Você está na página 1de 57

MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE

ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA


ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE
PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS

Trabalho de conclusão de curso de Graduação


apresentado ao Curso de Engenharia Civil da
Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU
Parnaíba, como pré-requisito para obtenção do
título de Bacharel em Engenharia.
Orientador: Prof.º: Brehno Narciso de Castro
Oliveira

APROVADA EM: _____/______/______

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________________
BREHNO NARCISO DE CASTRO OLIVEIRA

___________________________________________________________________
JOSÉ ROBERTO DA CUNHA LIMA

___________________________________________________________________
LEANDRO ARAUJO CAVALCANTE

PARNAÍBA-PI
2020
Dedico esta monografia à minha mãe, Antonia Maria, meu avô
Herminio Nonato (em memória) e a minha filha Maria Valentina.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter me permitido chegar até aqui e mesmo diante de
todas as dificuldades enfrentadas ao longo desta trajetória, ter sido minha força e esperança para
nunca desistir. Agradeço, a todos os professores que compartilharam saberes durante esta
caminhada acadêmica. Durante minha vida passaram diversos profissionais de vários níveis de
escolaridade que sem dúvida foram base para a humildade e o respeito na vida profissional,
para que possamos sempre lembrar da linha de frente das obras, que são os trabalhadores,
pedreiros, serventes, auxiliares, topógrafos, enfim, a todos os trabalhadores que sempre serão
os moldes de toda a construção.
“Eu sempre me preparo para o fracasso e acabo surpreendido pelo sucesso”.
Steven Spielberg
RESUMO

As barragens representam soluções hidrográficas empregadas há muitos anos, por civilizações


antigas como: Babilônia, Índia, Egito e Pérsia, que já as utilizava como recurso para
armazenamento de água, sustento de fazendas e localidades urbanas em períodos de estiagem.
No mundo todo as estruturas de engenharia podem estar sujeitas a falhas, situação não obstante
às barragens. Muitos acidentes ratificam o risco potencial associado às estruturas de
barramento. A incidência de rompimentos evoca a necessidade de discussões sobre o perigo
potencial destas construções devido ao volume e as características do material armazenado. A
ruptura acarreta prejuízos ambientais e materiais, danos ao patrimônio público e privado, além
da perda da vida humana, principal dano causado por estes rompimentos. Diversas ferramentas
são utilizadas atualmente para investigação das possíveis rupturas dessas estruturas,
possibilitando o estudo e desenvolvimento de planos de prevenção eficazes. Desse modo, o
estudo de Dam-Break com auxílio de softwares visa analisar e dirimir os impactos causados
pelo rompimento de maciços e a avaliação dos riscos que esta pode causar a vidas humanas e à
economia de uma região. A presente pesquisa apresenta como objetivo principal – gerar
simulações hidrodinâmicas computacionais de rompimento hipotético do maciço da Barragem
de Caldeirão, no município de Piripiri-PI, e com os resultados obtidos, determinar os
hidrogramas de vazão a jusante da Barragem, mapa de inundação e analisar o possível impacto
causado nas imediações da barragem, bem como o resgate de toda população ribeirinha. A
Metodologia empregada para a realização deste estudo, caracteriza-se pela análise geométrica
digital da superfície do canal e de todo o vale a jusante do maciço, bem como a previsão do
hidrograma de rompimento usando fórmulas empíricas para obtenção destes diagramas e as
vazões de pico (Qp). A utilização do software hec-ras, para a presente analise mostrou-se
eficiente para esse tipo de simulação, mostrando de forma eficaz o panorama de risco para o
caso de um rompimento da barragem em estudo.

PALAVRAS CHAVE: Barragens. HEC-RAS. Inundação. Rompimento.


ABSTRACT

Dams represent hydrographic solutions used for many years by ancient civilizations such as
Babylon, India, Egypt, and Persia, which already used them to store water, supporting farms
and urban locations during periods of drought. All over the world, engineering structures can
be subject to failure, a situation despite dams. Many accidents confirm the potential risk
associated with bus structures. The incidence of ruptures evokes the need for discussions about
the potential danger of these constructions due to the stored material's volume and
characteristics. The rupture causes environmental and material damage, damage to public and
private property, in addition to the loss of human life, the main damage caused by these
disruptions. Several tools are currently used to investigate possible disruptions in these
structures, enabling the study and development of effective prevention plans. Thus, the study
of Dam-Break with the aid of software aims to analyze and resolve the impacts of the rupture
of massifs and assess the risks that this can cause to human lives and the economy of a region.
This study aims to generate hydrodynamic computational simulations of hypothetical rupture
of the Caldeirão dam massif in the municipality of Piripiri-PI. The results obtained determine
the flow hydrographs downstream of the dam, flood map, and analyze the possible impact
caused in the vicinity of the dam and the rescue of the entire riverside population. The
methodology used to carry out this study is characterized by the digital geometric analysis of
the channel surface and the whole valley downstream of the massif and the prediction of the
rupture hydrograph using empirical formulas to obtain these diagrams peak flows (Qp). The
use of the HEC-RAS software for the present analysis proved efficient for this type of
simulation, effectively showing the risk scenario for a dam failure under study.

Keywords: Dams. HEC-RAS. Inundation. Disruption.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Tipos de barragens de acordo com o material empregado........................18

Figura 2: Barragem Caldeirão.................................................................................27

Figura 3: CURVAS COTA x ÁREA x VOLUME – Barragem Caldeirão...............29

Figura 4: Cheia Máxima..........................................................................................30

Figura 5: Imagem do site do INPE na escolha do satélite e coleta de imagens.........31

Figura 6: Imagem satélite geral com área de interesse que será gerada a MDT........32

Figura 7: Imagens de satélite com bandas espectrais distintas.................................32

Figura 8: Processamento de conversão da imagem..................................................33

Figura 9: Resultado da imagem processada.......................................................... 34

Figura 10: Equações empíricas para dimensões de brecha e vazão de pico..............34

Figura 11: Resultados obtidos por Ferreira e Andrzejewski (2015) através de


equações empíricas.................................................................................................35

Figura 12: Número de barragens de acordo com os estados do nordeste, sua


Categoria de Risco (CR) e Dano Potencial Associado (DPA).................................37

Figura 13: Comprimento do rio adotado para cálculos ...........................................43

Figura 14: Tempo de abertura das brechas...............................................................44

Figura 15: Hidrogramas de Vazão...........................................................................45

Figura 16: Hidrograma da Barragem de Caldeirão..................................................45

Figura 17: Onda de Inundação.................................................................................46

Figura 18: Onda de cheia máxima...........................................................................47

Figura 19: Mancha de inundação referente ao rompimento da barragem................47

Figura 20: Áreas com potencial destrutivo..............................................................48


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estudos de caso que utilizaram o Software HEC-RAS para análise do

possível rompimento de barragens..........................................................................38

Quadro 2 - Dados de entrada da Barragem Caldeirão..............................................40

Quadro 3 – Volume do reservatório em função das equações


empíricas.................................................................................................................41

Quadro 4 – Vazão de Pico pelas Equações Empíricas.............................................42

Quadro 5 - VAZÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO - Q(t) m3/s.................................43


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quatro maiores desastres envolvendo barragens entre 1959 e 1979.......18

Tabela 2 – Possibilidade de falha dos diferentes tipos de barragens........................20

Tabela 3 – Principais estudos pesquisados que analisaram o rompimento hipotético


de uma barragem.....................................................................................................24

Tabela 4: Características hidrológicas da Barragem Caldeirão...............................30


LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS

ANA Agência Nacional de Águas

CBDB Comitê Brasileiro de Barragens

CNRG Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CR Categoria de Risco

DPA Dano Potencial Associado

PAE Plano de Ação Emergencial

PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens

USACE U.S Army Corps of Engineers

MDT Modelo Digital do Terreno


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 11
2. OBJETIVOS .................................................................................................................................... 14
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................... 14
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 14
3. APORTE TEÓRICO ...................................................................................................................... 15
3.1 Barragens no Brasil e implicações legais .................................................................................... 15
3.2 Tipos de barragens ...................................................................................................................... 17
3.3 Segurança das Barragens ............................................................................................................. 19
3.4 Medidas de prevenção para rompimento de barragens ............................................................... 20
3.5 Simulação de rompimento com HEC-RAS ................................................................................. 21
3.6 Artigos analisados para composição do Referencial Teórico...................................................... 23
4. METODOLOGIA ........................................................................................................................... 26
4.1 Tipo de estudo ............................................................................................................................. 26
4.2 Objeto de Estudo ......................................................................................................................... 27
4.3 Área de Estudo - Descrição da Barragem Caldeirão no município de Piripiri-PI ....................... 27
4.4 Georreferenciamento das imagens .............................................................................................. 30
4.5 Procedimentos para coleta de dados............................................................................................ 33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................... 37
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 49
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 51
11

1. INTRODUÇÃO

As barragens configuram-se como grandes estruturas, usadas há mais de 6.000 anos


para diversas finalidades, pelo setor da construção civil. A principal função de uma barragem é
o armazenamento de água para consumo humano. O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB)
define-as como obstáculos que possuem alta capacidade para reter qualquer líquido, rejeitos ou
detritos, para fins de armazenamento ou controle, podendo variar de tamanho, sendo geralmente
usadas para fornecimento de água, geração de energia hidroelétrica, para controle de cheias,
para a irrigação, regularização de vazões, contenção de rejeitos, geração de energia elétrica,
turismo e psicultura.
As barragens representam soluções hidrográficas empregadas há muitos anos, por
civilizações antigas como: Babilônia, Índia, Egito e Pérsia, que já as utilizava como recurso
para armazenamento de água, sustento de fazendas e localidades urbanas em períodos de
estiagem. A primeira barragem registrada no mundo, data de 4800 a.C., no Egito, e no Brasil
a primeira barragem foi construída no século XVI em Recife.
O grande marco histórico, propulsor que impulsionou a construção dos primeiros
barramentos brasileiros, deve-se a seca devastadora que assolou a região Nordeste do país, no
ano de 1877, causada por fenômenos naturais. Atrelada a este fatídico episódio, no final da
década de 90, o Brasil, enfrentou uma grande crise no sistema energético, que culminou na
criação de parcerias público-privadas para a construção de centrais hidrelétricas, que tinham
como propósito solucionar a busca energética, e acompanhar o desenvolvimento e o
crescimento econômico do país (PEREIRA, et al., 2017).
As barragens representam atualmente obras hidráulicas fundamentais para a melhoria
da qualidade de vida da população, uma vez que representam uma fonte de água para consumo,
contribuem para o controle das cheias, são utilizadas na produção de energia e ainda para as
atividades industriais. Contudo estas obras necessitam de atenção e monitoramento constante,
pois estão sujeitas a rupturas ocasionadas por circunstâncias naturais, como: fenômenos
meteorológicos, terremotos, erosão interna, galagamento e deslizamento de encostas, e por
questões artificiais como: falha humana na operação dos equipamentos de operação e
segurança, degradação da estrutura ligada a fatores construtivos e/ou ausência de manutenção,
e ainda erros de projeto (LOPES JUNIOR, 2020).
No mundo todo as estruturas de engenharia podem estar sujeitas a falhas, situação não
obstante às barragens. Muitos acidentes ratificam o risco potencial associado às estruturas de
barramento, como por exemplo, os rompimentos que aconteceram em: Malpasset (1959), na
12

França, Vaiont (1963), na Itália, Teton (1976), nos Estados Unidos e Macchu II (1979), na
Índia, que somaram mais de 4.000 mil mortes (KÜHLAMP et a., 2016). Analisando o
rompimento de barragens que ocorreram no Brasil, destaca-se o rompimento ocorrido na
barragem de Algodões, localizada no rio Pirangi, no município de Cocal-PI, construída em
2001, que apresenta características semelhantes à barragem de Caldeirão, objeto de estudo da
presente pesquisa. O rompimento da barragem de Algodões ocorreu em 2007, no dia 27 de
maio, deixando 80 feridos, 11 mortos e atingindo uma área total de 50 km², ocasionada pela
onda de cheia.
A incidência de rompimentos evoca a necessidade de discussões sobre o perigo
potencial destas construções devido ao volume e as características do material armazenado. A
ruptura acarreta prejuízos ambientais e materiais, danos ao patrimônio público e privado, além
da perda da vida humana, principal dano causado por estes rompimentos. Objetivando
minimizar as chances de falha e rompimento, especificações cada vez mais restritivas vem
sendo aprovadas por meio de legislações, em todo o mundo.
Diversas ferramentas são utilizadas atualmente para investigação das possíveis
rupturas dessas estruturas, possibilitando o estudo e desenvolvimento de planos de prevenção
eficazes. Desse modo, o estudo de Dam-Break com auxílio de softwares visa analisar e dirimir
os impactos causados pelo rompimento de maciços e a avaliação dos riscos que esta pode causar
a vidas humanas e à economia de uma região. Estabelecendo parâmetros mínimos de segurança
para essas estruturas.
O estudo de Dam-Break visa mitigar os impactos causados pelo rompimento dessas
estruturas e poder avaliar os riscos que ela causa a vidas humanas e à economia de uma região.
É necessário que sejam estabelecidos parâmetros mínimos de segurança para essas estruturas.
Com a grande quantidade de alertas feitos nos últimos anos, foi escolhida com base na sua
grande importância, tanto em questões humanas e econômicas, além do fator risco a barragem
de Caldeirão, localizada no município de Piripiri-PI, cujo uma possível tragédia desse porte,
afetaria enormemente a todos da região.
A Lei federal, nº 12.334, promulgada no Brasil em setembro de 2010, estabelece a
Política Nacional de Segurança de Barragens – PNSB, que estabelece o desenvolvimento e a
aplicação de um sistema que tem como objetivo a classificação das barragens, de acordo com
o seu dano potencial. Em continuidade as ações para maior fiscalização e controle da execução
de barragens, em dezembro de 2015, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica,
publicou nova resolução normativa, sobre segurança das barragens voltadas para a geração de
energia elétrica.
13

A PNSB determina para as barragens classificadas como – dano potencial associado


alto, que seus empreendedores realizem uma análise das consequências adversas, tendo em vista
a possibilidade de ruptura, ou falha operacional da barragem, através da modelação de cheias
induzidas e do mapeamento das zonas de risco a jusante. Desta forma a presente pesquisa
apresenta como objetivo principal – gerar simulações hidrodinâmicas computacionais de
rompimento hipotético do maciço da Barragem de Caldeirão, no município de Piripiri-PI, e com
os resultados obtidos, determinar os hidrogramas de vazão a jusante da Barragem, mapa de
inundação e analisar o possível impacto causado nas imediações da barragem, bem como o
resgate de toda população ribeirinha.
O desenvolvimento deste estudo norteia-se através da investigação da influência e
incidência das chuvas sobre o maciço da barragem, tendo em vista as consequências que esta
pode causar; da identificação dos parâmetros influenciadores para a formação da brecha de
ruptura, tendo em vista as simulações e dados objetivos pelos hidrogramas de vazão a jusante,
e ainda da modelagem do nível de risco e comprometimento das populações ribeirinhas a
jusante do maciço, bem como mediante análise e proposição de soluções que possam mitigar
os impactos causados em decorrência de um possível rompimento.
A Metodologia empregada para a realização deste estudo, caracteriza-se pela análise
geométrica digital da superfície do canal e de todo o vale a jusante do maciço, bem como a
previsão do hidrograma de rompimento usando fórmulas empíricas para obtenção destes
diagramas e as vazões de pico (Qp). A vazão de pico, assim como as vazões para cada intervalo
de tempo foram calculadas, o que resultou no hidrograma de rompimento. Para uma melhor
análise dos dados encontrados foram realizadas várias comparações entre diferentes vazões de
pico, gerando diversos hidrogramas. A metodologia proposta para se chegar no hidrograma
usado na simulação, baseou-se no ajuste da vazão de pico Qp, para que a área do hidrograma
ficasse igual ao volume do reservatório, admitindo um tempo de pico (Tp) pre- estabelecido e
determinado a remoção instantânea do barramento.
14

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

A presente pesquisa tem por objetivo geral simular computacionalmente o rompimento


hipotético da barragem de Caldeirão no município de Piripiri-PI.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Definir o hidrograma de cheia, baseado nos autores pesquisados e nos dados da


barragem de Caldeirão, objeto de estudo da presente pesquisa;
 Simular o avanço da onda de cheia hipotética da ruptura da barragem, com a utilização
de programas computacionais;
 Verificar a área de inundação gerada;
 Analisar o impacto causado nas imediações do canal à jusante da barragem, e através
de resultados gráficos como hidrogramas de vazão a jusante da barragem e mapa de
inundação;
 Investigar a influência que as equações empíricas de parâmetros definidores da
formação de brechas sobre o hidrograma de vazão imediatamente a jusante da barragem;
 Identificar o nível de risco que o rompimento da barragem causa às vidas humanas e
edificações próximas ao canal a jusante da barragem.
15

3. APORTE TEÓRICO

3.1 Barragens no Brasil e implicações legais

A humanidade ao longo da história tem encontrado nas barragens inúmeros benefícios


que possibilitaram o desenvolvimento econômico e agrícola de vários países. As barragens
apresentam inúmeras finalidades, desde a geração de energia elétrica, armazenamento de
rejeitos minerais e industriais, bem como o controle de cheias, abastecimento de água, irrigação,
entre outros aspectos, que variam mediante o objetivo a qual se destinam (ROCHA, 2015).
Encontram-se evidências históricas de que as barragens juntamente com seus
reservatórios, correspondem a uma das construções mais antigas elaboradas pelo homem.
Babilônia, Egito, Pérsia e Índia, por exemplo, já utilizavam essa estrutura para armazenar água,
para o consumo e irrigação durante os prolongados períodos de seca (JANSEN, 1983 apud
KÜHLAMP et al., 2016). No Brasil a construção de barragens teve início em 1877, após uma
seca catastrófica enfrentada na região Nordeste do país (CDBD, 1982).
Barragem, de acordo com a Legislação Brasileira é definida como “qualquer estrutura
em um curso permanente ou temporário de água para fins de contenção ou acumulação de
substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as
estruturas associadas” (BRASIL, 2010). A primeira barragem de que se tem registros construída
no Brasil, localiza-se na cidade de Recife (PE), atualmente conhecida como Açude Apipucos,
datada no século XVI, devido à sua impressão em um mapa de 1577 (CBDB, 2011 apud
KÜHLAMP et al., 2016).
O Brasil, no final da década de 90 (noventa), em decorrência de uma crise enfrentada
pelo setor energético acompanhou a construção de várias centrais hidroelétricas, oriundas de
parcerias provenientes de empresas públicas e privadas, que contribuíram para o surgimento de
um conjunto importante de barragens. O aumento exponencial dessas construções viabilizara
estudos no tocante ao impacto natural que as barragens causam ao meio ambiente, tendo em
vista a sustentabilidade desses empreendimentos, além de viabilizarem uma análise quanto aos
potenciais danos provenientes da ruptura das mesmas (PEREIRA et al., 2017).
Historicamente falhas nas estruturas de barragens culminaram em catástrofes que
afetaram a população, propriedades, bens e materiais, devido ao, conforme explica Neto (2016)
apud Santos (2019, p. 300) “aumento significativo da vazão, velocidade e profundidade do
escoamento ao longo da planície de inundação”.
No Brasil, para evitar problemas estruturais nas barragens e garantir a segurança desses
16

empreendimentos, em 20 de setembro de 2010, instituiu-se a Lei 12.334 que estabelece a


Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), dando surgimento ao Plano de Ação
Emergencial (PAE), que deve ser elaborado obrigatoriamente para todas as barragens que
possuem um índice elevado de Dano Potencial Associado (DPA) (BRASIL, 2010).
As barragens contempladas pela Lei nº 12.334, devem apresentar uma das
características descritas a seguir: a) reservatório com capacidade maior ou igual a 3.000.000
m³; b) maciço com altura maior ou igual a 15 m, devendo este ser medido da crista ao ponto
mais baixo da fundação; c) armazenamento de resíduos perigosos; d) DPA de categoria médio
ou alto, analisando o risco potencial de perda de vidas humanas, tendo em vista fatores
ambientais, econômicos e sociais (BRASIL, 2010).
A PNSB estabelece um sistema de classificação de barragens destinadas à disposição
de rejeitos, acumulação de resíduos industriais e acumulação de água, sendo estes
posteriormente detalhados, através do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
observando “as categorias de risco, dano potencial associado e volume do reservatório”
(PEREIRA et al., 2017, p. 76), definidos na Resolução nº 143, promulgada em 10 de julho de
2012 (CNRH, 2012).
O presente documento quando classifica uma barragem com alto potencial de dano,
“força os empreendedores a avaliar as consequências adversas no caso de ruptura da barragem,
aspecto que obriga à modelação de cheias induzidas e ao mapeamento das zonas de risco a
jusante” (PEREIRA et al., 2017, p. 76).
A elaboração do Plano de Ação Emergencial (PAE) é realizada mediante modelagem
hidrodinâmica da onda de cheia, obtida através do cálculo do rompimento hipotético da
barragem em estudo e posterior delimitação das áreas no entorno do vale que poderão ser
inundadas, situadas à jusante da barragem (ANA, 2016). A compilação de informações e a
regulamentação de ações que contribuam para o gerenciamento da segurança das barragens
construídas pelos governos, conforme determinação da PNSB, atribui ao órgão fiscalizador a
responsabilidade de exigir do empreendedor o cumprimento das recomendações e protocolos
de segurança, de informar a ANA toda e qualquer inconformidade inerente ao risco à segurança
do empreendimento, e ainda, de preencher e manter atualizado o cadastro das barragens,
conforme a situação atual.
A execução do Plano de Ação Emergencial (PAE) baseia-se no levantamento das
regiões que foram afetadas pelas ondas de inundação em função do intervalo de tempo entre a
hora de rompimento da barragem e a chegada da onda nas regiões afetadas. Deste modo o
objetivo do PAE concentra-se em elencar uma série de estratégias que minimizem os riscos à
17

vida, bem como possa dirimir o impacto ao patrimônio (KÜHLAMP et al., 2016).

3.2 Tipos de barragens

Existem diversos tipos de barragens, que se distinguem conforme o material


empregado na sua construção e a finalidade para o qual foi projetada. Os tipos mais usuais no
Brasil são barragem de terra, de enrocamento com face de concreto, barragem de concreto,
gravidade aliviada, arco contraforte.
Nessa perspectiva, as barragens de terra representam cerca de 75% das barragens em
todo o mundo, devido principalmente o seu baixo custo, já que os materiais necessários para a
sua construção são aqueles disponibilizados na natureza. Ademais, podem ser utilizados
diversos tipos de fundação para a sua construção o que confere versatilidade no projeto de
execução desse tipo de obra (DE MELO, 2014).
As barragens de enrocamento com face de concreto, por usa vez, caracterizam-se por
enrocamento e placas de concreto sobre o talude de montante. Entre as vantagens da construção
desse tipo de barragem está a rapidez na execução independendo do clima, proporciona menores
volumes de material e maior altura do maciço.
Em relação as barragens de concreto, esta é documentada desde 1887 com a execução
da barragem de San Mateo nos Estados Unidos. Esse tipo de maciço é composto principalmente
por concreto simples, convencional ou compactado, ou ainda, concreto armado. No mundo
houve um crescente aumento no número de barragens desse tipo entre os anos de 1996 e 2002
com 251 construídas e mais 34 em execução em 35 países (WENDLER, 2010).
E como alternativa a barragem de gravidade maciça está a barragem de gravidade
aliviada, com vantagens quanto economia no volume e diminuição das áreas sobre as quais
pode agir a subpressão e a pressão intersticial. Além dessas as barragens de arco também
demonstram ser excelentes alternativas, tendo em vista que fazem uso de menor quantidades de
concreto em comparação com as demais, sendo permitido fundações com baixa qualidade já
que a menor parte da carga é efetivamente transferida a fundação. Por último as barragens de
contraforte, estas já não são muito utilizadas no Brasil em razão dos tipos de gravidade aliviados
(GOUVEIA, 2020).
18

Figura 1: Tipos de barragens de acordo com o material empregado.

Fonte: HICKMANN, 2016.

Apesar da diversidade de barragens no nosso país, inúmeros são os problemas que


estas podem acarretar, seja para o meio social, ambiental e até mesmo econômico.
Apresentando riscos de ruptura, podendo estes ocorrer de forma súbita ou gradual. As barragens
de concreto, por exemplo, podem apresentar rupturas por deslizamento ou galgamento,
ocasionadas por uma falha súbita, ou instantânea, que ocorre em um pequeno intervalo de
tempo, provocando a remoção de uma grande porção do maciço da barragem. Existe também a
falha gradual, mais comum em barragens de terra, onde o rompimento acontece de forma mais
lenta, como sugere a própria nomenclatura deste tipo de ruptura, podendo demorar algumas
horas para que a brecha alcance o estágio final de abertura (VISHER, 1997 apud KÜHLAMP
et al., 2016).
Portanto, é necessário o desenvolvimento de planos que possam superar
os problemas que esses maciços possam ocasionar, seja no momento da
execução, ou mesmo para prevenção de catástrofes. Desta forma torna-se necessário calcular e
analisar essas prováveis situações de rompimento, apresentando hidrogramas com a variação
da vazão e da cota com o tempo e, ainda o mapa de inundação causado pelo seu rompimento.
19

3.3 Segurança das Barragens

As estruturas de engenharia estão sujeitas a falha, quer seja por erro de projeção,
dimensionamento, execução ou operação. Deste modo as barragens ao longo do tempo podem
apresentar problemas associados às estruturas do barramento, que culminaram em acidentes,
com risco potencial para as regiões alagadas. Ao longo da história ocorreram inúmeros
acidentes trágicos em barragens, como por exemplo, a de Malpasset (1959), na França, Vaiont
(1963), na Itália, Teton (1976), nos Estados Unidos e Macchu II (1979), na Índia. Os locais
supracitados totalizaram mais de 4.000 mil mortes e danos incalculáveis ao patrimônio público
e privado (KÜHLAMP et al., 2016).
Na metade do século XX, após constatação da capacidade destrutiva das barragens,
mediante uma eventual ruptura, que libera em segundos uma quantidade exorbitante de água,
no lado à jusante do maciço, formando uma onda de inundação, capaz de causar danos
irreversíveis à população existente na região, passou-se a analisar com mais atenção o tema
sobre segurança de barragens. A tabela 02 a seguir, mostra os quatro maiores acidentes
envolvendo barragens no período de 1959 a 1979 (KÜHLAMP et al., 2016).

Tabela 1 – Quatro maiores desastres envolvendo barragens entre 1959 e 1979.


Tipo, altura (m)
Barragem
(ano de Evento
(ano de ocorrência)
construção)
-Problema de fundação e falta de
suporte lateral do pilar; colapso total
Malpasset (1959) Arch, 61 m (1954)
(421 mortes).

-Deslizamento da encosta do
reservatório, despejando 200 x 106 de
material dentro do reservatório;
A onda gerada ultrapassou a crista da
Reservatório de Vaiont Arch, 262 m
barragem em 110 m; A barragem ficou
(1963) (1960)
intacta após o evento, porém a onda
gerada foi capaz de devastar vilarejos a
jusante (c. 2000 mortes).

-Erosão interna ocasionada por um corte


Barragem de terra, em trincheira mal projetado; Ruína total
Teton (1976) 93 da estrutura (11 mortos e prejuízo de
(em construção) 500 milhões de dólares).

Barragem de terra -Cheia catastrófica; mau funcionamento


Macchu II (1979) e de da comporta; Galgamento da barragem
gravidade 26 m que não resistiu e foi completamente
20

(1972) erodida (estima-se 2000 mortos).


Fonte: KÜHLAMP et al., 2016, adaptado NOVAK, 1990.

Brunner (2014) determina uma lista de eventos ligados diretamente ao rompimento de


barragens, composta por 11 itens, a saber: cheias, piping, escorregamento, abalos sísmicos,
falhas de fundação, falha na operação das comportas, problemas estruturais, ruptura de uma
barragem à montante, esvaziamento rápido do reservatório, sabotagem e remoção planejada do
barramento. O supracitado autor, em seus estudos, relacionou os prováveis tipos de falhas que
comumente ocorrem de acordo com o tipo de barragem, conforme observa-se na tabela a seguir.

Tabela 2 – Possibilidade de falha dos diferentes tipos de barragens.


Barragem
Barragem Barragem Barragem
Barragem de com
Tipo de Falha de em com
Terra/Enrocamento múltiplos
gravidade arco contraforte
Arcos
Galgamento X X X X X
Piping X X X X X
Problemas de
X X X X X
fundação
Deslizamento X X X
Tombamento X X
Cracking X X X X X
Falha de
X X X X X
equipamento
Fonte: KÜHLAMP et al., 2016, adaptado BRUNNER, 2014.

No período entre 2014 e 2016, três barragens brasileiras romperam, provocando danos
inestimáveis às regiões afetadas, objetivando minimizar as falhas e, por conseguinte evitar
novos rompimentos, as Instituições Regulamentadoras e Legislações que normatizam este
setor, tem se empenhado para estabelecer diretrizes e especificações cada vez mais rigorosas
que possam garantir a segurança desses empreendimentos (ROCHA, 2015).

3.4 Medidas de prevenção para rompimento de barragens

O nosso país em menos de 10 anos presenciou duas tragédias relacionadas ao


rompimento de barragens, a de Mariana em 2015 e a da Mina do Córrego do Feijão em
Brumadinho em 2019. Tais fatos demonstram a importância de se elaborar planos e medidas
preventivas capazes de evitar esse tipo de acontecimento (LOPES, MORAES, BARBIERI
2016).
21

Atualmente sabe-se que é proibido barragens de alteamento a montante, porém ainda


é registrado dezenas dessas em todo o país com alto risco associado. Além disso, medidas vêm
sendo tomadas a respeito de tornar públicas todas as pesquisas relacionadas ao risco de
rompimento das barragens, tonando assim esse assunto acessível a toda população. Eugenio
Singer (2019) acrescenta que, faz-se necessário a instalação e o monitoramento periódico de
acelerômetros, inclinômetros, radares, piezômetros e satélites, além da realização dos
monitoramentos tradicionais, comumente realizados, para um melhor acompanhamento da
evolução de possíveis problemas que o maciço da barragem possa apresentar. O supracitado
autor reforça ainda, que a equipe de fiscalização e acompanhamento da barragem deve de
acordo com as suas dimensões, apresentar um número maior de engenheiros e geólogos
geotécnicos, de modo semelhante ao observado na medicina do trabalho para atuarem de forma
mais efetiva no manejo de controle de danos da barragem.
Ademais, podem ser incluídos estudos e diretrizes internacionais, tais como pesquisas
sismológicas para o rastreamento de possíveis tremores e movimentos terrestres que possam
afetar a estrutura do maciço. Quanto ao monitoramento, medidas também devem ser adotadas
como a utilização de laser e fotogramas. De acordo com Singer (2019) “São tecnologias que
ajudam na identificação de pequenas mudanças na conformação da barragem, no nível de água
e na pressão total”.
Uma ferramenta bastante empregada atualmente é a simulação de rompimento dessas
barragens, avaliando todo o fluxo do liquido e os possíveis danos. Dentre os softwares utilizados
está o HEC-RAS com análises que possibilita a simulação unidimensional do escoamento em
canais abertos, sob o regime permanente e não permanente, e também na condição de fundo
móvel (transporte de sedimentos) o estudo de barragens específicas, tornando-se assim mais
uma ferramenta na prevenção desse tipo de catástrofe. Portanto, é imprescindível a
implementação de uma gestão de riscos eficaz, considerando a probabilidade de ocorrência e a
gravidade de suas consequências.

3.5 Simulação de rompimento com HEC-RAS

O HEC-RAS configura-se como um software para simulação de modelo


hidrodinâmico, desenvolvido pelo U.S Army Corps of Engineers (USACE), que viabiliza, “a
simulação hidráulica de fluxo, para regimes permanente e não permanente, transporte de
sedimento, computação de leito móvel, modelagem da temperatura e qualidade d’água,
transporte e destino de nutrientes e rompimento de barragens” (SANTOS, 2019, p. 301).
22

O software pode ser obtido gratuitamente, apresentando layout simplificado, podendo


ser instalado no sistema Windows, viabilizando o acesso e a integração com plataformas
externas e no seu pacote encontra-se o aplicativo HEC-GeoRas, “que permite importar
informações geométricas de software de SIG, para simulação e retorno de resultados, de modo
a viabilizar a elaboração de mapas de inundação e de risco” (SANTOS, 2019, p. 301).
Neto (2016) explica que para a realização da análise e processamento dos dados
matemáticos, o software HEC-RAS, utiliza uma malha computacional, composta por células
em formatos de triângulo, quadrado, retângulo, ou polígonos de 05 até 08 faces. O programa
analisa o movimento e a direção do escoamento entre as células, conforme o perfil encontrado
entre as faces das células, tomando como referência os detalhes do terreno em estudo.
O software HEC-RAS encontra-se disponível para a comunidade técnica e científica,
constituindo-se como o exemplo mais difundindo em termos internacionais para análise da onda
de cheia oriunda do processo de rupturas de barragem. Através deste modelo é possível

[...] calcular e apresentar graficamente as curvas de regolfo de escoamentos


unidimensionais, em regime permanente, lento ou rápido, e em regime
variável. Baseia-se na solução da equação unidimensional da conservação da
energia. As versões mais recentes do modelo HEC-RAS incluem algoritmos
para modelar rupturas de barragens que consideram o alargamento da brecha
ao longo do tempo (PEREIRA et al., 2017, p. 77).

Os cálculos de escoamento são realizados através das equações de Saint-Venant,


analisando como variáveis os princípios de conservação da massa e a quantidade de movimento,
conforme as equações seguir, em que t refere-se a tempo em s; x é relativo a direção do
escoamento em m; u representa a velocidade média do escoamento em m/s; g significa a
aceleração da gravidade em m/s², h representa a espessura da lâmina líquida em m; S0 remete-
se a declividade da calha do canal em m/m e finalmente temos Sf que refere-se a média da
declividade da linha de energia em m/m (KÜHLAMP et al., 2016).

a) Conservação da Massa –
23

b) Conservação da Quantidade de Movimento –

KÜHLAMP (et al., 2016, p. 35) determina os parâmetros essenciais para a elaboração
de um estudo hipotético de rompimento de barragem, utilizando o software HEC-RAS. Sendo
estes a a condição de contorno de montante (hidrograma de montante); a condição de contorno
de jusante (inclinação a jusante, cotagrama ou curva de descarga); as seções transversais ao
longo do eixo do rio (seções topobatimétricas); a estruturas hidráulicas e suas características
(barragens, pontes, diques) e os coeficientes de rugosidade da superfície (número de Manning).
Dessa forma, o software é uma ferramenta eficaz na simulação do rompimento de barragens,
evidenciando faixas de inundações e os danos associados. Dessa forma, o software é uma
ferramenta eficaz na simulação do rompimento de barragens, evidenciando faixas de
inundações e os danos associados.

3.6 Artigos analisados para composição do Referencial Teórico

Após uma análise geral dos artigos encontrados, foram descartados aqueles que não
estabeleciam ligação direta com os objetivos da presente pesquisa, os que foram publicados
antes de 2015, e aqueles que não detalhavam a metodologia de estudos utilizada para
apresentação dos resultados. Ao final da pesquisa foram selecionados e incluídos no estudo para
análise e discussão um total de sete trabalhos acadêmicos que contribuíram para a composição
do referencial teórico do presente trabalho e nortearam os caminhos adotados para a construção
deste estudo.
A tabela-03 apresenta de forma simplificada os dados mais relevantes, à cerca do
conteúdo abordado para composição deste referencial teórico, de acordo com cada um dos
trabalhos acadêmicos analisados, destacando de forma resumida o autor/ano das publicações, o
tipo de estudo, o objetivo norteador da pesquisa realizada e os resultados encontrados pelos
autores, com ênfase na comprovação da importância deste tipo de estudo para mensurar os
impactos provocados pelo consequente colapso de uma barragem.
24

Tabela 3 – Principais estudos pesquisados que analisaram o rompimento hipotético de uma barragem
AUTOR/ ESTUDO/
OBJETIVO RESULTADOS
ANO AMOSTRA
Apresentar um modelo
Verificou-se que os resultados
simplificado para estimar a
obtidos em termos das áreas de
área inundada por cheias
inundação são idênticos, contudo,
geradas pela ruptura de
o amortecimento da onda de cheia
Estudo de caso barragens e uma proposta de
ocorre de maneira menos
PEREIRA et com simulação melhoria deste modelo
acentuada do que na formulação
al., 2017 utilizando simplifcado pela introdução
inicialmente utilizada. O artigo faz
software de uma rotina de cálculo para
ainda uma comparação dos
modelação do
resultados obtidos pelos dois
amortecimento de cheias
modelos simplificados e o modelo
baseada no método de
HEC-RAS.
Muskingum-Cunge.
Estudo de caso Avaliar a aplicabilidade de Os resultados sugerem que a
pautado em métodos e critérios topografia pode ser o principal
ROCHA, 2015
revisão de geralmente adotados em fator de influência na previsão da
literatura estudos de ruptura mancha de inundação.
Avaliar o comportamento da
onda de cheia ao longo do Os resultados encontrados, apesar
vale de jusante da barragem do caráter preliminar do estudo,
SANTOS, de Jatunaíba, bem como o podem auxiliar na composição de
Estudo de caso
2019 alcance da mancha de cenários e servir como ponto de
inundação e da profundidade partida para a elaboração do Plano
e velocidade máximas da de Ação Emergencial da barragem.
lâmina d’água.
Ao longo do desenvolvimento do
estudo foram simulados, através de
um modelo hidrodinâmico
Entender o impacto do elaborado no software HEC-RAS,
rompimento de uma das três cenários hidrológicos
KÜHLKAMP, barragens do rio Irani nas diferentes. A elaboração do
Estudo de caso
2016 outras estruturas de modelo contou com seções
barramento existentes no topobatimétricas, níveis de água
mesmo rio. aferidos em campo, modelo digital
do terreno e características das
pontes e barramentos existentes
no curso do rio.
Examinar a causa do
Os resultados apontam a extensão
rompimento da barragem de
do fluxo de lama do HEC-RAS e
Brumadinho e comparar as
a simulação corresponde à atual
observações com simulações
RAMAN; LIU, inundação devido ao rompimento
de modelo: HEC-RAS,
2019 da barragem. Esta técnica de
desenvolvido pelo US Army
simulação pode mais tarde ser
Corps of Engenheiros, para
usada para futuras previsões de
prevenir que uma tragédia
colapso de barragens.
semelhante se repita.
25

Os resultados obtidos com a


metodologia aplicada servem de
apoio na mitigação dos efeitos
Definir e comparar a mancha de resultantes da ruptura de uma
inundação em decorrência da barragem, principalmente no que diz
LOPES ruptura de uma barragem respeito à classificação do
Estudo de caso
JÚNIOR, 2020 por meio de modelagens empreendimento quanto ao Dano
unidimensionais dinâmica e Potencial Associado e na elaboração
estática. do Plano de Ação Emergencial,
instrumentos da Lei 12.334/10 que
estabelece a Política Nacional de
Segurança de Barragens.
Simular as ondas de cheia
induzidas pela barragem de
Os resultados apontam a onda de
Peti, em São Gonçalo do Rio
cheia que ocasionaria o rompimento
Abaixo-MG. Já os objetivos
hipotético de Peti pela formação da
específicos foram: analisar a área
brecha por meio do programa
de uso e ocupação do solo a
computacional HEC-RAS, definindo
AMARAL, montante da barragem; definir o
Estudo de caso a área atingida a jusante. As
2017 hidrograma de cheia e simular o
consequências do rompimento
avanço da onda de cheia
simulado foram: impactos
hipotética da ruptura da
socioeconômicos e a perda de vidas
barragem, com a utilização de
humanas, atingindo cerca de 30 mil
programas computacionais;
pessoas.
verificar a área de inundação
gerada.
FONTE: "Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada".
26

4. METODOLOGIA

A atual pesquisa compreende a uma revisão sistemática quanti-qualitativa que busca


compreender a utilização do software HEC-RAS na simulação do rompimento de barragens,
analisando a simulação do rompimento hipotético da barragem de Caldeirão, localizada ao norte
do estado do Piauí.

4.1 Tipo de estudo

A presente pesquisa, trata-se de um estudo de caso, voltado para a avaliação da ruptura


de barragens com o uso da ferramenta Hec-Ras, que proporciona a modelagem hidrodinâmica
do rio e da barragem, e ainda com uso do GIS associado a essa ferramenta pode-se obter
informações das consequências oriundas de uma possível ruptura, podendo assim criar ações
de mitigação.
O Hec-Ras é um programa do pacote da HEC, que faz parte de um sistema integrado
de análises hidráulicos onde o usuário interage com o sistema usando uma interface gráfica.
Esse sistema é capaz de trabalhar em regime permanente, análise unidimensional e
bidimensional de regime não permanente, transporte de sedimentos e qualidade da água
(BRUNNER, 2014). A modelagem no Hec-Ras consistiu na configuração da geometria (seção
da barragem e do reservatório), do regime não permanente e o plano de simulação do sistema.
A modelagem inicial para o estudo e posterior analise dos resultados foi feita com uso
do HEC- GeoRAS, que é uma interface do Hec-Ras no ArcGis, e consequentemente exportação
para o Hec-Ras, porém o modelo digital do terreno não foi condizente com a realidade e, por
tanto utilizou-se a ferramenta RAS Mapper, o qual trouxe um MDT com maior qualidade nas
elevações. Essa ferramenta consiste em um sistema de informação geográfica do próprio Hec-
Ras, que permite a modelagem hidrodinâmica de sistemas, a digitalização de redes de rio,
seções transversais e, a análise de estação de dados do terreno de um modelo digital de elevação.
Este sistema é equivalente a outros sistemas de informações geográficas como QGis ou ArcGis,
contudo, o RAS Mapper possui ferramentas especializadas para o software Hec-Ras, que
viabilizaram uma melhor modelagem da superfície digital, e consequente obtenção dos
resultados.
Os resultados encontrados estão dispostos em quadros com os dados de entrada dos
cálculos e demais dados dos autores pesquisados, tabelas elaboradas em excel, e imagens que
apresentam os gráficos dos hidrograma e imagens via satélite utilizadas para composição desta
27

pesquisa.
4.2 Objeto de Estudo
O objeto de estudo da presente pesquisa é a Barragem Caldeirão, construída sobre o
rio de igual nome, que é um afluente do rio Matos e engloba o sistema hidrográfico do rio
Parnaíba. A construção do barramento culminou no surgimento do açude Caldeirão, que ao
passar dos anos, tornou-se um ponto turístico na região. A barragem está localizada a 9 km do
centro do município de Piripiri, em um povoado chamado Lagoa, ao norte do estado do Piauí,
distando apenas 165 km da capital – Teresina. O açude ocupa uma área de mais ou menos 1 mil
hectares e conta com uma capacidade de mais de 54 milhões de metros cúbicos de água.

Figura 2: Barragem Caldeirão

FONTE:www.oitomeia.com.br/colunas/no-fluxo/2019/02/09/barragem-do-acude-caldeirao/

4.3 Área de Estudo - Descrição da Barragem Caldeirão no município de Piripiri-PI

Os dados apresentados no presente trabalho, referente à barragem em estudo


encontram-se no site do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). A
barragem do Açude Caldeirão localiza-se no município de Piripiri, estado do Piauí, a cerca de
180 km da capital do estado - Teresina-PI. Conforme dados do IBGE de 2019, a cidade de
Piripiri possui uma população estimada em 63.742 habitantes, estando a uma altitude de 170
metros e tendo uma área total de 1.409 km².
O acesso à barragem pode ser feito a partir de Teresina pela BR-343, e por Fortaleza,
pela BR-222 até a localidade de Piripiri, onde se situa a barragem. O Açude Caldeirão tem como
28

finalidade básica a regularização do rio de mesmo nome, garantindo a irrigação das férteis
várzeas da região, que devido ao potencial de armazenamento da barragem torna habitável a
região que outrora antes da sua construção não era possível devido aos períodos prolongados
de seca, tal como se verificou em 1900, 1908, 1915, 1919, 1927 e 1932.
Os trabalhos de construção foram iniciados em 01 de abril de 1937 e concluídos em
meados de 1945, por administração direta do DNOCS. Durante a execução da obra, problemas
não determinados levaram à modificação do projeto. Além da introdução dos muros de concreto
referidos no item Arranjo Geral, foi adotada uma seção com enrocamento a jusante a partir da
berma situada na cota 94,00, revestida com pedra argamassadas, eliminando-se as manilhas
anteriormente existentes abaixo da referida berma, sendo os demais detalhes construtivos
preservados.
A barragem compreende uma área drenada na bacia hidrográfica do rio Caldeirão que
corresponde a 220 km², com um volume acumulado no reservatório de 54.600.000 m³,
regularizando uma vazão de 2,16 m³/s. A capacidade de irrigação do reservatório é de 1.400 ha
em anos de pluviosidade média e de cerca de 700 ha em anos secos.
Os estudos do Açude Caldeirão, considerando os trabalhos de campo e escritório,
foram elaborados pela Comissão do Piauí, no período de agosto de 1933 a julho de 1936,
quando foi iniciada a elaboração dos desenhos do Projeto Executivo, concluídos por volta de
julho de 1937, pela Seção Técnica da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS),
antiga denominação do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).
A bacia hidrográfica localiza-se entre os postos de Piripiri e Pedro Il. Calculou-se
através da média precipitada nestes postos, a chuva média, sendo observadas as precipitações
que ocorreram por um período de 22 anos de observação. A seguir, admitiu-se como válido um
coeficiente de escoamento correspondente a 20% da chuva precipitada e calculado o volume
afluente na bacia. O volume armazenável foi obtido considerando-se, para as perdas por
evaporação ano a ano, valores baseados em observações levadas a efeito no Açude Cedro e as
possibilidades de acumulação estabelecidas topograficamente pela bacia hidráulica.
A barragem Caldeirão, com altura máxima de 22 m, é constituída de um maciço de
terra com enrocamento a jusante, a partir da berma situada na cota 94,00, revestido com pedra
argamassadas. Durante a construção foi incorporada uma cortina de concreto armado 15,00 m
a montante do eixo da barragem, engastada de 1,5 m a 2 m na rocha, entre as estacas 49 e 61
(trecho da ombreira esquerda até a cota do terreno natural em torno de l 00,00), portanto, com
120 m de comprimento. No trecho restante, e no mesmo alinhamento, previu-se a execução de
um muro de chicana de cerca de 2 m de altura, mais um engaste de 0,70 m em rocha. A união
29

entre a cortina e o muro da chicana é feita através do engastamento de 1m.


A barragem Caldeirão está assente em grande parte sobre rocha e contém um "cut-off"
de alvenaria argamassada, destinado a evitar possíveis infiltrações no contato entre o maciço e
a rocha de fundação. O material sílico-argiloso utilizado no maciço da barragem foi proveniente
de jazida localizada na ombreira esquerda da mesma.
A disposição geral das estruturas inclui a barragem de terra fechando o vale, com 746
m de comprimento de crista, o vertedouro situado na ombreira direita, imediatamente após o
final da barragem, e a tomada d'água em torre, cujo conduto se situa sob a barragem, na
ombreira esquerda, conforme observa-se na figura 1.

Figura 3: CURVAS COTA x ÁREA x VOLUME – Barragem Caldeirão

FONTE: DNOCS

A cheia máxima é determinada utilizando a fórmula de Ryves. Os parâmetros


principais foram determinados, obtendo-se os valores indicados na tabela 1, conforme observa-
se na figura 2.

Tabela 4: Características hidrológicas da Barragem Caldeirão


DESCRIÇÃO TOTAL
Área da bacia 220 km²
Comprimento do talvegue 36 km
Pluviometria média anual 1.500 mm
Coeficiente de escoamento 20%
Volume afluente 54 x 106 m³
Cheia máxima 195 m³/s
FONTE: DNOCS
30

Figura 4: Cheia Máxima

FONTE: DNOCS

A ampliação do Açude Público Caldeirão, atualmente com o Projeto Executivo


concluído, possibilitará a elevação da capacidade do reservatório dos 54,6 x 106m³ atuais para
190 x l06m³, constituindo-se, assim, na principal fonte hídrica da região, para a perenização do
curso d'água principal, para o abastecimento d'água da cidade de Piripiri e para a implantação
do Projeto de Irrigação de Piripiri, com uma superfície total irrigável de aproximadamente
3.000 ha.

4.4 Georreferenciamento das imagens

Foram usadas imagens do tipo SRTM, disponibilizadas de forma gratuita no Catalogo


do INPE (http://www.dgi.inpe.br/catalogo/). Para a escolha das imagens, determinou-se o tipo
de satélite, o sensor, o nível de tratamento das imagens, conforme descrição abaixo, a ainda
foram estabelecidas a data de início da pesquisa das imagens e o percentual de nuvens.
 Satélite escolhido: CBERS-4 (satélite de parceria BRASIL-CHINA)
 Instrumento: MUX (http://www.cbers.inpe.br/sobre/cameras/cbers3-4.php)
 Nível de tratamento: 4 (NIVEL MAIS TRATADO) – trata-se de imagem CBERS
nível 3 refinada pelo uso de modelo digital de elevação, e compatível com
aplicações que requerem uma modelagem cartográfica acurada em qualquer tipo
de terreno.
(http://www.dgi.inpe.br/Suporte/files/politica_de_dados_cbers_v.1.4_PT.htm)
31

O período estipulado para a escolha da imagem, corresponde aos dias: 01/01/2020 a


01/10/2020. A data da imagem escolhida foi 29/08/2020. Foi escolhida uma cobertura de 10%
de nuvens em todos os quadrantes da imagem escolhida e determinado o país, estado e
município, da referida imagem. As informações da imagem escolhida encontram-se descritas,
a seguir:
CBERS4-MUX 154/105 2020-08-29
Data:2020-08-29 Hora:13:04:00
Satélite: CBERS-4 Sensor: MUX
Nível: 4 (Com aplicação de Modelo Numérico de Elevação do Terreno).

Após refinamento da busca o site apresenta todas as imagens que envolvem o sensor
escolhido pra o intervalo de datas e considerando a quantidade de nuvens. As imagens são
gratuitas, conforme a política de dados. Cada imagem baixada possui diversas BANDAS que
correspondem a um intervalo do espectro eletromagnético, com isso consegue-se fazer
composições coloridas, reprojetar as imagens, fazer recortes e por fim trabalhar em cima delas,
conforme a finalidade desejada.

Figura 5: Imagem do site do INPE na escolha do satélite e coleta de imagens

Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada”

A figura – 6 apresenta a imagem com melhor qualidade nas elevações e, por isso foi
escolhida para compor o presente estudo. A MDT consiste em um modelo geométrico de
32

referência utilizado para propagar a cheia gerada pela ruptura da barragem.

Figura 6: Imagem satélite geral com área de interesse que será gerada a MDT

Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada”

A figura – 7 apresenta imagens com Bandas espectrais distintas, para efeito


comparativo.

Figura 7: Imagens de satélite com bandas espectrais distintas

Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada”


A figura 8 mostra a conversão realizada no RAS Mapper que transforma a imagem do
33

tipo - .tif em uma imagem de formato - .hdf, que é melhor preparada para as visualizações que
serão feitas no software.

Figura 8: Processamento de conversão da imagem

Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada”

A imagem a seguir, gerada por satélite, representa a topografia local da área em que
encontra-se o objeto de estudo da presente pesquisa, a MDT – Modelo Digital do Terreno –
representando a imagem em 3D que foi utilizada para gerar a mancha da superfície.

Figura 9: Resultado da imagem processada

Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada”


4.5 Procedimentos para coleta de dados
34

Ferreira e Andrzejewski (2015) apresentam três mecanismos básicos para análise de


rompimento de barragem, a saber: análise comparativa de casos similares, o uso de equações
empíricas, e o uso de um modelo de rompimento com embasamento físico, para a realização
da presente pesquisa, utilizou-se o método de equações empíricas para calcular as dimensões
de brecha e a vazão de pico, analisando diversos autores que estimam parâmetros, com base
em estatísticas históricas. A imagem, a seguir, contempla algumas dessas equações.

FIGURA 10: Equações empíricas para vazão de pico

FONTE: Adaptado de COSTA (1985) e WAHL (1998).


35

Realizou-se o cálculo da vazão de pico, pois esta é uma variável utilizada para calcular
a vazão em função do tempo, que são fundamentais para traçar os hidrogramas. O hidrograma
correto que de fato, representa a barragem em estudo, deverá ter sua área de gráfico, igual ou
de valor aproximado ao volume do reservatório. Após essa análise, observou-se o tamanho da
brecha, que varia de acordo com o tipo de barragem, na presente pesquisa, trata-se de uma
barragem de terra, com enrocamento, bem como o tempo de abertura da brecha. O tempo médio
apresentado na Figura 11 (que traz a percepção de diversos autores,) é de 0,82h. Para os cálculos
desta investigação, adotou-se este valor de 0,5h.

FIGURA 11 – Resultados obtidos por Ferreira e Andrzejewski (2015) através de equações empíricas

FONTE: FERREIRA E ANDRZEJEWSKI, 2015.

A meia hora adotada para os cálculos, que equivale a 1800 segundos, representa o
tempo de início da brecha até o momento em que a barragem entrará em colapso. Para estimar
o tamanho da abertura, considerou-se que a mesma atingiu 80% do maciço. De acordo com a
tabela acima, esse tamanho poderia ser bem menor, entretanto considerou-se para a presente
analise o rompimento total do maciço, entendendo que os 20% restantes, correspondem a parte
do maciço que resta, após o rompimento total.
Após os dados de entrada encontrados e parametrizados, definiu-se um hidrograma
específico para cada autor, com base na vazão de pico pré-estabelecida por cada autor, em que
posteriormente este valor foi colocado na equação da vazão em função do tempo, adotando-se
para o fator tempo um intervalo de 0,2h, o que significa que a cada 12 minutos foi calculado
um valor para o hidrograma. No item 5.1 encontra-se a tabela com os valores de vazão pico
36

estabelecidos para cada autor e a figura que apresenta o gráfico comparativo dos hidrograma
encontrados baseado nos autores e o da barragem de Caldeirão.
Após encontrados os valores da vazão em função do tempo, calculou-se a integral para
definir a área do gráfico que deve ser igual ao volume do reservatório. Encontra-se na tabela 07
no item 5.1 a discrepância em percentual dos valores da área dos gráficos, oriundos dos valores
de pico estabelecidos pelos autores, com a realidade da barragem objeto deste estudo.
Para definir o hidrograma de Caldeirão, utilizou-se a mesma equação no software,
adotando o mesmo tempo de pico e o valor do fator k, a única alteração em valores deu-se na
vazão de pico, conforme uma das vertentes apresentadas no estudo realizado por Mota (2017),
que ressalta que manter o fator k (variável que pondera a equação) em 0,5, pois este valor
oferece resultados que apresentam sempre as melhores e as maiores vazões. Após a realização
deste cálculo, observou-se que a área do gráfico do hidrograma corresponde a um valor muito
próximo ao volume do reservatório, o que valida os resultados encontrados.
Após os dados obtidos no modelo hidrodinâmico utilizou-se ferramentas de
geoprocessamento para gerar o mapa com a mancha de inundação associadas à cartografia da
região e a maior vazão de pico encontrada. De posse dos dados da simulação e software de
geoprocessamento, seguiu-se a etapa de confecção do mapa, que indicará em escala adequada,
a área impactada com o rompimento da barragem, e baseada no cálculo do risco hidrodinâmico
indicar o nível de risco às comunidades a jusante dentro da zona de inundação.
37

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Uso do software HEC-RAS para as pesquisas de simulação de rompimento de barragens

Atualmente a tecnologia dispõe de muitas ferramentas para a prevenção de catástrofes,


tais como rompimento de barragens. Desastres como esse tem sido documentado a décadas, e
desde então algumas medidas preventivas são adotadas com objetivo de diminuir os riscos e
avaliar as possíveis consequências. Softwares já são bastante empregados para simulação do
rompimento desses maciços, na qual possibilitam avaliar a vazão dos fluidos da barragem sobre
um determinado local. O que pode trazer uma perspectiva diferenciada para estudos de caso
dessa área.
De acordo com ANA (2014) o nordeste do país possui cerca de 88 barragens, seja
como reservatório de água ou depósito de resíduos de minérios. Todos esses maciços são
inspecionados e possuem algum risco com possíveis danos associados, o gráfico abaixo mostra
a distribuição dessas barragens e quais possuem Categoria de Risco (CR) e Dano Potencial
Associado (DPA) alto.

Figura 12: Número de barragens de acordo com os estados do nordeste, sua Categoria de Risco (CR) e
Dano Potencial Associado (DPA).

FONTE: Elaboração própria a partir de ANA 2014.

Observa-se que a região Nordeste apresenta um número considerável de barragens


categorizadas como alto risco, correspondendo a 81% dos maciços analisados. Além disso,
todas as construções apresentadas demonstram alto Dano Potencial Associado (DPA). Isso
38

sugere a necessidade de se obter dados e elaborar medidas capazes de prevenir o rompimento


destas construções.
A categoria de risco (CR) está relacionada com os aspectos da barragem capazes de
influenciar na segurança, tais como características técnicas, estado de conservação e plano de
segurança. Já o Dano Potencial Associado (DPA) tem relação com o dano que ocorre em
consequência da ruptura, podendo ser calculado de acordo com as perdas de vidas humanas e
impactos sociais, econômicos e ambientais que a ruptura poderá promover (ESMERALDO et
al., 2017).
Anderáos e colaboradores (2013) salienta que essa categorização funciona como um
medidor para planejamento de tomadas de decisões no que concerne o monitoramento, de forma
que essas barragens se tornem mais seguras com periodicidade de inspeções e se necessário a
elaboração de um Plano de Ação Emergencial (PAE). Assim são realizados estudos envolvendo
a simulação do rompimento de barragens com auxílio de softwares para a melhor visualização
do possível problema, principalmente no que concerne a vazão de fluidos e a área que poderá
ser afetada. O HEC-RAS é bastante utilizado pois possui uma série de aplicações, desde a
simulação de transporte de sedimentos até mesmo a elucidação das principais causas de ruptura
de estruturas dessa natureza (WILLINGHOEFER, 2015).
O quadro 1 apresenta os estudos de caso que utilizaram o software HEC-RAS para as
pesquisas de simulação de rompimento de barragens presentes no Nordeste brasileiro.

Quadro 1 - Estudos de caso que utilizaram o Software HEC-RAS para análise do possível rompimento
de barragens.
Barragem Estado Resultados Referência
A simulação com HEC-RAS
Barragem de Santa possibilitou observar uma mancha
Bahia VIEIRA, 2018
Helena de inundação no vale a jusante do
barramento em questão.
A falta de dados impossibilitou
Bacia hidrográfica melhores resultados do software
Alagoas MEDEIROS, 2017
do rio Paraíba que correspondesse com
a realidade.
O software obteve resultados
Reservatório satisfatórios. A faixa de inundação
Ceará Oliveira, 2018
Banabuiú obtida pelo HEC-RAS está coerente
para a simulação desejada.
Estudo com o software mostrou a
possibilidade de inundação do
Barragem de Souza, Fontes
Bahia distrito de Pedras Altas, com
Pedras Altas 2016
resultados coerentes com a
realidade.
39

O programa foi eficaz nos dados


Rio apresentados apenas para alguns
Barragem Armando Medeiros, Zanella
Grande trechos do estudo, apresentando
Ribeiro Gonçalves 2019
do Norte deficiência na precisão das cotas de
inundação.
O HEC-RAS foi eficaz na
modelagem hidrodinâmica,
permitindo representar o Borges, Fontes,
Santo Amaro Bahia
comportamento do sistema hídrico e Nascimento 2017
estimar valores quanto a
população que poderá ser atingida.
O software demonstrou
bons resultados em todos os trechos
analisados, com dados
Maranguapinho CE Giordani, 2018
precisos capazes de estimar as
faixas de inundações em diferentes
situações.
Fonte: "Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada".

O quadro acima descrito apresenta os estudos de casos realizados com intuito de


simular o rompimento de barragens e estimar as possíveis faixas de inundação, bem como,
todos os danos que esta pode causar. Na maioria dos casos o software demonstrou bons
resultados, com dados que correspondiam a realidade. E aqueles que os resultados não foram
considerados satisfatórios, foi devido principalmente à falta de informações que o programa
exigia ou ainda, as características da área estudada.
O estudo apresentado por Vieira (2018) demonstrou a instabilidade de corpos de
inundação simulada pelo HEC-RAS e comprovou a influência deste na minimização dos
impactos e prevenção catástrofes. Isto foi observado também por Oliveira (2018) em seus
estudos de rompimento de barragem no Ceará, em que foram gerados no software HEC-RAS,
através da topografia elaborada mediante um modelo digital de elevação – MDE, utilizando
imagens SRTM, os mapas de inundação, nos quais pode-se observar as potenciais áreas que
seriam inundadas, o que viabilizou a criação das próximas modelagens, necessárias para a
elaboração dos Planos de Ação de Emergência das barragens, conforme expressa a Lei nº
12.334/2010.
Já Medeiros e Zanella (2019) demonstraram que esse programa foi eficaz apenas para
alguns trechos devido à forte influência das marés nas áreas contempladas, com necessidade de
estudos posteriores das vazões específicas para esta área de forte interação fluviomarinha.
Porém em outros trechos os resultados se mostraram eficazes, evidenciando a vulnerabilidade
das regiões inseridas à jusante da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
40

Desse modo, o software ainda possui algumas limitações, exibindo vantagens e


desvantagens de acordo com a área a ser simulada. Dentre as vantagens deste programa está em
trabalhar com versões pouco simplificadas na equação de Saint Venant, agregando valor a um
estudo de escoamento. Ele permite a integração com poderosos softwares, como o ArcGIS e o
Civil 3D, e assim facilita a criação de mapas de inundação. Ainda, o HEC-RAS exibe grande
precisão e confiabilidade, considerando os dados apresentados como significativos durante a
tomada de decisões relacionadas aos impactos causados por uma determinada inundação.
Já as desvantagens estão relacionadas ao escoamento unidirecional e a falta de
manutenção do escoamento em partes da seção. Portanto, a utilização do software HEC-RAS
pode ser uma ferramenta bastante eficaz no estudo do possível rompimento de barragens,
evidenciando as faixas de inundação e possibilitando a elaboração de planos capazes de
prevenir esse tipo de catástrofes com perdas de vidas, ambiental e econômica.

5.2 Parametrização dos dados


Nesta seção serão apresentadas as imagens georreferenciadas em formato raster e
vetorial (TIN) e as seções que foram feitas no Hec-GeoRas. Inicialmente para realização da
análise da simulação do rompimento da Barragem de Caldeirão, foram adotados, os seguintes
dados de entrada, como pode-se observar no quadro 2.

Quadro 2 - Dados de entrada da Barragem Caldeirão


Volume do Reservatório V 54.600.000,00 m3
Área do reservatório As 10.000.000,00 m2
Largura do Barramento Bd 746,00 m
Altura do barramento Hd 22,00 m
Largura Final da Brecha (80% de Bd) Bb 596,80 m
Altura final da Brecha (80% de Hd) Hb 17,60 m
Profundidade média (33%de Hd) Ymédio 7,33 m
Tempo de Desenvolvimento da Brecha Tp 1.800,00 s
Aceleração da Gravidade g 9,80 m/s²
FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

O quadro 3 apresenta a Variação do Volume do Reservatório em Função da Vazão de


Pico das Equações Empíricas estudadas, considerando a variação de Tempo de Pico e o fator k
fixo.
41

Quadro 3 – Volume do reservatório em função das equações empíricas


Equação Tp (s) k Vol. Do Reservatório Variação
(m³)
Lou 1800 20.492.044,11 -62,47%
Hagen 1800 200.711.892,31 267,60%
Saint-Venant 1800 100.323.056,03 83,74%
Schoklistch 1800 0,5 89.731.705,92 64,34%
Bureau 1800 42.228.510,34 -22,66%
Sing 4500 1.021.149.741,46 1770,24%
Wetmore e Fread 2170 421.125.256,20 671,29%
FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

No quadro 4 estão listadas as vazões de pico de cada autor, que foram utilizadas para
parametrização dos dados e análise comparativa com os valores correspondentes à Barragem
de Caldeirão.

Quadro 4 – Vazão de Pico pelas Equações Empíricas


Equação Vazão de Pico - Qp (m3/s)
Lou 2.806,83
Hagen 27.491,75
Saint-Venant 13.741,38
Schoklistch 12.290,66
Bureau 5.784,10
Sing 74.911,20
Wetmore e Fread 48.930,10
FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

No quadro 5 Tabela calcula as Vazões em função do Tempo Q(t) que foram obtidas
pelas Vazões de Pico (Qp) de cada autor. O tempo de pico (tp) adotado para a presente análise
é de 0,5 horas para todas as equações.

Quadro 5 - VAZÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO - Q(t) m3/s

Tempo Saint- Wetmore AÇUDE


t (s) Lou Hagen Schoklistch Bureau Sing
(hs) Venant e Fread CALDEIRÃO

- - - - - - - - - -
720,00 0,20 2.396,26 23.470,41 11.731,37 10.492,85 4.938,03 63.953,61 41.772,88 6.384,72
1.440,00 0,40 2.774,53 27.175,46 13.583,28 12.149,26 5.717,55 74.049,34 48.367,16 7.392,61
1.800,00 0,50 2.806,83 27.491,75 13.741,38 12.290,66 5.784,10 74.911,20 48.930,10 7.478,65
2.160,00 0,60 2.782,13 27.249,82 13.620,45 12.182,50 5.733,20 74.251,96 48.499,50 7.412,84
42

2.880,00 0,80 2.630,19 25.761,67 12.876,62 11.517,20 5.420,10 70.196,97 45.850,89 7.008,01
3.600,00 1,00 2.407,60 23.581,43 11.786,86 10.542,48 4.961,39 64.256,12 41.970,47 6.414,92
4.320,00 1,20 2.159,31 21.149,59 10.571,33 9.455,29 4.449,74 57.629,68 37.642,25 5.753,38
5.040,00 1,40 1.909,54 18.703,22 9.348,55 8.361,60 3.935,04 50.963,67 33.288,18 5.087,88
5.760,00 1,60 1.671,35 16.370,18 8.182,41 7.318,57 3.444,19 44.606,46 29.135,82 4.453,22
6.480,00 1,80 1.451,39 14.215,78 7.105,57 6.355,41 2.990,91 38.736,03 25.301,40 3.867,16
7.200,00 2,00 1.252,58 12.268,48 6.132,23 5.484,83 2.581,21 33.429,89 21.835,56 3.337,42
7.920,00 2,20 1.075,58 10.534,84 5.265,70 4.709,78 2.216,47 28.705,99 18.750,02 2.865,82
8.640,00 2,40 919,76 9.008,73 4.502,89 4.027,51 1.895,38 24.547,53 16.033,83 2.450,67
9.360,00 2,60 783,79 7.676,90 3.837,19 3.432,09 1.615,17 20.918,47 13.663,42 2.088,37
10.080,00 2,80 665,94 6.522,58 3.260,22 2.916,03 1.372,31 17.773,11 11.608,95 1.774,35
10.800,00 3,00 564,36 5.527,67 2.762,93 2.471,24 1.162,99 15.062,12 9.838,20 1.503,70
11.520,00 3,20 477,21 4.674,09 2.336,28 2.089,63 983,40 12.736,25 8.319,00 1.271,51
12.240,00 3,40 402,73 3.944,60 1.971,65 1.763,50 829,92 10.748,48 7.020,64 1.073,06
12.960,00 3,60 339,29 3.323,19 1.661,05 1.485,69 699,18 9.055,24 5.914,66 904,02
13.680,00 3,80 285,40 2.795,36 1.397,22 1.249,71 588,13 7.616,96 4.975,21 760,43
14.400,00 4,00 239,73 2.348,10 1.173,67 1.049,76 494,03 6.398,25 4.179,17 638,76
15.120,00 4,20 201,12 1.969,94 984,65 880,69 414,46 5.367,81 3.506,12 535,89
15.840,00 4,40 168,54 1.650,80 825,13 738,02 347,32 4.498,21 2.938,12 449,07
16.560,00 4,60 141,09 1.381,94 690,74 617,82 290,75 3.765,59 2.459,59 375,93
17.280,00 4,80 118,00 1.155,77 577,70 516,71 243,17 3.149,31 2.057,05 314,41
18.000,00 5,00 98,60 965,78 482,73 431,77 203,19 2.631,61 1.718,90 262,72
FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

Os valores apresentados no Quadro 5, geram o hidrograma de vazão a jusante na hora


do colapso para cada Autor. A integral dessa função, deve ser igual ao volume do reservatório
objeto de estudo deste trabalho.

De posse de todas as informações, o Hidrograma de Decaimento Parabólico,


observado na figura 12, foi o adotado para esta análise. Esse tipo de gráfico apresenta-se de
forma mais recorrente em barragens de terra, em que os trechos de descida representam um
decaimento exponencial, o que significa que o tempo de esvaziamento ocorre de forma mais
gradual, quando comparada a outros modelos.
43

Figura 12: Hidrograma de decaimento parabólico

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

O comprimento do rio, adotado para os cálculos, foi escolhido por abranger uma área
mais urbana, com aproximadamente 22 km de extensão.

Figura 13: Comprimento do rio adotado para cálculos

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”


44

A figura 14 apresenta os dados que embasam o tempo de abertura das brechas. A média
utilizada para os cálculos é de 0,5 horas. Para os cálculos da Barragem de Caldeirão não foram
considerados o comprimento de brecha dessa tabela e sim 80% do tamanho do barramento.
Figura 14: Tempo de abertura das brechas

Fonte: MOTA, 2017.

5.3 Modelagem no HEC-RAS

A modelagem no Hec-ras tem como objetivo analisar a influência de diversos


parâmetros que definem o tempo e a forma que a brecha é gerada e a influência das equações
empíricas presentes no Hec-ras no hidrograma a jusante da barragem e na vazão de pico. A
modelagem do presente estudo consistiu em configurar uma geometria de todo o vale a jusante
do barramento, o que inclui o canal do rio e as seções transversais. Além disso, as condições de
contorno iniciais para a simulação em regime não-permanente são baseadas em uma serie
temporal de vazões, o que melhor se enquadrou para tal pesquisa.
A Figura 15 apresenta essas series temporais que geram os hidrograma de vazão,
pautados nas equações individuais de cada autor, considerando os dados de entrada da barragem
45

e o mesmo fator k para todas as equações. A Qp foi calculada em cima das equações de cada
um dos autores e assim foi aplicada na equação Q(t) para gerar o hidrograma.

Figura 15: Hidrogramas de Vazão

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

O gráfico correspondente a Figura 16 apresenta o Hidrograma de rompimento


hipotético da Barragem de Caldeirão. A área do gráfico é igual ao volume do reservatório. O
Tempo de pico (Tp) adotado foi de 0,5hs, ou 30 minutos. O hidrograma a seguir representa o
modelo mais fiel da vazão a jusante, quanto ao rompimento da barragem. Para chegar a este
resultado, alterou-se a Vazão de Pico (Qp) até que a área do gráfico correspondesse ao volume
do reservatório.

Figura 16: Hidrograma da Barragem de Caldeirão

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”


46

Na modelagem realizada no HEC-RAS, analisou-se a influência das equações empíricas


dos hidrogramas, a influência dos parâmetros que definem a abertura da brecha e, por
conseguinte a simulação, onde o software gerou a área inundada. A imagem 16, contempla o
gráfico do hidrograma gerado pelo software na simulação, como vê-se na linha tracejada e a
linha azul apresenta o estágio ou onda de inundação que foi gerada com propagação.

Figura 17: Hidrograma e Onda de Inundação HEC-RAS

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

A análise da onda de inundação, estabelece como resultados que, dos 54 milhões de


m³ que constituem o volume da Barragem objeto de estudo deste trabalho, em uma ocasional
ruptura, seriam despejados 44 milhões, o que condiz basicamente com o volume morto da
barragem, quantitativo que ratifica-se com a realidade, pois estudos afirmam que uma barragem
ao sofrer rompimento não terá todo seu volume de água escoado. O volume de água que sai
corresponde a um total de 81,34% do volume total do reservatório. Na imagem 18 observa-se
a onda de cheia máxima e a sua propagação ao longo do rio. A variação da velocidade de
inundação é de 0 a 8 m/s e a altura da onda de inundação varia de 5 a 8 metros de altura.
47

Figura 18: Onda de cheia máxima

BARRAMENTO
FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

A figura 19 apresenta a mancha de inundação máxima gerada, referente ao


rompimento da barragem, onde observa-se que o rio a jusante, encontra-se completamente cheio
e que a água extravasou para outras áreas, de modo que a água proveniente do rompimento não
seguiu somente o caminho do rio, mas percorreu por outros caminhos mais baixos, por onde a
água conseguiria percorrer seu fluxo naturalmente, conforme observa-se na imagem.

Figura 19: Mancha de inundação referente ao rompimento da barragem

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”


48

Objetivando realizar uma melhor análise da área da mancha de inundação a imagem


19 mostra três áreas distintas que apresentam o risco de inundação alto, médio e baixo. A região
vermelha representa o local com maior dano causado ao ambiente, a biodiversidade local e em
especial à vida humana, caso esta esteja presente no local, será a área que irá alagar mais rápido,
chegando ao local com maior velocidade, podendo atingir 8 m/s (30 km/h) e atingindo maiores
profundidades.
A região amarela também apresenta risco, porém a água irá atingir esse local com
menor velocidade, apresentando um risco potencial menor, porém ainda poderá causar alguns
transtornos ao ambiente físico local, porém no que se refere a vida humana, neste local há um
tempo maior para que as pessoas possam evacuar o local e a área verde apesar de apresentar
uma maior densidade, a água vai chegar a este ponto com uma velocidade mais lenta e mesmo
em alguns pontos apresentando uma profundidade um pouco maior, irá variar o acúmulo de
água, conforme a topografia local.

Figura 20: Áreas com potencial destrutivo

FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.”

Conforme as áreas determinadas na imagem acima que representam diferentes


potencias de destruição, para a simulação de rompimento da Barragem de Caldeirão, pode-se
observar, conforme a legenda presente na imagem, quais áreas apresentam um potencial de
risco maior.
49

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rompimento de uma estrutura desse porte, ou de barragens de resíduos perigosos,


quase sempre apresenta grandes impactos tanto materiais quanto relacionados à perda de vidas.
Os acidentes recentes de maior magnitude são as rupturas da Barragem de Situ Gintung, na
Indonésia, em março de 2009, no caso de barragens de rejeito, há o destaque negativo brasileiro
das Barragens do Fundão no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do município de Mariana,
e da Barragem do Córrego do Feijão no Município de Brumadinho ambas no estado de Minas
Gerais. Desta forma o presente estudo busca promover o desenvolvimento de ferramentas que
podem facilitar o processo de simulação de rompimento, podendo ser amplamente utilizadas, e
ser um fator contribuinte para o aumento da segurança dessas estruturas de elevada importância
nacional.
Todos os anos no período chuvoso no Brasil e principalmente no estado do Piauí, ouve-
se rumores de que uma barragem em determinado local estaria preste a se romper. Tendo em
vista que no supracitado estado, no ano de 2009, houve uma tragédia desse porte, diversos
alarmes são divulgados principalmente pela população local, e acabam por muitas vezes, sendo
falsos, trazendo muito desespero às populações ribeirinhas que vivem geralmente a Jusante do
maciço da barragem. Situação que ratifica a importância da presente pesquisa, uma vez que
buscou-se a parametrização de dados concretos que apontem para um eventual rompimento do
maciço da Barragem de Caldeirão.
A análise do rompimento hipotético da barragem de caldeirão não determina a causa
principal do um possível colapso, mas permitiu verificar a importância da fiscalização pelos
órgãos competentes e a importância da boa operacionalização de reservatórios para que
minimizem a possibilidade de ocorrência desse evento, visto que as consequências são, muitas
das vezes, irreversíveis e os danos causados ao patrimônio público e a vida humana são
incalculáveis.
Por fim, verificou-se que as todas as regiões apresentadas na imagem da área de
potencial destrutivo, possuem um alto potencial de danos a serem causados, o que difere cada
uma delas é a velocidade com que a água irá atingi-las, que diminui conforme se distancia da
barragem. Observou-se também que as áreas inundadas em alguns pontos são menores, e em
outros pontos específicos foram registrados profundidades maiores, pois varia conforme a
topografia do local. A utilização do software hec-ras, para a presente analise mostrou-se
eficiente para esse tipo de simulação, mostrando de forma eficaz o panorama de risco para o
caso de um rompimento da barragem em estudo.
50

Ressalta-se para estudos posteriores mais detalhados a necessidade de levantar


topograficamente a superfície a jusante para que tenhamos dados mais precisos, mediante a
elaboração de mapas georreferenciados que indique toda a população ribeirinha localizada a
jusante do maciço, através da identificação com placas, informando o tempo que cada família,
e trabalhadores teriam para uma provável evacuação. Entretanto pode-se afirmar que com os
dados apresentados já é possível direcionar ações para dirimir os danos causados, em caso de
rompimento, principalmente no tocante às vidas humanas.
51

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agência Nacional de Águas (ANA). Classificação de barragens reguladas pela


agência nacional de águas. Relatório, 2014.

ANDERÁOS, A.; ARAÚJO, L. M. N.; NUNES, C. M. Classificação de Barragem


quanto à Categoria de Risco e ao Dano Potencial Associado – Um Exercício.
In: XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. Anais XX Simpósio
Brasileiro de Recursos Hídricos Bento Gonçalves, 2013.

DE MELO, A. V. Análises de risco aplicadas a barragens de terra e


enrocamento:estudo de caso de barragens da CEMIG GT. 2014.

Dissertação (Mestrado em Geotecnia). Universidade Federal de Minas Gerais,


Belo Horizonte, 2014.

ESMERALDO, A. et al. Análise da classificação quanto à categoria de risco e


danopotencial associado a barragens: estudo de caso de barragens do estado
do Ceará. In: XIV Simpósio de Recursos Hídricos do. Anais XIV Simpósio de
Recursos Hídricos do Nordeste. Florianópolis, 2017.

FARIA, Fábio LF et al. Metodologia para obtenção do hidrograma para simulação de ruptura
de barragens. Revista Militar de Ciência e Tecnologia, v. 36, n. 3, 2019.

GIORDANI, L. C. Modelagem hidrológica e hidráulica no rio


Maranguapinho mediante cenário de mudanças climáticas. 2018.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2018.

GOUVEIA, F. Tipos de Barragens. AECweb. 2020. Disponível em:


https://www.aecweb.com.br/revista/materias/tipos-de-barragens/13731. Acesso
em 19 de junho de 2020.

HICKMANN, T. Análise da variação térmica sazonal em barragem de


contrafortes com o uso de cálculo fracionário. 2016. Tese (Doutorado em
Métodos numéricos em Engenharia), Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2016.

KÜHLKAMP, Jonas de Freitas et al. Análise do efeito em cascata da


propagação da onda de cheia gerada pelo rompimento hipotético de uma das
barragens existentes no rio Irani-SC. 2016. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/171380. Acesso em: 25 fev.
2019.

LOPES, A. C. S.; MORAIS, D. O. C.; BARBIERI, J. C. Caso SAMARCO:


usando a gestão de riscos e os princípios da precaução e prevenção em
desastres ambientais. In: SIMPOI 2016. Anais SIMPOI 2016. Escola de
Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, 2016.
52

MEDEIROS, F. C. Estudo das propriedades físicas do solo na


parametrização de modelos hidrológicos visando a prevenção de
desastres naturais na bacia hidrográfica do rio paraíba no estado de
Alagoas, Brasil. 2017. Tese (Doutorado em Meio Ambiente). Universidade de
Évora, Alagoas, 2017.

MEDEIROS, M. D.; ZANELLA, M. E. Estudo das vazões e estimativas de


inundações no Baixo-Açu-RN. Geo UERJ, Fortaleza, n. 34, e. 40946, 2019.

OLIVEIRA, L. C. S. Simulação do rompimento de barragens na bacia


hidrográfica do Banabuiú-CE. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso
(Engenharia Civil). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018.

PEREIRA, Carlos Eugénio et al. Comparação entre modelos simplificados e o


modelo HEC-RAS no estudo de áreas de inundação para o caso de Minas
Gerais, Brasil. Recursos Hídricos, v. 38, n. 1, 2017. Disponível em:
https://www.aprh.pt/rh/pdf/v38n1_cti-3.pdf. Acesso em: 27 mar. 2019.

ROCHA, Felipe Figueiredo. Retroanálise da Ruptura da Barragem São


Francisco-Miraí, Minas Gerais, Brasil. 2015. Disponível em:
http://hdl.handle.net/1843/BUBD-A9VN49. Acesso em: 15 mar. 2019.

SANTOS, Luana da Fonseca et al. Simulação do Rompimento Hipotético da


Barragem de Juturnaíba, Localizada no Estado do Rio de Janeiro. Anuário do
Instituto de Geociências, v. 42, n. 3, p. 299-310, 2019. Disponível em:
https://doi.org/10.11137/2019_3_299_310. Acesso em: 21 mar. 2019.

SINGER, E. O que fazer para evitar novas tragédias como a de Brumadinho.


Veja. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/artigo-o-quefazer-para-evitar-
novas-tragedias-como-a-de-brumadinho/. Acesso em 20 de
junho de 2020.

SOUZA, G. G. Q.; FONTES, A. S. Avaliação das limitações do estudo de


ruptura da barragem de Pedras Altas (BA)localizada no semiárido baiano.
In: IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais IV
COBESA. Cruz das Almas, 2016.

VIEIRA, L. M. S. Análise dos mecanismos físicos de instabilidade de corpo


humano para definição de zonas de risco constante no plano de ações
emergenciais de barragens. Estudo de caso: barragem de Santa Helena –
BA. 2018. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente). Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2018.

WENDLER, A. P. Estudo experimental do concreto compactado com rolo


enriquecido com calda de cimento para face de barragens de concreto.
2010. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2010.

WILLINGHOEFER, M. Avaliação do risco de rompimento da barragem de


53

uma pequena central hidrelétrica na bacia do rio do peixe. 2015. Trabalho


de Conclusão de Curso (Engenharia Sanitária e Ambiental). Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

AMARAL, Diego Roger Borba. Simulação de ondas de cheia induzidas pelo rompimento
hipotético da barragem de Peti em São Gonçalo do Rio Abaixo-MG. 78 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017.

RAMAN, Arun; LIU, Fei. An investigation of the Brumadinho Dam Break with HEC RAS
simulation. arXiv preprint arXiv:1911.05219, 2019. Disponível em:
https://arxiv.org/abs/1911.05219. Acesso em: 10 out. 2020.

LOPES JUNIOR, Paulo Roberto et al. Definição da Mancha de Inundação Gerada por
Rompimento Hipotético de Barragem: uma comparação entre modelos dinâmico e
estático. 2020. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/212048. Acesso
em: 15 out. 2020.
ANEXO 1 (Disponível no ECM)

FORMULÁRIO DE APROVAÇÃO DE PROJETO E ORIENTAÇÃO DE TRABALHO DE


CONCLUSÃO DE CURSO
Aluno: MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE
Curso: ENG CIVIL Mat.: 21009650 Data: 18/12/2020
Orientador: BREHNO NARCISO DE CASTRO OLIVEIRA

Tema Proposto: SIMULAÇÃO DE ROMPIMENTO DE BARRAGENS

Título: ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA


ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE
PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS

Objetivo Geral: A presente pesquisa tem por objetivo geral simular


computacionalmente o rompimento hipotético da barragem de Caldeirão no
município de Piripiri-PI.

Objetivos Específicos:
Definir o hidrograma de cheia, baseado nos autores pesquisados e nos dados da
barragem de Caldeirão, objeto de estudo da presente pesquisa;
Simular o avanço da onda de cheia hipotética da ruptura da barragem, com a
utilização de programas computacionais;
Verificar a área de inundação gerada;
Analisar o impacto causado nas imediações do canal à jusante da barragem, e
através de resultados gráficos como hidrogramas de vazão a jusante da barragem e
mapa de
inundação;
Investigar a influência que as equações empíricas de parâmetros definidores da
formação de brechas sobre o hidrograma de vazão imediatamente a jusante da
barragem;
Identificar o nível de risco que o rompimento da barragem causa às vidas humanas
e edificações próximas ao canal a jusante da barragem

Metodologia*
( X ) Pesquisa exploratória ( ) Outra (especifique ( ) Revisão Bibliográfica
(campo, laboratório, abaixo)
documental)

Autorizado** (X ) SIM Coordenador Data: 18/12/2020


( )NÃO

Motivo:
____________________________________________________
Orientador(a)

* Pesquisas baseadas em levantamento bibliográfico devem ser restritas a 5% dos TCCs do semestre e
devem obrigatoriamente seguir as normas metodologicas descritas neste regulamento
** Em Caso de negativa, o projeto deve ser refeito de forma a sanar os motivos elencados e
resubmetidos, caberá ao coordenador o arquivamento de ambas as fichas de avaliação.
ANEXO 2 (Disponível no ECM)
Termo de Autorização para Publicação de Trabalhos de Conclusão de Curso, Teses,
Dissertações e Outros Trabalhos Acadêmicos na forma eletrônica no REPOSITORIVM

Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo o Grupo SER Educacional
a disponibilizar por meio de seu repositório institucional (REPOSITORIVM) sem ressarcimento
dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra abaixo citada,
conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de
divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico:

( ) Tese ( ) Dissertação (X ) Trabalho de Conclusão de Curso ( ) Outros


________________________ (especifique)

2. Identificação dos Autores e da a Obra:


Autor:_MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE
RG.:2716116 SSP/PI CPF:028.088.373-05
E-mail:marllonalbuquerque86@hotmail.com
Orientador: BREHNO NARCISO DE CASTRO OLIVEIRA CPF: 649.169.003-87
Membros da Banca:
JOSÉ ROBERTO DA CUNHA LIMA
LEANDRO ARAUJO CAVALCANTE

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? (X )Sim ( ) Não

Data de Defesa (se houver): 18/12/2020 Nº de páginas: 56

Título: ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA


ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE
PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS

Afiliação::UNINASSAU

Área do Conhecimento ou Curso (no caso de TCC): __________________________

Palavras-chave (5): Barragens. HEC-RAS. Inundação. Rompimento

Local e data: Parnaíb, 18 de Dezembro de 2020

Assinatura Autor

Você também pode gostar