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FACULDADE DE DIREITO

LICENCIATURA EM DIREITO
DIREITO COMERCIAL I

Almeida Machava: 19.05.2022


Plano da Apresentação

I. DIREITO SOCIETÁRIO
 Autonomia Privada e Tipicidade
 Caracterização Geral dos Tipos Societários
 Personalidade jurídica societária e seus efeitos
 Levantamento da personalidade colectiva e questões conexas
DIREITO SOCIETARIO - Introdução
Fundamento
 Complexidade da actividade
 Investimentos avultados

Opção de viabilidade: “conjugação de esforços de diversos agentes


(económicos), com o desiderato de alcançar um fim lucrativo”.

Forma jurídica preferencial: sociedade


Conceito de Sociedade Comercial
Inexistência de noção legal

“A sociedade [comercial] é uma ficção legal, visto que não é uma


pessoa natural ou física, trata-se de uma pessoa jurídica, como já se
disse, pode revestir várias formas”. (F. Coelho, v. 2, p. 3)

“pessoa colectiva que tem por objecto o exercício de actividade


económica organizada para a produção ou circulação de bens”
Sociedade comercial no Direito moçambicano
Ponto de partida: acto constitutivo – CONTRATO DE
SOCIEDADE (art. 980 Ccivil)

ELEMENTOS ESSENCIAIS
 Pessoal
 Patrimonial
 Finalístico
 Teleológico
Questão preliminar para debate

 Elemento pessoal: conceito de contrato vs número mínimo


de sócios
Sociedade comercial no Direito moçambicano

Comercialidade da sociedade passa por conjugar os aspectos


específicos da lei comercial:
 Quanto ao Tipo (princípio da tipicidade)- art. 82 Ccom
 Quanto ao Objecto – Art. 83 Ccom

“Toda a pessoa jurídica que revestindo um dos tipos societários


previstos na lei comercial tem por objecto o exercício do comércio”
A sociedade comercial como instrumento
A sociedade comercial é um instrumento para a concretização de
projectos empresariais
 Permite reunir os fundos necessários à concretização do
projecto
Permite limitar o risco dos sócios através da autonomia
patrimonial, assim potenciando o desenvolvimento de novos
projectos
 Possibilita a gestão dos fundos por aqueles que são
chamados a dar vida ao projecto empresarial
 Permite articular diferentes interesses e diferentes
perspectivas em tensão no projecto, num jogo político
democrático no qual todos se devem sentir representados,
evitando situações patológicas de ruptura
Cont.
A sociedade comercial permite:
 redução do risco dos investidores
 Redução do custo de capital

Tudo isto favorece o desenvolvimento da actividade económica


e o consequente aumento do emprego.
Autonomia Privada e Tipicidade das SCs
QUESTÃO PRELIMINAR:

PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA/AUTONOMIA


PRIVADA
vs
PRINCÍPIO DA TIPICIDADE (ART. 82 CCOM)
Autonomia Privada e Tipicidade das SCs
Autonomia privada
 A autonomia privada como pilar fundamental de uma sociedade
livre e democrática e do desenvolvimento económico-
empresarial
 Na sua dimensão de liberdade contratual, traduz o espaço de
autoregulação reconhecido pelo Direito para a realização das
pessoas
 No quadro empresarial, é o espaço de autoregulação necessário
ao desenvolvimento dos projetos empresariais que uma ou mais
pessoas entendam desenvolver
 Inclui a liberdade de concluir ou não concluir um negócio
jurídico e de definir, dentro das linhas legais, a sua forma, o seu
tipo, o seu conteúdo
Autonomia Privada e Tipicidade das SCs
Tipicidade
 As sociedades que tenham a prática de actos de comércio
devem necessariamente adoptar um dos tipos previstos no
Ccom.(art. 82.º CCom):

É o princípio da tipicidade das sociedades comerciais

 Este princípio constitui uma limitação ao princípio da


autonomia privada, na sua dimensão de liberdade contratual
(art. 405 CCiv)

O que é que justifica esta restrição da autonomia privada?


Este princípio tem hoje como justificação:
 Tutela da segurança jurídica e, em especial, dos interesses
de terceiros que contratam com a sociedade
• Em especial, nas SQ e nas SA, a limitação da responsabilidade
dos sócios vai associada ao respeito por um figurino (de um
tipo) cujo regime está pré-fixado na lei, sendo por isso de
conhecimento geral

 Tutela dos interesses dos próprios sócios


• Em particular, dos sócios minoritários

 Tutela do interesse público na medida em que torna a


intervenção das sociedades no tráfico jurídico mais estável
e certa.
Caracterização geral dos tipos societários
O conteúdo ou essência de cada um dos tipos legais societários
resulta da conjugação de três elementos:

1. Tipo de responsabilidade assumida pelos sócios


2. Transmissibilidade das participações sociais
3. Estrutura organizatória

Tudo isto se pode resumir a uma ideia:


 O grau de confiança que o legislador pressupõe que existe
entre os sócios.
1. Tipo de responsabilidade assumida pelos sócios
 Num pólo, temos responsabilidade dos sócios pelas dívidas da
sociedade, caso das SNC (art. 253.º ss).

 No outro, temos limitação do risco de cada sócio à realização


da sua entrada, caso das SA (art. 331.º ss)

 Algures no meio temos uma menor limitação do risco dos


sócios que aceitam responder não apenas pela sua entrada,
mas solidariamente pelas entradas de todos os sócios – Este é
o caso das SQ (art. 283.º ss)
2. Transmissibilidade das participações sociais
Regime traduz equilíbrio (próprio de cada tipo de sociedade)entre interesses
opostos:

 Interesse do sócio que pretende transmitir a sua participação, reclamando


máxima liberdade para mobilizar, quando e como quiser, o seu património.

 Interesse dos demais sócios e da sociedade, a quem convém ter o direito a


impedir a transmissão sempre que (i) se afigure indesejável a entrada de
certa pessoa para a sociedade ou (ii) se mostre necessária a continuidade do
sócio para a subsistência da empresa.

i. Num polo temos as SNC, nas quais a transmissão depende do consentimento


de todos os sócios (259.º/1)
ii. No outro, temas as SA, nas quais a transmissão é, em princípio, livre
iii. Algures pelo meio temos as SQ, nas quais a transmissão de quotas vai
associada a um direito de preferência da sociedade (e dos sócios) (art. 298.º)
3. Estrutura orgânica
 Desta resulta um determinado equilíbrio interno, essencial
para a prossecução dos interesses subjacentes ao princípio da
tipicidade.

Cuidaremos deste tema mais adiante.


Outras caracterizações de SCs
As sociedades comerciais são ainda enquadráveis em tipos doutrinais:

1. Sociedades de pessoas
 Caracterizadas por uma decisiva importância da pessoa dos sócios no exercício
da actividade social
Protótipo: SNC

 O seu cariz personalístico está patente em diversos aspectos do seu regime


jurídico:
– Transmissão de participações sociais inter vivos só com consentimento dos
demais sócios (art. 259.º)
– Transmissão mortis causa está vedada, salvo deliberação em contrário dos sócios
sobrevivos ou estipulação em contrário do contrato de sociedade (arts. 260.º,
261.º);
– Execução da participação social está vedada, só sendo possível executar a quota
de liquidação (art. 262.º); etc.
Outras caracterizações de SCs
2. Sociedades de capitais
 O que importa não é tanto a pessoa do sócio, mas sim a sua
participação de capital (contributo patrimonial) para o
exercício da actividade societária
• Protótipo: SA

O seu cariz capitalista está patente em diversos aspectos do


seu regime jurídico:
– Princípio da livre transmissibilidade das acções
– Distanciamento do sócio face à gestão (arts. 418/1, 412.º/3)
– Alterações do contrato de sociedade tipicamente dependem de
maioria menos exigente.
Personalidade jurídica das SCs
Efeito:
Autonomização da pessoa jurídica societária … relevância na
responsabilização.

TEMA PARA DEBATE

Qual o sentido e alcance do art. 86 Ccom … qual é a data do


acto constitutivo?
Desconsideração da personalidade jurídica
O Art 87.º CCom
 Cristaliza alguns exemplos de desconsideração, mas não
esgota o potencial do instituto.
 Note-se que só tem aplicação quando os sócios actuem
culposa ou dolosamente … implica que se identifique uma
conduta (abusiva) ilícita e culposa do sócios.

 Não cobre os casos de desconsideração em prejuízo de


administradores.

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