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(ver a ref. Do ivro na p.

129)

Na calma circumdante uma voz se desata...

cantas e, por te ouvir, a sonhar principio:

acho-me com certeza ante alguma cascata;

o ambiente é mysterioso, é segredante e frio.

Borrifa-me a epiderme um hálito de prata...

Em deslizes fluviaes, de suave murmúrio,

tua voz me conduz á espessura da matta,

onde da agreste flor vaga o cheiro macio.

O som cresce, se alarga ,e como que descança...

já não é mais um rio a tua voz, é mansa,

lisa lagoa, ao luar dormindo um somno brando.

E, quando na garganta a ultima nota estancas,

os echos pairam, como azas longas e brancas

de cysnes, por todo o ar, lentos, se espreguiçando.


1º quarteto

A aliteração em [k] do 1º verso, “calma”/”circundante” se estende ao segundo


verso com posição privilegiada, em início de verso e revelando o interlocutor receptor,
em “cantas”; por fim, encerra a série “cascata”, com o fonema duplicado, e também
importante, pois a palavra compõe a rima. Repare-se que a série aliterativa assim
resumida em “calma / cantas / cascata” envolve elementos importantes da mensagem
neste 1º quarteto. Não se pode negligenciar o simbolismo sonoro dos fonemas
oclusivos / ligados a impedimentos, interrupções / relacionar com o erotismo místico
de Gilka). desenvolver

Nesta mesma cadeia aliterante percebemos outro procedimento, o da


assonância, quase todo composto do fonema [a]. (VER SIMBOLISMO SONORO, pois
“a” está associado ao claro)

Há também nesta estrofe inicial um série aliterativa entre fonemas contínuos,


entre sibilantes surdas (“circundante”, “voz” [vws], “cantas”, “sonhar”, “princípio,
“certeza”, “cascata”, “miSterioso”, “segredante”), sonoras (“certeZa", “misterioSo”) e
ainda ?????, em “acho-me”. (incluir simbolismo sonoro / sibilantes / contínuas)

A rima “principio” / “rio”, vista pela fonologia poética de Jakobson / [i] é tanto
agudo quanto difuso. Reparemos que esta acuidade ocorre quando “principio” é
relativo a “sonhar”, em pleno hipérbato, em que o infinitivo “sonhar”, imperativamente,
se antecipa à 1ª pessoa. Quanto a “rio”, aqui a sinestesia se dá pelo traço distintivo de
difusibilidade, além de o [r] inicial, vibrante, tem um simbolismo sonoro, representando
movimento. Cumpre notar também que “ouvir”, no 2º verso, é assonante quanto à rima
em [i], funcionando como uma rima interna.

Tanto o hipérbato quanto a rima interna são traços de expectativa frustrada...


(DESENVOLVER)

Por fim, seria excessivo apontar a aliteração entre “alguma” e “segredante”,


não fosse por suas posições métricas idênticas, ambas na 9ª sílaba do verso, uma
tônica e outra átona.

Por fim, vale comentar que no plano da configuração subliminar temos que rio
está contido em “misterioso”, mesmo que apenas graficamente, e não
prosodicamente.

Na calma circumdante uma voz se desata...

cantas e, por te ouvir, a sonhar principio:

acho-me com certeza ante alguma cascata;

o ambiente é mysterioso, é segredante e frio.

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