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Ciência e conhecimento científico

(Azevedo & Azevedo, 2003; Lakatos, 2003 )

O conhecimento científico e outros tipos de conhecimento


Conhecimento popular e conhecimento científico

Desde tempos imemoriais e até aos nossos dias que, qualquer


agricultor, independentemente do seu grau de conhecimento, perante o
tipo concreto de terra que possui (p. e. mais lenta ou menos lenta), sabe
o momento certo para a lavra, fazer a sementeira, adubar, regar,
combater as pragas, colher, etc.
Sabe que a monocultura esgota/exaure/empobrece os solos;
Conhece, pelo menos desde a Idade Média, quanto o regime de pousio é necessário à
regeneração dos solos.
Hoje, a agricultura socorre-se de sementes selecionadas, de adubos químicos para as
enriquecer, de produtos fitossanitários contra as pragas e tenta-se, até, o controle
biológico dos insetos daninhos.

• No exemplo anterior misturam-se dois tipos de conhecimento:


o primeiro, vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração
em geração por meio da educação informal e baseado na imitação e na experiência
pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo,
das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo
reprodutivo dos insetos etc.;
o segundo, científico, é transmitido por intermédio de “treinamento” apropriado, sendo
um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos
científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenómenos ocorrem, na tentativa de
evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa
visão mais globalizante do que a relacionada com um simples facto - uma
cultura específica, de trigo, por exemplo.

Como se distinguem os dois tipos de conhecimento?

O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum,


não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem
pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o
modo ou o método e os instrumentos do "conhecer".
Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água
que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um
conhecimento verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico.
Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos
vegetais, a sua composição, o seu ciclo de desenvolvimento e as
particularidades que distinguem uma espécie de outra.

Dessa forma, patenteiam-se dois aspetos:

• a) A ciência não é a única forma, o único caminho de acesso ao


conhecimento e à verdade.
• b) Um mesmo objeto ou fenómeno - uma planta, um mineral, uma
comunidade ou as relações entre chefes e subordinados - pode ser
matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem
comum; o que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou
popular é a forma/método de observação.
Tipos de conhecimento segundo Lakatos (1986) - ou Marconi & Lakatos (2003) -
e (Azevedo & Azevedo (2003)

1. Conhecimento popular;
2. Conhecimento científico;
3. Conhecimento filosófico;
4. Conhecimento teológico.
1. Conhecimento popular:

. valorativo
– porque se baseia em “estados de ânimo e emoções”;
. superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico
– porque se baseia na aparência, nos dados imediatos, sem
preocupação com a sistematização das ideias nem com
referenciais teóricos e não se manifesta sempre de uma forma
crítica.
2. Conhecimento científico:

. baseia-se em factos reais que se podem constituir em problemas de


investigação;
. é verificável por processos experimentais;
. organiza-se sistematicamente em corpos lógicos que formam teorias;
. resulta da aplicação da metodologia científica (principal caraterística).

3. Conhecimento filosófico:

. é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão
ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência,
portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da
experimentação"(Trujillo, 1974: 12);
. não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que
ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados;

. é racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente


correlacionados;

. é sistemático, pois as suas hipóteses e enunciados visam a uma representação


coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-Ia na sua totalidade;

. é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as


outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, os seus
postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da
observação (experimentação).
3. Conhecimento teológico:

. apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas

pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e

indiscutíveis (exatas);

. é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra

de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé

perante um conhecimento revelado.

. assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas

são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da divindade (sobrenatural).


Dar a opinião pessoal ou repetir o que foi dito como explicação para um
fenómeno é senso comum.
Atitude científica – método científico de pesquisa, afastando-se do senso
comum e dos preconceitos; isenta de valores.

• Ex: “a droga é um flagelo social” constatação e atitude valorativa


• Atitude científica estabelecer uma relação entre o consumo de droga
e algumas das suas causas; sujeitar estas hipóteses ao conhecimento
científico.
• “As gripes são causadas pelo frio” senso comum
• As gripes são causadas por um virus” atitude científica
Síntese das caraterísticas dos quatro tipos de conhecimento

Conhecimento Conhecimento Conhecimento Conhecimento


Popular Científico Filosófico Teológico
_________________________________________________________________________
Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo
Reflexivo Contingente Racional Inspiracional
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Verificável Não verificável Não verificável
Falível Falível Infalível Infalível
Inexato Aproximadamente Exato Exato
exato
Caraterísticas da investigação científica

Procedimentos comuns do conhecimento científico

1. Elementos subjetivos;
2. Elementos metodológicos.

1. A seriedade na investigação científica como aspeto


subjetivo/elemento subjetivo fundamental - princípios:
. não distorcer os dados para confirmar a hipótese;
. referir as perspetivas divergentes;
. verificar a validade dos dados a tratar;
. citar as fontes;
. não alterar ou descontextualizar as citações;
. não citar diretamente obras não consultadas.

 não distorcer os dados para confirmar a hipótese


Respeitar os dados, sejam eles perspetivas de outros
investigadores, números ou factos que possam embaraçar ou
contrariar a nossa hipótese

 referir as perspetivas divergentes


Não omitir opiniões expressas por outros investigadores não
coincidentes ou contrárias às nossas que compliquem a nossa
investigação
 verificar a validade dos dados a tratar
Dever de verificar a veracidade/validade de todos os dados
cotejados sejam eles recolhidos por nós ou não.

 citar as fontes
Obrigatoriedade de referenciar todos os documentos
consultados/usados para a elaboração do trabalho (e só esses…)

 não alterar ou descontextualizar as citações


A alteração ou descontextualização dos dados, ao modificar-lhes o
sentido, é uma forma de os distorcer
 não citar diretamente obras não consultadas

Resistir à tentação de, por vaidade ou pretensa erudição, citar


diretamente obras às quais apenas acedemos indiretamente
(através de outra obra/autor).
Erros os comuns a evitar no início de um projeto de investigação (Quivy: 1992):
. “gula livresca”;
. “passagem às hipóteses”;
. “ênfase que obscurece”.

 “gula livresca” – leitura caótica de bibliografia que resulta invariavelmente numa


“indigestão de informação” …

 “passagem às hipóteses” – consiste na recolha precipitada de dados, que


habitualmente resulta em abundância que dificulta o seu uso ou o seu total
desperdício.

 “ênfase que obscurece” – pretensa sabedoria usada para encobrir a real incapacidade
para identificar e definir um objeto de investigação.
Tal pretensa sabedoria anda habitualmente de mãos dadas com um estilo
pomposo, “barroco”…
2. Elementos metodológicos:
Componentes de um processo de investigação científica
(etapas de um projeto/trabalho de investigação científica):

. identificação do objeto de trabalho;


. explicitação da hipótese;
. escolha do método;
. seleção das fontes;
. elaboração de um plano de trabalho;
. recolha e tratamento dos dados.
. apresentação das conclusões
 Identificação do objeto de trabalho:

Consiste em definir com precisão o objeto da investigação/trabalho, na


identificação do tema a tratar e, a partir dele, do problema que pretendemos
estudar.
Na escolha de um tema há que considerar fatores internos e externos.
Os internos consistem em:
a) privilegiar a escolha de um assunto de acordo com as inclinações, as
aptidões e as tendências de quem se propõe a elaborar um trabalho científico;
b) optar por um assunto compatível com as qualificações pessoais, em
termos de background da formação universitária e pós-graduada;
c) encontrar um objeto que mereça ser investigado cientificamente e tenha
condições de ser formulado e delimitado em função da pesquisa.
;
• “Será que os animais têm direitos?” 

• “É a existência do mal compatível com a existência de Deus?”

• “Terá a lógica lugar na filosofia?”

• “Deveremos avaliar uma ação unicamente em função das suas consequências?”

• “Será que todas as obras de arte expressam sentimentos?”

• “Os direitos dos animais”

• “Deus e o mal”

• “A lógica filosófica”

• "O consequencialismo”

• “A arte e a expressão de sentimentos”


A minha opinião é que P.

A minha opinião é que P. Penso isto porque...

ou:

Penso que as considerações seguintes... oferecem um argumento convincente em defesa de P.

Descartes afirma que Q.

Descartes afirma que Q; contudo, a seguinte experiência mental mostrará que não é verdade que Q...

Ou:

Descartes afirma que Q. Julgo que esta afirmação é plausível, pelas seguintes razões...
Os externos requerem:
a) a disponibilidade do tempo necessário à adequada realização da
pesquisa;
b) a existência de bibliografia pertinente ao assunto.

Embora a escolha do tema possa ser determinada ou sugerida pelo


professor (ou orientador), quando se trata de um principiante, o mais
frequente é a opção livre.

 explicitação da hipótese

Afere a possibilidade de inserir o problema a estudar em quadros


teóricos já definidos e validados noutras investigações já realizadas.
É a fase em que o investigador deve conhecer o “estado da arte” ou a
fase da “revisão de literatura”; espera-se que o investigador conheça a
(principal) investigação existente sobre o assunto, as metodologias
utilizadas e os resultados obtidos.
É o momento em que deve emergir a “cultura intelectual” do
investigador, traduzida no papel que a sua formação teórica assumirá
na criação de um discurso próprio, seja a partir dos seus conhecimentos,
seja através da integração de discursos já existentes na problemática do
seu estudo.

 escolha do método
Consiste na identificação dos recursos técnicos e metodológicos a usar
para proceder à investigação;
As metodologias variam de ciência para ciência, podendo ser, por
exemplo, mais positivistas ou mais interpretativistas, mais quantitativas
ou mais qualitativas.

Não há um método de investigação filosófica, para além do que cada


um pode ou consegue fazer com a leitura, o estudo e a reflexão sobre os
textos, os problemas, o que existe, os factos. A pesquisa filosófica pode
e deve ser sempre aperfeiçoada, mesmo quando reveste formas
ousadas, ou até sobretudo nestes casos para que as novas propostas
não sejam debilitadas por organização ou exposição débeis.
 seleção das fontes e critérios para a sua utilização:

O trabalho académico em Filosofia distingue-se por uso rigoroso das fontes,


primárias (os textos ou autores que estão no centro da investigação) e
secundárias (os estudos). A discussão filosófica faz-se, em quase todos os
casos, em confronto com textos ou argumentos de outros autores, que devem
ser estudados e citados com todo o rigor. A pesquisa deve ser preparada e a
redação organizada para o recurso às fontes ser claro e dele resultar um
enriquecimento para o conteúdo filosófico e literário do texto.
O trabalho com fontes escritas é uma componente essencial de qualquer
pesquisa em Filosofia, que coloca diversas dificuldades: que fontes selecionar
no meio de um imenso de volume de publicações disponíveis? Como localizar
e como estudar as fontes? Como integrar e citas as fontes no texto final?
Sobre o trabalho com fontes pode consultar-se o Harvard Guide to Using
Sources, fazendo as adaptações necessárias para o trabalho em Filosofia.
Não há investigação científica sem fontes bibliográficas; todavia, a sua
utilização deve ter em conta, ou satisfazer os seguintes critérios:

critério 1: qualidade
Este critério relaciona-se com as características da fonte propriamente
dita: sendo um texto, está bem redigido? Sendo uma fonte científica,
segue os procedimentos metodológicos adequados? Os autores são
reconhecidos especialistas na área? Sendo dados estatísticos, como
estão organizados?
critério 2: fiabilidade
Este critério relaciona-se com a origem da produção da fonte,
nomeadamente o editor ou onde a fonte se encontra: sendo um artigo
científico, a revista científica tem conselho editorial? Está
classificada/inserida em bases de dados ou indexes? O editor é uma
instituição académica ou associação de profissionais/investigadores na área?
Sendo um website, como são selecionados os dados que são apresentados?
Sendo dados estatísticos qual é a entidade responsável pela sua recolha e
tratamento?

critério 3: pertinência
Este critério refere-se à adequação que a informação contida na fonte terá
para os objetivos da pesquisa que se está a desenvolver: é informação
central ou acessória para a pesquisa? Traz valor acrescentado ou é
simplesmente informação duplicada? Sendo dados estatísticos, o seu
formato é ou não ajustado à pesquisa?
Este critério deve ser aplicado após se verificarem o critério 1 e o critério 2, ou
seja, não é suficiente que a fonte tenha pertinência; terá, em primeiro lugar, de
ter qualidade e ser fiável.

O uso da internet

     O mais acessível dos meios de busca de informação e conhecimento é hoje


a internet, que acumula de modo enganador as funções de biblioteca, de
consultor, de parceiro de diálogo, de silencioso e passivo fornecedor de
“coisas”, mesmo de confidente. Contudo, a maior parte da informação
disponível não é fiável. Um trabalho realizado com informação recolhida da
internet é totalmente inútil ou redundante, pelo menos é repetição do mesmo.
As fontes do trabalho académico são outras e exigem um contributo pessoal. O
objetivo de um trabalho de pesquisa não é acumular “informação”, é procurar,
criar, organizar e apresentar conhecimento. A internet, sendo hoje um
instrumento incontornável, não é o melhor meio para o fazer.
   
A internet não deve ser totalmente desprezada, mesmo para o trabalho
filosófico. Hoje encontramos lá repositórios de trabalhos académicos
(Google books, internet archive, JSTOR, B-on, etc.) com obras e revistas
de que por vezes não dispomos nas nossas bibliotecas.
 Há mesmo recursos de grande especialização filosófica preparados para
a internet (por exemplo a Stanford Encyclopedia of Philosophy). Mas,
essa é uma ínfima parte do que se encontra na internet. Por isso, a
pesquisa em biblioteca, o trabalho direto com os livros, revistas e
enciclopédias, a reflexão individual, continuam a ser o melhor treino
que um investigador ou um filósofo podem ter. Os livros e as bibliotecas,
apesar de tudo o que de inútil e repetitivo nelas também existe, são os
verdadeiros instrumentos laboratoriais do filósofo.
    
Um utilizador experiente sabe que a maior parte do que se encontra na internet
são inutilidades dispensáveis, ou lixo que deve ser evitado. O melhor da internet
é a oportunidade prática e de treino para o reconhecimento e distinção da boas
e das más fontes de informação. Isso não se aprende a ler só o que está na
internet,  mas sim a trabalhar numa boa biblioteca, adquirindo uma preparação
sólida e a capacidade para distinguir o útil do inútil, o bom do mau livro ou
artigo.

A recolha de elementos
Fichas
Deve-se ao Abade Rozier (séc. XVII), da Academia Francesa de Ciências, o
sistema de fichas, ainda hoje utilizado nas mais diversas instituições, serviços
administrativos, e bibliotecas, onde, para consulta do público, existem fichas de
autores, de títulos, de séries e de assuntos, organizadas por ordem alfabética.
Como, na sua grande maioria, o material bibliográfico usado pelo
investigador não lhe pertence, as fichas são para o pesquisador um
instrumento de trabalho imprescindível porquanto permitem:
a) identificar as obras;
b) conhecer seu conteúdo;
c) fazer citações;
d) analisar o material;
e) elaborar críticas.
Tipos de fichas quanto ao conteúdo:

A) Bibliográfica ou de leitura
B) Citações.
C) Resumo ou de Conteúdo.
D) Esboço.
E) Comentário ou Analítica.

BIBLIOGRÁFICA OU DE LEITURA
É utilizada para a identificação básica do documento consultado. Deve
incluir todos os elementos necessários à correta e total identificação do
documento (nome do autor, título do trabalho, ano de publicação, nome da
revista, título do livro, local de publicação , volume, páginas…)
Este tipo de ficha pode conter no verso uma síntese das ideias
elaboradas após a leitura.
Destinada sobretudo à identificação básica do documento consultado,
este tipo de ficha deve:
a) ser breve. Se o objetivo for a apresentação mais pormenorizada
da obra, é preferível a ficha de resumo ou conteúdo, ou, melhor ainda,
a de esboço. Na ficha bibliográfica algumas frases são suficientes;
b) utilizar verbos ativos. Para se caracterizar a forma pela qual o
autor escreve, as ideias principais devem ser precedidas por verbos tais
como: analisa, compara, contém, critica, define, descreve, examina,
apresenta, registra, revisa, sugere e outros;
c) evitar repetições desnecessárias. Não há nenhuma necessidade
de colocar expressões como: este livro, esta obra, este artigo, o autor
etc.
FICHA DE CITAÇÕES
Tal como a ficha bibliográfica, deve incluir todos os elementos necessários à
correta e total identificação do documento.
Consiste na reprodução fiel de frases ou excertos considerados relevantes
para o estudo a realizar. Por esta razão, devem ser observadas as seguintes
normas:
a) toda citação é colocada entre aspas. Aliás, é através destas que se
distingue uma ficha de citações das de outro tipo. Além disso, a colocação
das aspas evita que, mais tarde, ao utilizar a ficha, se transcreva como do
autor da ficha os pensamentos nela contidos;
b) após a citação, deve constar o número da página de onde foi extraída.
Isso permitirá a posterior utilização no trabalho, com a correta indicação
bibliográfica;
c) a transcrição tem de ser textual. Isso inclui os erros de grafia, se houver.
Após eles, coloca-se o termo sic, em minúsculas e entre parênteses ou
colchetes.
d) a supressão de uma ou mais palavras deve ser indicada,
utilizando-se, no local da omissão, três pontos, precedidos e seguidos
por espaços, no início ou final do texto e entre parênteses, no meio.
e) a supressão de um ou mais parágrafos também deve ser
assinalada, utilizando-se uma linha apenas entre colchetes.
f) a frase deve ser complementada, se necessário: quando se extrai
uma parte ou parágrafo de um texto, este pode perder seu significado,
necessitando de um esclarecimento, o qual deve ser intercalado, entre
colchetes.
g) quando o pensamento transcrito é de outro autor, tal fato tem de
ser assinalado. Muitas vezes o autor fichado cita frases ou parágrafos
escritos por outra pessoa. Nesse caso, é imprescindível indicar, entre
parênteses, a referência bibliográfica da obra da qual foi extraída a
citação.
FICHAS DE RESUMO OU DE CONTEÚDO

Apresenta uma síntese clara e concisa das ideias principais do autor ou


um resumo dos aspetos essenciais da obra. Características:
a) não é um sumário ou índice das partes componentes da obra,
mas exposição abreviada das ideias do autor;
b) não é transcrição, como na ficha de citações, mas é elaborada
pelo leitor, com suas próprias palavras, sendo mais uma interpretação
do autor;
c) não é longa: apresentam-se mais informações do que a ficha
bibliográfica, que, por sua vez, é menos extensa do que a do esboço;
d) não precisa obedecer estritamente à estrutura da obra: lendo a
obra, o estudioso vai fazendo anotações dos pontos principais. Ao final,
redige um resumo, contendo a essência do texto.
FICHA DE ESBOÇO
Assemelha-se à ficha de resumo ou conteúdo, pois, tal como esta, faz a apresentação
das principais ideias expressas pelo autor, ao longo da sua obra ou parte dela; fá-la,
porém, de forma mais detalhada. Carateriza-se por:
a) é a mais extensa das fichas, apesar de requerer, também, capacidade de síntese,
pois o conteúdo de uma obra, parte dela ou de um artigo mais extenso é expresso em
uma ou algumas fichas;
b) é a mais detalhada, em virtude de a síntese das ideias ser realizada quase página
a página;
c) exige a indicação das páginas, em espaço apropriado, à esquerda da ficha, à
medida que se vai sintetizando o material. Pode ocorrer que uma ideia do autor venha
expressa em mais de uma página. Nesse caso, a indicação da página será dupla.
Quando em uma ou mais páginas não há nada de interessante, elas são puladas,
continuando-se a indicação das páginas a partir das seguintes.
FICHA DE COMENTÁRIO OU ANALÍTICA
Consiste na explicitação ou interpretação crítica pessoal das ideias expressas pelo
autor, ao longo de seu trabalho ou parte dele. Pode apresentar:
a) comentário sobre a forma pela qual o autor desenvolve seu trabalho, no
que se refere aos aspetos metodológicos;
b) análise crítica do conteúdo, tomando como referencial a própria obra;
c) interpretação de um texto obscuro para tomá-lo mais claro;
d) comparação da obra com outros trabalhos sobre o mesmo tema;
e) explicitação da importância da obra para o estudo em questão.
 elaboração do plano de trabalho
Depois de terem sido tomadas as principais decisões sobre o tema,
método(s) e fontes recomenda-se a elaboração do Plano de Trabalho.
Nesta fase, deve ser tão definitivo quanto possível mas não
definitivamente fechado, de forma a que o aprofundamento em
determinadas etapas da investigação possa acomodar ainda alterações
no todo do trabalho.
Na elaboração do plano deve-se observar a estrutura de todo o trabalho
científico: introdução, desenvolvimento e conclusão.
a) Introdução. Formulação clara e simples do tema, sua delimitação,
importância, justificação, metodologia empregada e apresentação
sintética da questão.
b) Desenvolvimento. Fundamentação lógica do trabalho, cuja finalidade
é

é expor e demonstrar suas principais ideias.


Apresenta três fases:
• Explicação. “Explicar” é apresentar o sentido de um tema, é analisar e
compreender, procurando suprimir o ambíguo ou o obscuro.
• Discussão. É o exame, a argumentação e a explicação do tema:
explica, discute, fundamenta e enuncia as proposições.
• Demonstração. É a dedução lógica do trabalho, implicando o exercício
do raciocínio.
O desenvolvimento do tema exige a divisão do mesmo em tópicos
logicamente correlacionados. As partes do trabalho não podem ter uma
organização arbitrária, mas baseada na estrutura real ou lógica do tema,
sendo que as partes devem estar sistematicamente vinculadas entre si e
ordenadas em função da unidade de conjunto.

c) Conclusão. Consiste no resumo completo, mas sintetizado, da


argumentação desenvolvida na parte anterior. Devem constar da
conclusão a relação existente entre as diferentes partes da
argumentação e a união das ideias e, ainda, a síntese de toda a reflexão.
Dos tipos de trabalhos académicos à sua elaboração

1. Principais tipos de trabalhos académicos:

1.1. Recensão;
1.2. Artigo;
1.3. Conferência;
1.4. Relatório;
1.5. Dissertação (mestrado – doutoramento):
:
O estilo

A redação do trabalho científico deve obedecer a alguns princípios


básicos, comuns a outras formas de escrita, que podem ser
resumidos nas seguintes caraterísticas (co-presentes na redação:
. clareza;
. precisão;
. comunicabilidade e
. consistência.
Clareza:

Uma redação é clara quando não permite ou não deixa margem a


interpretações diferentes da que o autor deseja comunicar.
A falta de clareza não só confunde o leitor como desvia a sua atenção da
leitura.
Clareza e ambiguidade

A falta de clareza de um texto aparece muitas vezes acompanhada de


ambiguidade, isto é, falta de ordem na apresentação de ideias,
utilização excessiva de termos com pouco uso na língua, o que
desencoraja fortemente o leitor.
Diversamente, um texto correto expõe os conceitos e a lógica
pretendida numa sequência que constitui um estímulo para o
prosseguimento da leitura.
Precisão:

Um autor é claro quando usa linguagem precisa, isto é, quando atribui a cada
palavra usada a transmissão exata do pensamento que deseja transmitir:
Exemplos:
. História: tipo de conhecimento cientificamente conduzido do passado
humano.
. Nem todos os alunos estiveram na aula.
Praticamente todos…/
Vários ... /
Cerca de 90%.../
Menos de metade…/93%....40%...
Precisão e coloquialidade

Assim como a precisão deve caracterizar a linguagem científica - e por


isso deve ser evitado o uso de termos equívocos - , assim também deve
ser evitada, ou pelo menos deve constituir preocupação sempre
presente na redação de um trabalho científico, a (excessiva)
coloquialidade.
Exemplos:
. Quer chova ou faça sol…
. Das duas, uma…
Comunicabilidade:
Sendo a comunicabilidade uma caraterística essencial da linguagem
científica, os assuntos devem ser tratados de maneira direta, objetiva,
simples, lógica.

O leitor tende a ser perturbado tanto pelo abuso de “linguagem


infiltrada” e paráfrases desnecessárias, quanto por digressões
irrelevantes que interrompem uma sequência de ideias.
Consistência:

O princípio da consistência pode ser analisado de três formas


complementares:
1. consistência da expressão gramatical;
2. consistência de categoria;
3. consistência de sequência;
Consistência da expressão gramatical

A consistência da expressão gramatical é violada quando, por exemplo,


numa enumeração de três itens, o primeiro é um substantivo, o
segundo, uma frase e o terceiro um período completo.
Outro exemplo seria o de uma enumeração cujos itens se iniciassem,
ora por substantivo, ora por verbo.
Exemplo:

Na redação científica, cumpre observar, entre outras regras: (1)


terminologia precisa; (2) pontuação criteriosa; (3) não abusar de
sinónimos; (4) evitar ambiguidade de referências.

Comentário: Os itens (3) e (4), para que seja observada a consistência da


expressão gramatical, teriam de ser enunciados da seguinte forma:
(3) bom senso uso de sinónimos; (4) clareza nas referências.
Consistência de categoria:

A consistência de categoria reside no equilíbrio que deve ser mantido nas


principais secções de um capítulo ou subsecções de uma secção.
Exemplo:

Consistência de sequência:
Tem a ver com a sequência que deve ser mantida na apresentação de
capítulos, secções e subsecções do trabalho, de forma a que haja em
qualquer enumeração, uma lógica inerente ao assunto.
Deverá ser esta lógica a determinar a ordem em que os capítulos, secções
e subsecções do trabalho devem aparecer.

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