o método de decomposição de Oaxaca-Blinder. Esse método
permitiu investigar os diferenciais de renda entre os grupos de primeiro emprego e reemprego.
Os principais resultados, explicados e não explicados nos mostram que as empresas têm
preferência por profissionais com um certo nível de experiência.
Palavras-chave: Mercado de trabalho. Primeiro emprego e reemprego. Políticas públicas.
Abstract: This article analyzes the youth labor market in the Central-South region of Ceará in
2021. It aimed to understand the dynamics and challenges faced by young individuals (aged
15 to 29) entering the job market for the first time and those seeking new employment
opportunities. In addition to the bibliographic research, a quantitative analysis was conducted
using microdata from the Annual Social Information Report (RAIS). Based on this database, a
total of 2,275 observations were considered (609 for the first-time job seekers group and
1,666 for the re-employment group). The Oaxaca-Blinder decomposition method was used to
estimate the results. This method allowed for the investigation of income differentials
between the first-time job seekers and the re-employment groups. The main results, both
explained and unexplained, indicate that companies have a preference for professionals with a
certain level of experience.
1 Introdução
De acordo com o IBGE (2022), o número de jovens que nem estudavam e nem
estavam ocupados era de 12,7 milhões, algo em torno de 31,1% dos jovens, registrando um
aumento no número de desocupados em relação a 2019 (período pré-pandêmico), que era de
12,1 milhões de jovens. Apesar da segunda onda do Covid-19 no ano de 2021, foi registrado
um aumento de jovens ocupados em relação ao ano de 2020, onde era de 51% e passou a ser
de 52,1% (IBGE, 2022).
Um estudo realizado por Rabelo, Baca, França e Fernandes (2016), evidenciou que das
dez atividades que mais geram ICMS, 8 são do setor de varejo e 2 são do setor da indústria,
esta com a fabricação de calçados em Iguatu e a produção com base em minerais não
metálicos, em Jucás.
A falta de experiência é uma barreira significativa para muitos jovens que buscam seu
primeiro emprego. Isso ocorre porque muitos empregadores preferem candidatos com alguma
experiência prévia, o que pode deixar os jovens em uma situação de dilema: eles precisam de
um emprego para ganhar experiência, mas, ao mesmo tempo, a falta de experiência dificulta a
obtenção desse primeiro emprego (FUERTES, 2018).
Diante desse contexto, este trabalho se propõe estudar o mercado de trabalho jovem na
região Centro-Sul do Ceará. Assim, objetiva-se analisar o mercado de trabalho jovens por
diferentes setores de atividades econômicas, dada a condição do trabalhador estar no primeiro
emprego ou reemprego, bem como, verificar se existe disparidade de renda do trabalho entre
esses dois grupos de trabalhadores. Além de outras variáveis relevantes, consideram-se as
características de gênero e raça na explicação dos resultados.
Além desta introdução, este trabalho está estruturado em mais cinco seções. Na
seguinte ordem encontram-se o referencial teórico, revisão de literatura, metodologia,
resultados parciais, e por fim, o cronograma da pesquisa.
Esta sessão está dividida em dois tópicos, onde primeiro será abordado os desafios que
os jovens enfrentam para se inserirem no mercado de trabalho brasileiro, e em segundo será
discutido as políticas públicas adotadas pelo governo para tornar o mercado mais inclusivo
para os jovens. 2.1 Desafios no mercado de trabalho jovem brasileiro
No Brasil, de acordo com Pochmann (2000), existem motivos para que os jovens se
frustrem na busca de encontrar emprego. Isso se deve, por um lado, à estrutura social que o
país enfrenta, impulsionada pelas disparidades econômicas e pelo enfraquecimento das
perspectivas de sucesso, evidenciado pelos indicadores de pobreza, analfabetismo e violência.
Frigotto (2010) enfatiza que a educação básica, superior e profissional deve ser
entendida em seu contexto mais amplo, inserida nas complexidades que permeiam a
sociedade. Ela não deve ser considerada como um elemento isolado, mas sim como uma parte
integral da totalidade histórica e contraditória em que se insere.
atualizadas. Nesse contexto, o papel dos talentos se torna fundamental para assegurar a
continuidade das organizações (PONTES, 2010).
que lhes permita sustentar as despesas de suas famílias ou mesmo sua própria subsistência.
Isso, por sua vez, frequentemente compromete suas oportunidades de educação formal e
desenvolvimento profissional. Como resultado, o governo tem implementado ações para
facilitar a inserção dos jovens no mercado de trabalho, reconhecendo as dificuldades que
enfrentam ao adentrar neste cenário (CARVALHO, 2004 apud POCHMANN, 2007).
Em seu artigo 1º, e incisos, a Lei deixa bem claro a sua finalidade:
Art. 2o O PNPE atenderá jovens com idade de dezesseis a vinte e quatro anos em
situação de desemprego involuntário, que atendam cumulativamente aos seguintes
requisitos:
II – sejam membros de famílias com renda mensal per capita de até 1/2 (meio)
salário mínimo, incluídas nesta média eventuais subvenções econômicas de
programas congêneres e similares, nos termos do disposto no art. 11 desta Lei;
(Redação dada pela Lei nº 10.940, de 2004)
O programa Jovem Aprendiz é uma lei que estabelece que empresas de médio e
grande porte são obrigadas a contratar jovens entre 14 e 24 anos como aprendizes, por um
período máximo de duração de 2 anos. Este programa, inserido na Lei de Aprendizagem
(a Lei nº.10.097/2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005 e posteriormente
pelo Decreto n° 9.579/2018), busca mitigar as adversidades do cenário, auxiliando os jovens a
associar as perspectivas de geração de renda. Além disso, visa complementar a renda familiar
e estabelecer uma ligação entre trabalho e educação. A porcentagem de aprendizes dentro das
organizações varia entre 5% e 15%. Dentro do programa, os jovens contam com a supervisão
de um mentor, ou seja, um colaborador designado pela empresa para orientar, gerenciar e
instruir o aprendiz em suas responsabilidades diárias. Essa orientação inclui oferecer suporte e
incentivar o jovem a aplicar e aprimorar suas habilidades no ambiente de trabalho (MOURA e
ANDRADE, 2014).
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Esse programa traz vantagens tanto para aqueles que buscam seu primeiro emprego
quanto para as empresas envolvidas. Por um lado, os aprendizes têm a oportunidade de
desenvolver suas habilidades profissionais e adquirir valiosa experiência, além de receber
cursos adicionais e ganhar conhecimentos práticos relacionados às operações de trabalho. Por
outro lado, as empresas contribuem para a disseminação de sua cultura corporativa, preparam
novos talentos para o mercado de trabalho, e também desempenham um papel importante na
educação, qualificação e inclusão social desses jovens (RENAPSI, 2022).
uma chance maior em relação aos que procuravam o primeiro emprego em 76,8%, e ainda se
constatou que os indivíduos que procuravam o reemprego ficavam, em média, 5 meses a
menos na procura de emprego. Nas regiões metropolitanas menos desenvolvidas, foram
registrados os menores períodos de estado de desemprego, evidenciando uma forte influência
do trabalho informal. Foi possível verificar que as inserções ocupacionais para homens eram
maiores se comparadas com as mulheres e, aliado a isso, o tempo de "espera" para as
mulheres era superior.
4 Metodologia
Os dados da RAIS são utilizados para calcular estatísticas importantes, como a Taxa
de Rotatividade, que mede a movimentação de trabalhadores no mercado formal, e também
para a elaboração de indicadores socioeconômicos. Além disso, a RAIS é fundamental para o
cálculo de benefícios sociais, como o abono salarial (GONÇALVES e MONTE, 2011).
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Para obter a renda por hora de trabalho primeiramente dividiu-se a renda mensal por 4,33, encontrando a renda
semanal. Em seguida foi dividido a renda semanal pelas horas de trabalhos semanais.
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tamanho do estabelecimento
Dummies de tamanho do estabelecimento: até 9 empregados=1 e
caso contrário =0; de 10 a 99 empregados =1 e caso contrário =
0; de 100 a 499 empregados e caso contrário = 0; de 500 ou mais
empregados = 1 e contrário = 0.
Fonte: elaboração própria.
Este método foi proposto de forma independente por Ronald Oaxaca e Alan Blinder na
década de 1970 e tornou-se uma ferramenta comum na análise da disparidade salarial. Para
investigar disparidade de renda por gênero, raça, ou qualquer outra condição que possa gerar
discriminação, é comumente utilizado o método de decomposição proposto por Oaxaca e
Blinder (1973).
ln W A −ln W B =( X A −X B ) ^β B + X A ( ^β A− β^ B) (4)
5 Resultados
Esta seção está estruturada em mais duas subseções. A primeira delas apresenta a
descrição das estatísticas descritivas referente ao grupo de trabalhador do primeiro emprego e
trabalhador reempregado. A segunda subseção contém os resultados do modelo econométrico
Oaxaca-Blinder.
A Industria de calçados ocupa a segunda posição como o setor que mais deram
oportunidades para os jovens que buscavam o primeiro emprego 14,94%, seguido do
comércio atacadista com 7,88%. No que concerne ao grupo reempregado, o setor de
construção civil ocupa a segunda posição como setor que mais emprega com 8,64%, seguido
de Administração de imóveis, valores mobiliários e Serviços de alojamento e alimentação,
empatados com 6,72%.
Um estudo realizado por Rabelo, Baca, França e Fernandes (2016), evidenciou que das
dez atividades que mais geram ICMS, 8 são do setor de varejo e 2 são do setor da indústria,
esta com a fabricação de calçados em Iguatu e a produção com base em minerais não
metálicos, em Jucás.
No que diz respeito aos setores de atuação, 52,70% dos jovens do primeiro emprego
estão inseridos no setor do comércio, seguido pelos setores de indústria (23,15%), serviços
(22,16%) e agricultura (1,97%). No grupo reempregado, o setor de comércio também lidera
com 48,59%, seguido pelos setores de serviços (29,11%), indústria (20,28%) e agricultura
(1,74%). Também é evidente que o nível de escolaridade predominante para ambos os grupos
é o ensino médio com 78% dos indivíduos do primeiro emprego e 79% para o grupo
reempregado.
Inicialmente foi feito um teste de média (t de Student mensal e por hora trabalhada)
para averiguar se havia diferença de renda entre os dois grupos estudados. Ficou constatado
que os indivíduos reempregados eram melhor remunerados em aproximadamente R$105,00
então o método Oaxaca-Blinder foi utilizado para detalhar o porquê dessa diferença,
apresentando características explicadas e não explicadas.
Nota-se que tanto o efeito explicado quanto o não explicado elevam o diferencial de
renda, entretanto o diferencial total é melhor definido pelos efeitos explicados. Esse fato vai
de encontro com Gonçalves e Monte (2011), onde em sua pesquisa, ficou evidenciado que os
efeitos não explicados eram mais significantes na influência salarial, com 63,46%. No caso
desta pesquisa, o efeito explicado representa aproximadamente 65,1%, enquanto os efeitos
não explicados representam aproximadamente 34,9%.
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Para calcular o efeito percentual utiliza-se a seguinte fórmula: Efeito Percentual = (e coeficiente – 1)x100. Onde “e”
equivale a 2,71828 aproximadamente. Logo, Efeito Percentual = (e 0,1281 – 1)x100 = 13,67%.
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Nos efeitos explicados, o fato do indivíduo ser homem faz com que a diferença de
renda se reduza em 0,8% aproximadamente, o que pode indicar uma maior qualificação das
mulheres. A variável não branca também indicou ser significativa para a diminuição da
disparidade salarial, o que não era esperado. Em relação ao porte das empresas, as que tem
entre 10 a 99 funcionários fazem esta diferença ser maior em 0,84%, o que pode indicar uma
ocupação maior das pessoas que já possuíram algum tipo de experiência.
No Log natural da renda por hora, o fator idade é significante para explicar o aumento
da disparidade salarial, com uma diferença de 25,85%, o que pode significar uma valorização
à experiência adquirida durante o período trabalhado. Em contrapartida, o fator idade ao
quadrado indica uma diminuição gradativa dessa diferença, ou seja, a cada ano a mais de
idade o efeito marginal dessa variável é decrescente. Quanto a variável setor de serviços
(comparado ao setor agrícola) contribui para explicar essa diferença em 2,11%.
Quanto aos efeitos não explicados, referente ao Log natural da renda mensal, o fator
idade ao quadrado é o mais relevante entre as outras características para explicar o aumento
da diferença salarial. Nota-se que a categoria de empresas com 10 a 99 funcionários diminui
essa diferença, assim como a categoria de empresas com 100 a 499 funcionários.
No contexto da análise do Log natural da renda por hora, observam-se efeitos não
explicados, onde a característica idade desempenha um papel significativo com um
coeficiente de -3,5343. Essa descoberta sugere que os indivíduos no início de suas carreiras
podem ser contratados com base em sua extensa formação educacional. No entanto, a inclusão
da idade ao quadrado revela um aumento gradual dessa disparidade ao longo do tempo,
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indicando que os empregadores valorizam cada vez mais a experiência acumulada, está
descoberta corrobora a pesquisa de Garanhani (2015), onde os próprios jovens em busca de
primeiro emprego, se sentiam em desvantagem em relação aos jovens que já possuíam
experiência.
Outro aspecto relevante é a influência das empresas com 100 a 499 funcionários,
evidenciando um aumento na disparidade salarial. Isso sugere uma preferência por
profissionais em processo de recolocação no mercado de trabalho. Esses achados corroboram
com a pesquisa de Gonçalves e Monte (2011), que identificou uma maior facilidade de
ingresso de trabalhadores reempregados em empresas de médio e grande porte, especialmente
nas áreas de produção de bens e serviços industriais.
Assim, a análise conjunta desses fatores aponta para padrões discerníveis nas práticas
de contratação, onde a formação educacional inicial, setor de atuação e o porte da empresa
desempenham papéis cruciais na determinação da disparidade salarial por hora.
6 Considerações finais
Observou-se que o setor de comércio varejista, foi o setor da economia que mais
empregou os indivíduos de primeiro emprego (44,83%) e os de reemprego (44,48%).
Posteriormente, constatou-se que a indústria de calçados, apresenta uma taxa de ocupação
notável para jovens em seu primeiro emprego, atingindo 14,94%. Esses dados sugerem uma
recepção positiva por parte da indústria em relação a esses jovens profissionais.
acumulada.
As implicações práticas sugerem uma série de medidas que podem ser adotadas para
melhorar a empregabilidade e o desenvolvimento profissional dos jovens na região. Dada a
identificação de setores específicos com maior demanda de mão de obra jovem, as
autoridades locais e as organizações empresariais podem considerar a implementação de
políticas de incentivo para estimular o crescimento dessas indústrias. Isso poderia envolver
benefícios fiscais, apoio financeiro ou programas de parceria entre o setor público e privado.
O governo também poderia intensificar e ampliar as políticas públicas voltadas para a
formação, capacitação e inserção dos jovens em seu primeiro emprego. Isso poderia envolver
a adaptação desses programas para atender melhor às necessidades dos jovens,
proporcionando experiências mais enriquecedoras e aumentando as chances de retenção
desses talentos na região.
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RIBEIRO, Antonio de Lima. Teoria da Administração. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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Tabela A 2 – Teste de média da renda por hora trabalhada entre os trabalhadores do primeiro
emprego e os trabalhadores reempregados
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