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Direitos autorais © 2016 Tradução: Cultura e Barbárie

Anfion Paul Valéry, 1931


© Copyright da tradução Cultura e Barbárie; Augusto Rodrigues da Silva Jr. e Eclair Antonio
Almeida Filho, 2016
Tradução Augusto Rodrigues da Silva Jr. e Eclair Antonio Almeida Filho
Revisão Fernando Scheibe
Valéry, Paul, 1871 - 1945
Anfion / Paul Valéry; tradução Augusto Rodrigues da Silva Jr. e Eclair Antonio Almeida Filho. -
Desterro [Florianópolis] : Cultura e Barbárie, 2016. 36p. -
Título original: Amphion

ISBN: 978-85-63003-46-1

1. Literatura francesa. 2. Teatro. I. Título. II. Autor.


a Ida Rubinstein
Melodrama MÚSICA DE ARTHUR HONEGGER
Representado pela primeira vez na Ópera de Paris
em 23 de junho de 1931 e
em Covent Garden em 13 de julho de 1931
Índice
Direitos autorais
Dedicatória
Epígrafe
PERSONAGENS
Apresentação
OS SONHOS
AS MUSAS
EPISÓDIO LITÚRGICO
DESPERTAR DE ANFION
CENA
CONSTRUÇÃO
FINALE
PERSONAGENS
Anfion
Apolo (invisível)
As Quatro Musas
Os Sonhos
O Povo
Os Ecos
As Fontes
Apresentação

Uma brecha ou fenda imensa na rocha do topo de uma montanha recorta-


se no céu, visível desde o alto do teatro até o nível do palco.
O plano inferior das duas massas rochosas, à direita e à esquerda,
ostenta árvores frondosas: carvalhos, faias, castanheiras. Acima,
aparece a região mineral nua. Próximo ao cimo da direta, a rocha
arvora formas cristalinas, feixes de prismas emaranhados, de que
algumas facetas são vagamente luminosas. Um pouco de neve brilha
aqui e ali nessas alturas.
No meio do palco, um poço ou fonte d’água escura. À sua volta
erguem-se blocos de granito ou basalto. Toda uma desordem desses
blocos se percebe ao fundo e fecha a brecha até embaixo.
Nas regiões cobertas de árvores notam-se caminhos e planos
praticáveis onde cenas secundárias podem ser representadas.
O céu noturno deverá ser executado conforme as fotografias da
Via-Láctea. Poeiras de poeiras luminosas, com alguns astros de
grandeza diversa e negros vazios entre brilhos aqui e ali.
Ao abrir das cortinas, criaturas noturnas dançam formando
pequenos grupos, em diversos pontos da paisagem. Desaparecem,
tendo permanecido visíveis não mais que o tempo de serem percebidas
nas trevas transparentes.
Entram pela direita e pela esquerda homens e mulheres que se
procuram, falam entre si através de sinais e se acomodam sob as
árvores. Preparam-se para o repouso, retornam logo para as sombras
da folhagem.
Ouve-se, na calma, a Harmonia das Esferas.
Nota aguda e inumana, a sugerir uma rotação vertiginosa
constante.
Sobre essa nota monótona logo se destaca o
Canto das fontes
(Vozes de crianças)
Nós, Fontes, gota a gota
Choramos o tempo mortal!
Das lágrimas da neve
Decorre toda vida,
Através de nós chora a Terra
Chorando até o mar.

Entrada de Anfion.

Uma breve e surda fanfarra, ou então alguns salmos roucos


anunciam a entrada de Anfion. Ele aparece, mantendo curvado algum
ser selvagem, besta, fêmea monstruosa, ou egipã. Pesa sobre esse ser,
força-o a se abater a seus pés. Sacando um gládio curto, prepara-se
para degolá-lo.

Uma voz
Por quê? Por quê?
Deixa viver a vida...
Deixa a morte nas mãos dos imortais!

Anfion ergue o corpo, lança fora sua arma. A presa foge vivamente.
Depois de um momento de hesitação, Anfion se dirige a uma espécie
de gruta ou escavação bem pouco profunda; despoja-se da pele que
cobria seus ombros, senta-se, contempla o céu estrelado.

Então se deita e adormece.


OS SONHOS

O céu estrelado escurece pouco a pouco.


No campo das trevas vêm os Sonhos visitar aquele que dorme. Dois
guerreiros cor de sangue o atacam. Um monstro os devora.
Personagens vestidos de bizarros andrajos. Um Rei de prata etc.

Anfion se debate nos liames do sono.

Surge o Sonho Amoroso, que uma dançarina quase nua figura sob
um longo manto. Ela se agita em torno dele, o acaricia, se joga,
esvoaça a cada movimento do adormecido Anfion.
AS MUSAS

Entrada das Musas

Uma musa sai da fonte e chama:


Musa!

Uma segunda musa surge de uma rocha e chama:


Musa!

Uma terceira e uma quarta musas


parecem irromper dos galhos de uma grande faia e chamam em
concerto:
Musa! Musa!

Esses chamados são a mezza voce e quase simultâneos.

Elas têm pequenas asas nas frontes.


Encontram-se nas sombras, onde formam figuras iluminadas.
Reúnem-se, dão-se as mãos.

Primeira musa
Eu vejo o que não é!

Segunda musa
Eu sei o que já não é mais!

Terceira musa
Eu faço o que será!
Quarta musa
Já eu, só posso amar!

Primeira musa
Minhas irmãs! Belas abelhas,
Obedeçamos ao Deus, consagremos esse mortal!

Segunda musa
Nos infernos do sono sua alma se debate!

Terceira musa
Ele suspira!

Quarta musa
Ele geme!

Segunda musa
Ele deseja...

Primeira musa
Acredita viver!...
Cuidemos, minhas irmãs, para que o excesso do
[tormento
Antes da aurora não o desperte!
Ao trabalho!
Mas, para começar, dissipemos esta desordem de
[sonhos!

Combate das Musas contra os Sonhos.

Elas os perseguem e os dissipam. O último episódio é uma luta


graciosa com o Sonho Amoroso.
EPISÓDIO LITÚRGICO
LITURGIA

O palco escurece completamente. Nas trevas, só o grupo é iluminado;


Anfion com uma luz prateada, as Musas com uma claridade azulada.

A. – ENCANTAMENTO
As Musas enfeitiçam Anfion adormecido, prodigam sobre ele gestos
de encantamento, circulam ao redor de seu leito murmurando a
salmodia ou

ACALANTO MÁGICO
Homem que dormes,
A noite te ilumina
E o silêncio
É feito de Musas!
Anfion muda de posição. Enquanto levanta o braço, uma das Musas
beija-lhe a mão e o acalma.

B. – LITURGIA. SOLENE
As Musas se agrupam então ao redor de Anfion numa forma solene.
Uma aos pés, outra à cabeça, as duas outras para lá de seu corpo, de
frente para o público.

Viram o rosto para o Céu, estendem as mãos.

Coro das musas


Da inteligência divina,
Queridas filhas tão fiéis,
Esse belo sono aplacado por nossas mãos
Entrega este homem ao Deus!

Uma musa
Oh! Que santa paz nesse rosto puro!

Uma musa
Nele se forma um sorriso abandonado aos astros...

Uma musa
Esse corpo tão claro, tão calmo, semelha-se ao altar,
À pedra sagrada...

Uma musa
E sua alma perdeu os caminhos da vida.

Uma musa
Ele é como se fosse eterno, ignorado por si mesmo!

Uma musa
Já não é mais agora senão aquele que virá a ser!
Que ele escute o abismo!

Trovão distante.

As Musas se prosternam.

Voz de Apolo (A Voz deve parecer emanar do meio da cena):


Anfion!

As musas
Apolo!

Os Ecos (Baixos profundos)


Apolo!
Coro das musas
Eu te saúdo no seio da perfeita noite,
Mestre da luz!
Como é doce em meio às sombras
Ouvir a palavra potente!

Uma musa
Ó Causa do Sol, as trevas te adoram,
E os frágeis humanos
Sonham em seus sonos com uma esplêndida aurora
Que cai de tuas mãos!

Uma musa
Visita este mortal! Maravilha seu coração!
Que seu demônio dócil obedeça à voz
Da Santa Sabedoria,
Apolo!

Os ecos
A-po-lo!

Coro das musas


Toca, ó Deus, toca, aclara, ilumina,
Com tua voz eterna,
Toca a este, Anfion!
Como o puro sol toca o topo do monte
E faz cintilar o mais alto píncaro!
Toca, ó Deus! Vem, ó Deus!

Os ecos
Ó Deus!

Trovão distante.

As Musas prosternadas. Oferenda.

A claridade sobre Anfion fica dourada.


Voz de Apolo
Anfion!... Eu te escolhi!
Entre milhares, entre todos,
Como escolhe o amor,
Como um cimo é escolhido pelo raio,
Eu te escolhi!
Escuta!
Alma tão profunda, escuta e recebe Apolo!

Frêmito de Anfion.

As musas
Apolo!

Os ecos
Apolo!

Voz de Apolo
Escuta!
Quero ser por meio de ti presente e favorável
À raça mortal.
Ponho em ti a origem da ordem,
Habitarei teu momento mais puro,
E doravante se consumarão
Sobre a face da terra
Atos veneráveis
Onde aparecerá a celeste sabedoria!
Confio a ti a invenção de Hermes!
Entrego-te a arma prodigiosa,
A Lira!

Frêmito.

Anfion, Anfion,
Desperta o som virgem e triunfa através dele,
Buscarás, encontrarás nas cordas esticadas
Os caminhos seguidos pelos Deuses!
Nestes caminhos sagrados as almas te seguirão
E a inerte matéria e os brutos enfeitiçados
Serão cativos da Lira!
Arma-te com a Lira! Excita a natureza!
Que minha Lira dê à luz meu Templo,
E que a rocha se abale ao nome do Nome Divino!
Tira do caos para mim essas ruínas dos montes,
Oferece-me já nesta aurora um santuário claro,
Que uma imensa cidade o cerque de preces,
E que tuas mãos para mim se elevem
Para me oferecer o que criei!
Anfion!

As musas
Apolo!
Os ecos
A-polo!

Os Ecos dispersam e diversificam o nome do Deus.

Voz de Apolo (Dolce)


E vós, deliciosas,
Musas tão fiéis,
Ó caras, ó devotas,
Ó sábias, ó diversas!
Amai-o, guardai-o!... Mas sabei que para ele
Não há mais felicidade... Ele vive só para mim!
Eu o escolhi,
Como um cimo é escolhido pelo raio!

Trovão surdo.

As Musas se levantam. Beijam os pés, as mãos, a testa de Anfion.


Coro distante
Anfion, sê milagre
E do milagre admirável vítima!

Noite quase total. Ouvem-se as Musas que chamam nas sombras:


As musas
Musa! Musa! Musa!

A luz retorna pouco a pouco e se tinge, progressivamente, das cores


da aurora. As Musas desapareceram. Percebem-se a Lira e o Plectro
aos pés de Anfion. Rumor vago da natureza vivaz que desperta.

Gritos de pássaros. Murmúrio das águas.

Retomada do Canto das Fontes.

Um ser semianimal salta perseguido por outro. Tão logo se vão,


veem-se homens e mulheres sair dos bosques. Alguns correm em caça,
outros se aprestam para diversos trabalhos. Uma mulher vem tirar
água da fonte. Outra vem ali se mirar e, de descabelada que estava,
faz-se penteada, com tranças. As crianças brincam e brigam. Anfion se
agita.
DESPERTAR DE ANFION

Durante esta cena, os diversos personagens se retiram pouco a pouco. A


orquestra ritma os atos sucessivos de Anfion.

Ele se apoia nos cotovelos, contempla. Estupor e atos do despertar.


Senta-se bruscamente na cama, levanta-se, dá alguns passos, aspira o
ar matinal. Desce para a fonte e ali bebe demoradamente a água.

Dança como para espreguiçar os membros. Levado de volta por


esse esboço de dança ao lugar de seu sono, avista a Lira. A Lira deve
ser conforme a descrição de Filóstrato e outros antigos.

Anfion a contempla com surpresa. Pega-a, maneja-a curiosamente;


avança para o espectador, brande-a por um dos chifres, destaca o
Plectro, que estava preso por um cordão de ouro.

I
De repente, toca... Uma corda vibra. Som rouco e pujante, ao qual
responde uma violenta trovoada.

Um bloco cai no chão com grande estrondo.

Personagens surgem atemorizados, outros entram, esbarram entre


si, começam uma luta, e saem combatendo furiosamente. Efeito
pânico. Estupor e terror de Anfion.

Olha para a Lira com um temor sagrado. Volta a si. Tenta mais uma
vez.
II
Segundo som — Outra corda tocada produz um som delicioso.
Algumas rochas sem ruído se erguem ou rolam ou deslizam na direção
do herói. Amantes e amadas aparecem, dão-se os braços, enlaçam-se
e se afastam lentamente.

Anfion repousa a Lira, considera-a e se recolhe.

Sentou-se numa pedra à beira d’água que reflete sua imagem.

Pouco a pouco vai se lembrando de seu sonho.


Ouve-se, vagamente, o Acalanto das Musas murmurado em bocca
chiusa.

Anfion se levanta e invoca o Céu.


CENA
As musas invisíveis
Anfion!

Anfion
Quem me chama?

As musas
Tu mesmo!
(Salmodiado) Que te lembres de ti mesmo!

Anfion (Falado)

I
Quem fala?!... Lembro-me... Uma voz soberana
Uma voz sem rosto falou noite adentro...
Não ouvi palavras fatais?
— Tornarei a encontrar os caminhos
Das maravilhas da sombra?

II
Ó voz todo-poderosa!
Alguém disse... Falava...
Como o abismo estrelado teria falado,
Ele que parece sempre,
Através do silêncio e dos astros,
Interrogar a raça miserável
De almas efêmeras!

III
Ele disse... O Céu-que-fala
Disse:
(Melodrama)

“ANFION!
“Eu te escolhi!...
“Como escolhe o amor,
“Como um cimo é escolhido pelo raio,
“Eu te escolhi!
“Entrego-te a arma prodigiosa,
“A Lira!...
“Arma-te com a Lira! Desperta o som virgem!
“Que minha Lira dê à luz meu templo!...”

(Bem escandido.
Quase cantado.
Voz de visionário entrecortada, ofegante.)

IV
Arma misteriosa, imenso poder é o teu!
Ó grande Arma que dás a vida e não a morte!
Tu cujos sons divinos
Transpassam a alma do mundo!
Mal rocei tuas cordas de ouro
Pelo Deus duramente esticadas,
Céu e Terra se arrepiaram!
E senti a rocha tremer
Como a carne de uma mulher flagrada!
Vi
O furor e o amor nascerem nos mortais,
O furor e o amor se espalharem de minhas mãos!...

V
Terei eu ferido, tocado,
Enfeitiçado, talvez,
O Corpo secreto do mundo?
Terei, sem saber,
Comovido a substância dos céus,
E tocado o próprio Ser que a presença de
Todas as coisas esconde de nós?
Eis-me pois mais poderoso do que eu mesmo,
Eis que me encontro estranho e venerável
Para mim mesmo,
Desgarrado em minha alma, e senhor ao redor de mim!
E tremo como uma criança
Diante do que posso!

VI
Apolo, Apolo, eu te obedecerei!
Formando teus desenhos sobre a Lira
Meus dedos são deuses,
Meu coração precede os humanos!

VII
Atacarei a desordem das rochas!
Meus atos puros
Hão de sujeitar à obra sem exemplo
As ruínas dos montes, os monstros desabados
Caídos dos flancos sublimes!

VIII
Apolo, meu senhor, está comigo!
Perseguirei a obra e a beleza como a uma presa!
Apolo me possui, soa em minha voz,
Vem em pessoa edificar seu Templo,
E a Cidade que deve surgir aos olhos dos homens
Já está toda concebida cintilante
Nas Altas Moradas dos Imortais!

Anfion retoma Lira e Plectro, mostra-os ao Céu; prepara-se para


tocar, cheio de segurança e entusiasmo.
Ataca as cordas.

Som imenso e prolongado, acorde fulgurante, tão rico quanto os


recursos da arte podem produzir.

Toda a natureza vibra. Os Ecos repercutem multiplamente esse


ataque.
A cena se povoa, em diversos planos, de personagens atraídos pelo
som.

Anfion preludia. Aqui criação das escalas.

Ele executa, lira nas mãos, uma espécie de dança sagrada circular.
Posta-se em seguida sobre um outeiro abaixo das rochas à direita.
Grita:

POR APOLO!
CONSTRUÇÃO

Todo o ato da construção exige uma coordenação tão perfeita quanto


possível entre a mímica, a figuração e a música – a qual é aqui soberana e
deve comandar a ação dos personagens e dos materiais moventes.

A. – PRIMEIRA FASE
Marcha das Pedras.

Blocos se soerguem, deslocam-se seja através de saltos pesados,


seja rolando sobre os penhascos; dirigem-se da direita do espectador
para a esquerda. Como o Templo deve ser edificado sobre o perfil de
rochedos da esquerda, um pouco abaixo da crista, a fachada invisível
deverá ficar virada para o fundo à direita.

A Marcha das Pedras desenha-se ao som do fundo cantante da


orquestra por meio de ritmos muito marcados e acidentados que vão
se arranjando, se ordenando pouco a pouco.

Coro invisível
Ó milagre! Ó maravilha!
A rocha marcha! a terra é submissa a esse deus,
Que vida assustadora invade a natureza?
Tudo se abala, tudo procura a ordem,
Tudo sente em si um destino!

B. – SEGUNDA FASE
A construção se esboça. Partes de arquitetura surgem nos flancos
da montanha. Paredes, entabulamento, cimalhas tomam o lugar do
rochedo, cujos perfis irregulares assumem linhas nítidas. A silhueta do
templo se estabelece. Um pequeno edifício formado de algumas
dançarinas vestidas de túnicas reúne-se e se posta sobre uma
saliência.

Então surgem as Musas, vestidas de ouro e arvorando capitéis de


ouro à guisa de penteado. Vão solenemente se dispor como colunas do
templo. Se possível, deveriam descer das alturas à esquerda.

Coro das Musas-colunas


Filhas dos números de ouro,
Fortalecidas com as leis do Céu,
Sobre nós cai e adormece
Um Deus cor de mel! etc.

Luz fulgurante. Grande andamento musical.

C. – TERCEIRA FASE
O conjunto do cenário é transformado.

A montanha está inteiramente construída, revestida de baixo até os


cimos cristalinos (que permanecem tais quais, mas parecem
penetrados por luzes coloridas) de paredes, pilastras, terraços,
galerias. Motivos vivos postaram-se aqui e ali. Para além do
desfiladeiro, veem-se os telhados e as torres de Tebas brilhar ao sol;
eles se elevaram imperceptivelmente.

O povo está distribuído em grupos sobre o conjunto dos praticáveis.


O centro do palco deve permanecer livre.
Coro do Povo
(Hino ao Sol.)
Sol, Santa presença,
Flama que leva aos céus
O conhecimento travado com a vida,
Ó Sol!
Ninguém pode contemplar a fonte de tua força!
O insustentável fulgor da face divina
Furta-nos o Deus!
Mas Tu, olha aqui as maravilhas humanas!
Aqui surge o que jamais foi
Desde que teu esplendor fecundou o mundo!
Eis aqui para acolher teus raios mais puros
Que Anfion triunfante te oferece essas pedras feéricas!
Ele reuniu ess as moradas douradas,
Ergueu para ti estas altas paredes,
Ó Sol!
Considera teu Templo e repousa teus fogos
Sobre sua força deliciosa!
Que ele seja doce aos raios caídos da fronte divina!

Aclamação.

Chamam por Anfion; designam-lhe o Templo.

Coro
Admirável Anfion, acolhe nossos louvores!
Prodigioso mortal, pai de Tebas, sê
Nosso pontífice e nosso Rei!
Sobe ao trono, sobe ao Templo,
Anfion!

Todos rodeiam Anfion, revestem-no de ornamentos régios.


FINALE

Durante esta investidura, as Musas:


Primeira musa
A obra está concluída!

Segunda musa
Busco um outro senhor!

Terceira musa
Pouco importa o que é!

Quarta musa
Já eu, era só esperança!

As Musas esvanecem.
No instante em que o Herói vai subir ao Templo, uma forma de
mulher velada, que havia entrado imperceptivelmente em cena, se
aproxima dele e lhe obstrui a passagem abrindo os braços. O cenário
se vela progressivamente. A luz enfraquece assim como a sonoridade
da música.

Anfion recua. A forma velada o apanha e o envolve com ternura,


toma-lhe docemente a Lira sobre a qual faz ouvir algumas notas
profundas, e que ela lança em seguida na fonte.

Anfion esconde seu rosto no seio desta figura que é o Amor ou a


Morte, e se deixa arrastar por ela, enquanto a orquestra se reduz a um
canto mui suave, sombrio e íntimo.
CORTINA

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