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Direito Ambiental No Âmbito Constitucional e No Espaço
Direito Ambiental No Âmbito Constitucional e No Espaço
PROPÓSITO
Compreender, a partir de uma visão constitucional, o direito ambiental e seus princípios mais relevantes.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo do conteúdo proposto, é importante ter em mãos: a Constituição brasileira de
1988; a Lei nº 6.938, de 1981; a Lei Complementar nº 140, de 2011; e as Resoluções nº 1/1986, 9/1987 e
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Descrever o papel dos órgãos e das entidades mais relevantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA)
MÓDULO 3
Distinguir as três licenças ambientais clássicas e o momento ideal para realização do Estudo Prévio de
INTRODUÇÃO
Neste tema, partiremos de uma visão constitucional a fim de compreender o direito ambiental e seus
princípios mais relevantes (prevenção, precaução). Abordaremos as principais estruturas criadas para
implementar a gestão ambiental do Estado. Isso inclui compreender o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), seus órgãos (como o CONAMA) e suas entidades (por exemplo, o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA) mais relevantes.
Veremos ainda os principais instrumentos trazidos pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (Lei
nº 6.938, de 1981) para implementar a gestão pública nessa área e concretizar os princípios mais
Ao final, detalharemos alguns dos instrumentos mais importantes, polêmicos e debatidos no direito
ambiental: as licenças ambientais (a licença prévia, por exemplo), o Estudo Prévio de Impacto Ambiental
Podemos dizer que a expressão meio ambiente encerra um pleonasmo. Isso porque tanto a palavra
“meio” quanto a palavra “ambiente” trazem a mesma ideia-chave de entorno. É comum falarmos em meio
ambiente, mas podemos ler, às vezes, apenas “ambiente”, “meio” ou até “entorno”. E muitos adjetivos se
EXEMPLO
Embora atualmente seja possível debater se o que deve estar no centro das preocupações ambientais
seja a vida ou até o planeta Terra, vamos partir da ideia mais tradicional, e ainda predominante, de que o
Isso porque, além de o Direito ser uma construção humana, o Direito ambiental tem o seu marco inicial
na:
Fonte: Janwikifoto/Wikimedia
Vista do interior do prédio do Sveriges Riksdag (Parlamento sueco), onde foram realizadas diversas
das reuniões da Conferência.
Conferência de Estocolmo
Evento promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e realizado na Suécia em 5 de junho de
1972.
Observando a Declaração de Estocolmo, percebemos que ela, desde o preâmbulo, ressalta que os seres
humanos precisam de um entorno equilibrado, e que isso seria um direito da maior importância,
fundamental, pois está ligado diretamente à dignidade da vida humana. O art. 225 da nossa Constituição
Esse ambiente, meio ou entorno geralmente é imaginado, idealizado, como a visão de uma floresta nativa,
de uma praia paradisíaca, ou seja, nos casos em que se apresenta como natural.
Fonte: SL-Photography/Shutterstock
Podemos dizer que o ambiente natural é aquele que existe como tal sem a ação determinante do ser
humano.
Porém, o nosso entorno é cada vez menos natural, cada vez mais artificial, construído. A maior parte da
população mundial já vive no espaço urbano, que surge pela ação humana, com a construção de casas, a
Fonte: TR STOK/Shutterstock
Alguns chegam a dizer que esta era geológica pode ser descrita como antropoceno, tamanha é a nossa
Tudo isso demonstra a importância de cuidarmos do ambiente urbano, também chamado de artificial ou
ambientais também são utilizados para garantir uma sadia qualidade de vida nas cidades, nos centros
que consideram mais importantes, quando estudamos o Direito estamos preocupados com o direito que
está posto, escrito, positivado. Partindo dessa visão, que podemos chamar de positivista, o Direito é visto
como um sistema de normas de determinado espaço e tempo. Por isso, nosso Direito constitucional
possui como principal norma a Constituição, válida desde 5 de outubro de 1988 no território do Brasil.
Podemos dizer que o Direito ambiental é um conjunto de normas cujo objetivo é proteger o meio
ambiente para as presentes e futuras gerações. Essas normas jurídicas podem ser divididas em dois
grandes grupos.
REGRAS
PRINCÍPIOS
Possuem, geralmente, um comando claro e estipulam determinada conduta. Por exemplo, o caput do
art. 225 dispõe que o poder público e a coletividade devem preservar o meio ambiente para esta geração
e para as vindouras. O inciso III, §1º, desse mesmo artigo estabelece que o público deve criar, em todas
São mais abstratos do que as regras e apontam na direção de valores que podem ser concretizados de
A resposta é positiva. Essa autonomia decorre das características específicas do Direito ambiental – ser um
direito voltado para o futuro, protegendo gerações futuras – e dos princípios igualmente peculiares.
Nota-se que a proteção do meio ambiente está presente em tratados ambientais, na definição de crimes
Os crimes contra a natureza precisam ser vistos com a base vinda do Direito penal
O fato de haver normas ambientais em vários ramos do Direito reforça sua autonomia e, embora
mantenha com eles relações constantes, não se confunde com nenhum desses ramos.
Como ramo autônomo, o Direito ambiental precisa de uma disciplina igualmente autônoma, capaz de
deve abranger as características únicas que fazem do Direito ambiental um ramo novo e cheio de
O Direito ambiental surge com a Conferência de Estocolmo. Foi nessa conferência que se originaram as
seguintes ideias:
Após essa conferência, os países foram, cada um no seu ritmo, editando normas com sua visão
Isso não quer dizer que não existiam normas que já se voltavam para questões que atualmente
entendemos como ambientais. Nesses casos, o que mudou foi a perspectiva, a visão a partir da qual
esses bens passaram a ser protegidos. Foram também acrescentadas normas mais adequadas aos
desafios ambientais vistos em Estocolmo, marcadas por uma visão mais ampla, transversal.
ATENÇÃO
No Brasil, a norma que sinaliza essa mudança de visão e de postura foi editada em agosto de 1981. A Lei
nº 6.938, conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), é um marco indiscutível. Além de
objetivos e conceitos, ela traz instrumentos e uma estrutura para a implementação do Direito ambiental: o
Contudo, conforme os países foram editando novas constituições, muitos aproveitaram para colocar a
proteção ambiental também nesses textos. Como a Constituição representa, em regra, a norma mais
importante de um ordenamento jurídico, a tutela do ambiente nos textos dessa natureza traduziu um
A partir do momento em que o meio ambiente passa a ser juridicamente protegido, não podem ser
editadas leis em sentido contrário, já que não serão compatíveis com a Constituição e, por isso, não terão
Atualmente, passados quase cinquenta anos da conferência de Estocolmo, boa parte dos países já possui
alguma forma de proteção constitucional do meio ambiente. No caso do Brasil, isso aconteceu já na
Ainda na década de 1980, a proteção ambiental passava a integrar a Constituição de forma destacada.
Entre a Constituição de 1934 e a atual, houve apenas a previsão constitucional acerca de alguns recursos
Além de capítulo próprio para a proteção ambiental – e o art. 225, que possui parágrafos e incisos –, a
Constituição de 1988 traz dispositivos sobre essa questão ao longo de todo texto. Veja mais a seguir:
No início, temos a previsão da ação popular (art. 5º), que pode ser usada para anular atos lesivos ao meio
ambiente.
No meio, podemos destacar a preocupação com o ambiente em artigos das políticas econômica (art.
Na última parte do texto, destacamos essa preocupação no art. 225, já citado, e no capítulo que cuida dos
A Constituição brasileira é tida como das mais completas em relação à proteção ambiental. Ela consagra
o direito ao meio ambiente equilibrado como um direito fundamental, essencial a uma sadia qualidade de
vida no caput do art. 225. Nesse mesmo artigo, consagra um dever geral de proteção para as gerações
presentes e futuras, além de atribuir esse dever não apenas ao poder público, mas também à coletividade.
Isso já seria, na visão de alguns, suficiente. Contudo, a Constituição vai além do básico, detalhando os
deveres do poder público, estabelecendo princípios de forma implícita e instrumentos concretos, como:
SAIBA MAIS
A Constituição prevê, ainda, outros instrumentos importantes ao longo do texto. Apenas para citar alguns
exemplos, o art. 5º prevê a ação popular, e o art. 129 traz a ação civil pública, ambas muito importantes.
Para dar conta das particularidades do meio ambiente urbano, o art. 182 traz instrumentos como o plano
Em suma, podemos afirmar que a Constituição Federal de 1988 usa várias técnicas para proteger este
As normas com a finalidade de proteger o meio ambiente não estão apenas no capítulo específico (art.
225), mas ao longo de todo o texto da Constituição de 1988. Isso nos possibilita dividir todo esse
conjunto de normas em dois grandes grupos, segundo a forma que trazem essa proteção.
NORMAS DIRETAS
O primeiro grupo traz as normas diretas sobre meio ambiente. A maior parte está no capítulo específico,
no art. 225. Outros exemplos importantes são as previsões da ação popular (art. 5º, inciso LXXIII) e da
Podemos, ainda, incluir nesse grupo as normas que dividem as competências e as atribuições do Poder
Público entre as esferas federal, estaduais e municipais. Os exemplos mais importantes estão listados a
seguir.
A competência comum a todos para o controle e combate à poluição ambiental (art. 23, inciso VI). Essa
competência é de natureza executiva e será mais detalhada no módulo 2, com a análise do SISNAMA e da
A competência concorrente para legislar em matéria ambiental (art. 24). Nesse ponto, compete à União
editar normas gerais que podem ser suplementadas pelos estados, os quais não podem contrariar as leis
da União. Por sua vez, os municípios podem suplementar as leis da União e dos estados, desde que não
as contrariem ou legislem sobre os assuntos de interesse local (art. 30, incisos I e II)
NORMAS INDIRETAS
Por fim, podemos falar naquelas normas que cuidam de maneira indireta da questão ambiental. Elas
disciplinam a gestão de bens e recursos naturais importantes como água, energia e minérios, além de
atividades e serviços ambientalmente relevantes pelo seu impacto positivo ou negativo, como os serviços
de saneamento básico e as atividades nucleares. São apenas alguns exemplos que podem ser
encontrados nos art. 21, incisos XIX, XX e XXIII; no art. 22, incisos IV, XII e XXVI; e no art. 176.
Outras disposições desse tipo são encontradas no capítulo que trata dos índios (povos originários), com
repercussões indiretas na proteção ambiental, conforme podemos ver ao fazer a leitura dos arts. 231 e
232. Isso porque esses povos possuem uma relação especial com o território que tradicionalmente
ocupam. Não é por acaso que os povos indígenas são chamados, por vezes, de “guardiões da floresta”.
Fonte: Laszlo Mates/Shutterstock
O princípio da prevenção, por exemplo, pode ser realizado a partir das avaliações de impacto ambiental e
das licenças ambientais. Ou seja, os princípios são concretizados por regras mais específicas (como as
Os princípios podem estar escritos de forma expressa na Constituição, porém, nem sempre aparecem
dessa forma
EXEMPLO
Podem ser reconhecidos de forma implícita quando, mesmo não estando descritos, percebemos várias
regras que os concretizam e apontam na mesma direção, para o mesmo valor ideal abstrato.
EXEMPLO
EXEMPLO
e eficiência.
EXEMPLO
O Supremo Tribunal Federal (STF) entende que o princípio do desenvolvimento sustentável decorre
dos arts. 170 e 225, de forma implícita, uma vez que trazem disposições que detalham o
O fato de ser uma disciplina recente e de não ter os seus princípios consagrados expressamente faz com
normas e sinalizar os princípios contidos na nossa ordem constitucional e nas demais normas jurídicas
existentes. Muitas vezes, os juízes adotam os critérios apresentados pela doutrina para decidir casos
ATENÇÃO
Contudo, isso gera uma dificuldade: não existe um acordo sobre quais são todos os princípios do Direito
ambiental. Cada manual ou curso traz um elenco, uma lista de princípios que, dificilmente, é a mesma de
outra obra.
Veremos, a seguir, os princípios do Direito ambiental mais relevantes para a gestão ambiental. Eles
possuem aplicação prática e podem, em regra, ser encontrados na Constituição de forma implícita.
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
A Constituição prevê no caput do art. 225 um dever geral de preservar e proteger o meio ambiente. E,
Quando temos conhecimento sobre os impactos que certa atividade pode gerar no meio ambiente (ex.: o
lançamento de efluentes não tratados e com certos resíduos em corpo hídrico), temos que agir de forma
preventiva. Como veremos, as avaliações de impacto ambiental nos ajudam a entender com maior
Por sua vez, as licenças ambientais ajudam a garantir que as medidas adequadas sejam adotadas
antecipadamente à atividade e aos impactos (ex.: um empreendedor construir, operar e manter uma
COMENTÁRIO
Em geral, é muito difícil conseguir reparar integralmente uma lesão ambiental, e os custos de reparação
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
O princípio da precaução lida com atividades ou situações em que predomina a incerteza científica sobre
a existência, a extensão ou as características do impacto. Estamos, aqui, diante do risco de danos graves
ou irreversíveis.
NA AUSÊNCIA DA CERTEZA, DEVEM SER ADOTADAS MEDIDAS
DE CAUTELA OU PRECAUÇÃO, QUE BUSCAM CONHECER E
REDUZIR OS RISCOS IDENTIFICADOS.
AVZARADEL, 2019
Nossa Constituição possui claras referências a esse princípio, como ilustram os arts. 225 e 196, entre
outros.
EXEMPLO
No caso de rompimento de uma barragem, ainda que os cálculos sejam controversos, o dano será grave,
senão irreversível. Mesmo sem a certeza do rompimento, uma vez caracterizado o risco, devem ser
adotadas medidas de cautela (ex.: testes, reforço de estruturas, evacuação das áreas vizinhas etc.).
No vídeo a seguir, a professora Cristiane Jaccoud comenta sobre os princípios da prevenção e da
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR
Tal princípio por vezes é entendido de forma errônea, como se aquele que pagasse tivesse “passe livre”
para poluir.
Na verdade, ele orienta que todos os custos ambientais (por exemplo, os relativos às medidas de
prevenção, cautela e reparação de danos e multas ambientais) devem ser incorporados pelo
Nossa PNMA (Lei nº 6.938) conceitua poluidor (art. 3º, inc. IV) como aquele direta ou indiretamente
Na mesma lei consta “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar
os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos” (art. 4º, inc. VII). Do contrário, o ônus vai ser suportado pela sociedade, como ter que
ATENÇÃO
exonera de incorporar todos os custos ambientais no preço final do seu produto ou serviço. Não por
acaso, esse princípio surgiu nos anos 1970, a partir de uma decisão da Organização para Cooperação e
Fundamenta-se no conceito desenvolvido no relatório elaborado pela ONU chamado Nosso Futuro
Comum (1987).
Esse relatório foi pensado para avaliar o meio ambiente no mundo após a Conferência de Estocolmo de
1972 e serviu de base para as discussões que aconteceram no Brasil durante a Cúpula da Terra, ou Rio-
92.
De acordo com esse relatório, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do
aparece na Constituição quando, ao tratar da ordem econômica, elenca a proteção ambiental enquanto
princípio norteador (art. 170, VI). Por isso, qualquer que seja a atividade econômica, a proteção ambiental
não pode ser ignorada. Essa é a única forma de garantir o atendimento das gerações futuras.
Conforme o art. 5º, inciso XXIII, da Constituição de 1988, a propriedade deve cumprir sua função social.
Na verdade, o texto constitucional estabelece critérios ambientais para a propriedade, seja ela urbana ou
PROPRIEDADE URBANA
Deve a propriedade estar de acordo com o plano diretor municipal (art. 182, §2º)
PROPRIEDADE RURAL
Deve a propriedade observar os critérios trazidos no art. 186, incluindo a “utilização adequada dos
PROPRIEDADE URBANA
Pode ocorrer, em último caso, a desapropriação, com pagamento em títulos da dívida pública municipal
PROPRIEDADE RURAL
A desapropriação é paga com títulos da dívida agrária em até vinte anos (art. 184)
ATENÇÃO
Esses dois casos são exceção à regra da desapropriação com o pagamento prévio e em dinheiro (art. 5º,
XXIV).
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
Da leitura da nossa Constituição, percebemos que os valores democráticos são centrais: a cidadania é
um dos fundamentos da nossa República, sendo o povo a fonte de todo poder (art. 1º, inciso II, parágrafo
único).
PODER LEGISLATIVO
PODER JUDICIÁRIO
NO EXECUTIVO
Por fim, são garantidos os direitos de obter informações, peticionar e obter certidões junto ao poder
O dever de proteger o meio ambiente também é da coletividade (art. 225). No mesmo artigo, está previsto
um importante instrumento, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), necessariamente público (art.
225, §1º, IV). E, nesse estudo, ocorrem, geralmente, as audiências públicas (como veremos no módulo 3).
Outra importante forma de participação se dá nos conselhos de meio ambiente. Veremos no próximo
A) O princípio do poluidor-pagador prevê que os custos ambientais devem ser internalizados pela
sociedade.
presentes.
D) O princípio da prevenção é apropriado nos casos em que os impactos de determinada atividade sejam
conhecidos.
A) O princípio da precaução é aplicado nos casos de incerteza, diante de riscos de danos graves ou
irreversíveis. Já a prevenção é aplicada de forma mais ampla, quando as atividades são conhecidas.
C) Diante da ausência de certeza, devemos aplicar o princípio da prevenção com o objetivo de impedir o
D) Diante dos casos de certeza, devemos aplicar o princípio da precaução visando a gerenciar o risco
existente.
GABARITO
correta.
A aplicação do princípio da precaução está restrita aos casos de incerteza e nos quais existem riscos de
MÓDULO 2
Descrever o papel dos órgãos e das entidades mais relevantes do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA)
GESTÃO AMBIENTAL
Fonte: patpitchaya/Shutterstock
A Lei nº 6.938 de 1981 traz a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e marca uma mudança de
paradigma na gestão pública do meio ambiente. Isso porque cria uma estrutura responsável por planejar,
implementar e acompanhar os resultados dos programas e das ações destinados a atingir o objetivo
PNMA busca abandonar uma visão reativa, na qual o poder público somente adota medidas após danos
ou desastres.
RESUMINDO
A gestão aqui significa (ou deveria significar) realizar diagnósticos, traçar metas, planejar e estruturar
programas de ação, gerenciar riscos, prevenir danos, recuperar e melhorar a qualidade ambiental, sempre
Veremos a seguir como se estrutura o Sistema Nacional do Meio Ambiente e quais instrumentos foram
Conforme o art. 6º da Lei nº 6.938 de 1981, o SISNAMA reúne os órgãos públicos e as entidades
Responda à pergunta e depois compare com as informações que você aprenderá ao longo desse tema.
RESPOSTA
Em breves linhas, os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica nem, geralmente, grande autonomia,
atos em nome próprio (por exemplo, assinando contratos). Quando a personalidade da entidade for de direito
público, como no caso das autarquias, ela poderá desempenhar atividades de fiscalização e controle (ex.:
lavrar multas, expedir licenças ambientais) tratadas pela doutrina com o nome de poder de polícia
administrativa.
Voltando à estrutura do sistema, são listados no art. 6º da Lei nº 6.938 de 1981 os seguintes integrantes:
CONSELHO DE GOVERNO
É o órgão superior na hierarquia do SISNAMA. Precisa ser convocado pelo presidente da República para
assessorá-lo em questões que envolvam várias pastas ou ministérios (art. 6º, inc. I).
autarquias são responsáveis por ações de controle e fiscalização. Por exemplo, o IBAMA é o responsável
pelo licenciamento de atividades e também pela fiscalização das atividades licenciadas. Já o ICMBIO é
responsável por administrar as áreas protegidas (unidades de conservação) federais, como o Parque
etc.) criadas pelos estados para atuar na área ambiental. São exemplos as secretarias estaduais de meio
atuar na área ambiental em âmbito local. São exemplos a secretaria municipal e a fundação municipal de
O CONAMA
O CONAMA é um órgão colegiado federal (dentro da estrutura da União), formado por representantes dos
chamados três setores. Em linhas gerais, esses setores são o público, o privado e a sociedade civil. Por
isso, precisa deliberar para editar atos como resoluções (até 2020, foram cerca de quinhentas).
Atualmente, possui 23 (vinte e três) membros. Além do colegiado, possui ainda as chamadas câmaras
A edição de normas e padrões de cunho técnico para o licenciamento de atividades. Por exemplo, é
na Resolução nº 1, de 1986, que constam as normas e a elaboração do IEV e seu relatório (art. 8º,
inc. I).
A edição de padrões e normas técnicas para o controle da poluição do ar por veículos automotores
(art. 8º, inc. VI). Por exemplo, recentemente, por meio da Resolução nº 493, de 2019, foram
corpos d’água, além de parâmetros para o lançamento de efluentes nesses mesmos corpos.
Esse colegiado é um órgão público dentro da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, sendo presidido
pelo ministro encarregado da pasta. Os membros do CONAMA cumprem o seu dever sem receber nada
da União para isso (Decreto 99.274/1990, art. 6º, §4º). São custeados, geralmente, pelos setores
representados. Seus membros se reúnem, no mínimo, três vezes por ano, em Brasília.
ATENÇÃO
Em 2019, a composição do CONAMA foi alterada para que houvesse a diminuição do número de
membros no colegiado (Decreto 9806/2019). Essa alteração recebeu críticas por ter diminuído a
participação do terceiro setor (sociedade civil). Conforme a lei da PNMA, de forma semelhante ao que
acontece com as leis editadas pela União, os padrões técnicos e as normas editadas pelo CONAMA
devem ser observados pelos estados e municípios, que poderão suplementá-los de acordo com as suas
INSTRUMENTOS DA PNMA
Além de estabelecer uma estrutura administrativa específica para implementar a gestão pública (Lei
6938/1981), a PNMA traz um elenco de instrumentos que devem ser utilizados para que os objetivos
Esses padrões são estabelecidos, principalmente, pelo CONAMA, podendo haver padrões editados por
EXEMPLO
Além da Resolução nº 357, de 2005, outro exemplo possível é a Resolução nº 491, de 2018, que dispõe
sobre os padrões de qualidade do ar, com limites para poluentes específicos como o monóxido de
carbono (CO).
O ZONEAMENTO AMBIENTAL
Após o conhecimento das características ambientais de um local ou de uma região, esse instrumento é
pensado de forma a estabelecer mapas (com divisões em zonas) capazes de orientar o planejamento de
Esse instrumento está regulamentado pelo Decreto nº 4.297, de 2002, embora traga o nome de
INSTRUMENTO DE ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO A SER
OBRIGATORIAMENTE SEGUIDO NA IMPLANTAÇÃO DE PLANOS,
OBRAS E ATIVIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS, ESTABELECE
MEDIDAS E PADRÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DESTINADOS
A ASSEGURAR A QUALIDADE AMBIENTAL, DOS RECURSOS
HÍDRICOS E DO SOLO E A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE,
GARANTINDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A
MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO.
Esse zoneamento fica a cargo, principalmente, da União, a quem cabe sistematizar as informações
produzidas pelos estados e municípios. O ZEE deve ser periodicamente revisto – em regra, a cada dez
No espaço urbano, destacamos o zoneamento feito pelos municípios mediante aprovação, por lei, do
plano diretor, previsto na Constituição (art. 182) e disciplinado pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de
2001). Nesse caso, para cada zona (industrial, residencial, mista, turística etc.), são previstas normas
Na própria PNMA, o art. 12 estabelece como requisito para financiamentos e incentivos governamentais
Outra previsão importante da lei é o estimulo à pesquisa científica voltada para o meio ambiente (art. 13).
Esse instrumento está disciplinado pela Lei nº 9.985, de 2000, que estabelece o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). Essas unidades são áreas que, em razão de seus atributos, estão
EXEMPLO
Alguns exemplos importantes são os parques nacionais, as florestas nacionais (FLONAs) e as áreas de
A criação desses espaços territoriais especialmente protegidos pode ser feita em todos os níveis (pela
União e pelos estados e municípios) e deve ser precedida, em regra, por estudos técnicos e consulta
diminuição da proteção jurídica de uma unidade de conservação apenas é possível por meio de lei
Esse instrumento está disciplinado pela Lei nº 10.650, de 2003, que tem como premissa as regras da
publicidade e do livre acesso às informações. Na era da informação digital, o maior desafio consiste na
integração das bases de dados e das informações (relatórios, estudos etc.) produzidos pela União, pelos
estados e pelos municípios, visando a disponibilizar tais informações e permitir a avaliação sobre os
ATENÇÃO
No mesmo art. 9º (inciso XI), existe a previsão de que, caso não existam as informações necessárias e
solicitadas no interesse da proteção ambiental, o poder público fica obrigado a produzir e divulgar o que
for solicitado.
Atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais (inciso XII)
Na mesma Lei nº 6.938/1981, ficou determinado que cabe ao IBAMA administrar tais cadastros (art. 17):
NO PRIMEIRO CADASTRO
Deverão constar, por exemplo, as consultorias ambientais
NO SEGUNDO CADASTRO
Deverão constar, entre outras, as pessoas (físicas ou jurídicas) que se dediquem ao comércio de produtos
perigosos
PENALIDADES
Tanto as penalidades administrativas quanto as penas decorrentes de crimes ambientais são valiosos
instrumentos para proteção ambiental. Em ambos os casos, as regras mais importantes estão na Lei nº
9.605, de 1998, que, embora seja chamada de Lei de Crimes Ambientais (LCA), também cuida de
infrações administrativas.
Fonte: petrmalinak/Shutterstock
COMENTÁRIO
Vale lembrar que a Constituição, no art. 225, §3º, estabeleceu que essas esferas de responsabilidade
(penal e administrativas) são autônomas, sem prejuízo da obrigação de reparar os danos constatados.
Assim, uma empresa pode ser multada administrativamente e, caso haja crime, punida com multa.
Esse relatório deveria ser divulgado anualmente pelo IBAMA. Possui enorme potencial para o
monitoramento e a verificação dos resultados das políticas ambientais. Também seria muito importante
INSTRUMENTOS ECONÔMICOS
EXEMPLO
Um exemplo importante é a concessão florestal, por meio da qual o poder público, após fazer uma
Esses instrumentos são usados, muitas vezes, de forma conjugada: é no licenciamento ambiental que
ocorrem diversas AIAs. Geralmente, dizem respeito a uma atividade ou um empreendimento específico.
Pela importância e relevância desses instrumentos, eles serão vistos em detalhes no último módulo deste
tema.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Podem os municípios elaborar padrões técnicos sem observar os expedidos pelo CONAMA.
B) Compete ao ICMBIO estabelecer padrões de qualidade ambiental, uma vez que cuida das áreas
terceiro setor.
C) Por ser um órgão colegiado, suas decisões são tomadas apenas pelo Ministro do Meio Ambiente.
GABARITO
Essa competência está atribuída ao Ministério do Meio Ambiente, o que é coerente com o seu papel de
Apesar das críticas pela diminuição do número de representantes do terceiro setor, o CONAMA ainda
possui membros da sociedade civil e do setor empresarial, além dos que representam o poder público.
MÓDULO 3
Distinguir as três licenças ambientais clássicas e o momento ideal para realização do Estudo Prévio
de Impacto Ambiental (EIA)
LICENÇAS AMBIENTAIS
procedimento próprio e com finalidades específicas: o licenciamento. Conforme o art. 2º, inciso I, da Lei
Complementar nº 140, de 2011, o licenciamento ambiental é:
O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DESTINADO A LICENCIAR
ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS UTILIZADORES DE
RECURSOS AMBIENTAIS, EFETIVA OU POTENCIALMENTE
POLUIDORES OU CAPAZES, SOB QUALQUER FORMA, DE
CAUSAR DEGRADAÇÃO AMBIENTAL.
Esse conjunto de atos com ordem prevista (procedimento) ocorre nos órgãos e nas entidades do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), responsáveis pelo controle ambiental – daí a razão para se dizer
que se trata de um procedimento administrativo. E as licenças, por sua vez, são atos administrativos.
Tais estudos são avaliados por quem licencia, podendo ser feitas exigências de complementação.
A documentação, então, é analisada pelas áreas técnicas e, quando preciso, pelo departamento jurídico
Com base nesse parecer, o órgão (uma secretaria municipal, por exemplo) ou a entidade (como o Instituto
Estadual do Ambiente – INEA) responsável pelo licenciamento vai tomar uma decisão, tornando-a pública.
Embora muitas vezes o licenciador não cumpra os prazos para analisar os pedidos de licença, o
desrespeito a esses prazos não importa na emissão da licença solicitada. Essa é a clara orientação da Lei
Trata-se de instrumento de controle prévio, com a principal finalidade de verificar, no caso concreto de um
empreendimento ou uma atividade, quais são as normas ambientais aplicáveis (leis, resoluções do
ATENÇÃO
É importante destacar que uma licença ambiental não substitui ou exclui a necessidade de outras
No licenciamento ambiental, são utilizados vários instrumentos (por exemplo, são avaliados os
Atualmente, além das resoluções expedidas pelo CONAMA (1/86, 9/87 e 237/97, por exemplo), vários
Conforme o art. 13 da Lei Complementar nº 140, o licenciamento deve ocorrer em apenas um nível de
competência: federal, estadual ou municipal. Existem três formas de sabermos quem deverá licenciar
uma atividade.
Neste ponto, não são mais observados os arts. 4º, 5º e 6º da Resolução nº 237, de 1997, do
CONAMA.
FORMA 1
FORMA 2
FORMA 3
Caso esteja o empreendimento proposto dentro dos limites de uma unidade de conservação, deverá
licenciar o ente (União, estado ou município) que tenha criado esse espaço territorial especialmente
protegido. A exceção dessa regra é a área de proteção ambiental (APA) (art. 7º, inciso XIV, d; art. 8º, inciso
de competência da União (art. 7º, inciso XIV). São exemplos aquelas atividades localizadas ou
desenvolvidas em terras indígenas, em dois ou mais estados, de caráter militar ou que utilizem material
radioativo; ii) atividades de impacto local, que deverão ser licenciadas pelos municípios, conforme
definição do respectivo conselho estadual de meio ambiente (art. 9º, inciso XIV, a); e iii) competência
estadual nos casos que não se encaixem nos itens i e ii, também chamada de competência residual (art.
Em atividades dentro dos limites de APAs, são adotados, em linhas gerais, os critérios do art. 12.
RESPOSTA
Sim, mas essas opiniões não vinculam o ente responsável pelo licenciamento (LC 140/2011, art. 13, §1º). Por
exemplo, num licenciamento conduzido pelo INEA, uma secretaria municipal de meio ambiente pode
apresentar seus pontos de vista. Mas eles não precisam ser acatados pelo INEA, que pode adotar outros
Licenças ambientais têm prazo de validade e são renováveis. Essa renovação deve ser solicitada com
mais de 120 (cento e vinte) dias de antecedência, contados do final do prazo. Dessa forma, a licença
seguirá válida até que seja analisado o pedido de renovação (LC 140/2011, art. 14, §4º).
ATENÇÃO
Isso possibilita a atualização dos controles ambientais aplicáveis. Quem realiza alguma atividade sem
antes obter licença pratica, ao mesmo tempo, infração prevista na Lei de Crimes Ambientais (Lei
operação. Essa organização foi pensada para empreendimentos com impactos relevantes nas fases de
construção e de operação. Os conceitos e prazos máximos de cada uma das licenças que veremos estão
proporciona os controles e as restrições relativas a essa fase e às fases seguintes, atestando que o
empreendimento é viável. Obtida a LP, devem-se reunir os documentos necessários e exigidos para
O prazo máximo da licença é de 5 (cinco) anos. É nessa fase que são realizadas, em regra, avaliações de
construção). São então avaliados os croquis e as plantas detalhadas da obra, bem como o projeto
Serve para verificar se as licenças anteriores foram devidamente cumpridas. Como destaca Farias (2016),
deve ser feita uma vistoria no local para que essa verificação ocorra antes da expedição da licença.
A LO conta com um prazo mínimo de 4 (quatro) anos e máximo de 10 (dez). Essa licença precisa ser
operação), podem ser estabelecidos procedimentos simplificados. Por exemplo, podem ser concedidas
licenças que avaliem, de uma vez, aspectos relativos a mais de uma fase do empreendimento. Podemos,
Resolução 279, de 2001, traz o procedimento simplificado para empreendimentos elétricos, com
Resolução 377, de 2006, traz normas desse tipo para os sistemas de esgotamento sanitário, sendo
aplicada às unidades de pequeno e médio porte que não estejam em áreas ambientalmente
sensíveis.
Por fim, é possível que alguns empreendimentos com porte e potencial danoso pequenos sejam
licenciados de forma ainda mais simplificada. Nesses casos, todas as fases podem ser avaliadas numa
única licença.
Somente conhecendo bem os impactos ambientais é que poderemos tomar medidas para reduzir ao
O conceito de impacto ambiental está descrito no art. 1º da Resolução nº 1, de 1986, do CONAMA, nos
seguintes termos:
Fonte: kosmos111/Shutterstock
(...) QUALQUER ALTERAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS,
QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DO MEIO AMBIENTE, CAUSADA POR
QUALQUER FORMA DE MATÉRIA OU ENERGIA RESULTANTE DAS
ATIVIDADES HUMANAS QUE, DIRETA OU INDIRETAMENTE,
AFETAM:
A biota;
As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e
As AIAs são fundamentais para uma gestão ambiental pública adequada. Embasam medidas
preventivas e, em certos casos, de precaução. A partir do estudo sistemático dos impactos ambientais
de certa atividade, é possível prever medidas mitigadoras, reduzindo ao máximo os impactos, bem como
COMENTÁRIO
Em outros casos, essas avaliações servem para demonstrar como determinada área deve ser recuperada.
Embora o EIA seja muito importante e apareça, inclusive, no texto constitucional, é preciso deixar claro
que ele é apenas uma das possibilidades de AIA. Pela importância que possui, vamos dedicar um item
Sem querer esgotar todas as possibilidades, veremos a seguir outros dois exemplos importantes de AIA.
Esse estudo está previsto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 10.257, de 2001, conhecida como Estatuto da
Cidade. Será exigido somente pelo município, desde que esteja previsto em lei municipal.
O EIV não integra, obrigatoriamente, o licenciamento ambiental. Também não se confunde com o EIA,
nem o substitui.
Esse estudo apenas é exigível em áreas urbanas, podendo ser requisito para que seja autorizada, por um
Procura avaliar impactos específicos do espaço urbano para que possam ser pensadas soluções que
É uma AIA exigível nos casos de empreendimentos de pequeno e médio porte que não se enquadram nos
casos de EIA. Um dos exemplos são os empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto
A descrição do projeto
empreendimento
O EIA
O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o seu relatório (RIMA) foram disciplinados nacionalmente
pela Resolução nº 1, de 1986, do CONAMA. O art. 2º traz um elenco não exaustivo, ou seja, exemplos de
EXEMPLO
Destacamos os seguintes exemplos: aeroportos, oleodutos, extração de combustível fóssil e aterros
Com a Constituição de 1988, ficou esclarecido o critério por trás dos exemplos trazidos: a existência de
significativa degradação ambiental, efetiva ou mesmo potencial. Esse conceito precisa ser tecnicamente
verificado. Por essa razão, cabe às estruturas do Poder Executivo – vale dizer, aos órgãos e às entidades
que integram o SISMANA – analisar se, no caso concreto, estamos ou não diante da exigência do
EIA/RIMA.
SAIBA MAIS
O Supremo Tribunal Federal (STF) já julgou algumas leis estaduais inconstitucionais por tentarem
submeter o EIA/RIMA à avaliação ou aprovação de natureza política por estruturas do Poder Legislativo.
Em regra, o EIA/RIMA deve ser elaborado na fase prévia do licenciamento. Ou seja, sua elaboração,
discussão e aprovação são requisitos para a obtenção da LP nos casos de significativa degradação
ambiental, efetiva ou potencial. E, não sendo esse o caso, deverão ser solicitados outros estudos
(Resolução 237/1997, art. 3º). Ou seja, mesmo que não haja EIA/RIMA, deverá haver alguma modalidade
de AIA.
A elaboração do EIA/RIMA, que antes estava prevista como atribuição do órgão ou da entidade
Isso não quer dizer que não existam mecanismos de fiscalização ou sanções caso os que elaborem o
EIA/RIMA omitam ou insiram dados ou informações falsas. Essas condutas são crimes, previstos no art.
69-A da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), bem como infrações administrativas, previstas no art.
Depois de apresentado, o EIA tem seu conteúdo analisado. Uma vez aprovado, geralmente ele e o RIMA
são publicados e/ou disponibilizados aos interessados. Geralmente ocorre, como veremos a seguir, uma
ATENÇÃO
O EIA/RIMA foi pensado para empreendimentos complexos. Por isso, possui um conteúdo mínimo
extenso. Por essa razão, costuma ser elaborado por uma equipe multidisciplinar. Sua elaboração pode
levar meses, e seu custo (encargo do empreendedor) pode ser elevado, dependendo do caso.
Como diretrizes para a elaboração do EIA, o art. 5º da Resolução nº 1, de 1986, do CONAMA, elenca:
[...] A CONSIDERAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE TÉCNICAS E
LOCAIS DIVERSOS; A AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DE TODAS AS
FASES DO EMPREENDIMENTO; A DEFINIÇÃO DAS ÁREAS
AFETADAS; E A CONSIDERAÇÃO DOS PROGRAMAS PÚBLICOS
PARA AS ÁREAS SUGERIDAS OU IDEALIZADAS PARA O
EMPREENDIMENTO.
[...] DIAGNÓSTICO AMBIENTAL COMPLETO (FÍSICO, BIOLÓGICO
E SOCIOECONÔMICO); ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E
CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS E DE SUAS ALTERNATIVAS;
APRESENTAÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS, AVALIANDO
SUA EFICIÊNCIA; E APRESENTAÇÃO DO PLANO DE
MONITORAMENTO E ACOMPANHAMENTO.
Com base nas informações apresentadas no requerimento da LP (como a tipologia da atividade), o órgão
ou a entidade responsável pelo licenciamento costuma editar um ato com orientações específicas que
Nos licenciamentos feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
COMENTÁRIO
O EIA acaba, muitas vezes, tendo centenas de páginas, sendo dividido em capítulos com uma linguagem
altamente técnica. Isso dificulta que pessoas interessadas em conhecer e debater o empreendimento
De forma a ampliar ao máximo o debate acerca dos empreendimentos sujeitos ao EIA, deve-se observar a
Conforme o art. 9º da Resolução nº 1 de 1986, o RIMA deve trazer as conclusões do EIA de forma
acessível:
A linguagem escrita deve ser menos técnica; devem ser utilizados gráficos, tabelas, mapas e outras
formas de comunicação visual. Tudo para que os cidadãos não especializados possam entender os
Conforme o art. 11 da Resolução 1/1986, com a exceção das informações que caracterizem sigilo
industrial, o RIMA deve ficar disponível para consulta. Ao final, o RIMA costuma ter algumas dezenas de
páginas.
Atualmente, esses relatórios são disponibilizados na rede mundial de computadores (nem sempre os
DICA
O RIMA ajuda que as pessoas consigam participar das audiências públicas conduzidas nos
licenciamentos ambientais sujeitos ao EIA. Por isso, é comum vermos a expressão EIA/RIMA, já que os
dois dispositivos são exigíveis nos casos de significativa degradação ambiental, efetiva ou potencial.
EIA/RIMA, o CONAMA editou a Resolução nº 9, de 1987. Nos termos do art. 1º dessa resolução, a
audiência pública se destina a expor aos interessados o projeto em licenciamento, esclarecer dúvidas e
colher sugestões.
Essa resolução traz no caput do art. 2º os casos nos quais a realização da audiência pública é
obrigatória. E, nesses casos, a concessão de uma licença sem a realização da audiência acarreta sua
Na prática, considerando todas essas hipóteses, é muito raro (e até estranho) que um EIA/RIMA não seja
Além disso, nos termos da Resolução 9/1987, recebido o EIA, deve haver um edital com prazo mínimo de
Posteriormente, deve ser convocada a audiência pública, divulgando-a na imprensa e nas mídias oficiais.
O local dessa audiência deve ser acessível aos interessados e, principalmente, aos afetados de alguma
Dependendo da dimensão do empreendimento e da área afetada, pode ser necessário fazer mais de uma
Após uma exposição do projeto, deve ser dado um tempo para debates, para que possam ser feitas
perguntas e sugestões.
Ao final, é feita uma ata resumida do que aconteceu. Em geral, também se faz uma ata com a transcrição
completa. Atualmente, alguns órgãos e entidades disponibilizam também os vídeos e áudios da audiência
Todo esse material é anexado ao processo de licenciamento (em muitos casos, já digital) para ser
avaliado junto com as análises técnicas a fim de fundamentar o parecer final do licenciador pela
Como bem sublinha Antunes (2020), não existe uma obrigação de acolher as sugestões apresentadas na
audiência pública, mas elas devem ser consideradas, e a opção de acolhê-las ou não deve ser
fundamentada.
SAIBA MAIS
audiências públicas de forma virtual, enquanto durasse a pandemia causada pela Covid-19. O art. 3º
dessa resolução exige que seja disponibilizado pelo menos um ponto de acesso à rede mundial para que
No vídeo a seguir, a professora Cristiane Jaccoud comenta sobre o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) A LI autoriza o início das obras, desde que estejam de acordo com as restrições nela contidas.
C) Além de analisar os impactos próprios da operação, o procedimento para obtenção da LP também
D) A LO autoriza o início das obras, desde que estejam de acordo com as restrições nela contidas.
A) O EIA é a única espécie de AIA admitida, por isso está consagrada na Constituição como obrigatória
B) O EIA é um estudo simples e pensado para empreendimentos de pequeno porte e pequeno potencial
C) Todo cidadão tem o direito constitucional de solicitar uma audiência pública nos casos de significativo
D) O EIA é um estudo complexo, pensado para empreendimentos de grande potencial de impacto, efetivo
ou potencial. Em regra, é solicitado na avaliação do pedido de LP, sendo, geralmente, objeto de uma
audiência pública.
GABARITO
empreendimento. A LP está voltada para uma avaliação mais geral e anterior sobre a localização e a
viabilidade ambiental do projeto apresentado. E, por sua vez, a LO verifica o cumprimento das anteriores,
O EIA/RIMA é exigido nos casos de significativa degradação ambiental, efetiva ou potencial. O momento
da LP. Dadas as várias hipóteses nas quais é obrigatória a realização da audiência pública, os casos de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, a proteção ao meio ambiente é de tal maneira importante que conta com amparo em textos
constitucionais. No caso do Brasil, existe um conjunto de normas que cuidam dessa proteção, trazendo o
direito ao meio ambiente equilibrado como direito fundamental, deveres para a coletividade e,
principalmente, para o poder público. Percebemos que muitos princípios do Direito ambiental estão de
forma implícita na Constituição. Pudemos compreender os princípios mais relevantes e diferenciar dois
Para realizar o que a Constituição determina, contamos com uma política nacional de meio ambiente e
com um sistema nacional, que reúnem órgãos públicos e entidades como fundações e autarquias. Nesse
sistema, podemos perceber a importância do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que já
normas técnicas relacionadas com o licenciamento de atividades. Além dessa estrutura, foram elencados
na Lei nº 6.938, de 1981, instrumentos de gestão pública ambiental, nem todos implementados da forma
devida.
Além disso, foi possível compreender a importância do licenciamento ambiental, as linhas gerais desse
Da mesma forma, vimos a importância das avaliações de impacto ambiental. Para isso, nos dedicamos a
uma delas: o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, com o seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA).
Foi possível notar que o EIA é previsto na Constituição e que geralmente ocorre no procedimento de
obtenção da licença prévia, sendo debatido em audiências públicas. Essas audiências são uma das
REFERÊNCIAS
S.; PAROLA, G.; VAL, E. M. Democracia ambiental na América Latina: uma abordagem comparada. Rio de
In: COSTA, F. V. et al. VII seminário internacional tribunais nacionais e internacionais e a defesa dos
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília,
1981.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 1, de 1986. Dispõe sobre o impacto
ambiental, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental. Brasília, 1986.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 7, de 1987. Dispõe sobre A realização de
Brasília, 1988.
BRASIL. Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990. Dispõe sobre o SISNAMA. Brasília, 1990.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Dispõe
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
BRASIL. Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Brasília, 2000.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 279, 19 de junho de 2001. Estabelece
BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
BRASIL. Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002. Dispõe sobre o Zoneamento Ecológico Econômico
BRASIL. Lei nº 10.650, de 16 de abril de 2003. Dispõe sobre o acesso público aos dados e informações
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 2005. Dispõe sobre padrões de
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 376, de 9 de outubro de 2006. Dispõe sobre
BRASIL. Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas
ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração dessas infrações e dá
BRASIL. Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 491, de 2018. Dispõe sobre padrões de
BRASIL. Decreto nº 9.806, de 29 de maio de 2019. Altera o Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, para
dispor sobre a composição e o funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Brasília, 2019.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 494, 11 de agosto de 2020. Dispõe sobre
padrões de qualidade do ar. Estabelece, em caráter excepcional e temporário, nos casos de licenciamento
ambiental, a possibilidade de realização de audiência pública de forma remota, por meio da rede mundial
SARLET, I. W.; FENSTERSEIFER, T. Curso de direito ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
SARLET, I. W.; FENSTERSEIFER, T. Direito constitucional ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017.
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