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O Racionalismo

de René Descartes

IV. Teorias explicativas do conhecimento


Filósofo em Meditação, Rembrandt (1632)
As questões

 Qual é a origem do conhecimento?

 Qual é o fundamento do conhecimento?

 O que podemos conhecer?

 Quais são os limites do conhecimento?


O início do percurso

Na noite de 10 para 11 de Novembro de 1619, Descartes tem sonhos que


o levam a duvidar do conhecimento e mesmo da existência da realidade.
Inspirando-se na matemática e utilizando a dúvida como método,
escreve o Discurso do Método com o objectivo de encontrar um
fundamento capaz de resistir aos argumentos do ceticismo.
1. A dúvida
“Agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da
verdade, pensei que […] era necessário rejeitar como falso
tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a
fim de ver se, após isso, ficaria qualquer coisa nas minhas
opiniões que fosse inteiramente indubitável.”

Descartes decide adotar um método para alcançar o conhecimento:

Duvidar de todo o conhecimento considerado verdadeiro.


1. A dúvida
Características da dúvida:
- Metódica
- Universal
- Hiperbólica
- Radical

 A adoção da dúvida como método não faz de Descartes um filósofo


cético.
 A dúvida é apenas um caminho para atingir o conhecimento
verdadeiro e indubitável.
2. Justificação da dúvida

Por que motivo devemos duvidar de tudo?

 Os sentidos por vezes enganam-nos.

 Há quem se engane a raciocinar.


 Temos dificuldade em identificar a verdade (por exemplo, em distinguir
o sono da vigília).
2. Justificação da dúvida
 Os sentidos, por vezes, enganam-nos.

Ilusões de ótica
2. Justificação da dúvida
 Podemos errar até nos raciocínios mais
elementares.

P  Q
Q
P

2+2=5
O Pensador, Rodin (1902)
2. Justificação da dúvida

 Temos dificuldade em identificar a verdade.

- Podemos não conseguir distinguir o sono da vigília: por vezes


pensamos que estamos acordados quando, afinal, estamos a
dormir.
3. A existência do «Cogito» (Eu penso)

 A dúvida conduziu a uma certeza: a existência de um «eu», cuja natureza


é pensante:
“[…] enquanto queria pensar que tudo era falso, eu, que assim
pensava, era necessariamente alguma coisa.”

 Pensar implica a existência de alguém que pensa:


Penso, logo existo.
3. A existência do «Cogito» (Eu penso)

 Primeira verdade e primeiro princípio a que a dúvida conduziu.

 Primeira evidência que resiste à dúvida:

“[…]esta verdade - eu penso, logo eu existo - era tão firme e tão

certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam

impotentes para a abalar.”


3. A existência do «Cogito» (Eu penso)
Qual é a natureza do Cogito?
“[…] esse eu, isto é, a alma ou pensamento pelo qual sou o que sou [um ser
pensante]
 é inteiramente distinto do corpo,
 mais fácil de conhecer do que este, […]
 [o corpo], embora não existisse, não impediria que [a alma
pensamento] fosse o que é.”

O Eu Penso é de natureza puramente mental.


3. A existência do «Cogito» (Eu penso)

O «Cogito» é de natureza mental, portanto:

 Não tem forma.

 Não tem extensão.

 Não ocupa espaço.


3. A existência do «Cogito» (Eu penso)
O Dualismo cartesiano

A afirmação do dualismo mente-corpo:


Descartes defende que o Homem é constituído por duas substâncias
distintas que interagem, mas não se misturam:
 A mente ou pensamento (res cogitans)
- não ocupa espaço, não tem forma, nem dimensões.
 O corpo, substância material (res extensa)
- ocupa espaço, possui forma e dimensões.
4. Critério de verdade

 São verdadeiras todas as proposições evidentes, tão clara e distintas como


a existência do cogito.

 Generalização da descoberta do Cogito aos restantes conhecimentos


“[…] julguei que podia admitir como regra geral que é verdadeiro tudo
aquilo que concebemos muito claramente e muito distintamente.”
5. Argumento da causalidade
(a origem da ideia de perfeição)

 Descartes questiona: se sou um ser imperfeito, que duvida, de onde me


vem a ideia de perfeição?

- Descartes descobre a imperfeição da sua natureza em comparação com


a ideia de um ser perfeito.
5. A origem da ideia de perfeição

 A ideia de perfeição tem de vir de um ser perfeito.

 Esse ser é Deus:

“[…] e, conheci com evidência que [a ideia de perfeição] deveria ter


vindo de alguma natureza que fosse efetivamente mais perfeita.”
6. Argumento ontológico
(a perfeição implica a existência)

 Se Deus é perfeito, então existe.


 Para ser perfeito, um ser tem de possuir todos os predicados que lhe
conferem a perfeição, logo tem de possuir o predicado da existência, ou
seja, tem de existir.
“[…]voltando a examinar a ideia de um ser perfeito, notava que a
existência está contida nessa ideia […] e que, por conseguinte, é pelo
menos tão certo como qualquer demonstração da geometria, que Deus,
esse ser perfeito, é ou existe.”
7. Deus – fundamento do sistema cartesiano

 Deus é a garantia da indubitabilidade do critério da evidência, isto é,


garante a verdade das ideias concebidas clara e distintamente:

“[…]aquilo mesmo que adotei como regra, isto é, que são


inteiramente verdadeiras as coisas que concebemos muito clara e
distintamente, não é certo senão porque Deus é ou existe[…].”
Atividade 1
Classifique como Verdadeiras (V) ou Falsas (F) as seguintes
afirmações:
 Porque decide duvidar de todo o conhecimento, Descartes é um cético.(F)

 Os sentidos permitem sempre alcançar conhecimentos verdadeiros.(F)

 Após duvidar de tudo, Descartes chega a um primeiro princípio indubitável:


“Penso, logo existo”. (V)

 O primeiro princípio foi derivado dos sentidos.(F)


Atividade 2
Classifique como Verdadeiras (V) ou Falsas (F) as seguintes
afirmações:
 A ideia de Deus é inata. (V)

 A causa da ideia de perfeição é o próprio Homem.(F)

 Tanto os sentidos como a razão podem, por vezes, ser enganadores.(V)

 A razão é a origem do conhecimento.(V)

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