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Dos Órgãos de Defesa, Proteção e

Procedimentos
Prof. Edison Burlamaqui

Descrição

Análise dos órgãos de defesa, proteção e procedimentos para a


proteção contra crimes e infrações administrativas cometidos contra
menores.

Propósito

É de fulcral importância para o aluno o estudo dos órgãos de defesa e


proteção dos menores, bem como dos procedimentos específicos
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, não só para estarem
preparados para a prática forense, como também para garantir a
apuração de graves infrações penais praticadas contra os menores.

Preparação

Tenha em mãos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a


Constituição Federal e o Código de Processo Penal.

Objetivos
Módulo 1

Conselho Tutelar
Identificar as principais características do Conselho Tutelar.

Módulo 2

Acesso à Justiça e garantias


processuais
Reconhecer os conceitos básicos do acesso à Justiça e das
garantias processuais.

Módulo 3

Crimes e infrações
administrativas
Analisar os crimes em espécie e as infrações administrativas.

meeting_room
Introdução
O princípio da prioridade absoluta, previsto no artigo 227 da
Constituição Federal e no artigo 4º do Estatuto da Criança e do
Adolescente, determina que os direitos das crianças e dos
adolescentes devem ser protegidos com prioridade em relação a
qualquer outro grupo social.

Dessa forma, os órgãos de defesa têm especial importância, pois


são os responsáveis por verificar situações em que crianças e
adolescentes tenham seus direitos violados, possuindo
obrigação constitucional de agir para sanar tais irregularidades.

Ante o exposto, iniciaremos com o estudo do Conselho Tutelar,


órgão local responsável pela atuação direta na defesa dos
direitos das crianças e adolescentes.

Posteriormente, trataremos do acesso à Justiça e das garantias


processuais previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em seguida, analisaremos os crimes e as infrações
administrativas previstas no mesmo estatuto e, por fim,
trataremos do procedimento de investigação dos crimes contra a
dignidade sexual de crianças e de adolescentes.

1 - Conselho Tutelar
Ao fim deste módulo, você será capaz de identificar as principais
características do Conselho Tutelar.

Principais características e
seus integrantes

video_library
O que é o Conselho Tutelar?
Neste vídeo, o professor explica o que é o Conselho Tutelar, suas
principais funções e sua composição.

O Conselho Tutelar é órgão integrante do Poder Executivo municipal e de


extrema importância, pois atua de forma direta na defesa dos direitos
das crianças e adolescentes.

Segundo o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o


Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente. Veja a seguir a análise de tais características:

Autônomo
O Conselho Tutelar é órgão que emite decisões com eficácia plena e
imediata, que só podem ser corrigidas pelo Poder Judiciário.

Permanente
O Conselho Tutelar é órgão que deve existir de forma contínua e
intermitente, dada a sua importância.

Não Jurisdicional
As atividades e as decisões do Conselho Tutelar são administrativas,
logo, não fazem coisa julgada, podendo ser revistas pelo Poder
Judiciário.

Quanto à sua composição, o artigo 132 do ECA determina que, em cada


município e em cada região administrativa do Distrito Federal, haverá, no
mínimo, um Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
pública local, composto de cinco membros, escolhidos pela população
para mandato de quatro anos, permitida recondução por novos
processos de escolha.
Fachada do Conselho Tutelar da região administrativa de Ceilândia, DF.

Importa destacar que a Lei 13.824/2019 alterou o art. 132 do ECA e


passou a permitir a possibilidade de mais de uma recondução mediante
novo processo de escolha. Ressalta-se, ainda, que o ECA estabelece
que, para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, o candidato deve
ter reconhecida idoneidade moral, idade superior a 21 anos, e residir no
município.

Regramento de atuação do
Conselho Tutelar
Funcionamento e atribuições

Quanto ao seu funcionamento, o artigo 134 do ECA estabelece que lei


municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e horário de
funcionamento, inclusive quanto à remuneração dos respectivos
membros, aos quais é assegurado o direito à/ao:

payments
Licença-maternidade
payments
Licença-paternidade
payments
Gratificação natalina
payments
Cobertura previdenciária
payments
Gozo de férias anuais
remuneradas, acrescidas de um
terço da remuneração mensal
Importa destacar que o exercício efetivo da função de conselheiro
constitui serviço público relevante e estabelece presunção, ainda que
relativa, de idoneidade moral.

Quanto às atribuições do Conselho Tutelar, o art. 136 do ECA


estabelece:

I. atender as crianças e adolescentes em situação de risco e as


crianças que pratiquem atos infracionais, aplicando medidas de
proteção, com exceção da inclusão em programa de acolhimento
familiar e colocação em família substituta;

II. atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as


medidas pertinentes, com exceção da perda da guarda e da
suspensão ou destituição do poder familiar;

III. promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a. requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,


serviço social, previdência, trabalho e segurança;

b. representar junto à autoridade judiciária nos casos de


descumprimento injustificado de suas deliberações.

IV. encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua


infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou
adolescente;

V. encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI. providenciar as medidas de proteção estabelecidas pela


autoridade judiciária, com exceção da inclusão em programa de
acolhimento institucional ou familiar e colocação em família
substituta, para o adolescente autor de ato infracional;

VII. expedir notificações;

VIII. requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou


adolescente quando necessário;

IX. assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta


orçamentária para planos e programas de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente;

X. representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação de


faixa etária em espetáculos públicos e de irregularidades na
programação de televisão e rádio (art. 220, § 3º da CF);

XI. representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda


ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades
de manutenção da criança ou do adolescente junto à família
natural.

Destaca-se que, se no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar


entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará o
fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos
de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o
apoio e a promoção social da família.

Por fim, quanto às decisões do Conselho Tutelar, estas somente


poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha
legítimo interesse.

Atuação e procedimento de
escolha dos membros do
Conselho
Competência e escolha dos conselheiros

Os artigos 138 e 147 do ECA estabelecem que a competência do


Conselho Tutelar será determinada pelo domicílio dos pais ou
responsável; ou pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à
falta dos pais ou responsável.

A execução de eventuais medidas poderá ser delegada


à autoridade competente da residência dos pais ou
responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que
abrigar a criança ou adolescente.

Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da


ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e
prevenção. Dessa forma, pode-se perceber que a competência para
atuação na hipótese de prática de ato infracional é diferente da
competência na hipótese de prática de infração penal, que, em regra, é
determinada pelo lugar da consumação da infração (art. 70 do CPP).

Atenção!
Em caso de infração cometida por meio de transmissão simultânea de
rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, será competente,
para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local da sede
estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as
transmissoras ou retransmissoras do respectivo Estado.

Quanto à escolha dos conselheiros tutelares, o processo será


estabelecido em lei municipal e realizado sob a responsabilidade do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
fiscalização do Ministério Público.

O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá em


data unificada em todo o território nacional a cada quatro anos, no
primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição
presidencial, e a posse dos conselheiros ocorrerá no dia 10 de janeiro do
ano subsequente ao processo de escolha.

Posse de novos membros do Conselho Tutelar no município de Marechal Floriano, ES (2020).

Ressalta-se que, no processo de escolha dos membros do Conselho


Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao
eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes
de pequeno valor.

Por fim, chama-se atenção para o fato de que são impedidos de servir
no mesmo conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e
sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado, estendendo-se o
impedimento do conselheiro também em relação à autoridade judiciária.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
(TJ-RO - Analista – 2021 – FGV) O Conselho Tutelar realiza o
atendimento a uma adolescente que vem apresentando número
elevado de faltas na escola. Durante o atendimento, a adolescente
relata que foi vítima de violência sexual há cerca de três meses.

Segundo estabelecido no ECA, nessa situação, em que há uma


notícia de infração penal cometida em face da adolescente, o
Conselho Tutelar possui atribuição de

A encaminhar a notícia ao Ministério Público.

investigar para descobrir quem foi o autor da


B
infração penal.

ignorar a notícia e tratar apenas das faltas na


C
escola.

D realizar o exame de corpo de delito na adolescente.

intimar o suposto autor da infração penal para


E
prestar depoimento.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Segundo o art. 136, IV do ECA, é atribuição do Conselho Tutelar


encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou
adolescente.

Questão 2

(Prefeitura de Guarujá – 2021 – VUNESP) O Conselho Tutelar é


órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente, conforme os preceitos constantes do Estatuto da
Criança e do Adolescente, observando-se que
A em cada município haverá, no mínimo, 1 (um)
Conselho Tutelar, como órgão integrante da
administração pública local, composto de 4 (quatro)
membros, escolhidos pela população local.

o mandato dos conselheiros tutelares será de 4


B
(quatro) anos, vedada a recondução.

o processo de escolha de seus membros ocorrerá


em data unificada em todo o território nacional a
C cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês
de outubro do ano subsequente ao da eleição
presidencial.

o exercício efetivo da função de conselheiro


constituirá serviço público relevante e estabelecerá
D
presunção de idoneidade moral, reputação ilibada e
notório saber na área.

as suas decisões poderão ser revistas pelo


E
Ministério Público.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Segundo o art. 139, §1º do ECA, o processo de escolha dos


membros do Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo
o território nacional, a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial.
2 - Acesso à Justiça e garantias processuais
Ao fim deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos
básicos do acesso à Justiça e das garantias processuais.

Disposições gerais e
garantias
Características gerais do acesso à Justiça

As normas que tratam do acesso à Justiça e das garantias processuais


são de extrema importância, pois cuidam da judicialização das
hipóteses em que são discutidas eventuais violações aos direitos dos
menores.

Considerando o tempo disponível para a apresentação do módulo,


vamos analisar inicialmente a Justiça da Infância e da Juventude e as
regras gerais aplicáveis aos procedimentos especiais previstos no
Estatuto da Criança e do Adolescente.

Inicialmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente determina em seu


artigo 141 que é garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
qualquer de seus órgãos. Assim, resta garantido o acesso universal dos
menores à Justiça. Da mesma forma, o Estatuto garante que a
assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem,
por meio de defensor público ou advogado nomeado.
Tais disposições do ECA estão em perfeita consonância com o artigo
5º, LXXIV da Constituição, que determina que o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos. Importa consignar que tal garantia deve ser
vista sob os seguintes aspectos:

Justiça gratuita
Refere-se à isenção dos pagamentos de custas, taxas, emolumentos e
despesas processuais.

Assistência judiciária
Engloba o patrocínio da causa por advogado e pode ser prestada por
órgão estatal ou entidades não estatais.

Assistência jurídica
Envolve o patrocínio de demandas perante o Judiciário e, também, toda
a assessoria fora do processo judicial (ex.: procedimentos
administrativos).

Ante o exposto, é possível concluir que crianças e adolescentes têm


direito à assistência jurídica gratuita, a ser prestada pela Defensoria
Pública. Além da assistência judiciária gratuita, o ECA assegura que as
ações judiciais de competência da Justiça da Infância e da Juventude
são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de
litigância de má-fé.

Importante destacar que, quanto a esse aspecto, a jurisprudência afirma


que a isenção de custas se refere somente aos procedimentos
envolvendo diretamente os menores. Dessa forma, o Superior Tribunal
de Justiça já decidiu que não é garantida a gratuidade da Justiça nos
casos de expedição de alvarás para shows ou atividade similares.
Assim, entendeu a corte superior que:

Incabível a concessão de isenção


em procedimento de jurisdição
voluntária a empresa de fins
lucrativos que promove espetáculo
musical destinado ao público
infantil mediante pagamento de
ingressos [...].

(REsp. 701969/ES, REL. MIN. ELIANE CALMON)

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece ainda, em seu artigo


142, que os menores de 16 anos, ou seja, os absolutamente incapazes,
serão representados e os maiores de 16 e menores de 18, ou seja, os
relativamente incapazes, assistidos por seus pais, tutores ou curadores.

Quanto a esse dispositivo é importante destacar a sua revogação


parcial, que, em sua redação original, faz referência à assistência de
maiores de 18 e menores de 21 anos de idade.

Ocorre que, com o advento do Código Civil de 2002, a maioridade civil


passou a ser alcançada aos 18 anos (art. 5º), idade em que a pessoa já
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil, inclusive os
processuais, não sendo necessária representação ou assistência. Esse
mesmo dispositivo legal determina também qual autoridade judiciária
dará curador especial à criança ou adolescente sempre que os
interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou
quando carecer de representação ou assistência legal, ainda que
eventual.

Ressalta-se que, em regra, o exercício da curadoria


especial compete à Defensoria Pública, conforme o
artigo 4º, VI da Lei Complementar 80/94, sendo,
somente em casos excepcionais, outros os
legitimados.

Destaca-se ainda que o ECA determina que é vedada a divulgação de


atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.

Ademais, qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a


criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome,
apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e
sobrenome, incorrendo aquele que descumprir tais regras na infração
administrativa prevista no artigo 247, §1º do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Por fim, a expedição de cópia ou certidão de atos a que se referem tais


processos somente será deferida pela autoridade judiciária competente,
se demonstrado o interesse e justificada a finalidade.
Justiça da infância e da
juventude

video_library
Estrutura da Justiça da
infância e juventude
Neste vídeo, o professor explica a estrutura da Justiça da Infância e da
Juventude e suas competências.

Varas especializadas e exclusivas da infância e


da juventude

Inicialmente, cabe relembrar que o Estatuto da Criança e da Juventude,


em seu artigo 145, determina que os estados e o Distrito Federal
poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da
juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e
dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

Destaca-se que o STF entendeu que é constitucional lei estadual de


organização judiciária que prevê competência do Juizado da Infância e
da Juventude para processar e julgar crimes praticados contra crianças
e adolescentes (HC 113.102).

Competência territorial

Quanto à fixação da competência territorial para o julgamento das ações


envolvendo interesses dos menores, tal tema foi visto quando do estudo
do Conselho Tutelar. Entretanto, cabe revisá-lo em razão de sua
importância. O artigo 147 do ECA estabelece que a competência
territorial será determinada pelo domicílio dos pais ou responsável; ou
pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais
ou responsável.

O STJ possui entendimento sumulado (súmula 383) de


que a competência para processar e julgar as ações
conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro
do domicílio do detentor de sua guarda.

Assim, o STJ determinou dois critérios para a determinação da


competência em caso de conflito em disputas de guarda de menores.
De acordo com a Corte, prevalece a competência do juízo do domicílio
de quem já exerce a guarda; e do juízo em que ficarem mais bem
atendidos os interesses da criança e do adolescente.

Dessa forma, importa destacar que, segundo o STJ, deve-se sempre


levar em consideração o princípio do melhor interesse de criança, sendo
até mesmo possível afastar outros princípios processuais, como o da
perpetuatio jurisdictionis, previsto no artigo 43 do Código de Processo
Civil, possibilitando a modificação da competência no curso do
processo. Vejamos:

A regra da perpetuatio jurisdictionis,


estabelecida no art. 87 do CPC, cede lugar à
solução que oferece tutela jurisdicional mais
ágil, eficaz e segura ao infante, permitindo,
desse modo, a modificação da competência
no curso do processo, sempre consideradas
as peculiaridades da lide" (CC 111.130/SC,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe de 1º/2/2011).

[...] Assim, se a mudança de domicílio do


menor alimentando ocorrer durante o curso
da ação de execução de alimentos, como
ocorreu na hipótese, não parece razoável que,
por aplicação rígida de regras de estabilidade
da lide, de marcante relevância para outros
casos, se afaste a possibilidade de mitigação
da regra da perpetuatio jurisdictionis.
6. Ademais, no caso em tela, o menor e a
genitora se mudaram para o mesmo foro do
domicílio do genitor, nada justificando a
manutenção do curso da lide na comarca
originária, nem mesmo o interesse do próprio
alimentante.

7. Conflito conhecido para declarar


competente o Juízo de Direito da 3ª Vara de
Cajazeiras - PB.

(CC 134.471/PB, REL. MINISTRO RAUL ARAÚJO,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe
03/08/2015)

Quanto à competência nos casos de ato infracional, como já visto, será


competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as
regras de conexão, continência e prevenção.

Adicionalmente, a competência para o julgamento de ato infracional é


sempre da Justiça Estadual, independentemente do bem lesado, seja
esse bem da União ou não.

Competência material

A competência material do juiz da infância e da juventude, por sua vez, é


prevista no artigo 148 do Estatuto. Ocorre que, quando se tratar de
criança ou adolescente em situação de risco, ou seja, que tem seus
direitos ameaçados ou violados, é também competente a Justiça da
Infância e da Juventude para:

conhecer pedidos de guarda e tutela;

conhecer ações de destituição do poder familiar, perda ou


modificação da tutela ou guarda;

suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

conhecer pedidos baseados em discordância paterna ou materna,


em relação ao exercício do poder familiar;

conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem


os pais;

designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou


representação, ou de outros procedimentos judiciais ou
extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;
conhecer ações de alimentos;

determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos


registros de nascimento e óbito.

Como é possível perceber, as matérias indicadas acima se referem às


situações que seriam de competência da vara de família. Entretanto, em
razão do menor estar em situação de risco, a competência recai sobre o
Juízo da Infância e da Juventude.

Dessa forma, pode-se afirmar que os dispositivos do ECA têm aplicação


em ações que não tramitam na Vara da Infância e da Juventude.
Exemplo disso é a ação de guarda em uma Vara de Família, ou uma
Tutela de Órfãos, desde que a criança ou adolescente não esteja em
situação de risco.

Cabe ressaltar ainda que, de acordo com o STJ, a ação mandamental


(mandado de segurança) que visa discutir a legalidade de ato praticado
por dirigente de estabelecimento de ensino em desfavor de adolescente
é de competência do Juízo da Infância e da Juventude.

Atenção!
Entendeu o STJ que a vara especializada da violência doméstica ou
familiar contra a mulher é competente para julgar o pedido incidental de
natureza civil, relacionado à autorização para viagem ao exterior e
guarda unilateral do infante, na hipótese em que a causa de pedir de tal
pretensão consistir na prática de violência doméstica e familiar contra a
genitora.

Prosseguindo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo


149, determina ainda que compete à autoridade judiciária disciplinar, por
meio de portaria, ou autorizar, mediante alvará:

escalator_warning I - a entrada e permanência de


criança ou adolescente,
desacompanhado dos pais ou
responsável, em:
estádio, ginásio e campo desportivo;

bailes ou promoções dançantes;

boate ou congêneres;

casa que explore comercialmente diversões


eletrônicas; e

túdi i t áfi d t t ádi


estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e
televisão.

escalator_warning II - a participação de criança e


adolescente em:
espetáculos públicos e seus ensaios;

certames de beleza.

Ressalta-se que, para a concessão de tais alvarás, a autoridade


judiciária levará em conta, entre outros fatores:

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A natureza do espetáculo
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As peculiaridades locais
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O tipo de frequência habitual ao
local
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A existência de instalações
adequadas
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Os princípios do Estatuto da
Criança e do Adolescente
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A adequação do ambiente a
eventual participação ou
frequência de crianças e
adolescentes
Cabe mencionar que as medidas adotadas por meio de portaria ou
alvará deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
determinações de caráter geral.

Ademais, segundo o STJ, a obtenção do alvará é imprescindível para que


a empresa que promove um espetáculo ou emissora de TV possa contar
com a participação de crianças e adolescentes e, segundo a Corte
Superior, a autorização expressa dos pais ou responsável não afasta a
necessidade de obtenção do alvará na Justiça.

Compete à Justiça estadual autorizar o


trabalho artístico de crianças e adolescentes.

Entendeu o STF que compete ao juízo da infância e juventude apreciar


os pedidos de alvará visando à participação de crianças e adolescentes
em representações artísticas, pois não se trata de competência da
Justiça do Trabalho, posto ser um requerimento de natureza civil e não
trabalhista.

Regras gerais sobre o


Estatuto da Criança e do
Adolescente
Características do procedimento do ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que aos seus


procedimentos especiais previstos se aplicam todos os princípios
constitucionais processuais. Portanto, há que se respeitar sempre os
princípios da inafastabilidade da jurisdição, ampla defesa, contraditório,
juiz natural, duração razoável do processo etc.

Adicionalmente, a tais procedimentos aplicam-se subsidiariamente as


normas gerais previstas na legislação processual pertinente.
Comentário
Importa mencionar que é assegurada, sob pena de responsabilidade,
prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos
previstos no ECA, bem como na execução dos atos e diligências
judiciais a eles referentes.

Quanto à contagem dos prazos, àqueles estabelecidos no ECA e


aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias corridos,
excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o
prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público.

Por fim, importa destacar que, conforme estabelecido no ECA, se a


medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto
nele ou em outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e
ordenar de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério
Público.

Entretanto, tal flexibilização não é aplicável para o fim de afastamento


da criança ou do adolescente de sua família de origem e em outros
procedimentos necessariamente contenciosos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(PM-MT – 2021 – Banca Própria) Em conformidade com as


disposições gerais do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/1990 e alterações), acerca do acesso à Justiça, analise as
assertivas.

I - Os menores de 16 anos serão representados por seus pais,


tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual.
II - A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou
adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de
seus pais ou responsáveis.
III - É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que
se atribua autoria de ato infracional.
IV - Qualquer notícia a respeito da prática de ato infracional não
poderá identificar a criança ou adolescente, admitindo-se apenas a
referência às iniciais do nome e sobrenome.

Estão corretas as assertivas

A I e IV, apenas.

B I, II e IV, apenas.

C II, III e IV, apenas.

D II e III, apenas.

E I, II e III, apenas.

Parabéns! A alternativa E está correta.

Segundo o artigo 142 do ECA, os menores de 16 anos serão


representados, e os maiores de 16 e menores de 21 anos assistidos
por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou
processual. Adicionalmente, a autoridade judiciária dará curador
especial à criança ou ao adolescente, sempre que os interesses
destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando
carecer de representação ou assistência legal ainda que eventual.

O ECA estabelece ainda, em seu artigo 143, que é vedada a


divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam
respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato
infracional. Da mesma forma, qualquer notícia a respeito do fato
não poderá identificar a criança ou o adolescente, vedando-se
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco,
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

Questão 2

(MP-CE – 2020 – CESPE) Com relação ao acesso à Justiça, ele é


garantido a toda criança ou adolescente, sendo certo que a
assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela
necessitarem
A por meio do sindicato das crianças e adolescentes.

B se assim for pleiteado no tribunal do júri.

C por meio de defensor público advogado nomeado.

sendo necessário apenas o pagamento de pequena


D
taxa de adesão.

caso venham requerê-la junto ao conselho dos


E
direitos da criança e do adolescente.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Segundo o artigo 141, parágrafo primeiro do ECA, a assistência


judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, por
meio de defensor público ou advogado nomeado.

3 - Crimes e infrações administrativas


Ao fim deste módulo, você será capaz de analisar os crimes em espécie
e infrações administrativas.
Disposições e regras gerais

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Crimes contra a infância e
juventude
Neste vídeo, o professor discorre sobre as regras gerais relativas aos
crimes contra a infância e a juventude e esclarece alguns dos tipos
penais de maior relevância.

Inicialmente, importa pontuar que, segundo o artigo 226 do Estatuto da


Criança e do Adolescente, aplicam-se aos crimes definidos no próprio
Estatuto as normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao
processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal. Dessa forma,
aplicam-se as regras gerais do direito penal e do direito processual
penal aos crimes previstos no ECA.

O artigo 227 do ECA, por sua vez, prevê que


todos os crimes definidos no próprio estatuto
são de ação pública incondicionada.

Quanto à prescrição, importa destacar que esta é regulada nos artigos


111 e seguintes do Código Penal, sendo matéria afeita à disciplina
específica do Direito Penal. Entretanto, devemos ressaltar a existência
de previsão específica acerca do termo inicial do prazo prescricional de
crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes.

Segundo o artigo 111, V do Código Penal, a prescrição, antes de


transitar em julgado a sentença final, começa a correr, nos crimes contra
a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos no próprio
código penal ou em legislação especial, da data em que a vítima
completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido
proposta a ação penal.

Outra previsão especial importante prevista no Estatuto da Criança e do


Adolescente se refere à necessidade de reincidência para a aplicação do
efeito secundário da pena consistente na perda da função, cargo ou
mandato.

Segundo o artigo 227-A do ECA, a perda de cargo, função pública ou


mandato eletivo, quando cumpridos os requisitos do art. 92 do CP,
praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são
condicionados à ocorrência de reincidência. Entretanto, a perda do
cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá da pena
aplicada na reincidência.

Apontamentos iniciais sobre os crimes em


espécie no ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê uma série de crimes


específicos praticados contra crianças e adolescentes. Diferentemente
do Código Penal, o ECA não nomeia os tipos penais como ocorre, por
exemplo, com o crime de homicídio (artigo 121 do Código Penal).

Dessa forma, para facilitar a análise de tais crimes, vamos estudar cada
tipo penal, a pena prevista e a classificação doutrinária de cada um
deles. Importa consignar que muitos conceitos decorrem do estudo do
Direito Penal.

Recomendação
Para a compreensão integral do que será exposto, será exigido o
conhecimento prévio da classificação dos crimes. A análise dos crimes
seguirá a ordem prevista no ECA.

Alguns tipos de crimes em


espécie
Crimes contra a vida e a saúde da criança e do
adolescente
O artigo 228 do ECA prevê como crime deixar o encarregado de serviço
ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
manter registro das atividades desenvolvidas, bem como deixar de
fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica,
declaração de nascimento com intercorrências do parto e do
desenvolvimento do neonato.

Para tal crime é prevista a pena de detenção de seis meses a dois anos.
Adicionalmente, prevista ainda a modalidade culposa, com pena de
detenção de dois a seis meses, ou multa. A doutrina classifica esse
crime como:

i. próprio;

ii. omissivo próprio;

iii. de mera conduta;

iv. de perigo;

v. de menor potencial ofensivo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar a vida e a
saúde da criança e da gestante.

O artigo 229 do ECA prevê como crime deixar o médico, enfermeiro ou


dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto,
bem como deixar de proceder aos exames visando ao diagnóstico e à
terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido.

Para tal crime é prevista a pena de detenção de seis meses a dois anos.
Adicionalmente, prevista ainda a modalidade culposa, com pena de
detenção de dois a seis meses, ou multa. A doutrina classifica esse
crime como:

i. próprio;

ii. omissivo próprio;

iii. de mera conduta;

iv. de perigo;

v. de menor potencial ofensivo.

Crimes contra a liberdade da criança e do


adolescente
O artigo 230 do ECA prevê como crime privar a criança ou o adolescente
de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
competente. Para tal crime é prevista uma pena de detenção de seis
meses a dois anos.

Adicionalmente, prevista uma figura equiparada, incidindo na mesma


pena aquele que procede à apreensão sem observância das
formalidades legais. A doutrina classifica esse crime como:

i. comum (doutrina majoritária);

ii. omissivo;

iii. permanente;

iv. de mera conduta;

v. de menor potencial ofensivo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
de liberdade da criança e do adolescente.

O artigo 231 do ECA prevê como crime deixar a autoridade policial


responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer
imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do
apreendido ou à pessoa por ele indicada. Para tal crime é prevista uma
pena de detenção de seis meses a dois anos. A doutrina classifica esse
crime como:

i. próprio;

ii. omissivo próprio;

iii. permanente;

iv. de mera conduta;

v. de menor potencial ofensivo.

vi. de perigo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
de liberdade e a dignidade da criança e do adolescente.

O artigo 235 do ECA prevê como crime descumprir, injustificadamente,


prazo fixado no Estatuto em benefício de adolescente privado de
liberdade. Para tal crime é prevista uma pena de detenção de seis
meses a dois anos. A doutrina classifica esse crime como:

i. próprio;

ii. omissivo próprio;


iii. de mera conduta;

iv. de menor potencial ofensivo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime não admite tentativa
e que visa tutelar o direito de liberdade e a dignidade da criança e do
adolescente.

Crimes contra a convivência familiar e


comunitária

O artigo 237 do ECA prevê como crime subtrair criança ou adolescente


ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
judicial, com o fim de colocação em lar substituto. Para tal crime é
prevista pena de reclusão de dois a seis anos, e multa. A doutrina
classifica este crime como:

i. comum;

ii. material;

iii. comissivo;

iv. instantâneo;

v. plurissubsistente.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
da criança ou adolescente à convivência familiar e comunitária.

O artigo 238 do ECA prevê como crime prometer ou efetivar a entrega de


filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa. Para tal crime
é prevista uma pena de reclusão de um a quatro anos, e multa.
Adicionalmente, é prevista uma figura equiparada, incidindo nas
mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

A doutrina classifica esse crime como:

i. próprio (figura do caput) ou comum (figura equiparada);

ii. comissivo;

iii. doloso;

iv. instantâneo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
da criança ou adolescente à convivência familiar e comunitária.
O artigo 239 do ECA prevê como crime promover ou auxiliar a efetivação
de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com
inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro. Para
tal crime é prevista a pena de reclusão de quatro a seis anos, e multa.

Adicionalmente, é prevista uma figura qualificada se houver emprego de


violência, grave ameaça ou fraude. Nesse caso, é prevista a pena de
reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à
violência. A doutrina classifica esse crime como:

i. comum;

ii. de mera conduta;

iii. instantâneo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
de liberdade da criança ou adolescente e, adicionalmente, combater o
tráfico internacional de menores.

Crime sexual

O artigo 241-D do ECA prevê como crime aliciar, assediar, instigar ou


constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de
com ela praticar ato libidinoso. Para esse crime é prevista a pena de
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Adicionalmente, prevista
uma figura equiparada, incorrendo nas mesmas penas quem:

Facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo


explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso.

Pratica as condutas descritas no tipo principal com o fim de induzir


criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

Destaca-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente define no seu


artigo 241-E que “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende
qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades
sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais
de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.

O artigo 244-A do ECA prevê como crime submeter criança ou


adolescente à prostituição ou exploração sexual.

Para esse crime é prevista a pena de reclusão de quatro a dez anos e


multa, além da perda de bens e valores utilizados na prática criminosa
em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade
da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.

Ressalta-se que constitui efeito obrigatório da condenação a cassação


da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. A
doutrina, por sua vez, classifica esse crime como:

i. comum;

ii. comissivo;

iii. material.

Crimes contra a dignidade


da criança e do adolescente
O artigo 240 do ECA prevê como crime produzir, reproduzir, dirigir,
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente. Para tal crime é
prevista a pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Adicionalmente, é prevista uma figura equiparada, incidindo nas


mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas
referidas acima, ou ainda quem com esses contracena. Prevista ainda a
causa de aumento de pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o
crime:

gavel No exercício de cargo ou função pública ou a


pretexto de exercê-la.

gavel Prevalecendo-se de relações domésticas, de


coabitação ou de hospitalidade.
gavel Prevalecendo-se de relações de parentesco
consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.

A doutrina classifica esse crime como:

i. comum;

ii. de mera conduta;

iii. instantâneo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar a


dignidade da criança ou adolescente.

O artigo 241 do ECA prevê como crime vender ou expor à venda


fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente. Para tal crime é
prevista a pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Destaca-se que a consumação desse crime ocorre no ato de publicação
das imagens.

Adicionalmente, segundo o STJ, é competente para o julgamento do


crime o juízo do local onde o material é disponibilizado,
independentemente dos locais em que terceiros o acessam. Entretanto,
quando não for possível apurar a origem, entende o STJ que é
competente o juízo do local onde se iniciaram as investigações. A
doutrina classifica esse crime como:

i. comum;

ii. de mera conduta;

iii. comissivo.

O artigo 241-A do ECA prevê como crime oferecer, trocar, disponibilizar,


transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por
sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança
ou adolescente, sendo prevista, para tal crime, a pena de reclusão, de 3
(três) a 6 (seis) anos, e multa. Prevista ainda uma figura equiparada,
incorrendo nas mesmas penas quem:
gavel
Assegura os meios ou serviços para
o armazenamento das fotografias,
cenas ou imagens.
gavel
Assegura, por qualquer meio, o
acesso por rede de computadores
às fotografias, cenas ou imagens.
Entretanto, tais condutas são puníveis apenas quando o responsável
legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de
desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito. A doutrina classifica esse crime
como:

i. comum;

ii. de mera conduta;

iii. comissivo.

Destaca-se que o processamento e julgamento do crime de publicação


de material pedófilo-pornográfico em sítios da internet será da
competência da Justiça Federal quando for possível a identificação do
atributo da internacionalidade do resultado obtido ou que se pretendia
obter (STF-RE 628624). O artigo 241-B do ECA prevê como crime
adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

Para esse crime é prevista a pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)


anos, e multa. Ressalta-se que o ECA prevê causa de diminuição de
pena de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se tratar-se de pequena quantidade
de material.

Entretanto, não há crime se a posse ou o armazenamento tem a


finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência de
outras condutas criminosas (arts. 240, 241, 241-A e 241-C do ECA),
quando a comunicação for feita por:
person Agente público no exercício de suas funções.

person Membro de entidade, legalmente constituída, que


inclua, entre suas finalidades institucionais, o
recebimento, o processamento e o
encaminhamento de notícia dos referidos crimes.

person Representante legal e funcionários responsáveis de


provedor de acesso ou serviço prestado por meio
de rede de computadores, até o recebimento do
material relativo à notícia feita à autoridade policial,
ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. Vale
ressaltar que tais pessoas deverão manter sob
sigilo o material ilícito.

Como já dito, entendeu o STF que compete à Justiça Federal processar


e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-
B) quando praticados por meio de rede mundial de computadores. A
doutrina classifica esse crime como:

i. comum;

ii. comissivo;

iii. plurissubsistente.

O artigo 241-C do ECA prevê como crime simular a participação de


criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por
meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
qualquer outra forma de representação visual. Para esse crime é
prevista a pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Adicionalmente, é prevista uma figura equiparada, incorrendo nas
mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui,
publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o
material produzido.

Ressalta-se que nesse crime não há utilização de criança ou


adolescente na cena pornográfica, mas sim a edição do material, de
modo a inserir sua imagem na situação vexatória.

Outros tipos de crimes em


espécie
Fornecer munição, explosivo ou fogos

O artigo 242 do ECA prevê como crime vender, fornecer (ainda que
gratuitamente) ou entregar, de qualquer forma, à criança ou ao
adolescente arma, munição ou explosivo.

Para esse crime está prevista a pena de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis)


anos. Tal conduta também está prevista no Estatuto do Desarmamento
(art. 16, parágrafo único, V). Assim, parte da doutrina entende que deve
prevalecer o Estatuto do Desarmamento em virtude de ser norma
especial e por ser norma mais recente.

Entretanto, há posicionamento em contrário no sentido de que o art. 242


do ECA subsiste, sendo aplicável para as hipóteses envolvendo armas
brancas. A doutrina classifica esse crime como:

i. comum;

ii. de perigo abstrato, admitindo a forma tentada.

O artigo 244 do ECA prevê como crime vender, fornecer (ainda que
gratuitamente) ou entregar, de qualquer forma, à criança ou ao
adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que,
pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano
físico em caso de utilização indevida. Para tal crime é prevista pena de
detenção de seis meses a dois anos, e multa. Ressalta-se que a doutrina
classifica esse crime como:

i. comum;

ii. comissivo;

iii. formal.
Oferecer bebida alcoólica
O artigo 243 do ECA prevê como crime vender, fornecer, servir, ministrar
ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, à criança ou ao
adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos
cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica.

Para tal crime é prevista pena de detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos,


e multa, se o fato não constitui crime mais grave. A doutrina classifica
esse crime como:

i. comum;

ii. comissivo;

iii. formal.

Corromper ou facilitar a corrupção de menor

O artigo 244-B do ECA prevê como crime corromper ou facilitar a


corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração
penal ou induzindo-o a praticá-la. Para tal crime é prevista pena de
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Prevista ainda uma figura
equiparada, incorrendo nas mesmas penas quem pratica as condutas
utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-
papo da internet. Adicionalmente, está prevista causa de aumento de
pena de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
incluída no rol de crimes hediondos.

Por fim, destaca-se que, conforme entendimento sumulado do STJ


(súmula 500), a configuração de tal crime independe da prova da efetiva
corrupção do menor por se tratar de delito formal.

Atentar contra a honra objetiva da criança e do


adolescente

O artigo 232 do ECA prevê como crime submeter criança ou adolescente


sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento.
Para tal crime é prevista uma pena de detenção de seis meses a dois
anos. A doutrina classifica esse crime como:

i. material (de resultado);

ii. próprio;

iii. comissivo;
iv. instantâneo;

v. de menor potencial ofensivo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar a honra
objetiva da criança ou adolescente.

Abuso de autoridade
O artigo 234 do ECA prevê como crime deixar a autoridade competente,
sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou
adolescente tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão.
Para tal crime é prevista uma pena de detenção de seis meses a dois
anos.

A doutrina classifica esse crime como:

i. próprio;

ii. omissivo próprio;

iii. de mera conduta;

iv. de perigo;

v. de menor potencial ofensivo.

Da mesma forma, entende a doutrina que tal crime visa tutelar o direito
de liberdade e a dignidade da criança e do adolescente.

Atenção!
Esse crime, em razão da especialidade, prevalece sobre àquele previsto
na Lei de Abuso de Autoridade.

Obstruir a ação da autoridade judiciária

O artigo 236 do ECA prevê como crime impedir ou embaraçar a ação de


autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Ministério Público no exercício de função prevista em lei. Para tal crime
é prevista uma pena de detenção de seis meses a dois anos. A doutrina
classifica esse crime como:

i. comum;

ii. material (na figura de impedir) ou formal (na figura de embaraçar);

iii. de menor potencial ofensivo.


Infrações administrativas
Observações gerais

As infrações administrativas fazem parte de um sistema de proteção e


efetivação dos direitos da criança e do adolescente. Por não
descreverem condutas criminosas, em regra, a pena aplicada é a de
multa. Quanto à prescrição das infrações administrativas, entendeu o
STJ que é plenamente aplicável a prescrição às infrações
administrativas. Entretanto, entende-se que a multa aplicável às
infrações administrativas tem natureza administrativa e não penal.
Dessa forma, não se aplica o prazo de dois anos, previsto no artigo 114
do CP, mas o de cinco anos (Resp. 894.528).

Trataremos agora, da mesma maneira que fizemos com os crimes, de


cada uma das infrações administrativas previstas no Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Art. 245 do ECA expand_more

O artigo 245 do ECA prevê como infração deixar o médico,


professor ou responsável por estabelecimento de atenção à
saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-
tratos contra criança ou adolescente.

Para tal infração é prevista uma pena de multa de três a 20


salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência. Ressalta-se que, em caso de maus-tratos, a
comunicação deve ser feita ao Conselho Tutelar, nos termos do
artigo 13 do ECA.

Art. 246 do ECA expand_more

O artigo 246 do ECA prevê como infração impedir o responsável


ou funcionário de entidade de atendimento o exercício dos
direitos constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 do
ECA. Para tal infração é prevista a multa de três a 20 salários de
referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

O artigo 124 do ECA, por sua vez, estabelece que são direitos do
adolescente privado de liberdade, entre outros, o de peticionar
diretamente a qualquer autoridade; o de avistar-se
reservadamente com seu defensor; o de receber visitas, ao
menos, semanalmente; o de corresponder-se com seus
familiares e amigos; o de receber escolarização e
profissionalização.

Divulgação de documento policial, administrativo ou


judicial expand_more

O artigo 247 do ECA prevê como infração divulgar, total ou


parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de
comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que
se atribua ato infracional. Para tal infração é prevista multa de
três a 20 salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

Ressalta-se que incorre na mesma pena quem exibe, total ou


parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em
ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se
refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua
identificação, direta ou indiretamente.

Adicionalmente, se o fato for praticado por órgão de imprensa ou


emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista, a
autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da
publicação. Ressalta-se que a expressão “ou a suspensão da
programação da emissora até por dois dias, bem como da
publicação do periódico até por dois números”, prevista no
referido dispositivo legal, foi declarada inconstitucional na ADIN
869-2.

Descumprimento de deveres do poder familiar expand_more

O artigo 249 do ECA prevê como infração descumprir, dolosa ou


culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou
decorrente de tutela ou guarda, bem como de determinação da
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar. Para tal infração é
prevista multa de três a 20 salários de referência, aplicando-se o
dobro em caso de reincidência.

Ressalta-se que o STJ entendeu que a falta de amparo estatal e


as dificuldades para seu desempenho não eximem os pais de
serem processados em caso de descumprimento de seus
deveres inerentes ao poder familiar (Resp. 768.572-RS).
Entendeu ainda o STJ que a hipossuficiência financeira ou a
vulnerabilidade da família não é suficiente para afastar a multa
pecuniária prevista no art. 249.

Para a Corte é admissível que, por meio de decisão judicial


fundamentada, o magistrado deixe de aplicar a sanção
pecuniária e faça incidir outras medidas mais adequadas e
eficazes para o caso concreto. Entretanto, a hipossuficiência
financeira ou a vulnerabilidade familiar não é suficiente, por si só,
para afastar a multa prevista (Informativo 636 do STJ).

Hospedar criança sem autorização dos pais expand_more

O artigo 250 do ECA prevê como infração hospedar criança ou


adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem
autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel,
pensão, motel ou congênere.

Para tal infração é prevista pena de multa e, em caso e


reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade
judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento
por até 15 (quinze) dias. Adicionalmente, se comprovada a
reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o
estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença
cassada.

Transportar criança sem observar as regras de viagem dos


menores desacompanhados expand_more

O artigo 251 do ECA prevê como infração transportar criança ou


adolescente, por qualquer meio, com inobservância das regras
do ECA que definem as condições para os menores viajarem
desacompanhados ou na companhia de terceiros (arts. 83, 84 e
85). Para tal infração é prevista a multa de três a 20 salários de
referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Deixar de providenciar instalação e operacionalização de
cadastro de adoção expand_more

O artigo 258-A do ECA prevê como infração deixar a autoridade


competente de providenciar a instalação e operacionalização
dos cadastros de adoção (art. 50 do ECA) e de crianças em
acolhimento familiar ou institucional (§11 do art. 101 do ECA).
Para tal infração é prevista multa de R$1.000,00 (mil reais) a
R$3.000,00 (três mil reais).

Ressalta-se que incorre nas mesmas penas a autoridade que


deixa de efetuar o cadastramento de crianças e adolescentes em
condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados
à adoção e de crianças e adolescentes em regime de
acolhimento institucional ou familiar.

Profissional da saúde que não informa a intenção da mãe


de colocar o filho para adoção expand_more

O artigo 258-B do ECA prevê como infração deixar o médico,


enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde
de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou
gestante interessada em entregar seu filho para adoção. Para tal
infração é prevista multa de R$1.000,00 (mil reais) a R$3.000,00
(três mil reais).

Ressalta-se que incorre na mesma pena o funcionário de


programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à
convivência familiar que deixa de efetuar tal comunicação.
Venda de bebida alcoólica expand_more

O artigo 258-C do ECA prevê como infração descumprir a


proibição de venda de bebida alcoólica para crianças e
adolescentes. Para tal infração é prevista multa de R$3.000,00
(três mil reais) a R$10.000,00 (dez mil reais) e interdição do
estabelecimento comercial até o recolhimento da multa aplicada.

Ante o exposto, é possível perceber que o ECA prevê punição à


venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes tanto na
esfera penal quanto administrativa.

Regramento sobre a
natureza e faixa etária de
espetáculos
O artigo 252 do ECA prevê como infração deixar o responsável por
diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no
certificado de classificação. Para tal infração é prevista multa de três a
20 salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

O artigo 253 do ECA prevê como infração anunciar peças teatrais, filmes
ou quaisquer representações ou espetáculos sem indicar os limites de
idade a que não se recomendem. Para tal infração é prevista multa de
três a 20 salários de referência, duplicada em caso de reincidência,
aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de
divulgação ou publicidade.

Folder de peça de teatro com indicação de limite etário (exemplo).

O artigo 254 do ECA prevê como infração transmitir, por meio de rádio
ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso
de sua classificação. Para tal infração é prevista multa de 20 a 100
salários de referência; duplicada em caso de reincidência; a autoridade
judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora
por até dois dias.
Saiba mais
Segundo o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do
autorizado” contida no art. 254 do ECA. Para a Corte, o Estado não pode
determinar que os programas somente possam ser exibidos em
determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo
texto constitucional por configurar censura.

Dessa forma, para o STF, o Poder Público pode apenas recomendar os


horários adequados, ou seja, a classificação dos programas é somente
indicativa (e não obrigatória).

O artigo 255 do ECA prevê como infração exibir filme, trailer, peça,
amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como
inadequado a crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo. Para
tal infração é prevista multa de 20 a 100 salários de referência; na
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do espetáculo
ou o fechamento do estabelecimento por até 15 dias.

O artigo 256 do ECA prevê como infração vender ou locar à criança ou


ao adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo com a
classificação atribuída pelo órgão competente. Para tal infração é
prevista multa de três a 20 salários de referência; em caso de
reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do
estabelecimento por até 15 dias.

O artigo 257 do ECA prevê como infração descumprir a obrigação de


que as revistas e publicações que contêm material impróprio ou
inadequado a crianças e adolescentes sejam comercializadas em
embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.

Também comete tal infração quem não cumpre a obrigação de que as


revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não
contenham ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de
bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, devendo respeitar os
valores éticos e sociais da pessoa e da família. Para tal infração é
prevista multa de três a 20 salários de referência, duplicando-se a pena
em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou
publicação.

O artigo 258 do ECA prevê como infração deixar o responsável pelo


estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe o ECA sobre
o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
participação no espetáculo. Para tal infração é prevista multa de três a
20 salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade
judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até
15 dias.
Ressalta-se que o STJ consolidou o entendimento de que tal
responsabilidade é solidária, inclusive quando o imóvel é locado pelo
proprietário a um empresário (AgRg no Resp. 1384707/RJ).

Investigação dos crimes


contra a dignidade sexual
Diante do crescimento das tecnologias de informação, a criminalidade
encontrou um novo ambiente farto para a prática delitiva, haja vista que
há inúmeros fatores que facilitam o sucesso de tais investidas
criminosas. Há que se ressaltar que a internet se tornou um espaço
onde o usuário expõe sua vida, tornando-se cada vez mais vulnerável,
tendo tal circunstância facilitado a prática de crimes contra crianças e
adolescentes.

Considerando tais fatos, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi


alterado pela Lei nº 13.441 de 2017 para possibilitar a infiltração de
agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes contra a
dignidade sexual de crianças e adolescentes previstos nos artigos 240,
241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D do próprio estatuto e nos artigos 154-
A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal).

A infiltração policial prevista na Lei nº 13.441 de 2017 consiste em


técnica especial e subsidiária de investigação, qualificada pela atuação
dissimulada e sigilosa de agente policial, seja presencial ou
virtualmente, em face de um criminoso ou grupo de criminosos, com a
finalidade de localizar fontes de prova, identificar criminosos e obter
elementos de convicção para elucidar o delito e desarticular associação
ou organização criminosa, auxiliando também na prevenção de ilícitos
penais.

Dessa forma, a infiltração policial é gênero do qual são espécies:

privacy_tip
Presencial (física)
privacy_tip
Virtual (cibernética ou eletrônica)
Inicialmente, conforme disposto no ECA, a infiltração de agentes será
precedida de autorização judicial devidamente circunstanciada e
fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltração para obtenção
de prova, ouvido o Ministério Público.

Tal infiltração acontece mediante requerimento do Ministério Público ou


representação de delegado de polícia, e conterá a demonstração de sua
necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos
das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou
cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas.

Quanto ao prazo, a infiltração não poderá exceder o prazo de 90 dias,


sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda a
720 dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da
autoridade judicial. Entretanto, para tal, a autoridade judicial e o
Ministério Público poderão requisitar relatórios parciais da operação de
infiltração antes do término do prazo.

Relembrando
A infiltração de agentes de polícia na internet é meio de investigação
subsidiário, não sendo admitido se a prova puder ser obtida por outros
meios.

Adicionalmente, por envolverem casos extremamente complexos, as


informações da operação de infiltração serão encaminhadas
diretamente ao juiz responsável pela autorização da medida, que zelará
por seu sigilo e, antes da conclusão da operação, o acesso aos autos
será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia
responsável pela operação, com o objetivo de garantir o sigilo das
investigações.

Com a finalidade de garantir a efetividade das


investigações, a lei prevê que não comete crime o
policial que oculta a sua identidade para, por meio da
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos
crimes a que busca investigar.

Por fim, concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados


durante a operação deverão ser registrados, gravados, armazenados e
encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório
circunstanciado.

Adicionalmente, os atos eletrônicos registrados serão reunidos em


autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o
inquérito policial, assegurando-se a preservação da identidade do
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes
envolvidos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(PC-CE - IDECAN - 2021) Consoante entendimento dos tribunais


superiores acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente,
assinale a alternativa correta.

Se um adolescente for flagrado, dentro de um bar,


A comprando e consumindo bebida alcoólica, poderá
sofrer aplicação de medida socioeducativa.

Configura crime único de corrupção de menores o


B agente, maior de idade, que pratica infração penal
juntamente com dois menores de 18 anos.

A montagem fotográfica que simula a participação


de adolescente em cena de sexo explícito não é
C
tipificada; apenas o seria se a simulação fosse em
vídeo.

O proprietário do estabelecimento comercial em que


ocorre a venda de bebida alcoólica a menor de 18
D
anos, mesmo que desconheça essa prática,
responde criminalmente por delito previsto no ECA.
Para a configuração do delito de corrupção de
menores não se exige que a vítima tenha,
E
efetivamente, se corrompido, pois o delito em
análise é classificado como formal.

Parabéns! A alternativa E está correta.

Segundo entendimento sumulado do STJ, a configuração do crime


do art. 244-B do ECA (corrupção) independe da prova da efetiva
corrupção do menor por se tratar de delito formal.

Questão 2

(PC-PA - Instituto AOCP - 2021) João, utilizando seus


conhecimentos em informática e visando ao ganho financeiro,
vendeu, pela internet, vídeo que continha cena de sexo explícito
envolvendo crianças e adolescentes. Tendo em vista a conduta
hipotética narrada, bem como as disposições do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), João, caso
condenado, estará sujeito à pena de

A detenção, de um a três anos, e multa.

B detenção, de dois a quatro anos, e multa.

C reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

D reclusão, de três a seis anos, e multa.

E reclusão, de quatro a oito anos, e multa.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O art. 241-C do ECA determina que vender ou expor à venda


fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente é
crime com pena prevista de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
multa.
Considerações finais
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu o funcionamento
de diversos órgãos de defesa e proteção dos menores. Entre tais
órgãos, o Conselho Tutelar, conforme analisado, é um dos mais
importantes, sendo o responsável, em regra, pelo primeiro atendimento
de crianças e adolescentes em situação de risco.

Adicionalmente, estudamos as regras gerais referentes ao acesso à


Justiça, bem como a competência territorial e material da Justiça da
Infância e da Juventude, responsável por dirimir conflitos envolvendo
interesses dos menores.

Prosseguindo, analisamos os crimes e as infrações administrativas


previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, com finalidade de
coibir condutas contrárias aos interesses dos menores, bem como punir
eventuais infratores. Por fim, analisamos o procedimento de
investigação dos crimes contra a dignidade sexual de crianças e
adolescentes, de extrema importância na prevenção de tais condutas e
na punição de eventuais culpados.

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Podcast
Neste podcast, o professor aborda os aspectos mais relevantes do
conteúdo.

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Para um maior aprofundamento, leia o livro II, Títulos V, VI e VII da obra
Estatuto da Criança e do Adolescente - Doutrina e Jurisprudência, de
Válter Kenki Ishida.

Referências
ALVES ROSSATO, L.; LÉPORE, P. Manual de Direito da Criança e do
Adolescente. 1. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2021.

KENKI ISHIDA, V. Estatuto da Criança e do Adolescente - Doutrina e


Jurisprudência. 21. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2021.

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