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A JUSTIÇA JUVENIL

A TRAMITAÇÃO DO PROCESSO DE MENOR


Parte introdutória
A inimputabilidade, penal em razão a culpa e o desenvolvimento do
jovem. O art.19º CP dispõem que’’ os menores de 16 anos são
inimputáveis’’. Art17º CP. A imputabilidade e pode ser definida como ‘’a
capacidade do agente no momento da perpretação do facto ou de se
determinar de harmonia com essa avaliação dos factos.
Por razoes de segurança e certeza jurídica era necessário um critério que
marcasse onde começa inimputabilidade quando obviamente não estiver
em causa a inimputabilidade por anomalia psíquica do art. 18.ºcp .
Entendemos que, tendo sido escolhido o critério etário por motivos de
politica criminal assentes num principio de humanidade pois pretendeu –
se afastar o jovem do sistema penal que será excessivamente pesado
nesta fase precoce evitando simultaneamente a sua estigmatização e
principalmente por ser aquele que melhor traduz o estádio de
desenvolvimento da personalidade ,resultando assim na presunção de que
até aos de 16 anos não há ainda a’’ plena consciência da realidade
envolvente, falhando a conexão objectiva de sentido entre o facto e a
pessoa do agente.
Dizer que é na culpa que esta o cerne da questão da inimputabilidade em
razão da idade.
Qual a razão de estes menores serem incapazes de culpa? Pra podermos
responder a esta questão não podemos deixar de referir primeiro algumas
das teorias existentes sobre este elemento subjectivo e a forma como
este deve ser tratado. A Culpa consiste no juízo de censura individualizado
feito aquele concreto agente pela sua atitude expressa no determinado
facto que mostra que ele decidiu pela prática de um acto viola as normas
legais quando podia não o ter feito.
Não há pena se não haver culpa uma regra que decorre diretamente do
principio da dignidade humana em que não basta ter-se cometido o ilícito
típico, tem ainda de ser culpado.
Para a escola clássica, a culpa assumia um papel irrenunciável no direito
penal, pois toda a legitimidade da pena radicava nela.
Esta culpa fundamentava-se no livre arbítrio do agente, na liberdade total
que este tinha na sua atuação em absoluta contradição com esta
construção clássica temos a escola positiva que defende a atuação
determinista do comportamento humano e consequentemente também
do acto criminoso, o criminoso não e culpado mas sim perigoso . Assim
propõem a substituição da ideia de culpa pela de perigosidade e a
substituição da pena pela medida de segurança.

Aspectos históricos sobre a justiça juvenil em Angola


A Lei 9/96 de 19 de Abril veio a ser criar a sala do julgado de Menor
pertencente ao Tribunal Provincial.
A Lei 18/88 de 31 de Dezembro que aprovou o sistema Unificado de
justiça, dispunha no seu artigo 27º que os Tribunais Provinciais sejam
compostos por salas de competência especializada.
De realçar que nos dias de hoje, a lei acima referenciada, encontra-se
revogada pela primeiro pela Lei nº 2/15 de 02 de Fevereiro, lei da
organização e funcionamento dos «Tribunais judiciais, que estabelece os
princípios e regras da organização e funcionamento dos Tribunais de
jurisdição comum.
E no ano de 2022, esta lei 2/15, foi de igual modo revogada pela Lei 29/22,
de 29 de Agosto, Lei Orgânica Sobre a Organização e Funcionamento dos
Tribunais da Jurisdição Comum.
Na organização judiciaria anterior à independência existiu o Tribunal de
Menores e execução de penas que funcionou somente no Tribunal da
Comarca de Luanda e que abrangia na sua jurisdição os menores sujeitos a
prevenção criminal e a providencias cíveis aplicáveis, sendo que nos
demais Tribunais do país eram os Tribunais de competências generalizada
que conheciam da jurisdição de menores.
Uma vez extinto o Tribunal de Menores e execução de penas, pela Lei nº
18/88, ficou prevista que as providencias criminais relativas aos menores,
fossem objecto de “Lei Especial” ficando, entretanto, essas questões
atribuídas à competências genérica do presidente do Tribunal Provincial,
previstas nessa mesma lei.
Com a provação da referida lei e do respectivo Código do Processo do
julgado de Menores, passou a existir um órgão jurisdicional para tratar de
todas as questões relativas aos Menores em Angola, quer estejam em
situação de risco, quer estejam em conflito com a lei.
Nos termos do artigo 1º. Da Lei 9/96 de 19 de Abril (LIM), a sala do julgado
de Menores, não é um Tribunal especial, mas sim um tribunal de
competência especializada.
Se a Dra. Maria do Carmo Medina, optou-se pelo termo “julgado” de
Menores e não Tribunal de Menores, para atenuar o carácter sancionador
que o termo tribunal sugere.
Na Lei do JM, prevê -se aplicação de medidas tutelares com vista a
proteção, assistência e educação e educação do menor que em perigo se
encontra, clamando assim, por uma intervenção célere e urgente por
parte do Tribunal.
Sancionam -se também diversas condutas por parte de quem tem o
menor a sua guarda, seja os seus representantes legais, seja qualquer
pessoa que legalmente e não só tenha o dever de cuidado sobre uma
criança.
Para que haja sucesso na proteção da criança, quer esteja ela, numa
situação de perigo social, quer esteja ela em conflito com a lei torna-se
necessário que se estabeleça a coordenação necessária entre o julgado de
Menores e os Órgão complente assistência Social que em
complementaridade, terão que decidir, preparar e executar as medidas
tutelares que as circunstâncias impuserem.
Como se sabe, nos dias de hoje, o menor é reconhecido como sujeito de
direito a quem se aplicam os princípios que norteiam a administração da
justiça dando-lhes as garantias necessárias.
Ao abrigo da Constituição da República de Angola encontramos
consagrado no artigo 35º., números 6 e 7, a Doutrina da Proteção Integral
da Criança que se consubstancia no seguinte:
“A proteção dos direitos da criança, nomeadamente, a sua educação
integral e harmoniosa, a proteção da sua saúde, condições de vida e
ensino, constituem absoluta prioridade da Família, do Estado e da
Sociedade.”
A principal característica da Doutrina da Proteção Integral foi tornar as
crianças e jovens sujeitos de direitos, colocando-os em posição de
igualdade em relação aos adultos, pois passaram a ser vistos como pessoa
humana, possuindo direitos que podem ser exigidos judicialmente.
Outro princípio não menos importante que caracteriza o Direito da
Criança é o princípio do Superior Interesse da Criança estabelecido no
artigo 80º., nº 2 da nossa Constituição (CRA).
“As Políticas Públicas no domínio da família, da educação, da saúde devem
salvaguardar o princípio do superior interesse da criança, como forma de
garantir o seu pleno desenvolvimento físico, psíquico e cultural.”
Esse princípio, encontra o seu fundamento no reconhecimento da peculiar
condição de pessoa humana em desenvolvimento atribuída à infância e à
juventude.
A nível nacional:
1. Constituição da República de Angola (2010).
2. A Lei nº 9/96 de 19 de Abril.
3. O Código do Processo do julgado de Menores (Decreto-Lei nº 06/03
de 28 de Janeiro).
4. O Decreto nº 69/07 de 10 de Setembro (Regulamento da Comissão
Tutelar de Menores).
5. A Lei da Procuradoria Geral da República (Lei nº 22/12 de 14 de
Agosto), no seu artigo 22, al. L).
6. A Lei Contra a Violência Doméstica (Lei nº 25/11 de 14 de julho).
7. A Lei sobre a protecção e desenvolvimento integral da criança (Lei
nº 25/12 de 22 de Agosto), a onde vem consagrado os 11
compromissos para com a criança no seu artigo 50º..
8. O Decreto Executivo conjunto nº 17/08 de 12 de Fevereiro
(Regulamento da Medida de Prevenção criminal de Liberdade
Assistida).
9. O Decreto Executivo conjunto nº 18/08 de 12 de Fevereiro
(Regulamento da Medida de Criminal de Prestação de Serviço à
Comunidade).
A nível Internacional
1. Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, celebrada a
20 de Novembro de 1989, tendo, Angola ratificado no ano a seguir
(1990). A Convenção assentou em quatro pilares fundamentais:
 Não Discriminação; art.º. 2º da convenção
 O interesse Superior da criança; art. 3º
 A sobrevivência e desenvolvimento; art, 6º.
 A opinião da criança. Art. 12º.
2. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da justiça
de Menores (Regras de Bijing). Pequim (China)
3. Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da delinquência
juvenil (Diretrizes de Riade).
4. Regras das Nações Unidades para a Protecção dos Menores
Privados de Liberdade (Regras de Havana).
5. Protocolo facultativo à Convenção sobre os Direitos Relativo ao
Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados.
6. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança
Relativo à Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis.

ORGÃOS INTERVENIENTES NA JUSTIÇA JUVENIL

 Ministério da justiça (coordenador)


 Tribunais
 INAC- Instituto Nacional da criança
 Minars
 Cnac – Conselho Nacional da criança
 Ministério da Família e Promoção da Mulher, etc.
 Unicef (parceiro internacional)
 Outras instituições internacionais.
Medidas de Protecção Social (artigo 15º. Da Lei 9/96 de 19 de Abril)
a) Permanência em casa dos pais ou tutores ou outros responsáveis
mediantes acompanhamento do julgado de Menores;
b) Imposição de regras de conduta;
c) Colocação em Família substituta;
d) Matrícula frequência obrigatória em estabelecimento de ensino;
e) Inscrição em Centro de Formação Profissional;
f) Requisição de assistência medica, de testes psicotécnicos ou outros;
g) Semi-internamento em estabelecimento de assistência ou educativo;
h) Internamento em estabelecimento de assistência ou educativo.

Medidas de Prevenção Criminal (artigo 17º. Da Lei 9/96 de 19 de Abril


a) Repreensão;
b) Imposição de regras de conduta;
c) Condenação do menor ou do seu representante legal, em multas,
indemnizações ou restituições;
d) Prestação de serviço à comunidade;
e) Liberdade assistida;
f) Sem – internamento em estabelecimento de assistência ou
educativo.
g) Internamento em estabelecimento de assistência.
COMISSÃO TUTELAR DE MENORES
Nos termos do artigo 26º. e seguintes da Lei 9/96 de 19 de Abril, cabe a
Comissão tutelar de Menores executar toda e qualquer medida aplicada
pelo julgado de Menores.
Tem a Comissão Tutelar de Menores duas funções. Uma função
preventiva outra repressiva de acordo com o Decreto nº 69/07 de
Setembro, sendo a mesma constituída por cinco membros.

TRAMITAÇÃO PROCESSUAL

I. PRINCIPIOS PROCESSUAIS FUNDAMENTAIS

1. Confidencialidade, Unidade e Permanência (artº. CPJM): Protege a


pessoa do menor, sendo este o centro de toda a tramitação
processual até atingir a maioridade. O mais importante, segundo a
Dra. Maria do Carmo Medina, não são os factos praticados pelo
menor, mas sim a sua personalidade, bem como as circunstâncias
familiares e ambientais em que o menor se encontra.
2. Oralidade e Celeridade: necessidade de desburocratização dos
autos, registando o essencial, do ponto de vista processual.
3. Busca de Verdade Substancial: deixando de lado a verdade formal,
levando a uma intervenção directa do juiz no decorrer dos autos,
que não pode ficar à mercê da iniciativa processual das partes ou do
Ministério Público.
4. Garantia de defesa dos direitos de todos os envolvidos no processo:
- Relativamente ao menor:
 Presunção de inocência Comum à jurisdição penal para adulto
artigo 67º. Nº2 CRA.
 O direito de ser notificado das acusações.
 O direito de não responder, direito ao Silêncio.
 O direrdsito a assistência judiciária
 O direito a presença dos pais ou tutor.
 O direito de interrogar e confrontar as testemunhas
 E o direito ao recurso.
- Relativamente aos terceiros (pais, lesados, etc.):
 Deverão ser reconhecidos toda legitimidade e interesse no
processo.
II. FORMAS DE PARTICIPAÇÃO 2 FORMAS DE PARTICIPAÇÃO
1. Participação (art. 2º CPJM)
2. Denúncia (art. 3º CPJM).

III. TRIBUNAL COMPETÊNCIA


1. Para aplicação de medidas de protecção social ao menor, é
competente o tribunal de residência do menor à data em que o
processo foi instaurado (art. 6º./1 CPJM).
2. Para aplicação de medidas de prevenção criminal ao menor, é
competente o tribunal do local a onde o facto foi praticado.
3. Em matéria de violação do dever de protecção social ao menor, é
competente o tribunal a onde o facto foi praticado ou onde se
verificou o dano moral ou material do menor.

IV. ESPÉCIES DE PROCESSOS


1. Processos para a aplicação de medidas ao menor:
 Processo para aplicação de medidas de protecção social a
todo o menor de qualquer idade, nos termos do art.12º. al)
a) da Lei 9/96 de 19 de Abril;
 Processo para aplicação de medidas de prevenção criminal a
todos o menor dos 12 aos 16 anos, exclusive, nos termos do
art. 12º. al. b) da Lei 9)96 de 19 de Abril;
2. Processo por violação do dever de protecção social ao menor, art.
18º. e seguintes da Lei 9/96 de 19 de Abril.

V. FASE DO PROCESSO DE MENORES

1. Audiência /Fase Preliminar (dirigida pelo Juiz de Menores)


a) Interrogatório ao menor

 Interrogatório do menor, art. 10º. Do CPJM (sem a


presença do menor no centro – deslocação do técnico
social a fim de dar conhecimento ao menor e seus
representantes legais do dia e hora do interrogatório bem
como fazer uma apreciação das condições em que o menor
vive).
 Interrogatório do menor, art. 11º. Do CPJM (com a
presença do menor no centro de Observação).
b) Ordenamento de diligencias
 Requisição de registo civil;
 Exame psicossomático;
 Inquérito social;
 Outros exames que se entendam necessários.
c) Medidas Provisórias
Artigos 15º. E 17º. Da Lei 9/de 19 de Abril.
2. Instrução do Processo (dirigida pelo Procurador de Menores)
a) Meios de prova, art. 17º. E seguintes CPJM
 Inquérito social;
 Exame ao médico ao menor;
 Exame psicológico ao menor;
 Declaração dos participantes;
 Inquirição de testemunhas;
 Requisições ou informações de organismos públicos ou
privados;
b) Prazo para a instrução
A instrução do processo não deverá exceder o prazo de 60 dias, art.
23º. do CPJM.
c) Acusação / Arquivamento
O Procurador de Menores, finda a instrução deverá ou não,
promover a aplicação de medidas ao menor ou outros
procedimentos a seguir, art. 24º. Do CPJM.
3. Julgamento
a) Exame pelos peritos Assessores, art. 27º. Do CPJM
b) Notificação ao Advogado/Defensor, art.27º. do CPJM
c) Audiência de Julgamento: art. 28º.
 Leitura resumida dos factos;
 Audiência não é pública;
 A produção da matéria de prova não será reduzida a escrito,
devendo constar da acta os factos apurados de forma sucinta.
d) Deliberação
Finda a produção de prova, o juiz e os peritos assessores deliberam sobre
a medida ou medidas a serem aplicadas ao menor.
e) Sentença
A sentença deverá ser proferida de forma oral e ditada para a acta, ou ser
proferida por escrito, dentro do prazo de oito dias finda a audiência.
RECURSOS
1. Prazos: oito dias após notificação da sentença.
2. Legitimidade:
 O menor
 O Procurador de Menores
 Os pais, Tutores ou quem tenha o menor a seu cargo
 Terceira pessoa que se considere lesada com a sentença.

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