Você está na página 1de 44

TRABALHO, EDUCAÇÃO,

SCHOLÉ E A ORIGEM DA
ESCOLA PÚBLICA

Educação & Trabalho – UNIRIO


Prof. Dr. Dalton Alves
 Origem da Educação:
• modalidade de formação geral de todos nos
primórdios da humanidade.
 Surgimento da Escola como Scholé:
• modalidade específica e particular de educação
diferenciada da formação em geral destinada
apenas a certos grupos sociais;
 Generalização da Escola:
• origem da escola pública como a nova e a
principal modalidade de formação geral de
todos da sociedade;
Avanços, Contradições da Escola
Pública.
 A EDUCAÇÃO é ato 2º, derivado, do
processo da existência humana, porque a sua
função é a de reproduzir os padrões de vida
de determinado grupo e da própria
sociedade;
 O ato 1º, determinante, é VIVER e para
viver os seres humanos precisam
TRABALHAR.
 Isto ocorre porque a espécie humana,
diferente dos demais animais, não tem a sua
existência garantida pela natureza.
 O que é TRABALHO?
“(...) O homem precisa produzir constantemente
a sua existência, em outros termos, se os animais
em geral se adaptam à natureza, o homem tem
que fazer o contrário, ele tem que adaptar a
natureza a si, ele tem que agir sobre a natureza
transformando-a. Se ele não fizer isto, ele perece,
quer dizer, ele não subsiste enquanto
homem. Este ato de transformar a natureza é
exatamente o que nós conhecemos pelo nome
de TRABALHO. É por isto que, comumente, se
entende que o homem não pode viver sem
trabalhar. O homem vive do trabalho, ou
seja, vive do processo de produção dos produtos
e dos meios da sua própria existência, vive do
processo de transformação da natureza para
satisfazer as suas necessidades (...)”.
SAVIANI (Vídeo, parte 1)
 A EDUCAÇÃO surgirá em decorrência
desse fato do Trabalho. Por isso dizer-se
que a educação é ato 2º no processo de
humanização.
 O papel da educação é ensinar às novas
gerações o aprendizado das formas de sua
própria existência.
 Vídeo-Aula: “O Homem e a Cultura”:
“Além de todos os objetos e técnicas que
desenvolveu, o homem criou maneiras de
transmitir e ensinar o que criava. Os
conhecimentos acumulados podiam ser passados
dos mais velhos para os mais jovens, sem que
fosse preciso iniciar tudo de novo a cada geração.
Assim as descobertas se somavam”.
 A criança assim é inserida na vida social
do grupo e deste irá aprender os elementos
fundamentais para sua vida, conforme as
tradições do seu grupo social;
 Cada grupo somente pode ensinar o que
conhece e o que aprendeu dos grupos
antes deles, ao qual acrescentaram as suas
próprias experiências, invenções e criações.
 A criança, após desenvolver o domínio
desses conhecimentos e técnicas, irá juntar
a estes as suas experiências particulares a
partir daí, e assim, sucessivamente, de uma
geração para outra.
 Em outros termos, o Trabalho e a Educaçã o sã o
tã o antigos quanto os pró prios Seres Humanos.
Desde que os primeiros grupos humanos
passaram a existir, eles tiveram a necessidade de
trabalhar e de educar-se.
 Nos termos de Saviani:
“(...) no momento em que surge o homem, surge a
questã o dele se formar a si mesmo, dele se
constituir a si mesmo, dele se produzir a si
mesmo e do aprendizado das formas de sua
própria produção. É neste sentido que nas
origens do homem, a educaçã o coincidia com o
pró prio processo de existência, com a pró pria vida.
Aí era verdade prá tica a frase: ¨Educação é
Vida¨. [...] Ou seja, o homem aprendia a viver,
vivendo; aprendia a trabalhar, trabalhando;
aprendia a lidar com a natureza, lidando com a
natureza. E isto era feito coletivamente [...] aí não
existia então escola, existia educação, mas não
existia escola”. 
 Quando, como e por que irá surgir a
escola?
 A escola surge em determinado momento
histórico e social como uma modalidade
específica de educação diferenciada da
educação em geral.
 Se desde os tempos mais remotos da vida do
homem na Terra ele teve a necessidade de se
educar e tratava-se de uma educação prática,
empírica, adquirida com a experiência.
Aprendia-se a trabalhar, trabalhando; aprendia-
se a viver, vivendo.
 A escola irá surgir muito muito tempo depois,
ela surge mais recentemente na história da
humanidade, em especial na Grécia e Roma
antigas e a sua origem está associada a uma
nova divisão social do trabalho e ao
surgimento da propriedade privada.
SOBRE A NOVA DIVISÃO SOCIAL DO
TRABALHO E O SURGIMENTO DA
PROPRIEDADE PRIVADA
 Passagem do nomadismo para o sedentarismo;
 Nomadismo: trabalho: caça, coleta e pesca: divisão sexual
do trabalho: regime de propriedade: coletiva, comunitária
– “Todos viviam do trabalho de todos”;
 Sedentarismo (1ª fase): fixação em determinado território,
desenvolve a agricultura, pecuária e artesanato. Divisão
social do trabalho: agricultura, pecuária, artesanato.
Regime de propriedade: coletiva, comunitária, - “Todos
viviam do trabalho de todos”;
 Sedentarismo (2ª fase): economia de mercado
 Sedentarismo (3ª fase): “excedente econômico”;
 Sedentarismo (4ª fase): nova divisão social do trabalho
entre aqueles que trabalham e quem apenas cuida,
gerencia o trabalho o que dá origem à noção de
propriedade privada.
 Economia de Mercado:
 1º. escambo: troca de mercadoria por
mercadoria.
 O que é mercadoria? Suas diferenças com a
produção de subsistência. O duplo valor da
mercadoria: “valor-de-uso” e “valor-de-troca”.
 2º. “dinheiro” (equivalente geral):
 Com o aumento da produção e as dificuldades
cada vez maiores inerentes à prática do
escambo (Ex.: a troca de galinhas por baleias),
levou a criação de um equivalente geral:
ao estabelecimento de uma mercadoria como
outra qualquer, desprovida do seu valor-de-
uso mas com alto valor de troca, dado à sua
durabilidade, fácil manuseio etc.
 Exemplos de equivalente geral antes do
dinheiro:
• O sal.
Antes do dinheiro se tornar o equivalente geral
predominante, tinha-se, por exemplo, em determinado
tempo, o sal como equivalente geral. Ou seja, pagava-
se as mercadorias por uma quantidade “x” do seu peso
em sal. Até os serviços prestados costumavam a ser
pagos pelo seu valor em sal. Disto é que se originou a
palavra “salário’. Bem como a expressão “preço
salgado”, também tem aí a sua origem.
• Ouro e prata.
O ouro e a prata foram os substitutos do sal, dada à sua
durabilidade, o seu fácil manuseio, pureza etc. O qual
conserva até hoje a sua importância em certas
transações comerciais.
 EXCEDENTE ECONÔMICO:
Ainda na fase do surgimento da economia de
mercado, os ganhos alcançados com o excedente
econômico, as mercadorias que eram vendidas ou
trocadas nos mercados, o que se conseguia em troca
era posto a serviço e para o consumo de toda a
comunidade em igualdade de condições.
Nesta fase “todos viviam do trabalho de todos”.
A propriedade era coletiva, ou seja, os meios de
produção tais como a terra, os animais, os
instrumentos de trabalho etc. eram de todos,
ninguém se dizia dono disto ou daquilo, portanto,
sendo a propriedade dos meios de produção coletiva,
os produtos criados por estes meios, as mercadorias,
também eram de todos.
 O que era de todos?
O que era coletivo, de todos, eram
os meios de produção e não os bens de
produção. Isto é, a terra, os animais e
os instrumentos de trabalho é que eram
propriedade coletiva, mas os bens
produzidos, roupas, alimentos, abrigo
etc., estes que eram privados, cada um
deveria ter o seu, em igualdade de
condições aos demais.
 DIVISÃO DO TRABALHO E
PROPRIEDADE PRIVADA.

 Quando se fala da origem da propriedade privada, se quer


dizer do processo de quando na história, além dos bens
de produção privados, os meios de produção também
passaram a ser privados. Passaram a pertencer apenas a
uma família ou pequeno grupo, deixando o restante da
comunidade ou tribo sem tais meios de sobrevivência.
 Chega-se a um ponto que algumas famílias começaram a
concentrar para si as melhores faixas de terras e os
melhores animais e, consequentemente, a exigir uma
parcela maior para si da partilha dos produtos adquiridos
com a troca proveniente do excedente produzido.
 Aos poucos retiraram a propriedade do conjunto do
grupo, apropriando-se privadamente dos meios de
produção. Como consequência detinham também o
domínio sobre os bens de produção e passaram a
distribuí-los aos demais da comunidade a partir dos seus
interesses e conveniência.
Segundo Engels,
“Ao dividir-se a produção nos dois ramos principais –
agricultura e ofícios manuais – surgiu a produção
diretamente para a troca, a produção mercantil, e com ela o
comércio, não só no interior e nas fronteiras da tribo como
também por mar [...] A diferença entre ricos e pobres veio
somar-se à diferença entre homens livres e escravos. A nova
divisão do trabalho acarretou uma nova divisão da
sociedade em classes. A diferença de riqueza entre os
diversos chefes de família destruiu as antigas comunidades
domésticas comunistas, em toda parte onde estas ainda
subsistiam; acabou-se o trabalho comum da terra por conta
daquelas comunidades. A terra cultivada foi distribuída
entre as famílias particulares, a princípio por tempo
limitado, depois para sempre; a transição à propriedade
privada completa foi-se realizando aos poucos [...] A família
individual começou a transformar-se na unidade econô mica
da sociedade”.
(ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do
Estado. 3ª. ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2018, p. 200)
“(...) as terras e os animais, que antes eram de
todos, passaram a ser a propriedade particular
de apenas alguns e a tribo, ao invés de
trabalhar e ver os produtos do seu trabalho
gerarem recursos para todos, passou a
trabalhar e gerar recursos apenas para alguns
poucos que se apoderaram da propriedade,
antes coletiva e agora privada” (p.06).
ALVES, Dalton. “Notas para o estudo do trabalho industrial urbano: o
princípio educativo da ‘escola para todos’ a partir da modernidade” <<
https://doi.org/10.22409/tn.v18i35.40491>>
 Do regime de propriedade coletiva. Que gera
relações de cooperação e ajuda mútua.
 Do regime de propriedade privada. Que gera
relações de oposição e antagonismo, neste
caso, pois, os produtores diretos
(trabalhadores) constrangidos a trabalhar
para um outro por necessidade ou pela força
e não por opção, estes são explorados por
aqueles.
 Resulta disto uma sociedade dividida em
classes sociais, sendo as principais delas, a
classe dos proprietários dos meios de
produção e a classe dos não-proprietários.
Assim, os proprietários passaram a dominar a
comunidade e, por conseguinte, o excedente de
produção, passaram também a se sentir no direito
de não mais precisarem trabalhar na terra
para o próprio sustento, forçando toda a
comunidade, depois de subjugada, a trabalhar
para o seu próprio sustento e para sustentar os
novos donos da terra. Se antes todos viviam do
trabalho de todos, a partir deste momento
“alguns passaram a viver do trabalho dos
outros”. Surge a partir daí o trabalho como
exploração e não mais como meio próprio de
vida e de subsistência. E a maior exploração de
todas que foi/é o trabalho forçado, trabalho
escravo, conhecido como Modo de Produção
Escravista.
 É assim que surge a escravidão como um
novo e lucrativo negócio:
“A escravidã o, a princípio restrita aos prisioneiros de
guerra, mas que se desenvolve depois e abrange os
membros da pró pria tribo e até da pró pria gens; a
degeneraçã o da velha guerra entre as tribos na busca
sistemá tica, por terra e por mar, de gado, escravos e bens
que podiam ser capturados, açã o que chegou a ser uma
fonte regular de enriquecimento. Resumindo: a riqueza
passa a ser valorizada e respeitada como um bem
supremo, e as antigas instituiçõ es da gens sã o pervertidas
para se justificar a aquisiçã o de riquezas pelo roubo e pela
violência”.
(ENGELS, 2018, p.131).
“Ocorre assim (sic) a legitimaçã o histó rica e social da
propriedade privada, “antes tã o pouco estimada”,
consagrada e santificada como o “objetivo mais elevado da
comunidade humana”, juntamente com a perpetuaçã o da
“nascente divisã o da sociedade em classes” e do “direito de
a classe possuidora explorar a nã o possuidora e o domínio
da primeira sobre a segunda”. Nestas condiçõ es, os
proprietá rios passaram a ter mais tempo livre para se
dedicarem a outras coisas, vez que estavam livres do
trabalho produtivo, agora realizado por outros seres
humanos escravizados”.
“É neste contexto que teve origem a escola, como Scholé,
uma modalidade restrita de educaçã o, destinada apenas
para aqueles que viviam do trabalho de outros homens,
pois, a maioria continuava a se educar como sempre fez, no
pró prio trabalho e na vida”. (p.07)
(ALVES, Dalton. “Notas para o estudo do trabalho industrial
urbano: o princípio educativo da ‘escola para todos’ a partir da
modernidade” <<https://doi.org/10.22409/tn.v18i35.40491>>)
 Como o surgimento da propriedade
privada relaciona-se com o surgimento da
escola?
 Com a divisã o da sociedade entre proprietá rios e
nã o proprietá rios, e com a subjugaçã o dos segundos
aos primeiros, os proprietá rios passaram a dispor
de mais tempo livre para se dedicarem a outras
coisas, vez que estavam “livres” do trabalho
produtivo para sobreviverem.
 Dentre as muitas coisas as quais os proprietá rios
passaram a se dedicar em seu tempo livre irá surgir
a Scholé (lugar do ó cio). Mas nã o era um lugar de
nã o se fazer nada, ao contrá rio, era o lugar para
onde eram enviadas as crianças que não
precisavam trabalhar para viver. Os filhos dos
proprietá rios.
 Na “Scholé” eles aprendiam e dominavam os
conhecimentos e té cnicas necessá rios para
dirigirem os trabalhos da mente, os quais
exigiam esforço mental e intelectual. Nã o se
exerciam atividades manuais, consideradas
indignas do homem livre, vez que eram
atividades pró prias de escravos ou serviçais.

 As demais crianças, filhas dos nã o-proprietá rios,


estavam impedidas de frequentar a scholé,
restrita aos nobres e aristocratas, mas també m
passavam por um processo de educaçã o pelo qual
aprendiam e dominavam os conhecimentos e
técnicas necessá rios para dirigirem os
trabalhos das mãos, os quais exigiam esforço
físico e manual, para o trabalho produtivo que
deveriam exercer a serviço dos nobres e
proprietá rios.
Artes Liberais & Artes Mecânicas
ARTES LIBERAIS
(Dignas do Homem Livre)

TRIVIUM
Gramática Latina
Retórica
Lógica/Dialética Que Dirigem o
  Esforço Mental Trabalho da
QUADRIVIUM Razão
Aritmética
Geometria
Astronomia
Música
Artes Liberais & Artes Mecânicas
ARTES MECÂNICAS
(Próprias do Trabalhador Manual)

• Medicina
• Arquitetura Que Dirigem o
• Pintura Trabalho das
Esforço Físico
• Escultura Mãos
• Olaria
• Tecelagem
• Artesanato
É neste contexto que teve origem a escola,
como SCHOLÉ, uma modalidade restrita de
educação, destinada apenas para aqueles que
viviam do trabalho de outros homens, pois a maioria
continuava a se educar como sempre se fez, no pró prio
trabalho e na vida.
A escola nasce com esta marca congênita baseada
na divisão entre trabalho intelectual e trabalho
manual, resultante da divisã o de classe da sociedade
entre proprietá rios e nã o-proprietá rios.
Isto perdurou até o fim da Idade Mé dia, sofrendo
drá stica mudança durante as Revoluçõ es Burguesas no
Período Moderno. Todavia, para a classe
trabalhadora, os não-proprietários, na essência, as
coisas não mudaram tanto assim.
O que será evidenciado mais adiante. 
Origem, Contradições e o
Legado da Escola Pública
CIÊNCIA:
Potência Espiritual  Potência Material

 INDÚSTIRA = A ciência aplicada à produção;


 Direito Positivo x Direito Natural;
 Democracia – República (Revolução Francesa).
 Exigências do domínio dos códigos escritos;
 Necessidade de um novo modelo de educação – A Escola
– generalização da Scholé;
 A Revolução Industrial traz a exigência de
capacitação técnica da nova mão-de-obra.
 A educação empírica não dá conta de formar para o
trabalho na Indústria.
 As máquinas são fruto de conhecimentos teórico-
científicos, sobretudo, da física e da matemática
(Newton – física mecânica).
 Exemplo: máquina a vapor.
 A partir daí a Scholé passa a ser pensada como a
melhor forma de educar o trabalhador para a Indústria.

 A Scholé deixa assim de ser uma modalidade de


educação restrita a pequenos grupos e se generaliza
como a forma principal de ensinar tudo a todos.
Juan Amós COMENIUS (1592-1670)
Revolução Educacional. Os Fundamentos da
Pedagogia Moderna e de uma nova Didática.

“DIDÁTICA MAGNA: ARTE DE ENSINAR TUDO A


TODOS”
 Ensinar com economia de tempo;
 A natureza como modelo;
 Aprender fazendo;
 Ensinar a todos, inclusive aos débeis, mulheres e
operários. (p.6 e 7)
 PAPEL DA EDUCAÇÃO: forma o homem, a
humanidade que há nele.

 FUNÇÃO DO MESTRE:
  Organizar e planejar o ensino;
 Apresentar cada coisa com a máxima exatidão, clareza
e distinção;
 Garantir a ordem e a disciplina com uma severidade
bem dosada;
 Guiar os alunos, pela palavra e pelo exemplo;
 Ensiná-los a obedecer, primeiro ao mestre e, depois, à
sua própria razão;
 Despertar nos alunos o desejo ardente de aprender;
 Mostrar o valor, a utilidade e o interesse do que é
ensinado.
 MÉTODO DE ENSINO: organizar o conhecimento a ser
ensinado (tempo e conteúdo) com base na organização da
natureza [além disso, está presente, implicitamente, a
organização do trabalho na manufatura como um dos
aspectos principais do principio educativo em Comenius]. 
 TEMPO:
 Uma coisa de cada vez;
 Ensino graduado, separado por classes;
 4 horas diárias de estudo:
– 2 pela manhã: exercícios mais intelectuais;
– 2 à tarde: exercícios manuais e orais;
 Anos de escolaridade: divididos em 4 partes (infância,
puerícia, adolescência e juventude) de 6 anos cada.
 CONTEÚDO:
 Adaptado à idade e à capacidade dos alunos:
 Do mais simples para o mais complexo, do conhecido
para o desconhecido (o conhecido abre caminho para o
desconhecido e este se incorpora àquele).

 MATERIAIS DIDÁTICOS: livros específicos para


cada classe;
 todos os alunos devem ter o mesmo livro;
 um único livro (manual) deve conter tudo o que será
ensinado;
 tais livros “pan-metódicos” (didáticos) devem ser
confeccionados por um grupo de especialistas;
Contribuições e Originalidade
de Comenius
 ESCOLA ÚNICA: todos devem ser educados conjuntamente e em pé de
igualdade: ricos e pobres, meninos e meninas, “normais” e deficientes;
 Cabe ao ESTADO assegurar essa educação;
 CONTEÚDOS RELACIONADOS À VIDA COTIDIANA: noções de
economia, política, iniciação profissional, etc.;
 TEMPO PARA LAZERES: visitas a monumentos, manufaturas, jardins,
etc. (valor dado ao contato com as coisas reais, à prática, à observação, à
experiência sensível. Na falta das coisas, recorre-se às imagens: ilustrações
ou objetos) – APRENDIZADO PELA EXPERIÊNCIA.
 No ENSINO DAS LÍNGUAS:
– ensinar primeiro na língua materna e depois no latim (do fácil para o
difícil);
– línguas estrangeiras: o uso (fala) e os exemplos vêm antes das regras
gramaticais;
 MÉTODO REFERIDO À NATUREZA: a ordem dada às escolas
corresponde à ordem da natureza (por exemplo: esperar o tempo certo);
SÍNTESE:

Comenius concilia um ensino


minuciosamente regrado pelo mestre
com o interesse da criança. Para ele, não
há oposição entre os desejos da criança e
o que o adulto preparou para ela.
FAIXA ETÁRIA ESCOLA LOCAL DO ENSINO

       Geral e Rudimentar
Infância Escola Materna Família  Sentidos Externos
(até 5 anos)    Processos Audiovisuais
 “Livro de Imagens”

       Geral e rudimentar
Puerícia Escola de Língua Comunas  Sentidos internos, imaginação e memória
(6 aos 12 anos) Vernácula / Escola Aldeias  Língua Nacional
Primária Vilas  Livro Texto- 1 por ano

       Particularizadas e Distintas
Adolescência Ginásio Cidades  Inteligência e o juízo de todos as coisas recolhidas
(12 aos 18 anos) pelos sentidos

       Particularizadas e Distintas
Juventude Academia Reinos,  Sobre a vontade
(18 aos 24 anos) ou Províncias  Conservar a harmonia: Teologia, Filosofia e Medicina
Universidade    Prepara para ocupar cargos públicos.
 A ESCOLA PARA OS TRABALHADORES:
CONTRADIÇÕES.
 Atualmente a educação escolar é tão natural e óbvia que
muitos nem têm a noção de que nem sempre ela foi uma
necessidade para todos da sociedade.
 A produção industrial e a educação escolar parecia ser
uma grande dádiva para os trabalhadores, porém, esta
não foi assim tão vantajosa conforme prometia.
 Não obstante o avanço que isto representou para a classe
trabalhadora em relação à sua situação de antes, isto não
ocorreu sem contradições e distorções. Apesar do
princípio e da defesa de uma escola pública, laica e para
todos, o que ocorreu foi a constituição de dois tipos de
escolas muito distintas, consubstanciadas no conceito de
“dualidade educacional”.
 Educação escolar para os operários, sim, mas em doses
homeopáticas;
 Limites dos domínios dos conhecimentos científicos que o
trabalhador deveria desenvolver;
 Solução:

“organizar um tipo de escola PARA a classe trabalhadora,


por quem não é trabalhador, mas dele precisa”.
 Problema: a escola pensada pela Burguesia não considerou
a participação dos trabalhadores na elaboração do modelo
de educação escolar que melhor convinha aos
trabalhadores.
 O princípio de “uma escola pública, laica, gratuita,
para todos”, ignorou completamente as necessidades
específicas do trabalhadores, que foram excluídos
deste processo e não foram ouvidos sobre a educação
geral e/ou profissional que melhor atenderia às suas
necessidades.

 Daí se explica o porquê de se criar um modelo de


escola “para” e não “com” a classe trabalhadora. Este
modelo foi pensado a partir dos interesses dos
capitalistas, para atender às suas necessidades de
acumulação ampliada do capital, pouco interessando a
formação humana e intelectual do trabalhador a seu
serviço.
 O objetivo de fato foi oferecer uma escola para a
formação do trabalhador, “[...] aridamente instruídos
para um ofício, sem ideias gerais, sem cultura geral,
sem alma, mas só com o olho certeiro e a mão firme”
(GRAMSCI. Homens ou máquinas? In: MONASTA, ..., p.67).

 E não uma escola de formação humana do


trabalhador ao se conceber o ser que trabalha
apenas como mão-de-obra útil ao capital, em
detrimento de ele ser também um Ser Humano e tudo
que isto implica do ponto de vista da sua educação e
emancipação humana.
 Tratar-se-á de uma escola pública, de direito, mas, de fato
ela não será igual e do mesmo tipo para todos. A
Modernidade capitalista e burguesa, já na primeira
Revolução Industrial, lança as bases do que seria uma
nova Scholé, criando duas modalidades distintas de
educação escolar, uma não tendo ligação com a outra.
Não uma escola de mesmo tipo para todos, tratou-se/trata-se
de uma escola de tipo dualista, isto é, uma escola de
excelência para os ricos e outra escola de qualidade inferior
(ou com a qualidade que interessava ao sistema) para a
classe trabalhadora.

 A partir disto é que a dualidade educacional aparece como


o fundamento e a estrutura da Escola para a classe
trabalhadora.
 Não é algo acidental, conjuntural, e sim, é pensadamente
preparada para a finalidade que cabe a essa escola.
Reedição, sob nova roupagem, da dicotomia entre
trabalho intelectual e trabalho manual, presente desde
o surgimento da propriedade privada dos meios de
produção, fundamento da Scholé.
Tal como a educação dos não-proprietários na antiguidade, a
escola foi pensada na Época Moderna como uma forma de
educação para os trabalhadores para desenvolver apenas os
conhecimentos práticos e manuais e que pouco exijam da
capacidade intelectual dos seus aprendizes. Visa desenvolver no
trabalhador apenas o domínio operacional da técnica, sem o
domínio da teoria.
PROBLEMA =
@ educador(a) ao entender as implicações da relação entre
Trabalho, Educação e Escola, ao perceber que o trabalhador
exerce uma atividade alienada, para a qual ele ainda deve
ser educado, formado e que a educação escolar do
trabalhador foi projetada historicamente para minimizar
ao máximo o acesso dos trabalhadores ao conhecimento
sistematizado e aos instrumentos de produção teórica do
conhecimento, por isso os educadores podem desenvolver
um sentimento de desânimo e apatia.
 Apesar da situação adversa, deve-se ter em mente que
“a realidade concreta apresenta contradições neste
processo as quais podem converter-se em conquistas e
avanços para a classe trabalhadora rumo a sua
emancipação humana”. (ALVES, 2018, p. 07).
“(...) na sociedade moderna, o saber é força produtiva. A sociedade converte
a ciência em potência material. Bacon afirmava: "saber é poder". E meio de
produção. A sociedade capitalista é baseada na propriedade privada dos
meios de produção. Se os meios de produção são propriedade privada, isto
significa que são exclusivos da classe dominante, da burguesia, dos
capitalistas. Se o saber é força produtiva deve ser propriedade privada da
burguesia. Na medida em que o saber se generaliza e é apropriado por
todos, então os trabalhadores passam a ser proprietários de meios de
produção. Mas é da essência da sociedade capitalista que o trabalhador só
detenha a força de trabalho. Aí está a contradição que se insere na
essência do capitalismo: o trabalhador não pode ter meio de produção, não
pode deter o saber, mas, sem o saber, ele também não pode produzir,
porque para transformar a matéria precisa dominar algum tipo de saber.
Sim, é preciso, mas "em doses homeopáticas", apenas aquele mínimo para
poder operar a produção. É difícil fixar limite, daí por que a escola entra
nesse processo contraditório: ela é reivindicada pelas massas
trabalhadoras, mas as camadas dominantes relutam em expandi-la”.
(SAVIANI, 1994, p. 09, grifos nossos).
Apesar dos limites da escola como veículo de transformação
social, dado aos seus condicionantes políticos, econômicos e
ideológicos, as contradições apontadas dão margem para ações
rumo a constituição de uma escola emancipadora, à medida
que se lute por melhores condições de trabalho dos
profissionais da educação, dos professores e dos alunos que
atuam na escola; à medida que se consiga melhorar a qualidade
do ensino e da aprendizagem, com professores bem formados,
escolas bem equipadas, novas didáticas e novas metodologias
de ensino que despertem o interesse dos jovens pelo estudo etc.
Ao melhorar a qualidade da escola pública, estatal, garante-se
um melhor aproveitamento dos estudos por parte dos
estudantes e, quiçá, além dos limites desejados e impostos pelo
mercado e para além dos interesses do capital. Vez que “é
difícil fixar este limite”, de acordo com Saviani, então, o
caminho, é forçar a escola a ultrapassá-lo.

Você também pode gostar