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História da Idade Contemporânea

Tema 3 – De 1914 ao final do Século XX


A Grande Guerra

Tropas na batalha do
Somme, em 1916.

Universidade Aberta – Ano letivo 2021/2022


O espoletar da Grande
Guerra
A 28 de junho de 1914 foram assassinados a tiro o
arquiduque Francisco Fernando I, herdeiro do trono
imperial austro-húngaro, e a sua esposa Sofia, em
Sarajevo por Gavrilo Princip, um jovem estudante
nacionalista sérvio-bósnio, membro da «Mão
Negra», uma organização paramilitar secreta com
ligações ao movimento nacionalista e a figuras
importantes do serviço de informações sérvio.

A Áustria-Hungria não reagiu de imediato, ao


assassinato do herdeiro ao trono. Viena tinha
consciência que iniciar uma guerra com a Sérvia,
significava espoletar uma guerra com a Rússia.
O ultimato à Sérvia

A 23 de julho a Áustria-Hungria apresentou um ultimato à Sérvia, com condições


muito onerosas, nomeadamente a exoneração de funcionários que faziam
intrigas contra a Áustria-Hungria e a dissolução de grupos nacionalistas. A Sérvia
encontrava-se em más condições para encetar uma guerra, pois ainda estava a
recuperar e a reorganizar-se após os dois conflitos balcânicos (1912-1913).
A declaração de guerra à Sérvia

A Sérvia respondeu ao ultimato, a 25 de julho, de forma conciliatória,


aceitando todas as exigências do ultimato menos uma, o artigo 6,
que impunha à Sérvia a participação no inquérito ao assassinato de
Sarajevo de funcionários austro-húngaros. Esta exigência atacava
diretamente a honra e a independência da Sérvia, sendo por isso
inaceitável para o governo sérvio.

A Áustria-Hungria, confiante por causa do «cheque em branco»


germânico, decidiu abandonar as negociações e declarou, por
telegrama, guerra à Sérvia a 28 de julho (ver imagem).
Cronologia das mobilizações gerais e
declarações de guerra
A Rússia decidiu mobilizar parcialmente ao longo das fronteiras da Rússia com a Áustria-Hungria, com o intuito de exercer
pressão sobre a Áustria-Hungria e fazê-la recuar e voltar às negociações. A Alemanha viu com desagrado esta mobilização,
mesmo que parcial e apenas dirigida à sua aliada. A 29 de julho a Alemanha exigiu à Rússia que parasse a mobilização.
A 30 de julho de 1914 a Rússia decidiu avançar com a mobilização geral.

A 31 de julho de 1914 a Alemanha exigiu, através de um ultimato, que a Rússia cessasse a mobilização, em doze horas. Ao
mesmo tempo, enviou à França um outro ultimato, dando-lhe dezoito horas para prometer que ficaria neutra em qualquer
conflito e a pedir que como prova dessa neutralidade entregasse à Alemanha as suas principais fortalezas de fronteira em
Toul e Verdun, as quais seriam devolvidas em bom estado após a guerra da Alemanha com a Rússia.

1 de agosto de 1914: não obtendo resposta da Rússia, a Alemanha decreta mobilização geral e declara guerra à Rússia. A
França procede à mobilização geral das suas tropas.

A 2 de agosto de 1914, a Rússia, a Alemanha, a Áustria-Hungria e a França tinham todas efetuado mobilização geral. Nesse
dia, os soldados alemães avançavam para o Luxemburgo.
A geografia de uma Europa em guerra
A Alemanha exigiu à Bélgica passagem livre dos seus soldados pelo território
belga e a observância de uma «neutralidade benevolente», em troca a
Alemanha garantia a integridade e independência da Bélgica, após a guerra. O
governo belga tinha doze horas para responder.
3 de agosto: a Bélgica, que sempre protegera a sua neutralidade, recusa o
ultimato alemão. A Alemanha declara guerra à França.

A Itália e a Roménia decidiram manter-se neutrais, considerando que as


condições em que a guerra se estava a desenrolar não as obrigava a intervir,
pois estavam apenas ligadas às potências centrais por uma aliança defensiva e
esta não era uma guerra claramente defensiva.

Nos primeiros dias de agosto, a Áustria-Hungria estava em guerra com a Sérvia,


e a Alemanha estava oficialmente em guerra em duas frentes, com a França e
com a Rússia.
A entrada do Reino Unido na Grande
Guerra
A 4 de agosto, o governo britânico envia um ultimato à Alemanha: a Alemanha tinha
de dar garantias até às onze horas da noite desse dia de que respeitaria a neutralidade
da Bélgica. Ainda nesse dia, o embaixador britânico em Berlim, Edward Goschen, em
conversa com chanceler alemão, Theobald von Bethmann-Hollweg, perguntou se a
Alemanha não podia respeitar a neutralidade. O chanceler alemão respondeu que o
Tratado de Londres com a Bélgica de 1839, era apenas «um pedaço de papel». Mas
para o governo britânico proteger a Bélgica e os Países-Baixos do controlo de uma
potência hostil, não era apenas «um pedaço de papel», era um interesse estratégico.
A isto acrescia o antagonismo com a Alemanha devido à competição naval.
A Europa entra em guerra

A Alemanha não aceitou o ultimato e às 11 horas da noite de 4 de agosto a


Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha. A 6 de agosto a Áustria-Hungria
declarava guerra à Rússia.
No verão de 1914 as cinco grandes potências, do designado «concerto
europeu» - Alemanha, Áustria-Hungria, Rússia, França e Grã-Bretanha -
precipitaram-se para a guerra, o que já não acontecia desde o fim das
guerras napoleónicas.
Uma guerra insólita
Em alguns meses a ilusão de uma guerra de movimento curta evaporou-se; os
planos dos beligerantes pré-guerra fracassaram e o mundo entrou numa guerra
que só terminaria em novembro de 1918.
A experiência da Grande Guerra foi inédita, até insólita, como a qualifica o
historiador Jacques Néré. Este historiador sublinha três características da I
Grande Guerra que surpreenderam aqueles que a viveram:
1 - a sua duração e continuidade – até então as guerras eram «intervaladas»,
com pausas entre os combates;
2 - o uso de novos aparelhos – o avião e o submarino, que permitiu levar a
guerra aos céus e à profundeza dos mares. Em terra, o combate foi modificado
pela ação dos tanques, dos camiões e dos canhões de tiro rápido e longo
alcance;
3 - a imobilidade inerente a uma «guerra de trincheiras».
Podemos acrescentar a estas características outra:
4 - o envolvimento sem precedentes das populações civis na guerra.
Diplomacia e guerra
O impasse militar, de uma guerra que se prolonga, nomeadamente na
frente ocidental, levou os beligerantes a voltarem à diplomacia, não à
diplomacia do diálogo para negociar a paz, mas à diplomacia de atração de
novos aliados para reforçarem a sua posição militar e romper o impasse. A
Guerra estendeu-se geograficamente, excedendo também neste âmbito
todas as expetativas.
Ainda antes deste impasse, logo em agosto de 1914, o Japão declarou
guerra à Alemanha, devido à sua aliança com a Grã-Bretanha desde 1902,
mas também porque pensou aproveitar esta conjuntura de guerra para se
apoderar das bases alemãs na China, desenvolvendo o seu projeto de
expansão imperial. Por consequência, a China também entrou, pelo menos
nominalmente, na guerra.
Em novembro de 1914, as potências centrais conseguem a entrada do
Império Otomano na guerra, o que teve como consequência estratégica o
encerramento dos estreitos, nomeadamente o de Dardanelos, impedindo
a Rússia de manter comunicações marítimas com os seus aliados.
A entrada da Itália na Grande Guerra
Na primavera de 1915, os aliados conseguiram a entrada da Itália na guerra,
prometendo-lhe territórios aquando da paz vitoriosa. Com a entrada da Itália
na guerra, os aliados esperavam abrir outra frente de batalha contra as
Potências Centrais, que pudesse romper a situação de impasse militar. Por seu
turno, os italianos entendiam que a guerra dava-lhes uma oportunidade para
se expandirem, nomeadamente à custa da Áustria, daí a sua opção por se
aliarem à Entente em vez de se unirem às potências centrais.
Guerra e neutralidade na Europa

A partir do outono de 1915, a guerra estendeu-se aos Estados Balcânicos:


a Bulgária entra ao lado das Potências Centrais; segue-se a Roménia junto
com os aliados e, já em 1917, a Grécia.
O apresamento dos navios alemães e austro-húngaros, fundeados nos
portos portugueses, levaram à declaração de guerra da Alemanha a
Portugal em março de 1916. Em 1917 os únicos países neutros na Europa
eram: a Suíça, no centro, e na periferia, os Países Baixos, a Espanha e três
países da Escandinávia.
Uma guerra global

Apesar do epicentro do conflito ter sido europeu, o mesmo acabou por ser o
primeiro conflito verdadeiramente global, afetando todos os continentes. Este
fenómeno explica-se, em parte, pela existência de impérios globais. As colónias
africanas seguiram o destino das suas metrópoles.
Os domínios britânicos da Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul
entraram na guerra logo em agosto de 1914. Mais de um milhão de indianos
combateu ao lado dos Aliados, nomeadamente em África e no Médio Oriente.
Uma guerra total

As nações beligerantes deram provas de uma capacidade muito


maior do que se supunha de matar e incapacitar os inimigos, graças
às inovações tecnológicas no âmbito militar. Foi, nas palavras de Ian
Kershaw, «uma guerra de chacina industrializada», com recurso a
metralhadoras, artilharia pesada, espingardas de grande cadência de
tiro, morteiros de trincheira, granadas, lança-chamas, gases
venenosos; desenvolvimento dos submarinos, e da tecnologia
aeronáutica.
Transformações no papel do Estado. na
economia e na sociedade
O esforço de guerra alterou o papel do Estado. O Estado teve de intervir
na economia e na sociedade de um modo nunca antes visto. O Estado
teve de organizar a economia de forma a suportar tais necessidades,
regulamentando, controlando, organizando e racionando os recursos e
os abastecimentos. Desenvolveu-se a indústria de guerra; criaram-se
fábricas de armamento; a mão-de-obra feminina foi recrutada e tomou
o lugar dos homens enviados para a frente de batalha.
O prolongamento da guerra e da situação de impasse, o facto de não
conseguirem vantagens militares sobre o inimigo, mesmo conseguindo
novas alianças, levou os dois blocos a apostarem também numa guerra
económica, procurando vencer o adversário por falta de
abastecimentos.
A entrada dos Estados Unidos na Grande
Guerra

Quando a guerra eclodiu em 1914, os EUA declaram a sua


neutralidade face ao conflito, visto pela generalidade da opinião
pública americana e das elites dirigentes como mais um conflito pela
supremacia no continente europeu, não sendo possível encontrar
nem inocentes, nem culpados entre os dois blocos.
O então presidente Woodrow Wilson, democrata, proclamou a
neutralidade dos EUA. Wilson esperava que os EUA continuassem a
negociar livremente com todos os beligerantes, até porque o direito
dos mares dessa época tinha a regra de ser interdito o ataque a
navios de pavilhão neutro, que transportassem mercadorias neutras
para qualquer porto.
A guerra submarina como fator de
viragem na Grande Guerra
Foi a adoção de uma guerra submarina sem restrições em todas
as águas internacionais pela Alemanha que levou os EUA a
abandonarem a sua posição de neutralidade e a entrarem na
guerra.
Em dezembro de 1916 a dupla de generais alemã, Erich von
Ludendorff e Paul von Hindenburg, receia que a Alemanha não
consiga sobreviver a mais um ano de guerra devido ao
bloqueio. Para esta dupla a escolha passou a ser entre: declarar
uma guerra submarina sem restrições e arriscar antagonizar os
EUA, ou enfrentar uma inanição lenta. O Estado-Maior alemão
tinha consciência que uma guerra submarina sem restrições
poderia provocar os EUA. Mas os generais alemães pensavam
que, mesmo que os americanos decidissem entrar na guerra ao
lado dos aliados, os EUA demorariam pelo menos um ano até
conseguirem organizar um exército poderoso capaz de
atravessar o Atlântico.
A declaração de guerra dos EUA à
Alemanha

A 6 de abril de 1917, os EUA declaram guerra à Alemanha.

Os EUA entraram na guerra não como aliados, mas como «associados» da França e da Grã-
Bretanha, como foi sublinhado pelo presidente Wilson. Isto significava que os EUA tinham uma
certa autonomia face aos aliados. Os EUA não queriam ficar demasiado comprometidos com a
França e a Grã-Bretanha, pois consideravam que ambas as potências tinham radicalizado e
quereriam impor uma paz brutal aos vencidos, que os esmagasse. Já os EUA consideravam que
entravam na guerra com objetivos mais nobres que as potências europeias. Os EUA prometiam,
como tinha declarado o presidente Wilson ao Congresso, a 2 de abril de 1917, lutar “pela
democracia”, “pelos direitos e liberdades”, “pelo domínio universal do direito”, “pela
autodeterminação”.
O fim da Grande Guerra
A 9 de novembro o regime do kaiser caiu e o novo governo alemão
afirmou estar disponível para aceitar os Catorze Pontos de Wilson como
bases para as negociações de paz. E, poucos dias depois, a 11 de
novembro de 1918, a Alemanha assina o armistício, tendo por base os
Catorze Pontos de Wilson.
Terminava a I Guerra Mundial, começavam as negociações da Paz. Os 14
Pontos do Wilson não tinham sido definidos em conjunto com Aliados e
quando começa a Conferência de Paz de Paris emergem as divergências
entre os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a Itália a respeito de como
devem ser os acordos do pós-guerra.
A Rússia e a Alemanha no fim da Grande
Guerra
Tanto a Alemanha como a Rússia saíram derrotadas na I Guerra
Mundial, no sentido estrito pediram o armistício por não
conseguirem manter o esforço de guerra. O fracasso na guerra abriu
nos dois Estados o caminho para transformações na cena política. Em
nove meses a Rússia passou de império czarista a república
comunista; e em menos de uma semana a Alemanha transitou de
império autoritário para república parlamentar. Ambos os Estados
foram considerados párias pelo resto da comunidade internacional e
não foram convidados para as negociações de paz: a Rússia por ser
comunista, a Alemanha por ser apontada como o responsável pela
eclosão da I Guerra Mundial. Importante ter consciência destes
factos para posteriormente compreender os regimes estalinista e
hitleriano.

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