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Faculdade de Ciências Agrárias

Curso de Licenciatura em Engenharia Florestal


Disciplina: Maneio De Bacias Hidrográficas
1o Semestre 4° Ano

TEMA II: VAZÃO DE CURSOS DE ÁGUA E O REGIME DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS SOB INFLUENCIA DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

As águas subterrâneas ocorrem em formações geológicas conhecidas por aquíferos. Ocupam os


espaços vazios das rochas, nomeadamente, os poros intergranulares, os canalículos que os
interligam e as fracturas (Lousada & Camacho, 2018).

Aquífero: é uma formação geológica que armazena e possibilita a circulação da água e de onde é
possível extrair a mesma em quantidades suficientes de forma a possibilitar o seu aproveitamento
pelo Homem (Lousada & Camacho, 2018).

Vazão: O escoamento, R, de uma bacia hidrográfica, define-se como a quantidade de água que
atravessa uma secção de um curso de água, num determinado intervalo de tempo (ano, mês, dia,
etc). Pode ser expresso em volume (m3, hm3, km3) ou em altura de água uniformemente
distribuída sobre a área da bacia hidrográfica (mm) (Ferraz, 2018 ).

Cursos de água
Os cursos de água podem ser classificados em três grandes categorias, tendo em conta o seu
regime de escoamento: perenes, intermitentes e efémeros (Rodrigues et al., 2011).

Os cursos de água perenes escoam água durante todo o ano. Nas nossas condições, onde
praticamente não chove durante a estação seca, o escoamento é mantido graças às reservas
subterrâneas, que vão alimentando, continuamente, os cursos de água, mesmo durante as secas
mais severas, (Rodrigues et al., 2011), citado por (Lousada & Camacho, 2018).

Curso de água intermitente é a classificação que recebem aqueles cursos de água que geralmente
escoam durante a estação húmida, mas que acabam por secar no período estival. Durante o
período das chuvas, o nível freático sobe acima do nível inferior do leito, produzindo
escoamento. Durante a época seca, o nível freático desce para além do nível do leito e o
escoamento acaba por cessar. Pode ocorrer escoamento, mas apenas em resultado de
precipitação pontual (Rodrigues et al., 2011).
Um curso de água diz-se efémero, quando transporta apenas escoamento superficial, em resposta
a um evento de precipitação. Os períodos de escoamento são curtos e ocorrem durante ou
imediatamente após a ocorrência de precipitação. Não há qualquer contribuição subterrânea para
o escoamento, porque as subidas do nível freático nunca atingem o leito, (Rodrigues et al., 2011).

Classificação dos cursos de água


 A necessidade de rápida localização e identificação dos cursos de água constituintes da
rede hidrográfica de uma região ou país, tem levado ao estabelecimento de classificações
que traduzam o seu grau de ramificação ou bifurcação. Apresentam-se duas das mais
utilizadas (Rodrigues et al., 2011), citado por (Lousada & Camacho, 2018).
i. Classificação de Strahler

Os cursos de água são ordenados de acordo com uma classificação que reflecte o grau de
ramificação ou bifurcação existente dentro de uma bacia hidrográfica. Segundo a classificação de
Strahler considera-se:

 Cursos de água sem tributários são de 1ª ordem;


 Quando dois cursos de água da mesma ordem confluem, a ordem sobe 1. Caso contrário,
prevalece a maior ordem.
ii. Classificação de Shreve

A classificação de Shreve é semelhante à de Strahler, ainda assim difere no seguinte aspecto

As magnitudes são somadas todas as vezes que há a junção de duas linhas de água. Por exemplo,
quando 2 linhas de 2.ª magnitude se unem, o trecho a jusante recebe a designação de 4.ª
magnitude. Desta forma, no método de Shreve, algumas magnitudes podem não existir.

Curva de vazão
A curva de vazão constitui a relação biunívoca entre o caudal escoado numa determinada secção
e a correspondente altura de água (nível). A existência de uma relação entre estas duas grandezas
é um requisito fundamental para a determinação do caudal escoado numa secção através da
existência de um registo contínuo de níveis na mesma secção (Rodrigues et al., 2011).

A curva de vazão obtém-se a partir do conjunto de pares de valores resultantes da medição do


caudal e da observação da altura de água. A altura de água denomina-se altura hidrométrica e são
determinadas por leitura numa escala hidrométrica colocada na secção de medição (Rodrigues et
al., 2011).
A influência da floresta na vazão do curso de água
Tradicionalmente, a percepção social acerca do papel da floresta em bacias hidrográficas é a de
que áreas mais florestadas produzem mais água do que áreas com outro tipo de cobertura
vegetal. Além disso, as florestas também contribuem para o aumento da precipitação local,
reduzem inundações e são, necessariamente, sempre boas para o ambiente aquático (Ferraz,
2018).

Um dos factores de grande relevância nos estudos que correlacionam a floresta e o regime
hidrológico é a evapotranspiração que ocorre nas bacias hidrográficas, cuja magnitude supera
muitas vezes a de outros componentes do ciclo hidrológico, com implicações comprovadas nas
vazões anuais (Bacellar, 2005, citado por Ferraz, 2018 ).

De acordo com Lima (2008), citado por (Ferraz, 2018 ), a natureza da vegetação, seu albedo, sua
área de ocupação do solo (área foliar) e a profundidade do sistema radicular são fatores
relacionados à cobertura florestal que controlam o processo de evapotranspiração. Ainda, por
apresentarem maiores coeficientes de absorção de radiação de ondas curtas, a taxa de evaporação
das florestas é maior do que em outras vegetações de menor porte. Nesse sentido, o balanço de
energia explica as causas físicas do comportamento hidrológico de bacias submetidas ao
desflorestamento.

Com relação à influência da floresta no regime hidrológico, Hornbeck et al. (1993), citados por
Ferraz (2018 ) realizaram um estudo sobre os impactos a longo prazo de tratamentos florestais
de corte e controle de rebrota sobre a produção de água em bacias do nordeste dos Estados
Unidos. Como resultados, observou-se: um aumento no rendimento de água no primeiro ano
após o corte da floresta, proporcional à área basal removida; o aumento de rendimento pode ser
prolongado, controlando-se a rebrota, caso contrário, diminui com o passar do tempo, raramente
persistindo por mais de 10 anos; as alterações no rendimento podem persistir por pelo menos 10
anos, em reposta às mudanças na composição das espécies e no clima.

A vazão ao longo do tempo pode ser obtida com base na relação, denominada curva-chave,
entre a leitura dos níveis da água e a vazão, possibilitando substituir a medição contínua das
descargas pela medição contínua dos níveis, posto que esta é muito mais fácil de obter que aquela
(Tucci; Mendes, 2006; Chevallier, 2015, citados por Ferraz, 2018 ).

Para caracterizar as condições de disponibilidade de água, as principais vazões utilizadas são as


vazões mínima, média e máxima. Estas expressam, conforme referenciado por Tucci (2015),
respectivamente: a disponibilidade hídrica em períodos de estiagem, associada a uma frequência e
duração; a capacidade de disponibilidade hídrica, o potencial energético e outros usos de uma
bacia; e os valores extremos que podem gerar enchentes, utilizada em previsões e no
dimensionamento de obras hidráulicas. Há também a vazão especifica, a qual relaciona a vazão
de uma bacia com sua área de drenagem, aplicável na regionalização de vazões, em estudos
comparativos de bacias, entre outros (Ferraz, 2018 ).

Vazão de base da drenagem superficial nas florestas


Esse critério considera que todo o fluxo de água em cursos superficiais nos períodos críticos de
recessão de chuvas representa fluxo subterrâneo, de forma que a outorga deve ser feita com base
em um percentual da vazão de base (Corrêa, 2011).

As vazões de base variam não somente em função da sazonalidade das chuvas ou ocorrência
aleatória das mesmas (tanto com relação à localização quanto à intensidade), mas também em
função do caminho que é percorrido na superfície do solo pela água entre o ponto de
precipitação até o curso de água (Corrêa, 2011).

Nesse caminho, parte da água escoa directamente para a drenagem representando de forma
quase instantânea no tempo a precipitação ocorrida na bacia hidrográfica (fluxo superficial).
Outra parte infiltra nas camadas superficiais do solo dividindo-se aí em dois fluxos: um que fica
retido nas porções superficiais do solo, servindo quase sempre como suprimento de água
especialmente à vegetação (fluxo interno), e outro que escoa para o sistema aquífero subjacente.
Quanto à temporalidade, a fonte advinda do sistema aquífero é a última a alimentar a drenagem,
o que ocorre, em geral, nos períodos de recessão de chuvas (Riggs, 1964, citado por Corrêa,
2011).

O comportamento das vazões dos cursos de drenagens superficiais é expresso por meio de
hidrogramas. O hidrograma é a denominação dada ao gráfico que relaciona a vazão no tempo
sendo esta informação obtida como resultado da interacção de todos os componentes do ciclo
hidrológico entre a precipitação e a vazão na bacia hidrográfica. A forma do hidrograma depende
de um grande número de factores, dentre eles o relevo (forma, densidade de drenagens,
declividade etc.), a cobertura da bacia (se com cobertura vegetal ou impermeabilizada), a
distribuição, duração e intensidade das precipitações, além das características dos solos na bacia.
Para a definição da vazão dentro deste parâmetro é necessário separar, portanto, os diversos
tipos de fluxo no hidrograma com a determinação do fluxo superficial, do fluxo interno e do
fluxo de base (Corrêa, 2011).
Consumo e utilização da água
O consumo mundial nos últimos 100 anos tem vindo a aumentar muito, quer pelo crescimento
vertiginoso da população mundial, quer pela utilização, cada vez em maior escala, associada ao
progresso das sociedades.

Segundo Possa (2011), os usos da água podem ser divididos em duas categorias:

 Consumptivos - referem-se aos usos que retiram a água da sua fonte natural diminuindo
a sua disponibilidade espacial e temporal (agrícola, industrial, doméstico e municipal,
pecuário e piscícola);
 Não consumptivos - referem-se aos usos que retornam à fonte, praticamente a
totalidade da água utilizada, podendo haver alguma modificação no seu padrão temporal
de disponibilidade (ecológico/ambiental, navegação, produção de energia, recreio e
turismo).

Rede hidrométrica
Esta é uma secção de um curso de água onde se efectua um registo periódico de níveis, e onde se
definiu uma curva de vazão para conversão dos respectivos valores em caudais. As estações
hidrométricas podem ser limnométricas, quando providas unicamente de uma escala
hidrométrica para leitura periódica de níveis, e limnográficas, quando providas de um limnígrafo
para registo contínuo de níveis.

O conjunto de estações hidrométricas de uma região ou país constitui a respectiva rede


hidrométrica (Rodrigues et al., 2011).

Segundo Rodrigues, a rede hidrométrica tem as seguintes finalidades gerais das observações:

 Obtenção de dados para planeamento (planeamento e projecto de obras hidráulicas e


modelização de uma bacia hidrográfica). Para este propósito é fundamental a existência
de sucessões históricas de observações hidrométricas, isto é, de registos de medições
efectuadas ao longo de um certo período de tempo.

Uma sucessão de dados hidrométricos, para ser realmente boa, necessita de ter pelo menos 20
anos de observações, ou ainda mais, quando se tratar de bacias de regime muito irregular. É, por
isso, clara a necessidade de se instalar uma rede hidrométrica básica, mesmo quando não exista a
necessidade imediata de proceder a estudos hidrológicos;

 Obtenção de dados operacionais (gestão em tempo real de um sistema fluvial). Estes


dados destinam-se a permitir a tomada de decisões em períodos de tempo muito curtos,
como em situações de alarme ou emergência, pelo que é tão importante a rapidez na sua
transmissão como a qualidade da sua medição. A obtenção destes dados encontra-se
associada ao desenvolvimento dos modernos sistemas de telemetria, que compreendem,
além das estações hidrométricas, um sistema de comunicações automático das
informações nelas obtidas, via rádio ou telefone, para uma central de comando do
sistema, onde são tomadas as decisões que dizem respeito à abertura ou fecho de
comportas, ao lançamento de avisos de cheia.

Classificação da rede hidrométrica segundo Rodrigues et al (2011):

 Principais ou de base: são estações permanentes que funcionam em regime contínuo e


destinam-se a fornecer os elementos de base para o estudo estatístico do escoamento;
 Secundárias: são aquelas que no seu funcionamento é limitado a um determinado
número de anos, e destinam-se a fornecerem dados adicionais que poderão ser
extrapoláveis para além do seu período de funcionamento;
 Especiais ou terciárias: estas destinam-se à obtenção de elementos para estudos
específicos e não fazem parte da rede hidrométrica.

2.4. Regime de águas subterrâneas sob influência de ecossistemas florestais


2.4.1. Águas subterrâneas
Os recursos hídricos subterrâneos sempre desempenharam um importante papel, e deverão
continuar a fazê-lo, tanto no abastecimento das populações como na origem de água para a
agricultura e a indústria. Na realidade, aqueles recursos quase sempre constituíram as primeiras
origens de água, tendo mantido esse desempenho em muitas regiões, até há pouco tempo, e
mantendo-o ainda noutras. Mesmo em vastas zonas onde as águas subterrâneas são escassas, elas
podem ser fundamentais, na ausência de outros recursos hídricos economicamente mobilizáveis,
permitindo assegurar o abastecimento de núcleos urbanos ou industriais de pequena dimensão,
de explorações agro-pecuárias e do regadio de pequenas explorações agrícolas (SNIRH, 2018),
citado por (Lousada & Camacho, 2018).

Captações de água subterrânea

Segundo (Lousada & Camacho, 2018), entende-se por captação de água subterrânea qualquer
dispositivo que permita extrair a água contida num sistema aquífero, quer seja por gravidade, por
bombagem, ou qualquer outro sistema de elevação:

 Furos;
 Galerias;
 Fontes de encosta ou nascentes;
 Poços.

a) Furos

A captação de águas subterrâneas profundas faz-se através de furos, não atingindo, no entanto,
normalmente profundidades superiores a 300 m. A realização de um furo deve ser precedida por
uma adequada caracterização hidrogeológica da zona, isto para se garantir o êxito da obra e evitar
o desperdício de recursos financeiros,

b) Galerias

Trata-se de uma perfuração sub-horizontal de grande diâmetro (1,5x2m) com uma profundidade
muito maior do que o diâmetro (comprimentos desde 500m a 3000m, até intercetarem o nível de
saturação). A água penetra ao longo da obra criando um fluxo aproximadamente paralelo e
horizontal. A água captada circula por gravidade.

c) Nascentes

Quando a superfície do aquífero intersecta a superfície do terreno, a água brota naturalmente à


superfície e constitui aquilo que se costuma designar por nascente, que é a fonte de água e não a
captação propriamente dita. No que diz respeito a captação, na Madeira, existe um sistema de
canais, as levadas, que recolhem e transportam a água das nascentes (Sousa, 2001), citado por
(Lousada & Camacho, 2018).

Ainda, a captação de água proveniente de uma nascente pode ser efectuada construindo uma
câmara na zona de afloramento. Uma característica deste tipo de captação é a variabilidade dos
caudais ao longo do ano. O início da época de menor produtividade das fontes coincide, em
geral, com os períodos de maiores consumos. Por esta razão só pode garantir sozinha, os
consumos de pequenos aglomerados. No entanto, mesmo quando são necessários grandes
caudais pode ser utilizada como origem e ser completada com uma outra captação.

Sendo a água de boa qualidade e tendo o afloramento uma cota superior ao aglomerado, isto é,
podendo a adução fazer-se por gravidade, então será boa ideia o aproveitamento integral da
capacidade da fonte (Sousa, 2001, citado por Lousada & Camacho, 2018).

Segundo Sousa (2001), citado por (Lousada & Camacho, 2018), as obras de captação deverão ser
concebidas para permitirem:
 A conservação das condições físicas da água, temperatura e teor em gases;
 A sedimentação de areias e finos, evitando que entrem na conduta de distribuição;
 A impermeabilização relativamente a águas exteriores.

As quantidades de trabalho envolvidas na construção deste tipo de captação relacionam-se com


o reforço da zona de toma com materiais que permitam a constituição de um filtro (brita, areia
grossa) e com a execução de um reservatório de dois compartimentos, sendo o primeiro
destinado à sedimentação e o segundo para a zona da toma. Deverá, também, ficar prevista uma
câmara de manobras para a instalação de tubagens e válvulas (Sousa, 2001). regulação de caudais,
entre a origem e o consumo;

d) Poços

A captação da água subterrânea por meio de poços caracteriza-se por provocar o escoamento
que se processa radialmente no interior do maciço poroso que contém o aquífero (ou lençol de
água subterrâneo), (Júnior, 2015), citado por (Lousada & Camacho, 2018).

A captação feita por meio de poços pode ser realizada:

 Com o aproveitamento do aquífero freático, que é o primeiro a ser encontrado quando se


faz uma escavação e que, conforme já visto, contém a água no interior do maciço poroso
sujeita à pressão atmosférica;
 Com o aproveitamento do aquífero artesiano, onde a pressão da água é superior à
atmosférica por se encontrar confinada entre camadas impermeáveis. De acordo com o
aquífero que se utiliza como fonte de suprimento, o poço é então denominado freático
ou artesiano.

Classificação de aquíferos
Os aquíferos podem ser classificados de três formas:

 Quanto à estrutura geológica: porosos, fissurados e cársicos;


 Quanto à localização geográfica: costeiros e interiores, basais e suspensos;
 Quanto à pressão a que está submetido: livres ou freáticos, confinados ou cativos.
1. Quanto à estrutura geológica
 Aquífero poroso ou sedimentar: formado por rochas sedimentares consolidadas,
sedimentos não consolidados ou solos arenosos. A circulação da água se faz nos poros
existentes entre os grãos de areia, silte e argila (Lousada & Camacho, 2018). Ocorrem em
grandes áreas e apresentam grande volume de água, por isso, são considerados aquíferos
mais importantes. Esses tipos de aquíferos ocorrem em locais de acumulação de
sedimentos arenosos como grandes bacias sedimentares. Apresentam porosidade
homogênea que faz com que a água possa fluir em qualquer direção definida pela
diferença de pressão hidrostática (Winck, 2015, citado por Lousada & Camacho, 2018).
 Aquífero fraturado ou fissural: formado por rochas ígneas, metamórficas ou cristalinas,
duras e maciças. As águas ocorrem neste tipo de aquífero, nas fraturas e falhas formadas
devido ao movimento tectônico. A quantidade de água está relacionada ao número de
fraturas e o fluxo é dado através das ligações e comunicações existentes entre elas
(Winck, 2015, citado por Lousada & Camacho, 2018).
 Aquífero cárstico: formado em rochas calcárias ou carbonáticas. A circulação da água
ocorre nas fraturas e em outras descontinuidades resultantes da dissolução do carbonato
em água. Essas descontinuidades podem ter grandes aberturas e formar rios subterrâneos
que atingem grandes dimensões. São aquíferos que apresentam heterogeneidade e dureza
elevada. As rochas que compõem esse tipo de aquífero são os calcários, dolomitos e
mármores (Winck, 2015, citado por Lousada & Camacho, 2018).
2. Quanto à localização geográfica e pressão
 Aquífero livre: apresenta-se com um extrato superior permeável, sendo inferiormente
limitado por uma rocha permeável ou semipermeável. Encontram-se, em geral, em
profundidades pequenas, sendo quase sempre limitados pela própria superfície ou pelo
limite de acumulação da água. Esse tipo de aquífero é o de mais fácil extração de recursos
hídricos, sendo, muitas vezes, chamado de aquífero freático (Lousada & Camacho, 2018).
 Aquíferos suspensos: são um caso particular do aquífero livre, formados por uma base
inferior impermeável e uma base superior permeável ou semipermeável, sem a
capacidade de transmitir, acumular ou receber mais água (Lousada & Camacho, 2018).
 Aquíferos confinados: são aqueles cercados por camadas impermeáveis e mantidos sob
uma pressão interna superior à pressão atmosférica. Quando perfurados, os seus poços
costumam jorrar água em velocidade razoável em razão dessa pressão superior (Lousada
& Camacho, 2018)

Classificação dos cursos de água

Para o uso dos recursos subterrâneos é de fundamental importância que sejam avaliadas as
reservas hídricas renováveis, permanentes, totais e exploráveis, para que seja obtida uma previsão
do volume de água que poderá ser extraída dos sistemas aquíferos, sem prejuízo do sistema
natural e sem risco de colapso do abastecimento após um período contínuo de bombeamento
(Corrêa, 2011).

Perenes: contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação
contínua.

Intermitentes: em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem.


Durante as estações chuvosas, transportam todos os tipos de deflúvio, pois o lençol de água
subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso de água, o que não ocorre
na época de estiagem, quando o lençol freático se encontra em um nível inferior ao do leito.

Efémeros: existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e só


transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível inferior
ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio subterrâneo
(Carvalho, da Silva, Machado, & Ronalton).

Ecossistemas Dependentes de Água Subterrânea


Toda a vegetação requer água para crescer, embora para a maioria das plantas a precipitação seja
a principal e muitas vezes única fonte de água disponível, existe, no entanto, uma classe de
vegetação que utiliza água subterrânea para auxiliar o crescimento e a fotossíntese. Essa classe
diz-se ser dependente de água subterrânea, porque a ausência de água subterrânea tem um
impacto negativo no crescimento e saúde dessa vegetação. Assim a ausência prolongada de água
subterrânea em zonas que antes tinham água subterrânea disponível leva a uma mudança na
estrutura e função do ecossistema (Eamus, 2009, citado por Fernandes, 2013).

As massas de água subterrânea determinam não só a disponibilidade de água, mas também a


disponibilidade de oxigénio na zona de enraizamento. Assim níveis de água subterrânea elevados
impedem a aeração e permitem que apenas espécies adaptadas a essas circunstâncias cresçam. O
nível das águas subterrâneas é portanto um factor ecológico determinante (Klijn & Witte, 1999,
citado por (Fernandes, 2013).

A dependência de água subterrânea por parte dos ecossistemas baseia-se em um ou mais de


quatro propriedades básicas da água subterrânea: (1) o fluxo de água subterrânea, ou seja, a taxa e
o volume de fornecimento de água para o ecossistema; (2) o nível (para aquíferos não
confinados) ou (3) a pressão (para aquíferos confinados), que se traduzem na quantidade de água
disponível; (4) a qualidade da água subterrânea que pode ser expressa em pH, salinidade,
concentração de nutrientes, de contaminantes e outros. A resposta dos ecossistemas a alterações
nestas propriedades é variável, nalguns casos pode existir um valor limite das propriedades para
além do qual o ecossistema colapsa. Noutros casos pode existir uma mudança mais gradual na
saúde do ecossistema devido por exemplo a um aumento da salinidade ou concentração de
contaminantes (Sinclair Knight Merz, 2001, citado por Fernandes, 2013).

As florestas ribeirinhas providenciam vias para a circulação de animais ao longo de paisagens


fragmentadas. O uso de água subterrânea pelas árvores pode evitar o desenvolvimento de
salinidade de sequeiro nos solos, enquanto a capacidade das árvores de fixar o solo e capturar
escorrências é importante para manter a qualidade da água e solo. Devido a estes e outros
serviços prestados pelos EDAS a sua preservação é essencial (Eamus, 2009) citado por
(Fernandes, 2013).

Ciclo hidrológico
O ciclo hidrológico é a sequência fechada dos processos envolvidos no movimento contínuo da
água entre a Terra e a atmosfera (IST, 2018).

Ao longo deste ciclo, a água evapora-se a partir dos oceanos e da superfície da Terra, entra na
circulação atmosférica sob a forma de vapor, retorna à superfície como precipitação líquida ou
sólida, produz escoamento sobre o terreno, infiltra-se para o interior solo, permitindo a recarga
dos aquíferos, concentra-se sob a forma de escoamento canalizado na rede fluvial que a
encaminha para os oceanos de onde se evapora novamente (IST, 2018).

O movimento permanente da água, em regime ininterrupto, no ciclo hidrológico é mantido pela


energia solar e pela energia gravítica. A quantidade total de água na Terra é constante e
aproxima-se dos 1400x1015 m3.
Figura: Ciclo hidrológico (fonte: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercycle.html).

Destaca-se, ainda, os principais processos envolvidos no ciclo hidrológico (IST, 2018):


 Transferência de água da superfície da Terra para a atmosfera, por evaporação dos
oceanos, lagos, rios, solo, por sublimação do gelo e por transpiração dos animais e
plantas;
 Condensação parcial do vapor de água da atmosfera em nuvens e nevoeiros;
 Transporte de vapor de água pela circulação atmosférica;
 Transferência de água da atmosfera para a superfície da Terra (líquida ou sólida);
 Infiltração e alimentação dos aquíferos;
 Retenção em lagos, glaciares e na vegetação;
 Escoamento à superfície dos continentes em direção aos oceanos.

Importância da determinação dos cursos de água

A determinação da vazão em cursos d’água é fundamental para o estudo de inúmeras aplicações,


sendo que em algumas se tem à necessidade de conhecer a vazão máxima, enquanto que em
outras se deve conhecer a vazão mínima. Das aplicações, onde se deve conhecer a vazão
máxima, destacamos: projectos de vão de pontes; projectos de obras de drenagens; rectificação
de cursos d'água; dimensionamento de vertedores de barragens; controlo de enchentes.

Das aplicações, onde se deve conhecer a vazão mínima, destacamos: navegação interior;
abastecimento d'água urbano; abastecimento d'água industrial; controle da poluição; geração de
energia elétrica. A determinação da vazão, seja ela máxima ou mínima, é feita nos postos
fluviométricos, os quais devem ser instalados respeitando-se as seguintes condições: localização
em trechos mais ou menos rectilíneos de curso d'água, de preferência a sua jusante as margens
devem ser bem definidas e livres de singularidades que poderiam causar perturbações no
escoamento; secção transversal tanto quanto possível simétrica; - velocidades superiores a 0,3
m/s (Carantinga, 2016).

A hidrometria, estudo dos métodos de medição de velocidade e vazão da água, é de grande


importância para a agricultura, pois favorece aos agricultores no planeamento de suas actividades
agrícolas e a tomada de decisão, uma vez que permitem quantificar a vazão disponível para os
mais diversos usos da água no meio rural; dentre os aspectos particulares de sua importância
podemos destacar o controle da vazão (volume) de água de irrigação a ser aplicada em projectos,
permitindo assim a racionalização do uso da água; quantificar a vazão disponível para acionar
uma roda d’água ou carneiro hidráulico (Carantinga, 2016).

O papel da floresta no ciclo hidrológico em bacias hidrográficas


Influência da cobertura florestal na dinâmica da água da chuva
A cobertura florestal tem grande importância no balanço hídrico de um determinado local por
alterar, através dos processos de interceptação, infiltração, absorção, transpiração e percolação, a
movimentação da água da chuva em direção aos rios e lagos (Castro et. al., 1983).

Segundo Schumacher & Hoppe (1998), a importância das florestas não está ligada à quantidade
de água no solo ou ao aumento da precipitação, mas ao efeito regulador que as florestas exercem
sobre o ciclo hidrológico. A cobertura vegetal influência a redistribuição da água da chuva, em
que as copas das árvores formam um sistema de amortecimento, direcionamento e retenção das
gotas que chegam ao solo, afetando a dinâmica do escoamento superficial e o processo de
infiltração. Desse modo, o abastecimento do lençol freático é favorecido e a variação de vazão ao
longo do ano, reduzida, além de retardar os picos de cheia (Oliveira & Dias, 2005).

As boas condições à infiltração dos solos florestais são concebidas, principalmente, pela camada
orgânica presente no solo e pelas raízes. A matéria orgânica reduz o impacto das gotas de chuva,
diminuindo assim, a desagregação das partículas, que dependendo do seu tamanho podem ser
levadas pelo escoamento superficial, enquanto a raiz forma canalículos no solo facilitando a
infiltração da água da chuva. Além disso, a água da chuva, após entrar em contato com o dossel
da floresta, tem suas características físico-químicas alteradas pela lixiviação de metabólitos dos
tecidos das folhas, troncos e ramos e também pela lavagem de partículas provenientes da
deposição seca que acumulam após o período de estiagem (Oki, 2002).

Os impactos causados pelo desmatamento e manejo inadequado do solo traduzem-se em:


redução da infiltração da água da chuva no solo; aumento do escoamento superficial; redução da
transpiração; aumento da incidência do vento sobre o solo; aumento da temperatura local e
diminuição da biodiversidade faunística do solo (Braga, 1999). Com isso, o ciclo hidrológico local
se altera, forçando a uma nova dinâmica da área, que por sua vez, afeta o regime normal dos rios.

Segundo Lima (2008), o conhecimento do papel das florestas sobre os vários aspectos da água é
de fundamental importância no que diz respeito ao ciclo hidrológico, bem como, na elaboração
de práticas de manejo florestal com a finalidade de manutenção e conservação hidrológica das
bacias hidrográficas.
Interceptação
A vegetação tem grande importância dentro do contexto do balanço hídrico de um local,
principalmente em áreas com florestas, por interferir, através da interceptação, no recebimento e
redistribuição das águas da chuva (Oliveira et. al., 2008). A interceptação contribui para a massa
de vapor de água precipitável na atmosfera, pois parte da água que cai sob a forma de chuva
retorna para a atmosfera por evaporação antes de chegar ao solo (Ferreira et. al., 2005).

A quantidade de chuva interceptada por um ecossistema é influenciada por fatores ligados às


características da precipitação, condições climáticas, tipo e densidade da vegetação e período do
ano (Tucci, 2001).

De modo geral, os trabalhos mostram que a interceptação em florestas tropicais varia em torno
de 4,5 a 24,0 % da precipitação total incidente acima do dossel, evidenciando a importância desse
tipo de vegetação para a bacia hidrográfica e para os estudos hidrólogos.

Segundo Tucci (2001), pequenas precipitações (<0,3 mm), podem ser totalmente interceptadas
por uma floresta, sendo a folhagem a grande responsável pela maior parte da interceptação,
embora a disposição também contribua significativamente para a retenção da água. Verificaram
que a taxa de interceptação é maior para um período caracterizado por apresentar chuva de baixa
magnitude, intensidade e frequência.

Precipitação efectiva
Em Florestas e plantios arbóreos, a quantidade de água da chuva que atinge a superfície florestal
é denominada precipitação efetiva que é dada pela soma da precipitação interna e do escoamento
pelo tronco (Lima, 2008). Esta é responsável pela água do solo, pela absorção através das raízes,
pela transpiração das plantas e pela alimentação dos rios (Arcova et. al., 2003). De acordo com os
mesmos autores a quantidade de água que compõe a precipitação efetiva depende de fatores
relacionados tanto com a vegetação quanto com as condições climáticas nas quais a floresta está
inserida. Castro et. al. (1983), relata que factores experimentais também podem influenciar nos
resultados obtidos nesses estudos.

Segundo Oliveira & Dias (2005), a precipitação efetiva é de grande importância para os estudos
dos processos de interceptação, infiltração, percolação, absorção, transpiração e ciclagem de
nutrientes em ecossistemas florestais. Estudos realizados em fragmentos de Mata Atlântica,
mostram valores médios de precipitação efetiva de 87,3 % (Moura et al., 2009), 81,6 % (Alves et.
al., 2007) e 87,6 % (Castro, et. al., 1983).
Precipitação interna
A precipitação interna é a chuva que atinge o solo florestal, incluindo gotas que passam
diretamente pelas aberturas existentes entre as copas e gotas que respingam do dossel da floresta
(Lima, 2008).

Devido à grande heterogeneidade do dossel florestal, a precipitação interna apresenta maior


variabilidade que a precipitação em aberto, necessitando, assim, de um maior número de
pluviômetros para sua medição (Oliveira, 2006).

A ocorrência de diferentes espécies na área e o entrelaçamento entre seus galhos contribuem


para que o fluxo de escoamento ocorra por caminhos preferenciais, gerando pontos de
gotejamento e áreas protegidas, que tendem a aumentar a quantidade de água registrada em
alguns pluviômetros e a diminuir em outros, respectivamente (Oliveira, 2006).

Escoamento pelo tronco


O escoamento pelo tronco é a fração da chuva que é retida temporariamente pelas copas
juntamente com aquela que atinge diretamente os troncos e que posteriormente escoam pelo
tronco das árvores, chegando ao solo (Oliveira & Dias, 2005). Esta via corresponde de 1 a 15 %
do total precipitado (Tucci, 2001).

Apesar de aparentemente pequeno em relação a precipitação total incidente acima do dossel, o


escoamento pelo tronco não deve ser negligenciado, pois sua influência na velocidade e
quantidade de água que atinge o solo florestal permite boa infiltração da água da chuva no solo,
além de reduzir a incidência de escoamento superficial (Oliveira et. al., 2008).

Para algumas espécies o volume de água escoado pelo tronco pode estar diretamente ligado a
sobrevivência destas no ambiente, principalmente nos períodos mais secos do ano. O volume de
água recebido nas proximidades dos troncos chega a ser cinco vezes superior àquele recebido
por áreas mais distantes (Oliveira, 2006).

Vários fatores podem interferir no escoamento pelo tronco, tais como: intensidade, ângulo,
duração e intervalo entre precipitações, densidade de copa, estratificação das copas, diversidade
de espécies, idade de espécies, filotaxia, tipo de folha, tamanho do limbo, forma do limbo,
característica da casca e metodologia (Oliveira, 2006).

Infiltração
Infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas de solo próximas à superfície do
terreno, movendo-se para baixo, através dos vazios, sob ação da gravidade, até atingir uma
camada suporte, que a retém, formando então a água do solo (Mendonça, et al., 2009).
À medida que a água infiltra no solo, as camadas superiores do perfil vão se umedecendo no
sentido de cima para baixo, alterando gradativamente a humidade do solo. Enquanto há aporte
de água, o perfil tende a saturação em toda a profundidade, sendo a camada superficial,
naturalmente, a primeira a saturar. Normalmente, a infiltração decorrente de precipitações
naturais não é capaz de saturar todo o solo, restringindo-se a saturar as camadas próximas à
superfície (Brandão et. al., 2006).

Aquíferos: reservatórios da água subterrânea


Unidades rochosas ou de sedimentos, porosas e permeáveis, que armazenam e transmitem
volumes significativos de água subterrânea passível de ser explorada pela sociedade são chamadas
de aquíferos (do latim “carregar água”). O estudo dos aquíferos visando a exploração de
proteção da água subterrânea constitui um dos objetos mais importante da Hidrogeologia. Em
oposição ao termo aquífero, utiliza-se o termo aquiclude para definir unidades geológicas que,
apesar de saturadas, e com grandes quantidades de água absorvida lentamente, são incapazes de
transmitir um volume significativo de água com velocidade suficiente para abastecer poços ou
nascentes, por serem rochas relativamente impermeáveis. Por outro lado, unidades geológicas
que não apresentam poros interconectados e não absorvem e nem transmitem água são
denominadas de aquifugo (Tolento et al., 2000).

Regime das águas sob influencias de ecossistemas florestais


O papel da floresta no equilíbrio dos ecossistemas sempre ocupou um lugar de destaque. No
entanto, a floresta também exerce influencia importante na vida urbana e rural, embora somente
nas ˙ultimas décadas tenham sido dada a devida atenção sobre a influência que promovem sobre
o clima, solo e água, motivada provavelmente pela crescente industrialização e urbanização, pelo
aumento da população e da complexidade urbana, e das necessidades de melhoria na qualidade
de vida da população. A importância das florestas no balanção hídrico não esta ligada ao
aumento da água no solo, ou da precipitação, mas ao efeito regulador que as florestas exercem
sobre esse balanção. Na floresta Amazónica, que ocorre em extensas áreas. É provável que 50%
do vapor da água que se transforma em chuvas sejam provenientes da evapotranspiração da
própria vegetação, exercendo, dessa maneira, papel importante no transporte vertical do vapor
de água para a atmosfera e para a precipitação média anual.

No entanto, em uma floresta de pequenas dimensões, a precipitação depende totalmente das


correntes atmosféricas de outras régies. O ciclo da agua é considerado como um factor de
formação e de controlo do clima, principalmente porque ele não é produto do próprio clima e
também porque água tem influência direta na humidade atmosférica, na precipitação e no
escorrimento superficial, nas trocas energéticas e na liberação e absorção de calor.
(AFUBRA,1993)

As florestas e a dinâmica da água no solo


A manta de material intemperizado que se encontra na superfície da crosta terrestre é classificada
em duas zonas: zona de aeração e zona de saturação. A água subsuperficial, ou seja, água do solo
e água subterrânea se encontram nos espaços da crosta terrestre. A floresta, interceptando a
chuva, permite que uma parte dessa precipitação seja evaporada das copas e outra parte infiltre
através das raízes ou pelo escorrimento através dos troncos, enquanto a parte restante chega ao
solo através dos gotejamentos das copas. Numa floresta, a forma da copa da árvore desempenha
um papel fundamental quanto a distribuição da ·Água das chuvas para o solo (AFUBRA, 1993).

A floresta e a infiltração da água


No caso de uma cobertura florestal que não tenha sofrido nenhum tipo de alteração,
principalmente causada pelo homem, a taxa de infiltração de água no solo È tida como máxima.
No interior de uma floresta qualquer, a camada de matéria orgânica que se encontra depositada
sobre o solo, também chamada de serapilheira, desempenha papel fundamental na manutenção
das condíeis ideais para que ocorra o processo de infiltração da água. Alguns estudos têm
demonstrado que a intensidade da chuva sob florestas de folhosas mistas. É muito semelhante
intensidade da chuva observe o. Tais informações vêm reformar ainda mais que o efeito de
protecção do solo contra o impacto das gotas de chuva. É fornecido mais pela serapilheira e
vegetação de sub-bosque do que pelas copas das árvores. Os efeitos do piso florestal ou
serapilheira sobre a infiltração da água no solevada em campo aberto. A infiltração da água no
solo È bem maior em povoamentos florestais mais densos do que naqueles de menor densidade
e ainda maior em povoamento mais velho. (AFUBRA, 1993)

A floresta e água subterrânea


Os solos sob florestas possuem boas condições de infiltração de água. Logo, as florestas podem
ser consideradas como fontes importantes para o suprimento de água para os aquíferos. Em
habitats diferentes onde o lençol freático se encontra bem superficial, como áreas alagadas e
encostas de rios, sagas, lagos etc., a floresta, pela sua evapotranspiração, auxilia no rebaixamento
do lençol freático. Alguns trabalhos têm apontado que, quando da remoção da floresta, o lençol
freático tende a subirem novamente. No caso de regiões semiáridas, onde a água é um recurso de
primeira necessidade, a presença de florestas ao longo dos cursos d’água pode representar um
grande problema. Em regiões Íngremes, a drenagem limita o armazenamento da ·agua
subterrânea. A presença da cobertura florestal ir· proporcionar uma maior infiltração de ·água no
solo, o que por sua vez ir resultar num maior abastecimento do lençol freático. Os efeitos da
floresta sobre o rebaixamento do lençol freático dependem basicamente da espécie florestal, da
sua densidade de plantio, da forma do seu sistema radicular, dos tratos e métodos silviculturas
dispensados e da colheita da mesma. Mas nem sempre a floresta traz problemas para o lençol
freático; existem casos, quando o lençol é muito superficial, em que a floresta no consegue se
estabelecera floresta e água subterrânea. (AFUBRA, 1993)

A floresta e a qualidade da água


A qualidade da água depende principalmente da geologia e do solo da bacia hidrográfica, bem
como do regime de chuvas da régio e da interacção dos processos hidrológicos envolvidos no
deflúvio de uma determinada bacia hidrográfica. Alguns produtos têm apontado que a qualidade
da água é mais influenciada pela geologia e pelo tipo de solo do que pelo tipo de cobertura
vegetal. Um dos indicadores da qualidade da água das bacias hidrográficas cobertas de vegetação
é o teor e a quantidade de nutrientes que se encontram no deflúvio. A quantidade de nutrientes
que entram através da chuva e a saída desses mediante o deflúvio em bacias hidrográficas
cobertas com diferentes espécies florestais (AFUBRA, 1993)

TEMA III: MANEIO E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS VISANDO A INFILTRAÇÃO

Infiltração de água

A infiltração consiste na entrada de água no solo pela camada superficial, que pela acção da
gravidade desce até atingir uma barreira impermeável, formando os lençóis de água. Brandão et
al. (2006) salientam que a infiltração é dependente de factores relacionados ao solo, da superfície,
maneio, preparo e das características da própria precipitação. As diferenças na infiltração de água
estão relacionadas às fracções granulométricas do solo, à quantidade, à espessura, ao ângulo e ao
preenchimento das fraturas na camada superficial e às condições de relevo e uso actual do solo
(Klein, 2014).

A quantidade e intensidade de insolação recebida tende a influenciar na evaporação e, por


conseguinte, na infiltração (De Morais, 2012), pois quanto maior a disponibilidade de chuvas (via
evaporação), maior a intensidade da precipitação, mais rapidamente o solo atingirá a condição
saturada e passará a conduzir água em profundidade, fenômeno denominado condutividade
hidráulica do solo.

Santos e Pereira (2013) afirmam que a textura e a estrutura são propriedades determinantes na
movimentação de água no perfil do solo, uma vez que determinam a quantidade e disposição dos
poros. O relevo também pode influenciar esta dinâmica, uma vez que áreas planas tendem a
absorver a maior parte da água, e áreas inclinadas tendem a propiciar maior escoamento e baixas
taxas de infiltração. A presença de restos culturais, cobertura vegetal é de fundamental
importância no processo de percepção da precipitação, evitando o processo de escoamento
(Klein, 2014).

Após a passagem da água pela superfície do solo, ou seja, cessada a infiltração, a camada superior
atinge um “alto” teor de humidade, enquanto que as camadas inferiores se apresentam ainda com
“baixos” teores de humidade. Há então, uma tendência de um movimento descendente da água
provocando um molhamento das camadas inferiores, dando origem ao fenómeno que recebe o
nome de redistribuição. A taxa de infiltração da água no solo é alta no início do processo de
infiltração, particularmente quando o solo está inicialmente muito seco, mas tende a decrescer
com o tempo, aproximando-se assintoticamente de um valor constante, denominado taxa de
infiltração estável (Klein, 2014).
Para Klein, (2014), o perfil típico de humidade do solo, durante a infiltração, está apresentado
esquematicamente na Figura a seguir.

Figura: Perfil de humidade do solo durante a infiltração.


Zona de saturação: corresponde a uma camada de cerca de 1,5 cm e, como sugere o nome, é
uma zona em que o solo está saturado, isto é, com um teor de humidade igual ao teor de
humidade de saturação.

Zona de transição: é uma zona com espessura em torno de 5 cm, cujo teor de humidade
decresce rapidamente com a profundidade.

Zona de transmissão: é a região do perfil através da qual a água é transmitida. Esta zona é
caracterizada por uma pequena variação da humidade em relação ao espaço e ao tempo.

Zona de humedecimento: é uma região caracterizada por uma grande redução no teor de
humidade com o aumento da profundidade.

Frente de humedecimento: compreende uma pequena região na qual existe um grande


gradiente hidráulico, havendo uma variação bastante abrupta da humidade. A frente de
humedecimento representa o limite visível da movimentação de água no solo.

De acordo com as diferenças encontradas no que diz respeito à infiltração, os solos podem ser
classificados em quatro grupos principais (Usda, 1972):

 Solos com alta capacidade de infiltração (ou baixo potencial de run off): quando
totalmente molhados, consistindo de camadas de areias e cascalhos profundos, de
drenagem boa a excessiva. Tais solos apresentam alta taxa de transmissão de água.
 Solos com capacidade de infiltração moderada: quando totalmente molhados,
consistindo de solos de profundidade moderada a alta, drenagem moderada a alta, textura
moderadamente fina a moderadamente grosseira. Tais solos apresentam taxas moderadas
de transmissão de água.
 Solos com baixa capacidade de infiltração: quando totalmente molhados, consistindo
de solos contendo camadas impermeáveis que impedem o movimento descendente da
água, ou solos de textura moderadamente fina a fina. Tais solos apresentam baixas taxas
de transmissão de água no perfil.
 Solos com capacidade de infiltração muito baixa (alto potencial de run off):
quando totalmente molhados, consistindo de solos argilosos com alto potencial de
intumescimento, ou com lençol freático permanentemente superficial, ou com camada de
impedimento superficial, ou solos rasos assentados sobre estrato impermeável. Tais solos
apresentam taxa de transmissão de água muito baixa.
Tabela: Classes de capacidade de infiltração (fc) dos grupamentos hidrológicos dos solos
(England, 1970).

Outro grupo de fatores que podem afetar a infiltração diz respeito ao próprio fluido infiltrante,
isto é, a água. Tem sido verificado, por exemplo, que há maior volume de enxurrada quando a
água aplicada sobre o solo é túrbida, em comparação com água cristalina.

Também têm sido encontrados resultados experimentais que mostram que a enxurrada em áreas
florestadas ou revestidas de gramíneas é menor que a de áreas cultivadas, onde a água contém,
em geral, enorme quantidade de sedimentos em suspensão. O efeito, nestes casos, é que o
material em suspensão atua no sentido de bloquear os poros superficiais, impedindo a
continuidade do processo de infiltração.

A água pode, ainda, estar contaminada por diferentes sais em solução, que podem alterar sua
viscosidade e, consequentemente, a infiltração.

A viscosidade da água pode, também, sofrer alteração com a temperatura conforme mostra a
Tabela. Estes efeitos são, evidentemente, difíceis de serem detectados no campo, mas tem sido
observado, por exemplo, maior volume de run off (menor infiltração) na primavera e no outono
do que no verão (Musgrave et al., 1964).

Tabela: Viscosidade dinâmica da água (medida da resistência interna ao escoamento).

Fatores que alteram a capacidade de infiltração

A infiltração é um processo teoricamente simples, porém se torna complexo quando analisamos


todos os fatores que, em algum grau, são capazes de influenciar a ocorrência desse processo. De
acordo com Stürmer et al. (2009) citado por Klein e Klein (2014), as principais diferenças na
infiltração de água estão diretamente relacionadas com as frações granulométricas das camadas
superficiais do solo, sua quantidade, ângulo, espessura, preenchimento das fraturas e ao uso
corrente daquele solo.

A dinâmica da infiltração da água também é alterada por fatores geomorfológicos,


principalmente aqueles ligados ao relevo do local. Isso ocorre uma vez que locais planos
geralmente absorvem mais água, já que ela não tem energia cinética suficiente para escoar antes
de infiltrar. Como levantado por Santos e Pereira (2013), a estrutura e a textura do solo estão
entre as propriedades mais relevantes no quesito influência sobre a dinâmica da água no solo, já
que ambas estão correlacionadas com a quantidade, tamanho e disposição dos poros presentes
no perfil do solo.

Segundo a embrapa (1997), a infiltração é um processo que depende, em maior ou menor


grau, de diversos fatores, dentre os quais destacam-se:

 Condição da superfície: a natureza da superfície considerada é fator determinante no


processo de infiltração. Áreas urbanizadas apresentam menores velocidades de infiltração
que áreas florestadas e agrícolas.
 Tipo de solo: a textura e a estrutura são propriedades que influenciam expressivamente a
infiltração.
 Condição do solo: em geral, o preparo do solo tende a aumentar a capacidade de infiltração.
No entanto, se as condições de preparo e de manejo do solo forem inadequadas, a sua
capacidade de infiltração poderá tornar-se inferior à de um solo sem preparo,
principalmente se a cobertura vegetal presente sobre o solo for removida.
 Umidade inicial do solo: para um mesmo solo, a capacidade de infiltração será tanto maior
quanto mais seco estiver o solo inicialmente.
 Carga hidráulica: quanto maior for a carga hidráulica, isto é a espessura da lâmina de água
sobre a superfície do solo, maior deverá ser a taxa de infiltração.
 Temperatura: a velocidade de infiltração aumenta com a temperatura, devido à diminuição
da viscosidade da água.
 Presença de fendas, rachaduras e canais biológicos originados por raízes decompostas ou pela fauna do
solo: estas formações atuam como caminhos preferenciais por onde a água se movimenta
com pouca resistência e, portanto, aumentam a capacidade de infiltração.
 Compactação do solo por máquinas e/ou por animais: o tráfego intensivo de máquinas sobre a
superfície do solo, produz uma camada compactada que reduz a capacidade de infiltração
do solo. Solos em áreas de pastagem também sofrem intensa compactação pelos cascos
dos animais.
 Compactação do solo pela ação da chuva: as gotas da chuva, ou irrigação, ao atingirem a
superfície do solo podem promover uma compactação desta, reduzindo a capacidade de
infiltração. A intensidade dessa ação varia com a quantidade de cobertura vegetal, com a
energia cinética da precipitação e com a estabilidade dos agregados do solo.
 Cobertura vegetal: O sistema radicular das plantas cria caminhos preferenciais para o
movimento da água no solo o que, consequentemente, aumenta a TI. A presença de
cobertura vegetal reduz ainda o impacto das gotas de chuva e promove o
estabelecimento de uma camada de matéria orgânica em decomposição que favorece a
atividade microbiana, de insetos e de animais o que contribui para formar caminhos
preferenciais para o movimento da água no solo. A cobertura vegetal também age no
sentido de reduzir a velocidade do escoamento superficial.

Compactação do solo

Pode ser causada por tráfego de máquinas pesadas, cascos de animais, pisoteio de pessoas ou
mesmo por ação da chuva quando incide diretamente na superfície do solo (Roque et al., 2011;
Júnior et al., 2014).

Presença de cobertura vegetal

Reduzindo o impacto causado pela chuva e dificultando o escoamento superficial, a cobertura


vegetal é um grande aliado no aumento da taxa de infiltração. O caminho criado pelas raízes das
árvores e pela fauna presente no solo favorece a infiltração, assim como a presença da
serrapilheira que reduz a velocidade do escoamento (Abrantes; Lima; Montenegro, 2015).

Tipo e condição do solo

Como mencionado anteriormente, a estrutura e a textura do solo são pontos chaves entre as
propriedades físicas que afetam o processo de infiltração. O tipo de uso do solo e seu manejo
também são, consequentemente, relevantes, uma vez que são capazes de alterar as propriedades
físicas do solo, deixando o mais compactado ou aerado. Obviamente, quando coberto por outros
elementos ou estruturas, o solo apresentará uma redução na capacidade de absorver água, como
é comum em grandes centros urbanos (Santos e Pereira, 2013).
Métodos para determinação da infiltração de água no solo

Existem diversos métodos para a determinação da infiltração de água no solo. Dentre eles,
destacam-se os infiltrômetros de aspersão ou simuladores de chuva (Alves Sobrinho, 1997), os
infiltrómetros de cilindros concêntricos, os permeâmetros, os infiltrômetros de tensão ou
permeâmetros de disco, os infiltrômetros de pressão.

Métodos que não consideram o impacto da gota da chuva podem superestimar a infiltração da
água, originando problemas no dimensionamento de projetos conservacionistas, gerando
problemas de erosão do solo. Em geral, quando se utiliza o infiltrômetro de aspersão para
determinação da infiltração de água no solo, são menores os valores estimados para a taxa de
infiltração estável em relação aos obtidos com outros métodos (Pott & De Maria, 2003).

A determinação da infiltração de água no solo deve ser feita por métodos simples e capazes de
representar, adequadamente, as condições em que se encontra o solo. Para tanto, torna-se
necessário adotar métodos, cuja determinação baseia-se em condições semelhantes àquelas
observadas durante o processo ao qual o solo é submetido, uma vez que a taxa de infiltração é
muito influenciada pelas condições de superfície e conteúdo de umidade do solo (Pruski et al.,
1997).

Infiltrômetro de anéis concêntricos

O método consiste em utilizar dois anéis concêntricos de diferentes diâmetros, onde a água é
colocada primeiro no anel externo e, posteriormente, no anel interno, onde são realizadas as
medições da diferença da altura da lâmina de água no intervalo de tempo. A água do anel interno
infiltra, predominantemente, verticalmente no solo, sendo possível obter a VIB (velocidade de
infiltração básica).

Os anéis precisam ter um bom diâmetro, em torno de 50 cm para o anel externo e 30 cm para o
interno para se obter valores precisos (Bernardo et al., 2006). Para anéis com diâmetros menores,
os valores obtidos de VIB geralmente superestimam a real capacidade de admitir água do solo.
Entretanto, infiltrômetros com anéis maiores são mais pesados e necessitam de grande
quantidade de água no processo de medição da VIB, o que se torna trabalhoso quando é
necessário realizar várias medições em campo.

Infiltrômetro de aspersão

Esse tipo de infiltrômetro, diferente do primeiro, foi projetado com o intuito de simular
condições naturais de precipitação, o que lhe confere também o nome de simulador de chuva.
Para que se obtenha resultados confiáveis através dessa ferramenta, é necessário grande atenção
e precisão ao coletar e analisar os dados, por se tratar da tentativa de simular um processo natural
e extremamente variável que é a chuva (Silveira & Salvador, 2000).

Maneio do solo e infiltração de água no solo

O solo é um meio poroso e heterogêneo, cujas propriedades podem ser alteradas com o tempo e
conforme o sistema de manejo praticado. A infiltração de água no solo é um fenômeno físico
que consiste na entrada de água no solo pela sua superfície, podendo ser influenciada pelas suas
propriedades intrínsecas e pelo modo como a água atinge sua superfície (Carduro & Dorfman,
1988). A taxa de infiltração de água no solo é talvez, isoladamente, a propriedade que melhor
reflete as condições físicas gerais do solo, sua qualidade e estabilidade estrutural.

Segundo Bertol et al. (2001), práticas diferenciadas de maneio do solo e de cultivos provocam
alterações nas propriedades físicas do solo que podem manifestar-se de várias maneiras,
influenciando o desenvolvimento das plantas. Assim, o solo cultivado tende, com o tempo, a ter
a estrutura original alterada, pelo fracionamento dos agregados em unidades menores, com
consequente redução no volume de macrósporos e aumentos no volume de micróporos e na
densidade do solo. Em decorrência disso, observa-se uma diminuição da taxa de infiltração de
água no solo, com consequente aumento das taxas de escoamento superficial.

Em geral, o preparo convencional altera mais acentuadamente as condições físicas do solo, pela
desagregação superficial, favorecendo, quando da incidência de chuva, o aparecimento de crosta
superficial, e pela compactação subsuperficial, além de diminuir a infiltração de água e facilitar o
processo erosivo. Em decorrência dos problemas causados pelo preparo convencional, surgiram
os preparos conservacionistas, que proporcionam menor mobilização do solo e mantêm maior
proteção da superfície com os resíduos culturais. O plantio direto é um tipo de preparo
conservacionista que procura minimizar a mobilização do solo. Apenas ao longo das linhas de
semeadura é que ocorre revolvimento, apresentando entre estas uma superfície de baixa
rugosidade, porém com alta cobertura residual, que protege o solo (Alves & Cabeda, 1999).

O fator mais importante na taxa de infiltração é a cobertura vegetal que está no solo durante a
chuva. As chuvas de elevada intensidade ocorridas em situações em que o solo não está
protegido pela cobertura vegetal ou pela cobertura morta, promovem compressão pelo impacto
das gotas de chuva, e a infiltração torna-se reduzida; porém em condições de adequada cobertura
superficial, o efeito é amenizado (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).
Maneio do solo e as perdas de solo e de água

A diversidade de transformações químicas, físicas e biológicas que ocorrem nos solos em que é
conduzida a exploração agropecuária, de acordo com Tormena et al.(2002), permitem
caracterizá-los como sistemas complexos que retém e transmitem água, ar, nutrientes e calor às
sementes e plantas, de maneira que é fundamental um ambiente físico favorável ao crescimento
radicular, para maximizar a produção das culturas.

Os sistemas de preparo do solo devem oferecer condições favoráveis ao crescimento e


desenvolvimento das culturas. No entanto, dependendo do solo, do clima, da cultura e de seu
manejo, eles podem promover a degradação da qualidade física do solo, com restrições ao
crescimento radicular. Nas regiões tropicais, sistemas de preparo com mínima perturbação do
solo e que propiciem a manutenção de resíduos na superfície são necessários para o controle da
erosão, redução da degradação do solo e do meio ambiente. O controle da erosão é fundamental
para reduzir o processo de degradação do solo e práticas eficientes exigem a manutenção da
cobertura do solo (Tormena et al., 2002).

Maneio ecológico do solo

O manejo ecológico, assim como a ciência de conservação, defende um conjunto de medidas


para a manutenção (nas terras em boas condições) ou a recuperação (nas terras danificadas) das
condições físicas, químicas e biológicas do solo. Para isso, é preciso estabelecer critérios de uso e
manejo das terras de modo que não se comprometa a capacidade produtiva dessas terras (Brito
& almeida,1984). Para proteger o solo dos efeitos danosos da erosão e criar condições adequadas
ao desenvolvimento das plantas, é necessário aumentar:
 A disponibilidade de água,
 A quantidade de nutrientes, e
 A atividade biológica do solo.
Para uma conservação do solo mais eficaz, é necessário conhecer o ambiente em que se vai
trabalhar, levando-se em consideração:

 O clima da região,
 O tipo e a condição do solo utilizado,
 O relevo do terreno,
 Os problemas enfrentados pelo produtor,
 A condição financeira do produtor, e
 A disponibilidade de mão-de-obra para a implantação de medidas preventivas e curativas
dos problemas ocasionados pelo mau uso do solo.
Problemas causados pelo mau uso do solo

De modo geral, o solo mantido em estado natural, sob a vegetação nativa, apresenta
características físicas adequadas a um ótimo desenvolvimento das plantas. Nessas condições, o
volume de solo explorado pelas raízes é relativamente grande. Contudo, à medida que o solo é
submetido ao uso agrícola, suas propriedades físicas sofrem alterações, geralmente desfavoráveis
ao desenvolvimento vegetal (Brito e almeida,1984).

Um maneio inadequado do solo gera inúmeros problemas e produz efeitos em cadeia, que
afetam todo o bioma. A erosão, a compactação e o aumento da salinidade do solo são os maiores
problemas relacionados com o maneio inadequado e poderão ser responsáveis pela escassez de
alimentos num futuro não muito distante, se práticas corretas de manejo e conservação do solo
não forem adotadas desde já (Brito e almeida,1984).

A seguir, serão abordados os problemas decorrentes do mau uso do solo, dando-se maior
importância aos problemas associados à erosão, que é a principal causa de degradação das áreas
agricultáveis da região, principalmente devido ao tipo de relevo (Brito e almeida,1984).

Salinização

Segundo Brito e almeida, (1984) Chama-se salinização do solo o processo de acumulação de sais
solúveis de sódio, de magnésio e/ou de cálcio.

Causas da salinização:
 Material originário de rochas;
 Irrigação com água com alto teor de sais;
 Problemas na drenagem interna do solo;
 Irrigação em solos rasos ou mal drenados;
 Adubação excessiva e localizada.
O acúmulo de sais no solo pode alterar sua estrutura, além de reduzir sua fertilidade. Com o
excesso de sais, a planta enfrenta dificuldades na absorção de água e sofre interferência nos
processos fisiológicos (efeitos indiretos), prejudicando seu crescimento e desenvolvimento. Esse
tipo de problema ocorre principalmente em regiões áridas e semi-áridas, mas o uso
indiscriminado de fertilizantes e irrigação com água salina podem originar o mesmo problema
em solos de outras regiões (Brito e almeida,1984).
Controle da salinidade
 Lixiviação dos sais em excesso na zona radicular da cultura;
 Manutenção de altos níveis de umidade no solo;
 Utilização de culturas tolerantes à salinidade;
 Melhoria na drenagem do solo.

Compactação do solo

Quando o solo sofre pressões inadequadas, suas partículas tornam-se muito densas (sólidas), e
dizemos que ocorreu um processo de compactação. Esse é um grande problema, pois ocasiona
quebra dos agregados e diminuição no seu volume, o que impede uma correta infiltração de água
(Brito e almeida,1984).

Problemas ocasionados ao solo pela compactação


 Diminuição da troca gasosa (oxigênio e dióxido de carbono);
 Limitação no movimento de nutrientes;
 Diminuição da taxa de infiltração de água no solo, promovendo o excesso de água e a
possibilidade de enxurradas.

Problemas ocasionados às plantas pela compactação


 Dificuldade para a germinação, brotação e emergência das plantas;
 Prejuízo no crescimento radicular: as raízes são impedidas de penetrar no solo e ficam
retidas na camada superficial.

Identificação da compactação

Pode ser feita no campo, por meio de observações práticas ou de equipamentos apropriados. A
determinação da densidade do solo deve ser destacada, pois é o método de maior precisão e
largamente utilizado, uma vez que busca avaliar a proporção do espaço poroso em relação ao
volume de solo (Brito e almeida,1984).

Como minimizar a compactação dos solos


1. Alternar todo ano a profundidade de preparo do solo e fazer periodicamente a
manutenção dos equipamentos agrícolas.

2. Atentar para as condições de umidade do terreno por ocasião de seu preparo. O ponto
de umidade ideal é aquele em que o trator opera com o mínimo esforço, produzindo os
melhores resultados na execução do serviço. Com o solo muito húmido, aumentam os
problemas de compactação, pois ocorre maior agregação das partículas e impregnação da
terra nos implementos, chegando a impedir a operação.

3. Incorporar matéria orgânica ao solo, uma vez que a matéria orgânica melhora a agregação
das partículas de solo, melhorando a porosidade e, consequentemente, a infiltração de
água. O principal papel da matéria orgânica contra a compactação é o seu poder de
absorção de água. Quando se adiciona matéria orgânica ao solo, a quantidade de água
para que ocorra a compactação é maior do em um solo que não a possui.

Erosão
É chamado erosão o processo de arrastamento das partículas do solo devido à ação do vento
(erosão eólica) e da água (erosão hídrica) (Brito e almeida,1984).

A erosão é um processo que ocorre de forma natural e que ao longo de bilhões de anos, muito
lentamente esculpiu as montanhas, as planícies e os vales do nosso planeta. Em condições
naturais, a quantidade de solo erodido é muito pequena, sendo recomposta pela própria natureza.
Isso caracteriza uma condição de equilíbrio (Brito e almeida,1984).

Os processos de erosão ocorrem em três etapas:

 Desagregação: pela ação dos ventos e das chuvas, as partículas do solo são soltas da
superfície, o que ocorre com maior facilidade em terrenos descobertos.
 Transporte: as partículas desagregadas são arrastadas, principalmente pela água que não
se infiltra no solo e escorre superficialmente (enxurrada).
 Deposição: as partículas desagregadas são depositadas nas partes mais baixas da
paisagem (vales e leitos dos rios), o que ocasiona o assoreamento (como será visto
adiante).

A chuva é o principal agente erosivo no nosso país. A água da chuva transporta o material
erodido (o material que é arrastado do solo) para locais onde ele não poderá ser aproveitado pela
agricultura, tornando o solo que sofreu a erosão, menos fértil e menos espesso (Brito e
almeida,1984).

Quando um terreno apresenta infiltração excessiva, ou seja, quando a água da chuva ou de


irrigações percorre toda a camada de solo sem ser retida, os nutrientes presentes naquele solo são
dissolvidos e levados para os lençóis freáticos, tornando-se indisponíveis para a nutrição e o
crescimento das plantas. Esse processo é chamado de lixiviação (Brito & almeida,1984).
O material erodido é transportado para o leito de rios, riachos e lagoas. O acúmulo desse
material no leito aquático (no fundo dos rios) desencadeia um processo chamado de
assoreamento, que é a diminuição da profundidade da camada de água. O rio assoreado passa a
correr mais lentamente, o que por sua vez provoca maior assoreamento, gerando um círculo
vicioso. Com o passar do tempo, o espaço para a água fica muito reduzido, provocando grandes
danos, como o prejuízo de toda a vida aquática, as modificações de água em sua extremidade
provavelmente se transformarão em voçoroca ao longo do tempo.

A erosão hídrica pode ocorrer basicamente de três formas: laminar, por sulcos ou como
voçorocas.

Erosão hídrica laminar

É a primeira forma de erosão a atingir qualquer terreno, na qual ocorre a remoção de uma fina
camada superficial ocasionada pela passagem de água durante uma chuva. Essa remoção ocorre
ano após ano, sendo percebida apenas quando as raízes das plantas (principalmente de árvores)
ficam expostas. É bastante preocupante, pois dificilmente é notada. O que agrava o problema é o
fato dessa camada removida ser componente da parte mais rica do solo, da parte que contém
grande quantidade da matéria orgânica, necessária ao desenvolvimento vegetal (Brito e
Almeida,1984).

Erosão hídrica em sulcos

Ocorre quando a enxurrada se concentra em alguns pontos, abrindo pequenas "valetas", de


alguns centímetros de profundidade, na superfície do terreno. Com o passar do tempo, esses
canais vão aumentando, tornando-se mais largos e profundos a cada precipitação. Esse tipo de
erosão acontece principalmente em solos desprotegidos e de relevo íngreme (muito inclinado),
onde a água da chuva escoa com maior velocidade. Em solos cultivados continuamente (um
cultivo seguido logo após o outro) o efeito desse processo costuma ser maior. Sulcos que
apresentam uma queda (Brito e Almeida,1984).

Erosão hídrica em forma de voçorocas

Esse tipo de erosão ocorre geralmente em solos profundos, de fácil penetração e cultivados sem
o mínimo cuidado com a conservação, o que impede futuros cultivos. As voçorocas aumentam
suas dimensões (a largura e a profundidade) com a ação da água que escoa pelo sulco, levando
mais material erodido e derrubando as paredes do sulco, podendo afetar muitos hectares e
deixando a área economicamente inaproveitável (Brito & Almeida,1984).

Maneio do solo

O maneio do solo também tem forte influência na infiltração, geralmente o revolvimento do solo
aumenta a entrada de água no perfil devido a maior rugosidade na superfície, menor escoamento.
O não revolvimento do solo, no sistema de plantio direto, tende a ocasionar compactação do
solo pelo tráfego intensivo de máquinas, o que pode diminuir consideravelmente a infiltração. As
taxas de infiltração variam de acordo com o uso do solo (Mancuso et al., 2014).

Portanto, o escoamento, transporte de sedimentos e o armazenamento de água do solo são


fenômenos complexos, que envolvem vários processos interdependentes. Condições
antecedentes de umidade, frequência e intensidade de chuvas e a cobertura do solo
desempenham um papel importante no processo de infiltração (Montenegro et al., 2013).

Práticas conservacionistas, como o mulching vertical e o terraceamento, vêm sendo utilizadas de


forma conjunta com demais técnicas, pois se caracterizam como uma barreira para a água, com
vistas a aumentar a infiltração e armazenamento de água e, por conseguinte, reduzir a erosão
(Klein, 2014).

A matéria orgânica é um constituinte do solo que permite maior agregação e coesão entre as
partículas, tornando o solo mais poroso e com maior retenção de água, beneficiando a infiltração
foram avaliados os efeitos de diferentes fontes (esterco de ovelha, estrume de vaca, casca de
arroz, cana picada, palha de trigo, alcaçuz-raiz) e quantidades de matéria orgânica (5, 15 e 25 Mg
ha), observaram que, independente da fonte e da quantidade aplicada, houve aumento na taxa de
infiltração (Klein, 2014).
A aplicação de resíduos orgânicos ou provenientes de descartes de indústrias tem sido comum
em solos agrícolas, e esta técnica pode ter implicação na infiltração. Dalri et al. (2010) verificaram
que a aplicação de vinhaça em solo franco arenoso propiciou redução da taxa de infiltração
básica, especialmente pela formação de crostas sobre a superfície do solo (Klein, 2014).

Recuperação de solos degradados

Métodos mecânicos

As práticas mecânicas de prevenção e recuperação de áreas degradadas, principalmente pela


erosão, são aquelas em que se utilizam estruturas artificiais para a disposição adequada de glebas
de cultivos agrícolas, evitando ao máximo a acção da enxurrada e aumentando a infiltração da
água no solo (Alves; Carvalho, 2003).
As principais práticas utilizadas são as seguintes:

Cultivo em nível

O cultivo em nível ou em contorno consiste em dispor, além de todas as operações de cultivo e


preparo do solo, as linhas de semeadura ou plantio no sentido transversal à pendente do terreno,
através do uso de curvas de nível e linhas em contorno. Para as linhas em contorno, o ideal é que
elas estejam sempre no mesmo nível, acompanhando as curvas de nível ou, quando não for
possível, que estejam próximas delas, porém, sempre transversais ao sentido da declividade
(Alves; Carvalho, 2003).

Através dessa prática, as fileiras de plantas, bem como os sulcos de semeadura ou do preparo do
solo, são obstáculos para o livre percurso da enxurrada, amenizando os processos erosivos. Não
obstante, as curvas de nível, além de ser um obstáculo ao movimento de água, também
proporcionam a sua infiltração no solo (Alves; Carvalho, 2003).

Cultivos em faixas

Essa prática conservacionista consiste no cultivo alternado de culturas em faixas, as quais são
demarcadas em nível, ou com pequeno desnível no terreno, no sentido perpendicular à
declividade. É uma prática pouco utilizada pelos agricultores, porém de grande eficiência para
pequenas áreas declivosas. Os objectivos dessa modalidade de conservação são: diminuição da
velocidade da enxurrada; aumento na infiltração da água da chuva; diminuição das perdas de
solo, matéria orgânica, fertilizantes e proteção das margens de rios, lagoas e barragens. As
culturas em faixas apresentam eficiência no controle da erosão em áreas com declive de até 6%,
sendo que a eficiência diminui com o aumento da declividade (Alves; Carvalho, 2003).

Terraceamento

Terraceamento é uma prática conservacionista utilizada no controle da erosão hídrica, que


consiste em estruturas hidráulicas denominadas de terraços, as quais são compostas de um canal
e um camalhão e construídas transversalmente ao sentido da declividade do terreno. Através
disso, o comprimento do declive é seccionado, diminuindo a Acão da enxurrada (Alves;
Carvalho, 2003).
Métodos vegetativos

Florestamento e reflorestamento

Uma alternativa às terras de baixa capacidade de produção e/ou muito suscetíveis à erosão é a
cobertura permanente através do florestamento e reflorestamento, fazendo com que, além da
proteção ao solo e preservação do ambiente, se tenha uma fonte de renda adicional na
propriedade. Em terrenos muito inclinados, principalmente no topo ou início do declive, o
reflorestamento e manutenção permanente das árvores é o mais recomendado, pelo fato de
reduzir a enxurrada, em razão da maior infiltração de água nesse local. Com isso, é possível
amenizar os problemas de erosão no restante do declive da lavoura (Alves; Carvalho, 2003).

Em áreas com rápido avanço na degradação, seja pela erosão ou outros fatores, o ideal é
implantar inicialmente uma mistura de espécies, que sejam nativas do local, além de isolar a área
para que, gradativamente, ocorra a evolução natural da floresta levando à estabilização e/ou
recuperação da área. Atualmente, uma forma de consorciar as atividades agrícolas com o
reflorestamento e a conservação do solo, consiste na adoção de sistemas agroflorestais. Através
dessa prática, espécies florestais são consorciadas com os cultivos agrícolas de maneira
simultânea ou em uma sequência temporal (Alves; Carvalho, 2003).

Vantagens da utilização de plantas de cobertura de solo

Proteção do solo: a. Cobertura vegetal proporcionada pelas plantas de cobertura sobre o solo,
tanto pelas plantas vivas como pelos seus resíduos culturais, atenua o impacto das gotas de
chuva, evitando a desagregação do solo e o consequente selamento superficial. Com isso,
aumenta-se a protecção do solo quanto aos agentes causadores de erosão, especialmente da água
da chuva (Alves; Carvalho,2003).

Aumento da taxa de infiltração de água no solo: após a decomposição das raízes das plantas
de cobertura, permanecem no solo os canais deixados por elas, o que facilita a infiltração da
água. Além disso, a cobertura vegetal diminui a desagregação do solo e a velocidade da
enxurrada. Esses factores combinados proporcionam uma maior infiltração de água no solo, o
que é importante para o seu armazenamento no perfil e na prevenção da erosão (Alves;
Carvalho, 2003).
Aumento do teor de matéria orgânica no solo: o aporte contínuo de carbono ao longo dos
anos, através da fitomassa (resíduos culturais) das plantas de cobertura, proporciona um aumento
no teor de matéria orgânica do solo, o que é desejável para a melhoria das suas propriedades
químicas, físicas e biológicas (Alves; Carvalho, 2003).

Redução na evaporação e nas oscilações de temperatura: a camada de palha das plantas de


cobertura na superfície do solo actua como um isolante térmico, reduzindo a oscilação da
temperatura e mantendo-a em níveis mais adequados ao bom desenvolvimento das plantas. Além
disso, a cobertura morta reduz as perdas de água por evaporação, aumentando o estoque e a
quantidade de água disponível às plantas no perfil do solo (Alves; Carvalho, 2003).

Recuperação de solos degradados: além da adição de carbono e nutrientes pelos resíduos


culturais da parte aérea, o desenvolvimento do sistema radicular das plantas de cobertura poderá
romper camadas adensadas ou compactadas do solo, melhorando a estruturação e aumentando a
aeração e a infiltração de água. O aumento no teor de matéria orgânica, proporcionado pelos
resíduos culturais, favorece a agregação do solo, o que é de grande relevância para a recuperação
da capacidade produtiva do solo, principalmente naqueles com textura mais arenosa (Alves;
Carvalho, 2003).

Ciclagem de nutrientes: Dependendo da espécie de planta de cobertura, o seu sistema radicular


poderá atingir camadas mais profundas no solo do que as culturas comerciais. Com isso, as
plantas de cobertura absorvem e imobilizam, em seus tecidos, nutrientes que poderiam ser
perdidos por lixiviação ou permanecer em camadas inacessíveis ao sistema radicular das culturas
comercias (Alves; Carvalho, 2003).

TEMA IV: CARACTERIZAÇÃO FISICA DA BACIA HIDROGRÁFICA A PARTIR DE


PARÁMETROS FISIOGRÁFICOS

Caracterização fisiográfica da bacia hidrográfica


A caracterização fisiográfica da bacia tem grande importância para o estudo do seu
comportamento hidrológico e consideram-se características fisiográficas aquelas que podem ser
obtidas a partir de cartas, fotografias aéreas ou imagens de satélite. Hidrologicamente interessa
caracterizar a bacia relativamente à geometria, sistema de drenagem, relevo, geologia, uso do solo
e vegetação (Guimarães, S/d).
Parâmetros fisiográficos
Área de drenagem
De acordo com Christofoletti (1980), a área de drenagem é compreendida como toda a área
drenada pelo conjunto do sistema fluvial projetada em plano horizontal expressa em quilômetros
quadrados (km2) ou hectares (ha). Para Silveira (1997), a área da bacia é fundamental para definir
a potencialidade hídrica da mesma, pois seu valor multiplicado pela lâmina da chuva precipitada
define o volume de água recebido pela bacia. Além disso, a área tem grande importância na
resposta hidrológica de uma bacia, pois, desconsiderados os outros factores, quanto maior a área,
maior o tempo de concentração, portanto, menos pronunciados serão os picos de enchentes.

Para defini-la pode-se utilizar técnicas de planimetragem directa de mapas, com métodos
geométricos de determinação de área de figura irregular, por meio da utilização de papel
milimetrado ou recursos de aplicativos de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), quando
se trabalha com planta digitalizada (Lima & Zakia, 2000).

Existem controversas quanto à classificação das áreas das bacias hidrográficas. Segundo Porto
(1999), os critérios mais comuns consideram como:

i. Bacias pequenas aquelas com área inferior a 2,5 km² ou tempo de concentração menor
que 1 hora;
ii. Bacias médias, com área variando de 2,5 km² a 1000 km² ou tempo de concentração
entre 1 e 12 horas; e
iii. Bacias grande aquelas com área superior a 1000 km² ou tempo de concentração superior
a 12 horas.

Para Wisler e Brater (1964), bacias pequenas são as que possuem área inferior a 10 milhas
quadradas (26 km²) e bacias grandes com área superior a esse valor.

Forma da bacia hidrográfica


É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos. Ela
tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de
concentração (Tc). Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias,
procurando relacioná-las com formas geométricas conhecidas (CARVALHO & SILVA, 2006):

 O coeficiente de compacidade (Kc): é a relação entre o perímetro da bacia e o


perímetro de um círculo de mesma área que a bacia. Este índice é adimensional e varia
com a forma da bacia, não estando relacionado com seu tamanho.
 O factor de forma (Kf): é a razão entre a largura média da bacia e o comprimento do
eixo da bacia (L) (da foz ao ponto mais longínquo da área).

Quanto mais próximo do valor um (1) for o resultado de Kc, maior a propensão da bacia
hidrográfica a grandes cheias, como resultado do direcionamento do escoamento superficial, em
um pequeno espaço de tempo, para um pequeno trecho do rio principal, causando o acúmulo de
fluxo (CARVALHO & SILVA, 2006).

Valor de Kc Propensão a enchentes


1,00 ≤ Kc < 1,25 Bacia com alta propensão a grandes enchentes
1,25 ≤ Kc < 1,50 Bacia com tendência mediana a grandes enchentes
Kc ≥ 1,50 Bacias não sujeitas a grandes enchentes
Tabela 1 - Índice Kc e propensão a enchentes. Fonte: Silva e Mello (2008)

A tendência para enchentes também é indicada pelo índice de conformação (Kf). Este compara a
área da bacia hidrográfica com a área de um quadrado de lado igual ao comprimento axial
(comprimento do rio desconsiderando-se os meandros) (Porto et al., 1999).

Quando a bacia apresenta o valor de Kf baixo significa que está menos sujeita a ocorrência de
enchentes, independente da área que possui, pois, é estreita e longa. Isso acontece, pois, é menor
a possibilidade de uma chuva intensa cobrir toda sua extensão e a contribuição dos afluentes
chega ao rio principal em vários pontos, em tempos diferentes, o que não ocorre na bacia
circular, onde o deflúvio concentra-se em um único ponto (Vilella & Mattos, 1975).

Valores de Kf Propensão a enchentes


Kf ≥ 0,75 Propensão a grandes enchentes
0,75 < Kf < 0,50 Bacia com tendência mediana a grandes enchentes
Kf ≤ 0,50 Bacias não sujeitas a grandes enchentes
Tabela 2 – Valores de Kf e propensão a enchentes. Fonte: Silva e Mello (2008).

Outros índices que contribuem para a compreensão do factor de forma são:

 A razão de elongação (Re) evidencia a relação entre o diâmetro do círculo de área igual
a da bacia e seu eixo. Com este índice é possível verificar a susceptibilidade da bacia a
enchentes, tomando como referência a forma da bacia. Quanto maior for o valor
encontrado para Re, mais a forma da bacia aproxima-se a de um círculo e, maior a
suscetibilidade de ocorrência de enchentes. Quando os valores de Re são menores estão
associados à forma mais alongada e menos suscetível a enchentes (Mosca, 2003).

 O índice de circularidade (Ic): relaciona a área total da drenagem e a área de um


círculo de perímetro igual ao da bacia hidrográfica. Ao comparar o valor encontrado de
Ic entre bacias hidrográficas, verifica-se que aquelas que possuem formas próximas a de
um círculo estão mais propensas à ocorrência de enchentes, como consequência do
aumento de água no canal principal (Vilella & Mattos, 1975).

Valores de Ic próximos a um (1) indicam que a bacia possui forma próxima a de um círculo.
Valores menores que 0,51 indicam que a bacia é alongada, o que favorece o processo de
escoamento (Mosca, 2003).

 Índice entre o comprimento e a área da bacia (ICO): Este índice é utilizado para
descrever e interpretar a forma e o processo de alargamento ou alongamento da bacia
hidrográfica. Quando o valor encontrado para ICO for próximo a um (1), a bacia
apresenta forma igual a um quadrado; quanto maior este valor, mais alongada será a bacia
(EPAGRI, 1997).

Características do relevo da bacia


Segundo Linsley, Kohler e Paulhus (1975), a topografia ou relevo de uma bacia pode ter mais
influência na sua resposta hidrológica do que propriamente sua forma, uma vez que a velocidade
de escoamento superficial depende em grande parte da declividade das vertentes. Conforme
destaca Villela e Mattos (1975), o relevo também tem grande influência sobre os fatores
meteorológicos como a temperatura, precipitação, evaporação, entre outros, que variam em
função da altitude da bacia. Quanto ao potencial poluidor, o relevo terá influência principalmente
na velocidade com que determinado poluente chega à rede de drenagem e sua taxa de infiltração.

Strahler (1964), definiu algumas medidas com relação ao relevo. Ele chamou de relevo máximo a
diferença de elevação entre o ponto mais alto e o mais baixo numa determinada área.
Estendendo essa definição para bacia, a diferença entre o ponto mais alto (cabeceira da bacia) e o
ponto mais baixo (secção de exutório) ficou conhecido como relevo máximo da bacia. Schumm
(1956), mediu o relevo da bacia ao longo de uma linha reta que segue o curso d’água mais longo
desde a seção de exutório até a cabeceira mais distante da bacia.

De acordo com Linsley, Kohler e Paulhus (1975), os principais elementos relacionados ao relevo
que caracterizam fisicamente uma bacia são os seguintes: declividade da bacia, declividade média
das vertentes (S), relação de relevo (Rh), número de rugosidade (G), curva hipsométrica,
declividade do álveo, retângulo equivalente e modelo digital do terreno.
 Declividade da bacia hidrográfica: A declividade tem relação directa e complexa com
a infiltração, o escoamento superficial, a humidade do solo e a contribuição de água
subterrânea ao escoamento do curso da água. A declividade está relacionada ao tempo do
escoamento superficial, tendo ligação com a magnitude da enchente (Porto et al., 1999).
Quanto mais íngreme for o terreno na bacia hidrográfica, maior a velocidade do escoamento
superficial; o tempo de concentração será menor e, por consequência, os picos de enchente
maiores. A declividade da bacia controla em boa parte a velocidade com que se dá o escoamento
superficial, bem como, os processos de erosão e infiltração no solo (Borsato & Martoni, 2004).

 Declividade média das vertentes (S): A declividade média das vertentes (S) é utilizada
para estabelecer um índice em diversos pontos da bacia, com a função de gerar um
mapeamento da mesma, que segundo os pesquisadores, se assemelha bastante ao
mapeamento da maior ou menor tendência de saturação superficial nas diversas partes da
bacia. O diagrama resultante do mapeamento espacial foi utilizado pelos pesquisadores
para estimar a área total da bacia que está saturada superficialmente num dado momento
e, assim, gera escoamento superficial (Beven & Kirkby, 1979).
 Relação de relevo (R): A relação de relevo é a razão entre o relevo máximo da bacia, ou
seja, a diferença de altura entre a seção de exutório e o ponto mais alto ao longo do seu
perímetro, pela distância horizontal em que ele é medido. Dessa forma, esse índice mede
a declividade geral de uma bacia de drenagem e é um indicador da intensidade de erosão
operando nas vertentes da bacia (Strahler, 1964).
 Número de rugosidade (G): O número de rugosidade é um valor adimensional
definido por Strahler (1964) como o produto da diferença máxima de altitude dentro de
uma bacia pela sua densidade de drenagem. De acordo com o autor, se a densidade de
drenagem aumentar e a diferença de altitude permanecer constante, significa que a
distância horizontal média entre os divisores e os canais adjacentes é reduzida,
acompanhado do aumento na declividade das vertentes. Se a altura aumenta e a
densidade de drenagem permanece constante, a diferença de elevação entre os divisores e
canais adjacentes também será maior, acarretando também aumento nos valores de
declividade.
O número de rugosidade é como uma declividade. Valores extremamente altos do número de
rugosidade indicam que tanto a densidade de drenagem quanto a variação de altitude são altas em
uma bacia, o que significa dizer que as vertentes, além de possuir uma declividade alta, são
longas. (Bras, 1990).
 Curva hipsométrica: A curva hipsométrica é a representação gráfica das variações de
altitude em uma bacia. São medidas as áreas compreendidas entre pares sucessivos de
curvas de nível. Avalia-se, então, a porcentagem do total correspondente a cada uma
dessas áreas, e a porcentagem da área total que fica acima ou abaixo de cada curva de
nível é obtida por meio da soma (Wisler & Brater, 1964).
A função da curva hipsométrica é a de mostrar a forma como o volume rochoso localizado
abaixo da superfície topográfica está distribuído desde a desembocadura até a cabeceira da bacia.
Assim, dispondo-se da altura e da área de cada faixa de altitude, correspondente aos intervalos de
curva de nível, é possível calcular o volume de cada faixa, sendo que a soma de todas as faixas
corresponderá ao volume rochoso ainda existente na região (Christofoletti, 1980).

Figura: Curva hipsométrica Fonte: Christofoletti, (1980).


 Declividade de álveo: A declividade de álveo ou declividade do canal é a “relação entre
a diferença máxima de altitude entre o ponto de origem e o término com o comprimento
do respectivo trecho fluvial” (Christofoletti, 1980). A declividade afeta a velocidade de
escoamento de um rio e por essa razão tem papel importante na forma do hidrograma
(Linsley; Kohler; Paulhus, 1975). Segundo Villela e Mattos (1975), quanto maior a
declividade, maior a velocidade de fluxo e mais estreitos e pronunciados serão os
hidrogramas de enchente.
 Rectângulo equivalente: O rectângulo equivalente foi introduzido por hidrologistas
franceses com o objetivo de comparar melhor a influência das características físicas da
bacia sobre o escoamento. Um rectângulo de lado menor l e lado maior L da mesma área
da bacia é construído e as curvas de nível são posicionadas paralelas a l, respeitando-se a
hipsometria natural da bacia (Vilella & Mattos, 1975). Com o retângulo equivalente é
possível ter uma noção melhor da distribuição de altitudes ao longo da área da bacia.
O rectângulo equivalente também permite a análise da tendência a enchentes de uma bacia
hidrográfica, uma vez que quanto mais retangular o seu formato, tanto mais comprida e estreita
será a bacia, e assim menor a possibilidade de uma chuva cobrir simultaneamente toda a sua área
(Vilella & Mattos, 1975).

Com o rectângulo equivalente, ainda é possível ter uma ideia melhor dos espaçamentos entre as
curvas de nível, assim no caso de as fontes poluidoras localizarem-se em regiões onde as curvas
estão próximas, provavelmente haverá maiores valores de declividades nessas regiões, com o
conseqüente aumento de velocidade e diminuição da infiltração de um elemento poluidor
qualquer (Vilella & Mattos, 1975).

 Digital do terreno: O modelo digital ou modelo numérico do terreno seria a


representação da variação contínua do relevo de um terreno representado em terceira
dimensão. A obtenção do modelo digital pode ser feita diretamente por meio de
medições sobre pares estereoscópicos ou análise de fotografias aéreas ou por
interpolações de levantamentos topográficos (Silveira, 1997).

Sistema de drenagem
O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo
das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou
menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma
bacia depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão
também influencia no comportamento hidrológico da bacia (Carvalho & Silva, 2006).

a. Ordem dos cursos da água e razão de bifurcação (Rb):

De acordo com a figura 1, adota-se o seguinte procedimento (Carvalho & Silva, 2006):

 Os cursos primários recebem o número 1;


 A união de 2 de mesma ordem dá origem a um curso de ordem superior; e
 A união de 2 de ordem diferente faz com que prevaleça a ordem do maior.

Fig. 1 – Ordem dos cursos da água (CARVALHO & SILVA, 2006)

Quanto maior Rb média, maior o grau de ramificação da rede de drenagem de uma bacia e maior
a tendência para o pico de cheia.

b. 2.2.4.2. Densidade de drenagem (Dd)


Densidade de drenagem é uma boa indicação do grau de desenvolvimento de um sistema de
drenagem. Expressa a relação entre o comprimento total dos cursos da água (sejam eles
efêmeros, intermitentes ou perenes) de uma bacia e a sua área total (Carvalho & Silva, 2006).
Afirmam os mesmos autores de que para avaliar Dd, deve-se marcar em fotografias aéreas, toda
a rede de drenagem, inclusive os cursos efêmeros, e depois medi-los com o curvímetro. Duas
técnicas executando uma mesma avaliação podem encontrar valores um pouco diferentes.

 Bacias com drenagem pobre → Dd < 0,5 km/km2


 Bacias com drenagem regular → 0,5 ≤ Dd < 1,5 km/km2
 Bacias com drenagem boa → 1,5 ≤ Dd < 2,5 km/km2
 Bacias com drenagem muito boa → 2,5 ≤ Dd < 3,5 km/km2
 Bacias excepcionalmente bem drenadas → Dd ≥ 3,5 km/km2
A densidade de drenagem depende do clima e das características físicas da bacia hidrográfica. O
clima atua tanto diretamente (regime e vazão dos cursos), como indiretamente (influência sobre a
vegetação) (Lima, 2000).

Das características físicas, a rocha e o solo desempenham papel fundamental, pois determinam a
maior ou menor resistência à erosão. Em geral, uma bacia de geologia dominada por argilitos
apresenta alta densidade de drenagem, enquanto que outra com substrato predominante de
arenitos apresenta baixa densidade de drenagem (Morisawa, 1968, citado por Lima, 2000).

Valores baixos de densidade de drenagem estão geralmente associados a regiões de rochas


permeáveis e de regime pluviométrico caracterizado por chuvas de baixa intensidade (Lima,
2000).

Importância de caracterização física da bacia hidrográfica

Permite um melhor entendimento do comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica,


principalmente na ocorrência de eventos extremos.

Características fisiográficas de bacias hidrográficas são todos os dados que podem ser extraídos de
mapas, fotografias aéreas e imagens de satélites com auxílio de sistemas de informações
geográficas (SIGs). Essa caracterização é o primeiro e mais comum procedimento executado em
análises hidrológicas ou ambientais, e tem como propósito analisar diversas questões
relacionadas com a dinâmica ambiental local e regional principalmente vinculadas ao
comportamento hidrológico de bacias hidrográficas, com aplicações em estudos de
regionalização de vazões mínimas, médias e máximas, entre outros (Wenzel, Uliana, De Almeida,
De Souza, Mendes, & Souza, 2017)

A caracterização fisiográfica de bacias pode ser utilizada como ferramenta auxiliar em análises
geológicas e de drenagem fluvial como indicativo hidrológico para o acompanhamento ambiental
do manejo de florestas plantadas, como base para a definição e a elaboração de indicativos para
gestão ambiental, bem como para a educação ambiental (Wenzel, Uliana, De Almeida, De Souza,
Mendes, & Souza, 2017)

Atualmente, essa caracterização é feita com a integração de várias informações, como relevo e
hidrografia mapeada, em ambientes de SIGs. Esses procedimentos podem ser realizados de
forma manual ou automática. Os SIGs apresentam importância expressiva para os estudos que
compõem análises ambientais, principalmente hidrológicas, pois permitem sobrepor diversas
informações espaciais da bacia hidrográfica e apresentam ambiente interativo de trabalho, onde
grande quantidade de dados pode ser analisada e processada em um mesmo momento, gerando
resultados com acurácia (Wenzel, Uliana, De Almeida, De Souza, Mendes, & Souza, 2017).

TEMA V: USO RACIONAL DOS RECURSOS DA BACIA HIDROGRÁFICA

Uso racional dos recursos da bacia hidrográfica


O processo de gerenciamento e planeamento ambiental de bacia hidrográfica foi inicialmente
direccionado à solução de problemas relacionados ao recurso água, priorizando o controle de
inundações, ou a irrigação, ou a navegação, ou o abastecimento público e industrial (Forbes &
Hodge, 1971). Com o aumento da demanda sobre os recursos hídricos e da experiência dos
técnicos envolvidos na administração dos mesmos, foi verificada a necessidade de incorporar na
abordagem inicia os aspectos relacionados aos usos múltiplos da água, na perspectiva de atender
uma estrutura do tipo multiusuário, que competem pelo mesmo recurso.

Esta abordagem buscou solucionar conflitos entre os usuários e dimensionar a qualidade e a


quantidade do que cabe a cada um e as suas responsabilidades sobre o mesmo. Isso porque as
implicações sobre o uso dos recursos hídricos provêm de uma série de factores naturais,
económicos, sociais e políticos, sendo o recurso água tão-somente o ponto de convergência de
um complexo sistema ambiental.

O problema da poluição hídrica provocado por esgotos urbanos, metais pesados, pesticidas,
adubos químicos, detergentes sintéticos, hidrocarbonetos, representa um dos aspectos mais
alarmantes da degradação do meio ambiente pelo homem (Bormann et al,, 1978).

Utilização racional dos recursos hídricos


Evidencia-se então como urgente e prioritária a necessidade de racionalizar a utilização dos
recursos hídricos (DNAEE, 1981). Para isso, é fundamental que uma acção de protecção de
qualidade seja implantada paralelamente ao gerenciamento quantitativo da água no sentido de
evitar um desequilíbrio entre a demanda e a disponibilidade dos recursos hídricos, permitindo,
assim, satisfazer ou conciliar as necessidades crescentes dos sectores em desenvolvimento tais
como:
 Abastecimento em água potável das cidades e comunidades rurais;
 Indústria;
 Agricultura/Irrigação;
 Navegação;
 Produção de energia hidroeléctrica; e
 Recreação.
 O saneamento;
 A manutenção da ictiofauna;
 Outros usos diversos

Uma das principais causas de mortalidade no Terceiro Mundo é a má qualidade da água,


consequência do deficiente ou inexistente sistema de abastecimento e tratamento de água
potável, bem como a da colecta e tratamento de águas residuais.

Entre os múltiplos usos dos recursos hídricos, a agricultura, a indústria e o abastecimento


público apresentam-se como os responsáveis pelo maior volume de consumo efectivo. A parcela
mais significativa do consumo mundial se deve à agricultura irrigada, actividade que vem
aumentando como resposta ao crescimento da demanda humana por alimentos (DNAEE, 1981).

A água é uma matéria-prima essencial á maior parte das actividades industriais. Suas principais
utilizações neste sector se dão, seja no processo de fabricação propriamente dito, seja na
incorporação ao produto final, no resfriamento e produção de vapor, etc. Ainda que se tenha em
conta que o consumo de água vária consideravelmente dentro de um mesmo ramo industrial, em
razão de diferenças de padrão tecnológico, é importante assinalar a magnitude desta demanda
(DNAEE, 1981).

Gestão das águas


Pode-se utilizar a expressão "gerenciamento dos recursos hídricos" para designar o conjunto de
acções a serem desenvolvidas, visando garantir às populações e às actividades económicas uma
utilização optimizada da água, tanto em termos de quantidade como de qualidade (DNAEE,
1981).

Estas acções podem ser, conforme os casos, de:


 Carácter político;
 Legislativo;
 Económico;
 De coordenação;
 De pesquisa;
 De formação de pessoal;
 De informação; e
 De cooperação intersectorial, ou mesmo internacional.
O gerenciamento dos recursos hídricos, enquanto sector particular de actividade social, surgiu no
início da era industrial. Foi uma espécie de reacção natural, no momento em que a utilização
intensiva da água para fins de produção e de consumo humano conduziu a que se considerasse a
colecta, o tratamento e a distribuição da água como elementos do processo de produção
propriamente dito (SEPLAN, 1982).

A extensão e a importância do gerenciamento dos recursos hídricos, bem como a quantidade de


medidas técnicas, jurídicas e económicas a que este gerenciamento dá origem, variam em função
das reservas hídricas disponíveis, de seu grau de aproveitamento e de determinantes económico-
sociais e políticos (SEPLAN, 1982).

Do ponto de vista da estruturação administrativa, o gerenciamento dos recursos hídricos evoluiu


de forma semelhante em vários países. Assim, enquanto a água é abundante e não ocorrem
problemas graves de poluição, a responsabilidade pelo gerenciamento das águas vai-se
repartindo, em geral sem grandes inconvenientes, entre as autoridades administrativas
responsáveis pela sua utilização e conservação, de acordo com a vocação específica de cada
sector da Administração e com as necessidades do momento. Porém, à medida que se torna mais
aguda a competição das actividades consumidoras, as funções dos diferentes sectores da
Administração interessados na gestão das águas vão entrando cada vez mais em conflito,
ocorrendo frequentemente sobreposições e perdas de eficiência (SEPLAN, 1982).

A gestão dos recursos hídricos exige, portanto, vários compromissos entre interesses
frequentemente opostos, evidenciando-se a necessidade de planejar-se e coordenar-se a utilização
da água mediante o estabelecimento de estruturas que assegurem seu gerenciamento segundo
uma perspectiva global (SEPLAN, 1982).

Sendo a organização, composição e atribuições de uma estrutura de gestão, função de um


conjunto de elementos condicionantes que variam caso a caso, torna-se impossível apontar um
modelo de estrutura com aplicação universal. Entretanto, todos os países que direccionaram a
administração dos recursos hídricos dentro de uma perspectiva global procuram considerar a
bacia hidrográfica como unidade básica de gestão (SEPLAN, 1982).

Princípios básicos de gestão dos recursos hídricos


Cunha et al (1980), enumeraram alguns princípios básicos orientadores de uma política de gestão
dos recursos hídricos, dentre os quais podemos encontrar os seguintes:

 Para pôr em prática uma política de gestão das águas é essencial assegurar a participação
das populações através de mecanismos devidamente institucionalizados;
 O objectivo último de uma política de gestão das águas deve ser optimizar a utilização
dos recursos hídricos, de forma a maximizar os benefícios para a colectividade,
resultantes das diversas utilizações da água;
 A gestão dos recursos hídricos deve considerar a ligação estreita existente entre os
problemas de quantidade e de qualidade das águas;
 A gestão das águas deve abranger tanto as águas interiores superficiais e subterrâneas
como as águas marítimas costeiras;
 A utilização dos cursos de água como meio receptor de efluentes rejeitados não deve,
contudo, provocar a rotura dos ciclos ecológicos que garantem os processos de
autodepuração;
 Na definição de uma política de gestão das águas devem participar todas as entidades
com intervenção nos problemas da água; todavia, a responsabilidade pela execução dessa
política deve competira um único órgão que coordene, a todos os níveis, a actuação
daquelas entidades em relação aos problemas da água.

É importante ressaltar que a eficiência dos propósitos da gestão das águas está directamente
relacionada ao funcionamento coordenado dos instrumentos de gerenciamento, que se
materializam através de diferentes âmbitos de actuação: administrativo, regulamentar, técnico e
económico.

No que diz respeito ao âmbito administrativo, responsável pelas questões do gerenciamento dos
recursos hídricos, na experiência internacional, distinguem-se, de uma maneira quase constante,
três níveis:

 Nacional, que estabelece a legislação básica, regulamenta os procedimentos e funciona


eventualmente como instância jurídica superior;
 Regional, que se confunde com a jurisdição administrativa descentralizada ou assume a
forma de uma agência especializada no gerenciamento de recursos hídricos; e
 Local, que compreende os municípios, as indústrias e frequentemente se estende à
população ou a seus representantes, através de comités consultivos e de associações.

Escassez de recursos hídricos

A quantidade de água existente na Terra é constante e os recursos hídricos são renováveis por
conta do ciclo hidrológico. Enquanto o consumo de água não exceder a capacidade de renovação
natural dos aquíferos e eles não forem poluídos, poderão ser utilizados indefinidamente. No
entanto, o aumento contínuo do consumo de água já esgotou a capacidade de regeneração
natural dos recursos hídricos em diversas regiões do mundo. Em países como Líbia, Arábia
Saudita e Israel, o gasto de água já ultrapassa o que é reciclado naturalmente em seus territórios
(Júnior & Centro, 2004).

A escassez de água está-se tornando uma realidade em várias regiões do Planeta. Ela é mais
intensa onde é mais necessária, pois as regiões pobres são, em geral, as mais secas. A falta de
água não se limita mais ao norte da África, ao Oriente Médio e a outras regiões caracterizadas
por extensos desertos. A maior parte da África Ocidental e Oriental e partes da China, da Índia e
do México sofrem escassez crônica de água, apesar dessas regiões não serem desérticas (Júnior &
Centro, 2004).

Além dos problemas de quantidade (escassez), a qualidade das águas está piorando em todo o
Planeta. O crescimento da população e a industrialização aumentam a poluição dos corpos de
água e das águas marítimas costeiras. A vazão da maioria dos cursos de água situados em regiões
densamente povoadas ou industrializadas vem-se tornando insuficiente para depurar a crescente
carga de poluentes nela lançada (Júnior & Centro, 2004).

O tratamento das águas servidas não acompanha o ritmo de geração de agentes poluidores.
Quase a totalidade dos esgotos domésticos urbanos é lançada "in natura" nos corpos de água. É
comum, em projetos de saneamento, implantar-se apenas o sistema de abastecimento de água e
relegar-se para o futuro a coleta e tratamento de esgotos, devido ao seu custo elevado,
insuficiência de recursos públicos para investimentos e baixa prioridade política e da população
(Júnior & Centro, 2004).

O resultado das deficiências dos serviços de saneamento básico e da ausência de tratamento dos
esgotos industriais é a contaminação dos corpos de água próximos às áreas urbanas, encarecendo
o tratamento da água captada para o próprio abastecimento público e obrigando ao
aproveitamento de mananciais cada vez mais distantes, ainda não contaminados, para suprir o
aumento de demanda(Júnior & Centro, 2004).

Principais impactos sobre o ambiente

O aproveitamento e a utilização dos recursos hídricos pode ter impactos importantes sobre o
ambiente Na realidade, uma degradação sobre o ambiente pode ser determinada pela construção
e exploração de obras para o aproveitamento doa recursos hídricos e também pela necessidade
impostas pelas suas diversas utilizações (Carbonari, 1997).

Indicamos a seguir, a título exernplificativo, algumas das possíveis degradações do ambiente,


associadas a utilização dos recursos hídricos (Carbonari, 1997)

 Degradação dos leitos ou das praias, em consequência do assoreamento;


 Perdas de locais com interesse geológico, histórico ou paisagístico;
 Modificação da fauna dos cursos d’agua, assim como da qualidade dessas águas, em
consequência da drenagem de águas pluviais de áreas agrícolas com uso de produtos
químicos, e também do lançamento de efluentes líquidos industriais e domésticos;
 Prejuízos ocasionados ás espécies aquáticas diversas;
 Dificuldade no tratamento da água captada para o abastecimento público,
 Prejuízos ocasionados a vida de espécies superiores;
 Prejuízos ocasionados a vegetação das margens, em consequência da alteração das
condições de escoamento doa cursos d’água,

TEMA VI: CONTROLO E PRODUÇÃO DE ÁGUA EM MICROBACIAS


HIDROGRÁFICAS REFLORESTADAS

Hidrologia Florestal
Bacia hidrográfica é definida como uma área de captação natural da água de precipitação, onde o
escoamento converge para uma única saída, denominada foz ou exutório. Essa bacia é composta
por uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito
único no seu exutório (Tucci, 1997)

Sub-bacia, por sua vez, é a fracção (subdivisão) de uma bacia em áreas de drenagem tributárias
que pertence a um afluente do curso principal.

A bacia hidrográfica é um sistema geomorfológico aberto, que recebe energia e matéria por meio
de agentes climáticos e perde por deflúvio evapotranspiração. É uma unidade natural da
paisagem que apresenta limites bem definidos, funcionando pela contínua troca de energia e de
matéria com o meio. Devido a essa característica de equilíbrio dinâmico, qualquer modificação
que ocorrer na bacia, acarretará em uma mudança no seu comportamento (Gregory e
Walling,1973).

As bacias hidrográficas são vulneráveis a alterações da vegetação, pois essas alterações interferem
nas propriedades do solo, reflectindo nas propriedades da água dos rios, ou seja, a presença ou
não de vegetação pode influenciar nas características da água e no ciclo hidrológico em um
manancial, o que é de fundamental importância para a sustentabilidade do ambiente.
Microbacia hidrográfica
É onde ocorrem maiores interacções e conectividade entre a área de drenagem e os processos
hidrológicos, geomorfológicos e biológicos, ou seja, as cabeceiras dos sistemas flúvicos.
Portanto, cada bacia é formada por um conjunto de microbacias que suportam a sustentabilidade
de seus recursos hídricos (Calijuri e Bubel, 2006).

A microbacia constitui a manifestação bem definida de um sistema natural aberto e pode ser
vista como a unidade ecossistema da paisagem, em termos da integração dos ciclos naturais de
energia, de nutrientes e, principalmente, da água. Desta forma, ela apresenta uma condição
singular e conveniente de definição espacial do ecossistema, dentro do qual é possível o estudo
detalhado das interacções entre o uso da terra e a quantidade e qualidade da água produzida pela
microbacia (Lima, 1999, citado por Attanasio, 2004)

As microbacias por serem áreas menores, geralmente com cursos de água de 1ª a 3ª ordem,
podem facilitar a colecta e análise de dados e montagem de experimentos, além do facto de que
os recursos naturais, tais como água, solo e vegetação, estão mais directamente interligados, e
qualquer alteração em um destes recursos será percetível num outro (Calijuri & Bubel, 2006).

As microbacias são unidade de planeamento, pois sua área de drenagem permite o estudo
detalhado das interacções entre uso da terra e a quantidade e a qualidade de água disponível e
necessária para todas as actividades (Calijuri & Bubel, 2006).

Segundo Black (1996) citado por (Attanasio, 2004) existem três objectivos gerais em maneio de
microbacias hidrográficas:

 Reabilitação ou restauração de áreas alteradas, degradadas ou abandonadas, que


produzem excesso de sedimentos, materiais poluentes, enxurradas, etc.;
 Protecção de áreas sensíveis, o que pode significar a combinação de práticas de
preservação com práticas de exploração buscando o desenvolvimento sustentável;
 Melhoramento das características dos recursos hídricos da microbacia através do maneio
de uma ou mais elementos da microbacia que podem influenciar as funções hidrológicas
ou de qualidade da água.

Sendo a microbacia a unidade natural de planeamento do uso dos recursos naturais e


considerando a água o agente unificador de integração no maneio de bacias hidrográficas, o
conhecimento da hidrologia, bem como do funcionamento hidrológico da bacia hidrográfica, são
fundamentais para o planeamento e maneio dos recursos naturais renováveis, visando o uso
sustentável (Lima, 1996, citado por Attanasio, 2004)
A quantidade de água produzida na microbacia (deflúvio) depende de sua área, enquanto que o
regime de produção de água e a taxa de sedimentação estão sob a influência da forma e relevo da
microbacia. A infiltração determina a fracção da água de chuva que penetra no solo e
consequentemente a que escoa superficialmente, citado por (Attanasio, 2004)

Monitoramento em microbacias hidrográficas

O monitoramento através de indicadores socioeconómicos e ambientais possibilita a contínua


adequação do maneio agrícola, visando a manutenção da saúde da microbacia, factor chave da
sustentabilidade, (Attanasio, 2004)

Um dos importantes aspectos relacionados a análises em microbacias é que ela possui limites
bem definidos, permitindo entender as interacções dos sistemas ecológicos e avaliar, através do
monitoramento, se o plano de maneio do uso da terra está alcançando seus objectivos pré-
estabelecidos, (Attanasio, 2004)

A avaliação de qualquer alteração no regime hidrológico em uma bacia hidrográfica só pode ser
feita caso exista um registo prévio de suas características hidrológicas, e que este período seja
suficientemente longo para que se possa avaliar e quantificar a magnitude desta alteração. Estas
comparações são possíveis quando se correlacionam, na maioria das vezes, o deflúvio com outras
variáveis hidrometeorológicas, sendo tal procedimento conhecido por calibração ou calibragem
de uma bacia hidrográfica. Arcova, 1996), firma também, que no método das bacias pareadas,
uma variável do deflúvio de interesse da bacia a ser alterada é correlacionada com a mesma
variável de interesse de uma segunda bacia adjacente ou vizinha, de condições similares à
primeira, denominada de bacia controle,

A Importância da floresta na produção de água da microbacia


Segundo Arcova e Cicco (1997), nota-se que as florestas naturais desempenham papel muito
importante na captação e distribuição de água de chuva nas bacias hidrográficas, no processo de
suprimento de água para a recarga dos aquíferos, assim como a regulação do escoamento de água
das bacias.

A hidrologia florestal trata do movimento da água em ambientes de floresta, sejam naturais ou de


plantações de espécies de crescimento rápido. O balanço de água nesses ambientes depende da
precipitação, da interceptação de água pelo dossel, do escoamento lateral e em profundidade
(drenagem profunda) e da evapotranspiração. Com excepção da precipitação, os demais
processos são bastante influenciados pela densidade de plantas, pelo tipo de solo, pelo
comportamento fisiológico da planta e pela estrutura e arquitectura do dossel.

Maneio florestal sustentável e a água

O maneio, quando sustentável, pode ser verificado na qualidade e quantidade de água produzida
pela microbacia, considerando o percentual de tipologias presentes na bacia, podendo, assim, a
água ser usada como um instrumento de monitoramento e avaliação da sustentabilidade do
maneio adoptado. A conservação da água reflecte o plano de maneio que deve ser melhorado
com base no monitoramento da microbacia. Esse monitoramento deve ser feito em pequenas
microbacias, pois, nas grandes bacias hidrográficas, as relações de causa e efeito não são tão
marcantes pelo efeito diluidor natural de uma grande rede de drenagem e influência dos
diferentes usos e coberturas da terra que existem normalmente nas grandes bacias (Fritzsons &
Parron, s/d.).

Os aspectos do maneio florestal que mais impactam as águas fluviais são: a colheita florestal e a
localização das estradas e carregadores. O efeito do corte das florestas plantadas sobre a
hidrologia tende a ser altamente variável por diversas razões. Em geral, nas pequenas bacias,
causa um aumento na produção de água, embora o valor absoluto não seja sempre o mesmo em
todas as situações, pois depende da situação ambiental de cada local (litologia, relevo e clima) e
da extensão do corte realizado na bacia. A colheita também pode modificar o regime de vazão,
pois altera a resposta da vazão referente ao pico de chuva, o que é um efeito ambiental crítico
devido a esse aumento estar, normalmente, associado às perdas de solo e de nutrientes.(Fritzsons
& Parron, s.d.).

Balanço hídrico
O balanço hídrico envolve a quantificação dos componentes do sistema, visando ao melhor
entendimento do seu comportamento e baseia-se no princípio de conservação de massa, sendo
analisado pelos insumos de entradas e pelas saídas de água do sistema afirma (Tucci, 2000).

A evapotranspiração é como um conjunto de perdas evaporativas de área vegetada. Essa variável,


seria, portanto, controlada em grande parte por condições meteorológicas, em função dos
elementos como energia solar, velocidade do vento, temperatura do ar, humidade e outras
variáveis climáticas (Lima, 1996).
No contexto do balanço hídrico, o conhecimento das taxas anuais de evapotranspiração é de
grande importância, uma vez que o rendimento hídrico de uma bacia hidrográfica é afectado pelo
consumo total de água pela vegetação (Lima, 1996).

Efeito de reflorestamento e desmatamento


Segundo Kobiyama (2000), os ecossistemas florestais, constituídos por parte aérea (árvores) e
parte terrestre (solos florestais), desempenham inúmeras funções:

 Mitigação do clima (temperatura e humidade);


 Diminuição do pico do hidrograma (redução de enchentes e recarga para os rios);
 Controlo de erosão;
 Melhoramento da qualidade da água no solo e no rio;
 Atenuação da poluição atmosférica;
 Fornecimento do oxigénio (O2) e absorção do gás carbónico (CO2),
 Prevenção contra acção do vento e ruídos,
 Recreação e educação;
 Produção de biomassa e
 Fornecimento de energia. Todas as funções atuam simultaneamente, sendo a maioria
baseada na actividade biológica da própria floresta.

Interceptação vegetal
Uma das principais influências da floresta ocorre já no recebimento das chuvas pelas copas das
árvores, quando se dá o primeiro fraccionamento da água, onde uma parte é temporariamente
retida pela massa vegetal e em seguida evaporada para a atmosfera, processo denominado de
interceptação (Arcova et al., 2003).

No meio académico e científico Rockstrom (2009), quantifica as actividades antrópicas sobre a


terra identificando processos biofísicos e seus limiares que se transgredidos podem gerar
mudanças ambientais inaceitáveis. E são esses 9 limiares planetáriosː

 Mudanças climáticas;
 Perda da biodiversidade;
 Interferência de ciclo de nitrogénio e fósforo;
 Acidificação dos oceanos;
 Uso global de água doce;
 Mudanças no uso do solo;
 Destruição do ozono estratosférico;
 Emissão de aerossóis na atmosfera; e
 Poluição Química.

Esses limites definem um espaço de operação seguro para as pressões humanas sobre a Biosfera.

TEMA VII: PROTECÇÃO DAS NASCENTES IMPORTÂNCIA E FUNÇÃO DA


VEGETAÇÃO RIBERINHA

Nascente

Entende-se por nascente, o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de
água de acúmulo (represa) ou cursos de água (regatos, ribeirões e rios), ou seja, são fontes de
água que surgem debaixo do solo, aflorando para cima do terreno, onde se inicia um pequeno ou
grande curso de água e que são encontradas facilmente no setor rural (Calheiros, 2010). São
formados quando o aquífero atinge a superfície e, consequentemente, a água armazenada no
subsolo jorra na superfície do solo.

Proveniência das nascentes

Para a melhor compreensão de onde provém a água que formam as nascentes torna-se
necessário o estudo do ciclo hidrológico, conforme mostrado na Figura 1. Para Calheiros (2000),
dentro de uma bacia hidrográfica uma parte da água que é precipitada na forma de chuva é
interceptada pelas plantas, outra é evaporada e uma última porcentagem escoa superficialmente,
formando as enxurradas, a qual escoa rapidamente na bacia. Uma parcela da água proveniente da
chuva também acaba infiltrando no solo, que será responsável por alimentar os aquíferos.
Figura: Ciclo Hidrológico e formação das nascentes. (Caderno Mata Ciliar, 2009).

Essencialmente existem dois tipos de aquíferos: aquífero livre (lençol freático), onde sua
formação geológica é permeável e parcialmente saturada de água. A base deste tipo, é um
horizonte impermeável, fazendo com que o nível da água fique à pressão atmosférica e o
aquífero confinado, que possui uma formação geológica permeável e completamente saturada de
água, sendo esse tipo limitado tanto no topo como na base por camadas impermeáveis, fazendo
com que a pressão no aquífero seja superior à pressão atmosférica (Midões & Fernandes, 2008).
De modo simples, o ciclo hidrológico é o caminho que a água percorre desde a evaporação até o
seu retorno ao mar (Lopes & Castro, 2001). As nascentes são tradicionalmente caracterizadas na
literatura especializada a partir do regime hidrológico sazonal, vazões, tipo de infiltração e
morfologia (Fellipe, 2009).

Classificação das nascentes


Para uma boa identificação e diagnóstico das nascentes deve-se classificá-las principalmente de
acordo com o tipo de reservatório que lhes dão origem e conforme seu grau de conservação
(Linsley & Franzini, 1978). Além da origem e do grau de conservação deve-se classificá-las
quanto à vazão, quanto a posição no terreno e a duração do fluxo (Neto, 2010).

Elas podem ser formadas tanto por lençóis freáticos, quanto por aquíferos confinados (Neto,
2010). Quando a descarga de um aquífero se concentra em uma pequena área localizada, tem-se
uma nascente ou olho d´água (Linsley & Franzini, 1978), esta pode ser sem acúmulo de água
inicial, geralmente este tipo de afloramento ocorre em terrenos com declividades acentuadas,
surgindo em um único ponto devido a inclinação da camada impermeável ser menor que a da
encosta. Esse tipo de nascente que apresenta fluxo da água em um único ponto do terreno é
chamado de pontual (Pinto et al, 2004). Exemplos deste tipo são as nascentes de encosta e de
contato.

Quando a superfície do lençol freático intercepta a superfície do terreno e o escoamento for


espalhado numa área, forma-se um grande número de pequenas nascentes sendo chamadas
veredas (Figura 4). Este tipo de afloramento pode ser classificado como difuso, ocorrendo
principalmente nas áreas de brejo, baixadas, matas planas e voçorocas (Pinto et al., 2004). Caso a
vazão seja suficientemente grande, pode ocorrer um acúmulo inicial de água conforme
observado na Figura 1. Esse fenômeno é comum quando a camada impermeável fica paralela à
parte mais baixa do terreno, podendo formar um lago. Exemplos desse tipo são as nascentes de
fundo de vale e as formadas a partir de rios subterrâneos.

Figura: Tipos comuns de formação de nascentes pelo lençol freático (Calheiros, 2009).
Figura: Nascente sem acúmulo inicial de água (Calheiros, 2009)

Figura: Veredas Calheiros (2009) Figura: Nascente com acúmulo de água inicial.

Para Neto (2010), quanto a posição do terreno, as nascentes podem ser fixas, móveis ou
pseudonascentes.

 Fixas: São aquelas que não mudam de posição ao longo do ano, são as nascentes
pontuais.
 Móveis: São as que se desenvolvem no fundo de calhas, sofrendo variações de acordo
com o nível do lençol freático, fazendo com que esta migre para montante de jusante.
 Pseudonascentes: Caracterizadas por um fluxo de água descontínuo na calha de
drenagem, ou seja, o fluxo desaparece em um ponto de calha e reaparece a jusante na
forma de nascente.

Calheiros (2009) classifica as nascentes quanto a duração do fluxo em:

 Perenes: São aquelas de fluxo contínuo que se manifestam durante o ano todo, mesmo
com vazões variando ao longo do tempo.
 Temporárias: São aquelas que possuem fluxo apenas na estação chuvosa, podendo
durar de poucas semanas a meses.
 Efêmeras: São aquelas que surgem em resposta direta à precipitação onde os fluxos
permanentes permanecem apenas por alguns dias ou horas.

Para Pinto et al. (2004), propõe que a melhor forma de medição de vazão para nascentes é de
forma direta, ou seja, cronometra-se o tempo de um determinado volume de água, usando um
recipiente graduado. Porém apesar de raras, para nascentes com magnitudes abaixo de cinco
torna-se inviável a utilização do método direto, sendo necessária a implantação de dispositivos
para medir a vazão, como: vertetor ou calha Parshall.

Pinto et al. (2004), classifica as nascentes quanto ao seu estado de conservação em:

 Preservadas: Aquelas que apresentam pelo menos 50 metros de vegetação natural no


seu entorno, medindo a partir do centro da nascente.
 Perturbadas: Aquelas que não apresentam 50 metros de vegetação natural no seu
entorno, porém se encontram em bom estado de conservação, apesar de estarem
ocupadas em parte por pastagem ou agricultura.
 Degradadas: Aquelas que possuem alto grau de perturbação, possuindo pouca
vegetação no seu entorno, com a presença de erosões e um solo compactado.

As actividades intensivas do uso e ocupação do solo podem afetar directamente as nascentes. A


exploração desordenada dos recursos naturais como desmatamento, uso inadequado do solo,
adição de resíduos sólidos, agrotóxicos e fertilizantes nas regiões ribeirinhas e nas nascentes,
causam danos severos ao meio ambiente, modificando a quantidade e qualidade da água drenada
pelas bacias hidrográfica. Outros factores que podem influenciar na vazão das nascentes são:
tipos de cobertura vegetal, topografia, geologia, pedologia, presença de agricultura e pecuária
(Lucas et al. , 2009).

Protecção das nascentes e sua importância


As nascentes apresentam pontos muito importantes quanto às estratégias de preservação, pois
controlam a erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção,
podem apresentar minimização de contaminação química e biológica além de ações mitigadoras
de perdas de água por evaporação e consumo pelas plantas (Kresse, 1997).

As águas superficiais são muito afetadas pelo manejo inadequado dos solos e dos dejetos
animais. Em muitas propriedades a inexistência de APP´s, que incluem a proteção das nascentes
e suas áreas de entorno, reduz a ocorrência de afloramentos espontâneos de água e provoca até
mesmo o desaparecimento de mananciais e fontes eficientes (Floss, 2011).

Uma nascente para apresentar viabilidade de aproveitamento de água para consumo deve estar
protegida de acordo com Kresse (1997), no meio rural a águia pode carregar sedimentos com
excesso de nutrientes, resíduos de agrotóxicos e dejetos de animais. As disposições inadequadas
de resíduos sólidos e líquidos também podem poluir a nascente, causando problemas de saúde às
pessoas que fizerem o consumo de água contaminada.

Proteger uma nascente significa isolá-la para que sofra menos impactos do meio que a rodeia. O
isolamento deve ser feito com vegetação nativa e/ou cercas, a fim de se obter uma protecção da
superfície do solo e a criação de condições favoráveis à infiltração da água no solo, garantindo
água de boa qualidade abundante e contínua. Uma nascente desprotegida é muito susceptível à
erosão, tendo em vista que tanto a água da chuva quanto a água que sai da nascente sã elementos
causadores de erosão (Floss, 2011).

A protecção das fontes é uma alternativa de baixo custo e tem sido utilizada em muitas
propriedades rurais para impedir o assoreamento da nascente e a queda de materiais orgânicos
no seu interior. Proteger o afloramento natural é uma medida que pode ajudar a qualidade e a
disponibilidade de água para consumo. No meio rural, deve-se ter especial atenção, pois é
preciso considerar a necessidade de reduzir a contaminação por lixo, agrotóxico, dejetos
humanos e animais. É importante, também reduzir o desmatamento, principalmente das
encostas e da mata ciliar, além de proteger o solo (Floss, 2011).

Modalidades de protecção de nascentes de encostas


A forma de construir uma estrutura de protecção de nascente é flexível, uma vez que depende da
feição da fonte, dos materiais disponíveis no local e das necessidades de água do proprietário
rural. Os procedimentos essenciais na construção de uma proteção de nascente são: construção
da mureta, cobertura do depósito de água, disposição dos canos de saída da água e manutenção
da mata à montante (Calheiros, 2010).

É necessário considerar, também, na protecção da nascente, o controle de erosão do solo, por


meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção, a minimização de contaminação
química e biológica da água, além da necessidade de reduzir as perdas de água por meio da
transpiração das plantas. As nascentes em encostas são as mais favoráveis para colecta de água
para uso humano, animal e agrícola. Esse tipo de nascente representa a quase totalidade das
fontes perenes (Calheiros, 2010).

De acordo com Calheiros (2009), existem três modelos predominantes de protecção de


nascentes (estruturas físicas de contenção) que, de um modo geral, podem ser adoptados em
qualquer nascente de encosta. Tais modelos são: Caxambu, Solo Cimento e Trincheira ou
Mureta.

Modelo Caxambu
É uma tecnologia desenvolvida e disseminada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Trata-se de um tubo de concreto (manilha), de 20 cm
de diâmetro por um metro de comprimento, contendo quatro saídas, duas constituídas de dois
tubos de PVC de 25 mm, por 30 cm de comprimento, que terão as duas saídas da água para
consumo humano e animal, e outras duas, formadas por dois tubos de PVC de 40 mm de
diâmetro por 30 cm de comprimento, sendo um tubo para limpeza da estrutura e outro para
extravasar a água em excesso (Jacomine, 2001).

O tubo não poroso deve ser concretado com os canos de PVC, que deve secar à sombra, por
pelo menos sete dias, molhando todos os dias para a secagem correcta e para não dar problemas
ao ser colocado no local da nascente (Oliveira, Alves, & França, 2010).

Figura: Preparação do tubo do modelo Caxambu de protecção de nascente


Fonte: Catarhino (1989)

Modelo Solo Cimento


O método solo cimento consiste em limpar o entorno das nascentes, manualmente, retirando
materiais orgânicos como raízes, folhas, galhos e lama. Na sequência, coloca-se pedra rachão em
todo o depósito escavado e, em seguida, instala-se a tubulação. A parede ou mureta de contenção
é vedada com uma argamassa, feita com solo peneirado e cimento, na proporção de 3 x 1, sobre
as pedras colocadas no depósito de água, alimentado pela nascente. As pedras, de vários
tamanhos, funcionam como um filtro natural e possibilitam espaços vazios para preenchimento
com água (Oliveira at al., 2010).

As tubulações servem para permitir o escoamento da água, sendo dispostos conforme suas
funções: uma tubulação de 50 mm de diâmetro, para permitir o tratamento com água sanitária,
instalada na parte superior da cobertura da nascente. O agricultor deve fazer, semestralmente,
uma desinfecção, utilizando água sanitária (Oliveira at al., 2010).

Dois canos de 50 mm de diâmetro, com redução para ½ polegada, enviará água para consumo, e
outra tubulação, de 50 mm de diâmetro, é instalada de 15 cm a 20 cm acima da tubulação que
serve água à residência, funcionando como extravasor (ladrão). Por fim, o quarto cano, de 100
mm de diâmetro, que servirá para esgotar a nascente no período da desinfecção semestral e para
permitir o processo de esvaziamento do depósito de água, quando necessário (Oliveira at al.,
2010).

Figura: Proteção de nascente com argamassa de solo cimento sobre pedras.


Fonte: Oliveira at al. (2010).
Figura: Depósito de água coberto com argamassa de solo cimento.
Fonte: (Oliveira at al., 2010).

Modelo Trincheira (mureta)


A trincheira é aberta em posição transversal à direcção do fluxo d’água até penetrar na camada
permeável por onde corre o lençol. Deve apresentar uma declividade no sentido da largura, a fim
de que a água possa ser captada, canalizada ou bombeada. Este modelo é, particularmente,
recomendado quando o lençol freático, de uma nascente de encosta, emerge na superfície e o
depósito de água é de pequeno tamanho (Oliveira at al., 2010).

A mureta deverá ser lacrada, no seu entorno e na parte superior, e toda a água da nascente deve
escorrer pelos quatro canos de vazão. Dois, para captação da água para usos múltiplos pelo
proprietário rural, um para extravasar a água em excesso (ladrão) e o último para esgotamento
total do depósito, com o propósito de limpeza (Oliveira at al., 2010).

Figura: Detalhes da protecção de uma nascente na etapa final de construção.


Fonte: Oliveira at al. (2010).

Figura: Nascente com estrutura de fornecimento de água instalada. Fonte: (Oliveira at al., 2010).

Florestas ribeirinhas
As florestas ribeirinhas são definidas como formações arbóreas encontradas nas ribanceiras,
superfícies de inundação e áreas adjacentes de rios, córregos, lagos ou represas (BUDKE et al.,
2004), ou seja, podem ser caracterizadas como toda a formação florestal que acompanha os
cursos de água (Catarhino, 1989). Constituem manchas de vegetação caracterizadas pela
combinação diferenciada, principalmente, da atuação dos fatores abióticos que resultam em
trechos florestais com florística e estrutura próprias (Rodrigues, 1989).

Os ambientes ribeirinhos apresentam controvérsias não só quanto à sua classificação, mas


também quanto à sua nomenclatura, pois, em geral, esses ambientes são denominados de acordo
com a fisionomia da paisagem local, tendo então uma denominação regionalizada, e,
considerando a extensão do território brasileiro aliado à sua riqueza de ambientes, vários termos
são utilizados para designá-los (Oliveira, 2001). As denominações mais frequentes nas
bibliografias científicas são:

Floresta/mata ciliar
Termo mais utilizado nas planícies da Amazônia, Centro Oeste e Sudeste do Brasil (Pereira &
Leite, 1996). Em geral definidas como estreitas faixas de florestas ocorrentes na beirada de
diques marginais, formando as "pestanas do rio". Na legislação brasileira esse termo é utilizado
de forma bastante genérica, que designa qualquer formação ocorrentes nas margens de cursos da
água (Oliveira, 2001).

Floresta/mata de galeria
Segundo Rodrigues (1989), esse termo deveria ser utilizado para a designação genérica ou
popular das formações ribeirinhas em regiões onde geralmente a vegetação de interflúvio não é
florestada (cerrados, campinas, caatinga, campos, campos gerais, etc). Denomina também a
vegetação dos rios de pequeno porte, ribeirões e riachos, onde formam corredores fechados
(galerias) sobre os cursos da água (Pereira & Leite, 1996).

Floresta/mata de brejo
Denominação genérica ou popular para as florestas paludosas ou higrófilas ou latifoliada
higrófila, que designa formações sobre solos permanentemente encharcados (Oliveira, 2001).

Floresta ripária
O termo ripária provém do latim "ripa" que significa margem ou costa (Stevens et al., 1995). É
usado para designar florestas ocorrentes ao longo de cursos da água em regiões onde a vegetação
de interflúvio também é florestal. Caracteriza tanto a porção do terreno que inclui as encostas
dos rios como também as planícies de inundação, com suas condições pedológicas e
vegetacionais próprias (Zakia, 1998).

Essas formações recebem outras denominações, tais como mata de anteparo, floresta de
condensação, vegetação ripícola, vegetação ribeirinha, etc. (Oliveira, 2001), porém autor
acrescenta de que o uso mais generalizado e restrito.

Caracterização geral das florestas ribeirinhas


As florestas ribeirinhas não podem ser consideradas uma unidade fitogeográfica única, uma vez
que não existem padrões de natureza climática, topográfica, pedológica, ou quaisquer outros que
possam ser considerados determinantes das características e da ocorrência desses ambientes em
todas as situações, pois apresentam uma imensa variação na sua composição florística, estrutural
e dinâmica, mais frequentemente relacionadas com as características intrínsecas da área (Durigan
et al., 2001).
Em geral, são caracterizadas pela grande heterogeneidade ambiental, gerada por fatores abióticos
e bióticos. Como fatores físicos, pode-se citar as variações topográficas, pedológicas, largura do
curso de água, flutuação do lençol freático, influência do regime de cheias dos rios. Dentre os
factores bióticos, destacam-se a influência das áreas vegetadas adjacentes e sua função de
corredor de vegetação, que propiciam o trânsito de polinizadores e dispersores, facilitando o
fluxo gênico entre áreas remotas (Bertani et al., 2001).

Esses ambientes variam consideravelmente em relação à abundância e diversidade de espécies


vegetais (Stevens et al., 1995). As espécies ocorrentes em ambientes ribeirinhos encontram-se sob
condições especiais, em geral, ligadas ao microclima, à fertilidade do solo, e à flutuação do lençol
freático, compondo assim, formações particularmente adaptadas (Pereira & Leite, 1996).

As florestas ribeirinhas, devido à diversidade de factores que a influenciam, em geral apresentam


elevada heterogeneidade florística e estrutural, que pode ocorrer à curtas distâncias. Essas
formações apresentam, dentre outras, espécies adaptadas, tolerantes e indiferentes a solos
encharcados e sujeitos a inundações temporárias, bem como a diferentes graus de luminosidade
(Durigan et al., 2001).

Solos em ambientes ribeirinhos


Sob ambientes ribeirinhos são encontrados diversos solos, os quais variam essencialmente em
função do maior ou menor grau de hidromorfismo ou sua ausência aliado a natureza do material
originário. No capítulo sobre solos do livro "Matas Ciliares - conservação e recuperação" o autor
supracitado relaciona seis classes de solos ocorrentes sob ambientes ribeirinhos, a saber
(Jacomine, 2001):

 Organossolos;
 Gleissolos;
 Neossolo quartzarênico;
 Plintos solos;
 Neossolo flúvico;
 Cambissolo.

Função e importância ecológica das florestas ribeirinhas


Para Oliveira (2001), a conservação das "florestas ribeirinhas" constitui a condição básica para a
manutenção da integridade dos processos ecológicos e hidrológicos das microbacias
hidrográficas.
As florestas ribeirinhas são partes integrantes da rede de drenagem das bacias hidrográficas.
Constituem sistemas que funcionam como reguladores do fluxo de água, sedimentos e nutrientes
entre os terrenos mais altos da bacia hidrográfica e o ecossistema aquático, atuando como um
filtro desses recursos (Lima, 1989). É um ambiente de grande importância como hábitat e fonte
de alimento para a fauna aquática e terrestre, e é fundamental para o nível de qualidade da água
(Pereira & Leite, 1996).

A função hidrológica da vegetação ribeirinha compreende sua influência em uma série de fatores
importantes para a manutenção da estabilidade das microbacias (ambientes fluviais), tais como
(Zakia, 1998):

 Processo de geração do escoamento directo das chuvas;


 Atenuação dos picos das cheias;
 Dissipação de energia do escoamento superficial pela rugosidade das margens;
 Equilíbrio térmico da água;
 Estabilidade das margens;
 Ciclagem de nutrientes;
 Controle da sedimentação;
 Controle da erosão, etc.

Desta forma influenciando na qualidade da água e no hábitat dos organismos aquáticos.

Segundo Lima (1989), pelo processo de interceptação da chuva, a vegetação desempenha


importante papel na distribuição de energia e de água à superfície do solo, afetando a distribuição
temporal e espacial da chuva e diminuído a quantidade de água que chega efetivamente ao solo.
São importantes protectores dos rios, especialmente em relação à poluição proveniente das áreas
agrícola (Bernaccí et al., 1998). Estas formações são consideradas importantes corredores para os
fluxos biológicos, tanto para a fauna como para a dispersão de sementes (Metzger et al., 1997).

Consequências do desmatamento da vegetação ribeirinha


A vegetação localizada às margens dos rios e nascentes desempenha um papel fundamental no
equilíbrio dos ecossistemas, e proporciona qualidade de vida às pessoas. Quando se retira essa
vegetação, compromete-se a qualidade do meio ambiente (Zakia, 1998):

 Pragas na lavoura: A ausência ou a redução da vegetação ribeirinha pode provocar o


aparecimento de pragas e doenças na lavoura e prejuízos económicos às propriedades
rurais.
 Escassez de água: A ausência da vegetação ribeirinha faz a água da chuva escoar sobre
a superfície, impedindo sua infiltração e armazenamento no lençol freático, o que
diminui a quantidade de água disponível nos corpos de água.
 Erosão e assoreamento: A vegetação ribeirinha é uma protecção natural contra o
assoreamento. As raízes das árvores seguram os barrancos próximos aos corpos da água
e impedem que a erosão das margens leve terra para dentro do rio, lagoa ou nascente.
 Desequilíbrio climático: A ausência da vegetação ribeirinha pode provocar alterações
na temperatura, nas chuvas e na nebulosidade em relação à média histórica. Essas
alterações podem alterar as características climáticas de uma região.
 Redução da actividade pesqueira: O assoreamento, erosão, redução do nível das águas
podem provocar o desaparecimento de inúmeras espécies de peixes.

TEMA VIII: FENÓMENOS HIDROLÓGICOS E A PRODUTIVIDADE


FLORESTAL

Fenómenos hidrológicos
Os desastres naturais resultam de eventos catastróficos variados decorrentes de causas naturais
ou de intervenções humanas, resultando em graves perturbações à sociedade, na maioria das
vezes envolvendo inestimáveis perdas humanas ou mesmo volumosos prejuízos materiais
(Oliveira, 2014).

Os aspectos climatológicos e geomorfológicos contribuem para a ocorrência de estiagens,


inundações e deslizamentos de terra presentes entre os desastres mais recorrentes. A ocupação
das áreas de risco e o crescimento desordenado da população exposta são características
demográficas e socioeconómicas que intensificam a vulnerabilidade, a extensão e os efeitos
danosos desses fenómenos (Oliveira, 2014).

Segundo Oliveira (2014), os fenómenos hidrológicos de interesse e mas frequentes, directamente


relacionados ao aumento dos índices pluviométricos (Oliveira, 2014):

 Movimentos de massa;
 Alagamentos;
 Inundações;
 Enxurradas.
Movimentos de massa
Os movimentos de massa ou deslizamentos de terra, são rupturas do solo que podem levar ao
escorregamento de lama, detritos ou blocos de rocha, e ao desmoronamento ou soterramento de
construções civis. Esses fenómenos naturais ocorrem principalmente em regiões serranas e
montanhosas, com clima predominantemente húmido. A retirada da vegetação, o acúmulo de
lixo, e a construção de edificações sob condições irregulares são actividades antrópicas que
aumentam a susceptibilidade dessas regiões.

Alagamentos
Os alagamentos, são acúmulos de água resultantes da combinação de intensas precipitações com
a baixa capacidade de escoamento dos sistemas de drenagem urbana, muitas vezes agravados
pelo acondicionamento incorrecto de detritos e resíduos de actividades humanas, que terminam
por potencializar o assoreamento dos equipamentos de drenagem, como os arroios e as bocas-
de-lobo.

Enxurradas
As enxurradas, são desastres naturais associados ao escoamento superficial da água precipitada
de forma rápida e intensa, principalmente em locais acidentados e com bacias hidrográficas de
menores dimensões. A susceptibilidade desses locais pode ser agravada pela impermeabilização
do solo, ocasionada principalmente pela ocupação inadequada de populações ribeirinhas.

Inundações e enchentes
As inundações e enchentes, respectivamente, ocorrem principalmente em áreas mais planas e em
fundos de vales, e tem potencial de afectar maiores contingentes populacionais. Esses
fenómenos evoluem de forma paulatina e relativamente previsível, devido a precipitações
intensas e contínuas.

A inundação é o extravasamento das águas dos canais de drenagem para áreas marginais, ou
planícies de inundação; as enchentes consistem no aumento do nível da água até a cota máxima
do canal, porém, sem que ocorra o transbordamento.
Figura 1: Diferença entre as inundações e enchentes,
Fonte: CEDEC (2013) citado por (Oliveira, 2014)

Uma vez que esses fenómenos estão directamente relacionados com altos níveis de precipitação
pluviométrica e com a ineficiência do sistema de drenagem, o monitoramento dos mesmos, bem
como os investimentos em pesquisas e intervenções que aumentem a resiliência dos municípios
afectados, são de fundamental importância.

Gestão de operações em fenómenos hidrológicos


Segundo Oliveira (2014), diferentes tipos de acções envolvidas na gestão de operações em
desastres naturais são:

Mitigação e Prevenção: envolve a aplicação de medidas que podem reduzir as causas e


consequências dos desastres naturais com base em análises de risco, e regulamentações que
controlem a ocupação e edificação urbana.

Actividades:

 Controle de uso do solo em áreas de risco;


 Construção de barreiras para desviar os impactos do desastre;
 Análise de risco para avaliar o potencial ds eventos extremos.

Preparação: composta por actividades que capacitam a população para responder de maneira
mais adequada ao desastre. São os planos de contingência elaborados nessa etapa que facilitam a
mobilização de recursos humanos e logísticos, além da própria articulação do sistema de
protecção e defesa civil neste contexto.

Actividades:

 Recrutamento e treinamento de profissionais e voluntários;


 Planejamento de operações de emergência;
 Desenvolvimento de acordo de ajuda mutua.

Resposta: emprego de recursos e procedimentos de emergência, durante ou imediatamente após


a ocorrência de um desastre, com o intuito de reduzir os efeitos gerados pelo mesmo.

Actividades:

 Activação do plano de operações de emergência;


 Evacuação de populações ameaçadas;
 Resgate e assistência médica.

Recuperação: conjunto de actividades adoptadas após o impacto do desastre, a fim de


reconstruir e estabilizar o local afectado. Buscando restabelecer a situação anterior ao episódio
ou até mesmo, quando possível, evitar a reincidência dos danos.

Actividades:

 Limpeza dos distritos do desastre;


 Recuperação de serviços de saúde e de infra-estruturas básicas;
 Assistência as populações deslocadas e afectadas.

Dentre esses tipos de acções, a prevenção, mitigação e preparação, se relacionam directamente


com a gestão do risco de desastres, enquanto resposta e recuperação se relacionam com a gestão
de desastres em si.
Figura 2: Ações envolvidas na gestão de operações em desastres naturais.
Fonte: (Oliveira, 2014)

Segundo CENAD (2012) citado por (Oliveira, 2014) a gestão do risco de desastres consiste em
um processo sistemático que busca eliminar ou diminuir a vulnerabilidade da população aos
efeitos adversos desses eventos, mediante a prática de medidas de prevenção, mitigação e
preparação. Assim, com uma gestão do risco eficiente também é possível poupar os recursos
necessários à gestão de desastres em si, que compreende as fases de resposta e recuperação da
área afectada. É muito importante que os envolvidos no problema compreendam a forte inter-
relação existente entre os diferentes tipos de acções que podem ser tomados. De acordo com a
Organização das Nações Unidas (ONU), cada dólar investido em prevenção poupa sete dólares
gastos em reconstrução.

Produtividade florestal
O conceito de produtividade florestal é muito amplo. Não é apenas o conceito da quantidade de
um determinado produto produzido por unidade de tempo ou espaço físico. Conceitualmente,
podemos adoptar três definições: produtividade potencial, produtividade atingível e
produtividade real (Bognola & Lemos, 2013).

Em cada uma dessas definições, existe um grupo de factores que as sustentam: a produtividade
potencial, que tem como influência a base genética (capacidade de adaptação ao ambiente) das
plantas, bem como radiação solar, temperatura, CO2 e disponibilidade plena de água; a
produtividade atingível, que é influenciada pelas características do sítio, como solo
(disponibilidade de nutrientes, profundidade efectiva, classe textural etc.), regime hídrico (esse
com grande variação temporal), relevo e altitude; e a produtividade real (medida pelo inventário
florestal), que tem, como principais factores redutores, a presença/convivência com plantas
daninhas, as doenças e os ataques de pragas (Bognola & Lemos, 2013).

Somado a esses factores, e não menos importante, tem-se o manejo silvicultural − esse com a
devida qualidade dos tractos culturais, como peça fundamental para o sucesso de um programa
de produção florestal. Tais definições e termos estão interligados e conectados como
engrenagens de um motor, sendo que qualquer descompasso pode gerar “ruídos” no
desempenho (desenvolvimento da Šoresta), ou seja, menor produtividade com maior custo por
metro cúbico (Bognola & Lemos, 2013).

Verifica-se que as grandes e médias empresas florestais não têm medido esforços para
elaborarem mapas pedológicos detalhados de suas propriedades rurais, a ‰m de se obter os
principais factores potenciais ou limitantes, os quais influenciem um determinado sítio a alcançar
boas produtividades. No entanto, apesar desses estudos detalhados de solos de suas
propriedades, muitas vezes elas optam por reagrupar algumas características específicas de solo e
clima em poucas Unidades de Manejo Operacionais (UMO’s). O resultado disso é que o
mapeamento detalhado dos solos, cuja razão principal é caracterizar bem o sítio florestal, é
distorcido, podendo afectar negativamente as potencialidades do referido ambiente num
determinado momento (Bognola & Lemos, 2013).

De certa forma, a variabilidade espacial é atribuída a factores que são constantes, enquanto a
temporal, a factores cíclicos. Como exemplo, podemos citar: uma área de baixada, num ano seco,
pode ser o local com maior produtividade; em outro ano, mais chuvoso, essa mesma UMO de
maior produtividade poderá ter uma queda acentuada, devido ao excesso de água para as plantas
(Bognola & Lemos, 2013).

Impacto observado das mudanças no uso e cobertura da terra na hidrologia de bacias


A mudança no uso e cobertura da terra foi um dos primeiros modos de intervenção antrópica no
meio ambiente. O aumento populacional e o desenvolvimento socioeconómico resultaram no
crescimento urbano, expansão e intensificação da agricultura, extracção de madeira, minério e
outros recursos naturais, o que se traduziu numa maior pressão antrópica sobre os ecossistemas
e sobre a paisagem (Garofolo & Rodriguez, 2022).
O papel das florestas e os impactos directos e indirectos das mudanças no uso e
cobertura da terra sobre a hidrologia de bacias
Sabe-se que algumas funções são inerentes às vegetações florestais, como o arrefecimento local e
a manutenção dos fluxos de umidade e padrões de chuva. O resfriamento é explicitamente
incorporado à capacidade das árvores de capturar e redistribuir a energia solar. A liberação de
vapor d’água continental é auxiliada pelas vegetações florestais, por meio da evapotranspiração
evaporação do solo e superfícies de plantas e transpiração de água pelas plantas. Ao evapo-
transpirar, as árvores recarregam a umidade atmosférica, contribuindo para a formação de
precipitações locais e em locais distantes, por meio do transporte de umidade. A umidade
atmosférica que resulta deste processo é circulada pelos ventos nos continentes e oceanos da
terra. Essa reciclagem de precipitação, produção e transporte da umidade atmosférica pode
promover e intensificar a redistribuição da água por meio das superfícies terrestres (Ellison et
al.,2017, citado por Garofolo & Rodriguez, 2022).

Em geral, as mudanças no uso e cobertura da terra afectam a resposta hidrológica das bacias, por
meio de modificações nos processos de evapotranspiração e de geração de escoamento, os quais
estão directamente associados com o tipo de vegetação (Bruijnzeel, 2004; Andrèassian, 2004)
citado por (Garofolo & Rodriguez, 2022)

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