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DIREITO CIVIL III

1ª parte – Direito das Coisas


Luis Fernando Rabelo Chacon
Advogado desde 2000. Mestre em Direito. Professor Universitário desde 2001.
Palestrante da OAB SP desde 2005. Coordenador de Novos Mercados e Gestão Legal
da Comissão Estadual do Jovem Advogado da OAB SP 2013/2015. Autor da Editora
Saraiva desde 2006.

CONTATOS
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Email chacon@cmo.adv.br
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ROTEIRO COM BASE NO CC: Direito das Coisas
Estudo da Posse
•Conceito e classificação de posse (artigos 1196 a 1203 CC)
•Aquisição (1204 a 1209)
•Perda da posse (1223 a 1224)
•Efeitos da posse (1210 a 1222)
Estudo dos Direitos Reais
•Disposições gerais (1225 a 1227)
•Conceito e elementos da propriedade (1228 a 1276)
•Direito de vizinhança (1277 a 1313)
•Condomínio geral e edilício (1314 a 1358)
•Direitos reais sobre coisas alheias (1359 a 1510)
Conteúdo programático com base no
plano de ensino estruturado: Direito das Coisas

Unidades de Aprendizagem
UA1 – Introdução ao direito possessório.
 
UA2 – Classificação, aquisição, perda da posse e efeitos da posse.
 
UA3 – Introdução ao direito de propriedade.
 
UA4 – Direito de Vizinhança e direito de construir.
 
UA5 – Condomínio, direitos reais sobre coisas alheias e garantias.
 
UA6 – Fontes e elementos da responsabilidade civil
 
UA7 – Regras de exclusão e fixação da indenização
 
UA8 – Temas pontuais da responsabilidade civil
 
Unidade de Aprendizagem – 2
Organização temática:
1.Classificação da posse (sobreposição, qualificação e regras
aplicáveis)
2.Formas de aquisição (originárias e derivadas)
3.Perda da posse
4.Efeitos da posse (interditos possessórios, aspectos patrimoniais e
disputa judicial)
CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

SOBREPOSIÇÃO DA POSSE (1197 CC)


- Através de título causal uma pessoa pode ceder a outra,
temporariamente, o direito de possuir, originando dois
tipos de posse num mesmo objeto (coexistência de
posses): POSSE DIRETA x POSSE INDIRETA.
- Extinta a relação causal o Possuidor Indireto retoma a
posse direta do bem.
- Diferente da composse (posses distintas entre si).
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QUALIFICAÇÃO DA POSSE (1200 CC)

• VIS, CLAM ET PRECARIO


• Posse justa = não viciada, adquirida sem vícios
jurídicos externos (ex. doação, compra,
empréstimo, etc.)
• Posse injusta = viciada pela violência, pela
clandestinidade ou pela precariedade (critérios
objetivos, independem do conhecimento por
parte do sujeito).
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EXEMPLOS:

-Clandestina: quando se ocupa um imóvel às


escondidas ou se furta um objeto.

-Violenta: quando se toma o objeto de alguém a força


ou se expulsa alguém de um imóvel.

-Precária: quando o possuidor nega-se a devolver a


coisa objeto do contrato (comodato, locação, etc.).

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CONVALESCIMENTO DOS VÍCIOS (1208):

• Enquanto não cessada a violência ou a


clandestinidade só existe detenção.
• Tornar-se-á posse “útil e protegida” depois de
cessado o ato que a originou.
• Por outro lado, a precariedade não convalesce
com o tempo, permanecendo mera detenção.
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• Posse de boa-fé e posse de má-fé

- Posse de boa-fé: quando o possuidor ignora


o vício ou o obstáculo que impede a aquisição
da coisa (1201).
- Posse de má-fé: quando as circunstâncias
fazem presumir que o possuidor tem
conhecimento dos vícios que contaminam a
sua posse (1202).
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• Presunção de boa-fé: quem tem “justo título”*
presume agir com boa-fé, admitida prova em
contrário (1201 p. u.).
* “Justo título” é o documento hábil para transmitir o domínio.

• Descaracterização da boa-fé: a partir do


momento em que conhece o vício a posse torna-
se de má-fé (1202).
• Ex. citação em ação judicial que noticia o vício torna naquela
data o possuidor de boa-fé em possuidor de má-fé.

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Princípio da continuidade do caráter da posse (1203)
• A posse guarda o caráter de sua aquisição, admitindo-se prova
em contrário (presunção relativa).
• Ela conserva a qualidade inicial até que se prove o contrário ou
até que ocorra algum ato que modifique a qualidade inicial da
posse (exemplos abaixo).

Ex1: Locatário não devolve imóvel após vencido o prazo contratual: posse
injusta pela precariedade – mas, celebra novo contrato: posse justa
titulada pela interversio possessionis (intervenção do título).
Ex2: Adquire a posse de falso proprietário: posse de boa fé, pois ignora o
vício que impede sua aquisição – mas, é citado pelo legítimo possuidor:
posse de má fé.
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FORA DA CAIXA
Veja a ementa abaixo, extraída de uma decisão em sede de Recurso de Apelação, promulgada pelo
Tribunal de Justiça de São Paulo. Observe que os conceitos estudados nesta unidade estão no teor da
ementa. Com o número do acórdão acesso ao site do referido tribunal e consulte o inteiro teor do acórdão,
para que você compreenda a definição da posse como sendo de boa-fé por parte do réu, os motivos que
levaram o tribunal a decidir isso, por outro lado, mesmo diante disso, o direito do autor da ação de
recuperar a coisa. Perceba que a posse do réu, sendo de boa-fé, lhe permitiu ter direito à indenização das
benfeitorias que construiu no imóvel!

1000248-17.2019.8.26.0152 Comarca: Cotia Órgão julgador: 37ª Câmara de Direito Privado Relator(a): Sergio Gomes


Data do julgamento: 20/01/2021 Ementa: APELAÇÃO – REINTEGRAÇÃO DE POSSE – SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA – RECURSO DO RÉU. Argumento que, em parte, convencem. 1. Posse - Demandante que detém o direito
à posse do imóvel com base em justo título – Transmissão do imóvel realizada através de instrumento particular de
compra e venda, firmado sem a anuência do titular do domínio, que caracteriza precariedade da posse – Autora que
comprovou melhor posse, como bem decidido na r. sentença. 2. Benfeitorias - Benfeitorias e acessões realizadas antes
da notificação decorrem da posse de boa-fé e merecem, além de indenização (art. 1255, do CC), ser amparadas pelo
direito de retenção – Embora o art. 1.219 do CC/2002 refira-se apenas às benfeitorias, aplica-se também às acessões -
Enunciado nº 81 do CJF - Direito de retenção do imóvel pelo réu, possuidor de boa-fé, reconhecido – Princípio da
vedação ao enriquecimento sem causa. SENTENÇA REFORMADA - RECURSO EM PARTE PROVIDO.
Formas de aquisição e de perda da posse

• Adquire-se a posse desde o momento em que


se torna possível o exercício, em nome próprio,
de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade (1204 CC).

• É o poder de ingerência socioeconômica sobre a


coisa, que excluirá a ação de terceiros.
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• Classificação dos modos de aquisição da posse
quanto à origem:

- originário: independe da translatividade, sendo


unilateral e não depende da participação do antigo
possuidor.

- derivado: requer uma posse anterior que é


transmitida ao adquirente em virtude de título
jurídico, com a anuência do possuidor primitivo,
portanto, bilateral.
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Originários:

-(1) Pela apropriação do bem, através do que se


possa dispor do mesmo, excluindo a ação de
terceiros e exteriorizando o domínio.

-Exemplos: coisas abandonadas – res delericta;


coisas de ninguém – res nullius; coisas obtidas por
meios viciados desde que convalescido o vício.
-Atenção: nos móveis se revela pela ocupação, nos
imóveis, pelo uso (1263). @_luisfrchacon_ @cmo_advogados
• Originários:

- (2) Pelo exercício de um direito que reflita a


utilização econômica da coisa, usando-a e
gozando de suas vantagens (1196, 1204).

- Exemplo: construir um aqueduto no terreno


de outrem, sem oposição, exercendo a posse
de uma servidão de passagem (1379).
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• Derivados:

- (1) Pela tradição, ou seja, entrega ou


transferência da coisa com interesse de
transferir (geralmente por contrato).
- Espécies de tradição: efetiva (entrega da coisa),
simbólica (entrega das chaves) e consensual
[traditio longa manu (ex. fazenda) e traditio brevi
manu (ex. compra pelo locatário*].
* Quando um possuidor em nome alheio passa a possuir em nome próprio.
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• Derivados:

- (2) Pelo constituto possessório ou “cláusula


constituti” (quando o possuidor de um imóvel em nome
próprio passa a possuí-lo em nome alheio) (ex. dono da
casa VENDE e permanece morando como
locatário).

- Deve ter cláusula expressa.


- Pelo CC só aos móveis. Pela jurisp. – Enunciado
77 do STJ também aos imóveis.
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• Derivados:

- (3) Pela acessão, quando a posse dos


antecessores se comunica e se soma à posse do
atual possuidor (conjunção de posses).
- Espécies (1206 - 1207):
Sucessão universal:
- Universalidade de bens (ex. sucessão).
- Continua a posse do antecessor, inclusive, vício.
Sucessão singular:
- Único bem (ex. contrato, legado).
- Pode, se quiser, continuar a posse do antecessor.
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Perda da posse
• Perde-se a posse quando o possuidor,
independente de sua vontade, não exerce ou não
possa exercer o poder inerente à exteriorização da
propriedade (1223, 1224).

• Hipóteses: pelo abandono, pela tradição, pela perda


da coisa, pela destruição da coisa, pela nova posse
de outrem, etc.
• Observação: perde a posse quem não presenciou o
esbulho, e deixa de agir ou, agindo, se sua ação se
torna inócua (1224). @_luisfrchacon_ @cmo_advogados
EFEITOS DA POSSE
• Efeitos: consequências jurídicas produzidas pela posse,
em virtude da lei.
• São efeitos:
- Direito aos interditos
- Percepção dos frutos
- Retenção por benfeitorias
- Responsabilidade por deteriorações
- Condução a usucapião
- A posse presume-se como está até prova em contrário
- A posse sobrepõe-se à propriedade
PORTANTO, PODEMOS DIVIDIR ASSIM:

 (A) proteção possessória: invocar autodefesa e


interditos nos casos de ameaça, turbação, esbulho,
nunciação de obra nova, dano infecto, embargos, etc.
 (B) questões patrimoniais: percepção de frutos,
retenção por benfeitorias, responsabilidade pelas
deteriorações, condução a usucapião.
 (C) disputa judicial: privilégio sobre a propriedade.
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Como se dá a (A) PROTEÇÃO POSSESSÓRIA:
Defesa direta Ameaça
(1) AUTO DEFESA Turbação
(auto tutela)
(1210) Desforço imediato Esbulho

Legítima defesa da posse = REPELIR AGRESSÃO REAL E ATUAL


COM USO DOS MEIOS NECESSÁRIOS (art. 25 CP).
- Pode ser sozinho ou com ajuda necessária
- Pode ser praticada pelo detentor (ex. vigia)
- IMEDIATIDADE
- MODERAÇÃO Obs: art. 345 CP
Exercício arbitrário das próprias razões.
(2) Invocar interditos: propor ações
possessórias quando for ameaçado,
molestado ou esbulhado em sua posse,
para repelir as agressões e continuar na
posse (1210).
- Ameaça = interdito proibitório.
- Turbação = ação de manutenção da posse.
- Esbulho = ação de reintegração da posse.

Obs: outras ações de natureza possessória como os embargos de terceiro, a


nunciação de obra nova, a ação de dano infecto, etc.
ASPECTOS PROCESSUAIS EM COMUM
(interdito, manutenção e reintegração)

EXCEÇÃO DE DOMÍNIO
(juízo petitório x juízo possessório)

- 1210, par. 2o: A alegação de propriedade ou


outro direito real não obsta a manutenção ou
a reintegração de posse.

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ASPECTOS PROCESSUAIS EM COMUM
(interdito, manutenção e reintegração)

PRIVILÉGIO DO POSSUIDOR
1211CC: quando mais de uma pessoa se disser
possuidora, manter-se-á provisoriamente na posse
da coisa aquela que estiver com a coisa, se não
estiver manifesto que a obteve de alguma das outras
por modo vicioso.
Obs. o instituto valoriza o conceito de posse = situação de fato = corpus.
(B) EFEITOS PATRIMONIAIS:

1. Direito à percepção dos frutos

2. Direito à indenização das benfeitorias

3. Responsabilidade pela perda ou


deterioração da coisa

4. Posse continuada que conduz a usucapião

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1- POSSUIDOR TEM DIREITO A PERCEPÇÃO DOS FRUTOS

Os acessórios da coisa são seus frutos e produtos.

Produtos: quando retirado da coisa diminui sua


quantidade, pois não se reproduzem. Ex. pedras.

Frutos: utilidades que a coisa periodicamente produz,


cuja percepção se dá sem detrimento de sua substância.
- espécies: naturais, industriais e civis.
- condição: pendentes, percebidos, estantes, percipiendos
e consumidos.
• Possuidor de boa fé: direito aos frutos percebidos,
despesas de produção e custeio dos frutos
pendentes e colhidos antecipadamente.
Não tem direito: aos frutos pendentes e aos colhidos
antecipadamente.
Justificativa: pela convicção de ser dono com boa-fé
(geralmente com título ou negócio que a justifique)
Cessação: perde o direito no momento em que se
extingue a boa fé.
Artigos: 1214 e 1215.
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• Possuidor de má-fé: responde pelos
prejuízos que causou, pelos frutos colhidos
e percebidos e também pelos que por sua
culpa deixou de perceber.

Ressarcimento: terá direito ao valor das


despesas de produção e custeio para evitar
enriquecimento ilícito, sem nenhum fruto.
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2 – O POSSUIDOR TEM DIREITO À INDENIZAÇÃO DAS
BENFEITORIAS E DIREITO DE RETENÇÃO

Benfeitorias são obras ou despesas efetuadas


numa coisa para conservá-la (necessárias =
imprescindíveis), melhorá-la (úteis=
dispensáveis) ou embelezá-la (voluptuárias).

Retenção é meio de defesa baseado na equidade:


direito que o devedor tem de reter o bem alheio
em seu poder para haver do credor da obrigação
as despesas feitas em benefício da coisa.
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• Possuidor de boa fé: será indenizado das
benfeitorias necessárias e úteis, com direito
a levantar as voluptuárias se não for
indenizado por elas e não cause danos a
coisa, com direito de retenção (1222).
O direito de retenção é exercido via Embargos de
Retenção (CPC). O interessado deve provar na
ação possessória que fez benfeitorias e quais seus
valores, sendo que, quando for executado exige via
embargos o acerto. Se não provar, lhe resta a
“ação de indenização por benfeitorias”.
• Possuidor de má fé: direito de ser
ressarcido do valor das benfeitorias
necessárias, evitando o enriquecimento
sem causa, não tendo direito a nada
mais, nem mesmo retenção (1222).

OBSERVAÇÃO: os danos compensam-se com as benfeitorias.

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3 – O POSSUIDOR TEM RESPONSABILIDADE PELA
DETERIORIZAÇÃO E PERDA DA COISA

• Possuidor de boa fé: só responde quando


culpado (1217)

• Possuidor de má fé: só não responde se


provar que os fatos se verificariam de qualquer
modo, ou seja, ocorreriam mesmo que o bem
estivesse em poder do reivindicante (ônus da prova
e presunção de culpa) (1218)
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4 – O POSSUIDOR PODE ADQUIRIR A
PROPRIEDADE PELA POSSE CONTINUADA

• Trata-se da hipótese da usucapião, como


meio de aquisição de propriedade pelo
tempo (prescrição aquisitiva da
propriedade).

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(C) DISPUTA JUDICIAL:

• Quando o direito do possuidor for contestado, compete ao seu


adversário provar suas alegações.
• No confronto entre posse e propriedade o possuidor tem
vantagem processual sobre o proprietário nas ações
possessórias.
• O possuidor do imóvel será dos móveis e dos objetos que nele
estiverem, até prova em contrário (1209).
• Se mais de uma pessoa alegar posse sobre a coisa, manter-
se-á a posse com quem estiver com a coisa, salvo seja
manifesto o vício de sua posse.
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Que tal uma revisão?
• Vamos dar mais uma olhada no assunto
“aquisição da posse”!

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