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A voz do ator e a

voz cênica: diferenças


Declamação

 Durante um grande período da história do Teatro, a arte do ator foi


associada à do declamador (relativo à profissão de orador)
 Essa herança remonta à Antiguidade, com seus oradores e tratados de
retórica. Cícero (106 aC a 46 aC) e o De Oratore. Quintiliano e o
Institutio Oratoria
 A arte da Declamação desenvolveu-se na Grécia Antiga onde as
representações ocorriam ao ar livre - Teatro de Epidauro
 Em função do tamanho do espaço e das multidões, o declamador tinha
que se fazer ouvir e para tanto, usava uma máscara como recurso
diante da necessidade de ampliação da voz
 A arte da Declamação não parecia estar originalmente separada de
técnicas aparentadas ao canto
 O ator usava então, 3 tipos de fala
– a dicção falada ou cataloguè
– o canto propriamente dito ou melos
– a paracataloguè, espécie de salmo agudo, recto tono que era
acompanhado por uma flauta

 A partir de Eurípedes (480 aC a 406 aC), a Declamação Trágica se


aperfeiçoa
Romantismo e melodrama

 Séc. XVII e XVIII na França


– o magnetismo do ator, sua “presença” física e vocal, leva a
platéia - que chora fácil - ao teatro
– surgem os atores de um só papel que tem o domínio da
técnica vocal apropriada àquela situação
– ocorre uma mecanização da interpretação pela repetição
 Durante o séc. XIX
– o “academismo francês e italiano” dita as regras do
comportamento cênico e estético do ator
 E começa a discussão sobre a fala

 Itália

– herdeiros da Commedia dell´arte (séc. XVI e XVII)


condenam a arte do declamador e preconizam a arte do
intérprete

– interpretar uma situação e não se preocupar unicamente


em “ dizer bem” o texto
 França
– a formação tradicional (Comédie - Française) se baseia nas
técnicas de declamação
– a expressão oral era o principal veículo de expressão,
fundamental para o ator
– valorizava-se a “boa fala”
– falava-se no Teatro como a burguesia falava pois era ela
que detinha o patrimônio “Língua”
 Professores do Conservatório de Paris

– Louis Jouvet 1934

– Pirre Regnier 1855 / 70


 Evaristo Gherardi (1670 – 1700)

– em sua coletânea Le Théâtre italien,1964 Já criticava o ator que

recita o que aprendeu de cor, sem levar em conta seu parceiro,

“numa furiosa impaciência de se livrar do papel” ao contrário do

comediante italiano que interpreta tudo o que diz


 Discussão se justifica quando o declamador é incapaz de
“atuar” ou os que “atuam, antes de mais nada”,
negligenciam o estudo da dicção e experimentam
dificuldades de outra natureza cuja solução ignoram
 Os dois procedimentos deveriam se unir e serem
praticados cuidadosamente
– Estudar uma cena a partir do texto e chegar à
interpretação, ou o contrário
 Ensino tradicional privilegia o texto

 De Jacques Copeau a Meyerhold, os homens de Teatro


começam a combater os maus comediantes que recitam
mecanicamente seu texto
 Naturalismo rompendo com o classicismo,
romantismo e melodrama
– Meininger na Alemanha

– Antoine na França.

– Celebrizado por Emile Zola e aplicado por autores e atores


do Théatre - Libre
Naturalismo
 cenários e vestuários verdadeiros, dicção natural, gestos
cotidianos
 a vida real é reproduzida como numa fotografia
 o ator, forçado pelas exigências da atuação naturalista,
encarna o personagem pondo em dúvida a autenticidade da
sua encarnação
 enquanto a voz falada não é mais o único e mais importante
meio de expressão, o corpo, os gestos, a fisionomia, passam
a ocupar o seu espaço
 as improvisações levam ao texto e não o texto à cena
 assim se estabelece um declínio do ensino da
técnica vocal que vem até os dias de hoje
 os atores começam a confundir falar natural com a
maneira que falam na vida diária
 confundem a questão imposta pelo Naturalismo, pelo
mimetismo, pela cópia da realidade, pelo Realismo,
que eram pertinentes e adequados àquela época
 O falar natural hoje se relaciona com o domínio de uma
determinada técnica vocal de maneira que ela não apareça,
que esteja incorporada e a serviço da expressividade
 a fala cênica depende de uma técnica que é completamente

antinatural

 automatizada, torna-se natural (como as primeiras posições do

ballet que em nada se assemelham às nossa posturas corporais

diárias)
 Paradoxalmente a este declínio do interesse pela técnica

vocal, a voz aparece como grande responsável pelo

triunfo dos meios de comunicação de massa como numa

“espécie de vingança” por ter passado séculos reprimida

sob o domínio da escrita.” Paul Zumthor,1993. A letra e a voz


Aprender a falar, a pronunciar

 Atores iniciantes
 Falar em cena como se fala na vida
 Basta conhecer a Língua materna bem
 “ (...) na vida cotidiana, saber falar, andar, ficar de pé, fazer
gestos e adotar atitudes. Mas representar a si mesmo é uma
coisa, e outra completamente diferente é aprender um papel e
representá-lo”. Strindberg, A. L´Art du Comédian, 1964
 Mas no palco, ficam roucos após algumas falas, gaguejam

sob o domínio do medo, hesitam quanto à pronúncia de uma

palavra, à necessidade de elisão, ao sentido da frase

 Assim, têm que aprender a falar


– os exercícios mecânicos de dicção são simples se não tem
nenhum problema a ser corrigido

– trata-se de forjar um instrumento de pronúncia e articulação


 Até meados do século XX, ouvíamos no Teatro uma fala

declamada

 Hoje, tanto esta forma de falar como a palavra declamar tem

um sentido pejorativo de elocução empolada, e não é mais

aceita nos nossos palcos onde se busca uma “naturalidade”


 O teatro do Séc. XX reage ao naturalismo e o uso de uma

língua, da palavra falada, não é prioridade

– Dissonâncias de Artaud

– O corpo que ressoa de Grotowski

– A sonoridade da voz enquanto ação de Eugênio Barba

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