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Ao Ministério da Educação

Exmo. Senhor Presidente da República

Com conhecimento de:

Exma. Senhora Presidente do Conselho Pedagógico


Exmo. Senhor Presidente da Assembleia de Agrupamento
Exmo. Senhor Director da DRELVT
Exmo. Senhor Secretário de Estado da Administração Educativa

MOÇÃO DE REJEIÇÃO
DO MODELO DE AVALIAÇÃO CONSIGNADO NO DECRETO REGULAMENTAR 2/2008

Os educadores e educadoras, professores e professoras do Agrupamento de Escolas


Dr. António Augusto Louro reunidos pelas dezoito horas e trinta minutos do dia 13 de
Novembro de 2008, não questionam a avaliação de desempenho como instrumento
conducente à valorização das suas práticas docentes, estando dispostos a continuar a
trabalhar no desenvolvimento de um modelo que considerem adequado, promotor do
desenvolvimento profissional, que contribua para uma melhoria das práticas pedagógicas
nas escolas e com resultados positivos nas aprendizagens dos alunos, mas querem deste
modo expressar o seguinte:

Lamentam profundamente que as suas energias não estejam a ser usadas naquilo que
eles fazem melhor que é preparar as crianças e jovens para o futuro fazendo deles
cidadãos esclarecidos, bem formados e competentes em diferentes áreas do saber.

Lamentam que esta equipa ministerial os tenha obrigado desde o início a canalizar
toda a sua atenção, as suas energias, a maioria do seu tempo não lectivo e muito do seu
tempo pessoal, na análise da legislação que tem publicado atabalhoadamente e
massivamente de forma apressada e que tem imposto prepotentemente aos educadores e
professores, muitas vezes para que estes a completem e suprimam as falhas e
incongruências dos legisladores.

É exemplo flagrante do desconhecimento da realidade escolar por parte dos


responsáveis ministeriais a regulamentação ao estatuto do aluno que veio introduzir mais
trabalho burocrático e generalizar a confusão, prejudicando muito o normal funcionamento
das escolas, retirando tempo às actividades de preparação lectiva e às actividades
curriculares não disciplinares e extracurriculares, não resolvendo e não melhorando em
nada o problema da falta de assiduidade e das consequências daí resultantes.

Lamentam mais profundamente que a carreira docente tenha sido dividida em duas
com base em critérios duvidosos, geradores de injustiça grave e de cariz marcadamente
economicista.

Lamentam e repudiam veementemente o modelo de avaliação do desempenho


docente que este Ministério quer impor a todo o custo e que no nosso entender não tem
possibilidades de aplicação de uma forma rigorosa, honesta, transparente, justa, imparcial,
pertinente e eficaz. Sendo estes alguns dos valores que norteiam a nossa actuação
profissional, docentes aqui reunidos declaram suspender a implementação do modelo
de avaliação do desempenho aprovado pelo Decreto Regulamentar 2/2008, de 10 de
Janeiro pelos seguintes motivos:

Os resultados escolares dos alunos não dependem exclusivamente do trabalho


individual de cada professor, assim a imputação de responsabilidade individual ao
docente pela avaliação dos seus alunos, configura uma violação grosseira do previsto
nos números 27 e 31 do Despacho Normativo 1/2005 de 5 de Janeiro, quanto à
decisão da avaliação final do aluno, a qual, como é sabido, é da competência do
professor titular da turma em articulação com o conselho de docentes, no 1.º ciclo e do
conselho de turma sob proposta do(s) professor(es) de cada disciplina/área
disciplinar/área curricular não disciplinar, nos 2.º e 3.º ciclos.

O abandono escolar dos alunos é um dos parâmetros contabilizados na avaliação do


desempenho docente e sobre o qual os professores não conseguem exercer quaisquer
controlo nem responsabilidade.

Não é aceitável que se estabeleçam comparações entre a avaliação sumativa


interna e a avaliação sumativa externa, quando sabemos que este critério apenas é
aplicável às disciplinas que têm exame a nível nacional, havendo, por isso, uma
violação evidente do princípio da igualdade consagrado no Artigo 13º da Constituição
da República Portuguesa.

É ilegal a penalização relativa à ausência ao serviço devido ao uso de direitos


protegidos constitucionalmente, como sejam a maternidade e a paternidade, a doença,
o nojo, a formação profissional, o serviço oficial convocado pelo próprio Ministério da
Educação, e o cumprimento de obrigações legais entre outros. Por via desta
penalização os docentes ficam impedidos de obter a classificação de Muito Bom e
Excelente.

Este Modelo de Avaliação propicia e incita à manipulação dos resultados da avaliação,


docente gerando nas escolas situações de profunda injustiça e parcialidade, devido aos
“acertos” decorrentes da imposição de quotas para as menções de “Excelente” e
“Muito Bom”, desvirtuando as perspectivas dos docentes em ver reconhecidos os seus
efectivos méritos, conhecimentos, competências e consequente investimento na
carreira.

Os professores não reconhecem legitimidade científica e pedagógica quer para


procederem à avaliação do trabalho dos seus pares quer para se sujeitarem à mesma,
atendendo à diversidade disciplinar criada pelos novos mega-departamentos e à falta
da respectiva formação em supervisão pedagógica.

Os professores avaliadores concorrem com os professores por si avaliados no mesmo


processo de progressão na carreira, disputando lugares nas quotas a serem definidas o
que no mínimo implicará o conflito de interesses nas listas de graduação. Existe
assim a possibilidade efectiva deste modelo de avaliação do desempenho colidir com
normativos legais, nomeadamente, o Artigo 44.º da Secção VI (Das garantias de
imparcialidade) do Código do Procedimento Administrativo, o qual estabelece, no ponto
1., alíneas a) e c), a existência de casos de impedimento sempre que o órgão ou
agente da Administração Pública intervenha em actos ou questões em que tenha
interesses semelhantes aos implicados na decisão.

O processo de delegação de competências previsto no número 4 do Despacho


7465/2008 e regulamentado nos artigos 35º a 40º do Código do Procedimento
Administrativo, não está suficientemente explicitado, e que os respectivos actos de
delegação de poderes não foram ainda sujeitos a publicação no Diário da República, tal
como está estipulado no artigo 37º do código de Procedimento Administrativo.

Este modelo de avaliação e a forma como está ser implementado no sistema educativo
é injusto e gerador de desigualdades, na medida em que varia de Agrupamento para
Agrupamento.

É notório o desvio entre as recomendações do CCAP e as directrizes do Conselho de


Escolas, bem como as diferentes afirmações dos mais altos responsáveis ministeriais.
Esta disparidade irá, obviamente, resultar em aplicações diferentes do modelo de
avaliação nas escolas, agravando as arbitrariedades deste processo.
Além destes dez motivos fazemos ainda questão de transcrever algumas das
recomendações do Conselho Cientifico para a Avaliação de Professores:
(RECOMENDAÇÕES N.º 2/CCAP/2008 publicadas a 7 de Julho de
2008)

a) "No contexto de complexidade do processo de aprendizagem, não


é possível determinar e aferir com rigor até que ponto a acção de
um determinado docente foi exclusivamente responsável pelos
resultados obtidos, conforme a literatura científica
consensualmente refere";

b) "A melhoria dos resultados escolares constitua, em primeira


instância, uma responsabilidade partilhada pela escola e pelo
docente";

c) "No caso particular da aplicação do processo de avaliação de


desempenho ao ano escolar de 2008-2009, o progresso dos
resultados escolares dos alunos não seja objecto de aferição
quantitativa";

d) "Para que a observação de aulas possa atingir plenamente os seus


fins, torna-se necessária a indução de ambientes de confiança e
cooperação e a adopção de regimes flexíveis e diversificados de
observação";

e) "A qualidade da observação requer um observador credível sob o


ponto de vista científico e pedagógico-didáctico".

Tendo em consideração os motivos atrás expostos, os signatários desta moção


declaram suspender a aplicação deste modelo de avaliação e informam da sua
tomada de decisão o Conselho Pedagógico, o Conselho Executivo e o futuro
Conselho Geral Transitório.

Por vontade dos signatários esta Moção será amplamente divulgada junto de
todas as instituições consideradas relevantes entre as quais: Exmo. Senhor
Presidente da Assembleia da Republica; todos os Grupos Parlamentares;
Gabinete do Primeiro-Ministro; Associações profissionais e sindicais de
professores; Autarquia Local; professores de todos os outros Agrupamentos do
Concelho do Seixal; orgãos de comunicação social; etc.

Este documento é composto por nove páginas sendo todas numeradas e as


últimas seis apenas contêm assinaturas.
Os signatários:
Nome completo do Docente Assinatura

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