CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

PROCESSO-CONSULTA CFM nº 5/2020 – PARECER CFM nº 2/2024

ASSUNTO: Questiona a possibilidade dos exames médico-ocupacionais serem
realizados por médicos da atenção primária do Sistema Único de Saúde
(SUS).
RELATOR: Cons. Rosylane Nascimento das Mercês Rocha

EMENTA: A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabeleceu que é

obrigatório o exame médico por conta do empregador, não sendo possível
a realização de exames ocupacionais no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS).
DA CONSULTA

Trata-se de consulta em que um consulente afirma que em texto do site Telessaúde UFSC, localizado
no endereço https://telessaude.ufsc.br/o-medico-da-atencao-primaria-pode-realizar-exame-
medico-ocupacional-para-empresas, foi citado que o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu
parecer protocolado sob o número 2.098/2016, segundo o qual a realização de exame médico
ocupacional não cabe ao médico do SUS. Assim, solicita parecer ou documento de similar conteúdo
que oriente quanto à autorização aos médicos da atenção primária para realizar exame médico
ocupacional.

DO PARECER:

O documento referenciado sob o número 2.098/2016 não foi localizado no portal do CFM.
Preliminarmente, é necessário trazer a definição do exame médico ocupacional. O exame médico
ocupacional se constitui no principal instrumento da prática da medicina do trabalho. Por meio do
exame adequado, obtêm-se dados que podem ser transformados em informações que geram o
conhecimento sobre as condições de trabalho e o seu impacto na saúde dos trabalhadores 1.
A atuação do médico do trabalho que assiste o trabalhador permite ainda ações em nível de
prevenção primária; avaliação da capacidade laboral; avaliação dos riscos a que o trabalhador está
exposto no desempenho de suas atividades laborais e adequação laboral para pessoas com
deficiência.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (Lei nº 5.452/1943, atualizada até dez/2017) assim dispôs,
no Capítulo V, Seção V sobre as Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho2:
Art. 168. Será obrigatório exame médico, por conta do
empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas
instruções complementares a serem expedidas pelo Ministério
do Trabalho:

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I. na admissão;
II. na demissão;
III. periodicamente.
§ 1o O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos
casos em que serão exigíveis exames: a) por ocasião da
demissão; b) complementares.
§ 2o Outros exames complementares poderão ser exigidos, a
critério médico, para apuração da capacidade ou aptidão física e
mental do empregado para a função que deva exercer.
§ 3o O Ministério do Trabalho estabelecerá, de acordo com o
risco da atividade e o tempo de exposição, a periodicidade dos
exames médicos (Brasil, 2017, grifo nosso).

Em obediência à CLT, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) disciplinou as regras de segurança

e saúde no trabalho por meio das Normas Regulamentadoras (NRs). A NR7 trata especificamente
do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), no qual está normatizado o
exame médico ocupacional.

Compete ao empregador garantir a elaboração e a efetiva implantação do PCMSO; custear sem ônus
para o empregado todos os procedimentos relacionados ao PCMSO e indicar o médico do trabalho
responsável pelo PCMSO3.

O PCMSO deve incluir a avaliação do estado de saúde dos empregados em atividades críticas, como
definidas na NR7, considerando os riscos envolvidos em cada situação e a investigação de doenças
que possam impedir o exercício de tais atividades com segurança. Assim, o PCMSO deve incluir a
realização obrigatória dos exames médicos: admissional; periódico; de retorno ao trabalho; de
mudança de riscos ocupacionais e demissional. Ressalte-se que os exames médicos compreendem
exame clínico e exames complementares, realizados de acordo com as especificações da NR7 e de
outras NRs3.

O questionamento traz menção de que o Art. 6o da Lei Orgânica nº 8.080/1990 “inclui no campo de
atuação do SUS a informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas
sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados
de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão
[…]” (Brasil, 1990, destaque nosso).
Consultando a Lei Orgânica nº 8.080/1990, não identificamos a delegação de atribuição ao médico
da atenção primária do SUS para realizar exames ocupacionais:
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema
Único de Saúde (SUS):
I – a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; e

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c) de saúde do trabalhador; (Redação dada pela Lei nº

14.572/2023)
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
e) de saúde bucal (Brasil, 1990).
CONCLUSÃO

Nesse sentido, a legislação vigente no país normatizou o atendimento em saúde do trabalhador e

as medidas preventivas de segurança e saúde no trabalho, não sendo possível a realização de
exames ocupacionais no âmbito do SUS, uma vez que a CLT estabeleceu que é obrigatório exame
médico por conta do empregador.

Esse é o parecer, S.M.J.

Brasília, DF, 11 de janeiro de 2024.

ROSYLANE NASCIMENTO DAS MERCÊS ROCHA

Conselheira Relatora

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Referência bibliográfica

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Senado Federal, 2017. Disponível em:
clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf (senado.leg.br) Acesso em: 16 jan. 2024.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes
e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990.
BRASIL. Norma Regulamentadora 7. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 1978. Disponível em: NR 7 –
PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL – PCMSO (www.gov.br). Acesso em:
16 jan. 2024.
ROCHA, R.; FERNANDES, F. C. Exame ocupacional. SECAD ARTMED, [s. l.], 2023. Disponível em:
https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/exame-ocupacional. Acesso em: 16 jan. 2024.

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