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Geologia de Barragens

Filipe Reis
• Projeto Final: “PROJETO DE UMA BARRAGEM DE
REJEITOS ALTEADA À MONTANTE”.

• Foco no potencial de liquefação dos rejeitos,


estabilidade, projeto de drenagem e de
instrumentação.

• Geologia de Barragens.
1. Introdução
• Geologia de Barragens

Toda obra de engenharia tem pelo menos parte de sua


estrutura em contato com rochas ou solos. Conhecer as
condições geológicas do local no qual será inserida uma
barragem, por exemplo, possibilita um projeto executado de
forma mais eficiente em vários aspectos. Cabe ao geólogo
fazer os levantamentos e toda a investigação necessária para
trazer ao engenheiro a natureza e a situação desses terrenos.
1. Introdução
• As barragens podem ser classificadas basicamente segundo:

 Sua finalidade: Geração de energia, regularização da vazão


do curso de água para fins de navegação , irrigação,
rejeitos de mineração.

 Material/Método de Construção: Barragens de Terra e


Enrocamento e Barragens de Concreto.
1. Introdução
• Barragens de Terra e Enrocamento:
1. Introdução
• Barragens de Concreto:
1. Introdução

Barragem de Terra Barragem de Enrocamento


1. Introdução

Barragem de Concreto em Arco


Barragem de Concreto com Contrafortes
2 .Aspectos Geológicos Importantes

2.1. Estruturas em Rochas e Solos


2.2. Tensões no Maciço Rochoso
2.3. Ação do Intemperismo
2.4. Escorregamentos de Taludes
2.1. Estruturas em Rochas e Solos
• Arranjos Anisotrópicos:

Tipos de arranjos que, desenvolvidos uniformemente


dentro de uma rocha ou maciço, farão com que este
corpo seja anisotrópico em relação às suas propriedades
de engenharia - resistência, rigidez e permeabilidade.
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Estratificação: camadas ou
arranjo paralelo dos grãos
desenvolvido durante a
deposição como
sedimentos.

Estratificação de Arenito
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Foliação: feições planares


em rochas desenvolvidas por
fluxo viscoso (rochas ígneas)
ou pressão e calor (rochas
metamórficas).

Bandamento gnaissico
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Clivagem: foliação na
qual se desenvolvem
várias superfícies
paralelas nas quais a
rocha se parte com
maior facilidade.

Clivagem ardosiana
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Lineação: Arranjo linear de grãos


(geralmente alongados), desenvolvido
por fluxo viscoso (em rochas ígneas)
ou pressão com ou sem calor (em
rochas metamórficas);

Lineação em Gnaisse
2.1. Estruturas em Rochas e Solos
• Fraturas:

Uma fratura é qualquer descontinuidade planar ou


subplanar que é muito estreita em uma dimensão em
comparação com as outras duas e se forma como
resultado de estresse externo (por exemplo, tectônico)
ou interno (térmico ou residual).
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Juntas: Estruturas planares formadas


pela atuação ou relaxamento de
tensões, ao longo das quais não há
praticamente movimentação ou um
pequeno deslocamento na direção
perpendicular ao plano da junta.

Família de Juntas
2.1. Estruturas em Rochas e Solos
Falhas: Também são estruturas
planares, porém que apresentam
deslocamento paralelo ao plano da
fratura. Estes pode variar de
centímetros e muitos quilômetros.
Frequentemente formam zonas de
falha, onde há a presença de uma
série de planos de deslocamento com
material esmagado, moído e
frequentemente alterado.

Exemplo de Falha
2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Falha de San Andreas Estrias em plano de falha


2.1. Estruturas em Rochas e Solos

Zona de Cisalhamento
2.1. Estruturas em Rochas e Solos
• As fraturas podem estar preenchidas por precipitados de
minerais (Veios), material magmático (Diques) ou por solo, o que
vai influenciar em seu comportamento resistente.

• Se não detectadas, tratadas inadequadamente ou permitidas em


projetos, as falhas têm o potencial de interromper seriamente a
construção ou operação da barragem, ou mesmo causar ou
contribuir para a ruptura da barragem.
2.1. Estruturas em Rochas e Solos
• Estruturas em Solos:

• Solos formados por rochas extremamente intemperizadas


podem herdar algumas das estruturas descritas
anteriormente.

• Finas camadas de solo podem se comportar como uma


dessas estruturas. Por exemplo, uma fina camada de areia
em um depósito de argila pode representar um caminho de
fuga para o fluxo de água.
2.2. Tensões nos Maciços Rochosos
• Medições de tensões em rochas in situ em profundidades rasas em
muitos ambientes geológicos em todo o mundo mostraram tensões
horizontais geralmente mais altas do que as que podem ser explicadas
teoricamente a partir do peso da atual sobrecarga.

• As tensões principais maior e intermediária se encontram


principalmente na horizontal.

• As pressões verticais medidas in situ apresentam boa concordância com


o calculado a partir do peso das rochas (profundidade vezes o peso
específico da rocha) e tendem a variar linearmente com a
profundidade.
2.2. Tensões nos Maciços Rochosos
• Brown & Hoek (1978) reuniram dados de medições de tensões em várias partes do mundo:

Tensões Verticais (σz ) versus


Profundidade (z)
2.2. Tensões nos Maciços Rochosos
• Brown & Hoek (1978) reuniram dados de medições de tensões em várias partes do mundo:
Tens ã o Horizontal M é dia
k=
Tens ã o Vertical

Variação de k com a profundidade


2.2. Tensões nos Maciços Rochosos
• As principais razões para as altas tensões horizontais
são:
 As forças tectônicas, ou seja, as forças que dirigem e
resistem ao movimento das placas tectônicas;
 Topografia;
 Estrutura da Rocha;
 Energia conservada na rocha proveniente de sua
formação;
 Redução de tensões verticais devido a erosão.
2.2. Tensões nos Maciços Rochosos
• Efeitos do relaxamento de tensões em um vale:

Estruturas em vale relacionadas ao relaxamento de tensões


2.3. Ação do Intemperismo
• O intemperismo é o conjunto de modificações de
ordem física (desagregação) e química
(decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na
superfície da terra.

• Classificados em dois tipos:


 Intemperismo Físico
 Intemperismo Químico
2.3. Ação do Intemperismo

• Intemperismo Físico:

Todos os processos que causam desagregação das


rochas, com separação dos grãos minerais antes
coesos e com sua fragmentação, transformando a
rocha inalterada em material descontínuo e friável.
2.3. Ação do Intemperismo
• Processos do Intemperismo Físico:

 Relaxamento de tensões;
 Escorregamentos;
 Pressão de água nas descontinuidades;
 Deslocamentos induzidos por terremotos;
 Crescimentos de raízes de árvores nas descontinuidades;
 Expansão de argilas nas descontinuidades;
 cristalização de sais dissolvidos nas águas de infiltração;
 Congelamentos de água nas descontinuidades;
 Mudanças de temperatura e umidade causando expansão ou
contração diferencias nas rochas.
2.3. Ação do Intemperismo

• Intemperismo Químico:

Conjunto de reações químicas que alteram os


minerais que compõem as rochas. Quando as rochas
afloram à superfície da Terra, seus minerais entram
em desequilíbrio e, através de uma série de reações
químicas, transformam-se em outros minerais, mais
estáveis nesse novo ambiente.
2.3. Ação do Intemperismo
• Processos do Intemperismo Químico:

 Reações químicas entre os minerais da rocha e a água,


o oxigênio, o dióxido de carbono e os ácidos orgânicos.
Essas reações causam a decomposição dos minerais
para formar novos produtos, alguns dos quais são
solúveis;
 Remoção dos produtos solúveis de decomposição por
lixiviação;
 Deposição de alguns produtos de decomposição em
poros ou microfissuras.
2.3. Ação do Intemperismo
• Perfil de Intemperismo:

Perfil de Intemperismo controlado pelo tipos de rocha e zonas de cisalhamento


ltar em deslizamento da encosta em gr
da a pronunciar

2.4. Estabilidade de Taludes


• Descontinuidades em direções desfavoráveis e a variação do
lençol freático podem favorecer a ocorrência de
escorregamentos.

• É muito importante reconhecer qualquer evidência de


escorregamentos passados no local da barragem. Detritos de
deslizamento de terra, em um o estado descompactado
geralmente não são aceitáveis em nenhum lugar na fundação
de uma barragem.
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2.4. Estabilidade de Taludes


• A elevação ou rebaixamento do lençol freático com o
enchimento ou esvaziamento do reservatório da
barragem podem provocar instabilidade do taludes.
• As consequências disso podem ser:
 Danos a infraestrutura existente;
 Restrições na operação do reservatório;
 Danos em estradas e acessos;
 Danos a própria barragem e fundações, podendo levar a
ruptura.
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2.4. Estabilidade de Taludes


 O caso da Barragem de Vajont na Itália em 1963:

 Uma das maiores barragens do mundo com 262 metros de


altura e 190 metros de comprimento de crista.
 O escorregamento de uma massa de rocha de cerca de 260
milhões de metros cúbicos para dentro do reservatório.
 O escorregamento produziu uma enorme onda de pelo menos
50 milhões de metros cúbicos de água que ultrapassou a crista
da barragem e inundou o estreito vale a frente da barragem.
 A cidade de Longarone foi completamente destruída e cerca de
2000 pessoas morreram.
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2.4. Estabilidade de Taludes


 O caso da Barragem de Vajont na Itália em 1963:

Cidade de Longarone antes do deslizamento


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2.4. Estabilidade de Taludes


 O caso da Barragem de Vajont na Itália em 1963:

Cidade de Longarone depois do deslizamento


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2.4. Estabilidade de Taludes


 O caso da Barragem de Vajont na Itália em 1963:

Imagem da Barragem antes do Deslizamento


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2.4. Estabilidade de Taludes

Efeito do enchimento de um reservatório na estabilidade de um talude rochoso


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2.4. Estabilidade de Taludes

Efeito do enchimento de um reservatório na estabilidade de um talude rochoso externo ao reservatório


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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• A construção de barragens sobre solos que apresentam
características geotécnicas desfavoráveis, como baixa resistência,
altas permeabilidade e compressibilidade, e colapsibilidade,
constitui um dos mais sérios problemas da engenharia de barragens.

• É um problema comum, pois as barragens devem fechar vales ou


baixadas onde, em geral, ocorrem formações geológicas constituídas
de solos moles, compressíveis e permeáveis.

• Sendo assim, as vezes é necessário melhorar ou reforçar as


fundações da barragem, por meio de certas técnicas e
procedimentos.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Três situações abrangentes:
 Solos Permeáveis: Água perdida e forças de percolação;
 Fundações em solos moles: Ruptura ao cisalhamento e
recalques excessivos;
 Solos Colapsíveis: Minimizar recalques instantâneos
destes materiais
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Fundações em Solos Permeáveis – Soluções para
Percolação:
 Eliminando-a, ou reduzindo-a a valores desprezíveis, através da
construção de “barreiras impermeáveis completas” até o horizonte
impermeável;
 Reduzindo-a, mediante a construção de uma “barreira impermeável
incompleta” que aumente as linhas de fluxo, proporcionando o
aumento de perda de carga e redução das sub-pressões, do
gradiente hidráulico e da vazão;
 Apenas controlando-a, mediante a construção de drenos, método
este praticamente imprescindível e que pode ser associado aos dois
anteriores.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Exemplo de Método de Eliminação: Trincheiras
impermeáveis (“cut-offs”).
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Exemplos de Métodos de Redução: “cut-off” parcial e
tapete impermeável.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Três situações abrangentes:
 Solos Permeáveis: Água perdida e forças de percolação;
 Fundações em solos moles: Ruptura ao cisalhamento e
recalques excessivos;
 Solos Colapsíveis: Minimizar recalques instantâneos
destes materiais
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Fundações em Solos Moles:
 Uma alternativa que se impõe, quase como obrigatória, é a de
remover totalmente os solos que não oferecem condições
adequadas de fundação. Porém nem sempre é vantajoso.

 No estudo de fundações em solos moles, dois aspectos, em geral


interligados, devem ser considerados:
ruptura de base;
recalques excessivos.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Fundações em Solos Moles:
 Os depósitos moles encontrados no litoral brasileiro são
constituídos por solos de granulometria fina que se depositaram em
ambientes marinhos.

 Do ponto de vista geológico, esses depósitos são bastante recentes,


formados no Período Quaternário. Ciclos de sedimentação
relacionados a variação do Nível do Mar.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Três situações abrangentes:
 Solos Permeáveis: Água perdida e forças de percolação;
 Fundações em solos moles: Ruptura ao cisalhamento e
recalques excessivos;
 Solos Colapsíveis: Minimizar recalques instantâneos
destes materiais
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Fundações em Solos Colapsíveis (Porosos):
 São solos com alto grau de porosidade, baixo teor de umidade e
grau de saturação. Tem uma estrutura complexa que sofre colapso
quando saturados.

 A fundação de barragens sobre camadas de solos porosos e


colapsíveis está associada a recalques acentuados, praticamente
instantâneos, que se processam com a construção do aterro e com
o enchimento do reservatório.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Fundações em Solos Colapsíveis (Porosos):
 A origem dos solos colapsíveis está intimamente relacionada com
sua formação geológica, com os condicionantes climáticos e o
relevo;

 São identificados vários processos de formação: ação do vento, da


água, lixiviação dos sais solúveis etc.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Solos
• Soluções para Fundações em Solos Colapsíveis:
 Caso a camada seja pouco espessa, pode ser economicamente
vantajoso escavar o material e recolocá-lo como aterro
compactado.

 Caso a camada seja muito espessa:


Remoção parcial (Não colapsível);
Recalques durante a construção por meio de pré-saturação da fundação.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Rochas
• No que diz respeito à fundação em rocha, a principal
preocupação costuma ser referente às fraturas da rocha;

• Dos diversos métodos de tratamento destacam-se as


injeções com calda de cimento;

• Consiste basicamente da injeção de uma mistura de água e


cimento na fundação capaz de solidificar e obstruir os vazios
e fraturas.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Rochas

• O processo construtivo que antecede a injeção propriamente


dita tem início com a execução de uma ou mais fiadas de
furos desde a base de fundação da barragem, que se
prolongam até uma dada profundidade. Em seguida são
injetadas, sob pressão, as caldas através dos furos de modo a
preencher os defeitos existentes no interior do maciço de
fundação.
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3. Fundações de Barragens
3.1. Fundações em Rochas
Crista
Furos de
injeção

Furos inclinados de modo a


intersectar
descontinuidades

Corte Transversal do Vale


Referências Bibliográficas
• ASSIS, A. P., 2003. Apostila de Barragens. Notas de Aula da Diciplina de Barragens. Brasilia: s.n.
• COSTA, W. D. Geologia de barragens. São Paulo, SP: Oficina de textos, 2012. 352 p
• FELL, Robin; MACGREGOR, Patrick; STAPLEDON, David; BELL, Graeme. Geotechnical
engineering of dams. 1. ed. Great Britain: A.A. balkema publishers, 2005. 912 p. v. 1.
• FOSSEN, Haakon. Structural Geology. Editora Cambridge University Press, 2015. 481p.v.
• HUDSON, John A., HARRISON, John P. Engineering rock mechanics - An introduction to the
principles. 1 ed. Pergamon, 1997.
• TEIXEIRA, WILSON et al . Decifrando A Terra. 1°ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. 568p.
• SILVA, M. J. R., Comportamento geomecânico de solos colapsíveis e expansivos em Petrolina-
PE: Cartas de Suscetibilidade, Dissertação de M.Sc., UFPE, Recife, PE, Brasil, 2003.

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