Nº1 AS ILHAS AFORTUNADAS Que voz vem no som das ondas Que não é a voz do mar? É a voz de alguém que nos fala, São ilhas afortunadas, Mas que, se escutamos, cala, São terras sem ter lugar, Por ter havido escutar. Onde o Rei mora esperando. E só se, meio dormindo, Mas, se vamos despertando, Sem saber de ouvir ouvimos, Cala a voz, e há só o mar. Que ela nos diz a esperança A que, como uma criança Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p. 75 Dormente, a dormir sorrimos. PRIMEIRA ESTROFE
Que voz vem no som das ondas
Interrogação retórica Que não é a voz do mar? (traduz um enigma que vai ser desvendado na É a voz de alguém que nos fala, primeira e segunda estrofes) e Mas que, se escutamos, cala, Paradoxo Por ter havido escutar. ( realça o caráter misterioso da "voz")
Esta "voz" é espiritual, misteriosa e incompreensível.
É audível apenas em alguns momentos. SEGUNDA ESTROFE
E só se, meio dormindo, estado de semiconsciência e despreocupação
(condição necessária à manifestação da voz) Sem saber de ouvir ouvimos, Que ela nos diz a esperança Personificação A que, como uma criança (realça a identidade e humanidade desta voz)
Dormente, a dormir sorrimos.
Comparação (compara o estado de adormecimento do povo português com o
adormecer inconsciente de uma criança) TERCEIRA ESTROFE
São ilhas afortunadas,
Alusão ao mito do Quinto Império São terras sem ter lugar, (tratam-se de ilhas imaginárias e místicas) Onde o Rei mora esperando. Mas, se vamos despertando, Utilização do gerúndio Cala a voz, e há só o mar. (remete para o longo período de espera do regresso de D.Sebastião)
Esta última estrofe convoca o mito sebastianista (associado
ao mito do Quinto Império). "AS ILHAS AFORTUNADAS"