Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 139

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO – PPG


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS V
SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA, MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL

DISSERTAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA – BA E OS (DES)


CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

IVANEIDE SILVA DOS SANTOS

ORIENTADORA: PROFª DRª ROCÍO CASTRO KUSTNER

TRABALHO DISSERTATIVO DESENVOLVIDO


COMO REQUISITO À OBTENÇÃO DO TÍTULO
DE MESTRE EM CULTURA, MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. LINHA DE
PESQUISA 2: “POLÍTICAS PÚBLICAS DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL”.

SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA


2009
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2

TERMO DE APROVAÇÃO

IVANEIDE SILVA DOS SANTOS

A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA – BA E OS (DES)


CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada junto ao Programa de


Pós-Graduação Mestrado em Cultura, Memória e
Desenvolvimento Regional pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB, Campus V, Santo
Antônio de Jesus – Ba.

Aprovada em 20 de março de 2009

Banca Examinadora

_____________________________________
Prof. Dra. Rocío Castro Kustner

_____________________________________
Prof. Dra. Alícia Ruiz Olalde

____________________________________
Prof. Dra. Maria Suzana de Souza Moura
3

Dedico este trabalho a todas as pessoas que se preocupam


com a situação socioambiental do nosso planeta e que
almejam um desenvolvimento que leva em consideração o
bem-estar das gerações, presente e futuras, bem como a
conservação do meio ambiente e diminuição das
desigualdades sociais.
4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, Ser supremo no qual mantenho sempre viva a
minha fé.

Sabemos que a realização de um trabalho jamais se efetiva sem a ajuda de outras


pessoas, principalmente, nesta dissertação onde a colaboração do “outro” é
fundamental. Dentre os mais próximos, agradeço aos meus pais e a minha família,
que de maneira compreensiva, impulsionaram no desenvolvimento deste trabalho,
incentivando-me e auxiliando-me constantemente.

A Laelson, amor e amigo pela paciência, o companheirismo, a compreensão e o


valioso envolvimento em discussões e sugestões referentes aos conteúdos
trabalhados, bem como na realização da atividade de campo e tabulação de dados.

Agradeço com carinho especial, à professora Drª Rocío Castro, pela orientação
sempre importante e esclarecedora que me ajudou na realização deste trabalho bem
como pelo carinho, atenção e paciência demonstrados durante este período,
contribuindo para que meu esforço tivesse condições plenas de ser exercido.

Aos professores, funcionários e colegas do Curso de Mestrado em Cultura Memória


e Desenvolvimento Regional pelas discussões empreendidas que proporcionaram
muitas idéias para a elaboração desta dissertação ao longo deste percurso. A todos,
deixo um eterno abraço pela acolhida e momentos de alegria nesta caminhada.

Aos meus colegas da UNEB – DCH Campus –V, Santo Antônio de Jesus,
especialmente aos amigos do colegiado de geografia que sempre estiveram prontos
a ouvirem minhas lamentações e dificuldades de realizar o mestrado, contribuindo
para que eu pudesse concluí-lo.

Aos colegas do Colégio Estadual de Serrolândia, pela colaboração e apoio durante a


realização da pesquisa.
5

Aos amigos, Claudia Sousa e Marcone Denys que gentilmente elaboraram os mapas
utilizados neste trabalho, bem como auxiliaram na construção dos gráficos.

À amiga Patrícia Andrade pela colaboração na revisão ortográfica deste trabalho.

Aos professores Dr. Cristóvão Brito e Dra. Mª Suzana Moura, pelas valiosas
contribuições durante a qualificação e indicação de bibliografia.

Às pessoas que se dispuseram a participar dos grupos focais, entrevistas e


questionários, contribuindo intensamente na construção deste trabalho.

Ao amigo Rodrigo dos Reis, pela gentileza das traduções do texto para o inglês.

Aos amigos do grupo Artefato, em especial à Rafaela Mendes e Lucas Novais pela
ajuda na aplicação dos questionários.

Por maior que fosse, uma lista de nomes seria incompleta para indicar todos que
contribuíram para que alcançasse este resultado; pessoas que em contextos
diferentes, colaboraram de forma significativa para a realização deste exercício,
apoiando-me e encorajando-me, nos momentos difíceis, a trilhar este caminho,
assumindo, tantas vezes, as atividades que eram de minha responsabilidade,
proporcionando-me maior tempo para a dedicação na execução e conclusão deste
trabalho.

A todos vocês, muito obrigada!


6

Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e


ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas
as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.

Jean Jacques Rousseau


7

RESUMO

A análise das contribuições e os entraves das fábricas de bolsas de Serrolândia-


Bahia para o desenvolvimento local sustentável constitui-se no principal objetivo
deste trabalho de pesquisa. Trata -se de um Estudo de Caso com abordagem
qualitativa e quantitativa, no qual foi feito o levantamento bibliográfico, a realização
de entrevistas com fabricantes das fábricas e à população, grupos focais com
jovens, homens e mulheres, visita a campo para observação da realidade, bem
como a aplicação de questionários à população e aos funcionários das fábricas. Ao
longo do trabalho discutimos as concepções de desenvolvimento e sua relação com
a industrialização, enfatizando o desenvolvimento local sustentável enquanto nova
alternativa frente aos impactos da globalização. Os resultados obtidos na pesquisa
nos revelam que a pequena indústria de bolsas de Serrolândia contribui para a
economia local e garantia da sustentabilidade econômica por mobilizar as
potencialidades físicas, territoriais e sociais desta cidade e gerar empregos.
Contudo, constatamos que não há parceria entre os fabricantes de bolsas e os
demais agentes sociais locais para compartilharem interesses em comum no que
tange ao planejamento e à realização do desenvolvimento desta cidade.
Percebemos que ainda não existe uma preocupação com a questão ambiental por
parte destas empresas, devido à produção de resíduos gerada pelas mesmas, que
interfere na sustentabilidade ambiental. O processo de terceirização também
interfere na qualidade do trabalho no que concerne à falta de responsabilidade com
os encargos sociais e valorização do trabalhador. Assim, estes fatores são entraves
e podem promover descaminhos para o desenvolvimento local sustentável.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local Sustentável. Potencialidades locais.


Sustentabilidade econômica e ambiental.
8

ABSTRACT

The main objective of this research work constituted in the analysis of contributions
and the fetters of the purses’ factories in Serrolândia-Bahia for sustainable local
development. It treats of a Study of Case with qualitative and quantitative approach,
in which a bibliographic survey was done. It was done interviews with manufacturers
of the purses’ factories, and to the populations, focal groups with young people, men
and women. Visits were done to observation of reality, as well the application of
questionnaires to the populations and to the servants of the factories. Throughout the
work, we discussed the conceptions of development and its relation with
industrialization, focusing the sustainable local development as new alternative amid
the globalization impacts. The results obtained in this research show that the small
industry of purses in Serrolândia contributes to the local economy and guarantees
the economy sustainability for mobilizing the physical, territorial and social
potentialities of that town, and consequently, generating employees. However, we
evidenced there isn’t partnership between manufacturers of purses and the other
local social agents to share interests in terms to the planning ant to the realization of
the development of that town. We perceived that there’s still any preoccupation of
these factories related to environmental situation, due to production of residues
generated for them where this can interfere in environmental sustainable. The
process of outsourcing also interferes in q uality of work in relation to the lack of
responsibility with social incumbencies and valorization of workers. Thus, these
factors are obstacles and can “misguide” for sustainable local development.

Keywords: Sustainable local development. Local potentialities. Environmental and


economical sustainability.
9

LISTA DE QUADROS E MAPAS

Quadro 1: Padrões de Crescimento Econômico...............................................................31


Quadro 2: Principais eventos e organismos internacionais sobre Desenvolvimento e
Meio Ambiente........................................................................................................................60
Mapa 1: Estado da Bahia: Piemonte da Diamantina .......................................................72
Mapa 2: Estado da Bahia: Município de Serrolândia .......................................................73

LISTA DE FOTOS

Foto 1: Oficina de Convivência Comunidade/Universidade............................................33


Foto 2: Grupo focal de mulheres .........................................................................................75
Foto 3: Grupo focal de mulheres .........................................................................................75
Foto 4: Grupo focal de jovens ..............................................................................................76
Foto 5: Grupo focal de jovens ..............................................................................................76
Foto 6: Vista aérea da cidade de Serrolândia ...................................................................78
Foto 7: Palmeira do licuri da região de Serrolândia – BA ...............................................79
Foto 8: Bocapio: Artesanato feito com a palha do licuri ..................................................79
Foto 9: Quebra de licuri para comercialização ..................................................................80
Foto 10: Setor de layout/separação de cores para pintura .............................................85
Foto 11: Setor de corte .........................................................................................................85
Foto 12: Revelação de pintura das bolsas.........................................................................86
Foto 13: separação de peças para costura .......................................................................86
Foto 14: Setor de costura .....................................................................................................86
Foto 15: Setor de rebarba.....................................................................................................86
Foto 16: Setor de embalagem .............................................................................................86
Foto 17: Mercadoria pronta para ser transportada ...........................................................86
Foto 18: Grupo focal de homens .........................................................................................88
Foto 19: Grupo focal de homens .........................................................................................88
Foto 20: Curso de aprendizagem em modelagem e confecção de bolsas oferecido
pelo SENAI/ACIASE ..............................................................................................................99
10

Foto 21: Curso de aprendizagem em modelagem e confecção de bolsas oferecido


pelo SENAI/ACIASE ..............................................................................................................99
Foto 22: Material tóxico utilizado no setor de pintura.................................................... 108
Foto 23: Resto de matéria-prima depositada no fundo de uma fábrica de bolsa ..... 108
Foto 24: Lixo produzido pelas fábricas espalhado em vias públicas ......................... 108
Foto 25: Tubos de linha armazenados para serem trocados por matéria-prima ..... 108

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Desenvolvimento Local Sustentável.................................................................66


Gráfico 2: Importância das fábricas de bolsas para o desenvolvimento de Serrolândia
..................................................................................................................................................93
Gráfico 3: Melhoria da condição de vida dos funcionários das fábricas de bolsas .....94
Gráfico 4: Familiares da população entrevistada que trabalham ou já trabalharam em
fábricas de bolsas ..................................................................................................................95
Gráfico 5: Contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia, segundo a
população ................................................................................................................................96
Gráfico 6: Potencialidades de Serrolândia dinamizadas pelas fábricas de bolsas .....98
Gráfico 7: Parceria entre o poder público, os fabricantes de bolsas e a sociedade
civil para promoverem o desenvolvimento da cidade ................................................... 101
Gráfico 8: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo os
funcionários .......................................................................................................................... 103
Gráfico 9: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo a
população ............................................................................................................................. 104
Gráfico 10: Renda mensal dos funcionários das fábricas de bolsas .......................... 105
Gráfico 11: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo a
população ............................................................................................................................. 109
Gráfico 12: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo os
funcionários .......................................................................................................................... 110
Gráfico 13: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local
sustentável ........................................................................................................................... 112
11

Gráfico 14: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local


sustentável – Escolaridade................................................................................................ 113
Gráfico 15: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local
sustentável – Idade............................................................................................................. 115
Gráfico 16: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população
............................................................................................................................................... 116
Gráfico 17: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população
– Escolaridade ..................................................................................................................... 118
Gráfico 18: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população
- Renda ................................................................................................................................. 119
12

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACIASE – ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E AGROPECUÁRIA DE


SERROLÂNDIA
CES – COLÉGIO ESTADUAL DE SERROLÂNDIA
CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E CARIBE
CMMAD – COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO
DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO SUSTENTÁVEL
DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL
EBDA – EMPRESA BAIANA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA
FACEB – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS DO ESTADO DA
BAHIA
FGTS – FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IDH – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
INSS – INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL
ONG – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO
PNB – PRODUTO NACIONAL BRUTO
PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO
SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO
ESTADO DA BAHIA
SEI – SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA
UNESCO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A
CIÊNCIA E DA CULTURA
13

SUMÁRIO

Introdução..............................................................................................................................15

1 Concepções de Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização.........26


1.1 Concepções de Desenvolvimento ................................................................................28
1.2 Desenvolvimento e industrialização .............................................................................36

2 Desenvolvimento Local como nova alternativa frente aos impactos da


Globalização .........................................................................................................................41
2.1 Visões de Desenvolvimento Local................................................................................43
2.2 Como promover concretamente o desenvolvimento local........................................47
2.3 A proposta do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável – DLIS ...................49

3 Desenvolvimento Local Sustentável: Concepções e Desafios ...........................54


3.1 Da preocupação com a questão ambiental mundial ao conceito de
Desenvolvimento Sustentável..............................................................................................56
3.2 Movimentos sociais e eventos internacionais referentes ao Desenvolvimento e
Meio Ambiente........................................................................................................................59
3.3 Concepções de Desenvolvimento (Local) Sustentável.............................................62
3.4 Desenvolvimento Sustentável e as dimensões de Sustentabilidade......................67

4 A Cidade de Serrolândia e a chegada das Fábricas de Bolsas ...........................71


4.1 Conhecendo a Geografia de Serrolândia ....................................................................71
4.2 Conhecendo a História do lugar ...................................................................................76
4.3 Aspectos Econômicos de Serrolândia .........................................................................79
4.4 A chegada das Bolsas em Serrolândia........................................................................83

5 A indústria das bolsas em Serrolândia/BA e os (des) caminhos do


Desenvolvimento Local Sustentável ..............................................................................89
5.1 Contribuições da indústria de bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento
local sustentável .....................................................................................................................91
14

5.2 Entraves da indústria de bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento local


sustentável ........................................................................................................................... 100
5.3 A concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da população
serrolandense ...................................................................................................................... 111

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 121

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 125

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 130

SITES PESQUISADOS ..................................................................................................... 130

LISTA DE ENTREVISTADOS .......................................................................................... 131

APÊNDICES ........................................................................................................................ 132


15

INTRODUÇÃO

No novo tempo, apesar dos perigos. Da força mais bruta, da noite


que assusta, estamos na luta. Pra sobreviver (…).

(Novo Tempo – Ivan Lins)

Desde os primórdios da civilização humana, o planeta Terra vem passando por


grandes transformações tanto de ordem química quanto física, social, política,
econômica, cultural e ambiental. A presença do homem na Terra marcou uma
grande modificação dos ciclos naturais. A ação do seu trabalho e o uso de técnicas
de produção, cada vez mais aperfeiçoadas, proporcionou o surgimento de uma
organização social dominante que, com seus padrões de desenvolvimento,
promoveu novos modos de vida e controle sobre a natureza.

Os padrões de desenvolvimento adotados pela sociedade contemporânea, que se


baseia na lógica do lucro e consumo em massa, vêm sendo bastante questionados e
redefinidos. As inquietações emergiram em virtude de estes promoverem, de um
lado, o progresso e o crescimento material da produção, e, do outro, causarem
sérios problemas para a qualidade de vida das populações, sobretudo com a
concentração de renda, o aumento das desigualdades sociais e o desgaste dos
ecossistemas provocado pelas atividades econômicas. Surgiram, assim, novos
paradigmas de desenvolvimento que desconstroem a idéia de que este é sinônimo
de crescimento econômico que privilegia os aspectos quantitativos de riqueza
material com concentração de renda, bens e serviços. O crescimento econômico,
assim concebido, gera exclusão social por não se preocupar com a redução da
pobreza e do desemprego, bem como por não contemplar a participação de todos os
agentes sociais na tomada de decisões dos planos de desenvolvimento, no acesso à
cultura, à liberdade, oportunidade econômica.

A partir destas inquietações surgiu a expressão desenvolvimento sustentável que


aponta para uma mudança de paradigma que possa conjugar crescimento
16

econômico e proteção ao meio ambiente, associados à qualidade de vida para a


população. Por conseguinte, sentiu-se a necessidade de os governos elaborarem e
executarem políticas públicas eficazes com a participação de todos os agentes
sociais para que, assim, possam contribuir efetivamente para uma relação integrada
entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

O desenvolvimento sustentável é um tema polêmico e bastante discutido atualmente


por se propor a um conjunto de mudanças na forma de produção e consumo,
invertendo o quadro de degradação ambiental e miséria social. Este modelo
contesta os padrões tradicionais de desenvolvimento e pode promover um “novo
tempo” na luta pela sobrevivência, como salienta o compositor e cantor Ivan Lins,
tanto da atual como das futuras gerações.

A necessidade de mudanças também perpassa pela dimensão local, ou seja,


espaços socioterritoriais delimitados onde há a participação da comunidade local no
processo de desenvolvimento, tornando dinâmicas as potencialidades da localidade,
além de promover modos de vida mais sustentáveis. Podemos falar, então, de
desenvolvimento local sustentável, processo simultâneo, oposto e, ao mesmo
tempo, complementar à globalização já que esta não é um processo que engloba
todo o planeta, sendo necessário reconhecer a importância da dimensão local. No
desenvolvimento local sustentável devem estar envolvidos, de maneira articulada, o
governo, a sociedade civil e o setor privado, com destaque às micros e pequenas
empresas, visando à eficiência econômica em consonância com a melhoria da
qualidade de vida das populações e a sustentabilidade dos ecossistemas.

Contudo, sabemos que no processo de industrialização a maioria das empresas


ainda não incorporara a temática socioambiental nos seus modelos de gestão e
muitos empresários não aceitam a possibilidade de se obter, conjuntamente, o
crescimento econômico e a proteção do meio ambiente. Partindo destas
inquietações, o presente trabalho intitulado “A indústria de bolsas em Serrolândia –
Ba e os (des) caminhos para o desenvolvimento local sustentável” tem como objeto
de estudo as fábricas de bolsas sintéticas (couro, napa, nylon, bagum) e
personalizadas da cidade de Serrolândia a qual está localizada na região Econômica
Piemonte da Diamantina, no estado da Bahia. Entendendo que o desenvolvimento
17

local sustentável deve levar em consideração não só a dimensão econômica, mas


social, cultural, ética e ambiental, o cerne da problemática da pesquisa gira em torno
da seguinte questão: quais as contribuições e os entraves destas fábricas para o
desenvolvimento local sustentável, visto que estas empresas exercem grande
influência sócio-econômica no local?

Por acreditar que o estudo desta temática é de grande relevância não só para meu
campo profissional e acadêmico, mas, sobretudo, para a sociedade serrolandense
no que tange à implantação e atuação da indústria de bolsas e os (des) caminhos do
desenvolvimento local sustentável, é que justifico a importância desta pesquisa. Ao
longo dos últimos anos o número de fábricas de bolsas instaladas nesta cidade
aumentou consideravelmente, promovendo uma reestruturação do espaço
geográfico local. Desta forma, a importância deste trabalho se dá também pela
intervenção na realidade através da análise dos fatos locais e as discussões sobre a
participação dos agentes sociais locais para promoverem o desenvolvimento local
sustentável. O referido trabalho também é importante devido à preocupação com a
questão ambiental da cidade em relação à implantação e atuação destas fábricas de
bolsas. O aprofundamento teórico sobre essa questão reforça o caráter científico da
pesquisa e os rumos que ela irá tomar.

Entendendo o sentido metafórico da palavra caminho como uma direção para se


chegar a um determinado ponto, meta, lugar, fim, vale ressaltar que o prefixo de
negação “des” utilizado no título da dissertação não aparece de maneira aleatória,
mas sim, visando sinalizar o que será discutido ao longo do trabalho. A pesquisa
visa apresentar se o caminho para o desenvolvimento local sustentável em
Serrolândia está sendo percorrido de maneira contrária, ou seja, está sendo um
descaminho, se existem entraves para se chegar a tal propósito, ou se está sendo
percorrido com êxito para alcançar a efetivação deste modelo de desenvolvimento.

O município de Serrolândia é de pequeno porte, com área de 375,2 Km², e conta


com uma população que chega a 13 000 habitantes sendo que em sua área urbana
tem aproximadamente 7000 pessoas. Possui uma quantidade significativa de
fábricas de bolsas personalizadas instaladas na sede do município. Estas empresas
são do ramo da indústria de transformação de bens de consumo. Atualmente
18

chegam a 10 estabelecimentos registrados na Secretaria da Receita Federal/


Secretaria Estadual da Fazenda e usam equipamentos modernos para a produção
das bolsas, as quais possuem diversos modelos como: esportivas, malas para
viagens, escolares, infantis, necessaries, pochetes, bolsas para eventos de diversas
naturezas, etc. Estas empresas contam com um mercado consumidor formado por
óticas, casas de materiais esportivos e de construções, farmácias, casas de
revelação fotográfica, lojas de celulares etc., utilizando-as como brindes. Este
mercado consumidor está situado em todos os estados do Brasil, sobretudo Bahia,
Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Distrito Federal, Goiânia, Rio de Janeiro e São
Paulo. A matéria-prima para a confecção dos produtos, principalmente a derivada do
petróleo como nylon, napa e bagum, em sua maior parte, é importada e a outra
como zíper, cursor, linha e tinta vem principalmente de Rio de Janeiro e São Paulo,
mas também já está sendo oferecida na própria cidade.

É importante ressaltar que estas fábricas foram originadas pelos próprios moradores
da cidade no início da década de 1990 e implantadas sem nenhum incentivo dos
órgãos públicos estadual e municipal, dispondo apenas de criatividade e recursos
próprios de seus fabricantes e, mesmo assim, conseguiram se consolidar na cidade
de Serrolândia e expandir seu mercado consumidor. Atualmente geram
aproximadamente 300 empregos diretos e contam com o processo de terceirização
da produção, contribuindo para uma produtividade em larga escala e em curto tempo
sem que os fabricantes tenham que se preocupar com os encargos sociais e as
condições de trabalho dos funcionários – o que pode ser um entrave para o
desenvolvimento local sustentável.

Considerando esta realidade, o trabalho objetiva analisar as contribuições e os


entraves da indústria de bolsas em Serrolândia-Ba para o desenvolvimento local
sustentável. É um estudo que versa sobre o entendimento da dinâmica do modo de
produção capitalista e suas marcas no processo de desenvolvimento da sociedade
serrolandense.

O referido trabalho também tem como intenção compreender como estas fábricas
utilizam as potencialidades locais; saber como se relacionam com os demais
agentes sociais locais; analisar o papel destas fábricas na geração de empregos e
19

dinamização da economia local; verificar como o processo de terceirização da


produção interfere na qualidade do trabalho; bem como analisar os impactos
ambientais locais causados pela indústria de bolsas.

Com base nos objetivos estabelecidos, a pesquisa constitui-se num estudo de caso
que se serviu, primeiramente, do uso de fontes de análise bibliográfica em
bibliotecas e Internet, leitura de teses, dissertações, monografias, livros e demais
obras que tratam das concepções teóricas de desenvolvimento, Industrialização,
desenvolvimento local e sustentável. As reflexões de alguns autores como Augusto
de Franco (2000, 2002), Enrique Leff (2000, 2001), Guillermo Foladori (2001), Ignacy
Sachs (2002, 2004, 2007), Joyal e Martinelli (2004), Milton Santos (2001, 2004a,
2004b, 2005) entre outros, foram de extrema importância para a fundamentação
teórica e realização deste trabalho. Também realizei consultas em documentos do
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado da Bahia – SEBRAE;
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI; Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e dos órgãos públicos e entidades
sociais da cidade tais como: Prefeitura, Câmara Municipal e a Associação
Comercial, Industrial e Agropecuária de Serrolândia – ACIASE, bem como análise
dos dados e comparação com a base teórica.

Segundo Goldenberg (2005), o estudo de caso reúne uma grande quantidade de


informações detalhadas com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e
descrever a complexidade de um caso concreto e delimitado, sem prete nsão de
generalizar. Desta forma, a pesquisa desenvolve a abordagem qualitativa de caráter
exploratório, visando obter maior familiaridade com o problema pesquisado e levar
ao conhecimento da realidade.

A pesquisa qualitativa, diferente da visão positivista de objetividade e de separação


radical entre sujeito e objeto, visa compreender e explicar a dinâmica das relações
dos fenômenos em estudo para se obter o conhecimento, permite a contextualização
e interpretação da realidade, assim como a atribuição dos significados por
considerar que existe uma relação dinâmica entre o mundo objetivo e a
subjetividade (GOLDENBERG, 2005). Segundo Minayo (1994) a pesquisa qualitativa
responde a questões muito particulares, trabalha de maneira dinâmica com o mundo
20

de significados, motivos, valores, crenças, atitudes; se adéqua a um espaço mais


profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não se restringem à
operacionalização de variáveis.

Para Martins (2004), a metodologia qualitativa privilegia a análise de micro


processos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais com a
realização do um intensivo exame dos dados, tanto em amplitude quanto em
profundidade, que desafiam o pesquisador. Os dados obtidos qualitativamente
exigem do pesquisador uma capacidade integrativa e analítica. A coleta e análise
dos dados devem seguir uma flexibilidade e criatividade do pesquisador devido à
variedade de material obtido para o estudo. Desta forma, minha intenção não foi
utilizar a metodologia para fornecer as regras de como fazer a pesquisa ou seguir
um único padrão de trabalho científico, mas, permitir a reflexão aprofundada da
realidade de forma criadora.

Considerando, que a metodologia qualitativa nos permite trabalhar com a vivência, a


experiência, a cotidianidade e com a compreensão das organizações institucionais
(MINAYO, 1994), foram utilizadas técnicas como entrevistas orais, semi-estruturadas
e abertas à população, aos trabalhadores e fabricantes das fábricas, pessoas
envolvidas direta e indiretamente com o objeto de estudo, para obtenção de
informações. Entrevistamos também pessoas que desempenharam papéis
significativos na história da indústria de bolsas em Serrolândia as quais foram: Noel
Roque Rodrigues, primeiro fabricante de bolsas e cidadão serrolandense (quem
trouxe a experiência de outra cidade), e, Raulinda Maria Oliveira, primeira costureira
da fábrica de Noel. Foi feita observação da realidade através de visitas a campo em
dez fábricas para examinar o fenômeno em estudo. É importante registrar que das
dez fábricas existentes na cidade, não foi possível entrevistar todos os fabricantes,
apesar das várias tentativas, porque alguns não se mostraram interessados em
participar das entrevistas. Foram entrevistados apenas cinco empresários e, um
deles se recusou a gravar as informações, alegando evitar problemas futuros.
Contudo, os relatos serviram para embasar as discussões contidas no capítulo 5 (A
indústria de bolsas em Serrolândia e os (des) caminhos para o desenvolvimento
local sustentável).
21

Vale ressaltar que, também obtivemos informações dos participantes da “Oficina de


Convivência Comunidade/Universidade, promovida pelo Mestrado Multidisciplinar
em Cultura Memória e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB- Campus V) e realizada na cidade de Serrolândia, a qual tratou de
discussões sobre participação e política para o desenvolvimento local. Os
participantes da oficina opinaram sobre as concepções de desenvolvimento e
crescimento econômico, participação da sociedade civil, do governo local e do
mercado. As discussões estão contidas no capítulo 1 (Concepções de
Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização).

Foram realizados três grupos focais de 10 integrantes cada: de jovens, de homens e


de mulheres dentre os moradores de Serrolândia. Tais grupos foram esclarecedores
quanto às informações referentes à implantação e atuação das fábricas de bolsas e
sua importância socioeconômica para a sociedade serrolandense, e, serviram para a
elaboração dos questionários e discussões em todo o trabalho. Vale ressaltar que o
grupo focal de jovens foi realizado no Colégio Estadual de Serrolândia – CES, com
alunos do Ensino Médio da zona urbana e rural do município. A faixa etária dos
participantes foi determinada a partir dos 16 anos de idade, por estes possuírem
mais experiência em relação ao conhecimento do objeto de estudo que são as
fábricas de bolsas. Os grupos focais de mulheres e homens foram realizados no
espaço do Centro Cultural de Serrolândia com pessoas convidadas de várias
instâncias sociais como: professores, comerciantes, representantes de associações,
funcionários públicos entre outros.

É importante destacar que, todos os grupos focais se mostraram interessados em


participar das entrevistas as quais se seguiram com o uso de gravador; e, nenhum
participante dos grupos se sentiu receoso em expor suas opiniões, sentimentos e
percepções em relação ao objeto de estudo. Destarte, os relatos dos grupos focais
facilitaram ainda mais a análise das contribuições e os entraves das fábricas de
bolsas para o desenvolvimento local sustentável de Serrolândia.

As entrevistas com os fabricantes de bolsas, grupos focais e demais segmentos


sociais envolvidos, direta ou indiretamente, com a indústria de bolsas de Serrolândia
ocorreram no período de 31 de agosto a 30 de outubro de 2008. A intenção de
22

realizar as referidas entrevistas foi a de adquirir uma explanação mais detalhada do


objeto de estudo, bem como a elaboração dos questionários aplicados à população
e aos funcionários das fábricas de bolsas.

Apesar da importância das técnicas qualitativas para o estudo de caso, já que “[…]
não é possível formular regras precisas sobre as técnicas utilizadas […] porque cada
entrevista ou observação é única: depende do tema, do pesquisador e de seus
pesquisados” (GOLDENBERG, 2005, p. 34), não pude deixar de utilizar das
contribuições da pesquisa quantitativa com o uso de recursos e técnicas estatísticas.
Segundo E.Burges (1927 apud GOLDENBERG 2005 p. 30) “[…] os métodos da
estatística e dos estudos de caso não são conflitivos, mas mutuamente
complementares e que a interação dos dois métodos poderia ser muito fecunda”.
Minayo (1994) confirma esta idéia ao abordar que o conjunto de dados quantitativos
e qualitativos não se opõe, ao contrário, se complementam, pois a realidade
compreendida por eles interage de forma dinâmica excluindo qualquer dicotomia.

Segundo Goldemberg (2005) as comparações estatísticas podem sugerir pistas para


o estudo de caso. Desta forma, acreditando que a pesquisa quantitativa contribui
para a classificação e análise das opiniões e informações no estudo da minha
problemática, apliquei questionários a 120 pessoas, somando um total de 1% da
população absoluta local (12.120 habitantes, segundo dados do IBGE, 2007), bem
como 10% dos funcionários das 10 fábricas visitadas (30 pessoas) para a obtenção
de dados estatísticos sobre as informações analisadas. Cada questionário (Apêndice
I) continha quatro variáveis de análise (Sexo, Renda, Escolaridade e Idade), além de
14 questões para os funcionários e 13 para a população, concernentes à
importância da indústria de bolsas para Serrolândia, suas contribuições e os
entreves para o desenvolvimento local sustentável, o trabalho no interior das
fábricas, o processo de terceirização da produção e os impactos ambientais
causados pelas mesmas. Os questionários foram aplicados e tabulados entre os
meses de novembro de 2008 a janeiro de 2009 e os dados obtidos nos mesmos
auxiliaram as discussões do capítulo 5 desta dissertação, apresentando uma análise
da indústria de bolsas em Serrolândia e os (des) caminhos para o desenvolvimento
local sustentável.
23

Como sabemos, não é a primeira vez que se discute sobre desenvolvimento e


industrialização, desenvolvimento local e sustentável no mundo acadêmico e
científico. No entanto, apesar da vasta literatura encontrada sobre esta temática,
acredito que a partir do estudo deste caso poderão surgir novas discussões e
debates com preocupações análogas, propiciando a ampliação do conhecimento
científico. A abordagem sobre esta temática implica no entendimento de questões
globais para chegar ao problema em estudo.

Portanto, esta dissertação divide-se em cinco capítulos: No primeiro – “Concepções


de Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização” – optei por realizar uma
abordagem teórica sobre as redefinições do conceito de desenvolvimento e as
transformações socioespaciais ocorridas no mundo ao longo do tempo pela ação
humana, assim como, a discussão sobre a visão distorcida de desenvolvimento
como sinônimo de crescimento. Este capítulo está dividido em sub-capítulos os
quais abordam as concepções de desenvolvimento e seu caráter multidimensional,
bem como a relação entre desenvolvimento e indústria com ênfase na Revolução
Industrial e suas marcas na organização das sociedades.

O segundo capítulo, intitulado “Desenvolvimento Local como nova alternativa frente


aos impactos da Globalização”, traz a discussão sobre desenvolvimento local em
tempos de globalização e a importância da descentralização político-administrativa
para estimular este processo com alocação de recursos para o local, bem como o
fortalecimento das pequenas e médias empresas através de iniciativas econômicas
e sociais. Em seus sub-capítulos discutimos as visões de desenvolvimento local e os
fatores que contribuem para tornar dinâmicas as potencialidades de uma dada
localidade. Dá ênfase ao desenvolvimento endógeno e aos capitais, humano, social
e natural, que devem ser empregados no processo de desenvolvimento local, como
também à abordagem da metodologia de Desenvolvimento Local Integrado
Sustentável – DLIS enquanto nova estratégia para melhorar a qualidade de vida das
populações e garantir a inserção econômica de determinados locais no mundo
globalizado.

No terceiro capítulo – “Desenvolvimento Local Sustentável: Concepções e desafios”


– também é feita uma discussão teórica sobre a crise ambiental mundial, as
24

concepções de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Neste capítulo é


dada uma ênfase sobre a preocupação mundial referente à extração dos recursos
naturais e consumo de energia e matéria, provocada principalmente pelos modelos
tradicionais de desenvolvimento e crescimento econômicos e pelas relações
capitalistas de produção. Seus sub-capítulos abordam os dilemas e desafios
encontrados para se obter a efetivação do desenvolvimento sustentável na realidade
atual. A abordagem das cinco dimensões de sustentabilidade – social, econômica,
ecológica (ou ambiental), espacial e cultural – foi necessária para percebermos que
esta pode ser considerada como o meio fundamental para introduzir o meio
ambiente nas discussões referentes à necessidade de implementação de políticas
públicas em todos os Estados e organismos internacionais. Assim, evidenciei o
estudo das dimensões econômica e ambiental de sustentabilidade, as quais estão
relacionadas diretamente com objeto desta pesquisa.

No quarto capítulo, intitulado “A cidade de Serrolândia/Ba e a chegada das fábricas


de bolsas” é feita a caracterização do município de Serrolândia, apresentando os
seus aspectos geográficos e históricos; também traz uma abordagem do processo
de implantação das fábricas de bolsas nesta cidade e a caracterização desta
atividade industrial para situar o leitor em relação ao problema da pesquisa.

Finalmente, no quinto capítulo – “A indústria de bolsas em Serrolândia e os (des)


caminhos para o desenvolvimento local sustentável” – a abordagem se baseia na
análise da realidade das fábricas de bolsas no que tange às suas contribuições e
entraves para o desenvolvimento local sustentável. Neste capítulo utilizei as
informações adquiridas na pesquisa de campo e nos questionários aplicados à
população e aos funcionários das fábricas de bolsas. A discussão também está
relacionada à concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da
população serrolandense, bem com a existência ou não deste modelo de
desenvolvimento na cidade de Serrolândia, segundo a opinião dos entrevistados.

Nas considerações finais apresento o conjunto de observações e reflexões


desenvolvidas neste trabalho de pesquisa, bem como aponto sugestões de
mudança e superação dos problemas existentes, principalmente em relação às
contribuições e os entraves das fábricas de bolsas em Serrolândia para o
25

desenvolvimento local sustentável. Portanto, considero que este trabalho é de


extrema importância para a sociedade serrolandense, por contribuir para um olhar
mais crítico sobre práticas e relações sociais desta cidade, bem como para a
discussão do tema desenvolvimento local sustentável
26

1 CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E SUA RELAÇÃO COM A


INDUSTRIALIZAÇÃO

Quem espera sempre alcança. Eu espero e não me canso. Cantando


a gente avança. Para depois ter descanso. Cheguei trazendo
esperança. Cantando em tempo de avanço.

(Em tempo de Avanço – Almir Sater).

As constantes transformações políticas, sociais, culturais e ambientais ocorridas no


mundo ao longo do tempo histórico estão diretamente re lacionadas à capacidade do
homem em organizar-se e viver em comunidade. A espécie humana produz cultura e
acumula conhecimento, apropria-se cada vez mais do meio natural transformando-o
para satisfazer suas necessidades, tanto biológicas quanto socioculturais. A
presença do homem no planeta é muito recente, porém já se disseminou por quase
toda a superfície terrestre e as distintas modificações que imprimiu e continua
imprimindo são enormes. Vale ressaltar que o homem é um ser social, político e
agente da história que, através da ação do trabalho no seu cotidiano e o uso de
novas técnicas e instrumentos, produz o espaço geográfico, transforma a natureza e
constitui o ambiente em que vivemos. Isto ocorre através das relações dialéticas
estabelecidas na sociedade em que vive e entre esta e a natureza, a qual vem se
tornando cada vez mais artificializada.

As sociedades em seus processos de desenvolvimento e com o uso das ciências


passam a produzir mais, consumir cada vez mais energia e matéria, fabricar e
comercializar diversos produtos, acumular riquezas e transformar o meio natural. É
nesse cenário de transformações pelas quais passam as civilizações
contemporâneas que o termo desenvolvimento se apresenta, sobretudo nas ciências
humanas e ambientais, sendo necessário seu entendimento para que possamos
avaliá-lo, seja sob um aspecto negativo ou positivo. É importante destacar sua
relação com o processo de industrialização, os impactos causados na sociedade
moderna e, numa escala local, na sociedade serrolandense, especificamente devido
à dinâmica da produção de bolsas personalizadas, objeto de estudo desta pesquisa,
como veremos detalhadamente nos próximos capítulos.
27

O desenvolvimento é um processo dinâmico que não atinge todos os espaços ao


mesmo tempo e se apresenta numa multiplicidade de escalas, desde a global até a
local, com características distintas. O desenvolvimento também apresenta
dimensões econômica, social, cultural e ambiental.

O conceito de desenvolvimento vem sendo redefinido a partir dos debates e


reflexões acerca do tema, apontando novas compreensões, principalmente, com as
mudanças nas configurações políticas e territoriais que se acentuaram na década de
1940. Nesse período, estava ocorrendo o processo de colonização européia,
sobretudo na África e na Ásia, e os problemas advindos da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Os países, especialmente os envolvidos na guerra, tiveram intenção de
se livrarem da pobreza, do desemprego em massa, das desigualdades sociais,
econômicas, entre outros problemas (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006). A intenção
era promover o progresso e a melhora das condições de vida da população de
várias regiões do mundo, visando à reconstrução do pós-guerra, com a necessidade
da intervenção do Estado nos assuntos econômicos para criarem condições de
obterem seguridade econômica e social. Segundo Sachs (2004):

[…] a reflexão sobre desenvolvimento tal como se conhece hoje,


começou nos anos 40, no contexto da preparação dos anteprojetos
para a reconstrução da periferia devastada da Europa no pós-guerra.
Refugiados antifascistas húngaros, poloneses e alemães, residentes
na Grã-Bretanha, foram mobilizados para esta tarefa, na suposição
de que o Leste Europeu não cairia sob a influência soviética – a
conferência de Yalta não tinha acontecido ainda (SACHS, 2004, p.
30).

Segundo Oliveira e Souza-Lima (2006), a Organização das Nações Unidas (ONU)


criada em 1945 para manter a paz e a segurança mundial, apoiada em instituições
internacionais, também contribuiu significativamente para os debates acerca do
conceito de desenvolvimento. A ONU criou vários programas e organismos
especiais, para tratar dos problemas econômicos, sociais, ambientais, culturais e
humanitários dos países aliados, visando elevar os níveis de desenvolvimento e
melhorar a qualidade de vida e as liberdades fundamentais das pessoas.
28

A redefinição do conceito de desenvolvimento se acentuou, sobretudo, a partir da


década de 1970, devido ao longo do tempo ter sido adotado alguns padrões de
desenvolvimento, nas sociedades humanas, de caráter insustentável que
impulsionaram os problemas socioeconômicos citados anteriormente, bem como, o
processo de degradação ambiental, o qual se acelerou neste período. Estes
problemas ocasionaram uma grande crise com o acelerado uso e depreciação dos
recursos naturais para atender às exigências do processo internacional de
industrialização de bens e consumo. As reflexões foram realizadas por intelectuais,
movimentos sociais e ecológicos, pela mídia e por Organizações Não
Governamentais (ONGs) nacionais e internacionais, devido à preocupação com as
constantes agressões ao meio ambiente. Com a necessidade de se integrar o meio
ambiente às estratégias de desenvolvimento, este ganhou novas conotações, como
ecodesenvolvimento e atualmente desenvolvimento sustentável (SACHS, 2004),
como veremos mais adiante.

Uma nova discussão que vem sendo muito debatida e que será mais bem
trabalhada no próximo capítulo, é sobre a concepção de desenvolvimento local,
frente aos fluxos da globalização em curso, reestruturação do modo de produção
industrial e novas demandas do mercado. Este processo de desenvolvimento se
propõe a apresentar novos agentes sociais que se articulem e, através de ações e
alternativas coletivas, visem dinamizar as potencialidades de uma dada comunidade,
região, cidade, ou seja, a partir das pessoas que vivem num dado local ou unidade
socioterritorial delimitada. È um processo em que seus agentes orientem para novas
formas de produção que assegurem a conservação dos recursos naturais, gerem
empregos e superem a pobreza (BUARQUE, 2002; FRANCO, 2000).

1.1 Concepções de Desenvolvimento

Sabemos da dificuldade de se estabelecer uma ordem teórico-metodológica sobre a


concepção de desenvolvimento já que o conceito é bastante complexo e amplo,
29

além de apresentar um caráter multidimensional 1 e estar presente nos diversos


setores que compõem a sociedade. Alguns autores acreditam que o conceito tem
um caráter fugidio, embora necessite ter um caráter operacional (SACHS, 2004).

Segundo Mendes (in Cavalcanti, 1998) o desenvolvimento é considerado como uma


criação de condições propensas à produção do ser humano em sua integridade. O
autor acredita que o desenvolvimento econômico é importante, mas é preciso
incorporar objetivos e destinar-se a certos fins como alimento, abrigo, educação,
saúde, etc., para promover o desenvolvimento humano. Contudo, podemos dizer
que o termo desenvolvimento pressupõe progresso, mudança e evolução, seja esta
social ou natural, atrelada aos avanços tecnológicos para atender aos interesses e
às necessidades fundamentais de uma dada sociedade.

As transformações sócio-históricas influenciaram ideologicamente na gênese e


legitimação do conceito de desenvolvimento. Em termos históricos a idéia
encontrada na Antiguidade Clássica é a de atender às necessidades humanas e,
através de uma harmonia social, alcançar o bem-estar para todas as pessoas e
reparar as desigualdades existentes nas sociedades, sendo que o interesse
individual deve estar ligado a um projeto de bem comum (ANDION, 2003).

Contudo, com o advento do capitalismo, principalmente a partir do século XVIII, com


a Primeira Revolução Industrial, o interesse coletivo de bem-estar social recai sobre
uma forma de interesse pessoal de ambição e acumulação que se legitima na
sociedade que surge. Em muitas partes do mundo, onde se valorizou a busca
desenfreada pela industrialização e a preocupação de muitos países em acumular
mais riquezas materiais, o conceito de desenvolvimento foi reduzido, sobretudo à
sua dimensão econômica, sendo realizado através de uma centralização por parte
de uma minoria dominadora e hegemônica das classes sociais e dos diversos
países do mundo. É o chamado desenvolvimento desigual do capitalismo com a
expressão geográfica da contradição (SMITH, 1988).

1
Oliveira e Souza-Lima (2006) afirmam que o desenvolvimento pode ser encarado como um
processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e,
principalmente, humana e social.
30

Podemos concluir que alguns autores discutem o conceito de desenvolvimento a


partir do aspecto quantitativo, associado ao conceito de crescimento econômico
medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), renda per capta e PIB per capta. Esta é
uma visão clássica que considera o desenvolvimento como foco de acumulação de
riqueza material, monetária, a partir do crescimento das forças produtivas, e do
aumento do nível de renda, bens e serviços – concentrados nas mãos de uma
minoria dominante –, sendo o crescimento econômico condição favorável para o
alcance da meta do desenvolvimento econômico (FAVERO, 2002). Camargo (2003,
p. 29), afirma que nesta visão clássica “[…] o desenvolvimento usa os recursos
humanos, financeiros a infra-estrutura e os recursos naturais, compromissado com a
idéia de lucro gerador do progresso”. Nesse caso, não há uma preocupação de
como a renda é distribuída e se as desigualdades (como vemos entre os países
desenvolvidos e os subdesenvolvidos), a pobreza e o desemp rego são atenuados.

Os economistas ligados à Comissão Econômica para a América Latina e Caribe


(CEPAL), que discutem sobre os rumos das economias latino-americanas,
apresentaram uma distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico, O
primeiro é o resultado de mudanças qualitativas enquanto que o segundo é
considerado como o processo de mudanças quantitativas, tanto econômica quanto
socialmente. Confirmando esta afirmação Sachs (2004) traz uma contribuição
acerca da visão distorcida de que o desenvo lvimento é sinônimo de crescimento, e
acrescenta alguns elementos importantes para o entendimento do tema:

O crescimento, mesmo que acelerado, não é sinônimo de


desenvolvimento se ele não amplia o emprego, se não reduz a
pobreza e se não atenua as desigualdades, conforme enfatizado,
desde os anos 1960, por M. Kalecki e Dudley Seers. De acordo com
o mesmo raciocínio, não é suficiente promover a eficiência alocativa.
O desenvolvimento exige, conforme mencionado, um equilíbrio de
sintonia fina entre cinco diferentes dimensões. Ele também exige que
se evite a armadilha da competitividade espúria e, em última
instância, autodestrutiva, com base na depreciação da força de
trabalho e dos recursos naturais (SACHS, 2004, p. 14).

Desta forma, o desenvolvimento vai além da concepção de crescimento econômico


que acaba sendo excludente, e concentrador, pois, como já foi comentado, não há
uma preocupação com o fato de que grande parte da população será excluída desse
processo. Sachs (2004), ao discutir sobre os padrões de crescimento econômico
31

afirma que só há desenvolvimento quando o crescimento econômico for promovido


com impactos sociais e ambientais positivos, como mostra o Quadro 1 a seguir:

Impactos Impactos
sociais ambientais
1- Desenvolvimento + +
2- Selvagem - -
3- Socialmente benigno + -
4- Ambientalmente - +
benigno
Quadro 1: Padrões de Crescimento Econômico
Fonte: SACHS, 2004, p. 36.

Por outro lado, Celso Furtado (1996) nos apresenta uma idéia diferente: a de que o
desenvolvimento econômico possui algumas características, como concentração da
riqueza da terra, da renda e do poder das forças hegemônicas da economia. O autor
afirma que, além de promover a competitividade e a desigualdade social e
econômica, como também a extração ilimitada dos recursos naturais renováveis e
não-renováveis e o consumo desenfreado pelas populações, esse desenvolvimento
não passa de um mito:

Temos assim a prova cabal de que o desenvolvimento econômico –


a idéia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das
formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável.
[…] Cabe, portanto, afirmar que a idéia de desenvolvimento
econômico é um simples mito. Graças a ela, tem sido possível
desviar as atenções da tarefa básica de identificação das
necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que
abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em
objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o
crescimento (FURTADO, 1996, p. 89-90).

Veiga (2005) cita os relatórios elaborados pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e afirma que o desenvolvimento:

[…] tem a ver, primeiro e acima de tudo, com a possibilidade de as


pessoas viverem o tipo de vida que escolheram, e com a provisão
dos instrumentos e das oportunidades para fazerem as suas
escolhas. E, ultimamente o Relatório do Desenvolvimento Humano
tem insistido que essa é uma idéia tão política quanto econômica. Vai
desde a proteção dos direitos humanos até o aprofundamento da
democracia (VEIGA, 2005, p. 81).
32

O autor critica a idéia de que o desenvolvimento pode ser medido pelo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) que é uma média comparativa (de 0 a 1) dos
índices de renda, escolaridade e longevidade. Acredita que o IDH não é “[…] uma
medida compreensiva, pois não inclui, por exemplo, a capacidade de participar nas
decisões que afetam a vida das pessoas e de gozar do respeito dos outros na
comunidade” (VEIGA, 2005, p. 87), mesmo assinalando a diferença entre
rendimento e bem-estar de uma determinada comunidade.

Numa avaliação do desenvolvimento econômico da década de 1970, alguns


economistas concluíram que o crescimento não traz justiça social e que não devem
ser implementados programas de redistribuição de renda de cima para baixo. Nesta
perspectiva, afirma-se que é necessário compreender que a satisfação das
necessidades dos pobres e de todos os seres humanos inclui também a liberdade, a
participação e o acesso à cultura. Este argumento nos leva a uma inquietação: como
implementar a participação popular num mundo capitalista marcado por contradições
de classe, numa sociedade de dominantes e dominados? Amartya Sen (2000)
responde a esta pergunta ao afirmar que o desenvolvimento requer remoção das
fontes de privação da liberdade que são: a pobreza, carência de oportunidades
econômicas, repressão social e política, negligência dos serviços públicos, etc. A
privação da liberdade vincula-se à carência de serviços públicos e assistência social
(principalmente a educação) ou intolerância excessiva de Estados repressivos.

Segundo Sen (2000) existem tipos distintos de liberdades – políticas, facilidades


econômicas e oportunidades sociais bem como a garantia de transparência e
segurança protetora –, ou seja, liberdades humanas ou liberdades reais que devem
ser expandidas através do desenvolvimento. “[…] ter mais liberdade melhora o
potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo,
questões centrais para o processo de desenvolvimento” (SEN, 2000, p.33). Souza
(2002), discutindo sobre o desenvolvimento sócio-espacial, afirma que a autonomia
também faz parte deste processo, ou seja, a autonomia individual e coletiva, que
concilia o respeito à alteridade com a exigência de igualdade, é parâmetro essencial
do desenvolvimento sócio-espacial.
33

Essa afirmação ajuda-nos a compreender que uma concepção adequada de


desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza, o aumento da renda
per capta e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto
(PNB). O desenvolvimento deve estar relacionado com a melhora da vida que
levamos, assegurando, a partir da autonomia, o nosso bem-estar e as liberdades de
que desfrutamos, considerando o número de pessoas que têm acesso a serviços de
saúde, saneamento básico, educação, emprego remunerado, segurança econômica
e social. Essa afirmação se evidencia no posicionamento de algumas pessoas da
comunidade de Serrolândia, em entrevista realizada na Oficina de Convivência
Comunidade/Universidade 2 promovida pelo Mestrado Multidisciplinar em Cultura
Memória e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (UNEB -
Campus V), como nos mostra a fotografia a seguir:

Foto 1: Oficina de Convivência Comunidade/Universidade


Elaboração: Ivaneide Santos, maio de 2007.

A Foto 1 mostra a realização da dinâmica de integração ocorrida na oficina sobre o


tema desenvolvimento. No centro os participantes colocaram seus posicionamentos,

2
A Oficina de Convivência Comunidade/Universidade foi realizada na cidade de Serrolândia
no dia 26 de maio de 2007, com a participação de 30 pessoas dentre elas, representantes
das fábricas de bolsas. O tema central da oficina foi “Participação e política para o
Desenvolvimento Local” com ênfase na realidade de Serrolândia.
34

os quais foram: em Serrolândia não há desenvolvimento, mas sim crescimento


econômico promovido pelas fábricas de bolsas; os recursos existem, mas são mal
administrados; a educação tem progredido, mas falta mais empenho por parte do
poder público; o desenvolvimento só será possível com educação através de
investimentos por parte do poder público que, também deve proporcionar melhores
oportunidades de trabalho.

Diante da intervenção dos participantes da Oficina de Convivência


Comunidade/Universidade e dos argumentos defendidos, observamos que algumas
pessoas têm uma visão mais ampla de desenvolvime nto, em conformidade com a
concepção dos autores citados anteriormente. Nesta perspectiva, o crescimento
econômico é acompanhado de melhoria na qualidade de vida e preservação dos
ambientes naturais a partir dos indicadores de bem-estar econômico e social. Neste
sentido, devem ser levados em conta a redução dos níveis de pobreza, desemprego
e desigualdade, além da melhoria nos níveis de saúde, educação, moradia e
transporte.

Confirmando essa idéia, Joyal e Martinelli (2004) ao questionarem as análises do


desenvolvimento econômico que considera apenas as questões financeiras,
tributárias e de geração de receitas, apontam para a necessidade de um enfoque
sistêmico, integrando outras variáveis sócio-culturais:

[…] para avaliar o desenvolvimento, também devem ser


consideradas variáveis políticas, tecnológicas, sociais, ambientais e
de qualidade de vida da população. Algumas delas são de natureza
pluridimensional, como a qualidade de vida, que abarca, entre outros
índices, o acesso à educação, as opções culturais, as condições de
atendimento médico, a previdência social e o lazer da população.
Assim, não se pode mais simplesmente considerar índices isolados,
como renda per capita, para indicar o grau de desenvolvimento de
uma sociedade, visto que o complexo sentido do conceito deve
abranger toda a expressão do termo humanidade (JOYAL;
MARTINELLI, 2004, p. 52).

Diante da opinião dos autores, podemos concluir que a dimensão cultural do


desenvolvimento se apresenta com bastante evidência, sendo esta um aspecto
qualitativo que não pode ser medido e quantificado. Os valores prevalecentes como
os costumes sociais, os aspectos ligados aos direitos humanos, as liberdades
35

individuais e coletivas e a conquista do conhecimento são fatores que existem nesta


concepção e devem ser assegurados, assim como a justiça social e ambiental.
Destarte, a qualidade de vida é uma variável imprescindível, além disso, deve-se
assegurar o aumento da participação efetiva de todos os cidadãos na tomada de
decisão que lhes digam respeito.

Segundo Werthein (2003), para a Organização das Nações Unidas para a


Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o significado da cultura é indissociável
do processo de desenvolvimento. O autor afirma que, conhecendo o funcionamento
da cultura de um lugar, podemos melhorar a organização do processo de produção
e acesso aos bens culturais a partir da melhoria das condições de vida, defesa do
meio ambiente e as condições de promoção da paz.

Wertein (2003, p. 16) trata da cultura como capital social; “[…] é um setor que tem
como matérias-primas a inovação e a criatividade […] é peça-chave da economia do
conhecimento e pode significar um estímulo permanente para outros setores”. Para
o autor, a cultura pode mobilizar as pessoas a terem atitudes em prol do
desenvolvimento sustentado com participação e respeito ao lugar onde vivem e ao
ambiente. Leff (2000) colabora com essa discussão ao afirmar que a cultura:

[…] entendida como as formas de organização simbólica do gênero


humano, remete a um conjunto de valores, formações ideológicas e
sistemas de significação, que orientam o desenvolvimento técnico e
as práticas produtivas, e que definem os diversos estilos de vida das
populações humanas no processo de assimilação e transformação
da natureza (LEFF, 2000, p. 122-123).

Portanto, com base nas abordagens das concepções de desenvolvimento feitas


pelos autores citados anteriormente, podemos concluir que a concepção de
desenvolvimento deve ser entendida levando em consideração todas as suas
dimensões: econômica, social, ambiental e cultural. Destarte, poderemos ter um
desenvolvimento que conjugue crescimento econômico com melhora das condições
de vida de toda a população, utilizando os recursos naturais de forma equilibrada e
valorizando a vida.
36

1.2 Desenvolvimento e Industrialização

No que tange à relação do desenvolvimento com o processo de industrialização,


podemos dizer que o principal interesse de ambos é o progresso 3, o avanço, a
modernização e a mudança tecnológica para a melhoria dos modos de produção
social e econômica com a obtenção de riqueza e lucro. A industrialização, do ponto
de vista de muitos economistas e das nações industrializadas, é a chave do
desenvolvimento e do aumento do padrão de grande parte das populações.

A Revolução Industrial, que deu início à fase do capitalismo industrial em meados do


século XVIII, representou uma enorme transformação para a humanidade com a
aplicação de novas tecnologias e maneiras de dominação da natureza e controle
social, principalmente pela via econômica do desenvolvimento. Oliveira e Souza-
Lima (2006) explicam como se apresenta essa relação entre desenvolvimento e
industrialização na perspectiva da economia e ao mesmo tempo apontam algumas
críticas sobre o jogo de interesses de muitos países:

Na literatura especializada em economia é muito comum associar


desenvolvimento com industrialização, por ser a indústria
responsável por incrementos positivos no nível do produto, no assim
chamado crescimento econômico. Isso ocorre, principalmente,
devido a ampliação da atividade econômica advinda dos efeitos de
encadeamento oriundos do processo de industrialização. Tais efeitos
servem para aumentar a crença de que a industrialização é
indispensável para obterem melhores níveis de crescimento e de
qualidade de vida. Essa é a razão pela qual todos os países do
mundo almejam tanto industrializar seu território (OLIVEIRA;
SOUZA-LIMA, 2006, p. 24).

Com essa idéia de buscar o desenvolvimento por meio da industrialização o mundo,


desde então, tem sido moldado para atender aos interesses do setor industrial. As
relações sociais e territoriais foram modificadas, a cultura e a técnica se difundiram
em todos os espaços, aprofundou-se a competição entre os povos, a população
passou a se concentrar mais no espaço urbano, provocando o crescimento cada vez

3
Segundo Camargo (2003) o enfoque do modelo industrial de desenvolvimento sobre o qual
se estabeleceu a sociedade moderna tem como pressuposto básico a idéia de progresso, ou
seja, as sociedades podem progredir em direção a patamares cada vez mais elevados de
riqueza material.
37

maior das cidades. Junto com o avanço do progresso na produção industrial surgiu
também uma crescente oferta de matéria-prima, mão-de-obra e mercados
consumidores.

No Brasil a idéia da relação entre indústria e desenvolvimento avança a partir da


década de 1930, com a tentativa, por parte do governo federal, de adotar um modelo
de desenvolvimento nacional de caráter industrial em virtude das transformações em
curso da sociedade brasileira, sobretudo, pelos efeitos da quebra da bolsa de Nova
York sobre a agricultura cafeeira brasileira. Brum (1999) comenta sobre o projeto de
industrialização daquele período, afirmando que:

Tentaram implementar um projeto de industrialização do país, com o


objetivo de retirá-lo do atraso e impulsioná-lo rumo ao progresso e a
construção de sua grandeza. Na visão dos novos detentores do
poder central, a industrialização era tida como a chave do
desenvolvimento. Ao lado de uma agricultura forte, era fundamental
a implantação e expansão de um parque industrial próprio, a
exemplo das nações européias e dos Estados Unidos da América.
(BRUM, 1999, p. 191).

Não obstante, sabemos que desde o seu surgimento, a indústria tem provocado o
uso intensivo das diferentes técnicas de produção capitalista e novas fontes de
energia para a fabricação de mercadorias em grande escala, a extração e
transformação dos recursos naturais. Esta atividade está vinculada ao avanço nos
meios de transportes de mercadorias e pessoas, ampliando as fronteiras geográficas
que interligam as diferentes regiões do globo terrestre, e também, a inovação dos
meios de comunicação, com a rapidez nas informações simultâneas aos
acontecimentos dos fatos em nível planetário.

É pertinente também explicar o papel das indústrias como agentes produtores e


modificadores do espaço e das relações sociais e territoriais em função dos
intereses do capital. A indústria provoca impactos positivos e/ou negativos nas
diversas escalas socioespaciais e ambientais, seja de ordem local, regional ou
global, no campo ou na cidade.

Segundo Carlos (1990), enquanto a atividade agrícola ocupa grandes extensões do


planeta, a atividade industrial se concentra em pontos do espaço, todavia, essa
38

concentração tem a capacidade de produzir e desenvolver a articulação e integração


de vários lugares no planeta, através do mercado e da divisão espacial e
internacional do trabalho. A atividade industrial apresenta como principais
características o grande aumento na divisão do trabalho, notáveis progressos em
produtividade industrial e agrícola e crescimento rápido da renda da classe média
urbana, além da acumulação dos bens de produção capitalista.

A partir do surgimento da indústria houve uma conversão da economia rural para


uma dominada pela maquinofatura urbana principalmente na Europa. A indústria,
enquanto “Conjunto de atividades produtivas que se caracterizam pela
transformação de matérias-primas, de modo manual ou com auxílio de máquinas e
ferramentas, no sentido de fabricar mercadorias” (SANDRONI, 2006, p. 425), é
responsável pelas grandes transformações urbanas, pela multiplicação de diversos
ramos de serviços que caracterizam a cidade moderna. Além disso, introduziu um
novo modo de vida e novos hábitos de consumo, criou novas profissões, promoveu
uma nova configuração da sociedade e uma nova relação desta com a natureza.

Santos (2004a) afirma que, com a indústria aumenta a tendência de diversificação


da natureza por forças sociais, graças às técnicas criadas e desenvolvidas pelo
homem através das novas formas de energia comandadas por ele. Estas técnicas
interferem em todas as fases do processo de produção e com isto constrói-se cada
vez mais uma segunda natureza, a humanizada ou artificial, imprimindo novos
padrões de comportamento e valores sociais com suas manifestações de conflitos e
contradições.

O marco precursor do desenvolvimento da indústria no mundo foi a Primeira


Revolução Industrial iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII que se
estendeu ao longo do século XIX (SANDRONI, 2006). Este período foi marcado por
uma significativa modernização da economia e da estrutura social, com o
aperfeiçoamento e, posteriormente, a substituição da ferramenta do artesanato e da
manufatura pela máquina, da energia humana, hidráulica e animal pela energia
motriz, além da consolidação do sistema capitalista como modo de produção
dominante. Carlos (1990) complementa esta afirmação, proferindo que:
39

A Revolução Industrial longe de se apresentar como um fenômeno


técnico significou uma transformação na ciência, nas idéias e nos
valores da sociedade. Significou também trocas no volume e na
distribuição da riqueza centrada, até então, no monopólio da nobreza
que lhe conferia também o poder político. Por sua vez, é produto de
um processo histórico do desenvolvimento das forças produtoras e
do princípio da especialização assentada na divisão do trabalho, já
que o homem não produzia mais para auto-subsistência (CARLOS,
1990, p. 28).

Por conseguinte, o processo de industrialização contribuiu muito para o progresso


mundial, porém, trouxe consigo muitos problemas sociais e ambientais já citados
anteriormente. Além destes, podemos citar a situação do trabalhador que, deixando
sua vida no campo (em alguns casos, devido às disputas pelas terras nos campos
ingleses que provocaram os cercamentos) para habitar na cidade e trabalhar na
fábrica, passou a viver em situação de miséria com péssimas condições de
habitação e trabalho com altas jornadas diárias e baixos salários.

O trabalhador da fábrica teve que aprender a conviver com novas condições de vida
e sobreviver em cortiços sem saneamento básico, o que levou ao surgimento de
várias doenças como a cólera, o tifo e a tuberculose, devido à pobreza que crescia
cada vez mais. Atrelada a isso, houve a exploração do trabalho feminino e infantil e
o desemprego, desencadeando greves e problemas sociais, psicológicos e políticos,
devido ao uso de técnicas de poder disciplinar4 por parte dos empresários para
controlar as ações do trabalhador.

O atual período também chamado de meio técnico-científico-informacional


(SANTOS, 2004a) tem uma grande parcela de contribuição no que se refere aos
avanços nos modos de produção, a exemplo do que ocorreu no início da Primeira
Revolução Industrial, só que agora de forma extremamente veloz. É uma fase de
reestruturação tecnológica e industrial que promove, de um lado, o desenvolvimento
econômico e a acumulação de capital concentrado nas mãos de uma minoria, e, de
outro, provoca grandes desequilíbrios ambientais que vêm repercutindo

4
Cerqueira Filho (2000) discute sobre o poder disciplinar nas sociedades industriais
modernas sob a ótica de Michel Foucault, o qual acredita que há um seqüestro da
subjetividade do trabalhador, tornando-o fragmentado por controles psicológicos e por
técnicas disciplinares a partir das relações de poder, de estratégias entre as forças
dominantes e dominadas.
40

negativamente em diferentes dimensões, seja na economia, na política ou no âmbito


sócio-cultural. Podemos dizer que esta fase é a continuidade do sistema capitalista.

Santos (2004a) afirma que o meio técnico-científico-informacional é a cara


geográfica da globalização com profunda interação da técnica e da ciência, é o
período marcado pelo domínio do mundo pelas multinacionais com a tecnologia de
ponta, onde a informação é o vetor fundamental do processo social, sendo
transmitida instantaneamente. Segundo Santos (2004a):

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo


técnicos e informacionais, já que, graças à extrema
internacionalidade de sua produção e de sua localização, eles já
surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu
funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos
referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos
progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante
da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio
técnico-científico-informacional. (SANTOS, 2004a, p. 238).

Podemos concluir que essa fase econômica do capitalismo na sociedade


contemporânea representa um novo modo de vida para a humanidade por promover
a aplicação de novas tecnologias e maneiras de dominação e controle social.
Entretanto, de acordo com Sachs (2007), é necessário o uso de novas tecnologias
no processo de industrialização com diferentes estratégias de produção para o novo
modelo de desenvolvimento já que:

A concentração geográfica da produção é um dos principais fatores


de desequilíbrio ambiental. Novos desenvolvimentos, tais como a
especialização flexível, a produção moderna em pequena escala ou
a industrialização descentralizada são, portanto, instrumentos
privilegiados para se conciliar a eficácia econômica e prudência
ecológica (SACHS, 2007, p. 219).

Contudo, frente ao acelerado processo de globalização e às demandas do mercado


competitivo, é necessário pensar o desenvolvimento numa escala local que possa
oferecer melhores condições para atrair mais investimentos, conservar o meio
ambiente e mitigar as desigualdades socioeconômicas, através de iniciativas das
populações locais e demais agentes sociais.
41

2 DESENVOLVIMENTO LOCAL COMO NOVA ALTERNATIVA FRENTE AOS


IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO

Antes mundo era pequeno. Porque Terra era grande. Hoje mundo é
muito grande. Porque Terra é pequena. Do tamanho da antena
parabolicamará. Ê, volta do mundo, camará. Ê-ê, mundo dá volta,
camará. Antes longe era distante. Perto, só quando dava. Quando
muito, ali defronte. E o horizonte acabava. Hoje lá trás dos montes,
den de casa, camará.

(Parabolicamará – Gilberto Gil).

Dentro das condições contemporâneas de globalização, é preciso colocar o local em


evidência, em virtude das diversidades e particularidades dos contextos, sociais,
espaciais e setoriais. Segundo Buarque (2002), o local está sendo constantemente,
influenciado e impactado por processos globais de mudanças econômica,
tecnológica e institucional, também recebe influências e pressões positivas e
negativas. Daí, a necessidade de se pensar no desenvolvimento local enquanto
projeto de transformação na base econômica e social que se integra com o contexto
regional, nacional e internacional, redefinindo oportunidades do jogo competitivo
mundial, bem como a reestruturação, descentralização política e da produção
industrial com relocação de infra-estruturas e das atividades agroindustriais,
comerciais e financeiras.

Segundo Buarque (2002), a descentralização pode ser importante para estimular e


facilitar o desenvolvimento local. Neste ponto, o Estado aparece como elemento
importante da descentralização político-administrativa na transferência de autonomia
para a tomada de decisões entre as instâncias públicas e privadas. Também pode
contribuir na alocação de recursos para o local, em apoio com outros segmentos, na
construção de um planejamento estratégico que envolva a participação efetiva da
população na mobilização de energias sociais para a transformação do espaço local.

No que tange à descentralização da produção industrial, a qual emergiu do modo de


produção capitalista do século XXI sob a acumulação flexível que terceiriza diversas
etapas do processo produtivo entre setores e regiões geográficas, destacam-se
42

também nesse processo, o fortalecimento das redes e a participação das pequenas


e médias empresas. Com o apoio da descentralização político-administrativa, estas
empresas se fortalecem através de iniciativas econômicas e sociais num espaço
geográfico concreto, e, com uma visão de progresso. Sobre esta questão Joyal e
Martinelli (2004) afirmam que:

Os processos de descentralização devem configurar um ambiente no


qual as micro, pequenas e médias empresas possam acessar
efetivamente o serviço de apoio às atividades produtivas e, com isso,
impulsionar decisivamente o desenvolvimento econômico regional. A
descentralização política se converte, assim, em uma ferramenta
determinante para o desenvolvimento local, ao facilitar a criação de
espaços de negociação estratégicas com o setor privado empresarial
e com os demais atores sociais regionais (JOYAL; MARTINELLI,
2004, p.6).

Por conseguinte, a descentralização pode representar uma resposta à fragmentação


do espaço provocada pela globalização, por transferir autonomia às instâncias locais
na definição de suas prioridades de ação e organização social e institucional, bem
como a mobilização para o desenvolvimento local diante dos desafios mundiais.
Através da descentralização a sociedade pode ter uma participação direta nos
projetos de desenvolvimento local, efetivando a gestão participativa.

Sabemos que o fenômeno da globalização se distribui de forma muito desigual no


planeta e intensifica a competição entre os espaços, visando à uniformização e
padronização mundial dos modelos de desenvolvimento para integrar os mercados e
a economia capitalista mundial. Ao mesmo tempo, o local se torna cada vez mais
resistente na formação de identidades coletivas, como já foi comentado, ganha mais
autonomia para um maior gerenciamento dos recursos e se mobiliza com base nas
suas potencialidades (BUARQUE, 2002). O local passa ainda a incorporar novos
conhecimentos e informações para acompanhar as transformações mundiais e
interagir com outras regiões e localidades. É claro que existem muitos desafios para
alcançar tal fim, mas, com uma flexibilidade na gestão das atividades econômicas,
políticas e sociais é possível ampliar as oportunidades de melhores condições de
vida.
43

Dowbor (2006b) afirma que quanto mais se desenvolve a globalização, mais as


pessoas estão resgatando o espaço local para melhorar as condições de vida no
seu entorno imediato. Os municípios que promovem o desenvolvimento local
passaram a atuar de forma mais ativa segundo os interesses da comunidade. Para
isto, é preciso estar em permanente atualização para acompanhar o ritmo acelerado
das transformações dos processos produtivos em virtude da própria globalização. O
local deve estar sempre articulado com as outras escalas espaciais, dadas as
diversidades e os antagonismos decorrentes do intercâmbio dos valores globais com
os padrões locais (ORTIZ, 1994).

2.1 Visões de Desenvolvimento Local

A expressão desenvolvimento local surgiu na década de 1980 e vem sendo discutida


com bastante freqüência, sobretudo, por já terem sido registradas experiências
positivas em várias partes do mundo. A idéia de desenvolvimento local surge como
ponto de partida para o exercício de novas práticas e incentivo ao
empreendedorismo, à participação da sociedade civil, à mobilização e exploração
das potencialidades locais, conservação dos recursos naturais, competitividade da
economia local, entre outros fatores. Sobre esta questão, Brose (2000) classifica
cinco dimensões do desenvolvimento local, as quais são: inclusão social,
fortalecimento da economia local, inovação na gestão pública, gestão ambiental e
uso racional de recursos naturais e mobilização da sociedade civil. Tudo isso,
visando criar soluções inovadoras para os problemas da sociedade atual.

Buarque (2002, p. 32), discutindo os cortes espaciais do local, afirma que o


desenvolvimento local “[…] pode ser aplicado a diferentes correntes territoriais e
aglomerados humanos de pequena escala, desde a comunidade até o município ou
mesmo microrregiões homogêneas de porte reduzido, bacias ou ecossistemas”.
Porém, para Franco (2000), todo desenvolvimento é local. Essa abordagem vai além
do fenômeno local enquanto algo que é micro, pequeno, mas, como um espaço
territorialmente delimitado e comparado a outros. O autor sinaliza que o
desenvolvimento se dá pelas ações de uma sociedade que habita numa cidade,
44

região de um país, um país ou uma região do mundo, sejam elas econômicas,


sociais, e/ou ambientais. É um processo que deve ser pensado, planejado,
promovido ou induzido pelos diversos agentes sociais locais (articulados com outras
escalas espaciais).

Segundo Franco (2000), os principais fatores que contribuem para a promoção do


desenvolvimento local são: investimento no nível educacional da população,
incentivos da sociedade civil organizada no empreendimento de novos negócios e a
participação do poder público local e outros níveis de governo nesse processo de
mudança, bem como a capacidade de atrair inves timentos externos.

Segundo Franco (2000), na perspectiva assinalada acima, é fundamental que haja


um ambiente favorável que proporcione condições físico-territoriais e ambientais,
econômicas, sociais, culturais, político-institucionais e científico-tecnológicas. Este
tipo de ambiente é essencial para a busca de parcerias entre poder público,
lideranças, sociedade organizada, setor privado empresarial e demais instâncias,
também é importante para favorecer o surgimento de novas iniciativas que gerem
ocupações produtivas de forma sustentável.

Conseguintemente, é necessário que as coletividades locais se manifestem


interessadas em participar e se organizem para atuar numa política de
desenvolvimento local já que este não tem um modelo único, “uma receita” pronta no
que tange aos procedimentos em relação ao planejamento, implementação e
avaliação, principalmente, por cada localidade ter suas características e
particularidades que diferenciam das demais. Sobre esta questão, Dowbor (2006b)
aponta que:

É neste plano que desponta a imensa riqueza da iniciativa local:


como cada localidade é diferenciada, segundo o seu grau de
desenvolvimento, a região onde se situa, a cultura herdada, as
atividades predominantes na região, a disponibilidade de
determinados recursos naturais, as soluções terão de ser diferentes
para cada uma. E só as pessoas que vivem na localidade, que a
conhecem efetivamente, é que sabem realmente quais são as
necessidades mais prementes, os principais recursos subutilizados e
assim por diante. Se elas não tomarem iniciativas, dificilmente
alguém o fará para elas (DOWBOR, 2006b, p. 4).
45

Franco (2000) acredita que o desenvolvimento local produz comunidade e esta se


desenvolve quando tornam dinâmicas suas potencialidades endogenamente – a
infra-estrutura econômica, logística tecnológica e de recursos humanos como
educação e capacitação profissional – sendo que, todas as pessoas que vivem nela
devem ter acesso à renda, à riqueza, ao conhecimento e ao poder.

Ainda de acordo com Franco (2000), uma dada comunidade para se desenvolver
deve identificar uma vocação e as vantagens originais em relação às demais
localidades. A partir desta ação, deve fazer as necessárias conexões com outras
escalas sócio-espaciais através de redes cooperativas e solidárias para que possam
se inserir de forma competitiva e racional no mercado nacional e internacional. Isto,
em prol da gestão de um projeto coletivo e potencializador da economia e da política
local para que o desenvolvimento resulte na ampliação do emprego, do produto e da
renda, bem como na qualidade da educação, saúde, segurança e conservação dos
recursos locais.

Outra visão de desenvolvimento local que podemos abordar é a do desenvolvimento


endógeno que é um processo interno no qual a maior parte dos recursos é originária
do próprio local como: empresas, trabalhadores, os recursos financeiros (como o
caso de Serrolândia) e a tecnologia inovadora com uma eficiente organização
institucional, política e cultural. Segundo Borba (2000, apud JOYAL; MARTINELL I,
2004) o desenvolvimento endógeno pode ser um:

[…] tipo de desenvolvimento iniciado e organizado de dentro para


fora das localidades, conferindo mobilização aos atores locais, para
extrair o máximo de suas ações através da otimização dos recursos
de capital, de trabalho e de instituições locais, assim como de infra-
estruturas físicas de uma determinada área, em vez de esperar ou
tentar atrair empresas e investimentos externos para impulsionar o
crescimento econômico local e gerar empregos (BORBA, 2000 apud
JOYAL; MARTINELLI, 2004, p. 68).

Por conseguinte, podemos dizer que o desenvolvimento endógeno é


desenvolvimento que passa a ser planejado e articulado de baixo para cima, ou seja,
pelos próprios agentes sociais locais e não mais por um planejamento centralizado
que é imposto de cima para baixo pelo poder central do Estado (JOYAL;
MARTINELLI, 2004).
46

O desenvolvimento imposto de cima para baixo, muitas vezes, ocorre de forma


clientelista, com padrões de organização verticais, onde o Estado define as po líticas
e os programas sociais (quase sempre assistencialistas) de uma dada comunidade e
diz como a população deve ou não demandar esses programas , tornando-a assim,
agente passiva. O Estado oferta os recursos que quer e quando quer, sem ouvir os
anseios da comunidade (FRANCO, 2002). Agindo desta forma a estrutura estatal
desmobiliza a criatividade e as ações horizontais para a inovação e impede que a
comunidade local possa se desenvolver endogenamente de forma equilibrada e
solidária.

Neste contexto, é fundamental a mobilização e iniciativas por parte dos agentes


sociais locais do município, cidade ou comunidade em torno de determinadas
prioridades básicas para a promoção do desenvolvimento endógeno, valorizando os
recursos humanos, técnicos e financeiros para dar sustentação e visibilidade política
e social. Isso é possível por meio de ações capazes de promover a dinamização
efetiva das potencialidades e diversidades de cada localidade, o que gera
transformação da realidade e eleva oportunidades de melhoria da qualidade de vida
da população que é um dos objetivos principais do desenvolvimento local. Souza
(2002) fala de qualidade de vida como sendo a crescente satisfação das
necessidades básicas e não-básicas, materiais e imateriais de uma parcela cada vez
maior da população. Nesta perspectiva, é possível pensar na prosperidade, na
saúde, na riqueza cultural, equidade e segurança como resultado das ações
criativas da comunidade local e não reproduzindo de cima para baixo uma
“macdondaldização” generalizada (DOWBOR, 2006a).

Portanto, de acordo com as visões de desenvolvimento local abordadas nos


parágrafos anteriores, esta pesquisa toma como base a idéia de desenvolvimento
local como um conjunto de atividades que pode ocorrer em uma escala sócio-
espacial delimitada, onde a comunidade desenvolve ações para mobilizar as
potencialidades locais e assegurar a conservação dos recursos naturais, elevando
as oportunidades sociais. Neste contexto, é importante a relação entre poder
público, sociedade civil e setor privado. O desenvolvimento local também pode ser
endógeno por ser um processo interno em que os recursos naturais, sociais,
47

econômicos e culturais, são originados do local, ou seja, disponíveis localmente para


serem potencializados e serem integrados ao contexto da globalização, como é o
caso da indústria de bolsas em Serrolândia.

Por conseguinte, esta pesquisa toma a cidade de Serrolândia como escala de


análise do desenvolvimento local. Não tem um recorte administrativo já que é uma
escala menor que o município e é onde está instalada a indústria de bolsas, nosso
objeto de estudo, e se concentram as ações da comunidade, ou seja, das pessoas
que estão envolvidas direta e indiretamente com esta atividade.

2.2 Como promover o Desenvolvimento Local concretamente

Segundo Franco (2000, p. 40), para se promover o desenvolvimento concretamente


é necessário “[…] gerar renda, multiplicar o número de proprietários produtivos,
elevar o nível de escolaridade da população e aumentar o número de organizações
da sociedade civil”. Segundo Moura et al. (2002) para o êxito de qualquer processo
de desenvolvimento local, é necessário haver:

[…] capacitação para mobilização e participação da comunidade;


cooperação e construção de parcerias; visão abrangente e integrada
de desenvolvimento, considerando aspectos econômicos, sociais,
políticos, culturais e ambientais; monitoramento/avaliação do
processo (MOURA et al, 2002, p. 614).

Neste processo também é imprescindível atentar para o tipo de capital empregado


pelos diversos segmentos sociopolíticos e institucionais da sociedade. Franco (2000)
chama a atenção de que não se deve pensar só no capital empresarial que são os
bens, serviços e riquezas produzidas por uma sociedade, pois existem outros tipos
de capital: o capital humano, capital social e capital natural.

O capital humano está relacionado diretamente ao conhecimento e a capacidade de


criá-lo de forma inovadora; envolve a educação, a saúde, a alimentação e a nutrição,
bem como, a cultura, o lazer e a pesquisa. O capital social diz respeito aos níveis de
organização de uma sociedade e como ela regula seus conflitos democraticamente,
48

envolvendo o associacionismo, confiança, formação de redes de cooperação, uma


democracia organizada com boa governança e prosperidade econômica. O capital
natural se refere às condições ambientais – clima, solo, vegetação e relevo – e
físico-territoriais herdadas (FRANCO, 2000).

Deve-se levar em conta que com um baixo nível de capital humano, social e natural
o desenvolvimento humano, social e natural, também será impróprio. É preciso que
haja uma equação e investimento adequado de todos esses capitais para que se
possa promover o desenvolvimento de forma adequada e efetiva, criando ambientes
favoráveis à inovação de determinada localidade. Essa dinâmica pode ocorrer
mesmo que uma dessas variáveis (capital humano, social e natural) apresente
valores mais baixos em relação às outras, já que uma variável pode superar a falta
das outras. Segundo Franco (2002):

O fortalecimento do capital humano e do capital social é, portanto,


ingrediente sem o qual as políticas públicas e as ofertas de serviços
governamentais não serão eficientes nem suficientes. Isso significa
que as políticas de indução ao desenvolvimento (humano e social)
devem constituir a principal referência numa estratégia social (e não
as políticas compensatórias, por mais necessárias que estas sejam
ou possam parecer) (FRANCO, 2002, p. 60-61).

Aqui colocamos outra questão pertinente que diz respeito à política social do
desenvolvimento, a qual se torna um fator fundamental para regular o embate entre
os agentes envolvidos na configuração do sistema social em prol de uma mudança
positiva na qualidade do capital social e humano, aliados ao capital natural. Esta
política estabelece uma nova relação entre Estado, sociedade civil organizada e
demais agentes sociais para a convergência e integração das ações de forma
coletiva, multiplicando a atividade produtiva e socializando a riqueza.

No que tange às experiências de projetos de desenvolvimento local, Moura et al.


(2002) cita alguns programas e projetos que vêm sendo implementados no Brasil por
agências governamentais e não-governamentais, tais como:

“[…] o Pnud e a Sudene, que atuam juntos em projetos de


desenvolvimento local sustentável (DLS) na região Nordeste; o
Programa Comunidade Ativa [Que não existe mais], de
desenvolvimento local integrado e sustentável (DLIS) [Metodologia
49

que também não existe mais], iniciativa do governo federal destinada


a municípios brasileiros com baixo IDH […]; a GTZ, agência de
cooperação alemã que vem atuando a mais de 10 anos em
municípios do Rio Grande do Sul, e recentemente, em municípios
nordestinos, através do Programa Prorenda, de DLS” (MOURA et al,
2002, p. 612).

Dowbor (2005) apresenta vários municípios brasileiros que já têm resultados


positivos de desenvolvimento local onde se exercitam a democracia e a cidadania.
Como exemplo: Londrina - PR, com a fábrica de blocos e trituradora de entulhos em
cooperação com os caçambeiros; no Amapá a cooperativa dos catadores de
castanha em parceria com a universidade, na cidade de Pirai – JR, com uma política
de apoio às iniciativas da piscicultura, entre outros. Desta forma, estes exemplos nos
revelam que há caminhos para se promover o desenvolvimento local concretamente.

2.3 A proposta do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável-DLIS

A necessidade de encontrar estratégias de combate ou redução da pobreza bem


como a preocupação com a sustentabilidade da sociedade atual impulsionou a
criação de políticas públicas e projetos de desenvolvimento local integrado
sustentável (DLIS). Uma estratégia inovadora que teve como proposta a melhoria da
qualidade de vida das populações através de práticas mais democráticas, cidadãs e
sustentáveis (FRANCO, 2000). Para Joyal e Martinelli (2004):

O conceito de Dlis, tal como apropriado no contexto brasileiro, foi


entendido como uma estratégia capaz de garantir a inserção
econômica competitiva de determinados locais no mundo
globalizado, ao mesmo tempo em que se apresentava como uma
contra-tendência aos efeitos perversos da reestruturação produtiva,
resultado da mesma globalização. Esse movimento tornava
compatível o dilema de conciliar a produção de políticas sociais de
combate à pobreza com as tendências econômicas em curso no
mundo contemporâneo. Além disso, procurava recuperar a
reconhecida limitação das políticas sociais para enfrentar os desafios
da pobreza. (ROYAL; MARTINELLI, 2004, p. 94-95).

Para Diogo, Fontes e Veloso (2002), o significado da sigla DLIS pode ser entendido
como:
50

Desenvolvimento: é o processo de expansão das liberdades reais


de que as pessoas desfrutam;
Local: é o ponto de partida para se discutir a dinâmica de
desenvolvimento. O local pode ser uma cidade, um bairro, uma vila,
um Município, a beira do rio ou uma região. O local é onde se
processa a dinâmica do desenvolvimento que não seja apenas o
crescimento econômico, mas que respeite o progresso social e
humano;
Integrado: significa articular atores que interagem em um mesmo
local, articular fatores que influenciam no processo de
desenvolvimento (econômicos, sociais, culturais, político-
institucionais, físico-territoriais, científico-tecnológicos), buscar um
equilíbrio dinâmico nas relações possibilitando aflorar as forças
unificadoras, que levam à integração, e minimizar as forças divisoras,
que levam à competição;
Sustentável: baseia-se em duas solidariedades - a solidariedade
com a geração à qual pertencemos e a solidariedade com as futuras
gerações. A solidariedade do desenvolvimento deve integrar todas as
formas possíveis, política, social, econômica, espacial, cultural e
ambiental (DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002, p. 09).

O enfoque sobre DLIS foi adotado no Brasil a partir da experiência do Conselho de


Comunidade Solidária do Governo Federal contra a pobreza e exclusão social em
1995 e se institucionalizou em 1997 através do programa Comunidade Ativa (Que
durou até 2003). Royal e Martinelli (2004), afirmam que os projetos já colocados em
operação no Brasil puderam contar com o apoio do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) com acordos de cooperação técnica e financeira,
iniciativas do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica Federal, do SEBRAE e de
várias ONGs.

Desde sua institucionalização no Brasil, a metodologia DLIS esteve pautada na


proposta de ações mais planejadas e articuladas para estimular a sustentabilidade
social e econômica de um local e, principalmente, reorganizar a estrutura existente
de gestão e desenvolvimento que geralmente era administrado apenas pelo poder
público. Esta proposta teve como objetivo atingir o maior número de municípios
brasileiros com sérios problemas sociais e econômicos através de programas com
novas práticas de inclusão social e fomento à cultura empreendedora, reduzir a
pobreza e garantir acesso aos serviços financeiros, sendo que essas ações são
decididas no local.
51

Franco (1999 apud JOYAL; MARTINELLI, 2004) afirma que a metodologia do DLIS
visou empregar uma tecnologia social inovadora de investimento em capital social e
humano, e cita os principais elementos dos processos de DLIS, os quais são: os
programas de DLIS, interligados à sensibilização da sociedade local com
capacitação para a gestão, montagem do fórum, conselho ou agência de
Desenvolvimento Local; elaboração do plano de Desenvolvimento Local a partir do
levantamento técnico de potencialidades, vocações e vantagens comparativas;
construção da agência básica; implantação, monitoramento e avaliação dos
programas e projetos de ações. Estes resguardados com ofertas de recursos do
governo, do mercado e do pacto de Desenvolvimento Local. Diogo, Fontes e Velloso
(2002) apontam os parceiros do processo proposto pela metodologia DLIS os quais
foram:

• Governo Federal = oferece programas federais segundo as


demandas das agendas locais. A Secretaria Executiva coordena,
acompanha e avalia o programa, além de articular a execução das
ações entre os vários parceiros.
• Governo Estadual = cria uma equipe interlocutora e outra
facilitadora no Estado e compatibiliza os programas estaduais com
as demandas identificadas nas agendas locais.
• Prefeitura = mobiliza a sociedade, estimulando o fórum local de
desenvolvimento. Participa da equipe gestora local e garante a
execução dos programas municipais de acordo com a agenda.
• SEBRAE = executa o SEBRAE Desenvolvimento Local, um
programa de apoio ao desenvolvimento Local Integrado Sustentável
criado para estimular o empreendedorismo e o surgimento de novas
oportunidades de negócios.
• AED = a Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED)
executa e garante a qualidade, em nível nacional, do processo de
capacitação em Desenvolvimento Local Integrado Sustentável.
• Instituição Capacitadora = são as responsáveis por capacitar e
implementar a estratégia de DLIS nos Municípios, apoiando desde a
realização das etapas iniciais até a elaboração da agenda local
(DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002, p. 10).

Os autores comentam ainda que um dos problemas de efetivação dessa estratégia


do Programa Comunidade Ativa foi o tempo proposto pela metodologia que levou
para a sensibilização dos agentes sociais locais por parte das instituições
capacitadoras e a implementação e execução do DLIS, que foi muito curto. Com
isso, foi necessário ao local, um tempo, ou seja, um prazo maior para assimilar as
proposições do projeto de DLIS sem prejudicar sua dinâmica.
52

Vale ressaltar que a metodologia DLIS não existe mais, contudo, alguns impasses
deveriam ter sido enfrentados para se obter uma implementação e iniciativas mais
consistentes. As capacitações deveriam se adequar a cada realidade com o apoio
de uma ampla assistência institucional e o uso de tecnologias inovadoras. A
sociedade local deveria ser instrumentalizada para agir juntamente com as demais
parcerias no processo de DLIS, para possibilitar a redução das desigualdades e
promover a inclusão social, objetivos máximos de qualquer estratégia autêntica de
desenvolvimento local (DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002).

Uma das alternativas para conseguir promover o processo de desenvolvimento local,


além da parceria dos diversos agentes sociais locais, regionais, federais e
internacionais é criar uma rede articulada de iniciativas para atuar com
responsabilidade e obter resultados positivos. Ao mesmo tempo, a conexão dessa
rede para expandir a experiência vivenciada com capilaridade e circulação de
informações, em todo o espaço nacional, poderá induzir outras localidades a se
desenvolverem também.

Segundo Franco (2002), a formação de uma grande rede capaz de interagir e


articular em tempo real as experiências com outros lugares é bastante relevante, já
que as trocas de informações e o planejamento das ações conjuntas proporcionarão
mudanças importantes nas políticas públicas, na negociação com governos e
agências de desenvolvimento. É importante que a relação aconteça horizontalmente,
sem nenhum nível hierárquico que centralize as decisões, já que existe
particularidade entre as localidades envolvidas nesta rede. Isto é abordado por Joyal
e Martinelli (2004) quando falam da importância da existência das redes para
responder às exigências da flexibilidade, descentralização e democracia no mundo
contemporâneo:

[…] os pontos fundamentais que caracterizam a existência das redes


são: valores e objetivos compartilhados (que unem os diferentes
membros), autonomia de cada integrante, vontade de entrar e
permanecer na rede, multiliderança (em vez de hierarquia),
descentralização e múltiplos níveis ou segmentos autônomos como
possíveis desdobramentos da rede (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p.
100).
53

A argumentação acima é bastante pertinente por apresentar a configuração


dinâmica que tem uma rede de relações entre diferentes localidades para o
desenvolvimento local. É claro que, o fato de seus membros estarem conectados
entre si, não significa que estão operando em rede. Para que haja um perfeito
funcionamento é preciso que seus membros operem com práticas efetivamente
transformadoras da realidade.

Contudo, ao lado da solidariedade, cooperatividade e competitividade em prol da


efetivação de projetos de desenvolvimento local, como já foi discutido anteriormente
e apresentado em algumas experiências concretas, não podemos nos esquecer da
sustentabilidade tanto destes projetos, quanto das dimensões sociais, políticas,
culturais e ambientais.
54

3 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: CONCEPÇÕES E DESAFIOS

Imaginar que a terra possa ser bem melhor. Pra permitir semente
sem dividir o chão. Imaginar a fome dando lugar ao pão. Não é
loucura nem sonho. Além de mim há mais alguém. Se junte a quem
pensa assim também.
(Imagine – John Lennon)

A ação antrópica sobre o meio ambiente 5 está ficando cada vez mais preocupante
para a sociedade contemporânea por desencadear sérias catástrofes em vários
espaços do planeta Terra. Neste contexto, a exploração dos recursos naturais de
forma exagerada provoca um consumo intenso de matéria e energia além do que os
ecossistemas podem suportar. Esta exploração leva parte destes recursos ao
esgotamento, dos que não são renováveis e até mesmo dos renováveis que forem
explorados com uma intensidade superior a sua auto-reprodução. Estes
condicionantes refletem na organização da sociedade a qual estabelece uma
relação dialética com a natureza.

Em virtude da acelerada crise socioambiental mundial que estamos vivenciando na


sociedade contemporânea, emerge o conceito de desenvolvimento sustentável,
sobretudo, a partir da década de 1970, como já foi comentado. Este conceito tem
evoluído desde seu surgimento, envolvendo discussões sobre meio ambiente e
modelos de desenvolvimento. A abordagem sobre este tema contribuiu para a
necessidade de mudança de paradigma por despertar o interesse de especialistas
de várias áreas do conhecimento na busca de ações direcionadas à solução dos
problemas socioambientais, devido aos seus efeitos destrutivos em grandes
proporções do planeta com conseqüências que podem colocar em risco a vida da
própria espécie humana (SACHS, 2004).

5
Apesar da ambigüidade do conceito de meio ambiente, adotaremos a concepção proposta
pelo Dicionário de Ciência Ambiental (2003, p. 183) o qual afirma que meio ambiente “são
todos os componentes vivos ou não, assim como a todos os fatores, tais como clima, que
existem no local em que um organismo vive”.
55

Esta crise ambiental complexa vem sendo provocada, principalmente, pelos modelos
tradicionais de desenvolvimento e crescimento econômicos, pelas relações
capitalistas de produção que visam à maximização do lucro e do excedente
econômico a curto prazo, bem como pelos padrões de consumo em massa. Neste
contexto, há uma falta de gestão participativa bem como de implementação de
políticas de intervenção urbanística que beneficiem toda a população. A maioria
dessas políticas está voltada apenas para atender aos interesses das populações
das áreas nobres das cidades, e não chega até as menos favorecidas, no que se
refere à questão de habitação, saneamento básico e qualidade ambiental. Estes
fatores podem gerar segregação espacial, o que dificulta o processo de inclusão
social e participação cidadã na tomada de decisões coletivas na vida política e social
que são fundamentais para a garantia da sustentabilidade do ambiente e do próprio
desenvolvimento (CASTRO; SANTOS, 2006).

A preocupação com esta questão nos leva a refletir sobre maneiras alternativas de
desenvolvimento que não prejudiquem as estruturas socioambientais
contemporâneas e gerem riqueza e melhoria da qualidade de vida, ou seja, o bem-
estar físico, social, psíquico e ambiental da sociedade como um todo, respeitando as
diferenças étnico-culturais e proporcionando condições de reprodução da sociedade
humana na Terra. Pensar num tipo de desenvolvimento que corrobore para uma
nova organização da economia e da sociedade na relação equilibrada com a
natureza, redesenhando esta atual estrutura e conjugando eqüidade social e
conservação ambiental. Neste sentido, vale ressaltar algumas considerações tecidas
no capítulo anterior a respeito da importância do local como instância imprescindível
para a efetivação desta proposta de desenvolvimento.

Sachs (2007) comenta sobre a necessidade de colocar em prática um conceito


sistêmico-complexo de desenvolvimento entre as diversas dimensões da realidade –
econômica, social, ambiental, tecnológica e institucional. Todavia, segundo o autor,
é preciso pensar na construção de novos projetos de sociedade que não sejam
economicamente tecnocráticos e reducionistas, mas que contemplem um persistente
esforço de consolidação de um estilo de planejamento participativo que promova um
desenvolvimento ecologicamente prudente, socialmente justo e solidário, tanto para
as presentes quanto para as próximas gerações. Sobre esta questão, Buarque
56

(2002) fala de desenvolvimento local sustentável enquanto processo de mudança


social que pode promover a reorganização da economia e da sociedade locais em
consonância com a conservação ambiental, bem como um compromisso com a
sustentabilidade entre as gerações.

3.1 Da preocupação com a questão ambiental mundial ao conceito de


Desenvolvimento Sustentável

No atual contexto de mundo, a questão ambiental vem tomando ênfase nos diversos
setores da sociedade, principalmente no que se refere à degradação socioambiental
e à qualidade de vida das espécies animais, vegetais e humanas e suas
catastróficas conseqüências em nível planetário. Este quadro se agravou muito em
virtude das sociedades terem adotado padrões de desenvolvimento econômico que,
visando a modernização e o progresso, provocaram e ainda provocam drásticas
alterações na dinâmica do ambiente natural.

Esse quadro de problemas se acentua nos centros urbano-industriais com elevados


contingentes populacionais. Nessas áreas as pessoas vivem em gritantes
disparidades sociais e de qualidade de vida. Ao lado do progresso da ciência e da
tecnologia, convive a miséria, a concentração da riqueza e a degradação ambiental
em vários aspectos. Na maioria das vezes os governos privilegiam o planejamento
econômico em detrimento do planejamento social e isso atinge de forma negativa
principalmente a população carente que mora nas periferias urbanas com condições
sócio-ambientais insalubres (SACHS, 2007).

Como já foi comentado nos parágrafos anteriores, a acelerada devastação do meio


ambiente, e conseqüentemente, a crise ambiental contemporânea global, se dá,
sobretudo, pela busca do crescimento econômico que tem sido perverso, mimético e
oneroso (SACHS, 2002)6. Como forma de entender esta crise Foladori (2001),

6
Sachs (2002. p. 54) utiliza esse termo para abordar o crescimento econômico que não leva
ao desenvolvimento sustentável.
57

abordando sobre a ação radical e modificadora do ser humano na biosfera ao longo


dos tempos e o conseqüente impacto ambiental em escala mundial que gerou a
preocupação com os limites físicos do desenvolvimento, comenta que:

Apesar de não existir acordo sobre a gravidade desses problemas,


nem sobre os procedimentos para encarar tal situação, a maioria
das análises e propostas engloba a crise ambiental sob três
temáticas: a superpopulação, os recursos e os resíduos. Por sua
vez, esses três grandes problemas podem ser compreendidos sob
um denominador comum: os limites físicos externos com os quais a
sociedade humana se defronta. Esses limites externos se
expressam como mais população do que a que o ecossistema é
capaz de suportar, ou seja, o limite da capacidade de suporte
humano do ecossistema Terra; como escassez de recursos diante
das crescentes necessidades sociais, isto é, o limite que supõe
recursos finitos ou renováveis a ritmos mais lentos que sua
extração; e/ou como poluição do meio ambiente a uma velocidade
que a natureza não consegue reciclar […] (FOLADORI, 2001, p.
101-102).

Segundo Foladori (2001), são muitos os efeitos negativos provocados ao meio


ambiente ao longo do tempo pelas forças produtivas das sociedades, principalmente
a partir da expansão imperialista, da chegada da industrialização e com a acelerada
exploração predatória do capital natural. Dentre os efeitos negativos podemos citar o
esgotamento do solo, sacrifício da vegetação e de várias espécies animais, a
contaminação da água e do ar por resíduos químico/tóxicos, a violência nos centros
urbanos, a superpopulação, etc. Soma-se a tudo isto a poluição em diversas
dimensões, principalmente depois das grandes guerras mundiais e conflitos
regionais.

Desta forma, a problemática ambiental tornou-se ainda mais abrangente devido ao


processo de expansão das relações capitalistas, do avanço da i ndustrialização e da
globalização da economia dos mercados e das empresas multinacionais. Estes
condicionantes contribuíram para que o meio ambiente, percebido apenas como
potencial econômico, com grandes estoques de capital natural, atingisse proporções
elevadas de degradação em todo o mundo. A destruição da biodiversidade e da
camada de ozônio por gases perigosos, alterações climáticas com o aumento do
efeito estufa e aquecimento global, crescimento da população mundial ao lado da
destruição de várias formas de cultura, indisponibilidade de água potável, bem como
58

uma elevada produção de resíduos sólidos foram acelerados progressivamente


(CAMARGO, 2003).

Mesmo recebendo energia do Sol o planeta Terra em termo de matéria é finito e não
pode suportar todo esse processo de exploração dos ecossistemas visto que
determinados recursos naturais são esgotáveis. O uso inadequado e contínuo
destes recursos pode provocar impactos irreversíveis para a sustentabilidade do
planeta.

No que tange à realidade de Serrolândia, nossa preocupação também se dá devido


ao uso de material tóxico que é descartado nas fábricas como: plásticos, solventes,
tintas, tínner e derivados que são jogados no lixão da cidade conforme informações
dos próprios funcionários de algumas fábricas visitadas. A produção destes resíduos
e seu destino final implicam sérios danos ao ambiente.

Outro problema contemporâneo é o aspecto cultural da sociedade de consumo de


produtos em massa que representa e é representada pelos modelos tradicionais de
desenvolvimento. Vivenciamos um processo de massificação e homogeneização de
uma cultura dominante dita moderna, criada principalmente pelos países norte-
americanos e europeus, com indução de um sistema de valores onde o ter é mais
importante que o ser. Estas estruturas culturais tradicionais, com seus modelos de
consumo impostos, colaboram para consolidar uma minoria de ricos e uma maioria
de pobres em todo o mundo, sendo necessário serem transformadas para dar
espaço a uma multiplicidade de culturas (CUNHA; GUERRA, 2007).

Leff (2000) faz uma crítica ao padrão de homogeneização cultural pensado pelas
potências econômicas mundiais. No que concerne ao uso dos recursos naturais e
aos padrões culturais, o autor comenta sobre a necessidade de se desenvolver
práticas de manejo e uso integrado destes recursos no processo de
desenvolvimento. Isto através do resgate de diferentes valores culturais e
preservação das identidades étnicas dos povos, bem como da gestão participativa
das próprias comunidades no ambiente onde vivem para que haja satisfação das
necessidades básicas em consonância com os objetivos do desenvolvimento
sustentável. Desta forma, para Leff (2000):
59

Os princípios ambientais do desenvolvimento fundamentam-se numa


crítica à homogeneização dos padrões produtivos e culturais,
reivindicando os valores da pluralidade cultural e da preservação das
identidades étnicas dos povos. Estes princípios éticos surgem como
uma condição para concretizar projetos de gestão ambiental dos
recursos naturais em nível local, que permitem alcançar os objetivos
do desenvolvimento sustentável em escala global (LEFF, 2000,
p.112).

Por conseguinte, os problemas socioambientais, tanto de ordem local quanto global,


culminaram no desenvolvimento de uma consciência ambientalista em várias partes
do mundo, em prol da preservação e conservação do meio ambiente com o intuito
de diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais.

3.2 Movimentos sociais e eventos internacionais referentes ao


Desenvolvimento e Meio Ambiente

A partir da década de 1960, emergiram grandes manifestações e movimentos


sociais contemporâneos preocupados com a questão ambiental e os padrões de
desenvolvimento. Tivemos o movimento hippie, um dos mais marcantes do período,
por contestar a sociedade eletrônica e normatizada marcada pelo consumismo
(MENDONÇA, 2004); o movimento ambientalista, com a intenção principal de lutar
contra as formas destrutivas da relação do homem com seu ambiente natural; assim
como o surgimento das Organizações Não Governamentais (ONGs), estas últimas
atreladas ao movimento ambientalista para cobrar do Estado e da iniciativa privada a
necessidade de se fazer justiça ambiental. A publicação do livro Primavera
Silenciosa da bióloga norte-americana Rachel Carson em 1962 também foi um
grande destaque neste período (FOLADORI, 2001). Este livro contribuiu para uma
profunda discussão sobre os problemas relativos à interferência do homem no meio
ambiente, o que levou a uma reflexão das atitudes da população em relação à
necessidade de normas ambientais federais de preocupação com os rumos do
desenvolvimento próprio da sociedade industrial. Estes movimentos constituíram
uma significativa luta política de reorientação de formas de vida, denotando uma
crescente preocupação com a crise ambiental que também é social, posto que é
60

marcada pela divisão de classe, miséria e desemprego, como já foi comentado.


Amplia-se assim, o anseio em desenvolver uma mudança de mentalidade e novas
posturas éticas diante dos problemas socioambientais encontrados na realidade
atual através de novas estratégias políticas frente às estruturas tradicionais de
ordem social estabelecidas.

A gravidade desta crise impulsionou a realização de várias reuniões internacionais e


relatórios preparatórios para avaliar o modelo de desenvolvimento econômico até
então adotado, e ao mesmo tempo promover estratégias de diminuição do acelerado
ritmo de destruição dos recursos naturais, possibilitando uma melhor qualidade de
vida em todo o planeta. Dentre os eventos e os organismos internacionais criados
para tratar da questão do desenvolvimento e meio ambiente, podemos citar alguns,
os quais estão esquematizados no Quadro 2 a seguir:

EVENTO/ PERÍODO/
OBJETIVOS RESULTADOS
ORGANISMO LOCAL
Debater sobre a
poluição e degradação
Elaboração do relatório
Criação do Clube do ambiente,
intitulado The limits to
1968-1972 ocasionadas pela
de Roma growth (Os limites do
indústria e uma
Crescimento).(1)
população
crescente.(1)
Criação do Plano de
Ação para ser
implementado e
colocados em prática os
princípios estabelecidos
I Conferência Definir os limites da pela Declaração Geral
Internacional racionalidade da
Estocolmo – econômica e os Conferência sobre temas
sobre Meio
Suécia em desafios da
Ambiente e como, poluição,avaliação
1972 degradação ambiental
Desenvolvimento ambiental, e impactos do
para a modernidade modelo de
Humano (ONU).
(2). desenvolvimento no
ambiente.
Criação do PNUMA e
da CMMAD (1).

Examinar os Elaboração do
problemas mais críticos relatório intitulado Nosso
Criação do
em relação ao Futuro Comum em 1987;
PNUMA e da 1972-1973
CMMAD desenvolvimento e Definição do conceito
meio ambiente, de Desenvolvimento
indicando propostas de Sustentável (CMMAD)
61

solução (3). (3) - (4).

Legitimar e difundir
amplamente a
discussão sobre Criação da Agenda 21,
Desenvolvimento para orientar a
Sustentável. transformação de
II Conferência
Mundial de Rio de Janeiro nossas sociedades bem
Debater sobre as como, propor soluções
Desenvolvimento – Brasil em alterações climáticas e
e Meio Ambiente junho de 1992. a preocupação com a dos problemas
(Rio 92). ambientais através de
atmosfera devido à
estratégias de
emissão de gases
convivência para o
poluentes em todo o
século XXI (1) - (4).
planeta (1).

Avaliar os acordos e
convênios
estabelecidos na Rio
92 sobre Meio Compromissos
Ambiente e firmados entre os países
Desenvolvimento, em que se deve diminuir
inclusive a Agenda 21; pela metade a proporção
Rio + 10 ou
“Cúpula Mundial Johannesburgo Propor a efetivação de pessoas sem acesso
do - África do Sul do desenvolvimento a saneamento e a água
Desenvolvimento em 2002. sustentável, a potável até 2015, bem
erradicação da pobreza como, aumentar o
Sustentável”,
e a mudança nos acesso a modernos
padrões insustentáveis serviços de energia e
de produção e com uso renovável (4) -
consumo, conjugando (5)
com a proteção dos
recursos naturais (4) -
(5).
Quadro 2: Principais eventos e organismos internacionais sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Fontes: RIBEIRO, 2001(1); LEFF, 2000(2); FOLADORI, 2001(3); AFONSO, 2006(4); DINIZ,
2002(5).

Apesar de ainda não terem alcançado completamente seus objetivos na comunidade


internacional esses eventos e organismos guardam intenções em comum por
abordarem os problemas encontrados na relação entre desenvolvimento e meio
ambiente. Destarte, pensou-se na proposta de que o desenvolvimento econômico
deve ser integrado à questão ambiental de forma harmônica em virtude dos limites
externos do crescimento material, conforme nos mostra a definição de
desenvolvimento sustentável proposta pela ex-primeira-ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland: "Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as
62

necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras


atenderem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987).

3.3 Concepções de Desenvolvimento (Local) Sustentável

A expressão desenvolvimento sustentável gerou grandes polêmicas e ganhou força


nos discursos políticos em várias partes do mundo. Segundo Veiga (2005); Favero
(2002) o desenvolvimento sustentável é caracterizado como um co nceito bastante
amplo e político para o progresso econômico e social. Leff (2001, p. 57) confirma
essa idéia considerando-o como um projeto social e político “[…] que aponta para o
ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como
para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das
populações que habitam o planeta”.

Segundo Camargo (2003) dentre as inúmeras definições sobre desenvolvimento


sustentável na atualidade, em seu sentido mais amplo, este termo tem como
objetivo:

[…] promover a harmonia entre os seres humanos e entre a


humanidade e a natureza. O objetivo seria caminhar na direção de
um desenvolvimento que integre os interesses sociais, econômicos e
as possibilidades e os limites que a natureza define – uma vez que o
desenvolvimento não pode se manter se a base de recursos naturais
se deteriora, nem a natureza ser protegida se o crescimento não
levar em conta as conseqüências da destruição ambiental
(CAMARGO, 2003, p. 75).

Cabe aqui afirmar que o desenvolvimento sustentável também foi bastante criticado
em relação à sua ideologia. Segundo Zacarias (2000 apud CUNHA; GUERRA,
2007), o desenvolvimento sustentável vem sendo constituído dentro dos limites da
economia de mercado. Este representa uma ilusão por combinar medidas de
proteção e conservação ao lado da produção de mercado e do crescimento
convencional estabelecido pela lógica do sistema capitalista. Nesta perspectiva
existe um jogo de interesses que busca uma possibilidade de sustentabilidade que
não interfira no quadro institucional e econômico do capitalismo, ou seja, que não
63

intervenha na ordem internacional estabelecida pelo modelo desenvolvimentista no


contexto do capitalismo.

É importante destacar mais uma vez que, desde a Conferência de Estocolmo (1972)
até a Rio + 10 (2002), não foram registrados grandes avanços em relação a uma
gestão mais racional dos recursos do planeta por parte dos países signatários.
Segundo Leff (2000), este quadro se agrava porque, por trás desses acordos, estão
em jogo os interesses das empresas transnacionais de biotecnologia defendidos
pelos países desenvolvidos, que se apropriam injustamente dos recursos genéticos
existentes nos países subdesenvolvidos bem como, do direito pela apropriação da
natureza.

Contudo, é necessário que se estabeleça uma relação confortável e equilibrada


entre desenvolvimento e ambiente em seus modelos de gestão. Sobre esta questão
Tauk (1995) afirma que:

As relações entre ambiente e desenvolvimento estão integradas.


Busca-se a distribuição de renda; porém, as políticas de
desenvolvimento e o planejamento integrado das atividades setoriais
levam em conta os limites colocados pela renovação dos recursos
naturais, os padrões ambientais são estabelecidos biologicamente.
A análise ambiental é globalizante, baseada no enfoque holístico, e
o sistema de gestão é descentralizado com participação de
sociedade (TAUK, 1995, p. 94).

Destarte, na ligação entre ambiente e desenvolvimento, é preciso desenvolver uma


postura crítica em relação às estruturas sociopolíticas atuais e ao próprio discurso
de desenvolvimento sustentável. Sabemos que o exercício desta postura crítica
requer uma estratégia de desenvolvimento com resultados em longo prazo em que
podemos encontrar muitos entraves por envolver uma questão complexa que é a
mudança de consciência socioambiental. Sobre esta questão Camargo (2003)
afirma que:

Existem em nossa sociedade contemporânea grandes e diversos


entraves à obtenção de um desenvolvimento sustentável em âmbito
global que necessitam ser assumidos e enfrentados pela sociedade
humana se quisermos realmente vislumbrar saídas para os graves
conflitos socioambientais de nossa época. O desenvolvimento
sustentável que é hoje considerado mito ou utopia por muitos, pode
64

vir a ser – muito mais rapidamente do que se possa talvez esperar –


nossa única opção viável e segura para alcançar um projeto coerente
de civilização e assegurar o futuro da humanidade (CAMARGO,
2003, p. 16).

Desta forma, para se ter um desenvolvimento efetivamente sustentável em nossa


realidade deve-se desenvolver uma visão holística e com eqüidade. É necessário
que todos tenham atendidas suas necessidades básicas e lhes sejam
proporcionadas oportunidades de concretizar suas pretensões a uma vida melhor
com mais saúde, conforto e conhecimento sem causar o esgotamento dos recursos
naturais do planeta. Por conseguinte, há necessidade de desenvolver e executar
políticas públicas eficazes, com a participação de todos os agentes sociais e não
aquelas fragmentárias, restritas ao âmbito do governo ou do setor privado que estão
mais preocupados com os efeitos do que com as causas dos problemas que
pretendem enfrentar (AFONSO, 2006). É preciso envolver todos aqueles
preocupados com o meio ambiente e com o bem coletivo, e, que se comprometam
em garantir a efetivação destas políticas (LITTLE, 2003). Segundo Sachs (2004),
estas políticas públicas devem promover a efetiva transformação institucio nal em
favor dos segmentos mais fracos, com ações afirmativas para a organização social.
Assim, espera-se que as políticas públicas possam contribuir efetivamente para uma
relação integrada entre o desenvolvimento e o meio ambiente, sendo que o primeiro
ocorra em concordância com o segundo, aproveitando-se de suas potencialidades
de forma adequada e eqüitativa sem exaurir os recursos naturais e nem provocar
uma exploração do homem pelo homem.

Apesar das críticas referentes à concepção de desenvolvimento sustentável, esta


pesquisa se propõe a trabalhar com a idéia de que o desenvolvimento sustentável
não é uma ilusão e sim, aquele que tem como proposta agregar o progresso, a
qualidade de vida e o ambiente saudável para todas as pessoas, através de práticas
individuais orientadas para a coletividade socioambiental. Sobre esta questão,
Sachs (2004) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo
reformulado, sofrendo atualmente grandes avanços epistemológicos com a
explicitação dos critérios de sustentabilidade social, ambiental e viabilidade
econômica enquanto componentes deste conceito dinâmico que se apresenta
através de cinco pilares:
65

a) Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto


instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que
paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do
nosso planeta;
b) Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de
sustentação da vida como provedores de recursos e como
“recipientes” para a disposição de resíduos);
c) Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das
populações e das atividades;
d) Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non
para que as coisas aconteçam;
e) Político, a governança democrática é um valor fundador e um
instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a
liberdade faz toda a diferença (SACHS, 2004, p.15-16).

Por conseguinte, estas dimensões devem estar integradas para que o


desenvolvimento sustentável seja efetivado adequadamente. Neste contexto, a
Agenda 21 traz uma proposta imprescindível à sustentabilidade que é justamente a
de que o desenvolvimento deve satisfazer as necessidades de todas as populações,
presentes e futuras, e a condição de cidadania através da distribuição eqüitativa da
renda e do uso equilibrado dos recursos naturais. Contudo, os agentes sociais,
políticos, empresas, sociedade civil organizada devem cumprir os princípios
estabelecidos neste documento, todos fazendo sua parte em prol de um bem
comum. Assim poderemos pensar num desenvolvimento igualitário, descentralizado,
autogestionário, ecologicamente equilibrado (LEFF, 2000) e que seja realmente
sustentável.

Neste processo de mudança social vale ressaltar que não devemos nos esquecer da
concepção de desenvolvimento local sustentável (DLS) q ue, segundo Buarque
(2002), é o resultado da interação e sinergia entre a qualidade de vida da população
local, a eficiência econômica e a gestão pública eficiente que devem ser mediados
pela governança, organização da sociedade e distribuição de ativos sociais.
Segundo o autor o desenvolvimento local sustentável pode ser esquematizado no
gráfico 1 a seguir:
66

GESTÃ O PÚBLICA
EFICIE NTE

ORGA NIZAÇÃ O GOVERNANÇA


DA SOCIEDA DE

QUALIDADE DE DIS TRIBUIÇÃO DE EFICIÊ NCIA


VIDA ATIVOS SOCIAIS ECONÔMICA

Gráfico 1: Desenvolvimento Local Sustentável


Fonte: BUARQUE, 2002, p.28.

O gráfico 1 nos mostra que a união entre estes fatores resulta na promoção do
desenvolvimento local sustentável de forma consistente. Para isto, devem ser
compatibilizados no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômica, a
conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social com solidariedade
entre as gerações (BUARQUE, 2002).

Segundo Buarque (2002, p. 69) o desenvolvimento local sustentável é “[…] um


processo e uma meta a ser alcançada a médio e longo prazos, gerando uma
reorientação do estilo de desenvolvimento”, com um novo modo de organização da
economia e da sociedade e suas relações com o meio ambiente natural. Segundo
Favero (2002) a sociedade civil e sua mobilização é a mola propulsora para o
desenvolvimento local sustentável. Destarte, apesar da dificuldade e resistência
estruturais, é necessário que haja mudanças nos padrões de consumo da
sociedade, na base tecnológica e na estrutura de distribuição de renda.

É pertinente ratificar mais uma vez a idéia de Franco (2000) sobre o


desenvolvimento sustentável e sua relação com o local. Para o autor, o
desenvolvimento sustentável é aquele que leva à construção de comunidades
humanas sustentáveis que buscam se organizar em redes com características de
interdependência, reciclagem, flexibilidade e diversidade e deve ser constr uído a
67

partir do local. Neste caso, a sustentabilidade é conquistada pela implementação


local de processos de desenvolvimento.

Desta forma, esta pesquisa toma como conceito operacional para a análise da
indústria de bolsas em Serrolândia a concepção de desenvolvimento local
sustentável enquanto um processo de mudança social que concilia crescimento e
eficiência econômica com a conservação ambiental, a qualidade de vida e eqüidade
social (BUARQUE, 2002). Destarte é interessante discutirmos sobre as dimensões
da sustentabilidade para entendermos a ligação destas com o desenvolvimento
sustentável.

3.4 Desenvolvimento Sustentável e as dimensões de Sustentabilidade

A palavra sustentabilidade tradicionalmente tem origem nas Ciências Biológicas,


aplicando-se aos recursos renováveis, no que tange à manutenção e conservação
destes (BARBIERI, 2005; FAVERO, 2002); está sempre presente nos debates
realizados sobre desenvolvimento sustentável. Muitas vezes estes termos são
tratados como sinônimos. Mas, será que desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade são a mesma coisa? São conceitos ou práticas? Apesar de este
não ser o foco principal desta pesquisa, sentimos a necessidade de discorrer sobre
estas indagações que considero relevantes para complementar as discussões do
trabalho.

Silva (2005), discutindo sobre a multidisciplinaridade do conceito de


desenvolvimento sustentável, trata a questão da diferença entre estes termos sendo
o desenvolvimento sustentável um processo e a sustentabilidade um fim, portanto,
não contraditórios, mas, complementares:

As diferenças entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável


afloram não como uma questão dicotômica, mas como um processo
em que o primeiro se relaciona com o fim, ou objetivo maior; e o
segundo, com o meio. Todavia, essa distinção está imersa em uma
discussão ideológica que se insere em pensar algo para o futuro ou
em se preocupar com ações presentes e impactos no futuro. (SILVA
in: MENDES; SILVA, 2005, p. 13).
68

Para Afonso (2006) a noção de sustentabilidade é derivada do conceito de


desenvolvimento sustentável e implica:

[…] na manutenção quantitativa do estoque de recursos ambientais,


utilizando tais recursos sem danificar suas fontes ou limitar a
capacidade de suprimento futuro, para que tanto as necessidades
atuais quanto aquelas do futuro possam ser igualmente satisfeitas.
(AFONSO, 2006, p. 11).

Desta forma, a sustentabilidade constitui possibilidade de condições iguais para


todas as pessoas e seus sucessores em um dado ecossistema com forma
sustentável de preservação do meio ambiente, ou seja, de manutenção de nosso
sistema de suporte da vida, respeitando as leis da natureza (CAVALCANTI, 1998).
Leff (2001) fala das falhas dos projetos da modernidade, apontando como saída, a
sustentabilidade do desenvolvimento, a qual anuncia o limite da racionalidade
econômica com vistas aos valores da vida, da justiça social e do compromisso com
as gerações futuras. Contudo, Afonso (2006, p. 70) afirma que a sustentabilidade,
até então, se realiza apenas como discurso que não é “[…] transformado em
práticas possíveis e nem mesmo em um caminho possível”.

Segundo Veiga (2005), ainda que não seja entendida como um conceito científico, a
idéia de sustentabilidade adquiriu nos últimos vinte anos grande importância mesmo
sendo usada com sentidos diferentes. Todavia, a sustentabilidade é contraditória
porque nunca poderá ser encontrada em estado puro. Nunca será a natureza
precisa, discreta, analítica, mas, é fundamental para o processo de
institucionalização da agenda política internacional a qual introduz o meio ambiente
nas discussões referentes à necessidade de implementação de políticas públicas em
todos os Estados e organismos multilaterais. Sobre esta questão Veiga (2005)
adverte que:

Por evocar, em última instância, uma espécie de “ética de


perpetuação da humanidade e da vida”, a expressão sustentabilidade
passou a exprimir a necessidade de um uso mais responsável dos
recursos ambientais, o que só pode ser complicado para qualquer
corrente de pensamento que se fundamente no utilitarismo,
individualismo e equilíbrio, como é o caso da economia neoclássica
[…] (VEIGA, 2005, p. 165).
69

É Sachs (2007) quem mais contribui para uma discussão aprofundada sobre
sustentabilidade no meio científico. Segundo o autor, o conceito de sustentabilidade
perpassa cinco dimensões: a sustentabilidade social, a qual considera que o
processo de desenvolvimento ocorrerá de forma que a sociedade tenha maior
equidade na distribuição de renda, diminuindo a diferença de padrão de vida entre
ricos e pobres; a sustentabilidade econômica, que deve se preocupar com o
gerenciamento e alocação dos recursos e investimentos no setor público e privado.
Nesta dimensão, é preciso superar as contradições entre os países do Norte e os do
Sul em termos de barreiras protecionistas e das dívidas externas bem como, o
acesso limitado à ciência e tecnologia, avaliando a eficiência econômica em termos
macrossociais e não microeconômico; a sustentabilidade ecológica, (também tratada
como sustentabilidade ambiental), na qual se intensifica o uso do potencial de
recursos sem causar degradação aos sistemas de sustentação da vida, ou seja,
mais consumo de recursos renováveis e menos consumo de combustíveis fósseis
para reduzir o volume de resíduos e poluição. Também visa intensificar os estudos e
pesquisas para a obtenção de novas tecnologias que não agridam o meio ambiente
através da efetivação de normas de proteção ambiental.

Além destas dimensões temos a sustentabilidade espacial e a sustentabilidade


cultural. A primeira visa um maior equilíbrio rural-urbano com distribuição eqüitativa
dos assentamentos humanos e atividades econômicas, evitando a concentração em
massa nas áreas urbanas e a destruição dos ecossistemas frágeis. Visa utilizar
práticas agrícolas regenerativas, envolvendo principalmente pequenos agricultores e
explorar o potencial de industrialização descentralizada com ênfase na biomassa. A
segunda inclui as raízes endógenas de modelos de modernização e sistemas
agrícolas, utilizando o conceito de ecodesenvolvimento como solução para cada
contexto sócio-ecológico (SACHS, 2007). Vale ressaltar que, destas dimensões de
sustentabilidade, tomarei como análise para a pesquisa as dimensões econômica e
ambiental no que tange ao papel das fábricas de bolsas na economia e nos
impactos ambientais em Serrolândia.

Contudo, podemos concluir que eqüidade social, com ética e solidariedade, em que
os grupos sociais atuais possam ter acesso aos recursos ambientais do planeta de
forma equilibrada; prudência ecológica com melhoria na qualidade de vida,
70

respeitando as populações que estão por vir; e, eficiência econômica, uso da mão-
de-obra e recursos materiais são instâncias que devem andar juntas para se obter a
sustentabilidade. Sobre esta questão Afonso (2006) aborda que é necessária
também, a participação de todos os setores da sociedade, já que a sustentabilidade
é um processo de mudança e transformação estrutural que não pode ser obtido
instantaneamente. Segundo Franco (2000), a sustentabilidade pode ser conquistada
com a estratégia de DLIS que pode ser incorporada a qualquer unidade
socioterritorial, como exemplo a cidade de Serrolândia, que conheceremos melhor
no capítulo a seguir.
71

4 A CIDADE DE SERROLÂNDIA/BA E A CHEGADA DAS FÁBRICAS DE


BOLSAS

Cada lugar é, à sua maneira, o mundo. […] Mas, também, cada lugar
irrecusavelmente imerso numa comunhão com o mundo, torna-se
exponencialmente diferente dos demais.

(Milton Santos, 2004a)

Neste capítulo será feita uma contextualização geográfica, histórica e


socioeconômica da cidade de Serrolândia, haja vista esta ser a área do objeto de
estudo da pesquisa que são as fábricas de bolsas personalizadas. Acredito que é de
suma importância para a realização deste trabalho conhecer a realidade do lugar,
suas características que o diferenciam dos demais, bem como sua relação com o
sistema mundo como afirma Santos (2004 a). Os resultados das entrevistas, dos
grupos focais de mulheres, jovens e homens que contribuíram para a realização
desta pesquisa e os dados coletados in locu, permitiram-m fazer um breve histórico
da chegada das fábricas de bolsas nesta cidade para situar o (a) leitor (a) sobre as
especificidades desta atividade econômica, como veremos mais adiante.

4.1 Conhecendo a Geografia de Serrolândia

O município de Serrolândia, pertencente ao Estado da Bahia, está localizado entre


as coordenadas 11°24’ de latitude sul e 40°18’ de longitude oeste de Greenwich, em
uma altitude de 482m em relação ao nível do mar (SEBRAE, 1999). Dentre as
classificações regionais do Estado, o município corresponde à Região Econômica
(10) Piemonte da Diamantina (Mapa 1), a qual está situada na área nordeste central
do estado, interligando o litoral e o sertão de São Francisco pelas encostas do
maciço da Chapada Diamantina. Segundo dados da Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2008), com uma área total de 33.966 km², a
região Piemonte da Diamantina é composta por 24 municípios e representa
aproximadamente 6% do Estado da Bahia. Tal região tem como sustentáculos
econômicos, desde sua ocupação territorial em meados do século XVII e início do
72

século XVIII, a mineração, principalmente do ouro, a pecuária bovina, e o comérci o,


fatores que impulsionaram o povoamento da região pelos bandeirantes, tropeiros e
demais desbravadores, bem como a criação de vários municípios, dentre eles,
Serrolândia.

MAPA 1

A cidade de Serrolândia também faz parte da Microrregião Homogênea (10)


Jacobina e Região Administrativa (16) Jacobina, limitando-se aos municípios de
Jacobina, Mairí, Quixabeira, Várzea da Roça e Várzea do Poço. Dista-se de
Salvador, capital do estado, 317km pela rodovia BR-324 e também tem como via de
acesso aos demais municípios as rodovias BA-417 e BR 407. Quanto à divisão
político-administrativa, o município é formado pelos povoados de Alto do Coqueiro,
Boa Vista, Maracujá, Novolândia, Salamim, Varzeolândia e Roçadinho (Mapa 2).
73

MAPA 2

Segundo dados da SEI (2008), o tipo climático de Serrolândia é o Semi -Árido com
temperatura média anual de 23.0º; máxima de 28.1º e mínima de 18.9ºC. Este
município apresenta pluviosidade entre 600 e 800mm ao ano com período chuvoso
geralmente, entre os meses de novembro e janeiro, portanto, esta é uma área
inserida 100% no Polígono das Secas com alto risco de seca. Vale ressaltar que
esse fenômeno gera sérios problemas para a população local, sobretudo para as
74

famílias de baixa renda que não possuem recursos financeiros para a construção de
reservatórios de água, como tanques e cisternas, de modo a garantir o
abastecimento da água nestes períodos; também não possuem recursos para o
desenvolvimento das produções agropecuárias, ficando a cargo do poder público
municipal a assistência destas pessoas, tanto para o uso humano quanto para o
consumo animal.

Segundo dados da SEI (2008), Serrolândia é banhada pela bacia hidrográfica


Itapicuru e Jacuípe e seu aproveitamento hídrico é feito através de vários espelhos
d’água, principalmente do Açude Serrote e da represa Barragem São José do
Jacuípe, estes contribuem para o desenvolvimento da agricultura, pecuária e
piscicultura da região. O tipo de solo apresentado é o Latossolo Vermelho-Amarelo
álico e distrófico com aptidão boa para a lavoura e aptidão regular para pastagem
plantada, no entanto, a produtividade na lavoura depende do controle das chuvas
que são bastante irregulares.

Em termos geológicos, a região de Serrolândia é constituída por Depósitos


Eluvionares e Coluvionares, Granito-gnaises, Gnaises Charnockíticos, rochas
Basálticas-ultrabásicas e Diatexistos. O relevo é formado por Tabuleiros Interioranos
e Patamar do Médio Rio Paraguaçú. A vegetação predominante nesta área é
composta do tipo Contato Caatinga-Florestal Estacional, com espécies arbustivas e
arbóreas. Esta vegetação encontra-se reduzida e pressionada pelas expansões
imobiliárias (SEI, 2008).

No que tange aos aspectos demográficos, este município de pequeno porte, com
área total de aproximadamente 374Km², desde sua emancipação política, foi
marcado, por muito tempo, pelo elevado declínio populacional devido ao fenômeno
da seca e do êxodo rural para as grandes cidades, principalmente Salvador e São
Paulo. Sua população teve significativas oscilações de crescimento. Segundo dados
dos censos demográficos do IBGE (2008), em 1991 a população possuía um total de
11.812 habitantes e em 2000 aumentou para 12.616, tendo um decréscimo
populacional para 12.120 habitantes em 2007, em virtude de questões políticas e
territoriais de desmembramento de povoados. Contudo, apesar deste decréscimo do
número de habitantes, a população urbana de Serrolândia vem aumentando
75

significativamente nos últimos anos, possuindo atualmente 7. 010 pessoas enquanto


que a população rural possui 5. 112 pessoas (IBGE, Contagem da População 2007),
sobretudo, devido ao aumento da geração de emprego e renda, bem como na oferta
de serviços.

Sobre a questão acima, o grupo focal de mulheres (fotografias 2 e 3) se posicionou


em relação ao acelerado crescimento da população urbana desta cidade, nos
últimos anos. Segundo as participantes do grupo, Serrolândia cresceu
razoavelmente. Elas chamam atenção para o fato de que antes, na cidade, todos se
conheciam e atualmente isso não ocorre mais, visto que a população urbana está
aumentando em virtude do desenvolvimento das fábricas de bolsas e do comércio
local, e assim, aumenta também o número de residências, tanto privadas como
comerciais.

Fotos 2 e 3: Grupo focal de Mulheres.


Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, outubro de 2008.

Ainda, segundo as entrevistadas, houve também uma diminuição de emigrantes,


sobretudo de jovens, do município nos últimos anos e um razoável deslocamento de
pessoas da zona rural para a sede do município devido aos fatores citados
anteriormente.

No que diz respeito à problemática da emigração, o grupo focal de jovens (Fotos 4 e


5) se posicionou afirmando que muitas pessoas que foram embora de Serrolândia, à
76

procura de emprego, estão retornando à cidade. Além disso, pessoas de outras


cidades têm migrado para Serrolândia, devido ao aumento da oferta de emprego,
principalmente nas fábricas de bolsas e também porque o custo de vida não é muito
elevado. Contudo, os Microdados do Censo Demográfico de 2000 que obtivemos da
SEI/IBGE (2008) nos revelam que, entre os anos de 1995 a 2000, o número de
migrantes interestaduais, com 5 anos ou mais (577), foi superior ao dos imigrantes
(158).

Fotos 4 e 5: Grupo focal de Jovens.


Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, outubro de 2008.

Apesar dos dados censitários, do ano de 2000, comprovarem o contrário do relato


do grupo focal de jovens, a SEI/IBGE ainda não disponibilizou dados atualizados
que comprovam o decréscimo entre o número de imigrantes em relação aos
migrantes da cidade de Serrolândia entre os anos de 2000 a 2008.

4.2 Conhecendo a História do Lugar

O município de Serrolândia originou-se das terras desbravadas por membros das


famílias Vieira e Moreira que habitavam a fazenda denominada Várzea d’Água,
pertencente ao município de Jacobina em meados de 1927. O casal Jerônimo
Moreira e Zulmira Marcela Jordão, com perspectivas para o futuro, resolveu fazer
77

uma roçagem nas proximidades da sua fazenda para fundar naquele local um
comércio e, recebendo o apoio de seu conterrâneo Amaro Bispo Vieira, em 1929
inauguraram a roçagem formando ali um arraial com suas primeiras casas de palha.
Em 1930 foram edificadas as primeiras casas de telha, bem como iniciaram as
primeiras feiras livres. O arraial passou a se chamar Serrote devido a este ter em
suas proximidades uma pequena serra (atualmente denominado Monte Serro te)
onde foi fixada uma grande cruz de madeira pela família Moreira que tinha um
sentimento religioso (REIS, 1994).

Segundo Reis (1994) em 30 de dezembro de 1953 o povoado Serrote foi elevado à


categoria de Vila pela Lei Estadual n° 628, sendo que sua denominação foi
substituída por Vila Serrolândia. Esta vila passou por sérios problemas devido à falta
de chuvas, levando o Departamento de Obras Contra a Seca – DNOCS a construir o
Açude Serrote em 1950. A construção do açude foi concluída em 1958 e contribuiu
para o desenvolvimento da Vila Serrolândia por abastecer o município e atrair um
grande número de pessoas, resultando num considerável aumento populacional. Em
23 de julho de 1962, com a criação da Lei Estadual n°1746 e pela vontade dos
moradores do lugar, através de plebiscito, Serrolândia teve a sua emancipação
política, desmembrando-se do município de Jacobina e trazendo em sua sede os
seguintes povoados: Maracujá, Quixabeira, Salamin, Roçadinho e Jaboticaba. Este
último, atualmente pertence ao município de Quixabeira que também foi
desmembrado de Serrolândia e elevado à categoria de cidade em 1989.

Neste processo de descentralização político-administrativa, Serrolândia teve como


primeiro prefeito o Senhor Florivaldo Magalhães Sousa , o qual apresentou como
propostas políticas, para seu mandato, o progresso e o crescimento do município.
Esta administração política foi considerada como o ponto de partida para as
transformações socioeconômicas e de desenvolvimento do lugar, devido à criação
de várias obras municipais (REIS, 1996). Desta forma, esta ação se relaciona com a
idéia de Buarque (2002), Joyal e Martinelli (2004), sobre a descentralização política
como fator determinante para o desenvolvimento econômico local (tendo como corte
espacial o município) por facilitar a relação entre o poder público, o setor privado e
demais agentes regionais.
78

Após a sua emancipação político-administrativa, a cidade de Serrolândia foi


adquirindo uma nova configuração sócio-espacial ao longo do tempo. A captação de
recursos externos por parte dos governos locais que administraram o lugar facilitou a
criação de várias obras públicas para o município, principalmente após a nova
Constituição Federal em 1988, a qual concedeu maior autonomia política,
administrativa e financeira aos municípios com a criação de suas próprias Leis
Orgânicas Municipais, como afirma Fonseca (2005). Segundo dados da Câmara
Municipal de Serrolândia, na sede da cidade foram surgindo várias residências, ruas,
avenidas, bairros e loteamentos. Podemos perceber esta configuração na fotografia
6 a seguir:

Foto 6: Vista aérea da cidade de Serrolândia.


Elaboração: Prefeitura Municipal de Serrolândia, 1998.

A foto 6 nos mostra parte do centro da cidade onde se localiza o Estádio Municipal
Waldetrudes Carneiro de Magalhães e o Clube Recreativo Esportivo e Social de
Serrolândia – CRESS na Praça Manoel Reis de Oliveira, e, o Mercado Municipal na
Praça Ruy Barbosa, onde são realizadas, aos sábados, as feiras livres que antes
ocorriam nas Praças Manoel Novaes e Juracy Magalhães. Atualmente, neste local
também se concentram as atividades comerciais e de serviços.
79

4.3 Aspectos Econômicos de Serrolândia

O município de Serrolândia tem como base da economia a agropecuári a, o


comércio, os serviços e a indústria. Esta última, ainda pouco expressiva até o início
da década de 1990, porém, tendo como destaque a atividade madeireira para
fabricação de móveis, casas de farinha e olarias para fabricação de tijolos, telhas e
blocos. Atualmente, conta com um total de 25 estabelecimentos 7, tendo como
destaque a fábrica de vinhos, de fubá e as fábricas de bolsas destinadas,
basicamente, à exportação. A agricultura, em sua maior parte, é de subsistência e
nem todas as pessoas que trabalham nesta atividade possuem terras para cultivar.
Contudo, alguns produtos atendem ao mercado local e também são exportados para
a região, como o feijão, a mamona, o milho, entre outros (REIS, 1994). Destaca-se
como principal produto do extrativismo vegetal o licuri (syagrus coronata), palmeira
característica da região semi-árida do nordeste sob o domínio da caatinga, como
nos mostra as fotos 7, 8 e 9 a seguir:

Foto 7: Palmeira de Licuri na região de Serrolândia-BA; Foto 8: “Bocapio”- Artesanato feito


com a palha do licuri.
Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, julho de 2008.

7
Dados do IBGE, Cadastro Central de Empresas 2006; Malha municipal digital do Brasil:
situação em 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: www.ibge.gov.br/cidades
80

Foto 9: Quebra de Licuri para comercialização.


Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, julho de 2008.

Como podemos visualizar na foto 7, o extrativismo do licuri, considerado, por muito


tempo, um dos maiores sustentos para algumas famílias, sobretudo as de baixa
renda, tanto da zona rural quanto da zona urbana (REIS, 1994), é realizado para fins
como: a utilização das palhas para fabricação de artesanatos como os “bocapios”
apresentados na foto 8, que são comercializados nas feiras livres para diversas
funções como carregar mantimentos; a quebra de licuri para a extração da amêndoa
que pode ser utilizada na produção de doces, de leite e de óleo, utilizados na
culinária serrolandense, bem como para comercialização e exportação (Foto 9). Vale
ressaltar que com a implantação das fábricas de bolsas na cidade houve um declínio
da atividade extrativista do licuri.

Na pecuária, o município possui criações de animais de pequeno, médio e grande


porte, com destaque para a criação de bovinos (21 mil cabeças, segundo dados da
Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB8 local, 2008) e aves,
principalmente galinhas (39. 947 mil cabeças segundo dados do IBGE, 2007), o que
possibilita a comercialização dos produtos derivados destes, como leite de vaca,
carne e ovos de galinha para diversas finalidades. A pecuária é extensiva e alguns

8
Dados coletados através de entrevista com técnicos do escritório local da ADAB -
Serrolândia, Outubro de 2008. Os dados correspondem ao mês de março de 2008 na
campanha da vacina.
81

animais não se adaptam ao longo período de estiagem. Além disso, há uma


carência de capacitação dos produtores locais e tecnologias apropriadas à criação,
configurando assim, um volume pouco expressivo para uma comercialização que
possa agregar um valor significativo para a economia da região de Serrolândia
(SEBRAE, 1999).

No que tange ao setor comercial, Serrolândia conta com estabelecimentos que


desenvolvem variados tipos de comércio, os quais movimentam a compra e venda
de mercadorias, tanto no atacado como no varejo (REIS, 1994). No entanto, ainda
no início da década de 1990 o comércio não atendia à demanda da população,
mesmo com o crescimento do número de estabelecimentos (177 no ano de 1995).
Desta forma, a presença de vendedores ambulantes de outros municípios é bastante
significativa nas feiras livres, principalmente por estes atraírem a população com
produtos de preços baixos (SEBRAE, 1999). Contudo, nos últimos anos o comércio
de Serrolândia atingiu novas proporções na cidade. Segundo um relato do grupo
focal de mulheres:

A questão do comércio, a gente percebe principalmente quem é


comerciante, o desenvolvimento que ocorreu em Serrolândia nesse
período, porque muitas das vezes, muitos, muitos produtos não se
encontravam na cidade e hoje a gente percebe que já tem vários
tipos de produtos como no caso a questão do sapato, roupa. Tudo a
gente tinha que se deslocar a Jacobina, Feira de Santana e hoje a
gente encontra vários tipos de produtos de diversas marcas na nossa
cidade, então é uma coisa assim, fundamental (Participante - Grupo
Focal – Mulheres – Jul/2008) 9.

O relato da participante do grupo focal de mulheres confirma-se com os dados


obtidos no setor de Tributos da Prefeitura Municipal de Serrolândia, o qual tem
registrado neste ano de 2008 um total de 440 estabelecimentos comerciais
registrados com autorização de licença para funcionamento e localização.
Comparando-se este dado do número de estabelecimentos com os dados de 1995
(177) é possível perceber que o comércio em Serrolândia cresceu
consideravelmente, isso sem contar com os estabelecimentos que funcionam de
forma clandestina na cidade.

9
Relato concedido pelo grupo focal de mulheres em Serrolândia, 28 de outubro de 2008.
82

Mesmo com os entraves das condições climáticas, podemos perceber que ao longo
do tempo Serrolândia cresceu em números no que tange à economia. Segundo
dados da SEI/IBGE (2008), o valor adicionado na agropecuária em 2002 foi da
ordem de R$ 2, 330 mil reais (dois milhões, trezentos e trinta mil reais); na indústria,
R$ 1,920 mil reais (um milhão, novecentos e vinte mil reais); e, nos serviços R$
13,760 mil reais (treze milhões, setecentos e sessenta mil reais). Obteve um PIB de
R$ 18, 800 mil reais (dezoito milhões e oitocentos mil reais) e renda per capta de R$
1. 806 reais (um mil, oitocentos e seis reais). Em 2005 os dados nos mostram que o
valor adicionado na indústria aumentou para R$ 3, 309 mil reais (três milhões,
trezentos e nove mil reais) (Segundo os empresários entrevistados, atualmente este
valor chega a cinco milhões, referente às fábricas de bolsas), enquanto que na
agropecuária aumentou para R$ 2, 736 mil reais (dois milhões, setecentos e trinta e
seis mil reais). No setor de serviços houve aumento significativo para R$ 19, 926 mil
reais (dezenove milhões, novecentos e vinte e seis mil reais) com um PIB no valor
de R$ 27, 214 mil reais (vinte e sete milhões, duzentos e quatorze mil reais) e renda
per capta de R$ 2. 264 reais (dois mil, duzentos e sessenta e quatro reais) (IBGE,
2005).

Podemos concluir que, de todos os setores da economia serrolandense, o de


serviços é o mais expressivo, sobretudo aqueles dedicados às atividades
relacionadas ao mercado e serviços públicos, principalmente da prefeitura municipal.
Contudo, embora se observe um crescimento, segundo os dados apresentados
anteriormente, na economia regional Serrolândia ainda depende dos serviços e
atividades comerciais e industriais de outros municípios, principalmente da cidade de
Jacobina que é a sede da região geográfica e administrativa à qual esta cidade
pertence.

No que concerne ao capital social que segundo Franco (2000), diz respeito aos
níveis de organização de uma sociedade, o associacionismo, a formação de redes
de cooperação, e prosperidade econômica, Serrolândia conta com algumas
associações de bairros, educativa, de pescadores, bem como a Associação
Comercial e Agropecuária de Serrolândia – ACIASE, um agente que vem
desempenhando um papel importante para o desenvolvimento econômico local. É
formada por uma pequena parcela de comerciantes, agropecuaristas e empresários
83

da cidade desde 1996, a qual possui atualmente 80 associados10. Vale destacar que
a ACIASE é filiada à Federação das Associações Comerciais do Estado da Bahia –
FACEB a qual vem fortalecendo o associativismo e o empreendedorismo no Estado
da Bahia através da articulação e coordenação das associações filiadas. Entretanto,
apesar do papel desempenhado por esta na economia local, ainda falta mobilização
de vários agentes sociais locais para promoverem ações que dinamizem a economia
da cidade, pois, o número de associados é relativamente pequeno dentro de um
universo de aproximadamente 500 empresários, agropecuaristas e comerciantes
locais. Vale ressaltar que é de fundamental importância a mobilização de todos os
agentes sociais locais com a realização de atividades que implementem as
transformações na realidade, preparando-se para o futuro desejado, através de um
planejamento de desenvolvimento local (BUARQUE, 2002).

4.4 A Chegada das Bolsas em Serrolândia

A primeira fábrica de bolsas de Serrolândia foi implantada no início da década de


1990 por um morador desta cidade chamado Noel Roque Rodrigues, filho de
comerciantes que foi tentar a vida fora da cidade e retornou à mesma , trazendo
essa idéia através da experiência de produção de bolsas, por ele vivenciada,
existente no sul da Bahia, especificamente na cidade de Itabuna. Foi uma idéia
que certamente iria transformar a sua vida e de toda a comunidade
serrolandense. Em entrevista com Noel, ele conta como tudo começou:

[…] então eu trouxe uma bolsa de lá de Itabuna, essa bolsa veio aqui
e eu sentei com Raulinda, nós desmanchamos a bolsa toda
observando detalhes, a costura essas coisas e recriamos a bolsa
trazida de Itabuna e assim gerou a primeira bolsa que foi Raulinda
que me deu esse suporte essa condição de fazer uma bolsa […] 11

Esta afirmação se confirma na fala de Raulinda Mª Oliveira, primeira costureira da


fábrica de Noel:

10
Dados fornecidos a Ivaneide S. Santos do escritório da ACIASE em Serrolândia, 10 de
dezembro de 2008.
11
Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S.
Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.
84

Noel chegou aqui um dia de domingo aí disse: Ral, eu trouxe aqui


uma bolsa será que tu pode ver se tu faz uma bolsa dessa pra gente
abrir uma fábrica? Aí eu disse: vamo vê, aí dismanchamo a bolsa, ele
tirou o molde aí cortou a bolsa, aí eu costurei, costurei toda do
mesmo geitinho daquela que nós dismanchamo aí ele disse: tu topa
custurar, segunda-feira nós vamos abrir a fábrica? Eu digo, topo, aí
ele na segunda-feira de manhã eu sai daqui e fui pra lá, quando
chegei lá ele já tava com três bolsas cortadas […] aí eu costurei as
três bolsas […] 12.

E assim deu-se início a primeira fábrica ainda com uma estrutura rudimentar,
cujas atividades eram realizadas num depósito da própria casa do idealizador
com máquinas de costura de pedal; Raulinda e as demais costureiras, com vasta
experiência, produziam as bolsas enquanto Noel tirava o molde, cortava, revelava
as telas para pintar as logomarcas, pintava, embalava e entregava a mercadoria
vendida, até sentir a necessidade de contratar mais pessoas para ajudarem nas
tarefas. Em seis meses esta fábrica já havia sido registrada, tendo
aproximadamente 10 funcionários, contribuindo para aumentar a fonte de renda
da cidade. A compra dos insumos utilizados para a fabricação das bolsas era
realizada em Feira de Santana-Ba e neste processo, muitas dificuldades foram
enfrentadas como afirma Noel:

Na época a questão das bolsas deixava muito a desejar porque nós


não tínhamos máquina industrial lançada ainda, nós trabalhávamos
com máquina chamada máquina pé duro, é aquela máquina antiga e
pequena de costurar roupa e foi uma dificuldade muito grande, muito
grande mesmo pra implantar isso aqui. […] mas a bolsa foi
implantada aqui na casa de minha mãe onde as costureiras, na
época a fábrica era composta por seis costureiras, Raulinda foi a
pioneira também junto comigo porque iniciou esse trabalho e
começou a gerar emprego, começou a ser comercializada a todo o
vapor as bolsas aqui em Serrolândia […] 13

A partir daí, esta atividade foi se expandindo, outros moradores viram que estava
dando certo e começaram a investir no negócio, principalmente os vendedores
empregados na fábrica de Noel, a qual funcionou durante dez anos, mas por motivos
financeiros foi fechada. Desta forma podemos concluir que o processo de
implantação das fábricas de bolsas em Serrolândia pode ser considerado endógeno

12
Raulinda Maria Oliveira. Ex-costureira. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em
Serrolândia, 18 de outubro de 2008.
13
Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S.
Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.
85

por ter sido articulado pelos próprios agentes sociais locais, num processo
permanente de aprendizagem e criatividade (BUARQUE, 2002; ROYAL;
MARTINELLI, 2004), mesmo que tenha havido influências de caráter exógeno
(OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).

Atualmente a indústria de bolsas em Serrolândia, caracterizada como indústria de


transformação de bens de consumo que, segundo Sandroni (2006), são aquelas
responsáveis pela produção de artigos de utilidade individual ou familiar, conta com
aproximadamente 10 estabelecimentos, não levando em conta os chamados “fundos
14
de quintal” . Estas fábricas desenvolvem variadas atividades (Fotos 9 a 14), desde
as funções da parte administrativa e financeira ligadas à técnica de informação e ao
marketing, as vendas e encomendas de produtos e matérias-primas, os serviços
gerais, até as formas de produção como o corte do material (bagum, nylon, lona,
plástico e napa), a pintura, costura, rebarba 15, embalagem e o transporte da
mercadoria.

Foto 10: Setor de Layout/Separação de cores para pintura; Foto 11: Setor de corte.
Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

14
Fundo de quintal é a denominação dada àquelas empresas que não são registradas na
Secretaria da Receita Federal/ Secretaria Estadual da Fazenda e não pagam os impostos
devidamente, no caso das fábricas de bolsas, o Simples (Sistema de tributação simplificada)
e Super-simples.
15
O termo “rebarba” significa: o acabamento do produto em que se realiza o corte de linhas
e sobra de materiais.
86

Foto 12: Revelação e pintura das bolsas; Foto 13: Separação de peças para costura;

Foto 14: Setor de costura; Foto 15: Setor de “rebarba”;

Foto 16: Setor de embalagem; Foto 17: Mercadoria pronta para ser transportada.
Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.
87

Como podemos visualizar nas fotografias acima (10 a 17), no interior da fábrica as
etapas da produção de bolsas ocorrem da seguinte forma: tudo começa no setor de
compra e venda da mercadoria onde os pedidos são processados e é gerado um
roteiro de acompanhamento; em seguida vai para o setor de corte onde se tira o
molde e corta-se o material que depois segue para a serigrafia em que é feito o
trabalho de layout e pintura dos logotipos e revelação de telas para a pintura. Após
esse processo, o material segue para o setor da costura onde também são
reguladas as alças e coloca-se o zíper, depois segue para a rebarba, embalagem e,
por fim, o transporte para a entrega da mercadoria encomendada. Esta mercadoria
por, sua vez, é entregue tanto por transportadoras como pelos próprios
representantes de vendas. Estas atividades seguem um modelo da divisão do
trabalho que segundo Santos (2004a), é movida pela produção e atribui a cada
movimento, um novo conteúdo e uma nova função aos lugares.

É importante ressaltar que a maioria destas fábricas foi implantada sem nenhum
incentivo dos órgãos públicos estadual e municipal, dispondo apenas de criatividade
e recursos próprios dos fabricantes e, mesmo assim, conseguiram se consolidar na
cidade de Serrolândia e expandir seu mercado consumidor. Conforme informações
de alguns fabricantes, poucas fábricas buscaram ajuda de micro-créditos do Banco
do Nordeste, Banco do Brasil e Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A -
EBDA, para investir na compra da matéria-prima, capital de giro para movimentação
da empresas e maquinário. Atualmente produzem diversos modelos de bolsas
personalizadas e promocionais e de pronta-entrega, atendendo a um mercado
consumidor formado por óticas, casas de materiais esportivos e de construção,
farmácias, casas de revelação fotográfica, lojas de celulares, etc, utilizando-as como
brindes, sendo destinadas basicamente para exportação. Segundo um relato do
grupo focal de homens (Fotos 18 e 19), a indústria de bolsas de Serrolândia é
referência em todo o Brasil já que o mercado consumidor está situado em todos os
Estados do país, sobretudo na Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Distrito
Federal, Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo os participantes do grupo,
esta expansão comercial se dá devido ao preço baixo e à qualidade com que são
produzidas as bolsas de Serrolândia.
88

Fotos 18 e 19: Grupo focal de Homens.


Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, Out/2008.

A fala do grupo nos revela que, pelo fato da confecção das bolsas ser de boa
qualidade, estas empresas vêm atraindo cada vez mais o mercado consumidor. No
que se refere à confecção dos produtos, são vários os insumos utilizados como:
zíper, cursor, fita, linha, tela para revelação do logotipo, papel vegetal, papelão,
reguladores de alças, tinta, solvente, nylon, bagum, lona, plástico, couro sintético,
entre outros. Grande parte destes produtos é importada, principalmente da China, e
a outra vem basicamente de Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Também já
existem duas casas comerciais na própria cidade, destinadas à venda da matéria-
prima das bolsas.

Podemos concluir que as fábricas de bolsas são muito importantes para Serrolândia
devido às grandes transformações ocorridas na dinâmica local após o processo de
implantação das mesmas. Destarte, no próximo capítulo será feita uma análise mais
detalhada sobre nosso objeto de estudo, no que tange aos (des) caminhos do
desenvolvimento local sustentável.
89

5 A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA E OS (DES) CAMINHOS


PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Caminhando e cantando e seguindo a canção. Somos todos iguais


braços dados ou não. Os amores na mente, as flores no chão. A
certeza na frente, a história na mão. Caminhando e cantando e
seguindo a canção. Aprendendo e ensinando uma nova lição.

(Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)

Discutimos nos capítulos anteriores as concepções de desenvolvimento face às


constantes transformações socioeconômicas, políticas e tecnológicas que vêm
ocorrendo no mundo, sobretudo com a chegada da industrialização; destacamos a
preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida das populações
diante dos padrões tradicionais de desenvolvimento, enfatizando os novos
paradigmas que se propõem a realizar melhorias na organização social e
econômica, bem como na conservação dos recursos naturais, através de iniciativas
e ações das sociedades. No que tange às novas alternativas de desenvolvimento
frente ao processo de globalização, demos ênfase ao local que influencia, de forma
dialética, a dinâmica global. Neste contexto, o local pode mobilizar suas
potencialidades de maneira endógena para promover a reorganização da economia
e da sociedade local de forma sustentável, através de “[…] solidariedade sincrônica
com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras”
(SACHS, 2004, p. 15).

Neste contexto de mudanças de paradigmas, vale ressaltar que, é importante para


as sociedades atuais caminharem em direção a um desenvolvimento – que ocorra
de forma equitativa e fomente a q ualidade de vida; local – que seja planejado e
efetivado a partir dos agentes sociais locais e articulado com outras escalas
espaciais; e, sustentável – que concilie a eficiência econômica com a conservação
dos recursos naturais para atender às necessidades das gerações, tanto atual como
futuras. Neste processo advertimos a participação das pequenas e médias
empresas na contribuição às estratégias de desenvolvimento por promoverem
inovação, competitividade dos produtos no mercado (local, regional, nacional, e/ou
internacional), bem como o uso adequado de modernas tecnologias,
90

desempenhando um importante papel na dinâmica socioeconômica de uma dada


sociedade.

De acordo com Caron (2006), as pequenas empresas funcionam como mola


propulsora para o desenvolvimento de uma dada localidade por promover
empreendimento, criatividade e iniciativas, assim como a geração de empregos,
renda e integração da sociedade no modo de produção e consumo. Desta forma,
neste capítulo será feita a análise das contribuições e os entraves da indústria de
bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento local sustentável, com o objetivo de
discorrer como as fábricas utilizam as potencialidades locais e a relação destas com
os demais agentes sociais.

É importante evidenciar que para existir o DLS é necessária a mobilização dos


agentes sociais locais com base nas suas potencialidades e habilidades, assim
como um potencial endógeno que propiciem uma sinergia entre a qualidade de vida,
a eficiência econômica e a conservação dos recursos naturais como salientam
Buarque (2002); Franco (2000) e Joyal; Martinelli (2004). Destarte, apresentaremos
o papel destas micro e pequenas empresas na geração de empregos e dinamização
da economia local, a influência do processo de terceirização da produção na
qualidade do trabalho e os impactos ambientais locais causados por estas fábricas,
fatores que contribuem para os (des) caminhos do DLS.

Para uma melhor compreensão deste capítulo, apresentarei a seguir a análise dos
resultados das entrevistas realizadas com alguns fabricantes de bolsas e com
segmentos da sociedade serrolandense (os grupos focais de homens, mulheres e
jovens). Também explanarei os dados obtidos através dos questionários aplicados à
população (120 pessoas que corresponde a 1% da população total de Serrolândia),
entrevistas com seis funcionários das dez fábricas visitadas (30 pessoas que
corresponde a 10% dos funcionários de cada fábrica) e da visita a campo, bem
como a comparação com a base teórica.
91

5.1 Contribuições da indústria de bolsas de Serrolândia para o


Desenvolvimento Local Sustentável

A fim de obter informações importantes do objeto de estudo desta pesquisa, como já


foi comentado, foram visitadas dez fábricas nas quais entrevistei alguns fabricantes
para sabermos a opinião destes em relação à implantação das fábricas de bolsas
em Serrolândia. Vale advertir que não foi possível entrevistar todos os fabricantes
das fábricas, não por falta de tentativas, mas, porque alguns não se mostraram
interessados a participarem das entrevistas. Contudo, nas falas dos entrevistados foi
possível constatar que a indústria de bolsas da cidade de Serrolândia é considerada
como uma atividade muito importante que tem crescido, aumentado a quantidade de
funcionários e a forma de produzir, melhorando cada vez mais a sua logística com
rapidez na entrega da mercadoria, procura de fornecedores com matéria-prima de
qualidade e barata, entre outros fatores. A melhora na logística das empresas
também contribui para atender ao mercado consumidor, o qual está se expandindo
para todos os estados do Brasil.

Alguns fabricantes chamam a atenção de que estas fábricas de bolsas vêm


acompanhando o processo de globalização e inovando cada vez mais as técnicas
de produção e informação. Vale ressaltar que as técnicas se instalam na superfície
terrestre e exercem, constantemente, influência no espaço geográfico devido às
transformações impostas pelo uso das máquinas e realização de novos métodos de
produção e informação que modificam os valores preexistentes das sociedades,
como discutido em Santos (2004 a) e registrado nas respostas dos questionários
realizados com a população serrolandense. Segundo as pessoas entrevistadas, a
partir da implantação destas fábricas de bolsas, houve mudanças significativas no
modo de vida da população local, principalmente nas alternativas de trabalho, a
forma de se divertir, de morar, bem como no bem-estar das pessoas e no
desenvolvimento da cidade e crescimento da sociedade. No que tange às formas de
diversão e promoção do bem-estar, em observação a campo foi possível constatar
que alguns fabricantes promovem momentos de lazer em clubes e casas de festas,
envolvendo funcionários, parentes e amigos; também existe na cidade um bloco
junino chamado “Empurrando o Jeep” que foi criado por vários fabricantes de bolsas
92

e atrai aproximadamente duas mil pessoas participantes todo ano no “Arraiá do


Licurí”, festa tradicional do município. Os entrevistados chamam a atenção de que
estas fábricas também conseguiram mudar a visão política da população local, ou
seja, na escolha dos governantes locais. Segundo um relato do grupo focal de
homens:

[…] as fábricas de bolsas conseguiram mudar, ao meu modo de ver,


até a questão política da cidade, até a visão política do povo. […] a
gente percebe que a visão política de Serrolândia aqui, […] foi
mudando a partir do momento que a visão das pessoas foram se
abrindo, que as pessoas tiveram um conhecimento maior, uma
possibilidade melhor de, de ter uma renda própria que não
dependesse tanto da prefeitura porque todo mundo focalizava sua
renda ou em quem tinha um parente aposentado ou quem dependia
de algum emprego da prefeitura. Então você tinha um voto preso por
causa disso, voto de cabresto e hoje você é, as pessoas como já tem
um emprego que não depende mais de questão política aí as
pessoas agora já tem liberdade de votar em quem eles acham
melhor (Participante – Grupo Focal – Homens – Out/2008) 16.

O que se percebe no relato do participante do grupo focal é que as fábricas de


bolsas têm influenciado nas mudanças da sociedade serrolandense tanto na
dimensão social e econômica como na política, no que tange à garantia dos direitos
civis, cívicos e políticos. Nas entrevistas realizadas com os fabricantes notamos que
estas fábricas vêm ajudando a melhorar a economia da cidade por serem
importantes fontes de renda e de geração de emprego para o local. Segundo o
fabricante de bolsas, Lenivalter Mota Bispo:

A produção de bolsas aqui é muito importante pra cidade porque


gera muito emprego né, é um recurso que é captado lá fora, o
pessoal se desloca daqui pra vender em outras cidades, outros
estados e traz o dinheiro de fora pra gerar emprego aqui na cidade
né, pra empregar pessoas aqui, pra, aí esse dinheiro o pessoal
compra no comércio. O dinheiro vem de fora pra aqui, aí é um
benefício grande pra cidade 17.

A afirmação acima também é discutida pelo grupo focal de mulheres , as quais


afirmam que o dinheiro que vem de outros estados, através destas empresas, para
ser aplicado na cidade ajuda muito a valorizar a mesma. Sobre esta questão,

16
Relato concedido pelo grupo focal de homens em Serrolândia, 21 de outubro de 2008.
17
Lenivalter Mota Bispo. Fabricante de bolsas em Serrolândia. Entrevista concedida a
Ivaneide S. Santos em 3 de novembro de 2008.
93

perguntei à população a respeito da importância das fábricas de bolsas para a


cidade de Serrolândia (Gráfico 2) e 97,5% dos entrevistados que responderam sim,
acreditam que as fábricas de bolsas são importantes para a cidade, enquanto que,
somente 2,5% dos entrevistados acreditam que esta atividade não é importante para
o local.

2,5%

97,5%

SIM

NÃO

Gráfico 2: Importância das fábricas de bolsas para o desenvolvimento


de Serrolândia.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Como podemos visualizar no gráfico 2, a porcentagem de entrevistados que


opinaram positivamente sobre a importância da indústria de bolsas em Serrolândia é
bastante significativa. As respostas dos questionários nos revelam que, direta ou
indiretamente, estas fábricas vêm ajudando a melhorar a condição de vida de muitas
pessoas; formam profissionais de diversos setores, empregam muitas pessoas que
antes viviam da agricultura ou realizavam outra atividade, bem como, dão
oportunidades de emprego às pessoas analfabetas e aos jovens. Estes jovens são
incentivados a terem o primeiro emprego, a saírem do mundo das drogas, da
prostituição e a serem mais responsáveis, promovendo assim, a inclusão social. As
fábricas de bolsas também dão oportunidades para muitas donas de casa que antes
só realizavam trabalho doméstico e desde então, tornaram-se operárias, tendo
independência financeira e ajudando no orçamento da família. “As costureiras
puderam potencializar os seus dons”. Por conseguinte, perguntei aos funcionários
94

das fábricas se o emprego nestas empresas melhorou a condição de vida deles e,


dos trinta funcionários entrevistados, obtive os seguintes resultados (Gráfico 3):

3%
20%

77%

Sim
Não
Não respondeu

Gráfico 3: Melhoria da condição de vida dos funcionários das


fábricas de bolsas.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos , Nov/ 2008.

Os dados da pesquisa nos revelam que 77% dos funcionários entrevistados


afirmaram que o trabalho nas fábricas de bolsas melhorou a condição de vida,
sobretudo, em relação ao aumento da renda, pois eles ajudam a família a comprar
no comércio local bens materiais, alimentação e outras coisas básicas; melhorou a
situação financeira, adquiriram experiência para o mercado de trabalho e melhorou a
qualidade de vida. Os entrevistados ressaltam que se não fossem as fábricas de
bolsas a cidade de Serrolândia não teria desenvolvido bastante nos últimos anos.
Desta forma, podemos dizer que as atitudes das fábricas de bolsas na sociedade
serrolandense se coadunam com a proposta de capital humano do desenvolvimento
apresentada por Franco (2002), no que tange à capacidade das pessoas em
fazerem novas atividades, adquirir conhecimentos e exercitarem a sua imaginação
criadora, promovendo mudança social.

Diante da análise dos questionários, podemos compreender que a importância da


indústria de bolsas para a população entrevistada está relacionada, sobretudo, à
geração de emprego e renda, ou seja, ao aumento do poder aquisitivo local, pois
empregam grande quantidade de pessoas. Isto se evidencia nas respostas dos
95

questionários no que se refere aos familiares dos entrevistados que trabalham ou já


trabalharam em fábricas de bolsas, como nos mostra o gráfico 4 a seguir:

21%

79%

Trabalha ou já
trabalhou
Não trabalha

Gráfico 4: Familiares da população entrevistada que trabalham ou


já trabalharam em fábrica de bolsas.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

As respostas dos questionários nos revelam que 79% dos entrevistados têm
familiares que trabalham ou já trabalharam em fábricas de bolsas, dentre eles,
primos, tios, mães, cunhados, irmãos, sobrinhos, sogras, esposos, pais, genros e
filhos. Desta forma, fica evidente que estas fábricas de bolsas vêm dinamizando a
economia do lugar e ao mesmo tempo se relacionam com outras empresas, serviços
e mercados de outras regiões. Por conseguinte, a ação destas pequenas e micro
empresas caminha para a eficiência econômica com agregação de valor na cadeia
produtiva, conforme salientado por Buraque (2002), evidenciando, assim, a
dimensão econômica do desenvolvimento. Sobre esta questão, Caron (2006)
salienta que:

Pode-se deduzir, então, que a pequena e média empresa exerce um


papel fundamental na equalização do desenvolvimento, na
integração da economia e na integração da sociedade no modo de
produção e consumo capitalista. A sustentabilidade econômica do
desenvolvimento local está na capacidade local de recriar e perceber
novas oportunidades de produção, comércio e serviços com
pequenas e médias empresas que capilarizam localmente serviços e
produtos de grandes empresas globais, mas também produzem
localmente bens e serviços destinados a mercados nacionais e
globais (CARON in OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p. 98).
96

Contudo, apesar da indústria de bolsas oferecer novas oportunidades de produção e


consumo para a população serrolandense, os entrevistados que afirmaram que a
mesma não é importante para Serrolândia salientam que ainda precisa melhorar no
que se refere à regularização do trabalhador na Previdência Social, ou seja, ainda
existem trabalhos clandestinos nas fábricas. (Tratarei posteriormente sobre este
assunto).

As fábricas de bolsas também proporcionam o volume de vendas no comércio


devido à circulação de capital. A população entrevistada chama a atenção de que as
pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, no trabalho das fábricas, podem
comprar no comércio local que também cresceu e se beneficia com a renda dos
funcionários. Constatamos que estas pequenas empresas vêm contribui ndo para a
diminuição do desemprego, sobretudo porque a mão-de-obra é inteiramente local,
melhorando a qualidade de vida da comunidade e o crescimento da renda das
famílias. Desta forma, perguntamos à população em que as fábricas de bolsas
contribuem para Serrolândia. Foi gerado um total de 490 respostas das opções
fornecidas para a pergunta e estas respostas podem ser visualizadas no gráfico 5 a
seguir:

25%
22%
20%
16% 17%
14%
15% 13%
10%
10%
5%
5% 2,5%
0,5%
0%

Gráfico 5: Contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia,


segundo a população.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.
97

Como podemos visualizar no gráfico 5, das 490 respostas marcadas, as principais


contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia, segundo a população
entrevistada, estão relacionadas, sobretudo à geração de emprego (22%),
diminuição da saída de pessoas para outras cidades (17%) e o desenvolvimento da
cidade (16%) que, conseqüentemente, aumenta a renda (14%) e melhora a
qualidade de vida da população (13%). Contudo, apesar de afirmarem anteriormente
que estas fábricas ajudam na geração de emprego, no bem-estar da população e no
desenvolvimento da cidade, na opinião dos entrevistados a porcentagem de
contribuição destas empresas para dinamizarem a economia local (5%) é muito
baixa e, tão pouco, os investimentos sociais (2,5%) e ambientais (0,5%) da cidade,
os quais são fatores imprescindíveis para o processo de desenvolvimento.

De acordo com os dados da pesquisa, apesar de gerar emprego e promover a


inclusão social como já foi mencionado, notamos que a indústria de bolsas em
Serrolândia precisa contribuir mais no que se refere aos investimentos sociais e
ambientais locais. Destarte, estas empresas não devem ficar esperando apenas pela
ação, de maneira isolada, do poder público local ou dos demais agentes sociais
locais para atuarem nessas esferas. Conseguintemente, é fundamental que a
economia da cidade seja dinamizada e fortalecida com mais eficácia e a gestão do
meio ambiente ocorra de forma responsável, melhorando cada vez mais a qualidade
de vida da população local, que é condição sine qua non para o desenvolvimento
local sustentável.

Segundo Buarque (2002), o desenvolvimento local para ser consistente e


sustentável deve mobilizar e articular as potencialidades locais endogenamente
como infra-estrutura econômica, recursos humanos, logística e tecnologia; deve
elevar a competitividade da economia local e as oportunidades sociais, assim como
garantir a conservação dos recursos naturais, através de um movimento de
organização e mobilização da sociedade local. Em conformidade com a opinião do
autor, podemos dizer que as fábricas de bolsas exploram as capacidades e
potencialidades de Serrolândia de acordo com a vocação e vantagens oferecidas
por esta cidade. Podemos observar isso na fala de um fabricante de bolsas
entrevistado, o qual afirma que a referida cidade oferece:
98

Mão-de-obra, a localização também por já existirem algumas


fábricas, então uma acaba ajudando a outra de alguma forma, em
questão de informações […], na questão de compra de matéria-
prima, questão da compra do maquinário que eu já tinha referido
antes, e também por a gente ser daqui né, gostar da cidade, querer o
bem pra cidade, e gerar emprego para os jovens […]18.

Por conseguinte, perguntamos à população quais as potencialidades mobilizadas


pelas fábricas de bolsas para promoverem o desenvolvimento da cidade de
Serrolândia e, das opções fornecidas para a pergunta, foram marcadas 157
respostas, as quais podem ser visualizadas no gráfico 6 a seguir:

100%
90%
80% 70%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 6% 6% 12% 6%
10%
0%

Gráfico 6: Potencialidades de Serrolândia dinamizadas pelas fábricas de


bolsas.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados nos revelam que, na opinião dos entrevistados, das potencialidades de


Serrolândia mobilizadas pelas fábricas de bolsas, a disponibilidade de mão-de-obra
se mostra com maior evidência (70%), ou seja, as vantagens desta localidade em
relação às demais é justamente a quantidade de mão-de-obra que, segundo os
entrevistados, além de ser barata, é qualificada e disposta a trabalhar. Segundo
Noel:
[…] a mão-de-obra especializada aqui que lá fora uma costureira
hoje lá fora pra se encontrar é muito difícil, um cortador, um pintor, a

18
Wanderley Oliveira Rios, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos
em 30 de outubro de 2008.
99

serigrafia tudo isso influi pela prática que já tem aqui em Serrolândia
que é essa especialização19.

Vale ressaltar que muitos trabalhadores das fábricas ou pessoas interessadas em


trabalhar neste ramo industrial participam de cursos de capacitação e qualificação
profissional em costura, vendas, design gráfico e modelagem de bolsas e artefatos
(Fotos 20 e 21).

Fotos 20 e 21: Curso de Aprendizagem em Modelagem e Confecção de bolsas, oferecido


pelo SENAI/ACIASE.
Elaboração: ACIASE, fevereiro de 2007.

Alguns destes cursos de capacitação são oferecidos pelo Serviço Nacional de


Aprendizagem Industrial – SENAI e pelo SEBRAE em parceria com a ACIASE (os
quais, ou são gratuitos ou, em sua maioria, não são pagos pelos fabricantes, mas,
pelos próprios participantes); os demais são oferecidos por pessoas que trabalham
nas fábricas de maneira informal. Desta forma, apesar de serem oferecidos com
pouca freqüência, estes cursos ajudam na qualificação da mão-de-obra local, como
podemos visualizar nas fotografias 18 e 19 acima.

O empreendedorismo local (12%) também é uma das potencialidades dinamizadas


pelas fábricas de bolsas na opinião da população entrevistada, principalmente
porque os fabricantes que tiveram a iniciativa e criatividade de implantarem estas

19
Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S.
Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.
100

empresas são os próprios moradores da cidade, os quais possuem este potencial


inovador que, segundo Noel:

O povo de Serrolândia tomou conhecimento nesse sentido,


vendedor, fabricante, a origem da compra da matéria-prima que é de
São Paulo e já tem os canais certos pra ver. Então pelos
conhecimentos real hoje das fábricas de bolsas, aqui em Serrolândia
que especialmente elas enraizou e tão crescendo, porque todo
mundo já tem os macetes, as maneiras de como fazer de como
comprar de como vender é já tem uma clientela firmada já, fixa e
quem compra uma bolsa sempre não para de comprar nunca […] e
quem ta fora não tem essa experiência de compra não tem essa
experiência de matéria-prima que tem que comprar, não tem a
experiência de como comercializar, vender as bolsas […]20.

No que se refere à disponibilidade de matéria-prima (6%), infra-estrutura (6%) e


localização para o transporte de mercadorias (6%), na opinião dos entrevistados
estes fatores apresentam-se com menor evidência, apesar de já existir na cidade
estabelecimentos de vendas de matéria-prima para a produção de bolsas e da
mesma possuir acesso às BR 324 e 407 e, BA 417, o que facilita a circulação de
mercadorias, capital e serviços.

Contudo, podemos concluir que a indústria de bolsas em Serrolândia, desde sua


implantação, vem contribuindo para o desenvolvimento local sustentável por
dinamizar as potencialidades da localidade endogenamente, contribuir para o
aumento da renda da população e a geração de empregos, promover a inclusão
social, bem como a integração da sociedade serrolandense nos modos de produção
e consumo.

5.2 Entraves da indústria de bolsas de Serrolândia para o Desenvolvimento


Local Sustentável

Apesar do reconhecimento da importância da indústria de bolsas para a sociedade


serrolandense, conforme discutido anteriormente foi possível constatar que estas

20
Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S.
Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.
101

empresas não só promovem contribuições ao desenvolvimento local sustentável,


mas, também entraves, sobretudo no que concerne à falta de formação de parcerias
entre os fabricantes de bolsas e os demais agentes sociais locais, o que causaria
uma melhora dos níveis de organização da sociedade. Segundo Franco (2000) e
Buarque (2002), no processo de DLS deve haver formas de associacionismo da
sociedade, boa governança e prosperidade econômica, ou seja, organização e
cooperação da sociedade local. Contudo, esta relação não se mostra expressiva em
nosso objeto de estudo.

Sabemos que é imprescindível para o desenvolvimento local sustentável o


fortalecimento de parcerias entre os agentes locais, ou seja, o poder público, a
sociedade civil e setor privado que são os três grandes pilares de um processo de
desenvolvimento e que, combinados entre si, podem promover a reorganização da
economia e da sociedade local, bem como a conservação ambiental (Buarque,
2002). Desta forma, perguntei à população de Serrolândia se existe uma relação
entre as fábricas de bolsas e os demais agentes locais para promoverem o
desenvolvimento local sustentável e os resultados podem ser visualizados no gráfico
7 a seguir:

2% 7%

91%
SIM
NÃO
NÃO RESPONDEU

Gráfico 7: Parceria entre o poder público, os fabricantes de bolsas e


a sociedade civil para promoverem o desenvolvimento da cidade.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.
102

Os dados obtidos nos questionários revelam que a maioria dos entrevistados (91%)
desconhece a relação entre os fabricantes de bolsas e os demais agentes sociais
locais, para promoverem o desenvolvimento de Serrolândia, principalmente com o
poder público municipal. Não obstante, 7% responderam que existe essa parceria e
que juntos eles oferecem mais oportunidade de trabalho e ajudam no crescimento da
cidade. Os entrevistados chamam a atenção de que essa relação entre estes
agentes sociais é importante, pois, para facilitar a permanência das fábricas na
cidade é preciso que haja o apoio do poder público e também da sociedade civil, que
os impostos sejam diminuídos e a economia local dinamizada. Segundo o grupo
focal de jovens, existe uma relação entre os fabricantes de bolsas e os demais
agentes sociais locais dentre eles: associações, escolas, igrejas, grupos culturais,
entre outros, para promover o desenvolvimento local, porém, ocorre de forma
pontual, ou seja, através de patrocínios em eventos de várias modalidades e
financiamento de máquinas para pessoas que costuram bolsas em suas próprias
casas. Os participantes do grupo focal chamam a atenção de que a principal relação
entre as fábricas e os demais agentes sociais é a de empregar pessoas. Desta
forma, podemos dizer que a falta de parceria entre os agentes locais, ou a parceria
de forma pontual, gera entrave ao desenvolvimento local sustentável em Serrolândia
já que, também devem ser consideradas “variáveis políticas, tecnológicas, sociais,
ambientais e de qualidade de vida da população” (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p.
52) na relação entre estes agentes sociais locais, para que o desenvolvimento seja
pensado e planejado de maneira sinérgica e consistente.

No que tange ao processo de terceirização da produção, que segundo Sachs (2004)


é a última moda da ciência da administração, os dados da pesquisa nos revelam que
nos últimos anos vem ocorrendo um repasse de algumas atividades das fábricas de
bolsas a terceiros, externalizando as atividades principalmente, nos setores de
costura, pintura e rebarba para outros estabelecimentos. Desta forma, este processo
influencia na qualidade e eficiência do trabalho com maior concentração de esforços
gerenciais para agilizar a administração; aumenta o capital empregado nas
empresas, gera competitividade econômica, produção em larga escala e em curto
tempo. Os proprietários, por sua vez, não precisam se responsabilizar em contratar
mão-de-obra, não mantém vínculo empregatício e nem pagam encargos sociais às
103

pessoas que realizam esta tarefa, diminuindo assim, os custos da mão-de-obra e os


impostos pagos pelos donos destas empresas.

Podemos concluir que, não há uma preocupação, por parte dos fabricantes de
bolsas, com a qualidade no ambiente de trabalho terceirizado e nem com os
trabalhadores, apesar de a maioria destes serem antigos trabalhadores diretos das
fábricas que foram demitidos e passaram a ter condições inferiores de trabalho
como: emprego sem registro na carteira; falta de equipamento de proteção individual
de trabalho e de preocupação com a segurança e saúde do trabalhador. De acordo
com Sachs (2004), com a terceirização ocorre a substituição de empregos estáveis
por outros mal remunerados e instáveis. Segundo uma funcionária de uma das
fábricas visitadas, atualmente cerca de 90% dos empregados demitidos tornaram-se
terceirizados, prestando serviço à mesma empresa. Na fala da funcionária fica
evidente que, no processo de terceirização da produção de bolsas a empresa
terceirizada é a mesma terceirizadora. Sobre esta questão, o grupo focal de homens
salienta que esta atividade ocorre para que os fabricantes fujam da fiscalização do
Ministério do Trabalho no que se refere ao pagamento de impostos. Assim,
perguntei aos funcionários e à população serrolandense em que contribui o trabalho
terceirizado nas fábricas e, obtivemos os seguintes resultados (Gráficos 8 e 9):

45 42,5%
40
35
30
25%
25
20%
20
15
10%
10
5 2,5%
0
Aumentar o Diminuir o Melhorar a Diminuir os Diminuir a resp.
salário dos salário ds quali. da produ. encargos dos fabricantes
funcionários funcionários de bolsas sociais com os direitos
trabalhistas

Gráfico 8: Contribuição do processo de terceirização da produção,


segundo os funcionários.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.
104

40 37%
35
30
25%
25
20 17%
15 11%
10%
10
5
0
Aumentar o Diminuir o Melhorar a Diminuir os Diminuir a
salário dos salário ds quali. da encargos resp. dos
funcionários funcionários produ. de sociais fabricantes
bolsas com os direitos
trabalhistas

Gráfico 9: Contribuição do processo de terceirização da produção,


segundo a população.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Nesta pergunta foram marcadas 40 respostas pelos funcionários e 174 pela


população. Os dados nos mostram que ambas as categorias entrevistadas
afirmam que a principal contribuição do processo de terceirização da produção é
a diminuição das responsabilidades dos fabricantes de bolsas em relação aos
direitos trabalhistas (42,5%, segundo a população e 37%, segundo os
funcionários). Em segundo lugar, os entrevistados marcaram a opção diminuição
dos encargos sociais (25% de ambas as categorias entrevistadas), referentes ao
pagamento de férias, hora extra, décimo terceiro salá rio, Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) e benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social
(INSS). Diante disto, é possível afirmar que o processo de terceirização da
produção favorece apenas aos fabricantes de bolsas e prejudica a vida do
trabalhador na Previdência Social, além de diminuir a quantidade de empregados
no interior da fábrica, aprofundando a diferenciação social entre os trabalhadores,
bem como a diminuição do pagamento de impostos. Isto fica evidente na fala de
um dos fabricantes entrevistados que, apesar de ele afirmar que às vezes os
empresários têm prejuízos com a terceirização, salienta que:

[…] questão de a terceirização, você sair do compromisso e ter uma


produção mais rápida, a terceirização, a gente na área, porque a
terceirização nossa é mais na área de pintura, de pintura e também a
105

questão de mão-de-obra né, ter menos funcionários na fábrica, no


meu sentido, no que eu penso é menos, menos é, como é que diz
[impostos]21.

No que se refere ao pagamento de salário, alguns entrevistados de ambas as


categorias afirmaram que o processo de terceirização contribui para aumentar o
salário dos funcionários (10%), apesar de 77% dos funcionários entrevistados terem
declarado anteriormente que estas fábricas ajudam a melhorar a condição de vida
deles (Gráfico 3). Contudo, segundo os grupos focais de jovens e mulheres o valor
que alguns empregados diretos recebem mensalmente nestas empresas é muito
pouco. Podemos analisar esta afirmação através da variável de Renda contida nos
questionários aplicados aos funcionários, a qual nos mostra a renda dos mesmos no
gráfico 10 abaixo:

0%

50% 50%

Menos de um salário
mínimo
Entre um a dois
salários mínimos
Acima de dois salários
mínimos

Gráfico 10: Renda mensal dos funcionários das fábricas de bolsas.


Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados nos revelam que nenhum dos funcionários entrevistados possui renda
superior a dois salários mínimos e ainda existem funcionários (50%) que, apesar de
receberem por hora extra e terem direito a férias, recebem menos de um salário
mínimo pelo trabalho realizado no interior das fábricas de bolsas. Este problema

21
Elias Gomes Diniz, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em 29
de outubro de 2008.
106

ocorre principalmente com quem trabalha por produção (principalmente costureiras)


e sem acesso ao registro na carteira de trabalho ou sem contrato de trabalho
efetivado nos moldes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ou seja, os
trabalhadores que realizam trabalho de forma clandestina conforme citado
anteriormente pela população entrevistada. Assim, apenas 50% dos funcionários
entrevistados recebem o equivalente a um salário mínimo.

Podemos concluir que a atuação dos fabricantes de bolsas em relação ao salário


pago a alguns trabalhadores pode ser um fator de entrave ao desenvolvimento local
sustentável. Neste processo devem ser oferecidas condições de trabalho com
qualidade, valorização e boa remuneração para o trabalhador o qual, por sua vez, é
um cidadão que deve ter seus direitos garantidos na sociedade em que vive, ou
seja, garantias de liberdade de oportunidades sociais, bem como segurança
protetora, as quais ajudam a melhorar o potencial das pessoas e são importantes
fatores de desenvolvimento, conforme salientado por Sen (2000). Este problema fica
mais contundente devido à falta de um sindicato em Serrolândia dos funcionários
das fábricas de bolsas para que os direitos trabalhistas sejam cobrados de forma
organizada. Destarte, podemos falar também de entraves ao DLS devido ao
processo de terceirização da produção que, além de diminuir a responsabilidade dos
fabricantes de bolsas em relação aos direitos trabalhistas e aos encargos sociais, é
responsável por mais problemas, como veremos mais adiante.

Outro fator de entreve ao DLS em Serrolândia que notamos durante a realização da


pesquisa é a falta de consciência com os cuidados com o meio ambiente, pois estas
empresas, em seus modelos de gestão, ainda não realizam ações significativas que
promovam a conservação dos recursos naturais, assim como a gestão do meio
ambiente, no que concerne à sua reprodutibilidade e sustentabilidade. Brose (2000)
afirma que o setor privado, na área de gestão ambiental, deve adotar medidas de
ecoeficiência e aperfeiçoamento da aplicação da legislação ambiental em suas
empresas. No entanto, nos dados que obtivemos com as entrevistas e visitas
realizadas nas fábricas de bolsas, não ficou evidente que os empresários destas
fábricas estão preocupados com esta questão; as atividades desenvolvidas por
estas empresas, apesar de gerarem lucro, emprego e renda, acarretam um consumo
de energia e matéria, além de uma co nsiderável produção de resíduos. No entanto,
107

alguns fabricantes de bolsas afirmaram que estas empresas não causam impacto ao
meio ambiente, principalmente porque a maioria das atividades realizadas para a
produção de bolsas que utilizam produtos químicos, os quais são prejudiciais ao
ambiente, são terceirizadas. Na fala de um dos fabricantes entrevistados ficou
evidente a transferência de responsabilidade a terceiros com a questão da gestão
ambiental nestas empresas, sendo que as companhias terceirizadoras também não
desenvolvem uma gestão eficiente dos refugos produzidos nos espaços de trabalho.
Segundo o fabricante entrevistado, as fábricas de bolsas:

[…] não causam impacto no meio ambiente porque a gente não, não,
não solta gases ao meio ambiente né, é um produto que é, digamos
a matéria-prima, ele é um produto que não vai ta deixando cheiro
nem odor e nem produto líquido que a gente solta em algum rio em
alguma coisa, acho que não, por conta disso. Se existir algum
problema ao meio ambiente é com os restos da matéria-prima né,
aqueles restos, mas também não são coisas que comprometam
tanto, são assim de pequeno porte de pequena quantidade e muito
deles a gente terceiriza, muitos dos produtos que a gente já usa já
terceiriza. Tamos guardando pra revender no caso o plástico, o
papelão, a gente, na verdade agente não vendemos o papelão, mas
doamos pra pessoas que fazem reciclagem, então, por isso a gente
não causa problema ao meio ambiente e já ta gerando emprego e
renda 22.

Por conseguinte, o relato do fabricante nos revela uma contradição no que se refere
aos cuidados com os resíduos produzidos na fábrica de bolsas, pois, ao mesmo
tempo em que há terceirização da produção para que não haja responsabilidade na
gestão destes resíduos, também existe uma preocupação em doar os mesmos para
pessoas da cidade que catam lixo para vender. Por conseguinte, alguns fabricantes
entrevistados afirmaram que ainda não se têm uma gestão dos resíduos produzidos
nestes espaços, sendo o refugo jogado a céu aberto no lixão municipal da cidade e
outra parte dos resíduos produzidos no local é trocada por matéria-prima ou é
repassada para os catadores como papelão e tubos de linhas. É importante destacar
que todo o material químico/tóxico descartado como: napa, fitas, plásticos,
solventes, tintas, tínner e derivados, não têm nenhum tipo de tratamento especial, o
que implica em sérios danos ao meio ambiente como nos mostram as fotografias a
seguir (22 a 25):

22
Wanderlei Oliveira Rios, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos
em 30 de outubro de 2008.
108

Foto 22: Material tóxico utilizado no setor de pintura. Foto 23: Resto de matéria-prima
depositada no fundo de uma fábrica de bolsa.
Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

Foto 24: Lixo produzido pelas fábricas espalhados em vias públicas; Foto 25: Tubos de
linhas armazenados para serem trocados por matéria-prima.
Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

Como podemos visualizar nas fotografias, grande parte do material utilizado nas
fábricas de bolsas é prejudicial ao meio ambiente e, também não há um destino
adequado para os resíduos produzidos nestes espaços. Desta forma, os empresários
deveriam aproveitar de maneira mais eficiente os recursos no que concerne ao uso da
109

matéria-prima, energia e produção dos efluentes, através da reciclagem e do


reaproveitamento, como os tubos de linhas (foto 23) e papelões que poucas fábricas
reaproveitam. Com o intuito de sabermos a opinião da população a respeito dos
impactos ambientais causados pelas fábricas de bolsas, perguntamos aos
entrevistados se estas fábricas causam muita, pouca ou nenhuma poluição ambiental
e, os resultados da pesquisa podem ser visualizados no gráfico 11 a seguir:

2%

33%

52,5%
12,5%
Não causam poluição

Muita poluição

Pouca poluição

Não respondeu

Gráfico 11: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas,


segundo a população.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados obtidos, tanto através das entrevistas quanto na aplicação dos


questionários, nos revelam que as fábricas realmente prejudicam o meio ambiente,
apesar de 33% dos entrevistados afirmarem que as mesmas não causam nenhuma
poluição e 2% não terem respondido à pergunta. 52,5% dos entrevistados afirmam
que esta poluição é pouca e que as fábricas jogam restos de materiais que não são
aproveitados a céu aberto e em vias públicas (Fotos 21 e 22 acima). Estes dados
podem ser comparados com a opinião dos funcionários que são os agentes
envolvidos diretamente com os materiais químicos utilizados nas fábricas de bolsas,
bem como com os refugos produzidos nestes locais. As respostas dos funcionários
sobre a poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas podem ser visualizadas
no gráfico 12 a seguir:
110

13%
40%

47%

Não causam poluição

Causam muita poluição

Causam pouca
poluição

Gráfico 12: Poluição ambiental causada pelas fábricas de


bolsas, segundo os funcionários.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Como podemos visualizar nos gráficos 11 e 12, enquanto que a maior parte da
população afirma que as fábricas causam pouca poluição ao meio ambiente
(52,5%) os funcionários, em sua maioria, afirmam que estas fábricas causam
muita poluição (47%), já que eles estão diretamente em contato com os produtos
químicos utilizados nas mesmas. Contudo, tanto a população como os
funcionários entrevistados enfatizam que o material utilizado nas fábricas, por sua
vez, ofende o solo porque demora de se decompor, e deveria ter locais
apropriados para jogar as embalagens dos produtos como: solventes, plásticos e
tintas. Os entrevistados chamam a atenção de que não existe uma política para o
depósito e reciclagem dos resíduos destes materiais, além disso, o cheiro da tinta
polui o ar por ser material químico líquido que também prejudica a saúde dos
funcionários e da vizinhança que mora nas proximidades das fábricas. Sobre esta
questão, 100% dos funcionários entrevistados responderam que o material
utilizado na produção de bolsas é prejudicial à saúde. Segundo os entrevistados
de ambas as categorias, há também poluição auditiva, em virtude do barulho das
máquinas, que incomoda as pessoas que moram nas proximidades das fábricas
ou de casas de costureiras que realizam trabalho terceirizado.
111

Podemos concluir que falta, na gestão da indústria de bolsas em Serrolândia, uma


proposta de desenvolvimento econômico que contribua para uma forma sustentável
de preservação do meio ambiente e respeito às leis da natureza (CAVALCANTI,
1998) bem como, um caminho possível em direção à sustentabilidade ambiental
que, segundo Afonso (2006), só será possível quando as indústrias não utilizarem
tecnologias inadequadas ou poluentes.

5.3 A concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da


população serrolandense

Consideramos de maneira salutar as contribuições dos autores citados


anteriormente em nosso trabalho referentes à concepção de desenvolvimento
local sustentável enquanto novo paradigma de desenvolvimento face às
mudanças da nossa realidade, assim como a importância da atuação de maneira
coletiva dos agentes sociais locais para a realização deste modelo de
desenvolvimento. Também ressaltamos a relevância da análise dos dados obtidos
através das respostas dos questionários aplicados à população e aos
funcionários, entrevistas com os fabricantes de bolsas e os grupos focais no que
concerne às contribuições e os entraves das fábricas de bolsas ao
desenvolvimento local sustentável em Serrolândia.

Por conseguinte, nesta parte do trabalho apresentarei uma análise comparativa


da visão de desenvolvimento local sustentável abordada pela população de
Serrolândia com a base teórica da pesquisa. Visando obter respostas
contundentes no que se refere aos (des) caminhos do desenvolvimento local
sustentável nesta cidade, também apresentarei os resultados dos questionários
realizados com a população. Destarte, perguntei à população se esta já ouviu
falar de desenvolvimento local sustentável e as respostas podem ser visualizadas
no gráfico 13 a seguir:
112

6%

29%

65%

SIM

NÃO

NÃO
RESPONDERAM

Gráfico 13: População entrevistada que já ouviu falar em


Desenvolvimento Local Sustentável.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Os dados nos mostram que 65% dos entrevistados já ouviram falar de


desenvolvimento local sustentável. Segundo eles, o aumento da qualidade de vida
em relação à economia, conservação ambiental e o bem-estar da sociedade, em
que todos tenham disponível saúde, lazer, alimentação e infra-estrutura, significam
desenvolvimento local sustentável. É também o desenvolvimento econômico e
material que leva em conta as conseqüências das atividades humanas sobre o
ambiente, utilizando os recursos naturais renováveis e conservando os não-
renováveis. Tal afirmação se coaduna com a conceituação de desenvolvimento local
sustentável proposta por Buarque (2002).

Vale ressaltar que, o DLS, na opinião da população entrevistada, ocorre quando a


comunidade de um local desenvolve meios de se sustentar sozinhos, através de
projetos de desenvolvimento que sejam pensados e planejados a partir da
necessidade da população local e da parceria entre associações e fábricas. Deve
ser um processo em que todos os cidadãos possam ter renda mais ou menos
parecida, conforme salientado por Dowbor (2006b) e Franco (2000) quando estes
discutem a importância da eqüidade e segurança, o acesso à renda, mobilização e
iniciativa dos agentes locais no processo de desenvolvimento.
113

Podemos afirmar que, apesar de 29% da população entrevistada ainda não terem
ouvido falar de desenvolvimento local sustentável e 6% não terem opinado, as
respostas dos que responderam positivamente são bastante contundentes,
relacionando-se com a opinião dos autores que fundamentam teoricamente a nossa
pesquisa.

Ainda analisando a questão referente à população de Serrolândia, que já ouviu falar


de desenvolvimento local sustentável, discutirei também as respostas dos
entrevistados de acordo com as variáveis de escolaridade (Gráfico 14) e idade
(Gráfico 15).

45%
39
40%
35%
30%
25%
20% Sim
17
15%
12
10% 7 Não
6
2,5 4 4
5% 1,5 2 2
1 1 1
0% Não
opinou.

Gráfico 14: População entrevistada que já ouviu falar em Desenvolvimento


Local Sustentável – Escolaridade.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Uma análise acurada do gráfico 14 nos revela que há uma variação significativa na
opinião dos entrevistados que já ouviram falar em desenvolvimento local sustentável
a partir do nível de escolaridade. Notamos, pelas respostas dos que marcaram sim,
que o índice aumenta à medida que aumenta a escolaridade do serrolandense,
principalmente as pessoas que possuem o ensino médio completo (39%), chegando
a 7% e 12% entre os indivíduos que possuem ensino superior incompleto e superior
114

completo. Desta forma, advertimos que a visão de desenvolvimento local sustentável


é bastante ampla entre as pessoas de escolaridade média e superior e é reduzida
para os indivíduos que possuem ensino fundamental incompleto (1%), fundamental
completo (1%) e médio incompleto (4%). Estes dados nos fazem refletir sobre a
importância da educação, sobretudo a educação formal, bem como a necessidade
de investimentos públicos nesta área para que o capital humano, decisivo no
processo de desenvolvimento, conforme salientado por Franco (2000), seja criado e
recriado.

Quanto aos entrevistados que ainda não ouviram falar em DLS, notamos que o
índice percentual é baixo em todos os níveis de escolaridade, variando de 1% a
2,5% entre os indivíduos que possuem ensino fundamental incompleto, fundamental
completo, superior incompleto e superior completo, e tendo um aumento
considerável apenas entre os indivíduos que possuem o ensino médio completo
(17%). Foram poucos os serrolandenses entrevistados que não souberam opinar
sobre o DLS: os indivíduos que possuem ensino médio incompleto (6%), médio
completo (4%) e superior completo (2%).

De acordo com Joyal e Martinelli (2004) o conceito de desenvolvimento local


sustentável pode se tornar cada vez mais familiar conforme a nossa vivência e
experiência, sobretudo para aquelas pessoas interessadas em entender e participar
de maneira ativa da dinâmica socioeconômica, política e ambiental da localidade
onde vive. Destarte, também analisei a opinião da população entrevistada pela
variável idade, no que tange à co ncepção de desenvolvimento local sustentável. Os
dados do gráfico 15 abaixo nos mostram que a opinião dos serrolandenses
entrevistados que já ouviram falar de desenvolvimento local sustentável varia
segundo os anos de vida dos pesquisados.
115

35%
30
30%

25%
20 Sim
20% 17
Não
15% 13
12
Não
10% opinou.
5
4
5%
1,5 2,5 1,5 2,5 1
0 0 0 0
0%
16 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 56 a 65 Acima de
anos anos anos anos anos 65 anos

Gráfico 15: População entrevistada que já ouviu falar em


Desenvolvimento Local Sustentável – Idade.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 15, os entrevistados que responderam


positivamente têm, em sua maioria, entre 16 a 25 anos de idade, atingindo um
percentual de 30%. Conforme a faixa etária vai aumentando, o índice vai baixando,
ou seja, entre os indivíduos de faixa etária de 26 a 35 anos o percentual atinge 17%,
baixando para 13% entre os indivíduos de faixa etária de 36 a 45 anos e 5% para as
pessoas com idade entre 46 a 55 anos. Não houve entrevistados com faixa etária
acima de 56 anos. Esta realidade também é verificada nas respostas dos indivíduos
que responderam negati vamente, já que a maioria dos entrevistados que
responderam não (20%), também possui idade entre 16 a 25 anos. O índice baixa
para 4% entre os indivíduos de faixa etária de 26 a 35 anos, 1,5% entre os
indivíduos de faixa etária de 36 a 45 anos, 2,5% entre os entrevistados que possuem
entre 45 a 56 anos, 0% dos entrevistados com idade de 45 a 56 anos e 1% dos
entrevistados com idade acima de 65 anos. No entanto, o gráfico também nos
aponta que a porcentagem de indivíduos que não responderam a pergunta aumenta
conforme a idade dos entrevistados também aumenta, principalmente entre os
indivíduos que possuem idade de 46 a 55 anos (12%).

Comparando estes dados da variável idade, no que tange à população


serrolandense que já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável, com a
116

variável escolaridade, notamos que a maior porcentagem de entrevistados, tanto dos


que responderam positiva quanto os que responderam negativamente, possuem
idade entre 16 a 25 anos e o ensino médio completo. Isto nos faz retomar a
afirmação de que a educação é um fator preponderante em nossa sociedade para
que possamos percorrer os caminhos do desenvolvimento local sustentável.

No que tange à questão ambiental, segundo a população entrevistada, o processo


de desenvolvimento local sustentável deve usufruir da natureza sem causar nenhum
impacto ambiental, utilizando os recursos de forma racional sem comprometer o
futuro das gerações vindouras, garantindo o uso de materiais essenciais à vida,
conforme a proposição da CMMAD (1987). Os entrevistados chamam a atenção de
que suprir as necessidades da geração atual sem comprometer as futuras gerações
é manter os recursos necessários e proporcionar sustentabilidade à comunidade
local e às gerações futuras sem agredir o meio ambiente. Diante disto, perguntei à
população se é possível afirmar que em Serrolândia tem desenvolvimento local
sustentável e obtive os seguintes resultados (Gráfico 16):

2%

12%
46%

40%

SIM
NÃO
NÃO RESPONDERAM
AS DUAS OPÇÕES

Gráfico 16: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia,


segundo a população.
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 16, 46% dos entrevistados afirmam que em
Serrolândia há desenvolvimento local sustentável. Segundo estes, as ações
117

existentes na cidade que podem ser consideradas como desenvolvimento local


sustentável são: geração de emprego das fábricas de bolsas e do comércio, inclusão
social através de emprego aos mais carentes, principalmente os jovens, dando
oportunidade para muitos se tornarem empresários, mudança políticas e ajustes
sociais que vem ocorrendo na cidade, atividades associativas e que utilizam mão-
de-obra do próprio local, fortalecendo a economia, bem como melhora da qualidade
de vida de boa parte da população. Notamos nestas respostas que as
características apresentadas pela população serrolandense referentes às ações
existentes na cidade de Serrolândia, as quais confirmam a existência do processo
de desenvolvimento local sustentável, também são discutidas por Buarque (2002);
Dowbor (2006; 2006b); Franco (2000; 2002) e Joyal; Martinelli (2004) nas
experiências vivenciadas em outras partes do mundo.

Entretanto, 40% dos entrevistados afirmam que em Serrolândia não há


desenvolvimento local sustentável, pois ainda falta: parceria entre o poder públi co, a
sociedade civil, escolas, associações e as fábricas de bolsas; planejamento
participativo e associativismo para criar uma cooperativa de reciclagem, através da
ajuda de um instrutor; mais respeito ao trabalhador por parte dos fabricantes de
bolsas, pagando o salário merecido; mais oportunidade de trabalho, educação e
lazer, e desenvolvimento de programas de geração de renda para a população
serrolandense; cuidar dos recursos naturais (solo, vegetação, recursos hídricos) e
implantar políticas públicas que despertem uma maior preocupação para a questão
do desenvolvimento local sustentável, principalmente entre os representantes das
fábricas.

Apesar de 12% dos entrevistados não terem respondido à pergunta, 2% afirmam


que existe e ao mesmo tempo não existe DLS em Serrolândia: há um fortalecimento
da economia local através das fábricas de bolsas e a ampliação do comércio,
entretanto falta inovação por parte da gestão pública, organização e mobilização da
sociedade para atuarem numa política de DLS.

Continuando a análise referente à opinião da população entrevistada quanto à


existência ou não do desenvolvimento local sustentável na cidade de Serrolândia,
118

abordarei também a opinião dos entrevistados por variáveis, observando as


respostas de acordo com a escolaridade (gráfico 17) e renda (gráfico 18):

35%
30
30%
Sim
25%
21
20% Não

15% Não
8 8 respond.
10%
6 6 As duas
4 3 3
5% 1,5 1,5 1,5 1,5 opções
1 1 1 1 1 0
0%

Gráfico 17: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia,


segundo a população - Escolaridade
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos observar no gráfico 17, em relação aos entrevistados que


responderam sim, existe uma grande variação dos índices percentuais de acordo
com o nível educacional, mantendo -se uma porcentagem baixa entre os indivíduos
que possuem o ensino fundamental incompleto (1%), fundamental completo (1,5%)
e médio incompleto (1,5%). O índice percentual eleva -se para 30% entre os
indivíduos que possuem o ensino médio, baixando novamente entre as pessoas que
possuem nível superior incompleto (4%) e superior completo (6%). Desta forma,
observamos que a quantidade de pessoas entrevistadas que possuem o ensino
médio é bastante significativa, tanto entre as pessoas que responderam sim quanto
entre aquelas que responderam não (21%) e as que não opinaram (8%). Já os
entrevistados que responderam as duas opções são respectivamente pessoas que
possuem ensino de nível médio completo (1,5) e superior incompleto (1,5%).

Quanto à renda (gráfico 18), os dados nos mostram que há uma variação
significativa em relação à visão da população sobre o desenvolvimento local
sustentável na cidade de Serrolândia. Podemos observar que os índices percentuais
119

baixam à medida que aumenta a renda da população entrevistada, sobretudo entre


as pessoas que responderam não.

18% 17 17
16%
14% 13
12% 11
10% Não
8% 7
6 Sim
6% 5 5
4
4% 2,5 2,5 Não
2% 1,5 1,5 1,5 1,5 respond.
1 1 1 1
As duas
0%
opções
salários…

salários…
salários…

desem.
um salário

De um a

de quatro
De três a
de dois a

Só estuda
salários…

Não trab.
menos de

quatro
mínimo

a cinco

Está
dois

três

Gráfico 18: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia,


segundo a população - Renda
Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008.
Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 18, a porcentagem dos que responderam não é
maior (17%) entre os entrevistados que têm renda mensal inferior a um salário
mínimo baixando para 11% entre as pessoas que recebem renda de um a dois
salários mínimos; 5% entre os indivíduos que recebem um valor mensal de dois a
três salários mínimos; 2,5% e 1% entre os indivíduos que recebem de três a quatro
salários mínimos. Este percentual também é baixo entre os indivíduos que não
trabalham, só estudam e os que estão desempregados (1,5%). Já em relação aos
entrevistados que responderam sim, há uma variação significativa nos percentuais,
obtendo 13% entre os indivíduos que recebem menos de um salário mínimo,
aumentando para 17% entre os indivíduos que têm renda mensal de um a dois
salários mínimos; e, baixando novamente para as pessoas que recebem entre entre
dois a quatro salários mínimos (7% e 1,5%), atingindo 5% entre as pessoas que
estão desempregadas. Apenas as pessoas que possuem renda mensal de um a
dois salários mínimos responderam as duas opções. Esta rea lidade nos faz refletir
que a renda dos indivíduos entrevistados é um fator fundamental para analisarmos o
processo de desenvolvimento local sustentável de Serrolândia, já que, com uma boa
renda, os cidadãos podem investir em educação, segurança, saúde, la zer, enfim, ter
120

uma boa qualidade de vida em concordância com a conservação dos recursos


naturais, conforme destacado por Buarque (2002), Franco (2000; 2002) Joyal;
Martinelli (2004) e Souza (2002).

Podemos concluir que a análise dos dados dos questionários, das entrevistas e da
observação in locu responde à nossa problemática acerca da indústria de bolsas em
Serrolândia e os (des) caminhos do desenvolvimento local sustentável. Vale
ressaltar que não foi por acaso a opção de utilizar o prefixo de negação “des” no
título deste trabalho, uma vez que algumas práticas realizadas, sobretudo pelos
fabricantes de bolsas, não estão promovendo sinergia entre a qualidade de vida, a
eficiência econômica e a conservação dos recursos naturais. Estas práticas fazem
com que, muitas vezes, o caminho para o desenvolvimento local sustentável seja
percorrido num sentido oposto em relação ao que seria desejado, sendo necessário
serem repensadas e modificadas.
121

CONSIDERAÇÕES FINAIS

E você ainda me pergunta: aonde é que eu quero chegar,


se há tantos caminhos na vida e pouquíssima esperança no ar!
E até a gaivota que voa já tem seu caminho no ar!

(Caminhos, Raul Seixas)

Os estudos realizados neste trabalho centralizaram-se na análise das contribuições


e os entraves das fábricas de bolsas para o desenvolvimento local sustentável em
Serrolândia – Ba. Desta forma, o embasamento teórico sobre as concepções de
desenvolvimento, industrialização e desenvolvimento local sustentável foi
fundamental para a efetivação da pesquisa e das reflexões acerca da complexa
realidade que vivenciamos atualmente no mundo globalizado.

O marco teórico da pesquisa nos permite considerar que o conceito de


desenvolvimento é bastante complexo e vem sendo redefinido ao longo do tempo;
se apresenta numa multiplicidade de escalas espaciais e não possui só a dimensão
econômica, que privilegia o crescimento material da produção e do consumo, bem
como o aumento da renda que, muitas vezes, é concentrada nas mãos de uma
minoria da população. Estão presentes também no processo de desenvolvimento as
dimensões política, social, cultural e ambiental, as quais devem atender às
necessidades fundamentais das sociedades tais como: a liberdade, autonomia,
participação e o acesso à cultura, bem como a qua lidade de vida.

Ficou evidente que os padrões tradicionais de desenvolvimento econômico


capitalista privilegiam a acumulação da renda e o crescimento do PIB em detrimento
da qualidade de vida das pessoas, a realização da cidadania e a defesa do meio
ambiente. Daí a importância de uma redefinição do conceito de desenvolvimento no
cenário de crise ambiental mundial, que contemple os aspectos relacionados à
educação, saúde, segurança e moradia, bem como, a justiça social e ambiental.
122

A Revolução Industrial e o atual meio técnico-científico-informacional


proporcionaram o progresso na economia e modernização da estrutura social, com a
concentração da população no espaço urbano e elevados padrões de consumo,
bem como a divisão do trabalho e a difusão de informações. Porém, aumentou a
competição entre os povos e a concentração da riqueza e do poder, aumentando as
desigualdades sociais e econômicas, como também a extração ilimitada dos
recursos naturais e destruição da natureza.

Neste contexto, podemos constatar a importância de se promover o


desenvolvimento local sustentável através da descentralização do modo produtivo
industrial e a participação de todos os agentes sociais – poder público, setor privado
empresarial e sociedade civil organizada – para tornar dinâmicas as potencialidades
do local, com o fortalecimento de redes e a participação das pequenas e médias
empresas com iniciativas que gerem formas de produção sustentáveis.

No que tange à problemática estudada, destacamos que o processo de implantação


das fábricas de bolsas em Serrolândia-Ba pode ser considerado como endógeno por
ter sido articulado pelos próprios agentes sociais locais (Noel e Raulinda) numa
dinâmica permanente de aprendizagem e criatividade e inovação. Estas pequenas
empresas vêm tomando uma dimensão socioeconômica muito grande no que tange
à geração de renda, emprego e expansão do mercado consumidor a todo o país,
além de contribuir para a ampliação do comércio local na oferta de compra/venda e
consumo para a população, garantindo assim, a sustentabilidade econômica do
lugar.

Constatamos que a indústria de bolsas de Serrolândia contribui para o


desenvolvimento local sustentável por dinamizar as potencialidades locais,
sobretudo o empreendedorismo local e a mão-de-obra que é inteiramente local, e
assim promover a inclusão social através da oportunidade de trabalho,
principalmente aos jovens e às donas de casa.

Contudo, percebemos que as fábricas de bolsas promovem alguns entraves para o


desenvolvimento local sustentável. Falta melhorar o nível de parceria entre estas
empresas e os demais agentes sociais locais, já que não há por parte dos
123

proprietários das fábricas um envolvimento consistente com a comunidade local e o


poder público para desenvolverem uma ação conjunta de melhoria social a partir do
reconhecimento dos potenciais de desenvolvimento existentes na cidade de
Serrolândia.

Sabemos que o processo de terceirização da produção é uma atividade que ocorre


em todas as empresas, visando aumentar o capital empregado. Contudo, a forma
como é gerido este processo nestas fábricas (em que as próprias empresas
terceirizadas são as terceirizadoras) também é reveladora destes entraves, uma vez
que denota a falta de responsabilidade por parte dos fabricantes de bolsas em
relação aos vínculos empregatícios, os direitos trabalhistas e encargos sociais, bem
como a desvalorização e segurança do trabalhador.

No que tange à questão ambiental, constatamos que a maioria destas empresas


causa impactos ambientais locais. Estas fábricas utilizam materiais químicos/tóxicos
como napa, plásticos, solventes e tintas, bem como produzem resíduos sem se
preocuparem com a destinação final destes, interferindo na garantia de
sustentabilidade ambiental local e gestão do meio ambiente.

Contudo, salientamos a importância da construção de políticas públicas que possam


contribuir para uma relação integrada entre o desenvolvimento e o meio ambiente.
Também é necessário que, no modelo de gestão destas fábricas, haja uma
contribuição efetiva para o desenvolvimento local sustentável, que não seja só
economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente
equilibrado. Destarte, é preciso que haja parceria entre os fabricantes de bolsas e os
demais agentes sociais locais para que este modelo de desenvolvimento seja
planejado e efetivado de maneira sinérgica em que deve ser privilegiada a qualidade
de vida em consonância com a eficiência econômica, a gestão pública eficiente e a
conservação dos recursos naturais (BUARQUE, 2002).

Sabemos que o caminho a ser percorrido para realizarmos o desenvolvimento local


sustentável pode ser longo e tortuoso, com um emaranhado de entraves. Contudo,
não devemos desistir, mas, acreditar que, realizando iniciativas e ações sinérgicas
para a transformação socioeconômica, ambiental, cultural e política da nossa
124

realidade, as gerações futuras terão chance de existir e viver bem, de acordo com as
suas necessidades, a partir da melhoria da qualidade de vida. Para isto, é
necessário que seja pensado e promovido um desenvolvimento que não leve em
consideração apenas a dimensão econômica, mas também a eqüidade social e a
conservação ambiental.
125

REFERÊNCIAS:

AFONSO, C. M. Sustentabilidade: Caminho ou utopia? São Paulo: Annablume,


2006.

ANDION, C. Análise de Redes e Desenvolvimento Local Sustentável. RAP Rio


de Janeiro 37(5): 1033-1054, Ser/ Out. 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e


documentação: Citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: As Estratégias de


Mudanças da Agenda 21. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes Ltda., 2005.

BREDARIOL, C.; VIEIRA, L. Cidadania e política ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro:


Record, 2006.

BROSE, M. Fortalecendo a democracia e o desenvolvimento local, 103


experiências inovadoras no meio rural gaúcho. Rio Grande do Sul: EDUNISC,
2000.

BRUM, A. J. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro. 20. ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ,


1999.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de


Janeiro: Garamond, 2002.

CAMARGO, A. L. de B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. 2.


ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

CARLOS, A. F. A. Espaço e indústria. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1994.

CARON, A. Inovação tecnológica e pequena e média empresa local in:


OLIVEIRA, G. B. de;LIMA, J. E. de S (Org). O desenvolvimento sustentável em foco:
uma contribuição multidisciplinar. Curitiba; São Paulo: Annablume, 2006.
126

CASTRO, R. K; SANTOS. Participação cidadã em torno do Dique de Campinas,


SSA/BA. Cadernos Metrópole/Grupo de Pesquisa PRONEX – n. 15, pp.145-160,1º
Sem. 2006.

CAVALCANTI (Org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade


sustentável. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
CUNHA, S. B; GUERRA, A. J. T. a Questão Ambiental: diferentes abordagens. 3.
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

DASHEFSKY, H. S. tradução Eloísa Elena Torres. Dicionário de Ciência


Ambiental. 3. ed. São Paulo: Gais, 2003.

DINIZ, E. M. Os resultados da Rio + 10. Revista do Departamento de Geografia,


n. 15, pp. 31–35 (2002). Disponível em:
www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/RDG

DIOGO, P. N.; FONTES, A.; VELLOSO. M. A estratégia de desenvolvimento local


proposta pelo Programa Comunidade Ativa: potencialidades e entraves do
DLIS. Rio de Janeiro: 2002. Disponível em:
www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarArquivo.aspx?ID=1110. Acesso em
abril de 2008.

DOWBOR, L. Desenvolvimento local e racionalidade econômica. 2006a.


Disponível em: http://dowbor.org. Acesso em maio de 2008.

___________ Educação e Desenvolvimento Local. 2006b. Disponível em:


http://dowbor.org. Acesso em maio de 2008.

___________ Políticas Nacionais de apoio ao desenvolvimento local:


empreendedorismo local e tecnologias sociais. RAP Rio de Janeiro 39 (2): 187-
206, Mar/Abr. 2005.

FAVERO, C. A; SANTOS, S. R. dos. Semi-árido: fome, esperança, vida digna.


Salvador: UNEB, 2002.

FILHO, N. C. PIRES, L. H. 2. ed. Redes de Pequenas e médias empresas e


desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global
com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 2001.
127

FOLADORI, G. Limites do Desenvolvimento Sustentável. Campinas – SP: Editora


da Unicamp, 2001.

FRANCO, A. de. Pobreza e Desenvolvimento Local; tradução de Maria Mercedes


Quihiladora Mourão, Susie Casement Moreira. Brasília: ARCA sociedade do
Conhecimento, 2002.

___________ Porque precisamos de Desenvolvimento Local Integrado


Sustentável. 2. ed. n° 3 da Revista SÉCULO XXI, 2000.

FURTADO, C. O Mito do Desenvolvimento Econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz


e Terra, 1996.

GOLDENBRG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em


Ciências Sociais. 9. ed. Rio de Janeiro: Record. 2005.

IBGE, Contagem da População 2007. Disponível em www.ibge.br. Acesso em maio


de 2008.

JOYAL, A; MARTINELLI, D. P. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e


médias empresas. Barueri, SP: Manole, 2004.

LEFF, H. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia


participativa e desenvolvimento sustentável; tradução de Jorge Esteves da Silva.
Blumenau Ed. da FURB, 2000.

_________ Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,


poder; tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

LITTLE, P.E (Org.). Políticas ambientais no Brasil: análises, instrumentos e


experiências. São Paulo: Peirópolis; Brasília, DF: IIEB, 2003.

MARTINS, H. H. T. de S. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300,


maio/ago. 2004.

MENDES, J.T.G; SILVA, C.L.da S (Orgs). Reflexões sobre o Desenvolvimento


Sustentável: agentes e interações sob a ótica multidisciplinar. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2005.
128

MENDONÇA, F. Geografia e Meio Ambiente. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

MINAYO, M. C. de S.; DESLANDES, S. F.; NETO, O. C.; GOMES, R. Pesquisa


Social: Teoria, método e criatividade. 24. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

MOURA, M. S. S. ; MELO, V. P. ; CASTRO, R. ; MEIRA, L. ; LORDELO, J. A.


Gestão do Desenvolvimento Local, Tempos e Rítmos de Construção - O Que
Sinalizam as Práticas. Revista Brasileira de Administração Pública, Rio de Janeiro,
v. 36, p. 609-626, 2002.

OLIVEIRA, G. B. de;LIMA, J. E. de S (Org). O desenvolvimento sustentável em


foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba; São Paulo: Annablume, 2006.

ORTIZ, R. Mundialização e cultura. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994.

REIS, D. P. dos. Serrote de Ontem e Serrolândia de Hoje. Serrolândia: 1994.

RIBEIRO, W. C. A Ordem Ambiental Internacional. São Paulo: Contexto, 2001.

SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 4. ed. Rio de Janeiro:


Garamond, 2002.

__________ Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de


Janeiro: Garamond, 2004.

SACHS, I.; VIEIRA, P. F (Org). Rumo à Ecodinâmica: Teorias e práticas do


desenvolvimento.São Paulo: Cortez, 2007.

SANDRONI, P. Dicionário de Economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro:


Record, 2006.

SANTOS, M. A natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4. ed.


São Paulo: EDUSP, 2004a.

___________O Brasil, território e sociedade no início do século XXI. Rio de


Janeiro: Record, 2001.
129

___________Por uma Geografia Nova. 6. ed. São Paulo: EDUSP, 2004b.

___________Por uma outra Globalização. 12. ed. Rio de Janeiro. São Paulo:
Record, 2005.

SEBRAE/BA. Diagnóstico Municipal 80 / Serrolândia . Serviço de Apoio às


Pequenas e Médias Empresas do Estado da Bahia, Salvador, 1999.

SEN. A. K. Desenvolvimento como liberdade; tradução Laura Teixeira Mota. São


Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SILVA. Desenvolvimento Sustentável: um conceito multidisciplinar. In


MENDES, J.T.G; SILVA, C.L.da S (Orgs). Reflexões sobre o Desenvolvimento
Sustentável: agentes e interações sob a ótica multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes,
2005.

SMITH, N. Desenvolvimento desigual. Rio de Janeiro: Berttrand Brasil S.A. 1988.

SOUZA, M. L. de. Mudar a Cidade: Uma introdução crítica ao planejamento e à


gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

TAUK- TORNISIELO, S. M.; GOBBI, N.; FOWLER, H. G. (Org). Análise Ambiental:


Uma Visão Multidisciplinar. São Paulo: Ed. UNESP, 1995.

VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento Sustentável: O desafio do século XXI. Rio de


Janeiro: Garamond, 2005.

WERTEIN, J et al. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de


dados para a cultura. Brasília, UNESCO Brasil. 2003.
130

BIBLIOGRAFIA:

CAMPANHA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL. Programa de


Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS: Chapada Diamantina.
Salvador, 1997.

CAMPANHA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL. Programa de


Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS: Chapada Diamantina.
Salvador, 1997.

CERVO, A. L. & BERVIAN, P. A. Metodologia da Pesquisa. 4. ed. São Paulo:


Papirus, 1995.

FERREIRA, H.; RAMOS,G (Org). “Aprendendo o Social”. Salvador: UFBA, 2000.

MARTINS, G. de A. Estudo de Caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo:


Atlas, 2006.

POLIANYI, K. A Grande Transformação: As Origens da nossa Época. Rio de


Janeiro: Campus, 2000.

PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza da


globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

SOUZA, H. R. de. O povo e o poder: a partilha do poder local e o


desenvolvimento de Castro Alves/BA. – Santo Antônio de Jesus – Ba.: [s.n.],
2008.

SITES PESQUISADOS:

www.cepal.com.br

www.ibge.gov.br/cidades

www.mma.br

www.sei.ba.gov.br
131

www.ambientebrasil.com.br (Comissão Mundial para o Meio Ambiente e


Desenvolvimento, 1987).

http://www.bndes.gov.br/pme/default.asp acessado em 01/11/2008

www.sistemafaceb.com.br

LISTA DOS ENTREVISTADOS:

Elias Gomes Diniz, 35 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide


Silva dos Santos em 29 de outubro de 2008.

Lenivalter Mota Bispo, 39 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a


Ivaneide Silva dos Santos em Serrolândia, 03 de novembro de 2008.

Noel Roque Rodrigues, 58 anos. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a


Ivaneide Silva dos Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Raulinda Maria Oliveira, 65 anos. Ex-costureira. Entrevista concedida Ivaneide Silva


dos Santos em Serrolândia, 18 de outubro de 2008.

Wanderlei Oliveira Rios, 33 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a


Ivaneide Silva dos Santos em 30 de outubro de 2008.
132

APÊNDICE

APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO À POPULAÇÃO DAT A___/___/___

Pesquisa de campo para o trabalho do curso de Mestrado em Cultura, Memória e


Desenvolvimento Regional – UNEB – Campus V – Santo Antônio de Jesus-BA. “A indústria
de bolsas em Serrolândia/Ba e os (des) caminhos para o Desenvolvimento Local
Sustentável”.
A – SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO

B – IDADE: ( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) 36-45 anos ( ) 46-55 anos


( ) 56 a 65 anos ( ) acima de 65 anos

C – ESCOLARIDADE:
( ) Não alfabetizado(a) ( ) Fundamental completo (1ª a 8ª série) ( ) Fundamental
incompleto ( ) Médio completo (1º ao 3º ano) ( ) Médio incompleto
( ) Superior completo ( ) Superior incompleto

D – RENDA:
( ) Menos de R$ 415,00 ( ) R$ 415,00 a 830,00 ( ) R$ 830,00 a 1.245,00
( ) R$ 1.245,00 a 1.660,00 ( ) R$ 1.660,00 a 2.075,00 ( ) R$ 2.075,00 a 2.490,00 ( )
Acima de R$ 2.490,00 ( ) Não trabalha ( só estuda) ( ) Está desempregado (a)

1. Você acha que a as fábricas de bolsas são importantes para o desenvolvimento


de Serrolândia?
( ) SIM ( ) NÃO

2. Você acha que houve uma mudança no modo de vida das pessoas de Serrolândia
devido à implantação das fábricas de bolsas?
( ) SIM ( ) NÃO

2.1 Para quem responder sim, explicar quais foram as


mudanças________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. O que existe em Serrolândia que interessa às fábricas de bolsas?

( ) Disponibilidade de matéria-prima ( ) Disponibilidade de mão-de-obra


( ) Infra-estrutura ( ) Empreendedorismo local ( ) isenção de impostos
( ) Boa localização para o transporte de mercadorias

4. Você tem algum familiar que trabalha ou já trabalhou em fábrica de bolsas?


( ) NÃO ( ) SIM.
Quem?___________________________________________________________

5. Você trabalhou em fábrica de bolsas alguma vez?


( ) SIM ( ) NÃO

6. Em sua opinião, as fábricas de bolsas em Serrolândia contribuem para:


( ) Geração de emprego ( ) melhorar a qualidade de vida da comunidade
( ) Desenvolvimento da cidade ( ) Aumentar a renda da população
133

( ) Crescimento da cidade ( ) Investimentos sociais ( ) investimentos ambientais


( ) Dinamizar a economia local ( ) Aumentar a saída de pessoas para outras cidades
( )Diminuir a saída de pessoas para outras cidades

7. Você acha que existe uma parceria entre o poder público, as fábricas de bolsas e
a sociedade civil para promover o desenvolvimento da cidade?
( ) SIM ( ) NÃO
7.1 Para quem responder sim, explicar como é essa
parceria:________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
8. Você acha que as fábricas de bolsas causam poluição ao meio ambiente?
( ) Não causam nenhuma poluição ( ) Muita poluição ( ) Pouca poluição / Quais os
tipos?___________________________________________________________
________________________________________________________________
9. Você já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável?
( ) Sim ( ) Não

9.1 Para quem responder sim dizer o que entende por desenvolvimento local
sustentável:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

10. Em sua opinião, podemos dizer que em Serrolândia existe desenvolvimento


local sustentável?
( ) SIM ( ) NÂO
10.1 Para quem responder não: O que falta em Serrolândia para o desenvolvimento
local sustentável
existir?__________________________________________________________________

10.2 Para quem responder sim: Quais as ações existentes na cidade que você
considera como desenvolvimento local
sustentável?______________________________________________________
_________________________________________________________________

11. No que se refere ao trabalho no interior das fábricas, você acha que a atuação dos
fabricantes em relação aos funcionários está sendo:
( ) Ótima ( ) Regular ( ) Péssima ( ) Precisa melhorar. Em
quê?__________________________________________________________________
______________________________________________________________________
12. Em relação ao salário, as fábricas:
( ) pagam um salário muito bom ( ) pagam um salário muito pouco
( ) pagam um péssimo salário ( ) pagam um salário razoável

13. Em sua opinião, em que contribui o trabalho terceirizado nas fábricas?


( ) Aumentar o salário dos funcionários ( ) Melhorar a qualidade da produção de
bolsas ( ) Diminuir o salário dos funcionários ( ) Diminuir os encargos sociais
dos fabricantes ( ) Aumentar a responsabilidade dos fabricantes em relação aos
direitos trabalhistas
( ) Diminuir a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos trabalhistas.

OBRIGADO PELAS SUAS RESPOSTAS!


134

APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO AOS FUNCIONÁRIOS DAS FÁBRICAS Data___/__/___

Pesquisa de campo para o trabalho do curso de Mestrado em Cultura, Memória e


Desenvolvimento Regional – UNEB – Campus V – Santo Antônio de Jesus-BA. “A indústria
de bolsas em Serrolândia/Ba e os (des) caminhos para o Desenvolvimento Local
Sustentável”.

A – SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO


B – IDADE: ( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) 36-45 anos ( ) 46-55 anos
( ) 56 a 65 anos ( ) acima de 65 anos
C – ESCOLARIDADE:
( ) Não alfabetizado(a) ( ) Fundamental completo (1ª a 8ª série) ( ) Fundamental
incompleto ( ) Médio completo (1º ao 3º ano) ( ) Médio incompleto ( ) Superior
completo ( ) Superior incompleto ( ) Não estuda

D – RENDA:
( ) Menos de R$ 415,00 ( ) R$ 415,00 a 830,00 ( ) R$ 830,00 a 1.245,00
( ) R$ 1.245,00 a 1.660,00 ( ) R$ 1.660,00 a 2.075,00 ( ) R$ 2.075,00 a 2.490,00 ( )
Acima de R$ 2.490,00

E – FÁBRICA QUE TRABALHA:_________________________FUNÇÃO________


1. Você acha que a as fábricas de bolsas são importantes para o desenvolvimento
de Serrolândia?
( ) SIM ( ) NÃO
2. Você gosta do trabalho que desenvolve na fábrica:
( )Não. Por quê?________________________________________________

( )Sim. Por quê?________________________________________________

3. Este trabalho melhorou sua condição de vida? ( ) SIM ( ) NÃO

3.1 Para quem responder sim, explicar quais foram as


mudanças:________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
____________________________________________________ Em relação ao salário a
fábrica:

( ) Paga um salário muito bom ( ) Paga um salário muito pouco ( ) paga um péssimo
salário ( )pagam um salário razoável

4. Como são as condições de trabalho nesta fábrica de bolsa?


( ) Recebe por carteira assinada ( ) Recebe por produção ( ) Tem direito a férias e
décimo terceiro ( ) Recebe por hora extra ( ) Existem os direitos trabalhistas m as
não são cumpridos ( ) Todos os direitos trabalhistas são cumpridos
5. Em relação à segurança no trabalho, você afirma que:

6.1 A fábrica disponibiliza equipamento individual de trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO

6.2 O espaço da fábrica é bastante arejado e iluminado? ( ) SIM ( ) NÃO


135

6.3 O material utilizado na produção de bolsas é prejudicial à saúde?

( ) SIM ( ) NÃO

6. No que se refere ao trabalho no interior das fábricas, você acha que a atuação dos
fabricantes em relação aos funcionários está sendo:
( ) Ótima ( ) Boa ( ) Péssima ( ) Precisa melhorar. Em
que?___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
7. Você acha que o trabalho terceirizado nas fábricas contribui para:
( ) Aumentar o salário dos funcionários ( ) Melhorar a qualidade da produção de
bolsas ( ) Diminuir o salário dos funcionários ( ) Diminuir os encargos sociais dos
fabricantes ( ) Aumentar a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos
trabalhistas ( ) Diminuir a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos
trabalhistas.

8. O que existe em Serrolândia que interessa às fábricas de bolsas?


( ) Disponibilidade de matéria-prima ( ) Disponibilidade de mão-de-obra
( ) infra-estrutura ( ) empreendedorismo local ( ) Isenção de impostos
( ) Boa localização para o transporte da mercadoria

9. Em sua opinião, as fábricas de bolsas em Serrolândia contribuem para:


( ) Geração de emprego ( ) melhorar a qualidade de vida da comunidade
( ) Desenvolvimento da cidade ( ) Aumentar a renda da população
( ) Crescimento da cidade ( ) Investimentos sociais ( ) investimentos
ambientais ( ) Dinamizar a economia local ( ) Diminuir a saída de pessoas para
outras cidades ( ) Aumentar a saída de pessoas para outras cidades

10. Você acha que existe uma parceria entre o poder público, as fábricas de bolsas e
a sociedade civil para promover o desenvolvimento?
( ) SIM ( ) NÃO
11.1 Para quem responder sim, explicar como é essa
parceria:________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

11. Você acha que as fábricas de bolsas causam poluição ao meio ambiente?
( ) Não causam nenhuma poluição ( ) Muita poluição ( ) Pouca poluição / Quais os
tipos?_________________________________________________________________

12. Você já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável? ( ) Sim ( ) Não

13.1 Para quem responder sim dizer o que entende por desenvolvimento local
sustentável:
________________________________________________________________
14 Em sua opinião, podemos dizer que em Serrolândia tem desenvolvimento local
sustentável?
( ) SIM ( ) NÂO
14.1 Para quem responder não: O que falta em Serrolândia para o
desenvolvimento local sustentável existir?
136

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
14.2 Para quem responder sim: Quais as ações existentes na cidade que
você considera como desenvolvimento local
sustentável?__________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

OBRIGADO PELAS SUAS RESPOSTAS!


Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download:

Baixar livros de Administração


Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo

Você também pode gostar