2015.2 - TCC Ingridy Souza Dos Santos - Propapropagao de Ondas de Cheia A Jusante Da Barragem

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UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

CETEC - Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas


Bacharelado de Ciências Exatas e Tecnológicas

PROPAGAÇÃO DE ONDAS DE
CHEIA À JUSANTE DA BARRAGEM
DE XINGÓ LOCALIZADA NO RIO
SÃO FRANCISCO

INGRIDY SOUZA DOS SANTOS

CRUZ DAS ALMAS


2016
INGRIDY SOUZA DOS SANTOS

PROPAGAÇÃO DE ONDAS DE
CHEIA À JUSANTE DA BARRAGEM
DE XINGÓ LOCALIZADA NO RIO
SÃO FRANCISCO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Univer-


sidade Federal do Recôncavo da Bahia como parte
dos requisitos para a obtenção do tı́tulo de Bacharel
Graduado em Ciências Exatas e Tecnológicas.

Orientador: Profa . Dra . Andrea Sousa Fontes

Cruz das Almas


2016
Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por sua presença
em todos momentos.
Aos meus pais, Manoel Pedro dos Santos Filho e Rosemary Souza dos Santos, por
todo apoio, carinho, compreensão, palavras de conforto em momentos de desespero, por
toda a confiança depositada em mim, e por serem os grandes responsáveis da realização
desse sonho.
À minha querida e amada irmã, Isabela Souza dos Santos, por fazer parte da minha
vida, por todo amor e carinho.
À minha orientadora, Prof. Dra Andrea Sousa Fontes, por toda a paciência, ajuda
e disponibilidade. Sua participação foi essencial para a finalização deste trabalho.
Ao meu namorado, Joshua Gandhi Conceição Passos, por toda a paciência, calma
e contribuição para o desenvolvimento desse trabalho.
As minhas amigas do coração que se fazem presentes em minha vida desde a época
do colégio, Luz Marina Sales e Tássia Andrade, o apoio e a presença de vocês é muito
importante em minha vida.
As pessoas que conheci durante a minha trajetória dentro da Universidade.
E por fim, à todo o corpo docente do curso de graduação em Ciências Exatas e
Tecnológicas, por toda a transmissão de conhecimento.
Resumo

A cheia é um fenômeno que ocorre em diversas regiões, por isso, reservatórios são
utilizados como amortecedores das grandes vazões. No estado da Bahia, o fluxo d’água do
Rio São Francisco é controlado pelos reservatórios de Sobradinho e Itaparica. A barragem
de Xingó, localizada à jusante do reservatório de Itaparica, funciona a fio d’água e está
localizada entre os estados de Alagoas e Sergipe, a 12 km de Piranhas-AL e 6 km de
Canindé do São Francisco-SE. As cidades e povoados localizados à jusante da presente
barragem são beneficiadas com irrigação, geração de energia e o próprio abastecimento
de água, no entanto, as mesmas são afetadas quando ocorrem inundações e cheias de
grandes dimensões. Desta maneira, este trabalho tem como principal objetivo estudar a
propagação de ondas de cheia à jusante da barragem de Xingó no Rio São Francisco, entre
as estações de Piranhas e Pão de açúcar. A presente pesquisa foi realizada em três etapas:
caracterização do rio e da ocupação das margens do mesmo no trecho de estudo; avaliação
dos hidrogramas das estações fluviométricas de Piranhas e de Pão de açúcar; simulação da
onda de cheia utilizando o modelo hidrodinâmico HEC-RAS. O resultado das avaliações
dos hidrogramas, das variáveis hidrodinâmicas e das simulações, permitiram verificar que
a onda propagada de uma estação à outra perde intensidade de velocidade e de elevação
devido a geomorfologia do municı́pio de Pão de Açúcar. Foi possı́vel concluir que o modelo
apresenta eficiência e precisão em suas simulações.

Palavras-chave: Propagação de ondas de cheia, HEC-RAS, Barragem de Xingó.


Abstract

Full is a phenomenon that occurs in various regions, so reservoirs are used as


the large flow dampers. In the state of Bahia, the flow of water from the São Francisco
River is controlled by the Sobradinho and Itaparica reservoirs. The barrage of Xingó,
located downstream of the Itaparica reservoir, is the trickle works and located between
the states of Alagoas and Sergipe, 12 km from Piranhas-AL and 6 km from Caninde
the San Francisco-SE. Cities and villages located downstream of this dam are benefiting
from irrigation, power generation and own water supply, however, they are affected when
there are floods and large floods. Thus, this work aims to study the propagation of flood
wave downstream from the Xingó dam on the Rio São Francisco, between the stations of
Piranhas and Sugar Loaf. This research was conducted in three stages: characterization
of the river and the occupation of the banks of the same study section; evaluation of
the hydrograph of fluviometric stations Piranhas and Sugar Loaf; simulation of the full
wave using the hydrodynamic model HEC-RAS. The results of the evaluations of the
hydrograph, the hydrodynamic variables and simulations allowed us to verify that the
propagating wave from one station to another becomes less speed and elevation due to the
geomorphology of the Sugar Loaf municipality. It was concluded that the model provides
efficiency and accuracy in their simulations.

Keywords: Flood wave propagation, HEC-RAS, Xingó Dam.


Lista de ilustrações

Figura 1 –Identificação dos tipos de leito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16


Figura 2 –Volume de controle elementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 3 –Volume de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 4 –Equação de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 5 –Subdivisões da seção para cálculo de escoamento no canal . . . . . . . 23
Figura 6 –Localizão da Usina Hidrelétrica de Xingó . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 7 –Trecho de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 8 –Interface do HEC-RAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 9 –Geometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 10 –
Perfis transversais de Piranhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 11 –
Perfis transversais de Pão de Açúcar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 12 –
Traçado da curva chave da estação de Pão de Açúcar . . . . . . . . . . 33
Figura 13 –
Relação cota x velocidade para a estação de Pão de Açúcar . . . . . . . 33
Figura 14 –
Identificação da cota de inundação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 15 –
Identificação da cota de inundação de Pão de Açúcar . . . . . . . . . . 34
Figura 16 –
Hidrograma do perı́odo de 1931-1973 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 17 –
Hidrograma do perı́odo de 1980-2015 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 18 –
Evento 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 19 –
Evento 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 20 –
Hidrograma diário referente ao evento evento Evento 3 . . . . . . . . . 38
Figura 21 –
Hidrograma diário referente ao evento evento evento 4 . . . . . . . . . 38
Figura Hidrograma diário simulado para vazão de 15000 𝑚3 /𝑠 . . . . . . . . .
22 – 39
Figura Comparação entre as vazões simuladas e medidas em Pão de Açúcar
23 –
para o hidrograma de vazão máxima de 15000 𝑚3 /𝑠 . . . . . . . . . . . 40
Figura 24 – Hidrograma diário simulado para a vazão de 8000 𝑚3 /𝑠 . . . . . . . . . 40
Figura 25 – Comparação entre as vazões simuladas e medidas em Pão de Açúcar
para o hidrograma de vazão máxima 8000 𝑚3 /𝑠 . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 26 – Simulação horária para o evento 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 27 – Simulação horária para o evento 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Lista de tabelas

Tabela 1 – Eventos extremos de cheia selecionados para o estudo . . . . . . . . . . 36


Tabela 2 – Valores máximos para as variáveis simuladas . . . . . . . . . . . . . . . 42
Lista de siglas

ANA Agência Nacional de Águas

CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

HEC The Hydrologic Engineering Center

HEC-RAS The Hydrologic Engineering Center - River Analysis System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatı́stica

NBR Denominação de norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas

ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico


Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Objetivos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1 Hidráulica fluvial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.2 Cheias e inundações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Propagação de ondas de cheia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4 Modelos hidrodinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.4.1 HEC-RAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

4 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.1 Área de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.2.1 Caracterização das seções transversais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.2.2 Avaliação dos hidrogramas mensais e diários . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.2.3 Procedimentos da simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

5 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.1 Análise das variáveis hidrodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.2 Avaliação dos hidrogramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.3 Simulação hidrodinâmica dos eventos de cheia . . . . . . . . . . . 39

6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
11

Introdução

Ao longo da história, as primeiras civilizações surgiram e se desenvolveram as


margens de rios. Isso aconteceu porque essa localização era favorável para o desenvolvi-
mento socioeconômico. O processo de urbanização e aumento da densidade demográfica
promoveram a ocupação desenfreada das cidades, ocupando inclusive as margens dos rios,
o que aumentou o risco de inundações em perı́odos de cheia.
Na ocorrência de grandes cheias e inundações é possı́vel que não apenas o leito
menor da calha do rio seja inundado, como também, o leito maior periódico e o leito
maior excepcional. Para evitar a ocupação destes leitos maiores é necessária a definição da
planı́cie de inundação, uma vez que durante estes fenômenos esta planı́cie torna-se também
o leito do rio.
No caso de rios com barragens, tem-se que, esses tipos de contenções formam grandes
reservatórios de água. Elas também são responsáveis pelo controle dos escoamentos, nı́veis
de água, e consequentemente pelo controle das cheias. Desta maneira, a presença de
uma barragem no trecho de um rio pode minimizar os impactos desses eventos extremos
conforme a operação de seus reservatórios.
Sabendo da existência de uma barragem em determinado local, o estudo da pro-
pagação de ondas de cheia se faz importante, pois a partir desse é possı́vel solucionar
problemas de controle da propagação de onda e melhorar a previsão de cheias.
Para prever e simular ocorrências de cheia, pode-se recorrer aos modelos hidrodi-
nâmicos, que permite a reprodução de escoamentos em canais. Modelos hidrodinâmicos
utilizam as equações de Saint Venant (as equações de continuidade e dinâmica). Segundo
Porto (2006), tal metodologia propicia uma maior precisão na descrição do escoamento, à
custa de uma maior dificuldade numérica de resolução das equações diferenciais e menor
necessidade de dados que os modelos de difusão e onda cinemática.
The Hydrologic Engineering Center - River Analysis System (HEC-RAS) é um
modelo hidrodinâmico que permite a simulação de escoamentos permanentes e variados,
transportes de sedimentos e qualidade da água. Ele também é um modelo complexo,
Capı́tulo 1. Introdução 12

unidimensional, uma ferramenta gratuita e de fácil manipulação, o que faz desse software
uma boa opção para ser utilizado neste estudo.
A bacia hidrográfica do São Francisco é uma das maiores e mais importantes bacias
do paı́s. A escolha dessa para este trabalho se deu devido a sua grande influência no
âmbito nacional e aos vários estudos já feito na mesma. Esta bacia possui ainda dados
fluviométricos necessários para o desenvolvimento do presente trabalho.
Dessa forma, o presente trabalho vem contribuir para a identificação do compor-
tamento de uma cheia e da planı́cie de inundação, sendo associada a estas, os possı́veis
danos econômicos e sociais.
13

Objetivos

2.1 Objetivo geral


Analisar a propagação da onda de cheia à jusante da barragem de Xingó localizada
no baixo trecho do Rio São Francisco.

2.2 Objetivos especı́ficos


∙ Caracterizar o vale à jusante de Xingó e identificar a ocupação e uso do solo ;
∙ Analisar o comportamento de eventos de cheia através da avaliação dos hidrogra-
mas nas estações fluviométricas de Piranhas e Pão de Açúcar;
∙ Simular a propagação de onda de cheia no canal do baixo São Francisco, na
localidade entre as estações fluviométriacas de Piranhas e Pão de açúcar, através do modelo
hidrodinâmico HEC-RAS;
∙ Identificar as áreas inundadas pela onda de cheia.
14

Revisão Bibliográfica

3.1 Hidráulica fluvial


A hidráulica fluvial é voltada para o estudo do comportamento dos rios. Essa
permite fazer análises sobre o desenvolvimento dos rios e possı́veis intervenções que estes
venham a sofrer.
De forma objetiva, pode-se dizer que o regime fluvial são as oscilações do volume
de água do rio em determinado tempo. Essas oscilações do volume de água representa a
variabilidade da quantidade de água do rio, ou seja, as secas, cheias e inundações.
Condutos livres ou canais são identificados como condutos onde o escoamento é
caracterizado principalmente pela atuação da pressão atmosférica sobre uma superfı́cie livre.
Canais são basicamente fluxos de água. Pode-se classificar os mesmos em duas categorias,
naturais e artificiais. Os canais naturais, são fluxos de água existentes na natureza, alguns
exemplos são rios, córregos e correntes, por outro lado os canais artificiais, de maneira
análoga, são construções antrópicas como canais de esgoto, irrigação e aquedutos.
O escoamento fluvial acontece graças ao fluxo de água na superfı́cie e contribuições
dos reservatórios subterrâneos, que geram córregos e rios. Existem dois processos básicos
para a geração deste escoamento superficial, a precipitação e a infiltração. A precipitação
é a água que chega a superfı́cie da terra em forma de chuva, granizo e neve, já a infiltração
ocorre quando o solo não encontra-se saturado, e a água infiltra (COLLISCHONN; TASSI,
2008).
O comportamento do escoamento de um rio é descrito pelo volume de água escoado
no tempo, ou seja, pela vazão. A vazão do rio é definida como a quantidade volumétrica
de fluido que atravessa determinada seção transversal em certo intervalo de tempo e varia
em função da velocidade que age nessa seção. Dessa forma a vazão pode ser representada
como:
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 15

𝑄 = 𝑉.𝐴 (1)

Onde, Q é a vazão em 𝑚3 /𝑠, V é a velocidade em 𝑚/𝑠 e A é a área da seção em 𝑚2 .


A velocidade do fluxo das águas num canal natural é variável. Tem-se também que
a mesma sofre influências dos processos ocorridos num rio, tais como desgaste, transporte e
deposição de sedimentos. A mudança de velocidade também ocorre em perfis transversais,
de modo que a velocidade maior encontra-se no nı́vel inferior ao superficial e a menor
próximas as paredes laterais e ao fundo, essa mudança de velocidade ocorre devido a
presença de atrito e da resistência do ar (CHRISTOFOLETTI, 1980).
A seção transversal de um canal é composta por elementos geométricos, os quais são
fundamentais para um dimensionamento hidráulico. Os principais elementos geométricos
de um canal, são:
∙ Área molhada: área composta exclusivamente por água;
∙ Perı́metro molhado: comprimento da seção transversal que está em contato com
a água;
∙ Raio hidráulico: coeficiente da área molhada pelo perı́metro molhado;
∙ Largura do topo: é a largura da seção do canal na superfı́cie livre;
∙ Altura média: razão entre a área molhada e a largura da seção na superfı́cie livre;
∙ Declividade do canal: é a declividade longitudinal do canal;
∙ Declividade da linha de energia: variação da energia da corrente no sentido do
escoamento;
∙ Nı́vel: altura em relação a um plano horizontal.
Planı́cie de inundação é área inundável quando ocorrem cheias, transformando-se
no leito do rio. Segundo Christofoletti (1980) essa planı́cie é também conhecida como
várzeas e forma a área mais comum da sedimentação.
Os processos de sedimentação, erosão e transporte de sedimentos fazem parte da
esculturação do relevo e das formas topográficas de um leito. De acordo com Christofoletti
(1980) a topografia de leito surge como natureza deformável e de alta mutabilidade.
Existem vários tipos de leitos fluviais. Esses de acordo com Christofoletti (1980)
podem ser classificados como:
∙ Leito menor: também conhecida por calha, é uma área ocupada por água que
encaixa-se entre margens geralmente bem definidas. É um trecho onde a vegetação não
consegue se desenvolver;
∙ Leito maior periódico: que possuem águas regulares, repetidamente ocupado
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 16

pelas cheias, pelo menos uma vez ao ano;


∙ Leito maior excepcional: onde ocorrem as cheias mais elevadas. É submerso em
intervalos irregulares, mas, por definição, nem todos os anos.
A Figura 1 apresenta os leitos menor e maior com e sem o fenômeno da inundação
de um determinado local.

Figura 1 – Identificação dos tipos de leito

Fonte: Mundo Educação / Acesso: 09/07/2015

3.2 Cheias e inundações


É comum ter os conceitos de cheias e inundações usados como sinônimos, porém
esses são distintos. Toda cheia causa uma inundação, mas nem toda inundação é provocada
por uma cheia (RAMOS, 2013).
As cheias são fenômenos temporários. Essas são rápidas e ocorrem de repente,
podem ser provocadas devido a precipitações abundantes durante dias ou semanas. Cheias
em vales causam acúmulo de sedimentos ao longo das margens e leitos do rio, alteração da
morfologia do canal, alagamentos, etc.
O modelo de ocupação territorial dos dias de hoje são grandes responsáveis pelos
agravantes dos impactos provocados pelas cheias, desta forma, são necessários alguns
serviços para o seu controle. Segundo Santos (2013) a importância dos trabalhos de
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 17

controle de cheias em bacias hidrográficas, se dá pelos riscos e danos causados à população
e ao patrimônio natural ou construı́do. A autora sugere que esse controle pode ser
estabelecido através de medidas estruturais e não estruturais. As medidas estruturais são
ações que afetam as condições hidrológicas da bacia, como a construção de barragens e
canalização dos cursos d’água, enquanto que as não estruturais, àquelas que buscam se
adaptar a ocupação do homem, como ações que regulamentem o uso e ocupação do solo.
Cheias provocadas por chuvas de longa duração em um grande intervalo de tempo
(cheias progressivas) afetam principalmente grandes bacias hidrográficas. A precipitação
em larga escala associada a solos saturados com baixo ı́ndice de infiltração provocam
inundações de maior amplitude (CUNHA et al., 2012).
As inundações assim como as cheias são decorrentes dos fatores meteorológicos e
climatológicos da bacia. Segundo Tucci, Bertoni et al. (2003) a inundação ocorre quando
as águas dos rios, riachos, galerias pluviais saem do leito de escoamento, uma vez que esses
meios estão com suas capacidades saturadas.
Quando a calha do rio supera a sua capacidade de drenagem, inundações tornam-
se inevitáveis e os problemas para as áreas ribeirinhas, iminentes. Pode-se atribuir a
precipitação uma das causas de tais inundações.
Ondas de inundação são ondas de cheia que possuem efeito devastador sobre a
população ribeirinha. De acordo com Carvalho (2012) as ondas de inundação provenientes
de chuvas afetam principalmente a população localizada à jusante do rio, podendo ser
ainda mais agravada caso essas pessoas ocupem a calha secundária do leito fluvial para o
qual a onda se desloca.
O monitoramento de cheias se faz importante, uma vez que inundações causam
grandes impactos à população em termos socioeconômicos, sendo assim, sistemas de alerta
de cheias tem se tornado cada vez mais importante. Um dos principais elementos de
sistemas de alerta de cheias é o sistema de previsão hidrológica, que objetiva diminuir
as incertezas a respeito das condições futuras do rio em trechos sujeitos a inundações
(MELLER, 2012).
Os problemas resultantes das inundações são ainda mais intensificados devido
a artificialização das condições hidrológicas. A interferência antrópica com relação a
impermeabilização de grande parte das superfı́cies como asfalto, telhados, calçadas, desma-
tamento e urbanização são agravantes de grandes inundações. Sendo assim, a caracterização
dos eventos de cheia torna-se importante para a elaboração de hidrogramas de cheia e
consequentemente para a análise da propagação de ondas de cheia.
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 18

3.3 Propagação de ondas de cheia


Definir o fenômeno de propagação de ondas de cheia não é fácil. De acordo com
Porto (2006) estudar a propagação de ondas de cheia num canal natural é mais complexo
do que fazer um estudo num canal prismático e retilı́neo, mesmo que não haja afluentes,
fatores como variação espacial da calha, declividade e rugosidade implicam numa definição
desse fenômeno, bem mais difı́cil.
Analisando os trabalhos de Carvalho (2012) e Santos et al. (2003), que estudaram
a propagação de ondas de cheia respectivamente sobre, o Ribeirão José Pereira e o rio
Paranapanema, percebe-se que existe uma preocupação com o fenômeno de ruptura de
uma barragem e as consequências que esta causaria.
O estudo de propagação de ondas de cheia realizado por Carvalho (2012) prevê os
efeitos de inundação na planı́cie aluvionar com antecipação de, pelo menos, cinco horas,
no caso do Rio Sapucaı́ no municı́pio de Itajubá. Com isso, percebe-se que modelos de
monitoramento de propagação de ondas de cheias podem ser bastante úteis.
Desta forma, para apresentar o fenômeno da propagação de cheias no rio são
utilizadas as equações de continuidade (conservação de massa) e dinâmica (quantidade
de movimento), formuladas por Saint Venant. De acordo com Porto (2006) estas relações
podem ser estabelecidas através de fatores como o escoamento unidimensional, canal de
baixa declividade, canal prismático e declividade constante. Estas equações são descritas
pelo autor como:
Equação de continuidade:
Com base no volume de controle elementar de comprimento dx, onde o escoamento
ocorre da seção 1 para a seção 2, como mostrado na figura 2. Onde x é a abscissa, A, a área
da seção reta, y, altura, B, largura do canal, 𝜌, massa especı́fica da água e V, velocidade
média na seção 1.

Figura 2 – Volume de controle elementar


Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 19

Fonte: Porto - Hidráulica Básica (2006)

O princı́pio da conservação de massa pode ser escrita de maneira geral na forma de


integral em função da diminuição por unidade de tempo da massa no volume de controle e
da vazão em massa na superfı́cie de controle.

⃗=−𝜕
∫︁ ∫︁
𝜌𝑉⃗ .𝑑𝐴 𝜌𝑑𝑉 𝑜𝑙 (2)
𝑆𝐶 𝜕𝑡 𝑉 𝐶
a equação da continuidade, assume também a forma:

𝜕𝑉 𝜕𝐴 𝜕𝑦
𝐴 +𝑉 +𝐵 =0 (3)
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
Se uma vazão lateral suplementar sai ou entra no canal, entre as duas seções 1 e 2,
a equação toma a forma de:
𝜕𝑄 𝜕𝐴
+ ± 𝑞𝑙 = 0 (4)
𝜕𝑥 𝜕𝑥
onde 𝑞𝑙 é a vazão suplementar po unidade de comprimento das margens (com sinal positivo
para a entrada e negativo para a saı́da).
Equação dinâmica:
A aplicação do Teorema da Quantidade de Movimento ao fluido que no instante t
ocupa um volume de controle genérico é dada por:

∑︁

∫︁
⃗ ⃗ 𝜕 ∫︁
𝐹 = 𝑉 (𝜌𝑉 .𝑑𝐴) + 𝑉 (𝜌𝑑𝑉 𝑜𝑙) (5)
𝑆.𝐶 𝜕𝑡 𝑉.𝐶
Isto é, o somatório de todas as forças que atuam sobre o fluido contido no volume
de controle é igual ao fluxo por unidade de tempo da quantidade de movimento através da
superfı́cie de controle, mais a variação por unidade de tempo da quantidade de movimento
da massa no interior da massa no interior do volume de controle.
As forças aplicadas no volume de controle da figura 2 são: a resultante da força de
pressão hidrostática nas seções 1 e 2, a componente da força gravitacional no sentido do
escoamento e a força de atrito nas paredes e fundo do canal:
𝜕𝑦
a) Pressão → 𝑑𝐹 = −𝛾𝐴 𝜕𝑥 𝑑𝑥, no sentido contrário a x;
𝜕𝑧
b) Gravidade → 𝑊𝑥 = −𝛾𝐴 𝜕𝑥 𝑑𝑥 = 𝛾𝐴𝐼𝑜 𝑑𝑥, no sentido de x;
c) Atrito → 𝐹𝑎 = −𝜏𝑜 𝑃 𝑑𝑥, no sentido contrário de x, sendo P o perı́metro molhado
da seção.
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 20

Figura 3 – Volume de controle

Fonte: Porto - Hidráulica Básica (2006)

A expressão final fica:

𝜕𝑉 𝜕𝑉 𝜕𝑦
𝑉 + +𝑔 = 𝑔(𝐼𝑜 − 𝐼𝑓 ) (6)
𝜕𝑥 𝜕𝑡 𝜕𝑥
onde a força de atrito foi escrita em função de 𝐼𝑓 .
A utilização de modelos hidrodinâmicos para simular as propagações de ondas de
cheia, por utilizarem as equações de Sain-Venant exigem maior quantidade de entrada de
dados e consequentemente, dependem dos dados de topografia das áreas inundáveis. A
utilização desses modelos também são úteis, por exemplo, para a previsão de inundações e
rupturas de barragens. Esses modelos podem ser complexos ou simples, unidimensional,
bidimensional ou tridimensional. Por apresentar maior precisão na descrição do escoamento
este tipo de modelagem tem sido bastante empregado para simulações em trechos de canais
de rios (PONTES et al., 2015).

3.4 Modelos hidrodinâmicos


Modelo é um tipo de representação simplificada de um sistema que pode ser classifi-
cado como: fı́sicos, analógicos e matemáticos (TUCCI et al., 1998). O modelo matemático
utiliza equações e fórmulas para o seu desenvolvimento. Modelos hidrodinâmicos são um
exemplo de modelo matemático e a metodologia utilizada para a resolução destes são os
métodos numéricos. Esses métodos são fundamentais na solução das equações diferenciais
do escoamento. De acordo com Tucci et al. (1998) esses métodos matemáticos possibilitam
a discretização do rio através de seções.
Os modelos hidrodinâmicos são caracterizados pelo uso das equações de continuidade
e dinâmica, e são solucionados através de equações diferenciais. Além de apresentar melhor
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 21

e com maior precisão dos resultados, esses modelos possuem uma representação fı́sica do
escoamento (TUCCI et al., 1998).
De acordo com Castanharo e Mine (2006), a utilização de modelos hidrodinâmicos
para a propagação de cheias em trechos de canais dotados de reservatórios é uma atividade
necessária no contexto de sistemas de previsão de afluências de curto prazo.

3.4.1 HEC-RAS
The Hydrologic Engineering Center (HEC) é a famı́lia a qual o modelo HEC-RAS
pertence. Esta famı́lia foi desenvolvida pela US Army Corps of Engineers, uma agência
federal dos Estados Unidos, que trabalha na área de hidrologia e hidráulica. A famı́lia HEC
é composta por outros programas como: The Hydrologic Modeling System (HEC- HMS),
The Reservoir System Simulation (HEC-ResSim) e River Analysis System (HEC-RAS).
The Hydrologic Engineering Center - River Analysis System (HEC-RAS) é um
modelo computacional gratuito que permite a execução de modelagens unidimensionais.
HEC-RAS é um programa complexo composto de um sistema integrado, projetado para
uso interativo, multitarefas e múltiplos usuário. O sistema é composto de uma interface
gráfica, armazenamento de dados e capacidades de gestão, gráficos, recursos de relatórios
e componentes hidráulicos (BRUNNER, 2010).
O sistema HEC-RAS contém três componentes de análises hidráulicas: (1) fluxo
constante de perfil de água; (2) simulação de fluxo instável; e (3) cálculo de transporte
de sedimentos. Estes três componentes serão representados através da ferramenta de
geometria hidráulica que o modelo possui (BRUNNER, 2010).
A interface do HEC-RAS permite a interação com outros programas, como AutoCad
e ArcGIS. No entanto, pelo fato deste modelo ser unidimensional, o mesmo apresenta
restrição para a modelagem de ambientes que necessitam de uma modelagem multidimen-
sional.
Vários estudos já foram realizados utilizando a ferramenta HEC-RAS, a seguir
são apresentados os pontos de vista de alguns autores. Rocha (2008), recomenda aplicar
o software HEC-RAS em canais naturais que possuem medição de vazão em diferentes
trechos, o autor também afirma, que ao comparar o volume de água que entra com o que sai,
o software apresenta um aumento no volume de saı́da. Para Carvalho (2012), o programa
HEC-RAS mostrou-se satisfatório no que concerne à interpolação e simulação das ondas de
cheias, contudo essa razoabilidade de simulação só foi conseguida com maiores interpolações
das seções e a redução acentuada do intervalo de simulação. Já para Fernandez, Mourato
e Moreira (2013), o modelo HEC-RAS oferece uma interface mais fácil com o utilizador,
entretanto o mesmo apresenta limitações na modelação da inundação na zona inundável
resultantes da sua formulação 1D.
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 22

Algumas equações utilizadas pelo modelo para os cálculos em canais naturais e


artificiais, podem ser analisados a seguir.
Os perfis de água são calculados de um ponto a outro através da equação de energia
com o processo iterativo chamado Método do Passo Padrão (Standard Step Method). A
equação de energia é dada por:

𝑎2 𝑉22 𝑎1 𝑉12
𝑍 2 + 𝑌2 + = 𝑍1 + 𝑌1 + + ℎ𝑒 (7)
2𝑔 2𝑔
Onde, 𝑍2 e 𝑍1 correspondem às elevações do fundo do canal principal (m); 𝑌2 e 𝑌1
são as alturas d’água nas seções (m); 𝑉2 e 𝑉1 são as velocidades médias nas seções (m/s)
(razão entre vazão e área molhada); 𝑎2 e 𝑎1 os coeficientes de correção da energia cinética
(coeficientes de Coriolis); g a gravidade (𝑚/𝑠2 ); ℎ𝑒 perda de carga (m).

Figura 4 – Equação de energia

Fonte: Adaptado de USACE (2010)

A figura 4 mostra os termos da equação de energia. A perda de energia ao longo do


escoamento entre as seções é composta pela perda por atrito, por expansão e compressão,
e pode ser expressa pela seguinte equação:

⃒ ⃒
⃒𝑎 𝑉 2 𝑎1 𝑉12 ⃒⃒
⃒ 2 2
ℎ𝑒 = 𝐿𝑆¯𝑓 + 𝐶 ⃒⃒ − ⃒ (8)
2𝑔 2𝑔 ⃒

Onde L é a distância ponderada entre as duas seções (m); 𝑆𝑓 é a declividade da


linha de energia entre as duas seções; e C é o coeficiente de perda de carga por expansão e
contração das seções transversais.
A distância ponderada entre duas seções é calculada da seguinte forma:
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 23

¯ 𝑚𝑒 + 𝐿𝑐𝑝 𝑄
𝐿𝑚𝑒 𝑄 ¯ 𝑐𝑝 + 𝐿𝑚𝑑 𝑄
¯ 𝑚𝑑
𝐿= ¯ 𝑚𝑒 + 𝑄
¯ 𝑐𝑝 + 𝑄¯ 𝑚𝑑 (9)
𝑄

Onde 𝐿𝑚𝑒 , 𝐿𝑐𝑝 , 𝐿𝑚𝑑 são, respectivamente, a distância da margem esquerda, do


¯ 𝑚𝑒 , 𝑄
canal principal e da margem direita das seções; e 𝑄 ¯ 𝑐𝑝 e 𝑄
¯ 𝑚𝑑 são, respectivamente, a
vazão média aritmética na margem esquerda, no canal principal e na margem direita das
seções.
Para calcular a capacidade de escoamento no canal e o coeficiente de velocidade para
uma seção é necessário que o escoamento seja subdividido em escoamentos parciais, onde
se assume que a velocidade é uniformemente distribuı́da. As subdivisões em escoamento
parciais são definidas pelos pontos onde há uma mudança no coeficiente de rugosidade
de Manning (Figura 5) e suas vazões calculadas através da seguinte forma da equação de
Manning:

1
𝑄 = 𝑞 𝑆¯𝑓 2 (10)

1 2
𝑞𝑖 = 𝐴𝑖 𝑅ℎ𝑖
3
(11)
𝑛𝑖

onde 𝑞𝑖 é capacidade de escoamento da iésima subdivisão (𝑚3 /𝑠); 𝑛𝑖 é o coeficiente


de rugosidade de Manning da iésima subdivisão; 𝐴𝑖 é a área molhada da iésima subdivisão;
e 𝑅ℎ𝑖 é o raio hidráulico da iésima subdivisão.

Figura 5 – Subdivisões da seção para cálculo de escoamento no canal

Fonte: Adaptado de USACE (2010)

As capacidades de escoamento nas subdivisões das margens são somadas para


obtenção de um valor único para a margem esquerda e direita, sendo o canal principal
Capı́tulo 3. Revisão Bibliográfica 24

geralmente contado como uma única subdivisão. O somatório de todas as capacidades


parciais representa a capacidade total de escoamento na seção.
Para calcular o coeficiente de correção da energia cinética é necessário obter o
coeficiente de ponderação de velocidade 𝛼. Este, por sua vez, é calculado com base nas
três subdivisões principais do escoamento (margem esquerda, canal principal e margem
direita). A equação que relaciona o coeficiente de correção da energia cinética média com
a velocidade ponderada do escoamento nas subdivisões é:

3 3
𝑞𝑐𝑝 3
𝑞𝑚𝑑
𝐴𝑡 [ 𝐴𝑞𝑚𝑒
3 + 𝐴3𝑐𝑝
+ 𝐴3𝑚𝑑
]
𝑚𝑒
𝛼= (12)
𝑞𝑡3

Onde 𝐴𝑡 é a área total da seção (𝑚2 ); 𝐴𝑚𝑒 , 𝐴𝑐𝑝 e 𝐴𝑚𝑑 são, respectivamente, a área
da subdivisão da margem esquerda, do canal principal e da margem direita (𝑚2 ); 𝑞𝑡 , é
a capacidade total de escoamento na seção (𝑚3 /𝑠); 𝑞𝑚𝑒 , 𝑞𝑐𝑝 e 𝑞𝑚𝑑 são, respectivamente,
a capacidade de escoamento na subdivisão da margem esquerda, do canal principal e da
margem direita.
O valor da perda de carga por atrito é dada pelo produto entre a declividade da
linha de energia entre as duas seções (𝑆𝑓 ) e a distância ponderada entre as duas seções
(L). Assim, o resultado corresponde à seguinte equação:

𝑄1 + 𝑄2 2
𝑆𝑓 = ( ) (13)
𝑞1 + 𝑞2
em que, 𝑄1 , 𝑄2 e 𝑞1 , 𝑞2 são respectivamente as vazões e capacidade de escoamento das
margens e canal principal.
Já a perda de carga por expansão ou contração das seções, é dada por:

⃒ ⃒
⃒𝑎 𝑉 2 𝑎2 𝑉22 ⃒⃒
1 1
ℎ𝑒 = 𝐶 ⃒⃒ − ⃒ (14)
⃒ 2𝑔 2𝑔 ⃒

Sendo a contração, a mudança de velocidade de montante para jusante, onde


expansão ocorre quando aumenta e contração quando diminui.
25

Materiais e métodos

4.1 Área de estudo


A área de estudo do presente trabalho está situada à jusante da usina de Xingó, entre
as estações fluviométricas de Piranhas e Pão de Açúcar, cujos códigos são respectivamente
49330000 e 49370000. A barragem da usina encontra-se na divisa dos estados de Alagoas e
Sergipe entre as cidades de Canindé do São Francisco e Piranhas. A usina hidrelétrica de
Xingó fica no Rio São Francisco e pertence a bacia do mesmo. Essa bacia possui área de
drenagem de 634.781 𝑘𝑚2 (8 por cento do território nacional), abrange 503 municı́pios, o
Distrito Federal, e mais seis estados brasileiros, são eles: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Goiás (CBHSF, 2004).
A barragem de Xingó foi construı́da e é operada pela Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco (CHESF). Essa barragem não possui controle de cheia, já que seu volume útil
é reduzido, essa função de controle fica a cargo da barragem de Sobradinho. De acordo com
o Inventário de Restrições Operativas Hidráulicas dos Aproveitamentos Hidrelétricos de
2015 (OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO, 2015) do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS), a usina hidrelétrica de Xingó possui vazões máximas com
descargas da ordem de até 8000 𝑚3 /𝑠 e vazão mı́nima de até 1300 𝑚3 /𝑠. A figura 6 ilustra
a localização da Usina Hidrelétrica de Xingó no mapa.
Capı́tulo 4. Materiais e métodos 26

Figura 6 – Localizão da Usina Hidrelétrica de Xingó

Fonte: Google Earth / Acesso: 02/11/2015

O trecho de estudo não apresenta barragens ou pontes, e tem aproximadamente 90


quilômetros de extensão, numa trajetória terrestre. As cidades nas quais as estações se
encontram são Piranhas e Pão de Açúcar, municı́pios pertencentes ao estado de Alagoas.
Na figura 7 pode-se observar a delimitação do trecho de estudo do presente trabalho.

Figura 7 – Trecho de estudo

Fonte: Google Earth / Acesso: 12/02/2016


Capı́tulo 4. Materiais e métodos 27

O trecho de estudo do presente trabalho passa pelo municı́pio de Piranhas, En-


tremontes (distrito de Piranhas), até chegar ao municı́pio de Pão de Açúcar. A primeira
cidade, segundo o senso de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatı́stica (IBGE)
têm uma população em torno de 23 mil habitantes, já a segunda possui cerca de 23.800.
Piranhas é uma cidade tombada como patrimônio histórico nacional, que ficou conhecida
pelo cangaço, esta cidade também é conhecida por encerrar o último trecho navegável
do Rio São Francisco. A economia da cidade é baseada no turismo, verbas federais
provenientes do tombamento fiscal e do recebimento de royalties.
Já Pão de Açúcar possui piscinas naturais formadas pelos bancos de areia no leito
do rio São Francisco, conhecidas como “prainha”. Por causa dessas, a cidade recebe muitos
turistas durante o fim de semana, vindos de municı́pios vizinhos.
Como a distância entre as cidades de Piranhas e Pão de Açúcar é pequena, elas
possuem caracterı́sticas fisiográficas muito parecidas, ambas estão na unidade geoambiental
da Depressão Sertaneja. Seus clima e vegetação também são os mesmos, o clima é o
tropical semi-árido e a vegetação basicamente composta por Caatinga.

4.2 Metodologia
A presente pesquisa foi realizada em três etapas: (i) caracterização do rio e da
ocupação das margens do mesmo no trecho de estudo; (ii) avaliação dos hidrogramas nas
estações fluviométricas de Piranhas, cujo código é 49330000 e de Pão de açúcar, de código
49370000, a partir dos dados disponı́veis; e (iii) simulação da onda de cheia utilizando o
modelo HEC-RAS.

4.2.1 Caracterização das seções transversais


A caracterização à jusante foi composta por três etapas: (i) identificação das
ocupações urbanas; (ii) avaliação do perfil transversal nas seções; (iii) identificação das
cotas de inundação.
Tendo sido identificada a ocupação urbana à jusante foi trabalhado o perfil trans-
versal, este é analisado pra estimar o escoamento superficial. Os perfis transversais deste
trabalho foram produzidos seccionando o rio da margem esquerda à margem direita. Para
o traço do perfil transversal do rio São Francisco utilizou-se as séries históricas disponı́veis
no banco de dados hidrológicos do portal Hidroweb, disponibilizados pela Agência Nacional
de Águas (ANA). O traçado referente à planı́cie de inundação,ou seja, os dados de elevação
e distância foram obtidos através do Google Earth.
A escolha dos perı́odos para construir as seções transversais foi estabelecida com
base na qualidade e consistência dos dados. Dessa forma, os perfis utilizados para as
Capı́tulo 4. Materiais e métodos 28

estações de Piranhas e Pão de Açúcar foram referentes ao ano de 2014.

4.2.2 Avaliação dos hidrogramas mensais e diários


A avaliação do comportamento dos hidrogramas caracterı́sticos do rio São Francisco
no trecho estudado foi dividida em cinco partes: (i) divisão dos perı́odos temporais (antes e
depois da construção da barragem de Sobradinho); (ii) construção dos hidrogramas médios
mensais para identificação dos perı́odos de cheia; (iii) seleção de eventos extremos de cheia
(iv) avaliação a nı́vel diário de eventos de cheia com magnitudes diferentes; (v) comparação
do comportamento hidrológico das duas seções.
Os hidrogramas trabalhados neste estudo possibilita um entendimento da bacia
hidrográfica e consequentemente das suas caracterı́sticas fisiográficas. Estes são capazes
de fornecer informações, tal como a relação entre a precipitação e os vários tipos de
escoamento existentes numa bacia.
Sendo os hidrogramas a relação do comportamento da vazão ao longo do tempo,
para a confecção e análise dos mesmos, separou-se em dois perı́odos de estudo. Esta
divisão deu-se tendo como critério os perı́odos antes e depois da construção da barragem
de Sobradinho, o principal barramento responsável pela regularização das vazões na região.
Os intervalos escolhidos foram de 1931 a 1973, e de 1980 a 2015, uma vez que entre 1973 e
1979 foi o perı́odo de construção do barramento de Sobradinho, o que poderia implicar na
ausência de dados, ou de dados não totalmente confiáveis. Os gráficos foram construı́dos
com as médias mensais das vazões referentes a essas parcelas de tempo.
Também foi feita a avaliação da variação do nı́vel d’água nesses eventos. A partir
dos estudos desses eventos de cheia, foi feita a comparação do comportamento das seções.

4.2.3 Procedimentos da simulação


O procedimento da simulação foi dividido em: (i) identificação e obtenção dos
dados necessários para a simulação; (ii) simulação; (iii) avaliação de respostas do modelo.
Os dados necessários para a realização deste trabalho são vazão, cota, perfil
transversal e resumo de descarga. Além dessas informações, este trabalho também utilizou
informações do artigo intitulado ”Alteração do regime hidrodinâmico no baixo curso do
rio São Francisco, Brasil”e da tese ”Modelagem hidrodinâmica no baixo São Francisco e
análise da quantidade e da qualidade de água para irrigação”, de onde foram retiradas
respectivamente, a geometria e a calibração, do modelo hidrodinâmico.
O modelo hidrodinâmico HEC-RAS, possui a seguinte interface mostrada na figura
8.
Capı́tulo 4. Materiais e métodos 29

Figura 8 – Interface do HEC-RAS

Fonte: Adaptado do manual do HEC-RAS

Durante o desenvolvimento da simulação, foi criada a geometria, esta por sua vez
consiste no conjunto de informações do esquema fluvial, dados das seções transversais, e
os dados da estrutura hidráulica. O desenvolvimento da geometria ocorreu da seguinte
maneira: primeiramente, fez-se o desenho esquemático do rio, para a partir deste começar
a entrar com os dados das seções transversais e da estrutura hidráulica. Para cada seção
transversal foi atribuı́do o nome, o trecho, a estação e a descrição do rio, respectivamente.
Em seguida foram inseridos, também, a distância de uma seção à outra (Downstream
Reach Lenghts), o valor do coeficiente de Manning, as margens, os coeficientes de expansão
e contração e os dados de distância e elevação dos perfis.
A geometria utilizada neste trabalho foi desenvolvida por Santana et al. (2015) e
está apresentada na figura 9. Cabe ressaltar que para a propagação da onda de cheia pelo
modelo hidrodinâmico HEC-RAS foram utilizados os dados da geometria do canal do rio
São Francisco até próximo a sua foz(englobando as estações Traipu e Propriá), entretanto
a discussão dos resultados se restringiu ao trecho até Pão de Açúcar.
Capı́tulo 4. Materiais e métodos 30

Figura 9 – Geometria

Fonte: Santana (2015)

Os coeficientes de Manning se relacionam à capacidade de escoamento do canal, e


podem ser definidos por faixas ou pelas margens. Ou também através da equação:

∑︀𝑁 1.5
𝑖=1 (𝑃𝑖 𝑛𝑖 ) 2
𝑛𝑐 = [ ]3 (15)
𝑃
Onde, 𝑛𝑐 é o coeficiente de rugosidade equivalente, P é o perı́metro total da seção,
𝑃𝑖 é o perı́metro da subdivisão I e 𝑛𝑖 coeficiente de rugosidade para a subdivisão. Dessa
forma, tendo os dados de vazões afluentes, a geometria, o coeficiente de Manning e
consequentemente os dados para calibração, tem-se que os dados de entrada estão prontos.
Como a simulação está sendo realizada num escoamento em regime não uniforme,
ou seja, escoamento em regime variado, tem-se que o vetor velocidade pode variar de ponto
a ponto, num instante qualquer.
Na calibração do modelo foram utilizados os parâmetros de Chagas (2009). O autor
utilizou para a seleção desses parâmetros uma série histórica de oito anos (1990-1997), a
determinação do coeficiente de rugosidade de Manning o autor fez ajustes necessários e os
coeficientes de contração e expansão foram utilizados os do próprio modelo.
Na simulação do HEC-RAS para regime transitório, foram utilizados nas condições
iniciais e as condições de contorno, que foram extraı́das do hidrograma. A rating curve
(curva de classificação) foi utilizada como condição de contorno para a última seção. Essas
condições foram as mesmas utilizadas por Santana et al. (2015).
A simulação da propagação de onda foi realizada de acordo com os hidrogramas
diários, como descrito no item 4.2.2 (página 28).
31

Resultados

Os resultados obtidos no presente trabalho foram analisados a partir dos seguintes


aspectos: identificação da cota de inundação, análise dos hidrogramas e simulação da
propagação de onda de cheia, utilizando o modelo HEC-RAS.

5.1 Análise das variáveis hidrodinâmicas


As variáveis hidrodinâmicas cota, vazão, velocidade e profundidade estão inter-
relacionadas, dessa forma torna-se necessário considerar as mudanças e relações que ocorrem
em determinada seção transversal e as que ocorrem na análise comparativa entre os perfis
transversais ao longo do rio.
As figuras 10 e 11 ilustram os perfis transversais da seção do rio nas estações
de Piranhas e Pão de Açúcar, respectivamente, esses dados são referentes aos anos de
2003, 2004, 2005 e 2014, sendo que os dados referentes ao ano de 2014 são brutos, no
entanto o mesmo não apresenta inconsistência comparado aos demais. Tem-se que os perfis
transversais de Piranhas a determinado nı́vel, apresentam aumento de largura rapidamente
e depois se espalham tornando-se mais constantes. Os perfis de Pão de Açúcar, por sua
vez, possuem formato bem distinto do anterior, isso devido aos vários bancos de areia
existentes nos mesmos.
Capı́tulo 5. Resultados 32

Figura 10 – Perfis transversais de Piranhas

Figura 11 – Perfis transversais de Pão de Açúcar

A figura 12 vem através do traçado da curva-chave da Pão de Açúcar mostrar


que existe uma maior densidade das medições para as vazões mais baixas do que para
as maiores vazões. As curvas representam os perı́odos antes e depois da construção da
barragem. Para o perı́odo antes da barragem (pontos azuis) as vazões máximas ficam em
torno de 6000 𝑚3 /𝑠, já para o perı́odo pós barragem (pontos laranjas) as vazões máximas
ultrapassam a grandeza de 11000 𝑚3 /𝑠. Isso condiciona a uma maior consistência para os
valores de vazões diárias observadas para as vazões mais baixas de ambos os intervalos,
entretanto, se dispõe de valores comparativos de vazões maiores.
Capı́tulo 5. Resultados 33

Figura 12 – Traçado da curva chave da estação de Pão de Açúcar

Já a figura 13, representa a relação de cota e velocidade para a estação de Pão
de Açúcar. As curvas representam os perı́odos antes da construção da barragem (pontos
azuis) e pós a construção das barragens (pontos laranjas). Através da imagem percebe-se
que existe uma maior densidade para valores de velocidade inferiores a 1 𝑚/𝑠, tem-se
também que o valor da velocidade pós construção da barragem em Pão de Açúcar passou
a ter velocidades de até 1,4 𝑚/𝑠 para uma cota de 800 m.

Figura 13 – Relação cota x velocidade para a estação de Pão de Açúcar

Nas figuras 14 e 15 estão apresentadas as cotas de inundação identificadas de acordo


com o perfil transversal das cidades do trecho de estudo. Os valores que o nı́vel d’água
Capı́tulo 5. Resultados 34

alcançou foi aproximadamente, 28 metros para a seção de Piranhas e 18 metros para a


seção de Pão de Açúcar.

Figura 14 – Identificação da cota de inundação de Piranhas

Figura 15 – Identificação da cota de inundação de Pão de Açúcar

5.2 Avaliação dos hidrogramas


A variação das vazões médias no baixo trecho do Rio São Francisco presente nas
estações de Piranhas e Pão de Açúcar, referentes ao perı́odo de 1931-1973, são apresentadas
na figura 16.
Capı́tulo 5. Resultados 35

Figura 16 – Hidrograma do perı́odo de 1931-1973

É possı́vel perceber através do hidrograma que os ı́ndices de vazão média mais


elevados encontram-se entre os meses de dezembro a abril, o que caracteriza o perı́odo de
cheia, ultrapassado os 5000 𝑚3 /𝑠, enquanto que nos perı́odos de seca esse ı́ndice fica em
torno de pouco mais de 1000 𝑚3/𝑠.
As vazões médias para o perı́odo de 1931-1973 não apresentaram diferenças signifi-
cativas de uma estação para outra, devido a distância entre as estações hidrométricas de
Piranhas e Pão de Açúcar. Isso sinaliza que não há contribuições laterais significativas
nesse trecho.
Já o hidrograma referente ao perı́odo de 1980 e 2015, apresentado na figura 17,
mostra uma redução nessa diferença com máxima vazão média inferior a 3000 𝑚3 /𝑠. Isso
acontece porque nesse perı́odo pós a construção da barragem de Sobradinho, que funciona
como reguladora de cheia, as vazões passam a ser controladas pelo barramento.
Capı́tulo 5. Resultados 36

Figura 17 – Hidrograma do perı́odo de 1980-2015

Para fazer o estudo do comportamento da vazão no tempo foram selecionados


quatro eventos extremos de cheia, a nı́vel diário. A tabela 1 mostra os eventos selecionados
considerando magnitudes de vazão superiores a 8000 𝑚3 /𝑠 ( máxima operativa a jusante
de Sobradinho).

Tabela 1 – Eventos extremos de cheia selecionados para o estudo


Duração do evento
Vazão máxima Cota máxima
Evento Dia da máxima
(m3/s) (m)
(dias)
Piranhas Pão de Açúcar Piranhas Pão de Açúcar Piranhas Pão de Açúcar
1 12328 11412.4775 1274 877 24/02/1943 24/02/1943 59
3 15056 14342.9189 1398 974 18/03/1949 17/03/1949 120
2 8536.7002 8883.51074 1051 729 19/03/1945 19/03/1945 35
4 8570.4004 8822.54785 725 725 14/02/1963 14/02/1963 51

Quanto a duração dos eventos de cheia selecionados foi identificada a elevação da


vazão do rio durante perı́odos de 20 dias. No evento 2, por haver a sucessão de dois eventos
de cheia, esse perı́odo de aumento da vazão durou cerca de 80 dias para inı́cio da recessão
do hidrograma. Em média os eventos selecionados duraram 66 dias.
As figuras 18, 19, 20 e 21 apresentam os hidrogramas simples refente aos eventos
selecionados comparando o comportamento das cheias nas duas seções estudadas. Os
dados de vazão mostrados nos hidrogramas referem-se aos valores médios diários. Todos
os hidrogramas apresentam eventos ocorridos no perı́odo mais antigo de dados disponı́veis
na tentativa de configurar o comportamento das cheias o mais natural possı́vel.
Capı́tulo 5. Resultados 37

Figura 18 – Hidrograma diário referente ao evento 1

Figura 19 – Hidrograma diário referente ao evento evento 2


Capı́tulo 5. Resultados 38

Figura 20 – Hidrograma diário referente ao evento evento Evento 3

Figura 21 – Hidrograma diário referente ao evento evento evento 4

Os hidrogramas referente ao evento 1 e 2 representam as maiores cheias observadas


no perı́odo estudado, superiores a 12000 𝑚3 /𝑠. O formato desses hidrogramas sinalizam
que o tempo de escoamento da onda de cheia é inferior a escala avaliada (1 dia), uma vez
que os picos encontram-se alinhados. Entretanto, as vazões de pico identificadas na estação
de Piranhas nos dois eventos são superiores às vazões identificadas a Pão de Açúcar, isso
pode acontecer uma vez que, a vazão média diária é medida em dois horários coincidentes
Capı́tulo 5. Resultados 39

nas duas estações, o que não possibilita o registro dessa propagação. Essa superação de
valores acontece apenas quando as vazões atingem valores maiores que 11000 𝑚3 /𝑠.
Este fato é confirmado nos eventos 3 e 4, quando os picos não ultrapassam 9000
𝑚3 /𝑠 e os valores das vazões de Pão de Açúcar são próximos, mas superiores as vazões em
todo o evento de cheia registrado.

5.3 Simulação hidrodinâmica dos eventos de cheia


Uma vez que os hidrogramas diários não conseguiram representar a propagação da
onda de cheia entre as estações de Piranhas e Pão de Açúcar, já que o tempo de escoamento
entre as duas seções é inferior a um dia, para o estudo dessa propagação foi necessário a
utilização da modelagem matemática, com uso do modelo hidrodinâmico HEC-RAS.
Primeiramente para a verificação da representatividade da modelagem, utilizando
a geometria definida em Santana et al. (2015) e a calibração dos parâmetros representadas
por Chagas (2009), foi realizada a simulação a nı́vel diário utilizando os dados obtidos na
avaliação dos eventos de cheia apresentados no item 5.2. Os eventos utilizados para essa
simulação foram os eventos 2 e o 4.
A figura 22 apresenta os hidrogramas referentes a passagem da onda de cheia
simulada de acordo com o evento 2, para o baixo trecho do Rio São Francisco que engloba
as estações de Piranhas e Pão de Açúcar.

Figura 22 – Hidrograma diário simulado para vazão de 15000 𝑚3 /𝑠

Os hidrogramas de Piranhas e Pão de Açúcar apresentam comportamento seme-


lhante confirmando as análises feitas anteriormente. A defasagem entre os hidrogramas
simulados só é verificado na segunda ascensão dos hidrogramas para as seções a jusante de
Pão de Açúcar (figura 22).
A figura 23 mostra as vazões simuladas e medidas da estação de Pão de Açú-
car quando foi identificado um desvio relativo médio menor que 5%. Dessa forma a
representatividade da modelagem foi considerada satisfatória para esse evento.
Capı́tulo 5. Resultados 40

Figura 23 – Comparação entre as vazões simuladas e medidas em Pão de Açúcar para o


hidrograma de vazão máxima de 15000 𝑚3 /𝑠

Na simulação desse evento a vazão máxima alcançada foi de 14773,6 𝑚3 /𝑠 e a


elevação de 27,33 metros. Superando em aproximadamente nove metros a elevação de
inundação definida para essa seção. De acordo com dados de vazão, cota e velocidade
dessa seção a elevação simulada está de acordo com o esperado(correspondendo a cota
maiores que 1000 cm).
A figura 24 mostra a simulação da propagação de onda do evento 4. Os hidrogramas
de Piranhas e Pão de Açúcar apresentam comportamento semelhante, assim como na
simulação feita para o hidrograma de vazão máxima em torno de 15000 𝑚3 /𝑠, confirmando
as análises feitas anteriormente. A defasagem entre os hidrogramas simulados também só
é verificado para as seções a jusante de Pão de Açúcar.

Figura 24 – Hidrograma diário simulado para a vazão de 8000 𝑚3 /𝑠

A figura 25 mostra as vazões simuladas e medidas da estação de Pão de Açúcar


quando foi identificado um desvio relativo médio inferior a 1% . Dessa forma considerou-se
a representatividade da modelagem satisfatória para esse evento.
Na simulação desse evento a vazão máxima alcançada foi de 8478,69 𝑚3 /𝑠 e a
elevação de 16,66 metros. Não proporcionando inundação, na área urbana adjacente.
Capı́tulo 5. Resultados 41

Figura 25 – Comparação entre as vazões simuladas e medidas em Pão de Açúcar para o


hidrograma de vazão máxima 8000 𝑚3 /𝑠

Após avaliado o comportamento do modelo em simular os eventos diários, foi


realizada a simulação considerando a escala horária para melhor discretização do tempo
de escoamento da cheia entre as seções.
Para o hidrograma de entrada no trecho foi atribuı́do os mesmos valores das vazões
diárias, entretanto, considerando um intervalo horário. Isso resultou em uma cheia com
duração de cerca de 3 dias para o evento 4 e uma cheia de 8 dias para o evento 2. As
figuras 26 e 27 e a tabela 2 apresentam os resultados dessas simulações.

Figura 26 – Simulação horária para o evento 2


Capı́tulo 5. Resultados 42

Figura 27 – Simulação horária para o evento 3

Tabela 2 – Valores máximos para as variáveis simuladas


Tempo de
Vazão Elevação Velocidade
Eventos escoamento
máxima (m3/s) máxima (m) (m/s)
(h)
Piranhas Pão de Açúcar Piranhas Pão de Açúcar Piranhas Pão de Açúcar
2 15056 13780 26.38 19.22 2.9 1.05 2
4 8570 8085 20.85 14.34 2.34 0.84 3

A simulação horária resultou em um amortecimento do pico da vazão em 1276


𝑚 /𝑠 para o evento 2 e 500 𝑚3 /𝑠 76 para a segunda situação devido as caracterı́sticas
3

geométricas do trecho estudado. Isso refletiu na diminuição da elevação da linha de água


e, consequentemente, a propagação da onda de cheia simulada não atingiu a cota de
inundação para a seção de Pão de Açúcar na segunda situação.
A simulação possibilitou ainda a estimativa do tempo do escoamento da onda de
cheia nas duas situações, relevando um tempo de 2 a 3 horas para a onda de cheia vinda
de Piranhas atingir o municı́pio de Pão de Açúcar .
Esses resultados indicam a importância de estudo dessa natureza para o direciona-
mento de ações de alerta a população ribeirinha.
43

Conclusão

O presente trabalho analisou a propagação de onda de cheia entre duas estações


fluviométricas nas quais, caracterizou-se a ocupação do vale à jusante com identificação
da cota de inundação e análise das variáveis hidrodinâmicas; simulou-se a propagação de
ondas de cheia e identificou-se as áreas inundadas.
Desta maneira, pode-se concluir, que é necessário analisar eventos extremos de cheia
em escala horária, para que seja extraı́da uma maior quantidade de detalhes e informações.
Tem-se também que o modelo hidrodinâmico HEC-RAS se mostra bastante útil e eficiente,
sendo capaz de representar os eventos de cheias escolhidos e o tempo de percurso da onda
de cheia.
A análise dos hidrogramas mensais pode ilustrar a não existência de diferença
significativa, em relação ao comportamento das vazões nas estações estudadas, no perı́odo de
1931 a 1973, e que após a construção da barragem de Sobradinho houve uma regularização
das vazões, como mostrado no hidrograma do perı́odo de 1980 a 2015.
Tem-se também que as variáveis hidrodinâmicas cota, velocidade e tempo de
escoamento da cheia, estão diretamente ligadas. Para valores de velocidade e cota inferiores
a 1 m/s e 400 cm, respectivamente, a densidade é maior. O mesmo ocorre com as variáveis
cota e vazão, já que para valores de cota inferiores a 400 cm, o ı́ndice de vazão é mais
denso. É possı́vel afirmar também que para um evento extremo de cheia na ordem de
15000 𝑚3 /𝑠 o municı́pio de Pão de Açúcar é inundado.
44

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