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Os Judeus Marranos Do Rio Grande Do Norte
Os Judeus Marranos Do Rio Grande Do Norte
Interior Israelita
Nas últimas duas décadas, pesquisadores visitaram pequenas cidades do Rio Grande do Norte para
registrar o caso marrano no estado. O Seridó, mais precisamente a cidade de Caicó, revelou-se, através
desses estudos, uma região onde boa parte de sua população é de origem judia. De fato, como afirma João
Medeiros, algumas pessoas da região ainda se dizem “descendentes do pessoal da Judéia”. Venha Ver,
que se tornou município em 26 de junho de 1992, desmembrando-se de São Miguel, ficou famosa pela
tradição judaica que sua população sustenta, mesmo que inconscientemente.
Refúgio dele. Esse seria o significado em hebraico da palavra “seridó”. Porém, não é o que escreve Luís
da Câmara Cascudo, mostrando a origem indígena do nome da região (1968, p. 122): “De ceri-toh, sem
folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros”. Mesmo
assim, ainda existem estudos que levantam dúvidas em relação à verdadeira origem dessa palavra.
Consultando um dicionário Português-Hebraico, descobrimos que a tradução de refugo para o hebreu é
she´erit. Incluindo-se o sufixo ó (dele), temos she´eritó, assemelhando-se muito com o nome Seridó.
Existe também a palavra Sarid que significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução
sobrevivente dele. Segundo João Medeiros, a variação Serid quer dizer “o que escapou”, podendo ser
traduzido também por refúgio. Desse modo, Medeiros afirma que a tradução para o nome seridó seria
refúgio dele.
Além disso, O Jornal de Hoje também veiculou uma reportagem sobre o assunto, falando sobre a possível
origem hebraica do nome da região:
No Rio Grande do Norte, os Marranos (como também podem ser conhecidos os cristãos-novos) se
espalharam pelo interior em municípios como Caicó, Currais Novos, Acari e outros. E com o apoio dos
holandeses, que na época também se escondiam dos portugueses porque eram protestantes. Joaquim
chama a atenção para a primeira Sinagoga das Américas, construída em Pernambuco, defendendo a
grande probalididade dos seridoenses terem origens judaicas.
Fontes chama a atenção para o nome Seridó. Segundo ele, Serid + o, significa em hebraico, “refúgio
dele”. O “Dele” indica que os judeus não mencionam o nome de Deus, por julgarem ser heresia. “É
sagrado, não podemos banalizar”, frisou Fontes.
A dúvida sobre o significado do nome “Seridó” não existe à toa. Pesquisas realizadas na região apontam
que lá, independente dessa questão, vivem muitas famílias descendentes de judeus. Sobreira escreve sobre
o caso Caicó. (Novinsky e Kuperman, 1996, p. 425)
Outro fato tão ou mais importante que o acima descrito foi a conversão de algumas famílias do Rio
Grande do Norte, que em meados da década passada abandonaram o cristianismo e abraçaram o
judaísmo. (...)
Percebe-se que um bom número dos habitantes da região conhece a própria origem judaica, inclusive o
padre Antenor Salviano de Araújo. As pessoas sabem da ascendência mas não vêem motivos para um
maior envolvimento com a cultura hebraica, preferindo permanecer na religião católica, predominante na
região.
“Toda sexta-feira à noite, antes do pôr-do-sol, a mulher de Venha Ver acende duas velas”, escreve o
Rabino brasileiro Jacques Cukierkorn ao relatar sua visita ao povoado em 1992. Esse mesmo ato é
praticado pelas mulheres judias na mesma hora, que marca o início do Shabat. Venha Ver é famosa pela
tradição judaica que possui, já tendo sido motivo de algumas reportagens. A origem do nome da cidade é
explicada de várias formas pelos habitantes mais velhos. Como encontrado no site da Cabugi.com, a
explicação mais contada se refere ao namoro entre a filha do fazendeiro e um dos seus escravos.
Descontente com esse namoro, o fazendeiro decidiu mandar sua filha para outra região. Ao procurar por
ela no dia de sua partida, foi informado por uma escrava que a moça estava proseando com o namorado.
O fazendeiro não acreditou na conversa da escrava, que não teve outra alternativa a não ser chamá-lo para
comprovar pessoalmente sua informação. Venha ver, disse a escrava enfrentando o revoltado patrão.
O próprio Cukierkorn afirma que algumas pessoas levantam a hipótese de que o nome Venha Ver também
seria uma deturpação de uma frase que mistura português com hebraico vem havér (com h aspirado),
significando “vem amigo”, pois havér em hebraico quer dizer colega ou amigo. Assim como no caso do
Seridó, essa hipótese não surgiu à toa pois a região possui marcas fortes da influência judia.
Em 1992, o Rabino visitou diversas cidades pequenas do Rio Grande do Norte e relatou vários indícios da
influência israelita nos costumes da comunidade de Venha Ver, como ele mesmo relata no artigo
“Shearching for Brazilian Marranos3” em 16 de fevereiro de 1997. Em relação aos alimentos, o Rabino
percebeu que eles não comem carne de porco, carne de animais de caça ou frutos do mar, assim como
proibido no antigo testamento. Quando vão comer uma galinha, ela é morta cortando seu pescoço com
uma faca e não o torcendo, para que o sangue seja retirado totalmente. Como Cukierkorn escreve, as
pessoas de Venha Ver se recusam a comer carne contendo sangue porque isso é “carregado” Ninguém
soube explicar, exatamente, o significado desse termo, mas ele atribuiu isso a algo espiritual.
Outro costume alimentar da população é não comer pão durante a primeira semana de abril. Isso lembra a
prática judaica de não comer alimentos fermentados durante o Pêssar, a páscoa judaica. Quando um pai
está abençoando um filho, ele põe as mãos nos ombros ou na cabeça da criança, lembrando muito a
prática judaica.
Em relação às práticas religiosas, Cukierkorn cita, como já foi dito, o fato de as mulheres acenderem duas
velas nas sextas-feiras antes de o sol se pôr. As velas são acessas em seus lares, mas em lugar onde não
possam ser vistas. A preocupação em esconder as velas é resquício do medo da já extinta Inquisição
Católica. Contudo, as práticas judaicas da cidade adquiriram um sentido mais supersticioso, mantidas
inconscientemente. Por exemplo, no caso das velas, elas são acesas para que os bons espíritos protejam
seus lares e não para celebrar o início do dia sagrado.
Apesar de serem católicas praticantes, as pessoas da cidade se recusam a se ajoelhar na igreja. Seus lares,
freqüentemente, contêm figuras de santos, mas cruzes são raras. É comum ver um pequeno saco com
areia pendurado à direita nas portas de entrada das casas da cidade. O povo toca ou beija o saquinho
quando entra ou sai de casa, lembrando a mezuzá, objeto que os judeus fixam nos batentes de suas portas.
Cukierkorn relata ainda que muitas portas frontais possuem uma estrela de Davi. O motivo dessa
superstição é a proteção da casa contra espíritos maus.
Durante sua estadia, Cukierkorn ficou sabendo que, além das rezas católicas, algumas pessoas da cidade
pronunciam orações privadas e solitárias, em seus lares, que foram passadas a eles por seus ancestrais. O
Rabino tentou saber como eram essas orações, mas as pessoas se recusaram a lhe revelar. Elas também se
recusaram a mostrar onde fica o outro local de orações do povoado, que existe além da igreja. Esse lugar
era chamado de “snoga”, que tem grande semelhança com a palavra “sinagoga”, o templo do judaísmo. A
“snoga” de Venha Ver ficaria em algum lugar secreto entre as serras da região.
Outro sinal da origem judaica da cidade vem dos ritos funerários praticados ali. O povo de Venha Ver
inicia os preparativos do funeral já quando a morte de uma pessoa se mostra possível. O corpo do morto é
lavado e envolto numa mortalha de linho branco, mas nenhum caixão é usado.
O relato de Cukierkorn descreve Venha Ver em 1992. Um relato mais atual do lugar foi encontrado nas
páginas do mossoroense Jornal de Fato:
Tradição Esquecida
Nova geração do município de Venha Ver despreza influência judaica e põe fim a costumes seculares
Regy Carte
De Venha Ver
Venha Ver — A influência judaica em Venha Ver (Alto Oeste) vem perdendo força. Tradições primitivas
do povo judeu, uma peculiaridade do município, vêm sendo desprezadas pelas novas gerações,
influenciadas pelos costumes da sociedade moderna. O “novo” fascina os jovens de Venha Ver, que dão
prioridade a novos hábitos culturais em detrimento de práticas antigas do povoado. Há dez anos, por
exemplo, os noivos só se reencontravam coisa de 15 dias depois da cerimônia nupcial. Cada um ficava na
sua casa — resquício da tradição judaica.
Hoje, isso quase não existe. Somente poucas famílias, a maioria da zona rural, conservam essa cultura.
“Nem pensar. Quando casar, não vou ficar um minuto longe do meu marido”, diz a estudante Do Carmo
Bernarda Soares, 16, natural de Venha Ver. Muita coisa mudou desde que judeus chegaram ao semi-árido
nordestino no século XVI, expulsos da Europa pela Santa Inquisição, instituto da Igreja Católica contra
quem se insurgia contra seus dogmas.
A evolução da sociedade põe fim a costumes conservados por séculos, e que só agora começam a
desaparecer em Venha Ver. A isolação do município, situado em região serrana de difícil acesso até há
dois anos, contribuiu para a conservação dessas práticas antigas. Como a televisão, quase tudo é recente
em Venha Ver, que elegeu seu primeiro prefeito em 1996, e teve acesso à Internet há pouco mais de um
ano. Até há cinco anos, a rede fazia vez de caixão nos sepultamentos. Hoje, isso também quase não existe.
A tecnologia e a chegada de famílias de outras regiões foram determinantes no fim de hábitos judaicos.
Com a geladeira, acabou o costume de salgar carne e conservá-la em um grande pote de barro durante
meses, outra tradição de Venha Ver. Habitantes de outras regiões, vindos para Venha Ver em busca de
emprego, trouxeram outra cultura, que aos poucos substitui as práticas judaicas. Hoje, quase não se
pendura mais carne em pedaços de madeira para escorrer o sangue.
DIASPORA — As primeiras notícias de migração de judeus para o Brasil são de 1499. Eram trazidos
pela intolerância religiosa na Espanha e Portugal. Conta-se que havia judeus na expedição naval que
levou Pedro Álvares Cabral a descobrir o Brasil, em 1500. A Santa Inquisição motivou a migração dos
judeus, que formaram colônias em várias partes do mundo, inclusive no nordeste brasileiro. No Rio
Grande do Norte, Venha Ver é o mais Importante reduto de descendentes de judeus.
Isso já foi tema de matérias jornalísticas na grande imprensa, e atrai a atenção de estudiosos estrangeiros.
No carnaval deste ano, um casal de antropólogos franceses e um cineasta americano estiveram na cidade
para fazer um documentário sobre o assunto.
Os costumes da cidade não são exclusivos dela. Percebe-se que pessoas de outras localidades no estado
também possuem as mesmas práticas e supertições, só que em níveis diferentes de consciência e atuação.
Ao saber que os costumes estão sendo esquecidos ou ignorados pelos mais jovens de Venha Ver por
causa da influência do “mundo exterior”, pode-se pensar que esse mesmo processo de esquecimento
existiu e ainda existe em outras cidades ou povoados norte-rio-grandenses. Esse mesmo processo é notado
nas outras regiões pesquisadas como Mossoró e Caicó. Isso nos faz pensar que em outras localidades, não
só do Rio Grande do Norte, como de todo o Nordeste, costumes semelhantes serão encontrados.
A pequena e acolhedora Venha Ver, no extremo oeste do Rio Grande do Norte. O único
município potiguar que faz fronteira com dois estados, Paraíba e Ceará
Uma pequena cidade perdida no interior do Rio Grande do Norte guarda vestígios da
origem judaica de sua população, cujos fundadores, em 1811, eram descendentes de
cristãos-novos — judeus convertidos à fé cristã. Mesmo cristãos, os habitantes de
Venha-Ver (440 km a oeste de Natal) revelam em hábitos cotidianos uma tradição
particular, transmitida há séculos de geração a geração. A maioria dos habitantes,
porém, não tem consciência da origem de seus ancestrais.
Os sinais mais evidentes da tradição judaica encontrados na pequena cidade pela
Agência Folha são a fixação de cruzes em formato hexagonal na porta de entrada das
casas, o enterro dos corpos em mortalhas brancas e os sobrenomes típicos de
cristãos-novos. Os costumes de retirar totalmente o sangue da carne animal após o abate
e de colocar seixos sobre os túmulos também podem ser relacionados à ascendência
judaica dos habitantes. Os judeus colocam seixos sobre as sepulturas com o significado
de que o morto não será esquecido.
Em Venha-Ver, pôr um seixo sobre o túmulo significa uma oração à pessoa ali
enterrada. O próprio nome da cidade é uma provável fusão da palavra “vem” (do verbo
vir, em português) com o termo hebraico “chaver” (pronuncia-se ráver), que significa
amigo, companheiro. Ou seja, Venha-Ver seria uma corruptela de “Vem, Chaver”.
Esses foram parte dos indícios relatados pelo rabino Jacques Cukierkorn em sua tese de
rabinato (equivalente a mestrado) sobre a ascendência judaica entre a população do Rio
Grande do Norte.
Nas portas das casas de Venha Ver é normal se encontrar cruzes feitas com palhas de
coqueiros, benzidas no dia de Domingo de Ramos. Para alguns, a forma como a
população coloca estes símbolos, é uma representação antiga de uma Estrela de Davi
Será?
Cukierkorn vê, na forma de tratar a carne animal, a presença das regras da culinária
“kasher” — determinadas pelo judaismo. Logo após o abate de um animal em
Venha-Ver, os pedaços de carne são dependurados com uma corda sobre um tronco de
árvore, para que todo o sangue escorra. Depois disso, a carne é salgada — prática usual
entre os judeus ortodoxos.
Os judeus sefarditas, então, eram obrigados a viver numa situação penosa, pois, por um
lado, eram obrigados a confessar a fé cristã e por outro, seus bens eram espoliados,
viviam humilhados e confinados naquele país. Voltar para a Espanha, de onde foram
expulsos era impossível, bem como seguir em frente, tendo à vista o imenso oceano
Atlântico. O milagre do Mar Vermelho se abrindo, registrado no Livro de Êxodo, precisava
acontecer novamente.
Na própria expedição de Pedro Álvares Cabral já aparecem alguns judeus, dentre eles,
Gaspar Lemos, Capitão-mor, que gozava de grande prestígio com o Rei D. Manuel.
Podemos imaginar com que tamanha alegria regressou Gaspar Lemos a Portugal, levando
consigo esta boa nova: - descobria-se um paraíso, uma terra cheia de rios e montanha,
fauna e flora jamais vistos. Teria pensado consigo: não seria ela uma "terra escolhida"
para meus irmãos hebreus? Esta imaginação começou a tornar-se realidade quando o
judeu Fernando de Noronha, primeiro arrendatário do Brasil, demanda trazer um grande
número de mão de obra para explorar seiscentas milhas da costa, construindo e
guarnecendo fortalezas na obrigação de pagar uma taxa de arrendamento à coroa
portuguesa a partir do terceiro ano. Assim, milhares e milhares de judeus fugindo da
chamada "Santa Inquisição" e das perseguições do "Santo Ofício" de Roma, começaram a
colonizar este país.
Afinal, os judeus ibéricos, como qualquer outro judeu da diáspora, procurava um lugar
tranqüilo e seguro para ali se estabelecer, trabalhar, e criar sua família dignamente. O
tema é muito vasto e de grande riqueza bibliográfica e histórica.
Assim, queremos com esta matéria abordar ligeiramente o referido tema, despertando,
principalmente, o leitor interessado que vive fora da comunidade judaica. Neste pequeno
estudo, queremos mencionar a influência judaica na formação da raça brasileira,
apresentando apenas alguns fatos históricos importantes ocorridos no Brasil colonial,
destacando uma lista de nomes de judeus portugueses e brasileiros que enfrentaram os
julgamentos do "Santo Ofício" no período da Inquisição.
Os fatos históricos são muitos e podem ser encontrados em vários livros que tratam com
detalhes desse assunto, como já mencionado.
Comecemos, então, apresentando um pequeno resumo da história dos judeus estendendo
até ao período do Brasil Colonial. Desde a época em que o Rei Nabucodonosor
conquistou Israel, os hebreus começaram a imigrar-se para a península ibérica. A
comunidade judaica na península cresceu ainda mais durante os séculos II e I a.C., no
período dos judeus Macabeus. Mais tarde, depois de Cristo, no ano 70, o imperador Tito
ordenou destruir Jerusalém, determinando a expulsão de todo judeu de sua própria terra.
A derrota final ocorreu com Bar Kochba no ano 135 d.C, já na diáspora propriamente dita.
A história confirma a presença dos judeus ibéricos, também denominados "sefaradim",
nessa península, no período dos godos, como comprovam as leis góticas que já os
discriminavam dos cristãos. As relações judaico-cristãs começaram a agravar-se
rapidamente após a chegada a Portugal de 120.000 judeus fugitivos e expulsos pela
Inquisição Espanhola por meio do decreto dos Reis Fernando e Isabel em 31.03.1492.
Não demorou muito, a situação também se agravava em Portugal com o casamento entre
D. Manoel I e Isabel, princesa espanhola filha dos reis católicos. Várias leis foram
publicadas nessa época, destacando-se o édito de expulsão de D. Manoel I. Mais de
190.000 judeus foram forçados a confessar a fé católica, e após o batismo eram
denominados "cristãos novos", quando mudavam também os seus nomes. Várias
atrocidades foram cometidas contra os judeus, que tinham seus bens confiscados,
saqueados, sendo suas mulheres prostituídas e atiradas às chamas das fogueiras e as
crianças tinham seus crânios esmagados dentro das próprias casas.
O descobrimento do Brasil em 1500 veio a ensejar uma nova oportunidade para esse povo
sofrido. Já em 1503 milhares de "cristãos novos" vieram para o Brasil auxiliar na
colonização. Em 1531, Portugal obteve de Roma a indicação de um Inquisidor Oficial para
o Reino, e em 1540, Lisboa promulgou seu primeiro Auto de fé. Daí em diante o Brasil
passou a ser terra de exílio, para onde eram transportados todos os réus de crimes
comuns, bem como judaizantes, ou seja, aqueles que se diziam aparentemente cristãos
novos, porém, continuavam em secreto a professar a fé judaica. E é nesses judaizantes
portugueses que vieram para o Brasil nessa época que queremos concentrar nossa
atenção.
De uma simples terra de exílio a situação evoluiu e o Brasil passou a ser visto como
colônia. Em 1591 um oficial da Inquisição era designado para a Bahia, então capital do
Brasil. Não demorou muito, já em 1624, a Santa Inquisição de Lisboa processava pela
primeira vez contra 25 judaizantes brasileiros (os nomes abaixo foram extraídos dos
arquivos da Inquisição da Torre do Tombo, em Lisboa). Os nomes dos judaizantes e os
números dos seus respectivos dossiês foram extraídos do Livro: "Os Judeus no Brasil
Colonial" de Arnold Wiznitzer - página 35 - Pioneira Editora da Universidade de São Paulo:
Abreu Álvares Azeredo Ayres - Affonseca Azevedo Affonso Aguiar - Almeida Amaral
Andrade Antunes - Araújo Ávila Azeda Barboza - Barros Bastos Borges Bulhão - Bicudo
Cardozo Campos Cazado - Chaves Costa Carvalho Castanheda - Castro Coelho Cordeiro
Carneiro - Carnide Castanho Corrêa Cunha - Diniz Duarte Delgado Dias - Esteves Évora
Febos Fernandes - Flores Franco Ferreira Figueira - Fonseca Freire Froes Furtado -
Freitas Galvão Garcia Gonçalves - Guedes Gomes Gusmão Henriques - Izidro Jorge
Laguna Lassa - Leão Lemos Lopes Lucena - Luzaete Liz Lourenço Macedo - Machado
Maldonado Mascarenhas - Martins Medina Mendes Mendonça Mesquita - Miranda Martins
Moniz Monteiro - Moraes Morão Moreno Motta - Munhoz Moura Nagera Navarro -
Nogueira Neves Nunes Oliveira - Oróbio Oliva Paes Paiva - Paredes Paz Pereira Perez -
Pestana Pina Pinheiro Pinto - Pires Porto Quaresma Quental - Ramos Rebello Rego Reis -
Ribeiro Rios Rodrigues Rosa - Sá Sequeira Serqueira Serra - Sylva Silveira Simões
Siqueira - Soares Souza Tavares Telles - Torrones Tovar Trigueiros Trindade - Valle
Valença Vargas Vasques - Vaz Veiga Vellez Vergueiro - Vieira Villela.
A lista dos sobrenomes citados acima não exclui a possibilidade da existência de outros
sobrenomes portugueses de origem judaica. (Fonte: Extraído do livro: "Raízes judaicas no
Brasil" - Flávio Mendes de Carvalho - Ed. Nova Arcádia 1992).
Todos esses judeus brasileiros, cujos sobrenomes estão citados acima, foram julgados e
condenados pela Inquisição de Lisboa, sendo que alguns foram deportados para Portugal
e queimados, como, por exemplo, o judeu Antônio Felix de Miranda, que foi o primeiro
judeu a ser deportado do Brasil Colônia. Outros foram condenados a cárcere e hábito
perpétuo.
Quando os judeus aqui chegavam, desembarcavam na maioria das vezes na Bahia, por
ser naquela época o principal porto. Acompanhando a história dessas famílias, nota-se
que grande parte delas se dirigia em direção ao sul, muitas vezes fixando residência nos
Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Outros subiam em direção ao norte do país,
destacando a preferência pelos estados de Pernambuco e Pará. Esses estados foram
bastante influenciados por uma série de costumes judaicos. É importante ressaltar que
não podemos afirmar que todo brasileiro, cujo sobrenome constante desta lista acima, seja
necessariamente descendente direto de judeus portugueses.
Para saber-se ao certo necessitaria uma pesquisa mais ampla, estudando a árvore
genealógica das famílias, o que pode ser feito com base nos registros disponíveis nos
cartórios. Mas, com certeza, o Brasil tem no seu sangue e nas suas raízes os traços
marcantes deste povo muito mais do que se imagina, quer na sua espiritualidade,
religiosidade ou mesmo em muitos costumes.
Constatamos que o Brasil já se destaca dentre outras nações como uma nação que cresce
rapidamente na direção de uma grande potência mundial. A influência histórica judaica
sefardita é inegável. Os traços físicos de nosso povo, os costumes, hábitos e algumas
tradições são marcas indubitáveis desta herança. Mas, há uma outra grande herança de
nosso povo, a fé. O brasileiro na sua maioria pode ser caracterizado como um povo de fé,
principalmente, quando esta fé está fundamentada no conhecimento do Deus de Abraão,
Isaque e Jacó, ou seja, no único e soberano Deus de Israel.
Isto sim tem sido o maior, o melhor e o mais nobre legado do povo judeu ao povo
brasileiro e à humanidade.
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AS FROTAS DE HIRÃO E SALOMÃO NO RIO AMAZONAS
(993 A 960 a.C.)
Os fenícios tiveram sempre muitos inimigos que invejavam as suas riquezas; mas, bons
diplomatas, com ninguém brigaram, nunca fizeram guerras agressivas e, em toda parte,
solicitaram alianças políticas e comerciais. Assim, esse povo pequeno, que nunca foi mais
de meio milhão de almas, espalhado sobre centenas de colônias longínquas, pôde
conservar, durante dois milênios, um grande domínio marítimo e colonial.
O rei David, dos judeus, havia fundado um poderoso reino, que atingiu seu apogeu no
longo governo de Salomão. Os fenícios mostraram-se muito amigos de seu grande
vizinho, que lhes forneceu principalmente trabalhadores, que faltavam na Judéia.
Ambos os países estiveram também em boas relações com o Egito, onde reinava a
dinastia dos Tanitas. Essa "Tríplice Aliança" deu a seus componentes uma certa
segurança contra os planos conquistadores dos Assírios, e favoreceu as empresas
coloniais, no Atlântico. Mas, em 949 a.C., apoderou-se o chefe dos mercenários líbicos,
Chechonk, do governo do Egito e destronou a dinastia dos Tanitas. Esse chefe não era
amigo do rei Salomão, tendo este querido repor a dinastia caída. Chechonk vingou-se,
incitando Jeroboão a fazer uma revolução contra Salomão, e tornou-se o instigador da
divisão do reino judaico em dois Estados. Jeroboão ficou como rei das províncias do Norte
e Roboão, filho de Salomão, ficou com Jerusalém e a província da Judéia. Depois, no
quinto ano de governo de Roboão, apareceu Chechonk com grandes exércitos na Judéia,
sitiou Jerusalém e obrigou Roboão a entregar-lhe quase todos os objetos de ouro do
templo. Assim, levou Chechonk a maior parte do ouro que Salomão recebera da
Amazônia, além de quatro grandes escudos que pesavam 5 quilos de ouro, cada um, para
o Egito. O usurpador mandou colocar no templo de Amon, em Karnac, uma grande lápide,
na qual são narrados todos os pormenores dessa guerra contra a Judéia e enumeradas as
peças de ouro que o vendedor trouxe para colocá-las nos templos egípcios. Essa lápide
ainda hoje existe.
É certo que os judeus fundaram nas regiões do Alto Amazonas algumas colônias, onde
negociavam, e ali se mantiveram durante muitos séculos, tendo deixado, indubitavelmente,
rastros da civilização e da língua hebraica. Também o nome Solimões, para o curso médio
do grande rio, tem a sua origem no nome do rei Salomão, cuja forma popular era sempre
Solimão.
É conhecida a grande amizade e forte aliança entre Salomão e Hirão. Além de servir-se
Salomão da frota marítima dos fenícios, numa associação de interesses comerciais,
recorreu a Hirão, quando da construção de seu templo, tendo o rei de Tiro designado um
seu homônimo, o arquiteto Hirão, para comandar os trabalhos da construção do templo.
Um documento assírio do ano 876 a.C. refere-se ao tributo que os habitantes de Tiro eram
obrigados a pagar ao seu país para manterem por algum tempo aparente independência:
"grande quantidade de ouro, prata, chumbo, bronze e marfim, 35 vasos de bronze,
algumas vestimentas de cores vivas e um delfim".