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Bioética

Bioética: Histórico, Princípios e


Relação com o CEM

Professor: Ricardo Ferreira Nunes


Bioética
INTRODUÇÃO - Histórico

A bioética, como uma ética aplicada à vida, busca se relacionar


com as questões de direitos humanos e de cuidados com a vida
em sua plenitude.

A mesma agrega valores morais, sejam estes denominados:


direitos, princípios, virtudes ou cuidados.

A história da bioética se confunde com a história da luta do ser


humano por uma sociedade mais justa, igualitária e com luta
de respeito à dignidade da pessoa humana.
A BIOÉTICA
Resumo histórico

O nascimento da bioética está associado a acontecimentos históricos


e personagens:

• Fritz Jahr (1927);


• Artigo de Henry Beecher (1966);
• Van Rensselaer Potter – Bioethics: Brigde to the future - (1971);

• André Hellegers - Kennedy Institute – (1971);


• Caso Tuskeege (1932 – 1972);
• Relatório Belmont (1978);
• Beauchamp e Childress - Principles of Biomedical Ethics -
(1979);
 Principialismo (Beneficência, Não-Maleficência, Justiça e
Autonomia).
• Garrafa - Bioética de Intervenção - (a partir da década de 90).
Bioética
O nascimento da Bioética

O nascimento da bioética geralmente está associado a


acontecimentos e personagens.

Segundo sugere alguns autores, o médico Fritz Jahr teria sido o


primeiro estudioso a utilizar a palavra bioética, ao propor, em 1927, em
um artigo publicado no periódico alemão Kosmos, uma ética de
respeito a todos os seres vivos.
Bioética
O nascimento da Bioética – O caso Tuskeege

Outros fatos são também atribuídos a essa origem, como a publicação,


em 1966, do artigo de Henry Beecher sobre os abusos de médicos em
relação aos pacientes em experimentos clínicos controversos e abusivos.
O fator determinante destas experimentações absurdas foi o “caso
Tuskeege”, em que homens negros sifilíticos foram usados em
experimentos clínicos sobre a sífilis sem nenhum respeito, dignidade e
consentimento por eles, por cerca de 40 anos.
Bioética
O nascimento da Bioética – O caso Tuskeege

Essa experimentação absurda teve uma conivência criminosa por


parte da comunidade científica geral dos Estados Unidos, pois artigos
foram publicados sobre os resultados sem que ninguém se opusesse
a essa transformação de seres humanos em “cobaias”.

Dica: Assistir ao filme: Cobaias (relato do caso Tuskeege).


Bioética
O nascimento da Bioética

Em 1971, André Hellegers, ginecologista e obstetra, fundou o Kennedy


Institute, na Universidade de Georgetown.
Este médico, preocupado com a ética médica que não conseguia
ajudar os médicos nas difíceis decisões sobre o uso ou não de
biotecnologias, criou o renomado instituto com o objetivo de abranger
parâmetros morais além do código de ética hipocrático, para uma ética
mais ampla, que ele também chamou de bioética.
Bioética
O nascimento da Bioética – O caso Tuskeege

Mais tarde, em 1971, Van Rensselaer Potter, preocupado com


questões que envolviam a ecologia, a degradação do meio ambiente e
com a sobrevivência da vida nosso planeta, propôs uma teoria que ele
chamou também de bioética, como sendo um conjunto de valores
morais e interfaces diferentes daquela provocada inicialmente por Fritz.
Principialismo em Bioética
RELATÓRIO BELMONT

•Em 1978, uma comissão americana (Comissão Nacional para


Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas Biomédicas e
Comportamentais) apresentou um relatório intitulado: “Relatório
Belmont: Princípios Éticos e Diretrizes para a Proteção de
Sujeitos Humanos nas Pesquisas” a respeito dos trabalhos
realizados.

•Este relatório, que apresentava diretrizes morais que deviam


pautar pesquisas com humanos, é considerado um marco histórico
dentro do crescimento exponencial dos ideais bioéticos propostos
por Potter. Essas diretrizes ficaram conhecidas em toda a
comunidade científica como os três primeiros princípios da
bioética: respeito às pessoas, depois denominado de
autonomia, beneficência e justiça.
Bioética

A reação da população, impulsionada por ideais de direitos humanos


e ativistas do movimento negro e feminista, forçou o governo
americano a criar, em 1974, a “Comissão Nacional para Proteção de
Sujeitos Humanos nas Pesquisas Biomédicas e Comportamentais”.
Em 1978, a comissão apresentou relatório dos trabalhos realizados e
que foi intitulado: “Relatório Belmont: Princípios Éticos e Diretrizes
para a Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas”.
Bioética
O nascimento da Bioética – O relatório Belmont

O relatório Belmont é considerado um marco histórico dentro do


crescimento exponencial dos ideais bioéticos propostos por Potter, e
apresentava diretrizes morais que deviam pautar pesquisas com
humanos. Essas diretrizes ficaram conhecidas em toda a comunidade
científica como os três primeiros princípios da bioética: respeito às
pessoas, depois denominado de autonomia, beneficência e justiça.
Principialismo em Bioética
HISTÓRICO
• Contudo, a bioética obteve expansão mundial pela
publicação do livro Principles of Biomedical Ethics em 1979.

• Nessa obra, os autores Beauchamp e Childress sugerem a


ampliação dos três princípios expressos no Relatório
Belmont, para quatro princípios universais que se tornaram
conhecidos como o principialismo em bioética.

1. Beneficência;
2. Não-maleficência;
3. O respeito à autonomia e
4. Justiça.
Bioética
O nascimento da Bioética – Principialismo

A bioética obteve expansão mundial através da publicação do livro


Principles of Biomedical Ethics. Nessa obra, Beauchamp e
Childress sugerem a ampliação dos três princípios expressos no
Relatório Belmont, para quatro princípios universais a saber - a
beneficência, a não-maleficência, o respeito à autonomia e a justiça
- que se tornaram conhecidos como o principialismo em bioética.
Principialismo em Bioética
HISTÓRICO

• A partir da adoção desses princípios, tornou-se


fundamental para o desenvolvimento da Bioética e
ditou uma forma peculiar de definir e manejar os
valores envolvidos nas relações dos profissionais de
saúde e seus pacientes.

• Estes quatro princípios, que não possuem um caráter


absoluto, nem têm prioridade um sobre o outro,
servem como regras gerais para orientar a tomada de
decisão frente aos problemas éticos e para ordenar os
argumentos nas discussões de casos.
O PRINCÍPIO DE NÃO MALEFICÊNCIA:
• De acordo com este princípio, o profissional de saúde tem o
dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou danos a
seu paciente. Considerado por muitos como o princípio
fundamental da tradição hipocrática da ética médica, tem
suas raízes em uma máxima que preconiza: “cria o hábito
de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não
causar danos”.

• Este preceito, mais conhecido em sua versão para o latim


(primum non nocere), é utilizado frequentemente como uma
exigência moral da profissão médica. Trata-se, portanto, de
um mínimo ético, um dever profissional, que, se não
cumprido, coloca o profissional de saúde numa situação de
má-prática ou prática negligente da medicina ou das demais
profissões da área biomédica.
O PRINCÍPIO DE NÃO MALEFICÊNCIA:
• A Não Maleficência tem importância porque, muitas vezes, o
risco de causar danos é inseparável de uma ação ou
procedimento que está moralmente indicado.

• Por exemplo: uma simples retirada de sangue para realizar


um teste diagnóstico tem um risco de causar hemorragia no
local puncionado. Do ponto de vista ético, este dano pode
estar justificado se o benefício esperado com o resultado
deste exame for maior que o risco de hemorragia.

• Porém, se o paciente tiver problemas de hemostasia, este


risco ficará aumentado. Quanto maior o risco de causar
dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo de cessar
o procedimento para respeitar o princípio da não-
maleficência.
O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA:
• A beneficência tem sido associada à excelência profissional
desde os tempos da medicina grega, e está expressa no
Juramento de Hipócrates: “Usarei o tratamento para
ajudar os doentes, de acordo com minha habilidade e
julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá-los”.

• Beneficência quer dizer fazer o bem. De uma maneira


prática, isto significa que temos a obrigação moral de agir
para o benefício do outro. Este conceito, quando é utilizado
na área de cuidados com a saúde, que engloba todas as
profissões das ciências biomédicas, significa fazer o que é
melhor para o paciente, não só do ponto de vista técnico-
assistencial, mas também do ponto de vista ético.
O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA:
• É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais a
serviço do paciente, considerando, na tomada de decisão, a
minimização dos riscos e a maximização dos benefícios
do procedimento a realizar.

• Por exemplo: um pesquisador submete um protocolo de


investigação ao Comitê de Ética em Pesquisa de uma
Instituição: se espera que o investigador esclareça quais são
os riscos para os sujeitos pesquisados e quais são os
benefícios esperados com o estudo, tanto para os
participantes como para a sociedade em geral, e, então,
argumente porque os possíveis benefícios sobrepujam os
riscos, pois só neste caso a pesquisa é considerada
eticamente correta ou adequada. O mesmo raciocínio pode
ser utilizado para os procedimentos da prática clínica, com o
intuito de definir a sua utilidade e beneficência.
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Beneficência e não maleficência no CEM

•A beneficência pressupõe um conjunto de ações que buscam


compatibilizar o melhor conhecimento científico e o zelo pela
saúde do paciente.
•Ex: Nos Princípios Fundamentais, Capítulo I, inciso II,
preconiza a beneficência:

 II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser


humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de
zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

•Vale lembrar que no modelo paternalista, dominante no início


do século passado, apenas o médico com seu
conhecimento era considerado competente para a
escolha da melhor conduta terapêutica oferecida ao
paciente.
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Beneficência e não maleficência

A não maleficência, não obstante controversa,


compõe com os outros três princípios o alicerce do
principialismo e se propõe a não acarretar dano intencional. É
universalmente consagrado o aforismo hipocrático primum
non nocere (primeiro não prejudicar), cuja finalidade é
restringir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações
diagnósticas e terapêuticas. No CEM, em Princípios
Fundamentais, preconiza a ideia de não maleficência:
 VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e
atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus
conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral,
para o extermínio do ser humano ou para permitir e
acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
O PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA:
• Autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir
fazer ou buscar aquilo que ela julga ser o melhor para si
mesma. Para que ela possa exercer esta autodeterminação
são necessárias duas condições fundamentais:

a) capacidade para agir intencionalmente, o que pressupõe


compreensão, razão e deliberação para decidir
coerentemente entre as alternativas que lhe são
apresentadas;

b) liberdade, no sentido de estar livre de qualquer influência


controladora para esta tomada de posição.
O PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA:
• Já o Respeito à Autonomia significa ter consciência deste
direito da pessoa de possuir um projeto de vida próprio, de ter
seus pontos de vista e opiniões, de fazer escolhas
autônomas, de agir segundo seus valores e convicções.

• Respeitar a autonomia é, em última análise, preservar os


direitos fundamentais do homem, aceitando o pluralismo
ético-social que existe na atualidade.
• Immanuel Kant, em sua ética deontológica, explicita que a
dignidade das pessoas provém da condição de serem
moralmente autônomas e que, por isso, merecem respeito.
Diz, ainda, que é um dever moral tratar as pessoas como um
fim em si mesmas e nunca apenas como um meio.

NINGÚEM PODE SERVIR DE MEIO PARA NENHUM FIM, POIS O


HOMEM É UM FIM EM SI MESMO (I. KANT)
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Autonomia

Autonomia pode ser conceituada como a capacidade


de tomar decisões segundo valores próprios de cada
indivíduo livre de quaisquer coações externas.

De acordo com Kant, é a capacidade da vontade


humana de autodeterminar-se segundo uma legislação moral
por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho à
sua vontade. No entendimento de Foucault, os doentes
tendem a perder o direito sobre seu próprio corpo, o
direito de viver, de estar doente, de se curar e morrer
como quiserem.
O PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA:
• Na prática assistencial, é no respeito ao princípio de
Autonomia que se baseiam a aliança terapêutica entre o
profissional de saúde e seu paciente e o consentimento para
a realização de diagnósticos, procedimentos e tratamentos.

• Este princípio obriga o profissional de saúde a dar ao


paciente a mais completa informação possível, com o intuito
de promover uma compreensão adequada do problema,
condição essencial para que o paciente possa tomar uma
decisão.

• Respeitar a autonomia significa, ainda, ajudar o paciente a


superar seus sentimentos de dependência, equipando-o
para hierarquizar seus valores e preferências legítimas para
que possa discutir as opções diagnósticas e terapêuticas –
CONSENTIMENTO INFORMADO.
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Autonomia
O novo CEM contempla a autonomia do médico e a do
paciente. Os incisos VII e XXI dos Princípios Fundamentais
expõem, respectivamente a autonomia de cada um destes
interlocutores:
 Inciso VII: O médico exercerá sua profissão com autonomia,
não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os
ditames de sua consciência ou a quem não deseje,
excetuadas as situações de ausência de outro médico, em
caso de urgência e emergência, ou quando sua recusa possa
trazer danos à saúde do paciente.

 Inciso XXI: No processo de tomada de decisões


profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e
as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de
seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e
terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao
caso e cientificamente reconhecidas.
O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
•A ética biomédica tem dado muito mais ênfase à relação
interpessoal entre o profissional de saúde e seu paciente, onde
a beneficência, a não maleficência e a autonomia têm exercido
um papel de destaque, ofuscando, de certa maneira, o tema
social da justiça.

•Justiça está associada preferencialmente com as relações


entre grupos sociais, preocupando-se com a equidade na
distribuição de bens e recursos considerados comuns, numa
tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens.

•Estes critérios de merecimento, ou princípios materiais de


justiça, devem estar baseados em algumas características
capazes de tornar relevante e justo este tratamento.
O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
• Neste contexto, o conceito de justiça deve fundamentar-se
na premissa que as pessoas têm direito a um mínimo
decente de cuidados com sua saúde.

• Isto inclui garantias de igualdade de direitos, eqüidade na


distribuição de bens, riscos e benefícios, respeito às
diferenças individuais e a busca de alternativas para atendê-
las, liberdade de expressão e igual consideração dos
interesses envolvidos nas relações do sistema de saúde,
dos profissionais e dos usuários.

• “A distribuição natural dos bens não é justa ou injusta; nem


é injusto que os homens nasçam em algumas condições
particulares dentro da sociedade. Estes são simplesmente
fatos naturais. O que é justo ou injusto é o modo como as
instituições sociais tratam destes fatos”. John Rawls
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Justiça

O princípio da justiça é conhecido como a expressão


de justiça distributiva, que seria contemplar a justa e
equitativa apropriação dos benefícios auferidos pelo
progresso tecnocientífico por toda a sociedade, de acordo
com normas que respeitem a cooperação social.

Entretanto, para haver equidade real há necessidade


de tratar-se de maneira desigual os desiguais. De acordo com
esta premissa, torna-se possível minimizar as injustiças
sociais vigentes em sociedades profundamente desiguais,
como ainda ocorre no Brasil atual, assim como em outros
contextos orientados pelo sistema capitalista.
REFERENCIAIS DA BIOÉTICA PRINCIPIALISTA NO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
Justiça

O novo CEM prevê em seus Princípios Fundamentais a


inclusão da temática a partir da saúde pública como campo
para as ações de equidade, demonstrando a preocupação
com a matéria, como exposto no inciso XIV:

O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões


dos serviços médicos e em assumir sua
responsabilidade em relação à saúde pública, à
educação e à legislação referente à saúde.
LIMITES DO PRINCIPIALISMO
• Desde seu aparecimento, o Principialismo gerou críticas. O
problema reside no caráter relativo dos princípios, fazendo
com que surjam conflitos entre eles porque, na prática, nem
sempre se pode respeitá-los igualmente.

E, apesar de terem sido muito usados para a resolução de


problemas bioéticos no mundo, estes princípios se
mostraram insuficientes para alcançar questões de grande
impacto social que atingem os países periféricos. Sua
desvantagem é que nem sempre é suficiente a análise
destas quatro condições, tendo-se que buscar em outras
teorias éticas a fundamentação para resolver os conflitos.

• Essa nova concepção traz para a discussão bioética


princípios diferenciados como responsabilidade, cuidado,
solidariedade, comprometimento, alteridade, tolerância,
dentre outros.
LIMITES DO PRINCIPIALISMO
• As razões das críticas à idéia de adaptação da teoria de
Tom L. Beauchamp e James F. Childress à realidade das
demais culturas estão associadas, segundo alguns
bioeticistas a várias razões:
1) a restrição à concepção original da Bioética ao âmbito
biomédico; 
2) os princípios, com frequência, competem entre si;
3) a teoria seria insuficiente  para a análise contextualizada
de conflitos que exijam flexibilidade para uma determinada
adequação sócio-cultural;
4) A teoria seria insuficiente para analisar os macro-problemas
bioéticos persistentes  e emergentes enfrentados por
grande parte da população de países com significativos
índices de exclusão social; 
5) Maximização da autonomia em relação aos demais
princípios originais.
LIMITES DO PRINCIPIALISMO

CONFLITOS ENTRE A BENEFICÊNCIA E AUTONOMIA

•A maioria das discussões na literatura a respeito do exercício


da autonomia do paciente, refere-se a procedimentos e
tratamentos em pessoas adultas e competentes, ou seja,
capazes de entender sua situação de saúde/doença e de
assimilar as informações relevantes que lhes permitirão uma
tomada de decisão adequada.

•Em Pediatria, por exemplo, surge a importante questão da


falta de competência das crianças para decidir. Como elas não
preenchem as condições mínimas para fazer escolhas
autônomas e racionais, torna-se necessário que outras
pessoas decidam por elas (autonomia relativa).
LIMITES DO PRINCIPIALISMO
CONFLITOS ENTRE A BENEFICÊNCIA E AUTONOMIA

•A tomada de decisão, envolvendo pacientes pediátricos, deve


ser uma responsabilidade compartilhada entre equipe de
saúde e pais. A permissão informada dos pais deve ser sempre
buscada antes de qualquer intervenção, salvo em situações de
emergência, quando os pais não podem ser localizados.
•Algumas vezes, a aplicação do princípio de Beneficência pode
ser complicada por conflitos entre as concepções da equipe de
saúde e dos responsáveis sobre o que é melhor para a
criança. A conciliação entre estas duas abordagens deve
sempre ser buscada, através de um diálogo esclarecedor, com
informações acessíveis ao nível de compreensão dos
responsáveis, na tentativa de convencê-los dos benefícios do
procedimento proposto pela equipe, esclarecendo-os também
sobre os riscos.
LIMITES DO PRINCIPIALISMO
CONFLITOS ENTRE A BENEFICÊNCIA E AUTONOMIA

•O princípio de Autonomia se torna, então, um super princípio


em relação aos demais.

•A beneficência fica suprimido pelo princípio da autonomia.

•David Ross identifica uma adaptação dos deveres do


principialismo: ele diz que quando não se pode ser
igualmente satisfeitos, deve-se dar mais valor, em
determinado momento, a um princípio em relação ao
outro, ou seja, submetê-lo a uma verdade não igual.
Bioética
O nascimento da Bioética – Críticas ao Principialismo

Apesar de terem sido muito usados para a resolução de problemas bioéticos


no mundo, estes princípios se mostraram insuficientes para alcançar
questões de grande impacto social que atingem os países periféricos.

Por meio de ações interventivas, a bioética vem se incrustando na política


para incluir as questões sociais em sua agenda.

Assim, princípios da bioética clássica, o principialismo, não conseguem


mais expressar de maneira clara o pluralismo moral das situações
emergentes e persistentes da bioética latino-americana e, em especial a
bioética no Brasil.
Bioética
O nascimento da Bioética – Bioética de Intervenção
Desta forma, o pensamento bioético adquiriu uma dinâmica própria em
algumas instâncias da América Latina e Caribe, e floresceu no Sexto
Congresso realizado em Brasília no ano de 2002, cujo tema oficial foi
“Bioética, Poder e Injustiça.”
Surgiu assim uma bioética crítica, a fim de definir parâmetros éticos
capazes de nortear a interpretação da realidade dos fatos contemporâneos e
locais e mediar seus conflitos. Surgiu, portanto, a bioética de intervenção
com novos conceitos e princípios vanguardistas contextualizados.
Bioética
O nascimento da Bioética – Bioética de Intervenção
Dentre esses novos conceitos aplicados à bioética, podemos destacar: o
não-universalismo, o relativismo moral, o utilitarismo
consequencialista, a teoria da complexidade, a totalidade concreta, o
direito de identidade e individualidade, além dos princípios:
solidariedade crítica, alteridade, comprometimento social, tolerância
e os quatro p’s – prevenção, prudência, precaução e a proteção. Esses
princípios tornaram-se importantes ferramentas epistemológicas para o
discurso contextualizado da bioética latino-americana.

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