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CLIMA URBANO

PRESSUPOSTOS
 A cidade é o habitat da sociedade contemporânea
 A cidade representa o mais elevado grau de transformação da paisagem
 No Brasil mais de 80% da população vive em áreas urbanas
 Grande parte da população urbana habita ambientes inadequados e segregados
 Extensas áreas urbanas são afetadas por desastres socionaturais, agravando o
nível de vulnerabilidade social
 A cidade constitui a forma mais radical de transformação da paisagem natural:
morfologia do terreno; condições climáticas e ambientais
 Os espaços urbanos passaram a assumir a responsabilidade do impacto máximo
da atuação humana sobre a organização na superfície terrestre e na deterioração
do ambiente
OBJETIVOS

 Refletir sobre os pressupostos teóricos que envolvem o clima urbano.

 Compreender como a construção do espaço urbano modifica a interação


clima-superfície.

 Analisar como a atmosfera urbana repercute no cotidiano da sociedade.

 Oferecer subsídios ao planejamento ambiental urbano.


CONTEÚDOS
• O clima urbano: marco conceitual e evolução histórica

• Integração do clima urbano no clima regional

• As escalas taxonômicas e as estratégias de análise do clima urbano

• Fundamentos teóricos da análise do clima urbano

• A interação clima-ambiente urbano

• Os problemas metodológicos e das fontes de informação

• Implicações da urbanização no balanço energético

• A freqüência, a intensidade e a distribuição espacial da ilha de calor



• Conforto térmico, ambiental e suas territorialidades

• O clima no planejamento urbano


O clima urbano:
marco conceitual e evolução histórica
 As primeiras preocupações com o clima urbano
surgiram antes da Revolução Industrial no
Ocidente.
 A mais antiga observação sobre o clima urbano
pode ser encontrada em Londres do Séc. XVII,
num livro de John Evelyn (1661), fumifugium ou
The inconvenience of the air and the smoke of
London dissipated. Primeiro relato crítico sobre a
poluição do ar em Londres, pela queima de carvão.

John Evelyn

Fumifugium Londres. Final do século XVII


 Após a 2ª Revolução Industrial, a
insalubridade do ar londrino foi
novamente estudada pelo químico
inglês Luke Howard, em 1833. Em
The climate of London, descreveu a
contaminação do ar e a ocorrência
de temperaturas mais elevadas na
cidade do que nos arredores.

Luke Howard
 A urbanização acelerada do pós
guerra e a expansão territorial
urbana das grandes metrópoles,
associada a industrialização e a
queima de combustíveis fósseis
tornaram os climas urbanos um tema
de interesse do geógrafo Tony
Chandler
 Em 1965, CHANDLER publicou The
climate of London”, marco conceitual
e primeira obra completa sobre o
tema.
Londres em meados
do século XX Chandler
 Em 1976, Carlos Augusto de F. Monteiro
publicou “Teoria e Clima Urbano”, marco teórico
e conceitual dos estudos do clima urbano no
Brasil.
 A proposta dos canais de percepção do clima
urbano (hidro-meteórico, físico-químico e
termo-dinâmico) tornou-se referência para as
pesquisas sobre o tema no Brasil.

Teoria e Clima Urbano

Carlos Augusto
 Nos anos 70 e 80, foram publicadas
as pesquisas de Landsberg e Oke,
sobre os climas urbanos, numa
perspectiva aplicada e fortemente
caracterizada pelo balanço de
energia e pela modelagem.

 Helmut Landsberg publicou “Urban


Climate”, em 1981 e Tim Oke,
“Boundary Layer Climates”, em
Tim Oke
1987.

Helmut Landsberg
(ao centro) entre
Hermann Flohn e
Mikhail Budiko
Fundamentos teóricos da
análise do clima urbano

Camada Limite Urbana


FATORES FUNDAMENTAIS

Da comparação entre a cidade e o campo circundante, emergiram os


seguintes fatos fundamentais:

1. A cidade modifica o clima através de alterações em superfície;

2. A cidade produz um aumento de calor, complementado por


modificações na ventilação, na umidade e até nas precipitações, que
tendem a ser mais acentuadas;

3. A maior influência manifesta-se através da alteração na própria


composição da atmosfera, atingindo condições adversas na maioria dos
casos. A poluição atmosférica representa, no presente, o problema
básico da climatologia das “cidades industrializadas”.
PERSPECTIVA METEOROLÓGICA

A maioria dos trabalhos foi apresentada na perspectiva meteorológica:

1- Os dados foram coletados de longas séries de registros, utilizando-se


da observação meteorológica padrão: observar o “ar livre” –
descomprometido de influências locais imediatas.

2- Havia a desvinculação do estudo da cidade com seu contexto natural –


o ambiente urbano era visto na ótica social e econômica.
INTERVENÇÃO ANTRÓPICA

CONTROLES ou FATORES
Morfologia urbana

ATRIBUTOS ou ELEMENTOS
Modificações no comportamento dos atributos climáticos

FENÔMENOS
Respostas próprias do clima urbano aos controles e atributos do clima.
CONTROLES CLIMÁTICOS

 Instalação de equipamentos urbanos (parques, praças,


edifícios, áreas industriais, residencias....)
 Verticalização urbana
 Ocupação desordenada
 Impermeabilização do solo

Rugosidade da superfície
Variação dos atributos
ATRIBUTOS CLIMÁTICOS

Elementos Climáticos
 Índice de Pluviosidade – Enchentes
 Radiação solar – Balanço de radiação
 Temperatura – Ilha de calor e inversão térmica
 Vento – Campos de vento

Fenômenos Climáticos
FENÔMENOS URBANOS
 Ilhas de calor - Variação de temperatura ao longo da mancha urbana;
 Enchentes - Variação dos índices pluviométricos/aumento do escoamento
superficial;
 Inversão térmica - circulação das massas de ar quente/frio;
 Campos de vento - variação da pressão atmosférica/atritos de superfície;
 Balanço de radiação - acúmulo de energia/variação de temperatura;
 Chuva ácida - circulação do ar/concentração de poluentes.
BALANÇO DE RADIAÇÃO – ILHA DE
CALOR

ALBEDO - índice de reflexão TEMPERATURA


Varia de 0 (Corpo negro) a 1 (Espelho) ENERGIA

Radiação solar Radiação solar

25
5%
%
Refletida Refletida

 ACÚMULO DE ENERGIA
ILHAS DE CALOR

 Impermeabilização do solo;
 Densidade urbana/Morfologia urbana;
 Concentração de poluentes;
 Produção de energia;
 Escassez áreas verdes.

• Instabilidade climática na mancha urbana;

•  Precipitações de fim de tarde - verão;


ILHAS DE CALOR

O nome ilha de calor dá-se pelo fato de uma cidade apresentar em seu centro uma
taxa de calor mais elevada, enquanto em suas redondezas a taxa de calor é normal
(menor quando comparada com a porção central)

O ar atmosférico na cidade é mais quente que nas áreas circundantes.

Por exemplo, num campo de cultivo que situa-se nas redondezas de uma grande
cidade, há absorção de 75% de calor enquanto no centro dessa cidade a absorção
de calor chega a significativos 95 a 98%.
FATORES DE OCORRÊNCIA

Ocorre nos centros das grandes cidades devido aos seguintes fatores:

 Elevada capacidade de absorção de calor de superfícies urbanas como o


asfalto, paredes de tijolo ou concreto, telhas de barro e de amianto;

 Falta de áreas revestidas de vegetação, diminuindo o albedo, o poder refletor


de determinada superfície (quanto maior a área verde, maior é o poder refletor)
levando a uma maior absorção de calor;

 Impermeabilização dos solos pelo calçamento e desvio da água por bueiros e


galerias, o que reduz o processo de evaporação, assim não usando o calor, e sim
absorvendo;
FATORES DE OCORRÊNCIA
 Concentração de edifícios, que interfere na circulação dos ventos;

 Poluição atmosférica que retém a radiação de raios infravermelho, causando o


aquecimento da atmosfera (Efeito Estufa);

 Utilização de energia pelos veículos de combustão interna, pelas residências e


pelas indústrias, aumentando o aquecimento da atmosfera;
Integração do Clima Urbano
no Clima Regional
ARTICULAÇÃO DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS
DO CLIMA
Global

Mudança,
Tempo Curto
(histórico)
Variabilidade,
Tempo Longo
(geológico)
Ritmo

Local
Articulação das escalas do clima
Escala Espacial Escala Temporal Gênese Processos
Movimentos
Generalização

Global Mudança Natural astronômicos

Glaciações, Vulcanismo,

Tectônica de Placas

Sazonalidade,
Organização

Padrões e Ciclos
Regional Variabilidade Natural e naturais
Antrópico Mudanças da paisagem
(desmatamento,
poluição)
Especialização

Uso do solo,
Expansão Territorial
Local Ritmo Antrópico Urbana
Cotidiano
CLIMA REGIONAL

ESPAÇO URBANO

ATIVIDADE HUMANA
ESPAÇO CONSTRUÍDO

TRÁFEGO/AQUECIMENTO
INDÚSTRIAS
OBSTÁCULOS TIPO DE MATERIAL

CALOR ANTRÓPICO
INÉRCIA TÉRMICA POLUIÇÃO

EFEITO ESTUFA
EFEITO DE REFLEXÃO
NÚCLEOS DE
CONDENSAÇÃO
AUMENTO DA TEMPERATURA
NÉVOA

ILHA DE CALOR AUM. PRECIPITAÇÃO

CLIMA URBANO
Garcia, 1996
As Escalas Taxonômicas e as estratégias de
Análise do Clima Urbano
ESCALAS TAXONÔMICAS DO CLIMA

Ordens Unidades de Escalas Espaços Espaços Espaços Estratégias de Abordagens


de
Superfície Cartográficas Climáticos Rurais Urbanos
Meios de Fatores de Técnicas de
Grandeza
observação organização análise

Milhões de 1:45.000.000 Zonal Grandes Satélites Latitude, Caracteriz.


km2 Biomas centros de
I 1:10.000.000 Nefanálise comparativa
pressão

Milhares de 1:5.000.000 Sistema


km2 meteorológico
II 1:2.000.000 Regional Cartas
sinóticas, Circulação
Conjuntos Megalópole Redes e
sondagens atmosférica
Vegetacionais transetos
(grande área aerológicas,
III Centenas 1:1.000.000 Sub- metropolitana) rede de Fatores
de km2 regional superfície geográficos
1:500.000
regionais

IV Dezenas de 1:250.000 Local Grande Metrópole Posto Geoecologia e Mapeamento


km2 propriedade Meteorol. ação antrópica
1:100.000 sistemático

Centenas 1:50.000 Pequena e Grande cidade Registros Urbanismo e Análise


de m2 1:25.000 média ou subúrbio móveis Economia espacial
V Mesoescala
propriedade de metrópole (episódios) Agrícola

VI Dezenas de 1:10.000 Topoclima Parcela rural Cidade média Detalhe Arquitetura e


m2 1:5.000 ou pequena Forma Agronomia
Especiais
VII Metros 1:2.000 Microclima Planta Quarteirão e Instrumentos Habitação
m2 1:1.000 espécie edificações especiais Planta
Zonal
Regional
Local

12.0

11.8

11.6

7554000 11.4
N
11.2

11.0
7557000
10.8

10.6

10.4

10.2
7554000 FC T/U NESP
CEN TR O
7548000

11000
000 0 0 1 0 0 010002 0 0 0 2000
3 0 0 0 (m3000
) m

452000 455000 458000 461000


O rg . M a rg a re te C . d e C . T rin d a d e A m o rim

7551000

L egen d a
T ra n secto 1
T ra n secto 2
7548000
11000
000 0 0
1000 2000 1 030000 0m 2000 3 0 0 0 (m )

452000 455000 458000 461000


Interações clima – ambiente urbano
São Paulo ao final do século XIX
São Paulo nos anos 1940
São Paulo no início do século XXI
Implicações da urbanização
no balanço de energia
Albedo e
emissividade
das principais
coberturas
utilizadas nas
áreas urbanas
 Estudo de Caso – Cidades de porte médio
 As áreas urbanas se constituem na forma mais radical
de transformação da paisagem natural, da morfologia
do terreno e das condições climáticas e ambientais.

Presidente Prudente em 2008

Presidente Prudente em 1950


Pres. Prudente-oeste - 1975 Pres. Prudente-oeste - 1980 Pres. Prudente-oeste - 1985

Pres. Prudente-oeste - 1993 Pres. Prudente-oeste - 1997

Localização da Estação
Meteorológica-FCT/UN
ESP
37,0 16,0

Temperatura mínima
36,5 15,5
36,0
35,5
Temperatura máxima 15,0
14,5
35,0 14,0
34,5 13,5
34,0 13,0
33,5 12,5
33,0 12,0
32,5 11,5
32,0 11,0
31,5 10,5
31,0 10,0
30,5 9,5
30,0 9,0
1 21 41 61 81 10 1 12 1 14 1 16 1 18 1 201 221 241 261 281 301 321 341 361 381 401 421 441 1 21 41 61 81 10 1 12 1 14 1 16 1 18 1 201 221 241 261 281 301 321 341 361 381 401 421 441

CLIMOGRAMA DE PRESIDENTE PRUDENTE - 1969/2005

VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA


250 45

40

200 35

30 Chuvas
150 25 Maxima absoluta
Media das maximas
20
Media
100 15 Media das minimas
10 Minima absoluta

50 5

0 -5
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Áreas verdes

Qualidade ambiental
N

T oC

7557000

Transetos móveis
17.5

17.0

16.5

16.0

7554000 15.5

15.0

14.5

14.0

13.5
7551000
13.0

12.5
N
12.0
T oC
7548000 19.5
7 557 000 19.3
11000
000 0 0
1000 1 0 030000 m
2000 2000 3 0 0 0 (m ) 19.1
18.9
452000 455000 458000 461000 18.7
O rg . M a rg a re te C . d e C . T rin d a d e A m o rim 18.5
18.3
18.1
17.9
17.7
N
7 554 000 17.5
17.3
17.1
7557000
16.9
16.7
16.5
16.3
16.1
15.9
7554000 15.7
F C T /U N E S P 7 551 000
CENTRO
15.5
15.3
15.1
14.9
14.7
7551000 14.5

L eg en d a 7 548 000
T r a n s e c to 1

7548000
T r a n s e c to 2 1 000
100 0 0 0
10 00 1000
2 000 3000 m 200 0 30 00 (m )
1100 000 0 0 0
1000 2000 1 03 000 00m 2000 3 0 0 0 (m ) 452 000 4 55000 45 800 0 46 100 0
452000 455000 458000 461000 O rg. M argarete C . de C . T rind ade A m orim
Impactos socioambientais do clima urbano
Canal Termal (Landsat 7)
Fig. 1. Common district with fiber cement Fig. 2. Common house with fiber cement
roofing. Image from Google (2007) roof, small windows and high walls.

Fig. 3. Middle class district Fig. 4. Middle class house with tile roof,
grided and wide windows.
Mapa da exclusão social
Novas tecnologias
para o estudo do clima urbano
Imagens
termográficas
Coberturas
verdes
Realidades e utopias
 Incorporar a dimensão social na interpretação do clima
urbano na análise geográfica significa,
necessariamente, compreender que a repercussão dos
fenômenos atmosféricos na superfície se dá num
território, transformado e produzido pela sociedade, de
maneira desigual e apropriado segundo os interesses e
capacidades dos agentes e atores sociais.
 O modo de produção territorializa distintas formas de
uso e ocupação do espaço definidas por uma lógica
incompatível com o desenvolvimento (ou sociedade?)
sustentável. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre
os espaços urbanos construídos de maneira desigual
gera problemas de origem climática, também desiguais.
 A entrada de um sistema atmosférico, como uma frente
fria, se espacializa de maneira mais ou menos uniforme
num determinado espaço, em escala local. Entretanto,
em termos socioeconômicos, este sistema produzirá
diferentes efeitos em função da capacidade (ou
possibilidade) que os diversos grupos sociais têm para
se defender de suas ações (resiliência).
Considerações finais

 A produção do conhecimento sobre os fenômenos


atmosféricos na análise do clima urbano, numa
perspectiva geográfica, não pode ser encarada como
um fim em si mesmo.
 O clima, tratado como insumo no processo de
apropriação e de produção do espaço, assume um papel
variado na medida em que as diferentes sociedades (e
nelas, os distintos grupos sociais) se encontram em
diferentes temporalidades no processo de globalização
e de mundialização (fragmentação do território).
 Num mesmo território, uma sociedade desigual,
segregada socioespacialmente, não dispõe dos mesmos
meios para lidar com a ação dos fenômenos
atmosféricos, de forma a minimizar ou otimizar os
seus efeitos para todos os segmentos sociais.
 A climatologia urbana deve estar
comprometida com a compreensão da
construção social do clima e com a
produção de novas territorialidades.
 Deve considerar como os diversos agentes
e atores sociais criam, vivem e se
movimentam nos mais variados ambientes
de sua existência material e cotidiana.
 A climatologia urbana pode ser um dos
instrumentos de transformação dos
espaços de segregação em territórios de
satisfação e de felicidade.

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