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Educação Literária

Letras em dia, Português, 12 .° ano

Fernando Pessoa ortónimo


LDIA12DP © Porto Editora

Lê atentamente o poema que se segue.

Não sei se é sonho, se realidade

Não sei se é sonho, se realidade,


Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida1.
5 É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares2 inexistentes,


Áleas3 longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego deem aos crentes
10 De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua,


Só de pensá-la cansou pensar,
15 Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,


20 Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.

PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu.


2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 268)

1. se olvida: se esquece;
2. palmares: bosques de palmeiras;
3. Áleas: séries de árvores ou arbustos.
Educação Literária
Letras em dia, Português, 12 .° ano

Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada. LDIA12DP © Porto Editora

1 Delimita as partes que constituem o poema, fundamentando a tua resposta.

2 Comenta a caracterização do lugar de felicidade.

3 Apresenta uma explicação para a repetição do advérbio «ali» ao longo do poema.

4 Seleciona a opção de resposta adequada para completar as afirmações.

4.1. A aliteração do «s» pode sugerir


(A) a perfeição de um espaço natural.
(B) a euforia do sujeito poético.
(C) a tranquilidade do vento que se sente na ilha.
(D) o sussurro de quem partilha um segredo especial.

4.2. A antítese presente nos versos 21 e 22


(A) realça a inutilidade do sonho, a imposição do real sobre o imaginado.
(B) destaca a importância da espiritualidade na vida de cada um.
(C) sugere uma crítica a quem se deixa iludir por falsas promessas.
(D) revela que o sujeito lírico não perde a sua esperança.

4.3. A mudança do nome «ilha» para o plural, na última estrofe,


(A) torna a ilha única e especial.
(B) comprova a sua não correspondência ao referente de «ali».
(C) retira-lhe o seu valor espacial.
(D) confere ao nome um valor abstrato.

LDIA12DP © Porto Editora


Sugestões de resolução
Letras em dia, Português, 12 .° ano

Educação Literária
Fernando Pessoa ortónimo, p. 3
1. O poema pode dividir-se em três partes. Num
primeiro momento, que corresponde às duas
primeiras estrofes, o sujeito poético mostra-se
otimista e esperançoso, acreditando na possibilidade
de existência de um lugar onde é possível alcançar
a felicidade. Relativamente a esse lugar, que é
apresentado como uma ilha distante do sul, na
primeira estrofe, e é descrito, na segunda estrofe, o
sujeito não sabe se é sonho ou realidade. Na
terceira estrofe, a adversativa «Mas» (v. 13) introduz
o segundo momento, no qual a esperança do sujeito
poético se quebra em desalento, pois apercebe-se
de que não é possível alcançar a felicidade no
sonho, que é efémero. A terceira parte corresponde
à quarta estrofe, onde o sujeito poético explicita as
suas conclusões. Estas opõem-se à convicção
inicial. Afinal, a felicidade não se alcança através do
sonho, num espaço exterior e distante, mas no
interior de cada um de nós.

2. O lugar de felicidade é inicialmente apresentado


como uma ilha distante do sul, «terra de suavidade»
(v. 3), com traços exóticos de uma ilha tropical, com
«palmares» (v. 7), «Áleas» (v. 8), «sombra ou
sossego» (v. 9). Além de distante, é um lugar de
contornos indefinidos («inexistentes», v. 7, «sem
poder ser», v. 8). O lugar de felicidade é, assim, uma
espécie de paraíso perdido e perfeito (onde a «vida
é jovem e o amor sorri», v. 24), selvagem e
primordial, propício à evasão, à fuga da realidade.

3. A repetição do advérbio «ali» pretende identificar


com precisão o único lugar onde se pode ser feliz.

4.1. (D);

4.2. (A);

4.3. (B).

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