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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO

DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO

TRABALHO, EDUCAÇÃO E ESCOLA


PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL

O Projeto Nacional de Educação


Profissional “para” os trabalhadores forjado
na década de 1940 no Brasil

Prof. Dr. Dalton Alves

03/09/2022 1
INTRODUÇÃO
 Escola Pública Europeia e Escola Pública Brasileira.
 Lógica e princípios idênticos.
 Profissionalização do trabalho docente.
 Dualidade Educacional.
 Proposta e pedagogia da escola pública popular
(“para” os trabalhadores).
 Plano Nacional Empresarial da Escola Pública
Profissionalizante PARA a Classe Trabalhadora.
 Analisar o modelo nacional de escola pública e
profissionalizante nacional a partir das categorias
gramsciana de: intelectual coletivo, hegemonia,
estado ampliado.

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PROGRAMAÇÃO
Conceito de Intelectual Coletivo, de Hegemonia e de Estado
Integral/Ampliado = Sociedade Política + Sociedade Civil em
Antônio Gramsci;
Objetivo Geral:
 Analisar a reestruturação produtiva (do método de produção) realizada
na primeira metade do século XX baseada na racionalização do
trabalho segundo os “Princípios de Administração Científica” de
Frederick Taylor e aplicados com sucesso por Henri Ford, também
conhecida como reestruturação produtiva Taylorista-Fordista.
 Compreender como esta reestruturação produtiva influenciou a
concepção e o próprio método de educação pública e profissional no
Brasil a partir da década de 1940 e em que medida ela foi adotada
como fundamento de um projeto nacional de formação PARA os
trabalhadores, o qual ainda preserva alguma atualidade.
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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)

A questão dos intelectuais:


(Fonte: GRAMSCI. “Observações sobre a escola: para a investigação do princípio educativo”.
In: GRAMSCI. Cadernos do cárcere. Vol. 2 – 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001
(p. 52-53).

“Quando se distingue entre intelectuais e não-intelectuais, faz-


se referência, na realidade, somente à imediata função social
da categoria profissional dos intelectuais, isto é, leva-se em
conta a direção sobre a qual incide o peso maior da atividade
profissional específica, se na elaboração intelectual ou se no
esforço muscular-nervoso. Isto significa que, se se pode falar
de intelectuais, é impossível falar de não-intelectuais, porque
não existem não-intelectuais (...)”.

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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)
(...) Mas a própria relação entre o esforço de elaboração
intelectual-cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre
igual; por isso, existem graus diversos de atividade
especificamente intelectual. Não há atividade humana da qual
se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode
separar o Homo Faber do Homo Sapiens.
Em suma, todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma
atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um
artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do
mundo, possui uma linha consciente de conduta moral,
contribui assim para manter ou para modificar uma concepção
do mundo, isto é, para suscitar novas maneiras de pensar. (...)
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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)

(...) O problema da criação de uma nova camada


intelectual, portanto, consiste em elaborar criticamente
a atividade intelectual que cada um possui em
determinado grau de desenvolvimento, modificando sua
relação com o esforço muscular-nervoso no sentido de
um novo equilíbrio e fazendo com que o próprio
esforço muscular-nervoso, enquanto elemento de uma
atividade prática geral, que inova perpetuamente o
mundo físico e social, torne-se o fundamento de uma
nova e integral concepção do mundo.

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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)

A questão dos intelectuais coletivos:


(Fonte: TEXTO 11. ALVES, nota-de-rodapé, nº. 1)

O conceito de “intelectual coletivo” tem como referência


a concepção de Antônio Gramsci que não se limita
apenas à noção de um indivíduo pensador isolado ou
“intelectual individual”. Para G. intelectual é todo aquele
que apresenta “certa capacidade dirigente e técnica”,
deve ser “um organizador de massa de homens, dever
ser um organizador da ‘confiança’ ” dos que investem
em seu empreendimento.
(GRAMSCI, op. cit., p.15).
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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)

“Todo grupo social, nascendo no terreno originário de


uma função essencial no mundo da produção
econômica, cria para si, ao mesmo tempo,
organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais
que lhe dão homogeneidade e consciência a própria
função, não apenas no campo econômico, mas também
no social e político: o empresário capitalista cria
consigo o técnico da indústria, o cientista da
economia política, o organizador da cultura, de um
novo direito etc. [...]”.
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ANTÔNIO GRAMSCI
(1891-1937)

Os empresários, ou “pelo menos uma elite deles deve


possuir a capacidade de organizar a sociedade em
geral, em todo o seu complexo organismo de serviços, até
o organismo estatal, tendo em vista a necessidade de criar
as condições mais favoráveis à expansão da própria
classe” (Ibidem). O “intelectual coletivo” nesta acepção
pode ser um partido político, uma organização sindical
ou de classe, pode ser o próprio governo, a Igreja ou a
Religião oficial, se for o caso, os meios de comunicação
de massa etc. Isto aliado ou não aos “intelectuais
individuais” que lhes dão apoio e sustentação ou lhes
prestam vassalagem.
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INTELECTUAIS COLETIVOS

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HEGEMONIA

Hegemonia, conceito que em Gramsci visa


alcançar uma unidade intelectual e moral num
plano universal, estabelecendo/conquistando
um novo senso comum ou tornando determinada
concepção de mundo num senso comum,
compartilhado e aceito por “todos”, conquistando
assim a hegemonia (direção) de um grupo social
fundamental sobre uma série de outros grupos
subordinados.

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HEGEMONIA

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HEGEMONIA

Uma classe é hegemônica, dominante, quando dá


a direção e dita os rumos da sociedade. E isto se
dá de duas formas, sendo DIRIGENTE e
DOMINANTE.

É dirigente das classes aliadas e é dominante das


classes adversárias.

“para os amigos e aliados tudo, para os inimigos


e adversários o rigor da lei”.

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HEGEMONIA

Uma classe mesmo antes de assumir o poder,


deve ser “dirigente”, ao assumir, torna-se
“dominante”, mas continua a ser também
“dirigente”.
Isto é necessário para não ter que contar só
com o poder, com a força material (repressão)
para exercer a direção, ou hegemonia política.

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ESTADO INTEGRAL ou AMPLIADO =
SOCIEDADE POLÍTICA + SOCIEDADE CIVIL

Sociedade Política (o governo em sentido estrito):


 Governo (Federal, Estadual, Municipal);
 Legislativo: Câmara dos Deputados (Fed. e Est.) / Senado /
Câmara de Vereadores;
 Judiciário (em suas diferentes esferas);
 Exército, Polícia, Guarda Municipal etc.;
 Fiscais oficiais etc...

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ESTADO INTEGRAL ou AMPLIADO =
SOCIEDADE POLÍTICA + SOCIEDADE CIVIL

 Sociedade Civil:
 Lugar em que aparece em cena as organizações
denominadas privadas: sindicatos (dos
trabalhadores e patronais), partidos políticos,
ONGs, organizações de todo tipo: OAB, CNBB,
M.C.M., MST, ESP, MBL etc...

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ESTADO INTEGRAL ou AMPLIADO =
SOCIEDADE POLÍTICA + SOCIEDADE CIVIL

 Distinção metodológica, mas não distinção orgânica.


 Exemplo:
 A distinção que estabelece ser a atividade econômica apenas algo
próprio da sociedade civil é apenas metodológica e não se constitui em
algo orgânico, como se o governo (sociedade política) não tive nada a
ver com isto.
 Trata-se de um erro teórico separar estas duas dimensões, como o
fazem os ideólogos defensores do “estado mínimo”;
 É uma ilusão liberal a ideia da existência autônoma da economia.
 É impossível separar a vida econômica e suas estruturas de coerção
jurídica do governo e das relações de forças que caracterizam um
mercado determinado.

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ESTADO INTEGRAL ou AMPLIADO =
SOCIEDADE POLÍTICA + SOCIEDADE CIVIL

 Numa perspectiva orgânica, é um equívoco identificar o


Governo (a sociedade política) como se fosse todo o
Estado.
 O Estado se apresenta, para Gramsci, de duas formas:
como “sociedade civil” e como “sociedade política”, como
autogoverno e como governo de funcionários (func.
públicos).
 O governo dos funcionários é o que comumente se entende
por Estado, todavia esta é apenas uma das esferas do
Estado (a da Soc. Pol.);
 Há uma relação orgânica e de identidade-distinção entre a
S.C. e a S.P. (são distintas, mas são interdependentes)
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ESTADO INTEGRAL ou AMPLIADO =
SOCIEDADE POLÍTICA + SOCIEDADE CIVIL

 Em resumo: Por ESTADO, compreende-se, assim, a Sociedade Civil


(que é o conjunto de organismos designados vulgarmente de
“privados”) + a Sociedade Política, conhecida como o Governo em seus
diferentes seguimentos: Executivo, Legislativo e Judiciário, na esfera
nacional, estadual e municipal. No sentido INTEGRAL, o Estado não
se confunde com a burocracia estatal (ou do governo).
O Estado somente como o Governo,
não existe, é uma abstração.
 Recuperando o conceito de Hegemonia, para Gramsci, o Estado
ampliado ou Estado Integral (Orgânico), é a hegemonia couraçada de
coerção.
 Sendo que compete ao Governo o uso da força e coerção e compete a
Soc. Civil a obtenção do consenso, ou seja, conquistar a hegemonia
pela persuasão sem violência (convencimento).
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ESTADO EDUCADOR

 O Estado (integral ou ampliado) educa pela


força/repressão (pedagogia da paulada) e educa pela
persuasão, consenso (propaganda ideológica), os dois
em seu conjunto procuram estabelecer uma determinada
hegemonia ou dar uma direção/rumo para a sociedade.
Educar para o consenso, significa: construir uma opinião
pública favorável ao seu projeto de sociedade.
 O Estado, quando quer iniciar uma ação pouco popular,
por exemplo, para privatizar uma empresa estatal, cria
preventivamente a opinião pública adequada, ou seja,
organiza e centraliza certos elementos da sociedade civil.
Ex.: mídia, partidos, intelectuais etc.
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ESTADO EDUCADOR

 O Estado, ao agir para criar o consenso não deixa à


Sociedade Civil muita “espontaneidade”.
 Opera segundo um plano, pressiona, incita, solicita,
manipula: escolas, jornais, igrejas, partidos, sindicatos,
redes sociais. Nada é deixado ao acaso visando difundir e
criar um senso comum favorável e que confirme o ordem
social vigente que se queira implementar.
 O Estado é todo o conjunto de atividades práticas, teóricas
intelectuais com que a classe dirigente não somente
justifica e mantém seu domínio, mas consegue obter o
consenso ativo dos governados.

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ESTADO EDUCADOR

 Mas, os processos não são unívocos, o Estado constitui


também o terreno do conflito de classe, lugar de disputa,
é, ao mesmo tempo, instrumento (de uma classe), mas
também lugar (de luta hegemônica) e processo (de
unificação das classes dirigentes) – Luta pela Hegemonia.
 Isto é, não deve ser esquecido que, sendo o Estado Integral
atravessado pela luta de hegemonia, a classe subalterna
luta para manter a própria autonomia e, às vezes, para
construir uma própria hegemonia, alternativa àquela
dominante, disputando com a classe no poder as
“trincheiras” pelas quais se propagam a ideologia e senso
comum. (Luta Contra-Hegemônica)
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ESTADO EDUCADOR

Da relação orgânica entre Economia e


Educação.
 A economia afeta a educação de muitos modos, até nas
formas de pensar e aplicar a própria didática e a
metodologia de ensino em sala de aula em dado
seguimento e não somente afeta a política educacional, ou
seja, trata-se de uma influência que é ao mesmo tempo
externa (política) e interna (didática) à
escola/educação/pedagogia.
 Trata-se de uma influência ao mesmo tempo política e
didático-pedagógica.
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Noções Gerais da
Educação Profissional no Brasil
A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
• Instrumento de instrução para os trabalhadores destinado a
prepará-los para os diferentes níveis de produção. Ocorrem
em escolas especializadas, públicas ou privadas, e
“possuem metodologia de ensino próprias”.
 Diferentes níveis de formação:
• Cursos de HABILITAÇÃO:
 Aperfeiçoamento
 Básicos
 Técnicos
• Cursos Tecnológicos EQUIVALENTES À GRADUAÇÃO;
• Cursos de PÓS-GRADUAÇÃO.
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Noções Gerais da
Educação Profissional no Brasil
Atualmente, como é?

 Do ponto de vista legal, os cursos de educação


profissional “correspondem a uma modalidade de
ensino paralela e diferenciada em relação ao
ensino regular” (LDB/96, Cap. III), tendo como
objetivo “o desenvolvimento de aptidões para a
vida produtiva”.

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940

1930 – Tentativa ainda tímida.


Constituição de 1937, a qual determinou o
profissional como ensino destinado aos pobres:
“O ensino pré-vocacional e profissional destinado às
classes menos favorecidas, é em matéria de educação o
primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse
dever, fundando institutos de ensino profissional e
subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Munícipios e
dos indivíduos ou associações particulares e
profissionais”.
(CONSTITUIÇÃO de 1937, art. 129)
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
PROBLEMA:
“(...) a Reforma Francisco Campos perdeu a oportunidade de
investir no ensino industrial, num contexto em que o país se
desenvolvia para isso: “perdeu também a oportunidade de criar um
clima propício à maior aceitação do ensino profissional pela
demanda social de educação nascente” (sic). Para a autora, aquele
tempo era propício à estruturação de um sistema de educação
profissional, o que levaria a população a valorizar mais esse nível de
ensino. Porém, aconteceu justamente o contrário: foi no efervescer
do movimento da Escola Nova (progressista), enfim, que se
oficializou, na Constituição de 1937, o ensino profissional como
ensino destinado aos pobres”
(TEXTO = GOMES, p.66)

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
Somente na década de 1940 é que irão surgir
ações efetivas de implementação da educação
profissional com as LEIS ORGÂNICAS DO
ENSINO pela Reforma Capanema.
 L.O.E. Industrial (1942);
 L.O.E. Comercial (1943);
 L.O.E. Agrícola (1946);
Problema: persiste ainda a inflexibilidade por não
permitir o acesso ao ensino superior geral, se não apenas
no ramo profissional correspondente.
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
A importância, porém, destas L.O.E. se deve à
razão de que esta é a primeira vez em que o
Governo Federal nacional se engaja realmente na
questão da profissionalização em nível técnico.
A oferta de educação profissional estatal não dava
conta de atender adequadamente a demanda
crescente por formação profissional, seja a
demandada pelas empresas ou pelos próprios
trabalhadores.

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
Essa demanda se intensifica após a década
de 1930 em decorrência do aumento da
migração da zona rural para os centros
urbanos de grandes massas de
trabalhadores do campo desempregados,
que vinham em busca de trabalho seja nas
indústrias ou nos comércios. Devido à crise
de 1929...

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
Solução:
O Governo (Getúlio Vargas), recorre à institucionalização de
agências profissionalizantes paralelas ao sistema oficial em
parcerias que foram firmadas com os setores privados.
Depois de uma primeira tentativa fracassada, devido aos
interesses antagônicos dos setores industriais, ou seja,
“Eles não eram contra o ensino profissional, muito ao
contrário, mas eles ‘queriam dar a direção e controlar essa
área de formação dos trabalhadores, definindo como
deveriam ser estes cursos ou como funcionariam as
escolas, entrando o Estado apenas com o financiamento’”.
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
Enfim, o Governo, aproveitando-se do
regime de ditadura do Estado Novo,
“(...) assume a função diretiva como agente de
desenvolvimento econômico tornando-se o “centro
dinamizador” e disciplinador deste processo e
“arena privilegiada para a tomada das decisões
relativas aos rumos da economia”

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
No campo das organizações dos trabalhadores:
“operou-se uma ‘domesticação dos sindicatos’ por meio
do enquadramento das forças da classe trabalhadora ao
seu projeto nacional no campo político, econômico e
educacional. Cerceou o direito de livre organização dos
sindicatos, ‘vinculou sua oficialização ao recém-criado
Ministério do Trabalho, instaurando um padrão de
organização único, por ramos de atividades
territorialmente estabelecidas, e impedindo a
organização de estruturas horizontais (intersindicais) e
de confederações de trabalhadores’
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
No campo das organizações empresariais:
“Criou a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho,
sancionada em 1º. de maio de 1943, por Getúlio Vargas.
Esta lei tem por fim reger as relações de trabalho,
individuais ou coletivas e procura unificar todas as leis
trabalhistas praticadas no país relativas aos trabalhadores
registrados com Carteira de Trabalho. Com esta lei o
Governo assume o seu protagonismo no controle e
disciplinamento das relações de trabalho interferindo
na livre-iniciativa dos empresários e nas organizações
dos trabalhadores.
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
1942 – Início do processo de elaboração das
leis de educação profissional.
Quem o Governo convoca para pensar e
organizar a formação profissional do país?
Os trabalhadores? Suas organizações
sindicais? Faz assembleias de fábricas e nos
bairros operários? NEM PENSE NISTO!!!!

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO
BRASIL DE 1940
O Governo firmou convênio com a C.N.I
(Confederação Nacional da Indústria) e com a
FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo).
Donde irá nascer o “SISTEMA S”.
→ SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (1942);
→ SENAC: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (1946);
→ SESI: Serviço Social da Indústria (1946).

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PEDAGOGIA DESTE ENSINO
PROFISSIONALIZANTE
 Persiste a Dualidade Educacional:
“De um lado, a concepção de educação escolar
acadêmico-generalista, na qual os ‘alunos tinham acesso
a um conjunto básico de conhecimentos que eram cada
vez mais amplos, à medida que progrediam nos seus
estudos’; e, de outro, a Educação Profissional, na qual ‘o
aluno recebia um conjunto de informações relevantes
para o domínio de seu ofício, sem aprofundamento
teórico, científico e humanístico que lhe desse
condições de prosseguir nos estudos ou mesmo de se
qualificar em outros domínios’.
(TEXTO, ALVES)
03/09/2022
A PEDAGOGIA DO ENSINO
PROFISSIONALIZANTE do “Sistema S”

 A criação do SENAI, SENAC e SESI (“Sistema S”) se


fundamenta no princípio da Racionalidade Técnica da
Produção, segundo a concepção Taylorista/Fordista.
 O Taylorismo/Fordismo tem por objetivo concreto fundar uma
nova “Pedagogia da Fábrica” de cunho tecnicista e
reestruturar o processo produtivo capitalista do século XX sob
novas bases.
 Nos cursos profissionalizantes de formação da mão-de-obra
para adaptar os trabalhadores à essas novas bases visa-se
restringir a educação do trabalhador à aprendizagem de
práticas meramente “operacionais” (técnicas) e que pouco
exijam do seu esforço intelectual, criativo e autônomo.
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Frederick Taylor
“Princípios de Administração Científica”

Frederick Taylor (1856-1915) – EUA


Técnico em mecânica e operário, formou-se engenheiro
mecânico estudando à noite. Escreveu o livro: “Princípios
de Administração Científica” (1911)

 É considerado o “pai” da Administração Científica que


resultará posteriormente no surgimento da área de
Administração de Empresas.

 Sua proposta é a utilização de “métodos científicos” na


administração industrial e seu foco era a eficiência e eficácia
operacional na administração.

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Frederick Taylor
“Princípios de Administração Científica”

Livro: “Os Princípios da Administração


Científica”.
Que se trata de uma ampla pesquisa empírica de
base científica “SOBRE OS GESTOS,
MOVIMENTOS, ESPAÇOS E TEMPOS NO
PROCESSO DE TRABALHO”. Seu objetivo era
provar às empresas que conseguiria fazer os
trabalhadores produzirem mais, em menos tempo e
menos custos.

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Frederick Taylor
“Princípios de Administração Científica”

HETEROGESTÃO: Separação entre concepção e execução


do trabalho;
Noção de tarefa: O trabalho de cada homem é totalmente
planejado pela gerência que fornece instruções por escrito
acerca do que, como e em que tempo deve ser feito o
trabalho.
Gerência científica: realiza estudos e coleta conhecimentos
e informações acerca do trabalho; deve controlar cada fase
do processo de trabalho, que, quanto mais complexo, mas
se separa do trabalhador.

03/09/2022 42
Frederick Taylor
“Princípios de Administração Científica”

“(...) a administração deve planejar e executar muitos dos


trabalhos de que até agora tem sido encarregados os
operários; quase todos os atos dos trabalhadores devem
ser precedidos de atividades preparatórias da direção,
que habilitam os operários a fazerem seu trabalho mais
rápido e melhor do que em qualquer outro caso. E cada
homem será instruído diariamente e receberá auxílio de
seus superiores, em lugar de ser [...] entregue à sua
própria inspiração”.

(TAYLOR. Princípios de administração científica.


8ª. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 34)
43
Frederick Taylor
“Princípios de Administração Científica”

1º) O administrador assume (...) o cargo de reunir todo o conhecimento


tradicional que no passado foi possuído pelos trabalhadores e ainda de
classificar, tabular e reduzir esse conhecimento a regras, leis e fórmulas;
2º) Todo possível trabalho cerebral deve ser banido e centrado no
departamento de planejamento ou projeto;
3º) O trabalho de todo o operário é inteiramente planejado pela gerência
pelo menos com um dia de antecedência, e cada homem recebe, na
maioria dos casos, instruções escritas completas, pormenorizando a
tarefa que deve executar, assim como os meios a serem utilizados ao
fazer o trabalho (...). Esta tarefa específica não apenas o que deve ser
feito, mas como deve ser feito e o tempo exato permitido para isso (...). A
gerência cientifica consiste muito amplamente em preparar as tarefas e
sua execução. (TAYLOR apud ZANELLA, p.70). Disponível em:
http://
www.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/252569/1/Zanella_JoseLuiz_D.pdf
44
Henri Fayol
(1841-1925)

Fayol complementa a obra de Taylor.


Nascido na França, foi engenheiro de minas, é um
dos teóricos clássicos da ciência da administração.
Também opera com a noção da separação entre
administração (concepção) e execução. Palavras-
chaves: PREVER, ORGANIZAR, COORDENAR,
COMANDAR, CONTROLAR.
A complexidade própria da divisão do trabalho
implica especialização de funções.

03/09/2022 45
PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO
CIENTÍFICA

Taylor e Fayol, ambos engenheiros e contemporâneos.


Taylor foi técnico e consultor administrativo
Fayol foi administrador de cúpula.
Taylor contribui com os princípios da administração
do processo produtivo e Fayol com a administração da
empresa, no geral.

03/09/2022 46
PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO
CIENTÍFICA

Taylor preocupa-se principalmente com a racionalização do


trabalho ao nível dos operários; quando fala em organização, trata
da ordenação do trabalho ao nível dos operários e mestres
Fayol preocupa-se em racionalizar o trabalho do administrador e a
estrutura da empresa;
O interesse de Taylor pela base e de Fayol pela cúpula permite que
a obra de ambos se completasse. A partir dos seus trabalhos foi
possível construir uma teoria sólida e bem estruturada, embora
simplista e dotada de mecanismos hoje inaceitáveis, mas que
revolucionou os métodos de administração dos países
industrializados no século XX.
VÍDEO = TAYLOR - ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA
LINK: https://youtu.be/x_V04KFGd60

03/09/2022 47
A PEDAGOGIA DO ENSINO
PROFISSIONALIZANTE do “Sistema S”
Intelectuais Coletivos e o plano de um Projeto Nacional de
Formação PARA a classe trabalhadora brasileira forjado
em 1940.

03/09/2022 48
A PEDAGOGIA DO ENSINO
PROFISSIONALIZANTE do “Sistema S”

A questão dos trabalhadores estrangeiros e a


necessidade de formação da mão-de-obra
nacional disponível.
A concepção do IDORT visava “um homem
passivo, transformando o operário em um ser dócil,
disciplinado, colaborador, patriota e, acima de tudo,
que não compactuasse das ideias ‘estranhas’ dos
trabalhadores estrangeiros” (ALVES, Texto 11, p.15).

03/09/2022 49
A PEDAGOGIA DO ENSINO
PROFISSIONALIZANTE do “Sistema S”
TIPO DE FORMAÇÃO:

Educação desqualificada, por se tratar de um ensino restrito


e fragmentado, que não permitia ao trabalhador da linha de
montagem a visão geral dos processos e, ainda, o
impossibilitava de participar da gestão.

A educação profissional reproduzia a lógica de oferecer um


ensino de tarefas operacionais para o grande contingente de
trabalhadores fabris, enquanto a educação dos
administradores e engenheiros, alto escalão da indústria,
ficava a cargo das universidades.
(Hélica Gomes, p.71)
03/09/2022 50
A PEDAGOGIA DO ENSINO
PROFISSIONALIZANTE do “Sistema S”

IDORT – Instituto de Organização Racional do Trabalho.

Entidade criada por empresários paulistas, foi fundamental


para a discussão do ensino profissional no Brasil e orientou a
criação e organização das escolas técnicas do “Sistema S”.

Roberto Mange (1885-1955) – Suíço, naturalizado


brasileiro. Foi diretor da Escola Politécnica de São Paulo
(1930). Fundou em 1931 o IDORT.
03/09/2022 51
Instituto de Organização Racional
do Trabalho

O IDORT exerceu influência decisiva na formulação


das políticas governamentais em todo o período pós-
Revolução de 1930 que se estende até 1945, marcando
fortemente a reorganização educacional, não apenas no
que ser refere ao ensino profissional, no qual sua
orientação foi decisiva. Roberto Mange e Lourenço
Filho atuaram como consultores na elaboração das
Reformas Capanema de 1942 e 1943, das quais
resultaram a criação do SENAI e as leis orgânicas do
ensino industrial, secundário e comercial.

03/09/2022 52
Instituto de Organização Racional
do Trabalho

Princípios fundamentais do IDORT:


“Análise do trabalho nas várias profissões para verificação das
aptidões básicas de cada uma, seleção por meio de testes, de
candidatos a determinadas profissões, tais como: aprendizes e
operários industriais, condutores de veículos, telefonistas,
telegrafistas, ferroviários, agentes de segurança, aviadores etc;
colaboração na organização de cursos de educação profissional,
tendo em vista, o desenvolvimento racional das aptidões na base
psicotécnica, bem como a aquisição metódica de conhecimentos
técnoprofissionais; verificação da eficiência de provas e métodos
psicotécnicos; determinados padrões profissionais (valores
médios) em nosso meio”.
(Revista IDORT, 1932, fev. nº 2, p. 4)
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Instituto de Organização Racional
do Trabalho

“(...) cooperação com as escolas para tornar


conhecidas as profissões normais da cidade e do
pais; levantamento do cadastro e elaboração do
perfil psicológico das diferentes profissões;
trabalhos para guiar candidatos na escolha certa".
(BATISTA, p.11)

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CONCLUSÃO

(...) a burguesia industrial brasileira, no período analisado,


tinha um projeto político pedagógico que visava a construção
da hegemonia, sendo instrumentalizado através de uma
proposta educacional focada no desenvolvimento nacional a
partir da industrialização. A educação, então, deveria ser
funcional às necessidades dos industriais, que buscava
impor seu projeto de sociedade. Portanto, a defesa da
educação profissional no país surge como um projeto para
se organizar o espaço fabril, controlando, disciplinando e
“domesticando” os trabalhadores para ampliarem a
acumulação de capital e a expansão da indústria no país.
(BATISTA apud ALVES, p.15).

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