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O Dia da Expiação em Levítico

Pr Isael
Situação no calendário litúrgico do santuário

O Dia da expiação era celebrado ao final de cada ano


religioso, no sétimo mês, mas precisamente no décimo
dia do sétimo mês, ou mês de Tishri;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco
• Festas do primeiro mês, (mês inicial) Primavera:
• (1ª) a Páscoa:14 do mês, Êx 12:1-14,21-28,42-51;Lv
23:5;Nm 9:1-14:28:16;Dt 16:1-7
• Primeira semana de festa (15-21 do mês)
• (2ª) Pães sem fermento: Êx 12:15-20, 34, 39; Lv 23:3-8; Nm
28:17-25; Dt 16:3-4;
• (3ª) Primícias do começo da colheita da cevada: Lv 23:10-14;
Dt 16:9-12, 16-17; cf 2 Sm 21:9;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco
• Festas do terceiro mês, (mês intermediário) Verão:
• (4ª) As Primícias da colheita do trigo ou Festa das
Semanas, mas tarde na época helenista chamada de
Pentecostes, cinquenta: Início do mês, Êx 23:16a;34:22; Lv
23:15-22;Nm 28:26-31;Dt 16:9-12;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco
• Festas do sétimo mês, (mês final) Outono:
• (5ª) A sétima lua nova: Nm 10:10; 28:11-15, ou Festa das Trombetas:
Dia primeiro do mês, Lv 23:24-25; Nm 29:1-6;
• (6ª) Dia da Expiação: Dia 10 do mês, Êx 30:10; Lv 16; 23:27-32; 25:9;
Nm 29:7-11;
• Começo do ano sabático
• Começo do Jubileu: Lv 25:8-55; 27:17; Nm 36:4;
• Última semana de festas (15-22 do mês):
• (7ª) Festa da colheita a última do ano ou Festa dos Tabernáculos: Êx
23:16; 34:22c; Lv 23:34-43; Nm 29:12-38; Dt 16:13-17;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco
• Nota-se o calendário litúrgico marcado por três meses de
festas: o primeiro, o terceiro e o sétimo nos quais se exigia a
peregrinação ao templo de Jerusalém a todos os israelitas,
Êx 23:17; 34:23; Dt 16:16; esta disposição perspectivava dois
elementos, a saber, colheita e culto, de modo que o
calendário se categorizava como litúrgico-religioso;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco
• As festas do ano começavam com um sacrifício especial: a
Páscoa, à qual se seguia uma festa de colheita – primícias.

• As festas do ano eram encerradas semelhantemente com um dia


de sacrifícios especiais: o Dia da Expiação, ao qual também se
seguia outra festa de colheita, a última do ano – a festa das
cabanas ou Tabernáculos.
Situação no calendário litúrgico do santuário
Acentuidade do número sete e as festividades litúrgicas
• Sete festividades anuais se achavam contidas nos primeiros sete meses do
ano religioso;
• A primeira e a última colheitas se celebravam durante sete dias;
• Como o sétimo dia era celebrado como um dia diferente dos outros o
sétimo mês ou sétima lua nova se diferenciava das demais sendo marcada
com uma celebração mais enfática, a festa das trombetas;
• Os sétimos anos deviam ser celebrados como anos de repouso da terra;
• O Pentecostes era celebrado ao final de um período de sete sábados
semanais no primeiro período de colheitas do ano, semelhantemente o Dia
de Expiação marcava o começo de um repouso anual correspondente a uma
sequência de sete sábados anuais no último período de colheita do ano;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Acentuidade do número sete e as festividades litúrgicas

• O número sete se intensificava no sétimo mês. Nas sete festas


do ano se ofereciam sete cordeiros em holocaustos em cada
festa; no primeiro mês também sete cordeiros cada dia durante
uma semana. No sétimo mês na festa dos Tabernáculos se
oferecia quatorze cordeiros cada dia da semana, e também
setenta touros, todos múltiplos de sete;
Situação no calendário litúrgico do santuário
Acentuidade do número sete e as festividades litúrgicas

• O número sete, portanto, acentuado especialmente no sétimo


mês reitera que este era um mês final no qual o ciclo anual de
sacrifícios e de colheitas se completavam.
Situação no calendário litúrgico do santuário
Disposição das festas litúrgicas no pentateuco

• Deste modo o Dia da Expiação destaca-se como dia de


encerramento, nele um ano mais se dispersava com seus pecados
e, portanto, expiados do meio de Israel e um outro novo ano se
iniciava com as contas em branco. De fato o próprio ano de
Jubileu i.e., o ano de libertação-remissão, ano santo começava
também no Dia de Expiação;
O Dia da Expiação em Levítico 16

• Sua posição ao final das discriminações dos sacrifícios


prescritos sugerem este tratar-se de uma espécie de
coroamento de toda informação precedente no livro;
• Em nenhum capítulo em todo material bíblico se utiliza tantas
vezes o verbo Kipper “expiar” (16 vezes), o que reitera seu
caráter de conclusão do sistema de sacrifícios, visto que essa
palavra era empregada na conclusão de cada rito efetuado no
livro (4:20, 26,31,35...)
O Dia da Expiação em Levítico 16

O capítulo 16 de Levítico é por excelência o capítulo do


Dia da Expiação. Seu conteúdo litúrgico é tão expressivo
que tem dificultado a percepção de uma estrutura
literária coesa, fato que tem levado diversos eruditos a
evitar comentários quanto a sua eventual unidade.
Levítico 16: estrutura literária

• O capítulo acha-se distribuído em cinco partes principais:


• Contextualização histórica vs 1-2;
• Introdução vs 3-5;
• Primeiro desenvolvimento vs 6-10;
• Segundo desenvolvimento vs 11-22;
• Ato conclusivo do ritual vs 23-28;
• Tornando um estatuto o ritual vs 29-34;
• Observação final v 34;
“E disse YHWH a Moisés”
A Arão não devia entrar no lugar santíssimo o dia em que quisesse v2
Β Ofertas sacrificais de Arão e as vestimentas especiais vs 3,4
C Ofertas sacrificais providas pelo povo v5
D Novilho de Arão, bode por YHWH, bode por Azazel vs 6-10
Ε Arão sacrifica o novilho como oferta pelo pecado vs 11-14
inclusio

F O bode da comunidade é oferecido como oferta pelo pecado v 15


G Expiação efetivada vs 16-19
G' Expiação é finalizada vs 20a
F' O bode da comunidade por Azazel enviado ao deserto vs 20b-22
E' Encerramento de atividades de Arão vs 23-25
D' Bode por Azazel, novilho de Arão, bode oferta pelo pecado vs 26-28
C' Povo repousa e se humilha v 29-31
B' Sacerdote ungido oficia vestindo roupas especiais vs 32-33
A' Sacerdote ungido fara expiação uma vez ao ano v 34
”como YHWH ordenara a Moisés"
Levítico 16: estrutura literária

A- Arão não devia entrar no lugar santíssimo o dia em que quisesse v 2;


A’- Sacerdote ungido fara expiação uma vez ao ano v 34;

• As linhas A//A’ lidam com elementos de tempo enquanto referem o


santuário e particularmente à entrada do sumo sacerdote no lugar
santíssimo. Uma declaração geral no início do capítulo conduz no final
à uma mais específica.
Levítico 16: estrutura literária

Β- Ofertas sacrificais de Arão e as vestimentas especiais vs 2-4;


B’- Sacerdote ungido oficia vestindo roupas especiais vs 32-33

• A linha B especifica animais para sacrifício e tipo de vestimentas com


as quais Arão se aproximaria do Senhor. Sua linha paralela, B’ declara
que durante o Dia da Expiação o sacerdote ungido deveria oficiar
usando as vestimentas sacerdotais especiais.
Levítico 16: estrutura literária

C- Ofertas sacrificais providas pelo povo v 5;


C’- Povo repousa e se humilha v 29-31

• O envolvimento do povo nas atividades do Dia da Expiação é


mencionado apenas nas linhas C//C'. Eles providenciam os animais
específicos para o cerimonial (C) e afligiam a alma em humilhação
própria bem como guardam este dia como dia de repouso (C' ) enquanto
o santuário era purificado.
Levítico 16: estrutura literária

D- Novilho de Arão, bode por YHWH, bode por Azazel vs 6-10;


D’- Bode por Azazel, novilho de Arão, bode oferta pelo pecado vs 26-28;
• Em 16:6-10 na linha (D) encontra-se uma referência ao novilho de Arão
por sua oferta pelo pecado e uma descrição do lançar sortes para
selecionar o bode pelo Senhor e o bode por Azazel. Seu paralelo
encontra-se em (D’) 16:26-28, no qual o bode por Azazel, o novilho de
Arão, e o carneiro para oferta pelo pecado são mencionados pela última
vez no capítulo, sugerindo que a principal atividade do dia tinha sido
concluída.
Levítico 16: estrutura literária

Ε- Arão sacrifica o novilho como oferta pelo pecado vs 11-14;


E' Encerramento de atividades de Arão vs 23-25
• Não se nota claramente um paralelo para a linha E, porque ela lida com
o sacrifício oferecido por Arão para fazer expiação por ele mesmo e sua
casa, trazendo aquela parte do ritual para um fim, fazendo Arão sua
experiência final. Mas na estrutura geral do capítulo existe uma
compensação para isto em 16:23-25, linha E', onde Arão é mencionado
pela última vez no capítulo e suas atividades para o dia são descritas.
Levítico 16: estrutura literária

F- O bode da comunidade é oferecido como oferta pelo pecado v 15;


F' O bode da comunidade por Azazel enviado ao deserto. vs 20b-22;

• As linhas F//F' descrevem como cada um dos bodes providos pelo povo
fora usado durante o Dia da Expiação;
Levítico 16: estrutura literária
G- Expiação em ocorrência vs 16-19;
G' Expiação é finalizada vs 20a

• As linhas G//G' estão localizadas no centro do quiasmo, indicando que


este é o mais importante aspecto do capítulo. A estrutura quiástica
combina os principais elementos do ritual do Dia da Expiação com seu
propósito fundamental formando uma bem estruturada unidade
literária.
Levítico 16 e Ritualização

• É possível notar Levítico 16 estar contido de três rituais:


• Rito de Entrada;
• Rito de Purificação;
• Rito de Eliminação;
• Firmemente integrados formando uma unidade composta de
três rituais com um propósito específico;
Levítico 16 e Ritualização

• O capítulo combina esses três ritos em perfeita simetria:


• O RITO DE ENTRADA possibilita a Arão o acesso aos compartimentos
santo e santíssimo do santuário com o fim de realizar o RITO DE
PURIFICAÇÃO através do qual os pecados e impurezas são removidos
do santuário em favor do sacerdócio e do povo de Israel; finalmente,
através do RITO DE ELIMINAÇÃO o bode por Azazel leva-os para o seu
lugar de origem, para o deserto.
Levítico 16 e Ritualização

• O ciclo da oferta queimada é iniciado em 16:3,5, e finalizado


em 16:24 sem qualquer menção dele no intervalo destes
versos;
• O bode por Azazel é introduzido em 16:5, sua seleção
específica se dá no v 10; a imposição de mãos e transferência
de pecados a ele e o ato de seu envio ao deserto ocorrem em
20b-22;
Levítico 16 e Ritualização

• A oferta pelo pecado de Arão é intoroduzida no v 3; a vítima


sacrifical é apresentada no v 6, imolada no v 11; a
manipulação do sangue é descrita no v 14, a queima da
gordura no v 25, e o círculo é concluído com a queima da
carne do sacrifício em 16:27.
• A oferta do pecado do povo é introduzida no v 5, então
apresentada ao Senhor no v 9, sacrificada, manipulação do
sangue realizada no v 15, sua gordura queimada no v 25 e
finalmente a carne queimada no 27.
Levítico 16 e Ritualização

• Passos que eram realizados num sequencial ininterrupto nas


ofertas pelo pecado regulares em Lv 4 são intencionalmente
espaçados no ritual do Dia da Expiação enfatizando uma
sofisticada unidade ritual composta;
Levítico 16: considerações de conteúdo

• Contextualização histórica vs 1-2;


• A introdução do capítulo expõe o risco de morte ao sacerdote e ao
povo conectando o Dia de Expiação diretamente com o incidente do
capítulo 10, e implicitamente com os ritos de purificação do
capítulo 15, que culmina com todos os ritos de purificação descrito
nos capítulos anteriores. Eles sugerem a condição, a maneira, o
lugar e tempo de apresentar-se diante de Deus;
Levítico 16: considerações de conteúdo

• O sumo sacerdote neste dia entrava no santíssimo levando sobre


si todas as advertências e riscos de morte. De modo que este lhe
era o dia mais grandioso e perigoso de sua vida, pois acerca dele
Deus dissera: “eu me apresentarei e deixar-me-ei ver na nuvem”.
• Sempre que a glória de Deus aparecia sobre a nuvem achava-se
associada a um claro contexto de advertência ou de morte
iminente, a menos que uma concessão especial de graça fosse
acordada, Êx 33:18-23; Is 6:6... Esta concessão e privilégio
especiais eram anualmente renovados a Arão, no entanto, ele
deveria estar velado pela nuvem do incenso;
Levítico 16: considerações de conteúdo

• Somente nos ritos do Dia da Expiação se completava a expiação do ano,


pois só então o santuário de forma direta (Lv 16:16,18-20,33) e o povo
como resultado da obra efetuada no santuário (16:17,30,33) estavam
compreendidos na expiação. Portanto, um dia final em que se operava
uma expiação total, não realizada jamais por nenhum outro rito.
Levítico 16: considerações de conteúdo

• A suspensão de atividades trabalhistas neste dia o caracterizava como os


outros dias festivos do ano como um dia de repouso, acentuando assim a
solenidade destes. No Dia da Expiação esta solenidade era inda mais
acentuada, sua violação era castigada com pena de morte (Lv 23:30);

• Neste dia além de consagrar-se o povo devia afligir ou humilhar sua alma
fato que contrastava este dia dos demais dias festivos do ano;
Levítico 16: considerações de conteúdo

• Não se pode portanto, a relação estreita que há entre a mortificação da


alma e a expiação. Todo o povo era convidado a dar provas de um espírito
em comum acordo com a obra de expiação que se realizava paralela no
interior do santuário. Deste modo as confissões privadas e coletivas de um
povo contrito, falavam de uma erradicação e eliminação dos pecados de
todo o ano. Isto é, para que a expiação final tivesse um valor definitivo, o
povo deveria acompanhar com um espírito adequado a referida ocasião (cf
Ez 33:12-16).
Levítico 16: considerações de conteúdo

• O sonido das campainhas na vestimenta sacerdotal permitia ao povo


acompanhar seus movimentos nas distintas fases no interior do santuário
e também anunciava o momento de sua saída ao exterior. O ministério
diante do Senhor fora aceito. A aflição deste dia substituía-se pelo pelo
gozo. Neste contexto de regozijo e gratidão final da festa o sumo
sacerdote oficiava o holocausto expiatório por ele e o povo, e
extendendo suas mãos o abençoava (Lv 9:23; Nm 6:22-27)
Levítico 16: considerações de conteúdo

• Sem dúvidas este era no calendário litúrgico-agrícola de Israel


o momento em que o homem mais santo da terra em favor do
povo santo da terra entrava no lugar mais santo da terra
(santíssimo), no tempo mais santo da terra, para realização
da obra mais santa da terra: expiação da casa do Ser mais
Santo do universo desde os pecados dos santos arrependidos
da terra.

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