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RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS

AGENTES FÍSICOS

FRIO

Fábio Eduardo Machado – Engenheiro


de Segurança do Trabalho
TEMPERATURAS EXTREMAS

FRIO => temperaturas abaixo de 15ºC


Cada um tem uma definição para a expressão ‘sentir frio’.
A expressão é tão usada que pouco notamos o que ela
realmente significa...
Metade da Terra e 1/10 dos oceanos são cobertos por
neve e gelo durante boa parte do ano. O frio extremo
pode ser encontrado em basicamente três lugares: nas
grandes altitudes, nos pólos e no fundo do mar. Mas nem
precisamos ir tão longe para sabermos que o frio mata.
O corpo humano não foi feito para agüentar temperaturas
muito baixas, apesar de alguns povos viverem em lugares
muito frios, como a Sibéria, que enfrenta temperaturas de
– 60 °C no inverno, e o norte do Canadá. A temperatura
mais baixa registrada no nosso planeta foi de – 89 °C, na
estação de pesquisa russa de Vostok, situada no
Continente Antártico, em 1983.
Nas montanhas, para cada 100 m que subimos a
temperatura cai 1 °C. O cume do Everest costuma estar
envolto por uma temperatura de – 40°C, além dos ventos,
que reduzem consideravelmente este número.
Isto chama-se ‘fator vento’ e existe uma fórmula que
permite achar a temperatura ‘real’ a que estamos expostos,
quando enfrentamos baixas temperaturas com ventos
gélidos.
O vento aumenta a taxa de perda de calor porque troca o
ar aquecido em volta da gente por ar frio e nos faz perder
todo o calor que acabamos de produzir. Isto significa que,
em temperaturas muito baixas acrescidas de vento,
podemos congelar partes expostas do nosso corpo em
questão de segundos.
Assim, vale dizer que o ser humano suporta bem o frio se
ele estiver bem alimentado, bem agasalhado e tiver um
abrigo (como casa, cabana ou mesmo barraca).
É a comida que vai fazê-lo produzir calor e, assim, se
aquecer em condições extremas. É o agasalho adequado que
não vai deixar este calor produzido ir embora. E é um
abrigo que irá protegê-lo das piores condições e,
principalmente, do vento enregelante.
Condições extremas como a escalada de uma montanha com
altitude superior a 5.000 metros consome, em média, 6.000
calorias por dia. O que significa que carregar comida
suficiente para vários dias é muito difícil, ou seja, é comum
perder peso em uma expedição e, assim, se expor aos
efeitos do frio com mais facilidade.
O resultado disso é a possibilidade de sofrer congelamento
nas extremidades ou mesmo morrer.
E quanto agüentamos? Isso vai depender do tempo que
ficarmos exposto ao frio. Meros 25°C é a temperatura
que os seres humanos nus começam a sentir frio, por
exemplo. Se o ar estiver parado a – 29°C e a pessoa
estiver bem agasalhada, ela corre poucos riscos.
"Acrescente" um vento de 40 km/h e teremos uma
temperatura equivalente a – 66°C, o que o faz congelar as
partes expostas e/ou as extremidades do nosso corpo em
menos de 30 segundos!
E por quê as extremidades sofrem tanto? É mera questão
de sobrevivência... O corpo ‘escolhe’ o que vale mais a pena
salvar, ou seja, ele concentra o envio de sangue e,
consequentemente, de calor nas partes vitais (cabeça e
tronco), sacrificando as extremidades.
Por isso se diz que, quando temos frio nas mãos, devemos
proteger a cabeça (e o pescoço)...! É por ali que se perde
até 25% do calor produzido pelo corpo.
Se a neve é bonita e legal para nós, brasileiros, que só a
temos quando escolhemos passar férias em lugares
nevados e frios (além de poucos lugares no sul do País), ela
pode ser um incômodo para quem vive em lugares
extremos.
A – 55°C, aviões não decolam, caminhões e carros não
andam pois o combustível e os radiadores congelam,
baterias não ligam, tecidos sintéticos rasgam, linhas de
transmissão elétrica de metal se retesam e rompem,
cortando o fornecimento de energia elétrica, e nem mesmo
um termômetro a mercúrio serve para medir a
temperatura, pois ele congela a – 39°C.
O termômetro tem de ser a álcool.
Morrer de frio. Esta expressão é bastante comum em nossa
língua, mas pode corresponder 100% à realidade. A nossa
temperatura corporal é de 36-38°C.
A hipotermia começa a ser definida quando a temperatura basal
cai a cerca de 35°C. Hipotermia branda, apesar de não causar a
morte, é bastante perigosa e pode ser de difícil detecção, já
causando uma série de distúrbios na pessoa, como calafrios,
destreza manual reduzida, cansaço, afeta o julgamento e a
pessoa pode ficar propensa a discutir, além de não cooperar com
a sua própria recuperação.
A hipotermia moderada vem associada a calafrios violentos, a
coordenação muscular e as habilidades mentais são afetadas e é
aqui que a pessoa pode simplesmente ‘se deixar morrer’, pois
perde a capacidade de discernimento.
Perdemos a consciência quando nosso corpo chega a 30°C. Na
hipotermia profunda, tanto a respiração quanto os batimentos
cardíacos podem acontecer ao ritmo de apenas um ou dois por
minuto. O coração pára quando a temperatura chega a 20°C.
FRIO OCUPACIONAL

A exposição ocupacional ao frio intenso pode constituir


problema sério implicando em diversos inconvenientes
que afetarão a saúde, o conforto e a eficiência do
trabalhador.
Temperaturas Extremas – Fontes
Alguns segmentos necessitam de baixas temperaturas para o
desempenho de suas atividades afins:

Frigoríficos

Indústria alimentícia
Industria de pescado
Armazenagem de alimentos
Câmaras frigoríficas
Câmaras frias e resfriadas
Fabricação de gelo e sorvete
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS
EFEITOS DO FRIO NO ORGANISMO HUMANO

 A baixa temperatura corporal resulta de um balanço negativo entre a


produção e a perda de calor;
 O fluxo sangüíneo é reduzido em proporção direta com a queda da
temperatura;
 Temperatura corpórea < 35ºC =>

- cai a freqüência do pulso;


- diminuição global de todas as atividades fisiológicas;
- queda da pressão arterial;
- queda da taxa metabólica;
- a produção de calor é insuficiente para manter o equilíbrio;
- hipotermia (diminuição da temperatura interna do corpo)
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS
Os mecanismos fisiológicos mais importantes em relação
ao frio são os seguintes:
 Redução do fluxo sanguíneo superficial e o incremento
da atividade física (tremor).
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS

Nas baixas temperaturas o corpo humano apresenta


alterações na respiração e na frequência cardíaca, palidez
da pele, resfriamento das extremidades (que, muitas
vezes, ficam roxas), dificuldade de movimentação
muscular, ressecamento do nariz e rachaduras nos lábios.
Lesão Congelante (Frostbite)
Em geral uma pessoa nua começa a sentir frio dos 25 graus
Celsius para baixo. Usando roupas leves, um adulto suporta
5 graus negativos. De qualquer forma, o corpo aumenta o
metabolismo para produzir mais calor e reduz a circulação
periférica –por isso a palidez. A ingestão de bebidas
alcoólicas para esquentar pode ser examinada: ela aquece
por produzir certa ardência, mas provoca um aumento da
circulação periférica (aquele calorzinho).
Efeitos Biológicos da Exposição ao Frio

Geladura ou Queimadura do Frio. Afeta


principalmente o dorso das mãos e dos pés.
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Temperatura do núcleo do corpo < 29ºC =>

O hipotálamo perde a capacidade termoreguladora;

Sonolência;

Coma;

Morte.
Hipotermia
SINAIS CLÍNICOS PROGRESSIVOS
DE HIPOTERMIA
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
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Medidas de Proteção contra o Frio


 Regime de trabalho – recomendam-se períodos de trabalho
intercalados por períodos de descanso para regime de trabalho;
 Exames médicos admissionais – excluir portadores de diabetes,
epiléticos, fumantes, alcoólatras, alérgicos ao frio e portadores de
problemas articulares;
 Exames médicos periódicos – atentar para o diagnóstico precoce de
vasculopatias periféricas, ulcerações térmicas, dores articulares,
perda de sensibilidade tátil e repetidas infecções das vias aéreas
superiores (faringites, rinites, sinusites, amigdalites)
 Vestimentas adequadas – japona e calça térmica, luvas térmicas,
botas térmicas, meias de lã, balaclava.
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS

 Educação e Treinamento – conscientizar o trabalhador


quanto a necessidade do uso de vestimentas adequadas.
Quando na sala de repouso, manter-se aquecido, seco e em
movimento, realizando exercícios com os braços, pernas,
mãos, dedos e pés, para ativar a circulação periférica.

 Evitar exercícios violentos, como jogos coletivos, para não


haver dispersão de calor excessivo.
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS

Roupa de proteção contra o frio, considerar os seguintes fatores:

 a roupa deve proporcionar isolamento contra o frio, o vento


e a umidade;

 deve permitir a transpiração e dissipação do excesso de


calor gerado durante o trabalho;

 deve permitir a realização cômoda do trabalho (considerar


o peso e o volume da roupa).
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS
CRITÉRIOS PREVENTIVOS BÁSICOS

• Adotar difusores nos sistemas de distribuição do ar frio de modo a impedir ou


minimizar as correntes diretas de ar sobre as pessoas.

• Isolar os processos, os equipamentos ou suas partes frias, para evitar o contato.

• Reduzir ou eliminar as tarefas de mera vigilância que exijam pouca atividade física.

• Evitar o contato direto com equipamentos ou com suas partes frias por meio de
isolamento.

• Limitar a duração da exposição aumentando a freqüência e duração dos intervalos


de descanso e recuperação, ou permitindo a autolimitação da exposição.

• Realizar programas de treinamento dos trabalhadores para o reconhecimento


precoce dos sintomas da exposição inadequada ao frio bem como quanto aos
primeiros socorros necessários.
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balaclava
RISCOS DE EXPOSIÇÃO
AOS AGENTES FÍSICOS

Calça térmica
RISCOS DE EXPOSIÇÃO AOS
AGENTES FÍSICOS

Japona térmica
Tempo de Exposição ao Frio – NR 29 Portaria 3214

QUADRO 1

Faixa de Temperatura Máxima exposição diária permissível para


de Bulbo Seco ( ºC) pessoas adequadamente vestidas para frio
15,0 a – 17,9 Tempo máximo de 6 horas e 40 minutos sendo 4 períodos
12,0 a -17,9 de 1 hora 40 minutos alternados com 20 minutos de repouso
e recuperação térmica fora do ambiente frio.
10,0 a -17,9
- 18,9 a – 33,9 Tempo máximo de 4 horas, alternando 1 hora de trabalho e
1 hora de descanso fora do ambiente frio.
- 34,0 a - 56,9 Tempo máximo de 1 hora em 2 períodos de 30 minutos
separados 4 horas para recuperação.
- 57,0 a – 73,0 Tempo máximo: 5 minutos

Abaixo de – 73,0 Não é permitida exposição ao ambiente frio seja qual for a
vestimenta utilizada.
NR 36 - NOVOS PARADIGMAS

• Gestão;

• Pausas;
• Equiparação dos ambientes climatizados (salas de
cortes/desossa) à câmaras frias, com a adoção das
imposições
do artigo 253 da CLT;
• Ritmo de Trabalho;
• Ergonomia;
• Definição de uma “trilha” de atuação em SST.
FRIGORIFICOS
NR 17 – Item 17.3.2
36.3.6 - Estrados, Passarelas e Plataformas
 Plataformas
 Quando tecnicamente inviável a colocação de guarda-corpo
em plataformas elevadas, a exemplo das atividades com
animais de grande porte:
 Adotar medidas preventivas que garantam a segurança dos
trabalhadores e o posicionamento adequado dos segmentos
corporais.
Fábio Eduardo Machado
Engenheiro Civil e Engenheiro de Segurança
do Trabalho

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