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2- Configuração

1
Ver = identificar

● meio de orientação prática de determinar com


os próprios olhos que uma certa coisa está
presente num certo lugar e que está fazendo uma
determinada coisa.

2
A Visão Como Exploração Ativa

- Perceber formas → ocupação ativa. Ao olhar para


um objeto procuramos alcançá-lo.

- Platão, no Timeo:
“o fogo ameno que aquece o corpo humano emana através dos
olhos num fluxo de luz suave e denso. Assim estabelece-se uma
ponte tangível entre o observador e a coisa observada, e por
sobre esta ponte os impulsos de luz que emanam do objeto
transportam-se para os olhos e destes para a alma .”

3
Captação do essencial

Ver = captar características proeminentes dos


objetos.

-Traços relevantes do objeto = estímulos →


determinam a sua identidade e o faz parecer um
padrão integrado completo.

4
Conceitos Perceptivos

- Durante o desenvolvimento → captação dos


aspectos estruturais para a formação de conceitos.

- Formação de “conceitos perceptivos” → formas


gerais aplicáveis a um sem no de casos semelhantes.

- Termo conceito → similaridade entre as atividades


elementares dos sentidos e pensamento/raciocínio.

- Visão → atividade criadora da mente humana. Ver


(perceber) é compreender.
5
6
O que é configuração?

- Configuração perceptiva → resultado de uma


interação entre o objeto físico e o meio de luz agindo
como transmissor de informação e as condições que
prevalecem no sistema nervoso do observador.

7
- Luz → propaga-se em linha reta.
Projeções na retina ocorrem por linhas retas. Ex:
vista frontal de um navio ≠ da lateral.

- Olhos → informações sobre as formas exteriores.


Campo visual monocular, 160o, binocular, 180o.

- Imagem → determinada pelas experiências visuais


com aquele objeto ou tipo de objeto.

8
9
A forma de um objeto que vemos é determinada:

-por sua projeção retiniana;

-pela totalidade das experiências visuais que


tivemos com aquele objeto ou com aquele tipo de
objeto durante toda a nossa vida.

10
Se alguém fizer uma imagem de algo que experimentou
pode escolher o quanto da configuração deseja incluir.

Ex: O estilo de pintura ocidental criado pela Renascença


limitou a configuração ao que se pode ver de um ponto
fixo de observação.

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Linha do horizonte
Ponto de fuga

12
Ponto de fuga
13
Ponto de fuga
Linha do horizonte

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17
18
Leonardo da Vinci (1452 – 1519) - A Santa Ceia.
Refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie – Milão. 19
Leonardo da Vinci (1452 – 1519) - A Santa Ceia.
Refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie – Milão. 20
Salvador Dali (1904 – 1989) - A Desintegração da Persistência da Memória.

21
A arte
bizantina
ignora
esta
restrição 22
Os egípcios,
os índios
americanos e
os cubistas
ignoram esta
restrição.
23
Uma rata grávida, desenho de uma criança de 5 anos.

24
Pode-se omitir os contornos de um objeto e mesmo
assim desenhar uma imagem reconhecível nele.
Representa-se um objeto pelas características
espaciais consideradas essenciais.
25
A influência do passado

Toda experiência visual é inserida num contexto de


espaço e tempo.
26
Fig 21

A descrição verbal suscita em nós um traço de


memória visual que se assemelha ao desenho o
suficiente para estabelecer contato com ele.

27
1ª 2a 3a

A percepção e reprodução de formas ambíguas →


sujeitas à instrução verbal.
1a Fig. → reproduzida como a 2a depois que disseram
que apareceria um relógio de areia na tela.
→ reproduzida como a 3a. quando aguardavam
uma mesa.
28
a b c

Uma figura pode continuar invisível quando


apresentada em novo contexto. O hexágono pode
aparecer espontaneamente como um retângulo e um
quadrado ou rodeado por outras configurações.

29
30
Camuflagem do número quatro.
31
32
Arcimboldo

33
Ver a Configuração

Descrição dos Aspectos


espaciais que representam a
configuração:

a) Procedimento de Leon
Battista Alberti (1404-1472), no
tratado De Statua: por meio de
régua, transferidor e fio de
prumo pode-se descrever
qualquer ponto em termos de
ângulos e distância para se fazer
uma duplicata de uma estátua.
Se dividida ao meio, as duas
metades se ajustarão.
34
b) Geometria analítica: os pontos da figura são
definidos espacialmente pelas suas distâncias da vertical
(y) e horizontal (x), em coordenadas cartesianas. Ex: a
equação para um círculo com o raio r é (x-a)2 + (y-b)2 = r2
se o centro do círculo permanecer na distância a do eixo
y e numa distância b do eixo x.

35
A visão normalmente capta a forma imediatamente.

- Captação da forma na visão normal → imediata, através


da apreensão de um padrão global.

-Agnosia visual → incapacidade patológica de captar um


padrão como um todo. O lesionado pode seguir o contorno
de um círculo com os movimentos da cabeça ou do dedo e
concluir que trata-se de um triângulo, embora seja incapaz
de ver o triângulo.

36
Prosopagnosia - área fusiforme da face
37
38
Figura 29

Lei básica da percepção visual: lei da simplicidade.

39
40
41
Psicologia da Gestalt

Lei básica da percepção visual

Qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal


modo que a estrutura resultante seja tão simples
quanto as condições dadas permitirem.

42
Simplicidade

- Definição: a experiência subjetiva e julgamento de


um observador que não sente nenhuma dificuldade
em entender o que lhe é apresentado.

- Spinoza (Ética) → “Existe ordem nas próprias coisas


mesmo que não saibamos nada a respeito delas ou
de sua natureza.”

43
Christopher Alexander e Susan Carey:

Foram entregues 4 quadrados brancos e 3 pretos para serem


organizados pelos sujeitos experimentais da maneira mais simples
possível, dentre as 35 possibilidades possíveis de organização.

Perguntas:
- Numa série de padrões, qual deles pode ser reconhecido mais
rapidamente?
- Como os padrões se enfileiram em ordem da simplicidade que
aparentam?
- Quais os padrões mais fáceis de lembrar?
- Quais os que têm maior probabilidade de ser confundidos com
outros?
- Quais os mais fáceis para se descrever com palavras?

44
RESULTADOS

2ª. Combinação
mais simples

4ª. Combinação
mais simples

1ª. Combinação
mais simples

45
Fig 32 Fig 33

O quadrado regular, com seus quatro lados e 4


ângulos, é mais simples do que o triângulo irregular.
46
a b

Fig 34

Figuras a e b são constituídas de partes, mas b é o padrão


mais simples porque as partes têm um centro comum.
47
b

Fig 35

A linha reta é a conexão mais simples entre os pontos a


e b só enquanto negligenciarmos o fato de que uma
curva levará a um padrão total mais simples. 48
Simplicidade (boa forma)

Julian Hochberg
“Quanto menor a quantidade de informação necessária para
definir uma dada organização em relação a outras alternativas,
tanto mais provável que a figura seja prontamente percebida”.

49
Simplicidade (boa forma)

As informações necessárias → 3 aspectos quantitativos:


1 – o número de ângulos inscritos na figura;
2 – o número de ângulos diferentes dividido pelo
número total de ângulos;
3 – o número de linhas contínuas.

50
C
B
A

D E

Fig 36 – Esboço de uma pintura de Ben Nicholson -


o princípio da parcimônia.
51
C
B
A

D E

Fig 37 - Ben Nicholson

52
Ben Nicholson

53
Ben Nicholson

54
Simplificação Demonstrada

“Qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de


tal modo que a estrutura resultante é tão simples
quanto permitem as condições dadas.”

→ tendência menos evidente quando o estímulo for


tão forte ao ponto de exercer um controle forçado.

Forma mais simples possível → círculo.

55
Fig 38

Foi solicitado a um grupo de sujeitos a reprodução da


figura sem muita reflexão e de um modo mais exato
possível.
56
O ato de ver e o de lembrar
envolvem a criação de
totalidades organizadas.
57
Nivelamento e Aguçamento

Embora os observadores revelem em seus desenhos


uma tendência a reduzir o número de características
estruturais e consequentemente a simplificar o
padrão, outras tendências também são ativas.

58
Nivelamento (b, e) e aguçamento (c, f).
59
LEI DA PRÄGNANZ

- Pregnance (significa quase o oposto, em inglês).

- Sem distinção da tendência no sentido de uma


estrutura mais simples:

a – Nivelamento;
b – Aguçamento.

60
LEI DA PRÄGNANZ

a - Nivelamento → Envolve redução de tensão.


Artifícios característicos: unificação, realce da
simetria, redução das características estruturais,
repetição, omissão de detalhes não integrados,
eliminação da obliquidade.

b – Aguçamento → Envolve aumento de tensão


inerente ao padrão visual através da ampliação de
diferenças.

61
Nivelamento: redução de tensão.

62
Ronaldinho Gaúcho

Aguçamento: aumento de tensão.

63
Jean Reno
Aguçamento: aumento de tensão.
64
Um Todo se Mantém

- Coisas que vemos → se comportam como


totalidades.
(O que se vê numa dada área do campo visual
depende do seu lugar e função no contexto total.
Alterações locais podem modificar a estrutura do
todo).

65
Qualquer campo visual comporta-se como uma
Gestalt:
a – Köhler – óculos de distorção;
b – Hemiopia – lesão que causa perda dos sentidos
na metade direita ou esquerda do campo visual;
c – Experimento de Fábio Metelli.

66
Fábio Metelli: disco preto girando ao redor de seu centro não
terá sua locomoção percebida. Um quadrado preto girando ao
redor de seu centro, toda a superfície é vista girando,
incluindo qualquer superfície circular. 67
Subdivisão

- Unidade indivisa → maneira mais simples de perceber


algo.

- Mesmo que as figuras organizadas se aproximem de


sua integridade e se completem quando mutiladas ou
distorcidas, não presumiríamos que tais figuras sejam
sempre percebidas como massas indivisíveis.

68
Fig 42

69
a b c

- Quadrado se divide ao meio → o padrão completo


prevalece sobre as partes porque a simetria de 1:1 (a) do
quadrado é mais simples do que as formas de 1:2 (b) do
retângulo.
- Retângulo coerente → aplicar secção de ouro utilizando a
proporção 1,618 (proporção áurea) como em (c). 70
Leonardo da
Vinci -
Proporções
áureas -
Homem
Vitruviano
71
Pato Donald no país da Matemágica

72
Fig 44

Tensão ausente nas duas figuras externas, nas quais os


dois componentes ou se adaptam a um todo simétrico
ajustado ou são impedidos de interferência mútua.
73
a b

Fig 45

Uma dada área do campo distingue-se de seus


arredores na medida em que sua configuração não só
é clara, como simples por si só, e independente da
estrutura da área circundante. 74
Fig 46

Configuração → a subdivisão pode ser determinada por


similaridades e diferenças de claridade e cor e diferenças
entre movimento e repouso. O disco preto tem a
possibilidade de permanecer imóvel, enquanto a faixa
branca circula ao seu redor, cobrindo porções diferentes do
disco imóvel.
75
Por que os Olhos com Frequência Dizem a Verdade?

Fig 47

Mas às vezes nos enganam: Wertheimer e o exemplo de


uma ponte que constitui um todo convincente com sua
própria imagem refletida na água.
76
Por que nossos olhos nos servem quase sempre bem?

1 – Parte do mundo feita pelo homem adapta-se às


necessidades humanas.

2 – A forma exterior das coisas naturais é tão simples


quanto as condições permitem e essa simplicidade
de configuração favorece a separação visual.

3 – A configuração simples, notadamente a simetria,


contribui para o equilíbrio físico. Ela impede que as
paredes, árvores e garrafas caiam. Ex: construções
da natureza e do homem.
77
Subdivisão nas Artes – O todo e as partes

- Trabalho dos artistas → subdivisão da forma visual


é necessária.

• Na arquitetura, pode facilitar a orientação.


• Nas artes em geral, a subdivisão raramente se limita a um
nível como o de um tabuleiro de xadrez, mas prossegue
em níveis hierárquicos, subordinados uns aos outros.

78
Gustav Kimt
(1832-1892) -
O beijo –
A unidade do todo
domina a subdivisão.

79
Os amantes – Constantin Brancusi (1876 - 1957) - a unidade do todo
domina a subdivisão.
80
Auguste Rodin
(1872–1926)
Le baiser –
a finalidade das
partes é por em
jogo a unidade
do todo. 81
Edouard Manet
(1832 – 1883)
O guitarrista

82
O que É uma Parte?

Fig 50

Max Wertheimer → em termos locais restritos, a base


horizontal move-se como um todo indiviso para a asa
direita da curva, embora a estrutura total divida a mesma
linha em duas secções, pertencentes a subtotais
diferentes. 83
a b
Fig 51

A suástica da fig 51 a não é parte da fig 51 b. As


conexões e segregações locais que formam a suástica
submetem-se a outras do contexto do quadrado.
84
Semelhança e Diferença - agrupamentos

Qualquer aspecto daquilo que se percebe – forma,


claridade, cor, localização espacial, movimento, etc –
pode causar agrupamento por semelhança. As
comparações só têm sentido quando provém de uma
base comum.

● Semelhança → pré-requisito p/ notar diferenças.

85
Semelhança :
pré-requisito
para a
diferença.

86
Fig 52

Agrupamento por semelhança de tamanho.


87
Fig 53

Agrupamento por diferença de configuração.


88
Fig 54

Agrupamento por diferença de claridade.


89
Agrupamento por diferença de claridade.
90
Fig 55

Agrupamento por proximidade ou vizinhança.

91
Agrupamento por proximidade ou vizinhança.
92
Fig 56

Agrupamento por orientação espacial.


93
Agrupamento por orientação espacial.
94
Fig 57 Fig 58

O movimento introduz os fatores adicionais de direção


(Fig 57) e velocidade (Fig 58).

95
Continuidade
Princípio de agrupamento por forma consistente.
96
Pablo Picasso (1881 -1973) – Mulheres correndo: As duas formas que
representam a perna não passariam a ser uma, se as linhas de contorno não se
relacionassem por semelhança de direção e localização.
97
Experimento de Paul Weiss: sete gotas de sal de prata
numa chapa de gelatina que tinha sido mergulhada numa
solução de cromato remetem às sete estrelas do Grande
Mergulhador: agrupamento por semelhança na mente.
98
Pio Semproni –
Analisi dello Spazio,
1971
99
A linha reta é identificada com mais facilidade do
que as linhas irregulares.
100
Quando há uma escolha entre várias sequências possíveis de
linhas, a preferência espontânea é por aquela que possui a
estrutura intrínseca de modo mais consistente. 101
Semelhança de localização aplica-se não apenas a
unidades que permanecem juntas mas também à
posição similar dentro do todo.
102
A semelhança de direção pode ir além do mero
paralelismo – por exemplo, quando os bailarinos
se movem ao longo de percursos simétricos.

103
Exemplos Tomados da Arte

Pieter Brueghel (1525 – 1569). A Parábola dos Cegos: “se o cego conduzir o cego,104
ambos cairão na vala”. Estágios sucessivos da queda.
Exemplos Tomados da Arte

Pieter Brueghel (1525 – 1569). A Parábola dos Cegos: “se o cego conduzir o cego,105
ambos cairão na vala”. Estágios sucessivos da queda.
Exemplos Tomados da Arte

Pieter Brueghel (1525 – 1569). A Parábola dos Cegos: “se o cego conduzir o cego,106
ambos cairão na vala”. Estágios sucessivos da queda.
Grünewald
(1470 - 1528)

84

107
Grünewald – Cruxificação - Itens dispersos agrupados por similaridade.
O poder unificador da forma consistente: Tio Dominique – Cézanne (1839 - 1906).
108
Cézanne (1839 - 1906) -
Tio Dominique
109
Cézanne (1839 - 1906) -
Tio Dominique
110
El Greco (1541 – 1614) A Expulsão do Templo : ligando dois ou
mais pontos através da semelhança, um pintor pode estabelecer
um movimento visual significativo.
111
112
El Greco (1541 – 1614) – A Expulsão do Templo
Duas cadeiras da pintura O Quarto de Van Gogh - forma
e a orientação espacial mantêm-se constantes.
113
114
Van Gogh (1853 –1890)
Picasso (1881-1973): semelhança das formas geométricas.
115
O Esqueleto Estrutural

Quando se pede a um homem na rua que tome o itinerário


indicado na fig 71 a: caminhe dois quarteirões, vire à esq.,
caminhe mais 2 quarteirões, vire à dir., caminhe um
quarteirão... Ele acabará chegando ao ponto de partida. 116
Configuração

Leva-se em consideração principalmente duas


propriedades completamente diferentes dos objetos
visuais:

1 – os limites reais que o artista produz: as linhas, as


massas, os volumes;

2 – o esqueleto estrutural que estas formas materiais


criam na percepção.

117
Estudo de Wertheimer: Triângulos diferentes têm
características visuais nitidamente diferentes o que não se
pode inferir de sua forma real, mas somente do esqueleto
estrutural que ela cria por indução.
118
O esqueleto estrutural de cada triângulo deriva seu
contorno pela lei da simplicidade: o esqueleto
resultante é a estrutura mais simples obtenível com a
forma dada. 119

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